segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Série Travis Livro 02 - Blue Eyed Devil


Travis 2 – Blue-Eyed Devil Lisa Kleypas
Traduzido por Grupo Shadows Secrets 2
Créditos
Tradução e Revisão:
Grupo Shadows Secrets
Travis 2 – Blue-Eyed Devil Lisa Kleypas
Traduzido por Grupo Shadows Secrets 3
Sinopse
CONHEÇA O DIABO DE OLHOS AZUIS
Seu nome é Hardy Cates. Ele é um milionário por seus próprios esforços que vem do lado errado dos trilhos. Ele fez inimigos na dura subida até o topo da indústria de petróleo de Houston. Ele tem sangue em suas veias. E vingança em sua mente.
CONHEÇA A HERDEIRA
Ela é Haven Travis. Apesar do dinheiro de sua família, ela se recusa a seguir o caminho que escolheram para ela. Mas quando Haven se casa com um homem que sua família desaprova, sua vida é colocada em um novo e perigoso percurso. Dois anos depois, Haven volta para casa, determinada a guardar seu coração. E Hardy Cates, um inimigo da família, é a última pessoa que ela precisa aparecendo em sua porta ou deixando sua alma em chamas.
VEJA AS FAÍSCAS VOAREM...
Cheio com a sensualidade que é marca registrada de Lisa Kleypas, cheio de personagens que você ama odiar e homens que você ama amar, Blue-Eyed Devil o deixará preso em sua história enquanto o destino de duas pessoas se desenrola com cada palavra mágica.
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Traduzido por Grupo Shadows Secrets 4
01
A primeira vez que o vi foi no casamento do meu irmão, atrás da tenda da recepção. Ele parecia insolente e relaxado como se não fizesse a vida atrás de uma mesa. Nenhum terno Armani poderia suavizar aquela estatura—grande e rude—como um trabalhador em campos de perfuração de petróleo ou um domador de touros. Seus dedos longos, que seguravam gentilmente a taça de champanhe, poderiam esmagar o cristal com tranquilidade.
Eu soube só de olhar que ele não era um bom garoto, capaz de caçar, jogar futebol e pôquer, e segurar seu uísque. Não meu tipo. Eu estava interessada em algo mais.
Mesmo assim, ele era uma figura atraente. Era bonito, belo, se você ignorasse a curva do nariz que parecia ter sido quebrado uma vez. Seu cabelo castanho escuro, tão grosso e brilhante quanto pele de marta, era curto. Mas eram seus olhos que chamavam a minha atenção, azul mesmo a distância, uma cor volátil da qual você nunca poderia se esquecer depois de vê-la. Tive um pequeno choque quando ele virou a cabeça e olhou direto para mim.
Eu me virei imediatamente, embaraçada por ter sido pega encarando. Mas a consciência continuou a se espalhar pela minha pele, um calor tão insistente que eu sabia que ele ainda estava olhando. Eu tomei meu champanhe rapidamente, deixando-o acalmar meus nervos. Só então eu arrisquei outra espiada.
Aqueles olhos azuis brilharam com uma sugestão incivilizada. Um sorriso frouxo aparecia no canto de sua boca larga. Eu definitivamente não iria querer ficar sozinha em um quarto com aquele cara, eu pensei. Seu olhar se moveu para baixo numa inspeção preguiçosa, retornou ao meu rosto, e me deu um daqueles acenos respeitosos que texanos dão a uma obra de arte.
Eu deliberadamente me virei, dando total atenção ao meu namorado, Nick. Observamos os recém-casados dançarem, seus rostos próximos um do outro. Eu fiquei sobre as pontas dos meus pés para sussurrar no ouvido de Nick. “O nosso é o próximo.”
Seu braço deslizou ao meu redor. “Vamos ver o que sei pai tem a dizer sobre isso.”
Nick ia pedir ao papai permissão para eu me casar com ele, uma tradição que eu achava antiquada e desnecessária. Mas meu namorado estava sendo teimoso.
“E se ele não aprovar?” perguntei. Dada à história da nossa família, comigo dificilmente fazendo qualquer coisa que pedisse a aprovação dos pais, era uma possibilidade diferente.
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“Vamos nos casar, de qualquer forma.” Recuando um pouco, Nick sorriu para mim. “Ainda assim, eu gostaria de convencê-lo de que eu não sou um mau negócio.”
“Você é a melhor coisa que aconteceu para mim.” Eu me aninhei na curva familiar do braço de Nick. Eu achava que era um milagre que alguém pudesse me amar do jeito que ele me amava. Nenhum outro homem, não importa o quão bonito fosse, tinha se interessado por mim.
Sorrindo, olhei para o lado mais uma vez, perguntando-me se o cara de olhos azuis ainda estava lá. Eu não tinha certeza do porquê de eu estar tão aliviada por ele ter desaparecido.
Meu irmão Gage tinha insistido em uma pequena cerimônia de casamento. Apenas um punhado de pessoas seria permitida dentro da pequena capela em Houston, que uma vez foi usada por colonizadores espanhóis no século dezessete. A cerimônia foi curta e bela, o ar coberto por uma delicadeza silenciosa que você podia sentir até a sola dos seus pés.
A recepção, em contraste, foi um circo.
Ocorreu na mansão da família Travis em River Oaks, uma comunidade exclusiva de Houston no qual as pessoas contam mais para seus contadores que para seus ministros. Visto que Gage foi o primeiro Travis da geração a se casar, meu pai ia usar a ocasião para impressionar o mundo. Ou pelo menos o Texas, que na visão do Papai era a parte do mundo que mais valia a pena impressionar. Como muitos texanos, meu pai acreditava firmemente que, se nosso estado não tivesse sido anexado em 1845, nós provavelmente iríamos terminar no comando da América do Norte.
Então, em luz da reputação da família e do fato de que os olhos do Texas estariam em nós, Papai tinha contratado uma renomada organizadora de casamentos e deu a ela uma instrução de quatro palavras: “O talão de cheques está aberto.”
E como todo mundo sabia, era um grande talão de cheques.
Meu pai, Churchill Travis, era um famoso “gênio do mercado”, tendo criado um fundo de índice internacional de energia que quase foi dobrado em sua primeira década. O índice inclui produtores de óleo e gás, oleodutos, fontes de energia alternativa, e carvão, representado por quinze países. Enquanto eu estava crescendo, eu nunca vi muito o papai – ele estava sempre em algum lugar distante como Singapura, Nova Zelândia, ou Japão. Frequentemente ele ia para D.C. para almoçar com o presidente da Reserva Federal, ou para Nova Iorque para ser um comentador na mesa redonda de algum show financeiro. Ter um café da manhã com meu pai significava ligar na CNN e observá-lo analisar o mercado enquanto nós comíamos nossos waffles torrados.
Com sua voz saudável e personalidade enorme, papai tinha sempre parecido grande para mim. Apenas na minha adolescência que percebi que ele era fisicamente um
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homem pequeno, um anão que governava o terreno. Ele tinha desprezo por suavidade, e se preocupava que seus quatro filhos – Gage, Jack, Joe e eu – fossemos mimados. Então quando ele estava por perto, ele nos dava doses de realidade, como colheradas de remédio amargo.
Quando minha mãe, Ava, ainda estava viva, ela era uma anual co-presidente do Festival do Livro de Texas, e fazia pausas para fumar com Kinky Friedman1. Ela era glamorosa e tinha as melhores pernas que qualquer mulher do River Oaks, e dava os melhores jantares. Como eles diziam naquela época, ela era tão boa quanto Dr. Pepper na torneira. Depois de conhecê-la, homens diziam a papai que ele era um imbecil sortudo, e isso o satisfazia infinitamente. Ela era mais do que ele merecia, afirmou em mais de uma ocasião. E então ele dava uma risada vil, porque ele sempre achava que ele merecia mais do que merecia.
1 – Americano, cantor de música country, compositor, novelista, humorista, político, e ex-colunista de um jornal do Texas.
Setecentos convidados foram levados para a recepção, mas pelo menos mil apareceram. As pessoas entravam na mansão e saiam para a enorme tenda banca, que foi enfeitada com milhares de pequenas luzes brancas e orquídeas brancas e cor-de-rosa. O calor úmido da noite de primavera trouxe uma fragrância doce às flores.
Dentro da casa climatizada, um grande aposento com o bufê foi dividido por uma longa mesa de frutos do mar de dez metros com todos os tipos de mariscos.
Havia doze esculturas de gelo, uma delas formada ao redor de uma fonte de champanhe, outra enfeitando uma fonte de vodca com bolsões de caviar. Garçons com luvas brancas enchiam garrafas de cristal com vodca gelada, e dividiam o caviar e os ovos de codorna.
Algumas mesas tinham terrinas de sopa de lagosta, pratos cheios de fatias de lombo defumado, atum grelhado, e pelo menos outros trinta tira-gostos. Eu estive em várias festas e eventos em Houston, mas eu nunca tinha visto tanta comida em um só lugar na minha vida.
Repórteres do Houston Chronicle e Texas Monthly estavam aqui para cobrir a recepção, que incluía convidados como o governador eleito e o prefeito, um famoso chefe de cozinha, gente de Hollywood e do ramo do petróleo. Todos estavam esperando por Gage e Liberty, que estavam na capela com o fotógrafo.
Nick estava um pouco impressionado. Vindo da classe-média, isso era um choque para seu sistema. Eu e minha consciência social incipiente estávamos embaraçadas com o excesso. Eu tinha mudado desde que fui à Wellesley, uma universitária feminina com o lema non ministrari sed ministrare. Não para ser servido, mas para servir. Pensei que era um bom lema para alguém como eu aprender.
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Minha família tinha gentilmente zombado dessa minha fase. Eles – especialmente meu pai – pensavam que eu vivia num clichê, uma garota rica interessando-se pela culpa liberal. Eu levei minha atenção de volta para as longas mesas. Eu tinha feito um arranjo para que o que sobrasse fosse levado para um número de abrigos de Houston, o que minha família achou que era uma boa ideia. Eu ainda me sentia culpada. Uma falsa liberal, lamentando pelo caviar.
“Você sabia,” perguntei à Nick quando fomos para a fonte de vodca, “que você tem de peneirar uma tonelada de sujeira para encontrar um diamante de um quilate? Então para produzir todos os diamantes daqui, você teria de escavar a maior parte da Austrália.”
Nick fingiu estar confuso. “Na última vez que chequei, ainda estava lá.” Ele correu seus dedos sobre meu ombro nu. “Relaxe, Haven. Você não tem de me provar nada. Sei quem você é.”
Embora ambos fossemos nativos do Texas, nos conhecemos em Massachusetts. Eu tinha ido para Wellesley e Nick foi para Tufts. Eu o conheci numa festa que foi feita numa casa de passeio em Crambridge. Cada quarto representava um país diferente, com uma bebida nacional. Vodca na Rússia, uísque na Escócia, e assim por diante.
Em algum lugar entre a América do Sul e o Japão, eu tropecei em um garoto de cabelos escuros e olhos esverdeados, com um sorriso confiante. Ele tinha um corpo longo e forte de corredor e um olhar intelectual.
Para meu deleite, ele falou com sotaque texano. “Talvez você devesse dar um tempo nessa sua turnê mundial. Pelo menos até você estar firme em seus pés.”
“Você é de Houston,” eu disse.
Seu sorriso se ampliou quando ouviu meu sotaque. “Não, senhora.”
“Santo Antônio?”
“Não.”
“Austin? Amarillo? El Paso?”
“Não, não, e obrigado, Deus, não.”
“Dallas, então,” disse rancorosa. “Difícil. Você é praticamente um yankee.”
Nick me levou para fora, onde nos sentamos nos degraus da entrada e conversamos no ar frio por duas horas.
Nós nos apaixonamos muito rápido. Eu faria qualquer coisa por Nick, iria a qualquer lugar com ele. Eu ia me casar com ele. Seria a Sra. Nicholas Tanner. Haven Travis Tanner. Ninguém iria me parar.
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Quando eu finalmente tive minha chance de dançar com meu pai, Al Jarreau estava cantando “Accentuate the Positive” com alegria suave. Nick tinha ido ao bar com meus irmãos Jack e Joe, e ele iria conhecer a casa depois.
Nick foi o primeiro homem que eu trouxe para casa, o primeiro homem pelo qual me apaixonei. Também o único com quem dormi. Eu nunca saí muito. Minha mãe morreu de câncer quando eu tinha quinze anos, e pelos dois anos seguintes eu fiquei muito depressiva e culpada só de pensar sobre ter uma vida amorosa. E então eu tinha ido para uma universidade só de mulheres, que foi maravilhoso para minha educação, mas não tão bom para minha vida amorosa.
Não foi só o ambiente só feminino que me manteve afastada de ter relacionamentos, entretanto. Muitas mulheres iam para festas fora do campus, ou encontravam caras enquanto tomavam cursos extras na Harvard ou MIT. O problema era eu. Eu não tinha alguma habilidade essencial para atrair pessoas, para dar e receber amor facilmente. Significava muito para mim. Eu parecia ficar afastada das pessoas que mais queria. Finalmente eu tinha percebido que conseguir que alguém te ame era como tentar fazer um pássaro pousar no seu dedo... não iria acontecer a menos que você parasse de tentar.
Então eu desisti, e quando o clichê desapareceu, foi quando aconteceu. Conheci Nick, e nos apaixonamos. Ele era quem eu queria. Isso deveria ser suficiente para minha família. Mas eles não o aceitaram. Em vez disso, encontrei-me respondendo perguntas que eles nem tinham perguntado, dizendo coisas como “Estou realmente feliz,” ou “Nick está se formando em economia,” ou “Nós nos conhecemos numa festa da universidade.” Sua falta de interesse nele, na história ou no futuro do nosso relacionamento, me irritou além dos limites. Era um julgamento por si só, esse silêncio sinistro.
“Eu sei, doçura,” meu melhor amigo, Todd, tinha me dito quando eu o liguei para reclamar. Nós nos conhecíamos desde os doze anos, quando sua família se mudou para River Oaks. O pai de Todd, Tim Phelan, era um artista que foi destaque em todos os grandes museus, incluindo o MoMa em Nova Iorque e o Kimbell em Fort Worth.
Os Phelans tinham sempre mistificado os residentes de River Oaks. Eles eram vegetarianos, os primeiros que eu conheci. Eles usavam roupas de cânhamo amassadas e Birkenstocks. Numa vizinhança onde dois estilos de decoração predominavam – o Inglês e o Texano – os Phelans tinham pintado cada quarto de sua casa com cores diferentes, com listras exóticas e designs redondos nas paredes.
E o mais fascinante era que os Phelans eram budistas, uma palavra que eu ouvia menos que “vegetariano”. Quando eu perguntei a Todd o que budistas faziam, ele disse que eles passavam muito tempo contemplando a natureza da realidade. Todd e seus pais tinham me convidado para ir á um templo budista com eles, mas para meu desgosto, meus pais disseram não. Eu era uma batista, mamãe disse, e batistas não passavam seu tempo pensando na realidade.
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Todd e eu sempre fomos tão próximos que as pessoas assumiam que nós saíamos juntos. Nunca tivemos um envolvimento romântico, mas o sentimento entre nós não era platônico tampouco. Eu não tenho certeza se algum de nós podia explicar o que nós éramos um para o outro.
Todd era, provavelmente, o ser humano mais bonito que eu já tinha visto. Ele era esbelto e atlético, com feições finas e cabelo loiro, e seus olhos eram de um opulento azul esverdeado do oceano do Caribe nos folhetos de viagem. E havia uma qualidade felina nele que o separava dos outros texanos de ombros largos e arrogantes que eu conhecia. Eu perguntei a Todd uma vez se ele era gay, e ele tinha dito que não se importava se alguém era um homem ou uma mulher, ele estava mais interessado no que a pessoa tinha por dentro.
“Então você é bissexual?” eu tinha perguntado, e ele riu da minha insistência no assunto.
“Acho que sou bipossível,” ele tinha dito, e pressionou um beijo quente e descuidado nos meus lábios.
Ninguém me conhecia tão bem, ou me entendia tão bem, quanto Todd. Ele era meu confidente, a pessoa que estava sempre ao meu lado, mesmo quando ele não estava tomando meu partido.
“Isso é exatamente o que você disse que eles fariam,” Todd disse quando eu contei a ele que minha família estava ignorando meu namorado. “Então, sem surpresas.”
“Só porque não é uma surpresa não significa que não é grave.”
“Só para lembrar, essa semana não é sua e de Nick. É da noiva e do noivo.”
“Casamentos nunca são da noiva e do noivo,” eu disse. “Casamentos são plataformas públicas para famílias disfuncionais.”
“Mas eles têm de fingir que é da noiva e do noivo. Então vá com isso, celebre, e não converse com seu pai sobre Nick até depois do casamento.”
“Todd,” perguntei queixosamente. “você conheceu Nick. Você gosta dele, não gosta?”
“Não posso responder isso.”
“Por que não?”
“Porque se você ainda não percebeu, nada que eu diga pode fazer você perceber.”
“Perceber o quê? O que quer dizer?”
Mas Todd não respondeu, e eu me senti enganada e irritada.
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Infelizmente, o conselho de Todd foi por água abaixo logo que comecei o foxtrote com meu pai.
Meu pai estava corado pelo champanhe e pelo triunfo. Ele não fazia nenhum segredo de que queria que esse casamento acontecesse, e as novidades sobre a gravidez da minha cunhada eram ainda melhores. As coisas estavam indo do jeito dele. Eu tenho certeza de que ele tinha visões de netos dançando na sua cabeça, gerações de DNA maleável a sua disposição.
Papai tinha peito de barril, pernas curtas, e olhos escuros, com um cabelo tão grosso que você quase não conseguia ver seu escalpo por baixo. Tudo isso e seu queixo alemão o faziam ser um homem que se destacava, senão um atraente. Ele tinha algum sangue comanche do seu lado materno, e um punhado de ancestrais alemães e escoceses cujos futuros tinham sido fora de seus países nativos. Então eles tinham vindo ao Texas procurando terras baratas e sem inverno que só precisavam de trabalho para trazer prosperidade. Em vez disso, eles encontraram aridez, epidemias, invasões indígenas, escorpiões, e besouros do tamanho de seus polegares.
Os Travis que sobreviveram eram as pessoas mais teimosas da face da Terra, o tipo que confiavam em sua espinha dorsal quando seus outros ossos eram quebrados. Isso contava para a teimosia do papai... e para a minha também. Nós éramos muito parecidos, mamãe sempre disse, ambos prontos para fazer qualquer coisa para conseguir do nosso jeito, ambos ávidos para ultrapassar a linha que o outro desenhou.
“Hey, papai.”
“Abobrinha.” Ele tinha uma voz grave, com uma ponta de perpétua impaciência de um homem que nunca teve de agradar ninguém. “Você está bonita hoje à noite. Você me lembra sua mãe.”
“Obrigada.” Elogios eram raros do papai. Eu os apreciava, embora soubesse que minha semelhança com minha mãe era, no máximo, suave.
Eu estava usando um vestido de cetim verde, as alças presas com fivelas de cristal. Meus pés usavam delicadas sandálias prateadas de 8 centímetros. Liberty insistiu em fazer meu cabelo. Levou uns quinze minutos para enrolar e prender as mexas num coque enganosamente simples que eu não poderia ter esperanças de reproduzir. Ela era apenas um pouco mais velha que eu, mas suas maneiras eram maternais, gentis, num modo em que minha própria mãe raramente foi.
“Aqui,” Liberty murmurou quando terminou, e pegou pó para passar no meu nariz, brincalhona. “Perfeito.”
Era realmente difícil não gostar dela.
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Enquanto papai e eu dançávamos, um dos fotógrafos se aproximou. Ficamos mais perto um do outro e sorrimos para o flash, e então voltando para nossa distância anterior.
“Nick e eu vamos voltar para Massachusetts amanhã,” eu disse. Iríamos voar num vôo comercial – eu tinha colocado duas passagens de primeira-classe no meu cartão de crédito. Visto que meu pai pagava as contas do meu Visa, pessoalmente, eu sabia que ele estava consciente de que eu tinha comprado a passagem de Nick. Eu não tinha falado nada sobre isso. Ainda.
“Antes que partamos,” continuei, “Nick vai ter uma conversa com você.”
“Estou esperando por isso.”
“Eu gostaria que você fosse legal com ele,” eu disse.
“Às vezes eu não vou legal por uma razão. É um modo de descobrir do que a pessoa é feita.”
“Você não precisa testar Nick. Só precisa respeitar minhas escolhas.”
“Ele quer se casar com você,” papai disse.
“Sim.”
“E então ele calcula que vai ter uma passagem de primeira-classe pela vida toda. É isso que você é para ele, Haven.”
“Você já pensou,” perguntei, “que alguém pode me amar de verdade por mim mesma, e não pelo seu dinheiro?”
“Ele não.”
“Eu tenho de decidir isso,” retruquei. “Não você.”
“Você tomou sua decisão,” papai disse, e embora não fosse exatamente uma pergunta, eu disse que sim, eu tinha. “Então não me peça permissão,” ele continuou. “Faça suas escolhas e aceite as consequências. Seu irmão com certeza não me perguntou o que eu achava sobre ele se casar com Liberty.”
“Claro que ele não perguntou. Você fez todo o possível para uni-los. Todo mundo sabe que você é louco por ela.” Alarmada com a ponta de ciúme na minha própria voz, eu continuei rapidamente. “Nós não podemos fazer isso do modo normal, papai? Eu trago meu namorado para casa, você finge que gosta dele, eu continuo com minha vida, e você e eu nos ligamos nos feriados.” Eu fiz um sorriso com minha boca. “Não fique assim, papai. Só me deixe ser feliz.”
“Você não vai ser feliz com ele. Ele é fadado ao fracasso.”
“Como você sabe? Você nunca passou mais que uma hora na companhia de Nick.”
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“Eu estive por aí o bastante para conhecer um fracassado quando vejo um.”
Eu não sei qual de nós levantou a voz, mas estávamos atraindo alguns olhares curiosos. Percebi que uma discussão não precisava ser alta para que outras pessoas notassem. Eu lutei para me acalmar, e mantive meus pés dançando fora do ritmo, mas ainda movimentando-os. “Qualquer homem que eu queira seria um fracassado para você,” eu disse. “A menos que você o escolhesse.”
Eu achei que tinha verdade suficiente nisso para deixar meu pai irritado. “Eu vou te dar um casamento,” disse, “mas você tem de conseguir alguém que lhe leve pelo corredor. E não venha para mim depois quando precisar de dinheiro para um divórcio. Você se casa com ele, e estou cortando você. Nenhum dos dois vai conseguir um níquel de mim, entende isso? Se ele tiver culhões para conversar comigo amanhã, eu vou dizer isso a ele.”
“Obrigada, papai.” Eu me afastei bem quando a música terminou. “Você faz um péssimo foxtrote.”
Quando eu saí da pista de dança, passei por Carrington, que estava correndo para meu pai com seus braços abertos. Ela era a irmã mais nova de Liberty. “Minha vez,” ela gritou, como se dançar com Churchill Travis fosse a melhor coisa do mundo.
Quando eu tinha nove anos, pensei amargamente, eu me sentia desse modo com ele também.
Abri meu caminho através da multidão de pessoas, e tudo que pude ver eram bocas e mais bocas... conversando, rindo, comendo, bebendo, beijando. O barulho acumulado era entorpecedor.
Olhei para o relógio de parede no corredor, um antigo regulador redondo que já pertenceu a Buffalo Bayou, Brazos, e Colorado Railway. Nove horas. Em meia hora, eu deveria me encontrar com Liberty num dos quartos do segundo andar para ajudá-la a se trocar para suas vestes de despedida. Eu não podia esperar para passar por esse ritual particular. Havia felicidade demais para uma só noite.
O champanhe me deixou com sede. Fui para a cozinha, cheia com fornecedores e seu material, e consegui encontrar um copo limpo num dos armários. Enchi-o com água da torneira, e bebi em grandes goles.
“Com licença,” um garçom disse com urgência, tentando me empurrar com braseiro fumegante. Eu recuei para deixá-lo passar, e vaguei pelo salão de jantar oval.
Para meu alívio, vi a forma familiar da cabeça e dos ombros de Nick próximo ao corredor escuro que levava à adega. Ele tinha passado pelo portão de ferro e o deixado entreaberto. Parecia que ele estava indo para o arco, que estava delineado por apoios de barris de carvalho que adocicavam o ar. Imaginei que Nick devia ter ficado cansado das
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multidões e tinha vindo mais cedo para me encontrar. Eu queria que ele me abraçasse. Eu precisava de um momento de paz no meio da cacofonia.
Rodeando a mesa de jantar, fui para a adega. O portão se fechou atrás de mim com um ruído suave. Alcançando o interruptor, eu desliguei a luz e adentrei na adega.
Ouvi Nick resmungar, “Hey—”
“Sou eu.” Eu o encontrei facilmente na escuridão, dando uma risada baixa quando minhas palmas deslizaram pelos seus ombros. “Humm. Você fica bem de smoking.”
Ele começou a dizer algo, mas puxei sua cabeça para baixo até que minha boca semiaberta tocasse a ponta de sua mandíbula. “Senti sua falta,” sussurrei. “Você não dançou comigo.”
Ele prendeu a respiração, e suas mãos vieram para meus quadris quando eu vacilei um pouco sobre meus saltos altos. O ar doce de vinho enchia minhas narinas, e algo mais... o cheiro de pele de homem, limpa como tempero ou condimento... especiarias. Fazendo pressão na sua nuca, eu puxei sua boca para a minha, encontrando suavidade e calor, o gosto do champanhe se derretendo no gosto intimo dele.
Uma de suas mãos viajava pela minha espinha, extraindo um tremor, um doce choque, quando o calor da sua palma encontrou minha pele nua. Eu senti a força de sua mão, e a gentileza, quando ela se fechou sobre minha nuca e inclinou minha cabeça para trás. Sua boca mal encontrava a minha, mais uma promessa de um beijo, que um beijo de verdade. Fiz um pequeno som ao toque dos seus lábios e mantive meu rosto virado para cima, esticando-me por mais. Outra descida entorpecente, um prazer vertiginoso quando ele abriu minha boca com a dele. Ele foi mais profundamente, sua língua encontrando lugares que arrancaram um riso da minha garganta.
Tentei me enroscar nele, abraçá-lo com o meu corpo quente. Sua boca era lenta e penetrante, os beijos duros no início, e depois afrouxando como se se desatasse de seu próprio calor. O prazer aumento, um rubor subindo pelo meu corpo, trazendo o desejo com toda força. Eu não estava consciente de recuar, mas senti a aresta da mesa contra meu bumbum, a ponta fina cravando minha carne.
Nick me levantou com facilidade surpreendente até que me sentei na mesa fria. Ele tomou minha boca novamente, por mais tempo, mais profundamente, enquanto eu tentava prender sua língua, tentava puxá-lo ao máximo para dentro. Eu queria me deitar na mesa, oferecer minha carne dolorida no mármore estéril, e deixá-lo fazer o que quisesse. Algo tinha se quebrado dentro de mim. Eu estava saturada com excitação, bêbada com isso, e parte disso era porque Nick, que sempre pareceu estar tão no controle, estava lutando para se controlar. Sua respiração vinha em sopros irregulares, suas mãos agarrando meu corpo.
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Ele beijou minha garganta, provando a pele fina e suscetível, seus lábios acariciando minha pulsação. Eu deslizei minhas mãos para seu cabelo, tão macio e grosso, mechas de seda pesada nas minhas palmas. Nem um pouco como o cabelo de Nick.
Uma pontada fria de horror foi para meu estômago. “Ah, Deus.” Eu mal fui capaz de forçar as palavras para fora. Toquei seu rosto na escuridão, encontrando feições duras e não familiares, o arranhar da barba raspada. Os cantos dos meus olhos arderam, mas eu não estava certa se as lágrimas iminentes eram causadas pelo embaraçado, raiva, medo, desapontamento, ou alguma maldita combinação de todos eles. “Nick?”
Meu pulso foi pego por uma mão poderosa, e sua boca vagou suavemente sobre a parte de dentro dos meus dedos. Um beijo queimou o centro da minha palma, e então ouvi uma voz tão fumegante e profunda que poderia jurar que pertencia ao demônio.
“Quem é Nick?”
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O estranho não me libertou na escuridão escaldante, apenas acariciou minhas costas em uma tentativa de afrouxar a rígida cadeia da minha vértebra.
“Deus, me desculpe,” eu disse com os dentes tremendo. “Eu p-pensei que você fosse meu namorado.”
Ele soou triste. “No momento, eu queria que eu fosse.” Sua mão subiu para a parte de trás nua do meu pescoço e pressionou gentilmente, relaxando a tensão nos músculos. “Devo ligar as luzes?”
“Não!” agarrei-o com força.
Ele permaneceu parado obedientemente. Um sorriso coloriu sua voz quando ele perguntou, “Importa-se em me dizer seu nome?”
“Absolutamente, certamente que não. Sem nomes.”
“Ok, chefe.” Ele me soltou da mesa, equilibrando-me com suas mãos.
Meu coração batia violentamente. “Eu nunca fiz nada como isso antes. Eu – eu acho que deveria desmaiar ou gritar ou algo –”
“Eu preferiria que não.”
“Eu não quero que ninguém saiba sobre isso. Eu queria que eu não soubesse nada sobre isso. Eu queria –”
“Você fala bem rápido quando está nervosa,” ele observou.
“Eu falo rápido o tempo todo. E não estou nervosa. Estou em choque. Eu queria desfazer isso. Eu me sinto como uma daquelas páginas de erro do computador...”
“Um Quatro-Zero-Quatro?”
“Sim. Isso é um grande Quatro-Zero-Quatro.”
Ele fez um som de divertimento. “Está tudo bem,” ele disse, puxando-me para perto. A proximidade do seu corpo era tão confortadora que eu não conseguia me obrigar a me afastar. E sua voz era macia o suficiente para parar um rebanho de gado. “Tudo está bem. Nenhum mal foi feito.”
“Você não vai dizer para ninguém?”
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“Claro que não. Se Nick descobrir, ele vai me dar uma surra.”
Assenti, embora a ideia de Nick dar uma surra nesse cara era engraçada. Através do tecido do seu smoking eu podia sentir os contornos de um corpo tão duro e poderoso que parecia invulnerável. Em um vislumbre, eu me lembrei do cara na tenda da recepção, e meus olhos se arregalaram na escuridão. “Oh.”
“O quê?” Ele inclinou sua cabeça, e sua respiração quente balançou o cabelo da minha testa.
“Eu vi você na tenda, de pé nos fundos. Você é um com olhos azuis, não é?”
Ele ficou bem parado. “Você é a dama de honra de vestido verde.” Um riso baixo e irônico escapou dele, o som tão delicioso que cada cabelo do meu corpo se arrepiou. “Merda. Você é uma Travis, não é?”
“Eu não admito nada.” Eu lutei para separar a vergonha e a excitação que batiam dentro das minhas veias. A boca dele estava tão próxima. Eu queria mais daqueles beijos quentes. Eu me sentia terrível por isso. Mas o cheiro quente dele... ele cheirava melhor que qualquer humano que eu conheci. “Ok,” eu disse, “esqueça o que eu disse sobre não trocar nomes. Quem é você?”
“Para você, querida... eu sou problema.”
Ambos ficamos parados e em silêncio, em um meio abraço como se cada segundo proibido tivesse formado uma corrente ao nosso redor. A parte do meu cérebro que ainda estava funcionando me alertava para empurrá-lo com força. Mas ainda assim eu não podia me mexer, paralisada pela sensação de que algo extraordinário estava acontecendo. Mesmo com todo o barulho do lado de fora da adega, com centenas de pessoas por perto, eu sentia como se estivesse em um lugar distante.
Uma das suas mãos veio para meu rosto, as pontas dos dedos explorando a curva da minha bochecha. Cegamente estendi a mão e senti a parte de trás dos seus dedos, procurando por um anel.
“Não,” ele murmurou, “não sou casado.”
A ponta do seu dedo mindinho encontrou a borda da minha orelha e a traçou delicadamente. Eu me encontrei deslizando para uma passividade estranha e prazerosa. Eu não posso fazer isso, pensei, mesmo assim eu o deixei me puxar para mais perto, sua mão aproximando meus quadris aos dele. Minha cabeça estava pesada, caindo para trás quando ele tocou com o nariz no espaço macio debaixo da minha mandíbula. Eu sempre tinha pensado que era muito boa em resistir à tentação. Mas essa era a primeira vez que eu tinha sentido tanta luxuria, e eu não estava preparada para lidar com isso.
“Você é amigo do noivo,” conseguir perguntar, “ou da noiva?”
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Eu o senti sorrindo contra minha pele. “Eu não diria que eu sou popular com nenhum dos dois.”
“Meu Deus. Você invadiu a recepção, não foi?”
“Querida, metade das pessoas aqui invadiram a recepção.” Ele traçou uma das tiras que seguravam meu vestido, e meu estômago deu um pulo excitado.
“Você está no ramo do petróleo? Ou é fazendeiro?”
“Petróleo,” disse. “Por que pergunta?”
“Você tem a estrutura de uma pessoa bruta.”
Um riso balançou seu peito. “Eu tive minha fase de construir canos de perfuração,” ele admitiu. Sua respiração era macia e quente contra meu cabelo. “Então... você sempre sai com caras de colarinho azul? Aposto que não. Uma garota rica como você... ficaria com seu próprio tipo, não?”
“Você está usando um bom smoking para um colarinho azul,” comentei. “Armani?”
“Mesmo brutos têm de se vestir bem de vez em quando.” Ele colocou suas mãos nas minhas laterais, segurando levemente a ponta da mesa. “Para que é isso?”
Eu recuei para preservar a pequena, mas crucial distância entre nossos corpos. “A mesa de degustação?”
“Sim.”
“É para desarrolhar e decantar. Mantemos os assessórios de vinho nas gavetas. Também panos brancos para gotejar o vinho, para que você possa julgar o vinho pela cor.”
“Eu nunca fui de degustar vinho antes. Como você faz?”
Eu encarei o contorno da sua cabeça, agora levemente visível nas pesadas sombras. “Você segura à taça pela haste, coloca seu nariz dentro da taça e sente o cheiro.”
“No meu caso, uma quantidade considerável de nariz.”
Eu não pude resistir em tocá-lo então, meus dedos contornando seu rosto, investigando a linha agressiva do seu nariz. Eu toquei a curva próxima à ponte. “Como você quebrou?” perguntei em voz baixa.
Seus lábios quentes deslizaram sobre a palma da minha mão. “Essa é uma das histórias que eu conto apenas quando bebo algo bem mais forte que vinho.”
“Oh.” Puxei minha mão para longe. “Desculpe.”
“Não se preocupe. Eu não me importo de contar para você algum dia.”
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Com teimosia, voltei para a conversa anterior. “Quando você toma um gole de vinho, você o prende na boca. Há um lugar na parte de trás da sua boca que leva aos receptores olfativos em sua cavidade nasal. É chamado retro-olfato.”
“Interessante.” Ele parou. “Então depois de você degustar e cheirar o vinho, você o cospe em um balde, certo?”
“Eu prefiro engolir que cuspir.”
Quando o duplo sentido das palavras me ocorreu, eu corei forte o bastante para ter certeza de que ele podia ver na escuridão. Piedosamente, ele não comentou, embora eu pudesse ouvir a ponta de diversão na sua voz. “Obrigado pelas dicas.”
“De nada. Deveríamos ir agora. Você vai primeiro.”
“Ok.”
Mas nenhum de nós se moveu.
E então suas mãos encontraram meus quadris, deslizando para cima, um calo do seu dedo prendendo o tecido frágil do meu vestido. Eu estava consciente de cada mudança do seu peso, dos movimentos sutis dos ossos e dos músculos pesados. O som da sua respiração era eletrizante.
As mãos longas e duras pelo trabalho não pararam até que ele estavam segurando meu rosto com um carinho que fez minha garganta se apertar. Sua boca procurou a minha, toda seda quente e doce. Mas mesmo com toda a gentileza do beijo, havia algo tão cru nele que quando ele recuou, meus nervos estavam pulsando de prazer e insuportavelmente vivos. Um choramingo emergiu da minha garganta, o som me embaraçando, mas não havia como controla-lo. Não havia como controlar nada.
Eu estendi as mãos para segurar seus punhos pesados, principalmente para evitar que eu tropeçasse. Meus joelhos estavam acabados. Eu nunca tinha sentido algo tão explosivo, ou traiçoeiro. O mundo tinha se contraído até essa pequena adega, dois corpos na escuridão, a dor do desejo por alguém que eu nunca poderia ter. Ele moveu sua boca para meu ouvido, e senti a umidade quente da sua respiração. Me inclinei contra ele em deslumbramento.
“Escute, querida,” sussurrou. “Houve apenas umas duas vezes na minha vida em que algo parecia tão bom que eu não ligava a mínima sobre as consequências.” Seus lábios deslizaram sobre minha testa, meu nariz, minhas pálpebras trêmulas. “Vá dizer a Nick que você não está se sentindo bem, e venha comigo. Agora. Há uma lua vermelha hoje à noite. Vamos a algum lugar encontrar alguma grama macia, e dividir uma garrafa de champanhe. E vou te levar para Galveston para assistir o nascer do sol sobre a baia.”
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Eu estava impressionada. Os homens nunca fizeram propostas como essa para mim. E eu nunca teria pensado que ficaria insanamente tentada. “Não posso. Isso é loucura.”
Seus lábios capturaram os meus em um beijo suave. “Talvez seja loucura não fazer.”
Eu me contorci e recuei até que consegui colocar alguma distância entre nós. “Eu tenho um namorado,” disse trêmula. “Eu não sei por que eu acabei de... eu não sei por que eu deixei isso acontecer. Sinto muito.”
“Não se desculpe. Pelo menos, não por isso.” Os passos dele se aproximaram, e eu fiquei tensa. “Você deveria realmente sentir muito,” ele continuou, “é que, pelo resto da minha vida, eu terei de fugir de adegas para não ter de pensar em você.”
“Por quê?” perguntei, infeliz e envergonhada. “Me beijar foi tão ruim assim?”
Um sussurro suave e maligno. “Não, querida. Foi tão bom assim.” E ele foi embora primeiro, enquanto eu me inclinava contra a mesa de degustação com o equilíbrio alterado.
Eu voltei para a festa e fugi pela grande escadaria que levava aos quartos do segundo andar. Liberty estava esperando por mim no quarto que Gage ocupou na infância. Eu tinha entrado lá umas mil vezes, querendo atenção da única pessoa que sempre parecia ter tempo para mim. Eu devia ter sido um pé no saco, tagarelando com ele enquanto ele fazia seu dever de casa, arrastando meus brinquedos quebrados para ele consertar. Mas Gage tinha tolerado isso com o que, em retrospecto, foi uma paciência extraordinária.
Eu me lembrei do tempo em que eu tinha a idade de Carrington, talvez um pouco mais nova, quando Jack e Joe tinham jogado minha boneca favorita pela janela e Gage tinha ido pegá-la. Eu tinha ido ao quarto de Jack, um caos de brinquedos, livros e roupas descartadas, e eu tinha o visto e ao Joe ajoelhados na janela aberta.
“O que estão fazendo?” perguntei, aventurando-me a me aproximar. As duas cabeças escuras se viraram ao mesmo tempo.
“Sai daqui, Haven,” Jack tinha mandado.
“Papai disse que vocês têm de me deixar brincar com vocês.”
“Depois. Cai fora.”
“O que estão segurando?” Eu tinha me aproximado, meu coração apertado quando eu vi algo em suas mãos, presa com cordas. “Essa... essa é Bootsie?”
“Nós só a pegamos emprestada,” Joe tinha dito, suas mãos ocupadas com a corda e algum tipo de vestido de plástico.
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“Vocês não podem!” Eu tinha sentido o pânico de não poder fazer nada, o ultraje de ter algo levado de mim. “Vocês não me pediram. Deem-me de volta! Deem-me –” Minha voz virou um grito quando vi Bootsie sendo pendurada pela janela, seu corpo nu e rosado preso com cordas e tiras de plástico. Minha boneca tinha sido recrutada em uma missão para pular de paraquedas. “Nãããããão!”
“Por Deus,” Jack disse em um tom enojado. “É só um pedaço de plástico.” E, adicionando uma injustiça ao insulto, ele me deu um olhar maligno e a derrubou.
Bootsie tinha caído como uma pedra. Eu não poderia ficar mais angustiada se os garotos tivessem deixando cair um bebê de verdade pela janela. Um grito saia pela minha garganta enquanto eu corria do quarto e descia a grande escadaria. E eu continuei gritando enquanto eu saia da casa, não dando atenção às vozes dos meus pais, da governanta, do jardineiro.
Bootsie tinha caído no meio de um massivo arbusto. A única coisa visível tinha sido o paraquedas amarrotado preso no galho do topo, minha boneca pendurada fora da minha vista dentro das plantas. Como eu era muito baixa e pequena para alcançar os galhos, eu só podia ficar lá chorando, enquanto o calor do sol do Texas me envolvia como um cobertor de lã.
Alertado pela confusão, Gage tinha vindo e remexido o arbusto até que encontrou Bootsie. Ele tinha limpado a poeira das folhas, e me abraçado até que minhas lágrimas sujaram sua camiseta.
“Eu amo você mais que qualquer um,” eu tinha sussurrado para ele.
“Eu amo você também,” Gage tinha sussurrado em resposta, e eu pude senti-lo sorrir contra meu cabelo. “Mais que qualquer um.”
Quando eu entrei no quarto de Gage agora, eu vi Liberty sentada na cama em um monte de organza1 cintilante, seus sapatos no chão, seu véu flutuando sobre o colchão. Parecia impossível que ela pudesse ficar mais impressionante do que esteve anteriormente na igreja. Mas ela parecia até melhor dessa forma, brilhante e borrada. Ela era meio mexicana com uma tez bronzeada e grandes olhos verdes, e um corpo que fazia você pensar na palavra “violão.” Ela também era tímida. Cuidadosa. Você tinha a sensação de que as coisas não foram fáceis para ela, e que ela conhecia as durezas da vida.
Liberty fez uma expressão engraçada quando me viu. “Minha salvadora. Você tem de me ajudar a sair desse vestido – tem mil botões e eles estão todos nas costas.”
“Sem problemas.” Eu me sentei na cama próxima a ela, e ela se virou para facilitar para mim. Eu me senti estranha, lutando com tensões silenciosas que nenhuma quantidade de simpatia da parte dela poderia dissolver.
1 Tipo de tecido.
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Eu tentei pensar em algo gracioso para dizer. “Acho que hoje foi o melhor dia da dia de Gage. Você o faz muito feliz.”
“Ele me faz muito feliz, também,” Liberty disse. “Mais que feliz. Ele é o homem mais incrível, o mais...” Ela parou e deu de ombros, como se fosse impossível colocar seus sentimentos em palavras.
“Nós não somos a família mais fácil para se unir. Muitas personalidades fortes.”
“Eu amo os Travis,” ela disse sem hesitação. “Todos vocês. Eu sempre quis uma grande família. Foi só eu e Carrington depois que mamãe morreu.”
Eu nunca refleti no fato de que nós duas tínhamos perdido a mãe durante a adolescência. Exceto que deve ter sido muito mais assustador para Liberty, porque não houve nenhum pai rico, nenhuma família, nenhuma casa legal ou vida confortável. E ela criou sua irmã mais nova sozinha, o que tenho de admirar.
“Sua mãe ficou doente?” perguntei. Ela balançou a cabeça. “Acidente de carro.”
Eu fui ao closet e peguei o terno e a calça brancos que estavam pendurados. Trouxe para Liberty, que pulou do seu vestido. Ela era uma visão de suntuosas curvas enfeitadas com laços brancos, o inchaço da sua gravidez mais desenvolvido do que eu teria esperado.
Liberty vestiu as calças brancas e o terno combinando, e os sapatos bege de salto baixo. Indo para a penteadeira, ela se inclinou para perto do espelho e limpou seu delineador borrado com um lenço. “Bem,” ela disse, “não dá para ficar melhor que isso.”
“Você está gloriosa,” eu disse.
“Fraca.”
“De uma forma gloriosa.”
Ela olhou por sobre seu ombro com um sorriso ofuscante. “Todo seu batom saiu, Haven.” Ela apontou para mim o espelho ao seu lado. “Nick pegou você sozinha em algum canto, não foi?” Ela me passou um tubo de algo brilhante e pálido. Felizmente, antes que eu tivesse de responder, houve uma batida na porta.
Liberty foi abri-la, e Carrington entrou, acompanhada pela minha tia Gretchen.
Tia Gretchen, a irmã mais velha do meu pai e única irmã, era certamente minha parente favorita de qualquer lado da família. Ela nunca tinha sido elegante como minha mãe. Gretchen era nascida no interior e era tão dura quanto qualquer mulher pioneira que já atravessou o Rio Vermelho sobre as pegadas Cherokee. Antigamente as mulheres Texanas tinham aprendido a tomar conta de si mesmas porque os homens estavam sempre longe quando você precisava deles. As versões modernas ainda eram assim, vontade de ferro sob a coberta de cosméticos Mary Kay.
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Tia Gretchen deveria ser uma trágica figura. Ela tinha sido noiva por três vezes, e tinha perdido todos os três noivos, o primeiro na Guerra da Coréia, o segundo em um acidente de carro, e o terceiro devido a um problema não diagnosticado no coração. A cada vez Tia Gretchen confrontou a perda, a tristeza, e aceitou. Ela disse que nunca considerou se casar novamente – estava claro que ela não deveria ter um marido.
Mas tia Gretchen encontrou toda diversão que ela poderia encontrar na vida. Ela usava tons brilhantes de coral e vermelho, e sempre batom combinando com suas roupas, e ela usava joias em todos os lugares. Seu cabelo era sempre intrigante e preso em um coque branco-prateado. Quando eu era pequena, ela viajava bastante e quase sempre trazia presentes para nós.
Sempre que tia Gretchen parava para ficar por uma semana ou mais, nunca havia um tempo conveniente para minha mãe. Colocar umas mulheres cabeça-dura na mesma casa era como colocar dois trens no mesmo trilho e esperar pela colisão. Mamãe teria gostado de limitar as visitas de tia Gretchen, mas ela nunca ousou. Uma das poucas vezes que ouvi meu pai falar de forma agressiva com minha mãe foi quando ela estava reclamando sobre sua irmã intrometida.
“Eu não dou a mínima se ela derrubar toda a casa,” papai disse. “Ela salvou minha vida.”
Quando papai ainda estava no ensino fundamental, seu pai, meu vovô, tinha deixado a família, dizendo às pessoas que sua esposa era a pior mulher que já viveu, e louca também, e enquanto ele poderia viver com uma mulher maluca, não havia nada pior que estar casado com uma. Ele desapareceu de Conroe, onde eles viviam, e nunca se ouviu falar dele novamente.
Qualquer um poderia esperar que o abandono do meu avô poderia fazer com que minha avó refletisse, e talvez a inspirasse a ser um pouco mais bondosa. Em vez disse minha avó fez o contrário. Ela usava seu braço nos seus dois filhos, Gretchen e Churchill, sempre que era provocada. E aparentemente qualquer coisa poderia provoca-la. Ela pegava utensílios de cozinha, ferramentas de jardinagem, qualquer coisa que poderia segurar, e batia seus filhos quase até a morte.
Antes as pessoas eram mais tolerantes com esse tipo de coisa, então não havia interferência pública nos problemas privados de uma família. Gretchen sabia que ela e seu irmão mais novo iriam morrer se ela não os tirasse dali.
Ela juntou dinheiro ganho com lavagem e costura extra, e bem no seu aniversário de dezesseis anos, ela pegou Churchill no meio da noite, guardou suas roupas em caixas de papelão, e caminhou com ele até o fim da rua, onde seu namorado os encontrou com seu carro. O namorado dirigiu por sessenta quilômetros de Conroe até Houston e os deixou lá com a promessa de que os visitaria em breve. Ele nunca os visitou. Estava tudo bem para Gretchen – ela nunca esperou que ele fizesse. Ela tinha sustentado ela mesma e
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Churchill com um trabalho em uma companhia telefônica. Vovó nunca os encontrou, e era duvidoso que ela alguma vez os tivesse procurado.
Anos depois quando eles imaginaram que vovó estava velha demais para causa-los algum mal, Gretchen pediu para alguém checa-la. Eles descobriram que ela estava vivendo em uma bagunça penosa, com pilhas de lixo e vermes por toda a casa. Então Gretchen e Churchill a colocaram em uma casa de repouso, onde ela com felicidade importunou os outros residentes e os empregados por dez anos até que ela faleceu. Churchill nunca foi visita-la, mas Gretchen a visitava de tempos em tempos. Ela levava vovó no Luby’s, e talvez no Beall’s para comprar alguns novos vestidos para casa, e a trazia de volta para a casa de repouso.
“Ela era legal com você quando você a levava para os lugares?” eu uma vez perguntei para tia Gretchen.
A pergunta à fez sorrir. “Não, querida. Ela não sabia como ser legal. Qualquer coisa que você fizesse por ela, ela sentia que tinha direito e que merecia ainda mais.”
“Bem, por que você ia tomar conta dela e visita-la, depois de tudo que ela fez? Eu a teria deixado apodrecer.”
“Bem...” Gretchen ficou pensativa. “Eu imaginei que ela não podia evitar. Ela estava quebrada quando eu cheguei.”
Os últimos anos frearam um pouco Gretchen. Ela se tornou um pouco esquecida, um pouco rabugenta. Ela se movia como se suas juntas não estivessem tão bem presas como deveriam estar. Havia uma nova translucidez na sua pele fina, veias azuis mostrando-se como um esboço de um diagrama que não foi bem apagado. Ela tinha vindo morar conosco desde quando minha mãe morreu, o que agradou papai já que ele queria ficar de olho nela.
Trazer Carrington para casa pareceu dar à Gretchen um novo começo. Ninguém duvidava o quanto elas se adoravam.
Vestida de rosa e roxo, seu cabelo dourado preso em um rabo-de-cavalo com um grande lado brilhante, Carrington estava à figura da alta costura para crianças de nove anos de idade. Ela carregava um buquê de noiva, uma versão menor do que foi feito para Liberty jogar. “Eu vou jogar isso,” Carrington anunciou. “Liberty não pode atirar tão bem quanto eu.”
Gretchen se aproximou, sorrindo. “Você foi a noiva mais bonita que já vi,” disse, abraçando Liberty. “O que você vai usar agora como sua veste de despedida?”
“Essa é a minha veste de despedida,” Liberty respondeu.
“Você está usando calças?”
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“É um terno Escada, tia Gretchen,” eu disse. “Muito estiloso.”
“Você precisa de mais joias,” Gretchen disse a Liberty. “Essa roupa é muito simples.”
“Eu não tenho muitas joias,” disse Liberty, sorrindo.
“Você tem um anel de diamantes do tamanho de uma maçaneta,” remarquei. “Foi um ótimo começo.” Eu sorri ao ver Liberty se encolher em embaraço sobre o anel de noivado que ela achou muito grande. Naturalmente meu irmão Jack tinha aumentando seu desconforto ao apelidar o diamante como “pedra de estimação.”
“Você precisa de um bracelete,” Gretchen disse decidida, segurando algum em uma bolsinha de veludo. “Tome isso, Liberty. Algo um pouco gritante para deixar as pessoas sabendo que você está na vizinhança.”
Liberty abriu a bolsa cuidadosamente, e meu coração se contraiu quando vi o que era: o bracelete dourado e charmoso que Gretchen usou desde sempre, com todos os encantos de todos os lugares exóticos que ela tinha ido durante sua vida.
Ela o tinha prometido para mim quando eu tinha cinco anos de idade.
Eu me lembrei do dia exato – ela tinha comprado para mim um kit de ferramentas com um cinto de couro com bolsos e fendas. Elas eram ferramentas de trabalho de verdade, incluindo um grampeador, um furador, uma serra, alicate, lixa, martelo, oito chaves de parafuso, e um conjunto de chaves de fenda.
Quando mamãe me viu amarrando o cinto de ferramentas, ela arregalou os olhos. Abriu a boca, e antes que uma sílaba saísse, eu soube que ela ia dizer para tia Gretchen tomar o presente de volta. Então eu juntei um punhado de ferramentas e corri para meu pai, que estava entrando na sala. “Olha o que tia Gretchen trouxe para mim!”
“Bem, não é legal?” papai tinha disso, sorrindo primeiro para Gretchen e então para minha mãe. O sorriso ossificou quando ele viu sua expressão.
“Gretchen,” mamãe tinha dito rispidamente, “eu gostaria que você falasse comigo antes de comprar um presente para minha filha. Eu não estou planejando criar um trabalhador em construção civil.”
Parei de me balançar sobre os calcanhares. “Eu não vou devolvê-los.”
“Não fale de maneira insolente com sua mãe,” papai disse.
“Por Deus,” Gretchen tinha dito. “São brinquedos, Ava. Haven gosta de fazer coisas. Não há nada de errado com isso.”
A voz da minha mãe estava espinhosa. “Sou eu quem decido o que é o melhor para minha própria filha, Gretchen. Se você sabe tanto sobre crianças, você deveria ter tido
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uma.” Ela tinha saído da sala, passando por mim e por papai, deixando um silêncio frio em seu caminho.
Gretchen tinha suspirado, balançando a cabeça quando olhou para papai. “Posso ficar com o kit de ferramentas?” perguntei.
Papai me lançou um olhar exasperado e foi atrás da minha mãe.
Eu fui para Gretchen lentamente, minhas mãos apertadas na minha frente. Ela estava quieta, mas eu sabia o que tinha de fazer. Eu desamarrei o cinto de ferramentas e o coloquei cuidadosamente de volta na casa. “Eu acho que você deveria ter me dado um jogo de chá,” eu disse com tristeza. “Tome de volta, tia Gretchen. Ela nunca vai me deixar brincar com isso de qualquer forma.”
Gretchen deu um tapinha no joelho, e eu subi no seu colo, aninhando-me com os cheiros de pó e spray de cabeço e perfume Rive Gauche. Vendo como eu estava intrigada pelo seu bracelete, ela o tirou e deixou-me pegá-lo. Ela sempre comprava para ela uma lembrança toda vez que ia para um novo lugar. Eu encontrei uma pequena torre Eiffel, um abacaxi do Havaí, um farde de algodão do Memphis, um matador com uma capa esvoaçante, skis cruzados de Nova-Hamshire, e muitos outros.
“Algum dia,” Gretchen tinha dito, “eu lhe darei esse bracelete. E você poderá acrescentar suas próprias lembranças.”
“Eu irei a tantos lugares quanto você, tia Gretchen?”
“Você pode não querer. Pessoas como eu só viajam porque elas não têm razões suficientes para ficar parada.”
“Quando eu for grande,” eu disse, “eu nunca vou ficar parada.”
Gretchen tinha se esquecido da promessa, pensei. Não era culpa dela. Ela vinha se esquecendo de muitas coisas ultimamente. Está tudo bem, eu disse a mim mesma. Esqueça isso. Mas eu sabia a história atrás de cada lembrança. E parecia como se Gretchen estivesse tirando esse punhado de memórias de mim e entregando-as para Liberty. De alguma forma eu forcei um sorriso.
Minha tia fez uma demonstração ao prender o bracelete no pulso de Liberty. Carrington dançava ao redor das duas com excitamento, pedindo para ver as lembrancinhas. Meu sorriso não parecia ser parte do meu rosto. Parecia uma figura na parede, suspensa por tachas e fios.
“Acho que eu deveria estar fazendo algo com isso,” disse suavemente, pegando o véu da cama, enrolando-o sobre meu braço. “Sou uma péssima dama de honra, Liberty. Você deveria me despedir.”
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Ela me lançou um olhar rápido. Apesar da minha máscara alegre, ela viu algo que fez sua expressão ficar preocupada.
Quando todas nós deixando o quarto, Carrington e Gretchen saíram primeiro e Liberty me parou com um toque suave no meu braço. “Haven,” sussurrou, o bracelete tinindo, “você deveria ter isso algum dia?”
“Ah, não, não,” eu disse rapidamente. “Eu não sou fã de braceletes com lembranças. Eles prendem nas coisas.”
Nós descemos as escadas, enquanto Gretchen e Carrington esperavam pelo elevador.
Quando chegamos ao último degrau, alguém se aproximou em um passo longo e relaxado. Olhei para cima e vi um par de impressionantes olhos azuis. Alarme correu sobre mim quando ele parou ao lado do corrimão e se encostou confortavelmente. Meu rosto ficou branco como papel. Era ele, o cara da adega, Sr. Colarinho-Azul-Em-Um-Smoking, grande e sensual e tão arrogante quanto um vira-lata. Ele me lançou um olhar breve e impessoal, sua atenção focando imediatamente em Liberty.
Para minha surpresa, Liberty o encarou sem temor ou curiosidade de qualquer tipo, apenas com um sorriso resignado. Ela parou, e cruzou os braços sobre o peito. “Um pônei, como presente de casamento?”
Um sorriso tocou sua boca larga. “Carrington gostou dele quando fomos passear.” Seu sotaque estava um pouco mais pronunciado do que quando estava na adega, derretendo em uma fala lenta que você geralmente só ouve em pequenas cidades ou estacionamentos de trailer. “Imaginei que você já tinha tudo que precisava, então eu escolhi uma coisinha para sua irmã.”
“Você sabe o quanto custa para manter aquela ‘coisinha’?” Liberty perguntou sem calor.
“Eu o tomo de volta se você quiser.”
“Você sabe que Carrington nunca nos perdoaria. Você pôs meu marido em uma posição difícil, Hardy.”
Seu sorriso se tornou gentilmente falso. “Você sabe o quanto eu odeio ter de ouvir isso.”
Hardy.
Eu virei meu rosto para longe e fechei meus olhos, doente, só por um segundo. Merda. Só... merda. Eu não apenas beijei outro além do meu namorado, como ele também é um inimigo da família. O pior inimigo do meu irmão, que tinha deliberadamente
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arruinado um enorme acordo de biocombustível que significava muito para Gage, pessoal e profissionalmente.
Pelo que sabia, Hardy Cates já foi apaixonado por Liberty, mas ele a deixou e partiu seu coração, e agora ele voltou para trazer problemas. Esse tipo sempre fazia isso.
Era humilhante perceber que ele não se sentia nem um pouco atraído por mim, que sua proposta na adega foi feita como outro golpe contra os Travis. Hardy Cates queria embaraçar a família, e ele não tinha nenhum problema em me usar para isso.
“Haven,” Liberty disse, “esse é um velho amigo meu. Hardy Cates, essa é minha cunhada, Haven Travis.”
“Senhorita Travis,” ele disse suavemente.
Eu me segurei para olhar para ele. Seus olhos eram um azul estonteante contra o bronzeado da sua pele. Embora seu rosto estivesse vazio de expressão, percebi pequenas linhas de riso que se formaram nos cantos daqueles olhos. Ele estendeu a mão, mas eu não pude toma-la. Eu temia o que poderia acontecer, como eu poderia me sentir, se eu o tocasse novamente.
Sorrindo com a minha hesitação, Hardy falou para Liberty enquanto seu olhar permanecia preso ao meu. “Sua cunhada é um pouquinho arisca, Liberty.”
“Se você veio aqui fazer uma cena –” ela começou calmamente.
O olhar dele se moveu para ela. “Não, senhora. Só queria desejar meus melhores votos.”
Algo se suavizou no rosto dela, e ela estendeu a mão para segurar a dele brevemente. “Obrigada.”
Uma nova voz entrou na conversa. “Hey.” Era meu irmão Jack, parecendo relaxado. Mas havia um brilho em seus duros olhos pretos que silenciosamente antecedia problemas. “Sr. Cates, foi-me dito que você não estava incluído na lista de convidados. Então eu tenho de pedir que você se retire.”
Hardy o mediu com o olhar.
No silêncio que se seguiu, eu fiquei com cada músculo tenso, rezando silenciosamente para que uma briga não começasse no casamento de Gage. Olhando para Liberty, eu a vi pálida. Pensei vingativamente que Hardy Cates era um imbecil egoísta, tornando o casamento dela nisso.
“Sem problema,” Hardy disse com insolência suave. “Eu consegui o que eu queria.”
“Deixe-me mostrar a saída,” Jack disse.
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Liberty e eu soltamos a respiração quando eles saíram. “Espero que ele vá embora antes que Gage o veja,” Liberty disse.
“Acredite, Jack vai se certificar disso.” Agora eu entendia porque ela tinha escolhido meu irmão em vez daquele idiota. “Cates é obviamente um cara com lábia,” eu disse. “Ele podia provavelmente vender manteiga para uma vaca.”
“Hardy é ambicioso,” Liberty admitiu. “Mas ele veio do nada. Se você soubesse de algumas coisas que ele teve de passar...” Ela suspirou. “Eu aposto que em um ano, ele vai se casar com alguma debutante de Riber Oaks que vai ajuda-lo a chegar ao topo.”
“Ele precisaria de muito dinheiro para isso. Nós, debutantes de River Oaks, somos caras.”
“De todas as coisas que ele quer,” Liberty disse, “dinheiro é o mais fácil de conseguir.”
Carrington correu para nós, tendo finalmente emergido do elevador. “Vamos,” ela disse excitada. “Todo mundo está indo para fora. Os fogos de artifício vão começar!”
Justo o que eu precisava, pensei. Mais fogos.
Na manhã seguinte eu estava arrumando minha mala no meu quarto quando Nick entrou. Nós tínhamos ocupado quartos separados durante nossa estada em River Oaks, o que Nick disse que estava ótimo porque não havia chance de ele me tocar enquanto nós estivéssemos sob o mesmo teto que o meu pai.
“Ele é velho, e tem metade do seu tamanho,” eu tinha dito para Nick, rindo. “O que você acha que ele vai fazer, bater em você ou algo assim?”
“É o ‘algo assim’ que me assusta,” Nick tinha dito.
Logo que Nick entrou no meu quarto, eu soube que ele tinha conversado com meu pai. O estresse era visível no seu rosto. Ele dificilmente era o primeiro a ficar assim depois de uma conversa cara-a-cara com Churchill Travis.
“Eu disse a você,” falei. “Papai é impossível. Ele não te aceitaria não importa o quão maravilhoso você fosse.”
“Fosse?” Ele me deu um olhar cômico.
“É.” Eu coloquei meus braços ao redor dele e encostei minha cabeça no seu peito. “O que ele disse?” sussurrei.
“Basicamente uma variação do tema ‘nem um vintém.’” Nick afastou meu rosto e olhou para mim. “Eu disse a ele que iria colocar você em primeiro lugar sempre. Que eu ia ganhar o suficiente para tomar conta de você. Eu disse a ele que eu só queria a aprovação dele para que não houvesse conflito entre você e sua família.”
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“Travis amam conflito,” eu disse.
Um sorriso entrou nos olhos esverdeados de Nick, verde, dourado e castanho. Havia um toque de cor nas suas altas maçãs do rosto, um remanescente do confronto com o buldogue do meu pai. O sorriso sumiu dos seus olhos quando ele afastou meu cabelo, sua mão curvando-se gentilmente sobre minha nunca. Ele era atraente, sério, interessado. “É isso que você quer, Haven? Eu não poderia viver comigo mesmo se eu fizesse algo que te machucasse.”
Emoção deixou minha voz fraca. “A única coisa que machucaria seria você parar de me amar.”
“Isso não é possível. Você é a única, Haven. Você é a única para mim, sempre.” Ele inclinou a cabeça, sua boca tomando a minha em um beijo longo e devagar. Eu respondi avidamente, me levantando contra ele.
“Hey,” ele disse suavemente. “O que você acha de sair daqui e se casar comigo?”
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Ao contrário das minhas expectativas sobre fugir com o noivo com uma furtiva cerimônia supervisionada por Elvis em Las Vegas, haviam hotéis na Florida, Hawaii e Arizona que ofereciam “pacotes de fuga” incluindo o serviço de casamento, estadia no hotel, massagens, e um plano de refeição. Gage e Liberty pagaram por nossa fuga ao Keys—esse era o presente de casamento deles para mim e Nick.
Tendo se levantado contra o meu matrimonio com Nick, papai foi contra com suas ameaças cortando-me completamente. Sem dinheiro, sem comunicação. “Nós estaremos por perto,” meus irmãos disseram-me, mas eu disse empaticamente que eu não queria que papai estivesse por perto, eu tinha tido o suficiente dele e seus modos controladores por uma vida.
Liberty e eu tivemos nossa primeira discussão quando ela tentou dizer-me que Churchill ainda me amava e sempre iria me amar.
“Claro que vai,” eu disse a ela curtamente. “Como um instrumento. Como uma criança. Mas como uma adulta com minhas próprias opiniões e preferências… não. Ele apenas ama as pessoas quando elas gastam suas vidas tentando agradá-lo.”
“Ele precisa de você,” Liberty persistiu. “Algum dia—”
“Não, ele não precisa,” eu disse. “Ele tem você.” Foi injusto de minha parte atacar isso nela, e eu sabia disso, mas eu não conseguia me parar. “Você será a boa filha,” eu disse imprudentemente. “Eu tive o suficiente dele por uma vida.”
Passou um longo tempo até que nos falamos de novo.
Nick e eu nos mudamos para Piano, norte de Dallas, onde Nick trabalhava como um estimador de custos numa empresa de construção. Não era algo que ele quisesse fazer para sempre, mas o salário era bom, especialmente naquele momento. Eu tinha uma posição no nível de acesso como coordenadora de marketing no Darlington Hotel, o que significava que eu dava assistência ao diretor das comunicações com RP2 e projetos de marketing.
O Darlington era um elegante, moderno hotel, uma estrutura singular com formato elíptico que poderia parecer fálico o bastante, exceto que ele também era coberto por uma camada de granito pink. Talvez essa sublime sugestão fosse parcialmente responsável pelo Darlington ter sido eleito o hotel mais romântico em Dallas.
2 Relações públicas
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“Vocês de Dallas e sua arquitetura,” eu disse a Nick. “Todo prédio na cidade se parece com um pênis ou uma caixa de cereal.”
“Você gosta do cavalo vermelho voador,” Nick apontou.
Eu tinha que admitir que ele estava certo. Eu tinha uma fraqueza por aquele Pégasus neon, um icônico sinal que estava empoleirado no topo do prédio Magnólia desde 1934. Isso levava muita personalidade a uma outra forma de horizonte estéril.
Eu não estava certa do que fazer em Dallas. Comparado a Houston, era um ficha-limpa, cosmopolita, bem articulada. Menos chapéus de cowboys, muito mais estilo. E Dallas era muito mais consistente politicamente do que Houston, que tinha um drástico policiamento público oscilando de eleição a eleição.
Dallas, tão elegante e serena, parecia sentir que tinha algo a provar, como uma mulher que estava muito preocupada sobre o que usar no segundo encontro. Talvez isso tivesse algo a ver com o fato que, diferente das maiores cidades do mundo, ela não tinha porto. Dallas tornou-se um jogador na década de 1870, quando duas ferrovias, de Houston e Texas Central e de Texas e do Pacífico, ambas se encontraram e se cruzaram em um ângulo de noventa graus, tornando a cidade um grande centro comercial.
Toda a família de Nick vivia nos arredores de Dallas. Seus pais tinham se divorciado e se casado com outras pessoas quando ele ainda era uma criança. Entre todos os irmãos e irmãs por parte de pai e mãe, meias-irmãs e meios-irmãos, e os irmãos de sangue total, eu tinha problemas em entender quem era de quem. Isso não parecia importar, embora, porque nenhum deles eram próximos.
Nós compramos um pequeno condomínio com dois locais para estacionar e acesso à piscina pública. Eu decorei o condomínio com mobília barata, contemporânea, colorida, brilhante e adicionei alguns cestos e cerâmicas Mexicanas. Em nosso quarto, eu pendurei um enorme quadro impresso emoldurado de um antigo pôster de viagem, apresentando uma garota de cabelos negros segurando um cesto de frutas, abaixo uma parte escrita, VISITE O MEXICO: TERRA DO ESPLENDOR.
“Esse é nosso estilo especial,” eu disse para Nick quando ele queixou-se que nossa mobília era uma merda e ele não gostava da decoração do sudoeste. “Eu chamo isso de ’Ikea3 Loco’. Acho que estou no caminho certo. Logo todo mundo estará nos copiando. Além do que, isso é tudo que podemos pagar.”
“Nós poderíamos pagar um palácio,” Nick respondeu obscuramente, “se seu pai não fosse tão babaca.”
Fiquei surpresa com o flash de animosidade, um raio que veio do nada. Meu prazer no condomínio era irritante para Nick. Eu estava apenas brincando de casinha, ele me
3 Ikea é uma companhia de móveis sueca especializada na venda de móveis de baixo custo.
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disse. Quando eu vivesse como gente de classe média por um tempo, ele gostaria de ver se eu ainda iria estar tão feliz.
“Claro que vou,” eu disse. “Eu tenho você. Eu não preciso de uma mansão para ser feliz.”
Parecia às vezes que Nick era muito mais afetado pela minha mudança de circunstâncias que eu. Ele se ressentia do nosso orçamento pequeno, por minha causa, disse ele. Ele odiava que não podia comprar um segundo carro.
“Eu realmente não me importo,” eu disse, e isso o deixou zangado, porque se ele se importava, então eu também devia.
Após a tempestade ter passado, no entanto, a paz foi totalmente doce.
Nick me ligou do trabalho pelo menos duas vezes por dia só para ver como estavam as coisas. Nós conversávamos o tempo todo. “Eu quero que nós digamos tudo um ao outro,” ele disse uma noite, quando estávamos na metade de uma garrafa de vinho. “Meus pais sempre tiveram segredos. Você e eu deveríamos ser totalmente honestos e abertos.”
Eu adorei essa ideia na teoria. Na prática, porém, era difícil para a minha autoestima. Completa honestidade acabou não sendo sempre tão amável.
“Você é tão bonita,” Nick contou-me uma noite, depois que fizemos amor. Suas mãos moveram-se sobre meu corpo, costeando o declive suave do meu peito. Eu tinha seios pequenos, uma xícara rasa B, no máximo. Mesmo antes de nos casarmos, Nick tinha rido, queixando-se da minha falta de dotes, dizendo que ele iria me comprar implantes, exceto que um par de peitos grandes ficariam ridículos em uma mulher tão pequena e delicada como eu. Seus dedos subiram para o meu rosto, traçando a curva da minha bochecha. “Grandes olhos castanhos... narizinho bonitinho... bela boca. Não importa que você não tenha um corpo.”
“Eu tenho um corpo,” eu disse.
“Eu quis dizer peitos.”
“Eu tenho esses também. Eles apenas não são grandes.”
“Bem, eu te amo mesmo assim.”
Eu queria ressaltar que Nick não tinha um corpo perfeito também, mas eu sabia que ia começar uma briga. Nick não levava bem críticas, mesmo quando elas eram gentis e bem intencionadas. Ele não estava acostumado a alguém encontrar falhas nele. Eu, por outro lado, tinha crescido em uma dieta constante de críticas e avaliações.
Mãe sempre me contou histórias detalhadas sobre as filhas de seus amigos, como eles eram bem comportadas, como era bom que elas ainda iriam sentar-se para as aulas de
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piano, ou fazer flores de papel tecido para suas mães, ou mostrar seus passos de balé mais recentes na deixa. Eu quis com todo meu coração que eu pudesse ter sido mais parecida com aquelas menininhas encantadoras, mas eu não tinha sido capaz de segurar-me a me rebelar contra ser posta nas regras como uma versão menor de Ava Travis. E então ela tinha morrido, deixando-me com uma montanha de arrependimentos e sem maneiras de reparar.
Os nossos feriados—a primeira Ação de graças, o primeiro Natal, o primeiro Ano Novo—foram quietos. Nós não tínhamos ainda nos juntado a uma igreja, e parecia que todos os amigos de Nick, aqueles que ele disse que eram sua família, estavam ocupados com suas próprias famílias. Eu abordei o jantar de Natal como se fosse um projeto da aula de ciências. Estudei livros de culinária, fiz tabelas, defini temporizadores, medi ingredientes e cortei carne e legumes em dimensões apropriadas. Eu sabia que os resultados dos meus esforços eram satisfatórios, mas sem inspiração, mas Nick disse que era o melhor peru, melhor purê de batata, a melhor torta de nozes que ele já tinha comido.
“Deve ser a visão de mim em luvas de forno,” eu disse.
Nick começou a dar beijos ruidosos ao longo do meu braço como se fosse Pepe Le Gambá4. “Vozê é a deusa da cozeeenha.”
O Darlington tinha estado tão ocupado durante as férias que eu tive que trabalhar horas extras, enquanto o trabalho de Nick facilitou até depois do Ano Novo. Com nossos horários não sincronizados, era frustrante e demorado para ele dirigir para lá e voltar o tempo todo. Nada jamais era acabado... o apartamento sempre estava uma bagunça, a geladeira era raramente estocada, sempre havia pilhas de roupa suja.
“Não podemos nos dar ao luxo de levar todas as minhas camisas à lavanderia a seco,” Nick disse no dia após o Natal. “Você vai ter que aprender a fazê-las.”
“Eu?” Eu nunca tinha passado a ferro alguma coisa na minha vida. A apropriada prensagem de uma camisa era um mistério do universo semelhante aos buracos negros e matéria escura. “Como é que você não pode fazer suas próprias camisas?”
“Eu preciso de sua ajuda. É demais pedir para você me dar uma mão com a minha roupa?”
“Não, claro que não. Me desculpe. Eu só não sei como. Eu estou com medo que eu as estrague.”
“Eu vou te mostrar como. Você vai aprender.” Nick sorriu e deu um tapinha no meu traseiro. “Você apenas tem que entrar em contato com sua Martha Stewart interior.”
4 Personagem dos Looney Tunes, ou Turma do Pernalonga.
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Eu disse a ele que eu sempre mantive minha Martha Stewart interior acorrentada no porão, mas que por causa dele que eu iria libertá-la.
Nick foi paciente enquanto me levava passo a passo no processo, mostrando-me exatamente como ele gostava de suas camisas engomadas e passadas. Ele foi minucioso sobre os detalhes. No início, foi uma espécie de divertimento, da mesma forma que a argamassa é divertida quando você a faz pela primeira vez... até você enfrentar um banheiro inteiro cheio de azulejos. Ou um cesto de roupa abarrotado com camisas sujas. Não importa quanto eu tentasse, eu nunca conseguia obter as camisas exatamente do jeito que Nick gostava.
Minha técnica de engomar tornou-se o foco de uma inspeção quase diária. Nick ia para o nosso armário, classificava através da linha de vestuário passado, e dizia-me onde eu tinha errado. “Você precisa passar as arestas de forma mais lenta para tirar todas as pequenas dobras,” ou “Você precisa refazer as emendas das cavas das mangas.”
“Você precisa usar menos goma.”
“As costas não estão alisadas o suficiente.”
Exasperada e derrotada, eu finalmente recorri a usar o meu dinheiro pessoal—cada um de nós tinha a mesma quantia para gastar cada semana - para ter as camisas de Nick profissionalmente lavadas e passadas. Eu pensei que era uma boa solução. Mas quando Nick encontrou uma linha de camisas penduradas em capas de plástico no armário, ele ficou puto.
“Eu pensei que nós tínhamos concordado,” disse ele brevemente, “que você iria aprender a fazer isso.”
“Eu usei meu próprio dinheiro.” Eu dei-lhe um sorriso conciliador. “Meu passar é deficiente. Talvez eu precise de um multivitamínico.”
Ele recusou-se a sorrir de volta. “Você não está se esforçando o suficiente.”
Eu achei difícil acreditar que estávamos tendo uma discussão sobre algo tão trivial como camisas. Não era realmente sobre as camisas. Talvez ele sentisse que eu não estava contribuindo o bastante para o relacionamento. Talvez eu precisasse ser mais amorosa, mais solidária. Ele estava passando por estresse. Estresse de feriado, estresse no trabalho, estresse de recém-casado.
“Eu vou tentar mais,” disse eu. “Mas, querido... há mais alguma coisa te incomodando? Algo que deveríamos falar, além de passar roupas? Você sabe que eu faria qualquer coisa por você.”
Nick me deu um olhar frio. “Tudo o que eu preciso é que você acerte alguma porra pra variar.”
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Eu estava com raiva por aproximadamente dez minutos. Depois disso, eu estava impregnada de medo. Eu estava falhando no casamento, a coisa mais importante que eu já tinha tentado fazer.
Então eu chamei Todd, que simpatizou e disse que todos tinham argumentos estúpidos com o seu parceiro. Nós concordamos que era apenas parte de um relacionamento normal. Não ousei falar com ninguém na minha família, porque eu teria preferido morrer do que deixar o meu pai suspeitar que o casamento não ia bem.
Pedi desculpas à Nick abjetamente.
“Não, a culpa foi minha,” disse ele, enrolando seus braços em volta de mim em um abraço firme e quente. Seu perdão foi um alívio tão grande, senti lágrimas brotarem em meus olhos. “Eu estou pedindo muito de você,” ele continuou. “Você não pode mudar a maneira que foi criada. Nunca esperaram que você fizesse coisas para outras pessoas. Mas no mundo real, são os pequenos gestos, as pequenas coisas, que mostram a um cara que você o ama. Eu apreciaria se você quisesse fazer mais um esforço.” E ele esfregou os meus pés após o jantar, e me disse para parar de me desculpar.
No dia seguinte, eu vi uma lata nova de goma em spray no armário da lavanderia. A tábua de passar roupas foi desdobrada e montada para mim, para que eu pudesse praticar quando Nick começou a jantar.
Saímos uma noite com outros dois casais, que eram os caras da empresa de construção que Nick trabalhava, e suas esposas. Fiquei animada em fazer algo social. Tinha sido uma surpresa descobrir que, apesar de Nick ter crescido em Dallas, ele não parecia ter quaisquer velhos amigos para me apresentar. Todos eles tinham se mudado, ou não valia a pena se incomodar com eles, ele tinha me dito. Eu estava ansiosa para fazer alguns amigos em Dallas, e eu queria dar uma boa impressão.
Na hora do almoço, fui para o salão do hotel e tive uma das cabelereiras para cortar vários centímetros do meu cabelo comprido. Quando ela terminou o chão estava cheio de mechas de cabelo ondulado preto, e meu cabelo estava de um tamanho médio e elegante. “Você nunca deve deixar o seu cabelo mais longo do que isso,” a estilista disse a mim. “O jeito que você tinha antes era demais para alguém tão pequena como você. Estava oprimindo o seu rosto.”
Eu não tinha mencionado para Nick que eu iria fazer um corte de cabelo. Ele o amava longo, e eu sabia que ele teria tentado me convencer a esquecer disso. Além disso, eu pensei que uma vez que ele visse como estava encantador, para não mencionar mais fácil de cuidar, ele iria mudar de ideia.
Tão logo ele me pegou, Nick começou a franzir a sobrancelha. “Parece que você esteve ocupada hoje.” Seus dedos estavam apertando o volante.
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“Você gostou? Eu me sinto ótima.” Eu balancei minha cabeça de um lado para o outro como uma modelo de cabelo. “Já fazia tempo desde que eu tinha dado uma aparada boa e saudável.”
“Isso não é uma aparada. A maioria do seu cabelo se foi.” Cada palavra era afiada com desaprovação e decepção.
“Eu estava cansada do meu look de faculdade. Acho que este é mais polido.”
“Seu cabelo comprido era especial. Agora parece normal.”
Eu senti como se alguém tivesse acabado de esvaziar uma seringa de ansiedade líquida em minhas veias. “Sinto muito se você não gostou. Mas era muito trabalho. E é o meu cabelo, de qualquer maneira.”
“Bem, sou eu que tem que olhar para você todos os dias.”
Minha pele parecia encolher até que meu corpo estava comprimido em um envelope apertado. “A cabelereira disse que o cabelo estava esmagando meu rosto.”
“Estou feliz que você e ela pensem que o mundo precisa ver mais do seu maldito rosto,” ele murmurou.
Eu suportei cerca de quinze minutos de tensão, sufocando silêncio enquanto Nick manobrava através do tráfego das seis horas. Nós estávamos indo direto para o restaurante para encontrar seus amigos.
“De qualquer forma,” Nick disse abruptamente, “pra você não ficar surpresa, eu disse às pessoas que o seu nome é Marie.”
Olhei para seu perfil em total incompreensão. Marie era o meu nome do meio, aquele que ninguém nunca tinha usado a menos que eu estivesse em apuros. O som de “Haven Marie” tinha sido sempre um sinal certo de que algo havia atingido o ventilador.
“Por que você não disse para eles o meu primeiro nome?” Eu consegui perguntar.
Nick não olhou para mim. “Porque faz você soar como uma caipira.”
“Eu gosto do meu nome normal. Eu não quero ser Marie. Eu quero—”
“Jesus, eu não posso simplesmente ter uma mulher normal, com um nome normal?” Ele foi ficando vermelho, respirando com dificuldade, o ar coagulado com hostilidade.
Toda a situação parecia surreal. Eu era casada com um homem que não gostava do meu nome. Ele nunca disse nada sobre isso antes. Esse não é Nick, eu disse a mim mesma. O Nick real era o cara que eu tinha casado. Olhei para ele secretamente. Ele parecia um
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ordinário e exasperado marido. Ele estava pedindo por normalidade, e eu não estava completamente certa do que aquilo era.
Eu trabalhei para manter minha própria respiração constante. Estávamos quase no restaurante—não podíamos entrar lá parecendo que tínhamos acabado de ter uma discussão. Meu rosto sentia como se tivesse sido revestido com vidro. “Ok,” eu disse. “Então, vamos ser Nick e Marie esta noite.”
“Ok.” Ele pareceu relaxar um pouco.
Depois daquela noite, que tinha decorrido bem, Nick quase nunca me chamava de Haven, mesmo quando éramos só nós dois. Ele disse que seria muito confuso quando saíssemos com outras pessoas, se eu não estivesse acostumada a ser chamada de Marie. Eu disse a mim mesma que poderia ser uma coisa boa, esta mudança de nome. Eu iria deixar minha bagagem no passado. Eu poderia me tornar quem eu quisesse, ser uma pessoa melhor. E isso agradava a Nick, o que eu queria desesperadamente fazer.
Eu sou Marie, eu disse a mim mesma. Marie, a mulher casada que vive e trabalha em Dallas no Darlington e sabe como passar a ferro uma camisa. Marie, cujo marido a amava.
Nosso casamento era como uma máquina que eu aprendi a operar sem nunca compreender os mecanismos internos que faziam o trabalho. Eu sabia como fazer as coisas que o mantinha em funcionamento, todas as menores e maiores exigências que mantinham Nick em equilíbrio. Quando Nick estava feliz, eu era recompensada com carinho. Mas, quando algo tirava Nick do sério, ele se tornava sombrio ou irritável. Poderia levar dias para levá-lo de volta a um bom temperamento. Seu humor mutável era o termostato que regulava a nossa casa.
No momento em que o nosso primeiro aniversário se aproximava, eu percebi que os dias ruins de Nick, os dias em que eu era obrigada a simpatizar e compensar cada pequena injustiça que lhe fizeram, foram superando os bons dias. Eu não sabia como consertar isso, mas eu suspeitava que era minha culpa. Eu sabia que os casamentos de outras pessoas eram diferentes, que elas não estavam constantemente preocupadas com a forma de antecipar as necessidades de seus maridos, não estavam sempre pisando em ovos. Certamente o casamento dos meus próprios pais não tinha sido assim. Se qualquer coisa acontecesse, a família tinha girado em torno das necessidades e gostos da minha mãe, enquanto meu pai aparecia toda vez para acalmar ela.
Nick manteve uma raiva constante de percolação contra a minha família, culpando meu pai por não nos dar dinheiro para comprar uma casa. Ele empurrou-me para fazer contato com meu pai e irmãos, para pedir as coisas para eles, e ficou com raiva quando eu me recusei.
“Isso não mudaria nada,” eu disse para ele, mesmo que isso não fosse verdade. Independentemente da atitude do meu pai, meus irmãos teriam me dado tudo o que eu
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pedisse. Especialmente Gage. As poucas ocasiões em que tínhamos falado ao telefone, ele perguntou se havia qualquer coisa que ele pudesse fazer para mim e para Nick, e eu tinha dito que não, absolutamente não, as coisas estavam fantásticas. Eu estava com medo de dar Gage qualquer indício de como as coisas realmente eram. Um fio puxado e eu poderia descosturar completamente.
“Seu pai vai ter que começar a fazer coisas para nós quando tivermos filhos,” Nick disse-me. “Seria um constrangimento público para ele ter netos que vivem em um barraco maldito. Ele vai ter que desembolsar algum dinheiro, então, aquele bastardo mesquinho.”
Preocupava-me que Nick parecia considerar nossos filhos futuros como ferramentas que seriam usadas para arrombar os cofres da família Travis. Eu sempre planejei ter filhos quando me sentisse pronta, mas esta situação não poderia acomodar um agitado, exigente bebê. E era tudo que eu podia fazer para manter o meu agitado e exigente marido feliz.
Eu nunca tinha tido problemas para dormir, mas comecei a ter sonhos que me acordavam durante a noite, deixando-me exausta no dia seguinte. Desde que o meu remexer e virar mantinha Nick acordado, muitas vezes eu fui para o sofá no meio da noite, tremendo de frio debaixo de um cobertor fino. Sonhei que perdia os dentes, que caía de edifícios altos.
“Foi muito estranho,” eu disse para Nick em uma manhã, enquanto ele estava tomando um café, “este novo que eu tive na noite passada. Eu estava em um parque em algum lugar, apenas caminhando sozinha, e minha perna direita caiu. Nenhum sangue ou qualquer coisa. Foi como se eu fosse uma boneca Barbie. Eu estava tão chateada, querendo saber como eu ia dar a volta sem a perna, e depois meu braço quebrou na altura do cotovelo, e eu peguei e tentei prendê-lo no lugar, e eu estava pensando, 'eu preciso desse braço , eu tenho que encontrar alguém para recolocá-lo. Então—”
“Você já tomou a pílula esta manhã?” Nick interrompeu.
Eu vinha tomando pílula anticoncepcional desde que tínhamos começado a dormir juntos. “Não, eu sempre tomo depois do café. Por quê? Você acha que os hormônios podem estar me dando pesadelos?”
“Não, eu acho que você está se dando pesadelos. E eu perguntei porque é hora de você parar com a pílula. Devemos começar a ter filhos enquanto ainda estamos jovens.”
Eu olhei para ele. Uma enorme onda de má vontade passou por mim, cada célula do meu corpo resistindo à ideia de um grande desamparo hormonal que tornaria impossível fazer tudo. Mas eu não podia dizer não. Isso iria detonar um mau humor que poderia durar dias. Eu tive que trabalhar em torno de Nick a mudar sua mente. “Você realmente acha que nós estamos prontos?” eu perguntei. “Pode ser melhor arrumar algum dinheiro primeiro.”
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“Nós não vamos precisar. Seu pai vai ser muito mais razoável uma vez que ele descobrir que Gage e Liberty não são os únicos que fazem uma criança.”
Percebi que Nick tinha menos interesse no bebê em si do que em sua utilidade como uma forma de manipular Churchill Travis. Será que ele se sentiria de maneira diferente quando o bebê nascesse? Ele seria um daqueles pais que derreteria ao ver a pequena pessoa que ele tinha ajudado a trazer para o mundo?
Mais quando eu tentei imaginar isso, eu não podia ver Nick convocando a paciência para lidar com uma criança gritando, uma criança confusa, uma criança carente. Isto me assustou, pensar em como eu estaria ligada a ele, como eu seria dependente, uma vez que tivéssemos um bebê juntos.
Fui para o banheiro para me preparar para o trabalho, passando o rímel em meus cílios, deslizando o brilho labial. Nick seguiu-me, vasculhando a variedade de cosméticos e produtos para o cabelo que eu tinha colocado no balcão. Ele encontrou o recipiente plástico circular das minhas pílulas anticoncepcionais, e o abriu para revelar a roda de cor pastel dos comprimidos.
“Você não precisa mais delas.” Ele jogou os comprimidos no lixo.
“Eu preciso terminar o ciclo,” eu protestei. “E, geralmente, antes de tentar engravidar, você tem que fazer um check-up—”
“Você é saudável. Você vai ficar bem.” Ele colocou a mão no meu ombro, forçando-me quando eu me dobrei para recuperar as pílulas. “Deixe-as.”
Um riso incrédulo borbulhou da minha garganta. Eu tinha sido condicionada ao longo dos meses a tolerar os caprichos de Nick em prol da harmonia, mas isso era demais. Eu não ia ser forçada a ter um bebê que nenhum de nós estava preparado para ter.
“Nick, eu prefiro esperar.” Peguei uma escova de cabelo e comecei a arrastá-lo através dos meus cabelos emaranhados. “E isso realmente não é um bom momento para falar sobre ter filhos, com nós dois se preparando para o trabalho e—”
“Eu vou decidir sobre o que falamos e quando!” A intensidade de sua voz explosiva me assustou tanto que deixei cair a escova de cabelo. “Eu não sabia que eu tinha que marcar um maldito horário com você para falar sobre nossa vida pessoal!”
Fiquei branca com o alarme, meu coração batendo em um ritmo violento. “Nick—”
“Você já pensou em algo ou alguém além de você?” Raiva tinha atado sua garganta e os pequenos músculos do seu rosto. “É sempre sobre o que você quer... Sua vagabunda egoísta, e sobre o que eu quero?”
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Ele se inclinou sobre mim, elevando-se e furioso, e eu me encolhi contra o espelho. “Nick, eu apenas...” Minha boca tinha ficado tão seca, que eu tive que forçar as palavras. “Eu não estou dizendo que não. Eu só quero... Gostaria... de falar sobre isso mais tarde.”
Isso me fez ganhar um olhar de rasgar a alma em desprezo. “Eu não sei. Pode não valer a pena falar. Este casamento todo, pode não valer a pena um monte de merda. Você pensa que você me fez algum grande favor do caralho, casando comigo? Fui eu que fiz um favor a você. Você acha que alguém mais poderia aguentar a sua merda?”
“Nick—” em pânico e confusa, eu o vi caminhar até o quarto. Comecei a segui-lo, mas fiquei para trás, com medo de enlouquecê-lo ainda mais. Os homens da minha família eram geralmente lentos para a raiva, e uma vez que eles explodiam, era breve. Mas o temperamento de Nick era diferente, um fogo que se alimenta de si mesmo, crescendo até que suas proporções tivessem ultrapassado muito a causa. Neste caso, eu não tinha certeza de qual era a melhor estratégia... Se eu fosse atrás dele para pedir desculpas, poderia derramar combustível em sua raiva. Mas se eu ficasse no banheiro, ele poderia levar isso como uma nova infração por ter sido ignorado.
Eu me conformei com pairar na porta, abrangendo ambos os cômodos, procurando por um sinal do que Nick queria.
Ele foi até o armário e empurrou através da roupa com movimentos rápidos e viciosos, a caça de uma camisa. Decidir a recuar, voltei para o banheiro.
Meu rosto parecia branco e duro. Passei um pouco de blush rosa em traços leves, mas o pó colorido parecia sentar em cima da minha pele, não misturar. A escova pega no meio de suor nervoso fez listras rubras. Peguei uma toalha, para limpar tudo aquilo, e foi quando o mundo pareceu explodir.
Nick tinha voltado, encurralando-me, segurando algo em um punho. Gritando. Eu nunca tive alguém gritando na minha cara assim antes, certamente não um homem, e era uma espécie de morte. Eu estava reduzida ao nível de um animal sob ataque, incapaz de escapar para além da brancura do medo, congelada em incompreensão muda.
A coisa em sua mão era uma camisa listrada. . . Que eu tinha arruinado, de alguma forma... um erro... mas Nick disse que era sabotagem. Eu tinha feito isso de propósito, disse ele. Ele precisava dela para uma reunião importante esta manhã, e eu disse que não, eu não tive intenção, que eu sentia muito, mas cada palavra trouxe um calor assassino de seu rosto e seu braço recuou e o mundo pegou fogo.
Minha cabeça bateu para o lado, meu rosto em chamas, e as gotas de suor e lágrimas saíram voando. Uma fumegante quietude se estabeleceu. As veias na minha cara sentiam-se enormes e bombeantes.
Eu demorei para compreender que Nick tinha me batido. Eu estava balançando, branca, usando meus dedos para explorar onde o calor se transformou em dormência.
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Eu não podia ver através da desfocagem em meus olhos, mas ouvi a voz de Nick, espessa com nojo. “Olhe o que você me fez fazer.” Voltou para o quarto.
Sem recuo. Eu não poderia correr do apartamento. Tínhamos apenas um carro. E eu não sabia aonde eu iria. Eu segurei o pano com água fria, me sentei no assento do vaso sanitário fechado e segurei a massa pingando contra a minha bochecha.
Não havia ninguém a quem eu poderia dizer. Isso era algo que Todd ou meus outros amigos não poderiam me confortar, não poderiam dizer que era parte de um relacionamento normal. Vergonha se espalhou através de mim, escapando a partir da medula de meus ossos... a sensação de que eu deveria ter merecido, ou não teria acontecido. Eu sabia que não estava certa. Mas algo em mim, na maneira que eu tinha sido formada, tornou impossível escapar da vergonha se espalhando. Aquilo tinha se escondido dentro de mim para sempre, à espera de emergir. Esperando por Nick, ou alguém como ele. Eu estava manchada com aquilo, como tinta invisível... com a luz certa, apareceria.
Esperei sem me mover, enquanto Nick terminava de ficar pronto para o trabalho. Não me movi, mesmo quando eu o ouvi ligar para o Darlington e dizer-lhes que eu não iria naquele dia. Sua esposa estava doente, ele disse com pesar. Gripe ou algo assim, ele não sabia o quê. Ele parecia compassivo e preocupado. Ele riu um pouco de algo que a outra pessoa na linha disse. “Sim,” ele falou. “Eu vou cuidar bem dela.”
Eu esperei até que ouvi o barulho de chaves morrer, e o fechar da porta da frente.
Movendo-me como uma mulher velha, alcancei o lixeiro e tirei minhas pílulas. Eu tomei uma, e coloquei a água em minha boca com minha mão, e derrubei-a com uma dolorosa engolida.
Achei a camisa listrada no chão do quarto, e coloquei-a sobre o colchão. Eu não podia ver nada de errado com ela. Eu não conseguia encontrar a falha que havia deixado Nick furioso. “O que eu fiz?” Eu perguntei em voz alta, meus dedos arrastando para baixo as listras como se agarrando a barras de ferro. O que eu tinha feito de errado?
O desejo de agradar era uma doença em mim. Eu sabia disso, e mesmo assim eu fiz. Lavei e engomei e passei a camisa listrada tudo de novo. Cada fio na trama de algodão foi pressionado perfeitamente até ficar plano, todos os botões reluzentes e imaculados. Eu pendurei-a no armário e verifiquei todas as outras camisas, e os sapatos alinhados e pendurei todas as suas gravatas para que as pontas estivessem todas no mesmo nível.
Quando Nick chegou em casa, o apartamento estava limpo e a mesa estava posta, e eu tinha colocado uma caçarola King Ranch no forno. Seu jantar favorito. Era difícil olhar para ele.
Mas Nick entrou contrito e sorridente, trazendo um buquê de flores mistas. Ele me entregou a perfumada oferta, pétalas presas em camadas de tecido e papel celofane.
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“Aqui, querida.” Ele se inclinou para beijar minha bochecha, a qual ele tinha atingido anteriormente. O lado do meu rosto estava inchado e rosa. Fiquei parada quando sua boca tocou a minha pele. Eu queria ir para longe dele. Eu queria bater nele de volta. Principalmente, eu queria chorar.
Em vez disso eu levei as flores para a pia e comecei a desembrulhá-las mecanicamente.
“Eu não deveria ter feito isso, esta manhã,” Nick disse atrás de mim. “Eu pensei em você todo dia.”
“Pensei em você também.” Eu coloquei o buquê em um vaso e o enchi com água, incapaz de enfrentar a perspectiva do corte e arranjo das flores.
“Foi só a gota d'água, ver o que você tinha feito com a minha camisa.”
Limpei o balcão lentamente, movendo uma toalha de papel em pequenos círculos. "Eu não entendo o que havia de errado com ela."
“Tinha cerca de dez vezes goma demais. Quero dizer, eu poderia ter cortado uma fatia de pão com uma daquelas mangas.” Uma longa pausa, e então suspirou. “Eu exagerei. Eu sei disso. Mas como eu disse, foi a última gota. Tantas outras coisas foram me deixando louco, e ver o que você tinha feito com a minha camisa foi demais.”
Eu me virei para encará-lo, segurando as bordas da minha manga comprida sobre os meus dedos, até que estavam encobertos, como patas de gato. “Que outras coisas?”
“Tudo. A maneira como vivemos. Este lugar nunca está limpo e organizado. Nós nunca temos refeições caseiras. Há sempre montes de lixo em toda parte.” Ele levantou as mãos como se estivesse em autodefesa quando me viu começar a falar. “Oh, eu sei, isso parece ótimo agora. E eu posso ver você colocou o jantar no forno. Eu aprecio isso. Mas deve ser assim o tempo todo. E não pode ser, com nós dois trabalhando.”
Eu entendi imediatamente o que Nick queria. Mas eu não entendia por que ele queria. “Eu não posso parar meu trabalho,” eu disse desanimada. “Não podemos nos dar ao luxo de perder o meu salário.”
“Eu estou prestes a conseguir uma promoção. Nós vamos ficar bem.”
“Mas... O que eu faria todos os dias?”
“Ser uma esposa. Tomar conta da casa. De mim. E de si mesma.” Ele chegou mais perto. “E eu vou cuidar de você. Você vai ficar grávida em breve de qualquer maneira. Você teria que sair então. Assim, você pode muito bem sair agora.”
“Nick, eu não acho que—”
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“Nós dois estamos estressados, querida. Isso ajudaria a aliviar a pressão, você lidar com todas as coisas que nunca estão feitas.” Me alcançando, Nick pegou uma das minhas mãos delicadamente, e trouxe-a para seu rosto. “Sinto muito sobre o que eu fiz esta manhã,” ele murmurou, aconchegando-se em minha palma. “Eu juro que nunca vai acontecer novamente. Não importa o que aconteça.”
“Você me assustou, Nick,” eu sussurrei. “Você não foi você mesmo.”
“Você está certa. Você sabe que não sou eu.” Com infinito cuidado, ele trouxe-me contra ele. “Ninguém poderia te amar tanto quanto eu. Você é tudo para mim. E nós vamos cuidar um do outro, certo?”
“Eu não sei.” Minha voz era áspera e apertada. Eu nunca tinha estado tão dividida, queria ficar e queria sair, amando-o e temendo-o.
“Você sempre pode arranjar outro emprego, se quiser,” Nick disse razoavelmente. “Mas vamos tentar assim. Quero que você seja livre para uma mudança.”
Ouvi a mim mesma dizer baixinho: “Por favor, não faça isso de novo, Nick.”
“Nunca,” disse ele ao mesmo tempo, beijando minha cabeça, minha orelha, meu pescoço. Seus dedos chegaram muito delicadamente para minha bochecha avermelhada. “Pobre bebê,” ele murmurou. “Estou tão feliz que eu te bati de mão aberta, ou você teria um inferno de uma contusão.”
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Pouco a pouco nosso casamento fechou-se em torno de mim. No começo assemelhava-se ao paraíso quando eu parei de trabalhar. Eu tinha todo o tempo que eu precisava para moldar o apartamento com aspecto perfeito. Eu limpava com aspirador de pó o tapete de modo que as fibras de poliéster ficassem harmonizadas em faixas simétricas. Cada centímetro quadrado da cozinha estava brilhante e limpo. Passei horas debruçada sobre receitas, melhorando minhas habilidades de cozinhar. Eu organizava as meias de Nick em corres combinada em linhas na gaveta.
Pouco antes de Nick voltar do escritório, eu colocava maquiagem e mudava minha roupa. Eu comecei a fazer isso depois que ele disse-me uma noite que ele esperava que eu não fosse uma daquelas mulheres que deixavam a si mesmas para trás depois que elas agarravam um marido.
Se Nick tivesse sido um idiota o tempo todo, eu não teria sido tão complacente. Eram os momentos entre que me mantinham com ele, à noite quando nós nos aconchegávamos em frente a TV e assistíamos o noticiário, a lenta dança improvisada depois do jantar quando nossa música favorita começava a tocar. Ele podia ser afetuoso e engraçado. Ele podia se amoroso. E ele era a primeira pessoa em minha vida que sempre tinha precisado de mim. Eu era sua ouvinte, sua reflexão, seu consolo, a pessoa sem quem ele nunca poderia ser completo. Ele tinha encontrado minha pior fraqueza: eu era uma daquelas pessoas que era desesperada para ser necessária, para significar para alguém.
Havia muito sobre nosso relacionamento que funcionava. A parte que eu tinha dificuldade de lidar era com a sensação constante de estar fora de equilíbrio. Os homens em minha vida, meus pais e meus irmãos, tinham sido sempre previsíveis. Nick, no entanto, reagia diferentemente em diferentes vezes a um mesmo comportamento. Eu nunca estava certa quando eu fazia alguma coisa se isso seria recebido com elogio ou desprazer. Isso me deixava ansiosa, sempre a procura de pistas sobre como eu deveria agir.
Nick lembrava tudo que eu já tinha contado a ele sobre minha família e infância, mas ele coloriu tudo de forma diferente. Ele disse-me que eu nunca realmente tinha sido amada por ninguém além dele. Ele disse-me o que eu realmente pensava, quem eu realmente era, e ele era tão autoritário no assunto “eu” que eu comecei a duvidar de minhas próprias percepções. Especialmente quando ele repetia as frases padrões de minha infância... “Você precisa superar isso”
“Você está exagerando.”
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“Você leva tudo muito pessoalmente.” Minha mãe tinha dito aquelas coisas para mim, e agora Nick estava dizendo elas também.
Seu temperamento explodia sem aviso quando eu fazia o sanduíche errado para seu almoço, quando eu tinha esquecido de realizar uma incumbência em particular. Como eu não tinha um carro, eu tinha que caminhar ou andar de bicicleta um quarto de milha até a loja de mantimentos, e eu nem sempre tinha tempo para cumprir tudo o que eu precisava fazer. Nick nunca me bateu após aquela primeira vez. Em vez disso ele quebrou bens que eu valorizava, arrancando um delicado colar de ouro de minha garganta, arremessando um vaso de cristal. Às vezes ele me empurrava contra a parede e gritava na minha cara. Eu temia isso mais do que qualquer coisa, a força na voz de Nick queimando todos os circuitos, despedaçando partes de mim que não poderiam ser reagrupadas.
Eu comecei a mentir compulsivamente, com medo de revelar alguma coisa que eu tinha dito ou feito que Nick não iria gostar, qualquer coisa que pudesse incitá-lo.
Tornei-me uma bajuladora, assegurando que Nick era mais esperto do que todos os outros postos juntos, mais esperto do que seu chefe, do que as pessoas no banco, do que qualquer um em sua família ou na minha. Eu dizia que ele estava certo mesmo quando era óbvio que ele estava errado. E apesar disso tudo, ele nunca estava satisfeito.
Nossa vida sexual foi por água abaixo, pelo menos pela minha perspectiva, e estava bastante certa de que Nick nem mesmo notou. Ele nunca tinha sido todo aquele sucesso no quarto—eu não tive nenhuma experiência antes de Nick, e não tinha nenhuma forma de saber o que fazer.
No início de nosso relacionamento, eu tinha encontrado algum prazer em estar com ele. Mas gradativamente ele tinha parado de fazer as coisas que ele sabia que eu gostava, e sexo tornou-se um negócio rápido. Mesmo se eu soubesse o suficiente para explicar para Nick o que eu precisava, não teria feito diferença. Ele não tinha nenhum interesse na possibilidade de sexo além da forma simples de um corpo entrar no outro.
Eu tentava ficar tão confortável quanto possível, fazendo o que era necessário para acabar com aquilo rapidamente. A posição favorita de Nick era por trás, dirigindo-se dentro de mim em golpes retos, egocêntricos, que não me davam nenhum estímulo. Ele elogiava-me por ser uma daquelas mulheres que não davam grande importância sobre preliminares. Na verdade, eu estava bem sem preliminares—isso só teria prolongado um ato que era bagunçado, muitas vezes desconfortável, e nada romântico.
Eu percebi que não era uma pessoa sexual. Eu não era excitada pela visão do corpo bem exercitado de Nick, tonificado por passar a maior parte de suas horas de almoço na academia. Quando nós saíamos, eu via a forma que as outras mulheres olhavam para meu bonito marido e invejavam-me.
Eu recebi um telefonema uma noite e Liberty, e com o som de sua voz eu soube instantaneamente que alguma coisa estava errada. “Haven, eu tenho uma má notícia. É
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sobre Gretchen...” Quando ela continuou, eu me senti pesada com choque e desespero, e me esforcei para entendê-la, como se ela estivesse falando uma língua estrangeira. Gretchen tinha tido uma dor de cabeça de cerca de dois dias, e tinha caído inconsciente em seu quarto—Papai tinha ouvido o baque do andar de baixo. Ela estava morta no momento que os paramédicos chegaram. Um aneurisma cerebral, eles disseram no hospital.
“Eu sinto muito,” Liberty disse, sua voz um grumo de lágrimas. Eu ouvi os sons de seu nariz sendo assoado. “Ela era uma pessoa tão maravilhosa. Eu sei o quanto vocês amavam uma a outra.”
Eu sentei no sofá e coloquei minha cabeça para trás, deixando as lágrimas correrem por uma trilha quente para baixo nos lados de meu rosto. “Quando é o funeral?” Eu consegui perguntar.
“Em dois dias. Você virá? Você ficará com Gage e eu?”
“Sim. Obrigada. Eu...como está o Papai?” Não importa qual era estado de nosso relacionamento, eu doía com simpatia por meu pai. A perda de Gretchen seria difícil para ele, uma das coisas mais difíceis que ele alguma vez enfrentaria.
“Eu imagino que bem como poderia ser esperado.” Liberty assoou o nariz novamente. Ela adicionou em um sussurro constrito. “Eu nunca o tinha visto chorar antes.”
“Eu também não.” Eu ouvi a chave na fechadura na porta da frente. Nick estava em casa. Eu fiquei aliviada, querendo o conforto em seus braços. “Como está Carrington?” Eu perguntei, sabendo que Gretchen tinha sido próxima da irmãzinha de Liberty.
“Você é tão doce por perguntar... ela está realmente arrasada sobre isso, mas ela ficará bem. É duro para ela entender como todas as coisas podem mudar tão repentinamente.”
“É difícil até mesmo para os adultos entenderem.” Eu pressionei minha manga sobre meus olhos úmidos. “Eu não sei se eu irei dirigindo ou voando. Eu te ligo depois que eu conversar com Nick e resolver as coisas.”
“Ok, Haven, tchau.”
Nick entrou no apartamento, largando sua pasta. “O que foi?” ele perguntou, franzindo a testa enquanto ele vinha para mim.
“Minha tia Gretchen morreu,” eu disse, e comecei a chorar novamente.
Nick veio e sentou ao meu lado no sofá, e colocou seu braço ao redor de mim. Eu aninhei-me em seu ombro.
Depois de uns poucos minutos de consolo, Nick levantou e foi para a cozinha. Ele pegou uma cerveja na geladeira.
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“Eu sinto muito, querida. Eu sei que isso é difícil para você. Mas é provavelmente uma boa coisa que você não possa ir ao funeral.”
Eu pisquei, surpresa. “Eu posso ir. Se nós não temos dinheiro para um bilhete de avião, eu posso—”
“Nós temos somente um carro.” Sua voz mudou. “Eu imagino que deveria sentar no apartamento todo o final de semana enquanto você está em Hudson?”
“Por que você não vem comigo?”
“Eu devia ter sabido que você tinha esquecido. Nós temos uma coisa acontecendo neste fim de semana, Marie.” Ele olhou-me duro, e eu dei a ele um olhar vazio. “A fervura anual da lagosta da empresa, na casa do proprietário. Como esse é meu primeiro ano, não há modo que eu possa perder isso.”
Meus olhos se arregalaram. “Eu... eu... você quer que eu vá para uma fervura da lagosta ao invés do funeral da minha tia?”
“Não há uma escolha. Jesus, Marie, você quer me custar qualquer chance de uma promoção? Eu estou indo a essa fervura da lagosta, e eu com certeza não estarei indo sozinho. Eu preciso ter uma esposa lá, e eu preciso de você para causar uma boa impressão.”
“Eu não posso,” eu disse, mais perplexa do que zangada. Eu não podia acreditar que meus sentimentos por Gretchen significavam tão pouco para ele. “Eu preciso estar com minha família. As pessoas irão entender se você lhes disser—”
“Eu sou sua família!” Nick atirou a cerveja, a lata cheia batendo na beira da pia com uma explosão de espuma. “Quem está pagando suas contas, Marie? Quem está mantendo um teto sobre sua cabeça? Eu. Ninguém na sua fodida família está nos ajudando. Eu sou o ganha pão. Você faz o que eu digo.”
“Eu não sou sua escrava,” eu gritei de volta. “Eu tenho o direito de ir ao funeral de Gretchen, e eu estou indo—”
“Tente.” Ele zombou, alcançando-me em três raivosas passadas. “Tente, Marie. Você não tem nenhum dinheiro e nenhuma forma de chegar lá.” Ele apertou meus braços e empurrou-me duro, e eu fui tropeçando para trás contra a parede. “Deus sabe de que modo uma idiota assim conseguiu se formar na faculdade,” ele disse. “Eles não dão a mínima para você, Marie. Tente meter isso na sua cabeça dura.”
Eu enviei a Liberty um e-mail contado a ela que eu não poderia ir ao funeral. Eu não expliquei por quê, e não houve uma resposta dela. Como não houve nenhum telefonema do resto de minha família, eu tinha certeza que eu sabia o que eles pensavam sobre mim por não ir. O que quer que eles pensassem, no entanto, não era quase tão ruim quanto as coisas que eu estava pensando sobre mim mesma.
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Eu fui para a fervura da lagosta com Nick. Eu sorri o tempo inteiro. Todo mundo me chamou de Marie. E eu usava mangas no comprimento do cotovelo para cobrir os hematomas em meus braços. Eu não chorei uma lágrima no dia do funeral de Gretchen.
Mas eu chorei na Segunda-Feira, quando chegou um pequeno pacote no correio. Abrindo-o, eu encontrei o bracelete de Gretchen com todos os seus pequenos pingentes vivazes e ressonantes.
“Querida Haven,” li na nota de Liberty, “Eu sei que você estava destinada a ter isso.”
No meio do nosso segundo ano de casamento, a determinação de Nick para conseguir me engravidar tinha se tornado inteiramente consumista. Eu meio que suspeitava que ele me mataria se soubesse que eu ainda estava secretamente tomando pílulas anticoncepcionais, então eu as escondi dentro de uma de minhas bolsas enfiando atrás em um canto de nosso armário.
Convencido de que o problema era eu—não poderia ser possível ser ele—Nick enviou-me para o médico. Eu chorei no consultório do médico por uma hora, dizendo-lhe que eu sentia-me ansiosa e infeliz e não tinha ideia do porque, e eu voltei para casa com uma prescrição para antidepressivos.
“Você não pode tomar essa porcaria,” Nick disse, amassando o pedaço de papel e jogando-o dentro do lixo. “Pode ser ruim para o bebê.”
Nosso bebê inexistente. Eu pensei culpada na pílula que eu tomava todas as manhãs, um ato secreto que tinha se tornando minha última tentativa desesperada por autonomia. Era difícil nos fins de semana, quando Nick observava-me como um falcão. Eu tinha que correr para o armário quando ele estava no chuveiro, procurar a embalagem de papelão, tirar uma pílula e a engolir em seco. Se ele me pegasse... eu não sei o que ele faria.
“O que o médico disse sobre conseguir engravidar?” Nick perguntou, me observando de perto.
“Ele disse que poderia levar até um ano.”
Eu não tinha mencionado uma palavra com o médico sobre tentar ficar grávida, apenas pedi que minha prescrição de anticoncepcionais fosse renovada.
“Ele te disse quando são os melhores dias? Os dias em que você está mais fértil?”
“Pouco antes de ovular.”
“Vamos olhar no calendário e descobrir isso. Quanto tempo dentro do ciclo para você ovular?”
“Dez dias. Eu acho.”
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Enquanto nos dirigimos para o calendário, no qual eu sempre marcava um X nos dias em que minha menstruação iniciava, minha relutância parecia não importar para Nick. Eu iria ser invadida, engravidada e forçada a atravessar o processo do parto simplesmente porque ele tinha decidido isso.
“Eu não quero isso,” eu ouvi a mim mesma dizer em um tom taciturno.
“Você ficará feliz quando acontecer.”
“Eu não quero. Eu não estou pronta.”
Nick atirou o calendário no balcão com tal força, que soou como o barulho de um tiro. “Você nunca estará pronta. Isso nunca acontecerá a menos que eu empurre você para isso. Pelo amor de Deus, Marie, você irá crescer e ser uma mulher?”
Eu comecei a tremer. O sangue me subiu para meu rosto, bombeando adrenalina atreves de meu sobrecarregado coração. “Eu sou uma mulher. Eu não tenho que ter um bebê para provar isso.”
“Você é uma puta mimada. Uma parasita. É por isso que sua família não dá a mínima para você.”
Meu próprio temperamento explodiu. “Você é um idiota egoísta.”
Ele me deu um tapa tão forte que chicoteou meu rosto para o lado, e meus olhos lacrimejaram pesadamente. Houve um alto som de lamento em meus ouvidos. Eu engoli e segurei minha bochecha. “Você disse que você nunca faria isso novamente,” eu disse roucamente.
Nick estava respirando pesadamente, seus olhos loucos e amplos. “Isso é sua culpa por me deixar louco. Dane-se tudo, eu vou te endireitar.” Ele me agarrou por um braço, sua outra mão fechada em meu cabelo, e ele rebocou-me para dentro da sala de estar. Ele estava gritando palavras sujas, empurrando-me de bruços sobre um divã.
“Não,” eu chorei, sufocada no estofamento. “Não.”
Mas ele puxou para baixo meu jeans e calcinha e entrou dentro de minha carne nua e isso machucou, uma forte compressão de dor, isso transformou-se em fogo puro, e eu sabia que ele tinha rasgado algo dentro de mim. Ele empurrou mais duro, mais rápido, diminuindo apenas quando eu parei de dizer não e fiquei em silêncio, minhas lágrimas deslizando em uma trilha quente e salgada até a almofada. Eu tentei pensar através da dor, dizendo a mim mesma que isso estaria terminado logo, basta levá-lo, tomá-lo, ele irá estar terminando em um minuto.
Socando um último empurrão, Nick estremeceu sobre mim, e eu estremeci também enquanto eu pensava no líquido nadando dentro de mim. Eu não queria nada com seus bebês. Eu não queria fazer sexo com ele.
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Eu engasguei com alívio quando ele retirou, calor escorrendo entre minhas coxas. Houve um som de Nick fechando o zíper e abotoando o botão de suas calças.
“Sua menstruação começou,” ele disse rispidamente.
Nós dois sabíamos que era cedo demais para minha menstruação. Não era dali o sangue que tinha vindo. Eu não disse nada, apenas levantei-me do divã e puxei minhas roupas no lugar.
Nick falou de novo, soando mais normal. “Eu irei terminar o jantar enquanto você se arruma. O que eu preciso fazer?”
“Cozinhe a massa.”
“Quanto tempo?”
“Vinte minutos.”
Eu doía desde minha cintura até meus joelhos. Eu nunca tinha feito sexo brutal com Nick antes. Isso foi um estupro, uma pequena voz interior disse, mas eu imediatamente disse a mim mesma que se eu tivesse apenas relaxado um pouco mais, seria menos duro. Mas eu não queria, a voz insistiu.
Eu levantei e estremeci pela dor latejante brutal, e comecei a mancar para o banheiro.
“Um pouco menos de drama, se você não se importa,” eu ouvi Nick dizer.
Eu fiquei em silêncio enquanto continuava até o banheiro e fechava a porta. Eu iniciei o chuveiro, o deixando tão quente quanto eu podia aguentá-lo, e eu tirei a roupa e entrei. Eu fiquei coberta pelo vapor pelo que pareceu como a eternidade, até que meu corpo ficou ardendo e limpo e dolorido. Eu estava numa névoa de atordoamento, perguntando-me como minha vida tinha se tornado isso. Nick não ficaria calmo até que eu tivesse tido um bebê, e então ele iria querer outros, e o invencível jogo de tentar agradá-lo nunca terminaria.
Este não era um assunto para tentar sentar e conversar honestamente com alguém sobre seus sentimentos. Isso funcionava apenas quando seus sentimentos importavam. Nick, até mesmo quando ele parecia estar ouvindo, era somente para reunir pontos para serem usados contra mim mais tarde. A dor de outro alguém, seja física ou emocional, não se registrava com ele. Porém eu tinha pensado que ele me amava. Ele tinha mudado tanto desde que nós tínhamos casado, ou eu tinha cometido um erro fatal de julgamento?
Desligando o chuveiro, eu enrolei uma toalha em volta de eu corpo e fui até o espelho. Eu usei minha mão para limpar um círculo no espelho embaçado. Meu rosto ficou distorcido, um olho inchado no canto externo.
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A porta do banheiro agitou-se. “Você esteve ai dentro tempo demais. Saia e venha comer.”
“Eu não estou com fome.”
“Abra a maldita porta e interrompa o mau humor.”
Eu destranquei a porta e a abri, e fiquei em pé na frente dele, este homem irritado que parecia pronto para rasgar-me em partes. Eu estava com medo dele, mas até mais do que isso, eu estava completamente derrotada. Eu tinha tentado tão duro jogar por suas regras, mas ele continuou alterando-as.
“Eu não vou pedir desculpas dessa vez,” ele disse, “Você estava pedindo por isso. Você conhece coisa melhor que falar comigo desse jeito.”
“Se nós tivéssemos filhos,” eu disse a ele, “você bateria neles também.”
Raiva fresca mudou a cor de seu rosto. “Cala sua boca.”
“Você iria,” eu insisti. “Você lhes bateria por aí toda a hora que eles fizessem alguma coisa que você não gostasse. Está é uma das razões de eu não querer o seu bebê.”
A falta de reação de Nick assustou. Ficando tão quieto que o pinga-pinga do chuveiro me fez recuar. Ele me encarou sem piscar, seus olhos cor de avelã claros e brilhantes como botões. Pinga. Pinga. Pinga. Arrepios cresceram sobre meu corpo nu, a toalha úmida e fria em torno de mim.
“Onde elas estão?” ele perguntou abruptamente, e empurrou-me ao passar. Ele começou a vasculhando através das gavetas do banheiro, jogando fora pós compactos e grampos de cabelo e escovas, todas as coisas fazendo barulho no chão de azulejo molhado.
“Onde está o quê?” Eu perguntei, meu coração retrocedendo em uma marcha acelerada, indo tão selvagem que isso fez minha caixa torácica doer. Eu estava espantada com quão calma eu soei quando o terror estava corroendo meu interior como ácido de bateria. “Eu não tenho ideia do que você está falando.”
Ele atirou um copo vazio no chão, o quebrando. E ele continuou a esvaziar as gavetas como um louco. “Você sabe exatamente o que eu estou perguntando.”
Se ele encontrasse as pílulas anticoncepcionais, ele me mataria. Uma resignação estranha, doentia, estabeleceu-se sob o medo, e minha pulsação acalmou-se. Eu estava tonta e congelando. “Eu estou indo me vestir,” eu disse, ainda calma, mesmo enquanto ele quebrou, rasgou, atirou, destruiu, líquidos e pós misturando-se em poças pastel.
Eu fui para o armário, puxei um jeans, roupas íntimas, e camiseta embora já fosse tarde e eu devesse ter alcançado por pijamas. Eu acho que meu inconsciente já tinha descoberto que eu não estaria dormindo esta noite. Enquanto eu terminava de vestir-me,
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Nick invadiu o quarto e empurrou-me para o lado. Ele puxou fora gavetas e inverteu elas, esvaziando as minhas roupas em pilhas.
“Nick, pare com isso.”
“Diga-me onde elas estão!”
“Se você está procurando por uma desculpa para bater-me novamente,” eu disse, “vá em frente e faça isso.” Eu não soei desafiante. Eu não estava até mesmo com medo mais. Eu estava cansada, o tipo de cansaço que você consegue quando seus pensamentos e emoções secam completamente.
Porém Nick estava determinado a encontrar provas de que eu o tinha traído, e castigar-me até que eu ficasse para sempre com medo. Terminando com as gavetas, ele foi pra o guarda-roupa e começou a atirar meus sapatos abrindo com força minhas bolsas. Eu não tentei correr ou me esconder. Simplesmente fiquei ali em pé, entorpecida e expectante, esperando pela execução.
Ele veio do roupeiro com as pílulas na mão, inferno em seu rosto. Eu obscuramente compreendi que ele não estava mais no controle de suas ações do que eu estava. Havia um monstro dentro dele que tinha de ser alimentado, e ele não pararia até que estivesse satisfeito.
Eu fui agarrada e jogada contra a parede, minha cabeça encheu com o ruído branco quando a parte de trás de meu crânio atingiu a superfície dura. Nick bateu-me mais duro do que ele alguma vez tinha antes, sua mão fechada desta vez, e eu senti minha mandíbula estalar. Eu entendia apenas poucas palavras, algo sobre as pílulas, e eu teria toda a porra de pílulas que eu queria, e ele tirou algumas da cartela e as empurrou dentro da minha boca, e tentou segurar minha mandíbula fechada enquanto eu cuspia e engasgava. Ele me bateu no estômago e eu dobrei, e ele arrastou-me através do primeiro andar do apartamento para a porta da frente.
Eu fui arremessada no chão, aterrissando duro na beira da porta. Um disparo de agonia penetrou através de mim quando seu pé atingiu minhas costelas. “Você vai ficar aí até amanhã,” ele rosnou. “Pense sobre o que você fez.”
A porta fechou com uma batida.
Eu encontrei-me no pavimento, o asfalto aquecido do sol fumegando como uma chapa de fogão embora fosse escuro. Cigarras chiavam e pulavam, a vibração de seus tambores5 enchendo o ar. Após um longo tempo sentei-me e cuspi um punhado de líquido salgado, e avaliei os danos. Eu toquei no meu estômago e costelas e entre as pernas, e na parte de trás da cabeça. Minha boca estava sangrando, e havia uma dor lancinante em minha mandíbula.
5 Seria a extremidade da cigarra que produz o som por elas emitidas quando ocorre sua fricção.
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O meu maior medo era que Nick pudesse abrir a porta e me arrastar para dentro.
Tentando pensar sobre a violenta batida na minha cabeça, eu considerei minhas opções. Sem bolsa. Sem carteira de motorista. Sem celular. Sem chaves do carro. Sem sapatos também. Eu olhei para baixo meus pés descalços, e eu tive que rir ainda que machucasse minha boca inchada. Merda, isto não era bom. Ocorreu-me que eu poderia realmente ter que esperar do lado de fora a noite toda como um gato que Nick tinha jogado fora. Amanhecendo, ele iria deixar-me entrar e eu rastejaria de volta punida e derrotada.
Eu queria enrolar-me e começar a chorar. Mas eu encontrei-me cambaleando para meus pés, lutando por equilíbrio.
Para o inferno com você, eu pensei, olhando a porta fechada. Eu ainda podia andar.
Se eu pudesse ter ido para alguém naquele momento, teria sido meu melhor amigo, Todd. Eu precisava de sua compreensão e conforto.
Mas nessas circunstâncias, havia somente uma pessoa que realmente poderia me ajudar. Gage. Todo mundo de McAllen até El Paso ou lhe devia favores ou queria fazer favores a ele. Ele poderia resolver um problema rapidamente, eficientemente, sem nenhum alarde. E não havia ninguém no mundo que eu confiasse mais.
Eu caminhei para a mercearia a um quarto de milha de distância, com os pés descalços. Enquanto a escuridão intensificava-se, a lua cheia laranja nascia no céu. Ela vacilou diante de meus olhos como se fosse um conjunto de decoração em um jogo do colegial, penduradas em ganchos. Uma lua de caçador. Me senti tola e assustada enquanto as luzes dos carros passavam sobre mim. Mas logo minhas dores e sofrimentos acumulados cresceram a tal ponto que eu parei de me sentir tola. Tive que concentrar-me para colocar um pé na frente do outro. Eu estava com medo de ficar inconsciente. Mantive minha cabeça abaixada, sem querer que ninguém parasse ao lado da estrada. Sem perguntas, sem estranhos, nem policiais. Eles poderiam me levar de volta para meu marido. Nick tinha se tornado tão poderoso em minha mente que eu pensei que ele poderia explicar todas as coisas completamente, me levar de volta para aquele condomínio e possivelmente me matar.
A dor em minha mandíbula era a pior. Eu tentei juntar meus dentes para ver se ela estava quebrada ou torta, mas até mesmo o menor movimento de minha boca era uma agonia. No momento em que cheguei à mercearia, eu estava seriamente considerando oferecer minha aliança de casamento como uma troca por um pouco de Tylenol. Mas não havia nenhuma possibilidade de eu entrar naquela loja brilhantemente iluminada com todas as pessoas indo e vindo. Eu sabia como eu parecia, a atenção que isso chamaria, e esta era a última coisa que eu queria.
Eu achei um telefone público do lado de fora, e fiz uma ligação a cobrar, empurrando cada botão com uma concentração feroz. Eu sabia o número do telefone
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celular de Gage de cor. Por favor, atenda, eu pensei, me perguntando o que fazer se ele não o fizesse. Por favor, atenda. Por favor...
E então eu ouvi sua voz, e o operador perguntou se ele aceitaria a chamada.
“Gage?” Eu segurei o receptor com ambas as mãos, agarrando-o como se fosse uma tábua de salvação.
“Sim, sou eu. Que está acontecendo?”
A tarefa de responder, explicar, era tão esmagadora que por um momento eu não podia falar. “Eu preciso que você venha me buscar,” eu consegui sussurrar.
Sua voz tornou-se calma, gentil, como se ele estivesse falando com uma criança. “O que aconteceu, querida? Está tudo bem?”
“Não.”
Um silêncio breve, elétrico, e então ele perguntou urgentemente, “Onde você está, Haven?”
Eu não podia responder por um momento. O alívio de ouvir meu próprio nome, falado naquela voz familiar, derreteu através da dormência. Minha garganta trabalhou duro, e eu senti lágrimas quentes jorrarem em meu rosto, ardendo minha pele ferida. “Mercearia,” eu finalmente consegui botar para fora.
“Em Dallas?”
“Sim.”
“Haven, você está sozinha?” Eu o ouvi perguntar. “Hum, aham.”
“Você pode tomar um táxi para o aeroporto?”
“Não.” Eu funguei e engoli em seco. “Eu não tenho minha bolsa.”
“Onde você está?” Gage repetiu pacientemente. Eu disse a ele o nome da mercearia e a rua em que ficava. “Ok. Eu quero que você espere perto da entrada da frente... há um lugar onde você possa sentar?”
“Há um banco.”
“Boa garota. Haven, vá sentar-se no banco e não se mova. Eu terei alguém aí o mais rápido possível. Não vá a qualquer lugar, você me entendeu? Sente lá e espere.”
“Gage,” eu sussurrei, “não ligue para Nick, ok?”
Eu o ouvi inspirar instavelmente, mas quando ele falou, sua voz era a mesma. “Não se preocupe, querida. Ele não chegará perto de você novamente.”
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Enquanto eu sentava no banco e esperava, eu sabia que estava ganhando olhares curiosos. Meu rosto estava machucado, um olho estava praticamente fechado pelo inchaço e meu maxilar estava enorme. Uma criança perguntou a sua mãe o que estava errado comigo, e ela o calou e disse a ele para não olhar. Eu fiquei grata que ninguém se aproximou de mim, que o instinto natural das pessoas era evitar o tipo de problema em que eu estava obviamente dentro.
Eu não sabia quanto tempo tinha passado. Poderia ter sido uns poucos minutos ou horas. Mas eventualmente um homem se aproximou do banco, um cara negro jovem vestindo calças cáqui e uma camisa de botões. Ele abaixou-se de cócoras em frente a mim, e eu olhei turvamente para um par de olhos castanhos preocupados. Ele sorriu como se para tranquilizar-me. “Senhorita Travis?” Sua voz era tão suave e rica como xarope de sorgo. “Eu sou Oliver Mullis. Um amigo de seu irmão. Ele ligou e disse que você precisa de uma carona.” Olhando para mim, acrescentou devagar, “Mas eu estou me perguntando se talvez você não precise ir para a sala de emergência.”
Eu balancei minha cabeça, em pânico. “Não. Não. Não quero. Não me leve lá—”
“Ok,” ele acalmou. “Ok, sem problemas. Eu irei levá-la ao aeroporto. Deixe-me ajudá-la até meu carro.”
Eu não me movi. “Prometa que nós não vamos para a sala de emergência.”
“Eu prometo. Eu realmente prometo.”
Eu ainda não me movi. “Não posso pegar um avião,” eu murmurei. Estava ficando muito difícil falar. “Não estou com minha carteira de motorista.”
“É um avião particular, Senhorita Travis.” Seu olhar era bondoso e compassivo.
“Você não precisa de sua habilitação, ou uma passagem. Vamos lá, vamos—” Ele calou-se quando ele viu meus pés dilacerados sangrando. “Cristo,” ele sussurrou.
“Nada de hospital,” eu murmurei.
Sem pedir permissão, Oliver sentou do meu lado. Eu vi quando ele tirou seus sapatos e meias, deslizou seus pés nus de volta dentro dos mocassins, e cuidadosamente colocou suas próprias meias em mim. “Eu te daria os sapatos,” ele disse, “mas não há forma que você possa mantê-los. Você me deixará levá-la para o carro?”
Eu balancei a cabeça. Eu estava quase certa que não poderia ser segurada por qualquer pessoa, por motivo algum, não importa quão brevemente.
“Está tudo bem,” Oliver murmurou. “Você apenas tome o tempo necessário, então.” Ele levantou e esperou pacientemente enquanto eu me movia com grande esforço para cima do banco, suas mãos meio levantadas como se ele tivesse que parar a si mesmo de chegar até mim. “O carro está lá. O Cadillac branco.”
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Juntos nós caminhamos lentamente para o carro, um reluzente sedã de cor perolada, e Oliver segurou a porta aberta enquanto eu entrava. “Você ficaria mais confortável com as costas do banco abaixadas?” ele perguntou.
Eu fechei meus olhos, exausta demais para responder. Oliver inclinou-se, apertou um botão, e abaixou o assento para trás até que eu estivesse meio reclinada.
Ele foi para o outro lado, entrou e ligou o carro. O Cadillac ronronou suavemente enquanto nós saíamos do estacionamento e para estrada principal. Eu ouvi o som de um telefone celular sendo aberto, e um número sendo discado. “Gage,” Oliver disse depois de um momento. “Sim, eu achei ela. Dirigindo para DFW6 direto agora. Tenho que lhe dizer, no entanto... ele bateu nela consideravelmente. Ela está um pouco fora de si.” Uma longa pausa, e Oliver respondeu calmamente. “Eu sei, cara.” Mais falando do outro extremo. “Sim, eu acho que ela está ok para viajar, mas quando ela chegar lá... Aham, eu acho que sim, definitivamente. Eu irei deixar você saber quando ela decolar. Sem problema.”
Não havia direção mais macia do que um Cadillac—a coisa mais próxima de um colchão sobre rodas—mas cada salto delicado enviava dores frescas através de meu corpo. Eu tentei cerrar meus dentes contra a dor, apenas para engasgar pela explosão de fogo em minha mandíbula.
Eu ouvi a voz de Oliver entre a palpitação alta do pulso em meus ouvidos. “Sente como se você esteja ficando enjoada, Senhorita Travis?”
Eu fiz um pequeno som de negativo. Sem condições de eu fazer aquilo—iria doer muito.
Um pequeno receptáculo plástico de lixo foi depositado cuidadosamente em meu colo. “Apenas no caso.”
Eu fiquei em silêncio, olhos fechados enquanto Oliver manobrava cuidadosamente em meio ao tráfego. As luzes dos carros passando enviavam um brilho vermelho através de minhas pálpebras. Eu fiquei vagamente preocupada pela dificuldade que eu tinha em pensar coerentemente... Eu não conseguia chegar a nenhuma ideia do que iria acontecer a seguir. Tentar manter um pensamento coerente era como estar em pé embaixo de uma grande nuvem e tentar agarrar gotas de chuva com uma colher. Eu sentia como se nunca teria o controle da nada novamente.
“Você sabe,” eu ouvi Oliver dizer, “minha irmã costumava apanhar do marido dela. Com bastante frequência. Sem nenhuma razão. Por qualquer razão. Eu não sabia sobre isso na época, ou eu teria matado o filho da puta. Ela finalmente o deixou e levou seus filhos para casa de minha mãe, e ficou lá até que ela conseguisse juntar sua vida de novo. Viu um psiquiatra e tudo mais. Minha irmã me disse que a coisa que mais a ajudou foi
6 Dallas/Fort Worth aeroporto internacional.
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ouvir que não era culpa dela. Ela precisou ouvir muito aquilo. Então eu quero ser o primeiro a lhe dizer... não é sua culpa.”
Eu não me movi ou falei. Mas eu senti lágrimas escorrendo por debaixo de minhas pálpebras fechadas.
“Não é sua culpa,” Oliver repetiu firmemente, e levou-me pelo resto do caminho em silêncio.
Eu cochilei um pouco e acordei uns poucos minutos mais tarde quando o carro tinha chegado e Oliver estava abrindo a porta. O rugido de um jato partindo cortou através do silêncio do estofamento do Cadillac, e o cheiro de combustível e equipamentos e ar úmido do Texas pairavam sobre mim. Piscando e sentando-me lentamente, eu percebi que nós estávamos na pista de decolagem.
“Deixe-me ajudar você a sair,” Oliver disse, chegando até mim. Eu recuei de sua mão estendida e balancei minha cabeça. Apertando um braço de um lado a outro no local em minhas costelas onde Nick tinha me chutado, eu me movi com grande esforço para fora do carro. Quando fiquei em meus pés, minha cabeça nadava e uma névoa cinza cobriu meus olhos. Eu balancei e Oliver agarrou meu braço livre para firmar-me.
“Senhorita Travis,” ele disse, continuando a apertar meu braço até mesmo quando eu tentei soltá-lo. “Senhorita Travis, por favor, me ouça. Tudo o que eu quero fazer é ajudá-la a chegar naquele avião. Você precisa me deixar ajudá-la. Se você cair tentando subir aquela escada por si mesma, você teria que ir para o hospital com certeza. E eu teria que ir lá com você, porque seu irmão quebraria as minhas pernas.”
Eu assenti e aceitei seu apoio, mesmo enquanto meus instintos gritavam para livrar-me dele. A última coisa que eu queria era ser tocada por outro homem, não importava o quão aparentemente confiável e amigável. Por outro lado, eu queria estar naquele avião. Eu queria cair o inferno longe de Dallas, longe de Nick.
“Ok, agora,” Oliver murmurou, me ajudando a arrastar os pés em direção ao avião. Era um Lear 31A, um jato leve feito para acomodar seis passageiros. Com winglets7 de um metro e vinte de altura e barbatanas triangulares anexadas à cauda em cone, parecia como um pássaro posicionado para voar. “Não muito longe,” Oliver disse, “e então você irá poder se sentar de novo, e Gage irá buscar você na outra ponta.” À medida que nós subíamos as escadas com uma lentidão torturante, Oliver manteve um monólogo correndo como se ele estivesse tentado me distrair da agonia de minha mandíbula e costelas. “Este é uma avião legal. Ele pertence para uma companhia de software sediada em Dallas. Eu conheço o piloto muito bem. Ele é bom, ele irá lá com você são e salva.”
7 Winglet - é um componente aerodinâmico posicionado na extremidade livre da asa de uma aeronave.
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“Quem é o dono da companhia?” eu murmurei, me perguntando se era alguém que eu tinha conhecido antes.
“Eu.” Oliver sorriu e me ajudou até um dos assentos em frente com grande cuidado e me afivelou. Ele foi para um minibar, envolveu alguns pedaços de gelo em uma toalha, e deu para mim. “Para seu rosto. Descanse agora. Eu estou indo falar com o piloto por um minuto e então você estará em seu caminho.”
“Obrigada,” eu sussurrei, segurando o peso móvel do saco de gelo contra meu maxilar. Eu me instalei mais fundo dentro do assento, cuidadosamente moldando a bolsa de gelo ao lado de minha face inchada.
O voo foi miserável, mas misericordiosamente curto, aterrissando no sudeste de Houston no Aeroporto Hobby. Fui lenta em reagir quando o avião parou na pista de pouso, meus dedos se atrapalhando de novo e de novo com o cinto de segurança. Depois as escadas da ponte de embarque foram trazidas para o avião, o copiloto saiu da cabine e abriu a porta de entrada. Em questão de segundos, meu irmão estava no avião.
Os olhos de Gage eram de um cinza pálido incomum, nada parecido com a névoa ou gelo, mas como o raio. Seus cílios e sobrancelhas negras destacavam-se fortemente em seu rosto branco de preocupação. Ele congelou por um milésimo de segundo quando me viu, então engoliu duramente e avançou.
“Haven,” ele disse, soando rouco. Ele ajoelhou-se e apoio suas mãos em cada braço da poltrona, seu olhar varrendo sobre mim. Eu consegui me livrar do cinto de segurança, e eu me inclinei para frente dentro de seu cheiro familiar. Seus braços se fecharam ao redor de mim timidamente, ao contrário de seu usual aperto firme, e eu percebi que ele estava tentando evitar me machucar. Eu senti o estremecimento embaixo de sua quietude.
Sobrecarregada com alívio, eu enterrei minha bochecha boa em seu ombro.
“Gage,” eu sussurrei. “Te amo mais do que qualquer um.”
Ele teve que limpar sua garganta antes que ele pudesse falar. “Amo você também, bebezinha.”
“Não me leve para River Oaks.”
Ele entendeu de uma vez. “Não, querida. Você está voltando para casa comigo. Eu não contei ao Pai que você está aqui.”
Ele ajudou-me a sair para seu carro, um prateado Maybach. “Não vá dormir,” ele disse bruscamente quando eu fechei meus olhos e recostei-me contra o encosto de cabeça.
“Eu estou cansada.”
“Há uma protuberância na parte de trás de sua cabeça. Você provavelmente tem uma concussão, o que significa que você não pode dormir.”
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“Eu dormi no avião,” eu disse. “Eu estou bem, vê? Apenas me deixe—”
“Você não está bem,” Gage disse com uma selvageria que me fez estremecer. “Você está—” Ele parou e modulou seu tom mais uma vez quando viu o efeito que aquilo teve sobre mim. “Inferno, eu sinto muito. Não tenha medo. Eu não irei gritar. É só... não é fácil... ficar calmo quando eu vejo o que ele fez com você.” Ele respirou longa e irregularmente. “Fique acordada até chegarmos ao hospital. Serão apenas uns poucos minutos.”
“Sem hospital,” eu disse, puxada de meu torpor. “Eles irão querer saber como isso aconteceu.” Seria dito à polícia, e eles poderiam fichar Nick por acusação de agressão, e eu não estava nem de longe pronta para lidar com tudo isso.
“Eu lidarei com isso,” Gage disse.
Ele iria também. Ele tinha o poder e o dinheiro para contornar os processos habituais. Palmas de mãos seriam subornadas, favores seriam trocados. Pessoas iriam olhar para o outro lado precisamente no momento certo. Em Houston, o nome Travis era uma chave para abrir todas as portas—ou fechá-las, se isso fosse melhor.
“Eu quero ir para algum lugar e descansar.” Eu tentei parecer resoluta. Mas minha voz saiu turva e queixosa, e minha cabeça latejava muito para manter uma discussão.
“Seu maxilar pode estar quebrado,” Gage disse calmamente. “E o inferno sabe o que ele fez com o resto de você.” Ele deixou sair um suspiro explosivo. “Você pode me contar o que aconteceu?”
Eu balancei a cabeça. Às vezes uma pergunta simples podia ter uma resposta complicada. Eu não estava realmente certa de como ou por que isso tinha acontecido, o que havia sobre Nick ou eu ou nós dois juntos que tinha resultado em tais danos. Eu gostaria de saber se ele tinha percebido que eu tinha ido embora, se ele tinha saído pela porta da frente e a encontrado vazia. Ou se ele estava dormindo confortavelmente em nossa cama.
Gage ficou em silêncio durante o resto do caminho para o Centro Médico de Houston, o maior distrito médico no mundo. Constituía-se de muitos hospitais, institutos acadêmicos e de pesquisa diferentes. Eu não tinha dúvidas que minha família tinha doado novas alas e equipamentos para pelo menos um par deles.
“Essa foi a primeira vez?” Gage perguntou quando nós chegamos ao estacionamento da sala de emergência.
“Não.”
Ele murmurou algumas palavras bem selecionadas. “Se eu alguma vez tivesse achado que o bastardo levantaria a mão para você, eu nunca teria deixado você ir com ele.”
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“Você não poderia ter me parado,” eu disse intensamente. “Eu estava determinada. Estúpida.”
“Não diga isso.” Gage olhou para mim, seus olhos cheios de fúria angustiada. “Você não era estúpida. Você arriscou em alguém, e ele se revelou ser... merda, não há uma palavra para isso. Um monstro.” Seu tom era sombrio. “Um homem morto andando. Porque quando eu chegar até ele—”
“Por favor.” Eu tive o suficiente de vozes zangadas e violência por uma noite. “Eu não sei se Nick percebeu o quanto me machucou.”
“Um pequeno hematoma é suficiente para justificar eu matá-lo.” Ele me tirou do carro, me levantando e me carregando como se eu fosse uma criança.
“Eu posso caminhar,” eu protestei.
“Você não vai andar pelo estacionamento em suas meias. Droga, Haven, me dê um descanso.” Ele me carregou para a área de espera da sala de emergência, que estava ocupada por pelo menos umas doze pessoas, e me colocou delicadamente ao lado do balcão da recepção.
“Gage Travis,” meu irmão disse, entregando um cartão para a mulher atrás da divisória de vidro. “Eu preciso que alguém veja minha irmã imediatamente.”
Eu vi os olhos dela aumentarem rapidamente, e ela fez um sinal com a cabeça para a porta do lado esquerdo do balcão da recepção. “Eu encontrarei vocês na porta, Sr. Travis. Venha direto para dentro.”
“Não,” eu sussurrei para meu irmão. “Eu não quero passar na frente de todos. Eu quero esperar como as outras pessoas.”
“Você não tem uma escolha.” A porta abriu, e eu encontrei-me sendo empurrada e puxada para dentro do corredor bege-claro. Uma onda de raiva precipitou-se sobre mim ante a manipulação do meu irmão. Eu não dava a mínima para quão bem intencionado ele era.
“Não é justo,” eu disse ferozmente, quando uma enfermeira aproximou-se. “Eu não farei isso. Eu não sou mais importante do que ninguém aqui—”
“Você é, para mim.”
Eu fiquei indignada em nome das pessoas que estavam na sala, todos esperando sua vez enquanto eu era levada direto sem interrupção. E eu estava mortificada de bancar o papel de herdeira privilegiada. “Havia umas duas criança lá fora,” eu disse, empurrando o braço do aperto de Gage. “Eles precisam ver um médico tanto quanto eu preciso.”
“Haven,” Gage disse em um tom baixo, implacável, “todos naquela sala de espera estão em melhor forma do que você. Cale-se, sossegue, e siga a enfermeira.”
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Com uma força alimentada pela adrenalina, eu empurrei-me para longe dele e bati contra a parede. Dor, muito dela, muito rápida, veio para mim de várias fontes. Minha boca encheu d’água, meus olhos começaram a afluir, e eu senti uma pressão crescendo de bile. “Eu vou vomitar,” eu sussurrei.
Com uma velocidade milagrosa, uma tigela de plástico em forma de rim foi produzida como que por passe de mágica, e eu me dobrei sobre ela, gemendo. Como eu não tinha comido o jantar, não havia muito para devolver. Eu vomitei dolorosamente, terminando com alguns arfares secos.
“Eu acho que ela tem uma concussão,” eu ouvi Gage dizer à enfermeira. “Ela tem um caroço na cabeça, e atrapalhou-se ao falar. E agora náuseas.”
“Nós vamos cuidar bem dela, Sr. Travis.” A enfermeira levou-me para uma cadeira de rodas. Desse ponto em diante, não havia nada a fazer senão me render ao processo. Eu fiz uma radiografia, passei por uma ressonância magnética, fui checada por fraturas e hematomas, em seguida desinfetada e enfaixada e medicada. Houve longos períodos de espera entre cada procedimento. Levou a maior parte da noite.
Quando saí, eu tinha uma costela fraturada, mas meu maxilar estava apenas machucado, não quebrado. Eu tinha uma leve concussão, mas não o suficiente para justificar uma estadia no hospital. E eu fui tratada com Vicodin8 suficiente para deixar um elefante grogue.
Eu estava irritada demais com Gage, e exausta demais, para dizer muito de qualquer coisa depois de ter sido liberada. Eu dormi durante os quinze minutos de viagem para o apartamento de Gage na Principal 1800, um edifício feito de vidro e aço de propriedade dos Travis. Era uma estrutura de uso misto com apartamentos de milhões de dólares na parte superior e escritórios e espaço para lojas na base. A característica pirâmide segmentada de vidro no topo do edifício tinha dado ao Principal 1800 um status semi-icônico na cidade.
Eu tinha estado dentro do Principal 1800 um par de vezes para comer em um dos restaurantes do térreo, mas eu nunca tinha realmente visto a residência de Gage. Ele sempre tinha sido extremamente reservado.
Nós entramos num rápido elevador para o décimo-oitavo andar. A porta do apartamento estava aberta antes mesmo que nós chegássemos ao fim do corredor. Liberty estava em pé lá, em um robe macio cor de pêssego, seus cabelos em um rabo de cavalo.
Eu desejei que ela não estivesse lá, minha cunhada deslumbrante e perfeita que tinha feito todas as escolhas certas, a mulher que todo mundo em minha família adorava.
8 Analgésico potente.
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Ela era uma das últimas pessoas que eu queria que me visse desse jeito. Eu me senti humilhada e como um troll9 enquanto cambaleava pelo corredor em direção a ela.
Liberty nos levou para dentro do apartamento, que era ultramoderno e rigidamente mobiliado, e fechou a porta. Eu a vi ficar na ponta dos pés para beijar Gage. Ela virou para mim.
“Espero que você não se importe—” Eu comecei, e calei-me quando ela colocou seus braços ao redor de mim. Ela era tão macia, cheirando a pó perfumado e pasta de dente, e seu pescoço era quente e delicado. Eu tentei recuar, mas ela não me deixou ir. Tinha um bom tempo desde que eu tinha sido abraçada por uma mulher adulta, não desde minha mãe. Era o que eu precisava.
“Eu estou tão contente por você estar aqui,” ela murmurou. Eu senti a mim mesma relaxando, compreendendo que não haveria nenhum julgamento por Liberty, nada além de bondade.
Ela me levou para o quarto de hóspedes e me ajudou a mudar para uma camisola, e me aninhou como se eu não fosse mais velha do que Carrington.
O quarto era imaculado, decorado com tons de azul pálido e cinza. “Durma tanto quanto você quiser,” Liberty sussurrou, e fechou a porta.
Eu deitei ali tonta e confusa. Meus músculos doloridos soltaram suas tensões, desemaranhando-se como uma corda entrelaçada. Em algum lugar no apartamento um bebê começou a chorar e foi rapidamente acalmado. Eu ouvi a voz de Carrington, perguntando onde seus tênis roxos estavam. Ela devia estar se arrumando para a escola. Uns poucos retinires de pratos e panelas... café da manhã sendo preparado. Eles eram sons reconfortantes. Sons de família.
E eu flutuei gratamente para o sono, parte de mim desejando que eu nunca acordasse.
Depois que você é sistematicamente abusada, seu julgamento desgasta-se até um ponto onde é quase impossível tomar decisões. Pequenas decisões são tão árduas quanto as grandes. Até mesmo escolher um cereal matinal parece cheio de perigos. Você fica tão assustado com fazer a coisa errada, ser responsabilizado e punido por isso, que você prefere que alguém assuma a responsabilidade.
Para mim não houve alívio em ter deixado Nick. Não importa se eu estava com ele ou não, eu estava enterrada em sentimentos de inutilidade. Ele tinha me culpado por causar os abusos, e sua convicção tinha se espalhado através de mim como um vírus. Talvez eu tivesse merecido. 9 É um gigante ou anão do folclore escandinavo.
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Outro efeito colateral de ter vivido com Nick era que a realidade tinha adquirido toda a substância e estabilidade de uma água-viva. Eu questionava a mim mesma e minhas reações a tudo. Eu não sabia mais o que era verdadeiro. Eu não podia dizer se algum de meus sentimentos sobre qualquer coisa era apropriado.
Depois de dormir cerca de vinte quatro horas, com Liberty verificando-me ocasionalmente, eu finalmente consegui sair da cama. Fui ao banheiro e inspecionei meu rosto no espelho. Eu tinha um olho roxo, mas o inchaço tinha diminuído. Meu queixo ainda estava inchado e estranho de um lado, e eu parecia como se tivesse estado num acidente de carro. Mas eu estava com fome, o que eu pensei que provavelmente era uma coisa boa, e estava definitivamente me sentindo mais humana e menos como um animal atropelado.
Quando eu andei arrastando os pés para a área da sala principal, grogue e ferida, eu vi Gage sentado junto a uma mesa de vidro.
Normalmente ele estava impecavelmente vestido, mas naquele momento ele estava usando uma camiseta velha e uma calça de moletom, e seus olhos estavam marcados por olheiras.
“Uau,” eu disse, indo sentar-me com ele, “você parece horrível.”
Ele não sorriu para minha tentativa de humor, apenas observou-me com preocupação.
Liberty entrou carregando um bebê. “Aqui está ele,” ela disse alegremente. Meu sobrinho, Matthew, era um menininho gordinho e adorável de um ano de idade com um sorriso desdentado, grandes olhos cinzas, e um monte de cabelo preto e grosso.
“Você fez um moicano no bebê?” Eu perguntei quando Liberty sentou ao meu lado com Matthew em seu colo.
Ela sorriu e acariciou a cabeça dele. “Não, ele simplesmente caiu dos lados e ficou no topo. Me disseram que ele vai voltar a crescer, eventualmente.”
“Eu gostei. O traço Comanche10 da família está aparecendo.” Eu queria alcançar o bebê, mas não achei que minha costela fraturada pudesse suportar isso, mesmo com o apoio da cinta elástica. Então eu me acomodei para brincar com seus pés, enquanto ele ria e emitia sons.
Liberty olhou para mim de forma avaliadora. “É hora do seu remédio de novo. Você acha que poderia comer algumas torradas e ovos primeiro?”
10 Tribo indígena nativa americana.
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“Sim, por favor.” Eu observei enquanto ela instalava Matthew em um cadeirão e espalhava alguns Cheerios11 na superfície. O bebê começou a remexer os pedaços com seus punhos, transferindo-os para sua boca.
“Café?” Liberty perguntou. “Chá quente?”
Eu geralmente preferia café, mas pensei que poderia ser difícil para meu estômago. “Chá seria ótimo.”
Gage bebeu seu café, abaixou a xícara, e estendeu a mão para cobrir a minhas com as suas. “Como você está?” ele perguntou.
Assim que ele me tocou, uma desagradável sensação de ameaçada apoderou-se de mim. Eu não pude evitar retirar depressa minha mão. Meu irmão, que nunca tinha feito violência a uma mulher, olhou para mim de boca aberta, espantado.
“Desculpe,” eu disse, envergonhada quando eu vi a reação dele.
Ele desviou o olhar, parecendo ocupado com uma feroz luta interior, e eu vi que sua cor estava ficando mais forte. “Não é você quem deveria estar pedindo desculpas,” ele murmurou.
Depois que Liberty tinha me trazido chá e minhas pílulas receitadas, Gage pigarreou e perguntou rispidamente, “Haven, como você se afastou de Nick na noite passada? Como você acabou sem bolsa e sem sapatos?”
“Bem, ele... ele meio que... me atirou para fora. Eu acho que ele esperava que eu esperasse na entrada até ele me deixar entrar.”
Eu vi Liberty pausar temporariamente quando ela veio colocar mais café para ele. Eu fiquei surpresa com quão chocada ela pareceu.
Gage apanhou um copo de água, quase o derrubando. Ele tomou uns poucos goles ponderados. “Ele bateu em você e te jogou para fora,” ele repetiu. Não foi uma pergunta, mas uma declaração que ele estava tentando fazer a si próprio acreditar. Eu assenti que sim e estendi mão para cutucar um dos Cheerios de Matthew mais perto do alcance.
“Eu não tenho certeza do que Nick vai fazer quando ele vir que eu fui embora,” eu me ouvi dizer. “Estou com medo que ele possa apresentar uma queixa de pessoa desaparecida. Acho que eu devia ligar para ele. Embora eu prefira não dizer onde estou.”
“Eu vou ligar para um de nossos advogados em uns poucos minutos,” Gage disse. “Eu descobrirei o que nós precisamos fazer em seguida.” Ele continuou falando em um tom medido, sobre como nós poderíamos precisar tirar fotos de minhas lesões, como lidar
11 Cereal matinal.
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com o divórcio o mais rápido possível, como minimizar meu envolvimento para que eu não precisasse ver o rosto de Nick ou falar com ele—
“Divórcio?” eu perguntei estupidamente, enquanto Liberty colocava um prato em minha frente. “Eu não sei se eu estou pronta para isso.”
“Você não acha que está pronta? Você já se olhou no espelho, Haven? Quanto mais de pancadas você precisa para estar pronta?”
Eu olhei para ele, tão grande e decidido e de temperamento forte, e tudo em mim revoltou-se.
“Gage, eu acabei de chegar aqui. Posso ter uma pausa? Só um pouquinho? Por favor?”
“A única forma de você conseguir uma pausa é divorciar-se do filho de uma”—Gage parou e olhou para seu atento bebê—“mãe”.
Eu sabia que meu irmão estava tentando me proteger, que ele queria o que era melhor para mim. Mas sua protetividade parecia como ameaça. E eu me lembrei de meu pai. “Eu sei isso,” eu disse. “Eu só quero pensar sobre as coisas antes que eu fale com um advogado.”
“Deus me ajude, Haven, se você estiver realmente considerando voltar para ele—”
“Eu não estou. Eu apenas estou cansada de me dizerem o que fazer e quando fazer. O tempo todo! Eu me sinto como se estivesse em um trem desgovernado. Eu não quero que você fique tomando decisões sobre o que eu devo fazer em seguida.”
“Bem. Então você as faz. Rápido. Ou eu vou.”
Liberty interviu antes que eu pudesse responder. “Gage,” ela murmurou. Seus dedos elegantes foram para a superfície tensa de seu bíceps e o acariciou levemente. Sua atenção foi instantaneamente desviada. Ele olhou para ela, as linhas de seu rosto suavizando, e respirou profundamente. Eu nunca tinha visto alguém exercer aquele tipo de poder sobre meu irmão autoritário, e fiquei impressionada. “Isso é um processo,” ela disse gentilmente. “Eu sei que nós queremos que Haven pule a parte do meio e vá direto para o fim... mas acho que a única maneira para ela sair disso é passar por isso. Passo a passo.”
Ele franziu a testa, mas não discutiu. Eles trocaram um olhar privado. Claramente haveria mais discussão mais tarde, fora de meus ouvidos. Ele virou-se para mim. “Haven,” ele disse calmamente, “o que você diria se uma de suas amigas contasse a você que seu marido a jogou porta afora uma noite? Qual seria seu conselho?”
“Eu... eu diria a ela para deixá-lo imediatamente,” eu admiti. “Mas é diferente quando sou eu.”
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“Por quê?” ele perguntou com genuíno espanto.
“Eu não sei,” eu respondi impotente.
Gage esfregou as duas mãos no rosto. Ele levantou da mesa. “Eu vou me vestir e ir para o escritório por um tempo. Eu não darei nenhum telefonema.” Ele pausou deliberadamente antes de adicionar, “ainda.” Indo para o cadeirão, ele levantou Matthew e o segurou no ar para fazê-lo guinchar de prazer. Abaixando o corpo se contorcendo, Gage beijou seu pescoço e afagou ele. “Ei, parceiro. Você seja um bom garoto para a Mamãe enquanto eu estiver fora. Voltarei mais tarde e nós faremos algumas coisas de homem.”
Pousando o bebê de volta na cadeira, Gage inclinou-se para beijar sua esposa, passando a mãe atrás na nuca dela. Foi mais do que um beijo casual, tonando-se mais intenso, mais longo, até que ela estendeu sua mão e acariciou seu rosto. Separando-se, ele continuou a olhar dentro de seus olhos, e pareceu que toda uma conversa passou entre eles.
Liberty esperou até que Gage fosse tomar banho antes de me dizer gentilmente, “Ele ficou tão chateado depois que trouxe você para casa. Ele ama você. Isso o deixa louco, o pensamento de alguém machucando você. Ele mal consegue se evitar de ir a Dallas e fazer alguma coisa que não é em seu melhor interesse.”
Eu empalideci. “Se ele for até Nick—”
“Não, não, ele não irá. Gage é muito autocontrolado quando se trata de obter os resultados que ele quer. Acredite em mim, ele fará o que for necessário para ajudar você, não importa quão difícil seja.”
“Eu sinto muito por envolver vocês nisso,” eu disse. “Eu sei que isso é a última coisa que você ou Gage precisam.”
“Nós somos sua família.” Ela se inclinou e reuniu-me dentro de outro daqueles abraços longos e confortáveis. “Nós vamos resolver. E não se preocupe com Gage—eu não vou deixá-lo intimidar você. Ele só quer que você fique segura... mas ele tem que deixar que você esteja no comando de como isso é feito.”
Eu senti uma onda de afeto e gratidão por ela. Se existia qualquer traço remanescente de ressentimento ou ciúme em meu coração, ele desapareceu naquele momento.
Uma vez que comecei a falar, eu não podia parar. Eu contei a Liberty tudo, o modo como Nick tinha controlado a casa, as camisas que eu tinha que passar a ferro, a maneira que ele me chamava “Marie”. Seus olhos se arregalaram neste último, e ela disse numa voz baixa, “Oh, Haven. É como se ele tivesse tentando apagar você.”
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Nós tínhamos colocado uma grande colcha com um desenho de curral, e Matthew havia rastejado entre as costuras de animais feitas à mão até que ele amontoou-se para dormir em cima de um rebanho de ovelhas. Liberty abriu uma garrafa de vinho branco gelado. “Sua receita diz que álcool pode ampliar os efeitos da medicação,” ela alertou.
“Bom,” eu disse, segurando meu copo. “Não seja mesquinha.”
Descansando na colcha com o bebê dormindo, eu tentei encontrar uma posição confortável na pilha de travesseiros que Liberty tinha posto para mim. “O que é confuso,” eu disse a ela, ainda ponderando meu relacionamento com Nick, “são os momentos quando ele está bem, porque então você acha que tudo vai melhorar. Você sabe quais botões não apertar. Mas então há novos botões. E não importa o quanto você se desculpe, não importa o quão duro você tente, todas as coisas que você diz e faz aumentam a tensão até que haja uma explosão.”
“E as explosões ficam piores a cada vez,” ela disse com uma certeza calma que chamou minha atenção.
“Sim, exatamente. Alguma vez você namorou um cara assim?”
“Minha mãe namorou.” Seus olhos verdes estavam distantes. “O nome dele era Louis. Um tipo Jekyll e Hyde. Ele começou charmoso e legal, e ele conduziu Mama passo a passo para dentro do relacionamento, e quando as coisas ficaram ruins o suficiente para ela o deixar, sua autoestima estava em frangalhos. Na época eu era muito jovem para entender por que ela o deixou tratá-la tão mal.”
Seu olhar vagou sobre o corpo adormecido de Matthew, mole e pesado como um saco de farinha. “Eu acho que a coisa que você tem que descobrir é se o comportamento de Nick é algo que poderia ser tratado com aconselhamento. Se você deixá-lo é suficiente para fazê-lo querer mudar.”
Eu tomei um gole de vinho e considerei aquilo por um tempo. O abuso de Nick era algo que poderia ser descascado como a casca de uma laranja? Ou era marmorizado até o fundo?
“Eu acho que, com Nick, é e sempre vai ser sobre controle,” eu finalmente disse. “Eu não posso vê-lo jamais admitindo que alguma coisa seja sua culpa, ou que ele precisa mudar de qualquer forma. A culpa é sempre minha.” Deixando de lado meu copo de vinho vazio, eu esfreguei minha testa. “Eu fico me perguntando... ele alguma vez me amou? Eu era algo coisa mais do que apenas alguém em quem mandar e manipular? Porque se ele nunca se importou comigo, isso faz de mim ainda mais idiota por tê-lo amado.”
“Talvez ele se preocupou com você tanto quanto foi capaz”, Liberty disse.
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Eu sorri sem humor. “Que sorte a minha.” Percebi que nós estávamos falando sobre meu relacionamento com Nick como se ele já estivesse no passado. “Se eu o tivesse conhecido por mais tempo”, eu continuei, “namorado ele mais tempo, talvez eu tivesse visto através da fachada. Foi minha culpa correr para o casamento tão depressa.”
“Não, não foi,” Liberty insistiu. “Ás vezes uma imitação de amor pode ser malditamente convincente.”
As palavras lembraram-me de algo que eu a tinha ouvido dizer um longo tempo atrás em sua noite de núpcias. Toda uma vida atrás. “Como a imitação que você tinha com Hardy Cates?”
Ela assentiu, sua expressão tornando-se pensativa. “Sim, embora eu não me preocupe em colocar Hardy na mesma laia de Nick. Ele nunca faria mal a uma mulher. Na verdade, Hardy tinha o problema oposto... sempre querendo salvar alguém... eu esqueci o nome para isso...”
“Um complexo de cavaleiro branco.”
“Sim. Mas após o resgate ser feito, essa era a deixa para Hardy ir embora.”
“Ele não foi como um cavaleiro branco quando arruinou o acordo de negócios de Gage,” eu não consegui resistir em comentar.
O sorriso de Liberty tornou-se triste. “Você está certa. Mas eu acho que Hardy considerou isso um golpe contra Gage, não contra mim.” Ela balançou a cabeça com desdém. “Sobre você e Nick... não é culpa sua que ele perseguiu você. Eu li que abusadores escolhem mulheres que eles podem manipular facilmente—eles têm um tipo de radar para isso. Tipo, se você enchesse o Astrodome12 de pessoas e colocasse um homem abusivo e uma mulher vulnerável lá, eles encontrariam um ao outro.”
“Oh, ótimo.” Eu estava indignada. “Eu sou um alvo ambulante.”
“Você não é um alvo, você foi apenas... confiante. Amável. Qualquer cara normal apreciaria isso. Mas acho que alguém como Nick provavelmente pensa no amor como uma fraqueza da qual ele pode tirar vantagem.”
Independentemente do que eu queria ouvir, isso me atingiu. Era uma verdade da qual eu não podia desviar... ela estava bem no meio do meu caminho, bloqueando qualquer caminho possível de eu voltar para Nick.
Não importa o quanto eu o amava, ou o que eu fiz por ele, Nick não mudaria. Quanto mais eu tentasse agradá-lo, mais desrespeito ele teria por mim.
“Eu não posso voltar para ele,” eu disse lentamente, “posso?” 12 É um estádio fechado (o primeiro desse tipo) localizado na cidade deHouston, no estado do Texas,
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Liberty apenas balançou a cabeça.
“Eu posso até imaginar o que Papai vai dizer se eu me divorciar,” eu murmurei. “Começando com um grande e gordo ‘eu avisei’.”
“Não,” Liberty disse sinceramente. “De verdade. Eu já falei com Churchill mais de uma vez sobre a maneira que ele se comportou. Ele está arrependido de ter sido um cabeça-dura.”
Eu não acreditava nisso. “Papai vive para ser um cabeça-dura.”
Liberty deu de ombros. “O que quer que Churchill diga ou pense não é importante agora. O ponto é o que você quer.”
Eu estava prestes a dizer a ela que podia levar um longo tempo para descobrir isso. Mas enquanto eu me deitava próximo ao corpo quente do bebê e me aconchegava mais perto, algumas coisas tornaram-se muito claras. Eu jamais queria ser agredida ou que gritassem comigo de novo. Eu queria ser chamada pelo meu próprio nome. Eu queria que meu corpo me pertencesse. Eu queria todas as coisas que qualquer pessoa merecia pelo mérito de ser um ser humano. Incluindo o amor.
E eu sabia, lá no fundo, que não era amor quando uma pessoa tinha todo o poder e a outra pessoa era completamente dependente. Amor verdadeiro não era possível em uma hierarquia.
Eu acariciei a cabecinha de Matthew. Nada no mundo cheirava tão bem quanto um bebê limpo. Quão inocente e confiante ele era enquanto dormia. Como Nick trataria uma criatura indefesa como esta?
“Eu quero falar com o advogado,” eu disse, sonolenta. “Porque eu não quero ser a mulher no Astrodome.”
Liberty envolveu um cobertor gentilmente sobre nós dois. “Ok,” ela sussurrou. “Você está no comando, Haven.”
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No Texas, há um período de espera obrigatório de sessenta dias depois que você faz uma petição de divórcio. Em algum momento, alguém no legislativo estadual havia decidido que um período de reflexão mandatório legal era uma boa ideia para as pessoas que queriam o divórcio. Eu preferiria que tivessem me deixado decidir se eu precisava refletir ou não. Uma vez que a decisão tinha sido tomada, eu queria acabar logo com isso.
Por outro lado, fiz muito bom uso desses dois meses. Curei-me exteriormente, as contusões desaparecendo, e comecei a ir a um terapeuta duas vezes por semana. Sem nunca ter ido para um terapeuta antes, esperava que tivesse que deitar num divã e falar enquanto algum profissional impessoal de jaleco branco tomasse notas.
Em vez disso fui recebida em um escritório pequeno e acolhedor com um sofá estofado em sarja amarela florida, por uma terapeuta que não parecia tão mais velha que eu. Seu nome era Susan Byrnes, e ela tinha cabelos escuros e olhos brilhantes e sociáveis. Foi um alívio indescritível desabafar com ela. Ela era compreensiva e inteligente, e quando eu descrevia as coisas que eu tinha sentido e passado, parecia que ela tinha o poder de desvendar os mistérios do universo.
Susan disse que o comportamento de Nick se encaixava no padrão de alguém com transtorno de personalidade narcisista, que era comum em maridos abusivos. Enquanto ela me falava sobre o transtorno, era como se estivesse descrevendo a minha vida como tinha sido no último ano. Uma pessoa com TPN era dominadora, acusadora, egocêntrica, intolerante com as necessidades dos outros... e usava a raiva como uma tática de controle. Não respeitavam os limites de qualquer outra pessoa, o que significava que se achavam no direito de intimidar e criticar até que suas vítimas ficassem em total confusão.
Ter um transtorno de personalidade era diferente de ser louco, como Susan explicou, porque, ao contrário de uma pessoa louca, um narcisista poderia controlar quando e onde ele perdia a paciência. Ele nunca venceria seu chefe no trabalho, por exemplo, porque isso seria contra seus próprios interesses. Ao invés disso, ele iria para casa e espancaria sua esposa e chutaria o cachorro. E nunca iria se sentir culpado por isso, porque iria se justificar e dar desculpas para si mesmo. A dor de ninguém, além da sua própria, significava alguma coisa para ele.
“Então você está dizendo que Nick não é louco, é um sociopata?” Perguntei a Susan.
“Bem... basicamente, sim. Levando em conta que a maioria dos sociopatas não são assassinos, são apenas não empáticos e altamente manipulativos.”
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“Ele pode ser curado?”
Ela balançou a cabeça imediatamente. “É triste pensar sobre que tipo de abuso ou negligência poderia tê-lo feito desse jeito. Mas o resultado final é que Nick é quem ele é. Os narcisistas são notoriamente resistentes à terapia. Por causa de seu senso de grandiosidade, jamais veem necessidade de mudar.” Susan sorriu obscuramente, como se tivesse alguma memória desagradável. “Acredite em mim, nenhum terapeuta quer um narcisista entrando por sua porta. Isso apenas resulta em uma enorme frustação e perda de tempo.”
“E quanto a mim?” Forcei-me a perguntar. “Posso ser curada?” Naquele momento, meus olhos arderam, e tive que assoar o nariz, então Susan teve que repetir sua resposta.
“Claro que sim, Haven. Vamos trabalhar nisso. Vamos conseguir.”
No começo eu tinha medo de ter que trabalhar em perdoar Nick. Foi um alívio indescritível ouvir Susan dizer que não, eu não precisava ficar presa no ciclo de abuso e perdão. Vítimas de abuso eram frequentemente sobrecarregadas com a chamada responsabilidade de perdoar, até mesmo reabilitar, seus algozes. Aquele não era meu trabalho, Susan disse. Mais tarde nós poderíamos encontrar algum nível de solução de modo que o veneno do meu relacionamento com Nick não derramasse em outras áreas da minha vida. Mas agora havia outras coisas em que me concentrar.
Descobri que eu era uma pessoa com limites fracos. Eu tinha sido ensinada por meus pais, especialmente por minha mãe, que ser uma boa filha significava não ter nenhum limite. Eu tinha sido criada para deixar Mamãe criticar e fazer as coisas do seu jeito o tempo todo, e tomar decisões por mim que ela não tinha nada que tomar.
“Mas meus irmãos não tiveram esse tipo de relacionamento com ela,” disse à Susan. “Eles tinham limites. Eles não a deixavam mexer com suas vidas pessoais.”
“Algumas vezes as expectativas de um pai a respeito dos filhos e filhas são muito diferentes,” Susan respondeu ironicamente. “Meus próprios pais insistem que sou eu que deve cuidar deles na velhice, mas eles nunca pensariam em pedir isso ao meu irmão.”
Susan e eu fizemos várias interpretações de papéis, que pareciam uma bobagem mortificante no início, mas enquanto ela fingia alternadamente ser Nick, meu pai, um amigo, um irmão, até mesmo minha mãe há muito falecida, eu exercitava lutar por mim mesma.
Era um trabalho difícil, de complexidade muscular, transpiração induzida.
“Não é uma vitamina.” Aquela frase se tornou meu mantra. Eu pensei que se eu dissesse isso a mim mesma muitas vezes, iria começar a acreditar nela.
Gage cuidou de grande parte do processo de divórcio, tanto quanto eu o permitiria. E, possivelmente por causa da influência suave de Liberty, ele mudou sua abordagem
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comigo. Ao invés de me dizer como as coisas seriam, ele definiu as opções e as explicou com calma, e não discutiu com minhas decisões. Quando Nick ousou ligar para o apartamento e pediu para falar comigo, e eu disse que tudo bem, Gage teve que forçar-se a passar o telefone para mim.
Tinha sido realmente uma conversa predominantemente unilateral, com Nick falando e eu ouvindo. Meu marido transbordou, indo da culpa para a fúria e para a súplica, me dizendo que foi minha culpa tanto quanto dele.
Você não podia simplesmente desistir de um casamento quando você encontra uma situação difícil, ele disse.
Era mais do que apenas uma situação difícil, eu disse.
Pessoas que se amavam encontravam uma maneira de resolver as coisas, ele falou.
Você não me ama, respondi.
Ele disse que amava. Talvez ele não tivesse sido o melhor marido, mas ele tinha certeza de que eu não tinha sido a melhor esposa.
Tenho certeza que você está certo, disse a ele. Mas não acho que mereço ganhar uma costela quebrada.
Ele disse que não havia nenhuma chance de ter quebrado minha costela, que deve ter acontecido acidentalmente quando caí.
Respondi que ele me empurrou, me bateu.
E fiquei estupefata quando Nick disse que não se lembrava de me bater. Talvez uma de suas mãos tivesse escorregado.
Desejei saber se ele realmente não se lembrava, se ele realmente poderia reescrever a realidade para si mesmo, ou se estava apenas mentindo. E então percebi que não importava.
Eu não vou voltar, disse. E todo comentário que ele fez depois, eu repeti. Eu não vou voltar. Eu não vou voltar.
Desliguei o telefone e fui até Gage, que estava sentado na sala de estar. Suas mãos estavam tão rigorosamente cerradas nos braços da poltrona de couro que as pontas de seus dedos cravaram densamente no couro liso. Mas ele tinha me deixado lutar minha batalha sozinha, como era preciso.
Eu sempre amei Gage, mas nunca tanto como agora.
Eu pedi o divórcio em razão da insustentabilidade, o que significava que o casamento se tornou insuportável devido aos conflitos de personalidade que haviam
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destruído “os fins legítimos do relacionamento conjugal”. Essa era a maneira mais rápida de acabar com isso, o advogado disse. Se Nick não contestasse. Caso contrário, haveria um julgamento, e todos os tipos de maldade e humilhação reservados para ambas as partes.
“Haven,” Gage me disse em particular, seus gentis olhos cinzentos, sua boca em um sorriso amargo. “Eu tentei o meu melhor para me segurar e fazer as coisas à sua maneira... mas tenho que lhe pedir uma coisa agora.”
“O que é?”
“Você e eu sabemos que não há como Nick aceitar o divórcio sem contestar a menos que façamos valer a pena para ele.”
“Você quer dizer pagá-lo,” eu disse, meu sangue fervendo enquanto imaginava Nick recebendo uma recompensa financeira depois da maneira como me tratou. “Bem, lembre Nick que eu fui deserdada. Eu sou—”
“Você ainda é uma Travis. E Nick vai desempenhar seu papel ao máximo... um pobre rapaz trabalhador que se casou com uma menina rica e mimada, e que agora está sendo posto de lado como um pano de chão. Se ele quiser, Haven, pode tornar esse processo tão longo, difícil e público quanto possível.”
“Dê a ele minha quota do apartamento então. É toda propriedade em comum que temos.”
“Nick vai querer mais que apenas o apartamento.”
Eu sabia o que Gage estava prevendo. Ele queria subornar Nick para mantê-lo quieto por tempo suficiente para permitir que o divórcio se concluísse. Nick estava prestes a receber uma gorda recompensa, depois de tudo o que tinha feito para mim. Fiquei furiosa o suficiente para começar a tremer. “Juro,” eu disse com furiosa sinceridade, “se eu conseguir me livrar dele, eu nunca vou me casar novamente.”
“Não, não diga isso.” Gage se aproximou de mim sem pensar e eu encolhi. Eu ainda não gostava de ser tocada, especialmente por homens, o que Susan tinha dito que era um mecanismo de proteção e melhoraria com o tempo. Ouvi Gage proferir uma maldição silenciosa, e baixar seus braços. “Desculpe,” murmurou, e soltou um suspiro.
“Você sabe, colocar uma bala em sua cabeça seria muito mais barato e mais rápido do que um divórcio.”
Olhei cuidadosamente para ele. “Você está brincando, certo?”
“Certo.” Ele fez uma expressão suave, mas não gostei do seu olhar.
“Vamos ficar com a opção do divórcio,” eu disse. “Prefiro que Matthew e Carrington não tenham que visitá-lo na prisão. Que tipo de termos você está pensando? E
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devo ir rastejando pedir dinheiro para Papai para dar para Nick? Porque eu, com certeza, não tenho nenhum.”
“Deixe que eu me preocupe com os termos. Vamos resolver mais tarde.”
Percebendo que meu irmão não apenas ia assumir as despesas do meu divórcio, mas também o acordo, eu dei-lhe um olhar desprezível, “Gage —”
“Está tudo bem,” ele disse baixinho. “Você faria isso por mim. Você não está causando dificuldade para ninguém, querida.”
“Não é certo que você pague pelos meus erros.”
“Haven... parte de ser forte é ser capaz de admitir que às vezes você precisa de ajuda. Você entrou nesse casamento sozinha, você sofreu tudo sozinha, com certeza você não tem que sair dele sozinha. Deixe-me ser seu irmão mais velho.”
Sua certeza tranquila fez o chão sob meus pés parecer sólido. Como se um dia, talvez tudo pudesse realmente ficar bem.
“Algum dia vou pagá-lo de volta.”
“Está bem.”
“Acho que a única vez que já me senti mais grata,” disse a ele, “foi quando você tirou Bootsie do meio do matagal.”
Engoli meu orgulho e liguei para meu Pai no dia seguinte ao fim do meu divórcio em fevereiro. Para meu profundo alívio, Nick não tinha aparecido no tribunal quando o juiz assinou o decreto. Duas pessoas tiveram que aparecer para se casar, mas apenas uma para se divorciar. Gage tinha me garantido que Nick ficaria longe da corte naquele dia. “O que você fez, ameaçou quebrar suas pernas?” perguntei.
“Eu disse a ele que se o visse, sua coragem seria amarrada no portão do tribunal em cinco minutos.” Eu tinha sorrido para Gage até perceber que não tinha sido uma brincadeira.
Gage e Liberty tinham deixado minha família saber que eu estava de volta a Houston, mas que não estaria pronta para ver ou falar com alguém por um tempo. Naturalmente, Papai que queria estar no centro de tudo o que estava acontecendo, se ofendeu por eu estar sendo evasiva. Ele pediu a Gage para me dizer que a qualquer momento que eu estivesse pronta para descer do meu cavalo, ele gostaria que eu fosse vê-lo.
“Você disse a ele que eu estava me divorciando?” perguntei a Gage.
“Sim. Não posso dizer que ele ficou surpreso.”
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“Mas você lhe disse o por quê?” Não queria que ninguém soubesse o que tinha acontecido entre Nick e eu. Talvez com o tempo eu dissesse para Jack ou Joe, mas por enquanto, eu precisava que fosse mantido em segredo. Eu não queria ser vista como fraca ou indefesa, uma vítima, nunca mais. Acima de tudo, eu não queria que tivessem pena de mim.
“Não,” Gage disse em seu tom tranquilizador. “Eu só disse a papai que não deu certo—e que se ele quisesse manter qualquer tipo de relacionamento com você, para manter sua boca fechada sobre o assunto.”
Então eu finalmente liguei para papai, minhas mãos suadas segurando o telefone. “Oi, pai.” Tentei parecer casual. “Já tem um tempo desde que falei com você. Apenas pensei em dar um oi.”
“Haven.” O som da sua voz grave era familiar e confortante. “Você demorou bastante. O que você tem feito?”
“Me divorciado.”
“Ouvi falar sobre isso.”
“Sim, bem... está tudo acabado entre eu e Nick.” Como meu pai não podia me ver, eu enruguei meu rosto como se estivesse mastigando verduras amargas enquanto me forcei a admitir, “Foi um erro.”
“Há momentos em que não tenho prazer em estar certo.”
“Até parece,” eu disse, e fui recompensada com sua risada estridente. “Se você realmente se livrou dele,” papai disse, “vou chamar meu advogado esta tarde e coloca-la de volta no meu testamento.”
“Ah, bom. Foi por isso que liguei.”
Ele levou um tempo para perceber que eu estava sendo sarcástica.
“Pai,” eu disse, “você não vai manter seu testamento sobre minha cabeça o resto da minha vida. Graças a você eu tive uma boa educação, e não há nenhuma razão para que eu não possa manter um emprego. Então não perca tempo chamando o advogado, não quero estar no testamento.”
“Você estará no testamento se eu disser que sim,” papai respondeu e eu tive que rir.
“Não importa. A verdadeira razão de estar ligando é para dizer que gostaria de vê-lo. Já faz um longo tempo que eu não tenho uma boa discussão com alguém.”
“Ótimo,” ele disse. “Venha.”
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E, com isso, nosso relacionamento estava de volta aos trilhos, tão falho e frustrante quanto jamais tinha sido. Mas eu tinha limites agora, lembrei a mim mesma, e ninguém iria atravessá-los. Eu seria uma fortaleza.
Eu era uma nova pessoa no mesmo mundo, o que era muito mais difícil do que ser a mesma pessoa em um mundo novo. As pessoas pensavam que me conheciam, mas estavam erradas. Com a exceção de Todd, meus velhos amigos não eram adequados para a nova versão de mim. Então me voltei para o apoio dos meus irmãos, e descobri que a vida adulta tinha feito coisas boas para sua personalidade.
Joe, um fotógrafo comercial, fez questão de me dizer que ele tinha uma casa grande e havia espaço de sobra se eu quisesse ficar com ele. Disse que ficava fora grande parte do tempo, e não iríamos infringir a privacidade um do outro. Eu lhe disse o quanto apreciava a oferta, mas precisava do meu próprio lugar. Ainda assim, não teria sido tão ruim, viver com ele. Joe era um cara descontraído. Nunca o ouvi reclamar de nada. Ele levava a vida como ela era, o que era uma qualidade rara na família Travis.
Mas a verdadeira surpresa foi Jack, o irmão com quem eu nunca tinha conseguido me entender—aquele que tinha me dado um corte de cabelo ruim quando eu tinha três anos, e assustou meu juízo com insetos e cobras de jardim. O Jack adulto acabou por ser um aliado inesperado. Um amigo. Em sua companhia eu podia relaxar completamente, o sentimento ansioso e assombrado queimando como gotas de água sobre uma chapa fumegante.
Talvez fosse porque Jack era tão objetivo. Ele afirmava ser a pessoa menos complexa da família Travis, e provavelmente era verdade. Jack era um caçador, confortável com seu status como um onívoro predatório. Ele também era um ambientalista e não via conflito nisso. Qualquer caçador, dizia ele, devia fazer o seu melhor para proteger a natureza desde que passava tanto tempo fora dela.
Com Jack, você sempre sabia onde estava. Se ele gostava de algo, ele dizia isso sem hesitação, e se não gostasse, ele diria a verdade sobre isso também. Ele se mantinha no lado certo da lei embora admitisse que algumas coisas eram mais divertidas quando eram ilegais. Ele gostava de mulheres baratas, carros velozes, noitadas e bebidas destiladas, especialmente tudo junto. Na visão de Jack, você era obrigado a pecar no sábado à noite, assim teria algo para confessar na manhã de domingo.
Caso contrário, você estaria colocando o pregador fora dos negócios.
Depois que Jack tinha se formado na UT, tinha ido trabalhar em uma pequena empresa de gestão imobiliária.
Com o tempo, ele obteve um empréstimo, comprou a empresa e a expandiu quatro vezes seu tamanho original.
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Era a ocupação perfeita para Jack, que gostava de consertar as coisas, de mexer e resolver problemas. Como eu, não tinha nenhum interesse na linguagem de investimento e todas as estratégias financeiras sofisticadas que Gage e papai tão apreciavam. Jack preferia as coisas básicas de trabalho e vida. Ele era bom em acordos de bastidores, cortando o papo furado da lei, falando de homem para homem. Para Jack não havia nada mais poderoso que uma promessa feita com um aperto de mão. Ele teria morrido — literalmente escolhido a morte — antes de quebrar sua palavra.
Devido à minha experiência de hotel no Darlington, Jack disse que eu seria perfeita trabalhando para o lado residencial de sua administradora, que tinha sede na Principal 1800. Sua atual gerente da sede estava saindo por conta da gravidez—ele avisou que passaria os primeiros anos de seu filho em casa.
“Obrigada, mas eu não poderia,” eu disse, a primeira vez que Jack sugeriu a ideia de eu assumir o cargo.
“Por que não? Você seria ótima para ele.”
“Parece nepotismo,” eu respondi.
“E daí?”
“E daí que existem outras pessoas mais qualificadas para o cargo.”
“E?”
Comecei a sorrir com sua persistência. “E eles vão reclamar se você contratar sua irmã.”
“Olha,” Jack disse facilmente, “essa é toda a questão de ter minha própria empresa. Posso contratar Bozo, o maldito palhaço idiota, se eu quiser.”
“Isso é tão lisonjeiro, Jack.”
Ele sorriu. “Vamos lá. Faça uma tentativa. Será divertido.”
“Você está me oferecendo um emprego para que possa ficar de olho em mim?”
"Na verdade, dificilmente vamos nos ver, nós dois vamos estar muito ocupados o tempo todo.”
Gostei de como isso soou, estar ocupada o tempo todo. Eu queria trabalhar, realizar coisas, depois dos dois últimos anos sendo a escrava pessoal de Nick.
“Você aprenderá muito,” Jack bajulou. “Você ficaria a cargo das coisas financeiras—seguros, folha de pagamento, contas de manutenção. Você também negociaria contratos de serviços, compraria suprimentos e equipamentos, e trabalharia com um agente de locação e um assistente. Como gerente local você viveria em uma unidade de um quarto
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no prédio. Mas não ficaria presa no escritório o tempo todo... terá um monte de reuniões externas. Mais tarde, quando estiver pronta, poderá se envolver com o lado comercial das coisas, o que seria uma ajuda, já que estou planejando ramificar em gestão de construção e então talvez—”
“Quem estaria pagando meu salário?” Perguntei desconfiada. “Você, ou Papai?”
Jack pareceu ofendido “Eu, é claro. Papai não tem nada a ver com minha administradora.”
“Ele é dono do prédio,” salientei.
“Você estaria empregada por mim e minha empresa... e acredite, Principal 1800 não é o único cliente que temos. De maneira nenhuma.” Jack me deu um olhar de paciência exagerada. “Pense sobre isso, Haven. Seria ótimo para nós dois.”
“Parece ótimo,” disse. “E não posso lhe dizer o quanto gosto disso. Mas não posso começar no topo, Jack. Não tenho experiência suficiente. E não parece bom para nenhum de nós dois, você me dar um trabalho como esse quando eu não pago qualquer imposto. E se eu começar como assistente do gerente? Poderia aprender a partir do zero.”
“Você não tem que pagar imposto,” Jack protestou. “Você deve ganhar alguma coisa por ser uma Travis.”
“Ser uma Travis significa que eu deveria pagar imposto extra,” respondi.
Ele me olhou, balançou a cabeça, e resmungou alguma coisa sobre os ianques liberais de merda.
Sorri para ele. “Você sabe que faz mais sentido. E é justo dar o trabalho de gerente para alguém que realmente o mereça.”
“Isso é negócio,” Jack disse. “Justiça não tem droga nenhuma a ver com isso.”
Mas ele finalmente cedeu, e disse que longe dele me impedir de começar de baixo, se era isso que eu realmente queria.
“Corta tudo,” eu disse para Liberty, sentada em seu banheiro, enrolada em plástico. “Estou tão cansada de todo esse cabelo, é quente e embaraça e eu nunca sei o que fazer com ele.”
Quero um novo visual para acompanhar meu novo emprego. E como uma ex-cabelereira, Liberty sabia o que estava fazendo. Achei que tudo o que ela fizesse para mim estava destinado a ser uma melhoria.
“Talvez devêssemos ir por etapas,” Liberty disse. “Pode ser um choque se eu cortar tudo de uma vez só.”
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“Não, você não pode doá-lo se for menor que dez centímetros de comprimento. Apenas corte.” Nós íamos dar o pedaço de cabelo para o programa Locks of Love, que fazia perucas para crianças que sofriam de perda de cabelos por doenças.
Liberty penteou meu cabelo habilmente. “Ele vai formar alguns cachos quando eu encurtá-lo,” ela disse. “Todo esse peso está puxando seu cabelo para baixo.”
Ela o trançou e cortou todo o comprimento na nuca. Eu segurei a trança enquanto Liberty trouxe um saco ziploc, e coloquei-o dentro do saco e o selei com um beijo. “Boa sorte para o próximo que o use,” eu disse.
Liberty borrifou meu cabelo com água e girou em torno da minha cabeça com uma navalha, cortando pedaços inclinados até que havia montes de cabelo no chão. “Não fique nervosa,” ela disse, quando me pegou examinando um cacho que tinha caído no meu colo coberto de plástico. “Você vai ficar ótima.”
“Não estou nervosa,” disse com sinceridade. Não me importava com como eu parecia, desde que fosse diferente.
Ela secou meu cabelo com uma escova redonda, correu os dedos por ele para soltá-lo, e sorriu de satisfação. “Dê uma olhada.”
Levantei-me e tomei um leve choque—um bom—com meu reflexo. Liberty tinha me dado uma longa franja que atravessava minha testa, e um cabelo curto em camadas, as pontas virando levemente. Eu parecia elegante. Confiante. “Está esvoaçante,” eu disse, brincando com as camadas.
“Você pode virar as pontas para dentro ou para fora,” ela disse sorrindo. “Você gosta?”
“Eu amo.”
Liberty me virou para que nós duas pudéssemos ver o corte no espelho. “Está sexy,” ela falou.
“Você acha? Espero que não.”
Ela sorriu para mim de modo interrogativo. “Sim, eu acho. Por que você não quer parecer sexy?”
“Propaganda enganosa,” respondi.
A gerente que Jack trouxe do outro escritório se chamava Vanessa Flint. Ela era uma daquelas mulheres altamente preparadas e formadas que provavelmente parecia trinta e cinco quando tinha vinte e cinco, e que ainda pareceria trinta e cinco quando tivesse cinquenta e cinco. Embora ela fosse de altura média, sua magreza e boa postura fazia você pensar que ela era muito mais alta. Seu rosto era fino e sereno debaixo de um vasto cabelo
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loiro acinzentado. Admirei a compostura que ela usava como uma blusa abotoada até em cima.
Não havia muita substância em sua voz, que era nítida e suave, como gelo envolto em veludo. Mas de alguma forma forçava você a prestar mais atenção, como se compartilhasse a responsabilidade de Vanessa fazer-se entender.
Eu gostei dela no começo. Pelo menos, eu queria gostar dela. Vanessa era amigável, simpática, e quando saímos para tomar uma bebida depois do nosso primeiro dia de trabalho, percebi que estava confidenciando mais sobre meu casamento fracassado e divórcio do que deveria. Mas Vanessa tinha se divorciado recentemente também, e parecia haver semelhanças suficientes entre nossos ex-maridos que era um prazer trocar ideias.
Vanessa foi franca sobre sua preocupação sobre meu relacionamento com Jack e apreciei sua honestidade. Garanti-lhe que não tinha intenção de me encostar ou correr para Jack só porque ele era meu irmão.
Exatamente o oposto na verdade. Eu ia trabalhar muito mais duro porque tinha algo a provar. Ela pareceu satisfeita com minhas declarações sérias, e disse que achava que poderíamos trabalhar bem juntas.
Vanessa e eu ganhamos apartamentos na Principal 1800. Sentia-me um pouco culpada por isso, sabendo que nenhum outro assistente de gerente teria conseguido um apartamento, mas foi a única concessão que tinha feito a Jack. Ele tinha insistido, e a verdade é que gostava da segurança de viver tão perto do meu irmão.
Os outros empregados viviam fora do local e vinham todos os dias, incluindo uma delicada gerente de escritório loira chamada Kimmie; a corretora de imóveis, Samantha Jenkins; o agente de marketing, Phil Bunting; e Rob Ryan da contabilidade. Entrávamos em contato com o escritório comercial de Jack sempre que havia necessidade por recursos jurídicos, questões de tecnologia, ou algo que não estávamos equipados para lidar por conta própria.
Parecia que todo mundo que trabalhava para Jack no escritório comercial havia adquirido sua personalidade... todo mundo era relaxado e quase jovial, em comparação com o nosso escritório. Vanessa dirigia um navio forte, o que significava nada de sexta-feira com roupas casuais, e uma política de “tolerância zero de erro” que nunca foi exatamente anunciada.
No entanto, todos pareciam considera-la como um bom chefe, rigorosa, mas justa. Eu estava pronta para aprender com ela, seguir seu exemplo. Pensei que ela seria uma grande influência em minha vida.
Mas em questão de dias, percebi que estava sendo psicologicamente abusada.
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Eu estava familiarizada com a tática, já que Nick fazia muito isso. Um molestador ou alguém com transtorno de personalidade precisa manter suas vítimas confusas, fora de equilíbrio, perpetuamente inseguros de si mesmo. Dessa forma, ele ou ela pode manipular você com mais facilidade. Abuso psicológico poderia ser qualquer coisa que faz você duvidar de si mesmo. Por exemplo, um molestador faria uma declaração sobre algo, e quando você concordasse com ele, não concordaria com sua própria declaração original. Ou faria você pensar que perdeu algo quando não, ou acusá-lo de esquecer alguma coisa quando nunca lhe pediu para fazer nada.
O que me preocupou foi que eu parecia ser o único alvo de Vanessa. Ninguém mais parecia estar tendo um problema com ela.
Ela colocava um arquivo no lugar errado e me pedia para pegá-lo, aumentando a tensão até que eu estivesse lutando por encontrá-lo. Se eu não conseguisse encontra-lo, me acusava de ter escondido o arquivo em algum lugar. E então o arquivo apareceria em algum lugar estranho, como debaixo de uma planta, em cima de um armário, ou caído entre o carrinho da impressora e sua mesa. Ela dava às pessoas a impressão de que eu era distraída e desorganizada. E eu não tinha prova de suas maldades. A única coisa que me impediu de duvidar de mim mesma foi o meu próprio senso de sanidade instável.
Não havia previsão dos pedidos ou humores de Vanessa. Aprendi a guardar tudo depois que ela me pediu para escrever três rascunhos diferentes de uma carta e então se decidiu pela primeira versão depois que a apaguei. Ela havia me dito para estar em uma reunião às 13h30, e quando cheguei, estava meia hora atrasada. E ela jurou que tinha me dito uma hora. Disse que eu não devo ter prestado atenção.
Vanessa deixou escapar que tinha uma assistente chamada Helen por anos, e teria trazido Helen com ela para o novo emprego, exceto por eu já ter conquistado a vaga. Não havia me ocorrido que eu teria quebrado uma parceria profissional de longa duração, e roubei de alguém a posição que merecia. Quando Vanessa mandou que ligasse para Helen, que ainda estava no antigo escritório, para descobrir o nome e o número da manicure favorita de Vanessa, aproveitei para me desculpar com Helen.
“Deus, não se desculpe,” Helen disse. “Essa foi a melhor coisa que já me aconteceu.”
Eu quis ir embora naquele momento. Mas eu estava presa, e Vanessa e eu sabíamos disso. Com meu currículo resumido, não poderia sair de um trabalho logo depois de começá-lo. E eu não sabia quanto tempo levaria até que eu encontrasse outro. Reclamar sobre Vanessa estava fora de cogitação—me faria parecer uma mimada, ou paranoica, ou ambos. Então decidi que iria perseverar por um ano. Faria alguns contatos e descobriria meu próprio caminho.
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“Por que eu?” Perguntei à minha terapeuta, Susan, depois de descrever a situação com Vanessa. “Ela poderia incidir sobre qualquer um naquele escritório como um alvo. Eu carrego um sinal de “vítima” ou algo assim? Pareço fraca?”
“Não acredito,” Susan disse seriamente. “Na verdade, é mais provável que Vanessa a veja como ameaça. Alguém que ela tem que dominar e neutralizar.”
“Eu, uma ameaça?” Balancei minha cabeça. “Não para alguém como Vanessa. Ela é confiante e bem ajustada. Ela é—”
“Pessoas confiantes não são intimidadoras. Aposto que a aparente confiança de Vanessa não é nada além de fachada. Um falso indivíduo que construiu para cobrir suas deficiências." Susan sorriu para minha expressão cética. "E sim, você poderia ser uma grande ameaça para uma pessoa insegura. Você é brilhante, educada, bonita... e há o pequeno problema de seu sobrenome. Conquistar alguém como você seria um grande reforço para o sentimento de superioridade de Vanessa.”
Na primeira sexta-feira depois de começar na Travis Management Solutions, Jack veio ao meu cubículo carregando uma grande sacola de compras amarrada com um laço. “Aqui,” disse ele me entregando a bolsa sobre uma montanha de papel em minha mesa. “Uma coisinha para comemorar sua primeira semana.”
Abri o saco de compras e descobri uma pasta feita de couro cor de chocolate. “Jack, é linda. Obrigada.”
“Você vai sair comigo e Heidi esta noite,” ele me informou. “Essa é a outra parte da comemoração.”
Heidi era uma das mulheres de um harém virtual com que Jack saia alternadamente. Desde que ele era tão aberto sobre não querer ser amarrado, nenhuma delas parecia esperar qualquer tipo de compromisso dele.
“Não quero segurar vela em seu encontro,” protestei.
“Não vai nos incomodar,” ele respondeu. “E você nem é uma vela de sete dias. Está mais para um fósforo.”
Revirei os olhos, já tendo aceitado há muito tempo que ser alvo de piadas curtas dos meus grandiosos irmãos era um fato inevitável da vida. “Estou cansada,” falei. “Acredite em mim, não estou em clima para festejar com você e Heidi. Um drinque e provavelmente vou desmaiar.”
“Então a colocarei em um taxi e a mandarei para casa.” Jack me deu um olhar inexorável. “Vou carrega-la daqui se for preciso, Haven. Pretendo.”
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Embora soubesse que ele nunca usaria força comigo, senti-me empalidecer, e fiquei rígida em minha cadeira. Não toque em mim, eu queria dizer, mas as palavras estavam trancadas atrás de meus dentes, batendo como aves selvagens em gaiolas.
Jack piscou surpreso, me encarando. “Ei... Estava apenas brincando, querida. Pelo amor de deus, não me olhe assim. Faz eu me sentir tão culpado quanto um bosta, e nem sei por quê.”
Obriguei-me a sorrir e relaxar. “Desculpa. Lembrança ruim.” Pensei que Nick não iria querer que eu saísse essa noite, me divertir, conhecer pessoas. Ele iria querer que eu ficasse em casa, isolada. Só por isso, decidi, eu sairia para irritá-lo.
“Está bem,” me ouvi dizer. “Talvez por pouco tempo. Minha roupa está legal?” Eu estava vestindo uma camiseta preta e uma saia simples e salto alto.
“Claro. É só um bar casual.”
“Não é o tipo de bar de encontros?”
“Não. É um bar do tipo que você vai depois do trabalho tomar um drinque para relaxar. Depois disso, você vai para o tipo de bar de encontros. E se você conhecer alguém interessante lá, você vai para um agradável e tranquilo bar reservado, e se isso der certo, você vai leva-lo para casa com você.”
“Soa como um monte de trabalho,” respondi.
Vanessa chegou à entrada do cubículo, fina e elegante e segura de si. “Que divertido,” disse, seu olhar movendo-se de Jack para o presente sobre a mesa. Ela me confundiu com um sorriso caloroso. “Bem, acho que você merece uma recompensa, Haven... você fez um ótimo trabalho nesta semana.”
“Obrigada.” Fiquei surpresa e satisfeita que ela iria me elogiar na frente do meu irmão.
“Claro,” acrescentou, ainda sorrindo, “teremos que trabalhar o uso de seu tempo de forma mais produtiva.” Ela piscou para Jack. “Alguém gosta de enviar e-mails para os amigos quando deveria estar trabalhando.”
Isso não era verdade—fiquei indignada—mas não podia discutir com ela na frente de Jack. “Não sei de onde tirou essa ideia,” respondi suavemente.
Vanessa deu uma risada suave “Observei a maneira como você minimiza a tela quando eu passo.” Ela se virou para Jack. “Ouvi você dizer que vocês dois vão sair?”
Meu coração parou quando percebi que ela queria ser convidada. “Sim,” Jack respondeu tranquilamente. “Precisamos de um tempo juntos em família.”
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“Isso é bom. Bem, estarei em casa, descansando e me preparando para a próxima semana.” Ela me deu uma piscada. “Não seja uma garota muito festeira, Haven. Vou precisar de você com velocidade máxima na segunda-feira.”
Sugerindo, pensei sombriamente, que eu não tinha estado com velocidade máxima até o momento. “Tenha um bom fim de semana,” eu disse, e fechei meu laptop.
Jack estava certo—era um bar bastante casual, mesmo que o estacionamento parecesse um show de carros luxuosos improvisado. O interior era moderno, nada romântico e apertado, com painéis escuros e pouca iluminação. Gostei da namorada de Jack, Heidi, que era divertida e alegre.
Era uma daquelas noites de inverno quando o clima de Houston não conseguia se decidir como ficaria. De vez em quando chovia por um tempo, umas poucas rajadas laterais batiam em nós sob o abrigo de um guarda-chuva enquanto Jack nos guiava para dentro. Percebi que Jack era cliente regular do local—ele parecia conhecer o segurança, dois dos bartenders, duas garçonetes, e praticamente todos que passaram pela nossa pequena mesa. Na verdade, Heidi parecia conhecer todo mundo também. Fui apresentada a um desfile constante de habitantes de Houston escravizados que estavam todos desesperados para seu primeiro coquetel de sexta-feira à noite.
Duas vezes Heidi me cutucou por debaixo da mesa quando um cara bonito tinha parado. “Ele é bonito, não é? Eu o conheço—poderia te apresentar. E aquele ali—é bonito também. Qual você gosta mais?”
“Obrigada,” respondi, valorizando seu esforço, “mas ainda não passei pelo divórcio.”
“Ah, você tem que começar com um cara rebote,” Heidi falou, “Caras rebotes são os melhores.”
“Eles são?”
“Eles nunca sequer pensam em levar a sério, porque todo mundo sabe que você não quer entrar em um relacionamento logo após um divórcio. Eles apenas querem ser seu vagão de boas vindas quando você começar a fazer sexo novamente. É a sua hora para experimentar garota!”
“O mundo é meu tubo de ensaio,” respondi, erguendo minha bebida.
Depois de beber lentamente um e meio Martini de vodca, estava pronta para ir para casa. O bar estava ficando cada vez mais cheio, e os grupos de corpos em movimento por nossa mesa me lembraram dum cardume de salmão contra a corrente. Olhei para Jack e Heidi que não pareciam ter nenhuma pressa de ir a qualquer lugar, e senti o tipo de solidão que pode acontecer em uma sala cheia de pessoas quando todos, menos você, parece estar se divertindo.
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“Ei vocês dois... Estou indo embora.”
“Você não pode,” Jack disse, franzindo a testa. “Não é nem oito horas.”
“Jack, eu tomei dois drinques e conheci trezentas e vinte e oito pessoas,”—parei para sorrir para Heidi—“incluindo uma dupla de potenciais caras rebotes.”
“Vou apresenta-la a um deles,” Heidi disse com entusiasmo. “Vamos sair em um encontro duplo!”
Quando o inferno e metade do Texas congelarem, pensei, mas sorri. “Parece ótimo. Vamos conversar depois. Tchau para vocês.”
Jack começou a se levantar. “Vou te ajudar a pegar um táxi.”
“Não, não... fique com Heidi. Vou pedir a um dos rapazes da porta para me ajudar.” Balancei a cabeça com raiva enquanto ele ainda parecia preocupado. “Sou capaz de encontrar a porta da frente e pegar um táxi. Na verdade, Principal 1800 é tão perto que poderia ir andando.”
“Nem pense nisso,” ele disse.
“Não estou planejando andar, estava apenas comentando... Não se preocupe. Divirtam-se.”
Aliviada com a perspectiva de ir para casa e tirar meus sapatos de salto alto, mergulhei na massa de corpos que se acotovelavam. Me deu uma sensação pegajosa, estar perto de tantas pessoas.
“Não acho que seja uma fobia absoluta,” Susan tinha dito quando falei a ela que achava que tinha desenvolvido sexofobia. “Isso a colocaria no nível de um transtorno, e não estou convencida de que o problema é profundo. O que acontece é que depois de uma experiência como a que teve com Nick, sua mente inconsciente diz ‘Vou associar sentimentos de aversão e ansiedade pelo sexo oposto, assim vou evitar ser ferida novamente.’ É apenas uma questão de religação.”
“Bem, então eu gostaria de cercar com arame. Porque não acho que levo jeito para ser gay.”
“Você não tem que virar gay,” Susan disse sorrindo. “Você apenas precisa encontrar o homem certo. Vai acontecer quando você estiver pronta.”
Em retrospecto, eu gostaria de ter tido relações sexuais com alguém antes de Nick, alguma associação positiva que me ajudaria a voltar a montar, por assim dizer. Desoladamente, me perguntava com quantos homens eu teria que dormir antes que começasse a gostar disso. Eu não era boa em adquirir gostos.
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A massa de pessoas avançou pelo bar. Cada banco estava ocupado, centenas de bebidas postas ao longo da extensão de brilhantes mesas de mosaicos de ladrilhos. Não havia outro modo de chegar até a porta senão acompanhar a massa. Repulsa cravava em meu estômago toda vez que eu sentia outro roçar impessoal no quadril, estômago ou braço de alguém. Para me distrair, tentei calcular quantas pessoas além do nível aceitável pelo código dos bombeiros tinham sido permitidas no bar.
Alguém na multidão tropeçou ou cambaleou. Foi um efeito dominó, uma pessoa caindo por cima da outra até que senti o impacto de um ombro contra o meu. O ímpeto me empurrou para a linha de bancos do bar, fazendo minha bolsa cair. Eu teria batido com força no bar, se alguém sentado ali não tivesse estendido a mão para me firmar.
“Desculpe, senhora,” alguém falou da multidão.
“Está tudo bem,” respondi sem fôlego, caçando minha bolsa.
“Aqui, deixe-me pegá-la,” o cara no banco disse, curvando-se para recuperá-la.
“Obrigada.”
Quando o cara se ajeitou e me entregou a bolsa, olhei para cima para um par de olhos azuis, e tudo parou, o som das vozes, a música de fundo, cada passo, piscada, respiração, batimentos cardíacos. Apenas uma pessoa que eu já havia conhecido tinha olhos daquela cor. Fascinantes. Azul diabólico.
Eu estava lenta para reagir, tentando dar partida no meu coração de volta à ação, e então meu pulso começou a martelar muito forte, muito rápido. E tudo que conseguia pensar foi que na última vez—a única vez—que eu tinha visto Hardy Cates, eu estava envolvida em torno dele na adega de vinhos da minha família.
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Pessoas estavam se apertando atrás de mim, tentando conseguir a atenção do garçom do bar. Eu estava prestes a ser pisoteada. Com um murmúrio, Hardy Cates me guiou ao banco que estava ocupando, me ajudando a subir. Eu estava muito confusa para contestar. O assento de couro estava morno do corpo dele. Ele ficou em pé com uma mão no balcão, a outra na parte de trás de minha cadeira, me abrigando. Apanhando-me.
Hardy estava um pouco mais magro do que eu me lembrava, um pouco mais amadurecido, temperado pela maturidade. O olhar de experiência combinava com ele, especialmente porque em algum lugar no fundo daqueles olhos, ainda espreitava um convite perigoso para jogar. Ele tinha uma qualidade de confiança masculina que era mil vezes mais potente que mera beleza. Aparência perfeita pode te deixar frio, mas este tipo de carisma sensual te deixa com os joelhos fracos. Eu não tinha nenhuma dúvida que toda mulher disponível no bar tinha estado babando em cima dele.
Na verdade, um pouco além do ombro dele, eu vi a loira de pernas bonitas na cadeira ao lado me encarando. Eu tinha tropeçado, literalmente, no meio da conversa deles.
“Srta. Travis.” Hardy olhou para mim como se ele não pudesse acreditar totalmente que eu estava lá. “Perdão. Eu quero dizer Sra. Tanner.”
“Não, eu sou... é novamente Travis.” Atenta de que eu estava gaguejando, eu disse asperamente, “eu estou divorciada.”
Não houve nenhuma mudança na expressão dele com exceção de um alargamento leve desses olhos azuis. Ele apanhou a bebida dele e a virou em um gole. Quando o seu olhar fixo retornou para mim, ele pareceu estar olhando bem dentro de mim. Eu corei forte, me lembrando da adega outra vez.
A loira ainda estava me olhando como se quisesse me matar. Eu gesticulei desajeitadamente a ela e balbuciei, “Desculpe interromper. Eu não tive a intenção. por favor, continuem a sua... foi bom ver você, Sr.—”
“Hardy. Você não está interrompendo nada. Nós não estamos juntos.” Ele olhou por cima do ombro, a luz amarela do bar deslizando pelas camadas do cabelo escuro brilhante dele. “Com licença,” ele disse à mulher. “Eu tenho que conversar com uma velha amiga.”
“Certamente,” ela disse com um sorriso de covinha.
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Hardy voltou para mim e a face da mulher mudou. Pelo olhar que ela me deu, eu deveria ter caído morta naquele mesmo lugar.
“Eu não vou pegar sua cadeira,” eu disse, enquanto começava a deslizar para fora do banquinho do bar. “Eu já estava saindo. Está tão cheio aqui—” Minha respiração travou quando minhas pernas tocaram as dele e eu corri para cima sobre o banquinho novamente.
“Dê um minuto,” Hardy disse. “Ficará mais vazio rápido.” Ele gesticulou para um garçom do bar que apareceu com velocidade milagrosa.
“Sim, Sr. Cates?”
Hardy olhou para mim, levantando uma sobrancelha. “O que você irá querer?”
Eu realmente tenho que ir, eu quis dizer, mas saiu como, “Dr. Pepper, por favor.”
“Dr Pepper—com cerejas extras,” ele falou ao garçom do bar.
Surpresa, eu perguntei, “Como você soube que eu gosto de marasquino13?” A boca dele encurvou com um lento sorriso quente. Por um momento eu esqueci como respirar. “Somente imaginei que você é do tipo que gosta de extra.”
Ele era muito grande. Estava muito perto. Eu ainda não tinha me livrado do hábito de avaliar um homem em termos do quanto de dano ele poderia me causar.
Nick tinha deixado hematomas e fraturas—mas esse cara poderia matar uma pessoa normal com um golpe de mão. Eu sabia que alguém como eu, com toda a bagagem e meu possível caso de sexofobia, não tinha nada que estar perto de Hardy Cates.
Suas mãos ainda estavam em ambos os lados de mim, apoiadas no braço da cadeira e no balcão. Eu senti a tensão de impulsos opostos, o desejo de me encolher para longe dele, e uma atração que formigava como faíscas dentro de mim. A gravata cinza-prata tinha sido afrouxada e o botão de cima de sua camisa solto, revelando a dica de uma camiseta branca por baixo. A pele da garganta dele era lisa e marrom. Eu desejei saber durante um segundo como o corpo dele era debaixo das camadas de algodão magro e tecido fino, se ele era tão duro quanto eu me lembrava. Um tumulto de curiosidade e medo me fez remexer na cadeira.
Eu virei agradecidamente quando o barman trouxe minha bebida, um copo alto espumoso de Dr Pepper. Cerejas vermelhas brilhantes subiam e desciam na superfície. Eu peguei uma da bebida e arranquei o fruto de seu talo com os meus dentes. Era gorda e pegajosa, rolando docemente na minha língua.
13 Tipo de cereja
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“Você veio aqui sozinha, Srta. Travis?” Hardy perguntou. Tantos homens de seu tamanho tinham vozes incongruentemente altas, mas ele tinha uma voz profunda, feita para encher um tórax grande.
Eu considerei lhe dizer para me chamar pelo meu primeiro nome, mas eu precisava manter todas as barreiras possíveis entre nós, não importa o quão pequenas.
“Eu vim com meu irmão Jack e sua namorada,” eu disse. “Eu trabalho para ele agora. Ele tem uma empresa de administração de imóveis. Estávamos celebrando minha primeira semana.” Escolhi outra cereja e a comi lentamente, e descobri que Hardy estava me observando com uma expressão absorta, levemente desfocada.
“Quando eu era pequena, eu nunca enjoava delas,” eu disse. “Eu roubei frascos de cerejas da geladeira. Eu comia a fruta como balas e derramava o suco em minha Coca-Cola.”
“Eu aposto que você era uma menina bonitinha. Uma moleca.”
“Definitivamente uma moleca,” eu disse. “Eu queria ser como meus irmãos. Todo Natal eu pedia ao Papai Noel um conjunto de ferramentas.”
“Alguma vez ele lhe trouxe um?”
Eu balancei minha cabeça com um sorriso triste. “Muitas bonecas. Roupas de ballet. Um Forninho Cozinha-Fácil.” Engoli outra cereja com um gole de Dr. Pepper. “Minha tia me deu, finalmente, um kit de ferramentas infantil, mas eu tive que devolvê-lo. Minha mãe disse que não era apropriado para meninas.”
O canto de sua boca contorceu. “Eu nunca consegui o que queria, também.”
Eu me perguntei o que era aquilo, mas entrar em assuntos pessoais com ele estava fora de questão. Tentei pensar em algo mundano. Algo sobre o trabalho. “Como seus negócios com petróleo estão?” eu perguntei.
Pelo que eu sabia, Hardy e um par de outros caras tinham começado uma pequena empresa de recuperação aprimorada de petróleo que entrava em campos vencidos ou gastos depois que as grandes companhias tivessem acabado com eles. Usando técnicas de recuperação especializadas, eles podiam localizar restos de reservas, chamadas de “pagamento ignorado”. Um homem poderia fazer um monte de dinheiro dessa forma.
“Estamos indo bem,” disse Hardy facilmente. “Nós já compramos concessões para alguns campos em desenvolvimento, e obtivemos bons resultados com a inundação de dióxido de carbono14. E compramos rendimentos em uma propriedade não operada no Golfo. Nós estamos começando algum jogo bom com ela.” Ele ficou olhando enquanto eu bebia a minha Dr. Pepper. “Você cortou seu cabelo,” ele disse suavemente.
14 Técnica utilizada para melhorar a extração de petróleo.
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Eu levantei a mão e esfreguei os dedos através das camadas curtas. “Estava no caminho.”
“Está lindo.”
Fazia tanto tempo desde que eu recebi um elogio de qualquer tipo que eu estava desesperadamente com a língua presa.
Hardy estava me observando com um olhar intenso. “Eu nunca pensei que teria uma chance de dizer isso para você, mas naquela noite—”
“Eu prefiro não falar sobre isso,” eu disse apressadamente. “Por favor.”
Hardy gentilmente caiu no silêncio.
O meu olhar centrou-se na mão descansando sobre a bancada. Com dedos longos e capazes, a mão de um trabalhador. Suas unhas foram cortadas quase até o toco. Fiquei impressionado com a dispersão de pequenas cicatrizes em forma de estrela através de alguns de seus dedos.
“O que... O que são essas marcas?” eu perguntei.
Sua mão flexionou um pouco. “Eu trabalhava consertando cercas depois da escola e durante os verões, enquanto eu estava crescendo. Colocando arame farpado para os fazendeiros locais.”
Eu estremeci com o pensamento do incomodo de farpas entrando em seus dedos.
“Você fez isso com as mãos nuas?”
“Até quando eu pude pagar luvas.”
Seu tom era verdadeiro, mas eu senti uma pontada de vergonha, consciente de quão diferente a minha educação tinha sido privilegiada. E eu me perguntava sobre a unidade e ambição que ele deve ter tido para subir de uma vida em estacionamentos de trailers, o gueto de alumínio, para onde ele tinha chegado ao negócio do petróleo.
Muitos homens não poderiam fazer isso. Você tinha que trabalhar duro. E você tinha que ser implacável. Eu podia acreditar aquilo a respeito dele.
Nossos olhares presos detinham a tensão compartilhada quase me fazendo cair do banco.
Eu corei por toda a parte, misturando com o fogo em baixo das minhas roupas, dentro de meus sapatos, e, ao mesmo tempo eu estava sendo ultrapassada por um frio nervoso. Eu nunca quis ficar longe de alguém tão rápido.
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“Obrigado pela bebida.” Meus dentes batiam. “Eu tenho que ir, está... Foi bom vê-lo. Boa sorte com tudo.” Fiquei fora da cadeira e vi com alívio que a multidão havia diminuído, e havia um caminho acessível para a porta.
“Vou levá-lo ao seu carro,” disse Hardy, lançando algumas notas sobre o balcão. Ele pegou o casaco de seu terno de negócios.
“Não, obrigada, eu vou pegar um táxi.”
Mas ele andou comigo de qualquer maneira.
“Você vai perder seu lugar no bar,” eu murmurei.
“Há sempre outro lugar no bar.” Senti uma pressão casual de sua mão nas minhas costas, e eu instintivamente recuei. O leve toque foi imediatamente retirado. “Parece que ainda está chovendo,” ele disse.
“Você tem um casaco?”
“Não,” eu disse abruptamente. “Está tudo bem. Eu não me importo em me molhar.”
“Posso levá-la em algum lugar?” Seu tom tinha suavizado, como se ele reconhecesse a minha angústia crescendo, mesmo que ele não entendesse a razão para isso.
Eu balancei a cabeça violentamente. “Um táxi está bom.”
Hardy disse algumas palavras a um dos porteiros, que saiu para a calçada.
“Podemos esperar lá dentro,” disse ele, “até que um carro chegue.”
Mas eu não podia esperar. Eu tinha que fugir dele. Eu estava tão cheia de ansiedade em pé ao lado dele, que eu estava receosa de que fosse ter um ataque de pânico. O lado da minha mandíbula estava latejando por nenhuma razão em tudo, e minhas costelas doíam onde Nick tinha me chutado, embora eu estivesse curada agora.
A ressonância de velhas feridas. Eu vou despedir minha terapeuta, pensei. Eu não deveria estar tão embaraçada depois do tanto de tempo que eu passei com ela.
“Divórcio ruim?” Hardy perguntou, seu olhar caindo para minhas mãos. Percebi que estava apertando minha bolsa em um aperto de morte.
“Não, o divórcio foi ótimo,” eu disse. “Foi o casamento que me deixou sem forças.” Forcei um sorriso. “Tenho que ir. Tome cuidado.”
Alguém veio por trás de mim e pela forma como os cabelos na parte de trás do meu pescoço levantaram, eu sabia que Hardy tinha me seguido.
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Sem uma palavra, ele envolveu seu paletó em torno de mim, e me senti a vontade com o forro de lã de seda. O sentimento era tão requintado que eu tremia. O cheiro dele estava em volta de mim, aquele gosto ensolarado, macio do qual eu nunca tinha esquecido... Deus, isso era bom.
Reconfortante e estimulante ao mesmo tempo. Absoluto feromônio de classe mundial. Eu queria poder levar seu casaco comigo para casa. Não ele, apenas o casaco. Eu me virei para olhar para ele, os pingos de chuva brilhantes nos seus magníficos cachos castanhos. Água caia em pequenas batidas frescas em meu rosto. Mudou-se lentamente, como se ele achasse que um movimento brusco poderia me assustar. Senti uma de suas palmas curvar ao longo do lado do meu rosto, limpando com o dedo os pingos de chuva na minha bochecha, como se fossem lágrimas.
“Eu ia perguntar se eu poderia te ligar,” eu o ouvi dizer, “mas eu acho que sei a resposta.” Sua mão mudou para minha garganta, acariciando o lado com as costas dos seus dedos. Ele estava me tocando, eu pensei, aturdida, mas naquele momento, eu não dava a mínima. Em pé na chuva, envolta em seu casaco, estava prestes a sentir a melhor sensação que eu tive em um ano. Sua cabeça baixou sobre a minha, mas ele não tentou me beijar, só ficou olhando para meu rosto, e eu olhei para cima, para seu olhar azul intenso. As pontas de seus dedos exploraram o lado de baixo do meu queixo e se dirigiram para o topo da minha bochecha. A carne macia dos seus dedos estava um pouco calejada, lixa como língua de gato. Fui preenchida com um fogo mortificante enquanto imaginava como poderia me sentir se ele—Não.
Não.
Não, não... levaria anos de terapia antes de eu estar pronta para isso.
“Dê-me seu número de telefone,” ele murmurou.
“Isso seria uma má ideia,” eu consegui dizer.
“Por quê?”
Porque não há nenhuma maneira que eu possa lidar com você, pensei. Mas eu disse: “Minha família não gosta de você.”
Hardy sorriu sem remorsos, os dentes brancos no rosto bronzeado. “Não me diga que eles ainda estão sustentando aquele pequeno assunto contra mim?”
“Os Travis são do tipo sensíveis de qualquer forma, e além disso”—Parei para lamber uma gota de chuva do canto da minha boca, e seu olhar acompanhou o movimento atentamente— “Eu não sou uma substituta de Liberty.”
O sorriso de Hardy desapareceu. “Não. Você nunca poderia ser uma substituta de ninguém. E isso foi há muito tempo atrás.”
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Estava chovendo mais forte agora, transformando seu cabelo tão escuro e liso como a pele de animal, seus cílios cheios sobre seus brilhantes olhos azuis. Ele molhado parecia bom. Até o cheiro dele molhado era bom, toda a pele limpa e algodão encharcado. Sua pele parecia quente debaixo da névoa de gotículas. De fato, enquanto estávamos lá cercados pela cidade, e água caindo e diminuindo a noite, ele parecia ser a única coisa quente no mundo. Ele acariciou um cacho encharcado em volta do meu rosto, e outro, seu rosto ainda, grave. Para todo o seu tamanho e força, ele me tocou com uma gentileza que Nick nunca teria sido capaz de fazer. Estávamos tão próximos que eu vi a textura de sua barba feita, e eu sabia que a maciez masculina seria deliciosa contra os meus lábios.
Eu senti uma dor aguda e doce em algum lugar debaixo da minha caixa torácica. Melancolicamente pensei o quanto eu gostaria de ter ido com ele naquela noite no casamento, a beber champanhe sob uma lua de vermelha. Não importa como poderia ter acabado, eu gostaria de ter feito isso.
Mas já era tarde demais agora. Uma vida tarde demais. Um milhão de desejos tarde demais. O táxi parou.
O rosto de Hardy permaneceu sobre o meu. “Eu quero vê-la novamente,” disse ele em voz baixa.
Meu interior se transformou em uma mini-Chernobyl15. Eu não me entendia, porque eu queria tanto ficar com ele. Qualquer pessoa racional saberia que Hardy Cates não tinha nenhum interesse real em mim.
Ele queria incomodar minha família e chamar a atenção de minha cunhada. E, se isso significava transar com uma garota no meio do caminho, melhor ainda. Ele era um predador. E para meu próprio bem, eu tinha que me livrar dele.
Assim eu mostrei um sorriso desdenhoso em cima do pânico, e lhe dei um olhar que disse Eu tenho seu número, camarada.
“Você adoraria foder os Travis, não é?” Mesmo quando eu disse isso, me encolhi por dentro da minha própria grosseria deliberada.
Hardy respondeu com um longo olhar fixo que todas as células do cérebro que eu possuía fritaram. E então ele disse suavemente, “Apenas uma pequena Travis.”
Eu fiquei escarlate. Senti-me apertada em lugares que eu nem sabia que eu tinha músculos. E fiquei espantada como que minhas pernas ainda trabalhavam quando fui para dentro do táxi.
“Onde você mora?” Hardy perguntou, e como uma idiota, eu disse a ele. Ele entregou uma nota de vinte para o taxista, um valor enorme já que Principal 1800 estava a
15 Cidade onde aconteceu um dos maiores acidentes nucleares da história.
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apenas alguns quarteirões de distância. “Dirija com cuidado com ela,” disse ele, como se eu fosse feita de alguma substância frágil que poderia quebrar no primeiro solavanco na estrada.
“Sim, senhor!”
E não era até que o táxi se afastou que eu percebi que ainda estava usando sua jaqueta.
O normal teria sido ter lavado a jaqueta a seco imediatamente—havia um serviço no edifício—e teria alguém para levá-la para Hardy na segunda-feira.
Mas às vezes o normal simplesmente não acontece. Às vezes a loucura se sente muito boa para resistir. E assim eu continuei com a jaqueta, suja, todo o fim de semana. Eu continuava indo até lá e respirando profundamente. Aquela maldita jaqueta, e o cheiro de Hardy Cates nela, era crack. Eu finalmente cedi e usei por um par de horas, enquanto eu assistia a um filme em DVD.
Então eu chamei meu melhor amigo, Todd, que recentemente tinha me perdoado por não falar com ele em meses, e expliquei a situação para ele.
“Eu estou tendo um relacionamento com um casaco,” eu disse.
“Houve um leilão na Neiman's?”
“Não, não é meu, é a jaqueta de um cara.” Fui lhe dizer tudo sobre Hardy Cates, até mesmo indo tão longe a ponto de descrever o que tinha acontecido no casamento de Gage e Liberty há quase dois anos, e depois sobre o encontro com ele no bar.
“Então, eu acabei colocando o casaco e vendo um filme nele,” concluí. “Na verdade, eu estou usando agora. Quanto muito fora do normal isso é? Em uma escala de 1 a 10, quão louca eu sou?”
“Depende. Que filme você assistiu?”
“Todd,” eu protestei, querendo uma resposta séria dele.
“Haven, não me peça para definir os limites do normal. Você sabe como eu fui criado. Meu pai uma vez prendeu fios de seus próprios pelos púbicos em uma pintura e ela foi vendida por um milhão de dólares.”
Eu sempre gostei do pai de Todd, Tim Phelan, mas eu nunca tinha entendido sua arte. A melhor explicação que eu ouvi foi que Tim Phelan era um gênio revolucionário cujas esculturas explodiram as noções convencionais de arte e exibidos materiais comuns, como chiclete e fita adesiva em um novo contexto.
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Quando criança, eu tinha perguntado muitas vezes na perplexidade da inversão de papéis da família Phelan, em que os pais pareciam crianças, e seu único filho, Todd, tinha sido o adulto.
Só tinha sido por insistência de Todd que a família manteve hora certa para comer e dormir. Ele os tinha arrastado para as reuniões de pais e professores embora eles não acreditassem no sistema de notas. Todd não tinha sorte, entretanto, em frear a selvagem decoração da casa deles. Às vezes Sr. Phelan passava pelo corredor, parava para riscar ou pintar algo na parede, e continuava seu caminho. A casa deles tinha estado cheia com grafites muito caro. E em tempo de feriado, Mrs. Phelan penduraria a árvore de Natal, que eles chamados de arbusto de bodhi16, de cabeça para baixo. Agora Todd havia se tornado um designer de interior de enorme sucesso, principalmente por causa de sua capacidade de ser criativo sem ir muito longe. Seu pai desprezou o seu trabalho, o que agradou Todd tremendamente. Na família Phelan, Todd tinha me dito uma vez, bege era um ato de desafio.
“Então,” disse Todd, voltando ao assunto do casaco. “Posso ir e sentir o cheiro?”
Sorri. “Não, você ia levá-lo para si, e eu tenho que devolvê-lo. Mas não até amanhã, o que significa que eu tenho, pelo menos, 12 horas com ele.”
“Eu acho que você precisa falar com Susan esta semana sobre o porquê você tem tanto medo de um cara que você está atraída e que não pode lidar com qualquer outra coisa mais do que acariciar sua jaqueta. Enquanto ele não está nela.”
Fiquei imediatamente defensiva. “Eu já lhe disse, ele é um inimigo da família e eu-”
“Eu chamo isso de besteira,” disse Todd. “Você não teve nenhum problema em dizer a sua família para ir para o inferno quando você queria estar com Nick.”
“Sim, e como se mostrou, todos eles estavam certos sobre ele.”
“Não importa. Você tem o direito de ir atrás de que qualquer sujeito que agrada a você. Eu não acho que você está com medo da reação da sua família. Eu acho que é outra coisa.” Uma longa pausa, especulativa, e então ele perguntou delicadamente, “Foi tão ruim assim com Nick, meu amor?”
Eu nunca tinha dito a Todd que meu marido tinha abusado fisicamente de mim. Eu não estava no ponto de que eu poderia falar sobre isso com alguém que não fosse Gage, Liberty, ou a terapeuta. A preocupação na voz de Todd é que quase me desfez. Tentei responder, mas demorou uma eternidade para forçar um som da minha garganta apertada.
16 A Árvore de Bodhi foi a árvore debaixo da qual Siddhartha Gautama, o buda histórico, se sentou para meditar.
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“Sim,” eu finalmente sussurrei. Meus olhos inundaram, e eu os enxuguei com a palma da mão. “Foi muito ruim.”
Depois foi a vez de Todd esperar um pouco, antes que ele conseguisse falar.
“O que posso fazer?” ele perguntou, simplesmente.
“Você já está fazendo; você está sendo meu amigo.”
“Sempre.”
Eu sabia que ele quis dizer isso. E me ocorreu que a amizade era muito mais confiável, para não falar que mais duradoura, que o amor.
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Quando um apartamento no Principal 1800 ficava disponível, nunca era por muito tempo, apesar do preço milionário. Não importa se sua casa tivesse mil metros quadrados—do tamanho do apartamento da minha gerente, o que eu amava por causa do conforto—ou quatro mil metros quadrados, você tinha uma das melhores vistas de Houston. Você também tinha vinte e quatro horas de benefícios como porteiro e serviço de manobrista, cozinhas projetadas com gratino e quartzo, luminárias de vidro Murano, banheiros com pisos de travertino e banheiras romanas, closets nos quais você poderia estacionar um carro, e filiação no clube de seis andares com uma piscina olímpica, uma academia, e seu próprio personal trainer.
Apesar de todas essas amenidades, Gage e Liberty tinha se mudado. Liberty não era muito de viver em apartamentos em altos andares, e ela e Gage tinham concordado que Matthew e Carrington precisavam viver em uma casa com campo. Eles tinham um rancho no norte de Houston, mas era muito longe da cidade e dos escritórios de Gage para ser a principal residência. Então eles encontraram um terreno na subdivisão de Tanglewood e construíram uma cara no estilo europeu lá.
Visto que o apartamento estava vazio, nossa corretora, Samantha, começou a mostra-lo para possíveis compradores. Mas antes que alguém fosse capaz de ver o lugar no Principal 1800, Samantha tinha que pegar uma referência de um banco ou uma firma de advocacia para mostrar que eles eram legítimos. “Você fica surpresa,” ela me contou, “com quantos estranhos querem olhar um grande e elogiado apartamento.” Ela também revelou que um terço dos residentes pagou em dinheiro pelo apartamento, pelo menos metade deles eram executivos, e quase três quartos deles eram o que Samatha considerava pessoas de “dinheiro novo.”
Uma semana depois que eu mandei o casaco lavado a seco para o escritório de Hardy, eu recebi uma ligação de Samantha.
Ela parecia tensa e distraída. “Haven, eu não posso ir hoje. Meu pai teve algumas dores no peito nesse final de semana, e ele está no hospital e estão fazendo testes.”
“Ah, eu sinto muito por ouvir isso. Há algo que eu possa fazer?”
“Sim.” Ela deu um gemido. “Você poderia dizer isso a Vanessa por mim? Eu me sinto terrível. Ela deixou claro que deveríamos dar um aviso com vinte e quatro horas de antecedência antes de tirar um dia de folga.”
“Vanessa não está aqui,” eu a lembrei. “Ela tirou um longo fim de semana, lembra?” Pelo que sabia, Vanessa estava tendo um caso a distância com um cara de
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Atlanta, e ia visita-lo pelo menos uma vez o mês. Ela não disse a ninguém o nome dele nem o que ele fazia, mas ela tinha deixado pistas de que ele era extremamente rico e poderoso, e que ela o tinha em torno do seu dedo, é claro.
Eu não podia me importar menos sobre com quem Vanessa estava saindo, mas tentei parecer impressionada para não ofendê-la. Vanessa parecia esperar que eu ficasse fascinada pelos detalhes mundanos da sua vida. Às vezes ela repetia a mesma história, como uma sobre ser pega no tráfego, ou o que o massagista tinha dito sobre como ela estava em ótima forma, duas ou três vezes, e mesmo quando eu a lembrei que ela já tinha dito para mim. Eu tinha certeza de que era deliberado, embora eu não pudesse imaginar por que ela fazia, ou por que eu parecia ser a única pessoa com quem ela fazia isso.
“Há algo mais, Sam?” perguntei.
“Eu apreciaria se você pudesse ir ao meu computador e imprimisse o arquivo do último plano de marketing para o Sr. Travis—ele vai aparecer hoje, e realmente precisa dar uma olhada nisso.”
“Vou me certificar de que ele olhe,” eu disse.
“E mais uma coisa... há um cara que vai ao escritório às nove para olhar o apartamento. Você poderia mostrá-lo para ele? Diga a ele que eu sinto muito não ter ido, e que eu estarei disponível pelo celular para responder a qualquer pergunta.”
“Claro. Ele é qualificado?”
“Ele é tão qualificado que me deixa tonta só de estar na mesma sala que ele.” Um suspiro dramático. “Solteiro e podre de rico. Droga! Eu realmente esperava mostrar para ele. A única coisa que me faz feliz é saber que Vanessa não vai encontra-lo.”
Eu ri. “Vou me certificar de dizer algumas coisas boas a ele sobre você.”
“Obrigada. E certifique-se também de que ele tenha meu número.”
“Entendido.”
Enquanto eu remoía a frase “solteiro e podre de rico,” um calafrio divertido desceu pela minha espinha, e de alguma forma... eu sabia. Eu sabia quem era o Sr. Solteiro-e-Podre-de-Rico, e me perguntei o que ele estava aprontando.
“Samantha,” perguntei com suspeita, “qual é—”
“Há uma ligação na espera,” ela disse. “É meu pai—tenho de ir.”
A conexão finalizou, e eu abaixei o telefone. Fui ao computador da Samantha e olhei seu horário, logo quando o porteiro, David, deu um bipe pelo intercomunicador. “Samantha, Sr. Cates está aqui no corredor.”
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Quando minhas suspeitas foram confirmadas, eu me encontrei sem ar. Eu estava simultaneamente surpresa, preocupada e estranhamente divertida. Minha voz soava estranha aos meus próprios ouvidos. “Samantha não está aqui hoje,” falei para David. “Diga ao Sr. Cates que a Srta. Travis vai mostrar o apartamento. Eu estarei aí em um minuto.”
“Sim, Srta. Travis.”
Dei uma checada rápida e discreta no espelho compacto, apliquei um pouco de batom, e afastei minha franja longa da minha testa. Eu estava usando calças de lã marrom e um suéter com cola em V combinando. Infelizmente eu tinha escolhido sapatos baixos e confortáveis para aquele dia. Se eu soubesse que iria ver Hardy Cates, eu teria usado meus saltos mais altos para dar a ele menor vantagem em altura.
Olhei para o arquivo de Samantha sobre Hardy e espiei o relatório de pré-qualificação, e quase caí da cadeira quando vi os números. Quando Hardy disse que sua companhia estava indo bem, ele tinha negligenciado em mencionar que ele estava no processo de se tornar obscenamente rico. Aquela propriedade no Golfo que eles disseram que era uma boa jogada deve ter sido uma grande descoberta. Uma descoberta realmente grande.
Hardy Cates estava no caminho de se tornar um magnata do petróleo de grande sucesso. Eu era certamente a última pessoa que poderia apontar isso contra ele. Meu pai tinha grandes laços com a indústria do petróleo. E até meu irmão mais velho, com sua empresa de energia alternativa, não tinha cortado inteiramente os combustíveis fósseis do seu repertório. Suspirando, fechei o arquivo e tomei o elevador para a entrada residencial.
Hardy estava sentado numa cadeira de couro preto próximo a mesa do porteiro, conversando com David. Ele me viu e se levantou, e meu coração começou a bater tão alto que eu senti minha cabeça um pouco leve.
Eu coloquei minha expressão de negócios, um sorriso de negócios, e estendi a mão quando cheguei perto dele. “Sr. Cates.”
“Olá, Srta. Travis.”
Um aperto forte e impessoal das nossas mãos, e ficamos encarando um ao outro. Nós poderíamos ser estranhos. Mas havia um brilho nos olhos de Hardy que sugava todo calor para a superfície da minha pele.
“Sinto muito por Samantha não estar disponível nessa manhã,” eu disse.
“Eu não sinto.” Ele me olhou de cima abaixo. “Obrigada por retornar o casaco. Você não precisava mandar lavá-lo.”
Isso certamente chamou a atenção de David. Ele olhou para nós com interesse indiscreto.
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“Temo que tudo que eu posso fazer,” falei para Hardy rapidamente, “é levar você para olhar a demonstração inicial para que você tenha uma ideia de como o apartamento é. Eu não sou uma corretora, então Samantha é a única que pode responder suas perguntas definitivamente.”
“Tenho certeza de que você será capaz de responder qualquer pergunta que eu tenha.”
Fomos ao elevador, e duas mulheres saíram, uma mais velha, e uma perto da minha idade. Elas pareciam mãe e filha saindo para as compras. Quando eu entrei no elevador e me virei, vi que ambas as mulheres olharam para trás para dar uma boa olhada em Hardy.
Eu tinha de admitir, o homem parecia incrível em jeans. O tecido gasto se agarrava aos seus quadris e seguia as longas linhas de alguns músculos marcantes da coxa. E embora eu não tenha encarado sua visão traseira, minha visão periférica estava tendo um bom dia.
Eu pressionei o botão para o décimo-oitavo andar. Enquanto o elevador subia, ocupamos os cantos separados.
Hardy me estudou com franco interesse. Seu suéter azul caía suavemente sobre as linhas duras do seu torso. “Eu aprecio você gastar algum tempo do seu dia comigo, Srta. Travis.”
Decidi que já podíamos usar nossos primeiros nomes. Ele começou a dizer “Srta. Travis” com um toque de respeito exagerado que beirava a zombaria. “Você pode me chamar de Haven,” murmurei.
“Haven,” repetiu. O som do meu nome naquele tom lento me dava uma pontada de prazer intranquilo.
“O que você está fazendo aqui?” perguntei tensa. “Você está realmente interessado nesse apartamento?”
“Por que eu não estaria?”
“Eu vi seu endereço no formulário de pré-qualificação. Você mora no Post Oak agora. Não vejo por que você iria querer se mudar para cá.”
“Só estou alugando aquele lugar,” ele disse firmemente. “Eu não o comprei. E eu gosto mais dessa localização.”
Estreitei meus olhos. “Você sabe quem vivia nesse apartamento, certo?”
“Seu irmão e sua cunhada. E daí?”
“Eu acho que há algo estranho em você querer se mudar para o antigo apartamento de Gage e Liberty.”
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“Se você tiver outro apartamento disponível, posso olhá-lo também.”
Saímos do elevador e entramos nos corredores em formado de H, todos serenos com tons variados de creme e cinza. Eu me virei para encarar Hardy, o ar entre nós quase crepitando com desafio. “Principal 1800 não é muito melhor que Post Oak,” eu disse. “De fato, em termos financeiros, você provavelmente estaria melhor lá.”
Hardy levantou uma sobrancelha, parecendo divertido. “Você está experimentando uma nova tática de venda comigo?”
“Não. Estou me perguntando qual é seu real motivo.”
“Qual é seu melhor palpite?”
Fitei aqueles olhos impenetráveis. “Acho que você ainda sente algo pela minha cunhada.”
O sorriso de Hardy sumiu. “Você errou nessa, querida. Nós nem mesmo dormimos juntos. Eu desejo tudo do melhor para Liberty, mas eu não a quero dessa forma.” Ele se aproximou um passo, não me tocando, mas senti como se ele estivesse prestes a... bem, não sei o quê. Eu senti um calafrio nervoso descer pelas minhas costas. “Então dê outro palpite,” ele disse. “Você não pode me manter fora daqui se não puder ter uma boa razão para isso.”
Eu recuei um passo e respirei fundo. “Você é um criador de problemas,” disse. “Essa é uma razão boa o suficiente.”
O canto da sua boca se torceu. “Eu deixei de ser nos meus vinte e poucos.”
“Você ainda parecer ser um pouco.”
“Não, senhora. Estou completamente domado.”
Tive uma noção do que ele deveria ter sido como um estudante malicioso, tentando convencer seu professor da sua inocência. E seu charme vil era tão irresistível que eu tive de me virar para esconder um sorriso. “Certamente,” eu disse, levando-o ao apartamento.
Parando na porta, eu comecei a pressionar os números numa tela. Eu estava coberta com a intensa consciência de Hardy, tão grande e sólido ao meu lado. Havia aquele cheiro novamente, que distraia insanamente.
Eu pressionei o último botão, mal consciente do que estava fazendo. Embora eu tivesse usado a combinação umas mil vezes enquanto ficava com Gage e Liberty, eu devo ter errado um número. Em vez de abrir, a fechadura emitiu uma série de bips.
“Desculpa,” disse sem fôlego, tentando olhar para qualquer lugar menos para ele.
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“Eu pressionei algum botão errado. Quando isso acontece, leva alguns segundos para limpar e reiniciar. Você pode mudar a combinação para qualquer número que você—”
“Haven,” ele disse quietamente, e esperou que eu conseguisse olhar para ele.
Eu agarrei a maçaneta da porta como se estivesse lutando pela minha vida. Eu tive de limpar minha garganta antes que pudesse fazer algum som. “O q-quê?”
“Por que eu a deixo nervosa?” Sua voz estava suave, me atingindo em um lugar cru e terno. Um sorriso irônico tocou seus lábios. “Você tem medo de que eu dê em cima de você?”
Eu não podia responder. Eu não posso suportar isso, pensei desesperadamente. Calor me preencheu, colorindo minha pele. Meu coração estava meio dolorido. Tudo o que eu podia fazer era encarar Hardy sem piscar, minhas costas pressionadas contra a porta enquanto ele se inclinava sobre mim. Ele se aproximou, transmitindo a pressão do seu corpo até que senti o toque de músculos rígidos em alguns lugares de uma só vez. Fechei meus olhos, mortificada pela minha respiração rápida.
“Então vamos acabar logo com isso,” Hardy murmurou, “para que você possa parar de se preocupar.”
Sua cabeça escura desceu. Ele tocou sua boca na minha. Coloquei meus punhos entre nós, meus braços apertando meu peito em um bloqueio apertado. Eu não conseguia me fazer empurrá-lo, mas também não podia o deixar me abraçar. Seus braços foram ao meu redor, o abraço firme, mas gentil, como se ele estivesse atento em não me esmagar. Nossas respirações se misturaram, meu calor surgindo em um ritmo agitado.
Sua boca se moveu, capturando meu lábio superior, então o inferior, os abrindo. Toda vez que eu achava que o beijo ia parar, ele continuava mais longo, mais profundo, e a parte de trás da minha garganta formigava como se eu fosse alimentada com algodão doce. Eu senti a carícia sedosa da sua língua... o gosto suave... outro... eu fiquei fraca contra ele, me dissolvendo na sensação.
Sua delicadeza me desarmou até que quase esqueci sobre o nó de medo no meu estômago. Eu fiquei ali o respirando, o sentindo... mas ele estava ao meu redor, ele podia me dominar tão facilmente se ele escolhesse. Eu não podia aguentar me sentir tão sem defesas, não importa o quão gentil ele fosse. Virei minha boca para longe dele, e interrompi o beijo com um sussurro.
Os lábios de Hardy roçaram o topo da minha cabeça, e ele me soltou lentamente. Ele me olhou, o calor azul em seus olhos.
“Agora me mostre o apartamento,” sussurrou.
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Puramente por sorte—eu não conseguia ter um pensamento coerente no meu cérebro—eu consegui colocar a combinação certa e abrir a porta.
Como eu não estava certa do quão longe eu poderia andar sem vacilar, deixei Hardy fazer a exploração sozinho. Ele andou pelo apartamento de três quartos, checando os acabamentos, as ferramentas, as vistas de cada cômodo. Na sala de estar principal, uma parede com nada além de janelas, revelava uma vista espetacular de Houston, uma cidade sem limites se estendendo em uma mistura de escritórios, shoppings, mansões e barracões, o barato e o caro se misturando livremente.
Observando a silhueta longa e esbelta de Hardy contra as janelas, achei que o apartamento combinava com ele. Ele queria mostrar às pessoas que ele tinha chegado. E não se podia culpa-lo por isso. Em Houston, se você quiser um lugar à mesa, você tem de ter roupas, carros, um apartamento de luxo, uma mansão. Uma esposa alta e loira.
Precisando quebrar o silêncio, eu finalmente encontrei minha voz. “Liberty me disse que você costumava trabalhar com equipamento de perfuração.” Eu me inclinei contra o balcão da cozinha enquanto o observava. “O que você fazia?”
Ele me olhou por sobre o ombro. “Soldador.”
Sem dúvida, pensei, e não percebi que tinha dito em voz alta até que ele respondeu.
“Sem dúvida o quê?”
“Seus... ombros e braços,” eu disse, envergonhada.
“Ah.” Ele se virou para me encarar, suas mãos ainda nos seus bolsos. “Sim, eles geralmente pegam os caras maiores para fazer a solda em terra, as coisas que eles não podem fazer em terra firme. Então eu tinha de carregar um power-con de trinta quilos ao redor dos aparelhos, subindo e descendo as escadas... isso te deixa em forma muito rápido.”
“Um power-con é um tipo de gerador?”
Ele assentiu. “Os novos modelos são construídos com apoios bem separados, assim duas pessoas podem carrega-lo. Mas as versões antigas, você tinha de arrastar, só podia ser carregado por um cara. Diabos, meus músculos ficavam tão doloridos...” Ele sorriu e esfregou a nuca, como se relembrasse os antigos desconfortos. “Você deveria ter visto outros soldadores. Eles me faziam parecer um pequeno.”
“Eu honestamente não posso imaginar isso,” eu disse.
Seu sorriso persistiu enquanto ele se aproximava de mim, vindo se inclinar no outro lado do balcão.
“Você gostava de ser soldador?” perguntei hesitante. “Quero dizer, era isso que você queria fazer?”
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“Eu queria fazer qualquer coisa que me tirasse de Welcome.”
“Essa é a cidade onde você cresceu?”
Ele assentiu. “Estourei um dos meus joelhos jogando futebol—então não tinha chance de ganhar bolsa. E em Welcome, se você não consegue ir à universidade, suas opções são limitadas. Eu sabia como soldar, do meu trabalho com cercas. Custou muito para eu conseguir um certificado. E eu tinha um companheiro que trabalhava com equipamentos que me disse que soldadores faziam oitenta dólares a hora.”
“Você tinha pensado que chegaria a... isso?” Acenei para o apartamento resplandecente ao nosso redor.
“Não,” Hardy disse imediatamente. “Eu nunca imaginei que eu—” Mas quando ele encarou meus olhos, ele parou. Parecia que ele tivesse medindo as consequências das suas palavras, perguntando-se como eu reagiria se me contasse a verdade. “Sim, eu sabia,” finalmente disse, sua voz suave. “Eu soube que eu faria o que custasse. Viver em um trailer, correr com um bando de crianças de pés descalços... toda minha vida já estava planejada, e eu certamente não gostava disso. Então eu agarrei minha chance quando apareceu. E se não tivesse aparecido, eu faria acontecer.”
Quando eu comecei a compreender a tremenda ambição que ele possuía, fiquei surpresa pela ponta de algo como vergonha ou defensiva ocultada nessa admissão. “Por que você fica desconfortável em admitir que é ambicioso?”
Ele me lançou um olhar atrasado, como se a pergunta nunca tivesse ocorrido antes. Uma pausa cautelosa, e então ele falou, “Eu aprendi a ficar calado desde cedo. Os mais velhos se divertem às suas custas de outra forma.”
“Por quê?”
“É como caranguejos numa caixa.” Vendo minha incompreensão, ele explicou. “Você pode manter um bando de caranguejos em um compartimento raso, e nenhum deles vai escapar. Porque logo que um tente subir, os outros vão puxá-lo para dentro.”
Nós nos encaramos diretamente, nossos antebraços sobre o balcão entre nós. Parecia muito perto, muito forte, como se alguma corrente queimasse entre nós. Eu recuei e desviei o olhar, interrompendo a conexão.
“O que você fez em Dallas?” Eu o ouvi perguntar.
“Eu trabalhei em um hotel por um tempo. Então fiquei em casa por quase um ano.”
Os olhos de Hardy tinha um brilho irônico. “Fazendo o quê? Sendo uma esposa-troféu?”
Visto que eu preferiria morrer antes de deixá-lo descobrir a verdade, eu disse casualmente, “Sim. E foi muito entediante.”
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“É por isso que seu casamento acabou? Você ficou entediada?”
“Mais ou menos.” Lendo sua expressão, eu mais afirmei que perguntei, “Você acha que sou mimada, não acha?”
Ele não se incomodou em negar. “Acho que você deveria ter casado com alguém que poderia fazer um melhor trabalho em te entreter.”
“Eu nunca deveria ter me casado,” eu disse. “Eu não nasci para isso.”
“Nunca se sabe. Você pode querer tentar novamente um dia.”
Balancei minha cabeça. “Nenhuma homem terá aquele poder sobre mim de novo.”
Um simples traço de desprezo coloriu a sua voz. “Você tem todo o poder, querida. Você é filha de um homem rico.”
É claro. Era como parecia se olhando de fora. Ninguém poderia saber que eu não tinha nenhum poder, sobre nada.
“Todo esse assunto de casamento é entediante,” eu disse. “Especialmente o meu. E eu prefiro que você não me chame de ‘querida.’” Saí de detrás do balcão, meus braços cruzados sobre meu peito. “O que você acha do apartamento?”
“Eu gosto.”
“Muito espaço para um homem solteiro, não é?”
“Eu cresci numa família de cinco em um espaço pequeno. Depois disso, eu posso lidar com muito espaço.”
Tentei me lembrar do que Liberty tinha me contado sobre a família dele. “Dois irmãos e uma irmã, certo?”
“Sim. Rick, Kevin, e Hannah.” Uma sombra atravessou seu rosto. “Minha irmã morreu no ano passado de câncer de mama. Ela lutou bastante. Duas extrações de mama, quatro meses de quimioterapia. Ela foi ao Hospital Anderson... Eu a teria levado a qualquer lugar, mas todos disseram que aquele era o melhor lugar. Perto do final eles a trataram com Arimidex, o que ela disse que era pior que a quimio. Nada impediu que o tumor crescesse.”
“Eu sinto muito.” Eu queria mostrar o quanto eu entendia, mesmo as coisas que ele não disse. Eu me encontrei indo em sua direção, agora inclinando do mesmo lado do balcão. “Eu sei como é perder alguém dessa forma. Minha mãe morreu de câncer de mama também. Exceto que ela nunca passou pela quimioterapia. Eles descobriram muito tarde. Ela estava no estágio quatro com disseminação no pulmão. Minha mãe escolheu ter uma vida mais curta e com melhor qualidade, em vez de atravessar todas essas cirurgias e tratamentos, que não teriam funcionado de qualquer forma.”
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“Com quantos anos você estava?” ele perguntou gentilmente.
“Quinze.”
Fitando-me, ele estendeu a mão para tocar minha franja, que tinha caído sobre um olho “Haven... diga-me para não pegar o apartamento, e eu não irei. Senão, eu o quero. Isso é com você.”
Meus olhos se arregalaram. “Eu... eu... sua decisão não tem nada a ver comigo. Não me faça participar nisso.”
“Iria incomodar você se eu vivesse aqui?”
“Claro que não,” eu disse, um pouco rápido demais.
Ele sorriu preguiçosamente. “Eu não sou um homem de muitos talentos... mas sou muito bom nos poucos que tenho. E um deles é que eu posso sempre dizer quando alguém está mentindo para mim.”
Eu não tinha escolha além de admitir a verdade. “Ok. Pode me incomodar um pouco.”
“Por quê?”
Ele era bom em me desequilibrar. Eu podia sentir minha pulsação se agitando. Eu não sabia o que Hardy tinha que quebrava minhas defesas. Droga, ele era malicioso. Agressivo, controlador, mas esperto o suficiente para disfarçar com charme. Ele era dez vezes mais homem que Nick, e ele era demais, demais em todas as formas. Se eu o deixasse se aproximar de mim, eu iria merecer o que quer que eu conseguisse, e os resultados não seriam bonitos.
“Olhe,” eu disse rápido, “você se mudando para cá ou não, eu não estou interessada de qualquer tipo de... qualquer coisa... com você.”
Seu olhar não deixou o meu. Seus olhos estavam mais escuros que um negativo. “Defina ‘qualquer coisa.’”
“Nesse caso significa sexo.”
“Esse é um dos meus outros talentos,” ele se ofereceu.
Eu estava tão distraída que quase sorri. “Tenho certeza que isso vai fazer com que muitas mulheres residentes do Principal 1800 fiquem felizes.” Pausei para enfatizar. “Mas eu não serei uma delas.”
“Entendo. Então onde eu termino, Haven? Aqui, ou Post Oak?”
Eu fiz um gesto impaciente para indicar que não havia nenhuma consequência. “Mude-se para cá se quiser. Este é um país livre.”
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“Ok. Vou me mudar.”
Eu não gostei da forma como ele disse isso. Como se tivéssemos acabado de fazer algum tipo de barganha.
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“O inferno que ele vai viver aqui,” Jack disse, indignado, andando em voltas no meu escritório mais tarde naquele dia. Ele veio para uma rápida visita para ver como iam as coisas. Embora ele nunca fosse admitir isso, pensei que Jack estava levemente aliviado por Vanessa ter ido embora. Sempre que ela estava por perto, ela enviava sinais discretos de que ela estava caminhando para algum tipo de relação que ia além dos negócios. Felizmente, ele não parecia interessado.
Enquanto Jack exasperava-se sobre Hardy, sentei-me atrás de minha mesa, tentando entender algum novo software que tinha ido contra mim.
“Essa é a maneira que eu estou olhando para ele,” eu disse, olhando por cima do meu laptop. “‘Mantenha seus amigos perto, mantenha seus inimigos mais perto ainda.’ Que melhor maneira de descobrir o que Hardy Cates está pretendendo, do que tê-lo em nosso prédio?”
Isso fez Jack dar uma pausa. “Eu acho que há algum sentido nisso. Mas por que ele quer viver aqui? Se isso for algum negócio sobre Gage e Liberty—”
“Não, eu sinceramente não acho que é isso. Eu acho que ele teria pego outro apartamento se estivesse disponível.”
Jack se sentou na beirada da minha mesa. “Ele tem algo na manga. Eu garanto.”
Ele parecia tão certo que eu lhe dei um olhar interrogativo. “Você já encontrou com ele antes?”
“Sim, cerca de um ano atrás. Ele estava saindo com uma menina com quem eu costumava sair e aconteceu de eu vê-la em um clube, e todos nós conversamos por alguns minutos.”
“O que você pensa sobre ele?”
Um sorriso irônico nos lábios curvados. “Odeio admitir, mas se não fosse pela merda que ele fez com o negócio de biocombustíveis do Gage, e ter estragado o casamento, eu poderia ter gostado do cara. Falamos um pouco de caça e pesca, e ele me pareceu um bom cara. E gostando dele ou não, você tem que dar crédito a ele—a empresa dele está detonando.”
“Por que você acha isso?”
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“Ele reuniu um grande time, e ele pode negociar um acordo complicado. Mas principalmente, ele tem o dom para encontrar petróleo. Chame isso de sorte, chame de habilidade, mas algumas pessoas têm isso e outras não. Talvez ele não seja um cara inteligente de faculdade, mas ele é esperto de um jeito que não se pode ensinar. Cara, eu não o subestimaria.” Jack passou a mão pelo cabelo escuro, olhando pensativo. "Joe o conhece."
Eu pisquei, surpresa. “O quê? Nosso irmão Joe?”
“É. Joe tirou sua foto para aquela coisa que eles fizeram com ele no Texas Monthly ano passado.”
“Que coincidência,” eu disse lentamente. “O que Joe diz sobre ele?”
“Não lembro. Vou ter que perguntar a ele.” Jack franziu o cenho. “Você acha que o Cates tem algum tipo de vingança contra os Travis?”
“Pelo quê?”
“Por que Gage se casou com sua antiga namorada?”
“Isso seria levar as coisas um pouco longe,” eu disse ceticamente. “Quero dizer, eles nem sequer dormiram juntos.”
Jack levantou as sobrancelhas. “Como você sabe?”
“Ele disse.”
“Você esteve falando sobre sexo com Hardy Cates?” ele perguntou no mesmo tom que ele teria usado para et tu, Haven?17
"Não foi assim,” eu disse, desconfortável. “Foi uma espécie de referência casual.”
Jack me deu um olhar longo e duro. “Se ele ficar de olhares em sua direção, eu vou limpar o chão com a bunda dele—”
“Jack, calma—”
“—E eu vou deixar isso bem claro para ele antes da assinatura dos contratos.”
“Se você me envergonhar desse jeito, eu vou encontrar um novo emprego. Juro Jack. Nem uma palavra para Hardy.”
Um longo silêncio enquanto meu irmão olhava para mim. “Você está interessada no Cates?” Perguntou ele.
17 Frase em latim, sendo a original ‘et tu, Brute?’ frase que Júlio César disse no momento do seu assassinato a Marco Bruto que era seu protegido e participou do golpe, significa ‘Até tu, Bruto?’.
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“Não!”
“Bom. Porque—e não tome isso como uma coisa pessoal—eu não tenho nenhuma confiança na sua habilidade de escolher um cara decente para si mesma. Se você gosta de alguém, ele provavelmente é uma escória.”
“Isso é uma enorme violação de fronteira,” eu disse indignada.
“Uma o quê?”
“Isso significa que eu não faço qualquer comentário sobre o tipo de mulher você sai, e você não tem direito de julgar minhas escolhas.”
“Sim, mas—” Jack parou e fez uma careta. “Você está certa. Não é da minha conta. É apenas... Eu gostaria que você encontrasse um cara legal sem nenhuma estranha bagagem de merda.”
Eu tive de rir. Minha irritação desapareceu, e eu estendi a mão para pegar a dele. “Se você conhecer alguém,” eu disse, “deixe-me saber.”
Meu celular tocou, e eu o pesquei para fora da minha bolsa. “Tchau, Jack,” eu disse, e abri o telefone.
“Olá?”
“Haven.”
O som da voz de Hardy me deu uma sacudida sutil, agradável. “Oi,” eu disse, e condenei a mim mesma por soar sem fôlego.
Jack, que estava no processo de sair, parou na porta e atirou-me um olhar curioso. Eu acenei para ele ir, mas ele ficou onde estava, vendo e ouvindo.
Eu adotei um tom vivo e profissional. “Você tem uma pergunta sobre o apartamento? Eu vou lhe dar o número de Samantha—”
“Eu já tenho o número dela. Quero falar com você.”
“Oh.” Eu brincava com uma caneta sobre a mesa. “Como posso ajudar?”
“Eu preciso de uma recomendação de alguém que possa vir e arrumar o apartamento—escolher os móveis, as cores, esse tipo de coisa.”
“Um decorador de interiores?”
“Sim, mas um bom. O que eu contratei para o meu último apartamento cobrou uma fortuna, e acabou parecendo um bar de Fort Worth18.”
18 Cidade do Texas.
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“E esse não é o seu estilo?”
“Não, é exatamente o meu estilo. Esse é o problema. Preciso de uma atualização da minha imagem.”
“Você não precisa se preocupar com isso,” eu disse. “O look formal está fora. Casual e confortável está dentro.”
“Eu tenho um sofá que já habitou o campo aberto.”
Eu não poderia deixar de rir com isso. “Você quer dizer de couro bovino? Oh, Deus. Você precisa de ajuda.” Pensei em Todd. “Eu sei de alguém—mas ele não é barato.”
“Tudo bem, contanto que ele seja bom.”
“Você gostaria que eu ligasse para ele por você e marcasse alguma coisa?”
“Obrigado. Isso seria ótimo. E como um favor, você estaria lá comigo quando eu o encontrasse?”
Eu hesitei, meus dedos apertando a caneta. “Eu não acho que seria de muita ajuda.”
“Eu preciso da sua opinião. Meu tipo de decoração geralmente envolve pêlo, peles e chifres. Você não tem ideia do que eu poderia falar.”
“Tudo bem,” eu disse com relutância. “Eu vou estar lá. Quando você está livre?”
“Eu estou ocupado o resto do dia e amanhã, terminando um FAD. Então no dia seguinte ou a qualquer momento depois disso seria ótimo.”
“O que é um FAD?”
“Formulário de autorização para despesas. Basicamente são todas as estimativas para a perfuração e conclusão de um poço, incluindo salários, serviços e equipamentos. Você pode se ferrar em seis maneiras em um domingo se você não fizer direito um FAD e certificar-se que todos a seguem. É realmente importante para uma pequena empresa com um orçamento limitado.”
“Então é você quem faz com que todos sigam o FAD?”
“Sim, eu sou o vilão,” Hardy admitiu. “Nenhum de meus parceiros são bons nisso—um é geofísico e arrebenta para as coisas da ciência, e o outro não consegue lidar com um confronto. Portanto, cabe a mim. Eu acho que não administrei um projeto bem ao menos que eu receba algumas ameaças de morte ao longo do caminho.”
“Aposto que você é bom em confrontar,” eu disse.
“Eu tenho que ser, às vezes. Mas eu não sou assim por natureza.”
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“Claro,” eu disse a ele, sorrindo com ceticismo. “Eu te ligo mais tarde, com a hora do encontro.”
“Ok, chefe.”
O sorriso ainda estava escondido nos cantos dos meus lábios quando eu olhei para cima e vi Jack lá. Eu não poderia dizer se ele estava carrancudo ou com uma expressão amarrada—mas não era uma expressão feliz.
“Não me diga que você estava conversando com Hardy Cates,” Jack disse.
“Eu estava conversando com Hardy Cates. O que tem isso?”
“Eu não ouvi você dar uma risadinha assim desde o colégio.”
“Eu não estava dando uma risadinha,” eu disse defensivamente. “Eu nunca dou risadinha. E antes que você diga qualquer outra coisa, lembre-se dos meus limites pessoais.”
“Tenha certeza de que Cates se lembre de seus limites pessoais,” Jack murmurou, e saiu do meu cubículo.
“Você sabe,” disse Todd, “eu tive muitos clientes que tinham gosto de merda para decoração. Mas eles nunca queriam admitir isso. Eles me contratavam e, em seguida, eles perdiam muito tempo discutindo sobre o esquema de design. Este é o primeiro cliente que admitiu que ele tem gosto de merda.”
“Acho que ele pode realmente se orgulhar disso,” eu disse.
Estávamos subindo no elevador para o décimo-oitavo andar, onde estávamos indo nos encontrar com Hardy em seu apartamento novo. “Eu disse pra você o que disse Beebe Whitney quando eu disse a ela que eu iria fazer o apartamento dele?” Todd perguntou.
De volta ao colegial, Beebe havia sido a garota mais bonita em Lamar, para não mencionar a chefe das líderes de torcida e a princesa de classe. Ela havia se casado em um dos maiores casamentos de Houston e havia se divorciado 11 meses mais tarde.
“Não, o quê?”
“Ela disse, ‘Você pode estar fazendo o apartamento dele, Todd, mas eu fiz ele.’”
Meu queixo caiu. “Beebe Whitney dormiu com Hardy Cates?” Sussurrei, escandalizada.
Os olhos azuis esverdeados de Todd brilhavam com prazer. “Coisa de uma noite. Conheceram-se em sua lua-de-divórcio.”
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“O que é uma lua-de-divórcio?”
“É a viagem que você faz depois de seu divórcio... Você sabe, como uma lua de mel. Você não teve uma?”
Lembrei-me de ter dormido no apartamento de Gage e Liberty com uma cinta torácica e uma concussão, e sorri tristemente. “Não exatamente.”
“Bem, Beebe teve. Ela foi para Galveston, e havia essa grande festa, e Hardy Cates estava lá. Então, depois de eles terem conversado por um tempo, eles foram para o quarto de hotel dela. De acordo com Beebe, eles fizeram sexo a noite toda em todas as posições possíveis, e no momento em que tudo tinha acabado ela se sentiu como uma prostituta barata. Ela disse que foi fabuloso.”
Eu coloquei a mão sobre minha barriga, onde os nervos estavam saltando. A ideia de Hardy fazendo sexo com alguém que eu conhecia era estranhamente perturbadora.
“Pena que ele é hétero,” disse Todd. “A heterossexualidade é tão limitante.”
Eu dei-lhe um olhar sombrio. “Faça-me um favor e não fale nada com Hardy.”
“Claro. Você está reclamando seus direitos?”
“Não. Nem um pouco. Eu só não quero que você faça ele ficar nervoso. Ele definitivamente não é bissexual.”
Quando saímos do elevador e fomos para o apartamento, eu me perguntava o que Hardy pensaria de Todd. Meu amigo não era tão afeminado, mas ele ainda exalava a vibe de ser capaz de fazer isso de qualquer maneira. As pessoas costumavam gostar de Todd—ele tinha uma sensação de ser legal sem esforço, de se sentir confortável em sua própria pele.
“Eu acho que você vai se dar bem com Hardy,” eu disse. “Eu estarei interessada em ouvir sua opinião sobre ele mais tarde.”
Todd tinha uma habilidade infalível de ler as pessoas, trazer à tona os segredos que elas tinham e nem mesmo conheciam. Linguagem corporal, hesitações verbais, as mudanças na expressão em um minuto... Todd via tudo com a sensibilidade de um artista para detalhes.
Quando fomos até a porta, vimos que ela já estava aberta. “Olá?” Eu disse provisoriamente quando entramos no apartamento.
Hardy veio ao nosso encontro, seu olhar esvoaçando sobre mim, então se decidindo por meu rosto. “Oi.” Ele sorriu e pegou minha mão. Ele segurou um pouco por tempo demais, seu polegar deslizando para o cálice da minha palma antes que eu a puxasse livre.
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Ele estava vestindo um terno de grife, uma camisa bonita, um bom relógio. A gravata estava um pouco solta, como se tivesse sido puxada por ele, e seu cabelo caia em camadas castanhas que praticamente imploravam para ser tocados e jogados. Ele parecia bem no traje civilizado, mas ainda havia um toque bruto sobre ele, uma sensação que ele não deveria estar preso a um terno e gravata.
“Posso te ajudar com isso?” ele perguntou a Todd, que estava sobrecarregado com uma pilha de materiais, incluindo uma pasta, livros de amostra, esboços e mais pastas.
“Não, eu aguento.” Todd colocou a pilha na bancada cinza quartzo. Ele deu um sorriso agradável a Hardy e estendeu a mão. “Todd Phelan. Ótimo lugar que você tem aqui. Acho que podemos chegar a algo realmente espetacular.”
“Assim espero.” Hardy balançou a sua mão firmemente. “Farei o meu melhor para ficar fora do seu caminho.”
“Você não tem que ficar fora do caminho. Pretendo levar seus gostos e desgostos em conta.” Pausadamente, Todd acrescentou com um sorriso. “Podemos até ser capazes de trabalhar com o sofá de couro, se você for ligado a ele.”
“É tão confortável,” disse Hardy com um toque de melancolia. “Eu tenho algumas boas lembranças desse sofá.”
“Nós todos ficaremos melhor se você mantivesse essas lembranças para si mesmo,” eu disse com firmeza. Hardy sorriu para mim.
“Na ausência de mobília,” disse Todd, “este terá que ser um encontro no balcão da cozinha. Se você vier até aqui, Hardy, eu vou mostrar-lhe algumas ideias que eu trouxe. Eu tenho uma cópia da planta baixa, então eu estou familiarizado com o layout...”
Enquanto Hardy andava ao redor do balcão para se juntar a ele, Todd virou para mim e fez um silencioso Uau com a boca, seus olhos azul-turquesa cintilantes com alegria. Eu o ignorei.
Os dois homens se inclinaram sobre o livro de amostra. “Você vê esta paleta de cores...?” Todd estava dizendo. “Tons de terra, caramelos, verdes botânicos, alguns tons de laranja abóbora aqui e ali para dar um pop. Este seria de fato um ambiente confortável. E isso iria suavizar a esterilidade do acabamento aqui.”
Eles concordaram em texturas e tons naturais, e mobília com linhas personalizadas. A única preferência que Hardy tinha era que ele não queria um monte de mesinhas e cadeiras espalhadas ao redor. Ele gostava de móveis sólidos, que não fizessem ele se sentir apertado.
“É claro,” disse Todd. “Um cara grande como você... Qual sua altura, um e oitenta e cinco, um e oitenta e seis...?”
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“Um e oitenta e sete.”
“Certo.” Todd deslizou-me um brilhante olhar de travessura. Claramente ele achou Hardy tão delicioso como eu. Mas, ao contrário de mim, Todd não estava todo cheio de conflitos sobre isso.
“O que você acha?” Hardy me perguntou enquanto eles puxaram algumas páginas de amostra de um livro e as colocaram lado a lado. “Você gosta da forma como este se parece?”
Quando me movi ao lado dele, eu senti o suave roçar de sua mão nas minhas costas. Calor percorreu ao longo da minha coluna, até a base do meu crânio. “Eu gosto,” eu disse. “Mas eu ainda me oponho ao couro, no entanto.”
“Ele adiciona um toque irrisório,” Todd protestou. “Vai funcionar. Dê-lhe uma chance.”
“Sem couro se ela não gosta disso,” Hardy disse a ele.
Todd arqueou as sobrancelhas sarcasticamente como ele olhou para mim. “E quanto a laranja, Haven? Podemos ter laranja, ou isso é demais para você lidar?”
Estudei a paleta e toquei uma amostra de cor de chocolate de veludo. “Eu gosto desse marrom, na verdade.”
“Eu já estou usando isso para a cadeira,” Todd argumentou.
“Então faça a cadeira laranja e o sofá marrom.”
Todd considerou aquilo e fez algumas anotações.
Eu ouvi o toque de um telefone celular. Hardy olhou para nós dois. “Desculpe-me. Você se importa se atender este? Eu vou fazê-lo o mais rápido possível.”
“Tome seu tempo,” disse Todd. “Nós estamos bem.”
Hardy abriu o aparelho, vagando para a próxima sala para a privacidade. “Cates aqui.” Ele fez uma pausa, enquanto a pessoa do outro lado da linha falou. “Certifique-se que eles perfurem mais lentamente quando eles colocarem no modo deslizante... e quero que eles façam esse ângulo certinho, entendeu? O equipamento pode lidar com isso. Especialmente desde que nós não estamos fazendo uma perfuração profunda, não mais do que um raio médio...”
Não existia negócio com uma terminologia mais fálica que o negócio do petróleo. Após ser exposta a três minutos de conversa sobre a perfuração, os furos, fluidos e de bombeamento, mesmo uma freira Beneditina teria pensamentos sujos. Todd e eu estávamos em silêncio, ouvindo avidamente.
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“...Diga a eles que iremos longa e horizontalmente...”
“Eu gostaria de ir longa e horizontalmente com ele,” comentou Todd. Eu sufoquei uma risada.
“Eu admito, ele é bonitinho.”
“Bonitinho? Não. Sexy como o inferno. Infelizmente, também muito hétero, então... Ele é seu.”
Eu balancei minha cabeça. “É muito cedo após o divórcio. Eu não quero ele. Além disso, ele pode ser um idiota, e eu já tive o suficiente disso.”
“Você deixa ele te tocar,” observou Todd com os braços cruzados.
Meus olhos se arregalaram. “Eu não.”
“Sim, você deixa. Apenas pequenos toques aqui e ali. Ele põe a mão no seu braço ou nas costas, ele fica perto de você, fazendo você se acostumar com ele... é um ritual de acasalamento. Como a Marcha dos Pinguins.”
“Não tem nada a ver com rituais de acasalamento. É uma coisa do Texas. As pessoas são melosas aqui.”
“Especialmente quando elas querem desossar você no meio na próxima semana.”
“Todd, cale a boca,” eu murmurei, e ele riu.
Nós dois olhamos para baixo às pressas para o livro de amostras quando Hardy voltou para o cômodo.
Mais alguns minutos de discussão, e então Hardy olhou para o seu relógio. “Sinto muito ter que pedir isso... mas vocês se importam se enforcarmos esse poucos minutos?”
“De jeito nenhum,” disse Todd. “Eu tenho mais do que suficiente para começar.”
“Obrigado. Eu aprecio isso.” Hardy afrouxou a gravata e desabotoou o colarinho da camisa dele. “Hora mudar para o uniforme. Estamos tendo alguns problemas na perfuração com um poço desviado, e eu preciso ir no local para verificar isso.” Pegou uma pasta e um conjunto de chaves, e sorriu para mim. “Até agora é um buraco seco. Mas eu tenho um pressentimento que temos um gato selvagem em nossas mãos.”
Eu não ousava olhar para Todd. “Boa sorte,” eu disse. “De qualquer forma, está tudo bem se Todd e eu ficarmos aqui alguns minutos?”
“Claro.”
“Vou trancar quando sairmos.”
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“Obrigado.” Hardy passou por mim, seus dedos tocando levemente sobre a minha mão enquanto ela repousava sobre o balcão. O toque quente fez com que uma onda de sensação corresse até o meu braço. Seu olhar conectado com o meu em um flash de um azul profano. “Tchau.” A porta se fechou atrás dele.
Eu apoiei o meu peso no balcão, tentando pensar direito. Mas meu cérebro tinha evacuado o local.
Foi um bom meio minuto antes de eu olhar para Todd. Seus olhos estavam um pouco nebulosos, como se ele estivesse acordando—com relutância—de um sonho lascivo. “Eu não sabia que eles ainda os faziam assim,” ele afirmou.
“Assim como?”
“Ponderado, resistente, retrô-viril. O tipo que só chora se alguém simplesmente passar por cima de seu cão. O cara de peito no qual podemos saciar nossos patéticos complexos de pai.”
“Eu não tenho um complexo de pai patético.”
“Oh? Diga-me que você não tem imaginado sentar em seu colo.” Todd sorriu quando eu ruborizei. “Você sabe o que é que você sente no cheiro dele, Haven? Testosterona. Ela vaza dos poros dele.”
Tapei os ouvidos com as mãos, e ele começou a rir. Ele esperou até que eu tivesse tirado minhas mãos de meus ouvidos, antes de dizer em um tom mais sério, “Você precisa ter cuidado com ele, querida.”
“Cuidado por quê?”
“Eu tenho a sensação de que debaixo daquele todo-Americanizado exterior de olhos azuis, ele é um pouco perturbado.”
Eu senti meus olhos ficarem arredondados como vinte e cinco centavos. “Doentiamente perturbado?”
“Não, perturbadamente perturbado. Como, quebrando as regras, esperto, cúmplicemente perturbado.”
“Eu não concordo. Ele é como Jack. Simples.”
“Não, isso é o que ele quer que você pense. Mas não acredito nem por um minuto. É uma fachada, ah-que-pena-que-eu-sou-só-um-cara-do-interior rotineiro. Ele faz isso para definir as pessoas. E então ele vai para matar.”
“Você está dizendo que Hardy é uma espécie de mestre manipulador ou algo assim?” Perguntei cética. “Ele veio de um estacionamento de trailers, Todd.”
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“A única pessoa que eu já vi que é quase tão boa para esse tipo de jogo calculado por baixo dos panos... quase... é seu pai.”
Eu dei uma risada incrédula, mas eu senti um arrepio nas minhas costas. “Você acha que ele é um cara mau?”
“Não. Mas há muita coisa acontecendo sob a superfície. Você vê seus olhos. Mesmo quando ele está fazendo a sua regular cara de rotina, ele está tomando medidas, fazendo uma aprendizagem, a cada segundo maldito.”
“Você sabe de tudo isso apenas falando sobre sofás com ele?”
Todd sorriu. “As pessoas revelam muito quando se discute o seu gosto pessoal. E eu peguei ele observando você um monte. Eu acho que você está em alguma coisa com ele, querida.”
“Você acha que eu deveria ficar longe dele?” Eu perguntei com uma voz áspera.
Todd levou muito tempo para responder. “Meu conselho é, se você está inclinada nessa direção, vá com os olhos abertos. Não há problema em deixar alguém brincar com você, Haven, desde que você saiba o que está acontecendo.”
“Eu não quero que brinquem comigo.”
“Oh, eu não sei." Um sorriso tocou seus lábios. "Com um cara como ele... Poderia ser divertido.”
Quando o meu horário de almoço acabou, voltei para o meu cubículo e a voz macia e decidida de Vanessa, subiu do meu ramal. “Haven, venha ao meu escritório, por favor.”
Eu imediatamente fundamentei que não tinha feito nada de errado, eu não poderia estar em apuros, mas cada palavra perfurou-me como se eu tivesse levado um tiro no coração com uma pistola de pregos.
Eu tinha certeza que o fim de semana romântico de Vanessa não tinha ido muito bem, porque ela tinha voltado em um puta estado de espírito. Ela usava a mesma máscara serena de sempre, mas quando era apenas nós duas em seu escritório, ela tinha “acidentalmente” derrubado seu porta-lápis e me pediu para pegar todos eles. E então ela deixou cair uma pasta de arquivo, e me pediu para recolher os papéis que tinham voado para todo o lado. Eu não podia acusá-la de fazer isso de propósito. Afinal, todo mundo tinha momentos de falta de jeito. Mas eu sabia que não tinha sido acidental. E a visão de mim, nas minhas mãos e joelhos, tinha definitivamente melhorado seu humor. Ela parecia quase jovial quando eu tinha terminado de ajeitar o arquivo.
Percebi que em um período muito curto de tempo, eu tinha adquirido uma nova pessoa em minha vida para ter medo. “Ela faz essa mesma coisa auto-absorvida,
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grandiosa, cheia de bullying que Nick faz,” Eu disse a Susan durante nosso último turno. “Exceto que ela é discreta sobre isso. Ela é uma narcisista discreta. Deus, quantos desses idiotas existem lá fora lá?”
“Muitos,” Susan disse com tristeza. “Eu ouvi variações estatísticas, mas eu poderia dizer que de três a cinco por cento da população tem ambas: fortes tendências ou a desordem completa. E embora eu tenha lido que três quartos de todos os narcisistas são homens, eu pessoalmente acho que é cerca de cinquenta/cinquenta.”
“Bem, como faço para parar de ser um N-ímã?” Eu tinha pedido, e Susan sorriu.
“Você não é um N-ímã, Haven. Nenhum de nós pode escapar de ter que lidar com um narcisista agora e depois. Mas eu diria que você está melhor equipada do que a maioria para lidar com isso.”
Sim... Eu sabia como lidar com um narcisista. Você nunca poderia estar em desacordo com um. Você tinha que olhar com admiração para tudo que eles faziam, e não perder nenhuma oportunidade de lisonjear ou elogiá-las. Basicamente, você tinha que ceder em todas as maneiras imagináveis, até não sobrar nada da sua dignidade, auto-respeito, ou a sua alma.
Vanessa não se preocupou em olhar para cima quando entrei pela porta aberta no seu escritório. “Eu gostaria que você batesse antes de entrar,” ela disse, ainda concentrando-se na tela de seu computador.
“Oh. Claro.” Voltei à porta, bati na ombreira da porta, e esperei por uma resposta.
Vanessa não disse nada, apenas continuou digitando. Eu estava na porta e esperei por um total de dois minutos até que ela finalmente fez uma pausa para olhar para mim.
“Entre.”
“Obrigada,” eu disse com polidez requintada.
“Sente-se.”
Eu sentei na cadeira em frente a sua mesa e olhei para ela com expectativa. Era injusto que alguém tão podre por dentro pudesse ser tão bonita. Seus olhos eram redondos e iluminados em seu rosto oval, e seu cabelo era um ondular pálido perfeito em seus ombros.
“Eu gostaria que você ajeitasse a área de café e limpasse a máquina,” disse Vanessa.
“Eu limpei a máquina ontem,” eu disse.
“Eu receio que você precise limpá-la novamente. O café não está com um gosto certo.” As sobrancelhas levantadas. “A menos que você sinta-se rebaixada? Eu não quero que você faça qualquer coisa que faça você se sentir desconfortável, Haven.”
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“Não, está tudo bem.” Dei-lhe um sorriso raso, inócuo. “Sem problemas. Mais alguma coisa?”
“Sim. Sobre suas atividades na hora do almoço.”
Não respondi, apenas olhei para ela inocentemente.
“Você estava fazendo algo com o novo inquilino em seu apartamento esta tarde.”
“Eu o apresentei a um decorador de interiores,” eu disse. “Ele me pediu.”
“Você não esclareceu isso comigo.”
“Eu não sabia que eu tinha que fazer isso,” eu disse lentamente. “Foi mais para um favor pessoal.”
“Bem, eu tenho uma regra que eu deveria ter explicado antes, Haven. Não há mais ‘ficar pessoal' com qualquer um dos inquilinos deste edifício. Pode levar a problemas, e pode ficar no caminho de fazer o seu trabalho de forma eficaz.”
“Acredite em mim, eu não iria—” Eu parei, completamente jogada para fora da minha guarda. “Não há absolutamente nada acontecendo entre mim e o Sr. Cates.”
Algumas das minhas consternações genuínas devem ter chegado até Vanessa, porque era óbvio que ela estava satisfeita. Seu rosto suavizou com a preocupação de uma espécie de irmã mais velha. “Fico feliz em ouvir isso. Porque alguém com seu histórico de relacionamentos fracassados poderia fazer uma grande confusão de coisas.”
“Eu...” Meu histórico de relacionamentos fracassados? Eu só tinha um. Um casamento fracassado. Eu queimei com o desejo de lembrar a Vanessa que ela tinha passado por um divórcio também, e ela não era ninguém para falar sobre isso. Mas de alguma forma eu conseguiu manter minha boca fechada, enquanto meu rosto inundava de vermelho.
“Então,” disse Vanessa com um sorriso gentil, “sem mais reuniões privadas com o Sr. Cates, certo?”
Eu olhei para aqueles olhos claros, seu rosto suave e tranquilo. “Certo,” eu meio que sussurrei. “Mais alguma coisa?”
“Para falar a verdade... Eu notei que uma das máquinas de venda automática, perto da sala de conferências não funcionava. Eu gostaria que você lesse o número de serviço na máquina e ligasse para que seja corrigido.”
“Vou fazê-lo imediatamente.” Eu forcei meus lábios em um sorriso e me levantei. “Tudo bem se eu ir agora?”
“Sim.”
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Eu deixei o seu escritório e fui limpar a máquina de café, pensando tristemente que tudo que Vanessa Flint pudesse jogar sobre mim, eu poderia aguentar.
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9
A advertência de Vanessa sobre ficar longe dos inquilinos não tinha sido necessária. Eu já tinha decidido levar a avaliação de Todd de Hardy a sério. Eu não ia a lugar nenhum perto dele. Minha recuperação emocional de um trauma com caras, quando e se eu encontrar um, não ia ser manipulador ou tortuosamente deturpado. Ele ia se alguém com que eu poderia lidar, alguém que não me oprimiria. E embora Hardy fosse apenas cerca de sete ou oito anos mais velho do que eu, ele tinha infinitamente mais experiência em quase todas as maneiras. No que dizia respeito ao sexo, era preocupante, ele tinha ido “ao redor do açucareiro”, como Tia Gretchen teria dito, apenas algumas demasiadas vezes.
Mas no dia seguinte que Hardy tinha se mudado para o Principal 1800, eu encontrei um pacote embrulhado em minha mesa, amarado com uma fita vermelha elegante. Desde que não era meu aniversário ou qualquer outro feriado para se presentear, eu estava intrigada.
Kimmie estava em pé na entrada do meu cubículo. “Isso foi deixado a poucos minutos,” ela disse, “por um dos caras mais bonitos que eu já vi. Todo olhos azuis e músculos bronzeados.”
“Eu acho que foi o novo inquilino,” eu disse, me aproximando o pacote como se ele pudesse conter uma bomba “Sr. Cates.”
“Se esse é o tipo de inquilino que nós estamos atraindo,” Kimmie disse, “Eu trabalharei aqui para sempre. Sem nenhum pagamento.”
“Eu ficaria longe dele se eu fosse você.” Eu disse na minha mesa. “Ele não tem respeito pelas mulheres,”
“Só podemos esperar que sim,” ela disse.
Eu a atirei um olhar distraído. “Vanessa viu ele trazer isso? Ela encontrou ele?”
Kimmie sorriu. “Não só ela encontrou ele, como ela ficou lambendo seus lábios em cima dele, como Samantha e eu ficamos. E ela tentou o seu melhor para descobrir o que havia no pacote, mas ele não iria lhe dizer.”
Grande, eu pensei, e reprimi um suspiro. Não precisava um gênio para descobrir que eu estaria limpando a máquina de café pelo menos 10 vezes naquele dia.
“Bem...você vai abri-lo?”
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“Mais tarde,” eu disse. Deus sabia o que havia na caixa—ia esperar até que eu pudesse desembrulhá-lo em particular.
“Haven...você está louca se você pensa que poderia remover esse presente do escritório sem deixar Vanessa saber o que é isso.” Embora Kimmie parecesse gostar da nossa chefa, era de conhecimento comum que nenhum detalhe do que se passava no escritório escapava da atenção de Vanessa.
Eu coloquei a caixa no chão. Ela era pesada, com um chocalhar metálico vindo do interior. Era um aparelho de algum tipo? Deus, por favor, não deixe ser algum brinquedo sexual bizarro. “Eu não tenho que deixá-la intrometer-se nos detalhes de minha vida privada.”
“Aham.” Kimmie deu-me um olhar cético. “Espere até que Vanessa volte do almoço. Sua privacidade durará aproximadamente tanto quanto o tempo que um cubo de gelo em Brownsville.”
Não foi nenhuma surpresa, é claro, quando Vanessa veio direto para meu cubículo quando ela voltou. Ela estava vestida em uma saia de um terno de um branco imaculado, com uma blusa rosa gelo que combinava com suas unhas e lábios delicadamente encobertos. Eu fiquei tensa quando ela meio que sentou na beirada da mesa, olhando para baixo para mim.
“Nós tivemos um visitante enquanto você estava fora,” ela comentou com um sorriso. “Aparentemente você e o Sr. Cates ficaram amigáveis.”
“Eu sou amigável com todos os inquilinos,” eu disse.
Ela olhou divertida. “Quantos deles trocaram presentes com você, Haven?”
Eu olhei para ela sem pestanejar. “Sr. Cates e eu não estamos trocando presentes.”
“Então o que é isso?” Ela apontou para a caixa ao lado da minha mesa.
“Eu suponho que é um gesto de agradecimento. Por que eu recomendei o decorador de interiores.”
“Você supõe?” Ela sorriu suavemente. “Bem, vamos parar as suposições e descobrir o que é.”
Eu lutei para manter o desespero de minha voz. “Eu estou muito ocupada para lidar com isso agora. Eu tenho um monte de—”
“Oh, sempre há tempo para presentes,” Vanessa disse brilhantemente. “Vá em frente, Haven. Abra isso.”
Silenciosamente eu a amaldiçoei, a mim mesma, e acima de tudo Hardy Cates por colocar-me nessa posição. Alcançando a caixa, eu a ergui para meu colo. Ao primeiro som
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de papel rasgando, outros empregados, incluindo Kimmie, Rob e Phill, apareceram na entrada do cubículo. Eu agora tinha uma plateia.
“Hei,” Kimmie disse com um sorriso, “você está finalmente abrindo aquela coisa.”
Severamente eu rasguei o embrulho, amassando-o e depositando-o no lixo. O presente, o que quer que ele fosse, estava dentro de uma caixa inócuo. Se fosse alguma coisa constrangedora, eu pensei, eu ia matar Hardy Cates em uma hora. Segurando minha respiração, eu levantei a tampa e vi um estojo rosa resistente moldado em plástico. Havia uma etiqueta amarrada a alça, com umas poucas palavras:
Espero que isso venha ser útil.
– H
“É algo para banho?” Kimmie instigou. “Maquiagem? Joia?”
“Joia, em uma caixa desse tamanho?” Eu soltei as travas de prata.
“Isso é o Texas,” Kimmie disse razoavelmente.
“Vá em frente,” Vanessa instigou, quando eu hesitei antes de levantar a tampa.
Antes que eu pudesse parar a mim mesma, um enorme, irreprimível sorriso espalhou-se por todo meu rosto quando eu abri o estojo. Era um kit de ferramentas completa com um martelo de cabo cor de rosa, uma fita métrica, uma chave de fendas, e um conjunto de chaves.
“Um kit de ferramentas?” Kimmie perguntou sem entender. “Bem. Isto é diferente.”
Mesmo Vanessa pareceu desapontada. Sem dúvida ela tinha estado esperando por algo escandaloso ou comprometedor, ou pelo menos caro. Mas um kit de ferramentas como presente era dificilmente algo para indicar um caso quente.
Infelizmente no meu caso, isso era mais eficaz do que um caminhão carregado de diamantes. Isso sugeria que Hardy Cates me entendeu, me pegando, de um modo que nenhum homem jamais tinha. Nem mesmo Nick. Isso me assustou quase tanto quanto me agradou.
Vanessa ficou na minha mesa até que todos os outros tinham voltado ao trabalho. Eu podia sentir seu olhar na parte de trás da minha cabeça. Eu a ignorei, cegamente estudando minha tela do laptop.
“Você realmente é ruim com homens, não é?” Eu a ouvi dizer em um tom baixo para que ninguém mais pudesse ouvir. “Eu poderia ter conseguido que ele me desse algo muito melhor do que aquilo.”
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Eu convenci a mim mesma que a única coisa decente a fazer era agradecer a Hardy pelo presente. Então eu fui até seu apartamento depois do jantar naquela noite, esperando que ele não estivesse. Meu plano era deixar uma garrafa de vinho e uma nota na soleira da porta, e evitar qualquer contato com ele.
Mas quando eu saí do elevador no décimo oitavo andar, eu vi Hardy esmurrando a combinação do código na porta fechada. Ele tinha acabado de terminar um exercício—ele devia ter ido ao centro de educação física no sexto andar—e ele estava usando calças de moletom e uma camiseta úmida que se agarrava a cada linha de seu corpo. Ele estava em forma, mas não musculoso, apenas...poderoso. Rasgado. Eu podia ver as reentrâncias de todos os músculos de suas costas. Seu bíceps tensionadas nas mangas da sua camisa. O cabelo na parte de trás de seu pescoço estava encharcado de suor. Um brilho pelo esforço cobria sua pele.
Ele era uma grande, energia masculina, e eu podia quase cheirar o sal, o suor fresco e a pele quente de onde eu estava. Eu senti a confusão, contrapondo-se a força de tração de repulsa e desejo. Eu queria saboreá-lo. Eu queria colocar minha boca nele, qualquer parte dele. Eu também queria correr tão rápido quanto possível na direção oposta.
Eu consegui sorrir, segurando a garrafa de vinho contra minha frente, quando ele se virou para olhar para mim sobre seu ombro.
“Ei,” ele disse suavemente, seu olhar travando em mim.
“Ei.” Pareceu levar um absurdamente longo tempo para chegar a ele, como se o corredor tivesse se tornado uma correia transportadora se movendo em direção opostas. Quando eu finalmente cheguei, eu estendi a garrafa de vinho em um estranho movimento. “Obrigada,” eu disse. “Pelo presente. Eu o amei.” Ele empurrou a porta aberta.
“Entre.”
“Não, obrigada, eu apenas queria dar a você isso—” Nossos dedos tocaram-se quando ele pegou a garrafa de mim, e eu puxei rapidamente minha mão para trás.
Ele pareceu divertido, uma centelha de desafio em seus olhos. “Você não quer ver como a decoração de Todd acabou?”
“Eu...sim, eu imagino que eu poderia entrar um minuto.” Eu segui Hardy para dentro do apartamento. Ele acendeu as luzes, e eu quase engasguei com a mudança do lugar. Ele tinha sido transformado em um rústico, mas sofisticado refúgio. Os tons de terra opulentos da madeira e estofados opostos à linha abundante das janelas. Os móveis tinham sido mantidos a um mínimo, umas poucas peças em grandes dimensões confortáveis, incluindo um sofá fundo e cadeiras e um baixo, plano pufe estofado em couro cor de caramelo. Uns três painéis de pinturas estilizados que descreviam a movimentação do gado tinham sido construídos em uma parede. Perfeito.
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“Seja o que for que você pagou a Todd,” eu disse, “valeu a pena.”
“Isto é o que ele me disse.” Hardy olhou para a garrafa apreciativamente. “Napa. Um vinho da montanha. Eu gosto destes, especialmente os de um litro e seiscentos.”
“Você alguma vez acabou indo para uma degustação de vinho?”, eu perguntei, corando quando eu me lembrei como ele tinha içado-me até a mesa de vinhos na adega e ficado entre minhas—
“Algumas.” Hardy colocou a garrafa sobre o balcão. “Eu aprendi um pouco aqui e ali. Nunca tive retro-olfato19, no entanto.”
“É muito sutil. Às vezes ajuda se você segurar o vinho em sua boca e deixá-lo aquecer a temperatura de seu corpo...” Enquanto Hardy de aproximava, eu completamente esqueci o que eu estava dizendo. Meu olhar foi para a pele bronzeada de sua garganta, a cavidade úmida na base da mesma.
“Então...,” eu disse, “Eu preciso ir. Eu vou deixar você tomar seu banho agora.” A ideia dele nu, com água quente correndo sobre sua carne firme, toda essa energia comprimida, desgastou minha compostura ainda mais.
“Você não viu o resto do apartamento,” ele disse.
“Eu tenho certeza que está ótimo.”
“Você devia ver o quarto, pelo menos.”
Eu vi uma dança travessa em seus olhos. Ele estava me testando. “Não, obrigada.”
Hardy inclinou-se sobre mim, todo músculos e hormônios, apoiando a mão na parede. “Alguém já disse a você”, ele perguntou através da conversa, “que seus olhos são da exata cor de Dr. Pepper20?”
Eu ri, desarmada. “Você consegue ir longe com conversas como estas?”
Ele pareceu saborear a minha diversão. “Longe o suficiente, com a mulher certa.”
“Eu não sou a mulher certa.”
“Você e Todd... você são amigos há um longo tempo?” Eu assenti.
“Desde o ensino médio.”
Uma franzir de cenho teceu-se entre suas escuras sobrancelhas. “Você já saiu com ele?”
19 Habilidade de sentir os cheiros do vinho. 20 Tipo de refrigerante.
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“Você quer dizer em um namoro? Não.”
Sua expressão clareou, como se minha resposta confirmasse algo sobre o que ele tinha estado pensando. “Ele é gay, então.”
“Bem, não. Todd é classificado como ‘vale tudo’. Ele tem relacionamentos com homens e mulheres. Ele está aberto a qualquer possibilidade, porque para ele o lado exterior de uma pessoa é apenas embalagem. É um ponto bem esclarecido de visão quando você pensa sobre ele.”
“Eu não sou esclarecido,” Hardy disse categoricamente. “Eu só estou interessado em embalagens que incluam seios.” E seu olhar abaixou brevemente para meu peito com um interesse que eu achei um tanto injustificado, considerando minha falta de volume. Ele olhou de volta dentro dos meus olhos. “Haven, há essa coisa que eu tenho amanhã a noite...eles estão reabrindo o teatro—”
“O Harrisburg?” O teatro de renome nacional que havia passado por uma reforma durante um ano depois que o nível subterrâneo tinha sido destruído pelas águas da enchente. A reabertura seria com a presença dos locais e celebridades nacionais, para não mencionar a elite política e social do Texas. “Eu vou com Todd.”
“Um dos meus sócios fez uma doação em nome de nossa companhia. Então eu estou amarrado nisso.”
Eu tinha a impressão que Hardy tinha estado prestes a pedir-me para ir com ele. Como em um encontro. Eu senti-me quente e sufocada com o pensamento. Eu não estava pronta para um encontro com ninguém, muito menos ele. “Talvez nós vejamos um ao outro lá.” Eu tentei soar alegre. “Mas se não acontecer de nós cruzarmos nossos caminhos... tenha uma grande noite.”
“Você também.”
“Ok. Vejo você mais tarde.” Eu virei e atrapalhei-me na maçaneta. Ele chegou em torno de mim e agarrou ela.
“Deixe-me ver isso para você.”
Eu esperei com impaciente pânico, pronta para fugir. Mas Hardy fez uma pausa antes de abrir a porta.
“Haven,” ele esperou até que eu virei na direção dele, a parte da frente de meu corpo alinhada com o dele, mas não exatamente nos tocando. A consciência entre nós era tão intensa que eu quase podia sentir a pressão dele contra minha pele, a dureza e o peso dele. Eu não podia deixar de pensar como o sexo com ele seria, se ele iria destruir e ferir, se ele seria gentil.
E então eu perguntei-me se ele já tinha batido em uma mulher.
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De alguma forma eu não podia imaginar isso, aquelas poderosas mãos infligindo danos em alguém mais vulnerável do que ele mesmo, rompendo veias, deixando hematomas. Mas Nick tinha me ensinado que as coisas inimagináveis eram possíveis.
Quando eu reunisse a coragem para tentar de novo, não seria com uma criatura excessivamente masculina. Mas talvez isso fosse parte da atração, o conhecimento lá no fundo que os sentimentos reais, ligação real, podia nunca acontecer com Hardy.
Eu olhei dentro de seus olhos, hipnotizada pelo azulado. Mesmo sabendo o quão errado isso fosse, eu queria derreter-me nele, apenas achatar a mim mesma contra essa grande, robusta forma e...deixar-me ir. Respirar. Confiar.
“Espere,” ele disse suavemente, “e divida o vinho comigo.”
“Você...você precisa tomar banho.”
Um sorriso lento atravessou sua boca. “Você pode dividir o chuveiro também.”
“Certo,” eu disse sombriamente, enquanto minha mente se enchia com visões de pele masculina ensaboada e água alisando os músculos. “Até parece.”
Hardy abriu a porta e deixou-me escapar. “Teria sido divertido,” ele chamou atrás de mim quando eu desci para o hall.
Eu tive que esconder um sorriso, não ousando olhar para trás.
Depois disso eu senti-me inquieta a noite inteira, meu sono rompido com sonhos, e de manhã eu acordei dolorida e temperamental. Eu percebi que cada encontro que eu tive com Hardy Cates estava começando a parecer como preliminares.
“Aventura estelar,” era o tema da noite, dando destaque a cantores e músicos, todos retribuindo a homenagem para os irmãos Gershwin. Pelo menos quinhentas pessoas rodando em círculos através da construção enquanto a alegre, música de jazz enchia o ar. Gershwin foi uma escolha perfeita para a noite.
O Harrisburg de fato constitui-se de duas etapas, o andar um, aproximadamente quatro pavimentos de altura, um grande teatro proscênio21 tradicional para a produção de espetáculos. Mas o teatro mais baixo era o que eu achei mais interessante. Ele era uma fase modular com um chão segmentado, cada seção montada em sua própria, independente de pistões pneumáticos. Dessa forma o piso podia ser configurado em qualquer formato que a produção exigisse. As paredes eram segmentadas também, permitindo uma infinidade de possibilidade de projetos.
21 Parte anterior de um palco, que avança desde a boca de cena até seu limite de separação da plateia
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Embora eu estivesse imune a Todd em qualquer sentido romântico, eu gostava de vê-lo em um smoking. A julgar pelos olhares que ele recebeu, muitas outras pessoas também. Ele estava elegante e felino, o smoking pendurado com elegante folga em seu corpo magro.
Todd tinha me levado às compras e escolhido meu vestido, uma vestido longo preto, simples com decote em forma de V com gola boba e alças de veludo preto. A frente relativamente modesta, mas as costas desciam tão profundamente que eu não podia usar nada por baixo.
“Essa é a coisa boa acerca de não ter seios grandes.” Todd tinha me dito. “Você não precisa de um sutiã para parecer atrevida.”
“Eu não estou preocupada com a frente,” eu disse. “Ou parecer atrevida. O que me preocupa é que eu estou sentindo a brisa em lugares onde o sol não costuma bater.”
Mas Todd havia inspecionado minha retaguarda e assegurou-me que eu não estava revelando qualquer fenda posterior. Nada iria aparecer, ele disse, desde que ninguém estivesse em pé sobre mim e olhasse diretamente para minhas costas abaixo.
Como eu tinha esperado, a maioria da minha família estava lá, incluindo Papai, Liberty e todos os três de meus irmãos. Liberty parecia deslumbrante em um vestido de seda vermelho, o tecido brilhante drapeado e trançado todo ao redor de seu corpo.
“Eu não posso parar de olhar sua esposa,” Todd disse para Gage. “É como olhar dentro do fogo.”
Gage sorriu, passando o braço em volta de Liberty. Então a banda começou a tocar “Embraceable You22”, e Liberty olhou para cima para ele. “Você quer dançar,” Gage disse, interpretado o seu melhor olhar expectante, e ela assentiu. Ele tomou sua mão e murmurou, “Então, vamos,” um tom baixo que a fez corar. Seus dedos firmemente emaranhados quando ele a levou para longe.
“Ela tem você bem treinado, menino,” Todd disse depois a eles, e sentou-se ao lado de Jack e eu. Do outro lado da mesa, um desfile interminável de pessoas veio prestar homenagem para Papai.
“Ela é boa para ele,” Jack comentou, observando Liberty dançar com seu irmão. “Ele tem relaxado muito desde que eles estão casados. E eu nunca pensei que veria Gage tão louco por alguém.”
Eu olhei para Jack. “Será dessa maneira para você também. Algum dia você encontrará alguém, e você se sentirá como se você tivesse sido atingido na cabeça com uma tábua”.
22 É uma canção popular, com música de George Gershwin e letra de Ira Gershwin.
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“Eu sinto isso todo o sábado à noite,” Jack informou-me.
“Seus namoros são quentes,” Todd disse enquanto a namorada-de-um-dia de Jack fez seu caminho para a nossa mesa, de volta do ambiente das senhoritas. “Qual é seu nome? É Heidi?”
Jack empalideceu. “Não. Deus, por favor, não chame ela disso. Esta é Lola. Ela e Heidi tiveram uma luta de gatas pública na última semana.”
“Uma o quê?” Eu perguntei, e rolei meus olhos quando eu vi o olhar de culpa no rosto de meu irmão. “Não se preocupe. Eu não quero saber.”
“Há alguma coisa mais que você provavelmente não quer saber,” Todd disse-me.
Em resposta ao meu olhar, ele meneou a cabeça em direção ao outro lado da mesa, onde meu Pai ainda estava presidindo sua corte. Meu coração apertou quando eu vi Hardy Cates em pé ali, apertando as mãos com ele. Hardy não usava um smoking como um débil aristocrata, mas sim com a vaga impaciência de alguém que preferia estar tendo alguma fria com os garotos. Controlado e contido em uma roupa civilizada, ele parecia mais uma força da natureza do que nunca.
Meu pai estava olhando para ele com olhos estreitos de interesse. Como de costume, ele era tão sutil quanto uma picareta. E como de costume, todo mundo prendeu sua respiração quando ele falou. “Você pretende se meter com os Travis?” Meu pai pediu em um tom de amável interesse. “Você está tentado colocar algo sobre nós?”
Hardy reuniu seu olhar de frente, um jovem canalha avaliando um velho canalha, sem nenhum respeito. “Não, Senhor.”
“Então por que você assumiu viver em meu edifício?”
Um leve sorriso alcançou os lábios de Hardy. “Travis não são os únicos que querem uma vista do andar de cima.”
Eu não tinha que olhar para o rosto do meu pai para saber que ele adorou isso. Amou isso. Por outro lado, ele não era alguém de esquecer velhas contas. “Tudo bem,” ele disse para Hardy. “Você prestou seu respeito ao grande homem, você pode ir adiante agora.”
“Obrigada. Mas você não é o Travis que eu vim ver.”
E Hardy olhou para mim.
Eu estava sendo perseguida, mesmo em frente a minha família. Eu atirei a Todd um rápido, desesperado olhar, implorando silenciosamente por ajuda. Mas ele estava adorando o espetáculo de forma demasiada.
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Enquanto o olhar coletivo do clã Travis focou-se em mim, eu olhei de volta para Hardy. E em um tom tão normal quanto eu consegui administrar, eu disse, “Olá, Sr. Cates. Você está tendo uma boa noite?”
“Esperando ter.”
Um mundo de perigos espreitou naquelas duas palavras. “Ei, Cates,” Jack disse em pé, batendo com a palma da mão no ombro de Hardy. “O que você acha de ir pegar uma cerveja no bar?”
Hardy não se moveu. “Não, obrigada.”
“É comigo. Eu insisto.”
Como se as coisas não estivessem suficientemente ruins, Gage e Liberty voltaram à mesa. E Gage, que era mais do que um pouco territorial onde o assunto era sua esposa, fixou Hardy com um olhar que prometeu morte.
Liberty agarrou a mão de Gage e apertou ela firmemente. “Hardy,” ela disse com um relaxado sorriso, “faz um longo tempo. Como você está?”
“Ótimo. E você?”
“Maravilhosa,” ela disse. “Nós temos um menino agora, Matthew.”
“Eu ouvi sobre isso. Parabéns.”
Gage olhou para Hardy de uma maneira que levantou os pelos do meu braço. “O que você quer?” ele perguntou calmamente.
O olhar de Hardy se voltou para mim, e manteve-se, quando ele respondeu. “Eu quero dançar com sua irmã.”
Antes que eu pudesse responder, Gage disse. “Sem chance.”
E Jack disse quase simultaneamente, “Eu acho que não.”
Meu pai olhou para mim do outro lado da mesa e ergueu as sobrancelhas.
E meu irmão Joe escolheu aquele momento para vir até atrás de minha cadeira e descansou uma mão no meu ombro.
“Nós temos um problema?” ele perguntou para ninguém em particular.
Eu me senti sufocada por eles, os homens em minha família, que estavam tão determinados em proteger-me que eles não estavam nem mesmo considerando minha opinião sobre o assunto. Eu me afastei da mão de Joe. “Não há problema,” eu disse a ele. “Sr. Cates apenas me pediu para dançar. E eu vou—”
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“De jeito nenhum,” Joe disse, colocando sua mão de volta em meu ombro. Irritada eu bati meu cotovelo no lado dele. “Eu não pedi por sua opinião”.
“Talvez você devesse,” Joe murmurou, dando-me um duro olhar. “Preciso falar com você, Haven.”
“Mais tarde,” eu disse, mortificada. Nós estávamos fazendo uma cena. As pessoas estavam olhando.
“Agora,” Joe insistiu.
Eu olhei para ele incrédula. “Pelo amor de Deus,” eu disse, “mesmo para uma família de loucos maníacos por controle do Texas, isso é ridículo.”
Hardy tinha começado uma carranca. “Enquanto você tem uma reunião do comitê para decidir se você está autorizada a dançar,” ele disse-me, “Eu estarei no bar.”
Ele vagueou embora enquanto eu olhava para Joe, que era geralmente o irmão menos interferente.
É claro, isso não dizia muito. Mas mesmo assim.
“Desculpem-nos,” Joe disse para o resto dos Travis, e ele me conduziu para longe da mesa.
“O que está acontecendo?” Eu exigi num sussurro tenso quando nós serpenteamos em meio à multidão. “Por que é assim uma grande coisa se eu dançar com Hardy Cates?”
“O cara é problema,” Joe disse calmamente, “e todo mundo sabe disso. Com todos os homens aqui para escolher, por que lhe dar um segundo pensamento? É isso, você está determinada a pressionar toda família?”
“Notícias de última hora, Joe: existem algumas coisas na vida que eu tenho que decidir sem levar em consideração a pressão da família.”
“Você está certa,” ele admitiu depois de um momento. “Mas eu ainda não vou ficar quieto se eu ver você andando em direção a outro buraco no chão. Não se há uma chance que eu possa parar você de cair nele.”
“Seja o que for que eu faça ou não faça com Hardy Cates, isso é negócio meu,” eu disse. “Eu lidarei com as consequências.”
“Bem. Desde que você entenda que as chances de ser exposta e usada são altas.”
Eu olhei para ele afiadamente. “Por que você diz isso?”
“Dois anos atrás, não muito tempo depois que você se casou, eu fui chamado para tirar umas fotografias para uma composição da Texas Monthly que eles fizeram a respeito de Cates. A seu pedido. Eu passei a maior parte do dia com ele. Nós falamos sobre um
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monte de coisas, mas o que eu percebi, perto do final da sessão de fotos, foi que cada fio da conversa levou de volta para uma única pessoa...ele continuava a fazer perguntas, cavando informações, querendo detalhes particulares...”
“Sobre Liberty,” eu murmurei.
“Inferno, não, nenhuma sobre Liberty. Sobre você.”
“O quê?” Eu perguntei baixinho.
“Ele disse que vocês dois tinha se conhecido no casamento.”
Meu coração pareceu parar. “Ele disse como para você?”
“Não, mas isso causou uma boa impressão sobre ele, para dizer o mínimo. Então eu deixei claro que você estava fora dos limites. Disse a ele que você era casada. E isso não pareceu importar para ele nenhum maldito bocado. Ele ainda queria saber mais. Eu tive um mau pressentimento sobre isso, mesmo assim.” Joe parou e olhou para baixo para mim com os olhos do mesmo marrom escuro igual aos meus. “E agora você está saindo de um divórcio, e vulnerável, e ele está atrás de você.”
“Ele não está atrás de mim, ele apenas me convidou para dançar.”
“Ele está atrás de você,” Joe repetiu firmemente. “De todas as mulheres neste salão, você é a única que ele se dirigiu. Por que você acha que é, Haven?”
Uma onda de frio passou por mim. Merda. Talvez eu fosse a mulher do Astrodome de novo. Talvez minha atração por Hardy era uma forma de masoquismo autodestrutivo.
“Ele tem algum tipo de plano,” Joe disse. “Ele quer deixar sua marca, dar o troco nos Travis, conseguir alguma coisa de nós. E ele não terá problema em usar você para fazer isso. Porque ele descobriu que não há nada mais excitante para você do que um cara que sua família não aprova.”
“Isso não é verdade,” eu protestei.
“Eu acho que é.” Joe arrastou a mão pelos cabelos, parecendo exasperado. “Pelo amor de Deus, Haven, ache outra pessoa. Você quer conhecer caras, eu conheço uma tonelada—”
“Não,” eu disse de mau humor. “Eu não quero conhecer ninguém.”
“Então vamos voltar para a mesa.”
Eu balancei minha cabeça. A ideia de retornar para a mesa de minha família como uma criança repreendida era insuportável. “Você quer dançar?” pediu Joe.
Isso provocou um sorriso relutante em mim. “Com meu irmão? Não, isso seria muito patético. Além disso, você odeia dançar.”
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“Verdade,” Joe disse, parecendo aliviado.
“Eu estou indo ao banheiro feminino verificar minha maquiagem,” eu disse, “Eu estarei de volta à mesa em poucos minutos.”
Depois que Joe deixou-me, eu vaguei inconsolavelmente através da sala. Obviamente eu não devia ter ido para a abertura do teatro. Eu devia ter ficado em casa. Eu precisava pensar acerca das coisas, incluindo a questão do por quê, apesar do meu bom senso e da convicção de minha família de que isso era um erro, eu ainda estava atraída por Hardy Cates.
Mas antes que eu estivesse até mesmo ciente do que eu estava fazendo, eu tinha ido ao bar.
Era tão fácil localizar a altura de Hardy, sua forma esguia. Ele estava meio encostado no bar, um copo balançava em sua mão. Parecia que ele estava falando com alguém, apesar de seu ombro bloquear a visão. Eu me aproximei à ele hesitantemente, minha cabeça inclinando um pouco enquanto eu tentava obter uma visão de seu companheiro.
Ele estava falando com uma mulher. Naturalmente. Era inconcebível que um homem com sua aparência não atrairia atenção feminina. A mulher era magra e peituda, em um vestido dourado cintilante. Isso tudo, junto com seu longo cabelo louro claro, fazia ela parecer com uma estatueta de premiação.
Eu enrijeci quando eu vi seu rosto.
“Oi, Vanessa,” eu disse fracamente.
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10
Vanessa Flint deu-me um olhar que eu estava familiarizada com, aquele único que dizia que ela não queria ser interrompida. Mas sua voz era calorosa e amigável. “Haven, que bom ver você aqui! Você está se divertindo?”
“Palavras não podem descrever,” eu disse. Esta apenas não era minha noite. De todas as pessoas para ficar com Hardy, tinha que ser minha chefe do inferno. O destino estava tentando mostrar-me que isso não ia funcionar em qualquer nível.
Hardy pôs seu copo sobre o bar. “Haven—”
“Olá, Sr. Cates”, disse friamente. “Tenham uma boa noite, vocês dois. Eu já estava saindo.”
Sem dar a Vanessa ou Hardy uma chance para reagir, eu me virei e empurrei-me através da multidão. Náuseas e o rosto branco com fúria, eu sabia que minha família estava absolutamente certa sobre Hardy. Ele era problema que eu não precisava.
Eu estava aproximadamente na metade da travessia quando eu percebi que ele veio atrás de mim, seu toque em meu braço. Eu fiquei rígida e virei para encará-lo. Seu rosto era tão duro quanto granito.
“Volte para Vanessa,” eu disse para ele. “Se ela achar que eu levei você para longe dela, eu estarei limpando o chão do escritório semana que vem.”
“Eu não estava com ela, eu estava bebendo uma bebida. Eu suponho que deveria esperar em um canto sozinho enquanto você estava tentando decidir sua opinião sobre mim?”
“Não em um canto.” Eu olhei para ele. “Mas você poderia esperar pelo menos cinco minutos antes de encontrar uma substituição.”
“Ela não era uma substituição. Eu estava esperando por você. E isso levou de você um inferno de muito mais de cinco minutos para decidir se você queria dançar comigo. Eu não vou aguentar essa merda de você ou sua família, Haven.”
“Depois de como você se comportou no passado, o que você espera? Flores e um desfile? Eles têm todo o direito de desconfiar de seus motivos.”
“E sobre você? Quais você acha que são meus motivos?”
“Eu não acho que você quer que eu responda isso em frente de todas estas pessoas.”
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“Então nós iremos para algum lugar privado,” ele disse através de dentes cerrados. “Porque eu vou ter uma resposta, por Deus.”
“Bem.” Minha mente ficou em branco, congelando em puro pânico, quando eu senti ele tocar meu pulso. A última vez que tinha sido tocada por um homem irritado, eu tinha acabado no hospital. Mas seu aperto, firme como ele foi, não era doloroso. Eu obriguei-me a relaxar e ir junto com ele enquanto ele conduzia-me através da multidão.
A cantora estava cantarolando “Tempo de verão”, uma melodia sombria, temperamental, ondulando através do ar como fumaça.
Eu fiquei em um atordoamento quando nós fizemos nosso caminho pela sala, além do esmagamento do saguão. Nós alcançamos um conjunto de portas, no entanto nós fomos obrigados a parar quando alguém pisou em nosso caminho. Gage. Seus olhos cintilaram como um relâmpago engarrafado quando ele olhou sobre nós dois, não perdendo nenhum detalhe, incluindo a forma como Hardy estava segurando meu pulso.
“Você precisa de mim?” Gage perguntou-me calmamente.
Hardy parecia como se ele estivesse pronto para cometer assassinato. “Ela está bem,” ele disse.
Meu irmão não prestou atenção a isso, somente manteve seu olhar em mim. Eu senti uma onda de gratidão por ele, compreendendo quão difícil isso era para ele deixar-me sair com um homem que ele desprezava. Mas Gage sabia que era minha escolha. Ele estaria lá para oferecer ajuda somente se eu quisesse isso.
“Está tudo bem,” eu disse a ele. “Eu não preciso de nada.”
Meu irmão assentiu, embora fosse óbvio que ele estava lutando para não interferir. Quando nós o deixamos, pareceu como se ele estivesse observando-me caminhar com o próprio Lúcifer. Eu sabia que Gage estava com medo por mim. Ele não confiava em Hardy Cates.
Tampouco eu, pensando nisso.
Hardy empurrou-me para passar o conjunto de portas, e em torno de um canto, penetrando mais fundo no edifício até que nós finalmente paramos em algum tipo de escada de manutenção, que cheirava a concreto e metal e mofo de umidade. Era quieto exceto por um som de gotejamento, e os quebrados ritmos de nossa respiração. A luz de algum lugar a cima derramava uma incerta florescência sobre nós.
Hardy encarou-me, parecendo enorme e escuro contra um fundo de concreto. “Agora,” ele disse bruscamente, “diga-me o que você não diria lá atrás.”
Eu deixei ele ter isso. “Eu acho que se eu fosse qualquer uma exceto uma Travis, você não me daria uma hora de seu dia. Eu acho que você quer mostrar para meu irmão
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Gage que se ele conseguiu Liberty, você vai retribuir para ele dormindo com sua irmã. Eu acho que você tem mais apontamentos escondidos do que você pode admitir para si mesmo. Eu acho—”
Eu parei com um suspiro quando ele agarrou-me. Um sentimento selvagem bombeou através de mim, uma mistura de medo e raiva e, inacreditavelmente, a excitação.
“Errado,” ele cuspiu, seu pesado e tostado sotaque com desprezo. “Eu não sou tão complicado, Haven. A verdade é, eu queria você desde que eu a encontrei naquela maldita adega. Porque eu obtive a maior carga elétrica nestes cinco minutos do que eu tive com qualquer outra mulher antes ou depois. Não há nenhum plano secreto contra sua família, Haven. Nenhuma ordem do dia. Pura e simples, eu estou apenas interessado em espremer seus miolos.”
Meu rosto ficou rígido com ofendida perplexidade. Antes que eu conseguisse uma sequência de poucas sílabas coerentes juntas, Hardy beijou-me. Eu empurrei para ele, e sua boca ergueu-se, e ele murmurou alguma coisa que soou obscena, mas eu não consegui ouvi-lo completamente sob a agitação do pulsar em meus ouvidos.
Ele tomou minha cabeça em ambas as suas mãos, seus dedos moldando-se ao redor do meu rosto. Seus lábios encontraram os meus novamente. O sabor e o calor dele eram insuportavelmente doces quando sua língua se afundou em minha boca. O prazer dele foi gritando através de mim, a fome marcante contra fome equivalente, criando fogo. Eu me expus para ele, tremendo tão duro que eu mal podia ficar em pé. Seu braço foi ao redor de mim, protegendo minhas costas da fria pressão de concreto, a outra mão alcançou a frente de meu corpo. Eu o beijei de volta, lambendo o interior de sua boca do jeito que ele estava fazendo com a minha. Eu estava parecendo muito, perdendo o controle.
Sua boca separou-se da minha, mais ou menos procurando o lado do meu pescoço. O raspar de sua mandíbula barbeada enviou ferrolhos de prazer para baixo em meu estômago. Eu o ouvi murmurar algo no sentido de que depois de ir para uma faculdade chique, eu devia ao menos ser esperta o suficiente para saber quando um homem queria ir para cama comigo. Exceto que ele disse isso mais cruamente.
“Eu não sou um cavalheiro,” ele prosseguiu, agarrando meu corpo, sua respiração quente sobre minha pele. “Eu não posso conseguir você sobre a cama com palavras extravagantes e boas maneiras. Tudo o que eu posso dizer é que eu quero você mais do que eu sempre quis uma mulher. Eu quebraria qualquer lei para ter você. Se você tivesse ido comigo naquela noite que nós nos conhecemos, eu teria levado você para Galveston e manteria você lá por uma semana. E eu me asseguraria de que você nunca quisesse sair.”
Quando o braço por trás me apertou para arquear o tronco para cima, eu percebi que ele tinha puxado o lado do meu vestido até que meu peito ficou nu. Ele pegou o baixo peso, seu polegar estimulando a ponta até que ele estava teso e rosado, e então ele inclinou-se para tocá-lo com sua língua. Eu levantei, ofegante, enquanto ele beijava o ereto
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mamilo, selando sua boca sobre a carne esticada. Ele puxava ritmadamente, enviando ondas de prazer através de mim, lambendo entre cada leve puxão. Eu segurei sua cabeça para mim, lágrimas picando nos cantos dos meus olhos porque isso parecia tão bom.
Ele moveu-se para cima e apertou sua boca na minha novamente, o beijo rico e viciante. “Deixe-me entrar em sua cama,” ele murmurou. “Eu darei isso a você de qualquer modo que você queira...longo, lento, difícil, fácil...Inferno, eu tentarei mesmo fazê-lo como um cavalheiro, se é isso o que desmonta você. Você acha que eu quero você porque você é uma Travis? Eu desejo que você seja alguém além de uma porra de Travis. Seu tipo de pessoa tem baixado o olhar para mim toda minha vida.”
“Eu nunca baixei o olhar para você,” eu retruquei, tremendo com frustração e desejo. “Se soubesse alguma coisa sobre mim, você nunca diria isso.”
“Então qual é o problema?” ele rosnou. “Seu ex-marido? Você ainda tem sentimentos por ele?”
“Não.” Minhas mãos trabalharam nas dobras das lapelas, dedos apertados no tecido lustroso.
“Diga-me que você não me quer. Diga-me, e eu deixarei você ao inferno sozinha.”
“Eu não sou boa nisso,” eu explodi. “Meu Deus, isso não é óbvio? Nick é o único homem com quem já dormi. Eu não consigo ser casual sobre isso.”
Eu nunca quis admitir isso. Mas eu estava indefesa, rompida, com medo que eu podia ser machucada pelo jeito que Hardy estava dando em cima de mim. Sexo e dor estavam todos misturados na minha cabeça.
Hardy ficou imóvel. Em um único mordaz momento, tudo mudou. Ele forçou meu rosto para cima, sua mão escavou a parte de trás de minha cabeça. Seus olhos eram azuis mesmo na escuridão quando ele fitou-me. Lentamente seu aperto suavizou, transformando-se em proteção, sua mão livre afagando com tapinhas na parte superior da carne do meu braço. Eu percebi que ele ficou atordoado. Isso não tinha ocorrido a ele, que eu poderia ser inexperiente para saber como jogar o jogo.
“Haven...” A nova suavidade em sua voz fez-me tremer até pior. “Eu não sabia. Eu pensei—”
“Que eu sou uma pirralha mimada do Rio Oaks? Uma esnobe—”
“Cale-se.”
“Mas eu—”
“Cale-se.”
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Eu caí no silêncio e deixei ele me abraçar. Eu fui absorvida em seu abraço, apertada contra esse duro peito. Parte de mim queria escapar. A outra parte ansiava por isso, sendo segurada, sendo tocada. Ele acariciou meu cabelo, as pontas dos dedos movendo-se suavemente sobre a curva de meu couro cabeludo. Eu senti algo tomando forma, alguma tensão interna dissolvendo-se.
Nós oscilamos um pouco enquanto estávamos juntos, como se a sensação fosse de uma corrente oceânica empurrando-se contra nós. Hardy aninhou-se em meu pescoço. Eu torci-me para encontrar sua boca, e ele deu-me o que eu queria, beijando-me com a lentidão faminta até que eu fiquei fraca e tonta. Seu braço era forte ao redor de mim, embalando e suportando. Com sua mão livre, ele apertou seus dedos dentro das dobras soltas do meu vestido, facilitando o tecido de malha para cima.
Eu pulei quando sua mão apertou meu quadril nu. Ele beijou minha garganta e disse coisas que eu apenas ouvi a metade, carinhos, garantias, acalmando-me enquanto ele separava minhas coxas. Ele tocou-me, abrindo-as ternamente, uma das pontas dos dedos moveu-se sobre a carne em camadas em provocantes círculos, menores e menores até ele alcançar o centro. Eu contorci-me impotentemente enquanto ele acariciava aquele único ponto pulsante, mais e mais, e cada vez mais o calo de seu dedo cruzava a superfície molhada de meu clitóris. Um grito de prazer cresceu em minha garganta.
Eu derreti-me sobre ele, gemendo, enquanto a necessidade de sexo, a ser preenchido, pulsava inteiramente através de mim. Virando minha boca para a sua, eu o deixei beijar-me tão profundamente quanto ele queria, acolhendo o impulso agressivo de sua língua. Sua mão deixou-me, e ele alcançou o fecho de suas calças...e foi então que aconteceu o desastre.
Quando eu o senti tão grande e duro contra mim, todo o prazer desapareceu. Acabou...desapareceu. Repentinamente tudo que eu podia ver, ouvir, sentir, era aquela última vez com Nick, a dor intensa, o impulso brutal aliviado apenas pelo escorregado de meu próprio sangue. Minha garganta e estômago pulsaram com náusea, e o corpo masculino contra mim era revoltante, seu peso insuportável, e eu comecei a lutar sem pensar.
“Não,” eu respirei, torcendo-me para longe, empurrando-me firme dele. “Não. Eu não quero isso. Eu não quero isso. Eu—” Eu parei a mim mesma mordendo fortemente meu lábio, percebendo que minha voz estava crescendo em um eco áspero.
“O que foi?” Eu ouvi Hardy perguntar, sua respiração vindo em arquejos ásperos.
Eu estava tremendo, hostil, cada célula de meu corpo preparando-se para a autopreservação. “Deixe-me sozinha.” Eu estalei. “Tire suas mãos de cima de mim.” Eu atrapalhei-me com meu vestido, tentando colocá-lo no lugar, meus dedos tremendo violentamente.
“Haven—” Sua voz estava áspera. “Eu machuquei você? O que foi?”
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“Eu não vou transar em lugares públicos,” eu disse friamente, margeando em direção à porta. Se ele me tocasse novamente, eu desmoronaria...eu ficaria louca. “E eu não gosto de ser pressionada.”
“Como diabos eu estava pressionando você. Você quis isso.”
“Não se auto bajule, Hardy.”
Ele parecia corado e perigosamente excitado e irritado como o diabo. Lentamente ele começou a arrumar sua própria roupa. Quando ele falou novamente, sua voz era baixa e controlada. “Há uma palavra, Haven, para uma mulher que faz o que você está fazendo.”
“Eu tenho certeza que você sabe muitas palavras interessantes,” eu disse. “Talvez você deva ir dizê-las para outra pessoa.”
E antes que ele pudesse replicar, eu fugi pela escada como um fugitivo da prisão.
De algum modo eu encontrei uma forma de voltar para o teatro modular, o som de danças e risos rodando ao meu redor. Eu estava apavorada pela percepção do quanto estava tudo errado comigo, que eu não podia tolerar o ato de fazer sexo com um homem que eu estava atraída da mesma maneira. E eu fiquei humilhada pela forma que eu tinha acabado de me comportar. Hardy não tinha escolha senão pensar que eu era uma cadela, uma puta. Ele nunca iria querer ter algo comigo de novo. Esse tipo de pensamento me aliviou, mas ao mesmo tempo eu queria explodir em lágrimas.
Todd encontrou-me imediatamente. Ele estava falando com um cara no bar, seu olhar de lazer varrendo a sala, quando ele me viu entrar. Ele veio para mim, seu olhar focado em meu rosto pálido e lábios inchados dos beijos. “Você parece como se acabasse de transar com os Dallas Cowboys,” ele disse. “Primeira e segunda séries.”
“Por favor, você pode chamar um táxi?” eu sussurrei.
Preocupação aqueceu seus olhos azuis-esverdeados. “Eu te levarei para casa, querida. Aqui, confie em mim.”
Mas eu vacilei quando ele tentou colocar seu braço ao redor de meus ombros.
“Tudo bem,” Todd continuou agradavelmente, como se ele não tivesse notado minha reação bizarra, “por que você não toma meu braço, e vamos sair pela porta lateral?”
Ele me levou para o Principal 1800 em sua BMW Coupé, sem fazer perguntas, mantendo um silêncio confortável até que nós finalmente chegamos ao meu apartamento no sétimo andar. Ele tinha decorado ele com uma mistura eclética de mobília de lojas de antiguidades e um par de suas próprias peças atiradas. Cremes e brancos foram equilibrados com madeiras escuras desamparadas. E Todd tinha adicionado poucos
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toques de extravagantes, como cobrindo o interior do painel voltado para frente de minha porta com um antigo bambu de uma menina hula na tela.
Pegando um olhar de meu rosto miserável, Todd alcançou o Chenille23 verde atirado sobre o sofá e o envolveu em torno de mim. Eu aconcheguei-me no canto do sofá, tirando meus pés de volta para dar lugar para ele.
“Deve ter sido alguma dança,” Todd disse, desfazendo sua gravata borboleta. Ele a deixou solta de ambos os lados de seu pescoço, e relaxou no sofá ao meu lado, tão gracioso quanto um gato. “O que aconteceu?”
“Nós não dançamos,” eu disse desanimada.
“Oh?”
“Ele me levou para um canto escuro em algum lugar. Uma escada.”
“Meramente para meu vicariante prazer, diga-me...ele é bom?” Eu podia sentir meu rosto ir ao carmesim. “Tão bom assim?” Todd perguntou.
Uma risada trêmula escapou-me. Eu não estava certa se eu podia colocar isso em palavras. “Você sabe como quando alguém beija você, e você pode dizer que eles estão somente o fazendo como uma etapa para alguma outra coisa? Como eles estão apenas tentando comunicar-se com isso? Bem, Hardy beija como se isso fosse a única coisa no mundo que ele quer fazer. Cada beijo é como um ato sexual completo.” Eu fechei meus olhos por um segundo, lembrando-me. “E é um segurador de rosto.”
“Mmmn. Eu amo isso. Então, algum de seus irmãos encontrou vocês?”
“Não, fui eu. Eu estraguei tudo. Eu fiquei histérica no meio.”
Houve um longo silêncio. “Ficou histérica com? O que você...Haven, abaixe suas mãos e olhe para mim. Este é o Todd. Apenas diga isso.”
“Eu fiquei assustada. Mais do que assustada. Eu empurrei ele para longe e sai correndo de lá tão rápido quanto eu conseguia.”
“Assustada pelo quê?”
“Eu senti sua...você sabe, sua...”
Todd deu-me um olhar mordaz quando eu hesitei. “Ereção?” ele sugeriu. “Pau duro? Pacote? Barraca armada? Qual é, Haven, não vamos falar sobre isso como um par de adolescentes.”
23 Espécie de tecido usado em decoração.
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Eu fiz uma careta defensivamente. “Minhas conversas não costumam incluir o tema ereções.”
“Que pena,” ele disse. “Todas as melhores conversas fazem. Vá em frente, querida.”
Eu tomei uma respiração profunda. “Enquanto estávamos nos beijando, eu senti sua ereção, e todo o desejo apenas desapareceu. Puf. Depois do que eu passei com Nick, a sensação disso tem um monte de conotações ruins para mim.”
“Passou o quê?” ele perguntou calmamente. “Você nunca me contou. Embora eu tenha minhas suspeitas.”
“Na noite em que eu deixei Nick”—Eu desviei o olhar de Todd como se eu fosse dizer a mim mesma isso—“nós tivemos sexo bruto.”
“Sexo brutal?” Todd perguntou. “Ou estupro?”
“Eu não sei.” Eu estava me afogando em vergonha. “Eu quero dizer, nós éramos casados. Mas eu não queria fazer, e ele me forçou, então eu acho—”
“Foi estupro,” ele disse categoricamente. “Não importa se vocês são casados ou não. Se você não queria fazê-lo e alguém força você, é estupro. Puta merda, eu gostaria de matar aquele bastardo.” O rosto de Todd estava escuro com uma fúria que eu nunca tinha visto nele antes. No entanto quando ele olhou para mim, sua expressão mudou. “Haven, querida... você sabe que se uma mulher está pronta, excitada, isso não vai doer. Especialmente se o homem sabe o que ele está fazendo, o que eu não tenho nenhuma dúvida que Hardy sabe.”
“Sim, mas embora minha mente saiba disso, meu corpo não sabe. Assim, tão logo eu senti aquela coisa pressionando contra mim, eu não pude parar a mim mesma de entrar em um pânico cego. Eu me senti positivamente nauseada. Deus.” Eu enrolei-me mais apertada na Chenille verde como se fosse um casulo.
“Você não falou sobre essas coisas com sua terapeuta ainda?”
Eu balancei minha cabeça. “Nós ainda estamos trabalhando nas minhas questões de limites. E ela está de férias pelas próximas duas semanas, então eu terei que esperar até ela voltar para me ajudar a lidar com isso.”
“Sexo não é uma questão de limite?”
Eu fiz uma careta para ele. “Eu tinha um monte de coisas mais importantes para me preocupar sobre do que sexo.”
Todd abriu sua boca para replicar, pareceu pensar melhor sobre isso, e fechou de novo. Depois de um momento ele disse, “Então só quando as coisas estavam ficando quentes, você disse a Hardy para parar.”
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“Sim.” Eu descansei meu queixo sobre meus joelhos dobrados. “E eu... eu não fui muito boa sobre isso.”
“O que ele disse? Qual foi sua reação?”
“Ele não disse muita coisa. Mas eu poderia dizer que ele ficou puto.”
“Bem, sim, caras tendem a ficar bastante frustrados quando eles estão postos a secar, sexualmente falando. Mas o ponto é, Hardy não machucou você, certo? Ele não tentou fazer a você alguma coisa que você não queria?”
“Não.”
“Eu diria que isso significa que você está bastante segura com ele.”
“Eu não me senti segura.”
“Eu acho que nesse ponto, segurança não é um sentimento, é um processo. Iniciando com a confiança. Por que você não tenta contar a Hardy algumas das coisas que você me contou?”
“Ele não será capaz de lidar com isso. Eu sei que ele não irá. Ele estará dirigindo-se a porta de saída antes que eu possa mesmo terminar de contar a ele qual o caso perdido eu sou.”
“Você não é um caso perdido,” Todd disse calmamente, “e ele não é um covarde de merda, Haven. Eu acho que a razão para você ficar atraída por ele é que lá no fundo você sabe que ele pode lidar com qualquer coisa que você jogar para ele.”
“Mas e se ele não quiser fazer?”
“Aqui estão as suas opções: você pode dar a ele a oportunidade de um movimento de cowboy, ou você pode ir embora sem nunca descobrir. E então você terá que encarar esse mesmo negócio com o próximo cara que você se sentir atraída.”
“Ou...”
“Ou o quê?”
Eu umedeci meus lábios nervosamente. “Eu poderia praticar com você primeiro”.
Eu nunca tinha visto Todd ficar sem palavras antes. Mas seus olhos se arregalaram, e sua boca abriu e fechou, como um peixe, por pelo menos dez segundos. “Você está pedindo-me para ir para cama com você?” ele finalmente conseguiu perguntar.
Eu assenti. “Se eu vou pirar ou vomitar no meio disso, eu prefiro que seja com você. E se eu puder conseguir passar por isso com você, eu saberei que eu posso fazê-lo com Hardy.”
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“Oh, merda.” Todd começou a rir desesperadamente, agarrando minha mão e beijando minha palma. “Querida. Haven. Não.” Ele manteve minha mão, colocando sua bochecha gentilmente contra minha palma. “Eu teria amado ajudar você através disso, amiguinha, e eu estou totalmente honrado que você pediu. Mas agora você não quer uma parceria sexual. Você quer um inferno de muito mais do que isso. E em algum lugar, não muito longe daqui, há um grande, valentão de olhos azuis que está morrendo de vontade de mostrar a você um bom tempo na cama. Se eu fosse você, eu daria a ele uma tentativa.” Eu senti seu sorriso pressionar contra a borda de minha mão quando ele acrescentou. “Se você pode passar por ele sendo a feia e magricela, que é.”
Quando ele soltou minha mão, eu fechei meus dedos ao redor de minha palma como se seu beijo fosse uma moeda da sorte. “Todd, quando você dançou com Liberty... ela disse algo sobre Hardy?”
Ele assentiu. “Ela me disse que, apesar das coisas que afundaram o acordo de negócios com Gage, ela não vê nenhum perigo em você e Hardy estando interessados um no outro. Baseado no que ela conhece sobre ele daquele tempo em que ambos os dois viveram naquele buraco de cidadezinha de merda—”
“Welcome.”
“Sim, que seja.” Todd não era fã de viver em uma pequena cidade. “Baseado nisso, Liberty não acha que ele machucaria você. Ela disse que Hardy sempre saiu de sua maneira para manter-se liderando ela, e ele tinha feito o que podia para ajudá-la. De fato, ela acha que vocês dois podem fazer algo de bom um ao outro.”
“Eu não posso imaginar como,” eu disse tristemente, “quando eu não posso conseguir estar ao redor de sua ereção sem pânico.”
Todd sorriu. “Um relacionamento é sobre mais do que apenas uma ereção. Embora, se você me perguntar... imaginar o que fazer com uma é um ótimo problema pra se ter.”
Depois que Todd tinha saído eu tomei um longo banho, vesti um par de pijamas de flanela, e me servi de um copo de vinho. Eu imaginei onde Hardy estava naquele momento, se ele tinha ficado no teatro depois que eu o tinha deixado.
A tentação de ligar para ele foi quase esmagadora, mas eu não estava certa do que eu queria dizer, quão muito eu conseguiria convencer-me a explicar.
Eu retomei meu lugar no canto do sofá, olhando para o telefone no gancho. Eu queria ouvir a voz de Hardy. Eu pensei naqueles minutos na escada antes que eu tivesse ficado com medo, quando suas mãos e boca tinham estado todas sobre mim, demoradas e minuciosas e tenras... tão bom. Tão incrivelmente bom—
O telefone tocou.
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Sacudida, eu coloquei o vinho ao lado, quase o derramando em minha pressa. Eu peguei o telefone e respondi numa respiração aliviada. “Alô?” Mas a voz não era de Hardy. “Oi, Marie.”
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“Nick.” Senti como se cristais de gelo houvessem se formado em minhas veias. “Como você conseguiu meu número? O que você quer?”
“Só saber como você está indo.”
Sua voz era tão familiar. O som dela vaporizou os últimos meses como se tivessem sido um sonho. Se eu fechasse meus olhos, eu quase podia acreditar que estava de volta no apartamento em Dallas e ele estaria voltando do trabalho logo.
Então, eu mantive meus olhos abertos, como se um piscar resultasse em morte. Olhei para o tecido da capa do sofá creme até que cada fio individual entrou em foco distinto. “Estou ótima,” eu disse. “E você?”
“Não ótimo.” Uma pausa longa. “Ainda tentando me fazer acreditar que realmente acabou. Sinto sua falta, Marie.”
Ele parecia pensativo. Algo em sua voz arrancou uma culpa escura, infiltrante do meu coração.
“É Haven,” eu disse. “Eu não respondo mais a Marie.”
Pensei que iria provocá-lo, mas ele me surpreendeu dizendo: “Ok, Haven.”
“Por que você está ligando?” Eu perguntei abruptamente. “O que você quer?”
“Só conversar por um minuto.” Nick parecia resignado e um pouco irônico. “Ainda estamos autorizados a falar?” Acho que sim.
“Eu tive muito tempo para pensar. Eu quero que você entenda uma coisa... Eu nunca quis que as coisas saíssem da forma como saíram.”
Peguei o telefone com tanta força que fiquei vagamente surpreendida que o plástico não quebrasse. Eu acreditava nele. Eu nunca tinha imaginado que Nick quis ou planejou ser do jeito que era. Havia coisas em seu passado, sua infância, que fizeram dele uma pessoa ferida. Uma vítima, tão certo como eu tinha sido.
Mas isso não significava que ele estava desculpado do mal que tinha feito comigo.
Eu estava cheia de remorso por aquilo que tínhamos perdido... e aquilo que nunca tivemos. Eu me senti doente e cansada.
“Você me odeia, Haven?” Nick perguntou baixinho.
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“Não. Eu odeio o que você fez.”
“Eu odeio o que eu fiz também.” Ele suspirou. “Eu fico pensando... Se tivéssemos tido mais tempo juntos, se tivéssemos tido permissão para resolver nossos problemas em vez de seu irmão entrar e empurrar o divórcio tão malditamente rápido...”
“Você me machucou, Nick,” foi tudo que eu pude dizer.
“Você me machucou também. Você mentiu para mim o tempo todo, sobre pequenas coisas, grandes coisas... Você sempre me expulsou.”
“Eu não sabia mais como lidar com você. A verdade o deixava com raiva.”
“Eu sei. Mas é preciso duas pessoas para fazer um bom casamento E eu tinha muito com o que lidar—ser rejeitado por sua família, ter que trabalhar como um cão para oferecer para você—e você sempre me culpando por não ser capaz de resolver seus problemas.”
“Não,” eu protestei. “Talvez você culpasse a si mesmo. Mas eu nunca me senti assim.”
“Você nunca esteve realmente comigo. Mesmo quando dormimos juntos. Eu podia dizer que você nunca esteve realmente nisto. Não importava o que eu fizesse, você nunca respondia da maneira que outras mulheres o fizeram. Eu tinha esperança que você ficasse melhor.”
Droga, Nick sabia como chegar até mim, como fazer para despertar o sentimento de insuficiência que eu lutava tanto para superar. Nick sabia coisas sobre mim que ninguém mais sabia. Seríamos sempre ligados por nosso fracasso compartilhado—que era parte da nossa identidade individual. Nunca poderia ser apagado.
“Você está namorando alguém agora?” Eu o ouvi perguntar.
“Eu não me sinto confortável falando sobre isso com você.”
“Isso significa que sim. Quem é ele?”
“Não estou namorando ninguém,” eu disse. “Eu não dormi com ninguém. Você não tem que acreditar nisso, mas é verdade.”
Eu instantaneamente me desprezei por dizer aquilo, e por sentir que eu ainda era responsável perante ele.
“Eu acredito em você,” disse Nick. “Você não vai perguntar sobre mim?”
“Não. Eu não me importo se você está namorando alguém. Não é da minha conta.”
Ele ficou quieto por um momento. “Estou feliz que você está bem, Haven, tudo bem. Eu ainda te amo.”
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Isso trouxe lágrimas aos meus olhos. Eu fiquei tão feliz que ele não podia vê-las. “Eu prefiro que você não me ligue de novo, Nick.”
“Eu ainda te amo,” repetiu ele, e desligou.
Lentamente, eu recoloquei o telefone no receptor, e enxuguei as lágrimas ao cair de cara de propósito no sofá. Fiquei assim até que comecei a sufocar, e então eu levantei a cabeça e respirei fundo.
“Eu achei que te amava,” eu disse em voz alta, mesmo que Nick não pudesse me ouvir.
Mas eu não sabia o que era amor. E eu me perguntei como você jamais poderia ter certeza, quando você pensa que amou alguém, se você realmente amou.
No dia seguinte, choveu.
Durante as secas ocasionais, Houston ficava tão seca que as piadas locais eram, “as árvores estão subornando os cães.” Mas quando chovia, chovia. E como era uma cidade praticamente plana, construída em torno de pântanos, Houston tinha enormes problemas de drenagem. Durante uma chuva forte, a água se juntava no alto das ruas e fluía para bueiros, esgotos e pântanos, que dirigiam o fluxo para o Golfo do México. No passado, inúmeras pessoas foram mortas pelas inundações, seus carros derrubados ou arrastados enquanto tentavam atravessar o aumento da água. Às vezes, inundações rompiam dutos de combustível, linhas de esgoto, derrubavam pontes, deixavam as principais estradas inacessíveis.
Um alerta de inundação foi anunciado depois do almoço, e mais tarde foi mudado para um aviso real. Todos aceitaram normalmente, já que os residentes de Houston estavam acostumados a enxurradas e geralmente sabiam quais ruas evitar durante o trajeto à noite.
No final do dia fui para uma reunião na Torre de Buffalo para discutir um novo sistema on-line para o processamento de pedidos de manutenção. Vanessa tinha originalmente planejado ir ao encontro, mas ela mudou de ideia no último minuto e me enviou em seu lugar. Ela me disse que era principalmente uma reunião de coleta de informações, e ela tinha coisas mais importantes a fazer do que falar sobre o software. “Saiba tudo sobre o sistema,” ela me disse, “e eu terei algumas perguntas para você na parte da manhã.” Eu tinha certeza que o inferno iria pagar se Vanessa tivesse uma pergunta que eu não soubesse responder. Então, resolvi descobrir todos os detalhes sobre o programa de software, menos memorizar os códigos-fonte.
Fiquei aliviada, mas intrigada que Vanessa não tivesse mencionado uma só palavra sobre me ver na Harrisburg na noite anterior. E ela não perguntou sobre Hardy. Eu tentei
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ler o seu humor, mas era como tentar prever o tempo, uma proposição duvidosa no melhor dos casos. Esperei que ela houvesse decidido considerar o assunto como algo abaixo de sua atenção.
Apesar da torre do Buffalo ser apenas a poucos quarteirões do Principal 1800, eu dirigi, porque a chuva estava caindo em lençóis. O edifício era um dos arranha-céus mais velhos, uma estrutura de granito vermelho que me fez lembrar de um edifício estilo anos 1920.
Quando eu estacionei em um dos níveis mais baixos da garagem subterrânea, eu verifiquei minhas mensagens telefônicas. Hardy tinha ligado, eu vi, e meu estômago apertou. Eu empurrei um botão para ouvir sua mensagem.
“Hey.” Seu tom era brusco. “Precisamos conversar sobre a noite passada. Ligue-me quando você sair do trabalho.”
Isso era tudo. Ouvi a mensagem novamente, e eu desejei poder cancelar a reunião e ir encontrar com ele naquele momento. Mas não demoraria muito—eu iria termina-la o mais rápido possível, e então eu iria ligar para ele.
Pela hora que o consultor de software, Kelly Reinhart, e eu tínhamos terminado, era alguns minutos depois das seis. Poderia ter levado ainda mais tempo, mas houve uma ligação do escritório de segurança para nos dizer que tinha havido alguma inundação no nível mais baixo da garagem. Estava praticamente desocupado, já que a maioria das pessoas já havia deixado para o dia, mas ainda havia um ou dois carros lá embaixo, e eles provavelmente teriam que ser retirados.
“Droga, um deles é meu,” eu disse a Kelly, fechando o meu laptop e deslizando-o em minha maleta. “É melhor eu ir ver o meu carro. Está tudo bem se eu ligar amanhã sobre os últimos dois pontos que nós não discutimos?”
“Com certeza,” disse Kelly.
“E você? ... Você vai para a garagem também?”
“Eu não trouxe o meu carro hoje, está na concessionária. Meu marido vem me pegar às seis e meia. Mas eu vou descer com você no elevador, se quiser companhia...”
“Não, não...” Eu sorri e peguei minha pasta. “Eu vou ficar bem.”
“Ótimo. Ok. Ligue para cá ou para o escritório de segurança do lobby, se você tiver qualquer problema.” Kelly fez uma careta. “Do jeito que esse prédio antigo vaza, o carro pode estar debaixo d'água agora.”
Eu ri. “Só a minha sorte. É novo.”
Com a maioria dos ocupantes do dia embora, o edifício estava tranquilo e um pouco estranho, portas trancadas e vidros escurecidos. Trovões roncavam lá fora, me
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fazendo tremer no meu terno de negócio. Eu estava feliz por estar indo para casa. Um dos meus sapatos estava beliscando, e o ziper no lado da minha calça estava cavando minha pele, e eu estava com fome. Acima de tudo, eu estava ansiosa para chegar até Hardy e lhe dizer o quanto sentia muito pela noite anterior. E eu ia explicar... alguma coisa.
Entrei no elevador e apertei o botão para o nível mais baixo da garagem. As portas fecharam, e a cabine desceu suavemente. Mas quando eu cheguei ao fundo, o chão debaixo de mim deu uma guinada estranha, e eu ouvi estalos e pressões, e então tudo morreu. As luzes, o sistema hidráulico, tudo parou. Deixei escapar um grito assustado quando fui deixada na escuridão completa. Pior, eu ouvi o barulho contínuo de água, como se alguém tivesse ligado uma torneira dentro do elevador.
Preocupada, mas não em pânico, eu senti o painel ao lado da porta, empurrei alguns botões. Nada aconteceu.
“Telefone,” disse em voz alta, tentando me tranquilizar com o som da minha própria voz. “Há sempre um telefone nessas coisas.” Meus dedos tateando encontraram o viva-voz do elevador com um botão de apertar, tudo isso embutido na parede. Apertei o botão, segurei, mas não houve resposta.
Eu tinha sorte de não ser uma daquelas pessoas com fobias de elevador. Eu continuava calma. Metodicamente eu procurei em minha pasta até encontrar o meu telefone celular. Algo gelado varreu meu pé. No começo eu pensei que era um esboço, mas um segundo depois eu senti o frio úmido nos meus saltos, e eu percebi que havia alguns centímetros de água dentro da cabine do elevador.
Cuidadosamente peguei o celular, e o liguei. Usei-o como uma lanterna improvisada, brilhando a tela minúscula perto de mim para ver por onde a água estava entrando.
Água de aparência oleosa jorrava através da abertura das portas do elevador fechado. Isso era ruim o suficiente. Mas quando eu mudei o brilho do celular para cima, vi que não estava entrando apenas pela parte inferior das portas. Estava vindo do topo.
Como se toda a cabine do elevador estivesse submersa.
Mas isso não era possível. Não havia como o poço estar preenchido com dois metros e meio metros de água. Isso não quer dizer que a maior parte da garagem estava inundada? O que não poderia ter acontecido no tempo desde que eu tinha chegado ao prédio. Mas merda... um poço de elevador cheio de água explicaria por que todos os sistemas elétricos pareciam ter dado curto-circuito.
“Isso é loucura,” eu murmurei, meus batimentos cardíacos se acelerando ansiosamente enquanto eu discava o número principal do edifício. Tocou duas vezes e depois uma mensagem gravada começou a lista de números de extensão a partir do
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diretório principal. Assim que ouvi os três dígitos para o escritório de segurança, eu apertei com força. Outros dois toques... e, em seguida, um sinal de ocupado.
Xingando, eu redisquei o número principal e tentei a extensão de Kelly. Uma secretária eletrônica atendeu. “Oi, aqui é Kelly Reinhart. Eu estou longe da minha mesa, mas se você deixar um recado depois do toque, eu vou retornar sua chamada o mais rapidamente possível.”
Deixei uma mensagem, tentando parecer profissional, mas urgente. “Kelly, é Haven. Eu estou presa em um dos elevadores no nível da garagem, e a água esta entrando. Faça-me um favor e deixe a segurança saber que estou aqui.”
A água continuou a entrar, rodando ao redor dos meus tornozelos.
Quando eu acabei a chamada, eu vi que o sinal baixo da bateria em meu telefone brilhava. Com apenas aquele pouco de energia, eu não ia perder nenhuma chance. Eu disquei 911, observando o meu dedo como se pertencesse a outra pessoa. E eu ouvi, incrédula, enquanto a linha era atendida e redirecionada para uma mensagem gravada. “Estamos experimentando atualmente um grande volume de chamadas. Todos os circuitos estão ocupados. Por favor, permaneça na linha até que um atendente esteja disponível.” Eu segurei, esperei por um minuto que pareceu durar uma vida, e terminei a chamada quando ficou claro nada ia acontecer. Eu disquei novamente com cuidado excruciante... 9-1-1... e dessa vez não consegui nada além de um sinal de ocupado.
Meu telefone fez um bip para me informar que a bateria estava quase morta.
Com a água agora no meio do caminho até minhas panturrilhas e entrando de forma contínua, eu parei de fingir que estava qualquer coisa perto de calma. De alguma forma eu consegui trazer a lista de chamadas recebidas recentemente para a tela do telefone. Apertei o retorno sobre a última chamada de Hardy.
Ele tocou. Uma vez... duas vezes... Eu engasguei com alívio quando ouvi sua voz.
“Cates.”
“Hardy,” eu engasguei, incapaz de dizer as palavras rápido o suficiente. “Sou eu. Eu preciso de você. Preciso de ajuda.”
Ele não perdeu o ritmo. “Onde está você?”
“Elevador. Torre de Buffalo—eu estou presa em um elevador na garagem e está entrando água, muita água—” O telefone apitou novamente. “Hardy, você pode me ouvir?”
“Diga isso de novo.”
“Um elevador na Torre de Buffalo—eu estou presa na garagem, dentro de um elevador, e está inundando, e eu preciso—” O telefone apitou e morreu. Fiquei na
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escuridão mais uma vez. “Não,” eu meio que gritei em frustração. “Droga. Hardy? Hardy?”
Nada além de silêncio. E água jorrando, respingando.
Senti a histeria brotar, e eu considerei realmente se queria ceder ou não a ela. Mas já que não havia nada a ser ganho por ela, e eu tinha certeza que não ia me fazer sentir melhor, eu a empurrei de volta e respirei fundo.
“As pessoas não se afogam em elevadores,” eu disse em voz alta.
A água tinha alcançado os meus joelhos, e estava fria. Ela também cheirava mal, a petróleo, produtos químicos e esgoto. Eu puxei meu computador de dentro de minha pasta, abri e tentei em vão obter qualquer tipo de sinal de Internet. Pelo menos com a tela brilhante aberta, não era completamente escuro no elevador. Olhei para o teto, que estava coberto de painéis de madeira e pequenas luzes embutidas, todas apagadas. Não deveria haver uma saída de emergência? Talvez estivesse escondida. Eu não conseguia pensar em alguma maneira de chegar até lá e procurar.
Eu andei para o lado da porta e tentei o painel de telefone de novo, assim como todos os botões, e nada aconteceu. Tirando um dos meus saltos, eu usei o calcanhar para bater nas paredes e gritar por socorro durante alguns minutos.
Pelo tempo que eu cansei de bater, eu estava submersa até meus quadris. Eu estava com tanto frio que meus dentes estavam batendo e os ossos em minhas pernas doíam. Exceto pela água entrando, tudo estava quieto. Estava calmo em toda parte, exceto dentro da minha cabeça.
Percebi que estava em um caixão. Eu ia realmente morrer nesta caixa de metal.
Eu tinha ouvido que não era uma forma ruim de morrer, afogar. Havia formas piores. Mas era tão injusto—eu nunca tinha feito nada na minha vida que valesse a pena colocar em um obituário. Eu não tinha realizado nenhum dos objetivos que eu tinha na faculdade. Eu nunca tinha feito as pazes com meu pai, não no sentido real. Eu nunca tinha ajudado as pessoas que eram menos afortunadas. Eu nunca tinha feito sexo decente.
Eu estava certa de que pessoas que enfrentam a morte deveriam se ocupar com pensamentos nobres, mas eu me vi pensando sobre aqueles momentos na escada com Hardy. Se eu tivesse ido em frente, pelo menos eu teria tido bom sexo pela primeira vez na minha vida. Mas eu tinha estragado até mesmo isso. Eu o queria. Eu o queria muito. Nada foi terminado em minha vida. Fiquei lá, esperando pelo meu eventual afogamento, não com resignação, mas com uma fúria triturante.
Quando a água havia atingido a borda inferior do meu sutiã, eu estava cansada de segurar o computador, e eu o deixei afundar. Ele submergiu e flutuou para o chão do elevador em água tão poluída que mal se podia ver a tela brilhante antes de ela dar curto-
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circuito e apagar. Era desorientador, o escuro frio ao meu redor. Me aconchegando no canto, eu deitei minha cabeça contra a parede e respirei, e esperei. Fiquei imaginando como seria a sensação, quando não houvesse mais ar para respirar e eu tivesse que puxar água para meus pulmões.
O som de um estrondo afiado no teto causou um sobressalto que passou por mim como uma bala. Virei a cabeça de um lado para o outro, sem visão e com medo. Bang. Raspagem, ruídos deslizantes, ferramentas contra metal. O teto rangeu, e o elevador todo balançou como se fosse um barco a remo.
“Tem alguém aí?” Chamei, meu pulso trovejante.
Eu ouvi o som abafado, distante de uma voz humana.
Galvanizada, eu bati na parede do elevador com meu punho. “Ajude! Eu estou presa aqui embaixo!”
Houve uma resposta que eu não pude ouvir. Quem quer que fosse, continuou a trabalhar no topo do elevador, puxando e arrancando até que um ruído de metal rasgando enchesse o ar. Uma parte dos painéis de madeira foi arrancada. Eu me encostei contra a parede quando ouvi rachaduras e estilhaços, detritos caindo. E então o facho de uma lanterna mirou no escuro da cabine do elevador, refletindo na água.
“Eu estou aqui,” eu disse com um soluço, enquanto andava adiante. “Eu estou aqui embaixo. Há algum jeito de você poder me tirar daqui?”
Um homem se inclinou para a cabine do elevador até que eu pude ver seu rosto e ombros iluminados pela luz refletida.
“Você provavelmente deveria saber de antemão,” disse Hardy, alargando a abertura com um grunhido de esforço, “que eu cobro muito por resgates em elevador.”
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“Hardy! Hardy—” Ele tinha vindo por mim. Eu quase me descontrolei então. Uma torrente selvagem de alívio e gratidão chegou, e havia pelo menos uma dúzia de coisas que eu queria dizer a ele imediatamente, mas a primeira coisa que veio foi um fervoroso, “Sinto muito por não ter feito sexo com você.”
Eu o ouvi rir baixo. “Sinto também. Mas querida, há dois caras da manutenção comigo que podem ouvir cada palavra que estamos dizendo.”
“Eu não me importo,” falei desesperadamente. “Tire-me daqui e eu juro que vou dormir com você.”
Ouvi um dos caras da manutenção se voluntariar com um sotaque espanhol, “Eu a tiro.”
“Essa é minha, amigo,” Hardy disse com afabilidade, e se inclinou mais para dentro do elevador, um braço longo se estendendo. “Você pode alcançar minha mão, Haven?”
Estiquei-me até ficar nas pontas dos pés. Nossas mãos se encontraram, e seus dedos se fecharam sobre meu pulso. Mas eu estava ensopada com algo escorregadio, e minha mão deslizou do aperto de Hardy. Eu caí contra a parede. “Não posso.” Tentei soar calma, mas minha voz estava torturada. Tive de prender um soluço. “A água está oleosa.”
“Ok,” ele disse rapidamente. “Tudo bem. Não, não chore, querida, eu estou descendo. Fique no lado e se segure ao corrimão.”
“Espere, você vai ficar preso aqui também—” comecei, mas Hardy já estava baixando seus pés e suas pernas. Ele agarrou a abertura do teto, se abaixou e ficou pendurado por um momento. Quando ele entrou no elevador com uma queda controlada, o piso tremeu e o nível de água subiu. Eu me sacudi na água pesada, pulando sobre ele, subindo pelo seu corpo antes que ele pudesse se mexer.
Hardy me segurou firmemente, um braço deslizando por debaixo do meu traseiro, e o outro forte e sólido nas minhas costas. “Eu estou com você,” disse. “Minha garota valente.”
“Não sou valente.” Meus braços estavam ao redor do seu pescoço, segurando com força. Enterrei meu rosto contra ele, tentando compreender que ele estava realmente ali comigo.
“Sim, você é. A maioria das mulheres já estariam histéricas a essa hora.”
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“Eu já estava no c-caminho disso,” eu disse contra o colarinho da sua camisa. “Você só me e-encontrou no início do processo.”
Ele me apertou com mais força. “Você está segura, querida. Está tudo bem agora.”
Tentei fazer com que meus dentes parassem de tremer. “Não posso acreditar que você está aqui.”
“Claro que eu estou. Sempre que você precisar de mim.” Ele olhou para o buraco no teto, onde um dos homens da manutenção estava ajeitando a lanterna para nos ajudar a ver. “Manuel,” ele disse, “vocês têm uma bomba no fundo do poço?”
“Nah,” veio a resposta pesarosa. “É um edifício antigo. Apenas os novos têm bomba.”
As mãos de Hardy acariciaram minha espinha. “Provavelmente não faria a diferença. Alguém pode desligar o interruptor principal? Eu não quero que essa coisa comece a se mover enquanto nós estamos a tirando daqui.”
“Não precisa, está desligada.”
“Como você sabe?”
“É automático.”
Hardy balançou a cabeça. “Eu quero que alguém vá para a sala de máquinas e certifique-se que a porra está realmente desligada.”
“Entendido, chefe.” Manuel usou um rádio bidirecional para entrar em contato com o supervisor responsável pela segurança. O supervisor disse que ele iria mandar o único guarda disponível no momento para a sala de máquinas para desligar o interruptor de todos os elevadores, e ligaria de volta quando estivesse feito. “Ele diz que não pode chamar os tiras,” Manuel reportou para nós. “Nove-um-um está quebrado. Ligações demais. Mas a companhia do elevador está mandando um cara.”
“A água está ficando mais alta,” eu disse a Hardy, meus braços apertados ao redor do seu pescoço, minhas pernas ao redor da sua cintura. “Vamos sair agora.”
Hardy sorriu e afastou meu cabelo do meu rosto. “Vai levar apenas um minuto para encontrar o interruptor. Só finja que estamos em uma banheira com água quente.”
“Minha imaginação não é tão boa assim,” eu disse a ele.
“Você obviamente nunca viveria numa plataforma de perfuração.” Sua mão esfregou meus ombros. “Você está machucada em algum lugar? Algum inchaço ou contusão?”
“Não, só um pouco assustada.”
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Ele fez um som simpático, apertando-me para mais perto. “Você não está assustada agora, está?”
“Não.” Era verdade. Parecia impossível que alguma coisa ruim pudesse acontecer enquanto eu estivesse segurando aqueles ombros sólidos. “Só estou com f-frio. Eu não entendo de onde a água está vindo.”
“Manuel diz que uma parede entre a garagem e um túnel de drenagem caiu. Essa água é de alguma corrente de água bem grande.”
“Como você me encontrou tão rápido?”
“Eu estava indo para casa quando você ligou. Eu corri até aqui e chamei Manuel e seu companheiro. Pegamos o elevador de serviço até um nível acima desse, e eu abri as portas com um pé-de-cabra.” Ele continuou alisando meu cabelo enquanto falava. “A saída de emergência do elevador foi um pouco mais difícil—eu tive de arrancar alguns parafusos com um martelo.”
Ouvimos alguma estática e uma voz deturpada veio do rádio bidirecional, e Manuel nos chamou. “Ok, chefe. O interruptor está desligado.”
“Ótimo.” Hardy olhou para Manuel. “Eu vou levantá-la até você. Não a deixe cair – ela está escorregadia.” Ele puxou minha cabeça para trás até que eu olhasse para seus olhos. “Haven, eu vou te levantar, e então você vai subir nos meus ombros e eles vão te puxar para fora. Entendeu?” Eu assenti relutante, não querendo deixá-lo. “Depois que você estiver no topo do elevador,” Hardy continuou, “não toque em nenhum cabo ou polia ou nenhuma dessas merdas. Há uma escada de mão na parede do poço do elevador. Seja cuidadosa enquanto está subindo – você está tão lisa quanto banha de porco sobre o gelo.”
“E você?”
“Vou ficar bem. Ponha seu pé na minha mão.”
“Mas c-como você—”
“Haven, pare de falar e me dê seu pé.”
Fiquei impressionada com a facilidade com que ele me levantou, uma mão grande sob meu traseiro para me levantar até os dois homens da manutenção. Eles me agarraram debaixo dos braços e me puxaram até o topo do elevador, segurando-me como se temessem que eu escorregasse. E eu provavelmente teria escorregado, por estar tão coberta de limo.
Normalmente eu teria subido as escadas com facilidade, mas meus pés e minhas mãos ficavam escorregando do metal. Precisou de concentração e esforço para subir até o piso, onde Hardy tinha aberto as portas. Havia mais pessoas para me ajudar, dois
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empregados do escritório, o supervisor de segurança e o guarda, e o novo técnico de elevador, e até Kelly Reinhart, que não conseguia parar de exclamar em horror, repetidamente, “Eu a vi há meia hora... não posso acreditar nisso... eu acabei de a ver...”
Eu ignorei todos eles, não por grosseria e sim por medo sincero. Eu esperei do lado de fora das portas abertas e me recusei a sair dali, chamando o nome de Hardy ansiosamente. Eu ouvi o barulho de água e alguns resmungos, e algumas das pragas mais sujas que já ouvi em toda minha vida.
Manuel foi o primeiro a emergir, e seu companheiro veio depois dele. Finalmente Hardy subiu pela porta, pingando e coberto pelo mesmo lodo que tinha me sujado, suas roupas de trabalho grudadas ao seu corpo. Eu tinha certeza de que ele não cheirava muito melhor que eu. Seu cabelo estava levantado em alguns lugares. Ele era o homem mais bonito que eu já tinha visto na minha vida.
Eu corri até ele, passei meus braços ao redor de sua cintura, e enterrei minha cabeça em seu peito. Seu coração batia com força sob meu ouvido. “Como você saiu?” perguntei.
“Eu apoiei os pés no corrimão, me puxei pelo teto, e consegui passar uma perna para cima. Eu quase escorreguei, mas Manuel e Juan me agarraram.”
“El mono,” Manuel disse como se isso explicasse tudo, e eu ouvi um ruído de riso no meio de Hardy.
“O que isso significa?” perguntei.
“Ele me chamou de macaco.” Alcançando o bolso traseiro, Hardy extraiu uma carteira e pegou algum dinheiro, desculpando-se pela condição que o dinheiro estava. Eles riram e asseguraram que o dinheiro ainda estava bom e eles apertaram as mãos.
Eu fiquei com meus braços ao redor de Hardy enquanto ele falava com o técnico do elevador e o supervisor de segurança por alguns minutos. Embora eu estivesse segura, eu não podia me fazer soltá-lo. E ele não parecia se importar que eu tivesse o agarrando, só corria sua mão sobre minhas costas de vez em quando. Um caminhão dos bombeiros apareceu do lado de fora do edifício, com as luzes piscando.
“Escute,” Hardy disse para o supervisor de segurança, dando a ele um cartão de negócios encharcado. “Vamos terminar essa conversa agora—ela já passou pelo suficiente. Eu tenho de tomar conta dela e nos deixar limpos. Se alguém quiser saber de algo, podem falar comigo amanhã.”
“Certo,” o supervisor disse. “Eu entendo. Avise-me se eu puder ajudá-lo de qualquer forma. Cuidem-se.”
“Ele era legal,” eu disse enquanto Hardy me guiava para fora do edifício, logo depois do carro dos bombeiros e de uma van com uma equipe de imprensa emergindo.
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“Ele está rezando para que você não o processe,” Hardy respondeu, levando-me para seu carro, que estava estacionado em fila dupla. Era um sedan Mercedes prateado, e o estofado bege era brilhante e perfeito.
“Não,” eu disse desamparadamente. “Eu não posso entrar nesse carro quando eu estou toda nojenta e suja.”
Hardy abriu a porta e me empurrou para dentro. “Entre, querida. Não vamos para casa andando.”
E o pior ainda estava por vir. Depois que Hardy estacionou na garagem subterrânea do nosso edifício, aproximamo-nos do elevador que ia até o corredor. Eu parei como se eu tivesse levado um tiro, e olhei do elevador para as escadas. Hardy me parou.
A última coisa que eu queria fazer era entrar em outro elevador. Era demais. Eu senti cada músculo tenso em rejeição a ideia.
Hardy estava em silêncio, deixando-me lutar com isso. “Merda,” sufoquei. “Eu não posso fugir de elevadores pelo resto da minha vida, posso?”
“Não em Houston.” A expressão de Hardy era gentil. Em breve, eu pensei, a gentileza iria se tornar pena. Isso era suficiente para me empurrar para frente.
“Vamos, Haven,” murmurei para mim mesma, pressionando o botão para subir. Minha mão estava tremendo. Enquanto o elevador descia até a garagem, eu esperei como se eu estivesse às portas do inferno.
“Eu não estou certa se eu realmente te agradeci pelo que você fez,” eu disse bruscamente. “Então... obrigada. E eu queria que você soubesse, eu realmente não sou... problemática. Quero dizer, eu não sou uma daquelas mulheres que precisam ser resgatadas todo o tempo.”
“Você pode me resgatar na próxima vez.”
Isso tirou um sorriso do meu rosto apesar da minha ansiedade. Era exatamente a coisa certa a dizer.
As portas se abriram, e eu simplesmente fiz, me fiz entrar na caixa de metal, e me curvei no canto quando Hardy me seguiu. Antes que as portas se fechassem, Hardy tinha me puxado num abraço apertado, tocando da cabeça aos pés, e nossas bocas se juntaram, e parecia que tudo que eu senti naquele dia, angústia, raiva, desespero, e alívio, tudo isso se concentrou num ponto de puro calor.
Eu respondi com beijos frenéticos, puxando sua língua para minha boca, querendo senti-lo todo sobre mim. Hardy respirou rápido, como se surpreso pela minha reação. Ele segurou minha cabeça e sua boca continuou sobre a minha, faminta e doce.
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Em questão de segundos chegamos ao corredor. As portas se abriram com um bip irritante. Hardy se afastou e me tirou do elevador até o corredor de mármore preto. Eu estava certa de que parecíamos um par de criaturas do pântano quando passamos pela mesa do porteiro até o elevador residencial principal.
David, o porteiro, ficou boquiaberto quando nos viu. “Srta. Travis? Meu Deus, o que aconteceu?”
“Eu tive um pequeno... mais ou menos, bem... acidente na Torre de Buffalo,” eu disse com timidez. “Sr. Cates me ajudou a sair.”
“Há algo que eu possa fazer?”
“Não, estamos bem.” Eu lancei a David um olhar significativo. “E não há necessidade de dizer a ninguém da minha família sobre isso.”
“Sim, Srta. Travis,” ele disse, um pouco rápido demais. E quando estávamos entrando no elevador residencial, eu o vi pegando seu telefone e começando a discar.
“Ele está ligando para meu irmão Jack,” eu disse, entrando através do elevador aberto. “Eu não quero conversar com ninguém, especialmente não meu irmão intrometido—”
Mas Hardy estava me beijando novamente, dessa vez apoiando suas mãos contra a parede a cada lado meu como se eu fosse muito perigosa para ser tocada. E o beijo quente continuou e continuou, e o prazer dele era dominador. Eu levantei as mãos e as deixei seguir a inclinação grossa dos seus ombros, os músculos tensos e rígidos.
Eu estava turvamente impressionada com o efeito das minhas mãos sobre ele, por como sua boca se prendia a minha como se ele estivesse desesperadamente se banqueteando com algo que poderia ser tirado dele. Ele estava excitado, e eu realmente queria tocá-lo ali, pôr minha mão naquela saliência pesada. Meus dedos trêmulos deslizaram pelo seu peito até chegar ao seu estômago, atravessando a fivela de metal do seu cinto. Mas o elevador parou, e Hardy segurou meu pulso, afastando-o.
Seus olhos estavam um quente e macio azul, sua cor alta como se tivesse com febre. Ele balançou a cabeça para clareá-la, e me puxou do elevador. Estávamos no décimo-oitavo andar. O apartamento dele. Eu fui com ele desejosamente, esperando na porta enquanto ele entrava com a combinação. Ele errou, causando um bip indignado. Eu segurei um sorriso quando ele praguejou. Ele me deu um olhar torto e tentou novamente, e a porta abriu.
Tomando-me pela mão como se eu fosse uma criancinha, Hardy me levou até o chuveiro. “Fique à vontade,” ele disse. “Vou usar o outro banheiro. Há um robe na parte de trás da porta. Vou pegar algumas roupas do seu apartamento depois.”
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Nenhum banho foi tão bom quanto aquele. Eu duvidei que algum futuro poderia ser melhor. Eu ajustei a temperatura até que ficasse quase escaldante, gemendo de prazer quando ela correu pelos meus membros frios e doloridos. Eu lavei e limpei meu corpo e lavei meu cabelo com xampu três vezes.
O robe de Hardy era muito grande para mim, arrastando no chão por pelo menos quinze centímetros. Eu me enrolei nele, no cheiro que agora tinha se tornado familiar. Eu amarrei apertado o cinto, enrolando as mangas várias vezes, e olhei para mim mesma no espelho embaçado. Meu cabelo estava enrolado. Dado que não havia ferramentas para estiliza-lo além de uma escova ou um pente, não havia como evitar aquilo.
Eu teria esperado me senti exausta depois do que passei, mas em vez disso eu me sentia viva, estimulada, o tecido macio do robe abrasivo sobre minha pele sensível. Caminhando até o cômodo principal, eu vi Hardy vestido em jeans e camiseta branca, seu cabelo ainda molhando do banho. Ele estava em pé ao lado da mesa, puxando sanduíches e recipientes de sopa de uma bolsa.
Seu olhar tomou um inventário de mim da cabeça aos pés. “Eu pedi para o restaurante preparar alguma comida,” disse.
“Obrigada. Eu estava morrendo de fome. Acho que nunca fiquei tão faminta.”
“Isso acontece às vezes depois de um trauma. Sempre que havia um problema no aparelho—um acidente ou fogo—comíamos como lobos depois.”
“Fogo no aparelho seria assustador,” eu disse. “Como eles começam?”
“Ah, explosões, buracos...” Ele sorriu quando acrescentou, “Soldas...” Ele terminou de preparar a comida. “Comece a comer. Vou descer até seu apartamento e pegar algumas roupas, se você me disser a combinação.”
“Por favor, fique. Eu posso esperar um pouco. Esse robe está confortável.”
“Ok.” Hardy puxou uma cadeira para mim. Quando me sentei, olhei para a televisão, que estava mostrando as notícias locais. Eu quase caí da cadeira quando o âncora disse, “...e agora mais sobre a inundação. Acabamos de saber que mais cedo nessa noite uma mulher não-identificada foi tirada de um elevador que estava afundando na Torre de Buffalo. De acordo com a equipe de segurança, a água no nível inferior da garagem causou um mal funcionamento no elevador. Empregados do edifício disseram que a mulher parecia estar em boas condições depois do resgate e não pediu tratamento médico. Daremos mais informações no decorrer...”
O telefone tocou, e Hardy ligou para o identificador. “É seu irmão Jack. Eu já conversei com ele e falei que você estava bem. Mas ele quer ouvir de você.”
Ah, inferno, pensei. Jack deve ter ficado preocupado quando soube que eu estava com Hardy.
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Tomei o telefone dele e pressionei o botão para falar. “Oi, Jack,” eu disse em um tom alegre.
“A coisa que você quer que sua irmã nunca seja,” meu irmão me informou, “é uma mulher não-identificada no jornal. Coisas ruins acontecem a mulheres não-identificadas.”
“Estou bem,” disse a ele, sorrindo. “Só fiquei um pouco molhada e suja, é tudo.”
“Você pode achar que está bem, mas provavelmente ainda está em choque. Você pode ter ferimentos das quais nem está consciente. Por que diabos Cates não te levou a um médico?”
Meu sorriso desapareceu. “Porque estou bem. E não estou em choque.”
“Eu vou pegar você. Você vai ficar no meu apartamento hoje à noite.”
“Sem chance. Eu vi seu apartamento, Jack. É um poço. É tão ruim que meu sistema imunológico fica mais forte cada vez que te visito.”
Jack não riu. “Você não vai ficar com Cates depois de passar por algo tão traumático—”
“Lembra de nossa conversa sobre limites, Jack?”
“Fodam-se os limites. Por que você ligou para ele quando você tem dois irmãos que trabalham a poucos quarteirões da Torre de Buffalo? Gage ou eu poderíamos ter cuidado de tudo.”
“Eu não sei por que eu o liguei, eu—” Eu lancei um olhar inconfortável para Hardy. Ele me deu uma expressão impenetrável e foi para a cozinha. “Jack, vejo você amanhã. Não venha até aqui.”
“Eu disse ao Cates que se ele te tocasse, ele seria um homem morto.”
“Jack,” murmurei. “Vou desligar agora.”
“Espere.” Ele parou, e seu tom se tornou bajulador. “Deixe-me ir e pegar você, Haven. Você é minha irmãz—”
“Não. Boa noite.”
Eu desliguei quando um som de praguejo veio do fone. Hardy retornou para a mesa, trazendo para mim um copo com gelo e líquido efervescente.
“Obrigada,” eu disse. “Dr. Pepper?”
“Sim. Com um pouco de suco de limão e Jack Daniel’s. Achei que poderia ajudar com seus nervos.”
Eu o olhei embaraçada. “Meus nervos estão bem.”
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“Talvez. Mas você ainda parece um pouco estranha.”
Estava delicioso. Eu tomei alguns doces e azedos goles, até que Hardy tocou minha mão. “Uou, aqui. Tome devagar, amor.”
Houve uma pausa na conversa enquanto comíamos sopa de vegetais e sanduíches. Eu terminei a bebida e exalei lentamente, sentindo-me melhor. “Posso ter outro?” perguntei, empurrando o copo vazio para ele.
“Em alguns minutos. Jack Daniel’s pode te encher a cabeça.”
Eu virei para o lado para encará-lo, dobrando meu cotovelo sobre a parte de trás da cadeira. “Não há necessidade de me tratar como se eu fosse uma adolescente. Eu sou uma garota grande, Hardy.”
Hardy balançou a cabeça lentamente, seu olhar segurando o meu. “Eu sei disso. Mas em algumas coisas você é ainda... inocente.”
“Por que você pensa isso?"
Sua resposta foi suave. “Pela forma como você lida com certas situações.”
Eu senti um calor subir pelo meu rosto enquanto me perguntava se ele estava se referindo sobre como eu me comportei na escadaria. “Hardy—” Limpei a garganta. “Sobre a noite passada—”
“Espere.” Ele tocou meu braço que estava sobre a mesa, seus dedos gentilmente traçando a rede de veias dentro do meu pulso. “Antes de chegarmos nisso, diga-me uma coisa. Por que você me ligou em vez dos seus irmãos? Eu fiquei muito satisfeito por você ter feito isso. Mas gostaria de saber por quê.”
O calor estava em todos os lugares agora, espalhando-se sobre a pele nua debaixo do robe. Eu estava coberta de constrangimento e excitação, perguntando-me o quão longe eu ousaria ir com ele, o que ele faria se eu dissesse a verdade. “Eu não pensei nisso. Eu só... queria você.”
Seus dedos se moveram em uma carícia preguiçosa e quente do pulso até o cotovelo, e de volta novamente. “Na noite passada,” eu o ouvi murmurar, “você estava certa em me afastar. A primeira vez não deve ser num lugar daquele. Você estava certa em se afastar, mas a forma como você fez—”
“Eu sinto muito,” eu disse seriamente. “Eu realmente—”
“Não, não sinta.” Ele tomou minha mão na sua e começou a brincar com meus dedos. “Eu pensei sobre isso depois que eu me acalmei um pouco. E eu achei que você não poderia ter reagido daquela forma a menos que você tivesse tido algum tipo de... problema na cama... com seu marido.” Ele olhou para mim, aqueles olhos azuis tomando cada nuance da minha expressão.
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“Problemas na cama” era um eufemismo, pensei. Fiquei em silêncio, querendo mais que tudo me abrir para ele.
“Ele foi realmente seu primeiro?” Hardy pressionou. “Isso é muito incomum, nos dias de hoje.”
Assenti. “Eu acho,” consegui dizer, “de um modo estranho, eu estava tentando agradar a minha mãe. Mesmo depois que ela se foi. Eu sentia que ela teria querido que eu esperasse, que ela teria me dito que boas garotas não dormem com qualquer um. E eu estava tentando compensá-la. Eu nunca fui o tipo de filha que ela queria—o que papai queria. Eu sentia que eu devia a ela, e tentei ser boa.” Eu nunca tinha admitido isso antes. “Depois eu percebi que se eu quisesse dormir com alguém, era problema meu.”
“Então você escolheu Nick.”
“Sim.” Meus lábios se curvaram. “Não foi uma boa ideia, como se mostrou. Ele era impossível de agradar.”
“Eu sou fácil de agradar.” Ele ainda estava brincando com meus dedos.
“Bom,” eu disse trêmula, “porque eu tenho certeza de que não sei como fazer direito.”
Todo movimento parou. Hardy olhou para mim, seus olhos brilhando com fome. Calor. “Eu não iria—” Ele teve de parar para respirar novamente. Sua voz estava rouca. “Eu não me preocuparia com isso, querida.”
Eu não podia olhar para longe dele. Eu pensei em estar debaixo dele, seu corpo dentro do meu, e meu coração começou a bater mais forte. Eu precisava ir devagar. “Eu gostaria de outro Jack Daniel’s, por favor,” consegui dizer. “Dessa vez, sem Dr. Pepper.”
Hardy soltou minha mão, ainda me encarando. Sem uma palavra, ele foi para a cozinha e trouxe dois copos e uma garrafa com seu distintivo rótulo branco. Ele serviu as doses de uma maneira impessoal, como se estivéssemos nos preparando para um jogo de pôquer.
Hardy bebeu rapidamente, enquanto eu bebericava, deixando o líquido levemente doce aquecer a superfície dos meus lábios. Estávamos sentados muito próximos. O robe tinha se partido para revelar meus joelhos nus, e eu o vi olhar para eles. Quando sua cabeça se inclinou, a luz refletiu no seu cabelo castanho escuro. Eu não podia suportar mais, eu tinha de tocá-lo. Deixei que meus dedos roçassem o lado da sua cabeça, brincando com o cabelo cortado curto. Uma das suas mãos se fechou sobre meu joelho, envolvendo-o em calor.
Seu rosto levantou e eu toquei seu maxilar, o masculino raspão da barba por fazer, deixando meus dedos contra a maciez dos seus lábios. Explorei o formato ousado do seu
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nariz, um dedo deslizando pela curva tentadora da ponte. “Você disse que me contaria um dia,” eu disse. “Como você o quebrou.”
Hardy não queria falar sobre isso. Eu podia dizer pelo seu olhar. Exceto que eu arrisquei muito ao confiar nele, ao ser honesta, e ele não iria recuar disso. Então ele me deu um curto aceno, serviu-se outra dose, e, para meu pesar, removeu sua mão do meu joelho.
Depois de uma longa pausa, ele disse sem rodeios, “Meu pai o quebrou. Ele era um alcóolatra. Bêbado ou sóbrio, acho que a única hora em que ele se sentia bem era quando ele estava machucando alguém. Ele saiu da família quando eu ainda era jovem. Queria que ele ficasse longe para sempre. Mas ele voltava às vezes, sempre que não estava na cadeia. Ele espancava minha mãe e roubava cada centavo dela.”
Ele balançou a cabeça, seu olhar distante. “Minha mãe é uma mulher alta, mas não há muito dela. Um vento forte poderia derrubá-la. Eu sabia que ele a mataria um dia. Em uma das vezes que ele voltou, eu tinha onze anos—eu disse que ele nem iria tentar, que ele não iria se aproximar dela. Eu não me lembro do que aconteceu depois disso, só que eu acordei no chão, me sentindo como se eu tivesse sido pisoteado por um touro de rodeio. E meu nariz estava quebrado. Minha mãe foi espancada quase tanto quanto eu. Ela me disse para nunca ir contra o meu pai novamente. Ela disse que tentar lutar contra ele só o deixaria mais irritado. Era mais fácil para ela se nós só o deixássemos fazer o que quisesse, e então ele iria embora.”
“Por que ninguém o parou? Por que ela não se divorciou dele, ou conseguiu uma ordem de restrição ou algo assim?”
“Uma ordem de restrição só funcionava se você se algemasse a um policial. E minha mãe achava que era melhor levar seus problemas para a igreja. Eles a convenceram a não se divorciar dele. Eles disseram que era sua missão especial salvar a alma dele. De acordo com o ministro, nós todos deveríamos rezar, que o coração do meu pai iria mudar, que ele veria a luz e seria salvo.” Hardy sorriu cruelmente. “Se havia alguma esperança de que eu me tornasse um homem religioso, elas desapareceram depois disso.”
Eu estava atrapalhada pela revelação de que Hardy tinha sido vítima de violência doméstica também. Mas de uma forma pior do que eu tinha, porque ele era apenas uma criança. Eu restringi minha voz a um tom cuidadosamente monótono quando perguntei, “Então o que aconteceu ao seu pai?”
“Ele voltou alguns anos depois disso. Eu era bem maior então. Eu fiquei na porta do trailer e não o deixei entrar. Mamãe tentava me empurrar para o lado, mas eu não saí do lugar. Ele—” Hardy parou e esfregou sua boca e maxilar lentamente, e não olhou para mim. Eu estava preenchida com uma eletrizante consciência de que ele iria me contar algo que ele nunca disse para ninguém antes.
“Continue,” sussurrei.
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“Ele veio até mim com uma faca. Atingiu-me na lateral com ela. Eu torci seu braço e o fiz derrubar a faca, e então eu o bati até que ele prometeu sair de lá. Ele nunca voltou. Ele está na prisão agora.” Seu rosto estava tenso. “A pior parte disse é que minha mão não falou comigo por dois dias depois.”
“Por quê? Ela estava com raiva de você?”
“Eu pensei isso, no início. Mas então eu percebi... que ela estava com medo de mim. Quando eu estava surrando o meu pai, ela não pôde ver nenhuma diferença entre nós.” Ele olhou para mim então, e disse baixinho. “Eu vim de um estoque ruim, Haven.”
Eu podia dizer que ele queria que isso fosse um aviso. E eu entendi algo sobre ele, que ele tinha sempre usando essa noção de ser de um estoque ruim como razão para evitar se aproximar demais de alguém. Porque deixar alguém se aproximar significava que ele poderia te machucar. Eu conhecia tudo sobre esse tipo de medo. Eu vivia com ele.
“Onde ele te cortou?” perguntei com a voz grossa. “Mostre-me.”
Hardy me encarou com a concentração de um homem bêbado, mas eu sabia que não tinha nada a ver com o Jack Daniel’s. Um rubor tinha atravessado suas bochechas e a ponte de seu nariz. Ele segurou a bainha da sua camiseta e a levantou até que revelasse a carne tensa da sua lateral. Uma cicatriz fina aparecia branca contra a pele sedosa. E ele observou, silencioso, enquanto eu deslizava da minha cadeira e me ajoelhava ante ele, e me inclinava entre as suas coxas para beijar a cicatriz. Ele parou de respirar. Sua pele estava quente contra meus lábios, os músculos da sua perna tão tensos como ferro.
Eu ouvi um gemido acima da minha cabeça, e eu fui puxada de entre seus joelhos como se fosse uma boneca de pano. Hardy me carregou até o sofá, deitou-me sobre o estofado de veludo, e se ajoelhou ao meu lado enquanto arrancava o cinto do robe. Sua boca cobriu a minha, queimando e doce como uísque quando ele abriu o robe. Sua mão estava quente quanto tocou meu seio, segurando a curva macia, apertando-o até a sua boca.
Seus lábios cobriram o pico apertado, e ele passou sua língua sobre ele em lambidas delicadas. Eu me contorci debaixo dele, incapaz de ficar parada. O mamilo cresceu quase dolorosamente, a sensação correndo até a junção das minhas pernas com cada carícia. Eu gemi e coloquei meus braços ao redor da sua cabeça, minha espinha se dissolvendo enquanto ele se movia para o outro seio. Meus dedos se enrolaram na seda de seu cabelo, seguindo o formato do seu crânio. Cegamente puxei sua boca de volta para a minha, e ele a tomou selvagemente, como se ele não pudesse estar fundo o bastante.
O peso da sua mão descia pelo meu estômago, medindo a curva suave. Eu senti a ponta do seu dedo mindinho no limite do triângulo escuro. Choramingando, eu levantei meu corpo. Sua mão deslizou para baixo, e enquanto seus dedos brincavam com os pelos crespos, meu interior começou a pulsar e fechar com a sensação de vazio. Até aquele momento, eu nunca tinha sentido que poderia morrer de crua necessidade. Eu gemi e
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puxei sua camisa. A boca de Hardy retornou a minha, lambendo os sons que eu fazia como se ele pudesse sentir o gosto deles. “Toque-me,” eu arfei, meus pés se curvando nas almofadas de veludo. “Hardy, por favor—”
“Onde?” veio o sussurro de demônio, enquanto ele acariciava os pelos úmidos entre minhas coxas.
Afastei meus joelhos, tremendo. “Lá. Lá.”
Ele deu um suspiro que foi quase um bramido, seus dedos me abrindo, encontrando calor e umidade, concentrando-se no lugar que me deixava louca. Sua boca esfregou meus lábios inchados, puxando gentilmente. Sua mão deslizou de entre as minhas pernas, e ele me segurou como se ele quisesse me levantar, mas em vez disso só me abraçou como se eu fosse só suavidade, ossos trêmulos e umidade. Ele abaixou sua cabeça, beijando o arco do meu joelho, a curva macia de um seio, a tensão no meu pescoço.
“Leve-me para cama,” eu disse com voz grossa. Peguei um dos seus lóbulos da orelha entre meus dentes, passei minha língua sobre ele. “Leve-me...”
Hardy estremeceu e me libertou, virando-se para se sentar no chão olhando para longe de mim. Ele descansou seus braços sobre seus joelhos inclinados e abaixou sua cabeça, sua respiração vindo profunda e áspera. “Não posso.” Sua voz estava abafada. “Não hoje à noite, Haven.”
Eu fui lenta para entender. Tentar pensar direito era como empurrar camadas de cortinas transparentes. “O quê?” sussurrei. “Por que não?”
Hardy levou um longo tempo para responder. Ele se moveu para me fitar, ajoelhando-se com as coxas separadas. Ele estendeu as mãos para me cobrir com os lados do robe, o gesto tão cuidadoso que parecia mais íntimo do que tinha acontecido antes.
“Não é certo,” disse. “Não depois do que você acabou de passar. Eu estaria tirando proveito de você.”
Eu não podia acreditar. Não quando tudo estava indo tão bem, quando parecia que meu medo tinha desaparecido. Não quando eu o precisava tanto. “Não, não estaria,” protestei. “Estou ótima. Eu quero dormir com você.”
“Você não está em forma para tomar essa decisão agora.”
“Mas...” Eu me sentei e esfreguei meu rosto. “Hardy, você não acha que está sendo um pouco dominador com isso? Depois de me deixar excitada, você—” Eu parei quando um terrível pensamento me ocorreu. “Isso é uma resposta, não é? Pela noite passada?”
“Não,” ele disse irritado. “Eu não faria isso. Não tem nada a ver com isso. E, caso você não tenha percebido, eu estou tão excitado quanto você.”
“Então eu não tomo parte na decisão? Eu não tenho um voto?”
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“Não hoje à noite.”
“Droga, Hardy...” Eu estava toda ardendo. “Você vai me deixar sofrer só para provar algum ponto completamente desnecessário?”
Sua mão deslizou sobre meu estômago. “Deixe-me fazer você terminar.”
Era como ser oferecido um aperitivo extra quando a refeição não estava disponível. “Não,” eu disse, com o rosto vermelho de frustração. “Eu não quero um trabalho pela metade, eu quero um ato sexual completo, do início ao fim. Eu quero ser considerada uma mulher adulta que tem o direito de decidir o que faz com o próprio corpo.”
“Querida, acho que acabamos de provar sem sombra de dúvida que eu penso em você como uma mulher adulta. Mas eu não vou tomar alguém que acabou de passar por uma experiência de quase morte, trazê-la para meu apartamento e dar a ela álcool, e então tomar vantagem dela enquanto ela está se sentindo grata. Isso não vai acontecer.”
Meus olhos se arregalaram. “Você acha que eu dormiria com você por gratidão?”
“Eu não sei. Mas eu quero dar um dia ou dois pra desgastar.”
“Eu já estou desgastada, seu grande idiota!” Eu sabia que eu não estava sendo justa com ele, mas não podia evitar. Eu estava sendo deixada sem salvação, bem no ponto, quando meu corpo estava pronto para entrar em chamas.
“Eu estou tentando ser um cavalheiro, droga.”
“Bom, agora é um bom momento para começar!”
Eu não podia ficar no apartamento dele por mais um minuto—eu estava com medo de fazer algo que embaraçasse a ambos. Como me atirar sobre ele e implorar. Levantando-me do sofá, eu apertei o cinto do robe ao redor da minha cintura e fui em direção à porta.
Hardy estava atrás de mim imediatamente. “Aonde você está indo?”
“Para o meu apartamento.”
“Deixe-me pegar suas roupas primeiro.”
“Não se incomode. As pessoas usam robes quando estão indo para a piscina.”
“Elas não estão nuas por debaixo.”
“E daí? Você tá com medo de que alguém seja tão dominado por luxúria que me agarre no meio do corredor? Ah, se eu fosse tão sortuda.” Abri a porta e saí para o corredor. Eu estava, na verdade, grata pela explosão de raiva revigorante—ela não dava muito espaço para eu me preocupar com o elevador.
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Traduzido por Grupo Shadows Secrets 168
Hardy me seguiu, e esperou ao meu lado até que as portas do elevador se abriram. Nós entramos juntos, ambos descalços. “Haven, você sabe que estou certo. Vamos conversar sobre isso.”
“Se você não quer fazer sexo, eu não quero conversar sobre nossos sentimentos.”
Ele passou a mão pelo cabelo, parecendo confuso. “Bem, essa é certamente a primeira vez que uma mulher disse isso para mim.”
“Eu não levo rejeição muito bem,” murmurei.
“Não é rejeição. É um adiamento. E se Jack Daniel’s te deixa tão mal-humorada, então nunca mais vou te servir outra dose.”
“Não tem nada a ver com o uísque. Eu estou mal-humorada por mim mesma.”
Pareceu que Hardy percebeu que não importava o que dissesse, só iria me irritar mais ainda. Então ele permaneceu estrategicamente em silêncio até que alcançamos minha porta. Entrei com a combinação e dei um passo através do umbral.
Hardy olhou para mim. Ele estava desgrenhado, apetitoso e sensual. Mas não estava pedindo desculpas.
“Ligarei amanhã,” disse.
“Não vou atender.”
Hardy deslizou um olhar longo e preguiçoso sobre mim, as dobras do seu próprio robe ao meu redor, e meus pés nus. Um sorriso ameaçou aparecer no canto da sua boca. “Você vai atender,” disse.
Fechei a porta com rapidez. Eu não precisava ver seu rosto para saber que havia um sorriso arrogante nele.
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13
Eu apareci para o trabalho às oito e meia da manhã seguinte e fui imediatamente cercada por Kimmie, Samantha, Phil, e Rob. Todos eles se aliviaram sabendo que eu estava bem, e perguntaram sobre a inundação e como que tinha sido ficar presa no elevador, e como eu tinha saído.
“Eu consegui chamar um amigo meu antes do meu celular sair de serviço,” expliquei. “Ele apareceu e... Bem, estava tudo bem depois disso.”
“Foi o Sr. Cates, não foi?” Rob perguntou. “David me disse.”
“O nosso inquilino Sr. Cates?” Kimmie perguntou, e sorriu para a minha tímida concordância.
Vanessa veio ao meu cubículo, parecendo preocupada. “Haven, você está bem? Kellie Reinhart ligou e me contou o que aconteceu ontem à noite.”
“Estou bem,” eu disse. “Pronta para o trabalho como de costume.” Ela riu. Talvez eu fosse a única pessoa que ouviu a beira condescendente disso.
“Você é uma lutadora, Haven. Bom para você.”
“De qualquer forma,” Kimmie me disse, “nós tivemos uma meia dúzia de chamadas esta manhã, perguntando se você era a mulher no elevador. Acho que a mídia local quer fazer um negócio todo em cima dos Travis. Então, eu banquei a estúpida e disse que até onde eu sabia, não era você.”
“Obrigada,” eu disse, consciente da ligeira diminuição dos olhos de Vanessa. Tanto quanto eu não gostava de ser uma Travis, ela não gostava de eu ser uma Travis ainda mais.
“Tudo bem, todo mundo,” disse Vanessa, “vamos todos voltar ao trabalho.” Ela esperou até que os outros tinham deixado meu cubículo, antes de dizer agradavelmente, “Haven, venha ao meu escritório e vamos tomar um café enquanto nós vamos conversamos sobre seu encontro com Kellie.”
“Vanessa, me desculpe, mas eu não vou ser capaz de lembrar tudo o que se passou.”
“Está no seu computador, não é?”
“Eu não tenho o computador,” eu disse me desculpando. “Ele se afogou.”
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Vanessa suspirou. “Oh, Haven. Eu gostaria que você fosse mais cuidadosa com as propriedades do escritório.”
“Desculpe, mas não foi possível salvá-lo. A água estava chegando e—”
“Olhe as suas notas, então. Você fez anotações, não é?"
“Sim, mas elas estavam na minha pasta... E tudo foi destruído. Vou chamar Kelly e tentar reconstruir a reunião, tão bem como eu puder, mas—”
“Honestamente, Haven, você não poderia ter conseguido se agarrar a sua pasta?” Ela me deu um olhar de repreensão suave. “Você tinha que ficar em pânico e derrubar tudo?”
“Vanessa,” eu disse cautelosamente, “o vazamento no elevador foi mais do que apenas uma poça no chão.” Claramente ela não entendia o que tinha acontecido, mas a última coisa que você poderia dizer a Vanessa era que ela não entendia alguma coisa.
Ela revirou os olhos e sorriu como se eu fosse uma criança contando histórias. “Com o seu talento para o drama, não há como dizer o que realmente aconteceu.”
“Hey.” Uma rica, fácil voz nos interrompeu. Jack. Ele entrou no cubículo, e Vanessa se virou para ele.
Seus dedos finos graciosamente colocaram uma mecha do pálido e perfeito cabelo atrás da orelha. “Olá, Jack.”
“Olá, pra você.” Ele veio, examinou-me cuidadosamente, e estendeu a mão para me puxar contra seu peito em um abraço breve. Eu endureci um pouco. “Sim, eu não dou a mínima que você não gosta de ser tocada,” disse Jack, continuando a me abraçar. “Você me assustou como o inferno na noite passada. Parei no seu apartamento um par de minutos atrás, e não houve resposta. O que você está fazendo aqui?”
“Eu trabalho aqui,” eu disse com um sorriso torto.
“Não hoje. Você vai tirar o dia de folga.”
“Eu não preciso fazer isso,” eu protestei, consciente do olhar de pedra de Vanessa.
Jack finalmente me soltou. “Sim, você precisa. Relaxe. Tire uma soneca. E certifique-se de ligar para Gage, Joe, papai, e Todd... Todos querem falar com você. Ninguém te ligou em casa, pro caso de você estar dormindo.”
Eu fiz uma careta. “Eu que vou ter que repetir toda a história quatro vezes?”
“Creio que sim.”
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“Jack,” Vanessa interrompeu docemente. “Eu não acho que seja necessário fazer Haven tomar um dia de folga. Nós vamos cuidar bem dela. E pode ajudar a tirar a mente dela do trauma de ficar presa naquele elevador.”
Jack deu-lhe um olhar estranho. “Foi mais do que ficar presa em um elevador,” ele disse a ela. “Minha irmã ficou presa como um peixinho em um balde de isca. Eu conversei com o cara que a puxou para fora a noite passada. Ele disse que a cabine do elevador estava quase cheia de água, e completamente escura. E ele não sabia de qualquer outra mulher que teria lidado com isso, assim como Haven fez.”
Hardy disse isso sobre mim? Eu fiquei satisfeita e lisonjeada... e eu também estava fascinada pelas rápidas e sutis contorções que trabalharam no rosto de Vanessa.
“Bem, é claro que você deve tomar o dia de folga,” ela exclamou, assustando-me, colocando um braço em volta dos meus ombros. “Eu não tinha ideia que tinha sido tão ruim, Haven. Você devia ter me contado.” Ela me deu um aperto carinhoso. A seca, cara fragrância de perfume, e a sensação de seu braço em volta de mim, fizeram minha pele arrepiar. “Pobrezinha. Vá para casa e descanse. Existe algo que eu possa fazer por você?”
“Obrigada, mas não,” eu disse, avançando para longe dela. “Realmente, eu estou bem. E eu quero ficar.”
Jack olhou para mim com carinho. “Vá, querida. Você está tirando o dia de folga.”
“Eu tenho uma tonelada de coisas para fazer,” eu disse a ele.
“Eu não dou a mínima. Tudo vai estar aqui amanhã. Certo, Vanessa?”
“Certo,” disse ela alegremente. “Acredite em mim, não será problema cobrir você Haven.” Ela acariciou minhas costas. “Tome cuidado, querida. Me ligue se precisar de alguma coisa.”
Os saltos altos deixaram profundas, pontilhadas goivas no carpete do escritório quando ela saiu.
“Eu realmente deveria ficar,” disse a Jack.
Sua expressão era intratável. “Vá visitar o papai,” disse ele. “Ele quer vê-la. E não faria mal a qualquer um de vocês tentar conversar como um par de pessoas civilizadas, para uma mudança.”
Dei um suspiro e peguei minha bolsa. “Claro. Eu não tive emoção suficiente nos últimos dois dias.”
Deslizando as mãos nos bolsos, Jack ficou me olhando com um olhar estreitado. Sua voz baixa. “Ei... Cates tentou alguma coisa com você na noite passada?”
"Você está perguntando como um irmão ou um amigo?”
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Ele teve que pensar sobre isso. “Amigo, eu acho.”
“Tudo bem.” Continuei com o sussurro mais suave possível. “Eu parti pra cima dele, e ele me dispensou. Ele disse que não queria se aproveitar de mim.”
Jack piscou. “Quem diria.”
“Ele foi muito arrogante sobre isso,” eu disse, tornando-me mal-humorada. “E toda essa atitude ‘Eu sou o homem, eu tenho que decidir’ não funciona comigo.”
“Haven, ele é um texano. Não somos geralmente conhecidos pela nossa sensibilidade e tato. Você quer um cara assim, vá encontrar um metrossexual. Ouvi dizer que há um monte deles em Austin.”
Um sorriso relutante rompeu minha indignação. “Eu não tenho certeza que você sequer sabe o que é um metrossexual, Jack.”
“Eu sei que não sou um deles.” Ele sorriu e sentou-se na beirada da minha mesa. “Haven, todo mundo sabe que eu não morro de amores por Hardy Cates. Mas eu tenho que parabenizá-lo dessa vez. Ele fez a coisa certa.”
“Como você pode defendê-lo?”
Seus olhos negros brilharam. “Mulheres,” disse ele. “Vocês ficam loucas quando um homem toma atitude com vocês, e ficam ainda mais furiosas quando ele não toma. Eu juro, não há maneira de ganhar.”
Alguns homens eram parciais para suas filhas. Meu pai não era um deles. Talvez se tivéssemos passado mais tempo juntos, papai e eu poderíamos ter encontrado um terreno comum, mas ele sempre estava muito ocupado, muito focado. Papai tinha dado a responsabilidade de criar a filha exclusivamente ao controle de mamãe, e não importava quanto ela talhava e lascava, ela nunca tinha sido capaz de fazer uma cavilha quadrada encaixar em um buraco redondo.
Minha atitude piorava quanto mais mamãe tentava fazer de mim o tipo certo de filha. Os bens que tinham sido considerados não-feminino—o meu estilingue, minha munição de pistola, o meu conjunto cowboy-e-índo de plástico, o chapéu de Rangers que Joe tinha me dado—desapareceram ou foram dados. “Você não quer esses,” ela disse quando eu reclamei. “Essas coisas não são apropriados para as meninas.”
As duas irmãs de mamãe tinham sido complacentes à sua situação, uma vez que era óbvio que nada poderia ser feito comigo. Mas eu achava que elas haviam tomado alguma satisfação secreta na situação. Mesmo que seus maridos não tivessem sido capazes de comprar para elas uma mansão em River Oaks, elas conseguiram tornar minhas primas
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Karma, Jaci e Susan, todas pequenas damas perfeitas. Mas mamãe, que tinha tudo no mundo que ela queria, tinha ficado presa comigo.
Eu sempre soube que eu nunca teria ido para Wellesley se minha mãe ainda estivesse viva. Ela tinha sido uma dedicada antifeminista, embora eu não tivesse certeza se ela ainda sabia o porquê. Talvez porque o sistema sempre funcionou bem para ela, a esposa de um homem rico. Ou, possivelmente, porque ela acreditava que você nunca poderia alterar a ordem das coisas, as naturezas dos homens eram o que eram, e ela não era de bater sua cabeça contra a parede. Muitas mulheres de sua geração acreditavam que havia virtude em tolerar a discriminação.
Seja qual for a razão, mamãe e eu tínhamos certamente nossas diferenças. Eu me sentia culpada porque sua morte tinha me permitido ter minhas próprias crenças e ir para a faculdade que eu queria. Papai não tinha ficado feliz com isso, é claro, mas ele estava muito agoniado para discutir. E provavelmente tinha sido um alívio para ele me tirar do Texas.
Eu liguei para meu pai no meu caminho para River Oaks para me certificar de que ele estava em casa. Desde que meu carro tinha sido detonado pelas inundações na garagem, eu estava dirigindo um carro alugado. Fui recebida na porta da frente pela governanta, Cecily. Ela havia trabalhado para os Travis desde quando eu podia lembrar. Ela era velha, mesmo quando eu era criança, seu rosto forrado com rugas que você poderia cunhar um centavo dentro.
Enquanto Cecily dirigia-se à cozinha, fui até meu pai, que estava relaxando na sala da família. A sala estava ladeada por lareiras em cada lado, e era grande o suficiente para que você pudesse estacionar um navio cargueiro pessoal nela. Meu pai estava em uma extremidade do quarto, relaxando em um sofá da sala com os pés apoiados.
Papai e eu não tínhamos passado nenhum tempo real juntos desde o meu divórcio. Nós nos víamos apenas em visitas de curta duração, com outras pessoas presentes. Parecia que ambos sentíamos que passar por uma conversa privada era mais problema do que valia a pena.
Quando olhei para meu pai, percebi que ele estava ficando velho. Seu cabelo tinha ficado mais branco do que cinza, e seu bronzeado tabaco tinha se desvanecido, evidência de que ele estava gastando menos tempo ao ar livre. E ele tinha uma espécie de ar resolvido, o olhar de um homem que tinha parado de se esforçar e se apressar para pegar a próxima coisa ao virar a esquina.
“Oi, papai.” Inclinei-me para beijar sua bochecha, e me sentei ao lado dele.
Seus olhos escuros me inspecionaram com cuidado. “Nenhum grande dano, pelo que parece.”
“Não.” Eu sorri para ele. “Graças a Hardy Cates.”
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Traduzido por Grupo Shadows Secrets 174
“Você chamou ele, não é?”
Eu sabia aonde isso ia levar. “É. Sorte que eu tinha o meu celular.” Antes que ele pudesse continuar a linha de questionamento, eu tentei desviar. “Acho que vou ter uma boa história para contar a minha terapeuta quando ela voltar de férias.”
Papai franziu a testa em desaprovação, como eu sabia que ele iria. “Você vai a uma doutora de cabeça?”
“Não diga ‘doutora de cabeça’, papai. Eu sei que é do que as pessoas costumavam chamar os profissionais de saúde mental, mas agora isso tem um significado diferente.”
“Como o quê?”
“É uma gíria para uma mulher que é boa... em certa atividade na cama.”
Meu pai balançou a cabeça. “Os jovens.”
Eu sorri para ele. “Eu não costumo usar isso. Estou apenas tentando mantê-lo atualizado. Então... Sim, eu estou indo a uma terapeuta e ela me ajudou muito até agora.”
“É um desperdício de dinheiro,” disse papai, “pagar alguém para ouvi-la reclamar. Tudo o que fazem é dizer o que você quer ouvir.”
Até onde eu sabia, meu pai sabia quase nada sobre terapia. “Você nunca me contou sobre seu diploma de psicologia, pai.”
Ele me deu um olhar sombrio. “Não diga às pessoas que você está indo a um terapeuta. Elas pensam que algo está errado com você.”
“Eu não fico envergonhada em saber que alguém sabe que tenho problemas.”
“Os únicos problemas que você tem são os que você fez para si mesma. Como se casar com Nick Tanner quando eu lhe disse para não casar.”
Sorri tristemente quando eu refleti que meu pai nunca perdia uma chance de dizer ‘eu te avisei’. “Eu já admiti que você estava certo sobre Nick. Você pode continuar a lembrar-me sobre isso, e eu posso continuar admitindo que eu estava errada, mas eu não acho que seja produtivo. Além disso, você estava errado na forma como lidou com isso.”
Seus olhos brilharam com aborrecimento. “Eu não desisti dos meus princípios. Faria isso novamente.”
Eu me perguntei quando ele tinha tido suas noções de paternidade. Talvez ele pensava que era bom para seus filhos ter a figura de autoridade que ele nunca teve. Seu medo de admitir que estava errado, sobre qualquer coisa, parecia como uma força para ele. Parecia fraqueza para mim.
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“Pai,” eu disse hesitante, “Eu queria que você pudesse estar lá para mim mesmo quando eu estivesse fazendo a coisa errada. Eu queria que você pudesse me amar mesmo quando eu estiver errando.”
“Isso não tem nada a ver com amor. Você precisa saber que há consequências na vida, Haven.”
“Eu já sei disso.” Eu havia enfrentado consequências que meu pai nem sequer sabia. Se tivéssemos tido um relacionamento diferente, eu teria adorado as confidenciar a ele. Mas isso exigia um tipo de confiança que levava anos para acumular. “Eu não deveria ter me apressado em casar com Nick,” eu admiti. “Eu deveria ter tido um melhor juízo. Mas eu não sou a única mulher que já caiu de amores pelo homem errado.”
“Sua vida inteira,” disse ele amargamente, “tudo que você sempre quis foi fazer o oposto do que sua mãe ou eu dizia. Você foi mais contrária do que todos os três meninos juntos.”
“Eu não queria ser. Eu só queria sua atenção. Eu teria feito qualquer coisa para conseguir algum tempo com você.”
“Você é uma mulher adulta, Haven Marie. Tudo o que você fez ou não começou quando você era uma criança, você precisa superar isso.”
“Estou superando,” eu disse. “Estou cheia de ficar esperando com que você seja diferente do que você é. Eu gostaria que você fizesse o mesmo por mim, e então talvez nós dois pudéssemos parar de ficar tão decepcionados um com o outro. A partir de agora, eu vou tentar fazer as melhores escolhas. Mas se isso significa fazer algo que te tira do sério, que assim seja. Você não tem que me amar. Eu te amo de qualquer jeito.”
Papai não pareceu ouvir isso. Ele tinha a intenção de descobrir algo. “Eu quero saber o que está acontecendo com você e Hardy Cates. Você está saindo com ele?”
Eu sorri ligeiramente. “Isso é da minha conta.”
“Ele tem uma reputação,” avisou papai. “Ele vive em uma velocidade: escancarada. Sem parada para se casar.”
“Eu sei,” disse. “Eu também.”
“Eu estou avisando, Haven, ele vai passar por cima de você. Ele é um caipira do leste do Texas sem conta. Não me dê outra razão para dizer ‘eu avisei’.”
Eu suspirei e olhei para ele, este pai que sempre estava convencido de que sabia mais. “Diga-me, pai... Quem seria o cara certo para mim? Dê-me um exemplo de alguém que você aprove.”
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Recostando-se confortavelmente, ele tamborilou com os dedos no seu diafragma. “O garoto do George Mayfield, Fisher. Ele ficará com dinheiro um dia. Bom caráter. Família sólida. Boa aparência também.”
Fiquei horrorizada. Eu tinha ido à escola com Fisher Mayfield. “Pai, ele tem a personalidade mais amena e vacilante em todo o mundo. Ele é um humano equivalente a macarrão frio.”
“E o que você acha do filho de Sam Schuler?”
“Mike Schuler? O velho amigo de Joe?”
Pai concordou. “Seu pai é um dos melhores homens que eu conheço. Temente a Deus, trabalhador. E Mike sempre teve as melhores maneiras de qualquer jovem que eu já conheci.”
“Mike se transformou em um maconheiro, pai.”
Meu pai olhou ofendido. “Ele não fez isso.”
“Pergunte a Joe se você não acredita em mim. Mike Schuler é o responsável pela renda anual de milhares de agricultores colombianos de maconha.”
Papai balançou a cabeça em desgosto. “Qual é o problema com a geração mais jovem?”
“Eu não tenho ideia,” eu disse. “Mas se essas são suas melhores sugestões, pai... O caipira do leste do Texas sem conta está parecendo muito bom.”
“Se você começar a sair com ele,” meu pai disse, “você tenha certeza de que ele saiba que nunca vai colocar as mãos sobre o meu dinheiro.”
“Hardy não precisa do seu dinheiro,” eu tinha prazer em dizer. “Ele tem o seu próprio dinheiro, pai.”
“Ele vai querer mais.”
Depois de almoçar com meu pai, eu voltei para o meu apartamento e tirei uma soneca. Acordei repetindo a conversa que tivemos, e meditando sobre sua falta de interesse em qualquer comunicação real entre pai e filha. Isso me deprimiu, percebendo que eu não iria nunca obter o mesmo tipo de amor dele o qual eu estava disposta a dar. Então eu liguei para Todd e lhe contei sobre a visita.
“Você estava certo sobre algo,” eu disse. “Eu tenho um complexo patético de pai.”
“Todo mundo tem, querida. Você não é especial.”
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Eu ri. “Quer vir e tomar uma bebida no bar?”
“Não posso. Tenho um encontro esta noite.”
“Com quem?”
“Uma mulher muito quente,” disse Todd. “Nós estamos trabalhando juntos. E você? Já selou o acordo com Hardy?”
“Não. Era pra ele me ligar hoje, mas até agora—” Parei quando ouvi o beep da chamada em espera. “Pode ser ele. Eu tenho que ir.”
“Boa sorte, querida.”
Eu cliquei sobre a segunda chamada. “Olá?”
“Como está se sentindo?” O som do sotaque de Hardy borbulhou lentamente em cada nervo meu.
“Bem.” Minha voz soou como um guincho de balão. Limpei a garganta. “Como você está?... Tirou algum músculo do lugar ontem?”
“Não. Tudo funcionando.”
Fechei os olhos e soltei um suspiro enquanto eu absorvia o quente, paciente silêncio entre nós.
“Ainda com raiva de mim?” Hardy perguntou.
Eu não pude segurar um sorriso. “Eu acho que não.”
“Então você vai sair para jantar comigo esta noite?”
“Sim.” Meus dedos enrolados firmemente em torno do telefone. Fiquei imaginando o que eu estava fazendo, concordando com um encontro com Hardy Cates. A minha família teria um ataque. “Eu gosto de comer cedo,” eu disse a ele.
“Eu também.”
“Venha para o meu apartamento às seis?”
“Eu vou estar lá.”
Depois que ele desligou, eu me sentei em silêncio por alguns minutos, pensando.
Eu sabia que meu pai diria que eu não tinha ideia no que estava me metendo, saindo com Hardy Cates. Mas quando você começa a sair com alguém, você nunca pode ter certeza no que você está se metendo. Você tinha que dar a alguém a chance de mostrar como ele realmente era... e acreditar nele quando ele mostrasse.
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Traduzido por Grupo Shadows Secrets 178
Eu vesti jeans e salto alto e um top cor amarelado com um broche brilhante segurando uma alça ao corpete. Usando uma chapinha, eu trabalhei no meu cabelo, até que estava brilhante e as extremidades estavam todas voltadas para cima. Desde que o tempo estava úmido, eu usei um mínimo de maquiagem, apenas um toque de rímel e cor de cereja colorindo os lábios.
Ocorreu-me que eu estava muito mais nervosa com a ideia de dormir com Hardy do que eu tinha estado com Nick quando eu era uma virgem. Provavelmente porque com o primeiro cara, você descobre que você tem um passe de iniciante. Com o segundo, no entanto, seria de se esperar algo mais. Não ajudava que eu tinha feito recentemente um questionário em uma revista feminina intitulado: “Você é boa de cama?” e a minha pontuação tinha me colocado na categoria de Garota inibida, e tinha dado todos os tipos de sugestões para eu melhorar as minhas “habilidades carnais”, das quais a maioria soava sem higiene, desconfortáveis, ou simplesmente sem graça.
Até o momento que eu ouvi a campainha tocar, alguns minutos antes das seis, a tensão tinha se recolhido até o meu esqueleto inteiro sentir como se tivesse sido preso com parafusos de metal apertados. Abri a porta. Mas não era Hardy.
Lá estava o meu ex-marido, vestido em um terno e gravata, perfeitamente cuidadas e sorrindo. “Surpresa,” disse ele, e agarrou meu braço antes que eu pudesse mover-me.
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14
Eu recuei, tentando me libertar, mas ele seguiu-me através da soleira da porta. O sorriso de Nick nunca vacilou. Eu empurrei sua mão para longe de mim e encarei ele, tentando manter o alarme exposto em meu rosto.
Eu estava no meio de um pesadelo. Eu pensei que não podia ser real, exceto que a miséria e o medo e a raiva estavam fervilhando sobre mim como insetos, e esse sentimento era um todo muito familiar. Ele tinha sido minha realidade por quase dois anos.
Nick parecia saudável, em forma, um pouco mais pesado do que ele tinha estado durante nosso casamento. A forma redonda de sua nova face enfatizou uma infantilidade que não cairia bem à medida que ele envelhecia. Mas no geral lhe dava uma aparência de um escrupuloso, próspero, conservador cara.
Somente alguém que conhecia ele como eu estaria ciente do monstro lá dentro.
“Eu quero que você saia, Nick.”
Ele deu uma risada confusa, como se minha hostilidade silenciosa estivesse indo contra seu campo de ação. “Meu Deus, Marie. Eu não vi você em meses, e isso é a primeira coisa que você diz?”
“Eu não convidei você aqui. Como você encontrou meu apartamento? Como você conseguiu passar pela portaria?” David nunca deixava não-residentes dentro do edifício sem primeiro obter aprovação.
“Eu descobri onde você estava trabalhando, e eu fui ao seu escritório. Acabei falando com sua supervisora, Vanessa—ela me disse que você vivia aqui no edifício. Ela me deu o número do seu apartamento e disse para ir direto para cima. Garota legal. Ela disse que me mostraria ao redor de Hudson quando eu quiser.”
“Vocês dois tem muito em comum,” eu disse laconicamente. Maldita Vanessa! Eu havia lhe dito o suficiente sobre meu passado para fazê-la ciente de que eu não tinha uma boa relação com meu primeiro marido. Nenhuma surpresa que ela faria uso de qualquer oportunidade para causar problemas.
Nick se aventurou mais dentro do apartamento.
“O que você quer?” Eu perguntei, me afastando.
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Traduzido por Grupo Shadows Secrets 180
“Apenas pensei em aparecer e dizer oi. Eu estou na cidade para uma entrevista de emprego com uma companhia de seguros. Eles precisam de um estimador. Eu estou certo que eu o conseguirei—eu sou totalmente o melhor cara para a posição.”
Ele foi entrevistado para um emprego em Houston? Eu fiquei doente com o pensamento. Uma cidade com uma população de dois milhões ainda não era grande o suficiente para dividir com meu ex-marido.
“Eu não estou interessada em seus planos de carreira.” Eu tentei manter minha voz firme. “Você e eu não temos mais nada a ver um com o outro.” Eu me movi em direção ao telefone. “Saia, ou eu vou chamar a segurança do prédio.”
“Ainda com o drama,” Nick murmurou, rolando seus olhos. “Eu vim para lhe fazer um favor, Marie, se você me deixar falar tempo suficiente para—”
“Haven,” eu vociferei.
Ele balançou a cabeça, como se ele estivesse diante de uma criança que estava tendo um ataque de raiva. “Ok. Cristo. Eu tenho algumas coisas que lhe pertencem. Eu gostaria de lhe devolvê-las.”
“Que coisa?”
“Coisas como um lenço, uma bolsa...e aquele charmoso bracelete que você recebeu de sua Tia Gretchen.”
Eu tinha dito a meu advogado para solicitar a devolução do bracelete, e Nick tinha alegado que ele foi perdido. Eu o conhecia melhor, é claro. Mas a chance de tê-lo de volta causou-me uma pontada de saudade. Isto era um pedaço de meu passado que significava muito para mim.
“Ótimo,” eu me ouvi dizer casualmente. “Onde ele está?”
“De volta ao meu hotel. Encontre-me amanhã, e o trarei.”
“Basta enviá-lo para mim.”
Ele sorriu. “Você não pode ter algo por nada, Haven. Você pode ter suas coisas de volta, incluindo aquele bracelete—mas você tem que encontrar-me pessoalmente. Apenas para conversar. Um local público é bom, se é isso o que você quer.”
“Tudo o que eu quero é que você saia.” Eu me perguntei quando Hardy apareceria. Provavelmente a qualquer minuto agora. E então não havia como prever o que aconteceria. Suor acumulou entre minha pele e roupas, fazendo o tecido aderir em manchas salgadas. “Eu estou esperando alguém, Nick.”
Mas imediatamente eu soube que era a coisa errada a dizer. Em fez de fazê-lo sair, isso garantiu que ele ficaria. Nick queria dar uma olhada no próximo homem da fila.
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Traduzido por Grupo Shadows Secrets 181
“Você não disse que estava namorando.”
“Bem, agora eu estou.”
“Há quanto tempo você o conhece?”
Eu olhei para ele friamente, recusando em responder.
“Será que ele sabe sobre mim?” Nick pressionou “Você já transou com ele?” Seu tom de voz era suave, mas havia desprezo e raiva em seu olhar.
“Você não tem nenhum direito de estar perguntando isso.”
“Talvez ele tenha mais sorte descongelando você do que eu fiz.”
“Talvez ele já tenha,” eu atirei de volta, e tive a satisfação de ver seus olhos aumentarem em fúria surpresa.
Eu vi o movimento, alguém vindo pela porta de entrada...era a longa, magra forma de Hardy. Ele parou por um momento, avaliando a situação. E seus olhos se estreitaram quando Nick virou-se para ele.
Eu sabia que Hardy percebeu imediatamente quem meu visitante era. Ele podia dizer pelo peso da raiva esmagadora no ar, e a brancura que empalidecia meu rosto.
Eu nunca tinha esperado fazer comparações físicas diretas entre os dois homens. No entanto, com ambos na mesma sala, era impossível não fazer isso. Objetivamente falando, Nick era mais bonito, com menores, mais esculpidas características. Mas a boa aparência das feições de Hardy e sua autoconfiança faziam Nick parecer imaturo. Disforme.
Quando Nick olhou para Hardy, sua postura agressiva aclamou-se, e ele realmente deu um passo para trás. Independente do tipo de homem que Nick tinha estado esperando me namorar, ele não era isso. Meu primeiro marido sempre tinha se sentido superior a todos—eu nunca tinha visto ele tão visivelmente intimidado.
Me ocorreu que Hardy, um veterano, homem de alta octanagem, era a versão autêntica do que Nick sempre esteve fingindo ser. E porque Nick sabia lá no fundo que ele era uma fraude como um homem, ele ocasionalmente cedia à fúria explosiva que eu tinha sido vítima.
Hardy entrou no apartamento e veio até mim sem hesitação, passando rapidamente por Nick. Eu tremi quando ele deslizou o braço em volta de mim, seus olhos azuis escuros quando ele olhou para baixo. “Haven,” ele murmurou. O som de sua voz pareceu destravar uma braçadeira em torno dos meus pulmões—eu não tinha estado consciente que eu tinha estado segurando minha respiração. Eu tomei um pouco de ar. Seu agarre apertado, e eu senti parte de sua vitalidade sobressaltar dentro de mim como uma corrente elétrica.
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“Aqui,” Hardy disse, pressionado alguma coisa dentro do meu alcance. Eu olhei para baixo para a oferta. Flores. Uma explosão de deslumbrantes cores misturadas.
“Obrigada,” eu consegui dizer.
Ele sorriu levemente. “Vá colocá-las na água, querida.” E depois, para minha descrença, eu senti ele dar um familiar tapinha na minha bunda, bem na frente de Nick. O clássico sinal masculino de isso é meu.
Eu ouvi meu ex-marido tomar uma rápida respiração. Lançando um olhar para ele, eu vi o brilho da raiva começar no colarinho de sua camisa, subindo rápido. Houve um tempo onde isso inflamaria uma onda de fúria que seria precursora de uma indescritível miséria para mim. Mas não mais.
Eu senti uma estranha mistura de emoções... um mal estar instintivo pelo olhar de raiva de Nick...uma pontada de aborrecimento no de Hardy... mas principalmente uma sensação de triunfo, sabendo que não importava o quanto Nick queria punir-me, ele não podia.
E embora eu nunca tenha especialmente gostado do fato de que Hardy era tão fisicamente imponente, eu gostei disso naquele momento. Porque só havia uma coisa que um valentão como Nick respeitava, e isso era um grande provocador.
“O que o traz a Houston?” Eu ouvi Hardy perguntar casualmente quando eu fui até a pia da cozinha.
“Entrevista de emprego,” Nick respondeu em um tom brando. “Eu sou Nick Tanner, Haven era—”
“Eu sei quem você é.”
“Eu não captei seu nome.”
“Hardy Cates.”
Olhando para trás, eu vi que nenhum deles tinha mudado para apertar as mãos.
O nome tocou um sino para Nick—eu vi o lampejo de reconhecimento em suas feições—mas ele não pôde perfeitamente colocar em contexto. “Cates...não havia um problema entre você e os Travis a um tempo atrás?”
“Você pode dizer assim,” Hardy respondeu, soando nem um pouco arrependido. Uma pausa proposital, e então ele acrescentou. “Consegui amizade com um deles, no entanto.”
Ele estava se referindo a mim, é claro. Pressionando Nick de propósito. Eu enviei um olhar de aviso a Hardy, que passou completamente despercebido, e eu vi o tremor de indignação correr pelo rosto de Nick.
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“Nick estava saindo,” eu disse rapidamente. “Adeus, Nick.”
“Eu vou te ligar,” Nick disse.
“Eu prefiro que você não o faça.” Eu voltei para a pia, incapaz de olhar para meu ex-marido mais um segundo.
“Você a ouviu,” veio o murmúrio de Hardy. E houve algo mais, alguma breve troca de palavras diante da porta fechada firmemente.
Eu deixei escapar um suspiro estremecendo, sem saber que eu estava segurando o molho de hastes das flores até que eu olhei para baixo e vi uma mancha de sangue na parte carnuda de meu polegar direito. Um espinho o tinha furado. Eu corri por um pouco de água sobre minha mão para limpá-la, enchi um vaso, e coloquei as flores nele.
Hardy veio atrás de mim, proferindo uma exclamação quando ele viu o sangue em minha mão.
“Está tudo bem,” eu disse, mas ele tomou minha mão e segurou-a embaixo d’água. Quando o ferimento minúsculo foi lavado, ele alcançou o papel toalha e dobrou-o um par de vezes.
“Mantenha a pressão sobre ele.” Ele ficou de frente para mim, segurando o papel toalha contra a palma da minha mão. Eu fiquei tão instável pela visita de Nick que eu não conseguia pensar em alguma coisa para dizer. Infelizmente eu reconhecia que eu não podia jogar fora meu passado como um par de sapatos. Eu nunca estaria livre dele. Eu podia seguir em frente, no entanto Nick sempre seria capaz de me encontrar, voltando para dentro de minha vida, lembrando-me de coisas que eu teria dado tudo para esquecer.
“Olhe para mim,” Hardy disse depois de um minuto.
Eu não queria. Eu sabia que ele leria meu rosto muito facilmente. Eu não pude evitar a lembrança do que Todd tinha dito sobre ele... “Você observa seus olhos. Mesmo quando ele está fazendo sua rotina regular de cara, ele está tomando medidas, aprendendo, a cada maldito segundo...”
Mas eu forcei a mim mesma a encontrar seu olhar.
“Você sabia que ele estava na cidade?”
“Não, isso foi uma surpresa.”
“O que ele queria?”
“Ele disse que ele tinha algumas velhas coisas minhas que queria me devolver.”
“Como o quê?”
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Eu balancei minha cabeça. Eu não estava com vontade de contar-lhe sobre o bracelete de tia Gretchen. Certamente eu não estava prestes a explicar que eu tinha deixado ele para trás porque eu tinha sido espancada e jogada para fora nos degraus em frente de minha própria casa. “Nada que eu queira,” eu menti. Eu puxei minha mão da sua e removi o papel toalha. O sangramento havia parado. “O que você disse para Nick na porta?”
“Eu disse que se ele aparecesse aqui de novo, eu chutaria sua bunda.”
Meus olhos se arregalaram. “Você não fez isso realmente, fez?”
Ele pereceu presunçoso. “Eu fiz.”
“Você é arrogante... Oh, eu não acredito que você apenas tomou isso sobre si mesmo para...” Eu gaguejei em silêncio, fumegante.
Hardy não estava nem um pouco preocupado. “Isso é o que você quer não é? Não vê-lo novamente?”
“Sim, mas eu não quero que você tome as decisões por mim! Eu me sinto como se tivesse passado minha vida inteira rodeada por homens dominadores—e você provavelmente virá a ser o pior de todos eles.”
Ele teve a coragem de sorrir para isso. “Você pode lidar comigo. Eu te disse antes, eu sou manso.”
Eu lhe dei um olhar sombrio. “Sim, como um cavalo de rodeio pulando amarrado.”
Os braços de Hardy passaram ao redor de mim. Ele abaixou sua cabeça, e sua voz baixa acariciou minha orelha. “Eu acho que você tem essa tarefa talhada para você.”
Uma onda de calor desconcertante passou por mim, algo enraizado em excitação, muito intenso para o nome. E com isso veio um toque de enjoo, e eu senti-me assustada e totalmente retorcida com desejo.
“Vale a pena tentar, não é?” Hardy perguntou.
Eu não estava inteiramente certa sobre o que nós estávamos falando. “Eu...eu não estou tentando nada com você até que você prometa parar de agir de modo arrogante.”
Ele aninhou-se atrás de minha orelha. “Haven...você realmente acha que eu ia ficar de lado educadamente enquanto outro homem vem farejar ao redor de minha mulher? Se eu deixasse isso acontecer, eu não seria um homem. E eu certamente como o inferno não seria um texano.”
Eu não estava respirando direito. “Eu não sou sua mulher, Hardy.”
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Ambas as suas mãos curvaram-se ao redor do meu couro cabeludo, angulando meu rosto para cima. Seus polegares acariciando minhas bochechas. Ele deu-me um olhar que desmantelou meu cérebro e desencadeou uma descarga elétrica que cobriu-me dos pés a cabeça. “Isto é algo que vamos corrigir.”
Mais arrogância, eu pensei vagamente. No entanto para minha vergonha de ser politicamente correta, isso fui um grande tesão, enviando um calor como um narcótico injetado através de cada veia. Meus punhos fecharam instintivamente em sua camisa.
Era uma bonita camisa cinza claro que provavelmente custou o equivalente ao pagamento de uma hipoteca média. E eu vi que meu dedo tinha deixado uma mancha vermelha brilhante nela.
“Oh, não.”
“O que?” Hardy olhou para baixou para minha mão. “Droga, isso está sangrando de novo. Nós precisamos colocar um Band-Aid.”
“Eu não me importo com minha mão, é sua camisa! Eu sinto muito.”
Ele pareceu divertir-se com minha preocupação. “É apenas uma camisa.”
“Eu espero que eu não a tenha arruinado. Talvez não seja tarde demais se eu mergulhá-la na pia...” Eu comecei a abrir os botões, estremecendo com a visão do tecido manchado de sangue. “Ela é uma mistura de seda? Talvez eu não deva tentar lavá-la.”
“Esqueça a camisa. Deixe-me ver sua mão?”
“É de lavagem a seco somente? O que a etiqueta diz?”
“Eu nunca li a etiqueta.”
“Coisa de homem.” Eu desfiz outro botão...outro. Meus dedos desaceleraram, mas não pararam. Eu estava despindo ele.
Hardy não se moveu, apenas ficou olhando-me, sua diversão evaporando. Seu peito ficou rígido sobe a camisa branca cegante debaixo, sua respiração tornando-se mais rápida enquanto eu progredia desastrosa.
Eu puxei a barra da camisa livre de seu jeans, o tecido fino amassado e quente de seu corpo.
Tal homem. Uma boa aparência, toda superioridade masculina, tentando tão firmemente não parecer perigoso...ele era absolutamente tentador. Minhas mãos tremeram quando eu alcancei os punhos das mangas, apertando os botões através da nítida camada de tecido engomado.
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Hardy permaneceu imóvel quando eu puxei a camisa de seus ombros. Quando a camisa chegou aos seus pulsos, ele se moveu como se estivesse sonhando, puxando lentamente os braços das mangas. Ele jogou a roupa no chão e alcançou-me.
Eu estava fraca quando seus braços se fecharam ao redor de mim, sua boca descendo tão quente, alcançando-me com pressão. Eu estiquei-me ao redor de seu pescoço, embaixo de sua camisa, encontrando poderosos músculos em cada lado de sua espinha.
Seus lábios deslizaram para minha garganta, explorando delicadamente até que eu me contorci e me arqueei para aproximar-me dele. Excitação rugiu através de mim, e eu parei de pensar, parei de tentar controlar qualquer coisa.
Hardy levantou-me até que eu estava sentada da pequena ilha da cozinha, minhas pernas balançando. Eu fechei meus olhos contra o brilho das luzes artificiais do teto. Sua boca veio para minha, provando e devorando, enquanto suas mãos fecharam sobre minhas coxas e as acariciava separadas. Deus, o modo que ele beijava. Isso nunca tinha sido assim com Nick, ou qualquer um, esse calor urgente derreteu-se em meu centro.
Minhas roupas pareciam muito apertadas, a parte de cima do corpete apertado sobre meus seios, e eu puxei freneticamente as tiras para ficar livre dele. Hardy empurrou minhas mãos longe. Eu senti ele trabalhando nas tiras, soltado os fechos nas costas.
O topo do corpete soltou e caiu para minha cintura. Meus seios pareciam pesados, doloridos, os bicos tornando-se duros quando eles ficaram ao ar frio. Hardy deslizou um braço atrás de minhas costas para apoiar meu peso vacilante. Ele curvou-se sobre mim, sua boca quente quando ele percorreu a inclinação pálida do meu peito. Seus lábios viajaram lentamente para a ponta rosa. Um gemido cresceu em minha garganta enquanto ele chupava, mordiscava, passando de um seio para o outro. Ofegante, eu segurei sua cabeça em mim, o cabelo parecia seda grossa, o cheiro dele tão fresco como Vertiver24.
Ele me puxou para cima, seus braços incrivelmente fortes, e embalou minha cabeça em uma de suas mãos para se alimentar de minha boca novamente. Seus dedos presos em um dos mamilos ainda úmidos de sua boca.
Eu me agarrei a ele, tão perto, precisando de mais, um pouco mais...
Ele pareceu entender. Murmurado contra minha garganta, Hardy puxou o fecho do meu jeans, o abrindo, e começou a puxá-los para baixo sobre meus quadris.
Então algo em mim se partiu.
Eu fiquei fria sem razão, como se eu tivesse acabado de cair em um lago glacial. Eu vi o rosto de Nick, senti os braços de Nick ao redor de mim, suas pernas empurrando entre
24 Espécie de perfume.
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as minhas. Houve um ferrolho no meu peito, como o início de um ataque cardíaco, e minhas entranhas rolaram.
Eu separei-me, chorando e empurrando ele, quase caindo fora da ilha. Hardy agarrou-me, abaixando-me de pé no chão, mas eu estava muito longe naquele momento, movendo-me rápido dele, afastando-me de qualquer toque e chutei e empurrei e arranhei ele como uma coisa selvagem.
Eu devo ter apagado por um momento, porque a próxima coisa que eu sabia, era que eu estava enrolada no sofá, e Hardy estava em pé sobre mim.
“Haven, olhe para mim,” ele disse, e repetiu até que eu obedeci. Eu vi seus olhos azuis, não castanhos. Eu foquei-me neles desesperadamente.
Hardy tinha botado sua descartada camisa de botões sobre meu peito nu. “Respire fundo,” ele disse pacientemente. “Eu não vou tocar em você. Não fique imóvel. Respire.”
Meu estômago estava com espasmos tão dolorosos, que eu estava certa de que ia vomitar. Mas gradualmente os espasmos respiratórios diminuíram um por vez, e o enjoo desapareceu. Hardy deu um breve aceno de cabeça quando minha respiração retornou a algo próximo do normal. “Eu conseguirei um pouco de água. Onde estão os copos?”
“À direita na pia,” eu resmunguei.
Ele foi para a área da cozinha, e eu ouvi a torneira aberta. Enquanto ele estava indo, eu puxei sua camisa e a envolvi ao redor de mim mesma. Eu estava desajeitada, tremendo com abalos adicionais. Quando eu percebi o que tinha acontecido, o quão eu tinha me assustado sobre ele, eu queria morrer. Eu enterrei minha cabeça em meus braços. Eu tinha pensado que tudo estava bem. Tinha me sentido tão bem, mas toda a excitação e prazer se transformaram em pânico.
Algo estava realmente, realmente errado comigo. E eu sabia que se eu não conseguisse estar próxima a este homem, agora, eu nunca estaria próxima a ninguém. Eu nunca estaria bem.
Inundada pelo desespero, eu encolhi-me no canto do sofá. Hardy sentou na mesa de café, em frente a mim. Silenciosamente ele me deu o copo d’água. Minha boca estava tão seca quanto pó, e eu bebi avidamente. Mas depois de alguns goles, a sensação de mal estar ameaçou voltar, e eu coloquei o copo de lado.
Eu forcei a mim mesma a olhar para Hardy. Ele estava pálido em baixo de seu bronzeado, seus olhos azuis elétricos.
Minha mente estava em um completo branco. O que diabos eu devo dizer para ele? “Eu não acho que eu vou fazer isso,” eu me ouvi murmurar. Eu sinto muito.
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Seu olhar trancado em mim. “Haven... Qual é o tipo de problema com que estamos lidando?”
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Eu realmente não queria entrar nisso. Eu desejei que Hardy fosse embora e me deixasse na privacidade para chorar. Eu queria chorar até dormir e nunca acordar. Mas estava bastante claro que Hardy não ia a lugar nenhum até que ele tivesse uma explicação. E Deus sabia que eu lhe devia uma.
Eu fiz um gesto desajeitadamente para uma cadeira no outro lado da mesa. “Se você não se importa...eu posso falar isso mais fácil se você se sentar aí.”
Hardy balançou sua cabeça. O único sinal de emoção em seu rosto eram as linhas duplas entalhadas entre suas sobrancelhas. “Eu não posso,” ele disse, sua voz rouca. “Eu acho que eu sei o que você vai dizer-me. E eu não quero estar longe de você quando você disser isso.”
Eu olhei para longe dele, encolhendo-me dentro do invólucro de sua camisa. Eu só podia falar aos trancos e barrancos. “O que acabou acontecendo foi...Bem, eu comportei-me desse modo porque...eu tenho alguns problemas restantes de meu casamento. Porque Nick era...abusivo.”
A sala ficou mortalmente quieta. Eu ainda não podia olhar para ele.
“Isso começou de poucas formas,” eu disse, “mas ficou pior com o tempo. As coisas que ele dizia, as exigências... os tapas, gritos, punições...Eu continuei o perdoando, e ele continuou prometendo nunca fazer isso novamente...mas ele fazia, e isso ficava pior, e ele sempre me culpava por causar isso. Ele sempre dizia que isso era minha culpa. E eu acreditava nele.”
Eu fui em frente. Eu contei a Hardy tudo. Foi horrível. Era como um desastre de trem acontecendo bem na minha frente e eu não podia fazer nada sobre isso, exceto que eu não era alguém observando, eu também estava no trem. Eu confessei coisas que em um momento mais são eu teria tido dignidade ou senso para filtrar. Mas não havia filtro. Todas as minhas defesas caíram.
Hardy escutou com seu rosto desviado, seu perfil sombreado. Mas seu corpo estava inteiramente tenso, a saliência dura dos músculos projetando-se em seus braços e ombros mais eloquentes que palavras.
Eu até contei a ele sobre a última noite com Nick, o estupro, ser jogada para fora, o caminhar de pés descalços até a mercearia. Enquanto eu falava, eu encolhi-me na feiura do que havia passado.
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Havia um certo alívio nesse pensamento. Uma facilidade. Por que eu sabia que com toda essa bagagem que eu estava descarregando, qualquer chance de um relacionamento com Hardy estava desaparecendo. Sílaba por sílaba. Nenhum homem queria lidar com isso. E isso era para o melhor, porque era óbvio que eu não estava pronta para um relacionamento de qualquer maneira.
Portanto isso era uma despedida.
“Eu não tive a intenção de enganar você,” eu disse a Hardy. “Eu sabia desde o começo que eu estava brincando com fogo, tendo alguma coisa a ver com você. Mas—” Meus olhos lacrimejaram, e eu pisquei ferozmente e falei em uma corrida. “Você era tão bonito e tão bom em beijar e eu queria você tanto noite passada que eu pensei que eu poderia ir até o fim com isso, mas eu fiquei tão confusa e eu apenas não pude fazer isso, eu não posso.”
Eu fiquei em silêncio em seguida. Meus olhos não paravam de vazar. Eu não conseguia pensar em nada mais para dizer a Hardy, exceto que ele poderia ir se quisesse. Mas ele levantou-se e foi até a lareira e apoiou uma mão sobre a abóboda. Ele olhou para o espaço vazio. “Eu vou atrás do seu ex-marido,” eu o ouvi dizer baixinho. “E quando eu terminar, não terá restado o suficiente dele para encher uma porra de uma caixa de fósforo.”
Eu tinha ouvido ameaças mais escandalosas e mais coloridas, mas nunca uma emitida com uma serenidade tranquila que levantou todos os cabelos da parte de trás do meu pescoço.
Hardy virou-se para olhar para mim em seguida. Eu senti-me empalidecer quando eu vi sua expressão. Não era a primeira vez que eu tinha estado sozinha com um homem que tinha assassinato em seus olhos. Desta vez felizmente, a violência não era dirigida a mim. Da mesma forma, isso fez-me inquieta. “Não vale a pena ir para a prisão por Nick,” eu disse.
“Eu não sei sobre isso”. Hardy olhou por um momento, registrando minha inquietação. Sua expressão deliberadamente suavizando. “O modo que eu fui criado, ‘ele precisava morrer é uma defesa legal incontestável.”
Eu quase sorri para isso. Eu deixei meus ombros caírem, sentindo-me esgotada em consequência de minhas catástrofes pessoais. “Mas mesmo se você fizer, isso não mudaria o modo que eu sou agora. Eu estou quebrada.” Eu sequei meus olhos com a manga da camisa. “Eu gostaria de ter dormido com alguém antes que casasse com Nick, porque ao menos então eu teria tido alguma boa experiência com sexo. Como é isso, no entanto...”
Hardy observou-me atentamente. “Aquela noite na inauguração do teatro você teve um flashback quando eu estava beijando você, não foi? Foi por isso que você fugiu como um gato escaldado.”
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Eu assenti. “Algo na minha mente clicou, e isso foi como se eu estivesse com Nick, e tudo o que sabia era que eu tinha que fugir ou seria machucada.”
“Era sempre ruim com ele?”
Isso era humilhante, falar sobre minha miserável vida sexual. Mas neste momento eu tinha abandonado o orgulho. “Começou bem, eu acho, mas ao longo do meu casamento, as piores coisas aconteciam na cama, eu ficava a maior parte do tempo apenas esperando por isso ter acabado. Porque eu sabia que não importava para Nick se eu estava gostando ou não. E isso machucava às vezes quando eu estava...você sabe, seca.” Se uma pessoa pudesse morrer de vergonha, eu deveria estar deitada numa placa mortuária logo em seguida.
Hardy veio se sentar no sofá ao meu lado, colocando um braço ao longo das costas dele. Eu vacilei pela proximidade, mas eu não podia desviar o olhar. Ele era ridiculamente viril naquele maldita camiseta branca, com aquele corpo longo e os músculos bronzeados. Qualquer mulher teria que estar fora de sua mente para não ir para cama com ele.
“Eu acho que isso está acabado agora,” eu disse bravamente. “Certo?”
“É isso que você quer?”
Minha garganta apertou. Eu balancei minha cabeça.
“O que você quer, Haven?”
“Eu quero você,” eu explodi, e as lágrimas derramaram-se novamente. “Mas eu não posso ter você.”
Hardy aproximou-se, pegando minha cabeça em suas mãos, forçando-me a olhar para ele. “Haven, querida...você já me conseguiu.”
Eu olhei para ele através de uma névoa quente. Seus olhos estavam cheios de angustiante preocupação e fúria. “Eu não estou indo a qualquer lugar,” ele disse. “E você não está quebrada. Você está assustada, como qualquer mulher estaria, depois do que aquele filho da puta fez.” Uma pausa, uma maldição, uma profunda respiração. Um intenso olhar. “Você me deixará ficar com você agora?”
Antes mesmo que eu percebesse o que eu estava fazendo, eu tinha rastejado dentro do seu colo. Ele se juntou perto de mim, acariciando e consolando, e a reconfortante sensação fez-me tão bem que eu quase desejei que eu pudesse manter-me chorando. Eu aninhei-me na pele perfumada de seu pescoço, encontrando o lugar onde as cerdas da barba de sua mandíbula começavam.
Ele virou sua boca para minha, fácil e quente, e isso foi tudo que precisou para eu começar a ferver novamente, meus lábios separando-se para recebê-lo.
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Mas mesmo quando eu respondi seu beijo, eu senti a pressão íntima dele embaixo de mim, e eu enrijeci.
Hardy puxou sua cabeça para trás, seus olhos azuis derretidos. “É isso?” Ele cutucou para cima, o cume duro empurrado contra mim. “Esta é a sensação que a deixa nervosa?”
Eu contorci-me e assenti, tornando-me escarlate. Mas eu não tentei afastar-me dele, apenas sentei lá, trêmula.
Suas mãos exploraram meus ombros e braços, acariciando-me através da camisa. “Eu devo visitar a terapeuta contigo? Isso ajudaria?”
Eu não podia acreditar que ele estaria disposto a fazer isso por mim. Eu tentei imaginar isso, eu e Hardy e Susan discutindo meus problemas sexuais, e eu balancei minha cabeça. “Eu quero consertar isso agora,” eu disse desesperadamente. “Vamos apenas... vamos para o quarto e façamos isso. Não importa o que eu disser ou até mesmo se eu surtar, só me contenha e continue até que esteja terminado e—”
“Inferno não, nós não vamos fazer isso.” Hardy olhou quase comicamente chocado. “Você não é um cavalo que está com a sela quebrada. Você não precisa ser forçada, você precisa—” Ele tomou uma rápida respiração quando eu mudei o meu peso em seu colo. “Querida,” ele disse em uma voz tensa, “Eu não obtenho o meu melhor pensamento quando todo meu sangue deixa meu cérebro. Então você provavelmente deveria sentar ao meu lado.”
Uma quente pulsação latejou onde nos tocávamos, nossos corpos exatamente encaixados. Eu percebi que eu não estava tão nervosa, agora que eu tinha tido uns poucos minutos para me acostumar a ele. Eu acomodei-me um pouco mais íntima sobre ele.
Hardy fechou os olhos e fez um som gutural. Eu vi a cor em seu rosto aumentar. E senti o aumento da espessura em resposta pressionando embaixo de mim.
Os cílios de Hardy ergueram-se, seus olhos mais azuis do que o habitual contra seu bronzeado jacarandá. Ele olhou para a frente de minha camisa—sua camisa—onde ela estava aberta revelando o espaço entre meus seios. “Haven...” Sua voz estava rouca. “Nós não vamos fazer nada que você não esteja pronta. Vamos começar com você se vestindo, e eu a levando para jantar. Nós teremos algum vinho, e você pode relaxar. Nós descobriremos isso mais tarde.”
No entanto mais tarde era tarde demais. Eu queria descobrir isso bem aqui. Eu sentia o calor vindo dele, e eu vi a névoa de suor sobre sua garganta, e eu desejei beijá-lo. Eu queria dar prazer a ele. E por favor, Deus, eu queria ao menos uma lembrança boa para substituir algumas das ruins.
“Hardy,” eu disse timidamente, “você iria... fazer minha vontade um pouco?”
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Um pequeno sorriso tocou sua boca. Ele estendeu a mão e puxou os lados da camisa fechados, e usou as costas de seus dedos para alisar minha bochecha. “Um pouco,” ele disse, “ou muito. Apenas me diga o que você quer.”
“Eu sinto como... se nós fossemos para o quarto agora, e apenas tentássemos algumas coisas, eu... eu poderia lidar com isso enquanto você fosse devagar.”
Sua mão parou. “E se você tiver um flashback?”
“Eu acho que isso não me incomodaria tanto quanto fez antes, porque agora eu contei tudo a você eu sei que você compreendeu qual é meu problema. Então eu apenas poderia dizer a você se eu tiver medo.”
Ele me encarou por um longo momento. “Você confia em mim, Haven?”
Eu ignorei uma pontada de nervos em meu estômago. “Sim.”
Sem outra palavra Hardy arrancou-me de seu colo, colocando-me de pé, e seguiu-me para o quarto.
Minha cama era de um bronze antigo, do resistente, imponente tipo que pesava uma tonelada e não movia-se uma polegada. Ela estava coberta em tecido creme, e os travesseiros eram feitos de renda tiradas de um antigo vestido de noiva. No feminino ambiente de meu quarto, Hardy pareceu ainda maior e mais masculino do que o habitual.
Um ato tão normal, duas pessoas indo para a cama juntos. Mas para mim ele era envolto com muito mais significância, muito mais emoção, muito mais de tudo.
O ar condicionado transmitia um calafrio suave no quarto, a renda sobre os travesseiros flutuava como asas de mariposas enquanto o ventilador de teto ligado em cima girava. Uma antiga lâmpada Vitoriana lançava luz âmbar em toda a cama.
Eu tentei parecer casual, sentando na cama e trabalhando nas minúsculas tiras de minhas sandálias de salto altos. Eu desejei que eu não ficasse uma fria pedra desapaixonada. Um copo de vinho poderia ter me soltado um pouco. Talvez eu devesse sugerir—
Hardy sentou ao meu lado, estendendo a mão para meu pé, e soltando a fivela em miniatura. Ele apertou meu pé nu e correu seu dedo ao longo do peito do pé antes de tirar a outra sandália. Deslizando um braço ao redor de mim, ele facilitou para nós dois voltarmos para cama.
Eu esperei tensamente por ele começar. Mas Hardy só me segurou, aquecendo-me com seu corpo, encaixando um braço embaixo do meu pescoço. Uma mão percorreu minhas costas e cintura e lábios, até minha nuca, como se eu fosse um animal arrisco. E continuou lá acariciando e reconfortando, sendo mais longo do que qualquer ato sexual que eu jamais tive me entregado com Nick.
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Hardy falou contra meu cabelo. “Eu quero que você entenda...você está segura. Eu não vou machucá-la em nenhuma maneira. E se eu fizer alguma coisa que você não queira, ou você começar a sentir medo, eu vou parar. Eu não vou perder o controle.” Eu vacilei quando eu senti um puxão na frente de meus jeans e ouvi o estalo de ser solto. “Eu só vou descobrir do que você gosta.”
Meus dedos enrolaram-se em sua camisa enquanto suas mãos se aventuravam no interior da cintura solta de meu jeans. “Eu quero descobrir o que você gosta também.”
“Eu gosto de tudo, querida,” ele sussurrou, despindo minhas roupas como se ele estivesse desembrulhando um curativo. “Eu disse a você que eu sou fácil de agradar.”
Sua respiração caiu sobre mim como uma queimadura doce enquanto ele pressionava sua boca sobre minha garganta e seios. Ele sabia o que estava fazendo, levando seu tempo. “Relaxe,” ele murmurou, seus dedos deslizando sobre meus membros constringidos.
Eu agarrei sua camiseta, tentando retirá-la. Ele me ajudou, arrancando a camada de fino algodão e jogando-a no chão. Sua pele era tão marrom quanto canela, contra os brancos tecidos antigos da cama. Havia um leve emaranhado de cabelos em seu peito, tão diferente da uniformidade de Nick. Eu coloquei meus braços em volta de seu pescoço e o beijei, ofegando quando meus seios pressionaram-se nos pelos quentes fazendo cócegas.
Hardy acariciou e explorou como se ele estivesse com a intenção de descobrir cada detalhe de meu corpo. Eu percebi que ele estava divertindo-se comigo, levantando-me e virando-me, pressionando beijos em lugares inesperados. Ele era forte, seu corpo elegante e bonito na surdina luz. Eu rastejei sobre ele e friccionei meu nariz e queixo sobre a elasticidade suave da pele de seu peito. Eu arrastei meus dedos para sua cintura, onde a pele era cetim firme e liso em tiras de músculos. E mais baixo, na borda de seu jeans... e mais baixo ainda, para a parte dele que eu estava nervosa.
Observando meu rosto, Hardy facilitou lentamente sobre suas costas, permitindo-me explorá-lo. Eu o toquei sobre suas calças jeans, hesitantemente traçando a saliência de sua ereção. Sua respiração tornou-se áspera, e eu percebi o quão difícil isso era para ele, manter a si mesmo no controle. Meus dedos vagaram até a base da coluna, onde a carne estava pressionada e amontoada firme, e eu o ouvi dar um suave gemido. Um dardo de excitação atravessou-me quando eu percebi o quanto ele gostou disso, e eu fiz isso de novo, circulando a palma da minha mão sobre o brim esticado.
Um gemido de rir escapou dele. “Você está tentado me torturar, não está?”
Eu balancei minha cabeça. “Apenas tentando conhecê-lo.”
Ele puxou-me mais longe de seu peito, guiando minha cabeça para a sua, e deu-me outro daqueles insaciáveis beijos, até que eu estava subindo e descendo com o ritmo de
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sua respiração como se eu estivesse flutuando em ondas no oceano. Ele alcançou seus jeans abrindo-os.
Eu hesitei e deslizei a mão para baixo para apertá-lo cautelosamente. Neste ponto não havia dúvidas que Hardy era por toda parte formado em escalas. Isso era, como Todd diria, um pacote completo. Mas ao invés de saudar a descoberta com uma aleluia, eu fiz uma careta. “Você é muito para administrar,” eu disse duvidosamente. “Eu gostaria de poder começar com algo menor e gradualmente negociar acima.”
“Não posso ajudar você aí, querida.” Hardy soou sem fôlego. “Isto não está disponível em edição de médio porte.” Ele impeliu-se sobre minha frente, e eu senti sua boca em minhas costas, beijando e mordiscando ao longo da minha coluna. Mas eu enrijeci quando eu lembrei como Nick costumava me tomar por trás. Sua posição favorita. Todas as emoções retumbantes de excitação extinguiram-se, e eu explodi em um ansioso suor.
A boca de Hardy ergueu-se de minha pele, e ele virou-me para encará-lo.
“Assustada?” ele murmurou, sua mão deslizando sobre meu braço.
Eu balancei a cabeça com uma mistura de derrota e frustração. “Eu acho que eu não gosto desse modo, com você atrás de mim. isso me lembra de—” Eu parei, pensando friamente se eu já estava indo tirar Nick de minha cabeça, se eu poderia esquecer o que ele tinha feito. As lembranças ruins estavam entrelaçadas no tecido do meu corpo, enroscadas através de cada nervo. Nick tinha me arruinado por toda vida.
Hardy continuou acariciando meu braço. Havia uma distância em seu olhar, como se ele estivesse alternado os pensamentos ao longo de sua mente. Eu percebi que ele estava considerando como lidar comigo, como burlar minhas defesas, e isso fez-me sentir apologética e cautelosa.
Sua mão vagou de meu braço para meu peito, as pontas dos dedos circulando os seios que Nick tinha reclamado serem tão pequenos.
Dane-se. Não havia nenhuma sensação boa no modo que estávamos indo voltar. Eu não podia parar de pensar sobre meu ex-marido, ou minha própria incompetência. “Isso não está funcionando para mim,” eu engasguei. “Talvez nós devêssemos—”
“Feche seus olhos,” ele murmurou. “Fique imóvel.”
Eu obedeci, meus dedos cerraram-se em punhos ao meu lado. A luz da lâmpada brilhou em um laranja sem graça através de minhas pálpebras. Sua boca desceu. Trilhando beijos de meu peito para meu estômago. Sua língua deslizou para dentro da cavidade apertada de meu umbigo, e eu me contorci em resposta. Sua mão pousou em um dos meus joelhos. “Confortável,” ele sussurrou novamente, deslizando-a para baixo até meus olhos abrirem. Eu empurrei e puxei sua cabeça.
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“Espere,” eu ofeguei. “Isto é o suficiente, eu não posso...” Eu estava corando furiosamente, tremendo em toda porte.
A cabeça de Hardy ergueu-se, a luz suave correu sobre seu cabelo como líquido. “Eu estou machucando você?”
“Não.”
Sua mão veio para meu estômago, esfregando um círculo quente. “Eu assustei você, querida?”
“Não, é só... Eu nunca fiz isso antes.” Desnecessário dizer, Nick nunca tinha estado interessado em qualquer outra atividade que aumentaria o meu prazer ao invés do seu.
Hardy contemplou meu rosto vermelho por um momento. Um novo brilho penetrando seus olhos.
Suavemente, “Você não quer tentar isso?”
“Bem, algum dia, eu acho. Mas eu gostaria de experimentar essas coisas em etapas, eu acho que eu deveria me habituar com as coisas regulares antes de ir para as avançadas—” Eu cessei com um pequeno grito quando ele inclinou-se sobre mim novamente. “O que você está fazendo?”
Sua voz era abafada. “Você trabalha em um plano para levá-lo em etapas. Deixe-me saber quando você tiver calculado. Nesse meio tempo...”
Eu chiei quando ele prendeu minhas pernas, as segurando abertas.
Hardy deu uma risada baixa, adorando meu desconforto. Não havia dúvidas sobre isso – eu estava na cama com um demônio. “Dê-me cinco minutos,” ele persuadiu.
“Isto não é uma negociação.”
“Por que não?”
“Porque—” Eu contorci e ofeguei. “Porque eu estou quase morrendo de vergonha. Eu—não. Eu estou falando sério, Hardy, isso é—” Minha mente ficou branca quando eu senti que ele lambeu profundamente naquele lugar vulnerável, secreto. Eu consegui um débil empurrão contra sua cabeça. Não houve nenhuma retirada dele. “Hardy—” Eu tentei de novo, mas as delicadas pinceladas úmidas abriram a junção de carne fechada, e o prazer era tão agudo que eu não podia pensar ou mover-me. Ele seguiu a sensação para seu centro, usando a ponta de sua língua, e então ele soprou sobre a pulsação e dor, soprando vapor através da pele úmida. Meu batimento cardíaco acelerou tão rápido que eu mal conseguia ouvir seu zombeteiro sussurro sobre o sangue rítmico em meus ouvidos.
“Ainda quer me parar, Haven?”
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Meus olhos estavam úmidos. Eu estava amarrada firmemente com prazer, balançando com isso, mas não era suficiente. “Não. Não pare.” Eu fiquei chocada pelo som de minha própria voz, tão rouca e baixa. E ainda mais chocada pela forma que eu gritei quando ele deslizou dentro um dedo, e então outro, enchendo o espaço suavemente, enquanto sua boca procurava a carne enrolada. A sensação era insuportável, meus quadris moveram-se para cima e caíram de volta. Mas o disparo manteve-se deslizando para fora do alcance, enlouquecedor na sua definição.
“Eu não posso,” eu gemi, “Eu não posso fazer isso.”
“Sim você pode. Basta parar de tentar.”
“Eu não posso parar de tentar.”
Seus dedos começaram um lento mover para dentro e fora. Eu emiti sons quando um impulso começou, minha carne ondulando, fechando. Seus dedos se remexeram mais fundo. Sua língua moveu-se constantemente, e sua boca... sua boca... eu estava dominada por cada avassaladora ondulação, cada batimento cardíaco, respiração, impulso, guiada para o interior da violenta confusão de espasmos. Eu arqueei dentro do intenso prazer, minhas mãos trêmulas amaradas ao redor de sua cabeça.
Hardy empurrou seus dedos tão fundos quanto possível e sua língua circulou para agarrar os últimos poucos espasmos de libertação. Quando seu toque foi retirado, eu choraminguei e alcançando por ele, puxando-o para cima. Ele rolou para o meu lado e colocou seus braços ao meu redor, e beijou os borrões de lágrimas no canto dos meus olhos.
Nós ficamos em silêncio por um minuto, meus pés descalços entre os seus, sua palma da mão quente na minha bunda. Eu senti a urgência atrás de seu silêncio, como a falsa calmaria do touro encurralado antes do animal explodir fora da calha de transporte.
Minha mão pegou no cós de seu jeans aberto. “Tire isso,” eu sussurrei.
Ainda respirando pesadamente, Hardy balançou a cabeça. “Isto é suficiente por hoje à noite. Vamos parar enquanto estamos na frente.”
“Parar?” Eu repeti em grogue surpresa. “Não, não existe desistir agora.” Eu beijei seu peito, saboreando a textura masculina dele, os pelos quentes contra meus lábios. “Se você não fizer amor comigo, Hardy Cates, eu nunca perdoarei você.”
“Eu fiz amor com você.”
“De todas as formas.”
“Você ainda não está pronta para todas as formas.”
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Eu o agarrei e corri meus dedos para cima e para baixo na seda, do duro comprimento levantado. “Você não pode me dizer não,” eu disse a ele. “Isso faria mal pra minha autoestima.”
Eu esfreguei meu polegar sobre a ampla extremidade, lentos círculos que extraíram uma mancha de umidade. Um gemido silencioso escapou dele, e ele enterrou sua boca no meu cabelo. Estendendo a mão, ele tirou meus dedos para longe. Eu pensei que ele ia dizer-me para parar. Em vez disso, ele disse em uma voz abafada. “Minha carteira está na cozinha. Eu irei buscá-la.”
Eu entendi imediatamente. “Nós não precisamos de um preservativo. Eu uso pílula.”
Sua cabeça levantou, e ele olhou para mim.
Eu dei um encolher de ombros estranho. “Como Nick nunca queria que eu os usasse, elas tornaram-se um tipo de questão para mim. Eu sentia-me mais no controle... mais segura... quando eu as tomava. E o médico disse que isso não me prejudicaria. Então eu nunca esqueci um dia. Acredite em mim, nós estamos cobertos. Mesmo sem qualquer outro tipo de proteção.”
Hardy levantou-se e apoiou seu peso em um cotovelo, olhando para mim. “Eu nunca fiz isso sem um preservativo.”
“Nunca?” Eu perguntei, confusa.
Ele balançou sua cabeça. “Eu nunca quis ter uma chance de engravidar alguém. Eu nunca quis a responsabilidade. Eu sempre jurei que se eu tivesse filhos, eu não os deixaria do modo como meu pai fez.”
“Você nunca teve uma namorada que usava pílula?”
“Mesmo assim, eu sempre usei preservativo. Eu nunca fui fã no método de confiança da mulher.”
Talvez algumas mulheres teriam se ofendido com isso, mas eu entedia muito bem sobre a questão da confiança. “Está tudo bem,” disse inclinando-me para beijar seu queixo. “Vamos fazer do seu jeito.”
Hardy não se moveu, no entanto. Ele ficou olhando-me com aqueles olhos vívidos, e eu senti algo íntimo e visceral florescer entre nós, um senso de conexão que eu senti mais do que um pouco alarmante.
Sentindo como se todos os ritmos de meu corpo e o seu tivessem sido colocados como em um metrônomo25 invisível.
25 Instrumento para regular os andamentos musicais.
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“Você me deu sua confiança,” ele disse. “Maldição se eu não posso fazer o mesmo.”
Eu relaxei para minhas costas, e minha respiração acelerou, e então ele o fez.
Ele despiu-se e pressionou-se contra mim. Ele foi gentil... tão gentil... mas eu pude sentir o poder e peso dele, e eu tensionei. Ele empurrou mais fortemente até que ambos ficamos aconchegados, flexível produzindo, suavidade abrindo caminho para a dureza. Eu, levando ele para dentro. Abrindo-me para ele. Os olhos azuis tornaram-se sonolentos. Prazer nublando, sues cílios jogando enriquecidas sombras em seu rosto. Ele entrou em mim em lentas polegadas, dando-me tempo para ajustar-me, para abranger a pesada invasão. Eu virei meu rosto contra seu braço, minha bochecha aninhada contra o músculo tenso.
Quando eu tinha tomado tudo dele que eu podia, Hardy persuadiu-me a levantar os joelhos, espalhando-os mais abertos, e ele deu-me ainda mais. Tão apertado, molhado, meu corpo oferecendo lubrificantes boas vindas. Eu vi a preocupação em seu rosto sendo substituída pela luxúria. Eu amei a maneira que ele olhava para mim, como se ele quisesse me comer viva.
Eu contorci-me, incomodada com toda aquela totalidade dentro de mim, e Hardy tremeu e arfou fora algumas palavras que soaram como, Oh Deus, por favor não se mova, Haven querida, por favor...
“Sente-se bem?” Eu sussurrei.
Hardy balançou sua cabeça, lutando para respirar. Seu rosto estava corado como se com uma alta febre. “Não?” eu perguntei.
“Sentia-me bem à meia hora atrás,” ele conseguiu dizer, seu sotaque pastoso como se ele tivesse acabado de beber aproximadamente dez litros de tequila. “Quinze minutos depois disso era o maior sexo que eu já tive, e agora... eu estou bastante certo de que eu estou no meio de um ataque do coração.”
Sorrindo eu puxei sua cabeça para baixo para minha e sussurrei. “O que acontece após o ataque cardíaco?”
“Não estou certo.” Sua respiração assoviou por entre seus dentes, e ele deixou sua cabeça cair no travesseiro ao meu lado. “Inferno,” ele disse desesperadamente, “Eu não sei se eu posso segurar.”
Eu apoiei minhas mãos sobre meus lados, suas costas, os músculos espiralados e fortes embaixo das pontas dos meus dedos. “Não segure.”
Ele começou em um ritmo cuidadoso, arrancando prazer pelo canal íntimo onde nós estávamos unidos. Uma de suas estocadas acariciou um lugar sensível, profundo e baixo, e ao mesmo tempo seu corpo pressionou a frente do meu apenas em um ângulo
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reto. Uma ligação de prazer passou através do mim. Eu empurrei em surpresa e cravei meus dedos nos quadris de Hardy.
Ele levantou sua cabeça e sorriu sobre meus amplos olhos. “Eu encontrei um ponto agradável?” ele sussurrou, e fez isso de novo, e para minha eterna vergonha, eu não pude ficar quieta, gemidos subindo em minha garganta enquanto meus quadris estremeciam contra os seus.
Desta vez os espasmos não foram tão intensos, mas eles eram longos e lentos, sorvendo para o comprimento dele até que ele veio. Ele enterrou os sons de prazer em minha boca, e beijou-me, e beijou-me, parando somente quando nós estávamos ambos privados de oxigênio e completamente esgotados.
Eu fiquei cheia de uma sonolência insuportável depois disso. Eu cochilei por um momento, com seu corpo ainda aninhado dentro de mim, e eu descobri que o sono após o sexo era quase melhor do que o sexo em si. Eu acordei mais tarde com ele duro contra mim, não empurrando, apenas profundamente preso, e suas mãos estavam vagando em todos os lugares, acariciando e massageando. Eu estava em meu lado, uma perna engatada sobre seu quadril. Eu queria, precisava que ele se movesse, mas ele manteve-se empalado e imóvel. Eu segurei seu bíceps, seu ombro, tentado puxá-lo sobre mim. Ele resistiu, me deixando contorcer-me como uma minhoca num anzol.
“Hardy,” eu murmurei, suando pelas raízes de meu cabelo. “Por favor...”
“Por favor o quê?” Ele lambeu meu lábio superior, então o inferior.
Eu balancei contra ele e puxei minha boca livre o suficiente para respirar, “Você sabe.”
Ele pressionou sua boca em meu pescoço. Eu senti a curva de seu sorriso. Sim, ele sabia. Mas continuava a manter-me bloqueada contra ele enquanto eu apertava-me mais e mais, sorvendo a profunda pulsação dele. Finalmente ele deu-me uma dica de um impulso, mais uma sugestão de um movimento do que um ritmo real. Isso embora, foi o suficiente. Ele cutucou-me com a ponta levando-me ao ponto da exaustão, músculos internos contraindo-se para reunir a sensação, e eu cheguei em ásperos arrepios. Hardy levou-me para cima em um forte empurrão e segurou, enchendo-me com um calor brilhante.
Ele continuou beijando-me na sequência, seus lábios vagando docemente enquanto as pontas dos dedos navegavam sobre meu queixo e bochecha e garganta. Depois de um tempo ele me puxou para fora da cama e dentro do chuveiro. Sentindo-me drogada, eu inclinei-me nele enquanto ele lavava-me. Suas mãos eram gentis quando ele ensaboou-me e enxugou meu corpo. Escorregadia, envolta em vapor, eu descansei minha bochecha contra o duro plano de seu peito. Ele se abaixou e escorregou dois dedos dentro de mim. Eu estava dolorida e inchada, mas também sentia-me tão bem que eu não podia evitar de empurrar meus quadris para frente. Eu ouvi um som baixo cantarolando em minha
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garganta, e seu polegar rodando ternamente ao redor do meu clitóris. Com infinita habilidade, ele facilitou-me dentro de outro clímax, enquanto a água quente caia sobre mim e sua boca comeu a minha.
Eu mal me lembrava de me secar e voltar para cama, somente que eu estava em seguida flutuando para dormir com sua sólida presença ao meu lado.
Mas algum tempo depois, eu acordei de um pesadelo, meu corpo alarmado pela percepção de um homem dormindo nas proximidades. Eu acordei com um sobressalto, pensando por um momento que eu estava de volta com Nick, que eu não tinha espaçado depois de tudo. Houve um movimento ao meu lado, um peso masculino, e eu tomei uma respiração bruscamente.
“Haven,” veio um murmúrio escuro. O som chamou-me. “Sonho ruim?” Sua voz pelo sono estava amolecida e espessa, como veludo esmagado.
“Aham.”
Sua palma acariciou um circulo em meu peito para acalmar meu batimento cardíaco disparado.
Eu suspirei, e sosseguei em seus braços. Sua boca se moveu até meus seios, beijando o curso, bicos endurecidos. Eu coloquei meus braços ao redor de sua cabeça, seu cabelo macio contra o interior de meus pulsos. Ele trabalhou seu caminho para baixo lentamente. Meus joelhos flexionados, e eu senti suas mãos apertando meus tornozelos semelhantes a quentes, algemas vivas. Mesmo na escuridão, eu vi o grande leque de seus ombros e o contorno de sua cabeça, ancorados entre minhas coxas. Ele lambeu-me languidamente, alimentando meu prazer, enviando-me dentro de longos, estremecimentos de alívio.
E quando eu senti o sono desta vez, não havia mais pesadelos.
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Eu sabia que estava parecendo o inferno quando eu fui para o trabalho na manhã seguinte, com círculos escuros sob meus olhos e machucados de barba na minha garganta. Eu não me preocupei. Eu sentia mais paz do que eu tive em meses. Anos. Talvez nunca.
Eu ainda podia sentir a marca do corpo de Hardy em mim, sem mencionar um rastro de entorpecimento que me fez lembrar de tudo que nós tínhamos feito. E apesar de todas as coisas que eu poderia e deveria esta me preocupando, eu decidi aproveitar a simples e completa satisfação humana de ter feito amor.
“Diga que está doente,” Hardy tinha sussurrado de manhã. “Passe o dia na cama comigo.”
“Eu não posso,” eu tinha protestado. “Eles precisam de mim no trabalho.”
“Eu preciso de você.”
Isso me fez sorrir. “Você já teve o suficiente por agora.”
Hardy tinha me puxado em seu peito e me beijado vigorosamente. “Eu nem mesmo comecei,” ele disse. “De fato, eu tenho me segurado por conta de você estar fora de forma.”
Tínhamos finalmente concordado que seria melhor ir para o trabalho, já que era sexta-feira e nós dois tínhamos coisas que precisavam ser feitas. Mas às cinco e meia da tarde, o fim de semana iria começar.
Antes de Hardy ter ido naquela manhã, eu fiz para ele uma omelete de cinco ovos com queijo e espinafre, uma fatia de bacon, e três pedaços de torradas. Ele tinha comido todas as migalhas. Em resposta ao meu comentário de que ele tinha esvaziado o conteúdo da minha geladeira, Hardy respondeu que me satisfazer deu um monte de trabalho, e um homem tinha que manter a sua força.
Sorrindo, entrei no meu cubículo e abriu meu laptop. Pensei que eu estava em um humor tão bom, que nada poderia estragá-lo.
Em seguida, Vanessa apareceu. “Eu te enviei alguns e-mails sobre os contratos mais recentes de manutenção,” disse ela sem rodeios.
“Bom dia, Vanessa.”
“Imprima os anexos e faça cópias. Quero na minha mesa em uma hora.”
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“Absolutamente.” Eu vi como ela se virou para ir embora. “Espere, Vanessa. Há algo que precisamos discutir.”
Ela olhou para mim, espantada com o meu tom frio, para não mencionar a ausência das palavras “por favor”.
“Sim?” ela perguntou com suavidade perigosa.
“Eu não quero você dando as minhas informações pessoais para as pessoas. Então, se alguém perguntar o meu endereço ou número de casa, não dê a eles a menos que você tenha checado comigo. Eu acho que de agora em diante isso deve ser uma política padrão do escritório para proteção de todos.”
Seus olhos se arregalaram dramaticamente. “Eu estava tentando fazer um favor, Haven. Seu ex-marido disse que tinha algumas coisas que ele queria devolver para você. Evidentemente que você o deixou com muita pressa, se esquecendo de empacotar tudo.” Sua voz se tornou suave, como se ela estivesse tentando explicar algo a uma criança pequena. “Não tente me colocar no meio de seus problemas pessoais. Isso não é profissional.”
Engoli em seco, desejando lhe informar que eu não tinha deixado Nick, que eu tinha sido espancada e jogada fora. Mas um dos truques favoritos de Vanessa era fazer acusações em sua suave voz até que eu acabava dizendo coisas que eu não tinha a intenção de dizer. Eu não ia mais cair nessa. E havia algumas coisas em minha vida privada que iam ficar privadas.
“Você não me fez um favor,” eu disse calmamente. “Nick não tem nada que eu quero. E você não está no meio de nada, Vanessa.”
Vanessa sacudiu a cabeça e me deu um olhar frio coberto com piedade. “Ele me disse algumas coisas. Sobre como ele tinha sido tratado. Ele era muito charmoso. Um pouco triste, na verdade.”
Eu reprimi um sorriso amargo. Como ele tinha sido tratado? Era isso que um narcisista fazia. Ele se virava e te acusava de fazer o que ele tinha feito, e ele poderia ser tão convincente que você pode até mesmo acabar duvidando de si mesmo. Eu tinha certeza de que Nick havia dito a pessoas que eu o tratava mal, que eu tinha abandonado ele.
Mas eu não podia controlar o que ele falava, ou se outros acreditavam nele ou não.
“Ele pode ser encantador,” eu permiti. “Cada aranha sabe tecer uma teia.”
“Há dois lados de toda história, Haven.” Condescendência escorria de cada sílaba como mel rançoso.
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“Claro que há. Mas isso não significa que ambos os lados são válidos.” Eu provavelmente deveria ter calado minha boca logo em seguida.
Mas eu não pude evitar adicionar “E algumas pessoas são tão ruins, Vanessa, que eu não desejaria o Nick com nenhuma mulher.” Até mesmo você, eu pensei reservadamente.
“Eu nunca percebi o quão ingênua você é,” minha chefa disse. “Eu espero que algum dia você aprenda a olhar o mundo com um pouco mais de sofisticação.”
“Vou trabalhar nisso,” eu murmurei, e girei em minha cadeira até dar as minhas costas para ela.
Não foi uma surpresa quando Nick ligou no meio do dia. Eu já tinha percebido que ele tinha conseguido o meu número de trabalho com Vanessa. Mas o som de sua voz ainda fez meu estômago virar.
“Como foi o encontro ontem à noite?” Nick perguntou. “Eu aposto que não houve muita conversa depois que eu saí.”
“Não me ligue no trabalho,” eu respondi logo. “Ou em casa, falando nisso.”
“Só há uma coisa que uma mulher quer de um rato de academia como esse,” Nick continuou, “e não tem nada a ver com conversar.”
Eu sorri um pouco, aproveitando o fato de que meu ex-marido estava tão intimidado por Hardy. “Ele não é um rato de academia,” eu disse. “Acontece que ele é muito inteligente. E um bom ouvinte—o que é uma mudança agradável.”
Nick não pareceu notar aquele último comentário. “Você nem mesmo saiu. Você ficou no apartamento e o deixou foder você a noite toda, não foi?”
Gostaria de saber se Nick tinha visto meu apartamento. Isso me deu arrepios. “Isso não é da sua conta.”
“Eu queria que você tivesse sido metade do que esta disposta a dá-lo enquanto estávamos casados. Coloque um anel de casamento em você, e você fica frígida.”
Uma vez que o comentário teria ferido. Eu poderia até ter acreditado que eu era frígida. Agora eu sabia melhor. E eu conhecia Nick exatamente pelo o que ele era, um narcisista que era incapaz de se preocupar com qualquer um a não ser ele. Eu nunca poderia mudá-lo, ou deixá-lo ciente de suas próprias falhas. Nick queria o que ele queria... ele não entende a si mesmo melhor do que um tubarão está ciente do porque queria matar e comer. Ele só o fazia.
“Bem, graças a Deus você está livre de mim,” eu disse. “Faça-nos um favor e não ligue de novo, Nick.”
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“E as suas coisas? E aquele bracelete de sua tia—”
“Se isso significa ter que ver você de novo,” eu disse, “não vale a pena.”
“Eu vou jogá-lo na merda do lixo,” ameaçou. “Eu vou desmontá-lo e—”
“Eu tenho trabalho a fazer.” E desliguei na cara dele, me sentindo triunfante e enojada ao mesmo tempo. Decidi não contar a Hardy, ou a qualquer um sobre a ligação de Nick. Levar essa pequena provocação para Hardy, poderia o fazer alcançar o meu ex-marido e o jogar para fora do planeta. E enquanto eu não teria me importado com Nick indo embora para sempre, eu não estaria muito louca sobre visitar Hardy atrás das grades.
Durante as próximas duas semanas eu aprendi muito sobre Hardy. Passamos cada minuto possível juntos, e não por qualquer plano ou projeto. Era apenas que ele havia se tornado a pessoa com quem eu mais queria estar. E a coisa foi intrigante, ele parecia se sentir da mesma maneira.
“É quase fácil demais,” eu disse para Todd no telefone uma noite, enquanto eu estava esperando Hardy voltar para casa do trabalho. “Não há jogos mentais. Ele liga quando ele diz que vai. Ele aparece na hora certa. Ele realmente me escuta. Ele é uma espécie de, bem, perfeito. É meio preocupante.”
“Ninguém é perfeito. Você está omitindo algo. O que é? Ele deve ter o dote do tamanho de uma minisalsicha.”
“Não. Se alguma coisa, ele é demais do outro jeito.” Houve um silêncio. “Todd? Você ainda está aí?”
“Yeah. Eu só estou tentando pensar em uma boa razão para continuar nossa amizade.”
Eu sorri. “O ciúme é tão pouco atraente, Todd.”
“Seria bom se você pudesse me dizer uma coisa de errado. Uma falha. Mau hálito? Verrugas? Alguma condição que exige aplicação de antifúngico?”
“Será que pelos no peito é um defeito?”
“Oh, sim.” Todd parecia aliviado. “Eu não aguento um tapete no peito. Você não pode ver o tônus muscular.”
Pensei que era melhor não argumentar, mesmo que eu discordasse. Havia algo de infinitamente reconfortante e sexy sobre ser abraçada contra um peito largo peludo.
“Haven,” disse Todd, parecendo mais sério. “Lembre-se do que eu disse sobre ele.”
“A coisa sobre não ser um cara simples? Sobre ser um pouco perturbado?”
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“Sim, isso. Eu mantenho a minha intuição. Portanto, tenha cuidado querida. Divirta-se, mas mantenha os olhos abertos.”
Mais tarde eu pensei que isso significava manter os olhos abertos em um relacionamento. Eu não achei que eu estava idealizando com Hardy. . . era só que eu gostei tanto dele. Gostei da maneira como ele falava comigo, e ainda mais, do jeito que ele ouvia. Eu particularmente gostava de como ele gostava de tocar. Ele massageava ombros de improviso, me puxava para o seu colo, brincava com meus cabelos, mãos dadas. Eu não tinha sido criada em uma família afetuosa fisicamente. Os Travis punham um prêmio alto no espaço pessoal. E depois de minhas experiências com Nick, eu pensei que nunca mais poderia aguentar ser novamente tocada.
Hardy tinha me encantado mais do que ninguém que eu já tinha conhecido. Ele era envolvido, brincalhão... mas sempre e acima de tudo um homem. Ele abria as portas, carregava os pacotes, pagava o jantar, e teria sido mortalmente ofendido pela insinuação de que uma mulher poderia fazer qualquer uma dessas coisas. Tendo vivido com um marido, que passou a maior parte de seu tempo inflando seu próprio ego frágil, apreciei a autoconfiança de Hardy. Ele não tinha nenhum problema em admitir que ele tinha cometido um erro ou que não entendia alguma coisa, apenas transformou em uma oportunidade de fazer perguntas.
Eu raramente, se alguma vez, conheci um homem com tal reserva infinita de energia, ou tais desejos aguçados. Particularmente eu reconheci que o meu pai provavelmente tinha tido razão sobre Hardy querendo mais... e não parou em dinheiro. Ele queria o poder, respeito, sucesso, todas as coisas que ele devia ter fome de quando o mundo tinha considerado ele um joão-ninguém. Mas a opinião do mundo não tinha esmagado ele. Havia algo nele, um impulso abastecido por orgulho e raiva, que insistiu que ele merecia mais.
Ele não era diferente de meu pai, que também começou do nada. A ideia era um pouco assustadora. Eu estava me envolvendo com um homem que poderia vir a ser um tanto ambicioso, impulsivo aspero-asno como Churchill Travis. Como você lida com um cara assim? Como você impede que aconteça?
Eu sabia que o pensamento de Hardy por mim era protetor. Comparado a ele, eu provavelmente era. Quando eu tinha viajado para o exterior, eu tinha ido com amigos da faculdade e fiquei em bons hotéis que foram pagos com cartão de crédito do meu pai. Quando Hardy tinha ido para o exterior, ele já havia trabalhado em plataformas além do litoral em lugares como México, Arábia Saudita e Nigéria. Quatorze dias trabalhando, 14 de folga. Ele aprendeu a se adaptar rapidamente às culturas e costumes estrangeiros. E me ocorreu que essa era a mesma forma que ele se aproximava da sociedade de Houston. Aprenda os costumes. Adapte-se. Encontre o seu caminho.
Conversamos até tarde da noite, trocando histórias sobre o crescimento, relacionamentos passados , coisas que mudaram em nós. Hardy foi aberto sobre a maioria
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das coisas, mas houve alguns assuntos que ele não estava disposto a discutir. Seu pai, por exemplo, e tudo o que ele tinha feito para ir parar na prisão. E Hardy preferiu manter a boca fechada sobre sua vida amorosa passada, o que me deixou excessivamente curiosa.
“Eu não entendo por que você nunca dormiu com a Liberty,” eu disse a ele uma noite. “Você não ficou tentado? Você deve ter ficado.”
Hardy resolveu que eu ficava mais confortável em seu peito. Estávamos em sua cama, uma king-size Californiana com travesseiros empilhados por baixo. Era coberta por acres de lençóis 800 fios, colchas, e de seda crua.
“Querida, qualquer homem com idade superior a doze seria tentado pela Liberty.”
“Então por que você não?”
Hardy acariciou a linha da minha coluna, gentilmente investigar as covas rasas. “Eu estava esperando por você.”
“Ha. Rumores dizem que você estava muito ocupado com as senhoras de Houston.”
“Eu não me lembro de nenhum deles,” ele disse suavemente.
“Beebe Whitney. Será que o nome traz alguma lembrança?”
Hardy me deu um olhar de alerta. “Por que você a mencionou?”
“Ela estava se vangloriando a Todd sobre ter dormido com você no “divórcio-de–mel” dela.”
Ele ficou quieto por um momento, sua mão examinando o meu cabelo. “Com ciúmes?”
Inferno, sim, eu estava com ciúmes. Na verdade, fiquei surpresa pela quantidade de veneno emocional que veio de imaginá-lo na cama com Beebe em toda sua perfeição bronzeada a spray. Eu balancei a cabeça contra seu peito. Hardy rolou à minha volta e olhou para mim. A luz da lâmpada jogada sobre seus traços fortes, um brilho perdido que pegou o leve sorriso nos lábios.
“Eu poderia pedir desculpas por todas as mulheres que eu conheci antes de você. Mas eu não vou.”
“Não pedi isso a você,” eu disse de mau humor.
Sua mão escorregou sob o lençol, gentilmente me acariciando. “Eu aprendi uma coisa de cada mulher com quem estive. E eu precisava aprender muito antes de estar pronto para você.”
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Fiz uma careta. “Por quê? Porque eu sou complicada? Difícil?” Eu lutei para manter minha respiração firme quando ele segurou meu seio e o moldou.
Ele balançou a cabeça. “Porque há tanta coisa que eu quero fazer para você. Tantas maneiras que quero agradá-la.”
Ele se inclinou para me beijar, e roçou a ponta do seu nariz contra o meu em uma cutucada brincalhona. “Essas mulheres foram apenas prática para você.”
“Boa frase,” eu disse a contragosto.
Sua mão cobriu meu coração com a pressão, luz quente. “Desde que me lembro, eu queria chegar a algum lugar, ser alguém. Eu ia ver outros filhos da puta que tinham tudo—um carro caro, uma casa grande, uma bela mulher. E eu disse a mim mesmo, ‘Foda-se. Algum dia eu vou ter tudo isso também, e eu vou ser feliz’.” Sua boca torceu. “Mas nos últimos dois anos, eu finalmente consegui as coisas que eu queria, e não era o suficiente. Eu ainda era um bastardo miserável. Embora quando estou com você...”
“O quê?” Eu incitei.
“Quando estou com você, eu sinto como se eu finalmente tivesse o que eu preciso. Posso relaxar e ser feliz.” Ele traçou um padrão lento no meu peito. “Você me deixa devagar.”
“De um jeito bom, você quer dizer?”
“De um jeito bom.”
“Eu nunca reduzi a velocidade de ninguém,” eu disse. “Eu não sou uma pessoa tranquila.”
Um sorriso preguiçoso cruzou a sua boca. “Faça o que fizer, funciona para mim.”
Ele baixou sobre mim, beijando meu pescoço, murmurando que eu era bonita e ele me queria. Eu tremi com a pele clara do seu peito arrastando suavemente em meus seios.
“Hardy?”
“Mmm?”
Coloquei os braços em volta do seu pescoço. “Às vezes tenho a sensação de que você está se segurando, na cama.”
Ele recuou para olhar para mim, seu olhar acariciando. “Eu vou devagar com você,” admitiu.
“Você não tem que fazer isso,” eu disse sinceramente. “Eu confio em você. Se você me mostrar o que você quer, eu vou fazer. Quero dizer, tudo o que você e Beebe fizeram...”
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Seus lábios tremeram com triste diversão. “Dane-se tudo. Esqueça ela, querida. Passei uma noite com ela e nunca voltei para repetir.”
“Bem, não obstante,” eu disse, cheia de um espírito competitivo. “Você não tem que ter cuidado comigo. Eu aguento.”
A dica de diversão abriu-se num sorriso. “Ok.”
Eu puxei sua cabeça para baixo. Alcançando sua boca, eu o beijei ardentemente. Ele respondeu sem hesitação, pesquisando as profundezas da minha boca, até que nós ambos estávamos ofegando.
Hardy me levantou de joelhos, diante dele, as mãos cruzadas debaixo dos meus braços em uma fortaleza, mas solícito. Seu olhar estava escaldante, mas sua voz era suave. “Você quer tentar algo novo, Haven?”
Engoli em seco e assenti com a cabeça, meus quadris andando para frente em um balanço sutil. Ele notou. Eu vi como ele estava excitado, e isso me fez tonta com o desejo. Suas mãos deslizaram para os meus pulsos. Ele levantou os braços, e me guiou para agarrar o topo da cabeceira alta das persianas. Meus seios levantaram com o movimento, as pontas contraindo.
Hardy olhou firmemente em meus olhos até que eu estava me afogando nas profundezas do azul. Sua respiração estava quente contra meus lábios.
“Espere,” ele sussurrou, apertando os dedos na cabeceira da cama.
E então veio minutos escaldantes de intimidade. . . de tormento hábil que levou à febre. Febre que levou a doçura. Ele estava em toda parte, tudo ao meu redor, dentro de mim. De alguma maneira eu sobrevivi, mas por pouco. Até o momento que Hardy tinha terminado comigo, minhas unhas haviam cavado crescentes na cabeceira da cama, e eu não conseguia lembrar meu próprio nome. Eu desmoronei lentamente em seus braços, cada membro tremendo de liberação.
“Só você,” disse Hardy quando conseguiu fôlego. “Tudo o que eu quero é você.”
Eu senti como se estivesse caindo através de nuvens, quando ele me abaixou nas almofadas. Caindo forte e rápido. E não parecia haver uma coisa que eu poderia fazer sobre isso.
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17
“Deixe-me entender isso direito,” eu disse para Jack, na porta do seu apartamento. “Você não vai dar nenhum desconto ao Hardy, mesmo ele tendo salvado minha vida há duas semanas? O que ele tem de fazer para você trata-lo com educação? Descobrir a cura do câncer? Salvar o mundo de um asteroide?”
Meu irmão pareceu exasperado. “Eu não disse que não iria ser educado. Eu posso fazer isso.”
“Nossa, como você é generoso.”
Naquela noite Hardy e eu íamos a uma festa peças-para-recifes, que seria patrocinada juntamente por duas das principais companhias de petróleo.
Peças-para-recifes era um programa no qual companhias removiam a parte superior de suas plataformas usadas e deixavam no fundo do oceano para criar um recife artificial. Dado que todo o Golfo do México era um fundo de lama, os equipamentos criavam um ambiente de suporte para os peixes.
Apesar dos protestos dos naturalistas, os peixes pareciam gostar das plataformas abandonadas. E as companhias de petróleo amavam o programa, porque podiam economizar milhões em vez de recuperar a plataforma. Então eles tinham doado uma exibição para o Aquário de Houston para mostrar o quanto, na opinião deles, peças-para-recifes beneficiavam o Golfo.
Minha família estaria na abertura da exibição. E eu tinha feito o meu melhor para deixar claro que eu não apenas iria comparecer com Hardy Cates, como também eu esperava que os Travis se comportassem como seres humanos racionais. Aparentemente era pedir demais. Eu tinha ligado para Joe, que tinha me informado sombriamente que eu estava sendo usada por Hardy, bem como ele tinha previsto. E agora Jack estava sendo teimoso. E eu certamente não esperava nada diferente do meu pai, cujas opiniões eram tão inalteráveis como seu tipo sanguíneo.
Isso só deixava Gage para se preocupar... mas eu sentia a certeza de que ele seria decente com Hardy, se fosse por mim. Ele tinha indicado isso quando eu conversei com ele depois do incidente do elevador.
“Tudo o que eu disse foi,” Jack continuou, “Cates não ganha crédito extra com os Travis por fazer o que qualquer cara teria feito. Eu te disse antes, se você tivesse me ligado, ou para o Gage, qualquer um de nós teria te tirado do elevador.”
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“Ah, entendi.”
Seus olhos se estreitaram. “O quê?”
“Você só está irritado porque não conseguiu a chance de fazer o trabalho de macho e se exibir. Você não pode suportar que outra pessoa seja o herói. Você é o homem das cavernas chefe, e ninguém pode ser maior que você.”
“Droga, Haven, pare de brigar como uma garota. Não tem nada a ver com o meu tamanho.” Ele olhou para o corredor. “Entre por um minuto, sim?”
“Não, eu não tenho muito tempo para me arrumar. Vou para o meu apartamento. Eu só queria passar por aqui e pedir para que você fosse legal com meu—” me interrompi abruptamente.
“Seu o quê?” Jack demandou.
Balancei minha cabeça, desconcertada. Só Deus sabia que palavra eu deveria aplicar a Hardy. “Namorado” soava tão ensino médio.
E inapropriado, visto que Hardy era muito grande para um garoto. Amante... bem, isso era antiquado e melodramático. Parceiro? Amigo com benefícios? Não, e não.
“O cara com quem estou saindo,” eu disse, e franzi o cenho em sua direção. “Eu falo sério, Jack. Se você for um idiota com ele hoje a noite, vou te esfolar como um búfalo.”
“Eu não entendo o que você está pedindo. Se você quer minha aprovação, você não vai consegui-la. Eu não conheço bem o imbecil ainda... e o que eu sei dele não é consistente.”
Meu temperamento se incendiou ao vê-lo assumir que minha vida amorosa dependia de sua boa opinião “Eu não quero sua aprovação,” eu disse rapidamente. “Só boas maneiras. Só estou pedindo para que você não seja um babaca por duas horas. Acha que pode conseguir isso?”
“Merda,” Jack murmurou, salientando as duas sílabas da palavra. “Você está ficando tão mandona que eu quase tenho pena do cara.”
O aquário tinha uma bela vista do horizonte de Houston de um salão de festas no terceiro andar alinhado com janelas de vidro. Havia uma recepção para pelo menos seiscentas pessoas, que entravam no vestíbulo com tanques cilíndricos, iam até um percurso de um tubarão, e assistiam exibições passadas e designadas para imitar um naufrágio, um templo tombado, um pântano, e uma floresta chuvosa.
As preocupações que eu tinha em chegar à recepção com Hardy desapareceram em cinco minutos. Ele estava relaxado e divertido, conversando com as pessoas, passeando
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comigo. Enquanto Hardy me introduzia a alguns dos seus companheiros de negócios e suas esposas, e alguns outros amigos, eu percebi que estava longe de ser um intruso nessa multidão. Embora ele não tivesse ainda se tornado parte de círculos estabelecidos como da minha família, ele era parte de um grupo que comandava companhias menores e mais ágeis que estavam encontrando novos nichos.
Hardy e eu até conhecíamos algumas pessoas juntos, alguns que alegremente me avisaram que ele seria uma boa pegada para uma mulher que pudesse mantê-lo na linha. Eu percebi na sua forma falsamente preguiçosa que ele estava se infiltrando na multidão da forma mais hábil que já vi. Ele parecia saber o nome de todos, e ele tinha a habilidade de se focar na pessoa com que ele estivesse conversando como se ele ou ela fosse a pessoa mais importante dali.
Ao mesmo tempo, Hardy era um homem atencioso, pegando uma bebida para mim no bar, mantendo uma mão nas minhas costas, sussurrando coisas que me faziam rir. E enquanto estávamos em um grupo e conversávamos, ele vagarosamente arrumou a corrente dourada da minha bolsa quando ela escorregou do meu ombro.
Eu tinha me perguntado como Hardy iria me tratar quando estivéssemos com outras pessoas, se ele iria querer que eu agisse como apenas sua acompanhante. Era isso que Nick sempre tinha exigido. Mas, para minha surpresa, Hardy não parecia se importar em ouvir minhas opiniões. Quando a conversa se voltava para o óleo de xisto, por exemplo. Um dos parceiros de Hardy, um geofísico chamado Roy Newkirk, estava falando com entusiasmo sobre as possibilidades de desenvolver xisto como uma alternativa para o óleo convencional. Mas eu disse que eu tinha lido que isso seria tão ruim para o ambiente como escavação em aberto. E, portanto, o processo do xisto iria expelir uma enorme quantidade de dióxido de carbono na atmosfera, o que eu achava que era algo criminoso. A menos que se pensasse que o aquecimento global não estivesse chegando rápido o suficiente.
Roy recebeu meus comentários com um sorriso forçado. “Hardy, eu não te avisei para não sair com uma mulher que lê?”
Hardy parecia divertido com o que eu tinha falado. “Isso mantêm as discussões no mínimo,” ele respondeu. “Não há sentido em tentar quando sei que ela vai ganhar.”
“Eu espero não ter te irritado,” murmurei para Hardy depois. “Sinto muito por não ter concordado com Roy.”
“Eu gosto de mulheres que falam o que pensam,” Hardy disse. “Além disso, você está certa. A tecnologia não está nem perto de onde é necessária, para que a extração valha a pena. Como as coisas estão, é ruim para o meio ambiente e é muito cara.”
Eu lancei a ele um olhar especulativo. “Se a tecnologia tornasse o processo barato, mas ainda fosse ruim para o meio ambiente, você tentaria?”
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“Não—” começou, mas antes que ele pudesse explicar, fomos interrompidos por uma risada estrondosa. Uma mão pesada no meu ombro me virou.
“Tio T.J.,” exclamei. “Há quanto tempo, não?”
T.J. Bolt não era meu tio de verdade, mas eu o conhecia desde quando nasci. Ele era o amigo mais próximo do meu pai, e eu suspeitava que ele tivesse uma queda pela minha mãe. Ele gostava de mulheres um pouco demais, tendo se casado cinco vezes. T.J. era um dos personagens mais coloridos da indústria petrolífera.
Quando era um jovem no leste do Texas, T.J. tinha começado trabalhando em uma companhia de suprimentos de equipamento de perfuração. De alguma forma ele conseguiu dinheiro para comprar terras e direitos de minério para alguns campos produtivos, e ele usou os lucros para comprar mais terras, e mais ainda. Ele tinha sua mão na maior parte do bolo. E ele era procurado por proprietários de terras de grandes companhias de desenvolvimento, todos cobiçando negociar por potenciais arrendamentos sem preço.
Eu nunca tinha visto T.J. sem seu característico chapéu de pele de castor com doze centímetros de borda e a coroa de quinze centímetros. Um chapéu de faroeste dessas dimensões teria parecido ridículo em um homem de porte médio, mas T.J. era uma montanha. Ele era mais alto que Hardy, e pesava seu peso mais a metade. Em um dos seus punhos musculosos estava um Rolex dourado e com diamante. E no dedo mindinho havia uma pedra de ouro do formato do Texas.
Mesmo quando criança eu tinha suspeitado que T.J. tinha o desconcertante hábito de beijar mulheres de todas as idades nos lábios. Hoje a noite não era uma exceção. Ele plantou um beijo em mim, cheirando como cela de couro, colónia doce e cigarros La Única. “O que minha garota favorita está fazendo,” ele rugiu, “sendo acompanhante desse patife?”
“Boa noite, senhor,” Hardy disse com um sorriso, estendendo a mão para apertar a dele.
“Você já conhece o Sr. Cates?” perguntei a T.J.
“Tivemos uma conversa sobre minha propriedade em Gregg County,” T.J. comentou. “Não pudemos concordar os termos.” Ele piscou para mim. “Um homem tem de ter os bolsos fundos, lidando comigo.”
“T.J. não quer os bolsos,” Hardy disse tristemente. “Ele quer toda a calça.”
O velho gargalhou ricamente. Ele pôs um braço carnudo ao meu redor e apertou. Ele deu a Hardy um olhar significativo. “Você trate essa garota direito,” disse. “Ela foi criada pela maior dama que já agraciou o estado do Texas.”
“Sim senhor, eu vou.”
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Depois que T.J. nos deixou no seu passo bamboleado, eu me virei para Hardy. “Por que você não entrou em termos com ele?”
Hardy encolheu os ombros levemente, seu sorriso torto. “Tudo travou no bônus.” Vendo minha incompreensão, ele explicou. “Quando o proprietário de terra assina o arrendamento, ele geralmente ganha um bônus do comprador. Às vezes ele recebe uma quantia bastante substancial, se a terra parecer boa e houver poços produtores próximos. O bônus sempre baixa se a terra não o justificar.”
“E T.J. queria um grande bônus?” adivinhei.
“Maior que qualquer homem são pagaria. E eu acredito em riscos calculados, não em loucos.”
“Sinto muito por ele não ter sido razoável.”
Hardy deu de ombros e sorriu. “Eu vou levar o meu tempo. Vi funcionar cedo ou tarde. E Deus sabe que eu tenho o suficiente já.” Ele me olhou com educação impecável. “Quer ir para casa agora?”
“Não, por que eu iria—” parei quando vi o brilho naqueles olhos azuis. Eu sabia exatamente por que ele queria ir para casa.
Discretamente, eu disse, “Não vimos toda a exibição ainda.”
“Querida, você não precisa ver o resto da exibição. Posso falar para você qualquer coisa que quiser saber sobre o peças-para-recifes.”
Meu sorriso se abriu. “Então você é um especialista?” Tendo me tornado familiar com sua sólida memória para fatos e detalhes, eu não estava de toda surpresa.
“Pergunte-me qualquer coisa,” ele disse prontamente.
Eu brinquei com um botão da frente da sua camisa, “As peças influenciam no aumento da população de peixes?”
“De acordo com o biólogo que trabalha para o Instituto de Ciência Marinha, sim. Os recifes atraem alguns peixes, mas não há como você possa conseguir grandes números para virem esporadicamente de todo o oceano e se reunirem nas peças. Então os peixes são definitivamente criados lá.” Ele parou e perguntou esperançosamente, “Já ouviu o bastante?”
Eu balancei minha cabeça, olhando para a sua garganta, onde a pele era macia, castanha e apetitosa. Eu amava o som da sua voz, o mel grosso do seu sotaque. “As peças ainda pertencem à companhia petrolífera depois de elas afundarem?” perguntei.
“Não, são doadas para o Estado, que toma título delas. Então a companhia doa parte do capital economizado para o Programa de Recifes Artificiais.”
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“Quanto demora para que o peixe venha para a... a estrutura que eles deixam na água?”
“É chamada de coroa de aparelhagem.” Hardy roçou os dedos nas bordas das mangas do meu vestido. “Depois que a coroa é afundada e fixada por cerca de seis meses, você tem todos os tipos de plantas e invertebrados atraídos a ela—muitos dos corais alcançam quase o topo, onde há mais luz, e então os peixes vêm.” Ele se inclinou para perto de mim e deixou sua boca tocar minha sobrancelha. “Quer ouvir sobre a cadeia alimentar?”
Eu respirei seu cheiro. “Ah, sim.”
Sua mão veio para meu cotovelo, acariciando gentilmente. “Há um peixinho nadando por aí, e então vem um peixão faminto...”
“Haven!” uma voz alta e alegre interrompe, e eu senti um par de pequenos braços ao redor da minha cintura. Era a irmãzinha de Liberty, Carrington, seu pálido cabelo dourado preso em duas tranças.
Eu a abracei e me inclinei para beijar sua cabeça. “Carrington, você está tão estilosa,” eu disse, vendo sua minissaia e tamancos.
Ele corou de prazer. “Quando você vai dormir na minha casa novamente?”
“Eu não sei, doçura. Talvez—”
“Você está aqui com Hardy?” ela interrompeu, olhando para meu acompanhante. Ela foi abraçá-lo, falando durante todo o tempo. “Haven, você sabia que Hardy levou a mamãe pro hospital na noite em que eu nasci? Havia uma tempestade, e estava alagado por toda a parte, e ele nos levou para lá em uma velha caminhonete azul.”
Eu olhei para Hardy, sorrindo. “Ele é muito bom em resgatar pessoas.”
Seu olhar ficou cauteloso quando Gage e Liberty se juntaram a nós.
“Hardy,” ela disse, estendendo a mão, apertando-a com afeição.
Ele deu um sorriso. “Oi, Liberty. Como está o bebê?”
“Ótimo. Matthew está em casa com o avô. Churchill gosta de cuidar dele.” Seus olhos verdes brilharam. “Ele é o babá mais barato que encontramos.”
“Liberty,” Carrington disse, apertando a sua mão, “você quer ver as piranhas? Há um tanque enorme cheio delas.”
“Ok,” ela disse, rindo. “Com licença, vocês todos. Voltamos já.”
Quando Liberty partiu, Gage contemplou Hardy por um momento. Tensão apareceu no ar, até que meu irmão estendeu a mão para apertar a de Hardy. “Obrigado,”
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Gage disse. “Eu devo a você por ajudar a minha irmã a sair daquele elevador. Se há algo que eu possa fazer para retribuir—”
“Não,” Hardy disse imediatamente. Ele parecia ter sido pego fora de guarda pela sinceridade de Gage. Era a primeira vez que eu via algum traço de embaraço nele. “Você não me deve nada. Eu... depois do que eu fiz com seu acordo com o biocombustível...”
“Você consertou isso há duas semanas,” Gage disse. “A segurança de Haven—e a felicidade—significam tudo para mim. Contanto que você seja bom para ela, você não terá nenhum problema comigo.”
“Entendo.”
Eu não gostava de ser alvo de discussão como se eu não estivesse ali. “Ei, Gage,” chamei, “você viu o Jack? Ele deveria estar aqui hoje à noite.”
“Ele está aqui. Encontrou uma antiga namorada no bar. Parece que eles estão se aproximando novamente.”
Revirei os olhos. “Você poderia fazer uma corrente daqui até El Paso com as antigas namoradas de Jack.”
Então ouvi o toque de um celular, e Hardy colocou a mão no bolso do seu terno. Olhando para o número, ele piscou duas vezes. “Com licença,” ele disse para Gage e para mim. “Eu preciso atender. Vocês se importariam se eu—”
“Vá em frente,” eu disse imeditamente.
“Obrigado.” Hardy abriu o celular e se moveu através da multidão até a porta que levava à varanda.
Deixada sozinha com Gage, eu sorri para ele incerta, perguntando-me se eu estava prestes a receber um sermão.
“Você está ótima,” meu irmão disse, correndo um olhar lisonjeiro sobre mim. “Você parece feliz.”
Fazia um longo tempo que alguém tinha dito isso para mim. “Eu estou feliz,” admiti, sentindo-me um pouco tímida. “Gage, eu sinto muito se isso faz as coisas difíceis para você, eu ficando com alguém do passado da Liberty...”
“Isso não faz as coisas difíceis para mim,” Gage disse gentilmente. Ele me surpreendeu ao acrescentar, “Você não pode sempre escolher por quem está atraído. Quando eu conheci a Liberty, eu pensei que ela era uma das mulheres do papai—e eu sinto muito em dizer que me comportei como um imbecil.” Ele sorriu torto. "Mas mesmo então, havia algo nela que me pegava, toda vez que eu a via.” Ele deslizou suas mãos para dentro do bolsos, franzindo a testa levemente. “Haven, considerando como Cates te
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ajudou na Torre de Buffalo, eu tenho certeza que posso dar um tempo para ele. Mas se ele te machucar...”
“Se ele me machucar, você tem minha permissão para acabar com ele,” eu disse, fazendo-o sorrir. Eu me aproximei um pouco mais, preocupada com a possibilidade de ser ouvida por outra pessoa. “Se não der certo, porém... eu ficarei bem, Gage. Eu estou mais forte do que estava há meses atrás. Ele está me ajudando a superar alguns dos problemas que tive depois de Nick. Então não importa o que ele faça no futuro, eu sempre serei grata a ele por isso.”
Hardy retornou, e eu soube só de olhar para ele que algo estava terrivelmente errado. Não havia nenhuma expressão no seu rosto, mas ele estava pálido sob sua pele bronzeada, e ele tinha uma tensão distraída de um homem cuja cabeça está trabalhando em vários níveis.
“Haven.” A voz, também, estava diferente, tão plana e estridente como uma folha de lixa. “Eu acabei de receber uma ligação da minha mãe. Há algo que eu preciso resolver, e não posso esperar.”
“Oh, Hardy...” Eu queria o puxar para perto, fazer algo pra tranquiliza-lo, confortá-lo. “Ela está bem?”
“Sim, está ótima.”
“Vamos embora agora—”
“Não,” Hardy falou imediatamente. Ouvindo a força desnecessária na sua própria voz, ele fez um esforço para relaxar. “Esse não é o tipo de coisa com que você precise se incomodar, querida. Eu preciso lidar com isso sozinho.”
Gage interrompeu. “Há algo que eu possa fazer?”
Hardy assentiu. “Por favor, tome conta da Haven. Certifique-se de que ela chegue em casa com segurança.” Ele olhou para mim, seus olhos opacos. “Sinto muito. Odeio deixar você assim.”
“Você me liga mais tarde?” perguntei.
“É claro. Eu—” Ele parou, como se as palavras o falhassem, e ele olhou para Gage mais uma vez.
“Eu fico com Haven,” Gage disse imediatamente. “Não se preocupe com ela.”
“Ok. Obrigado.”
E Hardy nos deixou, sua cabeça inclinada, seus passos comendo o chão como se ele tivesse se preparando para atravessar obstáculos à frente.
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“Talvez um dos seus irmãos esteja doente, ou houve um acidente,” eu me torturei.
Gage balançou a cabeça. “Pode ser. A menos...”
“A menos o quê?”
“Se fosse algo assim, acho que ele teria dito.”
Eu me inundei em preocupação por Hardy. “Ele deveria ter me levado com ele,” murmurei. “Eu odeio ser deixada de fora das coisas. E não é como se eu fosse me divertir aqui quando sei que ele está lidando com algum problema misterioso. Eu deveria estar com ele.”
Ouvi meu irmão suspirar. “Venha, vamos encontrar Liberty e Carrington. Eu prefiro observar um tanque com peixes comedores de homem que me perguntar com que problema Hardy Cates possa estar.”
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Eu tinha pedido ao porteiro para me chamar quando visse Hardy chegar no Principal 1800. “Não importa que hora seja,” eu lhe tinha dito. Se ele achava que isso era um pouco estranho, ou se perguntou por que eu não estava esperando Hardy me ligar ele mesmo, ele não disse uma palavra.
Verificando as mensagens no telefone, eu não vi nada além de duas chamadas, as duas de um número de Dallas. Tinha que ser Nick. Eu tinha cortado todos os laços com as outras pessoas que eu tinha conhecido em Dallas, as pessoas que eu tinha trabalhado com a Darlington, e as pessoas do círculo de Nick, que tinham me conhecido por Marie. Nick estava furioso comigo por rejeitá-lo, por não demonstrar nenhum interesse em obter a pulseira de Gretchen de volta. Por seguir com a minha vida. Eu esperava que ignorá-lo fizesse ele recuar. Se ele persistisse na tentativa de entrar em contato comigo, eu seria forçada a fazer algo sobre isso. Talvez uma ordem de restrição?
Exceto que eu lembrei do comentário cínico de Hardy... “A ordem de restrição só funciona se você se algema a um policial.”
Fiquei imaginando o que Hardy estava fazendo naquele momento, que tipo de problema que ele estava lidando. Fiquei extremamente tentada a ligar para ele, mas eu percebi que a última coisa que ele precisava era do toque de seu telefone celular, enquanto ele estava no meio de alguma situação difícil. Por isso, tomei um longo banho e vesti calças de moletom e uma camiseta enorme, e tentei assistir TV. Devo ter passeado por uma centena de canais da TV a cabo, mas não havia nada de bom passando.
Eu dormia levemente, minhas orelhas atentas para qualquer som. E então ele veio, o telefone deu um toque estridente antes de eu me agarrar a ele e apertar o botão de atender. “Sim?”
“Senhorita Travis. O Sr. Cates acabou de passar pela portaria. Ele está no elevador agora.”
“Ótimo. Obrigada.” Olhei para o relógio e vi que era cerca de uma e meia da manhã. “Hum, ele parecia estar bem? Ele disse alguma coisa?”
“Não, Senhorita Travis, ele não disse nada. Eu acho que ele parecia... Cansado.”
“Tudo bem. Obrigada.”
“Sem problema.”
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Eu desliguei e sentei-me com o telefone no meu colo, desejando que ele tocasse. Mas aquela maldita coisa estava em silêncio. Eu esperei até ter certeza de que Hardy teve tempo suficiente para chegar a seu apartamento, e então eu liguei para seu telefone principal. Recebi uma mensagem de voz.
Caindo pesadamente para trás no sofá, eu olhava para o teto com uma indecisa impaciência. Incapaz de agüentar por muito tempo, liguei para o celular de Hardy.
Outra gravação.
O que estava acontecendo? Ele estava bem?
“Deixe-o em paz,” eu disse em voz alta. “Vá para a cama. Deixe-o dormir. Ele vai ligar amanhã, quando ele quiser conversar.”
Mas eu não estava ouvindo a mim mesma. Eu estava muito preocupada com Hardy.
Andei em torno de meu apartamento por mais quinze minutos, e depois liguei de novo.
Nenhuma resposta.
“Merda,” eu murmurei, esfregando os olhos semi-cerrados com os punhos. Eu estava tensa, cansada e inquieta. De jeito nenhum eu iria conseguir dormir até ter a certeza de que Hardy estava bem.
É só uma batida rápida à sua porta. Talvez um abraço. Talvez um aconchego na cama. Eu não pediria a ele para conversar. Nenhuma pressão. Eu só queria que ele soubesse que eu estava lá, se ele precisasse de mim.
Colocando meus pés em um par de chinelos com solado duro, deixei meu apartamento e peguei o elevador para o décimo-oitavo andar. Fazia frio no ambiente elegantemente estéril do corredor. Tremendo, fui para a entrada e toquei a campainha.
Quietude. Silêncio. E depois uma raspagem de movimento dentro do apartamento. Esperei, esperei, e percebi incrédula que Hardy não ia responder. Meu rosto apertado em uma carranca. Bem, isso era muito ruim. Eu ficaria em sua porta e tocaria a campainha toda a noite, se necessário.
Apertei o botão novamente.
Eu tive um pensamento repentino, terrível, de que talvez Hardy não estivesse sozinho. Que outra razão poderia haver para a sua recusa em me ver? Mas eu não conseguia fazer a mim mesma acreditar—
A porta se abriu.
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Fui confrontada com uma versão de Hardy que eu nunca tinha visto antes. Estava muito escuro em seu apartamento, uma iluminação fraca vinda da sala de estar onde o horizonte sangrava um brilho artificial através da fileira de janelas. Hardy estava vestido com uma camiseta branca e jeans, seus pés descalços. Ele parecia grande, sombrio e mau. E percebi um forte cheiro ácido-adocicado de tequila barata, do tipo que você toma quando quer ficar realmente martelado, muito rápido.
Eu já tinha visto Hardy beber antes, mas nunca em excesso. Ele havia me dito que ele não gostava de se sentir fora de controle. O que ele não tinha dito, mas eu tinha entendido, era que ele não podia tolerar a idéia de ser vulnerável, física ou emocionalmente.
O meu olhar viajou de seu rosto escuro para o copo vazio na sua mão. Um sentimento arrepiante atravessou meus ombros. “Oi,” eu consegui dizer, a minha voz saiu em um chiado. “Eu queria ver se você estava bem.”
“Eu estou bem.” Ele olhou para mim como se fôssemos estranhos. “Não posso falar agora.”
Ele começou a fechar a porta, mas eu pisei sobre a soleira. Eu tinha medo de deixá-lo sozinho—eu não gostava do olhar vazio e estranho nos seus olhos. “Deixe-me fazer algo para você comer. Ovos e torradas—”
“Haven.” Ele parecia estar usando toda a sua concentração para falar. “Eu não preciso de comida. Eu não preciso de companhia.”
“Você não pode me dizer algo sobre o que aconteceu?” Sem pensar, eu alcancei o braço dele, e ele se encolheu para trás. Como se meu toque fosse repulsivo. Eu estava atordoada. Era muita reversão para mim, depois de todas as vezes que eu tinha feito isso com outras pessoas, empurrando-me para longe delas em um reflexo de sobressalto. Eu nunca tinha considerado como poderia tê-las feito sentir.
“Hardy,” eu disse suavemente. “Eu vou embora. Eu prometo. Mas primeiro me diga o que aconteceu. Apenas algumas palavras, para que eu possa entender.”
Eu podia sentir a raiva que irradiava para fora dele. Estava escuro demais para ver a cor de seus olhos, mas o brilho deles era quase malévolo. Ansiosamente eu me perguntava onde o Hardy real tinha ido. Ele parecia ter sido substituído por um irmão gêmeo do mal. “Eu não sei como diabos você poderia entender,” disse ele grossamente, “quando eu não entendo.”
“Hardy, deixe-me entrar,” eu disse.
Ele continuou a me bloquear. “Você não quer vir aqui."
“Oh?” Forcei um cético meio sorriso. “O que há aí que eu deveria ter medo?”
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“Eu.”
Sua resposta enviou uma onda de mal-estar através de mim. Mas eu não me mexi. “O que você fez hoje?” Eu perguntei. “Por que sua mãe ligou pra você?”
Hardy estava com a cabeça abaixada. Seu cabelo estava amassado como se tivesse o puxado repetidamente. Eu queria alisar aqueles cabelos escuros brilhantes e colocar minha mão na parte de trás do seu pescoço tenso. Eu ansiava acalmá-lo. Mas tudo o que eu podia fazer era esperar com paciência, algo que nunca tinha sido fácil para mim.
“Ela me pediu para ajudar meu pai a sair da cadeia,” eu o ouvi dizer. “Ele foi levado hoje à noite por dirigir embriagado. Ele sabia que não deveria ter ligado para ela. Dei-lhe dinheiro ao longo dos últimos dois anos. Eu pago-lhe para ficar bem longe da minha mãe e os meninos.”
“Eu pensei que ele estava na prisão. Mas eu acho que... Ele está solto agora?”
Hardy assentiu, ainda sem olhar para mim. Sua mão livre apertou o batente da porta. Senti uma pequena onda de repulsa no meu estômago quando eu vi quão brutalmente forte seus dedos eram.
“O que ele fez,” eu perguntei delicadamente, “para ir para a prisão?”
Eu não tinha certeza se Hardy iria responder. Mas ele respondeu. Às vezes os segredos mais íntimos do mundo podiam ser obtidos por uma pergunta certa no momento certo.
Hardy falou em um plano sussurro, sem esperança de um criminoso em um confessionário. Eu sabia que eu estava para ouvir coisas que ele nunca disse a qualquer ser vivo. “Ele cumpriu 15 anos por estupro qualificado. Ele é um estuprador em em série... Fez coisas horríveis para as mulheres... Nunca deram-lhe liberdade condicional, sabiam que ele não havia mudado. Mas a sentença foi cumprida, e eles tiveram que soltá-lo. Ele vai fazer novamente. Eu não posso pará-lo. Eu não posso vigiá-lo a cada minuto. Eu mal posso mantê-lo longe da minha família—”
“Não,” eu disse com a voz arranhada, “não é o seu trabalho ser o seu guardião dele.”
“—Meus irmãos seguindo os passos dele. O sangue ruim se manifestando. Eu tive que salvar Kevin no mês passado. Tive que pagar a família de uma menina, para mantê-los longe de fazer acusações—”
“Isso não é culpa sua,” eu disse, mas ele estava além do audível.
“Bastardos demoníacos, todos nós. Lixo branco ruim—”
“Não.”
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Cada respiração raspava de forma audível em sua garganta. “Antes de eu deixar meu pai em um hotel essa noite, ele me disse—” Ele parou, tremendo da cabeça aos pés. Ele oscilou.
Deus, ele estava tão bêbado.
“Disse o quê?” Sussurrei. “O quê, Hardy?”
Hardy balançou a cabeça, se afastando. “Haven.” Sua voz era baixa e gutural. “Saia. Se você ficar... Eu não estou no controle. Vou usá-la. Ferí-la, entendeu? Caia fora.”
Eu não achava que Hardy era capaz de me machucar, ou machucar a qualquer outra mulher. Mas a verdade é que eu não estava completamente certa disso. Naquele momento ele parecia nada mais do que um grande animal sofrido, pronto para rasgar qualquer um que chegasse perto dele. E era muito cedo ainda após o meu divórcio com Nick. Eu estava tímidamente armada. Eu ainda estava lidando com a minha própria raiva, meus próprios medos.
Mas haviam certos momentos na vida em que você tinha que assumir o desafio ou perder a sua chance para sempre. Se Hardy era capaz de me machucar, eu iria descobrir agora.
Cada veia do meu corpo estava iluminada com a queima de adrenalina. Fiquei tonta com isso. Tudo bem, seu desgraçado, pensei com severidade, fúria e amor. Amor escaldante absoluto, nesse momento quando ele mais precisava disso e menos queria. Vamos ver o que você tem.
Entrei na escuridão e fechei a porta.
Hardy estava em mim um segundo depois. Eu ouvi o barulho do copo que ele deixou cair. Eu fui agarrada, ele virou-me, e fui empurrada contra a porta por noventa e um quilos de dificultosa respiração masculina. Ele estava tremendo, com as mãos muito apertadas, seus pulmões trabalhando. Ele me beijou com força para criar uma contusão, lascivo e com toda a boca, passando por alguns minutos até que os tremores haviam diminuído e sua ereção estava crescendo contra mim. Cada emoção, raiva, tristeza, ódio de si mesmo, necessidade, tinha encontrado uma saída de cem por cento de luxúria.
Ele puxou a minha camiseta e a fez voar para o lado. Enquanto ele rasgava a sua própria, movi-me cegamente em direção a sala, não para ficar longe dele, mas para encontrar um lugar mais confortável do que a sala de entrada. Eu ouvi um grunhido possessivo, e eu fui agarrada por trás.
Hardy empurrou-me sobre as costas do sofá, curvando-me para a frente. Ele puxou o cós da minha calça de moletom para baixo. Minha pele toda rosa, e eu senti o peso do pânico, como um bloco de gelo no meu estômago. Isto era tão parecido com o que Nick
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tinha feito. Outro flashback pairava, esperando para atacar. Mas eu cerrei os dentes e abracei meus pés, todos os músculos ficando rígidos.
Como Hardy estava atrás de mim, senti o roçar de pele queimada, um forte eixo contra meu traseiro. Eu me perguntei se ele estava muito disperso para lembrar que eu tinha medo de fazer desta maneira, que era assim que eu tinha sido estuprada. Talvez ele estivesse fazendo isso de propósito, para me punir, me fazer odiá-lo. Uma de suas mãos correu minha espinha congelada, e ouvi a sua mudança de respiração.
“Vá em frente, maldito,” eu disse. Minha voz falhou. “Vá em frente e faça isso.” Mas Hardy não se moveu, exceto sua mão nas minhas costas. A palma de sua mão deslizou para cima e para baixo, e depois em volta da minha cintura para meu estômago. Ele se inclinou mais para cima de mim, a outra mão em concha abrangeu meu peito. Sua boca veio para os meus ombros, minha espinha, e ele estava gemendo e me beijando, enquanto seus dedos trabalhavam lá embaixo, abrindo-me. Eu só podia respirar em suspiros, meu corpo relaxando, se rendendo. Imaginei sua mão com aquelas cicatrizes em forma de estrela sobre elas... a última vez que tínhamos estado na cama eu tinha feito um projeto de beijar cada marca minúscula. E relembrando, eu fiquei molhada, respondendo impotente ao toque, cheiro, calor, que se tornaram familiar.
“Faça,” eu disse outra vez, ofegante.
Ele parecia não ouvir, com a intenção de acariciar a carne macia pregueada sob seus dedos. Suas pernas pressionadas entre as minhas, ampliando a minha posição.
Os últimos vestígios de medo se dissiparam. Empurrei meus quadris para trás, tremendo quando eu senti a extensão dura dele. Mas ele não daria ela para mim, apenas massageava com uma agoniante mansidão até que eu arranhava o sofá de veludo, minha respiração vindo em soluços.
Trevas envoltas ao nosso redor, acalmando e embalando, enquanto ele se centrava. Eu suspirei, todo o meu ser focado no lugar onde ele me pressionava, músculos internos trabalhando em antecipação.
Ele empurrou para a frente, e eu gozei pelo prazeroso espeto expesso, e ele enraizou profundamente, enquanto sua mão permanecia firme em meu sexo, acariciando e afagando. Ele me levou para o chão, de joelhos, puxando-me contra seu peito. Minha cabeça inclinada para trás em seu ombro. Eu fui erguida e levantada, gemendo no ritmo com a montaria completa, escorregadia de carne na carne até o prazer quebrar, espalhar e inundar-me com o calor fresco.
Hardy me deixou descansar sobre suas coxas, seus braços travada em torno de mim.
Quando minha respiração desacelerou, ele me levou para o quarto, sua pegada era firme. Ele estava em um estado de espírito dominante. E era primordial e até mesmo um
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pouco ameaçador, mas ao mesmo tempo eu estava excitada além da razão, o que me surpreendeu. Eu teria que descobrir o porquê... Eu precisava entender... mas eu não conseguia pensar com as mãos dele em mim. Ele se ajoelhou na cama, segurando abaixo da minha bunda para içar meus quadris para fora do colchão.
Eu estava completa de uma lenta imersão, uma de suas mãos indo ao triângulo molhado entre minhas coxas. O bombeamento constante e provocante, enquanto ele continuava a me levantar e apoiar, me fez lançar-me em uma nova sensação, chegando ao topo, aliviando, surgindo novamente. Quando o meu prazer tinha finalmente se prolongado, Hardy me empurrou deitada, meus braços e pernas abertos, e ele passou para dentro de mim com pulsos violentos. Eu curvei, meus braços em torno dele, amando a sensação de seu corpo trêmulo sobre o meu.
Ofegante, ele nos rolou para o nosso lado. Eu ouvi o meu nome carregado em uma respiração tensa. Durante muito tempo ele me segurou com ele. Suas mãos pressionando o meu corpo em intervalos lentos, moldando-me mais perto.
Descansando minha cabeça na dobra do seu braço, eu dormi um pouco. Ainda estava escuro quando acordei. Senti pela tensão no corpo de Hardy que ele estava acordado também. Eu balançava lentamente contra a pulsação insistente da sua ereção, minha temperatura subindo. Sua boca veio para o meu pescoço e ombro, beijando a pele macia, degustando.
Eu empurrei seus ombros, e ele se deixou ir facilmente, deixando-me sentar nele. Agarrando seu sexo, eu o posicionei e ele afundou. Eu ouvi o grangido fraco da sua respiração através de seus dentes. Ele firmou meus quadris com as mãos, deixando-me a encontrar um ritmo. Ele pertencia a mim absolutamente... Eu sabia, eu senti isso naquele momento de rendição masculina. Eu estava montando nele, dando isso a ele, e ele gemeu e arqueou os quadris para sentir todas as bombeadas. Suas mãos deslizaram minhas coxas até o centro, acariciando com os polegares até que eu gozei, e isso o fez por para fora também. Ele endureceu debaixo de mim, o prazer cravado. Sua mão fechada atrás da nuca do meu pescoço enquanto ele me puxou para baixo a beijá-lo. Um beijo forte, aromatizado com desespero. “Está tudo bem,” eu sussurrei depois no quarto quieto, sentindo a necessidade de confortá-lo. “Está tudo bem.”
A manhã estava quase no fim no momento em que acordei. O cobertor tinha sido colocado cuidadosamente em volta de mim, e minhas roupas descartadas tinham sido recuperadas e colocadas ordenadamente sobre as costas de uma cadeira. Chamei sonolenta por Hardy, querendo que ele voltasse para a cama. Mas como fui recebida com silêncio, percebi que ele me deixou sozinha em seu apartamento.
Eu rolei para o meu estômago, estremecendo um pouco enquanto eu sentia um acúmulo de pequenas tensões e puxões. Um sorriso envergonhado espalhado por todo o
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meu rosto enquanto eu me lembrava da noite anterior. Eu poderia ter pensado que tinha sido um longo sonho erótico, só que meu corpo estava deixando-me saber que tinha definitivamente acontecido.
Sentia-me curiosamente leve e flutuante, quase febril de felicidade.
A noite tinha sido diferente de tudo que eu já tinha experimentado antes. Sexo em um novo nível... mais profundo, mais intenso, abrindo-me tanto emocionalmente como fisicamente. E isso tinha afetado Hardy da mesma maneira, o que provavelmente o tinha feito se assustar como a morte.
Percebi que Nick tinha sempre considerado o sexo como uma espécie de anexação. Eu nunca tinha sido uma indivídua para ele, certamente não alguém cujos pensamentos ou sentimentos importavam. O que significava que quando Nick fazia sexo comigo, tudo tinha realmente sido nada mais do que uma forma de masturbação.
Considerando que Hardy, mesmo em seu estado selvagem, tinha feito amor com a minha mente e corpo, comigo. E ele tinha me deixado entrar, passar suas defesas, não importa quanto foi a contragosto.
Eu já não acreditava na idéia de almas gêmeas, ou amor à primeira vista. Mas eu estava começando a acreditar que umas poucas vezes em sua vida, se você tivesse sorte, você poderia conhecer alguém que fosse a pessoa certa para você. Não porque ele era perfeito, ou porque você era, mas porque suas falhas combinadas eram dispostas de modo que permitia a dois seres separados engrenar juntos.
Hardy nunca seira um homem fácil com o que se ter um relacionamento. Ele era complexo e de temperamento forte e grosseiro. Mas eu amava essas qualidades sobre ele. Eu estava mais do que disposta a aceitá-lo exatamente como ele era. E não doía que ele parecia igualmente disposto a aceitar-me nos meus próprios termos.
Bocejando, fui ao banheiro, encontrei o robe de Hardy, e o coloquei. A cafeteira estava toda preparada na cozinha, com uma caneca e uma colher limpa dispostas. Eu apertei um botão, e o ar se preencheu com o alegre gorgolejar de café.
Peguei o telefone de Hardy e disquei o número do seu celular.
Nenhuma resposta.
Eu desliguei o telefone. “Covarde,” eu disse sem calor. “Você pode correr, Hardy Cates, mas você não pode se esconder para sempre.”
Mas Hardy conseguiu me evitar durante todo sábado. E enquanto eu queria muito falar com ele, o orgulho não iria me deixar ir atrás dele como uma lagarta apaixonada, uma lagarta do Texas que era conhecida por dar o bote e circular em torno do macho que estava interessada. Eu percebi que eu poderia me dar ao luxo de ser paciente com Hardy. Então eu deixei um par de mensagens casuais em sua caixa postal, e decidi esperar.
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Enquanto isso, recebi um e-mail de Nick.
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“A coisa toda é uma loucura,” eu disse quando Susan tinha terminado a leitura do e-mail de Nick. Eu tinha imprimido e pedido para ela dar uma olhada durante a sessão de terapia de sábado. “Ele está virando todas as coisas de modo inverso. De cabeça para baixo. É como Alice no País das Maravilhas.”
Eram dez longas páginas repletas de acusações e mentiras. Eu tinha sentido-me suja e contaminada depois da leitura disso, mas acima de tudo, indignada. Nick tinha reformulado nosso casamento, com ele próprio como a vítima e eu como uma vilã. De acordo com Nick, eu tinha sido uma insana, dramática, e adultera esposa, e ele tinha tentado em vão pacificar-me e meus humores e raivas. E no final, quando ele tinha perdido a paciência comigo, foi porque eu tinha o empurrado até o limite, pela rejeição de seus esforços sinceros para consertar nosso relacionamento.
“O que mais me irrita,” eu continuei fervorosamente, “é quão detalhado e convincente isso é... como Nick acredita em sua própria merda. No entanto ele não fez, ele fez? E por quê ele escreveria isso para mim? Ele realmente acha que eu vou comprar algo disto?”
A sobrancelha de Susan estava franzida. “Mentiras patológicas é o MO26 para um narcisista...eles não estão interessados na verdade, apenas naquilo que se torna no que eles querem. Que é atenção. Fornecimento. Então basicamente Nick está tentando obter uma reação sua. Qualquer tipo de reação”.
“Como, eu odiar ele é tão bom substituto quanto eu amá-lo?”
“Exatamente. Atenção é atenção. A única coisa que Nick não pode tolerar é indiferença. Isso cria o que é chamado de ‘ferida narcísica’... e infelizmente este e-mail está enviando fortes sinais nessa direção.”
Eu não gostei do som daquilo. “Então o que acontece quando Nick tem uma ferida narcísica?”
“Ele pode estar tentado assustar você de alguma forma, que para ele é outra forma de abastecimento. E se você se recusar a reagir, isso pode muito bem agravar a situação.”
“Oh, grande. Isto significa mais telefonemas? Mais visitas inesperadas?”
26 Modus operandi, ou modo de operação.
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“Eu espero que não. No entanto sim, provavelmente. E se ele está zangado o suficiente, ele pode querer punir você.”
Houve um silêncio no pequeno escritório enquanto eu digeria a informação. Isso era tão injusto. Eu tinha pensado que me divorciar de Nick seria suficiente. Por que ele tinha que puxar essa porcaria comigo? Por que ele esperava que eu continuasse sendo um jogador de apoio no filme de sua vida?
“Como faço para me livrar dele?” Eu perguntei.
“Não há uma resposta fácil. Mas se eu fosse você, eu salvaria este e-mail e documentaria cada interação com ele. E sem entrar em contato, não importa o que ele fizer. Recuse presentes, não responda e-mails ou cartas, e não discuta com ele ou com qualquer pessoa que possa se aproximar de você em seu favor.” Susan olhou para baixo para o e-mail, franzindo a testa. “Se o narcisista é motivado por se sentir inferior a algo ou alguém, isso o corrói até que isso seja aliviado. Até que ele sinta que ele pode ir embora como o vencedor.”
“Mas nós estamos divorciados,” eu protestei. “Não há nada para vencer!”
“Sim, há. Ele está lutando para manter sua imagem de si mesmo. Porque sem essa imagem de superioridade e domínio e controle...Nick não é nada.”
A sessão com Susan não tinha feito muito para meu humor. Eu me sentia ansiosa e irritada, e queria conforto. E uma vez que Hardy não estava respondendo seu telefone celular, ele estava quase em primeiro lugar na minha lista de merda.
Quando meu telefone finalmente tocou no Domingo, eu verifiquei o identificador de chamadas ansiosamente. Minhas esperanças foram reduzidas quando eu vi que era meu pai. Suspirando, eu peguei e respondi melancolicamente.
“Olá?”
“Haven.” Papai soava rouco e auto satisfeito de um modo que eu não gostei. “Eu preciso que você venha para cá. Há algo que nós temos que falar sobre”.
“Certo. Quando?”
“Agora.”
Eu teria amado lhe dizer que eu tinha alguma outra coisa para continuar, mas nenhuma outra desculpa conveniente veio à mente. E desde que eu já estava entediada e mal humorada, eu percebi que eu poderia muito bem ir vê-lo.
“Pode deixar, pai,” eu disse. “Eu logo estarei aí.”
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Eu dirigi através do Rio Oaks, e encontrei meu pai em seu quarto, que era do tamanho do meu pequeno apartamento. Ele estava relaxando em uma cadeira de massagem na sua área de estar, apertando botões em seu painel de controle.
“Quer experimentar?” Papai ofereceu, batendo no braço da cadeira. “Quinze tipos diferentes de massagens. Isso analisa os músculos das costas e faz recomendações. Ela também agarra e alonga os músculos da coxa e da panturrilha.”
“Não obrigada. Eu prefiro que meus móveis mantenham suas mãos para si mesmos.” Eu sorri para ele e sentei em uma cadeira comum. “Agora como está indo, Pai? Sobre o que você quer falar comigo?”
Ele levou seu tempo para responder, levando um momento para entrar em um programa de massagem em sua cadeira. Ela começou a zumbi e ajustar a posição do assento. “Hardy Cates,” ele disse.
Eu balancei minha cabeça. “De jeito nenhum. Eu não estou falando com você sobre ele. Seja o que for que você queira saber, eu não estou—”
“Eu não estou pedindo informação, Haven. Eu sei algo sobre ele. Algo que você precisa ouvir.”
Cada instinto meu gritou-me para sair direto naquele momento. Eu sabia que meu pai ficava de olho e não teria pudores sobre desenterrar a sujeira do passado de Hardy. Eu não precisava ou queria ouvir nada que Hardy não estivesse pronto para confiar. Além disso, eu estava quase certa de que eu sabia o que meu Pai ia contar-me: sobre o pai de Hardy, e seu tempo na prisão, e a captura por DUI27. Então eu decidi ficar e ouvir a revelação de meu Pai, e colocar ele em seu lugar.
O quarto estava quieto exceto pelo zumbido das engrenagens mecânicas e rolos. Eu convoquei um sorriso legal. “Tudo bem, diga-me.”
“Eu te avisei sobre ele,” meu pai disse, “e eu estava certo. Ele vendeu você, querida. Então é melhor colocá-lo para fora de sua mente e ir encontrar outro alguém. Alguém que será bom para você.”
“Vendeu-me?” Eu olhei para ele com espanto. “Sobre o que você está falando?”
“T.J. Bolt deu-me um telefonema depois que ele viu você com Cates na Sexta à noite. Ele perguntou-me o que eu pensava, sobre você reiniciando com um patife como Cates, e eu contei a ele.”
27 No inglês é a abreviatura de “Driving under the influence”, ou seja, dirigir sobre a influência tanto de álcool quanto de drogas.
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“Que par de bisbilhoteiros,” eu disse em aborrecimento. “Bom Deus, com todo o tempo e dinheiro que cada um de vocês tem, você não pode pensar em qualquer coisa melhor para falar sobre do que minha vida amorosa?”
“T.J. teve uma ideia para expor Cates pelo que ele é... para mostrar o tipo de homem que você está mantendo como companhia. E depois ele contou-me sobre isso, e eu concordei. Então T.J. chamou Cates ontem—”
“Oh, inferno,” eu sussurrei.
“—e ofereceu a ele um negócio. Ele disse que ele ia assinar o contrato de arrendamento para Cates oferecido a ele a um tempo atrás, e abriria mão do bônus completamente. Se Cates prometesse deixá-la por bem. Sem namoro, sem convívio de qualquer tipo”.
“E Hardy disse a T.J. para ir se ferrar,” eu disse.
Meu pai deu-me um olhar de piedade. “Não. Cates aceitou o negócio.” Ele se reclinou na cadeira de massagem, enquanto eu absorvia a informação.
Minha pele estava formigado e fervilhando. Minha mente rejeitou isso—Hardy nunca teria aceitado tal negócio. Não depois da noite que nós passamos juntos. Eu sabia que ele tinha sentimentos por mim. Eu sabia que ele precisava de mim. Não fazia sentido Hardy jogar tudo para o alto. Não por alguns arrendamentos que ele teria provavelmente conseguido com o tempo, de qualquer maneira.
O que diabos estava passando na cabeça de Hardy? Eu tinha que descobrir. Mas primeiro...
“Seu velho Galeirão28 manipulador,” eu disse. “Por que você tem que andar mexendo em volta da minha vida pessoal?”
“Porque eu amo você.”
“Amor siginifica respeitar os direitos e limites dos outros! Eu não sou uma criança. Eu sou... não, você pensa em mim como um cachorro que você pode levar ao redor em uma coleira e controlar de qualquer forma que você—”
“Eu não penso em você como um cachorro,” Papai interrompeu, franzindo a testa, “Agora, acalme-se e—”
“Eu não vou me acalmar! Eu tenho todo o direito de estar furiosa. Diga-me, você puxou esse tipo de merda com Gage ou Jack ou Joe?”
28 Tipo de pássaro
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“Eles são meus filhos. Eles são homens. Você é uma filha que já atravessou um casamento ruim e está provavelmente indo para outro.”
“Até que você me trate como um ser humano, Papai, nosso relacionamento acabou. Eu estou cheia disso.” Eu levantei e joguei minha bolsa sobre meu ombro.
“Eu fiz um favor a você,” Papai disse irritado. “Eu apenas mostrei a você que Hardy Cates não é bom o suficiente para você. Todo mundo sabe isso. Ele sabe isso. E se você não fosse tão teimosa, você admitiria isso também.”
“Se ele realmente concordou com esse negócio de T.J.”, eu disse, “então ele não me merece. Mas nem você o faz, por fazer algo tão podre em primeiro lugar.”
“Você vai atirar no mensageiro?”
“Sim, Papai, se o mensageiro não pode aprender a manter sua bunda interferente fora de meus negócios.” Eu andei em direção à porta.
“Bem,” eu ouvi meu pai resmungar, “pelo menos você terminou com Hardy Cates.”
Eu virei de volta com uma carranca para ele sobre meu ombro. “Eu não estou acabando com ele ainda. Eu não estarei o mandando embora sem descobrir uma razão. Uma razão real, não algum negócio meia boca com que você e T.J. apareceram.”
Não havia ninguém com que eu poderia falar sobre. Eu tinha sido advertida por todo mundo, incluindo Todd, que isso era exatamente o que eu poderia esperar de Hardy Cates. Eu não podia mesmo chamar por Liberty, por que ele tinha feito algo semelhante com ela uma vez e ela não poderia dizer que isso estava fora do personagem. E eu sentia-me tal como uma idiota, porque eu ainda amava ele.
Parte de mim queria enrolar-se me uma bola e chorar. Outra parte estava praguejando loucuras. E outra parte estava ocupada analisando a situação e tentando descobrir a melhor forma de lidar com isso. Eu decidi esfriar antes de confrontar Hardy. Eu chamaria ele amanhã depois do trabalho, e nós discutiríamos tudo. Se ele quisesse romper tudo entre nós, eu lidaria com isso. Mas pelo menos não seria feito por terceiros, um casal de velhos esquisitos manipuladores.
O escritório estava excepcionalmente parado quando eu entrei ás oito na segunda de manhã. Os empregados estavam calmos e ocupados. Ninguém aparecia inclinado a compartilhar detalhes sobre seu fim de semana como geralmente se fazia. Sem bebedouros de fofocas, sem conversas amigáveis.
Como a hora do almoço se aproximava, eu fui para o cubículo de Samantha para perguntar se ela queria ir comer um sanduíche comigo.
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Samantha, geralmente tão vivaz, parecia perdida no espaço e desanimada enquanto ela estava atrás de sua mesa. Seu pai tinha morrido duas semanas antes, então eu sabia que demoraria algum tempo até ela estar de volta em seu velho eu.
“Quer ir almoçar?” Eu perguntei gentilmente. “É comigo.”
Ela me deu um fraco sorriso e deu de ombros. “Eu não estou com fome. Mas obrigada.”
“Deixe-me pelo menos lhe trazer um iogurte ou um—” Eu parei quando vi o brilho de uma lágrima sob um de seus olhos. “Oh, Samantha...” Eu fui ao redor para seu lado na mesa e a abracei. “Eu sinto muito. Dia ruim, hã? Pensando sobre seu pai?”
Ela assentiu e vasculhou por um lenço de papel na gaveta da mesa.
“Em parte isso.” Ela assoou o nariz. “E em parte...” Sua fina mão alcançou através da mesa e empurrou uma folha de papel para mim.
“O que é isso? Uma folha de cobrança?” Eu fiz uma careta curiosamente. “Qual é o problema?”
“Meu pagamento semanal é depósito direto, toda sexta. Então eu verifiquei o saldo de minha conta semana passada, e ele estava muito menor do que eu esperava. Hoje eu acessei pelo computador do escritório e descobri o porquê.” Ela deu um sorriso torto. Seus olhos em poças novamente. “Você sabe aquele grande arranjo de flores que a companhia enviou para o funeral de meu pai? Aquele com todos os seus nomes no cartão?”
“Sim.” Eu quase não queria ouvir o que ela ia dizer em seguida.
“Bem, ele custou duzentos dólares. E Vanessa tirou do meu pagamento.”
“Oh, Deus.”
“Eu não sei por que ela faria algo como isso,” Samantha continuou. “No entanto eu penso que fiz a ela alguma coisa. Eu acho que foi aqueles dias que eu tirei depois na morte de Papai... ela tem sido estranha e fria para mim constantemente desde então.”
“Você tirou aqueles dias para ir ao funeral de seu pai, Sam. Nenhuma pessoa normal usaria isso contra você.”
“Eu sei.” Ela deu um suspiro trêmulo. “Vanessa deve estar sob muita pressão. Ela disse-me que era o pior tempo possível para mim estar ausente do trabalho. Ela pareceu tão desapontada comigo.”
Eu estava enchendo-me com uma raiva vulcânica. Eu queria fazer um temporal através do escritório como Godzilla e atropelar Vanessa com a mesa no caminho. Se Vanessa queria atacar e menosprezar-me, eu poderia lidar com isso. Mas esmagar a pobre Samantha justo depois da morte de seu amado pai... isso era demais.
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“Não diga a ela que eu reclamei,” Samantha sussurrou “Eu não conseguiria aguentar ficar em apurs no momento.”
“Você não ficará em apuros. E Samantha, esses duzentos dólares de dedução foram um erro. Eles vão entrar em sua conta imediatamente.”
Ela lançou-me um olhar de dúvida.
“Isso foi um erro,” eu repeti. Tirando um lenço de papel limpo, eu enxuguei seus olhos. “O escritório está pagando por aquelas flores, não você. Eu vou corrigir isso, ok?”
“Certo.” Ela conseguiu dar um sorriso. “Obrigada, Haven.”
O teclado do sistema de comunicação interna em minha mesa apitou. Desde que o escritório foi feito em um sistema de cubículos, nada do que Vanessa disse pelo comunicador era audível para ninguém.
“Haven, venha até meu escritório, por favor.”
“Sem problemas,” eu murmurei, deixando o cubículo de Samantha e dirigindo-me ao escritório de Vanessa no canto. Eu deliberadamente tomei meu tempo, tentando me recompor antes do confronto com minha chefe. Eu sabia que eu provavelmente ia ser demitida pelo que eu estava prestes a dizer, e isso depois de provavelmente ser vítima de uma campanha de difamação. Mas isso não importava. Eu podia conseguir outro emprego. E os danos que Vanessa faria à minha reputação não eram tão importantes quanto manter-me de pé para ela.
No momento em que cheguei ao escritório de Vanessa, ela tinha pressionado o botão do comunicador de novo. “Haven, venha ao meu—”
“Eu estou aqui,” eu disse, indo diretamente até sua mesa. Eu não sentei, apenas fiquei em pé e a encarei.
Vanessa olhou para mim como se eu fosse uma formiga rastejando parede acima. “Espere na porta, por favor,” ela disse em um tom destacado, “até você ser convidada a entrar. Nós não passamos por isso vezes suficientes para você lembrar, Haven?”
“Eu estou deixando de lado as regras por uns poucos minutos. Isso é importante. Houve um erro com o faturamento das folhas. Isso precisa ser corrigido.”
Vanessa não estava acostumada com qualquer outro definindo as ordens do dia. “Eu não tenho tempo para isso, Haven. Eu não chamei você ao escritório para falar sobre as folhas de faturamento.”
“Você não que saber o que é isso?” Eu esperei. Quando era óbvio que ela não ia responder, eu balancei a minha cabeça lentamente. “Não, porque você já sabe. Isso não foi um erro, não é?”
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Um curioso, arrepiante sorriso espalhou-se através de seus lábios. “Ok, Haven. Vamos jogar. O que é isso?”
“Samantha foi cobrada pelas flores que o escritório enviou para o funeral de seu pai.” Eu esperei por qualquer tipo de reação, um ligeiro movimento de seus olhos, um lampejo de vergonha, uma carranca. Qualquer coisa. Mas Vanessa mostrou todas as emoções de um manequim de loja de departamentos. “Nós vamos corrigir isso, certo?”
Um silêncio torturante passou. O silêncio era uma das armas mais eficazes de Vanessa... ela olharia para mim até eu me sentir em colapso como uma torre de blocos, e eu diria algo, qualquer coisa, para preencher o enervante vazio sem palavras. Mas eu consegui vencê-la.
“Você está fora de linha,” ela informou-me. “Como eu escolhi gerir meus empregados não é da sua conta, Haven.”
“Então descontar esse dinheiro do pagamento de Samantha é algum tipo de técnica de gestão?”
“Eu acho que é melhor você deixar meu escritório agora. Na verdade, tire o dia de folga. Eu tive mais do que o suficiente de você e sua atitude malcriada.”
“Se você não concordar em devolver esse dinheiro para a conta de Samantha,” eu disse, “eu vou até o Jack.”
Isso conseguiu uma reação. Seu rosto escureceu, e seus olhos cintilaram. “Sua puta mimada,” ela disse, sua voz assumindo uma agudeza nítida.
“Nick contou-me tudo sobre você... como você usa as pessoas, como você é egoísta. Como você mente e manipula para obter seu caminho. Preguiçosa, trapaceira, pequena chorona parasita—”
“Certo, esse é o discurso de Nick sobre mim.” Eu me perguntei se ela tinha realmente saído com meu ex-marido. Bom Senhor, como era isso quando dois narcisista saiam em um encontro? “Mas não é isso sobre o que nós estamos falando, é? Você vai devolver o dinheiro ou eu devo ir até o Jack?”
“Você ousa dizer alguma palavra para ele, e eu vou me livrar de você. Até o momento que eu terminar de contar a ele o que você realmente é, ele ficará tão revoltado com você quanto eu estou. Ela dirá a você onde a—”
“Vanessa,” eu disse baixinho, “ele é meu irmão. Você é realmente tão arrogante que pensa que pode virar ele contra mim? Você acha que ele ficará do seu lado contra mim? Jack é leal. Você pode me difamar o máximo que você quiser, e isso não fará a você qualquer bem com ele.”
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Seu rosto estava começando a parecer manchado, raiva trazendo manchas vermelhas que pareciam flutuar em cima da pele dela como manchas de óleo na água. Mas de alguma forma ela conseguiu manter seu tom de voz controlado. “Saia de meu escritório, Haven. E não volte. Você acaba de ser demitida.”
Eu estava calma na superfície embora meu coração estivesse estado galvanizado em um ritmo acelerado. “Isso é o que eu pensei que você diria. Adeus, Vanessa.”
Eu fui para minha mesa e peguei minha bolsa. Quando eu cheguei ao meu cubículo, eu fiquei confusa ao ver Samantha, Rob e Kimmie todos lá em pé, usando idênticas expressões em branco. Se eu não estivesse tão distraída, eu poderia ter achado isso engraçado, a forma que eles todos me olharam. “O que está acontecendo?” Eu perguntei, indo para meu cubículo. Eu parei quando eu vi Jack do lado da minha mesa. Ele estava olhando para o teclado do comunicador, sua cor viva e sua boca dura.
“Oi, Jack,” eu disse em perplexidade. “O que você está fazendo aqui?” Ele respondeu devagar.
“Eu vim para levá-la para almoçar.”
Kimmie se aproximou de mim e tocou meu braço. “O interfone estava ligado,” ela murmurou.
Vanessa deve ter esquecido de desligá-lo quando eu tinha invadido seu escritório. E Jack e os outros tinham ouvido cada palavra.
Jack pegou minha bolsa e a entregou a mim. “Vamos,” ele disse rispidamente.
Eu fui com ele, empalidecendo quando eu percebi que estávamos indo para o escritório de Vanessa.
Abrindo a porta fechada sem bater, Jack ficou parado na porta e deu a ela um duro olhar.
O rosto de minha chefe ficou em branco. “Jack,” ela disse em surpresa. E então ela lhe deu um sorriso caloroso, e ela parecia tão equilibrada e adorável que eu estava espantada pela mudança. “Que bom ver você. Venha, por favor.”
Meu irmão balançou sua cabeça, seus escuros olhos frios. E ele disse três palavras em um tom que não deixou margem para negociação. “Arrume suas coisas.”
Eu passei o resto da tarde com Jack, explicando como Vanessa tinha tentado me intimidar e descreditar, e que ela estava agora fazendo provavelmente a mesma coisa com Samantha. Até o momento que eu terminei, Jack tinha parado de balançar a cabeça e praguejar, e simplesmente pareceu doente.
“Jesus querido, Haven... Por que você não disse nada para mim até agora?”
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“Eu não queria ser uma primadona29. Eu queria o que era melhor para a companhia, e eu sabia que ela tinha feito um bom trabalho para você no passado.”
“Foda-se a companhia,” ele disse. “As pessoas importam mais do que negócios. Eu não me importo quão bom é a gerente se ela se comporta como um maldito terrorista nos bastidores.”
“No começo eu esperava que Vanessa seria melhor com o tempo, ou que nós desenvolveríamos um tipo de sistema com que ambas poderíamos viver. Mas eu vim a perceber que aquele tipo nunca ficaria melhor. Não havia como as coisas darem certo. Ela é como Nick. Uma narcisista maligna. Ela não sente mais qualquer remorso sobre ferir um outro ser humano sendo este você ou eu que possa dar a impressão de pisar em uma formiga.”
A boca de Jack estava fixada em uma barra rígida. “Você conhece um monte desse tipo no mundo de negócios. E embora eu odeie dizer isso, alguns desses comportamentos... sendo ambicioso e cruel e egoísta... podem fazer você chegar muito alto em algumas companhias. Mas não na minha.”
“Você vai realmente se livrar dela?”
Ele assentiu uma vez. “Ela se foi. Eu vou ter que substituí-la agora.” Uma pausa significativa. “Alguma ideia?”
“Eu posso fazer isso,” eu disse prontamente. “Eu não estou dizendo que eu serei perfeita. Eu cometerei erros. Mas eu sei que eu posso lidar com a responsabilidade.”
Um sorriso se abriu através do rosto do meu irmão. “Você está cantando em um tom diferente do que quando você começou.”
Meu sorriso de resposta era irônico. “Eu tenho estado em uma rápida curva de aprendizagem recentemente.”
Nós discutimos a situação do escritório mais algum tempo, e então a conversa se voltou para assuntos pessoais. Eu não podia evitar de contar a Jack sobre o meu desentendimento com o Papai. Sobre T.J. e Hardy, e o negócio do arrendamento.
Jack ficou satisfatoriamente irado sobre a coisa toda, dizendo que eles eram todos idiotas. Ele também concordou comigo que eu precisava chegar ao fundo no comportamento de Hardy, porque isso não fazia sentido. “T.J. tem algumas propriedades privilegiadas,” ele disse, “mas ele não é o único na jogada na cidade. E seu garoto Hardy pode ir ás compras em qualquer lugar que ele queira. Ele pode querer os arrendamentos, mas ele não precisa deles. Então eu diria que essa é a forma de Cates romper com você. Ele fez alguma coisa que ele sabe que forçará você a terminar com ele.”
29 Pessoa vaidosa ou indisciplinada que tem dificuldade para trabalhar sob a direção ou como parte de uma equipe.
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“O idiota passivo-agressivo,” eu disse. “Se ele quer romper comigo, ele terá de fazer isso cara a cara.”
Jack sorriu. “Eu quase sinto pena do bastardo. Ok—você lida com Cates, e eu ajustarei de modo direto algumas coisas com Papai.”
“Não,” eu disse automaticamente, “não faça nada sobre Papai. Você não pode consertar meu relacionamento com ele.”
“Eu posso bloquear ou romper a interferência.”
“Obrigada, Jack, mas eu não preciso de bloqueio, e eu realmente não preciso de mais nenhuma interferência.”
Ele pareceu irritado. “Bem, por que você desperdiçou todo esse tempo reclamando para mim se você não quer que eu faça algo sobre isso?”
“Eu não quero que você conserte meus problemas. Eu apenas quero que você me escute.”
“O diabo é que carregue tudo isso, Haven, fale para uma amiga se tudo que você quer é um par de orelhas. Caras odeiam isso, quando vocês nos dão um problema e então não nos deixam fazer algo sobre ele. Isso nos faz sentir mal. E então a única forma de nos fazer sentir melhor é rasgar a lista telefônica em duas ou explodir de raiva alguma coisa. Então vamos acertar isso—eu não sou um bom ouvinte. Eu sou um cara.”
“Sim, você é.” Eu levantei e sorri. “Quer me pagar uma bebida no bar depois do trabalho?”
“Agora você está falando,” meu irmão disse, e nós saímos do escritório.
Era o começo da noite quando eu voltei para meu apartamento. Eu me senti melhor depois de uma bebida e um par de horas na descontraída presença de Jack. A coisa que me surpreendeu foi sua falta de condenação por Hardy, especialmente tendo em conta sua opinião anterior no assunto.
“Eu não estou a favor ou contra ele,” Jack me informou, inclinando de volta a cerveja num longo gole. “Aqui está como eu vejo esse negócio com T.J. : Hardy ou fez a coisa errada pela razão errada...” Outro grande gole. “Ou a coisa errada pelo motivo certo.”
“Como poderia possivelmente haver uma razão certa para o que ele fez?”
“Inferno, eu não sei. Dê a ele uma chance de explicar por si mesmo, é tudo o que eu tenho a dizer.”
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“Todd pensa que Hardy é conveniente e perverso,” eu disse melancolicamente.
Por alguma razão isso fez Jack rir. “Bem, você deveria estar acostumada com isso, vindo da família Travis. Não há um de nós—com exceção de Gage—que não é tão perverso quanto um sujeito delinquente. E o mesmo vale para Todd.”
“Você está me assustando,” eu disse, mas eu não fui capaz de conter um sorriso deplorável.
Eu continuei sorrindo enquanto eu ia para meu apartamento, mas eu estava nervosa, pensando sobre ver Hardy. Quando eu vi o piscar continuo da secretária eletrônica, meu coração deu uma pequena sacudida. Eu fui para a máquina e apertei o botão para ouvir a menssagem.
Não era a voz de Hardy. “Eu preciso ver você. Por favor me ligue quando você chegar em casa esta noite.”
“Ok,” eu suspirei, fechando meus olhos brevemente. Mas eu abri eles imediatamente, porque algo chamou minha atenção. Um brilho e um vislumbre próximo à base do telefone. Perplexa, eu alcancei o objeto e fiquei surpresa ao descobrir que era um charmoso bracelete. Tia Gretchen. Mas como ele tinha chegado aqui? Ele estava na posse de Nick. Nick—
Antes que eu pudesse fazer algum som, alguém veio por trás de mim, e apertou minha garganta. O cano de uma arma pressionou frio e duro contra o lado de minha cabeça. Eu sabia quem era mesmo antes de ouvir sua voz.
“Peguei você agora, Marie.”
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20
Quando você repentinamente se encontra em uma situação perigosa, seu cérebro se divide em duas partes, a parte que realmente enfrenta a situação, e a parte que recua e tenta entender o que está acontecendo. E essas partes não estão necessariamente compartilhando informação uma com a outra. Então eu levei alguns momentos para me focar no que Nick estava dizendo.
“... não pode me ignorar, sua vadia. Você não pode me manter afastado se eu quiser ver você.”
Ele queria que eu soubesse que ele era o todo-poderoso. Ele queria provar que eu não podia vencê-lo.
Minha boca ficou tão seca que eu mal podia falar, enquanto o suor escorria pelo meu rosto. “Sim,” eu disse numa voz sufocada. “Você definitivamente encontrou um modo de me ver. Como você conseguiu? Você não poderia ter adivinhado a combinação.”
“Eu usei a chave manual.”
Cada apartamento do edifício tinha duas chaves manuais, no caso de emergência, ou no caso de alguém esquecer a combinação. Um conjunto de chaves residenciais fica no cômodo atrás da mesa do porteiro. O outro conjunto fica trancado no escritório da gerência.
“Vanessa a deu a você,” eu disse sem acreditar. Isso era ilegal. Eu poderia processá-la. Ela me odiava tanto ao ponto de arriscar ir para cadeia depois de ser demitida?
Aparentemente, sim.
“Eu disse a ela que precisava deixar algumas coisas.”
“Bem, você deixou,” eu disse fracamente. “Obrigada pelo bracelete. Mas você não precisava trazer a arma, Nick.”
“Você esteve me ignorando—”
“Sinto muito.”
“—tratando-me como se eu não significasse nada para você.” A arma bateu contra minha testa com força o suficiente para deixar um machucado. Eu fiquei parada, meus olhos se enchendo de água. “Eu tenho certeza que significo algo agora, não é?”
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“Sim,” sussurrei. Talvez ele tivesse vindo aqui com a intenção de me assustar. Mas ele estava se excedendo como sempre, deixando seu temperamento tomar conta. Depois que ele começava a ficar com raiva, era uma avalanche. Você não podia recuar.
“Você acabou comigo no divórcio, e me deixou em Dallas, com todo mundo me perguntando sobre o que aconteceu, onde você estava... O que você acha que fez comigo, Marie? Você se importava com o que eu estava passando?”
Eu tentei me lembrar do que Susan tinha me falado, que um narcisista precisava ir embora se sentindo um vencedor. “Claro que sim,” falei sem fôlego. “Mas todo mundo sabia que você poderia ficar melhor. Todo mundo sabia que eu não era boa o bastante para você.”
“É verdade. Você nunca vai ser o bastante para mim.” Nick me empurrou com força, e eu bati contra a parede, o ar fugindo dos meus pulmões. A arma estava pressionada contra meu crânio. Ouvi o clique da trava de segurança sendo destravada. “Você nunca tentou,” ele murmurou, apertando seus quadris contra meu traseiro. Uma onda de náusea me percorreu quando senti o volume da sua ereção. “Você nunca tentou o suficiente. É preciso dois para fazer um casamento, e você nunca esteve nessa porra, Marie. Você deveria ter feito mais.”
“Sinto muito,” eu disse com a respiração entrecortada.
“Você me deixou. Foi embora daquele apartamento de pés descalços, como um maldito lixo branco, para parecer o mais patética possível. Para me fazer parecer mau. E então você fez com que seu irmão conseguisse o divórcio. Só jogou um punhado de dinheiro para mim, e esperou que eu desaparecesse. Documentos legais e toda aquela merda não significam nada para mim, Marie. Eu ainda posso fazer o que quiser com você.”
“Nick,” consegui dizer, “vamos nos sentar e conversar pelo tempo que quiser se você só colocar essa arma para lon—” eu parei com uma pontada de dor quando senti a explosão brusca atrás do meu ouvido, e ouvi um som agudo. Um líquido quente e fino correu atrás da minha orelha e pelo meu pescoço. Ele tinha me batido com a coronha da arma.
“Com quantos homens você trepou?” ele exigiu.
Não havia boa resposta para aquilo. Qualquer coisa que eu dissesse levaria a Hardy, e a fúria humilhada de Nick iria aumentar. Eu tentei pacificá-lo. Tranquilizar seu ego machucado.
“Você é único que importa,” sussurrei.
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“Você está certa sobre isso.” Sua mão livre agarrou meu cabelo. “Vestindo-se como uma puta, cortando o cabelo como uma puta. Você costumava parecer uma dama. Como uma esposa. Mas você não conseguia lidar com aquilo. Agora olhe para você.”
“Nick—”
“Cala a boca! Tudo que você diz é uma mentira. Toda vez que você tomava uma daquelas pílulas, era uma mentira. Eu estava tentando lhe dar um filho. Eu queria que nós tivéssemos uma família, mas tudo que você queria era ir embora. Vagabunda mentirosa!”
Ele usou o aperto no meu cabelo para me arrastar até o chão. Seu temperamento tinha explodido, e ele estava gritando mais palavras sujas, apertando a arma contra minha cabeça. Minha mente, minhas emoções, desligadas do que estava acontecendo, a violência íntima que estava vindo. Justo como antes, só que agora com uma arma na minha cabeça. Eu me perguntei perplexa se ele iria puxar o gatilho. Seu corpo esmagava o meu enquanto ele usava seu peso para me prender. Sua respiração estava violenta e cheirando a álcool quando ele murmurou próximo ao meu ouvido. “Não grite, ou eu te mato.”
Eu estava rígida, todos os meus músculos amargamente tensos. Eu queria tanto viver. Minha boca foi inundava pelos gostos de sal e metal. O toque terrivelmente familiar da sua mão me paralisou quando ele começou a levantar a bainha da minha saia.
Nós dois estávamos tão absorvidos em nossa luta selvagem, um tentando machucar e um tentando resistir, que nenhum de nós ouviu o barulho da porta se abrindo.
O ar vibrou com um som desumano, e todo o quarto explodiu, começando um caos. Eu consegui olhar para cima, meu pescoço se dobrando dolorosamente, e uma forma brutal estava vindo em nossa direção, e a pressão do metal frio deixou meu crânio quando Nick levantou a arma e atirou.
Silêncio.
Meus ouvidos estava temporariamente dormentes, meu corpo retumbando com a força das batidas do meu coração horrorizado. O peso sufocante tinha ido embora. Eu rolei de lado e abri meus olhos estremecidos. Dois homens estavam lutando numa briga de socos, sufocação e mandíbulas quebradas, suor e sangue voando.
Hardy estava em cima de Nick, socando-o repetidamente. Eu podia ver a luta se esvaindo em Nick enquanto os machucados se acumulavam, ossos sendo fraturados, pele se rompendo, e Hardy ainda assim não parar. Havia sangue por toda parte—a lateral esquerda de Hardy estava ensopada de vermelho.
“Hardy,” gritei, ficando de joelhos. “Hardy, pare.” Ele não me ouviu. Ele tinha perdido a cabeça, cada impulso e pensamento voltado para destruir. Ele ia matar Nick. E a julgar por como ele estava perdendo sangue, ele iria se matar no processo.
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A arma, arrancada da mão de Nick, estava jogada a poucos metros. Eu me arrastei até ela e a peguei. “Hardy, deixe-o agora! Já é suficiente! Acabou. Hardy—”
Nada que eu dizia ou fazia iria importar. Ele estava enlouquecido.
Eu nunca tinha visto tanto sangue. Eu não podia acreditar que ele não tivesse desmaiado ainda.
“Droga, Hardy, eu preciso de você,” gritei.
Ele parou e olhou para mim, ofegando. Seus olhos estavam levemente desfocados. “Eu preciso de você,” repeti, tentando ficar em pé. Eu fui até ele e puxei seu braço. “Venha comigo. Venha até o sofá.”
Ele resistiu, olhando para Nick, que estava desacordado, seu rosto inchado e espancado.
“Está tudo bem agora,” eu disse, continuando a puxar Hardy. “Ele está acabado. Acabou. Venha comigo. Venha.” Eu repeti as palavras várias vezes, implorando e comandando e puxando-o até o sofá. Hardy parecia pálido e feroz, seu rosto contorcido quando o instinto assassino desapareceu e a dor começou a atingi-lo. Ele tentou se sentar, e terminou caindo, seus punhos suspensos no ar. Ele levou um tiro na lateral, mas havia tanto sangue que eu não podia ver a exata localização ou extensão do ferimento.
Ainda segurando a arma, eu corri até a cozinha e agarrei algumas toalhas de louça. Eu coloquei a arma sobre a mesa de café e rasguei a camisa de Hardy.
“Haven,” ele disse através da respiração fraca, “ele te machucou? Ele—”
“Não. Estou bem.” Eu sequei o sangue e encontrei o ferimento, um buraco surpreendentemente pequeno e limpo. Mas eu não podia ver o ferimento de saída, o que significava que a bala tinha entrado e provavelmente ricocheteado, causando danos ao baço, fígado, ou rim... Eu queria cair em lágrimas, mas as segurei e coloquei uma toalha sobre a ferida. “Fique parado. Eu vou aplicar alguma pressão na sua lateral para diminuir o sangramento.”
Ele soltou um granido quando eu empurrei para baixo. Seus lábios estavam ficando cinzentos. “Sua orelha—”
“Não é nada. Nick me bateu com a arma, mas não foi—”
“Eu vou matá-lo—” Ele estava tentando se levantar do sofá.
Eu empurrei Hardy para baixo. “Fique parado, seu idiota! Você levou um tiro. Não se mexa.” Coloquei sua mão sobre o pano para manter a pressão enquanto eu ia pegar o telefone.
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Liguei para o 911, para David, e para Jack, enquanto mantinha os panos pressionados sobre o ferimento.
Jack foi o primeiro a chegar ao meu apartamento. “Puta merda.” Ele observou a cena ante ele, meu ex-marido estirado no chão, Hardy e eu no sofá. “Haven, você está—”
“Estou bem. Certifique-se de que Nick não faça mais nada.”
Jack ficou em pé ao lado do meu ex-marido com uma expressão que eu nunca tinha visto no seu rosto. “Assim que eu conseguir a chance,” ele disse a Nick com uma voz mortalmente baixa, “eu vou derrubar e estripar você como um porco feroz.”
Os paramédicos chegaram, seguidos pela polícia, enquanto os seguranças do edifício tentavam afastar os vizinhos. Eu não estava consciente do momento exato em que Nick foi tirado do apartamento pela polícia, de tão absorvida que estava em Hardy. Ele ficava ganhando e perdendo a consciência, sua pele pegajosa, sua respiração fraca e rápida. Ele parecia confuso, perguntando-me pelo menos três vezes o que estava acontecendo, e se eu estava bem.
“Tudo está bem,” murmurei, afagando seu cabelo e apertando sua mão livre firmemente enquanto um paramédico inseria uma grande agulha para a IV. “Fique calado.”
“Haven... tinha de te dizer...”
“Diga-me depois.”
“Erro...”
“Eu sei. Tudo bem. Fique calado e parado.”
Eu podia dizer que ele queria falar algo mais, mas o outro paramédico colocou nele uma máscara de oxigênio e aplicou alguns sensores para um monitor cardíaco, e o colocou numa maca para transportá-lo. Eles eram rápidos e eficientes. O que os profissionais de serviço médico de emergência chamavam de “a hora dourada” tinha começado: a hora entre quando a vítima levava um tiro e a hora que ela chegava ao centro de trauma para tratamento. Se mais de sessenta minutos se passasem antes que ela conseguisse ser tratada, as chances de sobrevivência começavam a cair.
Eu andei com Hardy na ambulância enquanto Jack dirigia para o hospital. Era apenas por Hardy que eu consegui ficar calma por fora. Por dentro, eu sentia uma angústia que parecia grande demais para um coração humano aguentar.
Chegamos à entrada para ambulâncias, e os paramédicos levantaram Hardy na maca para o térreo, que era levemente mais alto que o piso da ambulância.
Liberty e Gage já estavam na unidade de trauma, tendo sido alertados por Jack. Imaginei que o resto da minha família não estava muito para trás. Eu não tinha pensando
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em como eu parecia, com olhos selvagens e manchada de sangue, mas concluí pela expressão deles que minha aparência era motivo para preocupação. Liberty pôs sua jaqueta sobre minha camisa e limpou meu rosto com alguns lenços para bebês que tinha em sua bolsa.
Quando ela descobriu o inchaço atrás da minha orelha, ela e Gage insistiram para que eu fosse examinada, apesar dos meus protestos.
“Eu não vou a lugar nenhum, eu vou ficar aqui até descobrir como Hardy está—”
“Haven.” Gage estava na minha frente, seu olhar firme fixo ao meu. “Vai demorar um longo tempo até que eles tenham alguma notícia. Eles estão checando seu tipo sanguíneo, fazendo tomografias e raio-X... acredite em mim, você não vai perder nada. Agora deixe alguém examinar essa sua cabeça dura. Por favor.”
Eu fui limpada e enfaixada, e mandada de volta para a sala de espera da unidade de trauma. Como Gage tinha previsto, não havia nenhuma notícia. Hardy estava em cirurgia, embora ninguém fosse nos dizer como estava indo, e por quanto tempo iria durar. Eu me sentei e fitei cegamente a televisão no canto do cômodo, perguntando-me se eu deveria ligar para a mãe de Hardy. Eu decidi esperar até que eu descobrisse algo sobre sua condição—algo tranquilizador, eu esperava—para que eu pudesse falar junto com a notícia de que ele foi ferido.
Enquanto eu esperava, culpa me sugava como areia movediça. Eu nunca tinha imaginado que Hardy sofreria pelos erros do meu passado. Se eu nunca tivesse me envolvido com Nick... se eu nunca tivesse começado um relacionamento com Hardy...
“Não pense nisso.” Ouvi a voz gentil de Liberty ao meu lado.
“Não pense o quê?” perguntei tolamente, cruzando minhas pernas sobre a cadeira de plástico.
“O que quer que esteja colocando essa expressão no seu rosto.” Seu braço deslizou ao redor dos meus ombros. “Você não é a culpada por nada disso. Você é a melhor coisa que já aconteceu ao Hardy.”
“Ah, obviamente,” murmurei, olhando para as portas que levavam à cirurgia.
Ela me apertou um pouco. “Quando eu vi vocês dois na festa do peças-para-recifes eu não podia acreditar na diferença em Hardy. Eu nunca o tinha visto tão relaxado e feliz. Confortável consigo mesmo. E não achava que alguém poderia fazer isso a ele.”
“Liberty... aconteceu algo de errado nos últimos dias. Papai e tio T.J.—”
“Sim, eu sei sobre isso. Churchill me contou. Ele também me contou sobe algo que aconteceu hoje, o que você realmente precisa ouvir.”
“O que é?”
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“Acho que é Churchill que deve te contar.” Ela me indicou a entrada de visitantes, onde meu pai e Joe estavam entrando. Liberty se levantou e gesticulou para papai, e ele se sentou na cadeira ao meu lado. E, apesar de toda a minha raiva e sensação de traição, eu me apoiei nele e coloquei minha cabeça no seu ombro, respirando seu cheiro de couro e de pai.
“O que aconteceu, querida?” perguntou.
Eu mantive minha cabeça no seu ombro e contei a ele. De vez em quando a mão dele subia e dava tapinhas no meu braço gentilmente. Ele parecia surpreso por Nick ter feito algo tão maluco, e perguntou o que aconteceu para que ele ficasse tão desequilibrado. Eu pensei em explicar que Nick sempre tinha sido daquela forma, que seu abuso tinha destruído nosso casamento. Mas decidi guardar essa conversa particular para uma melhor hora e lugar. Então eu só balancei a cabeça, dei de ombros e disse que não tinha ideia.
E então papai me surpreendeu ao dizer, “Eu sabia que Hardy ia te ver hoje à noite.”
Eu levantei minha cabeça e olhei para ele. “Sabia? Como?”
“Ele me ligou por volta das cinco hoje. Disse que sentia muito pelo negócio do arrendamento, e que ele já tinha dito ao T.J. que estava fora. Ele disse que não estava pensando direito no sábado, e que foi um erro de ambas as partes—nós por oferecer, e ele por aceitar.”
“Ele estava certo,” eu disse rapidamente.
“Então o acordo acabou,” papai disse.
“Ah, não acabou não!” Fiz cara feia para ele. “Vocês vão mantê-lo até o fim. Certifique-se que Hardy pegue os aluguéis pelo preço justo que ele ofereceu, e diga a T.J. para esquecer o bônus. E se você fizer isso, eu estarei pronta para dar a você outra chance para um relacionamento normal de pai e filha.”
Eu estava determinada de que, pelo menos uma vez na sua vida, Hardy Cates fosse ter tudo.
“E você vai continuar a vê-lo?”
“Sim.”
Meu pai sorriu levemente. “Provavelmente uma coisa boa, considerando o que ele me disse sobre você.”
“O quê? O que ele te disse?”
Meu pai balançou a cabeça. “Ele me pediu para manter em particular. E eu não irei mais interferir. Exceto...”
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Eu ri sem firmeza. “Exceto o quê? Droga, papai, por que você tem de parar de interferir quando você finalmente tem algo que eu quero ouvir?”
“Eu posso te dizer isso. Dois homens já me abordaram para falar sobre seus sentimentos sobre minha filha. Um deles era Nick. Eu não acreditei em uma palavra do que ele disse. Não porque você não valia a pena amar. Nick só não tinha aquilo dentro de si. Mas Hardy Cates... apesar de ser um canalha e um bruto de nascença... eu acreditei nele hoje. Ele não estava tentando me vender nada. Ele estava apenas me dizendo como era. Eu respeitei isso. E o que quer que você escolha fazer com ele, vou respeitar também.”
Duas horas se passaram. Eu andei de um lado para o outro, me sentei, assisti TV, beberiquei café pelando com creme e adoçante. Quando eu achei que iria explodir de tensão por não saber de nada, a porta se abriu. Um cirurgião alto e de cabelos brancos ficou ali, seu olhar correndo o cômodo. “Algum familiar de Hardy Cates?”
Eu fui em sua direção. “Eu sou a noiva dele.” Pensei que aquilo poderia conseguir alguma informação. “Dr. Whitfield.” Apertamos as mãos.
“Sr. Cates usou toda sua sorte nessa,” o cirurgião disse. “A bala atingiu o baço, mas nenhum outro órgão foi danificado. Quase um milagre. Eu tinha esperado que a bala tivesse atingido mais partes, mas felizmente não atingiu. Depois que a removemos, fomos capazes de fazer um reparo relativamente simples no baço e salva-lo completamente. Dado a idade e a saúde excelente do Sr. Cates, não há nenhuma razão para esperar complicações de qualquer tipo. Então eu diria que ele ficará no hospital por cerca de uma semana, e então levará mais quatro ou seis semanas até que ele esteja completamente curado.”
Meus olhos e meu nariz doeram. Eu passei uma manga sobre meus olhos para secá-los. “Então ele não vai ter nenhum problema resultante disso no futuro? Nenhum baço deficiente ou nada?”
“Ah, não. Eu esperaria uma recuperação completa.”
“Ah, meu Deus.” Suspirei. Era um dos melhores momentos da minha vida. Não, o melhor absoluto. Eu estava eletrificada e fraca, e sem fôlego. “Estou tão aliviada, eu realmente senti um tipo de embrulho. Isso é possível?”
“Ou é o alívio,” disse Dr. Whitfield gentilmente, “ou é o café da sala de espera. Provavelmente o café.”
A regra do hospital era que pacientes em terapia intensiva podiam ter visitas vinte-e-quatro horas. A questão era, você só podia ficar quinze minutos por hora, exceto em circunstâncias especiais aprovadas pelo pessoal da enfermagem. Eu pedi para Gage mexer os pauzinhos para que eu pudesse ir e vir à vontade. Meu irmão pareceu vagamente divertido por isso, e me lembrou de como eu uma vez me opus a usar poder e dinheiro para conseguir tratamento especial. Eu falei a ele que quando você está apaixonada,
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hipocrisia ficava acima de princípios. E Gage me disse que ele certamente entendia isso, e conseguiu para mim uma permissão especial para ficar com Hardy pelo tempo que eu quisesse.
Eu cochilei na poltrona reclinável do quarto de Hardy pela maior parte da noite. O problema era que um hospital é o pior lugar do mundo para dormir. Enfermeiras entravam de hora em hora, trocando bolsas de intravenoso, checando os monitores, e verificando a temperatura e pressão de Hardy. Mas eu saudei cada interrupção, porque eu amava ouvir sobre quão bem ele estava indo, repetidamente.
Ao amanhecer Gage veio para o hospital e me disse que ele iria me levar ao meu apartamento para que eu pudesse tomar banho e me trocar. Eu não queria deixar Hardy, mas eu sabia que eu parecia acabada, e era provavelmente uma boa ideia me limpar.
Hardy tinha acordado quando eu voltei às sete, e ele não estava satisfeito, para dizer o mínimo, por se encontrar numa cama de hospital e preso a monitores. Eu entrei para ouvi-lo discutir com uma enfermeira, exigindo que ela tirasse o intravenoso, e categoricamente recusando os analgésicos que ele obviamente precisava. Ele não queria ser cutucado ou furado, disse. Ele estava bem. Tudo o que ele precisava era uma bandagem e um saco de gelo.
Eu podia dizer que a enfermeira estava gostando da discussão com um homem grande e de olhos azuis que estava a sua mercê, e eu não a culpava nem um pouco. Ele parecia perdido, um pouco ansioso, e completamente apetitoso.
E ele era meu.
“Hardy Cates,” eu disse, entrando no quarto, “comporte-se, ou eu pisarei no seu tubo.”
A enfermeira pareceu recuar com minha maneira antipática.
Mas o olhar de Hardy encontrou o meu por um momento de brilhante e quente voltagem, e ele relaxou, reassegurado em um modo que uma simpatia aduladora não teria conseguido. “Só funciona se for um tubo de respiração,” ele me disse.
Fui até a bandeja na mesa ao lado da cama e peguei os tabletes de Vicodin que a enfermeira estava tentando fazê-lo tomar, junto com um copo de água. “Tome esses,” eu disse. “Sem discussão.”
Ele obedeceu, lançando um olhar para a enfermeira, cujas sobrancelhas estavam levemente levantadas. “Ela é pequena,” disse a ela, “mas é malvada.”
A enfermeira foi embora, sem dúvida se perguntando por que um cara tão gostoso não foi capaz de encontrar uma namorada mais legal. Quando a porta se fechou, eu tentei arrumar Hardy mais um pouco, endireitando as cobertas e reajustando seu travesseiro. Seu olhar não saiu do meu rosto.
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“Haven,” murmurou, “tire-me daqui. Eu nunca estive em um hospital antes. Eu não consigo ficar preso a toda essa merda. Tudo que eu preciso é—”
“Renda-se ao processo,” disse a ele, “e você vai sair daqui muito mais rápido.” Beijei sua testa. “Você vai se comportar se eu ficar aqui com você?”
Sem hesitação, Hardy se afastou para o lado, grunhindo com o esforço. Eu tirei meus tamancos e subi cuidadosamente, apoiando minha cabeça na curva do seu braço. Ele suspirou profundamente, um som de contentamento.
Eu rocei meu nariz gentilmente no seu pescoço quente, respirando seu cheiro. Hardy cheirava a antissépticos e remédios, como se ele tivesse impregnado pelo cheiro do hospital. Mas debaixo do vazio esterilizado eu encontrei a sua fragrância familiar.
“Hardy,” murmurei, acariciando seu pulso, “por que você aceitou aquele acordo estúpido do papai e do T.J.? E por que você caiu fora?”
Sua mão encontrou a minha, os dedos longos se dobrando sobre minha mão. “Eu fiquei meio louco depois que vi meu pai na noite de sexta.”
“Sério? Eu não tinha percebido.”
“Eu paguei a fiança dele e o levei para um motel com algum dinheiro. E disse para ele sumir. Mas o que eu não te contei... eu deveria ter contado... é que ele e eu conversamos por alguns minutos. E ele disse—” Hardy parou, apertando minha mão com mais força.
Eu esperei que ele respirasse um pouco alterado.
“Ele ficou irritado quando eu disse a ele o que eu faria se ele ligasse para minha mãe novamente,” Hardy murmurou. “Ele disse que era engraçado isso vindo de mim, porque... eu fui a razão para eles terem se casado. Minha mãe tinha parado de sair com ele, mas então ela teve de voltar porque estava grávida. Foi minha culpa ela ter terminado com o filho da puta. Toda a vida dela foi um inferno por minha causa. Ela sofreu—”
“Não. Hardy...” Eu me levantei e fitei seus olhos azuis escuros. Meu peito doía por simpatia. “Você sabe que isso não é verdade. Você sabe que não é sua culpa.”
“Mas é um fato que se eu não tivesse aparecido, minha mãe não teria se casado com ele. E depois que ele a pegou, a vida dela foi arruinada.”
Eu entendia os sentimentos de Hardy mesmo que eu não concordasse com sua lógica. Mas sua angústia e culpa irracional não poderiam ser resolvidas com superficialidades convenientes. Ele precisava de tempo, de amor, para entrar em termos com a verdade. E eu tinha mais que o suficiente dos dois para dar para ele.
Hardy beijou minha cabeça. Sua voz era profunda e grossa. “Eu odeio ser filho dele. Eu odeio a metade de mim que é ele, e eu posso sentir, que essa parte é um filho da puta
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ruim, baixo e que não vale nada, e quando Churchill e T.J. me procuraram com o acordo, eu pensei, por que não. Eu ia ter de deixar você de qualquer forma. Porque eu amava você demais para arrasta-la para baixo comigo.”
Minha mão subiu para acariciar a rígida linha da sua mandíbula. “Por que você mudou de ideia?” sussurrei.
“Depois que fiquei calmo e tive a chance de pensar, eu pensei que... eu amava você o suficiente para tentar merecer você. Eu iria fazer qualquer coisa, ser qualquer coisa, por você. Na noite passada eu fui ao seu apartamento para implorar que você me desse outra chance. Eu estava tremendo, pensando que você poderia não me perdoar pela noite de sexta.”
Eu corei quando me lembrei das longas e eróticas horas com ele na escuridão do seu quarto. “Claro que eu... Quero dizer, não há nada a se perdoar.” Minha voz abaixou para um sussurro envergonhado. “Eu queria fazer tudo aquilo com você.”
O corpo dele ficou tão quente que me perguntei se ele estava corando também. “Eu pensei que tinha sido demais para você. Que eu tinha te pressionado demais. E depois do que você passou com Nick... Bem, eu temia que você não fosse me querer mais na sua vida. Então eu fui até seu apartamento para te dizer o quão arrependido eu estava. O quão gentil eu seria de agora em diante. E mesmo que você não me quisesse agora, eu gostaria que você só... deixasse-me ficar perto de você, pelo menos. No caso de você precisar de mim para qualquer coisa.”
Eu nunca tinha o ouvido totalmente humilde, nunca imaginei que fosse possível. Guiei seu rosto até o meu até que nossos narizes quase se tocavam. “Eu preciso de você para muitas coisas, Hardy. Para uma vida toda.”
Ele me beijou com uma força surpreendente, sua boca quente e exigente.
“Amo você,” sussurrei. E era uma evidência do considerável vigor do homem que, apesar da perda de sangue, drogas e do hospital claramente não romântico, ele tentou uns movimentos sérios comigo.
“Não,” eu disse com uma risada trêmula quando sua mão livre correu ousadamente sobre a frente do meu corpo. “O monitor cardíaco vai enlouquecer. E eles não me chutar daqui por comprometer sua recuperação.”
Mas Hardy não prestou atenção, é claro, fazendo exatamente o que queria.
“Sabe,” eu disse, arqueando um pouco quando ele beijou meu pescoço, “eu disse ao hospital que eu era sua noiva, pra que eles me deixassem ficar aqui com você.”
“Eu odiaria fazer de você uma mentirosa.” Hardy alisou meu cabelo. “Mas depois do que aconteceu na noite passada, você está se sentindo grata, e eu não quero tomar
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vantagem disso. Então amanhã, quando não houver mais sentimento de gratidão... eu provavelmente vou pedir pra que você se case comigo.”
“Eu provavelmente direi sim,” disse a ele.
Hardy trouxe minha testa à dele, e eu estava perdida naquela profundidade azul e brilhante dos seus olhos.
“Logo?” sussurrou contra meus lábios.
“Tão logo quando você queira.”
Ocorreu a mim em retrospecto que eu provavelmente deveria ter ficado nervosa pela ideia de me casar de novo, visto minhas experiências passadas. Mas tudo era diferente com Hardy. O amor dele vinha preso a nada, o que eu pensei que era o maior presente que um ser humano podia dar a outro.
“Sabe,” eu disse a nele na nossa noite de núpcias, “eu sou do jeito que sou com você do mesmo jeito que sou sem você.”
E porque Hardy entendeu o que eu queria dizer, ele me puxou para os seus braços, contra seu coração.
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Epílogo
“Ele está no telefone, Sra. Cates,” a secretária de Hardy disse. “Mas ele disse para que entrasse assim que chegasse aqui.”
Estou no escritório do arranha-céus de Hardy em Fannin, um edifício de alumínio e vidro que parece duas peças de quebra-cabeça reunidas. “Obrigada,” disse à secretária, e me aproximei da porta do meu marido, entrando.
Hardy está em sua mesa, seu paletó jogado descuidadamente sobre uma cadeira. Sua gravata está afrouxada e as mangas da camisa enroladas sobre os pesados músculos dos antebraços, como se tentasse ficar mais confortável em sua roupa de negócios confinante. Desordeiro, penso, com uma pontada de prazer possessivo.
Estamos casados há quase um ano, e ainda não consigo me acostumar com o fato de que ele é meu. Não é nada como o casamento que eu tive com Nick, de qualquer maneira, condição ou aspecto. Nick não é mais uma ameaça para mim ou qualquer outro, tendo sido condenado por duas acusações de agressão agravadas e enviado para Texarkana. E Vanessa Flint acabou deixando Houston. Da última vez que ouvi, ela era gerente assistente de uma empresa de fertilizantes em Marfa.
Não gasto muito tempo insistindo no passado. Uma das bênçãos que os seres humanos foram concedidos é a capacidade de lembrar da dor sem ter que senti-la novamente. A dor das feridas físicas estão muito longe tanto para Hardy quanto para mim. E o outro tipo de dor, o dano causado aos nossos espíritos, foi curado. Somos cuidadosos com as cicatrizes instaladas em cada um. E nos alegramos em um casamento que ambos estamos criando, aprofundando, todos os dias.
“...quero que vocês fixem-no para baixo sobre exatamente que tipo de líquido que eles estão planejando bombear naquela fenda,” Hardy diz.
Mordo os lábios em um sorriso, pensando que agora eu deveria estar acostumada com a sonoridade vulgar do jargão de negócios do petróleo.
“...Estou menos preocupado com a taxa de fluxo do que os aditivos que eles usam.” Hardy para para ouvir. “Sim, bem, eu não dou a mínima para segredos de incentivo tecnológico. É no meu traseiro que a EPA virá depois se houver contaminação das águas subterrâneas, e—”
Ele interrompe quando me vê, e um sorriso lento e deslumbrante atravessa seu rosto, aquele que nunca falha em me deixar um pouco tonta. “Vamos terminar mais tarde,” ele diz ao telefone. “Surgiu algo. Ok.”
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Colocando o telefone de lado, Hardy caminha em torno da mesa. Ele meio que senta meio encostado na ponta, e estica os braços para me puxar para o meio de suas coxas. “Garota dos olhos castanhos,” murmura, me beijando.
“Tecnologia de estimulação?” Pergunto, envolvendo meus braços em torno do seu pescoço.
“Formas de alcançar difíceis reservatórios de petróleo de baixa permeabilidade,” ele explica. “Você injeta fluidos no buraco do poço até alargar as fissuras subterrâneas o suficiente para permitir que o óleo saia.” Suas mãos passeiam sobre minhas laterais e quadris. “Estamos trabalhando com um novo grupo de faturamento hidráulico.”
“Você podia ter terminado sua conversa,” respondo.
“Não queria que você ficasse entediada.”
“De forma alguma. Adoro ouvir você falar sobre negócios, sempre soa tão risqué.”
“Não sei exatamente o que risqué significa,” Hardy diz, suas mãos descendo até minha bunda, “mas acho que fiz isso algumas vezes.”
Moldo-me contra ele. “Sugestivo de impropriedade sexual,” explico. “Você tem sido risqué sua vida adulta inteira.”
Seus olhos azuis brilham. “Mas agora só com você.” Ele me beija devagar, como se a afirmação precisasse de demontração. “Haven, meu amor... como a consulta foi?”
Temos conversado ultimamente sobre a possibilidade de ter um bebê. Hardy parece disposto, mas cauteloso, enquanto eu estou sentindo o que deve ser uma ordem biológica. Eu quero um bebê com ele. Quero nossa própria família. E o que quer que a vida tenha reservado para nós, sei que vamos lidar com isso juntos.
“O médico disse que estou perfeitamente saudável e pronta para tentar,” respondo. “Agora, o resto é com você.”
Ele ri e me prende mais perto. “Quando vamos começar?”
“Esta noite?” Inclino minha cabeça para trás lentamente enquanto seus lábios deslizavam ao longo do meu pescoço.
“Que tal na hora do almoço?”
“De forma alguma. Quero música ambiente e preliminares.”
Sinto a curva de seu sorriso na minha pele. Mas enquanto ele levanta a cabeça e olha nos meus olhos, seu sorriso desaparece. “Haven. Eu não sei se vou ser um bom pai. E se eu não fizer isso direito?”
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Sou tocada pela preocupação de Hardy, seu constante desejo de ser o homem que ele acha que eu mereço. Mesmo quando discordamos, não tenho dúvidas de que sou valorizada. E respeitada. E eu sei que nenhum de nós toma o outro como garantido.
Eu percebi que você nunca pode ser verdadeiramente feliz a menos que você conheça alguma tristeza. Todas as coisas terríveis que Hardy e eu atravessamos em nossas vidas criaram os espaços onde a felicidade pode viver. Sem mencionar o amor. Tanto amor que não parece haver espaço para amargura em qualquer um de nós.
“Acho que o fato de você estar preocupado com tudo isso,” eu digo, “significa que você provavelmente será ótimo.”
Hardy sorri e me puxa segura e protegida para o abrigo do seu corpo. Ele me abraçacom força, e eu gosto. É o que preciso. “É o suficiente,” ele diz, sua voz abafada em meu cabelo. “Vai ser hora do almoço para você, querida. Pegue sua bolsa. Temos tempo para as preliminares, mas não para música ambiente. A menos que você encontre algo no rádio do carro no caminho para o apartamento.”
Viro-me e encontro seus lábios, e descubro que é quase impossível sorrir e beijar ao mesmo tempo. Não tenho nenhuma intenção de discutir. “Quem precisa de música ambiente?” eu digo.
E alguns minutos depois, estamos indo para casa.
Fim
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No próximo livro...
Jack Travis leva a vida descomplicada de um playboy milionário texano. Ele não aceita compromisso, ele ama muitas mulheres, ele vive para o prazer. Mas ninguém jamais tocou verdadeiramente seu coração ou alma.
Até que um dia, uma mulher aparece em sua soleira com fúria no rosto e um bebê nos braços. Parece que Jack é o pai e esta mulher é a tia do bebê. A mãe verdadeira abandonou a criança para sua irmã mais responsável. E agora, Jack está sendo chamado a assumir a responsabilidade pela primeira vez em sua vida.
Em breve!

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