sábado, 7 de setembro de 2013

Ten tiny breaths


A vida inteira de Kacey Cleary implodiu há quatro anos em um acidente de condução por embriaguez. Agora ela está trabalhando duro para enterrar os pedaços deixados para trás, todos menos um. Sua irmã, Livie. Kacey pode engolir a desaprovação constante de sua tia Darla sobre seu estilo de vida autodestrutiva, ela pode se impedir de chutar e socar seu tio Raymond quando ele perde os fundos de faculdade das garotas em uma mesa de blackjack. Ela só precisa aguentar até Livie não ser mais menor de idade, e então elas podem sair de vez de Grand Rapids, Michigan.
Mas quando o tio Raymond desliza na cama ao lado de Livie uma noite, Kacey decide que é hora de correr. Armada com duas passagens de ônibus e sonhos de viver perto da costa, Kacey e Livie começam suas novas vidas em um complexo de apartamentos de Miami, completo com um proprietário mal-humorado, um pervertido no andar de cima e uma vizinha com um nome artístico perfeitamente escolhido para combinar com sua “profissão.” Mas Kacey não está preocupada. Ela pode lidar com todos eles. O que ela não pode lidar é Trent Emerson no apartamento 1D.
Kacey não quer sentir. Não. É mais seguro assim. Para todos. Mas o sexy Trent encontra uma maneira de entrar em seu coração insensível, reacendendo sua capacidade de amar novamente. Ela começa a acreditar que talvez possa deixar o passado onde ele pertence e começar de novo. Talvez ela não esteja além do reparo.
Mas Kacey não é a única que está quebrada. Trent, aparentemente perfeito, tem um passado imperdoável, que, quando descoberto, vai quebrar a vida recém construída de Kacey e enviá-la de volta para a sufocante escuridão.
Prólogo
— Apenas respire. — Minha mãe diria. — Dez respirações minúsculas... Prenda-as. Sinta-as. Ame-as. — Toda vez que eu gritava e pisava os pés com raiva, ou fechava meus olhos de frustração, ou ficava verde com a ansiedade, ela calmamente recitava as mesmas palavras. Toda vez. Exatamente o mesmo. Ela deveria ter tatuado o mantra maldito na testa. — Isso não faz sentido! — Eu gritava. Eu nunca entendi. O que diabos uma respiração minúscula fazia? Por que não uma respiração profunda? Por que 10? Por que não três, cinco ou 20? Eu gritava e ela simplesmente sorria seu sorriso. Eu não entendia nessa altura.
Agora entendo.
Fase Um Confortavelmente
Dormente
Capítulo 1
Um silvo suave... meu coração batendo em meus ouvidos. Eu não ouço mais nada. Tenho certeza de que minha boca está se movendo, chamando seus nomes... Mãe?... Pai?... mas eu não posso ouvir a minha voz. Pior, eu não posso ouvir a deles. Eu me viro para a minha direita e vejo a silhueta de Jenny, mas seus membros parecem estranhos e não naturais e ela está pressionada contra mim. A porta do carro à sua frente está mais perto do que deveria estar. Jenny? Eu tenho certeza que eu digo. Ela não responde. Eu me viro para a esquerda para ver apenas escuridão. Muito escuro para ver Billy, mas eu sei que ele está lá porque eu posso sentir sua mão. É grande e forte e envolve os dedos. Mas não está se movendo... eu tento apertá-la, mas não consigo flexionar os meus músculos. Eu não posso fazer nada além de virar a cabeça e ouvir o meu coração bater como uma bigorna contra o meu peito pelo que parece uma eternidade.
Luzes fracas... vozes...
Eu os vejo. Eu os ouço. Eles estão por toda parte, se aproximando. Eu abro a boca para gritar, mas não consigo encontrar a energia necessária. As vozes ficam mais altas, as luzes mais brilhantes. Um suspiro débil coloca meus cabelos em pé. Como uma pessoa que luta por seu último suspiro.
Eu ouço um estalo alto, como alguém puxando alavancas de luz de palco; luz de repente se derrama de todos os ângulos, iluminando o carro com poder ofuscante.
O para-brisa quebrado.
O metal retorcido.
Manchas escuras.
Piscinas líquidas.
Sangue. Em todos os lugares.
Tudo desaparece de repente e eu estou caindo para trás, batendo na água fria, afundando ainda mais na escuridão, pegando velocidade enquanto o peso de um oceano me engole toda. Abro minha boca para procurar ar. Água fria suficiente para encher meus pulmões me cumprimenta com pressa, enchendo-me por dentro. A pressão em meu peito é insuportável. Está pronto para explodir. Eu não consigo respirar... Eu não consigo respirar. Respirações minúsculas, ouço minha mãe instruir, mas não posso fazê-lo. Eu não consigo nem uma sequer. Meu corpo está tremendo... tremendo... tremendo...
— Acorda, querida.
Meus olhos se abrem para encontrar um desbotado encosto de cabeça na minha frente. Leva-me um momento para perceber onde estou, para acalmar meu coração acelerado.
— Você estava arfando por ar de forma feroz. — Diz a voz.
Me viro para encontrar uma senhora encurvada no corredor, preocupação em seu rosto profundamente enrugado, seus dedos velhos e tortos no meu ombro. Meu corpo se enrola em si mesmo antes que eu possa parar a resposta instintiva ao seu toque.
Ela retira a mão, com um sorriso gentil. — Desculpe, querida. Apenas pensei que você deveria ser acordada.
Engulo e consigo coaxar: — Obrigada.
Ela acena com a cabeça e se move para tomar seu assento no ônibus. — Deve ter sido algum tipo de pesadelo.
— Sim. — Eu respondo, minha habitual voz calma e vaga retorna. — Mal posso esperar para acordar.
***
— Nós estamos aqui. — Eu dou uma agitada suave no braço de Livie. Ela resmunga e fuça a cabeça contra a janela. Eu não sei como ela consegue dormir assim, mas ela conseguiu, roncando suavemente pelas últimas seis horas. Um fio de baba seco escorre pelo seu queixo. Super atraente. — Livie. — Eu chamo de novo com uma borda impaciente no meu tom. Eu preciso sair desta lata. Agora.
Eu recebo um aceno desajeitado de sua mão e um lábio fazendo beicinho que diz claramente ‘não me incomode, eu estou dormindo’.
— Olivia Cleary! — Eu estalo enquanto os passageiros se apressam através dos compartimentos superiores e recolhem seus pertences. — Vamos lá. Eu tenho que sair daqui antes que eu perca a minha cabeça! — Eu não tinha intenção de vociferar, mas não consigo evitar. Não me dou bem com espaços confinados. Depois de 22 horas neste maldito ônibus, puxar a escotilha de emergência e pular pela janela soa atraente.
Minhas palavras finalmente afundam nela. Os olhos de Livie tremem abertos e íris azuis semiaturdidas olham para fora no terminal de ônibus de Miami por um momento. — Nós conseguimos? — Ela pergunta por meio de um bocejo, sentando-se para se esticar e apontar a paisagem. — Oh, olha! Uma palmeira!
Eu já estou de pé no corredor, preparando nossas mochilas. — Oba, palmeiras! Vamos, vamos. A menos que você queira passar mais um dia voltando para Michigan. —Essa ideia coloca seu corpo em movimento.
No momento em que saímos do ônibus, o motorista já tinha descarregado as bagagens pesadas do ônibus. Eu rapidamente encontro nossas malas cor de rosa choque a combinar. Nossas vidas, todos os nossos pertences, foram reduzidos a uma mala cada uma. É tudo o que consegui juntar em nossa fuga da casa de tio Raymond e da tia Darla. Não importa, eu digo a mim mesma enquanto jogo um braço sobre os ombros de minha irmã em um abraço de lado. Temos uma à outra. Isso é tudo o que importa.
— Está quente como o inferno! — Livie exclama, ao mesmo tempo que eu sinto uma gota de suor deslizar pelas minhas costas. É no final da manhã e o sol já brilha sobre nós como uma bola de fogo no céu. Tão diferente do frio do outono que estava quando saímos de Grand Rapids. Ela tira o casaco com capuz vermelho, ganhando uma série de vaias de
um grupo de rapazes em skates, ignorando o sinal de “não entre” na parte do estacionamento coberto.
— Pegando já, Livie? — Eu provoco.
Suas bochechas explodem com a cor rosa ao mesmo tempo que ela recua, se escondendo atrás de um pilar de concreto, fora da vista. — Você percebe que você não é um camaleão, certo?... Oh! O de camisa vermelha está vindo aqui agora. — Eu estico meu pescoço com expectativa em direção ao grupo.
Os olhos de Livie ficam amplos de terror por um segundo antes de ela perceber que eu estou apenas brincando. — Cale-se, Kacey! — Ela sussurra, batendo no meu ombro. Livie não suporta ser o centro das atenções para qualquer cara. O fato de que ela se transformou em um gata de cabelo negro no último ano não a tem ajudado a evitar isso.
Eu sorrio enquanto a observo atrapalhar-se com seu suéter. Ela não tem ideia de como é impressionante, e eu estou bem com isso, tendo em conta que vou ser sua tutora. — Fique à nora, Livie. Minha vida será muito mais fácil se você for indiferente pelos próximos, digamos, cinco anos.
Ela revira os olhos. — Ok, Miss Sports Illustrated1.
— Ha! — Na verdade, parte da atenção daqueles babacas provavelmente é dirigida a mim. Dois anos de intenso kick-boxing me deram um corpo muito definido. Que, combinado com meu cabelo castanho profundo e olhos azuis claros, atrai um monte de atenção indesejada.
Livie é uma versão de quinze anos de mim. Mesmos olhos azuis claros, mesmo nariz magro, mesma pele pálida irlandesa. Só há uma grande diferença, e essa é a cor do nosso cabelo. Se você colocar toalhas sobre o nosso cabelo, você pensaria que éramos gêmeas. Ela recebeu uma cor preta brilhante de nossa mãe. Ela também é dois centímetros mais alta do que eu, mesmo eu sendo cinco anos mais velha.
Sim, ao olhar para nós, qualquer um com metade de um cérebro pode dizer que somos irmãs. Mas é aí que acabam nossas semelhanças. Livie é um anjo. Ela vai às lágrimas quando as crianças choram, ela pede desculpas quando alguém colide com ela, ela é voluntária em cozinhas de sopa e bibliotecas. Ela inventa desculpas para as pessoas quando elas fazem coisas estúpidas. Se ela tivesse idade suficiente para dirigir, ela pisaria no freio para salvar até grilos. Eu sou... eu não sou Livie. Eu poderia ter sido mais parecida
1 É uma das principais revistas esportivas dos Estados Unidos.
com ela antes. Mas não agora. Se eu sou uma nuvem de tempestade se aproximando, ela é a luz do sol irrompendo.
— Kacey! — Viro-me para encontrar Livie segurando a porta aberta de um taxi, suas sobrancelhas levantadas.
— Eu ouvi que procurar no lixo por comida não é tão divertido quanto parece.
Ela bate a porta do táxi com força, seu rosto ficando carrancudo. — Outro ônibus então. — Ela dá um puxão irritado em sua mala sobre o meio-fio.
— Sério? Cinco minutos em Miami e você já está começando com a atitude? Você quer comer lixo, Livie? Eu só tenho dinheiro suficiente na minha carteira para sobrevivermos até domingo. — Tiro a minha carteira para ela inspecionar.
Ela fica ruborizada. — Desculpe, Kace. Você está certa. Eu estou apenas em um dia ruim.
Suspiro e imediatamente me sinto mal por ter falado assim com ela. Livie não tem um osso de atitude em seu corpo. Sim, nós brigamos, mas eu sou sempre a culpada e eu sei disso. Livie é uma boa garota. Ela sempre foi uma boa garota. Certinha, com bom temperamento. Mamãe e papai nunca tiveram de lhe dizer nada duas vezes. Quando morreram e a irmã de mamãe nos levou, Livie se esforçou ao máximo para ser uma garota ainda melhor. Eu fui na direção oposta. Difícil.
— Vamos, por aqui. — Eu entrelaço o braço com o dela e aperto-a enquanto desdobro o pedaço de papel com o endereço. Depois de uma conversa longa e trabalhosa com o homem idoso atrás da divisória de vidro - completo com um jogo de charadas e um diagrama de lápis sobre um mapa da cidade circulando três caminhos - estamos em um ônibus da cidade e espero que não estejamos a caminho do Alasca.
Estou grata, porque estou muito cansada. Além do meu cochilo de vinte minutos no ônibus, eu não dormi nada em 36 horas. Estou cansada e preocupada e eu prefiro viajar em silêncio, mas as mãos inquietas de Livie em seu colo matam essa ideia rapidamente. —O que é, Livie?
Ela hesita, franzindo a testa.
— Livie...
— Você acha que a tia Darla chamou a polícia?
Alcanço seu joelho e aperto de forma tranquilizadora. — Não se preocupe com isso. Nós vamos ficar bem. Eles não vão nos encontrar e se encontrarem, a polícia vai ouvir o que aconteceu.
— Mas ele não fez nada, Kace. Ele provavelmente estava bêbado demais para saber qual era o seu quarto.
Eu a encaro. — Não fez nada? Você se esqueceu sobre a ereção repugnante que aquele velho empurrou contra sua coxa?
Livie franze a boca como se estivesse prestes a vomitar.
— Ele não fez nada, porque você saiu correndo de lá e veio para o meu quarto. Não defenda aquele idiota. — Eu tinha visto as olhadas que o tio Raymond dava em Livie enquanto ela amadurecia ao longo do ano passado. Livie era doce e inocente. Eu esmagaria suas bolas se ele pisasse dentro do meu quarto e ele sabia disso. Livie porém...
— Bem, eu só espero que eles não venham nos pegar e nos levar de volta.
Balanço minha cabeça. — Isso não vai acontecer. Eu sou sua guardiã agora, e eu não me importo com a papelada legal estúpida. Você não está saindo do meu lado. Além disso, a tia Darla odeia Miami, lembra? — Ódio é um eufemismo. Tia Darla é uma cristã entusiasta, que passa todo o seu tempo livre rezando e se assegurando que todo mundo está rezando ou sabendo que devemos orar para evitar o inferno, sífilis e gravidez não planejada. Ela tem a certeza de que as grandes cidades são o terreno fértil para todo o mal no mundo. Dizer que ela é fanática seria um eufemismo. Ela não virá para Miami, a menos que o próprio Jesus esteja dando uma convenção.
Livie acena com a cabeça. Ela abaixa a voz para um sussurro. — Você acha que o tio Raymond descobriu o que aconteceu? Poderíamos entrar em apuros por isso.
Eu dou de ombros. — Você se importa se ele descobrir? — Parte de mim desejava ter ignorado o pedido de Livie sobre não chamar a polícia sobre a pequena “visita” de tio Raymond no quarto dela. Mas Livie não queria lidar com relatórios policiais e advogados e Ajuda de Crianças2 e nós teríamos tido certamente que lidar com todos eles. Talvez até mesmo as notícias locais. Nenhuma de nós queria isso. Nós tivemos o suficiente disso após o acidente. Quem sabe o que eles fariam com Livie, já que ela é menor de idade? Provavelmente ela ficaria em um orfanato. Eles não dariam ela para mim. Eu fui
2 Programa federal de ajuda a crianças criado pela Segurança Nacional.
classificada como “instável” em muitos relatórios profissionais para me confiarem a vida de alguém.
Então Livie e eu fechamos um acordo. Eu não iria denunciá-lo, se ela partisse comigo. Ontem à noite acabou por ser a noite perfeita para fugir. Tia Darla estava afastada em um retiro religioso toda a noite então eu esmaguei três comprimidos para dormir e os joguei na cerveja do tio Raymond, depois do jantar. Eu não posso acreditar que o idiota pegou o copo que eu preparei e entreguei para ele tão docemente. Eu não disse 10 palavras para ele nos últimos dois anos, desde que descobri que ele perdeu a nossa herança em uma mesa de Black Jack. Ele não percebeu a decepção, porém. Às sete horas, ele estava deitado e roncando no sofá, dando-nos tempo suficiente para pegar as malas, limpar a carteira e a caixa de dinheiro secreta da tia Darla debaixo da pia, e pegar o ônibus naquela noite. Talvez drogá-lo e roubar seu dinheiro tenha sido um pouco excessivo. Então, novamente, talvez o tio Raymond não deveria ter ficado todo pedófilo assustador.
***
— Um-vinte-e-quatro. — Eu li os números no edifício em voz alta. — É isso. — Isso é real. Estamos lado a lado na calçada do lado de fora do nosso novo lar - um edifício de apartamentos de três andares na Unidade de Jackson com paredes de estuque branco e janelas pequenas. É um lugar de aparência elegante, com uma aparência de casa de praia, embora nós estamos há meia hora de distância da praia. Se eu inalar profundamente, quase posso pegar um cheiro de protetor solar e algas.
Livie passa a mão através de sua juba selvagem escura. — Onde você encontrou este lugar, de novo?
— www.desesperadaporumapartamento.com?— Eu brinco. Após Livie invadir meu quarto em lágrimas naquela noite, eu sabia que precisávamos sair de Grand Rapids. Uma pesquisa na Internet levou à outra e logo eu estava enviando um email ao proprietário, oferecendo-lhe seis meses de aluguel em dinheiro. Dois anos de servir café no Starbucks perdidos.
E vale a pena cada gota de café derramada.
Subimos as escadas e caminhamos até um arco com portão. — A imagem com o anúncio parecia ótima. — Eu digo enquanto agarro e puxo a maçaneta do portão para descobrir que ela está trancada. — Boa segurança.
— Aqui. — Livie aperta a campainha redonda e rachada à direita. Não faz nenhum som e eu tenho certeza que ela está quebrada. Eu reprimo um bocejo enquanto esperamos por alguém passar.
Três minutos depois, minhas mãos estão em concha em volta da minha boca e eu estou prestes a gritar o nome do senhorio quando ouço sapatos arrastando no concreto. Um homem de meia-idade, com roupas amarrotadas e um rosto que parece desalinhado aparece. Seus olhos são desiguais, ele é principalmente careca, e eu juro que uma orelha é maior que a outra. Ele me lembra do Sloth3 daquele filme dos anos oitenta que meu pai nos fazia assistir, Goonies. Um clássico, meu pai costumava dizer.
Sloth coça a barriga saliente e não diz nada. Aposto que ele é tão inteligente quanto seu gêmeo do filme.
— Oi, eu sou Kacey Cleary. — Me apresento. — Nós estamos procurando pelo Sr. Tanner. Nós somos as novas locatárias de Michigan. — Seu olhar astuto gruda em mim por um tempo, me avaliando. Eu silenciosamente me elogio por vestir jeans para cobrir a tatuagem considerável na minha coxa, caso ele ousasse me julgar pela minha aparência. Seu foco então muda para Livie, onde fica por demasiado tempo para o meu gosto.
— Você moças são irmãs?
— Nossas malas combinando deram a pista? — Eu respondo antes que eu possa parar. Entre nos portões antes de deixá-los saber o quanto você pode ser espertinha, Kace.
Felizmente, Sloth curva os lábios para cima. — Trate-me por Tanner. Por aqui.
Livie e eu compartilhamos um olhar chocado. Sloth é o nosso novo senhorio? Com um barulho alto e um rangido, ele nos introduz através do portão. Quase como um pensamento tardio, ele se vira para mim e estende a mão.
Eu congelo, olhando para os dedos carnudos, mas não me movo para pegá-los. Como não estou preparada para isso?
3 Tradução literal: Preguiça. Esta é uma imagem do ator: http://www.officialpsds.com/images/thumbs/SLOTH-FROM-THE-GOONIES-psd34473.png
Livie habilmente entra em ação e agarra-os com um sorriso, e eu recuo alguns passos para que não haja nenhuma ilusão de que eu vou tocar na mão desse cara. Ou a mão de alguém. Livie é ótima em me salvar.
Se Tanner percebe a manobra, ele não diz nada, nos leva através de um pátio com arbustos e plantas desidratadas circundando em torno de um hibachi4 enferrujado. — Essa aqui é a área comum. — Ele acena sua mão com desdém. — Se você quer grelhar, bronzear, relaxar, que seja, esse aqui é o lugar. — Eu analiso os cardos de vários metros de altura e flores ressecadas ao longo das fronteiras e me pergunto quantas pessoas realmente acham este espaço relaxante. Poderia ser bom, se alguém cuidasse dele.
— Deve haver uma lua cheia ou algo. — Murmura Tanner enquanto o seguimos em direção a uma fileira de portas vermelhas escuras. Cada uma tem uma pequena janela ao lado e todos os três andares são idênticos.
— Ah, é? Por que isso?
— Você tem o segundo apartamento que eu aluguei na semana passada através de e-mail. Mesma situação - desesperado por um lugar, não queria esperar, vai pagar em dinheiro. Estranho. Eu acho que todos têm alguma coisa do que fugir.
Bem. Que tal isso? Talvez Tanner seja mais esperto do que seu irmão gêmeo do filme.
— Este aqui chegou esta manhã. — Ele aponta um dedo curto e grosso para o apartamento 1D antes de nos levar para o apartamento ao lado com um sinal dourado de '1C'. Seu enorme conjunto de chaves chacoalha enquanto ele procura por uma em particular. — Agora, eu vou te dizer o que eu digo a todos os meus inquilinos. Eu só tenho uma regra, mas é para ser respeitada. Mantenha a paz! Nada de dar festas selvagens com drogas e orgias...
— Desculpe, você pode especificar - o que qualifica como uma orgia no Estado da Flórida? Trios pode ser? E se sexo oral estiver envolvido, porque você sabe... — Eu interrompo, ganhando uma pausa e uma carranca de Tanner e um soco afiado na omoplata de Livie.
Depois de limpar a garganta, ele continua como se eu não tivesse falado. — Não há rixas, de família nem de qualquer outra coisa. Eu não tenho paciência para essa porcaria e eu vou expulsá-las mais rápido do que vocês podem mentir para mim. Entendeu?
4 Forno de cozinha japonês, muito usado para grelhados.
Concordo com a cabeça e mordo minha língua, lutando contra a vontade de cantarolar a música do Family Feud5 enquanto Tanner abre a porta.
— Limpo e pintado por mim mesmo. Não é novo, mas deve dar-lhe o que você pediu.
O apartamento é pequeno e parcamente mobiliado, com uma área de cozinha verde e branca de azulejos que reveste a parede traseira. As paredes brancas só destacam mais o horrível sofá floral rosa-queimado e laranja. Um tapete verde floresta barato e um ligeiro aroma de naftalina completam bem a aparência lixo branco6 dos anos setenta. Mais importante, não é nada como a foto no anúncio. Surpresa, surpresa.
Tanner arranha a parte de trás da sua cabeça grisalha. — Não há muito nele, eu sei. Há mais dois quartos e há um banheiro entre eles. Coloquei uma nova privada no ano passado, então... — Seu olhar assimétrico desliza para mim. — Se isso é tudo...
Ele quer seu dinheiro. Com um sorriso apertado, eu chego no bolso da frente da minha mochila e deslizo para fora um envelope grosso. Livie aventura-se mais longe pelo apartamento, enquanto eu lhe pago. Tanner a vê ir, mordendo o lábio como se quisesse dizer alguma coisa. — Ela parece um pouco jovem para estar fora por conta própria. Seus pais sabem que vocês duas estão aqui?
— Nossos pais estão mortos. — Sai tão duro como eu pretendo e funciona. Cuide da sua própria vida, Tanner.
Seu rosto fica pálido. — Oh, hum, sinto muito em ouvir isso. — Ficamos desconfortáveis por uns três segundos. Cruzo as mãos sob as axilas, deixando claro que não tenho intenção de sacudir quaisquer mãos. Quando ele gira sobre os calcanhares e se dirige para fora da porta, eu libero um pequeno suspiro. Ele está ansioso para ficar longe de mim, também. Por cima do ombro, ele grita: — A lavanderia é no subsolo. Eu limpo uma vez por semana e espero que todos os inquilinos ajudem a mantê-la arrumada. Estou no 3F se você precisar de alguma coisa. — Ele desaparece, deixando a chave na fechadura.
Encontro Livie investigando o armário de remédios em um banheiro feito para hobbits. Eu tento entrar, mas não há espaço suficiente para nós duas. — Privada nova.
5 É um programa da TV norte-americana onde várias famílias disputam entre si. No Brasil, o programa estreou em 1979 com o nome ‘Jogo das Famílias’.
6 Do original ‘white trash’ que é um termo depreciativo originário dos Estados Unidos, para pessoas brancas de baixo estatuto social, poucas perspectivas de vida e formação.
Chuveiro velho e repulsivo. — Murmuro, meu pé traçando o chão sujo e rachado de ladrilhos.
— Vou pegar este quarto. — Livie oferece, passando apertada por mim e dirigindo-se para o quarto do lado direito. Está vazio, exceto por uma cômoda e uma cama de solteiro com uma coberta de malha cor pêssego espalhada sobre ela. Barras pretas alinham a única janela que está virada para o exterior do edifício.
— Você tem certeza? É pequeno. — Eu sei sem olhar para o outro quarto que este é o menor dos dois. Assim é Livie. Altruísta.
— Sim. Está tudo bem. Eu gosto de espaços pequenos. — Ela sorri. Ela está tentando fazer o melhor da situação, eu posso dizer.
— Bem, quando nós organizarmos essas festas durante toda a noite, você não será capaz de colocar mais do que três rapazes aqui ao mesmo tempo. Percebe isso, certo?
Livie joga um travesseiro em mim. — Engraçada.
Meu quarto é semelhante, exceto que é um pouco maior e tem uma cama de casal com um cobertor de malha verde feio. Eu suspiro, meu nariz amassando com a decepção. — Desculpe, Livie. Este lugar não parece em nada com o anúncio. Droga de Tanner e sua propaganda enganosa. — Eu inclino minha cabeça. — Me pergunto se nós podemos processá-lo.
Livie bufa. — Não é tão ruim, Kace.
— Você diz isso agora, mas quando estivermos lutando com as baratas pelo nosso pão...
—Você? Lutando? Grande choque.
Eu rio. Poucas coisas me fazem rir mais. Livie, tentando ser sarcástica é uma delas. Ela tenta soar indiferente e legal. Mas acaba soando como um desses locutores de rádio que fazem uma interpretação dramática de um mistério de assassinato de queijo.
— Este lugar é uma porcaria, Livie. Admita. Mas estamos aqui e é tudo o que podemos pagar agora. Miami é malditamente cara.
Sua mão desliza na minha e eu a aperto. É a única que eu posso lidar com tocar. É a única que não parece morta. Às vezes tenho dificuldade em soltá-la. — É perfeito, Kace. Só um pouco pequeno e mofado e verde, mas não estamos tão longe da praia! Isso é
realmente o que queríamos, certo? — Livie estica os braços acima da cabeça e geme. — Então, e agora?
— Bem, para começar, vamos te matricular no ensino médio esta tarde, de modo que o seu grande cérebro não encolha. — Eu digo, abrindo minha mala para esvaziar seu conteúdo. — Afinal de contas, quando você estiver fazendo um trilhão de dólares e curando o câncer, você vai precisar enviar dinheiro para mim. — Procuro através de minhas roupas. — Eu preciso me matricular em uma academia. Então eu vou ver quanto Spam7 e milho cremoso consigo comprar por uma hora do meu corpo suado e quente na esquina. — Livie balança a cabeça. Às vezes, ela não aprecia meu senso de humor. Às vezes eu acho que ela se pergunta se estou falando sério. Me inclino e empurro as cobertas da minha cama. — E eu definitivamente preciso limpar este lugar inteiro com água sanitária.
***
A lavanderia do prédio sob nosso apartamento não é nada digna de se mencionar. Painéis de luzes fluorescentes lançam uma luz dura sobre o piso desbotado de concreto azul. Um perfume floral mal mascara o odor almiscarado pairando no ar. As máquinas tem pelo menos 15 anos de idade, e provavelmente vão fazer mais dano do que bem para nossas roupas. Mas não há uma teia de aranha ou um pedaço de tecido em qualquer lugar.
Enfio todos os nossos lençóis e cobertores em duas máquinas, xingando o mundo por nos fazer dormir em camas de segunda mão, em primeiro lugar. Comprarei roupas novas de cama com o meu primeiro salário, prometo a mim mesma. Despejando uma mistura de água sanitária e detergente lá dentro, eu escolho a configuração de água mais quente, desejando que fosse rotulada, “ferver o inferno fora de qualquer organismo vivo.” Isso me faria sentir muito melhor.
As máquinas precisam de seis quartos de dólar por carga. Eu odeio máquinas de lavar pagas. Mais cedo, Livie e eu abordamos estranhos no shopping com as nossas moedas de dez centavos de dólar e de cinco centavos, pedindo para trocarem por moedas de um quarto de dólar. Eu tenho exatamente o suficiente em minha carteira, percebo quando começo a encaixá-las em suas ranhuras designadas.
7 Produto de carne enlatado e pré-cozinhado.
— Alguma máquina gratuita? — Uma profunda voz masculina pergunta diretamente atrás de mim, me surpreendendo o suficiente para que eu gritasse e jogasse os últimos três quartos de dólar no ar. Felizmente, eu tenho reflexos de gato e pego duas moedas no ar. Meus olhos se colam na última, uma vez que atinge o solo e rola debaixo da máquina de lavar. Caindo para as minhas mãos e joelhos, eu mergulho atrás dela.
Mas sou demasiado lenta.
— Droga! — O lado do meu rosto bate contra o pavimento frio enquanto eu olho sob a máquina, em busca de um brilho prateado. Meus dedos podem caber debaixo...
— Eu não faria isso se fosse você.
— Ah, é? — Agora eu estou puta. Quem se esgueira perto de uma mulher em uma lavanderia no subsolo, que não seja um psicopata ou um estuprador? Talvez ele seja um dos dois. Talvez eu deveria estar tremendo em minhas sandálias agora. Eu não estou, embora. Não me assusto facilmente e, francamente, eu estou muito malditamente irritada agora para ser outra coisa. Deixa ele tentar me atacar. Ele vai levar o maior susto de sua vida. — Por que? — Forço-me a dizer por entre os dentes, tentando manter a calma. Mantenha a paz, Tanner nos avisou. Sem dúvida, ele sentiu algo sobre mim.
— Porque nós estamos em uma lavanderia fria e úmida em um subterrâneo em Miami. Coisas de oito patas e coisas que escorregam e rastejam escondem-se em lugares como este.
Eu recuo enquanto luto contra o arrepio que corre pelo meu corpo, imaginando minha mão emergindo de baixo com um quarto de dólar e uma cobra de bônus. Poucas coisas me assustam. Olhos redondos e um corpo contorcido é uma delas. — Engraçado, eu ouvi que coisas assustadoras de duas pernas se escondem nesses lugares também. Eles são chamados de Aberrações. Uma praga, pode-se dizer. — Inclinando-me muito mais em meus shorts curtos pretos, ele tem que estar recebendo uma bela vista da minha bunda agora mesmo. Vá em frente, pervertido. Aprecie porque isso é tudo o que você está recebendo. E se eu sentir sequer um toque contra a minha pele, vou te quebrar ambos os joelhos.
Ele responde com uma gargalhada gutural. — Bem jogado. Que tal você se levantar? — Os cabelos do meu pescoço arrepiam com suas palavras. Há algo decididamente sexual em seu tom. Eu ouço o som de metal contra metal ao mesmo tempo que ele acrescenta: — Esta aberração tem um quarto de dólar extra.
— Bem, então, você é meu tipo favorito de... — Eu começo a dizer, alcançando o topo da máquina quando estou prestes a enfrentar esse idiota cara a cara. É claro que a garrafa aberta de detergente está logo ali. É claro que minha mão a derruba. Claro que escorre por toda a máquina e pelo chão.
— Droga! — Eu xingo, caindo de joelhos novamente, enquanto assisto a poça pegajosa de sabão verde em toda parte. — Tanner vai expulsar-me.
A voz da Aberração fica mais baixa. — O que você faria para comprar o meu silêncio? — Passos se aproximam.
Por instinto, eu ajusto a minha posição para que possa deslocar a sua articulação com um chute e fazê-lo desmoronar em agonia, assim como eu havia aprendido em minhas sessões de luta. Minha coluna arde quando um lençol branco desce para cobrir o chão na minha frente. Chupando uma respiração, eu espero pacientemente enquanto a Aberração passa ao meu lado esquerdo e se agacha.
O ar deixa os meus pulmões em uma rajada, e eu fico olhando para um par de covinhas profundas e os olhos mais azuis que eu alguma vez vi - anéis de cobalto com uma luz azul no interior. Eu olho para ele boquiaberta. Têm manchas turquesa no interior? Sim! Meu Deus! O piso azul, as máquinas enferrujadas, as paredes, tudo ao meu redor desaparece sob o peso de seu olhar enquanto ele me tira do meu ‘casaco protetor de vadia’8, arrancando-o do meu corpo, deixando-me nua e vulnerável em segundos.
— Nós podemos absorvê-lo com isso. Eu precisava de detergente de qualquer maneira. — Ele murmura com um sorriso de menino divertido enquanto arrasta o lençol saturando-o com o líquido derramado.
— Espere, você não tem que... — A minha voz desaparece, a fraqueza me dando náuseas. De repente eu estou me sentindo muito culpada por rotulá-lo de aberração. Ele não pode ser um canalha. É demasiado bonito e agradável. Eu sou a idiota jogando quartos de dólar em todo o lugar e agora ele está limpando o meu detergente deste chão sujo com seus lençóis para me ajudar!
Eu não consigo formar palavras. Não enquanto estou encarando os antebraços definidos do Não-Aberração, sentindo uma onda de calor em meu baixo ventre. Em uma camisa de botões com as mangas arregaçadas e os botões superiores abertos, ele está expondo a parte superior de um corpo assassino para mim.
8 É basicamente a atitude de cadela que ela usa com as pessoas para elas não se aproximarem.
— Vendo algo que lhe interessa? — Pergunta ele, seu sarcasmo levando meus olhos de volta para o seu rosto sorridente, o sangue correndo para meu rosto. Maldito cara. Ele parece mudar de Bom Samaritano para Tentador Malvado com cada nova frase que sai de sua boca. Pior, ele me pegou cobiçando seu corpo. Eu! Cobiçando! Estou em torno de corpos de primeira classe todos os dias na academia e eles não me intimidam. De alguma forma, eu não sou imune a ele.
— Eu me mudei há pouco. Apartamento 1D. Meu nome é Trent. — Ele olha para mim debaixo de impossivelmente longos cílios, seu cabelo castanho-dourado emoldurando seu rosto lindamente.
— Kacey. — Eu forço para fora. Então, esse cara é o novo inquilino, nosso vizinho. Ele vive do outro lado da parede da minha sala de estar! Gah!
— Kacey. — Ele repete. Eu amo a forma de seus lábios quando ele diz meu nome. Minha atenção se prende ali, olhando para aquela boca, para seu conjunto de dentes perfeitamente retos e brancos, até que eu sinto a minha cara explodir com uma terceira onda de calor. Porra! Kacey Cleary não cora para ninguém!
— Eu apertaria sua mão, Kacey, mas... — Trent diz com um sorriso maroto, segurando as palmas cobertas de detergente.
Aí. É isso. A ideia de tocar aquelas mãos me dá um tapa na bochecha, quebrando qualquer neblina temporária com que este homem Trent me confundiu, me empurrando de volta para a realidade.
Eu posso pensar em linha reta novamente. Com uma inspiração profunda, eu me esforço para reativar o meu escudo, para formar uma barreira desta criatura divina, para acabar com toda a reação a ele para que possa apenas viver minha vida e mantê-la livre de seus problemas. É muito mais fácil. E isso é tudo o que isso é, Kacey. Uma reação. Uma reação estranha, atípica por causa de um cara. Um cara incrivelmente quente, mas, no final, nada com que você queira se misturar.
— Obrigado pelo quarto de dólar. — Eu digo friamente, ficando de pé e deslizando a moeda oferecida na ranhura. Eu inicio a máquina de lavar.
— É o mínimo que eu poderia fazer por assustar você como fiz. — Ele levanta e empurra suas fichas na máquina ao lado da minha. — Se Tanner disser qualquer coisa, eu vou dizer a ele que eu fiz. É parcialmente culpa minha de qualquer maneira.
— Parcialmente?
Ele ri enquanto balança a cabeça. Estamos de pé perto agora, tão perto que nossos ombros quase se tocam. Muito perto.
Dou alguns passos para trás para me dar espaço. Eu acabo olhando para suas costas, admirando como a camisa azul xadrez se estende por seus ombros largos, como seus jeans azuis escuros se encaixam perfeitamente no seu traseiro.
Ele para o que está fazendo para olhar por cima do ombro, os olhos brilhantes nivelando-me com um olhar que me faz querer fazer coisas para ele, por ele, com ele. Sua atenção se arrasta para baixo no comprimento do meu corpo, sem vergonha. Esse cara é uma contradição. Um segundo doce, o próximo segundo descarado. Uma alucinante e quente contradição.
Uma sirene de alerta dispara na minha cabeça. Eu prometi a Livie que os casos aleatórios de uma noite iriam parar. E eles pararam. Por dois anos, eu não dei qualquer atenção para nenhum cara. Agora, aqui estou eu, no primeiro dia em nossa nova vida, e eu estou pronta para cavalgar nesse cara na máquina de lavar.
De repente, estou me contorcendo em minha própria pele, desconfortável. Respire, Kacey, eu ouço a voz da minha mãe na minha cabeça. Conte até dez, Kace. Dez respirações minúsculas. Como de costume, o seu conselho não me ajuda porque não faz sentido. Tudo o que faz sentido é ficar longe dessa armadilha de duas pernas. Imediatamente.
Recuo em direção à porta.
Eu não quero esses pensamentos. Eu não preciso deles.
— Então, onde você está...?
Subo as escadas para a segurança antes de ouvir Trent terminar sua frase. Não é até que eu estou acima do solo que procuro uma respiração. Encosto-me na parede e fecho os olhos, acolhendo esse casaco protetor de volta quando ele desliza sobre a minha pele, e traz de volta o controle do meu corpo.
Capítulo 2
Um som de assobio...
Luzes brilhantes...
Sangue...
Água, correndo sobre a minha cabeça. Eu estou me afogando.
— Kacey, acorda! — A voz de Livie puxa-me para fora da escuridão sufocante e de volta para o meu quarto. São três horas da madrugada e eu estou encharcada de suor.
— Obrigado, Livie.
— A qualquer hora. — Ela responde baixinho, e deita ao meu lado. Livie está acostumada a meus pesadelos. Eu raramente passo uma noite sem um. Às vezes eu acordo até a mim mesma. Às vezes começo a hiperventilar e ela tem que despejar um copo de água fria sobre a minha cabeça para me trazer de volta. Ela não teve que fazer isso hoje à noite.
Hoje é uma boa noite.
Eu fico quieta e imóvel até ouvir a sua respiração lenta e rítmica de novo, e eu agradeço a Deus por não levá-la de mim também. Ele levou todo mundo, mas ele me
deixou Livie. Eu gosto de pensar que ele lhe deu a gripe naquela noite para impedi-la de ir ao meu jogo de rugby. Pulmões congestionados e um nariz escorrendo a salvaram.
Salvaram meu único raio de luz.
***
Levanto-me cedo para dizer adeus a Livie em seu primeiro dia em sua nova escola. — Você tem toda a papelada? — A lembro. Eu assinei tudo como tutora legal de Livie e fiz ela jurar dizer isso, se alguém perguntar.
— Por que vale a pena...
— Livie, apenas use a história e tudo vai correr bem. — Para ser honesta, estou um pouco preocupada. Depender da mentira de Livie é como esperar que um castelo de cartas se mantenha em um vendaval. Impossível. Livie não poderia mentir se sua vida dependesse disso. Meio que depende, neste caso.
Observo-a terminar seus Cheerios e pegar sua bolsa da escola, empurrando seu cabelo para trás da orelha uma dúzia de vezes. Esse é um de seus muitos tiques. Um que diz que ela está em pânico.
— Basta pensar, Livie. Você pode ser quem quer ser. — Eu ofereço, esfregando seus bíceps quando ela está prestes a se dirigir para fora da porta. Lembro-me de encontrar um pingo de consolo quando nos mudamos para casa da tia Darla e tio Raymond - uma nova escola e pessoas novas que não sabiam nada sobre mim. Eu fui idiota o suficiente para acreditar que a pausa de olhos piedosos iria durar. Mas as notícias viajam rápido em torno de cidades pequenas, e logo encontrei-me almoçando no banheiro ou faltando à escola por completo para evitar os sussurros. Agora, porém, estamos há mundos de distância de Michigan. Nós realmente temos uma chance de começar de novo.
Livie para e se vira para me olhar fixamente. — Sou Olivia Cleary. Eu não estou tentando ser ninguém mais.
— Eu sei. Só quero dizer, ninguém sabe nada sobre o nosso passado aqui. — Esse foi mais um dos nossos pontos de negociação para vir aqui. Minha exigência - não compartilhar nosso passado com ninguém.
— O nosso passado não é o que somos. Eu sou eu e você é você e isso é o que precisamos ser. — Livie me lembra. Ela sai e eu sei exatamente o que ela está pensando. Eu não sou Kacey Cleary mais. Eu sou uma concha vazia que faz piadas inapropriadas e não sente nada. Eu sou uma Kacey impostora.
***
Quando busquei o nosso apartamento, eu não estava só procurando uma escola decente para Livie. Eu precisava de um ginásio. Não onde meninas magras se pavoneiam em torno de novos equipamentos e ficam perto dos pesos, falando em seu telefone. Um ginásio de lutadores.
Foi assim que eu encontrei o The Breaking Point.
The Breaking Point é do mesmo tamanho que o O'Malleys em Michigan e eu imediatamente me sinto em casa quando eu entro. É completo, com pouca iluminação, um ringue de luta e uma dúzia de sacos de vários tamanhos e pesos, pendurados nas vigas. O ar é infundido com o mau cheiro familiar de suor e agressão - um produto da proporção de 50 homens para uma mulher.
Quando eu entro na sala principal inalo profundamente, acolhendo a segurança que isso traz consigo. Três anos atrás, depois do hospital me liberar dos cuidados a longo prazo - após intensa fisioterapia a fim de reforçar o lado direito do meu corpo, quebrado no acidente - eu entrei para uma academia. Passei horas lá a cada dia, levantando pesos, fazendo cardio, todas as coisas que fortaleceram meu corpo destroçado, mas nada fez para ajudar a minha alma devastada.
Então um dia, um cara chamado Jeff, com mais piercings e tatuagens do que uma estrela do rock cansada, se apresentou. — Você é muito intensa em seus exercícios. — Disse ele. Eu assenti, sem interesse em qualquer direção que a conversa poderia ir. Até que ele me entregou seu cartão. — Você já tentou o O'Malleys abaixo da estrada? Eu ensino kick boxing lá algumas noites por semana.
Sou natural, aparentemente. Eu rapidamente me destaquei como sua pupila, provavelmente porque eu treinei sete dias por semana, sem falhar. Acabou por ser o mecanismo perfeito de enfrentamento para mim. A cada chute e cada soco, eu sou capaz
de canalizar a minha raiva, a minha frustração, e minha mágoa em um golpe sólido. Todas as emoções que eu trabalho duro para enterrar na minha vida, eu posso liberar aqui de uma forma não-destrutiva.
Felizmente, o The Breaking Point é barato e eles deixam pagar mês a mês, sem taxas de inscrição. Tenho dinheiro suficiente reservado para um mês. Eu sei que deveria estar indo em direção à comida, mas não me exercitar não é uma opção para mim. A sociedade está melhor comigo em um ginásio.
Depois de me inscrever e obter a grande turnê, eu solto a minha arte em um saco de areia disponível. E sinto seus olhos em mim, os olhares curiosos. Quem é a ruiva? Será que ela não percebe que tipo de academia é essa? Eles estão querendo saber se eu consigo dar uma merda de um soco decente. Eles provavelmente estão fazendo apostas sobre quem me pega no chuveiro primeiro.
Deixe-os tentar.
Eu ignoro a atenção, os comentários flagrantes e risos, enquanto estico meus músculos, com medo de me forçar demais depois de faltar durante três dias. E eu sorrio. Babacas arrogantes.
Tomando várias respirações para acalmar meus nervos, me foco neste saco, essa coisa graciosa que vai absorver toda a minha dor, meu sofrimento, o meu ódio sem protesto.
E então eu libero tudo.
***
O sol nem mesmo está alto ainda, e a pior espécie de heavy metal antigo explode através do meu quarto. Meu despertador lê 6:00 da manhã. Yup. No horário certo. É o terceiro dia consecutivo que o meu vizinho me acorda desse jeito. — Mantenha a paz. — Murmuro enquanto puxo minhas cobertas sobre a cabeça, repetindo as palavras de Tanner. Eu acho que manter a paz significa não arrombar a porta do teu vizinho e quebrar teus eletrônicos contra a parede.
Isso não significa que eu não posso exercer vingança.
Pego o meu iPod - uma das poucas posses ‘não-roupas’ que peguei na nossa fuga - e percorro as listas de reprodução. Aqui está. Hannah Montana. Minha melhor amiga, Jenny, carregou toda essa merda adolescente como uma piada anos atrás. Parece que finalmente vai vir a calhar. Eu afasto a dor que vem junto com as memórias vinculadas a ela quando aperto o play e aciono o volume máximo. O som distorcido salta fora das paredes do meu espaço confinado. Os alto-falantes provavelmente vão explodir, mas isso vale a pena.
E então eu danço.
Como uma louca, eu giro ao redor do meu quarto, agitando os braços, esperando que esta pessoa odeie Hannah Montana tanto quanto eu.
— O que você está fazendo? — Livie grita, correndo para o meu quarto em pijamas amarrotados, seu cabelo selvagem. Ela salta para o meu iPod para carregar no botão de desligar.
— Só ensinando ao nosso vizinho uma lição sobre me acordar. Ele é meio babaca. — Ela franze a testa.
— Você o conheceu? Como você sabe que é um homem?
— Porque nenhuma garota ouve essa merda às seis da manhã, Livie.
— Ah. Eu acho que não posso ouvi-lo no meu quarto. — Sua testa franze enquanto ela estuda a parede adjacente. — Isso é terrível.
Dou-lhe uma sobrancelha arqueada. — Você acha? Especialmente quando eu trabalhei até as 11 ontem à noite! — Eu comecei o meu primeiro turno em uma Starbucks em um bairro vizinho. Eles estavam desesperados e eu tenho uma carta de referência estelar graças ao meu antigo gerente, filhinho de mamãe de 24 anos chamado Jake com uma queda por ruivas fodonas. Eu fui inteligente o suficiente para jogar bonito com ele. Valeu a pena.
Com uma pausa e depois um encolher de ombros, Livie grita: — Festa de Dança! — E aumenta o volume.
Nós duas saltamos em torno de meu quarto rindo até ouvirmos o bater em nossa porta da frente.
O rosto de Livie drena de todas as cores. Ela é assim – só ladra, mas não morde. Eu? Eu não estou preocupada. Visto o meu casaco roxo de casa surrado e orgulhosamente avanço. Vamos ver o que ele tem a dizer sobre isso.
Minha mão está sobre a tranca, a ponto de abrir a porta, quando Livie sussurra duramente: — Espere!
Faço uma pausa e viro para encontrar o dedo indicador de Livie balançando, como minha mãe costumava fazer quando ela estava me repreendendo. — Lembre-se, você prometeu! Esse era o acordo. Estamos começando do zero aqui, certo? Nova vida? Nova Kacey?
— Sim. E?
— E, você pode, por favor, tentar não ser uma rainha do gelo? Tentar ser mais parecida com a Kacey de Antes? Você sabe, aquela que não tinha uma parede de pedra contra todo mundo que se aproxima? Quem sabe, talvez possamos fazer alguns amigos aqui. Basta tentar.
— Você quer ser amiga de homens velhos, Livie? Se for esse o caso, poderíamos ter ficado em casa. — Eu digo friamente. Mas suas palavras picam como uma longa agulha inserida direto no meu coração. De qualquer outra pessoa, elas escorregariam no meu duro Teflon exterior. O problema é que eu não sei quem é a Kacey de Antes. Eu não me lembro dela. Eu ouvi que suas íris brilhavam quando ela ria, que sua interpretação de “Stairway to Heaven” no piano fazia seu pai chorar. Ela tinha hordas de amigos, e ela sorrateiramente dava abraços e beijos e andava de mãos dadas com seu namorado sempre que podia.
A Kacey de Antes morreu há quatro anos e tudo o que resta é uma bagunça. Uma confusão que passou um ano em reabilitação física para reparar seu corpo despedaçado, apenas para ser liberada com uma alma despedaçada. Uma confusão cujas notas desceram para o fundo da classe. Que afundou em um mundo de drogas e álcool por um ano, como forma de enfrentamento. A Kacey de Depois não chora, nem uma única lágrima. Eu não tenho certeza se ela sabe fazê-lo. Ela não se abre sobre nada; ela não suporta a sensação de mãos porque a lembram da morte. Ela não deixa as pessoas entrarem, porque dor sempre vem junto. A visão de um piano envia-a em uma névoa vertiginosa. Seu único consolo é bater a merda para fora de sacos de areia gigantes até os nós dos dedos estarem vermelhos e os pés estarem feridos e seu corpo - mantido inteiro com incontáveis hastes de metal e
pinos - parecer que vai desmoronar. Eu conheço a Kacey de Depois bem. Para melhor ou para pior, eu tenho certeza que estou presa com ela.
Mas Livie lembra da Kacey de Antes e por Livie, vou tentar qualquer coisa. Eu empurro os cantos da minha boca para fora para formar um sorriso. É uma sensação estranha e, pelo estremecimento no rosto de Livie, provavelmente parece um pouco ameaçador. — Tudo bem. — Eu vou para girar a manivela.
— Espere!
— Deus, Livie! E agora? — Eu suspiro exasperada.
— Aqui. — Ela me dá seu guarda-chuva rosa e preto de bolinhas. — Ele pode ser um assassino em série.
Agora eu inclino minha cabeça para trás e rio. Tal som estranho e raro, porque eu não faço isso muitas vezes, mas é genuíno. — E o que devo fazer com isso? Picá-lo?
Ela encolhe os ombros. — Melhor do que socá-lo, como você quer fazer.
— Ok, ok, vamos ver com o que estamos lidando aqui. — Eu me inclino para a janela ao lado da porta e empurro a cortina, à procura de um homem grisalho com uma muito pequena t-shirt desbotada e meias pretas. Uma pequena parte de mim desperta com a ideia de que pode ser aquele cara Trent da lavanderia. Aqueles olhos ardentes invadiram meus pensamentos várias vezes sem convite ao longo dos últimos dias, e eu tive alguma dificuldade em expulsá-lo quando ele estava lá. Eu mesmo me peguei olhando para a parede adjacente entre nossos apartamentos como uma aberração, me perguntando o que ele estava fazendo. Mas a música é proveniente do outro lado de modo que não pode ser ele.
Um rabo de cavalo loiro abana para trás e para a frente do lado de fora de nossa porta em vez disso. — Sério? — Eu ronco, atrapalhando-me com a tranca.
A Barbie está do lado de fora. Não é brincadeira. Uma barbie verdadeira de um metro e 55 centímetros, altamente bronzeada, loira, com lábios cheios e íris gigantes azuis. Eu encontro-me sem palavras, avaliando seus minúsculos shorts de algodão e a forma como o logo da “Play Boy” se distorce ao ser esticado pela sua parte da frente do top. Aqueles definitivamente não são verdadeiros. Eles são do tamanho de balões de ar quente.
Um sotaque suave quebra meu transe. — Oi, eu sou Nora Matthews, da porta ao lado. Todo mundo me chama de Storm9.
Storm? Storm do apartamento ao lado com balões gigantes costurados em seu peito?
Uma garganta é limpa e eu percebo que ainda estou olhando para eles. Eu rapidamente desvio meu olhar de volta para seu rosto. — Está tudo bem. O médico me deu um aumento bônus enquanto eu estava dormindo. — Ela brinca com uma risadinha nervosa, ganhando uma tosse sufocada de choque de Livie.
Nossa nova vizinha, Nora, a.k.a10 Storm, com peitos gigantes falsos. Eu me pergunto se Tanner deu-lhe o discurso de “Sem orgias, mantenha a paz” quando ele entregou-lhe as chaves.
Ela estende o braço tonificado e eu imediatamente fico tensa, lutando para não recuar visivelmente. É por isso que eu odeio conhecer novas pessoas. Nesta era de doenças, não podemos todos apenas acenar uns para os outros e terminar com isso?
Uma cabeça de cabelo negro aparece em minha visão quando Livie mergulha para agarrar a mão estendida de Storm. — Oi, eu sou Livie. — Eu silenciosamente agradeço a minha irmã por me salvar mais uma vez. — Esta é minha irmã, Kacey. Somos novas em Miami.
Storm oferece a Livie um sorriso perfeito e se vira para mim. — Olha, eu sinto muito sobre a música. — Então ela pode dizer que eu sou a instigadora. — Eu não tinha ideia de que alguém se mudou para a porta ao lado. Eu trabalho à noite e a minha menina de cinco anos de idade acorda-me cedo de manhã. É tudo o que posso fazer para ficar acordada.
É então que percebo que o branco de seus olhos está vermelho. Culpa me esfaqueia, por saber que há uma criança envolvida. Caramba. Eu odeio sentir culpa, especialmente por estranhos.
Livie limpa a garganta e foca um olhar de ‘lembre-se de não ser uma cadela’ em mim.
— Não é grande coisa. Apenas talvez, não tão alto? Ou de 1980? — Eu sugiro.
9 Tradução literal: Tempestade.
10 Expressão para ‘também conhecida como’.
— Meu pai me viciou em AC/DC. Eu sei, não é legal. — Ela sorri. — Estou aceitando pedidos. Qualquer coisa, exceto Hannah Montana, por favor! — Ela segura as mãos na frente dela, em sinal de rendição, ganhando uma risadinha de Livie.
— Mamãe! — Uma versão pequena de Storm de pijama listrado aparece, colocando-se atrás das longas pernas bem torneadas de sua mãe enquanto ela espia para examinar-nos com o polegar na boca. Ela é a criança mais linda que eu já vi.
— Estas são nossas novas vizinhas, Kacey e Livie. Esta é Mia. — Storm apresenta, com a mão acariciando os cachos loiro-escuros da menina.
— Oi! — Livie grita com esse tom reservado para crianças. — Prazer em conhecê-la.
Não importa que tipo de bagunça eu virei, crianças pequenas têm o poder de temporariamente derreter a camada de gelo revestindo protetoramente meu coração. Elas e filhotes barrigudos. — Olá, Mia. — Eu ofereço suavemente.
Mia recua com hesitação, olhando para Storm.
— Ela é tímida em torno de estranhos. — Storm se desculpa em seguida, olha para baixo para falar com Mia. — Está tudo bem. Talvez essas meninas serão suas novas amigas.
As palavras “novas amigas” são tudo o que é preciso. Mia sai de trás das pernas de sua mãe e vaga em nosso apartamento, arrastando um cobertor de lã amarela desbotada atrás dela. No início, ela simplesmente analisa nossa casa, provavelmente para investigar indícios sobre suas novas “amigas.” Quando seus olhos finalmente descansam em Livie, eles não se movem de novo.
Livie cai de joelhos para encontrar Mia cara a cara, um sorriso gigante esticando os seus lábios. — Eu sou Livie.
Mia sustenta seu cobertor, com o rosto sério. — Este é o Sr. Magoo. Ele é meu amigo. — Agora que ela está falando, eu posso ver uma lacuna gigante onde ela perdeu os dois dentes da frente. Ela é instantaneamente muito mais fofa.
— Prazer em conhecê-lo, Sr. Magoo. — Livie aperta o tecido entre o polegar e o dedo indicador, agitando sua mão em brincadeira. Livie deve ter passado no teste do Sr. Magoo, porque Mia agarra o braço dela e puxa-a para fora da porta. — Venha conhecer os meus outros amigos. — Elas desaparecem no apartamento de Storm, deixando apenas Storm e eu.
— Vocês não são dessa zona. — É uma afirmação, não uma pergunta. Espero que ela deixe por isso mesmo. — Vocês já estão aqui há muito tempo? — Os olhos avaliadores de Storm flutuam sobre nossa sala de estar escassa, bem como sua filha fez, pairando sobre um retrato emoldurado de nós com os meus pais sobre a parede da sala. Livie retirou-o da parede da sala de família da tia Darla enquanto corríamos para a porta.
Eu silenciosamente admoesto Livie por pendurá-lo lá para todos verem, fazerem perguntas, mesmo que eu não tenha o direito. Algumas vezes Livie fica determinada sobre alguma coisa. Essa é uma delas. Se fosse por mim, ele ficaria no quarto de Livie, onde eu pudesse ir visitá-lo ocasionalmente.
É muito difícil para mim olhar para seus rostos.
— Apenas há alguns dias. Não é caseiro?
A boca de Storm curva em um sorriso pela minha tentativa de humor. Livie e eu saqueamos o local Dollarama11 para algumas necessidades básicas. Afora isso e a imagem da família, a única coisa que nós adicionamos é o cheiro de água sanitária no lugar da naftalina.
Storm assente, cruzando os braços sobre o peito, como se para afastar um calafrio. Não há frio. Miami é quente, mesmo às seis horas da manhã — É o que funciona por agora, certo? Isso é tudo o que podemos pedir. — Diz ela em voz baixa. De alguma forma, tenho a sensação de que ela está falando de mais do que o apartamento.
Há um grito de alegria da porta ao lado e Storm ri. — Sua irmã é boa com as crianças.
— Sim, Livie tem algum tipo de poder magnético sobre elas. Nenhuma criança pode resistir a ela. Em casa ela se oferecia para ajudar na nossa creche local muitas vezes. Tenho certeza que ela vai ter pelo menos 12 dos seus. — Eu me inclino para um sussurro simulado por trás da minha mão. — Espere até que ela descubra o que precisa fazer com os meninos para que isso aconteça.
Storm ri baixinho. — Tenho certeza que ela vai aprender logo. Ela é impressionante. Quantos anos ela tem?
— Quinze.
Ela acena com a cabeça devagar. — E você? Está na faculdade?
11 Loja com produtos baratos.
— Eu? — Dou um suspiro, lutando contra o desejo de me calar. Ela está fazendo um monte de perguntas pessoais sobre nós. Eu ouço a voz de Livie dentro da minha cabeça. Tente... — Não, eu estou trabalhando agora. Escola virá mais tarde. Talvez em um ou dois anos. — Ou 10. Eu vou me certificar que Livie está criada antes de mim, isso é certo. Ela é a única com um futuro brilhante pela frente.
Há uma longa pausa enquanto nós duas estamos perdidas em nossos próprios pensamentos. — É o que funciona por agora, certo? — Faço minhas as suas palavras anteriores e vejo uma compreensão naqueles olhos azuis, mal ocultando seu próprio armário escuro de esqueletos.
Fase Dois Negação
Capítulo 3
Entro meio adormecida na cozinha para encontrar Livie e Mia na mesa de jantar pequena, jogando Go Fish12. — Bom dia! — Livie canta.
— Bom dia! — Mia imita.
— São tipo oito horas. — Murmuro enquanto pego o jarro de sumo de laranja barato da geladeira.
— Como foi o trabalho? — Livie perguntou.
Tomo um gole gigante do jarro. — Merda.
Há um ofego agudo e eu encontro o dedo curto de Mia esfaqueando o ar em minha direção. — Kacey acabou de dizer uma palavra feia! — Ela sussurra.
Eu me encolho quando pego o olhar infeliz de Livie. — Eu tenho direito a um erro, ok? — Digo, procurando uma maneira de me desculpar. Eu vou ter que ter cuidado com a minha língua, se Mia vai ficar por aí.
Mia inclina a cabeça para um lado, provavelmente considerando a minha lógica. Então, como qualquer boa criança de cinco anos de atenção limitada, minha infração
12 Jogo de Cartas.
hedionda é rapidamente esquecida. Ela sorri e anuncia: — Vocês estão vindo para o brunch13. Não café da manhã e não almoço.
Agora é a minha vez de encarar Livie. — Nós vamos, é?
Baixando a testa, Livie se levanta e vem para o meu lado. — Você disse que ia tentar. — Ela me lembra em um sussurro baixo para Mia não ouvir.
— Eu disse que ia ser boa. Não disse que ia trocar receitas de muffin com os vizinhos. — Eu respondo, tentando duro não rosnar.
Recebo um revirar de olhos. — Pare de ser dramática. Storm é legal. Eu acho que você vai gostar dela se parar de evitá-la. E todos os outros seres vivos.
— Quero que você saiba que eu graciosamente servi mais de mil xícaras de café esta semana para as criaturas vivas. Algumas muito questionáveis também.
Cruzando os braços, o olhar de Livie achata, mas ela não diz nada.
— Eu não estou evitando as pessoas. — Sim, estou. Todas, incluindo a Barbie. E o Covinhas ao lado. Definitivamente ele sim. Eu tenho certeza que vi seu corpo definido olhando pela janela quando eu cheguei em casa à noite, algumas vezes, mas eu abaixei a cabeça e passei acelerada, minhas entranhas apertando com a ideia de vê-lo cara a cara novamente.
— Sério? Porque Storm acha que você está. Ela saiu para falar com você no outro dia, e você correu para o apartamento como um raio antes que ela pudesse dizer 'oi'.
Eu me escondo atrás de outro gole de suco. Apanhada. Eu fiz isso totalmente. Ouvi-a destravar a porta e os começos de um “Olá, Kacey,” e eu corri para fechar a nossa porta do apartamento.
— Eu sou como um raio. Garota Relâmpago tem um belo atrativo sonoro. — Eu digo.
Livie observa enquanto eu analiso o conteúdo escasso da nossa geladeira e o meu estômago protesta com um grunhido perfeitamente cronometrado. Nós concordamos em gastar o mínimo possível até que eu tenha um cheque de pagamento ou dois no banco, então estamos vivendo de Cheerios sem marca e sanduíches de mortadela por mais de uma semana. Dado que eu preciso de mais calorias do que uma garota comum de vinte
13 Refeição que engloba café da manhã e almoço.
anos para funcionar, isso me deixou lenta. Acho que se oferecer para nos alimentar dá a Storm pelo menos cinco pontos no banco de amiga em potencial.
Minha língua desliza sobre os dentes superiores. — Tudo bem.
O rosto de Livie se ilumina. — Isso é um sim?
Eu dou de ombros, agindo indiferente. No interior, o pânico é crescente. Livie está ficando muito ligada a essas pessoas. Ligações são ruins. Ligações levam à dor. Eu faço uma careta. — Desde que ela não faça mortadela.
Ela ri e eu sei que é mais do que a minha piada brega. Ela sabe que eu estou tentando, e isso a faz feliz.
Mudo de assunto. — Como é a sua nova escola, a propósito? — Eu trabalhei no turno da tarde durante toda a semana então nós não falamos uma única vez, além de algumas notas no balcão da cozinha.
— Ah... certo. — A face de Livie empalidece como se ela tivesse visto um fantasma. Ela pega sua mochila, com um olhar para trás para ver Mia ocupada fazendo seu jogo próprio de cartas na mesa. — Eu verifiquei a minha conta de e-mail na escola. — Ela explica enquanto me entrega um pedaço de papel.
Minhas costas endurecem. Eu sabia que isso iria acontecer.
Querida Olivia,
Presumo que a sua irmã a tenha convencido a fugir. Não posso entender por que, mas eu espero que você esteja segura. Por favor, me envie uma mensagem para deixar-me saber onde você está. Eu vou buscá-la e levá-la para casa, onde seus pais querem que você esteja. Isso vai fazê-los felizes.
Eu não estou chateada com você. Você é uma ovelha desviada por um lobo. Por favor, deixe-me levá-la para casa. Seu tio e eu sentimos sua falta terrivelmente.
Amor,
Tia Darla
Calor explode como um vulcão dentro de mim ao mesmo tempo que meu sangue ferve. Não sobre o comentário de lobo. Eu não me importo com isso. Ela me chamou pior. O que eu me importo é com ela usar os nossos pais como uma viagem de culpa, sabendo muito bem que tinha machucado Livie. — Você não respondeu, não é?
Livie balança a cabeça solenemente.
— Bom. — Eu falo com os dentes cerrados, amassando o bilhete em uma bola. —Exclua a sua conta. Crie uma nova. Nunca responda a ela. Nem uma vez, Livie.
— Ok, Kacey.
— Estou falando sério! — Eu ouço o pequeno arfar de Mia e rapidamente tempero o meu tom. — Nós não precisamos deles em nossas vidas.
Há uma longa pausa. — Ela não é uma pessoa má. Ela tem boas intenções. — A voz de Livie fica suave. — Você não tornou as coisas exatamente fáceis para ela.
Eu afasto o pedaço de culpa formando no fundo da minha garganta, rivalizando para dominar a minha raiva. — Eu sei disso, Livie. Eu sei, realmente. Mas o jeito de tia Darla de ‘boas intenções’ não funciona para nós. — Minhas mãos movem-se para esfregar a testa. Eu não sou idiota. No primeiro ano após o acidente, eu coloquei todo o meu esforço, foco, e pensamento em consertar meu corpo para que eu pudesse me mover novamente. Uma vez liberado, o meu foco mudou para empurrar as memórias de minha vida anterior em um poço sem fundo. Havia dias impossíveis embora - feriados, aniversário, e afins - e eu aprendi rapidamente que o álcool e as drogas, enquanto capazes de destruir vidas, também tinham poderes mágicos, o poder de adormecer a dor. Mais e mais eu confiei nessas armas contra a corrente constante e avassaladora de água inchando sobre a minha cabeça, ameaçando me afogar.
Isso e sexo. Sexo sem sentido, do tipo “ter o que eu quero” com estranhos com quem eu não me importava, e que não se importavam comigo. Sem expectativas, pelo menos não da minha parte. Caras de festas, rapazes da escola. Se era difícil para eles depois, eu não me importava. Eu nunca deixei-os chegar perto o suficiente para descobrir. Foi o mecanismo perfeito de enfrentamento.
Tia Darla sabia o que estava acontecendo. Ela não sabia como lidar com isso. No início, ela tentou empurrar-me para um padre para que ele pudesse enfrentar e me livrar dos demônios interiores. Isso tudo tinha que ser obra de demônios, afinal de contas, de acordo com ela. Mas quando os demônios mostraram-se resistentes aos poderes de sua
igreja, acho que ela decidiu que ignorar era melhor. “É apenas uma fase,” eu a ouvia sussurrar para Livie com um tapinha reconfortante. Uma fase nojenta e autodepreciativa da qual ela não queria fazer parte. A partir desse ponto, ela colocou todo o seu foco em sua sobrinha não-quebrada.
Eu estava bem com isso.
Até que eu acordei com Livie batendo em minhas costas para me impedir de me asfixiar com meu próprio vômito, lágrimas escorrendo pelo seu rosto, chorando histericamente, dizendo uma e outra vez: “Prometa que você não vai me deixar!” Suas palavras como uma faca apunhalando através do meu coração.
Parei tudo naquela noite. A bebida. As drogas. O sexo aleatório. O sexo, ponto. Eu não olhei sequer para um cara desde então. Não sei por que. Eu acho que tudo está conectado em minha mente. Felizmente, eu encontrei uma nova forma de enfrentar as coisas com kick boxing logo depois. Livie nunca aprovou completamente ou me apoiou neste novo vício, mas ela alegremente o prefere sobre as outras coisas.
Eu bato a porta da geladeira, não querendo pensar mais na tia Darla ou nas profundezas do meu passado autodestrutivo. — O café da manhã é a que horas?
— Brunch! — Mia corrige-me com um suspiro de exasperação.
***
Os cheiros deliciosos de bacon e café despertaram ainda mais a minha fome enquanto seguíamos Mia até sua casa. Eu mentalmente me dei palmadinhas nas costas por fazer a escolha certa. Se nada mais, eu ia ter cargas de energia para o ginásio hoje.
Minha atenção flutua sobre o apartamento de Storm com um grau de temor. É um espelho do nosso, exceto que é legal. Ela encheu a sala com um sofá cinza em formato de L, almofadas brilhantes e mesas de vidro com pequenas lâmpadas bonitas de cristal. Uma televisão de tela plana está sobre um armário elegante de teca. O tapete verde horroroso espreita debaixo de um tapete creme felpudo. Suas paredes são cinza claro e salpicadas de fotos amorosas em preto e branco de Mia. Onde nosso apartamento parece um aluguel barato, o de Storm parece uma boutique feminina.
Eu tenho que admitir, enquanto sento-me à mesa e escuto calmamente Storm, Livie e Mia brincando para frente e para trás, eu estou começando a gostar de Storm querendo ou não. Embora uma pessoa nunca saberia olhando para ela - com essas infláveis distrações em seu peito - Storm é inteligente e ela age como se fosse muito mais velha do que seus 23 anos. Não demora tempo para ver isso. Ela é relaxada e diz uma piada inteligente aqui e ali em sua voz rouca, mas suave. Ela mexe muito em seu cabelo, e ri com facilidade, e não vejo nada exceto sinceridade e interesse em seus olhos. Para alguém tão bonita, ela não vem transversalmente como vã ou egoísta. Principalmente ela escuta. E observa. Esses olhos astutos analisam tudo. Pego-a estudando a tatuagem na minha coxa, seus olhos estreitando um pouco quando tenho certeza que ela nota a terrível cicatriz abaixo. É uma grande cicatriz que não foi causada por cirurgia no meu corpo, mas a partir de um pedaço irregular de vidro voando.
Ela não pergunta sobre isso, porém, o que me faz gostar dela ainda mais.
— Oh, cara! — Storm exclama através de um bocejo, seus olhos vermelhos e forrados com sacos roxos escuros. Inclinando-se sobre os cotovelos, ela esfrega o rosto ferozmente. — Eu não posso esperar até que Mia aprenda a dormir até tarde. Pelo menos durante a semana eu posso tirar uma sesta no meio da manhã, enquanto ela está na escola.
— Ah, eu ia te perguntar. Você se importa se eu levar Mia para o parque no fim da rua? — Livie oferece como se ela estivesse pensando sobre isso e tivesse realmente esquecido. Eu imediatamente vejo o que ela está fazendo. Isso é tão Livie. — Eu não vou deixá-la fora da minha vista. Nem por um segundo, prometo. Eu tenho a minha certificação de CPR, a minha designação de salva-vidas júnior, milhares de horas em uma creche privada. — Livie começa a recitar seu currículo impressionante. — Eu até tenho uma cópia impressa do meu currículo em nosso apartamento, se você quiser ter uma cópia. E referências! — Claro que você tem, Livie. — Estaremos de volta em, digamos, quatro horas, se estiver tudo bem com você?
— Sim, mamãe! Diga que sim! — Mia salta para cima e para baixo no sofá, agitando os braços freneticamente. — Diga que sim! Sim! Sim! Mamãe, diga sim!
— Ok, ok. Acalme-se. — Storm ri, acenando no ar. — É claro que você pode, Livie. Você já passa tanto tempo com ela de qualquer forma, eu não estou preocupada com suas credenciais. Eu deveria lhe pagar, embora!
— Não. Absolutamente não. — Livie afasta suas palavras com um aceno de mão, ganhando meu olhar afiado. Ela é louca? Será que ela gosta de comer mortadela? Devemos passar para Spam14?
Livie ajuda Mia com seus sapatos. — Adeus, mamãe! — Mia grita em seu caminho para fora. Livie evita fazer contato visual comigo. É como se ela tivesse uma linha para o meu cérebro e pudesse ler os meus pensamentos mordazes.
Assim que a porta se fecha, a testa de Storm cai para cima da mesa. — Eu pensei que ia morrer hoje. Oh, Kacey. Eu juro, sua irmã é como um anjo flutuando por aí com asas pequenas de cetim e uma varinha mágica. Eu nunca encontrei alguém como ela. Mia já está tão apaixonada por ela.
A camada de gelo sobre o meu coração derrete. Decido que talvez eu possa “tentar” ser amiga de Storm Matthews, seios gigantes falsos e tudo.
***
— Até mais, Livie. — Eu resmungo, pegando as minhas coisas para o Starbucks, uma carranca torcendo meu rosto.
— Kace... — Há uma longa pausa. O movimento de engolir em seco de Livie enche o silêncio no apartamento e eu sei que algo a está incomodando.
— Ugh, Livie! — Eu jogo a minha cabeça para trás. — Fala logo. Não quero estar atrasada para o meu trabalho estelar.
— Eu acho que deveria ter ficado em Grand Rapids.
Isso congela os meus pés. Raiva faísca dentro de mim com o pensamento de minha irmã ficar lá. Não comigo. — Pare de dizer coisas estúpidas como essa, Livie. — Eu toco o seu nariz, fazendo-a estremecer. — Agora mesmo. Claro que você não deveria ter ficado em Grand Rapids.
— Como vamos sobreviver embora?
14 Carne enlatada
— Com 10 horas de prostituição para cada uma de nós. No máximo.
— Kacey!
Eu suspiro, ficando séria. — Nós vamos achar um jeito.
— Eu posso conseguir um emprego.
— Você precisa se concentrar na escola, Livie. Mas... — Eu agito meu dedo para ela. — Se Storm oferecer-lhe dinheiro de novo, aceite.
Ela já está sacudindo a cabeça. — Não. Eu não vou aceitar dinheiro para passar o tempo com Mia. Ela é divertida.
— Você devia estar se divertindo com pessoas da sua idade, Livie. Como meninos.
Ela ergue o queixo teimosamente. — Quando eles não forem idiotas, eu vou fazer isso. Até então, crianças de cinco anos fazem mais sentido.
Eu sufoco o riso. Isso é parte do problema de Livie. Ela é muito inteligente. Inteligente tipo gênio. Ela nunca se relacionou com as crianças de sua idade. Eu acho que ela nasceu com a maturidade de 25 anos de idade. Perder meus pais apenas exacerbou o problema. Ela cresceu muito rápido.
— E você? Nunca é tarde demais para o sonho de Princeton. — Diz ela em voz baixa.
Um bufo pouco atraente me escapa. — Esse sonho morreu há anos para mim, Livie, e você sabe disso. Você vai, em uma bolsa integral que você vai ganhar. Eu vou me candidatar para algo local assim que tiver o dinheiro. — E de alguma forma forjar minha transcrição para compensar dois anos de notas péssimas.
Sua testa franze do jeito que sempre faz quando Livie está preocupada. — Local, Kacey? Papai odiaria isso. — Ela está certa, ele iria odiar. Nosso pai foi para Princeton. Seu pai foi para Princeton. Na opinião dele, eu podia muito bem me inscrever em uma escola com arcos dourados15 e ter a matéria “Virar Hambúrgueres para Iniciados” se eu não fosse para Princeton. Mas mamãe e papai se foram e o tio Raymond explodiu nossa herança inteira em uma mesa de Black Jack.
Lembro-me da noite que eu descobri sobre isso como se fosse ontem. Foi o meu décimo nono aniversário e eu pedi a tia Darla e ao tio Raymond o nosso dinheiro para que
15 McDonalds.
pudéssemos mudar de casa. Eu queria ser a Responsável Legal de Livie. Eu sabia que algo estava acontecendo quando a tia Darla não podia encontrar meus olhos. Tio Raymond tropeçou em suas palavras antes de deixar escapar que não havia mais nada.
Depois de quebrar quase todos os pratos no balcão da cozinha e atolar meu pé na jugular de tio Raymond tanto que seu rosto ficou roxo, eu liguei aos policiais, pronta para acusá-los de roubo. Livie pegou o telefone de mim e desligou antes que a chamada se efetuasse. Nós não iríamos ganhar. Eu, provavelmente, seria a única presa. Tão inteligentes como a mãe e o pai eram, eles não planejaram morrer. Todo o dinheiro restante após os débitos serem pagos foi para o tio Raymond e para tia Darla para ‘cuidarem’ de nós. Secretamente, eu estou meio feliz que o tio Raymond tenha feito tudo o que ele fez. Isso me deu outra desculpa legítima para tirar minha irmã de lá e deixar para trás essa parte de nossas vidas definitivamente.
Eu dou um tapinha nas costas de Livie, tentando apaziguar seu sentimento de culpa. — Papai ficaria feliz que estamos seguras. Fim da história.
***
No dia seguinte, eu estou na lavanderia, quando Storm desce os degraus, sorrindo, mas com os olhos pálidos. Livie levou Mia ao parque de novo e eu estou considerando seriamente bater em sua cabeça por se recusar a pegar o dinheiro.
— Tanner deve ter suas calcinhas todas retorcidas por causa disso16. — Storm desliza seu pé pela mancha verde pegajosa deixada por meu detergente. Eu abaixo minha cabeça, em silêncio, lembrando-me para voltar e esfregar o chão. O pensamento de Tanner em qualquer tipo de roupa de baixo faz subir bile na minha garganta.
Eu calmamente continuo minha distribuição de roupa até perceber Storm lá de pé e de braços cruzados, olhando para mim. É óbvio que ela quer falar comigo, mas provavelmente não sabe por onde começar.
— Há quanto tempo você mora aqui? — Eu finalmente pergunto.
16 Expressão para alguém que está puto da vida, mas deixei o original por causa do que ela pensa em seguida.
Eu acho que a minha voz a assusta porque ela pula e começa a jogar pequenas t-shirts e pequenas calcinhas de Mia na máquina. — Oh, três anos, eu acho? É um edifício bastante seguro, mas eu ainda não teria vindo aqui à noite.
Suas palavras me trazem de volta para pensamentos de Trent e os sentimentos indesejados que ele suscita tão facilmente. Estamos aqui há semanas e eu não o encontrei desde então. Se eu cavar fundo, se eu prestar atenção para o que estou tentando enterrar, eu pego um vislumbre de decepção por esse fato. Mas rapidamente esmago-o com um martelo e jogo-o no poço com todos os outros sentimentos indesejados.
— Como são as outras pessoas no prédio?
Ela encolhe os ombros. — Um monte de gente entra e sai. O aluguel é barato então temos um monte de garotos universitários. Eles sempre foram agradáveis, especialmente para Mia. A Sra. Potterage no terceiro andar ajuda a tomar conta dela depois da escola e quando eu trabalho. Oh! — Ela agita um dedo. — Evite o 2B como a peste. É o de Pete Pervertido.
Minha cabeça se inclina para trás com um gemido. — Fantástico. Nenhum edifício está completo sem um pervertido residente.
— Ah, e um novo cara mora próximo a você. 1D.
Eu não posso controlar o pouco de calor subindo pelo meu pescoço. — Sim, Trent. — Eu digo casualmente enquanto inicio a máquina. Até mesmo o nome dele em voz alta soa quente. Trent. Trent. Trent. Pare com isso, Kace.
— Bem, eu não falei com esse Trent, mas eu o vi e... Wowza. — Suas sobrancelhas agitam sugestivamente.
Ótimo. Minha linda vizinha Barbie pensa que Trent é quente. Tudo o que ela tem a fazer é ajustar sua camisa e ela vai tê-lo de joelhos. Percebo que meus dentes estão cerrados dolorosamente e eu foco em liberar meus músculos. Ela pode ficar com ele e todos os problemas que vem com ele. Por que você se importa, Kace?
Fechando a máquina e ligando-a, Storm exala profundamente, soprando a franja longa de seu rosto. — Você vai ficar aqui por um tempo? — Ela olha para o jornal e marcador que eu trouxe para baixo comigo. — Você se importaria de desligar minha máquina quando o programa terminar? Quer dizer, se você estiver por perto e não for muito problema.
Olho para ela de novo, a sua pele puxada e as linhas arroxeadas que estragam seus lindos olhos azuis e vejo como ela está desgastada. Jovem, mãe solteira com uma menina de cinco anos de idade e ela trabalha seis dias por semana, até três horas da manhã a cada noite?
— Sim, não há problema. — Isso soa como algo que uma pessoa agradável e normal faria, eu digo a mim mesma. Livie vai ficar orgulhosa de mim.
— Tem certeza? Eu não quero impor.
Percebo que ela está mordendo o lábio e seus ombros estão tensos e então vejo que ela está nervosa. Pedir minha ajuda provavelmente levou uma tonelada de coragem e ela deve estar desesperada o suficiente para pedir. Perceber isso me faz querer bater minha cabeça contra uma parede. Claramente, eu não tentei muito ser acessível, como prometi a Livie que eu faria. E Storm é boa. Realmente, genuinamente boa.
— Por que, minha senhora, eu acho que seria uma honra lavar suas roupas. — Eu digo com um falso sotaque do sul, pegando o jornal para me abanar com ele.
Seu rosto se ilumina com surpresa quando ela ri. Ela abre a boca para responder, mas não sai nada. O fato de eu ter um senso de humor chocou-a. Droga, Livie está certa. Eu sou uma rainha do gelo.
Rapidamente acrescento: — Além disso, eu devo a você pela semana passada. É o mínimo que posso fazer depois de usar Hannah - a mais suja de todas as armas. — Eu sorrio e não é forçado. — Eu vou estar lendo a seção de emprego, portanto, posso muito bem fazê-lo neste paraíso.
Ela franze a testa. — Starbucks não está resultando? — Livie deve ter dito a ela, porque eu com certeza não disse.
— É ok, mas o salário é uma merda. Se eu quiser viver de Spam e de raspar manchas azuis de bolor para fora do pão o resto da minha vida, assim eu consigo.
Ela acena com a cabeça, pensando. — Vocês deveriam vir para o jantar hoje à noite. — Eu abro minha boca para recusar a caridade e ela acrescenta: — Como agradecimento à Livie por cuidar de Mia hoje. — Há algo nesse tom, uma mistura de bravura forçada, mas também um nível de autoridade natural que me faz fechar a boca.
— E... — Ela muda seus pés um pouco hesitante, como se não tivesse certeza se ela deve dizer o que está em sua mente: —... Você sabe como misturar bebidas?
— Uh... — Eu pisco rapidamente com a mudança repentina de assunto. — Não é um pouco cedo no dia para isso?
Ela sorri, seus dentes perfeitos brilhando. — Como martinis e Long Islands?
— Eu preparo uma dose de tequila assassina. — Ofereço de coração.
— Bem, eu posso falar com meu chefe e ver se ele vai contratá-la, se você estiver interessada. Eu sou bartender em um clube. O dinheiro é bom. — Seus olhos se alargam com as últimas palavras. — Tipo, muito bom.
— Bartender, hein?
Ela sorri. — Então, o que você acha?
Será que eu poderia lidar com isso? Eu não disse nada, tentando imaginar-me atrás de um bar. O visual termina comigo quebrando uma garrafa e chutando um ‘cliente de mãos inquietas’ na cabeça.
— Eu provavelmente deveria avisá-la, no entanto. — Ela hesita. — É um clube adulto.
Sinto um franzir surgindo na minha testa. — Adulto como...
— Strippers.
— Ah... — É claro. Olho para mim mesma. — Sim, eu sou o tipo de menina de “manter as roupas em multidões.”
As mãos de Storm acenam para longe as minhas palavras. — Não, não se preocupe. Você não teria que tirar a roupa. Eu prometo.
Eu? Trabalhar em um clube de strip? — Você acha que eu ia me encaixar, Storm?
— Você pode lidar com ser cercada por sexo, bebida, e um monte de dinheiro?
Dou de ombros. — Parece como a minha adolescência, menos o dinheiro.
— Você pode aprender a sorrir um pouco mais? — Ela pergunta com uma risadinha nervosa.
Eu pisco-lhe o meu melhor sorriso falso.
Ela acena com aprovação. — Ótimo. Eu acho que você vai fazer bem atrás do bar. Você tem uma aparência que eles vão gostar.
Eu ronco. — Que aparência? A de “acabei de sair de um ônibus de Michigan e vou fazer qualquer coisa por dinheiro para não ter que comer Spam”?
Os cantos de seus olhos enrugam quando ela ri. — Pense sobre isso e deixe-me falar com o meu chefe. É realmente um bom dinheiro. Você não teria que comer Spam novamente. Nunca. — Com isso, ela pula as escadas.
Eu penso sobre isso. Penso sobre isso, enquanto observo as roupas de Storm e Mia girando em círculos. Eu penso nisso enquanto o temporizador desliga e eu coloco as roupas no secador e inicio duas novas cargas. Eu penso sobre isso enquanto separo e dobro as roupas recém limpas em pilhas e recarrego o cesto, prestando uma atenção excessiva ao trajes sumários na pilha de Storm. Como um top preto minúsculo que parece um cruzamento entre um sutiã esportivo de lantejoulas e algo de um animal selvagem mutilado. Eu seguro-o. Será que ela serve bebidas ou seu corpo nisto? Isso explicaria seus peitos ridículos. Uau. Eu poderia estar fazendo amizade com uma stripper. Isso parece estranho. E então eu reconheço que estou avaliando sua roupa interior. Isso soa ainda mais estranho.
— Diga-me onde você usa isso para que eu possa estar lá para testemunhá-lo. — Sua voz profunda me assusta novamente. Eu suspiro quando minha cabeça se vira para ver Trent andar em minha direção com um saco de roupa pendurada em seu ombro. Minha respiração se prende com a visão dele e aquelas covinhas profundas quando ele pisca descaradamente. Passaram mais de duas semanas desde que eu me encontrei com ele aqui, mas vê-lo imediatamente acende um fogo dentro de mim.
Mais uma vez na lavanderia? Quais são as chances? Inalando profundamente, me obrigo a relaxar. Estou mais bem preparada desta vez. Eu não vou agir como um cadete do espaço. Eu não vou deixar seu belo rosto me desarmar. Eu não vou... — Bem, bem. A Aberração da Lavanderia ataca novamente.
Trent sorri ao mesmo tempo em que sua atenção desliza pelo meu corpo, parando para examinar a tatuagem em minha coxa por um momento antes de voltar para o meu rosto. No momento em que chega lá, meu pulso está correndo e eu acho que posso ter que mudar minha calcinha. Caramba. Aqui vamos nós outra vez. — Round dois. — Eu murmuro antes que possa parar.
Suas sobrancelhas se erguem com surpresa quando ele se move em direção à máquina de lavar aberta.
Eu tento não cobiçar seu corpo definido através de sua t-shirt branca, observando-o despejar um conjunto de lençóis brancos para a lavagem. — Você lava muito seus lençóis. — Observo friamente, pensando que é um comentário bastante inócuo.
As mãos de Trent pausam por um segundo e então ele continua, rindo e balançando a cabeça, mas sem dizer nada. Ele não precisa. Eu percebi o que a minha observação poderia implicar e gemo, lutando contra o desejo de me bater na testa, meu rosto ficando ainda mais quente. Qualquer vantagem que eu achava que tinha quando ele entrou acabou de ser dissolvida em uma confusão quente em meus pés.
Tenho certeza de que seus lençóis veem um monte de ação. Ele tem que ter uma namorada. Alguém como ele deve ter uma namorada. Ou várias amigas de sexo. De qualquer maneira, agora eu quero cavar um buraco e me esconder até que ele saia.
— O que eu posso dizer? É quente em Miami sem ar condicionado. — Ele oferece depois de um momento como se para aliviar o desconforto. Isso é o que eu me engano em pensar de qualquer maneira, até que ele diz: — Mesmo sem roupas, eu acordo fervendo. — E habilmente aumenta minha mortificação.
Trent dorme nu. Minha boca seca quando o meu olhar inevitavelmente se agarra a seu corpo novamente. Do outro lado da parede da minha sala de estar está este deus, em uma cama, deitado nu. Embora eu achasse impossível, meu pulso acelera ainda mais.
Abro minha boca para mudar de tema, mas não consigo pensar em nada coerente. Palavras nadam dentro da minha cabeça, sem sentido. Eu não consigo dar uma resposta maldita remotamente inteligente. Nenhuma. Eu, que posso fazer piadas de orgia e esmagar sacos de bolas arrogantes, estou sem palavras. Ele suavemente estilhaçou meu escudo defensivo com nada além de roupa de cama e uma imagem mental dele nu.
E aquelas covinhas malditas.
Eu observo os músculos de seus ombros se moverem enquanto ele derrama detergente na máquina. Quem sabia que lavar roupa podia ser sexy. Quando ele se vira para mim e pisca, eu pulo.
— Você está bem? — Ele pergunta.
Concordo com a cabeça e tento fazer um som afirmativo, mas soa como um gato estrangulado e tenho certeza que minha cabeça inteira pegou fogo agora.
Ele bate a tampa sobre a máquina de lavar e empurra as moedas para começar a lavagem, então se vira para mim, inclinando-se perto. — Para ser honesto, eu vi você andando para cá com a sua roupa e peguei a primeira coisa que conseguia pensar para lavar.
Espere... O que ele está dizendo? Balanço minha cabeça para afastar a névoa. Acho que ele está me dizendo algo importante.
Ele sorri enquanto empurra a mão para trás por seu cabelo despenteado. Eu quero fazer isso, penso, involuntariamente flexionando meus dedos. Por favor, deixe-me fazer isso. Na verdade, eu quero fazer todos os tipos de coisas para ele. Aqui mesmo no porão sombrio. Na máquina de lavar. No chão. Em qualquer lugar. Eu luto contra o impulso de avançar nele como um animal raivoso. Inferno, eu estou ofegando como um, agora.
— Então, o que as pessoas fazem para se divertir por aqui? — Pergunta ele, inclinando-se para trás um pouco para me dar espaço, como se pudesse ver que eu estou prestes a desmaiar pela sua proximidade.
— Uh... — Leva-me um momento para encontrar a minha voz. E meu juízo. — Passar tempo em lavanderias? — Minhas palavras saem instáveis. Caramba, o que está errado comigo?
Ele sorri amplamente e seu olhar se fixa em meus lábios. A sensação de seus olhos me faz vomitar palavras que meu cérebro não tinha aprovado ainda. — Eu não sei. Acabo de me mudar para cá. Não tive nenhuma diversão ainda. — Oh meu Deus Kacey. Cale-se! Cale a boca! Agora você está parecendo uma cabeça oca e uma perdedora!
Com um sorriso torto, ele se inclina contra a máquina de lavar e cruza os braços sobre o peito. E então ele me olha. Esse olhar dura uma eternidade, até que o suor começa a escorrer por minhas costas. — Bem, nós precisamos mudar isso, não é?
— Huh? — Eu coaxo, calor acendendo no meu baixo ventre. Ele efetivamente me despiu da minha cobertura de titânio novamente. Ele jogou-a para outro planeta onde não tenho esperança de encontrá-la. Estou nua e vulnerável e os seus olhos estão perfurando meu núcleo.
Seu corpo desliza através de sua máquina de lavar até que ele está se inclinando na minha, seu quadril contra o meu, seu braço esticado para o canto oposto da máquina na minha frente, efetivamente invadindo todo o meu espaço pessoal. — Mudar o fato de que você não está se divertindo. — Ele murmura. Minha respiração prende. Eu sinto que ele alcançou dentro de meu corpo e apreendeu meu coração acelerado. Será que ele tem alguma ideia do que está fazendo comigo? Eu sou tão óbvia?
Seu dedo indicador sobe e desliza sobre minha têmpora, pelo meu rosto, para se juntar ao resto da sua mão em concha na minha mandíbula. Ele esfrega meu lábio inferior com a ponta de seu dedo polegar enquanto eu fico de boca aberta para ele. Não posso me mover. Nenhum músculo, como se seu toque tivesse o poder de paralisar. — Você é tão bonita.
Meus nervos estão uma bola de contradições. Seu dedo se sente tão bem contra o meu lábio e ainda essa voz está gritando: Não! Pare! Perigo!
— Você também. — Ouço-me sussurrar e eu imediatamente amaldiçoo a traidora interior.
Não. Deixe. Isso. Acontecer.
Ele se inclina cada vez mais perto até a sua respiração acariciar minha boca. Estou paralisada. Eu juro que ele vai me beijar.
Juro que eu vou deixá-lo.
Mas então ele se endireita, como se lembrando de algo. Limpando a garganta, ele diz, com uma piscadela: — Vejo você por aí, Kacey. — Ele se vira e desaparece subindo as escadas, as pernas compridas dando dois passos de cada vez.
— Si... Sim. Co... com certeza. — Gaguejo, inclinando-me contra a máquina por apoio quando as minhas pernas se transformam em geleia. Tenho certeza de que estou há dois segundos de distância de fundir em uma poça no chão de concreto. Luto contra o impulso de correr atrás dele. Um... dois... três... Eu me esforço para livrar-me da sensação desconfortável que percorre meu corpo. Encolhendo-me mais, eu coloco minha bochecha contra a máquina, minha pele avermelhada apreciando a sensação do metal frio.
Ele é um baita de um jogador. Eu geralmente sou tão boa em desligá-los. Sendo uma mulher em uma academia dominada por homens, eu lidei com os egocêntricos inchados no O'Malleys todos os dias. Segure o meu saco por mim... Domine-me... Os comentários foram
sem fim e sem criatividade. Então, quando eles decidiram que eu devia ser lésbica porque não havia baixado meus shorts para ninguém, os comentários estúpidos aumentaram dez vezes.
Eu nunca tive problemas em resistir ao mais quente deles. Porém, nenhum deles quebrou esta parede magistral de autopreservação que eu construí em volta de mim. Eu gostava de lutar com eles. Adorava deixá-los sobre os seus joelhos. Mas nunca tinham mexido qualquer interesse em mim, físico ou não.
Mas Trent... há algo de diferente nele, e eu não tenho que pensar muito para vê-lo. Algo sobre o jeito que ele assume cada espaço, a maneira como ele olha para mim, como se já tivesse identificado e pudesse desarmar cada um dos mecanismos de minha defesa sem nenhum esforço, como se ele visse através deles diretamente para o desastre abaixo.
E ele quer isso.
— Fodido jogador. — Murmuro enquanto corro para a pia. Um respingo de água temporariamente encharca as chamas em meu peito. Ele é suave. Oh tão suave. Muito mais sofisticado do que os babacas com que eu normalmente lido. Você é tão bonita, lembro, seguida de uma imitação em zombaria de mim dizendo: Você também. Tenho certeza que ele diz isso a todas. Veja só, ele vai encontrar Storm e dizer exatamente a mesma coisa. Oh Deus. Meu intestino dá um espasmo, meus punhos cerram tão apertados que meus dedos ficam brancos. O que vai acontecer quando ele conhecer Storm? Ele vai se apaixonar por ela. Ele é um cara. Qual cara não se apaixonaria pela Doce Barbie Stripper? E então eu vou ser nada mais do que a inquilina do apartamento 1C e eu vou ter que vê-los se abraçando no sofá, e ouvi-los tendo sexo selvagem de stripper do outro lado da parede do meu quarto, e vou querer rasgar os braços de Storm para fora. Caramba. Ligo a água fria e salpico meu rosto novamente. Em um instante, esse cara criou fissuras permanentes em meu terno de sanidade cuidadosamente construído, e eu não sei como lutar contra ele, para me proteger, para mantê-lo fora.
Para manter todos eles do lado de fora.
Noventa e nove por cento de mim sabe que eu preciso mantê-lo à distância. Não há nenhuma vantagem em pensar outra coisa. Ele vai olhar para a minha merda e vai fugir, deixando uma grande bagunça para trás. E ainda, enquanto eu olho a máquina de lavar, onde ele estava, onde os lençóis de sua cama redemoinham, eu dou séria consideração à roubá-los e deixar uma nota de “venha e pegue” em seu lugar. Não. Enfio as mãos com raiva pela minha juba espessa, segurando a parte de trás da minha cabeça, como se para
impedi-la de explodir. Eu preciso ficar longe dele. Ele vai estragar tudo o que eu trabalhei tão duro para consertar.
De repente, eu não posso sair dessa lavanderia rápido o suficiente.
***
Mia e Livie estão sentadas de pernas cruzadas no chão da sala de estar com um jogo de Chutes and Ladders17 entre elas. Uma Storm de banho recentemente tomado despeja espaguete de macarrão em uma panela de água fervente. — Eu espero que você não se importe com um pouco de carne no molho. — Diz ela quando eu entro sem bater. Acho que já passei da fase de bater. Eu já toquei suas tangas, depois de tudo.
— Isso seria ótimo. Suas roupas estão todas aqui.
Ela olha por cima do ombro para o cesto e choque torce o seu rosto. — Você dobrou a minha roupa interior para mim?
— Uh... Não?
Virando-se um pouco mais para ver o meu rosto, ainda encharcado de água da torneira, ela franze a testa. — O que aconteceu com você?
Como posso explicar que tive que tomar um mini banho frio na lavanderia, porque esse maldito vizinho de fala suave nosso encurralou-me? Não posso.
— Foi Maximum Overdrive de Stephen King novamente. A máquina de lavar surgiu para a vida e me atacou. A lavanderia e eu estamos oficialmente de relações cortadas.
— Nunca li esse livro. — Storm diz, ao mesmo tempo em que ouço um pequeno suspiro assustado.
— Eu não estou surpresa. — Murmuro enquanto vou para a cozinha, conseguindo um olhar mordaz de Livie por assustar Mia. Nosso pai nos fez assistir a todos os filmes de sua época como uma forma de manter os clássicos vivos. Na maioria das vezes, ninguém da minha geração tem uma ideia do que estou falando.
17 Jogo de tabuleiro clássico.
Storm vira para mim vestindo um avental que diz: Como está o molho? Alguém viu o meu Band-Aid? E um sorriso grande. — Ei, então eu falei com o meu chefe. O trabalho é seu, se você quiser.
— Storm! — Meus olhos ampliam.
Seus longos cachos loiros balançam quando ela inclina a cabeça para trás para rir, achando minha surpresa aparentemente divertida. Eu posso dizer que ela está feliz em me dar a notícia. Tenho a impressão de que ela realmente quer nos ajudar e não por qualquer outra razão, porque ela é apenas legal.
— Eu não decidi ainda. — Mentirosa, sim, você decidiu. Bom dinheiro é bom dinheiro e, enquanto eu não tiver que fazer strip, posso lidar com ficar no meio de um circo de vaginas.
— Que trabalho é esse? — Livie pergunta, curiosa.
— Um trabalho comigo, onde eu trabalho. — Storm explica.
— Minha mãe é paga para dar às pessoas as bebidas, em um restaurante. Assim! — Mia levanta atrapalhada e corre para pegar um copo vazio no balcão. — Você gostaria de um copo de limonada, Senhora? — Ela leva-o para Livie com o maior cuidado e faz uma vénia.
— Oh, obrigado, gentil garçonete. — Livie diz teatralmente e passa a engolir a bebida imaginária, como se ela tivesse acabado de atravessar o deserto do Saara, terminando com uma piscadela para Mia. Mas, quando ela se vira para mim, a sua testa está sulcada de inquietação. — Servindo mais do que limonada, entendo?
Concordo com a cabeça, deixando cair o meu foco para reorganizar os talheres sobre a mesa antes que possa encontrar o seu olhar preocupado de novo. Seu lábio inferior é sugado em sua boca. Ela está se esforçando para fazê-lo parar de tremer e eu sei o que ela está pensando. Ela tem medo que eu volte para aquele lugar escuro, onde a tequila flui e os casos de uma noite são frequentes. Mesmo que eu tenha prometido a ela uma centena de vezes que essa fase acabou, ela ainda tem medo de me perder de novo. Não posso culpá-la.
É por isso que eu estou surpresa com suas palavras seguintes. — Você deve pegá-lo, Kacey. — Inclino minha cabeça para o lado, enquanto a considero.
Ela encolhe os ombros. — Se você está servindo-as, não pode bebê-las, certo?
— Certo. — Eu aceno lentamente, processando essa lógica. Livie encontra sempre o lado bom das coisas. Eu roubo um olhar em Storm e vejo-a intensamente focada em agitar seu molho de tomate. Eu sei que ela deve ter ouvido isso. Ela tem que estar se perguntando que esqueletos escuros estas duas vizinhas têm em seu armário. Como de costume, ela tem a decência de não se intrometer.
— E há um bom dinheiro em gorjetas pelo que eu ouço. — Livie acrescenta. — Talvez eu consiga uma identidade falsa e consigo um emprego lá também!
— Não! — Storm e eu gritamos em uníssono e compartilhamos um olhar silencioso. Um olhar que diz que isso é bom o suficiente para nós, mas não para Livie. Ela é boa demais para esse mundo.
— Mamãe? Você está trabalhando hoje à noite? — A pequena voz de Mia pergunta, atrasando mais perguntas de Livie.
Storm sorri tristemente para a filha. — Sim, querida. — Tem que ser duro, deixá-la seis noites seguidas.
— Posso ficar com Livie? Por favor, mamãe? — Mia ergue as mãos na frente dela, como se estivesse orando.
— Ah, eu não sei. Mia. Acho que você monopolizou bastante tempo da Livie hoje, você não acha?
— Mas, nããão... Mamãe! — Mia lamenta e pisa ao redor da sala em um círculo, lembrando a todas que ela tem apenas cinco anos de idade. Ela para num acesso de raiva, jogando os braços em torno de si mesma e faz uma carranca. — Eu não gosto da Sra. Potterage!
— Ela é uma senhora simpática, Mia. — Storm diz com um suspiro, como se ela tivesse dito o mesmo uma centena de vezes antes. Para mim, ela se inclina e sussurra: —Eu não culpo a pobre garota. Potterage fuma como um campo de petróleo em chamas. Mas eu normalmente posso confiar nela por pelo menos quatro noites por semana.
— Eu não me importo. — Livie diz dando um tapinha nas costas de Mia.
— Veja mamãe? Livie diz que sim!
Storm se encolhe. — Você tem certeza?
— É claro. Na verdade, estou mais do que feliz em cuidar dela todas as noites, se quiser. — Livie oferece com seriedade completa.
— Oh, Livie. Eu trabalho seis dias por semana. Isso é pedir muito de uma jovem de quinze anos. Você merece sair para uma festa ou o que quer que seja que jovens de quinze anos de idade estão fazendo nestes dias.
Livie já está sacudindo a cabeça. — Não, não é, e eu não me importo. — Ela aperta a bochecha de Mia, tão apaixonada pela criança como se Mia fosse dela. — Eu adoraria.
Há uma longa pausa e Storm engole, considerando-a. — Você tem que me deixar pagar pelo seu tempo. Não há mais discussão.
A mão de Livie faz um aceno com desdém. — Sim, tudo bem. Que seja. Ela vai estar dormindo a maior parte do tempo de qualquer maneira e Kacey estará no trabalho com você, certo? Assim, pelo menos eu não vou ficar sozinha.
Todas três voltam a olhar para mim com esperança.
Eu dou um suspiro alto. — Apenas as bebidas, certo? Eu não vou servir a ninguém... Qualquer outra coisa.
As íris de Storm brilham. — Não, a menos que você queira.
— E eu não tenho que usar nada revelador?
— Bem...
A minha cabeça cai para trás e rola de um lado para o outro. — Aqui vamos nós.
— Eu só ia dizer que você vai ganhar mais dinheiro mostrando um pouco de decote do que vestida como uma Mórmon. Muito mais dinheiro. Eu ia mostrar um pouquinho minúsculo de pele, se fosse você.
Suspiro novamente. — E eu posso sair, se eu não gostar? Sem ressentimentos?
— Absolutamente, Kacey. Sem ressentimentos. — Storm afirma, segurando uma colher de pau na frente de seu rosto, como se ela estivesse prometendo.
Uma longa pausa, apenas o suficiente para fazer Storm se contorcer. — Ok.
— Ótimo! — Storm joga seus braços tonificados em volta de mim, ignorando que o contato está fazendo minhas entranhas apertarem e a voz na minha cabeça gritar. Ela
recua com a mesma rapidez e move-se de volta para sua panela de molho, permitindo-me a chance de exalar. — Você começa hoje à noite, a propósito.
— Hoje à noite. Divertido. — Eu não posso afastar o sarcasmo da minha voz quando borboletas iniciam sua louca corrida em volta do meu ventre, matando meu apetite. Abraço meu corpo com meus braços, reconhecendo que um clube cheio de novas pessoas significa apertos de mão e perguntas sobre merdas pessoais que não são da conta de ninguém. Eu não estou pronta para isso. Não estou preparada... Uma... duas... três... quatro... Quando chego à respiração número dez, estou pirando.
Fase Três Resistência
Capítulo 4
Nós estacionamos no Palácio de Penny no Jipe de Storm assim que o sol está caindo no horizonte. Storm não terminou sequer de estacionar a coisa antes de eu saltar para fora. Quando ela dá a volta para me encontrar do outro lado, é com um olhar com que estou acostumada há muito tempo - uma mistura de surpresa e preocupação. Ela não comenta, embora.
Mas ela comenta sobre eu estar puxando a saia curta preta que peguei emprestado dela. — Pare de puxar a saia. — Ela afasta minha mão com um tapa. — Eu nunca teria considerado você como o tipo nervosa.
— Fácil para você dizer. Não é sua bunda espreitando para fora. Eu não posso acreditar que concordei em usar esta saia apertada. Vou me curvar e mostrar a todos as minhas partes femininas.
Storm ri. — É claro que você deve usar essa saia. Mostra suas pernas impressionantes.
— Está mostrando mais do que minhas pernas. — Eu murmuro, dando-lhe outro puxão para cobrir o fundo da minha tatuagem. Não tenho vergonha dela. Eu só não quero chamar mais atenção para mim do que o necessário.
— Bom Senhor! Apesar de toda a atitude, você realmente é uma menina envergonhada e marica, não é?
Ela está certa. Acho que estou fora do meu elemento aqui e está me fazendo questionar tudo. Se isto fosse a academia, eu não teria nenhum problema em shorts minúsculos que abraçam minha bunda. Mas esta não é a academia e eu não estou autorizada a chutar a merda para fora de nada aqui.
Inclino a minha cabeça para o lado enquanto avalio Storm. — Você acabou de me chamar de uma menina marica?
Ela não perde uma batida. — Você acabou de dizer ‘partes femininas’? Isto é um clube adulto, não uma creche.
— Vou tentar lembrar disso. — Eu rio quando nos aproximamos da sólida porta de metal negra com uns pequenos óculos.
— Você está ótima, Kacey. Sério. — Eu tento não me encolher quando ela dá um tapinha no meu ombro.
Secretamente, eu tenho que admitir que estou. Além da mini-saia, eu também estou vestindo uma blusinha listrada carvão e várias peças de joia prata, cortesia da coleção de Storm. Ela também me ajudou com o meu cabelo e maquiagem. Eu pareço mais do que decente. Não muito impressionante em comparação com Storm com seu vestido azul-turquesa e pele bronzeada e curvas da boneca Barbie, mas decente. Decente o suficiente que eu me peguei dando um balanço de quadris extra lento quando passei na frente do apartamento 1D, esperando pegar o rosto de Trent na janela. Então eu percebi o que estava fazendo, e corri o resto do caminho para o Jipe de Storm, a voz dentro da minha cabeça me xingando todo o caminho.
Storm bate contra a porta pesada quatro vezes. Ela abre e minhas entranhas viram. Poucas pessoas me intimidam agora. O homem gigante com pele escura e músculos salientes que enche a porta, tão grande como ele é alto, embora... Eu não me importo de estar encolhida. Pela aparência dele, eu não ficaria surpresa se ele nunca sorrisse um dia em sua vida. Ele certamente nunca foi um bebê bonito. Tenho certeza que ele simplesmente se materializou do nada para a besta de pé diante de mim.
— Este é o Nate. Ele é quem toma conta da porta e é o braço direito de Cain. Hey Nate! Esta é a minha amiga, Kacey. — Storm não espera pela resposta dele. Ela
simplesmente o empurra, sua mão dando um soco suave em seu abdômen sólido quando ela entra.
— Oi. — ele diz. A pequena palavra corre por dentro de mim, a sua voz como um trovão e eu aceno, temporariamente muda.
Ele dá um passo para trás para me dar mais espaço. — Entre, por favor.
Forçando uma coragem que eu não sinto, ergo meu queixo para cima e entro. Storm leva-me por um corredor estreito forrado com caixas de licor e barris de prata, cheirando levemente a levedura de cerveja. Memórias sombrias sobem com o cheiro. Memórias de clubes e shots de tequila bebidos nos abdomens de caras e linhas de pó branco em mesas em cantos escuros. Eu rapidamente afundo-as de volta onde elas pertencem. No passado.
— Aqui estão os camarins para as dançarinas... — Storm aponta o dedo indicador para duas portas fechadas. — Eu não iria lá, a menos que você queira ver muitas partes femininas. — Com uma risada provocante, ela continua.
Passamos por um cara loiro de ombros largos imponentes em uma apertada t-shirt preta e calças pretas. Definitivamente outro segurança por sua roupa, mas não tão sinistro como Nate. Ele é bonito, do jeito “Eu sou de Wisconsin e jogo futebol”. Ele me lembra Billy...
— Kacey, este é Bem. — Storm nos apresenta.
— Ei, Kacey. — Ele sorri e, em seguida, inclina a cabeça como se de repente me reconhecesse. — Ei, você não estava no The Breaking Point no outro dia?
Eu olho-o. Não me lembro dele, mas, novamente, eu não presto qualquer atenção nos caras lá. — Talvez. Aderi recentemente.
Ele acena com a cabeça devagar. — Sim, era definitivamente você. — Seus olhos deslizam sem vergonha pelo meu corpo. — Você é incrível. Você compete?
Afasto o elogio. — Não, é apenas para me divertir. — A verdade é que eu gostaria de competir, mas é muito perigoso para mim, dada a minha lesão. Uma batida no lugar errado podia causar danos graves para todo o trabalho que os cirurgiões fizeram anos atrás para me consertar. Eu não vou dizer a Ben nada disso embora.
— Primeira noite no Penny? — Pergunta ele, inclinando um antebraço contra uma porta.
— Sim.
Um olhar luxurioso divaga sobre meu corpo novamente.
— Bartender apenas. — Acrescento, cruzando os braços sobre o peito, enfatizando o “apenas.”
Sua atenção volta para o meu rosto e ele sorri. — Sim, eu já ouvi isso antes.
— E vai ouvir novamente de mim cada vez que você perguntar. — Respondo com frieza. Que idiota pomposo. Ele precisa de um bom pontapé na cabeça para tirar aquele sorriso de sua boca. Talvez eu vá pedir a ele para treinar na próxima vez que estiver no ginásio.
Storm me empurra para frente passando por ele, gritando por cima do ombro: —Até mais, Ben. — Ela bate em uma porta com uma placa que diz Chefe. Há uma caricatura de uma mulher nua sentada de pernas abertas e um par de calcinhas tanga de renda pretas anexadas ao lado. Que adequado.
— E aqui está o escritório de Cain. Não se preocupe. Você vai se ajustar aqui. — Ela sussurra enquanto empurra a porta. Dou uma sobrancelha arqueada à sua nuca. Ela acha que me conhece. Ela pensa que eu vou encaixar com silicone e bebida e vaginas ou o que quer que seja que é suposto eu lhes chamar. Estou reavaliando a inteligência de Storm.
— Entre! — Uma voz dura grita e minhas costas ficam tensas.
Lá dentro há um pequeno escritório com prateleiras do chão ao teto em todas as quatro paredes, forradas com mais caixas de bebida. Toneladas e toneladas de álcool. Na parede do fundo há algo que se parece com um estranho experimento de química, um monte de garrafas de cabeça para baixo de licor com uma confusão de tubos decorrentes dos seus bicos, para o chão. Meu nariz pega um ligeiro aroma de fumaça de charuto, cedro, e uísque pairando no ar.
— Esse é o poço do bar. — Explica Storm em um sussurro. — Tudo o licor básico. Isso controla quanto sai. Você aperta um botão atrás do bar e isso lhe dá um copo. Você aperta duas vezes, dois copos, não envolve muita ciência.
— Então eu não posso refazer minhas cenas favoritas de Cocktail18? — Resmungo, imaginando girar garrafas como um bastão.
Storm ri. — Você pode, mas vai ser com as garrafas caras na prateleira e elas custam muito quando você as quebra.
Um homem com cabelo preto liso e uma camisa azul está atrás de uma mesa de mogno gigante de costas para nós. Cain, eu presumo. Ele está no telefone com o que soa como o distribuidor de cerveja. Pelo jeito que ele está latindo 'sim' e 'não', eu diria que ele não está feliz. Ele bate o telefone e se vira e me preparo para uma conversa dolorosa.
Mas então suas íris cor de café deslizam sobre Storm e elas instantaneamente esquentam. Ele é um homem jovem - aproximadamente trinta anos - com características atraentes e um senso de estilo. Definitivamente bonito pelos padrões de qualquer pessoa. Mas ele é dono de um clube de strip e isso é igual a saco de sujeira no meu livro.
— Olá, Anjo. — Ele pronuncia lentamente, dando uma olhada de cima a baixo lenta sobre Storm. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço espinham. Eu não vou gostar desse cara. Nem. Um. Pouco.
Storm ignora o olhar. Ou talvez ela goste dele. Francamente, eu não tenho ideia. Não a conheço bem o suficiente. — Ei, Cain. — Ela ergue a cabeça para mim. — Esta é minha amiga, Kacey. Para a posição de bartender?
Meu intestino fica tenso quando aquelas íris escuras viram para me avaliar, mas dura apenas meio segundo. Ele levanta de sua cadeira e avança em torno da mesa, estendendo a mão com um ar profissional. — Oi Kacey. Sou Cain, o proprietário de Penny. Prazer em conhecê-la.
E aqui é onde a minha pequena fobia faz a minha vida tão malditamente estranha. Eu não posso evitar apertar a mão do chefe quando ele a oferece. A não ser que eu fuja daqui agora, mas então fico sem o trabalho. Que eu não tenho certeza se quero, mas é um trabalho, no entanto. Minha única opção real é cerrar os dentes e esperar não desmaiar por um ataque de ansiedade quando seus dedos curvarem em torno dos meus, me empurrando de volta para aquele lugar escuro de que eu continuo tentando escapar.
Eu olho para ele, olho para sua mão, olho para Storm. Mas acima de tudo, ouço a voz de Livie dizendo tente.
18 É um filme norte-americano de 1988, do gênero comédia romântica, onde um jovem é dispensado do serviço militar e aceita trabalhar como barman. Bem sucedido no novo trabalho, conquista belas mulheres.
Eu estendo a mão...
Manchas pretas enchem minha visão quando seus ossos, músculos e cartilagem se envolvem ao redor da minha mão e apertam. Minha outra mão cegamente bate no ar procurando apoio e faço contato com o cotovelo de Storm. Agarro-a. Eu vou desmaiar. Vou desmaiar aqui neste chão e parecer uma idiota. Nate, o gigantesco, vai me arrastar para fora, enquanto Cain grita: “obrigado, mas não obrigado, maluca” e então eu vou estar de volta ao Starbucks e Livie terá que comer comida de gato e...
— Storm me falou muito sobre você.
Surpresa, eu percebo que Cain soltou minha mão. Meus pulmões desinflam. — Ela falou? — Eu digo com a voz trêmula, roubando um olhar para Storm.
Ele sorri calorosamente. — Sim. Ela disse que você a ajudou muito. Que você é inteligente e está precisando de um trabalho. Que você é belíssima. Eu posso ver isso agora, em primeira mão.
Engasgo, minha língua desaparecendo no fundo da minha garganta.
— Alguma vez você já trabalhou em um estabelecimento adulto?
— Uh... não... senhor. — Eu respondo e silenciosamente oro a Deus que a Storm não tenha dito o contrário. Eu não sei por que, mas percebo que de repente eu quero impressionar Cain. Ele carrega um ar de autoridade, como se fosse muito mais velho e mais sábio do que a sua aparência sugere, como se fosse um ser humano, em vez de um inescrupuloso dono de clube de strip.
Minha resposta não parece incomodá-lo. — Uma de minhas bartenders está grávida. Ela e eu concordamos que um clube de cavalheiros não é o melhor lugar para ela assim... Quantas noites você pode vir?
Eu olho para Storm e encolho os ombros. — Todas?
A cabeça de Cain cai para trás quando ele ri de todo o coração, revelando uma tatuagem abaixo de sua orelha esquerda. Ela diz: “Penny.” Ela deve ser alguém especial se deu o nome de seu clube a ela e tatuou o seu nome em si mesmo. — Não desperdice sua vida, querida. Fará cinco ou seis noites. — Seus olhos analisam meus braços agora, deslizando sobre a cicatriz branca que serpenteia na parte de fora do meu ombro, e eu silenciosamente me castigo por não cobri-las. Eles provavelmente desaprovam mulheres
desfiguradas trabalhando em clubes adultos. — Você tem o corpo de uma lutadora. — Diz ele em vez disso.
— Não de lutadora. Apenas me mantenho em forma. — Eu respondo rapidamente.
Ele acena com a cabeça devagar. Isso parece impressioná-lo. — Ótimo. Eu gosto de uma mulher que pode cuidar de si mesma. — Ele se instala atrás de sua mesa, dizendo: — Você vai treinar Kacey, certo, Storm?
Storm está sorrindo de orelha a orelha. — Sim, Cain.
Ele olha para ela de novo, e eu vejo o olhar pelo que realmente é. Adoração, não luxúria animal. Como se ele a adorasse. Eu me pergunto se eles já dormiram juntos. Eu me pergunto se ele dorme com todas as suas funcionárias. Tenho certeza que ele poderia, se quisesse. Será que ele vai tentar dormir comigo? Eu não tenho tempo para pensar sobre isso, porque Storm leva-me para fora da porta em um torpor.
— Vamos lá. Estamos abrindo em breve. Eu preciso te deixar confortável.
***
A noite passa em um borrão. Storm e eu trabalhamos juntas no bar principal - Storm nas bebidas mais complicadas, eu na cerveja e shots em linha reta, enquanto ela me ensina o básico. O lugar não é nada como eu esperava. É enorme e de três andares no centro, com um teto baixo em todo o perímetro, permitindo alcovas elegantes para os bares, mesas altas pretas e brilhantes, e um corredor para os quartos VIP. Aparentemente, Cain é rigoroso sobre o que acontece lá. Nada de ilegal, ele diz a todas as meninas. — Eu não vou lá. — Storm diz com um olhar sério que diz ‘não vá lá, Kacey’.
Em um palco elevado no centro, as meninas dançam. Há três dançando em todos os momentos, cada uma com seu próprio palco pequeno ramificando a partir do principal que acomoda o grupo de homens luxuriosos na linha da frente. Uma luz azul brilha sobre todo o espaço, criando um ambiente místico. O resto do lugar é escuro, o ar inebriante com álcool, testosterona e luxúria. Música pulsa através do meu corpo, sua batida orientando cada movimento das dançarinas no palco.
Storm e eu brincamos e conversamos casualmente para trás e para frente enquanto servimos, e eu não posso evitar começar a relaxar em torno dela. O lugar está ocupado, mas as pessoas não estão subindo umas sobre as outras no bar para pegar uma bebida, como nos clubes de noite que eu estive. Ela me apresenta a três meninas que ela promete-me que vou gostar. Ginger, Layla, e Penélope. Elas são todas lindas de morrer, risonhas e amigáveis. Todo mundo lá parece ser lindo, risonho e amigável, e eu não posso evitar me perguntar pela centésima vez por que Storm iria pensar que eu ia me ajustar aqui. Mas eu não digo nada, acenando para todas elas, me assegurando que tenho as duas mãos cheias para evitar o contato. Ninguém parece notar.
Eu recebo um monte de comentários de “nova menina” de clientes que são, obviamente, regulares, mas ignoro-os. Mantenho minha cabeça baixa e trabalho duro para que Cain não tenha qualquer razão para expandir a minha descrição do trabalho para danças no colo e suporte ao cliente no quarto VIP. Eu recebo pedidos, faço bebidas e recolho o dinheiro sem tocar a mão de ninguém. Nesta ordem. Ainda assim, sinto os olhos em mim, à deriva sobre minhas curvas, me avaliando, mesmo com a abundância de carne para olhar neste lugar. Babacas.
O bar é minha fortaleza. Eu estou segura por trás dessa meia parede.
***
— Então, como você está aguentando até agora? — Storm pergunta durante um período de dois minutos de calma no final da noite. — Você acha pode lidar com ser bartender em um clube de strip seis noites por semana?
Dou de ombros. — Sim, não é grande coisa. Só um monte de peitos e nádegas e eu evito o palco então não vejo... — Minha atenção deriva para o palco onde uma menina asiática vestindo nada além de um fio dental prateado está envolvendo as pernas ao redor de seu pescoço. — Isso! — Eu afasto a cabeça. — Como ela pode fazer isso?
— Essa é Cherry. Ela treina muito ioga.
Reviro os olhos. — Não, eu não quero dizer como. Quero dizer... Como!
— Todo mundo tem seu preço. — É a única resposta de Storm quando ela prepara mais uma rodada de Jim Beam.
— Acho que sim. — Murmuro, silenciosamente me perguntando se Storm estabeleceu o seu preço.
— Ok, então agora que você está familiarizada com o bar, Kacey. — Storm começa — Você pode começar a sorrir a qualquer momento. Você sabe que se sorrir para os clientes, é provável que você consiga gorjetas maiores, certo?
Eu sorrio. — Por que eu sorrindo faria eles me darem mais dinheiro quando podem guardá-lo para a pessoa dançando em cima deles? Eles são idiotas?
— Só... confie em mim. — Ela suspira pacientemente, voltando a servir um cliente, gritando por cima do ombro, — Você é o novo brinquedo ruivo brilhante e está forçando-os a usar a sua imaginação.
Ótimo. Isso é o que eu quero ser. O sonho molhado de um cara.
Para provar que ela estava errada, eu dou aos próximos três clientes o mais amplo sorriso que meu rosto pode suportar sem rasgar ao meio. Eu até pisco para um. Imediatamente as gorjetas duplicam. Hmmm. Talvez nós estejamos no caminho certo. Se apenas sorrir não fosse tão cansativo.
Um vaqueiro de meia-idade com um chapéu enorme e jeans se inclina sobre o bar, com a boca torcida como se ele estivesse mastigando um pedaço de palha, mas não há nada lá. — Não é você uma visão muito bonita, toda tonificada e natural? — Diz ele, demorando muito tempo em meu decote. Por que, eu não sei. Pareço um menino de dez anos de idade ao lado de cada outra fêmea neste lugar. Quando ele sorri, vejo que seus dentes estão manchados de marrom amarelado por anos de fumo.
Engulo minha repulsa e forço um sorriso. — O que eu posso pegar para você esta noite, senhor?
— Que tal um Tom Collins e um show particular?
— Um Tom Collins chegando. Sem shows privados, porém. — Eu mantenho o meu sorriso, o tempo todo o meu nível de irritação sobe, ansiosa para me livrar desse cara. Quando eu deslizo a bebida ao longo do bar para ele e vou alcançar a nota de vinte dólares, sua pata se fecha sobre meu antebraço, seus dedos grossos e mal-educados. Ele se inclina e eu pego um cheiro de tabaco velho e álcool em seu hálito. — Que tal você tomar a sua pausa agora e me mostrar esse seu rabo apertado?
— Eu só sou bartender aqui, senhor. — Forço-me a dizer com os dentes cerrados, meu corpo mudando para o modo defensivo. — Há muitas meninas aqui que podem lhe dar o que você quer. — E não estou exagerando. Em todo lugar que eu olho eu encontro nádegas e mamilos e pior. Eu joguei um monte de esportes na escola, então vi a minha quota de corpos nus em chuveiros depois dos jogos. Caramba, eu rotulava Jenny de “A Exibicionista de Grand Rapids”, porque ela não tinha escrúpulos com se despir completamente na minha frente. Este lugar é diferente embora. Elas estão andando por aí, vendendo os seus produtos. Vendendo seus corpos.
— Eu tenho dinheiro! Diga o seu preço.
— Você não tem o suficiente, acredite em mim. — Resmungo de volta, mas posso dizer que ele não está ouvindo, sua outra mão desaparecendo abaixo do bar, provavelmente para ajustar sua excitação crescente. Quero vomitar. Eu imagino que ele vai estar duro quando finalmente encurralar uma pobre mulher desesperada e, obviamente, cega. — Eu soltaria o meu braço, se fosse você... Senhor.
De minha visão periférica, vejo Nate e Ben se aproximando para me salvar. A ideia disso me incomoda por algum motivo. Eu não preciso deles para me proteger.
Eu não preciso de ninguém.
E eu quero machucar esse cara.
Eu meio que me inclino, meio salto para a frente para apertar a minha mão livre ao redor do pescoço suado do vaqueiro. Puxo para baixo com força e rápido. Ele grunhe quando seu rosto bate contra o bar. Eu mantenho-o lá, meus dedos cavando a base da sua espinha. Meu coração está batendo contra minhas costelas enquanto o sangue corre para os meus ouvidos. Isso é bom. Eu me sinto viva. — Como você gosta deste rabo apertado agora? — Eu assobio.
As mãos de Nate batem sobre os ombros dele e eu ouço seu ronco baixo sobre a música enquanto ele arrasta o cowboy para fora, sangrando de um corte em seu lábio inferior. — Você vai ter que sair agora, senhor. — O cara também tem uma marca vermelha brilhante em sua testa. Definitivamente uma contusão amanhã. Ele não resiste embora. Duvido que até mesmo o Incrível Hulk resistiria a Nate.
Ben fica para trás para perguntar: — Você está bem?
— Estou bem. — Asseguro-lhe ao mesmo tempo em que Storm aparece ao meu lado com um olhar preocupado. Minha atenção segue Nate e eu cruzo olhares com Cain sentado em uma mesa ao lado. Um sentimento de naufrágio cai sobre mim. Ele deve ter visto toda a cena se desenrolar. Percebo que talvez ele não queira que as cabeças de seus clientes batam contra o bar. Talvez eu tenha acabado de fazer minha bunda ser demitida.
Cain me dá um sinal de polegar para cima, e eu libero um enorme suspiro de alívio.
— Eu disse para você sorrir, não se meter em uma briga de bar. — Brinca Storm, me cutucando nas costelas.
— Ele queria um show privado. — Explico, minha adrenalina ainda bombeando o sangue pelo meu corpo. — Eu dei-lhe um público em vez disso.
Ben se inclina para frente, os cotovelos apoiados sobre o bar, um sorriso impressionado em seu rosto. — Você sabe como lidar com si mesma.
— Fui criada por lobos. Tive que lutar pela minha comida.
Sua cabeça se inclina para trás e uma gargalhada gutural escapa. — Desculpe se eu fui um babaca antes. Estou acostumado a ver meninas bonitas e novas vindo aqui e saindo desgastadas e cansadas. Eu odeio isso.
— Bem, então este é o seu dia de sorte. Eu já estou cansada. — Dou-lhe um olhar de cima a baixo. — E talvez você não deva trabalhar em um clube de strip.
— Sim, isso é o que me dizem. Mas o dinheiro é muito bom e eu estou me sustentando na faculdade de direito. — Ele pega a minha sobrancelha levantada e seu sorriso se alarga. — Não esperava isso, não é?
— Você não emite vibrações de advogado.
Ben vira o corpo e descansa os cotovelos sobre o bar de modo a enfrentar a multidão enquanto fala para mim. — Então, eu ouvi que você acabou de se mudar?
— Sim. — Ocupo-me com a limpeza do balcão e com empilhar copos recém-lavados.
— Você é uma grande faladora, não é?
— Nós meninas totalmente vestidas temos que trabalhar extra duro pelo nosso dinheiro.
Sua cabeça cai para trás para olhar para mim. — É justo. Ouça, da próxima vez que você estiver na academia e eu estiver lá, venha me pegar. Podemos lutar um pouco. — Ele anda para longe, não esperando pela minha resposta.
Oh, eu vou te pegar, mas provavelmente não do jeito que seu cérebro-virilha está oferecendo. Eu sigo os seus movimentos, prestes a gritar: — Pode contar com isso, menino advogado! — Mas as palavras morrem em meus lábios.
Trent está sentado em uma mesa alta do bar.
E ele não está observando o pretzel nu no palco. Ele está me observando.
Correção. Me encarando.
Trent está aqui e ele está me encarando.
— Que diabos... — Eu resmungo para ninguém em particular, abaixando minha cabeça. Eu não posso lidar com ele e o que ele faz para mim agora. Aqui. Hoje à noite. Porra!
Sinto uma forma andando até o bar e eu cautelosamente olho para cima. É Nate, graças a Deus. Ele já está de volta depois de expulsar o cowboy. — Este cara está te incomodando, Kacey?
Eu engulo. — Não. — Sim, mas não pelas razões que você pensa.
— Tem certeza? — Ele gira seu corpo maciço para verificar a mesa. Trent ainda está lá, inclinando seu corpo longo para trás em sua cadeira, mordendo seu canudo, seu foco agora em Cherry. — Ele esteve ali por meia hora. Esteve te observando.
— Sério? — Eu chio e depois adiciono rapidamente em um tom normal: — Ele é meu vizinho. Está tudo bem.
As órbitas escuras de Nate vagam pelo resto da sala, procurando caras idiotas que ele possa atirar para fora da porta, sem dúvida. — Me avise se ele te incomodar, ok, Kacey?
Quando eu não respondo, ele olha para mim de novo, com a sua voz trovejante um pouco mais suave. — Tudo bem?
Concordo com a cabeça. — Sim, pode deixar, Nate.
Com um aceno curto de sua cabeça, ele vagueia de volta para ficar em seu posto como uma sentinela. Uma que poderia arrancar as pernas de um cara se ele sequer espirrasse com demasiada força.
— O que foi aquilo? — Storm pergunta atrás de mim.
— Oh, nada. — Minha voz ainda está instável e eu não consigo obrigar a minha língua a funcionar corretamente. Arrisco um outro olhar sobre Trent. Ele está inclinando-se para a mesa, brincando com o seu canudo, enquanto a Barbie do Mediterrâneo - Bella, eu acho que esse é seu nome - pressiona seu corpo seminu contra sua coxa. Eu vejo como ela faz um gesto em direção ao quarto VIP, sua mão deslizando em torno de seu pescoço carinhosamente.
— Você está bem? Parece que você está tentando sufocar alguém. — Ela está certa, eu percebo, quando noto meus punhos torcendo o pano de prato na minha mão como se fosse um pescoço. É o pescoço de alguém agora mesmo. O de Bella...
— Sim, eu estou bem. — Lanço o pano para baixo e arrisco mais uma olhada em Trent, no mesmo segundo seus lindos olhos azuis sobem para encontrar os meus. Eu salto. Ele me dá aquele sorriso provocante que descasca minhas defesas, deixando-me nua como as bailarinas no palco. Por que ele me afeta assim? É irritante!
— Uh, isso não é “nada” Kacey. Você está olhando para esse cara? Quem é esse? — Ela se inclina sobre meu ombro para pegar minha linha de visão. — Não é...
Minha mão sobe suavemente para empurrar o rosto dela de volta. — Vire-se! Agora ele sabe que estamos falando sobre ele.
Storm se curva para a frente, rindo. — Kacey tem uma paixão. — Ela canta. — Nosso vizinho está transando com você com os olhos. Vá falar com ele.
— Não! — Rosno, jogando o meu melhor conjunto de olhos-adagas-de-gelo para ela.
Ela abaixa a cabeça e ocupa a si mesma, limpando copos do bar. Eu posso dizer que ela está machucada pelo veneno em meu tom. Culpa instantaneamente incha dentro de mim. Droga, Storm!
Eu me esforço para ignorar a mesa de Trent, mas é como ignorar um acidente de trem. É impossível não olhar. Até o final da noite, eu estou exausta e irritada com as ondas sísmicas de ciúme quebrando dentro de mim pelo desfile de strippers que visitam sua
mesa, tocando-o, rindo, uma delas deslizando para cima de seu colo para conversar. Meu único alívio vem do fato de que Trent educadamente recusa todas elas.
***
Alcançando em sua bolsa que fica entre nós no console, Storm joga um envelope grosso no meu colo.
Sem pensar muito, eu abro e folheio as notas. — Puta merda! Isso são...
— Eu avisei! — Ela canta, acrescentando com um piscar de olhos. — Agora imagine o que você faria se subisse no palco.
Tinha que haver 500 dólares aqui! Fácil! — Você trabalha no Penny por... Quatro anos, você disse? Por que você ainda está na Unidade de Jackson? Você poderia ter comprado uma casa!
Ela suspira. — Eu fui casada por um ano com o pai de Mia. Eu tive que declarar falência depois que saí porque ele acumulou tanta dívida. Nenhum banco vai me dar uma hipoteca agora.
— Ele soa como um verdadeiro... Babaca. — Eu me mexo no meu lugar, desconfortável por mais do que o fato de que estamos em seu jipe. Storm está entrando em sua vida privada e as minhas defesas, naturalmente, vão para cima. Quando as pessoas compartilham, elas esperam que você retribua.
— Você não sabe da missa a metade. — Ela murmura, a sua voz à deriva. — Não foi tão ruim no começo. Eu tinha dezesseis anos quando conheci Damon. Fiquei grávida e ele se envolveu com drogas. Nós precisávamos muito de dinheiro, então eu comecei a trabalhar para Cain após Mia nascer. Damon disse que eu tinha que fazer estes se queria fazer algum dinheiro real. — Ela aponta para seus seios. — É claro que eu fui estúpida o suficiente para concordar. — Um pico raro de amargura laça suas palavras. — Doeu para caramba. Essa é a única razão de eu não ter voltado para reduzi-los. Eu juro, as coisas que as meninas fazem quando elas estão cegas pelo amor.
— Então, quando você finalmente decidiu deixá-lo? — Eu perguntei antes que pudesse me deter.
— A segunda vez que ele chutou a merda para fora de mim.
Ela diz isso de forma tão fatual que eu tenho certeza que entendi mal. — Ah... Sinto muito, Storm. — E eu sinto. A ideia de alguém bater em Storm instantaneamente me deixa puta da vida.
— A primeira vez, eu menti para todos. Disse-lhes que corri contra uma parede. — Ela bufa. — Eles não acreditaram, mas me deixaram viver minha pequena ilusão. Mas a segunda vez... — Ela exala fortemente. — Eu vim para trabalhar com o lábio inchado e um nariz sangrando. Cain e Nate me levaram de volta para casa e ficaram em cima de mim, enquanto eu embalava as coisas minhas e de Mia. Damon entrou quando estávamos caminhando para fora da porta. Nate agrediu-o um pouco. Advertiu-lhe que se ele alguma vez chegasse perto de mim ou Mia novamente, ele ia fazer xixi por um canudo pelo resto da vida. E você já viu Nate. — Storm dá-me um olhar arregalado. — Ele pode fazer isso. — Ela estaciona em seu espaço no nosso prédio e desliga o jipe.
— Cain me arranjou o apartamento e estou aqui desde então, acumulando todo o meu dinheiro até ter o suficiente para comprar uma casa com o dinheiro. Se tudo correr bem, eu vou estar fora da cena do clube definitivamente em mais dois ou três anos. — Ela acrescenta baixinho: — E os meus pais não terão que se envergonhar de mim.
Eu ronco. — Diga-me sobre isso. Meus pais estariam rolando no túmulo se soubessem onde estou trabalhando... — Minha voz escapa para um silêncio constrangedor, castigando-me mentalmente por falar sobre eles.
— Ei, Kacey? — Aí está a voz cautelosa e nervosa de Storm novamente e meus ombros ficam tensos. Eu sei exatamente onde isso vai dar. — Olha, eu percebi algumas coisas, seus pais estão mortos, eu acho que tem algo a ver com álcool... Você tem um monte de cicatrizes. Você não gosta de pessoas tocando suas mãos...
Não a deixo terminar. Eu abro a porta e saio correndo.
Eu decido que Storm é brilhante. Uma cientista de merda.
Capítulo 5
— Ar-condicionado! — Eu gemo, afastando meus lençóis do meu corpo suado. Precisamos de cortinas isolantes, eu penso comigo mesma enquanto encaro as tiras finas penduradas na frente da janela. Elas não fazem nada para parar o sol de entrar. Nós não tínhamos ar-condicionado desde antes de meus pais morrerem. Tia Darla não acreditava em pagar por ar fresco quando há crianças que estão morrendo de fome no mundo. Ou maridos com problemas de jogo. Agora que vivemos em Miami, eu não sei como isso não é ilegal.
Livie e Mia estão na cozinha, cantarolando “Pop Goes The Weasel”, enquanto elas esvaziam um saco de mantimentos. — Boa tarde! — Livie canta quando me vê.
— Boa tarde! — Mia ecoa.
Eu checo o relógio. Quase uma. Elas estão certas. É de tarde. Eu não durmo até tão tarde há tempos.
— Eu peguei comida. Há dinheiro no balcão ali. — O queixo de Livie me encaminha para uma pequena pilha de notas. — Eu tive que discutir com Storm até metade do que ela queria me pagar.
Eu sorrio. Storm jura que encontrou seus anjos. Tenho certeza de que nós encontramos o nosso. Eu preciso ser legal com ela, decido. Eu não sei como, mas preciso.
Caminhando para pegar o dinheiro da minha bolsa, eu bato o grosso envelope em cima da mesa. — Bam! Tome isso!
— Puta mer... — Os olhos arregalados de Livie passam da pilha de dinheiro para a cara curiosa de Mia —... Nossa! Você está apenas servindo bebidas... Certo?
Então Livie percebeu isso por conta própria. Eu viro minha cabeça e estreito meus olhos, fazendo uma pausa para o efeito, como se estivesse em um pensamento profundo. —Defina servindo bebidas. — Eu rio quando tiro o sumo de laranja da geladeira e engulo direto da garrafa, sentindo seu olhar furioso às minhas costas. — Eu estou brincando! Sim, apenas bebidas. E uma bunda chutada em um cliente demasiado excitado. — A testa de Mia enruga e eu estremeço, murmurando ‘desculpa’ para uma carrancuda Livie. Isso é rapidamente esquecido embora, ela folheia o maço de dinheiro com o polegar. — Caramba.
— Eu sei, certo? — Sei que tenho um sorriso estúpido na minha cara e não me importo. Isso poderia funcionar. Nós poderíamos sobreviver. Podemos não ter que comer comida de gato.
Livie me olha com um sorriso secreto.
— O que?
Ela faz uma pausa e, em seguida: — Nada, eu só... Você está risonha. — Ela morde uma cenoura bebê. — É legal.
Mia imita ela, franzindo o nariz como um coelho enquanto mastiga. — É legal. — Ela repete.
Eu roubo uma do saco, dou um beijo gigante na bochecha de Livie, e depois vou em direção ao banheiro.
— Vou estar no chuveiro enquanto você conta todo o nosso dinheiro. E lembre-me de telefonar para a Starbucks e me demitir, ok? — Não há nenhuma maneira que eu vou voltar para o salário mínimo. De jeito nenhum.
***
Eu não me importo que não haja pressão. Eu não me importo que a água tenha um cheiro estranho de cloro. Eu simplesmente fecho os olhos e massageio uma espessa camada de xampu no meu couro cabeludo, inalando sua fragrância rosada. Pela primeira vez desde a noite que fugi com Livie, eu acho que posso fazer isso. Posso cuidar de nós. Eu sou velha o bastante, forte o suficiente, inteligente o suficiente. Meus problemas não vão nos deter. Tudo vai ficar bem. Vamos sair disso fortes e...
Um estranho som de assobio tira-me da minha folia. Abrindo um olho eu vejo listras vermelhas, pretas e brancas enroladas ao redor do tubo acima do chuveiro. Dois redondos olhinhos estão olhando fixamente para mim.
Leva um segundo inteiro para eu gritar. Uma vez que eu faço, não posso parar. Recuando para bater contra a parede oposta, eu não sei como consigo ficar de pé, mas eu consigo. A cobra não se move. Fica no mesmo lugar, balançando o rabo e olhando para mim. Como se decidindo como ela vai ajustar a sua mandíbula em torno da minha cabeça e me engolir toda. Eu continuo gritando quando ouço a voz de pânico de Livie atrás da porta, mas isso não registra. Sua batida não registra.
Nada registra.
De repente há um estalo alto e o som de madeira estilhaçando. — Kacey! — Livie grita quando um par de braços fortes me envolve e me tira de lá. Uma toalha rapidamente aterra em mim e eu estou sendo levada para fora do banheiro e para o meu quarto.
— Eu odeio cobras. Eu odeio cobras. Porra! Eu odeio cobras! — Repito uma e outra vez para ninguém e para todos. Uma mão alisa meu cabelo. Não é até que a minha frequência cardíaca diminui para uma gama seminormal e eu paro de tremer que sou capaz de me concentrar no que está ao meu redor.
Na testa franzida de Trent e as manchas de turquesa na sua íris.
Eu estou em seus braços.
Nua e sentada no colo de Trent, em seus braços.
Minha frequência cardíaca volta a um nível perigoso enquanto eu aprecio esta nova situação. Sua camisa está encharcada e coberta do meu xampu. Eu posso sentir a pele quente de seus antebraços contra minhas costas nuas e sob meus joelhos enquanto ele me mantém apertada contra ele. Todas as partes vitais do meu corpo estão completamente
cobertas da vista com uma toalha, mas eu não posso estar mais nua do que estou naquele momento.
Livie aparece, seus olhos brilhando. — Quem você pensa que é, intrometendo-se aqui? — Ela grita, seu rosto tão vermelho quanto o meu cabelo, parecendo pronta para arranhar o rosto de Trent até expulsá-lo.
— Trent. Este é Trent. — Eu respondo. — Está tudo bem, Livie. Há... Há uma cascavel no chuveiro. — Eu tremo involuntariamente. — Leve Mia para fora daqui antes que ela a coma. E traga o Tanner aqui. Agora Livie!
A atenção de Livie passa de mim para Trent e de volta para mim, descendo para a minha cama. Ela não quer me deixar, eu posso ver isso. Mas, finalmente, ela decide algo e acena. Ela fecha a porta atrás de si.
Trent me puxa apertado contra ele até que eu sinto os cumes duros de seu peito pressionados contra o meu braço.
— Você está bem? — Ele sussurra, sua boca tão perto que seu lábio inferior roça o meu ouvido. Tremo de novo.
— Estou fantástica. — Eu sussurro, acrescentando: — Além de quase morrer.
— Eu ouvi você gritar da porta ao lado. Pensei que alguém estava te matando.
— Não alguém. Alguma coisa! Você viu isso? — Um braço voa para fora, fazendo um gesto em direção ao banheiro, enquanto o outro se agita para manter a minha toalha cobrindo meus seios. — Eu estava a dois segundos de ser comida viva!
Agora Trent começa a rir - um som suave e bonito que vibra através de meu corpo e aquece meu núcleo. — Eu acho que é Lenny. A cobra de estimação do 2B. Eu vi um homem careca procurando nos arbustos esta manhã na área comum, chamando seu nome.
— Animal de estimação? — Eu cuspo a palavra enquanto me sento direita. — Esse comedor de homem é o animal de estimação de alguém? Não há uma lei contra possuir cascavéis?
Os olhos azuis de Trent vagam pelo meu rosto quando ele sorri, estabelecendo-se em meus lábios. — É uma serpente de leite. Pelo que eu sei, a única coisa que vai comer é um rato. — Ele está tão perto de mim agora que a sua respiração acaricia minha bochecha. Com o meu corpo pressionado nele, sinto seu coração bater rápido no meu ombro,
rivalizando com o meu. Ele pode sentir isso também. Não é só comigo. Ele levanta a mão para pegar meu queixo. — Ninguém vai te machucar, Kacey.
Eu não sei se é o estresse da situação, ou esta queimadura escaldante dentro da minha barriga que se expande sempre que Trent está por perto, ou uma besta incontrolável interna reprimida por muito tempo, mas toda essa situação foi de aterradora para malditamente quente em uma fração de segundo.
Eu não posso evitar.
Esmago a boca de Trent com a minha, minha mão pegando a frente de sua camisa em um punho, arrancando vários botões sem nenhum esforço, enquanto eu me forço em cima dele. Há um segundo de resistência - apenas um segundo, onde sua boca e corpo não respondem - mas isso rapidamente se dissolve. Seu braço desliza para fora de meus joelhos para segurar meu lado, queimando minha pele nua. É ele que aprofunda o beijo, deslizando sua língua em minha boca, uma mão trabalhando o seu caminho através do meu cabelo revestido de xampu, segurando um punhado na parte traseira do meu pescoço firmemente. Ele força a minha cabeça para trás enquanto sua língua se conecta com a minha, a sua boca doce e fresca. Ele é forte, isso eu posso sentir. Se eu quisesse, não acho que eu poderia lutar com ele. Mas eu não quero. Nem um pouco.
Sem quebrar a conexão dele com a minha boca, Trent de alguma forma me move de modo a eu ficar deitada de costas e agora ele está pairando sobre mim na minha cama, nossos torsos achatados um contra o outro, as minhas coxas abraçando o seu quadril enquanto seus antebraços mantém seu peso fora do meu corpo. Eu não sei o que está acontecendo, o que estou fazendo, o que tomou conta de todo o meu pensamento racional, mas sei que eu não quero que isso pare. Cada fibra do meu corpo está desejando isso.
Desejando Trent.
Eu sinto que consegui o meu primeiro suspiro de ar depois de estar sob a água por anos.
Infelizmente, isso para. Abruptamente. Ele se solta e se afasta, ofegando enquanto olha para baixo para mim com um olhar incrédulo. Seus olhos nunca deixam os meus, nem mesmo por um segundo. Se deixassem, ele veria que minha toalha já foi embora e eu estou debaixo dele completamente nua. Corpo e alma.
— Não é por isso que eu tirei você do chuveiro. — Ele sussurra.
Eu engulo, em busca de minha voz. A que eu acho, está rouca. — Não, mas está funcionando bastante bem para você, não é?
Ele me dá aquele sorriso torto que faz meu corpo queimar como se alguém o queimasse com um maçarico. Mas então seus olhos arrefecem, procurando o meu rosto. — Não é cansativo? — A ponta de seu dedo polegar acaricia o meu pescoço suavemente.
— O que?
— Manter as pessoas fora.
— Eu não o faço. — Nego rapidamente, minha voz vacilando em traição quando suas palavras me dão um soco no estômago. Como ele pode ver o que eu não quero que ele veja, o que eu trabalho tanto para esconder? Ele encontrou um caminho para o meu interior. Como um invasor, ele invadiu o meu espaço, quebrando a segurança e correndo para pegar o que eu não ofereci a ele.
O fogo que ele é capaz de suscitar no meu corpo tão facilmente ainda queima, só que agora eu encontro a necessidade de lutar contra as chamas que me consomem. — Eu não quero isso. Eu não quero você. — As palavras têm um gosto acre na minha boca, porque eu sei que não quero dizê-las. Eu quero isso. Eu quero você, Trent.
Trent cai na minha boca e meu corpo traiçoeiro inclina para frente, expondo-me como a mentirosa que eu sou. Mas ele mantém suas mãos em cada lado da minha cabeça agora, apertando meu travesseiro firmemente como se estivesse tentando manter o controle. Eu, por outro lado, perdi todo o controle, percebo, quando meus dedos deslizam sob sua camisa e agarram suas costas, quando minhas pernas envolvem em torno dele.
— Você não quer isso, Kacey? — Ele rosna no meu ouvido, pressionando sua ereção contra mim.
— Não... — Eu sussurro, meus lábios arrastando em seu pescoço. Então eu começo a rir de mim mesma, pela minha teimosia. Quão ridícula eu devo parecer agora, meu corpo se contorcendo contra o seu. Esse pedaço de risada é como uma tábua de salvação jogada para mim. Eu aproveito-a e a deixo me arrastar de volta da beira do abismo. Afastando minha boca de seu pescoço, eu resmungo: — Saia.
Ele dá três beijos mais suaves no meu queixo e depois acaricia suavemente meu rosto com os nós de seus dedos. — Ok, Kacey. — Ele sobe e sai de cima de mim. Eu inalo profundamente enquanto seus olhos percorrem o comprimento do meu corpo com um
olhar escuro e faminto. Dura apenas um segundo, mas desencadeia uma profunda necessidade na parte inferior da minha barriga. Ele se vira e vai para a porta. — Eu vou me responsabilizar pelas portas com Tanner.
— Portas? — Plural?
Ele ainda não se vira. — Sim. A porta da frente e a porta do banheiro. Se ele vai expulsar alguém, vou ter certeza de que sou eu.
E então ele se foi.
Caramba! Esse cara é a definição do dicionário de uma contradição. Ele desliza entre ser um cara legal e um bad boy tão fluidamente que eu nunca pareço pegar a transição. Seria mais fácil se ele fosse um jogador cabeçudo, mas aqui está ele, derrubando portas para me salvar de cobras. Eu, por outro lado, vou de cadela para atacante sexual e de volta para cadela em três batimentos cardíacos e ele apenas pisca aquelas malditas covinhas. Eu acho que não estou muito melhor em termos de uma contradição.
Quando finalmente saio do meu quarto 15 minutos depois, o apartamento foi invadido. Livie está na cozinha, de pé ao lado de uma Storm sexy e desgrenhada com uma criança de cinco anos chorando em seus braços. Claramente meus gritos arrancaram Storm de um sono morto porque ela está vestindo nada além de um top e fio dental.
Um policial está entrevistando um homem baixo e careca com o perpetrator enrolado em torno de seu pulso. Eu tremo. Lenny, eu presumo. Trent está certo. Agora que vejo a coisa, não é tão grande quanto eu primeiro pensei. Ainda assim, cruzo os braços sobre o peito protetoramente, sentindo seus olhinhos redondos me avaliando.
Tanner paira ao lado da porta da frente quebrada, arranhando a parte traseira de sua cabeça como se confuso com as lascas de madeira. Eu tenho que admitir, estou mais do que um pouco impressionada. Trent é um cara grande, mas eu não faria uma aposta em dinheiro que ele poderia romper não apenas uma, mas duas portas para me salvar. Esse pequeno pedaço de conhecimento faz a culpa sobre chutá-lo para fora do meu quarto queimar ainda mais rápido.
Trent está em silêncio ao lado dele, as mãos nos bolsos de trás, enquanto olha para a bagunça. Sua camisa está meio desfeita onde eu rasguei os botões, encharcada e agarrada a um peito esculpido. Mesmo com companhia atual, a visão faz minha boca secar.
Storm é a primeira a correr para mim depois de entregar Mia para Livie. Ela joga os braços em volta do meu pescoço. Eu ainda vacilo, mas não tanto quanto eu fiz da primeira vez que ela fez isso. — Você está bem? — Se eu fugindo de seu carro ontem à noite a incomodou, eu não posso dizer.
Por cima do ombro, eu assisto os olhos do oficial e do homem careca arregalarem e cravarem no traseiro de Storm. O oficial, pelo menos, tem a decência de corar e desviar a sua atenção para um ponto usado no linóleo. O homem careca, por outro lado, não; seu sorriso alarga. — Eu vou estar melhor depois de ir socar esse cara no nariz. — Eu digo em voz alta o suficiente para ele me ouvir. Ele olha para longe, pego em flagrante.
— Esse é Pete Pervertido. — Ela sussurra, encolhendo-se enquanto estende a parte de trás de sua camisa para baixo para cobrir seu traseiro nu. É inútil. A camisa é muito curta e seu fio dental é muito revelador. — Volto logo. — Ela corre para fora.
Tanner me olha por cima da bagunça lascada. — Oh, hey, Kerry.
Kerry? Minha testa franze severamente. — Ei... Larry! Como vai?
Livie tenta abafar seu bufo com a mão. Na primeira Tanner parece confuso, mas depois um sorriso dentuço se estende por todo o seu rosto. — Kacey. — Ele se corrige. —Desculpe... Kacey.
O policial pacientemente escreve anotações em um bloco enquanto explicamos todo o incidente e faz pausas frequentes para olhar Storm, agora que ela está vestida. No final, ele dá a Mia uma etiqueta com formato de crachá de xerife que a faz sorrir de orelha a orelha. Pete Pervertido pede desculpas profusamente e leva Lenny de volta para sua gaiola, jurando a um Tanner perturbado que ele verificará para certificar-se de que gaiola está bem segura. O oficial me pergunta se eu quero apresentar queixa contra Trent e eu encaro-o como se lhe tivesse crescido um braço na bunda.
Quando o oficial vai embora - não antes de dar a Storm um longo e apreciativo sorriso - Tanner e Trent ainda estão olhando para as duas portas quebradas. — Eu entendo que isto foi uma emergência, mas... er... Preciso consertar isso e Perv... — Tanner limpa a garganta — Pete vai demorar um pouco para conseguir o dinheiro. Eu duvido que essas garotas tenham seguro... — Tanner enfia a mão no bolso de trás para retirar sua carteira. — Eu tenho, hum, cem dólares que posso ceder.
Meu queixo cai. O quê? Estava esperando uma notificação de despejo e sermão e aqui está Tanner, se oferecendo para pagar por nossa porta? Livie, Storm, e eu compartilhamos
um olhar de choque. Antes que eu possa dizer uma palavra, porém, Trent dá a Tanner um punhado de dinheiro de sua carteira. — Aqui. Isso deve cobrir tudo. — Tanner pega com um aceno de cabeça, e então sai sem dizer uma palavra, deixando-nos a todos sem palavras.
Trent caminha para Livie e estende a mão. — Oi, eu sou Trent. Nós não nos conhecemos formalmente.
Qualquer que fosse a raiva que Livie tinha correndo por suas veias se extinguiu, deixando-a corada e tão desajeitada como uma menina de 12 anos de idade. Ela sacode a mão dele rapidamente antes de recuar como se pudesse engravidar com o toque, com os olhos evitando qualquer coisa a ver com sua camisa semiaberta e esse corpo lindo e bronzeado debaixo dela. Eu sorrio interiormente. Minha Livie inocente.
Trent se apresenta a Storm em seguida. Ela cora docemente e uma facada injustificada de ciúme me pica. Quando ele se move para Mia, que se esconde atrás das pernas de Storm, eu pego Storm piscando o olho para mim exageradamente em aprovação. Reviro os olhos.
— E você deve ser a princesa Mia? Ouvi falar de você.
Seus lábios franzem e ela se inclina para fora apenas um pouco da proteção de Storm. — Ouviu?
Ele acena com a cabeça. — Bem, eu ouvi falar de uma princesa Mia que gosta de sorvete. Deve ser você, certo?
Ela assente lentamente e sussurra: — Você ouviu isso mamãe? As pessoas sabem que eu sou uma princesa!
Todo mundo ri. Todo mundo, menos eu. Estou muito ocupada lutando esta batalha interna que me diz que eu devo resistir a seu encanto. É tudo um ato. Ele não é bom para mim.
Na verdade, não é nada disso, eu odeio admitir.
O problema é que eu sei que ele é bom demais para mim.
Trent se levanta para me enfrentar. — Você vai ficar bem?
Sempre tão preocupado comigo. Concordo com a cabeça, os braços dobrando em meu peito enquanto olho para o meu robe, me mexendo desajeitadamente sob o seu olhar
examinador, lembrando a sensação de seu corpo pressionado contra o meu. E que ele me tirou do chuveiro, totalmente nua e encolhida.
Todos os tipos de humilhação correm através de mim agora.
Eu não tenho certeza se o meu desconforto registra com Trent, mas ele dá alguns passos para trás, com a mão deslizando por seu cabelo. — Bem, vejo vocês por aí. — Ele pisca para mim. — Preciso lavar todo este sabão. Espero que o meu banho não seja tão agitado.
— Sim... — Murmuro, sentindo-me estúpida, seguindo o seu corpo mover, rapidamente planejando como eu posso plantar algo em seu chuveiro, porque assim tenho uma desculpa para derrubar sua porta e saltar para salvá-lo. Não uma cobra. Ele não parece ter medo de cobras. Talvez um jacaré. Sim, há muito disso na Flórida. Apenas uma rápida viagem para os Everglades, eu vou encontrar um, prendê-lo, trazê-lo de volta...
— Kacey?
Eu pulo de volta para o presente com a voz de Storm, sua sobrancelha arqueada enquanto ela olha para mim, sorrindo.
Eu, obviamente, perdi uma pergunta. — O que?
— Tenho certeza de que Trent adoraria jantar com nós como um agradecimento. — Eu vejo o brilho nos olhos dela. Ela está jogando de casamenteira.
Eu não gosto disso.
Trent não quer essa bagunça.
— Faça o que quiser. Eu vou estar no ginásio. — Respondo e meu tom é uma brisa do ártico, congelando qualquer alegria na sala. Eu giro sobre os calcanhares e volto ao meu quarto antes que alguém possa dizer uma palavra em contrário.
E eu me odeio.
***
The Breaking Point está mais silencioso do que o habitual para o fim de tarde, mas eu estou bem com isso. Ainda estou recuperando da emoção da cobra de hoje. E de Trent. Eu preciso da minha rotina, calma e agradável. Eu rapidamente me alongo e preparo-me para iniciar a ronda no saco.
— Ei, ruiva! — A voz de Ben explode de trás.
Droga. Viro-me para pegá-lo exatamente quando a sua atenção se desloca para cima da minha bunda. — Ben.
Ele caminha ao redor e agarra o meu saco para mim. — Você precisa de um ajudante19?
— Eu acho que estou ganhando um de qualquer forma, não estou? — Resmungo. Mas então seu sorriso dissimulado me faz rir por algum motivo, liberando a tensão no meu corpo. — Você sabe o que está fazendo?
Ele dá de ombros. — Eu tenho certeza que você pode me ensinar. — Então ele pisca aquele sorriso de novo e acrescenta: — Eu prefiro estar no controle, mas por você eu posso...
Ben está tagarelando com camadas de insinuações e eu paro de ouvir. Só para lhe dar uma lição, eu surpreendo-o com um chute. Ele grunhe quando o saco bate em seu quadril. — Considere essa sua primeira lição. Cale a boca. Não fale comigo enquanto eu estou trabalhando.
Pelos próximos 15 minutos, eu ataco o saco com socos e chutes e Ben faz um trabalho meio decente de se deslocar com o impacto. Se ele fala, eu não o ouço. Estou zoneada na sequência que me impulsiona para frente, batendo de novo e de novo, soltando toda a raiva a cada batida.
Três idiotas ficam bêbados uma noite.
Três assassinos levando minha vida de mim.
Um. Dois. Três.
Finalmente cansada, eu me inclino para frente e me apoio nos meus joelhos com as mãos para pegar minha respiração.
19 Do original ‘spotter’ que em treino de academia é alguém que supervisiona o treino de outra pessoa e ajuda, de forma a permitir um treino intenso mas seguro.
— Eita, Kace. — Eu olho para cima para ver espanto no rosto de Ben. — Eu nunca vi alguém tão completamente concentrado durante as rodadas. Você era como Ivan Drago. Ele é um russo que...
Eu o interrompo, recitando uma fala de Rocky IV com um sotaque russo simulado. — Se ele morre, ele morre. — Outro dos favoritos do meu pai.
A cabeça de Ben está balançando, as sobrancelhas arqueadas de surpresa. — Você conhece esse.
— Quem não conhece? — Eu não posso evitar, mas rio de novo. Logo nós dois estamos rindo e eu estou pensando que Ben não é um idiota pomposo depois de tudo.
É quando uma forma alta passa por nós e deixa cair uma marreta sobre meus escudos.
Trent.
Meu riso morre, todos os vestígios de relaxamento desaparecendo. Agarrando minha garrafa de água, eu tento esconder a minha reação de Ben ao tomar um longo gole, o tempo todo assistindo Trent enquanto ele pousa as suas coisas no chão ao lado de um saco de velocidade e puxa sua camiseta sobre a cabeça por trás pelo colarinho.
O que diabos ele está fazendo aqui? Na minha academia? Este é o meu... Santo... Uma gota de água desliza pelo meu queixo e eu a limpo com meu antebraço, me esforçando para não embasbacar com o corpo definido que surgiu, coberto apenas por um top branco. Ele mantém as costas para mim sem olhar na minha direção e começa a socar o saco de velocidade com uma precisão que me surpreende. Como se ele estivesse bem treinado. Eu assisto um momento, fascinada e um pouco decepcionada que ele não me reconheceu, apesar de eu não merecer sua atenção.
Talvez ele não saiba que eu estou aqui.
Duvido.
Linhas curvas de tinta preta espreitam para fora das bordas de seu top. Seja qual for a tatuagem, abrange a largura de sua parte superior das costas de ombro a ombro. Eu adoraria tirar essa camisa e estudar sua tinta enquanto ele está estendido na minha cama.
— Eu acho que vi esse cara no Penny. — Observa Ben. Então ele me pegou encarando Trent. Ótimo.
— Você tem alguma coisa por ele? — Eu provoco friamente.
— Não, mas ouvi que alguém que tem. — Eu não posso perder o tom sugestivo em sua voz.
Storm sangrenta. — Ele é meu vizinho. É isso.
— Tem certeza?
— Yup. Eu não tenho uma coisa por ninguém. Incluindo você. — Dou um soco em meu saco.
Ele sorri secretamente. — Você não vai lá dizer 'oi' para o seu vizinho, então?
Eu respondo com um chute. Ben finalmente leva a dica, se movendo para segurar o saco. Ele não menciona Trent novamente.
Eu faço o meu melhor para completar uma segunda rodada, mas minha cabeça não está mais nisso e é tudo por causa desse cara sexy do outro lado da sala, martelando no saco de pancadas. Por mais que eu tente não olhar, me pego olhando para cima com frequência.
Esta última vez, eu pego Trent enxugando o suor da testa com a parte inferior de sua camisa, puxando para revelar um perfeito pack de oito. Sugo uma respiração, temporariamente paralisada, meu ritmo cardíaco disparando até o telhado, encarando...
Algo afiado bate em toda a minha bunda. — Ai! — Eu grito e giro ao redor para encontrar Ben com a sua toalha e um sorriso diabólico.
— Você acabou de bater em minha bunda com sua toalha? — Eu rosno.
Minha raiva não parece intimidá-lo. Meu soco nas costelas faz. Ele dobra de dor, gemendo. — Espero que tenha valido a pena, idiota. — Eu abaixo para pegar minhas coisas. Quando eu levanto, encontro o olhar de Trent em mim. Seu rosto está em branco, mas seus olhos... Mesmo à distância, eu vejo um mundo de determinação, mágoa e raiva neles.
Ele sabia que eu estava aqui. Ele sabia o tempo todo.
Depois de um longo olhar, Trent vira as costas para mim e começa a bater no saco de novo e de repente eu me sinto como se eu fosse o saco, que alguém está golpeando-me com culpa. E dor. Estou realmente sofrendo por Trent.
Eu já tive o suficiente.
Disparo para a sala de armários das mulheres sem outra palavra para Ben. Durante meia hora eu sento no banco de madeira na sala - um calabouço pequeno e escuro com dois chuveiros e pouco espaço de manobra - e eu luto para enterrar todas essas emoções indesejadas arranhando seu caminho para sair do poço. Por que ele tem que estar lá fora? Por que essa academia? Será que ele está me perseguindo? Na realidade, eu sei que esta é a única academia especializada neste lado de Miami por isso, se ele é um lutador treinado, faz sentido que ele acabe aqui. Ainda...
Estou acostumada a ter as coisas sob controle. Eu luto para ficar dormente. É assim que eu passo cada dia e funcionou bem para mim. Até agora. Agora Trent entrou em minha vida e eu não consigo me concentrar. Meu corpo está ficando louco, eu estou lutando contra esse desejo interno de afastá-lo e mantê-lo perto, eu estou pensando sobre ele demasiado. Mesmo o pensamento dele agora desperta um desejo dentro de mim que eu não sentia desde o meu último encontro aleatório há mais de dois anos atrás. Só que agora é um milhão de vezes mais agudo, mais necessitado. Eu balanço para frente e para trás, minha testa em minhas mãos. Eu não quero isso. Eu não quero isso. Eu não quero isso...
Ouço uma batida suave na porta. Esperança jorra como água através de uma barragem quebrada e eu percebo que é porque eu quero que seja Trent. Não posso evitar. Eu quero. Eu quero ele. Por favor...
Um Ben de aparência contrita fica no lado de fora da porta, me enchendo com decepção. — Você está bem? Sinto muito. Eu provavelmente bati-lhe mais forte do que eu deveria, mas você estava em outro planeta.
Eu não respondo, adrenalina corre através de meus membros, meu coração está acelerado, frustração me enche. Eu olho para aquele rosto e vejo um cara doce e genuíno. Um que se tornou atraente neste momento. Certo ou errado, destrutivo ou não, eu agarro a camisa de Ben com dois punhos e puxo-o para o vestiário. Ele não resiste, embora por seus movimentos lentos, ele não está totalmente certo do que está acontecendo. Eu empurro-o no chuveiro e tranco a porta.
— Tire a roupa. Não toque em minhas mãos.
— Hum. — Eu posso dizer que isso não é o que Ben esperava. Inferno, não é isso que eu esperava. Mas eu preciso desalojar este problema de Trent e sexo sem sentido com alguém deve servir.
Quando Ben não se move, eu agarro sua camisa e puxo-o para a minha boca. Ele finalmente percebe. Suas mãos puxam a parte de trás do meu top e ele me puxa contra ele, sua língua deslizando na minha boca.
Seu beijo é doce, mas não é como... não, pare Kacey. Você está fazendo isso para esquecer Trent.
Apenas o seu nome envia fogos de artifício dentro do meu corpo.
— Kacey. — Ben geme, suas mãos viajando até meus ombros e para baixo, sobre os meus seios, espremendo-os enquanto elas passam. Ele recua o tempo suficiente para arrancar minha blusa sobre minha cabeça antes de cobrir minha boca com a sua novamente. É um espaço confinado, mas ele faz o melhor possível com ele, erguendo-me para o pequeno banco contra a parede, então estou elevada sobre ele. — Eu não achava que você estava atraída por mim.
— Pare de falar. — Eu mando, enquanto deslizo meu short e calcinha para baixo. Sua mão está imediatamente na parte interna da minha coxa e deslizando para cima. Acima. Até que está exatamente onde eu quero que esteja.
Eu me inclino para trás e fecho os olhos.
E imagino Trent fazendo isso.
Ben não perde tempo, caindo de joelhos para seguir sua mão com a boca. — Deus, você é doce. — Ele geme. Eu brevemente imagino colocar-lhe uma focinheira para impedi-lo de falar. Mas, então, ele seria inútil para mim. E ele realmente é útil para mim agora. Certo ou errado, passou tanto tempo desde que eu permiti isto ou até mesmo quis. Eu me inclino para trás e relaxo, pegando de Ben o que eu preciso.
Está tudo funcionando bem.
Mas, então, Ben tem que arruiná-lo. Ele faz exatamente o que eu lhe disse para não fazer. Ele desliza a mão na minha.
É choque instantâneo, como se tivesse sido mergulhada em um banho de água gelada depois de me sentar em uma banheira de água quente por uma hora. Todo o prazer se desintegra e eu recuo de sua boca e seu toque, afastando seu rosto de mim.
— Droga, Ben. Basta ir. Agora.
— O que? — Confusão enche seu rosto quando ele olha para mim, como se tivesse acabado de admitir um triplo homicídio enquanto batia uma tigela de massa de bolo.
— Você tocou minhas mãos. Eu disse para não o fazer. Vá.
Ele ainda não se move, um sorriso incrédulo toca sua boca. — Você está falando sério?
Eu me inclino para frente, solto a trava e empurro Ben para fora do compartimento com a ereção mais proeminente através de sua bermuda que eu vi em um tempo. Com ele fora, eu tranco a porta de novo e desmorono no chão, abraçando meus joelhos ao meu corpo.
Isso não ajudou, afinal.
Na verdade, isso tornou as coisas mil vezes piores.
Náuseas agitam dentro de mim. Como eu pude ser tão egoísta? Ben vai me odiar agora. Pior ainda, agora que a névoa de sexo intenso desapareceu, eu realmente me sinto envergonhada por fazer isso com ele.
Eu nunca me senti culpada por minhas façanhas. E... Eu suspiro alto. E se Trent ouvir sobre isso? OhmeuDeus. Minha testa cai contra meus joelhos.
Eu me importo. Eu ligo para o que Trent pensa. Eu me importo se isso o incomoda. Eu só... Me importo. E não importa o que eu faça, não vou ser capaz de parar isso. Não com o sexo aleatório, ou ser uma cadela, ou qualquer outra das dezenas de métodos cruéis que eu usei para tentar afastá-lo. De alguma forma, ele conseguiu deslizar um dedo sob o meu revestimento de titânio e me tocar de uma maneira que ninguém mais me tocou.
Capítulo 6
Os shots de bar são ao preço de dois por um no Penny hoje à noite então o lugar está lotado, mantendo Storm e eu em nossos pés durante toda a noite até o ponto em que meu corpo está revestido por uma camada fina de suor. Cain conseguiu encontrar um gêmeo para Nate - outro bruto escuro gigantesco - para proteger nosso bar como uma sentinela de rosto sombrio, pronto para atirar clientes demasiado entusiasmados para a calçada em um piscar de olhos. Na verdade, o lugar tem seguranças quase tanto quanto tem bailarinas, hoje à noite. Incluindo Ben. Ele não disse duas palavras para mim desde aquela tarde no ginásio e isso me cai bem. Eu prefiro abaixar minha cabeça de vergonha, sem o lembrete constante.
Cain se inclina sobre o bar quando eu alinho 10 shots de vodka. — O que você está achando de Penny, até agora, Kacey? — Ele pergunta sobre a música.
Eu ofereço-lhe um aceno e um sorriso. — É ótimo, Cain. O dinheiro é muito bom.
— Ótimo. Guardando para a faculdade eu espero?
— Sim. — Apenas provavelmente não para mim.
— E no que você está interessada?
Faço uma pausa, para decidir como responder a isso. Eu escolho honestidade versus um comentário espertinho. Este é o meu chefe, depois de tudo. — Não tenho certeza. Não tenho uma direção ainda. — Por alguma razão, a pergunta de Cain não me incomoda. Não parece intrusiva. — Eu estou mais preocupada em conseguir dinheiro para a minha irmã entrar em medicina.
— Ah, sim. O famoso anjo de cabelos negros que Storm elogiou. — Os olhos astutos de Cain estreitam. — Você é uma trabalhadora dura e você é bem-vinda aqui o tempo que você precisar do trabalho, mas certifique-se de encontrar sentido em breve. Você pode fazer melhor do que preparar bebidas. Mantenha o bom trabalho. — Ele dá um tapinha no bar e continua, deixando-me a olhar para suas costas.
— Qual é a história dele? — Pergunto a Storm.
— O que você quer dizer?
— Bem, eu acho que ele pode ser uma das pessoas mais interessantes que eu já conheci. Um paradoxo à persona dono do clube de strip. Eu nunca o vi sequer apertar uma bunda. Ele toma o tempo para dizer oi. Agora ele está me incentivando a não trabalhar aqui porque eu sou boa demais para o lugar.
Ela sorri. — Sim, ele é definitivamente especial. Ele teve uma educação dura. Tinha a ver com clubes e as mulheres em sua vida sendo abusadas. — Ela pega a garrafa de JD20 na minha frente. — Falando de Trent...
O quê? A súbita mudança de tema me confunde. Com um sorriso maroto, Storm empurra o queixo para uma mesa não muito longe de nós. Com certeza, lá está Trent. Ele apareceu nas últimas três noites às 11 da noite, sozinho. Ele não se aproxima de mim. Apenas pede suas bebidas e senta-se a uma distância segura. Eu sei que ele está me observando, no entanto. Minha pele arrepia sob o seu olhar. Está começando a me dar nos nervos.
— Kace. — Storm se inclina para perto. — Posso perguntar uma coisa?
— Não. — Eu pego uma faca e um limão e começo a cortá-lo em oitavos.
Há uma pausa. — Por que você continua ignorando-o? Ele vem aqui toda noite para vê-la.
20 Uísque Jack Daniels.
— Sim, em um clube de strip. Toda noite. Sozinho. Isso é o que chamamos de uma aberração.
— Ele quase não olha para as dançarinas, Kace. — Diz ela. — E eu tenho visto você olhando para ele toda a noite, também.
— Mentira! — Reclamo muito rapidamente, minha voz estridente. Eu tentei não olhar, digo a mim mesma. Aparentemente eu tenho falhado miseravelmente.
Ela me ignora. — Eu acho que Trent realmente gosta de você e ele parece ser um cara legal. Não há nada de errado em ir falar com ele, pelo menos. Eu sei que você não é uma pessoa má, no fundo.
Eu luto para afastar a culpa que está inchando dentro de mim. Sim eu sou, Storm. Sou má. Eu faço isso intencionalmente. É mais seguro assim. Para todos. — Eu não estou interessada. — Empurro meu queixo enquanto continuo cortando.
Ela solta um exalar enorme. — Eu estava esperando que você dissesse isso. Vou pedir a ele para sair depois, porque ele é bonito.
Meu queixo cai quando meus olhos voam para a cara de Storm e eu tenho certeza que há assassinato total brilhando neles. Como ela pode me trair assim? E ela se chama de uma amiga?
— Ha! Te peguei! — Storm ergue um dedo. — Eu sabia. Admita. Admita que você quer ir e falar com o gostoso. — Ela se afasta com um sorriso provocante, cantando, Trent e Kacey... Sentados em uma árvore...
— Cale a boca. — Agora meu rosto parece um incêndio florestal ardente. Eu tento ignorar Storm, Trent e Nate quando um cliente vem para pedir um drinque. — Dois Whiskey Sours, vindo direto! — Eu anuncio, batendo dois copos no balcão. Eu não tenho ideia de como fazer um Whisky Sour e duvido que esse cara quer que eu experimente. Levanto uma sobrancelha expectante para Storm.
Ela responde cruzando os braços sobre o peito. — Não, a menos que você vá falar com ele.
Eu franzo meus lábios. — Bem — Eu assobio. — Depois. Agora você poderia me ajudar com as bebidas antes de eu envenenar este cavalheiro?
Com um sorriso vitorioso, Storm mistura duas bebidas e desliza-as por cima do bar.
— Essa coisa de acento doce do sul é tudo um ato, não é?
O sorriso dela se transforma em um beicinho inocente. — Acho que eu não sei o que você quer dizer. — Ela pronuncia lentamente abanando-se com um pano de prato.
De alguma forma, se é sua brincadeira ou seu humor obviamente alegre sobre me convencer, meu rosto se abre em um sorriso.
— Aleluia! Olha isso! Senhorita Kacey está novamente sorrindo! — Ela pressiona as costas de sua mão contra sua testa. — Não é uma visão abençoada?
Ela se encolhe quando o pedaço de limão que eu cortei atinge sua coxa. Mas então eu sigo a brincadeira com uma profunda reverência. — Ensinar-me, você deve ensinar-me. Tornar-me grande, e eu vou.
Storm me dá um empurrão brincalhão e depois volta para servir o próximo cliente, enquanto um surto de atividade do sistema nervoso entra em erupção dentro de mim. Oh Deus, com o que eu concordei? Minhas mãos vão para meu abdômen. Uma... duas... três... Eu me concentro em inspirar e expirar. Não estou acostumada a este sentimento. É horrível e estressante e, se eu aceitar, emocionante. Eu me inclino para baixo para colocar a faca em sua gaveta de segurança e endireito-me para seguir em direção à saída do bar.
Um conjunto de covinhas profundas me encontra.
— Eu não consigo pegar uma bebida à mesa sem ser abordado. — Murmura Trent com um sorriso torto, inclinando-se sobre o bar. — Não tenho ideia do por que.
Eu puxo uma respiração lenta e vacilante. Não perca a calma em volta dele, Kacey. Por uma vez! — Algumas pessoas devem te achar muito... ‘digno-de-ser-abordado’. — Eu respondo com minhas entranhas se liquefazendo. Cristo! Mesmo os meus mamilos estão endurecendo. Pior ainda, através deste vestido justo preto de cetim fino, Trent vai vê-los se ele olhar para baixo.
— Isso é uma palavra? — Seus olhos brilham e eu tenho que regular a minha respiração quando o meu coração começa a martelar contra minhas costelas. Agora que eu cheguei a termos com o fato de que o filho da puta vai afetar-me quer eu goste ou não, ele é ainda mais quente do que antes. Respire, Kace.
— Então, sem mais incidentes com cobras? — Pergunta ele. Se minha crueldade no outro dia o incomodou, ele já ultrapassou ou ele nunca se importou sequer. É um alívio na minha consciência em qualquer que seja o caso.
— Não, Tanner Super-Homem está lidando com o problema. — Na realidade, Tanner se transformou em meu mini-herói. Enquanto eu tomava banho na casa de Storm e dirigi-me para o ginásio naquele dia, ele protegeu nosso apartamento como um cão de guarda barrigudo e obediente, não saindo até que as portas estavam no local e trancadas. E depois Storm ouviu através do seu apartamento que Tanner foi ao apartamento de Pete Pervertido e deu um sermão nele, ameaçando fazer uma gravata borboleta com suas bolas se houvesse um outro incidente como esse novamente. Tanner está se revelando ser uma joia coberta de lama.
Trent coloca sua bebida no balcão. — Então, você se importaria de abordar... er... Preparar-me uma bebida?
Meu foco cai para os limões na frente de mim enquanto eu trabalho para recuperar a compostura. Ele está flertando comigo. Eu não me lembro como fazer isso. Não sei se é toda a carne ou a música em torno de nós, ou o fato de que, Storm está certa, ele é muito gostoso, mas de repente eu me sinto com vontade de tentar. — Isso depende. Você tem I.D21?
Seus cotovelos apoiam quando ele se inclina para o bar, franzindo a testa de brincadeira. — Para uma água com gás?
Isso me pega de surpresa. Ele se sentou em um clube de strip toda a noite e ele não está bebendo? Eu ganho rapidamente a compostura e dou de ombros. — Faça como quiser. — Puxo a faca da gaveta novamente e começo fatiar os limões, meus movimentos lentos e focados para que eu não corte os meus dedos instáveis por sua presença intensa.
— Teimosa. — Eu o ouço murmurar enquanto ele desliza sua I.D do outro lado do bar. Com um sorriso curioso, eu a pego. É difícil de ler sob a luz fraca, mas eu exagero com uma pálpebra fechada como se estivesse me esforçando para ler. — Trent Emerson. 1.92m. — Meu olhar desliza para cima e para baixo pelo comprimento do seu tronco, lindo e forte, parando em seu cinto. — Sim, isso está certo. Olhos azuis. — Eu não preciso nem olhar para eles para saber, mas faço-o de qualquer maneira, olhando atentamente até que me sinto enrubescer. — É. Nascido em 31 de dezembro? — Duas semanas depois do meu aniversário.
Ele sorri. — Quase um bebê de Ano Novo.
21 Identidade
— 1987. Isso faz com que você tenha quase 25? — Cinco anos mais velho do que eu. Não muito velho. Embora se sua I.D. dissesse 1887 e ele tivesse a mesma aparência, eu não acho que me importaria.
— Suficientemente velho para uma água com gás, eu acho. — Ele sorri, estendendo sua mão. Eu não dou a I.D. de volta imediatamente. Não antes de notar seu endereço em Rochester. — Você está bem longe de Nova Iorque. — Digo e deslizo-a para o outro lado do bar e a solto para ele pegar.
— Eu precisava de uma mudança.
— Não precisamos todos? — Preparo sua bebida. De minha visão periférica, percebo que seus olhos permanecem no meu ombro, e eu conscientemente reajusto meu corpo. Tenho certeza de que as cicatrizes por todo o meu corpo irão enojá-lo. Então, novamente, ele já viu algumas delas. Risque isso. Todas elas. Esse cara me viu nua. Muita gente já me viu nua e não me importo. Trent me ver nua embora? Minha mão começa a tremer.
— Sentindo-se melhor hoje à noite, Kace?
Eu pulo com a voz, o sangue escorrendo do meu rosto quando Ben inclina-se contra o bar perto de mim com um sorriso conhecedor. Ele estende a mão. — Ei, eu sou Ben. Eu te vi na academia no outro dia, quando eu estava trabalhando com Kacey. — A maneira como ele disse “trabalhando” faz minha língua deslizar para trás na minha garganta.
— Trent. — Trent é cordial o suficiente, mas eu noto que ele fica até sua altura total e os cantos de sua boca achatam ligeiramente. Ele é grande. Maior do que Ben mesmo, embora não tão volumoso.
— Então porque você está aqui esta noite, Trent? E ontem à noite? E na noite anterior? Não podem ser as bailarinas, pois você está ocupado olhando para Kacey o tempo todo.
— Ben! — Eu vocifero, imaginando punhais de veneno atirando com as minhas pupilas para esfaqueá-lo na língua.
Ele me ignora. — Sim, Kacey fala sobre você o tempo todo. Ela não vai se calar. Está ficando chato.
Eu bato a bebida no balcão com uma mão trêmula, o tempo todo mentalmente rasgando a língua de Ben para fora da sua boca e empurrando-a até o rabo dele para que ele possa ter uma ideia, em primeira mão, do babaca que é.
— Eu duvido muito disso. — Com uma risada suave, Trent pega seu copo e recua, um sorriso estranho em seu rosto. — É melhor deixá-la voltar para o trabalho. Obrigado pela bebida.
Assim que ele se virou, a minha mão corre para os bíceps de Ben para agarrar a saliência muscular e torcer. Ele grita e pula para longe, mas está sorrindo uma fração de segundo mais tarde enquanto esfrega o local dolorido.
— Que diabos foi isso? — Eu assobio.
Ele se inclina para perto. — A vida é muito curta para jogar o estúpido jogo que você está jogando, Kace. Vocês dois gostam um do outro então pare de brincar.
— Cuide da sua maldita vida, Ben.
Ele se inclina ainda mais, até que seu rosto está a centímetros do meu. — Eu faria isso se você não tivesse me arrastado para o meio disso. Literalmente. E então me chutado para fora. Literalmente. — Uma pausa. — Ele machucou você?
Eu balanço minha cabeça, sabendo exatamente onde ele está chegando.
— Então consiga ajuda para qualquer que sejam os seus problemas e siga em frente. — Ele sorri maliciosamente. — Além disso, eu lhe devia. Você me deu o pior caso de bolas azuis que eu já tive. Esse devia ser o seu nome artístico. — Os olhos dele derivam lascivamente sobre meu peito e voltam. — Embora, eu tenho que dizer que valeu a pena. Me deu muitas imagens mentais para quando estou sozinho.
Eu jogo uma toalha para ele enquanto ele vai embora, uivando de rir.
Se fosse assim tão simples, Ben.
***
À meia-noite, Trent ainda está lá, tomando sua água com gás, e Storm está me perseguindo como uma hiena em torno de uma carcaça. — Vá falar com ele de novo.
— Não.
— Por que está sendo tão difícil, Kacey?
— Porque eu sou uma pessoa difícil. — Limpo o balcão enquanto eu resmungo baixinho: — Isso não pode acontecer de qualquer maneira.
— Por que não?
Balanço minha cabeça, minha testa franzindo profundamente. — Simplesmente não pode. Ele não merece ser empurrado para fora de um compartimento de chuveiro.
— O que? — Eu ouço Storm exclamar, mas não estou ouvindo. Eu não preciso de Ben e Storm cutucando-me para frente. Meus impulsos internos já estão fazendo isso, lutando com minha força de vontade. Eu realmente quero ir falar com Trent. Ficar ao lado dele. Beijá-lo... Qualquer que seja o interruptor que me ajudou nestes últimos anos a bloquear todo o atrativo e fazer a minha vida mais fácil falhou miseravelmente, abrindo as portas para uma enxurrada de desejo e emoções que eu não sei como lidar.
— Ele é demasiado... Bom. E agradável.
— E você é muito agradável também. Uma vez que você para de tentar ser uma cadela. — O jeito que ela acrescenta a última parte, é como se ela não estivesse pensando em dizer isso em voz alta. Eu pego seus olhos se arregalando.
— Muito bem feito, Storm. — Digo genuinamente.
Ela mostra a língua para mim. — Ele está sentado em um clube de strip toda a noite, esperando por você.
— Oh, o horror que isso é. — Murmuro ao mesmo tempo em que aponto para o palco onde Skyla e Candy se esfregam uma contra a outra.
— De quem é que vocês estão falando? — Uma deusa grega, com seios para chamar Storm de rival coloca um pedido de bebidas em sua bandeja.
— Mesa 32. — Storm diz.
Com um rolo de seus olhos, ela declara: — Esse cara é gay.
— Então o que ele está fazendo no Penny, Pepper22? — Storm pergunta em um tom doce.
22 Tradução literal: Pimenta
Pepper. Pshhh! Nome estúpido.
Pepper dá de ombros preguiçosamente. — A China tem tentado duro vender-lhe uma dança privada, com metade de desconto, e ele não quer. Ele está mantendo um olho em Ben embora.
Mordo minha língua para não deixar escapar que ele não quer, porque ele não gosta de putas de bunda suja. Eu não sei quem essa China é, mas quero rasgar suas entranhas. Eu não gosto muito de Pepper também. Eu deveria ir até lá e fazer xixi em torno de sua mesa para delimitar minha reivindicação. Espere... o que? Eita, Kacey.
— Ele está apenas esperando para o seu show particular com Kacey mais tarde. — Storm oferece e gira sobre os calcanhares. Eu pego os olhos de Pepper estreitos enquanto ela estuda o que ela deve ver como competição de dinheiro. Eu não posso dizer o que está acontecendo na mente dela. Duvido que seja muita coisa. Encaro-a do mesmo jeito.
— Aqui. — Storm empurra um copo cheio na minha mão. — Vá e fale com ele novamente. Você precisa de uma pausa de qualquer maneira.
— Ótimo. — Eu assobio. — Mas quando eu voltar, precisamos discutir o meu nome artístico. Talvez algo como 'Sal', ou 'Pirulito' ou 'Romã'.
— Eu ouvi que 'Bolas Azuis' poderia assentar melhor. — Storm diz com uma piscadela maliciosa.
Eu ofego, meu dedo espetando no ar incisivamente para ela e, em seguida, procuro na multidão por Ben, pronta arrancar a sua língua.
— Não se preocupe, ele só queria ter a certeza que você estava bem. — Ela sussurra, todas as insinuações de brincadeiras desaparecidas. — Eu não julgo. Seu segredo está seguro comigo, sua megera. — Me dirijo em direção à saída quando Storm grita: — Ei! Que tal ‘Megera’ como seu nome artístico?
Eu a ignoro, enchendo meus pulmões de ar enquanto levanto o painel do balcão e caminho para lá. Tento não mexer muito com o meu vestido, mas acabo fazendo isso de qualquer jeito. Inferno, apenas admita isso, Kacey. Trent te intimida. Só de olhar para ele empoleirado na sua cadeira, encostado na mesa, borboletas batem dentro da minha barriga. Quando é óbvio que eu estou indo direto para Trent, noto-o se endireitando, como se ele pudesse estar um pouco ansioso também. Isso me traz um pequeno alívio.
Eu coloco sua água com gás em cima da mesa com um pequeno sorriso. — Quais são as chances de que você ainda estaria aqui?
— Quais são as chances, realmente. — Ele me oferece um sorriso irônico em troca.
— Um cara se muda para uma nova cidade e passa todas as noites no clube de strip local. Sozinho.
Trent não perde uma batida. —... E encontra duas de suas vizinhas trabalhando atrás do balcão.
Eu pego o copo vazio. — Storm me convenceu de que será uma boa experiência de vida.
Seu olhar desliza no chão do palco sugestivamente e eu pego um lampejo de desaprovação neles. — Eu acho que depende do que você está fazendo aqui.
— Não. — Eu rapidamente jogo fora. — Roupa em todos os momentos. É obrigatório. — Eu mordo meu lábio. Um pouco ansiosa demais para anunciar isso, Kacey.
Trent considera meu rosto por um momento, e então ele concorda. — Bom.
Eu não posso evitar, meus olhos derivam para os lábios de Trent quando ele diz isso, como eles permanecem separados, como parecem macios. — Hum... — Eu balanço minha cabeça, tentando desanuviar meus pensamentos. — Então você está se sentindo aventureiro com as bebidas fortes hoje, eu vejo?
Ele dá a sua bebida um olhar longo e duro. Outro pequeno sorriso. — Sim, é melhor você tomar cuidado. Eu fico louco quando bebo esta merda de um só gole.
Eu dou uma risadinha. Uma risadinha! — O que você bebe quando não está engolindo refrigerante como um demônio?
— Leite, água. Uma Coca-Cola ocasional.
Eu franzo a testa. — Sem cerveja? JD? Tequila?
Ele balança a cabeça enquanto pega o canudo entre os lábios, um olhar de seriedade alisando seu sorriso. — Não toco essas coisas mais. — Seus olhos deslizam para cima para encontrar os meus e eles ficam lá por um momento. — Eu gosto de estar plenamente consciente de tudo o que está acontecendo.
Plenamente consciente. Realmente, Trent? Você quer saber que o meu fio dental está encharcado agora? Eu lambo os lábios, sem pensar, atraindo sua atenção para a minha boca. O calor sobe pelo meu corpo, subindo em meu pescoço, nas minhas costas, ao longo de minhas coxas. — Eu... Hum...
Felizmente, ele quebra o constrangimento. — Então, o que a trouxe para Miami?
— Mudança de cenário? — Eu ofereço a sua desculpa de antes, rezando silenciosamente para ele não me pressionar com todas as perguntas pessoais. Agora, eu acho que cantaria como um canário. Qualquer coisa para mantê-lo a falar comigo. Felizmente, Trent não pressiona.
— Você mudou sua mente, meu amor? — Uma voz sensual diz atrás de mim, nos interrompendo. Viro-me para encontrar uma ruiva falsa se aproximando. Ela é alta o suficiente para sustentar os seios voluptuosos sobre a mesa na frente de Trent. Eu observo quando uma garra vermelha desliza pelo comprimento do antebraço musculoso de Trent. Esta deve ser China.
Uma parte de mim quer girar e bater com o fundo do meu calcanhar em sua cabeça. No kickboxing, nós chamamos isso de chute traseiro giratório. Aqui, ele é chamado, “como conseguir a minha bunda louca de ciúmes demitida.” De jeito nenhum eu ia conseguir um polegar para cima de Cain com essa.
A outra parte de mim está curiosa sobre como Trent vai lidar com essa “abordagem.” Após o desfile constante da primeira noite, as coisas tinham estado bastante calmas. Eu tenho que pensar que é porque, como Pepper, elas presumem que ele está esperando Ben começar a jogar para a outra equipe.
Para minha agradável surpresa, Trent puxa o braço para fora da mesa e ajusta-se em sua cadeira assim seu corpo está inclinado em minha direção. — Eu estou bem, obrigado.
Com um beicinho suave, ela ronrona: — Tem certeza? Você vai se arrepender. Sou muito divertida.
Seus olhos bloqueiam no meu rosto e ele não tenta esconder o fogo neles. — Não tanto quanto eu vou me arrepender se deixar minha companhia atual. Eu acho que ela poderia entreter-me para toda a vida.
Meu coração salta três batidas e a minha respiração embaraça. Se havia alguma dúvida sobre o interesse de Trent, ele esmagou-a com esse olhar, com essas palavras. Eu
não noto a carranca de China, que eu tenho certeza que está descascando a pele dos meus ossos agora. Eu não noto ela se levantar. Eu não noto nada em torno de mim. Trent e eu de repente somos as duas únicas pessoas no bar e o mesmo impulso incontrolável que eu senti no dia que ele me salvou da cobra agora me domina.
Eu fecho meus punhos em bolas pequenas e os mantenho colados ao meu lado. Eu tenho que me controlar aqui. Não tenho escolha. Eu não posso atacar ele como uma aberração hormonal, que é exatamente o que eu sou agora. Limpo a minha voz, tentando agir com calma.
— Você tem certeza? Porque a maioria do que você está pegando de mim são águas com gás.
— Eu estou bem com isso. — O ouço sussurrar. — Por enquanto. — Seu lábio inferior desliza por entre os dentes, e a temperatura na sala instantaneamente aumenta 20 graus. Penny se transformou em uma sauna sangrenta e minha mente foi enviada para o esquecimento enquanto me esforço para ficar de pé.
Mas eu consigo ficar de pé e olhar para Trent quando a voz irritante do locutor vem sobre o microfone. — Senhores... — A dançarina seguinte está saindo. Aprendi a ignorar a voz, e não tenho nenhum problema em fazê-lo agora enquanto me perco na presença de Trent. Isso é até que eu ouvi: —... Uma performance de especial recurso da noite... Storm!
— Você tem que estar brincando comigo, porra! — Eu giro ao redor, verificando o bar para encontrar Ginger e Penelope atrás dele. Toda a atenção está focada no palco em antecipação enquanto um brilho verde místico paira sobre o palco, como se estivessem à espera de uma performance alteradora de vida e não de outra menina nua em um clube de strip. Minha amiga nua. — OhmeuDeus. Isto vai ser tão embaraçoso. Ela nem sequer me avisou! — Eu não percebo que estou recuando até eu topar com a coxa de Trent.
— Você não tem que ver, sabe. — Ele sussurra em meu ouvido.
O pulsar lento de uma batida de dança começa a soar através do clube e um holofote eleva acima do palco para iluminar um corpo feminino com pouca roupa, sentado em um aro de prata, suspenso. Eu não posso olhar para longe, mesmo que queira.
É Storm em um biquíni de lantejoulas que não deixa nada para a imaginação, flutuando no ar neste aro de metal. Quando a música pega, ela vira para trás, cada músculo de seu braço esticando quando ela oscila por uma mão. Sem nenhum esforço visível, ela dobra as pernas por cima e fluidamente desliza seu corpo através do aro para
realizar outra impressionante pose. A música pega ritmo e ela chuta as pernas para fora, ganhando força até que a argola oscila para a frente e para trás como um pêndulo. Então, de repente ela está pendurada pelos braços, girando rápido, seu cabelo voando pelo ar, seu corpo contorcendo e mergulhando em várias poses graciosas. Ela é como uma dessas pessoas no Cirque du Soleil - linda, equilibrada e fazendo coisas que eu nunca acreditei serem humanamente possíveis.
— Uau. — Eu me ouço murmurar, hipnotizada. Storm é uma acrobata.
O pequeno material cobrindo seus seios de alguma forma voa para longe. Storm é uma acrobata stripper.
Algo escova contra os meus dedos e eu recuo. Minha cabeça desce para ver a mão de Trent descansando em seu joelho, seus dedos a uma polegada de distância dos meus. Tão perto. Muito perto e ainda assim eu não me afasto. Algo dentro de mim me impele para frente. Gostaria de saber se há alguma chance... e se... Inalando, eu olho para o seu rosto e vejo um mundo de calma e possibilidades. Pela primeira vez em quatro anos, o pensamento de uma mão cobrindo a minha não me envia em uma espiral vertiginosa decrescente.
E eu percebo que quero que Trent me toque.
Trent não se move embora. Ele olha para mim, mas não me pressiona. É como se ele soubesse que esta é uma ponte da qual eu me afastei e que incendiei há muito tempo. Como ele sabe? Storm deve ter dito a ele. Mantendo meu foco bloqueado nesses lindos olhos azuis, eu forço minha mão a fechar a distância. Meus dedos estão tremendo e a voz grita para eu parar. Ela grita que isto é um erro; que as ondas estão esperando para desabar sobre a minha cabeça, me afogar.
Afasto a voz.
Tão lento, tão leve, a ponta do meu dedo desliza em seu dedo indicador.
Ele ainda não move sua mão. Ele permanece completamente congelado, como se estivesse esperando por mim para fazer minha jogada.
Engolindo em seco, eu deixo a minha mão inteira deslizar sobre a dele. Ouço uma ingestão aguda de ar quando ele ofega, sua mandíbula apertando. Seus olhos estão presos nos meus e eles estão ilegíveis. Finalmente, sua mão se desloca e cobre a minha, deslizando seus dedos suavemente no meio. Não com força, não apressado.
Um rugido carregado de aprovação estoura perto dos meus tímpanos, mas eu mal o ouço sobre o fluxo de sangue em meus ouvidos. Uma... duas... três... eu começo a tomar essas dez respirações pequenas.
Eu não posso conter a euforia inchando dentro de mim. O toque de Trent é cheio de vida.
Tenho certeza que eu ouvi vidro quebrando em algum lugar próximo, mas estou muito chocada para qualquer coisa se registrar. — Está tudo bem? — Ele sussurra, sua testa franze antes que eu possa processar a sua pergunta, a sua mão é arrancada da minha quando um par de luvas gigantes aterra em seus ombros, levando o calor e vida dele.
— Você precisa sair, senhor. — A voz de Nate troveja. — Não toque nas senhoras.
Minha visão periférica pega o movimento debaixo de mim. Olhando para baixo, eu encontro um garoto de limpeza varrendo os cacos do copo vazio de Trent. Eu acho que escorregou da minha mão livre.
— Está tudo bem? — Trent pergunta novamente de forma sincera, como se ele soubesse que pode não ser ok tocar a minha mão. Como se esse fosse um medo perfeitamente aceitável de se ter. Como se eu não fosse maluca.
Por mais que tente, não posso abrir minha boca ou mover minha língua. Estou de repente como uma estátua. Petrificada. — Kacey!
Nate empurra as costas de Trent e sai pela porta e eu não faço nada exceto vê-lo ir, o intenso olhar de súplica focado em meu rosto até que ele está fora de vista.
Tudo parece vacilante quando eu ando de volta para o bar em um torpor. As paredes, as pessoas, as dançarinas, as minhas pernas. Murmuro um pedido de desculpas a Ginger por tomar mais do que 15 minutos. Ela acena com um sorriso, enquanto prepara a bebida de alguém. Com movimentos tensos, eu viro-me para ver que uma mulher nativa bem torneada tomou o centro do palco, fazendo algum tipo de encenação de dança da chuva em um traje de penas escassas. Storm está longe de ser vista.
O mundo se move para frente, alheio a esta mudança significativa no meu pequeno universo.
Fase Quatro Aceitação
Capítulo 7
— Então, o que você achou? — Storm interrompe o silêncio no carro no caminho de casa.
Eu franzo a testa, sem entender a pergunta. Minha mente ainda está presa em Trent, na sensação de sua mão; e em mim, ali de pé como uma idiota, não dizendo nada. Eu estou tão concentrada em Trent e naquele momento crucial que por uma vez não estou perturbada por viajar nos limites apertados do jipe de Storm. Ele segurou minha mão. Trent segurou minha mão e eu não me afoguei.
Percebo os pequenos punhos de Storm enrolados firmemente em torno de seu volante e ela está olhando para toda a parte, exceto para mim. Ela está nervosa. — O que eu achei sobre o que? — Pergunto lentamente.
— Sobre... o meu show?
Oh! Certo. — Eu não sei como os seus peitos não estragam o seu equilíbrio.
Sua cabeça inclina para trás e ela ri. — Levou algum tempo para me acostumar, acredite em mim.
— Sério, isso foi a coisa mais incrível que eu já vi. O que diabos você está fazendo em um clube de strip? Você poderia estar no Cirque du Soleil ou alguma merda assim.
Eu peguei uma pitada de tristeza em sua risadinha. — Não é um estilo de vida que funciona mais para mim. Isso significa treinar todos os dias e shows toda a noite. Eu não posso fazer isso com Mia para cuidar.
— Por que esse é o seu primeiro show que eu vi?
— Eu não posso fazer isso todas as noites. É duro o suficiente conseguir ficar acordada e me exercitar um pouco todos os dias.
Huh. Storm se exercita. Eu não tinha ideia. — Por que você não me contou?
Ela encolhe os ombros. — Nós todos temos nossos segredos.
Meus olhos derivam para fora da janela. — Bem, isso é um inferno de uma maneira de revelar um segredo.
Ela ri, assentindo em concordância. Há uma pausa. — Como foi sua conversa com Trent?
— Oh, foi uma experiência marcante. — Seu toque ainda permanece em meus dedos e eu não posso afastar o som suplicante de sua voz. Vergonha crua se instala em meus ombros. Eu deveria ter lhe respondido. Em vez disso, deixei Nate jogá-lo para fora como um jumento bêbado.
Eu odeio a sensação que está na minha pele agora.
Nós dirigimos mais alguns minutos sem falar. Então Storm rompe o silêncio com um ataque frontal completo. — Kace, o que aconteceu com você? — Meu queixo instantaneamente aperta, despreparada, mas ela continua. — Eu ainda não conheço você em nada. Tendo em conta que eu praticamente me despi para você. Literalmente. Eu estava esperando que você confiasse em mim para fazer o mesmo.
— Você quer que eu gire em torno de um aro e levante a minha blusa? — Brinco, minha voz plana. Eu sei que não é o que ela quis dizer.
— Eu perguntei a Livie e ela não quis me dizer. Ela disse que precisava ser você. — Ela diz isso em voz baixa, como se soubesse que não deveria ter perguntado a Livie em primeiro lugar.
Meu intestino afunda no chão. — Livie sabe melhor do que contar os meus segredos a alguém.
— Você precisa começar a falar com alguém, Kacey. Essa é a única forma de ficar melhor.
— Não há como ficar melhor, Storm. É isso. — Não há mais volta dos mortos. Eu tento afastar a frieza da minha voz, mas não posso evitar. Está lá.
— Eu sou sua amiga, Kacey. Quer você goste ou não. Talvez eu tenha conhecido você apenas por algumas semanas, mas eu confiei em você. Tenho confiado em sua irmã com a minha menina de cinco anos de idade, convidei-a para minha casa, e consegui-lhe um emprego. Sem mencionar que você dobrou minha calcinha e me viu nua.
— Tudo isso sem dar-lhe o meu número. Ah, os caras da minha academia estariam tão orgulhosos de mim.
Paramos no estacionamento fora do nosso apartamento e minha mão trabalha aflita sobre a maçaneta da porta, os limites do jipe de Storm se tornando uma esmagadora lata confessional.
— O que eu estou tentando dizer é que não sou uma idiota. Eu não faço isso com todos. Mas há algo sobre você. Eu pude ver desde o primeiro dia. É como se você estivesse lutando contra ser você mesma. Cada vez que um pouco de você de verdade escapa, você desliga isso. Encobre isso. — Sua voz é tão suave e ainda assim me faz suar frio.
O meu verdadeiro eu. Quem é esse? Tudo o que sei é que desde que me mudei para Miami, minhas defesas cuidadosamente esculpidas foram atacadas de todos os ângulos. Mesmo Mia e seus sorrisos de dentes separados conseguiram rastejar para dentro das rachaduras na minha armadura. Não importa quantas vezes eu digo a mim mesma que não me importo, eu estou começando a encontrar o meu coração batendo um pouco mais rápido e meus ombros levantando um pouco mais quando as faço rir.
— Você não tem que me contar tudo, Kace. Não de uma só vez. Porque não só uma pequena coisa a cada dia?
Esfrego minha testa enquanto tento encontrar uma maneira de sair disto. Depois da última vez que eu fugi, pensei que ela tinha desistido. Mas ela tinha apenas aguardado outra altura. E se eu fugisse do carro agora? Talvez este fosse um ponto de virada na nossa amizade. Talvez ela me afaste se eu fizer algo assim novamente. Um sentimento de naufrágio na boca do meu estômago me diz que isso vai me incomodar. E Livie. Isso definitivamente irá esmagá-la e eu não posso fazer isso. Ouço a voz de Livie na minha cabeça. Tente. Eu sei o que tenho que fazer. Por Livie.
— Quatro anos atrás, meus pais, meu namorado e minha melhor amiga morreram em um acidente de condução por embriaguez.
Há uma longa pausa. Não preciso nem olhar para saber que lágrimas correm pelo rosto de Storm. Pessoas chorando por isso não me perturbam mais. Eu desliguei permanentemente o interruptor das lágrimas.
— Eu sinto muito, Kacey.
Concordo com a cabeça. Todo mundo sente muito e eu não sei por quê. Eles não eram os babacas no outro carro.
— Você não se lembra de nada?
— Não. — Minto. Storm não precisa ouvir como eu me lembro de cada momento presa no Audi mutilado. Ela não precisa ouvir como eu ouvi o som sibilante do último suspiro da minha mãe, o barulho que me assombra todas as noites. Ou como em um lado o corpo quebrado de minha amiga Jenny moldava-se contra o carro e como, do outro lado, minha mão estava presa na mão do meu namorado, sentindo cada descida de grau enquanto o calor deixava seu cadáver. Como eu tive que sentar no carro, imóvel, rodeada pelos corpos daqueles que amei, durante horas, enquanto a equipe de emergência se esforçava para me tirar. Eu não deveria ter sobrevivido.
Eu não sei quem me deixou viver.
A voz suave de Storm puxa-me dos meus pensamentos. — Você estava dirigindo?
Eu me viro para encará-la. — Você acha que eu estaria sentada aqui agora, se estivesse?
Ela recua. — Desculpe. O que aconteceu com o motorista bêbado?
Eu dou de ombros evasivamente, olhando para frente novamente. — Ele morreu. Ele tinha dois amigos em seu carro. Um morreu. Um foi embora. Esse cara está aí fora, vivendo a sua vida agora. — Respondo, minhas palavras escorrendo com amargura.
— Alguma vez você o conheceu?
— Nunca. — Sussurro. A verdade é que eu fiz de tudo para não saber nada sobre ele. Sobre qualquer um deles. Eu queria que eles não existissem. Infelizmente, vi seus nomes nos papéis do seguro que eles me fizeram assinar. Esses nomes os tornaram reais,
queimando na minha mente para eu não poder jamais esquecer. Eram três pessoas reais. Pessoas reais que mataram minha família.
— Deus, Kacey. — Ela funga. — Você fez terapia?
— O que é isso, a Inquisição Espanhola? — Eu estalo.
— Eu sinto... Sinto muito. — O carro está cheio de soluços abafados de Storm. Ela está tentando contê-los, ser forte, posso dizer pelo jeito que ela continua sugando suas respirações.
Minha raiva se transforma em culpa e eu mordo meu lábio. Forte. O gosto de cobre do sangue cobre minha língua. Storm não tem sido nada exceto legal para mim e eu não fui nada exceto uma cadela para ela. — Sinto muito, Storm. — Eu forço as palavras. Mesmo que sejam verdadeiras, elas ainda são difíceis de sair.
Ela pega minha mão, mas, lembrando-se, coloca a palma da mão no meu antebraço.
Esse pequeno gesto é suficiente para derreter minhas defesas geladas e eu começar a divagar. — Eu estive no hospital e na reabilitação por quase um ano. Os médicos me visitaram lá. Não muito depois disso, embora. Aparentemente as drogas zumbis e rodadas diárias de Kumbaya23 iriam resolver todos os meus problemas. Quando eu saí, minha tia insistiu para que eu falasse com os conselheiros em sua igreja. Eles sugeriram que ela me colocasse em um programa de reabilitação sério, porque eu sou uma mulher jovem quebrada cheia de raiva e ódio que pode se tornar prejudicial para si e para os outros, se deixada solta. — Essa última parte é quase palavra por palavra o que eles disseram. A resposta da minha tia para isso foi deixar uma bíblia no meu criado-mudo. Em sua opinião, a leitura da Bíblia corrige tudo.
— Onde está essa tia agora?
— Em Michigan com seu marido nojento que tentou molestar Livie. — Silêncio. — É isso que você queria ouvir, Storm? Que você tem uma louca vivendo ao seu lado?
Ela se vira para olhar para mim, limpando as lágrimas de suas bochechas com as palmas das mãos. — Você não é louca, Kacey. Mas você precisa de ajuda. Obrigada por me contar. Isso significa muito. Um dia vai ficar mais fácil. Um dia, esse ódio não vai confinar mais você. Você será livre. Você vai ser capaz de perdoar.
23 Canção espiritual de 1930, Significa "Vem para nós, meu Senhor". Posteriormente missionários americanos levaram a canção para Angola, razão pela qual ainda se diz, erradamente, que se trata duma canção angolana.
Eu vagamente noto minha cabeça balançando. Eu não acredito nela. Nem uma palavra.
A atmosfera do jipe caiu sete níveis abaixo do desagradável. Eu já contei mais a Storm do que a qualquer outra pessoa e isso me drenou. — Olhe para você, Acrobata Stripper de noite, Provocadora de Pensamentos Profundos... Mais tarde naquela noite.
Storm bufa. — Eu prefiro apenas “Acrobata.” Minhas roupas acontecem de cair, às vezes, de forma inesperada. — Ela cutuca meu braço. — Vamos lá. Isso é o suficiente para expor em uma noite. Para nós duas.
Agora que eu sobrevivi à conversa com Storm, meus pensamentos voltam para Trent como vingança, a necessidade de sentir aquela vida inebriante superando todos os outros desejos. Eu não lhe respondi. Eu deveria ter lhe respondido. Preciso lhe dizer que eu estou melhor do que bem. Que eu acho que poderia precisar dele.
O som fraco de riso flutua para o espaço comum quando Storm e eu andamos pelas sombras. Alguns dos alunos da faculdade no prédio ainda estão acordados, festejando. Eu me pergunto como isso seria - sair com os amigos, beber, ter uma vida normal - enquanto viramos a esquina para nossos apartamentos.
Uma silhueta se move atrás da cortina no 1D.
Eu tropeço, com meu pulso acelerado. Então, sem pensar, eu ando até a porta e fico na frente da mesma.
— Vejo você amanhã. — Eu ouço Storm chamar enquanto ela continua andando e posso dizer que ela está sorrindo.
Inalando profundamente, reunindo toda a coragem que consigo, eu levanto minha mão para bater, mas a porta voa aberta antes de meus dedos fazerem contato. Trent está na porta, sem camisa e sem expressão e minha boca seca instantaneamente. Tenho certeza que ele vai me dizer para ir para o inferno. Eu espero por isso. Estou com medo de ouvi-lo.
Mas ele não faz. Ele não diz nada. Ele está esperando por mim, eu percebo. Há apenas uma palavra que eu preciso lhe dizer. Sim. Pode melhorar tudo isso. Sim, Trent. Sim, está tudo bem. Abro a boca e percebo que não posso. Eu não posso formar uma única palavra que transmita a gravidade da situação.
Com movimentos tensos, eu dou um passo em frente. Ele não recua. Ele só me olha, seu peito esculpido nu e as calças penduradas baixas em seus quadris me provocando. Ele
está tão quente quando consegue ser. Eu poderia passar dias com esse corpo. Por uma vez, eu espero conseguir fazê-lo.
Mas isso não é o que eu preciso agora.
Eu cautelosamente me aproximo, os músculos do meu estômago enrolam em uma bola apertada, de repente em pânico que o que eu senti anteriormente pode ser temporário, que eu perdi isso de novo. Quando meus dedos roçam os dele e o seu calor se espalha através de mim, o pavor se evapora.
Seu calor. Sua vida.
Fechando os olhos, eu deslizo minha mão ainda mais na sua, entrelaçando os nossos dedos e apertando. Meus lábios se abrem em um pequeno suspiro quando sua mão aperta sobre a minha. Ele não se move mais perto embora. Ele não tenta nada ou diz nada. Ficamos assim, na porta, nossas mãos entrelaçadas, pelo que parece uma eternidade.
— Sim. — Eu finalmente sussurro ofegante.
— Sim?
Estou vagamente consciente de que minha cabeça está balançando. Tão intensa é esta sensação que nada mais importa. Deixo ele me puxar para dentro. Ouço o clique da porta se fechando atrás de mim e ele me guia suavemente em seu apartamento escuro, com uma mão pressionada contra as minhas costas. Ele me leva para o final do corredor e para sua cama, os lençóis frescos, suaves e com cheiro de amaciante de roupa. Eu sinto, em vez de ver, o corpo de Trent deslizar atrás de mim, pressionando-se contra mim dos dedos dos pés aos ombros, nunca uma vez soltando a minha mão. Nem uma única vez. Eu me aconchego contra ele, desfrutando de seu calor.
E nessa paz celestial, eu durmo.
***
Um som de assobio...
Luzes brilhantes...
Sangue...
Estou ofegando.
A respiração rítmica lenta ao meu lado ajuda a regular o meu ritmo cardíaco quando eu acordo do meu pesadelo. No início, penso que é Livie, mas então eu sinto a minha mão entrelaçada na mão grande e quente de alguém - não é a mão de Livie.
Eu viro minha cabeça para ver a forma perfeita de Trent, os picos e ondulações de seu peito, seu rosto relaxado e juvenil. Eu poderia deitar aqui e olhar para ele para sempre. Eu não quero soltá-lo. Nunca.
É por isso que tenho que ir.
Deslizo minha mão para fora com cuidado e saio do conforto da cama de Trent, fechando a porta suavemente atrás de mim enquanto saio do seu apartamento.
***
Livie está me esperando na cozinha, tomando café da manhã antes de ir para a escola, com os olhos arregalados de preocupação. — Você ficou na casa de Trent? — Seu tom é meio acusatório, meio atônito.
— Nada aconteceu, Livie.
— Nada? — Ela me olha. Há uma coisa que Livie pode fazer bem. Encarar até você se contorcer quando mente.
— Eu segurei sua mão. — Sussurro, finalmente. Para alguém de fora ouvindo isso, soaria como um bando de garotas de nove anos de idade. Mas para Livie, que entende o impacto disso, isto é enorme.
Ela está sem palavras por um momento, deixando escapar murmúrios e meias palavras. — Isso... Você acha que isso pode ser algo mais? — Ela finalmente pergunta.
Dou de ombros com indiferença, mas calor desliza para meu rosto, mostrando a minha emoção.
— Você está corando!
Pego um Cheerio e lanço-o em sua cabeça.
Ela se desvia habilmente, sorrindo. — Eu acho que pode ser isso. Acho que Trent pode finalmente trazer Kacey de volta para mim.
Eu me pergunto se ela está certa. Mas eu acabei de escapar de seu apartamento sem nota nem nada. Ele pode não gostar disso. Uma pontada de preocupação me atinge, mas eu suprimo isso. Não tive escolha. Se eu tivesse ficado, sei exatamente o que estaríamos fazendo agora e não seria pensar. Preciso de tempo para pensar e ajustar a esta nova realidade.
Eu sinto a emoção de Livie direto até meus ossos. Por três anos, minha irmã mais nova tem me pedido para deixar Billy e seguir em frente. A coisa é, o meu problema não tem sido sobre seguir em frente com os meus sentimentos por Billy. Claro, eu me importava com ele. Eu acho que ele era ‘o certo’? Nunca vou saber. Aos dezesseis anos, todo mundo é ‘o certo’.
Não, meu problema era que, devido a esses últimos momentos com Billy, a própria ideia de minhas mãos tocando nas mãos de alguma outra pessoa tem me atormentado, fazendo meu coração parar, meu estômago cair, minha visão embaçar, espasmos em meus músculos e suor derramar pelas minhas costas de uma só vez.
Até agora.
Isto é diferente. Isso parece... Certo novamente.
Capítulo 8
— Você parece fabulosa! — Mia pronuncia lentamente, personificando sua mãe e nos fazendo rir. Storm está fazendo vitela com parmesão e estou modelando minhas roupas novas. Eu esgotei o armário de Storm e precisava de algumas coisas minhas, portanto, passamos a tarde no shopping comprando roupas. Eu deixei Storm coordenar as roupas. Não tenho a menor ideia de como me vestir adequadamente para um emprego em um clube de strip, mesmo depois de semanas trabalhando lá. Em qualquer caso, o calvário me deu boa distração de Trent.
— Acho que vou usar esse esta noite. — Anuncio, saindo em um curto vestido verde esmeralda que cai de um ombro e saltos altos.
— Boa escolha! Você pode pôr a mesa, Kace? — Storm pergunta enquanto se inclina para baixo para verificar o forno.
— Você sabe que vai ter que me deixar cozinhar um dia, né? — Nós passamos todas as noites jantando na casa de Storm por semanas.
— Eu gosto de cozinhar.
— Talvez eu goste também. — Jogo de volta, colocando os pratos na mesa, ganhando um ronco irrisório de Livie.
— Falta um lugar na mesa. — Storm diz com uma espiada para a mesa.
Eu franzo a testa. — Uh, não? Quatro pessoas, quatro lugares.
— Precisamos de cinco. — Diz ela, sem fazer contato visual.
— Storm?
Alguém bate na porta. — Storm?
Mia salta de pé e corre para ela, abrindo-a com um arco dramático.
Eu sugo o ar em meus pulmões quando Trent entra e não posso evitar ficar de boca aberta. Ele está em jeans azul escuro de novo, mas ele está usando uma camisa branca de botões fora da calça. Consigo afastar meus olhos dele o tempo suficiente para piscar um olhar de “você vai pagar por isto” na direção de Storm, antes de voltar a concentrar-me nele, todos os tipos de nervosismo e excitação e culpa se reproduzindo dentro de mim. Eu não sei por quê. Trent e eu ficamos de mãos dadas enquanto assistíamos minha amiga dançar nua. Trent me resgatou no, agora infame no prédio, ataque-cobra, e então eu pulei nele. Passei uma noite em sua cama com ele. Jantar com ele - e com minha irmã e vizinhas - dificilmente se qualifica como um encontro íntimo que justifica borboletas no estômago. E, no entanto, aqui estou, pronta para desmaiar.
Mia se curva dramaticamente. — Bem-vindo, gentil senhor. Princesa Mia aguarda a sua presença.
Mesmo Mia sabia! Esse diabinho.
De trás de suas costas, Trent exibe um buquê de cinco rosas cor de rosa. Ajoelha-se em um joelho para oferecer-lhe. Eu ouço o suspiro coletivo de todas as mulheres adultas do grupo, incluindo eu mesma.
— Obrigado por me convidar. — Diz ele. Ela agarra as flores em ambas as mãos pequenas, e depois olha para Trent com largos olhos brilhantes que não piscam por muito tempo. Suas bochechas ruborizam e posso dizer que este é o momento em que Mia se apaixona por ele. Este estranho alto acaba de se tornar seu príncipe eterno.
O momento passa rapidamente, e então ela se vira e corre em direção a Storm. —Mamãe! Mamãe! Olha o que esse homem me deu!
Trent pisca enquanto fecha a porta atrás de si, fechando a distância até onde eu estou. — Você desapareceu esta manhã. — Ele sussurra.
Isso é tão estranho. Obrigada Storm. — Eu... Eu sei... Eu... — Estou a ponto de dizer que sinto muito, mas ele pisca.
— Está tudo bem. Deduzi que era tudo um pouco demais, rápido demais. — Ele entrelaça um dedo no meu, fazendo meus joelhos curvarem com ondas de excitação.
Acho que vou me apaixonar por este homem.
O olhar de Trent deriva sobre a minha roupa e eu pego o calor nele. Provavelmente exatamente o mesmo calor que o meu olhar tem quando olho para ele. — Você parece... Bem.
Nós ainda estamos olhando sem jeito um para o outro, quando Livie limpa a garganta. — O jantar está pronto.
O minúsculo apartamento de Storm pulsa com uma corrente quente enquanto nós cinco devoramos a comida de Storm. De alguma forma, o fiasco da cobra vem e me torna alvo de piadas de todos. Mesmo Mia junta-se, mordiscando meu ombro como um monstro falso. Só que ela não tem os dentes da frente por isso é mais como mascar. E todo esse tempo, eu não posso evitar constantemente tocar o rosto de Trent com os meus olhos para encontrar os seus nos meus com a mesma frequência.
Quando o jantar termina e nós dizemos nossas despedidas para Storm e eu podermos ir para o trabalho, cada fibra do meu ser anseia por Trent e não tenho nenhum interesse em fingir o contrário.
***
— Quem é Penny? Claramente alguém importante. — Eu gesticulo para o sinal à medida que paramos em frente do clube.
Os dedos de Storm tocam seu volante e seu sorriso permanente vacila. — Penny foi uma menina realmente boa que conheceu um cara muito ruim. — Ela se vira para olhar para mim. — Cinco anos atrás, Cain geria um clube no centro. Não era nada comparado a este lugar. Penny era a sua principal atração. Ouvi dizer que ela trazia caras de todo o estado e do Alabama. Ela começou a namorar um cara e as coisas ficaram sérias. Ele pediu-a em casamento. Todo mundo estava feliz por ela. Ele vinha vê-la dançar, às vezes.
Ele dava-lhe beijinhos e abraços durante toda a noite. Vigiava-a um pouco. Você sabe, coisas realmente doces. Claro, ele disse que quando eles estivessem casados, ela teria que sair. Ela estava bem com isso. — A voz de Storm se torna sombria.
— Uma noite, algo aconteceu. Ninguém sabe o que exatamente. Em um segundo este cara tem seu braço em torno de Penny, no próximo, ele está arrastando-a para o quarto dos fundos pela sua garganta. Nate não conseguiu chegar a tempo. Encontrou-a no chão, com um crânio rachado.
Eu agarro minha garganta.
— Eu sei. Péssimo, não é? Cain fechou aquele lugar. Houve toda uma investigação de assassinato. Ele comprou este local e abriu sob o novo nome, em homenagem a ela. — Saímos do carro e fomos em direção à porta dos fundos. — É por isso que os seguranças são tão rigorosos quando os clientes tocando a equipe. Não importa se o cara é seu marido. Se ele tocar, ele está fora. Mais de uma vez, e ele está proibido de entrar para toda a vida.
— Huh... — Meus pensamentos se dirigem de volta para ontem à noite, quando Nate expulsou Trent por segurar minha mão. Eu pensei que ele estava sendo um babaca. Agora, eu quero abraçá-lo. Ou uma parte dele, já que eu precisaria de uma escada e braços extensíveis para rodear seu tamanho gigantesco.
Eu sigo a forma de Storm em um vestido preto para a porta. Pouco antes de ela bater, ela se vira e sorri, como se pudesse ler minha mente. — Eles são realmente bons, Kacey. Eu sei que é difícil de acreditar, mas é verdade. Cain nunca foi nada exceto incrível comigo. Ele me deixa ser bartender, ele prepara o palco e o equipamento para eu fazer o meu ato de vez em quando, e isso é tudo. Sem rodadas, sem danças no colo, nenhum material privado. Os seguranças recolhem minhas gorjetas do meu show, então eu não tenho que rastejar no chão, recolhendo. Eles vão cuidar de você. Você vai ver.
***
Quando Trent aparece às onze e meia e toma um assento no bar, meu cérebro instantaneamente se dispersa. O fato de que eu dormi em sua cama na noite passada e jantei com ele antes não me ajuda a relaxar em torno dele. Acho que realmente me deixou
mais nervosa. Uma... duas... três... Ugh! Como de costume, o conselho da minha mãe não ajuda.
Eu caminho em sua direção, tentando regular meu ritmo cardíaco enquanto observo suas características bonitas. Elas realmente são lindas. Ele poderia aparecer na capa de qualquer revista. E essa boca... Eu mordo meu lábio, tentando não ficar atrapalhada. — Triplo uísque com gelo? — Arqueio minha sobrancelha.
Ele pisca aquelas covinhas que me desarmam. — Segure o uísque e adicione um pouco de água com gás no gelo, e você tem um negócio.
Sorrio enquanto preparo sua bebida, e deslizo-a em direção a ele, os nossos dedos se tocando por um milissegundo. Com um olhar nervoso para Nate, eu vejo seu foco mudar para outro lugar e suspiro de alívio.
— Não se preocupe, eu sei as regras desses lugares.
— Frequenta muito? — Pergunto secamente.
Ele balança a cabeça com um sorriso irônico. — Protocolo padrão. Alguns lugares são mais rigorosos do que outros, mas todos eles são o mesmo. Não tenho interesse em ser expulso novamente. Uma vez foi o suficiente.
Eu sinto uma pontada de culpa por isso, sabendo que foi minha culpa. A piscadela de Trent dissolve tudo isso instantaneamente. Eu quero ficar e falar com ele, mas há um bando de clientes em espera. Sou obrigada a deixá-lo com um encolher de ombros decepcionado. Passei a hora seguinte servindo bebidas para os clientes, enquanto os meus nervos formigavam sob a atenção de Trent.
— Pena que é tão ocupado aqui. — Ele diz quando eu volto para onde ele está sentado.
— Sim, bem, alguns de nós têm de trabalhar para sobreviver. — Eu brinco e percebo que não tenho nenhuma ideia do que ele faz. Eu não sei nada sobre ele.
— E quando você tem sua próxima folga? — Pergunta ele casualmente, deslizando uma base para copo sob o dedo indicador.
— Segunda-feira.
Trent se endireita e lança uma nota de 20 no balcão. — Então você está livre segunda-feira, digamos em torno das cinco?
— Talvez.
Seu sorriso se alarga. — Ótimo. — Com um piscar de olhos, ele se vira. Eu o vejo sair do bar, a frustração pela sua partida me pesando.
Storm se inclina para perto. — O que foi aquilo?
Dou de ombros, a sensação persistente de seus olhos ainda no meu corpo. — Eu não tenho certeza. Acho que ele me pediu um encontro. — Uma explosão de adrenalina me percorre. Com certeza é melhor que seja isso que ele fez ou eu vou estar muito puta amanhã.
Storm dá ao meu ombro um aperto afetuoso e eu não me encolho. Sorrio para ela. Sorrio para o cara do outro lado do bar, à espera de sua bebida. Caramba, eu mesmo dou a Nate um largo sorriso bobo. Não tenho certeza, mas eu acho que peguei o canto de sua boca subindo por um segundo.
***
Eu me sinto como se um raio me tivesse atingido no segundo em que acordo na segunda de manhã. Não porque eu tive outro pesadelo.
Porque eu não tive.
Isso nunca aconteceu. Nos últimos quatro anos, nunca aconteceu. Eu não sei o que pensar disso, mas me sinto... Livre.
E então eu me lembro que tenho um encontro hoje à noite com Trent. Tudo o mais é esquecido.
***
— Bonitas unhas. — Livie repara dois segundos depois de entrar pela porta. Ela deixa a mochila no sofá, arregalando os olhos de surpresa por apenas um segundo. Eu
abro meus dedos na minha frente, admirando o verniz preto. — Onde você fez isso? — Sua voz está um pouco mais alta do que o normal e ela está tentando não fazer um grande negócio, eu posso dizer.
Mas é um grande negócio.
Hoje, eu deixei um completo estranho tocar minhas mãos. E não me encolhi. É como se Trent tivesse quebrado minha maldição.
— Um spa no fim da rua. Eles têm um especial de manicure duas-pelo-preço-de-uma às quintas-feiras. Devemos ir juntas na próxima vez.
— Uh huh, e qual é a ocasião? — Livie caminha em direção ao armário para pegar um copo, dando os seus passos como se ela fosse uma dama de honra andando pelo corredor da igreja com a noiva. Quero rir. Ela está tentando tão duro não surtar.
— Oh, nada. — Eu espero até que ela comece a encher seu copo. — Vou sair esta noite com Trent.
Sua cabeça gira para me encontrar e ela falha o copo, derramando água por todo o chão. — Como... Em um encontro?
Ponho meu cabelo atrás da minha orelha. — Talvez. Eu acho que você poderia...
As íris de Livie piscam com prazer. — Onde vocês estão indo?
Dou de ombros. — Provavelmente a praia. Não é o que as pessoas fazem em primeiros encontros? — Eu não tenho ideia. Faz tanto tempo desde que fiz algo remotamente parecido com um encontro.
Há uma longa pausa enquanto os pensamentos de Livie vagueiam para algum lugar, provavelmente tentando processar esta nova Kacey, aquela que vai a encontros e faz manicures. E se importa. — Sabe, nós não sabemos muito sobre Trent, não é? — Sua cabeça pende para o lado curiosa. — Qual é o trabalho dele?
Eu dou de ombros. — Não faço ideia.
Uma escuridão passa por cima da cara bonita de Livie. Eu espero pacientemente ela morder o lábio por um total de dois segundos antes de ela deixar escapar: — E se ele é um psicopata que tenta enfiar gatinhos em caixas eletrônicos?
— Um psicopata gostoso. — Eu a corrijo e ela franze a testa para mim. — Vamos, Livie. Eu não te afastei de Darla cedo o suficiente.
— Talvez você devesse saber mais sobre Trent antes de concordar em sair com ele.
— Eu não concordei em sair com ele.
— O que? — Ela faz uma pausa. — Bem, então...
Eu a corto. — Não sabemos nada um sobre o outro. Mais importante, ele não sabe nada sobre mim. Do jeito que eu gosto.
Seus lábios pressionam firmemente.
— Oh, Livie, pare de agir como a madura aqui.
— Alguém precisa fazê-lo. — Ela se abaixa para limpar a água com um pano de prato. — Eu vou estar na casa de Storm para o jantar. Você pode pelo menos telefonar para lá mais tarde para nos informar que ele não enfiou você em um caixa eletrônico? E nós precisamos conseguir telefones celulares se você vai começar a sair com homens estranhos.
Eu rio e aceno.
Ela para e avalia-me outra vez com um pequeno sorriso. — É bom ver você assim... De novo. A que horas você acha que vai estar em casa?
Eu pisco um olho para ela.
— Oh, Kacey. — Ela murmura, jogando o pano de prato na pia.
***
Quando as cinco horas finalmente chegam, estou caminhando de um lado para o outro na minha sala como um urso enjaulado, contando até dez sob a minha respiração, uma e outra vez. Ondas de emoção, nervosismo e medo apertam meu interior, até que eu tenho certeza que vou jogar o conteúdo do meu almoço para o tapete hediondo.
Bem na hora, uma batida suave soa na porta. Eu abro-a para encontrar Trent de pé no lado de fora em calça jeans e uma camisa azul e branca quadriculada e óculos de
aviador, encostado na porta com um braço por cima da cabeça. Meu corpo inteiro irrompe em um suor suave.
— Bonita porta. — Diz ele, tirando os óculos escuros. Me pego olhando para aquelas íris azuis lindas um pouco mais de tempo do que devia antes de fazer um som.
Ele está sendo brincalhão. Eu gosto de brincar. — Obrigada. É nova. Nós tivemos que substituí-la depois de um maníaco enlouquecido arrebentar a outra. — Sorrio, orgulhosa de mim mesma por conseguir essa resposta, mesmo na presença intensamente quente de Trent.
Ele ri ao mesmo tempo em que se aproxima para entrelaçar o seu dedo indicador em torno do meu. Fluxos de energia elétrica atravessam meus membros com o pequeno contato. Ele me puxa para fora, contra seu peito, para que fique acima de mim, e eu tenha que inclinar a cabeça para trás para encontrar o seu rosto. — Eu ouvi sobre isso. Situação terrível. Será que eles finalmente pegaram esse louco? — Ele murmura, sorrindo.
Faço uma pausa para inalar. Ele cheira como oceano e floresta. E desejo cru. — A última vez que ouvi ele estava rondando um estabelecimento de cavalheiros. É evidente que ele tem problemas bem sérios. Eu acho que eles estão se aproximando dele. — Adiciono sem fôlego. — Acho que vão pegá-lo esta noite.
Trent inclina a cabeça para trás e ri. — Talvez eles vão. — Ele passa o braço em meu ombro enquanto me leva em direção ao estacionamento. — Essa cor fica incrível em você. — Diz ele, olhando para minha camisa verde-esmeralda. — Complementa bem o seu cabelo.
— Obrigada. — Eu sorrio, silenciosamente louvando-me por comprá-la hoje, pela simples razão de que sabia que parece bem contra o meu cabelo vermelho escuro e pele de marfim. As pessoas pensam que eu pinto o meu cabelo para torná-lo tão escuro e rico, mas não. Acho que essa foi uma das coisas em que tive sorte.
Trent me leva a uma Harley vermelha e laranja no estacionamento. — Você já andou em uma dessas? — Ele segura um capacete. Então, Trent é um cara de moto. Inspeciono a coisa - eu não sei como me sinto sobre isso. Acho que ele pode ter acabado de subir alguns pontos no departamento de bad boy gostoso.
Eu balanço minha cabeça enquanto olho para a moto com hesitação. — Não oferece um monte de proteção entre mim e três toneladas de metal se movendo quando estou
sobre isso. — Eu digo. Com quem eu estou brincando? Não estou segura sequer andando em três toneladas de metal. Aprendi isso em primeira mão.
Um dedo suave empurra meu queixo para cima até que estou olhando para os olhos sinceros de Trent. — Eu vou mantê-la segura, Kacey. Apenas segure em mim. Com força. — Deixo ele colocar o capacete na minha cabeça e suavemente apertar a fivela em torno de meu queixo, seus dedos hábeis acariciando minha pele de uma forma que provoca arrepios pelo meu corpo. Um fantasma de um sorriso passa por seus lábios. — Ou você está com muito medo?
Agora ele está me desafiando. Como se ele soubesse que vou reagir a isso. Eu não posso evitar reagir. Sou como um desses idiotas nos filmes que bate no pedal de aceleração e tenta voar sobre uma lacuna mais de 60 metros na estrada porque alguém disse a palavra desafio. Meu pai teve horas de entretenimento à minha custa por esse motivo.
— Eu não tenho medo de nada. — Minto sem problemas. Subo por trás de Trent e me posiciono até minhas coxas abraçarem cada lado de seus quadris. Calor explode através da metade inferior do meu corpo, mas eu faço o meu melhor para ignorá-lo, passando os braços ao redor de seu torso.
— Nada mesmo? Nem mesmo um pouco nervosa? — Sua sobrancelha arqueia quando ele olha por cima do ombro para mim. — Está tudo bem. Você pode admitir. A maioria das meninas ficam nervosas sobre andar em motos.
Um flash de ciúme faísca dentro de mim com o pensamento dele com outra garota. Eu rapidamente sufoco-o. — Eu pareço como a maioria das meninas? — Minhas mãos deslizam em volta do seu peito e correm ao longo dos contornos de seu corpo, meus dedos deslizam sob a borda de sua camisa para acariciar os sulcos suaves de seus músculos por baixo. Para efeito adicional, eu me inclino para frente e pressiono os meus dentes em seu ombro.
O peito de Trent sobe com uma inspiração rápida enquanto ele levanta as mãos para agarrar as minhas e retirá-las, colocando-as com um tapinha do lado de fora de sua camisa. — Ok, você ganhou. Mas não faça isso enquanto eu estou dirigindo ou vamos acabar em uma vala. — Ele olha por cima do ombro novamente, acrescentando em um tom suave e solene: — Estou falando sério, Kacey. Eu não posso lidar com isso.
Outra explosão de calor irrompe através de minhas coxas, mas eu levo a sério sua advertência e prendo meus dedos em torno de sua cintura, pressionando meu corpo contra o dele. — Para onde vamos?
O estrondo baixo da moto de Trent é a única resposta que eu consigo e, em seguida, nós estamos nos movendo.
Sem pensar, abraço o seu corpo apertado enquanto entramos e saímos do tráfego. Trent acaba por ser um motorista cauteloso, dando a todos um amplo espaço, seguindo todas as leis. Eu gosto disso. Me sinto segura com ele. E isso me assusta como a merda. Isso me faz querer saltar desta moto em movimento e correr para casa para me esconder debaixo das cobertas porque ele é muito malditamente perfeito. Eu aperto-o firmemente em vez disso.
Não é até Trent virar sobre a interestadual e dirigir ao sul que eu percebo que não estamos indo para a praia. Ele está me levando para longe, algum lugar distante.
Em muitas maneiras, acho que ele já o fez.
***
— Sabe, minha irmã acha que você gosta de enfiar gatinhos em caixas eletrônicos. — Digo quando Trent desliga o motor em um estacionamento no Parque Nacional de Everglades. — Você sabe, como no American Psycho24.
Sua testa enruga. — Sério? Eu pensei que ela gostava de mim.
— Oh, ela gosta, eu posso dizer. — Asseguro-me de que a minha voz soa casual quando escorrego da moto e tiro o meu capacete. — Mas isso não significa que você não pode ser um louco.
— Huh. — As longas pernas de Trent oscilam ao redor do assento. — Quantos anos tem Livie novamente?
— Quinze.
— Ela é inteligente. — Eu pego o seu sorriso matreiro enquanto ele pega um pequeno saco de arrefecimento de um compartimento na moto. — Vamos lá. Deixe-me levá-la para a selva escura e isolada ali. — Ele aponta com a cabeça para um monte de sinais de
24 É um filme estadunidense rodado em 1999 (lançado em 2000), sendo uma adaptação do polêmico livro do mesmo nome, escrito por Bret Easton Ellis.
caminhada, piscando-me um par de olhos escuros e covinhas profundas. Os sinais vêm com avisos de perigo de vida selvagem. Eu não posso evitar me perguntar se eles também deviam ter avisos para meninas idiotas que seguem caras que mal conhecem para o pântano.
O sol está começando a afundar no horizonte à medida que caminhamos pelo caminho pavimentado. A trilha parece bem cuidada, mas está tranquila. Enquanto avançamos mais e mais, uma estranheza se fecha em torno de nós e o ar fica denso e inebriante com o desconhecido, e eu não posso evitar me perguntar qual é o plano de Trent. — Então por que estamos nos Everglades?
Ele dá de ombros, olhando por cima de seu ombro. — Nunca aqui estive. Você?
Balanço minha cabeça.
— Bem, nós vivemos em Miami, portanto decidi que devíamos vir aqui.
— Acho que é uma boa razão. — Murmuro enquanto seguimos ao longo da trilha forrada com capim alto envolta em sombras pelo sol de fim do dia. O lugar perfeito para se livrar de um corpo. — Então isto vai ser uma reconstituição de um episódio de CSI Miami? — Eu deixo escapar. Maldita seja por me assustar, Livie.
Trent para e se vira para me estudar com a testa franzida e um sorriso divertido. —Você está seriamente preocupada?
Dou de ombros. — Eu tenho certeza que já vi este episódio antes. Cara leva menina para uma cabana remota nos Everglades, se diverte com ela por alguns dias, e então deixa seu corpo para os jacarés por isso não há provas.
Ele abre a boca para responder, mas depois para, como se estivesse pensando. — Bem, a diversão provavelmente só durará vinte e quatro horas. Eu tenho um prazo para o trabalho amanhã.
Inclino minha cabeça, avaliando seus movimentos.
— Vamos, Kacey! — Ele dá uma risada surpresa. — Eu nunca enfiei um gatinho em um caixa eletrônico, nem nunca vou fazê-lo! Sou mais uma pessoa de cães, de qualquer maneira.
Meus braços dobram sobre o meu peito, minha sobrancelha arqueada. — Você sabe que eu me cuido muito bem, certo?
Ele ri, as íris azuis deslizando sobre meu corpo, disparando tremores através de mim. — Oh, acredite em mim. Eu sei que pode. Você provavelmente poderia ter-me de costas em menos de cinco segundos. — Quem me dera. — Venha. — Ele agarra meu cotovelo e me puxa para frente de forma que estamos caminhando lado a lado. Num impulso, eu desdobro meus braços e agarro sua mão, puxando-a para a minha boca para beijar seus dedos.
Agradável surpresa treme em seus olhos. Com um sorriso torto, ele troca as mãos para que possa aproximar-me de seu corpo, jogando o braço em volta do meu ombro. Ele levanta minha mão e prende-a contra seu peito. Andamos assim em silêncio, permitindo-me sentir sua pulsação. É rápida e forte e tão malditamente viva.
— Então, o que você quer saber?
— O quê? — Franzo a testa.
— Bem, você disse que Livie acha que você deve saber mais sobre mim, então o que você quer saber? — Seu tom suaviza, o rosto sombrio, enquanto ele olha para a frente, e eu sinto uma mudança no ar. Uma ponta de tensão, como se estivéssemos invadindo um tema com que ele não está confortável também.
— Umm... — Quanto menos falarmos sobre a vida um do outro, melhor. Mas, secretamente, eu tenho que admitir que quero saber tudo sobre ele. Até o tipo de sabonete que usa no banho. — Bem, você já sabe o que eu faço para viver. O que você faz?
Seus ombros caem um pouco como se aliviado pelo tópico. — Design gráfico.
— Sério? Um geek de computador? Nunca teria imaginado. — Sério, eu olho para o seu corpo perfeito e nunca teria imaginado. Ele sorri para a minha brincadeira. — E para quem você trabalha?
— Eu mesmo. É ótimo. Não tenho que ir a nenhum lugar nem informar ninguém, exceto meus clientes. Eu posso pegar nas coisas e me mover se eu quiser, que foi o que eu fiz. Posso projetar, nu na minha sala todos os dias e ninguém tem a menor ideia.
— Isso é... uh... — Trent aperta meu ombro e mão para me manter de pé quando eu tropeço em meus próprios pés. Redemoinhos de luz e escuridão enchem minha visão pela imagem mental que Trent acabou de descrever. Caramba! Pelo sorriso em seu rosto, ele sabe o que dizer coisas como essa faz para mim. Eu decido que vou quebrar sua porta um
dia em breve, com jacaré ou não. Também decido que preciso mudar o tema da conversa antes do meu corpo cair no chão e eu desmaiar como um peixe fora d'água.
— Onde você aprendeu a bater em um saco?
Ele ri de novo. — Eu praticava muito esportes no colégio e na faculdade. É um calmante bom, isso é tudo. — Seu polegar esfrega meu ombro enquanto caminhamos e meu coração incha.
— Ambos seus pais estão em Rochester? — Pergunto, chocando a mim mesma. Agora que eu comecei a fazer perguntas, é como se não conseguisse parar. Pior, eu estou fazendo todas as perguntas que não posso responder sobre mim mesma. — Desculpe. — Balanço minha cabeça. — Eu... Não é da minha...
A risada suave de Trent para meu gaguejar. — Meu pai está em Manhattan, a minha mãe está em Rochester. Divorciados, obviamente. — Ele oferece a informação, mas não posso deixar de notar seus ombros tensos, como se não fosse algo que ele está confortável em falar.
Mordo minha língua e continuamos em silêncio.
— O que mais você quer saber, Kace? — Ele olha para mim. — Pergunte-me o que quiser.
— O que você quer me contar?
— Tudo.
Estou balançando minha cabeça. — Tenho certeza de que há coisas que você deseja manter para si mesmo.
— Sim, algumas coisas são difíceis de falar. Mas eu vou te contar. — Sua mão aperta a minha. — Quero que você me conheça.
— Tudo bem. — Minha voz é suave e fraca agora e eu sinto que tenho que colocar as cartas na mesa. — Então, você sabe, eu não sou boa em falar sobre algumas coisas.
Eu ouço a suave inspiração de ar. — Já notei. Você pode pelo menos me dizer o que está fora dos limites?
— Meu passado. Minha família.
A mandíbula de Trent fica tensa, mas, depois de um momento, ele concorda. — Isso é uma grande parte de você, Kacey. Mas, tudo bem. Nós não vamos falar sobre essas coisas até que você esteja pronta.
Eu olho para cima e vejo os olhos azuis de Trent cheios com sinceridade, e fico cheia de tristeza. Eu nunca vou estar pronta para falar sobre essas coisas. Nunca. Não digo isso embora. Apenas aceno com a cabeça e digo: — Obrigada.
Ele me puxa para mais perto dele, seus lábios separando quando ele dá um beijo íntimo na minha testa.
***
Depois de caminharmos pelo longo calçadão que se estende sobre a água - e nos encontrarmos com um pequeno grupo de guardas florestais do parque patrulhando a área, - encontramos um assento em um muro de pedra. Trent descompacta a bolsa térmica e me dá uma garrafa de água fria. É só então que eu percebo como estou sedenta, depois de ter me distraído assistindo o passo relaxado de Trent até agora. — Imaginei que estaria quente aqui fora. Eu realmente quero ver um jacaré. Depois podemos ir procurar algo para comer. — Ele promete.
— Isso é perfeito, Trent. Sério. — E é. Absolutamente perfeito. Estamos com vista para os pântanos enquanto um sol dourado afunda na água, pintando o céu em tons de rosa e roxo. Os sons da água ondulando suavemente e os gritos de aves estranhas flutuam pelo ar. É o lugar mais tranquilo onde eu já estive. É claro que, qualquer lugar seria perfeito com Trent.
— Sim? — Ele descansa a mão na parte de trás do meu pescoço, os dedos se demorando ao longo da gola da minha camisa, deslizando ao longo da minha pele nua. Eu tremo em resposta.
— Com frio? — Ele brinca.
Dou-lhe um sorriso torto. — Não. Distraída. Você vai me fazer engasgar com minha água.
Ele abaixa sua cabeça em concordância enquanto afasta a sua mão, criando um pontinho de decepção dentro de mim. É rapidamente esmagado com preocupação.
— Olha! Você vê isso? — A voz de Trent levanta uma oitava e sua mão se move para o meu ombro quando ele se inclina para dentro. Ele estica o outro braço apontando para uma cabeça longa e estreita espreitando na superfície da água a não mais do que 6 metros de nós.
Meu apetite desaparece instantaneamente. — OhmeuDeus. Ele está nos observando?
— Talvez. Difícil dizer.
— Essas coisas não se movimentam ridiculamente rápido? — Eu engulo repetidamente, mais do que um pouco assustada. Jacarés em recintos fechados no zoológico são uma coisa. Não existem paredes que nos separem aqui.
— Não se preocupe. Eu fiz alguma pesquisa antes de virmos. Esta trilha é popular para ver jacarés de perto. Os guardas do parque estão logo ali, em qualquer caso.
— Se você diz. — Murmuro, notando o quão perto a boca de Trent está ao meu lado. Tão perto que eu poderia simplesmente inclinar-me e...
Os meus lábios roçam o canto de sua boca, pegando-o de surpresa. Virando-se para mim, ele me olha com um brilho momentâneo de surpresa. Mas só um momento, e então ele se inclina para cobrir meus lábios com os seus. Ele me beija ternamente, sua mão encontrando o seu caminho para o meu queixo para virar minha cabeça, seu polegar segurando meu queixo enquanto ele puxa meus joelhos perto dele com a outra mão. Minha respiração embaça enquanto sua língua corre ao longo da borda dos meus lábios antes de deslizar em minha boca, enviando um choque pelo meu corpo. Eu não posso evitar alcançá-lo, meus dedos descansando sobre as curvas de seu peito.
Ele libera o mais leve rosnado quando se afasta. Flexiona seu bíceps enquanto puxa meu corpo para seu colo e afunda sua cabeça em meu pescoço, pegando meu lóbulo em sua boca, beliscando-o sem dor. Minha mão desliza sobre sua garganta, deleitando-se com a espessura da mesma, de seus músculos. Quando meu polegar desliza sobre seu pomo de Adão e sua boca trilha beijos ao longo do meu pescoço, eu fecho meus olhos e deixo minha cabeça descansar contra a sua, sentindo-me sem peso e flutuando nele, sob seu controle. Sob seu toque.
— Kace. — Ele sussurra.
Eu faço um barulho estranho em resposta, metade gemido e metade murmúrio.
— Você está com medo?
Medo? Espreitando com um olho, eu verifico o pântano para ver o nosso observador no mesmo local. — Ele não se moveu, mas tenho que lhe dizer, duvido que eu possa dirigir a moto de volta se você perder uma perna esta noite.
Trent começa a rir e eu sinto as vibrações diretamente abaixo em meus mamilos, ele está tão perto. — Eu vou ficar bem por esta noite. Ainda preciso me divertir com você. A cabana é naquela direção. — Sua cabeça aponta atrás de nós.
— Eu espero que você tenha colocado lençóis frescos, pelo menos.
Com outra risada, Trent pousa sua cabeça no meu ombro enquanto eu me sento em um silêncio ansioso, assistindo o jacaré se afastar para se juntar aos seus pequenos amigos. Eu me pergunto se ele pode sentir a influência que Trent tem sobre mim. Com pouco esforço, em semanas, Trent demoliu minhas auto preservadas defesas e medos, rapidamente conquistando um lugar de necessidade na minha vida. E então eu percebo o que Trent estava perguntando. Se tenho medo disso.
— Estou apavorada. — Eu sussurro. No começo não acho que ele me ouviu. Mas então ele se vira para estudar os contornos do meu rosto, as sobrancelhas arqueadas, e eu sei que ele ouviu. — Eu... hum... eu... Já faz um tempo desde que eu fiz isso. — Continuo a dizer. Eu nunca fiz isso. Nunca. Nada próximo a isso. — E isso... — Levanto a minha mão dentro da dele. — Só isso por si só é meio que um grande negócio para mim.
Ele levanta a minha mão para pressionar contra seus lábios. Depois, ele limpa a garganta. — Olha, Kacey. O que aconteceu em seu quarto naquele dia...
Eu sinto minha testa enrugar, procurando. Meu quarto?
— A cobra no seu chuveiro?
Ah, sim. Meu coração salta quando uma corrente de mil watts o eletrocuta como um lembrete.
— Eu estou... Uh. — Ele estende suas longas pernas para fora na frente dele, mas me mantém apertada em seu colo. — Estou tentando não deixar que isso aconteça novamente. Por agora.
Ele deve ser capaz de ler a decepção que me choca porque ele rapidamente se explica, os olhos arregalados e sérios. — Não é que eu não queira isso ou você. — Seu pomo de Adão sobe e desce quando ele engole. — Acredite em mim, eu tenho certeza que você sabe exatamente o quanto eu quero isso agora.
Eu sorrio, balançando em seu colo.
Ele ri, minhas ações quebrando sua nota séria. Mas ela volta rapidamente. — Eu tenho dificuldade - muita dificuldade - em me controlar em torno de você, Kacey. Você é incrivelmente atraente e eu sou um cara. Não é preciso muito para que você possa dissolver minha força de vontade. Mas eu acho que nós precisamos avançar lentamente. Tomar o nosso tempo. — Ele me dá um olhar significativo, como se entendesse mais sobre mim do que eu lhe contei. — Acho que é importante, para nós dois.
Eu abro minha boca para falar, mas não tenho certeza de como responder ainda. Ele está certo. Lento é bom. Lento é seguro. Mas agora, com a ponta de seus dedos novamente na minha gola, sentindo sua excitação cavar em mim, eu não quero lento. Eu quero uma bagunça quente com sabão.
Permito-me um momento para respirar fundo para tentar regular o meu coração estático. — Quem disse que eu quero algo com você? Você assume muito.
— Talvez sim. — Com um sorriso torto, sua mão desliza sob a parte de trás da minha camisa, movendo-se dolorosamente lento ao longo da minha espinha, ganhando um suspiro leve de mim.
— Sim, isso é mesmo lento. — Eu coaxo.
— Estou assumindo muito agora?
Eu balanço minha cabeça levemente para deixá-lo saber que ele não está assumindo nada. Eu vou aceitar o que conseguir de Trent. Lento ou rápido.
Seus dedos se espalham enquanto deslizam sobre minha pele nua, deslizando em minha caixa torácica para roçar os cumes de diversas cicatrizes. Seu polegar acaricia para frente e para trás. — Não pude deixar de notar que você tem algumas destas.
Estou acostumada com as pessoas questionando minhas cicatrizes. Eu aprendi a mudar de assunto sem problemas. — Ah, é? Quando você viu isso?
Ele me dá um sorriso irônico.
— Pervertido. — Tento empurrar meu constrangimento, mas eu sinto meu rosto corar de qualquer maneira.
Seu rosto fica sério. — Isso é parte do passado que você não quer falar?
— Uma cobra comedora de homem me atacou em um chuveiro. É um problema recorrente para mim.
Ele ri baixinho, mas o riso nunca atinge seus olhos. Tirando sua mão de debaixo de minha camisa, ele empurra minha manga para expor a linha branca fina no meu ombro. Inclinando-se, seu lábio inferior roça sobre ela. — Às vezes ajuda se você falar, Kace.
— Podemos, por favor, nos focar apenas no aqui e agora? — Peço baixinho, confusa com a reação conflitante em meu corpo, tanto rígida como líquida sob sua atenção. — Eu não quero estragar isso.
— Sim, por agora. — Ele levanta a cabeça para olhar para mim de novo, colocando uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha. — Você não sorri o suficiente.
— Eu sorrio imensamente. Das oito horas da noite até à uma hora da manhã de terça-feira à domingo. Será que você não sabe? Isso duplica minhas gorjetas.
Suas covinhas estão em pleno vigor agora. — Eu quero fazer você sorrir. De verdade. Sempre. Nós vamos sair para jantares, e ver filmes, e caminhar na praia. Vamos voar de asa-delta, ou bungee jumping, ou o que você quiser fazer. O que fizer você sorrir e rir mais. — Seus dedos brincam com meu lábio inferior. — Deixe-me fazer você sorrir.
***
Trent não se ‘diverte’ comigo naquela noite. Na verdade, ele trata-me como se eu fosse uma boneca de porcelana, que está a dois segundos de quebrar. Em vez disso, ele fala. Ele fala e fala e fala. Eu escuto, principalmente. Ele fala sobre os Everglades, e sobre a forma como um ser humano pode segurar uma mandíbula de jacaré fechada com as próprias mãos e eu pergunto-lhe se ele é um daqueles malucos do Jeopardy25. Ele fala
25 É um programa de televisão atualmente exibido pela CBS Television Distribuition. É um show de perguntas e respostas (quiz) variando história, literatura, cultura e ciências.
sobre como Tanner não é um cara mau e como nosso edifício de apartamentos meio que transmite uma sensação de Melrose Place26, e eu rio. Não me lembro de hibachis e ervas daninhas em Melrose Place. Ele sorri quando menciona o nome de Mia e quão bonita ela é.
Ele fala e eu escuto o som baixo e sedutor de sua voz e, embora meus hormônios estejam planejando um ataque completo para sequestrar meu cérebro e assumir todo o pensamento racional, eu não posso evitar me distrair com o fragmento de vida fluindo através de minha alma novamente.
***
Eu me deleito com a sensação de meus braços ao redor do corpo de Trent, quente e forte, pelo passeio inteiro até em casa, sem sentir necessidade de falar, desejando que a noite dure para sempre. Quando ele anda comigo até a porta do meu apartamento, estou arrasada pelo furacão súbito de emoção dentro de mim - felicidade e alegria, decepção e medo, todas convergindo prontas para me nocautear. Eu também sinto um desconforto crescente no ar entre nós. Talvez porque eu estou silenciosamente desejando que ele me convide para o seu apartamento e desanimada que eu sei que ele não vai.
— Então, obrigada por me mostrar o meu primeiro jacaré e não se ‘divertir’ comigo. — Eu ocupo-me com a procura em minha bolsa pelas minhas chaves. — Estou feliz que eu ainda tenho todos os meus membros e...
Os lábios macios de Trent cortam o meu discurso incoerente. Seus braços rodeiam em volta de mim, uma mão roçando minhas costas, enquanto a outra fica em concha atrás do meu pescoço. Ele me puxa para ele, sua boca trabalhando de forma lenta e controlada contra a minha, como se ele estivesse contendo-se de fazer o que ele quer fazer. Esse pensamento dispara ondas de calor nervoso através de mim. Meus braços perdem toda a força e caem soltos nos meus lados, minha bolsa e as chaves caindo no chão junto com eles.
Trent se liberta e se agacha na minha frente para pegar minhas coisas. Quando ele levanta de novo, ele entrega tudo para mim com um sorriso desafiador. — Você vai sobreviver?
26 Série de televisão norte-americana. A série se passa no condomínio Melrose, em Los Angeles, onde as vidas de seus locatários se cruzam em diversas situações envolvendo ambição, sexo, traições e até mesmo assassinatos.
Eu odeio que ele pode afetar-me tão completamente e brincar com isso. Bastardo. Mas eu adoro um desafio. Dou um passo à frente e pressiono meu corpo contra o dele, do peito aos joelhos, pressionando a minha mão em suas costas para que eu possa empurrá-lo para frente contra mim, perto o suficiente para que eu possa senti-lo em seu jeans. Ele não está desafetado. Eu olho para aquele rosto perfeito e sorrio docemente. — Nada que um longo e quente banho não possa corrigir.
Com isso consigo o que quero. Sinto-o ficando mais duro.
Trent sorri, sem dúvida plenamente consciente do que estou fazendo. O que eu faria para saber o que ele está pensando agora...
— Você tem um telefone celular? — Pergunta ele abruptamente.
Faço uma carranca com a repentina mudança de conversa. — Não, por quê?
Ele se afasta de mim e dá cinco passos gigantes para trás para chegar à sua porta do apartamento. Ele desliza a chave na sua fechadura. — Porque eu não confio em mim em torno de você por mais de um minuto, às vezes. — Quando ele se vira para me avaliar, é com um olhar ardente. — Enviar mensagens é bom. É mais seguro.
— Vou já tratar disso. — Ronrono, acrescentando com inocência fingida: — Saindo tão cedo? Você está bem?
— Vou ficar. — Ele diz por cima do ombro enquanto desaparece em seu apartamento, deixando minha boca seca e meu corpo em chamas.
Fase Cinco Dependência
Capítulo 9
Estou no shopping às nove da manhã de terça-feira para comprar dois telefones celulares. Um para Livie e um para mim. Eles não são nada sofisticados, mas eu posso enviar sms facilmente e isso é tudo que me importa, depois de deitar com os olhos arregalados na cama a noite toda, contemplando Trent.
Ao meio-dia, quando estou saindo da porta do meu apartamento com o meu equipamento para o ginásio, encontro-o. Com um sorriso, eu decido que realmente amo viver ao lado dele. Eu realmente amo.
— Como você dormiu? — Ele pergunta, pisando suavemente dentro do meu espaço pessoal. Noto que eu não me importo nem um pouco. Na verdade eu adoro que Trent Emerson entre no meu espaço pessoal.
— Como se alguém tivesse escorregado Rophynol27 na minha bebida. — Minto, dando-lhe o meu sorriso cheio de dentes. — Estou indo para o ginásio. Você está interessado?
As íris azuis observam o meu top preto sem vergonha. — Eu poderia queimar um pouco de energia.
27 Droga do golpe “boa noite cinderela”.
Meu coração salta três batidas. — Então vá pegar suas coisas. — Eu digo, mordendo a língua antes de sugerir uma melhor maneira de queimar energia.
Com um sorriso, ele se inclina para beijar minha bochecha. — Dê-me dois minutos.
Espero na área comum, sem dúvida com um sorriso idiota na minha cara, enquanto Trent corre para o apartamento dele. Quando ele sai, está em calças esportivas e uma t-shirt branca apertada. Eu posso não ser capaz de ver sua tatuagem, mas posso ver cada cume de seu peito esculpido e abdômen liso. Como diabos eu vou passar meus rounds com essa visão?
— Eu dirijo? — Ele oferece com um sorriso, como se pudesse ler minha mente.
Eu só consigo assentir.
***
— Você precisa de ajuda com o saco? — Trent oferece.
— Por aqui, Jeeves28. — Eu caminho para um local livre e jogo minhas coisas na parede atrás dele. Começo a esticar o meu corpo, sentindo cada músculo expandir e afrouxar. Eu sempre fico maravilhada com o quanto progredi toda vez que eu estou me exercitando. Levei muito tempo para sequer mover meu pé após o acidente. Em um ponto, meus músculos se deterioraram a nada, e eu estava certa de que nunca voltaria a andar. Na época, eu não me importava.
Trent imita meus alongamentos, erguendo os braços sobre a cabeça, um braço dobrado e puxando contra o outro para esticar seus tríceps. Sua camisa sobe, expondo os contornos de seu abdômen e a trilha escura de cabelo descendo abaixo de seu umbigo.
— Puta merda. — Eu resmungo baixinho, virando-me de costas para terminar o meu alongamento em feliz ignorância do deus atrás de mim.
— Tudo bem. Pronta? — Eu ouço Trent chamar. Ele move os braços para trás e para frente, batendo palmas quando eles vêm para frente. — Vamos mostrar a eles o que temos!
28 Reginald Jeeves é um personagem fictício nos contos e romances de PG Wodehouse (1881-1975), sendo o criado particular de Bertie Wooster. Este é também um nome para o estereótipo de mordomo.
— Você tem alguma ideia de como segurar um saco de chute?
— É claro. — Ele se inclina contra ele, seus braços circulando toda a circunferência.
Eu não acho que Trent alguma vez segurou um saco de chute antes. — Eu disse “segurar” não “abraçar.” Você quer suas costelas quebradas?
Seus braços caem e ele se afasta do saco, apontando para ele. — Tudo bem então, espertinha. Ensina-me.
Eu sorrio enquanto amarro meu cabelo para trás em um rabo de cavalo, consciente da pequena multidão atrás de nós na minha visão periférica. Ben está com eles e ele tem aquele sorriso no rosto. Eu ainda quero dar um tapa em seu rosto para tirá-lo, mesmo que ele esteja se transformando em um cara legal.
— Ok, o que você precisa fazer... — Dou um passo na frente de Trent e deslizo minhas mãos nas dele. Começo por explicar como ele precisa distribuir o seu peso e a melhor altura para posicionar suas mãos, o tempo todo admirada com o fato de como suas mãos não me incomodam. Na verdade, eu felizmente as seguro através de filmes, longas caminhadas na praia e qualquer outra coisa que envolva mãos dadas. E tocar em geral. Eu quero tocar Trent para o resto da minha vida. — Coloque essa perna aqui... — Meus dedos deslizam na coxa para reposicionar a sua perna e eu sinto o músculo apertar quando ele se move. Pernas quentes e fortes. —... E vire seu corpo dessa maneira. — Agora minhas mãos estão em sua cintura, segurando seus lados, quando eu viro-o um pouco. Observo que minha respiração está acelerando. Porra, como diabos eu vou malhar com ele aqui? — O mais importante é o equilíbrio. Entendeu?
Ele assente quando eu a contragosto solto minhas mãos e dou um passo para o meu lado, me preparando para um chute. — Sério? Você nunca fez isso para seus amigos antes?
Trent encolhe os ombros. Ele consegue ficar sério por mais três segundos antes de um sorriso malicioso o trair. — Sim, toneladas de vezes. Mas eu gostei de deixá-la me sentir.
Um coro de risadinhas e gargalhadas estoura. Todos sabiam que ele estava brincando comigo. Como todos sabiam e eu não tive ideia? Provavelmente porque eu estava muito ocupada babando em seu corpo para observar seus movimentos praticados. De repente, sentindo-me uma tola, dou um chute suave no saco. Ok, talvez não tão suave. Ele voa para trás sob o impacto e atinge Trent, provocando um gemido baixo quando ele tropeça para trás e se dobra, equilibrando-se com as mãos um pouco acima dos joelhos.
— Eu pensei que você soubesse como segurar um saco? — Murmuro, caminhando para ele. Não recebo nenhuma resposta. Com um pouco de hesitação, descanso minha mão em suas costas enquanto mordo meu lábio. — Você está bem?
— Kace! Você realmente tem uma coisa contra bolas, não é! — Ben grita através das mãos em concha para que o lugar inteiro possa ouvir.
Eu coro, atirando punhais em Ben com os olhos enquanto peço desculpas para Trent. — Merda, eu sinto muito. Pensei que ia acertar seu ombro.
Ele estica o pescoço para olhar para mim ainda curvado. — Se você não está interessada em mim, apenas me diga. Você não tem que me arruinar para todas as mulheres.
— Sou mais sobre ação do que palavras. — Estou feliz que ele está fazendo piadas, mas eu ainda estremeço. Agacho-me na frente de Trent e pergunto em voz baixa: — Você está bem? Sério?
— Sim, eu vou viver. E por viver, quero dizer me enrolar em posição fetal no meu sofá com um saco de gelo no meu saco pelo resto da noite.
— Vou segurar o gelo. — Eu ofereço em um suave sussurro.
Quando ele vira a cabeça, vejo fogo aceso em seus olhos e não posso deixar de sorrir para a sua frustração, que deve corresponder a minha. O sorriso é rapidamente seguido por um estremecimento. — Só me dê um minuto. Eu vou estar ali, me curando.
Trent fica encostado na parede, protegendo sua parte do corpo ferida enquanto me observa praticar um conjunto completo de chutes e socos, não totalmente concentrada. Quando estou terminando, eu sinto-o se aproximar por trás de mim. Grito de surpresa quando ele aperta de cada lado do meu quadril, me puxando contra ele, contra tudo dele. — Quando você disse segurar o gelo...
— Eu pensei que você estava perto da morte lá. — Respondo, sem fôlego. — Isso não parece fatal.
— Eu estava, mas você é uma garota quente quando ataca o saco certo. — Ele me pressiona de novo contra ele duro e eu sugo uma respiração. Não de dor. Não, definitivamente não de dor.
— Você não disse que queria ir devagar? — Lembro-o.
Ele ri sombriamente. — Sim, e eu também disse que tenho dificuldade em fazer isso quando você está por perto. — Ele se inclina para frente e sussurra no meu ouvido: —Então, o que você diz? Estou pronto para algumas rodadas mais com você.
Nada além de um som estrangulado escapa dos meus lábios. Eu não sei de onde esse lado de Trent está vindo. Tem que ser toda a testosterona no ar. Ou talvez este seja o Trent real e ele tem sido hábil a restringir-se. Ou é a sua forma de reivindicar o seu território, enquanto o monte de caras me observam de forma intermitente, incluindo Ben. Seja o que for, eu de bom grado entregaria plena posse de meu corpo a este Trent para ele fazer o que quisesse.
Eu engulo, tentando concentrar-me no saco de areia provocando-me ao mesmo tempo em que toda aquela raiva engarrafada se esvazia e uma nova emoção sobe. Desejo. Desejo cru e desinibido por Trent. Eu estou a dois segundos de arrastá-lo para o vestiário das mulheres e rasgar essa camisa. Inferno, eu estou pronta para tomá-lo aqui mesmo, no centro da sala, os espectadores que se danem.
Suas mãos deslizam para fora de meus quadris, mas não antes de uma mão apertar minha bunda e então ele dá a volta para tomar sua posição do outro lado do saco. Seu olhar escuro me deixa nervosa. — Tudo bem. Eu estou pronto para você neste momento.
***
As mãos de Trent devolvem meu telefone para mim com seu número programado enquanto estamos na frente do meu apartamento novo, os raios do sol da tarde batendo em nós. Qualquer que seja o calor que queimou o ar no ginásio tinha evaporado com um misterioso telefonema no meio do caminho de regresso para casa. O Trent forte e divertido está desaparecido. Este Trent parece agitado e distraído. Eu logo descubro por que.
— Tenho que dirigir para fora esta noite, Kace. Trabalho e outras coisas da minha mãe. Não tenho escolha. Se eu não aparecer, ela vai saber que eu não estou em Nova York. — Sua voz se desvanece e eu pego seus olhos se arregalando momentaneamente, como se surpreso. Por que isso importa? Ele continua. — Eu vou embora até sexta-feira, mas você vai ouvir de mim, ok?
Concordo com a cabeça, na esperança de mais um dos seus beijos ardentes. Ou que ele me jogue sobre seus ombros no estilo de homem das cavernas e me leve para a cama. Qualquer um iria funcionar. Mas eu recebo um beijo na testa em vez disso. Com uma saudação preguiçosa e uma carranca, ele gira sobre os calcanhares e vai para seu apartamento.
Capítulo 10
Servir bebidas.
Sorrir.
Pegar dinheiro.
Repito esse mantra toda a noite no Penny. O lugar está tão lotado e sórdido como sempre e ainda se sente vazio e chato sem Trent lá.
Não é até que eu estou de volta em casa às três horas que meu telefone vibra no meu bolso, enviando uma emoção através do meu corpo. Há apenas duas pessoas que poderiam estar ligando e uma delas está dormindo inconsciente na porta ao lado.
Trent: Em Nova York. Rodeado por arranha-céus. Sinto sua falta. Como foi sua noite?
Meu coração se enche de alegria quando escrevo de volta.
Eu: Cheia de carne nua e propostas indecentes.
Não consigo obrigar-me a acrescentar a última pequena parte. Que eu sinto falta dele como louca. Não posso acreditar que eu desperdicei semanas mantendo-o longe.
Um minuto mais tarde.
Trent: Foi alguma de sua carne nua?
Eu: Ainda não.
Eu rastejo na cama e descanso meu telefone no meu peito, à espera de sua resposta. Demora um tempo antes de eu conseguir uma.
Trent: Uma ducha fria está chamando. Bons sonhos. Boa noite. xox
Eu cubro minha boca enquanto rio em voz alta, com medo de acordar Livie ou Mia, que vai dormir em nossa casa com Livie esta noite. Coloco meu telefone na minha mesa de cabeceira, demora um tempo antes de eu adormecer.
***
Três dias sem Trent é imprevisível difícil. Trocamos algumas mensagens tarde da noite. Qualquer que seja o material de trabalho e família que ele está fazendo durante o dia deve mantê-lo ocupado, porque as mensagens não começam a vir até depois da meia-noite. Quando chegam, quando eu sinto a vibração no meu bolso, é como se o Natal tivesse chegado.
Elas são todas mensagens bastante inócuas: “Oi, como vai você?” e “Sinto sua falta” e “Ensacou algum cara no ginásio, ultimamente?”. Várias vezes, eu me pego escrevendo algo um pouco mais provocativo apenas para apagá-la antes de carregar em enviar. Algo me diz que é muito cedo para mensagens sexuais, especialmente tendo em conta que não passamos da primeira base.
Deus, eu não posso esperar até passarmos a primeira base.
***
Trent volta hoje. Esse é o primeiro pensamento que vem à minha mente quando eu acordo na sexta-feira. Sem carnificina, sem sangue, sem os pedaços miseráveis deixados da
minha vida. Pela primeira vez, o primeiro pensamento que vem à minha mente é o futuro e o que ele pode trazer.
Apesar de tal começo perfeito, o dia certamente termina uma merda.
Eu não tenho nenhuma ideia de que horas Trent chega em Miami. Mandei algumas mensagens para ele para descobrir, mas não tive resposta. Isso está me fazendo incrivelmente ansiosa. Visões horríveis de aviões quebrando atormentam meus pensamentos durante todo o dia e em meu turno no Penny.
Então, quando Nate me reboca do bar e até o escritório onde Cain estende um telefone para mim, meu estômago cai no chão. — É urgente. — É tudo o que ele diz, as sobrancelhas levantadas com força. Fico de pé, olhando para Cain e para o receptor preto por um longo momento, incapaz de fazer-me enfrentá-lo. Não é até eu ouvir o choro de uma criança do outro lado que eu pulo fora do meu torpor e pego-o de suas mãos.
— Alô? — Minha voz treme.
— Kacey! Eu tentei o seu celular, mas você não respondeu! — Eu mal posso entender Livie entre os soluços dela e os lamentos de Mia. — Por favor, venha para casa! Um homem louco está tentando quebrar a porta! Ele está gritando o nome de Mia! Acho que ele está drogado. Liguei para a polícia! — Isso é tudo o que consigo dela. Isso é tudo que eu preciso. — Tranque-se no banheiro. Estou indo Livie. Fique aí! — Eu desligo o telefone. Minhas palavras saem em fragmentos pequenos e cortados e elas não soam como eu. Para Cain eu digo: — Há uma emergência. É Mia. Mia de Storm. E a minha irmã.
Cain já está pegando as chaves do carro e uma jaqueta. — Nate, pegue Storm do palco. Agora. E peça a Geórgia e Lily para cobrirem o bar. — Ele envolve o braço em volta de mim, me puxando delicadamente. — Vamos chegar ao fundo da questão, tudo bem, Kacey?
Eu sinto como se alguém tivesse me chutado na barriga. Minha cabeça sacode para cima e para baixo o tempo todo, uma torrente interna de gritos e gemidos assaltam meus sentidos. Storm e eu estamos no carro de Cain e na autoestrada em menos de trinta segundos. O corpo desmedido de Nate enche o banco do passageiro. Storm, em nada exceto seu biquíni prata de seu ato acrobata, me fura com as mesmas perguntas repetidas vezes e tudo o que posso fazer é balançar a minha cabeça. Respire, eu ouço a voz de minha mãe dizer. Dez respirações minúsculas. Uma e outra vez. Isso não ajuda. Nunca ajuda, porra! Estou tremendo enquanto afundo mais e mais no abismo escuro aonde eu vou quando as
pessoas com quem me importo morrem. Eu não consigo sair dele. Estou me afogando sob o peso dele.
Não posso suportar perder Livie. Ou Mia.
Finalmente Storm para de me fazer perguntas. Ela, em vez disso, agarra minha mão e prende-a ao seu peito. E eu deixo, encontrando consolo em seu batimento cardíaco acelerado. Isso me diz que eu não estou sozinha nessa.
Um circo de luzes da polícia e ambulância nos recebe quando chegamos ao apartamento. Nós quatro corremos pelo portão aberto, passando por um Tanner ansioso que está falando com um policial, passando por vizinhos curiosos, todo o caminho até o apartamento de Storm para encontrar a porta semi pendurada fora de suas dobradiças, dividida em duas pelo punho ou cabeça de alguém, ou ambos. Três policiais pairam sobre uma forma arqueada do sexo masculino. Eu não posso ver seu rosto. Tudo o que vejo são tatuagens e mãos em punhos.
— Eu moro aqui. — Storm anuncia enquanto passa por eles e pela porta, não pestanejando para o cara. Eu sigo seus passos para encontrar uma Livie de olhos inchados sentada no sofá com uma forma enrolada em seu colo, chupando o dedo e sufocando em soluços irregulares, bem além do ponto de choro histérico. Um oficial está sobre elas, revisando notas. O candeeiro de mesa que fica ao lado da porta está em pedaços e a panela de fritura gigante de aço inoxidável de Storm repousa no chão ao lado Livie.
Storm está de joelhos na frente de Mia em um segundo. — Oh, bebê!
— Mamãe! — Dois braços minúsculos voam para embrulhar ao redor do pescoço de Storm. Storm puxa Mia em seus braços e começa a balançar. Lágrimas correm pelo seu rosto enquanto ela cantarola uma canção.
— Ela está ilesa. — O oficial da polícia nos assegura, suas palavras liberando o ar dos pulmões que eu estava segurando. Corro para Livie, jogando meus braços em torno dela.
— Eu sinto muito. Não queria que você entrasse em pânico. Foi tão assustador! — Ela chora.
Suas palavras quase não registram. Estou muito ocupada analisando seus braços e pernas, agarrando-lhe o queixo, girando a cabeça de um lado para outro, procurando machucados.
Livie ri, agarrando minhas mãos e mantendo-as presas nas delas. — Eu estou bem. Peguei-o bem.
— O que... O que quer dizer, “você pegou-o bem”? — Dou uma sacudida com minha cabeça.
Livie encolhe os ombros. — Ele enfiou a cabeça pela porta então eu bati nela com a panela de fritura gigantesca de Storm. Isso o retardou.
O quê? Eu olho para a panela no chão. Olho para a minha irmã delicada de 15 anos de idade. Olho para a panela de novo. E então, em alívio, medo ou loucura - provavelmente todos os três - começo a rir. De repente, nós duas estamos dobradas, caindo uma contra a outra enquanto rimos e bufamos histericamente. Aperto minha barriga de dor, os músculos testados em uma maneira que não têm sido por muito tempo.
— Quem é o louco em algemas? — Eu sussurro entre acessos de riso.
A risada de Livie é cortada, seus olhos arregalando expressivamente. — O pai de Mia.
Eu ofego enquanto olho para a porta arrebentada e depois para Mia e Storm, minha imaginação funcionando selvagem. Ele queria chegar à sua filha. — O que ele estava fazendo aqui? — Não posso afastar o horror da minha voz, toda a vontade de rir evaporada. Horror desliza através de mim como um tremor tardio, permanentemente abalando as placas instáveis em que me equilibrei todos esses anos. Apenas o pensamento de algo ruim acontecer a Mia me deixa cambaleando. Ou Storm.
Porque eu as amo.
Mia não é apenas aquela garota banguela de quem Livie é babá. Storm não é apenas a minha vizinha stripper que me arranjou um emprego. Tão duro quanto eu tentei manter todos afastados, assim como Trent, as duas encontraram uma forma de entrar. De uma maneira diferente, mas que levou inevitavelmente a um lugar no coração que eu pensei há muito tempo que estava congelado e incapaz de sentir.
Livie envolve seus braços em volta de seu corpo enquanto ela observa Mia e Storm e vejo o medo envolver seus pensamentos. — Eu estou tão feliz por Trent vir quando ele veio.
Outro ofego. — Trent? — Eu salto para os meus pés e giro ao redor, meu coração pulando em minha garganta enquanto procuro o apartamento. — Onde? Onde ele está?
— Aqui. — Viro-me para encontrá-lo passando através da entrada. Eu estou em meus pés e colidindo com ele em segundos. Seus braços vêm em volta de mim apertando imediatamente, protegendo-me com a sua força. Ele enterra o rosto no meu cabelo e ficamos assim por um longo tempo antes de ele recuar para descansar sua testa contra a minha. Minhas mãos deslizam em torno de seus lados para suas costas, os dedos subindo para cavar as omoplatas e puxá-lo novamente para perto de mim. Seus músculos ficam tensos debaixo de mim. Todo o medo e os nervos e o terror do dia estão de repente se transformando em alguma necessidade animalesca. Eu preciso segurá-lo. Eu preciso de Trent. Ficamos assim, enquanto eu pressiono o nariz contra seu peito, inalando a mistura maravilhosa de bosque e aromas do oceano.
— Eu senti sua falta. — Me ouço sussurrar, surpreendendo até a mim. Kacey Cleary não admite sentir falta de pessoas em voz alta. Mas Trent parece como algo valioso que voltou para mim e eu estou sobrecarregada com alívio.
Trent se inclina e beija minha linha da mandíbula, perto da minha orelha. — Senti sua falta também, bebê. — Ele sussurra em meu ouvido, provocando arrepios em meu núcleo.
— Desculpe-me, senhor. Tem certeza de que não quer apresentar queixa? — Uma voz pergunta.
— Tenho certeza. É apenas uma contusão. — Trent responde, não liberando-me do seu aperto, como se ele precisasse tanto de mim como eu dele.
— Que contusão? — Eu me afasto e olho para cima para ver o lábio inferior de Trent inchado. Minha mão voa para ele, mas ele agarra-a e a prende. — Eu estou bem. Realmente. Não é nada. Completamente valeu a pena.
— Vou precisar fazer a esta jovem algumas perguntas. Você é sua guardiã? — Eu ouço o policial perguntar e eu assumo que ele está falando com Storm por isso continuo olhando para o rosto de Trent, incapaz de afastar o olhar. Ele está igualmente inabalável em seu olhar.
— Senhorita?
— Sim, ela é. — Eu ouço Livie dizer e saio dessa. Ele está falando comigo.
— Sim, sim... — Virando, eu encontro o Oficial ‘Longas-Encaradas’ de pé atrás de mim. Minha carranca lhe diz que eu o reconheço.
Ele dá de ombros evasivamente. — As senhoras com certeza estão nos mantendo ocupados esses dias. — Seu olhar flutua sobre Storm, sempre tão rápido em encarar seu corpo antes de desviar os olhos para o chão enquanto ele empurra uma mão pelo cabelo curto loiro. Ele é um cara de aparência decente em um estilo ‘boneco Ken e menino da mamãe’. E ele tem tesão por Storm. Isso é óbvio. Então, novamente, quem não tem?
— Ninguém pode nos acusar de ser aborrecidas. — Eu sorrio para mim mesma. —Sou Kacey. Essa é Storm, mas parece que você se lembra dela, Oficial...? — Eu vejo com fascinação mórbida quando o sangue corre direito à sua linha do cabelo.
Ele limpa a garganta. — Oficial Ryder. Dan.
Storm está alheia, ainda segurando sua filha firmemente enquanto balança os quadris, os olhos semicerrados e sonhadores.
Outra garganta limpa. Viramo-nos para encontrar um segundo oficial enfiando a cabeça na porta. — Se não há mais nada, devemos levar esse cara para a estação para o registro. — Ele volta a sua atenção para Storm e se demora nela.
— Então, leve-o para o carro. Agora! — O policial pega o olhar letal e o rosnado do Oficial Dan e esquiva-se. Para Storm, o Oficial Dan diz em uma voz suave: — É melhor você encontrar um outro lugar para ficar durante a noite até que consiga consertar essa porta. Meu turno vai acabar em algumas horas. Posso voltar e vigiar a casa até de manhã se você quiser?
Storm se liberta do seu feitiço e então se vira para olhar o Oficial Dan como se o estivesse vendo pela primeira vez, suas íris piscando. — Oh, obrigado. Eu não tenho muito, mas me sentiria mais segura se alguém estivesse vigiando.
O Oficial Dan cora pela terceira vez e eu tenho que dizer que estou impressionada com ele, com seus olhos fixos no rosto dela o tempo todo, mesmo quando Gandhi teria dificuldade em não vagar sobre seu corpo pouco vestido.
— Eu vou vigiar o lugar até você chegar aqui. — Trent oferece.
O Oficial Dan avalia Trent, olha-me nos seus braços, e, provavelmente, decide que Trent não é competição. Ele acena com a cabeça. — Eu aprecio isso.
— Você tem um lugar para passar a noite, Anjo? — Cain pergunta, entrando pela porta. Nate aparece atrás dele.
— Ela pode ficar com a gente. — Eu respondo antes que Storm tenha a chance de dizer uma palavra. Ela acena com a cabeça em silêncio, a mão ainda segurando a cabeça de Mia cujas pálpebras estão fechadas agora.
— Ok, então. Eu tenho que voltar para o clube para fechá-lo. Vou colocar os seus ganhos de hoje no meu cofre. Você pode pegá-los amanhã. — Cain oferece com um sorriso sincero, acrescentando: — Tire amanhã à noite de folga.
— Obrigado, Cain. — Eu me ouço dizer. Storm está certa. Eles realmente são caras legais. — Obrigada, Nate. — Eu recebo um grunhido em troca. Mas, então, Nate dá três passos gigantescos para fechar a distância entre ele e Storm. Como observar uma pata de urso em uma cabeça de recém-nascido, eu tremo quando a mão de Nate chega para cobrir a cabeça de Mia. Ele é gentil, porém, dando-lhe um tapinha suave. — Bons sonhos, Mia. — Ele grunhe. Sonolentos olhos azuis olham para ele. Tenho certeza de que ela está há dois segundos de gritar. Sei que eu estaria. Mas eu assisto a mãozinha levantar para espremer um dedo, o gesto puxando cordas no meu coração. Com isso, Cain e Nate saem.
— Vamos lá, vamos para a cama Mia. — Livie coloca a mão em torno de Storm e gentilmente a leva para a porta, quando Tanner entra. — Agora não, Tanner. — Murmura Livie, levando-as para fora e para a porta ao lado.
Ele coça a cabeça naquele “jeito de Tanner,” mas acena com a cabeça, dando um passo para o lado. Eu enterro minha boca no peito de Trent novamente, desta vez para não rir. Eu não notei quando chegamos, tão concentrada em chegar a Livie e Mia, mas Tanner tem um pijama do Batman.
Tanner passa a mão para cima e para baixo da porta e eu sei o que ele está pensando. — Isso não foi culpa de Storm, Tanner. — Eu começo a dizer, com medo de que ele vai exercer sua regra cobiçada. Isto com certeza seria classificado como perturbar a paz. Mas ele afasta minhas palavras com um aceno de mão, murmurando: — Nunca vi pessoas com tanta má sorte para portas.
Trent se afasta de mim e anda para frente, puxando a carteira e outro maço de dinheiro. — Isso deve cobri-lo. Você pode chamar o seu cara logo de manhã?
— Você não tem que fazer isso, Trent. — Eu digo quando a pata carnuda de Tanner envolve o dinheiro.
Ele volta a agarrar-me novamente, sacudindo a cabeça com desdém. — Nós vamos resolver isso amanhã.
Tanner levanta a mão para acenar o dinheiro em agradecimento e se move para a porta.
O Oficial Dan o impede. — Senhor, eu sugiro que você fale com o proprietário do edifício sobre a substituição dos portões de entrada imediatamente por um sistema melhor, dado a facilidade com que eles podem ser forçados a abrir, como demonstrado nesta noite.
Tanner avalia o policial com olhos astutos. — Eu concordo Oficial, mas o proprietário do edifício é um idiota cujas cordas da bolsa são mais apertadas do que um... — Ele olha para mim e abaixa a cabeça. — Ele é econômico, isso é tudo.
— Ajudaria se ele recebesse uma ordem formal do Departamento de Polícia de Miami e da Cidade de Miami, indicando que ele é responsável por um processo de milhões de dólares se ele não fornecer a segurança adequada para seus moradores?
A testa de Tanner arca de surpresa. — Você pode fazer isso? Quero dizer... — Ele limpa a garganta e estende um sorriso irônico no rosto. — Eu acredito que o influenciaria, Oficial.
Dan acena secamente, um sorriso mal escondido toca seus lábios. — Ótimo. Eu vou procurar opções e trazer para você amanhã de manhã. — Virando-se para Trent, ele diz. — Posso terminar meu turno mais cedo. Pode vigiar até as quatro?
— Vou estar aqui.
Com isso, Dan sai, inclinando-se um pouco para passar pela porta. Tanner e seu pijama do Batman acompanham de perto, deixando Trent e eu sozinhos.
Olho para cima, para a forma iminente de Trent e admiro aquele rosto lindo. — Eu me sinto como se não te visse em meses. — Murmuro, levantando-me na ponta dos pés para colocar um beijo no lado ileso de sua boca.
Sua mão levanta para escovar minha bochecha quando ele sorri para mim. — Você tem que estar cansada. Por que não dorme um pouco? Eu vou ficar e vigiar as coisas.
Eu luto para esconder a decepção do meu rosto. Estar perto dele é tão bom, tão certo, tão reconfortante. Adrenalina e atração correm através de meus membros. A última coisa que eu estou agora é cansada. Mas eu também não quero parecer carente. Dou-lhe o meu melhor olhar suspeito. — E quem é que vai vigiar você para ter certeza de que não vai roubar nada?
— Eu? O cara que continua comprando portas da frente para meninas estranhas?
— Meninas estranhas! — Eu arfo, minhas mãos voando para atravessar meu peito com horror fingido. — Me ofendi com isso. Além disso, como eu sei que você não é um cleptomaníaco louco vestindo estilete que vai roubar as roupas íntimas de Storm e beber toda a mostarda?
Ele revira os olhos. — Foi ketchup e foi apenas uma vez. Não fez nada para mim, eu juro. — Rio quando os braços de Trent levantam para assentar sobre meus ombros. Ele olha para baixo, por todo o meu corpo, antes de se instalar em meu rosto. — Eu tenho um apreço pela roupa interior das mulheres. Apenas, não em mim.
Eu luto para engolir enquanto o meu coração que salta em minha garganta, o sangue pulsando contra o meu tímpano quando esta ligação entre nós pulsa com eletricidade, cada nervo despertando em meu corpo. Mas então ele se afasta, dando três grandes passos para trás e expirando profundamente. Eu sorrio para mim mesma. Pelo menos não sou a única que o sente.
— Nós devemos fazer algo sobre esta porta. A fita da polícia não está exatamente mantendo os olhos curiosos afastados.
Outra onda de calor agita através de mim. O que os olhos curiosos veriam? Trent procura através dos armários até puxar um cobertor velho. — Espero que ela não se importe.
Eu ajudo Trent a prender o cobertor contra a abertura com uma série de fita, tachas, e outras coisas adesivas que encontro nas gavetas da cozinha. É depois da uma hora da manhã quando finalmente terminamos e minha adrenalina está falhando, deixando-me exausta. Deito-me no sofá. — Não descansei meus pés por mais de 10 minutos hoje à noite. — Trent senta no final do sofá. Delicadamente levantando os meus pés, ele desliza primeiro um sapato de salto para fora e depois outro.
— Oh. — Eu gemo. — Você pode ficar. — Ele sorri, mas não diz nada, enquanto suas mãos hábeis esfregam o fundo de meus pés em suaves movimentos circulares. Ao redor e ao redor, devagar, com destreza. Eu gemo e deito a cabeça para trás, apreciando sua força, sua atenção. — Ok, você ganhou pelo menos uma calcinha. Vá. — Eu arremesso meu braço preguiçosamente em direção ao quarto de Storm. — Pegue sua arma. Storm tem uma grande coleção.
Trent ri. — Depende de quem está exibindo.
Abro um olho para encontrar calor em seus olhos azuis claros quando olham para mim. Mais uma vez, eu vejo essa transformação mercurial do Trent cauteloso e responsável para aquele que parece disposto a ter-me em minhas costas, e eu não sei o que pensar sobre isso, exceto que sei que eu quero a última versão agora. Sua mão começa a se mover um pouco mais rápido, um pouco mais ardentemente, sua respiração pesada. E então as suas mãos estão deslizando para minhas panturrilhas e com um aperto, puxando-me para ele. Enquanto eu escorrego para ele, meu vestido desliza mais para cima, revelando mais perna. Felizmente ele para na altura das minhas coxas, quando minha bunda chega ao lado de sua coxa. Minhas pernas nuas estão agora esticadas sobre seu colo. Uma de suas mãos repousa no interior da minha coxa, disparando raios por todo meu corpo. O dedo indicador de sua outra mão traça ao longo da minha coxa direita externa - acima, acima, mais...
Ele para na minha tatuagem, na beira da minha cicatriz e afaga para frente e para trás ao longo do cume. — Você fez a tatoo para cobrir essa cicatriz?
— Se fosse esse o caso, meu lado direito inteiro seria uma grande tatuagem. — Eu minto.
— Por que cinco corvos? — Ele pergunta quando seus dedos trilham ao longo dela.
— Por que não? — Eu rezo para que ele deixe por isso mesmo.
Mas ele não o faz. — O que significa isso?
Quando eu não respondo, ele diz: — Por favor, fale comigo Kacey.
— Você disse que eu não precisava. — Minha voz se torna amarga. Trent efetivamente jogou um balde de água gelada sobre meu corpo, encharcando o calor de um momento atrás.
Sua mão deixa a minha perna para esfregar sua testa. — Eu sei. Eu sei que disse isso. Sinto muito. Eu só quero que você confie em mim, Kace.
— Não tem nada a ver com confiança.
— Com o que é que isso tem a ver então?
Eu fico olhando para o teto. — O passado. Coisas que eu não quero falar. Coisas que você me prometeu que não teríamos que falar.
Sua mão encontra o seu caminho de volta para minha coxa, seus olhos focados em como ele gentilmente a aperta. — Eu sei que disse isso, mas preciso saber que você está bem, Kacey. — Há uma pontada de algo em sua voz que eu não consigo identificar. Preocupação? Medo? O que é isso?
— O que, você está com medo que vai acordar preso ao seu colchão com fita adesiva?
— Não. — Eu pego uma ponta de raiva na voz de Trent. A primeira, desde sempre. Ela desaparece com a suavidade em suas próximas palavras. — Eu tenho medo de te machucar. — O ar na sala fica sombrio quando Trent levanta os olhos para o meu rosto e eu vejo que está cheio de tristeza. Ele se inclina o suficiente para que possa alcançar o meu rosto, acariciando um polegar contra ele.
Suas palavras - ou mais, seu tom e a dor em seus olhos - acordam uma necessidade de aliviar o que o está perturbando.
Eu quero fazer Trent feliz.
E eu percebo que quero que ele me conheça. Tudo de mim.
Eu engulo, minha boca de repente fica seca. — Eu estive em um acidente de carro ruim alguns anos atrás. Um motorista bêbado bateu no carro do meu pai. O lado direito do meu corpo foi esmagado. Tenho dezenas de pinos e hastes através do meu corpo, me segurando junta. — Fisicamente. Nada exceto dez respirações minúsculas seguram o resto de mim junta.
Trent exala alto, caindo de volta para o sofá. — Alguém morreu?
— Sim. — Consigo dizer. Uma súbita explosão de pânico interior enrola minha língua, me impedindo de dizer mais. Minhas mãos começam a tremer incontrolavelmente. Muito, demasiado cedo, minha psique está dizendo.
— Uau, Kacey. Isso é... Isso é... — Sua mão acaricia ao longo do comprimento da minha perna novamente, no entanto ele perdeu aquela sensação íntima. Agora, é reconfortante. Eu não quero reconfortante. Nada que ele possa fazer vai me confortar.
— Beije-me. — Eu exijo, encarando-o.
Descrença arregala os seus olhos. — O que?
— Eu dei o que você queria. Agora me dê o que eu quero. — Ele não se move. Ele só me olha como se eu tivesse me colocado em fogo. Envolvo seu bíceps e aperto com força,
usando-o como alavanca para puxar o meu corpo para cima contra o seu, girando uma perna sobre um Trent atordoado para escarranchar ele. — Beije-me. Agora. — Eu rosno. Ele aperta a mandíbula e eu sei que minha persistência está acabando com a dele. Isso é ainda mais óbvio no segundo seguinte, quando ele aperta as pálpebras fechadas. — Trent...
Ele se inclina para frente, com a cabeça caindo em meu ombro. — Você sabe que está tomando cada grama para me manter no controle, certo?
— Não o faça. Esqueça o controle. Você não precisa dele. — Eu sussurro no seu ouvido.
Ele geme, caindo para trás. — Você está tornando isso tão duro, Kacey. — Ele murmura, uma expressão de dor no rosto.
Com as mãos na parte de trás dos ombros largos de Trent, eu deslizo para frente até que estou direto sobre ele, sentindo sua necessidade por mim tão agudamente. Eu me inclino e deixo meus lábios escovarem sobre o pescoço de Trent. — O que exatamente estou fazendo duro, Trent? — Minha voz está ofegante, um movimento intencional para seduzi-lo.
Funciona.
As mãos de Trent me agarram por trás quando ele puxa meu corpo nivelado contra o seu, sua boca devora a minha com um novo nível de fome. Ele força minha boca aberta e a língua desliza, entrelaçando com a minha. Segurando a parte de trás da minha cabeça com uma das mãos, ele pressiona a minha boca mais próxima contra a sua.
Eu não sou menos determinada, minhas mãos pegam sua camisa em punhos, se atrapalhando com os botões, deslizando-os através dos orifícios para expor um peito liso e forte e eu me movo mais perto. Suas mãos empurram no fundo do meu vestido e encontram o seu caminho por baixo para agarrar meus quadris nus. Eu libero um pequeno suspiro enquanto seus dedos deslizam acima e ao redor de minhas coxas, até meu osso pélvico, deslizando sob o elástico da minha calcinha e deslizando para frente e para baixo.
Tenho certeza de que todo este plano de “ir devagar” dele está efetivamente anulado, mas depois o seu dedo roça o cume de outra cicatriz e sua mão congela. Seus lábios se libertam dos meus e ele empurra meu corpo para a beira de seu colo.
— Eu não posso.
— Você já está. — Murmuro, me atrapalhando com as mãos para que eu possa retomar a minha posição contra ele.
Mas é tarde demais. Ele já está abaixando a cabeça, os braços caindo em torno das minhas pernas para me levantar e reposicionar-me, puxando-me com ele em um abraço protetor. Ficamos em silêncio por um longo momento, sua testa pressionada contra o meu ombro. — Eu corrigiria tudo isso para você, se pudesse. Você sabe disso, certo? — Ele sussurra. Gostaria de saber se ele está falando sobre minhas cicatrizes ou os últimos quatro anos da minha vida.
— Sim. — É tudo o que eu digo. Sim para tudo.
Capítulo 11
Eu acordo olhando para cortinas prateadas e um céu amanhecido espreitando para dentro. Estou na cama de Storm, ainda vestindo o meu vestido. Rolando, acho Trent deitado de costas, com o peito nu e de boxers, dormindo. Um braço está jogado sobre sua cabeça, enquanto o outro descansa em seu torso. Eu acho que adormeci contra ele ontem à noite e ele me trouxe para aqui.
Há luz suficiente para que eu possa estudar o corpo de Trent descaradamente e ver que ele é tão lindo como eu esperava. É longo e muscular e impecável, com apenas uma linha fina de cabelo escuro arrastando para baixo no abdômen esculpido. Uma linha prateada pequena ao longo de sua clavícula me chama a atenção. É tão leve e estreita que eu nunca vi antes. Espreitando mais perto, eu procuro marcas de pontos para identificá-la como uma cicatriz cirúrgica, mas eu não vejo nenhuma.
— Vê algo que você gosta? — A voz baixa e provocante de Trent me assusta e eu salto. Sorrindo, olho para cima e vejo um sorriso torto sexy. Seu humor mudou de volta para brincalhão.
— Não realmente. — Murmuro, mas minhas bochechas coram, revelando a minha mentira.
Suas mãos pegam em concha no meu rosto. — Você cora muito. Nunca te considerei do tipo envergonhada. — Depois de uma pausa, ele oferece. — Vá em frente. Eu não tenho nada a esconder.
Sinto minha sobrancelha arcar. — Carta branca?
Seu outro braço se levanta até descansar sob sua cabeça. — Como eu disse...
Eu decido que Trent realmente não entende o significado de levar as coisas com calma, mas não vou discutir. — Tudo bem. — Uma ideia me ataca. Curiosidade, na verdade. — Vire de barriga para baixo.
Seus olhos se estreitam ligeiramente, mas ele cede, suavemente virando para que eu possa admirar as ondulações nas suas costas, os ombros largos e fortes, e a escrita que se estende de uma omoplata para a outra.
Meu dedo desliza sobre ela suavemente, provocando arrepios em sua pele. — O que significa isso?
Ele começa a responder, mas, em seguida, faz uma pausa, como se ele estivesse hesitante em me dizer. Isso me faz querer saber cem vezes mais. Espero calmamente, seguindo as letras com a minha unha. — Ignoscentia. É Latim. — Ele finalmente sussurra.
— O que significa isso?
— Por que você tem cinco corvos na sua perna? — Ele joga para mim, uma dica rara de aborrecimento em seu tom.
Droga. É claro que ele ia perguntar isso. Eu faria o mesmo se fosse ele. Mordo meu lábio inferior enquanto peso minhas opções. Afasto-o novamente ou dou-lhe um pouco para conseguir um pouco? Meu interesse por Trent supera a minha necessidade de manter tudo escondido.
— Eles são para todas as pessoas importantes em minha vida que eu perdi. — Finalmente sussurro, esperando a Deus que ele não me peça para nomeá-los. Não quero nomear o que me representa.
Eu ouço sua ingestão aguda da respiração. — Perdão.
— O que? — Essa palavra me atinge como um soco no peito. Apenas o som dela - tão impossível - me deixa enjoada. Quantas vezes os conselheiros me pressionaram para perdoar aqueles caras por matarem a minha família?
— Minha tatuagem. Isso é o que ela diz.
— Oh. — Eu expiro lentamente, meus punhos apertando até minhas mãos pararem de tremer. — Por que você tem isso em suas costas?
Trent vira para cima novamente e passa um longo tempo olhando para mim com uma máscara sombria, os olhos cheios de tristeza. Quando ele responde, sua voz se torna rouca. — Porque o perdão tem o poder de curar.
Se isso fosse verdade, Trent. Eu luto duro para evitar franzir a testa. Me pergunto o quão diferente o nosso passado deve ser para ele ter uma tatuagem promovendo o perdão quando estou usando uma simbolizando a mesma razão por que não posso perdoar.
Há outra longa pausa e então o sorriso malicioso de Trent está de volta, seus braços aninhando a cabeça novamente. — O tempo está passando aqui...
Eu afasto a seriedade. Apoiando-me de joelhos para ter uma visão melhor, meus olhos derivam sobre seus lábios, sua linha da mandíbula, seu pomo de Adão. Eles deslizam vagarosamente até seu peito e eu inclino-me e separo meus lábios perto de seu mamilo. Ouço sua respiração prender, e tenho certeza que ele pode sentir minha respiração contra sua pele. Recuo quando eu continuo mais para baixo, checando uma vez para ver se ele está me observando. Ele com certeza está.
Uma pontada nervosa mexe no meu estômago e me concentro no sentimento por um segundo para perceber que eu adoro isso. Isso me faz sentir viva. E eu decido que quero mais do que apenas uma pontada, então avanço mais, deixando o meu coração em marcha acelerada quando alcanço e roço o elástico da cueca de Trent com o meu dedo indicador. Não é difícil ver que ele está excitado. Eu enrolo meu dedo por baixo do elástico...
E encontro-me nas minhas costas em uma fração de segundo, com ambos os braços sobre a minha cabeça, meus pulsos presos debaixo de uma das mãos fortes de Trent. Ele está pairando sobre mim, segurando todo seu peso em um braço, sorrindo. — Minha vez.
— Eu não terminei ainda. — Finjo um beicinho.
Ele sorri. — Vamos combinar o seguinte, se você conseguir durar cinco minutos com o mesmo nível de escrutínio - sem se mexer - eu vou deixar você terminar.
Faço um som de aborrecimento, mas por dentro estou gritando. — Cinco minutos. Fácil.
Trent inclina sua cabeça, sua sobrancelha arqueada me dizendo que ele pode ver através de meu exterior otimista para a pilha se fundindo abaixo. — Você acha que pode lidar com isso?
— Você pode? — Eu pergunto, torcendo a boca para combater o sorriso estúpido nervoso pronto para se expor. Apenas aqueles olhos azuis aquecidos olhando em meu rosto são o suficiente para me desvendar. — E se eu perder? — Percebo que isso pode funcionar a meu favor de qualquer maneira.
Olhos sombrios piscam e eu sinto a mudança na atmosfera. — Se você perder, você concorda em conversar com alguém sobre o acidente.
Chantagem sexual. Isso é o que Trent tem na manga. Ele está quebrando a sua regra de ir lento na esperança de me fazer falar. Meus dentes rangem em resposta. De jeito nenhum vou concordar com isso. — Você é natural em arruinar o clima. — Forço, contorcendo-me debaixo dele.
Mas ele agarra-me com força. Ele se inclina para frente, seus lábios roçando os meus enquanto ele implora: — Por favor, Kacey?
Fecho meus olhos, tentando não deixar aquele rosto lindo me fascinar. Tarde demais. — Só se eu perder, certo?
— Certo. — Ele sussurra.
Meu lado competitivo responde por mim antes que eu possa pensar nisso. — É justo. Eu. Não. Vou. Perder.
Eu vejo o sorriso largo se espalhar pelo rosto bonito de Trent e meu corpo fica tenso. — Você vai jogar de forma justa, certo?
— Sim. Cem por cento justo. — Há uma escuridão provocadora em seu olhar, e eu percebo que estou em apuros. Observo quando ele se senta sobre os calcanhares, elevando-se em cima de mim na cama, aqueles olhos azuis deixando meu rosto e indo à deriva ao longo do comprimento do meu corpo, sem pressa óbvia. — Isso não é justo ainda. — Ele murmura. Inclinando para frente, duas mãos se colocam sobre as alças do meu vestido no meu ombro. Ele empurra para baixo.
Eu arfo quando meu vestido - estilo túnica apertada - desliza para fora com um pequeno puxão da parte de Trent para tirá-lo debaixo de mim. O polegar de Trent corre ao longo da cicatriz no meu ombro enquanto suas mãos movem para baixo no comprimento
do meu corpo, levando meu vestido com elas. Eu sou deixada em nada, exceto meu sutiã sem alças e um fio dental. Prendo a respiração quando Trent absorve cada polegada das curvas do meu corpo – cada curva, cada detalhe.
Ele se inclina para frente, sua mão deslizando sob minhas costas. — Ainda não está muito justo. — Eu sinto os seus dedos brincarem com o gancho de meu sutiã e solto um ofego. Ele não faria isso. A tensão de apoio no meu sutiã cede quando Trent o solta. Quando a mão se move para longe, ela leva tudo o que estava cobrindo meus seios. — Isso. Assim é justo.
Eu. Não. Vou. Perder.
Estou determinada a não me mover, mesmo estando deitada praticamente nua sob os olhos curiosos de Trent e seu sorriso malicioso. Eu sou teimosa o suficiente para acreditar que consigo fazê-lo também. Mas, então, Trent se inclina para frente, sua boca a poucos centímetros de meus seios, como eu tinha feito para ele, e estou lutando com unhas e dentes contra a vontade de me contorcer. Eu arfo quando sua respiração costeia sobre a minha pele e meus mamilos imediatamente endurecem. Quando ele espreita para o meu rosto, eu tenho que fechar meus olhos. Não posso lidar com o olhar nos seus. É cheio de calor e desejo e intenções. Ele ri baixinho enquanto sua atenção se desloca ainda mais para baixo. Ar fresco desliza para meu abdômen. — Você tem um corpo incrível, Kacey. Incompreensível.
Eu faço um som ininteligível de reconhecimento.
— Quero dizer, eu poderia apenas olhar para ele. E tocá-lo. Durante todo o dia. — Eu não sei como Trent está fazendo isso - se com a sua voz suave, suas ações, sua proximidade com o meu corpo - mas o desejo está rasgando minha força de vontade e se reunindo na parte inferior do meu abdômen, planejando uma insurreição.
E ele nem sequer me tocou.
Eu espreito através de um olho para ver os topos dos ombros de Trent, esticando o músculo quando ele se desloca ainda mais para baixo, parando abaixo do meu umbigo. Eu me esforço para ver o relógio. Mais três minutos. Eu posso aguentar três minutos. Eu posso... eu posso... O dedo indicador de Trent corre ao longo da frente de minha calcinha, assim como eu tinha feito com ele e deixo escapar um gemido suave antes que possa me parar. Olhando para baixo, eu o vejo olhando para mim agora, mordendo o lábio inferior, seu sorriso arrogante desaparecido.
Seus olhos ficam presos nos meus quando seu dedo indicador enrola sob o elástico e começa a deslizar para baixo.
Como uma onda violenta batendo em mim, eu fico completamente desfeita. Redemoinhos de névoa e luz enchem minha visão e eu estou flutuando em sete camadas de nuvens, meus músculos passando de rígidos para massa maleável, e eu não quero nunca perder essa sensação.
Com profundas respirações rasgadas, eu vagamente percebo Trent pairando acima de mim mais uma vez um momento depois. Lábios quentes tocam minha mandíbula enquanto ele a acaricia.
— Você perdeu. — Ele sussurra no meu ouvido com uma risada suave. Então, ele está fora da cama e vestindo seus jeans. — Tanner está lá fora.
— Não, eu não perdi. — Murmuro como um adendo, sem fôlego. Como diabos ele pode chamar isso de perder?
***
— Você está bem aqui sozinha? — Trent sussurra enquanto eu sorvo um copo de suco de laranja e observo o trabalho do homem suado na porta. Quando eu levanto uma sobrancelha, ele ri. — É claro que você está. Esqueci que você chutou a minha bunda.
— Um saco de areia chutou sua bunda, lembra? Onde você vai?
Sua mão toca as minhas costas e ele me pressiona contra o seu corpo enquanto sussurra no meu ouvido. — Ducha fria. — Arrepios percorrem a minha espinha e eu estou pronta para levá-lo de volta para o quarto de Storm, mas ele sai do apartamento antes que eu possa colocar minhas garras nele.
— Quem perdeu, afinal? — Eu grito em voz estridente, sorrindo.
Eu calmamente assisto o Cara Suado da Porta trabalhando enquanto leio uma revista, ainda brilhando da manhã com Trent; o suficiente para que a bunda peluda desse cara espiando fora da solta calça jeans desbotada não me perturbe. Livie ficou um pouco afetada, porém, indo meio adormecida para a escola. Quando eu sugeri que ela ficasse em
casa, ela me olhou como se tivesse sugerido que ela se casasse com o homem da reparação. Livie não falta à escola por nada.
Estou lendo um artigo sobre Dez maneiras de dizer que está arrependido, sem dizer a palavra quando a voz suave de Storm chama: — Por favor, posso passar?
O Cara Suado da Porta ergue seu pescoço, vê Storm, e se atrapalha com o martelo enquanto abre caminho para seu corpo curvilíneo. Ela passa, combinando meu sorriso, dois Starbucks altos em suas mãos. — Preciso mudar meus lençóis? — Ela pisca.
— OhmeuDeus, Storm! — Fogo queima meu rosto quando vejo os olhos do Cara Suado da Porta ampliarem. Storm pode ser inadequada, por vezes, depois de tudo. Eu rapidamente mudo de assunto. — Como está Mia?
A lembrança da noite passada esmaga seu humor e eu me arrependo de perguntar. — Ela vai ficar bem. Eu só espero que ela não se lembre de nada. Ela não precisa se lembrar de seu pai assim.
— O que vai acontecer com ele?
— Bem, aparentemente ele quebrou a liberdade condicional. Isso acrescentando a invasão de ontem deve dar a ele pelo menos cinco anos de prisão. Isso é o que Dan acha, de qualquer maneira. Espero que ele largue as drogas até lá. — Ela dá um gole longo de seu café e vejo a sua mão tremendo. Ela ainda está abalada com tudo isso. Com razão. Se eu colocar minha cabeça fora dessa nuvem de sexo distrativo com Trent em que estou presa, ontem à noite ainda está profundamente sob minha pele.
— Juro, eu não tinha certeza de que Nate não ia jogar os policiais para fora do caminho e rasgar-lhe a cabeça. — Storm adiciona e eu aceno de acordo.
Há uma longa pausa. — Então... Dan, hein?
Storm cora. — Eu levantei cedo. Não conseguia dormir, então eu trouxe-lhe um café. Precisava lhe agradecer por tudo. Ele é legal.
— Um café? Isso é tudo? — Minha sobrancelha levanta.
— É claro que é tudo. O que você acha que eu ia fazer? Dar ao cara um boquete fora da minha porta do apartamento?
Uma tosse dura estoura atrás de nós. É o Cara Suado da Porta, cobrindo um ofego.
É a vez de Storm ruborizar e eu sorrio com satisfação. Claramente ela esqueceu que tinha audiência. — Você está dizendo que não está interessada?
— Não, eu não disse isso, mas... — Ela brinca com a tampa de seu copo.
— Mas o quê?
— Com licença. — A voz de Dan nos interrompe e nós duas saltamos.
— Falando do diabo. — Eu murmuro, cobrindo meu sorriso com outro gole de café. O rosto de Storm virou roxo. Eu sei o que ela está pensando. Ela está se perguntando há quanto tempo ele está escutando.
Dan pisa sobre a moldura da porta remanescente. — Desculpe incomodá-la novamente.
— Não se preocupe. — Eu digo, sorrindo.
Ele acena com a cabeça em agradecimento e eu tenho certeza que vejo um leve rubor fluindo em suas bochechas. — Só queria que você soubesse que eu enviei a ordem de segurança para o seu senhorio. Os portões devem ser mudados em breve.
Os olhos de Storm ampliam. — Já?
Ele sorri. — Eu conheço um cara que conhece um cara, que conhece um cara.
— Muito obrigada, Oficial Dan. — Ela diz e eu sou atingida por uma imagem mental estranha deles em uma cena de sexo com ela se dirigindo a ele da mesma maneira. Dou a minha cabeça uma sacudida. Muitas horas no clube.
Eles olham um para o outro por um período longo de tempo, até que Dan arranha a parte de trás da sua cabeça, suas bochechas corando. — Então, hum, se não há mais nada que eu possa fazer por você, vou dormir um pouco.
— Oh, okay. — Storm concorda.
Reviro os olhos. Totalmente sem noção. — Sim. — Pequenas mãos maliciosas conspiram dentro da minha cabeça. — Você está livre hoje à noite?
Dan olha de mim para Storm. — Sim, eu estou.
Eu pego o olhar lateral de “o que diabos você está fazendo” de Storm, mas ignoro-a. — Ótimo. Storm estava apenas dizendo que ela adoraria sair para jantar com você. — O
rosto de Dan ilumina. Sair com Storm é exatamente a outra coisa que Dan gostaria de fazer. — Por volta das sete? — Eu sugiro. — Isso funciona para você, certo Storm?
Sua cabeça bonita acena em silêncio, parecendo como se ela tivesse engolido a língua. Dan a observa com cautela. — Você tem certeza, Storm?
Leva um minuto para ela puxar a língua de volta para o modo operacional. — É perfeito. — Ela até consegue dar um sorriso apertado.
— Tudo bem. Vejo você, então. — Ele sai, seu ritmo acelerado quando eu grito. — Mal posso esperar!
Eu viro para encontrar Storm olhando para mim. — Você gostou de atormentar o pobre homem, não é?
— Oh, eu acho que ele não se importa com um pouco de tormento se o resultado final é um encontro com você.
— Eu tenho que trabalhar esta noite embora.
— Boa tentativa. Cain lhe deu a noite de folga. Vamos, o que mais você tem?
Os ombros de Storm cedem. — Esta é uma má ideia, Kacey.
— Por quê?
— Por quê? Bem... — Storm gagueja, procurando uma desculpa válida. — Olhe para o último cara que eu trouxe para casa. — Ela aponta para a porta quebrada.
— Storm, eu não acho que você pode comparar o Oficial Dan com o idiota viciado de seu ex-marido. Eles são tipo extremo opostos do espectro. Eu não tenho certeza de que o cara da noite passada era sequer humano. — Minha testa enruga. — Será que eles precisam fazer um filme “Então eu casei com um Alien” estrelado por você?
Ela revira os olhos. — Ah, vamos lá, Kacey. Não seja ingênua. Ele é um cara. Ele sabe o que eu faço para viver. Há apenas uma coisa que ele está interessado e não é a minha cozinha.
Eu dou de ombros. — Não sei nada sobre isso. Eu poderia transar com você por mais dessa vitela parmesão.
O Cara Suado da Porta irrompe em outro ataque de tosse, forte o bastante que eu acho que ele pode cuspir um pulmão. A mão de Storm voa para sua boca, tentando não rir. Ela joga um travesseiro na minha cabeça, mas eu abaixo, remetendo-nos a uma explosão de risinhos quando corremos para o quarto e fechamos a porta.
— Então o que você vai vestir hoje à noite? — Eu simulo em voz borbulhante de menina histérica.
Ela suspira. — Eu não sei, Kace. E se ele só me quer por... isso? — Suas mãos gesticulam para seu corpo.
— Então ele é o maior idiota na face da terra, porque você é muito mais do que um par de peitos gigantes e um rosto bonito.
Um minúsculo sorriso floresce para dissolver sua preocupação. — Eu espero que você esteja certa, Kacey.
— Você também tem uma bunda assassina.
Ela joga outro travesseiro na minha cabeça.
— Brincadeiras à parte, Storm. Eu vejo como ele olha para você. Confie em mim, não é isso.
Ela morde o lábio inferior como se quisesse acreditar em mim, mas não conseguisse.
— E, se isso é tudo o que ele está procurando, então vamos incendiar suas bolas.
— O quê? — Storm torce o rosto em uma mistura de choque e diversão. Eu dou de ombros.
— O que posso dizer, Storm? Eu sou bem fodida.
A cabeça de Storm cai para trás quando ela grita com o riso. — Você é louca, mas eu amo você, Kacey Cleary. — Ela grita, jogando os braços em volta do meu pescoço. Eu só posso imaginar o que o Cara Suado da Porta está pensando agora mesmo.
***
Trent aparece na minha porta ao meio-dia em sua jaqueta de couro. — Pronta?
— Para quê? — Eu pergunto, as memórias da manhã, do que ele é capaz de fazer com apenas um toque, ainda frescas. Parte de mim se pergunta se ele está aqui para recolher a sua parte. Essa parte está extremamente animada.
Ele sorri, segurando um capacete. — Boa tentativa. — Andando mais, ele pega a minha mão e me puxa da minha cadeira. — Nós fizemos um acordo e você perdeu. — Um sentimento de afundamento se instala na boca do meu estômago quando ele me leva para a porta. — Há um grupo de apoio nas proximidades. Pensei em levá-la.
Grupo de apoio. É quando as minhas pernas congelam. Trent vira e estuda a minha expressão. A propósito minhas entranhas estão reagindo, não pode ser algo bonito.
— Você prometeu, Kacey. — Ele sussurra suavemente, avançando para embalar meus cotovelos. — Você não tem que falar. Basta ouvir. Por favor. Vai ser bom para você, Kace.
— Então, agora você é um geek de computador e um psiquiatra? — Eu mordo minha língua, não tendo intenção de ser dura. Rangendo os dentes contra a vontade de gritar, eu fecho meus olhos. Uma... duas... três... quatro... Eu não sei por que continuo seguindo o conselho estúpido da minha mãe. Nunca me traz alívio. Eu acho que está tornando-se mais como um cobertor de segurança que eu tenho arrastado de minha antiga vida para a minha nova. Inútil, mas reconfortante.
Trent espera pacientemente, a sua mão nunca deixando meu cotovelo.
— Ok. — Eu assobio, me afastando dele. Pego minha bolsa do sofá e saio para fora da porta. — Mas se eles fizerem uma fodida rodada de Kumbaya, vou embora.
***
A sessão de terapia de grupo é no porão de uma igreja, completa com feias paredes amarelas e tapetes de escola cinza escuro. O cheiro de café queimado permeia o ar. Há uma pequena mesa colocada na parte de trás com os copos de chá e biscoitos. Eu não estou interessada em nada disso. Não estou interessada no grupo sentado em círculo no centro
da sala, participando de conversa fiada, ou o homem de meia-idade magro com calça jeans desbotada e cabelo suave no centro.
Nada disso.
Com uma mão nas minhas costas, Trent suavemente estimula meu corpo rígido para frente e eu sinto a mudança de ar quando me aproximo. Ele engrossa em meus pulmões, até que eu tenho que trabalhar para inspirar e empurrá-lo para fora. Quando o homem no centro olha para mim e sorri, o ar fica ainda mais grosso. É um sorriso quente o suficiente, mas eu não o devolvi. Eu não posso. Eu não quero. Eu não sei como.
— Bem-vindos. — Diz ele, oferecendo duas cadeiras vazias à nossa direita.
— Obrigado. — Murmura Trent atrás de mim, apertando a mão do cara enquanto eu de alguma maneira curvo o meu corpo e sento. Eu recuo um pouco e olho para frente, afastando-me do círculo. Assim eu não sou parte dele. Exatamente como eu prefiro as coisas. E evito todo contato com os olhos. As pessoas pensam que estão autorizadas a falar com você e perguntar quem morreu quando você faz contato visual.
Fora do círculo está um sinal que diz, “Sessão de terapia - Transtorno do Estresse Pós Traumático.” Eu suspiro. O bom e velho T.E.P.T. Não é a primeira vez que eu ouço esse termo. Os médicos do hospital advertiram minha tia e meu tio sobre isso, dizendo que achavam que eu sofria com isso. Dizendo que isso provavelmente se resolveria com o tempo e aconselhamento. Eu nunca entendi como eles acreditavam que aquela noite jamais poderia se resolver de meus pensamentos, minhas lembranças e meus pesadelos.
O homem no círculo bate suas mãos. — Todo mundo, vamos começar. Para aqueles de vocês que não me conhecem, meu nome é Mark. Eu estou compartilhando o meu nome, mas não há nenhuma necessidade para que você compartilhe o seu. Os nomes não são importantes. O que é importante é que todos saibam que você não está sozinho no mundo com o seu sofrimento, e que falar sobre isso, quando estiver pronto, vai ajudá-lo a se curar.
Curar. Outra palavra que eu nunca entendi como se relaciona ao acidente.
Eu não posso evitar olhar em torno do grupo agora, com cuidado para não parecer interessada enquanto observo seus rostos. Felizmente, todos os olhos estão pregados em Mark, observando-o com fascinação, como se ele fosse um deus com poderes curativos. Há uma mistura de pessoas - de idade, jovem, feminino, masculino, o bem-vestido, o desgrenhado. Se isso me diz alguma coisa, é que o sofrimento não conhece fronteiras.
— Eu vou compartilhar a minha história. — Mark começa, puxando a cadeira para frente ao mesmo tempo que se senta. — Dez anos atrás eu estava dirigindo para casa do trabalho com a minha namorada. Chovia forte e bateram em nós em um cruzamento. Beth morreu em meus braços antes de a ambulância chegar.
Como se sujeitos a um puxão vazio, meus pulmões se contraem. Eu vejo, em vez de sentir, a mão de Trent no meu joelho, apertando delicadamente. Não consigo sentir nada.
Mark continua, mas eu me esforço para me concentrar em suas palavras com a minha frequência cardíaca aumentando como se subindo o Monte Everest. Eu luto contra o impulso de levantar e correr, deixando Trent aqui. Deixe-o ouvir este horror. Deixe-o ver o tipo de dor que essas pessoas têm experimentado. Eu tenho bastante da minha própria para lidar.
Talvez ele tenha algum fascínio doente com esta merda.
Eu mal consigo ouvir Mark quando ele fala sobre drogas e reabilitação, enquanto palavras como “depressão” e “suicídio” flutuam. Mark está tão calmo e sereno quando lista os efeitos secundários. Como? Como ele está tão calmo? Como ele pode jogar fora sua tragédia pessoal na frente dessas pessoas como se estivesse falando sobre o tempo?
— ...Tonya e eu comemoramos nosso segundo aniversário de casamento, mas eu ainda penso em Beth todos os dias. Eu ainda sofro momentos de tristeza. Mas eu aprendi a valorizar as memórias felizes. Aprendi a seguir em frente. Beth iria querer que eu vivesse a minha vida.
Um por um, eles vão ao redor do círculo, arejando sua roupa suja29 para todos como se não tomasse nenhum esforço falar sobre isso. Eu puxo respirações curtas e duras durante a segunda história - um homem que perdeu seu filho de quatro anos em um acidente agrícola estranho. Na quarta, as bobinas em torno das minhas entranhas pararam de apertar. Na quinta, todas as emoções que Trent conseguiu persuadir para fora de mim ao longo das últimas semanas fugiram de volta para dentro quando tragédia em cima de tragédia bate-me sobre a cabeça. Tudo o que posso fazer para evitar reviver a dor da noite, quatro anos atrás, aqui mesmo neste porão da igreja, é engarrafar dentro mim tudo o é humano.
Estou morta por dentro.
29 Contando sua história.
Nem todos compartilham suas histórias, mas a maioria o faz. Ninguém me pressiona a falar. Eu não ofereço, mesmo quando Mark pergunta se mais alguém quer compartilhar e Trent aperta meu joelho. Eu não faço um som. Eu olho para frente, anestesiada.
Eu ouço murmúrios de “adeus” e levanto. Com movimentos robóticos, eu subo as escadas e saio para a rua.
— Hey. — Trent chama de trás. Eu não respondo. Eu não paro. Eu só começo a descer a rua em direção ao meu apartamento.
— Ei! Espere! — Trent salta na minha frente, me obrigando a parar. — Olhe para mim, Kacey! — Eu sigo sua ordem e olho para ele. — Você está me assustando, Kace. Por favor, fale comigo.
— Estou assustando você? — O revestimento protetor entorpecente que eu puxei sobre meu corpo durante a sessão cai quando raiva, de repente, dispara dentro de mim. — Por que você faria isso comigo, Trent? Por quê? Por que eu tenho que sentar e ouvir 10 pessoas retratarem suas histórias de terror? Como é que isso ajuda?
As mãos de Trent empurram através de seu cabelo. — Calma, Kace. Eu só pensei...
— O quê? O que você pensou? Você não sabe a primeira coisa sobre o que eu já passei e você... o que, você acha que pode aparecer, dar-me um orgasmo e segui-lo com toda essa merda de grupo de sobreviventes cyborgs que falam sobre seus supostos entes queridos como se estivesse tudo bem? — Eu estou gritando do lado da rua agora e não me importo.
As mãos de Trent vão para tocar meus braços enquanto ele me acalma, olhando ao redor. — Você acha que não foi difícil para eles, Kacey? Você não pode ver a tortura em seus rostos quando revivem as suas histórias?
Eu não estou ouvindo-o mais. Jogo suas mãos para longe com um empurrão e dou um passo para trás.
— Você pensa que pode me corrigir? O que eu sou para você, algum projeto de estimação?
Ele recua, como se eu lhe tivesse dado um tapa no rosto e cerro os dentes. Ele não tem direito de se sentir ferido. Ele me fez sentar e ouvir isso. Ele me machucou. — Fique longe de mim. — Eu giro e sigo pela calçada.
Não olho para trás
Trent não me segue.
Capítulo 12
As mãos de Storm mexem inquietas em uma pulseira de pérolas quando chegam as sete horas. É bizarro que ela esteja tão nervosa, considerando que ela pode balançar sobre um palco de topless na frente de uma sala cheia de estranhos. Eu não a lembro disso embora. Apenas ajudo-a a escolher um vestido elegante amarelo que destaca seu tom de pele e acentua suas curvas, mas não demasiado. Eu ajudo-a a apertar seu colar e fixar o cabelo para trás em um lado. Principalmente, eu sorrio quando tudo que quero fazer é enrolar em uma bola e me esconder sob minhas cobertas, sozinha.
— Dez respirações minúsculas. — Murmuro.
Ela franze a testa em seu espelho. — O que?
— Dê dez respirações minúsculas. Aproveite-as. Sinta-as. Ame-as. — A voz de minha mãe toca no meu ouvido enquanto eu repito suas palavras e luto contra um aperto na garganta. Essa sessão estúpida hoje me deixou incomodada, minhas defesas oscilando, a minha capacidade de enterrar a dor desafiada.
Storm franze a testa ainda mais.
Dou de ombros. — Eu não sei. Isso é o que a minha mãe costumava dizer. Se você descobrir, me avise, ok?
Ela assente lentamente e então eu vejo como ela inspira e expira lentamente, e eu imagino que ela está contando em sua cabeça. Isso me faz sorrir. Como se eu estivesse passando um pouco de minha mãe para Storm.
Nós ouvimos a batida na porta da frente nova e, um momento depois, as mãos pequenas de Mia se atrapalhando com a fechadura. Tudo está quieto, e então Mia se aproxima, seus pés descalços batendo duro contra o chão enquanto ela corre pelo corredor, gritando: — Mamãe! O policial está aqui para levá-la embora!
Eu ronco e enfio Storm em direção à porta. — Pare de ficar nervosa. Você está ótima.
O Oficial Dan está na sala de estar, colocando as mãos nos bolsos do jeans e puxando-as para fora, e em seguida, coloca apenas uma, e puxando-a para fora. Eu não posso deixar de sorrir um pouco quando o vejo. Ele está tão desconfortável como Storm. Embora quando ele a vê, seu rosto se ilumina.
— Oi, Nora.
Nora? Seu cabelo loiro está modelado desse jeito confuso e espetado. Ele está vestindo uma camisa de golfe preta ajustada que mostra um corpo sólido. Eu pego um sopro tênue de colônia de homem. Não muito. Apenas o suficiente. Considerando tudo, o Oficial Dan se arruma realmente bem.
Ela sorri de volta educadamente. — Oi, Oficial Dan.
Ele limpa a garganta. — Só Dan está bem.
— Ok, só Dan. — Ela repete e depois a sala se enche de silêncio constrangedor.
— Oficial Dan trouxe-lhe flores, mamãe! Tigres30! — Mia corre para a cozinha, onde Livie está organizando um lindo buquê de lírios de tigre vermelhas profundas em um jarro de leite. Mia estica o braço para pegar uma e derruba o jarro. Respinga água e flores por toda parte. — Merda! — Ela exclama.
— Mia! — Storm e Livie repreendem ao mesmo tempo, através de ofegos.
Os olhos de Mia ficam grandes e redondos quando ela olha entre as duas, percebendo o que fez. — Eu tenho direito a dizer uma. Certo, Kacey?
30 Lírios de Tigre: http://24.media.tumblr.com/tumblr_lmthfynDt11qztqano1_400.jpg
Minha mão voa para a minha boca para conter o riso quando os olhos de Livie atiram punhais para mim.
— Elas são lindas, Dan. — Storm corre para lá e luta para pegar todas elas. Considero isso como a minha chance de avisá-lo. — Ela está muito nervosa. — Eu murmuro sem fazer um som.
Surpresa brilha em seus olhos. Ele sabe o que ela faz para ganhar a vida. Ele provavelmente fez o mesmo pressuposto errado, como eu - que Storm é feita de aço. Esse não é o caso, porém. Longe disso.
Ele acena com a cabeça e me dá uma piscadela. Limpando a garganta, ele diz: — Eu fiz reservas para 19:30. — Avançando, ele oferece o braço à Storm. — Devemos sair agora, Nora. O lugar é junto à água. Vai demorar um pouco para chegar lá com o tráfego.
Ela olha para ele e sorri, todo o rebuliço sobre as flores desaparecendo.
Bom. Assuma a liderança. Inteligente, Dan. Dois pontos.
— Divirtam-se. Não vamos esperar acordadas! — Eu pego um pouco de vermelho nas bochechas de Storm antes que a porta seja fechada e trancada, trazendo de volta o meu humor melancólico.
***
Eu acabo trabalhando naquela noite sem Storm. Preciso da distração. Quando o fim da noite chega e Trent não aparece nem manda nenhuma mensagem, a minha decepção é paralisante. Por que ele não viria, no entanto, eu me lembro. Gritei como uma louca para ele na calçada e lhe disse para ficar longe.
Trent não vem me visitar no Penny na próxima noite. Ou na noite depois dessa. Três dias depois, eu acho que poderia pirar. Qualquer que seja a raiva que corria através de mim no dia da sessão de terapia é ofuscada por um vazio novo. Um vazio de Trent. Pulsa como uma dor profunda através de cada fibra do meu ser. Eu desejo a sua presença, seu corpo, sua voz, sua risada, seu toque, seu tudo.
Eu preciso dele.
Eu preciso de Trent.
***
Na quinta-feira ao meio-dia, eu me sento em nossa quitinete em meus shorts curtos e top, empurrando Cheerios em minha boca e olhando para o meu telefone como se conseguisse fazer aparecer uma mensagem por pura vontade. Finalmente, eu inspiro profundamente e forço o meu polegar a escrever uma mensagem.
Eu: Qualquer interesse em uma matinê?
Sento-me à minha mesa e encaro a coisa estúpida, imaginando se ele já apagou a minha mensagem, ou se ele sequer se preocupou em ler. Eu considero pressionar meu ouvido contra a parede entre os nossos apartamentos para ver se posso pegar algum comentário “vadia louca,” dele. Mas isso não soa como algo que Trent diria, mesmo que fosse verdade. O que é.
Uns cinco minutos depois, depois de afundar até o último dos meus Cheerios no meu leite, meu telefone bipa. Eu largo tudo e agarro-o.
Trent: O que você tem em mente?
Palpitações mexem no meu peito. Palpitações malditas! Eu não tinha pensado tão longe. Eu não tenho nenhuma ideia do que está jogando. Decido ser alegre.
Eu: Depende. Você está bem com a nudez?
Desta vez, a resposta de Trent vem imediatamente.
Trent: Defina nudez.
Ok, bom. Ele está jogando junto.
Eu: Bem... Primeiro eu tiro o meu top...
Mordisco minha unha, esperando para ver com o que ele responde. Não obtenho uma resposta. Talvez eu fui longe demais, cedo demais. Talvez ele ainda esteja bravo
comigo. Talvez... Ouço uma porta fechar. Uma sombra passa pela nossa janela e um segundo depois, alguém está batendo na porta do meu apartamento.
Tem que ser Trent.
Eu corro para a porta e jogo-a aberta, lutando para esconder a minha ansiedade. Lá está ele, em um par de jeans e uma t-shirt solta, o cabelo levemente despenteado, olhos azuis brilhantes derramando sobre o meu corpo, fixando-se no meu peito por um longo momento. Eu não estou vestindo um sutiã e não há dúvida de que ele pode ver a reação de meus mamilos para ele. Quando esse olhar levanta de volta ao meu rosto... uau... é apenas a mistura certa de raiva, frustração e calor fumegante que me faz morder o lábio inferior. E isso é tudo o que é preciso para deixá-lo louco.
— Deus, Kacey. — Ele rosna e dá dois passos rápidos para bater contra o meu corpo, com as mãos rapidamente apreendendo meu bíceps enquanto sua boca reivindica a minha. Mergulhando a cabeça para trás, ele força a língua na minha boca, demolindo-me com uma profunda necessidade que eu nunca tinha experimentado antes. Este é o Trent real, eu percebo.
Sem restrições.
Eu me esforço para continuar em pé quando o meu corpo afrouxa sob sua intensidade. Levando-me para trás, Trent me prende entre ele e a parte de trás do sofá e eu rapidamente torno-me consciente de como ele está excitado.
De repente eu estou fora de meus pés e pousada no encosto de cabeça, os quadris de Trent ajustados confortavelmente entre as minhas coxas. Seus braços em torno de mim. Uma mão agarra a parte de trás do meu pescoço, enquanto a outra varre meu cabelo para o lado para expor meu pescoço. Seus lábios deslizam primeiro em minha garganta, e, em seguida, ao longo da minha mandíbula, até minha orelha.
— Você gosta de me torturar, enviando mensagens contraditórias, não é, Kacey? — Isso sai em um grunhido, pulsando através de cada um dos meus nervos. Então, sua boca está de volta na minha, desta vez com ainda mais fome, mais insistente, e mal me deixando respirar. Ele aperta mais contra mim enquanto uma mão escorrega sob a barra da minha camisa e sobe para segurar o meu peito inchado, seu polegar acariciando meu mamilo, disparando uma corrente através de minhas profundezas.
O ataque repentino de Trent atirou-me completamente fora de meu jogo - todos os meus sentidos assaltados. Mas eu finalmente agarro um pouco do meu juízo, o suficiente
para levar minhas mãos ao seu peito, meus dedos deslizando ao longo de seu abdome e apertando em torno da fivela de seu cinto. Eu puxo-o com força contra mim, até sua ereção escavar em mim. — Isto está bastante claro? — Eu rosno de volta. — Não sou eu que quero levar as coisas devagar.
Trent se liberta, um olhar escuro selvagem em seus olhos, como se estivesse chocado. Ele me puxa para baixo no sofá e, em seguida, girando sobre os calcanhares, ele corre para fora do nosso apartamento, gritando: — Não envie mais mensagens fodidas como essa!
Eu sou deixada ali, chocada, sem palavras, e excitada como o inferno. Ele está com raiva? Ele está com raiva! Ele está fodidamente com raiva! Eu piso até a mesa e pego meu telefone.
Eu: O que diabos foi isso?
Leva dois minutos, mas meu telefone apita com uma mensagem:
Trent: Você gosta de testar a minha força de vontade. Pare de me torturar.
O quê? Eu torturando? Ele é o único com essa estupidez de “devemos ir devagar”, porra!
Eu: Uma pequena mensagem dificilmente se qualifica como tortura.
Trent: Não é apenas uma mensagem.
Eu: Bem, então volte aqui.
Trent: Não, eu disse que nós íamos levar isto devagar.
Eu: Eu acho que esse navio partiu com seu pequeno concurso de encarar na outra manhã. De acordo com a muito sábia bíblia, nós somos um casal de velhos casados.
Eu sorrio com o meu comentário da bíblia. Tia Darla teria um infarto se ela soubesse como eu a estava usando em minha vantagem. O sorriso é retirado do meu rosto quando meu telefone toca novamente.
Trent: Você precisa de ajuda.
Eu olho para essas quatro palavras por um longo momento, rangendo os dentes. Não é uma surpresa para mim o que ele diz. Ele disse isso antes. De alguma forma, porém, ver isso escrito parece diferente. Oficial. Eu não respondo.
Um minuto depois...
Trent: Você passou por uma provação terrível e tem tudo engarrafado. Você vai explodir um dia.
Aqui vamos nós. Eu esfrego a testa com a frustração. Tolo persistente.
Eu: O que? Você quer que os detalhes sangrentos sobre como eu perdi meus pais, melhor amiga E namorado, tudo em uma noite? Esse tipo de coisa te excita?
Esse fogo dentro de mim se enfurece de novo, o mesmo de três dias atrás, quando ele me forçou a essa sessão de terapia. Pouso o telefone e inspiro profundamente, tentando controlá-lo antes que isso saia do controle.
Não consigo parar de ler a mensagem seguinte, quando o telefone toca.
Trent: Eu quero que você confie em mim o suficiente para me dizer sobre isso. Ou a alguém, pelo menos.
Eu: Não se trata de confiança! Eu já lhe disse isso! Meu passado é meu passado e eu preciso enterrá-lo onde ele pertence - No. Passado.
Trent: Você está vulnerável e estou me aproveitando de você por deixar coisas como o que acabou de acontecer, acontecerem.
Eu gemo com exasperação.
Eu: Por favor, se aproveite de mim! Eu estou te dando permissão!
Trent não responde. Eu suspiro, decidindo tratar suas preocupações com seriedade.
Eu: Eu estou bem, Trent. Acredite em mim. Estou melhor do que eu estive em um longo tempo.
Trent: Não. Você só pensa que está. Eu acho que você está sofrendo de um caso grave de T.E.P.T.
Eu arremesso o telefone contra a parede que une nosso apartamento, fervendo. Metal e plástico voam através do ar quando a coisa quebra.
Todo mundo quer ser minha porra de terapeuta pessoal.
***
Estou espantada quando Trent aparece no Penny naquela noite. Tanto, que não posso evitar que minha boca fique aberta quando vejo-o sentar-se no bar, assim como fez antes, agindo como se não tinha tivéssemos tido uma briga de magnitude nuclear. Eu levanto o meu queixo. Não vou pedir desculpas. De jeito nenhum.
Uma caixa com um laço vermelho aparece magicamente na frente dele. Ele desliza para frente, suas covinhas forçando um sorriso no meu rosto contra minha vontade. Droga! É claro que vou lá e abro. Quem não gosta de presentes?
Dentro está um iPhone novo.
— Não foi difícil descobrir o que foi esse estrondo contra a minha parede quando você não respondeu minha mensagem seguinte. — Trent murmura, um sorriso divertido no rosto.
— Ah, é? — Eu deslizo minha língua sobre os dentes, agindo legal e não afetada. Por dentro, eu não estou. Estou o oposto de não afetada por Trent agora. — O que a mensagem dizia?
Ele dá de ombros, fingindo indiferença agora também. Eu sei que ele está fingindo. Esse brilho nos olhos é seu único detector de mentira. — Eu acho que você nunca vai saber. — Ele exala profundamente enquanto segura meu olhar. É como se a tensão da tarde não existisse mais, e eu não vejo como isso é possível, porque eu ainda sinto isso. Ele está tramando algo. Eu não consigo descobrir o que, embora.
— Basta pensar, nossa tarde poderia ter ido em uma direção completamente diferente se você não tivesse quebrado o seu telefone em pedacinhos. — Diz ele, deslizando um canudo em sua boca. Seus olhos brilhando com intenções.
Por dentro, forço-me a não saltar por cima do bar e no colo de Trent. Isto por dentro. Por fora, eu estou fria como um frio de Novembro. — O que eu posso dizer? Tenho problemas de gestão de raiva.
Sua boca torce como se em pensamento. — Você precisa encontrar uma maneira de lidar com esse problema.
— Eu tenho uma. É chamado bater em um saco de areia.
Sua testa arca de brincadeira. — É evidente que isso não está funcionando bem.
Eu me inclino para frente por cima do bar, descansando meu corpo em meus cotovelos. — E o que você sugere que eu bata em vez disso?
— Caramba! Querem apenas fazer isso de uma vez, vocês dois? — Storm chama com exasperação simulada, um misturador de martini na mão.
Eu não tinha percebido o quão alto estávamos falando. Olhando para o meu outro lado, vejo o sorriso de Nate, e coro imediatamente. Não sei por que, mas eu faço. Estou sempre ruborizando ultimamente.
Trent não responde Storm ou eu, tomando um longo gole de seu refrigerante em vez disso, e eu me iludo, pensando que talvez ele finalmente desistiu de me empurrar para lidar com as coisas há muito enterradas. Talvez isso possa funcionar.
***
Ao longo das próximas semanas, Trent se mantém fiel à sua palavra sobre fazer-me sorrir. Infelizmente, ele também se mantém fiel à sua palavra sobre levar as coisas devagar. Só que desta vez, ele realmente faz. Após esses poucos deslizes curtos e quentes, o verdadeiro Trent desenfreado é acorrentado e aquele que ocupa o meu tempo não dá nada mais do que beijos guardados e mãos dadas.
É o suficiente para me deixar louca.
Cada dia, eu salto na moto de Trent, meus braços em torno de seu peito, e eu deixo-o levar-me. Ele sempre começa com a academia, provavelmente porque não quer me ver esmagar o meu telefone contra a parede novamente. No entanto, estou descobrindo que agora não tenho tanto desejo e foco para fazer meus treinos com ele por perto. Para isso é necessário atenção e determinação e, vamos enfrentar isso, raiva engarrafada. Trent tem um efeito calmante na minha raiva. Nós acabamos jogando conversa fora e fingindo que lutamos até recebermos olhares de reprovação e decidirmos sair. Por esse ponto eu geralmente estou tão quente e incomodada por Trent que não me importo de saltar para o chuveiro. Continuo esperando que ele se perca e tropece lá dentro comigo. Ele nunca faz.
O resto dos dias é ocupado. Combate de paintball, passeios de moto ao longo do calçadão de Miami, jogo do golfinho, restaurantes, cafés, sorveterias, uma liga de Frisbee. É como se Trent tivesse um itinerário para “fazer Kacey sorrir” e é lotado. No momento em que começo a trabalhar a cada noite, meu rosto está doendo de tanto sorrir.
— Você nunca trabalha? — Pergunto-lhe um dia enquanto caminhamos pela calçada.
Ele dá de ombros, apertando minha mão. — Estou entre contratos.
— Huh. Bem, você não está preocupado em pagar as contas? Você está gastando todo o seu dinheiro comigo.
— Não.
— Deve ser bom. — Murmuro secamente, mas não pressiono mais. Eu só ando pela calçada, de mãos dadas com Trent, deixando meu corpo absorver o calor do sol.
E sorrio.
***
— Por que você não fica até fechar? — Murmuro baixinho.
A mão de Trent desliza através de sua boca como se considerando como me responder. — Porque, então, eu vou ter que levá-la para casa.
Franzo a testa, um pouco desconcertada. — Sim, eu posso ver como isso seria terrível.
— Não, você não entendeu. — Seu olhar desliza para a minha boca antes de levantar de volta para os meus olhos. — O que você acha que vai acontecer quando eu levá-la à sua porta?
Eu dou de ombros, percebendo o que ele disse, mas me fazendo de boba, só para que eu possa ver o que ele diz. Ele se levanta e se inclina, pegando uma azeitona. Quando ele olha para mim de novo, seus olhos têm aquela latente qualidade quente que ele não consegue esconder de mim completamente, a que faz meus joelhos oscilarem.
— Em casa, nós não temos um Godzilla nos observando. — Sua cabeça aponta para Nate, que está sempre vigilante da proximidade de Trent.
Coloco o meu melhor olhar confuso. — Bem, Nate não está lá quando você me acompanha até minha porta durante o dia.
Ele ri baixinho. Sim, lá estão elas. Aquelas covinhas profundas que eu quero lamber. — Você sabe que é uma droga em fingir que não entende.
Eu pressiono meus lábios para não sorrir.
Trent se inclina ainda mais contra o bar, perto o suficiente para que eu seja a única pessoa que pode ouvi-lo. — Eu tenho bastante dificuldade em manter as mãos longe de você todo dia. Eu não teria a menor chance, sabendo que você está prestes a despir-se e subir na cama.
Eu me abraço contra o balcão enquanto o observo deslizar uma azeitona na boca, a língua enrolando em torno dela.
Então, ele quer jogar sujo...
Durante a semana seguinte, eu limpo o armário de Storm, escolhendo as roupas mais curtas e mais apertadas que eu posso encontrar. Eu quase levo as roupas de palco de lantejoulas uma noite. Eu faço questão de me inclinar mais na frente de Trent, muitas vezes ao longo da noite, balançando os quadris ao som da música. Quando Ben faz um comentário sarcástico sobre eu me preparando para o meu primeiro desempenho no palco, eu o soco no estômago e continuo no meu caminho, ganhando um rugido profundo da risada de Nate.
Mas eu não consigo quebrar essa nova determinação que Trent tem. Ele apenas observa, descansando em seus cotovelos com as mãos cruzadas na minha frente. Observando-me mover. Observando-me flertar com ele. Observando-me transformar-me em uma confusão quente por ele.
Finalmente, uma noite, eu perco a paciência.
— Porra, Trent! — Eu estalo, batendo com sua água com gás no balcão em frente a ele. Ele parece surpreso. — O que diabos eu tenho que fazer para chamar sua atenção? Eu preciso ir até lá? — Jogo um braço em direção ao palco.
Seus olhos alargam por apenas um segundo, em estado de choque. Ele chega para frente para segurar minhas mãos, mas ele pega-se a tempo e em vez disso, dobra-as em seu peito. — Acredite em mim, você tem toda a minha atenção. — Ele me dá um olhar quente que faz a minha boca secar instantaneamente. — Você sempre tem minha atenção. É preciso cada grama do meu controle para não mostrar o quanto de minha atenção você tem. — Tão rapidamente como aquele olhar veio, ele desliza para fora. — Eu quero que você consiga ajuda Kace. — Diz ele em voz baixa. — Eu estou aqui para você, todos os dias. Sempre. Eu vou ficar do seu lado o tempo todo, mas você precisa conseguir ajuda. Nenhum ser humano pode enterrar seu passado indefinidamente. É só uma questão de tempo antes de quebrar.
— Isso é chantagem sexual! — Eu assobio. Primeiro, ele tentou me forçar a falar com aquele orgasmo galáctico ‘sem-mãos’ e que deu tudo errado. Agora ele está se contendo completamente como um meio para me forçar. Bastardo! Eu afasto-me, recusando-me a olhar para ele pelo resto da noite.
No meu turno seguinte no Penny, Trent mostra-se certo.
Capítulo 13
Storm está fazendo a sua coisa acrobata no palco e eu estou olhando para ela, roubando olhares frequentes no meu novo telefone esperando uma mensagem de Trent. Nada. Ele não está aqui esta noite. É a primeira noite que ele não esteve aqui há muito tempo e eu sinto a sua ausência como um membro perdido. Talvez ele finalmente desistiu de mim. Talvez ele percebeu que eu sou uma causa perdida e que não vai transar a qualquer momento neste século se esperar que eu desista e procure terapia.
Os pés de Storm tocam o palco com uma rodada de aplausos estridentes. Ela se abaixa para pegar a blusa, cobrindo os seios o melhor que pode com um braço. Eu vi Storm de topless tantas vezes que agora já não pisco um olho. Na verdade, eu estou me acostumando com mulheres nuas ao redor de mim. Estou começando a me sentir como a esquisitona de casaco no meio de uma praia de nudismo.
Storm é incrível, eu penso pela centésima vez, enquanto o lugar inteiro bate palmas e solta vaias. Todos, exceto um cara magrelo no canto. Eu o vejo ali, gritando para ela, acenando com um punho cheio de dinheiro. Ele se recusa a dá-lo ao segurança que coleta para ela. Tenho a impressão de que Nate está prestes a atirá-lo para fora em sua bunda magra.
E então eu não sei como isso acontece, mas o cara consegue de alguma forma passar os seguranças e alcançar o palco, gritando: — Vadia! — Uma lâmina aparece. Eu vejo com
horror quando ele agarra o cabelo de Storm e puxa a sua cabeça para trás. Mesmo do meu ponto de vista distante, vejo as suas pupilas escuras dilatadas. Esse cara está alto em alguma coisa.
Meu queixo cai para gritar, mas não sai nada. Nem um som. Com um balanço do meu braço para limpar todos os copos para fora do bar, eu salto sobre ele e corro, empurrando as pessoas para fora do caminho, com pontapés e joelhadas e socos. O sangue corre para a minha cabeça e meus pés batem no chão a cada batimento cardíaco e tudo que eu posso pensar é que eu vou perdê-la. Outra amiga, morta. Mia vai crescer sem sua mãe.
Isso não pode estar acontecendo de novo.
Eu atinjo o palco para encontrar um conjunto de camisas pretas apertadas pairando. Eu não posso ver Storm. Eu não consigo ver nada. Eu empurro e arranho, mas não posso passar a parede. Minhas mãos voam para a minha garganta, assumindo que o pior resultado possível está escondido sob essa horda de corpos.
E eu oro.
Peço a quem decidiu me manter viva que concedam a mesma graça à Storm, que merece muito mais do que eu.
Um gigante irrompe da multidão de seguranças.
Nate.
E ele tem o cara preso em seu punho.
Ele passa por mim com um olhar ameaçador, o cara pendurado pelo pescoço por um de seus punhos. Espero que ele aperte muito apertado e esmague a laringe do homem. Mas essa esperança não acalmou os meus nervos nem um pouco porque Storm está em algum lugar lá dentro, e eu ainda não sei se ela está viva.
— Storm. — Eu grito.
Por último, a parede de seguranças rompe. Ben orienta-me com uma mão nas minhas costas para encontrar Storm amontoada sem jeito no chão, seus membros dobrados em si. Uma pontada de alarme me ataca. Ela se parece muito como Jenny estava no carro.
Eu mergulho para o lado dela.
— Oh, Kacey! — Ela chora e se joga no meu ombro. — Tudo o que eu conseguia pensar era Mia.
Estou tremendo. — Você está viva. Você está viva. Graças a Deus está viva. — Murmuro mais e mais enquanto minhas mãos apalpam os seus braços, pescoço, ombros. Não há sangue. Sem feridas.
— Eu estou bem, Kacey. Estou bem. — Suas bochechas estão vermelhas e manchadas de lágrimas, a maquiagem borrada por todo o rosto, mas ela está sorrindo agora.
— Sim. — Eu confirmo, engolindo a bola dolorosa na minha garganta. — Você não vai morrer. Você está bem. Eu não perdi você. — Estou demasiado próxima de Storm. Demasiado próxima de me machucar, como eu fiz quando perdi Jenny. Uma avalanche de lembranças esmaga qualquer aparência de alívio que devia sentir agora. De repente, eu estou presa no passado, com uma melhor amiga que eu conhecia desde que tínhamos dois anos, que compartilhou dias e noites cheios de risos e lágrimas, raiva e emoção. Uma dor aguda floresce no meu peito enquanto eu percebo que são todas as lembranças que espero criar com Storm também.
Todas as coisas que esse homem acabou de tentar me roubar.
Com uma pitada de receio, Storm me alcança e pega a minha mão na dela. Eu não tinha respirado desde que saltei por cima do bar. Agora eu deixo o ar sair dos meus pulmões. E alguma coisa se encaixa dentro de mim. Eu não sei como descrever isso senão dizer que é como se a pequena agulha da minha bússola moral se quebrasse ao meio.
Como se uma bomba de ódio detonasse dentro de mim.
Ele tentou roubar minha segunda chance de mim. Ele precisa pagar.
Lâmpadas fluorescentes agora brilham sobre o interior do Penny, lançando um brilho desagradável sobre as bebidas derramadas, garrafas vazias e lixo enquanto os seguranças levam os clientes para fora. Eu vejo os ombros largos de Nate quando ele vira o canto em direção à saída traseira, o cara ainda dentro de seu aperto. Meus dentes estalam uns contra os outros.
Estou levemente ciente de Trent em pé perto da entrada. Ele está apontando em direção ao palco e discutindo com um segurança para deixá-lo passar. Minha atenção se prende sobre ele por uma fração de segundo, mas nada realmente se registra, levada de
volta para o local onde aquela criatura vil, aquele que tentou roubar-me de minha nova vida, foi levado.
Levanto-me e começo a correr.
Empurro homens adultos fora do caminho enquanto atravesso a sala seguindo Nate. Viro uma esquina a tempo de ver seu corpo enorme sair pela porta de trás. Enquanto acelero para recuperar o atraso, meu coração acelerado, o sangue correndo para minha cabeça, sinto minha mão agarrar uma garrafa de vidro vazia pousada em um caixote. Sem um pensamento distinto ou mensagem para o meu corpo, esmago a minha mão contra a parede, o envio cacos de vidro voando.
Meu punho aperta o pescoço com força, imaginando com nitidez como as bordas devem estar quebradas. Como eficazes, devem ser.
Quando eu passo pela porta de trás, acho o atacante de Storm em pé no estacionamento. Sozinho.
Perfeito.
Sem emitir um som, eu avanço, meu braço puxado atrás das costas enquanto preparo o meu objetivo. A Doninha31 se vira para me ver e seus olhinhos redondos ampliam. Dois metros, um metro e meio, um metro... Meu braço está prestes a catapultar o vidro quebrado profundamente em seu peito, para deixá-lo sentir fisicamente o nível de dor que eu teria de enfrentar se ele tivesse sido bem sucedido em seu ataque, quando dois troncos gigantes varrem e levantam-me do chão, prendendo meus braços apertados contra mim.
— Não! — Eu grito. Agora eu estou chutando e gritando com tudo o que eu tenho. Meus dentes afundam nos braços de Nate e mordem, sentindo o gosto de cobre. Ele resmunga, mas não para, me levando de volta para dentro da porta. Ele me derruba no chão e se inclina para frente para me encontrar olho nos olho, com as mãos ainda segurando meus braços.
— Deixe a polícia cuidar dele, Kacey! — O estrondo em sua voz vibra através de mim.
— Polícia? — Eu franzo a testa e espreito para ele. A Doninha não está sozinha. Quatro carros com luzes piscando se alinham no estacionamento e uma dúzia de oficiais
31 Essa é a tradução literal, mas refere-se a alguém com más intenções, desonesto.
está por perto, escrevendo anotações enquanto testemunhas recontam a cena dos acontecimentos. De alguma forma, eu não os tinha visto.
— OhmeuDeus. — Eu tropeço para trás, vômito subindo na minha garganta, a garrafa escorrega de meus dedos para rolar no chão enquanto eu me curvo para frente.
— Eu te peguei antes de eles verem o que você estava prestes a fazer. Ninguém viu nada, e se viram, eles vão fingir que não. — Nate promete, seu olhar escuro queimando profundamente em meu rosto como se estivesse procurando algo. Por um demônio, à espreita, talvez.
— Kacey! — Um Trent sem fôlego grita quando me alcança. Eu estou hiperventilando a esta altura, com o coração pesado enquanto luto por meu último suspiro. O que eu nunca consigo pegar. Sua atenção recai sobre a garrafa quebrada deitada aos meus pés. — Deus, Kacey. O que você estava prestes a fazer?
Eu estou engolindo e lutando por ar e balançando a cabeça e tremendo, tudo ao mesmo tempo. — Eu não sei, eu não sei. Eu não sei. — Murmuro uma e outra vez. Mas eu sei. Eu sei o que eu quase fiz.
Eu quase matei um homem.
***
Luzes de rua passam rapidamente e sem receber atenção da minha parte quando Dan nos leva para casa em seu carro da polícia. Eu sei que Trent está em algum lugar atrás de nós em sua moto e tudo o que posso pensar é o olhar de horror em seu rosto. O que você estava prestes a fazer? Ele perguntou. E ele sabia. Sem dúvida, ele sabia.
Storm me ajuda a sair do carro como se fosse eu a atacada, não ela. Como é que ela está agindo tão normal?
Um passo em frente. Um passo em frente. Um passo em frente.
— Kacey, eu estou bem. Prometo. — Eu vagamente ouço Storm dizer enquanto ela me leva de mãos dadas em direção ao apartamento.
Eu sei que ela está bem e eu sou grata. Mas estou lutando. Eu estou lutando para me impedir de ruir em pedaços na calçada.
Eu quase matei um homem esta noite.
O conselheiro de tia Darla estava certo o tempo todo... Um passo em frente. Um passo em frente. Um passo...
Dedos estalam na frente do meu rosto e quebro o meu transe. Eu olho para ver um oceano de preocupação nos olhos azuis de Storm. — Eu acho que ela está em estado de choque. — Ela diz para outra pessoa, claramente não a mim.
— Não, bem. Eu estou bem. Bem. — Murmuro e de repente eu estou agarrando os bíceps de Storm e apertando, o pânico crescente. — Não diga a Livie. Por favor? — Ela não pode descobrir o que eu quase fiz.
Storm concorda. Eu a vejo trocar olhares preocupados com Trent e Dan.
— Vamos. — O chão desaparece quando um conjunto de braços fortes me pegam. Em segundos Trent me tem deitada na minha cama e ele está puxando as cobertas sobre mim.
— Não, eu não estou cansada. — Murmuro, lutando fracamente para me levantar.
— Só... Descansa. Por favor? — Trent diz baixinho. Sua mão suaviza sobre meu rosto e eu agarro-a, segurando-a firme, pressionando meus lábios contra a palma da mão.
— Fique. — Eu ouço o desespero na minha voz.
— É claro, Kacey. — Ele sussurra. Ele arranca os sapatos e sobe na cama ao meu lado.
Eu fecho meus olhos e afundo em seu peito, deleitando-me com o calor do seu corpo, o seu batimento cardíaco, o cheiro dele. — Você me odeia, não é? Você deve me odiar. Eu não posso evitar. Estou quebrada.
Trent aperta-me perto dele. — Eu não odeio você. Eu nunca poderia te odiar. Dê-me seu coração, Kacey. Vou aceitar tudo o que vem com ele.
Eu começo a chorar. Incontrolavelmente, pela primeira vez em quatro anos.
***
— Puxe meu dedo.
Jenny ri histericamente. Ela ri cada vez que Billy diz isso.
E eu rolo meus olhos, assim como eu faço toda vez que ele diz isso. — Tão quente, Billy. Possua-me agora.
— Kacey. — Adverte a minha mãe, ouvindo-me.
Billy pisca e aperta minha mão apertada e eu aperto de volta. Mamãe e Papai estão na frente, falando sobre o jogo da próxima semana e como eu preciso conseguir minha licença em breve, então eles não têm que levar minha bunda para lá. É claro que eu sei que eles estão brincando. Eles nunca perdem um dos meus jogos de rugby.
— Quer parar de ser tão econômico e apenas me comprar aquele maldito Porsche já, Papai?
— Linguagem, Kacey. — Meu pai repreende, mas olha por cima do ombro para me jogar um sorriso. Eu sei que ele está sorrindo por dentro. Marquei a jogada vencedora no jogo de rugby de hoje à noite, depois de tudo.
Tudo a seguir acontece em um nevoeiro. Meu corpo empurra violentamente. Algo vem contra nós. Um peso prensa com força contra o meu lado direito. Sinto-me jogada e virada. E então tudo só... Para.
E eu estou vagamente consciente de que algo está muito errado. — Mãe? Pai? — Não há resposta.
É difícil respirar. Algo aperta minhas costelas. Meu lado direito parece entorpecido. E eu ouço um gorgolejo estranho. Eu ouço com atenção. Parece alguém que toma seu último suspiro.
Eu fico ereta, meu corpo encharcado de suor, meu coração batendo contra seus limites, correndo tão rápido que eu não sei onde um bater termina e outro começa. Por um momento, eu enrolo em uma bola apertada e balanço, tentando sacudir esse conhecimento temido que eu havia causado o acidente. Que fui eu que distraí meu pai com minhas
observações espertinhas. Que, se eu não tivesse distraído, ele teria visto o carro vindo e poderia ter evitado isso. Mas eu sei que não posso mudar isso agora de qualquer forma. Eu não posso mudar nada.
Estou aliviada ao encontrar Trent deitado ao meu lado, o peito nu subindo e descendo lentamente. Ele não me abandonou ainda. Do lado de fora, a luz da rua lança um brilho agradável sobre seu corpo e eu sento-me calmamente e observo, querendo moldar-me a ele. Eu luto contra a vontade de tocá-lo, traçar meus dedos ao longo de suas curvas perfeitamente esculpidas.
Com um suspiro, eu levanto e ando até a minha cômoda em pernas bambas, imaginando quanto tempo antes desta nova vida desmoronar também. Antes que eu perca Trent, Storm e Mia. Esta nova vida quase foi desmantelada esta noite. Simples assim. Eu deveria simplesmente ir embora, eu digo a mim mesma. Desaparecer e acabar com todas essas relações que foram forçadas sobre mim e poupar a todos mais dor no coração. Mas eu sei que não é possível. Estou muito próxima. Eu de alguma forma, abri espaço para todos eles em minha vida e meu coração. Isso ou eles fizeram um quarto para mim no deles. De qualquer forma, a cada dia que passa, eu não vou sobreviver ao vazio que será deixado quando eles se forem.
Com as minhas costas para a forma adormecida de Trent, eu deixo o meu vestido molhado cair no chão. Solto meu sutiã e lanço-o ao lado do vestido. Minha calcinha vai a seguir. Removo uma regata e shorts da minha gaveta de cima e estou pensando em pular no chuveiro para me refrescar quando uma voz suave diz: — Você tem o mais bonito cabelo vermelho.
Eu congelo, meu rosto em chamas, consciente de que eu estou em pé completamente nua na frente de um cara que pode me dar clímax com o olhar certo. Eu ouço o ranger da cama e passos que se aproximam lentamente, mas não me movo. Trent surge atrás de mim e o ar na sala fica mais grosso. Eu não posso virar. Não posso enfrentá-lo e eu não sei por quê.
Eu posso sentir a própria existência dele como se tivesse embrulhado a sua mão ao redor de minha alma, embalando-a, tentando protegê-la do mal e eu estou apavorada. Apavorada porque eu não quero nunca que a sensação termine.
Cada nervo do meu corpo entra em curto-circuito. Eu endureço enquanto sua mão roça no meu ombro antes de virar o meu cabelo para um lado, expondo um lado do meu
pescoço como ele gosta de fazer. Uma brisa fresca faz cócegas lá quando ele se inclina perto.
— Você é tão bonita. Toda você.
Ele joga meu pijama para fora do meu alcance e deixa-o cair no chão enquanto pega a minha mão na sua. Sua boca desliza para o meu ombro direito e ele começa a varrer toda a minha linha de cicatriz com beijos pequenos, provocando arrepios em todos os lugares. Puxando o meu braço para cima de forma a minha mão repousar sobre minha cabeça, eu sinto-o deslocando-se sobre o meu corpo. Para baixo, para baixo, ele continua, sua boca movendo suavemente ao longo de minha caixa torácica, sobre o meu quadril, todo o caminho para minha coxa, beijando cada linha que marca meu passado trágico. O tempo todo, minha mão esquerda segura a sua, enquanto a minha outra repousa sobre minha cabeça. E o meu corpo treme de antecipação.
As mãos de Trent vão para segurar as laterais de minhas coxas firmemente quando ele deposita um último beijo na parte final da minha coluna e eu oscilo ligeiramente de joelhos enfraquecidos. Sinto-o atrás de mim de novo, com as mãos subindo e deslizando em torno de minha barriga, puxando meu corpo firmemente contra ele, deixando-me senti-lo duro contra as minhas costas.
Minha cabeça cai para trás contra seu peito com uma mistura de emoção e frustração - excitada que Trent está permitindo-me perto dele de novo, depois de semanas de manter-me afastada, frustrada que isso vai acabar tudo muito de repente.
Mas ele não mostra sinais de acabar com isso agora, enquanto suas mãos continuam a deslizar sobre os contornos dos meus seios, segurando em concha a sua plenitude. Eu ouço a ingestão aguda de ar em seus pulmões. Lentamente, ele me vira e segura meus braços atrás das minhas costas.
Eu não sei por que, mas não consigo olhar para ele, assim eu olho para a linha da pequena cicatriz ao longo de sua clavícula, e sinto o seu peito subir e descer contra o meu, meus mamilos endurecendo enquanto eles roçam contra sua pele. Minha respiração sai em arfadas curtas quando ele se inclina e sussurra: — Olhe para mim, Kacey.
Eu olho. Eu olho para cima e me deixo afundar naqueles olhos azuis, tão cheios de preocupação e dor e desejo.
— Eu vou fazer você inteira novamente, Kacey. Prometo a você, eu vou. — Ele sussurra. E então sua boca cobre minha.
Eu estou fracamente consciente da parede que agora achata minhas costas, de sua cueca boxer caindo ao chão, de braços fortes me levantando, das minhas pernas envolvendo em torno de seus quadris, de senti-lo contra mim.
Empurrando dentro de mim. Fazendo-me inteira.
***
Ainda está escuro lá fora quando eu acordo de novo. Desta vez, minha cabeça repousa sobre o peito de Trent, meu corpo entrelaçado com o dele. Seus dedos acariciando minhas costas me dizendo que ele está acordado. Não é um pesadelo que está me acordando neste momento. É Storm e Dan levantando as vozes através da parede.
— Ele poderia ter matado você, Nora. — Dan grita. — Esqueça o dinheiro. Você não precisa do dinheiro.
A voz de Storm não é tão alta ou expansiva, mas eu consigo ouvir na mesma.
— Você acha que eu passei todos esses anos treinando com um lugar como Penny como meu objetivo? Eu estraguei tudo, Dan. Fiz escolhas erradas e eu tenho que viver com elas. Por agora. Por Mia.
— É em Mia que eu estou pensando. E se o cara matasse você esta noite? Quem iria cuidar dela? O pai dela? Da prisão? — Há um momento de silêncio e depois Dan começa a gritar novamente. — Eu não sei se posso fazer isso, Nora. Eu não posso estar com medo que você vai morrer a cada vez que vai para o trabalho.
Eu ronco. — Olha quem está falando. — Murmuro para mim mesma, mas depois eu mordo minha língua. Isto é entre eles.
— Bem, eu não vou tomar decisões com base no que um homem quer, porque quando você se for e eu ainda estiver aqui, eu tenho que viver com o resultado. — Ouço sua voz quebrando no final e eu sei que ela está chorando. A gritaria morre e eu estou feliz. Eu não quero ouvir Dan e Storm romperem.
— Posso te perguntar uma coisa sem você ficar com raiva, Kacey? — Trent pergunta para a escuridão.
— Uh huh. — Eu concordo sem pensar.
— O que você sabe sobre o motorista que bateu em seu carro?
Meu corpo instantaneamente fica tenso. — Ele estava bêbado.
— E?
— E nada.
— Nada? Não tem nome, rosto, alguma coisa?
Faço uma pausa, decidindo se quero responder. — Nome. É isso.
— Você se lembra dele?
Eu inalo profundamente. Eu nunca vou esquecer. — Sasha Daniels.
— O que aconteceu com ele?
— Ele morreu.
Há uma pausa enquanto Trent continua desenhando redemoinhos nas minhas costas e eu começo a acreditar que a conversa acabou. Garota estúpida. — Ele estava sozinho?
Hesito, mas decido responder. — Ele tinha dois amigos. Derek Maynard e Cole Reynolds. Derek e Sasha não estavam usando cinto de segurança. Ambos foram lançados a partir de seu veículo.
Minha cabeça se eleva e abaixa com respiração profunda de Trent. — Esse sobrevivente - esse cara Cole - fez contato com você?
Eu fecho meus olhos e desfruto do calor do peito de Trent, lutando contra o medo enquanto ele me arrasta de volta para o lugar profundo, escuro. — Sua família tentou. Eu preenchi ordens de restrição e disse à polícia que se algum deles tentasse sequer abordar eu ou Livie, eu mataria todos eles. — Na época, eu estava presa a uma cama e incapaz de me mover, muito menos um assassinato. Ainda assim, a polícia conseguiu passar a mensagem.
Agora, porém, agora eu sei que sou capaz de qualquer coisa.
De assassinato.
Os dedos de Trent param de desenhar nas minhas costas e ele me abraça protetoramente. — Eu vou sugerir algo, Kacey. Por favor, não fique com raiva.
Eu não respondo. Apenas ouço o seu batimento cardíaco. Eu deixo-o consumir-me. Sinto-o com todas as fibras do meu corpo.
— Eu acho que você deve conhecer esse cara Cole. Talvez houvesse algum tipo de encerramento. Vocês dois são os únicos sobreviventes de um acidente horrível. Vocês tem algo em comum.
Agora eu sento. Sento-me e olho para Trent. Eu fico olhando para ele como se tivessem crescido cinco cabeças nele e colocado três delas em chamas e as outras duas estão comendo as cabeças flamejantes. Desacelerando coração e acalmando a mim mesma, eu falo.
— Eu vou dizer isto uma vez e nunca mais. — Minha voz está calma. Eu não grito, não choro, não me abalo. — Eu não quero ver, ou falar, ou conhecer Cole Reynolds. — O nome torce minha boca com desdém. — Foi o seu carro que se chocou com o nosso. Ele entregou as chaves para seu amigo que, em seguida, quebrou minha vida em pedacinhos. Espero que onde quer que ele esteja, ele esteja sofrendo. Espero que todos que ele ama o tenham abandonado. Espero que ele não tenha um centavo e tenha que comer comida de gato e vermes. Espero que ele vá dormir toda noite e acorde revivendo aquela noite terrível. Revivendo o que ele fez para mim. Para Livie. — Eu deixo escapar um suspiro vazio e deito-me para baixo no peito de Trent, como se descarregar a magnitude do ódio fosse de alguma forma libertador. — E então eu espero que suas bolas peguem fogo. — Minha voz é fria e dura. Eu não me incomodo em esconder o ódio de minhas palavras. Eu solto isso completamente. Eu me deleito nele. Ódio bom. Perdão ruim.
Silêncio toma posse quando os braços de Trent apertam em torno de mim, com o queixo apoiado no topo da minha cabeça. Eu sinto uma nova tensão nele e eu não estou surpresa. Fico olhando para a parede e me pergunto o quão fodida a vida de Cole Reynolds realmente é. Eu me pergunto se ele recorreu a trabalhar em um clube de strip para dar a sua irmã a vida que ela merece. Eu me pergunto se ele teve que abandonar seus sonhos de faculdade. Eu me pergunto se ele estremece de dor a cada chuva que cai, porque seu corpo é segurado junto com metal.
Mas acima de tudo, eu gostaria de saber o que Trent pensa de sua fodida ruiva bonita agora.
***
Eu acordo para um quarto vazio e um bilhete no meu travesseiro. Cinco palavras.
Tinha que ir. Sinto muito.
Presumo que Trent tem um novo contrato de trabalho. Ainda assim, eu estou desapontada. Poderia usar outra dose de seu corpo se ele estivesse disposto a administrar. Eu rolo para fora da cama e alongo, o horror da noite passada no Penny é deixado de lado em favor de minhas memórias de uma noite com Trent. Faz tanto tempo desde que eu senti isso. Risque isso. Eu nunca senti isso. Sexo nunca foi assim com Billy. Eu gostava muito dele, mas nós éramos jovens e inexperientes. Trent não é inexperiente. Trent sabe exatamente o que ele está fazendo e ele faz isso muito bem. E, algo é apenas diferente com Trent. Ele é como melancia madura depois de uma vida de sede. Ele é como o ar, depois de anos sob a água.
Ele é como a vida.
Fase Seis Síndrome de Abstinência
Capítulo 14
Eu ando para o apartamento de Storm para encontrar Mia esperando ansiosamente com a boca aberta, enquanto Dan, em boxers listradas não menos, lança Cheerios em sua boca. Eu acho que Storm e Dan fizeram as pazes. Alívio incha dentro de mim. Eu gosto de ver Storm com ele.
Ele para o jogo para avaliar-me com um olhar preocupado. — Como você está se sentindo hoje?
— Ótima. — Eu sorrio enquanto jogo um Cheerio em minha boca. Dan não me conhece. Ele não sabe como hábil sou em sepultar memórias horríveis. Eu sou uma mestre. Em apenas algumas horas, está tudo esquecido e, enquanto ninguém falar disso, isso vai ficar assim. Vou até Storm, que está misturando a massa em uma tigela de vidro grande. — Panquecas? — Ela segura uma concha.
Concordo com a cabeça, batendo no meu estômago. — Você viu Livie esta manhã?
Storm concorda. — Ela foi para a escola, não muito tempo atrás. — Ela deixa cair uma colherada da mistura de panqueca na frigideira e a cozinha se enche com o barulho crepitante. Ela observa-me com o mesmo olhar preocupado que Dan acabou de me dar. —Como você está se sentindo, realmente?
— Eu estou... Bem. Estou melhor.
— Você tem certeza? Dan conhece um cara com quem você pode falar se ajudar.
Eu balanço minha cabeça. — Estou bem. Vendo-a aqui, viva e bem, e me servindo panquecas é tudo o que eu preciso. — Esfrego suas costas com uma mão enquanto eu pego um prato de comida com a outra. Sim, isto é exatamente o que eu preciso. Storm e Mia, e Livie e Trent. Mesmo Dan. Isso é tudo o que eu preciso agora.
***
Eu: Eu tenho a noite livre. Você vem de novo?
Eu espero e espero, mas não obtenho resposta de Trent. Impaciente, vou até seu apartamento e bato. Nenhuma resposta. Seu lugar está um breu. Então eu vou à area comum em uma missão falsa para inspecionar o hibachi. Realmente, eu quero ver se a moto de Trent está lá. Está. Eu vou e bato em sua porta novamente e espero. Ainda sem resposta.
Cain não vai deixar qualquer uma de nós trabalhar naquela noite. Na verdade, ele forçou Storm a tomar uma semana inteira de folga com pagamento de perigo. Aposto que Dan está feliz com isso. Pelo balanço suave no andar de Storm, eu acho que ela está bem com isso também. Eu estaria feliz também. Se Trent estivesse aqui.
Eu não ouvi de Trent no dia seguinte.
Ou no próximo.
Nenhuma mensagem. Nenhuma chamada. É como se ele tivesse sumido da face da Terra.
Eu volto ao Penny na terceira noite com um sentimento de naufrágio na boca do meu estômago. A música é maçante, as luzes cegantes, os clientes irritantes. Não é o mesmo sem Trent e Storm lá e eu estou miserável. Não posso nem forçar um sorriso enquanto me concentro. Eu sei que Storm vai estar de volta em poucos dias. Trent, porém, eu sinto sua falta como uma faca no meio das minhas costas. É doloroso, eu não posso alcançá-la para retirá-la, e eu tenho certeza que vai ser a minha morte se permanecer como está.
Trent ter ido me come toda a semana. Isso me deixa rabugenta e mal-humorada e geralmente desagradável de estar ao redor. Estou bem ciente disso e não me importo. Isso me faz começar brigas com Livie na minha noite de folga sobre o que assistir na televisão.
Isso faz com que ela comece a chorar e me chame de cadela. Livie nunca faz isso. Isso me faz espreitar através da zona comum toda noite, lançando olhares furtivos para o 1D. O resultado final é o mesmo. Trevas. Onde quer que ele foi, Trent não está de volta.
E se ele nunca vai voltar?
***
Dia Cinco.
Eu grito de horror, enquanto assisto o Audi de meus pais cair no rio, meus olhos fixos na pessoa presa atrás do volante.
Trent.
Eu estou uma bagunça suada emaranhada em meus lençóis quando acordo, ofegante. Foi apenas um sonho! Oh, Graças a Deus! Leva-me uns bons quinze minutos para afastar a imagem escaldando em minha mente. Só que agora não consigo me livrar da ideia. E se Trent esteve em um acidente? Ninguém iria me ligar. Eu não sou ninguém. Eu não tive a chance de ser alguém ainda.
Eu assedio Storm para dar-me o número de Dan. Então eu assedio-o para verificar os relatórios policiais de um “Trent Emerson” em um acidente. Ele me diz que não pode abusar de sua posição assim. Eu estalo e bato o meu telefone contra o balcão. Então eu chamo ele de volta e peço desculpas, e ele admite trazer seu laptop para que eu possa pesquisar as notícias, os óbitos. Qualquer coisa.
É bem tarde dessa noite antes de eu aceitar que Trent está provavelmente vivo e bem. Ele apenas não está comigo.
***
Dia Nove.
Vagamente passando pela porta do apartamento de Trent no meu caminho para o ginásio, eu congelo. Tenho certeza de que eu acabei de sentir o cheiro de algo estranho.
OhmeuDeus.
Trent está morto.
Eu corro para a porta de Tanner e martelo sobre ela até que ela se abre. Tanner está ali com suas calças de pijama do Batman e olhos de ‘veado-pego-no-farol’. — Vamos lá! — Eu agarro seu braço e puxo-o. — Você precisa abrir o 1D agora!
Tanner usa seu peso para resistir a mim. — Espere um minuto. Eu não posso simplesmente abrir...
— Eu acho que Trent está morto! — Grito.
Isso faz ele se mover. Espero atrás dele com coceira nos pés enquanto ele se atrapalha com seu anel gigante de chaves, com as mãos tremendo. Ele está chateado. É claro que ele está.
Quando ele abre a porta, empurro passando dele, nem mesmo considerando o que eu estou correndo para ver. Está escuro e arrumado por dentro. Escasso, mesmo. Eu não saberia que alguém viveu lá se não fosse por um laptop sentado na mesa, a camisa azul de Trent que paira sobre a parte de trás do sofá e o cheiro de seu perfume pairando no ar.
Tanner se move por mim, e faz uma varredura rápida dos quartos e banheiro. Ele até abre a porta do armário. Quando ele volta para me enfrentar, é com um olhar furioso. —Por que exatamente me disse que Trent estava morto?
Eu engulo, evitando o seu olhar. — Oops.
— Ok, saia daqui. — Ele empurra-me para a porta não suavemente com a mão no meu ombro. Eu ouço-o quando ele se move para longe, resmungando algo sobre drogas e hormônios.
***
Dia Treze.
Chutar. Socar. Girar. Chutar.
O saco recebe o meu castigo sem reclamar. Eu chuto e soco nele, toda a minha raiva e ansiedade focadas em uma coisa. Trent tem outra vida. Tem que ser isso. Uma mulher bronzeada, loira e não-quebrada. Eles provavelmente têm dois filhos pequenos perfeitos que dizem “por favor” e “obrigado” e não aprenderam a xingar como marinheiros por que a mãe deles diz palavrões incessantemente. Ele deve ter fugido para Miami e teve um caso de crise de um-quarto-de-vida32. Eu não sou nada, exceto alguém da crise de um-quarto-de-vida e eu me apaixonei por ele como uma vadia sem cérebro.
Chutar. Girar. Chutar.
Isso é bom.
Eu sinto que estou ganhando o controle novamente.
Mais tarde, na casa de Storm, eu sento no sofá e assisto a um episódio de Bob Esponja com Mia. Deitado ao meu lado na almofada está um boneco Ken moreno. Ele me lembra de Trent. Eu dou séria consideração a roubá-lo, pintar “Trent” sobre seu peito, e acender um isqueiro para onde as suas partes de homem deveriam estar.
***
Dia Dezessete.
— Ele foi real? — Murmuro, olhando para o telefone na minha mão. Eu não comprei isso para mim mesma, pois não?
— O que? — Livie pergunta, olhando para mim com surpresa.
— Trent, ele era real? Quer dizer, eu poderia entender se ele não era real. Quem podia ser tão bonito, doce e perfeito e querer alguém tão fodida quanto eu?
Há uma longa pausa e quando eu olho para Livie, ela está olhando para mim como se eu tivesse engolido um saco de vidro quebrado. Posso ver que ela está preocupada comigo. Storm está preocupada comigo também. Acho que até Nate está preocupado.
32 Como uma crise de meia-idade, mas aqui como Trent é jovem é um-quarto-de-vida.
***
Dia Vinte.
Chutar. Socar. Socar. Chutar.
Estou furiosa contra o saco.
Trent me usou. Para que fim doente, eu não posso decidir. Ele obviamente tem um fetiche retorcido. Ele encontrou uma mulher danificada e alvo de sua fraqueza com suas covinhas e seu charme. Ele quebrou meu escudo, vermifugando seu caminho para derreter o gelo sobre o meu coração. Então, ele me abandonou depois de descobrir o quão fodida eu realmente sou. Mas não antes de transar, é claro.
E eu deixei-o entrar. A culpa é minha! Eu sou a idiota.
Ataco o saco de areia de 10 quilos. Eu amo a areia. Ela absorve todas as minhas emoções, sem reprovação e me permite usá-la sem expectativa.
— Com raiva sobre alguma coisa?
Viro-me abruptamente para encontrar Ben de pé atrás de mim, com os braços cruzados sobre o peito e um sorriso conhecedor no rosto. Viro-me para o saco novamente e executo um pontapé perfeito. — Nem um pouco.
Ben caminha para pegar o saco. Ele aponta como que a dizer-me para continuar enquanto ele segura. — Onde está seu namorado?
Eu soco no saco extra duro, e de uma maneira que eu sei que Ben não está esperando. Espero que acerte nas suas bolas, apenas por mencionar Trent. Não faz, mas ele solta um grunhido. — Que namorado?
— Aquele que está sempre no bar.
— Você o viu no bar ultimamente? — Soco.
Há uma longa pausa. — Não, acho que eu não vi.
— Bem, então, Garoto Advogado, o que você deduz disso? Ou você não é capaz disso? Você não vai ser um advogado muito bom se esse é o caso.
Outro chute para o saco. Outro grunhido de Ben. — Então você está livre de novo?
— Eu sempre fui livre.
— Certo. Bem, então, que tal sair hoje à noite?
— Eu estou trabalhando.
— Assim como eu. Vamos pegar um jantar e dirigir juntos.
— Claro, tudo bem. Que seja. — Eu digo sem pensar. Não quero pensar.
Ben enruga a testa. — Sério?
Eu paro de chutar agora e limpo a camada de suor da testa com o meu antebraço. —Não é isso que você queria ouvir?
— Bem, sim, mas eu estava esperando um “cai fora” em resposta em vez disso.
— Estou bem com isso também.
— Não, não! — Ben rapidamente responde, se afastando de mim. — Vou pegar você às seis?
— Tudo bem. — Eu digo, voando pelo ar com um chute giratório perfeito.
***
— O que eu concordei em fazer? — Me pergunto enquanto fico sob a água quente, olhando para o chuveiro, imaginando outra serpente vermelha lá para me assustar como o inferno. Se eu gritasse alto o suficiente, será que Trent magicamente apareceria? Será que ele quebraria a porta de novo? Eu não iria deixá-lo sair desta vez. De jeito nenhum.
Encontro Livie na cozinha. Nós quase não falamos desde a nossa briga. — Eu sinto muito, Livie. — É tudo o que eu digo.
Ela envolve o braço em volta da minha cintura. — Ele é um idiota, Kacey.
— Um idiota estúpido. — Murmuro.
— Um grande idiota estúpido. — Ela responde. É um jogo que costumávamos jogar quando éramos pequenas. Deixava nossos pais loucos.
— Um grande idiota estúpido e malcheiroso.
— Um grande idiota estúpido malcheiroso com hemorroidas.
Eu dou um tapa na minha testa. — Oh! E ela usa as hemorroidas para a vitória!
Livie dá risadinhas. — Onde você vai?
Eu deslizo para fora de sua mão para colocar meus sapatos. — Sair.
— Como em um encontro? — A face de Livie se ilumina.
Eu levanto a minha mão para parar sua excitação. — Ben é um idiota do trabalho. Vamos comer alguma coisa e então ele vai me levar para o trabalho e eu vou quebrar suas bolas se ele tentar qualquer coisa.
Há uma batida na porta. — Um idiota, vindo direto! — Eu brinco enquanto abro a porta, esperando encontrar o corpo gigante de Ben e seu sorriso detestável enchendo a porta.
Eu tropeço dois passos para trás quando o ar é nocauteado de meus pulmões.
É Trent.
Capítulo 15
— Hey. — Ele oferece, deslizando seus óculos de aviador para fora para me mostrar os belos olhos de dois tons de azul nos quais eu poderia me perder.
Eu encaro esses olhos, sentindo o sangue fugir do meu corpo enquanto assisto toda a gama de emoções passando por seu rosto - alívio, culpa, tristeza, amargura, e depois a culpa novamente. Eu tenho certeza que há uma série de reações que mostram no meu próprio rosto, mas eu não consigo identificar qualquer uma delas agora. E então eu simplesmente fico lá, de boca aberta, tendo perdido toda a capacidade de falar.
Livie não perdeu, no entanto. Longe disso. — Você! Fique longe dela! — Ela grita, indo para frente. Seu movimento quebra o meu transe, e eu só consigo agarrá-la antes que ela arranque 10 camadas de pele de Trent com as garras agitadas.
— Dê-nos um minuto, Livie. — Eu consigo dizer com toda a calma. Dentro, uma torrente de sensações ameaça varrer-me fora de meus pés. A porta do meu lado abana e eu luto mais para puxar ar em meus pulmões, meu coração acelerando. Trent está de volta. É tanto um soco no estômago como um inchaço dentro do meu peito. Como um vício ruim, eu sei que é errado, mas, caramba, isso deixa-me satisfeita.
Livie vira e pisa em direção a seu quarto, mas não antes de jogar um último olhar de gelo em Trent. — Hemorroidas! Lembre-se disso, Kacey!
Sua explosão repentina e a gravidade de sua atitude rompem o meu ataque de pânico como uma agulha em um balão, e encontro-me rindo. Deus, eu amo essa menina.
Talvez seja o meu riso que facilita Trent, dá-lhe uma coragem louca para me tocar, eu não sei. — Deixe-me explicar. — Ele começa, suas mãos se movendo para as minhas.
Eu recuo, meu humor mercurial trazendo de volta a raiva. — Não se atreva a me tocar. — Eu assobio.
Ele segura as mãos na frente dele - palmas para fora - em um sinal de paz. — Muito justo, Kace. Mas me dê uma chance para explicar.
Meus braços cruzam sobre meu peito e eu me abraço com força para não entrar em colapso. Ou alcançá-lo, ao seu calor. — Vá em frente. Explique. — Eu rosno, lutando contra o desejo irresistível de me jogar em seu corpo, para não ouvir nenhuma desculpa porque nada disso realmente importa. É o passado, e a maneira como ele me faz sentir quando estou perto dele é o que importa agora. Mas eu não posso fazer isso. Eu não posso enfraquecer.
Seus lábios separam para falar e meus joelhos vacilam. Oh Deus. Se eu tiver que permanecer em sua presença por mais um segundo, vou perder a minha luta.
Ben aparece ao virar a esquina como um cavaleiro de armadura brilhante.
— O tempo acabou. — Eu declaro um pouco alto demais. Eu passo por Trent, fechando a porta do apartamento. — Ei, Ben! — É óbvio para qualquer um que me conhece que tudo isso é um ato. Eu nunca estou alegre. Eu nunca estou alegre, ponto.
Ben olha para mim e depois para Trent, e eu vejo as rodas girando. Ele sabe que acabou de interromper alguma coisa. Ele é um idiota inteligente. — Você quer que eu... — Ele aponta para a saída, como se estivesse sugerindo que ele poderia sair.
— Não! — Eu ligo o meu braço no dele e puxo-o para frente, segurando minha cabeça levantada e o braço de Ben perto, deixando minha raiva alimentar meus passos para frente.
No interior, eu sinto as paredes desabando.
***
— Você mal tocou sua massa. — Observa Ben. Estamos em um restaurante italiano à cinco minutos de distância do Penny.
— Eu toquei muito. — Resmungo enquanto a apunhalo com o garfo. — Eu toquei tanto que sua massa está ciumenta. Eu ouço falar de uma briga de espaguete por aí.
— Você quase não comeu o macarrão. — Reformula Ben, mas sorri.
— Eu não estou com fome.
— É por causa desse cara?
Estamos sentados no restaurante por 45 minutos e esta é a primeira pergunta que Ben faz para mim. O resto do tempo, eu o ouvi falar sobre o tiro no joelho que o impediu de uma bolsa de futebol, e sobre como ele quer ser um advogado criminal em Las Vegas, porque é onde todos os bandidos ricos vivem. Eu não sei se ele não me perguntou nada porque é um narcisista ou porque percebe que eu não gosto de responder a perguntas. De qualquer maneira, ele me serviu muito bem.
Eu suspiro enquanto puxo uma nota de 20 da minha bolsa e lanço-a sobre a mesa. —Nós provavelmente deveríamos começar a ir em breve.
Ele franze a testa quando me entrega o dinheiro de volta. — Meu deleite.
— Eu não vou transar com você.
— Uau! Quem disse alguma coisa sobre sexo? Eu só estou aqui pela refeição e a companhia agradável. — Ele age todo ofendido, mas o brilho em suas íris me diz que ele está brincando. Um bufo pouco atraente me escapa.
— Tudo bem, tudo bem. Companhia medíocre. — Ele enfia um pedaço de pão na boca e acrescenta com um sorriso: — Um pedaço quente de bunda.
— E esse é o Ben que conhecemos e amamos. — Eu confirmo com um aceno de cabeça exagerado e jogando um pacote de açúcar em sua testa.
— Falando sério. — Ben começa quando ele raspa o último monte de macarrão de seu prato. Eu espero pacientemente que ele termine de mastigar e deglutir. — Por que você aceitou sair comigo? Você não superou, obviamente, aquele cara e, mesmo se você tivesse, eu não sou idiota. Eu não sei o que aquele dia no ginásio foi...
Droga. Eu sou óbvia. Espero que não seja para Trent, embora. Eu não quero que ele veja através de mim tão facilmente. Ele vai derreter minhas defesas com aqueles olhos azuis fumegantes. Eu dou de ombros. — Você não me quer, Ben. Tenho sete camadas de fodida com uma cobertura de louca.
Ele sorri, mas eu pego a tristeza em seus olhos quando ele joga para baixo algumas notas para cobrir a refeição. — Eu já sabia disso.
— Bem, então por que você me convidou para sair? Especialmente depois do que eu fiz para você naquele dia no ginásio?
Ele dá de ombros. — À espera de seu próximo momento de loucura? Eu vou ser mais rápido da próxima vez. Dentro e fora. — Começo a rir, a honestidade desavergonhada de Bem é um alívio bem-vindo.
— Eu não sei, Kace. Estou em torno de um monte de vadias e cabeças de vento. Você é diferente. Você é inteligente e engraçada. E você pode diminuir a confiança de um cara como nenhuma outra garota que eu conheci.
— Eu não acho que alguém poderia diminuir essa sua cabeça inchada, Ben.
Ele sorri com arrogância. — Depende da cabeça que você está falando.
***
— Eu ouço que Trent está de volta na cidade? — Storm sussurra para mim enquanto derramo doses de tequila para uma festa de solteiro.
— Ah, é? — Murmuro, franzindo os lábios. Eu não sei mais o que dizer. Eu não esqueci. Não posso passar um minuto sem o seu nome surgindo em minha mente, sem me lembrar de quão incrível seu toque se sente contra a minha pele, sem querer tudo de volta do jeito que foi por esse período curto e mágico de tempo antes que ele rasgasse o meu coração fora do peito e o jogasse para o meio-fio.
Eu o odeio por me fazer sentir assim. Por me dar esperança só para arrancar tudo fora. Por puxar-me para fora da água, me ajudando a respirar de novo, antes de empurrar a cabeça para baixo novamente.
Então, quando eu encontro-o olhando para mim do outro lado do bar perto do fim da noite, eu tenho que me suportar contra o bar, raiva e tristeza batendo em mim com tanta força que eu me esforço para ficar na vertical.
— O que você quer? — Eu assobio.
— Eu preciso falar com você.
— Não.
— Por favor, Kacey. — Esse tom, aquela voz. Já o sinto testando o meu ponto fraco, um lugar para entrar e ganhar de mim. Eu não vou deixar. Não desta vez.
— Você teve três semanas para falar comigo e... oh espera! — Eu bato em minha testa para o efeito. — Você desapareceu da face da terra, porra. Isso mesmo. Eu quase me esqueci.
— Apenas me dê cinco minutos. — Ele implora, inclinando-se para frente.
— Tudo bem! Vá em frente. Este é o momento e lugar perfeito para falar. — Meus braços voam, exagerando o quanto este não é o momento e lugar perfeito para falar.
A mandíbula de Trent fica tensa. — Estou falando sério, Kacey. Cinco minutos, em privado. Eu preciso explicar uma coisa. Eu preciso de... Você.
— Oh, você precisa de mim? Interessante. — Eu forço as palavras com os dentes cerrados. No interior, a cola que me mantém junta luta contra essa palavra. Precisar. Trent precisa de mim. — Tudo bem. — Eu jogo minha toalha para baixo contra o bar e grito. —Volto em cinco minutos, Storm.
Ela olha, vê Trent, olha para mim com preocupação, mas depois concorda.
— Venha comigo. — Eu vibro passando ele, consciente de que Nate e Ben estão seguindo de perto, mas eu continuo. Eu marcho passando Jeff e Bryan, os dois seguranças que vigiam os quartos privados. Eles não tentam me parar. Tenho certeza de que minha espinha rígida e carranca que diz “fique fodidamente longe antes que eu sufoque-o com sua própria língua” tem algo a ver com isso.
Minha perna voa para frente para chutar a porta aberta para um quarto disponível. Girando sobre os calcanhares, eu paro com os braços cruzados sobre o peito, observando o corpo elegante de Trent e seu rosto apreensivo vir em minha direção. Sacudindo a cabeça em direção ao quarto, eu ordeno: — Entre.
— Kacey...
— Você disse privado. Quanto mais privado do que um quarto privado você consegue? — Eu pergunto, meu tom revestido com gelo.
Com um suspiro derrotado e um aceno pequeno de cabeça, Trent passa. Atrás dele, eu vejo Ben se inclinar para dizer alguma coisa para Nate. Ele parece manter o animal na baia. Ben vem na minha direção com um olhar de preocupação. — Você está bem, Kacey?
— O que você acha, Ben?
Seu queixo sulca em pensamento. — Eu acho que vou ficar de guarda aqui fora. Eu não entrarei. A não ser que eu ouça algo que soa negócio ruim, combinado?
— Feito. — Eu ofereço-lhe um pequeno aceno de agradecimento. Eu acho que, depois do nosso passado sórdido, Ben e eu chegamos a um entendimento. Posso até chamá-lo de amigo.
Eu entro furiosa no quarto, batendo a porta atrás de mim. Dentro é um espaço pequeno mal iluminado, com uma poltrona preta e música ambiente, diferente da que toca na área do clube principal. Storm diz que eles têm pessoal para limpar completamente e higienizar os quartos após cada cliente sair. Mesmo se isso não é verdade, agora eu não me importo.
Eu avanço até onde está Trent e empurro-o para trás na cadeira. Então minha mão se atrapalha com o zíper lateral da minha saia.
— O que está... — Trent começa a perguntar, mas suas palavras morrem quando eu solto minha saia e deixo-a cair ao chão. Eu saio da saia ao mesmo tempo em que as minhas mãos se movem para desabotoar a blusa transparente, começando na parte superior, deslizando através dos botões habilmente.
— Kacey, não. — Trent se inclina para frente.
Meu salto alto de três polegadas batendo em seu peito obriga-o de volta em seu assento.
— É por isto que você veio, não é? Isto é o que você precisa? — Meu tom é frio como um congelamento profundo. — O que você sempre quis? — Eu lanço minha camisa no chão e encaro-o com nada vestido exceto o meu sutiã, calcinha, e os saltos. — Esta é a parte em que você me diz que eu sou tão bonita. Então, diga isso. Diga isso para que possamos
acabar com isso, e você possa desaparecer de novo. — Minha voz oscila um pouco no final e eu paro, não confiando nela para continuar.
— Não, Kacey. Eita. — Trent desliza para fora da cadeira de joelhos, com as mãos encontrando seu caminho para as minhas coxas para segurá-las delicadamente.
— Não toque nas meninas. Será que você já esqueceu as regras? — Eu zombo dele.
Seus olhos não deixam os meus, e neles eu vejo uma torrente de emoção indescritível, que ameaça derreter todas as minhas defesas. Eu tenho que quebrar seu olhar e olhar para longe, formando um caroço na minha garganta que eu não consigo enfiar para baixo.
— Eu sinto muito. Nunca quis lhe causar mais dor que você já tem de suportar.
— Sério? Deixar-me uma nota vaga de manhã após o ataque a Storm – após termos sexo pela primeira vez, - e depois desaparecer por quase três semanas, é a sua maneira de não me causar mais dor? — Minha voz racha e eu cerro os dentes. Odeio a minha voz.
Sua cabeça cai para frente contra a minha barriga, enquanto suas mãos deslizam até meus quadris antes de se mudar de volta para as minhas coxas novamente. Elas se sentem tão bem. Eu não quero que elas se sintam bem. Porra, coxas traidoras. Combata-o, Kacey. Combata-o.
— Kacey, eu estava errado.
Eu engulo. — Sobre?
— Sobre pressioná-la, como eu fiz. Eu pensei que se você abrisse o jogo sobre seu passado, eu poderia de alguma forma corrigi-lo para você. Eu não deveria ter continuado pressionando você assim. — Sugo um arfar quando eu sinto um conjunto de lábios quentes trilhando minha barriga. Ele sabe que vai derreter minhas defesas. Ele não está jogando limpo. Pior, neste momento eu não quero que ele jogue de outra maneira. — Eu deveria ter me focado em fazer você feliz. E eu vou. A partir de agora, Kacey. Eu vou. Vou dedicar todos os dias pelo resto de nossas vidas a fazer você feliz. Eu prometo.
Não vou acreditar. Não vou acreditar. — Você já disse isso antes. E então você desapareceu. — Eu não gosto do jeito que meu tom vacila, como eu estou a ponto de chorar. Uma... duas... três... quatro...
Porra. Inútil.
Ele se inclina para trás e as mãos deslizam pelas minhas coxas novamente. Ele não encontra meus olhos, porém, preferindo olhar para o chão entre nós. Quando ele fala, sua mandíbula está definida com uma pitada de raiva. — Kacey, você não é a única com problemas. Estou ferrado, ok? Há coisas sobre meu passado que eu não sei como lhe dizer. Que eu não posso te dizer.
Sua admissão me pega de surpresa. Trent com um passado obscuro? Eu nunca sequer uma vez contemplei isso. Por que eu não contemplei isso? Eu estive tão envolvida em meus próprios problemas que eu nem sequer pensei nos seus, é por isso. Mas o quão escuro poderia seu passado realmente ser? Com um dedo trêmulo, eu alcanço-o e levanto o seu queixo para que sua cabeça se incline para trás, de modo que essas bonitas íris azuis possam me puxar para dentro. Ele parece tão equilibrado, tão bem ajustado, tão perfeito.
— Eu nem uma vez pressionei você para divulgar seus esqueletos. — Digo, meu tom mais suave, sem amargura.
— Eu sei. Eu sei, Kace. — Trent aperta minhas coxas enquanto me puxa para mais perto dele. Seus dedos deslizam para cima para agarrar meus quadris em sua totalidade, os polegares deslizando ao longo do meu osso pélvico, acendendo uma pequena faísca de necessidade misturada entre estas chamas emocionais já queimando brilhantes. Minhas mãos instintivamente deslizam para baixo para cobrir as suas.
Ele continua. — Depois daquela noite, eu... Eu pensei que tinha pressionado demais. Eu pensei que causei o que aconteceu na noite que Storm foi atacada.
Eu tremo com a lembrança. Meu lado escuro. Meu lado assassino. — Você não causou isso, Trent. Fui eu, finalmente ficando desequilibrada.
— Eu sei, querida. Sei disso agora. Mas eu tinha que ir embora e pensar. Eu tive que ir embora por um tempo e...
— Você poderia ter me mandado uma mensagem.
— Eu sei. Estraguei tudo. Sinto muito. Eu só não sabia como explicar por que eu fugi. Eu estava com medo. — Um olhar me mostra as lágrimas em seus olhos. Toda minha raiva extingue, todas as minhas defesas quebram.
Eu não consigo ver Trent assim.
— Não, está tudo bem. — Minha mão acaricia a sua nuca com nada além de compaixão enquanto minha outra mão limpa suas lágrimas. Quem é essa pessoa falando? Ela
não é a que correu em torno do apartamento em um discurso inflamado, perseguindo as notícias, e pronta para mutilar bonecos Ken.
— Eu sinto muito, Kacey. Vou parar de pressionar você. Sem mais conversa do passado. Nenhuma. Apenas o futuro. Por favor? Eu preciso de você.
Mais uma vez, a palavra precisar. Eu não posso nem falar. Eu apenas aceno.
Mas isso é o suficiente para Trent. Dedos fortes flexionam em meus quadris puxando-me para baixo. De bom grado caio de joelhos. Trent me puxa para ele, para os nossos corpos se segurarem firmes um contra o outro. Mãos quentes encontram o seu caminho através de minhas costas nuas para desabrochar meu sutiã. Ele lança-o de lado e chega à frente para embalar meus seios, ao mesmo tempo em que sua boca finalmente encontra a minha.
A sensação de seus lábios envia uma onda de fome incontida pelo meu corpo em um tremor. Três semanas sem isso. Eu não sei como sobrevivi. Eu estendo a mão e me atrapalho com a sua camisa. Eu quero-o. Agora. Quero a minha pele nua contra a dele. Agora.
Como se sentindo a urgência, ele se afasta da minha boca tempo suficiente para arrancar a camisa sobre a cabeça e, em seguida, mergulha de volta, pressionando seu peito contra o meu enquanto deslizo perto dele. — Kace. — Ele sussurra, seus lábios avidamente deslocando para o meu pescoço enquanto uma mão se move para cima da minha coxa para deslizar sob minha calcinha. Eu suspiro quando seus dedos hábeis me tocam. — Eu nunca vou deixar você ir de novo. Nunca.
Meu coração dispara quando eu balanço para trás e para frente contra sua mão, quando eu sussurro seu nome, quando me atrapalho com o zíper, deixando as últimas três semanas desaparecerem no poço do passado.
Capítulo 16
— Eu fiz isso? — Faço uma carranca quando meu dedo toca o lado do rosto de Trent, onde um vergão vermelho se formou.
Ele estremece. — Livie tem um gancho de esquerda poderoso.
— Sério? — Eu me endireito para obter uma melhor olhada. E de Trent, em geral. De todo o seu corpo nu, deitado no chão acarpetado do quarto V.I.P mal iluminado. Eu não ouço o pulso constante de música no clube mais. Isso deve significar que o local está fechando. Eu não sei quanto tempo nós estivemos aqui. Ben não nos incomodou embora. Não que eu notei de qualquer maneira.
Trent começa a falar e para diversas vezes. — Quando você deixou o seu lugar com o babaca, Livie saiu e me perseguiu na zona comum, gritando para mim que eu quebrei seu coração. Então ela ganhou impulso e me deu um soco e me disse que é melhor eu ir e fazer você feliz novamente. Para sempre.
Minha cabeça cai no peito nu de Trent enquanto eu rio. — Eu acho que o meu temperamento pode finalmente estar passando para ela. — Eu reproduzo suas palavras em minha cabeça enquanto me aconchego em Trent, inalando seu cheiro. — Para sempre é muito tempo.
Os braços de Trent apertam em volta de mim. — Para sempre não é o suficiente quando se está com você.
***
— Você acha que se eu for lá agora, Livie vai me bater de novo?
— Tudo é possível. Mas eu me sinto muito feliz agora. — Eu sussurro, esticada na cama.
Os braços de Trent levantam e dobram atrás de sua cabeça, servindo de berço à sua nuca, um sorriso arrogante curvando seus lábios. — Eu certamente espero que sim. Tentei o meu melhor. Cinco vezes na noite passada, eu acho? Se isso não consertar você...
Eu me levanto e jogo uma perna sobre seu corpo para ficar em cima dele, arqueando minha testa. — Oh, você me consertou ontem à noite. Hoje a história é diferente.
Olhos famintos roçam o comprimento do meu corpo e depois se estabelecem em meu rosto com uma sobrancelha levantada. — Sério?
Eu dou de ombros e depois pisco secretamente.
Ele ri, enquanto suas mãos empurram através de seu cabelo, deixando-o uma desordem selvagem. — Eu ouvi que as ruivas eram loucas, mas cara, ninguém me avisou que vocês eram demônios sexuais.
Eu belisco seu nariz de brincadeira. Com um rugido, ele rola e me prende nas minhas costas, sustentando-se até ficar em cima de mim, alto o suficiente para me dar visão ampla de sua totalidade. Com um sorriso irônico, eu lanço minhas pernas em volta de sua cintura e puxo-o para baixo para me encontrar.
***
As semanas voam, e Trent fica. Ele permanece em nosso apartamento a maioria das noites agora. Ele normalmente fica no clube até o final da noite, sentado e olhando para mim calmamente com aquele olhar intenso e provocante que faz meus joelhos se dobrarem, porque eu sei o que me espera quando chegar em casa. Ele fica e ele me faz feliz. Mais feliz do que eu fui em um longo tempo. De muitas maneiras, mais feliz do que nunca. Ele me faz rir. Ele me faz sorrir. Ele me faz sentir de novo. E a cada noite, ele leva meus pesadelos para longe. Nem todos eles. Mas eles não se repetem diariamente mais. E quando eu acordo, encharcada de suor e com falta de ar, Trent está lá para me segurar e acariciar meus cabelos, me prometendo que acabou, e que o que ele e eu temos é real.
A cada dia, pequenos pedaços da Kacey de Antes caem no lugar. Ou talvez saiam de seu esconderijo. Talvez Kacey Cleary estava enterrada em algum lugar dentro de mim todo esse tempo, apenas esperando a pessoa certa para tirá-la das águas profundas e escuras.
Para salvá-la do afogamento.
Eu não noto as peças no início, mas Livie com certeza sim. Eu pego ela me olhando o tempo todo - quando eu estou preparando-me um sanduíche, quando estou limpando, quando eu estou comprando - um sorriso secreto tocando seus lábios bonitos. Quando pergunto a ela o que está acontecendo, ela apenas balança a cabeça e diz: — Kacey está de volta. — E ela está feliz.
Storm e Dan estão indo fortes. Creio que Storm pode estar apaixonada, embora ela não vá admitir isso, por medo de azará-lo. Eu posso dizer que Dan está completamente apaixonado por ela e Mia pela forma como ele as observa, um pequeno sorriso sempre tocando seus lábios. E Mia?
Bem, uma manhã, Trent e eu acordamos com Mia pairando sobre a nossa cama com um sorriso desdentado e dois quartos de dólar na palma da sua mão. — Olha, Trent! Vendi meus dentes a noite passada! — Tudo o que eu poderia fazer é rir. Rir e me lembrar de conseguir uma tranca para a porta para que Mia não aprenda mais palavrões de mim. Ela é a criança mais feliz que eu já vi, porque ela está cercada de pessoas que a amam.
Fiel à promessa de Storm, eu estou fazendo mais dinheiro no Penny do que eu poderia sonhar em fazer em outro lugar. Meu extrato bancário cresce consideravelmente a cada semana. Mais dois anos disso, e eu vou ser capaz de pagar o primeiro ano de Livie em Princeton. Eu ainda estou apostando na bolsa de estudos, o que é uma boa possibilidade. Livie é tão inteligente e tão boa. E tão merecedora.
Tudo é perfeito.
***
— Por que temos de estar no Penny três horas mais cedo? — Eu gemo, puxando meu casaco contra o meu corpo quando uma suave brisa fria de dezembro passa através do meu corpo. Há um tempo anormalmente frio vindo através Miami para esta época do ano, eu ouvi. Ainda é brando quando comparado com Michigan, mas, mesmo assim, cria arrepios na minha pele.
— Treinamento de licença do licor. Fazemos isso a cada dois anos. Qualquer um que serve necessita passar pelo curso. — Storm explica.
— Três horas sobre como preparar uma bebida? Sério?
— Não se preocupe. — Diz ela enquanto bate na porta traseira do Penny. — Eles permitem que você experimente também.
— Ótimo. Eu vou estar falando arrastado antes de nosso expediente começar. — Resmungo com um aceno rápido para Nate quando eu passo. Dentro está escuro e silencioso. Eu nunca estive no Penny quando está tranquilo. — Onde estão todos? Isto está me assustando.
— Junto ao bar. — Nate burburinha atrás de mim e me cutuca com sua mão para frente. Eu espreito por cima do meu ombro e sua boca se abre para revelar dentes brancos. Eu não posso acreditar que costumava ter medo deste ursinho gigante.
Nós viramos a esquina para a área principal mal iluminada do clube.
— Surpresa! Feliz Aniversário!
Eu salto para trás e bato em Nate, que envolve seu braço-grande-que-nem-um-tronco frouxamente em torno de mim, enquanto sua risada profunda reverbera no teto. Todo mundo está lá, de pé no palco, sob as luzes no local. Trent, Livie, Dan, Cain, Ben. Mesmo Tanner.
E Mia! Ela está ao lado, dançando em círculos com Ginger e um monte de outras dançarinas totalmente vestidas que eu não reconheço.
— Você está surpresa? — Storm dá risadinhas enquanto agarra meu braço e me puxa para frente. — Livie nos disse que você fazia 21 anos em breve e nós queríamos fazer uma surpresa. Cain ofereceu para preparar uma festinha aqui.
Como se chamado, Cain aparece e joga seu braço por cima do meu ombro. — Espero que você esteja bem com uma festa de aniversário no Penny. Nós imaginamos que seria uma surpresa garantida.
Eu me encontro lutando para falar, não tenho certeza de como responder enquanto observo as pessoas. — É claro que eu estou. Obrigada.
Ele me entrega um envelope. — Vinte e um só vêm uma vez, querida. Você é uma boa trabalhadora e cuida da minha Storm. Aqui está algo pequeno de todos. Saboreie a comida, o vinho. Tudo. Tome a noite de folga. — Ele aperta minha bochecha e depois se vira para Storm. — Mantenha essa sua princesinha longe do palco, você está me ouvindo? Não quero ela ficando com ideias.
Ela revira os olhos. — É claro, Cain.
Eu balanço minha cabeça enquanto o observo ir embora. Ele é um cara estranho. Ouvi-lo dizer isso, dado que este lugar é a vida dele, e que ele emprega todos estas dançarinas para fazer exatamente isso - estar no palco - suas palavras são simplesmente estranhas.
Esse pensamento desaparece, enquanto eu assisto Trent encontrar o seu caminho até mim com um sorriso sedutor e duas taças de champanhe nas mãos. — Você sabe que eu não bebo, Trent. — Eu digo e pego uma.
— E você sabe que eu não bebo, Kacey.
Sorrimos um para o outro quando ele enrola o braço livre em volta da minha cintura e me puxa para ele, beijando meu pescoço. — O meu plano funcionou? Eu já fiz você feliz? — Ele sussurra em meu ouvido.
Minha respiração embaraça. É sempre assim quando Trent está próximo. — Eu não posso nem começar a descrever o quanto.
Seu nariz frio roça minha bochecha. — Experimente.
— Bem... — Eu me inclino para frente, pressionando-me contra ele. Eu não sei como é possível, mas as faíscas elétricas percorrem-me cada vez que o faço como se fosse a primeira vez. — Melhor ainda, que tal eu mostrar a você quando voltarmos para casa?
Sinto sua resposta a minha implicação escavando em meu estômago e eu rio, ainda em choque que este cara lindo, doce e diabólico é todo meu. Ele tiniu seu copo contra o meu. — Um brinde aos próximos 80 anos. — Ele murmura, inclina o copo para trás e toma um gole.
— Oitenta? Deus, você é otimista. Eu acho que você é bom por mais dez, e então eu vou ter que trocar você por um modelo mais jovem.
Ele se inclina e beija minha boca e eu provo a doçura do champanhe em sua língua. — Boa sorte com isso. Eu não vou a lugar nenhum.
***
Meus dedos se entrelaçam juntos enquanto viajo de volta com Trent, a brisa da noite beliscando minhas bochechas. Por muito tentada que eu esteja em deixar minhas mãos vagarem, eu sei melhor do que distrair Trent enquanto ele está dirigindo. Posso esperar até chegar em casa, mas por pouco. Livie e Mia estão no carro de Dan, seguindo atrás de nós. Storm decidiu trabalhar. Ela prometeu que amanhã teríamos um dia de meninas.
Trent estaciona a moto e eu saio. Não vou muito longe, porém, antes de ele agarrar a frente da minha calça jeans no zíper, e puxar-me de volta para ele. — Ficamos ou saímos hoje à noite? — Seus dentes beliscam levemente meu pescoço.
— Que tal ambos. Primeiro saímos, e depois ficamos dentro.
— Isso não faz sentido. — O som de sua risada contra a minha orelha provoca arrepios pelo meu corpo. Eu rio. Então empurro-o forte e ele cai para a grama. Eu começo a correr. — Se você conseguir me pegar, você pode escolher. — Eu consigo enfiar a chave na fechadura, antes de ele me alcançar. Estou correndo através da área comum para nossos apartamentos, gritando com antecipação, à espera de sentir as mãos fortes agarrar-me a qualquer segundo.
Quando não o fazem, eu desacelero e olho para trás. Trent está em pé no meio da área comum, congelado, com o rosto pálido como se tivesse visto um cadáver.
— Trent? — Eu ando de volta para ele. Seguindo seu olhar fascinado, descubro um velho casal bem vestido em pé a dez metros de distância, nos observando. Na minha corrida louca, eu não os tinha notado mais cedo.
A aparência do homem me parece muito familiar e eu rapidamente percebo porque. Ele tem os olhos e a boca de Trent. Olhando para a mulher, seu cabelo puxado em um coque sofisticado, reconheço o nariz estreito de Trent.
— Trent, estes são os seus pais? — Sem resposta.
Eu secretamente tenho morrido de vontade de conhecer seus pais. Seu pai é um advogado figurão em Manhattan, sua mãe dirige uma agência criativa. Ela direciona um monte de contratos de trabalho para Trent. É assim que ele recebe seus clientes. Eu sei que eles estão divorciados e ainda aqui estão. Juntos. Um pouco de medo serpenteia por mim. Deve ser uma notícia ruim se eles viajaram até aqui juntos.
Trent ainda não se moveu e isso agora é além de estranho. Eu não sei por que ele está agindo da maneira que ele está. Não parecia que havia sangue ruim entre eles. Alguém precisa fazer alguma coisa. Dou um passo em frente com um sorriso educado e estendo minha mão. — Oi, eu sou Kacey.
Sinto meu sorriso escorregar quando o rosto da mãe de Trent fica de cinco tons. Ela fecha os olhos e aperta-os fechados, como se estivesse com dor. Quando os abre de novo, eles estão brilhando com lágrimas. Ela se vira para Trent e engole, suas palavras quase um sussurro e cheias de angústia: — Como você pôde, Cole!
Esse nome.
Meu coração para de bater completamente.
Quando começa de novo, é um ritmo lento e irregular. — O que? — Eu coaxo. Viro-me para encontrar o rosto de Trent torcido com medo e culpa, mas eu ainda não entendi. — O que... por que ela te chamou assim, Trent?
Seus olhos brilham quando seus lábios se abrem para sussurrar: — Eu só queria te fazer feliz novamente, Kacey. É a única maneira que eu posso corrigir isso.
Fase Sete Colapso
Capítulo 17
Eu estou caindo.
Caindo para trás na água profunda, escura. Ela está derramando sobre mim, dentro de mim, pela minha boca, no meu nariz, enchendo meus pulmões, terminando a minha vontade de respirar, de viver.
Eu aceito isso. Dou as boas-vindas a isso.
Na distância, eu ouço vozes. Ouço as pessoas chamando meu nome, mas eu não posso encontrá-las. Elas estão seguras, sobre a água. Em outro mundo. O mundo dos vivos.
Não há lugar para mim lá.
***
— Quando ela vai acordar? — Eu ouço Livie perguntar acima do suave sinal sonoro rítmico. Eu tinha ouvido o suficiente dessas máquinas em outra época para reconhecê-lo
pelo que ele é, um IV hospitalar. Se isso não me dá uma dica de onde eu estou, o odor estéril enjoativo hospitalar dá a certeza.
— Quando sua mente estiver pronta. — Uma voz masculina desconhecida explica. —Kacey entrou em choque psicológico grave. Fisicamente, ela está bem. Estamos apenas garantindo que seu corpo fique hidratado e nutrido. Agora temos que esperar.
— Isso é normal?
— Pelo que eu entendo, sua irmã sofreu uma experiência traumática há quatro anos e nunca se recuperou emocionalmente disso.
As vozes param tempo suficiente para que eu ouse abrir minhas pálpebras. As paredes brancas e amarelas enchem minha visão turva.
— Kacey! — O rosto de Livie aparece de repente. Seus olhos estão inchados e forrados com anéis escuros, como se ela não tivesse dormido em dias, com as bochechas vermelhas e manchadas de chorar.
— Onde estou? — Eu pergunto, minha voz saindo rouca.
— Um hospital.
— Como? Por quê?
A boca de Livie cai aberta por um segundo antes de ela fechá-la novamente, tentando agir com calma. Para meu benefício. Eu sei disso. Conheço minha Livie. Sempre tão altruísta. Sempre tão carinhosa. — Você vai ficar bem, Kacey. — Suas mãos se atrapalham com meus cobertores para encontrar meus dedos. Ela aperta. — Você vai conseguir ajuda. Eu nunca vou deixar Trent te machucar novamente.
Trent. Esse nome ataca o meu corpo como mil alfinetadas. Eu sacudo em resposta.
Trent é Cole.
Trent destruiu minha vida. Duas vezes.
De repente, eu estou com falta de ar, a realidade apertando meus pulmões. — Como... — Eu começo a dizer, mas não posso falar, porque eu não consigo respirar. Como é possível Trent ser Cole? Como ele me encontrou? Por que ele me encontrou?
— Respire, Kacey. — Livie aumenta seu aperto em mim, rastejando para se deitar ao meu lado e eu percebo que estou hiperventilando.
— Eu não posso, Livie. — Eu clamo, lágrimas queimando meu rosto. — Estou me afogando.
Os soluços enchem a sala.
Ele sabia. Toda vez que ele fingiu ser atencioso e simpático e não saber do meu passado, ele é a causa do meu passado. Foi seu carro, seu amigo, sua noite de bebedeira que roubou minha vida de mim.
— Está tudo bem, Kacey. Você está segura. — Os braços de Livie abraçam o meu corpo ao dela, seu peso descansando contra mim para impedir meu corpo de tremer.
Ficamos assim por alguns minutos. Horas. Uma vida inteira. Eu não sei. Nada muda. Nada até Storm entrar no quarto do hospital, ofegante como se tivesse acabado de correr uma maratona, uma selvageria em seus olhos como eu nunca tinha visto antes. — Eu sei, Kacey. Eu sei o que aconteceu com você. Eu sei tudo, agora. — As lágrimas derramam sobre suas bochechas. Ela sobe para o outro lado da minha cama e agarra minhas mãos. Nós três ficamos assim deitadas como sardinhas.
Sardinhas emaranhadas e soluçantes.
***
Um som de assobio...
Luzes brilhantes...
Sangue...
O belo rosto de Trent, com as mãos no volante.
Apontando para mim.
Rindo.
— Kacey! — Algo afiado bate em meu rosto. — Acorde!
Eu ainda estou gritando mesmo quando os olhos esbugalhados de Livie entram em foco diante de mim, e as máquinas em torno de mim. Uma dor aguda morde minha bochecha. Eu levanto minha mão para testar.
— Me desculpe, eu tive que te dar um tapa, mas você não parava de gritar. — Livie explica através de suas lágrimas.
Os pesadelos estão de volta, só que é pior. Um milhão de vezes pior.
— Você não parava de gritar, Kacey. Você precisa parar. — Livie suga um soluço agudo enquanto se enrola em minha cama ao meu lado e começa a balançar, murmurando para si mesma: — Por favor, ajude-a. Deus, por favor, ajude-a.
***
— Que hospital é esse, de novo? — Estou aqui há dois dias e Storm e Livie não deixaram minha cama a não ser para usar o banheiro ou pegar água e alimentos.
Storm e Livie compartilham um olhar longo e nervoso. — Um especializado. — Livie diz lentamente.
— Em Chicago. — Storm acrescenta, erguendo um pouco o queixo.
— O que? — Minha voz reúne mais força por trás do que eu achava possível. Eu me esforço para sentar-me na cama. Me sinto como se tivesse sido atropelada por um caminhão.
Livie corre para acrescentar: — Há uma clinica de T.E.P.T. próxima. É suposto ser o melhor do país.
— Bem... o que... como... — Eu finalmente me puxo na vertical, com a ajuda da grade da cama. — Desde quando a saúde pública cobre a melhor clínica T.E.P.T. no país?
— Calma, Kacey. — Storm gentilmente me empurra de volta para baixo em uma posição deitada. Eu não tenho a força para lutar contra ela.
— Uh, não, eu não posso me acalmar. Nós não podemos pagar por isso... — Me atrapalho com meu IV, xingando a mim mesma.
— O que você está fazendo? — Livie pergunta, pânico em sua voz.
— Rasgando esta maldita coisa fora do meu braço e dando o fora deste ninho de cuco de luxo. — Eu dou um golpe em sua mão quando ela tenta me parar. — O que isso está custando, hein? Cinco mil por noite? Dez?
— Shhh, não se preocupe com isso, Kace. — Storm alisa o meu cabelo.
É sua vez de ter um golpe na mão. — Alguém tem que se preocupar com isso! O que diabos eu vou fazer? Fixar residência permanente no quarto V.I.P. do Penny vestindo nada além de joelheiras para que eu possa pagar a conta!
— Eu vejo que a nossa paciente está acordada? — A voz suave desconhecida de antes interrompe, e para o meu surto. Me viro para ver um homem de aparência decente, mais velho com uma linha do cabelo recuada e olhos cor de carvão gentis estendendo sua mão em minha direção. Eu não o tinha ouvido entrar. — Olá, eu sou o Dr. Stayner. — Olho fixamente a mão como se estivesse coberta de manchas e pus escorrendo até que ele a retira. — Sim, é isso mesmo. Seu problema com as mãos.
Meu problema com as mãos? Eu faço uma carranca para Livie e ela desvia o olhar.
Se isso incomoda o médico, eu não posso dizer. — Kacey. Seu caso foi trazido a mim por...
— Dan. — Storm o interrompe, seus olhos deslocando entre o médico e Livie.
— Certo. Dan. — Ele limpa a garganta. — Eu acho que posso ajudá-la. Acho que você pode viver uma vida normal novamente. Mas eu não posso ajudar, se você não quer ser ajudada. Entendeu? — Eu sou deixada boquiaberta para este homem que se chama médico e de forma tão clara não pode ser. Que tipo de médico entra em uma sala e diz isso?
Quando eu não respondo, ele anda até ficar olhando para fora da janela gradeada. —Você quer ser feliz de novo, Kacey?
Feliz. Há essa palavra. Eu pensei que eu era feliz. E então Trent me destruiu. Novamente. Eu me apaixonei pelo assassino da minha família. Passei noite após noite com ele perto de mim, dentro de mim, sonhando com um futuro com ele. Bile sobe para a minha garganta com o pensamento.
— A exigência da minha sessão de terapia é que meus pacientes falem, Kacey. — Explica o Dr. Stayner sem uma pitada de sarcasmo ou aborrecimento em sua voz. — Então, eu vou perguntar de novo. Você quer ser feliz?
Deus, esse cara é insistente. E ele vai me forçar a falar. É disso que se trata. Por que todos insistem em reviver o passado? Está feito. Terminado. Nenhuma quantidade de falar vai mudar isso, não vai trazer ninguém de volta. Por que eu sou a única que vê isto?
Essa dormência reconfortante está de volta e escorrendo nas minhas pernas e no peito, formando um revestimento duro gelado sobre meu coração. Defesa natural do meu corpo. Dormência para tirar a dor. — Não há tal coisa como ser feliz para mim. — Minha voz é fria e dura.
Ele se vira para mim de novo, seus olhos gentis tingidos com pena. — Oh, há, senhorita Cleary. Vai ser uma batalha difícil, e eu vou testá-la em cada passo do caminho. Eu posso ser pouco convencional com meus métodos. Com você, eu vou fazer coisas que são questionáveis. Você pode me odiar às vezes, mas eu e você vamos chegar lá juntos. Você só tem que querer. Não vou mover você para a minha clínica até que voluntariamente concorde com tudo.
— Não. — Eu rosno desafiadoramente, a própria ideia de ir a qualquer lugar com este novo charlatão ultrajante.
Ouço um som de asfixia ao meu lado. É Livie, lutando para manter a calma. — Kacey, por favor. — Ela pede.
Eu ergo meu queixo teimosamente, ainda que me machuque vê-la assim.
Ela vê minha reação impensada e uma fúria repentina e rara surge em seus olhos. —Você não é a única que perdeu seus pais, Kacey. Isto não é mais apenas sobre você. — Ela salta para fora da minha cama e paira sobre mim, seus punhos apertados. E então ela se enfurece como eu nunca vi antes. — Eu não aguento mais! Os pesadelos, a luta, a distância. Eu tive que lidar com isso por quatro anos, Kacey! — Livie está histérica agora, derramando lágrimas livremente, gritando, e eu fico esperando que a segurança entre a qualquer segundo. — Quatro anos assistindo você indo e vindo em minha vida, querendo saber se hoje é o dia que eu vou encontrá-la pendurada em um armário ou flutuando em um rio. Percebo que você estava naquele carro. Percebo que você teve que ver tudo. Mas e sobre mim? — Ela engasga, a fúria que alimentou aquela explosão fugindo, deixando-a com uma aparência drenada e miserável. — Eu continuo a perder-lhe uma e outra vez e eu não aguento mais!
Suas palavras me batem na cabeça como uma marreta. Eu pensei que meu coração já estava quebrado, mas não estava. Não completamente.
Não até agora.
— Eu sei o que aconteceu na noite que Storm foi atacada, Kacey. Eu sei. — Diz Livie, me olhando com um olhar significativo. Storm. Atiro um olhar na direção dela, e Livie repreende-me com um dedo balançando. — Não se atreva a criticar Storm por dizer-me, Kacey Delyn Cleary. Não se atreva. Storm contou-me, porque ela se preocupa com você, e ela quer que você obtenha ajuda. Você quase atacou um homem com uma garrafa de cerveja quebrada. Nós não vamos continuar a ajudar você a evitar a sua merda, entendeu? — Livie sem graça enxuga as lágrimas. — Eu não vou fazer mais isso.
Eu disse a mim mesma uma e outra vez que isto era tudo por Livie. Tudo o que eu tenho feito é para proteger Livie. Se eu vê-la agora, se eu olhar para o que Livie teve de lidar, eu me pergunto se foi tudo sobre como proteger a mim mesma? Eu sei que Livie perdeu os pais. Eu sei que ela perdeu a mim também, de certa forma. Mas eu já considerei realmente o que ela sente? Tentei me colocar no lugar dela? Achei que o lugar de ninguém era tão ruim quanto o meu, que me afundava para baixo como blocos de cimento. E Livie nunca demonstrou nada. Ela sempre foi tão forte e equilibrada. Ela sempre foi Livie - com ou sem os meus pais. Eu só pensei...
Eu não pensei... Meu Deus! Eu realmente nunca pesei minhas ações, todas as minhas reações, e o que elas fazem para Livie. Eu apenas pensei que se eu estava de pé e respirando, então eu estava aqui para ela. Para Livie. Mas de uma maneira, eu nunca estive.
De repente, eu quero morrer.
Eu sinto minha cabeça subindo e descendo, toda a resistência desaparecendo quando um novo nível de dor surge. Consciência. Tudo que eu sempre disse a mim mesma é que eu queria proteger a minha irmãzinha da dor, mas não foi sobre protegê-la. Eu estava me protegendo. Tudo o que eu continuo fazendo é causar dor para ela. Para todos em minha vida.
— Bom. — O Dr. Stayner aceita isso como um acordo. — Vou preparar o seu quarto. A primeira parte de sua terapia vai começar agora. — Estou abalada sobre quão rapidamente ele parece reagir. Eficiente e profissional, mas ao mesmo tempo como um tornado, mergulhando para causar estragos. Ele suavemente caminha até a porta e alguém entra.
Não. Eu recuo na minha cama e aperto as mãos de Livie até que ela choraminga um pouco. Bom Deus, por favor... não! Ele não faria isso.
Uma versão mais velha de Trent vira a esquina e entra no meu quarto, tristeza estragando suas belas feições.
O pai de Trent.
O pai de Cole.
Foda-se. Eu nem sei mais do que chamá-lo.
— Eu quero que você ouça o que o Sr. Reynolds tem a dizer. Nada mais. Basta ouvir. Você consegue isso? — O Dr. Stayner me pergunta.
Eu acho que assinto, mas não tenho certeza, estou muito ocupada olhando para o rosto desse homem, o quanto ele me faz lembrar do rosto dele. Seus olhos em que eu caí dia após dia. Feliz. Apaixonada. Sim. Apaixonada. Eu estava apaixonada por Trent. Pelo assassino da minha vida.
— Nós vamos ficar aqui com você o tempo todo. — Storm diz, segurando na minha mão livre.
O Pai de Trent/Cole limpa a garganta. — Olá, Kacey.
Eu não respondo. Só vejo-o deslizar as mãos nos bolsos e mantê-las lá. Assim como seu filho faz. — Meu nome é Carter Reynolds. Você pode me chamar de Carter.
Um arrepio percorre meu corpo ao som do nome dessa família.
— Eu quero pedir-lhe desculpas por tudo o que meu filho fez você e sua irmã passarem. Eu tentei fazer isso há quatro anos, mas a polícia emitiu as ordens de restrição. Minha família e eu respeitamos a sua privacidade então. Infelizmente, Cole... Trent, desde então, prejudicou vocês de novo.
Ele dá alguns passos para dentro do quarto até que está no final da minha cama, lançando um olhar furtivo para o Dr. Stayner, que apenas sorri para ele. — Foi o nosso carro... Meu carro... Que Sasha dirigia na noite do acidente. — Uma careta pisca em seu rosto. — Eu acho que você sabia disso, no entanto, certo? Os papéis do seguro teriam especificado isso.
Há uma pausa como se ele estivesse esperando por mim para reconhecer essa informação. Eu não o faço.
— Perdemos Cole após o acidente. Ele deixou de existir. Ele saiu da Michigan State, saiu do futebol, cortou todo o contato com seus amigos. Ele deixou a namorada de quatro anos e parou de beber completamente. Ele mudou seu nome de Cole Reynolds para Trent Emerson - seu nome do meio e sobrenome de solteira de sua mãe.
Carter faz uma pausa, seus lábios pressionando juntos em uma pequena carranca. —Esse acidente separou nossa família. Sua mãe e eu nos divorciamos um ano mais tarde. — Ele acena sua mão com desdém. — Isso não importa. O que eu quero que você saiba é que Cole... er... Trent é um jovem problemático. Dois anos após o acidente, encontrei-o na minha garagem com o carro ligado e um tubo conectado ao tubo de escape. Nós pensamos que o perderíamos para sempre naquela noite. — A voz de Carter racha com emoção e eu sinto um pico indesejado de dor sobre a imagem na minha cabeça. — Logo depois disso, ele entrou no programa do Dr. Stayner de internação para transtorno de estresse pós-traumático. — Mais uma vez, Carter olha para o médico para vê-lo sorrindo e acenando. — Quando eles soltaram Trent, foi com um selo de aprovação. Tínhamos certeza de que ele havia se recuperado. Ele ria e sorria de novo. Ele começou a chamar-nos regularmente. Ele se matriculou em uma escola de design gráfico, em Rochester. Ele parecia ter seguido em frente. Ele até participou de programas ambulatoriais e grupos de terapia para ajudar os outros a superar sua tristeza.
— Então, há seis semanas, parecia que ele estava tendo uma recaída. Ele apareceu na porta de sua mãe, resmungando algo sobre você e como você nunca ia perdoá-lo. Nós o trouxemos aqui e ele entrou de novo para o programa do Dr. Stayner.
Eu luto muito para esconder o choque do meu rosto. Então, todo o tempo que Trent estava desaparecido, ele estava aqui, em Chicago. Em um hospital de T.E.P.T., a coisa da qual ele tinha insistido em me curar.
— Poucos dias após ser liberado, Trent estava em êxtase novamente. Nós não conseguíamos descobrir por que. Nós pensamos que talvez ele estivesse maníaco ou drogado. O Dr. Stayner disse não para ambos. Ele não poderia nos dizer o que estava acontecendo por causa do privilégio médico-paciente.
— E eu não sabia o que estava acontecendo, para ser claro. Trent escondeu informação crítica de suas sessões comigo, sabendo que eu não iria aprovar. — Interrompe o Dr. Stayner.
— Certo. — Carter acena a cabeça em concordância. — Nós descobrimos três dias atrás, quando sua mãe encontrou a recepcionista daqui e ela perguntou se Trent e Kacey tinham voltado. Ela não pensou muito disso, dado que Trent tinha falado que tinha uma namorada chamada Kacey e que eles estavam tendo problemas. Eu acho que ele sentiu que dizer à recepcionista era de baixo risco.
Carter suspira. — Quando meu filho saiu do programa de internação, há dois anos, ele o fez com a convicção de que, se ele pudesse consertar sua vida, ele seria perdoado por toda a dor que ele tinha causado. — Ele olha para o chão agora, quando uma sombra de vergonha atravessa seu rosto. — Meu filho esteve observando você a uma certa distância por dois anos, Kacey. Ganhando tempo até que ele se aproximou de você.
Eu dificilmente notei Livie escavando os dedos no meu antebraço. Embora eu não consiga sentir muito, os picos de conhecimento surgem dentro de mim. Trent estava me seguindo? Me perseguindo? Tudo porque ele quer consertar o que quebrou? Eu quero fazer você feliz. Fazer você sorrir. Suas palavras reproduzem na minha cabeça. Tudo faz sentido agora. Ele realmente fez. Ele estava em uma missão para me corrigir.
— Sua mãe e eu não tínhamos ideia, Kacey. Honestamente. Mas Trent cuidou de você durante os últimos dois anos. Ele conhecia alguém da escola que poderia hackear seu e-mail. Foi assim que ele descobriu que estava se mudando para Miami. Nós não tínhamos ideia de que ele tinha saído de Nova York. Mas ele deixou o seu condomínio e sua vida para vir segui-la com a noção de que, se ele pudesse consertar sua vida, ele seria perdoado. Nós conversamos diariamente por e-mail e correio de voz. Ele até chegou a visitar sua mãe uma vez.
— Então, eu era um projeto. — Murmuro para mim mesma. Um projeto de paz.
Náuseas. Isso é tudo o que eu sinto agora. Bile espessa sobe pela minha garganta quando compreensão me atinge. Ele nunca se importou comigo. Eu era uma etapa em um fodido programa de doze passos que ele criou em sua cabeça. — Isso não importa. — Minha voz é oca. Isso realmente não importa.
Trent e tudo de bom que ele trouxe para a minha vida está morto. Nunca esteve realmente vivo.
Storm fala agora, pela primeira vez desde que Carter entrou: — Kacey, Dan quer prestar queixa contra Trent. O que ele fez é errado e ilegal e fodido em muitos níveis. Ele merece ir para a cadeia.
Eu sorrio para mim. Storm nunca xinga. Ela deve estar muito louca.
— Mas eu fiz-lhe esperar para denunciá-lo até que você estivesse se sentindo melhor e que você poderia tomar a decisão. Eu pensei que deveria ser sua decisão. — Ela acrescenta com um rosnado baixo: — Mesmo que eu queira dar um tiro na cabeça do desgraçado.
Concordo com a cabeça devagar. Denuncie Trent. Acuse Trent. Trent vai para a cadeia.
— Sua mãe e eu entendemos se você quiser prestar queixa. — Carter diz com calma, mas eu vejo seus ombros descerem com o pensamento desse destino para seu filho.
— Não. — A palavra me surpreende quando deixa os meus lábios.
A sobrancelha de Carter curva, surpreso. — Não?
— Kacey, você tem certeza? — Livie pergunta, sua mão apertando a minha.
Eu olho para ela e aceno. Eu não tenho ideia por que, mas sei que eu não quero fazer isso. Tenho certeza de que odeio Trent. Tenho certeza que eu tenho que odiá-lo, porque ele é Cole e o ódio por Cole é tudo o que eu conheço.
Olho para Carter, imaginando este homem puxando o corpo inerte de seu filho de seu carro, e não é ódio que eu sinto agora, no entanto. É pena. Por ele, e por Trent, porque estou intimamente familiarizada com o nível de dor que levaria uma pessoa a fazer isso. É um fim que dançou através de meus próprios pensamentos, uma ou duas vezes nos últimos anos.
— Não. Nenhuma acusação. Nenhum policial. Não vai mudar nada. Nunca vai.
Carter espreme as pálpebras fechadas por um momento. — Obrigado. — A palavra é rouca e cheia de emoção. Ele limpa a garganta. Com um olhar para Livie, ele acrescenta: —Eu entendo que existe uma questão sobre a custódia de Livie.
— Não, não há nenhuma questão. Ela está sob minha custódia. — Eu viro para olhar Livie. Por que ela disse a ele?
— Eu chamei a tia Darla. — Explicou ela suavemente. — Eu não sabia se você ia precisar de muito tempo. Ela disse que poderia me levar para casa com ela e...
— Não! Não! Você não pode me deixar. — Eu grito, de repente, minha frequência cardíaca disparando.
— Ela não vai a lugar nenhum, Kacey, — Carter promete. — Exceto de volta a Miami para ir à escola. Minha empresa vai garantir que toda a papelada da custódia legal é elaborada. A custódia pode precisar ir para a Sra. Matthews, por enquanto, até que você esteja melhor ou Livie seja velha o suficiente.
Concordo com a cabeça atordoada. — Obr... obrigada. — Ele está nos ajudando. Por que ele está nos ajudando?
Ele me dá um sorriso firme. — Eu também tive uma conversa com o seu tio. — Seus olhos ficam frios e duros. — Ainda há dinheiro do seguro sobrando, Kacey. Ele não desperdiçou tudo. Vou fazer com que tudo seja transferido para o seu nome e de sua irmã. — Ele puxa algo de dentro do bolso do casaco. — Aqui está o meu cartão de visita, se você precisar de algo. A qualquer hora, Kacey. Livie. Qualquer coisa. Vou ajudar em qualquer maneira que eu possa. — Ele coloca-o em uma mesa lateral.
Com um aceno de cabeça para o Dr. Stayner, ele se dirige para a porta, seus ombros pesados como se carregasse um fardo terrível. E eu acho que ele carrega, após o que seu filho fez. Ele para com a mão na maçaneta. — Se importar, eu nunca vi Trent tão feliz quanto quando ele estava com você. Nunca.
***
Eu fico olhando para as portas de carvalho da clínica de grandes dimensões. Elas contrastam muito grandemente com o exterior de estuque branco estéril. Ainda assim, é um belo edifício.
Minha casa pelos próximos tempos.
Uma mão minúscula desliza dentro da minha e eu não recuo. — Não se preocupe. Não é tão ruim e, se você estiver boa, quando você sair, vamos tomar um sorvete. — Diz Mia com um rosto sério. Ela e Dan passaram seu tempo visitando jardins zoológicos e parques de Chicago, enquanto Storm ficou comigo. Agora, eles estão aqui para se despedir. Ela levanta a mão livre com dois dedos erguidos. — Três colheres!
Storm desliza por trás dela com Dan pendurado pelo braço, rindo. — Isso mesmo, Mia. — Ela pisca para mim.
— Pronta? — Livie pergunta, enganchando seu braço com o meu.
Inalando profundamente, eu olho para o local novamente. — Parece demasiado elegante.
— Não se preocupe. Eu conheço um cara que conhece um cara... Que conhece um cara. — Dan sorri. Por alguma razão, eu não acredito nele. Tenho a sensação de que as mãos bem cuidadas de Carter Reynolds estão de alguma forma na mistura. Talvez eu seja uma oferta compre um e ganhe um grátis por Stayner não curar seu filho em primeiro lugar. Por uma vez, porém, eu não luto contra isso.
Livie e eu andamos para frente, os nossos passos se espelhando. — Obrigada por ter feito isso, Kacey. — Ela sussurra, enxugando a lágrima que rola pelo seu rosto.
Um homem com um uniforme azul claro abre a porta e chega à frente, oferecendo-se para levar a minha bolsa.
— Eu vou ligar às vezes se eles me deixarem. — Livie chama, dando um último aperto em meu antebraço antes de deixar ir.
Eu pisco, colocando uma cara brava por ela. — Vejo você acima da água.
Capítulo 18
Eu não vou sobreviver a isso.
Eu não posso sobreviver a isso.
Tudo o que eles querem que eu faça é falar. Falar e falar e falar. Sobre os meus sentimentos, meus pesadelos, o quase ataque ao atacante de Storm, meus pais mortos, Jenny, Billy, Trent. Toda vez que eu enfio tudo de volta para aquele armário escuro e apertado onde pertence, o Dr. Stayner entra e arrasta tudo para fora como um louco em uma missão, comigo chutando e gritando enquanto me penduro em seu casaco.
Nada disso vai me ajudar.
Tampouco os medicamentos anti-ansiedade. Eles me fazem sentir cansada e enjoada. Dr. Stayner me diz que eles precisam de tempo para trabalhar.
Eu digo a ele que vou dar um soco na sua cara.
Odeio suas entranhas.
E quando eu fecho os olhos à noite, Trent está lá para me cumprimentar, rindo. Sempre rindo.
Eu digo isso ao Dr. Stayner um dia em seu escritório, durante a minha sessão diária privada. — Você acha que ele está rindo, Kacey? — Ele pergunta.
— Isso é o que eu disse, não é?
— Não, você me disse que teve um sonho com ele rindo de você. Mas você acredita que ele está rindo?
Dou de ombros. — Eu não sei.
— Você não sabe?
Encaro-o. Essa conversa está demorando muito mais do que eu esperava. Isto é o que eu ganho por abrir minha boca grande. Normalmente, eu fico quieta e dou respostas simples de “sim” e “não.” Isso tem funcionado bem para mim até agora. Não sei por que eu pensei que este seria um tema inócuo.
— Vamos pensar sobre isso por um momento, sim, Kacey? — Ele se recosta na cadeira e fica lá, me observando. Ele está pensando sobre isso? Será que ele acha que eu estou pensando? Isto é enervante. Deixo o meu foco vaguear em torno de seu escritório como uma distração do constrangimento. É pequeno e clínico. Ele tem paredes sobre paredes de livros, assim como qualquer psiquiatra normal deve ter. Mas ele não é como qualquer outro psiquiatra que eu já conheci. Eu não sei como descrevê-lo. Sua voz, seus maneirismos, todos eles são incomuns.
— Trent é um cara jovem, estudante que bebeu demais em uma noite - como a maioria dos estudantes universitários. Em seguida, ele cometeu um erro horrível e estúpido.
Minhas mãos apertam e eu inclino para frente em minha cadeira, me imaginando jorrando ácido dos meus dentes para derreter a pele de Stayner. — Erro? — Eu assobio. Eu odeio essa palavra. Odeio quando usam essa palavra para descrever aquela noite. — Meus pais estão mortos.
O dedo de Dr. Stayner empurra o ar. — Isso é o resultado de seu erro horrível e estúpido. Isso não é o seu erro horrível e estúpido, pois não? — Quando eu não respondo, muito ocupada olhando para o tapete azul marinho no chão, sinto algo arremessado em minha testa. Olho para baixo para ver um clipe de papel no meu colo.
— Você acabou de lançar um clipe de papel em mim? — Pergunto com sincero choque completo.
— Responda à pergunta.
Cerro os dentes.
— Qual foi o erro horrível, estúpido e decisivo de Trent? — O Dr. Stayner pressiona.
— Ele dirigiu para casa. — Resmungo.
Outro clipe de papel é arremessado em minha testa enquanto o Dr. Stayner balança a cabeça freneticamente, sua voz elevando-se um tom. — Não.
— Ele deu as chaves ao seu amigo para dirigir para casa.
— Bingo! Ele fez uma escolha - em seu estado embriagado - escolha que ele nunca devia ter feito. Uma escolha muito ruim e muito perigosa. E quando ele ficou sóbrio, ele descobriu que essa escolha matou seis pessoas. — Há uma longa pausa. — Coloque-se no lugar dele por um momento, Kacey.
— Eu não vou...
O Dr. Stayner antecipa e corta minha objeção antes de eu lhe dar voz. — Você já bebeu antes, certo?
Aperto meus lábios com força.
— Não é verdade?
Uma noite pisca em minha mente, sem pensar muito. Seis meses antes do acidente, Jenny e eu fomos a uma festa de campo e bebemos um monte de bombas Jagger33. Foi uma das noites mais divertidas que eu já tive. Na manhã seguinte, foi outra história.
— É isso mesmo. — O Dr. Stayner continua, como se pudesse ler minha mente. Talvez ele possa. Talvez ele seja um charlatão super-aberração. — Você provavelmente fez algumas coisas estúpidas, disse algumas coisas estúpidas.
Concordo com a cabeça relutantemente.
— Quão bêbada você estava?
Dou de ombros. — Eu não sei. Estava... Bêbada.
33 É um coquetel muito famoso na Austrália. Já foi até banido em alguns locais do país por causa de consumidores que abusavam da combinação e criavam problemas. É constituído por Jägermeister e energético gelado.
— Sim, mas quão bêbada?
Eu nivelo-o com um olhar furioso. — O que está errado com você?
Mais uma vez, ele me ignora. — Você teria dirigido para casa?
— Uh, não?
— E por que não?
— Porque eu tinha quinze anos na época, gênio! — Meus dedos estão ficando brancos agora, de segurar nos braços da cadeira com tanta força.
— Certo. — Ele acena com a mão, com desdém. Mas seu ponto ainda não foi feito aparentemente. — E sua amiga? Amigos? Exatamente quão bêbados eles estavam?
Dou de ombros. — Eu não sei. Bêbados.
— Era visível? Era tão óbvio que eles estavam bêbados?
Eu faço uma carranca quando penso novamente em Jenny dançando e cantando Hannah Montana em cima de uma mesa de piquenique. Quão bêbada ela estava exatamente, eu não tenho ideia. Jenny faria isso sóbria. Finalmente eu encolho os ombros, a memória trazendo um nódulo doloroso na parte de trás da minha garganta.
— E se, no final da noite, o amigo lhe dissesse que tinham parado de beber há horas e poderiam dirigir para casa? Você acreditaria nele?
— Não. — Eu respondo rapidamente.
Esse dedo sobe novamente, balançando. — Pense sobre isso por um minuto, agora Kacey. Nós todos já passamos por isso. Saímos para uma boa noite, tomamos algumas bebidas. Você sabe que não pode dirigir, mas você não confia automaticamente em mais alguém? Eu estive lá, eu mesmo.
— Você está dando desculpas para dirigir embriagado, Dr. Stayner?
Ele está balançando a cabeça furiosamente. — Absolutamente não, Kacey. Não há desculpa. Apenas consequências terríveis com que as pessoas têm de viver o resto de suas vidas, quando fazem uma decisão estúpida.
Ficamos em silêncio por um momento, o médico sem dúvida ainda esperando pela minha resposta.
Olho para as minhas mãos. — Eu acho que pode acontecer. — Eu relutantemente admito. Sim, olhando para trás, pode ter havido uma ou duas vezes que entrei no carro, assumindo que o condutor estava bem porque ele assim disse.
— Sim, poderia. — O Dr. Stayner acena com conhecimento de causa. — E isso aconteceu. Para Cole.
Minha raiva inflama de repente. — O que diabos você está fazendo? Você está do seu lado? — Eu estalo.
— Eu não estou do lado de ninguém, Kacey. — Sua voz muda para equilibrada e calma mais uma vez. — Quando eu ouvi a sua história - o trágico acidente - não pude deixar de simpatizar com todos os envolvidos. Você. Sua família. Os meninos que morreram porque não fizeram algo tão simples como afivelar seus cintos de segurança. E Cole, o cara que entregou as chaves a alguém. Quando ouço a sua história, eu sinto...
Saio do escritório do Dr. Stayner em uma rajada nesse momento, com seus gritos de “empatia!” me seguindo todo o caminho até o salão, até o meu quarto, procurando maneiras de entrar em minha alma e me atormentar.
***
— Como estão indo as coisas aí? — Eu quero entrar no telefone e abraçar Livie. Faz sete dias e eu sinto falta dela terrivelmente. Nunca estive longe dela por tanto tempo. Mesmo quando estive no hospital após o acidente, ela me visitava quase todos os dias.
— Dr. Stayner é definitivamente não convencional. — Murmuro.
— Por quê?
Eu suspiro, exasperada, e depois digo a ela o que sei que ela não quer ouvir. — Ele é um maluco, Livie! Ele grita, pressiona, ele me diz o que pensa. Ele é tudo o que um psiquiatra não é suposto ser. Não sei a que escola de charlatão ele foi, mas eu posso ver porque Trent saiu daqui mais fodido do que quando entrou.
Trent. Meu estômago aperta. Esqueça-o, Kace. Ele se foi. Morto para você.
Há uma pausa. — Mas está funcionando? Você vai ficar melhor?
— Eu não sei ainda, Livie. Não sei se alguma coisa alguma vez vai realmente ficar melhor.
***
Jenny ri histericamente quando um carro passa por nós na estrada. — Você viu o olhar no rosto de Raileigh quando eu cantei Super Freak? Foi clássico.
Eu rio junto com ela. — Tem certeza que está bem para dirigir? — Depois que eu pulei do capô da caminhonete de George e derrubei um dos amigos de Billy no chão, eu sabia que não estava em bom estado para dirigir, então eu dei-lhe minhas chaves.
Ela acena com a mão, com desdém. — Oh, sim. Parei de beber, tipo, horas atrás! Estou...
Um flash de luzes nos distrai ambas. Eles são faróis e estão perto. Muito perto.
Meu corpo sacode quando o Audi do papai colide em algo, meu cinto de segurança cortando o meu pescoço pela força ao mesmo tempo em que um som ensurdecedor explode no ar. Em segundos acabou e não há mais nada além de silêncio e uma estranha sensação misteriosa, como se todos os meus sentidos estivessem paralisados e, ao mesmo tempo, trabalhando excessivamente.
— O que aconteceu?
Nada. Nenhuma resposta.
— Jenny? — Eu olho para o meu lado. Está escuro agora, mas eu posso ver o suficiente para saber que ela não está sentada atrás do volante mais. E eu sei que estamos em apuros. — Jenny? — Eu chamo de novo, minha voz trêmula. Me viro para desatar o cinto de segurança e abrir a porta do carro. Há aquele ditado, ‘com medo sóbrio’. Eu sei que é o que eu tenho agora, enquanto caminho ao redor da frente do carro, consciente do silvo do motor, e a fumaça subindo do capô desconfigurado. Está destruído. Minhas mãos empurram o meu cabelo quando o pânico aumenta dentro de mim. — OhmeuDeus, papai vai...
Um par de sandálias no chão me congelam.
As sandálias de Jenny.
— Jenny! — Eu grito, pulando para o pedaço de grama onde ela está deitada de bruços, imóvel. — Jenny! — Eu sacudo-a. Ela não responde.
Eu preciso de ajuda. Preciso encontrar meu telefone. Preciso...
É então que noto outro pedaço de metal. Outro carro.
Ele está em forma muito pior do que o Audi.
Meu estômago afunda. Eu posso ver levemente o contorno das pessoas. Eu levanto e começo a acenar os braços freneticamente, sem pensar. — Socorro! — Eu grito. Não há nenhum ponto. Nós estamos em uma estrada escura arborizada no meio do nada.
Finalmente desistindo, eu rastejo até o carro, meu coração batendo em meus ouvidos. — Olá? — Eu sussurro. Eu não sei se estou mais aterrorizada em ouvir algo ou nada.
Não tenho nenhuma resposta.
Eu me inclino e estreito os olhos, tentando obter um vislumbre através do vidro quebrado. Eu não posso ver... Está muito escuro...
Estalo. Estalo. Estalo... Como luzes do palco, de repente, uma onda de luz se derrama sobre a área, iluminando a cena horrível dentro. Um casal de idosos está debruçado no banco da frente e eu tenho que desviar o olhar, a bagunça de carne sangrenta demasiado horrível para aguentar.
É tarde demais para eles. Eu apenas sei.
Mas há alguém na parte de trás também. Corro mais e olho para ver um corpo quebrado com cabelo negro embalado na porta contorcida.
— OhmeuDeus. — Eu suspiro, meus joelhos curvam.
É Livie.
Por que diabos ela está no carro?
— Kacey. — Dedos gelados agarram meu coração ao ouvir o som do meu nome. Espio ainda mais e encontro uma forma alta escura que estava sentada ao lado dela. Trent. Ele está machucado. Ruim. Mas ele está acordado e está olhando para mim com um olhar intenso.
— Você matou meus pais, Kacey. Você é uma assassina.
A enfermeira da noite, Sara, corre para o meu quarto justo quando eu estou acordando, gritando a plenos pulmões. — Está tudo bem, Kacey. Shh, está tudo bem. — Ela esfrega as minhas costas em lentos movimentos circulares quando um suor frio irrompe sobre meu corpo. Ela continua a fazê-lo mesmo quando eu me enrolo em posição fetal, abraçando meus joelhos no meu peito com força. — Esse foi extraordinariamente ruim, Kacey. — Ela esteve aqui algumas vezes já, durante meus episódios noturnos. — Sobre o que foi esse? — Eu noto que ela não me pergunta se eu quero falar sobre isso. Ela assume que eu preciso, querendo ou não. Essa é a coisa sobre esse lugar. Tudo o que eles querem que você faça é falar. E tudo que eu quero fazer é ficar quieta.
— Hmm, Kacey?
Eu engulo o caroço espinhoso na minha garganta. — Empatia.
***
— Então talvez você esteja certo.
A testa do Dr. Stayner curva para cima em questão. — É sobre o sonho que teve na noite passada?
Minha carranca diz-lhe que é.
— Sim, Sara me disse. Ela queria que eu soubesse no caso de haver quaisquer preocupações. Esse é o seu trabalho. Ela não te traiu. — Ele diz isso como se fosse uma coisa que ele já disse uma e outra vez. — O que aconteceu exatamente?
Por alguma razão, eu digo-lhe o pesadelo inteiro, do começo ao fim, calafrios correndo sobre meu corpo enquanto eu revivo-o.
— E o que o tornou tão horrível?
Eu levanto minha cabeça e olho o médico. É evidente que ele não estava me ouvindo. — O que você quer dizer? Todo mundo estava morto. Jenny estava morta, os pais de Trent estavam mortos. Eu matei Livie. Foi apenas... Tão terrível!
— Você matou Livie?
— Bem, sim. A culpa é minha.
— Hmm... — Ele acena com a cabeça, não transmitindo nada do que pensa. — Como você se sentiu quando viu Jenny deitada, morta?
Minhas mãos pressionam contra minha barriga com o pensamento.
— Então, você lamenta por ela. — Ele respondeu por mim.
— É claro que sim. Ela estava morta. Eu não sou uma sociopata.
— Mas ela estava dirigindo o carro que bateu na família de Trent. Em Livie. Como você pode lamentar por ela?
Estou divagando mais rápido do que eu estou pensando. — Porque é Jenny. Ela nunca iria querer machucar ninguém. Ela não fez isso de propósito... — Eu paro e encaro-o, percebendo onde ele está indo. — Sasha não é Jenny. Eu vejo o que você está fazendo.
— E o que é isso?
— Você está tentando me fazer ver Sasha e Trent como pessoas que riem e choram e têm famílias.
Suas sobrancelhas ‘que-sabem-tudo’ sobem.
— Não é o mesmo! Eu os odeio! Eu odeio Trent! Ele é um assassino!
O Dr. Stayner salta da cadeira e corre para sua estante de livros, tirando o maior dicionário que eu já vi. Ele vem para mim e joga-o em meu colo. — Aí. Procure a palavra, assassino, Kacey. Faça isso! Procure-a! — Ele não espera que eu o faça, provavelmente sentindo que o seu ponto foi feito. — Você não é uma garota estúpida, Kacey. Você pode se esconder atrás dessa palavra, ou pode aceitá-la pelo que ela é. Trent não é um assassino e você não o odeia. Você sabe que ambos são verdadeiros, então pare de mentir para mim e, mais importante ainda, pare de mentir para si mesma.
— Sim, eu o odeio. — Cuspo de volta, minha voz perdendo um pouco de sua força.
Eu odeio o Dr. Stayner agora.
Eu o odeio, porque no fundo da minha mente, eu sei que ele está certo.
Capítulo 19
O Dr. Stayner me leva a uma pequena sala branca com uma janela com vista para outra pequena sala branca. — Este é um espelho de um só lado? — Bato nele.
— Sim, é, Kacey. Sente-se.
— Ok, Dr. Ditador. — Eu resmungo, sentando na cadeira oferecida.
— Obrigado, Paciente Dor na Bunda.
Eu sorrio. Às vezes, os métodos não convencionais de Dr. Stayner tornam isso menos doloroso. Na maioria não, mas, às vezes sim.
— Que castigo você tem planejado para mim hoje? — Eu digo com indiferença quando a porta abre. Meu corpo fica rígido e eu sugo a boca cheia de ar quando vejo o rosto entrando.
É Trent.
Cole.
Trent.
Foda-se.
Passaram semanas desde que eu o vi pela última vez. Com esse cabelo castanho claro bagunçado dele, caminhando com os longos músculos, ele está tão bonito como sempre. Isso eu tenho que admitir. E odeio admitir isso. Só que agora não vejo sorriso em seu rosto. Nem covinhas. Nada que se pareça com o cara charmoso por quem eu me apaixonei.
Apaixonei. Cerro os dentes para combater a dor que vem com esse reconhecimento.
Ele assume a cadeira posicionada em frente de mim. Não preciso nem conhecer Trent para ler a crua agonia viva em seus olhos. Mas porque eu o conheço, ou alguma fatia dele, a sua dor me afeta.
E é intolerável. Instintivamente, eu quero pegá-la e fazê-la desaparecer.
As mãos do Dr. Stayner empurram para baixo sobre os meus ombros quando eu estou a um segundo de fugir da sala. — Ele não pode ver você, Kacey. Ele não pode te ouvir.
— O que ele está fazendo aqui? — Eu sussurro, minha voz trêmula. — Por que você está fazendo isso comigo?
— Você continua dizendo que odeia Trent e ambos sabemos que não. Ele está aqui para que você admita isso a si mesma de uma vez por todas e siga em frente. Não há espaço em sua recuperação para segurar a ideia de ódio.
Eu não posso afastar meus olhos de Trent, mesmo enquanto nego as palavras do Dr. Stayner. — Você é um doutor de merda e retorc...
Dr. Stayner me corta. — Você sabe que ele também é meu paciente, Kacey. E ele precisa de tanta ajuda quanto você. Ele também sofre de T.E.P.T. Ele também se iludiu ao pensar que poderia enterrar sua dor, em vez de lidar com ela adequadamente. Ele só fez isso de uma forma menos convencional. Nós não vamos falar sobre isso agora. — Eu vacilo quando ele dá um tapinha no meu ombro. — Hoje, eu estou trapaceando um pouco. Esta é uma sessão dupla.
— Eu sabia. — Atiro um dedo acusador para ele.
O Dr. Stayner sorri como se a minha reação fosse engraçada. Eu não acho nada disso engraçado. Me pergunto o que o conselho médico vai pensar disso quando eu denunciá-lo.
— Isso é tanto para a cura de Trent como é para a sua, Kacey. Você vai se sentar, e você vai ouvir o que ele tem a dizer. Após isso, você não vai vê-lo novamente. Ele vai
embora depois de hoje para voltar para casa. Ele está indo bem, mas tratá-lo de forma eficaz quando ele sabe que você está neste edifício tem sido impossível. Não posso arriscar vocês dois encontrando um ao outro. Você entendeu?
Um grunhido ininteligível é a minha única resposta.
O Dr. Stayner se inclina para ligar um interruptor ao lado de um alto-falante. Eu poderia fugir agora. Eu poderia. Eu provavelmente fugiria. Mas não o faço. Eu apenas sento e olho para esse cara que conheço tão bem, e quase nada, e eu me pergunto o que ele poderia ter a dizer. E por mais que parte de mim queira, não posso me forçar a desviar o olhar.
— Ele não pode ver você. Ele quis que fosse assim. Há uma luz vermelha para dizer-lhe que o seu microfone está ligado agora. — Explica o Dr. Stayner e eu ouço um clique suave atrás de mim. Olhando para trás, vejo que ele saiu da sala, deixando-me a enfrentar o cara que me destruiu duas vezes.
Espero com punhos apertados, e um estômago fechado quando Trent se mexe em sua cadeira, puxando-a para frente até os joelhos tocarem no vidro. Ele se inclina para frente e repousa os cotovelos sobre os joelhos, deixando cair seu foco para os dedos irrequietos. Aqueles dedos, aquelas mãos, elas foram a minha salvação não muito tempo atrás, me trazendo alegria notável. Como as coisas mudam tão rapidamente?
Com movimentos lentos, quase dolorosos, Trent olha para cima, e ele está nivelado comigo, perfurando meus olhos, aquelas íris azuis claras salpicadas de turquesa pousam em mim com tanta força que eu tenho certeza que ele pode me ver. Me desloco em pânico para a esquerda e para a direita. Suas pupilas não seguem. Ok, talvez Stayner não esteja mentindo.
— Oi Kacey. — Trent diz baixinho.
Oi, eu murmuro em resposta antes que possa me parar, o som de sua voz rasgando as minhas entranhas.
Trent limpa a garganta. — Isto é um pouco estranho, falar para mim mesmo no espelho, mas é a única maneira que eu sabia que poderia dizer tudo o que eu precisava dizer... Estou feliz que você está aqui, com o Dr. Stayner. Ele é um grande médico, Kacey. Confie nele. Eu gostaria de ter confiado nele plenamente. Então, talvez eu não tivesse feito você passar por tudo isso. — Ele aperta os lábios e olha para longe. Tenho certeza de que seus olhos ficaram vidrados, mas estão normais quando ele se vira para me encarar
novamente. — Eu pensei... — Ele engole, sua voz rouca. — Eu pensei que fazer você se apaixonar por mim iria corrigir tudo o que eu tinha feito para você. Pensei que eu poderia te fazer feliz, Kacey. Feliz o suficiente que, se você alguma vez descobrisse, você estaria bem com isso. — Ele afunda sua cabeça em suas mãos, segurando o rosto por um momento, antes de levantá-lo de novo. Um sorriso triste tocando seus lábios. — Quão fodido é isso?
Há uma longa pausa, uma chance para eu estudá-lo, para lembrar todos os dias e noites de risos e felicidade. Eu não posso acreditar que foi real. Parece como se tivesse acontecido há uma vida atrás.
— O que aconteceu naquela noite, há quatro anos foi a pior decisão que eu já fiz e vou viver para me arrepender pelo resto da minha vida. Se eu pudesse voltar no tempo, e salvar sua família, salvar minha família, salvar Sasha e Derek, eu o faria. Eu faria isso. Faria qualquer coisa para mudar isso. — Seu pomo de Adão agita para cima e para baixo quando ele engole. — Sasha... — Ele afunda sua cabeça novamente. Eu fecho meus olhos, ao som desse nome. Ainda dói ouvi-lo, mas já não tanto, eu acho. Não desde a lição de empatia do Dr. Stayner. Quando abro os olhos, Trent enfrenta-me de novo, lágrimas inconfundíveis de dor e perda derramando por sua bochecha.
Isso é tudo o que é preciso. Meu corpo se contrai, vê-lo tão chateado corta através de quaisquer defesas que eu ainda tinha. Minhas mãos voam para cobrir minha boca, lágrimas brotando dos meus olhos antes que eu possa pará-las. Limpo-as loucamente, mas elas continuam chegando. Depois de tudo, ver Trent com dor ainda me queima profundamente.
E é porque eu não o odeio. Eu não posso. Eu o amava. Se eu sou honesta comigo mesma, eu ainda o amo. Não me importo que ele basicamente me perseguiu. Eu não sei por que, mas sei que não.
Aí, Dr. Stayner. Eu admito. Maldito seja!
— Sasha era um bom rapaz, Kacey. Você não vai acreditar em mim, mas você teria gostado dele. Eu cresci com ele. — Trent sorri tristemente agora, relembrando. — Ele era como um irmão para mim. Ele não merecia o que aconteceu com ele, mas, de uma forma estranha, é melhor assim. Ele não teria durado 10 minutos com esse tipo de culpa. Ele... — a voz de Trent racha quando ele dirige o seu polegar sobre seu rosto para enxugar as lágrimas. — Ele era um cara legal.
O olhar de Trent percorre o perímetro da janela de vidro. — Eu sei que você deve me odiar, Kacey. Você odiava Cole. Tanto. Mas eu não sou Cole, Kacey. Eu não sou esse cara mais. — Ele faz uma pausa e inala profundamente. Quando ele fala, sua voz é firme e calma, sua íris mais brilhante, seus ombros levantados um pouquinho mais. — Eu não posso consertar o que fiz para você. Tudo o que posso dizer é que sinto muito. Isso e dedicar minha vida a deixar que os outros lá fora saibam o quanto esse erro pode custar. Quanto isso pode machucar. — Sua voz flutua para longe. — Isso eu posso fazer. Por mim e por você.
Com um movimento lento e cauteloso, ele levanta a mão trêmula e pressiona-a contra o vidro. Ele a segura lá.
E eu não posso evitar.
Combino meus dedos perfeitamente com os seus, imaginando como seria sentir sua pele novamente, ter seus dedos curvados sobre mim, me puxando para ele, para seu calor. Para sua vida.
Ficamos assim, mão contra mão, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto, por um longo momento. Em seguida, a mão cai de volta para o seu colo e sua voz se torna suave.
— Eu queria dizer-lhe em pessoa que, apesar de minhas intenções serem erradas — Agora ele nivela o vidro com um olhar cheio de calor e emoção. Um de seus olhares de Trent que faz meus joelhos dobrarem. — O que eu sentia por você foi real, Kacey. Ainda é real. Eu apenas não posso continuar me agarrando a isso. Nós dois precisamos de uma chance de nos curar.
Meu coração salta na minha garganta. — Ainda é real. — Eu confirmo em voz alta, suavemente. É real.
Novas lágrimas derramam pelo meu rosto quando percebo o que está acontecendo.
Trent está dizendo adeus.
— Espero que um dia você possa se curar de tudo isso e que alguém possa fazer você rir. Você tem uma risada linda, Kacey Cleary.
— Não. — Eu sussurro, de repente, minha testa franzida. — Não! — Ambas as minhas mãos voam para o vidro batendo nele. Eu não estou pronta para um adeus, eu percebo. Não assim. Ainda não.
Talvez nunca.
Eu não posso explicar isso. Eu com certeza não quero sentir isso. Mas sinto.
Prendo a respiração enquanto assisto Trent levantar e caminhar para fora da sala, com as costas tensas. A visão da porta se fechando - de Trent saindo da minha vida para sempre - desencadeia uma torrente de soluços e eu caio no chão.
Capítulo 20
Eu estudo os títulos na biblioteca do Dr. Stayner, ocupando-me para que eu não tenha que olhar para o lábio inchado que dei a ele após a sessão de ontem do grupo. Isso complementa o olho preto que eu dei a ele na sessão da semana passada. Desde o dia que Trent disse adeus, eu me sinto mais vazia do que nunca. Não pode haver dúvida que - Trent ou Cole, erro ou assassinato - o homem tinha uma forte influência sobre o meu coração, e ele levou um pedaço dele com ele.
— Então, meus filhos estão chamando as quartas-feiras de “Quartas-Feiras Em que a Bunda de Papai é Chutada”. — O Dr. Stayner anuncia.
Bem, agora que o alce está sobre a mesa, não posso evitar isso muito bem. — Sinto muito. — Eu murmuro, arriscando um olhar para o seu rosto e estremecendo.
Ele sorri. — Não sinta. Eu sei que te empurrei um pouco mais duro do que eu provavelmente deveria. Normalmente eu levo meus pacientes a falar sobre seu trauma lentamente. Eu pensei que uma abordagem mais agressiva poderia funcionar para você.
— O que lhe deu essa ideia brilhante?
— Porque você compartimentou suas emoções e dor tão profundamente que podemos precisar de dinamite para romper. — Ele brinca. — Quero dizer, olhe para você.
Você é uma lutadora treinada. Você provavelmente poderia vencer de meus filhos. Na verdade, eu poderia levar você para jantar lá em casa para chutar a bunda deles em breve.
Reviro os olhos para meu médico charlatão não convencional. — Eu não iria tão longe.
— Eu iria. Você tomou toda essa tragédia e canalizou para um inferno de um mecanismo de defesa duro. — Sua voz fica mais suave. — Mas todos os mecanismos de defesa podem ser quebrados. Eu acho que você já aprendeu isso.
— Trent... — Seu nome deriva sobre minha língua.
Ele acena com a cabeça. — Nós não vamos falar sobre o acidente hoje. — Meus ombros caem com essa notícia. Isso geralmente é tudo o que o Dr. Stayner quer falar. Eu espero enquanto ele fica confortável em sua cadeira. — Nós vamos falar sobre como lidar. Sobre todas as maneiras que uma pessoa pode lidar. As boas, as más, as feias.
O Dr. Stayner passa por um rol de mecanismos de enfrentamento, marcando cada um com um dedo, repetindo suas mãos várias vezes. — Drogas, álcool, sexo, anorexia, violência... — Eu sento e ouço, perguntando onde ele está indo com tudo isso. — Uma obsessão com “salvar” ou “fixar” o que está quebrado. — Eu sei de quem ele está falando.
Eu era o mecanismo de enfrentamento de Trent.
— Todos esses mecanismos parecem ajudar no momento, mas, no final, eles te deixam fraco e vulnerável. Eles não são saudáveis. Eles não são sustentáveis. Nenhum ser humano pode levar uma vida saudável com linhas de cocaína em sua cabeceira. Faz sentido até agora?
Concordo com a cabeça. Eu não sou boa para Trent. Isso é o que o Dr. Stayner está dizendo. É por isso que Trent disse adeus. A ferida interior ainda está crua desde aquele dia, mas eu não enterro a dor. Estou cansada de enterrar as coisas. Não há nenhum ponto. Dr. Stayner vai arrastá-lo de volta onde é impossível evitar, como uma carcaça de búfalo esparramada em uma pista da estrada.
— Ótimo. Agora, Kacey, precisamos encontrar um método de enfrentamento que funciona para você. Kickboxing não é esse. Ele ajuda você a canalizar sua raiva, sim. Mas vamos encontrar uma maneira de extinguir definitivamente essa raiva. Eu quero que você discuta comigo. O que acha que são mecanismos de enfrentamento saudáveis?
— Se eu soubesse, eu estaria fazendo, não acha?
Recebo um revirar de olhos. Um revirar de olhos de um profissional. — Vamos, agora você é uma garota inteligente. Pense de novo em todas as coisas que você ouviu. Que outras pessoas sugeriram. Eu vou começar. Conversar com outras pessoas sobre o trauma é uma.
Agora é a minha vez de revirar os olhos para ele.
O Dr. Stayner acena suas mãos com desdém. — Eu sei, eu sei. Acredite em mim, você já deixou claro seu ponto de vista. Mas falar sobre sua dor e compartilhá-la com os outros é um dos mais poderosos meios de lidar. Isso ajuda você a liberar a dor, não a engarrafá-la até explodir. Outras formas de lidar incluem pintura e leitura, estabelecimento de metas, escrever um diário sobre seus sentimentos.
Hmmm. Eu poderia fazer um diário. Ainda é uma atividade privada.
— Yoga é fantástico também. Ajuda a limpar sua mente, faz você se concentrar em sua respiração.
Respiração. — Dez respirações minúsculas. — Murmuro mais para mim mesma, sentindo meus lábios enrolar com a ironia.
— O quê? — O Dr. Stayner se inclina para frente, empurrando seus óculos bifocais com um dedo.
Eu balanço minha cabeça. — Não, nada. Algo que minha mãe costumava dizer. Dê dez respirações minúsculas.
— Quando ela dizia isso?
— Sempre que eu estava triste ou chateada ou nervosa.
Os dedos de Dr. Stayner esfregam seu queixo. — Eu vejo, e ela dizia mais alguma coisa? Você se lembra?
Eu sorrio. Claro que me lembro. Está firmemente estampado na minha cabeça. — Ela dizia: “Basta respirar, Kacey. Dez respirações minúsculas. Aproveite-as. Sinta-as. Ame-as.”
Há uma longa pausa. — E o que você acha que ela quis dizer com isso?
Faço uma carranca irritada. — Ela estava me dizendo para respirar.
— Hmmm. — Ele rola uma caneta sobre a superfície da mesa, como se em pensamento profundo. — E como respirações minúsculas ajudam? Por que minúscula? Por que não respirações profundas?
Eu bato minhas mãos em sua mesa. — Isso é o que eu sempre me perguntava. Agora você vê.
Mas ele não vê. Pela minúscula curva de seus lábios, ele vê algo diferente. Algo que eu não vejo. — Você acha que importa se são pequenas ou profundas?
Eu faço uma carranca. Não gosto deste tipo de jogos. — O que você acha que ela quis dizer com isso?
— O que você acha que ela quis dizer com isso?
Eu quero dar um soco na boca do Dr. Stayner de novo. Eu realmente, realmente quero dar um soco nele novamente.
***
Basta respirar, Kacey. Dez respirações minúsculas. Aproveite-as. Sinta-as. Ame-as. Eu repito essas palavras uma e outra vez na minha cabeça como fiz um milhão de vezes antes sem sucesso, enquanto fico acordada na minha cela que não é realmente uma cela. É um bom quarto pequeno com um banheiro privativo e ensolaradas paredes amarelas, mas eu me sinto confinada de qualquer jeito.
O Dr. Stayner sabia o que minha mãe queria dizer imediatamente. Eu poderia dizer por aquele sorriso arrogante em seu rosto. Acho que você tem que ser superinteligente. Dr. Stayner é obviamente superinteligente. Eu, obviamente, não sou.
Inalo profundamente, analisando a minha memória da conversa. O que ele disse, de novo? A respiração pode ser um mecanismo de enfrentamento. E então ele questionou as respirações minúsculas. Mas ele trapaceou. Ele já tinha a resposta. E a resposta é...
Uma... Duas... Três... Eu conto até dez, esperando que a profunda sabedoria pouse na minha cabeça. Isso não acontece.
Você acha que importa se são minúsculas ou profundas? Ele perguntou. Bem, se elas não são respirações minúsculas e não são respirações profundas, então, elas são apenas... Respirações. Então você está apenas respirando por… respirar.
... Aproveite-as. Sinta-as. Ame-as...
Eu sento de repente, uma estranha sensação calmante fluindo através de meu corpo quando compreensão amanhece em mim.
É tão simples. Deus, é tão fodidamente simples.
Fase Oito Recuperação
Capítulo 21
Seis semanas mais tarde. Terapia de grupo.
Uma... Duas... Três... Quatro... Cinco... Seis... Sete... Oito... Nove... Dez.
Eu tento não brincar com meus dedos enquanto eles repousam dobrados em meu colo. — Meu nome é Kacey Cleary. Quatro anos atrás, o meu carro foi atingido por um motorista bêbado. Minha mãe e meu pai, minha melhor amiga, e meu namorado foram todos mortos. Eu tive que sentar no carro, segurando a mão de meu namorado morto, e ouvir a minha mãe dar seu último suspiro, até que os paramédicos pudessem me libertar. — Faço uma pausa para engolir. Uma... Duas... Três... Respiro fundo neste momento. Respirações longas, profundas. Elas não são minúsculas. Elas são enormes. São monumentais.
— Eu usei álcool e drogas para abafar a dor em primeiro lugar. Em seguida, mudei para a violência e sexo. Mas agora... — Olho diretamente para o Dr. Stayner. — Eu só aprecio o fato de que eu posso abraçar minha irmã, e rir com meus amigos, e caminhar, e correr. Que eu estou viva. Que eu posso respirar.
Estou acima da água.
E dessa vez eu vou ficar onde eu pertenço.
***
Uma onda forte de palmas me cumprimenta no Penny quando viro a esquina para encontrar todos esperando por mim. Nate é o primeiro a me cumprimentar, abaixando-se e levantando-me em um abraço de urso enorme. Eu nem vacilo com o contato. Aprendi a apreciá-lo totalmente de novo.
— Eu sempre soube que você era louca. — Ben grita de algum lugar. Eu giro a tempo para ele recolher-me e me abraçar bem apertado a seu corpo. — E dura como o inferno, para sobreviver tudo isso. — Acrescenta baixinho no meu ouvido. — Eu teria chorado como uma menina de cinco anos. Você está bem?
Eu afago seu braço quando ele me coloca para baixo. — Estou chegando lá. Eu tenho um caminho muito longo pela frente.
— Bem, isso não tem sido o mesmo sem você aqui, posso dizer-lhe. — Diz ele. Sua testa de repente sulcada. — Ei, então é a sua irmã ali? — Sua cabeça balança em direção à Livie, que está de pé, com Storm e Dan. — Porque eu estava pensando em convidá-la...
— Ela tem 15 anos. — Eu bato nele de brincadeira no estômago. — Será que eles não te ensinaram o significado de estupro na escola ainda, Garoto Advogado?
Seus olhos se arregalaram de surpresa, suas mãos subindo em sinal de rendição. —Droga. — Eu o ouvi murmurar baixinho, sacudindo a cabeça, enquanto ele dá à Livie outra olhada de cima a baixo.
É apenas antes da abertura e as meninas estão em suas roupas - ou a falta delas – assim, Mia ficou em casa com uma babá. Os olhos de Livie furam Storm e Dan, com medo de divagar para qualquer outro lugar. Tanner está lá também, sua mandíbula escancarada descaradamente.
A maior surpresa, embora? Meu charlatão não convencional está aqui.
— Eu não estou certa de que isto constitui protocolo médico-paciente saudável. — Brinco, acotovelando-o nas costelas.
Ele ri enquanto joga seu braço em volta de mim em um abraço de lado. — Nem socar o seu médico na cara... Duas vezes, mas eu deixei isso deslizar, então dê-me uma folga.
O queixo de Livie e Storm cai até ao chão enquanto Dan e Ben se dobram, rindo.
— Champagne, alguém? — Cain aparece me dando um tapinha nas costas e segurando uma bandeja cheia de taças altas. Uma pontada de familiaridade entristece o momento quando me lembro da última vez que alguém me entregou uma taça de champanhe. Eu estava com Trent.
Sinto falta dele. Sinto falta de seus olhos, seu toque, a maneira como ele me fez sentir.
Isso mesmo. Eu posso admitir isso para mim agora sem culpa, raiva ou ressentimento.
Sinto falta de Trent. Sinto falta dele todos os dias.
Uma mão desliza sob meu cotovelo e aperta. É Storm. Ela de alguma forma sente a turbulência acontecendo dentro de mim. Ela entende.
— Para a cabeça mais difícil que eu já tive o prazer de quebrar. — O Dr. Stayner anuncia e todos brindam e bebem.
— Então, eu estou curada, Doc? — Pergunto, saboreando o líquido doce efervescente em minha boca por mais do que o seu gosto. Isso me lembra de boca de Trent, da última vez que ele me beijou.
Ele pisca. — Eu nunca vou usar a palavra curada, Kacey. Sarada é uma palavra melhor. Há um último passo épico em sua recuperação antes de eu dizer que você está no seu caminho para sarar propriamente, embora.
Minha testa enruga. — Ah, é? E o que é isso?
— Eu não posso te dizer. Você compreenderá quando souber. Confie em mim.
Franzo minha testa de brincadeira. — Confiar em um charlatão?
— Um charlatão muito caro. — Acrescenta ele, com uma piscadela.
Falando nisso... — Então, quem é esse amigo de um amigo de um amigo de Dan que me levou para ver você? Eu provavelmente deveria agradecer-lhe. — Pergunto inocentemente.
Os olhos do Dr. Stayner piscam para Storm e então rapidamente desviam para o bar. — Oh, olha! Caviar! — Ele foge para uma travessa, que, sem dúvida, não tem caviar. Isso praticamente confirma tudo para mim, mas eu continuo na brincadeira de qualquer maneira. — Livie?
Ela se parece com o gato proverbial que engoliu o canário. — Não fique louca tá?
Eu espero, alisando minha expressão.
— O pai de Trent pagou por tudo isso.
Eu ofego falsamente e dou-lhe o meu melhor olhar chateado.
Livie corre para explicar, toda nervosa e com o rosto vermelho. — Você precisava de ajuda, Kacey e é ajuda muito cara. Eu não queria colocá-la em alguma merda que o governo paga porque não ajudou na última vez, e as listas de espera eram longas demais e... — Lágrimas aparecem. — Carter conseguiu você listada como paciente do Dr. Stayner em menos de uma hora. O Dr. Stayner é um amigo deles e ele é muito bom e... — As lágrimas estão fluindo agora. — Por favor, não desvie do rumo. Você está indo tão bem. Por favor, não.
— Livie! — Eu agarro seus ombros e sacudo-a. — Está tudo bem. Eu percebi isso já. E você fez a coisa certa.
Ela engole. — Eu fiz? — Há uma pausa e, em seguida, ela bate no meu braço, o rosto se contorcendo em uma careta. — Você sabia e me deixou surtar?
Eu rio e puxo-a para mim em um abraço apertado. — Sim, Livie. Você sempre faz a coisa certa. Você sabe, eu sempre acho que preciso cuidar de você, mas na verdade você é a pessoa que cuida de mim. Você sempre cuidou.
Ela ri baixinho enquanto limpa as lágrimas com as costas da mão.
Faço uma pausa, não tendo certeza se devo perguntar, mas faço-o de qualquer maneira. — Você falou com Carter sobre Trent?
Livie assente e me oferece um sorriso gentil. Eu disse a ela sobre o adeus de Trent. Tenho quase certeza que ouvi seu choro através do telefone. Mesmo ela não pode odiar Trent. — Carter me chama a cada poucas semanas para verificar como vão as coisas. Trent vai bem, Kacey. Muito bem. — Sussurra.
— Bom. — Eu aceno, sorrindo. Não pergunto mais. É melhor ficarmos separados, eu sei disso. Mas ainda dói por dentro. Deus, ainda dói. Mas sentir é bom, eu digo a mim mesma. Não vai doer para sempre.
— Então, meninas, eu tenho que lhes dizer algo. — Storm nos interrompe e olha para Dan. Com um aceno dele, ela anuncia: — Eu estou deixando o Penny. Vou abrir uma escola de acrobacias!
Livie e eu devemos ser imagens espelho uma da outra, com o queixo caído.
— Mas isso não é tudo, Dan acaba de comprar uma casa na praia e ele pediu a Mia e eu para morar com ele e eu disse que sim. Bem... — Ela revira os olhos — Mia disse sim e o que ela diz é o que acontece.
Há um momento de silêncio antes de Livie jogar seus braços ao redor de Storm. —Isso é ótimo, Storm! — Ela começa a chorar novamente. — Oh, estas são lágrimas de felicidade, realmente. Vou sentir tanto sua falta.
Prazer agridoce me lava quando Storm e eu trocamos um olhar por cima do ombro de Livie. Vou sentir falta de viver ao lado dela. Tudo está mudando. Todo mundo está seguindo em frente.
— Eu estava contando com isso, porque... — Storm afasta Livie por um momento e dá um suspiro profundo, de repente nervosa. — A casa é grande. Quer dizer, enorme. Dan herdou o dinheiro de sua avó. Nós temos cinco quartos lá. E... Bem... Vocês duas se tornaram uma parte tão importante de nossas vidas e eu quero que continue assim. Então nós estávamos pensando que vocês poderiam morar com a gente.
Eu olho de Livie para Storm e para Dan. — Tem certeza que você não precisa de terapia, Dan? — Pergunto com muita seriedade. Ele apenas ri, puxando Storm perto dele.
Storm reprova. — Livie, você pode se concentrar em conseguir a bolsa de estudos para Princeton que eu sei que você vai conseguir. Kacey... — Ela me dá um olhar severo, pegando minhas mãos na dela —... Descubra o que você quer na vida e vá atrás disso. Eu estou aqui para você a cada passo do caminho. Não vou a lugar nenhum.
Concordo com a cabeça, mordendo o lábio para parar de chorar. Não funciona. Logo, eu não posso vê-la através das minhas lágrimas.
Minhas lágrimas felizes.
***
— Com certeza vai ser mais tranquilo sem as senhoras por aqui. — Diz Tanner, coçando a cabeça enquanto ele se senta ao meu lado no banco de parque na zona comum. São nove da noite e está escuro. Os homens da mudança vão chegar pela manhã para levar as nossas coisas.
— Gosto do que você fez com o lugar, Tanner. — Eu digo enquanto observo as pequenas luzes brancas de Natal amarradas através dos arbustos recém-podados. Os jardins estão aparados e bem cortados e há algumas pequenas flores roxas desabrochando por toda parte. Uma churrasqueira nova está ao lado de uma mesa de piquenique e, pelo cheiro persistente de carne grelhada no ar, eu diria que a zona comum está finalmente recebendo alguma utilidade.
— Foi sua irmã que fez tudo isso. — Tanner murmura. — Manteve-se ocupada enquanto você estava fora. — Ele se inclina para trás e instala os braços cruzados sobre a barriga saliente. — Então, agora eu tenho três apartamentos para preencher. De vocês, de Storm, e o 1D.
Sem querer, eu olho por cima do meu ombro para a janela escura e a tristeza persiste. — Você não o alugou ainda? Trent se foi já faz meses. — Dizer seu nome faz minha boca secar e um vazio florescer dentro de mim.
— Sim, eu sei. Mas ele pagou por seis meses. Além disso, eu estava esperando que ele pudesse mostrar-se novamente. — Ele mexe em suas unhas silenciosamente por um momento. — Eu ouvi toda a história. Livie me disse. Coisa difícil para ambos.
Concordo com a cabeça devagar.
Tanner estica as pernas para fora. — Eu já te contei sobre o meu irmão?
— Uh... Não...?
— Seu nome era Bob. Ele saiu uma noite com a namorada. Bebeu cerveja demais. Pensou que estava bem para dirigir. Ei, isso acontece. Não tem desculpa, mas acontece. Bateu o seu carro em uma árvore. Matou sua namorada. — Eu espero em silêncio que Tanner continue, observando suas mãos atrapalharem-se e sua perna tremer. — Ele nunca
foi o mesmo depois disso. Encontrei-o pendurado no celeiro do meu pai, seis meses depois.
— Eu... — Engulo quando o alcanço timidamente e afago o ombro de Tanner. — Eu sinto muito, Tanner. — Isso é tudo que posso dizer.
Ele acena com a cabeça, aceitando as minhas condolências. — É um terrível acidente em todas as frentes. Quem comete o erro. As vítimas. Todos sofrem algo feroz, você não acha?
— Sim, você está certo. — Eu respondo com a voz rouca, concentrando-me nas pequenas luzes de Natal, imaginando se Tanner precisou de dois meses de tratamento intenso para chegar a essa compreensão.
— Bem, de qualquer maneira... — Tanner se levanta. — Espero que Bob esteja em paz agora. Eu gosto de pensar que ele se encontrou com Kimmy no céu. Talvez ela o tenha perdoado pelo que ele fez com ela. — Tanner vai embora com as mãos nos bolsos, deixando-me a olhar para a janela escura do 1D.
E de repente eu sei o que preciso fazer.
Mal posso discar o número do Dr. Stayner, minhas mãos tremendo. Ele deu-me em caso de emergências. Isto é uma emergência.
— Olá? — A voz suave responde e eu imagino-o sentado em uma poltrona em frente a lareira com seus óculos na ponta do nariz, lendo uma revista Shrinks Today34.
— Dr. Stayner?
— Sim, Kacey? Você está bem?
— Sim, eu estou. Dr. Stayner, tenho um favor a lhe pedir. Eu sei que é, provavelmente, um abuso de nosso relacionamento e confidencialidade, mas...
— O que é, Kacey? — Eu posso ouvir o sorriso paciente em sua voz.
— Diga-lhe que eu o perdoo. Por tudo. — Há uma longa pausa. — Dr. Stayner? Você pode fazer isso? Por favor?
— Eu certamente posso, Kacey.
34 A tradução seria algo como: ‘As mais recentes novidades para Psiquiatras’.
Fase Nove Perdão
Capítulo 22
Ondas batem nos meus pés enquanto eu ando ao longo da linha costeira em direção à casa, assistindo o sol mergulhando abaixo no horizonte para a noite. Quando Storm disse “na praia,” eu não sabia que ela estava falando de uma propriedade com a parte traseira virada diretamente para Miami Beach. E quando ela disse “uma casa grande” eu não sabia que ela estava falando de uma mansão de três andares com varandas e uma ala separada para Livie e eu. Aparentemente, a avó Ryder tinha seus dedos enrugados nos campos de petróleo e seu único neto, Oficial Dan, se deu bem como uma raposa em um galinheiro.
Estamos aqui há quase cinco meses e eu ainda não consegui assentar. Eu não sei se é porque é lindo demais para ser real, ou se está faltando alguma coisa.
Ou alguém.
Toda noite, eu caminho pela praia, ouvindo as ondas calmas batendo na praia, apreciando o fato de que eu posso andar e correr, e respirar. E amar. E me pergunto onde está Trent. E como ele está indo. Se encontrou um bom mecanismo de enfrentamento para ajudá-lo a se curar. O Dr. Stayner nunca me atualizou depois daquele telefonema. Espero que ele tenha passado a mensagem. Não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Só espero que isso tenha dado a Trent algum nível de paz.
Mas eu não pressionei mais. Não tenho direito. Perguntei a Livie algumas vezes se ela ouviu falar sobre Trent de Carter. Carter faz questão de chamar Livie em domingos alternados para nos verificar e perguntar-lhe como a escola está indo. Acho que Livie realmente gosta disso. É como se ela tivesse uma figura paterna em sua vida para ajudar a preencher o buraco deixado após o acidente. Talvez, com o tempo, eu seja capaz de falar com ele também. Não sei...
Toda vez que eu pergunto sobre Trent, porém, ela praticamente me implora para não machucá-lo ou a mim, reabrindo as feridas. Claro que Livie está certa. Livie sempre sabe o que é melhor.
Eu tento não pensar sobre Trent seguindo em frente com sua vida, mesmo que ele provavelmente o tenha feito. Pensar nele com os braços ao redor de alguém só alimenta a profunda dor em meu peito. Preciso de mais tempo antes que possa enfrentar essa realidade. E meu amor por ele, bem, não sei se isso alguma vez vai desaparecer. Eu vou seguir com a minha vida, uma parte de mim sempre desejando que ele estivesse nela. Seguir em frente... Algo que eu não fazia desde que meus pais morreram.
Meus pés diminuem de velocidade enquanto olho para o sol caindo abaixo do horizonte, sua última luz dançando ao longo de milhares de ondulações, e agradeço a Deus por me dar uma segunda chance.
— Acho que eu gosto mais deste lugar para encontro do que a lavanderia.
O som da voz profunda congela meu coração. Eu suspiro e giro ao redor para encontrar olhos azuis e uma bagunça de cabelo castanho dourado.
Trent está em pé na minha frente, com as mãos nos bolsos. Aqui, em pessoa.
Eu me esforço para regular a minha respiração e meu coração começa a funcionar novamente, só que agora ele está batendo lento e rítmico contra a minha cavidade torácica. Uma mistura de emoções bate em mim e estou congelada, tentando separar e compreender cada uma para que eu possa lidar com elas. Não suprimi-las. Não há mais engarrafamento.
Eu sinto felicidade. Felicidade que Trent está aqui.
Desejo. Desejo de senti-lo contra a minha pele novamente, seus braços me protegendo, sua boca na minha.
Amor. O que aconteceu entre nós, foi real. Eu sei que foi real. E eu o amo por deixar-me experimentar isso.
Esperança. Espero que algo bonito possa vir dessa história trágica.
Medo. Medo de que isso não vá acontecer.
Perdão... Perdão.
— Por que você está aqui? — Eu digo sem pensar, meu corpo tremendo.
— Livie me pediu para vir.
Livie. Sempre a surpresa. A voz de Trent é tão baixa e suave. Eu poderia fechar os olhos e ouvi-la vibrar em meus ouvidos durante toda a noite, mas não o faço porque tenho pavor que ele vá desaparecer. Então eu olho para ele, para seus lábios entreabertos, suas íris azuis enquanto elas percorrem o meu rosto.
— Acho que ela está convencida de que você não coloca gatinhos em caixas eletrônicos mais. — Finalmente consigo dizer.
Ele ri, com os olhos brilhando. — Não, eu acho que é uma preocupação a menos para ela.
Ele está apenas a um metro e meio de distância, três passos de meus braços, e eu não posso fechar a distância. Eu quero, muito. Mas não é meu direito. Aquele corpo magro forte, aquele rosto, aquele sorriso, aquele coração, nada disso me pertence mais, fora dos meus sonhos. Alguém vai aproveitar essa bênção. Talvez alguém já esteja. — O Dr. Stayner sabe que você está aqui?
Observo o peito de Trent subir e descer com uma inspiração profunda. — Sim, eu disse a ele. Não escondo mais nada dele.
— Oh. — Abraço-me com força. — Então, como você está indo?
Ele olha para mim por um longo momento antes de sorrir. — Eu estou bem, Kacey. — Há uma pausa. — Mas não ótimo.
Sinto minha testa sulcar com preocupação. — Por quê? O que há de errado? A terapia não está funcionando?
— O que há de errado? — A testa de Trent arqueia quando ele dá dois passos para frente, fechando a distância, com as mãos segurando com firmeza os lados da minha cintura. Eu ofego, sua proximidade com o meu corpo, tanto alarmante como intoxicante. — O que está errado é que todas as manhãs e todas as noites, eu deito na cama me perguntando por que você não está ao meu lado.
Minhas pernas começam a oscilar. — Você sabe o porquê. — Respondo em voz baixa, derrotada. Por dentro estou gritando, xingando a realidade.
— Não, eu sabia por que antes. Mas você me libertou, Kacey, lembra?
Eu te perdoo. Concordo com a cabeça e engulo. Sua mão levanta afagando minha bochecha com a almofada do polegar. — E não há nenhum lugar que eu preferiria estar do que com você. — O polegar roça meu lábio inferior.
Eu não consigo respirar. Minha mão treme quando empurro uma mecha de cabelo para trás da minha orelha. — O que o Dr. Stayner diz sobre isso? Não é errado?
— Oh, Kace. — Trent curva os lábios e ele pisca-me o mais profundo conjunto de covinhas que eu já vi, curvando meus joelhos. — Nada nunca foi mais certo.
Isso é tudo que eu preciso ouvir. Me jogo em seus braços, minha boca se conectando com a sua.
Agarrando-o. Sentindo-o. Amando-o.
Epílogo
Uma leve brisa agita as dobras do vestido de Storm enquanto ela e Dan posam para fotos com o mar e um por do sol como imagem de fundo. Ela é a noiva mais linda que eu já vi, ainda mais com a barriga inchada. O bebê nasce em apenas três meses e Mia começou a chamá-lo de “Bebê Alien X.” Eu não sei de onde ela vem com essas coisas. Dan, provavelmente. O bebê é outra menina. Dan brinca que ele está condenado, mas secretamente, eu acho que ele sente falta de todo companheirismo feminino. A casa de praia está um pouco menos lotada-de-estrogênio estes dias, com Livie em Nova Jersey e eu dividindo meu tempo entre lá, escola e o condomínio de Trent à cinco minutos de distancia.
— Quem sabia que haveria tantas mulheres quentes em um casamento? — Trent insinua por trás de mim, pendurando os braços em volta dos meus ombros. Meu estômago faz uma vibração nervosa. Sempre faz isso quando Trent me toca. Mesmo depois de três anos, ele pode fazer coisas para mim com um olhar que eu achava impossível. Espero que nunca se desvaneça.
— Por tantas, você quer dizer uma, certo? — Murmuro quando jogo a minha cabeça para trás e acaricio meu nariz contra sua linha da mandíbula.
Ele geme. — Você está tentando me dar uma ereção na frente dos meus pais?
Eu rio e viro o meu olhar para ver Carter e Bonnie nos observando de longe, e eles estão sorrindo. Durante a terapia, eu percebi que ao afastá-los da minha vida e de Livie desde o início não lhes permiti a chance de curar uma família. Depois que Trent e eu reconciliamos, fiz questão de escrever uma nota sincera a eles como forma de desculpa. Primeiro Bonnie apareceu na minha porta em lágrimas, então Carter. Uma coisa levou a outra e aqui estão eles, de mãos dadas, uma família novamente.
O vento carrega a risadinha suave de Livie para nós. Ela está com Mia, que está ocupada mostrando-lhe todos os novos dentes que cresceram. Livie ganhou aquela bolsa de estudos integral para Princeton, como todos nós esperávamos, por isso não a vemos muito agora. Estou tão orgulhosa dela. Eu sei que meu pai estaria também.
Mas sinto falta dela como uma louca.
E eu acho que ela está namorando alguém, mas não tenho certeza. Ela permanece vaga sobre o que está acontecendo em Princeton, o que é geralmente um sinal de um homem. Espero que ela esteja. Livie merece isso e muito mais.
Eu olho para a multidão de rostos amigáveis. Eles estão todos lá. Cain e Nate - tão bonitos em ternos quanto qualquer homem pode estar. Tanner, com uma amiga que conheceu online. Mesmo Ben, de braço dado com uma loira advogada da empresa que ele acaba de se juntar. Ele me pega olhando para ele e pisca. Eu não posso evitar rir. Oh, Ben.
— Você quer ir para Las Vegas na próxima semana? — Trent sussurra, mordendo minha orelha, brincando.
Eu rio. — Eu tenho provas, lembra? — Acabei de terminar meu primeiro ano de psicologia na universidade do Estado. Estou pensando em especialização em terapia de transtorno de estresse pós-traumático. Já tenho uma referência assassina do famoso e pouco ortodoxo Dr. Stayner.
— Basta uma viagem rápida. À capela e de volta.
— Sim? — Eu me inclino para trás e olho em seus olhos para ver se ele está brincando. Não vejo nada além de amor.
Seus dedos roçam meu rosto com carinho. — Oh yeah.
Trent manteve sua promessa. Ele me faz sorrir todos os dias.
Sobre a autora
Nascida na pequena cidade de Ontário, K.A. Tucker publicou seu primeiro livro aos seis anos de idade, com a ajuda de sua bibliotecária da escola primária e uma caixa de lápis de cor. Ela é uma leitora voraz e a coisa mais distante de uma esnobe de gênero, amando tudo, de alta fantasia a Chick Lit. Ela atualmente reside em uma pitoresca cidade pequena fora de Toronto com seu marido, duas meninas bonitas, e uma ninhada exaustiva de criaturas de quatro patas.
Para mais informações sobre livros de K.A. Tucker ou para entrar em contato com ela, visite www.katuckerbooks.com.
Tradução e Revisão Inicial
Ju e Laura
Revisão Final
Leidy
Formatação
Laura
A série Ten Tiny Breaths continua em… One Tiny Lie
Sinopse
Livie sempre foi a estável das duas irmãs Cleary, lidando com a morte trágica de seus pais e a fase auto-destrutiva de Kacey com força e maturidade. Mas por baixo daquele exterior existe uma menina pendurada sobre as últimas palavras que seu pai falou para ela. "Faça-me orgulhoso,” ele disse. Ela prometeu que o faria... e ela fez o seu melhor ao longo dos últimos sete anos, com cada escolha, com cada palavra, com cada ação.
Livie entra em Princeton com um plano sólido e ela está determinada a cumpri-lo: ficar no topo de suas aulas, preparar-se para a escola de medicina, e conhecer um cara bom e respeitável com quem vai se casar algum dia. O que não faz parte do seu plano são shots de Jell-O, uma companheira de quarto adorável e que adora festas a quem ela não pode dizer 'não', e Ashton, o capitão lindo de equipe de remo dos homens. Definitivamente ele. Ele é um idiota arrogante que faz o normalmente-inexistente temperamento de Livie se incendiar e que é tudo o que ela não quer em um cara. Pior, ele é o melhor amigo e companheiro de quarto de Connor, que se encaixa perfeitamente nos critérios de Livie. Então, por que ela continua pensando sobre Ashton?
Quando Livie se encontra enfrentando notas medíocres, aspirações de carreira com as quais ela já não acha que consegue lidar e sentimentos por Ashton que ela não deveria ter, ela é forçada a quebrar a sua última promessa a seu pai e, com ela, a única identidade que conhece.
Lançamento: Junho de 2013
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