quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Nunca morda um garoto no primeiro encontro


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Nunca morda um garoto no primeiro encontro.
Tâmara Summers
Apaixonar-se pode ser imortal .
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Prólogo
Se você estivesse morrendo...
Se você tivesse dezesseis anos e estivesse morrendo...
Se o seu sangue estivesse saindo de você, chamando elas, as criaturas da noite, e você soubesse que estava morrendo...
Se você visse seus rostos pálidos e o brilho dos dentes afiados na luz da lua, e você sentisse seu sangue derramando calorosamente sobre suas mãos, e você soubesse sem nenhuma dúvida que estava morrendo...
Você não diria sim?
Sim, me transforme.
Sim, eu quero viver.
Sim... me torne um de vocês.
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Tem um assassino na minha escola. E dessa vez não é eu, então eu estou meio que chateada. O corpo estava deitado nos degraus da frente no Colégio Luna, virado de bruços. Seu sangue estava descendo por toda a escadaria até o chão, como um tapete vermelho estendido para nos dar boas vindas. Ele estava vestindo uma camisa de malha vermelha e dourada de futebol do Luna Tigers e uma expressão de surpresa. Eu acho que ser arremessado de uma janela do terceiro andar me surpreenderia, também. O vidro da janela quebrado rangeu ameaçadoramente acima, e o vidro quebrado brilhava no sangue ao redor dele, refletindo a diurna luz do sol.
Nós conseguimos cheirar o sangue no minuto que entramos no estacionamento. Eu ouvi o estômago de Zach roncar, que, se você me perguntar, é uma reação totalmente inapropriada. E também ridícula, já que ele tinha tomado, tipo, dois galões de sangue no café da manhã.
No topo das escadas, uma dupla de policiais estavam falando nos seus walkie talkies e tentando dispersar todos os curiosos adolescentes que estavam adiantados para a escola. A maioria incluía o time de natação e crianças cujos pais tinham que ir para o trabalho cedo. Mais os estudantes como eu e Zach, que preferiam estar dentro da escola antes do sol estar a pino. Não se preocupe, nós não vamos explodir em chamas ou nada disso. Isso é um mito. Volte e leia Drácula, e você vai ver — o sol somente drena seus poderes, não o mata. Não que eu esteja dizendo que
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Bram Stocker fosse um perito ou nada disso, mas ele meio que estava certo sobre aquela parte.
Então eu não morreria em uma bola de fogo, no momento que saísse, o que é um benefício. Mas as noticias ruins é que muita luz do sol diretamente me dá uma dor de cabeça perversa, e então eu tenho que deitar em um quarto escuro por um tempo para me recuperar. É mais ou menos como ter uma pequena alergia ao sol. Torna-se pior para vampiros mais velhos, que tem menos tolerância. Nós também nos cobrimos com esse protetor solar de ervas, que ajuda um pouco, embora eu ache que me faz cheirar como manjericão.
Basicamente, é um saco, já que eu não tenho que me preocupar com câncer de pele, então eu deveria poder me bronzear o quanto eu quisesse. Em vez disso, eu estou presa com esse tom de pele que eu tinha quando morri. Não que pegássemos um tom bronzeado na congelada Massachusetts, de qualquer maneira. Para minha sorte, o visual pálido estava voltando à moda. (Está voltando, não está?)
Certo. De volta ao cara morto.
Tinha mais uma coisa que conseguimos ver do outro lado do estacionamento. A policia não sabia o que estavam procurando, mas para vampiros como nós, os enormes buracos no seu pescoço eram provas mortas (haha! Jogo de palavras hilário! Eu sei, me empale agora.)
De onde as imagens de dois furinhos perfeitos tinham vindo, de qualquer maneira? Você vê isso em qualquer lugar, mas é meio que
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fisicamente impossível de fazer, e eu devia saber – eu já tinha tentado essa experiência. É, você tem duas presas do lado de cima da sua boca, mas você também tem duas pequenas presas afiadas do lado de baixo, e a única maneira de realmente travar1 e pegar todo o sangue que você precisa é morder com todas elas, o que deixa quatro furinhos pequenos e finos – e isso se você for elegante.
Mais usualmente, como nesse caso, deixa uma bagunça sangrenta.
Eu tenho quatro pequenas cicatrizes no meu pescoço e meu pulso – um feito por Olympia (minha-mãe-vampira) e uma feita por Crystal (minha-irmã-vampira). Eu escondo as marcas com meu cabelo e meu relógio, e eles meio que parecem sardas agora. Sardas bizarras, mas poderia ser pior.
Eu poderia estar sem metade do meu pescoço, como esse cara.
— Nojento, — Zach se ofereceu do banco de trás, se inclinando para frente para espreitar sobre meu ombro. Eu me movi em direção à janela, para longe dele, mas ele não pareceu notar. – Alguém precisa trabalhar na sua técnica.
Olympia estacionou o carro e se virou para me encarar com seus olhos grandes, negros e sabe-tudo.
— Não fui eu, — Eu disse imediatamente.
1 Travar —> No sentido de fixar as presas, impossibilitando a fuga da vitima.
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— Kira— ela começou
— Eu sabia que você pensaria que tinha sido eu! Isso é tão injusto! Eu juro, não fui eu! Ah, meu Deus, cometa um erro e de repente todo ataque de vampiro é minha culpa.
— Você tem que admitir que é estranho, — Olympia disse. – Dois ataques de vampiros seguidos em duas cidades. Antes de você vir, eu fui capaz de seguir por vinte e cinco anos sem ver nenhum ataque público como esse.
— Okay, admito, é estranho, mas esse não fui eu, — disse – eu prometo.
É verdade, você não vê um ataque de vampiro todo dia. Na verdade, você dificilmente vê um. Todas as regras sobre isso foram injetadas dentro da minha cabeça do momento que acordei com presas, e então re-injetadas de novo depois do meu pequeno erro no ano passado.
— Além disso, eu não sou o tipo comer-e-ir-embora, se lembra? – eu adicionei.
— Ei, esse é Tex Harrison, — Zach disse, olhando para o corpo com os olhos semicerrados através do para-brisa.
— Sem essa, — Eu disse. Nós tínhamos estado aqui por um mês, mas até eu conhecia o quarterback2 estrela de Luna. – Como você sabe?
2 Quarterback —> posição do futebol americano, com a função de dar inicio à partida e fazer os passes.
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— Sua malha de futebol, — Zach disse. – Numero nove? Oi?
Como se eu soubesse disso.
— Viu! – Eu disse, me virando para Olympia. – Isso prova que não fui eu! Eu nunca morderia um homem das cavernas como Tex Harrison. O sangue dele provavelmente cheira a cerveja e Cheetos. – Olympia revirou seus olhos. Ela fazia muito isso. Possivelmente só ao meu redor. Eu acho que ela está começando a pensar, se trazer uma vampira de dezesseis anos para dentro da gangue fora uma boa ideia. Ainda não está claro se eu vou agir como uma garota de dezesseis anos pelo resto da minha vida imortal.
Se você me perguntar, eu diria que já estou bem mais madura do que estava há um ano, então eu acho que ela não tem nada com que se preocupar. Sou eu que tenho que me preocupar, porque provavelmente não vai ser divertido ter vinte e nove anos em um corpo de dezesseis anos... Ou cinqüenta... Ou quinhentos. Se eu tiver que ir ao colegial de novo e de novo pelo resto da eternidade, vou seriamente me decapitar.
Olympia sempre diz — Vamos cruzar essa ponte quando chegarmos a ela, — querendo dizer quando eu realmente conseguir passar por um ano escolar inteiro sem alguma grande e dramática morte (minha, por exemplo) nós forçaremos a mudar. No lado positivo, pela terceira vez estudando, a História dos EUA é uma brisa total... embora, tristemente, sem ser menos chata.
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— Ele vai acordar como nós? – Zach disse, — Quero dizer, ele vai ser um vampiro? Devemos empalar a sua cova?
Olympia estremeceu com sua escolha de palavras. Ela é um pouco sensível sobre as coisas que podem nos matar. Dificilmente uma coisa na nossa casa é feita de madeira, por exemplo.
— Depende, — Olympia disse. – Se ele foi mordido antes de morrer, então sim, ele vai se tornar um vampiro. – Ela apontou o rio de sangue pingando pelas escadas. – Mas julgando por isso, ele foi morto primeiro e depois mordido. Se não o vampiro teria drenado muito mais dele antes de jogá-lo pela janela. Meu palpite é que o vampiro decidiu ter um lanchinho depois de arremessa-lo pelo vidro, mas ela—
— Ou ele! – Eu protestei.
— Foi provavelmente interrompido, já que ainda tem muito sangue dentro do cadáver, também.
— Essa, — eu disse, — é uma conversa seriamente doente. – Eu ainda não tinha me acostumado ao aspecto —yum, sangue, yum— de ser um vampiro. Meu corpo quer, mas minha cabeça ainda está, tipo, —Ew, isso é SANGUE, hora de vomitar.—
— Eu vou ter que falar com Willhelm sobre isso. – Olympia disse, com um suspiro. Willhelm é meu —pai— vampiro. (Ele prefere a palavra —patriarca. Se você o chamar de Pai, mesmo ironicamente, ele vai balançar seus braços pálidos e fazer barulhos raivosos pelo seu bigode.)
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Ele geralmente deita em seu caixão, cismando e emitindo proclamações sobre o quão degenerado o mundo está hoje. Aparentemente as coisas tem ido por água abaixo desde, tipo, a Idade Média.
— Bem, diga a ele que eu disse que não fui eu. – Eu disse.
— Quem mais seria? – Zach disse. Muito prestativo. Valeu, Zach.
— Podia ser você, — Eu sugeri. – Quem disse que você tem controle impulsivo?
Foi meio que um golpe baixo, eu admito. Ele corou raivosamente, o que só era possível, a propósito, por causa do café da manhã dois-galões-de-sangue que eu mencionei anteriormente.
— Eu estava em uma corrida de sangue com Bert ontem á noite, — ele disse friamente.
— É verdade, — Olympia concordou. – Eles estiveram fora por horas.
— Onde você estava? – Zach perguntou.
Fora e sozinha, como sempre, o que ele sabia totalmente. Se eu soubesse que ele estava fora, eu talvez tivesse ficado em casa e assistido TV ao invés disso. Mas estou no modo evitar Zach, o que quer dizer caminhadas longas e solitárias à meia noite até eu ter certeza de que ele
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está dormindo. (Ele ainda está em uma rotina muito mais humana que o resto de nós.) Não é um bom álibi, infelizmente.
— No cemitério, — Eu disse, com um suspiro. Eu sei – eu sou tão clichê. Mas é realmente pacífico à noite. Eu gosto de ficar olhando as lápides e tentando adivinhas se qualquer um daqueles habitantes voltou como vampiro, também. Além disso, a luz da lua nos deixa mais fortes, o que é oportuno quando você tem que aturar educação física e ginástica no outro dia. Eu tenho certeza que vampiros da antiga Transilvânia, na época de Willhelm, não tinham que sofrer desse jeito.
— Se não foi um de nós, — Olympia disse, — Isso significaria que tem outro vampiro nessa cidade. – Provavelmente mais de um, na verdade. Nós geralmente viajamos em famílias, assim como pessoas normais e não-ugadoras de sangue. É mais fácil se misturar desse jeito.
Eu examinei a multidão crescente no estacionamento por qualquer um que parecesse suspeito. Ou, você sabe... com fome.
Quase todo mundo parecia sonolento. Digo, era seis horas da manhã. Com corpo morto ou não, é muito cedo para qualquer um estar acordado. Eu me sentia desse jeito como humana, e eu definitivamente me sinto desse jeito como uma vampira. É quando eu devia estar indo para a cama e dormindo como uma pedra durante todo o dia, mas Olympia acredita em agir o máximo como humano quanto possível. Acredite em mim, eu durmo no momento que chego da escola. Eu acordo com a escuridão e faço minha lição de casa às três horas da manhã.
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A maioria dos rostos ao nosso redor pareciam cansados, como se tivessem acordado tarde, também.
Mas tinha um cara, entretanto...
Okay, eu vou admitir. Ele chamou minha atenção principalmente porque ele era gostoso. Quero dizer, claro, eu sou uma vampira sugadora de sangue, mas eu também ainda sou uma adolescente em uma escola nova; Aqui, eu estou sempre à procura de gostosos. Esse aqui parecia talvez ser parte Japonês, como eu. Mas ele tinha que ser parte de mais alguma coisa, também – talvez Polinésio? Havaiano? – porque seu cabelo era negro e enroladinho, e francamente ele parecia que tinha sido feito para surfar, ou pelo menos para estrelar em um filme sobre surf. Ele estava inclinado contra um carro preto a poucos metros da barricada policial, todo casual e tanto faz: Oh, olhe, um assassinato... tanto faz. Ele tinha um daqueles colares de cordinha ao redor do seu pescoço, e estava usando óculos de sol.
Mas com minha super visão vampiresca – toda calibrada do meu último passeio à luz da lua – Eu pude ver seus olhos através das lentes negras, e foi como eu pude dizer que ele estava olhando intensamente para o corpo. Não era o tipo de olhar —Whoa, cara, tem um cara morto nos nossos degraus— que todo mundo estava dando.
Era mais como —Eu sei exatamente o que aquilo é.—
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Claro, eu não sou uma leitora de mentes. Apesar de saber que ser um seria um poder bacana, que todo mundo acha fascinante, você só consegue usar bem depois de muita prática e cerca de mil anos de vampiro. (Apenas no caso de alguma duvida de verdade, eu tomo realmente cuidado com o que penso, com qualquer dos meus mais —degenerados— pensamentos a respeito de Wilhelm.) Então, talvez eu não saiba o que isso signifique com certeza. Mas certamente eu queria saber.
—Talvez devesse investigar isso,— eu disse, minha mão já sobre a maçaneta da porta.
—Espere,— disse Olympia. — Vamos observar por um momento primeiro. — Assumo que o seu alto nível de cuidado é o motivo dela conseguir sobreviver setecentos anos, mas me deixa em morcegos....ha ha ha! Vampiro entende o trocadilho? Ok, ok, eu vou esperar.
Bem, eu não sei como ela consegue relaxar observando, mas eu mantive a minha —observação— sim, do — Sr. Quente—. Ele não poderia ser um vampiro? Ele parecia muito mais como eu, mas talvez eles já nasçam com a pele mais escura.
O problema é que os vampiros não parecem particularmente incomuns a maior parte do tempo. Acho que meus dentes caninos são talvez um pouquinho maiores, mas seguramente só ficam afiados e
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pontudos antes de eu morder alguém. O sorriso do Zach é normal, por exemplo, é dentuço e desagradável, mas não são para fora! Tipo olha ele vai morder! Deste modo. É mais como olha ele vai bater em você, e então ele se revela um engano. Descubra se você nunca se enganou! E se você me perguntar, higiene dental deve estar no topo da lista de prioridades de um vampiro. Claro, não podemos ficar animados com Zach, ele tem na respiração um mau hálito eterno.
Tirando o hálito de carne, eu não acredito que haja quaisquer indícios em Zach que levantariam suspeitas de que ele é um vampiro. Ele se parece perfeitamente com qualquer menino de dezessete anos de idade, tolo (sem cérebro), todo músculos e brilhantes cabelos loiros (areia) e piadas estúpidas sobre partes do corpo. Nada como o sinistro, pálido, pensativo vampiro e coisas que você lê sobre isso. Ele é alto, mas é aí que a semelhança com Drácula termina.
Minha melhor amiga, Vivi, acha que Zach é um sonho, o que eu acho horrível. (Apesar do fato de que uma vez eu senti o mesmo, que é ainda mais horripilante). Mas eu não consigo convencê-la de forma alguma de que ele não é tudo isso, e que ela não pode ficar com ele, porque ela acha que eu sou uma boboca, como —Ew, esse é o meu irmão3—quando é que ele ganhou definitivamente minha amiga. E eu sou definitivamente a perita em potencial para longo prazo.
Zach não tem nenhum problema em beber sangue como parte da vida de um vampiro, por sinal. Ele mistura tudo em seu cardápio de saúde, shakes com ovos crus e proteína em pó e todos os tipos de coisas estranhas, ele diz que isso vai fazer com que ele fique ainda melhor do
3 Do original “Ew, that’s my brother” brincadeira entre colegas com vídeo amador, disponível You Tube.
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que já é. Ninguém contraria um amigo vampiro lindo, grande e cheio de estilo, perguntando o que foi necessário para ele ficar assim.
Crystal que nunca desperdiça as últimas cinco libras; Bert sempre parece como um pequeno vitorioso contador, apesar de estar na realidade mais forte do que qualquer dos homens na cidade. Esse surto de crescimento revigorante, uma espécie de esperança no meu último ano nunca vai acontecer, mas por outro lado, eu como carne somente no cheeseburgers e muito sorvete, então eu quero, eu admito que quase compensa o fato de que eu ainda tenho que beber sangue para sobreviver.
Enfim, se eu disser que não pode, porque Zach é um vampiro, não vejo como explicar que eu sou supostamente —amiga— de um vampiro que é um desconhecido total. Eu não posso exatamente andar pelos corredores da minha escola espiando os dentes de todo mundo.
Mesmo com a super-audição, eu não conseguia ver nada de especial sobre o — garoto quente,— embora tenha ficado todo sorridente e muito fofo, eu poderia acrescentar – assim como ele é absolutamente atraente, eu junto forças — Mas seus amigos reagiram quando passou, ele voltou a olhar para mim com um intenso, pensativo, olhar quente.
—Ali, — Olympia disse de repente. Mas ela não estava apontando para mim. Ela apontava para um cara, alto e magro, pele pálida coberto com um moletom com capuz que caminhava na calçada em direção à escola. Mesmo que não tivesse olhando percebi sua essência. Seus olhos azuis estavam concentrados no chão.
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Eu soube que ele era diferente. Ok, com certeza. Ele também é bonitinho. Diga-se de passagem de uma forma chocantemente poética. Ouuu — Olhei para Olympia — era um vampiro. Certamente, tirando a pele clara, os caras eram secretamente vampiros, apesar de tudo. Certo? Quero dizer, antes de eu morrer, eu conheci algum desses tipos frente a frente, na minha antiga escola — aquela onde você nunca pode ir em casa, cortar os seus cabelos ou falar na aula. E garanto não eram vampiros. Pelo menos, eu não sabia nada sobre isso. Mas Olympia provavelmente tinha um radar para vampiros.
Olympia abriu a janela e apontou para um dos policiais da Praça, depois com um dedo sobre os lábios. Eu fui dizendo: — Sim, acho que não podem nos ouvir daqui, — quando eu percebi que nós poderíamos ouvi-los agora... por isso, se alguém lá fora, for um vampiro, ele provavelmente será capaz de nos ouvir também. Eu mantive-me quieta.
O policial viu — O Garoto Diferente, — correu para ele, e agarrou o seu cotovelo.
— Garoto Diferente, piscou e finalmente olhou para cima. —Pai?— Sua voz era suave, como tocar em um musgo. Olhou ao redor no estacionamento lotado de corpos. Sua expressão se alterou. — Oh. eu estou vendo—.
— Vá para casa, Rowan, — o pai disse em voz baixa.
Rowan deu de ombros. — Por quê? Isso não me preocupa—.
—Deveria,— o pai o agarrou. —Eu não quero você perto desse tipo de coisa. Vá para casa—.
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Rowan estreitou os olhos. —Porque este é... Você acha que eu fiz isso?
—Claro que não. Cale a boca. — resmungou o policial, olhando em volta. Ele girou Rowan e empurrou com força tirando o da calçada até estarem fora da vista de todos.
— Tudo bem, tudo bem, — disse Rowan, tentando se soltar. —Eu tomo cuidado.
—Vejo você em casa, então. — disse o policial. Ele enxugou a testa com a manga, olhando nervoso enquanto Rowan se afastava.
Eu costumava gostar de polícias, até eles serem um fracasso total para salvar minha vida. Agora cada vez que vejo um entregando um bilhete de estacionamento — Você não tem que salvar uma vitima que esta morrendo em algum lugar? Esta parece ser uma melhor utilização do seu tempo? — Ok, vamos.
Olympia fechou a janela novamente e ligou o carro. Ficou claro que um maravilhoso lanche na escolar foi cancelado.
—Bem observado, — disse Zach. — Eu acho que o cara é totalmente vampiro.
—Talvez, — disse a Olympia. —Talvez não. Você deve manter o olho nele, Kira—.
—Eu?— Eu disse. —Por que eu? Eu não posso manter meus olhos em — não posso ficar de olho em alguma outra coisa. — Mas quando me
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virei para o ponto, percebi que um dos meus — sorriso quente— desapareceu.
—Você está pisando em gelo fino, Kira — disse Olympia. — Eu sugiro que você siga as regras de perto, até que dê para você descobrir o que aconteceu aqui.
—Eu sei o que aconteceu aqui, —disse. — Algum vampiro assassinou Tex Harrison. Para ser mais específica, algum vampiro que não sou eu. Um vampiro que não tem nada haver comigo.
—Kira!— Olympia disse bruscamente.
—Tudo bem, tudo bem, — eu resmungava, me reclino no meu banco e cruzo os braços revoltada.
Bem, ótimo. Poderia talvez, ser ainda pior, pelo menos, o adorável Rowan continuava no seu próprio caminho. E depois de tudo, tenho dois olhos. Ninguém disse que eu não poderia assistir também o Sr. Quente.
Quando cheguei em casa, Wilhelm já tinha visto a notícia do que ocorreu na TV. Por tudo que ele odeia nos últimos treze séculos, com certeza que ele não parece ter algum problema com tecnologia moderna, especialmente com as TVs. Microondas para aquecer a seu café — batido com sangue4. Se você bater muitas palmas para chamar sua atenção, o fará sair fora do conforto de seu próprio caixão.
—KIRA NOVEMBER! — Ele gritou de longe em seguida, ouviu-se a porta abrir.
4 No original "coffee-laced blood" a tradução literal seria "café-amarrado sangue".
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—EU NÃO FIZ ISSO!— Eu gritei de volta.
—Você entre aqui agora! — gritou. Sim, em caso de você estar pensando, verdadeiramente é um saco ter pais que são praticamente os mesmos, mesmo tendo quatrocentos cinqüenta anos.
Olympia pôs a mão com firmeza no meu ombro antes que eu pudesse sair como uma flecha. —Vamos discutir isso, — disse de forma significativa. Acho que eu não deveria ser grata por estas essas —discussões.
—Mãe é verdade que usei apenas o terreno, sem beber ou qualquer coisa, deste tipo de lixo. — Como sempre, Olympia e Wilhelm não se cansam de falar, eternamente, sobre o meu mau comportamento e todas as formar de punições que me darão. Quer dizer, eles têem todo o tempo do mundo garantem — literalmente. A maioria dos adolescentes, EU como a maioria dos adolescentes, imaginava ser imortal ou conta com isso, seus pais não como detalhe.
— Mas eu juro que não fiz isso. — eu disse, tentando manter distância. Sem sorte, do aperto de morte de Olympia que tem setecentos anos de experiência como vampiro. —O que aconteceu com, inocente até que se prove o contrario?
— Não se aplica aos reincidentes, — Zach sorriu.
— Cala a boca, Zach, — eu disse. —Zach nem deveria estar aqui neste momento? Quer dizer, eu não vejo porque ele não está lá fora, então eu sou suspeita.
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—OK? Álibi?— Zach disse, jogando sua cabeça para traz e arrumando seu cabelo brilhante e irritantemente perfeito como sempre fazia. —Não se preocupe com Zach, — disse Olympia. Ela me conduziu em direção à escada, e Zach deu-me uma saudação presunçosa, fomos subindo a escada. —Zach não é o seu problema, Kira.
Mas ela está errada sobre isso. A maioria das vezes Zach é definitivamente o meu problema, e com a minha sorte, talvez ele continue sendo para sempre.
Porque eu sou uma perfeita vampira.
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Conheci Zach no primeiro dia na minha nova escola. A minha escola anterior, não a Luna. Era meu primeiro dia na escola como um —super vampiro. Não aquela de um ano atrás. Obviamente nós tivemos de nos afastar da minha cidade natal em Michigan, eu não poderia me manter exatamente circulando por Ann Arbor5, depois de eu supostamente ter morrido em um acidente de carro. Então Olympia mudou todos nós para South6 — aparentemente vampiros são acostumados em movimentar a todos, para uma mudança geral — ninguém da família se queixou e me inscrevi para refazer o primeiro ano em uma escola nova.
Eu nunca tinha mudado antes. Eu vivi minha vida inteira em Ann Arbor e sempre convivi com as mesmas pessoas. Além disso, eu nunca tive que esconder uma parte da minha identidade. Mas não escolhi ser assim, por isso estamos na Geórgia. Eu não sou apenas a nova garota da cidade. Eu sou uma vampira. Talvez não tenha que contar às — caras pálidas — a mais nova fofoca. Eu poço quebrar seus pescoços ao meio — isso não é nada, mas é bom saber que eu posso. E mais, eu vou viver para sempre. Bem, então eu poderia começar a agir como tal.
5 Ann Arbor - Cidade situada no estado americana de Michigan no distrito de Washtenaw, tem 114.024 habitantes e destes (32%) são universitários.
6 South - Cidade pequena no estado americano da Georgia.
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Que conversa é esta correndo pela minha cabeça, pela milésima vez, quando finalmente encontrei meu armário pela manhã, o que é uma garante coisa, tem um idiota inclinado bloqueando a frente do armário. Ele sorriu na minha direção. Ele cheirava a testosterona.
— Sai, — eu disse.
—Oou, mal-humorada e linda,— ele disse e não saiu. — Assim é como eu gosto.
—Oou, musculoso e nenhum cérebro, — eu disse. — Adicionando suor vamos ter um festa.
—Eu faria uma festa com você a qualquer momento, — ele disse espiando. Revirei os olhos. O idiota, guardou suas coisas no armário, riu e fechou a porta, tive que esperar ele terminar.
—Bem tanto faz,— disse ao cabeção. —Vamos embora
—Vamos embora, — disse Zach. —Acho que estou prestes a ter sorte.
—Sim, você esta, — eu disse. Ele ergueu uma sobrancelha. —Sorte que eu não quero ser expulsa, então eu não vou te matar hoje.
—Oooooo, — disse Zach, talvez eu devesse lhe dar a dica de que meu juízo tinha um limite. Mas então soou o sinal, e a sala começou a esvaziar, o que me distraiu. —Mova-se. Agora—. Dei a ele o meu melhor olhar vampiresco de gelo.
— Ou o quê?— Ele disse, cruzando os braços, e olhando para os últimos retardatários que saiam apressados da sala de aula.
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— Estou feliz que tenha perguntado.— Eu disse. Na minha cabeça eu gosto de imaginar, você sabe, se estou enlouquecendo. Eu tenho uma super-força, dificilmente alguma coisa consegue me fazer mal, e se eu ficar em apuros, só teremos que mudar de novo. Por que me segurar?
Então eu o joguei para o armário do zelado — para dentro do compartimento de materiais de química e passei a chave, trancando a porta. Fui embora.
Ele estava sentado em um balde virado quando voltei, cercado de peças para laboratório, ouvindo seu iPod. Ele sorriu como um pirata, quando eu abri a porta e deslizei para dentro.
— Eu sabia que você ia voltar, — disse ele.
— Você iria parecer um bobo, se eu não venho, eu disse.
— Precisava de um pouco mais desse algo, não é?— Zach apontou para si mesmo com o dedo indicador.
— Você é muito mais bonito quando você não fala. — Eu disse, e o beijei no escuro.
Eu realmente não queria aumentar ainda mais seu — gigantesco sentimento de macho alfa. — Eu queria realmente calar sua boba. E também queria ver o que iria acontecer. Eu nunca namorei um cara assim. O meu namorado de quando eu estava viva, era realmente doce, tipo sensível de verdade, assim, faz apenas três anos que o perdi.
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Mas, quando se trata de um cara como Zach, lindo, todo musculoso, não sei como controla-lo. Como, por exemplo, agora quando eu o abracei e as suas mãos foram instantaneamente para minha bunda.
—Huuu!— Ele gemeu, então eu o arremessei em uma prateleira de papel higiênico.
—Eu faço as regras. — Eu disse. —Entendeu? Você toca só onde eu tocar em você.
—Posso ter uma lista? —Ele disse, se recuperando rapidamente. — Com detalhes descritivos, por favor?
— Sério, cale a boca , eu disse. Eu o empurrei até a parede, torci as mãos atrás das costas, e as prendi e o beijei outra vez. Seus beijos eram muito entusiasmados. E ele não tentava libertar-se, então imaginei que ele talvez fosse fácil de treinar.
Ele realmente é quente, e ele provou ser tipo—fofo, ao mesmo tempo. Antes eu sabia realmente o que fazer quando a minha boca ia ao seu pescoço. Eu lambia sua pele levemente e ele estremeceu. Eu podia sentir os dentes caninos deslizar para fora. O sangue em suas veias pulsava sob a minha língua.
Percebi que não era somente desejo. Era como uma fome. —Você, — Zach sussurrou em meu ouvido, — é o Maximo. É a garota mais quente, que eu já conheci. Sua voz me fez parar um pouco antes que meus dentes rasgassem sua pele. O que estou fazendo realmente?
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Deixei as mãos soltas ao lado do corpo, em seguida, ele reagiu como se tivesse água correndo em suas veias. Olympia me avisou que não seria fácil, uma vez que todo o dia, estaria rodeada de mortais, especialmente os atraentes, jovem mortais. Mas não me ocorreu que um simples beijo poderia me levar tão rapidamente a querer morder alguém. Especialmente alguém que eu não pretedia transformar em um vampiro.
Uma das regras que Olympia me ensinou é sobre morder alguém e outra vez: —Você mordê-o, você o comprou.— Somos responsáveis por qualquer pessoa que transformamos em um vampiro. É assim que nós sobrevivemos. Nunca se deixa um novo vampiro vagando solto sem nenhuma idéia das regras, talvez ele coloque tudo a perder em um momento, e o resto do mundo logo saberia da nossa existência.
É possível morder alguém e deixa-lo vivo, mas é muito perigoso e Olympia diz que quando você começa a beber, é quase impossível parar antes de sua presa esteja morta. E mesmo se você parar, a vítima provavelmente vai descobrir o que você é, e isso é um grande risco para nós também.
Realmente Zach estava com sorte, ele não pôde ver os meus dentes na escuridão do armário. Eu cobri meu rosto e tentei força-los de volta ao normal. Não pense sobre alimentação. Não pense sobre a alimentação. —Espere, — Zach disse, apalpando-me com as mãos estendidas. — Não pare. O que aconteceu? —Eu perdi o interesse, — eu disse, saindo do seu alcance. Meus dedos tremiam, mas eu mantive minha voz firme. — Muito ruim para
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você. Agora fique longe do meu armário. — E eu saí de lá, rapidamente, enquanto eu podia. Eu provavelmente teria adivinhado que as coisas terminariam assim com Zach. Como se alguma coisa, fosse fazê-lo ficar ainda mais interessado. Eu comecei a encontra-lo em frente ao meu armário a cada manhã quando chegava, geralmente com chocolates. Meu palpite é que ele leu em alguma revista que um homem fica irresistível às garotas, quando tem chocolates de presente, ele realmente colocou em pratica sua teoria.
Ignorei-o na primeira semana. Ele adorava quando eu, o empurrava para fora do meu caminho; ele continuou e sobre a forma como aparecia excentricamente obstinado — para essa pequena conquista, — até que ele começou a fazer-me ficar nervosa. Claro que Olympia não queria ouvir boatos sobre a nova excêntrica forma de conquista adolescente, quando ela fosse fazer compras no açougue. Então, primeiro eu comecei a falar com Zach, apenas para distraí-lo. Eu disse que se ele queria realmente me trazer algo antes da aula, ele deveria tentar chocolate quente e um croissant. O que se encaixava muito bem a sua teoria, por isso na manhã seguinte, lá estava à minha disposição, exatamente o que eu tinha solicitado. Como eu já disse, os primeiros sinais apontam para — facilmente treináveis. —Hmm, — eu disse, provando o escaldante chocolate quente, tirando longe o gosto de sangue na minha língua. 1. —Então, você sairá comigo neste fim de semana, certo?— Perguntou Zach. —Eu acho que poderíamos começar indo jantar no Los
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Espejos. — Ele pronunciou como —ezz—Pay—joes—, mas eu ainda reconhecia na palavra espanhola para o espelho. Wilhelm e Olympia me alertaram para todos os lugares mais perigosos da cidade, e este restaurante espanhol estava no topo da lista. Fiquei encantadora com a Perspectiva é claro, o restaurante tem as paredes e o teto completamente cobertos de espelhos. Arriscado de mais, não importa quão encantada eu esteja. Nossa pequena —família— tentav evitar este passeio. —Eu, — eu disse com um encolher de ombros. —Eu prefiro ter um hamburger no Big Burgers e Bowling7.
Ele pensou na economia que teria. — Vocês é o meu tipo de garota.
Então foi assim que tudo começou. E admito: eu tinha uma caidinha por ele. Comecei a namorar Zach, tentando ajustar minha atitude de não fazer novos prisioneiros. Eu pensei que se eu não fosse uma vampira malvadona, eu não iria perder tanto a minha antiga vida. É bom ter alguém para me distrair, em vez de desejar minha mãe ou beijar uma ultima vez Jeremy. É de mais, tipo assim estimulante, ter por perto alguém que é uma refeição para mim. Ele não conseguia manter suas mãos longe de mim, não importava quantas vezes eu o jogasse contra uma parede ou quase quebrasse seus dedos. Eu admirava sua persistência. Por outro lado, ficou mais difícil de não morde-lo. Você tem que entender, o sangue que bebemos todos os dias para continuarmos vivendo sai de um pote na geladeira. Isto é a verdade bruta. Vampiros
7 Seria aqueles lugares onde se tem Hamburguers e Boliche.
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são projetados para beber sangue humano para se manter vivos (ou muito recentemente mortos); isso é o que nós fazemos quando estamos com fome. Olympia ficou em casa tentando me ensinar a me controlar, mas eu não estava conseguindo obter resultados rápidos o suficiente para manter meu relacionamento com Zach seguro.
Depois de três meses, comecei a pensar sobre o futuro. Por um lado, eu pensei que Zach realmente era quente. Imaginei-o realmente como o amor verdadeiro da minha vida. E ele não iria terminar comigo (ha ha!) e se eu permanece com dezesseis anos e ele ficasse mais velhos e mais velhos? Não faria mais sentido transformá-lo em um vampiro, desta forma ele ainda possui a minha idade? Então, nós realmente poderíamos ficar juntos para sempre. Incrível, não é?
Mas eu ainda acho que não teria feito nada sozinha. Eu, pelo menos, teria esperado mais três meses, para ver se realmente gostava dele. Quer dizer, saber se sou realmente, totalmente maluca por ele.
Infelizmente, só um mês mais tarde, quando Zach viu meus dentes crescendo durante um dos nossos encontros, dessa vez em um armário que não estava escuro o suficiente. — O que, — ele disse, recuando. — O que há de errado com seus dentes? — Huuu, nada, — eu disse, cobrindo a boca com uma mão. Afastei-me um pouco, mas ele agarrou meus braços e me puxou de volta. — Isso é fácil de colocar, — ele disse, o que era uma serena reação ao que me aconteceu. Estendeu a mão e tocou um dos meus dentes com o seu dedo indicador. Uma gota de sangue apareceu imediatamente na sua
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pele, eu entrei em pânico. Isso foi o suficiente para fazer com que eu me transformasse em um vampiro? Isso não seria talvez esperado! Eu não teria mordido intencionalmente! Na mesma hora, eu não conseguia parar de lambê-lo. Ele olhou para a sua mão e olhou de volta para mim, parou por um minuto. —Ok, sim, — eu disse. — Eu sou vampiro. Zach começou a rir. — Isso é impossível, — ele disse.
Eu deixei todos os meus dentes — saírem— e joguei meu cabelo para trás para que ele pudesse ver as marcas no meu pescoço. — Não é impossível, isso é justamente o que sou. Aqui, verifique o meu pulso, você vai ver. — Agarrei sua mão e colocei seus dedos ao redor do meu pulso. Eu sabia que ele não iria encontrar uma pulsação, mas nós estávamos perto o suficiente para que eu ouvisse a sua própria pulsação acelerada, ele me encarou por um momento.
— Não se preocupe, — eu disse. — Eu não mordo. Ha ha. — joguei minhas mãos para trás, largando seus dedos. Fui saindo de lá, queria chegar logo na casa de Olympia para dizer que precisávamos mudar de novo, quando ele finalmente falou, numa vacilante, eu só vi um tipo de determinação em sua voz.
— E se eu quisesse que você, — perguntou ele.
— Quisesse o quê? — Me mordesse, — disse ele. Ele agarrou meus pulsos e puxou-me para perto novamente, sacudindo os cabelos para trás para expor seu
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pescoço. — É isso. Eu quero ser como você. Eu quero ser um vampiro, também. —Caramba, cara, — eu disse, tentando não olhar para o seu pescoço. — Cuidado, pare para pensar sobre isso por um minuto? Isso não é uma coisa temporária, é uma coisa para sempre. — Pensei que ficaria apavorado, mas isso não aconteceu. O que talvez deveria ter sido um aviso final para manter distancia dele, mas no momento eu achei simpático. Então me processe. Fiz por amor ... ou pelo menos eu achava que era.
—Exatamente, — disse Zach. — Eu te amo. Eu sempre vou te amar. Eu quero ficar com você para sempre.
Eu não disse que sim. Nem mesmo com o pescoço ali esperando por mim. Alguns cantinhos do meu cérebro ainda funcionavam. Espere! Pense! Esta não é uma reação normal! Fuja! Infelizmente isso não foi uma gritaria alta o suficiente, apesar de Zach, durante as semanas seguintes, me procurar diariamente defendendo sua transformação em vampiro. Mesmo eu estando cega de amor, eu comecei a achar que ele era irritante. Fiquei imaginado, será que ele vai passar o tempo todo empurrando o pescoço na minha cara e prometendo o seu amor eterno? Não podemos apenas comer pizza de carne e talvez falar sobre o nosso dever de casa agora e depois? Então um dia ele me chamou e me disse para vir imediatamente. Eu disse para esperar porque estava pintando meus cabelos. Ele me disse que também estava pintando. Eu disse: — Você também? Qual é a cor?
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E ele disse: —Não, seriamente pintando. Eu quero dizer tingindo. — Literalmente? — Eu disse. —Você poderia esperar até meu cabelo secar? Ele disse que não era possível esperar, porque já havia perdido uma grande quantidade de sangue.
Foi quando eu percebi que ele esta ferido gravemente.
Graças a Deus por ter super velocidade de vampiro. Eu cheguei na sua casa em cerca de nove segundos. E com certeza, o idiota conseguiu cortar seus próprios pulsos.
— O que você fez? — Eu gritei com ele. Ele estava deitado na banheira, pálido, um monte de sangue em torno de seu jeans e peito nu.
—Eu fiz isso ...para você, — ele disse num sussurro, heróica tentativa.
—Você é o maior idiota do mundo. E se eu não tivesse em casa? E se eu estivesse no chuveiro? Você poderia ter morrido antes que eu soubesse que você tinha feito isso. Do que teria servido isso tudo.
—Bem, eu não quero que você me deixe, — ele disse ele, parecendo irritado e um pouco menos abalado. —E não me chame de idiota.
O perfume de toda esta festa de sangue estava deixando-me tonta. —Devemos estancar isso, — eu disse, — até você chegar a um hospital.— Peguei uma toalha e me ajoelhei ao lado da banheira.
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— É tarde demais para isso, — ele disse, de novo a sua voz morrendo. Ele pressionou a palma de sua mão sobre a testa. —Eu estou morrendo, Kira. Você tem que me transformar... para me salvar.
— Eu deveria ter deixado você trancado dentro do armário no primeiro dia. Eu cheguei mais perto do seu pulso e comecei a enrolar a toalha em torno dos cortes. O sangue instantaneamente ensopou o pano branco, se espalhando como uma enxurrada vermelha.
Zach guiou o meu rosto em direção a seu pulso, e a toalha caiu com um baque. — Bebida, — ele disse. — Está tudo bem. Eu quero que você faça. Então talvez nós continuemos juntos... para sempre.
Realmente não havia nada que eu pudesse fazer. O cheiro de sangue era forte de mais para minha força de vontade. Eu nunca chegaria a tempo a um hospital. Ele realmente iria morrer, e a culpa seria minha.
Eu afundei meus dentes no seu pulso já sangrento.
Sim, é realmente surpreendente. É realmente incrível, no último momento, eu mordi Zach. Eu não quero descrever como foi, lembrar agora me faz sentir apavorada, mas é realmente chocante. Já contei como alguns vampiros se tornam viciados em sangue direto da fonte. Olympia realmente me avisou sobre isso, também. Depois disso achei que Zach estava totalmente morto, deixei o corpo lá e fui para casa, para dizer a Olympia o que tinha acontecido. Ela riu e riu e riu até que ela literalmente caiu fora de seu caixão. Que, aliás, não é uma reação realmente esperada de sua parte.
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— Bem, nós estamos apaixonados, — eu disse, ofendida. —Tenho certeza que ele vai acabar bem. Como Bert e Crystal. —Oh, querida,— Olympia disse, enxugando as lágrimas dos seus olhos. — Vejo agora por que você talvez necessite de setecentos anos de convivência com ele como experiência, isso é uma boa idéia.
Isso. Cerca de um mês depois, em um carro alugado em algum lugar no meio do Kansas, na área rural, foi à forma de esconder nossa fuga, à tarde Zach tentou chegar à —segunda base— comigo e eu o joguei para fora do carro. Nós tivemos de retornar mais ou menos 1 Km para encontra-lo. Ele ficou me aborrecendo todo o caminho até Montana.
Realmente era o fim desse relacionamento.
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Tragicamente, agora estou presa a Zach até que ele decida sair e começar sua própria família de vampiros em algum lugar, o que exige um nível de maturidade que eu estou quase certa, ele não será capaz de reunir a qualquer momento nos próximos quinhentos anos.
O lado positivo, de nossa história nesta nova cidade que é uma relação supostamente de irmão e irmã, então ele não pode encostar em mim em público. Isso não impediu que tentasse algumas vezes, quando estávamos em casa — portanto, logo tive que me trancar no meio da noite para evita-lo. Ele fica olhando dentro dos meus olhos e dizendo coisas como: — Você não quer ficar comigo, Kira, — ou — fomos feitos um para o outro, — o que teria talvez mais impacto emocional se a idéia não me deixasse de olhos arregalados.
A boa notícia é que ainda estou muito mais forte do que, o que aparentemente é uma habilidade abençoada; Zach? Nem tanto. Olympia me pediu para parar de jogá-lo pela janela, apesar de tudo. Elas são caras para substituir e o ruído pode perturbar os vizinhos.
Garanto que eu não sou responsável por este novo ataque de vampiros. Então, eu aprendi minha lição, não tinha! Claro que não quero repetir isso nunca mais, no caso de acidentalmente acertar outro lunático obsessivo. Pergunto-me, quem realmente desejaria transformar em vampiro outro membro do time de futebol da escola.
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Porém Wilhelm está convencido que depois de ter mordido Zach, eu tinha ficado viciada.
— Eu sabia que isso ia acontecer! — Ele bufou, abanando o dedo dele. — Eu sabia que era tolice transformar uma criança terrível deste século! Ela é uma degenerada! É uma ameaça! Devemos trancá-la em um caixão e alimentá-la através de um tubo de alimentação até ela ter sua idade suficiente para ser confiável!
Olhei para Olympia. —Vocês não vão realmente fazer isso, vão?
— Não a menos que seja necessário, — Olympia disse, o que não me tranqüilizou muito.
Estávamos no gabinete, que é a parte favorita de Wilhelm depois do porão, onde ele dorme. Olympia deliberadamente por prevenção deixou as janelas da casa fechadas — são muito raras e difíceis de acessar, mas pensei, porque não tentar. No gabinete há apenas uma pequena janela. Como todos os outros na casa, realmente cobertas com cortinas escuras e pesadas. Sobre a mesa ao lado da Barcalounger8 do Wilhelm, estava a única luz na sala: uma pequena luz com um vermelho pálido. Olympia convenceu Wilhelm a desistir das velas Gothic9, depois que a Barcalounger anterior pegou fogo. Esta nova cadeira era forrada de vermelho e preto drapejado. As cores combinaram o vermelho escuro Oriental lustroso e elegante com o metal preto da mesa de café, mas esteticamente o quarto estava um pouco bagunçado.
8 Barcalounger - Marca famosa americana que define um estilo de cadeira de couro com braços, modelo de poltrona do papai.
9 Gothic - marca conhecida de velas ornamentais.
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Meus pais vampiros não são exatamente os maiores decoradores do mundo interior. É como se eles agarrassem um monte de coisas da moda pelo mundo, durante cada século. Isso infelizmente é verdade com suas roupas também. Não estamos discutindo a tragédia de um vampiro medieval em um terno azul claro de lazer. Olympia me fazia organizar seus equipamentos todas as manhãs antes de eu sair para a escola. — Ela é muito selvagem! — Wilhelm berrou agora, falando de mim novamente. — Ela trará caçadores de vampiros direito até nós!
— Esta não é a idade das trevas,— eu disse. Eu amo fazer Wilhelm ficar com o cabelo em pé. — Não há multidões de camponeses ignorantes com forcas e tochas do lado de fora. Ninguém acredita —MESMO — que a gente exista.
—Ora, aposto que é precisamente o tipo de pensamento que os levou a chegar a todos nós! — Ele gritou. — Estes novos vampiros pensam que podem morder qualquer um anonimamente! Não lembram certamente de como os caçadores estão sempre alertas para qualquer sinal de nossa presença! Descuidada, imprudente, egoísta.
— Mas eu não fiz isso! — Eu gritei sobre o fim frase. — Me chamem do que quiser, mas eu não mordi ninguém!
Wilhelm olhou para mim com olhos vermelhos redondos. Ele não foi mordido até bem tarde na vida, então ele é um tipo de vampiro grisalho. Além disso, tinha bigode mesmo, desde 800 anos — longo, caído e macio. Aparentemente, ele continua entrando e saindo da moda, por isso ele não vê necessidade de raspá-lo. Pessoalmente eu acho que é
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muito perturbador falar com alguém que se parece com um gigante, que tem duas lagartas felpudas rastejando para fora de seu nariz. — Pode ser verdade, — exclamou Olympia. — Nós não podemos saber ao certo, talvez ela tenha feito isso. — Será que não podemos, talvez ela não tenha certeza, —Wilhelm rosnou. — Nós devemos mudar novamente, e rapidamente, antes de comecem a caçar a gente.
— Oh, não, — eu disse, recordando as longas semanas de viagem de carro e das cidades passando e as identidades novas. Isso foi ruim o bastante depois da minha morte; e ainda pior depois que Zach, porque ele não para de me encher o tempo todo e não há nenhuma maneira de ficar longe de seus avanços. Eu tipo estava esperando realmente ficar aqui em Massachusetts, por uma temporada. — Por favor, não me faça começar tudo novamente.
— Eu acho que mudarmos é dificilmente o pior de seus problemas, — salientou Olympia.
— Neste lugar poderia haver um vampiro mestre, — eu disse. —Nós vimos esse cara suspeito na escola, não foi, Olympia? E é uma cidade grande, não é? Não podia ser vampiro de outro lugar! — A maioria dos vampiros não são, então você é uma tola, então,— Wilhelm rosnou. — Deixe-me encontrar o vampiro que matou Tex— eu disse. — Se eu conseguir descobrir quem fez isso, você vai acreditar em mim? Podemos ficar?
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Wilhelm e Olympia se olharam por um longo momento. Às vezes eu penso que eles estão realmente falando por telepatia, quando isso acontece, o que é completamente assustador. Pais com poderes telepáticas deixam você na pior. Finalmente Wilhelm aspirou, fez seu bigode balançar para cima e para baixo. — Eu não estou feliz com isso, — disse. — Eu quero que as coisas sejam esclarecidas.
— Tudo bem, vamos deixar você tentar, — Olympia disse para mim. — Mas se você não descobrir isso em uma semana, nós estamos nos mudando novamente.
— E amanhã, então talvez haja consequências, — alertou Wilhelm. Eu não precisava ser telepata para saber que ele tinha na cabeça idéias sobre caixões flutuantes e tubos de alimentação.
— Tenha cuidado, — disse Olímpia. — Nem todos os vampiros são civilizados como nós.
Sério? Menos civilizados que os medievais romanos? Eu aposto.
Finalmente eu escapei para o meu quarto lá em cima. Zach e eu somos os únicos que utilizam o andar de cima, nós não odiamos completamente o Sol como muitos de nossa espécie, e, ocasionalmente, os raios solares conseguem esgueirar-se através das persianas e iluminar o piso superior. Nosso acordo é que eu tenho a ala da esquerda da escada e ele tem a ala para da direita. Ele não deve vir para o meu lado, apesar de, como você pode imaginar, ele obedece bem à regra.
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Bert e Cristal têm espaço no primeiro andar. Eles foram transformados em vampiros a menos de cem anos, isso explica porque eles mantém desejos humanos como dormir em uma cama, embora seus colchões sejam duros como rocha. Eu acho que um dia eles vão passar a caixões, como os de Olympia e Wilhelm, que estão atrás de uma porta escondida no porão em uma parede de pedra antiga. Provavelmente, um dia eu também vou querer dormir em um caixão, acho esta teoria altamente duvidosa. Eu gosto de minha cama fofa, com almofadas e edredom. Wilhelm acha que isso é um sinal do meu —moral decadente e preguiça absoluta.— Penso que é um sinal de que eu só gosto de dormir.
Na verdade, quando eu fui para o andar de cima, o que aconteceu realmente — foi que virei à esquerda e fugi. Quer dizer, eu queria começar a minha investigação. Tenho que procurar no Google — Tex Harrison— e descobrir se ele mantinha um blog em sua página no MySpace10. Descobrir tudo sobre esportes e os sobre os impressionantes Luna Tigres11, Patriots12 e Red Sox13, e o que um zagueiro faz e — blá, blá — além de um resumo do seu regime de treino diário detalhado e tudo que ele já comeu. SEMPRE. Você realmente pode me culpar por adormecer? Quando eu acordei, deitado na minha cama realmente em uma montanha de travesseiros. Meus instintos de vampiro me disseram que estava escuro lá fora. Rolei e vi Zach na minha porta. Realmente, —escondido — é a mais adequada descrição. — Vá embora, — falei, jogando um travesseiro na sua direção.
10 MySpace.com - Portal de relacionamento, onde se pode disponibilizar fotos, clipes...etc.
11 Luna Tigers - Time de futebol americano da escola.
12 Patriots - Time de futebol americano conhecido nacionalmente.
13 Red Sox - Time de beisebol conhecido nacionalmente.
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— Você se esqueceu de trancar a porta de novo, — ele disse. — Você se esqueceu que não deve vir aqui, — eu afirmei. — Fique no seu lado da casa. — Eu ouvi que você está indo investigar o assassinato de Tex's, — ele disse sorrindo. — Olha como está indo bem até agora. — Hum, Olá? Todos os detetives começam seu trabalho no Escuro, — eu disse.
—Eu posso pensar em coisas melhores para fazer no escuro, —falou com suas sobrancelhas levantadas de forma interrogativa.
Essa foi a minha deixa para levantar.
— Tome um pouco de sangue antes de você sair! — Olympia falou da cozinha, eu segui.
—Não, Obrigada!— Eu olhei para trás, agarrando as minhas chaves. Bati a porta atrás de mim e comecei a funcionar. Eu nunca gostei de correr, mas não é que é muito mais divertido quando você está quase mais rápido do que seu carro. E isso não me faz mais cansada, é melhor para manter nosso segredo durante a noite. Além disso, é muito mais seguro executar minha corrida não natural neste horário quando não tem tantas pessoas na rua. Eu cheguei na escola em aproximadamente dez minutos. Tudo parecia sombrio e obscuro ao luar, o tijolo e concreto que se fundiam em bordas prateadas. A maior parte dos vidros quebrados foram varridos, mas eu podia ver alguns cacos ainda brilhando sobre o caminho. Eu acho
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que a polícia esteve ocupada, até porque a cena do crime foi totalmente examinada. E provavelmente asseguraram que a escola volte ao normal no dia seguinte. Eles fizeram um bom trabalho de limpeza, apenas o cheiro de sangue ainda permaneceu, uma vaga percepção do que aconteceu aqui, e eu estou supondo que o nariz apenas de um vampiro poderia perceber. Mesmo tendo a janela quebrada coberta com uma lona preta, um pequeno canto não estava, onde batia o vento.
Há outro cemitério pequeno ao lado direito da escola — geralmente não é usado. Este é um menor e mais velho, com lápides desgastadas. Esta ao lado do campo de futebol que pertence à escola, tem um monte de espaço aberto à sua volta. Apenas poucas casas têm vista para os degraus da frente, e aquele do outro lado do estacionamento. Realmente ninguém poderia ter escudado alguma coisa, especialmente em um fim de tarde, sem ter uma audição de vampiro. É só onze horas agora, e as casas já estavam todas escuras. Moradores inúteis.
Eu estava coberta no lote de um estacionamento, cercada pela obscuridade dos prédios. Longas trilhas de nuvens cinza-roxo deslizavam através da lua. Um pequeno pedaço de vidro triturado contra o meu tênis, então eu subi os degraus. Tex deve ter caído com muita força, eu podia sentir o cheiro dos respingos de sangue na porta da frente. O sangue e realmente a única coisa que eu podia sentir o cheiro. O cheiro do atacante estava completamente mascarado pelo perfume esmagador do sangue de Tex.
A porta foi, é claro, bloqueada, o que me fez pensar como Tex e seu assassino conseguiram penetrar no meio da noite, em primeiro lugar.
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Não é que um vampiro tenha que ser convidado para entrar em um lugar como este. Nós só temos que ser convidada para residências particulares, mas para todo o resto está aberto para nós. Por exemplo, eu poderia apenas arrombar a porta, mas acho que seria um pouco suspeito. Provavelmente a abordagem não seria aprovada por Olympia.
Em vez disso, escalei o grande carvalho que cresce ao lado da escola. Escalar em arvores é outra coisa que é mais divertido com a força e velocidade de um vampiro. Cheguei ao topo em cerca de vinte segundos. Eu estiquei a mão até poder pegar à ponta da lona. Havia espaço suficiente para me espremer e passar através da janela quebrada. Os painéis de vidro quebrado se foram. Apenas um espaço escancarado na parede da escola.
Meus sapatos bateram no azulejo com um rangido. Eu estava em um corredor longo forrado com armários metálicos verde classe Junior. O luar entrava inclinado através das janelas nas salas de aula de cada lado e pela janela redonda na extremidade do corredor, em frente à parte de trás da escola. Outro corredor cortava este no meio, fazendo uma espécie de cruz, se você quiser talvez pensar em uma coisa mística sobre esta iluminação da lua. Além do mais, cruzes não me aborrecem. Wilhelm garante que é uma aberração realmente má, embora, talvez por isso eu ache que acreditava nelas quando estava viva, como proteção para não ser incomodada por vampiros. Gostaria de testar esta teoria lançando uma —Estrela de David— em Bert, mas isso seria baixo. Água benta não irrita a minha pele, alho me faz espirrar durante cerca de horas. Nenhuma destas coisas podem me matar, na real — são só teorias. Eu tenho realmente medo de uma estaca no coração, um
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machado no pescoço, ou um monte de fogo, qualquer um desses. Coisas que eu não precisava me preocupar na minha outra vida cotidiana. Nunca. Qualquer que seja.
Eu circulava pelo corredor em frente à janela aberta, apesar de eu estar tranquila e concentrada em encontrar alguma coisa. Pistas? Pichação rabiscada na parede: — Eu matei Tex Harrison aqui? — Ele deve ter olhado para o piso desgastado comum todos os dias. Agachada passei a minha mão pelo piso gasto.
Meus dedos roçaram em algo que rolou. Eu peguei.
Uma pequena conta vermelha.
Hmmmmm.
Naturalmente, poderia ter caído de qualquer um a qualquer momento. Centenas de crianças passam por este corredor todos os dias. Meu próprio armário fica próximo ao canto direito, no corredor que atravessa.
Ainda assim, eu coloquei a conta no bolso.
Embora sabia que seria muito difícil, eu inalei, tentando ver se algum dos cheiros aqui se destacavam mais forte do que os outros. Espera, um amontoado de cheiros insignificantes, ou seja nada.
Exceção.....Não, realmente errado. Ali avia um aroma marcante. É difícil descrever como funciona o nariz de um vampiro para identificar cheiros, mas se isso ajuda, este cheirava um pouco como a névoa e o luar
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e também como livros antigos. (Eu sei, eu aposto que será realmente útil.)
Quando eu o separei do resto da confusão, eu percebi que era surpreendente forte e ficava mais forte.
Ou....... mais.
Eu fiquei tonta.
Eu não estava sozinha.
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Eu reagi mais rápido que um batimento cardíaco, e este quase parou.
Ele estava na porta de uma das salas de aula, com as mãos atrás das costas. O chão estava salpicado pelo luar, o rosto estava escondido na sombra. Tudo que eu podia ver realmente era sua longa silueta, seu contorno.
Claro que ele estava me observando.
Um longo momento se passou. Ele não se moveu. Eu não me mexi. Oh, eu pensei em me mexer. Pensei em pular para fora diretamente pela janela quebrada. Achei que a queda não me faria muito mal, e então eu poderia correr todo o caminho até em casa.
Mas ele provavelmente já viu o meu rosto, então não seria uma má idéia agir como vampiro agora, como, por exemplo, pular de três andares, sobreviver à queda e correr como um carro. Enfim, eu não poderia ter me movido, mesmo que eu quisesse. Realmente eu estava paralisada de medo. Ele simplesmente estava lá. Ele estava estranhamente silencioso, não reagia quanto a minha presença, eu nunca tinha visto isso antes. Eu não conseguia ouvir nem mesmo a sua respiração ou qualquer ruído. O corredor estava completamente silencioso. Só eu e uma figura sinistra na escuridão.
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Kira, você é um vampiro, eu disse a mim mesmo. Ele não deve ter medo de você? O que ele pode fazer para você? É pior do que estar trancada em um caixão e ser alimentada através de um tubo de alimentação por uma centena de anos?
Mas o meia caminho de dominar meu pânico comecei a lembrar que um criminosos muitas vezes volta à cena do crime, imagens sangrentas do cadáver Tex voltaram a minha —tela de cinema— mental. Tex, que havia sido morto por um vampiro.
Minha mente começou a rodar novamente. Formas de matar vampiros? Como ele fez isso? ELE ESTÁ ESCONDENDO ALGUMA COISA NAS SUAS COSTAS?
Quando ele finalmente se moveu, eu quase pulei da minha pele. Tudo o que ele fez foi dar um pequeno passo a frente, mas surpreendeu-me bastante e eu pulei para trás, batendo no armário atrás de mim, que caiu no chão, e eu fui junto.
Tanto pela graça sobrenatural dos vampiros. Eu sei quando um se movimenta, sei quando um finalmente se move e então.
De repente, ele esta ao meu lado.
— Sinto muito—, ele disse, ajoelhando-se perto de mim, então eu me sentei. — Eu não queria assustá-la.
— Verdade?— Eu disse. —Você é apenas naturalmente terrível?
Agora que ele estava realmente no corredor, pude ver seu rosto, mas não ajudou muito porque eu realmente nunca o tinha visto antes.
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Ele parecia ter a minha idade, agora que estávamos próximos, a pele cor de café, cabelos pretos cacheados e um corpo de bailarino, que eu mencionei apenas porque a sua camisa estava aberta e eu pude ver o seu possante abdômen a cima do seus jeans, o abdômen definitivamente vale a pena mencionar.
Fiquei pensando, — uau — eu espero que ele seja um vampiro! Quero dizer, que eu saiba alguma coisa sobre vampiros — vampiro namorada vampiro, mas só por que é muito complicado lidar com um namorado humano, certo? A menos que ele seja o assassino do vampiro. Quente ou não, eu não namora assassinos.
— Você me surpreendeu, — ele disse, com um pequeno sorriso. Sua voz combinava com seu perfume, uma espécie de mau-humor em camadas, como ele teria se encaixado perfeitamente como um saxofonista em um clube de jazz no ano de 1920.
— Uh, não,— eu disse. —Você me assustou.
— Assustei, — ele disse. — Eu peço desculpas.— A pergunta não formulada entre nós é. Que diabos você está fazendo aqui? Eu teria perguntado, mas estava tentando chegar a uma boa resposta para mim mesmo. Mais um pouco realmente distraída pela forma como os seus olhos eram perfeitos. Se Michelangelo e Rembrandt14 e os diretores de elenco da elite em Hollywood o vissem iriam querer seu rosto nas telas, eles provavelmente começariam por estes olhos. Tipo realmente impossível não olhar sonhadoramente para eles. — Eu sou Daniel, — ele disse.
14 Michelangelo, Rembrandt - pintores renascentistas.
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— Eu sou Kira, — falei, embora no meu torpor eu quase escorreguei e disse o meu nome real, o que eu usava quando ainda estava viva. —Você estuda aqui? E então ele pegou em minhas mãos e ajudou-me a ficar sobre meus pés. Espere, deixe-me ficar mais um momento.
Seu toque, sua mão perfeita e elegante escorregou, agarrou os meus dedos suavemente, e eu levantei em um suave movimento em um segundo, uma das suas mãos já estava longe, antes mesmo de eu reagir para recuperar a maciez e a força dela.
É por isso que eu quase perdi sua resposta, mas sério, então sua mão direita — parecia muito mais importante do que qualquer coisa que ele poderia dizer.
— Sou novo. Amanhã é meu primeiro dia, — ele disse, e definitivamente soltou minhas mãos. Que decepcionante realmente, mas é certo mencionar que ele tinha segurado por um momento mais que o necessário ... ele tinha não? — Oh,— eu disse. — Amanhã. Uau, Sim— Havia alguma coisas sobre esta situação que deu um curto-circuito em minha habilidade para formular frases. — Sim, — ele disse. — Não é bem o esperando comitê de boas—vindas. — Ele fez um pequeno gesto em direção à janela, o que nos lembrou por um momento que estávamos no meio de uma cena de assassinato tarde da noite. Olhamos um para o outro por um momento.
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Eu falei primeiro. — Oh,— eu disse, foi apenas o que me ocorreu, — você deve pensar que é fácil explicar porque estou estou aqui, não é?— Ficou implícito: porque eu acho que você tem uma explicação para estar aqui também. Eu ri nervosamente. — Ok, isso vai parecer loucura, mas ... eu precisava de um livro do meu armário. Ele ergueu uma sobrancelha elegante para mim. —Um livro?
—Sim, — eu disse. —Shakespeare15. Macbeth16. Muito triste. —Sorte minha, não falei de assassinato! — continuei. Murmurando sobre ... bruxas ... e outras coisas. —Você já leu?— Oh, que coisa suave. Inteligente e romântico, tudo em uma só frase.
— A muito tempo atrás—, disse ele com um meio sorriso.
— Bem, nós temos um teste amanhã, e eu tenho que terminar de ler, então eu pensei que não faria mal busca-lo agora.— Eu esfreguei a coxa, me perguntando o que ele pensou ao me ver subindo pela janela e examinando o chão. — Oh,— ele disse. — Claro. Eu pensaria que eles tinham cancelado qualquer teste agendado para amanhã, mas é sempre bom estar preparado. — Sim, — eu disse. —Isso! Preparada.— Só para testes, sim. Nada estranho, encontrar rapazes quentes em corredores iluminados pela lua, não muito.
15 Willian Shakespeare - Escritor inglês.
16 Macbeth - Título da tragédia escrita por Shakespeare entre os anos de 1603 e 1606 e conta a história de um regicídio.
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Havia outra questão. Nos dois poderíamos jogar este jogo. Eu levantei a sobrancelha interrogativamente. Ele riu baixinho. — Tudo bem. Eu tenho que fazer uma confissão. Espere! Assassinato resolvido! Bem, isto estava realmente sendo muito mais fácil do que eu esperava. Wilhelm e Olympia ficariam tão orgulhosos. Supondo que eu consiga sair daqui viva. Bem, você sabe ... —vivo.
— Eu ouvi sobre o assassinato,— Daniel disse, apontando de novo, — e eu estou realmente bastante curioso. E pensei que deveria saber mais sobre minha nova escola. Eu gosto de descobrir as coisas por mim mesmo ... Eu acho que você poderia dizer que eu sou um detetive amador. — Ele coçou a cabeça, parecendo envergonhado de forma convincente. — Agora que você já conhece meu terrível segredo, acha que eu sou desprezível?
Sim, mas não se preocupe, a parte — muito quente — compensa isso. Eu não poderia ter inventado uma história melhor. Parecia muito mais real que a minha, que seja, muito não.
—Não, — eu menti. — Eu aposto que muitos estudantes se conseguissem entrar aqui teriam feito o mesmo. Um ... como você conseguiu entrar? —Através do vestiário dos meninos, — disse Daniel, apontando para baixo. — O bloqueio realmente já estava quebrado, então eu só entrei. Hmmmmmmm.
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Possibilidade um: Daniel realmente encontrou o bloqueio quebrado e entrou, ou ele poderia facilmente entrar se fosse um vampiro. Possibilidade dois: Alguns vampiro mestre, possivelmente, da variedade assassino, conseguiu quebrar o bloqueio mais cedo esta noite e veio até aqui para rever a cena do crime, então eu ouço os criminosos por todo o tempo. Possibilidade Três: É como Tex entrou na última noite — assim como fez o vampiro que o matou. — Não é a forma como você entrou?— Daniel disse inocentemente.
— Um, sim— eu disse. —Claro. Que sorte a minha.
Olhou para as minhas mãos. — Então ... onde está o livro?
—Vou pega-lo justamente agora, — eu disse, tentando olhar tudo casual. Ele me seguiu pelo corredor e em torno do canto para o meu armário. Eu ri sem jeito. — Eu acho que eu queria olhar para a cena do crime, também. —Um companheiro investigador, — disse ele com um sorriso mais uma vez. Eu vasculhei meu armário bagunçado até que eu encontrei Macbeth. O som estridente de uma porta abrindo soou muito alto no corredor vazio. Daniel e eu ficamos muito quietos por um momento, então se ele também ouviu, talvez nós não estivéssemos sozinhos na escola.
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—Vamos sair daqui, — ele sussurrou. Seguiu o caminho para a próxima escada, e caminhou silenciosamente para o andar inferior. Percebi que ele não parecia hesitante sobre onde estava indo, ele passou através da porta, virou à esquerda, e dirigiu-se para a direita para o vestiário. Ou ele tinha um bom senso de direção, ou ele conhecia muito bem esta escola ou melhor do que tinha revelado.
Eu nunca tinha estado antes no vestiário dos meninos, nem quando namorava Zach, rei do atletismo da escola na Geórgia. Para colocar de forma educada, o cheiro realmente... muito forte... diferente do vestuário das meninas. Daniel educadamente manteve a porta aberta para mim, então eu tive a chance de olhar em volta pela primeira vez. Eu localizei uma linha de espelhos sobre as pias, fora de um cubículo. Isso séria útil se eu pudesse ver Daniel num destes .... então talvez fosse o caso, de, por exemplo, descobrir que ele não tem reflexo? Mas chegando mais perto corro o risco de que ele não veja meu reflexo, também.
Eu assisti quando ele, em seguida, seguiu através das bancadas. Ele estava evitando os espelhos como eu fiz? Se for isso, ele agiu de forma casual sobre isso. Fomos em direção à porta que saia para o campo de futebol e eu chequei o bloqueio quebrado. Parecia uma super-força de trabalho, parecia como se alguém agarrou a porta e puxou, rompendo o bloqueio. Lá fora, as nuvens estavam limpando e os raios de luar cortavam todo o campo de futebol em frente de nós. Daniel fez uma pausa no cento de raio prateado e olhou para mim. —Foi um prazer conhece-la, Kira, — ele disse.
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— Sim, você, também. Bem vindo à escola, — eu acrescentei ironicamente. — Geralmente não é muito emocionante aqui. Um — quero dizer horrível. Bom, geralmente não é horrível, é diferente, mas realmente é chato. Um, mas eu tenho certeza que você vai adorar.— Ok, agora pare de falar. — Estou ansioso por isso muito mais agora que te conheci, — ele disse. Um lento sorriso se espalhou em seu rosto. Era realmente um sorriso sexy, um sorriso velas-e-pretinho rendado, o oposto do sorriso polar de Zach, sorriso vamos-la-no-armário. — Vejo você amanhã, então, — eu disse, eu sorrindo de volta.
Ele tocou a testa em uma saudação e começou a se afastar do campo de futebol.
—Daniel, — eu chamei ele tinha dado alguns passos. Ele se virou e olhou para mim, andando para trás. —Será que você encontrou alguma coisa lá em cima? Quero dizer — sobre o assassinato?
Ele sorriu de novo o mesmo sorriso, mas por alguma razão, desta vez, senti calafrios na espinha. — Oh,— ele disse. — Eu tenho algumas teorias. Então, a lua passou por atrás de uma nuvem, e quando ela surgiu novamente, Daniel tinha ido embora.
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Eu passei o resto da noite tentando fazer listas de pistas que me ajudassem a resolver o mistério. Para te dar uma idéia de quão bem isso foi, aqui está o que minha lista —Daniel— pareceu:
DANIEL
 Gostoso
 Gosta de dar uns amassos numa cena de crime à noite
 Realmente gostoso
 Diz que quer ser um detetive
 Ótimo tanquinho
 Começando a escola logo depois do assassinato—suspeito?
 Extremamente, totalmente, notavelmente gostoso
E aqui está outra lista:
CARA SORRIDENTE
 Olhou para a cena do crime muito suspeitosamente
 Também muito gostoso
 Onde esses caras gostosos estiveram se escondendo?
 Muito sorridente para ser um vampiro?
 Um sorriso realmente fofo
 Descobrir o nome… investigar mais… criticamente importante: ótimo tanquinho ou não?
 Tipo, sorriso seriamente fofo
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Então não foi exatamente um trabalho do nível de Nancy Drew17. Talvez você possa dizer que estive presa com Zach pelos últimos seis meses me movendo e escondendo e não conhecendo novos caras gostosos, então estava tendo alguns efeitos colaterais. Eu normalmente não fico tão obcecada com tanquinhos desse jeito. Pelo menos acho que não. Então de novo, minha experiência com o tanquinho de caras gostosos é bastante limitada até agora.
Provavelmente em tipo, um século ou mais, eu serei toda casual: Ah é, tanquinhos, tanto faz—estive lá, fiz aquilo. Eu chequei o blog de Tex de novo para ver o que a última postagem dizia. Rolando de volta, eu vi que ele geralmente postava duas vezes por dia — uma pela manhã para gravar seu café da manhã e exercícios matutinos, e à noite para falar sobre o que mais ele tinha comido, quão totalmente durão ele era, e quais esportes ele tinha assistido naquele dia. Ele postou pela última vez na manhã do dia em que morreu.
Dizia:
Waffles torrados, bacon, e um shake de proteina para o café da manhã. Medi meus bíceps de novo – continuam a mesma coisa de ontem. RUIM. Acho que vou nadar de novo antes da escola. Só porque eu desisti do agora totalmente cheio de fracassados time de natação, não significa que tenho que ficar fora da piscina, certo? Eu acho que vou jogar bola à tarde. Isso deve ser bom para meus bíceps, certo? Huh. Continuo com
17 Nancy Drew é uma jovem detetive amadora de ficção em várias séries de mistério para todas as idades. Ela foi criada por Edward Stratemeyer, fundador da empresa de embalagens Stratemeyer Syndicate livro. O personagem apareceu pela primeira vez em 1930.
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fome. Talvez eu vá ver se há algum resto de pizza na geladeira. Vai Sox18!
Bem, isso não me disse nada, apesar de ter me deixado com fome. Pássaros estavam começando a cantar lá fora, e a pálida luz azul entrando através de minhas persianas me avisou que era madrugada. Eu escondi minhas folhas com pistas na minha escrivaninha e fui lá embaixo para providenciar algum café da manhã. Café da manhã na casa de um vampiro… vamos apenas dizer: suspire.
Okay, preparem-se para uma piada realmente hilária aqui: ser um vampiro é uma merda. Ahahahaha, eu sei, tão esperto. Aposto que você nunca ouviu essa antes.
Mas serio? É uma merda.
Por uma coisa, eu costumava ser vegetariana. Quero dizer, eu tinha sido vegetariana por apenas, tipo, quatro meses quando fui transformada, mas mesmo assim. Eu tive que ir direto de — Paz, odiadores! Vacas são nossas amigas! Deixem as galinhas vivas! Peixes merecem direitos!— para — Oh, sim, obrigada, eu adoraria outro galão de sangue para o almoço. Nham.
E também, sangue é nojento.
Eu costumava me obrigar a beber um copo de suco de laranja todo dia porque pensava que era bom pra mim e isso me ajudaria a ter uma
18 Sox = time de baseball.
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vida mais longa (ha ha ha ha…ha), ainda que eu odiasse o gosto. Bem. Neste instante eu daria qualquer coisa para mergulhar num mar de suco de laranja ao invés de ter que tomar outro gole de um nojento e esquisito sangue de porco gelado.
Mas não tenho escolha. Nós precisamos de sangue todo dia pra viver. Eu tenho que, literalmente, engolir dois copos de sangue toda manhã, só pra atravessar o dia.
Eu tenho tentado disfarçar o sangue19 de muitas formas criativas, da maneira que minha família vampiresca faz—em milkshakes ou por cima de sorvete (altamente não recomendado) ou misturado na omelete ou batido nas panquecas. Mas continua sendo sangue e é horrível e além disso, as panquecas ou o sorvete ou os ovos ficam totalmente arruinados. Então agora eu apenas tapo meu nariz, e ponho pra dentro, e depois como o máximo que posso de outra coisa para me livrar do gosto.
Nos velhos tempos, vampiros obtinham seu sangue de pessoas, é claro. É muito mais excitante e tem um gosto muito melhor dessa forma, e um vampiro precisa fazer isso apenas uma vez por mês pra sobreviver. Mas é difícil ser sutil sobre seis vampiros se alimentando em uma cidade uma vez por mês, além de que, se começarmos, Olympia tem certeza de que não seremos capazes de parar. Então ao invés disso, ela manda Bert sair em caçadas de sangue pela cidades que estão ao menos a duas ou quarto horas de distancia para comprar sangue de animal à granel, o qual mal nos sustenta e é também completamente nojento.
19 No original, não tem “o sangue”, mas é necess|rio na tradução para entender que ela est| tentando disfarçar o gosto do sangue.
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Quando desci, Olympia estava remexendo na geladeira e Crystal estava fatiando tomates. Bert estava sentado na área da cozinha20, colocando sangue em sua vasilha de cereal. Seus óculos de casco de tartaruga estavam empoleirados no nariz dele, e ele estava espreitando o Wall Street Journal. Bert e Olympia gerenciavam nossas finanças de alguma forma misteriosa que envolvia companhias sombrias e estoques de longa data e participações em muitas das grandes corporações21 (Obviamente não esse tipo de participação), então nós temos bastante dinheiro e nenhum dos vampiros adultos tem que trabalhar se não quiserem.
Tenho certeza de que irei apreciar isso uma vez que acabar o ensino médio e poder viver uma encantadora vida de lazer, também. Mas neste instante eu apenas os imagino dormindo em paz o dia todo enquanto eu sofro continuamente com a banda numa quente sala de música que cheira a uniformes de marcha suados, e isso me deixa descontroladamente invejosa.
Eu sentei e olhei melancolicamente pro sangue indo com um gloop-gloop-gloop sobre os flocos de milho do Bert.
— É nojeeeeeeeeeeeeeeeeen-to! — Eu brinquei.
20 É como uma bancada, existente na maioria das casas americanas. http://tinyurl.com/24kf2m4
21 Trocadilho impossível de traduzir. A frase original é: stakes in lots of big corporations (obviously not those kinds of stakes) o significado de stakes é estacas ou participação, por isso os parêntenses. Em português não há trocadilho, mas a tradução seria essa: estacas em um monte de grandes companhias (obviamente não este tipo de estaca).
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É claro, ninguém pegou minha brilhante referencia ao Tigre Tony22, porque nenhuma dessas pessoas jamais viu televisão o suficiente. Bert me deu um olhar enigmático e então voltou pra seu jornal.
Minha mãe teria gargalhado. Eu não acredito que sinto falta dela.
— Hey, Kira, — Crystal disse brilhantemente. — Olympia disse que você está resolvendo um mistério! — Crystal tinha vinte quando morreu, em 1926 — não tenho certeza como, porque em minha casa, nós não falamos sobre como morremos. Exceto por Zach, quem deveria estar embaraçado sobre isso, mas aparentemente não está, já que ele toca no assunto incessantemente. Eu fiquei surpresa por ele se lembrar de todos os detalhes de sua morte; eu mal me lembro qualquer coisa do acidente de carro que me matou.
De qualquer forma, é uma coisa boa Crystal ficar presa aos anos sessenta, porque essa era à década perfeita para ela. Acho que ela espera que isso volte. Ela continua usando camisas estampadas e calças boca de sino o quanto ela pode. Ela tem o cabelo loiro pálido que encaracola em volta de seu queixo, e gosta de ir ao meu quarto e dançar no meio da noite, não importa que tipo de música esteja escutando. Ela vai dançar por qualquer coisa. Como irmã vampira, ela não é má. Certamente melhor do que Apolla, a irmãzinha bem quieta que eu tinha quando viva. Ela tinha dez quando eu morri e era conhecida em nossa casa como — a boa.
22 Tony the Tiger, o mascote do sucrilhos kellogg’s. A referência que ela faz é por que nos comerciais antigos do Kellogg’s, o Tigre faz um barulhinho com a mesma entonação do que ela disse. Quem quiser ver: http://tinyurl.com/d53q8y
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Crystal é meu membro favorito da nova família apesar da animação de madrugada – na verdade, a animação- do- tempo- todo vai provavelmente ficar velho depois de algumas décadas.
— Yup, — Eu disse. — Um mistério. Eeeeba.
Crystal encontrou Bert alguma época durante a Grande Crise de 1929 e o transformou em vampiro depois que eles se apaixonaram. Isso acabou muito melhor para ela do que pra mim com Zach. O que é um tipo de mistério, já que Bert é um nerd matemático certinho e Crystal é um espírito livre doidinho. Eu nunca teria juntado esses dois, mas aqui estamos, tipo, setenta anos depois, e infelizmente eles continuam agindo piegas um com o outro o tempo todo.
Crystal deu um beijo na cabeça de Bert quando se sentou conosco. O sangue matutino dela estava espalhado em três sanduíches tostados de tomate. Eu não pude sequer olhar para eles.
Olympia colocou um copo grande de sangue na mesa ao meu lado. — Você tem certeza que não quer que eu esquente isso pra você? — ela perguntou, como faz toda manhã.
— Não, obrigada, — eu disse. Pode parecer mais com sangue vivo dessa forma, mas quando está quente não posso beber tão rápido e acabar logo com isso.
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— Por onde você vai começar? — Crystal me perguntou, murmurando com excitação. —Você tem uma lista de suspeitos? Você vai interroga-los?
— Não se esqueça daquele que vimos ontem, — Olympia disse.
— Rowan alguma coisa, — eu disse. — Eu sei. Eu pensei em tentar encontra-lo hoje. Crystal, você me ajudaria com minha maquiagem?
— Oooo, sim! — Crystal cantou, saltitando para cima e para baixo.
Não ter mais um reflexo é um grande saco. Você tentar se arrumar pro colégio toda manhã sem espelho. Eu desisti de usar maquiagem na maioria das manhãs esses dias; de outra forma eu teria que acordar Crystal toda manhã para ela fazer isso pra mim. É bem difícil passar lápis de olho quando você não pode nem dizer onde estão seus olhos. Mas eu achei que nessa ocasião seria útil parecer a mais fofa possível — você sabe, se eu fosse sutilmente investigar caras fofos. Não para flertar propositalmente, é claro. Apenas para encontrar pistas e resolver o mistério, sim, senhor.
A boa noticia é, eu ainda posso ver minhas roupas, apesar de no espelho elas parecerem estar flutuando no espaço, o que nem sempre ajuda. Sim, não tem reflexo, mas nossa roupa ainda tem. Quero dizer, por que nossas roupas iriam subitamente não aparecer? Isso não seria
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estranho? Não é como se alguém tivesse sugado o sangue de meus suéteres ou algo assim.
O mesmo é válido para qualquer coisa que colocarmos em nós —brincos, maquiagem etc... Por exemplo, Olympia recomenda que todos nós pintemos os cabelos regularmente. A cor falsa aparece em espelhos, o que é o suficiente pra enganar muitas pessoas. Se fora de seus campos de visão, eles captam roupas e cabelos passando pelo espelho, eles provavelmente não vão notar o rosto e mãos ausentes.
É claro, eu acho que Olympia estava imaginando um bom cabelo castanho ou loiro ou mesmo ruivo pra mim. Ela pinta o próprio cabelo de preto, o que se me perguntarem, é um pouco clichê.
Eu? Eu fui de verde.
Não brilhante, maluco, Kermit Green23 ou algo assim. Eu normalmente tenho um lindo cabelo preto, embora eu usasse luzes todo mês que mantinha meu cabelo em um luminoso castanho brilhante. Mas uma vez que percebi que mamãe não poderia mais me parar, eu deixei crescer o cabelo escuro, então com o cabelo pintado acabou surgindo esse tipo de verde-floresta-escuro. Você não pode localizar o verde imediatamente na maioria das luzes, mas sob a luz do sol subitamente você é tipo, Poof, esmeralda!
Bem, eu acho que é legal.
23 Referência à cor verde do sapo Kermit. http://tinyurl.com/2ef3m2m
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Minha mãe teria um ataque cardíaco. Nós costumávamos ter enormes brigas porque eu queria um piercing de argola no umbigo (o qual eu tenho agora, muito obrigada). Olympia apenas enrugou o nariz para o meu cabelo verde escuro, então encolheu os ombros e disse, — Já vi piores.
Isso bem resume a diferença entre os seus estilos de maternidade.
Depois do café da manhã, Crystal cuidadosamente aplicou o delineador e rímel e batom no meu rosto. Eu tive que ser muito firme com ela quando ela sacou a sombra verde brilhante, entretanto. Ela ama cores vibrantes (eu sei, não é muito vampiresco dela) e ela insistiu que isso iria ficar perfeito com meus olhos. Crystal me disse algumas vezes que meus olhos estão mais verdes do que eram, de um tipo fruta-cor. Eu realmente gostaria de ver isso eu mesma, mas é claro que é impossível. No entanto, eu ainda podia ter muita certeza de que sombra verde brilhante não é o certo.
— Oh, certo, — Crystal bufou. — Eu acho que você está muito linda de qualquer forma.
Ela me ajudou a escolher uma mini-saia jeans, botas pretas de cano alto e meia calça preta e uma camiseta verde justa com uma estampa de panda rabugento nela. Eu coloquei um capuz preto, já que era inicio de outubro e estava começando a ficar frio lá fora. Você sabe como vampiros nos filmes antigos usavam mantos enormes com golas levantadas, tudo muito sinistro? Wilhelm diz que ele costumava usar isso o tempo todo, porque essa era uma ótima forma de esconder o rosto no
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caso de um espelho surgir. Agasalhos com capuz dão no mesmo, como se fossem a forma moderna daquelas capas, elegante e atualizada para vampiros adolescentes do século vinte e um.
— Tão bonitinha, — Crystal proclamou.
— Sério? — eu disse, me virando e tentando descobrir como eu estava. — Tão bonitinha que você me contaria seus mais profundos, escuros segredos para mim? Como, por exemplo, que você arremessou um cara pela janela há alguns dias?
Crystal inclinou a cabeça pro outro lado. — Talvez não tão bonitinha, — ela disse.
— Oh, obrigada.
— Mas se você tivesse alguma sombra verde — ela adicionou esperançosa.
— Vamos, Kira! — Zach gritou do andar de baixo enquanto eu me esquivava de Crystal e agarrava minha mochila de livros. — Nós não queremos perder a grande assembléia matutina!
Ah, cara. A escola tinha uma dessas reuniões no primeiro dia, para que todos pudessem estar juntos e se afligissem sobre algum professor antigo de francês que morreu no verão. Era cruelmente chato quando você não conhecia a pessoa sendo lamentada. Por outro lado, se minha escola de Ann Arbor tivesse feito um desses para mim, estaria
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tudo bem. Eu teria que perguntar para Olympia se eles fizeram; foi ela quem me contou sobre meu funeral e tudo, o qual eu perdi, no qual eu estava ocupada estando realmente morta e tudo mais. Leva alguns dias sendo um defunto antes de um vampiro ressurgir.
Zach e eu chegamos cedo à escola, como sempre, então eu espreitei pelas portas do ginásio enquanto todos os outros entravam e encontravam seus assentos na arquibancada. Eu estava procurando por qualquer um dos meus suspeitos. Eu sabia que eu deveria começar falando com o Rowan — nada poderia ser mais suspeito do que o que ele tinha dito para o pai ontem — mas parte de mim estava esperando que o cara sorridente entrasse primeiro. Ou, você sabe, Daniel…isso seria bom, também.
Eu futriquei pelo interior da minha mochila de livros como se procurasse por algo enquanto todos entravam. Estava muito mais quieto do que nossas assembléias normais; eu ouvi alguns soluços abafados e um monte de sussurros chocados e curiosos. O time de futebol é normalmente o grupo mais barulhento, batendo nas arquibancadas enquanto eles passam, gritando um com o outro através do ginásio. Mas hoje eles estavam subjugados, arrastando os pés com suas cabeças abaixadas. Eu não sou fã de machões24, mas ainda senti pena, vendo-os assim. Tex tinha sido um estúpido25, mas de tudo que ouvi sobre ele, ele tinha sido um estúpido amado por natureza. Não o tipo de cara desagradável com um monte de inimigos, quem normalmente é assassinado, pelo menos na TV.
24 No original, jocks. São atletas que se acham os reis do mundo e abusam da popularidade.
25 No original, doofus. Cabeça dura, meio estúpido com as pessoas, mas mesmo assim, pelo o que dá pra entender com a próxima frase, era bem aceito.
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Poucos minutos antes do sino tocar, eu finalmente ouvi a pisada das grandes botas de combate do Rowan rompendo pela porta. O capuz preto do suéter estava levantado e seus ombros estavam pesarosos. Ele não olhou para ninguém enquanto entrava no ginásio e subia a arquibancada de dois em dois degraus com suas pernas longas e magras. Ele chegou ao topo e sentou, bem distante do chão do ginásio—longe da maioria dos jogadores do time de futebol e líderes de torcida, que estavam sentados nas duas primeiras fileiras, fungando e consolando uns aos outros.
Eu já sabia que minha mais nova amiga na cidade, Vivi, não viria pra a assembléia. Ela tinha me mandado um e-mail noite passada dizendo que estava —muito derrotada- e-destruída— por toda a coisa de assassinato (mesmo que eu tendo certeza de que ela não conhecia muito bem Tex). Seus pais tinham deixado-a ficar em casa pelo resto da semana. Não havia sinal de Daniel ou do cara sorridente, também. Então respirei fundo, subi as arquibancadas, e casualmente me joguei na fileira abaixo, perto de Rowan.
— Se importa se eu sentar aqui? — eu perguntei.
Sua longa franja marrom-avermelhada pairou sobre seu rosto quando ele apoiou os cotovelos sobre os joelhos. Ele empurrou um pouco o capuz para trás para me dar um aceno. Eu o vi reparando em minhas pernas primeiro, então seu olhar se direcionou ao meu rosto.
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Então, eu não sou linda de morrer como Vivi é, mas eu acho—dado meu piercing de bolinha26 esmeralda de bom gosto e minhas feições meio-japonesas e meu notável cabelo verde-escuro-que eu não sou exatamente a mais horripilante adolescente na face do planeta terra.
Mas quando Rowan encontrou meus olhos, ele me deu um olhar que me disse exatamente isso. Na verdade, ele pareceu tão chocado que por um momento eu pensei que ele iria sair gritando pelas arquibancadas ou ter um ataque cardíaco e literalmente morrer bem ali na minha frente. O que faria muito mais difícil conseguir dele uma confissão de assassinato, você não acha?
— Quem…O que…? — Ele gaguejou. Ele realmente começou a se levantar como se fosse fugir.
— Whoa, o que há de errado? — Eu perguntei, tocando o ombro dele. — Você está bem? — Eu tinha descoberto, em minha limitada experiência, que tocar em um cara suavemente de jeito quase-flerte não ameaçador é uma boa forma de fazê-lo ficar parado. Isso totalmente funcionou dessa vez, também. Então, de novo, o principal era tocar o microfone dele ao mesmo tempo, então possivelmente Rowan apenas queria evitar fazer uma cena. Mas vamos presumir que fui eu.
Ele se sentou de novo, colocando uma mão no peito estreito e respirou fundo duas vezes. Talvez estivesse apenas surpreso por encontrar uma garota falando com ele. Ele parece uma pessoa que mantem tudo pra si mesmo; garotas bonitas provavelmente não falam
26Não soube como colocar a tradução. Basicamente, são aquelas bolinhas colocadas no nariz.
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muito com ele. Ou mesmo garotas semi-bonitas como eu. Talvez tenha sido isso o que o assustou.
A pele dele estava realmente pálida, mais que a da Vivi, e ela é uma ruiva natural que parece ter sido feita de porcelana. Os olhos de Rowan eram de um interessante azul-escuro, como o céu da noite um pouco antes das estrelas aparecerem. Se eu pintasse meu cabelo de azul no lugar de verde, iria provavelmente acabar ficando dessa cor. E os cílios dele eram realmente surpreendentemente longos. Eu meio que queria tocá-los para saber se eram de verdade, mas é claro que não fiz isso. Ele me encarou por um longo momento, os olhos dele alternando entre meu cabelo e meus múltiplos brincos até meu esmalte verde brilhante.
— Eu te conheço? — ele finalmente perguntou, em sua voz suave e melosa.
Aquilo me surpreendeu. — Eu acho que não, — eu disse. Uh—oh. Talvez o radar vampiresco dele estivesse muito melhor que o meu. Ele poderia dizer que havia algo inumano sobre mim? Estaria ele temeroso de eu estar aqui para expô-lo? Ou será que nós fomos ao mesmo acampamento quando éramos crianças ou algo assim? Eu não o reconheci, mas ele pode ter me conhecido quando eu era Phoebe Tanaka.
Rapidamente, eu disse, — Eu sou Kira. Kira November. — Nós escolhemos novos nomes como vampiros, obviamente, ou alguém do nosso passado poderia nos encontrar algum dia enquanto surfava na internet ou algo do tipo. Zach, por exemplo, costumava ser Cash. Nós estávamos
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presos com o sobrenome November (escolha de Olympia há muitas décadas), mas eu escolhi Kira.
— Kira, — Rowan ecoou, parecendo confuso. — Você me parece familiar.
— Você provavelmente me viu pela escola, — Eu disse. — Ou talvez porque eu pareça com a atriz de Garota Samurai. Eu escuto muito isso. — Claro, num mundo dos sonhos. Mas eu não queira que ele ligasse os pontos se ele sentiu minha vampiressencia.
— Eu não — ele começou, mas aí o diretor começou a falar, e eu disse — Shhhh, — esperando que ele esquecesse tudo sobre isso quando a assembléia acabasse.
O diretor Lovato ficou um tempão falando sobre como o Tex era um cara direito e que tesouro ele era pra escola e o quanto todos gostavam dele e como o sorriso dele iluminava os corredores. Isso realmente soou como se ele conhecesse a pessoa da qual estava falando, ao invés de inventar coisas sobre algum estudante que ele não conseguia lembrar. Eu acho que ser o quarterback estrela rende alguns elogios decentes. Muitas líderes de torcida na primeira fila estavam soluçando, o rímel delas escorrendo pelos seus rostos.
Eu tirei um caderno da minha mochila, abri numa página em branco, e escrevi, você conhecia Tex? No topo, então passei pro Rowan.
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Ele olhou pra o meu caderno por um longo tempo, como se aquilo fosse uma aranha que tinha apenas pousado no colo dele. Mas finalmente pegou minha caneta e escreveu, não.
Tudo bem, Sr. tagarela.
Eu peguei a caneta de volta, deixando meus dedos levemente roçar nos dele. E escrevi, Nem eu. Nós acabamos de nos mudar pra cá, a um mês, da Florida. Olympia constrói historias pra gente (e produz documentos feitos mágica) toda vez que nos mudamos. Normalmente não muito diferente da nossa história verdadeira, então fica fácil lembrar.
Depois de outra longa pausa, ele pegou a caneta de novo e escreveu, O mesmo. Dois anos atrás. Da Califórnia.
Califórnia! Eu escrevi. Eu nunca estive lá. Então não há chances dele me conhecer como Phoebe. Legal. Que parte?
Pausa dolorosamente longa. San Francisco.
Oh, escrevi. Montanhoso. Certo?
Dessa vez ele só suspirou.
Bem. Isso estava indo as mil maravilhas. Eu poderia dizer que profundos, escuros segredos estavam prestes a aparecer a qualquer segundo.
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Eu percebi que ele ainda não tinha se apresentado. Qual é o seu nome? Eu escrevi. Ele não poderia responder aquilo com um suspiro.
Rowan.
Tudo bem. Agora eu sabia quase o mesmo que sabia quando sentei ali. Talvez fosse a hora de tentar uma abordagem mais direta.
Pobre Tex, eu tentei. Eu fiquei tão chocada quando chegamos à escola ontem. Você viu o corpo?
Ele tocou a pagina com seus longos dedos, encarando meu manuscrito. Depois de um momento, eu cutuquei a caneta na mão dele e ele escreveu, Que corpo?
Hum. Cerrrrrrrto.
O de Tex, eu escrevi.
Não, ele escreveu rapidamente. Sim. Na verdade, não.
Pausa. Eu tirei a caneta de perto dele.
Muito sangue, huh? Eu observei seu rosto rigorosamente enquanto ele lia aquilo, procurando por uma expressão que poderia dizer, — É, eca,— ou —Hummm, fome— ou —Simmmmm, eu fiz aquilo.
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Mas a expressão dele não me disse nada muito claro. Ele apenas encarou a pagina como se estivesse vendo através dela.
Eu nunca tinha visto um cadáver antes, eu tentei.
Quase imediatamente ele agarrou a caneta de minhas mãos e escreveu, Eu escrevi um poema sobre isso.
Então ele realmente era um poeta. Olhe pra mim, toda perspicaz. Eu tenho esse caso rachado em nenhum momento27.
Eu posso ver seu poema? Eu escrevi.
Ainda não. Não está acabado.
Como se chama?
Em letras pontudas, ele escreveu uma palavra: SANGUE.
27Ela diz exatamente isso. No original, “I’d have this case cracked in no time”. Mas é no sentido de que ela não fez besteira em nenhum momento, agiu certinho com as ‘investigações’.
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Bem, meu trabalho aqui está acabado, eu pensei. Eu estava prestes a agarrar seu pulso e confirmar que ele não tinha pulso, quando a assembléia repentinamente acabou. Rowan se colocou de pé imediatamente, mas ele não podia dar o fora sem pisotear um monte de gente, então ele estava preso ali por um momento.
— Prazer em conhecê-lo, Rowan, — Eu disse, me levantando e afastando o caderno. Eu tentei perece bonitinha e disponível28 e não toda apavorada, — Talvez possamos almoçar juntos qualquer hora.
Dessa vez eu finalmente consegui uma reação masculina dele: ele corou e enfiou as mãos nos bolsos de modo estranho.
— Sério? — Ele disse. — Você quer comer comigo?
— Claro, — Eu disse. — Talvez você possa me mostrar sua poesia ou algo assim.
— É, tudo bem, — ele disse. — Se você realmente quiser ver. Não é muito boa. Minhas fotografias são melhores.
28No original, flirty, é alguém que flerta.
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— Oh, eu amo fotografia, — eu disse, dando pra ele meu sorriso mais vencedor.
Você sabe como nos filmes (pelo menos, nos filmes do Jake Gyllenhaal29, que seriam tudo que eu assistiria se eu tivesse escolha) há sempre aquele momento quando você vê o herói encarando a heroína com aquele olhar intenso, desejoso e profundamente significativo nos seus olhos?
Na vida real isso meio que te pega de jeito. Eu esqueci completamente que havia estudantes tropeçando e batendo na arquibancada a nossa volta. Foi como se Rowan e eu fossemos as únicas coisas tridimensionais contra um plano de fundo. Ele deve ter sentido isso também, porque o seu constrangimento pareceu desaparecer. Ele estendeu o braço e arrastou os dedos levemente do meu rosto ao meu queixo.
— Talvez eu possa fotografar você, — ele disse suavemente.
Estaria eu sendo hipnotizada? Estaria ele jogando truques vampirescos em mim? Seria isso ao menos possível, um vampiro hipnotizar outro vampiro? Eu não fazia idéia. Talvez ele seja apenas um cara normal estranhamente convincente com olhos realmente maneiros. Talvez eu não tivesse tido o suficiente no café da manhã, e é por isso que estava me sentindo levemente tonta...
29 Jacob Benjamin "Jake" Gyllenhaal – ator.
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Alguém pulou arquibancada abaixo e esbarrou em Rowan, e ele deixou sua mão cair rapidamente. — Te vejo por aí, — ele murmurou, abaixando a cabeça. Encolhendo os ombros de novo, ele correu dentro da multidão.
Bem.
Resolver esse mistério não foi uma tarefa ruim, afinal. Tirando o fato de um desses garotos totalmente fofos serem também um assassino, é claro. A folha de pistas de Rowan poderia dizer —olhos maneiros e alma potencialmente sensível, — mas também diria —Poesia sobre sangue... Estranho? SIM.
Eu ainda estava atordoada quando cheguei à minha aula de história, mas todos estavam surtados pela assembléia, então Sr. Wright apenas nos deu um capítulo para ler e sentou na frente da sala nos assistindo com simpatia falsa e expressão fajuta de —Fale comigo se precisar.
E então, cinco minutos depois, Daniel entrou.
Ele estava ainda mais bonito na luz, embora hoje estivesse usando uma camisa cinza de mangas compridas que escondia aquele abdômen, o qual eu não aprovei. Ele deu uma nota para o professor, sondou a sala, e me avistou. Ele sorriu daquele jeito lento e encantador e me deu uma piscadela. Eu vi umas duas líderes de torcidas se virarem para ver pra quem ele estava piscando. Aparentemente o luto por Tex não iria pará-las de manter um olho no novo garoto gostoso e qualquer fofoca potencial.
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Eu estava sentada na fileira do fundo, principalmente porque ficava fora do caminho da luz do Sol que entrava pela janela. Então aconteceu de ter uma mesa vazia ao meu lado. Se ele sentasse ali, isso seria por minha causa? Ou ele estaria apenas evitando o sol, também?
— Classe, — O professor disse, — Deixe-me apresenta-los ao nosso novo aluno, Daniel Marvel. É um dia difícil pra começar aqui, então espero que todos vocês o recebam muito bem.
Sim, por favor, eu pensei. Eu gostaria de recebe-lo muito bem.
— É tão esquisito, — disse Sr. Wright, entregando o pedaço de papel de volta para Daniel. — Normalmente temos um pequeno aviso sobre novos estudantes. Eu não tinha idéia de que você estava chegando.
Daniel suspirou. — Foi o que o diretor disse, — ele disse inocentemente, — Mas meus pais deixaram bem claro a minha transferência para a escola há um mês.
Oh, eles transferiram? Eu me perguntei. Ou alguém, ahem, se esgueirou para dentro da escola noite passada e te colocou aqui? Seria esse o real motivo para ele estar aqui no meio da noite? Mas se ele tinha matado Tex, por que estaria passeando por aí depois? Certamente a maioria dos vampiros não tem de continuar indo pro colégio uma vez que eles têm, você sabe, tipo, cem anos. Eu não ligo se continuo parecendo ter 16; um diploma é tudo que pretendo ter.
— Huh, — Disse Sr. Wright. — Tudo bem, sente-se.
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Daniel passeou pelo corredor e escorregou pelo assento bem ao meu lado. Cabeças loiras à frente se viraram e pescoços se esticaram para olhar para ele. Eu mencionei o quão gostoso ele é?
— Olá, — Ele disse para mim.
— Oi, você — Eu disse. – Você perdeu a reunião esta manhã.
— Formulários, — Ele disse, flexionando as mãos. – Parece ter um monte muito ruim deles. Eu acho que certo conselheiro chefe não queria que minha primeira experiência no colégio envolvesse um funeral.
— Se considere com sorte, — eu disse. — Foi longo e trágico. Eu posso ver seu horário?
— Shhh, — disse Sr. Wright, meio desanimado.
Daniel tirou um pedaço de papel do seu caderno e passou para mim. Todos os movimentos dele eram graciosos, como os de um gato ou uma pantera ou um dançarino bem treinado.
Eu corri meus olhos pelo horário dele.
Ele estava em cada uma de minhas aulas.
Eu lancei um olhar pra ele. Ele estava olhando para o livro de história, encostado na cadeira calmamente como se isso fosse o lugar mais natural no qual ele poderia estar.
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Era uma coincidência? Ou ele tinha feito isso de propósito? Talvez eu estivesse vendo coisa demais. Pelo menos uma líder de torcida e uns caras da seção de sopros30 da banda estavam em todas as minhas aulas, também. Certamente isso acontece todo o tempo.
E Daniel não poderia ter mudado o horário dele ontem à noite depois de me encontrar, porque deixamos a escola juntos.
Certo?
Nós ficamos quietos pelo resto da aula, mas quando o sinal tocou, eu me inclinei e disse, — Quer ouvir algo louco? Nós temos exatamente os mesmo horários.
Ele me deu aquele sorrisinho torto. — Isso parece muito oportuno. Isso quer dizer que você pode me levar para — ele olhou o horário dele — Física?
— Tristemente pra você, sim, — Eu disse. Nós recolhemos nossos livros enquanto eu falava para ele sobre nosso distraído professor de física. Quando nós descemos o corredor juntos, ele permaneceu bem ao meu lado, e algumas vezes o braço dele roçou o meu enquanto nós desviávamos em torno de hordas agitadas.
Isso pareceu tão normal que você quase poderia esquecer toda a coisa de se-encontrar-em-um-corredor-numa-cena-de-crime.
30Ficou meio confuso, mas ela quis dizer uns caras que tocam instrumentos de sopro.
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Falando sobre isso, eu ainda tinha um suspeito pra tirar do meu cartão, e eu nem sei o nome dele ainda. Parte de mim pensou, dois caras misteriosos dos sonhos não é o bastante para você investigar? Mas eu não podia me livrar do sentimento de que precisava saber mais sobre o cara sorridente. Não por causa do sorriso fofo, imagine você. Não, não, não. Eu estava interessada na forma como ele olhou para a cena do crime. Certamente aquilo pede uma investigação mais profunda.
E então finalmente, no fim do dia, eu o vi.
Eu tinha acabado de deixar Daniel no armário dele, que ficava no primeiro andar, porque todos os armários de calouros normais no andar de cima estavam ocupados. Eu estava indo em direção à saída dos fundos da escola, esperando que se fugisse por aquele caminho e fosse pelo cemitério, eu estaria em casa antes de Zach. Ele estava sempre tentando ir pra casa comigo, mas eu normalmente conseguia enganá-lo.
Entre o prédio principal do colégio e os prédios do refeitório e do ginásio, há um pequeno pátio com bancos e árvores e mesas onde os veteranos costumam almoçar. Para a minha sorte, Vivi prefere comer lá dentro por causa de sua pele delicada e sensível às queimaduras de sol—outra razão de eu ser sua amiga.
Aconteceu de eu dar uma olhada para fora enquanto passava, e lá estava ele: Sr. Sorriso, sentado em uma das mesas e zoando com dois caras loiros e musculosos.
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Eu parei na porta para o pátio e reapliquei meu gloss, observando-o furtivamente. Isso era um mau sinal—ou um bom sinal, eu suponho, dependendo se eu queria que ele virasse um vampiro assassino ou não. Ele estava sentado bem de frente para o Sol, o que parecia uma coisa bem não-vampirica para se fazer, a menos que seu protetor solar vampírico supercarregado fosse bem mais poderoso que o meu. Seus óculos escuros estavam puxados em sua cabeça, contendo suas mechas encaracoladas de cabelo negro, e eu pude ver faíscas douradas em seus olhos castanhos. As mangas de sua camisa soltinha estavam enroladas, revelando braços tonificados.
Como eu iria conhece-lo? Eu poderia apenas passear até lá e dizer oi, mas (A) Luz do sol, e (B) isso não o faria suspeitar? Tipo, porque uma garota louca está falando comigo? Oh, e também, puxa, a luz do sol perece deixa-la tonta… Hmmm.
O que eu realmente queria era uma forma para nós nos —tronbassemos — você sabe, como em um filme, onde o herói e a heroína acidentalmente se trombam e é hilário, e então é claro, eles se apaixonam. Exceto, é claro, que pularíamos a parte —se apaixonam— se o Sr. Sorriso acabar gostando de morder pessoas ferozmente e arremessa-las pelas janelas.
Eu escutei com minha audição de vampiro, esperando que algo me desse uma ideia.
— Tudo bem, vou pra casa, — disse um dos caras loiros. — Precisa de carona?
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— Claro, — disse o outro cara loiro.
— Nah. Valeu, entretanto. Eu trouxe meu carro hoje, — disse o meu cara. Ele tinha um sotaque! Um sotaque fofo, tipo britânico—talvez Australiano ou Sul Africano. — Eu acho que vou dar mais umas voltas antes de ir.
Voltas? Tipo pelo trajeto31? Isso não ia me ajudar. Havia mais Sol ainda lá fora.
— Você é uma máquina, — o primeiro loiro riu. — Meus braços estão doloridos demais depois dessa manhã.
Braços? Quem corre por aí com os braços?
— É, mas isso é porque você é um bunda-mole, — meu cara disse gentilmente. Ele tropeçou quando o primeiro cara o empurrou da mesa.
— Um dia vou colocar formigas na sua sunga, aí você finalmente vai perder a pose, — o segundo loiro provocou.
Ahá.
Eles estavam no time de natação!
Algo remexeu em minha memória. Tex tinha mencionado o time de natação em seu último post no blog. Algo sobre como ele desistiu da
31Esse “trajeto” é referente { pista de corrida. Estava exatamente assim em inglês, por isso a tradução.
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natação — o que significa que esses caras provavelmente o conheciam. Agora eu tinha ainda mais razões para conhecer o Sr. Sorriso.
E eu sabia exatamente como fazer isso.
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Eu ouvi dizer que Luna High tinha uma piscina coberta em algum lugar (uma piscina ao ar livre em Massachusetts não seria a coisa mais útil), mas eu ainda não tinha visto. Meu plano só funcionaria se não houvesse espelhos e ninguém mais estivesse por lá, então eu tinha que chegar antes que o Sr. Sorriso chegasse.
Eu o deixei quando ele disse tchau aos seus amigos, e eu me apressei pelo longo corredor até o ginásio, passando pelos vestiários masculinos e femininos. Luna High é muito maior, se você me perguntar, mas Olympia gosta de viver em lugares onde nos misturamos na multidão. O ginásio era enorme, com uma academia e uma parede de escalada e quadras de tênis e todo tipo de coisas sem sentido que só tinham adicionado mais sofrimento para mim quando eu era uma adolescente normal. Ter a força de um vampiro faz a aula de educação física muito mais suportável.
Aparentemente a maioria dos esportes pós-aulas tinha sido suspensa em honra de Tex. Havia alguns estudantes no ginásio, mas ninguém prestou atenção em mim quando eu passei e desci as escadas para a área da piscina. Janelas enormes tinham uma vista ótima do ginásio para a piscina, mas era improvável alguém olhar para elas hoje. Um aviso na porta dizia que as horas normais da piscina estavam canceladas também.
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Fiquei aliviada por encontrar a piscina deserta. Água de um azul turquesa perfeito se alongava na minha frente, dividida em seis raias. Equipamentos brancos e limpos estavam estocados em volta da piscina, e a arquibancada esperava inexpressivamente. Estava bem quieto, com apenas alguns barulhos vindos do lado de fora de pessoas e carros.
Nada de espelhos, e as únicas janelas ficavam no teto, então a sala estava clara, mas não havia luz direta do sol acertando a piscina ou o chão em volta dela. Um lugar perfeito para vampiros atletas. Eu deveria falar isso para Zach, eu pensei. Ele sentia falta de ser um machão32 no colégio, e a maioria dos esportes estava fora de cogitação pelo fator da forte luz solar. Talvez ele pudesse entrar para o time de natação. Se ele algum dia parar de ser um idiota, eu vou mencionar isso.
Duas portas de cada lado das escadas iam até o vestiário. Eu larguei minha mochila de livros nas escadas e colei o ouvido na porta que dizia GAROTOS.
Depois de um tempo, eu ouvi passos lá dentro. Como esperava, o Sr. Sorriso tinha atravessado o vestiário masculino… assumindo que era ele. Eu realmente esperava que fosse ele. Eu não queria desperdiçar esse encontro extremamente fofo com um cara aleatório.
Em algum lugar lá dentro, um armário bateu. Ele viria logo.
Eu corri ate a piscina, penteando meus cabelos com os dedos. Ai de mim, minha pobre roupa. Era melhor isso valer à pena. Eu comecei a
32De novo, Jock. São os atletas que abusam da popularidade.
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andar na beira da piscina, olhando fixamente pra água azul. Eu podia ver bem abaixo os azulejos brancos nos fundo.
A porta do vestiário rompeu atrás de mim.
— Oh, com licença —olá? — Esse era exatamente o sotaque fofo pelo qual eu estava esperando.
Virei-me com um pequeno grito de surpresa, eu o vi em pé na porta, e prontamente caí na piscina.
Estava muito mais gelada do que eu esperava. Eu esqueci completamente o cara por um minuto enquanto todo meu corpo tremia —AI, MEU DEUS! CONGELANDO!— Eu bati meus braços e fui afundando enquanto água entrava pelo meu nariz. Vampiros não se afogam—nós sequer precisamos respirar, embora a maioria de nós continue respirando, instintivamente. Mas ainda podemos, aparentemente, ter água entrando pelo nariz. De alguma forma isso não foi tão romântico quanto eu esperava.
Até que de repente… houve outro splash, e então um par de fortes braços morenos me agarraram. Eu me senti pressionada contra o calor de seu peito nu enquanto subíamos para a superfície. Eu coloquei meus braços em volta do pescoço dele e segurei. Meu rosto perto da sua clavícula.
Nós surgimos na superfície perto da borda. Ele manteve um braço em volta de minha cintura e agarrou a parede com sua outra mão.
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Relutantemente, eu soltei uma mão e fiz o mesmo. Agora estávamos nos encarando. Os lábios dele estavam a apenas alguns centímetros dos meus, e agora ele estava me dando àquele adorável sorriso que eu tinha na cabeça desde ontem.
Fora o fato de agora eu estar morrendo de frio e minhas roupas totalmente ensopadas, isso foi exatamente como eu esperava.
— Você está bem? — Ele perguntou.
Eu acenei. — A-a-apenas b-b-b-brrrrr— certo, talvez os dentes batendo não fossem precisamente parte do plano.
— Há uma escada bem ali, — ele disse, pegando minha mão e me levando alguns metros pela parede. Ele me guiou até os degraus e eu subi, tremendo. Ele esperou bem atrás de mim e correu para uma pilha de toalhas vermelhas e douradas pela parede. Ele agarrou algumas delas, e trouxe para mim. Eu estava tentando pentear meu cabelo em algo apresentável quando ele surgiu atrás de mim e enrolou a toalha em meus ombros. De alguma forma ele continuava quente. Eu desejei que ele continuasse com seus braços em volta de mim. Mas ele moveu sua mão para meus braços e os esfregou por cima da toalha… o que era bom, também.
— Você vai se sentir melhor num minuto, — Ele disse. — isso foi absolutamente espetacular.
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— Oh, bom, — Eu disse, devolvendo o sorriso dele. — Espetacular é o que eu ia passar. —Ele me guiou até um banco e nós nos sentamos, mas ele continuou esfregando meus braços. Esse foi francamente o melhor sentimento que tive desde os últimos dias com Zach.
— É, eu te dou um 9,5, — ele disse. — Eu tenho que tirar meio ponto por não usar o trampolim, é claro.
— Bem, eu devo tudo isso ao meu ótimo treinador, — Eu disse com um olhar penetrante. — Os métodos dele envolvem me dar o maior susto.
— Desculpe, — Ele disse, parecendo culpado. — Eu não achei que haveria alguém aqui. Você não deve nadar sem um salva-vidas, sabe.
— Eu não ia nadar, — eu disse. — Isso definitivamente não estava na minha agenda. — Eu acenei com a minha mão para minhas tristes, encharcadas roupas. — Por outro lado, você parece que estava prestes a quebrar essa regra.
Ele estava usando uma sunga vermelha escura e nada mais. Essa foi definitivamente uma boa forma de conhece-lo... E os braços dele... E os ombros... E seu peitoral….
— Pego, — Ele disse, esfregando a toalha no cabelo com um sorriso encabulado. — Eu imaginei que algumas voltas não iriam machucar, mesmo o salva-vidas não estando aqui. Em um dia como hoje, os técnicos tem coisas maiores para se preocuparem.
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— Sou Kira, — Eu disse.
— Milo, — Ele disse, me oferecendo sua mão. Ele não era muito alto—apenas alguns centímetros mais alto que eu— mas suas mãos eram surpreendentemente grandes e fortes. Milo, eu pensei enquanto os dedos dele rodeavam os meus. Finalmente um nome pra acompanhar o sorriso.
— Você é nova aqui? — Ele perguntou.
— Sim, — Eu disse. — Nós acabamos de nos mudar da Flórida nesse verão. Eu pensei em dar uma olhada na piscina enquanto não havia ninguém em volta, mas eu não pretendia fazer uma inspeção tão próxima.
Ele sorriu — Bem, da próxima vez não se esqueça de usar suas bóias.
— Ei! — Eu disse indignada. — Só para você saber, eu sou uma nadadora muito boa.
— Oh, claramente, — Ele provocou.
— Oi, botas! — Eu disse, apontando para elas. — E também, eu estava surpresa! — Ele começou a rir e eu bati em seu ombro. — Você deveria estar me pedindo perdão, não gozando da minha cara.
— Eu imploro pelo seu perdão, — Milo disse. — Como você poderá me perdoar?
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— Bem, o resgate heróico ajudou, — Eu disse, tirando minhas botas e tirando a água delas. — Se tiver alguma forma de você me secar para eu poder ir pra casa, isso também te daria alguns pontos.
— Eu tenho uma camisa extra no meu armário, — Milo disse. — Apesar de eu ter usado ontem — você se importa?
— Não se estiver mais seca do que esta aqui, — Eu disse, levantando a barra da blusa e torcendo. Gotas d’água rebateram no chão. Eu totalmente o flagrei notando meu piercing de argola. — Eu provavelmente posso me arrastar33 para casa com isso, — Eu disse, cutucando minhas botas. – É só uma caminhada de vinte minutos. — Eu acrescentei, com um suspiro desamparado.
— De maneira alguma! — Milo disse, bem como eu esperava. — Deixe-me leva-la. Eu tenho um carro.
— Você tem um carro? — Eu disse, fingindo um desmaio. — E uma camisa seca? Onde você esteve se escondendo durante toda a minha vida?
Ele riu. — Provavelmente na piscina. Vamos pegar minha camisa. Não há ninguém no vestiário masculino, não se preocupe. — Ele se levantou e me ofereceu sua mão. Eu a peguei, me sentindo quente e confusa, e não só por causa da toalha felpuda enrolada em volta dos meus ombros. Nós andamos pela beira da piscina até a porta dos
33Ela diz “I can probably squeak home in these”. O verbo squeak significa grunhir, ranger, chiar, então é uma referência ao barulho dos sapatos molhados.
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vestiários. Eu me perguntei se ele podia sentir meu sorriso irradiando por todo o meu corpo. Isso era ridículo. Eu tinha acabado de conhecer o cara. E eu também tinha Daniel e Rowan para pensar. Então por que eu achei Milo tão fofo? Só porque ele me fez rir?
Enquanto nós empurrávamos a porta e entravamos no vestiário, algo me fez olhar para as janelas da piscina, e um arrepio percorreu minha espinha.
Eu não tinha certeza — mas por um momento eu pensei ter visto um vislumbre de alguém em pé na janela, observando a piscina.
Observando-nos.
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A porta se fechou atrás de nós antes que eu pudesse dizer que tinha visto alguém olhando a piscina, ou mesmo se realmente vi o que pensei que tinha visto. Se estivesse certa, era alguém alto, um cara, eu tinha certeza. Espero que não seja Zach me perseguindo na escola novamente. Por outro lado, pelo menos eu estava acostumada com isso... Alguém novo me perseguindo seria muito mais assustador.
—Bem-vinda ao nosso esconderijo secreto, — Milo disse com um sorriso, acenando para as paredes de azulejos verdes ao nosso redor. —Eu prometo não contar a ninguém que esteve aqui se você prometer não revelar nossos segredos nefastos.
—Tal como o fato do seu vestiário parecer exatamente como o nosso? — Eu brinquei. — Exceto que os nossos armários são amarelos.— Os armários aqui eram vermelhos. Eu podia ver a porta na outra extremidade, levando para o armário dos principais caras. Eu fiz um check-in instintivo, sem espelhos. Havia um espelho na sala das meninas de diferença, mas aparentemente, os rapazes não precisavam verificar suas roupas obsessivamente da forma como fazemos. Pelo menos, quem construiu o lugar pensava assim.
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Milo girava a combinação no seu armário e tirou uma pálida camiseta laranja. Ela era suave como um ursinho de pelúcia e cheirava a canela, sol, tangerinas e roupa limpa.
— Estes, também, se você não está muito horrorizada para usá-los — ele disse, tirando um par gigante de chinelos vermelhos com o logotipo da escola LHS em ouro.
— Eu acho que ser capaz de andar vale a pena por uma pequena crise fashion,— disse.
Milo, cavalheiro, virou-se e cobriu os olhos enquanto eu tirava minha calça e camisa molhada. Os chinelos ficaram enormes nos meus pés, mas era melhor do que ir descalço. A camisa também ficou muito grande em mim, mas muito acolhedora e confortável.
— Ok—, eu disse quando era seguro para ele se virar novamente. Ele escondeu um sorriso e eu enruguei meu nariz para ele. —Você não pode rir de mim, estas são as suas roupas.
— Essa camisa parece muito melhor em você do que de mim, — disse ele galantemente (e, tenho certeza, inadequadamente). Ele chegou a escovar meu cabelo para trás do meu ombro e depois parou. Ele pegou uma mecha do cabelo e piscou para ele. — O seu cabelo é verde?
— Não!— Eu disse, parecendo chocada. —Uau, o cloro na sua piscina deve ser muito forte!
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Ele parecia tão preocupado, que eu quase caí de rir.
— É brincadeira, — disse ele, cutucando meu braço. —Eu nunca conheci alguém com cabelo verde antes. — Dei de ombros. — Eu pensei, escola nova, novo eu. — Juntei minhas roupas molhadas e botas em um saco plástico, enquanto Milo se vestia.
—Eu sei o que quer dizer,— disse ele. —A última vez que mudei foi quando eu decidi sair para nadar. Antes eu estava seriamente focado em violão, e antes disso, tae kwon do34.— Nós fomos para a saída, de volta através da sala de bilhar.
— Uau, realmente?— Eu disse. —E você os deixou para trás cada vez que se mudou?— Isso é uma coisa de vampiro? Eu poderia fazer isso também... na próxima escola, entrar para o time da escola... depois disso, na próxima, tornar-me uma patinadora no gelo... eu poderia tentar um monte de vidas diferentes e ver qual eu mais gosto. Apesar de isso significar reviver o ensino médio outra vez, então não importa.
— Não se preocupe, — disse ele. —Eu mantive as coisas realmente importantes, como a minha coleção de quadrinhos. — Ele estremeceu e deu um tapa na testa. —Agora isto está no top das dez coisas para contar a uma linda garota quando você se encontra com ela, não é?
34 Taekwondo é uma arte marcial coreana e que o esporte nacional da Coréia do Sul. Como muitas outras artes, que combina técnicas de combate, defesa pessoal, esporte, exercícios, meditação e filosofia.
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Eu sorri de alegria. — Pode-se dizer que ela é atraente, ao mesmo tempo.
Ele parecia que não conseguia parar de sorrir mais do que eu podia. Peguei minha mochila quando subimos as escadas e saímos através do ginásio vazio no estacionamento. Se alguém realmente tinha estado nos observando mais cedo, ele se foi agora.
O carro de Milo era essa coisa minúscula, desgastado e enegrecido com coisas espalhadas por todos os lugares. No banco de trás, avistei papéis amassados e vários livros de ficção científica, incluindo um com um par de presas na capa. Investigação sobre sua própria espécie, ou apenas um da recente onda de romances de vampiros?
Milo mergulhou no banco do passageiro e começou a atirar coisas para trás. Notei que não havia nenhuma embalagem de alimento, o que era bom (o carro de Zach costumava ser cheio de sacos amarrotados do McDonald's). Milo só tinha um monte de garrafas de água, a maioria delas pela metade. Ele atirou um par de óculos e uma toalha de praia para trás e ficou de lado.
— Desculpe a bagunça, — disse ele com tristeza.
— Tudo bem, — eu disse. —Talvez eu devesse sentar na toalha, na verdade, minha saia ainda esta bastante molhada.
— Quem se importa com o estofamento,— declarou ele, — Quando milady está ao meu lado?
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Eu ri. — Tudo bem, eu pego ela — Debrucei-me sobre o assento e agarrei a toalha, dando uma visão muito intencional a Milo das minhas pernas. Eu esperava que não fosse minha imaginação que ele parecesse um pouco mais deslumbrado quando me virei.
Ele fechou a porta delicadamente atrás de mim e correu para o lado do motorista. Eu disse-lhe o meu endereço quando ele ligou o carro.
— Ooo, a parte assustadora da cidade,— disse ele.
— Há uma parte assustadora?— Eu disse.
— O que é mais importante, há uma parte não-assustadora, — disse ele. — Posso te pagar um sorvete antes de te levar pra casa? Eu sinto que é o mínimo que posso fazer depois de assustar sua camisa. —Fez uma pausa. —Isso saiu errado.
— Eu nunca vou dizer não para um sorvete, — disse com um sorriso. — Se você realmente não se importa de ser visto comigo assim.
— Não,— ele disse. —Espere um minuto. — Ele se inclinou para trás e pegou um caderno e uma caneta. Virando-se para uma página em branco, ele colocou um olhar estudioso e escreveu, murmurando: Nunca diz não para sorvete.
—Oh, nós estamos tomando notas de mim agora?— Eu disse, rindo. — Aqui, deixe-me ajudar.— Tomei o caderno e caneta da mão e
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acrescentei — Gosta de jóias muito caras — para a lista quando ele saiu do estacionamento.
— Deixe-me adivinhar, — disse ele. — Jade35 e esmeralda36 em especial?
— Oh, não, sou totalmente previsível?— Eu disse.
—Dificilmente, — ele disse. —Só posso dizer que o verde é a sua cor.
—O que me derrubou?— Eu perguntei. —A unha polonesa?
Ele deu a meus pés, um bonito sorriso. — Cara, é bom sair com alguém hoje que não esteja melancolica,— ele disse. Eu parei de sorrir. — Me desculpe, nem sequer pensei. Eram amigos, você e Tex?
— Na verdade não.— Ele balançou a cabeça. —Nós jogamos basquete juntos algumas vezes, e nós estávamos na equipe de natação juntos no ano passado, mas ele saiu este ano. Ele disse que queria se concentrar no futebol, o que é meio idiota desde as temporadas não se sobrepõe, mas isso não incomodou o resto de nós. Para não falar de forma desrespeitosa dos mortos, mas Tex não era o maior nadador. — Ele sussurrou a última parte, então olhou para mim. — Todos os meus amigos ficaram lastimando o dia todo.... Eu só quero esquecer isso por um tempo.
35 É uma pedra ornamental muito dura e compacta, variando, na cor. O jade é valioso ainda hoje por sua beleza. Suas muitas cores são apreciadas, mas a cor verde esmeralda que o jadeite produz assim bem, que está procurado altamente em seguida por coletores da arte -final.
36 Esmeralda é uma variedade do mineral berilo (Be3Al2(SiO3)6), a mais nobre desse grupo. Outras pedras do grupo do berilo são a água-marinha a morganite e o próprio berilo. Sua cor verde é devida à presença de quantidades mínimas de crômio e às vezes vanádio.
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— Ok,— eu disse. —É uma coisa louca. Eu nunca tinha visto um cadáver antes.
— Eu já, — disse Milo, e pela primeira vez que ouvi algo sério e de aço em sua voz. Ele olhou para mim novamente. — Desculpe, eu não quero te apavorar. Realmente, esta é uma cidade grande. Você vai amar isso aqui. Por favor, não vá.— Ele sorriu.
— Você viu o outro corpo morto aqui?— Eu disse.
Ele fez uma careta. — Um par de anos atrás. Foi o meu bem-vindo a uma nova cidade, também, eu acho que temos isso em comum.
— Foi um homicídio?— Eu perguntei.
— Todo mundo pensa assim, — ele disse. —Mas isso nunca foi resolvido. A vítima era apenas um cara aleatório em um beco escuro. Quem fez isso sequer tirou a carteira.
Eu queria saber se era um ataque de vampiros, também, mas exatamente como eu iria fazer isso? Observou as marcas de mordida? Sim, eu acho que não.
— Estou dando uma grande impressão, não é? — Milo disse. —Não pense nisso. Tenho certeza que todas as cidades pequenas têm assassinatos misteriosos escondidos em seu passado. Pense em mim, em vez disso! A minha presença não compensa um pouco de sangue e feridas?
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—Eu acho que sim— eu disse, — se há realmente um sorvete no final desta viagem. Mas soa como se você se movimenta-se bastante. Como vou saber se você vai ficar por aqui?
—Nós estaremos aqui por um tempo, eu acho, — disse Milo. —Meu pai está envolvido nesse projeto que nunca termina. — Literalmente sem fim? Eu me perguntava. Como, de uma forma de vampiro? — Por que vocês se mudaram para cá?— perguntou ele.
— O tempo, — eu disse.
Ele me lançou um olhar. —Você tem que estar brincando. Você sabe o que os invernos de Massachusetts são?
— Minha mãe perdeu as estações do ano, — disse eu, erguendo os ombros. — Meus pais trabalham em casa, para que possamos viver em qualquer lugar. — Mas eu realmente não quero falar sobre minha família.
— Você tem irmãos ou irmãs?
— Não, somos só eu e meu pai, — disse ele. —Você?
Sim, essa mudança de assunto foi boa. —Minha irmã mais velha, Crystal, e seu marido moram com a gente, — disse eu. É engraçado como foram fáceis às mentiras que saíram agora, na Geórgia, eu quase estraguei umas centenas de vezes. — E meu irmão, Zach, é um ano mais velho que eu. — Bem, mais ou menos.
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— Zach. — disse Milo, franzindo a testa. —Eu conheci um cara novo chamado Zach na semana passada em P.E., mas ele não se parece nada com você.
— Sim, ele não parece, felizmente para mim,— eu disse. — Eu sou adotada. — Para dizer o mínimo.
— Uau—, disse Milo. —Você sabe alguma coisa sobre seus pais biológicos? Isso é uma pergunta rude?
— Está tudo bem—, eu disse. —Não—. Essa foi certamente a resposta mais fácil.
— Ah, — disse ele, girando em um pequeno estacionamento. Havia um celeiro em uma extremidade com um contador saindo dele, e as tabelas foram organizadas sob um excesso de sombra. Apenas outro casal estava lá, um casal de idosos que compartilhavam um copo de sorvete de chocolate com granulado arco-íris. Pareciam doces juntos. Milo percebeu a direção do meu olhar. —Talvez sejamos nós daqui a oitenta anos, — ele disse. Tão bonito. Isso nunca vai acontecer comigo, eu nunca vou envelhecer com alguém. As pessoas vão olhar para mim e sempre vão ver uma adolescente irritante.
— Uau, é bom saber que este encontro esta indo a algum lugar, —eu brinquei. Ele corou.
Uh —oh. Acabei de dizer — encontro?
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— Você não é como outras meninas — ele observou, desligando o carro. Isso é realmente verdade....
— Claro, que eu sou, — eu disse, batendo meus olhinhos para ele. —Por exemplo, eu realmente, realmente adoro sorvete.
Embora, para ser justa, eu posso comer muito mais sorvete do que as outras meninas podem. As sobrancelhas de Milo subiram quando ele viu o copo triplo de chocolate, banana e sorvete de manteiga de amendoim que eu pedi. Com o chocolate granulado por cima, é claro.
— Não se assuste, — eu disse com um sorriso malicioso. —Meu metabolismo pode lidar com isso.
—Eu não estou assustado, estou impressionado, — disse ele. Olhou seu copo solitário de chocolate floresta negra, e olhou para o meu copo. Eu coloquei alguns granulados no seu copo e ele roubou um pouco do meu sorvete de manteiga de amendoim, rindo quando eu o afastei com a minha colher.
Eu não podia acreditar que estava em um encontro. Um encontro real, com um menino muito engraçado e inteligente e mais bonito do que Zach e, portanto, o melhor encontro que eu tive desde que morri. Eu não me importava se a minha investigação não tinha dado em nada até agora. Talvez eu tivesse apenas imaginado o olhar que Milo tinha dado no corpo de Tex. Achei que poderia investigar Rowan e Daniel depois, naquele momento ele estava bem comigo, se Milo não tinha nada a ver com sangue e cadáveres. Quero dizer, talvez fosse conveniente para mim
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se ele passasse a ser um vampiro também, mas prefiro não saber se ele tinha uma predileção por comer jogadores de futebol.
Eu estava pensando nisso, quando ele se inclinou para frente para roubar um pouco mais do meu sorvete, e sob o colarinho da camisa eu vi o colar que eu tinha visto ontem. A corda de couro negro pendurava um pequeno pingente de prata com um símbolo familiar esculpido nela. Mas isso não era tudo.
Havia contas vermelhas atadas no colar... e um deles estava faltando.
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Depois que Milo me deixou em casa, eu tirei minhas roupas molhadas e cavei meu jeans para fora da pilha de roupas que estava na parte inferior da minha cama. No bolso esquerdo estava o cordão vermelho que eu havia encontrado na cena do crime. Examinei-o na baixa luz da minha cabeceira. Era de uma profunda e rica cor de escarlate, cor de uma gota de sangue. E parecia exatamente como um dos colares de Milo.
O que isso significa?
Bem, por um lado, isso significa que eu estava certa em pensar que
eu deveria investiga-lo. Então ... Yeah, eu?
Naturalmente, poderia haver uma explicação normal. Ele poderia facilmente te-lo perdido há algum tempo durante o dia antes do assassinato.
Ou ... ele poderia te-lo perdido durante a luta se, por exemplo, ele fosse o assassino.
Mas ele parecia tão ... não-assassino. Ele era todo sorvete e filhotes e braços de nadador sexy.
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Por que ele iria matar Tex?
Por que alguém iria?
Foi só um ataque de vampiros famintos? Ou alguém teve uma boa razão para matar o famoso quarterback da escola?
Talvez eu precise descobrir mais sobre Tex.
Adormeci pensando nisso, tentando fazer a minha dor de cabeça ir embora. Eu sonhei que Milo e eu estavamos nadando juntos, para cima e para baixo no comprimento da piscina. Eu bati na parede, mas quando me virei, Milo tinha ido embora e Daniel estava virado para cima flutuando ao meu lado.
— Onde está Milo?— Eu perguntei.
Ele apontou, e eu olhei para as janelas onde Rowan estava de pé, olhando para nós na piscina.
— Aquele é Rowan, — eu disse.
— É?— Disse Daniel, e então eu olhei para baixo e percebi que a água da piscina tinha se transformado em sangue.
Acordei sentindo-me confusa e pegajosa. Era tarde da noite, mas ainda meia-noite. Eu precisava do luar para clarear minha cabeça.
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Bert e Crystal estavam enrolados no sofá da sala, assistindo a um filme de terror em preto e branco na TV. Zach estava sentado no balcão da cozinha com um sanduíche de manteiga de amendoim e sangue em um copo ao lado dele. Seu livro de cálculo estava aberto e seu caderno estava fechado, mas ele estava apenas olhando as páginas inexpressivamente.
— Parece que está indo bem, — eu disse, pegando um refrigerante da geladeira.
— Eu odeio essa coisa,— ele disse. — Nós recebemos um exame para levar para casa para fazer no fim de semana, e eu sei que vou falhar. É uma grande droga — quando eu era uma estrela do basquete, as líderes de torcida faziam a minha lição de matemática.
— Sério?— Eu disse. —Líderes de torcida?
—Eu não disse que elas faziam certo,— ele disse com um sorriso torto. Aww, Zach sendo engraçado sem ser vil. Eu não tinha visto isso há algum tempo.
Eu ri. — Gostaria de poder ajudar, — eu disse, —mas eu mal posso dar conta de pré-cálculo. Essas coisas tortas de vocês estão me deixando nervosa por todo o caminho até aqui.
— Muito ruim,— disse ele, maliciosamente. — Fazer o dever de casa juntos pode ser muito romântico.
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Eu mostrei minha língua para ele e fui encontrar Olympia.
— Eu não acho que ela está acordada ainda,— Crystal falou quando eu bati na porta do quarto de Olympia.
Quando eu abri a porta do porão — embora eles estivessem dormindo, eu sabia que eles não seriam capazes de me ouvir. Wilhelm e Olympia davam um novo significado para dormir — como um morto.
As escadas de madeira rangiam sob meus tênis enquanto eu me dirigia para baixo no escuro. Mexi atrapalhadamente minha cabeça quando cheguei no degrau inferior e puxei a corrente, ligando a lâmpada solitária.
Mal iluminado pelos cantos de concreto úmido do aposento, recheado com móveis antigos e pilhas de caixas. Olympia tinha comprado a maior parte disso só para encher o espaço. A esperança era que se alguém viesse aqui, ficaria muito oprimido e desanimado com a quantidade de coisas velhas e inúteis para realmente fuçar ao redor e notar algo.
Eu passei entre duas poltronas vermelhas desbotadas e subi sob um sofá roxo estampado que estava de cabeça para baixo. No canto de trás, onde era mais sombrio, eu abri um armário de mogno e bati na parede de trás.
Após um momento, a parede— caiu para trás e eu pulei para dentro da cripta de Wilhelm e Olympia. Quero dizer, era apenas um
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quarto, mas estava decorado como uma cripta e se parecia com uma cripta, então é disso que eu o chamo. Duas velas pretas gordas tremeluziam sombriamente sobre uma mesa baixa entre os dois caixões. Eu sei, eu continuo a dizer-lhes que isso é muito clichê, mas isso faz Wilhelm ficar todo quente e incomodado, e então ele grita para mim sobre a tradição, respeito e tudo mais. Faça o que quiser, mas você não vai me pegar dormindo em um lugar como este.
As paredes e o piso são de concreto cinza, mas um espesso tapete vermelho está espalhado pelo chão, então eu deixei meus sapatos na entrada antes de ir na ponta dos pés para o caixão de Olympia. A tampa estava aberta, e ela estava deitada virada para cima com as mãos cruzadas sobre o peito, perfeitamente imóvel. Seus longos cabelos de azeviche estavam espalhados sobre o forro de seda branca.
— Olympia, — eu sussurrei.
Ela abriu um olho e olhou para mim.
— Ah. Kira,— ela disse. — Não há necessidade de sussurrar. Ele está acordado.
Eu me virei e olhei para o caixão de Wilhelm, mas ele estava vazio. — Oh,— eu disse. — Eu não o vi lá em cima.
—Isso é porque ele está ali,— Olympia disse, acenando com a cabeça a um canto do teto. Eu olhei e vi um pequeno, bastão de couro marrom pendurado de cabeça para baixo. Eu costumava pensar que os
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morcegos eram assustadores, até que eu adquiri um pai que se transformava em um o tempo todo.
— Quando eu começo a fazer isso?— Eu perguntei.
— A maioria dos vampiros leva cerca de 300 anos para desenvolver essa habilidade,— disse Olympia. —Wilhelm é um dos raros que podem fazer isso de início. Alguns vampiros são assim.
— Então, pode haver algum outro puro poder que eu já possa usar, mesmo que eu não deva ainda?— Eu perguntei. —Como, digamos ... voar.
— Eu acho que nós teríamos percebido se você pudesse voar,— Olympia disse secamente. — Posso te ajudar com alguma coisa?
— Você está em bons termos com o diretor, certo?— Eu perguntei. Ela fez uma doação amigável para a escola quando nós chegamos, portanto, o diretor tendia a atender seus telefonemas. —Você acha que poderia faze-lo mudar uma das minhas aulas?
Olympia parecia cética. —Eu já lhe disse antes, Kira, a física vai ser muito útil um dia.
Sim, certo.
— Não é isso,— eu disse. —Eu quero mudar de banda para arte. Não creio que eles vão perder minhas habilidades loucas de triângulo.
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— Arte?— Olympia ecoou.
— É para a minha investigação,— eu disse importantemente. O que era verdade. Conseguir entrar em uma das classes de Milo seria totalmente útil para resolver este mistério. Não era apenas uma desculpa para passar mais tempo com ele — não, senhor.
Eu não podia fazer muita coisa sobre o fato de eu não ter aulas com Rowan, desde que ele era um veterano como Zach e Tex. Mas Milo era um júnior, como eu, e eu tinha memorizado seu horário quando o achei convenientemente para fora de sua mochila, enquanto ele pagava o sorvete. Saltar em seu quarto período de classe de arte parecia ser a melhor coisa a fazer. Isso significava renunciar a uma classe com Daniel, mas hey, ele ainda me tinha para todas as outras.
— Hmmm,— Olympia disse. —Tudo bem, eu vou ligar para o Diretor Lovato de manhã e ver o que posso fazer.
— Não mude o resto do meu horário, — eu disse. — Só banda para arte, quarto período. Certifique-se de ser a classe da Sra. Malone.
— Espero que isto não seja outra coisa de garoto,— disse Olympia, fechando os olhos com um suspiro.
Bem, isso era injusto. Eu só tive uma coisa de garoto, e bem, não se saíu bem, mas eu achava que eu merecia uma segunda chance. Além disso, se ela conhecesse esse garoto, ela iria entender.
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Eu voltei à entrada, mas quando eu deslizei a porta para o lado, Olympia disse, — O que está acontecendo com aquele garoto Rowan? Você descobriu alguma coisa sobre ele?
— Eu estou trabalhando nisso,— eu disse. —Ele não é exatamente a alma mais comunicativa.
— Continue tentando,— ela disse. — Eu tenho um pressentimento sobre ele.
— Tudo bem,— eu disse, saindo para o guarda-roupa. Quando subi para fora do porão, eu percebi que havia mais uma pergunta que eu deveria ter feito.
Ou seja: Era um pressentimento bom ou um mau? Um Ei, pressentimento de companheiro vampiro?
Ou um que poderia matar a todos nós em nosso sono sensível?
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O dia seguinte era sexta-feira, que eu amo tanto agora, que sou uma vampira, como quando eu era humana. Aproveito os fins de semana para dormir o dia todo. Pelo menos, quando não estou no meio de uma investigação de assassinato e, aparentemente (para minha surpresa), saindo com três rapazes ao mesmo tempo.
Tudo começou com Daniel, sexta-feira de manhã. Ele já estava em sua mesa quando cheguei à aula de história, e desde o momento que eu entrei na sala pude sentir ele me observando. Quero dizer, ele não tirou os olhos de mim enquanto eu descia a fileira para a minha mesa, e eu nem estava vestindo nada especial — apenas jeans, uma blusa amarela sol com caimento em um ombro e botas até o tornozelo. E brincos de girassol.
E talvez um par de pequenos clips amarelos de borboleta no meu cabelo. Tudo bem, eu poderia ter estado me sentindo um pouco alegre quando me vesti. Claro, eu tinha sido acusada de assassinato pela minha família e estava envolvida em uma investigação bizarra, mas haviam meninos bonitos envolvidos. Ei, eu tento olhar pelo lado positivo.
Além disso, eu pensei que Milo iria apreciar o olhar ... e a julgar pela expressão de seu rosto, Daniel também.
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— Dia,— eu disse, sentando-me.
— Agora é, — ele disse, e depois fez uma pausa, um sorriso forçado nos cantos de sua boca. — Quero dizer — oops. Eu pensei que você ia dizer 'bom dia'.
— Bem, é isso que eu quis dizer,— eu disse com um sorriso.
— O que você vai fazer neste fim de semana?— Perguntou ele.
Solucionar um assassinato, eu espero. Talvez invadir a casa de Tex. Seduzir Rowan e Milo para ver se eles se transformam em vampiros. E assim por diante.
— Oh, nada,— eu disse.
Ele virou um lápis entre os dedos. —Alguma chance de você estar interessada em jantar amanhã à noite?
Eu sorri. —Eu deveria jogar duro para chegar e dizer que eu tenho planos, eu não deveria?
— Tarde demais, — ele ressaltou. —E se eu te pegar às nove?
Ooo, um jantar tarde — depois do anoitecer. Isso foi pensado... ou, talvez, necessário para ele, também.
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— Ok, você me encantou,— eu disse. Rabisquei meu endereço em um pedaço de papel e passei para ele. —Devo me vestir formalmente?
— Sempre, — ele disse com um sorriso lento.
Então o Sr. Wright bateu na sua mesa, e nós tivemos que prestar atenção à história pelo resto do período. Portanto, não foi até que nós estávamos caminhando pelo corredor para Física que eu fui capaz de dizer, — A propósito, eu não vou estar na banda hoje. Receio que você vai ter ir à percussão sem mim.
— Que perda lamentável,— ele disse. —Por que isso?
— Bem, na verdade eu estou trocando de classe,— eu disse, mostrando-lhe a nota que eu peguei do diretor naquela manhã. —Eu decidi que eu poderia me expressar melhor com a pintura do que com um par de pratos.
Daniel analisou a nota, parecendo estranhamente interessado. —Você está deixando a classe completamente?— ele disse, como se ele não pudesse acreditar.
— Sinto muito,— eu disse. — Eu nunca gostei disso. — Isto era verdade. Instrumentos musicais e eu, obviamente, não éramos destinados um para o outro.
— Vou sentir saudades,— ele disse, entregando a nota de volta para mim.
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— Somente por cinqüenta minutos,— eu disse. —Então você vai me ter de volta para Inglês.
Ele balançou a cabeça, mas seu sorriso pareceu um pouco forçado. —Tenho más notícias, também. Receio que vou estar ocupado durante o almoço de hoje,— ele disse.
— Tudo bem, — eu disse. —Prometi a um amigo que eu comeria com ele de qualquer maneira, então tudo certo.
Agora, ele parecia ainda mais descontente. Pobre Daniel. Ele agiu todo misterioso e suave, mas talvez ele realmente gostasse de mim mais do que queria. Após o terceiro período, antes dele sair para fazer o que seja, com que ele estivesse —ocupado— durante o almoço, eu tentei fazê-lo se sentir melhor tocando em seu braço (bem, isso com certeza me fez sentir melhor) e em seguida, inclinando-me para lhe dar um beijo na bochecha. Para minha surpresa, ele pegou meu pulso quando eu dava um passo para trás.
— Kira, — ele disse com uma voz tranqüila e intensa. Ele me puxou para uma porta, fora do fluxo de alunos escorrendo pelo corredor. — Seja...— Ele fez uma pausa.
— Seja o que?— Eu disse.
Ele riu tristemente. —Eu não sei se lhe digo para ser boa ou ser cuidadosa.
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— Daniel, seu tratante,— eu disse. —Eu só vou almoçar com um amigo. Acho que todos nós vamos sobreviver.
— Eu sei,— ele disse. —Não se preocupe comigo. Eu só me preocupo, às vezes.
— Bem, não se preocupe comigo, — eu disse, apertando a mão dele. — Eu posso cuidar de mim mesma.— Virei-me para ir, mas ele pegou a minha mão de novo e me puxou de volta. Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, ele colocou suas mãos em cada lado do meu rosto e me beijou.
Seus lábios eram macios, frescos e profundos, como seu cheiro. Mal tive tempo de fechar os olhos antes que ele se separasse e desaparecesse na multidão.
Eu fiquei lá por um momento, sentindo estranhas emoções na ponta dos meus dedos das mãos e pés. Bem, isso foi repentino. Um beijo de verdade — não a molhada festa, apalpável que sempre obtinha de Zach. Este foi elegante e significativo, como se o beijo fosse àatração principal, se isso faz sentido. Com Zach, o beijo sempre parecia uma parada de caminhões pesados em rota para coisas mais grudentas. O beijo de Daniel era mais parecido com meu primeiro namorado, apesar de Daniel claramente ter uma idéia muito melhor do que ele estava fazendo.
Então, isso significa que estamos namorando? O primeiro beijo não vem geralmente após o primeiro encontro? Ou será que se esgueirar
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fora da escola à noite, após ficar em torno de uma cena de assassinato de alguma forma conta como um encontro e ninguém me disse?
Por outro lado, eu tinha evitado uma bala lá. Se Rowan ou Milo tinham visto ele me beijar, seria muito mais difícil chegar perto deles. Eu precisava tomar cuidado para não deixar meus rapazes se cruzarem, pelo menos enquanto todos eles ainda fossem suspeitos.
Felizmente Milo tinha ido almoçar com a equipe de natação, como ele tinha me informado ontem — embora tenha feito questão de acrescentar que se eu quisesse ele sairia do time de natação para que pudéssemos compartilhar sanduíches, ele tinha feito isso em uma pulsação. Eu ri e disse-lhe que um sacrifício dessa magnitude não era necessário.
Agora, o truque era encontrar Rowan. Eu tinha um palpite que ele provavelmente comia sozinho, e provavelmente não no refeitório, embora eu tenha verificado lá primeiro, só no caso. O redemoinho usual de ruído e confusão — que muitos corações batendo tão rápido em um lugar é um pouco demais para um vampiro manusear. Vivi e eu normalmente comemos no teatro, onde as crianças de teatro se reúnem. Vivi é uma das estrelas regulares das peças da escola, então ela é autorizada a trazer quem ela quiser, mesmo a pobre, desesperadamente não dramática eu.
Então eu sabia que Rowan não estaria lá, porque eu nunca o tinha visto ali antes. Tampouco estava no refeitório ou no pátio (onde Milo estava sentado na mesma mesa com seus amigos de natação). Andei até
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a biblioteca e espiei o ginásio – sem sorte. Finalmente chequei as escadarias.
Que acabou por ser o instinto certo.
Rowan estava debruçado no degrau inferior da escada de trás da escola, a única que leva até o subsolo. Eu não teria ido até o fim para verificar, mas quando me inclinei e olhei para o centro, vi sua mochila encostada na grade, na parte inferior.
Ele ouviu as batidas das minhas botas descendo as escadas em direção a ele e se pôs em pé com uma expressão assustada.
— Desculpe, sou eu,— eu disse, segurando minhas mãos para cima. — Kira — lembra?—
— Ah,— ele disse, ainda parecendo bastante assustado. Sentou-se novamente, amassando sua bolsa marrom entre as mãos.
— Eu pensei que eu tinha visto você desaparecer aqui,— eu menti. — Posso acompanha-lo? Que lugar legal para ficar longe de todos. — Aquilo também era uma mentira. O pequeno espaço na parte inferior da escada era escuro e muito sombrio. A sólida porta cinza diante de nós esta rotulada como PORÃO. No lado positivo (se você é um vampiro), absolutamente nenhum sol se filtrava pelas janelas no nível de cima.
A única luz era uma lâmpada fluorescente piscando acima da porta do porão, que era uma espécie de lamentável em termos de eu
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tentando ser toda bonita e atraente. Isso é muito mais difícil de se fazer quando a luz está te transformando em uma deslavada, fantasmagórica verde-menta, mas não tive muita escolha.
— Sim, tudo bem,— disse Rowan, acenando com sua mão pálida no degrau ao lado dele.
— Como vai você?— Eu disse, sentando e tirando o meu almoço. Olhei de soslaio para o dele para ver se era suspeito, mas parecia um sanduíche normal de presunto no pão branco.
— Bem,— ele disse. Conversas como estas que me faziam perceber porque Rowan não tinha meninas se reunindo atrás dele, apesar de seus olhos frios e da coisa bonito-alto-pensativo.
— Você já esteve lá?— Eu perguntei, apontando para a porta do porão.
Ele piscou para ela por um momento, depois vasculhou em sua bolsa e puxou uma câmera digital.
— Sim,— ele disse, ligando-a —Tirei algumas fotos. Escuro e empoeirado. —Ele passou rapidamente através das imagens e, em seguida, entregou a câmera para mim.
A foto na tela era de perto de grandes tubos e ao lado de uma fornalha. — Oooh,— eu disse, tentando soar admirando. — Que ... artístico.— Bati na seta para avançar para a próxima foto. Mais tubos.
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— Posso olhar o resto?— Talvez houvesse uma pista aqui.
— Claro,— ele disse, dando outra mordida em seu sanduíche. Enquanto eu passava através das imagens, eu podia dizer que ele estava olhando disfarçadamente para os meus ombros. Ou possivelmente para o meu pescoço. Hmmmm.
Tubos. Tubos. Grandes tubos. Pequenos tubos. Extremamente empoeirados tubos. Uma porta.
— Existem outras portas para o porão?— Eu perguntei.
— Só a do exterior, — disse Rowan. — Eles sempre esquecem de trancá-la.
Hmmmmm. — Boa dica, — eu disse com um sorriso.
As fotos do porão terminaram e cheguei a uma do horizonte ao amanhecer, com a lua ainda brilhando no céu. Escuros galhos de árvores cruzavam o céu.
— Isso é muito legal, — eu disse.
Ele acenou. — Eu não durmo bem. Às vezes eu caio fora enquanto meus pais estão dormindo e vou para passeios bem cedo pela manhã.
Quão mais cedo? Meia-noite cedo? Vampiro cedo?
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Movi para a próxima foto. A silhueta da escola contra o pálido céu alaranjado. Bati na seta novamente e ofeguei.
A imagem na tela na minha frente ... era o corpo morto de Tex.
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O que alguém diz sobre isso?
Hum, desculpe-me, por que você tem uma foto de um cadáver na sua câmera?
Mas foi mesmo assustador porque eu podia dizer a partir do ângulo do tiro que o corpo não estava cercado por uma fita policial e adolescentes curiosos.
Rowan tinha tirado esta foto mais cedo naquela manhã... quando ele estava sozinho com o corpo.
Um arrepio horrorizado passou em toda a minha pele. Fiquei ainda mais assustada do que eu tinha ficado quando Daniel me assustou na cena do crime. Minhas mãos tremiam tanto que eu mal conseguia ver a imagem na minha frente.
Eu quase me levantei e fugi. Só a lembrança sobre a minha força de vampiro me fez ficar onde eu estava. Não havia muito que ele pudesse fazer para mim, a menos que ele estivesse escondendo uma estaca naquela mochila.
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Mas eu também queria reagir como uma menina normal; eu não queria lhe dar a dica de que eu era nada fora do comum. Exceto... ele não estava exatamente agindo como um cara normal. Ele não achou que eu ia chegar a esta foto eventualmente? Ou era essa a idéia?
Olhei para cima e encontrei os olhos de Rowan. Ele estava me observando. Ele sabia exatamente o que eu tinha visto.
Ele estava esperando para ver o que eu faria.
— Uau,— eu disse baixinho. Eu decidi optar por um pouco de honestidade. — Estou um pouco assustada agora.
— Parece arte, não é?— ele disse. — O vermelho é tão brilhante contra os degraus cinza, e a composição — você nem sequer pensa no que você está vendo em primeiro lugar, porque é uma imagem tão marcante.
Hum, sim, é impressionante... é um CORPO MORTO. Esse foi o meu primeiro pensamento.
— Quando você tirou isso?— Eu perguntei. Foi logo... depois que você MAAAAAAATOU ele, talvez? Eu passei para frente e encontrei mais duas fotos semelhantes, de ângulos mais próximos. Em seguida, estava de volta aos tubos do porão, e essas eram todas as fotos na câmera.
Rowan me deu um olhar de soslaio. —Eu vi isso enquanto eu estava andando naquela manhã,— ele disse. É, eu notei... não ele. —Eu
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acho que fui a primeira pessoa a encontra-lo. Cerca de cinco horas ... não havia mais ninguém até o momento. Estava realmente quieto, tranqüilo, pacífico e, em seguida ... isso.
— Você não se assustou?
Ele olhou para o espaço por um minuto. — Talvez um pouco.
— O que você fez? Você é a pessoa que ligou para a polícia?— Mas não seu pai, eu acho. Rowan não tinha me dito ainda que seu pai era um policial; eu só soube disso vendo-os juntos na manhã seguinte após o assassinato.
— De jeito nenhum.— Rowan franziu o cenho. —Eu não confio na polícia. Além disso, eles poderiam ter me culpado. Nunca os envolva se você puder evitar.
Eu estava processando as ramificações desta afirmação edipiana quando de repente ele pegou minha mão e virou-a na dele. Suas mãos estavam frias, mas gentis quando ele traçou os dedos sobre as linhas da palma da minha mão.
— Eu não confio em muitas pessoas, — ele disse.
Parece estranho que você compartilhe suas assustadoras fotos de morte com uma menina que você mal conhece, então, não é?
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Ele empurrou o seu cabelo ruivo do rosto e olhou para mim com os olhos infinitamente tristes.
— Tão curta a linha da vida,— ele murmurou, correndo seu dedo indicador sobre ela novamente.
Eu tremi. — De jeito nenhum. Eu vou viver para sempre. — De um modo de falar.
— Eu me pergunto se Tex se sentia da mesma maneira, — disse Rowan.
— Talvez todo mundo se sinta, — eu disse. Eu decidi que a abordagem direta era a maneira de ir com esse cara. Se ele pensava que dividíamos uma ligação... —Você sabe, — eu disse, me inclinando em direção a ele, — Eu não ia dizer isto a ninguém, mas é um alívio saber que alguém está curioso sobre este assassinato como eu. Quer dizer, eu sinto que estou sendo mórbida se eu trazê-lo a tona sozinha, mas com você, eu posso ser eu mesma. É como — é como se você entendesse. Você sabe? Espero que isso não soe muito estranho.
— Não, não,— Rowan disse, sacudindo a cabeça. —Eu sei exatamente o que você quer dizer. A maioria das pessoas acha que você é um psicopata total se você disser qualquer coisa sobre a morte. Mas eu tive um sentimento que você era diferente.
— Totalmente,— eu disse. Provavelmente ajude eu estar morta. Ah, e P.S.: Eu ainda acho que você pode ser um psicopata total.
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— Quero dizer, por que deveríamos ter medo de falar sobre a morte, certo? — Rowan disse. —Eu aposto que o cara que o matou diz que gostaria de falar sobre isso.
— Hum,— eu disse. — Yeah. Totalmente. Eu me pergunto como ele se sente sobre isso. — Olhar significativo.
Seus olhos se deslocaram para o lado novamente. — Quer ver outra coisa?
Hum. Eu quero? — Claro.
Ele largou da minha mão, colocou a câmera para longe, e remexeu em sua bolsa novamente. Eu não tinha idéia do que ele estava prestes a pegar. Uma arma? Um frasco do sangue de Tex? Fotos de suas outras vítimas?
Ao invés, ele puxou um telefone celular.
Que eu achei que foi um alívio.
— Pra quem você está ligando?— Eu perguntei.
— Não, isso não é meu,— ele disse, entregando-o para mim. Quando eu peguei dele, ele disse, — É do Tex.
Oh, fabuloso, pensei. Muito obrigado por me deixar fixar minhas impressões digitais em todo o telefone de um cara morto. — Onde você
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conseguiu isso? — Eu perguntei, segurando-o cuidadosamente entre meu dedo indicador e o polegar.
— Eu encontrei-o perto do corpo, — ele disse. —Deve ter caído do bolso quando ele caiu.
Na verdade, esta poderia ser uma evidencia útil. Eu o liguei e fui para a lista de chamadas.
— Eu fiz a mesma coisa, — disse Rowan, olhando para mim.
Portanto, se o seu número estava ali, provavelmente já foi apagado. Verifiquei as chamadas recebidas em primeiro lugar. Havia uma às oito horas na noite do assassinato — provavelmente apenas poucas horas antes de sua morte. O número não tinha um nome ligado a ele.
— Esse é um telefone público, — disse Rowan. — Aqui da escola.
— Telefones públicos ainda existem? — Eu disse.
Ele sorriu com ironia, o que para ele era um monte de expressão. Fiquei surpresa por ele não ter se machucado usando tantos músculos faciais. — Bem, há um, pelo menos. Atrás da academia.
Então alguém tinha ligado para Tex da escola. Para arrumar um encontro? Para atraí-lo para sua morte?
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Será que isso significa que o assassinato foi planejado? Se não foi só uma morte por acaso, então deve ter havido uma razão para o vampiro escolher Tex.
Não havia muitos outros números no telefone; o restante das chamadas recebidas foram de dias antes de Tex ser morto. Fotos de animadoras de torcida ou jogadores de futebol anexados a alguns deles. Olhei para Rowan novamente. Ele tinha excluído provas? Isso era possível? Eu nunca tentei apagar chamadas no meu celular. Mas Rowan parecia uma espécie de cara tech—esperto, pelo menos, se você passasse pelo estereótipo de caras com computador sendo tímidos e saindo em porões. Ok, talvez eu estivesse saltando um pouco para conclusões.
Eu estava prestes a abrir a lista de chamadas feitas quando o sinal do fim de almoço tocou. Rowan pegou o telefone da minha mão e levantou-se.
— Ok, tchau,— disse ele, enchendo suas coisas rapidamente em sua mochila.
— Oh, uh ... obrigada por almoçar comigo! — eu disse. — É ótimo, você sabe, finalmente encontrar uma alma gêmea.
Ele olhou minha alegre camisa amarela ceticamente. — Sim.
— Ei, o que você vai fazer esta noite? — Eu perguntei. —Quero dizer, se não for muito de última hora, talvez possamos ficar juntos e...conversar um pouco mais?
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Ele empurrou o cabelo dos olhos e arrastou uma bota pelo chão. —Eu vou estar em casa, — ele disse. —Eu não estou autorizado a sair nos finais de semana.
— Uau, sério?— Eu disse. — Isso é tão triste. Por quê? —Rowan já estava começando a subir as escadas. Subi depois dele, tentando parecer que eu casualmente saia com obcecados pela morte o tempo todo.
— Meu pai é um pouco... super-protetor,— disse Rowan.
— Oh, ele vai gostar de mim,— eu disse — Os pais costumam gostar. — Bem, eles costumavam antes do cabelo verde e dos vários piercings; Eu não tinha encontrado um grande número de pais desde então. Portanto, esta seria uma experiência interessante. —E se eu for para a sua casa? Isso é permitido?
Rowan parou no topo e ficou me olhando por um segundo. — Sim, está bem, — ele disse. — Ele merece isso.
O que quer que isso significasse.
— Alguma hora em particular? — Eu perguntei brilhantemente.
— Qualquer uma ,— disse ele com um encolher de ombros. — 6675 Stone Key Circle. Apareça.
Esse convite era suficiente para mim. Quero dizer isso literalmente. Como uma vampira, eu precisava de um convite especifico
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como esse antes que eu pudesse passear em sua casa. E aquele era muito aberto. Ponto.
—Tchau, até mais tarde,então,— eu disse, escovando seus ombros com os meus dedos quando eu passei por ele e sai para o corredor lotado.
O olhar em seus olhos era um espécie de assombrado — triste e solitário e cheio de saudade de... alguma coisa, eu não tinha certeza do que. Isso ficou comigo no corredor, amortecendo o animo ensolarado com o qual eu tinha acordado.
Mas, então, eu andei pelas portas da minha nova aula de arte e vi Milo — e Milo me viu.
É estranho ver um cara que eu tinha acabado de encontrar ontem me fazer sentir toda quente e efervescente por dentro?
Ou que seu rosto se iluminou quando ele me viu como se sentisse a mesma maneira? Era como se o sol tivesse se derramado sobre a minha alma, que era exatamente o que eu precisava depois do almoço escuro no porão com Rowan. Eu sorri para Milo e mexi meus dedos.
Sra. Malone não pestanejou quando eu lhe entreguei a nota. —Tudo bem, — ela disse, olhando para ela.
— Srta. November,sente-se em qualquer lugar. Estamos desenhando estilos de vida hoje. Há blocos de desenho em branco ali.
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Peguei um bloco de desenho e lápis de carvão. Milo estava sacudindo a cabeça para o banco ao lado dele de uma forma muito pouco sutil. Bati meu dedo em meus lábios e fingi olhar ao redor em outras mesas, como se eu estivesse pensando em minhas opções. Ele arregalou os olhos para mim e depois apontou o queixo para o assento vazio de novo com tanta força que eu tive medo dele quebrar o pescoço.
— Ah, tudo bem,— eu disse, sentando junto a ele com uma risada. — Mas só porque a mesa tem o melhor estilo de vida.— Os outros dois rapazes na mesa já estavam absorvidos em seus desenhos.
Pessoas de toda sala estavam murmurando uns ao outro enquanto desenhavam, enquanto Sra. Malone andava olhando para os seus esboços. Ela não parecia se importar se as pessoas falavam enquanto trabalhavam, o que fez desta classe a ideal para ter com Milo.
— Eu sei. Você já viu um monte de laranjas mais bonito? —Milo disse, apoiando o queixo em sua mão e olhando-me encantado. —O que você está fazendo aqui?
— Eu pensei que precisava de alguma cultura,— eu disse com um sorriso travesso. — Achei que seria bom para a minha alma gastar mais algum tempo em torno de um realmente atrativo ... monte de laranjas.— Talvez eu devesse mencionar que ele parecia ainda mais bonito do que ontem, porque estava usando um par de óculos absolutamente adorável. Sua fina moldura dourada levava manchas de ouro em seus olhos e o fazia parecer todo inteligente, pensativo e outras coisas. Sim, eu admito isso: eu sou uma espécie de boba por meninos bonitos de óculos.
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—Se eu fosse um cara suspeito, — ele disse, se esticando para rabiscar no meu caderno de rascunho, — ou, você sabe, um muito egocêntrico, eu poderia pensar que você estava me perseguindo.
Bem ... sim. — Claro, se você achasse muito de si mesmo, você não valeria a pena ser perseguido, valeria? — Eu bati meus olhinhos para ele.
— Verdade,— ele disse. — Mas se você está me perseguindo, você sabe ... fique à vontade para continuar fazendo isso.
— Oh, eu não sei—, eu disse. —Perseguir iria levar muito esforço. Eu teria que descobrir onde você vive —
— 31 Summer Street,— ele disse prontamente.
— E em qual janela olhar —
— Segundo andar, a da esquerda se você estiver de frente para a casa,— ele disse. — E está sempre aberta. Para você, de qualquer maneira.
Isso soou como um convite para mim! Eu sorri para ele. — Bem, talvez se eu puder encaixar em torno das minhas outras atividades criminosas.
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— Que tal domingo?— ele disse. — Eu tenho algum tempo livre para ser perseguido no domingo. Ou eu posso abandonar minha natação se você preferir me perseguir no sábado.
— E privar o mundo do tempo de ver você sem camisa?— Eu disse. —Eu não sonharia com isso.— Sem falar que eu já tinha um encontro para o sábado, lá, lá, lá. — Domingo seria perfeito.
— Eu gosto do seu cabelo assim,— ele disse, sorrindo para meus clipes de borboleta.
— Eu gosto de seus óculos, — Eu atirei de volta.
— Ah, é?—ele disse. — Eu uso lentes nos dias de mergulho, mas estes são mais confortáveis.— Ele não estava todo auto-consciente sobre eles. Eu gostava disso ainda mais.
Eu não acabei com o melhor desenho do mundo de uma pilha de laranjas, mas até o final da aula, eu estava mais convencida de que Milo não poderia ser o assassino. Ele era muito bonito. E engraçado.
E sonhador. E adorável. E eu mencionei engraçado? Eu gosto de engraçado.
Não que eu estava me apaixonando por ele ou nada. Isso seria uma má idéia. Porque se ele acabasse por ser o assassino, então eu estaria apaixonada por um assassino, o que seria péssimo.
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E se ele não fosse o assassino, então eu estaria apaixonada por um humano ... e isso seria ainda pior.
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Uma das coisas que eu gosto sobre viver em Massachusetts é que começa a ficar muito escuro no início do outono. Eu era capaz de conduzir para casa de Rowan às sete horas da noite, cercada por sombras.
Sua casa não era exatamente a mansão do vampiro gótico que eu estava imaginando. Eu não sei, acho que eu o imaginava vivendo em algum lugar como a casa de Stephen King, com gárgulas e cercado de um alto muro pontiagudo na frente. Mas, pelo contrário encontrei um tipo de casa de rancho com um olhar entristecido, tudo em um nível, com pequenas janelas quadradas e um monte de concreto cinza visível em toda cerca que era de um bege monótono. Um desmarcado carro da polícia parado na calçada.
Ocorreu-me, pela primeira vez que se Rowan era um vampiro, então certamente o resto de sua família também era. Seria difícil para os pais não perceberam que seu filho de repente tinha desenvolvido dentes e uma realmente séria fixação por sangue. O pai de Rowan certamente sabia que algo estava errado com seu filho, isso se o seu comportamento na cena do crime fosse qualquer indicação.
Eu tinha debatido sobre mudar a minha roupa, mas não queria parecer como se estivesse tentando demais. Além disso, eu esperava que os alegres brincos de girassol enviassem uma — não ameaçadora!—
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mensagem aos pais de Rowan. Ou sua família de vampiros, ou quem eu estava prestes a conhecer lá dentro. Quando eu abri a porta de tela e toquei a campainha, me perguntei se isso era uma má idéia. Se eles fossem vampiros e pensassem que eu estava atrás de Rowan, o que eles poderiam fazer comigo?
Tarde demais. A porta da frente se abriu. O pai de Rowan estava lá, ainda em seu uniforme polícial.
Ele olhou para mim com a mesma expressão assustadora que Rowan tinha, como se eu estivesse usando uma guirlanda de crânios em volta do meu pescoço ou algo assim.
Evidentemente brilhantes habilidades de conversação, como a capacidade de dizer —Olá— corria na família.
— Oi, — eu disse com um sorriso largo. Olha como eu sou inocente! —Você é o pai de Rowan? Eu sou Kira. Ele disse que eu poderia passar, espero não estar interrompendo o jantar ou qualquer coisa. — Olhei para o rosto dele, mas não havia nenhuma mancha de sangue indicadora em torno de sua boca.
— Não, nós... não... quem você disse que era?
— Kira. Kira November.— Estendi a minha mão, mas ele não se mexeu. — Rowan e eu vamos para escola juntos eu sou nova e ele tem sido tão bom, eu quase não conheço ninguém, assim, é muito bom ter um
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amigo...— Eu percebi que se eu falasse, ajudaria a preencher todo o silêncio embaraçoso.
—Rowan tem um amigo?— Isto veio de uma nova voz, uma pálida e fina mulher de meia-idade apareceu por trás do policial. — Oh, Olá, querida, — disse ela sobre o cotovelo do marido.
—Albert, não seja rude. Venha querida.
Humm. Alguém não foi treinado no protocolo do anti-vampiro. —Obrigada, senhora, — eu disse quando ela puxou o marido de lado para que eu pudesse entrar no corredor. O pai de Rowan foi franzindo a testa para mim de uma forma que não gosto que franzam a testa, especialmente por parte de policiais.
— Rowan!— Sua mãe chamou. — Sua amiga está aqui!— Ela acariciou minha mão. — Rowan nunca recebe qualquer visitante. Ele sempre foi um menino calmo, mas desde que nos mudamos, parece que ele está sempre trancado naquele quarto dele.
— Donna, — disse o pai de Rowan em uma espécie de advertência de voz baixa.
Rowan apareceu em uma sala no final do corredor, como um fantasma espectral saindo da névoa. Ele tinha tirado o capuz, era pálido, com braços magros presos fora de sua camiseta. Seu cabelo estava despenteado e parecia sonolento, como se tivesse acabado de acordar.
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— Você conhece essa garota? — o pai Rowan pediu com firmeza.
— Albert! — Disse a mãe de Rowan.
— Sim,— disse Rowan, penteando o cabelo com os dedos. —Nós temos saído juntos. Então? Não é isso que você quer de mim? Uma vida normal?
Albert sorria tenso. —Talvez agora não seja um bom momento— disse ele para mim.
— É uma boa hora, — disse Rowan. — Kira, venha ver o meu quarto.
Eu esgueirei nervosamente em direção a ele. — Er... prazer em conhecer vocês, — eu disse aos pais de Rowan.
— Para nós também, querida, — disse Donna.
— Mantenha a porta aberta!— Albert latiu quando Rowan me levou para seu quarto. Ok, isso não foi sinistro em tudo.
Em resposta, Rowan fechou a porta atrás de nós. — Eu o odeio, —ele disse. Ele se inclinou sobre a porta, estava ouvindo para ver se seu pai iria continuar falando. Mas não havia mais nenhum som do outro lado.
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Eu estava meio que esperando por um caixão, bom óbvio no meio do quarto, mas não havia nada disso. Também não havia uma cama de verdade, ao invés, um colchão duplo estava no meio do chão, coberto de folhas pretas emaranhadas com um puído cobertor xadrez azul amassado na parte superior e um travesseiro plano no final. Rowan andou em torno de mim e empurrou o colchão até a parede, apertando o cobertor e cobrindo as folhas com ele.
Havia mais janelas do que eu esperaria de um vampiro (três delas), mas me lembrei da altura, paliçadas37 espessas no final da casa, provavelmente bloqueando toda a luz, se Rowan não tivesse mantido suas cortinas fechadas. Notei também que duas das cortinas foram pregadas na janela com fita adesiva preta. Mantendo as lascas minúsculas de luz fora?
Uma cômoda ficava na mesma parede que a porta do armário, que estava entreaberta, mas não parecia que Rowan a utilizava muito, as roupas estavam espalhadas pelo carpete bege claro e empilhadas na cadeira de madeira ao lado da mesa. Eu estava realmente surpresa ao ver tanta roupa, desde que eu tinha visto Rowan de longe, pensei que talvez ele possuísse apenas um par de calças pretas, uma camiseta preta com capuz, e uma variedade de camisetas escuras. Mas daqui eu podia ver pelo menos três pares de calças jeans preta, então supus que isso era tranqüilizador.
37 Constitui-se numa obra exterior de defesa, constituída por um conjunto de estacas de madeira fincadas verticalmente no terreno.
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As paredes estavam cobertas de fotografias, todas elas presas com pedaços irregulares de mais fita adesiva preta. Eu olhei para elas, enquanto Rowan jogava suas roupas no armário.
Lotes de fotos da lua, felizmente, não há cadáveres humanos, embora houvesse alguns close-ups de atropelamentos que eu poderia realmente ter vivido para sempre, sem ver, muito obrigado. Várias foram tiradas de fundo desfocado através das janelas e da chuva, então tudo que você podia ver eram as gotas de chuva sobre o vidro com formas difusas por trás deles. Não havia fotografias de Rowan ou da sua família ou qualquer pessoa, na verdade.
—Onde estão todas as fotos ensolaradas da Golden Gate Bridge38?— Eu perguntei com um sorriso. Ele piscou para mim. —O quê?
— Nenhuma dessas parece com São Francisco,— eu disse, apontando para as fotografias. — Você não tirou fotos enquanto estava morando lá?
Ele correu os dedos pelo cabelo novamente. — Uh, não. Eu não gostava disso. — Ele se sentou em sua mesa e mudou seu mouse para ativar o protetor de tela. Notei que ele tinha um jogo de paciência em seu computador, que parecia um pouco desisteressante.
38 Golden Gate Bridge (Ponte do Portão Dourado) é a ponte localizada no estado da Califórnia, que liga a cidade de São Francisco a Sausalito, na região metropolitana de São Francisco, sobre o estreito de Golden Gate - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:GoldenGateBridge—001.jpg
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Eu me virei e vi que ele tinha uma folha negra presa com alguma coisa na parte de trás da porta. — O que está aqui embaixo?— Eu perguntei, indo levantá-lo.
— Não!—, Ele disparou. Eu gelei, e ele respirou fundo. — Não faça isso.
— Tudo bem.— Dei um passo para trás. — Por quê?
— É um espelho—, disse ele. — Eu só não gosto de espelhos.
Oh, RRREALMENTE?
Parte de mim queria arrancar fora a folha e ver se podia vê-lo no espelho. Isso responderia à pergunta do vampiro muito definitivamente. Por outro lado, se ele fosse humano e percebesse que eu não podia me ver... teria de dar alguma explicação.
— O que há de errado com espelhos? — Eu perguntei, sentando-me sobre o colchão, pois não havia outro lugar para sentar. Inclinei para minhas costas contra a parede e descansei os cotovelos sobre os joelhos.
— Eu não gosto de olhar para mim mesmo,— ele disse, clicando sobre o jogo de paciência.
— Você deveria, — disse eu. — Você é totalmente bonito.
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Ele inclinou a cabeça lentamente para mim. —Ninguém nunca me disse isso antes.
Sim, muito provavelmente porque você também é estranho com todos por ai. —Bem, eu sou muito observadora,— eu disse, cruzando os tornozelos e inclinando para trás em minhas mãos. —Eu também observei que seu pai é um pouco assustador. Você sabia disso?
Rowan fez um pequeno barulho de rosnar em sua garganta. — Ele é um idiota. Ele não confia em mim. Ele diz que confia, mas me trata como um animal perigoso.
— Isso é péssimo, — eu disse, estudando seu perfil, enquanto ele olhava para a tela do computador. — Por que ele te trata assim?
—Ele é um policial, eu acho.— Rowan deu de ombros. —Ele tem uma idéia muito restrita de certo e errado, mas eu acho que é tipo besteira. Eu não posso fazer nada sem ter esse olhar dele, como se ele não tivesse idéia de quem eu sou. Tanto faz.
— Será que ele sabe alguma coisa sobre o assassinato do Tex,— eu perguntei. — Quero dizer, já que ele é um policial.
Rowan bufou. — Ele não vai falar sobre isso. Acha que é ruim para a minha cabeça. É uma daquelas pessoas que não entendem.— Ele me deu aquele olhar triste de novo. — Não gosta de você.
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— Eu só falei com Tex, uma vez, — eu disse, —Meu irmão Zach e eu estávamos no meu armário, em uma luta que acontece frequentemente. Tex veio até nós e cutucou o ombro de Zach e falou: 'Esse punk está incomodando você, mocinha? ' Zach respondeu: 'Não se incomode mesmo, Tex, ela é frígida...' então eu o chutei na canela e ele caiu, e o Tex disse: 'Cara, sua irmã é quente, mas assustadora', e Zach respondeu: 'Conte-me sobre isso', e eu disse: 'Vocês dois deveriam apenas ter um encontro entre si, vocês seriam um bonito casal', aí Tex disse: 'Ah, mas as meninas ficariam muito desapontadas'. E foi isso. Eu não sei, ele parecia idiota, mas não tão desagradável como alguns desses caras.
—Eles são todos iguais, — disse Rowan. —Atletas39. Você só precisa ser enfiado em um armário por um deles para saber que são todos assim.—
— Será que Tex fez isso para você? — Eu perguntei. — Enfiá-lo em um armário? — Isso era motivo... para ASSASSINNNATO?
— Que nada—, disse Rowan. —Ele me acertou com uma bola de vôlei algumas vezes no ginásio, isso é tudo. Mas só porque eu estava lá e foi fácil. Eu não acho que ele sabia que eu estava vivo. Se você perguntasse quem eu era, ele não teria a menor idéia. — Procurei por correntes de amargura em sua voz, mas não ouvi nenhuma. Ou elas não estavam lá, ou ele era um bom ator.
39 No original é Meatheads é uma gíria não tem tradução em português. Normalmente, descreve um homem que freqüenta a academia e só é obsessivamente preocupado com a —ficar grande—, e que possui pouca ou nenhuma outra qualidade ou personalidade.
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Ele girou para olhar para mim. — Eu não me importo, se é isso que você está pensando. Eu gosto de ser invisível.
— Eu acho que é útil para um fotógrafo, — eu disse, acenando para a parede. E também para um vampiro.
— Quer ver o meu poema? — Ele perguntou. Sem esperar por uma resposta, ele abriu uma gaveta da sua mesa e retirou uma caixa de metal trancada. Ele se virou para longe de mim de modo que não pude ver a combinação enquanto ele abria. Vi vários trabalhos dentro, mas ele rapidamente puxou o lençol de cima e fechou a caixa com um estalo. Ele girou a fechadura e escondeu a caixa dentro de sua mesa de novo.
—Aqui, — ele disse, aproximando-se do colchão. Ele sentou ao meu lado e me entregou o poema. Sua manga encostando-se ao meu braço nu, e nossos joelhos estavam praticamente se tocando.
O poema abrangia ambos os lados da página. Como se poderia esperar de um épico intitulado — Sangue, — foi escrito em tinta vermelha com manchas em todos os lugares e isso era mais longo, linhas rabiscadas quanto à forma do vermelho, ardente, pegajoso e sangue quente. Hum, bruto. Nada sobre o gosto do sangue, embora, notei. Mas senti como se tivesse sido escrito por alguém que tinha tido perto um monte de sangue. Havia uma linha que dizia — sangue, sangue de fogo contra os meus dedos.— Cara, seu pai não ficaria contente se descobri-se que Rowan tinha, literalmente, obtido o sangue de Tex em suas mãos.
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— Isso é realmente...— Comecei a dizer, mas de repente Rowan se inclinou e beijou-me.
Eu acho que deveria ter esperado isso. Isto é o que acontece quando você flerta com os meninos, especialmente os meninos instáveis. E eu estava interessada em saber se suas presas sairiam enquanto ele estava me beijando.
Mas por outro lado, foi muito estranho. Ele meio que perdeu a minha boca no primeiro momento e então tentou puxar-me para encará-lo e depois ele estava encostado muito em mim e eu não tinha lugar para colocar meus braços para me sustentar. Foi muito desconfortável. Além disso, ele quase imediatamente tentou enfiar a língua entre os meus dentes, o que é uma técnica de beijo que eu nunca tinha totalmente compreendido, francamente.
E eu não podia deixar de pensar sobre Milo e Daniel e como eu preferia beijar um deles. Já era ruim o suficiente estar flertando com dois caras que eu realmente gostava, acrescentando Rowan, de repente me senti uma enganadora. Este material de investigação do assassinato estava complicado.
— Ei, espere,— eu disse, colocando as mãos sobre seu peito e empurrando-o. — Isto esta um pouco rápido para mim.
— Mas eu pensei que você gostava de mim, — disse Rowan. Ele colocou a mão no meu joelho e inclinou-se novamente.
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—Sim, bem, — eu disse esquivando-me, — mas nós nos conhecemos, e...
Sua mão agarrou meu joelho surpreendentemente bem. — Oh, Deus—, ele disse. Ele me soltou de uma vez e enterrou a cabeça nas mãos. —Eu sou um idiota. Estraguei tudo.
— Não, não diga isso, — eu disse, sentindo uma pontada de culpa.
De repente a porta se abriu e eu quase pulei da minha pele. O pai de Rowan olhava furioso para baixo, para nós. Tudo o que eu conseguia pensar era Graças a Deus ele não entrou um minuto mais cedo. Apesar de eu imaginar que ainda parecia muito suspeito, lado a lado sobre o colchão assim.
— Eu acho que é melhor você ir, — disse ele para mim.
— PAI, — Rowan disse com raiva.
—Está tudo bem. Eu tenho coisas para fazer, — eu disse, correndo com meus pés. — Vejo você segunda-feira, Rowan?
Ele fez uma carranca olhou seus pés descalços e não respondeu.
Albert me seguiu pelo corredor até a porta da frente. Quando cheguei na maçaneta, ele me parou com uma mão no meu cotovelo. Foi um aperto suave, firme, mas não assustador. Olhei para ele com surpresa.
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— Sinto muito, — ele disse. — A cerca de Rowan, eu quero dizer. Eu espero que você não vá pensar... eu espero que você seja gentil com ele. Ele está tendo um tempo difícil agora, e ele às vezes diz coisas que não deveria.
— Está tudo bem, — eu disse sem jeito.
— Só não acredite em tudo que ele diz, — o pai de Rowan continuou. — Se parece que ele está falando como um louco ou qualquer coisa, quero dizer, você me conhece, certo? Se ele diz algo que soa estranho, ou se fala como se tivesse feito alguma coisa maluca, ou qualquer coisa assim. Não o leve a sério.
Eu não sei quem estava mais assustado, eu ou o pobre velho Albert. Olhei por cima do ombro e vi outro espelho na sala, sobre a lareira, também coberto por um lençol preto como uma mortalha.
— Vou deixar que você saiba, — eu disse. — Ele parece estar bem para mim.— Bem, além das fotos de cadáveres e do mau humor global e potencialmente ser um vampiro, de qualquer maneira.
— Talvez um pouco triste.
Os olhos de Albert estavam tristes, também. — Tenha uma boa noite,— ele disse, abrindo a porta para mim.
Corri da alameda ate à calçada, sentindo um arrepio percorrendo minha espinha. Quando eu olhei para trás, vi o movimento em três
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janelas diferentes e três rostos olhando para mim através das persianas, cada um de um quarto diferente. Donna e Albert deixaram cair às cortinas quando eu os vi, mas Rowan ficou parado, olhando para mim com esses sombrios e profundos olhos azuis em quanto eu saía para a rua.
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Eu precisei de uma forte dose de normalidade quando cheguei em casa, então peguei o celular para ligar para Vivi. Ela era a única amiga de verdade que eu fiz desde que me mudei para Massachusetts, principalmente porque ela era o tipo de cadete espacial que nunca iria notar algo estranho em mim. Acho que mesmo se as minhas presas saíssem na frente dela, ela seria do tipo: — Cara, tem algo errado com a sua maquiagem — Oh, e a propósito, você ouviu quem vai estar no Dançando com as estrelas esse ano?
Essa é uma das várias coisas que eu gosto nela.
Crystal estava assistindo TV sozinha quando eu entrei na espelunca para dificultar com o telefone. — Onde está Bert?— Eu perguntei.
— Eu não sei— Ela disse. — Acho que ele subiu as escadas com Zach um tempo atrás, mas eu também ouvi alguém saindo pela porta dos fundos, então talvez fosse ele.
— Está tudo bem?— Eu perguntei.
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— Ah, sim— Ela disse. — Ele só vem agindo de um jeito estranho ultimamente, meio distante, sabe? Provavelmente são apenas coisas com dinheiro, eu acho — ele está meio que enrolado nesse tipo de coisa.
Bert sempre pareceu um pouco estranho e distante de mim, mas eu não havia notado em relação a ela, ele continua sendo um cara legal, mesmo quando ele é esquisito.
Eu também não corri para nenhum dos meus pais vampiros, eu fui de cabeça para o meu quarto, possivelmente eles ainda estavam adormecidos, era apenas cedo da noite. Eu não queria vê-los, de qualquer forma. Eles iriam perguntar se eu já havia encontrado o vampiro assassinado, e eu não tinha certeza de que meus sentimentos horripilantes mais as fotos de cadáveres de Rowan iriam ser uma evidência a mais para eles. Mas eu também não tinha certeza se eu queria continuar investigando-o, de qualquer forma. Não se houvesse mais algum beijo de língua envolvido.
Vivi pegou seu telefone de primeira. — Kira!— ela gritou. Ela não soava exatamente —despedaçada— ou —dominada.
— Hey, senhorita — Eu disse, caindo na minha cama. — Sinto sua falta, a escola é perversamente entediante sem você.
— Sua grande mentirosa— Ela disse. — Eu ouvi que você está tendo muita diversão na minha ausência
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— Eu?— Eu disse inocentemente — Sobre o que você está falando?
— Eu estou falando sobre dois garotos fofos! — Ela choramingou —Primeiro de tudo, quem é esse garoto misterioso? Ruby disse que ele parece o Will Smith.
Eu sorri. — Eu não vou te contar nada. Você merece sofrer por me abandonar por toda a semana.
— Alô, eu estava me recuperando! — Disse Vivi — Não me torture, Kira! Me conte sobre ele! Ele é gato como todo mundo diz?
— Quem é todo mundo?— Eu perguntei. —Por que você está falando com todas essas pessoas ao invés de mim?
— Eu te liguei umas cinqüenta vezes!— Vivi choramingou, injuriada. — Zach não te contou?
— Claro que não!— Eu disse — Grande pateta — Por outro lado, eu não o havia dado muita oportunidade de passar mensagens, considerando que eu praticamente pulei pela janela seja lá quando eu o ouvi chegar.
— Ele provavelmente está todo chateado sobre Tex, também — Vivi disse, melodramaticamente. Eu já havia mencionado que ela é uma atriz ambiciosa, certo? — Aposto que a dor de cabeça o está distraindo.
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— Ah sim, esse é o Zach. — Eu disse. — Ele é apenas muito sensível.
Ela perdeu por completo meu sarcasmo. — Você está escapando da questão, senhorita.— Ela disse. —Conte-me sobre o garoto gato misterioso!
— Tudo bem,— Eu disse, rindo — Mas não há muito que contar. O nome dele é Daniel. Eu o conheci no dia antes dele começar na Luna, então eu venho mostrando-o as coisas por aí. Isso é tudo.
— Sim, claro.— Ela disse —E sobre Milo Sparks?
— Nossa, você sabe de tudo, não?— Eu disse. —Para alguém que vem estando de cama por toda a semana, você está extraordinariamente bem informada.— Eu estava agradecida por ela não parecer saber sobre Rowan, eu acho. Abri minha mochila e puxei meu bloco de desenho. Só de pensar sobre Milo e Daniel me fez sorrir.
— O que você fez para ele?— Vivi questionou. —Ele é famosamente inapropriado! Ninguém nunca foi capaz de namorá-lo. Agora eu descubro que ele é ‘todo sorrisos’ com minha melhor amiga e ela sequer me contou!
— Eu não sei sobre sorrisos — Eu disse, corando. — E eu tenho certeza de que ele já teve uma namorada antes.
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— Não nessa cidade — Disse ela. —Ruby vem tentando conseguir sua atenção por dois anos sem sorte.
Aposto que ela nunca tentou caindo em uma piscina, eu pensei —Eu sou só sortuda, eu acho.
— Sortuda e gostosa.— Vivi disse. — A essa altura, você terá todas as garotas da escola tingindo seus cabelos de verde. Qualquer coisa que pegue sua sorte com garotos.
Eu encontrei a página que Milo tinha rabiscado. Ele teria escrito Kira ama Milo e Sra. Kira Sparks e seu telefone com um coração em volta, assim como eu seria uma sexta graduante com uma queda e teria escrito tudo sobre mim. Eu ri.
— Então de qual você gosta mais?— Vivi exigiu.
— Bem, Daniel é ardente-gostoso-sexy,— Eu disse. — Ele tem aquela coisa toda de ‘homem misterioso’. Mas Milo é fofo, e realmente divertido.
— Eu posso ter o que você não quiser? — Ela perguntou esperançosamente.
— Aw, e sobre Alejandro?— Seu namorado não exatamente sendo terrivelmente atencioso.
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— Oh, ele está com humor porque não entende por que precisei tirar três dias de folga para lamentar Tex. É que ele não tem idéia do quão sensível e delicada eu sou. Hey, você vai ao serviço memorial amanhã?
— Serviço memorial?— Eu ecoei. —Eles não fizeram isso na escola?
— Bem, esse é o real,— ela disse. —É amanhã ás sete da noite, no campo de futebol. Acho que praticamente toda a cidade estará lá. Eu ouvi que seus pais dedicarão algo a ele, como uma árvore ou um troféu, algo do tipo. E também toda a cidade está convidada a voltar a casa deles para uma vigília no domingo.
Eu me empertiguei — A cidade inteira? — Parecia que iria envolver todos os vampiros da cidade, não?
— Sim, está no jornal — ela disse. — Convite aberto. Então, você quer ir?
— Oh — Eu disse. —Não, provavelmente eu não vou— Eu digo, eu nem conhecia ele pra valer, e seria meio estranho, sabe? — Mais ainda se todos estariam no campo de futebol... E eu de repente tenho um convite aberto para sua casa... Então seria a hora perfeita para entrar no quarto de Tex e procurar por pistas.
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— Ah, cara,— disse Vivi. — Você tem certeza? Nós poderíamos ir tomar uns milk-shakes mais tarde ou algo assim. Eu digo, triste, uns milk-shakes propriamente sombrios. Oh, talvez você poderia trazer Zach.
Eu fiz uma cara. —Desculpe-me, eu não posso,— eu disse. — Eu meio que... tenho um encontro.
—Eu sabia!— ela gritou. — Eu te deixo sozinha por dois dias e de repente você tem essa vida amorosa louca! Isso não é justo! Ok, com quem é? Aonde vocês vão? E mais importante: o que você vai vestir?
Veja, é por isso que eu gosto da Vivi. Ela pode ter um encontro com um vampiro sedento por sangue e se focar no que é realmente importante. Nós passamos as próximas duas horas conversando sobre roupas e garotos, e pelo que desliguei, toda teia de aranha emocional deixadas no meu encontro com a família de Rowan tinha sido varridas.
Não apenas isso, mas agora eu tinha um plano. Enquanto a cidade estava ocupada no serviço memorial de Tex, eu estaria subindo na janela do seu quarto e procurando por pistas. Eu imaginei que duas horas antes do meu encontro com Daniel era tempo bastante.
Apenas por segurança, pensei. Eu me vesti para o encontro antes do tempo. No qual agora eu me encontrei esperando no jardim de Tex, às sete e meia na noite de Sábado, tentando imaginar como passar pela grossa cerca de arame farpado. Circuitos enormes bloqueavam as janelas em torno de toda a casa, que se você me perguntar era não muito amigavelmente plana. No entanto eu talvez devesse saber que invadir
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uma casa esmagada dentro de um vestido de veludo preto talvez não fosse exatamente uma boa idéia.
Eu coloquei minhas mãos nos meus quadris e olhei fixamente para as janelas. Devia haver outro jeito. Eu teria checado a porta da garagem, mas tinha um teclado com senha para entrar, então não me ajudou.
Eu levantei a esteira debaixo da porta dos fundos. Nada. Eu pulei e corri minha mão pelo topo da moldura da porta, que estava sem frutos e suja. Limpando a sujeira, eu chequei qualquer possível pedra falsa perto da porta, mas nenhuma delas tinha chaves escondidas dentro. Claro, eu arrombaria a porta com a minha força vampírica, mas eu não queria ser tão óbvia quanto a isso. Wilhelm definitivamente não iria ficar muito agradecido sobre qualquer outra suspeita de crimes tipicamente vampíricos.
Eu estudei a porta novamente e finalmente percebi a porta do gato.
Oh, universo. Por que você me faz fazer essas coisas?
Sim, eu sou na verdade assim tão pequena, por sorte — Embora levando em consideração o meu vestido apertado, seria muito bom ter umas polegadas a menos em qualquer direção. Eu inspirei, empurrei, comprimi e segurei meu ar, e finalmente eu saí do outro lado e me estendi pelo chão frio da cozinha dos Harrison.
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A casa estava realmente quieta. Eu pude ouvir o tique-taque do relógio de avô no hall. Louças estavam espalhadas pela pia como se ninguém tivesse tido energia suficiente sequer para coloca-las na lav-louças. Eu arrastei meus pés e encarei as escadas, espiando cada cômodo que passei. Uma sala de estar espaçosa e branca, austera e saborosa comparada as outras. Uma elegante sala de jantar que parecia ser raramente usada. Um pequeno cômodo com poltronas de couro marrom distribuídas em volta de uma TV que sem dúvida este era onde Tex e seu pai se exilavam para assistir futebol, enquanto sua mãe e sua irmã mais velha gentilmente dominavam a limpa sala de estar. Eu havia lido sobre sua irmã, Caprice, no jornal; ela viria para casa da faculdade para o funeral.
Eu olhei pelas escadas e portas abertas até eu encontrar o quarto que era sem engano o de Tex. Tudo gritava esportes: calendários de líderes de torcida, roupas de cama Patrióticas, cobertores e banners dos RedSox. Eu entrei e fechei a porta atrás de mim com um talhe.
Era óbvio que seus pais não haviam tocado em nada aqui desde que ele havia morrido. Seus lençóis estavam jogados como se ele tivesse acabado de levantar, calções de basquete jogados pelo chão próximo a um par de tênis. Um protetor de tela com fotos da Angelina Jolie passava pela área de trabalho do seu computador. Clássico.
Um pensamento me intrigou: Por que a polícia ainda não havia estado aqui? Ou se eles estiveram, eles foram muito cuidadosos em não mover nada. Talvez eles estivessem esperando até depois do funeral para
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causar um distúrbio na família. Eu não sei; eu não sou da polícia. Eu estava apenas fazendo seu trabalho por eles.
Só para o caso de você estar pensando, a propósito, eu não estava sendo uma total idiota. Eu estava com luvas pretas longas até o cotovelo e meu cabelo estava preso, então eu estava ao menos fazendo esforço em não deixar qualquer traço do meu DNA jogado ao redor. No entanto se eles encontrassem algo para colocarem no seu sistema, o resultado seria de uma garota morta chamada Phoebe Tanaka, então acho que eles pensariam que seria um erro na sua tecnologia e deixariam de lado de qualquer forma.
Eu me sentei na escrivaninha de Tex e movi o mouse no mouse pad do RedSox. Sua caixa de entrada de seu e-mail apareceu na tela. Era estranho ver algumas mensagens novas no topo, claramente de pessoas que não sabiam da notícia ainda. Também havia uma de Ruby, amiga de Vivi. Eu não abri, mas eu pude ver a mensagem na caixa de prévia da mensagem: Sinto sua falta, Tex. Eu não abri nenhuma das novas mensagens, eu imaginei que seria bem suspeito também.
Em um botão na tela eu vi algumas outras abas: Um rascunho em inglês do começo de entrada de um blog. Curiosa, eu cliquei no blog.
Estava datado da noite do assassinato, por volta das sete e meia, mas ainda não havia sido postada. Acho que ele tinha começado, e a ligação de quem quer que seja na escola o interrompeu. No entanto, eu também pude ver que ele checou seus e-mails por volta das sete, então ele não tinha ido à escola até tarde da noite, então era certo o que o
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policial reportou no jornal de que ele havia morrido por volta da meia noite.
Eu vi o blog que não havia sido postado, e meu sangue correu frio.
Ele sabia. Tex sabia.
A entrada do blog dizia:
Caras, vocês não vão acreditar no que eu vi hoje! Preparem suas mentes para um golpe. TEM UM VAMPIRO NA NOSSA CIDADE! Sério! Eu o flagrei hoje. Eu sei! Sim, eu! Eu vi um vampiro! Eu sei como você está, Hey, o quê? Tex é louco! Mas é verdade. Eu o vi no espelho— na verdade, eu não o vi no espelho. Ele estava parado bem em frente MAS NÃO HAVIA NADA LÁ! Totalmente vampiro, caras! Eu aposto que se eu quisesse, ele teria me transformado em um vampiro também, mas aí a Notre Dame poderia tirar a bolsa escolar do futebol, estou certo? Haha! Então o que eu faço? Vocês todos querem saber quem é? Eu realmente deveria revelar sua identidade? Poste um comentário e me diga o que acham!
Eu estava satisfeita e agora eu estava sentando. Agora aqui havia um motivo para assassinato. Esqueça ser empurrado em um armário, se um vampiro pensasse que Tex estava prestes a expô-lo, não era totalmente surpreendente que ele jogaria ele pela janela. Não que tenha feito isso, claro.
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Então quem havia sido? Deve ter sido alguém que Tex havia visto na terça-feira. Aquilo significava que eu poderia tirar Daniel da lista de suspeitos? Mas era possível que eles tenham se encontrado de alguma forma... Eu não podia levar a palavra de Daniel em conta exatamente. Em outra mão, Rowan havia mencionado que ele tinha aula de ginástica com Tex; talvez Tex tenha dado falta do reflexo de Rowan na sala de armários.
Isso estava longe de estar sobre circunstancias normais de uma investigação policial, mas nesse caso, era um caso de vida ou morte (ou ao menos, eu tinha certeza que Wilhelm pensaria assim). Eu deletei a entrada do blog, e depois eu fui ao histórico do computador e deletei qualquer traço que pude encontrar. Provavelmente não era o método mais infalível, mas com esperança de que eu não estivesse lá encarando os policiais quando eles checassem o computador, então eles não prestariam tanta atenção a isso se nunca encontrassem.
Eu estava prestes a voltar aos e-mails de Tex quando de repente eu ouvi um barulho.
Não era um barulho alto — a audição humana provavelmente não teria notado. Mas aos meus ouvidos vampíricos eram claros como cristal.
Passos viam pelas escadas.
Mais alguém estava na casa.
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Eu mergulhei no armário, o que eu imediatamente percebi que era um erro, porque (A) que lugar totalmente óbvio para se esconder, e (B) a roupa de garotos tem cheiro de alguma coisa horrível. Eu achei que estava em roupas sujas até o joelho, mas não tinha tempo de achar um lugar melhor. Eu pude ouvir os passos vindo pelo corredor, direto para o quarto de Tex.
Eu me encolhi e fechei quase completamente a porta, deixando para mim mesma somente uma fresta para espionar.
A porta do quarto abriu. Uma silhueta apareceu na luz vinda do corredor por um breve momento. Então, quem quer que seja, entrou no quarto e fechou a porta. Como eu, ele ou ela não ligou a luz. Como eu, o recém-chegado ficou lá por um longo tempo, olhando ao redor do quarto. Eu pude ver somente uma linha fraca da forma da pessoa no brilho vindo do monitor do computador.
O computador! Eu tinha esquecido de ligar o protetor de tela! Isso teria levado tempo demais, mesmo. Essa pessoa sabia que deveria ter imagens sexy da Angelina Jolie girando pela tela agora?
Houve uma pausa excruciantemente longa. Eu estava muito feliz de não ter batimento cardíaco, porque eu tinha certeza que estaria
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batendo forte o bastante para acordar os mortos. Ainda assim, eu tive que juntar as mãos para não tremer.
Era alguém que vivia aqui? Sua mãe ou pai? Como eu iria explicar o que estava fazendo dentro do quarto do filho deles? Eu pensei sobre o que acontecia com vampiros na prisão. Havia uma rede de sangue subterrânea para me manter viva?
Ou era o assassino de Tex, que veio apagar a evidência assim como eu tinha vindo? O que ele faria se me encontrasse aqui... e soubesse que eu tinha visto ele.
A figura deu um passo à frente. A luz azul pálida do computador iluminou seu rosto.
Eu não pude evitar. Eu arfei.
Ele se virou com uma expressão surpresa enquanto eu abria a porta do armário.
— O que você está fazendo aqui? – Eu exigi.
— Eu? – Daniel disse indignadamente. – O que você está fazendo aqui?
— Eu estou solucionando um assassinato, — eu disse. – Você obviamente está tramando alguma coisa ruim.
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— Não, eu estou solucionando um assassinato. – ele disse. – E isso está parecendo muito suspeito para você, mocinha.
— Nuh—uh! – Eu protestei. – Você é o suspeito. Esgueirando-se por aí, matando as pessoas do coração!
— Bem, se você não estivesse se escondendo no escuro, onde não devia estar, então você não seria tão facilmente assustada, seria? – ele disse. – E eu não estava me esgueirando.
— É, bem, eu não estava me escondendo.
Nós nos encaramos por um momento, nariz com nariz... Bem, tecnicamente nariz com abdominais muito legais, já que ele era substancialmente mais alto que eu. Eu estava encantada de ver que ele estava usando outra camisa de botões quase completamente desabotoada. Eu não conheço muitos caras que saem por aí vestidos desse jeito, mas em Daniel era um visual que eu não me importava. Mesmo.
Distraída? Quem, eu?
Eu olhei naqueles perfeitos olhos castanho-escuros, que estavam brilhando com raiva. Sua respiração estava rápida e superficial, e suas mãos estavam tremendo um pouquinho. O que ele estava pensando? Ele suspeitava que eu era o assassino? Ou ele realmente era o assassino, e ele tinha percebido que tinha sido pego em flagrante? Ele estava prestes a abaixar um par de presas e tentar me morder?
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Eu decidi que o melhor jeito de distraí-lo era beijá-lo. Ou talvez eu só queira mesmo.
Talvez ele tenha tido a mesma ideia ao mesmo tempo, porque pareceu que ele pegou meus braços e me puxou para ele bem enquanto eu estava me inclinando em direção aos seus lábios.
Esse não era o beijo elegante e doce que ele tinha me dado no corredor da escola. Esse era só paixão e fogo. Eu corri minhas mãos pelas suas costas, por baixo da camisa, e ele fez um profundo som na sua garganta.
Por um momento eu pensei em jogá-lo na cama e tê-lo bem ali, mas então eu pensei, Wow, isso seria inapropriado. Além do mais, ninguém sabia qual foi a última vez que Tex trocou os lençóis, e só imagine seus pais entrando e nos flagrando, e com certeza tinha algum lugar mais romântico onde poderíamos—
Daniel me empurrou para longe dele. — Esse é um jogo perigoso. — Ele disse, apontando para mim. Nenhuma presa tinha aparecido magicamente, eu estava desapontada ao notar. É claro, eu estava controlando as minhas bem melhor à esse ponto, então meu rosto também não denunciou nada. Se ele era um vampiro, isso só significava que ele tinha experiência — mas eu não gostei desse pensamento também.
— Que jogo? — Eu disse, ajustando meu vestido. O movimento pareceu atrair sua atenção de um jeito diferente. Ele piscou para minhas
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botas altas como se ele estivesse tentando não olhar para o meu decote. — Eu não estou jogando nenhum jogo, — Eu continuei. — Tudo que eu vejo aqui é você bagunçando minha investigação de assassinato.
— O que? — ele explodiu. — Você é quem está bagunçando a minha — ele parou e pressionou seus dedos na testa. — Por que você esta tentando resolver isso? — ele perguntou lentamente.
É, certo. Você pode me contar a verdade primeiro, senhor. – Por que eu sou corajosa? – Eu tentei com um sorriso vencedor. – Eu sou só um tipo de garota que luta contra o crime?
Ele me encarou.
— Okay, eu vou ser honesta, — Eu disse. — É porque eu assisti todos os episódios de Verônica Mars, tipo, umas trezentas vezes, e eu quero ser muito igual a ela.
Ele olhou para o seu relógio. — Nós não temos tempo para isso. Nós temos que sair logo daqui.
— Como você entrou? — Eu perguntei curiosamente.
— A porta dos fundos estava destrancada, — ele disse. Ele inclinou sua cabeça para mim. — Não é como você entrou?
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A conversa soou familiar. Só que dessa vez eu me senti muito mais boba. Eu nem tinha tentado a maçaneta. Eu era uma idiota completa.
— Er... não. — Eu admiti. — Eu entrei pela porta do gato.
Daniel escondeu um sorriso.
— Não se atreva a dizer, —isso explica o cabelo, — eu disse furiosamente.
— Não sonharia em dizer isso, — ele disse, e olhou ao redor. — Bem, você achou alguma coisa?
— Não, — eu menti. — Eu só tinha estado aqui por alguns minutos quando te ouvi, — Eu apontei para a tela do computador. Daniel sentou na cadeira e estudou a caixa de entrada de Tex. Eu assisti sobre o seu ombro enquanto ele teclava algumas senhas.
Uma janela apareceu, com a última conversa de MSN de Tex.
— Hmmmm, — Daniel disse. — Você sabe quem é Pire-O-Maniac66?
— Não, — eu disse, me inclinando para ler a conversa. Parecia muito inócuo.
Tex tinha escrito: Ei, cara. Estou entediado. Você?
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Pire-O-Maniac66: Mesma coisa.
Tex: Quer jogar basquete?
Pire-O-Maniac66: É, claro.
Tex: Demais. Me encontre na escola em trinta minutos.
— Incitante, — eu disse. — A vida de Tex Harrison era cheia de novidades e excitação.
— Mas essa era à tarde antes do assassinato, — Daniel apontou. — Talvez ele tenha tido uma briga com o cara enquanto eles estavam jogando basquete.
Ou talvez eles estivessem em frente a um espelho depois... no vestiário do cara?
— É, talvez, — eu disse. — Embora você tenha que ser bem psicopata para matar um cara por converteu mais cestas que você.
Daniel só olhou para mim.
— O que? — Eu disse. — Essa não é a frase? Converter mais cestas?
Daniel balançou sua cabeça e fechou a janela da conversa. — Eu não vejo mais nada, — ele disse. — É melhor nós irmos.
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Eu pensei se ele planejava voltar sem mim, mas eu não me importei. Eu já tinha achado uma pista melhor da que ele achou. Engula isso, Sr. Detetive Amador.
Nós corremos pelas escadas e saímos pela porta dos fundos, checando se a barra estava limpa antes de dar a volta até a calçada na frente da casa.
Enquanto nós descíamos a rua, eu vi um carro passar com três pessoas dentro — pessoas que eu reconheci das fotos na casa de Tex.
— Ufa, — Daniel disse quando os avistou, também. Ele puxou um lenço — um lenço de verdade! — e passou pela sua testa, igualzinho a um cara em um filme da Jane Austen. — Essa foi perto.
— Então, — eu disse, arrumando meu cabelo no lugar e sorrindo para ele, — esse encontro ainda inclui jantar?
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Acredite ou não, Daniel e eu conseguimos ter um encontro muito civilizado depois disso. Você pode pensar que seria um pouco incômodo, ambos sendo meio suspeitos e tudo, mas nós só evitamos os tópicos de assassinato e as investigações criminais amadoras, e tudo foi surpreendentemente bem. Eu acho que o vestido curto colado o ajudou a se animar. Fora que ele ainda havia me levado para uma churrascaria, que basicamente é uma rota direta para o meu coração agora que eu era uma comedora assídua de carne.
Claro que eu passei o tempo todo imaginando o porquê do Daniel estar investigando o assassinato. Mas eu sabia que trazer isso para a conversa faria com que o Daniel me fizesse perguntas também... o tipo de pergunta que eu não estava afim de responder. Eu fiquei acordada o resto da noite organizando e reorganizando minhas pistas, na esperança de que se eu as encarasse de maneiras diferentes me daria à resposta para o que eu estava procurando. Eu caí no sono um pouco antes do amanhecer.
Que era a causa de eu não estar nem um pouco animada quando o Zack bateu na minha porta seis horas depois, às onze da manhã.
—VÁ EMBORA! — Eu gritei por debaixo das cobertas.
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— O que foi? — Ele falou através da porta.
— Me deixe em paz, Zack!
— Tudo bem,— ele disse com uma nota de alegria em sua voz.
— Eu só vou falar para ele que você não quer vê-lo.
— Sim,— eu murmurei para o meu travesseiro. Um momento depois, eu sentei rapidamente na cama. — Espere, quem? — eu gritei. —Ele QUEM?
Eu sabia que ele podia me ouvir, porque eu ainda podia ouvi-lo, cantarolando presunçosamente enquanto ele descia as escadas. Mas ele não respondeu.
Droga...
Eu pulei da cama e corri para a minha cômoda. Eu havia dormido com uma blusinha e um shorts curtinho, e não havia um 'ele' que eu poderia pensar em querer que me visse assim. Mas tinha que estar no andar de baixo rapidamente, então eu tinha uma crítica escolha a fazer: (a) achar um moletom, (b)escovar meu cabelo, ou (c)colocar calças. Se você me ver logo pela manhã, você entenderá porque eu escolhi (b). Eu passei uma escova pelo meu cabelo rapidamente. Abri a porta, e corri escada abaixo atrás do Zach.
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— Desculpa, — Zach estava dizendo enquanto ele fechava a porta. Eu agarrei a maçaneta e a tirei de sua mão. Milo estava de pé nos degraus, parecendo repugnantemente altivo e robusto e lindo e desperto para aquela hora da manhã.
— Uh—oh,— ele me disse quando me viu.—Você pode acreditar uh—oh,— eu reclamei. —Você sabe que horas são?
— Quase meio—dia,— ele disse com um sorriso de desculpas. —Nem perto de meio—dia!— eu disse. —Eu sinto que esse relacionamento está condenado.
— Ajudaria se eu dissesse que você está muito bonitinha nesse pijama? — Milo disse. Eu dei uma olhada nos pingüins usando óculos nos meus shorts. Minha blusinha preta dizia.Me acorde quando tiver panquecas, escrito em letras brancas na altura do peito. — Não, porque eu tenho quase certeza que você estaria mentindo,— eu disse.
—Eu não estou!— Milo protestou. —Eu acho que eles são adoráveis.
—HU—HUM.— Atrás de mim, Zach limpou sua garganta enfaticamente. — Se vocês já terminaram de deixar todos enjoados, nós podemos fechar a porta por favor? Milo, cara, ou entre ou vá embora.
Eu encarei o Zach. Por falar em não saber protocolo anti-vampiro... Minha única chance de saber se o Milo precisava de um convite para entrar na casa, e o Zach estragou tudo. Milo me deu um
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olhar de cachorro chorão. — Está tudo bem? Posso entrar?— ele perguntou. Ele segurava uma sacola de papel.
—Muffins ajudariam?
—Humm,— eu disse. —Depende. Que tipo?
—Banana com gotas de chocolate.
—Ohhh, nesse caso,— eu disse, segurando a porta aberta. Enquanto o Milo entrava, eu passei um olhar por ele e vi o seu carro na garagem. Por que ele estava acordado no meio do dia? Isso significava que ele definitivamente não era um vampiro — ou ele só estava tentando agir como um humano normal para o meu bem? Zach nos seguiu para a cozinha com um olhar reservado em seu rosto. —Então por que você está aqui?— ele grunhiu para o Milo.
— Zach, você não tem um teste de cálculo para terminar?— eu disse claramente.
— Eu já terminei,— ele disse, subindo em uma das banquetas da cozinha com uma atitude de eu não vou a lugar nenhum.
— Desculpa pelo meu irmão,— eu disse para o Milo. Zach fez uma carranca ainda maior para a palavra com i.
— Sem problemas, Zach é legal,— Milo disse, dando ao Zach um sorriso que não foi retornado. Veja, se houvesse alguma pergunta de que
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algo estava errado com o Zach, isso acabava de responder. É simplesmente anormal resistir a um sorriso como o do Milo. Crystal enfiou sua cabeça loira na porta. — Eu ouvi alguém dizer muffins?— ela perguntou. Eu sabia que ela devia estar dormindo quando ele disse, mas a Crystal é como eu – ela pode sentir a comida a um quilômetro de distância, e até se levanta no meio do dia para comer.
— Milo, esta é a minha irmã, Crystal,— eu disse. — Eu devo te avisar que essa é uma casa cheia de lobos famintos, então eu espero que você tenha trazido muffins o bastante para se salvar.
— Vamos descobrir,— ele disse, abrindo a sacola. Eu entreguei para ele um prato e ele jogou uns dozes muffins dentro. Minha boca escancarou.
— Você fez isso?
— Um... sim,— ele disse. —Isso é esquisito? Você acha que eu sou menos masculino agora?
— Sim,— grunhiu Zach.
— Mmmblwttwsmph,— Crystal disse com a boca cheia de muffin. Ela praticamente estava usando a velocidade de vampiro para mergulhar neles.
— Eu acho que você é o fabricante de muffin mais masculino, mas atraente que já conheci,— eu disse, deslizando meus braços ao redor da
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cintura de Milo e o abraçando. Zach parecia que estava prestes a vomitar.
— Eu nunca consigo encontrar muffins que sejam de banana com gotas de chocolate,— Milo explicou, colocando seus braços ao redor dos meus ombros, —então eu imaginei que teria que fazê-los eu mesmo.
— Tudo bem, está tudo perdoado,— eu disse. —Eu posso aprender a amar um homem muffin, mesmo se ele tenha horas loucas.— Milo e Crystal riram. Zach nem tanto.
— Vocês viram o Bert?— Crystal perguntou, mordendo as beiradas de seu muffin. —Eu acordei e ele tinha saído.
— Não, desculpa,— eu disse. Zach balançou a cabeça.
— Tão estranho,— ela disse. —Eu verifiquei todos os quartos. Ele deve ter saído para algum lugar.
— Ele é o marido da Crystal,— eu expliquei para o Milo enquanto
ela saía da cozinha.
—Onde estão seus pais?— Milo perguntou.
—Dorm –— Zach começou.
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—Saíram,— eu disse, chutando ele com força por debaixo da mesa. Que tipo de adultos normais estariam dormindo perto do meio-dia de um domingo?
—Então o que vamos fazer hoje, agora que alguém rudemente me acordou e tudo?
—Bem,— Milo disse, —como você se sente sobre a praia?
Meu rosto deve ter revelado os meus verdadeiros sentimentos antes de eu falar, porque imediatamente ele começou, —porque eu acho que é terrível. Eca, quem gosta da praia, certo? Eu odeio a praia. Totalmente odeio. Credo.
Eu ri. —Além disso, uma praia em Massachusetts no começo de outubro?
— Sim, tudo bem, pior idéia do mundo,— Milo disse concordando. — Você sabe o que é bom, no entanto, é... ir para o shopping?— Meu nariz mal tinha se enrugado antes dele dizer, — Só estou brincando! Eu odeio o shopping, também. Pior lugar do mundo.
Eu costumava gostar do shopping, mas você não tem idéia de quantos espelhos existem em um shopping comum até que a sua vida de repente passa a depender de evita-los. Esta era uma coisa que Vivi e eu discutíamos sobre, porque ela acha que é fundamentalmente anti-americano odiar shoppings. Ela vivia dizendo para mim, — Mas você se veste tão bem! Você deve amar ir ao shopping! Eu não entendo!—
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Infelizmente, hoje em dia eu faço todas as minhas compras de roupas on-line. É um maldito incômodo.
—Ei, Milo, — Zach interrompeu. —Eu estava querendo te perguntar uma coisa.
—Dispara, — disse Milo, pegando um dos muffins. Eu já estava no meu segundo, se você está curioso.
—Eu estava pensando, — disse Zach com uma ensaiada descontração, — o que você estava discutindo com Tex na segunda-feira na sala de musculação.
A mão de Milo congelou no meio caminho do seu muffin à boca. Olhei para Zach, cujos olhos estavam fixos em Milo. Milo cuidadosamente colocou o muffin para baixo. —Eu não sabia que havia mais ninguém lá—, ele disse lentamente.
—Eu estava por perto—, disse Zach. —Eu tenho um ouvido muito bom. Mas eu não entendi do que se tratava.
Milo estava evitando meus olhos. Por um lado, se o que Zach tinha dito era verdade — e tinha certeza que era— então ele poderia ter acabado de me dar uma dica importante. Por outro lado, Milo agora parecia muito triste e desconfortável, e isso meio que me fez querer socar o Zach no nariz. Eu cheguei mais perto de Milo e deixei meu braço encostar contra o seu de uma forma simpática. Talvez também em um — ooh, seus braços estão muito sexy.
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—Não foi nada, — disse Milo com um encolher de ombros. Ele me deu um meio sorriso e tocou levemente a minha mão livre. — Só uma briga estúpida. Eu me sinto mal sobre isso agora.
—Isso não soa como um nada—, Zach pressionou. —Eu te ouvir dizer algo sobre aquele assustador veterano? —Meus ouvidos se animaram.
—Assustador veterano?
—Aquele que nunca fala com ninguém, — disse Zach. —Ele está sempre tirando fotos ou escrevendo nesse note-book. Qual o nome dele, Milo?
—Rowan algo, — disse Milo. —Rowan Cantor, eu acho. Sim, era sobre ele.
Agora, meus sentidos estavam em alerta máximo. —Tex e Rowan conheciam uns aos outros?
—Mal, — Milo disse, estremecendo. —Isso era parte do problema.— Suspirou. — Tex, decidiu que era o trabalho dele como capitão recrutar novos membros para o time de basquete, já que eles perderam feio no ano passado. Ele notou que Rowan era alto, o que era bom o suficiente para ele.
—Eu pensei que Tex era todo sobre futebol,— eu disse.
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—Ele pratica todo esporte que consegue encaixar em sua agenda, — Milo disse. — O basquete também.
—Eu não consigo realmente imaginar Rowan jogando basquete,— eu disse.
—Exatamente,— Milo concordou. —Quer dizer, eu realmente não conheço o cara, mas tanto quanto eu posso dizer, ele só quer ser deixado sozinho.
— É sobre isso que vocês estavam discutindo?— Zach interrompeu.
— Mais ou menos.— Milo coçou a cabeça. —Eu pensei que Tex estava meio que perturbando-o. Como, entrando realmente em seu espaço, sabe? Rapazes na equipe de natação me disseram que Tex jogaria basquete com Rowan durante a aula de ginástica e o seguia no corredor, insistindo com ele sobre como o time precisava dele e outras coisas. Achei que conhecia bem Tex o suficiente para dizer-lhe que achava que deveria recuar.
Ele pensava o contrário. Ele continuou dizendo que pensava que Rowan estava finalmente ficando interessado.— Ele olhou para mim. —Quão terrível é lutar com um cara um dia antes dele morrer? Eu não queria dizer nada porque não é como se eu pensasse que Tex fosse um cara mal. Ele simplesmente se... entusiasmava de mais, às vezes.
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—Claro,— eu disse, concordando. Um milhão de coisas estavam passando pela minha cabeça. Clicando coisas. Provavelmente não as coisas que Zach estava esperando que passasse pela minha cabeça, no entanto.
— Você sabe o que poderíamos fazer?— Milo me disse esperançosamente, claramente tentando mudar de assunto. — Há esse parque não muito longe daqui, que tem uma incrível pista de caminhada, as folhas estão começando a mudar o que não é muito importante e as vistas são maravilhosas. Ou ... um ... nós odiamos caminhadas, também?
Zach bufou. — Você teria melhor sorte colocando-a em um jogo de futebol — Havia um tom de amargura lá, eu tinha perdido a maioria dos jogos de futebol de Zach quando estávamos namorando. Eu sei, foi terrível da minha parte. Eu queria ser uma namorada solidária, mas (a) chato, (b) frio, (c) confuso, e (d) enlouquecedoramente chato. —Ei, cala a boca, — eu disse. — Eu posso caminhar. Eu adoraria ir caminhar.
—Sério?— Milo se iluminou. Bem, não. Geralmente não. Mas para Milo, eu estava disposta a fazer uma exceção, mesmo que isso significasse um caminhão de protetor solar para vampiro e uma enxaqueca nos próximos três dias.
—Eu vou me trocar,— eu disse. Zach estava totalmente olhando para mim agora. Eu particularmente não queria deixa-lo sozinho com Milo. — Que tal você esperar por mim no carro? — Eu disse docemente.
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—Tudo bem—, ele disse, os olhos mudando para Zach, então eu sabia que ele tinha o mesmo pensamento.
—Pegue alguns dos muffins, eu disse quando saia da cozinha. —Vou precisar do maior número de chocolate possível para pegar uma trilha para caminhada.
Eu sempre odiei colocar filtro solar, mas é muito mais motivador quando você se imagina explodindo em chamas, o que é quando tudo que você tem que se preocupar seria com o câncer de pele, é talvez, algum dia. Sim, Olympia disse que a coisa com o fogo não vai acontecer, mas eu já vi muitos episódios de Buffy para me sentir cem por cento segura lá fora. Então eu espalhei o pegajoso material por todo o meu rosto, braços e mãos antes de colocar as calças cargo cor de cáqui, uma camiseta azul, e um capuz azul claro.
Zach estava parado na porta da frente quando cheguei lá embaixo, os braços cruzados e uma profunda carranca em seu rosto. — Então, você está, tipo, em um encontro com esse cara ou o quê? — ele perguntou.
— Não é assunto seu se eu estiver, — disse. —Diga a Olímpia, onde eu fui e que estarei em casa em poucas horas.
—Eu não posso acreditar que você vai caminhar com ele, — Zack resmungou. —Você nunca fez nada no exterior durante o dia comigo ... quando eu podia, eu quero dizer.
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— Fique calmo, Zach, — eu disse. — Ele é parte da minha investigação de assassinato, certo? Volte a dormir. — Eu passei por ele e sai correndo para o carro, onde Milo estava esperando por mim em seus muito—fofos óculos escuros.
Apesar do que eu disse a Zach, enquanto Milo e eu subimos a trilha, eu não trouxe a tona Tex ou o assassinato. Uma claridade laranja e folhas de ouro giravam em torno de nós, e o vento puxava meu cabelo. No meio do caminho, Milo pegou a minha mão para me ajudar sobre uma árvore caída e não soltou. Era doce e confortável, andar com ele assim, com o sol brilhante por entre as árvores. Foi realmente muito fácil esquecer por um tempo que eu era um vampira. Ah, e que talvez ele também estivesse apenas com um pouco mais de tendências assassinas do que eu.
Mas eu não tinha qualquer tipo de sangue naquela manhã — Olá, menino bonito na minha cozinha! Além disso, ele totalmente não combinava com muffins de banana. Então eu estava meio que sentindo que iria desmaiar no momento em que cheguei ao cume superior. O sol brilhante lá em cima não ajudava também. Eu me sentei em uma pedra grande na maior mancha de sombra que eu podia encontrar.
— Você está bem?— Milo perguntou, entregando-me uma garrafa de água.
— Sim, eu estou bem—, eu disse. Eu tentei dar-lhe um sorriso tranqüilizador. — Você está certo, é muito bonito aqui.
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Ele sentou ao meu lado e colocou o braço em volta de mim. Eu coloquei minha cabeça em seu ombro. As árvores murmuravam a cima, e uma folha em forma de estrela vermelha caía em meu joelho.
—Isso é meio estranho para mim—, ele disse depois de um longo momento.
— O que é?
— Estar com uma garota.— Tocou-me o cabelo delicadamente. —Estar apaixonado por alguém, quero dizer, apenas isso.— Ele riu. —Eu não sou muito bom em demonstrar isso, sou?
— Eu prefiro desse jeito, — eu disse, inclinando a cabeça para olhar para ele. — Eu acho que, se você gosta de alguém, você deve— E então ele me beijou.
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Se o céu for repassar o melhor momento da sua vida de novo e de novo, aquele beijo com Milo é atualmente minha primeira escolha. Quero dizer, não que seja provável eu ir para lá em breve, sendo morto-vivo e tudo mais.
Eu não queria ir para casa. Eu queria ser uma garota normal e passar o resto do dia com Milo. Eu queria ir ao cinema e sair para jantar, e então abraça-lo (ou, você sabe... alguma coisa que tenha a ver com isso) no seu carro no fim da noite.
Mas eu não podia. Eu tinha que ir para casa, beber minha dosagem diariamente recomendada de sangue animal frio, então deitar no escuro por horas, me recuperando de muita luz do sol. Oh, e eu também tinha que solucionar um assassinato nos dois próximos dias, para meu pai não me trancar em um caixão pelos próximos trezentos anos. Literalmente.
Minha cabeça estava latejando quando Milo me deixou em casa. Eu bebi dois copos de sangue e fui diretamente para meu quarto, desliguei todas as luzes, e engatinhei para debaixo das cobertas.
— Te serve bem – disse uma voz vindo do corredor.
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— Vá se empalar, — eu disse, mantendo o travesseiro sobre minha cabeça.
— Eu não sei o que você vê naquele cara, — Zach resmungou.
— É, — eu disse. – Divertido, esperto, sexy, bonito, doce e um padeiro. Nada atraente mesmo sobre tudo isso.
— Mas talvez um assassino, certo? – Zach disse. – É por isso que você está realmente namorando ele, não é?
— Eu decidi que ele não é um assassino, — Eu disse, espiando debaixo do travesseiro. A luz do corredor derramava-se dentro do meu quarto ao redor da silhueta musculosa de Zach, e eu tive que cobrir meus olhos novamente.
— Oh, sério? – Zach disse. – O que repentinamente te trouxe à essa conclusão?
Bem, por uma coisa, eu duvidava seriamente que um assassino pudesse ser um beijador tão bom. – Eu decidi que é outra pessoa, — Eu disse.
— É? Quem?
Eu suspirei. – Aquele cara, Rowan, de quem você estava falando. Tem muitas pistas apontando em sua direção. E ele é estranho. – E NÃO era um bom beijador.
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Zach soltou uma risada cortante e parecida com um latido.40 — Wow, — ele disse. – Você é mesmo ridícula.
Eu me contorci mais fundo nos cobertores. – Eu não tenho energia para você agora, Zach.
— Bem, eu sei algo que você não sabe, — ele disse. – E eu acho que talvez você deva.
— Eu tenho uma boa ideia, — eu disse. – Por que você só não me fala, em vez de agir como alguém com seis anos de idade? Ou então vá embora e me deixe dormir.
— Tem uma razão de estarmos aqui, — Zach disse. – Nessa cidade, quero dizer, aqui e agora. Eu ouvi Olympia e Willhelm conversando sobre isso. É por sua causa.
Eu joguei os cobertores de volta e me sentei. Imediatamente, um alarme disparou na minha cabeça, como uma britadeira tentando explodir pelo meu crânio. Eu agarrei minha cabeça e tentei olhar para Zach.
— Do que você está falando?
40 O original é —a Sharp, barking laugh—. Sharp é cortante, mas o significado de barking é ‘latido’, e como está caracterizando a risada do Zach, é nesse sentido. Só ficou meio estranho =P
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— Você não sabe nada, não é? — ele disse, daquele jeito sarcástico dele. — Você nem sabe como realmente morreu.
Eu parei de respirar. Admitidamente, isso não era um problema enorme, já que eu estava morta e não precisava de respirar. Mas ainda assim, sem ter a intenção, eu literalmente parei de respirar.
— Eu morri em um acidente de carro, — eu disse. – Todo mundo sabe disso.
— Mas não a historia toda, — ele disse. Seu rosto estava tão sereno que eu não conseguia ver sua expressão, mas eu podia praticamente sentir as ondas de soberba saindo dele. – Mas você não sabe a verdade. É por isso que você tem tantos problemas.
— Eu não tenho problemas, — eu atirei.
— Olympia e Willhelm acham que você tem, — Zach apontou. – Eles acham que o fato de você ter me transformado é um sinal que você ainda tem um monte de problemas da sua própria morte para resolver. É por isso que eles te trouxeram aqui. Agora Willhelm acha que você matou Tex, e talvez você precise resolver seus problemas dentro de um caixão acolchoado por um tempo. Eu, por exemplo, acho que ele pode estar certo.
Eu saí da cama, me forcei a ir até Zach através da dor cegante, e o atirei para fora da porta tão forte que ele voou pelo corredor e bateu no closet branco.
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— Ei! — ele gritou, cambaleando de pé. — Eu só estou falando a verdade; você não tem que ser tão—
Eu bati a porta na cara dele. E a tranquei, e arrastei meus pedaços de mobília mais pesados na frente dela.
Ele não sabia do que estava falando. Ele só estava tentando bagunçar com a minha cabeça.
Eu deveria ignorá-lo... certo?
Eu sentei na minha escrivaninha e liguei meu computador.
Eu morri há mais ou menos um ano. É verdade que eu não me lembro realmente disso. Eu sei quão chato isso é? É como esquecer o nome do seu primeiro namorado, ou o seu aniversario. Essas coisas, eu lembro. Eu me lembro de Jeremy Cabot me beijando na biblioteca quando tínhamos treze anos. Eu lembro que eu acidentalmente derrubei uma pilha de livros no seu pé e quebrei um dos seus dedos, e que não nos falamos por um ano depois disso. Eu me lembro de beijá-lo de novo na minha festa de quinze anos, no armário no porão dos meus pais. As paredes cheiravam cedro; seus lábios tinham o gosto de cupcakes de chocolate. Eu me lembro de pensar um ano depois que talvez nós seríamos aqueles raros amantes de colegial, que realmente crescem e se casam.
Eu nunca verei Jeremy novamente. Ele acha que eu estou morta. Ele foi ao meu funeral. Olympia viu ele lá; ela disse que ele não
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conseguia parar de chorar. Ela disse que ele ficava muito lindo em um terno.
Olympia assistiu o funeral à distancia, esperando para me pegar mais tarde, quando eu acordei no meu túmulo.
Disso eu lembrava. Eu ainda tenho pesadelos sobre isso. Eu ouço que vampiros devem se sentir confortáveis em espaços confinados (tipo, digamos, caixões), mas me matou de susto quando eu acordei no escuro com só um centímetro de espaço ao meu redor, em todos os lados.
Ou talvez o que tenha realmente me traumatizado foi perceber que Mamãe tinha decidido me enterrar naquele vestido branco arrufado horrível que eu tinha usado uma vez como dama de honra. Eu odiava aquele vestido, e ela sabia. E também, eu pensei como a noiva (minha segunda prima, Nicola) se sentia sobre aquilo – embora ela viva no Canadá, então talvez ela nem tenha ido ao meu funeral. Talvez ela nem saiba que o vestido que ela escolheu tão cuidadosamente para o seu dia especial estava agora apodrecendo comigo, dois pés debaixo do chão.
Eu realmente queria que a minha mãe tivesse me enterrado em meus jeans favoritos e tênis, talvez com uma das minhas camisetas, ironicas promovendo uma banda que não existe. Por um lado, teria sido muito mais fácil sair do caixão em algo daquele jeito. Eu praticamente tive que rasgar o vestido só para me mover. Graças a Deus só Olympia estava me esperando quando eu escalei para fora. Você sabe aquele sonho que você tem, onde você é repentinamente um vampiro e tem que
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escavar o seu caminho para fora da própria sepultura – oh, e também, nua?
Okay, possivelmente só eu.
Também seria legal ter algumas roupas da minha vida antiga que eu realmente queria levar comigo para a minha nova não-vida. Você sabe como é difícil achar jeans perfeitos? Eu estava meio tentada a esgueirar dentro da minha casa e roubar meu par favorito antes de deixarmos a cidade, mas Olympia bateu o pé. Vampiros são estritamente proibidos a arriscar qualquer interação com as nossas famílias vivas. Se Mamãe tivesse me pego lá, ou se ela notasse os jeans desaparecidos – bem, eu não sabia o que poderia ter acontecido, mas Olympia fez soar horrivelmente calamitoso. Algo sobre hordas de caçadores de vampiros sedentos de sangue vindo atrás de todos nós, o que soa meio exagerado por um par de jeans roubados, se você me perguntar.
Eu acho que ela pode estar inventando a história de caçadores de vampiros, mas eu posso ver que seria uma conversa muito estranha se Mamãe me flagrasse. —Hmm... Eu sou o fantaaaaaaasma da sua fiiiiiiilha! Meu espírito assombra a terra! Eu nunca descansarei em paz... a menos que tenha esses jeans. Não faça perguntas!—buuuuuuuuuum!— Me arremessar da janela, etc.
Então, o ponto é, reconstruir seu guarda-roupa do zero é só uma das muitas coisas não-divertidas sobre se tornar um vampiro. Especialmente em nossa família, já que Olympia é justamente afiada em evitar ações fora-da-lei de qualquer tipo – como por exemplo, usar uma
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das nossas forças vampíricas para arrancar as portas do shopping à noite, quando espelhos não importam, e fuçar através da Old Navy41 mais próxima. Isso não soa maravilhoso? Eu disse a ela que poderia ajudar a recompensar o negócio de ser um vampiro, mas tudo que eu recebi foi que isso também atrairia -atenção indesejada.— Para alguém que já viveu, tipo setecentos anos, Olympia não é muito aventureira.
Aqui está o que eu lembro sobre a noite que morri.
Mamãe e eu estávamos brigando, como sempre. Não, você não pode ter um piercing no umbigo. Não, você não pode ir acampar com Jeremy. Não, você não pode ficar fora um segundo a mais do ser toque de recolher. Eu finalmente tinha arrastado Papai em uma discussão, e ele disse que achava que estaria tudo bem se eu fosse para essa festa, desde que ele levasse eu e Jeremy (nenhum dos dois tínhamos nossas carteiras de motorista ainda) e eu viesse para casa no horário.
Eu fiquei tipo, Meu Deus, que embaraçoso, mas na outra mão, era conveniente. Eu não queria pegar uma carona com uma das veteranas, que estavam sempre flertando com Jeremy, ou com os veteranos, que dirigiam como lunáticos mesmo.
E então acabou que a festa era só há uns quarteirões, e talvez eu pudesse ter pulado a indignidade de carona familiar, depois de tudo. É
41 Old Navy é uma loja de roupas e acessórios básicos e populares com enorme variedade de modelos, tamanhos e cores que oferecem uma combinação quase infinita de vestuário. A marca Old Navy é uma das mais ressoantes vozes da moda popular americana do momento.
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claro, quando saímos do carro, Papai disse, — Tudo bem, querida, me ligue e eu vou te pegar quando você estiver pronta.
— Okay – eu disse, revirando meus olhos. – Obrigada, Papai.
Essa foi a minha última conversa com ele.
A festa foi meio que um borrão. Não porque eu bebi; Eu sempre odiei o gosto de cerveja. Na maioria das vezes Jeremy e eu usávamos festas assim como uma desculpa para dançar muito um com o outro, e então achar um beco escuro para beijar o quanto pudéssemos. É, nós éramos um daqueles casais, do tipo que todo mundo fica rodeando.
Eu não me lembro muito sobre aquela festa em particular, exceto que eu acho que Jeremy não estava se sentindo bem. Então eu decidi que devíamos ir embora cedo... mas eu não tenho certeza de quando saímos, ou no carro de quem eu entrei.
A próxima coisa que eu lembro é estar deitada na estrada e pensando, Por que eu estou na estrada? Não parece um lugar muito seguro para deitar. Eu tive a impressão de estar em uma rua urbana quieta, com dificilmente qualquer tráfico e luzes, postes de luz espalhados dificilmente competindo com a lua. Eu não conseguia mover minha cabeça para olhar em volta. Eu não sabia se tinha mais alguém perto de mim. E então eu senti um espasmo selvagem de dor na minha cabeça e pernas, e eu percebi que havia sangue em cima de mim e embaixo de mim e ao redor de mim.
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E eu não conseguia me mover.
Oh, eu pensei. Eu estou morrendo. Isso realmente não está okay comigo. O restante do meu cérebro rejeitava toda a ideia. Não, alguém virá por você. Alguém está vindo ajudar. Só agüente... alguém vai estar aqui em breve.
Minutos se passaram e eu me senti mais e mais fraca e a dor piorou. Deve ter sido um acidente, eu pensei confusamente. Eu devo ter sido jogada para fora do carro. Então onde está o carro? Onde estão as outras pessoas do carro? Eu pisquei para as estrelas. Com quem eu estava? Por quem eu estava esperando? Estou esperando por alguém. Alguém especifico. Alguém tinha ido pedir ajuda.
E então eles vieram.
Eles vieram me salvar, mas não exatamente do jeito que eu estava esperando.
Olympia e Willhelm. Bert e Crystal. Eles devem ter cheirado o sangue. Eles não tinham adicionado ninguém à sua família em um longo tempo. Eu podia ouvir eles discutindo sobre mim enquanto chegavam mais perto, embora eu não tivesse ideia do que tudo aquilo significasse.
Minha cabeça estava muito confusa quando eles chegaram, então não pareceu estranho para mim que pessoas com presas estivessem repentinamente segurando minhas mãos e empurrando meu cabelo.
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— Você quer morrer? – Olympia sussurrou.
Eu não tenho certeza se realmente respondi, mas ela deve ter visto o ‘não’ nos meus olhos.
— Você não tem que morrer... não exatamente. Nós podemos te salvar. Você pode ser uma de nós, — ela disse. – Mas não vai ser a mesma coisa. Você tem que entender.
— Só faça-o, — Willhelm disparou. – Nós não temos tempo para paparicá-la agora.
Bert e Crystal assentiram. A luz da luz refletiu os óculos de Bert, tornando seu rosto neutro e inescrutável. Minha primeira impressão de Crystal foi longas presas e peruca laranja e uma expressão que era compassiva e faminta ao mesmo tempo.
— Ela tem que concordar, — Olympia disse. Seu longo cabelo negro balançava, roçando contra meu rosto. – Essa é a nossa regra.
Dessa vez eu falei. De alguma maneira eu encontrei respiração suficiente para sussurrar, — Sim.
Olympia se inclinou na direção do meu pescoço. Crystal agarrou meu pulso nas suas mãos pequenas e pálidas. Pequenas explosões de dor em ambos os lugares, e então um estranho jorro de êxtase, e então a voz de Bert dizendo, — Você vai morrer por um tempo. Nós estaremos lá quando você acordar. Não fique com medo.
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E então escuridão.
É claro que foi um acidente de carro. Deve ter sido. Quem quer que estivesse dirigindo tinha atingido alguma coisa – ou tinha sido atingido – e eu tinha sido jogada para fora do carro. O que eu não sabia era o que tinha acontecido com todo mundo. Assim que engatinhei para fora do meu túmulo, eu perguntei para Olympia se Jeremy estava bem.
— Ele está bem, — ela disse. – Ninguém mais se feriu no acidente.
Viu? Acidente. Eu lembrei exatamente dessas palavras. Era tudo que eu queria saber sobre a minha própria morte. Eu pensei que se tentasse descobrir mais, só me faria sentir falta da minha vida antiga. E também, fale sobre depressivo.
Mas agora eu sentei no computador, respirei fundo, e digitei —Phoebe Tanaka— no Google.
Eu não recomendo isso – Googlar você mesmo, eu quero dizer. Eu especialmente não recomendo isso se você está morta, e se ler tributos memoriais tristes para você mesma vão fazer você chorar por horas, e se então descobrir que não tem nem de perto a quantidade de tributos memoriais tristes que você esperava vão fazer você ficar insatisfeita e ranzinza.
Mas eu descobri o que aconteceu comigo, graças às noticias.
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GAROTA LOCAL MORTA EM ATROPELAMENTO E FUGA
POLÍCIA DIZ QUE ADOLESCENTE MORTA PODERIA TER SIDO SALVA
SEM PISTAS DO ASSASSINO QUE ATROPELOU E FUGIU
PERGUNTAS DEMORAM-SE NA MORTE DE ADOLESCENTE
Tinham entrevistas com os pais de Jeremy; eles não deixariam os repórteres perto dele, entretanto, porque alguns deles estavam fuçando por mais escândalo – como talvez Jeremy sendo quem tinha me matado. Sr. Cabot disse a policia que Jeremy tinha pego uma carona e eu decidi caminhar para casa. Era só 21h30, afinal. Não era longe. Eu estaria em casa no horário; sem necessidade de incomodar meu pai.
E então um carro tinha saído da noite, enquanto eu caminhava por aquelas ruas urbanas calmas, e tinha me acertado.
— Ela poderia ter vivido, — disse o doutor entrevistado para a matéria. – Se o motorista tivesse parado e chamado ajuda – ela ainda estaria viva hoje.
Mas quando alguém finalmente me achou, era tarde demais.
Minhas mãos estavam tão dormentes que eu mal conseguia mover o mouse. Eu cliquei na foto que acompanhava a matéria, aumentando-a para preencher a tela. Era uma foto do meu funeral. Ali estavam Mamãe,
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Papai e Apolla, de pé próximo ao túmulo e chorando. Mais pessoas estavam lá do que eu esperava... colegas de classe, professores, conhecidos...
Enquanto eu procurava a multidão ao redor do buraco no chão, um rosto pulou para mim.
Eu me inclinei para frente, limpando as lágrimas, e observei mais atentamente.
Eu senti como se tivesse levado um soco no estômago. Eu conhecia aquele rosto. Mas não fazia nenhum sentido.
Rowan Cantor estava no meu funeral.
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Eu decidi que eu estava dentro dos meus direitos de faltar à escola na segunda-feira. Não é todo dia que você assiste revelações horríveis sobre a sua morte, afinal. Parece o dia perfeito para passar o dia todo na cama, dormindo para passar minha dor de cabeça e tentando não pensar sobre o que eu iria dizer ao Rowan quando o visse novamente. Quando acordei segundaeira à noite, eu não estava mais triste. Eu estava brava. Tipo, seriamente, de todo o meu ser, furiosa.
— Onde você está indo?— Olympia chamou do covil enquanto eu marchava para a cozinha.
— Cuidar dos meus negócios,— eu falei de volta.
Ela apareceu na porta com um olhar preocupado enquanto eu engolia um copo de sangue. Eu não planejava desmaiar durante esse encontro, não senhor.
— O que isso quer dizer?— ela perguntou.
Eu coloquei o copo na pia e saí brava pela porta sem responde-la.
Sua expressão não era nada comparado ao olhar no rosto de Albert Cantos quando ele abriu a porta e descobriu que era eu batendo do lado de fora. Ele estava pálido e suando e parecia assustado, como se
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ele estivesse encarando um fantasma, o que, eu percebi, ele basicamente estava.
Eu não disse nada para ele. Eu precisava de respostas de Rowan. Eu passei por ele e pelo corredor para o quarto do Rowan. Rowan estava deitado no seu colchão com um braço pálido estendido sobre os seus olhos. Ele se sentou, piscando, enquanto eu batia a porta atrás de mim.
— Você mentiu para mim, — eu disse. Essa não havia sido a coisa mais terrível que ele havia feito, mas parecia um bom lugar para começar.
— O quê? — Ele esfregou o seu rosto e piscou para mim.
Eu tirei a folha que eu havia impresso do meu bolso e joguei no colchão ao lado dele. — Você não se mudou para cá de San Francisco.
Todo o sangue pareceu ser drenado de seu rosto enquanto ele encarava a fotografia.
— Eu estava só — ele gaguejou, ficando de pé. — Não, nós só estávamos—
— Não minta para mim! — Eu gritei. Cruzei o quarto e peguei sua caixa de metal trancada de cima da mesa.
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Antes que ele pudesse se mover, eu arranquei a parte de cima, quebrando o cadeado e as dobradiças. A maioria dos papéis de dentro eram artigos sobre a minha morte. Eu esperava ver isso, mas era um pouco chocante ver provas. Eu peguei os papéis e me virei, brandindo-os para ele.
— Foi você, não foi? Você foi o motorista que matou a Phoebe.— Os olhos chocados e horrorizados do Rowan encontraram os meus, e de repente a memória veio a tona: daqueles mesmos olhos olhando para mim, emoldurados pelo luar e pelos faróis brilhantes.
— Você disse que conseguiria ajuda, — eu disse, apontando para ele.
— Você disse que voltaria para salvá-la. Ao invés disso, você a deixou sangrar até a morte sozinha no meio da estrada. — Sozinha até que os vampiros viessem, pelo menos.
Rowan estendeu os braços como se estivesse procurando algo para segurá-lo. Não encontrando nada, ele caiu de joelhos diante de mim. —Com-como você sabe isso? — Ele resmungou em terror.
— É por isso que você está tão interessado em falar sobre a morte o tempo todo? — Eu perguntei. — Porque você é um assassino?
— Foi um acidente, — ele sussurrou. — Eu não a vi.
—Mas você a deixou lá, — disse eu. — Você foi embora.
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— Havia muito sangue.— Ele arranhou o rosto como se ele estivesse tentando rasgar as memórias de sua cabeça. — Eu pensei que ela iria morrer antes que eu voltasse. Eu estava com medo — eu estava com med o— eu estava com tanto medo.
—Você estava com medo?— Eu disse. —Como você acha que ela se sentiu?
—Oh, Deus, — Rowan disse com uma voz horrível e miserável. Eu vou admitir isso. Eu meio que queria mordê-lo. Ou melhor, eu meio que queria mata-lo, e depois mordê-lo, porque eu definitivamente não queria Rowan, um assustador vampiro por aí para adicionar ao lascivo vampiro Zach. Eu queria que ele se fosse. Mas isso não resolveria nenhum dos meus problemas, especialmente o que Wilhelm e Olympia pensavam que eu era o tipo que assassinava.
— Você está confessando, — eu disse, agarrando a camiseta de Rowan e levantando-o de seus pé. Eu não me importava se a minha força o assustou. —Você vai se entregar assim eles saberão o que aconteceu. Jeremy e — Eu quase disse mamãe e papai— para todo mundo. —
— Não, — Rowan disse lutando. Ele tentou tirar minhas mãos de sua camisa, mas ele não podia. — Eu não posso. Eu não vou. Papai não vai me deixar de todo jeito. Além disso, foi há dois anos — isso já está acabado—
—Não está acabado para algumas pessoas, — eu disse, dando um passo em direção à porta. Rowan começou a se debater. Ele deu um soco
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na minha cara, o qual eu me esquivei, e depois tentou me derrubar com um repentino soco. Virei-o e ele caiu de costas com um baque. Com um grito de raiva, ele agarrou meu pé e empurrou fortemente. Eu cai em minhas mãos e me empurrei para cima, em seguida, chutei suas mãos para o lado e plantei minhas botas firmemente no meio do seu peito. Já mencionei que há algumas vantagens em ser um vampiro?
— Você não tem nada a ver com Tex, não é?— Eu perguntei.
— Claro que não! — Gritou. — Papai nem mesmo me deixa sair de casa depois que escurece. — Ele rolou de lado de repente, saltou a seus pés, e abordou-me. Eu joguei-o sobre a minha cabeça e ele chocou-se contra a parede oposta.
—Não vai ser tão fácil me matar desta vez, — disse.
Os olhos azuis de Rowan se arregalaram.
— É você, — ele sussurrou. Ele mergulhou para a gaveta de sua escrivaninha, pegou algo e virou-se para apontar para mim.
Uma arma, pequena, preta e reluzente.
—Você está brincando?— Eu disse, colocando as mãos no meu quadril.
—Eu vou atirar em você, — ele disse.
—Isso,— Eu disse, — me faria realmente brava.
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—Vá embora, — ele disse. —Pare de me assombrar. Deixe-me sozinho!
—Você precisa de ajuda, Rowan, — eu disse, dando um passo em sua direção. — Olhe para esta casa. Olhe para esta sala. Olhe para você, e suas incrivelmente assustadoras fotos de cadáveres. Sua culpa está destruindo toda a sua vida, e você precisa lidar com isso, ou você precisa ser trancado para que isso não termine em algo como, por exemplo, atirar em uma menina em seu quarto.
Oh, eu pensei, ao mesmo tempo, eu acho que é o tipo que Wilhelm e Olympia estavam procurando, também. Tudo fazia sentido para mim agora. Eles sabem sobre Rowan, eles me trouxeram para cá, apontando-me expressamente para ele, para se certificarem de que eu confrontaria os meus velhos demônios, para que pudessem seguir em frente e me tornar um membro bem integrado na sociedade dos vampiros. Ou algo parecido. Bem, eles não tinham que ser tão vagos e misteriosos. Eles realmente poderiam ter me poupado um monte de tempo, apenas dizendo-me algumas coisas, pois nem sabiam que eu tinha problemas para lidar com a morte, em primeiro lugar.
A porta do quarto atrás de mim, de repente se abriu. Assustado, Rowan saltou e a arma disparou.
— Rowan! — Seu pai gritou em terror.
Mas eu tinha saltado ao mesmo tempo, derrubando a arma de lado, assim a bala bateu sem perigo a porta do armário. Eu puxei a arma
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de sua mão e a joguei para Albert. Ele pegou-a com ambas as mãos e segurou-a como se nunca tivesse visto nada assim antes.
— É preciso lidar com isso, — eu disse a ele. Eu apontei para Rowan, que estava escorregando lentamente para o chão.
— Você não pode continuar mentindo, escondendo e esperando que se você correr, isso nunca vai lhe apanhar.
— O que ele te disse?— Albert disse fracamente.
— Ela sabe, papai,— disse Rowan. — Sobre aquela garota.
— Phoebe, eu disse, ainda irritada. — Seu nome era Phoebe.
Rowan olhou para mim, toda a luta drenada para fora dele. —É você, não é? — Ele sussurrou.
— Não fale loucuras, filho.— Albert disse. Ele parecia exausto.
— Ela está certa. Não podemos mais viver assim. Você está perdendo sua mente, e sinto-me como se eu, também.
— Eu vou estar preparando os documentos para a notícia de sua confissão, — eu disse, pisando sobre as pilhas de roupa enquanto me dirigia para a porta. — Não fuja novamente, ou eu vou te encontrar. Deixei-os assim, de frente um para o outro através do minúsculo quarto
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de Rowan. Meu assassino e seu pai, que acobertou tudo e ajudou-o a fugir.
Eu não sabia se sua confissão faria meus pais se sentirem melhor, mas foi a melhor definição que poderia dar-lhes de onde eu estava agora.
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Pensei em voltar para casa e voltar para a cama, mas, sinceramente, só havia uma pessoa que eu queria ver logo em seguida. E eu precisava vê-lo, também, por alguns motivos. Nem todos envolviam beijos.
Porque se o assassino vampiro de Tex não era Rowan, então eu tinha uma má sensação que tinha que ser Milo.
Claro, Daniel estava agindo muito suspeito com a forma como ele ficou bisbilhotando o crime. Mas não havia nenhuma evidência ligando-o à Tex nenhum sinal de que eles conheciam uns aos outros, nenhum comportamento particular de vampiro, como eu poderia apontar. Tive a sensação de que Daniel realmente estava tentando resolver o assassinato, por qualquer que seja suas razões.
Assim deixei Milo. A esfera vermelha, a luta na academia, o fato de que eles poderiam facilmente ter estado no vestiário, perto do espelho, ao mesmo tempo. Eu tinha que saber ao certo.
Todo o caminho até a casa dele, eu tentei chegar a explicações que o faria matar Tex. Talvez tenha sido um acidente. Talvez Tex se matou, e Milo só passou por ali e o mordeu. Talvez Tex o atacou, e Milo teve que jogá-lo para fora de uma janela em autodefesa. Era possível... certo?
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Eu realmente não queria que ele enfrentasse algum tipo de punição de vampiro. Seria muito difícil manter o namoro se ele estivesse trancado em um caixão estofado, por exemplo. E eu queria continuar saindo com ele, contanto que ele pudesse explicar a morte de Tex. Namorar um vampiro pode ser duro, mas eu não acho que poderia ser mais difícil do que tentar um encontro com humanos. Achei sua casa sem problemas: pequena, mas de aparência simpática, com persianas azuis escuras contra a madeira branca. Era quase onze horas da noite, e todas as luzes estavam apagadas lá embaixo. Apenas duas das janelas do andar superior tinham luzes brilhantes por trás das cortinas, incluindo a que Milo disse que era o seu quarto.
Bem, eu não estava exatamente pensando em tocar a campainha de qualquer maneira. E a casa de Milo, tinha um alto carvalho que cresce fora de sua janela, ao contrário do exército de covardes hemlocks42 espinhosos na casa de Tex.
Eu verifiquei para ter certeza que a rua estava vazia e, em seguida me lancei até a árvore, pulando para o primeiro ramo e depois subindo de mão em mão até que eu estava no nível da janela de Milo. Desci com cuidado para o telhado abaixo de sua janela e espiei dentro.
A primeira coisa que vi foram os livros. Estantes altas alinhadas no lado oposto do quarto, que iam desde a parede até a porta e do chão ao teto. A cama de Milo, coberta por um cobertor azul escuro, estava deste lado do quarto, perto da cadeira da janela que estava logo abaixo de mim.
42 Árvores perenes de coníferas do gênero Tsuga da América do Norte e da Ásia Oriental uma das várias plantas venenosas dos gêneros Conium e Cicuta, como a cicuta veneno.
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Na parede à minha esquerda, em outra janela, estava sua mesa, que também estava cheia de livros, metade deles deitada de lado aberto para o seu computador. Na parede à minha direita estava o seu armário e uma cômoda. Suas roupas eram bem colocadas para fora, e não havia nada da bagunça que eu tinha visto no quarto de Tex e Rowan. O carpete do chão era macio acinzentado, e as paredes eram de um caloroso alaranjado pêssego.
Melhor notícia de todas? Nenhum espelho.
Milo estava longe de ser visto, o quarto estava vazio. Havia uma tela que cobria a janela aberta, mas era fácil jogá-lo de lado para que pudesse passar. Eu coloquei com cuidado atrás de mim enquanto subia para a cadeira da janela e me sentei para esperar por ele.
A música tocava baixinho dos alto-falantes do computador, eu reconheci uma canção de One Republic antes de se desvanecer em Regina Spektor. Bem, eu certamente aprovava isso. O mesmo de sua proteção de tela, que era um aquário de agradável bom gosto cheio de peixes nadando em vez da Angelina Jolie. Eu percebi que havia também um aquário real metido entre as estantes. Tiny, o brilhante peixe roxo, azul e amarelo flutuava sonhadora entre as bolhas de ar.
Notei um tronco no meu pé, à direita do assento da janela. Ele parecia bem velho e desbotado, como se tivesse rodado o mundo algumas vezes. A tampa estava entreaberta, apoiado em algo que saía de um lado. Eu olhava para ela, tentando descobrir o que era. Parecia o fim de uma besta.
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Uma besta43?
Curiosa, cutuquei o tronco abrindo um pouco mais com o meu pé. Eu peguei um vislumbre de uma pilha de madeira clara, mas antes que eu pudesse meter mais meu nariz, a porta do quarto abriu. Eu puxei o meu pé longe do tronco com pressa, mas Milo não percebeu, porque ele tinha uma toalha sobre a cabeça.
Eu me voltei casualmente (e, eu esperava, sedutora) do lado da cadeira da janela enquanto ele terminava de secar o cabelo. Assim como no nosso primeiro encontro, ele estava sem camisa e descalço, vestindo apenas um par de shorts cáqui. E ele tinha os óculos fofinhos. E tinha claramente acabado de sair do chuveiro.
Milo saiu de debaixo da toalha e virou-se para pendurá-la na parte traseira de sua porta. Quando ele me viu com o canto do olho, ele pulou, soltando um grito de surpresa.
— Shhh, — eu disse, colocando um dedo nos meus lábios.
— Milo? — Eu ouvi uma voz masculina chamando no fundo do corredor. — Está tudo bem?
43 A besta ou balestra é uma arma com a aparência de uma espingarda, com um arco de flechas acoplado no lado oposto da coronha, acenada por gatilho, que projeta setas (ou dardos) similares a flechas, porém mais curtos) http://www.hep.phys.soton.ac.uk/~belyaev/html/crossbow.jpg
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— Sim, pai, — Milo disse de volta. —Desculpe, só me assustei.— Ele sorriu para mim. — Uau, você me levou tipo ao pé da letra, não é?— Disse ele baixinho.
Dei-lhe uma expressão inocente. —Eu pensei que era para vir desta maneira. — Oh, sim, — ele disse. — Portas são tão superestimadas — Ele se aproximou e olhou para fora da janela atrás de mim. —Você realmente subiu aquela árvore?
— Eu sou bastante ágil, — disse com uma piscadela. Uma piscadela que eu esperava que transmitisse, Então, somos os dois vampiros, vamos admitir isso e seguir em frente com o namoro vampiro — sexy.
Embora, me lembrei, eu provavelmente deveria lidar com a coisa toda do assassinato em primeiro lugar.
— Senti sua falta hoje na escola, — ele disse.
— Também senti a sua — eu disse, pegando suas mãos. — Eu queria falar com você sobre algo.
Ele puxou-me levantando meus pés e me beijou. Todo o pensamento dos jogadores de futebol mortos voaram para fora da minha cabeça. Ele deve ter matado Tex por acidente. Alguém que beija como Milo não poderia ser um assassino de coração gelado. O computador estava tocando Jack Johnson — Better Together, — e eu só queria ficar dentro dos braços de Milo para o resto da eternidade.
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Eu arrastei meus dedos do peito para seu pescoço e os enterrei em seu cabelo. Ele me puxou para perto, beijando-me ainda mais. O símbolo no seu colar balançava para frente e bateu a minha pele nua, logo abaixo do meu pulso.
Uma dor aguda subiu do braço para meu ombro. Me empurrei para trás, assustada e, ao mesmo tempo, ele moveu-se para me puxar para fora da janela, por isso ele tropeçou lateralmente. Acidentalmente empurrado o mouse de sua mesa, o protetor de tela de peixes desapareceu. E na imagem que brilhou em seu lugar estava uma tela dividida em duas fotos. Uma delas era, indiscutivelmente, um close-up, as marcas de mordida no pescoço de Tex. O outro era semelhante, mas esta era mais grossa no pescoço e os cabelos perto dela eram comprido e escuro, em vez de curto e loiro como o de Tex. Percebi de imediato que as marcas de mordida eram menores e menos poluentes, bem um minúsculo conjunto de dentes estava envolvido, embora ainda definitivamente de um vampiro.
Um pequeno Post-it44 eletrônico com símbolos na tela. Eu vi que um estava marcado RC e outro DM, mas eu não entendi o que qualquer um deles dizia antes que Milo pulasse no meio da tela e rapidamente clicasse fechando.
Eu estava olhando para ele, de boca aberta, quando ele finalmente se virou para me encarar. Sua expressão estava nervosa e tímida.
— Hum—, disse ele. — Eu tenho algo a lhe dizer, também.
44 São aqueles pequenos pedaços de papel para escrever lembretes
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Milo gentilmente me levou até a cama, e ambos sentamos, encarando um ao outro.
— Isso vai ser difícil para você acreditar, — ele disse, respirando fundo.
— Tente, — Eu disse. Você é vampiro? Tudo bem, eu também! Problema resolvido, vamos dar uns amassos.
Exceto que eu estava começando a ficar nervosa. As imagens na tela.... a besta no caminhão... a garrafinha com líquido claro na sua mesinha de cabeceira, o que repentinamente chamou minha atenção, assim como a cruz brilhante ao lado dela.
Tinham sido estacas dentro do caminhão? Que tipo de vampiro manteria estacas por aí? Certamente não eu. Eu definitivamente tropeçaria em alguma coisa e acidentalmente me empalaria se eu tivesse uma estaca em qualquer lugar próximo ao meu quarto.
— A primeira coisa que você tem que saber, — ele disse. – é que vampiros são reais.
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Não me diga. Algum instinto me impediu de falar — É, dã, eu sou uma. — Em vez disso eu só olhei para ele. Ele leu minha expressão como descrença.
— Eu sei, parece loucura, — ele disse. – Mas é verdade. Existem vampiros, e eles vivem na sociedade normal, assim como você e eu.
Sim. Bem, assim como eu, em todo o caso.
Eu gesticulei para o computador. – Então essas fotos...?
— Esses são ataques de vampiros, — Milo disse. – Um deles era Tex Harrison. O outro corpo da qual eu te falei – o cara no beco há alguns anos. Receio que não te disse tudo, Kira. Aquele cara era, na verdade, a razão pelo qual meu pai e eu nos mudamos para cá.
Um tremor correu pela minha espinha. Eu não achei que ia gostar do rumo que isso estava levando. — A razão? — eu perguntei tenuemente.
— Kira, — Milo disse, tocando meu rosto. Seus olhos castanhos estavam sérios atrás de seus óculos. — Meu pai e eu — nós somos caçadores de vampiros.
Houve um silêncio perfeito por um momento. Até a música tinha parado. Era como se o universo tivesse congelado, do jeito que eu queria congelar, bem nesse momento, antes de tudo explodir.
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Então eu ouvi algo pingar contra a vidraça da janela. Tinha começado a chover.
— Diga alguma coisa, — Milo apertou minha mão. — Você parece tão pálida.
Eu balancei minha cabeça. — Não existe tal coisa, — eu disse, dificilmente sabendo o que estava dizendo.
— Vampiros existem, Kira, — Milo disse seriamente, me interpretando mal. — Tem um na nossa escola. Ele matou Tex, e ele provavelmente vai matar de novo. Eu tenho tentado pegá-lo, mas é complicado.
NEM ME FALE.
Ele esfregou sua mão livre pela sua testa. — Nós não sabemos se é a mesma pessoa que matou o cara no beco. Nós temos tentado pegar aquele vampiro desde que nos mudamos para cá. Mas as marcas de mordidas são diferentes, então eu acho que é alguém novo. O que significa que tem mais de um vampiro nessa cidade.
Hmm, sim. Pelo menos seis que eu conheço, e mais quem quer que tenha matado Tex.
— O que, hmm — Minha voz vacilou; eu tive que limpar minha garganta e começar novamente. — O que você faria se os pegasse? — Eu
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esperava que soasse mais curiosa do que, você sabe, absolutamente horrorizada.
— O que caçadores de vampiros fazem, — Milo disse. Ele tinha minhas duas mãos nas suas agora, e estava esfregando seus dedões tranquilizadoramente pelas minhas juntas. Suas mãos eram muito quentes. Isso provavelmente deveria ter me servido como pista mais cedo, eu percebi, mas eu não queria acreditar que ele era humano.
E eu certamente não queria saber que sua missão de vida era matar pessoas como eu.
— Você os empalaria? — Eu guinchei.
Milo olhou para as minhas mãos. — Tem outros jeitos, também. — ele disse.
— Então você já... fez isso antes?
— Eu não, — Milo disse, evitando meus olhos. — Eu ainda estou em treinamento. Mas meu pai já. Ele tem feito isso por um longo tempo, assim como sua mãe e pai, antes dele. — Ele finalmente olhou para cima e viu a expressão no meu rosto. Ele correu suas mãos pelos meus braços e ombros. — Kira, está tudo bem, não pareça tão assustada. Vampiros são como tubarões – ele matam pessoas muito menos freqüentemente do que você acharia. Você está perfeitamente segura, especialmente enquanto estiver comigo. Eu vou te proteger. — Ele me deu um sorriso torto. —
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Você deveria me ver com uma besta. Eu gostaria de usá-la mais; eu acho que seria um arraso com as garotas.
É, talvez não muito com as garotas vampiras, em todo o caso.
— De qualquer modo, — ele disse. — Eu queria te contar. Mesmo depois de você ver minhas notas de investigação — Ele inclinou sua cabeça em direção ao computador. — Eu queria ser honesto com você.
— Eu só — não tinha ideia. — Eu disse, tentando impedir minha voz de tremer. – Você parece tão, hum... normal.
— Eu sou normal, — Milo disse, — na maioria das vezes. Embora eu tenha de admitir que é uma das coisas que eu mais gosto sobre estar com você — que faz eu me sentir como um cara normal, vivendo uma vida normal e namorando uma garota muito gostosa.
Eu soltei uma risada, o que ele interpretou mal. — É, okay, — ele disse. — Eu acho que talvez não é tão normal namorar uma garota tão bonita quanto você. Eu tive sorte. — Ele colocou suas mãos ao redor do meu rosto.
Oh, por que ele tinha que ser tão perfeito em todos os outros jeitos?
Eu me inclinei para frente e toquei seus lábios gentilmente com os meus. Ele me beijou, suavemente a principio, então mais
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apaixonadamente, enrolando meu cabelo ao redor das suas mãos enquanto nós nos aproximávamos.
— Espere, — eu disse, ficando livre por um momento. — Isso— Isso é uma coisa de caçador de vampiros? — Eu apontei para o colar e o estranho símbolo nele.
— É, — Milo disse. Ele tocou-o com dois dedos. – Pertenceu à minha mãe. O símbolo deve ser uma proteção contra vampiros.
E se você não quiser ser protegido? Hipoteticamente falando?
— Oh, — eu disse em voz alta, lembrando da dor aguda que tinha me dado. — Eu pensei que era... meio que me assusta.
— Não se preocupe, — Milo disse com um sorriso. Ele tirou e derrubou na mesinha de cabeceira. Eu pensei o que seu pai pensaria sobre isso. Pobre Milo — ele queria ser um caçador de vampiro fodão, mas ele era muito doce e confiante e só não tinha ideia de em quantos problemas poderia se meter. — Melhor? — Milo perguntou.
— Muito, — eu disse, e o puxei para mim novamente.
De algum jeito acabamos deitamos na cama, nos beijando e correndo nossas mãos pelo outro. Seus braços são perfeitos, eu pensei, sentindo seus músculos debaixo dos meus dedos. Seus ombros são perfeitos. Seu pescoço é perfeito.
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Isso não era nada igual à Zach. Isso era um milhão de vezes mais excitante e maravilhoso do que estar com Zach.
O que era uma coisa ruim. Eu pensei que eu mesma tinha controle depois de Zach, mas com ele eu só estava com fome. Agora eu estava caindo com a cabeça antes dos saltos por Milo, e eu queria-o tanto, e seu coração estava batendo tão rápido, e tão perto, e tão vivo... Sua macia pele morena estava bem na minha frente enquanto ele me beijava pelo rosto, até o meu pescoço. Eu podia sentir seu coração batendo mais rápido e o meu próprio controle enfraquecendo. Eu queria mordê-lo. Eu queria enterrar meus dentes e nos levar ao ápice.
Eu podia sentir meus dentes começando a se mover. As mãos de Milo estavam na minha cintura.
O que eu estava fazendo?
Se Milo soubesse o que eu era... se ele soubesse a – eu - real... ele me empalaria na hora. Ou me queimaria, ou faria algo muito horrível para pensar. E então ele se lembraria com quem eu vivia, e todos eles – Olympia, Willhelm, Zach, Bert, e Crystal – seriam cinzas antes do amanhecer. A menos que eles se defendessem, e nesse caso era Milo que morreria.
Daniel tinha dito que eu estava jogando um jogo perigoso.
Não, esse não era um jogo perigoso. Era um jogo mortal.
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Eu empurrei Milo para longe de mim com mais força do que pretendia. Ele foi até o outro lado da cama e atingiu o chão com um —thump.
— Me desculpe, — eu disse, me levantando — Me desculpe, eu não posso.
— Tudo bem, tudo bem, — Milo disse. Ele se levantou e ofereceu sua mão para mim, o sorriso já voltando. — Me desculpe, eu não pretendia — você é só tão—
Eu me afastei dele, em direção à janela. Eu me sentia oca e assustada pelo o que quase tinha acontecido. — Quero dizer, eu realmente não posso. — Eu disse. Eu me inclinei no assento da janela. — Me desculpe, Milo.
Seu rosto caiu. — Espere, Kira, não vá. É o que eu te contei? Não é tão ruim, eu prometo. — Ele pegou minha mão e olhou para mim suplicantemente. — Está chovendo. Por favor, fique. O que eu posso fazer para você ficar?
Eu balancei minha cabeça, me sentindo como se estivesse prestes a chorar. — Não podemos. Adeus, Milo. — Eu não conseguia dizer mais nada. Eu empurrei a tela da janela para o lado e pulei dela.
Gotas de chuva espirraram contra a minha camiseta quando eu me segurei no galho e desci pela árvore. A madeira estava escorregadia e
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molhada debaixo das minhas mãos, e eu tive que escalar cuidadosamente. Quando eu cheguei ao chão, já estava toda encharcada.
Eu olhei para cima e vi Milo me observando pela janela, uma mão pressionada na tela da janela, como se ele estivesse tentando me alcançar e me trazer de volta.
Eu me virei e andei para longe, deixando a chuva lavar as lágrimas correndo pelo meu rosto.
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Era meia-noite, e eu não queria ir para casa. Eu não queria lidar com a presunção de Zach, e também não queria discutir meus sentimentos sobre minhas — questões de morte — com Olympia ou Crystal, e eu definitivamente não queria dar a Willhelm uma atualização na minha investigação de assassinato, que deveria estar resolvido pela quarta-feira. Pelo menos agora eu tinha só um suspeito restante.
Então eu fui ao cemitério. Na verdade era meio legal e arrepiante na tempestade, com trovão retumbando e raio lampejando adiante. Esse cemitério em particular é enorme, com um monte de lápides grandes e adornadas, e criptas e essas coisas, mas a principal razão de eu gostar dele é que nunca tem ninguém aqui, pelo menos não à noite, então eu não tenho que me preocupar sobre fingir que sou uma garota normal.
Eu achei um túmulo que era como uma grande caixa se espetando para fora do chão. Eu me levantei até o topo dele, e deitei de costas, fechando meus olhos e deixando a chuva pingar pelo meu rosto. Eu podia sentir o estalo e energia dos raios e o ruído de trovões balançando o céu. As gotas de chuva se chocavam na minha pele, e eu me fiz parar de respirar para não me afogar, embora eu tivesse certeza que vampiros não podiam se afogar. Eu só fiquei ali, tão parada quanto o túmulo que estava em cima, tentando não pensar sobre Milo ou Rowan ou ataques vampiros misteriosos.
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Uma mão tocou meu rosto, então moveu para a minha testa, empurrando de volta meu cabelo molhado e sentindo minha temperatura. Eu abri meus olhos.
Daniel estava de pé sobre mim, parecendo preocupado. Ele colocou suas mãos nos dois lados do meu rosto e olhou nos meus olhos. Eu já mencionei que olhos legais ele tem? Eu percebi que não me importaria em só ficar deitada lá, olhando-os por um tempo. Era melhor do que lastimar sobre Milo, com certeza.
— Kira, — ele disse, movendo suas mãos para os meus ombros. Ele me colocou em uma posição sentada e sentou na pedra, me encarando. Suas mãos deixaram meus braços, e então ele pegou minhas mãos, e começou a esfrega-las. — Kira, você está congelando.
— Está tudo bem, — Eu disse, entorpecidamente.
— Não está tudo bem, — ele disse. Ele olhou ao redor e se levantou. Com um único movimento gracioso, ele colocou um braço debaixo dos meus joelhos e outro braço ao redor das minhas costas, e me levantou.
Wow, eu pensei. Isso é meio legal. Ele começou a andar como se eu não pesasse nada mesmo.
— Eu posso andar, — Eu disse a ele. — Quero dizer, isso é excitante, mas meio que desnecessário.
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— Shsh... — Daniel disse. – Nós estamos tendo um momento.
— Oh, — Eu disse. — Okay. — Eu percebi que ele estava indo para uma cripta, adiante, onde nós poderíamos entrar e nos secar. Eu coloquei meus braços ao redor do seu pescoço e me inclinei contra seu peito. Sua camisa branca estava ensopada, então não importou que estava abotoada. Casualmente, eu deslizei uma mão para o lado do seu pescoço.
Daniel entrou na semi-escuridão da cripta, que estava pautada com mármore branco, suave como seda. Sem caixões no meio do chão aqui; os habitantes desse enterro estavam organizadamente guardados atrás de rótulos gravados na parede. Um desenho de uma estrela verde e preta estava incrustado no chão de mármore, e uma urna grande cheia de flores estava no lado oposto à porta.
O som da tempestade se acalmou quando nos movemos debaixo do teto. Um raio iluminou o rosto de Daniel enquanto ele sorria para mim.
— Assim é bem melhor, — ele disse. Só então ele percebeu onde minha mão estava. Ele olhou para ela de lado. — Er— O que você está fazendo? — Ele me abaixou abruptamente e recuou.
— Eu sabia! — Eu disse. — Você não tem pulso! Eu sabia! Bem, exceto pela parte onde eu acabei de descobrir, mas faz sentido! — Eu empurrei meu cabelo de volta, desejando parecer um pouco mais preponderante e um pouco menos molhada. — Você é um vampiro!
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— Você também! — ele disse indignadamente.
— É, — Eu disse, — Bem, eu sou a do tipo boa. Espere, você sabia disso?
— É claro que eu sabia disso, — Ele disse. – Por que você acha que eu estive te observando?
— Por que eu sou irresistível? — Eu disse. — E você está totalmente tendo uma queda por mim?
Ele inclinou sua cabeça, esfregando a sua nuca. — Bem... Isso também.
— Sério? — Eu disse, cruzando meus braços. — Ou você só está mexendo comigo?
— Olhe, — ele disse. — certo, sim, a princípio eu só estava te investigando porque eu pensei que você era a assassina de Tex, mas então uma vez que passei algum tempo com você, realmente comecei a gostar.
— O quê? – Eu explodi. — Não, não, não! Eu estou te investigando porque você é o assassino de Tex! Eu não posso acreditar que você pensou que era eu!
— Não é você? — ele disse.
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— Não é você? — eu disse.
Raios lampejaram novamente. Nós olhamos um para o outro.
— Tem que ser você, — eu disse. — Você é um vampiro.
— Você também, — ele disse novamente. –—E minha família tem uma regra de — sem-mordida- severa.
— A minha também! — eu protestei.
— É por isso que eles me enviaram para solucionar o assassinato, — Daniel disse, dando um passo para mais perto de mim. – Eu podia me encaixar melhor, embora eu não tenha ido ao colegial em décadas. Eu tenho medo de não ter ficado mais interessante. Exceto por você estar lá, é claro.
— Não saia do assunto, — eu disse. — Bem, okay, você pode sair um pouquinho do assunto. Sério? Eu?
Ele estendeu o braço em direção ao meu rosto e então abaixou sua mão novamente. — Você é, de longe, a coisa mais interessante naquela escola, Kira, — ele disse. — Não só por causa do seu histórico violento.
Eu recuei. — Se você está falando sobre Zach, não foi minha ideia.
— Nós descobrimos isso, — Daniel disse, — das contas de jornais e nossas fontes privadas. É por isso que você ainda está viva. Do
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contrário, alguém da minha família já teria provavelmente empalado você.
— Eca, — Eu disse, com um tremor que tentei esconder. – Eles parecem amigáveis. Não posso esperar para conhece-los.
— Nós temos que executar vampiros perigosos, — Daniel disse. — É o único modo de proteger o resto de nós. — Ele olhou para suas mãos. — Aconteceu uma vez para uma das minhas irmãs — ela foi longe demais, e se nós não tivéssemos parado-a, ela teria continuado matando. A única morte que ela causou trouxe muita atenção para nós, é assim como é. — Seus olhos encontraram os meus novamente. — Alguns de nós pensam que já têm caçadores de vampiros na cidade, procurando por nós.
Eu não disse a ele sobre Milo. Eu não podia. Eu não sabia o que ele faria com essa informação, e mesmo se Milo estivesse em uma missão de vida para exterminar minha raça, eu ainda não queria que nada acontecesse a ele.
— Oh? — Eu disse, ao invés disso.
— É por isso que temos que solucionar esse assassinato — Daniel disse. — Nós preferimos lidar com tal coisa nós mesmos.
— Bem, não foi eu, — Eu disse. — Eu não sei porque você pensaria que foi. Okay, à parte de toda a coisa de estar na cena do crime. E a coisa de invadir a casa de Tex. Mas você fez tudo aquilo, também, a propósito. — Eu esfreguei meus braços, me sentindo fria e molhada. —
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Eu só estava tentando solucionar esse assassinato estúpido. Minha família acha que eu fiz isso, que é, tipo, totalmente injusto, a propósito, porque eu totalmente não fiz isso. Eu tenho que descobrir quem fez isso amanhã, ou do contrário, eu vou estar em uma grande encrenca. Então se também não é você, eu estou meio que ferrada.
Eu dei a ele um olhar esperançoso. — Alguma chance de você ter alguma pista útil? Você sabe, que não aponte para mim?
Daniel pegou minha mão e me puxou para mais perto dele, alisando meu cabelo molhado com sua mão livre.
— Kira, — ele disse. — Você não vai gostar disso.
— O quê?
— Eu estava perto da escola quando o assassinato aconteceu — ele disse suavemente. — Eu ouvi o vidro quebrar e o corpo cair. Mas quando cheguei lá, o assassino já se fora. Ele deve ter me ouvido chegando — por isso ele não terminou de se alimentar. O corpo de Tex estava deitado lá, sangrando e abandonado. Mas eu podia cheirar o sangue fresco... o bastante para seguir o rastro do vampiro.
— Você o seguiu? — Eu perguntei, inclinando minha cabeça para olhar nos seus olhos.
— Eu segui o rastro, — Daniel disse, — todo o caminho, de volta para a sua casa.
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— Isso é impossível, — Eu disse. Eu tentei me afastar dele, mas ele segurou minha mão firmemente.
— Não é, — ele disse. – É por isso que eu suspeitei de você. Você pareceu à opção mais provável.
— Bem, eu sou a opção mais provável, — Eu admiti, — Mas não foi eu, então não pode ter sido mais ninguém na família, também.
— Você tem certeza? – ele perguntou. – Você os conhece tão bem? Um deles não poderia estar escondendo um segredo?
— Por que eles fariam isso? – Eu disse. – Por que qualquer um deles faria isso? Zach e Bert estavam fora da cidade em uma corrida de sangue. Crystal nunca machucaria ninguém, e meus pais são muito espertos para deixar evidência por aí. É totalmente impossível.
— Dê outra olhada neles, — Daniel disse atentamente. – Veja se você pode achar alguma coisa. Eu quero te ajudar, Kira. Eu quero voltar para minha família e dizer a eles que eles não tem que se preocupar com isso. Eu queria manter você segura.
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Parecia que um monte de garotos estava oferecendo me manter segura hoje à noite, tudo enquanto, ao mesmo tempo, tornando minha vida muito complicada e difícil.
Eu sentei no chão de mármore e coloquei minha cabeça nas mãos. Daniel se ajoelhou ao meu lado e esfregou minhas costas gentilmente.
Não chore, eu ordenei ferozmente a mim mesma. Você já chorou o suficiente por uma noite. Por uma vida imortal, na verdade.
— Vai ficar tudo bem, — Daniel disse.
— Fácil para você falar, — eu disse. — Você tem certeza que não foi você?
— Se você quiser conhecer minhas irmãs, poderia ouvir meu álibi. – ele disse.
Eu estremeci novamente. — Não, obrigada. — Eu suspirei e deslizei até conseguir descansar minha cabeça no seu colo. — Eu tive meio que uma noite difícil.
Ele pegou uma das minhas mãos. — Me conte.
Eu queria. Mas eu não contei a ele nada sobre Milo. Eu contei a ele sobre Rowan, em vez disso, sobre como eu pensei que ele era o vampiro e então descobri em vez disso que ele era o cara que me matou.
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— Bom Deus, — Daniel disse, correndo seus dedos pelo meu cabelo. — Eu posso ver como isso seria um pouco traumático.
Eu fechei meus olhos. Eu gostava da sensação das suas mãos grandes e elegantes. Era isso o que eu tinha querido – um vampiro lindo e elegante para namorar. Mas eu não conseguia parar de pensar em Milo. Eu tinha estado tão confortável com ele. Eu tinha querido que ele me conhecesse, e agora eu sabia que isso nunca seria possível.
— E o nadador? – Daniel perguntou, quase como se tivesse lido minha mente, mas eu sabia que ele não podia fazer isso, ou ele teria parado de suspeitar de mim há muito tempo. — O que eu vi com você algumas vezes. Você está... namorando ele?
— Não, — eu disse, com uma pontada de tristeza. — Eu estava investigando ele, também. Mas acabou que ele não tem nada a ver com nada disso. — Bem, pelo menos no sentido de não ser um assassino. — Espere — era você que estava nos observando, na piscina?
Daniel assentiu. — Eu pensei — eu estava com medo de que você talvez estivesse planejando mordê-lo, também.
— Se eu não estivesse tão cansada, te daria um tapa. – Eu disse, cutucando seu joelho. — Eu não sou esse tipo de garota, okay? Prove o contrario, no entanto.
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— Tudo bem, tudo bem, — Daniel disse, com uma pequena risada. — De qualquer maneira, eu estou grato. Que você não está namorando ele, quero dizer.
Eu não disse nada. Eu fechei meus olhos novamente, e apesar de ser de madrugada, eu me senti adormecendo.
A próxima coisa que lembro, era que Daniel estava balançando meu ombro. — Kira, acorde, — ele sussurrou. — Nós devemos sair do cemitério antes do sol nascer.
Eu sentei embriagadamente. Eu me sentia úmida e fria, e minhas roupas molhadas ainda grudavam em mim. Eu tinha certeza que meu cabelo tinha secado em algum jeito extravagantemente bobo enquanto eu dormia.
— Oh, isso é glamoroso, — eu disse, achatando meu cabelo. — Me desculpe por ter dormido.
— Está tudo bem, — Daniel disse. Ele se levantou e me ajudou a levantar. — Eu não me importei. —– Ele colocou seus braços ao redor da minha cintura e me olhou nos olhos — Tudo vai ficar bem, Kira. Talvez eu deva dar uma passada depois da escola, e nós podemos finalmente resolver isso.
— Não, — eu disse. — Quero dizer – me dê um pouco de tempo. Eu mesma preciso fazer isso. — Eu não tinha certeza do que — isso—
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era, entretanto. Acusar os membros da minha família? Invadir suas privacidades para procurar por pistas? Por onde eu sequer começaria?
Eu comecei a sair da cripta, mas Daniel pegou minha mão e me puxou de volta. Ele me beijou, longa e seriamente. Eu vou admitir, isso fez eu me sentir melhor.
— Você vê? — ele disse quando me soltou. — Eu não estava mexendo com você. Essa parte era real
— Vejo você na escola, — eu disse, retornando seu sorriso enquanto saía pela porta.
A tempestade tinha passado, e o ar estava muito frio, claro e afiado. O céu estava se iluminando lentamente, de azul para laranja pálido. Grama molhada ensopava meus tênis e a barra do meu jeans enquanto eu corria através do cemitério e fora dos portões, para casa.
Era verdade? Era alguém na minha casa? Eu não sabia o que pensar sobre isso. Se sim, era ruim o bastante que ele ou ela tenha matado Tex, mas deixar eu levar a culpa? Sem dizer uma palavra para me defender? Eu não conseguia acreditar que qualquer um deles faria isso.
Quando eu entrei pela porta dos fundos, Crystal e Bert estavam no balcão da cozinha. Só que, invés de estarem sentados um do lado do outro e se aninhando como geralmente faziam, eles estavam sentados em lados opostos. Crystal estava comendo sua omelete de queijo e sangue em
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silêncio pontudo e carrancudo. Bert tinha seu nariz enfiado no jornal e não pareceu notar.
— Ei, Bert — eu disse, chutando para longe meus sapatos. Eu esperava que nenhum deles pudesse ouvir a tensão na minha voz. – Onde vocês foram pegar sangue semana passada? O gosto é marginalmente menos nojento que o usual.
— Lexington, — Bert disse curtamente. Ele não levantou os olhos do jornal. — Foi um longo percurso.
— É? – Eu disse. — Ainda bem que você tinha Zach como companhia.
— Ele é um cara forte, — Bert disse. — Muito útil.
— Você viu eles saírem? — Eu perguntei a Crystal. Eu abri a geladeira e me servi um copo de sangue, tentando me comportar como se essa fosse uma manhã comum.
— Eu com certeza vi, — Crystal disse. Ela olhava para Bert durante todo o tempo que falava, esperando por uma reação, mas ele ainda não levantou os olhos. –—Bert se despediu de mim com um beijo, e eu saí na varanda para acenar para ele e Zach enquanto eles saíam. Então quando eles voltaram, eu os ajudei a carregar. E então Bert esfregou as minhas costas antes de irmos para a cama. Isso foi quando ele ainda me amava, entretanto.
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Eu olhei para Bert. Ele não respondeu.
— O que? – Eu disse. – Quando ele ainda—
Crystal rompeu em lágrimas e saiu correndo da sala.
Bert finalmente levantou os olhos, piscando lentamente, com uma expressão perplexa. — Onde ela foi? — ele perguntou.
— Sério? — Eu perguntei. — Você só perdeu tudo aquilo?
— Nossos estoques estão diminuindo, — ele disse, franzindo para o papel novamente. — É melhor eu ir tomar conta disso. — Ele se levantou e vagou inexpressivamente para fora da cozinha.
Então... isso foi estranho.
Eu vi Olympia no quarto enquanto estava subindo as escadas para tomar banho. — Ei, — Eu disse, me inclinando sobre o corrimão. – Posso te perguntar uma coisa?
— Certamente, querida, — ela disse, abaixando seu livro.
— Onde você e Willhelm estavam na noite da última terça-feira? Enquanto eu estava caminhando por aí, quero dizer?
— Deixe eu ver, — Olympia disse, tocando seu queixo. — Eu trabalhei um pouco nas nossas finanças, e então nós assistimos um filme,
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e então ele se transformou em um morcego e voou pelo jardim pegando insetos por um tempo, e então nós jantamos, e então você veio para casa e eu te levei para a escola. Eu acho que é isso.
— Onde Crystal estava? – Eu perguntei.
— Ela foi andar de bicicleta, — Olympia disse refletidamente. – e então eu acho que ela deitou no telhado por um tempinho, tomando alguma luz da lua. Oh, e eu tenho certeza absoluta que ela fez algumas compras online. Pacotes continuam chegando, cheios de roupas que eu certamente nunca pediria.
— Oh, sim — Eu disse. — Aquela Crystal. Com todas aquelas compras. Hoo, cara. — Sem necessidade de admitir que a maioria das roupas eram minhas. Eu não queria adicionar — compradora compulsiva — ao lado de — assassina — na lista de Olympia sobre crimes e contravenções.
Eu não podia dizer se Olympia estava mentindo sobre qualquer coisa daquilo. Na minha casa todo mundo se importa com suas próprias coisas, na maior parte. Seria justamente fácil, se esgueirar, arremessar um jogador de futebol americano pela janela, beber seu sangue, e voltar para casa, tudo sem ninguém notar que você tinha saído. Willhelm poderia ter feito enquanto Olympia pensava que ele estava voando por aí em forma de morcego. Crystal poderia ter feito enquanto ela estava andando de bicicleta. Poderia ter sido qualquer um deles.
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Zach apareceu do seu quarto quando eu cheguei no topo das escadas.
— Você parece terrível, — ele disse, erguendo suas sobrancelhas.
— Bom dia para você, também, — eu disse. – Ei, Zach, onde você e Bert foram pegar o sangue semana passada?
— Lexington, — ele disse. — Cara, era muito longe.
Então, sem histórias diferentes aqui. Muito inútil. — Você não, tipo, voltou mais cedo e só dirigiu pela cidade por um tempinho ou alguma coisa, huh?
Zach olhou para mim divertidamente. — Sobre o que você está falando?
— Nada, — Eu disse, esfregando meu rosto. — Eu vou tomar banho.
Eu não queria ir à escola. Eu não queria encarar Milo ou Rowan, e eu não queria pensar em matemática, e eu certamente não queria fazer uma prova de história. Mas eu tinha que fazer tudo isso porque mesmo sendo um vampiro, eu ainda tenho que me formar no colegial. O que eu acho que é chatíssimo, mas eu tenho uma escolha? Não.
Esse não era um dia para minissaias quentes. Era um dia para meu jeans mais confortável e um top verde de manga comprida com uma
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camiseta preta por cima, mais um capuz verde escuro. Eu coloquei o capuz e descansei minha cabeça no balcão da cozinha enquanto todo mundo terminava seus cafés da manhã mega nojentos (que, para a maioria deles era realmente jantar, antes deles saírem para dormir durante o dia).
Zach fez aquela coisa horrível de esmagar os lábios que ele faz quando acaba um dos seus — shakes energéticos. — Qual é o seu problema? — ele disse, levantando meu capuz e me observando. — Ainda não resolveu o assassinato de Tex?
Olympia se virou do fogão para me observar com seus olhos grandes e negros. Eu suspirei. — Estou trabalhando nisso.
— Você não tem que solucioná-lo até amanhã? – Zach disse, se divertindo imensamente. — Ou então você admite que foi você, certo? Ei, Olympia, você tem aquele caixão acolchoado pronto?
— Você viu Tex na última terça-feira? – Eu perguntei a Zach, descansando minha cabeça no meu braço..
— Sim, na escola. — Zach disse, com um suspiro. — Nós caminhamos juntos. Lembra, Olympia, você viu ele quando me pegou. Ele apareceu e disse oi.
— Era ele? — Olympia disse. — Todos os garotos adolescentes são a mesma coisa para mim. Vamos, é hora de ir.
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Eu peguei minha bolsa de livros e a segui até o carro. Carros tinham espelhos. E se eu estava totalmente errada sobre a teoria do vestiário e espelho? E se Tex notou que Olympia não tinha reflexo em um dos espelhos retrovisores? Ela teria tomado medidas drásticas para nos proteger? Eu não sabia que ela era assim... mas quão bem eu a conhecia, afinal de contas?
Uma boa notícia sobre o dia era que Rowan não estava na escola. Eu não podia perguntar a ninguém onde ele estava, porque ele não tinha amigos. A maioria das pessoas nem notou que ele não estava lá. Mas ele tinha tido uma noite dura também, — com alguma sorte, ele não estaria voltando para a escola por um longo tempo.
Milo, por outro lado, estava esperando por mim nos degraus da frente. Eu saí de vista e entrei por uma entrada lateral ao invés disso. O que eu podia dizer para ele? Não é você, é a sua missão de matar a minha raça? Eu só não estou a fim do seu caminhão cheio de estacas?
Eu me escondi na livraria durante o almoço, mas eu ainda tive que ir à aula de Artes, e não tinha como evitar ele lá. Ele pulou quando me viu. A expressão no seu rosto me fez querer chorar. Ele parecia tão feliz em me ver.
Eu deslizei relutantemente no banco ao seu lado.
— Ei, — ele disse, sentando de novo. — Como você está? Você está bem? Eu tentei te ligar noite passada, mas a sua mãe disse que você ainda estava fora — na tempestade e tudo — eu estava preocupado.
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— Eu estou bem, — eu disse, tirando meu caderno de desenho. – Eu só precisava pensar.
— Sobre mim? — ele perguntou ansiosamente. — Eu fiz alguma coisa errada?
— Tem sido uma semana estranha, — eu disse. É. Eufemismo selvagem. — Você, começando com o assassinato e tal... Eu acho que estava meio assustada pela coisa do ‘caçador de vampiro’. — Eu abaixei minha voz para um sussurro no final. E —assustada— não começou a descrever, na verdade.
Milo esfregou suas têmporas, parecendo triste. — Eu não deveria ter te contado. Eu deveria ter esperado.
— Não, eu estou feliz que você contou. — Eu disse. Muito, muito feliz, considerando que eu estava prestes a mostrar minhas presas para ele, e tudo mais. — Você meio que teve que contar. Não se sinta mal. Mas Milo—
— Oh, não. — ele disse.
— Bem, lembra que eu ia falar com você sobre alguma coisa, também? — Eu tinha que fazer isso. Forte e rápido, como arrancar um Band-Aid.
Ele assentiu. Eu respirei fundo.
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— Tem mais alguém, — eu disse.
Milo parecia devastado. — Tem? Mas eu pensei que nós—
— Eu sei, — eu disse. — Eu sinto muito. Eu gosto muito de você. Mas eu tenho um namorado agora, e eu queria ser honesta com você. Só funcionou daquele jeito. — Eu não achei que Daniel se importaria com essa caracterização dele, não que ele teria uma descrição completa dessa conversa ou nada disso. Eu me virei de volta para o caderno de desenho e desenhei por um momento, enquanto Milo sentava lá, em um silêncio chocado. Eu queria ser mais legal. Eu queria dar um abraço nele e dizer o quanto eu queria estar com ele, mas obviamente não podia fazer nada disso.
Eu olhei para ele de lado. — Eu sinto muito mesmo.
— Não, tudo — tudo bem, — ele disse em uma voz vencida. – Nós ainda podemos ser amigos, certo?
Eu sorri estranhamente. — Eu espero que sim. — Esse sentimento não pode ser meu coração quebrando... corações de vampiros nem batem, então como eles quebram?
Foi o maior alívio do mundo quando o fim do dia finalmente chegou, e eu consegui ir embora e andar para casa sozinha, sem garotos mesmo.
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Eu vaguei pelo cemitério por um tempinho, tentando organizar meus pensamentos. Eu precisava de novas pistas. Pistas que diziam Willhelm, Olympia e Crystal. E talvez Bert e Zach, também, embora não houvesse dúvida que eles tinham ido e voltado com sangue, então eu não sabia como explicar isso. Na verdade, eu não sabia como explicar nada disso.
No fim das contas eu fui para casa para derrubar algumas perguntas inquisitivas e casuais neles. Quando eu entrei, Zach estava, como sempre, no processo de comer quase tudo na nossa cozinha. Ele preparou para si mesmo uma tigela enorme de nachos, misturando sangue com salsa.
— Oh, meu Deus, Zach, nojento, — Eu disse, cobrindo meus olhos. – Eu nunca vou ser capaz de comer salsa de novo.
— Yum, yum, yum, — Zach disse, estalando os lábios. – Você está perdendo.
Eu não conseguia acreditar que já tinha achado essa pessoa atraente. Para evitar olhar para ele, eu peguei uma folha de papel que estava do lado dos seus livros, na mesa. Havia um 10 gigante no alto da página.
— Whoa, — eu disse. — Essa é a sua prova de cálculo?
— Yup, — ele disse convencidamente.
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— Bom trabalho, — Eu disse com admiração genuína. – Como você—
— Já chega! — Crystal gritou. Ela irrompeu na cozinha, vindo da toca, e se virou de volta para gritar para ele. — Eu não sei o que você fez com meu marido, Bert, mas até eu pegá-lo de volta, você vai dormir no porão, e eu não me importo se você for comido por cupins enquanto você estiver lá embaixo! — Ela passou direto por nós e pelo hall, para dentro do seu quarto, batendo a porta atrás dela.
Eu ergui minhas sobrancelhas para Zach. — O que diabos está acontecendo com eles?
Zach suspirou. — Não tenho ideia. — Ele enfiou outro nacho na sua boca.
Eu dei a ele um olhar enojado e fui para dentro da toca, onde Bert estava sentado na sua escrivaninha, teclando números em sua calculadora como se nada tivesse acontecido.
— Bert? — Eu disse. — Hmm. Cara?
Ele olhou sobre o topo dos óculos para mim. – Sim, Kira?
— Está tudo bem? Por que Crystal está tão chateada? — Eu sentei no sofá e cruzei minhas pernas debaixo de mim.
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Bert olhou ao redor com um olhar confuso. — Ela está? — Seu olhar voltou para a pilha de papeis na frente dele. — Oh, querida, isso não parece certo, — ele murmurou, rabiscando alguma coisa em uma das margens.
Eu só tinha vivido com Bert e Crystal por um ano e meio, mas até eu sabia que esse era um comportamento muito bizarro de Bert. Ele se importava com Crystal mais do que qualquer coisa no mundo. Ele largaria tudo por ela, mesmo se significava perder dois milhões de dólares em um contrato. Toda a sua não-vida era sobre ser devotado a ela. De jeito nenhum o Bert normal a ignoraria e machucaria seus sentimentos do jeito que ele tem feito nos últimos dias.
Talvez esse Bert anormal também fosse o tipo de cara que matava estrelas de futebol americano adolescentes.
Eu joguei meu cabelo de volta, descansei minha cabeça na parte de trás do sofá, e olhei para ele enquanto ele escrevia. Ele parecia indiferente ao meu escrutínio.
— Ei, Bert, — Eu disse, lembrando da sua estranha ausência ultimamente, — onde você estava no domingo?
— Domingo, — ele disse vagamente.
— Durante o dia, — eu disse. – Zach e eu estávamos acordados pelo meio-dia, e Crystal saiu procurando por você, mas ela não conseguia te achar.
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— Oh, — ele disse. — Eu estava assistindo TV.
Eu olhei para ele. — Não, você não estava. — De todas as mentiras para contar, essa era muito óbvia e pobremente pensada.
— Sim, eu estava, — ele disse, em uma voz cega e meio mecânica. — Eu assisti TV todo o dia. Eu estava lá embaixo. Assistindo TV. Todo o dia.
Eu ouvi a porta dos fundos fechar quietamente.
Alguma coisa estalou no meu cérebro.
Eu sabia quem era. Eu sabia quem tinha assassinado Tex.
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Um vento frio soprava as folhas mortas no meu rosto enquanto eu caminhava pela rua, minhas botas soando alto na escuridão crescente.
Não importa. Eu não tinha necessidade de ser sorrateira.
Esse vampiro sabia que eu estava chegando.
Eu pisei na quadra de basquete por trás do Colégio Luna. Altas torres de carvalhos acima, e a grama verde suave estendia pelo pequeno cemitério ao lado. Uma bola de basquete descartada estava no meio da quadra, balançando suavemente.
— Eu sei que você está aqui, — eu disse, parando à beira das linhas brancas. — E eu sei que você é o único que matou Tex.
Houve um ruído na parte de cima das árvores. Olhei para cima quando Zach virou um galho e pousou suavemente no chão.
Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans e sorriu para mim.
—Oh, realmente, Miss Clever Pants45, — ele disse.
45 Clever Pants é um grupo de teatro interativo onde alunos com diferentes as habilidades e interesses são capazes de desfrutar de um divertido teatro de experiência participativa com a compreensão máxima e mínima frustração.
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—Você errou,— eu disse. —V ocê foi ganancioso. Foi assim que descobri isso.
Zach se balançou para trás sobre os calcanhares e jogou seu cabelo loiro brilhante. — Descobriu o que?
— Você pode hipnotizar, — disse eu. — É como Wilhelm quando podia se transformar em um morcego logo quando ele foi transformado em vampiro. Você tinha o poder, logo que você se tornou um vampiro. Você hipnotizou Bert. — Ele abriu a boca para falar, mas me apressei. —Foi assim que você conseguiu o seu álibi. Você o hipnotizou para dizer que estavam em uma corrida de sangue, enquanto realmente você estava aqui, atraindo Tex para morte.
— Uma teoria interessante, — disse Zach evasivamente.
— Eu não tinha percebido isso, mas então você também hipnotizou o pobre Bert para fazer o exame de cálculo para você, — eu disse, cruzando os braços — que é, aliás, o exemplo mais supremo e irônico de sua preguiça e estupidez que posso imaginar.
Agora Zach estava carrancudo. — Eu não chamo um A + de estúpido, — ele retrucou.
— Ah, e me esqueci de acrescentar, o egoísmo, — disse. — Você não se importa que de estar mexendo com a cabeça de Bert? Você não percebeu o quão estranho ele está agindo essa semana? E como isso é perturbador para Crystal? E se você quebrou cérebro Bert?
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—Ele vai ficar bem, — Zach zombou. Um sorriso lento, manhoso espalhados por seu rosto. — Ele sempre se recuperou antes.
Calafrios percorreram minha pele arrepiada. — Você fez isso com ele antes.
—De que outra forma eu deveria praticar? — Zach disse com um encolher de ombros. — Quando eu percebi que poderia fazê-lo e com ele é tão fácil. Ele é um cara tão maleável. — Ele franziu a testa novamente, dando um passo mais perto de mim. — Não como você. Você tem que ser tão difícil. Você não poderia fazer as coisas mais fáceis para mim.
— Você tentou me hipnotizar? — Eu disse indignada. Lembrei-me dos olhos arregalados, que ele tinha me dado por meses. — Oh, meu Deus, era isso mesmo aquele olhar assustador?
Seus lábios se curvaram em um rosnado. — Meus poderes são cada vez mais forte com o passar do tempo. Um dia eu vou conseguir, e então nós estaremos juntos novamente, para sempre e sempre.
— Ok, eh,— eu disse, dando um passo para trás. — Mas o que eu não entendo é, se você é um grande hipnotizador, por que você apenas não convenceu Tex que ele estava errado e você não era um vampiro?
Para minha surpresa, Zach riu. — Oh, você sabe sobre isso, — disse ele. — Você tem estado muito ocupada. — Ele pegou a bola e começou a batê-la lentamente de um lado para o outro. — Tex era um idiota, — disse ele.
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—Parece que você era o idiota—, eu disse. —Deixá-lo te ver no espelho e tudo. Olá, Vampiro 10146.—
— Sim, ele pirou totalmente,— Zach disse com uma risada desagradável. — Ele fugiu como uma galinha assustada. Mas então o idiota voltou quando liguei para ele.
— Do orelhão da escola, — disse.
—E u disse a ele para se encontrar comigo aqui à meia-noite.— Zach deu de ombros novamente. —Eu não estava planejando mata-lo.
— Claro—, eu disse. —É por isso que você configurou um álibi inteiro com Bert.
— É melhor prevenir do que remediar. — Zach driblou a bola de basquete nas costas. As longas sombras das árvores de carvalho escondiam seu rosto. Estrelas estavam começando a aparecer no céu roxo escuro. — Bert tinha que me deixar aqui. E então Tex chegou, e mostrei a ele o que significava ser super-forte, e correr como o vento, para viver eternamente. Quero dizer, ser um vampiro é impressionante. — Ele estendeu as mãos como se fosse o óbvio. Eu percebi que ele realmente queria dizer isso. Zach gostava de ser um vampiro. Para ele, não era uma droga tudo isso.
46 É um livro elaborado a partir de diversas fontes e é uma introdução básica à natureza e à criação de vampiros.
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— Mas Tex não entendeu,— Zach disse, balançando a cabeça. —Ele era como, 'E o meu curso de futebol? E sobre Notre Dame?' Quem se importa! Quem escolheria ir para a faculdade a viver para sempre?
Hum... Eu, eu pensei.
—Então nós lutamos.— Zach girou a bola de basquete no dedo. —O que posso dizer? Ele me deixou puto. Meu plano original era mordê-lo e depois mata-lo o quão legal seria ter um cara da minha idade ao redor da casa, certo? Quero dizer, Wilhelm e Bert nunca vão assistir futebol comigo, ou me ajudar a roubar um barril, ou destruir uma festa na praia. Sabe? Eu pensei que Tex seria legal sobre isso. Mas ele não foi, e então eu pensei, bem, o Plano B. — Ele parou abruptamente a bola entre as mãos. — Matá-lo e beber seu sangue. Acontece que o gosto é muito bom desse jeito também. — Eu podia ver seus dentes brilhando na penumbra.
— Mas vocês foram interrompidos, — disse eu. —Certo?
— Eu ouvi alguém chegando, — Zach disse com um aceno. —Então eu corri para casa, subi em uma árvore, e esperei por Bert chegar assim eu poderia andar com ele. A árvore na frente do seu quarto, eu poderia acrescentar. — Podia ouvi-lo malicioso.
— Eca, Zach, você não pode deixar de ser bruto por um minuto?— Eu disse. — Malévolo e lascivo, ao mesmo tempo é um matador exagerado.
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Ele deu outro passo na minha direção. — Matador exagerado,—ele disse baixinho. —Escolha engraçada de palavras.
—Você vai confessar, — eu disse, tentando parecer firme. Não gostava de ser incapaz de ver seu rosto. — Você vai voltar para casa comigo e dizer a Olympia e Wilhelm o que aconteceu. Eles podem decidir o que fazer. — Ei, essa estratégia já havia funcionado com Rowan. Talvez eu tenha um talento pra pegar os assassinos de sangue frio, e fazê-los confessar seus crimes.
Aparentemente não. — Oh, eu não penso assim, — Zack disse. —Eu acho que você tem duas escolhas. Um, manter a calma e aceitar a punição que nossos queridos pais vampiros decidirem lhe dar. Pessoalmente, acho que uma temporada em um caixão estofado seria bom para a sua perspectiva.
— Eu não sou a única que precisa se trancar, — disse eu.
— Ou dois, — Zach continuou como se eu não tivesse falado, — Eu te matar agora.
— Oh, por favor, — eu disse. — Eu gostaria de vê-lo tentar.
— Eu não, — disse uma nova voz. — Eu tenho uma idéia melhor.
Zach e eu viramos. Alguém estava de pé nas sombras sob a cesta de basquete. Ele estava apontando uma besta para Zach.
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— Opção três, — disse o recém-chegado. —Eu mato você.
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Por um instante meu coração parou, pensei que era Milo. Pensei que ele tinha finalmente conectado os pontos e agora estava aqui para matar Zach e eu. Na verdade, pensei: Bem, pelo menos, essa morte será mais rápida do que da última vez. Então, de repente a luz da rua ao lado da quadra de basquete acendeu. A luz amarela brilhante inundou a área, iluminando o pátio, o rosto furioso de Zach e o cara calmo que estava apontando sua besta para o coração do meu — irmão.
Não era Milo. Era Daniel. Eu acho que não deveria ter me surpreendido. Ele tinha o hábito de aparecer nos momentos-chave. O mais provável é que ele tenha me seguindo desde o fim da escola, embora eu tivesse dito a ele que eu ia lidar com isso.
Além disso, Milo era adorável, mas ele não parecia ser um caçador de vampiros particularmente bem sucedido, pelo menos desde que eu o tinha visto. Ah, eu não estava infeliz por ver Daniel. Eu não estava empolgada com a coisa pontiaguda de madeira, mas eu ainda gostava do cara quente, feroz segurando-o. Ele não olhou incomodado para os músculos salientes do pescoço Zach.
—Espere, — eu disse. — Daniel, espera. Não atire nele.
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— Tolerância zero, Kira, — disse Daniel. — Essa é nossa política. Ele experimentou o sangue humano, ele é perigoso agora. Nós não podemos tê-lo correndo arriscando nossas vidas. — Seus olhos se deslocaram para mim por um momento. — Especialmente a sua.
— Mas a culpa é minha, — eu disse. — Fui aquela que o transformou. Eu não quero que ele morra por duas vezes em um ano por minha causa. — Entrei entre eles e Daniel baixou a besta um pouco, embora ele não tenha colocado para baixo. — Nós podemos lidar com isso. Meus pais não se livraram de mim no ano passado quando eu mordi, eles saberão como lidar com Zach.
— Eu não preciso lidar com isso, — resmungou Zach. — Eu estava me comportando como um vampiro normal deveria.
— Viu? — Disse Daniel. — É diferente com ele, Kira. Ele não é confiável.
Zach de repente agarrou meus ombros e me jogou de lado. Eu bati no muro alto da quadra e cai no chão. Uma faísca de dor subiu no meu pulso e irradiada através de meu corpo inteiro.
Zach se atirou em Daniel, que não teve tempo de levantar a besta. Zach derrubou a arma fora de suas mãos e deu um soco no rosto de Daniel. No rosto perfeito de Daniel! Eu soltei um grito de raiva.
— Zach, pare com isso! — Eu gritei.
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Daniel cambaleou para trás, mas conseguiu se esquivar dos próximos socos de Zach. Ele abaixou-se e virou-se, chutando Zach fortemente no estômago. Zach caiu, rolou, pegou o pé de Daniel, e arrancou-lhe o equilíbrio. Eles atravessaram toda a quadra, lutando e dando socos e embora tenha certeza que não iria querer partilhar isto, mordendo e puxando o cabelo também.
Eu usei o muro para me levantar. Eu tinha certeza que Zach tinha quebrado meu pulso o que era uma grande dor, porque não podemos ir aos hospitais. Olympia teria de corrigi-lo, e mesmo que nós nos curemos rápido, ele ainda iria doer muito por alguns dias.
— Pare!— Eu gritei novamente. — Zach, acabou! Deixe ele em paz!
É claro que eles não me ouviram. Vi a besta e corri para ela, mas eu não conseguia descobrir como dar um tiro. Eu tinha certeza que ia empalar meu pé se eu tentasse. Mas eu ainda poderia apontar.
— Zach, pare com isso agora! — Ordenei, visando o arco para ele.
Ainda não estava escutando. Juntos eles rolaram e batiam tão rápido que eu não poderia ter atingido o caminho certo, mesmo se eu soubesse como usar a coisa estúpida. Frustrada, fui até eles, esperei até que rolaram em minha direção e, em seguida chutei Zach tão forte quanto poderia na parte de trás da cabeça.
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—Oh, — ele gritou, perdendo o controle sobre Daniel. Imediatamente Daniel pegou sua mão e puxou para trás das costas. Zach acabou com seu rosto plantado no chão. Ele berrou algo abafado no pavimento, mas acho que talvez fosse melhor, que nós não pudéssemos entende-lo.
— Kira, me da à besta, — disse Daniel, de joelhos sobre Zach para segurá-lo.
— Não, isso não é justo, — disse eu. — Quer dizer, eu não gosto do cara, acredite em mim. Mas eu tive uma segunda chance. Ele não pode ter uma também?
Daniel mudou o olhar sobre meu ombro. — O que você acha?
Eu me virei para encontrar Olympia atravessando o portão. Ela olhou para cima, e eu percebi Wilhelm deveria estar olhado para nós em forma de morcego. Uma forma pequena e escura flutuava para baixo do céu, e um momento depois o morcego, puf e se transformou em Wilhelm. Ele olhou para todos carrancudo e confuso sobre estar fora logo após o por do sol. Seus cabelos grisalhos presos em todas as direções.
— Adolescentes, — ele bufou para Olympia. — Eu avisei. Eles estão instáveis. Muita TV também, é isso que eu digo.
Oh, por favor. Ele vai começar a falar.
— No meu dia... — começou.
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— Sim, querido, — Olympia interrompeu. — Mas eles também podem aprender. Eu concordo com Kira. — Ela deu a Daniel um olhar severo com os olhos claros. — Nós vamos lidar com isso nós mesmo.
—Eu vou ter que dizer a minha família sobre isso, — disse Daniel. —Eu não sei se eles vão concordar.
Wilhelm bufou. — Espere até que vejam onde vamos coloca-lo,— ele rosnou. — Ele vai ser um bom, honesto membro da sociedade no momento em que ele sair. — Olímpia aproveitou a nuca de Zach, cavando longas unhas em sua pele. Ele soltou um grito. Daniel foi para trás e Olympia levantou Zach tirando seus pés do chão.
— Seja grato, — disse ela para ele. — Um caixão estofado é melhor do que você merece. — Marchou fora da quadra, e quando eles desapareceram na esquina da escola eu podia ouvir sua palestra sobre hipnotizar membros da família e danificar propriedade da escola e oh, yeah, assassinar pessoas.
Wilhelm resmungou alguma coisa sobre forcados e saiu atrás deles, deixando Daniel e eu sozinhos na quadra de basquete.
— Obrigada—, eu disse a ele. — Quero dizer, não que eu precisasse de salvamento ou nada, mas belo esforço.
Ele sorriu. — Bem, muito obrigado por resolver o mistério. Não que eu não teria imaginado eu mesmo, eventualmente, mas foi útil.
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Eu enruguei meu nariz em uma careta para ele. — Portanto, nenhum dos membros de sua família deseja me empalar, né?
— Eu vou dizer tudo a eles, — Daniel disse, me puxando para perto e colocando o braço em volta de mim.
— Eles vão ficar bem. Eu não estou tão certo de que os de sua família se sintam muito simpáticos comigo.
— Bobagem, — eu disse. — Eles vão estar felizes, que finalmente tenha encontrado um rapaz vampiro bom para me manter a salvo da tentação.
Seu sorriso era doce e perverso ao mesmo tempo. — Bem. — ele disse, — espero que não todas as tentações.
Eu levantei meu rosto e nossos lábios se encontraram. Ele tinha gosto de luar, xarope de hortelã e a promessa de que iríamos viver para sempre.
Talvez houvesse algumas coisas sobre ser um vampiro que não fossem uma droga em tudo.
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