sábado, 7 de setembro de 2013

Bem profundo




Copyright © Portia Da Costa, 2008
Todos os direitos reservados
TÍTULO ORIGINAL In too deep
PREPARAÇÃO Alexandra Colontili
REVISÃO Gabriela Ghetti
DIAGRAMAÇÃO S4 Editorial
CAPA Adaptada do projeto original por S4 Editorial
IMAGEM DA CAPA Plainpicture
CONVERSÃO EM EPUB: {kolekto}
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE
LIVROS, RJ
C875b
Costa, Portia Da
Bem profundo / Portia Da Costa; [tradução
Cecília Gouvêa Dourado, S. Carvalho, Júlio de
Andrade Filho]. – São Paulo: Planeta, 2012.
23 cm.
Tradução de: In too deep
ISBN 978-85-422-0031-7
1. Ficção inglesa I. Dourado, Cecília Gouvêa. II.
Carvalho, S. III. Andrade Filho, Júlio de. IV. Título.
12-6992. CDD:823
CDU: 821.111-3
25.09.12 04.10.12 039290
2012
Todos os direitos desta edição reservados à
EDITORA PLANETA DO BRASIL LTDA.
Avenida Francisco Matarazzo, 1500 – 3º andar –
conj. 32B
Edifício New York
05001-100 – São Paulo – SP
www.editoraplaneta.com.br
vendas@editoraplaneta.com.br
Para os meus companheiros de viagem,
Valerie e Madelynne.
Sumário
1. “Há uma carta para
você!”
2. No parque com o
Professor Gostoso McLindo
3. Kit de autoindulgência
4. Contato
5. Penalidade
6. Compensação
7. A história de um homem
aleatório
8. Um salto quântico
9. Nós podemos parar com
isso
10. O infame Waverley
11. Jogos
12. No escuro
13. Aulas com o Professor
Gostoso
14. A hora da explosão
15. As melhores das
intenções
16. Carta de Amor
17. Em algum lugar muito
sofisticado
1
“Há uma carta para você!”
Eu mal me atrevo a olhar de novo. Mas se
não olhar quer dizer que posso estar
imaginando coisas, e não tenho certeza se
quero admitir estar imaginando isto.
É um pouco assustador. E eu fico com
vontade de dar umas risadinhas. Na
mesma medida, mais ou menos.
Pela terceira vez desde que retirei isso
da velha caixa de sugestões da biblioteca,
eu abro o envelope azul-calcinha com um
estalido e desdobro as quatro páginas de
papel pesado e de boa qualidade que
estão dentro. As palavras escritas nelas,
espaçadas entre si com regularidade e em
tinta azul-marinho com uma letra elegante
e quase caligráfica, daquela que parece
gravada.
Meu rosto fica vermelho e é como se a
minha mente se enchesse de uma voz
silenciosa e excitante. O meu coração bate
com força e sinto uma vontade estúpida de
pôr a mão no peito, como se eu pudesse
desacelerá-lo.
É preciso esforço para ficar sentada
quieta, mas eu consigo, apesar de ainda
correr o risco de soltar uma risadinha
abafada.
Estou de olho em você, Srta.
Gwendolynne Price, sabia disso?
Todos os dias fico observando você
na biblioteca. Todos os dias tenho
vontade de estender o braço e tocar
em você. Todos os dias eu luto contra
os meus anseios... Você passa por
mim e eu quero agarrá-la pelo braço,
arrastá-la para trás de uma das
estantes de livros e fazer coisas
indizíveis com você. Quero deslizar
as minhas mãos por baixo da sua saia
e acariciar até você gemer de prazer.
Quero deixar nus os espaços
maravilhosos da sua pele macia bem
aqui, na biblioteca pública, a
centímetros de distância desses
babacas que vagam, inconscientes,
pelos seus domínios. Gostaria de
revelar as suas curvas suntuosas,
beijar e acariciar você com a minha
língua até deixar você em um estado
em que não consiga ficar imóvel.
Quero chupá-la até você chiar,
arquear o corpo e gozar. Gozar para
mim.
Não tenha medo, minha adorável
Gwendolynne. Eu não vou fazer mal
algum a você... Só quero sentir o seu
gosto. Ou o seu toque.
Com isso eu poderia adorá-la,
castamente, de longe, como um
cavaleiro palaciano, me consumindo
em toda pureza pela sua senhora.
Gostaria que Deus tivesse me dado o
dom de escrever poesia romântica,
para catalogar a sua doçura,
descrevendo cada faceta do seu
sorriso e a sua graça, e revelando a
forma como anseio por me ajoelhar
aos seus pés e beijar o chão que você
pisa ao se afastar de mim.
Mas não adianta, minha querida.
Isso simplesmente não é o suficiente
para mim. Eu não consigo me
confinar nos atos puros e
magnânimos. Sou animal demais,
minha queridíssima. Uma besta
desejosa e incontrolável. A visão das
suas curvas me endurece por
completo. O desejo de foder você até
deixá-la sem sentidos me domina. O
meu pau se torna sólido quando você
passa por mim. Eu sofro ao ouvir o
roçar da sua saia ao redor das suas
coxas, e quase desejo que eu pudesse
ser aquele simples pedaço de pano.
Só para poder estar perto do seu
delicioso púbis e mergulhado na sua
fragrância e no seu gosto.
Eu não consigo por fim a essa
obsessão sobre o que existe no meio
das suas pernas.
O luxuriante bosque do seu sexo e a
sua geografia íntima rósea. Eu
adoraria abrir bem as suas pernas e
ficar olhando você por horas,
acariciando-a com os meus olhos,
saboreando os efeitos que a
vulnerabilidade da nudez e da
exposição teriam sobre você.
As minhas fantasias sobre você me
atormentam durante todas as horas
em que estou acordado. Elas
estragam o meu trabalho, mas eu não
ligo. O meu único conforto é
imaginar que fantasias semelhantes
talvez também dominem você. Eu
sonho com você sonhando com o meu
pau. Visualizando-o e fazendo
especulações sobre ele, imaginando
como seria tê-lo na sua mão ou
dentro de você.
E ele não é nada mau, adorada
Gwendolynne, no que diz respeito a
cacetes. Na verdade, quando estou
pensando em você, ele consegue ficar
bem espetacular. Ele se levanta em
tributo à sua beleza luxuriante e
sensacional, e à promessa de
explorar cada centímetro dessa
beleza, afundando nela, enquanto nós
rolamos de um lado para o outro no
chão da Biblioteca de Referência,
seminus e fodendo como um par de
criminosos.
E, sim, minha gloriosa e erótica
Rainha da Biblioteca, não vai ser
surpresa para você saber que tenho
me tocado como um louco
ultimamente, pensando em você. Eu
venho estimulando sem parar o meu
membro enquanto sonho com o que
eu gostaria de fazer com ele em
você...
Estou sempre vendo você de
lingerie. Pequenos fragmentos que
mal cobrem alguma coisa e que
revelam mais do que escondem.
Você gosta de seda e renda, minha
mais querida Gwendolynne, ou é uma
garota do tipo algodão branco e
confortável? Eu poderia devorar
você de uma forma ou de outra, assim
como sem absolutamente nada, mas
você sabe como nós, os pervertidos
desvairados, somos. Nós dissipamos
horas das nossas vidas especulando
sobre que tipo de sutiã e calcinhas as
mulheres que nós desejamos estão
usando.
Na minha imaginação, você está
usando roupa íntima sofisticada hoje.
Lindas tirinhas reduzidas que cingem
os seus gloriosos peitos e quadris
como uma segunda pele... Pequenos
pedaços de roupa que desfrutam de
privilégios íntimos corporais com os
quais eu apenas posso sonhar.
Eu vejo você em bordeaux. Não
qualquer vermelho sem graça, mas
uma cor profunda, rica e melodiosa,
a cor de um vinho de boa safra ou de
um rubi raro e precioso. E também de
renda branca. Um toque pungente de
inocência que faz a renda vermelha
parecer ainda mais pecaminosa.
Mais luxuoso. Mais parecida com o
tipo de coisa que uma acompanhante
de alta classe usaria.
Ontem, na biblioteca, você estava
usando uma bonita camisa azulmarinho
e uma bela saia jeans que
mostrava – oh! − a sua suntuosa
bunda à perfeição. Mas, na minha
cabeça, por baixo de tudo aquilo
você estava vestida como uma garota
de programa de dois mil dólares por
noite.
Eu adorei os seus peitos naquela
camisa. Na verdade, eu adoro os seus
peitos, ponto-final. Eles são
arredondados, abundantes e
magníficos. Dignos da própria deusa
do amor. Você é Afrodite para mim,
você sabe disso, não sabe,
Gwendolynne? E os seus peitos
esplêndidos me ordenam a adorá-los
nos seus mais maravilhosos detalhes,
com os meus olhos e os meus dedos.
Aqui, no santuário da minha
imaginação, eles são um banquete
para os meus sentidos sôfregos e
famintos. Empinados e pontudos, são
um par delicioso e de encher as
mãos, uma alegria de contemplar. E a
pele sedosa das suas curvas
superiores, que aparece por cima
daquela excitante beira de renda, é
tão doce, macia e suave quanto leite
e mel na minha língua.
Você toca os seus próprios peitos,
Gwendolynne? Eu adoraria saber...
Por que você não os toca agora,
enquanto lê? Tímida e docemente...
Ninguém precisa ver você fazendo
isso, mas eu saberia, ah, saberia
sim... Eu veria um rubor maravilhoso
e acanhado no seu rosto adorável, e
saberia que você está enrubescendo
para mim e apenas para mim. Que
você estaria se tocando porque eu
quero que você faça isso e para me
agradar.
Isso mesmo, desabotoe a sua blusa,
deslize seus dedos para dentro e
corra as pontas deles pela curva
luxuriante e ao redor do mamilo duro
debaixo do seu sutiã. Faça isso! Faça
agora! Ninguém vai ver se você fizer
de conta que está se abaixando para
pegar alguma coisa da gaveta da sua
mesa.
Será apenas o nosso pequeno ato
sexual privado, o primeiro
movimento do nosso jogo.
E, mais tarde, à noite e quando
estiver sozinha, você fará isso
novamente, pensando em mim ao
passar a ponta do dedo ao redor do
bico do seu peito. Dando voltas e
mais voltas, o dedo leve como uma
pena. E quando isso excitar você
demais, talvez você pudesse
delicadamente beliscar a si mesma...
Você deve punir a si mesma por me
provocar. Que tal pegar esse fruto
picante do seu mamilo, beliscá-lo e
puxá-lo de um lado para o outro
enquanto você começa a se
contorcer, molhada e cheia de
tesão...?
Você gosta de um pouco de dor com
o seu prazer, Gwendolynne? Eu acho
que todos deveriam experimentar,
pelo menos uma vez na vida. Não
demais... Eu não sou nenhum bruto
nem sádico... Mas é um tempero
delicioso e sofisticado no cardápio
sexual e você me parece uma mulher
cujos apetites, uma vez aguçados, são
vorazes. Acho que você tem a
imaginação para experimentar
praticamente tudo, não é, minha
querida deusa?
Estou apenas chutando, mas
raramente me engano.
E quanto a você, é uma mulher
corajosa e ousada, com disposição
para se aventurar. Uma mulher que
está no ponto certo para o prazer e
para a caça.
Acertei? Acho que sim...
De qualquer forma, voltando aos
seus peitos, aos seus lindos peitos...
Agora estou vendo você deitada
sobre lençóis de cetim, o seu corpo
magnífico emoldurado pelo luxo que
ele merece. Acho que lençóis de cetim
são um tanto quanto clichê, mas e
daí? Eles são material de um milhão
de fantasias clássicas para punhetas,
não apenas as minhas. Mas talvez os
seus lençóis sejam brancos e não
pretos? Hummmm... tudo bem para
mim... .
Noites em cetim branco, hein,
minha deliciosa? O que eu não daria
por um pouco disso... Noites longas,
escuras, perfumadas, nas quais me
fartaria repetidamente com os
prazeres abundantes do seu corpo...
Bem, isso para mim seria o paraíso.
O meu desejo supremo... será que
algum dia ele pode se realizar?
Você ali deitada, um estudo em
vermelho e branco, pele de creme e
mel e longos cabelos selvagens e
castanhos-claros. Nada de tranças
esta noite, sublime Gwendolynne. O
seu lindo cabelo é outro aspecto de
você que quase se tornou um fetiche
para mim... Você ficaria horrorizada
e me repeliria se eu dissesse que
gostaria de gozar neles? Eu me
imagino ajoelhado sobre você, sobre
o seu corpo nu, desvairado e
suplicante, e então você enrola as
ondas sedosas e selvagens do seu
cabelo ao redor do meu pênis e me
acaricia com ele até eu atingir o
clímax.
Oh, Gwendolynne, estou duro como
um ferro simplesmente de pensar
nisso!
E acho que vou fazer alguma coisa
a esse respeito. Imediatamente.
Adieu, minha gloriosa Deusa da
Biblioteca, adieu...
Talvez você pudesse me escrever
um pequeno e-mail dizendo que me
perdoa por ser uma aberração tão
repulsiva... Ou, talvez, você poderia
me contar uma das suas fantasias...
Assim eu saberia que você é uma
aberração tanto quanto eu...
Sou todo seu, de corpo e alma,
especialmente de corpo rígido e
sôfrego...
Nêmeses
Nêmeses? Ah, tenha dó... O homem é um
pervertido alucinado, que gosta de prosa
extravagante e provavelmente é
perigoso... e chama a si mesmo de
“Nêmeses”? Parece um nome que um
adolescente adotaria durante um jogo de
videogame.
E, no entanto, ainda assim, a carta e
mesmo apenas a palavra estúpida em si
me induz a um estremecimento febril.
Imagino uma figura alta e morena, muito
misteriosa, talvez até mascarada,
possivelmente usando couro, agigantandose
sobre mim. Alguém forte, viril e sexy,
que me faça ajoelhar e beijar as suas
botas... e depois beijar o seu pinto.
Balanço a cabeça e me dou conta de
que nos últimos minutos fiquei
completamente fora de mim, perdida no
mundo de Nêmeses. E o pior de tudo isso
é que eu, na verdade, estou fazendo o que
ele me disse para fazer. Bem, não
exatamente, mas não muito diferente.
Estou tocando as minhas costelas, logo
abaixo do peito, por cima da minha blusa
de algodão.
Puxando a minha mão para longe de
mim mesma, dobro a carta
cuidadosamente, como se isso fizesse
parte de um ritual, e a enfio no bolso da
saia. E isso também me deixa um pouco
excitada, me faz pensar no que ele disse
sobre a minha saia.
De uma forma estranha, a carta é
realmente de Nêmeses e, no meu bolso,
ele está perigosamente se aninhando perto
da minha xoxota, exatamente como ele
disse. Há apenas umas duas camadas de
algodão entre ela e ele.
Respirando fundo algumas vezes e
tentando parecer um ser humano
perfeitamente normal, corro os olhos por
toda a parte de empréstimos da Biblioteca
que eu posso ver. Eu me sinto como se
houvesse um luminoso de neon piscando
“Prostituta da Babilônia” sobre a minha
cabeça, mas a verdade é que ninguém está
olhando para mim. Tudo está tranquilo e,
na calmaria que antecede o almoço, há
apenas um punhado de gente examinando
as prateleiras. Não há perigo algum em
encostar a mão no meu bolso e pensar
novamente no meu novo
“correspondente”.
A coisa estranha e um pouco triste é
que, apesar de ser anônima, pretensiosa,
pervertida e levemente repulsiva de um
jeito bom, na verdade essa é a coisa mais
próxima a uma carta de amor que eu já
recebi na vida. Mesmo quando nós
estávamos muito excitados um com o
outro, o meu recente e não particularmente
lamentado ex, Simon, nunca me enviou
bilhetes ou mesmo e-mails de amor. E
desde que nós nos separamos tudo o que
recebi dele são “comunicados” concisos
sobre o divórcio e “ordens” sobre a
venda da porcaria da casa. Ele ainda está
tentando me dar ordens.
Ora, ele que se dane. Eu tenho coisas
mais imediatas com as quais me
preocupar. Alguém aparentemente muito
mais divertido tentando me controlar. E
ocupar a minha mente.
Quem, diabos, é Nêmeses? E de onde
ele está me espreitando? De onde ele
consegue, são e salvo, ficar mandando eu
me tocar? Julgando pela carta, deve ser
um frequentador assíduo da biblioteca, e
isso significa que ele está bem perto de
mim. Possivelmente, até agora. E se ele
estiver me observando neste exato
momento? A biblioteca está tranquila. Ele
poderia estar em qualquer parte... a
apenas alguns metros de distância.
Alguém voltou a ligar o aquecedor
hoje? Eu sou jovem demais para ter ondas
de calor, mas, seja o que for, não há
dúvida de que estou sentindo como se
tivesse um desses calores.
Clandestinamente, eu passo o dedo pelo
decote e abro colarinho da minha blusa.
E, em seguida, interrompo o que estou
fazendo instantaneamente. Nêmeses vai
ficar louco se me vir fazendo isso. Dou
uma olhada ao redor e os lóbulos das
minhas orelhas formigam, já que a
possibilidade de estar sendo observada se
tornou uma força física para valer.
Ele estaria aqui? Olhando os meus
mamilos através da blusa e imaginando o
que está debaixo da minha saia? A minha
cabeça se enche com ideias bizarras de
visão de raios X e de eu andando pela
biblioteca vestindo roupas transparentes.
O jeito como Nêmeses fala sobre o meu
corpo faz parecer que ele realmente o
tenha visto nu.
Oh, por que eu fui pensar nisso agora?
Nêmeses não é o único que pode ter
fantasias pornográficas. Vejo uma
imagem-relâmpago de mim mesma deitada
no chão da Biblioteca de Referência,
exatamente como ele disse. Estou deitada
e há um homem deslumbrante metendo
forte entre as minhas coxas abertas. O
Nêmeses real provavelmente é gordo e de
meia-idade, com o cabelo penteado de
forma a cobrir a careca incipiente ou
alguma coisa tão horrorosa quanto isso.
Então, para me ater a algo mais
conveniente – e porque, de qualquer
forma, ele está bastante na minha mente –
eu o substituo e ponho em ação o atual
grande objeto do meu tesão: a celebridade
preferida da biblioteca, que está
trabalhando na coleção especial nos
nossos arquivos há algumas semanas,
pesquisando um projeto.
Existe uma pessoa com quem eu não me
importaria nem um pouco em fazer tudo o
que está na carta de Nêmeses!
Olho por cima do meu ombro na
direção da seção de referências. O chão
ali é duro. Mas ainda imagino senti-lo
contra o traseiro, enquanto me contorço.
Nêmeses não é o único maluco! Eu
acabo de começar a me sentir molhada...
Sou tão depravada e tarada quanto ele?
Estou, sem dúvida, excitada e, ao mesmo
tempo, sinto-me como se tivessem tirado
todo o ar de mim. Eu me deixei reagir às
divagações de um pervertido. De alguém
que pode ser perigoso. E doentio. Alguém
que provavelmente é perigoso e doentio.
E alguém, seja quem for ele, que sem
dúvida está perto de mim o suficiente para
pôr um envelope lacrado na caixa de
sugestões da seção de empréstimos.
Alguém que conhece as rotinas e também
o pessoal da biblioteca. Que sabe que
entre as minhas funções está recolher o
material da caixa e quando eu
provavelmente vou fazer isso. Que sabe
quando a mesa de informações gerais
provavelmente estará vazia.
A mesa fica sobre uma pequena
plataforma, apenas alguns centímetros
acima do nível do chão, mas ainda assim
é um ponto de vantagem. Daqui posso
espionar um bom pedaço da seção, sem
divisórias, do novo prédio da biblioteca.
As pessoas começam a chegar para
navegar na internet no horário do almoço,
e Nêmeses pode ser qualquer um deles.
Centenas de pessoas vêm aqui todos os
dias durante as horas em que a biblioteca
está aberta ao público. Há algumas
dezenas aqui agora, cerca da metade
homens, vagueando por entre as
prateleiras.
Ali, na seção de esportes, está um
indivíduo aparentemente instável, um
candidato perfeito. Ele é um dos
frequentadores habituais e eu já o peguei
olhando para os meus peitos com certa
frequência. Ele está fazendo isso agora, o
nojento. Ah, não, não quero que Nêmeses
seja ele!
É em momentos como esse que eu
desejaria que os meus peitos fossem um
pouco menores. Na verdade, eu gostaria
que tudo em mim fosse um pouco menor.
Na maioria das vezes, eu realmente não
me importo de ser uma garota curvilínea,
na verdade eu até gosto disso, mas muita
carne parece trazer à luz o animal
escondido em muitos homens. E
especialmente, ao que tudo indica, um
novo gênero de animal... que parece estar
tentando fazer com que seus instintos
bestiais pareçam mais aceitáveis e menos
revoltantes, ao acrescentar uma pitada de
conversa fiada sobre adoração e amor
cortês.
Não que eu tenha deixado recentemente
que qualquer desses animais ponha suas
patas em mim com grande frequência.
Desde o meu divórcio venho resistindo e
dando preferência à qualidade, e não à
quantidade de sexo. Talvez me
resguardando para algum tipo de herói.
Ser exigente parecia uma boa ideia na
ocasião, mas o tiro está saindo pela
culatra agora, porque eu estou
simplesmente morrendo de vontade de
fazer sexo. Eu mal posso admitir, mas se
Nêmeses tiver uma aparência mais ou
menos decente e não for demente demais,
eu estaria seriamente tentada a dar uma
chance para ele.
E esse é, provavelmente, o motivo de
eu não contar para mais ninguém da
equipe sobre a minha carta pervertida.
Estamos sempre recebendo coisas
estranhas na caixa e, durante os
intervalos, no refeitório, damos boas
risadas sobre os itens inofensivos. As
mais persistentes são relatadas ao
bibliotecário-chefe, apesar de Deus saber
que não há muito que ele possa fazer
quanto a isso. Na maioria das vezes,
porém, esses inoportunos enviam um ou
dois bilhetes e não demoram a perder o
interesse.
Mas este caso é diferente. É o que eu
sinto. E, além disso, esse pervertido é
meu e eu não quero dividi-lo com mais
ninguém.
Fico olhando fixamente o endereço do
Hotmail no fim da página:
n3m3sis@hotmail.co.uk.
Eu devo mandar uma mensagem? Dizer
para ele me deixar em paz? Ou talvez lhe
dar um choque, respondendo na mesma
moeda? Inventar as fantasias mais
imundas que conseguir imaginar, sobre a
minha lingerie ou alguma roupa de renda e
cetim que eu não tenho e que
provavelmente não teria dinheiro para
comprar? Ou talvez eu devesse criar uma
história cheia de detalhes sobre ele e a
masturbação dele? Eu sempre fui boa em
redação na escola. E se eu lhe contasse o
que eu quero que ele faça?
Antes que eu perceba, estou abrindo a
conta de e-mail no meu terminal.
Ah, não, nada disso... é idiota e
perigoso demais. Mas Deus sabe que eu
quero fazer isso. Acho que provavelmente
sou tão pervertida e esquisita quanto ele,
e simplesmente não tinha me dado conta
disso. Os meus dedos pairam, indecisos,
sobre as teclas, e a única coisa que me
detém é saber que o sistema de
computador da biblioteca é sujeito a
monitoramento ao acaso. Mesmo assim, o
meu coração se agita como louco, e lá
embaixo eu sinto algo na minha calcinha.
As funções superiores do cérebro não
parecem estar funcionando corretamente e
o meu corpo se tornou uma massa
descontrolada de hormônios.
O sujeito da seção de esportes perdeu o
interesse e está lendo um livro. Se fosse
ele, e ele me viu com o papel azul de
carta de Nêmeses na mão, os olhos dele
deveriam estar arregalados e ele deveria
estar se aproximando. Ele, ao contrário,
parece estar entretido com a história do
rúgbi em Yorkshire.
Quem é você, Nêmeses, seu diabo
doentio? Você está aqui? Agora? A uma
distância em que eu possa vê-lo ou mesmo
tocá-lo?
Não dá para saber. Eu não fico
trabalhando na biblioteca de empréstimos
principal o tempo todo, de forma que
qualquer um poderia ir até a caixa durante
o dia. Além disso, esta é a sede da
biblioteca do bairro, e temos a biblioteca
científica, a biblioteca audiovisual, a
biblioteca infantil, os arquivos e uma
variedade de coleções especializadas.
Nêmeses poderia estar em qualquer parte
deste prédio, que é bem vasto e
movimentado, grande parte do qual fica
aberto ao público em geral. Ele poderia
estar disfarçado de… frequentador
legítimo.
Um pânico esbaforido toma conta de
mim novamente. E se ele for realmente
perigoso? Sinto necessidade de sair daqui
e soltar um suspiro que está preso no meu
peito, e então vejo que o grande relógio
de entrada marca que é quase meio-dia.
Graças a Deus, hoje o meu horário de
almoço é cedo. Dentro de alguns minutos,
poderei sair para o ar fresco e pensar
novamente como uma pessoa que não é
insana.
Como se fosse um gênio invocado por
mim, Tracey chega subitamente e dá uma
paradinha na minha mesa. Nem sempre um
atendente fica nessa mesa, mas no horário
de almoço, que é bem movimentado,
recebemos muitos pedidos de informação
dos leitores.
“Tudo bem com você?”, pergunta ela, e
eu percebo que a minha aparência deve
estar tão agitada e fora de mim quanto me
sinto por dentro.
“Tudo bem”, minto, com um sorriso
forçado que, espero, pareça natural. “Eu
estava checando o catálogo e o sistema
ficou meio estranho novamente. Pensei
que talvez eu tenha feito alguma besteira...
mas parece que agora está funcionando
direito.”
Conversamos um pouco sobre a rotina
da biblioteca e eu acho que a enganei,
fazendo-a acreditar que aquela é apenas
mais uma da série infinita de manhãs sem
grandes acontecimentos. Mas sinto culpa
por não contar a ela sobre Nêmeses. Ela é
minha amiga e, nas circunstâncias
normais, seria uma pessoa com quem eu
daria uma boa risada sobre isso tudo.
Dois ou três minutos depois, estou me
dirigindo para a porta dos fundos, a
caminho de respirar o ar livre. Clarkey, o
gerente de manutenção do prédio, e o
técnico da subprefeitura, que está
visitando a biblioteca para fazer um
upgrade no sistema de computadores,
estão no refeitório. Nêmeses seria um
desses dois?, eu me pergunto. Greg, o
nerd louco por computador, é jovem,
brilhante e bonitinho, mas credo! Só de
pensar em Clarkey me mandando
mensagens sexuais faz o meu estômago se
revirar. Veja bem, acho difícil acreditar
que ele teria “sentidos sôfregos e
famintos” por nada que não fosse a
enorme torta de carne que ele está
enfiando goela abaixo. Além disso, a
julgar pelos bilhetes quase ilegíveis que
ele cola no aquecedor de água do
banheiro dos funcionários quando ele não
está funcionando, tenho minhas dúvidas
sobre se esse homem conseguiria escrever
alguma coisa com aquela caligrafia
impecável.
A segurança é mais reforçada na
biblioteca, já que temos alguns
documentos raros e preciosos nos
arquivos, mas, depois da minha briga de
sempre com a senha e com a fechadura,
consigo abrir a porta e me jogar para fora,
com a intenção de ir até o pequeno jardim
urbano que fica atrás do estacionamento,
para pensar um pouco.
Mas exatamente quando estou me
lançando com ímpeto para fora, alguém
está entrando, e eu dou de cara com uma
figura morena e de óculos. Ele não está
andando depressa, mas têm os braços
cheios com uma pasta, uma pilha de
livros, diversos jornais e um mapa
enrolado, e nós nos chocamos um contra o
outro, espalhando uma parafernália por
todos os lados.
E eu, mais uma vez, estou com o rosto
em chamas. A pessoa contra a qual eu
colidi é apenas o nosso acadêmico
excêntrico e meio famoso, que vive por
aqui. O professor Daniel Brewster, que
tem um físico encantador e é adorável,
ainda que bastante livresco e desligado.
“Oh, minha Nossa! Mil perdões”,
desculpa-se ele, como se a culpa fosse
toda sua e nem um pouco minha, que me
esqueci de olhar por onde andava porque
estava com a cabeça nas nuvens, pensando
em pervertidos e no papel de carta azul.
Nós dois nos abaixamos rapidamente,
recolhendo os livros e papéis. Enquanto
eu pego diversos volumes que sei muito
bem que não deveriam ter sido retirados
do arquivo, mais uma vez fico
impressionada com o quanto ele é
gostoso, do seu jeito estudioso e
distraído. O cabelo ondulado e preto
parece tão selvagem quanto o de um
cigano e, como sempre, ele tem uma barba
por fazer, linda e trigueira, que lhe
escurece as faces. Se não tivesse aquela
aparência pálida de quem está sempre
mergulhado em livros e nunca ao ar livre,
ele poderia facilmente passar por uma
máquina sexual mediterrânea em estado
natural. Sem falar, claro, dos óculos
sérios de estudioso e do paletó velho e
gasto de tweed.
Tenho o maior choque da minha vida ao
levantar os olhos, depois de recolher
algumas folhas de papel datilografado e
ver os olhos escuros por trás daqueles
óculos elegantes... e flagrá-los presos no
meu decote, como um par de raios laser
direcionados. O alvo é visivelmente a
parte mais baixa do decote em V da minha
blusa.
Seria ele Nêmeses? Essa ideia me faz
vacilar sobre os calcanhares e quase cair
para trás.
Todo o meu corpo começa a
estremecer, e quando ele enrubesce,
ficando de um vermelho mais forte do que
a fantasia assustadora de Nêmeses sobre a
minha roupa íntima, parece pouco
provável que ele seja o próprio.
Especialmente quando, depois de ter se
agachado sobre os calcanhares para pegar
seus livros e papéis, ele perde o
equilíbrio e cai para trás sobre o
concreto. Tudo isso devido ao choque de
ter sido pego olhando os meus fartos
seios. Como se fosse pouco derrubar uma
minicelebridade da TV, sobre quem eu
acabo de ter uma ideia repugnante, eu
simplesmente completo a cena grudando
os olhos na bunda dele! Isso tudo é culpa
sua, Nêmeses, por me deixar louca!
“Ah, me desculpe!”, exclamo,
assumindo cortesmente a culpa pela queda
dele, apesar de não o ter derrubado. Ele
caiu enquanto tinha os olhos nos meus
peitos, o que continua a fazer, os olhos
castanhos em chamas. As orelhas dele
também parecem estar sentindo o calor,
porque os lóbulos adquiriram um toque de
rosa muito atraente. Eu, de repente, me
pego pensando em como seria mordiscálos
delicadamente.
Que história é essa? Não sei o que deu
em mim nesses últimos dias, mas com
Nêmeses e esse professor Gostoso
McLindo aqui, acho seriamente que estou
me tornando uma maníaca sexual.
Respirando fundo, eu estendo a mão
para ajudá-lo a se levantar, melhorando
assim a visão que ele tem dos meus
peitos. Mas ele se levanta de um salto,
como uma agilidade inesperada, ficando
sobre os pés com um movimento quase
digno de uma pantera.
“Nada disso! A culpa foi minha”, ele
me corrige, parecendo, ao mesmo tempo,
aborrecido e levemente irritado. Ele se
inclina para baixo novamente, a fim de
pegar mais dos seus papéis rebeldes, ao
mesmo tempo que olha para cima, para
mim, o rosto na altura da minha virilha e a
apenas alguns centímetros dela. Ele não
cai desta vez, mas faz um movimento para
trás, como se a proximidade com as
minhas partes púbicas o tivesse atingido.
Dessa vez, a reação dele é mais a de uma
gazela assustada do que a de um felino
predador de pelo macio.
Todo esse episódio está rapidamente se
tornando uma minibobeira, de forma que
eu jogo, de qualquer jeito, os papéis do
belo professor em suas mãos e passo
rapidamente por ele, lançando por cima
do ombro um sorriso, mais um “desculpe”
e um “até logo”, enquanto cruzo correndo
a pista de cascalho em direção ao jardim.
2
No parque com o
Professor Gostoso McLindo
Que papelzinho ridículo foi aquele! Como
se eu não estivesse abalada o suficiente
por Nêmeses e suas divagações eróticas,
agora estou toda agitada com relação ao
Professor Gostoso McLindo novamente.
Eu venho pensando no famoso Professor
Daniel Brewster desde bem antes de ele
se tornar uma atração temporária na
biblioteca, há muitas semanas, quando
chegou a fim de fazer pesquisa para um
novo livro e uma possível série de
televisão. Os seus populares
documentários sobre história são
frequentemente reapresentados na tv a
cabo. Eu já os vi muitas vezes, mas
sempre assisto de novo quando passam.
Neste exato momento, porém, eu
continuo a olhar para frente e a andar
firme e rapidamente, tentando fazer de
conta que nada daquele nosso balé
patético, incluindo cair de bunda no chão,
aconteceu. Não paro até chegar ao meu
lugar especial, um banco isolado sob a
sombra de uma árvore, bem fora do
caminho da área principal do parque,
onde as pessoas se reúnem para almoçar.
Aparentemente, muito poucas pessoas
descobriram esse pequeno refúgio, que,
protegido por várias árvores grandes e
uma sebe alta, não recebe sol. Isso
provavelmente explica o porquê de o
local ser tão deserto. A maioria das
pessoas aqui ainda parece dedicada à
busca ativa do melanoma. Portanto, este é
um lugar onde eu posso encontrar paz e
silêncio, sem ser interrompida, no meio
do dia.
Não que hoje eu esteja sentido algum
tipo de paz. E o meu cérebro não está
tranquilo. Ele gira entre a seleta
fraseologia da missiva de Nêmeses e as
reprises da ação em que eu quase exibi os
meus peitos para Daniel Brewster.
Eu tiro a minha garrafa de água da
bolsa e tomo um pouco. Está gelada,
recém-saída do refrigerador, e aquela
ferroada fria na minha língua me acalma.
Alguma coisa se ajusta, como uma câmera
entrando em foco. Eu olho ao redor,
absorvendo os tons verdes das folhas e o
cinza monótono do cascalho. Isso e o ar
fresco são coisas reais e normais,
distantes do mundo quente de cartas
explícitas e especulação sobre homens
bonitos e estranhos que estão bem fora do
meu alcance.
Mais alguns golinhos e eu me sinto
novamente centrada. Ainda não pronta
para os meus sanduíches, mas vou atacálos
logo mais. Por algum tempo, eu
simplesmente fico sentada, me sentindo
muito zen, integrada à natureza e tudo
mais. Então, bem quando eu decido que
está na hora de comer e pôr em ordem o
nível de açúcar do meu sangue, vejo a
ponta daquelas folhas de papel azul
saindo do bolso externo da minha bolsa.
Eu as retiro e desdobro aquela loucura
escrita.
As palavras saltam para mim.
Que tal pegar esse fruto picante do seu
mamilo, beliscá-lo e puxá-lo de um lado
para o outro enquanto você começa a se
contorcer, molhada e cheia de tesão...?
Ler aquilo me dá vontade de fazer tudo
isso, e eu levanto os olhos por um
momento, sentindo-me de volta ao meu
obscuro mundo paralelo de luxúria
irracional. Não estou usando uma
daquelas blusas brancas pelas quais
Nêmeses sem dúvida tem um fetiche, mas,
quase sem pensar, eu subitamente levanto
o braço e seguro com a mão em concha a
minhas próprias curvas, sentindo o
algodão macio da minha blusa.
Meu mamilo fica duro e, sem dúvida,
se estivesse exposto ao ar, estaria escuro
e firme como um fruto suculento. Passo os
dedos de leve por cima das camadas de
tecido – blusa e sutiã, ambos de algodão –
e uma vibração ressonante me percorre o
corpo. Estou convencida de que Nêmeses
é um homem, mas ele sem dúvida parece
conhecer tudo sobre a ligação entre peitos
e clitóris. Já estou sentindo calor entre as
pernas, sentindo a região pesada e
congestionada, ainda que sejam as
palavras escritas, e não o meu toque, que
estão me afetando mais. Palavras e a
visão de um homem de cabelos escuros,
m e i o nerd, mas muito bonito,
demonstrando aquela agitação de
constrangimento.
Eu me pergunto se os lóbulos da orelha
do Professor Gostoso já esfriaram.
Olho fixamente para a fachada verde e
fresca da sebe à minha frente, mas não a
vejo. Pelo contrário, estou imaginando um
cenário, fazendo como Nêmeses, suponho.
No meu pequeno drama, derrubei esta
carta ao colidir com Daniel Brewster e,
de alguma forma, ela se misturou com os
papéis dele. Ele a está lendo agora,
enquanto eu estou sentada aqui, sonhando
com ele.
Vejo aqueles lóbulos de orelha
bonitinhos ficarem ainda mais rosados, as
sobrancelhas escuras dispararem para
cima na direção da linha do cabelo,
encoberta pelo roçar dos cachos que lhe
caem sobre a testa. Ele tira seus elegantes
óculos sem armação e os limpa, e daí se
contorce na cadeira, do mesmo jeito que
estou fazendo. O que é estranho, porque a
carta de Nêmeses foi escrita para uma
mulher, e ele é um homem...
Os meus dedos estão úmidos quando
pego as páginas azuis. Sei que se eu
tivesse a metade de uma célula cerebral
rasgaria essa correspondência e ignoraria
qualquer outra semelhante a ela que, por
acaso, viesse a receber. Isso é a coisa
sensata a ser feita. Pessoas que aborrecem
outras com sugestões sexuais são como
plantas: elas morrem se você não as regar
com uma reação.
Mas as palavras e a minha colisão com
Daniel Brewster me fascinam e dominam,
e eu simplesmente não consigo ficar
sentada. Minha cabeça é um amontoado de
Nêmeses e seda, eu me tocando e a
imagem do divino professor, todo
enrubescido e caído no chão, tentando se
reerguer. Sinto o corpo quente, cheio de
uma estranha energia e de sangue em
lugares perigosos. Furtivamente, abro as
pernas, pressionando o meu sexo para
baixo contra o duro banco do parque,
esticando-o e o abrindo. Mas não estou
conseguindo a pressão de que preciso
sobre o meu clitóris, e mordo o meu lábio
diante daquela necessidade súbita e
corrosiva.
Será que eu ousaria tocar a mim
mesma? Aqui e agora? Quero dizer, não
apenas o meu mamilo, mas lá embaixo, na
minha boceta propriamente dita?
O que você pensa disso, Nêmeses? Eu
levei esse jogo mais longe e você nunca
vai ficar sabendo disso. Isso é ousadia o
suficiente para você, seu pervertido?
Não há ninguém ao redor e eu nunca vi
ninguém por aqui. Teoricamente, eu
poderia fazer o que quisesse. Mas ainda
parece inacreditavelmente de mau gosto e
coisa de vadia me tocar aqui, ao ar livre.
E também é coisa de gente sem força de
vontade. Eu estou cedendo a ele, e sinto
como se ele soubesse disso, ainda que só
Deus sabe como. Desde a minha
separação de Simon, deixar os homens me
manobrar para o que eles querem não faz
mais parte da minha cartilha. Não acho
que estaria inclinada nem mesmo a fazer o
que o Professor Gostoso McLindo
quisesse, caso ele estivesse aqui. Mas não
sei mais não...
Isso tudo está ficando
excepcionalmente esquisito. E eu tenho
certeza de que Nêmeses chegaria, todo
presunçoso, com suas cuecas sambacanção,
ou com o que quer que ele use, se
soubesse que estou me contorcendo em um
banco de parque, desesperada para me
tocar entre as pernas até atingir um
orgasmo.
Com um movimento furtivo e olhando
ao redor cautelosamente, deslizo a mão da
curva arredondada do meu peito,
descendo-a pela cintura, pelo quadril e
pela coxa. Há bastante território a ser
coberto, mas, como Nêmeses obviamente
gosta da minha abundância e o Professor
Gostoso sem dúvida não fica imune aos
meus peitos, isso não é problema. Na
verdade, estou começando a ver as
vantagens dela.
Ainda mais dissimuladamente, começo
a levantar devagarinho as dobras da
minha saia com a ponta dos dedos,
mantendo-as juntas de forma a encobrir o
meu pulso e a minha mão. Com um grau de
destreza digno de um ilusionista,
habilmente deslizo os dedos pela minha
coxa nua e, em seguida, ultrapasso com
eles, em um movimento sinuoso, a
fronteira do elástico da minha calcinha.
Estou quase chegando lá. Estamos nos
aproximando do X da questão.
Eu passo de leve por um cacho púbico
crespo e daí avanço floresta adentro, em
busca do centro quente e mágico. Logo
que eu separo os lábios, as pontas dos
meus dedos ficam completamente
molhadas. Estou deslizando pelo meu
próprio néctar e fico chocada com o tanto
que sinto que há ali, mesmo sabendo que
eu estava bastante excitada.
Meu clitóris faz uma única pulsação
firme e profunda quando eu o encontro,
dizendo “olá” de forma tão intensa que
fico sem fôlego.
De um lado, fico horrorizada comigo,
mas de outro me pego explodindo de
agitação. Eu nunca fui muito de procurar
sensações fortes ou correr riscos até
agora, mas subitamente parece que estou
recuperando o tempo perdido. Estou
caminhando à beira da loucura e, se eu
parasse para pensar sairia correndo de
volta à segurança do refeitório dos
funcionários. Mas no momento não tenho
tempo para pensar. Só para sentir.
Depois de um ou dois afagos hesitantes,
todo o meu corpo pulsa com energia.
Estou transbordando de sensualidade e
toda e qualquer apreensão que já tive na
vida por ser curvilínea, rechonchuda,
gordinha ou qualquer outro nome que dão
para isso desaparece. Cada centímetro e
cada quilo de mim são parte de uma
“deusa” – exatamente como Nêmeses me
disse.
Eu prendo a respiração. Minhas pernas
ficam tensas e eu empurro os calcanhares
para longe, sobre o chão, me apoiando.
Estou desesperada para ter um clímax e
até começo com uma vibração pequena –
e então, horrorizada, ouço algo que nunca
tinha escutado antes aqui. O som de
passos, aproximando-se com rapidez
sobre o cascalho.
Eu mal consigo arrancar a mão de
debaixo da saia e me sentar rapidamente
em uma posição mais ou menos normal
quando uma figura conhecida em um
casaco de tweed, jeans e tênis aparece na
curva. É o Professor Gostoso, e ele quase
me pegou brincando comigo mesma.
— Oh, oi! – diz ele sem muita certeza.
Ele pisca por trás dos óculos e me dá um
sorriso torto e cauteloso. Em seguida,
aperta os lábios e se joga para frente, e eu
tenho que me afastar no banco, para dar
lugar para ele. Ele me obriga a deixá-lo
sentar.
— Estou tão contente de ter encontrado
você, Gwendolynne. Estava ansioso para
lhe pedir desculpas pelo que aconteceu. –
Ele tamborila os dedos longos contra o
joelho coberto de brim, como se estivesse
cheio de energia não gasta, como eu.
Estou tão aturdida que é difícil arrancar
palavras do alvoroço em que estou
mergulhada. Mas o que eu posso dizer
quando o meu cérebro ainda está metade
na terra da masturbação?
Meu novo companheiro ainda parece
muito constrangido e tira os óculos,
limpa-os com um grande lenço branco e
imaculado e começa a poli-los com um
fervor quase maníaco.
— Mas por quê? Fui eu quem o
derrubou. – Surpreendentemente, eu
consegui capturar essas poucas palavras.
Mas elas saíram bem mais abruptas do
que eu gostaria.
Ele guarda o lenço, ainda parecendo
ridiculamente pouco à vontade. E isso é
irônico, porque quem deveria estar mais
nervosa era eu, já que estávamos sentados
tão perto um do outro. Sem dúvida ele
deve estar sentindo o odor almiscarado
dos meus dedos...
— Não, a culpa é minha. Quando eu
estava no chão, fiquei olhando os seus
seios e sei que você me viu fazendo isso.
Por favor, me perdoe. Foi indesculpável
encarar você daquele jeito.
Ah, ele é um cavalheiro à moda antiga,
além de ser uma grande amostra de
formosura masculina. Estou prestes a
dizer “não esquenta” ou algo assim, mas
de repente percebo que ele está enrugando
a testa e franzindo as sobrancelhas, e que
está tirando os óculos e esfregando os
olhos, com um ar cansado. A névoa sexual
em que me encontro se dissipa rapidinho e
eu sou tomada por outro sentimento. Eu já
o vi fazer isso muitas vezes na biblioteca,
como se estivesse padecendo de fadiga
ocular ou dor de cabeça e, apesar de mal
conhecê-lo, de repente não aguento vê-lo
sofrer. Alguém tão lindo deveria sempre
estar em condição de sorrir.
— O senhor está bem, Professor
Brewster? Algum problema? Se estiver
com dor de cabeça, tenho paracetamol na
bolsa.
— Não, não é nada, obrigado. Só estou
cansado. Estou trabalhando desde muito
cedo, no meu hotel, e pensei que uma
mudança de cenário e de luz me animaria
um pouco... mas não funcionou. Foi por
isso que eu vim até aqui para lhe pedir
desculpas, em vez de falar com você na
biblioteca. Realmente, preciso de um
pouco de ar fresco.
Ele desfranze a sobrancelha e os seus
lindos olhos se iluminam enquanto ele põe
os óculos de volta no rosto.
— E, por favor, me chame de
“Daniel”... Eu agradeceria.
— OK... Daniel.
Por um momento, desejo não ter me
masturbado há pouco e que não estivesse
toda perturbada e vibrante por causa de
Nêmeses. Existe alguma coisa ao mesmo
tempo doce e desconcertante naquele bom
professor que me deixa toda elétrica, mas
de uma maneira boa e diferente. É como
as paixonites que eu tinha quando era
mocinha, paixões doces e inocentes, antes
de o sexo ter levantado a sua cabeça cheia
de tesão. Eu ficava totalmente perdida,
sonhando acordada com passeios por
prados floridos, de mãos dadas com
algum herói sublime e inatingível. Mas as
visões cor-de-rosa se dissipam
novamente, porque a mão que aquele
herói romântico estaria segurando agora
está pegajosa por eu ter me tocado há
alguns minutos.
E ela fede a sexo. Eu sinto o cheiro, de
forma que Daniel sem dúvida também
sente. Mas o nariz dele, bonito e com um
toque imperial, não se franze nem um
pouco. Nem mesmo quando ele estende a
mão e aperta a minha rapidamente.
— Eu realmente estou muito
envergonhado. Você tem sido tão
prestativa para mim na biblioteca, e eu a
respeito como... bem, como uma amiga.
Não quero estragar uma excelente relação
de trabalho por ter feito algo
inapropriado.
Os lábios dele se contorcem e ele dá de
ombros, de leve. Por mais irracional que
seja, ele parece realmente nervoso e eu
me pergunto por que um homem tão bonito
e bem-sucedido dá a impressão de não
estar acostumado a falar com uma mulher.
Alguém da sua estatura acadêmica, o cara
aparece na televisão e tem um currículo
tão respeitável e destacado,
provavelmente possui legiões de tietes,
todas dispostas a baixar suas calcinhas
para ele.
— Por favor, não se preocupe com isso
– digo, querendo tranquilizá-lo e abalada
pela imagem de eu tirando a minha
calcinha para Daniel Brewster. Mas o que
há de errado comigo? O fato de ele
parecer tímido está me deixando com
tesão agora! Assim como o pensamento de
tutelá-lo, o grande acadêmico, nos
caminhos da luxúria das mulheres... Isso
meio que desperta coisas estranhas que eu
nem sabia ter.
— Não houve nada demais. Tenho
certeza... bem, na verdade, tenho prova
documental de que você está longe de ser
o único homem que olha os meus seios
enquanto estou trabalhando na biblioteca.
A bela sobrancelha dele se franze
novamente.
— Prova documental? O que você quer
dizer?
Ih… Eu pisei na bola. Estou sentada ao
lado da quintessência de uma mente
inquiridora, um homem acostumado a ir
atrás de cada pista e de qualquer
informação sobre os antecedentes de um
tópico histórico. A investigar fatos das
fontes menos pródigas.
No mesmo momento, os nossos olhares
caem nas páginas da carta de Nêmeses,
que ainda estão do meu lado sobre o
banco, do lado oposto ao qual Daniel está
sentado. Sinto-me como se estivesse
balançando, nas pontas dos pés, à beira de
mais um daqueles precipícios. Aqueles
precipícios entre agir com bom-senso ou
fazer algo que está anos-luz além do
temerário.
Fato: eu mal conheço Daniel Brewster
e nós acabamos de passar por um
momento constrangedor, rodeando como
um par de esgrimistas a beirada do
próprio sexo.
Fato: esta carta equivale a assédio
sexual por um pervertido benévolo ou
mesmo um criminoso sexual demente. Eu
deveria ter cuidado, e não a ficar exibindo
indiscriminadamente por aí.
Fato: Se eu dividir esta comunicação
secreta com outro vivente, estou traindo
Nêmeses. Meu Deus, que conceito mais
irracional! Não conheço o cara e ele
impôs o seu tesão sobre mim. Mas,
mesmo assim, continuo a ter essa
sensação. Não dá para negar.
Antes de poder pensar nos motivos,
pego a carta e a entrego.
— Recebi isso hoje. Se você ler, vai
perceber que ter acidentalmente
aproveitado para dar uma olhada rápida
nos meus peitos é algo muito leve em
comparação ao que outro homem... bem,
ao que um outro homem está pensando.
Ele lê e, por um momento, fico apenas
olhando fixamente para as pontas
afuniladas dos dedos dele segurando o
papel. De repente, eu só penso em mãos,
lembrando o que Nêmeses disse que
gostaria que eu fizesse e que eu realmente
fiz, e no que Nêmeses poderia fazer se ele
tivesse a chance de pôr as mãos dele em
mim. O meu coração e as minhas
entranhas sabem, de alguma forma, que
ele não tem intenção de me fazer qualquer
mal e que, se as palavras se tornassem
ações, eu ganharia com isso, e não
perderia nada.
As mãos de Daniel são obras de arte.
São esguias, mas parecem fortes, mãos
que parecem pousar em formas elegantes
e clássicas. Todas as terminações
nervosas do meu corpo me dizem que se
aquelas mãos tivessem uma fração das
habilidades que Nêmeses se gaba de ter,
elas me deixariam fora de mim e por aí
vai. Mas neste momento elas estão
tremendo ao segurar aquelas páginas azuis
animalescas, enquanto ele lê a escrita azul
elegante.
E não é só isso. Ele engole em seco a
toda hora. As sobrancelhas negras se
levantam novamente em direção à linha do
cabelo. Ele mordisca o lábio inferior
macio, enquanto os olhos se arregalam e
um toque de cor surge por baixo da sua
pele macia e a deliciosa barba por fazer
ao redor da curva do maxilar dele.
Como a prostituta sem-vergonha que
pelo visto pretendo me tornar, olho
rapidamente na direção da virilha dele. A
vida também está se agitando ali,
brotando por trás do zíper. Ele está de pau
duro.
Aí já era. Enquanto a respeitável
bibliotecária Gwendolynne me critica por
ser de uma burrice indizível e ter
começado tudo isso, a Gwen candidata a
libertina e sensualista sorri por dentro e
pensa “Uhuu! Ai meu Deus! Ai ai ai!”.
Daniel reordena as páginas,
aparentemente relendo. Ou talvez ele
simplesmente não consiga levantar a vista
e me olhar nos olhos... Eu o deixo
continuar. A ler. A piscar. A ficar cada
vez mais duro. Isso me dá mais tempo
para verificar o pacote dele.
A julgar pela forma como o brim da
virilha dele está crescendo, ele é
deliciosamente grande. Um titã no
departamento de dotes físicos tanto quanto
nos de estudo. Enquanto eu observo, ele
se mexe sobre o banco só um pouquinho.
Acho que se sente pouco confortável,
posicionado dentro dos jeans, mas está
lutando contra a necessidade urgente de
fazer algo com relação a isso.
— Puxa vida! – diz ele afinal, os
lóbulos das orelhas novamente rosados. –
Quando você recebeu isso? E como? –
Ele dobra a carta entre os seus dedos
longos, de olho nela como se tivesse nas
mãos uma espécie de víbora rara e
especialmente venenosa, mas com
aparente relutância em soltá-la.
— Isso é grave, você sabe... O tipo de
homem que escreve algo assim pode ser
muito perigoso. Talvez seja melhor
informar isso à segurança da biblioteca.
Só para não correr riscos.
Ele tem razão, mas eu não vou fazer
isso. E não apenas porque não gosto que
me digam o que fazer ou porque aqueles
brutamontes da segurança se divertiriam
muito com isso. Não, é por causa da
minha intuição com relação a Nêmeses:
de que ele, apesar de devasso, é
fundamentalmente benigno e de que
realmente gosta de mim. Tudo bem, talvez
eu esteja me comportando como uma
estúpida e correndo risco de vida, mas
com que frequência um homem diz a você
que ele a idolatra e adora?
— Estava na caixa de sugestões da
biblioteca, endereçada pessoalmente a
mim. – Eu dobro as páginas novamente,
sentindo um vislumbre de excitação, como
se o próprio papel estivesse ensopado de
algum afrodisíaco. Com uma poção que
funciona com os genitais de Daniel
Brewster tanto quanto com os meus. –
Estava lá quando abri a caixa, às nove
horas.
Ele se mexe desconfortavelmente sobre
o banco e eu observo o jogo de emoções
no rosto dele. Vejo indignação, excitação,
perplexidade e, talvez, apenas talvez,
ciúme. Escondo um sorriso. Será que
gostaria de ter sido ele o autor da carta?
Ele quer se livrar da sua imagem
acadêmica e me mostrar seu lado travesso
há semanas, e está furioso porque foi
Nêmeses quem chegou primeiro? Esse é
um pensamento delicioso e, se for
verdade, muito bom para o meu ego. Ele é
uma celebridade, até certo ponto, e eu não
passo de uma bibliotecária meio cheinha
bem comum.
— O que você vai fazer? – Ele me olha
com intensidade, os olhos escuros como
um café expresso atrás das lentes
elegantes. Com um gesto rápido e agitado,
ele tira uma mecha encaracolada e escura
da testa.
— Bem, por enquanto, nada. É só um
bilhete. Talvez nunca mais haja outro.
Não deixa de ser uma ideia. Uma ideia
de que eu deveria gostar. Mas, pelo
contrário, ela me faz sentir murcha e
deprimida. Já faz bastante tempo que há
uma escassez de excitação erótica na
minha vida – na verdade, nunca houve
tanta assim –, só que de repente eu gosto
disso, e o meu apetite é voraz. O que
Nêmeses dirá em seguida? Até onde ele
pode ir?
— Esse pode ser um indivíduo muito
perigoso, Gwendolynne. – Daniel
continua com expressão carrancuda e
ansiosa. Mas ele ainda está teso atrás da
braguilha do jeans. Sinto que, como um
homem racional e analítico, ele está um
pouco aborrecido consigo mesmo por ter
ficado excitado, e isso apenas reforça a
minha ideia fantasiosa de que ele pode
estar com ciúme.
Eu me pergunto como ele se
aproximaria de uma mulher. E qual
estratagema usaria para levá-la para a
cama ou simplesmente persuadi-la a
deixá-lo tocar nela...
Ele levanta a ponta dos dedos, como se
estivesse debatendo consigo mesmo, e
tenho vontade de lhe dizer que ele não
teria muita dificuldade comigo. Estou toda
empolgada com a beleza máscula,
deliciosa e excêntrica dele e sucumbiria
tão rápido quanto o farfalhar de páginas
de algum texto raro de história. Nada de
paquera, nada de encontros para jantar
fora, nada de presentes – nada disso é
necessário. Nem mesmo algumas cartas
picantes, porém deliciosamente poéticas.
Por mais chocante que possa parecer,
eu o pegaria bem aqui e agora. Se eu
tivesse uma chance.
— Não se preocupe, Daniel. Tenho
certeza de que é só esta. Nós recebemos
bilhetes esquisitos e figuras grosseiras na
caixa o tempo todo. – As pontas dos meus
dedos formigam com necessidade de
estender o braço e tocar nele, talvez tocar
de leve a sua longa coxa coberta pelo
brim, para deixar claro o que estou
dizendo. Tá bom... – Quando você não
responde a uma proposta, eles sempre
perdem o interesse.
Ele aperta os dedos uns contra os
outros, e a sua expressão me diz que não
acredita muito em mim. Ou talvez apenas
é esperto o suficiente para ler os meus
sinais e não tem certeza se gosta disso,
estando ou não com tesão.
— Você tem certeza? – Ele solta um
suspiro inesperado, levantando o peito. E
eu sei que se trata de um peito muito
bonito, porque há cerca de uma semana,
durante uma breve onda de calor, ele
deixou o paletó de tweed na principal
biblioteca de empréstimos e ficou
trabalhando com apenas uma camiseta
branca, que envolvia os seus atraentes
peitorais de forma encantadora.
— Tudo vai dar certo, mas obrigada da
mesma forma por se preocupar.
Ele se apruma no banco e, de alguma
forma, parece crescer de Clark para o
Super-Homem.
— Mas você tem que me prometer que
se houver qualquer problema com esse...
esse Nêmeses, você vai me pedir ajuda.
Ele é mesmo o Super-Homem e, de
repente, apesar de eu ter fantasias meio
podres com relação a ele, fico comovida.
E, desta vez, eu realmente dou um tapinha
na coxa dele. E, em seguida, me inclino
para lhe dar um beijo de agradecimento
no rosto.
Bem, isso é o que eu tinha intenção de
fazer. Mas, não sei bem como, passo pela
bochecha dele e, com grande precisão,
pouso a boca nos seus lábios.
Inicialmente, ainda era um beijinho de
agradecimento, e a boca de Daniel, macia
como veludo, se mantém quieta debaixo
da minha. Nós ainda estamos tranquilos.
Nada aconteceu. É apenas uma coisa de
“amigos” e nós dois podemos sair desta
sem o rosto rosado ou as orelhas
avermelhadas do constrangimento total.
Mas daí tudo muda. Com um
movimento suspeitamente bem-elaborado,
Daniel arranca os óculos, joga-os sobre o
banco e então as suas mãos, aquelas mãos
fortes e elegantes sobre as quais eu tive
fantasias tão espetaculares, sobem e
envolvem o meu rosto, os dedos abertos
para segurar a minha cabeça e manter as
nossas bocas em alinhamento perfeito.
A língua dele pressiona os meus lábios
e não há nada de tímido nela. Enquanto
ela explora e avança e saboreia, eu
amarroto a carta de Nêmeses e a deixo
cair no cascalho, palavras azuis sobre
papel azul esquecidas enquanto eu levanto
as minhas mãos até os ombros de Daniel.
A boca dele tem gosto de hortelã, como
se ele tivesse chupado balinhas de menta.
Eu compartilho esse sabor, mas é o
homem que é melhor. E, para alguém que
projetou uma imagem de tanta compostura
e reserva acadêmica todo o tempo em que
eu o conheço, ele sem dúvida sabe beijar
como um garanhão.
Atacar. Recuar. Induzir. Seduzir.
Eu sou uma massa disforme nas mãos
dele, um amontoado de hormônios
bombando, me liquefazendo, tanto
metafórica como muito fisicamente, entre
as pernas. Ele não toca nenhuma parte de
mim a não ser o rosto, que ele embala,
mas é como se estivesse com as mãos
dentro da minha calcinha.
Quanto a mim, sou menos contida e, à
medida que mensagens hormonais malucas
se alastram para cima e para baixo,
algumas delas se desviam totalmente do
meu cérebro e terminam na minha mão.
Completamente fora de controle, ponho
meus dedos atravessados sobre a virilha
dele.
Por alguns momentos, é como se a
mente consciente dele não tivesse notado
e seu corpo apenas reagisse
automaticamente, pressionando a sua
ereção contra o meu toque. Em seguida, as
células cinzentas recuperam o terreno
perdido e ele recua sobre o banco como
um gatinho assustado, interrompendo o
nosso beijo e fazendo com que seus
óculos escorreguem para o chão. Ele se
precipita para baixo, com dificuldade
para encontrá-los, e nós estamos de volta
à terra da farsa.
Instantaneamente, sinto-me mortificada
e com raiva, mas não sei ao certo com
quem. Comigo, por fazer algo
repreensivelmente estúpido e radical com
um homem que mal conheço? Ou com o
Professor Gostoso por me levar para
frente e, de repente, perder a coragem?
Ele pisca olhando para mim por detrás
dos seus óculos miraculosamente ilesos, e
não parece saber o que dizer.
— Bem, obviamente isso foi um erro de
proporções gigantescas. – Eu me levanto e
cato os meus pertences (bolsa, garrafa de
água, carta pervertida) do chão onde tudo
tinha caído durante a batida em retirada
selvagem de Daniel.
— Ah... sim, provavelmente sim –
concorda ele, baixinho.
Então eu fico com uma raiva como
nunca tive. Sei que é, principalmente,
frustração, mas mesmo assim eu parto
para o ataque.
— Então quer dizer que tudo bem você
olhar para o meu decote e admirar os
meus seios, mas não é tudo bem eu tomar
uma iniciativa com relação a você?
Ele solta um pequeno som, bufando,
como se estivesse perplexo. Ele
obviamente não gosta de complicações.
— Não foi isso exatamente o que eu
quis dizer com erro. – Ele retomou o
controle então, ainda que uma olhadinha
para baixo me mostre que ainda está
excitado. – É só que você e eu temos uma
excelente relação profissional. Na
biblioteca. E eu gosto da nossa interação
lá. – Ele tamborila as pontas dos dedos
umas contra as outras, o que eu acho que
significa que ele está nervoso, mas
tentando reprimir. – E eu não gostaria de
estragar ou fazer coisas constrangedoras
para você.
— Claro que não, Professor, considere
a situação não estragada e sem
constrangimentos.
Ai, por favor, não se comporte como
uma criança malcriada, Gwen. Você é
uma mulher adulta, não uma garotinha que
acabou de ter o seu pirulito roubado. Sei
que é um belo pirulito e foi divina a
sensação de tocá-lo, mas, por favor, aja
com juízo, ok?
— Ótimo, estou feliz que tudo esteja
resolvido. – Ele bate os dedos de leve uns
contra os outros, enquanto a minha indócil
xoxota vibra, louca pela destreza deles,
uma outra parte de mim de repente se
pergunta se isso não é tudo tática, algum
tipo de atuação inteligente e tortuosa. –
Você gostaria que eu a acompanhasse até
a biblioteca? Só por segurança?
Por um momento eu me pergunto sobre
que merda ele está falando, e daí eu
percebo. Ele está preocupado com a
chance deeu ser seguida por Nêmeses?
Jogando a cartada do cavalheirismo?
— Não. Obrigada. Está tudo bem. Acho
que vou até o Cathedral Centre fazer
algumas compras. Não há necessidade de
se preocupar comigo.
Isso está dando nó na minha cabeça. Eu
não quero mais me envolver em jogos
mentais. Eu mal conheço Daniel Brewster
melhor do que Nêmeses. Tenho que sair
daqui.
— Certo. Tudo bem. Até mais tarde.
Com isso, giro sobre os calcanhares,
fazendo barulho sobre o cascalho e me
afasto com a maior velocidade possível
sem chegar a correr.
Atinjo o meu objetivo. Chego até a
esquina e não o ouço me seguindo. Mas
daí eu estrago tudo. Olho para trás e ele
ainda está parado lá. Ele deveria estar
carrancudo, mas, na verdade, está
sorrindo, ou melhor, com um sorriso bem
largo no rosto. O que o torna duplamente
lindo e dez vezes mais irritante.
E, até onde dá para ver, ele ainda está
de pau duro!
3
Kit de autoindulgência
Ah, minha linda Gwendolynne...
Você tem um amante? Por mais que
eu quisesse ter você somente para
mim, eu não tenho como não
imaginar que não há outro homem em
sua vida. Ou quem sabe, homens.
Qualquer macho que cruze o seu
caminho teria uma ereção.
Era mais um bilhete. Mais sedução
rebuscada à minha espera assim que
cheguei do almoço... Mais isso, como se
eu já não tivesse problemas suficientes.
Mas é claro que você tem um
amante! Por que logo você não teria?
E só para provar que não sou
ciumento ou possessivo, não irei me
ressentir com relação a ele, mas irei
admirá-lo pelo seu sublime gosto
para mulheres.
E então... Esse seu garanhão, ele
visita você com frequência? E você
fica esperando por ele na cama com o
coração acelerado já antecipando
uma doce nova trepada? O seu
delicioso e quente corpo, todo
trêmulo de prazer, já está
molhadinho só esperando o pênis
dele entrar?
Se eu fosse ele, a visitaria todas as
noites. Eu não seria capaz de resistir.
Eu entraria em seu quarto, fazendo
antes uma pausa por um momento na
beira da porta para saborear aquela
certeza de que, em pouco tempo, eu
estaria dentro de você de novo.
Ah sim, aí esta você, de novo
esparramada em cima dos lençóis de
cetim e com aquela lingerie de seda
de que falamos antes. Você está meio
adormecida, cochilando, sonhando,
esperando. Talvez esteja tocando seu
próprio corpo, saboreando sua
preliminar. Seus dedos devem estar
maliciosamente escondidos debaixo
da sua calcinha, que você insiste em
continuar vestindo, mas que agora já
devem estar roçando seu púbis, até
chegar àquele lugar que flui
umidade, que já deve estar inchado e
sedoso. Você está se esfregando
levemente, imaginando que quem está
lhe tocando sou eu – ele –, mas na
verdade é você mesma e, neste
preparo, você já está quase chegando
lá. Está quase pronta. Perfeita para
entrar num rápido orgasmo, com
aquela fome de prazer inicial. Um
belo aperitivo para o banquete que
ainda está por vir.
Eu estou na sua porta, e recebo as
chamas quentes que saem de seus
olhos, mas você não desvia a atenção
da sua boceta. Seu sorriso queima
minhas entranhas enquanto seus
dedos circulam pela seda e pelo
cetim e pelas rendas enquanto você
mexe sua linda bunda em uma
excitação sem fôlego.
Eu imploro para que você deixe eu
me aproximar, mas quando está no
comando é inútil insistir, você me
proíbe. Fico parado na porta, com
cada centímetro de meu corpo
escravizado enquanto meu pau sofre
e pulsa. Você fecha os olhos,
trancando o seu prazer somente para
seu mundo pessoal, e então você
esfrega-se mais e mais rápido ainda,
suspirando e gemendo.
A minha necessidade de você é
insuportável. É como ter o meu pinto
trancafiado em sua jaula de ferro,
lutando contra o tormento do aperto
dos jeans, forçando tanto o zíper que
meus olhos começam a lacrimejar.
Ou são apenas lágrimas de alegria
diante da sua beleza crua, da sua
infinita e suprema sensualidade?
Enquanto você chega ao êxtase, não
posso aguentar mais. Esse espetáculo
de ver você está me dominando.
Corro para o seu lado, me jogo na
cama ao lado de suas formas,
absorvendo cada detalhe de como
você se move, o brilho da sua pele
sedosa e a expressão adorável no seu
rosto de puro êxtase.
Eu vejo tudo. Eu vejo o seu prazer.
Eu vejo tudo o que eu quero e tudo de
que eu preciso.
E eu agora preciso cuidar de mim
mesmo... Liberar a tensão do meu pau
de forma honorável, como deve ser.
Ainda em minha mente, consigo ver
seu corpo se retorcendo de forma
fabulosa.
Todo seu, Nêmeses.
Meu Deus, taí uma coisa intensa. Abri
uma garrafa de vinho há pouco – com
propósitos unicamente medicinais – e de
repente me dou conta de que já bebi
metade dela, refletindo sobre essa carta e
a contrariedade do Professor Gostoso na
hora do almoço.
Homens! Eles são todos pervertidos ou
controladores, ou então nem fazem ideia
do que querem. Ou, de fato, eles não
sabem o que querem. Daniel Brewster
parece ser uma mistura dos três tipos
acima, mas pelo menos o Nêmeses
demonstra ter alguma ideia do que ele
quer, e sabe como pedir! O cara está
obcecado, obviamente, e eu ainda tenho a
impressão irracional de que ele não é
somente um sujeito babão-taradoresfolegante.
Para agravar a minha transgressão com
o vinho, mergulho de cabeça num pacote
gigante de batatas fritas para me confortar.
Que se dane a dieta. Foi um dia estranho,
muito estranho.
Meu quarto é meu santuário e
felizmente está livre das cafonice dos
lençóis de cetim. Eu me sinto cansada e
ao mesmo tempo energizada. Minha TV
está com o volume baixo e meu kit de
autoindulgência está ao meu lado. Com
vinho e batatas fritas, a festa está feita
para mim. Um leve cobertor de veludo
marrom sobre meus ombros, meu corpo
recém-banhado, meu pijama solto de
algodão, sim, tudo isso me leva ao
sentimento de acolhimento e conforto.
Teria muito mais sentido criativo para
a minha autoindulgência se houvesse
debaixo do meu edredom um homem,
claro. Mas Nêmeses só está disponível
para mim através das suas perversas
notinhas literárias; e as probabilidades de
conseguir que Daniel Brewster venha até
aqui diminuiu consideravelmente desde
que eu me comportei como uma completa
imbecil no jardim, na hora do almoço,
isso sem mencionar ter trombado com ele
e praticamente enfiado meus peitos na sua
cara.
Eu acho que ainda podemos ser amigos,
porém somente no sentido estritamente
profissional, sem brincadeirinhas.
Aquele beijo foi tão maravilhoso que
tinha que ter dado em algo mais. Se
simplesmente eu não tivesse agarrado a
sua virilha, mas não pude evitar. Em
minha defesa, ele parecia estar emitindo
sinais de que queria que eu fizesse isso.
Enfiando a língua daquela maneira em
minha boca, aquilo era um sinal verde em
qualquer idioma.
Que droga de homem, é tão pervertido
e manipulador, na sua maneira cheia de
astúcia, quanto o Nêmeses. E onde estava
aquele acadêmico tímido, falando nisso?
Droga, o homem tem aparecido toda hora
na televisão, ele deve ter mais do que sua
cota de habilidades artísticas...
Seria ele o Nêmeses?
Se for ele, sua atuação é
impressionante. Aquelas orelhas ficando
vermelhas, duvido que alguém consiga
fazer aquilo de propósito...
Mas novamente, talvez tudo de que ele
precise seja imaginar uma foto minha com
minhas curvas vestindo mínimos tecidos
de seda vermelha supersexy?
Meu coração começa a bater forte
dentro do meu peito e de repente me vem
de novo aquela estranha sensação. O
clique, como a mudança de realidade no
jardim. É como uma fresta numa porta
trancada, uma abertura para mostrar algo
brilhante e irresistível além da porta. Um
jogo. Um jogo selvagem. Um desafio de
inteligência – e de sexo.
Aquilo poderia apenas ser uma
invenção da minha imaginação, mas é algo
que eu nunca senti antes, nem sequer
pensei. Nunca passou pela minha cabeça.
Tenho uma sensação irreal, praticamente
surreal, como se de repente eu estivesse
entrando em um filme de arte ou em um
romance existencial.
Mas, conforme vou esvaziando o meu
copo, quero que o irreal se torne real. Eu
quero o fim das rotinas autoimpostas. Eu
preciso expandir meus horizontes, tanto no
campo intelectual como no plano da
sensualidade.
As batatas fritas já acabaram. Mas eu
tenho outra fome, estou com apetite de
outra coisa. Com uma imagem estranha de
Daniel Brewster e de uma figura difusa
entrando e saindo de foco na minha tela
mental, eu deslizo para a cama e sob os
lençóis coloco minha mão na parte
arredondada da minha barriga.
Agora eu tenho tempo. Neste momento,
há possibilidade zero – infelizmente – de
ser descoberta. Agora eu posso me tocar e
fazer todas as coisas que não poderia na
biblioteca ou no jardim. Se for verdade ou
não, não sei, mas a minha mente funde
Daniel e Nêmeses em um totem de
fantasia masculina deslumbrante.
Estamos de volta novamente no banco
e, sem dizer uma só palavra, ele chega até
mim, levando a mão com a qual eu estava
me tocando para junto das suas. Com os
olhos dissimulando por detrás dos seus
óculos, como se fosse pecado, ele levanta
as pontas dos meus dedos para os seus
lábios e depois de beijá-los, um a um, sua
língua mergulha para vasculhar os últimos
remanescentes do meu néctar. Sua boca
ansiosa se curva em um arco enquanto
leva minha mão para a protuberância
impressionante que irrompe na suave
linha da sua calça jeans.
Nada de se encolher desta vez, como se
fosse uma madre superiora indignada.
Gentilmente, mas com autoridade, ele
dobra a ponta dos dedos em torno do
cume, agora quente, bem-definido e em
seguida se inclina para trás contra o banco
e fecha os olhos. Seu rosto demonstra
frescor, inteligência, com traços de
virilidade e ele decide relaxar. Ele se
parece com um anjo caído que aceitou o
beijo do pecado.
Eu o aperto suavemente e ele libera um
suspiro longo e irregular. Eu o aperto de
novo e seus quadris poderosos começam a
se mover para cima, convidando-me para
que eu dê mais atenção ao seu pênis.
Espontaneamente, alcanço a fivela do seu
cinto, em seguida ataco o botão da sua
calça jeans. Em questão de segundos,
estou puxando para baixo o zíper com
todo o cuidado para não enganchar em
nada. Meu cuidado foi providencial,
porque debaixo da calça ele está nu e
descontrolado.
Seu pênis soberbo salta à vista e
primeiro a minha boca fica seca, mas
depois começo a salivar com fome sexual.
Assim como faz a sua glande. Forma-se
uma pequena gota perolada na ponta do
seu pênis, o doce líquido pré-gozo me
recepciona e me incentiva. Ainda sem
ousar prová-lo, coloco a mão sobre ele. A
carne está sólida e dura, como madeira
polida, a pele superfina está esticada por
sua excitação extrema. Este magnifico
órgão é de uma beleza crua, física, a
própria expressão da masculinidade
primordial, a própria essência do homem.
É difícil olhar para longe daquela
visão, mas quando eu o faço, vejo o
homem com a cabeça inclinada para trás a
fim de expor a sua linha da garganta. Ele
está engolindo em seco conforme movo
meu polegar lentamente em círculos, e
suas mãos, enfiadas atrás dele no banco,
acabam se fechando em punhos.
Seu corpo é um presente. Um brinquedo
sexual vivo, um objeto de adoração. Eu
caio de joelhos sobre o cascalho, que na
minha fantasia não possui poder nenhum
de me causar dor. Eu me ajoelho
suplicante entre suas pernas estendidas e
me volto para a minha tarefa ansiosa,
usando as duas mãos, com intenção de
agradar.
O cenário parece mudar e começa a se
transformar, e de repente eu estou em um
lugar mais escuro, um quarto opulento,
com um perfume de cera de couro e
lavanda, iluminado por velas e com o
brilho cintilante de uma lareira.
Uau, de onde veio isso? Deve ter
surgido na minha cabeça totalmente
influenciável, materializando-se a partir
de imagens que vi em certos livros que
são mantidos nas prateleiras restritas na
parte de baixo dos arquivos da biblioteca.
Volumes pornográficos que estão
disfarçados como obras de fotografia de
arte e que muitas vezes são explorados
pelas impertinentes garotas da biblioteca
quando estamos fazendo a catalogação por
lá. O público geral nunca terá a chance de
olhar para eles.
Estou ajoelhada ainda, mas agora nua –
e amarrada com as mãos por trás das
costas, fazendo ser impossível tocar o
homem que estou adorando. O calor das
lambidas sobe como fogo pelo meu corpo,
como uma língua gigante me acariciando.
Em vez de olhar para cima, agora estou
olhando para o tapete com cabeça baixa
por respeito a meu mestre.
Meu mestre? Meu senhor? O que é isso,
agora sou uma escrava sexual? Isso nunca
aconteceu comigo antes. Se alguém me
perguntasse, eu falaria que é uma
distorção da minha psique.
— Pode se aproximar.
Sua voz é estranha, com eco, como se
estivesse sendo filtrada. É Daniel? Ou é
desse jeito que eu imagino que a voz de
Nêmeses pode soar? Ele pode ser ambos,
ele pode ser uma sobreposição, ou
nenhum deles. Do lado de fora do meu
mundo de fantasia, e por um momento, eu
escrevo uma nota mental para comprar
mais deste vinho que ando bebendo. O
material é de primeira. Faz aparecer o
mais selvagem dos sonhos.
— De joelhos.
Baseando-me nos conhecimentos que
adquiri com o tempo ao vasculhar as
prateleiras proibidas, sei que é importante
me mostrar graciosa. Mas isso é uma
decisão difícil quando se está sendo
arrastada por cima do tapete, tremendo
como uma penitente nas garras do êxtase
religioso.
Ele está vestindo roupa de couro. Um
homem – é Nêmeses? Daniel? Ou é algo
da minha imaginação? Está sentado em
algo como se fosse um grande trono, só
que em uma poltrona, suas longas pernas
estão separadas, como as de Daniel
alguns instantes atrás, mas agora vestido
com uma brilhante calça de couro negro,
enfiada em altas botas bem engraxadas.
No mundo da minha mente, estou
rastejando nua no chão. No meu mundo
real, estou mexendo a minha mão
freneticamente por baixo do meu pijama,
com o edredom e o saco de batatas fritas
no chão. Eu não posso acreditar no quanto
estou molhada, mas de repente,
observando esta manifestação real e
tangível de prazer, a excitação se
desconecta de alguma forma e desvanece
o fogo aceso no meu quarto
e gemo frustrada, enquanto o orgasmo que
eu estava quase atingindo se afasta para
um ponto fora do meu alcance.
Foda-se! Eu começo a rosnar e
rapidamente rolo pela cama como um
peixe em direção à gaveta do meu criadomudo,
procurando pelo último item do
meu kit de autoindulgência. Ah sim, meu
vibrador fiel, sim, você está aqui! Alegre
e divertido, barato e eficaz. Então eu puxo
para baixo meu pijama e deslizo o
vibrador de plástico para a zona
vermelha, movendo-o rapidamente, e meu
orgasmo errante chega como uma
borboleta.
As imagens veem dançando uma a uma,
depois retornam em mim e então eu
suspiro.
E ao mesmo tempo que levanto a
cabeça do tapete de meu sonho, vejo o
rosto de Daniel olhando solenemente para
baixo para mim, meu clímax chega à ponta
de meu clitóris como um beijo de ouro
ardente.
Estar de volta hoje à biblioteca será meio
embaraçoso. Grande momento. A
perspectiva de enfrentar o Professor
Gostoso McLindo depois daquele beijo –
e a concomitante apalpação – me faz corar
dez vezes mais, e eu ainda nem pousei
meus olhos nele...
E não é só isso... Mesmo que o beijo
não faça minhas bochechas e minhas
orelhas queimarem em fogo lento, como
serei capaz de olhar para a pessoa e não
lembrar que eu fantasiei com ele para
chegar ao clímax ontem à noite? Isso sem
mencionar que dei a ele, e a mim, um
fetiche de roupa de couro.
Parece importante trabalhar e enfrentar
os meus medos e potenciais embaraços
sem agir com covardia, embora a situação
possa exigir isso. Também é necessário
parecer gostosa. Ou o mais gostosa
possível quando se é uma garota gordinha
na casa dos 30 e que trabalha em uma
biblioteca pública.
Cortejando o Diabo, também conhecido
como Nêmeses, eu pego uma blusa branca
bem fresca e decotada, que faz com que
realmente meu peito seja merecedor de
muitos olhares especiais. Para combinar
com ela, visto uma saia um pouco mais
justa do que o usual, na altura dos joelhos,
com um toque dos anos 1950, e, mesmo
que não se possa usar salto alto na
biblioteca, eu escolho um par preto com a
mesma elegância clássica de Audrey
Hepburn.
E meias. Sim, meias finas. Eu não sei
para quem foram feitas. Sim, talvez para
mim. Será que para minha autoestima? Ou
para Nêmeses, que agora mesmo pode
estar esperando que eu venha virar a
esquina, e vai provavelmente ficar louco,
assim que notar as meias através do
tecido de minha saia?
Ou ainda para Daniel, que poderia
muito bem fingir estar se encolhendo de
vergonha ao notar a mesma coisa e usar
isso como desculpa para se esconder no
porão da biblioteca o dia inteiro e ficar
longe da patética bibliotecária fatal que
teve a audácia de agarrar seu
equipamento?
O último parece o mais provável.
Nosso amado professor de estimação tem
um canto improvisado bem escondido nos
arquivos, e só vem de vez em quando para
cima procurar por itens na área de
empréstimos em geral e nas coleções que
estão disponíveis para o público, e não
vimos nem sinal dele hoje, ao menos até
agora, e já é o meio da tarde. Depois do
fiasco de ontem, ou ele nem vai dar as
caras hoje, ou vai passar o dia todo
escondido na segurança do porão.
Bem, dane-se, covarde! Eu tenho mais
o que fazer.
Decido abrir a caixa de sugestões de
novo. Não havia nada ali naquela manhã.
Bem, nada do tipo que eu estava
esperando.
Esvaziar a caixa de sugestões envolve
dar uma passada em frente ao balcão de
informações e se agachar ligeiramente
para destrancar a porta de um dos painéis
de madeira. Tudo isso é um pouco
antiquado tendo em vista o avanço da
tecnol ogi a, sistemas de empréstimo
computadorizados e multimídia isso e
aquilo, mas nós temos um monte de
usuários mais velhos que preferem as
formas mais tradicionais e à moda antiga.
E sendo uma garota à moda antiga em
muitas das vezes eu consigo entender
como eles se sentem.
De qualquer forma, abaixando do modo
mais gracioso que eu consegui, me sinto
como se houvessem holofotes de dez mil
watts me iluminando. E esses milhares de
olhos gulosos, não apenas os de Nêmeses,
estão me seguindo avidamente, respirando
a cada respiração minha, a cada toque que
dou. Eu posso até ouvir os grunhidos
lascivos coletivos de aprovação de minha
saia apertada que delineia muito bem
minhas curvas traseiras, bem
arredondadas.
O suor irrompe entre os meus seios ao
alcançar a cesta de arame. Eu estou
usando um dos meus melhores conjuntos
de sutiã com calcinha. Nada de cetim
carmesim, infelizmente, apenas de renda
branca com delicados bordados sobre os
bojos do sutiã e acentuando a calcinha
numa espécie de aviso que diz “Aqui
estão! Pegue aqui!”. Por que diabos eu me
esforcei tanto hoje eu não sei bem. Bem,
não conscientemente. Meu subconsciente
deve estar trabalhando exatamente agora
numa maneira de deixar um vislumbre
dessa quase maravilhosa lingerie para
Daniel Brewster – ou mesmo para
Nêmeses, no caso de eu conseguir
descobrir quem é ele.
Mas o conteúdo da cesta me desaponta.
Nada de envelope azul. Será que já
acabou, tão cedo assim? Toda aquela
conversa sobre os pervertidos que perdem
o interesse se você não responde a eles é
verdade.
Oh, merda! Eu realmente quero isso,
não é?
Depois de trancar a caixa novamente e
recuar para trás da mesa, olho cegamente
para pedidos de arrumar mais espaço nas
prateleiras para os livros e reclamações
do tipo “por que nós temos que suportar
tanto lixo audiovisual nos dias de hoje em
vez de ter literatura de verdade?”.
Reclamações sobre a longa lista de espera
para os principais autores de romances.
Que tal bolar mais eventos para o Clube
do Livro Infantil? As coisas de sempre...
Mas é como uma língua estrangeira e a
que eu quero ler é aquela escrita
impecavelmente sobre o papel azulcalcinha.
Sinto vontade de estraçalhar
tudo o que é legítimo, inquestionável, mas
irremediavelmente chato nas
comunicações da biblioteca e arremessar
as bolas de papel amassado nos
pesquisadores não pervertidos que vagam
pelas prateleiras.
Eu quero emoção, excitação, algo
enorme e deslumbrante, uma pitada
saborosa da obscuridade compulsiva com
a qual eu fantasiei na noite passada.
Nêmeses ainda não me mostrou
especificamente esse lado, mas todos os
meus instintos gritam que em breve ele vai
apresentá-lo. Ou ele poderia já ter feito,
se eu tivesse a coragem de responder a
ele. Seu endereço de e-mail estava no fim
de cada bilhete, me convidando. Mas eu
me sentia muito covarde para isso. E
agora pode ser tarde demais.
Rasgo todas as sugestões em pequenos,
minúsculos pedaços, e em seguida os jogo
fora, mas isso realmente não devia ser
feito porque nós temos que ler todas elas
e levantar as sugestões nas reuniões de
desenvolvimento da biblioteca. Será que
alguém poderá descobrir o meu crime?
Decido então disfarçar e levar os
pedacinhos para os sacos de reciclagem
de papel, no porão. E decido ainda pelo
menos levar algumas das sugestões na
próxima reunião, como uma forma de
amenizar a culpa. Eu anoto tudo o que
puder lembrar, mas durante todo o tempo
há um tick, tick, tick de uma compulsão se
juntando.
Os sacos de papel picado ficam no
porão, no mesmo lugar onde estão os
arquivos. O arquivo é a estação de
trabalho de Daniel Brewster. Se eu não
posso estar com Nêmeses, pelo menos
posso tentar algo com o Professor
McLindo. Tudo o que ele pode fazer é me
rejeitar de novo, mas então pelo menos
terei certeza de que tentar seduzir esse
cara é um beco sem saída.
Como sou uma das assessoras dos
leitores, tenho carta branca para sair de
minha mesa e ir até as pilhas de livros em
busca de pedidos de usuários. Então, saio
de meu posto de trabalho e ando de forma
inteligente para a porta com um “Não
Entre” que leva até as escadas.
Os arquivos da biblioteca Borough e a
área que guarda pilhas de livros é um
lugar estranho, e muito dali não guarda
nenhuma semelhança com a parte de cima,
um edifício muito mais moderno. Aqui
eram porões e adegas pertencentes a
antigas casas que foram sendo demolidas
a fim de abrir caminho para ampliar o
complexo da biblioteca. A iluminação é
estranha, antiga e meio amarelada, e há
uma atmosfera meio clube de cavalheiros
e meio abrigo nuclear abandonado. A
maioria do pessoal que trabalha aqui não
curte este lugar e faz de tudo para evitálo.
Mas confesso que tenho um certo afeto
por este canto, levando em conta os
acontecimentos recentes.
Ou melhor, era um lugar que eu
gostava, até o dia que toquei no pênis do
Daniel Brewster, movida por um
capricho.
Há antigos carpetes no chão, por isso
meus passos são amortecidos até quase o
silêncio total. Eu descarrego minha
aparente razão para vir até aqui,
despejando o papel picado e devolvendo
um par de volumes que peguei como
pretexto. E então paro, tentando criar uma
alegre e leve saudação, deixando de lado
o que aconteceu ontem de forma que isso
possa nos ajudar a superar o
constrangimento e nos leve de volta a um
caminho mais promissor para... bem, para
alguma coisa.
A mesa de trabalho de Daniel está
vazia. Mas sei que ele está aqui e que
claramente vai voltar. Seu casaco está
pendurado em um gancho na extremidade
de uma das estantes. Preciosos textos
sobre a Guerra das Rosas estão abertos
sobre a ampla mesa de madeira. Alguém
poderia pensar que um historiador como
ele seria mais respeitoso com relação a
volumes tão raros, mas talvez ele tenha
outras coisas ocupando a sua mente,
certo?
Há também um monte de papéis, folhas
manuscritas, tudo muito disperso e
também dois jornais, cada um deles
aberto nas páginas de palavras cruzadas e
de sudoku. Seu moderno laptop está com a
tela brilhando naquilo que suspeitamente
parece ser um jogo de batalha naval, em
vez de um tratado erudito. Curiosamente,
não há apenas uma, mas duas grandes
lentes de aumento colocadas em cima de
uma pilha de páginas impressas no
computador, assim como duas canetas
esferográficas e outros tantos lápis, além
de uma linda caneta-tinteiro alinhada ao
lado de um bloco de notas.
Uma caneta-tinteiro?
A área está inundada com luz abundante
que abrange todo o resto do arquivo.
Aparentemente a antiga prática de criar
rabiscos e forçar a visão sob a luz
bruxuleante de velas não é para este
estudioso. Diversas poderosas lâmpadas
derramam sua luz clara azulada como
luzes diurnas. O Professor Gostoso
prefere as coisas claras e fáceis de ver.
E eu também. Mas onde diabos ele
está? Provavelmente como um animal
fuçando tudo nos arquivos. Então decido
correr o risco de me aproximar mais e dar
uma espiada melhor em suas coisas.
E checar a caligrafia das anotações.
Eu não sei muito bem o que estava
esperando, mas sua escrita não tem nem
de longe a mesma elegância de Nêmeses.
É vigorosa, firme, expressando uma
inteligência extremamente confiante do
seu autor. E a cor da tinta da canetatinteiro
é preta e não azul.
O arquivo está praticamente em
silêncio, exceto pelos ruídos ocasionais
do disco rígido de seu laptop e do
constante cantarolar dos aparelhos
eletrônicos. O ar está pesado com o fardo
do conhecimento e da poeira. Mas, de
repente, eu detecto outra coisa. Um
zumbido diferente. É quase como o som
do meu vibrador e instantaneamente minha
mente apresenta a mais estranha das
imagens. Teria o Professor Gostoso
McLindo um vício secreto ao qual ele se
entrega aqui nas entranhas do mundo do
conhecimento? Ou talvez eu não seja a
única que tem uma vida clandestinamente
pervertida aqui na biblioteca?
De qualquer forma, eu preciso saber o
que está acontecendo. É temerário fuçar, e
ainda há o potencial de um
constrangimento impressionante, tanto
para mim quanto para a pessoa que for
responsável por esse zumbido. Mas,
caminhando na ponta dos pés, sigo em
direção à fonte do ruído. Ele está vindo
do banheiro individual e minúsculo. Esse
lavatório costumava ser usado pelos
funcionários, mas agora nós temos
instalações mais novas e mais bonitas no
andar de cima. Mas ele está bem à mão
quando você fica tempo demais
vasculhando pelas prateleiras.
Avanço mais alguns centímetros até
poder ver do canto. A julgar pelo som,
quem está lá dentro deixou a porta aberta.
E então eu tenho que enfiar meus dedos na
boca para deter um gritinho como um rato
assustado. Daniel Brewster está de pé em
frente ao espelho manchado de ferrugem,
passando um barbeador elétrico para
frente e para trás de sua mandíbula. Ele
está debruçado sobre a pia, a poucos
centímetros do vidro, olhando fixamente
para seu reflexo e franzindo a testa. Não
há nada de incomum nessa cena, exceto
pelo local, e pelo fato de que ele está de
pé e sem roupa.
Meu Deus do céu, ele é lindo!
Sem saber que está sendo analisado por
mim, ele está relaxado, seus membros
elegantes, soltos, quase clássicos. Sua
forma é muscular e compacta, não tem
uma polegada sobrando nele, e há um
emaranhado adorável de cabelo escuro
adornando seu peito.
Meus olhos deslizam de um para outro
dos encantos de seu corpo, evitando
cuidadosamente o lugar que eles
realmente querem olhar. Mas,
eventualmente, é claro, eu sucumbo à
tentação. E seu pênis é tão bonito quanto o
resto dele. Pendurado de forma suave e
relaxada, ainda é impressionante e oscila
carnudo contra sua coxa enquanto ele
recua e coloca o barbeador fora de vista.
Tenho que me achatar contra a parede
rebocada para não avançar e, quem sabe,
revelar a minha presença. Eu me sinto
como o Nêmeses, observando o objeto de
minhas fantasias e desejando que essa
visão imaginária não se evapore. Mas a
realidade da nudez de Daniel Brewster
excede em muito qualquer um dos sonhos
diurnos e noturnos com os quais venho me
entretendo desde que ele chegou aqui.
Meu coração bate mais alto, e tenho medo
de que, mesmo que eu não mova um
músculo sequer ou que pare de respirar,
ele ainda detecte o enorme clamor dentro
de meu peito.
Com um pequeno suspiro, ele corre a
água na pia e, em seguida, dá a si mesmo
aquilo que minha mãe definiria como
“banho de gato”. Ele esfrega uma flanela
com sabão nos braços e ombros e tronco,
em seguida enxágua o pano e enxuga todos
os vestígios de espuma.
Então ele passa sabonete novamente
sobre o pano e aplica-o aos seus órgãos
genitais. No começo, ele está apenas
limpando. Mas depois de alguns
momentos, e de forma inevitável,
suponho, tudo muda. Por conta da
passagem do pano, seu pênis começa a se
alongar e engrossar, levantando-se. Com
um grunhido, joga a toalha na água e leva
adequadamente a mão a ele. Sua
mandíbula suave e recém-barbeada fica
tensa enquanto ele manipula seu pênis
com os dedos, indo e voltando em longos
movimentos, trabalhando a pele que
rapidamente cora sobre o núcleo duro
cheio de sangue que continua a inchar.
Totalmente ereto, ele é surpreendente,
magnificamente cumprindo a promessa
que eu pressenti ontem, quando toquei
nele por cima de seu jeans.
Ele respira fundo, irregularmente, com
o peito arfando muito enquanto se joga em
seu prazer. Com a mão livre apoiando-se
na pia, ele se lança para frente,
pressionando a testa contra o espelho.
Posso ver seus lábios se movendo, mas
não consigo ouvir o que ele está dizendo
por causa do martelar do meu coração.
Seu corpo é como um motor perfeito e
ele o está bombeando, carregando-o de
energia. Eu envio uma prece silenciosa de
agradecimento quando ele ajusta sua
posição, ampliando sua posição de
estabilidade, e apresenta-me com uma
visão ainda melhor de sua ereção e de sua
mão sobre ela. Para cima e para baixo,
para cima e para baixo, ele é impiedoso
com a sua própria carne. Ele esfrega a
testa contra o espelho ao mesmo tempo
que suas coxas fortes se flexionam para
ajudar o movimento de sua masturbação.
Gostaria de saber por quanto tempo ele
consegue continuar com isso. Eu
certamente não aguento muito mais. Não
sem erguer a minha saia e empurrar minha
mão para dentro da calcinha a fim de
compartilhar seu ritual ofegante,
esfregando o meu clitóris. Meu sexo
estava largo e molhado, como se
acolhesse aquele maravilhoso órgão
masculino a poucos metros de distância.
Eu agarro a minha virilha, apertando-a
bem através de minha saia, e justamente
quando estou quase alcançando a
calcinha, Daniel solta um gemido
entrecortado... E goza.
O sêmen jorra dele, espirrando da
ponta em pequenos e intensos jatos que se
espalham pelo pedestal de porcelana da
pia e deslizam como pérolas líquidas. Ele
parece não acabar mais, como se
estivesse abstinente durante semanas, até
meses, e só agora foi forçado a buscar a
libertação. Seu rosto parece agoniado,
embora celestial, e sua voz está
desesperada enquanto esbraveja e grunhe,
de forma incoerente e sem palavras.
Eu não sei o que pensar ou como reagir.
Mal posso pensar. Estou estupefata,
assombrada, chocada. Esta é a coisa mais
erótica que já vi, tão perfeita e íntima que
é deslumbrante.
É muito, demais da conta. Minha
cabeça está girando, eu me afasto o mais
rápido que posso sem fazer qualquer
barulho. Mas quando chego à outra
esquina do salão, meu sapato arranha o
chão e o som parece enorme, retumbando
através do porão inteiro, mesmo que ele
seja tão pequeno. Eu me viro e me lanço
escada acima, de volta para o mundo da
normalidade, mas não antes que uma
imagem fique impressa
momentaneamente em meus olhos: a
cabeça de Daniel saindo do banheiro,
virando-se e procurando de onde vinha o
som.
Será que ele me viu? Eu me lanço sobre
as escadas, esquecendo a questão do
barulho. Preciso sair dali para a
biblioteca o mais rápido que eu puder.
Explodi para fora da porta do arquivo e
quase me choco contra Tracey, que leva
uma braçada enorme de livros de ficção.
— Você está bem?
Os olhos dela estão arregalados
enquanto fico ali parada de pé, ofegante.
Não estou sem ar por causa da minha
corrida, mas por causa do impacto
daquilo que acabei de ver.
— Ah, sim... Quer dizer, não, um pouco
de claustrofobia, eu acho... – balbucio, e
ela franze a testa de preocupação. –
Normalmente fico muito bem lá embaixo,
mas hoje está mais quente do que os
outros dias, não sei como...
Abano meu rosto, e não apenas para dar
melhor efeito às palavras. Devo estar rosa
brilhante, e convencida de que minhas
orelhas ficaram muito mais vermelhas do
que as de Daniel jamais estiveram. A
imagem de seu pinto, também rosado, me
faz balançar em meus pés.
— Olha, por que você não tira uns
cinco minutos e descansa na sala dos
funcionários? – Tracey muda seus livros
para o outro braço e dá um tapinha no
meu. – Deixa que eu fico de olho na sua
mesa. Ninguém vai se importar.
Ela é uma alma caridosa, e tiro
vantagem de sua oferta. Mas não é para a
sala dos funcionários que me dirijo. Corro
para o banheiro feminino e me tranco na
cabine mais próxima, aquela para os
deficientes. Quando me deixo cair sobre a
tampa abaixada do vaso, percebo que
ainda estou respirando pesadamente.
Será que ele me viu? E se viu, eu devo
me importar, exatamente neste instante?
Tudo o que quero agora é me recompor,
liberar a tensão, sentir o orgasmo do
mesmo jeito que ele. Levanto minha saia e
enfio a mão dentro de minha calcinha.
Não há sutilezas. Nada daquelas lentas
preliminares. Isso é desespero. Será que o
Nêmeses bateu uma punheta com tanta
urgência enquanto me observava na
biblioteca?
Não demora muito. Esfrego de forma
grosseira, sem cuidado, deslizando os
dedos em torno de uma grande poça de
líquido sedoso, desfilando imagens cruéis
pela minha mente ao mesmo tempo. A mão
de Daniel em seu pênis. Seu perfil de
parar o coração quando ele faz uma
careta. Sêmen, jorrando, jorrando,
jorrando.
Viro minha cabeça para um lado, o meu
próprio pescoço arqueando para trás
quando chego lá, sentindo as palpitações
pesadas e dolorosas.
Depois, fico me sentindo como um pano
de prato torcido e leva muito tempo para
que possa me recompor. E para me limpar
também. Eu enxugo sem muita eficiência a
minha virilha com papel higiênico,
tentando me livrar do cheiro revelador de
minha excitação. Mas isso só me faz
voltar a ter tesão mais uma vez, e subo
para outro orgasmo
rápido, culpado e longe de ser
completamente satisfatório, mordendo os
lábios e desejando de repente nunca ter
ido lá embaixo, para começo de conversa.
Passa um bom tempo antes de eu voltar
para os empréstimos, e Tracey logo chega
para saber se estou melhor.
— Estou bem agora – minto. – Só
precisava de um copo de água e de um
respiro. Fiquei muito sufocada lá
embaixo, naquele buraco.
— Eu pensava que você gostasse de lá
– Tracey me lança um sorriso malicioso.
– Achei que gostasse da vista...
Todo mundo sabe que eu gosto do
Professor Gostoso, mas isso também
acontece com a maioria da equipe do sexo
feminino. E até mesmo um dos rapazes da
equipe masculina...
— Gosto mesmo, mas ele não estava
por lá – mais uma mentira descarada. –
Quem sabe não foi a decepção que me fez
voltar de lá me sentindo tão estranha?
Conversamos por um momento mais,
então eu vejo um senhor idoso com um ar
meio de incerteza se aproximando do
balcão. O dever chama. O que se segue é
um daqueles equívocos clássicos das
bibliotecas. Em uma voz bastante
hesitante, ele pergunta se pode ser
conduzido para a seção onde tenham
livros sobre a “embarcação”, ou pelo
menos, foi isso que parecia. Mas quando
o levei para a nossa seção de barcos e
navios, muito bem-abastecida por sinal, e
encontrei um livro sobre navios antigos
que falava desde os egípcios até os
galeões, de Henry B. Culver, o senhor
aposentado me olha sem entender,
piscando em confusão. Eu não tenho
certeza do que está acontecendo
tampouco, até que, depois de mais algum
interrogatório, verifica-se que ele está
realmente buscando informações sobre a
“reencarnação”. As prateleiras sobre
misticismo e espiritualidade oferecem
exatamente o que ele quer e os
agradecimentos efusivos e bastante doces
do velho cavalheiro são de fato tocantes.
Tudo isso foi realmente uma boa distração
para mim, e sinto o brilho simples da
satisfação profissional quando voltamos
para a mesa com um punhado de livros
para registrar o empréstimo. Eu lhe digo
que temos um sistema de pedidos na
biblioteca caso ele não encontre
exatamente o que procura nesse pacote
que está levando.
Mas o brilho da bibliotecária feliz
instantaneamente se dissipa, para ser
substituído por todos os tipos de outros
brilhos latentes, quando vejo Daniel
Brewster esperando lá de pé, bem na
frente da caixa de sugestões.
Mesmo que a imagem dele nu e se
masturbando agora esteja provavelmente
gravada para sempre dentro do meu
cérebro, a visão de Daniel vestido ainda é
um belo espetáculo. Especialmente agora,
quando ele parece estar vestido para
algum tipo de evento de gala. Sumiram o
tweed e o jeans, substituídos por um muito
elegante terno azul-escuro e uma camisa
combinando tom sobre tom com a gravata.
Seu cabelo preto meio selvagem está
domesticado, e ele está segurando uma
pasta e tem uma capa escura dobrada
sobre um braço. O que faz sentido. Ele
estava obviamente se lavando e se
arrumando lá embaixo, em preparação
para ir a algum lugar direto da biblioteca,
apesar de seu surto de masturbação.
Ele parece estar à espera de alguém e,
quando vira para meu lado e seus olhos
escuros se aquecem, parece ser eu. Meu
rosto entra em chamas. Ele me viu! Ele
sabia que eu estava assistindo! E, no
entanto, o rosto dele continua composto,
aberto e confiante. Não há nada em sua
expressão que possa sugerir que ele sabia
que estava sendo observado. Ele parece
perfeitamente imperturbável por qualquer
coisa que possa ter acontecido hoje. Ou
mesmo ontem.
— Olá, Gwendolynne. Você está muito
bonita hoje. Eu gosto do seu cabelo assim.
Elogios? Sutilezas sociais? O que está
acontecendo? Mesmo se ele não me viu
olhando para ele, aquele interlúdio
ridículo de ontem deveria fazer este
encontro aparentemente casual pelo menos
um pouco estranho.
— Obrigada... Eu pensei em... Achei
que seria bom mudar um pouco. – Eu tinha
quase me esquecido de que decidira
pentear meu cabelo de uma forma
diferente hoje de manhã, outro plano
patético de exercer algum efeito seja em
Nêmeses, seja em Daniel. Ele ainda está
preso para trás, mas um pouco mais baixo,
virando para um lado e mais solto. E eu
deixei algumas mechas ao redor do rosto.
Queria tentar alguma coisa mais sensual
para contrastar com o conjunto saia e
blusa social.
Começo a ficar corada por uma razão
bastante inocente, pelo simples prazer
feminino de ser educadamente admirada.
Mas o momento está passando, e eu
percebo que tenho que dizer alguma coisa.
— E você está muito elegante hoje,
Professor Brewster. Você vai a algum
lugar?
Seu sorriso repentino é uma pintura, e
curiosamente é quase tão emocionante em
sua própria maneira como seu corpo nu
foi lá embaixo. Ele toca o cabelo
compulsivamente como se não estivesse
acostumado a ser elogiado. Mesmo
quando está na televisão, o professor
parece se vestir de modo bem casual.
— É que vou discursar em um jantar.
Eu só estou esperando meu táxi.
Ele olha para baixo, para os pés
calçando sapatos bem-engraxados, depois
olha para cima de novo, me fazendo
perceber que alguma coisa está diferente.
Ele não está usando óculos hoje.
— O que aconteceu com seus óculos?
Você não precisa deles quando não está
trabalhando?
Uma expressão estranha, quase de
raiva, aparece e contorce seu rosto por
alguns momentos, e a boca se curva. O
que foi que eu disse?
— Eu preciso deles o tempo todo, mais
ou menos, certamente – a voz está
estranha, plana. – Mas hoje estou usando
minhas lentes de contato. Melhor para a
velha imagem, sabe?
O friso em seus lábios suaviza e ele me
dá um sorriso, como se estivesse
envergonhado por causa de sua própria
vaidade.
Que diabos diria ele, então, se
soubesse que eu o tinha visto nu? Estou
convencida agora de que ele realmente
não sabe que foi observado. Seu sorriso
se amplia, ele dá de ombros.
— Olha, eu sinto muito sobre ontem na
hora do almoço. Fui muito abrupto e
embaraçoso demais. Não deveria ter
“dado o fora” em você. – Sua voz cai para
um sussurro e torna-se bastante
emocionante. Todos os nervos que
acabaram de ser ajustados depois de
minha sessão no vestiário começam a
tremer de novo. – Aquele foi um beijo
delicioso. Eu realmente gostei muito.
Um brilho por trás de suas lentes
invisíveis, o brilho de seus olhos.
— Eu também... – isso é tudo que
consigo dizer.
Seu olhar é tão intenso que eu quase me
sinto fraca, e em suas profundezas
estranhas mensagens flutuam e vagam.
Será que ele é Nêmeses? Eu me vejo
imaginando outra vez, e sinto uma
vibração de medo no meu peito, de que
ele poderia ser alguém tão esperto, tão
desonesto, e tão bom ator...
Ele olha para o relógio:
— O táxi vai chegar daqui um minuto, e
só vou voltar bem tarde. Mas quem sabe a
gente pudesse tomar um café ou algo
assim amanhã? Ou beber alguma coisa?
Ou almoçar?
Como é? O Professor Gostoso
McLindo me chamando para sair?
— Legal, isso seria ótimo. – Não se
mostre tão entusiasmada, Gwen!
— E, antes que me esqueça, eu
realmente quis dizer tudo aquilo quando
falei daquelas cartas. Você precisa ser
cuidadosa. Se mais alguma chegar e você
ficar preocupada, pode me telefonar, tudo
bem? – Ele saca um austero cartão de
visitas branco com seus telefones
impressos.
— Obrigada, mas essas cartas não me
preocupam. De verdade. Acho até que são
bastante inofensivas.
— Você tem certeza? Eu não quero que
você faça nenhuma besteira. – Sua voz
fica mais baixa, e ele parece prestes a
dizer mais alguma coisa quando se ouve a
buzina de um carro vindo da frente da
biblioteca. – O meu táxi chegou. Hora de
ir embora. Vejo você amanhã.
Ele estende a mão, toca o meu braço, e
até mesmo através da minha blusa seus
dedos parecem feitos de chamas:
— E lembre-se, tome cuidado.
Geralmente os mais quietos e
aparentemente inofensivos que são os
mais perigosos.
Ele se vira e vai embora, mas, antes de
chegar à porta principal do saguão, olha
para trás.
Ele acabou de piscar para mim?
Certamente não... Eu devo estar
imaginando coisas.
4
Contato
Isso foi uma piscada ou não foi? E, caso
tenha sido, o que isso quer dizer? Que ele
estava reconhecendo que tinha se
mostrado um pouco arrogante? Que ele
sabia que eu o tinha visto lá embaixo, nu e
se masturbando? Que ele, na verdade, é o
Nêmeses e que está plenamente consciente
de que eu suspeito dele?
Bem, podiam ser todas essas coisas e
ao mesmo tempo nenhuma. Podia ser
apenas eu mesma que estava imaginando
essas coisas. Esse parece ser o meu
comportamento normal ultimamente. Mas
eu realmente preciso saber mais sobre o
Professor Daniel Brewster se estiver a
fim de sair com ele, seja a sério ou apenas
como amigos, com uma política unilateral
de não-agarrar-entre-as-pernas.
Agora estou na cama outra vez, está
tarde. E não consigo pegar no sono. Então,
ligo de novo meu fiel laptop para dar uma
pesquisada no Google.
Surpreendentemente para alguém que tem
aparecido na televisão, ele não tem um
site pessoal. Há apenas uma página no site
da universidade da qual ele está
atualmente em licença sabática, e mesmo
essa página é simplesmente um esqueleto
de biografia, com informações básicas de
contato e uma impressionante lista de suas
qualificações e honrarias.
Porém, mais abaixo na primeira página
dos resultados da busca, eu acerto em
cheio: um site das fãs do Professor
Gostoso! Sirvo mais um pouco de vinho
em meu copo e começo a investigar mais
profundamente.
Havia um tesouro de fotos, a maioria
delas imagens fotografadas da tela de suas
três séries de televisão. E quem quer que
administre aquele site é um verdadeiro
mágico dos softwares de captura, porque,
em grande parte das cenas, ele se parece
mais com um modelo do que com um
professor. Aqui, a camisa está
ligeiramente desabotoada, e dá para ter
uma rápida visão daquele incrível peito
cabeludo. Ali, as mangas estão
arregaçadas, mostrando os braços
musculosos. Aqui, ele está mesmo usando
shorts, uau! E aqui, do jeito que mostra
ele de pé, com um dos sapatos pousado
sobre os blocos caídos de alguma ruína
histórica, vemos sua elegante calça cáqui
esticada na frente de seu pacote.
Entornando um enorme trago do meu
vinho barato de supermercado, fico
imaginando se estou me transformando em
uma alcoólatra, bebendo assim duas
noites seguidas. E me pergunto como
aquelas meninas confusas que tinham
montado esse site de fãs iriam reagir se
tivessem visto o que eu vi nesta tarde?
Elas provavelmente desmaiariam em
êxtase no próprio local. Eu mesma não
estava muito longe de reagir assim, e
comecei a me virar nessa direção
novamente agora, só de pensar nisso.
Tento arrancar isso da minha mente e
começo a clicar em outras das páginas
desse site. Logo, estou me sentindo quase
tão suja e voyeurística como me senti hoje
de tarde. Mas onde essas meninas
conseguiram desencavar tanta informação
pessoal sobre ele? Será que ninguém mais
pode ter segredos hoje em dia?
Mas que hipócrita que eu sou... Este é
exatamente o tipo de fofocas que eu estava
procurando. De acordo com a página
“Namoros”, Daniel não tem uma
namorada no momento. Incapaz de parar
de fuçar, fui verificar a “atualização dos
namoros e ficadas” e vi que era de apenas
algumas poucas semanas atrás. Eu não
deveria estar suspirando de alívio, porque
não acredito seriamente que possa haver
nada entre nós... Mas estou.
Ele teve uma série bastante animada de
relacionamentos. Uma porção de belas
mulheres, daquele tipo que chama a
atenção, sucumbiu aos seus encantos, a
mais notável delas sendo Larena Palmer,
uma socialite com quem ele morou
durante vários anos e com quem todo
mundo esperava que ele se casasse.
Imagino o quanto ele ficou machucado
quando ela o abandonou para ficar com o
filho de um duque e se tornou parte da
nobreza. Cadela horrorosa! Como ela
pôde fazer isso?
Opa, estou sentindo pena desse homem?
Penso no meu próprio casamento extinto.
Fiquei muito feliz de me ver fora dele, de
verdade, porque, uma vez que voltamos
de nossa lua de mel, meu ex-marido
desenvolveu o hábito irritante de acreditar
que estava certo o tempo todo e começou
a me dizer o que eu devia fazer. Mas
ainda arde um pouquinho o fato de eu ter
falhado em algo que já significou muito
para mim. Franzindo a testa, sem saber
direito se é por causa da minha própria
história ou pela de Daniel, voltei-me para
longe da tela e enchi meu copo de novo.
Sem álcool amanhã, eu prometo.
O pano de fundo familiar se mostrou
interessante também. Sua mãe era uma
brilhante cientista, tão estelar em seu
campo quanto o filho é no dele. Mas ela
desistiu de tudo, deixando de lado a
carreira para cuidar
do pai quando ele ficou doente com uma
doença crônica. No site há uma foto dela
com Daniel e, apesar de ser uma imagem
fofa, é também muito reveladora. O rosto
dela tem um ar triste e perdido, embora
ela esteja tentando sorrir, e sua expressão
se reflete de alguma forma em seu filho,
como se ele compreendesse o impacto
amargo do sacrifício que a mãe fizera.
Ele tem problemas. Há coisas em sua
vida que o marcaram. E pessoas assim
fazem coisas estranhas, mas será que são
tão estranhas a ponto de enviar em
segredo cartas eróticas todas enfeitadas
para mulheres que mal conhecem, e
depois blefar fingindo não ter nada a ver
com isso?
Voltei para o site da Universidade e
cliquei no link do e-mail. Será que ele
ainda checava essa conta? Em caso
positivo, ele responderia se eu mandasse
uma mensagem? Meu programa de correio
eletrônico abre e imediatamente eu fecho
a janela da nova mensagem. Não, eu não
vou enviar um e-mail para ele. É
arriscado demais porque, quando estou
conectada, tenho o péssimo hábito de
dizer muito mais do que eu quero...
Minha taça de vinho está me chamando,
assim como aquele estranho frisson de
medo-vontade-de-fazer-xixi-excitação.
Clico no botão de “verificar mensagens”.
Chegam alguns spams, um boletim
informativo da Amazon e então...
“Você tem uma mensagem de
Nêmeses”.
Fiquei lá, apenas sentada, quase vendo
a tela pulsando. Fico quente e gelada,
aterrorizada por um momento, me
perguntando como ele havia descoberto
meu endereço, e então percebo que a
mensagem vinha por uma rede social em
que eu tinha me inscrito há um ou dois
meses e depois nunca tinha feito mais
nada. Se o Nêmeses é tão obcecado
comigo a ponto de deixar bilhetes eróticos
apaixonados na caixa de sugestões da
biblioteca, ele certamente vai procurar
por mim em redes sociais do tipo
Facebook e MySpace, certo?
Talvez fosse melhor eu apenas deletar
essa mensagem. Acho que seria o mais
seguro a fazer. Mesmo se Daniel e o
Nêmeses fossem a mesma pessoa, acho
que entrar num contato direto com o seu
“lado negro” seria envolver-me de um
jeito bem profundo, profundo demais.
Seria envolver-me até o pescoço.
Abri o e-mail e cliquei no link porque
sou meio doida e curiosa demais para
resistir a esse tipo de coisa. Em um
instante, eu me vi no centro de mensagens
da rede social, olhando para um link que
dizia “Olá, Gwendolynne”, ladeado por
um avatar que é apenas uma imagem de
uma caneta de pena. Uma ferramenta de
escrita histórica para um historiador que
escreve bilhetes secretos?
A legenda mostrando que a pessoa
estava on-line no momento estava
piscando. Ainda há uma chance de voltar
atrás. Eu não tenho que clicar nesse link.
Eu sempre posso marcar a caixinha ao
lado da mensagem e depois clicar no
botão “apagar”... Não posso?
Dizendo a mim mesma “Não! Não!
Não!”, eu abro a mensagem. Preparandome
para mais um pouco daquela prosa
deliciosamente rebuscada e extravagante
das cartas, desvio o olhar da tela. Mas,
quando voltei, vi simplesmente um botão
para abrir um sistema de mensagens
instantâneas e o endereço de e-mail de
Nêmeses que eu já conhecia, “N3m3sis”.
Eu me sinto como se houvesse um
vórtice dentro do meu peito, girando
loucamente. Eu não posso, eu apenas não
consigo “falar” com ele em tempo real.
Isso está realmente indo longe demais, e o
que é pior, muito cedo, cedo demais.
Bem, para mim... Ele deve estar ansiando
por isso!
Clico no link do e-mail e o programa
de correio eletrônico volta à vida, e uma
nova mensagem se abre com “ele” na
linha do destinatário.
Olá? Eu digito, e então procuro pelo
meu vinho uma vez mais, olhando para
aquele espaço branco da janela de
mensagem aberta. Dou alguns pequenos
goles, deliberadamente mantendo minhas
mãos longe do teclado e do touchpad. Eu
ainda posso recuar. Mas meu copo está
vazio, e tomando fôlego clico no botão
“Enviar”. Tarde demais, só agora me cai
a ficha de que enviei a mensagem usando
meu endereço de e-mail pessoal, de forma
que ele vai saber que a mensagem era
minha... Se eu tivesse meio neurônio, teria
usado uma identidade mais anônima do
Hotmail ou do Google... Idiota! Idiota!
Idiota! Sinto vontade de fechar a tela do
meu laptop com uma pancada e nunca
mais abrir a droga dessa coisa de novo.
Mas agora já fiz...
Com meu coração palpitando, empurro
o laptop para um dos lados da cama, salto
dela e corro para o banheiro. Eu sou uma
covarde! Agacho-me no vaso, faço xixi,
me seco... E imediatamente sinto um
choque agudo de prazer. Me pego
molhada, estou tão atiçada. Mas como
diabos isso foi acontecer? Eu nem tinha
percebido... Começo a avaliar que eu
precisaria fazer algo com relação a isso,
mas sinto o computador esperando.
Esperando como se Nêmeses estivesse no
quarto batendo os dedos, impaciente com
a minha covardia.
Quando voltei, notei que o programa de
correio eletrônico tinha verificado
automaticamente a chegada de novas
mensagens e que havia uma resposta.
Quase não me atrevi a abri-la, mas
quando o fiz percebi que lá estava o link
para as mensagens instantâneas de novo, e
as palavras:
Com medo de “falar”?
Sem dar a mim mesma a chance de
vacilar, enviei uma resposta dizendo
“não” e abri o programa de mensagens
instantâneas em uma janela de tela cheia.
E lá está ele de novo, o ícone de caneta
de pena, e o meu avatar, uma imagem
pouco criativa e sem imaginação de um
livro ao lado de meu apelido, que é
“garotadabiblioteca”.
O cursor pisca uma vez e duas. Será
que ele estava com medo? Começo a
teclar.
GAROTADABIBLIOTECA: Você está aí?
Nada, então me sirvo de mais um pouco
de vinho. Obviamente, o sujeito era só
conversa, e na hora da ação nada... Não
acho que o Nêmeses e o Daniel possam
ser a mesma pessoa, afinal de contas. O
Professor Gostoso pode ser uma porção
de coisas, mas ele não me parece ser um
covarde.
Então o ícone da conexão começa a
piscar e... Aqui está ele.
NÊMESES: Olá, Gwendolynne. Como é
delicioso conversar com você de
verdade, finalmente. Estive esperando
por esse momento por muito tempo.
Será que isso seria um indício? De
repente, ele é um frequentador regular da
biblioteca e vem fantasiando comigo
durante meses até que agora a coisa
evoluiu, e ele escreveu tudo o que sentia
no papel, colocando o dedo na ferida?
Agora a coisa ficou realmente
assustadora.
GAROTADABIBLIOTECA: Por quanto
tempo?
NÊMESES: Desde que vi você pela
primeira vez, sua deliciosa. Desde que
eu a vi pela primeira vez e meu pau ficou
duro com a visão de seu corpo
maravilhoso.
GAROTADABIBLIOTECA: Sério? E
quanto tempo faz isso?
Há outra pausa dolorosa, e eu percebo
que estou prendendo a minha respiração.
Inspirei profundamente, sentindo-me tonta,
meio chapada, fora de mim.
NÊMESES: Bem, isso seria revelador.
Vamos dizer que pelo tempo suficiente
para que me tornasse totalmente
apatetado por você.
Uma pausa.
NÊ M E S E S : Tempo suficiente para
perder a conta de quantas noites eu me
masturbei dormindo, sonhando que você
estava ao meu lado... Nua.
Ops... Aí vamos nós.
NÊMESES: Ou talvez eu devesse dizer
debaixo de mim, e nua?
No minuto em que isso apareceu na
tela, eu desejei que acontecesse. Já faz
muito tempo desde que eu fiz sexo de
verdade, e não apenas brincando comigo
mesma ou apelando para meu vibrador. A
cama não era especialmente espetacular
com meu marido, mas não era de todo
ruim, e uma garota sempre pode
compensar o que falta com fantasias. Mas
agora eu me sinto como se tivesse sido
eletrocutada por um relâmpago. Percebo
agora que Nêmeses é muito daquilo que
eu estava fantasiando durante o tempo
todo enquanto fazia sexo com meu exmarido:
um amante misterioso, sem rosto,
obscuro que pode ou não ser real. De
repente, não importa mais tanto saber
quem ele realmente é. Eu estou me
conectando com a fantasia, e não com a
realidade.
Eu sorrio, pronta para me divertir.
Todos os meus medos, ou pelo menos a
maior parte deles, foram derretidos pela
junção daquela excitação, tanto mental
quanto física:
GAROTADABIBLIOTECA: Bem, afinal,
quem é você, Nêmeses? Ou está com
medo de me contar?
Há outra longa pausa, mas de alguma
forma eu sei que ele está sorrindo
também. Com o tesão, ele sente a mesma
sensação de desafio que eu.
NÊMESES: Não, não estou com medo...
Apenas relutante em detonar o jogo
assim tão cedo.
Agora, é a minha vez de fazer com que
ele espere. Será que eu devo pressionar
ou devo me segurar? Apostar tudo ou
esconder as minhas cartas? Meu peito se
comporta como se eu tivesse sofrendo de
uma leve apoplexia ou algo parecido.
Aperto minha mão no peito, como se isso
pudesse acalmar as batidas de meu
coração.
GAROTADABIBLIOTECA: Muito justo,
mas eu vi você hoje na biblioteca? Você
me viu?
Isso foi vago o suficiente. E foi também
um milagre de autocontenção,
considerando-se que a pergunta “Você é o
Daniel Brewster” está piscando dentro de
meu cérebro.
NÊMESES: Você me viu, sim. Eu vi
você. E estava maravilhosa. Elegante.
Um ícone de sensualidade arrumada,
profissional. Eu queria me jogar ao
chão, ajoelhado a seus pés, e então
levantar a sua saia e esfregar meu rosto
contra suas meias finas, enquanto
respirava o seu perfume e o cheiro da
sua boceta.
Se ele continuar assim, é capaz de eu
mesma fazer o que ele diz. Na verdade,
estou quase lá. Estou molhada e vazando
de novo, toda úmida e melada. Eu gostaria
que ele estivesse aqui, seja ele quem for.
Eu vejo aquela imagem do homem
mascarado de novo, misterioso e
ameaçador. Enganoso.
Aquela imagem dele se ajoelhando
diante de mim é apenas um truque da
imaginação. A última coisa no mundo que
esse homem deve ser é submisso.
GAROTADABIBLIOTECA: Você pretende
me idolatrar, é isso?
Enquanto o cursor pisca, fico
imaginando uma figura escura ficando de
pé e então aproximando-se de mim. Em
minha mente ele está usando roupa preta,
e aquela máscara... É de couro e cobre
boa parte de seu rosto, lembrando-me do
capuz do carrasco, e tão ameaçador
quanto...
NÊMESES: Algumas vezes...
Ah, que riqueza de promessas em uma
única expressão. Minha mente está
preenchida com as imagens dos livros de
fotografia “proibidos”, e das cenas de
erotismo imaginadas que li. Nêmeses é um
nome que realmente está de acordo com
seu título proibitivo, embora se leve em
conta que, na mitologia, o nome pertencia
a uma vingativa deusa feminina. Ele
parece ser alguém combativo, dominante,
em busca de algum tipo de retribuição,
embora para que eu realmente não faça
ideia. Talvez para toda essa fantasia, não
sei. Suponho que eu estivesse traindo meu
marido ao não pensar nele enquanto
estávamos na cama.
GAROTADABIBLIOTECA: E o que você
quer fazer comigo nas outras vezes?
NÊMESES: Quero que você me
obedeça... E que me permita instruí-la e
expandir os horizontes de sua
experiência e de sua sexualidade.
Bingo!
GAROTADABIBLIOTECA: E por que eu
iria querer fazer isso? E se eu gosto de
meus horizontes exatamente onde eles
estão agora? E se eu sei mais do que
você pensa que eu sei?
NÊMESES: Eu acho que nós dois vamos
descobrir que existe muito mais a
aprender quando seguirmos em frente.
Você está se divertindo agora, não está?
Pausa.
NÊMESES: Não sei se você percebeu,
m a s consegui fazer com que você me
obedecesse hoje à noite ao fazê-la se
envolver nesta conversa. Quando eu
apostaria que toda essa coisa seria
exatamente contrária à sua vida
tranquila e ao seu bom-senso de
bibliotecária.
GAROTADABIBLIOTECA: E quem disse
que eu tenho uma vida tranquila e
pacata? Você não sabe se eu sou uma
fanática por raves e tenho dúzias de
namorados e faço sexo o tempo todo.
O quanto será que ele sabe sobre mim?
Será que vem me espionando quando saio
da biblioteca? De repente, ele está me
perseguindo de verdade!
NÊMESES: Bem, nesse caso, só espero
que essas dúzias de homens tenham
consciência exata de quanto eles são
sortudos. Afinal, você vai me obedecer?
Estou tremendo. Com dores. Nunca me
senti tão excitada assim. Meus mamilos
estão tão duros e eretos que quase doem, e
os fundos de meu pijama estão molhados
por entre as pernas, quase como seu
tivesse feito xixi nas calças.
NÊMESES: Você vai me obedecer?
Aquela repetição me faz lembrar que
estou arrepiada. Os restos daquilo que ele
chama curiosamente de bom-senso de
bibliotecária estão morrendo em brasa,
prontos para serem massacrados com um
“Manda ver!”. Mas eu não desisto assim
tão facilmente. O desafio de toda uma
vida não morre no espaço de um simples
bate-papo on-line.
GAROTADABIBLIOTECA: Sim... Mas
como você vai saber se estou obedecendo
ou não? Se você me dissesse para fazer
alguma coisa agora, como saberia se fiz
o que você disse? Eu nem tenho uma
webcam...
Isso felizmente era verdade. Se eu
tivesse que o ver, e ele a mim, tudo isso
se desintegraria. É o anonimato, ou o
pretenso anonimato se ele for mesmo
Daniel, que é tão emocionante.
NÊMESES: Confiança, minha querida.
Vou levar a coisa na confiança. O que
coloca o ônus em você de não trapacear.
Fecho meus olhos por alguns instantes e
parece que vejo os olhos dele,
emoldurados por essa máscara. Eles são
escuros e brilhantes e brincalhões. Eu
gostaria de poder arrancar essa máscara
para registrar sua beleza perigosa.
GAROTADABIBLIOTECA: Pois eu não
sou uma trapaceira.
Ah, mas é claro que eu sou. E sou uma
grande mentirosa também, levando em
conta toda aquela traição que fantasiei
com meu marido.
NÊMESES: Acredito em você. Agora, o
que você está vestindo?
Mordi meus lábios. É aquele velho,
supervelho jogo do sexo-portelefone/
sexo virtual, e fiquei quase
desapontada com ele. Mas não muito.
Será que devo contar uma mentira? Estou
ficando tão nervosa e tão excitada que
poderia explodir. Estou me sentindo como
caramelo derretido fervendo em cima do
fogão, e é quase literalmente assim entre
as minhas pernas. Decidi me
comprometer. Conte um pouco da
verdade, mas com um tanto de
desorientação. Afinal de contas, ele
praticamente não me deu nada de seu lado
do quebra-cabeça.
GAROTADABIBLIOTECA: Pijama de
seda... Vermelho. Bem colado no corpo.
Na verdade, estava usando pijamas de
algodão listrados de azul e branco.
NÊMESES: Ah, uma sedutora secreta...
Amante de seda e cetim... Eu estava certo
sobre você. Imaginando o exotismo que
se esconde sob o seu tão apropriado
traje para usar em uma biblioteca. Você
está me deixando duro, muito duro...
Mas espero que perceba isso, não é?
Ah, ah... Então ele não é bem o telepata
ou o sujeito que ficaria me espreitando de
longe que eu temia. Agora, tenho uma
pequena vantagem sobre ele, uma moeda
de troca nesse jogo. Estamos os dois
brincando um com o outro, e eu gosto
disso.
GAROTADABIBLIOTECA: Bem, eu estava
meio que esperando que você ficasse
duro, senão que graça teria tudo isso,
não é mesmo?
Silêncio por um minuto.
NÊMESES: Bem, nós poderíamos
apenas ser amigos...
Ele termina a frase com um smiley
sorridente.
GAROTADABIBLIOTECA: Mas com
alguns extras?
NÊMESES: RS. Mas é claro... Você está
molhadinha?
Eu estava perto de ficar ensopada
quase antes de começarmos.
GAROTADABIBLIOTECA: Sim.
NÊMESES: Oh, delícia! Achei mesmo
que estaria. Diga-me o quanto está
molhada. Está umedecendo todo o seu
pijama? Esse seu mel delicioso está
escorrendo para o rego de sua bunda?
Deixei escapar um gemido. Não pude
evitar. Meu suco está mesmo escorrendo.
Ele está transbordando de minha boceta,
como se fosse o néctar de uma flor, cheio
até a borda e escorrendo. Eu me mexi um
pouco, ajustando o laptop entre minhas
coxas, e um fio deslizou entre a parte de
trás da coxa e a minha bunda. Eu nunca
estive tão molhada antes na minha vida.
GAROTADABIBLIOTECA: Estou muito
molhada. Há uma grande área úmida na
parte de trás de meu pijama e está
escorrendo. Posso sentir isso na parte de
dentro de minhas coxas.
Hesitei apenas uma fração de segundo.
GAROTADABIBLIOTECA: Isso deixa
você ainda mais duro?
Dentro de minha mente, ouvi uma
risada macia, muito masculina, e os lábios
que estão por baixo do imaginário capuz
de couro se curvam em um sorriso que é
metade sensual, metade ameaçador.
NÊMESES: Mas é claro que sim, você
sabe que sim. E você está se achando,
Senhora Bibliotecária Sexy.
Agora, isso devia me deixar irritada,
indignada. Mas não foi o que aconteceu,
eu só fiquei mais quente e com mais tesão
do que nunca. Eu sentia minha vulva
inchada, túrgida, dilatada. Necessitada.
Abri minhas coxas, desejando que
pudesse largar o laptop de lado e apenas
me comunicar com Nêmeses por telepatia,
desembaraçada da eletrônica e da
tecnologia.
Eu queria que ele estivesse aqui, para
que pudesse estender a mão e tocar no
meu clitóris.
GAROTADABIBLIOTECA: E quanto a
você? Como é seu pinto? É grande?
Eu estou me sentindo como se pudesse
dizer qualquer coisa para ele e, ao mesmo
tempo, estou gostando de verdade dessa
sensação de estar sob o controle dele.
Sinto como se a minha personalidade se
dividisse em duas, do mesmo modo como
deve ter acontecido com a dele, e a ideia
de ser tanto real quando uma figura de
fantasia me deixa tonta, com vertigens.
NÊMESES: E você ainda me provoca,
não é, Gwendolynne? Você é uma mulher
muito ousada e estimulante. Se eu
descrever meu pau para você, você vai
ter que pagar um preço justo por isso...
Você entende isso?
As batidas de meu coração se
aceleraram outra vez, e eu me afundei
contra o colchão. Meus pijamas e meus
lençóis estão ensopados agora, mas não
me importo com isso.
GAROTADABIBLIOTECA: Sim, eu
entendo. Acho justo.
NÊMESES: E então, vamos lá.
Ele faz uma pausa e eu imagino que
esteja olhando para baixo, para seu
próprio corpo, formulando as palavras
que iria usar para descrevê-lo. Eu me
pergunto se ele é como um monte de
outros homens, propenso a avaliações
distorcidas e exageradas quando se trata
de seu precioso equipamento.
NÊMESES: Eu me classificaria como
algo “apresentável”. Não é enorme,
gigantesco, mas estou contente com o
que tenho e com o modo como funciona.
E adoro como ele se sente quando me
toco pensando em você. Do jeito que
estou fazendo agora...
A visão de Daniel no banheiro flutua
diante de mim com uma clareza dolorosa,
e então de alguma forma ela fica
misturada com a do homem com a
máscara de couro. Vejo Daniel usando
uma máscara como essa, nu em cima de
uma cama, mexendo em seu pau
furiosamente, contorcendo-se nos mesmos
lençóis de seda branca que foram
elogiados por Nêmeses em sua carta. E
Daniel é mais do que apresentável.
Mas uma coisa não está combinando...
Estou tendo problemas em digitar e ao
mesmo tempo suportar essa vontade
imensa e urgente de me tocar lá embaixo.
Como será que o Nêmeses está lidando
com isso?
GAROTADABIBLIOTECA: Como você
consegue digitar e se masturbar ao
mesmo tempo?
NÊMESES: RS.
GAROTADABIBLIOTECA: Estou falando
sério, estou tendo problemas com isso
por aqui, então imagino que você
também tenha.
NÊMESES: Talvez eu esteja usando um
programa ativado por voz. Você pensou
nisso?
GAROTADABIBLIOTECA: Tipo voip? Um
chat de voz? É isso que você quer?
O cursor pisca e pisca. De repente, eu
não quero mais isso. Ouvir a voz dele irá
dissolver todo esse suspense. Se for o
Daniel, ou outra pessoa com quem já
estive cara a cara na biblioteca, será
alguém que eu conheço, e daí esse
estranho jogo já era. E não saber quem é,
mesmo que eu tenha as minhas suspeitas, é
algo mais libertador. Eu sei que posso
dizer qualquer coisa para Nêmeses
enquanto não souber quem ele é, uma vez
que, quando souber, certamente terei que
me fechar. A mágica pode desaparecer, e
eu poderia nem mesmo querer brincar
mais...
NÊMESES: Quem sabe, num outro dia...
Mas ainda não. Gosto bastante dessas
pequenas pausas, quando não consigo
mais me tocar. Isso faz aumentar a
antecipação, e faz com que os toques
sejam ainda mais prazerosos quando
eles ocorrem.
Por um momento, quase parei de pensar
sobre sexo e pude sentir a insinuação de
algo mais profundo, mais intenso. Uma
comunicação diferente. Pensamento
sincronizado...
GAROTADABIBLIOTECA: Isso mesmo, é
assim que eu me sinto!
NÊMESES: Ótimo. Eu achei mesmo que
você entenderia. Mas agora chegou o
momento de pagar aquele preço que eu
mencionei antes. Você não se esqueceu
disso, certo?
GAROTADABIBLIOTECA: Não, vá em
frente, dê o seu melhor...
Novamente, ouço aquela risada
estranha, suave, anônima dentro de minha
cabeça. É uma voz, e não uma voz, mas
tão real que é como se fosse o golpe de
uma pena através da ponta de meu clitóris
dolorido. Minha boceta treme e eu me
espremo de novo enquanto aguardo o
“preço” do Nêmeses.
NÊMESES: Tire a calça do pijama.
Quero saber que a sua boceta está
exposta. Disponível para mim se eu
estivesse aí a seu lado. Eu gosto disso.
Eu gosto da ideia de ela estar
constantemente à minha disposição,
sempre ao meu alcance. Sempre ao meu
comando.
Não consigo respirar mais. Minha
cabeça está parecendo mais leve do que o
ar. É uma espécie de desmaio, mas não é
um mal-estar, é como se eu tivesse bebido
toda a garrafa de vinho sem sentir nenhum
de seus efeitos, a não ser aqueles que
deixam você meio que intoxicada,
sonhadora, livre... Meu sexo pulsa forte,
reconhecendo o seu mestre.
NÊMESES: Gwendolynne? Você está
pronta para me obedecer?
GAROTADABIBLIOTECA: Sim, estou
fazendo isso agora.
NÊMESES: Boa menina. Seu sexo me
pertence. Deixe-o nu para mim.
Pronto, agora isso ficou mesmo bem
profundo! Envolvida até o pescoço!
Empurrando o laptop para o lado, arranco
as calças de meu pijama. A virilha está
encharcada e eu posso sentir a umidade
abaixo de mim, se espalhando pelo lençol.
E como se o que está entre as minhas
pernas fluísse para seu mestre. Olho para
baixo e vejo aquele sedoso pedacinho do
corpo com os pelinhos castanhos, e então
fecho meus olhos como se pudesse enviar
aquela imagem através do éter
diretamente para o Nêmeses.
Eu sei que ele está esperando para
saber de mim, mas eu me sinto rude e
desenfreada. Eu quero brincar. Essa área
entre as minhas pernas é o meu brinquedo,
assim como é dele. Eu levanto meus
joelhos e abro bem as minhas coxas para
poder ver melhor. Ver a vermelhidão
aveludada e brilhante, meus lábios e meu
clitóris e o interior da entrada, tudo
inundado pelo meu néctar.
Aqui está ela! Veja! Ela é sua! Eu o
chamo em silêncio, abrindo mais as
pernas. Coagida a não tocar a sua posse
antes que ele me desse licença para fazer
isso, ponho minha mão por baixo do
casaco de meu pijama e toco meus
mamilos.
Foi um erro. Acariciar os meus seios só
faz coisas diabólicas com o meu clitóris.
Ele pulsa, palpita, se enche até a borda.
As lágrimas começam a escorrer pelos
cantos de meus olhos e eu belisco meus
mamilos com força, como forma de
punição. Gemendo em voz alta, fazendo
barulhos que não me lembro de ter feito
antes, viro de lado e vou olhar a tela.
NÊMESES: Gwendolynne?
Sofrendo de um agudo desconforto,
volto à posição normal e começo a
digitar.
GAROTADABIBLIOTECA: Desculpe...
Eu... Fiquei excitada demais. Minha
boceta está nua, agora.
NÊMESES: Você a tocou, por acaso?
Você sabe que eu não lhe dei permissão
para fazer isso. Ficarei muito
desapontado se tiver antecipado as
minhas instruções.
Eu suspiro. Estou me afogando em
desejo, doendo de vontade de gozar, mas
a ideia de desapontar o Nêmeses me
esmaga.
GAROTADABIBLIOTECA: Não! Eu não
toquei ali. Eu queria... Sofro... Acho que
não vou aguentar por muito mais
tempo... Mas eu não fiz isso.
Meu corpo arqueia por vontade
própria, atormentado pela negação. Grito
em silêncio, pedindo por uma permissão
enquanto sinto mais de meu sumo
descendo pelas curvas, cobrindo meus
delicados tecidos e escorrendo pela
minha bunda.
NÊMESES: Mas alguma coisa você fez.
Eu podia jurar que ele estivera me
observando, mas não tenho uma webcam.
Talvez ele apenas me conheça melhor do
que eu mesma...
GAROTADABIBLIOTECA: Só brinquei
com meus mamilos. O que é a segunda
melhor coisa a fazer...
Ele sorri. Em minha mente. Acabo de
ver uma boca, forte e esculpida, mas
também exuberante e cheia de desejo.
Dentes brancos brilhando. Alegria
absoluta. Eu vejo um homem nu
debruçado sobre meu corpo, lindos
cabelos escuros e despenteados que
pairam sobre minhas coxas e a minha
barriga. É Daniel, porque ele é o único
homem nu que vi recentemente. Seus
lábios estão franzidos.
NÊMESES: Talvez em alguns aspectos
isso seja a mesma coisa. Ainda assim, é
uma transgressão. Um dia, quem sabe,
farei com que você goze sem tocar seu
clitóris. Vou brincar com seus mamilos
até que você fique do avesso. Vou tocar
em tudo, menos em sua boceta... E então
quando você estiver a meio caminho
perdendo a cabeça de frustração, vou
sugar seu clitóris... E então você vai
gozar.
Certo! É isso! Chega, já foi longe
demais!
Ou não, foi longe de ser suficiente.
Aperto a minha mão em minha boceta e
mergulho nela com o meu dedo do meio.
Só é preciso dois toques rudes e estou
gozando como um trem expresso, fico
momentaneamente cega, surda e muda,
incapaz de pensar em qualquer coisa que
não seja aquele paraíso branco entre as
minhas pernas. Eu me agito
descontroladamente e o lado de minha
mão acerta a borda da tela do laptop. Há
uma pontada de dor, mas isso está a mil
quilômetros de distância e não pode me
alcançar.
Minutos ou segundos mais tarde, ainda
estou ofegante. Meu peito arfa como um
fole, e minha boceta ainda parece
inteiramente em outro lugar. Eu me
esforço para me concentrar de novo e
olho para a tela do computador.
Surpreendentemente, não quebrei o laptop
durante meus minutos de êxtase, e na
janela do chat as palavras brilhavam para
mim, acusadoramente.
NÊMESES: O que você está fazendo,
Gwendolynne?
Elas se repetem e se repetem.
NÊMESES: O que você está fazendo,
Gwendolynne?
NÊMESES: O que você está fazendo,
Gwendolynne?
5
Penalidade
Hoje é o dia seguinte e estou me sentindo
como se estivesse de ressaca. Mas não é
ressaca de bebida alcoólica. Não bebi
muito vinho não. Agora é um novo
fenômeno – é uma ressaca de sexo. Eu
tenho aquele tipo de sensação meio vaga
de inquietação desfocada, uma espécie de
sentimento de culpa que sempre me dá
quando rola algo assim, desperdiçado. a a
permanente sensação de estar fora do
espaço-tempo, fora da realidade.
O que realmente aconteceu ontem à
noite? Parece que foi um sonho. Será que
eu assisti a algo na televisão quando eu já
estava meio dormindo? Eu realmente não
tenho como acreditar que aquilo foi real,
não sou o tipo de pessoa que faz coisas
desse tipo.
Mas eu devo sim ter feito. Tem uma
mancha de umidade em uma parte do
lençol, que era onde eu pingava quando
estava excitada demais para pensar
direito. E além do mais, tem a transcrição
do bate-papo. Eu imprimi e me dá um gelo
e uma reviravolta no estômago quando
leio. Suponho que devo estar abrigando
uma vaga ideia de desafiar Daniel com
isso. Mas, na realidade, não estou muito
segura dos meus propósitos. Se eu
confrontar o blefe do Nêmeses, o jogo vai
terminar antes mesmo de começarmos de
verdade. E hoje ainda preciso lidar com a
penalidade imposta por ele quando admiti
que tinha chegado ao clímax.
NÊMESES: Você é teimosa,
Gwendolynne. Agora vai ter que pagar.
Mudo de posição na minha mesa na
seção de pesquisas. Agora, eu preciso
pagar.
Não é nada realmente desconfortável,
mas é muito, muito estranho. Minha
punição é vir trabalhar sem usar calcinha.
É um pouco assustador – e bem arejado,
por assim dizer. E caso você não saiba,
hoje o dia amanheceu mais frio e há um
vento brincalhão soprando nas minhas
regiões inferiores que me deixa
absolutamente consciente a todo instante
da minha nudez escondida.
Eu me sinto bem, até mesmo feliz com
esta distração. Posso dizer que estou grata
pela excitação. Havia uma
correspondência bem menos divertida na
caixa de cartas hoje de manhã, outra série
interminável de cartas vindas do
advogado do meu ex-marido, outro
bombardeio em sua campanha para me
convencer a vender a nossa casa. Eu
gostaria de ter me separado pensando
alguma coisa pelo menos positiva sobre
esse homem, mas ele está deixando a
porra da coisa cada vez mais difícil com
suas demandas injustas.
Tudo isso torna as cartas impertinentes
e atrevidas de Daniel/Nêmeses um
presente delicioso. Nem mesmo os meus
sonhos mais ousados teriam vindo com
uma solução melhor para me distrair e
levar minha mente para bem longe de
meus problemas. Um estímulo gigantesco.
Um jogo insano, louco. Uma batalha de
vontades que me deixa louca, viva,
animada. Sinto-me deliciosamente exposta
e disponível, mesmo com minha saia bem
modesta e numa medida que vai até o
joelho. É como se todos os homens da
biblioteca de repente tivessem
desenvolvido olhar de raios x e agora
estivessem apreciando a vista da minha
boceta.
Todo homem que eu encontro hoje
parece que tem um sorriso meio sacana.
Mesmo nos sons mais inócuos, mesmo que
seja num simples cumprimento, vem um
ruído com duplo sentido. Eu devo ter
encontrado no mínimo dez homens hoje
que poderiam perfeitamente ser Nêmeses,
ainda que o principal suspeito não tenha
dado as caras nesta manhã até agora. Ele
pode estar no seu covil, mas eu estou
ocupada demais para visitá-lo. E quanto
mais o dia avança, mais nervosa e
saltitante eu fico por dentro. Porque a
punição tem um adendo.
Não é obrigatório, mas Nêmeses me
desafiou a fazer alguma coisa. Que seja
algo absurdo. Doido. Perigoso. Eu posso
ser demitida se algo der errado. Eu tenho
que revelar a minha ordem durante o
passar do dia. Seja por acidente ou
intencionalmente, preciso mostrar isso
para alguém.
Hoje o quadro de funcionários está
completo. Tracey pode me cobrir na
minha hora do café, e mesmo ela me envia
um olhar de cumplicidade.
— Vai descer até o arquivo?
Seus olhos se estreitam enquanto
deslizo de forma desajeitada para fora do
banco a fim de pegar alguns livros que
precisam descer para as prateleiras lá
embaixo.
— Melhor não deixar seu namorado
esperando... – completa ela.
— Do que você está falando? Ele não é
meu namorado.
— O Professor Gostoso... A Josie o viu
indo para o jardim um dia desses, assim
que você saiu, e ele obviamente estava
seguindo você. E na noite passada, antes
de ir embora, ele parou para conversar
com você.
— E daí? Que eu saiba, o jardim é
público. Ontem à noite ele estava sendo
apenas sociável. Nada mais do que isso.
Se bem que eu adoraria que fosse mais...
Ela ri:
— E dá para perceber muito bem
quantas vezes você aparece para arquivar
e engavetar coisas no porão todos esses
dias. – Seu olhar penetrante cai sobre a
pilha de livros que eu tinha separado...
Para levar ao porão...
Agora isso é um pouco alarmante. Meu
rosto deve estar demonstrando.
— Oh, não se preocupe. Eu e a Josie
estamos notando as coisas, mas somos
apenas nós, o chefão não sabe de nada.
Seu namoro secreto está seguro entre nós.
— Não há nenhum namoro secreto!
Eu sibilo enquanto ela se senta no
banquinho. Ah, deve ser tão menos
preocupante sentar no banco com
calcinha. Estou relativamente aliviada
com as notícias sobre o Senhor Johnson,
bibliotecário-chefe. Eu não acho que ele
aprovaria qualquer tipo de
confraternizações, digamos,
“extracurriculares” com o nosso
convidado célebre.
— Tudo bem, como você quiser... –
ronrona Tracey ao mesmo tempo que
regista algo em sua mesa. – Agora, desça
ao porão, porque seu príncipe a espera!
Eu lanço a ela um olhar daqueles mais
comportados e saio a toda velocidade.
Fecho a porta principal da área de
empréstimo da biblioteca atrás de mim e
minha respiração fica ofegante. É muito
mais do que a minha calcinha que sinto
que estou sem, é minha saia, minha blusa,
meu tudo. Sinto que minha vulva é um
caldeirão de hormônios fervilhantes.
Estou pirando, juro!
Depois de um minuto ou dois, começo a
descer as escadas tentando dizer a mim
mesma, na verdade procurando me
convencer de que está tudo bem e dentro
da mais perfeita normalidade. O que estou
fazendo? Ah, apenas descendo umas
escadas! Mas eu fico o tempo todo
pensando: “será que ele está aqui? Será?
Onde ele está?”
Estive a ponto de perder a respiração
quando vi aquele grupo de luzes acesas no
corredor, em cima das pilhas de papéis.
Ele está aqui? Daniel está aqui? Nêmeses
está aqui? Ou ambos?
Eu ando calmamente pelos corredores
através das longas fileiras das altas
estantes de livros. O local de trabalho de
Daniel não está tão iluminado como de
costume e não há nenhum ruído. Que
diabos ele estará fazendo? Imediatamente
eu o imagino se masturbando. Eu o vejo
deitado na sua cadeira de diretor, roubada
de algum lugar, seu zíper se abrindo, seu
magnifico pau empinado para fora da
calça como uma lança vermelha,
segurando-o firmemente com as pontas
dos seus dedos, deslizando para cima e
para baixo.
Agora estou rastejando, avançando
lentamente. Vou deslizar ao virar para o
próximo canto. Não sei o que esperar,
mas desejo ver algo semelhante ao
espetáculo impressionante que vi ontem.
Ele está recostado na cadeira, de
pernas abertas, cabeça inclinada para trás.
Ele não está se masturbando, mas usando
uma máscara, uma droga de uma máscara!
Eu estremeço toda e quase deixo cair
uma pilha de livros assim que o vejo.
Infelizmente não é meu fetiche bizarro –
onde ele usa roupas de couro – mas
parece ser uma compressa azul-clara
pressionada sobre seus olhos como em
Psicopata americano. Ele está segurando
com as duas mãos, parece tenso e está um
pouco pálido. Seu corpo parece estar
numa posição desconfortável também.
— Gwendolynne?
Lentamente, como se estivesse sentindo
dor, ele levanta a compressa para longe
do seu rosto, coloca-a de lado e se
levanta, com olhar delatando
instabilidade. Seus olhos, que
normalmente são tão bonitos, estão
avermelhados e parecem irritados. Ele
pisca intensamente, olha na minha direção
e inclinando a sua cabeça não tira o olhar
de cima de mim. Ele corre os dedos pelos
seus cabelos, faz massagens no couro
cabeludo, acaricia a parte traseira do seu
pescoço como se fosse feita de vidro.
Mas que diabos há de errado com ele?
Ele procura seus óculos, que estão
sobre a mesa de trabalho, e, uma vez que
se certifica de que estão no lugar em seu
rosto, parece se recompor e me olhar, e
me dá um sorriso incerto.
Não é Nêmeses.
— Tudo bem com você?
É uma pergunta redundante. Ele não
parece nada bem. Quase como se não
percebesse, empurra novamente os óculos
e esfrega os olhos.
— Há algo de errado com seus olhos?
— Não, tudo bem... Eu só estou um
pouco cansado, só isso.
Bem, é mais do que isso... Qualquer
idiota pode perceber que ele está
sofrendo. Aqueles lindos olhos mostram
que ele está mentindo sobre algo. Ele está
preocupado. Ou até mesmo com medo. Há
sombras, sombras escuras, em meio às
olheiras.
— Você tem certeza?
— Absoluta! Não exagere! – Ele
responde secamente, com seu corpo
reagindo e expulsando os últimos sinais
de fraqueza. – E como você está? E suas
cartas secretas?
Por talvez um quinto de segundo, eu
penso na carta do advogado, mas
violentamente expulso este pensamento. A
maneira como Daniel torce sua boca e
toda a sua expressão se ilumina, torna a
coisa bem mais fácil. Se há uma coisa que
pode garantir o bom funcionamento de um
homem e levá-lo para longe de suas
preocupações é o sexo. E funciona tão
bem quanto para os pensamentos
assassinos de uma mulher com relação ao
seu ex-marido.
— Bem, não é exatamente uma carta,
mas algo como uma “correspondência” –
respondi deliberadamente de forma bem
vaga, para o atormentar.
Ele me dá um olhar muito profissional,
da série “por favor, aprofunde mais sua
resposta, aluna recalcitrante”.
— Chat. On-line. Tive um bate-papo
com Nêmeses ontem à noite.
— Sério?
Oh, se ele é Nêmeses, ele é mais
inteligente do que eu pensava que fosse.
Sua voz está perfeitamente neutra. Não
está afetado, mostra certo desinteresse,
nem provocante nem entusiasta. O tom de
voz é perfeito para alguém que está
ligeiramente curioso e não mais do que
isso, talvez um pouco preocupado, mas
observando o fenômeno de fora.
— Você quer falar algo a respeito
disso? Ou é somente algo que prefere não
compartilhar com terceiros?
Ele fala isso enquanto percebo que seus
lábios estão um pouco franzidos. Será que
está com ciúmes? Será que ele vai se
sentir excluído? Ou é apenas mais uma
atuação fenomenal graças ao seu preciso
desempenho?
— Sim, está tudo bem, tudo certo. Nada
demais.
Na verdade, não é “nada de mais” e
sim “tudo a mais”. Eu estou me sentindo
louca para compartilhar isso com ele,
independentemente se ele é Nêmeses ou
se é apenas um espectador inocente nessa
história toda. Se ele não for um
espectador, as palavras são muito
reveladoras; e se ele for, eu estarei ainda
mais enredada neste jogo tão estranho
com um jogador muito esperto. Agora não
há mais como voltar atrás, nem para
minha mente nem para meu corpo.
— Você tem como ficar aqui por mais
algum tempo?
Ele me pergunta enquanto caminha em
torno da mesa bagunçada, ao mesmo
tempo que puxa uma cadeira para mim,
uma daquelas do tipo executivo antiga,
caindo aos pedaços, com estofamento
aparente saindo por aqui e ali.
— Sim, posso sim. Agora é a minha
pausa do chá. Eles são flexíveis e ainda
estão me devendo algumas horas extras.
O que é mentira, claro, mas eu sei que
Tracey vai cobrir o meu horário. Ela
parece estar certa. Determinada que eu
saia com o Professor Gostoso.
— Qualquer coisa, você pode dizer que
estava aqui me ajudando na minha
pesquisa.
Ele vai em direção a sua bolsa,
mergulha a mão nela como se estivesse
procurando por algo, não sem antes me
dar daquelas piscadas dúbias que não dá
para saber ao certo o que rola. Quando
ele aparece novamente, está segurando
duas pequenas caixas individuais de suco
de maçã e dois canudinhos e um grande
saco de batatas fritas.
Oh céus! Como pôde? Um piquenique?
Tecnicamente não é nada adequado trazer
comida e bebida para nenhum ambiente da
biblioteca. Mas quem se importa com isso
agora? Afinal de contas, Daniel é um
convidado de honra, e a ele são
permitidas algumas liberdades.
— Puxa! Muito obrigada! – O suco de
maçã é tão doce que parece soltar da
minha língua. – Sim, foi muito selvagem o
que rolou na noite passada. Eu nunca tinha
feito nada parecido antes. O anonimato faz
você se sentir mais solto, você pode fazer
ou dizer qualquer coisa. É realmente
libertador.
— Mas como ele encontrou você?
Como encontrou seu e-mail, ou que quer
que seja? – Ele deu uma profunda golada
como se fosse uma criança em idade
escolar. A maneira como ele sorri por
detrás da caixinha de suco é simplesmente
adorável. – Eu diria que é um pouco
preocupante, sim – continua Daniel,
franzindo um pouco a testa. – Você está
brincando com fogo, Gwendolynne, acho
que deveria ser mais cuidadosa.
Sim, brincando com fogo, isso sim, e já
me sinto assando na grelha exatamente
agora.
— Ele me encontrou no MySpace,
enviou uma mensagem. Depois um convite
para um bate-papo.
Daniel dá os ombros, balança a cabeça
como se estivesse desconsolado com
aquela aluna imbecil de novo.
— Bem, veja só Professor Sabe-Tudo...
– continuei. – Eu sei que isso pode
parecer temerário para você, mas é
emocionante!... Excitante! E se você
tivesse que trabalhar o tempo todo num
lugar como este, tão antiquado, você não
sentiria vontade de correr um risco de vez
em quando? E mais ainda... – Putz, como
explicar isso para ele? Como eu me
atrevo a desafiá-lo? Como eu posso dizer
que, mesmo que Nêmeses não seja ele, sei
que o cara não vai me machucar? – Bem,
quem quer que seja esse Nêmeses, eu não
acho que ele possa me causar um dano
real. Mesmo sendo um estranho, de
alguma forma parece um sujeito benigno
para mim.
Agora é a minha vez de sorver o suco, e
os dois rimos.
— Falando com sinceridade – continuei
–, eu não tenho nenhuma intenção de fazer
ou dizer algo que realmente eu não queira.
Daniel absorve o que eu disse e eu
posso vê-lo ponderando a respeito.
Franzindo a testa, ele abre o saco de
batata e oferece a mim. Eu recuso, porque
meu estômago está com uma estranha
excitação. Este refúgio nas entranhas da
biblioteca é muito parecido com o casulo
de irrealidade que eu habitava na noite
passada quando estava no chat com
Nêmeses.
— Tudo bem, se você está dizendo...
O tom de voz dele tem pitadas de
resignação, como alguém que pensa que
eu sou uma completa idiota, mas que se
abstém de dizer isso. Que poderia ser
realmente como ele mesmo está se
sentindo, ou uma atuação comandada por
um talentoso ator dramático.
— Sim, o que eu estou dizendo...
Olho nos olhos dele tentando roubarlhe
segredos. Mas não consigo nada,
apenas um sinal de humor em algum lugar
profundo, possivelmente imaginado.
Procuro em meu bolso e tiro a impressão
do bate-papo que imprimi.
— Aqui está, foi o que eu disse.
Ele meneia a cabeça de um lado para
outro e mantêm os olhos apertados por
trás dos óculos.
— Eu salvei e imprimi a conversa –
disse eu, entregando-lhe o papel para
provocar. – Aqui está a transcrição. Você
quer ler? Não é nenhum texto caligrafado,
mas é bem “quente” à sua maneira.
Ele estende a mão, mostra seus dedos
elegantemente estendidos e faz uma pausa.
— Mas aqui tem palavras escritas por
você também... Você quer que eu leia
mesmo assim?
Ele recua uns centímetros.
— Eu não me preocupo com isso. Vá
em frente – respondi.
O papel sai de repente da minha mão e
vejo que se abre. Agora, sem chance de
mudar de ideia, obviamente. Daniel muda
de lugar sob suas luminárias de escritório.
Pelos minutos seguintes, o clima aqui
no esconderijo do Professor Gostoso fica
tão pesado como se estivéssemos em uma
câmera de pressurização. Nós nos
sentamos em silêncio, e só se pode ouvir
o farfalhar ocasional do papel e um
zumbido de fundo que ecoa das
instalações do ar-condicionado do prédio.
E da respiração de Daniel que parece
pontuar exatamente toda a tensão e desejo.
Eu estou dolorosamente consciente de que
não estou usando calcinha, e que dentro de
poucos instantes o homem moreno e
bonito que está sentado a apenas alguns
metros de distância também estará ciente
deste fato. Quando os seus olhos lançam
apenas um rápido olhar em direção a
minha pélvis, parece que vou desmaiar.
Por fim, ele termina de ler, coloca as
folhas de lado e solta um suspiro
profundo. Seu corpo agora fica
desconfortável na cadeira, e o ligeiro
movimento para frente e para trás de seu
quadril enquanto estava lendo apenas
alimenta ainda mais a imagem mental que
guardei de sua ereção. Sua virilha não
está bem nítida de se ver, porque está um
pouco à sombra. Mas eu tenho certeza de
que o pau dele está duro.
Ele bate com a ponta do dedo na parte
inferior do seu lábio macio e depois diz:
— Uau...
Continua a bater, sentado em sua
cadeira, olhando agora não para mim, e
sim para o espaço.
Uau. É tudo isso que você tem a dizer?
Você é um cliente bem frio, Professor
Gostoso.
— O que você acha? – Por alguma
razão, sua estudada falta de interesse e
sua negação quanto à reação de seu
próprio corpo me aborrecem e eu decido
fazer algo, pressionando-o um pouco: –
Isso tudo deixa você com tanto tesão
quanto eu fiquei?
Ah! Seus olhos pulam de novo em
minha direção e ele se ajeita na cadeira
novamente.
— Bem... Sim. Claro que sim. É um
cenário muito erótico. Muito intenso.
Ele pigarreia, um ruído característico
de quem vai fazer um comentário crítico
essencialmente acadêmico.
— Mas eu ainda acho que você está
patinando em uma camada muito fina de
gelo com esse sujeito.
Patinando em gelo fino? Brincando com
fogo? Bem, pelo menos há alguma
oscilação nas metáforas.
— Como assim? Ele é completamente
inofensivo. Tudo não passa de conversa,
nada de ação. Eu aposto que se eu fosse
confrontá-lo ele sairia correndo, fugindo e
chorando para casa da mamãe.
Tomou? Agora encha seu cachimbo de
Oxford com isso e fume!
— Isso você não tem como saber. Ele
menciona “um dia”, não é isso mesmo que
ele diz? Eu diria que você vai sim
conhecê-lo algum dia, claro que vai.
Porque isso quer dizer que trepar com
você faz parte do que ele está planejando.
Ohh! Ele soltou um “trepar”. Isso
parece tão exótico saindo dos seus lábios,
e ao mesmo tempo tão incongruente.
Imagino-o grunhindo enquanto estiver
enfiando seu pênis no sulco entre as
minhas pernas.
Ahhh, eu o quero tanto! Ele e Nêmeses,
mesmo que eles não sejam a mesma
pessoa. Meus sentimentos são tão
perversos que até me assustam.
— E o que há de errado nisso?
Apesar da minha apreensão, eu me vejo
patologicamente incapaz de não continuar
provocando-o.
Ele está evitando de olhar para mim,
brincando com seus cabelos, girando um
cacho do seu cabelo de um jeito que me
faz imaginar como seus dedos poderiam
girar assim em torno de outras coisas.
— Eu ainda acho que ele pode ser
perigoso.
— Eu também posso ser.
Ele olha para cima.
— Eu não tenho dúvidas quanto a isso,
Gwendolynne. Não tenho a menor dúvida.
Eu acho que você pode ser muito
perigosa. Você é uma séria ameaça à
minha concentração.
Fico de pé em um piscar de olhos.
— Certo... Então eu já vou indo. Não
quero atrapalhar mais o seu trabalho.
O que há com ele, hein? A maioria dos
homens já estaria demonstrando todo o
seu ciúme, possessivos como são.
— Não! – Agora ele também está de pé
e a suspeita que eu tinha de sua ereção se
confirma, ele está enorme. – Bem... É
que... Esta situação na qual nos
encontramos agora é tão incomum...
Ele faz um gesto gracioso, indicando
com a mão no sentido para baixo, que eu
deveria me sentar. Ele é cortês, e está no
comando agora, então fica difícil desafiar
sua postura. Eu retomo o meu lugar e
pergunto a mim mesma porque estou
cedendo tão facilmente.
— Mal nos conhecemos e estamos
falando sobre sexo – continuou ele. – E de
alguma forma parece que estamos
envolvidos em uma espécie de ménage a
trois. E mais ainda, é tudo tão...
Desconcertante.
— Você que começou.
Eu aponto isso, perguntando sutilmente
se ele vai confessar tudo e se esse
mistério vai acabar.
Em vez disso, ele franze a testa de uma
forma que o deixa ainda mais bonito do
que nunca e pousa as mãos entrelaçadas
sobre a mesa. Ele esta fazendo isso para
impedir que elas façam alguma coisa que
não deseja? Como tocar a si mesmo?
— Eu não sei o que você está querendo
dizer, Gwendolynne. Como pode ter sido
eu quem começou tudo?
Mas que demonstração de inocência!
Ele até que é bem convincente.
— Bem, você ficou olhando para os
meus seios. E depois fez questão de me
seguir para pedir desculpas por isso.
Procuro a minha caixinha de suco, mas
ela está vazia agora, então fico brincando
com o canudinho.
— Se você fosse apenas um devasso
como um homem normal que não acha que
tem que se desculpar por isso, eu nunca
teria lhe mostrado a carta... E ainda
estaríamos presos aos nossos educados
“Olá!” e “Como vai?” quando nos
encontrássemos na biblioteca.
Ele dá de ombros. Parece admitir que
estou certa. Agradece com o mais peculiar
e intrincado sorriso que faz meus nervos
formigar e minha boceta descoberta se
agitar com o mais ansioso dos desejos.
— Verdade... Bem verdade.
Eu estou dando tapinhas na caixa de
suco, transbordando de energia. Esta é a
mais estranha das situações. Estou
perdendo a capacidade de saber dizer a
palavra certa a seguir.
E brota do silêncio a voz rouca de
Daniel, primal e rouca:
— E então... Você fez o que ele pediu?
Ou você está apenas blefando com esse
pobre coitado?
Ele ajeita seus dedos e os flexiona,
endireitando-os novamente em uma série
de movimentos de dobrar e esticar.
— Você estava realmente usando
pijama de seda vermelha? – pergunta.
— Não. Era de algodão com listras
azuis.
Seu queixo cai e ele move a sua língua
rosa e varre em torno dos seus lábios.
— E então, todo é resto é verdade?
— Sim, praticamente tudo...
Ele balança a cabeça de tal forma que
seus cachos se movem junto. De repente
eu me sinto tão exposta como na noite
anterior. As cartas de Nêmeses eram uma
coisa, mas agora eu coloquei minha
sexualidade e até mesmo os meus
orgasmos em um prato e entreguei para
esse homem que mal conheço. Estou em
queda livre por terras desconhecidas, e o
medo só faz me excitar ainda mais.
— Você está com nojo de mim?
— Oh não! De forma alguma! Pode
acreditar em mim!
Os olhos dele, que pareciam tão
cansados e imperfeitos quando cheguei,
agora já voltaram a ficar brilhantes.
— Estou de fato surpreso com você,
Gwendolynne – disse ele. – Preocupado
com você em alguns aspectos, mas em
outros estou excitado, emocionado até o
coração... Por você ter mostrado sua
sexualidade, como você a expõe para
mim, isso é um privilégio.
De repente ele ri, leve, livre e feliz,
como um menino travesso.
— E você está mesmo exposta? Assim
como manda a penalidade?
Ela lança outro olhar para a minha
virilha, seus longos cílios batendo de
leve.—
Com certeza.
Meu coração bate enlouquecidamente.
— Você sabe... Se você mostrasse para
mim, não teria que mostrar para mais
ninguém. Poderia pagar sua pena extra em
perfeita segurança. Sem correr qualquer
risco.
Os cílios dele são uma perdição. São
os mais agitados que já vi. Parece que
demos um passo para outra realidade sem
nos dar conta, sem nem perceber.
— Na verdade, eu nem sequer vou
olhar direito, então realmente não ficará
exposta – finalizou.
Percorremos um longo caminho desde
aquele papelão de coroinha acanhado
quando peguei no pau dele no jardim. Ele
está pronto. Está a fim. Eu vejo isso nele.
Seus olhos, sua boca, todo o seu corpo
está nada mais nada menos do que
devastadoramente sedutor.
E eu também estou pronta, tenho minhas
meias e ligas a postos, e apesar de minhas
coxas não serem esbeltas como eu
gostaria, as rendas negras como carvão no
topo da minha meia fina mais do que
compensam esse excesso de carne. E a
cinta-liga, tão vermelha e acetinada como
não eram meus pijamas, é a moldura
perfeita para os fios castanhos da minha
vulva.
Essa vista vai causar impacto nele.
Daniel é um homem inteligente, nerd e tem
seu glamour... Mas ainda assim é homem.
Mostre a um homem seu sexo nu e você
estará falando com seu cérebro primitivo,
não com aquela parte que tem um
conhecimento enciclopédico de história
ou de ciência ou de seja lá o que for. Com
relação a sexo e corpos, ele está na
mesma altura que eu, não importa se ele é
famoso ou estudado. Eu posso fazer com
que ele seja meu.
— Tudo bem, então.
Não me dando tempo para vacilar,
estou em pé, empurrando para trás a
minha cadeira, fazendo com que ela bata
na estante de livros atrás de mim. Daniel
empurra a cadeira dele para trás a fim de
ter uma visão melhor. Coloco as palmas
de minhas mãos sobre a borda da saia e,
lentamente, começo a levantar. Eu tinha
em mente subir a saia tão rápido que nem
se poderia ver direito, mas agora que
chegamos até aqui, decidi dar um show.
Por trás dos seus óculos, seus olhos se
arregalam na mesma velocidade que
minha saia está subindo. Quase tão rápido
quanto a doce boca vermelha dele está se
abrindo. Ele suspira de novo quando meu
púbis aparece à vista entre as barras da
saia.
Eu me sinto extremamente sexual. Eu
sei que eu estava certa. Eu o tenho na
palma da minha mão. Ele está hipnotizado
pelo triângulo de cabelo vermelho macio
que permito que ele olhe por mais alguns
segundos de boca aberta e olhos
arregalados e brilhantes. Depois eu solto
minha saia e ele fica parecendo como se
fosse Natal e eu tivesse acabado de pisar
em seu novo PlayStation.
— Isso não significa que estamos
noivos ou coisa do tipo, hein?
Eu aliso o tecido sobre as minhas coxas
e ele segue a cada minuto todo e qualquer
movimento que eu faça.
— É apenas um caso de um amigo
ajudando outro amigo... – continuou – ... e
um homem tendo uma visão rápida
daquilo que os homens gostam de olhar
como recompensa. Acha justo?
— Hum, sim, sim, sim. Eu suponho que
sim.
E ele quer mais? O monte que vejo em
sua calça jeans diz que ele quer mais
alguma coisa.
— Daniel, tudo bem com você?
Ele está com fôlego alterado como se
estivesse numa maratona.
— Sim, sim, eu estou bem sim. É que
eu pensei que pudesse ter um olhar
desapaixonado, imparcial sobre isso e
apenas oferecer assistência a você, só
isso. – Ele se joga em sua cadeira e mexe
em seu jeans para aliviar o desconforto
óbvio. – Mas ao que parece, acabei
ficando mais afetado do que eu esperava.
Ele oferece um riso forçado triste, os
lábios curvados, a expressão confusa.
Ei, a quem ele pretende enganar?
Mesmo que ele não seja o Nêmeses, o
arquipervertido, ele é um cara na casa dos
trinta anos que é famoso e carismático.
Ele provavelmente já teve muitas
mulheres e fez mais jogos de sexo do que
eu já esquentei meu jantar.
— Com certeza você já viu entre as
pernas de uma mulher antes. Não tente
brincar comigo que você é algum tipo de
virgem renascido ou algo parecido.
— Não, claro que não. – Ele responde
secamente. Será que ficou zangado? – Eu
só não costumo vê-las em circunstâncias
como estas. – E então ele sorri. –
Geralmente é o caso de sair algumas
vezes, jantares, teatro, talvez exposições.
Em seguida vem aquele padrão “Você
gostaria de subir e tomar um café
comigo?”. Sabe como é, aquela situação
padrão. – Seus ombros se levantam de
uma forma encantadora e ele os encolhe. –
E é só então que começo a ver o que você
está me mostrando.
— Foi você quem sugeriu – disse eu.
— Sim eu sei. E não tenho como evitar
admitir que venho admirando você desde
o primeiro dia que cheguei aqui, e de
certa forma a chamei para sair comigo
ontem... – ele franze a testa de novo, mas
não é por indisposição, ou mau humor. É
uma expressão estranhamente triste,
melancólica. – Mas agora eu estou me
perguntando como não complicar uma boa
relação de trabalho. Especialmente
porque vou voltar para Londres antes do
tempo previsto. E... – Ele faz uma pausa
novamente, suspirando profundamente. –
Eu não sei como dizer isso sem ser
extremamente arrogante e presunçoso e
cheio de si...
— Tente.
— A coisa é... Eu não estou procurando
por um relacionamento mais sério neste
momento. Eu só posso lhe oferecer uma...
Como eu posso dizer... Uma “aventura”. –
Seu belo rosto funciona como se ele
estivesse querendo agarrar uma maneira
de expressar-se, o que é absolutamente
peculiar em alguém tão reconhecido como
comunicador. – Mas eu não estou falando
isso porque acho que falta alguma coisa
em você. Você é adorável. Você é
encantadora. Uma mulher deslumbrante. É
apenas porque eu não sou uma boa
perspectiva para um relacionamento a
longo prazo. Não seria justo com você se
eu não falasse isso.
De repente, ele me pareceu quase
entristecido e, apesar do fato de que meu
coração vibrar ao ouvir palavras como
“adorável” e “encantadora” e
”deslumbrante”, e que o meu corpo ainda
está em alerta vermelho, querendo-o tanto
que até dói, sinto-me de repente
preocupada com ele e curiosa para saber
qual será o profundo problema que o
incomoda tanto. Porque eu sei que há
alguma coisa. Cada um de meus instintos
protetores diz que sim.
— Como eu disse antes, isto não quer
dizer que a gente esteja noivo ou coisa
parecida – sentindo-me mais ousada, eu
comecei a acariciar minha virilha em
direção à minha vulva. – E não sei direito
se já quero desistir dessa coisa com
Nêmeses. – Eu esperava obter uma reação
dele quanto a isto, mas ele nem
pestanejou. – Mas talvez pudéssemos
chegar a nos conhecer um pouco melhor
enquanto estiver por aqui. Nada muito
pesado, apenas um pouco de diversão.
Talvez nos ver de vez em quando, quem
sabe um pouco de sexo? Prosseguir isto,
esse flerte com o Nêmeses juntos de
algum jeito? – o rosto dele se iluminou.
Ele claramente gosta da ideia. – Não há
declarações de amor eterno ou
compromisso, apenas um acordo
temporário. Como você disse, um pouco
de aventura, sem laços, mas sem inibições
tampouco.
Não sei direito o que me deu, mas,
caramba, eu acho que gosto disso!
— Você é uma mulher notável,
Gwendolynne – diz Daniel suavemente,
seu rosto uma complexa tapeçaria de
emoções. – Acho que nunca conheci
alguém como você. Alguém assim tão...
Tão adaptável. Tão corajosa e também
ligeiramente doida...
— Obrigada... Acho...
— Não, pode acreditar, isso é um
elogio. Eu adoro mulheres adaptáveis,
corajosas e doidas – ele se levanta e
caminha em minha direção. Ele ainda está
incrivelmente duro. – Você é uma mulher
bonita também. Seu corpo é sensacional.
— Ah, para com isso... Sou apenas uma
bibliotecária provinciana e gordinha.
Mas estou tremendo. E apesar do meu
tom desafiador, não sei direito o que
fazer. Como é que uma pessoa
normalmente progride num tipo de
relacionamento estilo arranjo temporário?
Acho que devíamos começar nos beijando
de novo, mas do jeito que ele está de pé
na minha frente, quase ostentando a si
mesmo... Bem, na verdade eu só queria
mesmo ver seu pênis... Isso sim seria uma
coisa impertinente para contar a Nêmeses
da próxima vez que conversarmos. Algo
que posso fingir que foi apenas uma
fantasia, mas que posso rir de mim mesma
porque sei que é algo bem real.
Mas se Daniel é Nêmeses, ele já vai
saber disso, é claro. Puxa, isso tudo é
muito complicado, mas eu adoro, adoro
tudo o que está acontecendo!
A boca de Daniel se curva
ligeiramente, como se ele estivesse lendo
cada um de meus pensamentos.
Quer dizer então que você acha que sou
corajosa e um pouco doida, não é,
Professor Gostoso McLindo e que por
acaso poderia ser Nêmeses? Bem, então
veja só isso!
Antes que ele possa me deter, estico a
mão até o cinto da calça dele, agarro-o
pela fivela e o puxo para mais perto de
mim. Tentando não me atrapalhar, desato
o cinto tão depressa quanto consigo,
abaixo o zíper e procuro lá dentro.
Daniel parece perder o fôlego por um
instante, mas então segue o fluxo,
esticando os braços e primeiro colocando
suas mãos em meus ombros, e depois as
deslizando e colocando-as em meu rosto.
Por um instante, ele olha para baixo bem
dentro de meus olhos, em parte parecendo
se perguntar o que está acontecendo, de
outro lado de um modo meio arrogante,
então desliza os dedos pela minha nuca,
tira a faixa que prendia meus cabelos e
deixa-os soltos.
Ao mesmo tempo que ele solta meus
cabelos, eu libero seu pênis. Ah, meu
velho e maravilhoso amigo, pensei em
você constantemente quase todos os dias
desde que o vi pela primeira vez.
Ele está tão duro. E ficando mais duro.
Deixando escorrer aquele fluido sedoso, a
cabeça inchada e brilhante com sua pele
esticada e a pontinha pulsante. E tudo
nesse estado feroz por apenas um breve
vislumbre de minha boceta? Eu dobro
meus dedos em torno dele, embalando-o
gentilmente. Como um cãozinho ansioso,
ele se pressiona adiante, fazendo um ruído
baixo e muito masculino em sua garganta.
Seus dedos tocam em meu cabelo,
pegando minha cabeça, pressionando-a,
pressionando-a para baixo.
É claro que eu sei o que ele deseja. A
mesma coisa que todos os homens
querem, não é? A única coisa que me
deixa surpresa é que chegamos a isso tão
rapidamente. Um dia é aquele educado
“Bom-dia, como vai você?” na biblioteca.
E no outro, estou deslizando de joelhos e
prestes a fazer um boquete neste homem
que, de fato, mal conheço.
Dou uma rápida olhada para ele, mas
seus olhos estão fechados, a cabeça
inclinada para trás, sua expressão uma
réplica do êxtase em que ele estava no
banheiro. Insuportavelmente tocada por
sua beleza, eu avanço para frente e engulo
a cabeça do seu pau com minha boca.
Ele está excelente, quente e salgado,
sua carne firme e latente com tanta
energia. Eu começo a lambê-lo
rapidamente, mexendo e provocando com
entusiasmo. Talvez eu não seja uma
artista, mas eu tenho instintos, e um pau
lindo como este convida à excelência e à
invenção. Logo eu o tenho gemendo e
balançando e se contorcendo dentro de
minha boca, seus dedos se flexionando
como pontos de fogo contra o meu couro
cabeludo.
Apoio uma de minhas mãos sobre sua
coxa coberta de jeans, amando os
músculos rijos e tensos sob o tecido
grosseiro. Parecem tonificados e
definidos, e eu me lembro de seu corpo nu
enquanto estava diante da pia. Debaixo de
sua confortável camiseta e de seus
casacos de tweed e seus jeans bastante
comuns, há o corpo de um garanhão, de
um Adônis. Tento puxar seus jeans para
baixo a fim de pegar suas bolas e agarrálas
em minha mão e brincar com elas
enquanto lido com ele, mas de repente ele
fica frenético, empurrando tudo para
dentro de minha boca, selvagem e rude.
Será que vou sufocar? Não! De algum
lugar eu encontro uma calma e um
relaxamento dentro de mim. Parece que
tenho a capacidade de aceitá-lo e amá-lo
à enésima potência.
Por longos momentos, nos mexemos e
meus lábios e minha língua o acariciam.
Com o tempo, porém, sinto sua excitação
aumentar e percebo que seu êxtase está se
multiplicando. Ele empurra, empurra,
empurra, e eu quase posso ouvir o grito de
prazer que está se formando em seus
lábios.
Ele respira com força, aperta minha
cabeça e suspira “Gwendolynne”, mas,
antes que ele possa gritar, outro som
congela nossa cena incriminadora como
se fôssemos uma escultura de gelo. Passos
abafados estão vindo da extremidade do
longo complexo do porão, constantemente
se aproximando. O que fazer?
Daniel começa a se afastar, mas eu
agarro suas nádegas e, em seguida, coloco
minha boca bem profunda nele. Ao mesmo
tempo, pressiono firmemente sobre a
costura do jeans que corre pelo vinco da
parte traseira, e forço meu dedo o máximo
que posso contra seu ânus. Com uma das
mãos, ele continua a cavar meu couro
cabeludo, mas a outra está pronta para
abafar seu gemido de prazer.
Sêmen, rico e espesso, jorra em minha
boca. Ele é delicioso, o homem perfeito, e
seu gozo é abundante. Eu engulo o mais
rápido que posso enquanto os passos
chegam cada vez mais perto. Então, em
uma dança rápida e quase que improvável
entre nós dois, conseguimos fazer com que
Daniel esteja de volta em seus jeans em
tempo recorde. E eu estou de pé,
limpando minha boca com as costas da
mão e depois pegando uma pilha de livros
da mesa quando uma figura se aproxima
ao virar a esquina.
— Claro, professor Brewster, não tem
problema – pronuncio alegremente,
sentindo as cócegas de uma risada
incontrolável começar no fundo de minha
garganta. Transformo isso em uma tosse
suave, para continuar em seguida. – Vou
arquivar estes para você e colocar seu
pedido na lista de empréstimos entre as
bibliotecas. Não deve demorar muito mais
do que uma semana.
Daniel e eu nos voltamos para o recémchegado.
É Greg, nosso técnico em
computadores, que está levando um rolo
de cabos e uma bolsa de ferramentas.
E u ac ho que nós cobrimos todas as
pistas, mas há alguma coisa tão insolente
e sagaz no sorriso do jovem, quando se
aproxima de nós, que eu estou convencida
de que ele sabe exatamente o que acabou
de se passar por aqui.
— Ei, Gwen, professor, desculpe
incomodar vocês dois – ele levanta as
sobrancelhas sugestivamente, e quando
volto para olhar Daniel, ele está
encarando Greg com uma expressão quase
cúmplice de conquistador macho.
— Acho que posso colocar uma
extensão da rede da biblioteca aqui para
baixo, se quiser – diz Greg –, assim o
senhor terá uma conexão mais rápida de
internet enquanto estiver trabalhando. O
wi-fi deve ser quase inexistente por aqui.
Não vai demorar mais do que vinte
minutos, ou quase isso.
— Obrigado, isso seria ótimo. – O
sorriso de Daniel ainda é sutilmente
arrogante, e de repente eu quero dar um
soco nele. O bastardo! Ele está se
exibindo! Deixando Greg saber que
aconteceu alguma coisa de sexual por
aqui.—
Certo. Bom, estou indo, professor, a
gente se vê depois – eu pulo fora
inteligentemente e sem olhar para trás dou
passos largos na mesma direção por onde
veio Greg.
Homens! Eles são todos iguais...
Contando vantagens sobre suas conquistas
e tirando vantagem das mulheres por quem
eles supostamente deveriam ter carinho.
Idiotas! Chega dessa coisa de arranjos
temporários! Me dá vontade de voltar
batendo os pés assim que Greg terminar
seu trabalho e agarrar Daniel à força para
nossa primeira grande transa.
6
Compensação
Passei o restante do dia louca da vida,
especialmente quando notei que o
Professor “Olha só, alguém acaba de
ganhar um boquete” não apareceu na hora
do almoço, nem mesmo deu as caras na
biblioteca durante o dia inteiro. Toda
aquela conversa sobre “almoços” e
“honestidade” e “não ser um cara certo no
momento” e todo o resto – será que era
apenas conversa mole para enfiar o pinto
dele na minha boca?
Ainda assim, prefiro mais estar
preocupada e irritada por ter sido tapeada
e convencida a fazer um oral em Daniel
Brewster do que ficar pensando nos meus
monótonos problemas domésticos. Droga,
afinal, ele é o Professor Gostoso
McLindo, o famoso historiador que está
sempre na televisão, e eu já tinha essa
queda por ele muito antes de ele ter
aparecido em nossa modesta biblioteca.
Devem existir milhares de mulheres por aí
que dariam tudo para fazer isso que
acabei de fazer, com ou sem essa oferta
que ele fez.
Mas tem mais também. Eu sei que tem.
Tem alguma coisa que está perturbando o
Professor, algo grave. Ele está tentando se
distrair com essa coisa de buscar prazer e
de fazer joguinhos, mas debaixo disso
tudo existe uma ansiedade, eu consigo
sentir isso. E se eu puder ajudá-lo a lidar
com isso, tudo bem. Então, eu passo o
restante do meu dia refletindo sobre isso e
quando estou vestindo meu casaco, pronta
para voltar para casa, um pensamento
toma conta de mim.
Será que há algo de errado com Daniel
Brewster? Alguma doença muito grave, e
é por esse motivo que ele acha que não é
um cara certo para nenhuma mulher, um
cara para um relacionamento de longo
prazo? Ele sente aquelas dores de cabeça
horríveis, afinal... Sei lá, isso parece ser
uma coisa meio drástica, mas eu tenho
aquele tipo de imaginação que pode levar
as coisas a extremos de vez em quando.
Vasculho minhas lembranças para ver se
enxergo possíveis sinais, mas não tem
nada nele que pareça mostrar que ele
esteja doente. Seu corpo é magnífico, ele
está em ótima forma e, caso seu apetite
sexual seja indicador de alguma coisa, ele
está muito longe de ser um homem
inválido. Seu pau estava mais duro e mais
vigoroso do que o de qualquer outro
homem que eu já tenha visto. Não que eu
já tenha visto dúzias e mais dúzias de
pintos, mas uma mulher sabe dessas
coisas.
Ainda estou remoendo todas essas
ideias quando me vejo atravessando a
porta dos fundos. E vejo o Professor
McLindo apoiado no corrimão, com um
táxi estacionado a apenas alguns metros
dele, o motorista lendo o jornal,
aparentemente esperando por ele... E,
pelo o que parece, por mim também.
— Ótimo, estava aguardando você.
Deixe-me lhe dar uma carona para casa
e... Eu, bem, eu acho que algumas ficaram
mal resolvidas e precisamos falar sobre
elas. Meu queixo caiu. Certamente ele não
deveria estar pensando em discutir nosso
pequeno, hã, amasso, no porão naquele
dia no banco de trás de um táxi. E, afinal,
por que um táxi? Eu sempre assumi que
Daniel vinha dirigindo seu próprio carro
até a biblioteca de onde quer que ele
morasse. Agora eu não tinha tanta certeza
assim, de fato nunca estive olhando pela
janela quando ele chegava...
— Não, não, está tudo bem, eu pego um
ônibus. É só uma parada, não tem
problema.
Essa é, na verdade, a razão pela qual eu
pego ônibus. Tem dias até em que vou
caminhando sem problemas, diminuindo
minha emissão de carbono e tudo mais.
Daniel solta um suspiro, cruza os
braços e me dá aquele olhar do tipo
“professor impaciente com uma aluna
cabeça-dura” que ele irritantemente gosta
tanto de lançar. Por causa disso, me sinto
imediatamente ingrata e teimosa, nas
mesmas proporções.
— Ok, então. Obrigada. Isso é muito
gentil de sua parte, eu adoraria uma
carona...
Ele vira os olhos de um jeito como
quem diz “Finalmente!” e então dispara
adiante de mim para abrir a porta do
carro, ajudando-me a entrar no banco
traseiro como se eu fosse uma espécie de
velha duquesa artrítica. Ou isso, ou ele
está simplesmente garantindo que eu não
mude de ideia e saia em disparada para o
ponto de ônibus.
— Peço perdão pelo que aconteceu
mais cedo. Foi uma coisa desafortunada
que Greg tenha aparecido daquele jeito –
ele começa a falar assim que o táxi
começa a andar suavemente. – Eu
esperava que nosso pequeno interlúdio
acabasse de uma forma bem diferente.
Aquilo era inacreditável! Agora era a
minha vez de virar os olhos furiosamente,
e acenar repetidas vezes com a cabeça
para o motorista do táxi, que já parecia
estar bastante interessado em nossa
conversa.
— Tudo bem, tudo bem – concorda ele,
mas está sorrindo de uma maneira muito
estranha, como se fosse abrir o jogo
inteiramente, apesar de minhas objeções.
Eu imagino que o Nêmeses iria em
frente e descreveria cada um dos mínimos
detalhes de receber um oral em glorioso
tecnicolor, independentemente do fato de
eu querer ou não que ele fizesse isso.
Conversamos sobre futilidades, sobre a
biblioteca. Sobre o livro de Daniel que
tratava da Guerra das Rosas e sobre as
grandes famílias daquele conflito que
viviam por aqui. Ele pergunta onde eu
moro, para que pudesse passar ao
motorista do táxi. Ele parece interessado
em continuar falando sobre o meu
apartamento um pouco mais, e sem ter a
intenção de contar que eu tinha uma casa
legal e alguém que pensava ser um bom
marido, pergunto onde ele morava
enquanto estava por aqui, a fim de
conduzi-lo para longe desse assunto.
— Estou no Waverley Grange Country
House Hotel. Você o conhece? – ele se
inclina para trás no banco do carro,
relaxado, mas com um ar estranhamente
desafiador. – Gostei bastante dele. É
muito confortável e o serviço é excelente.
— Sim, é um dos melhores hotéis da
região.
O Waverley? Agora a coisa ficou
realmente intrigante. O lugar é um dos
mais bem-equipados e dos mais
conhecidos da cidade. Eu nunca estive lá,
mas ouvi falar que é do tipo que finge ser
antigo, meio cafona, mas de qualquer
forma discretamente luxuoso. Ele tem
também uma reputação que não combina
com sua fachada de um estabelecimento
“direito”. Murmúrios. Fofocas. Histórias
apócrifas que são contadas pelo amigo de
um amigo dizem que coisas estranhas e
bem sensuais que acabam acontecendo
por lá. Gostaria de saber se Daniel tem
visto qualquer evidência dessa reputação
picante durante esses dias em que está
hospedado.
Eu abro minha boca, tentando decidir
se devo perguntar, quando, de repente,
fora da linha de visão do motorista do
táxi, Daniel pega a minha mão e lhe dá um
aperto urgente. Olho para os olhos dele e
eles estão em fogo por trás das lentes dos
óculos. E subitamente, estamos de volta
ao porão da biblioteca, homem e mulher,
mergulhados no sexo. Tudo o que eu
consigo pensar é que não estou vestindo
calcinha e ele está plenamente ciente
disso.
Por que não me surpreende quando ele
coloca a mão na minha coxa e desliza-a
para cima, acariciando através da minha
saia? Imediatamente eu me sinto molhada,
pronta para receber seu toque ou o seu
corpo. Minha pele parece um campo
carregado de energia, e formiga quando a
sensação corre pelos meus nervos e segue
diretamente para meu clitóris.
— Quem sabe você pode ir lá tomar um
drinque ou jantar comigo, qualquer noite
dessas?
— O quê? – deixo escapar
distraidamente.
Esqueci completamente sobre o que
estávamos conversando. A única coisa
que consigo perceber agora é que a mão
dele está me aquecendo através do tecido
da saia. Seus dedos estão praticamente
imóveis, mas a forma como eles se
dirigem levemente para lá e para cá é
infinitamente provocativa.
— No Waverley, lembra?
Ele não está rindo alto, na verdade, de
fato está apenas sorrindo, mas sua
linguagem corporal está muito viva, com
uma alegria travessa.
Balanço a cabeça para ver consigo
clarear as ideias. Dou um puxão na minha
saia, afastando minha coxa para longe de
seu toque.
— Ah, sim, claro que sim. Seria ótimo
– minha voz soa meio sufocada, hostil e
nervosa. Eu não queria parecer irritada,
mas estou comigo mesma por soar desse
jeito. – Eu adoraria – acrescento com
mais entusiasmo.
Daniel tira a mão e a deixa descansar
levemente no assento do carro. Ele parece
relaxado, imperturbável.
— Eu também – murmura.
Em seguida ele surpreendentemente
retoma a conversa sobre generalidades,
perguntando-me sobre vários edifícios
pelos quais passamos no caminho para o
meu apartamento.
Finalmente, o carro estaciona em frente
à Merivale House. Abro a porta do táxi,
sem saber muito bem o que esperar numa
hora como essa. Dou um aperto de mão?
Um beijo no rosto? Um abraço? Um beijo
de língua com um pouco de mão boba?
Mas Daniel apenas abre a porta de seu
lado e dá a volta no carro para me ajudar
a sair do táxi. É incrível como ele pode se
mover rapidamente quando se decide a
fazer isso.
— Vou acompanhar você até lá dentro
– diz ele, todo dominador e machão.
Ele me guia adiante, sua mão levemente
na minha cintura enquanto, virando-se
para o motorista, pede que ele espere.
— Está tudo bem, estarei segura.
O que é verdade. O edifício é tranquilo
e muito seguro. Bem que eu poderia
ganhar um pouco mais, assim poderia
pagar meu apartamento sem tanto
sacrifício.
Daniel não responde, mas fica comigo
enquanto caminho até a porta da frente e
digito o código no teclado. Sim, o prédio
é seguro, só que não tenho muita certeza
de que eu esteja segura no momento.
Entramos e o hall está deserto e frio,
exalando um cheiro de cera recémpassada
no assoalho. Mais uma vez vem a
pergunta espinhosa de abraço, aperto de
mão, beijo, ou mais, mas de repente há
vozes vindas de cima e o som de passos
na escada. Esperando que ele se afaste de
mim e comece algum tipo de conversa
artificial, prendo a respiração quando
Daniel dá uma olhada rapidamente em
volta, agarra a minha mão e me puxa para
dentro da pequena saleta de manutenção
que fica na parte de trás do hall de
entrada, depois da escada. A saleta
contém variados equipamentos de
limpeza, esfregões e baldes, e regadores
para os vasos de plantas ornamentais
espalhados pelo edifício.
As vozes estão agora no hall de
entrada, de forma que não posso mais
gritar e protestar quando Daniel me
empurra para trás, movendo-se
profundamente no meu espaço pessoal e
possuindo-o completamente. Sua mão
esquerda sobe, colocando-se na parte de
trás de minha cabeça enquanto puxa meu
rosto para o seu e pressiona seus lábios
nos meus. Enquanto sua língua possui
minha boca, aquela mão direita cheia de
truques dele está de volta na minha coxa,
deslizando, deslizando, esfregando o
tecido da minha saia contra a minha pele.
Sua boca é voraz, obrigando-me a abrir
a minha e aceitar a sua língua. O sabor
dela faz a minha boceta vibrar e ansiar
pelo seu pau. Seu movimento de pressão é
flagrante, delicioso, inebriante. Eu tento
dar de volta o tanto de prazer que estou
recebendo, mas ele é um tirano, ele me
subjuga, ele definitivamente está no
controle.
E não apenas com a boca. Ele não é um
homem impressionantemente alto, mas tem
poder e impulso e uma fome para
combinar com a minha. Ele me leva de
volta contra a parede, evitando por
segundos que a gente batesse em um balde
galvanizado fazendo um barulho enorme.
No momento em que bato na parede, sua
mão chicoteia para baixo, e depois para
cima de novo, levantando minha saia até
as minhas coxas e insinuando seus dedos
por entre minhas pernas.
Eu suspiro, mas a inalação empurra a
sua respiração para dentro de minha boca.
Sinto como se o espírito dele entrasse em
mim ao mesmo tempo, outra possessão
para combinar com a invasão de sua
língua.
E seus dedos.
Ele encontra o meu calor molhado
facilmente, tecendo as pontas dos dedos
através dos fios de meu púbis e separando
meus lábios. Outro arquejar e ele já está
mexendo no meu clitóris. Ele bate de leve.
Ele esfrega. Ele faz círculos e massagens.
Faço isso também, esfregando meu
traseiro contra a parede, mas ele não
perde o ritmo.
Eu acho que vou desmaiar. Minha
barriga e meu sexo estão pulsando com o
calor. Eu puxo o ar para dentro de novo,
arfando e arquejando, e Daniel libera a
minha boca, salpicando beijinhos em todo
o meu rosto em seu lugar. Um gemido
sobe para meus lábios, mas ele desliza a
mão que estava segurando a parte de trás
da minha cabeça para a minha bochecha,
pressionando o polegar na boca para que
eu o sugasse. Sua própria boca se instala
em meu ouvido.
Alguém no hall de entrada está
apressando sua companheira para que se
apresse ou eles iriam perder o filme, mas
tudo o que eu posso ouvir é um sussurro
baixo, quase inaudível contra a minha
pele.—
Relaxe, Gwendolynne. Eu lhe devo
um orgasmo. Deixe-me dar prazer a você.
Eu não posso falar. O polegar dele está
na minha boca. Mas, mesmo que não
estivesse, estou além da possibilidade de
dizer alguma coisa, enquanto meu sexo
acelera e fica tenso com a expectativa.
A voz dele parece tão estranha...
Sombria, determinada, não muito terrena...
E quando ele se afasta um pouco, e
consigo um pouco de distância para poder
olhar para ele, seus olhos estão estranhos,
distanciados, quase em outro lugar. Ele
está olhando para mim, mas estará
realmente me vendo?
— Relaxe – ele pede outra vez, seu
dedo ainda trabalhando. – Deixe-me darlhe
algo para contar ao seu amigo
Nêmeses sobre esta noite.
As palavras “Você é o meu amigo
Nêmeses... Eu sei que é você” flutuam
pela minha mente, mas é como se fosse
outra pessoa pensando nelas, não eu.
E eu só consigo me entregar ao prazer.
Afasto as minhas pernas um pouco mais, e
então me deixo cair. Daniel ri quase que
inaudivelmente, e eu gozo.
Minha mente já era. Bom, a maior parte
dela. Há um pedacinho minúsculo dela em
algum lugar, e que ainda está pensando e
pensando. Quando Daniel investe uma vez
mais para um beijo e eu quase deslizo
para fora da consciência, com meu corpo
pulsando forte, o pensamento “Isto é um
jogo... Isto é um jogo” parece pulsar
também.
Sua língua está dentro de minha boca de
novo enquanto ele faz aquela coisa de
girar e mexer com seu dedo do meio e eu
quase tenho de mordê-lo. Só que ele se
afasta um pouco antes que isso aconteça e
pressiona seus lábios contra meu pescoço
agora. Minha cabeça se enche com um
aroma fresco, o cheiro de seu xampu que
ainda permanece em seus cachos.
Ele me estimula de novo, e de novo, e
então lentamente me diminui o ritmo,
cobrindo todo o meu sexo com sua mão
como se fosse para acalmá-lo. Nós
estamos em silêncio, a nossa respiração
correspondida.
É um jogo. Tem que ser. Eu realmente
não sei por que ele está jogando, mas eu
estou com ele, passo a passo, manobra
por manobra. Mesmo que seja apenas um
monte de brincadeiras sexuais.
A falação sobre filmes no saguão do
prédio já acabou. O caminho está livre,
mas ainda estamos aqui. Eu sinto uma
mudança em nossa forma de abraçar. O
que era feroz, frenético, quase animal um
momento atrás, de repente se tornou
infinitamente mais suave e delicado. A
mão de Daniel continua a aninhar
levemente a minha vulva, mas há um
sentimento de carinho e proteção em seu
tocar, agora. É como se ele estivesse
valorizando aquele centro feminino ao
qual ele acaba de dar prazer. Seus lábios
são muito macios contra meu pescoço.
Não há palavras ditas entre nós, mas seu
hálito quente e a maneira como ele coloca
o nariz contra o meu cabelo falam de
forma muito mais eloquente.
— Você é surpreendente – murmura
ele, finalmente, dando um passo atrás
ligeiramente, e então descendo minha saia
com cuidado e deixando-a no lugar.
Antes que eu possa pará-lo, ele
pressiona um beijo na frente da minha
saia, direto sobre o meu sexo. Que me
atordoa ainda mais do que qualquer um
dos orgasmos.
Quando ele endireita-se novamente,
deixa um leve beijo em meus lábios, e em
seguida se afasta, olhando nos meus olhos.
Seus próprios olhos estão ainda escuros,
estranhos, confusos, complexos. Seu rosto
funciona por um momento como se
estivesse procurando as palavras.
— Está tudo bem com você? –
pergunta, acariciando minha bochecha e a
linha de meu queixo com o dedão.
É como se ele estivesse procurando por
alguma coisa, pela resposta a uma
pergunta que não consegue nem mesmo
entender. Eu menos ainda. Então ele
franze os lábios e o pequeno e estranho
momento desaparece novamente antes
mesmo de eu ter tempo de elaborar uma
resposta.
— Tenho que ir embora, Gwendolynne.
Eu tenho uma videoconferência com
alguns historiadores americanos de um
projeto sobre os Tudors, e depois um
artigo para preparar.
Sua voz é crua, genuinamente
arrependida, mas já posso senti-lo
criando distância entre nós. Segundos
atrás, estávamos mais perto e me senti
mais em sintonia com ele do que jamais
estive com alguém antes em toda a minha
vida, mas agora ele está no modo de
partida. Mesmo assim, quando me inclino
na direção dele para beijá-lo de novo, sua
ereção ainda esfrega contra a minha
barriga.
— Você não quer subir por um minuto?
Idiota! Idiota! Idiota!
Não implore, Gwen, sua estúpida! Isto
aqui é um caso, apenas, nada mais do que
isso. Não vá dar uma de sentimental com
esse cara. Se ele for o Nêmeses, ainda é
um manipulador cínico, não importa o
quanto possa parecer um sujeito gentil.
Para meu horror absoluto, sinto
lágrimas na borda dos meus olhos. É o
orgasmo, a liberação. Eu não estou
chorando como um bebê por causa
daquilo que não posso ter. Pelo menos eu
espero que não...
Daniel pega uma lágrima em seu
polegar e me olha, perplexo. Em seguida,
ele acaricia o meu rosto, com absoluta
gentileza, e me puxa para ele, me
segurando em seus braços.
— Dane-se – murmura ele, me
segurando apertado. – Posso fazer a coisa
do vídeo uma outra hora. – A ponta de
seus dedos passeia pela minha pele. –
Essa merda de academia...
Ele me segura contra seu corpo, me
acalmando. Ele ainda tem uma ereção,
mas é como se não a percebesse. Seu
abraço é delicioso, mas sei que não posso
manter isso comigo. Quando ele busca seu
celular, me contorço para longe de seu
abraço e digo:
— Não, está tudo bem. Vá para sua
conferência ou sei lá. Estou bem, e me
perdoe por ser uma banana.
— Tem certeza? Totalmente certa? Eu
não quero deixá-la, você sabe disso, não
sabe?
— Estou bem – garanto a ele, e com um
encolher de ombros, ele parece aceitar.
Deus, como sou mentirosa...
— Então tudo bem, se você tem certeza.
A voz dele parece de alguém que se
convenceu, mas seus olhos são cautelosos.
Ele me leva pela mão para fora do
quartinho de manutenção e de volta para o
hall de entrada aberto, rompendo o
círculo de cristal da nossa intimidade.
Segurando-me pelos braços, ele olha
nos meus olhos, tudo prático, sensato e
racional.
— Olha, amanhã, talvez a gente possa
fazer planos para algo um pouco mais
normal. Como sugeri antes. O que acha
disso?
Eu dou de ombros. Estou começando a
achar que é um pouco difícil saber o que
fazer com o querido Professor Gostoso.
Sua identidade está se moldando e se
transformando, algumas vezes fundindo-se
com o Nêmeses, algumas vezes não. Ele é
um híbrido insondável e eu não tenho
certeza de como lidar com ele.
— Muito chato? – ele levanta uma
sobrancelha, vejo uma provocação na
curva de sua boca.
— Não. Não mesmo. Chato é bom. É
menos assustador.
Ele abre a boca para concordar ou
discordar disso, mas de repente o
motorista do táxi buzina e nós dois damos
um pulo. Estou surpresa que ele não tenha
buzinado antes, mas talvez ele tenha feito
isso, mas eu devia estar tão alto na
estratosfera que nem escutei.
— Olha, vejo você amanhã na
biblioteca. – A buzina toca novamente. –
Ou quem sabe posso vir buscar você e...
— Não, não, vejo você lá. Prefiro
minha viagem de ônibus de manhã para
entrar no “modo de trabalho”.
— Tudo bem, então. Vejo você amanhã.
– Ele se curva, me dá um beijinho na
bochecha, então se vira e vai para a porta.
Quando chega lá, ele se vira, pisca e diz:
– Divirta-se com o Nêmeses nesta noite!
Então, por apenas um segundo, ele
parece ficar mais sério. Quando parecia
estar no ponto de dizer mais alguma coisa,
ele morde o lábio e me dá um pequeno
aceno.
Então, antes mesmo que pudesse gritar
de volta que nem mesmo me daria ao
trabalho de ligar meu computador, ele
destranca a porta e vai embora.
— Mas que merda é isso aqui?
Levanto da poltrona desgostosa,
marcho para a cozinha e jogo no lixo meu
“jantar na bandeja” congelado e
requentado. Como regra geral, essas
refeições prontas são um prazer culpado
para mim, mas hoje à noite minha escolha
não tem gosto de nada.
Estou inquieta, nervosa, tensa. Se eu
não tivesse tido todos aqueles orgasmos
mais cedo, lá embaixo no quartinho de
limpeza, poderia jurar que meu problema
seria frustração. Talvez eu ainda precise
gozar, de novo, mais vezes, que seja.
Minha mente é um turbilhão de
pensamentos e variáveis e coisas
perturbadoras, muitas delas relacionadas
com Daniel e Nêmeses e algumas com
meu ex e o dinheiro da casa.
Dou uma olhada para meu laptop,
colocado na mesa, me desafiando. Se
Daniel está ocupado nesta noite, então não
haverá Nêmeses com quem brincar. E
caso ele esteja por aí, isso quer dizer que
ele não é o Daniel... E eu quero que seja
ele. Eu acho... Não acho? E lá vamos nós
de novo, a mente dando voltas e mais
voltas.
Bem, foda-se, homem misterioso, você
está tão confuso com as coisas quanto eu.
Preciso de um pouco de ar. Calço meu
par de tênis, pego uma jaqueta de algodão
e minha bolsa e em poucos minutos estou
do lado de fora da porta da frente, indo
para dentro dessa noite agradável para um
passeio. Eu preciso gastar um pouco de
energia, alguma tensão, algumas calorias,
e uma rápida caminhada parece ser a
terapia perfeita para arejar a cabeça.
Especialmente se eu pegar um peixe com
batata frita no caminho de volta para casa.
Uma ou duas horas mais tarde, estou de
volta. E minha cabeça ainda não está
suficientemente limpa. Na verdade, estou
mais confusa agora do que quando estava
ao sair...
No início, tudo correu como o
planejado. Em vez de um passeio casual
por aí, decidi fazer uma caminhada rápida
até o centro da cidade e de lá dar uma
volta pela Piazza. Ela é o esforço de
regeneração urbana da cidade no
desenvolvimento daquilo que eles
chamam ridiculamente de “café cultural”,
uma praça aberta que beira o canal,
rodeada por bares e cafés e uma
variedade de boutiques da moda que estão
abertos à noite. Não é Paris ou Milão,
mas não está tão mal, e eu me achei
bastante cosmopolita, sentada em um
banco comendo minhas batatas fritas e
b e b e n d o citron pressé enquanto
observava as fontes e os rituais de
acasalamento dos habitantes da Piazza.
Depois de um tempo, porém, a
novidade se desgastou e comecei a me
sentir um pouco sozinha. Esse é o tipo de
lugar que você tem que visitar com seus
amigos, ou ter uma companhia próxima
para poder curtir apropriadamente.
Comecei a fantasiar sobre a ideia de estar
sentada lá com Daniel, sendo admirada e
invejada por causa de minha companhia
bonita e famosa. Comecei a pensar sobre
como seria legal o estar beijando do jeito
que um monte de casais estava fazendo
por toda a praça.
Só beijar. Nada mais do que isso. Nada
de ficar passando a mão e fazendo
carícias e mostrar ao outro as suas partes
impróprias.
Mas qual é o problema comigo? Ela já
me disse o que pode oferecer e achei que
tinha aceitado bem. Em vez disso, olha eu
aqui com vontade de mais. Mais o quê...
Mais romance? Mais...?
Os pensamentos eram assustadores e de
repente a Piazza não era mais a distração
que eu esperava que fosse. Decidi pegar o
ônibus de volta para casa em vez de
andar, para voltar mais rápido. Tomando
um atalho que cortava um beco para
chegar até o ponto de ônibus, aconteceu
de eu presenciar uma cena que poderia
facilmente ter saído de minha vida...
Em uma entrada de tijolos, maliluminada
pelo brilho da lâmpada de um
poste mais à frente, um casal estava
trepando. Bem ali. Encostado contra a
parede. Um procurando o outro como cães
no cio, gemendo e balançando contra a
alvenaria.
Ela era loira e bonita. Ele era grande.
Um homem grande usando um casaco
escuro, suas calças e suas cuecas
abaixadas e deixando aparecer apenas um
pouco da coxa peluda atrás. Ele estava
segurando a mulher por seus quadris,
erguendo-a até ele, sua pélvis poderosa se
movendo como uma britadeira enquanto
ela o arranhava, como se lutasse por sua
vida, a cabeça jogada contra a parede,
enquanto ele enterrava o rosto no pescoço
da mulher como se fosse um vampiro.
Perdidos em sua paixão, eles não me
viram passar. Para os dois eu estava em
outro planeta, embora eu exista em um
universo que eles deveriam entender. O
reino do sexo louco e de fazer coisas
malucas no calor do momento.
Eu não conseguia me mexer. Eu tinha
que assistir àquilo tudo, com minhas
próprias entranhas se remoendo.
A menina falava, gemendo e ofegando e
instigando o homem, enquanto ele
acentuava suas estocadas com uma série
de grunhidos baixos e felizes. Quando
eles se viraram um pouquinho de lado,
esforçando-se para conseguir uma
penetração mais profunda, pude dar uma
olhada melhor nele, em seu perfil. E me
pareceu que eu o conhecia.
Eu ainda acho que pode ter sido
alucinação, mas eu podia jurar que o
garanhão com tesão no beco era Robert
Stone, o diretor de finanças do distrito. Eu
o vi por várias vezes na biblioteca, a
passos largos para participar de reuniões
em nosso auditório, e ele sempre provoca
uma certa agitação na plateia feminina.
Ele é um homem robusto e grisalho de
meia-idade, mas é daqueles que dá pra
ver que é um animal entre os lençóis. E
nos becos também, aparentemente. Porque
logo sua namorada soltou um grito, os
olhos reviraram e ela gozou.
Eu me senti como se fosse uma ladra,
cometendo um roubo sexual para obter
emoções clandestinas, mas ainda não
conseguia retirar meus olhos da vista de
seus corpos se mexendo com aqueles
espasmos. Obriguei-me a me afastar, mas,
assim que fiz isso, aquele homem grande,
bonito e vestido de preto olhou em volta e
pareceu me ver nas sombras... E deu uma
piscadela. Eu corri.
Agora estou em casa de novo, e não
mais resolvida do que antes. Se não for
por nenhum outro motivo, estou mais
abalada e confusa do que nunca. Daniel?
Nêmeses? Um? Ou dois? E com qual dos
dois eu gostaria de ter estado naquele
beco? Ai, que inferno...
Começo a olhar meu guarda-roupa e
escolho as roupas que vou usar amanhã.
Ignorando o laptop. Tiro a roupa, me lavo
e escovo os dentes e hidrato o rosto, e
logo estou pronta para ir para a cama.
Ignorando o laptop. Ligo a minha pequena
televisão do quarto e me ajeito
confortavelmente para assistir a um pouco
da programação de fim de noite.
Ignorando o laptop.
— Droga!
Acendo o abajur de cabeceira, alcanço
a fonte de energia, conecto as duas
extremidades e ligo o computador.
No começo, resisto à ideia de acessar o
programa de mensagens instantâneas e
fico enganando a mim mesma verificando
meu giro habitual de notícias, sites de
filmes, de humor, Wikipédia, Amazon.
Mas depois de apenas alguns vários
minutos, carrego o programa de
mensagens, esperando que ele viesse à
vida com alguma comunicação
desesperadamente sexy de Nêmeses. Mas
não, o avatar dele estava apagado.
Nenhum sinal de vida. Nada daquelas
conversas rudes e grosseiras sobre sexo, e
de tirar o fôlego.
De certa forma, no entanto, isso é
importante. Daniel está ocupado nesta
noite. Ele tem aquela videoconferência e
um trabalho para escrever. Ou seja, isso
deveria ser um clique na caixinha “Sim,
Nêmeses é Daniel”. Mas ainda me
pergunto se não é porque eu quero que
eles sejam a mesma pessoa. Eu quero
confiar em Daniel. Eu quero me
aproximar dele. Eu quero... Bem, eu quero
ter alguma coisa de verdade com ele. Mas
espere, será que isso é uma coisa sadia e
desejável, se ele é um assediador
pervertido e desonesto, que gosta de
brincar com esses jogos sexuais
distorcidos estando escondido detrás de
uma máscara?
Aquela cena no beco apenas agitou tudo
de novo. Os anseios que estão fervilhando
constantemente em meu sangue. Eu sinto
como se estivesse sofrendo com uma
febre leve e ainda consigo ouvir os
gemidos e suspiros da linda garota loira.
E ainda consigo ver a piscadela de
reconhecimento daquele enorme homem
vestido de preto que, por acaso, era o
diretor de finanças do distrito.
“Bastardo!” Arremesso o insulto a uma
espécie de combinação vaga de Daniel,
Nêmeses e Robert Stone, e empurro meu
laptop para o lado da cama. Alguma
programação sem sentido de fim de noite
pode me distrair. É uma esperança vã,
mas eu rolo para o lado e tento mergulhar
em um programa qualquer. Eu estou na
segunda temporada do meu programa
favorito, Polícia, Câmera, Ação!, e, na
verdade, rindo das palhaçadas de um
motorista bêbado falhando
miseravelmente em um teste de
sobriedade quando o laptop ao meu lado
começa a fazer “Bing bong!”.
Nêmeses quer conversar.
7
A história de um homem
aleatório
Eu me sinto como se estivesse num
elevador onde de repente o cabo se
rompeu. A realidade cai na escuridão.
Arrasto o laptop até meus joelhos e abro a
janela do bate-papo.
NÊMESES: E então, você tem algo para
me contar?
Ah, ele vai direto ao ponto, hein? Nada
de sutilezas ou gentilezas. Nada de
avançar com cautela. Meu coração bate
forte no peito. Minha mente se preenche
com a imagem de Daniel.
GAROTADABIBLIOTECA: Sim.
Eu vejo um sorriso triunfante nele, tão
tipicamente masculino. Sim, você só me
ama on-line se eu compartilhar com você
todos os detalhes sujos, certo? Mesmo
que você já esteja sabendo de tudo, e eu
sei que sim.
De repente, quero misturar as coisas,
surpreendê-lo, sair do campo do comum
com algo que ele desconheça.
NÊMESES: Esplêndido! Minha corajosa
Gwendolynne... Eu sabia que podia
confiar em você. Por favor, vamos lá, vá
em frente!
Mas veja que insolente! Ele pensa que
pode me controlar!
Eu sorrio e tento recuperar meu centro,
em meio à irrealidade que de certa forma
me faz voltar a um lugar mais real. Assim
posso jogar meu próprio jogo. Posso ficar
“pau a pau” com ele, lado a lado. Não há
nada a temer... Eu o conheço.
GAROTADABIBLIOTECA: Eu saí para
dar uma caminhada esta noite. Eu vi um
homem e uma mulher em um beco,
trepando. Foi uma das coisas mais
quentes que eu já vi na minha vida.
Sim, perdendo apenas para assistir ao
belo acadêmico lançando-se ao êxtase no
banheiro do piso inferior, no trabalho.
Talvez eu devesse falar sobre
Daniel/Nêmeses? O que será que pensaria
a respeito disso?
O cursor pisca... E eu quase consigo
ouvi-lo dizendo “Er... O quê?”
Será que ele vai aceitar a minha
jogada? Vai conseguir jogar de acordo
com a minha orientação? Ou será que ele
é como meu ex-marido que se chateia
quando as coisas não vão como ele quer?
Mas eu não consigo vê-lo se comportando
como uma criança mimada de modo
algum. Ele pode ser desonesto e um
grande pervertido, mas ainda assim é um
adulto.
No entanto, ele está demorando um
tempo danado para responder. Mas de
repente...
NÊMESES: Sério? Bem, essa não é
exatamente a história que eu estava
esperando, mas parece intrigante. Eu
adoraria saber mais sobre a história dos
seus amigos impetuosos no beco. Por
favor, discorra sobre isso.
Impetuosos? Discorrer sobre a
história? Ah, sim, definitivamente você é
Daniel...
GAROTADABIBLIOTECA: Eu saí para
tomar um ar. Precisava espairecer.
Estou com um montão de coisas na
cabeça.
Faça com isso o que quiser...
GAROTADABIBLIOTECA: Decidi pegar
um ônibus para ir para casa. Estava com
pressa para chegar ao ponto de ônibus,
então revolvi pegar um atalho. Ouvi um
som e então os vi. Ele a mantinha contra
a parede e estava transando com ela. Os
tornozelos dela estavam suspensos por
trás das costas dele e suas calças, na
metade das coxas. Ele realmente metia
nela com vontade e então ela gemia,
gemia, contorcendo-se sobre ele e
pagando aquilo que recebia na mesma
moeda.
E eu fiquei com inveja, quase disse isso
a ele. Mas recuei. Eu não vou entregar
todo o ouro de bandeja para ele de uma
vez, não.
NÊMESES: Isso me parece um cenário
delicioso. Gwendolynne, você é uma
mulher de muita sorte. Eu gostaria de
estar lá com você. Talvez eu a tivesse
arrastado ao beco mais próximo para
fazer o mesmo. Será que você teria
gostado?
Mas você fez isso, não fez? Ou pelo
menos algo parecido? A imagem dos dois
amantes no beco se desvanece em minha
imaginação, substituída por outra muito
mais vívida, uma memória sensorial
completa de ser desarmada por Daniel
naquele quartinho de material de limpeza.
Beijada e acariciada por aquele estranho
que eu mal conheço, levada ao orgasmo,
sujeita aos seus caprichos, mas sendo
deliciosamente apreciada também.
NÊMESES: Gwendolynne, você está ai?
Será que você gostaria de estar em um
beco em algum lugar e trepando comigo
agora?
Oh! Claro! Agora mesmo, somente isso
e nada mais.
GAROTADABIBLIOTECA: Sim...
NÊMESES: Se eu enviar um convite
para você me encontrar em algum lugar,
você iria? Se eu te chamar agora mesmo,
você me deixaria te comer? Fazer como
eles e trepar contra a parede?
Se eu fizer isso, o jogo estará
terminado. Será que estou pronta para um
novo jogo?
GAROTADABIBLIOTECA: Já está tarde.
E eu preciso dormir porque tenho que
acordar cedo para trabalhar amanhã.
Não que eu não queira. Mas temos que
ser práticos, Nêmeses. É chato, mas é um
fato da vida.
Agora eu destruí tudo. Estraguei o que
estava rolando. Eu posso quase provar
sua decepção no ar, vindo pelo wi-fi ao
longo da conexão. Sou a garota da
covardia, isso sim.
NÊMESES: Você está certa, minha
deusa da biblioteca. Eu estou sendo meio
ridículo. Deixei minha obsessão tomar
conta de mim e esqueci que você tem
uma vida para lidar. Será que é melhor
eu deixar você dormir um pouco agora?
Caramba, que sério. Tão razoável.
Estou tocada por sua consideração, mas
agora quem se sente ridícula sou eu. Eu
quero “ridículo”, quero a excitação de
novo, o sentimento de entrar no plano
cambaleante à beira da loucura.
GAROTADABIBLIOTECA: Não estou
dizendo que não quero mais ficar aqui
conversando com você no chat. E, seja
como for, ainda não respondi a sua
primeira pergunta. Sobre a penalidade.
Passam-se alguns instantes e quando eu
já estou prestes a escrever de novo, as
palavras aparecem em um fluxo constante
na tela.
NÊMESES: Bravo, minha linda
Gwendolynne. Eu sabia que você não
iria me decepcionar. Você fez o que eu
disse para você fazer? Você se mostrou
para um homem?
Caio contra os travesseiros com alívio.
Eu me sinto solta novamente. Sexy. Ainda
que com o coração batendo depressa com
o nervosismo, mas ao mesmo tempo
relaxada, como se estivesse na companhia
de um velho amigo, sendo este de natureza
dupla, um tentador campo minado. Mesmo
que, na verdade, eu mal o conheça.
GAROTADABIBLIOTECA: Sim, claro que
sim. Na livraria. Por pouco tempo.
NÊMESES: E quem é esse sujeito de
sorte? Ele é digno de você? Será que ele
soube apreciar o presente que lhe foi
dado?
Colocar o seu nome real em nosso batepapo
on-line torna o jogo muito arriscado.
É chegar perto demais. E o jogo pode
desmoronar em segundos.
GAROTADABIBLIOTECA: É somente um
homem – um homem aleatório – um par
de olhos para olhar para mim. Só isso.
Há um longo silêncio pontuado pelo
piscar do cursor e pelo comentário na
televisão. Como a tensão aumenta, uso o
controle remoto e coloco na função
“mudo”. Insanamente, tenho medo de
perder a resposta dele e não posso me
distrair com a televisão.
NÊMESES: Que sorte a dele. Que sorte
a dele de poder ver sua beleza, seu sexo.
E cada detalhe dele. Você exibiu-se para
ele? Permitiu que ele visse a bela e doce
flor da sua xoxota... Suas dobras
perfeitas e rosadas... Seu clitóris? Ah,
como ele é feliz de poder ver tudo isso.
Eu gostaria de ouvir sua voz. Ouvir
suas palavras. Sei que são apenas pixels
na tela, mas há uma inconfundível nuance
nelas. O que é isso? Ironia? É ridículo,
mas sinto uma certa tristeza sobre aquele
fraseado.
E ele continua a repetir a palavra
“ver”.
GAROTADABIBLIOTECA: Não se
preocupe, ele viu apenas de relance.
Você sabe tanto sobre minha boceta
quanto ele.
Especialmente porque você tocou nela.
Digitei as seguintes palavras “Você é
Daniel?”, mas deletei logo depois. É
muito cedo para isso. Ele mesmo irá dizer
quando será o tempo certo para isso.
NÊMESES: Como você se sentiu?
Assim, fazendo algo tão impertinente, tão
ousado? Será que isto excitou você?
Se isso me excitou? Diabos... Claro que
sim! O sexo no meu casamento era bom,
seguro, porém comum, nada de
extravagante. Não era nada parecido com
isto.
GAROTADABIBLIOTECA: Ah, sim. Isso
me excitou.
Ele quer que eu entre em detalhes, isso
é óbvio, mas, que diabos, ele vai ter que
pedir para que eu dê detalhes. Posso até
sentir como ele está sorrindo, onde quer
que esteja, mas não vejo seu rosto desta
vez, apenas uma sombra-fantasma de um
par de lábios bonitos bem-delineados e o
brilho de seus dentes brancos. Deus, isso
é tão estranho! É como se Daniel e
Nêmeses estivessem se separando de
novo e um minúsculo sussurro de dúvida
começa a cutucar meu cérebro.
NÊMESES: E você não fez nada a
respeito disso? Você não pediu a esse
homem aleatório que trepasse com você
e aliviasse a sua frustração? Ou saiu
furtivamente para um lugar secreto e
cuidou disso sozinha?
Ah, espertinho, nenhuma das duas
opções.
Eu até ia digitar isso, mas neste
momento estou tremendo de verdade. É
uma estranha dança. Um jogo de gato e
rato. Eu deveria gritar, exigir mais
clareza, exigir sua identidade. Mas eu sei
que não vou fazer isso. Estou impedida de
fazer isso e meu instinto me diz que ele
está preso à mesma inibição. Uma
servidão da mente à qual ele nos prendeu
e sem que nenhum de nós percebesse.
Nunca aconteceu nada parecido com isso
antes. Eu nunca imaginei o modo sexual e
intelectual operando junto. Mas agora é
tão essencial como respirar.
GAROTADABIBLIOTECA: Não, nada
disso. Não fiz nada dessas coisas.
Pausa.
GAROTADABIBLIOTECA: Embora eu
quisesse, qualquer uma delas. Ou ambas!
Agora eu espero que ele tenha perdido
o fôlego. Ou algo do gênero. De qualquer
maneira, ele leva um minuto para
absorver o que eu disse. E conforme os
segundos vão passando, a necessidade de
“cuidar disso sozinha” vai crescendo e
crescendo dentro de mim.
NÊMESES: O quê? Nenhum alívio para
minha deliciosa Gwendolynne? Isto é
uma vergonha. Uma linda mulher como
você nunca deve ficar com falta de nada.
Você nunca deve negar nada a si mesma,
nunca.
Ele volta a fazer uma pausa e me deixa
em suspense.
NÊMESES: A menos, é claro, que eu
diga a você para fazer isso.
GAROTADABIBLIOTECA: Eu nunca
disse que não gozei.
Sim, faça o que quiser com isso, senhor
– ou deveria dizer Professor Sabe-Tudo!
O cursor pisca e pisca e eu considero
minhas opções. Devo preparar para mim
uma xícara de chá? Devo aumentar o som
d e Polícia, Câmera, Ação!? Devo
escorregar minha mão para baixo do meu
pijama e cuidar de mim mesma? Seria
como roubar um prazer bem debaixo do
nariz cibernético do Nêmeses e ganhar
dele em seu próprio jogo. No entanto eu
tenho a estranha sensação de que ele
saberia que estou me tocando. Ele já deve
saber sim.
Apesar de tudo, eu já estou puxando o
cordão do meu pijama quando as palavras
começam a fluir na caixa de mensagem
novamente.
NÊMESES: Meu Deus, você é a mais
tentadora e rebelde mulher do mundo,
Gwendolynne. Você realmente parece se
deliciar quando me deixa perplexo e me
provoca.
Tudo bem, culpada, culpada!
NÊMESES: Eu espero franqueza total
da sua parte e você me ilude e me
engana a cada etapa do jogo. Eu deveria
de fato lhe exigir outra punição. Ou
talvez devêssemos elevar o jogo para o
próximo nível?
GAROTADABIBLIOTECA: O quê?
Ele pode ouvir as batidas do meu
coração?
NÊMESES: No próximo nível nós vamos
nos encontrar e eu realmente vou punila.
Oh meu Deus! É isso que eu realmente
quero. Mas ao mesmo tempo acho que não
quero não. Eu tenho medo do novo jogo e,
no entanto, estou começando a ficar
frustrada com nossos subterfúgios. A
contrariedade do meu parceiro começa a
se espalhar por mim e acho que nem ele
nem eu sabemos concretamente o que nós
queremos agora.
Mas as fantasias de punição
desafiadoramente empurram ainda mais as
minhas mãos em direção ao meio das
minhas pernas. Eu vou ter o meu prazer
agora, e dane-se ele! Eu gemo quando
descubro a toda a minha umidade, minha
inundação.
As visões de Daniel de pé sobre mim,
vestido de preto e com suas feições meio
cobertas pela máscara de couro me fazem
contorcer contra a cama com meu laptop
balança nos joelhos. Mantenho Nêmeses
esperando deliberadamente enquanto
acaricio meu clitóris. As duas pessoas
estão fundidas em minha mente agora
independentemente da realidade. Nêmeses
tem a linda face de Daniel e seu belo
rosto paira sobre mim como um príncipe
de sensualidade ameaçadora.
Meu clitóris está tão sensível que mal
posso tocá-lo, mas mesmo assim continuo
mexendo nele – punindo a mim mesma –
implacavelmente indo e vindo e dando
voltas e voltas. E eu fico esperando a
exigência: “Gwendolynne, o que você está
fazendo?”. Especialmente quando eu pego
o minúsculo pedaço de carne entre a ponta
de meus dedos e puxo delicadamente.
Estou de pé, metaforicamente, na ponta
dos pés no topo do desfiladeiro.
Surpreendentemente, em seguida, eu
recuo. Tudo por causa dele.
Os meus dedos estão brilhantes por
causa da minha excitação quando os
aplico no teclado.
GAROTADABIBLIOTECA: Quando foi
que eu disse que usaria de franqueza
total? Eu não me lembro disso.
NÊMESES: Touché!
E isso é tudo? Não aparecem mais
palavras por alguns momentos e eu entro
em pânico. E se ele não está interessado
em nada mais que não seja franqueza
total? Mas então, isso é besteira. Ele não
está se abrindo comigo, não é? Tudo isso
é um disfarce por trás de um nome bobo.
Eu estou praticamente certa de que
Nêmeses é Daniel e, mais ainda, aposto
que ele sabe que eu sei. E então, qual de
nós dois vai começar o novo jogo? Eu
posso fazer isso! Dane-se, eu quero isso!
Sem pensar muito nas consequências,
eu começo a teclar de novo.
GAROTADABIBLIOTECA: Só que eu
acho que deveria ser franca, porque
preciso confessar algumas coisas. Isto
está fervendo em minha mente, então
para quem eu poderia contar se não
fosse para você?
Em qualquer um de seus disfarces.
NÊMESES: Assim é melhor. Agora sim
estamos chegando a algum lugar. Você
disse que gozou depois de mostrar sua
boceta para o seu tal de homem
aleatório. Conte-me com mais detalhes.
Eu quero saber tudo o que aconteceu.
Não deixe de contar nada.
Bem, eu acho que isso irá diverti-lo
sob uma diferente perspectiva. E talvez eu
v á trapacear. Isso vai adicionar um
pouco mais de tempero.
GAROTADABIBLIOTECA: Quando eu
mostrei para ele a minha boceta, ele
ficou excitado. Eu vi, mesmo através da
calça jeans, que ele ficou duro
e então pensei que, do mesmo jeito que
ele me viu, ele poderia querer que eu
visse o seu pinto.
NÊMESES: Parece justo.
GAROTADABIBLIOTECA: Então eu meio
que saltei em sua direção, abri o zíper
dele e o tirei para fora.
NÊMESES: Quer dizer que você abriu
as calças desse homem aleatório que
você mal conhece e expôs seu pênis?
Onde foi que isso tudo aconteceu? Isso
não foi na Biblioteca, foi?
GAROTADABIBLIOTECA: Não! Claro
que não! Eu ainda não estou tão louca
assim!
NÊMESES: Onde foi então? Lembre-se
de que eu quero detalhes, e não estou
conseguindo quase nenhum. Você se
esqueceu da punição?
Como eu poderia esquecer? Há uma
parte do meu cérebro que nunca vai parar
de pensar nisso. Fico imaginando a
punição. Essa humilhação simulada que
me faz derreter de desejo. As
ministrações de algumas como as facetas
ainda não encontradas e misteriosas do
Professor Daniel Brewster.
GAROTADABIBLIOTECA: Há um lugar
na biblioteca, lá em baixo no porão, que
é muito isolado, um refúgio para os
bibliotecários. Lugar perfeito para esse
tipo de coisa.
NÊMESES: Que tipo de coisa?
GAROTADABIBLIOTECA: Espere, estou
chegando lá.
Eu só quero me tocar novamente, mas
ele está me forçando a digitar. Bastardo,
ele é o único que merece ser punido. Por
um momento, eu me deixei vagar numa
fantasia de mim vestida com uma roupa de
couro. Tinha perdido um pouco de peso e
estava linda, e ele está ajoelhado na
minha frente. Eu vejo nele a forma
idealizada do sexo masculino, o arquétipo
de músculos fortes e pele brilhante, mas
seu cabelo é escuro e selvagem, o cabelo
de Daniel. Eu não vejo nenhum rosto. Só
vejo como seus lábios estão beijando
minha bota brilhantemente polida.
Meus dedos estão deslizando sobre o
teclado e quase começo a descrever o
homem subjugado, então eu me lembro
daquilo que deveria estar contando ao
Nêmeses.
GAROTADABIBLIOTECA: Ele era lindo e
grande e eu chupava ele. Ele encheu
minha boca, e estava muito delicioso. Eu
chupei até que ele gozou e eu engoli
tudo. Estava muito gostoso.
NÊMESES: Você está querendo dizer
que fez sexo oral com um homem
estranho, com este homem aleatório?
GAROTADABIBLIOTECA: Ele não é um
estranho. Eu o conheço um pouco. E
gosto dele. Na verdade, é exatamente o
tipo de homem para quem eu faria um
boquete de qualquer forma.
Parece que eu consigo sentir o sabor de
Daniel novamente, que vem misturado
com o aroma de excitação sexual e que
voa pela rede telefônica, espalhando-se
por bytes por segundo desde o Nêmeses
até mim. É como se eu pudesse sentir a
energia e o sangue endurecendo o seu
pênis.
Estou descendo em espiral em um
mundo escuro e melado e ele está a meu
lado. Sorrindo. E eu lhe devolvo o
sorriso, observando o pulsar do cursor
com um batimento cardíaco ou o pulsar do
meu clitóris.
NÊMESES: Então, quantas vezes você
realiza boquetes nos homens de que
gosta? Uma vez? Duas vezes? Três vezes
por semana? O que você faz? Você os
seleciona na biblioteca, depois os seduz
até esse seu esconderijo no porão e
chupa o pau deles? Você está começando
a soar para mim, Gwendolynne, como
uma menina muito sapeca e assanhada,
uma prostituta. Parece que você é uma
mulher de apetites selvagens e que tem
muito pouco controle sobre eles.
Eu balanço meus quadris contra o
colchão. Ele está certo. Eu posso cheirar
a minha excitação, enfiando meus dedos
entre minhas coxas. Meus apetites são
selvagens, mas foi ele quem os levou a
essa intensidade. Por causa dele, eu me
sinto como se tivesse renascido, como se
tivessem arrancado minha pele. Eu me
sinto totalmente diferente. Antes, eu era
quieta. Vivia em segurança. Era feliz, mas
de uma forma sem grandes sobressaltos.
Agora, sinto prazer por todos os lugares, e
gosto disso, adoro isso. Não, eu amo isso!
E amo quando ele me descreve à moda
antiga como sapeca e assanhada.
GAROTADABIBLIOTECA: Bem, eu não
tenho a chance de fazer boquetes com a
frequência que eu gostaria. Foi por isso
que agarrei a chance com meu amigo
aleatório assim que ela surgiu. Era uma
oportunidade perfeita. Eu não posso
fazer isso com você, então pensei em
fazer nele em seu lugar.
As palavras não aparecem, mas ouço
uma risada masculina e alegre em minha
cabeça. Eu sei que fiz cócegas nele, e de
repente do nada me sinto um tanto
melancólica. Eu gostaria, nossa, gostaria
muito que ele estivesse aqui ao meu lado
na cama, e assim eu poderia empurrar meu
laptop de lado e nós poderíamos fazer
amor. Talvez eu pudesse até lhe dar um
boquete primeiro, pelo menos para
começar. Depois, então, eu adoraria
empurrá-lo na cama e subir nele, montada
como uma amazona e tomando o controle
da situação. E dele.
NÊMESES: Você vai ter sua chance,
minha querida. Você não precisa se
preocupar. Terei todo o prazer de sua
boca que eu quero, linda Gwendolynne.
E isso será mais cedo do que imagina,
marque as minhas palavras.
Pode vir, machão! Eu posso com ele!
Eu me sinto como se estivesse saltando e
socando o ar, mas me contento em
exclamar “Sim!” para o meu quarto vazio.
GAROTADABIBLIOTECA: Isso é sério?
Faço uma pausa e deixo que as
palavras sejam absorvidas. Então, o atinjo
com um ataque ousado.
GAROTADABIBLIOTECA: Talvez você já
tenha tido isso?
Longo silêncio. Silêncio, por longo
tempo. Oh merda, eu
Estraguei tudo.
NÊMESES: Eu acho que você está
cansada, minha querida. Você está
falando em enigmas. Será que devo
deixá-la dormir agora?
Meu coração dispara de novo. Ele não
negou nem confirmou. Será que devo
pressionar mais um pouco?
Não. Ainda não. Ainda não.
GAROTADABIBLIOTECA: Eu estou bem.
Não estou cansada. Na verdade, estou
com tesão. Você não pode provocar uma
garota dessa maneira e daí decidir que
já foi o suficiente.
Mais uma vez o fantasma de um sorriso
aparece, e o fantasma de um sorriso muito
bonito. Eu sinto uma admissão tácita. Ele
realmente sabe que eu sei, e que sei que
ele sabe que eu sei. Quero abraçar-me e
rir e rolar sobre a cama. Mas, mais do que
isso, eu quero gozar, e ele também sabe
disso.
NÊMESES: Você é muito impertinente e
direta, Gwendolynne. Eu pensei que
estivesse no comando aqui. Se eu entrar
em seu jogo e brincarmos mais um pouco
hoje à noite, haverá uma penalidade
maior. Eu poderia ter de obrigá-la a dar
o próximo passo e se arriscar em um
jogo maior.
Você sabe que eu quero isso, não é,
Nêmeses?
Suas palavras e os padrões de pixels
parecem transmitir-se diretamente ao meu
corpo como a eletricidade. Apenas o
pensamento desse tal jogo maior, esse
nível mais alto, esse envolvimento bem
profundo, faz a minha cabeça se sentir
mais leve, como se estivesse cheia de
espuma. Mostrei meu sexo esta tarde a um
homem que ainda é praticamente um
estranho. O que mais posso ser
manipulada para fazer? Mais ousadia?
Mais riscos? Eu estou entrando em uma
gaiola de veludo cheia de pecado.
GAROTADABIBLIOTECA: Dê o seu
melhor. Eu posso aguentar. Vamos jogar.
NÊMESES: Coloque dois dedos dentro
de si mesma. Brinque com eles para
dentro e para fora, como se eu estivesse
em cima de você e metendo dentro de
você. Faça isso por cinco minutos. Nada
de digitação. Apenas se coma com os
dedos.
GAROTADABIBLIOTECA: Tudo bem.
NÊMESES: Você pode imaginar-me
enquanto faz isso? Crie uma imagem de
mim em sua mente, ou escolha um rosto
que você
conhece e finja que ele sou eu.
Malandro espertinho.
GAROTADABIBLIOTECA: Eu posso
controlar isso sem problemas. Vou usar
aquele meu homem aleatório. Ele é muito
bonito.
NÊMESES: Bem, faça isso então, e seja
rápida, ou vou fazer com que use três
dedos.
GAROTADABIBLIOTECA: Tudo bem,
tudo bem.
Eu não posso esperar por sua resposta.
Eu jogo o laptop de lado, dando pouca
atenção para seus componentes frágeis, e
arranco as cobertas de cima de meus
quadris. Meu pijama gira em torno de
minhas coxas enquanto puxo para baixo e
para jogo para longe ao mesmo tempo,
esfregando minha bunda no colchão
quando faço isso.
O teto é uma tela para minhas fantasias
quando enfio a mão entre minhas coxas,
procurando o portal do meu sexo. Estou
fervendo de calor e umidade. Dois dedos
deslizam para dentro como se
mergulhassem em creme. Devo tentar um
terceiro? Devo me antecipar a ele?
É mais difícil do que eu esperava. Três
é muito. Mas respiro fundo, engolindo o
ar, e deixo me levar para outro lugar...
Para o porão da biblioteca... E estou em
cima da mesa, sendo montada por Daniel.
Meus três dedos passam a se tornar seu
magnífico pau, que penetra diretamente
em mim.
Ser arrebatada por ele é uma prova
deslumbrante. Estou penetrada, devastada,
aberta e esticada. Eu sei que sou eu,
realmente, mas de alguma forma, também
é ele, enorme e deslumbrante.
Eu juro que um dia vou fazer esse
sonho se tornar realidade.
Pernas bem abertas entre preciosos e
insubstituíveis documentos, me contorço
como um animal selvagem. Estou uma
confusão, uma bagunça, a saia toda
amontoada, a calcinha abaixada até um
dos tornozelos, aquilo que antes era uma
blusa imaculadamente branca está aberta e
o sutiã, empurrado para o lado.
Daniel/Nêmeses está por cima de mim,
enfiando forte e sua roupa também em
desalinho. Eu estou agarrando seu traseiro
nu enquanto ele mete e mete, minhas mãos
sob a sua camisa de algodão. Seu jeans
escuro caído até o meio de suas coxas.
Enquanto mexo em mim mesma, entro
cada vez mais profundamente em minha
imaginação. Daniel está me segurando
com um braço forte, enquanto acaricia
meus seios com a mão livre. Ele belisca e
torce meus mamilos e eu estou adorando
isso. É o sexo mais cru e desconfortável
que eu já tive, mas ainda toca meu
coração e emociona a minha alma.
Ah, eu quero você, Professor Gostoso.
Ah, como eu quero você.
Mexer em mim mesma desse jeito só
pode levar ao inevitável.
Um desempenho como este não pode
ser mantido por muito tempo. Meu corpo
convulsiona e eu grito de prazer, gozando
brutalmente. Minha respiração áspera
raspa o ar como se eu tivesse acabado de
correr uma maratona. A poucos metros de
mim, a janela do chat espera em um
silêncio vazio. Então, como se eu o
chamasse, as palavras voltam a aparecer
novamente.
NÊMESES: Então, Gwendolynne, você
já fez isso? Já fez o que eu pedi?
Levanto-me, enxugando os dedos sobre
o edredom. Mas que vagabunda eu sou. E
para que diabos serve aquela caixa de
lenços de papel ao lado da cama? Estou
realmente ficando desprezível.
Sentindo-me como se tivessem me
virado do avesso por uma centrífuga,
alcanço o laptop quase sem forças para
puxá-lo mais perto de mim. Meus braços
estão moles como os de uma boneca de
pano e eu só quero ficar sentada aqui
respirando por mais algum tempo, mas as
palavras de Nêmeses pulsam como se
tivessem sido gravadas a quente de modo
permanente na tela.
GAROTADABIBLIOTECA: Sim.
Isso é tudo que consigo digitar.
NÊMESES: Sim? Isso é tudo? Quero
detalhes, minha jovem, detalhes! Quero
uma descrição em glorioso tecnicolor e o
uso de precisa terminologia, ou então
irei lhe impor outra punição, e desta vez
será uma das grandes.
Que porco ganancioso! Sempre
lançando suas exigências e fazendo
ameaças. Eu vejo que ele sorri enquanto
brinca e me incita a fazer as coisas que
pede. E eu sorrio de volta. Minha vontade
é continuar brincando, mas estou cansada,
estou exausta.
GAROTADABIBLIOTECA: Você já me
esgotou. Estou exausta. Me dê a punição.
Seu grito de triunfo parece ecoar ao
longo dos quilômetros de telefonia e
através do wi-fi. Isso é exatamente o que
ele queria, e agora ele é o único que vai
fantasiar enquanto começa a usar a mão
em si mesmo. Imaginando que eu esteja
fazendo o ultrajante ato erótico que ele
criou.
NÊMESES: Prepare-se porque esse vai
ser dos grandes. Vou exigir um bocado
de você, minha querida. Um salto de
qualidade desta vez.
Meu coração bate com energia e,
apesar da letargia que toma conta de meu
corpo, começo a ficar excitada
novamente.
GAROTADABIBLIOTECA: Pode mandar.
E ele manda, e como ele manda... Mas
tudo que consigo pensar é na palavra
“querida”.
8
Um salto quântico
Mal posso esperar para contar ao
Professor Gostoso McLindo sobre isso!
Quero ver a cara dele quando eu
descrever a próxima punição. Eu quero
ver o sorriso escondido, a cumplicidade
secreta em seus olhos. Eu quero ver até
onde posso provocar até que ele venha
admitir que eu ganhei o jogo. Porque,
definitivamente, agora isso é uma
competição. Para ver até onde podemos ir
e quem vai ceder primeiro.
Então ele irá dizer: “Tudo bem, tudo
bem! Você me pegou! Eu sou Nêmeses!”.
Ou então eu irei dizer: “Admita! Admita!
Você é Nêmeses!”
Ainda há uma pequena noção, por trás
de minhas observações, uma pequeeeena
possibilidade de eu estar errada e ele não
ser Nêmeses. E de que estou de fato
participando de um jogo perigoso com
uma pessoa realmente pervertida e com
uma mente perturbada. Mas lá no fundo do
meu coração, onde a racionalidade é uma
visitante pouco frequente, eu sei, apenas
sei que Daniel Brewster é o meu
Nêmeses. Ou Nêmeses é meu Daniel. Seja
lá como for.
De qualquer forma, estou determinada a
fazê-lo desistir primeiro.
Hoje chamei todas as atenções para
mim na biblioteca, e devo admitir que as
olhadas que estou recebendo do técnico
de informática Greg, de Clarkey e também
do Senhor Johnson da Biblioteca Borough
têm sido incalculáveis. Como a cobertura
de um bolo delicioso.
Fui com minha roupa de bibliotecária
ninfomaníaca dos anos 1950 de novo.
Blusa justa, a saia apertada, as meias.
Uma vez mais, lamento que não posso
usar meus sapatos de salto alto no
departamento de empréstimos e na outras
áreas públicas do local. Os pisos foram
refeitos recentemente e saltos finos estão
expressamente proibidos.
Eu arrumei o meu cabelo hoje de uma
maneira ligeiramente diferente. Está preso
de forma frouxa, assimétrica, com muito
mais daquelas mechas finas ao redor do
meu rosto.
Realmente acho que esse look de
mulher-sexy-do-escritório tem tudo a ver
comigo e está definitivamente
funcionando. Nada mais dessa coisa de
ficar usando roupas largas e folgadas. A
partir de agora, vou remontar minha forma
de vestir e voltar para os dias em que era
ótimo ter uma abundância de curvas. Ora,
Marilyn Monroe seria tamanho grande
para os padrões estúpidos de hoje em dia,
e ela fazia os homens ficar de joelhos
para adorá-la como a uma deusa.
Parte de mim deseja que Daniel fique
rastejando também. Sim, isso é fato. Mas
outra parte, bem maior, fica mantendo
aquelas perturbadoras fantasias sobre eu
estar rastejando para ele, e mais, muito
mais. A máscara de couro e algumas
vezes um par de botas altas de couro
negro parecem aparecer bastante para
mim.
A caixa de sugestões não trouxe
nenhuma carta azul. Isso é decepcionante,
eu preciso admitir, mas é certo que posso
me consolar com o fato de que
desenvolvemos um modo de comunicação
bem mais interativo ultimamente.
Nêmeses até me deu um número de
telefone celular que está pronto para ser
usado, isso só depende da minha decisão.
Embora eu não saiba quando isso irá
acontecer. Esse foi outro daqueles
desafios malucos que ele colocou, o tal
salto quantitativo ao qual se referiu.
Ele deseja que eu aborde outros de
meus “homens aleatórios” em um bar. Diz
que poderá estar ou não me observando à
distância, disfarçado, enquanto eu escolho
um desconhecido a perigo para fazer sexo
anônimo. Fico me perguntando se ele anda
lendo um desses famosos blogs de garotas
de programa.
Sorrindo, eu olho ao redor da
biblioteca. Ela foi aberta há bem pouco
tempo e os frequentadores já estão
flutuando em torno das prateleiras ou se
organizando com seus papéis e anotações.
O que eles pensariam se soubessem o que
a sua conhecida senhorita Price está
prestes a fazer? Será que algum deles
suspeita de algo? Não são apenas as
sobrancelhas dos funcionários que se
arqueiam novamente esta manhã. Um dos
sujeitos desempregados também está
lançando olhares furtivos para mim por
cima do seu tabloide.
Para a minha tarefa de prostituta,
Nêmeses diz que preciso escolher um
hotel, e eu tenho uma bela ideia de qual
ele espera que eu escolha. Eu deveria
agradar a ele, mas seria divertido chocar
esse sujeito sugerindo um velho lugar
como Horse and Jockey ou o Master
Bricklays Arms.
Falando de Nêmeses, onde está o
suspeito principal nesta manhã? Eu
consegui roubar uns minutos e me
esgueirar lá embaixo para checar o
cubículo do Professor Gostoso antes da
hora de abertura da biblioteca, para ver se
ele tinha entrado pela porta dos fundos.
Mas não há sinal dele. O que por si só não
é incomum, afinal ele é um convidado de
honra aqui, mas não possui um horário
fixo. Ele nem sequer precisa vir todos os
dias. Embora eu penso que haveria para
um estímulo bastante picante acima do
Arquivo Livesay e de seus documentos
insubstituíveis.
A ideia de não o ver causa um
extraordinário efeito sobre mim. Eu
sempre achei que fosse modo de dizer
quando alguém descreve seu coração
afundando no peito, mas eu juro que o meu
caiu ao ponto mais profundo somente com
a ideia de não ver aquele rosto adorável
hoje.
Adorável... Mas que diabos há de
errado comigo? Eu estou apaixonada por
ele em vez de apenas imaginar ter loucos
jogos sexuais? Existem sentimentos
melhores e mais sérios espreitando na
luxúria? Agora sim isto é ser
deliberadamente estúpida.
Essa implicação alarmante abaixa a
bola do meu dia, mas eu não posso
mostrar isso ao meu público. Fixo um
sorriso em meu rosto e me lanço em
entusiasmados conselhos aos leitores, me
excedendo em atendimento até para as
pesquisas mais simples. Na hora do
intervalo, saio correndo para o porão,
mas tudo está envolto em escuridão e
volto para a luz ainda carregando aquele
vazio comigo.
Só preciso afastar a minha mente
desses homens com bocas maravilhosas,
dedos mágicos, processos mentais
perfeitamente demoníacos e imaginação
distorcida. Eu não ouso permitir que
minhas reflexões rebeldes desçam muito
para esses caminhos perigosos.
Ele só quer uma aventura temporária. E
é isso que Nêmeses também quer. Ah, isso
é mais do que uma asneira, é algo muito
errado, mas ainda assim estou ansiosa
para chegar a hora do almoço e poder
descer as escadas de novo e verificar se
ele está lá.
E logo quando estou prestes a sair do
trabalho, depois de perder todas as
esperanças, ele chega. E atravessa a porta
de entrada com uma mulher! Ela é linda...
Eles param no interior do saguão de
entrada, ela olha em seus olhos e, nesta
visão, tão cheia de suave preocupação, dá
um tapinha em seu braço e diz algo calmo
e solícito, inclinando-se para ele.
Sinto como se tivesse chumbo derretido
no estômago e logo quero arrancar os
olhos dela. Ela é mais velha do que eu e
do que ele, aparenta uns quarenta anos,
mas brilhando em sua exuberância. O
cabelo deve ter saído caro, com luzes de
diversos tons e o lindo terninho que está
usando grita bem alto “de marca”! Ela não
devia ser o tipo de Daniel, mas ele
devolve o olhar apaixonado dela com um
encolher de ombros e um torcer de lábios
que parece estranhamente íntimo. Agora
eu quero arrancar os olhos dele também.
Eu gostaria de ouvir o que eles estão
dizendo, mas, levando em conta a
linguagem corporal, o que eu posso
presumir é que ela está preocupada com
ele e tentando argumentar sobre alguma
coisa. Daniel está fazendo o “papel de
homem”, se encolhendo, ao mesmo tempo
que empurra seus óculos e esfrega os
olhos e remexe a parte de trás de seu
cabelo cacheado. Acontece mais um
pouco desse vaivém, e depois ela se
inclina e o beija suavemente no rosto. Isso
deposita um pouco de batom rosa na pele
do rosto dele, e depois, em mais um gesto
possessivo, ela tenta limpar.
Quando ela desaparece, Daniel lança
olhares em direção a minha mesa, mas
assim que ele começa a se aproximar, uma
voz esganiçada e bem preocupada de um
lado de mim me pede:
— Por favor, você pode me ajudar?
Eu tenho vontade de responder: “Não!
Vai à merda! É minha pausa para comer!”,
mas eu me viro e sorrio. É uma jovem
mulher que está sendo muito requisitada
por seu bebê no carrinho e me olha já com
lágrimas nos olhos. Hesitante, ela
descreve um projeto escolar que seu filho
mais velho está fazendo e que precisa ser
concluído para o dia seguinte. Nem todos
têm internet em casa, pelo jeito. No
entanto, ela descobriu que poderia usar
uma biblioteca pública pela primeira vez
em sua vida, em busca de recursos. Dez
minutos depois, e com sua pilha de livros
emprestados, ela está comovida e
extremamente grata. Mesmo no carrinho, o
bebê está mais calmo, sentindo a melhora
repentina dos espíritos da sua mãe tão
preocupada. Sua gratidão foi tão efusiva,
apesar de toda a minha atenção deslocada
para onde se encontra Daniel, que eu
também me sinto melhor. Há um consolo e
uma satisfação em fazer bem o seu
trabalho e chegar à essência dele em vez
de passar por um monte de trabalhos
burocráticos. Eu a incentivo a voltar e me
disponibilizo para que ela me procure
quando quiser e que me peça o que for
preciso.
Esse sentimento de missão profissional
se dissipa rapidamente, no entanto,
quando penso na Senhora Roupas de Grife
e seu direito divino de beijar Daniel em
público. Como há essa perene escala de
serviços na biblioteca e ninguém para me
aliviar nessa hora do almoço, eu fecho
minha mesa, vou para a seção dos
funcionários, bato o cartão e fujo pelas
escadas de volta ao porão.
Nada como um pouco de confronto para
liberar a crescente tensão. Bem, eu posso
pensar em coisas melhores... E, ei, quem
sabe consigo isso em vez de uma briga?
Quem sabe... Meu coração pula como uma
bola de borracha enquanto desço a passos
rápidos e numa velocidade imprudente. Se
o velho Senhor Johnson fica sabendo
disso, vou tomar uma reprimenda e tanto.
Mas quem se importa? Simplesmente
tenho que descobrir quem é essa mulher.
Eu sei que o meu ciúme é ridículo com
relação ao Professor Gostoso McLindo.
Não somos um casal. Nós nem sequer
fizemos sexo como deve ser feito. Uns
amassos e um boquete não constituem as
bases de um relacionamento estável. É
uma aventura temporária, lembra? Embora
a mulher do saguão de entrada agora
mesmo não pareça temporária nem um
caso à toa.
Eu me acalmo um pouco. Preciso
esfriar a cabeça. Isso é apenas um jogo.
Ele não está em seu cubículo. Livros e
documentos estão espalhados como de
costume, com o laptop brilhando
suavemente de um lado. Um do seus
joguinhos está piscando. Será que ele
realmente faz alguma coisa aqui em
baixo? Seu casaco de tweed está
estendido nas costas da cadeira. Eu me
pergunto se ele foi até o banheiro e fico
toda ouriçada quando minha lembrança se
volta para aquilo que vi da última vez que
o segui até aqui. Ele é tão bonito. Tão
elegante. Tão homem.
Um som baixinho me retira desses meus
devaneios luxuriosos. Parece um gemido,
ou pelo menos é assim que soa para mim.
Será que ele está fazendo aquilo tudo
novamente?
Caminho até a outra extremidade do
porão, onde alguns móveis já antigos e
castigados pelo tempo estão armazenados,
num tempo anterior quando a biblioteca
era um lugar mais calmo. Naquela época a
biblioteca tinha uma elegante sala de
leitura, com nobres móveis e sofás
estofados de couro para sentar e ler as
cópias do The Times. Esses móveis tão
veneráveis foram perdendo seu status,
mas eu descobri que quem perdeu mesmo
a compostura foi Daniel. Ele está
totalmente estendido em um sofá, um dos
seus braços jogado no rosto, cobrindo os
olhos e o outro braço largado em direção
ao piso, quase tocando o chão, e os óculos
pendurados em seus dedos. Ele parece um
cruzamento entre um anjo caído e um
poeta vitoriano destituído de sua face por
absinto e láudano.
— Você está bem?
O som da minha voz o desperta, e então
põe a mão em sua cabeça novamente.
— Sim... mais ou menos.
— Mentiroso.
Seus olhos parecem dois poços escuros
neste sombrio, mal-iluminado canto do
porão e ele está obviamente com dor. Esta
é a segunda vez em que eu o pego aqui
embaixo em um situação que está longe de
ser o auge de sua saúde.
Ele move as pernas para o chão,
fazendo um movimento para dar espaço
para mim no sofá. Eu me sento, mas ele
está fazendo força com os olhos para
enxergar, para tentar substituir os óculos,
e ainda não me olha diretamente. Como a
mulher elegante de antes, eu coloco a
minha mão no seu braço. Sua carne parece
quente e febril, através da camisa azulescura
de algodão.
— O que está acontecendo? Há algo de
errado.
— Dor de cabeça. Nada mais do que
isso. Não se aflija, é coisa normal.
Sua voz parece cansada, rude.
— Parece que você tem essas dores de
cabeça um pouco demais. Você já foi se
consultar com um médico?
Ele enquadra seus ombros e senta-se
em linha reta, e agora ele me olha, e o
brilho parece voltar à ele.
— Eu só estou trabalhando muito. É só
isso, não é nada.
Ele repousa sua mão sobre a minha,
seus dedos leves e se mexendo
ligeiramente.
— E como você está?
Em questão de segundos agora, tudo
muda porque ele me tocou. São os
mesmos dedos que me levaram à loucura
ontem, e seus delicados movimentos já me
levam para metade do caminho agora
mesmo. Num piscar de olhos, pulei do
mundo trabalhoso da biblioteca e de seus
orçamentos limitados e usuários ansiosos
e entrei no reino tipo panela de pressão de
Nêmeses e seus lúdicos jogos sexuais
psicológicos.
Aqui eu posso fazer qualquer coisa,
falar qualquer coisa e desejar qualquer
coisa.
— Você realmente quer saber?
— Claro que sim. Afinal de contas
somos amigos, não somos?
Que amigos... Eu olho para as suas
mãos e as quero em mim. Então parece
que vejo seus dedos segurando uma caneta
ou as chaves. Está na ponta de minha
língua a vontade de exigir a verdade, mas
em vez disso eu simplesmente digo:
— Tudo bem, eu vou lhe dizer como eu
me sinto. Eu sinto tesão. – Suas
sobrancelhas se levantam e ele sorri. –
Veja só isso. Que tal isso, é
suficientemente amistoso para você?
— Bem, isso é uma forma de tirar da
mente a dor de cabeça de um homem. –
Ele chega mais perto e eu sinto um toque
de sua deliciosa colônia. É amadeirada e
picante, com um ligeiro tom exótico. Lá
embaixo, sinto-me vibrar em resposta. –
Você... Er... Pretende fazer alguma coisa a
respeito disso? – Seus cílios grossos e
escuros flutuam para baixo. Ampliados
pela lente de seus óculos, se parecem com
leques de veludo preto sob uma luz fraca.
– Tudo puramente pelo interesse da nossa
amizade, claro. E isso ainda lhe daria
alguma coisa para contar ao seu Nêmeses.
— Foda-se o Nêmeses.
Eu rio assim que brota em mim a
certeza de que estou prestes a fazer
exatamente aquilo. Ele ri também, e acho
que estou tendo alucinações porque me
parece ver um brilho devasso saltando em
seus dentes muito brancos.
— De fato.
Ele concorda, inclinando levemente a
cabeça. Será que ele piscou? Ele poderia
ter feito isso. É bem possível que sim.
De fato, de fato. Ele é tão tentador, tão
delicioso, e há uma qualidade nele que me
faz sentir poderosa. Ele pode levar
vantagem na maioria das vezes, mas agora
ele está à beira da vulnerabilidade. Eu
avanço um pouco, fazendo-o inclinar-se
devagar, em seguida o pego pela parte de
trás do pescoço e trago seu rosto para lhe
dar um beijo. No último minuto ele retira
seus óculos e os lança para um lugar perto
do sofá. Eu ouço o toque macio deles
tocando no carpete já desgastado pelo
tempo. Espero que eles não tenham
quebrado, mas esta preocupação em si
está a milhares e milhares de quilômetros
de ser realmente importante. Eu amo a
sensação dos cachos do cabelo de Daniel
nos meus dedos e o calor úmido da sua
boca em minha língua. Eu amo o jeito que
ele faz “Hummmm...” Parece que ele
engole o sopro da minha vida.
Seu ato de concordância é apenas isso,
um ato. Enquanto estou beijando ele, suas
mãos trabalham inteligentemente, as
franjas da minha blusa já estão para fora
na minha cintura antes mesmo que eu
venha a ter conhecimento disto, e seus
dedos quentes já estão deslizando pelas
minhas costas procurando o fecho do meu
sutiã. Ele, com destreza suspeita, o gira e
o libera. A sensação do deslizar da minha
roupa pelo meu corpo é estranha e ao
mesmo tempo excitante. Ele logo
compensa essa estranheza ao deslizar sua
mão e capturar um de meus seios dandolhe
um aperto sensual. No mesmo instante
sua língua surge possuindo minha boca de
uma forma que nunca vivi.
Eu grito em silêncio e contorço os meus
quadris enquanto ele aperta o meu
mamilo. A dor é pequena, porém aguda e
penetra direto no meu coração e na minha
alma. Como diabos ele sabia que isso
faria com eu me excitasse? Nem eu mesma
sabia disso.
Ele faz isso de novo, mas não de uma
forma dura, e sim com autoridade e eu
sinto a adrenalina quente na minha
calcinha. De repente quero estar nua lá
embaixo. Quero de novo a mão dele ali
para me tocar, explorar e me dar prazer.
Quero os seus dedos dentro de mim,
talvez não três, mas certamente dois,
entrando, empurrando, e me preparando
para a entrada do seu pênis.
Alcançando minha saia enquanto ele
ainda está brincando com meus seios, eu a
coloco para cima, expondo minha cintaliga
e minhas meias. Puxo com ambas as
mãos, tirando todo o pano que possa
atrapalhar o caminho, juntando tudo na
minha cintura, e depois começo a puxar
minha calcinha para baixo. Daniel
abandona meus seios assim que percebe o
que estou fazendo, e me ajuda. Ele ajuda a
arrastar minha calcinha, passa a
peça pelos meus sapatos e então estou
parcialmente nua, somente desde
a minha saia amarrotada até a parte de
cima das coxas.
Meus olhos voam abertos e eu descubro
que os olhos de Daniel estão fechados,
aqueles cílios celestiais deitados sobre o
topo das maçãs do rosto. Ele está
saboreando-me na escuridão, empregando
seus toques apenas quando encontra as
rendas e o elástico de minha cinta-liga, e
então desliza seus dedos ao longo da faixa
escura de minha meia. A ponta de um dos
dedos escorrega sob o náilon, acariciando
delicadamente, a unha pressionada com
força contra a pele nua e suave, e que por
tanto tempo só havia sentido o meu
próprio toque quando me lavo... E de vez
quando me dou prazer.
Por cerca de um minuto, ele fica apenas
brincando com o dedo em torno dessa
parte da meia calça, me provocando. Ele
está tão perto do meu centro, mas vai ficar
longe de propósito. Eu posso sentir-me
escorrendo e fluindo, meu mel escorrendo
pelo couro antigo do sofá abaixo de mim.
Meu sexo está latejando, gritando
silenciosamente pelo contato.
Eu perco a paciência e coloco a sua
mão no meio das minhas pernas. Suportei
o suficiente dessa falta de ação, e o som
baixo de apreciação que Daniel emite em
minha boca me diz que ele não se
incomoda que eu tome a iniciativa.
Imediatamente ele assume a
configuração perfeita, sua mão colocada
delicadamente na minha vulva, o dedo
médio magistralmente entre meus lábios
vaginais e apertando o meu clitóris. Ele
pressiona forte,
o mesmo nível de força do momento em
que me beliscou, e sua outra mão passa
vigorosamente por dentro do meu sutiã
agora folgado, apertando delicadamente
de novo meu mamilo. Puxa, torce, prensa,
esfrega. Puxa, torce, prensa, esfrega.
Minha vagina está trêmula e se aperta e
eu quase mordo a língua de Daniel na hora
em que gozo. Eu fico feliz que ele tem o
domínio da minha boca, porque sem ele
eu já estaria gritando – e mesmo que estejamos
aqui abandonados nas entranhas
esquecidas da biblioteca, alguém me
ouviria.
Ele trabalha direitinho para que eu
chegue bem ao meu clímax. Ele é
implacável. Eu balanço e me contorço,
desempenhando o melhor que posso para
ele. Por dentro estou planejando minha
vingança. Ele comanda a minha paixão
agora, mas em breve eu vou possuir a
dele. Ainda vibrando, eu me afasto,
coloco as mãos em seu peito e o empurro
contra o sofá.
— Camisinha. Você tem uma
camisinha?
Um pouco ríspida, movendo-me sobre
ele, meio sem graça, mas com muita
determinação e quase já sem fôlego
— Sim.
Ele suspira para mim e com suas mãos
já se separando do meu corpo, vasculha
na parte detrás dos seus jeans, nos bolsos,
e puxa um daqueles familiares pacotinhos.
Olha que conveniente.
Seus olhos se abrem por alguns minutos
e ele me envia um pequeno e irônico
sorriso e um movimento nos ombros.
Seu demônio, você já estava
planejando isso há tempos! O tempo todo!
Eu quero sacudi-lo, repreendê-lo, dizer
que ele é um arrogante, bastardo,
presunçoso, provocador, pervertido,
manipulador. Mas eu não vou fazer isso
não, principalmente porque quero trepar
com esse homem.
Fixando-o com olhar severo de
advertência que ele quase deixa de ver,
porque se inclina para trás e fecha os
olhos novamente, eu ataco a fivela do
cinto, e então o botão da calça jeans.
Eu lanço um olhar severo, advertindo
que ele quase perdeu o jogo. Mas ele se
inclina para trás e fecha os olhos
novamente. Então eu vou para a fivela do
seu cinto e parto para o ataque novamente,
agora contra os botões.
Surpreendentemente ele está sem cueca e
confirma mais uma vez minha suposição
de que, na arrogância dele, ele estava
predeterminado a isso hoje. Minha
vontade é de lhe dizer que é um sujeito
muito convencido, mas estou abismada
demais com a gloriosa visão de seu pau,
subindo como uma lança rosada por entre
as dobras escuras de sua calça jeans.
Estou quase desmaiando de
antecipação. Eu quero ele. Eu quero ele
dentro de mim. Eu quero fazer sexo com o
famoso historiador que aparece na
televisão, o versátil, o demônio
espertinho Professor Daniel Brewster.
E eu quero isso agora.
— Me dê isso!
Eu pego o preservativo e o abro com a
boca. O lubrificante que tem lá dentro é
liso e sedoso, mas nem de perto tanto
quanto a cabeça do pênis de Daniel. Um
fluido claro como prata está escorrendo
da pontinha, sua excitação tão ansiosa e
reveladora quanto a minha.
Já faz algum tempo que não ponho uma
camisinha em um homem, mas essa é uma
daquelas habilidades de que a gente nunca
se esquece, porque ela vem com o
privilégio de lidar com a rigidez deliciosa
dele. Consigo alcançar o objetivo sem me
atrapalhar, mas o calor em sua carne
poderosa é enervante. Assim como é a
beleza agonizante de seu rosto enquanto
visto o seu pau.
Finalmente, ele está pronto. Agora com
a borracha ele parece mais duro e maior
do que antes, se é que é possível. Minha
boceta pulsa de antecipação.
E agora, como vamos fazer isso? Eu
tenho um forte desejo de estar por cima.
Eu preciso me impor. Chutando meus
sapatos para longe, monto em cima dele,
ajoelhando-me sobre o velho couro do
sofá com minhas coxas apertando as dele.
O antigo sofá range ameaçadoramente
enquanto ajusto a minha posição,
segurando na parte de trás, quase
empurrando meus seios semilibertos no
rosto dele. Minhas pernas parecem ranger
também, por causa do esforço de me
manter em cima dele. Então, estico minha
mão para baixo, agarro o pênis e começo
a guiá-lo para dentro de mim.
A descida parece levar muito, muito
tempo. Há um universo de diferença entre
olhar um grande pau e tê-lo dentro de
mim, e só agora, na hora em que está
acontecendo, é que percebo realmente as
extraordinárias diferenças. Ele parece ser
enorme em comprimento e grossura e de
fato tira o meu fôlego. Engasgo em busca
de ar, ainda descendo e ainda me
expandindo para acomodá-lo.
Finalmente eu estou em repouso com
esse pau, paralisada por sua ponta doce e
quente de carne. Preciso de um momento
para absorver o fato.
Eu me curvo diante dele, respirando
profundamente e aproveitando a sensação
de estar cheia dele. O sentimento é
intenso, quase solene, inesperadamente
emocional; meus olhos se enchem de
estranhas lágrimas emocionais. Apenas
uma aventura? Ah, meu querido, então
estou com problemas.
O meu sutiã aberto desliza contra meus
seios conforme eu me movo. Descendo
ainda mais, solto um pequeno suspiro e
busco a abertura da minha blusa puxando
furiosamente até os botões voarem pelos
ares e me libertarem, tanto da blusa
quanto do sutiã. Agora eu estou totalmente
nua da cintura para cima e cheia até a
borda com o lindo cacete que tenho dentro
de mim do homem por quem suspeito estar
apaixonada. Realmente estou com sérios
problemas.
Estou contente que os olhos de Daniel
estão ainda fechados e que, caso ele os
abra, as luzes de emergência aqui neste
porão são felizmente fracas. As lágrimas
ainda estão em meus olhos e tenho certeza
de que o amor sem esperanças está em
meu rosto.
As mãos dele estão depositadas sobre
as curvas arredondadas de meus quadris e
de minha bunda, e a ternura desse toque é
mais desoladora do que nunca. Peço a
Deus que tudo isso seja apenas paixão
passageira, porque se não for será o
inferno dos infernos quando essa coisa de
aventura acabar.
Olho para seu rosto, sua bela face
famosa e desonesta, e a minha tristeza
sexual chocantemente se transmuta em
raiva. Ah, sim, essa brincadeira não
significa nem de longe para ele o tanto
que significa para mim. Ele deve ter
dezenas de fãzinhas. E já que estamos no
assunto, o do professor e suas mulheres,
me diga quem era aquela mulher elegante
e sofisticada com quem ele estava
conversando no saguão da entrada?
— Quem era aquela mulher?
Não posso acreditar que eu acabei de
falar. O que diabos há de errado comigo?
Eu estou me afogando nas sensações mais
grandiosas e mesmo assim meu cérebro
estúpido e ciumento quer é estragar as
coisas.
Os olhos de Daniel começam a se abrir
e por um momento estão desfocados e
obscurecidos. Ele pisca como se não
estivesse completamente certo do que está
vendo – mas eu vejo vermelho. Talvez
esse homem esteja realmente fantasiando
sobre ela? “Você sabe, aquela com o
terninho que você estava beijando no
saguão.”
Ele franze a testa, ainda cerrando os
olhos, então parece focalizar. Deixando
escapar um suspiro exagerado, ele agarrame
com mais força em volta da cintura,
flexiona os quadris e mete com mais
força, sua ereção ainda mais firme.
Deixo escapar um gemido e me sinto
como se o vapor estivesse saindo pelos
meus ouvidos. Meu corpo está esticado
em torno dele, a tensão espetando forte em
meu clitóris. Eu esqueço que ainda existe
qualquer outra mulher na face da Terra.
Há apenas eu sentada em cima de Daniel,
com seu pau enterrado em mim. Ele
empurra de novo e me puxa para baixo, e
não é só o sofá decrépito que range e solta
gemidos.
— Aquela mulher – Sua voz é baixa e
emocionante, seu aperto ainda forte. –
Aquela mulher é minha prima Annie, e ela
é a sócia do Hotel Waverley. É por isso
que eu estou hospedado lá.
Como que para consolidar o aperto
com uma mão, ele gira seu pulso e desliza
sua outra mão por entre nossos corpos,
encontrando meu clitóris e mexendo nele.
Minha boceta ondula em torno dele e eu
vejo estrelas, meus próprios olhos se
fechando agora. Ele mexe de novo e eu
começo a gozar, ainda confusa, ainda
irritada.
— Satisfeita?
Ele rosna e, prendendo completamente
meu clitóris entre os dedos, ele aperta. E
quando dá um tapa leve na minha bunda,
sim, aí estou satisfeita... E o orgasmo
vem. Um grito borbulha na garganta, mas
no último segundo enfio meu punho na
boca. Ondas e ondas de prazer começam a
irradiar do meu clitóris onde ele aperta,
segurando delicadamente mesmo enquanto
estou empurrando e me contorcendo em
todo o lugar.
Ele dá um tapa em mim novamente e
meu orgasmo flui. Eu quase desmaio. Caio
para a frente e, por alguns minutos, só fico
curvada por cima dele, envolta pelo seu
corpo, meu peito arfante, meu sexo inteiro
efervescendo com tremores. Seus braços
se dobram em torno de mim, me
segurando, notavelmente suaves e ternos
onde antes se mostravam dominantes.
Parece como se eu tivesse sido lançada no
espaço e agora voltava flutuando
suavemente para o solo em meu
paraquedas.
Sexo nunca foi assim antes. Talvez eu
nunca realmente tenha mantido relações
sexuais antes, talvez fosse apenas uma
simulação pálida e ineficaz dele?
Finalmente, respiro fundo. Cheguei lá
novamente. E a questão mais premente
com que tenho de lidar agora é a ereção
feroz que ainda está quente e dura dentro
de mim.
Mas como pode ser isso? Será que o
homem tem poderes sobre-humanos? Meu
ex ou mesmo qualquer um de meus
namorados anteriores já teriam acabado
há muito tempo. Não teria como eles
resistirem a um momento tão excitante,
porque certamente deve ter sido tão
agitado para ele quanto foi para mim. E
ainda assim, aqui está ele, duro como uma
rocha dentro de mim, mas uma rocha
quente, cheia de sangue que pulsa com sua
força vital.
Eu me endireito um pouco e olho para
ele. Esse demônio! O sorriso dele é uma
pintura. Lá está a ternura, eu não estava
equivocada, mas brilhando através dela
está aquela irritante presunção masculina.
A expressão tipo “Olhe para mim. Olhe
como sou poderoso e como resisto... Você
nunca irá me superar”, que me faz desejar
exatamente isso: superar esse sujeito. Eu
quero dominá-lo exatamente quando
estiver dentro de mim, meu escravo
indefeso.
Caio de volta em seu peito, me
preparando, ajustando minha posição.
Então eu levanto e desço de novo,
levando-o para um lugar ainda mais
profundo. Minha boceta pisca
perigosamente mais uma vez, outro
orgasmo a apenas um toque de distância,
mas eu tenho a satisfação de ver os olhos
de Daniel bem abertos. E quando faço
isso de novo ele solta um palavrão que é
mais apropriado para um marinheiro em
vez de um acadêmico muito educado e
sofisticado.
— Shhh! – ordeno, inclinando-me um
pouco para a frente de novo e cobrindo a
boca de Daniel com a mão.
Então eu cavalgo nele, literalmente
cavalgo nele, levantando e descendo
repetidas vezes. Em poucos segundos,
sinto que vou gozar mais uma vez, em uma
repetição violenta e repentina, mas eu
resisto a ela, meu corpo se movendo em
piloto automático enquanto minha mente
navega entre as estrelas.
E ele ainda assim resiste a mim, o
desgraçado.
Já chega. Eu fico acocorada, me agacho
nele bem perto e aperto meu sexo ardente
ao redor de seu pênis. Isso me faz ver
aquelas estrelas de novo, mas cerro meus
dentes e aperto e trabalho com ele como
nunca agarrei e trabalhei um homem antes.
Suas mãos seguram meus quadris, os
dedos se cravando na carne também, que é
muito abundante lá, e eu sinto as pontas de
suas unhas ameaçando minha pele. Porra,
ele ainda está resistindo a mim! Seu belo
rosto é uma máscara de tensão e teimosia,
a linha do queixo duro como ferro, os
dentes cerrados.
Mas isso é demais!
Ainda apertada sobre ele, eu me
levanto e abaixo com tudo de novo. Duas
coisas acontecem simultaneamente. Não,
três coisas. Não, na verdade, quatro...
Daniel rosna outro palavrão de
marinheiro. Ele goza, seus quadris se
movendo loucamente para cima e para
baixo. Eu gozo mais uma vez, o prazer
torcendo-me quase como se fosse dor.
E o sofá antigo finalmente sucumbe à
punição que temos infligido a ele e desaba
debaixo de nós com um poderoso
estrondo.
9
Nós podemos parar com isso
Há um momento de silêncio total,
atordoante. Então, abro meus olhos de
repente e olho direto nos de Daniel. Eles
estão mais brilhantes e felizes do que
jamais vi, claros e cheios de vida, apesar
da ausência de seus óculos. Ambos
começamos a tremer e o riso parece
ganhar força assim como aquele
gigantesca bola que persegue rolando o
Indiana Jones no filme. No momento em
que estou a ponto de explodir em gritos de
alegria, outro som nos faz congelar em
silêncio.
— Quem está aí? O que está
acontecendo?
É o Sr. Johnson, o bibliotecário-chefe
e, mesmo que ele pareça estar na outra
extremidade do porão, é terrível perceber
que está caminhando em nossa direção.
Em um borrão de movimento, nós nos
separamos e começamos a recolher nosso
equipamento como se fôssemos membros
das Forças Especiais reagindo a uma
emboscada. Agindo puramente por
instinto, eu agarro a mão de Daniel e o
arrasto para o outro lado do canto das
prateleiras e para dentro de um pequeno
esconderijo que conheço por causa das
longas horas de tédio passadas aqui
arrumando as estantes. É um esconderijo
onde às vezes eu me enfio para ler
pronografia por alguns minutos.
Passos impassíveis se aproximam.
— Tem alguém aí? – Repete o
bibliotecário confuso, obviamente
confrontando o sofá completamente
destruído.
Está escuro em nosso pequeno nicho.
Existe uma luz de parede bem próxima,
mas ela não está acesa, e Daniel e eu
estamos amontoados ao lado de um
caixote e uma pilha de jornais velhos.
Como o Sr. Johnson já está demonstrando
sinais de exasperação, nossa histeria
temporariamente suprimida começa a
borbulhar de novo, e tanto Daniel quanto
eu temos que bater com as palmas das
mãos no rosto para tentar conter essa
explosão. Nem consigo começar a pensar
no que poderia acontecer se meu chefe
nos descobrisse aqui, eu seminua e Daniel
ainda com seu pênis agora relaxando, mas
ainda aparecendo para fora da sua calça
jeans. Nós não podemos nos recompor
porque mesmo o menor ruído levaria a
nossa descoberta.
Depois do que pareceu um prolongado
exame do sofá, polegada a polegada, mas
que na realidade não deve ter passado de
uma verificação superficial, o Sr. Johnson
limpa a garganta com outro pequeno ruído
de perplexidade e vai embora, movendose
rapidamente entre as prateleiras.
Quando ouvimos a porta do outro lado
do porão abrir e fechar, tanto Daniel
quanto eu primeiro fazemos sair o ar que
estava preso e depois nos deixamos cair
em uma alegria incontida. Isso leva vários
minutos enquanto saímos de nosso
esconderijo, nos arrumamos e depois
começamos a lidar com as evidências
incriminatórias de preservativos usados a
botões desaparecidos da blusa.
Felizmente, ficamos os dois mais ou
menos decentes e estamos de volta à mesa
de Daniel, mas nenhum de nós consegue
parar de sorrir e romper em risinhos de
tempos em tempos.
— Isso foi muito louco, muito louco. –
Dobro as mangas da camisa para ocultar a
falta de botões no punho. Fica até mais
estiloso e mais anos 1950... De repente eu
até lanço moda entre as meninas da
equipe. Sempre imaginei que existiam
garotas que faziam sacanagens aqui
embaixo por todos esses anos, mas nunca
pensei que eu seria uma delas.
— Isso foi incrível, Gwendolynne. –
Daniel me dá um sorriso por trás de seus
óculos recém-colocados, mas há um toque
de seriedade sobre ele também. Será que
fomos longe demais? Tudo ficou muito
intenso? Rompeu as barreiras de nosso
arranjo de apenas uma aventura? – Você
foi incrível. . . Eu me sinto como se você
tivesse limpado o chão comigo. Mas no
bom sentido.
Estou prestes a concordar com ele
quando, de repente, começo a tremer do
nada. Em estado de choque. Mas não é
apenas porque acabo de ter feito algo que
poderia facilmente ter me custado meu
emprego. Não, é o que eu sinto. O que eu
deixei seguir e estupidamente permiti que
acontecesse comigo. Mesmo sendo
ridículo, agora estou quase certa de que
me apaixonei por Daniel Brewster e
quero muito mais com ele do que apenas
uma droga de uma aventura.
— Tem alguma coisa errada?
Olho para cima e percebo que estive
em uma fuga por um momento. Daniel está
olhando para mim, a testa larga bem
vincada ao frazir. Ele tem um cacho de
cabelo pendendo na testa que eu quero
alcançar e tocar e girar ao redor do meu
dedo, e esse pensamento, numa suave
cumplicidade, me acalma mesmo que não
devesse fazer isso. Quase alcancei aquele
cabelo, mas antes que eu pudesse fazê-lo
Daniel pega a minha mão, apertando-a
suavemente, e eu não preciso de mais
nada. O calor de seus dedos é calmante e
reconfortante.
— Eu estava pensando que desta vez a
coisa passou perto, mesmo. Foi realmente
uma loucura a gente fazer sexo em um
lugar onde qualquer funcionário poderia
nos descobrir a qualquer momento.
A boca de Daniel se torce de uma
maneira que não é bem um sorriso. Ele
parece perplexo, mas ao mesmo tempo
está ainda obviamente tentando ser
solidário.
— Olhe, Gwen, a culpa foi minha, sinto
muito. Eu não deveria ter sido tão
imprudente. Coloquei o seu emprego em
risco. Foi errado de minha parte. – Ele faz
uma pausa, e seu rosto assume uma
expressão totalmente séria. – Você sabe,
podemos parar com isso, se você quiser.
Basta dizer. Eu amo esta coisa que nós
temos. É... bem, é muito especial. Mas eu
jamais gostaria de tornar a vida difícil
para você, pode acreditar em mim. De
maneira nenhuma.
Nós podemos parar com isso...
Por um segundo eu oscilo à beira das
lágrimas novamente. Ele é sincero. Eu
acredito nele totalmente. Ele cuida de
mim e se importa comigo, mesmo que seja
apenas dentro dos limites da nossa
obsessão presente. Mas de repente surge a
pergunta em mim: o que é que ele está
sugerindo que devemos parar?
Gwendolynne e Daniel? Ou
Gwendolynne e Nêmeses? Ou eles sempre
foram a mesma coisa?
— Eu não quero parar.
Minhas palavras pairam no ar. Eu
quase posso vê-las
flutuando ali, parecendo muito
veementes e desesperadas.
Daniel olha para mim detrás de seus
óculos e, para minha consternação, parece
claramente cauteloso. Ele é inteligente e
intuitivo. Aposto que ele pode ler-me
como um dos tomos antigos guardados no
arquivo, provavelmente até muito mais
facilmente que eles, e eu poderia me
chutar. Ele não quer mais do que uma
relação passageira, e deve estar escrito na
minha cara que eu quero
consideravelmente mais do que isso.
Sua testa larga se enruga quando ele
franze. Ele deve estar montando sua frase
de despedida. Eu sabia que isso ia
acontecer.
— Eu também não.
Por um momento, acho que estou
imaginando coisas, apenas ouvindo aquilo
que desejo ouvir, e então o impulso de
saltar sobre a mesa e dançar quase me
leva lá para cima dela, mas consigo me
segurar antes de fazer isso. Ele quer
continuar! Há ainda uma chance! Mas
antes de o meu sorriso ficar muito pateta e
eu fazer algo que pode ser ainda mais
louco e apaixonado do que eu já fiz,
consigo voltar a ter controle sobre mim
mesma. Não mostre muito entusiasmo,
mulher, lembre-se de que isso é
temporário. Então, trate de se controlar e
de aproveitar o que conseguiu enquanto
ainda tem.
— Então, está bem – finjo leveza e sei
que ele vê através de mim, mas não me
importo muito com isso. – Mas eu acho
que é melhor nos comportarmos aqui
embaixo no futuro, não é?
— Certamente sim. Existem muitos
outros lugares por aí que são ótimos para
uma boa trepada, certo?
Estou prestes a perguntar a ele onde
ficam e depois agarrar a mão dele e
arrastá-lo para lá, quando o grande e
antigo relógio da prefeitura começa a
badalar a distância. Com isso, o mundo
exterior de não trepar e de não participar
dos jogos loucos com Nêmeses, que é
também Daniel, reclama minha presença
ainda mais uma vez. Meu relógio me diz
que passei toda a minha hora do almoço
aqui embaixo e eu deveria voltar
imediatamente para bater o relógio de
ponto.
— Mas que merda! Eu já devia estar de
volta ao trabalho!
Salto e Daniel fica de pé ao meu lado.
— Mas e o seu almoço? Você tem que
comer... Eu ia mesmo dizer isso, vamos
até um pub ou a um café ou a um
restaurante e...
A ideia é adorável, e tenho algumas
visões de nós dois sentados a uma mesa
em algum lugar, compartilhando um prato
e um copo de cerveja, rindo e
conversando. Nada particularmente sexy,
apenas boa companhia. Proximidade.
— Bem, é um convite adorável,
professor, mas já cumpri a minha hora de
almoço... Er... Almoçando você! – a
risada maliciosa dele me mata. – Preciso
ir, de verdade. Preciso.
Ele morde o lábio. Depois, mergulha
em sua pasta do laptop. E de uma das
bolsas laterais, ele aparece com uma
gigantesca barra de chocolate.
— Tome, o almoço é por minha conta –
ele coloca o chocolate na minha mão e eu
me sinto como se tivesse acabado de
ganhar um colar de diamantes ou um
enorme bilhete de loteria premiado. – E
depois eu vou passar lá para buscar você
na sua folga para o chá, para comermos
em algum lugar. Tudo bem?
Por um momento, fiquei olhando para
ele, embasbacada, um anjo casual de
cabelo escuro e desgrenhado, seus óculos
sérios e um rosto que parece ao mesmo
tempo infinitamente masculino,
infinitamente doce.
Oh, que merda, eu o quero tanto.
— Tudo bem então, é um encontro ou
algo assim.
Antes que eu possa fazer algo
imensamente idiota, dou nele um beijinho
relâmpago na bochecha e venço
precipitadamente o corredor, avançando
para as escadas. Levo minha barra de
chocolate como se fosse o Santo Graal,
embora saiba que, mais cedo ou mais
tarde, vou acabar devorando-o. Esse é o
melhor presente que jamais ganhei, mas
uma garota precisa comer.
Na altura do chá da tarde, a barra de
chocolate é uma lembrança doce, mas
distante. Infelizmente para a minha dieta,
estou com fome de novo e sem fazer nada
no andar superior, ganhando alguns
olhares curiosos de Tracey, que está hoje
no plantão noturno no guichê de
pesquisas. Estou de pé deliberadamente
depois das portas principais e de uma
distância para se conversar, mas está
garoando lá fora, então seria besteira
esperar lá fora, mesmo pelo Professor
Gostoso.
Mas o que ele está fazendo? Meu
relógio me diz que estou mudando de uma
perna para outra pelos últimos quinze
minutos, tentando ficar calma. Daniel sabe
a que horas eu saio em um dia normal de
trabalho, então onde diabos ele foi parar?
Na mesma hora, eu me sinto culpada e
preocupada. Antes de detonarmos aquele
sofá, ele estava deitado por alguma razão.
Outra de suas dores de cabeça, tonturas,
ou seja lá o que for. Talvez ele esteja lá
agora, caído sobre a sua mesa de trabalho,
minado por uma enxaqueca ou o que quer
que ele sofra.
Acabo de empurrar a porta que leva
para o saguão principal quando ele
aparece na porta que dá para o porão,
como se fosse um gênio que eu convocara
das terras mágicas, saindo de sua
lâmpada. Ele já está pronto para sair,
usando uma capa de chuva escura que
ondula conforme ele anda, com sua
mochila que leva o laptop a tiracolo e a
pasta na mão. O retrato perfeito do
Professor Maluco, mais sexy do que nunca
com seus cachos negros selvagens e com
os apetrechos de acadêmico.
— Desculpe-me, tive que responder
alguns e-mails que chegaram de última
hora. Espero não tê-la feito esperar por
muito tempo.
Seu sorriso complexo faz valer a pena
cada segundo daqueles quinze minutos de
espera. Há um arrependimento genuíno lá,
bem como aquele brilho travesso no olhar
que eu aprendi a amar. É o espírito sexy
de Nêmeses resplandecendo através da
estudiosa personalidade externa de
Daniel.
Como eu gostaria que estivéssemos de
volta àquele sofá outra vez. Ainda que ele
esteja aos pedaços no chão do porão.
— Que merda! – ele rosna enquanto
saímos juntos, seguidos pelo olhar a laser
de Tracey, que estava desesperadamente
tentando chamar minha atenção enquanto
saíamos. Parece que pelo menos uma
parte do meu “relacionamento secreto”
será de conhecimento comum durante o
turno desta noite na biblioteca.
— Eu não sabia que estava chovendo. –
Ele olha para frente e para trás ao longo
da rua. – Tem algum lugar aqui perto para
comer?
— Bem, tem o West Side Fisheries... –
Dieta? Ai, a dieta! – Fica no fim daquela
rua logo ali.
Eu gesticulo apontando a direção,
dividida entre visões de batatas fritas e os
ponteiros da balança de meu banheiro,
movendo-se para a direção errada.
Mostrando pedaços de mim agora com
mais frequência para um homem
inegavelmente bonito me deixa de repente
mais consciente do meu peso do que
quase nunca estive desde os meses após
meu divórcio.
— Certo! West Side Fisheries, isso aí!
Ele me agarra com bastante força pelo
braço e corremos através da chuva
fervilhante.
Logo já estamos comendo.
— Isso é bom! Nós não temos um
desses lá no sul.
Ele morde um dos pedaços com seus
afiados dentes brancos e seu rosto mostra
expressão de prazer.
— Sim. Aqui temos o melhor peixe
com fritas da cidade. Mas, não sei, com
isto e a barra de chocolates de hoje de
tarde, parece que você está mesmo
querendo acabar com minha silhueta.
Acho que seria melhor eu pedir uma
salada...
Daniel faz uma pausa, repousa o garfo e
pega a sua xícara de chá. Ele dá um gole e
me lança um olhar professoral por
debaixo das suas escuras sobrancelhas.
Depois de esperar que a garçonete fique
bem longe da vista, diz em voz baixa:
– Seu corpo é magnífico, Gwendolynne.
É suntuoso. Soberbo. Eu amo cada
centímetro dele. Você devia se sentir
orgulhosa de suas curvas. Elas deixam os
homens loucos.
As suas palavras me fazem tremer. Elas
são inebriantes. Intensas. Famintas. Ele
fala com tanto prazer como se quisesse me
comer do mesmo jeito que devora seu
bacalhau com batatas fritas e purê de
ervilhas. Seus olhos brilham por trás dos
óculos só para confirmar o seu fervor.
Quem é que está falando agora? É
Daniel ou Nêmeses? Realmente não
consigo ver muita diferença entre eles e
qualquer lacuna que exista aos poucos
está desaparecendo. Ele é apenas um
homem, mas como Jano, possui duas
faces. Sempre me atormentando e nunca
me permitindo saber o que esperar para o
momento seguinte.
— Bem, você sabe como as coisas
são... quem não estiver no tamanho 38 ou
40, já está fora do padrão, totalmente
descartável.
— Peitos e bundas! Esse negócio de
padrão é alto totalmente sem sentido. Mas
os homens sempre gostaram e sempre irão
adorar mulheres com curvas. – Ele leva o
garfo à boca com algumas batatas fritas de
uma forma que parece um pouco rude. – E
você, minha querida Deusa da Biblioteca,
você é a última palavra em luxúria.
E agora eu tenho a confirmação. É
Nêmeses quem me chama de “Deusa da
Biblioteca”. Daniel parece não se dar
conta desse tiro no pé. Embora, talvez, ele
tenha...
— E então, qual foi o último desafio
imposto por aquele pervertido do
Nêmeses? Você conversou com ele ontem
à noite?
Eu o olho com atenção, mas parece que
ele não move um milímetro do rosto. Seu
rosto é sexy e interessante e, ao mesmo
tempo, totalmente inocente. Ou pelo
menos é isso que mostra. Por um momento
eu experimento um frisson de um medo
bem real, com um pensamento de estar
envolvida com um homem que é
demoniacamente pervertido e distorcido
ou que é vítima de um transtorno de
múltiplas personalidades. Mas então a
diversão do jogo começa de novo, e eu
me pergunto quão longe posso pressionar
na direção de forçá-lo a admitir suas
trapaças.
— Oh, sim! Nós tivemos um bate-papo
ontem.
Eu faço uma pausa, sirvo mais um
pouco de chá na minha xícara, pego mais
um pedaço de pão e coloco nele manteiga
e mastigo-o.
Daniel balança levemente a cabeça
reconhecendo minha jogada para duas
pessoas.
— E então?
— Bem, algumas coisas foram iguais
ao de costume...
Sua língua desliza pela boca e faz uma
leve varredura pelo lábio inferior.
— ... mas, então, ele lançou um novo
desafio.
Os olhos de Daniel se alargam como
algo digno de Sir Laurence Oliver quando
eu descrevo a punição e o cenário da
garota de programa escolhendo um
desconhecido.
— Você vai fazer isso? Parece algo
muito arriscado de se fazer.
— Não, não. E afinal de contas você
disse que iria me ajudar, certo? Bem,
você pode ser o tal desconhecido.
Ele sorri e neste momento percebo um
instante de verdadeira cumplicidade que
passa entre nós. Uma consciência
deliciosa de um jogo mútuo de prazeres.
Não há necessidade de falar sobre isso,
não é preciso reconhecer ou questionar. A
seu modo, é o mais próximo do sexo que
pode ser. Tudo o que temos que fazer é
jogar.
— Tudo bem, então, estou pronto para
isso.—
Sério?
Ele ri.
— Claro que sim! Sério!
Bem dentro de mim, estremeço. O que
está acontecendo abaixo dessa inócua
toalha vermelha quadriculada? Ele já está
duro imaginando nosso próximo encontro?
Será que só o pensamento desses
joguinhos lhe deu uma ereção bem aqui no
West Side Fisheries?
— Tudo bem! Então temos que escolher
o lugar, e uma noite. E então eu tenho que
fazer com que Nêmeses fique sabendo.
Estou tentando manter a calma, tentando
me organizar, mas a única coisa que
consigo pensar é no corpo de Daniel.
Tenho visões dele nu, e de seu pênis, duro
e rosado, se imiscuindo em meu cérebro,
roubando minha concentração.
— Eu não tenho certeza se Nêmeses vai
querer ir até lá só para ficar me
espionando – continuo –, ou se vai querer
que eu conte para ele em detalhes o que
aconteceu, depois. Ele parece gostar de
jogar com a incerteza.
Daniel ergue a cabeça e seus olhos
estão apertados.
— Em todo caso, você não precisa
fazer nada disso. Você pode apenas
inventar essa coisa toda.
Ele está me desafiando, claro.
— Isso é trapaça.
— Mas você não deve nada a esse
homem. Ele é apenas um cara delirante e
pervertido. E está manipulando você.
Certo... e você não está... certo...
— Na verdade eu acho que devo algo a
ele – respondi.
Quando eu digo isso, bate a sensação
como um chakubuku, aquela rápida
realização espiritual que sobe à mente e
que eles falam nos filmes.
— Sem ele – explico – eu não teria...
Não teria visto a luz...
Ele meneia a cabeça de um lado para
outro, franzindo a testa.
— Eu teria continuado imaginando para
sempre as coisas sobre sexo e aquelas
coisas mais bizarras. Teria continuado a
ler livros eróticos e assistir a vídeos
escondida, mas nunca estaria fazendo
isso. E certamente não teria tido a
coragem de fazer isso com você. Então,
você deve isso a ele também.
Daniel estuda o garfo e volta sua vista
para mim com olhar vidrado. Seus cílios
longos parecem ter um quilômetro de
comprimento por trás dos óculos. Ele me
dá um sorriso beatífico com tanta doçura
que eu quase desfaleço no lugar. Parece
que até vejo ele dizer: “Muito bem!
Agora você entende, jovem Skywalker! O
aluno finalmente superou o professor!”.
— Você tem razão, eu devo isso a ele...
Bem, só por causa disso, deveria dar um
aperto de mão a esse cara!
Ele ri baixinho
— Quem sabe você não terá uma
chance? – Agora eu quero muito mais do
que um aperto de mão, muito mais. –
Então onde vamos fazer isso? Vamos
combinar sobre o hotel? Que tal o
Waverley? Ele tem um bar muito bonito
que serve para esse trabalho. Isso que
ouvi dizer. Você sabe que eu nunca estive
lá?
— Então estará lá em breve, minha
querida Gwendolynne, muito em breve. –
Ele diz isso muito claramente, estendendo
sua mão para dar um tapinha na minha. –
Agora, vamos discutir a logística da
coisa.
Mais tarde, agora estou pensando sobre
nosso plano. Bem, só um pouco. Na
verdade me sinto muito confusa,
atordoada, frustrada, para ser honesta.
Além disso estou um pouco preocupada. E
mais ainda, um pouco ofendida.
Daniel foi para Londres.
Durante os próximos dias, e durante o
fim de semana, ele estará de volta à
metrópole, muito muito muito longe de
Borough e desta bibliotecária apaixonada
e enlouquecida por sexo. E ele não falou
nada sobre isso, não até termos terminado
o jantar e eu estar profundamente
envolvida naquela fase de nosso encontro
onde me perguntava “será que ele vai
ficar comigo nesta noite?”. Foi nesse
momento em que ele me avisou que estava
indo direto para a estação ferroviária. Ele
tem algum compromisso, não
especificado, mas que o faz franzir a testa,
e está indo visitar seus pais, que também
o fazem franzir a testa.
Nós nos despedimos com uma troca de
números de telefone e sua promessa de
que vai me ligar. Isso significa que ele vai
ligar? Ou ele vai me ligar como Nêmeses?
Verdadeiramente fora de si mesmo.
Neste momento, de verdade, não me
importo. Tinha algo além naquela nossa
despedida. Era como se ele estivesse
escondendo algo muito, muito mais do que
os seus segredos sexuais.
Eu não forcei a barra. Inferno! Eu mal
conheço o cara! Embora eu tenha tido
todos os tipos de relações sexuais com
ele.
Isso talvez seja a raiz de meu
desconforto, suponho. Como qualquer tipo
de viciado, estou sofrendo de abstinência
de minha droga quando ela não está
disponível para mim. Fico checando toda
hora se meu celular está ligado. E
clicando na caixa de mensagens para ver
se não tem nenhum e-mail. Fico me
perguntando se não deveria ir correndo
para a biblioteca antes que feche para
verificar se há alguma coisa na caixa de
sugestões para mim.
Mas não há nada para mim em nenhum
lugar nesta noite. Exceto uma garrafa de
vinho barato que eu comprei por capricho
em um supermercado há algumas semanas.
Chocolate, peixe e batatas fritas e agora
mais uma noite com bebida... Meus planos
de uma dieta saudável foram para o
espaço, então vou acabar a noite me
chafurdando no que puder. Vou passar à
base de shake emagrecedor durante os
próximos dias em que Daniel estiver fora.
Claro que não vou exagerar na
compensação, mas pode ser que salve um
pouco de minha consciência. Uma noção
que me faz sorrir um pouco pela primeira
vez desde que ele desapareceu em direção
a estação de trem. Mas a quem estou
querendo enganar? Estarei compensando a
frustração comendo por toda a Inglaterra
até que ele apareça de novo.
O vinho é doce e suave e não demora
muito para que eu fique tonta. Eu estou no
turno da tarde na biblioteca, então terei
algumas horas de manhã para me
recuperar.
Derivo em um flutuante sonho erótico,
enrolada debaixo das cobertas, ainda
usando sutiã e calcinha como uma
vagabunda absoluta. Eu deveria me
levantar, tomar um banho e me ajeitar
adequadamente para dormir, mas não
tenho de onde tirar esta energia. Eu não
quero me lavar porque quero manter a
essência do cheiro do Daniel que ainda
perdura em minha pele. É um conforto,
mas também uma impropriedade. Uma
leve camada de seda cobre a minha pele,
mas com mais espessura entre as minhas
pernas e meus seios e minha garganta me
lembrando dele.
Maldito! Pegue suas coisas e caia fora
daqui. Eu dou um jeito sozinha. Um dia
desses vou fazer você rastejar, Professor
Gostoso, vou fazer você se ajoelhar e
implorar por uma pitada de mim.
Uma vez atraída, essa ideia se fixa
como um grilhão. Pego meu copo e
despejo nele outro tanto de meu vinho
barato. Não tem muito dele sobrando
agora, mas também não vou precisar de
mais. As fantasias em minha mente são
muito mais intoxicantes. Nós estamos num
quarto de hotel. É tranquilo e luxuoso,
perfumado com pot-pourri. A decoração é
antiga e colorida. É o Waverley, suponho,
a imagem criada a partir da minha noção
de como ele deve ser e também de duas
ou três fotos que vi num folheto em nossa
seção de informações turísticas.
Estou reclinada sobre o edredom
tradicionalmente padronizado, vestida
com um conjunto de lingerie de seda
vermelha, camisola e calcinha francesa.
Tenho quatro ou cinco quilos a menos.
Ah, agora sim, isso é um sonho!
Daniel está ajoelhado diante de mim,
vestindo apenas um jeans preto. Seus pés
estão nus e a luz do abajur faz a sua pele
brilhar como se fosse um creme
derramado. Seu cabelo é selvagem e está
um pouco desarrumado como se tivesse
acabado de passar os dedos nele. Ou será
que fui eu quem fez isso? Ele não está
usando os óculos, mas eu não posso ver
seus olhos porque sua cabeça está
respeitosamente curvada.
— Tire sua roupa – ordeno, e ele se
levanta.
Quando coloca os dedos sobre os
botões da calça, ele olha para cima por
um instante. Ou ele está usando suas lentes
de contato, ou então consegue enxergar
normalmente neste sonho, mas seja como
for seus olhos flamejam em desafio,
embora ele obedientemente abra o zíper
da calça. Assim que abaixa o jeans preto,
seu pau aparece e salta ereto e carnudo
contra sua barriga. Está muito ereto, sua
glande gotejando fluido, a ponta tão
distendida que parece estar olhando para
mim.—
Mexa nele – ordeno, quando ele dá
um passo e passa por cima do jeans caído
no chão.
Ele faz como foi ordenado, mas seu
corpo está tenso e seus músculos estão
inflexíveis, mesmo que ele suspire
suavemente. Sua excitação deve ser muita
e eu vejo quando ele morde seu doce e
vermelho lábio inferior enquanto luta para
dominar uma necessidade urgente de
gozar e soltar o sêmen imediatamente.
Quando ele começa a mexer os quadris
e entra em um ritmo que está obviamente
apreciando, apesar de tudo, faço um gesto
imperioso em direção a ele.
— Pode parar e venha me servir. – Eu
me deito na cama e aceno com a cabeça
para ele. – Pare e venha até aqui.
Ele está lívido de indignação e de
desejo desenfreado, mas sua graça é
impecável quando ele sobe na cama,
ajoelha-se próximo a mim e tira minha
calcinha francesa perfumada. E eu sei que
é perfumada porque aqui, no mundo real e
banal da minha cama, eu coloquei minha
mãos entre minhas pernas e estou
brincando com minha boceta úmida, e ela
é perfumada.
— Beije-a! – ordeno.
E ele pressiona seu rosto contra a seda
perfumada, aninhando-se a ela e
saboreando o contato. Seus olhos se
fecham extasiados. Parece a mim, a deusa,
que ele está se divertindo demais. Ele
deveria estar fazendo amor comigo e não
com a minha calcinha.
— Chega! Agora, mostre que você tem
utilidade!
Na minha fantasia, eu me recosto como
uma imperatriz, abrindo minhas pernas e
exibindo todo o meu corpo para ele, agora
mais magro do que o usual. Apesar de
suas alegações de que gosta de garotas
carnudas, ele parece encantado com o que
vê, embora esteja ainda contrariado. Com
um gesto de diva, aponto entre minhas
pernas e, vendo que estou no comando, em
todos os sentidos da palavra, ele vem
para dentro.
A expectativa é que ele me lamba, ou
que me penetre de uma vez, mas não sei
como alguma coisa dentro de meu cérebro
entra em curto-circuito e, mesmo sendo
esta a minha fantasia e esteja
supostamente sob o meu controle, perco
meu domínio sobre ela.
Os estranhos olhos de Daniel brilham
para mim, e ele me dá um de seus sorrisos
do tipo “Talvez eu seja o Nêmeses”.
Lentamente, ele ergue sua mão até perto
do rosto e estuda a ponta do dedo médio.
Então, desleixadamente, e com uma
lentidão proposital, lambe a ponta dele.
Ele é Nêmeses agora. Em cada fibra.
Ele passa a língua sobre seus lábios
macios e vermelhos e faz a brincadeira de
lamber o dedo de novo. Então, olhando
diretamente em meus olhos, ele estica a
mão para baixo, procura com seu dedo
habilmente por entre meu pelo macio e
encontra
o meu clitóris. É como se ele estivesse
dizendo: “Isso é meu, eu o controlo, eu
controlo você”.
Estou me tocando agora, mas no piloto
automático, imitando aquela ação
manipuladora, casual e insultuosa dos
dedos do Nêmeses. Ele apenas faz
círculos, trabalhando naquele pedaço
minúsculo de pele, esfregando desse jeito
e daquele. Não há nenhum outro tipo de
contato entre nós. Ele está de joelhos,
relaxado, sua mão livre descansando em
sua perna enquanto ele brinca com meu
clitóris como se fosse o minúsculo
joystick de algum robozinho por controle
remoto.
Bato meus saltos na cama, em ambos os
mundos, e arqueio meu corpo no colchão,
minha bunda levantada do lençol pelo
menos a seis polegadas de altura.
— Você gosta, não gosta, deusa da
biblioteca? – ele parece querer dizer, seu
sorriso estreito e irritante. – Você é uma
escrava de seu clitóris, não é? A mercê do
pulsar, pulsar, pulsar entre suas pernas...
Quando estou no auge desse arco de
tormentos, ele faz aquele pequeno e
familiar truque que sabe que adoro
demais. Ele aperta o minúsculo órgão
entre seus dedos, me mantendo em êxtase
por causa disso.
Estou gemendo, nos dois mundos, quase
pronta para gozar.
— Você é uma piranha, deusa da
biblioteca, e sabe disso. Quando observa
os homens lá de sua mesa, fica toda
molhada e macia imaginando eles se
esforçando para lhe servir... Tocando,
lambendo...
Não! É minha vontade de dizer. É só
por você que eu fico inchada e molhada,
só para você, Daniel ou Nêmeses...
Mas isso é verdade? E aqueles outros
homens que vi passar e que me deram
arrepios? O cara bonito da informática, o
Greg. O cara fortão da manutenção que
veio consertar a janela. Mesmo o alto
diretor de finanças, Stone, da última vez
que veio até a Biblioteca para uma
daquelas intermináveis reuniões do
orçamento? E naquela vez que acho que o
vi transando no beco...
Sim, já tive fantasias com todos esses
homens e, sim, fiquei molhada entre as
pernas. Nêmeses tem razão, sou uma
vagabunda e, para os efeitos da presente
fantasia, meu clitóris é quem me controla.
Lanço minha cabeça para trás e sacudo
os quadris, aguçando meu prazer com
meus dedos, do jeito que imagino, e
desejo, ah, como desejo, que ele está
fazendo. Estou com muito tesão, gemo
bem alto, fazendo barulho como uma fera.
Eu gozo e chamo “Nêmeses” na noite.
10
O infame Waverley
Então é esse, o notório Waverley Grange
Country Hotel?
Superficialmente, ele parece
perfeitamente normal. Quieto, suntuoso e
um pouco antiquado, nada parecido com
um antro sinistro de depravação.
Caminhando pelo lobby, sou recepcionada
pela visão de um monte de pessoas
desapontadoramente comuns, corretas e
prósperas, que perambulam perto da
recepção ou estão sentadas nas caras
cadeiras estofadas no vão da janela,
provavelmente tagarelando a respeito de
quão comuns, corretas e prósperas todas
elas são.
Uma ou duas cabeças se voltam,
fazendo com que eu fique insegura. Gastei
minhas economias para comprar um
vestido novo para esta pequena aventura,
mas mesmo assim ainda me sinto um peixe
fora d’água, mesmo que este lugar seja a
Sodoma ou a Gomorra local. Mas,
enquanto eu avanço tranquilamente,
parecendo bem-arrumada e confiante, um
ou dois homens me presenteiam com
olhares francamente ávidos. Então, é
óbvio que a minha aposta em um vestido
preto muito bem-modelado, mas não muito
colado ao corpo, com um sutiã estruturado
que realça os seios sob o vestido, um par
de sapatos de salto alto e um coque um
pouquinho frouxo e benfeito valeu a pena.
Adeus, sensata Senhorita Price da
biblioteca, e olá La Gwendolynne,
sedutora sensual.
Mesmo assim, ainda estou nervosa, e
meus olhos relanceiam pelo local,
procurando o Lawns Bar. Felizmente já o
avisto no outro lado do lobby, um local
convidativo, com iluminação suave e que
pode ser alcançado através de elegantes
portas duplas abertas. Daniel estará aqui?
Ele estará esperando por mim? Ele disse
que faria o possível para conseguir vir,
mas, de acordo com sua mensagem, a sua
viagem para Londres demorou mais do
que o imaginado.
Na verdade, nós não combinamos
direito como vai ser o nosso jogo desta
noite. Estamos suspensos entre a fantasia
e a realidade, em uma fronteira movediça.
Nós somos Gwendolynne e Daniel? Ou
Gwendolynne e Nêmeses? Não posso
dizer com segurança que um de nós dois
realmente ainda se importe com isso.
Somos somente duas pessoas realizando
fantasias em um relacionamento
temporário. Uma delas provavelmente
gosta bastante da outra; e a outra, como
uma tonta, está apaixonada. Mas eu não
vou me preocupar e estragar a diversão.
Eu gosto muito mesmo do clima do
Lawns Bar. Ele é aconchegante e
espaçoso, e tem uma indiscutível
atmosfera sensual. As pessoas conversam
em voz baixa nas mesas e no bar e, como
pano de fundo, Sarah Vaughan canta com
sua voz rouca. Quando eu entro no bar e
olho ao redor, é fácil acreditar na
reputação do Waverley. Reputação que,
na qualidade de mulher sozinha em um
local tão notório, somente me deixa ainda
mais nervosa. A minha pele fica toda
arrepiada, como se todos estivessem me
examinando. E mesmo que nem todos,
alguns deles estão. Daniel não está por
aqui, e para tentar não demonstrar minha
tremedeira íntima, eu caminho tão
confiante quanto posso até o longo e
pouco iluminado bar, extremamente
consciente de uns quadris e de um
rebolado à la Marilyn Monroe,
provocados por sapatos de salto com os
quais não estou acostumada.
Por acaso, nesse estabelecimento tão
frequentado, eu encontro uma poltrona
desocupada e me acomodo nela tão
elegantemente quanto consigo. Sem saber
o que posso dizer se outra pessoa que não
seja Daniel me faça alguma proposta,
volto os meus pensamentos para qual tipo
de bebida vou pedir. Algo fraco, para
ficar com a cabeça no lugar, ou algo forte
para acalmar os meus nervos?
Fique tranquila, Gwen. Eis que o
garçom se aproxima. E que garçom. Um
tipo alto, usando um terno perfeito,
caminha em minha direção. Ele parece ser
da Europa continental, um pouquinho
óbvio, mas, mesmo assim, um homem
muito bonito. Seu cabelo é negro como
azeviche e está penteado para trás em um
comportado rabo de cavalo, ele está
usando óculos com aros dourados e tem
uma boca deliciosamente amuada. Outro
homem gostoso que usa óculos. Mas o que
é que há com eles?
— A senhora deseja alguma bebida? –
Seu discreto sotaque italiano não ajuda
em nada para eu manter meu equilíbrio,
embora ele não seja bem o meu tipo. Ele é
muito arrumado e tem aquele ar de “olha
como eu sou lindo”... e ele não é Daniel.
Mas, mesmo assim, ele agita meus
hormônios e, quando demoro a responder,
sugere:
— Talvez um cálice de vinho branco da
casa? Ele é muito bom.
— Sim! Seria excelente. Obrigada.
Ele se afasta suavemente e retorna com
o meu vinho. Depois de propor um brinde
em italiano, que soa vagamente obsceno,
mas provavelmente nem seja, ele se afasta
outra vez.
Eu sinto vontade de beber todo o vinho
de um trago só, mas me controlo e bebo
em golinhos. Realmente, é um Frascati
muito bom, suave e, no entanto, picante,
com um gostinho leve de maçãs, mas não
estou em condições de apreciar suas
nuances.
Onde está Daniel? Nêmeses? Sejá lá o
que for? Eu dou uma olhada ao redor do
bar, tentando não me agitar em minha
cadeira. Felizmente, estou acostumada a
ficar sentada na mesa de informações
todos os dias, então consigo me dar bem.
Na ausência do meu falso cliente, tento
descobrir o que dá a este lugar sua
reputação tão conhecida.
Assim como no lobby, tudo parece
normal. A princípio. Então eu percebo
uma ou duas mulheres usando sapatos de
saltos muito altos e vestidos discretos. E
maquiagem ainda mais discreta. Mais ou
menos como a minha aparência, só que
muito mais séria. O que elas são, algum
tipo de dominatrix? Os homens que estão
com elas com certeza parecem ser tímidos
e estar assombrados.
Se Daniel não aparecer logo, talvez eu
o trate um pouco desse jeito quando ele
chegar. Se eu descobrir o que fazer. É
muito fácil ficar fantasiando a respeito
dessas coisas, mas fazer é um assunto
completamente diferente.
Eu tento pensar naquela fantasia de
novo, aquela em que sou eu que uso a
máscara e o couro. Consigo chegar até o
ponto em que ele se ajoelha à minha
frente, sem roupas, e então, de um modo
muito irritante, a minha mente começa a
vagar e a se preocupar com a ausência
dele. E se alguma coisa estiver errada? E
se ele estiver deitado no quarto dele,
atormentado por uma de suas dores de
cabeça alucinantes, tão cego de dor a
ponto de não conseguir nem me mandar
uma mensagem?
Bem quando estou imaginando se eu
deveria fazer alguma pergunta discreta,
um rosto familiar me chama a atenção e eu
me volto para ver Robert Stone, o diretor
de finanças do distrito, se dirigindo para
as portas duplas pelas quais acabei de
entrar. Ele tem a aparência tranquila de
sempre e está conduzindo uma linda moça
loira que usa um vestido azul-escuro
sinuoso e justo nos quadris. Quando eles
passam por mim, percebo que a mão dele
está maliciosamente colocada em um
ponto bem abaixo das costas dela, bem, na
bunda dela na verdade, e ele
repentinamente olha para o meu lado
como se tivesse reparado que eu notei.
Ele acena de leve com a cabeça – como
se me reconhecesse lá da biblioteca, ou
talvez porque ele simplesmente não
consegue de deixar de notar as mulheres –
e depois lança uma expressão estranha,
furtiva, sôfrega, como se soubesse de
alguma coisa que eu não sei. A grande
mão dele não se move de seu contato
caloroso lá embaixo.
Tudo isso acontece no espaço de um
milissegundo, mas me faz ficar pensando
no que diabos anda acontecendo por aqui.
Uma coisa eu sei, entretanto. Eu tenho
praticamente certeza de que é ele o
homem que eu vi na ruazinha na outra
noite, e a linda moça com quem ele está é
aquela com quem ele fazia amor. É difícil
obrigar a minha cabeça se conciliar com o
fato de que uma personalidade local tão
importante pudesse fazer algo tão insano;
mas, se ele tem o costume de frequentar
este hotel, talvez goste de viver
perigosamente, não?
Daniel ainda não deu sinal de vida,
mas, quando dou as costas para o bar,
vejo a elegante mulher mais velha que ele
encontrou na biblioteca. A prima que ele
pode beijar. Ela está com o Signore
Garanhão Italiano, e dá para ver na hora
que eles são um casal. Mais do que isso:
ao olhar atentamente, eu percebo alianças
de casamento idênticas, e uma bolha
aconchegante de intimidade, mesmo que
eles mal estejam se tocando. Ela está
tagarelando feliz a respeito de alguma
coisa, e ele está olhando para ela com ar
de adoração, ainda que com um óbvio
desejo crescente. Esse é o tipo de ternura
cheia de desejo que me faz ficar doente de
inveja. Não por causa de seu belo amante
latino, mas pelo amor íntimo e natural que
os dois exibem. Eu quero algo assim. Com
Daniel. Mas para conseguir isso, a pessoa
precisa de um futuro, e não de um casinho.
Subitamente, o Lawns Bar se torna um
local vazio e frio, embora ele esteja
superlotado e a temperatura ambiente seja
tropical.
Eu disse que não faria isso. Que não
iria padecer por alguma coisa que não
está disponível. Mas, cá estou eu, ficando
toda tensa por causa do ardiloso
Professor Gostoso de novo. Por que eu
não consigo simplesmente aceitar o que
tem pra hoje e tirar o melhor proveito
disso? Porque tenho uma coisa que muitas
mulheres arrancariam meus olhos para
conseguir. Uma série de impressionantes
aventuras sexuais com um homem
inteligente e famoso.
Eu me endireito, me sento reta e empino
o peito. Um homem a poucas cadeiras de
distância fica me encarando como um
cachorro que está olhando um osso
saboroso. OK, nunca vai acontecer essa
história de uma casa com cerquinha
branca e rosas ao redor da porta com o
Daniel, mas isso não é o fim do mundo, é?
O Lawns Bar é uma vez mais um
conduto de sensualidade agitada. E, como
se tivesse sido convocado pela excitação,
Daniel aparece. Como o diabo? Não sei
exatamente como e quando, mas ele se
materializou do outro lado do bar e está
com sua bunda gostosa acomodada em
uma cadeira igual à minha. A prima dele
já está lhe servindo uma bebida clara com
gelo em um copo alto, provavelmente um
gim-tônica ou talvez vodca, não dá para
dizer. Enquanto ela conversa com ele, ele
percebe que assisto por sobre o ombro
dela e me dirige um olhar demorado e
neutro. Ele está fingindo que não me
conhece, mas, por trás de sua atitude e de
seus óculos bem-polidos, o jeito que me
encara é íntimo.
Uma sensação confusa surge em meu
peito. Temor, apreensão, excitação – o
estímulo que sempre sinto ao vê-lo, mas
que é temperado com uma luxúria picante
e pervertida.
O jogo vai começar.
Sem dar a mim mesma o tempo de
hesitar, termino o resto do meu vinho, saio
da minha cadeira e caminho na direção
dele. Milagrosamente, ou talvez devido a
um tipo de desígnio celeste, alguém
acabou de desocupar a cadeira ao lado da
dele.
Ele me observa a cada passo, maldito,
e então finge uma surpresa inocente
quando apareço à sua frente. Seus olhos
brilham por trás das lentes enquanto ele
gentilmente puxa a cadeira e segura o meu
braço para me ajudar a sentar.
— Boa-noite. – Sua voz é deliciosa e
insolente.
Meus temores e agitações desaparecem
como se fossem os nevoeiros da Escócia.
— Boa-noite. – Eu fico olhando
diretamente para a bebida dele.
— O que você vai beber?
Tudo, eu tenho vontade de dizer.
— Um copo de vinho branco da casa
seria muito bom.
— E que tal champanhe? – ele retruca,
sorrindo feliz.
— E por que não? Estamos celebrando
alguma coisa?
Ele ergue as sobrancelhas, faz um gesto
para a sua prima e fala com ela em voz
baixa, pedindo champanhe. Eu sinto outra
onda de inveja, apesar do casamento
obviamente feliz dela com o seu garanhão
italiano.
Daniel volta a sua atenção para mim e
resplandece.
— Então, nós estamos celebrando? –
insisto.
— Ah, com toda certeza... Não é todo
dia que a mulher mais linda deste bar se
aproxima de mim sem que eu tenha de
fazer o menor esforço.
— A vista deste lado do bar é melhor.
– Eu não tenho a menor ideia de como
fazer esse tipo de competição de flertes.
Tudo isso é novidade para mim, tanto o
relacionamento quanto o jogo. Mas ainda
sinto um estremecimento de prazer, no
mais fundo do meu sexo.
— Agora ela é. – Daniel continua a
sorrir enquanto seus olhos passeiam sem o
menor pudor pelas curvas dos meus seios.
O decote do meu vestido não é profundo,
e o corpete não é particularmente justo,
mas o corte benfeito faz com que todo o
meu corpo pareça sensacional. Os cílios
dele se agitam em reconhecimento ao
sulco entre os meus seios, e ele ajeita
quase imperceptivelmente a sua posição
na cadeira. Meus batimentos cardíacos se
aceleram, e aquele estremecimento lá
embaixo se torna uma pontada lancinante
e cheia de desejo. Eu não sou a única
pessoa neste bar que tem uma aparência
sensacional. Daniel está usando um terno
escuro e uma incrível camisa branca que
acentua o seu leve bronzeado e o faz
resplandecer. Seus cabelos desalinhados
estão penteados pelo menos uma vez,
porém ainda há uma energia indomável
em suas ondas – e em tudo a respeito de
Daniel. Ele tem uma aparência forte e
animal e dominante, como uma fera
sexual.
— Então, você vem sempre aqui? – eu
pergunto, e nós dois começamos a dar
risada, saindo temporariamente de nossos
papéis. As nossas risadinhas atraem um
olhar curioso por parte da prima dele, que
chega com o nosso champanhe, mas,
sendo a discrição em pessoa, ela
simplesmente abre a garrafa com uma
presteza profissional, então nos deixa com
um ligeiro sorriso em seu rosto.
Será que ela está por dentro dessa
história? Acho que sim. Mas, na verdade,
isso não me aborrece. Estou concentrada
em Daniel, e somente em Daniel. Ah, e em
Nêmeses...
— Para dizer a verdade, sim – ele
finalmente diz, ainda sorrindo –, é um dos
meus hotéis favoritos. – Ele faz uma
pausa, me favorecendo outra vez com
aquele olhar sensual, que francamente me
desnuda. – Talvez pelo fato de as
mulheres aqui serem sempre tão lindas.
Eu dou risada outra vez. Sei que
estamos dando cantadas e participando de
um jogo, mas, em meu coração e nas
minhas entranhas, eu sei que ele está
mesmo dizendo a verdade. Sou linda?
Esta noite, quero acreditar que sim. Não
sei como responder, então pego minha
taça de champanhe e a seguro para um
brinde. O tinir dos vidros é bastante
comunicativo.
O vinho é excelente. Não sou expert,
mas de algum modo a sua complexidade
suave se conecta em todos os níveis com
meus sentidos. A sua efervescência
delicada é a personificação perfeita da
excitação entre Daniel e mim. Observá-lo
beber um golinho de sua taça me faz
tremer e desejar senti-lo bem
profundamente dentro de mim. A boca
dele toca a borda da taça e um pouquinho
de champanhe brilha em seus lábios.
Lentamente, a língua dele se projeta para
lamber a bebida da curva suave e sensual.
Meu corpo estremece e se contrai com
força, só de olhar para ele.
— Então? – ele diz baixinho, pousando
a taça no bar com um clique.
Foda-se, não quero mais participar de
joguinhos. Correção, eu só quero
participar de alguns jogos. Jogos sensuais
com Daniel, lá no quarto dele. Todos
esses rodeios, fingindo ser outra pessoa,
tudo isso só impede que eu fique perto
dele.
Os longos dedos de Daniel brincam e
percorrem o pé da taça, e ele me olha,
ligeiramente de lado, como se estivesse
me lendo.
— Você não quer jogar?
Eu me sinto como se tivesse levado um
choque. Engulo um pouco de champanhe e
mal contenho um espirro por causa das
bolinhas que sobem para meu nariz. Mas
que inferno, como ele sempre consegue
saber o que está se passando pela minha
cabeça?
— Sim, eu quero jogar. – Levo a minha
taça aos lábios outra vez, então a recoloco
no balcão. – Mas apenas um jogo simples.
Só você e eu. Estou pouco me importando
com toda essa discussão por causa de N...
Com um movimento rápido e preciso,
ele estica o braço e coloca os dedos nos
meus lábios. Eles são quentes, e seu toque
me faz sentir fraca.
— Só um jogo simples, hã? – Ele me
olha detidamente, os seus olhos de um
suave castanho por trás das lentes dos
óculos. Por um segundo, uma sombra se
move nas suas profundezas e ele franze
ligeiramente a testa. Então ela desaparece
em um relâmpago, e ele sorri. – Para mim,
tudo bem. – Ele toca os meus lábios com
delicadeza, então os afasta e alcança a sua
taça de novo. Ele é bastante regrado.
Bebe somente um golinho.
Eu também bebo outro gole, com a
firme intenção de, não importa a que
preço, começar a tomar esta bebida com
regularidade. Uma garrafa por mês no
mercado – tenho certeza de que posso me
permitir isso, para reavivar as memórias
de uma noite especial como esta.
Subitamente, as coisas começam a
acontecer rápido demais. Daniel pede o
resto da nossa garrafa, depois uma
segunda, para ser levada para o nosso
quarto. Eu esvazio o meu copo, mas ele
olha o seu, o deixa e assume a liderança
para fora do Lawns Bar, através do foyer
e dentro do elevador.
É apenas um breve trajeto para cima,
mas ele parece durar uma eternidade. Eu
quero tocá-lo, beijá-lo, mas ele me lança
um olhar bravo meio brincalhão e se
afasta para o canto do elevador, me
encarando, as pontas de seus dedos
pressionadas juntas e pousando em seus
lábios. Eu poderia ter pensado que ele
estava meditando se seus olhos não
faiscassem tanto por trás das lentes de
seus óculos.
De repente compreendo que não estou
mais no controle. Eu estava, mas, sem
perceber o momento exato em que isso
acontecera, eu o havia transferido para
Daniel. Tenho de dançar de acordo com a
música dele, e essa percepção faz com
que eu me sinta tonta, borbulhante como o
champanhe. E repleta de um desejo
primitivo. Fantasias loucas cruzam minha
mente, fragmentos de cenários dos livros
pornô na biblioteca e dos recantos mais
sombrios do meu subconsciente, dos quais
eu não tinha conhecimento.
Daniel é Nêmeses agora, e estou
ofegante para fazer qualquer coisa que ele
deseje.
Quando chegamos ao andar do quarto
dele, ele me conduz ao longo do corredor,
ainda sem pronunciar uma palavra, e
passamos por inúmeros quartos – 11, 15,
17 – até que, finalmente, ele faz uma
pausa na frente do número 19 e pega o
cartão para abrir a porta.
Ele me guia para dentro do quarto.
Eu estremeço ao entrar antes dele,
sentindo dificuldade para respirar. Isso
parece tão, mas tão mais mágico que as
nossas escapadelas no arquivo da
biblioteca e que o quartinho da limpeza no
meu prédio. Há uma sensação de ritual e
de formalidade, e a imagem de Daniel
usando a máscara de couro surge outra
vez dos abismos obscuros da minha
imaginação, fazendo brotar uma nova
sensação de desejo em meu sexo.
Abro minha boca para dizer alguma
coisa, sem saber direito o que, mas Daniel
coloca os dedos com delicadeza em meus
lábios outra vez.
— Isto é apenas um jogo, você se
lembra? Nada de reservas. Nada de
complicações. – A mão dele, tão quente e
proibitiva, ainda está tocando meu rosto,
então eu apenas aceno concordando. – Eu
gostaria de assumir o controle. Controle
total. Tudo bem para você?
O poder dele me faz sentir mais fraca
do que nunca e eu aceno concordando
outra vez, sentindo um turbilhão selvagem,
como se eu estivesse sendo transportada
para além dos limites do real e do normal
por um tornado potente. Nunca me senti
mais temerosa ou mais excitada em toda
minha vida.
Ele tira a mão de meu rosto e se afasta
uns poucos passos para se sentar em uma
das grandes poltronas superestofadas,
forradas de chintz. Ele se acomoda
confortavelmente, os braços apoiados nos
braços da poltrona, e parece
completamente relaxado. Os seus olhos
ainda estão fixos em mim, entretanto,
penetrantes e escuros como os de uma ave
de rapina. Os olhos de Nêmeses. Não o
Nêmeses das cartas e das mensagens, que
tecia elogios e bajulava, mas um novo,
que sabe exatamente o que quer.
Na ausência de instruções formais, eu
não sei o que fazer. Simplesmente fico
parada lá, segurando a minha pequena
bolsa de festa enquanto sinto o olhar
avaliador dele me percorrendo. Tudo que
posso fazer é ouvir o silêncio, tendo
consciência do sangue, dos hormônios e
dos fluidos que estão sendo bombeados e
que deslizam por todo meu corpo e minha
pele. O suor me dá comichão entre os
seios e nas dobras da virilha, e já estou
molhada entre as pernas.
— Mostre-me sua calcinha.
A voz dele é baixa, corriqueira, mas
mesmo assim faz com que eu tenha um
sobressalto. É um pedido tão banal, mas
ele parece excessivo e insultuoso como se
tivesse me pedido para deitar nua no
carpete e gozar usando um vibrador. Com
as mãos trêmulas, eu coloco a minha bolsa
ao lado da cama e começo a erguer a
minha roupa. Essa ação me faz pensar no
dia em que eu fiz mais ou menos a mesma
coisa no porão da biblioteca, mas isso
parece ter acontecido há cem anos e sido
feito por uma pessoa completamente
diferente.
Lentamente, e ainda tremendo, eu exibo
minha calcinha de renda francesa
vermelha, e as elaboradas bordas das
minhas meias de seda onde elas são
presas à minha cinta-liga.
O rosto dele permanece muito calmo,
muito tranquilo, mas por trás das lentes
dos seus óculos os seus olhos brilham
com um fogo fervilhante. Dá para eu sentir
o calor ali onde estou, fervilhando e me
queimando enquanto ele me mantém ali,
aprisionada naquele lugar devido à força
de seu olhar pelo que parece ser um
tempo infinito.
O suor e outras secreções se acumulam
e fluem.
Depois de uma eternidade, ele diz:
— Tire-a e a traga para mim.
Parece que há alguma coisa
comprimindo o meu peito. É difícil
respirar, estou tão excitada. Não tenho
certeza se consigo tirar minha calcinha
sem cair, e nem dá para pensar em fazer
isso com alguma graça. Mas eu já recebi
as minhas instruções e tenho de cumprilas.
Eu encontro uma solução me apoiando
na mesa de cabeceira enquanto tateio por
baixo das camadas amontoadas da minha
saia e puxo o elástico da calcinha. Eu não
sei se posso me apoiar desse jeito ou se
devo manter minha boceta exposta durante
todo o procedimento, mas Daniel
permanece superficialmente inalterado
pelos meus esforços para manter um
tantinho de elegância.
A renda delicada corre o risco de se
enroscar nos saltos finos de meus sapatos
enquanto eu luto com ela, mas os deuses
sorriem e eu consigo tirar minha calcinha
sem cair de cara no chão ou de costas.
Ousada, eu deixo a saia descer e me
cobrir, então caminho lentamente na
direção dele e lhe apresento a minha
oferenda.
— Você é perfumada? – Os lábios dele
se torcem maliciosamente e ele ergue as
mãos e aponta os dedos naquela maneira
erudita e acadêmica dele. O que ele
deseja? Ele deseja que eu cheire minha
própria calcinha na frente dele? O meu
decoro se rebela, mas eu aproximo a
renda vermelha de meu nariz por uns
instantes e faço de conta que estou
cheirando. Elas já estão cheias daquele
aroma oceânico do desejo, mas isso não
me surpreende. Quem não estaria banhada
e perfumada sob o encanto do belo homem
que está sentado à minha frente?
Ele estende a mão, e eu me inclino
rapidamente para frente e quase jogo nela
o meu tesouro. Isso faz com que eu ganhe
um amplo sorriso, iluminado e familiar,
muito mais parecido com o Daniel que eu
conheço e a quem amo tanto.
Desdobrando a peça delicada, ele a
examina como se fosse um item que ele
tivesse desenterrado em suas pesquisas. O
polegar dele corre pela renda, avaliando
sua transparência e verificando sua
textura, então ele a ergue pelo elástico e
analisa sua estrutura. O que me faz
enrubescer profundamente, não porque
minha calcinha está perfumada com o
aroma do meu desejo, mas porque, para
servir em uma mulher como eu, ela não é
exatamente pequena.
Os olhos de Daniel lampejam da minha
roupa íntima para mim, e é como se ele
me lesse por inteiro.
— Ela é linda. E você também é. – Ele
inclina a cabeça para um lado, fazendo
uma vez mais aquele gesto de um
professor que perdeu as esperanças
naquele aluno pouco inteligente. –
Mulheres magras não me interessam. Eu
gosto de curvas, de carne, de
feminilidade... assim como a maioria dos
homens, minha adorável Gwendolynne,
assim como a maioria dos homens.
— Se você está dizendo... – Embora
ele não tenha chegado a dizer isso, sei que
eu não deveria falar, mas não consigo
deixar de pronunciar apressadamente
aquelas palavras. Estou feliz por ele ter
dito o que disse. De certa maneira, eu já
sabia aquilo no meu coração, mas é tão
bom ouvir isso diretamente dos lábios
dele.
Ele me dá uma olhadinha severa e
parece estar a ponto de me repreender,
quando ouvimos uma suave batida à porta.
– Ah, deve ser o nosso champanhe. Já
estava na hora.
Movendo-se com mais rapidez do que
parece ser possível, ele se levanta de um
salto, me dá um beijo másculo na boca e
meio que me empurra de volta para a
cama, fazendo com que eu me sente. Ele
me dá outro beijo rápido como um
relâmpago e diz em voz alta:
— Entre!
11
Jogos
A porta se abre. Oh, meu Deus, ela estava
destrancada durante toda essa história de
eu tirar minha calcinha. E se o serviço de
quarto tivesse apenas dado uma batida
apressada na porta e entrado? Felizmente,
no Waverley eles têm um pouco mais de
decoro, e há uma pausa cheia de tato antes
que uma mulher alta e muito digna, com
um belo cabelo negro ondulado entre no
quarto empurrando um carrinho de
bebidas.
— Seu champanhe. – O sorriso dela é
discreto, neutro, ilegível. – E morangos,
cortesia da administração. – Ao lado do
balde extragrande, com nossa meia
garrafa de champanhe, e mais uma outra
nova, sem abrir, há uma tigela de prata
repleta de grandes morangos de aparência
suculenta. Duas taças longas estão lado a
lado, delicadas e brilhantes. Tudo muito
ao estilo de Uma Linda Mulher.
— O senhor deseja mais alguma coisa?
– pergunta a nossa camareira. Embora,
pensando bem nisso, eu perceba que ela
não é de modo nenhum uma camareira.
Ela está usando um tailleur muito elegante
e correto, com uma discreta plaquinha na
lapela com os dizeres “Saskia Woodville,
Assistente da Gerência”.
— Não, obrigado.
Ela apresenta um papel com a conta
para assinar e, como Daniel está de costas
para mim, não vejo a transação, mas
posso notar um tênue sorriso de
cumplicidade iluminar o rosto da
assistente da gerência. Ela também faz
parte do jogo? Afinal de contas, este é o
hotel da prima do Daniel.
A mulher alta volta seu sorriso para
mim, e ele é agradável, amplo e sincero.
— Boa-noite, senhora – diz ela em voz
baixa e se retira. Ela faz uma pausa à
porta e, por um breve instante, seus olhos
se dirigem rapidamente para a poltrona de
chintz, onde Daniel estava sentado há
poucos momentos. Os cantos de sua boca
pintada de vermelho se curvam
ligeiramente, e ela sai e desaparece,
fechando a porta silenciosamente.
Somente quando sigo o percurso
daquele olhar tão rápido é que percebo
que minha calcinha vermelha está jogada
lá no assento, claramente visivel. Meu
rosto queima de rubor e de mortificação,
mas então eu fico relaxada. O que é que
há de errado com uma calcinha imprópria
à mostra? O Waverly é um hotel
pervertido com uma reputação pervertida.
E eu sou uma mulher pervertida em um
relacionamento pervertido. Nem um fio de
cabelo da Senhora Woodville
provavelmente teria saído do lugar se eu
estivesse nua e esticada na cama. Ou se
Daniel estivesse deitado em cima de mim,
me dando o melhor de si.
— Você não ficou constrangida, ficou?
– Daniel retorna para sua poltrona, pega
minha delicada renda vermelha na ponta
de um dos dedos e a deixa escorregar
lentamente. – Eles veem muitas coisas
picantes toda noite neste lugar – ele
acrescenta, confirmando minhas suspeitas
enquanto se recosta outra vez na poltrona
e começa a acariciar minha calcinha outra
vez de um modo lento e contemplativo que
apenas me faz desejar que ele estivesse
me acariciando tão deliberadamente.
Agora que minha virilha está nua, eu sinto
meus fluidos sedosos começando a se
acumular e a correr, e quando Daniel me
lança um sorrisinho malicioso,
acompanhado por um levantar das suas
sobrancelhas escuras, um pouquinho do
fluido escorre de modo revelador pela
minha perna até alcançar a borda rendada
da minha meia de seda.
— Tenho certeza de que eles veem. –
Estou começando a ficar nervosa de novo.
Agitada, energizada, vibrando com a
prontidão, mas sem saber ao certo para
que eu estava me preparando. A
antecipação é como faixas de aço
amarradas ao redor do meu corpo,
dificultando a minha respiração e
controlando minha postura e os meus
membros. Tento não ofegar e me entregar.
— Sirva-me um pouco de vinho – diz
Daniel de modo casual, ainda segurando a
minha roupa íntima.
Será que eu tenho de servi-lo? Agir
como se fosse a sua camareira? Uma parte
de mim se rebela diante de um papel tão
subserviente, mas a maior parte do meu
ser vibra ao pensar nisso, de um modo
antigo e primitivo. Outro fio de mel cálido
molha o topo das minhas meias de seda.
Fazendo força para não tremer, vou
para o outro lado do carrinho e despejo
champanhe em uma das longas e graciosas
taças. Quando faço uma pausa e olho para
Daniel, a garrafa pairando sobre a
segunda taça, os olhos dele se fecham por
trás das lentes dos óculos como se fossem
me dar um aviso. É claro que eu tenho de
merecer o meu champanhe, mas de que
modo eu ainda não sei com certeza.
Eu lhe sirvo a bebida e ele deixa minha
calcinha cair no braço da poltrona antes
de pegar a taça das minhas mãos. Ele
bebe novamente um gole muito pequeno,
mas muito deliberado. Ele mal está
bebendo esta noite, e por algum motivo eu
fico com a impressão de que não é
realmente por sua escolha. Começo a ficar
pensando nisso, mas nesse meio-tempo os
olhos dele estão fixos nos meus, e quase
dá para imaginar que ele está proibindo
minhas especulações. Tendo bebido
somente uma porção ínfima da deliciosa
bebida, ele coloca a taça na mesa ao lado
de sua poltrona.
Ainda me encarando, ele me faz um
gesto para que eu me aproxime; o gesto é
minúsculo, mas imperioso. Enquanto dou
um passo, ele abre ainda mais as suas
pernas para permitir que eu fique parada
entre elas. Não tenho certeza se mesmo eu
tenho permissão para olhar, mas não
posso deixar de fixar os olhos na sua
virilha imaculadamente vestida, onde ele
está duro, a ereção proeminente.
— Tire o seu vestido, Gwendolynne –
diz a voz de Nêmeses. E, quando eu quase
pego o zíper, ele casualmente leva as
mãos à virilha e ajeita o pênis em suas
calças. Desgraçado arrogante. Mas eu
adoro isso.
Eu tiro suavemente o meu novo e
chique vestido; então saio dele e o chuto
para um lado. Tempos atrás, eu teria
ficado envergonhada por expor meu
amplo corpo desse jeito, especialmente se
não estivesse usando calcinha. Mas, ao
olhar no fundo dos olhos fervilhantes de
Daniel, e então vendo o modo como seus
cílios espessos se agitam e seus dedos
correm sobre seu pau, eu sinto o poder em
minha própria carne, e me delicio com
isso. Ele está desempenhando o papel
dominante aqui, mas, de algum modo, ao
mesmo tempo ele também está sob o
encanto das minhas curvas, dos meus
seios, dos meus quadris e da minha bunda.
Ele deseja o meu corpo abundante, assim
como eu desejo sua musculatura macia e
sua rigidez fantástica e protuberante.
Fico parada na frente dele usando o
meu sutiã vermelho, a minha cinta
vermelha e as minhas meias de seda com
bordas de renda, com as marcas da minha
excitação claras e brilhantes na parte
interna das minhas coxas. Sem me avisar,
ele se inclina para frente e passa seus
braços ao redor da minha cintura,
puxando-me para perto dele. Ao mesmo
tempo, ele afunda sua face entre meus
seios, esfregando as maçãs do rosto em
suas elevações macias e cobertas de
renda, como uma criança ou um filhote
que estivesse buscando conforto. Sem
parar para pensar, eu abraço sua cabeça,
deslizando meus dedos entre a negra seda
de seus espessos cabelos anelados.
É um momento estranhamente
assexuado. Uma comunhão profunda.
Daniel emite um som como um arquejo,
quase um gemido, e afunda ainda mais o
rosto. Eu me sinto estranha. Meu corpo
está totalmente excitado e pronto para
recebê-lo. Posso sentir o cheiro de minha
excitação, e ele também deve sentir. Mas
a necessidade de conforto se sobrepõe à
luxúria, forte e comovente. Será que ele
está tendo uma de suas dores de cabeça?
Sua atitude sugere a ânsia por algum tipo
de consolo. Eu seguro sua cabeça com
delicadeza, caso ela esteja de algum modo
sensível, e sem dizer uma palavra ele se
move, uma das mãos ainda me segurando
pela cintura, mas
a outra se colocando sobre a minha mão,
onde ela está descansando em seus
cabelos. Nossos dedos se entrelaçam e
ele emite um ligeiro suspiro.
Não ouso falar, mas eu queria tanto
perguntar se está tudo bem com ele. Essas
dores de cabeça acontecem com
frequência, eu sei muito bem, e isso indica
alguma coisa séria. Eu quero saber o que
o perturba, ainda que agora seja um
momento estranho para perguntar, quando
estou
seminua nos braços dele, a minha virilha
exposta ligeiramente pressionada contra
sua camisa.
— Tem alguma coisa errada?
Eu disse alguma coisa? Eu devo ter...
Daniel não se move nem responde por
uns momentos, então ele escorrega suas
mãos sobre o meu corpo e me afasta dele
um pouquinho.
Merda! Merda! Merda! Agora eu
estraguei tudo. Os homens não gostam de
parecer fracos. Especialmente quando
estão desempenhando o papel de mestres
do sexo.
Ele franze a testa, e um olhar de
irritação passa brevemente por sua face.
Por minha causa? Ou por causa dele? Eu
acho que é pelo último motivo.
— Não, nada mesmo – ele diz
secamente –, especialmente não com
você. Os lábios dele se retorcem; eles
parecem avermelhados e famintos. – Não
tem absolutamente nada errado com você,
linda Gwendolynne. Você é mesmo um
colírio para olhos cansados. – Aquele
olhar zangado reaparece
momentaneamente, então ele estende as
mãos para me tocar de novo, puxando-me
com sua mão esquerda enquanto a direita
desliza arrogantemente entre as minhas
coxas, e depois entre os lábios,
procurando o meu clitóris. Quando ele o
encontra sem se enganar, é minha vez de
arquejar, mas em voz baixa ele me faz
ficar calada.
— Você tem de ser uma menina boa e
quietinha, minha deusa da biblioteca.
Nada de gemer e de se queixar enquanto
eu brinco com você.
Lá está ele de novo, aquele título. O
que prova de maneira inequívoca que ele
é Nêmeses. Mas eu não me importo com
quem ele é ou de onde ele vem. Só
consigo pensar, se é assim que dá para se
dizer, no que ele está fazendo no sulco
úmido do meu sexo. Ele pressiona o meu
clitóris, beliscando-o e brincando com
ele, e eu sinto uma necessidade urgente de
balançar os meus quadris e de me mover
no centro daquela enlouquecedora ponta
dos dedos. Mas não faço isso, pois sei
que ele quer que eu permaneça imóvel.
Mordendo os lábios, suprimo um
gemido. Sensações intensas, embora
frustrantes, estão se acumulando. Fecho os
olhos, incapaz de olhar para suas feições
tão queridas e tentadoras. Mas ele emite
baixinho uns sons desaprovadores, e tenho
de abrir os olhos outra vez. O rosto dele é
sublime, forte e maravilhoso.
Extremamente masculino e satisfeito
consigo mesmo, e, contudo, tão belo
quanto um anjo-demônio pintado por um
dos Antigos Mestres.
O toque dele é ultrajante, como o
pecado encarnado. Ele faz com que eu me
aproxime cada vez mais do orgasmo com
cada toque, então, uma vez ou outra ele se
retira, bem quando eu estou pronta para
gozar.
No momento em que estou a ponto de
gritar com ele para que acabe logo com
isso, ele retira completamente os dedos.
Então, de um modo lento e lascivo, ele em
primeiro lugar toma outro golinho de
champanhe de sua taça e mergulha o dedo
indicador e o médio nela e os coloca
outra vez, úmidos com o precioso vinho,
em meu clitóris. Eu grito com voz rouca
enquanto a efervescência me toca com
delicadeza, e gozo intensamente, quase
com dor, meu sexo vazio pulsando e se
contraindo contra o nada.
Os meus braços agarram Daniel,
rodeando-o, se apoiando nele, mantendose
firmes ao redor dele como um vício,
enquanto o meu corpo lateja e estremece e
eu gozo. Perdida em sensações, eu me
debruço sobre ele, pressionando o meu
rosto contra os seus cabelos negros
anelados, e respirando profundamente o
cheiro intoxicante de seu shampoo de
ervas. Beijo o seu couro cabeludo e, no
mais profundo de meu prazer, uma ânsia
maternal deseja que eu possa curar a dor
que às vezes o atormenta.
Finalmente ele me coloca sentada em
seu colo. Embora eu automaticamente
comece a protestar que não sou nenhum
fiapo de gente e muito pesada, ele me
ignora. Pegando a sua taça de champanhe
outra vez, ele me dá o último gole do
fluido dourado e eu o engulo como se
fosse limonada, sedenta por ter gozado.
Ainda estou bastante impactada e
abalada, mas não demoro muito para
começar a pensar outra vez. E a perceber
coisas que não são muito difíceis de notar.
Como a enorme ereção abaixo de mim,
cutucando meu sexo ainda vibrante
através do belo tecido das calças do terno
de Daniel.
— Você está muito duro – eu observo
fracamente, e ele dá risada.
— Sim, eu gosto de ficar duro.
— Você não quer fazer algo a respeito?
— Daqui a pouco. – Ele me acaricia
sob o queixo como se eu fosse uma
gatinha, seus olhos felizes e brincalhões
por trás das lentes dos óculos. – Mas não
ainda. – Ele passa a língua pelo lábio
inferior, como se estivesse saboreando
alguma coisa deliciosa. – Às vezes eu
gosto de prolongar a ansiedade. Esperar
até que eu queira mesmo, muito mesmo,
antes de começar. E sei que, quando eu
penetrar você, vai ser algo
verdadeiramente espetacular, e vai valer a
pena a espera.
Por um breve instante ele toca o meu
clitóris outra vez, e eu gemo sem
conseguir me controlar, quase pronta para
gozar de novo.
— Vamos assistir à televisão um pouco
– diz ele, enquanto eu tento me balançar
outra vez nas pontas de seus dedos, mas
em vão. Colocando-me longe dele com
uma facilidade e uma força imensas, ele
me coloca em pé de novo, então se
levanta a meu lado e me leva para a cama.
Ele ajeita um travesseiro, e então diz: –
Sente-se – em um tom de voz quase
severo.
Com o meu coração martelando, eu
deslizo até a colcha, sem saber
exatamente o que fazer.
Daniel inclina a cabeça para um lado e
então cuidadosamente, e praticamente sem
olhar, remove os grampos que estão
mantendo os meus cabelos presos, colocaos
de lado, e depois solta os pesados
cachos sobre meus ombros, tocando-os e
arrumando-os.
— Deite-se – ele me dá a instrução,
acenando na direção dos travesseiros, e
eu acato, tentando colocar os meus
membros em uma configuração sedutora.
Minha virilha nua, emoldurada pelas
estreitas faixas rendadas da minha cinta,
parece gritar para me chamar a atenção.
Não consigo olhar para nenhum outro lado
senão para meu sexo à mostra. É meio
obsceno, mas sedutor e exótico. O fogo
nos olhos de Daniel parece dizer que ele é
da mesma opinião.
Ele serve mais champanhe e coloca as
nossas taças de cada lado da cama, nas
pequenas e delicadas mesas de cabeceira.
— Relaxe. – Sorrindo para mim e
parecendo absurdamente contente consigo
mesmo, ele me arruma, pegando os meus
pulsos e colocando os meus braços acima
da minha cabeça nos travesseiros fofos, as
mãos ligeiramente entrelaçadas, então
afasta delicadamente as minhas pernas
úmidas, abrindo a minha boceta.
— Relaxe – ele murmura novamente,
sua voz mais gentil, como se estivesse
tentando me tirar daquele estado do tipo
“coelhinho amedrontado na frente dos
faróis do carro” em que eu me encontrava.
Eu tenho direito de escolha aqui, mas me
sinto tão paralisada quanto aquele
coelhinho que se defrontou com um
monstro destruidor.
Os dedos dele se movem de modo
reverente pelo lado do meu rosto, então
alisam meus cabelos sobre os
travesseiros. Aquilo me faz ficar
relaxada. Assim como vê-lo tirando seu
paletó, afrouxando a gravata e colocando
ambos de lado, antes de descalçar os
sapatos e de ir quase dançando para o
lado oposto da cama.
As molas do colchão se mexem
ligeiramente quando ele se deita a meu
lado, como se nós fôssemos ficar
calmamente assistindo ao jogo de futebol
juntos. Quando ele pega o controle remoto
da televisão e aperta o botão, eu quase
fico esperando que o monitor ganhe vida.
Mas não, aparece somente o menu com o
logo do Waverley. Daniel lança um olhar
rápido para sua taça de champanhe,
resolve não beber e começa a conferir os
canais da televisão, usando o controle.
Eu não consigo acreditar nisso! Até
mesmo nestas circunstâncias mais
exóticas e picantes, ele é igual a qualquer
outro homem. Ele não consegue resistir ao
zapping! E então é minha vez de dar
risada alto quando nós ligamos no History
Channel e é o próprio rosto familiar dele
que sorri para nós. Ele está sentado em
um muro de pedra em algum lugar, falando
sobre a Conquista Normanda.
— Eca! Detesto esse cara. Que babaca!
– Com uma risadinha, ele aperta um dos
botões e nós voltamos a ver o menu.
Estar deitada aqui, esticada na cama,
enquanto Daniel zapeia, me dá uma
sensação peculiar e vagamente pervertida,
mas eu sou viciada em televisão também e
não consigo deixar de olhar a tela, embora
eu esteja seminua e em exibição, como
uma odalisca.
Ele passa rapidamente por alguns
programas. Filmes. Um concerto.
Pugilismo, que horror. E então,
inevitavelmente, ele encontra o canal
pornô. Primeiro nós nos deparamos com
uma dupla de loiras peitudas, mas com
corpo de sílfide, se beijando loucamente e
se esfregando uma na outra como se
fossem cobras. Mas isso não chama a
atenção de Daniel, e ele volta
rapidamente para o menu e o percorre
mais um pouco.
Em seguida, nós vimos um cara que eu
sei que é o famoso Ron Jeremy, transando
vigorosamente com uma outra loira, na
posição do cachorrinho.
— Já vi este – diz Daniel, me
surpreendendo. Quem haveria de imaginar
que o queridinho do mundo acadêmico
gostava de filme pornô?
De volta para o menu, e aperta, aperta,
aperta, ele seleciona o “Live Feed”. Mas
que diabos é isso? Infelizmente, tudo que
a tela nos mostra é a legenda “Canal fora
do ar”.
— Opa!
Antes que eu possa perguntar
exatamente o que quer dizer “Live Feed”,
Daniel pula para fora da cama, vasculha o
bolso de seu paletó e pega um cartão
extra, muito parecido com o que nós
usamos para abrir a porta do quarto. Ele o
coloca em uma fenda na frente da
televisão, então aperta o botão outra vez
enquanto volta rapidamente para a cama e
se deita ao meu lado, os olhos fixos na
tela e não em meu corpo parcialmente
vestido. Ótimo.
A imagem passa rapidamente para algo
estranhamente familiar. Chintz. Luz suave.
Dois amantes. Um vestido, outro
parcialmente nu.
É a imagem de uma webcam. Não de
nós dois, graças a Deus, mas que
claramente vem de algum lugar dentro do
hotel.
— Oh, não, é ele!
A atenção de Daniel se volta
rapidamente para mim e ele me olha com
curiosidade.
— Você o conhece? – Ele acena na
direção da tela, onde um homem
mascarado, mas mesmo assim
perfeitamente reconhecível, está se
impondo a uma mulher que eu também já
vi antes, e recentemente. Em um quarto
muito parecido com o nosso, o suave,
contudo loucamente inconsequente Robert
Stone, diretor de finanças do distrito, está
pronto para começar a espancar sua
amada loira, a bonita moça que eu vi com
ele não faz muito tempo. Ele está sentado
na borda da cama, usando uma máscara de
couro, fato que faz com que alguma coisa
dentro de mim tenha um sobressalto, me
lembrando de minhas fantasias. É o tipo
de coisa que, provavelmente, ocultaria a
identidade dele... a não ser que você já
soubesse disso. Sua parceira está deitada
sobre os joelhos dele, usando um corpete
e uma máscara parecida, mas mais
delicada, com uma fina borda rendada, e
não muito mais que isso.
A definição das cores dessa cena é
surpreendentemente boa, considerando as
condições de iluminação, e é fácil
perceber que ele já a está espancando por
algum tempo, porque sua invejável bunda
bem-modelada está avermelhada e parece
sensível. A moça está tremendo também,
como se estivesse protestando por causa
da dor. Mas, quando ela volta seu rosto,
permitindo que nós víssemos sua
expressão, mas não quem a estava
castigando, seus olhos faíscam por causa
da excitação dentro dos limites de sua
máscara exótica, e ela sorri, um sorrisinho
feliz para si mesma. Ela gosta disso!
— Caramba! Espancar! Que tesão! –
murmura Daniel ao meu lado, ecoando
integralmente os meus pensamentos, e ele
altera ligeiramente a posição em que está
sentado, como se a cena picante já
estivesse atingindo a região da sua
genitália. Como já está atingindo a minha.
Stone dá um tapinha descuidado na bunda
de sua amada e ela se contorce no colo
dele, retorcendo os lábios. Sua boca me
move como se ela estivesse gemendo, mas
não existe o áudio, supostamente para
permitir que o casal mantenha certa dose
de privacidade em um cenário tão
abertamente exibicionista. Eu tenho de
morder os lábios para evitar um gemido e,
quando afasto os olhos da tela por uns
segundos, descubro que Daniel, na
verdade, está observando a mim, e não a
eles.—
Esse tipo de coisa deixa você
excitada? – Os olhos dele brilham por trás
das lentes dos óculos, me contando que
essa ideia o deixa excitado. Ele se inclina
sobre mim, o seu olhar atirando da tela
para mim e de volta para a tela, indo e
vindo. Enquanto Robert Stone dá mais
algumas pancadas, em rápida sucessão,
Daniel se aproxima e desliza a mão entre
minhas coxas, me testando.
Ele encontra o que eu acho que estava
esperando, e dessa vez não consigo deixar
de gemer. Estou molhada e escorregadia,
excitada e pronta para receber o toque
dele. Quando eu me contorço e tento
pressionar a minha mão sobre a dele, ele
diz: “Uh oh!” e me dirige um rápido olhar
de censura. É um olhar complexo, cheio
de humor e, no entanto, ligeiramente
proibitivo, e eu fico imaginando se estou
na presença de um homem tão hábil no
papel de disciplinador como aquele que
está nas imagens vindas da webcam.
Preciso fazer um esforço, mas volto as
minhas mãos para sua posição original,
ligeiramente entrelaçadas, e tocando os
meus cabelos esparramados no
travesseiro. É como estar algemada, sem,
no entanto, estar; e embora eu nunca tenha
sido algemada e tudo que saiba a respeito
disso vem de filmes e histórias,
instintivamente sei que provavelmente é
muito mais difícil não estar algemada em
um tipo de situação como este. Talvez
seja relaxante ficar imobilizada. Pelo
menos desse jeito você não tem de lutar
contra seu próprio desejo de se mexer, de
lutar. Especialmente quando um lindo
homem que você adora está acariciando o
seu clitóris com a ponta do dedo.
Eu arquejo e os meus quadris se mexem
por conta própria, assim como os da
bonita companheira de Robert Stone. Ele
parou de bater nela por um momento, e ela
está se contorcendo sobre os grandes
joelhos dele, se esfregando nele, tentando
se estimular.
— Você é tão safada quanto ela. –
Daniel se aproxima ainda mais, sua boca
a poucos centímetros da minha. – Aposto
que isso deixa você excitada. Eu aposto
que você lê todo tipo de livros picantes lá
naquele porão da biblioteca, não lê? Eu já
os vi. Eu sei o que tem lá embaixo.
E ele continua tocando, tocando, me
tocando, e eu me sinto compelida a girar
minha bunda. Mas isso não faz com que
ele se afaste de seu objetivo, de jeito
nenhum. É como se ele fosse guiado por
um laser, com a precisão de um cirurgião.
— Mas isso quer dizer que você os leu
também – eu arquejo, ainda tentando lutar
contra ele, porque de alguma maneira sei
que é isso que ele deseja. Faz parte do
jogo, um dos papéis que você tem de
desempenhar durante esta dança. – Então
você é um pervertido também.
— Shhhhh! – Ele me dá um beijo
violento, o clássico e romântico beijo
punitivo, o tempo todo movendo seu dedo
onde realmente importa. O meu corpo se
contrai, mas ele retira a sua mão e a
coloca sobre a minha boca quando
interrompe o beijo, a mão ainda com meu
perfume. – Nós estamos falando de você,
Senhorita Gwendolynne Price, não de
mim. E de todos aqueles segredinhos
picantes por trás daquela sua fachada
comportada e profissional de
bibliotecária.
Eu quero dizer para ele que nunca fingi
ter uma fachada comportada, mesmo
quando era relativamente inexperiente,
mas estou quase gozando. E, de qualquer
maneira, a mão forte dele ainda está sobre
minha boca.
Ao mesmo tempo, nós voltamos a nossa
atenção para a tela, embora essa não seja
uma ideia tão boa para mim, que estou
quase gozando, porque nesse meio de
tempo Robert Stone tinha colocado a sua
parceira na cama e feito com que ela
ficasse na posição do cachorrinho, sua
bunda nua e rosada erguida bem alto e
suas pernas esguias separadas. Eu arquejo
sob os dedos de Daniel quando nosso
amigo exibicionista abaixa o zíper das
suas calças e revela um pênis
impressionante que combina bem com sua
estatura e seu tipo físico.
Por um segundo, lanço um olhar na
direção de Daniel, e ele ri de mim,
subitamente muito mais parecido com ele
próprio, não mais Nêmeses.
— Não estou intimidado. Não estou
intimidado. Não estou intimidado. – Ele
revira os olhos por trás das lentes dos
óculos, e, como não consigo falar, eu lhe
digo com meus olhos que não tenho
reclamações a fazer a respeito dele
naquele departamento. Estou mais do que
satisfeita, excitada e impressionada com o
esplêndido cacete dele. Ele entende a
mensagem e me dá uma piscada. Nós
voltamos a acompanhar a cena, nenhum
dos dois sem se sentir afetado. Eu ainda
estou louca de vontade de gozar, e Daniel
está exibindo uma saliência colossal em
suas calças.
Os amantes estão fodendo agora. Stone
está penetrando a sua amada com
majestade e com entusiasmo, entrando
nela como se fosse um pistão, contudo de
algum modo quase com carinho. É algo no
modo como ele segura os quadris dela, e
o modo como, de vez em quando, ele se
move para colocar a mão nos ombros
dela, no pescoço dela. Existe amor na
união deles, um amor doce e selvagem.
Oh, como eu desejo isso! Eu desejo
aquele modo refinado com que ele curva o
seu corpo sobre
o dela, quando ela claramente está a ponto
de gozar. O modo como
a boca dele se move, as palavras
silenciosas impossíveis de não
compreender quando ele a toca por baixo
e a acaricia para aumentar o prazer dela.
Eles se movimentam e se balançam; os
seus lábios emoldurando exclamações de
êxtase e de amor, os quadris deles se
erguendo e vibrando até que finalmente
chegam ao fim e Robert Stone dá um tipo
de meia-volta para o lado, puxando
consigo sua amada, fazendo com que ela
se deite ao lado dele, em vez de
simplesmente desabar o seu
impressionante peso pós-coito sobre o
corpo dela. A última coisa que eu
percebo, bem na hora em que Daniel dá
um clique no controle remoto, é que
ambas as mãos entrelaçadas deles estão
usando alianças de casamento. Não
consigo imaginar que eles pertencessem a
outras pessoas que não um ao outro.
— Gente, ela é esposa dele! É tara de
casados. Eles poderiam estar em casa
transando, mas claramente gostam de se
exibir.
— Alguns casais gostam, eu acho. –
Daniel está franzindo ligeiramente a testa,
e ele se senta, passando a mão entre os
seus cabelos, cerrando os olhos por trás
das lentes dos óculos.
Sinos de alarme soam em meu coração.
Está tudo bem com ele?
Contudo, um instante depois, ele está
sorrindo outra vez.
— Então, essas exibições pervertidas...
elas deixaram você excitada?
— Você sabe que sim! – É claro que
ele quer que eu diga isso. – Com certeza
você percebeu isso.
— É, você está fantasticamente
molhada, minha pequena deusa da
biblioteca. Já tem um belo laguinho aqui.
– Ele pousa a mão ligeiramente curvada
sobre meu pequeno tufo, o dedo médio
mergulhando, mas sem fazer contato. Eu
poderia gritar e sair dando chutes. Isso é
tão frustrante, mas de algum jeito consigo
manter a pose que ele parece ter
escolhido para mim.
— Laguinho? Você deve estar
brincando.
— Tsc, tsc, nós não vamos começar
essa conversa outra vez, vamos? – Ele
balança levemente a cabeça e o seu dedo
se aventura um pouco mais perto da zona
tórrida. Então os seus olhos se alteram, se
abrem e ficam sinceros, estranhamente
inocentes. – Gwendolynne, não é uma
mentira, ou um clichê, quando eu digo que
você tem um corpo fabuloso. É verdade. É
nisso que eu acredito. Você tem as formas
mais belas e gloriosas que eu já vi. – Por
um breve instante, ele parece estar
completamente tocado, e terrivelmente
apavorado, mas então, assim como
aconteceu antes, ele volta ao normal. – Ou
será que eu vou...
Eu abro a boca, a ponto de implorar
para que ele confie em mim, me diga o
que o está perturbando, mas então ele me
toca e nós estamos de volta àquele
luxuriante mundo de sensualidade, porque
ele está tocando o meu clitóris e se
curvando sobre mim para pressionar os
lábios em minha garganta, e depois na
curva de um daqueles amplos seios de que
ele tanto gosta. Os meus quadris se
elevam com o contato, e a minha pele
queima sob a boca dele.
— Então, o que vai acontecer, deusa? –
ele respira, um zéfiro de calor sobre a
elevação de meu peito. – Uma surra? Ou
uma trepada? Diabos, eu sei o que eu
quero! – Ele agita o corpo, se voltando,
de modo a poder pressionar a sua ereção
contra o meu quadril nu. Ele está imenso,
e excitado, e, diabos, eu também sei o que
eu quero. Vamos guardar aquelas
excentricidades relacionadas à bunda dos
amados Stone para outro dia, que tal?
— Eu também. – Quebrando o pacto
secreto que nos une, eu me movo e o
cubro com a mão em concha, e ele
arqueja, movendo-se nela.
O seu dedo também se move em meu
clitóris.
E logo em seguida estamos nos
movendo rapidamente, em um acordo
silencioso para ficarmos nus. Eu puxo e
estico alças do sutiã e as tiras das ligas,
sem afastar os meus olhos da beleza
emergente que vi pela primeira vez outro
dia, lá no banheiro da biblioteca. Eu me
livro de minha roupa rapidamente, mas
Daniel é mais circunspecto, sobretudo
quando, de modo muito hesitante, tira os
óculos e os coloca de lado. Imediatamente
ele pisca, então arranca o resto de suas
roupas e simplesmente se joga sobre meu
corpo, como se estivesse ansioso para
compensar, com o contato da pele, o que
ele perde com sua visão imperfeita.
Beijando-me, ele esfrega todo o seu
corpo contra o meu, de um modo muito
parecido com o que ele esfregou seu rosto
sobre meus seios há tão pouco tempo. É
como se ele me estivesse “vendo” com
todo o seu ser, absorvendo a textura da
minha pele, a resiliência da minha carne,
o vibrante contato com os meus pelos
púbicos. Os pelos púbicos dele e o
pênis poderoso que surge do meio deles
são muito vibrantes também.
A ereção dele desliza e me pressiona, me
dominando silenciosamente.
Nós deslizamos e nos retorcemos um
contra o outro por um tempo, brincando e
nos excitando e aumentando a aposta.
Finalmente, ele me agarra e me segura
com força contra si, seu pau como uma
barra de fogo contra a minha barriga
arredondada e macia.
— Eu quero você do jeito que ele
comeu ela – ele diz em voz inarticulada,
me cutucando, empurrando. – Eu quero
você de quatro. Eu quero ver essa bunda
sensacional enquanto estou metendo bem
dentro de você.
Ah, que palavras vulgares e deliciosas
vindas de um professor sofisticado e
erudito. O que diriam suas fãs
entusiasmadas se elas pudessem ouvir o
que estou ouvindo?
— Vamos, deusa do sexo, eu preciso
trepar com você!
Ele se afasta ligeiramente, então me
segura pela cintura, me vira e me ergue
com uma precisão e com uma segurança
impressionantes. Como um animal, uma
fêmea obediente, eu me apoio em meus
cotovelos e em meus joelhos, meu cabelo
caindo sobre minha face. Eu o ouço abrir
a gaveta da mesa de cabeceira, procurar
alguma coisa e fechá-la de novo.
Certamente o Waverley tem um bom
estoque de preservativos. Então ele
diminui as luzes e nós ficamos em uma
semiobscuridade fracamente iluminada.
Bom, se ele não consegue ver muito bem,
que diferença faz...
e eu, eu consigo sentir, eu sinto!
O ar no quarto está morno e agradável,
a superfície da colcha irregular sob os
meus joelhos e cotovelos. O leve aroma
de flores secas pinica as minhas narinas, e
os cheiros mais fortes de nossos perfumes
misturados, e do meu sexo, excitado e
almiscarado.
Daniel se move contra o meu corpo, e a
sua pele está muito quente. Ele não é um
gorila, mas eu sinto o roçar dos pelos
masculinos em seu peito, e em suas pernas
e coxas enquanto ele se move por cima de
mim e me agarra pela cintura outra vez,
não me penetrando, somente pressionando
todo seu corpo contra o meu, fazendo-me
conhecê-lo por meio do toque e do calor e
do cheiro. Os lábios dele pousam na
minha nuca e, enquanto me beija lá, ele
passa o braço sob meu corpo e acaricia
vigorosamente os meus seios, indo de um
para o outro, apertando-os e se deliciando
com a abundância e a elasticidade da
minha carne.
— Você é linda, Gwendolynne – ele
murmura de novo, o som abafado porque
ele está me lambendo e me beijando ao
mesmo tempo. Ele mal pode me ver com
esta luz enfraquecida, mas a tonalidade
primitiva de sua voz me convence de que
há beleza apenas no contato tátil.
Eu me balanço para frente e para trás,
me esfrego no corpo dele com a mesma
intensidade com que ele está massageando
o meu corpo, as coxas dele, o pau dele
coberto de látex. Eu me sinto em um
êxtase de excitação em meio ao poderoso
cheio e toque de um corpo masculino.
E então ele está ali em mim, na minha
entrada, tateando gentilmente com seus
dedos, arrumando as minhas dobras
macias, abrindo espaço para sua ereção
firme e alta. Sinto a cabeça rígida
empurrando cada vez mais, e é como se
tudo fosse novidade, embora ele já tivesse
estado ali antes. Ele se move bem para
cima de mim, um pouco mais, encosta o
lado de sua face na curva do meu pescoço
e do ombro, e me penetra. Dá para eu
sentir o seu lindo cabelo escuro e anelado
me pinicando, e o leve toque da barba
começando a crescer que arranha a minha
pele enquanto ele move rapidamente os
quadris e tenta empurrar ainda mais para
conseguir penetração total.
Assim tão próximo e tão excitado, é um
pouco desajeitado. Ele se retira, torna a
ficar de joelhos, me segura pelos quadris
e, ajeitando o seu ângulo, se posiciona
melhor com as pontas dos dedos. Eu
coloco o peso do corpo em um cotovelo e,
caindo para frente para pressionar a
minha face contra os travesseiros, estendo
o braço para trás a fim de agarrar a sua
coxa musculosa e me prensar contra o
corpo dele.
Na mosca! Ele desliza para dentro, bem
profundamente. Agora que nós nos
encaixamos, ele se debruça sobre mim
outra vez, como se estivesse procurando o
máximo de contato. Seu corpo em chamas
é como se fosse um cobertor quente por
cima das minhas costas, e lágrimas me
sobem aos olhos, somente pela sensação
de proximidade. Por alguns momentos,
enquanto estamos parados, um contra o
outro, nem parece que estamos fazendo
sexo.
Eu sei que o amo. É loucura. Insensato.
E não acho que exista um futuro para a
nossa relação. Mas, mesmo assim, não
lamento essa sensação. Alguém não disse
uma vez em um filme que “Uma vida
vivida com medo é uma vida vivida pela
metade”? Bem, eu não vou parar de amar
Daniel Brewster por ter medo de que esse
amor acabe ou por ele não ser
correspondido. A vida é muito curta. Vou
aproveitar essa emoção enquanto posso.
— Você está maravilhosa – ele diz
baixinho, seu hálito acariciando
gentilmente a minha nuca. – Um encaixe
tão perfeito... Nunca senti isso antes. –
Ele dá uma ligeira empurrada, e o encaixe
é mais do que perfeito.
Os homens, eles dizem qualquer coisa,
mesmo assim as palavras dele me
comovem. Eu esfrego o rosto no
travesseiro, secando os meus olhos de
modo ineficaz e provavelmente
arruinando a minha maquiagem. Dou um
empurrão para trás, contra o corpo dele,
desejando que ele pudesse penetrar na
minha pele, no meu cérebro e no meu
coração, de modo que eu pudesse
conhecer os segredos dele.
Mas não podemos ficar assim para
sempre. Inevitavelmente, ele começa a se
mover, e é algo indescritível. Ele é
grande. Ele me leva para além de meus
limites, de todos os jeitos, para dentro e
para fora. Cada estocada atinge
diabolicamente o meu clitóris. Eu me
agarro às sensações, mas elas me
desorientam. Eu quero gozar, e ser tocada
enquanto estou sendo fodida.
Daniel lê a minha mente como se
tivesse realmente rastejado para dentro
dela. Apoiando o peso do seu corpo em
um braço, ele passa o outro por baixo de
mim, dentro da minha leve penugem, e
encontra o meu clitóris. Considerando
quanto a atenção dele deve estar distante,
por causa da pura luxúria masculina,
mesmo assim ele consegue ter sua habitual
precisão, que me deixa sem fôlego. Penso
momentaneamente na falta de perícia que
eu já experimentei no passado, e
reconheço que ele é um amante
inigualável. Ele regula suas carícias
delicadas com as estocadas de seus
quadris poderosos, e nenhuma vez hesita
ou perde o ritmo.
Eu grito. Exclamando com voz
inarticulada “Oh, meu Deus! Oh! Oh,
caramba!”, ou qualquer coisa igualmente
banal, eu forço os meus quadris contra o
corpo dele enquanto o meu sexo se contrai
ao redor do dele e minha mente se enche
de uma luz branca. É como se a minha
virilha existisse em outro espaço, e o meu
cérebro estivesse em curto-circuito. Eu só
tenho consciência do êxtase, do êxtase, do
êxtase... e do emocionante calor e beleza
do corpo de Daniel.
E então eu sou quase uma coisa
amontoada por baixo dele, ainda gozando
de leve, mas tendo consciência outra vez,
e tentando fazer alguma coisa que fosse
boa para ele também, em vez de ficar
deitada lá como um monte egoísta de
protoplasma. Eu me movo bruscamente na
direção dele, tentando manter o ritmo e ao
mesmo tempo agarrar a coxa dele, a bunda
dele, pressionando-o contra o meu corpo
e tentando fazer com que ele penetrasse
ainda mais fundo. As pontas dos meus
dedos roçam os pelos de seu ânus e ele
solta um gemido primitivo e doloroso. Eu
os acaricio outra vez, da melhor maneira
que posso, e os quadris dele se movem
rapidamente, fora do controle, e ele
começa a me dar estocadas mais fortes,
atingindo o orgasmo com violência. Nós
desabamos em um amontoado de calor e
pernas... e de lágrimas.
12
No escuro
Um pouco depois, estamos deitados em
silêncio na escuridão. A luz está apagada,
o preservativo já foi descartado, e nossos
corações batem gentilmente em um ritmo
normal que induz ao descanso. Nós nos
deitamos lado a lado sob a coberta e tudo
está silencioso e aconchegante, mas eu
tenho a dolorosa consciência de que
posso ter dito “Eu te amo” entre todos os
“cacetes” e “merdas”... e fico pensando se
Daniel ouviu isso, e o que ele pensa. Ele
parece estar relaxado, mas, com os
homens, nunca se sabe.
— Foi bom – ele finalmente diz,
embora eu tenha uma indicação de que ele
sabe que isso é dizer pouco. Isso
certamente não dá ideia do que eu senti.
Esse deve ter sido o melhor exemplo de
fazer amor que eu jamais experimentei na
minha vida. Nem posso dizer que foi uma
transa, porque foi muito mais do que isso.
— Sim, foi... – Não consigo expressar
o impacto que ele teve sobre mim.
Provavelmente eu já disse muito mais do
que isso, durante o êxtase.
O quarto está cheio de sombras negras,
porque as cortinas são muito espessas. A
única luz vem dos números iluminados no
mostrador do relógio na mesa de
cabeceira, como minúsculos vermes
brilhantes na escuridão. Sinto que Daniel
se deita de lado para me olhar, então os
dedos dele tocam o meu rosto, tão
delicadamente que eles poderiam ser
feitos de asas de mariposas.
— Foi mais do que bom – ele diz, e
então o toque dos seus lábios na minha
testa é ainda mais delicado.
Eu tenho uma forte sensação de que
alguma coisa está se rompendo dentro de
mim, e todos os meus protestos para mim
mesma, sobre valer a pena correr os
riscos, começam a fraquejar. A ideia de
ficar sem ele, depois de ter ficado com
ele, me tira o fôlego e, incapaz de me
conter, eu procuro a cabeça dele,
mergulho os meus dedos em seus cabelos
anelados e sedosos e puxo o rosto dele
para perto do meu para dar um beijo de
verdade. Ele tem o gosto dos deliciosos
morangos que nós engolimos famintos,
depois de termos terminado de transar. As
necessidades que deveriam ter sido
completamente satisfeitas começam a se
manifestar outra vez.
— Eu ia dar uma surra em você, você
sabe – ronrona Daniel em meu ouvido
quando nós nos afastamos um do outro –
assim como o Stone e a amada dele nas
imagens do vídeo. Eu pensei mesmo
nisso. – Ele faz uma pausa, tira o cabelo
da minha face, onde ele está caindo
desordenado sobre o meu rosto, então me
dá um beijo na garganta. – Mas então, de
algum modo, quando nós começamos,
parecia que era suficiente só transar...
fazer amor.
Eu gostaria de agarrá-lo, puxá-lo para
cima de mim, fazer com que ele me
penetrasse de novo. Amarrá-lo a mim
fazendo amor de forma desesperada, para
que ele nunca mais quisesse que eu
partisse. Em vez disso, digo apenas:
— É, eu achei que ia ser daquele jeito,
mas acabou não sendo, não é? – Respiro
profundamente. – Podemos tentar agora,
se você quiser...
Eu realmente não estou com vontade de
fazer nada pervertido neste momento, mas,
pelo Daniel, eu vou arriscar. É engraçado,
eu nunca quis ultrapassar os limites desse
jeito com o meu marido. Mas, é claro, ele
simplesmente não era o homem para mim.
E Daniel é.
— Essa é uma oferta fabulosa, meu bem
– diz ele, me dando um beijo na testa
outra vez. – E Deus sabe que eu estou
tentado, mas, não sei por que, só me sinto
com vontade de ficar deitado aqui e ser
normal por um tempo, você não?
Eu quero. E digo isso para ele. Então
acrescento:
— Embora eu suponha que Nêmeses
vai se desapontar se eu não relatar
nenhuma outra pervers...
Daniel dá risada, um som acolhedor e
feliz.
— É, parece que ele é do tipo que gosta
de escapadas pervertidas, não é? – Um
braço forte desliza ao meu redor e, para
minha surpresa, descubro que sou leve o
suficiente para ser puxada para os braços
de um homem. – Um homem que manda
bilhetes e mensagens com sexo explícito
deve ser um tarado perfeito, completo,
não deve ser? A escória da humanidade. –
A risada ainda está presente em sua voz, e
a ponto de se manifestar novamente.
Apesar de minhas apreensões, e de meu
amor, minha alegria borbulha.
— Ah, ele é um horror! Um monstro
doentio. Depravado e repulsivo. Eu nem
sei por que eu me importo com ele. – Eu
faço uma pausa, e os arrepios lá na minha
virilha começam a aumentar outra vez.
Quando eu me aproximo de lado, percebo
que Daniel também tem algum tipo de
tremor. – Deve ser pelo fato de ele ser tão
dominador. Ele me diz o que fazer, e eu
gosto disso. Eu nunca fiz isso antes, com
outros homens, mas gosto de fazer isso
com ele.
Informação demais? Parece que não.
Não dá para eu ver Daniel, mas dá para
sentir seu sorriso, iluminado e maroto, e
quase dá para eu ver aquele ar meio
cigano, meio pernicioso, em seu rosto.
— Então, você gosta dessas coisas de
dominação, gosta? Eu achei que você
gostasse... Então é por isso que você foi
uma putinha tão lasciva e gostosa agora há
pouco?
— Acho que sim.
— Nesse caso... – Ele me solta e me
faz ficar deitada uma vez mais. – Abra as
pernas. Bem afastadas. Faça isso, agora.
Eu tenho uma onda de sensações. É
como um sobressalto no meu coração,
uma pontada de medo, contudo é algo
delicioso, como o champanhe que
bebemos anteriormente e não chegamos a
terminar. Eu sinto como se minha vontade
estivesse se derretendo, fora de controle,
e fazendo com que eu me sinta tonta.
— Agora eu quero que você afaste os
pelos da sua boceta. Penteie-o com seus
dedos e se exponha. Você tem de se abrir
mesmo, mostrar o seu clitóris e os seus
lindos pequenos lábios.
Olá, Nêmeses.
Eu obedeço, toda trêmula. Achei que
estivesse totalmente satisfeita, talvez
pronta para dormir um pouco, mas
subitamente todos os meus neurônios e
feromônios estão fervendo. Eu estendo os
braços e começo a mexer nos meus pelos
púbicos úmidos e densos. Estou um pouco
emaranhada por causa do jeito que fiquei
molhada e transpirei em nossa transa
anterior.
Uma mão maior que a minha se
aproxima, verificando se estou sendo
obediente. Eu me abro ainda mais,
permitindo que ele me toque, me belisque
e brinque comigo. Ele se diverte comigo
por um minuto, então coloca a minha mão
na posição.
— Agora, brinque com você mesma. Vá
fundo. Seja um pouco rude.
Eu solto um arquejo. É difícil respirar.
Eu me sinto presa à cama. Enquanto
começo a me tocar, a mão dele se
posiciona sobre a minha, dobrando a
pressão, a ação. Eu estou escorregadia, e
ficando ainda mais molhada. O ataque é
intenso, dominante. As sensações se
acumulam tão rapidamente e de forma tão
forte que elas são quase dolorosas, e,
quando o prazer chega, vem tão intenso e
localizado que é algo próximo da
angústia. Eu grito, como um pássaro na
noite, a minha vagina se contrai. Eu me
sinto como se estivesse flutuando rumo ao
teto.
Então, enquanto ainda estou em choque,
Daniel está agindo. Ele atira o edredom
para longe de nós, então sobe por cima de
mim, uma perna de cada lado, e se
mantém acima do meu corpo. É uma
posição estranha, mas, de alguma maneira,
nós damos um jeito nisso. Eu estou toda
esparramada, como uma estrela-do-mar
jogada na praia pela maré, e ele está
ajoelhado por cima de mim, as pernas
fortes afastadas e apertadas de cada lado
das minhas costelas. Pressionando suas
mãos de cada lado dos meus seios, ele faz
um sulco profundo entre eles e insere seu
pênis nele.
— Ah, mas isso é fantástico – ele geme,
começando a mexer os seus quadris um
pouco e deslizando para frente e para trás
no sulco entre os seios. Ele se balança e
desliza, balança e desliza, e gradualmente
eu me recomponho de minha inércia
temporária. Minha boceta foi deixada de
lado, fora do campo de ação por
enquanto, mas de algum modo sinto surgir
uma pulsação outra vez. Eu agarro as
coxas dele, sentindo os músculos que vão
de tensos a relaxados enquanto ele
empurra, adorando a sensação da fina
camada de pelos masculinos e crespos em
sua pele. Eu deslizo os dedos para baixo,
acariciando as partes internas da bunda
dele, brincando na entrada assim como fiz
antes... e obtendo os resultados esperados.
Ele grita alto, dá um forte empuxo com os
quadris e despeja sêmen morno no meu
queixo e nas minhas bochechas.
E tudo isso no escuro. Eu gostaria de
poder ver o lindo rosto dele quando atinge
o orgasmo, mas me consolo lambendo a
essência dele dos meus lábios,
experimentando-a e saboreando-a.
Ele oscila, lutando para obter controle,
resistindo à sua natural inclinação
masculina para cair sobre mim, satisfeito
e sonolento. Ao contrário, ele se joga para
um lado, resfolegando na noite escura,
então se aproxima para me abraçar, seu
braço úmido de transpiração.
— Obrigado – ele arqueja. – Obrigado,
obrigado, obrigado...
Por alguns momentos, ele respira com
força, seu braço pesando por cima da
minha cintura. Então ele balança a cabeça,
como se fosse para ordenar as ideias, a
sua mão desliza sobre a minha barriga
úmida e os seus dedos mergulham em
minha fenda uma vez mais. Enquanto seu
dedo médio começa a se mexer
rapidamente e com força bem no ponto
central, eu lambo meus lábios uma vez
depois da outra, sentindo o sabor dele.
— Não! Não! Não!
Eu sou arrancada do sono, acordada
bruscamente com Daniel gritando e se
debatendo. Procuro a luz da lâmpada de
cabeceira, vendo as horas quando a
acendo. É começo da madrugada, e nós
estávamos dormindo, aconchegados um no
outro, como amantes antigos.
— O que foi, meu amor? – Eu tento
colocar meus braços ao redor dos ombros
dele, mas ele está tentando se sentar com
dificuldade, os ombros dele se voltando
para um lado e para outro, as mãos
passando sobre o seu rosto. O quarto está
quente, mas ele está tremendo
incontrolavelmente. Eu tento libertar as
mãos dele, mas ele emite um som cheio de
angústia e me dá as costas.
Não consigo perceber se ele está
acordado ou adormecido, porém, quando
eu coloco a minha mão em seu ombro nu e
sinto a sua pele encharcada com a
transpiração, ele não se afasta.
Felizmente.
— Daniel, o que está acontecendo?
Está tudo bem com você?
Ele não me responde, mas o seu peito
se eleva em um imenso arquejo. Ele
continua a segurar o seu rosto e a mantê-lo
voltado para o outro lado, mas permite
que eu corra a minha mão pelas suas
costas. Ele está suado e grudento.
Eu não sei o que dizer. O que fazer. Eu
simplesmente o abraço e absorvo o tremor
dele. E o temor. Ele está tão apavorado,
desesperadamente apavorado, por causa
de alguma coisa.
Gradualmente os tremores começam a
diminuir, mas ele ainda não afasta as
mãos do rosto. É como se ele estivesse se
escondendo de alguma coisa. Por trás dos
seus dedos, os seus olhos estão
semicerrados, e a testa dele está cheia de
rugas profundas.
— Que tal um copo d’água? – Bom, é
isso que eles sempre sugerem nos filmes,
não é? Outro arquejo. E então, ele diz:
— Sim... sim, muito obrigado, eu
gostaria de um copo d’água.
Dou um apertãozinho nele, então me
levanto da cama, nua, e caminho até o
minibar. Encontro vários tipos de água e
pego uma garrafa de Malvern sem gás,
despejo-a em um copo e a levo até ele.
Daniel ainda está ocultando o seu rosto,
mas eu dou um jeito de afastar os seus
dedos e coloco os seus óculos nas suas
mãos. Ele bebe a água com gratidão, mas
nem por uma vez abre os olhos.
Alguma coisa está errada com a vista
dele. Eu já percebi isso. Mas o quê? E
quão sério é? Será que ele teve uma crise
repentina? Ele ainda consegue enxergar?
— O que está acontecendo, Daniel? Por
favor, me diga. Posso fazer alguma coisa
para ajudar?
Ele expira como se estivesse
prendendo a respiração e, ainda
segurando com firmeza seu copo d’água,
ele abre os olhos. Piscando, ele olha o
copo e as suas próprias mãos que o
seguram, então cerra os olhos com força
outra vez.
— Um pesadelo – ele diz, em uma voz
baixa e monótona, e então fica encarando
a água como se nunca tivesse visto um
copo em sua vida. Parece que ele não
quer beber mais, entretanto, porque
permite que eu tire o copo das suas mãos
e o coloque de lado.
Eu procuro as mãos dele e ele segura as
minhas, com força, quase com desespero.
— Com que você sonhou, querido?
Nem sei se eu poderia chamá-lo assim,
mas parece ser adequado para a
circunstância. E finalmente ele me olha. A
expressão dele é estranha, complexa,
abatida, e mesmo assim dá para ver que
ele está lutando para recuperar o controle,
para se recompor, ser o homem. E os
olhos dele não parecem estar bem. Eles
estão embaçados, parecem ter dificuldade
para focalizar.
— Eu sonhei que acordei e não podia
enxergar mais. Tudo era escuridão. – Ele
encara os lençóis, depois olha para mim,
a face cheia de perturbação.
— Mas é de madrugada, e as cortinas
são grossas. Tudo era escuridão aqui.
Ele encolhe os ombros.
— Não, o sonho foi diferente. Acredite
em mim... eu sei.
— Como? – Eu aproximo as nossas
mãos entrelaçadas dos meus lábios e dou
um beijinho delicado nas juntas dos dedos
dele. Isso parece dar a ele um pouco de
conforto, e ele me dá um sorriso meio
torto.
— Aquela era uma escuridão interior,
Gwendolynne, não a do quarto. Eu a
conheço, eu consigo reconhecê-la.
Uma mão de gelo se apodera de meu
coração. Meu Deus, eu tinha esperanças
de que não fosse nada sério. Que ele
estivesse tendo dores de cabeça por causa
da tensão, ou sofrendo com o estresse, ou
algo assim.
— Tem alguma coisa errada com os
seus olhos, Daniel? – eu pergunto com
firmeza. Não vou mais ficar fazendo
rodeios a respeito disso. Se ele tem um
problema, ele deve ser enfrentado. E se é
um problema que pode ser enfrentado
mais facilmente por duas pessoas, eu
quero ser a pessoa em quem ele possa
confiar. Eu preciso ser essa pessoa,
porque é isso que ele é para mim.
As palavras “na saúde e na doença”
cruzam a minha mente em um segundo.
Elas eram somente palavras em uma
cerimônia no meu casamento. Agora eu
penso nelas com sinceridade.
Ele ainda parece ter dificuldades para
me olhar, mas começa, hesitante:
— Bem, não é tanto com os meus olhos,
mas aqui. – Ele esfrega a parte posterior
da cabeça, despenteando seus cabelos
anelados. – Tem alguma coisa aqui que
não deveria existir. Tenho feito exames,
tomografias... e eu tenho um tumor. Os
médicos acham que é benigno, mas ele
tem de ser extraído. – Ele inspira
profundamente. – E logo.
Finalmente ele me encara de novo. Os
olhos dele estão mais focados agora, mas
consigo perceber tanto a aceitação quanto
o temor em sua expressão. A mão de gelo
me oprime ainda com mais força. Eu luto
para não ceder, mas é difícil não ser
dominada pelo terror. Por ele. Como isso
deve corroê-lo por dentro... o temor, a
perspectiva de que ele possa ficar cego…
de que ele possa morrer. A mão de gelo
me atira em um mar revolto de terror, de
pesar e de raiva.
Ah, não! Não este homem! Isso não
pode acontecer com ele! Não agora,
quando eu o encontrei! Talvez nós não
tenhamos mais que essa pequena aventura
por parte dele, mas, mesmo assim, não
quero que nada ruim aconteça com ele,
para sempre. Porque eu o amo. E não me
importo se não puder mais tê-lo para o
resto da vida. Eu só desejo que ele seja
feliz. Mas, ao mesmo tempo, não quero
envolvê-lo na piedade e na melancolia.
Os homens não gostam desse tipo de
coisa.
— Isso é complicado. Algo muito
difícil de lidar, Daniel. – Eu falo com
cautela. – Eu sinto muito ouvir isso. Tem
alguma coisa que eu possa fazer? Algum
modo em que eu possa ajudar você a
completar a sua pesquisa, ou alguma outra
coisa? Digitar anotações, qualquer coisa?
Milagrosamente, os olhos dele ficam
mais focados, e ele se volta para mim. Ele
me dá um sorrisinho ligeiro, a cabeça
voltada para o lado.
— Você é uma mulher especial,
Gwendolynne. – É a vez dele de beijar a
palma da minha mão. Ele faz isso uma
vez, duas, e depois esfrega o queixo, onde
a barba já começa a despontar, no dorso
da minha mão. – Uma mulher realmente
muito especial.
O sorriso está nos olhos dele, agora, e
eu sei que, neste momento, ele
provavelmente consegue me ver com
perfeição.
— O que você quer dizer com isso?
— A maior parte das mulheres iria
começar a ficar cheia de superproteção, e
a dar uma de Madre Teresa para cima de
mim; mas você, você está toda calma e
prática, e sem frescura. – Ele me beija
novamente. – E eu gosto disso. E eu sou
grato por isso.
Apesar da revelação dele, que tinha
revirado meu mundo, eu sinto um
borbulhar de algo muito bom, de algo
maravilhoso. Uma comunicação real entre
nós, que não está relacionada somente ao
sexo.
— Bom, eu achei que você não gostaria
de muita confusão, e de piedade, e de
sentimentos maternos, e dessa coisa toda.
Eu... hum... – faço um biquinho, sem saber
bem como expressar o que quero dizer. –
Não quero que você pense que acho que
você já não é mais homem porque tem
algum problema de saúde.
Ele dá risada, e é um som puro e doce.
— Juro que você deve ser um gênio, ou
uma psicóloga, ou algo assim, minha cara
bibliotecária. – Ele dá de ombros, e me
lança o mais carinhoso dos olhares. Uma
expressão que faz com que meu coração
vire cambalhotas, apesar de tudo. – É
exatamente assim que eu estava... estou...
me sentindo. – O olhar dele fica sério.
Intenso. – Eu quero você, Gwendolynne.
Eu desejo você, e me importo com você.
E quero que você me deseje e se importe
comigo. A última emoção que quero da
sua parte é a piedade. – Os olhos dele se
fecham um pouco. – Ainda sou um homem,
e ainda fico com tesão, não importa se eu
tenho sabe lá Deus que tipo de tumor na
minha cabeça.
— É, eu sei disso – eu olho para ele,
tão bonito, tão desarrumado, tão
masculino. Ele acabou de lançar uma
bomba gigantesca no nosso
relacionamento, mas nós ainda estamos
sentados em uma cama, sem roupas,
juntos, e ele ainda é o homem mais lindo
que eu jamais encontrei. Serei eu algum
tipo de tarada por, repentinamente, sentir
desejo de estar com ele de novo? – Você
não quer nenhuma transa movida pela
piedade.
Ele dá risada, e então me lança um
olhar rápido com o canto dos olhos.
— Não, nada disso...
Mas e as do outro tipo? Não dá pra
dizer, o lençol está sobre os quadris dele.
A ameaça da escuridão e da mortalidade
paira sobre ele, mas o espírito humano e a
libido masculina são sabidamente
desafiadores quando defrontados com a
adversidade.
Contudo, eu fico pensando. Um futuro
incerto explicaria o desejo dele por um
relacionamento temporário, a cautela dele
a respeito de um compromisso mais
profundo. Isso também poderia explicar o
estranho modo de ele iniciar um
relacionamento? Ser Nêmeses daria para
ele a distância e a excitação clandestina, a
chance de ter uma diversão pervertida
com uma mulher sem o envolvimento
direto. É o produto de uma mente doentia,
mas, seja como for, ele é o Professor
Gostoso, tão brilhante quanto carismático
e bonito.
Ele franze ligeiramente a testa.
— O quê? Em que você está pensando?
– Ele pode ter problemas de visão, mas
consegue ver dentro de mim. Ele sabe que
estou pensando em alguma coisa.
— Dá para entender agora por que
você empregaria alguns, hum, digamos,
métodos “pouco ortodoxos” para seduzir
as mulheres, para mantê-las à distância.
Para não ir muito fundo no
relacionamento.
Ele inclina a cabeça para o lado, e um
cacho de cabelos negros pende sobre sua
testa. Ele tem uma aparência tão perfeita,
tão hipnotizadora, que eu tenho de
estender a mão e tocá-lo, alisá-lo. Mas
ele volta a cair.
— Não entendo o que você quer dizer,
Gwendolynne – ele diz, maliciosamente,
segurando o meu pulso. Agora ele me
segura pelos dois pulsos. Não forte
demais, mas há definitivamente um toque
de superioridade em sua atitude, e ela se
intensifica quando ele gentilmente me
empurra sobre os travesseiros e paira por
cima de mim.
— Você não vai admitir, vai? – eu
devolvo o olhar, transferindo o jogo para
o campo dele.
— Admitir o quê?
— Você sabe.
Ele está dando risada uma vez mais, na
minha cara, baixinho e deliciosamente
malicioso.
— Você é uma menina safada,
Gwendolynne, fazendo acusações vagas e
infundadas. – O corpo dele está fazendo
pressão sobre o meu, duro e cheio de
vida, preparado, em todos os sentidos da
palavra. O meu coração se expande, feliz
por sentir isso, enquanto o meu próprio
corpo se excita outra vez, parecendo
insaciável em seu desejo.
— Não são vagas! Você é Nê...
Não consigo terminar, porque os lábios
dele descem com força sobre os meus e a
língua dele está dentro da minha boca,
suprimindo a palavra que tento
pronunciar. Nós dois sabemos o que eu
estive a ponto de dizer, e nós dois
reconhecemos que essa é a verdade. O
próprio beijo é uma prova disso.
Ele se coloca por cima de mim, seu pau
duro pressionando minha barriga. Com
uma destreza incrível, ele consegue
segurar os meus dois pulsos com uma das
mãos, enquanto com a outra faz um
progresso insolente ao longo do meu
quadril e da minha coxa, então segura
minha bunda, os dedos entre meu corpo e
o colchão. Ele pega com força, apertando
a carne, ameaçando-a de um modo que
somente me faz ficar mais sem fôlego
ainda.
Segurando-me, e me pressionando, ele
desliza ao meu lado, pele contra pele. Eu
sinto os seus músculos compactos, e a sua
ereção poderosa. Meu maxilar começa a
doer por causa da força do beijo dele,
mas eu gosto disso. Eu me deleito com a
energia dele. Eu me submeto a ela, e a ele.
Quando ele me subjugou
completamente, pelo menos por enquanto,
ele interrompe o beijo e diz com voz
rouca:
— Mais alguma acusação, garota da
biblioteca? – Ele não me dá tempo para
responder, simplesmente me pune outra
vez com mais um beijo, mais sedutor
desta vez. A língua dele se move e
experimenta, tocando na minha, mexendoa.
Ele faz um movimento com os quadris,
me obrigando, se é que isso era
necessário, a ter consciência de seu pau.
— Nada a dizer? – ele persiste, a sua
voz rouca e diabólica.
— Não, eu não preciso dizer. Você
sabe do que eu estava falando.
— E você não vai voltar atrás? – Os
olhos dele parecem furiosos,
maravilhosos, aguçados e claros. Não
consigo imaginar um homem menos
completo.
— Não!
— Então, eu preciso castigar você.
Você merece isso. Você não aceita um
“não” como resposta.
As minhas entranhas estremecem, e
todos os pensamentos a respeito do futuro
incerto de Daniel desaparecem na
excitação do momento.
— Faça o seu pior, Professor Gostoso,
faça o seu pior!
13
Aulas com o Professor Gostoso
Ele solta uma gargalhada profunda.
— “Professor Gostoso”? Ora, sua
piranhazinha atrevida! É assim que você
me chama pelas costas?
— Claro. Eu, e todas as meninas da
biblioteca. Eu achei que você soubesse
disso.
— Aposto que é você que põe fogo nas
meninas, não é? Aposto que vocês ficam
fazendo intermináveis especulações a meu
respeito e que você sempre aparece com
as histórias e as fantasias mais loucas
— Posso ter feito isso um pouco. Bom,
bastante, para dizer a verdade...
Ainda dando uma risadinha, ele vira o
meu corpo e se senta.
— Vire-se. Mostre-me essa bunda
maravilhosa que você tem.
Alguma coisa de tirar o fôlego se
acende dentro de mim. A sensação de
despertar e de me derreter, um prazer
rebelde por receber ordens e por me
submeter a essas ordens. Eu nunca desejei
isso antes. Eu me ressentia por isso antes.
Mas agora é algo delicioso, irresistível. É
tão excitante que faz a área entre as
minhas pernas estremecer e derreter. A
minha cabeça fica cheia de imagens de
máscaras de couro, de quartos escuros, a
perspectiva de me ajoelhar perante um
mestre severo, mas lindo. Este mestre
severo e lindo, ninguém mais.
— Você precisa de uma bela correção,
mocinha – diz ele, com o tom de voz de
um autoritário diretor de escola, então
acrescenta: – E eu não estou me referindo
somente a uma trepada. – Palavras que
comprometem seriamente a impressão de
um solene e sério acadêmico.
Eu obedeço lentamente, virando-me, o
meu coração batendo disparado enquanto
Daniel afasta o lençol da minha bunda
suntuosa e arredondada e o joga para a
ponta da cama. Escondo a minha cabeça
nos braços, porque de algum modo não
ouso olhar para Daniel. Subitamente, ele
ficou impressionante demais em minha
imaginação, muito perturbador. Eu
estremeço, tremendo como um cavalo de
corrida enquanto ele começa a acariciar
as curvas da parte posterior do meu
corpo, explorando a minha carne, o
músculo e as covinhas mais macias. Ele
corre as pontas dos dedos sobre cada
centímetro, fazendo com que o sangue
quente suba às minhas faces enquanto
explora o caminho sinuoso entre as
nádegas e a pequena e rosada abertura que
se aninha lá. Ele não me poupa nada,
explorando e vistoriando e fazendo com
que eu me contorça, esmagando a minha
virilha contra o lençol sob o meu corpo.
Eu sou a criatura dele. Ele pode fazer o
que ele desejar.
— Toque o seu corpo. Faça isso, agora
– ele sussurra, se debruçando sobre mim,
ainda brincando com a minha bunda.
Gemo involuntariamente. A ideia é tão
embaraçosa e deliciosa.
— Gwendolynne – diz ele,
ameaçadoramente, me pressionando.
Lutando para respirar, eu deslizo uma
das mãos sob o meu corpo, tateando para
achar o meu sexo. Quando atinjo o meu
alvo, a quantidade de umidade que brota é
impressionante. Estou criando uma
pequena poça de fluido sedoso em minha
boceta.
— Toque o seu clitóris.
— Nãããããoooo... – eu gemo.
— Por que não?
— Não sei... Parece algo muito
indecente ficar excitada enquanto você
está brincando comigo desse jeito.
— Mas isso é porque você é uma
mocinha indecente, Senhorita Price. Eu
sei que você se toca.
Fecho meus olhos. A-há! Como o
senhor sabe, Professor Gostoso? Eu
contei isso somente para Nêmeses. Mas
então eu me lembro de que ele quase me
pegou no flagrante no jardim atrás da
biblioteca. Não dava para se equivocar
com o que eu estava fazendo lá, embora
ele fingisse não ter percebido.
— É, sei que me masturbo, mas e daí,
todo mundo faz isso. – Eu cerro os dentes
enquanto ele me pressiona ainda mais,
testando minha determinação, minha
resiliência. – Com certeza você se
masturba!
Por um momento se segue um silêncio
mortal, embora ele continue com a sua
brincadeira maliciosa, inserindo a sua
mão livre por baixo do meu corpo para ter
a certeza de que eu estou obedecendo.
— E como você sabe disso? – A voz
dele soa no meu ouvido, a sua respiração
acariciando a minha face, e desarranjando
os meus cabelos.
O meu clitóris parece formigar por
baixo das pontas dos meus dedos
enquanto eu penso naquela cena fantástica
que testemunhei. Daniel se tocando e se
acariciando no pequeno banheiro da
biblioteca. Eu vejo outra vez as linhas
puras e cheias de agonia do seu rosto, a
tensão em suas costas e em suas coxas. O
pau dele jorrando, e o seu sêmen
deslizando pela base de porcelana da pia,
branco sobre o branco.
— Porque eu vi você fazendo isso.
Mais silêncio. Os dedos dele estão por
trás dos meus, aumentando a pressão
sobre o meu clitóris.
— Ah – ele acaba dizendo, a palavra
silenciosa sobre minha pele. – Eu
suspeitava que estivesse sendo vigiado
aquele dia. – Os lábios dele me tocam e
me beijam, tão delicadamente. – E eu
suspeitava que fosse você... ou, pelo
menos, esperava que fosse.
— Você estaria encrencado se tivesse
sido o Senhor Johnson! – eu queria dar
risada. Isso é somente uma reação. Um
mecanismo de defesa.
— Como assim? Tenho certeza de que
a uma celebridade visitante podem ser
permitidas as suas pequenas fraquezas.
— Essa é uma fraqueza bem grande. –
Empurro o lado do meu quadril contra a
sua ereção potente. – E se o velho
Johnson fosse gay? Ele poderia ter dado
umas cantadas em você.
— Essa é uma coisa muito impertinente
para dizer a respeito de seu patrão... e a
meu respeito. – Ele empurra de volta com
seu pau, pressionando-o contra a minha
carne. – Estou cada vez mais convencido
de que você precisa ser corrigida, sua
safadinha tarada. Você não está de
acordo? Está com vergonha de sua
própria safadeza?
— Não! Nem um pouquinho!
Daniel dá risada uma vez mais,
esfregando a sua face contra os meus
cabelos e as minhas bochechas, e depois
me beija e me mordisca.
— Eu adoro você, sabia disso? Mesmo
sendo a mulher mais provocante e
fascinante que jamais conheci, vou ter de
surrar você... Sabe disso, não sabe?
Eu me contorço contra o corpo dele,
desejando a surra, e com medo dela.
Excitada além das medidas. Eu quase
poderia gozar ali mesmo, estou tão perto
disso. Ele ainda está fazendo cócegas
entre as minhas nádegas e no pequeno
buraco.
— Sim – eu sibilo, enquanto ele
primeiro me dá umas cutucadas, e depois
umas palmadinhas. – Desde que você
saiba o que está fazendo. Você já surrou
alguém antes? Eu diria que isso é quase
um tipo de arte.
Ele morde o lóbulo da minha orelha,
gentilmente, mas com autoridade.
— Já surrei uma namorada ou duas no
passado. Acho que consigo me virar. – As
pontas dos seus dedos mergulham
pressionando ainda mais a parte mais
profunda da minha bunda.
— Tudo bem, então – eu arquejo,
sentindo a minha cabeça oca, à medida
que a pequena pressão aumenta. – Comece
logo com isso, sim?
— Eu deveria espancar você. – Ele dá
uma ligeira palmada na minha nádega
esquerda. Isso não é nada. É só uma
brincadeira. Eu mal sinto o impacto,
embora meu sexo responda com uma
palpitação.
— Eu deveria dar umas cintadas em
você com um cinto de couro, ou com uma
vara de professor ou algo parecido. Aí
sim você iria saber. – Ele dá uma
palmada mais forte, e desta vez eu a sinto.
Ela é como fogo, um fogo doce, e, embora
a minha nádega não pareça gostar dela e
ela me faça tentar escapar, as terminações
nervosas na minha boceta parecem pensar
que isso é um deleite. Outra onda de
prazer me faz gemer muito mais do que a
dor.—
Você gosta disso, não gosta, sua
taradinha? – Ele parece tão feliz, tão
relaxado, tão distante de seus problemas.
Parte de mim se alegra com isso, enquanto
o restante do meu corpo fica ligeiramente
insano enquanto ele me bate uma vez
depois da outra. Meu cérebro realmente
não sabe o que está acontecendo. Ele
registra o bater febril da mão dele, tenta
processar o fato como se fosse algo
desagradável e a ser evitado, mas existe
algum resquício de inteligência animal
que habita em algum lugar muito mais
profundo e que está me dizendo que isso é
fabuloso, é excitante, é sexo puro.
Eu me contorço e me balanço, me
roçando contra os meus dedos, e os dele,
enquanto me mexo.
— “Inha”? Você só pode estar
brincando, com certeza. – Eu falo
arquejando, quando consigo respirar. –
Aposto que estou o mais longe possível
de ser uma “inha” do que qualquer outra
mulher com quem você já esteve. – Eu
faço uma pausa para gritar enquanto ele
dá uma palmada ligeira na parte mais
baixa de uma das nádegas, que arde como
se fosse fogos de artifício. – Um homem
como você pode ter sua dose de
supermodelos, eu aposto.
— Não seja estúpida, Gwendolynne –
ele diz com um tom de voz amável, ao
mesmo tempo que me dá uma palmada das
boas e eu grito como se fosse louca. – Eu
diria “transar com” supermodelos, mas,
para dizer a verdade, eu não quero transar
com nenhuma. Eu só quero trepar com
você e o seu corpo magnífico e atraente. –
Ele me dá outra palmada, bem forte, e eu
sinto algo que parece ser um
miniorgasmo, embora os sinais estejam
tão embaralhados que eu realmente não
sei o que é isso. – Por que você não
acredita em mim quando digo que você
tem o mais belo corpo que jamais vi?
Para uma mulher inteligente, minha
querida, você pode ser persistente e
obstinadamente tapada!
Ele está realmente me surrando com
força agora, e eu estou gozando. O meu
sexo se contrai em espasmos febris e
violentos, no mesmo ritmo das palmadas
adoradas, e mel sedoso flui através dos
meus dedos. Eu gemo e solto grunhidos e
me balanço contra meu próprio dedo
médio, mas nem uma vez Daniel erra o
seu objetivo, ou a palmada. Desgraçado,
ele já surrou mais de umas duas
namoradas, disso eu tenho certeza. Ele
sabe como fazer isso. Eu juraria que ele é
um expert.
Eu estou acabando com o travesseiro, e
empurrando os lençóis com os meus
dedos dos pés, estou esparramada. Mas
ele ainda continua no controle, e ainda me
surrando. Parece que a minha bunda está
terrivelmente inchada e ficou com um tom
vermelho fluorescente, e o calor
incendiário nela está se espalhando para o
meu sexo trêmulo. Subitamente, desejo
mais. Quero Daniel. Preciso dele dentro
de mim. Eu me contorço com firmeza, me
viro e começo a implorar:
— Por favor, por favor, me come! Eu
não quero ficar vazia. Eu quero você
dentro de mim.
Os olhos dele parecem estranhos,
escuros, cheios de emoção. Será que ele
consegue me ver? Acho que sim. Mesmo
que, neste momento, a sua visão esteja
determinada a ser recalcitrante, ele está
me vendo com outros sentidos, com uma
clareza profunda. Ele se inclina para o
lado, vasculha a gaveta da mesa de
cabeceira sem olhar e pega outra
camisinha. Ele rasga a embalagem,
coloca-a rapidamente, então afasta minhas
pernas e mergulha dentro de mim
profundamente.
Eu o agarro, me segurando nos seus
ombros, e nas costas, então nas nádegas,
desejando-o mais perto, ainda mais perto,
tão perto quanto ele possa estar. Ele está
me preenchendo, mas eu o desejo ainda
mais dentro de mim, dentro de minhas
células e meus nervos e minha
consciência. Eu ergo meu quadril para que
se encontre com o dele, esmagando os
nossos sexos juntos, bem na hora em que
ele me procura com uma força igual e
oposta. Pontadas ardentes se originam do
dolorido onde tomei as palmadas, que
apenas aumentam a intensidade e o prazer.
O caos dos empurrões, e os nossos
movimentos descontrolados e a luta não
permitem que nós nos beijemos, mas ele
empurra a boca sobre o meu pescoço, os
lábios entreabertos, os dentes arranhando
a minha pele, me mordiscando, quase
como uma fera. Isso me deixa ainda mais
louca, é algo tão primitivo. Balançando
minha pélvis, eu cruzo meus tornozelos na
parte de trás da cintura dele, recebendo-o
ainda mais profundamente.
Nós lutamos e balançamos um contra o
outro, soltando sons enlouquecidos e
quase desumanos. Se um trovão
subitamente estrondeasse e vibrasse lá
fora, não me surpreenderia. A tempestade
já está se movendo e desabando dentro
dos nossos corpos e nos nossos corações.
Mesmo que ele não consiga sentir o que
eu sinto, não dá para acreditar que ele não
fique comovido com nossa união.
Um tumulto como este não pode durar
muito tempo. Ele é furioso demais, intenso
demais para ser mantido. O orgasmo
percorre o meu corpo com violência,
como uma estrela cadente incandescente,
e com um grande grito Daniel me
acompanha bem no auge. Eu estremeço,
quase perdendo a consciência, tentando
respirar em inspirações profundas, o meu
peito se elevando e de Daniel se
arqueando contra o meu.
Nós somos um amontoado confuso de
pernas, suor, fluidos e de fragmentos de
consciência, mas lentamente nós nos
separamos; as minhas pernas abertas
largadas sobre o colchão, permitindo que
Daniel se liberte. Ele fica por alguns
momentos deitado entre as minhas pernas,
como se estivesse juntando forças para se
mover; então, com um arquejo ele ergue o
seu peso de cima do meu corpo, a nossa
pele pegajosa se separando enquanto ele
se solta sobre um dos lados e desaba junto
a mim.
Eu não sei o que dizer, e sinto que ele
também não sabe. Mas, quando ele
procura minha mão e nossos dedos se
entrelaçam, meu coração dá um pulo.
E pela segunda vez nessa noite, nós
caímos no sono.
14
A hora da explosão
Quando eu desperto, já é manhã clara, e
Daniel está na porta do quarto, se
apropriando de uma bandeja lotada com o
café da manhã. Dou uma olhada no relógio
e vejo que já são dez e meia, o que me faz
sentar em um pulo de pânico, até que me
lembro que, prudentemente, dei um jeito
para não precisar trabalhar hoje.
Os olhos de Daniel se abrem
apreciativamente por trás dos seus óculos
quando ele traz a bandeja para a cama,
sua atenção se concentrando no meu
corpo. Ele tem a aparência refrescada e
descansada em seu roupão atoalhado azulescuro,
e o seu cabelo anelado está úmido
por causa de um banho recente. Eu me
sinto ligeiramente irritada por ele ter se
levantado sem me acordar, mas eu
suponho que ele tenha feito isso somente
por consideração por causa do meu
evidente estado de total exaustão. Porque
eu me sinto como se tivesse corrido umas
doze maratonas, e percebo umas pontadas
ligeiras me incomodando nos lugares mais
improváveis. Nada de se espantar, se for
pensar nas nossas aventuras sexuais.
Estranhamente, contudo, a minha bunda,
que foi espancada, parece estar bem.
— Café? – sugere Daniel, erguendo o
bule, o seu olhar ainda pairando em meus
mamilos ou ali por perto. Ah, os homens,
eles são tão transparentes, tão
concentrados na carne.
Tudo bem, eu também estou
concentrada na carne. Na carne do
Professor Brewster. Não consigo ver
muito do corpo dele assim como ele pode
ver do meu agora de manhã, mas consigo
me lembrar de cada centímetro do que vi
a noite passada. Dá para eu me lembrar de
como ele parecia e como ele era para o
tato. E como eu me senti ao tocá-lo. O que
é muito parecido com o jeito como eu me
sinto agora, embora eu esteja cansada
demais e subitamente tímida demais para
tomar alguma atitude relacionada a essa
sensação.
Eu me lembro da verdade incômoda:
que, como uma idiota, eu me apaixonei
por ele. Tão típico da minha parte, me
apaixonar tão completamente e tão
rapidamente por um homem que é, de
tantos modos, bastante inacessível. Não
tenho nenhuma ilusão de que eu seja para
ele algo além de uma diversão enquanto
ele faz a sua pesquisa na biblioteca.
Entretanto, de algum modo, algo em sua
expressão se alterou mesmo enquanto eu
estava acordando. Aqueles olhos, cuja
visão às vezes o decepciona, estão
repletos de sombras que não parecem se
relacionar nem um pouco com sua vista
cada vez mais instável. Eu percebo
dúvidas e incertezas neles, que espelham
as minhas próprias. Estará ele lamentando
a intimidade reveladora da noite passada,
assim como eu estou? E, se for esse o
caso, será por uma razão diferente
daquela que está começando a me
perseguir e a me atormentar?
Eu me doei demais. Eu mergulhei fundo
demais. Eu entreguei o meu coração de
forma completa demais para que possa
recebê-lo de volta sem deixar partes dele
para trás. Será que ele se sente da mesma
maneira, ou estará somente lamentando
por ter ficado um pouco mais envolvido
do que planejava?
— Gwendolynne? – ele me incita, a sua
boca bem modelada se retorcendo
ligeiramente. Ele está certamente
perturbado.
— Sim, por favor, me sirva um pouco.
– Eu pego um segundo roupão, que ele
conscienciosamente colocou ao meu
alcance, deslizo para fora das cobertas e
me enfio nele. – Volto em um minuto. Eu
só preciso, hum, usar o banheiro.
— Tudo bem. Açúcar e leite?
— Somente leite – eu peço, e vou
rapidamente para o abrigo do banheiro,
como se tivesse sido escaldada. Talvez eu
tenha sido, de certa maneira. Meus dedos
estão metafórica, mas definitivamente
queimados e chamuscados. Eu me pus ao
alcance de uma chama, uma linda chama,
e estas são as consequências.
Faço o que tenho de fazer no banheiro,
relutando estranhamente em deixar o meu
santuário temporário. Eu me sinto tímida,
por mais ridículo que isso possa parecer
depois de tudo que eu e ele fizemos
juntos. Mas, por amar aquele homem, e
sem saber exatamente o que ele sente por
mim, isso somente faz com que a situação
pareça cada vez mais precária.
Finalmente eu me esgueiro para fora,
bem enrolada no meu roupão e em uma
grossa camada de cansaço. Daniel está
sentado na cama, uma xícara de café
acomodada nas suas mãos, encarando os
próprios pés. Eu pego minha xícara e me
sento ao lado dele. Fico encarando os pés
dele também. São pés muito bonitos, bem
grandes, mas bem proporcionais e muito
bem tratados.
— Eu preciso ir embora outra vez.
Mais tarde, hoje. Para uma cirurgia. – As
palavras dele caem como um piano em um
lago, tão súbitas e tão impressionantes
que eu estremeço. Este é um choque ainda
maior que o da noite passada, se é que tal
coisa fosse possível.
— Oh... tudo bem... – Não consigo
pensar em mais nada para dizer, mas por
dentro estou gritando. É claro que eu
sabia que ele estaria fazendo um
tratamento. Não daria para ele não estar
fazendo nenhum. Mas a realidade dele, e o
fato de que é agora, logo em seguida, me
força a confrontar o horror do que está
acontecendo com o homem a quem amo.
— Preciso dar um jeito neste problema.
– Ele faz uma pausa e esfrega a parte de
trás da cabeça, desarrumando os seus
cabelos anelados. Onde aquela coisa
maldita está à espreita. – E quanto mais
rápido, melhor; ou o fato brutal é que eu
ficarei cego... ou pior. – Ele inspira
profundamente, e eu percebo que ele está
lutando contra uma gigantesca onda de
pavor. E quem não estaria? Merda, é
claro que eu estou! Por ele.
— Tenho de voltar para Londres, para
a clínica, para mais alguns exames… e
então, em dois ou três dias, eu entro na
faca.
Ouço um gemido profundo, que, para o
meu próprio horror, percebo que vem de
mim.—
Ei, não fique preocupada! Eu sou
jovem, estou em boa forma e sou um
desgraçado duro na queda para um
acadêmico. – Colocando a xícara de lado,
ele passa o braço ao meu redor. Eu levo a
minha xícara aos meus lábios com as
mãos trêmulas e tento beber. O café está
excelente, mas derramo um pouco dele no
meu roupão, felizmente sem tocar
nenhuma parte da pele nua.
A visão dele cego, ou morto, é horrível
demais para ser compreendida. É como se
tudo dentro de mim estivesse esmagado.
Permitindo que ele pegue minha xícara
também, eu me sinto entorpecida e, no
entanto, muito agitada. E começo a fazer
negociações, em minha cabeça, com as
autoridades superiores.
Eu desisto dele, nunca mais o vejo, mas
permitam que ele fique bem.
Façam alguma coisa comigo, pelo
contrário, mas permitam que ele fique
bem.
Eu desisto de todos os prazeres da
carne e faço uma doação para os pobres
de tudo que possuo e do que ganhar daqui
para frente, mas permitam que ele fique
bem.—
Posso ir com você? – eu me ouço
dizer. – Posso tirar umas férias. Posso
ficar por perto. Fazer algum serviço, ou o
quer for, para você. Eu, hum, não estou
falando como uma namorada séria, nem
nada disso, só como um alguém para
ajudar ou algo assim.
Sinto os músculos de seu braço que
está ao meu redor ficando tensos e
retesados. Eu disse algo estúpido, eu sei.
Mas só quero ficar ao lado dele, para que
eu possa saber o mais rápido possível que
ele está bem.
Quando me volto para olhá-lo, ele
parece preocupado e perplexo. Ele
suspira profundamente outra vez.
— Preciso fazer isso sozinho,
Gwendolynne. – Ele balança a cabeça
ligeiramente, como se não estivesse bem
certo do que está dizendo e realmente
pensasse que está sendo um tolo, mas não
consegue evitar isso. – Eu... eu... eu não
quero ninguém com quem eu me importe
por perto de mim. Não quero que as
pessoas me vejam fraco assim.
— Ai, mas isso é idiotice demais!
Chocado com a minha explosão, ele
estremece de verdade. A sua linda boca
se contrai, e eu percebo que, mesmo em
um momento crítico como este, um
brilhante acadêmico como Daniel
Brewster pode ser tão teimoso quanto um
homem das cavernas.
Misericordiosamente, o braço dele
permanece ao meu redor.
— Talvez seja, Gwendolynne, mas é
assim que eu quero que seja. – O olhar
zangado dele se abranda. – Não é você,
querida, sou eu. Eu preciso passar por
isso sozinho. Para provar para mim
mesmo que posso. – Ele me dá um
apertãozinho. – Eu me importo com você,
muito, pra caramba, mas... Eu não sei
explicar, é assim que preciso que as
coisas aconteçam. – Tocando o meu rosto,
ele me faz olhar nos olhos dele, escuros e
cheios de sombras por trás das lentes dos
seus óculos. – Por favor. Eu tenho de
fazer isso do meu jeito.
— Mas isso não faz sentido. Se fosse
comigo, eu iria querer alguém por perto.
Então penso… Será que eu iria querer?
Por causa do temor e da escuridão, sim.
Mas, com toda a certeza, o cabelo será
raspado, e tem os tubos, e todos os tipos
de horrores médicos. Nada disso poderia
diminuir o que sinto por Daniel, nem no
mais ínfimo dos graus, mas, há uma parte
vaidosa e tola de mim que iria se rebelar
se ele me visse desse jeito. E os homens
podem ser vaidosos e tolos também nesse
aspecto.
Nós nos agarramos um ao outro por uns
momentos, em um impasse.
— Você tem certeza de que eu não
posso ir com você? – eu acabo dizendo
com uma voz fraca. Não é um lamento, a
não ser dentro da minha cabeça.
— Escute, não vai ter mais ninguém lá,
se é isso que você está pensando – ele diz
repentinamente, pegando a minha mão
com a dele que está livre. – Não há mais
ninguém na minha vida a não ser você,
Gwendolynne, eu juro.
Isso tinha passado pela minha cabeça.
E tinha, de verdade. Como uma
explicação para sugerir apenas uma
aventura, no começo, e agora para a sua
relutância em me deixar dar apoio para
ele nessa provação. Eu deveria me sentir
grata, mas a minha própria teimosia não
vai deixar as coisas como elas estão.
— Eu acredito em você, mas essa é
uma razão a mais para eu estar lá, então.
Se não tem mais ninguém.
— Não! – diz ele bruscamente, sua
boca se cerrando em uma linha severa e
rígida.
Eu me sinto bastante séria e rígida
também. Desejo insistir. Eu abro a minha
boca para protestar, para insistir em ser
ouvida e dizer qualquer droga que o
fizesse conceder, então, eu mordo a minha
língua. O homem a quem eu amo está
passando por uma provação. Como pode
uma pessoa pensar com objetividade e
lógica ao se defrontar com o que espera
Daniel? Se eu o amo, tenho de fazer as
suas vontades e deixá-lo lidar com a sua
operação e os seus riscos do jeito dele.
Não importa quanto isso me cause dor.
— Tudo bem – digo baixinho. – Eu
entendi. Você quer lidar com isso sozinho.
– Eu me sinto murcha, perdida, ainda
desejando estar ao lado dele. Como se
todo o ar tivesse saído de dentro de mim,
eu me amontoo contra o corpo dele, e ele
coloca os dois braços ao meu redor, me
apertando contra o seu corpo.
— Eu vou ficar bem, Gwendolynne. Eu
vou lá, serei operado e vou ficar novo em
folha em pouco tempo. – Ele acaricia os
meus cabelos, devagar, de modo
compassado. – E assim que tudo estiver
bem comigo, talvez nós possamos tirar
umas férias, ou algo parecido, que acha?
Em algum lugar agradável e quente e
sofisticado, onde nós possamos ficar
descansando em uma praia e você possa
fazer topless e eu possa passar o dia
inteiro observando você com minha visão
restaurada.
Ah, as férias dos sonhos com o homem
perfeito. Algo que eu sempre fantasiei,
mas nunca cheguei a conseguir. Por que a
perspectiva de isso finalmente acontecer
tem de ter um obstáculo tão apavorante
atrelado a ela? Para conseguirmos a nossa
escapada idealizada, primeiro nós temos
de passar pelo vale da morte – e Daniel
não vai permitir nem que eu segure a sua
mão enquanto nós o atravessamos.
Eu tremo e soluço e desejo que a vida
não fosse assim tão complicada. É como
se, de algum modo, eu estivesse
desabando, e fosse eu quem tivesse de
enfrentar a horrenda cirurgia. Daniel me
abraça mais apertado, e as mãos dele são,
ah, tão cheias de ternura. Mas, alguns
minutos depois de perder o controle, eu
me sinto fortalecida pelo seu calor e pela
sua presença. Eu deveria ser forte por ele,
a sua rocha, e não agir como uma tolinha
amedrontada. Eu tenho de aceitar o ponto
central da questão, e estar lá ao lado dele
de qualquer modo que ele possa precisar
que eu esteja. Mesmo que isso signifique
não estar lá de verdade.
E preciso dar para ele a melhor das
despedidas. Procuro a boca dele com a
minha, a encontro e começo um beijo. Eu
sinto os seus lábios firmes, com gosto de
café, se curvando sob os meus. Ele
entende o que estou fazendo. As nossas
línguas duelam por vários minutos,
quentes e escorregadias. Tento empurrá-lo
contra o colchão, tencionando envolvê-lo
em prazer, de toda e qualquer maneira que
eu possa conceber, mas ele se mantém
firme.
— Não, do meu jeito – diz ele com voz
ríspida, me segurando pelos ombros e
atacando a minha boca uma vez mais,
mergulhando nela a sua língua de um jeito
que faz a parte inferior da minha barriga
tremer e se desfazer.
Eu ponho de lado todas as ideias a
respeito de homens condenados e de
refeições suculentas e somente permito a
mim mesma sucumbir, fascinada com a
força dele e com o jeito de ele assumir o
controle sobre mim. Quando ele se deita
sobre o meu corpo, esquecer a escuridão
se torna doce e fácil.
Ele beija com força, o ataque é tão
excitante que é quase como ser comida
antes mesmo de nós tirarmos os nossos
roupões. As suas mãos longas e elegantes
começam a perambular, acariciando-me
com força através do tecido atoalhado,
usando a sua textura como um estímulo
extra. Finalmente, entretanto, ele abre
bruscamente o meu roupão e desnuda o
meu corpo. Então, com movimentos
bruscos e impacientes, ele puxa a faixa do
roupão sob o meu corpo com rudeza e
agarra os meus pulsos e os coloca acima
da minha cabeça. Com uma série de laços
e de nós, capazes de deixar até um
escoteiro orgulhoso, ele prende as minhas
mãos na cabeceira de metal da cama e
testa os laços para garantir que os meus
pulsos não estejam muito desconfortáveis.
Uma sensação de pânico
enlouquecedor, misturado com uma
fraqueza submissa e deliciosa, percorre o
meu corpo. Eu não esperava por isso, de
jeito nenhum, não nessas circunstâncias
estranhas e cheias de emoção. Eu
simplesmente não estou pronta para isso,
no entanto esperei por tempo demais.
Automaticamente eu começo a contorcer o
meu corpo, e um fogo embaçado começa a
queimar nos olhos de Daniel ao ver isso.
A minha compulsão para testar os meus
laços parece agradá-lo, e a sua linda boca
se curva de modo diabólico. O seu prazer
evidente faz com que a minha pele fique
quente e formigando.
Ainda usando o seu roupão, ele se
debruça sobre as minhas formas expostas,
aproximando o seu rosto, e eu percebo
que, em um momento indeterminado ele
tirou os seus óculos. Ele não parece ter
muita dificuldade para me ver, contudo.
Na verdade, ele está examinando
minuciosamente com alegria tudo que ele
deseja.
Sem nenhum aviso, ele mergulha e
lambe o meu mamilo, a sua língua quente
e brincalhona enquanto acaricia a ponta
contraída. Essa sensação atinge o meu
clitóris, fazendo com que ele pulse, e
enquanto Daniel mordisca delicadamente,
e ao mesmo tempo desliza o seu polegar
até a depressão do meu umbigo, eu gemo e
choramingo.
— Shhh – ele murmura junto do meu
seio, então cerra os dentes uma vez mais,
com extrema delicadeza. Eles parecem ser
muito afiados e muito ameaçadores.
Daniel ergue e puxa e rodeia, pegando a
pele macia como se fosse um pequeno
cone. Eu mordo os meus lábios com força,
para suprimir os meus gemidos, enquanto
a minha boceta protesta silenciosamente,
queimando e ansiando para ser tocada.
Por alguns momentos, Daniel brinca
deliberadamente com os meus seios,
mexendo com eles, segurando-os com as
mãos em concha, lidando com os meus
mamilos até que eles ficam proeminentes,
cheios de luxúria, como dois montículos.
Enquanto luto para não enlouquecer – e,
às vezes, fracasso completamente,
erguendo os meus quadris da cama –, as
pontas dos dedos dele às vezes se perdem
em outras zonas, antes de retornarem para
o meu umbigo, explorando e
experimentando de um modo que faz com
que eu me mexa desordenadamente e me
contorça. Às vezes ele apenas corre as
pontas de suas unhas para cima e para
baixo na concavidade entre a minha
barriga e as minhas coxas, na curva da
minha virilha.
Intencionalmente, e com muito
escrúpulo, ele evita o meu sexo.
Mas eu não consigo evitá-lo. Ele
parece ter se apossado de toda a minha
consciência. Sinto como se ele estivesse
inchado, tenso, aberto, distendido por um
desejo agonizante. Ele parece se exibir
entre as minhas pernas, brilhando com os
fluidos e quase inflamado, pois ele está
ardendo, ardendo, ardendo para receber
as atenções de Daniel.
Eu estou morrendo de vontade de gozar,
e de sentir qualquer parte de Daniel lá
embaixo. Dedos. Língua. Pau. Contudo,
em alguma parte central e controlada da
minha consciência eu reconheço que,
embora eu esteja queimando de desejo
por ele, este interlúdio só se relaciona a
Daniel, a respeito de ele estar no controle,
a respeito de ele estar mergulhado no jogo
e esquecer o que está à espreita dele. A
minha frustração intensa, o tormento da
recusa temporária – estes são as doces
oferendas que eu posso lhe dar para
distraí-lo.
Abro ainda mais as minhas pernas,
agito os quadris contra os lençóis, ergome
e me mostro para ele, oferecendo
submissão total, permitindo que ele saiba
que a minha carne é dele, completamente,
para ele fazer com ela o que desejar.
Finalmente, ele se senta. Os olhos dele
parecem estar fora de foco, mas eu não sei
se é por causa do desejo ou da coisa
odiosa que o atormenta. Ele tira o roupão
e está completamente ereto, o seu pau
vital, poderoso, repleto de uma vida e de
uma força magníficas. Enquanto ele se
inclina sobre mim outra vez, me beijando
ao longo das linhas do meu pescoço e
rodeando os meus mamilos com os seus
polegares, a lança ardente de sua
masculinidade percorre suavemente a
minha coxa.
— Eu gostaria que nós tivéssemos mais
tempo – ele diz em um tom de voz baixo e
contido, então procura um preservativo na
gaveta. – Eu gostaria de levar você à
loucura de tanto prazer. Passar horas com
você. Fazer você gozar e gozar... –
Enquanto ele fala, em voz baixa e com
uma raiva contida contra o seu destino,
ele coloca o preservativo. – Eu iria fazer
coisas que deixariam você em um estado
tão grande de lascívia que não conseguiria
se lembrar do seu nome, e iria gritar até
ficar com a garganta rouca quando
gozasse.
Antes que eu pudesse me conter,
subitamente me esqueço de desempenhar
o meu papel e digo:
— Fico esperando a próxima...
E então se segue um momento de
silêncio profundo, durante o qual eu me
daria uns pontapés, caso conseguisse fazer
isso direito, e Daniel ri às gargalhadas e
virtualmente se joga entre as minhas
coxas.
— Ah, minha linda Gwendolynne, você
não existe. O que eu faria sem você? – Ele
me dá um beijo rápido e viril nos lábios,
então se coloca na minha abertura e
começa a penetrar. – Nós vamos nos
divertir tanto quando toda essa merda
tiver acabado. Nós vamos trepar como
coelhos e jogar todos os joguinhos sexuais
com que jamais sonhamos... e mais alguns.
– Ele solta um grunhido determinado e
feliz e começa a meter rumo ao seu
objetivo.
Por alguns instantes, o meu orgasmo tão
ansiado corre o risco de se afastar, de ir
para longe do meu alcance, distraído pela
volta dos pensamentos a respeito do que
acontecerá com Daniel. Mas então a
intensa e amada presença dele, o seu
peso, o seu perfume, a sua ereção, a sua
respiração quente em meu pescoço, tudo
isso conspira para recapturar o orgasmo e
forçá-lo a se tornar realidade. Me sinto
florescer ao redor do seu pau e, incapaz
de segurá-lo nos meus braços, eu
engancho as minhas pernas nas dele, ergo
os meus quadris e empurro e empurro e
empurro a mim mesma e o meu sexo
palpitante contra o corpo dele.
Daniel também me puxa vigorosamente,
deslizando uma das mãos sob meus
quadris, me penetrando com força, como
se estivesse lidando com toda a sua
apreensão e incerteza com a força das
suas estocadas. Nós nos lançamos um
contra o outro, como animais, assim como
fizemos antes, revisitando o claro e
purificante espaço do prazer mútuo, do
desespero mútuo, do orgasmo mútuo.
É claro que, neste ritmo, a coisa não
poderia durar muito. Eu me elevo rumo a
mais um orgasmo espasmódico de tirar o
fôlego e, no momento em que o alcanço e
me sinto segura dele, sinto que Daniel está
gozando também. Ele soluça e grunhe
enquanto jorra dentro de mim, e o som é
uma magnífica exclamação de emoção
sombria.
Logo em seguida, ele me desamarra e nós
nos separamos.
Nós dois ficamos em silêncio, perdidos
nos nossos pensamentos, sobreviventes de
um furacão. E de uma explosão. Daniel
parece uma pessoa a quem mal conheço, o
que ele realmente é, e a minha cabeça está
repleta de pensamentos e de emoções
confusas que são difíceis de processar.
Eu me concentro na sequência de
eventos, tentando achar um sentido para
eles. Um – eu acabo envolvida em um
jogo sexual pervertido. Dois – eu me
apaixono por um homem lindo, inteligente
e cheio de glamour durante esse jogo
sexual. Três – eu começo a pensar se
poderia haver para mim alguma chance
séria, no futuro, com esse supracitado
homem lindo, inteligente e cheio de
glamour. Quatro – eu fico sabendo que o
supracitado homem lindo, inteligente e
cheio de glamour está com a sua vida em
risco e, como não houve tempo para eu
realmente chegar a conhecê-lo, não posso
fazer reivindicações a seu respeito, não
tenho o direito de uma amante de insistir
para que ele permita que eu o ajude.
Eu sinto vontade de gritar e de fazer um
escândalo e de quebrar coisas neste
quarto adorável onde nós dois
partilhamos tantas coisas. Mas não posso.
Preciso manter a calma e ficar quieta, não
posso fazer uma cena, devo manter a
compostura e abrir concessões em nome
de Daniel, que, com certeza, não deve
estar conseguindo pensar logicamente em
uma hora como esta. Eu me acalmo dando
uma choradinha no banheiro, porém, ao
sair dele, refrescada e arrumada, mas
desconfortavelmente consciente de usar o
vestido de ontem à noite e de estar sem a
calcinha, eu ofereço a Daniel o que
espero que seja um sorriso calmo,
reconfortante, mas não muito intrometido.
Ele ainda usa o seu roupão, mas as suas
malas estão à vista e ele está guardando
as suas coisas. Sua expressão é complexa,
e cheia de melancolia, mesmo assim
marcada, até mesmo agora, por um pouco
de desejo.
Ah, se nosso timing não tivesse sido
essa droga que foi! Quem sabe quais
possibilidades não teriam se
concretizado?
— Quan... onde você vai ser operado?
Como você vai até lá? Suponho que você
não possa dirigir.
Ele suspira profundamente, mas, para
meu alívio, não fica muito distante de
mim. Nós nos sentamos juntos por alguns
momentos e ele me conta, em termos
gerais, o que vai acontecer com ele. O que
ele não quer me dizer é onde fica o
hospital, mas aparentemente, é um centro
de excelência com fama mundial, uma
clínica particular onde ele receberá o
melhor dos cuidados.
Sinto vontade de insistir de novo, de
implorar pelos detalhes, implorar para
que ele permita que eu vá com ele, mas
nós passamos por tudo aquilo e, embora
este seja o pensamento mais horrível do
mundo, se são estes os nossos últimos
momentos na companhia um do outro, eu
não desejo que eles sejam repletos de
brigas e de conflitos.
— Você é uma boa mulher,
Gwendolynne – ele me diz
repentinamente, pegando minha mão com
as suas. – Dá para imaginar quanto custa
para você não me fazer perguntas e não
pressionar e ficar esperando por mim, por
eu ser do jeito que sou. E só Deus sabe,
eu adoro você ainda mais por causa disso.
Ele leva minha mão aos seus lábios e a
beija com uma ternura infinita.
— Você é rara e especial, e, quando
tudo isso tiver terminado, eu acho que nós
podemos ter algo raro e especial também.
– Ele pressiona o seu rosto morno contra
a minha mão e consigo sentir o roçar
delicado da barba que começa a
despontar. Ele continua a falar sem olhar
para mim, o seu hálito roçando a minha
pele. – Mas nós precisamos passar por
isto antes, para que possamos começar da
estaca zero. Eu não quero que aconteça
com você o que aconteceu com a minha
mãe. A doença do meu pai extinguiu a
vida dela, acabou com a sua criatividade.
– Ele faz uma pausa e os seus dedos se
comprimem de maneira dolorosa ao redor
dos ossos da minha mão. – E jurei que
nunca infligiria aquilo a uma mulher de
quem eu gostasse, nunca. Ele foi um
paciente ingrato e cheio de caprichos, e a
culpava pelos seus infortúnios. – Ele
beija a minha pele de novo. – E não posso
garantir que não vou ficar igual a ele
quando a hora da verdade chegar.
O que quero lhe dizer é que no fundo já
sei que ele não vai ser nem um pouquinho
igual ao pai dele, mas estou lutando contra
tanta tristeza interior que simplesmente
não consigo falar. Ao contrário, quando
Daniel se ergue e eu vejo o brilho das
lágrimas contidas com ferocidade nos
seus olhos, apenas coloco os meus braços
ao redor do corpo dele e o envolvo em um
abraço. Nós nos abraçamos e beijamos
por algum tempo. É algo estranhamente
assexuado, se levarmos em consideração
tudo que nós vivemos neste quarto.
Mas agora chegou a hora. O interfone
toca e, pelo que posso ouvir da conversa,
dá para dizer que um carro vem vindo
para buscá-lo em menos de uma hora – e
ele ainda tem de se barbear e se vestir e
terminar de fazer as malas.
Nós dois estamos em pé, os dois um
tanto embaraçados.
— Vou acompanhar você até o foyer e
chamar um táxi – diz ele, pegando as suas
calças jeans que estão na parte de cima da
sua mala.
— Não, está tudo bem, eu me viro. –
Um machado de gelo atravessa meu
coração, mas dou um jeito de ficar sob
controle. – Termine de fazer as malas e
tudo mais. Quem sabe é melhor eu
simplesmente ir embora.
Eu me movo como se fosse para a
porta, sem saber com certeza por quanto
tempo consigo resistir; porém, em vez dos
jeans, ele pega uma camisa.
— Ei... serve como jaqueta. Coloque-a
sobre o seu vestido.
Nessa hora, quase perco o controle. Ele
é tão atencioso, tentando fazer com que eu
chame menos a atenção em um vestido que
obviamente foi feito para usar à noite, em
coquetéis ou algo assim. Quando eu insiro
os braços nas mangas da camisa, a
fragrância dele me envolve.
Na porta, nós nos beijamos
apaixonadamente e, enquanto nos
abraçamos, ele murmura no meu ouvido:
— Não vai demorar muito. Eles acham
que é uma coisa simples. Eu posso ter alta
em duas ou três semanas, e estar em
recuperação. Aí então eu telefono.
O meu coração grita, e se eu não
receber esse telefonema, o que isso vai
querer dizer?
Porém, fico em silêncio, saboreando os
últimos momentos com os braços dele me
envolvendo, e depois de um último beijo
delicado abro a porta. Ele fica me
olhando enquanto caminho pelo corredor,
e a visão dele quando me volto para um
último olhar, tão belo e tão juvenil em seu
roupão escuro e com os pés descalços,
quase me mata. Nós acenamos um para o
outro, então eu me precipito e corro para
as escadas, sem querer pegar o elevador.
Não consigo parar de correr até ter saído
do Waverly, e pego o táxi que está
esperando no caminho de cascalhos.
Felizmente, ele parece estar à minha
espera, e o motorista mantém um silêncio
cheio de simpatia enquanto as minhas
lágrimas contidas começam a cair.
15
As melhores das intenções
Estou perdida em um nevoeiro. Eu me
sinto como se tivesse sido operada
também. Uma cirurgia para me alienar da
realidade, do vaivém cotidiano e contínuo
da minha existência.
Como uma idiota, tirei uns dias de
licença, porque não conseguia me
concentrar no trabalho. Mas agora eu
tenho muito tempo livre nas mãos. Eu
deveria ter ido para a biblioteca de
qualquer jeito, para me manter ocupada;
mas, em vez disso, estou em casa,
perambulando pelo apartamento, tentando
recriar na minha imaginação todas as
coisas que Daniel e eu fizemos juntos. Se
eu conseguir mergulhar nas maravilhosas
lembranças da vida e da sensualidade
sublime, talvez possa mandar para longe
os pensamentos a respeito do que está
para acontecer, ou talvez já aconteceu
com ele.
Não consigo nem ao menos encontrar
conforto no fato de estar sofrendo pelo
meu amado me tirar o apetite e, assim, eu
perder um pouco de peso. Justamente o
contrário. A geladeira é uma constante
tentação, e finalmente eu saio do
apartamento e me afasto dela, andando
sem destino pelas ruas, sem um objetivo
estabelecido, encarando os passantes e as
vitrines das lojas, porém vendo somente
Daniel, Daniel, Daniel.
Finalmente, eu acabo assistindo a um
episódio de Plantão Médico que passava
durante o dia, ao qual eu pretendia não
assistir... e perco o controle. Eu não me
importo com o que ele possa dizer. Tenho
de ir até ele. Bem lá no fundo mantenho a
certeza de que ele me deseja ali. Ou pelo
menos é o que eu fico repetindo para mim
enquanto disco o número do Waverley
Grange Hotel e peço para falar com a
única pessoa que sei que pode me dizer
em qual clínica ou hospital ele está
internado.
— Annie Guidetti – diz uma voz cálida
e agradável, que imediatamente me faz
quase ficar cheia de lágrimas de tanto
alívio. Não é o Daniel, mas alguém que o
conhece, alguém que tem o sangue dele.
— Oh, hã, olá, você não me conhece,
mas eu sou uma amiga do seu primo
Daniel Brewster, e eu fiquei pensando se
você saberia dizer como ele tem passado.
— Gwendolynne? É você? Eu estava a
ponto de telefonar. Mas que coincidência.
Ela me conhece? Ela estava a ponto de
me telefonar? Um sombrio temor se
apossa de minhas entranhas. Eu desabo na
cadeira.
— Sim, sou eu. Daniel e eu andamos...
bem, saindo juntos. Eu estive no Waverley
semana passada. – Eu sinto que estou
perigosamente a ponto de entrar em
pânico e de começar a chorar, e faço um
esforço imenso para me controlar. – Sei
que ele vai ser operado, ou já foi, e ele
disse que era para não entrar em contato
com ele, mas só preciso saber como ele
está passando, mesmo que ele não queira
que eu saiba.
A minha voz soa desesperada e
ridícula, à beira da histeria, mas Annie
Guidetti fala com delicadeza.
— Daniel é um homem brilhante,
porém, neste caso, é um idiota completo.
E é muita crueldade da parte dele não
deixar você por dentro da situação. Eu
falei isso, mas ele é como uma mula, e tão
estoico, determinado a fazer as coisas do
próprio jeito... – Ela faz uma pausa
momentânea. – Oh, minha querida, eu
sinto tanto. Estou tagarelando. Sim, ele foi
operado. Ele foi operado anteontem, e
tudo correu muito bem, segundo o que
disseram. Tudo certo, sem complicações,
e o cirurgião conseguiu remover todo o
tumor, de modo que ele não deve
reaparecer.
Eu não consigo falar. As lágrimas estão
correndo pelo meu rosto. Parece que o
meu coração vai sair voando, e que estou
voando também. Embora eu esteja
chorando copiosamente, sorrio como uma
idiota
no telefone.
— Tudo bem com você? – pergunta
Annie. – Você entendeu? Daniel vai ficar
bem. Eu falei com a enfermeira e ele está
se recuperando bem. Tem a dor do pósoperatório,
e ele está exausto, é claro,
mas tudo isso é normal, ao que parece.
Aquelas dores de cabeça horríveis
acabaram, e os primeiros sinais indicam
que sua visão não vai ser afetada
seriamente. Ele ainda vai usar óculos, mas
sempre os usou.
— Ah, isso é um alívio tão grande. –
Eu consigo dizer essas poucas palavras e
então me descontrolo novamente,
soluçando como uma idiota.
Annie deixa que eu tire um pouco,
senão todo, o peso do meu peito, então
diz:
— Escute, por que você não vai comigo
até Londres para visitá-lo? Ele me disse
para não ir também, mas eu decidi ir de
qualquer modo. E tenho certeza de que, se
você aparecer por lá, ele vai ficar muito
feliz ao vê-la, apesar das ideias de
machão dele de “passar por tudo isso
sozinho” e toda essa idiotice. Venha. Eu
gostaria de ter uma companhia durante a
viagem. Valentino está arrumando um
quarto de hotel para mim, dirigido por um
dos seus colegas, mas ele pode reservar
com a mesma facilidade tanto dois quartos
como um.
Eu vejo o rosto de Daniel, sério,
severo, determinado a fazer as coisas do
jeito dele. Bem, para o inferno com essas
ideias, caramba! Eu não me importo com
você me dando ordens na hora do sexo;
para falar a verdade, adoro isso, mas
neste caso vou fazer o que eu quero, e
você vai ter de aceitar isso!
— Isso seria muito bom mesmo;
obrigada. Eu adoraria viajar com você.
Eu preciso vê-lo, não importa o que ele
diga. Não me importo se ele ficar bravo
comigo. Eu vou arriscar. – E vou arriscar
telefonando para a casa do velho chefe
Johnson também, e lhe dizer que estou
indo visitar uma amiga doente por um ou
dois dias. – A que horas você vai partir?
Devo ir até o Waverley?
Não, ela virá me pegar, e nós vamos
partir em umas duas horas.
Quando desligo o telefone, danço pelo
quarto, cantando de modo incoerente.
Daniel está vivo! Ele está bem! E ele
consegue enxergar!
Annie Guidetti acaba se revelando uma
companheira de viagem excepcional. Para
afastar a minha mente dos meus temores
remanescentes a respeito de Daniel –
como ele vai reagir com a minha presença
–, ela me presenteia com umas histórias
inacreditáveis a respeito dos fatos mais
picantes lá no Waverley Grange Hotel. Eu
fico sabendo que ele não tem a sua
reputação escandalosa à toa, e que a
maior parte dos rumores a respeito das
festas envolvendo sexo, atividades
exóticas e quartos especiais com
i ns ta l a ç õe s especiais é apenas a
superfície de uma verdade absurdamente
depravada.
— Eu era praticamente inocente até
conhecer os Stone e o meu marido – diz
Annie alegremente – mas agora sou o que
chamam de velha mulher suja, e adoro
isso! – Ela me lança um olhar e uma
piscadela, então volta a sua atenção para
a estrada, acelerando de modo confiante e
suave.
Eu percebo que ela não é velha, e fico
pensando no que deve significar ser
casada com um homem exótico e
extremamente sensual como seu marido
Valentino, o lindo garanhão continental
que me serviu drinques no Lawns Bar no
que parece ter sido centenas de anos atrás.
E como seria estar casada com um
homem glamoroso e extremamente
sensual como Daniel?, me pergunta uma
voz sorrateira e perigosa dentro de mim,
antes que eu possa reprimi-la. Eu mal
conheço o cara. Nós somente interagimos
na biblioteca e em nossos loucos jogos
eróticos. É hora de enfrentar o fato, eu
nem mesmo consegui fazer com que ele
admitisse que é Nêmeses, muito menos
explorar quaisquer sentimentos mais
profundos e duradouros. Embora existisse
uma esperança, não é mesmo, naqueles
últimos minutos antes que ele partisse...
— O que Daniel pensa a respeito do
Waverley? – eu pergunto, tentando me
afastar dos meus pensamentos. – Deve ser
muito estranho dirigir um hotel voltado
para atividades sexuais e ter o seu próprio
primo como hóspede.
— Bem, Daniel mal é um primo de
verdade. Ele é, de fato, filho da prima em
segundo grau da minha mãe, então,
tecnicamente, sou um tipo de tia. Eu nem
sabia que o Daniel da nossa família era o
Daniel da televisão, até que ele telefonou,
dizendo que faria uma pesquisa aqui e
perguntando se nós tínhamos quartos.
— Ah, entendi.
— Ele gostou do ambiente do hotel na
hora. Definitivamente, ele gosta da coisa.
– Ela me lança outro rápido olhar
oblíquo, muito desafiador. – E não fazia
muitos dias que ele estava lá quando
começou a falar
a respeito da mulher maravilhosa que
tinha encontrado na biblioteca, uma
mulher com quem ele gostaria de se
envolver, e de levar ao Waverley para
passar um tempo com ela.
Que coisa.
— Quando você diz que ele gosta de
brincar... isso incluiria mandar bilhetes e
e-mails anônimos com teor sexual, talvez?
Desafios explícitos, esse tipo de coisa?
— Ah, claro que sim. Eu diria que isso
parece ser bem o estilo dele. Ele é um
homem muito sexy, mas também discreto e
malicioso. Por que, ele mandou algum
para você?
Usando termos cuidadosamente
selecionados, eu descrevo alguns dos
comunicados de Nêmeses, e ela ri com
alegria.
— Ah, mas que delícia! Isso parece ser
uma diversão e tanto. Mas é muita
safadeza dele não assumir. Eu acho que
você vai ter de fazer com que ele assuma
quando estiver melhor, não acha? Virar o
jogo com ele. Assumir o controle uma vez
ou outra. Até mesmo os homens mais
machões e mais alfa gostam que a mulher
seja a forte para variar um pouco.
E como isso seria, fico pensando?
Annie coloca um jazz suave no MP3 do
carro e nós mergulhamos em um silêncio
amigável por certo tempo. Eu fico
pensando na ideia de dar uma bronca em
Daniel. Pensando seriamente.
Entretanto, não me sinto com vontade
de dar uma bronca nele quando finalmente
o vejo.
Já é noite quando nós chegamos à
clínica, que é particular, imaculadamente
limpa e um santuário de silêncio e de um
luxo quase como o de um hotel. Não como
o Waverley, certamente, mesmo assim
bastante luxuoso.
Daniel está passando tão bem que já
está de volta ao seu quarto particular,
embora ainda esteja sob um cuidadoso
monitoramento. Quando me permitem que
o veja, tendo em primeiro lugar
participado da tranquilizadora conversa
entre Annie e a enfermeira-chefe, e depois
de uma rápida passagem pela desinfecção
das mãos, eu o encontro deitado de lado
em uma imensa cama branca, parecendo
um herói de guerra ferido. A luz está
fraca, e uma televisão com volume baixo
está transmitindo um dos meus seriados
policiais favoritos, mas Daniel parece
estar adormecido, os seus olhos fechados.
Ele ainda está com os tubos para injeções
intravenosas presos ao seu braço, mas, a
não ser por isso, não vejo tubos ou fios
preocupantes.
Sob a luz enfraquecida e trêmula da
televisão, a fisionomia dele parece estar
um pouco pálida e etérea. Ele está usando
uma proteção de um macio tecido branco
na cabeça, para manter no lugar as
bandagens, eu suponho, e sinto um choque
momentâneo pela da perda dos seus
lindos cachos negros. O seu rosto tem uma
aparência um pouco estranha e cansada,
com sombras avermelhadas embaixo dos
olhos, mas, a não ser por isso, ele ainda é
o belo homem sensual por quem eu me
apaixonei. A palidez de sua pele e a
brancura da proteção em sua cabeça de
certa maneira fazem com que seus cílios
espessos e negros pareçam ainda mais
longos, como sedutores arcos negros
pairando sobre suas bochechas pálidas. O
quarto está quente, e o peito dele está nu
para cima das cobertas que cobrem a
parte de baixo do seu corpo.
Eu vou até a ponta dos pés para o lado
da cama, desejando não despertá-lo.
— Você é uma garota malvada e
desobediente, sabe. Eu gostaria de ter
forças para espancar você por me
desobedecer.
Eu estremeço com a surpresa. Tenho
certeza de que ele não chegou a abrir os
olhos. A sua voz familiar tem um som
áspero e um pouco fraco, mas, ainda
assim, muito divertido. Apesar do que ele
diz, consigo ver que ele se sente feliz por
eu estar aqui. E eu tenho ainda mais
certeza disso quando ele abre os seus
olhos, e há felicidade nas suas
profundezas castanhas, límpidas e
destituídas de sombras.
— Você sabe como eu sou... nunca
consigo fazer o que me mandam.
Eu tenho vontade de sorrir, e sorrio,
porque estou feliz por vê-lo, e
simplesmente sei que ele vai ficar bem.
Hesitante, eu procuro a sua mão, mas ele
se antecipa a mim, segurando a minha. Os
seus dedos estão quentes e o jeito de ele
segurá-la é forte, de um jeito que me deixa
confiante.
Ele também sorri, e o sorriso ilumina o
seu rosto, fazendo com que pareça menos
abatido, mais normal. E belo, de um modo
delicioso e inebriante, apesar do seu
gorrinho branco e da ausência dos seus
cachos.
— O que você está achando do novo
equipamento? Sexy, não é? – ele ergue as
sobrancelhas negras. – E eu tenho a
impressão de que os meus cachos também
se foram. Eu achei que tirar tudo era mais
machão do que tirar somente uma parte.
— Aposto que você tem a aparência
muito máscula. Um verdadeiro agente
secreto bem durão. Tenho certeza de que
você vai estar pronto para sair por aí
controlando rebeldes ou algo parecido em
um dia ou dois. Ou para assaltar alguém.
— Eu não iria conseguir roubar nem um
pirulito do jeito que eu estou me sentindo
agora.
– Logo tudo vai melhorar. A enfermeira
disse que você está se recuperando bem e
que em breve vai ter alta daqui.
Ainda não consigo parar de sorrir e de
olhar para ele e de inalar a a sua
presença. E de amá-lo. Eu não sei o que o
futuro nos reserva, e se eu estarei ao lado
de Daniel. Porém, ele sobreviveu, ele vai
ficar bem, e foi isso que eu desejei.
Os dedos dele se fecham ao redor dos
meus, fortes e vitais, apesar de sua
provação.
— Eu estou feliz por você ter vindo –
ele diz com simplicidade. – Esqueça o
que eu disse. Esqueça as minhas ideias
estúpidas a respeito de lidar sozinho com
essa situação e de não querer que você me
visse fraco. – Ele leva minha mão aos
seus lábios e a acaricia ligeiramente com
eles. Não é uma ação cheia de força, mas
eu consigo sentir que ele colocou o seu
coração nela. – Eu me sinto tão fraco
quanto um gatinho, mas mesmo assim
jamais me senti tão feliz por ver alguém
em toda minha vida.
Eu fico emocionada, não tenho
palavras. Não tanto por causa do que ele
disse, mas pela expressão dos seus olhos,
em que os seus sentimentos agora brilham
com uma claridade que nunca vi, embora
imagine que eu ainda seja uma visão um
pouco nebulosa para ele.
E l e realmente se importa. Ele se
importa comigo. Ele talvez até me ame.
Eu lhe dirijo um sorriso confuso e
coloco a minha mão sobre a dele que está
sobre a minha. Eu desejo segurá-lo,
abraçá-lo, envolvê-lo, mas, neste
momento, e temporariamente, ele está
fragilizado e não posso ser brusca. Porém,
isso vai passar, e quando ele estiver bem
vou lhe dar tudo de mim, e ainda mais, de
qualquer maneira que ele desejar.
— Sua prima está aqui. Ela me deu uma
carona. Você quer vê-la também?
— Sim, eu quero agradecer por ela ter
trazido você até mim. E depois que eu
tiver conversado com ela um pouco, quero
você de volta aqui, na hora.
Ele está ficando mais forte agora,
soando mais arrogante. Meu sexy e
confiante Daniel está ressurgindo
rapidamente.
— Mas eles disseram que nós
poderíamos ficar somente dez minutos
cada uma, e que isso seria tudo por esta
noite.
— Fodam-se! – ele anuncia
alegremente, esfregando o seu polegar na
palma da minha mão de um jeito
decididamente rude e lascivo, nada do
que você poderia esperar de um paciente
que está se recuperando de uma operação
no cérebro.
— Eu estou pagando uma fortuna por
este quarto. O mínimo que eles podem
fazer por mim é satisfazer um pouco os
meus caprichos.
O desejo se acende lá embaixo na
minha barriga, embora eu esteja chocada
comigo mesma por estar ficando excitada
em uma situação como esta. Ele poderia
ter morrido, e cá estou eu, estimulando
fantasias picantes que envolvem levantar
o lençol e subir em cima dele bem aqui
neste quarto. Ai meu Deus, estou virando
uma ninfomaníaca.
Os olhos castanhos de Daniel faíscam.
Eles estão brilhantes e límpidos, e quase
consigo ler seus pensamentos. E eu tenho
certeza de que ele acabou de ler os meus.
Ele dá uma piscadinha.
— É, eu sei. Eu sempre tive umas
fantasias pervertidas a respeito de transar
em uma cama de hospital; porém,
infelizmente, estou sendo monitorado com
atenção, já que eles enfiaram uma
furadeira na minha cabeça. – Ele dá de
ombros e acaricia a minha mão outra vez.
– E não tenho certeza se eu estaria pronto
para a coisa, mesmo que não estivessem
me checando no que parece ser de cinco
em cinco minutos. O espírito está com
vontade, e certas partes do meu corpo
estão demonstrando interesse. – Ele dá
uma olhadinha lá na sua virilha. Não dá
para ver muita coisa por baixo dos
cobertores do hospital, mas a minha
fantasia me fornece uma deliciosa imagem
do seu magnífico pênis adormecido
começando a adquirir vida. – Contudo, o
resto de mim se sente como se tivesse
sido atropelado por um rolo compressor,
e eu não gostaria de desapontar a minha
deusa da biblioteca com uma performance
que fosse algo menos que espetacular.
— Eu posso esperar. Tenho
autocontrole... um pouco. – E posso
brincar comigo mesma esta noite, na
privacidade do meu quarto de hotel,
antecipando o dia feliz em que Daniel
tiver voltado à sua forma uma vez mais.
— Não duvido que a senhora tenha,
Senhorita Price – diz ele, arrogante,
deixando que as nossas mãos entrelaçadas
caíssem sobre as cobertas. Dá para eu ver
que ele está exausto, mas ainda tem uma
aparência excepcionalmente boa e alerta,
considerando a sua condição no pósoperatório.
É como se um fardo imenso
tivesse sido tirado de cima dele, e ele tem
agora todo um futuro pela frente.
— Mas quais são as chances de que
você possa fraquejar quando estiver
sozinha de novo? Eu sei que mulher
deliciosamente sensual você é,
Gwendolynne. Você não vai permitir que
um detalhezinho insignificante como a
falta de um homem possa impedir você de
fazer o que tem de ser feito. – A cabeça
dele afunda no travesseiro, mas ele ainda
tem energia para piscar e sorrir.
— Eu não entendo o que o senhor quer
dizer, Professor Brewster – eu digo, muito
pudica, então concentro nele os meus
olhos de modo acusador. – E o senhor
percebe que “deusa da biblioteca” é o
nome que Nêmeses me deu, não? Quais
conclusões eu devo tirar desse pequeno
deslize?
Ele me dá uma risadinha fraca.
— Conclua o que você desejar, minha
querida – ele diz, baixinho. – Mas fazer
suposições e chegar a conclusões
precipitadas são atividades muito
ousadas. Elas podem envolver você em
uma confusão das grandes. Confusão em
que eu vou ter de dar um jeito assim que
voltar à minha velha forma de novo.
A excitação se agita em minha barriga.
Eu o imagino recuperado, em forma,
poderoso, me punindo do jeito que fez lá
no Waverley. Meu sexo lateja e anseia
pelas suas mãos, pela sua força, pelo seu
pau, e eu sei que a ameaça dele de me dar
umas palmadas, quando gozei pela
primeira vez, não foi uma ameaça vazia.
— Vou ficar esperando por isso... – Eu
estou sem fôlego, e tudo que ele fez foi
soltar uma sugestão. Uma promessa. Eu
serei uma gelatina, derretendo de tanto
prazer quando ele estiver de volta à ativa.
— E quanto à hoje à noite? Você está
esperando por esta noite? – Ele ainda está
segurando a minha mão, então ele a vira, e
depois fica brincando com a palma da
mão, fazendo aquele gesto sugestivo com
a ponta dos seus dedos. – Sozinha no seu
quarto de hotel... devo supor que você vá
ficar aqui na cidade? – Por um instante ele
parece um pouco perdido, como se a ideia
de eu partir o deixasse magoado. – Não
vai?—
Sim, vou. O marido da Annie
arranjou tudo. Ele conseguiu que um dos
contatos dele arrumasse para nós uns
quartos muito bons, muito bons mesmo,
quase na hora.
— Ótimo – diz Daniel, se animando
novamente –, porque eu vou imaginar
você em seu quarto muito, muito bom. Eu
vou pensar em você nua e magnífica,
esparramada na sua cama, se tocando e
tendo fantasias a respeito do que vou fazer
com você quando o médico me der alta.
Eu fico sem fala, eu o desejo tanto. Isso
é loucura. Ele é um inválido em um leito
de hospital, e mesmo assim ele consegue
me excitar mais do que qualquer outro
homem em minha vida.
Os seus lindos cílios se fecham. Dá
para eu perceber que ele está cansado,
apesar de sua malvadeza maliciosa e
daquele sorriso ardiloso e subversivo.
— Eu não estou brincando, você sabe –
ele sussurra com a voz baixa. – Eu espero
que você brinque com o seu corpo esta
noite, em minha homenagem. – Ele passa
sua língua rosada pelos lábios. – E
quando você tiver acabado, acho que é
melhor você escrever tudo, e mandar para
o seu amigo Nêmeses, para quando ele
tiver a oportunidade de checar o e-mail
dele.
Quero brincar com o meu corpo agora.
Quero fazer coisas imorais e rudes, para
alegrar o meu herói ferido e fazer com que
ele se sinta melhor logo. Quero satisfazer
a deliciosa luxúria que ele inspira em
mim, uma vez, e mais uma vez, e mais uma
vez.—
Mas eu não trouxe o meu laptop.
Os olhos de Daniel estão fechados
agora, mas a minha mão está apoiada na
minha coxa, os dedos esparramados
enquanto ela chega a poucos centímetros
da minha virilha. Lentamente, ela vai se
aproximando cada vez mais.
— Bem, então você tem de se virar à
velha moda, com papel e caneta. Foi
assim que ele começou.
Visões de palavras picantes dançando
no papel azul quase me fazem gemer em
voz alta, mas nesse instante uma batida
rápida à porta faz com que eu tenha um
sobressalto, e os olhos de Daniel se
arregalam, ele solta uma gargalhada,
entendendo tudo.
A cabeça da enfermeira de Daniel
aparece na fresta da porta.
— Tempo esgotado, eu sinto muito,
Senhorita Price – diz ela, alegremente. –
Vou deixar a Senhora Guidetti entrar por
alguns minutos, e então é hora de você
dormir de novo, meu jovem. – Ela é de
meia-idade, bem britânica, bem incisiva.
Provavelmente, ela tem um coração de
ouro, mas não suponho que ela vá aceitar
nenhuma tolice por parte de seus
pacientes, não importa quão persuasivos e
charmosos eles sejam.
Daniel beija os meus dedos e então,
com uma força impressionante, quase
febril, ele me puxa para junto do seu
corpo e estende o braço para aproximar
os meus lábios dos seus. A sua boca é
ardente quando entra em contato com a
minha, e a sua língua pressiona para
entrar, aventureira e sensual, apesar da
presença da nossa plateia. Com certeza,
nós não podemos mesmo nos beijar desse
jeito, por causa do controle dos riscos de
infecção e tudo mais, mas por alguns
segundos ele me domina completamente,
ali da sua cama, experimentando e me
incitando.
— Professor Brewster! Mas o que é
isso? Agora já chega – repreende a
enfermeira. As suas palavras cheias de
indignação rompem o encantamento, e nós
nos separamos. Com extrema relutância.
Uns instantes mais tarde, estou parada à
porta, olhando para trás. Daniel parece
estar esgotado por causa do nosso beijo
ardente, mas os seus olhos estão
radiantes, claros como o cristal e
deliciosamente dominadores.
— Vejo você mais tarde, garota da
biblioteca – ele murmura –, e não se
esqueça daquela carta.
— Vejo você mais tarde, Professor
Gostoso.
Ele ri baixinho enquanto eu me afasto
do quarto, à beira das lágrimas, desejando
ficar.
Para sempre.
Um pouco mais tarde, depois de passar
algum tempo na sala de espera, pensando,
pensando, pensando, e ficando cada vez
mais excitada por baixo das roupas,
permitem-me que eu volte ao quarto para
ver Daniel uma vez mais. Por apenas dois
minutos, e absolutamente não mais que
isso, porque elas têm tarefas de
enfermeira para cumprir antes que Daniel
vá dormir.
E dessa vez nós não somos deixados
sem supervisão, provavelmente para o
caso de Daniel se atrever de novo.
Ele ainda está acordado, mas acho que
está precisando de descanso agora. A
enfermeira nos disse que o processo de
restabelecimento suga a energia do corpo
tanto quanto fazer atividades físicas.
Apesar disso, ainda persiste um brilho
malicioso nos seus olhos quando ele se
volta para me recepcionar.
— Eu disse para elas que eu não
dormiria de novo até que visse você outra
vez – murmura ele, a sua voz com uns
matizes doces e afetuosos.
— Bem sei! – eu aperto a mão dele e
ele aperta a minha, com muita força.
— Ah meu Deus, eu me sinto em
frangalhos, entretanto. – Aqueles cílios
sublimes se fecham uma vez mais, e
realmente ele parece estar cansado como
se ele tivesse acabado de correr uma
maratona. Mesmo assim, ele ainda se
agarra à minha mão.
Eu me inclino, toco o seu rosto tão
amado, acaricio a sua pele. Eu fico
imaginando como deve ser o couro
cabeludo dele, todo raspado e aveludado,
mas sei que seria uma irresponsabilidade
fazer uma investigação a respeito disso, e
que a enfermeira provavelmente me
obrigaria a ir embora se eu começasse a
mexer na cabeça dele. Portanto, eu me
consolo correndo os meus dedos pelo
maxilar dele, onde a barba começa a
despontar. Ele murmura indistintamente
alguma coisa a respeito de “deveria ter
raspado aí também...” e então abre os seus
olhos e sorri novamente.
Quando dou um beijo em sua bochecha
ele simplesmente o aceita em silêncio. Eu
sussurro: “Boa-noite, doce príncipe” em
seu ouvido, pensando como devo parecer
idiota e sentimental citando Shakespeare,
e que quando ele estiver de volta à sua
plena forma provavelmente não vai
aceitar com tanta facilidade esses
sentimentos tão excessivos. Por trás de
mim a enfermeira diz:
— É hora de ir embora, Senhorita
Price. A senhora pode voltar amanhã de
manhã.
Porém, na hora em que eu solto a mão
de Daniel, toco o ombro dele e me afasto
novamente, ele murmura baixinho, mas
com firmeza:
— Boa-noite, meu amor. Vejo você
amanhã.
Ao chegar à porta, eu me volto, e os
seus olhos ainda estão fixos em mim,
cheios de significado.
16
Carta de Amor
No meu quarto no Whitford Hotel, que é
extremamente sofisticado, eu descubro
que o papel de carta destinado aos
hóspedes é azul. Aquele tom de azulcalcinha,
a mesma cor que Nêmeses
sempre usa. Isso deve ser um sinal, um
presságio, ou algo assim.
Depois de um longo e hedonístico
banho, no qual usei quase toda a
sofisticada essência de banho oferecida
para os hóspedes e bebi uma garrafa de
vinho tirada do minibar, me sento na cama
ampla e macia, mas na qual a ausência de
Daniel se faz sentir de forma dolorosa,
com a minha caneta e as folhas de papel
azul. Apesar do banho supostamente
relaxante, eu me sinto confusa, sensível e
um pouco agitada. Eu me sinto como se
fosse a pessoa que tivesse passado por
uma cirurgia no cérebro e fosse difícil
processar todos os eventos e as emoções
da semana anterior.
Eu anseio por Daniel, mas me sinto
ligeiramente culpada por ter pensamentos
lascivos a respeito dele em uma hora
como esta. Eu sei que estou sendo tola,
mas parece que é tão estranho e um pouco
doentio ficar tendo fantasias sexuais a
respeito de um homem que está
convalescendo de uma operação séria.
E ainda parece mais pervertido me
tocar pensando nele. Contudo, se recebi
minhas instruções, e quem sou eu para
discutir? Bem, não com ele...
Colocando de lado a minha caneta e o
meu papel, a obra-prima erótica ainda não
iniciada, eu desato o espesso roupão
branco fornecido com os cumprimentos do
Whitford. Por baixo dele, estou nua. O
quarto está morno e minha pele está
rosada por causa do banho quente e um
pouco brilhante devido à loção corporal
enriquecida com vitaminas que espalhei
sobre ela, imaginando que estava me
preparando para Daniel.
Fecho os olhos, tentando evocar a
presença dele e, subitamente, é fácil. Em
minha mente ele está comigo, inteligente e
belo, vestido com uma roupa escura. O
seu cabelo revolto, negro como o de um
cigano, está como era antes da cirurgia, e
como voltará a ser. E ele consegue
enxergar. Os óculos não obscurecem a
picante magia nos seus olhos.
Mergulhando naquela magia, eu o
imagino tocando o meu corpo, as pontas
dos dedos percorrendo os meus seios
enquanto estou deitada e inerte, como uma
estátua concebida para o entretenimento
dele. Ele investiga cada centímetro de
pele que consegue alcançar, e então tira o
meu roupão e explora cada recanto que
estava coberto também. Ele se apossa de
cada zona em que coloca as mãos. Os
seios, a barriga, os quadris, as coxas, o
sexo, tudo pertence a ele. E enquanto eu
imagino o exame minucioso dele, também
penso em como poderia descrevê-lo na
minha carta.
Ele manipula meus mamilos, rolando-os
entre os seus dedos e os polegares,
fazendo com que eu me contorça e
esfregue as minhas pernas uma na outra.
Ele enfia o dedo no meu umbigo, e é
como se ele estivesse tocando o meu sexo.
Examina minhas nádegas e o que há
entre elas, deitando-me de costas e me
fazendo revelar tudo para ele, e meu
corpo arde tanto de prazer quanto de
mortificação.
Ele brinca na cavidade úmida do meu
sexo, tocando com gentileza os lábios
delicados, o meu clitóris intumescido, a
minha entrada.
E, quando termina, enfia dois dedos
bem dentro de mim.
No mundo real, sou apenas eu, fazendo
tudo isso e pressionando meu clitóris
enquanto penetro e tomo impulso com os
dedos, em uma patética imitação da
presença dele dentro de mim. Porém,
como estou fazendo isso por ele, o prazer
se apossa de mim rapidamente e eu gozo,
exclamando: “Daniel!”.
Isso tudo é rápido, difícil e
desnorteador. O meu corpo está satisfeito,
mas o meu coração e a minha mente se
sentem desconectados e, de certa maneira,
fora de sintonia, porque ele não está aqui.
Eu fico um pouco deitada, me
acalmando, reafirmando silenciosamente
para mim mesma que isso é apenas
temporário. Logo Daniel vai estar bem e
não apenas nós vamos poder ter uma
transa real e deliciosa – e mais –, mas nós
também vamos poder nos sentar e
conversar e, no meu caso, pelo menos,
colocar as cartas na mesa.
Mas estou impaciente. Quero me
comprometer agora. Eu sei que isso é uma
idiotice, mas que diferença faz?
Então, eu ato o cinto, acabo com o
vinho, me sento na cama e pego a minha
caneta e o folder de couro encadernado
que contém o caro papel de carta do hotel.
E começo a escrever.
Caro Nêmeses, eu tenho uma coisa
para contar. De uma parte dela você
vai poder gostar, e de outra parte,
não. Mas lá vai...
Estou em um quarto de hotel em
Londres e acabei de me tocar. Eu
gostaria de poder dizer que estava
pensando em você, mas não estava.
Não mesmo. Eu estava pensando em
outro homem enquanto me tocava. O
homem a respeito de quem falei em
uma das nossas correspondências
anteriores. Você sabe, o homem
qualquer para quem resolvi mostrar
o meu sexo? É ele.
Eu o conheci melhor e me apaixonei
por ele.
Espero que você não esteja
irritado.
Ele é lindo, inteligente e
engraçado. E ele faz com que eu sinta
todas essas coisas também. Com ele,
eu me sinto como se fosse uma deusa.
Exatamente como a deusa que você
também disse que eu era. Contudo,
ele faz isso com o poder do seu toque,
dos seus olhos, da sua voz, da sua
risada... e do seu corpo incrível,
quando me come e me acaricia.
Agora mesmo eu estava deitada
aqui nesta cama, me tocando e
imaginando que era ele. Estou
usando um espesso e macio roupão
de tecido atoalhado, mas soltei o
cinto e ele se abriu um pouco, então
deu para acreditar que ele estava
examinando o meu corpo e o tocando.
O olhar dele era como um fogo
líquido correndo sobre mim, e o
suave toque dos meus dedos tornouse
o dele, deslizando e explorando.
Ele me mandou tocar em todas as
partes. Nos meus seios, e nos meus
mamilos. Nas minhas coxas e na
bunda, bem entre ela. E também entre
as minhas pernas, na cavidade quente
da minha entrada. Eu fiquei toda
molhada só de pensar nele, sonhando
com as suas mãos tão hábeis me
examinando, os dedos dele
mergulhados na minha umidade. Eu
brinquei com o meu clitóris, assim
como ele brinca, e enfiei os dedos
dentro de mim, assim como ele faz.
E quando gozei, eu o fiz por ele,
exclamando seu nome.
Espero que isso não deixe você
chateado. Mas não consigo evitar, eu
o amo.
Eu o amo por causa do corpo dele,
e por causa do jeito como ele transa
comigo, e brinca comigo. Eu o amo
por causa da sua mente, porque ele é
inteligente e brincalhão e incomum e
como nenhum outro homem que
conheci antes. Eu quero fazer coisas
com ele, para ele e por ele, que eu
nunca desejei antes. Coisas
estranhas, que somente agora
parecem ser maravilhosas e corretas.
Você consegue entender isso? Eu
acho que você entende. Acho que
você o conhece tão bem quanto eu.
Acho que conhece a ele muito melhor
do que a mim, e do que eu conheço
você.
Me apaixonei e foi profundo,
Nêmeses, e não há como escapar
daquilo que é bem profundo, não há
como voltar atrás.
E eu nem quereria fazer isso,
mesmo que ele não me ame como eu o
amo.
Será que algum dia vou enviar isto? Ou
entregar para a pessoa a quem a
mensagem se destina? De algum modo,
acho que sim. Eu vou ser ousada. Eu vou
ser corajosa. Vale à pena arriscar por ele.
17
Em algum lugar muito sofisticado
Eu estou no quarto, no xale com ares
tropicais, me preparando, o meu coração
batendo com força.
Sobre a cama está uma carta, escrita
com a familiar caligrafia no papel de
carta azul. Ela é explícita e deliciosa, e
me faz ficar toda quente. Não que eu já
não esteja sentindo calor, de mais de uma
maneira.
Cá estou eu, em um paraíso tropical, em
um lugar delicioso, quente e muito
sensual, e minha companhia é o homem a
quem amo e desejo, Daniel. Ele está muito
bem agora, completamente recuperado de
sua operação e da ameaça que ela
acarretava.
As instruções na carta são bastante
específicas.
Você tem de usar um perfume de lírios
do vale.
Feito.
Depile os seus pelos íntimos –
exatamente do jeito que eu gosto.
Feito.
Coloque um pouco de brilho labial nos
seus mamilos e brinque com eles até que
eles fiquem duros.
Feito... oooh, sim, muito benfeito.
Use o seu corpete de novo, aquele seu
lindo corpete branco com as meias com
bordas de renda branca e aqueles seus
sapatos de salto alto.
Foi muito bom eu ter tido a intuição de
trazê-los, não é? Mas como eu não
poderia ter trazido, considerando a reação
que eles produziram a última vez em que
os usei?
O entardecer caribenho é multicolorido
e balsâmico e, obedecendo ao meu
amado, eu me aperto dentro do corpete de
cetim branco com o qual ele tanto gosta de
me ver. Apesar dos protestos de Daniel a
respeito da minha perfeição, tem um
pouco menos de mim para ser colocado
dentro do corpete. Ele disse que eu era
muito travessa e que ele me castigaria se
eu continuasse a fazer dietas idiotas e
perdesse peso, mas com certeza há certos
dias especiais na vida de uma moça nos
quais ela precisa estar mais esbelta do
que em outros. Entretanto, ainda há muito
de mim, e provavelmente haverá um
pouquinho mais antes que muitos dias se
passem, se pensarmos na fantástica
cozinha da ilha e em sua abundância.
Um olhar atento ao espelho é tanto uma
necessidade quanto um prazer secreto. Eu
gosto de ficar me olhando em minha
lingerie branca como a neve. Bem, eu
gosto de ficar me olhando, de qualquer
maneira. Eu adoro ficar estudando o meu
corpo e imaginando as mãos de Daniel o
percorrendo por inteiro, adorando-o e
saboreando-o e dando-lhe prazer, tanto
prazer, e de tantas maneiras diferentes.
Eu também amo o jeito de ele olhar
para o meu corpo, vendo-o sem
empecilhos agora e apreciando cada
detalhe.
O meu reflexo me faz soltar uma
risadinha. Por mais belos que sejam o
corpete e seus acessórios, eles realmente
dão uma aura de uma dançarina exótica
devassa à la “Like a Virgin”, embora eu
pense que, nos melhores clubes, as
meninas não fiquem com os peitos
equilibrados de modo tão precário, à
beira da exposição total, como estou
agora. E provavelmente elas também
fazem uma depilação completa, enquanto
meus pelos perfeitamente aparados ainda
estão em exibição em toda a sua glória.
Eu pego uma escova de cabelos, ergo
os braços para pentear os meus cabelos e,
oooopa, um mamilo pula para fora de um
dos perigosamente pequenos bojos do
sutiã. Ele está avermelhado, rosado, assim
como foi mandado, e enquanto eu o
coloco de volta no lugar um frêmito de
prazer me percorre e o meu clitóris fica
excitado e formigando. Eu tenho me
sentido tão cheia de luxúria desde que nós
chegamos aqui que estou pronta para o
sexo a qualquer hora, a qualquer minuto
do dia ou da noite. Eu não sei se é alguma
coisa que existe no pólen das flores
tropicais que perfumam o ar e que está
agindo como um afrodisíaco, ou se é
somente porque eu amo Daniel tão
desesperadamente que fico querendo
trepar com ele o tempo todo.
Ou fazer outras coisas.
Eu passo os meus dedos pelas costas da
clássica e muito cara escova de cabelos
com cabo de madeira que ele comprou
para mim recentemente. E isso faz com
que o meu clitóris fique formigando
também.
Ainda segurando-a, eu faço uma última
checagem.
Os cabelos brilhando e caindo sobre os
meus ombros? Confere.
Um grande e profundo sulco entre os
meus seios, que estão quase saltando para
fora do corpete? Confere.
Os pelos cuidadosamente arrumados, já
ligeiramente brilhantes por causa da
excitação? Confere.
Os olhos grandes e brilhando por causa
de uma antecipação sublime e
deliciosamente amedrontadora? Confere.
Com os meus quadris balançando,
caminho lentamente ao longo do recluso
xalé que nós estamos alugando, a minha
excitação e o meu desejo aumentando a
cada passo. Eu já me sinto estimulada
entre as minhas pernas, e meu mel
escorregadio está a ponto de transbordar.
Mas sei que Daniel adora o fato de eu ser
tão excitável. Ele me repreende por ser
uma vadia tão fácil e tão cheia de luxúria
que fica permanentemente molhada por
causa dele, mas dá para ver que realmente
adora isso, e claro que é algo que lhe
oferece a desculpa perfeita para me
corrigir.
O céu que se estende sobre o oceano
além da nossa varanda está colorido com
tons rosados e azul-esverdeados, e as
cores se mesclam na noite tropical que
está começando a escurecer. Lâmpadas
tremeluzem a cada lado da ampla área
coberta com tábuas de madeira, atraindo
mariposas esvoaçantes, e há uma mesa
rústica e duas cadeiras preguiçosas com
encostos altos. No lado oposto da varanda
há um sofá-cama baixo, coberto com uma
manta de algodão com listras alegres de
cores primárias.
Em uma das cadeiras preguiçosas de
encosto alto, o meu amado está sentado,
perfeitamente relaxado, fitando o oceano.
Também ele está vestido de branco –
usando calças de linho folgadas
amarradas à cintura –
e tanto o seu peito, que tem uma suave
cobertura de pelos, quanto os seus pés
elegantes estão desnudos e bronzeados.
Mas é o que ele está usando no rosto
que faz o meu sexo se contrair e vibrar.
Oh, é a máscara... a máscara de couro
das nossas cartas picantes e dos nossos
jogos sexuais.
Uma excitação pervertida se agita na
parte inferior da minha barriga, e o fluido
que está se acumulando transborda e
desliza de leve pela minha perna,
umedecendo as bordas de renda branca
das minhas meias.
Como se ele tivesse sentido o meu
cheiro, ele se volta, tanto Nêmeses quanto
Daniel, os dois em um só. Como se eu não
soubesse disso inconscientemente desde o
princípio.
Os seus olhos reluzem emoldurados
pelo couro escuro, e a sua boca aveludada
e sensual se curva apenas por um segundo
em um sorrisinho. Ele ainda usa óculos
boa parte do tempo, mas esta noite
colocou as suas lentes de contato. A brisa
insular agita os seus sedosos cabelos
negros, que já cresceram novamente,
embora ele não os use tão longos como
costumava usar antigamente. Os seus
cachos negros emolduram a sua testa
como uma auréola, dando-lhe ar de
querubim safado, angélico e infernal.
Sobretudo com a máscara.
— Quem disse que você deveria trazer
isso? – a sua voz é doce e cheia de riso,
embora fique claro que ele esteja tentando
dar a impressão de severidade.
Eu olho e percebo que trouxe a escova
de cabelos comigo. Como um doce
desejo, é claro...
— Ninguém. Eu... eu me esqueci de que
estava segurando.
Eu me sinto tonta, com a cabeça nas
nuvens, quase flutuando, como se eu
estivesse em altitudes incríveis. E estou, é
claro. Estou voando. Eu agarro a escova
de cabelos, segurando-a com firmeza,
como se fosse um jeito de me concentrar e
de parar de ficar balançando de um lado
para o outro, agitando os meus quadris e
estendendo as mãos para me tocar.
Qualquer coisa que acalmasse a intensa e
crescente sensação no meu sexo. Parte de
mim deseja se jogar naquele sofá-cama e
simplesmente abrir tanto as minhas pernas
que Daniel possa se jogar diretamente
dentro de mim. Porém, uma parte de mim
anseia pelos nossos jogos deliciosos e
pervertidos.
Ele finge suspirar, como se eu fosse
aquela estudante vergonhosamente tapada
de novo, aquela aluna que simplesmente
não vai aprender. Mas é tudo fingimento.
Por dentro, sei que ele está rindo. Por
dentro, eu também estou dando uma
risadinha, embora, para os propósitos
desta nossa representação, a minha face
esteja solene e respeitosa. Bom, isso por
enquanto. Eu tenho o péssimo hábito de
perder o controle e gargalhar nos
momentos críticos, o que faz com que ele
perca o controle também, e o resultado é
um caos maravilhoso.
— Bem, coloque-a na mesa. Isso, boa
garota.
Tão professoral. Tão próximo da
severidade. Tão cheio de amor.
Eu me dirijo para a mesa de madeira,
os saltos dos meus sapatos soando nas
tábuas do chão, e os meus seios
ameaçando saltar para fora do corpete
com bordas de renda, um fato que os seus
olhos mascarados não deixam de
perceber. Eles cintilam com uma
excitação indisfarçável e, quando lanço
um rápido olhar para a virilha dele, dá
para perceber que alguma coisa já está se
agitando sob o linho branco.
Sobre a mesa estão outros objetos que
fazem com que a minha boca fique seca e
a área da minha virilha fique ainda mais
úmida. Brinquedos para os nossos jogos,
objetos familiares que nós dois
apreciamos.
— Venha aqui, agora.
Eu obedeço, começando a me sentir
como se fosse desmaiar. Eu nunca vou
deixar de ver como ele é maravilhoso.
Como é glamoroso. Acho que jamais vou
me cansar do fato de que um homem assim
tão especial seja meu. Que uma criatura
tão rara como ele é acredite que sou
igualmente especial, e que tem o poder de
me fazer acreditar nisso também.
A boca dele parece tão vermelha sob a
máscara, o seu nariz nobre e poderoso. Eu
sinto vontade de cair de joelhos e de
adorá-lo. Eu quero abaixar as calças dele
e colocar o seu pau na minha boca. Algo
que pode muito bem acontecer antes que a
noite acabe.
Ele está reclinado em sua cadeira,
apenas me olhando. Eu fico parada,
tremendo, apenas olhando para ele. A
cada momento eu fico mais úmida e mais
excitada.
— Mostre-me os seus seios, garota da
biblioteca – diz ele, claramente se
deliciando com as palavras. – Eu desejo
ver esses mamilos róseos e adoráveis. –
Ele está sorrindo agora. Será que ele vai
perder o controle logo de cara desta vez?
Ainda mantendo alguma insegurança,
mas de um modo legal, eu me liberto da
parte superior do meu corpete. A pressão
das firmes barbatanas faz com que o meu
peito tenha uma aparência ainda mais
voluptuosa do que antes, e dá a impressão
de apresentar minhas amplas curvas para
o minucioso exame do meu amado. A
língua dele aparece rapidamente e passa
pelo seu lábio inferior, como se ele já
estivesse me saboreando.
— Brinque com eles – ele ordena, se
movendo ligeiramente em sua cadeira, e
depois, dando de ombros, colocando a
mão em sua virilha. Ele sabe que eu sei
que ele está bem duro. Eu teria de estar
vendada para não perceber. Então, por
que esconder?
Agora toda trêmula, eu toco os meus
mamilos. Com cautela. Estou tão excitada
que mesmo um pouquinho de estímulo, por
mais insignificante que seja, pode me
fazer perder o controle. Mesmo assim,
lampejos prateados percorrem as pontas
dos meus seios até o meu clitóris e,
incapaz de me conter, eu agito os meus
quadris lascivos.
— Tsc, tsc – censura o Professor
Nêmeses.
Aparentemente, fora do meu controle
consciente, a minha pélvis ainda está
balançando.
— Agora você pare de ser uma garota
travessa e se comporte – ele diz com o
seu melhor tom professoral, ainda
pressionando gentilmente o seu sexo. –
Brinque direitinho com os seus mamilos e
pare de ficar balançando a sua boceta de
um lado para outro, ou vamos ter
problemas.
Problemas em que nem dá para
acreditar! Problemas pelos quais eu
anseio, aspiro e imploro.
A noite parece mágica, algo de outro
mundo por causa de sua beleza e, contudo,
é tão real. É tudo tão real. Eu aperto os
meus mamilos com força para me lembrar
de que não estou sonhando. E então solto
um gemido, tanto de dor quanto de prazer.
Ele me lança um olhar de aviso sob a
sua máscara e eu me derreto. Mel sedoso
verte de dentro de mim outra vez, e eu
solto um fraco gemido de desejo enquanto
ele escorre para baixo.
— Agora já chega, sua vadia! Já
aguentei demais essa sua falta de controle!
E na mesma hora ele já está em pé me
arrastando, dominador, para a grade da
varanda.
— Fique aqui. Parada.
Eu sei que é somente um jogo, mas a
sua voz é tão impetuosa que ela quase me
faz gozar ali mesmo. Eu mal posso me
controlar e deixar de me tocar naquele
instante enquanto ele se afasta em direção
à mesa por uns instantes e volta com uma
echarpe de seda e a almofada da cadeira.
Ele coloca a almofada dobrada sobre a
grade e então me empurra sobre ela, de
modo que minha cabeça e os meus braços
ficam balançando do outro lado. Os meus
seios saem ainda mais do corpete, e a
pressão na minha barriga se espalha para
delicada base do meu sexo palpitante. Eu
estou praticamente pronta para gozar
quando ele passa a echarpe entre os meus
dentes e a amarra por trás da minha
cabeça, como se fosse uma mordaça. Eu
tenho a tendência de fazer muito barulho
quando nós brincamos, e quando ele está
me penetrando.
Delicadamente, ele afasta os meus
tornozelos para ter uma visão ainda
melhor, e a suave e balsâmica brisa toca o
meu sexo. Eu me sinto tão cheia de
luxúria, tão depravada, tão exibida. Isso
me faz ficar toda dolorida e me agitar e
gemer sob a mordaça. Ele me recompensa
estendendo o braço para beliscar um
mamilo com uma das mãos, enquanto com
a outra ele enfia dois dedos dentro de
mim. Eu começo a gozar, mas ele os
retira, murmurando, “ainda não”.
Ele volta para a mesa. Eu espero,
ansiando por ele. Quando retorna, ele me
penetra rapidamente, de modo decisivo,
quase violento. Mas não com o seu corpo.
Não, é com um brinquedo, um par de
bolinhas de vidro maciço em um cordão
de seda. Um dos meus favoritos. Incapaz
de me controlar por muito mais tempo, eu
gozo com violência, os meus músculos
internos se contraindo com força ao redor
dos sensuais intrusos, enquanto os meus
gemidos formam ruídos grosseiros sob a
minha mordaça.
— Eu avisei você a respeito dessa sua
falta de autocontrole, não avisei? – A sua
voz soa como veludo em meus ouvidos.
Ele belisca uma das minhas nádegas e, ao
mesmo tempo, acaricia o meu clitóris, e
eu gozo uma vez mais, fazendo com que as
bolinhas se mexam dentro de mim.
Gemendo fracamente, a echarpe entre
os meus dentes, eu sinto algo duro e
ligeiramente áspero enquanto o meu
amado se move perto de mim, e que não é
o corpo dele. Eu percebo que ele colocou
a escova de cabelos na cintura das suas
calças. Ela não fica lá por muito tempo.
Um instante depois, enquanto o meu sexo
ainda está tremendo, ainda quase em
convulsão, ele começa a me bater com
ela. Eu me contorço e me agito, me
agarrando à grade da varanda com uma
das mãos, enquanto com a outra,
ousadamente, eu me acaricio. Eu acho que
ele não se importa; na verdade,
provavelmente deve apreciar isso. Ele
não está me batendo com força, é apenas
um jogo, as pancadas são de brincadeira.
Mas, mesmo assim, elas ardem, e criam
fogo. Mais fogo. Soltam um calor que se
localiza e se avoluma e queima no meu
sexo em brasa.
E então o jogo chegou ao fim para ele.
Murmurando “oh, porra”, ele joga a
escova de lado, e então arranca com
rudeza as bolinhas de vidro do meu sexo.
Um segundo depois, enquanto estendo o
braço para tentar acariciá-lo, ele abaixa
as suas calças brancas, ajeita o pênis e me
penetra. Ele me preenche com uma doce
violência e eu gozo de novo, me
contraindo ao redor dele agora, e não ao
redor do vidro frio e inanimado. Em
êxtase de doçura, eu agarro a grade da
varanda com uma das mãos, e com a outra
eu tento cegamente agarrar os músculos
flexíveis das suas coxas. Ele também se
agarra à grade da varanda enquanto tateia
sob o meu corpo para encontrar o meu
clitóris.
Esse não é um encontro dos mais
elegantes. Na verdade, nós devemos
proporcionar uma cena e tanto, sob o
lusco-fusco tropical, nos movimentando
espasmodicamente, empurrando e
deslizando um contra o outro, eu com o
peito balançando para fora do meu
corpete, e ele com a bunda se agitando
enquanto mete, e me come e me dá as suas
estocadas. No meio da agitação, ele
arranca a echarpe e os meus gritos de
prazer se apossam do vívido céu noturno.
Finalmente, e muito depressa, nós
chegamos ao inevitável fim, e eu não sou
a única a gritar e a gemer e a dizer “eu te
amo”. Eu não sou a única que está
gozando e gozando com a pessoa a quem
adoro.
Mais tarde, nós ficamos olhando as
estrelas em um céu de um profundo tom de
azul, esparramados em nosso sofá-cama,
ambos nus sob a alegre coberta. Bem,
quase. Eu ainda estou usando as minhas
meias, mas o corpete está caído em algum
lugar sobre as tábuas, com os meus
sapatos, as calças de Daniel, a escova de
cabelos, e as bolinhas de vidro.
— De volta para casa, amanhã, então?
– Na escuridão, eu toco o seu rosto tão
amado e, como sempre, fico deslumbrada
com o seu perfil real. As lâmpadas se
apagaram há pouco, mas isso é tão
romântico que nenhum de nós se importa.
— É, mas nós ainda vamos voltar um
dia – diz ele, o que acrescenta mais um
cálido lampejo de alegria àqueles que eu
já estou sentindo. O seu braço se aperta
ao redor da minha cintura em um abraço
afetuoso.
Vai ser bom voltar para casa, de volta
às nossas vidas comuns, mas ao mesmo
tempo incomuns. Eu, de volta à biblioteca;
Daniel trabalhando com o seu
documentário e o seu novo livro, e então
se acomodando em seu novo cargo, uma
prestigiosa cátedra recém-criada de
historia na universidade local – que está
feliz por ter conseguido contratar uma
figura tão respeitada e reconhecida para o
seu corpo docente. Por enquanto, estamos
morando no meu apartamento, e não tem
muito espaço para nós, mas quando nós
nos acomodarmos vamos começar a
procurar uma casa.
Ele se volta para mim e, mesmo sob as
sombras escuras os seus olhos estão
brilhando. Eu penso no que quase
aconteceu com ele e seguro as lágrimas
por uns instantes, então passo os meus
braços ao redor do corpo dele e o abraço
com tanta força quanto ele me abraça.
— Tudo bem com você, meu amor? –
ele me pergunta, beijando-me primeiro na
testa, depois na face, e então nos lábios.
— Eu estou muito bem, Professor
Brewster, muito bem. – Na verdade, eu
estou muito mais do que bem, porque sinto
contra os meus quadris o seu pênis sempre
lascivo se enrijecendo uma vez mais. O
sofá-cama é bom, mas lá dentro nós temos
uma magnífica cama com dossel com
lençóis de linho sempre novos,
providenciados pelas arrumadeiras.
— Será que nós precisamos ir lá para
dentro e, hum, lidar com esta situação em
um ambiente mais palaciano?
Eu toco o seu pau e ele solta um gemido
baixo e voraz. Ele pressiona o seu corpo
contra o meu por uns instantes, então se
afasta, se levanta do sofá-cama e se
inclina para gentilmente me ajudar a
levantar.
— Excelente ideia, Senhora Brewster,
como sempre. Uma boa ideia.
— Tudo bem, um instantinho só. – Eu
tiro as minhas meias brancas já toda
enroladas, jogo-as para o lado, para que
fiquem com o meu corpete nupcial, e
então me aproximo de meu esposo.
De braços dados, nus sob a balsâmica
noite, nós nos dirigimos juntos para o xalé
onde passamos nossa lua de mel... e para
o futuro.
Vire a página para ler o primeiro capítulo
do próximo romance erótico de Portia Da Costa
que será publicado pela editora Planeta em 2013:
O desconhecido...
1
O homem no rio
Uma tempestade se aproximava.
Claudia Marwood ergueu os olhos para
o céu e, vendo apenas o seu dossel alto e
azul, mesclado com nuvens sem forma
definida e diáfanas como a gaze, ficou
pensando por que ela achava essa visão
adorável tão impressionante. Era um
perfeito dia de verão – um dia clássico –,
contudo algo dentro dela pressentia a
ameaça distante de um trovão. Ela não
conseguia ouvi-lo ou vê-lo; porém, ela
sabia que ele estava a caminho.
Idiota!
Ela fez uma pausa na lavanderia,
olhando a sua sombrinha e a leve jaqueta
de algodão que às vezes usava no jardim
em dias mais frescos. Não seja covarde!,
ela disse a si mesma com firmeza,
pegando somente um largo chapéu de
palha com uma fita amarela antes de sair
para o terraço com piso de cerâmica na
parte dos fundos da sua casa. Se chover,
você vai se molhar. E daí? Isso não vai
matar você!
Enquanto atravessava o gramado,
ajustando o ângulo do seu chapéu ao
caminhar, ela analisava o seu rompante de
bravata em pequena escala. Ela se sentia
selvagem, ou algo parecido, bem como
ligeiramente ousada. Repentinamente, ela
se deu conta de que estava, na verdade,
muito feliz.
Que alívio! Finalmente! Caminhando
mais rápido, quase saltitando, ela se
deleitou com a sensação da grama
imaculadamente aparada sob os seus pés
calçados com sandálias, e então se sentiu
ligeiramente tonta por uns segundos,
enquanto inalava os ricos odores de seus
jardins repletos de flores. As rosas, as
ervilhas-de-cheiro, os arbustos
perfumados.
Bom Deus, era verão, ela estava em
perfeita forma, ela não tinha
compromissos, e não havia nada mesmo
que ela tivesse de fazer! Pombos
arrulhavam enquanto as abelhas pairavam
sobre as rosas e os gerânios, e eles
também compartilhavam o seu
inquestionável contentamento.
No fundo do jardim, um pequeno portão
dava acesso ao bosque que ficava além
dele, e o caminho que saía dali conduzia
na direção do rio. Enquanto Claudia
passava por ele, sentiu uma nova onda de
satisfação. Aqui também era parte das
suas terras, e ela podia aproveitar a sua
caminhada com toda a tranquilidade, sem
encontrar outras pessoas que estivessem
passeando. Esse seu novo sentimento tinha
uma característica delicada toda sua, e
Claudia desejava examiná-lo e analisá-lo,
e não permitir que ele estourasse como um
balão antes de poder saboreá-lo. Em
muito pouco tempo, ela estaria desejando
outras pessoas por perto, tinha certeza
disso, mas por enquanto ela se sentia mais
confortável sozinha ou simplesmente com
os seus amigos mais próximos. Em uma
tarde de verão, o bosque era um lugar
mágico para ficar sozinha. O lugar cheio
de sombras era verde, e fresco e
agradável; cheio de vida, contudo,
tranquilo, e repleto de um sentimento que
levava a um tipo de expectativa sempre
crescente. Era o tipo de lugar onde a
pessoa poderia imaginar que as fadas e os
elfos poderiam ser encontrados, embora
fossem somente os pombos, as folhas
sussurrantes e o rio próximo que
tagarelassem entre si.
Não que ele não tivesse sido um bom
lugar para ter uma companhia também, ela
pensou, esperando por uma pancada de
dor, e então sorrindo quando, felizmente,
ela não aconteceu. Somente as
recordações felizes surgiram. Ela e
Gerald, em outra caminhada de verão,
depois de uma refeição, os dois um
pouquinho bêbados por causa do vinho, e
se sentindo tontos e um tanto sensuais.
Eles tinham rolado sobre a grama e ali
mesmo transado, sob uma velha árvore
que ficava à direita dela. Eles tinham
atingido o orgasmo em altas vozes, entre
as formigas, os gravetos e a lama.
Nós formávamos uma boa dupla, ela
pensou, muito comovida. É claro, existiam
alguns empecilhos – a diferença de idade
entre eles, e a devoção de Gerald aos
negócios tinha significado que as transas
apressadas entre os arbustos eram muito
pouco comuns –, mas apenas os momentos
felizes tinham ficado marcados em sua
memória. Ela imaginou que poderia ver
onde a grama e os arbustos tinham sido
esmagados e sentir a boa terra sob as suas
costas enquanto ela celebrava a vida com
o seu amante, o seu esposo.
Mas a próxima vez não seria com o
Gerald, seria? O seu querido marido
estava morto, já fazia oito meses. Ela teria
um novo amante no bosque qualquer dia
destes, contudo quando a ocasião fosse
adequada. E a sombra sorridente de seu
marido os incitaria
a continuar.
Não seja louca, Claudia, ela disse a si
mesma, continuando ousadamente a
caminhar, e pulando sobre uma ocasional
raiz ou planta trepadeira que encontrava
pelo caminho. Na calma relativa do
bosque, ela gradualmente teve a certeza
de que os ruídos da água estavam
mudando. A correnteza tranquila do rio
ainda era um murmúrio reconfortante
como pano de fundo, mas havia um som
mais alto e menos ritmado também – um
som ocasionado pela ocupação da água
por um ser humano. Lá onde o rio se
alargava, separado por uma ilhota de
pedras, havia uma ampla e convidativa
piscina natural e, pelo que dava para
ouvir, alguém estava tomando banho no
local.
Claudia franziu as sobrancelhas. Não
que ela se ressentisse de que as pessoas
tivessem acesso à propriedade – ela não
era exatamente marcada como
propriedade privada, ou delimitada por
cercas de alguma maneira. É que ela
somente se sentia protetora com relação
ao seu pouquinho de equilíbrio tão
duramente conquistado, e seu súbito
germe de esperança, que ela mesma
nutrira.
Apesar de suas preocupações, contudo,
ela prosseguiu. Você vai ter de perder o
controle qualquer hora, Senhora
Marwood, ela disse a si mesma, e bem
que poderia ser hoje. Ela quase podia
sentir Gerald atrás de si, incitando-a a
seguir adiante.
Porém, bem no momento em que ela
estava pronta para irromper na clareira e
se mostrar, uma parte do seu sexto sentido
lhe disse para ficar parada. Tirando o seu
chapéu, ela se manteve absolutamente
parada, a respiração contida, e então
arriscou a levar uma das mãos para
afastar os arbustos e dar uma olhada na
área aberta que se estendia à sua frente.
Sentado em uma pedra onde ela
frequentemente se acomodava para
colocar os pés na piscina, estava um
homem nu, mergulhando os pés na piscina.
Alto e com aparência jovem, ele tinha
vastos cabelos encaracolados e castanhos
não muito escuros e estava olhando
atentamente a porção de água parada ao
redor de seus tornozelos. O que quer que
ele estivesse vendo ali havia feito com
que ele ficasse com o rosto um pouco
perturbado.
Depois de ter superado o primeiro
choque causado pela nudez do jovem,
Claudia conseguiu respirar tranquilamente
outra vez e estudar a aparência dele com
mais detalhes. Ele era muito bonito, ela
percebeu na hora. Bem bonito, de um jeito
um tanto estranho. Mas, havia algo errado,
algo que o perturbava ou o incomodava.
Ele tinha claramente sido o responsável
pelo som dos borrifos que ela tinha
ouvido, porque a pele pálida dele estava
brilhando, toda molhada, mas agora ele
estava encarando, absorto, o seu próprio
reflexo. O seu rosto juvenil, mas com
traços fortes, com certeza era do tipo que
Claudia gostaria de ficar olhando tanto
quanto ele o permitisse; entretanto, o jeito
de ele ficar se olhando estava longe de ser
narcisista. Mais do que qualquer outra
coisa, ele parecia estar apavorado –
quase com medo de seus traços tão
atraentes.
E você levou uma bela de uma surra
também, não levou, estranho?, pensou
Claudia, observando que o corpo macio e
ligeiramente musculoso do jovem
mostrava diversos hematomas imensos na
região das costelas e das coxas. Quando
ele ergueu uma das mãos e afastou o seu
macio e desalinhado cabelo da sua testa,
ela notou que também havia um arranhão
muito feio na sua têmpora. Quando ele o
tocou, desajeitado, e estremeceu, ela
estremeceu com ele; mas quando, depois
de uma pausa, ele se levantou lenta e
graciosamente e ficou em pé, o que ela viu
fez com que ela esquecesse todos os seus
pensamentos a respeito da dor.
Ah, é isso! Ah, é isso, é, é!
Claudia sentiu um forte desejo de uivar
como uma loba, mas manteve o som como
um tributo silencioso em sua mente. Quem
quer que fosse o estranho, o corpo dele
era familiar para os sentidos dela. Ele
tinha exatamente o tipo de físico que ela
sempre preferiu em um homem. Magro e
esguio, mas com aparência forte, com
membros finos e retos, e um peito que era
muito bem definido, mas sem pelos. O seu
sexo em movimento tinha um tamanho
considerável e era definitivamente
decidido. Claudia teria gostado muito de
dar uma olhada melhor nesse aspecto
particular dele, porém, naquele momento,
ele decidiu pular de novo na água.
Protegida pelos ruídos do mergulho
dele, Claudia se esgueirou um pouco mais
para frente e se acomodou em uma
posição mais confortável, quase
agachada. Apesar de sua preocupação
com os ferimentos do jovem, o sentimento
que a dominava enquanto ela o olhava era
a excitação – uma malícia deliciosa e
clandestina que disparou por todo o seu
corpo como um vinho fortificante. Ele era
tão lindo, tão atraente, tão inconsciente da
presença dela. Ela se sentia como se
estivesse roubando um pouco de prazer
daquele corpo jovem e ingenuamente
charmoso.
Você tinha de sentir vergonha de si
mesma, mulher, ela se repreendeu, com
um amplo sorriso, e se sentindo mais
recuperada do que havia se sentido
anteriormente. Ela era viúva, e perto
demais da meia-idade para seu gosto, mas
a visão desse homem, tão inocentemente
vulnerável e, no entanto, tão tentador,
encheu o mais íntimo do seu ser feminil
com um súbito espasmo de desejo.
Quem é você, homem misterioso?, ela
pensou, sentindo o seu próprio corpo
revivescer sob o seu vestido de algodão e
sua minúscula roupa íntima de verão. E o
que você está fazendo aqui em meu
pedacinho de rio?
Depois de alguns minutos, o que ele
estava fazendo ficou bastante evidente.
Enquanto Claudia o observava de seu
esconderijo, o seu coração disparando
loucamente e as pontas dos seus dedos
formigando por causa da impossibilidade
de tocá-lo, o jovem começou a fazer uma
toalete improvisada, contudo
estranhamente rigorosa.
Em primeiro lugar, ele mergulhou a
cabeça na água, então se levantou de
novo, esfregando o seu cabelo em
desalinho e fazendo uns movimentos como
se estivesse passando xampu neles. Ele
lavou o seu rosto cuidadosamente
também, passando os dedos pelo seu
maxilar, como se ele estivesse
controlando o comprimento da sua barba
em crescimento. O jeito de ele dar de
ombros, desconsolado, indicava que ele
normalmente preferia ficar com o rosto
barbeado, mas como era claro que não
havia nada que ele pudesse fazer a
respeito, ele começou a jogar água sobre
os seus braços, as suas costas e os seus
ombros, continuamente; tanto que Claudia
sentiu vontade de ir correndo para casa e
voltar com toalhas e shampoo e um gel
para o banho, e todos os produtos
perfumados e caros para a toalete com os
quais um homem tão claramente
minucioso como ele se deleitaria. Ele
chegou mesmo a esfregar vigorosamente
os seus dentes e a gengiva com a ponta do
seu dedo.
Quando ele se deu por satisfeito com os
cuidados com a parte superior do seu
corpo, o jovem se encaminhou para a
margem, na parte mais rasa, para poder se
lavar tão meticulosamente da cintura para
baixo.
Claudia segurou a respiração
novamente. Acreditando estar sozinho, o
seu meticuloso jovem deus estava
completamente desinibido e, depois de
cuidar das suas pernas e coxas, começou
tranquilamente a passar água sobre o seu
traseiro e os seus genitais. Claudia ficou
olhando com os olhos arregalados
enquanto ele se examinava
meticulosamente e se molhava; e então
compartilhou o seu sorriso divertido, mas
inesperadamente feliz, quando a reação
física inevitável a esses movimentos
aconteceu.
Ela precisou se controlar para não
suspirar e conter o fôlego bruscamente,
enquanto o pênis molhado do jovem
estranho ficou intumescido, em uma
ereção longa e firme entre os seus dedos.
Enquanto ele se tocava, o seu rosto jovem
e longo ficou mais tranquilo, perdendo
aquela expressão de medo e de tristeza
cheia de preocupação que parecia
atormentá-lo. Durante a sua própria
excitação – um jorro de calor úmido entre
as suas pernas que foi tão súbito e tão
copioso que a deixou chocada –, Claudia
percebeu que ficar se acariciando
propiciava para o jovem tanto conforto
como se fosse uma relação sexual. Ele
parecia ter ficado tranquilo com as
respostas de seu próprio corpo.
Contudo, isso não diminuiu em nada a
eroticidade de sua performance.
Enquanto os olhos do jovem se
fechavam e a sua cabeça se voltava para
trás, Claudia sentiu como se um portão
contra o qual ela estivesse se jogando
finalmente estivesse escancarado. Os
sentimentos que estavam voltando
gradualmente de um minuto para o outro
ficaram avassaladores. Observando os
dedos ágeis do jovem no rio, ela se
permitiu abaixar o braço e tocar a sua
virilha.
Ela sentiu vontade de rir. Ela sentiu
vontade de chorar. Ela sentiu vontade de
se deitar de costas, de abrir as pernas e de
gozar até que não conseguisse mais ver
direito o que acontecia. Porém, acima de
tudo, ela queria agradecer ao seu místico
estranho.
Aquele botão de felicidade era agora
uma flor desabrochada.
Portia Da Costa é uma das autoras mais
famosas de romances eróticos no mundo.
Entre seus livros estão Continuum,
Entertaining Mr Stone, Gemini Heat,
Gothic Blue, Gothic Heat, Hotbed, Kiss it
Better, Shadowplay, Suite Seventeen, The
Devil Inside, The Stranger e The Tutor.
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