Contrato para o amor

CONTRATO PARA O AMOR
Barbara Dunlop
Título original: THE BILLIONAIRE'S BIDDING
Para salvar sua fortuna, ela deverá aceitar seus termos...
Lutando para salvar a empresa de sua família, Emma McKinley fica chocada quando Alex Garrison, bilionário do ramo da hotelaria, oferece a salvação. Junto com ela, no entanto, vêm uma aliança, em sua família há gerações, e um calhamaço de termos para formalizar o acordo pré-nupcial. Um perfeito manual de casamento por conveniência: ele salda a dívida com os credores, ela cede a ele metade de sua empresa. Mas o complicado jogo de faz-de-conta logo se torna mais envolvente e arriscado do que ambos esperavam. Afinal, um casamento construído com mentiras seria capaz de resistir ao teste do verdadeiro amor?
Digitalização: Simone Ribeiro
Revisão: Crysty
Contrato Para o Amor – Barbara Dunlop Desejo Premium 03
Projeto Revisoras [Mistérios do Amor]
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CAPITULO UM Emma McKinley deveria estar nervosa ao sair do elevador no andar da rede hoteleira Garrison Hotels. Mas já deixara de lado as emoções havia alguns dias. Tudo começou com a morte repentina do pai. Em seguida, ela descobriu as imensas dívidas da empresa, a McKinley Inns. Por fim, tomou conhecimento da oferta bizarra feita à irmã para quitar as dívidas da família. A única coisa que a movia agora era uma determinação férrea. E seu foco tinha um nome: Alex Garrison, o presidente da rede hoteleira. Pressionou a bolsa com força contra o peito e seguiu, com passadas firmes, pelo corredor ornado com colunas de mármore. Emma nunca estivera na empresa dos Garrison. Jamais tivera motivos para falar com os concorrentes da família. Mas não era preciso ser muito esperta para imaginar que as portas duplas ao fim do corredor a levariam direto à sala de Alex Garrison. Ela ignorou os olhares de espanto dos funcionários em suas mesas ao longo do corredor. Ninguém parecia querer detê-la; tampouco estava disposta a permitir que a detivessem. Emma podia não ter um horário marcado com o sr. Garrison, mas tinha o direito moral de confrontá-lo pessoalmente. Como ele ousava se aproveitar de sua única irmã, Katie, poucas semanas após o enterro do pai, com ameaças veladas e propostas indecentes? Emma respirou fundo.
Talvez ainda restasse alguma emoção, afinal. — Em que posso ajudá-la? — perguntou uma voz feminina à sua esquerda, assim que o corredor se abriu numa área maior e elegante: a recepção. Ignorou a pergunta. Não olhou para a mulher nem diminuiu o passo. Dez passos até a porta. Oito passos. — Por favor! — Emma ouviu a voz alta, estridente, de uma mulher bem-vestida, de cerca de trinta anos, que levantara-se da cadeira para ir atrás dela. Cinco passos. — A senhorita não pode... Emma já segurava a maçaneta dourada da porta do escritório. — Entrar aí!
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Mas Emma já abrira a porta, numa entrada triunfal. Quatro homens de temos escuros, sentados à uma mesa de reuniões, viraram-se bruscamente para ela. Dois deles tinham o cabelo grisalho; as sobrancelhas espessas franziram-se como que a adverti-la de que tinha cometido um grave erro. O terceiro homem era mais jovem, o cabelo louro, os olhos de um azul brilhante. Seu semblante dizia-lhe que aquela interrupção era até bem-vinda. O quarto homem ficou de pé. Cabelo escuro, olhos cinzentos, ombros largos. Pela sua postura, via-se que estava disposto a enfrentar qualquer um que invadisse sua privacidade. — Sinto muito, sr. Garrison — desculpou-se a secretária, praticamente sem fôlego ao entrar na sala. — Eu tentei... — Você não teve culpa, Simone — respondeu Garrison, os olhos fixos em Emma. — Em que posso ajudá-la, senhorita? Emma voltou a pressionar a bolsa com força contra o peito. Sentia tanta raiva que quase não enxergava os outros homens na sala. Sua atenção estava completamente focada em Alex Garrison. — Você acha mesmo que eu vou permitir que você leve este seu plano adiante? — Como a srta. deve ter percebido, estamos no meio de uma reunião. —As palavras de Alex soaram duras como aço. — Eu não quero saber se... — A srta. não gostaria de marcar uma hora? — Não. — Então devo pedir que se retire. — Você sabe quem eu sou? — Não. — Mentiroso! — Vou chamar os seguranças — advertiu Simone. Alex arqueou as sobrancelhas e encarou Emma. Ela logo percebeu que ele de fato não sabia quem ela era. Como era possível? É claro! McKinley Inns era um conglomerado associado apenas à imagem de Katie. — Será mesmo preciso chamar os seguranças? — perguntou Alex. — Eu sou Emma McKinley.
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As narinas de Alex ficaram ligeiramente dilatadas e ele recuou. Após um breve silêncio, Alex pegou a caneta sobre a mesa e acomodou-a no bolso do paletó. — Senhores, se me dão licença, acredito que posso conceder uns cinco minutos à srta. McKinley. Os homens começaram a se levantar. Alex fez um gesto para que permanecessem em seus lugares. — Por favor, senhores. Vou conversar com a srta. McKinley na sala da diretoria. Ele apontou para uma grande porta de carvalho, indicando que Emma deveria acompanhá-lo. Ela cruzou o recinto e girou mais uma maçaneta dourada. A porta se abriu para uma ampla sala, dominada por uma imensa mesa oval com vinte cadeiras. A mobília era extremamente requintada. Várias janelas, todas dispostas do mesmo lado, deixavam entrar o sol de agosto que banhava toda a Manhattan. Ela ouviu a porta se fechar e virou-se para encará-lo.
— Creio que nossa conversa será breve — comentou Alex, dando um passo em direção a ela. Ele parecia mais alto e mais impressionante de perto. Os ombros largos e o tórax musculoso. Os raios de sol destacavam as feições de seu rosto perfeito. O queixo quadrado, o sorriso irônico, e os olhos reluzentes, de um cinza prateado. Emma teve a sensação de que poucas pessoas o enfrentavam e sobreviviam para contar a história. Se ela não soubesse sobre sua origem nobre, poderia jurar que ele nascera e se criara nas ruas do Brooklyn. Mas nada disso importava. Ele não iria tocar num fio de cabelo da irmã dela nem colocar as mãos na empresa da família. — Você não vai se casar com Katie — afirmou Emma. Ele deu de ombros. — Isso é com Katie. — Meu pai acabou de ser enterrado. — O que não muda sua situação financeira. — Eu posso dar um jeito na situação financeira. — Talvez. Ela queria acreditar que sim. Sempre poderiam hipotecar a propriedade Marthas's Vineyard. Alex inclinou a cabeça, pensativo.
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— Posso cobrar sua dívida em 24 horas. Você consegue contornar sua situação financeira nesse prazo? Emma não respondeu. Sabia perfeitamente que não podia resolver os problemas tão rapidamente. Levaria semanas, talvez meses para lidar com as hipotecas, cartas de crédito e promissórias assinadas pelo pai. Ela sentiu um aperto no peito. Por quê? Por que o pai morreu tão cedo? Emma sentia falta dele, desesperadamente. Ainda esperava contar com a sua orientação durante muitos e muitos anos. — Srta. McKinley? — Por que você quer a McKinley Inns? Os hotéis Garrison abarcavam várias propriedades, instalações maiores e mais luxuosas. McKinley Inns se encaixava num pequeno nicho de mercado, porém lucrativo, onde Garrison poderia competir com qualquer rede de hotéis de luxo no mundo. — Isso é alguma piada? Emma balançou a cabeça negativamente. — Como todo mundo, quero crescer. E você é uma oportunidade. — E o senhor não se importa em atropelar quem estiver na frente. A reputação de Alex era famosa. Embora a imprensa tenha se tornado mais condescendente nos últimos meses, Emma conhecia-o bem. Alex não passava de um frio empresário que lucrava com a desgraça alheia. Ele deu mais um passo à frente e cruzou os braços. — Acho que Katie não esclareceu bem a situação. Estou fazendo um favor a vocês. Emma sentiu um arrepio na espinha. Ergueu o queixo para encará-lo, olho no olho. — Casando com a minha irmã e tomando a nossa empresa? — Salvando a sua empresa da falência. Vocês estão falidas, srta. McKinley. Se eu não fizer isso, alguém o fará. É assim que funciona o capitalismo. — Não me venha com paternalismo. Os lábios de Alex esboçaram um sorriso frio. — Da forma como encaro a situação, todo mundo sai ganhando. — Da forma como eu encaro a situação, todo mundo sai perdendo. — Porque você é uma idealista. Não é prática. — Pelo menos eu tenho uma alma.
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— Até onde eu sei, "ter uma alma" não é requisito para se fazer negócios em Nova York. — Ela não vai se casar com você. — Ela explicou o acordo? Sim, Katie tinha explicado o acordo. Alex queria a empresa. Mas, nos últimos dois anos, gastou uma fortuna em campanhas para melhorar sua imagem e tinha medo de uma publicidade negativa se aparecesse como uma ave de rapina rondando duas irmãs que tinham acabado de perder o pai. É claro que a imagem da ave de rapina refletia perfeitamente seus interesses. Ele só não queria que as pessoas soubessem. Por isso a proposta de casamento e toda a boa vontade do noivo em ajudar. — Ela me explicou — respondeu Emma. — Então você sabe que vão manter metade da empresa. — Sua máscara impassível transformou-se numa carranca. — E eu me acho louco por oferecer tanto. — Na verdade você quer comprar uma noiva. — Por esse preço? Quero. Emma simplesmente não sabia o que dizer. — A conversa acabou? — perguntou Alex. A conversa acabou? O que ela faria agora? Uma ameaça infundada? Sair feito um furacão pela porta afora? Jurar que ele nunca colocaria as mãos nos negócios da família, quando os dois sabiam que era exatamente isto que ele iria fazer? Alex pareceu pressentir a hesitação dela. — Ninguém vai se machucar — declarou ele. — A publicidade vai ser boa para todo mundo. A imprensa vai ficar impressionada com a fusão de duas grandes empresas hoteleiras. Vamos dar material de primeira para os repórteres que irão até ficar com os olhos marejados... — Você está ouvindo o que está dizendo? — perguntou Emma. — Como assim? — Você não acha o seu plano um pouquinho cruel? — Como eu disse, ninguém vai se machucar. — E a Katie? E o David? — Quem é David?
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— O namorado dela. O rapaz sensível e carinhoso que ela está namorando há seis meses. Ele vai ficar humilhado e arrasado. Alex ficou em silêncio. Por um segundo, Emma pensou ter visto alguma emoção nos olhos dele. Mas foi apenas um segundo. O olhar duro e frio estava de volta. — David vai se recuperar. E pode casar com Katie depois, quando ela estiver valendo muito mais. Emma abriu a boca, mas não conseguiu emitir som algum. — E você? — perguntou Alex. — Eu estou muito, mas muito chateada — respondeu ela, na declaração do século. Alex revirou os olhos. — Não me interesso pelo seu estado emocional. Quero saber se você tem namorado. — Não — respondeu ela sem entender o que a pergunta significava. — Problema resolvido! — O quê? — Você se casa comigo. Emma agarrou-se ao espaldar da cadeira, com medo de cair. — Como é que é? Alex continuava de pé, encarando o mundo como uma pessoa racional enquanto fazia a mais indecorosa das propostas que ela já ouvira em toda a sua vida. Casar com ele? Casar com ele? — Na verdade, não importa a irmã — continuou ele, sem nenhuma emoção na voz. — Eu só escolhi a Katie porque ela... — Porque ela é a mais bonita — arrematou Emma, afastando-se da cadeira e aprumando-se. Por algum motivo, ouvir aquelas palavras ditas por Alex a feriram mortalmente. Ela sabia que esta era a opinião da maioria pessoas, mas Alex foi ao cerne da questão com tanta frieza que Emma sentiu-se mais magoada que de costume. — Não é que... — Eu não vou me casar com você e nem Katie vai se casar com você.
A voz de Alex adquiriu um suave tom de advertência. — A terceira opção é cobrar a dívida. E aí vocês ficam sem nada. Emma agarrou a bolsa com força. — A terceira opção é dar um jeito nas dívidas amanhã bem cedo.
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Alex deu um meio sorriso. — Neste caso, você tem 24 horas para refletir sobre a minha proposta. Emma virou-se e dirigiu-se à porta. Os dois sabiam que as palavras dela não passavam de um blefe e uma intimidação sem um pingo de consistência. E Emma nunca o perdoaria por isso. — Não é necessário, sr. Garrison. — Dadas as circunstâncias, você poderia me chamar de Alex... Emma — sussurrou bem atrás dela, enquanto ela girava a maçaneta. Emma não se virou, mas ouvir seu nome dos lábios de Alex fez com que estremecesse. Duas horas depois, Ryan Hayes peguntou a Alex: — Presumo que você acertou todos os detalhes com ela. — Ainda não — respondeu Alex enquanto fechava sua pasta e organizava a pilha de papéis sobre a mesa. — Como assim, "ainda não"? Alex suspirou e recostou-se na cadeira, esfregando as têmporas. O plano do Gunter parecia cada vez mais ridículo. — Quero dizer que ainda não acertamos os detalhes. — Mas vocês vão se casar. — Eu estou tentando. — Você não vai encostar um dedo nas empresas McKinley sem levar uma legítima noiva McKinley ao altar. Minha nossa, Alex, a mídia vai esfolar você vivo. Alex rangeu os dentes. Ele maquinou toda essa história de diversas formas diferentes. No que dependesse dele, cobraria a dívida agora mesmo e tomaria posse da maldita empresa. Estavam falando de negócios, não de brincadeiras de amadores. Mas Ryan e Gunter eram os sócios majoritários da empresa e os dois estavam convencidos de que a fama de cabeça-dura de Alex estava prejudicando os negócios. Eles, inclusive, acreditavam que alguns reveses em licitações recentes tinham prejudicado o moral dos funcionários e exercido um impacto negativo nos negócios.
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Como resultado, Alex estava sendo obrigado a se comportar como um verdadeiro escoteiro. Estava proibido de discutir em público e até mesmo fazer cara feia. Logo estaria beijando criancinhas e ajudando velhinhas a atravessarem a rua. — Por que você não se casa com ela? — perguntou Alex a Ryan. — Porque não sou eu quem está com problemas com a mídia — retrucou Ryan. — Além disso, não sou o presidente da empresa e também não sou a cara dos hotéis Garrison. Quais são os detalhes afinal? — O quê? — O que falta resolver com Katie? — Nada. Não é a Katie. Agora é a Emma. E ela ainda está pensando no assunto. — Alex não conseguia acreditar que pedira duas mulheres diferentes em casamento num intervalo de 48 horas. — Pensei que você fosse casar com a mais bonita. — A mais bonita recusou. Então fiz a proposta a Emma. Ela não tem namorado. — Imagino que não — comentou Ryan, em tom de escárnio. Alex empertigou-se. É claro que Emma não era tão atraente quanto Katie, mas não havia motivos para insultos. — O que quer dizer com este comentário? — Quero dizer que ela é durona. Assusta qualquer um. — É apenas sem sal. —Alex levantou-se.
Emma não era durona e assustadora. Estava frustrada e em pânico. Na verdade, ele podia tirar vantagem disto. — Uma irmã ou a outra. Ou você leva o plano adiante ou compromete o projeto — lembrou Ryan. Comprometer o projeto? Alex achava que não. As McKinley possuíam uma excelente propriedade na praia da ilha Kayven. E seu valor iria dobrar quando inaugurassem o novo percurso do cruzeiro marítimo. Alex tinha que tornar a proposta mais atraente ou encontrar e explorar um ponto fraco. Mas ele não ia desistir. — O que vamos fazer? — perguntou Katie, pálida e preocupada, à mesa do Chateau Moulin, restaurante do McKinley Inn da Quinta Avenida.
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— Eu não sei — respondeu Emma, com toda a sinceridade. — Tenho de ligar para o banco amanhã. — E vai dizer o quê? — perguntou Katie, aflita, elevando a voz. — Podemos rolar as hipotecas, talvez usar a propriedade de Martha's Vineyard como uma garantia extra. — Você sabe que não vão aceitar. Emma não respondeu, porque sabia que Katie estava certa. A propriedade não cobriria nem um décimo da dívida do pai. A vida estava difícil para os McKinley nos últimos anos. Custos elevados, e as pessoas faziam poucas reservas. O pai de Emma e Katie sempre relutava em demitir os funcionários. E ficaram enrolados com três resorts de esqui que sofreram grandes reformas mas não tiveram muita procura, porque nevou muito pouco durante dois invernos seguidos. Elas estavam encurraladas e Alex Garrison sabia disso. Ele não era tolo, por mais antiético que fosse. — Vou ter de casar com ele — desabafou Katie, derrotada. — E o David? — Vou dar um jeito de explicar para ele. Emma sorveu um gole de seu martíni, imitando a voz da irmã: — Desculpe, querido, mas vou ter de casar com um outro homem, por causa do dinheiro dele. — Eu não vou falar desse jeito. — Não tem como ser agradável ao dizer uma coisa dessas. — Então você vai se casar com ele? Emma não respondeu. Esperou o garçom servi-las. — Pelo menos eu não tenho namorado — sibilou Emma. — Isso é um sim? — perguntou Katie, cheia de esperanças. — Não, isso não é um "sim". — Emma fez uma pausa, tentando desesperadamente concatenar seus pensamentos. — Não podemos... Isso não está certo... Eu fico louca só de pensar que vamos acabar cedendo. —Ao menos vamos ficar com metade da empresa.
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Era justo. Emma sorveu mais um gole de seu martíni. Por outro lado, se Alex resolvesse cobrar a dívida, teriam sorte de ficar com um hotel sequer. Se ao menos tivessem mais tempo. Se ao menos conhecessem alguém que pudesse assumir as dividas da família de forma irrestrita. Se ao menos o coração do pai não tivesse parado de bater. Os três formavam um time. Já haviam enfrentado tempestades juntos e ela sabia que conseguiriam encontrar a saída desse labirinto. — Emma? — chamou Katie. Emma deu uma garfada na salada de camarão. — Vamos ter de falar com o Jurídico. — E declarar falência? — Os olhos azuis de Katie ficaram embaçados. Emma suspirou. Não. Não iriam declarar que estavam falidas. Não diante de uma escolha ligeiramente mais tolerável. Jogariam pelas regras de Alex Garrison. Se não fizessem isso, amanhã estariam na miséria e teriam destruído todo o trabalho de uma vida inteira do pai.
Ao menos com Alex havia uma chance. Se tivessem algum lucro nos anos subseqüentes, poderiam comprar a parte dele de volta.
Alex colocou o jornal sobre a mesa de mogno e levantou-se. — Podemos ao menos dispensar o sir. — Como queira, senhor Garrison. — Você está demitida! — Creio que não — respondeu, impassível. — Por que você conhece os podres da família? — Porque o senhor nunca decorou a senha da adega de vinhos. — Bem colocado. — Muito bem, então... sir. — Insubordinada! — murmurou Alex. — A srta. McKinley vai ficar para o almoço? Boa pergunta. Será que Emma ia dizer "sim" e facilitar a vida dos dois? Ou continuaria com sua teimosia, causando-lhe todo o tipo de problemas? As chances eram equilibradas. Ele respirou fundo. — Não faço idéia.
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A sra. Nash balançou a cabeça e foi arrumar o escritório. Alex seguiu pelo corredor, sob os olhares atentos de seus antepassados. Os retratos estavam sempre polidos e alinhados. O pai era o último, o olhar grave, sombrio, como a repreendê-lo por alguma coisa. Alex imaginava que era isto o que o pai mais odiava na morte — ficar ali na ala dos retratos, em silêncio, vendo o filho dilapidar os negócios da família. Virou o corredor para dar de cara com seu mais recente problema financeiro bem ali de pé no vestíbulo. Emma pressionava a bolsa contra o vestido chemisier marfim. Os cabelos castanhos na altura dos ombros estavam soltos, presos apenas pelos óculos escuros posicionados na cabeça. Tinha os cílios negros e os olhos cor de café; o batom rosa cintilante nos lábios e dois diminutos diamantes nas orelhas. Roupa e maquiagem impecáveis, mas estava claramente nervosa. Isto podia ser um bom sinal, ou um mau sinal. —Emma — cumprimentou Alex, estendendo-lhe a mão e tentando não ser sarcástico. — Alex — retribuiu ela o cumprimento, num rápido aperto de mãos. — Vamos entrar? — perguntou ele, indicando o corredor. Emma lançou um olhar suspeito ao longo corredor. — No meu escritório. Ficaremos mais confortáveis lá. — Tudo bem. Obrigada — concordou Emma, após um momento de hesitação. — Certo. Como está o trânsito? — perguntou Alex e se arrependeu no mesmo instante por ter cedido ao impulso de jogar conversa fora. Ele não estava nervoso. Nada o abalava quando se tratava de negócios. E este não era diferente dos outros. Se ela recusar, tudo bem. Ele poderia fazê-la mudar de idéia ou partir para o plano B. Ryan estava levando muito a sério esse negócio de casamento. Alex não acreditava que seu futuro dependesse dos caprichos da srta. McKinley. O escritório estava impecável. O jornal dobrado sobre a escrivaninha. Alex sabia que podia sentar-se à escrivaninha, colocando-se numa posição de superioridade. Mas ofereceu uma poltrona perto da lareira para que Emma se acomodasse. Ela agradeceu, afundou-se na poltrona e cruzou as pernas. Ajeitou o vestido e acomodou a bolsa ao seu lado. Pousou as mãos sobre os belos joelhos e olhou para Alex. Ele tratou de afastar as idéias que a imagem daquelas pernas evocavam em sua mente e sentou-se de frente para ela.
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— O trânsito estava bom — respondeu ela. Alex achou melhor ater-se aos negócios. — Já tomou sua decisão? — Já. — E? Emma ficou brincando com um anel de safira e esmeralda que trazia no dedo anular da mão direita. — Eu vou me casar com você — respondeu ela, como um condenado a caminho da forca. Também não seria nada agradável para ele. Estava a ponto de arrumar uma esposa teimosa e reduzir drasticamente sua vida social e sexual. Aliás, pelo que podia vislumbrar da linguagem corporal de Emma, "relações conjugais" era um termo predestinado a ser banido deste casamento. Em outras palavras, continuaria um celibatário enquanto durasse o casamento. Isso não era nenhuma maravilha. — Obrigado. Emma fez menção de levantar-se. — Espere — pediu Alex. — Você não acha que temos de discutir alguns detalhes? — Que detalhes? — perguntou ela, e voltou a sentar-se e cruzar as belas pernas. — Para início de conversa, para quem você precisa contar? — Contar que vou me casar com você? — Não. Contar que tudo não passa de uma farsa. — Ah! — É. Essa parte. Meus sócios sabem. — Minha irmã sabe. — Mais alguém? — Meu advogado. Ele vai procurá-lo para discutir o contrato pré-nupcial. — Você quer um contrato pré-nupcial? — Alex não conseguiu conter o riso. — Mas é claro! — Você já deu uma olhada na minha renda líquida, publicada na Forbes do ano passado? — Um contrato pré-nupcial protegia-o muito mais do que a ela. O semblante de Emma era mais que taciturno. — É claro que não. Eu não dou a mínima para a sua renda líquida.
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Alex custava a acreditar no que ouvia. Mas não se importava. O que importava era seguir em frente com aquela farsa do casamento. — A primeira coisa a fazer é ficarmos noivos. — Eu achei que já estávamos noivos. — Alex abriu a boca para falar alguma coisa mas Emma continuou: — Você me encostou na parede e disse para eu me casar com você ou me levaria à falência. Optei pela pena mais leve, ou seja, casar com você. E se quer saber, não pense que as coisas vão ficar mais românticas que isso. Sarcasmo? Ela estava embolsando milhões de dólares; ele ia ficar com um negócio de segunda só para salvar a reputação dele e ainda tinha de aturar desaforos? — Você não está nem um pouco satisfeita, não é mesmo? — Suas vítimas de chantagem costumam ficar satisfeitas? Ele não conseguia acreditar naquilo. Qual o motivo daquele pânico? Por que Emma sentia-se tão intimidada? — Você esperava receber flores e brindar com uma taça de champanhe? — Eu esperava receber um empréstimo bancário e uma boa estatística. — Fazer o quê? Eu sou tudo o que você ganhou. Emma meneou a cabeça devagar, empinando o delicado nariz. — Pode apostar. Aquela troca de insultos não iria levá-los a lugar algum. Alex levantou-se, impaciente. — Se vamos fazer com que acreditem nessa farsa, é preciso tomar algumas atitudes daqui para a frente. — Como um aprender a tolerar o outro? — Como convencer a mídia de que estamos apaixonados. Emma esboçou um sorriso. Era a primeira vez que Alex a via sorrir. Seus olhos adquiriam uma luminosidade dourada e uma covinha brotava em sua bochecha direita. Quando a ponta da língua de Emma tocou os dentes da frente, Alex foi sacudido por uma onda de desejo. Desse jeito, precisaria repensar qual era a irmã mais bonita. — O que foi? — perguntou ele, domando seus instintos.
— Acho que descobri no que somos diferentes.
Alex ficou surpreso. Ele tinha perdido alguma coisa?
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— Eu sou extremamente realista. Já você sonha com o impossível. Ele não falaria nesses termos, mas era verdade. — Acho bem possível que um aprenda a tolerar o outro — continuou Emma. — Mas não vejo como convencer o mundo de que estamos apaixonados. Alex aproximou-se e sentiu o aroma do perfume de Emma. Outra onda de desejo a ser dominada. Aquilo era loucura. Ele não podia estar sentindo atração por ela. Não se permitiria sentir-se atraído por ela. — Sabe qual é o seu maior problema? — perguntou Alex. Ela se levantou, desafiando-o, mas Alex era mais alto. — Não, mas aposto que você vai me contar. — É essa sua tendência ao derrotismo. — Na verdade, o meu maior problema é você. — Minha querida, eu sou a sua salvação. — Mas como você é modesto. — Quando você dá duro no trabalho e presta atenção no que faz, não é preciso ser modesto. — Ele se aproximou mais um pouco e abaixou a voz. — Só existem seis pessoas no mundo que sabem que eu não estou apaixonado por você. Quanto às outras, vou convencê-las do contrário. — Vai convencer o mundo inteiro? — perguntou ela, petulante. — Você tem de pensar grande, Emma. — E você tem de ser realista, Alex. — As duas coisas se completam. — Estatisticamente falando? Não creio. — Então você será a exceção. — Alex podia rebater cada petulância dela. — E, minha querida, eu sou muito bom no que faço. Emma revirou os olhos. — Será que podemos inserir uma cláusula no contrato pré-nupcial para controlar o seu ego? — Só se o seu advogado for muito melhor que o meu. Emma recuou. — Então este é o seu grande plano? Trocamos olhares apaixonados em público enquanto nossos advogados discutem nos bastidores?
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Alex convidou-a a sentar-se. — A idéia é essa. Agora, voltemos ao nosso noivado. Emma sentou-se, a respiração ofegante. — Presumo que estamos falando de um anel para todo mundo admirar. — Para todo mundo admirar. — Ele se acomodou na poltrona. Estava pensando no assunto no caso de uma das duas aceitar sua proposta. — Só que não queremos que perguntem se estamos noivos; queremos que perguntem como ficamos noivos. — Acho que não vou gostar disso. — Você é fã dos Yankees? Emma sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo e Alex pôde perceber o exato momento em que ela entendeu o que ele tinha em mente. O olhar estupefato, o semblante pálido. — Não. — Aqueles telões de alta definição? O jumbotron? — Não! — Todo mundo vai ver! — Eu vou ter que matar você. — Eu não faria isso. Ainda não inclui você no meu testamento. — Você pode não ter percebido, mas é Katie quem cuida da publicidade. Ela é a garota extrovertida. — E se você se lembra, eu tentei casar com ela. O semblante de Emma turvou-se por um segundo e Alex percebeu que talvez suas palavras tivessem soado como um insulto. — Ela já tem dono. É melhor aceitar isso. — Eu não quis dizer...
— Claro que quis. Nada de telões. Entendeu? Alex não quis dizer que preferia Katie. Tanto faz. Era indiferente para ele. Mas outra recusa e estaria pisando em terreno minado. E Emma ficaria ainda mais arredia. — E se eu fizesse uma surpresa? — perguntou Alex. — Se acrescentasse uma pitada de realismo à situação? — Bobagem — respondeu Emma, empertigando-se na poltrona. — Deveríamos conversar sobre a fusão das empresas. Quem liga para como ficamos noivos?
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Será que ela não entendia? Tudo girava em torno da reputação e da imagem dele. — Eu ligo — respondeu Alex, sem rodeios. Ela podia ser petulante, mas precisava entender os interesses dele. — No pacote que você ganhou está incluída uma bela de uma proposta financeira e eu lucro nas relações públicas. O como interessa. A estratégia interessa. Emma tentou refutar, mas ele estava empolgado. — Não tenha dúvidas, Emma. Você e eu vamos convencer o mundo de que estamos apaixonados. Ou vamos morrer tentando. — Não sei como vou fazer isso — disse ela a Katie na quadra 12 do Club Connecticut. Perturbada pelos planos de Alex, tomou uma surra da irmã no jogo. Ela não era uma atriz, tampouco uma pessoa pública. Algumas executivas de renome na rede hoteleira adoravam aparecer nas páginas dos jornais. Emma prezava sua privacidade. — Ele está sendo muito chato? — perguntou Katie, tentando consolar a irmã enquanto procurava uma mesa para se sentar. — Menos do que eu esperava — respondeu Emma, com sinceridade. — O problema é que ele tem essa fantasia de ludibriar a mídia. E eu não estou nem um pouco disposta a bancar a noiva sorridente de Wall Street. — Acredito que ele vai lucrar alguma coisa com isso — comentou Katie, preocupada, enquanto sentava-se. — Ele está levando nossos hotéis. — Só a metade. Emma encarou a irmã. Será que Katie acreditava mesmo que Alex estava sendo justo? — Prometemos que ele teria uma esposa, não uma noiva para estampar na primeira página dos jornais feito um troféu. Katie deu de ombros. — Se ele quer se exibir um pouco, por que não aceita e paga para ver? — Porque se eu aceitar, a coisa não vai ter fim e vai ser constrangedor. Sem falar que tudo não passa de uma grande mentira. — Não vejo mal algum em fazer uma cara alegre diante de uma mentira.
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— Quer parar de zombar de mim? — Desculpe. É que... — É que sobrou para mim e você está livre? Katie mudou o tom da conversa. — É claro que não. Eu agradeço. Você sabe o quanto eu agradeço. Emma suspirou. — Tenho que dar um jeito de fazer com que ele seja mais discreto. Um juiz de paz. Um pequeno anúncio na seção de classificados. — Ou eu posso emprestar uns vestidos para você circular com Alex pela noite. — Você não está ajudando. — Sair um pouco não vai fazer mal algum. Você trabalha demais! — Não o bastante para salvar a empresa. — Mas você está salvando a empresa! Emma recostou-se na cadeira. Ela não estava salvando a empresa valendo-se de seu discernimento e astúcia nos negócios. — Eu me sinto como se estivesse me prostituindo. — Sem sexo?
— Sem sexo. — Então não é prostituição. Anime-se! Vamos ao shopping! — Claro! Fazer compras vai resolver o meu problema. — Com o guarda-roupa certo, seria fácil circular por toda a Manhattan, lançando olhares lânguidos para Alex. Ela sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo. — Minha nossa — exclamou Katie, os olhos fixos num ponto atrás de Emma. — "Minha nossa" por quê? — Ele está aqui. — Quem está aqui? — perguntou Emma, virando-se. — Alex. Emma congelou. — O quê? — Alex está aqui. — Mas ele não é sócio. — Talvez seja.
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— Mas é um clube particular. —Até parece que o rapaz da portaria vai dizer que ele não pode entrar para conhecer o clube. Emma sentiu uma pressão no peito. — O que ele está fazendo? — Vindo para cá. — Não! — Está sim — respondeu ela para então abrir seu melhor sorriso. — Oi, Alex! Emma sentiu o calor da mão que pousou sobre seu ombro nu e suado. Os músculos se retesaram ao toque, tremendo num ritmo estranho. Como se um homem nunca a tivesse tocado. Ela resistiu ao impulso de encolher os ombros para que ele retirasse a mão. — Oi, meu anjo. — A voz de Alex ressoou nos ouvidos dela. O beijo que Alex salpicou-lhe na testa foi o suficiente para deixá-la sem fôlego. Apesar da suavidade do toque, o pulso acelerou e os nervos ficaram à flor da pele. Ela precisava se acalmar a qualquer custo. Ele finalmente sentou-se e tomou um pouco de água. — Como foi o jogo? Alex vestia uma camisa pólo branca com uma faixa azul num dos ombros. A blusa realçava o bronzeado e o pescoço grosso e delineava os ombros largos e os músculos peitorais bem-definidos. Emma não respondeu, e ele lhe lançou um olhar sombrio. — Foi bom—respondeu ela, a voz ligeiramente estrangulada. Agora que começava a se recompor, estava morrendo de raiva. Um beijo no Club Connecticut era praticamente tão ruim quanto vários telões de alta definição. E Alex sabia disso. Os olhares curiosos das mesas vizinhas confirmavam suas suspeitas. — Que bom — comentou Alex, bem à vontade. — Ela perdeu todas — disse Katie. Emma não gostou daquele tom excessivamente amigável. Emma inclinou-se na direção de Alex. — Pensei que iríamos conversar a respeito — sibilou ela. Alex apoiou um dos braços no encosto da cadeira de Emma. — Sou todo ouvidos.
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— Mas eu não. — É mesmo? Que pena. — Ele olhou ao redor. — Acho que é tarde demais. — Trapaceiro — resmungou Emma, sabendo que ele ganhara o primeiro round. Pelo menos umas 12 pessoas tinham visto aquele beijo. Alex gargalhou. Dirigiu-se para Katie. — Parabéns pela vitória. Katie agradeceu com um sorriso. — Parece que minha irmã estava com dificuldades de se concentrar no jogo.
— É mesmo? — Alex pousou mais uma vez a mão sobre o ombro de Emma e o corpo dela novamente queimou ao toque dele. Isso não era nada bom. Emma recusou-se a apreciar aquele toque. Tinha que ser repulsa. Não podia ser outra coisa. — Será que a falta de concentração está relacionada ao que aconteceu ontem à noite? — perguntou Alex em alto e bom som. Duas mesas adiante, Marion Thurston estava atenta. Alguns segundos depois, estava ligando para alguém. Não era preciso uma bola de cristal para descobrir para quem estava ligando. Praticamente todo mundo sabia que ela colaborava com a coluna social de Leanne Height. Emma reclinou-se para Alex mais uma vez. — Agora é sério. Eu vou matar você. — Já disse que ainda não incluí você no testamento. — Não dou a mínima. Alex gargalhou de novo. — Vai estar livre amanhã à noite? — perguntou a Emma e virou-se para Katie. — E você? Reservei uma mesa no evento beneficente do Teddybear Trust Casino. — Eu não jogo — respondeu Emma. — Pois está na hora de aprender. — Eu topo — respondeu Katie. — Posso levar o David? — Ah! O famoso David! — Eu não quero aprender — resmungou Emma. — Blackjack — respondeu Alex. — Eu vou bancar o jogo. — Você não vai... — Eu vou bancar você — repetiu ele, a voz dura como aço.
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— Tá legal. E também vai botar um carimbo na minha testa? Alex tomou-lhe as mãos e beijou-as. A voz, gentil, não combinava com o olhar duro.
— Não. Só vou colocar um diamante no seu dedo.
— Problemas à vista na frente de batalha — disse Ryan, jogando-se numa cadeira do escritório de Alex. Alex estava examinando os prospectos sobre as empresas McKinley. — Que tipo de problema? — O tipo que começa nos chalés DreamLodge e termina na ilha Kayven. Alex sentiu o sangue ferver. — O velho Murdoch sabe da ilha Kayven? — Com certeza. Não tem outra explicação. Parece que ele vai fazer uma proposta para as McKinley. — Cretino! A rede hoteleira inteira? — Só a propriedade em Kayven. Alex fechou os olhos por um segundo; entrelaçou as mãos na nuca. — E as McKylen ficariam com o resto? — Isto seria perfeito para Emma. — Isso mesmo — respondeu Ryan. — Quanto tempo nos resta? — Ele vai fazer a oferta na segunda-feira. — Como você ficou sabendo? —Adam, lá da contabilidade, mencionou que o cunhado, que trabalha no Williamson Smythe, estava pesquisando as mesmas áreas geológicas que nós. — Foi daí que ele tirou a informação? —Adam não sabe de nada. Eu montei o quebra-cabeça a partir de seis fontes diferentes. Ainda temos a peça maior. Alex começou a imaginar diferentes perspectivas em potencial. Todas levavam DreamLodge à vitória e Garrison à derrota. — Não posso permitir que ele faça a oferta. Ryan assentiu com a cabeça. Alex precisava passar a frente de Murdoch. Como fazer isso antes de segunda-feira? A resposta era casar com Emma.
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— Estou aqui pensando como Emma se sentiria em Vegas... — Você não pode se casar antes de segunda-feira. Alex deu uma gargalhada.
— O jatinho está no aeroporto. Posso casar com ela amanhã. — Você não acha que um casamento destes pode parecer um tanto quanto oportunista? — Prefiro parecer oportunista do que colocar tudo a perder. — E o que vai acontecer quando Murdoch falar com Emma? — Quando isto acontecer ela já será a senhora Garrison. — Não é o suficiente. Não queremos que Murdoch fale com ela. — Não podemos impedir que ele faça isso. — Afinal, vivia-se num país livre e a DreamLodge possuía tantos dispositivos de comunicação quanto qualquer outra empresa. Ryan acomodou-se, relaxado, na cadeira. — Podemos sim. É só fazermos com que ele pense que não tem motivos para falar com ela. — São centenas de milhões de dólares em jogo. — Eu sei — concordou Ryan. — E nós vamos fazer com que Murdoch pense que esse dinheiro é nosso. Alex podia ver o brilho da astúcia no olhar de Ryan. Esse vislumbre renovou-lhe os ânimos. Sentou-se à mesa e ficou brincando com uma caneta de ouro. — Como? — Precisamos de quatro coisas. Alex era todo ouvidos. Havia um motivo para ter escolhido Ryan como sócio: ele era um estrategista brilhante. — Os rendimentos financeiros da McKinley, informações importantes e cruciais sobre a DreamLodge, um rápido esboço fajuto de marketing e um anel de noivado no dedo de Emma McKinley. Alex podia cuidar do marketing e do anel. Acreditava que, no decorrer do fim de semana, poderia encontrar alguma explicação racional para solicitar os rendimentos financeiros de Emma. Mas ele não tinha um único contato na DreamLodge. — Que tipo de informação? Ryan hesitou por um momento.
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— Você pode ligar para o Nathaniel? Alex ficou surpreso ao ouvir o nome do primo. — É uma jogada e tanto! — Temos centenas de milhões de dólares em jogo. Certo. Nathaniel era o nome. CAPÍTULO TRÊS EMMA vestiu o grosso roupão dos hotéis McKinley sobre o corpo úmido, colocou os óculos e prendeu uma mecha de cabelo que se soltara. Ainda podia ouvir o zumbido da banheira de hidromassagem enquanto caminhava pela cobertura, indo do quarto para a sala. Há muito deixara de achar estranho morar num hotel. Agora, apenas admirava a paisagem, o serviço de limpeza e a conveniência do serviço de quarto, disponível dia e noite. O escritório ficava no terceiro andar do Fifth Avenue Inn. Assim, nos dias mais tempestuosos do inverno, tudo que precisava fazer para chegar ao trabalho era pegar o elevador. Ligou a televisão e aninhou-se num canto do sofá. Era sexta-feira e já passava das 23 horas. Ainda não tinha jantado. Pensou que uma tábua de queijos com um bom vinho cairiam bem com o noticiário econômico da TV. Sintonizou o canal de notícias e solicitou o serviço de quarto. Alguns minutos depois ouviu a batida na porta e, ainda olhando a televisão, apenas abriu a porta para que Korissa entrasse. — Eles lembraram das uvas? — perguntou Emma, atenta ao noticiário. — Não faço a mínima idéia — respondeu uma voz masculina. Emma virou-se e viu-se frente a frente com Alex Garrison. Os olhos arregalaram-se de espanto e, num impulso, levou as mãos ao peito, verificando se o roupão estava bem fechado. — Pensei que fosse a Korissa.
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— Eu sou o Alex — respondeu ele, observando o roupão, os cabelos desgrenhados, os óculos sem graça. — O que você está fazendo aqui? — Ela só esperava vê-lo na noite seguinte, no evento beneficente do Teddybear Trust. Não estava preparada para outra rodada de joguinhos verbais, ainda mais vestindo apenas um roupão. Ele mostrou a pasta na mão esquerda. — Pensei que você quisesse ver os meus rendimentos. — Às onze e meia da noite? — Você disse que queria um contrato pré-nupcial. É claro que ela queria. Mas não agora. Agora ela queria dormir e recuperar as forças para enfrentá-lo no dia seguinte. — Eu não... — Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje — interrompeu-a Alex, olhando para o aposento enquanto entrava. Quando Emma bloqueou a passagem, ouviu o carrinho do serviço de quarto aproximando-se. Korissa parou no corredor e lançou um olhar inquisidor para Alex. — Devo trazer mais uma taça? — Seria gentil da sua parte — respondeu ele, e, antes que Emma pudesse reclamar, Alex esgueirou-se porta adentro. Emma não estava disposta a fazer uma cena na frente de Korissa, mas Alex não ia ficar. Abriu passagem para o carrinho. — Aconchegante — observou Alex, diante do tapete persa, da lareira de mármore e do lustre Tiffany. — Obrigada — respondeu Emma, tensa, enquanto Korissa arrumava a tábua de queijos, o vinho e as flores sobre a mesa de jantar antes de sair e fechar a porta. Emma ajustou o cinto do roupão. —A hora não é muito adequada. Alex pousou a pasta sobre a mesa e juntou as mãos, num pedido de desculpas. — Eu lamento, mas acabei de sair de uma reunião — ele se desculpou, voltando a olhar para os trajes de Emma. — Imagino que esteve livre no fim da tarde.
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— Não. Eu não estive livre no fim da tarde. Fiz uma ligação de negócios, aprovei três contratos com meus fornecedores e tive uma reunião com o contador que passou das dez da noite. — Mas você está livre agora — disse ele, abrindo a pasta. Ela olhou para os próprios trajes. — Pareço livre? Alex segurou o riso. — Você parece... — Deixa para lá. — Eu ia dizer "encantadora". — Você ia dizer "horrorosa". — Por que você sempre... — O que você quer, Alex? — Quero trocar informações financeiras — respondeu ele, retirando um envelope da pasta. — Ligue para mim amanhã. — Ela queria dormir. Só isso. — Amanhã estou com a agenda cheia o dia todo. — Bom, e eu estou com a agenda cheia a noite toda. Alex ficou paralisado. Olhou direto para o quarto. — Você tem companhia? Emma levou alguns segundos para entender a pergunta. — Não, eu não tenho companhia. — Sei lá. Uma aventura de fim de noite. — Não sou o tipo de garota de "aventuras de fim de noite". Alex voltou a olhá-la de cima a baixo. — Não mesmo? — E se eu fosse, estaria vestida assim? — Já disse que você está encantadora. Emma soltou um suspiro de frustração. Alex aproximou-se. — Quer saber? Não sei por que você é tão insegura. Ela não sabia o que responder. Ponto para ele. — Você é uma bela mulher — disse, com suavidade na voz. — Pare com isso — respondeu Emma, ríspida.
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Era claro que o texto era ensaiado, para envolvê-la com suas mentiras e tirá-la do sério. Alex ficou frente a frente com ela. A intensidade do olhar dele fez o corpo de Emma pulsar. — Você não tem motivos para se depreciar desse jeito, Emma. Ela tentava respirar normalmente; tentava esmagar a irrefutável onda de desejo que ameaçava tragá-la. — Você tem um gosto... surpreendente. Alex esboçou um sorriso. Sua boca era atraente, bem definida, muito sexy. Irradiava um brilho envolvente, fazendo com que uma mulher se sentisse única. Emma podia sentir a força daquele encanto. — Você acha que eu prefiro seda ou cetim? — perguntou ele com doçura. — Acho que você prefere renda negra e salto alto — respondeu Emma, arrependendo-se na mesma hora. — É mesmo? — Os olhos dele refletiram o pensamento. — Não em mim! — Por que não? — perguntou ele, observando-lhe os seios. Aquilo já estava passando dos limites. —Alex! Ele apontou na direção do quarto. — Tem alguma coisa ali dentro que possa me agradar? Minha nossa. Pior que tinha. Um minúsculo baby-doll combinando com a calcinha de dormir. Tinha sido presente de aniversário de Katie. Nem em sonho Alex veria aquela roupa. — Águas paradas são profundas e perigosas — comentou ele, segurando o riso.
— Não. Nada do seu interesse — mentiu ela. Alex tocou-lhe uma mecha de cabelo. — Claro que tem. Vamos, Emma, deixe-me conhecer seus segredos mais ocultos. Emma chegou a piscar diante daquele olhar incandescente. Resistiu bravamente às lavas daquele vulcão, prometendo a si mesma que não deixaria Alex assumir as rédeas da relação. Precisava ser forte. Precisava manter o foco. Ela possuía uma coisa que ele queria e ela ditaria as regras.
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Foi então que ele pousou a mão em suas têmporas, e todos esses pensamentos perderam-se no tempo. O gesto de alisar seus cabelos com os dedos foi suficiente para enviar uma descarga de adrenalina pelo corpo de Emma, fazendo-a corar e amolecendo o corpo enquanto Alex pressionava-a contra o peito. Alex deixou a mão escorregar pela nuca e segurou-a pelos cabelos, puxando-a para mais perto. Ele inclinou a cabeça e Emma acompanhou o movimento, esperando, ansiosa, o que viria a seguir. Então ele parou. Emma sentiu a própria hesitação refletida em Alex. Sim, seu corpo inteiro pedia. Não, a razão respondia. Emma podia sentir a respiração dele em seu rosto. — Meu desejo mais oculto... — Ele parou de falar. — Eu quero... — Mais uma pausa seguida de um suspiro. — Quero ver seus rendimentos financeiros. Aquelas palavras soaram como uma ducha de água fria. E Emma ficou feliz. De verdade. Beijar Alex teria sido uma imensa estupidez. Ela sabia que mais cedo ou mais tarde isso acabaria acontecendo; mas não no apartamento dela; não sem ninguém por perto; não com ela vestida apenas com um roupão, seminua. O que ela estava pensando? Emma afastou-se, determinada. — Tudo bem. Mas depois você vai embora. Ele concordou, deixando escapar um brilho fugaz, porém incandescente, das profundezas daqueles olhos de aço. Emma não estava disposta a explorar aquelas profundezas. Sequer queria pensar a respeito. Estava fazendo negócios. Apenas negócios, disse a si mesma enquanto dirigia-se ao computador. Abriu o arquivo e imprimiu os dados do último trimestre. Alex olhou em silêncio para as vinte páginas impressas que Emma entregou-lhe. — Obrigado — agradeceu ele e encaminhou-se para a porta. — De nada — respondeu ela, contando os segundos para que ele fosse embora. Mas ele se voltou, e olhou-a com olhos frios. — Emma...
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— Boa noite — ela o interrompeu, bruscamente. Alex respirou fundo mas não insistiu. — Boa noite — respondeu, resignado. E então ele se foi. Emma trancou a porta, os dedos colados na maçaneta. Tudo bem. Seja lá o que foi isso, não vai se repetir. Ela fizera um acordo com Alex. Era um negócio como outro qualquer. Seu pai sempre se orgulhara de sua capacidade de arregaçar as mangas e encarar o trabalho de frente. Neste caso, não era bem o trabalho que teria de encarar de frente. Mas no fundo era a mesma coisa. Um dia ela e Alex trocariam um beijo, mas seria um beijo de negócios. Um beijo para ser visto. Não seria um beijo trocado entre quatro paredes, com ela seminua e ardendo de desejo por ele. Afastou-se da porta, o corpo trêmulo. Disse para si mesma que estava fazendo exatamente a mesma coisa que seu pai faria — dando o melhor de si numa situação ruim.
Quando a mãe morreu e ele ficou responsável pelas duas filhas, deu o melhor de si. Aprendeu a escovar os cabelos delas, a decorar o quarto e fazer bolos e biscoitos de chocolate. Quando o hotel em Montreal ardeu em chamas, ele também deu o melhor de si. Destemido e sem nunca perder o otimismo, varreu as cinzas e recrutou os funcionários.
Emma também podia ser destemida e varrer os malditos hormônios para algum lugar. Faria seu pai sentir-se orgulhoso dela, ou morreria tentando.
Estava alerta no sábado à noite. Quando saíram da limusine na entrada da Tavern of the Green, os repórteres já estavam de prontidão. Ela ajeitou o vestido de festa e preparou-se para uma entrada triunfal. Próximo à entrada principal, Alex virou-se para ela e, num galanteio, estendeu-lhe a mão. Ela recuou. Não queria tocá-lo. Não agora. Mas não havia como recusar. Assim que seus dedos se tocaram, seu corpo foi invadido por ondas de calor. Sorriu galhardamente enquanto os flashes espocavam em todas as direções. Seus olhos se encontraram, mas ela logo desviou o olhar enquanto Alex desempenhava seu papel diante das câmeras. Emma tentava ser simplesmente adorável sem olhar para ele. Já era horrível estarem de mãos dadas. Já era horrível ficar imaginando
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algum tipo de conexão cósmica entre eles enquanto enfrentavam o fogo cruzado das perguntas dos repórteres. Foi então que Alex a enlaçou e parou para umas fotos. Os corpos ficaram obscenamente colados. Emma podia sentir a respiração dele. — Aja como se me adorasse — disse ele entre os dentes. — Estou tentando — respondeu ela, um sorriso nos lábios, amaldiçoando o corpo traiçoeiro que registrava cada centímetro do corpo de Alex. —Precisa se esforçar mais — comentou ele, acenando para os repórteres e caminhando em direção à entrada. Emma resistia à pressão da mão de Alex em suas costas. — Katie e David ficaram para trás. — Eles podem se virar. — Mas... — Só vamos ficar expostos aos paparazzi depois que você desempenhar melhor o seu papel. — Mas eu estou sorrindo! — Sorrindo? Você está fazendo caretas! — É a dor. Alex imediatamente diminuiu a pressão sobre as costas de Emma. — Estou machucando você? — Estou aflita — respondeu ela, com sinceridade. — Pare com isso! — reclamou ele. Um homem calvo, muito bem vestido, aproximou-se para cumprimentá-los. — Sr. Garrison. É uma honra tê-lo conosco. — Boa noite, Maxim. Quero que conheça minha... minha namorada, Emma McKinley. O nome de Emma foi proferido com tamanha suavidade que, por uma fração de segundo, seu coração flanou pela terra dos sonhos. Maxim pareceu surpreso. — Maxim é o presidente da Teddybear Trust — explicou Alex. O homem corpulento abriu um largo sorriso enquanto cumprimentava Emma. — E a senhorita é a presidente da McKinley Inns. Já ouvi muitos comentários positivos a seu respeito.
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— Por favor, pode me chamar de Emma. — O sorriso era genuíno agora. — Tenho muito respeito pela Teddybear Trust. Ano passado, a fundação construiu uma nova ala infantil no hospital St. Xavier além de financiar inúmeros projetos de pesquisa sobre câncer infantil. — Queiram me acompanhar. As bebidas estão sendo servidas na varanda. Sugiro o Pavilhão como ponto de partida para os jogos no cassino. — Blackjack? — No ano passado você não foi muito feliz. Mas a senhorita vai lhe dar sorte esta noite.
— Prometo que vou tentar — respondeu Emma. Alex tomou-lhe as mãos e beijou-as. Emma esforçou-se para manter-se firme. O lugar era magnífico, luxuoso. Olhou a imagem dos dois refletida em um espelho chanfrado. Podia ver a postura ereta de Alex e a mão firme pousada em seu dorso logo abaixo do decote em V nas costas de seu deslumbrante vestido. — Quer uma bebida? — Quero. — Cada um desempenhava seu papel. Aos olhos dos repórteres fingiam ser o par perfeito. Emma fingia que estava gostando de tudo aquilo. Desviou o olhar do espelho e jurou solenemente que ignoraria toda e qualquer faceta da atração sexual que Alex despertava nela. Precisava manter o controle. Entraram no Pavilhão de Cristal e logo atraíram os olhares curiosos dos outros convidados. Será que reconheceram Alex? Será que a reconheceram'? Ela olhou para trás. procurando pela irmã. — Acho que nos perdemos de Katie e David. — Não precisamos de companhia. — Mas... — Hoje a noite é só nossa. — Alex sorriu e acenou para alguém do outro lado do Pavilhão. Chegaram ao bar e ele pediu as bebidas. — Você precisa relaxar e se distrair um pouco — aconselhou ele. Emma sequer conseguia pensar em relaxar naquelas circunstâncias. Ainda mais com Alex por perto.
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— Logo você vai começar a gastar o meu dinheiro. — Eu nunca joguei — disse Emma, a fala entrecortada. — Não sei por que isso não me surpreende — respondeu ele, servindo-se de um pouco de amendoim. — O que quer dizer com isso? — Quero dizer que você é muito conservadora. — Não sou não — insistiu ela. — É sim. Demais. Mas você pode me convencer do contrário. Encoste essa linda barriguinha na mesa de Blackjack e deixe todo mundo ver que eu estou bancando você. Ela tomou um gole de vinho e deixou que o álcool fizesse a sua parte. — Então é assim que o homem moderno demonstra o seu amor por uma mulher? — É, já que é muito complicado pegar um touro à unha. Emma ocultou um sorriso, sorvendo mais um gole de vinho. — E seu eu preferir que você pegue um touro à unha? — Vai bancar a exigente é? — Pode ser. — Vamos. Vamos jogar. — É sério, Alex, eu não sei jogar blackjack. — É fácil. Pela parede envidraçada, os jardins iluminados por lanternas que flutuavam ao sabor da brisa serviam de pano de fundo para convidados bem-vestidos que circulavam pelo pátio e pelo restaurante. Os crupiês, de terno preto e gravata borboleta, recolhiam as apostas e davam as cartas. Alex posicionou-a diante de uma mesa com cadeiras de espaldar alto. A mesa era forrada com um feltro verde com pequenos quadrados brancos impressos no tecido. — Ânimo, garota — sussurrou ele. Emma tentou manter-se impassível diante da proximidade dos corpos. Quando o braço de Alex acidentalmente roçou as costas nuas de Emma, ela sentiu arrepios e ondas de calor percorrendo-lhe o corpo. — Achei vocês. — A voz de Katie dissipou os calores. — Isso é fantástico! — Fantástico — repetiu Emma, grata pela interrupção.
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Katie sentou-se ao lado de Emma. Em frente a elas havia dois homens observando o crupiê. Ainda restava um lugar vago no meio. David ficou atrás da cadeira de Katie e Emma sorriu para ele. — Compre umas fichas para mim — pediu Katie a David. Emma viu Alex colocar algumas notas na mesa, na frente do crupiê. — Pensei que fôssemos tentar a roleta — respondeu David. — Eu quero jogar blackjack — disse Katie. O crupiê colocou quatro pilhas de fichas roxas na frente de Emma. — O que eu faço agora? — ela perguntou a Alex num sussurro. Ela quase podia sentir o sorriso dele. Sentia-lhe o perfume e o tecido do temo roçando-lhe as costas, suavemente. — Faça uma aposta. No quadrado branco. Um homem no canto da mesa apostou duas pilhas de fichas verdes e o outro, uma pilha de fichas pretas. — O que significam as cores? — Emma perguntou. — Não se preocupe com isso. O crupiê acomodou pilhas de fichas pretas na frente de Katie. Emma empurrou duas pilhas de fichas roxas na direção do quadrado em frente a ela e o crupiê colocou uma carta com a face virada para cima diante de cada jogador. Ela olhou para as cartas, perguntando-se se o crupiê havia se enganado. Voltou-se para Alex. — Eles podem ver... — É assim mesmo. — Mas os outros estão vendo a minha carta. — Confie em mim. Emma olhou-o nos olhos. Confiar nele? Ele estava brincando? Alex deixou claro na noite passada, em algum momento da conversa sobre depreciação de capital e renda bruta, que ele estava ali para defender os interesses dele. Na verdade, chegou a aconselhá-la a fazer o mesmo. É claro que, neste caso, era o dinheiro dele que estava em jogo. Quem se importaria se ela perdesse? — Emma?
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— O que foi? — Olhe a sua mão. Ela olhou. Tinha uma rainha e um ás. — Você ganhou — disse Alex enquanto o crupiê empurrava as fichas para o quadrado dela. — Você me bateu! — exclamou Katie. Mesmo que fosse apenas um golpe de sorte, Emma sentiu-se orgulhosa. Ela ganhara. Era a primeira vez que jogava e ganhara. O que quer que acontecesse dali para frente, ela ao menos podia dizer que ganhara. — Estourei! — suspirou Katie. David balançou a cabeça. O crupiê retirou as cartas. — Aposte mais alto agora — aconselhou Alex. Emma adicionou mais uma pilha de fichas no seu quadrado. — Nesse ritmo, a noite vai ser longa — suspirou Alex. — Por que você não se senta aqui e faz as suas apostas? Ele se inclinou, a mão deslizando pelos ombros nus de Emma. — Porque queremos que todos vejam que eu estou gastando o meu dinheiro com você, esqueceu? O nariz de Emma quase tocava o rosto dele. Seu perfume forte envolveu-a e a mão dele acariciou com mais suavidade seus ombros nus. Seria muito fácil mergulhar de cabeça nessa fantasia. Ela se serviu de um pouco de vinho. — E se você apostasse o meu dinheiro? — As coisas não funcionam assim. Vamos. Aposte! — Machista! — É, sou mesmo. Vai se acostumando.
Tudo bem. Ele queria bancar o jogo?
Emma empurrou uma pilha inteira de fichas sobre o feltro verde. Vamos ver o quanto você agüenta, Alex Garrison. — Essa é a minha garota! — Minha nossa! — exclamou Katie. Emma virou-se para a irmã.
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— Você acabou de apostar dez mil dólares. — O quê? — Emma quase se engasgou. A primeira carta foi aberta na frente dela. — Essas fichas são as de quinhentos dólares — explicou Katie. Emma sentiu um frio na barriga. Ela fez menção de pegar as fichas de volta, mas Alex não permitiu. — Tarde demais. Ela se virou, os olhos arregalados de pavor. Não podia apostar dez mil dólares assim de uma vez. Era loucura. — Fique atenta ao jogo — tranqüilizou-a Alex. — Por que você não me disse? — Dizer o quê? —Alex! — Atenção ao jogo! — Não dá — respondeu ela e fez menção de levantar-se, mas Alex mais uma vez a impediu. — Você ganhou. — O quê? — Você ganhou de novo. Você devia jogar mais vezes. Emma olhou as cartas que tinha nas mãos. Um ás e um dez. Blackjack. Os joelhos ficaram trêmulos e voltou a se sentar. — Estourei! De novo! — exclamou Katie. — Quanto você perdeu? — Emma perguntou à irmã. David não parecia muito contente. — Quinhentos dólares. — Puxa! Katie empurrou mais duas fichas no quadrado dela. — Ainda acho que deveríamos tentar a roleta — sugeriu David. — Está divertido — respondeu Katie. — Estamos nos divertindo, não estamos, Emma? — Eu estou me divertindo — respondeu Alex, com um sorriso na voz. David respirou fundo. Mais uma vez, o crupiê deu as cartas. — Você sabia que acabou de apostar 15 mil dólares? — perguntou Katie.
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Emma olhou as fichas sobre o feltro verde. Por que Alex não a impediu? Após um longo e tenso minuto, ela ganhou, mais uma vez. Três cartas totalizando 19 pontos. Na mesma hora, virou a cadeira para levantar-se. — Não agüento mais isso! Alex segurou a cadeira com o joelho, impedindo-a de ficar completamente de pé. — Você está ganhando. As pernas de Alex e Emma se entrelaçaram e ela podia sentir o calor do corpo dele. — Vou ter um ataque cardíaco. E estou falando sério. Emma quase perdeu o equilíbrio e Alex rapidamente ofereceu-lhe a mão para ampará-la. — Não se abandona o barco quando se está numa maré de sorte. —Ah, não? Observe. Agora Emma perdeu mesmo o equilíbrio, caindo direto nos braços de Alex. Se levantasse a cabeça, poderia beijá-lo nos lábios, ou poderia afundar o rosto em seu cabelo e beijar-lhe o pescoço para ver se o seu gosto era tão bom quanto o seu cheiro. É claro que não fez nada disso. Mas o desejo era forte. A imagem também era forte. Alex olhou-a com olhos turvos por um longo momento.
— Tudo bem — disse ele finalmente. — Você já jogou dados? — Não. — Ótimo. — Ele fez um gesto em direção ao corredor. O encanto quebrara-se mais uma vez. — Vamos jogar dados. Emma virou-se para a irmã. — Você vem? — Não vamos jogar dados — respondeu David. Katie observou o namorado. — Depois a gente se vê — disse ela. Emma assentiu com a cabeça. — Não podemos pelo menos trocar por fichas de dez dólares? — perguntou Emma a Alex. — Não. — Não posso apostar quinhentos dólares assim, numa só tacada. Alex podia estar acostumado com este estilo de vida de altas apostas e muita exposição pública, mas, definitivamente, Emma não estava. — Você já ganhou alguns milhares de dólares.
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Isso era verdade. Ela se sentiu um pouco melhor. Ela podia perder tudo que ganhara e isto não o afetaria em nada. — É bom começar logo a perder, se não você vai levar a Teddybear Trust à falência. Emma esquecera-se por completo da Teddybear Trust. — Estou fazendo tudo errado, não é? — Eu digo a você. Emma suspirou, frustrada. De repente, ele lhe beijou a testa. — Você é encantadora, sabia? Emma sentiu um aperto no coração diante daquele elogio. Mas assim que Edwina e Frederick Waddington apareceram na frente deles, ela percebeu que o elogio e o beijo faziam parte da cena. Tudo naquela noite fazia parte da cena. Alex não era um calmo homem de negócios que defendia causas filantrópicas. Estava apenas desempenhando um papel.
Ela forçou um sorriso quando foi apresentada ao casal. Sem mais fantasias. Sem mais demonstrações de afetos. Sem mais reações físicas ao toque dele. A partir daquele momento, Emma não se esqueceu mais de que tudo aquilo era apenas um jogo.
CAPÍTULO QUATRO Por mais que Emma tentasse, ela não conseguia perder. Uma multidão juntou-se ao redor da mesa e, cada vez que ela tentava desistir, as pessoas protestavam pedindo-lhe que lançasse os dados mais uma vez. Ela respirou fundo De pé atrás dela, Alex massageava-lhe os ombros. — Desse jeito, ou você salva a humanidade ou compra um novo hotel. Emma sacudiu os dados nas mãos preparando-se para rolá-los. — Não precisamos de um novo hotel. Isto está ficando constrangedor. Não está vendo o olhar furioso de Maxim para cima de mim? — Ele não está furioso com você.
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Emma olhou de soslaio para seu anfitrião e o viu passar um dedo sob o colarinho. Ela ganhava sem parar, e estava criando uma situação difícil. Mas todos também estavam ganhando. — Como eu faço para perder? — perguntou Emma a Alex, num sussurro. — Role um sete. — Tá bom. — Vamos torcer, por favor. — Vamos lá, sete. Um sete, por favor! — exclamou Alex. — Você sabia que vai perder uma boa bolada? — O dinheiro não é meu. —Eu sei. É meu. — Apesar do comentário, Alex parecia completamente despreocupado. Afinal, não era o dinheiro dele que estava em jogo. Era o dinheiro da Teddybear Trust. Emma daria um jeito de devolver o dinheiro a quem era de direito ou morreria tentando. Ela sacudiu os dados nas mãos, preparando para rolá-los sobre o feltro verde. Eles bateram no canto da mesa e, como num passe de mágica, lá estava: seis e um. Emma foi invadida por uma onda de prazer. Ela conseguiu. — Saia da mesa de fininho, com o seu melhor sorriso estampado nos lábios — aconselhou-a Alex em meio ao burburinho de desapontamento da multidão ao redor da mesa. Os outros ficaram desapontados. Era natural. Emma rapidamente escondeu o rosto no peito de Alex que a abraçou, fazendo questão de mostrar que a estava apoiando. Tudo bem. Mas era difícil não reagir àquela sensualidade latente. Cada fibra do corpo de Emma pulsava, acelerada, em resposta ao calor do corpo dele. — Não se preocupe — disse Alex em voz alta, para que todos o ouvissem. — É um dinheiro perdido para uma causa nobre. Os suspiros e murmúrios de desapontamento logo se transformaram em brincadeiras animadas. Um homem lembrou que aquele dinheiro perdido se transformaria em lucro perante o Imposto de Renda; um outro sugeriu que todos deveriam constar da lista de Natal da Teddybear Trust daquele ano.
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Emma continuava nos braços de Alex. Ele parecia querer prolongar o momento. Já era de se esperar. Com tanta gente em volta, aquelas pessoas logo começariam a fazer perguntas sobre o relacionamento dos dois. Aquele abraço foi uma jogada de mestre e, por um momento, Emma entregou-se a ele. Relaxou e deixou a tensão escoar de seu corpo. Jogar era muito estressante, mesmo quando se tentava perder.
Alex afagou-lhe os cabelos e beijou-os. Um beijo doce, suave. Foi tão bom que Emma parecia ouvir sinos tocando em sua cabeça. Ela aproveitou o momento ao máximo. Por fim, desvencilhou-se do abraço, embora Alex mantivesse-a enlaçada pela cintura. E ela não esboçou resistência, por mais que isto quebrasse a promessa que fizera a si mesma de não se deixar envolver. Katie e David surgiram em meio à multidão. — Como você está? — perguntou Katie à irmã. — Ela perdeu todo o meu dinheiro — respondeu Alex, brincalhão. — Foi por uma boa causa — lembrou Emma. — Você perdeu trinta mil dólares — disse Alex. Emma esquecera-se de que o valor era tão alto. No entanto, a expressão dele lhe dizia que não se importava. Claro que ele não se importava. Apenas queria que o mundo inteiro soubesse que ela estava ali gastando o dinheiro dele. Esse era o jogo. O jogo dele, Emma recordou-se, tentando desvencilhar-se do abraço de Alex. — Considere a dedução que vai ter no Imposto de Renda c pare de reclamar. Alex resistiu à pressão dela. Ela continuou tentando livrar-se daquelas mãos ao redor de seu corpo. Ele apenas sorriu. — Senhoras e senhores. — A voz de Maxim ecoou nos auto-falantes. — Vocês estão convidados a fazer uma pausa nos jogos e juntar-se a nós no jardim, para a grande atração da noite. O sorteio do grande prêmio! — O jardim é um encanto — comentou Emma, finalmente desvencilhando-se de Alex e juntando-se à irmã. — Vamos ver o sorteio do grande prêmio. — Graças ã generosidade de um doador anônimo, nosso grande prêmio deste ano é uma Mercedes conversível — anunciou Maxim.
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Todos os convidados ficaram extasiados. — Olhem o seu convite. No canto superior direito está o seu número da sorte. Emma e Katie, de braços dados, seguiram o fluxo de pessoas rumo ao jardim. Ela tentava manter o foco no jardim, em Katie, em qualquer coisa ou pessoa — menos em Alex. Para ser mais específica, em qualquer outra coisa diferente da reação que Alex imprimia em seu corpo. — Tudo bem com David? — Por que a pergunta? — Ele está tão calado. — Emma sabia que normalmente David era brincalhão, alegre. Exatamente como Alex estava se comportando esta noite. Ah, não. Alex de novo não. — Acho que ele pensou que eu ia ganhar — respondeu Katie. — Quanto você perdeu? — Alguns milhares de dólares. — Katie jogou os cabelos louros para trás. — Eu não sei mesmo qual é o problema dele. — Ela assobiou baixinho, apontando para o carro. — Irmãzinha do meu coração! Já posso me ver dando umas voltas por aí nessa beleza! — Nada mal — concordou Emma, conferindo as linhas arrojadas do conversível prateado, resplandecente sob as luzes do jardim. — Senhoras e senhores, sou forçado a admitir que nossos doadores são as pessoas mais generosas deste país — disse Maxim. A platéia aplaudiu e Maxim meneou a cabeça, agradecendo o apoio. Chegara a hora do sorteio. Maxim dirigiu-se para uma imensa bola transparente, onde repousavam os pedacinhos de papel. Ele girou a bola e anunciou, num tom teatral: — E o ganhador desta Mercedes conversível maravilhosa, novinha em folha é... o número 732! Sete, três, dois! — É o meu número — sussurrou Alex para Emma. — Volto já. — Ele ganhou? — perguntou, espantada. Katie olhou para ela, arregalando os imensos olhos azuis. — Ele ganhou!
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— Vejo que temos um vencedor — anunciou Maxim, observando Alex abrir caminho na multidão, subir ao palco e entregar-lhe o convite premiado. — O vencedor desta noite é o sr. Alex Garrison, um dos nossos mais valiosos patrocinadores. Alex admirou o carro e pediu a palavra. — Sem dúvida a sorte está me acompanhando esta noite! Espero que ainda fique ao meu lado por mais uns minutos — agradeceu Alex, com um sorriso. Virou-se para Maxim: — Gostaria de agradecer a Maxim e a todos os dedicados voluntários da Teddybear Trust. — Fez uma pausa, admirando o carro por um momento. — Eu adoraria dirigir essa beleza de carro, mas creio que isto não será possível. A platéia ficou em silêncio. — Porque eu vou doar este carro para a Teddybear Trust, para o leilão de setembro — completou Alex. Uma onda de aplausos tomou conta da noite enquanto Maxim apertava calorosamente as mãos de Alex. Emma não podia conter o orgulho que sentiu com o gesto de Alex. Desempenhando um papel ou não, Alex acabara de doar uma boa soma de dinheiro para a caridade. Ele voltou a falar. — Peço um pouco mais da paciência de vocês pois queria dizer mais algumas palavras. — Ele pigarreou, para limpar a garganta. — Eu não estava brincando quando disse que estava acompanhado da sorte esta noite. Para ser honesto, atribuo a sorte desta noite a uma dama muito especial: Emma! Aquele galanteio soou um pouco exagerado. Mas tudo bem. Ela podia lidar com isso. Ponto para ele. Emma sorriu, tentando parecer apaixonada. Alex devolveu o sorriso. Seus olhos reluziam sob as luzes das árvores. — Emma, você me daria a honra... de ser minha esposa? Ela congelou. Parecia que suas entranhas tinham sido arrancadas. Um suspiro coletivo tomou conta da platéia, seguido de vigorosos aplausos, todos os olhares concentrados nela.
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Isso era pior que um monte de telões de alta definição espalhados pelos quatro cantos. Metade daquelas pessoas ali presentes a conhecia ou tinha conhecido o seu pai. Katie deu uma cutucada na irmã, que percebeu que Alex mantinha os olhos fixos nela, esperando uma resposta. Enquanto Emma tentava organizar as idéias, Alex tirou uma pequena caixa de veludo do bolso. O cretino tinha planejado tudo. Ele era o doador anônimo da Mercedes conversível. A noitada de filantropia e cavalheirismo tinha sido planejada com um único objetivo: deixá-la num beco sem saída. — Emma, fale alguma coisa — sussurrou Katie. — Não consigo — protestou Emma, ofegante. — Fizemos um acordo com ele — Katie lembrou. É verdade. Tinham feito um acordo. Mas não para esse show ridículo e piegas. Emma tinha uma reputação a zelar. E ela fora contra toda essa palhaçada. Katie empurrou-a discretamente na direção do palanque. — Anda! Vai lá! Ela não queria ir. Não podia. Os pés pareciam colados ao chão. — Emma? — chamou Alex, num tom de voz simplesmente encantador. O trapaceiro. — Falência... — sussurrou Katie em tom de advertência. Falência. Emma forçou o primeiro passo, e o segundo. Com o melhor sorriso que pode estampar no rosto, caminhou em direção ao palanque.
Todos aplaudiam e davam-lhe os parabéns. Ela se deixou levar. Todos aqueles rostos pareciam envoltos em uma grande névoa. Já no palanque, Alex segurou-lhe a mão num galanteio. — Quer ser minha esposa? — repetiu ele, abrindo a pequena caixa de veludo. Emma mal conseguia olhar o anel. Queria acabar logo cora aquilo e ir embora. — Quero. Quero ser sua esposa. E depois quero matar você. O sorriso estampado no rosto de Alex dizia que ele entendera o subtexto. E que também ganhara aquela batalha. Retirou o anel da caixa e colocou-lhe no dedo. Então, diante da aprovação entusiástica da platéia ele se inclinou sobre ela. Ele não ia... Ele não se atreveria... Ah! Não'
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Emma ainda tentou escapar, mas Alex já a tomara em seus t braços, ordenando: — Agora me beije. — Emma compreendeu que não tinha escolha. Centenas de pessoas estavam olhando. Este era o ponto mais importante do acordo de milhões de dólares. Ela ergueu a cabeça e o viu sorrir. Prometeu a si mesma que seria um beijo rápido o suficiente para se livrar daquele grande logro. Mas quando seus lábios se tocaram, as chamas de uma paixão reprimida tomaram seu corpo. A boca era quente. Os lábios firmes sabiam beijar uma mulher. O hálito recendia a uísque, conferindo um sabor todo especial ao beijo. Emma sentiu o corpo formigar. A cena era perfeita para uma foto. Ela sabia que precisava acabar com aquilo, mas Alex abraçou-a com mais força e então Emma começou a ouvir sinos re-picando e fogos de artifício espocando com os flashes das câmeras. Os olhos cerrados, o corpo completamente entregue àquele beijo ardente, entregue a Alex. Seu corpo era puro desejo. Devagar, Alex soltou-a, dando-lhe um último beijo, suave, nos lábios. Só então Emma percebeu cada fotógrafo e os brados da multidão. Uma ducha de água fria abateu-se sobre ela. Manter uma distância profissional iria ser muito mais difícil do que imaginara. Alex mal conseguia acreditar como foi fácil armar todo aquele teatro. Maxim adorou participar do esquema da Mercedes, É claro que isso significou uma considerável doação, mas ele percebeu que Maxim ficou extremamente entusiasmado com o arranjo para que ele fizesse o pedido de casamento. Parece que ainda existem muitas pessoas românticas no mundo. Alex estava impaciente quando saiu da festa e deixou Emma em casa. Assim que pode, ligou para Ryan. — Já ficamos noivos — informou Alex. — E foi tudo bem? — Ela aceitou. — Isso é que foi notável. O beijo também pareceu notável por alguns minutos. Surpreendentemente notável. Mas foi rápido, apesar de inesperadamente excitante. O diamante que colocara no dedo de Emma era um investimento e tanto. —
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Garrison passara de bom moço para o bom e romântico moço. — Gunter ia adorar a publicidade, mas Alex não estava dando pulos de alegria quanto ao inerente celibato. — Antes você do que eu meu camarada — disse Ryan, perfeitamente ciente de que o noivado acabaria com as farras e noitadas de Alex. Um murmúrio suave do outro lado da linha despertou a atenção de Alex. — Você está sozinho? — Você está brincando! Alex soltou um palavrão. — Morda a língua e pense nos lucros. — Eu estou pensando nos lucros. — Mas Alex também estava pensando no beijo que trocaram. Para alguém que vivia dizendo ter uma reputação a zelar, aquele beijo foi de arrasar. E ela também estava deslumbrante naquele vestido, que deixava à mostra porções generosas de uma pele lisa e macia. Alex roçara a pele de Emma ao seu bel-prazer — o que acabou sendo um erro, já que ficava difícil pensar em dinheiro quando tudo o que queria era provar mais daquele corpo e mais daqueles lábios. E isso nunca aconteceria.
A segunda-feira de Emma se arrastava. Varrera da mente a doçura da noite anterior. Ela devia saber que quando um negócio é bom demais para ser verdade, é exatamente isto que significa. Alex estava livrando-a das dívidas, mas o preço a pagar era alto demais. Detestava a situação em que se metera. Em completo desespero, saiu do escritório e enfiou-se no spa do hotel em busca de paz e privacidade. — Emma? — perguntou Katie. — Estou aqui. — O que você está fazendo? — O que você acha que eu estou fazendo? — Eu sei lá. — Estou me escondendo. — Do quê? — A pergunta não é do que, mas de quem. — Então tá. De quem? — Do Philippe. — Por quê?
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— Por que ele é um chef de cuisine maluco e chato que não me deixa em paz. — Você está sendo perseguida por um chef de cuisine maluco? E isso existe? — Acho que são todos malucos. Estou sendo perseguida por pelo menos uns dez. Philippe é só o mais chato. — A segurança não pode cuidar disso? — Mas é claro. E ai vou colocar todos os repórteres na sala da segurança. — Repórteres? — É Katie, repórteres. No saguão, no mezanino, lá fora, por todos os lados. — Ninguém me incomodou. — Claro. Você não foi a atriz principal do show de Alex Garrison ontem à noite. — Você tem de admitir que, para quem achou que era verdade, foi muito romântico. Emma não tinha de admitir nada. Foi uma cena afetada e cafona. Nem em um milhão de anos ela se casaria com um homem que achasse romântico pedi-la em casamento na frente de tanta gente. — Mas não foi de verdade. — Eu sei. — Então pare de me olhar como se eu tivesse saído de algum conto de fadas. Alex estava atuando. — Uma pequena diferença, mas muito importante. — Ele é um bom ator. — Vai ver que a equipe de marketing o ajudou. Katie não pôde evitar uma gargalhada. — Mademoiselle McKinley? — Uma voz masculina anasalada chamava-a pelo nome. — Você foi seguida? — perguntou Emma à irmã. — Não sou nenhuma Bond Girl — protestou Katie. — Ai, não!! — Mademoiselle McKinley? — voltou a perguntar Philippe Gagnon. —Ah! A senhorita está aí. Katie quase não conseguiu segurar a gargalhada quando o homem de uns sessenta anos parou diante delas e juntou as mãos sobre o peito. — Temos muito a fazer — afirmou ele.
Com certeza. E no topo da lista de Ema estava uma viagem secreta para as Bahamas. Ela encontraria uma praia deserta sem telefone, sem rádio e sem chefs de cuisine.
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Diante daquela afirmativa, a sra. Nash voltou a falar num tom mordaz. — Você deve se envergonhar do que está fazendo, meu jovem! Meu jovem? O que aconteceu com o "senhor" Garrison? — Não tem vergonha de arrebatar essa garota inocente dessa forma? — Espere um pouco... — Você mandou flores para ela? Levou-a ao Tradori? Levou-a à sua suíte no Manhattan? — Uau! — Como a sra. Nash sabia da suíte no Manhattan? — Eu estou sendo completamente honesto com a Emma. — Sei. Essa pobre moça não teve a mínima chance. Acabou de perder o pai! Aquela argumentação não era justa. Alex levantou-se. — Ela teve todas as chances. — Alex, eu adoro você, meu anjo. Você é como um filho para mim. — Eu não fiz nada de errado. — Eu conheço suas fraquezas. — Eu também conheço. — E mentir para uma mulher para roubar seus bens não se incluía entre elas. Ele podia ludibriar um concorrente para fechar um negócio, ou mentir para o mundo inteiro para conseguir a fusão de duas redes hoteleiras. Mas eram questões que não se misturavam. E eram perfeitamente defensáveis. Além disso, ele não devia explicações a ninguém. Infelizmente, alguma coisa no semblante da sra. Nash despertou lembranças da infância dele. E ele não podia desapontá-la. Alex tentou se explicar. — Emma sabe por que estou me casando com ela. A expressão da sra. Nash mudou. — Ela sabe que é por causa dos hotéis? — Sabe. Eu ofereci um acordo e ela aceitou. Agora, se me dá licença, tenho uma reunião. A sra. Nash foi atrás dele. — Um casamento de conveniência, sr. Garrison? — Isso mesmo. Um casamento de conveniência. — Ele não estava infringindo lei alguma.
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— Bem, meu jovem, nós dois sabemos como isto vai acabar. — Lucros e um aumento de capital? — Infelicidade, solidão, frieza. Morte certa. O corpo de Alex ficou rígido. — Eu não sou como o meu pai. — Você se parece mais com ele do que quer admitir. — Não me pareço com ele em nada. E sei o que estou fazendo, sra. Nash. — Com todo respeito, sr. Garrison, o senhor não tem a mínima idéia.
Tudo bem. Com todo o respeito. Alex não estava com paciência para discutir este assunto e tampouco tinha tempo. Respirou fundo e mergulhou na piscina.
CAPITULO CINCO Oito horas e três minutos. Alex encontrou uma vaga e subiu as escadas que levavam à recepção dos escritórios da DreamLodge. A sala ampla e arejada impressionava. Silenciosa, era ao mesmo tempo simples e elegante. Clive Murdoch não construiu seu império baseado em mau gosto e tolices. Era o principal concorrente de Alex e era muito bom no que fazia. Maleta em punho, vestindo seu melhor terno, cabelos alinhados, Alex Garrison encaminhou-se para os elevadores. A diretoria ficava no 38- andar. Apresentou-se à recepcionista. Esperava que a simples menção de seu nome lhe abrissem as portas para uma reunião com Clive Murdoch, mesmo sem tê-la agendado. — Vou ver se ele está livre, sr. Garrison. — A jovem recepcionista sorriu. — Alex? — Aquela voz feminina deu-lhe arrepios. Logo disfarçou a surpresa e procurou afastar-se da recepcionista. — Emma! Bem na hora! — O que você está... — Tive medo que você se atrasasse, meu anjo. — Ele lhe beijou a testa enquanto maquinava um plano de emergência. — O que você está fazendo aqui? — perguntou Emma.
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— O que você está fazendo aqui? — retrucou Alex. — E por que não está usando o anel de noivado? — Será que funcionaria se ele parecesse ofendido? Nada melhor lhe ocorria no momento. — Tenho uma reunião — respondeu ela. — É. Eu soube. — Quem lhe contou? — A rede hoteleira é um mundo pequeno. Emma franziu a testa. — Não é, não. — É, sim. Não acredito que você marcou uma reunião com Murdoch sem me consultar — reclamou ele, fingindo ter o direito de estar chateado. Para ser sincero, ele custava a crer que Emma tivesse marcado uma reunião com Murdoch em território inimigo. Será que ela não entendia as vantagens de se fazer negócios no próprio território? — A empresa ainda é minha. — E eu sou uma peça importante no jogo. Cadê o anel? — Não temos nenhum compromisso — Você aceitou minha proposta de casamento na frente de umas quinhentas pessoas! — Elas falariam sobre o anel mais tarde. Ah, se falariam! Uma sombra abateu-se sobre a voz de Emma. — Com certeza vamos falar a respeito. Mais tarde. Alex deveria odiar quando ela falava naquele tom. Mas não. Aquilo o excitava, deixava-o ansioso pelo que viria "mais tarde". — Tudo bem — concordou ele, mantendo o tom de voz impassível. — Mas agora temos uma reunião. — Eu tenho uma reunião. — Meu anjo, ontem foi seu último dia de reuniões sem a minha presença. — Porquê? Você... Ele a interrompeu com um beijo nos lábios. Lançou-lhe um olhar provocante e elevou a voz, para que a recepcionista os ouvisse. — Não se preocupe. Pegamos o anel depois do almoço.
— Eu vou matar você — sussurrou Emma.
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— Depois — ele devolveu o sussurro. — Deixe para me matar depois. — Alex tomou-lhe as mãos e dirigiu-se à recepcionista. — O sr. Murdoch já pode nos receber?
Emma não podia acreditar que Alex tinha literalmente atropelado sua reunião com Murdoch. Como a encontrou? Como sabia onde ela estaria? Ele não tinha que cuidar de seus próprios negócios? Ela se sentiu uma perfeita idiota entrando no escritório de Clive Murdoch um passo atrás de Alex. Ela de fato parecia uma t perfeita idiota, pelo que percebeu da expressão de Murdoch Clive telefonou para ela na semana passada dizendo-lhe que estivera fechando um acordo com o pai dela. Emma concordou com a reunião, disse-lhe que estava à frente dos negócios do pai cuidando de tudo. E agora, lá estava Alex, podando suas ações — Clive — cumprimentou Alex. — Alex — respondeu Clive. Então olhou para Emma. — Srta. McKinley? — Futura senhora Garrison — respondeu Alex, um claro tom agressivo na voz. Emma encarou-o, espantada. O que ele pensava que estava fazendo? — As boas notícias voam — respondeu Clive. Alex puxou uma cadeira e convidou Emma a sentar-se. Ela cogitou recusar, mas achou melhor sentar-se, diante da expressão no olhar de Alex. Mais tarde conversariam sobre certos protocolos de negócios. — Mas você marcou uma reunião com minha noiva — disse Alex, com frieza, ainda de pé. — Alex! — Emma tentou interromper. — Telefonei semana passada agendando a reunião para hoje — argumentou Murdoch, nitidamente tenso. — As coisas mudaram desde então — retorquiu Alex. — Sr. Murdoch — interferiu Emma, tentando acalmar os ânimos. — Pode me chamar de Clive. — Não, ela não pode — respondeu Alex. Emma olhou para Alex em estado de choque. — Quer parar com isso? — Virou-se em seguida para Clive. — Estamos aqui para ouvir o que o senhor tem a dizer.
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Alex crispou os dedos no espaldar de uma das cadeiras. — Estamos aqui para definir algumas coisas. Emma olhou para Alex, cada vez mais espantada. — Mas você nem sabe o que... — O espólio da família McKinley não está à venda. Não está à venda agora nem nunca estará. À venda? Clive não comentara nada com ninguém. — Você sequer ouviu a minha proposta — argumentou Clive. Emma congelou. Como Alex sabia que estavam negociando uma venda? Nem ela sabia que estavam negociando uma venda. — Não precisamos ouvir a sua proposta. Na verdade, não temos nada a discutir — declarou Alex, estendendo a mão para Emma. Emma olhava para os dois sem entender. O que Clive queria comprar? Por que Alex sequer queria ouvir a proposta dele? — Será que alguém poderia me... — Agora eu respondo por ela — informou Alex, lançando um cartão sobre a mesa. — Se quiser fazer negócios com as McKinley, ligue para mim. Clive nem tocou no cartão. —Assim que saírem por aquela porta, podem considerar sem efeito a minha oferta. Alex deu de ombros. Emma ficou se perguntando se aqueles seriam os termos usuais de negociação dele. Será que esperava que Clive fosse atrás deles?
— A oferta está bem acima do mercado — completou Clive, um sorriso malicioso nos lábios. — Sua oferta não passa de uma ninharia e você sabe muito bem disso. Nossa. Emma nunca conseguiria ser tão direta. Gostaria de saber sobre o que os dois falavam, mas fazia mais sentido ficar quieta e cooperar com Alex. Saiu do escritório, de mãos dadas com Alex. — E agora? — perguntou Emma enquanto aguardavam o elevador chegar. — Agora, quero que você conheça uma pessoa. Emma olhou por sobre os ombros de Alex. — Ele vai vir atrás da gente? — Duvido.
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— Mas... — Mas o quê? — Pensei que ele viria atrás da gente para aumentar a oferta. — Ele não fez uma oferta. — Mas ia fazer. — É. Ele ia fazer. — Você está me dizendo que saímos da sala sem ao menos saber qual era a oferta? — Emma se perguntava que jeito era aquele de conduzir uma reunião de negócios. — Claro que sim. Vamos. — Mas, talvez fosse... — Pare de falar e entre no elevador. Emma hesitou. Olhou para a recepcionista. Tudo bem. Brigar ali não era a melhor coisa a fazer. Mas o que afinal Alex estava pensando? — Talvez fosse um bom negócio. Talvez fosse fantástico — gritou ela, com raiva, depois que se viram a sós no elevador. Alex sorriu, irônico. — O que você acha mais provável? Que Clive Murdoch ficou rico comprando hotéis acima do preço do mercado ou que Clive Murdoch é um homem experiente e perspicaz, tentando se aproveitar da sua inexperiência? — Para se aproveitar da minha inexperiência ele teria de entrar na fila, não é mesmo? — Eu não estou me aproveitando da sua inexperiência, Emma. Estou salvando você da falência. — Meu benfeitor! — retribuiu Emma, toda melosa. — Até parece que você só pensa no meu bem-estar! — Você conhecia as regras do jogo desde o início. — E como vou ter certeza de que você não está se aproveitando da minha inexperiência? E quer saber? Você está me insultando! Estou nesse ramo de hotelaria desde que me entendo mo gente. E já fiz de tudo nesse meio. Desde administrar um bar até reformar uma estação de esqui. — Este é seu cartão de visitas? Administrar um bar? — Até pouco tempo fui vice-presidente de operações. Não sou nenhuma principiante ingênua.
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— É mesmo? Então porque concordou em se reunir com Murdoch no escritório dele? Emma não entendeu aonde ele queria chegar. — Porque estava me reunindo com o sr. Murdoch. Alex empurrou as portas de vidro duplo. Sentiram o calor e o barulho da rua. — Você devia ter marcado a reunião no seu escritório. — Que diferença faria? — Vantagem tática. Erro de principiante — comentou Alex, sarcástico. — Ainda bem que eu estava lá para salvá-la. — Você nem deixou o homem falar! — Para quê? Não valia a pena. Eu vim de carro. E só atravessar a rua. — Você não pode saber. — Sei sim. Tenho certeza de que vim de carro. Aquele Lexus azul estacionado logo ali. — A oferta, Alex! Você não pode saber se valia a pena ou não!
Alex parou e virou-se para ela. — Eu sabia da reunião. Sabia que ele queria comprar. Sabia como impedi-lo. Você por acaso não acha que eu posso ter uma noção, por menor que seja, do valor de mercado de um hotel? — Um noção tão alta quanto tem de si mesmo? — Emma se arrependeu das palavras sarcásticas assim que as proferiu. O ponto de vista dele estava correto. Ela estava disposta a encarar o acordo com Murdoch. Mesmo sem saber qual seria a proposta dele, bem lá no fundo, tinha esperanças de salvar seus hotéis sem ter que dar metade deles para Alex ou continuar com essa farsa de casamento. Mas a proposta de Murdoch não seria boa para ela. Ele queria apenas fazer uma compra. Estava em busca de uma barganha Emma não iria admitir nada disto para Alex. Ele já estava numa posição bastante vantajosa. — Como eu estava dizendo, quero que você conheça uma pessoa. — Seu advogado? — Agora o contrato pré-nupcial era o próximo item da lista.
— Não. Minha governanta.
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Para um homem com fama de durão e nervos de aço nos negócios, Alex parecia mais doce quando falava de sua governanta. Bem que ele tentava disfarçar, mas a inflexão da voz o entregava. — Às vezes ela fica irritada e é tão crítica quanto qualquer pessoa que eu conheço. Mas eu ainda não tinha nascido e ela já trabalhava para minha família. Então eu tento ser divertido com ela. — Porque ela deve deixar você em pânico. — Não seja ridícula! — O que ela sabe sobre mim? — Ela sabe que estou casando com você por causa dos seus hotéis. — Você contou? — Na verdade, disse que estava ajudando você a sanar uns problemas financeiros. Ela acabou adivinhando a parte dos hotéis. — Pelo menos não vou ter de mentir para ela. — Você não precisa mentir para ninguém. Essa agora! Isso foi a coisa mais ridícula que Emma já ouvira na vida. — Eu vou ter de mentir. — Vamos dizer às pessoas que vamos casar. Vamos dizer não podíamos estar mais felizes. Considerando-se o dinheiro isto não é nenhuma mentira. E vamos dizer também que vamos dividir a administração dos hotéis. Tudo perfeitamente plausível. — E o que vamos dizer quando perguntarem sobre nossos sentimentos? Você vai agir feito o príncipe Charles? Alex olhou-a de relance, erguendo as sobrancelhas. — Príncipe Charles? — É. Quando perguntaram ao príncipe Charles se ele estava apaixonado pela Diana ele respondeu "o que quer que 'apaixonado' signifique". Alex soltou uma gargalhada. — Você dá uma de príncipe Charles para cima de mim e eu banco a sra. Nash para cima de você. Que tal? — Como assim "bancar a sra. Nash"? — Eu não sei, mas alguma coisa nela intimida você e eu vou descobrir o que é. — Você é louca!
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— Que nada! Sou esperta! Ei! Sua casa é maior que alguns dos meus hotéis. — É por isso que comprei um apartamento em Manhattan. — Para não se perder? Alex riu. A casa de três andares parecia ainda maior de perto. As colunas de pedra brilhavam à luz do sol. Inúmeras janelas espalhavam-se pelos três, não, pelos quatro andares da casa. E tinha uma fonte bem no meio do jardim. — É só mandar eu fechar os olhos, me girar umas três vezes e me soltar aí dentro que você nunca mais vai me encontrar — Vou pensar no assunto. Emma fez uma careta, mas Alex apenas sorriu para ela. Saíram do carro e começaram a subir a ampla escadaria — Precisamos conversar a respeito — comentou Emma tentando não se deixar levar pelo status e pelo dinheiro de Alex — A respeito da minha casa? — A respeito de tudo. Como esse casamento vai funcionar Quanto tempo teremos que passar juntos. Como vamos organizar a agenda. — Podemos organizar nossa agenda durante o café-da-manhã. Emma pensara num telefonema matinal. — A que horas você acorda? — Por volta das seis. — Eu costumo tomar o café-da-manhã por volta das sete Podemos conversar ao telefone durante o café. — Ao telefone? — Você prefere um e-mail? — Eu prefiro tomar café com você, na mesma mesa, sabe? Pode ser na sala, na cozinha, à beira da piscina... Tanto faz, — Do que você está falando? — Estou falando do café-da-manhã, Emma. Café-da-manhã. — Onde? — Aqui, é claro! Emma congelou.
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— Aqui? — Você sugere um lugar melhor? — Minha cobertura. — Você quer dividir seu quarto comigo? — perguntou ele, um sorriso nos lábios, enquanto abria a porta de casa. — Não precisamos morar juntos. — Claro que precisamos. Vamos nos casar! O casamento era só fachada. E mesmo que fossem morar sob o mesmo teto, não seria ali. Emma entrou na casa repleta de dúvidas. Definitivamente não podia morar ali, pensou, olhando ao redor. — Pessoas comuns não moram desse jeito. Isto aqui mais parece um palácio. — É porque meu tataravô Hamilton pertencia à realeza britânica. O segundo filho de um conde. Emma passou os olhos pela fileira de retratos no corredor principal. — Por que será que isso não me surpreende? — O conde de Kessex. Um pequeno território bem ao sul da Escócia. O irmão mais velho do meu tataravô herdou a terra e titulo. Hamilton tornou-se comandante da Marinha britânica. Acho que ele sempre gostou dessa ostentação, porque comprou este terreno de oitocentos acres e construiu esta casa. Emma percorreu o corredor devagar, olhando com atenção os velhos retratos da nobreza. — Esse cara aqui — disse Alex, apontando para um senhor distinto num uniforme da Marinha repleto de medalhas e uma espada na mão esquerda. Ele parecia orgulhoso, sério, enérgico. Na verdade, sem o chapéu, o bigode, e tirando uns 25 anos, era extremamente parecido com Alex. Emma recuou e olhou para o retrato e, depois, para Alex. — É. Eu sei. Eu sei. — Isso explica um monte de coisas. A genética explica sua energia para expandir o império da família. —Ah! Eu gosto dela — disse uma voz feminina, com sotaque britânico.
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O comentário enérgico veio acompanhado do som de seus sapatos no assoalho de madeira.
Sem graça, Emma afastou-se de Alex. A mulher era mais alta que ela. O cabelo pintado de louro claro tinha um corte moderno, curto, emoldurando o rosto estreito quase sem maquiagem. Vestia uma saia reta e uma blusa de gola alta. Um par de óculos de leitura pendia de seu pescoço preso a uma corrente de ouro.
— Você não merece essa moça.
— Senhora Nash, quero que conheça minha noiva, Emma McKinley.
Foi a primeira vez que Alex chamou-a de "noiva". Emma sentiu um frio na barriga.
— Você tem certeza absoluta de que quer isso? — perguntou a sra. Nash, o olhar atento à expressão de Emma.
— Certeza absoluta — respondeu Emma. De fato, tinha certeza absoluta. Havia um milhão de motivos contra aquele casamento. Mas o único motivo a favor era bastante atraente.
— Bem, deixe-me dar uma boa olhada em você, minha cara — comentou a sra. Nash, olhando Emma de cima a baixo.
— Sra. Nash! — protestou Alex.
— Amélia...
Emma olhou para Alex.
— Ela pode escolher o seu próprio vestido de noiva — reclamou Alex.
Vestido de noiva? Até então, Emma sequer pensara neste pequeno detalhe, nem na igreja, nas flores e no noivo. Particularmente no noivo. E no beijo do noivo. E na onda de arrebatamento que sentia ao pensar no beijo de noivado que trocaram sábado à noite.
— Se você for fazer isso, e que fique registrado que sou completamente contra você fazer isso, para o bem da família, faça a coisa certa — declarou a sra. Nash.
— Podemos fazer a coisa certa sem o vestido de Amélia — reclamou Alex.
— Não me diga que vai preferir o de Cassandra. Ou o de Rosalind.
— Estava pensando em Ferragamo ou Vera Wang — respondeu Alex.
— Novo? — indagou a sra. Nash, horrorizada,
— O que há de errado com os vestidos de Cassandra e Rosalind? — perguntou Emma, em parte para agradar a sra. Nash, mas também para colocar Alex em seu devido lugar. Se ele estava pensando em comprar o vestido de noiva, ele estava muito enganado.
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— Rosalind morreu jovem, minha cara.
—Ah! Eu...
— Isso foi em 1942 — interrompeu Alex.
— Sei. Tudo bem. Creio então não ser necessário expressar os meus pêsames.
— E Cassandra foi uma criança muito infeliz — acrescentou sra. Nash, com um olhar que Alex conhecia muito bem. — E você já tem problemas suficientes sem o carma desse vestido.
— É uma oferta generosa — agradeceu Emma. — Mas tenho certeza de que poderei encontrar alguma coisa na...
— Vocês querem que o mundo acredite que estão casando por amor?
Emma hesitou, pensando na pobre princesa Diana.
— Queremos.
A sra. Nash espargiu seu desdém sobre os dois.
— Quero que saibam que, caso eu venha fazer parte desta sandice, vocês devem seguir o meu conselho.
Emma quase disse "sim, madame".
— Uma Garrison — continuou a sra. Nash —jamais entraria numa loja para comprar um vestido de noiva. Agora, deixe-me dar uma olhada no anel de noivado.
Alex lançou um olhar acusatório para Emma que, sentindo-se culpada, escondeu as mãos.
— É que... eu deixei em casa.
— Deixou em casa. — No lugar de fazer uma crítica contumaz, a sra. Nash ficou impassível. — Tudo bem. Vamos precisar de um diamante Tudor para a ocasião.
Emma não fazia idéia do que seria um diamante Tudor, mas ressoava a algo velho, sentimental e, com certeza, valioso. — Eu não quero usar nada da família — reclamou Emma — Mas é claro que vai usar! — Não, eu não... —A sra. Nash está certa, Emma — acudiu Alex, tocando-lhe o ombro. Emma balançou a cabeça, lutando contra a reação de seu corpo àquele toque. Por que seu corpo sempre reagia daquela maneira ao menor toque de Alex? Era frustrante e não fazia o menor sentido.
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E claro que ele era um homem sexy, atraente, que recendia a almíscar. Era rico e inteligente, com um senso brilhante de ética embora às vezes um pouco distorcido, que ela admirava. Eventualmente ele parecia agir com a melhor das intenções Outras, deixava transparecer um humor sarcástico que ela adorava. Emma não queria admitir, mas também não podia negar que Alex seria capaz de fazê-la sorrir. — Você deve guardar essas jóias para sua noiva de verdade — insistiu Emma. — A noiva de verdade é você, minha cara — arrematou a sra. Nash. — Não, eu sou apenas... Emma procurou apoio em Alex. Ele deu de ombros, deixando-a completamente perdida. De repente aquele anel, herança de família, parecia ridiculamente extravagante. — Precisamos nos organizar — disse Emma, finalmente. — Talvez se fizessem uma lista... O contrato pré-nupcial, a cerimônia de casamento, onde iriam morar, quanto tempo teriam que ficar juntos. Talvez então ela sentisse que as coisas estavam sob controle. — Exatamente — concordou a sra. Nash. — E vamos começar com o diamante Tudor. Está no cofre, no quarto Wiltshire. Alex, creio que você ainda se lembra da combinação, não? — Eu me lembro da combinação, sra. Nash. — Bem, como não guardamos as bebidas ali... — Eu deveria tê-la demitido anos atrás — retorquiu Alex, num tom claramente afetuoso. Aquelas brincadeiras carinhosas faziam Emma sentir-se uma completa intrusa. — Tenho certeza de que o anel não... — Você deveria dar uma olhada no restante da coleção, minha cara — acrescentou a sra. Nash, piscando furtivamente para Alex. — Nada melhor que esmeraldas legítimas para selar um compromisso. — Vamos? — perguntou Alex. Não. Ela não queria ir. Precisava diminuir o ritmo. Tinham que se organizar. — Precisamos conversar — pediu ela, revigorada.
— Podemos conversar no quarto Wiltshire.
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CAPÍTULO SEIS — Definitivamente, você tem que incluir isso aqui no contrato pré-nupcial. Sentada na beira da cama de quatro colunas, Emma desistiu de discutir com Alex. Estava entretida com um colar de rubis e diamantes em forma de serpentina. Ela teria de ser cega para não admirar o fulgor das jóias em contraste com a sua pele. Uma pessoa mais interesseira já estaria arquitetando uma maneira de ficar com aquele colar. Sem dúvida a rede hoteleira do pai permitira que Emma e Katie levassem uma vida confortável, mas era uma empresa pequena e mais de uma vez passaram por períodos difíceis. Não conseguia imaginar algum tipo de ameaça à fortuna dos Garrison. Alex acabara de mostrar um colar de esmeraldas que parecia ter mais de cem anos. Emma conseguia ter apenas uma vaga idéia da fortuna que se guardava naquelas caixas de veludo que ele tirara do cofre. — Incluir as jóias no contrato seria bom para você ou para mim? — perguntou Alex, tirando mais uma caixa do cofre. — Eu sou uma opção? — perguntou ela, brincando. — Porque uma garota acaba se apegando a esse tipo de coisa. Eles já haviam descoberto um pingente de safira, vários braceletes de diamantes, um anel masculino de rubi e até mesmo uma tiara com tantos diamantes incrustados que, para Emma, deveria estar exposta num museu. Mas o colar de rubis e diamantes brilhava mais do que todos. — Receio que só posso emprestar essas jóias — comentou Alex com um sorriso nos lábios e uma névoa no olhar que Emma começava a apreciar. — Mas, já que aceitaremos alguns convites, você poderá exibi-las nas festas. — Só se você contratar um guarda-costas — comentou, temerosa de usar aquela jóia em público. — Você não precisa de um guarda-costas. Você tem a mim. — Tudo bem. — Emma sorriu. — Mas só se você levar a espada do seu tataravô Hamilton. — Você não acha que atrairia a atenção de todos? — Eu acho que atrair a atenção de todos é a missão da sua vida.
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Alex abriu mais uma caixa de veludo. — Touché! — Venho tentando manter a classe e a discrição em relação ao nosso noivado — disse Emma, cedendo à tentação de experimentar o colar. Alex pousou a caixa de veludo na beira da cama e pediu que Emma se virasse. — Deixe-me ajudá-la. Emma ficou de pé, de costas para ele. Alex afastou-lhe o cabelo da nuca e roçou-lhe os dedos ao pegar as pontas do colar. — Obrigada — sussurrou, permitindo-se apreciar o toque das mãos e o calor de seu hálito. Ele acomodou o colar no pescoço de Emma e virou-a de lado para que pudesse se olhar no espelho oval da penteadeira. — Dê uma olhada. Emma tocou o colar. Ele reluzia com o fulgor das gemas perfeitas. Aproximou-se do espelho, observando os diamantes refletirem a luz e o brilho à medida que ela se movimentava. — Deslumbrante — disse ela, com um suspiro.
— Deslumbrante — concordou Alex, quase num sussurro. Emma levantou o rosto e seus olhos se encontraram no espelho. A névoa cinzenta do olhar de Alex transformara-se em lava incandescente. Fitou o colar e, com movimentos suaves, lentos afastou algumas mechas de cabelo e inclinou-se sobre Emma Ela sabia que deveria impedi-lo. Tinha de impedi-lo. Mas seu corpo ansiava pelo sabor daqueles lábios macios e quentes roçando a curva delicada de seu pescoço. A volúpia apossou-se dela. Ficou parada, esperando, desejando. Os lábios de Alex roçaram a pele dela, afastando o colar. Um beijo suave, delicado. Emma agarrou-se à penteadeira. Buscava algum tipo de equilíbrio já que o desejo que sentia por ele deixara-lhe as pernas trêmulas. Foi só um beijo. Não. Agora, ele roçava a língua na pele ao redor do colar e assoprou de leve. Ela sentiu o corpo contrair de paixão. Alex foi roçando os lábios até o outro lado do pescoço de Emma, beijando-o com extrema volúpia.
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Do pescoço passou para o queixo, depois para o rosto. As mãos acariciavam-lhe os cabelos enquanto ele lhe procurava os lábios. Quando seus lábios se uniram, paixão e desejo afloraram por todos os poros do corpo de Emma. Ela lhe segurou os braços, sentindo a força de seus músculos. Deixou-se levar pelo abraço. Uma das mãos segurava-lhe o queixo; a outra, envolvia-lhe a cintura, colando-a ao seu corpo. Emma podia sentir cada fibra dos músculos de Alex. Eram duros feito aço e estavam em chamas. Ela podia sentir os sinais irrefutáveis de desejo aflorando no corpo dele. Os lábios de Alex procuraram os de Emma com sofreguidão, ela respondeu com voracidade. O contato de línguas explorava os recônditos mais profundos, todas as possibilidades, emitindo e transmitindo sinais da mais ardente volúpia. Sem sentir, Emma amoldou-se ao corpo de Alex, pressionando cada centímetro do seu corpo contra o dele. O mundo lá fora ficou em suspenso. Apenas Alex ocupava seus pensamentos. Seu maravilhoso perfume, seu poder desmedido. O sabor da sua pele — salgado, forte, inebriante, saciava sua fome de paixão e afastava qualquer resquício de bom senso. — Emma. — Ela pôde ouvir o seu nome vibrar nos lábios dele. As mãos de Alex agora exploravam seu corpo, apertando-a com força contra o dele. Ele a desejava. Emma podia sentir claramente. Aquela percepção tomou-a de surpresa. Virou-a de ponta-cabeça, fazendo-a arder de paixão. Ela lhe tomou o rosto nas mãos, sentindo a pele áspera, viril. Acariciou-lhe os cabelos e beijou-o com uma voracidade cada vez maior. Emma podia sentir uma aura de magia naquela paixão lasciva, algo que ela nunca sentira. Em algum canto da sua mente ela sabia que tinham de parar. Mas não agora. Ainda não. A respiração de Alex ficou ofegante. Ele a pegou no colo, encaixando-lhe as pernas ao redor de seus quadris. Os dedos deslizara para dentro da roupa de Emma. Os músculos dela retesaram-se àquele toque. Alex, ainda ofegante, soltou um palavrão. Emma não disse nada. — Temos de parar com isso — resmungou ele, com um gemido. Ela balançou a cabeça. Não sabia se conseguiria articular as palavras.
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Os dedos de Alex continuavam a explorar o corpo de Emma e ela gemeu. — Não faça isso — murmurou ele. — Então pare — ela gemeu mais uma vez. Ele parou e olhou-a nos olhos. — Eu quero você — confessou, sem rodeios, esperando a reação dela. Emma respirou fundo uma vez. Respirou fundo de novo, tentando, desesperadamente, recuperar a compostura.
— Isso não pode ser bom. — Ao contrário — respondeu ele enquanto a devolvia ao chão, — Eu sinto que isso pode ser muito, mas muito bom Ela se afastou. — Você não pode falar assim. — Não falar a respeito não vai mudar nada. Talvez não, mas era tudo que possuía. Não podia levar aquilo adiante. Nunca se sentira tão livre em toda a sua vida. Naquele momento, poderia dizer qualquer coisa, prometer qualquer coisa, fazer qualquer coisa. — Não podemos fazer isso de novo. Nunca mais — murmurou ela. — Essa é uma solução — concordou Alex. Mas então a voz ficou mais rouca e ele se inclinou suavemente sobre ela. — E podemos fazer tudo de novo. E ir até o fim da próxima vez. Quando os olhos se encontraram, pareciam emitir faíscas Por um momento, Emma de fato hesitou. Ouviram barulhos no corredor. — Sr. Garrison — gritava a sra. Nash ainda no corredor. Aos passos rápidos dela seguiam-se outros, mais vagarosos e podia-se ouvir o metralhar de uma litania em francês. — Philippe — exclamou Emma enquanto Alex corria pata a porta. A sra. Nash entrou no quarto, afobada. — O senhor poderia por favor informar a este homem abominável que as cerimônias de casamento dos Garrison remontam a William, o Conquistador, e que enquanto eu viver não iremos servir aos convidados porções microscópicas de crustáceos embebidos em molhos bizarros! — Um pedaço de carne e um punhado de farinha? A senhora ousa chamar isso de comida? — ironizou Philippe. — Eu chamo isso de uma Refeição de Princesas — retorquiu a sra. Nash.
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— Vocês, britânicos, só sabem fazer comida cozida em água fervente. — Vou cozinhar você em água fervente! Seu... — Posso saber o que está acontecendo aqui? — interrompeu Alex. Aparentemente, Philippe recobrou a compostura usual. — Perdoe-me, sr. Garrison. Mademoiselle. Eu sou Philippe Caenon assistente de chef de cuisine, formado pela Sorbonne aprendiz de John-Pierre Laconte. Já cozinhei para princesas e presidentes. E estou a seu inteiro dispor. — Eu o contratei — admitiu Emma. — Você o contratou — repetiu Alex. — Fiz mal? — Antes mesmo de concluir a pergunta sabia que soava ridícula. A sra. Nash estava a ponto de convocar a Armada Britânica e Philippe estava ficando roxo. Alex não respondeu. Apenas arregalou os olhos. A sra. Nash torceu o nariz. —A srta. è a noiva, é claro. Emma podia ser a noiva, mas era fácil perceber que ferira sentimentos importantes. Ela não queria contratar ninguém. Foi um ato de autopreservaçào. No entanto, tinha de admitir que Philippe era maravilhoso. Livrara-se dos intrusos e dos repórteres num piscar de olhos e, desde então, mostrara-se extremamente profissional e solícito. Não queria demiti-lo. Por outro lado, a sra. Nash, que reinava absoluta na mansão dos Garrison, tinha planos bastante concretos para o casamento de Alex. É claro que Emma não queria deixá-la de fora. Procurou apoio em Alex. Nada. Ele obviamente aguardava a decisão dela. Olhou para a sra. Nash e para Philippe. — Será que poderíamos chegar a um acordo? — perguntou Emma finalmente. Alex pigarreou. — Você quer que um inglês e um francês cheguem a um acordo sobre comida?
— Fiz mal, de novo, em pedir isto?
Ninguém parecia disposto a responder. Após um longo suspiro, Philippe finalmente falou: — Estou disposto a fazer, como direi, algumas concessões. Emma olhou aflita para a sra. Nash, que fez um biquinho.
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— Sra. Nash? — chamou Alex. — É a tradição! — reclamou ela, aborrecida. Emma tentou apaziguar os ânimos. — A senhora poderia cuidar da refeição principal e Philippe ficaria encarregado da sobremesa. — Mon Dieu! Será minha ruína! — O almirante vai se revirar no túmulo — resmungou a sra. Nash. — Alguma outra idéia brilhante? — perguntou Alex. — A culpa é toda sua. Você fez a proposta na frente de todo mundo! Você soltou os cachorros! — Que cachorros? — Philippe me salvou. Ele se livrou dos repórteres e de todos os outros... — Trinta e cinco anos — interrompeu a sra. Nash. — Trabalho para os Garrison há 35 anos. — Pudim inglês e repolho cozido não entram na minha cozinha! — exclamou Philippe. — Sua cozinha? — gritou a sra. Nash. — Acho que quis dizer a cozinha do sr. Garrison. — Podemos voltar aos cachorros? — pediu Alex. — Foi só uma maneira de dizer — respondeu Emma. — Eu entendi muito bem — retrucou ele, mastigando as palavras. — A mídia — acudiu Philippe, entre gestos dramáticos. — Eles estão por toda a parte. A srta. McKinley teve de se esconder. Eu a salvei. — É. Ele me salvou — concordou Emma. E ela não estava disposta a demiti-lo por causa de um problema que Alex tinha criado. Acreditava que quatro pessoas adultas poderiam chegar a um consenso. Emma virou-se para a sra. Nash. — Por que não separamos umas receitas e... — Água, sal e um grande naco de carne — interrompeu Philippe. — Pelo menos não estamos falando de pernas de anfíbios... — Chega! Philippe, sra. Nash, vocês vão trabalhar juntos. Quero três sugestões para um acordo entre vocês e quero isto na quarta-feira pela manhã — exigiu Alex.
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Os dois pararam de discutir e se entreolharam, desconfiados. — Sim ou não? — Mas é claro — respondeu Philippe, de nariz em pé. — Farei o que estiver ao meu alcance para ajudar. — É claro que podemos discutir o assunto — disse a sra. Nash, igualmente empertigada. — Então, eu agradeço. E agora, se nos dão licença, eu e Emma estamos escolhendo algumas jóias. Depois que os dois se retiraram, Alex confrontou Emma: — Um francês? — Como é que eu ia adivinhar que você tinha uma governanta fanática? — Você tem razão. Tolice minha. O que mais posso fazer por você? Um motorista grego? Um florista romeno? — O que a sra. Nash tem contra os romenos? Alex estava de costas para ela, mas Emma podia sentir que ele achara graça neste comentário. — Talvez seja prudente me consultar antes de colocar em prática as suas idéias. — E me sujeitar à sua natureza extravagante e controladora? — Só quero evitar assassinatos e decapitações durante a cerimônia. Ah! Achei! A curiosidade de Emma falou mais alto. Aproximou-se do cofre. — O que foi que você achou? — O diamante Tudor.
Emma ficou sem fala. Era simplesmente deslumbrante. Antigo, exclusivo, exuberante, deslumbrante. Era ornado com filamentos de platina entrelaçados, formando um intrincado padrão Celta. Vários rubis davam o contorno do anel, iluminando o centro, onde reinava um diamante reluzente, oval, perfeito. O diamante Tudor. — Experimente — pediu Alex. Ela negou, balançando a cabeça. Noivas de mentira não tocariam uma jóia como esta. No mínimo, seria sinal de má sorte. — A sra. Nash está certa. As jóias da família conspiram a nosso favor.
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De novo, Emma se negou. O coração batia, acelerado. De forma alguma. Sem chances. O anel que ele lhe dera na noite do Cassino era suficiente. — Está no seguro. — Contra má sorte? — Que má sorte? Não passa de metal e pedras. — É uma herança de família. Uma herança preciosa. — É da minha família. E eu quero que você use. — Você não decide isso. — Decido sim. O anel é meu. As jóias são minhas. O cofre, a casa. É tudo meu e posso dar para quem eu quiser. Ela não podia aceitar. Simplesmente não podia. — Não estou falando de posse. Estou falando de decência. É imoral. A frustração na voz de Alex era gritante. — Por que você acha imoral usar um anel meu? — Por que eu estaria desrespeitando todas as noivas que vieram antes de mim. Alex piscou, surpreso e um pequeno sorriso tomou forma em seus lábios. — Emma, você realmente acredita que é a primeira noiva da família a se casar por dinheiro? Ela não estava se casando por dinheiro. Não do jeito que ele insinuara. Ela possuía seu próprio dinheiro. Ele simplesmente estava... Bem, ele a estava ajudando, em troca de algo valioso. Isso era tudo. Ambos sairiam lucrando e não queria que ele a fizesse acreditar que não seria assim. — O casamento por dinheiro já virou tradição na família. Até o meu pai... Dê-me sua mão, Emma. — Eu não quero! Mas ele lhe tomou a mão e colocou o anel. Emma manteve os olhos fixos na mão de Alex sobre a sua, nos rubis e no diamante que cultuavam sob a luz. —Acredite em mim. Você apenas está dando continuidade a uma tradição de família. O anel ajustara-se como uma luva. —Aí está. Agora sim, estamos noivos.
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Alex herdou a fortuna e a aparência de Hamilton; já Nathaniel, seu primo em terceiro grau, herdou a vida de Hamilton. Segundo filho do atual conde de Kessex, Nathaniel teve de começar do zero, tal qual Hamilton fizera, há tantas décadas. Com o restante do dinheiro do espólio da família, Nathaniel fundou uma empresa de cruzeiros marítimos, a Kessex Cruise Lines. Depois partiu para uma frota comercial, a Kessex Shipping. Rapidamente fez uma imensa fortuna e adquiriu muito poder. Hoje, ele domina a indústria de transporte marítimo de Paris a Auckland — principal porto da Nova Zelândia. E a indústria de transportes era o centro nervoso do comércio mundial. Alex sabia administrar com sucesso uma rede hoteleira; mas Nathaniel podia manipular o mundo inteiro. Nathaniel colocou nas mãos de Alex um grosso dossiê da DreamLodge e partiu. Deveria voltar hoje. Sua presença deixava Alex nervoso, pois Nathaniel só se detinha numa coisa se ela lhe interessasse. E, via de regra, o que interessava a ele costumava dar calafrios em Alex. Nathaniel e Ryan encontraram-se no escritório de Alex.
— O que está acontecendo? — perguntou Alex ao primo. — O nome "David Cranston" lhe é familiar? — retrucou Nathaniel. — O namorado de Katie McKinley? É claro. — Estou de olho nele — respondeu o primo. — Por quê? — indagou Ryan. — Ainda não sei. — Pura intuição? — indagou Alex, já sabendo a resposta. A intuição de Nathaniel já era uma lenda na família. Costumava fazer fortunas com base em nada mais nada menos que uma vaga idéia. No início, essa sorte desmedida costumava incomodar Alex Mas o primo lhe contara que era apenas o somatório de inúmeras observações inconscientes. Uma expressão facial, padrões de comportamento, artigos de jornais, oscilações na bolsa. Ele mesmo não sabia explicar. Só sabia que funcionava. — Pura intuição. Vocês sabiam que ele foi contratado recentemente pelas empresas McKinley? — Para fazer o quê? — perguntou Alex. — Marketing internacional. Projetos Especiais.
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— O que ele fazia antes? — Alex gostaria de saber o que Emma achava daquilo. — Algum tipo de gerenciamento medíocre num projeto para a firma de consultoria de Leon Gage. — Eles o demitiram? — Não. Ele pediu para sair. — E as irmãs McKinley foram atrás dele? — E ofereceram um salário bem mais polpudo. — O cara é um parasita. Pega um trabalho fácil, um bom salário e ainda namora a dona da empresa — desdenhou Ryan. Alex detestava a idéia das empresas McKinley bancarem um executivo parasita. Mas não queria se meter nessa briga. — Era o que eu tinha a dizer a vocês — concluiu Nathaniel levantando-se. — Você está incomodado com isto não está? — perguntou Alex. — Não existe nada pior do que um frangote se escondendo atrás de um rabo de saia. Acho que você devia ter uma conversa com Katie. Mandar ela dar um fora no infeliz. — Até parece! —Alex soltou uma gargalhada. — Ela tem um péssimo gosto para homens. — Ela também é dona de cinqüenta acres de terra de frente para praia na ilha Kayven. Por mim, ela pode até casar com o poodle dela. Por falar na ilha Kayven, como vai o projeto? — Uns probleminhas com o sindicato dos portuários, mas já dei o meu jeito. E da sua parte? Tudo correndo conforme o planejado? — indagou Nathaniel. — Pode apostar. Emma já está usando um anel de noivado c as fotos estão estampadas em três grandes jornais. — Então, meus caros, hora de partir. Um avião e uma bela garota me esperam no terminal do aeroporto. — Obrigado pelas informações — agradeceu Alex. — Às ordens. A gente se vê. Quarta-feira à noite, Katie olhava, encantada, para o anel na mão de Emma. — É sério? Um conde de verdade? E Alex deu para você uma herança de família?
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— Pode parar por aí. Ele só me emprestou. E depois, como ele mesmo disse, todas as noivas da família se casaram por dinheiro. — Só isso? — Queria mais? — Pensei que fosse falar sobre sexo, escândalos e assassinatos. — Lamento. Nenhum assassinato. Bem, quem sabe a sra. Nash, a governanta. Tenho a impressão de que ela até seria capaz de matar alguém. — E ela ficou aborrecida com você?
— Nem tanto. Mas se eu fosse o Philippe, tomaria algumas precauções. — Eu acho que o Philippe sabe se cuidar. — E então? Como foi o dia no escritório? — Chamei o David para trabalhar com a gente. — O seu David? — É. O meu David. — Mas ele já trabalha para o Leon Gage. — Pedi para que ele se demitisse. — Por que fez isso? — Emma não gostou muito da idéia David parecia um bom rapaz e era óbvio que Katie estava apaixonada. Mas trabalhar juntos? Isso seria bom para um casal? — Porque precisamos dele — respondeu Katie, num tom de voz que beirava a petulância. Emma gostaria que Katie tivesse conversado com ela antes. Não que ela quisesse contrariar a irmã, mas talvez tivesse conseguido refrear a natureza impulsiva dela. — Você ao menos consultou o Recursos Humanos? Nosso departamento é muito bom. — Por quê? Eu posso casar com ele, mas não posso contratá-lo? Emma trincou os dentes. A função do departamento de Recursos Humanos era checar referências e encontrar a pessoa mais adequada ao trabalho. O que fariam se David não se adaptasse? — Qual o cargo? — Vice-presidente de Projetos Especiais Internacionais. — Sei...
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— Ele tem uma excelente rede de contatos na Europa e em todo o Caribe. Emma não sabia de problema algum na Europa e no Caribe. — Ele vai participar das convenções e vistoriar os clubes. — Você não acha que vão ficar tempo demais juntos? Emma queria que Katie fosse feliz. De verdade. Mas alguma coisa naquela situação a incomodava. Pelo bem de Katie. Pelo bem da empresa. — Você e Alex vão trabalhar juntos — retorquiu Katie. — Mas eu e Alex não estamos... — Casados? — Apaixonados. — E daí? O amor que eu e David temos um pelo outro vai tomar ainda mais fácil a convivência no trabalho. Emma tentou contrariar aquela lógica. Tecnicamente, não havia nada de errado. Katie e David se amavam e se respeitavam. Já ela e Alex viviam às turras. — Quer saber, Emma, se é para se preocupar com esse negócio de trabalhar junto, eu me preocuparia com você e Alex.
Emma já estava preocupada com isso. Na verdade, se preocupava cada vez mais.
CAPÍTULO SETE Emma estava ansiosa. Jenny, sua assistente administrativa passara os últimos três minutos avisando da chegada de Alex pelo viva-voz nos mínimos detalhes. Segundo ela, Alex vestia um terno cinza escuro, uma camisa preta e uma gravata listrada nas cores cinza e azul. Não parecia aborrecido, tampouco parecia contente. E Jenny ainda perguntou se Emma já percebera a delicada covinha no queixo e o brilho prateado que seus olhos cinzentos adquiriam quando expostos à luz do sol. Só teve trinta segundos para desligar o viva-voz, se ajeitar e controlar a enxurrada de emoções que ela sabia que entraria pela porta com Alex. Enquanto ele permanecesse na sala, Emma assumiria a postura da executiva. Não o tocaria, ignoraria o perfume dele, não fitaria aqueles olhos, não mexeria no diamante que carregava no dedo.
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Alex abriu a porta. Emma ficou de pé, fitando aqueles olhos cinzentos, faiscantes. — Oi, meu anjo — ele cumprimentou Emma, mais para que Jenny ouvisse, antes de fechar a porta. — Em que posso ajudá-lo? — Eu trouxe um presente. Pelo amor de Deus! Sem mais jóias! Mas Alex jogou um envelope sobre a mesa. — Nosso contrato pré-nupcial. — Você redigiu sem me consultar? — Confie em mim — respondeu ele, sentando-se numa cadeira. — Sei. O documento tinha apenas uma página, devidamente assinada, com firma reconhecida. Ao se casarem, Alex ficaria com metade das empresas. Se após dois anos de casados uma das partes desse início aos trâmites do divórcio, a outra parte teria direito a dez por cento da renda líquida do casal. Emma olhou para ele e viu-o sorrir. Não havia nada a reclamar. Teriam de ficar casados por uns tempos. Ela já esperava por isto. Mas, de qualquer forma, o contrato acabava por favorecê-la. — Qual é exatamente a sua renda líquida? — Menor que a do Nathaniel, maior que a sua. — Quem é Nathaniel? — Meu primo. Ele vai ser o padrinho. — Você já assinou. — Já. — E não tem intenção de se divorciar logo? — Nenhuma intenção. Emma pegou o telefone. — Jenny, pode pedir a alguém do Jurídico para vir à minha sala? — Só uns cinco minutos — pediu ela a Alex. — Soube que você contratou David Cranston. — Como você soube? Alex deu de ombros.
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— Eu disse a você que o ramo da hotelaria é um mundo pequeno. — A Katie o contratou. — Sem falar com você? Emma hesitou. — Conversamos a respeito. — Você está mentindo. — Não, eu não estou. E como ousa...
— Você concordou com a admissão? Emma mordeu os lábios. Alex encarou-a. Ela devolveu o olhar, embora soubesse o efeito que surtiria sobre seus hormônios descontrolados. — Ela só contou depois — deduziu Alex. — Mas eu não fiz nada para impedir. — Mas você não gostou da idéia. — Não. Eu não gostei. Mas ela tomou a decisão. E com certeza não é da sua conta. Alex ficou de pé. — Ah, mas é sim. — Você vai controlar a equipe da Katie? — Ele está trabalhando diretamente para ela? — Alex! Alex cruzou a sala e postou-se diante de Emma. — Cá entre nós... — Não! — gritou ela. — Você nem sabe o que eu ia dizer! — Ah, mas eu sei sim! E nem ouse sugerir que vai controlar a minha irmã. Aqui não trabalhamos assim. E eu não dou a mínima para quem você seja. — As palavras jorraram com raiva, um dedo acusatório apontado para o peito de Alex. Alex segurou-lhe as mãos. — Não foi uma boa decisão. — Foi a decisão dela. — E você não vai fazer nada. — Não. E nem você.
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— Se eu fosse você, não seria tão afoita em dizer o que eu devo ou não fazer — ameaçou Alex, aproximando-se cada vez mais. Emma aquietou-se. Não podia forçá-lo a nada. Mas ele também não podia forçá-la. Chegaram a um impasse. Katie. Emma não sorriu, mas aproximou-se de Alex. E percebeu as mãos pousadas sobre as dela. O calor do corpo dele a queimava, despertando volúpia e desejo. — Você sabe que vamos ter de lidar com isso — disse Alex, a voz rouca, profunda. — Está falando da Katie? — perguntou ela, tímida, agarrando-se à tênue esperança de que ele estivesse se referindo à irmã. — Estou falando dos sentimentos que despertamos um no outro. — Você está enganado. — Quer que eu prove? Ela tentou recuar, mas Alex a deteve, sorrindo. — Você tem que parar de mentir para mim, sabia? — E você precisa urgentemente de umas aulas de etiqueta. — É mesmo? Então o que me diz de me acompanhar a um luau? — Um luau? —A Kessex Cruise Lines, a empresa de cruzeiros marítimos de Nathaniel, está lançando um novo navio, o Island Countess, especializado em cruzeiros pela Polinésia. Fomos convidados para a festa de inauguração e pensei que você poderia usar o colar de rubis e diamantes. Emma já se acostumara à idéia de ser vista em público com Alex. Tinham feito um trato e iria cumpri-lo. Além disso, estar com ele em público era muito melhor que ficar a sós com ele. Em público ela podia fingir que estava fingindo. Tinha uma desculpa para rir, conversar com ele e tocá-lo sem questionar nada. Ter este mesmo comportamento quando ficavam a sós levava-a a admitir que gostava dele. Gostava até de discutir com ele. A confiança e força de vontade de Alex faziam com que ela se sentisse segura. E ela confiava nele. Talvez não fosse a coisa mais esperta a fazer. Mas tinha de confiar em alguém. E Alex a estava conhecendo de um jeito que ninguém jamais conheceria. Agora, neste momento, ele era crucial em sua vida. Não que ela fosse admitir tal fato para ele, tampouco fosse facilitar a vida dele.
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— Você acha mesmo que rubis e diamantes combinam com trajes típicos da Polinésia? — Você quer ficar bonita ou fazer seu futuro marido feliz? — Não posso querer as duas coisas? — Não neste caso. Ficaram olhando um para o outro por um longo momento — E então? O que me diz? — Às vezes você não pensa que teria sido melhor casar com a mais bonita? — Pare com isso! — Por quê? — ela estava apenas brincando. Além do mais todos sabiam que Katie era mais bonita que ela. — Mexe comigo, me provoca bastante. E eu faço você admitir que eu mexo com você. — Como você pretende. Os olhos de Alex ficaram incandescentes; as narinas, dilatadas. — Deixe para lá — ela rapidamente recuou. Engoliu em seco a aprumou-se, tentando fingir uma doçura na voz. — Eu vivo para fazer meu futuro marido feliz. — Viu? Foi tão difícil assim? Sexta às sete. E eu vou trazer o colar. Atravessando a pequena ponte que ligava a terra firme ao Island Countess Alex disse a si mesmo que estava tudo bem. Já esperava que Emma ficasse deslumbrante de sarongue. Já esperava que as jóias da família fizessem o contraste perfeito com a pele macia e cor de mel. Já esperava também sentir aquele aperto no peito, que começara a associar ao fato de estar na presença de Emma. O que ele não esperava era o desejo que lhe queimava as entranhas; o desejo de tê-la só para ele. A noite estava reservada a exibi-la para a mídia, deixar todas as mulheres boquiabertas diante do diamante Tudor e consolidar a posição dos dois como casal perante toda a indústria de turismo de Nova York. Assim, quando Alex começasse a representar as empresas McKinley ninguém ficaria surpreso ou desconfiado. O problema era que Alex não estava dando a mínima para todo aquele aparato. Tudo o que queria era ter Emma em seus braços sob o céu estrelado.
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Ele sabia que Emma detestava publicidade, mas lá estava ela. Emma detestava mentiras, mas lá estava ela. E muito provavelmente ela o detestava, mas lá estava ela, sorrindo, de mãos dadas com ele, amoldando o corpo contra o dele para o deleite dos fotógrafos. Até agora, Alex não percebera como ela era forte. Emma estava salvando uma empresa, a irmã, a diretoria, os executivos e milhares de empregos. Tudo estava nas costas dela. Ela reclamava? Claro que sim. Mas seus argumentos eram racionais, lógicos. Buscava soluções e opções que melhor se adequassem a ela. No entanto, a partir do momento que não encontrou mais soluções, quando Alex a impediu de encontrá-las, ela se resignou e fez o que precisava ser feito. Alex admirava aquilo. Alex admirava Emma. Dirigiram-se ao elevador panorâmico. — Pronta para subir? — perguntou ele, num sussurro. Inalou o perfume do xampu, fixando o olhar nos brincos de rubi que pendiam das delicadas orelhas. Os brincos da família. Apertou a mão de Emma com força, sentindo a pressão do anel de diamante contra a palma. — Será que já tiraram muitas fotos — sussurrou ela, um sorriso nos lábios. — Com certeza. E tem mais fotógrafos no convés. Emma largou a taça vazia de champanhe na bandeja. — Então vamos! — Você está encantadora esta noite. — É porque eu vivo para fazer você feliz. — É sério. Você está... magnífica!
— São os rubis. — Combinam com você. Mas não foi isso que eu quis dizer — comentou Alex, aproveitando o ensejo para roçar os dedos na pele dela ao tocar os rubis. A porta do elevador se abriu e eles entraram, sozinhos.
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— Então é o champanhe. — De frente para Alex, Emma apoiou-se na grade atrás dela, os braços abertos. Naquela posição, o sarongue, sem alças, colado ao corpo realçava-lhe o busto. A parte de baixo delineava-lhe os contornos dos quadris e tinha um caimento suave até acima dos joelhos. Aos olhos de Alex, Emma parecia uma deusa das ilhas da Polinésia. — Você está bêbada? — perguntou ele. Seria uma explicação plausível para estar tão relaxada. Ela brincou com ele, roçando-lhe o peito com os dedos, o olhar sensual. — Estou desempenhando meu papel, Alex. Achei que foi para isso que você me contratou. — Então você é muito boa atriz. Ela sorriu. — Boa demais. — O que quer dizer... A porta do elevador se abriu e ele lhe enlaçou a fina cintura. — Vamos dançar? Sem esperar pela resposta, tomou-a nos braços e misturaram-se aos outros convidados, dançando ao luar, no ritmo do calipso. Logo ela encontrou o ritmo dele. Alex apertou-a contra seu corpo, sentindo o pulsar de cada fibra. Emma tinha tudo para ser a parceira perfeita. O ritmo da dança despertou em Alex pensamentos de natureza puramente sexual. Especulava como o sexo poderia ser perfeito entre eles. É claro que estava falando apenas de sexo. Viver ao lado de Emma seria um desafio completo — do minuto que se levantasse pela manhã até a hora de ir para a cama à noite. Sozinho. Porque o casamento deles não incluía intimidade. Era apenas fachada. E pela primeira vez Alex se perguntou se a sra. Nash não teria razão. Não lhe agradava a idéia de infelicidade, solidão, frieza — morte certa. Tampouco lhe agradava a idéia de uma cama fria, solitária. Na verdade, naquele momento, não conseguia imaginar ninguém na sua cama. Apenas Emma. O que era impossível. Mas agora ela era dele. Estava em seus braços.
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Fechou os olhos e aconchegou-se a ela, inalando o perfume de sua pele e sentindo o calor das jóias roçando-lhe o rosto. Um flash espocou. Era tudo o que ele sonhara, mas, naquele momento, ressentiu-se daquela invasão. Ainda dançando, conduziu Emma para um canto isolado do convés. A luz era mais fraca e o som da música, abafado pelo vento. Alex levantou os olhos e admirou o céu estrelado. — Uma escapada romântica para chamar a atenção dos fotógrafos? — Mais ou menos — respondeu ele, os olhos fixos na pele delicada e macia do pescoço de Emma. Ela achava mesmo que estavam desempenhando um papel? Ele lhe beijou a clavícula. A respiração de Emma ficou acelerada. Beijou-lhe os ombros, as orelhas, a boca. Puxou-a para si, abraçando-a com força enquanto explorava-lhe a boca. Os corpos já conheciam os contornos, os movimentos. Desta vez não houve hesitação nem mãos desajeitadas. O encontro de lábios selou a paixão que os consumia. Alex sentia o fogo da paixão e da volúpia arder em cada centímetro do seu corpo. Só estavam no lugar errado. Estava apenas beijando sua noiva. Mas considerando os gemidos dela e as mãos turbulentas dele, em questão de minutos estariam fazendo amor ali mesmo. Ele recuou. Emma ficou confusa, os olhos enevoados de paixão.
— Quero mostrar uma coisa. Atravessaram o convés, passaram por uma porta e subiram uma escada até chegarem a outra porta, e Alex abriu com uma chave. — O que significa isso? — perguntou Emma. — Cortesia do capitão, para o caso de querermos descansar um pouco. Emma entrou na suíte. Olhou a mesa de jantar, o imenso sofá e o bar. — Mas cadê os repórteres? — perguntou, confusa. Será que ela estava desempenhando um papel esse tempo todo? Alex não podia acreditar. — A varanda. Dali se tem uma vista panorâmica da festa.
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Alex foi até a janela e abriu as cortinas. Uma trégua ao plano de sedução. Mas ainda não desistira. As cortinas desvelaram a imensa varanda e sua vista magnífica do mar e do céu estrelado. As portas abertas deixavam entrar o ar da noite, a música e a alegria da festa. — Nada como uma teleobjetiva para convencer o mundo do nosso amor. — Você é um devasso, sabia? — Você não faz idéia — sussurrou ele. — Por que não relaxamos naquele imenso sofá? Emma tirou as sandálias. O sarongue esvoaçou, suave, revelando pernas bem torneadas. — Por que não? Será que dá para pedir um drinque de abacaxi?
— Seu pedido é uma ordem.
Emma sentia-se muito mais segura na varanda do que dentro do quarto, com Alex. Ela pensou, planejou e esperou passar a noite cercada de gente. E não esperava tanto realismo por parte de Alex. Aqueles beijos quase a tiraram do sério. No entanto, a situação fazia sentido. Os noivos não ficariam o tempo inteiro na festa. Iam querer um momento de privacidade. Deixar que os fotógrafos os vissem na varanda da suíte era perfeito. Alex preparou um drinque. — Saindo um Wiki Waki! — Você inventou isso. — Juro que não. É um drinque tipicamente havaiano. É o que estão servindo na festa. — Assim que eu olhei para você sabia que seria um fracasso. — Está me provocando de novo? — Só estou me distraindo enquanto posamos para fotos. — Sei. Fazendo os seus joguinhos? — Está com medo que eu ganhe? — Tenho medo que você estrague tudo. Mas vá em frente. Faça sua melhor jogada. — De verdade? Posso mesmo? Alex sorriu e Emma derramou o drinque no colo dele. Ele deu um pulo e gritou tão alto que atraiu a atenção das pessoas que estavam bem embaixo da varanda. Olhou para Emma horrorizado.
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— Esta é a minha melhor jogada — explicou ela, buscando forças para ficar em pé. Derramar a bebida em Alex tinha parecido uma boa idéia dez segundos atrás. Agora... — Eu não acredito que você fez isso! — urrou Alex, tentando limpar a sujeira. — Você devia agir como se estivéssemos nos divertindo — brincou Emma. Alex sorriu, malicioso. — Você pediu! Alex agarrou-a e sentou-a no colo, bem no meio da lambança que ela fizera. — Este vestido não é meu! É da Katie — gritou ela e encolheu-se toda ao sentir o gelo escorrendo-lhe pelas pernas. Alex começou a fazer cócegas e ela gritou mais uma vez.
— Não... Pare! — Não pare? — Não! Pare! — Você devia agir como se estivéssemos nos divertindo. — Ele dera o troco. — Não! — Mas ela continuou rindo. Não conseguia parar de rir. Ele era um mestre em fazer cócegas. Alex parou de fazer cócegas. Pegou-a no colo e, sem uma palavra, carregou-a para dentro do quarto. Pousou-a com cuidado no chão. — O que eu disse a você? — perguntou ele. O olhar, resoluto, cintilava no lusco-fusco do quarto. — Sobre o quê? — indagou ela, recuando, pé ante pé. Alex continuou avançando, lentamente. — Sobre me provocar. O significado daquelas palavras calaram fundo em Emma. — Ah! Não! — Ah! Sim! Agora é uma questão de orgulho — retrucou ele, num tom velado de ameaça, encurralando-a entre o sofá e o bar. — Você já teve sua revanche — disse Emma, olhando para as calças molhadas dele e o vestido dela. — Não, Emma. Admita que eu mexo com você.
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Ela sabia que devia dizer que sim e acabar logo com aquilo. Sem dúvida ele ia cumprir à risca a ameaça estampada em seu olhar. Se ele a beijasse de novo, ela acabaria admitindo até que a terra era quadrada e que ela era uma bruxa. Mas ela negou. Não podia sucumbir sem uma boa briga. Ele até podia acabar conseguindo o que queria, mas teria que batalhar. Cada vez mais perto, sua voz ficou mais sedutora. — Você sabe que eu mexo com você. Ela meneou a cabeça, negando. — Você quer que eu prove? Emma tremeu da cabeça aos pés. Alex levou uma das mãos ao seu rosto e enlaçou os dedos no cabelo dela, puxando-a para ele. — Você acha que teria uma chance no inferno? — Eu sei que teria uma chance no inferno — respondeu ela, provocante. Alex estampou um meio sorriso nos lábios. — Só uma? — Talvez duas. — Eu gosto dessas possibilidades. Emma quase sorriu e se perguntou por que não tinha sido mais cuidadosa. Talvez a voz aveludada, a energia que a deixava confiante, ou o perfume que a tranqüilizava. Talvez ela apenas ansiasse pelos seus beijos. Só os beijos? A quem ela queria enganar? Ela ansiava por tudo e qualquer coisa que ele viesse a fazer com ela. Com uma confiança cada vez maior ela fitou o desejo que surgia no olhar de Alex.
— Vá em frente, Alex. Faça a sua melhor jogada.
CAPÍTULO OITO
Alex ficou paralisado. Os olhos se estreitaram enquanto encarava Emma. — Você está me desafiando? Emma forçou-se a manter a calma. — Você vai tomar alguma atitude ou vai ficar só falando? Porque você parece...
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Alex interrompeu-a com um beijo ardente, apaixonado. Os braços eram fortes, musculosos, mas ele a envolveu com cuidado e ternura. Os corpos colados emitiam sensações indescritíveis. Sua língua simulava um bale vigoroso e as mãos amparavam com firmeza a cabeça de Emma. O quarto girava e o mundo lá fora deixara de existir. Isto sim é que era ação. — Admita — pediu ele, num sussurro. Ela balançou a cabeça, negando mais uma vez. Alex envolveu os seios de Emma nas mãos, acariciando-lhe os mamilos sobre o fino tecido da roupa. Emma ardia em desejo. — Diga que você me quer — tentou ele de novo. Ela se esforçava para parar de tremer, mas se recusava a admitir que o desejava. — Então seja feita a sua vontade — murmurou ele, beijando-a mais uma vez. Ela provou o sabor adocicado da bebida, inalou o perfume do corpo dele e sentiu os dedos firmes acariciando-lhe os seios. As mãos eram quentes. O corpo de Emma ardia de desejo e pedia mais. E Alex ofereceu mais até Emma gritar de prazer. —Admita — exigia ele, os lábios roçando os dela. — Não. Ele a tomou nos braços e deitou-a na cama, os olhos fixos nela enquanto a desnudava. O olhar de Alex flamejava ao desvelar-lhe os seios. — É só admitir, Emma — pedia Alex, ofegante. Ela começou a acariciar-lhe o peito por sob a camisa. Queria proporcionar-lhe um pouco do prazer que estava sentindo. Mas Alex não deixou. — Não estamos discutindo o meu desejo por você. Droga. Os dedos de Alex começaram então a explorar o corpo de Emma, que se contorcia em êxtase. Os olhos dele se deleitavam com a pele cor de mel e seus tons de rosa, com o peito que arfava — fruto do prazer que os dedos e os lábios de Alex provocavam nela. — Tudo que você precisa fazer é dizer que me deseja — repetiu ele. Em resposta, Emma arqueou os quadris. Sua satisfação era tão intensa que não se sentia capaz de falar, mesmo que quisesse. E ela não queria falar. Não queria que ele vencesse, mas sem dúvida não queria que ele parasse.
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E ele não parou. Enterrou o rosto em seu pescoço, cobrindo-a de beijos ardentes, sentindo-lhe o corpo úmido e quente. Ela o abraçou com força e percebeu os músculos se retesarem e pulsarem quando os dedos de Alex encontraram e exploraram o centro de seu prazer. — Emma. — Foi tudo o que ele conseguiu dizer enquanto a beijava com sofreguidão. Depois daquele beijo, os olhos de Alex escureceram e a penumbra do quarto acentuou os ângulos do rosto dele. — Ou você diz que me quer ou eu paro agora — murmurou ele.
Ele não faria isso. Ele não podia fazer isso. O corpo de Emma clamava pelo de Alex. — Eu quero você — admitiu ela finalmente, a voz rouca de paixão. — Obrigado. — Alex beijou-a com voracidade e explorou cada centímetro do seu corpo. Ela lutou com os botões da camisa de Alex e acabou rasgando-a. Abraçou-o com força, pressionando o corpo dele contra o seu, sorvendo-lhe os beijos com sofreguidão. Ele pegou um preservativo no bolso da calça antes de arrancá-la e atirá-la longe. Emma revolveu-lhe o cabelo, roçou a pele na barba por fazer acariciou-lhe os lábios com as pontas dos dedos. Alex sorveu-lhe os dedos, beijou-lhe as mãos, os pulsos, os cotovelos. Os dois estavam prontos para o amor. Puro êxtase. — Emma... — suspirou Alex. Uniram as mãos, entrelaçaram os dedos, fundiram os corpos num só. Emma também murmurou o nome dele. A música a festa, o mundo desapareceram, engolfados pela bruma da paixão, que fazia os corpos pulsarem num frenesi crescente. Ela fechou os olhos, e cada centímetro do seu corpo explodia em êxtase. Pequenas explosões que tornavam-se cada vez mais arrebatadoras até que o céu, o mundo inteiro explodiu em luz cor e som. — Alex — bradou ela, triunfante. — E o gemido que escapou das entranhas de Alex revelava que tinham mergulhado juntos nas profundezas abissais do prazer. Os corpos se acalmaram. A música, o som das pessoas rindo na festa... Tudo voltava ao normal.
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Emma queria prolongar o momento. Queria prolongar a sensação prazerosa do peso do corpo de Alex sobre o seu. Seu corpo queria continuar submerso nas vagas da paixão. — Tudo bem? Ela meneou a cabeça. Sim. Tudo estava bem. — Mas não se mexa. Ainda não. — Emma tinha medo de quebrar o encanto daquele momento. — Tudo bem — respondeu, acariciando o cabelo dela. — É tão bom saber que eu venci. Emma bem que tentou esboçar algum sinal de indignação, mas estava plenamente saciada. — Você bem que podia dar um tempo, não é mesmo? — Você não é fácil, Emma McKinley. — Engraçado. Estava aqui pensando justamente como eu fui "fácil". — Fácil? Nunca na vida eu me esforcei tanto para conseguir fazer amor com uma mulher. — Está certo. Alex virou-se para o lado e suspirou, satisfeito. — Você me deseja. —Ai, Alex! Dá um tempo! — Você admitiu. Eu ouvi muito bem. — E você também me quer. — É claro que eu quero. — Então estamos quites. — Não é bem assim. Você não quer admitir que me deseja. — Foi a noite... o champanhe... um cruzeiro em alto mar _ comentou ela, sarcástica. — Está querendo me dizer que não passou de uma aventura em alto mar? — É. Estou. — Tinha que ser. Ela não podia desejar Alex no decorrer do casamento. Só de pensar... Não. Era inconcebível. — E foi uma viagem bem curta — completou, num tom áspero. Alex ficou em silêncio por uns instantes. — É. Foi mesmo curta. Sequer zarpamos. —Acho que devemos voltar para a festa.
— Nossas roupas estão molhadas. Emma fez uma careta.
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— Vou chamar a camareira. Ela pode nos arrumar uma muda de roupas. E voltar para a festa com outra roupa? — Acho que prefiro ficar escondida aqui — declarou Emma. — Você só pode estar brincando. Vai ser perfeito.
Emma virou-se, os olhos arregalados. Por que tudo que era perfeito para Alex tinha de ser tão embaraçoso para ela?
Eu fiz amor com Alex. Não. Talvez fosse melhor dizer: Aconteceu uma coisa engraçada ontem à noite, sabe... Alex e eu... nós... por acaso... — Emma? Em estado de choque, Emma olhou para Katie. Há cinco minutos sua irmã estava tentando falar sobre a pousada em Knaresborough, na parte central da Inglaterra. — Você está bem? — perguntou Katie. — Estou. — Emma devia reagir, não podia deixar transparecer que guardava um grande segredo. — Você ouviu o que eu disse? — Claro que ouvi. A pousada em Knaresborough. — Isso. Ela já tem mais de duzentos anos e o David estava dizendo que... Emma nunca tivera segredos para Katie. Não que aquilo fosse exatamente um segredo. Mas sempre que acontecia algo como o que acontecera na noite passada, a irmã era sempre a primeira pessoa a saber. — Porque com a nova concorrência, vai demorar uns cinqüenta anos até que os custos com a reforma se paguem — concluiu Katie. Emma piscou. — Cinqüenta anos faz sentido para você? —Ah... acho que não. Katie, eu queria... — Eu também acho que não. Vou contar para o David. David? Espera ai. Não. Emma queria falar sobre Alex. — Podemos partir amanhã de manhã. —Alex? Katie ficou observando a irmã por uns instantes.
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— David. — Para onde? — Para Knaresborough, é claro. É claro. A reforma. — Tudo bem, mas antes eu.. — Vou pedir ao Jurídico que providencie uma autorização e trago para você assinar. — Claro, mas... — Podemos conversar mais tarde? Ele vai ficar tão feliz! — Katie... — Conversamos no almoço? Emma suspirou. — Não posso. Prometi que passaria na casa do Alex. — Katie ficou esperando, a mão pousada na maçaneta. — Você sabe... Os convites, as flores, a recepção... — Você está se divertindo, sabia? — É. Estou. Como se divertir, encarando Alex depois de terem feito amor? Como se divertir, olhando Philippe e a sra. Nash simularem uma nova batalha de Hastings? Como se divertir, experimentando um vestido de noiva sabendo que Amélia Garrison deveria estar se revirando no túmulo? Nada disso parecia promissor. Parecia que Amélia fora uma mulher petulante e rebelde. Emma gostava daquilo. Seu vestido da década de 1920 era uma graça, de seda bege com o corpete bem longo de renda crua. Sem mangas, era adornado com fitas nos ombros e nos quadris e ainda tinha uma saia rodada que esvoaçava sobre os tornozelos.
— A senhora estava certa — admitiu Emma, olhando-se no espelho e deleitando-se com o toque do cetim em sua pele. — Caiu feito uma luva — concordou a sra. Nash. — E é perfeito para uma cerimônia ao ar livre. — Obrigada por entender meu ponto de vista sobre um casamento na igreja. — Podemos mentir para o mundo, minha cara, mas não precisamos mentir aos olhos de Deus.
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— Eu não concordei de imediato com a proposta de Alex — Mas acabou aceitando. — Foi. — E, mais uma vez, Alex acabou conseguindo o que queria — Ele sempre consegue o que quer? — Ele é bilionário. É claro que sempre consegue o que quer. — Mas não com a senhora. — Nunca. —Acredito que ele goste; quer dizer, goste de ter alguém que o chame à realidade. — Ele detesta. Assim como o pai detestava. Mas a mãe dele não deixou que me demitissem. — É óbvio que ela apreciava a sua ajuda. — Não. Foi só para irritá-lo. Emma não sabia o que dizer. — Ela era uma mulher desorientada. E ele, um velho amargo — Mas então, por que... — O dinheiro, minha cara. Ela queria o dinheiro. Ele possuía o que ela queria. Ela só não pensou no... no resto. Emma engoliu em seco. Lembrou a si mesma que tinha sua própria vida, seu próprio dinheiro, seu próprio negócio. Alex não exerceria influência alguma sobre ela. — Suspeito que ela pensou que ele morreria antes. — E como ela morreu? — perguntou Emma, embora temesse a resposta. — Acidente de cavalo. Pobrezinha. Alex tinha apenas dez anos. Aquele velho cínico... Emma tremeu. Custou a encontrar as palavras. — Será que vou me deitar com o demônio? — Eu diria que você já fez isso. Emma ficou sem fala. Será que a sra. Nash tinha sido literal em suas palavras? Mas como ela podia saber? — Esse é o problema com o demônio, minha cara — continuou a sra. Nash, enquanto ajeitava os botões do vestido de Emma — Ele é irresistivelmente charmoso. Até mesmo para uma velha como eu.
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Mas Alex não podia machucar a sra. Nash. Não da forma como podia machucar Emma, se ela não tomasse cuidado; se ela não conseguisse resistir ao seu encanto. Bateram à porta do quarto. — Os convites chegaram, madame. — Obrigada, Sarah — agradeceu a sra. Nash. Virou-se para Emma — Philippe e Alex estão esperando lá embaixo. Alex percebeu que havia um problema assim que viu a expressão de Emma. — Seiscentos e vinte e dois? — Pode acrescentar mais nomes, se quiser — respondeu a sra Nash, examinando uma das amostras. — Afinal, não será um convite manuscrito em papel pergaminho com uma flor-de-lis púrpura — concluiu, com um olhar mordaz para Philippe. — Quem são essas pessoas? Suas ex-namoradas? O comentário era despropositado e fez Alex trincar os dentes. — Dificilmente. — A flor-de-lis é um símbolo honrado, belo. Simboliza íris, a deusa —justificou Philippe. — Eu não conheço seiscentas pessoas. Sequer conheço trezentas! — exclamou Emma. A sra. Nash piscou os olhos ao olhar o convite.
— Meu bom Deus, essa borboleta me irrita. — Preto e branco? — perguntou Philippe. — Prateado — respondeu a sra. Nash. — Argh! —retrucou Philippe. — Talvez um azul escuro. Uma coisa mais nobre. Não essa explosão de cores cafonas, exageradas. — Por que estão tão preocupados com os convites? — perguntou Alex. — São 622 convites. — O jardim é bem grande. — Não é esta a questão. — E qual é a questão? — Alex queria mesmo saber. Que diferença ter cinqüenta ou seiscentos convidados? — O Bife Wellington! — exclamou Philippe.
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Emma arregalou os olhos. A sra. Nash ficou paralisada. — Um acordo — explicou Philippe. — Eu desisto da flor-de-lis e a senhora concorda com o meu bouefem croúte no lugar do seu pudim inglês. — A receita do duque de Wellington? — perguntou a sra Nash. — A receita que ele roubou de Napoleão. — Depois de derrotá-lo na guerra. Alex interrompeu aquele duelo verbal. — Vamos selar logo esse acordo? — E eu também quero propor um acordo — disse Emma. Alex arqueou as sobrancelhas. — Trocar os seus 622 convidados por um casamento em Vegas. — Trezentos convidados são seus — informou a sra. Nash. — O quê? — Falei com a sua irmã e com a sua secretária. — Pode me matar agora! — exclamou Emma. — Imagine, mademoiselle — rebateu Philippe. — Não é para tanto. A senhorita vai estar linda. A recepção será magnífica. E todos vão nos perdoar pelos convites insossos. — E as flores? — interveio Alex, antes que a sra. Nash traduzisse em palavras o seu olhar de indignação. De pé na imensa varanda, Emma observava os preparativos para o casamento: a grama sendo aparada, o local onde seria realizada a cerimônia, os ajustes no gazebo para acomodar a banda de músicos. Se não chovesse, armariam um palco próximo à escada de acesso à varanda. A gráfica trabalharia dia e noite para aprontar os convites. Os convidados poderiam ter outros planos para o sábado à tarde, mas com certeza cancelariam. Ninguém ia querer perder uma cerimônia de casamento nos jardins da propriedade de Alex Garrison. Alex contava com isso. E como dissera a sra. Nash, sendo um bilionário, via de regra conseguia o que queria. — Tudo bem? — perguntou Alex, a voz grave. Emma gargalhou. — O que poderia dar errado?
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— Achei que gostaria de saber que os dois chegaram num acordo a respeito das questões importantes. — É mesmo? — Rosas brancas e lilases. Você concorda? — Não tenho uma opinião formada sobre essas "questões importantes". — Mas deveria. — Por quê? — É a sua festa. — Você está se divertindo, não está? — Com o quê? — Com essa fraude. — Um pouco. Eu não acho... — Você não acha que estamos infringindo a lei.
— Estamos dando uma grande festa, estreitando relações comerciais e oferecendo uma boa matéria para distrair os jornais por umas duas semanas. Não vejo mal nisso. Emma tampouco via mal algum nisso. Não do ponto de vista lógico que ele bem definira. Mas havia um problema que deitava raízes mais profunda. — Acho que devo perguntar quem está pagando. — Pagando o quê? — A festa. O casamento. Os seiscentos convidados. Estamos dividindo as despesas? — Esta é por minha conta — comentou Alex, o olhar perdido no horizonte. — Você paga o outro. — O outro casamento? — O outro jantar. — Duvido que teremos seiscentos convidados. Alex deu de ombros. — Precisamos conversar sobre isso — insistiu Emma. — Sobre o jantar? — Sobre como vamos lidar com tudo isso. Onde vamos morar. — Aqui. Achei que já havíamos resolvido esse assunto. — Você resolveu. — E o que você acha?
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— Eu acho que mereço opinar, também. — Vou bancar o Philippe. — Como é que é? — Um acordo. Passamos os finais de semana aqui. Durante a semana ficamos na cidade, numa das coberturas. Emma tinha de admitir que a proposta parecia razoável. — Você sabe que temos que morar juntos não sabe? Pelo menos no início. — Eu sei. Parece uma boa solução. — Já parou para pensar na lua-de-mel? — Nem um segundo. — Na verdade, Emma estava evitando pensar na lua-de-mel. Não era exatamente o que se podia chamar de um sonho. — Um dos resorts da minha família? — Isso mesmo. — Achei que fosse lutar com unhas e dentes para ficar no seu território. — Temos algum compromisso de negócios no período da lua-de-mel? — Não tenho nada agendado. — Então, não vejo mal algum em você ficar no seu território. — Não é um dos nossos melhores resorts. — Paris era maior e o Whistler acabara de ser reformado. — Gostaria de dar uma olhada na ilha. — Só uns dias. Vou fazer as reservas. Mas vou levar meu laptop e meu palmpilot. — Com medo de ficar entediada se ficarmos sozinhos? Uma lufada de vento atraiu uma brisa salgada. A imagem da noite de sexta-feira, quando ficaram a sós no navio, flanou pela mente de Emma. —Alex. O semblante de Alex parecia dizer que ele lera os seus pensamentos. — Sobre a noite de sexta... Ele esperou. — Ela não pode se repetir. — Quer apostar? — Alex! — Só estou dizendo que podemos. Se quisermos. — Nós não queremos.
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— Você tem certeza? — Tenho! Eu tenho certeza. Foi uma loucura. Uma tolice. — Eu achei excitante e prazeroso. Emma sabia que fora excitante e prazeroso. Mas isto não mudava o fato de que não poderia voltar a acontecer.
— Só por curiosidade — pediu Alex. — Por que você não quer que se repita? — Porque é um trato. Um negócio. — Mas também é um casamento. Emma balançou a cabeça. O que estavam fazendo não lembrava em nada um casamento. Ele estava cuidando dos interesses dele e ela, dos dela. Simples assim. — Se misturarmos as coisas, ficaremos confusos. Um de nós vai acabar se machucando e tenho certeza de que serei eu. A brisa esvoaçou o cabelo de Emma e Alex afastou-o do rosto dela. — Eu não vou machucar você, Emma. Apesar da suavidade daquele toque, Emma sabia que ele estava mentindo. — Vai, sim. Vamos encarar os fatos. Dentre todas as mulheres de Nova York, você não escolheu se casar comigo. Aliás nem quando a escolha estava restrita à minha família. — Não foi bem assim. — Alex, não vamos reescrever a história. — Eu não... — Ao menos tenha a gentileza de ser honesto. Você quer os meus hotéis. Pois bem, eles serão seus. E isso significa que eu também serei sua, por uns tempos. — Emma estava se apaixonando por Alex. Não podia mais negar. Mas a idéia de que Alex também poderia se apaixonar por ela era absurda. Ele poderia ter qualquer mulher em Nova York, qualquer mulher no mundo. E ele gostava de mulheres glamourosas, sofisticadas, elegantes. Ele estava sendo correto agora porque, no fundo, era um cara decente. E parecia gostar dela. Às vezes, até demais. Mas ela não se deixaria iludir, não queria sofrer. Ambos sabiam que Alex não cairia de amores pela insossa Emma McKinley só porque estavam se casando. O coração ficou pesaroso quando se forçou a falar a verdade nua e crua. — Mas não finja que isto é mais que um negócio, como outro qualquer.
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Alex ficou em silêncio por um longo minuto; os olhos sombrios lembravam um mar revolto — indecifráveis. — Tudo bem — disse ele finalmente. — Eu pago a festa. Você vem morar na minha casa e vamos levar nossos laptops para a lua-de-mel. Emma ficou feliz. Disse o que precisava ter dito e esclareceu as coisas entre eles. Era a única maneira de seguir em frente. De verdade. Alex sabia que precisava recuar. Estava pressionando Emma demais. Estava indo rápido demais. Mas ansiava descobrir o que estava acontecendo entre eles. Para ser sincero, hoje, Emma seria a mulher que escolheria dentre todas as mulheres sobre a face da Terra; não importava o lugar ou o momento. E isso o deixava em pânico. Desde a noite em que fizeram amor, soube que ultrapassara a barreira dos assuntos estritamente comerciais. Alguma coisa estava acontecendo e precisava descobrir o que era. Precisava conversar com Emma. Mas ela não queria conversar com ele. pior ainda. Não queria conversar com ele a respeito dos dois. Os dois. Que idéia! Alex sacudiu a cabeça. Ele não conseguia imaginar a idéia de um "nós". Claro que gostava de Emma. Respeitava-a e, definitivamente, ela o excitava. Mas o que isto significava? Significava que deveria dar uma chance ao casamento? Ou que ele estava demasiadamente envolvido com toda aquela farsa? Olhou para a varanda onde Emma fitava o mar, o cabelo ao vento. Seu coração disparou ao vê-la. Alex tinha certeza de apenas uma coisa: não conseguiria entender o que estava acontecendo com ela por perto.
Recuar deveria ser uma boa idéia, ao menos em prol de sua sanidade mental. Já haviam atraído a atenção de toda a mídia. Do ponto de vista estritamente comercial, só faltava o casamento. Depois viria a lua-de-mel e eles estariam juntos. Talvez tudo começasse a fazer sentido. Se não, teriam bastante tempo para conversar. Afinal, Emma deixara bem claro que não fariam nada além disso.
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Depois que Philippe e a sra. Nash se uniram, os preparativos para o casamento engrenaram e Emma quase não tinha tempo de respirar. Sempre que podia, refugiava-se no trabalho. Era menos estressante que definir a música de fundo no momento em que diria o "sim". Eram muitos os afazeres e a sra. Nash preparara uma série de fichas orientando a rotina de Emma até o grande dia. Mas as fichas não a orientavam em relação a como se sentia diante de Alex. — É aqui que você vai morar? — perguntou Katie, quando a limusine entrou na propriedade de Alex. — Só nos finais de semana e apenas por alguns meses — respondeu Emma, com convicção. Nesta última semana, ela redefiniu suas prioridades. Mantinha o foco nos negócios. Alex não passava de um instrumento para se atingir um objetivo. Procurou não pensar nos dois juntos, fosse à mesa do café, na beira da piscina tomando um vinho, ou mesmo no quarto, em meio aos lençóis, abraçada ao corpo nu e ardente de Alex. — Posso visitar você de vez em quando? — perguntou Katie. — É claro — respondeu Emma, carinhosa. Mas Katie se referia apenas a ela. — E o David? — Tem trabalhado muito ultimamente. O trabalho de David estava interferindo na vida pessoal dele? — Ele trabalha para você — lembrou Emma. — Não se preocupe. Não é nada demais. Às vezes ele fica com os amigos no clube. — Está tudo bem? — perguntou Emma, preocupada. — Está tudo ótimo. Está tudo fantástico! Amanhã será o casamento do ano! Ande, mexa-se! Emma concordou. Podia fazer isso. Estava pronta.
O celular tocou. Era de Paris. Os negócios em primeiro lugar. Como devia ser.
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CAPITULO NOVE Alex ouvia o burburinho da casa com os preparativos. Todos estavam agitados. Apenas Emma parecia calma e serena ao passar pela fileira de retratos no corredor. O casamento era amanhã e ela conversava com alguém em Paris, conferindo detalhes de negócios. Ela riu de alguma coisa que disseram ao telefone e seu sorriso iluminou o ambiente. Alex tentava se lembrar quando foi a última vez em que sua casa irradiava tamanha felicidade. Talvez quando ele era criança. Talvez quando a mãe ainda era viva. O pai odiava festas mas sua mãe as planejava mesmo assim, às vezes para mais de cem convidados. Alex lembrava-se dos argumentos da mãe e de como o pai se irritava quando os convidados chegavam. Lembrava-se de ficar à espreita no alto da escada, observando as mulheres e os homens elegantemente vestidos, bebendo e conversando animadamente. Sua mãe era feliz naquelas noites. E a casa parecia viva, aconchegante. Como agora — com a presença de uma mulher. Sentiu um calor agradável percorrendo-lhe as entranhas ao pensar em Emma naquela casa por uns tempos. Ela sorriu para ele antes de falar alguma coisa em francês ao telefone. Emma falava francês e parecia inabalável no meio do caos. Talvez pudessem se divertir juntos. Não havia mal algum nisso. E bons contatos de ambas as partes só fariam bem aos negócios, O celular de Alex tocou. — Oi! Sou eu, o padrinho! — Oi, Nathaniel. Onde você está? — Acabei de chegar. Estou aqui nos fundos, na garagem. Você sabe que os repórteres estão circulando por toda parte, não sabe? Tem até helicóptero rondando por aqui. — Eles podem circular por onde quiserem. Escute, você viu uma pequena caminhonete branca aí na garagem? — Vi. O que tem ela? — É o "Bife Wellington" do Philippe. Preciso de ajuda para pegar.
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— Logo estarei aí — disse Nathaniel, desligando o telefone. — Sra. Nash! — chamou Alex. Emma tampou um dos ouvidos e dirigiu-se ao quarto. Alex atravessava o corredor quando quase foi atropelado por Katie. — Você pode me ajudar a enfiá-la na banheira, por favor! — Ela está ao telefone. Você viu a sra. Nash? — perguntou Alex encaminhando-se para a cozinha. — Eu sei que ela está ao telefone. Este é o problema! — Eu não posso fazer nada. Preciso... A cozinha estava um rebuliço, repleta de gente trabalhando, podia distinguir a voz da sra. Nash, dando ordens a um rapaz. — Alex! A cabeleireira vai chegar em menos de uma hora! — exclamou Katie. Alex saiu da cozinha. Foi atrás de Emma e arrancou-lhe o telefone das mãos. — Já para o banho! — ordenou ele. — Alex! — reclamou Emma. — Oi, primo! — cumprimentou Nathaniel. —Ah! Esta deve ser Emma — ronronou ele, tomando Katie pelas mãos. — Eu sou a Katie — corrigiu ela. — Claro! — respondeu Nathaniel, olhando de soslaio para o primo.
— Claro por quê? — indagou Katie. — Eu sou Emma. Alex sempre falou muito bem de você. Nathaniel beijou-lhe as mãos. — Você é mais bonita do que eu imaginava. E uma adorável mentirosa. — Claro por quê? — Katie repetiu a pergunta. — Espere a sua vez — retrucou Nathaniel, com um olhar cortante. — Como é que é? Nathaniel simplesmente a ignorou. — Você faria uma coisa por mim? — perguntou Emma, com doçura. — Faria qualquer coisa por você. — Diga para Alex devolver o meu celular. Alex segurou-lhe os ombros e virou-a na direção da escada
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— Hora do banho! — ordenou. Em seguida, voltou-se para o primo. — E você, tire as suas mãos da minha noiva. — Ela é uma graça — suspirou Nathaniel, voltando-se então para Katie. — O "claro" significa que eu já tinha ouvido falar de você. Katie quase perguntou de onde. Alex podia ver a pergunta estampada nos olhos dela. Mas para a frustração de Nathaniel ela não engoliu a isca. Ficou em absoluto silêncio; empertigou-se toda e subiu as escadas, de braços dados com a irmã. — Você está perdendo o jeito — comentou Alex. — Já sabemos que ela tem um péssimo gosto para homens.
— Você é quem sabe. Agora preciso de ajuda para trazer aqui para dentro a montanha de carne que o Philippe comprou.
Depois do ensaio para o casamento e do jantar no clube, Alex estava pensativo, recostado na varanda. Já passava da meia-noite. A casa estava às escuras, mas os jardins ainda estavam iluminados e algumas nuvens ocultavam a lua. — Nunca é tarde para desistir — disse Nathaniel oferecendo-lhe um copo de uísque. — Eu não vou desistir — respondeu Alex. Na pior das hipóteses faria um negócio de milhões de dólares. Na melhor das hipóteses... aceitou a bebida e sorveu um longo gole. Na melhor das hipóteses, Emma decidiria dar uma chance de verdade a eles. Alex pensara muito a respeito de toda a situação naquela última semana antes do casamento. Já sabia que havia algo entre eles que ultrapassara os limites dos negócios e até mesmo da amizade. Estava decidido a descobrir exatamente o que era durante a lua-de-mel. — A irmã é mais bonita — comentou Nathaniel. Alex lançou um olhar aborrecido ao primo. — Como é que é? — perguntou Alex. Nathaniel soltou uma gargalhada. — Emma é deslumbrante — afirmou Alex. — Por acaso você se apaixonou por ela? — Só estou dizendo o óbvio. — Que ela é deslumbrante? E Katie é a irmã sem sal?
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Alex tomou mais um gole. Ele algum dia dissera que Katie era a mais bonita? Ela sequer chegava aos pés da irmã. Emma era aquele tipo raro de mulher que fica mais bonita à medida que você a conhece melhor. Seu sorriso era inebriante, os olhos brilhavam quando estava feliz e faiscavam quando ela gargalhava. Emma possuía um brilho interior inigualável. — Katie é a irmã sem sal. Nathaniel ficou sério e tenso. — Você já se esqueceu que ela tem os motivos dela? — Katie? — Emma. — Eu sei perfeitamente quais são os motivos dela. — Ela estava fazendo exatamente o que prometera. Não havia segredos entre eles. — Eu só...
— Pode parar, Nate. — Só estou avisando. — Então pare de avisar. Minha mulher não está armando contra nós. — Todos estão armando contra nós. — Você é um paranóico. — Ela está casando com você pelo dinheiro. — Porque eu forcei. — Fique de olhos abertos! — E você vá cuidar de seus malditos negócios! Nathaniel balançou a cabeça e os lábios abriram-se num sorriso que Alex conhecia muito bem. — O que foi agora? — É irônico — comentou Nathaniel. Alex ficou em silêncio. — É irônico que você tenha se apaixonado por ela. — Eu não estou apaixonado! — zangou-se Alex. Tudo bem. Não havia porque negar. Ele se apaixonara por Emma, mas isso não afetou o seu discernimento. Pela primeira vez na vida, ele enxergava tudo com muita clareza.
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Estaria casando com Emma pela manhã e isto era a coisa certa a fazer.
Emma repetira para si mesma inúmeras vezes que aquele não era um casamento de verdade. Mas, de alguma forma, isto não diminuiu a dor que sentia pela ausência do pai. Casamento de verdade ou de conveniência, ele deveria estar lá para conduzi-la ao altar e tranqüilizá-la, mesmo que, lá no fundo, ela soubesse que nada mais seria como antes. O tempo ajudou. Sob o céu azul, sem nuvens, a banda começou a tocar a versão tradicional da Marcha Nupcial — ali tinha o dedo da sra. Nash, sem dúvida. Aquela era a dica para Katie entrar em cena, caminhando sobre o tapete azul escuro que dividia setecentas cadeiras forradas de branco. Nelas, acomodavam-se amigos sorridentes, parentes e parceiros comerciais. Fitas lilases pendiam das extremidades dos arranjos- florais, que esvoaçavam ao sabor da brisa. Emma mantinha os olhos fixos no vestido lilás de Katie, no mesmo estilo do vestido da década de 1920 do vestido de Emma, só que mais curto e mais simples. Mais uma prova cabal do poder de Alex, o vestido foi confeccionado por uma equipe de costureiras, em menos de uma semana, apenas para combinar com o de Emma. E ficar perfeito em Katie. As duas optaram por prender os cabelos no alto da cabeça. Emma não quis usar o véu tradicional. Preferiu uma tiara de diamantes para combinar com o vestido de cetim bege. Aproximava-se o momento de Emma entrar em cena. Em nenhum momento olhou para os convidados ou para Alex. Faltava-lhe coragem. Daria tudo no mundo para que o pai estivesse ao seu lado. Ao menos esperava que ele se orgulhasse do que ela estava fazendo. Quando chegou ao altar, os olhos estavam marejados de lembranças e remorsos. Soberbo em seu fraque, Alex tomou-lhe as mãos, encarando-a, o olhar inquisidor, perplexo. Emma forçou um sorriso. Estava tudo bem. Ela superaria este casamento e a vida voltaria ao normal. Ou quase. Deu-se inicio à cerimônia de casamento. Emma começou a ficar desconfortável à medida que o padre ia discorrendo sobre as obrigações e os deveres do casal. Será que Alex estava ouvindo o padre? Será que não dava para acabar logo com isso?
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Quando Alex começou a repetir os votos religiosos, o som da voz dele, profundo, gutural, penetrou em cada poro da sua pele. Sentiu um arrepio ao ouvi-lo prometer amá-la e honrá-la.
Nada daquilo era real. Repetira isso inúmeras vezes para si mesma. Mas ao repetir o juramento de amá-lo e honrá-lo, ao receber o anel em seu dedo, sentiu que algo mudara em seu íntimo. Agora tornara-se uma Garrison. Por pior ou melhor que fosse. A multidão urrou de alegria quando o sacerdote declarou-os marido e mulher. Alex inclinou-se para beijá-la. — Quero que fique registrado — sussurrou ele, tomando-lhe o rosto nas mãos e aproximando os lábios dos dela. — Eu me casei com a mais bonita. Alex a beijou com suavidade. Por um breve momento ao apoiar a cabeça no seu peito, sentir a força que emanava daqueles braços, inspirar o perfume daquela pele e ouvir o pulsar do coração dele, Emma deixou-se levar. Acreditou que poderia ser verdade. Foi então que ouviu os helicópteros e percebeu que tudo não passou de uma encenação para as lentes dos fotógrafos.
Terminada a cerimônia religiosa, dirigiram-se à varanda para receber os cumprimentos de embaixadores, celebridades e renomados empresários.
— Você esteve ótima — agradeceu Alex, umas duas horas depois, quando a festa reinava, soberana. — Tive vontade de subir na primeira mesa e confessar tudo — declarou Emma, sentindo-se cada vez mais culpada. — Eu não recomendaria tal atitude. — Com medo de que eu manchasse a reputação dos Garrison? — Com medo de que você convencesse seiscentas pessoas de que estava louca. E eu seria forçado a convencê-las de que você estava bêbada. A situação podia ficar feia. — Eu não bebi nada. Alex, você não se sente nem um pouco culpado? — Neste exato momento eu sinto... que isso não interessa a ninguém. — Mas você os convidou para o seu casamento. — Para comer e beber, não para julgar os meus atos. — Eles são seus amigos, sua família. — Você é a minha família a partir de agora.
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— Não diga isso — pediu Emma, sentindo um aperto no coração. Alex tomou-lhe as mãos e beijou-as. — Alex! Não! — A atuação dele fazia-a desejar coisas que nunca teria. — Emma, agora somos eu e você. E podemos tomar qualquer decisão que quisermos. Se fosse possível. Mas eles não estavam sozinhos. — E o que me diz da Katie? Do Ryan? Do Nathaniel? Alex suspirou. — Você vai sempre ser do contra? — Meu comportamento surpreende você? — Para isso existe o verbo "obedecer" nos votos de casamento — murmurou ele. — Aí estão vocês — exclamou a sra. Nash. — Vocês são aguardados na mesa principal. — Nathaniel escreveu um longo discurso — disse Alex. — Vai me chamar de sortudo e vai dizer que você é graciosa e linda. De repente, Emma lembrou-se das palavras de Alex "eu me casei com a mais bonita". O que ele queria dizer? Katie estava simplesmente adorável. Embora acompanhada de David, metade dos homens na festa não conseguia tirar os olhos dela — incluindo Nathaniel, que parecia aborrecido. — Você é linda — continuou Alex, com suavidade. — E eu sou um homem de sorte. Esta é a verdade, Emma. — Mas todas essas "verdades", como você as chama, são baseadas numa grande mentira. — Emma, Emma. Não me desaponte agora. Todos os discursos foram feitos. O bolo foi cortado, a comida estava deliciosa e Emma resistia bravamente.
Assim que começaram a tocar a primeira valsa, Alex tomou-a nos braços. — Está quase acabando — sussurrou ele, numa clara desculpa para tê-la só para si. Alex sabia que a única obrigação de Emma agora era jogar o buquê. Mas, para alegria dele, ela se amoldou ao seu corpo, acompanhando-o no ritmo da valsa que ele mesmo escolhera. Uma valsa curta, porém sugestiva, que falava sobre
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alguém colorir o mundo de outra pessoa. Era o que Emma fizera com o seu mundo, estivesse ele apaixonado ou não. Quase não ouvia as exclamações de admiração das pessoas ao redor. Mas cada fibra do seu corpo tinha consciência da mulher dócil e sensual que estava em seus braços. Beijou-lhe o cabelo com suavidade. E claro que daria uma ótima foto mas, para ser sincero, não premeditou aquele beijo. Estava impressionado com a graciosidade de Emma durante toda a cerimônia e já estava fazendo planos para que as duas empresas desenvolvessem, juntas, alguma atividade de cunho social. — Vamos passar a noite aqui? — Alex podia sentir o cansaço na voz dela. — Não. Vamos pegar um helicóptero direto para o aeroporto. — Tem um helicóptero no seu quintal à nossa espera? — perguntou ela, um sorriso sincero nos lábios. — Isso mesmo. — Tudo bem. Não vou reclamar. Não esta noite. Pode me mimar à vontade — Você merece. Emma ficou aliviada quando Katie e Nathaniel juntaram-se a eles na pista de dança. Alex percebeu que David estava furioso. O comportamento de Nathaniel era malicioso, mas David merecia. Onde já se viu se aproveitar da namorada para conseguir um belo emprego? — Posso? — perguntou Nathaniel, fazendo menção de tirar Emma dos braços de Alex para dançar com ela. Num impulso, Alex apertou Emma contra o seu corpo. Não queria parar de dançar com ela. Não queria entregá-la ao galanteador do Nathaniel. — Mas é claro — ele acabou cedendo. Trocaram de pares. Agora Alex dançava com Katie. — Bela festa! — Obrigado. — Alex, qual é a do seu primo inglês? — Como assim? — Ele faz muitas perguntas. — Ele fez perguntas sobre a Emma?
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Nathaniel estava flertando ou ainda achava que Emma era uma ameaça? E por que ela sorria tanto? — Está com ciúmes? — Não seja ridícula. Nathaniel não iria flertar com sua noiva. Ou iria? Será que arquitetara algum plano maquiavélico para provar que ela era uma oportunista? — Vocês dois são um caso sério. — O quê? — Vivem grudados. — Como é que é? — Você ouviu o que eu disse. Será que Emma contou à irmã que eles tinham feito amor? — Desista, Alex. Você não engana ninguém. O coração parecia querer saltar do peito. Katie sabia. Mas será que também sabia como ele se sentia? Nem ele sabia. — Você entende... O que aconteceu no navio... não foi nada demais. Katie recuou, confusa. — Mas o que aconteceu no navio?
Alex percebeu que ela não sabia e tentou consertar a bobagem que disse. — Nós... nós brigamos. — Grande novidade! Vocês vivem brigando. Alex, o que aconteceu naquele navio? — Nada. Mas já era tarde demais. Alex percebeu o exato momento em que Katie compreendeu tudo. — Minha nossa! —Não é o que... — E ela não me contou? Eu vou matá-la! — Não! Por favor, não diga nada. — Por que ela não me contou? — Por favor, Katie, ela teve um dia cheio. — Só existe um motivo para ela não ter me contado — murmurou Katie.
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— Porque ela se arrependeu do que fez — concluiu Alex. Emma estava com medo de que Alex pudesse machucá-la. Mas ela também poderia feri-lo. Eles teriam de se arriscar. Precisavam resolver esse assunto Sozinhos. — Não. Não foi por isso — retorquiu Katie. Alex começou a rodopiar pelo salão na direção de Emma. — Ah, não! Você não vai me empurrar para ele de novo! — Ele estava dançando com você. — Ele estava me crivando de perguntas. — Katie, por favor, não diga nada a Emma sobre o que aconteceu no navio. Foi um erro. Nós dois cometemos um erro. Katie chegou a esboçar uma resposta, mas calou-se. — Nate — chamou Alex. — Quer sua garota de volta? — Acho que já a perturbou o suficiente. — Por que não pergunta a ela? Mas Alex já tomara Emma de novo em seus braços, obrigando Nathaniel a voltar para Katie. —Ah! Minha doce Katie! Onde estávamos mesmo? — perguntou Nathaniel, rodopiando com ela pelo salão. — Poupe o seu tempo. Você não faz o meu tipo. Nem que fosse o último homem sobre a face da terra — resmungou Katie. Ela tentava manter distância de Nathaniel, mas, rodopiando pelo salão, ele a aconchegou em seus braços. — Você não devia fazer promessas que não consegue cumprir. — O que está acontecendo, afinal? — perguntou Emma, surpresa, para Alex. — Acho que o Nathaniel não gosta do David. — Você também não. — Não gosto de homens que se escondem na barra da saia de uma mulher. — Ele fez mestrado e é um gerente de projetos conceituado — respondeu Emma com um suspiro. — Então por que se esconde na barra da saia da Katie? Por que não corre atrás do seu próprio negócio?
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— Estou cansada demais para discutir o assunto. — Desculpe. — Alex! Você precisa ver isto! — O que foi? — Philippe está dançando com a sra. Nash. Era verdade. E estavam rindo. — Acho que finalmente encontraram algo em comum — comentou Alex. — Que bom. E então? Quando parte nosso vôo para Kayven? — Quando você quiser. — Você ainda não comprou as passagens? — Não preciso. Eu tenho um jatinho. — É claro. Você tem um jatinho. — Emma relaxou, fechou os olhos e aconchegou-se a Alex, do jeito que ele gostava. — Também não vou reclamar disso.
Alex roçou as mãos pelas costas de Emma. — Eu devo admitir que adoro sua atitude. — Mas não se acostume. Tudo que eu preciso é de uma boa noite de sono. CAPÍTULO DEZ Alex comportou-se como um perfeito cavalheiro durante toda a viagem para a ilha Kayven. Ceiaram em Los Angeles e, depois, Emma teve uma agradável noite de sono durante todo o percurso até a ilha. Kayven ficava em algum ponto entre o Havaí e as ilhas Fiji, com suas areias brancas e águas cristalinas coloridas por barcos à vela. O resort McKinley consistia de um prédio principal com quartos tradicionais, um anexo onde ficavam o saguão e o restaurante e vários bangalôs em meio à sombra das palmeiras. O bangalô de Emma e Alex ficava a três passos da praia. Logo descobriram que os palmpilots e os celulares não funcionavam. A internet só podia ser acessada do prédio principal e, mesmo assim, era muito intermitente.
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Diante das circunstâncias, após um lauto café-da-manhã, Alex decidiu que seria melhor esquecer os negócios e alugar um barco. Diante da brisa do mar e da atmosfera convidativa ao lazer e relaxamento, Emma aceitou o convite. Às dez da manhã, Emma estava de biquíni, navegando pelas águas do Pacífico, o cabelo solto ao vento e a brisa salgada do mar umedecendo a pele. — Golfinhos! — exclamou Alex. — Como você sabe que não são tubarões? — Vamos olhar mais de perto. — Não! — O que Alex sabia de tubarões e golfinhos? Assim como ela, ele também passara a vida inteira na cidade.
— Medrosa! — sorriu Alex. — Eu prezo as minhas pernas! — São golfinhos! — Sem querer ofender, você não é nenhum especialista no assunto. Alex corrigiu o curso do barco, acompanhando os rochedos que contornavam a costa. Após algumas instruções de como navegar, o homem que alugou o barco forneceu um mapa de uma praia própria para mergulho em uma das mais belas ilhas de recifes de coral. — Eu assisto ao Discovery Channel. — E eu desisto. — Você tem que aprender a confiar em mim. — Estou deixando você guiar o barco, não estou? Na volta, eu é que vou guiar. — Acho que não. — Ah, Alex, você tem de aprender a confiar em mim. — Você pode redecorar o primeiro andar. — O primeiro andar de onde? — Da minha casa. — Estamos redecorando a sua casa? Alex mantinha os olhos fixos nas ondas e ela teve de lutar para afastar o olhar lânguido daquele corpo molhado, bronzeado. O corpo de Alex era perfeito, o rosto era atraente. Com o cabelo revolto, ao sabor do vento, parecia menos intimidador do que em Nova York.
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Logo Emma percebeu que estavam passando o dia numa praia deserta, bem longe dos problemas da vida real. Tinha jurado, para ela e para Alex, que nunca mais fariam amor. Agora, questionava-se sobre aquela promessa, tentando entender por que era tão importante manter as mãos longe dele. — Eu pensei que fossemos redecorar antes da festa — disse Alex. Emma afastou os pensamentos oníricos da mente. — Que festa? — Pensei que uma festa oferecida pelas empresas Garrison-McKinley poderia ser uma boa idéia. Ryan vive dizendo que eu devo suavizar a minha imagem. — Você quer outra festa? Depois da de ontem? Ou foi antes de ontem? — Na verdade, poderia ser para o nosso casamento. — Não me confunda. — Eu não estou confundindo você. Perto de Kiribati, o fuso horário prega uma peça na gente. Você tem que atrasar o relógio. — Então, quer dizer que ainda não estamos casados. — Quer dizer que ainda temos tempo para uma última aventura. — Com quem? Alex ergueu as sobrancelhas. — Nem em sonho! — exclamou Emma. — Olhe! Estamos chegando! — disse Alex, vislumbrando a praia ao longe, cercada de rochedos. — Nossa! Acho que não estamos mais em Manhattan! — exclamou Emma. — Vamos esquecer os celulares por um dia. O mundo pode continuar girando sem a nossa presença. Emma sorriu, abandonando os últimos resquícios de culpa. Ancoraram o barco na praia. Sem a brisa do barco em movimento, o sol estava escaldante e a água, convidativa. — Quer nadar ou mergulhar? — perguntou Alex, lendo os pensamentos dela. — Qualquer coisa que me refresque. Nadaram e mergulharam horas a fio. A visão do fundo do mar com suas cores, conchas e pequenos seres viventes era inebriante.
Sede e fome acabaram por trazê-los à superfície. O sol já não estava mais a pino. Estenderam a toalha próxima a uma cachoeira, onde a temperatura era mais amena.
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Emma deitou-se e inspirou o perfume das flores tropicais Fechou os olhos e se concentrou no canto dos pássaros. Alex deitou-se de lado, a mão apoiando a cabeça. — Temos mesmo que voltar? — perguntou ela. — Não, não temos. — A voz de Alex era repleta de promessas. Emma virou-se de lado, apoiando a cabeça na mão para ficar frente a frente com Alex. — Mas vamos acabar morrendo de fome — reclamou ela. — Podemos sobreviver comendo peixes e cocos. — Você pesca? — Sou um cara versátil. — E como vamos cozinhar? — Posso pegar lenha na floresta. — E esfregar dois gravetos para fazer fogo — retrucou Emma, o pulso acelerado. — Se for necessário. Para ficar bilionário tive de encarar desafios. — Pensei que você tivesse se tomado um bilionário herdando um monte de dinheiro. Alex aproximou-se. — É. É verdade. Mas não deixo de ser um cara versátil. — O olhar de Alex pousou no espaço entre os seios de Emma. Foi o suficiente para despertar o desejo nela. —Alex. — Está tudo bem. — Seus dedos buscaram o laço da parte de cima do biquíni. O laço se desfez, expondo os mamilos intumescidos de Emma. Os olhos de Alex ensombreceram-se e ela pode sentir a sensualidade irradiando por todos os poros do corpo dele. Ele beijou-lhe os ombros. Os lábios umedecidos não aplacaram o calor da pele aquecida pelo sol. Emma sabia que precisava impedi-lo. Mas nem passava pela sua cabeça interromper um homem sexy numa ilha tropical, fazendo-a sentir-se a mais desejável das mulheres do mundo. Alex agora beijava-lhe os seios. Os dedos desciam pela cintura. Emma soltou um suspiro quando ele se deitou sobre ela, o cabelo negro bloqueando a luz do sol. — Eu quero você — disse ele. —Alex. Ele lhe beijou o canto da boca.
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— Está tudo bem. Já passa das três. Já estamos casados. Antes que Emma conseguisse esboçar um sorriso, os lábios de Alex colaram-se aos seus, com sofreguidão. Com uma das mãos, moldava o corpo dela contra o seu. Ela correspondeu ao beijo, acariciando-lhe o rosto com volúpia. Em completo desvario, ela lhe beijava o rosto, os ombros. Tudo o que queria era fundir os dois corpos em um. — A mais bonita — murmurou ele, o olhar faminto. — A irmã mais bonita... a mais sexy... a mais atraente. Sua entrada intempestiva em meu escritório foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Emma tentou compreender o que ele dizia entre beijos cada vez mais ardentes, mas as palavras não faziam sentido. Assim que Alex sorveu seus seios intumescidos, o mundo também deixou de fazer sentido. Alex. Seu marido. E ela estava completamente apaixonada. Ele brincava com seus seios, beijando-os, sugando-os, mordicando-os. Ela precisava senti-lo. Precisava tocá-lo. Precisava saber se ele sentia ao menos metade do prazer que ela estava sentindo. Explorou o corpo dele. De ponta a cabeça. Gemeu de prazer. Mesmo de olhos fechados conseguia enxergar uma miríade de cores, fruto da sensação única que Alex imprimia em seu corpo. Emma ardia de paixão. E desejava Alex por inteiro. Agora. Ele recuou.
— Você tem certeza? — Tenho. Eu tenho certeza. Eu quero você por inteiro. Mais do que tudo. — Agora? — Agora. — Emma não conseguia esperar nem mais um segundo. Alex ficou sério. O cabelo revolto, os olhos incandescentes fixos nela. Parecia um deus saído das profundezas do mar para explorar e conquistar as profundezas do corpo dela. A paixão mais primitiva arrebatou os dois. Explodiram em movimentos frenéticos, mãos entrelaçadas, bocas coladas, línguas revoltas num bale digno dos deuses mais exigentes.
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Os pássaros entoavam cânticos, os respingos da cachoeira aplacavam apenas um pouco a febre que queimava suas almas. Agora, o movimento dos corpos acompanhava o ritmo das ondas que batiam na areia, ora com força, ora mais suave. Então o mundo pareceu silenciar. O sol desapareceu, os pássaros emudeceram. E Emma gritou o nome de Alex e ele também se entregou, num urro de prazer. Eram um só corpo, uma só alma, completamente entregues à paixão que os consumia. Quando retornaram ao bangalô, a ilha estava salpicada de nuvens carregadas, embora de um tom cor-de-rosa, conferido pelo crepúsculo. A tempestade aproximava-se e pegou-os no restaurante, os pingos grossos ressoando no telhado. Feliz pela brisa fresca, Emma acomodou-se à mesa de jantar. As lamparinas sobre a mesa assemelhavam-se à cor do sol que desaparecia no horizonte. Emma observava o reflexo da lâmpada sobre o rosto de Alex. Mal conseguia acreditar que haviam consumado o casamento. — No que está pensando? — perguntou Alex. — Que me casei com o homem mais atraente desta sala. — Certo. Só que a maioria dos homens nesta sala já passou dos sessenta. Peter, o gerente do restaurante, aproximou-se e fez as honras da casa. — Champanhe? — perguntou Alex. — Para nossa noite de núpcias? — retorquiu ela, o sorriso dos apaixonados nos lábios. —Ainda era sábado e pela expressão nos olhos dele, a noite seria maravilhosa. Alex segurou-lhe as mãos sobre a mesa e deu um longo suspiro. — E então? Você quer conversar a respeito? Ou quer apenas se deixar levar pelo sabor do momento? Emma sentiu o calor do toque de Alex penetrar-lhe a pele. — Quer falar sobre o champanhe? — Não. Não quero falar sobre o champanhe. — Deixe-me ver... Sobre o cardápio? — Também não. — Que tal sobre a sua falta de habilidade para atracar um barco? Sabia que quase matou as pessoas de susto? Alex ficou em silêncio.
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— Pelo tom da conversa, pressuponho que você quer apenas se deixar levar — comentou, sério. Suas palavras a fizeram tremer. Ela se inclinou. — Eu mesma não sei — sussurrou. Alex pressionou-lhe os dedos de leve. — Mas eu sei — respondeu, com doçura. O pânico tomou conta de Emma. — Não... por favor... — Tudo bem. Não esta noite. Peter retornou. Veio apresentar-lhes Olivier, o chef de cuisine. — A senhora está com frio? Quer que feche as cortinas? — indagou Peter, solícito.
— Não, está ótimo assim — respondeu Emma. Havia uma beleza selvagem naquela chuva torrencial, nos trovões ao longe, no balouçar das palmeiras. Uma forte tempestade formava-se sobre o Pacífico e também em seu íntimo. As duas eram assustadoras, imprevisíveis e, ao mesmo tempo, sublimes.
CAPITULO ONZE — Eu quero dizer — sussurrou Alex, virando-se de lado e apoiando o cotovelo sobre a cama. — Você não pode — respondeu Emma, o corpo cor de mel reluzente ainda mais luminoso entre o branco dos lençóis. — Mas eu quero — insistiu ele. Alex finalmente percebera que estava loucamente apaixonado por ela. Emma pousou os dedos sobre os lábios dele. — Você prometeu. Alex beijou-lhe os dedos com sofreguidão. — Aposto que consigo fazer com que você diga... Emma meneou a cabeça dizendo que não, mas ele sabia que podia. Os beijos, as carícias, os sussurros ao pé do ouvido. Ele sabia que todos os segredos de Emma seriam dele. Não se tratava de ego. Era algo muito mais simples.
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Acariciou-lhe as pernas até chegar às coxas. — Não — implorou ela. Alex sorriu. — Diga para mim. — Assim não vale. — Vale tudo no... — Alex! Ele lhe beijou a ponta do nariz. — Só estou provocando você. — Eu não gosto — reclamou ela. — É claro que gosta. Pelo menos me dê esse prazer. Emma sorriu. Um meio sorriso, relutante. O telefone na cabeceira tocou. — Que horas são? — gemeu Emma, diante do som estridente. — Quase uma da manha — respondeu Alex, atendendo a ligação. — Onde você se meteu? — Era a voz de Nathaniel do outro lado da linha. — Na praia, jantando... Por quê? — Porque você está a ponto de perder um bilhão de dólares. Só isso. Alex sentou-se, todos os sentidos alertas. — O que aconteceu? Onde você está? — O que aconteceu? David. E eu ainda estou em Nova York. — David? Emma também se empertigou. — O que tem o David? Katie está bem? Alex pediu que Emma ficasse em silêncio. Precisava ouvir o que Nathaniel tinha a dizer. —Aquele cretino miserável do David está tentando vender o resort da ilha Kayven. — Como é que é? —Alex, por favor, me diga que você é o diretor das empresas McKinley, que a papelada está em ordem, que Emma e Katie não detêm mais o controle das empresas. Alex fixou os olhos em Emma. — O que está acontecendo? — perguntou Emma. — Alex? — questionou Nathaniel.
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— Os advogados estão cuidando disso. — Você está me dizendo que ainda não assinou nada? — Só a autorização para o empréstimo. — Essa não!
—Afinal, Nate, dá para me dizer o que está acontecendo? — Cranston tem uma procuração assinada pelas duas irmãs. Aquilo não fazia sentido. — Espere um pouco — pediu Alex, pousando a mão sobre o fone. Emma olhava-o num misto de impaciência e confusão. Alex manteve-se calmo. Tinha de ser algum engano, ou, talvez, uma fraude. — Nathaniel está dizendo que David Cranston tem uma procuração. — Para fazer o quê? — Você assinou algum documento para ele? — Não — respondeu ela de imediato. — Espere, teve uma coisa. Uma autorização para reformar a pousada em Knaresborough. Nada de importante. Alex voltou a falar com o primo. — Emma me disse que tudo que o cara pode fazer é reformar uma pousada. — Não é uma reforma. Não tem pousada alguma. Ele tem uma autorização para vender toda e qualquer propriedade delas. Está tentando fazer negócio com Murdoch. E está pedindo uma comissão exorbitante. — Como é que você sabe... não, deixe para lá. — Alex virou-se para Emma. — Você leu o documento com atenção? Emma arregalou os olhos. Estava completamente lívida. — Você leu o que assinou? — Nós já tínhamos conversado a respeito. — As mãos retorciam-se sobre os lençóis. — E com o casamento e todas as coisas... ah, eu assinei tantos papéis. Alex deixou escapar um palavrão. — É isso ai. Acho que agora você entendeu — comentou Nathaniel do outro lado da linha. — Trate de vir para cá imediatamente. Alex olhou a tempestade que castigava a ilha. — Você consegue protelar a situação?
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— Eu já fiz o maior rebuliço com os advogados dele. Declarei conflito de interesses e ele acabou tendo que procurar novos advogados. Você não faz idéia do que isto me custou. — Você falou com Katie? — É claro que falei. — Ela não pode resolver a situação? — Não. Ela precisa da Emma. Alex fechou os olhos. Desejou que a tempestade cessasse. — Estaremos aí assim que for possível. — Venham agora. — O telefone ficou mudo. — Alex? — sussurrou Ema. Não havia uma maneira fácil de contar. — David está tentando vender este resort. — Por quê? Alex sentiu cada centímetro do corpo se retesar. Por quê? Porque o valor deste resort vai dobrar de preço. Você me perdoa por ter esquecido de comentar com você antes de nos casarmos? Emma entendera as palavras. "Tentando vender a ilha Kayven." Não conseguia entender o significado. David estava reformando a pousada em Knaresborough. E até onde sabia, não tinha nada a ver com a propriedade na ilha. — Por que ele faria isso? — perguntou-se Emma. Sabia que alguma coisa estava errada, só não sabia o quê. — Para conseguir uma comissão substancial do Murdoch. Porque Katie não... — Você falou Murdoch? — indagou Emma, pulando da cama e enfiando-se num roupão. Os olhos de Alex estavam duros como rocha. — Murdoch chantageou David para conseguir comprar a ilha Kayven. — Ele a cobiçava tanto assim? — Emma sabia que era uma resort aprazível, mas atendia apenas a um pequeno nicho do mercado. As diárias eram altas, e a taxa de
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ocupação costumava ser baixa na maior parte do ano. Ninguém que o comprasse ficaria rico da noite para o dia. — Temos de ir para o aeroporto — disse Alex, nervoso, pegando uma muda de roupas no armário. — Com esse tempo? — Não vai chover o tempo inteiro. Assim que a chuva der uma trégua, levantamos vôo. — Mas o que Nathaniel disse? — perguntou Emma, vestindo-se. — Exatamente o que eu contei a você. — Você não me contou nada. — David enganou você e Katie, fazendo-as assinar uma procuração que lhe concedia poderes para vender a ilha. Nathaniel está tentando detê-lo, mas precisamos voltar para Nova York — respondeu Alex, evitando olhá-la nos olhos. — E o que você não está me contando? O negócio se concretizou? — Não. — Tudo bem, porque não seria o fim do mundo. Desde que David consiga vender por um bom preço. Alex ficou estupefato. — Seu funcionário, namorado da sua irmã, tenta passar a perna em vocês e você me diz que está tudo bem desde que ele consiga um bom preço? — Alex, por que você está agindo de forma tão esquisita? — Eu não estou agindo de forma esquisita. Estou agindo de forma normal. Antes, sim, eu agi de forma esquisita. As palavras de Alex atingiram-na em cheio. O que estava acontecendo? Aquele Alex doce e gentil era uma ilusão? Estava furioso só porque achava que ela cometera um engano? E Katie? Katie devia estar arrasada. Emma correu para o telefone. Alex arrancou-o de suas mãos. — Preciso falar com a Katie — Você não pode fazer isso. Precisamos conversar antes que você fale com Katie. — O que está acontecendo afinal, Alex? Ela está ferida? — Não. Katie está bem. Está com Nathaniel e ele vai tomar conta dela. Mas existe um detalhe sobre a ilha Kayven que você desconhece.
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— Katie está em algum tipo de enrascada? — Emma! Deixe-me falar! O governo local da ilha está construindo um ancoradouro para que navios de grande porte possam atracar na ilha. — Na ilha? Certo. E daí? — É por isso que Murdoch quer o resort e está chantageando David. — Porque o valor do resort vai... Alex! — Eu sei. Eu confesso. Eu também queria esta ilha. Emma ficou chocada. — E você escondeu isso de mim? — Escondi. — Você... você... eu poderia ter vendido a ilha para o Murdoch... e não precisaria me casar com você... Alex assentiu com a cabeça. — E você não me contou? — gritou ela, furiosa, contendo-se para não agredi-lo. — Negócios. — Negócios? — Eu sabia e fiz o que achava melhor para a minha empresa. De repente, Emma sentiu-se exausta. É claro que Alex fizera o que achava ser o melhor para a empresa dele. Ele nunca disse que agiria de outra forma. Chegou, inclusive, a sugerir que ela fizesse o mesmo. E ela pensou que estivesse agindo da melhor forma. Mas Alex a ludibriou desde o início. — E como você ousa criticar o David? — ela o desafiou. Alex trincou os dentes.
— Eu não sou como o David. Ele não passa de um trapaceiro aproveitador! — Claro! Olhe só para o que ele fez. Aproximou-se de Katie só para lhe roubar a ilha Kayven. E foi abominável da parte dele, não foi?
Sentia-se uma tola. Poderia estar presa a Alex pelo casamento, mas não era obrigada a dirigir-lhe uma única palavra. Nunca mais.
Emma forçou-se a esquecer seus problemas com Alex assim que chegou ao escritório e encontrou a irmã, transtornada. Alex e Nathaniel conversavam em voz baixa num canto da sala.
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— Eu estraguei tudo — soluçava Katie. — Você não teve culpa. Seu único erro foi confiar demais. Fomos enganadas por mentirosos e trapaceiros. — Eu devia ter imaginado... — Imaginado o quê? Imaginado que um homem que faz amor com você é capaz de apunhalá-la pelas costas? — Este também fora o erro de Emma. Mas ela aprendera a lição. Alex olhara para Emma de relance, a expressão neutra. Ela sequer sabia se ele ouvira suas palavras ou se elas teriam algum significado para ele, afinal. — O que importa agora é consertar o que foi feito — tranqüilizou-a Emma. — Temos de assinar uma revogação. Os advogados... — Os advogados já fizeram um esboço e nos aguardam na outra sala — interrompeu Alex. — E depois? — perguntou Emma a Nathaniel, recusando-se a sequer olhar para Alex. — Depois fazemos cópias autenticadas e mandamos um oficial de justiça entregar no escritório de Murdoch e Cranston logo pela manhã. — Isto resolve o problema? — Resolve. Emma virou-se para Katie. — Viu? Tudo vai ficar bem — disse Emma, confortando a irmã. O rosto de Katie estava convulsionado pelas lágrimas silenciosas que escorriam pelo seu rosto. Agora que o pior passara, Emma fez um gesto para que Alex e Nathaniel as deixassem a sós. — Eu sou uma idiota — resmungou Katie. — Você não é uma idiota. Emma cometera um erro muito maior. O erro de Katie podia ser sanado. Já o de Emma era irremediável. Logo Alex seria dono de metade das empresas e nada podia ser feito. — Se não fosse pelo Nathaniel, teríamos perdido milhões de dólares — comentou Katie. — Se não fosse por mim, agora teríamos milhões de dólares. — Você fez um acordo, Emma. Negócios.
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— Você está defendendo o Alex? — Ele podia ter cobrado a dívida e aí teria sido o nosso fim. — Ou ele poderia ter sido honesto. — Mas ele foi honesto. Ele nos deu uma opção e optamos pela fusão das empresas. Uma fusão de empresas. Era assim que Katie encarava a situação? Claro. Katie não sabia sobre a ilha Kayve. Katie não sabia que Alex tentara selar o acordo fingindo estar apaixonado por ela. Katie não sabia que ele convencera sua noiva de conveniência a fazer sexo com ele antes de fisgar o resort da ilha Kayve por meio milhão de dólares. Alex Garrison apaixonado por Emma McKinley. Há dois meses, ela sequer cogitara esta idéia. Nos últimos dias, não só pensara a respeito como chegara a acreditar que fosse verdade. Naquela praia longínqua, acreditara no amor de Alex com todas as suas forças. E entregou seu coração a ele. O mesmo coração que ele acabara de despedaçar.
Ele queria o hotel. Emma foi ingênua o suficiente para entregar-lhe o hotel e muito mais numa bandeja de prata. — Como você vai acreditar de novo na minha opinião, no meu julgamento? — perguntou Katie, consternada. Mas era o julgamento de Emma que necessitava de uma profunda reflexão. Alex entrou na sala. — Emma, vocês precisam assinar os documentos. — Está pronta? — ela perguntou a Katie. — Estou. Em seu escritório às oito e meia da manhã, Alex aguardava, ansioso, pelo oficial de justiça. — Que se dane — resmungou para Ryan, sentado do outro lado da mesa. — O que foi agora? Alex segurou o envelope pardo. — Eu mesmo vou entregar. — Não acho uma boa idéia.
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— Por que não? — Alex não agüentava mais esperar e, pelo menos, sabia que faria a coisa certa. — Porque não queremos gastar dinheiro com nossos advogados para livrá-lo de acusações de lesão corporal. — David nem vai estar presente. — Mas o Murdoch vai. — Murdoch é muito velho para se defender. — Este é o problema. —Até parece que vou agredir um velho — resmungou Alex. — Mas ele adoraria olhar para a cara de Murdoch quando apresentasse os documentos que anulariam o que ele fizera. As negociações já estavam bem avançadas, David detinha o poder legal para conduzi-las. Desistir agora seria muito perigoso. Segundo a orientação dos advogados, a empresa de Alex deveria oferecer uma contra-oferta tão exorbitante que forçaria Murdoch a recuar. Uma contra-oferta rápida e irrecusável, com Alex à frente. O primeiro passo para anular aquela procuração. — Vocês não têm nada para negociar. Nem nada a conversar — advertiu Ryan. — Eu só quero olhar para a cara dele. Eu disse, a ele que eu era o contato. Ele me ignorou. Agora é pessoal. — Tem certeza de que não é por causa da Emma? Aliás, como foi a lua-de-mel? — Breve. — Você sumiu ontem. — Os celulares ficaram fora de área — respondeu Alex, colocando o envelope na pasta. — Não atendeu nem no hotel. — Estávamos ocupados. — Correu tudo bem? — Acho a pergunta irrelevante agora que ela já sabe sobre Kayven. — É. Suponho que sim. Alex estava se esforçando ao máximo para não pensar no assunto. É óbvio que Emma estava aborrecida. Mas iria se recuperar. E ele conseguiu o que queria. Conseguiu tudo o que queria: o casamento e o percentual de cinqüenta por cento
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nos negócios da família McKinley. Agora iria resgatar a jóia da coroa e dar o troco ao rival desprezível. — Você está bem? — perguntou Emma, acariciando o cabelo da irmã. Katie estava sentada de frente para a janela da cobertura, o olhar perdido no horizonte. — E você? — retorquiu Katie. Elas passaram boa parte da noite conversando e agora Katie sabia tudo sobre Alex e a lua-de-mel. Emma sentou-se ao lado da irmã. — O corpo está dolorido, mas acho que é mais pelo constrangimento do que por qualquer outra coisa. — Emma fechou os olhos e suspirou. Alex, Nathaniel e Ryan deveriam estar rindo muito dela. Ela caiu feito uma boba na armadilha deles. —Acho que ficaram com medo que eu desistisse. Pensando agora em tudo o que aconteceu, Emma percebeu que começou a baixar a guarda em relação ao casamento quando Alex começou a se comportar como se gostasse dela. Ele deve ter percebido logo que ela era uma mulher carente e solitária, ansiosa para se apaixonar por alguém. E usou essa carência para controlá-la. Quem pode garantir que ele queria fazer amor com ela? Talvez apenas tenha imaginado que ela queria isso. E Alex faria qualquer coisa para selar o acordo. A mais bonita. Ele chegou até a insinuar que ela era mais bonita que Katie. E o que é pior: Emma começou a acreditar que era verdade. Alex ganhara seus milhões só desempenhando um papel. — Vai dar tudo certo, você vai ver. — Katie tentava consolar a irmã, mas as palavras eram muito pouco convincentes. — Eu não posso pedir o divórcio. Perderia uma fortuna. — Então vamos embora daqui. Vamos tirar umas férias bem longas. Emma assentiu com a cabeça. Prometera viver com Alex e circular de braços dados com ele, como se fosse seu mais novo troféu. Mas nada por escrito a obrigava a fazer isso. Alex teria de viver sem ela. Emma só esperava que ela também pudesse viver sem ele. Apesar da resistência inicial, começara a gostar da vida que ele inventara para os dois. Começara a ansiar pela
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tal festa idiota para comemorar a fusão das duas empresas. E redecorar a casa de Alex. Seria engraçado, mesmo que fosse passageiro. Uma lágrima escorreu pelo rosto. A quem ela estava tentando enganar? Há muito tempo já deixara de pensar na relação dos dois como uma coisa passageira — em algum lugar daquela longínqua praia paradisíaca na ilha de Kayven, em algum momento quando Alex fingiu amá-la e ela percebeu que pelo menos ela o amava. Seu corpo estremeceu num pranto silencioso. Katie envolveu-a em seus braços. — Ah, Emma. Tudo vai ficar bem.
Mas Emma sabia que nada ia ficar bem. Talvez nunca mais.
CAPÍTULO DOZE Alex estava decidido a fazer a coisa certa. E estava decidido a fazer com que Clive Murdoch se arrependesse amargamente de ter cruzado o seu caminho. Jogou o documento sobre a mesa de Murdoch. — O que é isto? — perguntou Murdoch. — Nossa contra-oferta. Murdoch franziu o cenho. Alex acomodou-se numa das cadeiras. — Para você ficar logo a par do que está acontecendo, a procuração de David Cranston para negociar em nome das McKinley foi anulada. Murdoch ficou vermelho. — Mas... — Ele tem sorte de não ter sido preso. E você tem sorte... — A procuração era perfeitamente legal. — Era. Agora, é comigo que você vai negociar. — Nós já havíamos acordado o valor. — É verdade. E pretendo manter o valor, desde que concorde com o pedido da irmãs McKinley de uma contribuição no mesmo valor acordado sob a forma de bens e serviços. Murdoch leu o documento e arregalou os olhos. De vermelho ele ficou roxo.
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Por um momento, Alex pensou que Murdoch teria um ataque cardíaco. — Elas querem contratar os funcionários? — Para todas as propriedades, ad eternun. — Mas isto... — É perfeitamente legal. É claro que você pode recusar a oferta. Demorou alguns segundos para Murdoch se recompor e recuperar a fala. — Isto é ultrajante! — Negócio é negócio. Eu avisei que era para lidar comigo. Apenas comigo. E mais ainda, eu avisei que nenhuma propriedade das McKinley estava à venda. — Porque queria tudo para você. — É verdade — respondeu Alex. — E eu consegui. — Mas a situação mudara. Os lábios de Murdoch contorceram-se num esgar. — Realmente espero que o golpe de misericórdia tenha valido a pena. Na mesma hora, Alex saltou da cadeira e agarrou Murdoch pelo colarinho. — Não ouse, jamais... — Está tentando me convencer de que há algo mais além de uma proveitosa posse de propriedade? Poupe suas energias, Garrison. Nós dois sabemos que este acordo só favorece a uma pessoa: você. E você extorquiu a moça de várias maneiras. Alex cerrou os punhos. Nada lhe daria mais prazer que socar a cara de Murdoch. O problema é que ele estava certo. Alex extorquiu Emma de todas as formas possíveis. Ele a usou e mentiu para ela. E o que ele ganhou? Uma propriedade de meio bilhão de dólares, um contrato pré-nupcial ridículo que a forçava a conviver com um homem que ela provavelmente odiava, além da metade das empresas, quando ela podia ter sanado suas dívidas se ele apenas tivesse sido um pouco mais honesto. Ele ganhou o que se proporá a ganhar. Mas acabou perdendo muito mais no decorrer do processo. Lentamente, soltou Murdoch e afundou na cadeira. Qual era a diferença afinal entre ele e Murdoch ou entre ele e David nesta questão? Se Alex pudesse voltar atrás, contaria tudo a Emma sobre a ilha Kayven, esperaria ela vendê-la e então a cortejaria, sem nenhum tipo de vínculo comercial. Ele quase gargalhava diante de tal absurdo.
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Queria Emma mais do que a ilha, mais do que o dinheiro, mais do que qualquer coisa no mundo. Tudo que queria era que Emma redecorasse sua casa para que pudessem oferecer várias festas e encher aquele mausoléu de vida e alegria. Ele não podia ter o que desejava. Não mais. Mas não precisava prejudicar Emma. Respirou fundo. — Eu vendo a ilha para você. — Não nos termos deste documento. — Eu vendo pelo dobro do preço que você acertou com David, sem imposições. Só vou falar uma vez. E pegar ou largar. Ele daria o dinheiro a Emma e devolveria suas empresas. Com o dinheiro, ela quitaria todas as dívidas. Já os sócios de Alex... Bem, seus sócios teriam de aprender a conviver com o fato. O pior que podiam fazer era se rebelarem e o afastarem da presidência da empresa. E se fizessem isto, Alex poderia conviver com a situação. Desde que agisse corretamente com Emma. Após dois dias e algumas barras de nozes carameladas, Emma resolveu que já era hora de parar de sofrer. Ela perdera. Alex ganhara. E o mundo continuava a girar, para o bem ou para o mal. Pelo menos ainda detinha metade das empresas. Ela e Katie ainda poderiam trabalhar muito para conseguir comprar de Alex a outra metade. Algum dia. De alguma forma. Por enquanto, ele era seu sócio. Nada mais. Não pediria o divórcio, mas não iria morar com ele. Se quisesse falar com ela, poderia encontrá-la no escritório. Suas portas estavam sempre abertas para todos os seus associados. Um associado. É. Ela gostava daquela palavra. Na verdade, quase ansiava revê-lo. Queria que soubesse que ela havia superado a situação, se reerguera, aprendera a lição e tocava a vida. Katie apareceu à porta do quarto. — Acabou de chegar para você — disse ela, entregando-lhe um envelope. — Lá de baixo? — perguntou Emma. Já era hora de voltar ao trabalho.
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— Entrega expressa do outro lado da cidade — respondeu Katie. Emma pegou o envelope. Era da empresa de Alex Garrison. Emma recusou-se a se deixar abalar. Dali para a frente haveria muita correspondência a ser trocada entre ela e Alex. Podia dar conta do recado. — O que é? — perguntou Katie vendo o olhar da irmã fixo na correspondência. Emma mal podia acreditar. — Ele vendeu a ilha Kayven. — O quê? — Alex vendeu a ilha Kayven para Murdoch. — Pensei que tudo girasse em torno de não vender essa ilha para Murdoch. Por quanto ele... Minha nossa! — exclamou Katie ao ver o valor da transação. Katie tentou ler o documento, mas as mãos de Emma tremiam. — Ele está devolvendo o dinheiro? — perguntou. — Ele diz aqui que devemos usar o dinheiro de Murdoch para quitar as dívidas e ficar com o resto. Tudo. Ele devolveu a parte dele, livre e desimpedida. —Alex também está tornando sem efeito o contrato pré-nupcial — disse Katie, lendo o resto da correspondência. — O que ele quer dizer com redecorar a casa dele? — É uma piada. Quando estávamos lá na ilha, só nós dois... Quando estavam na ilha, só os dois, todos os sonhos de Emma estavam se tomando realidade. Ela ousou ter esperanças. Agora, o olhar fixo no documento, na carta, atormentava-se com o pensamento de dar-lhe uma segunda chance. Alex seria mesmo doce, agradável, sexy? Ou apenas uma fraude, um ser desprezível que só queria enganá-la? Qual dos dois escrevera aquela carta? Como poderia saber? — Você sabe o que isto significa? — perguntou Katie. — Significa que recuperamos nossa empresa. — Significa que ele quer que você redecore a casa dele. — Foi apenas uma piada. — Emma precisava ser racional. Tinha de manter o controle. — Uma piada? Um cara que desiste de todo esse dinheiro não faz piadas por fazer, Emma. Ele quer você. Eu acho que ele a ama. — Então por que anulou o contrato pré-nupcial? Sem o contrato eu posso me divorciar dele. Ele quer o divórcio.
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— Ele quer você e quer que você o queira também. Por livre e espontânea vontade. Ele devolveu o dinheiro e a sua liberdade, mas ao mesmo tempo fala em redecorar a casa dele? Emma, acorde! Emma sentiu a boca seca e o coração acelerado. Será que Katie estava certa? E ela teria coragem para descobrir? — Procure por ele. Agradeça. E, pelo amor de Deus, faça logo essa redecoração. Agora! Era tudo o que Emma queria. Mas e se Katie estivesse errada? — Você acha mesmo? — Mexa-se! Eu vou ao banco. — Katie olhou de novo o valor. — Minha nossa! Emma passou pela imensa porta de carvalho e caminhou em direção ao vestíbulo. — Sra. Garrison. Que bom revê-la! — Digo o mesmo, sra. Nash. Alex está? Caso estivesse enganada, Emma já resolvera que faria de conta que tudo não passava de uma grande piada. Fingiria que passara apenas para agradecer a gentileza. Sem ressentimentos. Sem mágoas. — Ele está lá fora. A senhorita já almoçou? Posso providenciar uns sanduíches e uma bebida. Philippe prepara um... — Philippe está aqui? A sra. Nash sorriu e ficou ligeiramente corada. — Ah, não. No momento, não. Apesar de tudo, Emma também sorriu. — Seria correto afirmar que ele está ansioso para ajudar nas próximas festas? — Acho que sim. Tudo bem. Pelo menos um final feliz. Emma atravessou o corredor, passando pelos retratos da família. Sentia o coração apertado e o pulso acelerado. Tomara que Katie esteja certa. Passou pela sala de jantar e encaminhou-se para o deque, descendo as escadas em direção à piscina. Alex estava lendo. Ergueu os olhos assim que ouviu passos. — Emma — exclamou, levantando-se.
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Ela caminhou lentamente até ele. Não sabia mais o que dizer. Toda a coragem desvanecera-se. — Oi, Alex. Enquanto estavam ali parados, olhando um para o outro, podia sentir a brisa do mar roçando na pele e o farfalhar das folhas ao vento. — Você recebeu minha carta? — Recebi. Obrigada. — Negócios. Você sabe. Emma sentiu o coração partido, as mãos suadas. Alex não ia admitir que era uma piada. A conversa seria constrangedora. — Eu sei. — Nada pessoal. — Claro que não.
— Eu sei o que é melhor para mim, você sabe o que é melhor para você e eu fiz o melhor negócio possível para a minha empresa. Emma sentia-se uma tola em pensar... — Se é o que você diz... — Não havia motivos para contar toda a verdade. — Alex soltou uma sonora gargalhada. — Um cara não vai muito longe se conta seus segredos para a concorrência, não é mesmo? — É verdade. — Emma só queria sair correndo dali. — Bem, eu só... — Mas então... — A voz de Alex ficou mais suave; o olhar, meigo. — Então eu a pedi em casamento. E talvez... talvez tenha sido a partir daí que as regras mudaram. Emma estava paralisada. — E então eu me casei com você. E isso definitivamente mudou as regras. E aí... —Alex tomou a mão esquerda de Emma nas suas, acariciando o diamante Tudor. — Eu me apaixonei por você e perdi todo e qualquer direito de tratá-la como um simples concorrente. O farfalhar das folhas cessou. O mundo ficou em silêncio. — Emma? Ela sorria. Tudo ia ficar bem. De verdade. — Você se apaixonou por mim?
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— É. Eu me apaixonei por você. O que você acha que eu quis dizer com essas palavras? — Que você se apaixonou por mim. — Isso mesmo. — Ou que suas palavras podem ser apenas parte do jogo. — Ela precisava admitir que tal pensamento cruzara a sua mente. — Você achou que o que vivemos na praia foi um jogo? — Não. Na praia, não. Na praia ela acreditou nele, ela ousou acreditar que estavam começando uma maravilhosa vida a dois. Como agora. — O que vivemos na praia foi de verdade — sussurrou Alex. — Foi o momento mais real de toda a minha vida. Emma sentira o mesmo. Sentiu os olhos marejados. — Eu amo você, Emma. Alex a amava. — E então? — perguntou ele. — O quê? — Será que vou ter que obrigá-la a dizer? — Vai sim — respondeu ela, um sorriso malicioso nos lábios. — Mais tarde — sussurrou ele, apontando para a sra. Nash e várias pessoas atrás dela. — O que significa... — Espero que a sra. Nash não tenha nada contra decoradores italianos — interrompeu Emma, enquanto um bando de gente se acercava das mesas em volta da piscina. Um leve sorriso transparecia na voz de Alex. — Estamos redecorando a casa? — Eu resolvi arriscar — admitiu ela. — E mencionei o seu nome. Eles trouxeram amostras de pisos e de tecidos. — Neste caso, você não precisa dizer o que eu queria ouvir. — Por quê? — Porque você acaba de provar.
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— Ah, eu queria tanto que você me obrigasse a dizer. Alex tomou-a nos braços e beijou-a — um beijo ao mesmo tempo suave e ardente, cheio de amor, repleto de esperança, de promessas para toda uma vida. — Eu amo você — sussurrou ela. — Viu como foi fácil? — Com você, eu sou sempre assim, fácil. — Emma recostou a cabeça no peito dele, desfrutando daqueles braços fortes que a enlaçavam. Alex sorriu, zombeteiro e incrédulo, mas seus dedos trilharam as costas de Emma sinalizando outra mensagem. — Você sabe que precisamos voltar para nossa lua-de-mel. — Acho que sim.
— O Island Countess parte hoje à noite para as ilhas Fiji. E eu conheço uma pessoa que pode conseguir uma suíte para nós. — Eu conheço essas suítes. São maravilhosas. — Guardo lembranças fabulosas delas — confessou Alex. Quando o navio zarpou naquela noite, Emma já estava nos braços de Alex, sorvendo seu perfume, descansando em seu corpo. — Eu amo você — declarou ela, num suspiro. Alex beijou-lhe o cabelo. — E o que mais? — Por enquanto, nada. Não quero me mexer, não quero pensar. Na verdade, queria dormir um pouco — concluiu, com um bocejo. — Está com fome? — Não. — Sede? — Não. Estou plenamente saciada. — É isso que eu quero ouvir sempre da minha mulher. Emma sorriu. O telefone tocou. — Ah, não! — Nada vai dar errado — garantiu Alex, atendendo ao telefone e ouvindo o que a pessoa do outro lado da linha tinha a dizer. — Então está feito? E todo mundo vai saber? Certo. Obrigado. Não vou esquecer o que você fez por mim. — Alex desligou.
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— E então? Quem era? — Nathaniel. — Certo. E daí? — E dai o quê? — E segredo? — Não. Acontece que quando o governo local ficou sabendo que a Kessex Cruise Lines mostrou-se preocupada com as condições do atracadouro da ilha Kayven, resolveu removê-lo... — O quê? — Para uma outra ilha, uns oitocentos quilômetros ao leste. — Você não fez isso. — Eu não fiz nada. Mas Murdoch precisava mesmo aprender a não me provocar. Emma tentou não ficar feliz com aquele sentimento de vingança. — Eu que me cuide se provocar você. — Você pode me provocar o quanto quiser — disse Alex, abraçando-a. — Como agora? — respondeu Emma, provocante. — Pensei que estivesse cansada. — Mudei de idéia. Parece que os tipos vingativos me estimulam. — Tomara que o navio não tenha mais nenhum tipo vingativo a bordo. — É bom ficar de olho em mim. — Pode apostar que vou — respondeu Alex, beijando-a e abraçando-a com força. — Ah! Eu fiz um investimento em nome das McKinley. — O que você fez? —Comprei uma propriedade. Uma pequena pousada na ilha Tannis, uns oitocentos quilômetros ao leste da ilha Kayven. Não é grande coisa, mas acredito que até o fim de semana vai valorizar muito. Emma sorriu, perplexa. — Você não fez isso. O amor que irradiava do olhar suave de Alex penetrava em cada fibra do corpo de Emma.
— Pode apostar que eu fiz.
FIM