quarta-feira, 10 de julho de 2013

Clube dos milionários

Brincando Com Fogo
Charlene Sands
Clube dos Milionários 3/6
Para Kevin Novak, o fracasso é inaceitável... Ninguém o abandonava à toa.. principalmente sua mulher! Assim, quando Cara optou
por deixá-lo, pois não suportava mais ficar em segundo plano, Kevin planejou uma vingança. Quatro anos depois Cara retornou com a
intenção de oficializar o divórcio, porém não imaginava que ele havia pensado em tudo nos mínimos detalhes. A proposta de Kevin era
irrecusável: o divórcio seria oficial... se Cara concordasse em “brincar de casinha” por uma semana por uma última vez. E nada seria
proibido...
AS FOFOCAS DO TEXAS
Tudo o que você precisa saber... E ainda mais
Quem se lembra de quatro anos atrás, quando Kevin Novak vivia um casamento feliz? Talvez poucos se recordem. Mas é preciso
relembrar os boatos que surgiram quando sua mulher decidiu ir embora: todos começaram a apostar quem seria a próxima "sra. Novak". Só
que nunca houve o divórcio. Será que ele vai se recusar a assinar os papéis da separação?
Ou ele tem alguma idéia em mente? (Ele é brilhante, apesar de tudo). Porque sua ex-esposa — ou melhor, ainda esposa — finalmente
está de volta!
CAPITULO UM
Cara apagou as luzes do salão de baile e ficou parada no meio da pista do Dancing Lights, rodeada por paredes de
espelhos e pelo ambiente elegante que ela insistira em ter quando projetara seus estúdios. Sorriu ao ouvir a voz de Elton John,
que vinha dos alto-falantes. A canção, Can You Feel the Love Tonight, trazia-lhe lembranças vivas, e Cara fechou os olhos
lentamente, movendo os quadris, acompanhando o ritmo e a letra poética.
— Você pode sentir o amor? — Kevin lhe perguntara, no dia em que se casaram, referindo-se ao título da canção de
Elton John.
Kevin havia levado a mão dela aos lábios e mordiscado, seus olhos azul-escuros penetrando os dela. Cara sentira um
arrepio de excitação com aquele pequeno gesto. Ela havia sentido o amor dele, com cada olhar de parar o coração, com cada
toque afetuoso e cada beijo provocante.
— Sim, eu sinto, querido — ela respondera. Ele lhe beijara os lábios, sussurrando:
— Esta é a nossa canção, meu amor.
Eles apertaram um ao outro nos braços e cantaram a letra junto com a voz suave de Elton John, movendo-se com o
ritmo da melodia, enquanto as famílias e os amigos observavam. Ela pensara que estava se casando com o Príncipe
Encantado, seu namorado da escola, que a fazia rir em um momento e tremer de paixão no instante seguinte.
O coração de Cara se apertou quando pensou no dia de seu casamento, ela nos braços de Kevin prometendo amá-lo
com toda a sua alma e esperando pela mesma vida conjugai feliz que desejara a tantos de seus alunos de dança durante anos.
Ela tivera tantos sonhos.
— Por que, Kevin? — Cara sussurrou, no silêncio do salão de baile do Dallas.
O lindo Kevin Novak, com seus olhos azuis penetrantes e seus cabelos loiros e curtos, era constantemente confundido
com David Beckham. Ela e Kevin tinham uma piada particular sobre isso, já que com seus cabelos loiros cacheados e olhos de
um azul celeste, ela não se parecia em nada com Vitória Beckham.
Cara sorriu brevemente com a lembrança. Eles haviam tido tantos bons momentos no começo, até que Kevin decidira
que construir seu império imobiliário era mais importante que investir no casamento deles. Ele tinha se tornado um viciado em
trabalho, negligenciando as necessidades dela e favorecendo seus próximos grandes contratos. Ele partira o coração de
Cara... E ouvir aquela canção novamente trazia tudo de volta. A felicidade pela qual ela esperara junto a Kevin lhes havia
escapado. Cara ainda sentia a dor na boca do estômago. Ela seguira em frente, deixando Somerset para começar uma nova
vida em Dallas, mas não escapara da profunda dor e da angústia que Kevin lhe causara.
Ela abriu os olhos e olhou para as sombras no espelho. Sua silhueta refletia a nova e confiante mulher que se tornara.
Ela era uma mulher de negócios agora, proprietária de uma rede de estúdios de dança, além de coreógrafa e professora. Não
parecia mais aquela garota otimista e cheia de esperança que um dia quisera uma vida e filhos com Kevin; e já passara da
hora de Cara dar um jeito em sua situação.
Ela desligou o aparelho de som e foi até o telefone, para ligar para o homem com quem não falava fazia mais de quatro
anos. Já adiara aquele assunto tempo demais. Era hora de se divorciar de seu marido.
Kevin Novak passou giz na ponta do taco de sinuca com gestos lentos e deliberados, planejando seu próximo lance.
Ele era um dos melhores jogadores do Clube dos Criadores de Gado do Texas, mas seu amigo Darius Franklin o estava
fazendo suar pela vitória.
— Você sabe muito bem que Montoya é responsável por começar o incêndio.
Kevin se inclinou sobre a antiga mesa de sinuca, de carvalho entalhado, e deu uma tacada certeira, fazendo com que a
bola alaranjada fosse direto para a caçapa. Ele sabia muito bem que Darius não acreditava que Alejandro Montoya fosse
responsável pelo incêndio devastador que acontecera na Petrolífera Brody. Mas ele não via problema algum em usar uma
distração para conseguir uma vitória.
— Não tenho certeza disso, Kev. O incêndio foi definitivamente um ato criminoso, mas não vou apontar o dedo para
ninguém ainda.
— Montoya sempre foi um grande incômodo.
Kevin errou a tacada seguinte, e Darius levantou o taco, observando a mesa de sinuca.
— Isso é verdade, mas um atentado? Esta é uma acusação que não estou preparado para fazer. Parece ter sido um
trabalho profissional, e se este for o caso, teria de descartá-lo.
— Em minha opinião, ele é o culpado — Lance Brody, outro dos antigos colegas de fraternidade de Kevin da
Universidade do Texas, se intrometeu na conversa.
Os quatro melhores amigos de Kevin eram todos membros do Clube dos Criadores de Gado do Texas, no condado de
Maverick. Eles assistiam à disputa, bebendo e contando piadas; no salão de jogos do clube.
— Estou com Lance — disse Mitch Brody, concordando com o irmão. — Montoya está bem encrencado.
Justin Dupree assentiu, tomando um gole generoso de cerveja.
— Também acho que Montoya é culpado. Ele tem problemas com Lance. Sempre teve.
Lance deu uma risadinha irônica.
— Eu é que tenho problemas com ele.
A rivalidade entre os dois vinha desde os tempos da escola. Darius olhou para a bola azul e branca e deu uma tacada.
A bola rolou diretamente para a caçapa, e Kevin contraiu o rosto.
— Bom tiro. Darius riu.
— Você sofreu quando disse isso, não foi?
— Foi como uma facada no meu coração. Darius sacudiu a cabeça.
— Você é um péssimo perdedor, Kev.
— Eu não perdi ainda.
E, quando Darius errou a tacada seguinte, Kevin atacou com toda a força, sem ceder um milímetro. Sua natureza
competitiva não permitiria uma derrota. Ele acertou as quatro bolas seguintes, e por fim a bola oito, vencendo o jogo.
Satisfeito, Kevin apertou a mão do amigo.
— Você me deu trabalho desta vez.
Darius colocou uma nota de vinte dólares na mão de Kevin.
— Vou pegar você, da próxima vez. — Ele baixou o tom de voz, guardando o taco de sinuca na caixa: — Então você
realmente acha que Montoya provocou o incêndio?
— Acho que sim. E também acho que ele está por trás do bloqueio do meu projeto no centro de Somerset. Ele tem
uma mania de perseguição contra os irmãos Brody e seus amigos. Não foi por coincidência que a área que eu havia escolhido
para um grande projeto foi declarada patrimônio histórico. Ele tem de ser a mente por trás do zoneamento. Tudo é muito
suspeito.
Lance se aproximou e colocou os braços sobre os ombros dos amigos.
— Vamos lá, vocês dois. Vamos nos esquecer de Montoya por um minuto. Precisamos marcar a data da festa do meu
casamento. Kate merece mais do que fugir para Las Vegas, afinal de contas.
Kevin sorriu.
— É, você realmente sabe como impressionar uma garota. Justin completou:
— Lance seguiu mesmo o manual, desta vez.
— Vocês são muito engraçadinhos. — Lance franziu a testa, mas Kevin sabia que ele não se importava com as
brincadeiras.
Lance encontrara sua alma gêmea em Kate, e queria lhe proporcionar uma linda festa.
Quando o telefone da sala de jogos tocou, Lance se aproximou para atender.
— Cara? É você realmente? É bom ouvir sua voz.
Kevin ficou paralisado. Todas as cabeças se voltaram em sua direção, e ele encontrou quatro pares de olhos curiosos.
A emoção percorreu todo o seu corpo. Um tremor no queixo era a única coisa que denunciava sua perturbação, enquanto ele
esperava, rígido.
— Certo, vou chamá-lo. Ele está bem aqui. — Lance acenou com a cabeça na direção de Kevin, segurando-o telefone.
— É... Cara. Ela quer falar com você.
Kevin atravessou o salão para apanhar o telefone. Antes de falar, ele se virou para olhar para os amigos, e com um
gesto rápido mandou-os continuar a jogar e dar o fora.
Os rapazes se afastaram, e Kevin atendeu a ligação.
— Cara?
— Olá, Kevin. Tão formal.
Deus, ele não ouvira a voz dela em quatro anos. Nem uma única vez. Não desde que ela o deixara e construíra uma
vida nova em Dallas. Ele havia se informado sobre ela através de amigos e pelo pouco que lera nos jornais a respeito do
sucesso de seus estúdios de dança.
Ela parecia a mesma... Petulante, ainda que um pouco fria. Houve um momento estranho de silêncio.
— Eu acho que já está na hora de colocarmos um fim nisso — disse ela.
Imagens de Cara se casando de novo lhe vieram à cabeça imediatamente. Depois de quatro anos, por que outra razão
ela telefonaria? Teria se apaixonado por outro homem? Kevin não sabia como se sentia a respeito disso. Ela o abandonara, e
abandonara o casamento deles. Cara havia tentado pedir o divórcio, mas Kevin enviara os documentos de volta para ela. Ele
lhe dera um ultimato. Se ela quisesse se divorciar, teria de voltar e enfrentá-lo.
— Estou indo para Somerset. Gostaria de marcar um encontro com você, para discutir... nosso divórcio.
— Certo. — Os lábios de Kevin se contraíram.
— São só negócios, Kevin. Você deveria entender isso. Preciso de um empréstimo para expandir os meus estúdios, e
o banco recomendou... Bem, vamos enfrentar os fatos. Nós dois precisamos seguir em frente com nossas vidas.
São só negócios.
Quantas vezes ele tinha dito aquilo a ela, quando não chegava em casa a tempo para o jantar? Quando chegava tão
tarde que só conseguia cair na cama ao lado dela, e a abraçava com força até que os dois adormecessem? Ela quisera filhos,
e Kevin lhe pedira paciência. Os negócios vinham em primeiro lugar, mas só porque ele queria proporcionar uma boa vida para
ela. Ele havia ganhado milhões, mas Cara jamais entendera que ele fizera tudo por ela. E como sua mulher lhe demonstrara
seu amor eterno? Fazendo as malas no meio da noite e partindo. Fácil assim. Depois de cinco anos de casamento.
Maldita.
— Eu sou bom nisso — disse ele. — Quando você vem?
— Amanhã?
Kevin se virou e viu que seus quatro amigos o observavam silenciosamente.
— Amanhã está bem. Encontre-me no escritório, às cinco horas.
Kevin desligou o telefone e pensou em seu próximo movimento. Cara não iria simplesmente voltar à sua vida por um
dia e conseguir o divórcio. Não, ele não tornaria as coisas tão fáceis assim para ela.
Um plano começou a ser formulado em sua cabeça, e seus lábios se curvaram num sorriso.
— Cara está vindo para a cidade amanhã. Ela quer finalizar o divórcio.
— Já vi essa expressão no seu rosto antes — disse Darius. — Por que você está com uma cara tão satisfeita?
— Por nada — respondeu ele inocentemente.
— Como o nada que quase nos fez ser expulsos da universidade? Lembra-se de quando roubamos o busto de
Shakespeare da sala do professor Turner? — perguntou Lance, estreitando os olhos. — Esse tipo de nada? Kevin sacudiu os
ombros.
— Não estou gostando disso — Lance comentou. — Você parecia precisar de uma camisa de força quando ela ligou, e
agora se parece com um gato gordo que acabou de tomar uma tigela de leite.
Kevin apenas sorriu e terminou de beber sua cerveja.
— Acho que é melhor eu ir.
— Já estou com pena de Cara. A pobre garota jamais saberá o que a atingiu. — Darius meneou a cabeça.
Kevin caminhou até a porta do salão de jogos, dando de ombros.
— Aquela garota é minha esposa. E ela merece tudo o que vai acontecer.
Darius dirigiu a ele um olhar de alerta.
— Eu sempre gostei de Cara.
— É — disse Kevin, respirando fundo, antes de sair do salão. — Eu também.
Quando a porta do elevador se fechou para levar Cara ao escritório de Kevin, ela viu seu reflexo na superfície
espelhada. Ela devia ter se olhado no espelho uma dúzia de vezes antes de sair do quarto do hotel em Houston, certificandose
de que parecia bem para seu encontro com Kevin. Em um dia comum, ela usava os cabelos loiros e cacheados presos com
uma fivela, mas naquela ocasião deixara os cachos lhe caírem sobre os ombros livremente, passara uma camada suave de
brilho de framboesa nos lábios, e escolhera um vestido leve, cor de safira, que acentuava suas formas e seus olhos azuis.
Porque aquele não era um dia comum. Naquele dia, ela veria seu marido pela primeira vez em quatro anos. E uma
pequena parte dela queria que ele visse o que havia jogado fora. Ela não definhara como uma flor delicada quando eles se
separaram. Ele não a traíra da forma usual, mas havia quebrado seus votos quando negligenciara seu amor.
Cara amadurecera com a experiência. Através da dor, ela conseguira construir um negócio bem-sucedido, em uma
área que amava. Ela tinha ido até ali pela Dancing Lights e pelo empréstimo para a expansão que precisava obter no banco,
mas também por razões pessoais.
Ela respirou fundo ao sair do elevador, olhando em volta, para o novo espaço que o escritório de Kevin ocupava. Ele
certamente havia subido na vida, da pequena sala no subúrbio de Houston até aquele espaço impressionante no décimo andar
de um arranha-céu no centro da cidade.
Ela se aproximou da mesa da recepção.
— Posso ajudá-la? — perguntou a recepcionista.
— Sim, eu sou a sra. Novak. Tenho um horário marcado... com meu marido.
As sobrancelhas da jovem se ergueram, a surpresa evidente em seu rosto. Kevin havia substituído muitas coisas
desde que Cara partira, e aparentemente a doce e já idosa Margie Windmeyer, sua leal secretária, não combinara com a nova
decoração.
— Ele está me esperando. — Os nervos de Cara estavam à flor da pele, e isso era perceptível em seu tom de voz. Ela
queria acabar logo com aquilo.
— Sim, sra. Novak. — A recepcionista desistiu de procurar pelo nome dela na agenda, e apontou para as portas
duplas. — Por ali.
Cara assentiu e olhou fixamente para as portas por um segundo. E então, com sua pasta executiva debaixo do braço,
entrou no escritório.
Kevin estava de pé, de costas para ela. O físico dele não havia sofrido com o passar dos anos. Quando ele se virou
para ela, seu perfil e as linhas fortes e angulosas de seu rosto a impressionaram novamente, e ele deu um meio sorriso.
— Cara.
Foi um choque vê-lo de novo. Ela não podia, de jeito nenhum, ter previsto esse momento e como reagiria ao tornar a
vê-lo. Ela o imaginara mil vezes, mas nada se comparava à realidade. Vê-lo lhe trazia lembranças ao mesmo tempo doces e
amargas de tudo o que eles haviam compartilhado e perdido, que a invadiram em uma questão de segundos. Ela conseguiu se
controlar, e sorriu fracamente.
— Oi, Kevin.
Os olhos de Kevin a percorreram da cabeça aos pés, do modo como ele costumava olhar quando queria fazer amor
com ela. O calor lhe subiu ao corpo e a invadiu, um lampejo do que eles tinham vivido um dia voltando à vida. De repente, Cara
entendeu a enormidade de sua missão. Ela colocaria um ponto final no último capítulo de seu casamento.
— Você está... bem. Kevin provocou-a:
— Você está linda.
— Obrigada.
— Sente-se, Cara.
O olhar de Kevin caiu sobre as coxas dela, onde o tecido do vestido se esticava. Ela se recusou a mover-se sob sua
observação atenta, mas desejava que ele se sentasse.
— Você vai se casar de novo?
A pergunta abrupta dele a surpreendeu. Ela balançou a cabeça.
— Não.
Ele assentiu, cruzando os braços.
— Já está na hora, Kevin. Precisamos seguir em frente. Estou planejando expandir meus negócios, e preciso de um
grande empréstimo bancário.
— E você não quer o meu nome em nenhum documento legal, não é?
— Você é um homem de negócios, sabe como as coisas funcionam.
— Sim, eu sei como as coisas funcionam. — Seu tom cortante e sarcástico tornou o momento ainda mais pesado.
Kevin finalmente sentou-se na poltrona atrás de sua escrivaninha. Ele apoiou os cotovelos nos braços da poltrona e
entrelaçou os dedos.
— Você não acha que é estranho que estejamos sentados no meu escritório, discutindo formalidades?
— Estranho?
Os cantos da boca de Kevin se ergueram em um sorrisinho cínico.
— Sim, estranho. Considerando o modo como tudo começou entre nós. Quente e apaixonado, desde o momento em
que nos vimos.
Cara se lembrou da festa de aniversário de sua colega de fraternidade, com balões, música alta e álcool à vontade. Ela
olhara uma única vez para Kevin, e se apaixonara instantaneamente. Eles haviam passado a noite inteira flertando
descaradamente. Cara nunca tivera tanta consciência de sua sensualidade até aquele dia. Ela e Kevin haviam escapado da
festa, e feito sua própria festa naquela noite. O rubor lhe subiu ao pescoço com a lembrança erótica.
— Isso é passado, Kevin.
Ele ignorou o comentário dela. Recostou-se na poltrona e olhou nos olhos de Cara.
— Eu sei que os seus estúdios de dança estão indo muito bem.
O coração de Cara disparou ao ouvir a insinuação. Ela se endireitou na poltrona e se inclinou um pouco para a frente.
— Não estou aqui por causa do seu dinheiro, Kevin. Embora eu possa ver que você se tornou um grande sucesso. Isso
sempre foi mais importante para você. Só estou aqui por causa da sua assinatura.
— E você a terá.
Nossa, aquilo fora fácil, Cara pensou, suspirando silenciosamente de alívio.
— Sob uma condição. Eu quero algo de você, Cara.
— Estou disposta a fazer qualquer coisa, dentro do razoável.
— Considerando que você abandonou a mim e o nosso casamento, acho que meu pedido é bem razoável.
— Você me obrigou, Kevin. Eu me agarrei ao nosso casamento durante anos, esperando. Mas você não me deu
escolha...
— E não estou lhe dando escolha agora. Se você quiser o seu precioso divórcio, vai ter de concordar com os meus
termos.
CAPITULO DOIS
Kevin observou o súbito pânico que invadiu Cara quando ela finalmente compreendeu o que ele pedia.
— Você não pode estar falando sério, Kevin.
— Não estou brincando.
Cara se levantou de repente e olhou diretamente nos olhos dele.
— Não, não acho que você tenha mais nenhum senso de humor.
Ele sentiu o perfume exótico que ela usava, a mesma fragrância que costumava usar quando eles ainda eram marido e
mulher de verdade. Lembranças de noites quentes e eróticas lhe invadiram os sentidos. Da pele macia de Cara contra a dele,
da respiração dela contra seu rosto, do corpo suave e sensual sob o seu.
— Pelo contrário, querida. Tenho grande senso de humor, quando algo é engraçado. Isto, contudo, não é nada
engraçado.
— Isto é ridículo! Quer que eu more com você durante uma semana? Por que, Kevin?
Kevin ergueu as sobrancelhas, mas' permaneceu em silêncio. Os olhos azuis de Cara faiscaram como uma fogueira
acesa, quando ela compreendeu.
— Isso é chantagem.
— Você me deve, por me abandonar. Indignada, Cara levantou a voz:
— Você nos abandonou!
Kevin sentiu o coração doer.
— Não, Cara, trabalhei duro para nos dar um bom começo.
— Não, não, não! Eu não vou deixar você se sair com essa. Eu queria você. Queria uma família. Filhos. Você só queria
construir uma fortuna. Nunca estava por perto quando eu precisava, Kevin.
Eleja tinha ouvido aquilo tudo antes, e jamais concordara com a opinião dela sobre seu casamento. Ele só pedira uma
coisa de Cara: paciência. Ele queria lhe dar o mundo.
— Então, a sua solução foi fugir? Cara recuou um passo e baixou a voz:
— Eu não agüentava mais. Eu precisava demais de você.
— E ir embora de Somerset resolveu o problema para você. — Kevin estalou os dedos. — Fácil assim. E você partiu.
Uma dor aguda percorreu o corpo de Kevin. Ele não imaginara que Cara ainda tivesse o poder de magoá-lo, mas vê-la
de novo trouxe de volta todas aquelas lembranças amargas. Eles haviam discutido na noite antes de Cara partir, e tinham ido
para a cama zangados um com o outro, mas aquilo não era nada comparado com a lembrança de descobrir que ela saíra de
casa antes do amanhecer, deixando apenas um bilhete.
— Não foi tão fácil como você faz parecer. Se esquecer esse absurdo e assinar os papéis, nós...
— Estaremos terminados? Cara fechou os olhos.
— Sim. Por favor, Kevin. Isto já é difícil o suficiente.
Ela estava certa. Era difícil vê-la de novo. Todos os velhos e dolorosos sentimentos voltaram à tona. A partida dela o
ferira profundamente, e o deixara sangrando. Ele havia escondido a dor daqueles à sua volta, até que se tornasse anestesiado
por dentro, e então a amargura emergira. Ele passara os próximos anos ressentido com Cara Pettigrew, tentando afastar as
lembranças dela com casos de uma noite, com mulheres que nunca se comparariam a ela. Ele se recusara a se envolver em
relacionamentos, e dedicara toda a sua energia aos negócios.
Kevin lidou com a dor da maneira que aprendera com os anos de experiência. E se manteve firme.
— Eu já disse, quero uma semana com você, Cara. Uma semana, no meu apartamento. E então, assinarei os papéis
do divórcio.
— Não posso fazer isso.
Ele nunca superara sua raiva por ela, mas também nunca superara seu desejo por Cara. E agora que ela estava ali,
ele queria uma última aventura com sua esposa.
Antes de terminar o casamento de uma vez por todas.
— Se você quiser o divórcio, vai ter de pagar por ele.
Sem fôlego, Cara olhou bem nos olhos dele.
— Você mudou, Kevin.
— Não vou negar isso.
Ela recuou um passo e Kevin tirou a mão do braço dela. Cara mordeu seu lábio inferior, daquele jeito adorável que
sempre o fazia desejá-la.
— Vou lhe fazer outra oferta.
Kevin sorriu por dentro. Ele deveria saber que sua exuberante esposa não cederia sem lutar. Era uma característica
que sempre admirara nela.
— Estou ouvindo.
— Uma noite. Você terá uma noite, e é tudo.
Inicialmente, Kevin hesitou. Uma noite não era nem de longe suficiente para que ele tivesse sua vingança. Ele queria
passar mais tempo com ela. Seu plano era seduzi-la, e fazer com que se apaixonasse por ele novamente. E a vingan ça
perfeita por ela tê-lo abandonado seria rejeitá-la. Depois, ele assinaria os papéis do divórcio.
Um pensamento lhe passou pela cabeça, e Kevin agiu rapidamente.
— Você acaba de fazer um acordo. Se você concordar que nossa noite juntos será daqui a duas semanas, a contar de
hoje.
— Duas semanas? Eu não posso...
— Esta é a minha oferta. Você fica na cidade por duas semanas, e daqui a exatamente 14 dias terá o seu divórcio. É
pegar ou largar, e sair daqui com os papéis sem a minha assinatura, querida.
Cara estreitou os olhos e franziu o nariz. Ela pensou por alguns segundos, e finalmente ergueu o queixo.
— Tudo bem. Mas é só porque eu preciso daquele empréstimo do banco. Você está me apertando contra a parede.
— Querida, eu já a tive contra uma parede. Lembra?
— Kevin — sussurrou ela, antes que os lábios dele tomassem os seus.
Kevin sabia beijar, e Cara se entregou completamente. Os lábios experientes dele a provocavam e tentavam, com
pequenas mordiscadas até que um calor ardente a consumiu. Ela tentou em vão se afastar, mas Kevin apenas a abraçou com
mais força, apertando os quadris dela com os seus com um movimento sutil que afetou todo o corpo dela. Seus joelhos se
dobraram e seu coração martelava, enquanto o beijo apaixonado a tomava de assalto. Ela estava com dificuldade de respirar.
E quando abriu a boca buscando oxigênio, Kevin tocou-lhe a língua com a sua e a sensação excitante apenas aumentou.
Ele segurou a cabeça dela com as duas mãos e a beijou mais uma vez, e outra; a respiração de ambos era pesada e
intensa. No passado, aquele tipo de beijo significara apenas uma coisa: uma noite ardente sob os lençóis. Kevin sempre
conseguia virá-la do avesso... Mas a lembrança da chantagem dele voltou com toda a força, e ela recuperou o controle.
Maldito. Maldito. Maldito.
Ela não queria aquilo. Fora até ali para conseguir uma assinatura, e em vez disso tivera uma experiência quase
orgástica com apenas um beijo.
Cara empurrou o peito dele e interrompeu o beijo.
— Duas semanas vão ser um longo tempo.
— Poderíamos acabar com isso aqui e agora. — Cara quase morreu de vergonha quando Kevin percebeu que ela
olhava para sua escrivaninha organizada.
— Tentador — disse ele, seus olhos a percorrendo da cabeça aos pés. — Mas fizemos um acordo.
— Não podemos desfazer o acordo, Kevin? — Ela esperava que sua voz soasse firme e segura, e não desesperada.
Kevin afastou-se dela e sacudiu a cabeça.
-— Como você desfez o nosso casamento? Não, Cara. Desta vez, você não vai fugir de mim. Na verdade, quero que
você jante comigo amanhã à noite. Passo para buscá-la às sete.
Cara colocou as mãos na cintura. Quem era aquele homem? Certamente, não era o homem por quem ela havia se
apaixonado e com quem se casara, nove anos antes.
— Você não pode me dar ordens desse jeito, Kevin. Não estou à sua disposição.
Constrangido, Kevin cocou a cabeça, reconhecendo seu erro.
— Desculpe-me — disse ele. — Acho que perdi o jeito de convidar uma mulher para jantar. Cara, eu gostaria que você
me acompanhasse no jantar amanhã à noite. Temos muito o que conversar. E eu poderia usar seus conselhos a respeito de
algo.
Curiosa, Cara ergueu as sobrancelhas.
— Meus conselhos?
— Sim, você sempre teve a cabeça no lugar, e conhece as partes envolvidas. Quero discutir algo com você. Pode me
acompanhar no jantar?
Depois de ter aumentada ainda mais sua curiosidade, Cara dificilmente poderia recusar.
— Sim, está certo. Vou jantar com você. Estou hospedada no Four Seasons.
Kevin assentiu.
— Pego você às sete. Estou ansioso para vê-la amanhã à noite, Cara.
Ela assentiu, mordendo o lábio para evitar fazer um comentário sarcástico, como "Você está me chantageando. Que
outra opção eu tenho?".
Deixou o escritório de Kevin com passos confiantes. Ela não tinha imaginado que seu encontro com ele aconteceria
daquela forma. Especialmente que sucumbiria ao beijo dele daquela maneira, mas seus objetivos estavam em vista. E aquilo
era tudo o que lhe importava.
Cara caminhou até o hotel, mais disposta a percorrer os dez quarteirões a pé de saltos altos do que a chamar um táxi.
Aquele seria um bom modo de esfriar a cabeça, depois do beijo devastador de Kevin e, daquela chantagem descarada. Ela
não sabia qual das duas coisas a perturbara mais.
Tivera poucas chances contra o beijo de Kevin. Desde o primeiro dia, ela nunca fora capaz de resistir a ele. Por isso
havia fugido no meio da noite, quatro anos antes, temendo que se lhe contasse seus planos, ele a convenceria a ficar. Ele
argumentaria, como havia feito tantas vezes antes, e a beijaria até que ela se esquecesse de tudo.
Mas ela contra-atacara a tentativa de chantagem dele. De algum modo. E podia ficar satisfeita com aquilo. Ele queria
passar uma semana com ela, quando estava bem claro que o casamento deles tinha acabado, e ela lhe oferecera uma noite.
Para alguns, aquilo poderia não ser uma vitória, mas Cara sabia como Kevin era determinado, e aquele acordo certamente
significava uma vitória, por menor que fosse.
Cara segurou sua pasta com força e pensou nos documentos do divórcio que estavam dentro dela. Logo teria a independência
de que precisava para expandir seus negócios, sem ter de depender do dinheiro de sua mãe, o que ela conseguira
fazer até então. Desde que deixara Kevin, ela sempre quisera ser independente, e tinha orgulho de suas conquistas. Tudo o
que ela havia alcançado, conquistara sozinha. Embora sua mãe tivesse se oferecido para financiar os estúdios de dança, Cara
queria subir na vida por méritos próprios. Portanto, ela via a negociação com Kevin para que ele assinasse os papéis do divórcio
como uma proposta de negócios, um meio para atingir o fim. Logo, Cara-Bella, ela sussurrou, sorrindo ao se lembrar do
apelido que seus professores de dança haviam lhe dado, dizendo que ela dançava como uma princesa. Logo, você terá o que
veio até aqui para conseguir.
Ela foi se acalmando enquanto olhava as vitrines, as fachadas familiares, notando quais edifícios haviam passado por
reformas e que negócios tinham fechado, sendo substituídos por lojas mais novas e modernas. As pessoas caminhavam
rapidamente, mas aquilo não a impediu de ver Alicia Montoya do outro lado da rua, carregando várias sacolas de compras. Ela
acenou, esperando chamar a atenção da outra mulher.
— Alicia!
Alicia virou a cabeça e a viu. Surpresa, ela sorriu e acenou de volta, e então fez um gesto indicando a próxima esquina.
Cara a encontrou lá, depois de atravessar a rua.
— Cara, é tão bom ver você! — Alicia lhe deu um abraço recheado de sacolas.
Cara riu e teve seu primeiro momento de alegria real desde que chegara a Houston.
— Alicia, também estou feliz em vê-la. Já faz anos.
Ela e Alicia se tornaram amigas durante seus primeiros anos de casamento com Kevin, apesar das objeções do irmão
de Alicia. Alex Montoya não queria sua família envolvida com nenhum amigo de Lance e Mitch Brody, e os dois homens eram
amigos próximos de Kevin desde a faculdade, assim como Justin Dupree e Darius Franklin. O ódio extremo de Alex se
estendia a qualquer pessoa envolvida com os cinco homens do Clube dos Criadores de Gado do Texas.
— Sim, é verdade. Eu gostaria de ter mantido contato — Alicia disse em voz baixa.
— Eu sinto muito sobre isso, Alicia. Passei por momentos bem difíceis... Deixando a minha casa e tudo o que eu
conhecia... Não foi fácil. Eu queria começar de novo, do zero.
Os olhos de Alicia, um castanho cor de chocolate, se suavizaram.
—- Eu entendo. Mas você está aqui agora.
— Sim, vou ficar aqui pôr duas semanas. Estava planejando telefonar para você, na verdade, então me sinto
duplamente feliz por tê-la encontrado. Parece que comprou a loja toda.
Alicia olhou para as sacolas de compras que segurava.
— Eu sei, fiquei um pouco louca. Não faço compras com freqüência, e precisava de algumas coisas. Onde você está
hospedada?
— Em um hotel no fim da rua. Você acha que podemos nos encontrar enquanto estou por aqui?
— Eu ia sugerir justamente isso. Podemos nos encontrar em Somerset para almoçar.
— Parece ótimo. — Cara entregou seu cartão de negócios a Alicia. — Aqui está o número do meu celular. Estou
ansiosa para revê-la.
Alicia sorriu ao olhar para o cartão, que tinha o desenho de duas pessoas dançando, rodeadas por luzes brilhantes.
— Dancing Lights. Gostei, Cara. Eu tinha ouvido falar que você abriu um estúdio de dança.
— Todos aqueles anos fazendo ginástica e sendo líder de torcida valeram a pena, acho. Nós ensinamos todos os tipos
de dança no estúdio. Isso me mantém longe de encrencas.
— Vou ligar para você no fim de semana. Preciso ir ver Alejandro agora. Ele está me esperando.
Cara assentiu. Ela não podia nem mandar lembranças ao irmão de Alicia. Não depois que ele tentara destruir sua
amizade com Alicia, simplesmente porque ela se casara com Kevin. Culpa por associação era algo que ela não podia aceitar.
— Tudo bem, vejo você em breve. Estou realmente ansiosa por isso. — O sentimento era verdadeiro. Cara queria
renovar as velhas amizades deixadas para trás quando abandonara a cidade.
Alicia era uma pessoa muito doce, e oferecera um ombro amigo a Cara quando seu casamento desmoronara. Ela
adoraria se aproximar de Alicia novamente.
Cara passou pela praça de alimentação da Galleria e apanhou uma salada asiática para o jantar, antes de voltar para o
hotel. Ao entrar no quarto, chutou os sapatos para longe e se sentou na cama, exausta depois do turbilhão do dia.
Nem dois minutos haviam se passado quando se ouviu uma batida na porta. Ela grunhiu, e se levantou da cama.
— Sim? — disse ela, abrindo a porta para um funcionário do hotel.
— Sra. Novak? Isto chegou para a senhora. Entrega especial.
Cara deixou escapar um "ohh" antes que se desse conta. O jovem rapaz lhe entregou uma dúzia de lírios negros e
orquídeas cor de lavanda, lindamente arranjados em um vaso.
— Obrigada — disse ela, entregando uma gorjeta ao rapaz antes de fechar a porta. Admirando os lírios, ela colocou o
vaso na penteadeira e retirou o cartão do arranjo. Havia um bilhete.
Não me esqueci das suas favoritas.
As lágrimas fizeram seus olhos arderem por um momento. Ela sabia que as flores exóticas tinham sido enviadas por
Kevin. Cara tinha uma predileção especial pelos lírios de cor singular, e aquela fora a única extravagância que ela exigira para
seu casamento.
As emoções lhe embrulharam o estômago, e ela se jogou na cama. Olhando para o teto, com um nó na garganta, ela
sussurrou no silêncio do quarto:
— Você não esqueceu mesmo, não foi, Kevin?
Kevin acertou a bola direto no décimo oitavo buraco, e ergueu o punho uma, duas vezes, em uma imitação passável de
Tiger Woods. O campo de golfe do clube não era exatamente um campo de torneio, mas Kevin estava feliz demais com os
acontecimentos recentes para se importar. Ele gostava de vencer.
— Foi uma tacada de sorte — resmungou Lance, fingindo-se zangado.
— Sorte uma ova. Isso é habilidade pura, Brody. Significa cinco vitórias minhas contra duas suas este mês.
— Eu estava ganhando até os três últimos buracos — Lance reclamou. — É como se você mal pudesse esperar para
dar o fora do campo, hoje.
Ao ser lembrado da hora, Kevin olhou para o relógio. Ele tinha de passar no escritório, trocar de roupa e ir buscar Cara.
— Você tem um encontro quente ou algo do gênero, Kev? — Os lábios de Lance se curvaram em um sorriso cínico.
— Vou sair com Cara esta noite. Lance deu um assobio longo e agudo.
— Existe algum fio de esperança para vocês dois?
— Nenhuma chance.
— Você está me dizendo que a esqueceu?
Kevin rangeu os dentes. Maldição, claro que ele a esquecera. Não importava que o encontro do dia anterior lhe tivesse
feito lembrar-se de todos os momentos bons que eles haviam compartilhado, ou que ele estivesse ansioso para vê-la
novamente naquela noite.
— Sim, eu a esqueci.
— Mas você vai levá-la para jantar esta noite, não é?
— Sim, vou levá-la para jantar.
— Ei, é só me dizer para não meter o nariz onde não sou chamado, amigo. Mas eu vi a expressão rio seu rosto ontem,
quando ela telefonou. Você estava louco de raiva. E sentir raiva significa que ainda se importa. E também quer dizer que está
tramando alguma coisa. Eu conheço você, Kevin.
— Vou ter uma última aventurazinha com a minha mulher antes de assinar os papéis do divórcio — Kevin disse, em
defesa própria. — Não há crime nenhum nisso.
— A menos que você tenha segundas intenções. Kevin deu de ombros.
— Ela vai ficar aqui por duas semanas. — Graças à chantagem dele.
Depois de colocarem as bolsas na parte de trás do carrinho de golfe, ele e Lance se acomodaram nos assentos, e
Kevin assumiu o lugar do motorista.
— Então você está planejando sair com ela, e depois o quê? — Lance não desistia.
Kevin olhou para ele pensativo, e respirou fundo. Todos os seus amigos sabiam o quanto Cara o havia magoado
quando partira. E, embora Kevin não fosse admitir seu plano abertamente para ninguém, não seria difícil para nenhum de seus
amigos somar dois mais dois.
— Você está planejando reconquistá-la e depois abandoná-la, não está? — Lance perguntou, com uma expressão
incrédula no rosto.
Como Kevin não negou, Lance sacudiu a cabeça.
— Olhe, Kev, se você tem uma segunda chance com alguém especial, aproveite. Não a desperdice, como eu quase
desperdicei com Kate.
Kevin atirou as palavras de Lance de volta para ele:
— É agora que eu lhe digo para não meter o nariz onde não é chamado, amigão.
Ele não precisava de um sermão. Desde que Lance se casara com Kate, ele parecia querer que todos seguissem o
exemplo. Mas Kevin não acreditava mais em "felizes para sempre". Ele só queria uma pequena vingança por toda a dor e
humilhação que Cara lhe causara.
— Certo, tudo bem. Mas não diga que eu não o avisei.
Mais tarde, naquele dia, Kevin foi até o escritório para examinar alguns contratos. Ele queria estar de cabeça fresca
quando apanhasse Cara para jantar. Uma das coisas que aprendera nos últimos quatro anos era cercar-se de funcionários em
quem confiava e delegar tarefas. Descobrira que aquilo lhe dava mais tempo para os prazeres da vida, que ultimamente se
resumiam a uma partida de golfe ou um jogo de sinuca com seus amigos.
A ansiedade lhe fervia o sangue. Cara era um desafio muito maior do que vencer Darius na sinuca, ou Lance no golfe.
E, que diabos, ele precisava encarar os fatos, estava ansioso para passar suas noites com ela novamente. Como nos velhos
tempos; uma voz em sua cabeça lhe disse.
Kevin saiu do escritório às cinco horas, dirigiu até seu apartamento, tomou um banho, fez a barba e checou os
preparativos que havia feito para o seu primeiro encontro com Cara. Ele chegou ao hotel dela um pouco mais cedo, e bateu à
porta de seu quarto.
— Só um minuto — ela respondeu.
Kevin sorriu só de ouvir o tom de voz petulante dela. Cara abriu a porta e sussurrou, sem fôlego:
— Você chegou cedo. — Ela colocou uma argola de prata em uma das orelhas, parecendo um pouco afobada, mas
linda,-em um vestido de seda preta que favorecia suas longas pernas de dançarina. Seus cabelos lhe cascateavam pelos
ombros e estavam presos do lado com uma fivela de cristal.
— Você está linda, Cara. — Ele entrou no quarto.
Ela o examinou da cabeça aos pés, a surpresa registrada em seu rosto. E, antes que pudesse fazer qualquer
comentário sobre o visual dele, Kevin sacudiu a cabeça e completou:
— É uma pena, porém, porque você terá de tirar todas as suas roupas.
CAPÍTULO TRÊS
Vestindo jeans e usando as botas de couro que Kevin levara, Cara montava uma Caçadora de Sonhos, a égua de 5
anos de idade que nascera nos estábulos do clube quando Cara ainda estava casada com Kevin. Embora tivesse crescido em
meio a cavalos, no rancho de seus pais, ela se esquecera do quanto gostava de montar. Ela e Kevin haviam montado
ocasionalmente nos primeiros anos do casamento, antes de ele se tornar obcecado pelo trabalho para arranjar algum tempo.
No dia em que Caçadora de Sonhos nascera, Cara havia corrido para os estábulos, e no momento em que vira a
teimosa potrinha, apaixonara-se imediatamente. Montar de novo sua égua favorita e cavalgar até os montes do condado de
Maverick com Kevin lhe parecia quase um sonho. O sol do Texas estava baixo no horizonte, e lançava tons de laranja e
dourado sobre o vale, enquanto eles montavam em silêncio. Havia uma paz tranqüila naquela terra, uma paz como Cara não
experimentava fazia muito tempo. Ela andava tão mergulhada no ritmo alucinante de Dallas que havia se esquecido de como
era estar em contato com a natureza.
Kevin parecia compreender aquilo, estabelecendo um ritmo lento e apreciando a paisagem. Havia uma estranha
sensação de conforto em estar ali com ele. Cara quase podia esquecer sua chantagem e sua manipulação. Quase.
Ela lançou um olhar na direção dele e deixou escapar um pequeno suspiro. Parecendo tão à vontade sobre um cavalo
como quando fechava um negócio em seu escritório na cidade, Kevin se adaptava bem. Usando uma calça Wrangler, uma
camisa azul e um chapéu Stetson preto, seu marido adotava o visual informal muito bem.
— Você está me encarando — ele disse, com um sorriso.
— Oh, você realmente gostaria de pensar que é verdade. — Apanhada em flagrante, Cara desviou os olhos,
escondendo o próprio sorriso.
— Eu sei que é assim. Está vendo algo de que goste?
— Eu não sei, Kevin. Estou?
— Você precisa relaxar, Cara. Aprecie a paisagem.
— E você se julga parte da paisagem?
— Eu? — disse ele, baixando a aba do chapéu. — Não, senhora. Eu não seria tão convencido.
Cara achou graça. Certo, talvez ela devesse simplesmente relaxar. Não gostava nada da chantagem de Kevin, mas
podia aproveitar o passeio. Pelo simples motivo de que estava montando Caçadora de Sonhos, em uma gloriosa tarde de
verão.
— Vejo muita coisa de que gosto — disse Kevin em voz baixa, depois de um minuto.
Cara sentiu os olhos dele sobre si, e um calor ardente lhe subiu pelo pescoço. Ela não ousou olhar para ele. Um nó se
formou em sua garganta. Não confiava em si mesma o suficiente para responder.
Eles cavalgaram em silêncio até que a trilha poeirenta os levou uma subida.
— Espere aqui — Kevin disse misteriosamente, e diminuiu, a marcha de seu cavalo.para um trote. Ele avançou uns
dez metros, subindo o aclive, e então se virou para ela. — Tudo bem, pode vir.
Ele fez um gesto com a mão. Caçadora de Sonhos seguiu a trilha trotando, até que Cara se juntou a Kevin no topo do
aclive. Olhando nos olhos dele primeiro, e então seguindo a direção do olhar de Kevin, Cara perdeu o fôlego com a vista lá
embaixo.
— Oh, Kevin... Isto é incrível!
Um pequeno mas bem conservado chalé na propriedade do clube encontrava-se iluminado, do lado de fora, por pelo
menos cem velas em castiçais. Uma mesa forrada com linho branco estava posta, com porcelana fina, taças de cristal e lírios
de todas as variedades.
— É lindo. — As lágrimas lhe encheram os olhos.
Por que ele não tinha feito algo parecido anos antes, quando o casamento deles estava estremecido, quando ela
queria atenção, quando precisava saber que era mais importante que os negócios dele? Oh, Kevin, ela pensou, por que você
está fazendo isto agora, quando já é tarde demais? A pergunta a atormentou, mas ela a afastou de sua mente. Relaxe, Cara.
Isto é temporário.
— Fico feliz que você tenha gostado. — Kevin induziu o cavalo avante, ~e Caçadora de Sonhos o seguiu até o outro
lado do aclive.
Quando eles chegaram ao chalé, Kevin desmontou. Ele se aproximou de Cara, estendendo os braços para ela, que
escorregou pelo flanco esquerdo da égua, aceitando a ajuda. Ele a segurou nos braços, e seus olhos se encontraram,
enquanto as velas iluminavam o cenário.
— Você sempre ficou linda à luz de velas, querida.
Cara sorriu, o elogio lhe aquecendo o coração. Kevin inclinou a cabeça, e a aba de seu chapéu Stetson tocou a testa
de Cara. Ela se preparou para o beijo, seu corpo tenso de ansiedade.
Kevin encostou os lábios nos dela em uma carícia leve como Uma pluma, e se afastou. Cara piscou, um pouco
surpresa. Ele tomou a mão dela.
— Sente-se. — Ele a levou até a mesa e puxou uma cadeira para ela. — Eu cuido dos cavalos.
Ela o observou tomar as rédeas dos dois cavalos e ir para a parte de trás do chalé. Quando ele voltou e se sentou, um
chef apareceu à mesa, vestindo um avental branco e usando um chapéu de cozinheiro, seguido por um garçom.
— Espero que apreciem a refeição, sr. e sra. Novak — disse o chef.
— Tenho certeza de que iremos apreciar — respondeu Kevin, com um aceno de cabeça.
Cara ficou sentada em silêncio enquanto o garçom servia a entrada, um pastel leve recheado com queijo e
framboesas. Ela deu uma garfada e fechou os olhos.
— Oh... Isto é o paraíso.
Quando ela abriu os olhos, o olhar de Kevin estava fixo nela, Observando-a desfrutar da comida com um brilho na
expressão.
— O chef é altamente recomendado.
Cara sentiu-se novamente tentada a perguntar por que ele estava se dando a tanto trabalho. Mas ela já havia decidido
seguir a banda e ver onde aquilo iria parar, e continuou em silêncio sobre o assunto.
— Posso entender o motivo. Ele já tem o meu voto para chef do ano.
Kevin serviu uma taça de vinho para cada um.
— Você disse algo a respeito de precisar dos meus conselhos, mas ainda não falou uma palavra sobre o assunto.
— Este não é um assunto agradável, Cara. Detesto ter de estragar a noite, mas sim, tenho algo que gostaria de lhe
contar. É sobre Alex Montoya e o recente incêndio na Petrolífera Brody. Eu acho que foi um incêndio criminoso.
— E você acha que Alex fez isso? — a voz de Cara se elevou, corri a incredulidade.
Certamente os irmãos Brody tinham problemas com Alex e vice-versa, desde os tempos de adolescência, mas Cara
nunca imaginara que Alejandro Montoya fosse capaz de algo tão sério como um incêndio criminoso.
— Acho, Cara. E gostaria de ter a sua opinião sobre isso. Escute...
Kevin fez uma descrição detalhada do que havia ocorrido entre Lance, Mitch e Alex durante todos aqueles anos, e
completou com um comentário sobre como Alex conseguira impedir a realização de seu último empreendimento de
revitalização. Ele explicou como Alex havia ajudado a apoiar uma facção que queria declarar aquela área específica de
Somerset um patrimônio histórico, destruindo o projeto.
— Não tenho provas sobre o incêndio, mas você conhece todos os envolvidos. O que acha?
Cara sacudiu a cabeça. Ela pensou sobre o encontro acidental que tivera com Alicia no dia anterior. Alicia ficaria
arrasada se seu irmão tivesse qualquer envolvimento no incêndio.
— Meu instinto me diz que Alex não seria capaz de fazer algo tão drástico. Não é o estilo dele, Kevin. Sim, eu posso,
vê-lo agindo por baixo dos panos, trabalhando para preservar a área de Somerset. E ele pode até mesmo ter feito isto para
prejudicar você, mas não é um ato criminoso.
— Não, só me causou uma grande dor de cabeça e prejuízo financeiro.
— Você pode não concordar comigo, mas eu não acho que Alex tenha tido algo a ver com o fogo na refinaria.
— Tudo bem, registrado. Você e Darius são os únicos. Lance, Mitch, Justin e eu achamos que ele está por trás disso.
— Talvez você não esteja sendo objetivo. Talvez queira culpar Alex. Talvez tenha tanta raiva dele que queira que ele
seja culpado.
Kevin franziu o rosto, e Cara continuou:
— A vingança pode ser doce, não era isso que você sempre dizia?
— Não, eu nunca disse isso.
— Oh, desculpe-me, deve ter sido o outro marido com quem me casei há nove anos.
— Deve ter sido. — Com uma expressão cínica, Kevin ergueu a taça e terminou de beber o vinho. Ele se serviu de
outra taça, enquanto o garçom tirava a mesa e trazia o próximo prato.
— Então isso era tudo o que você queria me perguntar? — Cara atacou a salada de aspargos, seu apetite retornando
com força.
— Sim.
— Você está arrependido de ter pedido a minha opinião?
— Não. — O tom de Kevin era sincero. — Eu sempre valorizei a sua opinião. Isso não mudou.
Cara se recostou na cadeira e olhou nos olhos de Kevin.
— Você consegue ser tão charmoso. Quando quer ser.
— Eu quero ser. Agora. Com você.
Por quê? Cara não entendia, mas a voz em sua cabeça lhe dizia para ir em frente e aproveitar aqueles últimos dias
com Kevin. Logo o casamento deles terminaria.
Quando eles terminaram os quatro pratos da refeição principal, Kevin sugeriu que entrassem para a sobremesa e b
café.
— O chef preparou algo especial para nós.
— Eu deveria estar satisfeita, mas sempre há espaço para a sobremesa — disse Cara, sentindo o zíper do jeans se
expandir um pouco. Ela era esbelta, e com um metro e setenta e dois de altura podia se dar ao luxo de comer uma sobremesa
calórica de vez em quando.
Kevin se levantou e estendeu a mão para ela. Com os dedos entrelaçados, eles entraram no chalé, subindo as
escadas, as botas arranhando o chão de madeira. Cara fez um exame rápido do chalé aconchegante, notando a lareira rústica
de pedra, o sofá confortável de chintz e as várias cortinas de tecido, amarradas nas laterais.
— É muito bonito aqui.
— Esta costumava ser a casa do capataz. O clube a deixou ficar em ruínas, praticamente. Eu a reformei, e agora ela
está disponível...
— Para você impressionar as mulheres? — disse ela, em um tom provocante.
Kevin se virou e a agarrou pela cintura, apertando-a contra si.
— Você tem uma boca bem grande, sabia? Cara jogou a cabeça para trás, para encará-lo.
— Você sempre gostou da minha boca atrevida.
O olhar de Kevin praticamente devorou os lábios dela. Ele segurou a cabeça dela com uma das mãos e a puxou para
perto, seus lábios quase se tocando.
— Eu ainda gosto.
O coração de Cara batia com velocidade dobrada quando ele a beijou. Kevin tinha gosto de vinho, robusto e quente.
Um gosto familiar e bom. Ele tinha o gosto de todas as coisas doces de que ela sentia falta em sua vida.
— Kevin.
— Eu adoro quando você geme o meu nome — ele disse entre beijos.
— Eu não gemi — Cara protestou fracamente.
Kevin segurou-lhe o traseiro e a puxou com mais força contra o peito. Com os quadris tocando os dele, ela sentiu seu
desejo sob a fricção do jeans. Kevin estava mordiscando seu pescoço.
— É mesmo? Acho que vou ter de fazer algo a respeito disso. Havia momentos em que Kevin odiava sua mente
metódica, e aquele era um deles. Cada instinto que ele possuía lhe dizia para seduzir Cara, ali, naquele momento, e tirar
vantagem do ambiente remoto e romântico do chalé. Mas Kevin tinha um plano em mente, e a realização daquele plano só
podia acontecer mais tarde, e não tão cedo. Ele amaldiçoaria a si mesmo, no dia seguinte; por lua natureza teimosa, e pagaria
o preço: perder a chance de uma noite de sexo selvagem com sua esposa. Mas nem tudo estava perdido ainda. Ele precisava
de Cara naquela noite, e aproveitaria o pouco que seu plano lhe permitia.
Ele mordiscou os lábios de Cara repetidamente, invadindo-lhe boca com a língua, com um ardor frenético. Um
pequeno gemido escapou dos lábios dela, e fez com que a virilidade dolorida de Kevin se tornasse quase insuportável. Com
um esforço que exigiu toda a sua força de vontade, ele se afastou dela, e olhou dentro de seus olhos. A rendição que ele viu
naquele azul-safira a desconcertou. Ele precisava tocá-la e sentir a suavidade de sua parte, acariciar os seios perfeitos e
firmes. Nada iria detê-lo, e que o plano fosse para o inferno.
— Querida — murmurou ele, acariciando o pescoço dela com a língua. — Deixe-me tocá-la.
Ela estremeceu e gemeu, impotente. Kevin beijou-lhe o pescoço, descendo até o primeiro botão de sua blusa. Com
dedos hábeis, ele abriu o botão, e mais outro, e outro ainda. Os seios dela, emoldurados pelo algodão branco, eram um convite
que ele não podia ignorar. Ele os acariciou e fechou os olhos, deliciando-se com a sensação familiar de tocá-la, e de como
Cara se encaixava tão perfeitamente em suas mãos. Seus polegares circularam simultaneamente os dois mamilos eretos que
praticamente escapavam do sutiã, até que ele os libertou da tortura.
— Oh... — ela gemeu, pressionando o corpo contra o dele com uma necessidade que ele sabia que não poderia
satisfazer naquela noite.
— Você é tão linda, querida. Exatamente como eu me lembrava — murmurou ele.
Kevin baixou a cabeça e beijou-lhe os bicos dos seios, primeiro um, depois ò outro. Sempre sensível ao toque dele, ela
arqueou as costas; e Kevin a trouxe para mais perto de sua boca, sugando e provocando os mamilos róseos com a língua.
Ele queria possuí-la ali, naquele momento, para satisfazer o desejo que o invadia, para compensar os quatro anos que
passara querendo Cara, apesar de sua raiva. Era difícil recuar, afastar-se do que ela lhe oferecia e que ele tanto queria, mas
Kevin estava determinado a levar seu plano até o fim.
— Você ouviu isso? — perguntou ele, baixinho. Sem fôlego, ela respondeu:
— Você está falando do meu coração martelando? Kevin sorriu e beijou os lábios dela,
— Não, lá fora. Alguma coisa assustou os cavalos. Vou verificar.
Cara pareceu um pouco surpresa com a reação rápida dele. Ele se virou e saiu pela porta da frente. Atrás da casa, os
cavalos esperavam calmamente. Kevin se encostou na parede do chalé, atrás de uma moita de hibiscos em floração, e fechou
os olhos.
— Isso é mais difícil do que eu imaginava — ele murmurou.
Kevin esperou apenas alguns minutos, até que sua respiração voltou ao normal e seu termostato interno esfriou um
pouco. Então, apanhou as rédeas dos dois cavalos e os guiou até a frente do chalé. Cara estava esperando nos degraus da
varanda.
— Alarme falso — disse ele. — Deve ter sido um coiote uivando a distância.
Graças a Deus, Cara havia abotoado a blusa e arrumado os cabelos loiros, da cor do mel. Ele não tinha muita força de
vontade quando se tratava de sua esposa. Kevin inclinou a cabeça e suspirou, sem falsidade.
— Deveríamos ir. Está ficando tarde.
Cara piscou algumas vezes, e então concordou:
— É claro.
Kevin ajudou Cara a montar em Caçadora de Sonhos e então subiu no próprio cavalo. Eles se dirigiram aos estábulos
do clube em silêncio. Quando já estavam de volta, em segurança, Kevin olhou para Cara.
— E acabamos não comendo aquela sobremesa.
Cara quebrou o silêncio, um brilho de reconhecimento em seus olhos.
— Teremos de mentir para o chef e dizer a ele que estava fabulosa.
Ele desmontou, aproximou-se dela e, mais uma vez, ela desceu da égua diretamente para os braços dele. Kevin olhou
fundo nos olhos dela, segurando-a pela cintura.
— Foi fabuloso.
Cara examinou os olhos dele. Ela queria fazer perguntas, mas Kevin tinha apenas uma resposta. Ele a beijou
rapidamente na boca, provando seu gosto mais uma vez.
— Jante comigo amanhã à noite. Vou compensá-la pela sobremesa que perdemos.
— Como você vai fazer isso? Tenho certeza de que o chefiem coisas melhores e maiores para fazer amanhã.
Ele riu, sabendo que Cara estava zombando dele.
— Fique tranqüila. Eu sei o que você quer.
Cara colocou as mãos na cintura e balançou a cabeça em negativa.
— Aposto que não sabe.
— Ah, não? Calda quente sobre bolo de chocolate, com sorvete de creme e uma dúzia de cerejas.
— O Tasty's? — A expressão petulante de Cara foi substituída por um ar de saudade. — Eu não vou ao Tasty's há
uns...
— Quatro anos e meio? Eu a levei lá no seu aniversário, lembra-se?
Uma expressão pensativa passou pelo rosto de Cara, e ela sorriu tristemente.
— Sim, eu me lembro.
— E então, que tal? Hambúrgueres e sobremesa no Tasty's, amanhã à noite?
Cara abriu a boca, e então a fechou rapidamente. Ele sempre sabia quando ela estava travando uma guerra de nervos,
tentando tomar uma decisão, dentro de sua cabeça.
— Não pense demais, querida. Só aproveite.
O comentário fez com que ela arregalasse os olhos, e Cara tomou uma decisão rápida.
— Certo. Mas, Kevin, talvez nós não devêssemos nos empolgar demais. Ambos sabemos por que eu vim a Somerset.
— Oh, não se preocupe. Não esqueci.
— B-bom.
— Mas não estou fazendo nenhuma promessa.
A boca de Cara se contraiu com a insinuação. Kevin deu um beijo rápido nos lábios tensos dela.
— Vamos, eu vou levá-la para o hotel. Você pode pensar no Tasty's no caminho.
Cara não pensou no Tasty's no caminho para o hotel. Ela pensou em Kevin. Ele a tocara de formas que ela, não
permitira que outro homem fizesse desde que eles se separaram. Imagens sensuais e vividas lhe vieram à mente. Seu corpo
ainda estava eletrizado. Não, nenhum homem a havia feito querer tentar, desde Kevin. Oh, ela tivera alguns encontros, claro,
porém nada mais sério acontecera.
Kevin havia sido doce e afetuoso a noite inteira, e minutos antes ele quase a fizera se esquecer do próprio nome. Cara
Pettigrew, pensou ela amargamente. Não Cara Pettigrew Novak. Ela ainda era a esposa dele, mas apenas no nome. Ela
deixara de ser uma Novak quatro anos antes.
Cara despiu as roupas de montaria, tirando as botas novas de couro que Kevin lhe dera. Ele se lembrara do tamanho
que ela calçava, Cara percebeu. Quantos homens sequer saberiam o número do calçado da esposa?
— Lembre-se de por que você o deixou — Cara sussurrou, no silêncio do quarto.
Ele fora divertido e carinhoso nos primeiros meses de seu casamento, e depois se tornara obcecado e determinado.
Pelo sucesso? Pelo dinheiro? Pelo poder? Cara não tinha certeza de suas motivações, já que eles tinham um padrão de vida
decente e ela nunca havia reclamado. E jamais lhe pedira riquezas. Ela crescera em meio à riqueza. E tinha visto como próprio
pai era determinado, e o quanto sua obsessão havia afetado o casamento dele, e a ela. Ela fora a filha para quem seu pai
nunca tivera tempo.
— Dinheiro não garante felicidade — dissera ela a Kevin.
Mas seu marido não a ouvira. Sua natureza competitiva o forçava a querer provar seu valor para Cara e para a família
dela. Ele queria estar à altura deles, ela imaginava, embora jamais tivesse dado a entender que ele não era suficiente para ela.
Quando o telefone do hotel tocou, Cara ficou agradecida por aquela interrupção em seus pensamentos.
— Oi, mãe.
Talvez agradecida fosse uma palavra forte demais. Sua mãe andava agindo como um cão de guarda recentemente, e
ela era a última pessoa com quem Cara queria falar a respeito de Kevin. Especialmente depois do que acontecera entre eles,
naquela noite. Desde que Cara tomara a decisão de se divorciar de Kevin, sua mãe estava demonstrando apoio demais.
— Ele já assinou os papéis?
Cara franziu o rosto. Sua mãe ia sempre direto ao ponto. Ela não poderia contar a verdade à mãe, que ela havia sido
chantageada e teria de dormir com seu marido antes de ele assinar na linha pontilhada.
— Não, mamãe. Ainda não. Mas nós tivemos um... Encontro, esta noite. Kevin está cooperando.
— Mas, querida, não vejo onde está o problema. Você não está pedindo muita coisa. Na verdade, está sendo bastante
justa em relação ao acordo. Qual é o obstáculo?
Qual era o obstáculo? Ela não sabia o propósito de ficar em Somerset por duas semanas, mas tinha de dizer algo a
sua mãe.
— Bem, Kevin anda realmente ocupado.
— Ele não mudou. Exatamente como o seu pai.
— Mãe, você sabe que eu gostava de morar em Somerset. Estou revendo meus amigos enquanto estou aqui. Tirando
umas férias.
— Querida, férias são uma viagem relaxante para uma villa em Siena, não passar os dias implorando para o seu
marido assinar os papéis do divórcio. Estou preocupada com você, Cara. Você se deu tão bem sozinha, em Dallas...
— Eu fui feliz aqui, também, um dia.
O silêncio de sua mãe dizia mil palavras. Cara não podia culpá-la por ser superprotetora. Ela sofrera muito com a
separação, realmente amara Kevin, e nenhuma mãe quer ver a filha sofrer. Cara entendia tudo aquilo.
— Eu sei, querida, e é por esse motivo que terminar isso logo, será melhor para você. Isso já se arrastou por tempo
demais.
— Concordo com você, mamãe. E vou voltar para Dallas logo que puder.
— Tudo bem, então. Espero vê-la em casa logo. Amo você, querida.
— Eu também amo você. — Cara desligou o telefone e respirou fundo, inalando o oxigênio, agradecida pela conversa
não ter durado muito.
Quando ouviu o telefone novamente, Cara deixou que tocasse quatro vezes. Ela já tinha falado o suficiente por um dia.
Tudo o que queria era cair na cama e ir dormir. Mas a sua curiosidade venceu. Ela pegou o aparelho, esperando que não fosse
sua mãe do outro lado da linha, com mais pérolas de sabedoria.
— Alô?
— Oi, querida. — O timbre profundo da voz de Kevin parecia deslizar pela linha telefônica. — O que você está
fazendo?
— Eu estou tirando minha... Bem, estou me preparando para ir dormir.
— É? Eu também. Acabei de sair do banho.
A imagem do corpo musculoso de Kevin ainda molhado da cabeça aos pés, e enrolado em uma toalha, invadiu sua
mente. Cara soltou um oh silencioso, grata pelo fato de a palavra não ter lhe escapado acidentalmente.
— O que você tem usado para dormir, ultimamente? — Kevin perguntou.
A pergunta foi tão audaciosa que Cara riu.
— Você não adoraria saber?
— Adoraria, Cara — ele disse com sinceridade.
— Nada.
Kevin soltou um grunhido sensual.
— De mais. Nada de mais. Quero dizer, só uma velha camiseta da Dancing Lights.
— Eu posso imaginá-la vestindo isso.
— Kevin, por que você está telefonando tão tarde?
— Eu me diverti muito hoje, Cara. Só queria que você soubesse.
Ela mordeu o lábio inferior. Fechou os olhos, apertando-os com força, e mesmo assim não conseguia afastar as
imagens daquela noite: dos lábios de Kevin sobre os seus, e depois fazendo amor com seus seios; da expressão provocante,
de puro desejo em seus olhos azul-escuros quando ele tirara sua blusa.
— Obrigada. — Ela se interrompeu, e então completou: — Foi uma noite muito boa. Adorei montar em Caçadora de
Sonhos.
— Eu achei mesmo que você gostaria.
— Por que está sendo tão doce comigo? Nosso casamento acabou.
Kevin não perdeu a chance:
— Sim, mas não há motivos para não sermos amigos, Cara. Não há motivos para não terminarmos de forma positiva.
— Casamentos normalmente não terminam de forma positiva, querido.
Ele fez uma pausa, e ela percebeu que usara o termo carinhoso preferido por ele.
— O nosso poderia. Podemos ser diferentes dos outros. Então, você está me imaginando molhado e enrolado na
toalha, ou não?
Cara engasgou e começou a rir. Ele a apanhara, mas ela preferiria morrer a admitir aquilo.
— Vejo que você não perdeu o seu senso de humor, afinal de contas, Kevin.
— Eu perdi muita coisa, Cara. — O tom brincalhão dele mudou subitamente. — Mas não o meu senso de humor.
Cara não queria lidar com o tom sério da voz dele, agora. Um pânico repentino a invadiu, e ela procurou uma saída.
— Kevin, é melhor eu ir para a cama.
— É, eu também. Durma bem, querida. Tenha bons sonhos. Cara praticamente sussurrou uma despedida rápida. Ela
sabia exatamente com o que sonharia naquela noite. Bons ou maus, seus sonhos seriam com Kevin.
Vestindo nada mais do que uma toalha de banho.
No dia seguinte, a imagem de Kevin continuou com ela durante toda a manhã. Cansada daqueles pensamentos, Cara
saiu do Four Seasons e caminhou pelas ruas de Houston, parando em algumas butiques no caminho. Ela estava entediada
com as poucas trocas de roupas que levara, para uma viagem que imaginara que só duraria dois dias. Ela havia dito à mãe
que tiraria umas férias, e, embora tivesse precisado reorganizar toda a sua agenda para ficar em Houston, Cara decidira que
uma tarde de compras lhe faria bem. Por que não aproveitar a cidade, enquanto estava ali?
No final do dia, ela enchera duas grandes sacolas com presentes para as professoras de dança, uma carteira da Gucci
para sua mãe e várias novas roupas para si mesma, inclusive um vestido vermelho que combinava com as novas sandálias
Valentino que havia comprado.
O tempo voara. Ela mal tinha tempo para correr de volta para o hotel e tomar um banho, antes que Kevin batesse à
sua porta.
Ela ficou incomodada por ter trocado de roupas três vezes antes de encontrá-lo para comer hambúrgueres no Tasty's.
Por que estava tentando ficar bonita para Kevin? Mas, no minuto em que ela abrira a porta e vira o brilho de admiração nos
olhos dele, pensou que valera a pena.
— Uau, você está linda! Linda demais para o Tasty's. — Kevin examinou o corpo dela da cabeça aos pés,
cuidadosamente, e Cara teve um instante de satisfação.
Ela havia experimentado os vestidos que comprara naquele dia, mas decidira usar uma calça preta justa, sapatos de
saltos muito altos e uma blusa branca, solta, de um ombro só, amarrada na cintura com uma faixa preta e dourada.
— Pode parar agora mesmo, se você acha que vai escapar de me levar ao Tasty's.
— Tudo bem — disse Kevin, torcendo os lábios de modo provocante. — Se eu não tenho escolha... Você está pronta
para ir, ou quer me convidar pára entrar?
Ele olhou por sobre o ombro dela, e para o quarto que ela ocupava. Seu olhar se concentrou na enorme cama de
casal. Cara não iria deixar que ele entrasse. Seu marido era um homem perigoso, e ela nunca seria capaz de resistir quando
ele sorrisse e falasse com todo o seu charme. Kevin ainda tinha um corpo perfeito, com ombros largos e levemente musculoso,
o suficiente para mostrar sua força sem ostentação. Quatro anos não haviam mudado aquilo.
Ele se vestia de forma impecável, e ela não se surpreenderia se um dia ele fosse parar na capa de alguma revista
famosa. Naquele momento, seus olhos azuis brilhavam com um tipo de malícia que só poderia lhes trazer problemas. Ela deu
um empurrão leve no peito dele, forçando-o a se afastar da porta.
— Estou pronta para um hambúrguer. Kevin tomou a mão dela, que ainda estava pousada no peito dele, e entrelaçou
os dedos aos dela. Ele se inclinou para sussurrar em seu ouvido:
— E eu estou pronto para a sobremesa. Já faz muito tempo, Cara, e preciso satisfazer minhas vontades.
CAPITULO QUATRO
Kevin ajudou Cara a se acomodar em seu Jaguar preto, e entrou no carro, ligando o motor, O Jaguar rugiu; toda
aquela potência sob seus dedos já havia sido uma grande fonte de excitação. Mas agora, olhando para o banco do passageiro
e vendo sua esposa sentada a seu lado, não podia pensar em algo que o excitasse mais. Cara, vestida para um encontro
casual com ele em seu estilo clássico, lhe tirava o fôlego.
Kevin rangeu os dentes, com determinação. Ele não iria tornar as coisas fáceis para Cara simplesmente deixando o
casamento deles para trás. Maldita. Ela fora a razão principal de ele trabalhar 16 horas por dia. Ela vinha de uma família rica, e
o orgulho dele não permitiria que descesse de nível, casando-se com alguém que não era capaz de lhe proporcionar o mesmo
padrão de vida. O sucesso que ele alcançara fora por causa dela, e pelo casamento deles. Mas a paciência dela havia
acabado, e ela o deixara. E ele nunca a perdoaria por tê-lo abandonado daquele jeito. Só a humilhação pela qual ele passara
era motivo suficiente para aquela retaliação. Porém era mais do que isso. Ele a amara. Realmente a amara. E ela havia
destruído aquele amor.
Cara olhou para ele com uma expressão curiosa.
— Você está quieto.
— Foi um dia longo. — Kevin ligou o aparelho de CD e sorriu. — Alguns clássicos, para melhorar o clima. A voz de
Elvis invadiu o carro, e Cara aumentou o volume quando percebeu que a música era All Shook Up. Ela sabia a letra de cor, e
cantou junto. Seus dedos tamborilavam no ritmo, e ela balançava o corpo para um lado e para o outro. Graciosa e elegante,
Cara sabia como se mover.
Ele ficara ressentido quando soubera do sucesso dela com o Dancing Lights, vendo o estúdio, de certo modo, como
um adversário. Ela o abandonara para conquistar coisas grandes. E ainda assim, de uma perspectiva puramente profissional,
ele secretamente admirava a coragem dela. Cara não havia usado o dinheiro de sua família para começar seu negócio, e em
vez disso tinha tomado empréstimos específicos para pequenas empresas, para financiar os estúdios. E agora, estava disposta
a terminar o casamento para expandir o negócio.
Kevin afastou aqueles pensamentos amargos de sua cabeça. Ele tinha uma missão, e não podia se desviar de seu
plano. Quando eles chegaram ao Tasty's, seu humor havia melhorado, e ele segurou a mão de Cara, enquanto eles subiam os
degraus que davam para a lanchonete em estilo anos 1950. Eles se sentaram a uma mesa com cadeiras de vinil vermelho, e
pediram Cherry Cokes e Tasty Burgers. A antiga radiola de ficha ficava do lado oposto do salão, ao lado do longo balcão de
fórmica, e minirradiolas estavam disponíveis em cada mesa.
— Escolha uma música — disse Kevin, colocando duas moedas na radiola.
— Oh, olhe! Eles têm uma lista de artistas de um sucesso só! Pretty Little Angel Eyes sempre foi uma das minhas
favoritas! — Cara pressionou o número e escolheu mais algumas canções obscuras do passado. — O que você imagina que
aconteceu com estes artistas? — perguntou ela, com uma expressão pensativa.
— Eles tentaram e falharam. Provavelmente, seguiram suas vidas e encontraram trabalhos produtivos em outras
áreas.
— Espero que sim. Seria uma pena deixar de fazer o que se gosta de fazer, entretanto.
— A maioria das pessoas não faz, Cara. A maioria não gosta do trabalho que faz. Elas simplesmente precisam
trabalhar para sobreviver.
— Tenho muita sorte de ter encontrado algo que amo fazer.
Kevin examinou a expressão dela, buscando qualquer sinal de arrependimento, e não encontrou nenhum. Ele ficava
incomodado por ela poder deixar seu casamento para trás tão facilmente.
— Você sempre foi boa em tudo o que tentou fazer.
— Obrigada. — Ela lhe deu um sorriso que se desvaneceu rapidamente.
— O que há de errado? — perguntou Kevin, curioso com a mudança na expressão dela.
Ela sacudiu a cabeça e olhou para a mesa.
— Nada.
— Há alguma coisa — insistiu ele.
— É só que, às vezes, acho que falhei... como esposa. Atônito com a confissão dela, Kevin franziu as sobrancelhas.
— Porquê?
A emoção era óbvia no rosto dela, e seus olhos se estreitaram de dor.
— Eu não sei. Talvez porque nada que eu dissesse ou fizesse o convencesse a ficar em casa... A minha mãe tinha o
mesmo problema com o meu pai. Ele nunca estava em casa. Sempre trabalhando, até o dia em que morreu. Você sabe que
ele morreu de um ataque do coração. Caiu sobre a mesa de trabalho, no escritório. — Cara olhou para cima por um segundo,
tentando controlar as lágrimas. — A minha mãe disse que ele morreu fazendo o que mais gostava de fazer.
A raiva fazia o sangue de Kevin ferver. Cara entendera tudo errado se estava comparando seu pai a ele. As situações
eram totalmente diferentes. O pai de Cara possuía mais dinheiro do que podia administrar, enquanto Kevin não tinha nada e
trabalhara duro para atingir certo padrão de vida. Ele havia estabelecido a meta de ganhar seu primeiro milhão aos 25 anos.
Por Cara. Sempre por Cara.
— Você acha que eu não a amava o suficiente? Que eu não estava em casa porque não estava... o quê? Feliz com
você? Ou porque eu achava que lhe faltava alguma coisa?
Cara sacudiu os ombros.
— Não importa mais, Kevin.
Eles já tinham tido aquela discussão antes, mas nunca com tanta honestidade.
— Pois eu digo que importa...
— Ei, Novak. — Lance entrou na lanchonete com Darius, e ambos se aproximaram da mesa.
Kevin franziu o rosto. Ele precisava tanto deles ali quanto de um buraco em sua cabeça.
Lance ignorou Kevin e praticamente ergueu Cara da cadeira, dando-lhe um abraço de urso.
— Meu Deus, você está linda! É bom vê-la, Cara.
— Digo o mesmo, Lance.
Darius aproximou-se e deu um abraço em Cara, também, cumprimentando-a com sua voz baixa e suave:
— Você acaba de alegrar o meu dia, mulher.
— Oi, Darius. Como você está?
— Não posso reclamar.
Cara se alegrou ao ver os dois, e, sem esperar convite, tanto Lance quanto Darius se sentaram à mesa, apertando
Cara e Kevin contra a parede. Kevin se recostou na cadeira e ouviu, enquanto Cara e seus amigos colocavam a conversa em
dia. A interrupção, na verdade, foi mais benéfica do que ele imaginara, já que havia melhorado o humor de Cara. Eles tinham
se desviado totalmente do curso original com aquela discussão, e o que Kevin realmente pretendia naquela noite era encantar
sua esposa. Ele pensara em vê-la durante o dia inteiro. E, na pior das hipóteses, poderia usar uma sobremesa de chocolate
totalmente indecente para convencê-la a correr certos riscos.
Cara realmente se esbaldara, devorando quantidades obscenas de bolo de chocolate com calda enquanto aproveitava
a companhia de Kevin e seus amigos. Ela sentia falta daquela amizade, e ainda se lembrava de como todos se divertiam juntos
na faculdade. Naquela época, Kevin era o único dos três homens em um relacionamento sério. Agora, era o oposto. Lance
tinha Kate, e Darius tinha Summer, enquanto ela e Kevin estavam à beira do divórcio.
— Eles não mudaram muito. — Cara sorriu, sentindo-se melancólica no caminho de volta para o hotel.
— Aqueles palhaços? Eles não vão mudar nunca. — Kevin sorriu também. Quando ele parou em um sinal vermelho,
olhou para ela, e se inclinou para limpar um pouco de calda de chocolate de seu lábio inferior. — Você está toda suja.
— Não estou.
Kevin lambeu a calda de seu polegar, fazendo Cara se mexer no banco. Os olhos dele se fixaram nos lábios dela, e
pensamentos eróticos lhe atravessaram a mente.
— Oh, não? — A voz dele era baixa e profunda. — Então por que eu tenho de limpá-la?
— Você não tem de...
— Tenho, sim. — Ele se inclinou ainda mais, para tomar a cabeça dela nas mãos, e tomou-lhe os lábios com os seus,
sua língua fazendo um exame detalhado da boca de Cara.
Ela se deliciava com as liberdades que ele tomava, aproveitando cada segundo do beijo. Quando ela começou a
retribuir, saboreando o momento, o carro atrás deles buzinou.
— Droga — disse Kevin, acelerando o veículo. Ele olhou pelo espelho retrovisor para o carro atrás deles. — Tenha
paciência, amigo. — Kevin se endireitou no banco e se afastou da intersecção. A risada de Cara fez com que ele se voltasse
para ela.
— O que é tão engraçado?
— Você não mudou seus hábitos ao dirigir. Ainda brigando com todo mundo na rua.
— São uns idiotas. Todos eles. — Quando ele olhou para Cara, uma gargalhada profunda emergiu.
— Todos, menos você, certo?
— Você acertou em cheio, querida. O sorriso charmoso dele a enervava. Cara se recostou no banco do passageiro,
ainda eletrizada pelo beijo e sentindo o coração leve, ao mesmo tempo. Kevin e chocolate causavam aquele efeito nela. As
lembranças lhe invadiram os sentidos, memórias de todos os momentos bobos e engraçados que eles tinham compartilhado
durante o namoro. Kevin era divertido e fácil de conviver. E era irresistível, também. Naquela noite, Cara percebeu que todas
as Características que faziam dele o homem por quem se apaixonara haviam voltado à superfície.
Kevin segurou a mão dela.
— Ainda é cedo e a noite está linda. Quer dar uma volta?
Cara não hesitou. Ela apreciara a noite, e não queria que terminasse.
— Gostaria muito.
— Conheço um lugar perfeito.
Qualquer que fosse o motivo para seu estado de espírito tão despreocupado, Cara não queria analisá-lo
profundamente. Ela estava de férias de sua vida naquele momento, um pequeno lapso no tempo, em que ela e seu futuro exmarido
podiam desfrutar da companhia um do outro sem repercussões. Ela se esqueceria da chantagem de Kevin por
enquanto, afastando as motivações dele de sua mente. Em menos de duas semanas, estaria de volta a Dallas, trabalhando no
projeto de seu novo estúdio, fazendo o que amava fazer.
Kevin estacionou o carro em uma estrada de terra com vista para o lago Somerset. A água, iluminada pela luz da lua,
brilhava como safira. Kevin saiu do carro e abriu a porta para ela. O ar estava pesado e quente, típico de uma noite de verão no
Texas.
Cara engoliu em seco ao admirar a vista. Aquele era o lugar aonde eles costumavam ir com os amigos, para fazer
piqueniques e acender fogueiras durante o verão. Aquele era o lugar deles, o cantinho detrás das mesas de piquenique, onde
ela e Kevin tinham confessado seu amor pela primeira vez.
Ela aceitou a mão que Kevin lhe oferecera e o seguiu por uma trilha escura, coberta de flores, que levava até a água.
Cara dava cada passo com cuidado, porque detestava pisar nas flores.
— Você não vai machucá-las, querida. Elas parecem delicadas, mas são bem resistentes.
Cara já ouvira aquelas palavras de Kevin antes, de forma bem parecida, mas ele não se referira a flores então. Ele
falara sobre ela, quando eles discutiam por causa do vício em trabalho que ele adquirira. Você parece delicada, mas eu sei que
é resistente.
— Por que correr o risco? Não quero destruir as florzinhas.
— Lembra-se deste lugar? — perguntou ele.
— Como eu poderia não lembrar? Nós vínhamos aqui quase todos os fins de semana, durante o verão.
— Aquele foi um verão e tanto, não foi? Ela sabia que ele falava do verão durante o qual eles se apaixonaram.
— Conte-me o que aconteceu depois que você deixou Somerset.
— Eu... Foi difícil, Kevin. Foi o momento mais difícil da minha vida. Quando decidi abrir o Dancing Lights, o meu mundo
inteiro se abriu de novo.
Os lábios de Kevin se crisparam, embora ele fizesse muito esforço para disfarçar sua'angústia. Cara não queria
estragar a noite falando sobre um assunto delicado.
— Desculpe-me, mas você perguntou.
Eles caminharam ao longo da pequena enseada, e chegaram a uma clareira com outro grupo de bancos para
piquenique, feitos de cedro.
— Você se importaria de me mostrar um ou dois truques de dança? Você sabe, sou um péssimo dançarino.
— Aqui? Não há música. E você não é um péssimo dançarino. Se bem me lembro, você se movimenta bastante bem.
— Se eu me lembro bem, você gostava de todos os meus movimentos. Mas estou falando sobre movimentos de
dança, querida. Eu ficaria feliz com um curso de reciclagem, já que vou convidá-la para a festa de casamento de Lance e Kate,
no clube. E eu não gostaria de envergonhá-la com a minha falta de habilidade ao dançar.
Cara piscou, surpresa. Ela não podia ir à festa de casamento de Lance com Kevin. Uma coisa era encontrá-lo algumas
vezes para jantar, mas acompanhá-lo a um evento formal daria a impressão errada, e a faria pensar em coisas que ela não
tinha mais o direito de pensar.
— Você não vai precisar de nada disso. Não posso ir.
— Como sabe? Eu não lhe disse a data, ainda.
— Eu sei. — Cara se afastou dele para olhar para as águas calmas em busca de conforto. Casamentos sempre a
tornavam sentimental, e ela não precisava de mais um lembrete do fracasso da união deles. — Eu só acho que...
— Shhhh, você pensa demais... Você fica tão linda ao luar, Cara. — Ele se inclinou e a beijou ternamente nos lábios.
Ela se derreteu com o toque suave, e ficou nas pontas, dos pés para retribuir o beijo, envolvendo o pescoço dele com
os braços.
Não demorou muito para os beijos de Kevin transformarem Cara em um monte de gelatina, mas não havia nada bobo
a respeito dá intensidade que ele demonstrava. Ele a puxou, enquanto andava para trás até chegar a uma das mesas de
piquenique. Ele a aconchegou entre suas pernas e continuou a mordiscar-lhe a boca, em seguida deslizando os lábios pela
base do pescoço dela.
Arrepios de excitação percorriam todo o corpo de Cara. Ela se sentia eletrizada, envolvida pelo aroma sexy da colônia
que ele usava, que ela reconhecia de anos antes, e que a fez mergulhar ainda mais em um esquecimento de tudo a seu redor.
Foi fácil para Kevin desamarrar o cinto que envolvia a cintura de Cara e abrir sua blusa. Corri um gemido de admiração, ele
murmurou o nome dela, e o coração de Cara disparou. Kevin desabotoou-lhe o sutiã com dedos hábeis e removeu a peça do
corpo dela.
— Droga, querida — murmurou Kevin, o aparente xingamento soando como um elogio suave.
Nua da cintura para cima, com as mangas da blusa lhe prendendo os braços, Cara só podia observar enquanto Kevin
tocava seus seios, acariciando-os, sentindo seu peso, tratando-a com tanta ternura que lhe dava vontade de chorar. Ele olhou
nos olhos dela enquanto passava os polegares sobre seus mamilos, brincando com eles e fazendo-a gemer de prazer.
— Você ainda gosta que eu a toque — sussurrou ele, aqueles dedos torturantes fazendo-a começar a suar.
Ela mordeu o lábio inferior e assentiu. Ela amava o modo como Kevin a tocava. Ele fora o único homem que
conseguira excitá-la tanto e tão rapidamente. Mas Cara retribuía na mesma moeda, e nunca deixava que Kevin desse a última
palavra.
— Acho que você pode fazer melhor uso dessa boca.
Kevin riu, agarrando os braços dela e puxando-a para ainda mais perto. Um dos seios dela roçou sua boca, e ele a
provocou com pequenas carícias com a língua, até que os joelhos dela quase cederam.
— Melhor, agora? — sussurrou ele, e ela assentiu.
Ele tomou o seio dela na boca, sugando e soprando seu hálito quente sobre a pele sensível. O mamilo dela endureceu,
e uma onda de calor ardente invadiu seu corpo. Tudo pulsava abaixo de sua cintura.
Kevin não parecia muito atrás. Seu corpo estava rígido, e seu desejo era evidente contra as roupas dela. Pensamentos
loucos de fazer amor com Kevin bem ali, em um lugar aberto, atravessaram a mente de Cara; afinal, aquele era o lugar onde
eles haviam confessado seu amor pela primeira vez. E os pensamentos de Kevin não eram muito diferentes. Ele a beijou
ardentemente e se levantou, sua virilidade tocando-a entre as pernas.
— Eu preciso de mais, querida.
Cara assentiu, e ajudou Kevin a abrir o zíper de sua calça. Ele a puxou contra si e deslizou a mão para dentro das
roupas dela, afastando a calcinha com dedos ágeis e tocando sua feminilidade.
— Ahhh...
O toque dele fazia a mente dela girar. Ela passara tanto tempo sem sentir aquilo, sem Kevin dando-lhe prazer.
Sozinhos na escuridão do lago, a noite iluminada apenas pela luz da lua, Cara sucumbiu às carícias de Kevin. Ele deslizou a
mão para a frente e para trás, e as pontas de seus dedos acariciavam o ponto mais sensível do corpo dela. Cara estremeceu, e
ele a beijou enquanto ela se movia contra sua mão.
— Isso é tão bom, Cara — sussurrou ele contra os lábios dela, deslizando um dedo para dentro de seu corpo.
Os olhos dela se fecharam, e ela se rendeu à vontade de Kevin. Cada parte de seu corpo parecia energizada enquanto
ele a tocava, movendo o dedo para cima e para baixo, até que ela começou a se mover no ritmo dele, juntos em uma dança
sensual. Quando ela arqueou às costas, Kevin a seguiu, deslizando os lábios pelo pescoço de Cara, criando sensações que a
queimavam como um ferro em brasa. Gemidos de prazer escapavam dos lábios dela, e seu rosto se contorceu em êxtase.
— Oh, isso é o paraíso...
Kevin tomou-lhe um seio com a mão e continuou a acariciá-la impiedosamente com a outra de novo, e de novo, até
que o corpo dela estremeceu, fora de controle.
— É tão bom, querida. Lembra-se?
Cara lembrava. Kevin sempre havia sido um amante generoso. Mas seus pensamentos pararam por ali, porque ela já
estava perdida demais para responder. Seu prazer aumentou e aumentou, e Kevin continuou a lhe exigir cada tremor, cada
sensação devastadora de êxtase, incansável em sua busca. Os músculos dela se contraíram, seu corpo foi tomado por
convulsões, e Kevin interrompeu seus movimentos, permitindo que ela desfrutasse do momento. Ele sabia — oh, sim, como ele
sabia! — dar a ela o máximo de prazer. Ela atingiu um orgasmo lento, torturante, demorado. Cara se entregou a cada segundo
de prazer quase insuportável, e então, lentamente, voltou a si. Quando ela abriu os olhos, Kevin a observava, seus olhos
queimando de desejo.
— Isso foi...
— O paraíso — Cara respondeu, sem nenhuma timidez a respeito de suas reações.
Kevin sacudiu a cabeça.
— A coisa mais sensual que eu já vi na vida. Cara olhou para a óbvia excitação dele.
— Você está... bem?
— Eu poderia fazei amor com você dez vezes sobre esta mesa de piquenique, e ainda não estaria satisfeito.
Cara estremeceu, tentada pelo pensamento erótico. Kevin fechou o zíper da calça dela e lhe devolveu o sutiã.
— Mas um acordo é um acordo.
Totalmente satisfeita e de coração leve, Cara se vestiu.
— Um homem de palavra.
Kevin respirou fundo. Ela sabia o quanto ele havia se controlado, concentrado no prazer dela.
— Teria sido mais seguro me ensinar a dançar. Cara não pôde evitar um sorriso.
— A segurança é superestimada, às vezes.
CAPÍTULO CINCO
— Então, você vai à recepção de Lance e Kate comigo?
Cara se virou para Kevin, antes de entrar no quarto do hotel. Ele estava em pé, próximo a ela, praticamente
encurralando-a contra a porta. O rosto dela ainda brilhava, depois das atenções que ele lhe dispensara no lago, e o gosto dos
lábios dela continuava em sua boca.
— Você está tentando me manipular? — perguntou ela, timidamente.
Kevin franziu o rosto e fez um gesto como quem leva uma facada no coração.
— Você está me matando, querida.
Cara mordeu o lábio inferior com indecisão.
Ela o estava levando ao limite. Faltara muito pouco para ele fazer amor com ela sobre a mesa de piquenique, naquela
noite. Desejo e paixão, combinados, eram um afrodisíaco poderoso.
— Por que você quer que eu vá?
Kevin inclinou a cabeça e falou em tom sério:
— Independentemente de tudo o que aconteceu entre nós, Lance sempre foi seu amigo. Eu sei que ele gostaria que
você fosse.
— E você? — Cara perguntou, buscando os olhos dele.
— Você é terrivelmente desconfiada.
— E eu não tenho o direito de ser? Afinal de contas, você está me chantageando.
— Não é chantagem, Cara. Fizemos um acordo. E hoje, estou lhe pedindo para comemorar o casamento de um bom
amigo. É muito simples.
Kevin queria a companhia dela naquela noite, e queria passar o máximo de tempo possível com ela durante aquelas
duas semanas, mas ficou surpreso ao perceber o quanto aquilo era importante para ele. E Cara finalmente cedeu:
— Tudo bem. Vou com você, para compartilhar da celebração. Lance é um bom homem.
Kevin assentiu, feliz por ela ter mudado de idéia.
— Boa noite, Cara. — Ele se inclinou e pressionou os lábios contra os dela, deliciando-se com as nuanças suaves de
seus lábios generosos e a maciez de sua pele de bebê. — Eu me diverti muito esta noite.
Cara fechou os olhos por um segundo. Uma imagem de si mesma, sem fôlego depois de um orgasmo devastador, lhe
passou pela cabeça.
— Uh... Kevin. Talvez nós não devêssemos...
Kevin se inclinou e beijou-a novamente, interrompendo seu raciocínio.
— Ligo para você amanhã.
Ela olhou nos olhos dele e balançou a cabeça, como se tentasse compreendê-lo, antes de se virar e entrar no quarto.
Depois de deixá-la, Kevin seguiu até seu apartamento de cobertura. Ele tirou as roupas imediatamente e tomou um
banho gelado. O jato d'água o ajudou a acalmar o desejo insistente, mas imagens sensuais de Cara continuavam a lhe invadir
a cabeça.
Não era fácil eliminá-la de sua mente.
Ele queria fazê-la pagar por tê-lo abandonado. Queria seduzi-la, fazer com que ela se dobrasse à sua vontade. E havia
obtido um pouco de sucesso, mas Cara sempre fora muito esperta. Ela estava certa em desconfiar dele. O único problema era
que ele também pagava um preço por seu pequeno plano, porque a desejava.
Depois de se enxugar, Kevin foi até o bar e se serviu de dois dedos de conhaque. Encostando-se ao balcão de granito
negro, ele levantou seu copo.
— Um brinde a você, Cara. Minha esposa por mais alguns dias.
Depois de seu encontro com Kevin no lago, Cara alertou a si mesma de que estava brincando com fogo, e jurou
manter distância do marido até o dia da recepção de Lance e Kate. Seria muito mais seguro assim. Ela precisava manter sua
perspectiva e se lembrar do motivo pelo qual fora a Houston. E mantivera sua decisão por exatamente 12 horas, até Kevin
bater à sua porta, no meio da manhã, vestindo um uniforme completo de beisebol do Astros. Ela olhou para ele, confusa,
notando a camisa vermelha e o boné com o logotipo oficial do time, uma estrela. Kevin sacudiu na frente dela um par de
ingressos de camarote para o jogo daquela tarde, e lhe dirigiu um sorriso delicioso. Quando Cara percebeu o que ele tinha em
mente, não conseguiu recusar a oferta tentadora. Ela era uma grande fã do time de Houston desde os tempos da escola. Ir a
um jogo em pleno dia lhe parecia um luxo e tanto, e a sensação seria duplamente prazerosa com Kevin ao seu lado.
Agora, ela estava sentada em um camarote no Parque Minute Maid, atrás da posição do time da casa, comendo um
cachorro-quente e bebericando uma Coca-Cola diet.
— Quer mais um? — Kevin perguntou, depois de praticamente engolir dois cachorros-quentes em tempo recorde.
— Não, mas me passe mais um saquinho de amendoins e ficarei contente.
Kevin sorriu e colocou o saquinho no colo dela.
— Vá em frente, querida.
Eles comeram amendoins, vaiaram os lances ruins, aplaudiram os bons e pularam de suas cadeiras quando um
jogador do Astros marcou um ponto. Kevin pediu licença por um minuto e, quando voltou, colocou um boné vermelho com uma
grande estrela branca na cabeça de Cara, entregando-lhe uma camisa igual à sua.
— Obrigada! — Depois de vestir a camisa por cima da blusa que usava, ela se aproximou dele e lhe deu um beijo no
rosto.
Kevin virou a cabeça, e o beijo dela se moveu para seus lábios.
Ele tinha gosto de mostarda, refrigerante e sol, e o beijo durou mais do que eles esperavam. Kevin a tomou nos braços
e, como dois adolescentes apaixonados, eles se perderam um no outro.
— Ei, arrumem um quarto!
O grito veio de algum lugar nas fileiras de trás, e Kevin sorriu, interrompendo o beijo.
—- Não seria uma má idéia.
— Oh! — Cara se endireitou na cadeira, e o rubor lhe subiu pelo pescoço. Ela se recusou a olhar para Kevin por alguns
minutos, mas o ouviu rir várias vezes.
O time do Astros venceu o jogo, e com o espírito leve, eles passearam pelo estádio de mãos dadas até que a multidão
se dissipou.
Cara ficou de pé no saguão do Grand Union, a famosa entrada para o campo de beisebol que datava do começo da
história de Houston.
— Lembra-se de quando o estádio foi construído?
— Sim, o trânsito foi interrompido durante meses. Cara olhou para ele.
— Mas você achou uma ótima idéia eles terem usado o Grand Union como entrada.
— E ainda acho. Isto atrai muita gente para o centro da cidade. Do ponto de vista dos negócios, foi uma grande ideia.
— Por falar em negócios, como você conseguiu escapar do escritório hoje?
Quando eles ainda viviam como marido e mulher, Kevin teria preferido cortar o braço direito a tirar um dia de folga do
trabalho.
— Vou compensar esta noite. Tenho muito trabalho a fazer em casa.
Cara havia imaginado. Ele nunca negligenciava seu trabalho, nem mesmo por um dia. Houvera tempo em que ele não
ia para a cama antes das duas da manhã, o computador parecendo ser uma tentação maior para ele do que sua esposa. Ao
amanhecer, ela acordava e ele já tinha saído. Ela se lembrava bem daqueles dias e noites solitários. Aquelas memórias
continuavam com ela, e diminuíam o brilho do dia feliz que acabara de ter.
Ela permaneceu em silêncio enquanto Kevin a levava de volta para o hotel, decidindo que não seria uma boa idéia
convidá-lo para subir.
— Eu me diverti muito hoje. Obrigada pelo convite. — Com uma voz tensa e formal, Cara compensou sua falta de
graça com um pequeno sorriso.
Kevin pareceu não notar a mudança nela.
— Eu também. Fazia séculos que eu não ia a um jogo..
— Porque está ocupado demais?
Kevin examinou a pergunta dela, observando-a.
— Eu sei como delegar funções agora, Cara — disse ele, com um tom de voz nada gracioso. — Eu não tenho ido aos
jogos porque... que diabos, Você vai me forçar a dizer isso?
Espantada, Cara piscou.
— Dizer o quê?
Kevin sacudiu a cabeça e soltou um palavrão.
— Porque isso é o que nós costumávamos fazer. Você e eu.
— Oh. — Ela não tinha certeza se compreendia.
— Eu fui algumas vezes com os rapazes. Mas eles não ficam tão bem como você com um boné de beisebol.
Antes que ela pudesse reagir, Kevin se inclinou e lhe beijou os lábios, fazendo com que o beijo que eles
compartilharam no estádio parecesse inocente. Depois de cinco minutos de carícias quentes na porta do quarto dela, Kevin se
afastou e tomou fôlego, seus olhos devastadoramente azuis.
— É melhor eu ir. Ligo para você amanhã.
Cara encostou-se à porta, sem saber se estava feliz por ele ter ido embora ou zangada porque mais uma vez o
trabalho dele era mais importante que ela. E que diferença fazia, afinal? Logo, ela seria a ex-sra. Kevin Novak, e o que ele fazia
ou deixava de fazer com seu tempo não importaria mais.
Ela se agarrou àquele pensamento e o levou para a cama, tentando não imaginar quando Kevin telefonaria de novo.
Cara só faltou cuspir fumaça pelos próximos dois dias. Kevin não telefonou. Ela sabia que deveria se sentir feliz por ter
uma folga das atenções contínuas que ele lhe dispensava, mas não podia deixar de pensar que tudo era uma perda de tempo.
Ele a forçara a ficar em Houston por duas semanas para conseguir sua assinatura. Ela colocara sua vida em pausa por causa
dele. Cara já havia feito inúmeras ligações para seu estúdio de dança, lidando com problemas inesperados e tomando
importantes decisões em seu quarto de hotel, em vez de estar onde era necessária.
Ela se olhou no espelho e tentou dar um jeito em seus cabelos rebeldes, penteando os cachos com os dedos enquanto
decidia se saía para jantar ou se chamava o serviço de quarto. A raiva borbulhava dentro dela, e Cara resolveu dar uma
caminhada para esfriar a cabeça. Ela apanhou a bolsa no exato momento em que o telefone tocou.
Cara olhou para o aparelho por um longo tempo, decidindo se atendia ou não. Finalmente, ela cedeu.
— Alô? — disse ela, batendo o pé no chão.
— Oi, Cara.
Ela franziu o rosto ao ouvir a voz de Kevin do outro lado da linha. Gostaria de ter obedecido a seu primeiro instinto e
não ter atendido a ligação. A voz dele soava estranha e distante, como se ele estivesse telefonando de dentro de uma caverna.
— Onde você está?
— Em casa. Você ainda faz aquela canja de galinha incrível?
— A receita da minha avó? Sim, mas por que você... — Então, ela entendeu.
Kevin não parecia bem. Na verdade, ela nunca o ouvira parecer tão mal. Ela somou dois e dois.
— Você está doente?
— Pode-se dizer que sim.
— Está muito mal?
— Passei os últimos dois dias e noites de cama, e estou enlouquecendo.
A culpa invadiu Cara, e ela se sentiu envergonhada dos pensamentos desagradáveis que tivera sobre Kevin. Ela
estivera certa de que ele fazia um joguinho e brincava com suas emoções, dizendo-lhe que iria telefonar e depois evitando-a
delibe-radamente.
— Você está com febre?
— Trinta e nove.
Oh, Deus. A voz de Cara se suavizou imediatamente:
— Você comeu alguma coisa?
Certamente um milionário que morava em uma cobertura teria alguém para cozinhar e limpar o apartamento para ele.
— Um pouco de torrada, ontem. Não estou com muito apetite. Mas estou louco para tomar a sopa da sua avó.
Cara respirou fundo. Ela não era a enfermeira de Kevin, mas ainda era a sua esposa. E o orgulho dele não lhe
permitiria pedir, a menos que ele realmente precisasse de ajuda. Ela se lembrou de que Kevin detestava ficar doente, nunca
tirava um dia de folga para descansar, e era o pior paciente que ela já tinha visto.
— Vou pegar um táxi, já estou indo.
— Mandei um carro buscar você. Pode parar no caminho para comprar o que precisar. Ele deve estar aí a qualquer
momento.
Cara suspirou.
— Kevin, como você sabia que eu iria?
— Eu não sabia — disse ele, sua voz enfraquecendo. Cara desistiu de repreendê-lo, ele realmente parecia mal.
— Mas um homem pode ter esperança, não pode?
Kevin já se sentia melhor só de saber que Cara estava a caminho. Ele não sabia o que o havia derrubado, desde que
ficara doente, mas caíra de cama depois de levar Cara ao jogo do Astros. Ele tinha passado os dois últimos dias de cama,
odiando cada minuto. Sua febre havia aumentado, e ele não possuía uma gota de energia. Naquele dia, ele se levantara e
trabalhara em seu escritório de casa, até não conseguir mais mover um músculo. Ele voltara para a cama, xingando, e a única
coisa em que conseguia pensar, além de sua má sorte, era em Cara.
Na verdade, desde que havia voltado para a cidade, ela dominara seus pensamentos. Seu plano de vingança estava
funcionando, excepcionalmente bem. Talvez bem demais, porque ele passara os últimos dois dias sonhando com ela e com a
expressão de êxtase no rosto dela a cada vez que ficavam juntos. A ansiedade para a noite de amor que passariam em breve
o estava matando, mas ele apreciava cada minuto torturante.
Naquela noite, Kevin decidiu, ele declararia uma trégua. Não podia tirar vantagem de Cara, quando ela concordara tão
prontamente em ajudá-lo a se recuperar, mas não se sentia culpado pela pequena mentira que lhe contara para convencê-la a
ir até seu apartamento.
A febre cedera antes de ele telefonar para ela, e Kevin estava se sentindo humano novamente. Mas ele não mentira a
respeito de sua vontade de tomar a sopa. Ele queria ver Cara em sua cozinha, preparando, a receita de canja que havia
aprendido com sua avó. Aquele era o melhor modo de fazê-la ir ao apartamento. Mas por que diabos ele estava pensando em
Cara na cozinha, em uma pequena cena doméstica, e não deitada entre seus lençóis de seda, era um mistério para Kevin.
Tomou um banho, esperando remover os últimos vestígios de sua febre e recuperar um pouco de cor nas faces. Ele se
ensaboou, e o jato frio da água sobre seu corpo o revigorou. Lavou com xampu os cabelos que negligenciara por dois dias, e,
depois de fechar a torneira, enrolou-se numa toalha e saiu do chuveiro. Aquela havia sido a sua maior atividade nos dois
últimos dias. Olhando seu reflexo no espelho,,ele soltou um grunhido.
—Desleixado, Novak... — resmungou ele — ...e pálido também. Sua barba por fazer servia para disfarçar a aparência
macilenta, e ele optou por não se barbear. Depois de vestir uma cueca samba-canção e um jeans confortável, colocou uma
camisa preta, mas não teve energia para abotoá-la. Quando a campainha tocou, ele caminhou até a porta da frente com
pernas que ainda pareciam feitas de borracha. Ele abriu a porta, e viu Cara segurando uma sacola de supermercado.
— Oi, Kevin.
O olhar de Cara foi atraído imediatamente para seu peito nu, que sua camisa aberta deixava à mostra. O coração dele
disparou, observando o desejo invadir os lindos olhos azuis dela. Aquela faísca de desejo instantâneo o fez arder mais que a
febre que acabara de derrotar. Então ela piscou e voltou os olhos para o rosto dele, e o momento passou.
Logo, ele colocaria aquela expressão no rosto dela de novo. Naquela noite, entretanto, o melhor que Kevin podia fazer
era tomar a sacola de supermercado das mãos dela.
— Minha salvação. Fico feliz que tenha vindo, Cara.
— Eu... ahhhh, claro. Vou fazer a sopa, e então vou deixá-lo descansar. Você deveria estar na cama.
— Eu estava na cama. É chato. E solitário. Cara arqueou as sobrancelhas.
— Pode deixar que eu me arranjo. Mostre-me onde é a cozinha.
Ele colocou a mão na curva delicada das costas dela, imaginando o que ela teria feito naquele dia, usando uma
elegante blusa de renda preta sem mangas e calça branca. Será que ele interrompera os planos dela para aquela noite?
— Vamos. Vou lhe mostrar onde é.
Cara olhou ao redor, observando os cômodos do apartamento. Kevin gostava de sua cobertura, decorada
pessoalmente, mas imaginava que Cara não a apreciasse. Muito granito negro e ângulos agressivos para o gosto dela, não
havia nada ali que combinasse com a feminilidade de uma mulher.
— E um apartamento bonito — ela disse educadamente. — Grande. Quantos quartos?
— Sete. É a minha casa, por enquanto.
Quando eles chegaram à cozinha, Kevin colocou a sacola de compras sobre o balcão de granito polido. Cara observou
os equipamentos de última geração e as panelas de aço inoxidável, e fez um gesto com a cabeça.
— Ou você não cozinha muito, ou tem uma equipe de limpeza genial.
Kevin deu um sorriso que quase fez seu rosto doer. Ele não sorria havia dois dias.
— Ambos. Eu sei que a cozinha parece esterilizada. Eu como fora com freqüência, ou peço comida pelo telefone. Você
sabe que não sou um bom cozinheiro.
— Sim, eu lembro. Cozinhar ovos é a sua especialidade. — Ela deu um sorriso largo. — Pensei que isso havia
mudado.
Ele se sentou em um banquinho à frente de Cara, contente apenas em observá-la.
— Algumas coisas mudaram, mas não as minhas habilidades culinárias. Ainda sou imprestável na cozinha, mas
compenso isto de outras formas.
Ela piscou, parecendo um pouco constrangida, e esfregou as mãos na calça.
— Tudo bem, vou começar. — Ela tirou as compras da sacola e começou a organizar tudo, abrindo e fechando
gavetas até encontrar todos os utensílios de que precisava. — Você vai ficar aí sentado, olhando?
— A menos que você precise de ajuda.
Deus, ele esperava que ela não precisasse. Ele se sentara porque tinha de descansar as pernas ainda fracas. Kevin se
sentia melhor depois do banho, mas com o passar do tempo a fraqueza o invadiu novamente.
— Não, isto é um trabalho para uma mulher sozinha. — Ela sorriu e começou a trabalhar eficientemente. — Observe e
aprenda.
Cara apanhou com uma espátula as cenouras e batatas que havia cortado em cubinhos e jogou tudo na grande panela
de sopa. Os pedaços de galinha já estavam cozinhando, e ela tivera cuidado ao usar os temperos. Normalmente, ela
temperaria bem a sopa para dar-lhe um sabor exótico, mas precisava se restringir a ingredientes mais brandos, para não irritar
o estômago de Kevin.
Ele a observava atentamente, conversando sobre amenidades, perguntando-lhe sobre a receita, realmente
concentrado no que ela fazia. Entretanto, a cada vez que Cara olhava para ele, Kevin parecia mais abatido. O tom de sua voz
era muito baixo, e apenas sua natureza teimosa o fazia continuar na cozinha, em vez de ir para a cama, onde ele deveria estar.
— Você está exausto, querido — disse ela suavemente. — A sopa ainda vai levar uma hora para cozinhar. Deixe-me
levá-lo para a cama. Eu irei buscá-lo quando estiver tudo pronto.
Kevin torceu a boca e olhou para ela, fingindo irritação. O inverno iria congelar antes que ele admitisse uma derrota,
mas ela sabia que ele estava agradecido pelo descanso.
— Só porque você me chamou de querido.
— Essa foi a minha estratégia desde o começo — disse ela, enxugando as mãos em um pano de prato. Cara
contornou o balcão e foi até ele. — Você pode chegar ao seu quarto?
Ele abaixou os cílios loiros.
— Claro, porém seria mais divertido se você me ajudasse.
Cara não sabia dizer se Kevin estava só brincando. Ele parecia realmente fraco, e havia empalidecido desde que ela
chegara. Ela temia que ele tivesse exagerado.
— Tudo bem,, vou levá-lo até lá.
Kevin se levantou e passou o braço por sobre o ombro dela. Cara seguiu as direções dele até o quarto principal, no
final do corredor. As portas duplas se abriam para o quarto, que só poderia ser descrito como um apartamento. Uma lareira de
pedra negra ficava em frente à cama enorme. Uma imensa televisão de tela plana cobria uma parede, e um par de portas
francesas davam para a sacada com vista para o horizonte de Houston.
Cara não fez comentário algum. Kevin havia certamente subido na vida; tudo o que ele possuía emanava sucesso e
riqueza. Ele atingira seus objetivos, e era um executivo brilhante. Uma parte dela queria derramar todas as lágrimas novamente
pelo casamento que ele sacrificara sem perceber, pelo amor que ele negligenciara em favor do sucesso e pela quebra dos
votos proclamados.
Houve um momento de silêncio constrangido, quando eles chegaram à cama lindamente entalhada. Seria ali que eles
finalmente selariam o acordo do divórcio, na semana seguinte? Cara deu um suspiro e se afastou de Kevin.
— Pronto — ela disse alegremente. — É melhor eu ir mexer a sopa. Descanse, está bem?
Kevin tirou a camisa e a deixou cair ao chão lentamente. Ele ficou parado ao lado da cama, de jeans e descalço, os
cabelos curtos em desalinho e o rosto exibindo uma barba de dois dias que o fazia parecer perigoso e sensual. Por Deus. A
respiração de Cara ficou presa em sua garganta.
Ela sacudiu a cabeça e saiu do quarto. Imagens de Kevin abrindo a porta do apartamento, horas antes, com gotas de
água escorrendo por seu peito, invadiram-lhe a mente. Ela queria lamber cada uma daquelas gotas e deslizar as mãos pelo
corpo dele, vezes sem fim.
— Tire essas idéias da cabeça, Cara — ela sussurrou, entrando de novo na cozinha. — E não se atreva a se apaixonar
por Kevin Novak mais uma vez.
CAPITULO SEIS
Cara não preparara aquela sopa uma única vez desde que ela e Kevin se separaram. Mas agora, imagens de si
mesma ao lado de vovó Fio na cozinha, ajudando a colocar os ingredientes na panela, lhe vinham à mente, e lhe enchiam os
pensamentos de modo agradável. O aroma de orégano, manjericão, tomates frescos e cebolas enchia a cozinha e levava Cara
de volta a um tempo feliz de sua infância. E ela precisava agradecer a Kevin por aquilo. Não que ela quisesse vê-lo doente,
mas Cara sentia falta de cozinhar para alguém, e tinha grande satisfação naquilo.
Ela olhou para a cozinha a seu redor, pensando no que fazer em seguida. Já havia limpado toda a bagunça que fizera
cortando os ingredientes. Em um impulso, ela foi até o quarto de Kevin e espiou pelas portas duplas que deixara entreabertas
mais cedo.
Ele estava dormindo.
Aquele era um bom sinal. O que não era um bom sinal era a sua inesperada atração física por ele, vendo-o
atravessado na cama, quase nu, com a exceção do jeans que vestia. Ela sentiu um desejo inexplicável de cuidar dele e fazer
amor corri ele loucamente, ao mesmo tempo. Rapidamente, Cara se afastou e se censurou.
— Não passe dos limites — ela sussurrou para si mesma.
Então a curiosidade a dominou, e ela percorreu os cômodos da cobertura, procurando por sinais de... quê? Outra
mulher? Algo que lhe desse uma pista do que ele andara fazendo durante os quatro últimos anos de sua vida.
Com amargura, ela admitiu que Kevin não teria permanecido celibatário por quatro anos. Ela imaginou quantos
relacionamentos ele tivera. Quantas mulheres ele teria trazido até ali, para admirar a vista?
Ela entrou no escritório e notou que havia um sofá macio, marrom-caramelo, o único móvel que parecia confortável. A
escrivaninha de mogno estava coberta de arquivos e papéis. Ela se aproximou da mesa para contemplar o horizonte de
Houston, e imaginou Kevin girando em sua cadeira para respirar um pouco e olhar pela janela. Lindo.
Cara foi até uma estante de parede e apanhou alguns porta-retratos que estavam na prateleira, percebendo que cada
cena retratava Kevin com um ou mais de seus amigos. Lance e Kevin no campo de golfe, e Darius, Mitch, Lance e Kevin na
quadra de tênis. Ela observou uma foto de Kevin ao lado de Kate e Lance, o trio feliz sorrindo alegremente para a c âmera.
Cara apanhou uma foto de Kevin junto a seus pais, na formatura da Universidade do Texas. Ainda usando o chapéu e a beca,
o rosto dele mostrava confiança e determinação. Ela viu o brilho resoluto em seus olhos, nada o impediria de alcançar seus
objetivos. Teria ela sido tão distraída pelo amor que não percebera aquela característica nele antes? Ou teria Cara pensado
que não seria vítima da persistência e da teimosia dele? Ela havia comparecido à formatura, e em um determinado momento
posara junto a Kevin e seus pais para uma foto. Mas aquela foto, ela imaginava, já era passado, colocada de lado quando ela
partira, algo que ele considerara abandono e ela, sobrevivência.
Arrependimento e nostalgia trouxeram um suspiro aos lábios de Cara. Ela se lembrou de como eles haviam
comemorado a formatura dele, naquela noite.
Na cama.
E fazendo planos para o futuro.
Agora, ela imaginava quem estaria fazendo planos para o futuro com Kevin, quando ele estivesse solteiro novamente.
Divertida, a curiosidade de Cara aumentou ainda mais. Ela percorreu os outros dois quartos da cobertura e percebeu, com
certo alívio, que não havia fotografias de Kevin com outra mulher. Ela ousou dar uma investigada nos armários, detestando a
bisbilhoteira em que se transformara, mas curiosa demais para se impedir de espiar.
Cara voltou para a cozinha e mexeu a sopa novamente. Graças a Deus, estava pronta. Ela fechou os olhos e o aroma
rico dominou seus sentidos outra vez, mas ela não conseguia afastar a sensação de que havia aprendido muito mais sobre si
mesma do que sobre Kevin durante sua pequena investigação da casa dele.
A felicidade que ela sentira ao não perceber vestígios de outra mulher em nenhum cômodo do apartamento lhe
causava grande preocupação. Ela mordeu o lábio, e decidiu sair dali o mais rápido possível.
— Há algo cheirando bem por aqui.
Cara se virou. Kevin estava de pé na soleira da porta, descalço, vestindo apenas aquele jeans velho. Felizmente,
enquanto entrava na cozinha, ele colocou uma camiseta, cobrindo o peito que ela estava tentada a tocar.
— A sopa está pronta. Eu já ia chamar você.
— Como assim? Sem jantar na cama?
— Vejo que você recuperou o seu senso de humor. Como se sente?
— Mais descansado. Foi o melhor sono que tive em dois dias.
— Deve ser o efeito da sopa — disse ela, retirando uma tigela do armário de cerejeira.
— O efeito de alguma coisa.
Eles olharam um para o outro, de lados opostos da cozinha, os olhos profundamente azuis dele parecendo penetrar os
dela, até Cara pensar que iria ferver como a sopa que acabara de preparar. Ela resolveu manter-se ocupada, cortando o pão
francês que comprara em uma padaria da rua. Cara serviu a Kevin uma tigela de sopa e colocou uma fatia grossa de p ão em
seu prato.
— Preciso ir — disse ela.
— Você tem algum encontro quente esta noite? Uma risada nada feminina escapou da garganta dela.
— Sim, com o meu livro.
— Então fique e tome uma tigela de sopa comigo. Eu apreciaria a companhia.
Espantada, Cara observou os movimentos eficientes de Kevin pela cozinha. Antes que percebesse, ele havia servido
uma tigela de sopa para ela. Kevin levou as duas tigelas para a sala de estar e as colocou na mesinha de centro.
— Você jamais adivinharia o que está passando na TV agora. Cara grunhiu. Ela sabia que Kevin a havia apanhado em
uma armadilha, e o seguiu até a sala de estar.
— Maratona James Bond. — Kevin apanhou o controle remoto, e a clássica música de abertura soou, enquanto uma
imagem de 007 enchia a tela.
— Oh, Deus, eu realmente queria terminar aquele livro esta noite.
Ela era fã número um de James Bond. Os dois eram. Então, quando Kevin deu dois tapinhas no lugar ao seu lado,
Cara não hesitou, a tentação grande demais para resistir. Ela se sentou junto a ele e os dois assistiram ao filme e saborearam
a sopa deliciosa e quente.
* * *
Em algum momento, entre 007 Contra o Satânico Dr. No e Nunca Mais Outra Vez, Kevin sentiu o mal-estar causado
pela doença se dissipar. Ele acordou depois da meia-noite, estirado no sofá, e sentindo uma excitação bastante saudável. A
tela plana da TV, havia muito tempo esquecida, emitia um ruído de estática. Cara estava atravessada por cima dele, com a
cabeça em seu ombro e os cabelos loiros e sedosos fazendo cócegas em seu queixo. A respiração suave dela era o sinal de
um sono tranqüilo.
Kevin deixou escapar um gemido silencioso de dor. Os seios de Cara estavam esmagados contra seu peito, mas era o
perfume feminino dela que fazia sua mente girar, pensando nas possibilidades. Por enquanto, tudo o que ele podia fazer era
acariciar os cabelos dela, enrolando os cachos em seus dedos. A blusa dela havia subido um pouco nas costas, expondo a
pele sobre a cintura de sua calça branca.
Ele esticou os dedos, debatendo se cedia ao impulso de correr a mão pelas costas dela e deslizá-la por debaixo do
cinto de Cara. Ele queria tanto fazer aquilo, mas Cara fora compreensiva ao aceitar ir até a casa dele e preparar a sopa, e ele
não poderia simplesmente acordá-la agora por motivos egoístas. Poderia?
Kevin se perguntou: por que não? Ele tivera um motivo e um objetivo para fazê-la permanecer em Houston por duas
semanas. Ela estava em dívida com ele, e Kevin planejava fazer com que pagasse por tê-lo abandonado. E ter Cara deitada
sobre si o tentava além da razão. Ela seria sua esposa apenas por mais uma semana, então por que não tirar o máximo de
proveito possível da situação agora?
Kevin acariciou-lhe as costas suavemente e ela se moveu, deixando escapar um pequeno gemido.
A excitação de Kevin ficou ainda mais evidente. Ainda assim, ele não conseguia se forçar a perturbar o sono dela.
Abraçando-a, tornou a fechar os olhos, deleitando-se com a sensação de tê-la em seus braços. Não demoraria.muito para que
ele perdesse o direito legal de fazer aquilo.
Menos de um minuto depois, Cara se mexeu, e Kevin abriu os olhos para vê-la com uma expressão sonolenta na face.
— Oi, querida.
Ela piscou, desorientada, e ergueu um pouco o corpo para olhar nos olhos dele. Kevin percebeu o exato momento em
que os olhos de Cara se arregalaram, quando ela se deu conta de onde estava e da excitação que causara nele.
— Oh...
— Já me recuperei —- disse ele, antes de erguer os cantos da boca. — Mas agora tenho outro problema.
Cara empurrou o peito dele e fez um movimento para se levantar.
— Que horas são?
Kevin passou os braços em torno dela, puxando-a gentilmente de volta contra si.
— Passa da meia-noite.
Ela olhou ao seu redor e viu Pierce Brosnan usando um smoking e correndo pela própria vida na tela plana da TV.
— Eu caí no sono.
— Nós caímos no sono.
— Como você está?
— Com exceção do óbvio — ele disse, seus olhos se detendo no espetacular decote dela —, estou me sentindo ótimo.
Ela olhou para ele e um momento de silêncio de seguiu, enquanto tomava consciência de sua posição e do volume sob
o jeans dele, pressionado contra as pernas dela.
— Você está excitado.
— E muito.
Ela mordeu o lábio, um sinal claro de pânico. A sensação pulsante onde seus corpos de encontravam não era
unilateral. O calor e a pressão aumentaram, e Cara não podia negar que estava tão excitada quanto ele.
— Eu preciso ir.
— Fique, Cara. — Kevin colocou a mão atrás do pescoço dela, e puxou sua cabeça para baixo.
Eles olharam nos olhos um do outro, antes de Kevin mordiscar os lábios dela. Uma, duas vezes, até que ele a enlaçou
com mais força e aquelas mordiscadas se transformaram em beijos quentes e famintos.
Cara gemeu no fundo da garganta, querendo mais e totalmente excitada. Kevin mergulhou a língua em sua boca e a
explorou com movimentos longos e ousados. Enquanto os beijos se aprofundavam, ela se movia sobre ele, deslizando seu
corpo pela masculinidade dele até que Kevin pensou que fosse morrer de agonia.
Kevin suspendeu-a o suficiente para levar a boca aos seios, dela. Ele a sugou por sobre a renda da blusa,
umedecendo o material até que ele se tornasse quase transparente. O mamilo dela endureceu, Kevin o acariciou com o
polegar, e os dois simultaneamente puxaram a blusa de Cara por sobre sua cabeça. Kevin não se importou em desabotoar-lhe
o sutiã, e simplesmente colocou as mãos por dentro da peça, libertando os seios dela de sua armação.
Cara beijou-o apaixonadamente na boca, dando-lhe permissão para fazer o que bem entendesse. Ele não se
apressou, acariciando os seios dela, sentindo-lhes o peso, lambendo os bicos e umedecendo os globos perfeitos até a
respiração dela se tornar frenética.
Ela se ergueu parcialmente e puxou a camiseta dele por sobre sua cabeça. Sua boca caiu sobre ele imediatamente,
beijando-lhe o peito, as mãos percorrendo-lhe o corpo com total liberdade.
— Ah, Cara... — murmurou ele, seu prazer se intensificando.
Ela acariciou os mamilos dele e mordiscou-lhe os bicos, seus dedos enrolando-se nos pelos no peito de Kevin. Ela o
puxou contra si e ele sorriu, observando-a, enquanto sua excitação tornava o jeans ainda mais desconfortável. Kevin correu os
dedos pelos cabelos dela, deliciando-se com cada segundo enquanto Cara fazia amor com ele. Era ainda melhor do que ele se
lembrava deixar que as mãos dela o acariciassem, deixar que sua boca o levasse à loucura.
A vingança pode ser doce, ele pensou, e imaginou se seu plano estava funcionando ou se Cara simplesmente queria
prazer sexual com ele. De qualquer modo, não iria questionar nada agora. Ele tomou a mão dela e a colocou em sua cintura,
diretamente sobre o zíper que estava pronto para estourar.
— Toque-me — sussurrou ele —, como você costumava fazer.
Cara fechou os olhos e respirou fundo. Então, depois de pensar por um segundo, ela escorregou para o lado para
poder abrir o jeans dele. Kevin prendeu o fôlego. Ele ansiava pelo toque dela, para que Cara aliviasse seu desejo. O botão do
jeans se abriu e, com dedos hábeis, ela deslizou o zíper para baixo lentamente.
O ar frio o atingiu, mas seu corpo estava em chamas. O toque dela era leve e hesitante, quando ela começou a
acariciá-lo. Ele se ergueu, colando os lábios aos dela, aumentando ainda mais o desejo de ambos.
— Isto é perigoso — ela murmurou entre beijos.
— Você nunca fugiu do perigo, querida.
— E melhor apostar no seguro.
— Você não disse uma vez que a segurança é superestimada?
Cara riu, e o som de sua gargalhada descontraída mudou a situação. Kevin começou a rir também, seu corpo não mais
desesperado pelo dela, e eles tiveram um momento divertido que um dia poderiam ter chamado de sua marca registrada.
— Nós sempre nos divertimos juntos — comentou ele.
— Eu sei, mas não vim até aqui para me divertir.
— E por que você veio?
— A sopa, lembra?
— Não, eu não lembro. Qualquer coisa que tenha acontecido há mais de dez minutos é uma lembrança distante.
Cara deu-lhe um soco leve no ombro, e Kevin reagiu puxando-a pelo braço e deitando-a no sofá. Ele provou o gosto
dos lábios dela, outra vez e mais outra, o momento de diversão já esquecido enquanto o calor e a paixão os consumiam
novamente.
Kevin se deliciava a cada segundo em que Cara o tocava; a mão suave dela em sua rigidez, acariciando-o de forma ao
mesmo tempo sutil e ousada, criando uma tensão quase insuportável. Ele não queria nada além de saciar o desejo que o
consumia possuindo-a. De sentir o corpo macio e perfeito dela recebendo-o. Oh, como ele se lembrava de como era estar com
Cara. Ele jamais esquecera. Nenhuma mulher se comparava a ela.
Mas ele não podia fazer amor com ela naquela noite. Não ainda.
Kevin se sentou abruptamente, antes que perdesse totalmente o controle.
— Você está se sentindo fraco de novo? — perguntou ela, seriamente preocupada.
-— Foi só um surto de febre de Cara — respondeu ele com um sorriso leve.
A expressão dela se suavizou, e Kevin se levantou antes que cedesse ao desejo de fazer amor com ela. Ele estendeu
a mão para tomar a dela.
— Já é tarde. Vou levá-la para casa.
Eles se vestiram rapidamente, ambos silenciosos, concentrados em seus próprios pensamentos. Mas, quando ele
acompanhou Cara ao quarto do hotel, ela se virou para ele, curiosa.
— Kevin, eu não estou entendendo nada disso. — Ela ainda estava com uma expressão excitada, e parecia
lindamente confusa.
— Então somos dois. — O problema era que Kevin conhecia seu plano do modo que um general conhece sua
estratégia de guerra, mas aquilo não tornava as coisas menos confusas para ele.
Eles olharam um para o outro por um longo momento, buscando a verdade e não encontrando nada.
— Obrigado por ir me salvar esta noite — disse ele, finalmente. —A sopa estava ótima. — Então, ele completou: —
Você não perdeu a prática.
Kevin se virou e forçou-se a ir embora sem olhar para trás.
Cara estava atingindo o limite de sua resistência, desejando Kevin com tanta intensidade que a tensão lhe causou uma
noite de insônia. Pensando de forma sensata, Cara sabia que ela e Kevin estavam condenados como casal, e que fazer amor
com ele só poderia magoá-la. Seu lado racional compreendia aquilo perfeitamente. Mas seu coração e seu corpo eram bem
diferentes. Ela queria fazer sexo com seu marido, e o que havia de errado naquilo? Ela havia perguntado aquilo a si mesma na
noite anterior, e novamente naquela manhã. Ansiava por Kevin. Ele sabia como fazer sua pele se arrepiar, e como satisfazer
seus desejos mais íntimos. Mas o fato triste permanecia: depois que ela conseguisse o que desejasse, seu casamento estaria
terminado.
Quando seu celular tocou, Cara checou o número e hesitou antes de atender.
— Oi, Kevin.
— Você me curou ontem à noite.
— Eu fico... feliz.
— Que tal me deixar retribuir? Jantar, amanhã à noite? Prometo que serei uma companhia melhor. Vou até mesmo me
barbear.
Cara achou graça. Ela tocou a leve irritação em seu rosto, onde a barba dele a havia arranhado na noite anterior. As
lembranças voltaram com força. Ela sacudiu a cabeça, sabendo que deveria inventar uma desculpa e recusar o convite dele. É
melhor assim, Cara.
Cara abriu a boca para dizer não, e se surpreendeu consigo mesma.
— Eu adoraria. — Ela fechou os olhos com força.
Por que achava Kevin tão irresistível? Ele teria mudado? Ela poderia confiar nele? Nada daquilo importava, de
qualquer modo. Em menos de uma semana, ela teria partido, com os papéis do divórcio assinados.
Depois de combinar tudo com ele, ela desligou o telefone, espantada consigo mesma. Quando seu celular voltou a
tocar, ela atendeu rapidamente, feliz em receber uma ligação de Aliciai
— Oi, Cara. Aqui é Alicia.
— Alicia, estou tão feliz por você ter ligado.
— Ainda estamos combinadas para almoçar e fazer compras, esta tarde?
— Estou ansiosa para isso. — Cara precisava de um dia de mulherzinha para arejar a cabeça.
— Estou na cidade, então posso ir buscá-la e iremos a Somerset. Você consegue ficar pronta em meia hora?
— Sim. — Bastante pronta, ela pensou. — Vou esperar por você lá embaixo.
Depois de desligar o telefone, Cara vestiu uma calça comprida marrom e um top creme sem mangas. Calçou as
sapatilhas confortáveis Jimmy Choo, cor de chocolate, e prendeu os cabelos cacheados com uma fivela de casco de tartaruga.
Em seguida, apanhou sua bolsa de mão e saiu do quarto.
Alicia estacionou o carro no exato momento em que Cara saía do Four Seasons. O porteiro lhe desejou um bom dia e
ela deixou o hotel, pronta para tirar Kevin da cabeça pelas próximas horas.
Cara apreciou a paisagem, enquanto o movimentado centro da cidade dava lugar a ruas residenciais silenciosas..
Somerset, no coração do condado de Maverick, era uma cidade bonita e lindamente construída a nordeste de Houston. Um
dia, Cara amara viver ali, em uma casa modesta com Kevin. Havia momentos em Dallas, quando ela se lembrava da casa
deles, quando via um tecido semelhante ao das cortinas da sua cozinha, ou sentia o cheiro de hortelã fresca e se lembrava da
trilha de pedras que levava à porta da frente, rodeada pela erva. Ela suspirava, pensando em como sua vida havia mudado.
Emoções sentimentais a tomavam, mas Cara sempre as afastava rapidamente.
Agora, enquanto Alicia dirigia, Cara olhava para uma placa digital instalada no topo de um poste alto do lado de fora
dos portões da Escola Maverick, anunciando com letras amarelas chamativas o primeiro baile do novo semestre.
— Ouvi falar que esses bailes de sexta-feira à noite eram bem selvagens. Lance e Mitch estavam sempre falando
sobre eles. Aposto que eles frearam a língua quando estavam prestes a me contar em que tipo de problemas se envolviam,
naquela época.
Alicia deu de ombros.
— Eu não poderia saber. Não fui a muitos bailes.
— Não?
Sacudindo a cabeça, Alicia respondeu: —Não... bem, eu não me importava com...
— Dança? Ora, Alicia, eu aposto que você se move muito bem.
— Eu gosto de dançar — Alicia disse cuidadosamente —, mas Alex não queria que eu fosse a bailes. Ele, uh, pensava
que as pessoas nos desprezavam. — Alicia se voltou para ela, com os olhos escuros quase se desculpando. — Alex é muito
orgulhoso.
Cara se lembrava de como Alejandro Montoya protegia sua irmã, pelo pouco que ouvira das conversas de Kevin com
seus amigos. Alicia era tímida, e Alex fizera o melhor para protegê-la.
Cara ainda não podia acreditar que Alex tivesse alguma coisa a ver com o incêndio na Petrolífera Brody, embora
pudesse ter algum ressentimento contra os homens que tiveram muito mais que ele enquanto cresciam. Ele vinha de um meio
social diferente, tendo trabalhado no Clube dos Criadores de Gado do Texas como capataz, mas agora era t ão rico e poderoso
como Kevin e seus amigos. Alex podia odiar os Brody, mas Cara se recusava a acreditar que ele fosse um criminoso.
— Vocês dois são muitos próximos.
— Sim, e tenho de lembrar a ele o tempo todo que sou uma mulher adulta agora.
— Às vezes os homens não conseguem ver o que está bem diante deles.
Alicia riu, divertida.
— É verdade.
Elas almoçaram em um pequeno restaurante ao ar livre, na rua principal de Somerset. Cadeiras de ferro e mesinhas de
mosaico em pedra cobertas por guarda-sóis emprestavam ao lugar uma atmosfera espanhola. Depois de examinar o cardápio,
Cara percebeu que a comida era típica do sudoeste, o que lhe agradava. Ela estava no clima para um tempero local. Cara
adorava comer ao ar livre em dias quentes, e não tinha muitas oportunidades de fazer isso em Dallas. Usualmente, ela
almoçava no escritório, no estúdio de dança, analisando as contas ou assistindo a vídeos do progresso de seus alunos.
— Isto é realmente agradável — disse Cara.
— Este lugar é novo. Achei que você gostaria.
Elas se sentaram em silêncio por um instante, examinando o cardápio, e quando o garçom se aproximou oferecendo
os pratos do dia tanto Cara como Alicia escolheram a salada de frango temperada à moda do sudoeste, e margaritas de
morango.
As margaritas chegaram primeiro. Cara levantou a taça, em um brinde.
— Aos amigos — ela disse com um sorriso.
— Aos amigos — Alicia repetiu, e elas tocaram suas taças de margarita antes de tomarem um gole.
Cara contou a Alicia tudo sobre os estúdios de dança, explicando como sua experiência com ginástica e dança havia
lhe dado a idéia, quando ela e Kevin se separaram. Ela admitira para si mesma que precisava fazer algo com sua vida. Estava
de coração partido, e deprimida. Mergulhar de cabeça no trabalho e ver o progresso que havia feito em apenas alguns poucos
anos significara muito para ela.
— E agora estou de volta, por algum tempo.
Alicia dirigiu a ela um olhar curioso. Cara nunca havia lhe explicado realmente por que voltara, e Alicia era educada
demais para pressioná-la, mas ela imaginou que a amiga estivesse confusa. Se os papéis fossem invertidos, Cara estaria
confusa, também.
— Tenho passado algum tempo Com Kevin.
Ela hão podia se obrigar a confessar que o motivo pelo qual estava saindo com Kevin era chantagem. Admitir aquilo
não traria vantagens a nenhum dos dois. O assunto trouxe amargura à sua boca, e Cara tomou um gole da margarita,
adoçando o tema amargo.
— Estamos meio que consertando as coisas.
— Vocês estão saindo juntos?
— Bem — disse Cara, respirando fundo —, acho que estamos. Saímos algumas vezes, nada formal.
Alicia observava-a cuidadosamente, e Cara queria desabafar com a amiga. Ela precisava de alguém com quem
conversar. Sua mãe estava fora de questão, e nenhuma de suas amigas em Dallas entenderia o fato de ela sair com Kevin
agora, quando parecia tão determinada a seguir em frente com sua vida. Ela completou:
— Na verdade, nós vamos sair para jantar amanhã à noite. E ele vai me levar à recepção do casamento de Lance.
— Parece bastante promissor — comentou Alicia.
As entradas foram trazidas para a mesa, livrando Cara de ter de continuar a falar. As duas atacaram a salada.
— Então, o que a fez se interessar em trabalhar para o museu? — perguntou Cara.
Alicia havia mencionado que era a curadora do Museu de História Natural de Somerset.
— Eu amo história. — Alicia deu de ombros, com um pequeno sorriso. — É um museu pequeno, mas gosto de me
levantar de manhã e ir trabalhar. Há tanta história nesta área.
Cara percebeu um brilho nos olhos escuros de Alicia quando ela falava de seu trabalho.
— É um trabalho muito recompensador.
— Sim, tenho muita sorte.
Cara se sentia afortunada, também, naquele momento. A natureza doce de Alicia a fazia lembrar-se de todas as coisas
boas em sua vida. Uma imagem de Kevin apareceu em sua mente. Eles estavam ficando mais próximos a cada dia que
passava. Será que aquela era uma das coisas boas em sua vida?
Ela se concentrou em fazer compras pelo resto da tarde. As duas caminharam pelas longas ruas, entrando em várias
lojas, uma livraria antiga, uma loja de artesanato cheia de vasos e pratos pintados à mão e uma galeria de arte. Enquanto elas
passeavam, contando histórias, Cara se lembrou de por que gostava tanto de Alicia. Ela era uma companhia agradável, e a
conversa entre as duas fluía naturalmente. A última parada delas foi a butique de lingerie de Rebecca Huntington, a Sweet
Nothings.
— Espere até você ver as lingeries lindas que eles têm — disse Alicia.
No minuto em que Cara entrou na loja mais nova de Somerset, ela viu por si mesma o que Alicia quisera dizer.
Lingeries de renda, cetim e seda, em uma variedade imensa de cores, estavam artisticamente à mostra em toda a loja. Cara
examinou tudo, observando os tecidos sofisticados das peças em cabides forrados de cetim. Prateleiras espelhadas exibiam
perfumes exóticos. Havia uma área de estar com sofás e cadeiras rodeando uma mesa de mármore com bules de café e chá,
colocados ali especialmente para os intervalos entre as compras.
— Que adorável — Cara comentou.
Uma mulher com cabelos ruivos maravilhosos, presos em um coque na nuca, se aproximou. Com olhos verdes tão
amistosos quanto suas maneiras, ela as cumprimentou:
— Olá e bem-vindas à Sweet Nothings. — Ela olhou para Alicia, inclinando a cabeça de leve. — Você é a irmã de
Alejandro Montoya, não é?
— Sim, Alex é meu irmão. Sou Alicia. Vim à sua loja algumas vezes, mas não tinha certeza de que você me
reconheceria. Você é Rebecca Huntington, não é?
Todos no Clube dos Criadores de Gado do Texas conheciam o sobrenome Huntington, obviamente. O pai de Rebecca,
Sebastian Huntington, era um dos membros mais antigos do clube e era bem conhecido, mas não benquisto, pelo que Cara
podia recordar.
Os olhos de Rebecca perderam o brilho por um segundo, e ela concordou:
— Sim. Fiquei triste ao saber da morte da sua mãe. Carmen era uma mulher maravilhosa.
A emoção encheu os olhos de Alicia, e Cara sentiu que havia alguma história entre as duas mulheres, e que não era
nada boa.
— Há algo que eu possa lhes mostrar? — perguntou Rebecca, olhando de Cara para Alicia. — Ou vocês gostariam de
olhar por aí?
— Vamos olhar, primeiro — afirmou Cara. — Você tem uma loja adorável. Eu quero ver tudo.
— Obrigada. Avisem-me se precisarem de alguma ajuda.
Ela voltou para detrás do balcão para continuar com seus afazeres, e Cara e Alicia começaram a explorar a loja.
— Olhe só para isso — Alicia disse, aproximando-se de uma vitrine.
Sua atitude deixava claro que ela não queria discutir seu relacionamento prévio com Rebecca. Ela apanhou um cabide
com um conjunto de baby-doll cor-de-rosa, enfeitado de renda preta, e segurou-o para Cara ver melhor.
— Oh, este vai ficar lindo em você, com sua pele morena. Alicia soltou uma risada.
— E onde eu usaria isto? Ou melhor, para quem?
— Não há ninguém especial em sua vida, Alicia? — perguntou Cara, mantendo o tom de voz baixo.
— Não — ela disse. — Há dias em que eu me pergunto se um dia terei alguém para quem vestir coisas tão bonitas.
— Que tal vesti-las para se olhar no espelho? Faça um agrado a si mesma.
Alicia olhou para o baby-doll mais uma vez, antes de colocá-lo de volta na vitrine.
— Um dia, talvez. — Mas a melancolia em sua voz traiu sua ação rápida. Ela voltou a atenção para Cara. — Talvez
você devesse escolher algo para seu encontro com Kevin.
Cara sorriu e olhou ao seu redor, seus olhos atraídos para uma arara que exibia camisolas de renda preta
deslumbrantes. Cara desejava deixar Kevin louco, com um modelo audacioso que criasse uma lembrança inesquecível para
ambos.
— É o que pretendo fazer, e você vai me ajudar a encontrar a peça certa. Venha dar uma olhada nestas aqui.
Alicia seguiu-a até a arara. Cara segurava uma camisola que lhe agradara, e colocou a mão por dentro da peça para
demonstrar como a renda fina e delicada mostrava mais do que cobria-
— O que você acha?
— É bem provocante — disse Alicia, com os olhos brilhando. Cara sorriu. A peça era perfeita.
— Eu também acho.
Alicia deixou escapar um suspiro profundo.
— Você está radiante. — Ela olhou para Cara, inclinando a cabeça, sua voz cheia de esperança. — Deve ser
maravilhoso estar tão apaixonada.
Apaixonada?
Teria Cara se apaixonado novamente por Kevin? Seu coração disparou. Um calor ardente se espalhou por seu corpo,
e ela percebeu que estava apaixonada por Kevin Novak. Mais uma vez. Talvez jamais tivesse deixado de amá-lo. E a noite em
que ela vestiria aquela lingerie seria sua última noite com Kevin, antes de eles finalizarem um divórcio que se arrastava por
quatro anos.
Só que agora ela não tinha mais certeza de que o queria.
CAPITULO SETE
Kevin olhou para o relógio pela vigésima vez naquele dia. Em apenas três horas, ele estaria apanhando Cara para
jantar. A ansiedade invadiu seu corpo, tornando-o impaciente e inquieto.
Ele olhou para os arquivos terminados sobre sua mesa. Trabalhando como um maníaco naquele dia, ele conseguira
fazer quase todo o trabalho em tempo recorde, e ainda organizar uma reunião da equipe que trabalharia no seu projeto mais
recente, de um complexo de apartamentos no subúrbio de Houston. Ele tinha algumas modificações a fazer no projeto, antes
de enviá-lo ao departamento jurídico.
Kevin estava acabando de acrescentar as últimas observações quando Darius e Lance entraram na sala, sem serem
anunciados. Kevin olhou por detrás deles, pela porta aberta, para sua secretária, Marin, sentada à escrivaninha.
— Não consigo arranjar uma secretária decente, nos dias de hoje. A minha deixa qualquer um entrar no meu escritório.
— Eu ouvi isso! — gritou Marin. — Você tem sorte de ter a mim.
— E você tem sorte de tê-la — disse Darius, com um sorriso largo.
— Viemos libertá-lo de tudo isto — disse Lance, passando o braço direito por sobre a mesa de Kevin, coberta de
papéis. — Estamos na happy hour, a começar de agora.
Kevin torceu a boca, levantou-se e caminhou até a porta.
— Eu estava brincando — disse ele para sua secretária, desnecessariamente.
Ela fora avisada para nunca deixar Lance e Darius esperando no saguão, a menos que Kevin estivesse em uma
reunião. Ele fechou a porta e olhou para os amigos.
— Não posso. Não hoje.
— Por que não? — perguntou Darius.
— Tenho um encontro daqui a algumas horas.
— Com Cara?
Kevin cruzou os braços sobre o peito.
— É isso mesmo. Darius sacudiu a cabeça.
— Eu sei o que você está tramando. Reconheço todos os sinais. Está tentando se vingar de Cara porque ela o
magoou. Mas acredite em mim, o tiro vai acabar saindo pela culatra.
— Isto é algo que preciso fazer — disse Kevin, em defesa própria. — O que o torna um especialista no assunto?
— Eu fiz a mesma coisa com a Summer. Eu queria vingança pelo que ela havia feito comigo há sete anos, mas
terminei me magoando no processo, ao negar meu amor por ela. Eu quase a perdi, Kevin.
— A minha situação é diferente.
— Se você está tão zangado e ferido, é apenas porque ainda está apaixonado por ela e não quer admitir. — Lance
concordou com Darius. — Eu acho que você devia ouvi-lo, Kev. Vai ver as coisas mais claramente depois de uma boa bebida.
— É, bem, talvez eu esteja mudando de idéia a respeito de ir beber com vocês dois.
Lance cocou o queixo.
Os dois homens o agarraram pelos cotovelos, um de cada lado, e o arrastaram para fora do escritório.
— Talvez se nós o tivéssemos arrancado do seu escritório com mais freqüência, nos velhos tempos, vocês dois ainda
estivessem juntos. E a caminho de nos tornar tios — completou Darius.
Kevin conseguiu libertar os braços e recuperar a compostura antes de chegar à mesa de sua secretária.
— Estamos fechando cedo hoje. Vá para casa e tenha uma boa noite — disse ele, ignorando os sorrisinhos satisfeitos
de Lance e Darius.
— Obrigada, sr. Novak. Eles desceram pelo elevador.
— Há cinco anos, eu teria esmurrado vocês dois por tentarem fazer uma gracinha dessas.
Darius jogou a cabeça para trás e deu uma sonora gargalhada.
— Você teria tentado, Novak. Mas não teria conseguido.
— Há cinco anos — Lance começou —, você jamais teria parado de trabalhar, nem mesmo para tomar uma bebida
com seus amigos.
— E isso significa o quê?
Lance inclinou a cabeça para o lado e sacudiu os ombros largos.
— Significa que você está fazendo progressos. Embora aprenda devagar.
Kevin sacudiu a cabeça.
— Vocês dois não me dão uma folga.
— Vamos — disse Lance, saindo do elevador. — O bar está chamando. Não vamos deixar que você se atrase para o
seu encontro com Cara.
— É melhor mesmo. — O que Kevin não contaria a eles era que seu plano já estava funcionando.
Cara estava se apaixonando por ele novamente. Kevin podia ver, pelo modo suave como Cara olhava para ele agora,
e pelo tom doce de sua voz quando eles conversavam ao telefone.
— A última coisa que eu quero fazer é irritá-la.
Às 20h15, Cara já estava andando de um lado para o outro de seu quarto de hotel. Às 20h30, ela olhou para o telefone
na mesa de cabeceira, e em seguida apanhou o celular, olhando para o aparelho com irritação. Kevin devia ter passado para
apanhá-la meia hora antes. E não havia telefonado. Cara vacilou, sem saber se deveria ligar para ele ou não. Mas a raiva
crescente venceu, e ela jogou o telefone de volta na bolsa com impaciência.
— Ele sabe como me achar — resmungou.
A mente de Cara recapitulou todos aqueles dias em que ele chegava mais tarde do que ela esperava, todos aqueles
jantares que ela tivera tanto trabalho para preparar e que ficaram intocados. As noites solitárias em que ela esperara por ele, e
mais tarde, as noites solitárias em que ela ia para a cama antes que ele voltasse para casa. Cara havia começado a imaginar
que o problema era ela. Afinal de contas, todas as outras jovens casadas que ela conhecia tinham maridos que voltavam para
casa na hora certa. Eles jantavam juntos, passavam os fins de semana fazendo coisas divertidas. Ela se flagrou ansiando por
Kevin, quando estava claro que ele não sentia o mesmo por ela.
Ele nunca precisara da companhia dela, não daquela forma. Não como a maioria dos recém-casados, que não
conseguiam passar tempo suficiente juntos. Ela começara a se sentir inadequada como esposa, como se não fosse capaz de
manter o interesse de seu marido. Seus sentimentos só haviam piorado quando ela quisera ter um bebê, e Kevin sempre
adiava seus planos.
— Há tempo para isso. Ainda somos jovens.
Ela fora uma idiota na época, perdoando-o depois de cada desculpa, até que finalmente, depois de anos escutando
pacientemente, as explicações dele começaram a cair em ouvidos surdos. Pelo menos, ela estava agradecida pelo fato de eles
não terem tido filhos. Cara não queria criar um filho em um lar desfeito. Porque, quando a dor ficara forte demais, ela não tivera
opção a não ser partir, e salvar o que ainda restava de seu coração.
Cara imaginou que desculpa ele inventaria agora. E então, teve uma iluminação.
— Não vou ficar por perto para descobrir — ela disse a si mesma.
Cara não era mais a jovem esposa compreensiva e inocente que fora um dia. Ela apanhou sua bolsa e observou
rapidamente seu reflexo no espelho. Com seu vestido preto e os cachos loiros lhe chegando aos ombros, ela fez um gesto de
aprovação para si mesma antes de sair pela porta.
A cada passo que dava, sua raiva aumentava. Ela tomou o elevador até o saguão do hotel e foi diretamente para a
recepção, onde encontrou um homem de meia-idade com um rosto bondoso, de pé atrás do balcão.
— Eu gostaria de chamar um táxi. Onde posso encontrar um lugar agradável para ouvir boa música e tomar uma
bebida?
O concierge, cujo crachá revelava se chamar George, sorriu.
— Bem, talvez um táxi não seja necessário. O Salão Fairfield está disponível para os nossos hóspedes esta noite, e a
banda deve começar a tocar daqui a alguns minutos.
— Perfeito. Você pode me ensinar a chegar lá, por favor?
— Farei melhor do que isso — disse ele, contornando o balcão. — Vou acompanhá-la até lá.
Kevin bateu à porta do quarto de Cara precisamente às 20h45. Ele estava muito atrasado para apanhá-la, mas não
tivera escolha.
Depois de tomar uma bebida com Lance e Darius, ele recebera um telefonema do guarda noturno que trabalhava no
projeto do complexo de apartamentos. A obra do apartamento tinha sido vandalizada. Teddy Burford havia sido agredido e
ficara inconsciente por alguns segundos.
Kevin tinha dado o emprego ao guarda noturno já idoso. Ele era um veterano de guerra, que havia sido treinado para o
trabalho, e Kevin sentira que o velho soldado precisava se sentir útil em seus últimos anos. Ele ficara ao lado de Teddy
enquanto ele contava a história à polícia. Nada fora roubado, e pela descrição que Teddy fizera dos suspeitos, parecia tratar-se
de uma brincadeira de mau gosto de adolescentes. Teddy havia surpreendido três garotos, eles entraram em pânico, e um dos
garotos empurrara o guarda noturno com força. Ele batera a cabeça contra a parede a apagara por alguns minutos.
Havia esperado com Teddy até sua filha chegar para levá-lo até a emergência do hospital, para observação. Então, ele
finalmente olhara para o relógio. Quando percebera que estava atrasado para seu encontro com Cara, ele telefonara para ela
imediatamente. Ela não atendera ao telefone.
Agora, ele estava parado do lado de fora do quarto dela, batendo com mais força da segunda vez.
— Cara, é Kevin.
Sem resposta.
Ele deixou escapar um palavrão e bateu mais uma vez, antes de se afastar. Kevin telefonou para o número do celular
dela mais uma vez a caminho do elevador, e a chamada foi direto para a caixa-postal. Ela desligara o telefone.
No saguão, Kevin falou com dois mensageiros, e depois com três recepcionistas que trabalhavam atrás do balcão. Um
dos funcionários lhe indicou o concierge.
Kevin assentiu e foi até ele.
— Com licença, estou procurando a minha esposa, a sra. Novak. Loira, mais ou menos desta altura. — Ele fez um
gesto indicando um metro e setenta e cinco. — E muito bonita.
George examinou-o cuidadosamente e fez um gesto de cabeça.
— Acabei de acompanhar a sua esposa ao Salão Fairfield. Fica no terceiro andar, logo depois do...
— Obrigado. — Kevin se afastou antes que o concierge terminasse de lhe explicar as direções. Ele planejara estar com
Cara naquela noite, e nada iria impedi-lo. Ainda que ele tivesse de se desculpar um pouco, Kevin a faria entender por que se
atrasara.
Ele seguiu os sons da música ao vivo, uma balada suave e provocante que o levou facilmente ao Salão Fairfield. Ele
ficou parado à entrada, junto às portas duplas que davam para um salão com elegantes cortinas, candelabros venezianos que
brilhavam como diamantes, e uma pista de dança de madeira escura. As pessoas se aglomeravam junto ao longo balcão do
bar. Kevin se apoiou levemente contra a soleira da porta, de braços cruzados, procurando pela esposa.
Quando finalmente a viu, ele se ergueu um pouco para ter uma visão melhor de Cara nos braços de um estranho,
dançando música lenta e conversando. Ela estava linda, usando um vestido preto e longos brincos de brilhantes, mostrando o
suficiente de suas pernas para fazer um homem crescido chorar. Kevin tentou controlar sua frustração, mas a voz dentro de
sua cabeça não o deixava em paz.
O que você esperava? Ela é jovem e linda, e quando você assinar aqueles papéis, ela estará livre para sair com outros
homens. Pode ir se acostumando, amigão.
Quando o homem que estava dançando com Cara a puxou para mais perto, a frustração de Kevin se transformou em
algo que o fez invadir a pista de dança com passos deliberados. Com o olhar focado apenas em Cara, ele se aproximou dela e
colocou a mão sobre seu braço. Ela se virou, arregalando Os olhos.
— Desculpe o meu atraso, querida. O queixo de Cara caiu.
— Kevin. — Ela olhou para o homem com quem dançava e sorriu, como quem pede desculpas.
Ele dirigiu a ela um olhar confuso, e então falou com Kevin:
— Estamos no meio de uma música.
— Eu sei disso. — Kevin não podia culpar o outro homem por sua tentativa de cavalheirismo. — Mas você está
dançando com a minha esposa. — Ele sorriu para o homem. — Posso assumir a partir daqui.
O homem olhou de volta para Kevin, e voltou os olhos rapidamente para o dedo esquerdo sem aliança de Cara, antes
de soltá-la.
— Praticamente divorciada — ela completou, como explicação. O homem assentiu e continuou a seu lado. Um tique
nervoso fez o queixo de Kevin tremer.
— Foi um prazer conhecê-la, Cara.
— O prazer foi meu, Dylan. Desculpe-me pela interrupção. A paciência de Kevin diminuiu.
— Se você nos der licença, preciso falar com a minha esposa.
— Claro. — Dylan olhou para Cara mais uma vez, antes de sair da pista de dança.
— Isso não foi nada bonito, Kevin. — Os olhos de Cara escureceram.
— Talvez não, mas foi justificado. Estou me desculpando pelo atraso.
— Desculpas recusadas. — Cara saiu rapidamente da pista de dança.
Kevin revirou os olhos e teve o bom-senso de não ir atrás dela, mas que droga, ela iria ouvir suas explicações e depois
decidir se ficava zangada ou não.
Ela foi até uma mesa e apanhou sua bolsa, colocando-a debaixo do braço.
— Você arruinou a minha noite, Kevin. E estragou uma dança muito agradável, de que eu estava gostando.
— Com aquele sujeito? — Kevin apontou na direção da pista de dança.
— Se eu bem me lembro, foi você quem quis que eu ficasse na cidade estas semanas, para me dar o divórcio. O
mínimo que você poderia fazer seria aparecer quando diz que vem.
Kevin respirou fundo.
— Vamos nos sentar, eu vou explicar.
— Kevin, você não vê? Eu não quero as suas explicações. Eu já ouvi todas as suas desculpas, anos atrás.
— Tudo bem, se você não quer se sentar, então dance comigo.
— Kevin — ela disse, exasperada.
— Desculpe-me. Eu telefonei para você logo que pude.
— Eu sempre vim em segundo lugar.
Ele podia ouvir a dor na voz dela. Era importante para ele que ela compreendesse o que havia acontecido naquela
noite. Ela sempre o acusara de não lhe dar prioridade, quando aquilo era exatamente o que ele fazia. Cara abandonara-o por
causa de mal-entendidos, e ele não a deixaria ir para a cama naquela noite pensando que estivera certa durante todos aqueles
anos, e que também estivera certa naquela noite.
A banda tocava uma música suave. Ele tirou a bolsa das mãos dela, colocando-a na cadeira.
— Uma dança. Eu vou lhe dizer o que aconteceu esta noite. Vou lhe contar sobre Teddy Burford. E ent ão, você pode
decidir o que acontece depois.
Os lindos olhos azuis de Cara entregavam sua curiosidade.
— Quem é Teddy Burford?
— Dance comigo, e eu lhe contarei.
— Você está me chantageando de novo?
— Este parece ser o único modo, com você.
— Não é verdade. Mas eu gosto de dançar.
Ele observou o movimento sensual dos quadris d.e Cara, enquanto ela se movia sem ele na pista de dança. Sem um
segundo de hesitação, ele a tomou nos braços, puxando-a para si, seu corpo colado ao dela.
— Ah, Cara. Isso é tão bom. — Ele correu as mãos pelos lados do corpo dela, dos ombros até a cintura.
— Uh-huh. — Ela afastou as mãos dele, e as colocou firmemente em sua cintura. Então, Cara colocou os braços ao
redor do pescoço dele e se inclinou para trás. — Então, o que aconteceu hoje?
Kevin explicou como tinha conhecido Teddy Burford, quando a empresa reformava o Centro Comunitário da Terceira
Idade. Teddy estava sentado entre um grupo de senhoras que jogavam bingo, e parecia miseravelmente infeliz. Ele perdera a
esposa no ano anterior, e morava com a filha. Embora ela não reclamasse, Teddy se sentia como se estivesse invadindo sua
vida familiar.
— Eu o levava para almoçar, e ele me contava suas histórias de guerra. Ele serviu duas vezes no Vietnã. Ganhou
algumas medalhas, também. Eu sempre pensava que era uma pena que ele desperdiçasse seus dias no centro comunitário.
Ele me disse que estava procurando trabalho, mas não tivera sorte. Sabe, ele queria independência financeira. Qualquer
pessoa quereria.
— Mas estava velho demais?
— Só na idade. Não no coração. Então, quando apareceu a vaga para guarda-noturno no complexo de apartamentos,
eu lhe disse para tentar. Não quis que ele pensasse que estava lhe dando o emprego, mas sabia que daria. Ele é um velhote
durão com experiência militar. E conhece seu trabalho.
— Ao que parece, você teria lhe dado o emprego de qualquer maneira.
— Para minha sorte, ele tem qualificações. E gosta do trabalho.
— Eu já gosto dele.
— Eu estava tomando uma bebida com Lance e Darius esta noite, quando ele telefonou. Parecia bem abalado. —
Kevin continuou a falar, explicando sobre os vândalos e os ferimentos de Teddy. — Serio, Cara, o velhote é meu amigo. Eu
não fui até lá por nenhum outro motivo, a não ser me certificar de que ele estava bem. Ele parecia muito chateado, não por ter
sido agredido, mas por não ter defendido a propriedade. Ele pensou que havia falhado comigo, e eu assegurei a ele que ele
fizera seu trabalho, e muito benfeito. E fiquei com Teddy até a filha dele ir buscá-lo. Naquela altura, já era tarde para ligar para
você. Eu sei que deveria ter telefonado antes, mas...
— Eu já entendi, Kevin. Você fez a coisa certa. Mas tem de compreender por que eu pensei o pior. Você me deixou
sozinha sem explicações centenas de vezes no passado, e por que eu deveria ter pensado de forma diferente esta noite?
Kevin inalou o perfume cítrico e fresco dos cabelos dela e fechou os olhos.
— Você nunca esteve em segundo lugar, Cara.
Ele sentiu o exato momento em que Cara se rendeu. Os ombros dela relaxaram, seu corpo ficou menos tenso, e ela
colocou a cabeça em seu ombro.
— Apenas dance comigo, Kevin.
Ele a segurou com mais força, satisfeito por ela ter compreendido e perdoado. Eles não tinham muito mais tempo
juntos, e ele queria aproveitar cada minuto ao máximo.
* * *
Duas horas mais tarde, a banda parou de tocar. Cara ficou em pé na pista de dança, encarando Kevin, seu corpo
eletrizado. Eles haviam tomado algumas bebidas, e dançado a noite inteira. Cara tinha uma leve desconfiança de que Kevin
pagara à banda para que tocasse apenas músicas lentas, provocantes. A música era doce aos seus ouvidos, e dançar cada
número nos braços fortes de Kevin tornou-se algo sedutor, que ela não podia negar. Os lábios dele tocavam constantemente a
testa de. Cara, seu hálito quente acariciava seu pescoço, e suas mãos passeavam por partes de seu corpo que estavam no
limite do indecente.
Ela se moveu contra ele, e o ensinou a seduzir a música. E, por sua vez, ele quase conseguiu seduzi-la. Ela ansiava
por ele. Bem lá no fundo. Não apenas ela o havia perdoado, mas a amizade dele com um solitário e excluído veterano de
guerra o fazia parecer ainda mais caro a seus olhos.
— Está ficando tarde.
Todos na pista de dança haviam se dispersado. A banda começou a arrumar os instrumentos.
— A noite não foi como eu havia planejado. Acabou sendo muito melhor. Você se divertiu?
— Sim, amo dançar. — E ela adorava estar com ele.
Eles haviam conversado e rido, e dançado nos braços um do outro.
— Obrigada.
— É melhor nós irmos antes que eles nos expulsem — ele disse. Uma equipe uniformizada havia entrado no salão e já
estava removendo as toalhas das mesas.
— Você sabia que Pavarotti cantou neste mesmo salão, uma vez?
Kevin sacudiu a cabeça, enquanto eles caminhavam até a mesa. Ele lhe entregou a bolsa.
— Eu não sabia disso.
— George me contou enquanto me acompanhava até aqui.
— Ah, George, o concierge. Eu acho que ele ficou encantado com você.
— Não, ele é só um bom homem.
— Cara, não existem homens bons. Não quando uma mulher bonita está envolvida. Pensei que iria ter de brigar com
aquele tal de Dylan só para conseguir dançar com você.
Eles andaram em direção ao elevador. — E então você resolveu usar o trunfo da esposa. Kevin soltou uma risada.
— Funcionou direitinho.
— Tecnicamente, eu não sou sua esposa. Ou não serei mais, daqui a alguns dias.
— Você preferia que eu tivesse dado um murro no queixo do camarada?
Cara riu.
— Você não faria isso.
— Faria, sim.
Cara continuou andando. Kevin tomou a mão dela enquanto ■eles caminhavam para o elevador.
— Posso chegar ao meu quarto sozinha, daqui.
— Vou acompanhá-la.
Com o queixo firme e a voz determinada de Kevin, ela não discutiria.
Eles entraram no elevador, e no segundo em que as portas se fecharam, Kevin a encostou contra a parede.
— Esperei a noite inteira para fazer isso. — Uma de suas mãos se apoiou na parede do elevador, enquanto a outra
segurava a nuca de Cara, trazendo seu rosto para perto do dele. Ele baixou a cabeça e colou os lábios nos dela.
A tensão acumulada se liberou, parecendo vir da boca do estômago dela. Cara ficou feliz com aquele alívio, ansiando
por ele com uma necessidade ardente. Os lábios dele buscaram os dela, outra vez e mais outra, e ela retribuiu cada beijo com
ferocidade igual. O gosto forte do álcool se misturava com o hálito dele. O coração dela martelava, e a pele de seus braços se
arrepiou. Ele baixou mais ainda a cabeça, levando os lábios ao pescoço dela, mordiscando, lambendo. Ela enterrou os dedos
nos cabelos espessos e loiros dele, permitindo-lhe acesso, e ele beijou seus seios, movendo as mãos para acariciar cada um
por cima do tecido do vestido. O toque dele fazia com que os dedos dos pés de Cara se curvassem, e seus mamilos ficassem
totalmente duros. Ele passou os dedos por sobre os bicos sensíveis e o calor se espalhou pelo corpo dela.
— Kevin — gemeu ela, o nome dele escorregando de seus lábios.
O elevador continuou a subir e ele continuou o ataque, com beijos frenéticos agora. Cara respirava com dificuldade,
totalmente envolvida naquele momento. Kevin levantou a barra do vestido dela e lhe acariciou a parte interna da coxa.
Sensações alucinantes lhe subiam pela perna, fazendo cada célula de seu corpo ficar alerta e consciente. Ela gemeu de puro
prazer, enquanto as mãos de Kevin percorriam todo o seu corpo, seus beijos quentes, molhados e determinados. A virilidade
dele pulsava contra ela. Oh, não, ela pensou. Não podemos fazer amor no elevador. Podemos?
O elevador tilintou. Ela ficou paralisada, olhando para o relógio digital acima das portas. Eles haviam chegado a seu
andar.
Kevin se afastou dela e se compôs. As portas se abriram, e por sorte, não havia ninguém no corredor. Ambos estavam
totalmente desgrenhados, com os cabelos em desalinho, as roupas amassadas, como se... como se tivessem feito sexo no
elevador. Cara recuou rapidamente e olhou para Kevin.
Com as costas apoiadas na parede do elevador, ele lhe dirigiu um sorriso torto. Ele parecia adorável, como um garoto
de escola travesso que escapara do castigo depois de matar aula.
— Só mais alguns dias, querida.
O calor subiu pelo pescoço dela. Cara concordou, incapaz de dizer uma palavra, mas imaginando perfeitamente a noite
em que eles finalmente fariam amor. Kevin apertou um botão e as portas se fecharam, deixando Cara sozinha no corredor do
hotel, excitada e furiosa consigo mesmo por ter feito aquele acordo com ele, em primeiro lugar.
Mais quatro dias, antes de eles finalmente satisfazerem seu desejo.
E mais quatro dias antes de Cara ser uma mulher livre.
Ela não sabia qual das duas coisas a preocupava mais.
CAPITULO OITO
— Tudo bem, Marissa. Vejo você daqui a alguns dias.
Cara desligou o telefone, depois de evitar que acontecesse um desastre com duas de suas mais talentosas
professoras de dança. Ambas haviam ameaçado se demitir, e Cara passara a manhã inteira consolando cada uma delas,
ouvindo suas reclamações sobre a outra, e pedindo-lhes que esperassem até que ela pudesse falar com elas pessoalmente.
Felicia e Marissa eram temperamentais como o diabo. Quando Cara estava em Dallas, conseguia manter a paz entre
as duas. Francamente, ela já estava cansada de agir como intermediária e mesmo como babá. Quando voltasse, colocaria as
coisas em seus devidos lugares. Se elas quisessem continuar a trabalhar para o Dancing Lights, teriam de se entender. Ponto
final. Ela aprendera muito sobre como administrar um negócio nos últimos anos. Mas prometera a si mesma nunca deixar que
os negócios dominassem sua vida pessoal.
Seus pensamentos se voltaram para Kevin. Ele era. a vida pessoal dela, agora. Pelos próximos quatro dias, pelo
menos. Ela se divertira muito com ele na noite anterior. Mesmo que a noite tivesse começado mal, ele havia conseguido
transformá-la em algo que Cara recordaria por um longo tempo. Se existia qualquer dúvida antes, estar com ele na noite
passada a convencera de que ela se apaixonara por ele novamente.
— Amo você, Kevin — sussurrou ela no silêncio de seu quarto de hotel.
Cara mal podia acreditar em sua própria revelação. Ela fechou os olhos, recusando-se a deixar que as lágrimas
caíssem. Agradecida por ele estar fora da cidade naquele dia, Cara poderia passar seu tempo tentando entender seus
sentimentos. Ela entraria on-line para trabalhar um pouco, comprar um presente de casamento para Lance e Kate, e passaria a
noite sozinha com seus pensamentos. Ela precisava de tempo para raciocinar.
Cara teria o divórcio que viera a Houston para conseguir, mas era aquilo o que ela realmente queria? Será que era
culpada da mesma coisa de que acusara Kevin de fazer, colocando os negócios antes da vida pessoal? Será que ela deveria
tentar consertar as coisas com seu marido? Ele não lhe dera nenhuma indicação do que desejava para o futuro. Cara tinha um
dia para ruminar sobre sua situação, antes de Kevin vir bater à sua porta para levá-la à recepção do casamento de Lance e
Kate. Um dia para resolver o que queria para o resto de sua vida.
Precisamente às seis e meia da noite seguinte, Kevin estava parado à porta do quarto de Cara, usando um smoking de
três peças ao estilo James Bond. Não, ela pensou melhor, ele estava mais lindo que 007, e Cara teve que apertar os lábios
com força para impedir seu queixo de cair. Vestido de preto da cabeça aos pés, exceto pela gravata cinza-prata por dentro do
colete, Cara nunca havia visto um homem mais bonito.
Ele é meu marido.
E eu estou de pé aqui, babando.
— Senti sua falta ontem — foram as primeiras palavras que ele disse.
Cara teve muita dificuldade em impedir que seu ego fosse para o espaço.
— Tive uma reunião de contrato em Austin, que havia sido planejada há meses, ou eu a teria cancelado em um piscar
de olhos.
— Eu compreendo.
Ele realmente não tinha nenhuma obrigação de ir vê-la todos os dias, mas telefonara três vezes no dia anterior, quando
tivera um tempo livre.
— Você está linda. Vermelho é a minha cor preferida em você. — Os olhos dele se fixaram nos lábios dela, de um
vermelho brilhante, è desceram para examinar o vestido de um ombro só e os sapatos vermelhos. — Aposto que suas unhas
estão pintadas de vermelho, também.
Cara chutou um sapato para longe e mexeu os dedos.
— Acertou. Vermelho pirulito.
— Ah, Cara. — Ele a agarrou pelos quadris e puxou-a para si, abaixando a cabeça para dar-lhe um beijo avassalador
nos lábios. Sem se afastar dela, com a boca a apenas uma respiração de distância, ele sussurrou: — Não me convide para
entrar.
Cara piscou.
— Lance jamais me perdoaria se eu chegasse atrasado. Mas ele vai ficar me devendo uma, pode apostar.
Cara riu e tomou o braço dele.
— Então talvez seja melhor nós irmos andando.
— É, eu temia que você fosse dizer isso.
Vinte minutos depois, eles estacionavam o carro ao lado do Clube dos Criadores de Gado do Texas. Um manobrista
abriu a porta do Jaguar e ajudou Cara a descer. Kevin entregou as chaves do carro ao manobrista e estava ao lado dela num
instante, colocando a mão firme em suas costas. Ele a guiou para dentro e eles entraram no salão de jantar formal.
Duas colunas altas e brancas, enfeitadas com arranjos de rosas vermelhas, estavam colocadas de cada lado da
entrada, como boas-vindas. Toalhas de linho branco e vasos de flores em tons ricos de vermelho, âmbar e vinho decoravam
cada mesa. Luzes pisca-pisca iluminavam a janela em arco, e uma dúzia de castiçais de velas haviam sido colocados na
estante de pedra entalhada da lareira. Uma orquestra de quatro músicos tocava suavemente ao fundo.
— Uau, tudo está deslumbrante.
Kevin olhou para ó salão à sua volta, e então se virou para ela.
— Você torna tudo deslumbrante.
O coração de Cara deu um pequeno salto.
— Obrigada — ela murmurou.
Kevin sempre a elogiava ultimamente, e andava tão atencioso que ela mal podia compará-lo ao homem que deixara
quatro anos antes, ou com o homem que a chantageara para aceitar aquela farsa de duas semanas. Ele a acompanhou para o
meio do salão, e ela colocou o presente que havia comprado sobre a mesa.
— O que você comprou para eles? — perguntou ele.
— Taças de vinho personalizadas e uma turnê de vinhos.
— Uma turnê de vinhos?
— Eles vão receber uma garrafa de vinho em casa todos os meses, durante o primeiro ano do casamento, de
diferentes regiões da França e da Itália.
Kevin concordou.
— Muito original. Tenho certeza de que eles vão adorar.
— Hmm, espero que sim. É difícil escolher um presente quando você esteve distante por tanto tempo, como eu estive.
— Inclinando a cabeça, ela olhou nos olhos de Kevin. — Aposto que você escolheu o presente perfeito para eles.
Kevin deu de ombros.
— Eu fiz uma grande doação no nome deles para a instituição de caridade favorita de Lance e Kate.
Cara se balançou nos saltos, impressionada com a sensibilidade de Kevin.
— Isto é... muito generoso.
— Acho que eles vão apreciar o gesto.
Um garçom lhes serviu uma taça de Merlot, e Kevin fez um brinde particular.
— A você, Cara. Espero que todos os seus sonhos se tornem realidade.
— E a você, Kevin — disse ela, oferecendo seus próprios votos. — Espero que você encontre a felicidade.
Eles tocaram suas taças gentilmente e olharam nos olhos um do outro, ao tomar um gole. Kevin comentou:
— Estou bem feliz agora. E ela também estava.
O coração de Cara quase parou. O sangue se esvaiu de seu rosto. Ela poderia desistir de tudo aquilo? Poderia se
divorciar de Kevin, e não imaginar se teria cometido o pior erro de sua vida? Seria estar com Kevin seu verdadeiro sonho? Ele
a cortejava havia dias, e ainda não dissera nenhuma palavra para levá-la a pensar que queria se reconciliar.
— Algo errado? — perguntou ele.
— O que poderia estar errado? — Cara respondeu rapidamente, colocando um sorriso no rosto.
Um tique nervoso fez o queixo de Kevin tremer. Aquele mesmo tique que sempre aparecia quando eles discutiam. Ele
baixou o tom de voz e ficou sério:
— Sim, o que poderia estar errado?
Justin Dupree entrou com uma mulher jovem, loira, de pernas compridas. Cara a reconheceu imediatamente como Mila
Jankovich, uma supermodelo que ela havia visto em uma dúzia de capas de revista recentemente. Justin tinha uma beleza
clássica, um perfil bonito e olhos azuis vivos, e os dois juntos formavam um casal muito atraente. As apresentações foram
feitas, e mais vinho foi servido enquanto eles conversavam.
Mila parecia encantada com Justin, sendo vários anos mais nova que ele, Cara presumiu. E embora ela sempre tivesse
achado Justin um cara legal, ele tinha certa reputação com as mulheres. Nenhum pai em sã consciência gostaria de ver Justin
Dupree cortejando sua filha.
A orquestra fez silêncio, e um anúncio oficial foi feito, quando Kate e Lance entraram no salão. O pequeno grupo de
amigos e familiares aplaudiu. Kate estava radiante de alegria e Lance nunca parecera mais feliz. O coração de Cara se apertou
ainda mais. Ela se lembrou de seu próprio casamento e da esperança que a invadira quando ela e Kevin trocaram os votos.
Ah, suas esperanças de um futuro feliz, com um jovem marido e filhos, um dia. Nada daquilo acontecera a Cara. E ainda
assim, ali estava ela, ao lado de Kevin, incerta sobre o relacionamento dos dois.
Ela deveria dizer a ele que o amava? Ou deveria aceitar a palavra dele, de que queria se separar dela como amigo?
Amigo? Ela não o queria como amigo. Não mais. Ela queria algo além disso. Ela vira as mudanças em Kevin, e
acreditava que ele era um homem diferente daquele que a magoara tão horrivelmente.
Ela poderia confiar naquilo?
Kevin segurava Cara nos braços na pista de dança, a orquestra de cordas criando um ambiente romântico. Ele
respirava o perfume exótico que ela usava, e corria os dedos por seus cachos loiros. Ele tinha dificuldades em se agarrar à sua
amarga necessidade de vingança, quando a tinha nos braços.- Suave e feminina e a mulher mais linda do salão, Cara o fazia
esquecer-se de toda a dor que havia lhe causado. Kevin nunca passara pela experiência de ter uma mulher abandonando-o.
Ele nunca fora aquele que ficava para trás, segurando o chapéu, humilhado e com o orgulho destruído. Ele ainda se lembrava
daqueles dias de bebedeira depois que ela partira, a dor e a desolação se misturando à raiva e à frustração. Ele se lembrava
de ter de contar a verdade a seus pais e amigos. Kevin havia odiado a piedade deles, e sua simpatia. Ele se sentia um
fracassado em sua vida pessoal, logo ele que fora nada menos do que um grande sucesso na vida profissional.
— Você está bem? — Cara perguntou, franzindo as sobrancelhas loiras.
— Estou ótimo. — Ele deu a ela um sorriso confiante. Darius lhe deu um tapinha no ombro.
— Você se importa se eu interromper?
Sim, ele se importava, mas Cara já havia soltado sua mão.
— Darius, eu adoraria dançar com você.
Kevin cedeu, entregando Cara a Darius. Ele apanhou sua taça de vinho e descobriu que não havia álcool suficiente ali.
Ele se dirigiu ao bar em busca de uma bebida mais forte. Lance se aproximou dele e apoiou um braço no balcão, encarando-o.
— Uísque puro — Kevin disse ao barman. Lance riu.
— Cara está afetando você, não está?
— Linda festa, Lance. — Kevin se recusou a morder a isca.
— Fico feliz por você estar se divertindo. Cara parece estar se divertindo também.
— Ela está se divertindo o bastante.
— Você não tirou os olhos de cima dela pelas últimas duas horas.
Kevin cocou o pescoço.
— Você está contando?
O barman deslizou dois copos de bebida na direção deles.
— Que diabos, vi a cara que você fez quando Darius interrompeu a sua dança. Se um olhar matasse...
— Ela só vai ficar aqui por mais alguns dias.
— E você ainda está trabalhando no seu brilhante plano de vingança?
Kevin franziu o rosto e levou o copo à boca.
— Talvez.
— Homem, não seja estúpido.
— Cale a boca, Lance.
— Estou tocando num ponto fraco? Você está tendo dúvidas? Porque se estiver, diria que é um progresso.
— Você não sabe do que está falando.
— Eu sei que você foi magoado, Kev, e sei que acha que ela o abandonou. Mas você alguma vez levou em
consideração o lado dela? Talvez os dois estivessem certos, e os dois estivessem errados.
— Estou tão feliz por ter vindo à sua festa de casamento. Kate já sabe que se casou comum bisbilhoteiro?
— Ela sabe que eu amo os meus amigos.
— Mais dois uísques — Kevin disse ao barman, e voltou-se novamente para Lance. — Faça-me um favor, não me ame
tanto.
— Muito engraçado, Kev. Você é um tremendo comediante.
— Quer você acredite ou não, eu sei o que estou fazendo.
— Isso, meu amigo, é o que nós vamos ver.
Quando Kevin voltou para a mesa, Darius e Summer se aproximaram, junto com Justin, Mila e Mitch Brody. Todos se
sentaram, e Summer e Cara começaram a conversar.
— O que lhe deu a idéia de desenvolver uma rede de estúdios de dança? — Summer perguntou a Cara.
Os olhos de Cara cintilaram.
— Bem, sempre adorei dançar. Estudei vários tipos de dança quando era menina. Bale, obviamente, e também swing,
dança de salão, e... bem, eu... — Ela olhou para Kevin, e então deu de ombros e tomou um gole de sua bebida.
— Com todas estas competições de dança na televisão, agora, imagino que seja algo muito procurado no mundo real
— comentou Summer.
Cara assentiu, com um sorriso largo.
— Há um mercado bastante grande, neste momento. As pessoas querem se sentir bem consigo mesmas. Não há nada
mais libertador, para mim, do que seguir a música.
— E você é boa nisso — completou Darius. Ele olhou pára Summer. — Ela me deu umas dicas quando nós dançamos.
Cara riu.
— Ah, não, não vou levar os méritos por isso. Darius tem ritmo suficiente para uma banda de jazz. Ele poderia muito
bem se juntar à minha equipe como instrutor.
— Certo — disse Darius, sacudindo a cabeça. — Eu provavelmente assustaria todos os seus clientes.
Summer colocou a mão no braço dele.
— Darius é um homem de muitos talentos.
— Você sempre diz isso — disse Justin —, mas ninguém mais vê.
Darius fingiu um olhar furioso.
— Cuidado, garoto bonito.
Kevin ouviu enquanto seus amigos tagarelavam, e permaneceu em silêncio na maior parte do tempo. Cara lhe dirigia
olhares curiosos de vez em quando, enquanto participava da conversa. Ele notou a mulher forte e confiante em que ela se
tornara. Cara sempre fora inteligente e esperta, mas havia crescido de outras formas, e Kevin gostava cada vez mais do que
via nela. E enquanto ela conversava com Summer sobre seu trabalho social e o abrigo do Clube dos Criadores de Gado do
Texas, Mãos que Ajudam, as duas começaram a discutir como servir melhor à comunidade. Era óbvio que Cara fizera uma
nova amiga.
Mas Cara não teria tempo para desenvolver aquela amizade. Tudo acabaria em breve. Depois que eles consumassem
o acordo, ele assinaria os papéis do divórcio e a deixaria partir, sua vingança enfim completa.
E ao deixá-la ir, ele estaria livre, também.
Para seguir em frente com sua vida.
E mesmo assim, as palavras de Lance continuavam a reverberar em sua mente.
Não seja estúpido, Kevin.
Estou tocando em um ponto fraco?
Você está tendo dúvidas?
Maldição, sim. Ele tinha dúvidas, tinha sentimentos por Cara que não conseguia negar. Quanto mais ele tentava
afastá-los de sua mente, mais forte eles se tornavam. Graças a Deus, Mitch Brody interrompeu seus pensamentos:
— Que tal um jogo de tênis amanhã, depois do trabalho?
— Sim, claro.
Vinte minutos mais tarde, Cara saiu discretamente da festa para usar o banheiro. Ela precisava de um tempo longe de
Kevin e dos pensamentos sobre reconciliação que não paravam de lhe vir à mente. Estar ao lado dele naquela noite, encontrar
os velhos amigos faziam-na sentir cada vez mais que poderia voltar a assumir o papel de esposa de Kevin. Ele constru íra seus
milhões, e sem nada mais a provar, parecia ter entendido como manter o equilíbrio entre negócios e prazer.
Ela entrou no banheiro feminino.
— Cara!
Cara se viu frente a frente com Alicia Montoya, refletida no grande espelho do balcão.
— Alicia, oi! É bom vê-la.
Alicia guardou o batom na bolsa e as duas se abraçaram.
— Que surpresa ótima.
— Estou aqui com Kevin. Lembra-se de que eu lhe falei sobre a festa de casamento de Lance e Kate?
— Sim, eu sei. Alex e eu estávamos jantando no café, e podíamos ouvir todos se divertindo.
— E estamos. Esta é uma noite realmente maravilhosa.
— Maravilhosa o suficiente para você usar sua nova aquisição da Sweet Nothing?
Cara riu.
— Quem sabe o que a noite pode trazer?
Ela não explicaria a Alicia que usaria sua nova lingerie na noite em que ela e Kevin fariam amor, dali a alguns dias.
Queria deixá-lo louco e criar uma lembrança inesquecível.
Alicia estava transbordando de excitação.
— Eu posso precisar fazer outra visitinha àquela loja em breve. Acabei de conhecer o homem dos meus sonhos aqui
no clube, e ele me convidou para sair.
— Oh, Alicia, isso é maravilhoso. Quem é ele?
O rosto de Alicia se iluminou, e suas sobrancelhas escuras se ergueram.
— O nome dele é Rick Jones. Tivemos uma conversa rápida lá fora, enquanto estava esperando por Alex. Eu teria me
lembrado se o tivesse visto antes. Ele não é o tipo de homem que uma mulher esqueceria. Não com aqueles olhos azuis
incríveis.
— Bem, você vai ter que me contar todos os detalhes depois do seu encontro. Estou louca para saber de tudo.
— Não mais do que eu, Cara. Eu não tenho um encontro há muito tempo. E, bem, Rick é charmoso e bonito. Ele é um
dos convidados da festa de casamento.
— Oh, é mesmo?
— Eu estive nas alturas a noite inteira, deixando Alex doido com o meu bom humor:
Cara tomou a mão de Alicia e não conseguiu impedir um sorriso de lhe chegar aos lábios.
— Bom para você. Por estar feliz, não por deixar Alex doido.
Cara não podia culpar um homem por se sentir atraído pela natureza doce e pela beleza de Alicia. Ela sempre
admirara o tom moreno-claro da pele da amiga, e seus impressionantes olhos castanhos. Naquela noite, ela estava
deslumbrante, usando um suéter marrom simples e uma saia justa, e os cabelos escuros penteados em cachos.
— Quem quer que seja esse Rick Jones, é um sujeito de sorte.
— Obrigada, Cara. E melhor eu ir, antes que Alex pense que eu o abandonei.
— Tudo bem. Aproveite o resto da noite. Nós nos falaremos em breve.
— Sim, em breve. Divirta-se com Kevin esta noite.
Cara voltou para a festa minutos mais tarde, e ficou surpresa ao descobrir que a orquestra havia parado de tocar, e
fora substituída por um DJ que tocava rock’n roll. O álcool fluía em abundância, a pista de dança estava lotada e os convidados
enchiam o salão com risadas e brindes à noiva e ao noivo. Ela encontrou Kevin girando a jovem supermodelo na pista de
dança, a loira magra rindo alegremente e bebericando seu coquetel.
O coração de Cara se apertou ao ver Kevin com outra mulher, parecendo apreciar a atenção que ela lhe dispensava.
Cara procurou por Justin Dupree entre os convidados, mas não conseguiu encontrá-lo em lugar algum.
Quando a música acabou, Kevin se aproximou dela.
— Ei, pensei que você não fosse mais voltar.
— Encontrei uma amiga. O que aconteceu com a orquestra?
— Lance fez um acordo com Kate. Algumas horas de músicas entediantes de orquestra, e depois chutamos o balde.
— Uau. Agora isso se parece mesmo com uma festa.
— Sim, o bar aberto e rock pesado podem fazer isso com uma festa de casamento perfeitamente decente. Acho que
chegou a hora dos brindes. Venha! Quero você ao meu lado quando eu tirar o couro de Lance.
— E assá-lo numa grelha?
Um sorriso malicioso iluminou as feições de Kevin, e seus olhos brilharam.
— E, algo do tipo.
Mas depois que Mitch brindou ao irmão, entre assobios e gritos da multidão animada, um homem de expressão séria
entrou no salão e falou diretamente com Lance. Cara observou Lance discutir com o homem, sacudindo a cabeça, até que
Kate colocou a mão em seu braço.
Lance conversou rapidamente com Kate, e em seguida se levantou para dirigir-se aos convidados:
— Aparentemente, estamos nos divertindo demais aqui para o gosto de alguém lá no clube. Algumas reclamações
foram feitas rio salão vizinho sobre o nível do barulho, e fomos convidados a nos retirar.
O salão inteiro grunhiu em uníssono.
— Eu sei, eu sei — disse Lance, tentando controlar sua raiva visível.
Kate se levantou e falou aos convidados:
— Esta foi uma festa maravilhosa, e Lance e eu queremos agradecer a todos vocês por virem. Nem consigo lhes dizer
o quanto significa para nós ter nossos amigos mais queridos aqui, para celebrar nosso casamento.
— Sim — disse Lance. — Obrigado a todos por virem, mas Kate e eu não queremos que a festa acabe. Estamos
convidando a todos para irem à nossa casa. E prometo a vocês, podemos fazer todo o barulho que quisermos lá!
A multidão no salão aplaudiu. Cara se voltou para Kevin.
— Eles podem fazer isso? Interromper a festa por causa do barulho?
— O clube tem regras rígidas, e aparentemente a pessoa que reclamou fez um grande escândalo a respeito. Lance
está furioso, mas parece tentar se controlar por causa da Kate. Então, o que você me diz? Quer ir à continuação da festa
comigo?
— Eu não perderia isso por nada — Cara respondeu, sorrindo.
Os convidados da festa seguiram Kate e Lance pela entrada principal do clube. Kevin notou Sebastian Huntington
conversando com Cornelius Gentry sob um poste de luz. Gentry, um homem baixo e magro conhecido como o faz-tudo de
Huntington, olhou para o grupo. Os dois homens tinham expressões satisfeitas em seus rostos.
As suspeitas de Kevin foram imediatamente levantadas. Huntington, um esnobe do pior tipo, odiava os "novos
milionários" do clube. Ele não achava que eles eram bons o suficiente para conviver com a elite de Houston, e nunca falhava
em deixar seus sentimentos bem claros.
Kevin apertou Cara contra si com mais força, segurando sua mão gentilmente enquanto eles caminhavam junto ao
grupo até o estacionamento, esperando que o manobrista trouxesse seu carro. Ela olhou para ele, e sorriu docemente. O
sorriso dela fez com que ele se esquecesse de suas suspeitas, e Kevin se concentrou no fato de que ela estava linda naquela
noite. Ele baixou a cabeça e beijou-a suavemente nos lábios.
— O que foi isso? — sussurrou ela.
Kevin abriu a boca para dizer alguma coisa, mas emoções o dominaram e sensações lhe percorreram o corpo, quando
ele percebeu que seu tempo com Cara estava prestes a acabar.
— Seu filho da mãe!
Kevin se virou e viu Lance andando diretamente para Alex Montoya, que estava em pé junto às portas do clube. A cada
passo determinado que Lance dava, seus olhos se enchiam de mais fúria.
— Você fez isso! Você acabou com a minha festa de casamento!
Alicia estava ao lado do irmão, os olhos arregalados, a expressão aterrorizada. Montoya ficou tenso e olhou para
Lance com olhos duros e lábios crispados.
— De que diabos você está falando, Brody? — Alex notou os convidados que observavam a cena atrás de Lance.
Ele imediatamente deu um passo para a frente, para proteger Alicia. Paciência e compreensão não eram virtudes
presentes em nenhum dos dois homens, quando se enfrentaram. Já era ruim o suficiente que Lance acreditasse que Montoya
havia incendiado sua refinaria, mas agora Lance o estava acusando de acabar com sua festa de casamento.
— Você reclamou sobre o barulho da minha festa e fez com que nós todos fôssemos expulsos do clube!
— E por que eu faria isso? Eu não dou a mínima para a sua patética festinha de casamento.
— Isso foi baixo, até mesmo vindo de você. — Lance olhou com raiva para Alex.
— Cuidado, Brody. Não saia por aí fazendo acusações que não pode provar. — Alex se virou para tomar o braço de
Alicia. — Vamos sair daqui.
— Não tão rápido, Montoya. Ainda não acabei com você! Lentamente, Alex se virou novamente, com uma expressão
furiosa. Ele soltou o braço da irmã.
— Você ainda não acabou comigo?
Kevin caminhou decididamente na direção dos dois homens. Ele os encarou como um juiz de futebol separando dois
jogadores prestes a se atracarem.
— Vamos, Lance. Kate está chateada. Não vamos piorar as coisas.
— Fique fora disso, Kevin.
— É, fique fora disso, Novak. — Montoya olhou para Kevin com desdém. — Se o noivo tem um problema a resolver,
estou pronto.
Lance rangeu os dentes.
— Pode apostar que tenho um problema a resolver. Kevin se colocou entre os dois, encarando Lance.
—Vamos lá, cara. Vamos dar o fora daqui. Kate está esperando por você.
Lance respirou fundo e espiou por cima do ombro de Kevin, dirigindo a Montoya um olhar duro. Ele permaneceu um
longo instante assim, e Kevin prendeu o fôlego. Finalmente, Lance cedeu.
— Isso não acabou.
— Não faça acusações a mim de novo, Brody. Mas, só para deixar claro, eu não tive nada a ver com a interrupção da
sua festa.
Em seguida, ele tomou o braço de Alicia e a levou de volta para dentro do clube.
— Desgraçado — Lance resmungou.
Kate correu para ele.
— Lance, você está louco?
Lance olhou para o rosto preocupado de Kate e, atirando a cabeça para trás, deu uma gargalhada, finalmente
encontrando humor na situação. Ele a puxou para si, passando os braços em torno de sua cintura e abraçando-a.
— Sim, estou louco. Por você. Você merece uma linda festa de casamento.
— E eu tive uma. A noite foi maravilhosa. E eu adorei cada minuto dela. Agora, vamos ser bons anfitriões. Nossos
convidados estão esperando.
Lance olhou para o grupo que havia testemunhado sua explosão de raiva.
— A festa Continua. Na nossa casa.
Satisfeita, Kate beijou-o levemente, e então se virou para Kevin. Ela sussurrou um "obrigada" silencioso para ele, e ele
assentiu. Cara foi até ele e passou a mão pelo braço de Kevin.
— Meu herói. Você evitou um desastre — ela disse.
— É isso que os heróis fazem. — Ele sorriu, fazendo piada da situação, más não podia afastar a sensação de que
havia muito mais por trás daquilo do que parecia.
CAPITULO NOVE
A festa continuou até as primeiras horas da manhã. Cara e Kevin encontraram um cantinho aconchegante na sala de
estar e ficaram agarrados, beijando-se como dois adolescentes de escola que não conseguiam tirar as mãos um do outro.
Quando a festa acabou, só os quatro permaneciam na casa.
— Acho que deveríamos dar alguma privacidade aos recém-casados agora.
Kevin olhou ao seu redor, percebendo que eles eram os últimos convidados a ficar.
— Sim, aposto que eles querem ir para a cama. E eu quero levar você para(a cama, também.
Fora assim a noite inteira. Beijos quentes e olhares ardentes, e insinuações suficientes para trazer todas as fantasias
dela à vida. Lance se aproximou, com uma garrafa de cristal na mão.
— Pronto para outra? — ele perguntou a Kevin. Kevin se levantou e tomou a mão de Cara.
— Não, obrigado. Eu acho que vou deixar vocês dois irem para a cama.
Lance riu, oscilando um pouco. Ele agarrou Kate e lhe deu um beijo rápido nos lábios.
— Ótima idéia.
— Eu acho que exageramos um pouco esta noite — Kate disse, acariciando o braço dele afetuosamente.
Lance oscilou um pouco mais, e Kate colocou os braços em torno de sua cintura para apoiá-lo.
— Só estou... feliz — disse Lance, arrastando as palavras levemente, e dando a Kate um sorriso bobo.
— Posso levá-lo para o quarto para você, Kate. Será como nos velhos tempos de faculdade — ofereceu Kevin.
— Não — disse Lance.— Não preciso dos seus serviços esta noite, Kev. A minha esposa sabe como cuidar de mim. —
Ele ergueu as sobrancelhas maliciosamente.
Kate riu.
— Bem, estou aprendendo.
— Você é um homem de sorte.
— Kate, você pode acompanhar Kevin até a porta? — Lance se voltou para Cara e ofereceu-lhe o braço. — Cara?
Ele esperou até Kate e Kevin estarem a alguns passos de distância, e então olhou para Cara, por sob os cílios
baixados.
— Kevin é um bom homem. — Ele se inclinou para sussurrar, arrastando as palavras: — Mas é um maldito teimoso...
Eu o avisei para.ter cuidado... E não magoar você.
— E como ele poderia me magoar? — disse Cara, se perguntando se deveria prestar atenção a qualquer coisa que
Lance dissesse naquele estado.
— Eu acho que ele já o fez. — Lance resmungou um palavrão. — Deixe para lá. Esqueça que eu disse alguma coisa.
— Ele tomou a mão dela e sorriu com afeto, e então a acompanhou até a porta da frente.
Naquela noite, a última coisa que Cara conseguiu fazer foi esquecer os comentários de Lance. Ela recapitulou aquelas
palavras de despedida repetidas vezes em sua mente, tentando encontrar sentido nelas. Lance poderia ter bebido demais, mas
não estava tão embriagado que não soubesse o que dizia. Ela ouviu uma preocupação real no modo como ele sussurrou em
seu ouvido. O que estaria acontecendo? O que Kevin teria dito a Lance, para fazê-lo acreditar que ela seria magoada? Ou teria
Lance simplesmente se enganado ao julgar a situação? Cara remoeu aqueles pensamentos, antes de adormecer naquela
noite.
Pela manhã, com a luz do sol atravessando as janelas e tudo parecendo brilhar, ela se levantou cedo, feliz demais
para se preocupar com qualquer coisa. Ela passaria aquela tarde com Kevin. Eles haviam combinado tudo durante a recepção,
e depois de um beijo de despedida de virar a cabeça, ele a lembrara de que teriam um dia de diversão sob o sol.
— Vamos nos divertir o dia todo — dissera ele.
Um arrepio lhe percorreu a espinha. Kevin estava provando para ela repetidamente que não era o mesmo homem de
quem ela queria se divorciar. Ele aprendera como delegar tarefas. E a se divertir. Aprendera que havia mais na vida do que o
trabalho. Cara sorria enquanto tomava um banho e colocava um vestido leve e florido.
Quando Alicia Montoya telefonou, Cara não pôde se recusar a se encontrar com ela para um café. Claramente
chateada, Alicia precisava de uma amiga. Meia hora depois, elas estavam sentadas em poltronas confortáveis, tomando
espresso em uma cafeteria local, perto do hotel de Cara.
— Obrigada por vir me encontrar tão em cima da hora — disse Alicia, seu rosto bonito desolado. — Isto é... difícil.
— Eu sei — disse Cara, a compaixão enchendo seu coração. Alicia queria tanto ser aceita. Não deveria ser fácil ser a
irmã de Alejandro Montoya. Cara ficava feliz que a amiga tivesse conhecido Rick Jones. Ela ainda não sabia quem ele era,
mas, a julgar pelo olhar de Alicia na noite anterior, ele a fazia muito feliz.
— Fico feliz por você ter me ligado.
— Mesmo? Acho que estou colocando você no meio de uma situação difícil.
Cara colocou a mão sobre o braço da amiga.
— Não, eu não estou no meio de nenhuma atividade. Você é minha amiga.
— Oh, Cara. Eu nem posso lhe dizer o que isso significa para mim.
— Significa muito para mim, também.
— É que todos parecem pensar o pior sobre o meu irmão.
— Não vou fingir que não sei disso. Alex e Lance têm uma longa historia, e ela não é nada bonita.
— O seu marido também não gosta dele.
— Kevin acha que Alex atrapalhou um de seus projetos. Trata-se de negócios, não é nada pessoal.
— Alex não acabou com a festa ontem à noite. Ele não faria isso.
— Você tem certeza?
— Sim, tenho certeza. Eu estive com ele a noite inteira, exceto durante o tempo em que eu e você conversamos no
banheiro feminino. Ele nunca reclamou da festa. Na verdade, ele nem sabia sobre a festa até que eu contei a ele.
— Mas você disse que tinha ouvido a música tocando.
— Alex mal percebeu, e a música certamente não nos incomodou. Ele pode considerar Lance um rival, mas não é tão
mesquinho. Eu simplesmente sei, no meu coração, que Alex jamais faria uma coisa dessas.
Não, Cara pensou. Se Alicia soubesse sobre os crimes ainda mais graves que os irmãos Brody o acusavam de ter
cometido, ficaria arrasada.
— Alicia, acredito em você. Mas Lance e Alex vão ter de encontrar um modo de resolver suas diferenças sozinhos.
— O meu irmão não é perfeito. Ele é teimoso e orgulhoso, mas é um bom homem. Fiquei triste ao vê-lo sendo acusado
ontem à noite na frente de tanta gente. Foi bom Kevin ter interferido.
— Sim, concordo. Lance parecia pronto para uma briga.
— E Alex nunca foge de uma.
— Não é uma boa combinação, imagino.
— Fico feliz por termos conversado.
— Eu também. Espero ter ajudado um pouco.
— Ajudou. — Alicia bebericou seu espresso, que até aquele momento permanecia intocado. — Oh, isso é bom.
Cara deu um gole em seu café descafeinado.
— Então, o que você vai fazer pelo resto do dia? Um sorriso iluminou o rosto de Alicia.
— Bem, eu acho que eles estão fazendo uma promoção na Sweet Nothings, hoje.
— Você vai voltar lá e comprar aquele baby-doll cor-de-rosa! — Acho que sim. Só para garantir, você sabe. E bom
saber que eu tenho alguma esperança de vesti-lo um dia. O riso de Cara demonstrava sua alegria.
— Boa menina.
— E quanto a você? Tem planos para o resto do dia?
Cara assentiu, pensando nos olhos azuis de Kevin fixos nela quando ele lhe desejara boa noite.
— Tenho planos com Kevin para mais tarde.
Alicia tomou-lhe a mão e olhou diretamente em seus olhos.
— Espero que dê tudo certo entre você e Kevin, Cara. Você merece ser feliz.
Cara não podia concordar mais. Ela queria ser feliz novamente.
— Obrigada. E lembre, estou aqui se você precisar de mim.
Precisamente à uma hora da tarde, Kevin apanhou Cara na frente do hotel. Ele abriu a porta do carro para ela e tomoulhe
a bolsa, colocando-a no porta-malas.
— O que há na bolsa?
— Tudo o que é necessário para um dia de diversão ao sol — ela brincou. — Roupa de banho, protetor solar,
hidratante.
Kevin dirigiu a ela um olhar quente, do banco do motorista. Ele parecia delicioso, vestindo calça marrom e uma camisa
polo preta, sentado ao volante de seu potente carro esporte.
— Parece perfeito.
Ele ligou o carro e eles começaram a viagem até Somerset.
— Nós vamos ao clube? — perguntou ela.
— De jeito nenhum. Tenho outra idéia em mente. Você está linda, Cara.
E você também, ela pensou. Seu coração estava leve.
— Obrigada.
Kevin estacionou na frente de uma casa grande e bonita, em estilo chalé, nos subúrbios de Somerset. Uma calçada de
pedra e uma cerca de madeira branca marcavam a entrada, e o jardim estava em plena floração, com peônias coloridas e
arbustos esculpidos. Cara olhou para a casa, e em seguida questionou Kevin com uma expressão curiosa no rosto.
— É minha, e eu costumo alugá-la. Mas está vazia no momento e é nossa hoje.
— Muito conveniente — provocou ela.
— Não é mesmo?
Kevin abriu a porta do carro para ela e tirou a bolsa do porta-malas com facilidade, entregando-a a Cara. Com a mão
nas costas dela, ele a guiou pela trilha de pedras até a porta da frente. Mexendo em um molho de chaves, ele finalmente
encontrou aquela que se encaixava na fechadura.
— Aqui está.
— Ótimo, porque arrombamento e invasão não vão ficar bem no meu currículo.
Kevin beijou-a levemente nos lábios.
— Você está engraçadinha hoje.
— Sempre.
— E isso que amo em você.
No minuto em que as palavras escaparam, Cara soube que Kevin desejou não tê-las pronunciado. Ele se virou
rapidamente, mexendo com a chave com gestos rápidos.
— Fechadura complicada — ele explicou, com a voz um pouco presa na garganta.
Cara permaneceu em silêncio.
Ele a guiou pela casa, que tinha um ambiente campestre. Pelo que ela podia ver, o saguão de entrada se abria para
uma enorme sala de estar, com uma lareira de pedra que ia do chão ao teto, toras de madeira sustentando o telhado, e
grandes janelas que ladeavam um par de portas francesas com soleira de carvalho.
— Muito bonita. Há quanto tempo está fechada?
— Cerca de um mês. Os antigos inquilinos se mudaram para a Europa. Os novos chegam na próxima semana. A casa
inteira foi limpa e polida até brilhar.
— Estou vendo. — Cara olhou para piso de madeira encerada sob seus pés e se imaginou dançando sobre ele. — Os
cômodos são grandes, mas parece bem aconchegante.
— Fica ainda melhor com os móveis.
Kevin puxou a alça da bolsa pendurada no ombro de Cara.
— Vamos, quero lhe mostrar o lugar. — Kevin tomou a mão dela e a conduziu por uma pequena escada até o jardim
privado lá embaixo, iluminado por cores brilhantes.
— Lindo — murmurou Cara.
Uma piscina do tamanho de um pequeno lago podia ser vista por detrás de uma cerca viva baixa. Kevin fez um gesto
indicando uma minirréplica do chalé, que servia como apoio para a área da piscina.
— Duas jarras de margaritas estão nos esperando bem ali, e uma é de morango.
Cara olhou nos olhos dele.
— Você pensou em tudo.
Kevin sorriu.
— É o que vamos ver.
Cara caminhou pela trilha de pedras pretas até a piscina. Chutando as sandálias para longe, ela mergulhou os pés na
água.
— Você pensou mesmo em tudo. É a temperatura perfeita para mim.
— Então vamos dar um mergulho.
— Mas onde estão as suas coisas?
— Não preciso de nada.
Ele não precisava de nada? O coração de Cara disparou.
Em seguida, ele se levantou e tirou a camisa, puxando-a pela cabeça com um movimento gracioso. O sol do Texas lhe
atingiu o peito nu. Musculoso e bronzeado como uma estátua dourada, Kevin tirava o fôlego de Cara. Quando ele abriu o zíper
da calça, ela respirou fundo, incapaz de desviar os olhos.
— Kevin?
Ele tirou a calça, e o calção de banho apareceu por debaixo dela.
— Por que você está demorando tanto? A casa da piscina tem um vestiário.
— C-certo. Volto em um segundo. — Pouco antes de entrar na casa, ela ouviu o barulho da água, quando Kevin
mergulhou na piscina.
Depois de colocar o biquíni vermelho, ela apanhou duas toalhas brancas e macias, apertando-as contra o peito.
Sentindo-se ridiculamente consciente da quantidade de pele à mostra, Cara se olhou no espelho e se perguntou o que teria lhe
dado na cabeça quando comprara aquele biquíni minúsculo.
— Cara, você vem? — O tom gaiato de Kevin lhe trouxe um sorriso aos lábios. — Estou me sentindo solitário aqui fora.
Ela olhou para a geladeira na pequena cozinha, ao sair.
— Você quer uma margarita?
— Mais tarde, querida.
Cara mordeu o lábio e saiu da casa da piscina, no exato momento em que Kevin saía da água, levantando a cabeça e
fixando os olhos nela. A água escorria por seus ombros quando ele se levantou e ficou de pé na piscina. Ele afastou os cabelos
curtos para trás, e sorriu, estendendo a mão para ela.
— Largue essas toalhas, Cara.
— Não me puxe.
— Não vou puxá-la. Pode levar o tempo que quiser, querida. Poderia ficar o dia inteiro aqui, olhando para você.
Mergulhando os pés ria água, ela mexeu os dedos.
— É gostoso.
Kevin correu as mãos pelas coxas dela, molhando suas pernas com a água da piscina.
— É sim.
— Eu não mergulho de uma vez, como antes — explicou ela.
— É, você costumava fazer isso. — O toque deliberado de Kevin em suas coxas fazia seus ossos derreterem.
— Eu mudei. — Ela estava mais madura, mais ponderada. Ela aprendera uma valiosa lição, sendo casada com Kevin.
Não o conhecia de verdade, quando eles se casaram. Sua determinação e ambição a haviam pego de surpresa. E ela jurou
não deixar que as emoções ditassem seu futuro outra vez.
— Eu também.
Aquele fato não podia ser negado.
Kevin separou as pernas dela e a abraçou pela cintura.
— Quando você estiver pronta.
Ela enlaçou a cintura dele com as pernas e envolveu seu pescoço com os braços. Ele a baixou gentilmente na água,
girando-a lentamente, seus olhares jamais se separando.
Flutuando na água, Cara sentiu uma onda de paz e felicidade que não experimentava havia um longo tempo. Ela
estendeu a mão para tocar o rosto de Kevin~ sua barba de um dia arranhando seus dedos. Então, ela se aproximou e beijou-o
suavemente nos lábios.
Kevin parou e lhe dirigiu um olhar longo e penetrante, seus olhos procurando os dela deliberadamente. Arrepios
percorriam o corpo de Cara, e sua garganta estava seca, com as emoções poderosas que a dominavam.
— Cara?
Cara pressionou os dedos contra os lábios dele.
— Shhhh, não diga nada, querido. — Ela não queria que o clima ficasse pesado, ou que as coisas mudassem de
alguma forma. — Diversão ao sol, lembra?
Satisfeito, ele soltou um grunhido e andou pela água com ela nos braços até chegar à beira da piscina. Apoiando as
costas na parede, ele a puxou para mais perto, de modo que os seios dela, acima da linha da água, ficassem apertados contra
o peito dele. Kevin a beijou ferozmente, sua boca percorrendo o rosto de Cara, seu queixo, seu pescoço e seus ombros,
mordiscando a pele dela e criando arrepios impossíveis que faziam a mente dela girar em dez direções diferentes.
— Eu já lhe disse o quanto gostei do seu biquíni?
— Você se esqueceu de comentar.
Ele a segurou pelo traseiro, seus dedos espalmados sobre a musculatura firme.
— Gostei. Gostei muito. Do pouco que existe dele.
— Ah, é? — Ela se desvencilhou dos braços dele e mergulhou na água, nadando algumas vezes de ponta a ponta da
piscina.
Por mais que ela o quisesse, Cara tinha uma necessidade premente de proteger a si mesma. Quando ela saiu da água
depois do mergulho, encarou Kevin no lado raso da piscina.
— Estou pronta para uma margarita.
— Vou buscá-las.
Kevin serviu uma margarita de morango para Cara, espalhou sal pela borda da taça, e em seguida se serviu de uma
bebida da outra jarra. Colocando as jarras de volta na geladeira, ele retirou dois pratos cobertos, o almoço. Ele pedira ao chef
de seu restaurante favorito que preparasse alguns sanduíches gourmet e uma salada, e que os entregasse no chalé,
recusando a oferta do chef de servir a refeição. Kevin queria estar totalmente sozinho com Cara, naquele dia. Eles só tinham
mais dois dias juntos.
Ele franziu o rosto, pensando que seus dias estavam contados no que se referia a ela. Logo, ele seria um homem livre,
seu plano estaria completo, e sua vingança conquistada.
Kevin não esperava se arrepender de sua decisão, entretanto. Acostumara-se a ter Cara a seu lado novamente. Mas
fora uma decisão dela voltar a Somerset para pedir o divórcio. Ela não queria uma reconciliação, e se ele não a tivesse
chantageado para que ficasse em Houston por duas semanas, ela teria partido muito tempo atrás, com os papéis assinados na
mão. Ele não podia superar aquele fato. Ela o rejeitara, não uma vez, mas duas. Seu ego havia levado um baque, e seu
orgulho estava em jogo. Sob vários aspectos, ele desejava não ter inventado aquela brilhante estratégia de vingança. Porque
Kevin também tinha sofrido as conseqüências de passar aquele tempo com Cara, e a necessidade que sentia dela era tão
grande que ele tinha dificuldades cada vez maiores em seguir o plano.
Kevin colocou os pratos em uma bandeja, junto com as margaritas, e hesitou antes de levar o almoço para fora. Por
que não ceder a seus desejos, agora? Por que não seduzi-la naquele mesmo dia, e acabar logo com tudo aquilo? As coisas
estavam se encaminhando para aquele ponto desde o momento em que ela concordara com seu plano. Por que esperar? Por
que prolongar a necessidade torturante que eles sentiam um pelo outro?
Ele encontrou Cara em uma espreguiçadeira, espalhando protetor solar nas pernas. Kevin parou para admirar a cena,
observando-a aplicar o líquido dourado na pele. Quando ela terminou de espalhar o produto nas pernas, concentrou-se no
torso, e depois subiu para o peito. Ela passou o óleo sobre os seios e escorregou os dedos levemente por baixo da parte
superior do biquíni, certificando-se de que cada centímetro de pele exposta estivesse protegido.
— Você deveria ter me deixado fazer isso — Kevin disse, fazendo piada dá cena extremamente sensual que acabara
de testemunhar.
— Você estava demorando demais, caubói. Uma garota tem de se proteger, você não sabia?
Kevin colocou a bandeja em uma mesinha de vidro entre a sua espreguiçadeira e a dela. Ele olhou para o busto
extremamente atraente de Cara por alguns longos segundos.
— Está com fome?
— Morrendo de fome — disse ela. — Nadar abre o meu apetite.
Ele gostava daquilo a respeito de Cara. Ela não era do tipo que não comia quando sentia fome. Normalmente, ela
devorava sua comida com entusiasmo. Kevin lhe entregou a taça de margarita.
— A nós.
— A nós — ela finalmente respondeu, com um pequeno sorriso.
Eles conversaram enquanto desfrutavam do almoço e tomavam margaritas ao sol. Cara contou a Kevin histórias sobre
seus alunos de dança, alguns dos quais haviam construído carreiras sérias como bailarinos, e outras almas solitárias que
pagavam as mensalidades só para ter a atenção especial de uma professora bonita. Kevin gostava de ouvi-la falar, da
animação em sua voz, e de seus gestos largos que falavam de seu amor e compromisso com o trabalho.
— Sabe, acho que Somerset talvez esteja precisando de um estúdio de dança.
Kevin parou de mastigar por um segundo. Ele olhou no fundo dos olhos brilhantes de Cara. Finalmente capaz de
engolir, ele perguntou:
— Aqui?
— Por que não? Gosto daqui. Poderia expandir meus horizontes nesta direção. É um lugar tão bom quanto qualquer
outro.
Kevin não respondeu. Uma coisa seria estar divorciado de Cara quando ela se encontrasse a quilômetros de distância,
mas tê-la de volta ali, como uma mulher livre? Ele não sabia se estava pronto para aquilo.
Quando o silêncio dele se tornou óbvio, Cara perguntou:
— Kevin, isso seria um problema para você? Que diabos, sim.
— Não, de jeito nenhum — ele mentiu, esperando que a idéia dela fosse apenas uma fantasia passageira.
— Foi só uma idéia. — Ela bebericou sua margarita e deu de ombros.
Ele não podia evitar sentir que a havia desapontado de algum modo, entretanto. Afastando o pensamento de sua
mente, ele continuou determinado a aproveitar seu dia com Cara sem se preocupar.
— Este lugar é muito agradável, Kevin. Estou feliz por você ter me convidado para vir aqui.
— Não se acomode demais, querida. Você ainda tem de cuidar de mim.
— O quê?
Ele apontou para o protetor solar, e então sorriu. Cara sacudiu a cabeça, um largo sorriso tomando conta de seu rosto.
— Muito engraçado, Kevin.
— E então?
— Tudo bem, deite-se.
Kevin obedeceu sem hesitação. Cara derramou um pouco de protetor solar nas mãos e se sentou sobre as pernas
dele. Kevin olhou nos olhos azuis bonitos dela, mal contendo seu desejo. Quando ela o tocou, suas mãos deslizando por seu
peito, ele sufocou um grunhido.
Ela espalhou o óleo com dedos leves que pareciam dançar pela pele dele. Ele a observou enquanto ela se inclinava
para a frente, concentrada em sua tarefa, o lindo decote bem em frente dos olhos dele, praticamente implorando por seu toque.
Ele precisou de toda a sua força de Vontade para não puxá-la contra si e mostrar a Cara o que ela fazia com ele.
Depois que ela acabou de massagear os braços e ombros de Kevin, ele lhe tirou o vidro de óleo das mãos.
— Acho que você já fez o suficiente.
— Você não parece agradecido — ela disse, e o tom provocante dela foi demais para ele.
— Oh, eu estou muito agradecido. Você sabe, este lugar é muito isolado. Ninguém pode ver o que estamos fazendo.
Os olhos dela se arregalaram de surpresa. Com aquela observação, ele a apertou contra si e colou os lábios aos de
Cara, parecendo absorver cada centímetro dela. Mas ainda não era o suficiente. Ele a forçou a abrir os lábios e mergulhou a
língua em sua boca, sentindo a doçura dos morangos e da paixão desinibida dela.
Dentro de segundos, Kevin tinha Cara deitada sobre si, e sua excitação tornava o calção de banho desconfortável. Ela
se encaixava perfeitamente nele, e o deixava louco de desejo. Ele desamarrou a parte superior do biquíni com facilidade, e
então havia apenas um pequeno pedaço de tecido separando-o do paraíso. Os seios dela ficaram finalmente livres, e Kevin os
acariciou, sentindo seu peso nas mãos, passando os polegares por sobre os mamilos até que endurecessem, transformandose
em pequenos é lindos picos. Com os olhos fixos nos dela, ele tomou um dos globos perfeitos em sua boca. Os olhos de
Cara se fecharam lentamente e uma linda expressão lhe transformou as feições.
Ele a sugou até que ambos os bicos ficaram úmidos e brilhando ao sol quente. Kevin colocou as mãos no traseiro dela,
e a posicionou sobre sua virilidade até ela poder sentir a força de seu desejo.
— Mal posso esperar para tê-la.
Cara gemeu e o beijou ferozmente, seus seios esmagados contra o peito dele. Em mais um segundo, os dois estariam
além da razão. Mas Kevin se controlou. Aquilo não estava nos planos. Ele queria uma noite inteira com Cara, sob seus próprios
termos. Ele tinha tudo planejado em sua mente.
E ainda assim, não queria lhes negar aquele momento de prazer. Ele escorregou a mão para dentro do biquíni dela, e
tocou o local sensível entre suas pernas.
— Está bom? — murmurou ele.
Já além das palavras, Cara assentiu, seus olhos entreabertos. Kevin acariciou-a cuidadosamente, com movimentosdeliberados,
passando as pontas dos dedos pelas dobras suaves de sua intimidade. Enterrando a outra mão nos cachos loiros
dela, ele puxou a cabeça de Cara contra a sua e a beijou repetidamente, enquanto o corpo dela se movia para a frente e para
trás, encontrando um ritmo sensual.
— Oh, Kevin — Cara gemeu, enquanto, ele continuava a deslizar os dedos entre suas pernas.
Ele observou enquanto a tensão cresceu rapidamente e o corpo dela estremecia com força, uma expressão de pura
luxúria atravessando seu lindo rosto. O coração de Kevin doeu ao testemunhar o abandono total de Cara, enquanto sua
respiração acelerava e seu Corpo ficava tenso. Ele a acariciou com mais força, mais profundamente. Ela arqueou as costas e
atingiu o clímax em movimentos rápidos, que pareciam explosões. Observar o orgasmo dela tirou o fôlego de Kevin. E o fez
repensar seu plano.
Depois de satisfeita, um suspiro escapou da garganta de Cara e ela deitou a cabeça no peito dele. Ele massageou as
costas dela, segurando-a nos braços.
— Nossa.
— E, nossa — ela repetiu.
Idéias de fazer amor com cara na espreguiçadeira lhe encheram a mente. Que inferno, ele estava pronto e Cara não
iria se recusar. Mas depois que eles fizessem amor, ele teria de cumprir sua promessa de lhe entregar os papéis do divórcio
assinados.
Ela quer o fim da nosso casamento.
Este é o preço que ela está disposta apagar.
E estou pagando o preço, também, uma vozinha irritante dentro de sua cabeça o fazia lembrar o tempo todo.
— Você sabe do que nós dois precisamos?
Cara deu uma risada, o som emanando do fundo de sua garganta.
— Oh, sim, eu sei.
— Ótimo, então venha comigo. — Ele a ergueu e em um movimento rápido, pulou na piscina, levando Cara consigo.
CAPITULO DEZ
Cara estava deitada em sua cama na manhã seguinte, e pensamentos sobre Kevin lhe invadiam o sono. Visões do.dia
que passaram juntos lhe passavam pela mente.
Diversão ao sol.
Sim, Kevin havia cuidado daquilo. E de muito mais. Com o corpo ainda saciado depois do clímax incrível que ele lhe
tinha proporcionado, Cara reviveu cada momento do' encontro sexual e do comportamento generoso de Kevin. Ela estava
completamente, cem por cento apaixonada por ele, e havia chegado bem perto de lhe dizer isso pelo menos dez vezes no dia
anterior, na piscina.
Mas Kevin jamais havia falado sobre o futuro com ela. Ele nunca dera a entender que queria a reconciliação. E
controlara seu próprio desejo na tarde anterior, para manter seu acordo com ela, e continuar com sua chantagem.
Por quê? Nada havia se modificado entre eles naquelas últimas semanas?
Os comentários de Lance sobre Kevin magoá-la nunca estavam muito longe de sua cabeça. O que ele quisera dizer
com aquilo? Ela não podia evitar pensar que Lance, mesmo em seu estado de embriaguez, ou talvez por causa dele, havia se
preocupado em alertá-la a respeito de Kevin. E então, na piscina, quando ela havia mencionado seu plano de abrir um estúdio
de dança em Somerset, a falta de reação de Kevin ferira o seu orgulho. Estava bem claro que Kevin não gostava da idéia. Na
verdade, por alguns segundos, todo o seu comportamento tinha mudado.
Ela não havia pensado muito na reação dele no dia anterior, eles estavam envolvidos demais um com o outro para que
ela tivesse pensamentos objetivos. Mas agora, na claridade da manhã, ela enfrentou os fatos.
— Ele não me quer em Somerset — Cara resmungou, seu coração doendo com a percepção.
Cara reuniu sua coragem. Em vez de deliberar sobre o assunto o dia inteiro, enlouquecendo a si mesma, ela decidiu
descobrir a verdade. Ou pelo menos descobrir o que os comentários de Lance significavam.
Com aquela idéia na cabeça, Cara se levantou da cama e tomou um banho. Ela secou os cabelos, colocou um vestido
de verão amarelo, calçou sandálias e apanhou o telefone celular em sua bolsa para telefonar para Lance.
Uma hora mais tarde, ela estava frente a frente com Lance Brody, em seu escritório executivo no andar mais alto do
edifício da Petrolífera Brody.
— Obrigada por me receber tão em cima da hora — disse Cara, sentando-se em uma das duas cadeiras à frente da
mesa dele.
— O prazer é meu — disse ele, sentado casualmente na beirada da mesa, a apenas alguns metros dela. — Você
gostaria de uma xícara de café, ou mais alguma coisa? — Lance se inclinou por sobre a mesa, com um dedo no botão do
interfone, pronto para atender a qualquer pedido dela.
— Não, obrigada, Lance. Ele se endireitou e sorriu.
— Tudo bem. — Seus olhos escuros estavam curiosos e ele tinha uma expressão sincera no rosto. — Fiquei um pouco
surpreso por você ter pedido para me ver. Qual é o problema?
Cara passou as mãos sobre as dobras do vestido, e então olhou firmemente nos olhos dele.
— É sobre Kevin.
— Tu... do bem. — Lance disse lentamente, parecendo um pouco confuso.
— Na outra noite, na sua casa, você me disse algo que não entendi bem.
— Eu provavelmente disse muitas coisas sem sentido naquela noite.
— Você fez questão de me levar para um canto e me alertar sobre Kevin. Você disse que ele estava determinado. E
que me magoaria.
Lance desviou o olhar.
— Eu disse isso?
— Você não se lembra de ter me dito isso? Lance olhou para ela diretamente.
— Não... Não me lembro de lhe dizer isso.
— Mas você sabe o que isso significa, não sabe?
Lance se levantou, contornou a mesa e a encarou mais uma vez.
— Cara, se eu disse algo naquela noite que a aborreceu, peço-lhe desculpas.
Cara sacudiu a cabeça e se levantou.
— A única coisa que me aborrece é não saber o que você quis me dizer. Você sabe o que está acontecendo com
Kevin. Agora, vai ou não vai me contar a verdade?
Lance olhou para ela por longos segundos. Ela quase podia ver o debate que se passava dentro da cabeça dele. Ele
sabia de algo.
Ela lhe dirigiu um olhar penetrante, recusando-se a recuar, mesmo que isso significasse ouvir algo sobre Kevin que ela
definitivamente não queria ouvir.
— Ele é um dos meus melhores amigos — disse Lance. Cara se manteve firme, pacientemente. Ela não iria deixar
Lance se livrar daquilo tão facilmente. E continuou a olhar para ele.
— Tudo bem. Sente-se. Provavelmente, vai ser melhor assim. Vocês dois precisam conversar sobre isso. Eu lhe direi
tudo o que sei.
Cara olhou para o radiorrelógio da mesinha de cabeceira do hotel. Kevin chegaria a qualquer minuto. Seria a última
noite que passariam juntos, e ela planejava torná-la inesquecível.
Ela tivera de arrancar as palavras da boca de Lance, naquela manhã. Pobre homem. Ele havia tentado sinceramente
não magoá-la, mas não fora preciso muitas palavras para que Cara conseguisse enxergar a situação de forma completa. Ela
sempre fora muito boa em montar quebra-cabeças, fazer as peças se encaixarem. E quando juntou as peças.do que Lance
sabia com as próprias suspeitas, ela montou o quebra-cabeça inteiro bem rápido. Sabia do plano de Kevin, e já estava cansada
de jogar o joguinho dele. Já era hora de Cara assumir o controle da situação. Naquela noite, ela jogaria seu próprio jogo e,
infelizmente, nenhum dos dois sairia vencedor.
Furiosa com o seu futuro ex-marido, Cara não tivera nem tempo de sentir a tremenda mágoa que ela sabia que iria se
seguir. Naquele momento, a fúria a alimentava e ela só queria dar a Kevin uma dose do próprio remédio.
— Você merece, querido.
Quando ele bateu à porta de seu quarto de hotel, Cara assumiu o papel tanto mental quanto fisicamente. Ela vestiu seu
roupão de seda e caminhou até a porta. Respirando fundo para acalmar seus nervos, ela a abriu.
— Oi. Cheguei cedo?
— Não, você chegou bem na hora.
As sobrancelhas de Kevin se uniram, numa expressão ainda mais confusa.
— Vou avisar ao motorista da limusine para esperar. O jantar é só às oito. Planejei uma grande noite...
Cara tirou o roupão, deixando-o cair no chão a seus pés. Ela teve uma grande satisfação ao ver os olhos
profundamente azuis de Kevin se arregalarem de admiração. Ela permitiu a ele alguns segundos de choque, ao vê-la usando a
lingerie de seda preta que desenhava cada uma de suas curvas. Rendas estrategicamente aplicadas serviam para esconder e
provocar ao mesmo tempo, expondo o corpo dela em áreas que fariam a Mulher Gato corar.
Cara agarrou Kevin pela gravata de seda e puxou-o para dentro do quarto. Estendendo a perna por detrás dele em um
movimento fluido, ela chutou a porta e o encurralou contra ela.
— Nada de encontro, nada de jantar. Já é hora, Kevin. Para nós dois. — Ela enlaçou o pescoço dele com os braços e
colou os lábios aos dele, deixando o gosto de cereja em sua boca.
Cara se afastou e olhou para ele. Completamente confuso, Kevin olhou ao seu redor. Duas dúzias de castiçais de
velas iluminavam o quarto e perfumavam o ar com um cheiro doce de baunilha. Pétalas de rosas decoravam a cama de casal,
e os lençóis se encontravam virados de forma provocante. Morangos cobertos de chocolate e uma garrafa de champanhe,
gelando em um balde de prata, estavam em uma bandeja sobre a mesa junto à janela.
— Cara, o que significa tudo isso?
— Você fala demais, querido. — Ela afrouxou a gravata dele, retirando-a pela cabeça. — A hora de conversar já
passou. Faça amor comigo. É isso que nós dois queremos.
Ela não iria se negar aquela noite. Desde que mantivesse o controle, tudo ficaria bem. Ela desabotoou a camisa dele e
correu as mãos por seu peito firme e perfeito.
— Vamos, querido. Pensei que você iria ficar tão excitado com isso tudo tanto quanto eu. — Cara mordiscou o lábio
inferior dele, e traçou o contorno de sua boca com a língua.
Kevin gemeu e escorregou a língua para dentro da boca de Cara, levando-a em unia jornada erótica e selvagem com
apenas um beijo ardente.
— Hmm, Kevin. Mal posso esperar para ter você dentro de mim.
— Droga, Cara. Continue a falar desse jeito e nós não vamos conseguir chegar à cama.
— E desde quando nós precisamos de uma cama? — Cara mordiscou os lábios dele novamente.
Kevin respirou fundo e arrancou a camisa. Imediatamente, ela o tocou mais uma vez, correndo as mãos por sua pele e
pressionando a língua contra seus mamilos duros.
— Estou mais velho agora. Gosto de certo conforto.
— Oh, mas que pena. Eu queria dançar para você.
— Dançar para mim?
Cara assentiu inocentemente.
— O que você quer que eu faça?
— Deite-se na cama e assista.
Kevin respirou fundo, precisando de oxigênio.
— Tudo bem. — Ele a colocou no chão.
Cara conectou seu iPod às caixas de som na mesa de cabeceira e apertou o botão play, escolhendo uma música
específica. Quando ela se virou, Kevin estava banhado em luz de velas, deitado de costas em sua cama, com a cabe ça
apoiada no travesseiro.
— Você é uma linda mulher, Cara Novak.
Ela fechou os olhos e deixou que a música a envolvesse. Então, começou a se mover, girando o corpo, balançando os
quadris sensualmente. Tudo o que ela trazia em si, tudo o que sentia por Kevin, o amor que nunca declarara, Cara expressava
em sua dança. Ela decidiu dar aquele presente a Kevin, aquela exposição do mais íntimo de seu ser, para que ele se
lembrasse daquele tempo com ela, e soubesse que nenhuma outra mulher poderia lhe dar o que ela lhe dera.
Cara não tinha uma célula vingativa no corpo, mas se sentia compelida a fazer aquilo. Por causa de seu próprio senso
de justiça. Ele a magoara além do possível, e ela esperava que aquele presente fosse sua perdição.
Quando a música terminou, Cara abriu os olhos completamente, encarando Kevin. Â expressão maravilhada no rosto
dele quase destruiu sua determinação.
— Cara... — Ele não conseguiu encontrar as palavras, e Cara soube naquele momento que o que ele sentia era
honesto e verdadeiro.
Ela sorriu, e por alguns segundos esqueceu-se da traição dele.
— Ainda não acabei. — Ela escolheu uma música diferente. Era suave e sensual, e a letra falava sobre suspeitas. Ela
se moveu lentamente, sensualmente, despindo a lingerie de forma provocante. Cara jogou a peça para longe, e ficou de pé na
frente de Kevin, nua.
—Toque-me, Kevin. Quero me lembrar das suas mãos em mim.
— Cara — disse,Kevin, sua voz pouco mais do que um sussurro.
Ele se ajoelhou à frente dela e a ajudou a subir na cama. De joelhos também, eles ficaram frente a frente. Kevin a
beijou, e encostou os dedos nos lábios dela. Ele deslizou a mão pelo pescoço de Cara, e a beijou ali, e então desceu ainda
mais. Tomando os seios dela nas mãos, ele os acariciou, fazendo com que os nervos de Cara ficassem à flor da pele. Ela
fechou os olhos e se agarrou a ele, deliciando-se com a sensação das mãos dele a acariciando. Ele correu os dedos pelo
corpo dela, provocando-a, tentando-a, e então acariciou gentilmente a área entre as pernas de Cara, tocando-a apenas o
suficiente para fazer sua cabeça girar.
Em seguida, ele tocou as coxas dela, até onde conseguia alcançar, e segurou-lhe as pernas, deslizando as mãos na
pele da esposa. Ela se arrepiou em expectativa, e quando ele finalmente tocou os músculos firmes de seu traseiro, Cara soltou
um gemido de prazer. Kevin segurou-lhe a cabeça então, seu controle já levado ao limite. Ele esmagou os lábios dela com os
seus, repetidamente.
— Você está me matando devagar, querida.
O coração de Cara quase parou. Ela precisava de Kevin. Precisava construir aquela lembrança, antes de se despedir
dele para sempre. Tomando as rédeas da situação, ela empurrou-lhe o peito, fazendo-o cair sobre a cama. Ele obedeceu
espontaneamente, com um grande sorriso no rosto.
Ela abriu o cinto dele e o soltou dos passadores. Em seguida, removeu as meias e os sapatos de Kevin, atirando-os
para o lado antes de tirar sua calça. Ele estava nu à sua frente agora, sua poderosa virilidade, uma tentação por si só. Cara o
tocou, fechando a mão em torno da rigidez lisa como seda. Ela o acariciou várias vezes, fazendo com que ele gemesse no
fundo da garganta.
— Querida?
— Sei o que estou fazendo, Kevin.
— Ah... Não duvido, mas...
Cara substituiu suas mãos por sua boca, silenciando qualquer observação que ele tencionasse fazer. Ele ficou deitado
em silêncio, enquanto ela fazia amor com ele. A tensão cresceu rapidamente, dali em diante. A respiração de ambos estava
acelerada, e eles se moviam com um desejo que só podia ser satisfeito de uma maneira. O calor ardente e a umidade colavam
seus corpos. Cara queria aquilo. Sonhara com aquilo. E não se negaria nada, agora.
Ela se ergueu sobre o marido, montando sobre suas pernas, e olhou no fundo dos olhos dele. Kevin parecia
compreender a necessidade dela. Ele a segurou pelos quadris e ela desceu o corpo, tomando-o dentro de si. As sensações
percorreram todo o seu sistema nervoso, uma mistura de prazer e desejo, necessidade e querer, satisfação e saciedade. Cara
deu um grito, e Kevin gemeu como se sentisse dor. Ela retribuiu o olhar dele, unida a ele agora, sentindo-se completa.
Lembranças vivas de sexo alucinante e um amor dolorido passavam pelas mentes de ambos.
— Oh, sim, Cara.
— Eu sei, querido. — Ela se moveu com mais determinação, e ele soltou um grunhido de satisfação.
Ela se ergueu e desceu novamente, tomando-o ainda mais profundamente. Sua pele se arrepiou. Seu corpo ficou
tenso sobre o dele, e seus mamilos endureceram, tornando-se pequenos picos.
Eles olharam um para o outro por entre a luz de velas e pétalas de rosas. Mas nada daquilo importava. A simples união
deles já era suficiente para garantir imagens eróticas e uma atmosfera romântica. Era tudo o que ambos precisavam. Guiada
por Kevin, Cara se moveu sobre ele, tomando-o cada vez mais rápido e profundamente, até que seu corpo ficou rígido com a
tensão do clímax. Correntes elétricas sacudiam suas terminações nervosas, e ela se ergueu novamente.
— Deixe acontecer, querida — Kevin sussurrou, com a voz entrecortada.
Ela desceu o corpo novamente, com força, enquanto faíscas elétricas a atravessavam. Ela continuou a se mover, o
corpo tenso, os nervos sensíveis. Seu clímax explodiu rápido, e a sacudiu até o fundo de seu ser. Ela se perdeu na sensação
por um momento, antes de Kevin puxá-la para si, apertando-a contra seu corpo quente.
— Isso foi incrível — disse ele, beijando-a.
— Agora é a sua vez — disse Cara, beijando-o ferozmente.
— Oh, sim.
Kevin a rolou e deitou-a de costas, beijando-a suavemente no rosto, no queixo e no pescoço. Ele lhe acariciou os
seios, dedicando muita atenção a cada bico enrijecido com a língua. Com sua excitação ainda insatisfeita, ele sentiu Cara se
movendo sob ele.
— Depressa, querido, preciso de você dentro de mim mais uma vez.
— Só estou me certificando de que você está pronta.
— Estou sempre pronta.
Kevin beijou-a uma última vez antes de abrir as pernas dela e penetrá-la, com um movimento profundo.
— Amo isso em você.
Cara se sentia como se tivesse voltado para casa. Estar com Kevin, fazer amor, trocar intimidades, tudo lhe parecia t ão
certo. Havia tantas coisas que Kevin dissera que amava a seu respeito... E ainda assim, ele não a amava. A tristeza encheu o
coração dela novamente, sabendo que aquilo era apenas um joguinho de vingança. Só que naquela noite, quem ditava as
regras era ela. Logo, tudo estaria acabado.
Cara afastou aqueles pensamentos e se concentrou no prazer que Kevin estava lhe dando. Ela jurou que o faria se
lembrar daquela noite, e nada a impediria. Kevin manteve movimentos lentos, profundos, por tempo suficiente para levar Cara
à beira do orgasmo mais uma vez. Ele se movia dentro dela como se estivesse registrando o momento na memória, cada gesto
poderoso de seu corpo deliberado e controlado.
— Cara, senti sua falta.
Ela tentou bloquear aquilo de sua mente. Recusava-se a acreditar nele, e decidiu considerar aquelas palavras como
loucuras de um homem excitado. Em vez das declarações dele, ela resolveu se concentrar nas maravilhosas explosões que
sacudiam seu corpo.
Quando Kevin arqueou as costas, seu rosto entregue ao clímax, Cara se ergueu, aquelas pequenas explosões
esperando, crescendo. Kevin murmurou o nome dela, com um último movimento dentro de seu corpo, e Cara deixou-se levar.
O orgasmo sacudiu a ambos, e o prazer completo e agonizante de seus corpos os uniu como se fossem um só.
Kevin descansou o corpo sobre o de Cara gentilmente, tomando-a em seus braços. Ele a beijou apaixonadamente,
murmurando:
— Sabia que seria assim.
Cara sorriu tristemente. A verdade era a verdade.
— Eu também.
Cara acordou em uma cama vazia. O quarto estava banhado pela luz das velas, é ela apertou os olhos, concentrandose
e sentando-se na cama, Kevin estava de pé do outro lado do quarto, de calça, mas descalço, servindo duas taças de
champanhe para os dois.
— Dormiu bem? — ele perguntou, voltando-se para ela.
— Hmm...
Eles haviam exaurido um ao outro, fazendo amor de novo, batizando vários cantos do quarto, em posições sentadas e
em pé. Depois, ambos caíram em um sono profundo, ainda que curto.
— Está na hora do champanhe, querida.
Cara olhou para o relógio digital na mesinha de cabeceira, e depois se levantou, vestindo o roupão. Ela apertou o cinto
com um puxão e se aproximou dele.
— Para brindar ao nosso divórcio?
Kevin franziu o rosto visivelmente. Cara reuniu sua fúria.
— Ou talvez você queira roubar mais dez ou vinte minutos da minha alma?
— Cara, o que há de errado? — Ele tentou entregar a taça para ela, mas ela se recusou a aceitá-la.
Ela se recusaria a aceitar qualquer coisa de Kevin, pelo resto da vida.
Cara caminhou até a mesinha de cabeceira e abriu a gaveta.
— Acho que já cumpri todos os termos da sua chantagem, Kevin. — Ela retirou os papéis do divórcio de uma pasta. —
Agora, está na hora de você assinar na linha pontilhada.
Um tique nervoso fazia o queixo de Kevin tremer. Ele a observou cuidadosamente, e colocou as taças de champanhe
na mesa.
— Já é quase meia-noite. Minhas duas semanas acabaram. Cara revirou os olhos dramaticamente.
— Graças a Deus.
O rosto de Kevin ficou vermelho. Ele caminhou até ela e agarrou seus braços.
— Que diabo possuiu você?
— Além de você?
Kevin recuou como se tivesse levado um tapa.
— Quero o divórcio, Kevin. Fiz por merecer. — Ela se recusava a chorar, a deixar Kevin ver sua vitória.
Ele quisera magoá-la, e conseguira. Ela havia mordido a isca, com anzol e tudo, e se apaixonara novamente por ele,
mas não lhe daria a satisfação de saber que havia vencido seu joguinho.
— Não acredito em você.
— Por quê? Por que você não acredita em mim? Porque joguei o seu jogo, e deixei que você me manipulasse o tempo
todo que estive aqui? Achou que eu iria me apaixonar loucamente por você de novo? Assine os papéis e saia, Kevin.
— Você está zangada, Cara. Raios, também fiquei, quando me deixou. Não conseguia acreditar que tivesse
abandonado o nosso casamento. Foi tão fácil assim? Você simplesmente foi embora e começou uma vida nova em Dallas.
— Não se trata disso, Kevin. De jeito nenhum. Pensei que você tivesse mudado, mas você provou que não mudou.
Ainda tem sede de sangue, ainda quer vencer a todo custo, não importa quem magoe. Você tinha de ter sua vingança, não é?
Tinha de me destruir. Você tinha de...
— Quem foi que lhe disse isso?
— Não tente negar. Sei que é verdade. Kevin respirou fundo e sacudiu a cabeça.
— Que droga, Cara! Que inferno!
Cara bebeu toda a taça de champanhe, e então virou as costas para ele de uma vez por todas. Seu coração doía só de
olhar para ele, pensando na paixão que tinham acabado de compartilhar. Ele não tinha, se desculpado nenhuma vez. Em
nenhum momento havia demonstrado algum sinal de esperança. Em nenhum momento lhe confessara querer a reconciliação.
— Assine os papéis, Kevin. E saia daqui.
— Tudo bem!
Então Cara desmoronou. As lágrimas escorreram por seu rosto e ela soluçou, estremecendo violentamente. Ela se
sentia como se tivesse sido partida ao meio. Sua cabeça doía e seu coração caiu num profundo poço de desespero.
Seu casamento estava terminado. Ela caminhou até a cama e se deitou, tremendo e se apoiando na cabeceira.
Olhando para a mesinha para ver a prova assinada dos votos rompidos, ela piscou, confusa.
— O quê? — Prendendo o fôlego, ela se levantou e examinou a mesinha com mais cuidado.
Com um puxão forte, ela abriu a gaveta e um milhão de pensamentos lhe invadiu a cabeça. Os papéis do divórcio
haviam sumido.
Kevin bateu a porta da cobertura com força e jogou seu paletó para longe. Dez buquês de flores espalhados pela sala
perfumavam o ar docemente. Velas haviam sido colocadas em todos os cantos do apartamento, esperando para serem
acesas. Sobremesas deliciosas, colocadas na mesa de jantar, adicionavam um ar romântico ao cômodo enquanto o
champanhe gelava em um armário de vinhos. A cena de sedução que ele planejara parecia zombar dele, com uma claridade
doentia. Cara o havia derrotado em seu próprio jogo. E ainda assim, ele atingira seus objetivos, e se odiava por isso. Tudo o
que eles haviam construído nas duas últimas semanas fora apagado em apenas alguns minutos, naquela noite. Kevin pensara
que sabia o que queria. Aparentemente, ele estivera errado. Tendo perdido a noção do tempo, ele apanhou o celular e
telefonou para Darius, acordando-o.
— Ei, cara, você sabe que horas são?
— Desculpe-me. Ouça, preciso saber se você falou com a Cara hoje.
— Não, não falei com ela. As suas duas semanas já não acabaram?
— Há exatamente uma hora, sim. Meu tempo acabou. Preciso correr.
Em seguida, ele discou o número de Lance.
— Você viu a Cara hoje?
— Sim, Cara foi me ver hoje. Ela sabia que havia algo errado com você, e me pediu para ser honesto com ela.
— O que você disse a ela?
— Não tive de lhe dizer muita coisa. Ela é uma mulher inteligente. Percebeu o que você estava fazendo. Você deveria
ter visto a expressão no rosto dela.
— Furiosa, imagino.
— Não, isso teria sido mais fácil de encarar. Ela ficou completamente devastada. Cara parecia derrotada e ferida. Ela
está apaixonada por você.
Kevin fechou os olhos com força. Ele vira a devastação no rosto dela naquela noite, e a ouvira em sua voz trêmula.
Queria ir até ela e contar-lhe verdades que acabara de perceber, mas ela estava zangada e magoada demais. Ela não o
ouviria. Não acreditaria nele. Kevin precisava pensar bem, e compreender algumas coisas.
— Estraguei tudo com ela. E não venha me dizer "eu avisei".
— Você assinou os papéis do divórcio?
— Não. Foi a primeira vez na minha vida que voltei atrás em um acordo. Mas não consegui assiná-los. Eu os trouxe
comigo.
— Você a ama, Kev?
— Sim, percebi isso esta noite. Nunca deixei de amá-la. Mas dizer isso a ela não teria significado nada para Cara. Não
depois do inferno pelo que a fiz passar.
— E agora?
— Agora, vou ter de chantageá-la mais uma vez, para forçá-la a me ouvir.
— Oh, amigo. Boa sorte.
* * *
Os papéis do divórcio estão assinados. Você só precisa vir até aqui e buscá-los.
Cara estava fervendo de raiva, enquanto dirigia o carro alugado até o endereço que Kevin lhe dera. Ele lhe telefonara
naquela manhã e lhe oferecera um serviço de limusine para buscá-la, mas ela havia recusado. Ela não queria ter mais nada a
ver com Kevin Novak, sua limusine ou sua vida.
— Por que tudo com você é tão difícil, Kevin? Não podia simplesmente ter assinado os papéis na noite passada? Não,
você sempre tem de fazer tudo segundo os seus termos. Sempre tem de estar no controle. — Cara praguejou enquanto
acelerava o carro, conferindo o endereço que Kevin lhe dera.
Ela só tinha tempo para apanhar os papéis e chegar ao aeroporto. Seu voo decolava em duas horas.
Estacionou e checou novamente o endereço. Ela estava no lugar certo. Saindo do carro, respirou fundo e se dirigiu a
um edifício ainda em construção.
Era um espaço amplo e vazio, com pó de madeira no chão, cujas janelas ainda iriam ser instaladas. Kevin saiu das
sombras para encará-la. Ele parecia tão mal quanto ela se sentia; seus olhos estavam vermelhos e seu rosto tinha um ar
atormentado. Vestindo as mesmas roupas da noite anterior, ele tinha um ar desgrenhado.
— Oi, Cara.
— Você trouxe os papéis?
Ele fez que sim e apontou para um banquinho no canto do salão. Ela olhou para o local que ele indicava, e reconheceu
as páginas sobre as toras de madeira.
— Estão assinados.
— Obrigada.
— Espere!
— Não há nada mais a dizer, Kevin.
Ele lhe dirigiu um olhar sincero.
— Que tal "Eu amo você. Nunca deixei de amar você, Cara. Mas não tinha percebido isso, até a noite passada. Fui um
tolo, e peço perdão cem vezes por tê-la magoado tanto"?
— Como posso acreditar em você? Como posso confiar? Você planejou me magoar deliberadamente. E conseguiu.
— Não vou tentar justificar as minhas ações. Eu estava errado, no passado e agora. Estive mentindo para mim mesmo,
todos estes anos. Deixei que meu orgulho e meu ego ficassem no caminho. Nós deveríamos ter conversado sobre isso, anos
atrás.
— Admito que provavelmente não deveria ter fugido como fiz. Mas estava muito abalada. Não sabia como me
aproximar de você
— confessou Cara, finalmente reconhecendo sua parte de culpa no rompimento. — E quando você não foi atrás de
mim, pensei que não se importasse mais.
— Cara, eu deveria ter ido atrás de você. Deus sabe, eu a amava muito. Tudo o que fiz foi por você... Sou louco por
você.
Cara deixou escapar um sorriso, e Kevin sorriu também.
— Amo você, Cara. E vou passar o resto da minha vida provando isso.
— Nós estamos oficialmente divorciados, agora. A não ser que tenha mentido para mim, e não tenha assinado aqueles
papéis.
— Eu os assinei, para provar o quanto a amo. Se você realmente quiser me deixar, e abandonar Somerset, pode
apanhá-los e ir. Mas... se existir uma chance para nós, quero oferecê-la a você.
— Ele fez um gesto com o braço, abarcando todo o salão. — Este lugar pode ser o seu estúdio de dança, Cara. Você
pode abrir o Dancing Lights bem aqui, em Somerset. Vou construir uma casa para você, e vamos enchê-la de filhos. Quero
tudo isso com você. E vou provar, todos os dias e todas as noites, o quanto você significa para mim.
O coração de Cara se apertou. Ela podia imaginar um estúdio novo ali. O lugar era perfeito. E o que era mais
importante, podia imaginar-se construindo um lar com Kevin... começando de novo. E filhos. Oh, Deus, ele estava lhe
oferecendo o sol, a lua e as estrelas. Ela queria confiar nele, acreditar nele.
— Eu amo você, Cara. Você me ama?
— Sim, é claro que amo você. Nunca deixei de amá-lo. Kevin tomou a mão dela e a apertou gentilmente.
— Então nos dê uma segunda chance, querida.
Cara sorriu. Ela viu a verdade nos olhos dele, e a confiança que tinha nele foi restaurada. Ela se aproximou do
banquinho de madeira e olhou para os papéis do divórcio, assinados.
— Depende de você, Cara.
Kevin estava lhe dando uma saída. Ele havia abdicado do controle e deixado a decisão unicamente nas mãos dela. Ele
a deixaria ir, se fosse aquilo o que ela queria. Mas ele a amava. E ela o amava, também.
Ela apanhou os papéis do divórcio.
— Realmente não tenho escolha. — Ela os rasgou no meio, deixando os pedaços caírem ao chão. — Amo você
demais.
Kevin caminhou até ela e a tomou nos braços. Sua força e seu amor a envolveram, e ela soube que tinha tomado a
decisão certa. Eles começaram a se mover juntos.
— Hmm, estou ouvindo música — disse Cara, com um sorriso satisfeito, enquanto uma canção doce e alegre tocava
em sua cabeça.
— Eu ouço música toda vez que abraço você. — Kevin apertou os braços em torno dela, e eles se moveram
lentamente, para a frente e para trás. — Posso sentir o amor, querida.
Lembrando-se da noite de seu casamento, e da música de Elton John que havia se tomado a marca registrada deles,
Cara beijou-o suavemente nos lábios.
— Eu também.
— Só me prometa uma coisa, querida.
— Qualquer coisa.
— Você vai dançar para mim todas as noites.
— Sim, eu prometo. E eles continuaram a se mover sob o ritmo do amor que soava em seus corações.

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