terça-feira, 9 de julho de 2013

Contos de fadas

Contos de Fadas Eróticos
Nancy Madore
A Bela e a Fera
Meu nome é Bela. É provável que você já tenha ouvido falar de mim. Minha história, ou melhor, a história
que contam a meu respeito, já foi repetida inúmeras vezes. Mas nem de longe é a minha história. Os
detalhes foram totalmente omitidos. Eu pensaria que, depois de ser repetida tantas vezes,alguém, ao
menos uma vez, esbarraria na verdade. E talvez alguns de vocês tenham lido por entre as frases ilusórias e
desconfiado da verdade, por mais inacreditável e chocante que pareça. Ou talvez a verdade seja
realmente fantástica demais para se acreditar. Admito que há vezes em que eu mesma quase não
acredito, e tudo parece um sonho distante.
De fato, parte do que foi registrado como minha vida é verdade, já que, para salvar a vida de meu pobre
pai, concordei em viver com uma temível criatura, mais fera do que homem. Também é verdade que me
apaixonei pela Fera. Quanto ao que aconteceu depois disso, os livros de história são bem precisos em sua
apresentação da Fera que, diante de minha declaração de amor, foi liberta de uma maldição e voltou à
sua forma original, como um charmoso príncipe. Nós nos casamos naquele mesmo dia.
Mas aí terminam as semelhanças entre a lenda que vocês leram e a minha incrível narrativa. Porque eu
não vivi "feliz para sempre", depois daquele dia.
Eu sinto falta de minha Fera.
Enquanto definho por entre os corredores desse castelo, meu pensamento sempre regressa ao primeiro
dia que passei aqui. Foi com grande tremor que deixei meu quarto naquele dia, com muita cautela,
seguindo pelos vastos corredores que serpenteiam por essa fortaleza. Apesar de toda a especulação
sobre o assunto (motivo pelo qual não preguei os olhos na noite anterior), eu não podia imaginar o
porquê de a Fera ter solicitado minha presença. Passei aquele dia sozinha, entrando e saindo dos
cômodos, olhando os arredores desconhecidos, enquanto tentava adivinhar o que vinha pela frente.
Não se pode dizer que vim para esse imenso castelo da Fera contra minha vontade, pois eu estava um
tanto ansiosa em deixar para trás a pobreza e o tédio de minha infância. Portanto, quando o dever me
premiou com essa aventura, não fiquei totalmente insatisfeita.
Eu não poderia dizer como um castelo deveria ser, mas pareceu-me que tudo o que vi era exatamente
como deveria. Ancestrais de aparência um tanto austera me olhavam desdenhosos nas molduras
penduradas nas paredes. Outras paredes exibiam tapeçarias de piqueniques franceses, vinhedos italianos
e outros encontros exóticos. A mobília era entalhada na mais fina madeira, os carpetes exageradamente
grossos e coloridos. Resumindo, tudo era um tanto extraordinário em sua elegância e esplendor.
Naquele dia não tive a chance de encontrar a Fera, enquanto vagava pelo castelo. Em minha chegada,
na noite anterior, ele instruíra um serviçal a me conduzir diretamente ao meu quarto, depois rapidamente
me despedi de meu pai, e o vi carregar dois baús pesados em sua carruagem. Eram presentes da Fera,
que ordenara que enchessem os baús de tesouros para meu pai levá-los com ele. Pensar em minha
família abrindo os baús me proporcionou satisfação e calma.
Não saí de meu quarto durante o restante da noite, por mais que estivesse inquieta e sem sono. Pelas
longas horas daquela noite silenciosa, até o começo do dia seguinte, pensei sobre o fim de minha vida
antiga, enquanto seguia de um cômodo a outro, olhando tudo, minuciosamente, sem ver uma alma Viva
.
o jantar foi anunciado com o tocar de uma campainha, e foi então que voltei a encontrar a Fera. Apesar
de sua aparência horrível e de sua voz rude, fui felizmente surpreendida ao descobrir que ele era, de fato,
um anfitrião encantador, pois passamos o primeiro jantar conversando amistosamente, acompanhados
de comida e bebida que deleitavam o paladar.
Assim que a refeição terminou, a Fera se levantou, me inspecionando por um instante com seus olhos
escuros, antes de perguntar:
-Aceita se casar comigo, Bela?
Encarei a Fera estarrecida. O que eu deveria fazer? Embora meu coração estivesse batendo forte, em
estado de alerta para não enfurecê-lo, de algum modo consegui sussurrar:
-Não, Fera. A Fera acenou ligeiramente com a cabeça e disse: -Então está bem -num tom que indicava

esperar essa resposta, depois se foi pelo corredor.
Aliviada por não ter provocado a Fera com minha recusa à sua proposta, também deixei a sala de jantar
para me recolher.
Esqueci de descrever meu quarto? Não pense que foi por não valer a pena, pois era e ainda é o quarto
mais bonito que encontrei nesse elegante castelo.
Na noite anterior, assim que entrei no cômodo, estava preocupada em reparar em tudo ao redor. No
entanto, nessa noite, passei de uma coisa para outra, examinando a enorme variedade de objetos que
haviam sido colocados ali para meu conforto, até que meus olhos pararam na cama extraordinária em
que eu iria dormir. Ao longo dos dosséis altíssimos exibiam-se entalhes detalhados de imagens de animais,
circundando as bordas e subindo até o alto, onde havia um homem coroado. Eu desconhecia o
significado dos entalhes extraordinários que adornavam aquelas molduras de madeira, mas, mesmo
assim, olhava-os atentamente, de forma que sua beleza não foi desperdiçada comigo, apesar de minha
criação humilde.
Ao lado da cama havia um buquê enorme, com mais de cem flores cor-de-rosa, colocadas num vaso
imenso na mesinha de cabeceira. E posso garantir que, daquele dia em diante, nunca mais houve uma
noite em que eu entrasse em meu quarto sem encontrar um lindo buquê de flores recém-colhidas.
A roupa de cama era tão magnífica quanto tudo em que pousei os olhos naquele dia, e um arrepio de
puro deleite me percorreu quando mergulhei nos lençóis de seda pura. Foi uma sensação tão prazerosa
que fiquei momentaneamente tentada a tirar minha camisola. Em vez disso, lentamente corri as mãos
pelos lençóis. Meus sentidos rapidamente mergulharam em sensações exóticas, influenciados por tanto
luxo.
Fui surpreendida em meio ao encantamento, quando uma luz subitamente entrou pela porta do quarto.
-Quem está aí? -perguntei, sentando e trazendo os lençóis de seda até o pescoço.
-Apenas eu, seu servo, a Fera -foi a resposta gentil. Seu comportamento era tranquilizador e agradável,
tanto quanto temível a sua aparência.
-Pode entrar -respondi, mais calma.
A Fera abriu a porta do meu quarto, mas não passou da soleira. Através da luz fraca do corredor, pude
ver claramente o perfil de seu corpo que, não fosse sua gentileza, seria assustador. Esperei que ele falasse.
-Eu apenas gostaria de saber se correu tudo a contento, minha dama -disse ele, permanecendo
do lado de fora.
-A contento? -repeti, subitamente entretida. -Minha nossa, não! ]amais me atreveria a descrever esses
aposentos como "a contento". -Sorri ligeiramente por minha piadinha e joguei para o lado as cobertas
extravagantes, me esticando até a mesade-cabeceira para acender o lampião.
A Fera continuou em silêncio e me encarava, aparentemente estarrecido. Vendo sua expressão, percebi
que minha súbita resposta provavelmente o teria insultado, e logo procurei consertar as coisas.
-Oh, Fera! O que eu quis dizer é que... bem, é lógico que tudo está a contento. Nossa, muito mais que
apenas a contento! Foiissoque eu quis dizer,claro.
Mas algo estava terrivelmente errado. Era como se a Fera nem sequer tivesse me ouvido. Sem pestanejar,
pulei da cama e me aproximei dele, empenhada em me explicar. Mas só consegui dar alguns passos até
paralisar-me de terror.
Teria eu ouvido um rugido? Minha mente se alternava entre choque e descrença. Isso era impossível! E
seus olhos tinham um brilho tão estranho. Ele ficou totalmente imóvel, como um animal pronto para
atacar.
-Fera? -sussurrei, mais em tom de súplica, que de interrogação.
E ele subitamente se foi.
Ainda fiquei ali por uns instantes, procurando recuperar minha compostura. Olhei minhas mãos trêmulas e
percebi que minha camisola era totalmente transparente, de cima a baixo! A luminária que eu havia
acendido só serviu para realçar minha nudez sob o tecido!
Não vi mais a fera até o jantar do dia seguinte. Ele foi gentil e refinado, como tinha sido durante nossa
refeição anterior. Sempre que nossos olhares se cruzavam eu corava e me arrepiava por completo, mas
ele nunca deu sinais de perceber. Seu comportamento chegava a aliviar meus medos e suspeitas, e voltei
a ficar à vontade, achando sua conversa agradável e amistosa. Depois ele se levantou e me fez a
mesma pergunta da noite anterior, o que faria
a cada noite a partir de agora. -Bela, você aceita se casar comigo? Ao que eu sempre respondia: -Não,
Fera. Nossa amizade desabrochou. Ainda assim, todo
ruído que ouvia em meu quarto, à noite, me deixava ansiosa e sem sono, esperando, sobressaltada,
aquela leve batida em minha porta.
Mas a Fera não voltou a se aventurar perto de meu quarto.
Fui eu que, numa noite de insônia, passei pelo quarto dele, a caminho da biblioteca, em busca de algo
para ler. Ao passar ouvi um barulho, bem parecido com um gemido, vindo do outro lado da porta. Parei
bruscamente.
Em seguida ouvi novamente o ruído. Logo soube que era a Fera e fui tomada de compaixão por ele.
Estaria adoentado?
Sem pestanejar, bati à porta. Alguns instantes se passaram e bati novamente. -Vá embora -finalmente o
ouvi dizer, em tom suplicante. -Não vou -respondi, determinada. -Não até ver que você está bem. -
Silêncio outra vez. -Por favor -implorei, voltando a bater. -Apenas abra a porta e me deixe...
-Afaste-se da porta, Bela! -ordenou ele, de modo áspero. -Vá embora agora mesmo, ou estará em perigo!
-seu tom era controlado, mas a voz parecia desesperada.
Muitas vezes fiquei pensando por que não o deixei naquele momento. Já disse a mim mesma que não
poderia ter deixado um amigo em apuros. Que foi minha curiosidade que não me permitira partir. Já disse
a mim mesma uma infinidade de coisas, mas acho que você também não vai acreditar.
Virei-me em direção à maçaneta e abri a porta do quarto da Fera.
Estava um breu. Dei alguns passos à procura dele, em meio à escuridão. Subitamente a porta bateu atrás
de mim. Meus cabelos se eriçaram.
A escuridão foi lentamente revelando algumas sombras. Meus olhos percorriam o cômodo imenso
freneticamente, buscando pela silhueta da Fera. Subitamente ouvi o ranger das argolas no trilho, quase
me matando de susto, e a cortina pesada sendo puxada, deixando o luar entrar no quarto. Agora eu
podia ver a Fera claramente, à medida que se aproximava. Também podia ouvir sua respiração
descompassada e, então, notei que ele ofegava.
Minha respiração também ficou mais acelerada e eu tentava desesperadamente encher os pulmões de
ar. Era como se o quarto imenso tivesse sido reduzido à metade ao dar-me conta do porte gigantesco da
Fera. O medo corria em minhas veias, deixando-me em estado de alerta quanto ao que havia ao redor.
A Fera se aproximou lentamente, até ficar tão próximo que eu podia sentir seu hálito morno em minha
pele. Até me arrisquei a pensar que sentia o calor vindo de seus olhos. Ele era quase meio metro mais alto
que eu, com ombros largos, que mediam quase três vezes o meu tamanho. Havia um brilho incomum em
seus olhos escuros. Eu me arrepiei, apesar do calor que emanava dele.
-Se você não quer que sua camisola seja destruída, tire-a já -disse a Fera, finalmente. Ele tinha um tom
casual, mas seu comportamento era contido, revelando o esforço para manter o controle. Sua voz era
áspera e tão profunda que ele mal conseguia transmitir a linguagem humana. Sua presença me
dominava e oprimia. Seu olhar me hipnotizava. Seu hálito me queimava. Não havia nada que me
lembrasse do amigo meigo com quem eu compartilhara tantas refeições.
Ainda assim, ao olhar em seus olhos, pasma, uma nova sensação brotava dentro de mim, misturandose
ao medo.
Totalmente imóvel, exceto por meu coração disparado, eu enfrentava meu apuro (enquanto isso, a
sensação persistia e aumentava, até que subitamente me senti estranhamente excitada). Nesse estado,
eu só via a situação de forma superficial e ponderava comigo mesma: Que poder eu teria para resistir à
Fera? De fato, resistência parecia algo improvável com ele ali, altivo, acima de mim, silenciosamente
esperando que eu obedecesse à sua ordem. Do que ele seria capaz, se eu não concordasse, eu não me
atreveria a especular. A Fera que estava ali à minha frente parecia pronta para atacar ao menor
movimento meu. No entanto, eu desconfiava ligeiramente que a Fera se empenharia ao máximo para
ceder à minha vontade, desde que eu não tentasse fugir.
Durante o tempo em que fiquei ali, que me pareceram horas, apesar de terem sido provavelmente meros
segundos, fui tomada por uma excitação que aos poucos crescia dentro de mim, sem admitir que não
estava nem um pouco desesperada pelo fim daquela situação.
Com um movimento súbito, tirei a camisola, antes que mudasse de ideia. Muito agitada, fiquei
aguardando pelo próximo passo da Fera, mas ela permanecia em silêncio por um tempo que pareceu
interminável. Eu me perguntava se ele poderia ouvir meu coração frenético e seu eco ruidoso em meus
ouvidos.
A Fera lentamente ergueu sua mão enorme e acariciou levemente meu rosto. Gemi de susto ao sentilo.
Sua mão era tão áspera que quase provocava dor ao toque.
Os olhos da Fera momentaneamente faiscaram de raiva, mas logo se aquietaram enquanto me
estudavam, confusos.
– Não quero machucá-la, Bela -sussurrou ele. -Você é quem controla o destino de nós dois.
Não consegui compreender o significado de suas pala raso Sua presença lentamente me dominava, me
e volvendo e encurralando em sua força perigosa. como se ele estivesse me alertando sobre algo. Teriaele
dito que eu estava no controle? Será que eu deveria detê-lo? Eu me perguntava: eu poderia detê-lo?
Eu me sentia fraca demais para me mover.
Por outro lado, suas mãos, um tanto grandes, como comentei, afagavam rudemente a minha pele,
abrindo caminho até os meus seios. Para minha surpresa, meus mamilos reagiram imediatamente,
enrijecendo ao toque. Quando ele os apertou, um gemido escapou dos meus lábios; a força bruta de
suas mãos, junto com meu desejo crescente, era agonizante.
Ele continuou a me tocar e, ao chegar no meio de minhas pernas, senti-me levemente envergonhada,
pois minha excitação se tornou evidente. A Fera agora estava mudando rapidamente -a cada instante se
tornava mais fera e menos homem.
-De joelhos -rosnou ele, por entre a respiração pesada. Encarei-o, calada. A realidade do que estava se
passando subitamente me assolou. Ele me possuiria da mesma forma como o faria com um animal. Era
tarde demais para mudar de ideia, uma vez que ele já estava manobrando meu corpo na posição que
ordenara, bem ali, no chão. Ele o fez com tanta destreza e habilidade que não tive dúvidas quanto à sua
força, ou à futilidade que seria tentar fugir.
Por alguns instantes permaneci imóvel onde ele me posicionou. Enquanto isso a Fera se ocupava em
livrar-se de suas roupas, atrás de mim. Ainda muito amedrontada para me arriscar a olhar a Fera e
enfurecê-la, limitei-me a imaginar a indumentária tão dolorosa sob a qual ele se escondia. Mas minha
curiosidade acabou vencendo o medo e, quase sem querer, minha cabeça se virou em sua direção. Um
gemido involuntário saiu dos meus lábios.
Ele estava sem roupas, exceto pela camisa, que pendia aberta, revelando seu dorso coberto por pelo
animal. Da cintura para baixo seu corpo lembrava o de um leão, com imensas patas no lugar dos pés e
um longo rabo pendurado até o chão. Porém, mais aterrador do que tudo era o que se projetava à
frente, logo abaixo da cintura. Era de uma coloração vermelho-arroxeada, de um tamanho sobrehumano.
Tive certeza de que meu corpo jamais seria capaz de acomodá-lo.
A Fera ouviu meu gemido e viu-me encarando-o horrorizada. Ele soltou um rugido terrível e pronunciou
algo apenas parecido com "Vire-se!"
-Você vai me matar! -gritei, realmente horrorizada, apesar de obedecer à sua ordem rude.
-Prometo que você sobreviverá -respondeu ele, com a súbita recuperação de sua gentileza anterior. Sua
voz tremia ao esforçar-se para falar.
-Terá de ser assim até que você nos liberte dessa maldição.
Fiquei hipnotizada por suas palavras, mas não tive tempo de lidar com elas, pois subitamente senti seu
hálito quente, como um vapor, entre minhas pernas. Mesmo com tal preliminar, eu estava inteiramente
desprevenida para o que viria a seguir.
Áspera como papel-jornal e maior que uma folha de carvalho, a língua da Fera lentamente serpenteou,
adentrando as minhas partes mais íntimas. Quase saí de mim, mas a Fera me segurou firme, repetindo o
ato mais e mais vezes. Ao mesmo tempo irritada e encantada pela persistência da coisa desumana que
continuava roçando minha carne delicada, eu não podia fazer muito além de ora me movimentar e
contorcer-me tentando desesperadamente me afastar, ora me apertar de encontro a ele. Sua língua
imensa cobria toda a minha região exposta com um único golpe, depois finalizava sua invasão com o
entusiasmo de um bicho faminto. Eu estava a ponto de desfalecer de tanta excitação.
Finalmente a Fera parou com um grunhido, e senti seus dedos enormes me arreganhando. A essa altura
meu corpo inteiro sacudia violentamente.
Apesar de minha excitação, sentia uma pressão imensa à medida que a Fera começava a se apertar
contra mim, por trás. Contestei com gritinhos e meu corpo instintivamente se inclinou à frente, numa
tentativa de fugir da Fera invasora. No entanto, ele não permitiria, e suas mãos poderosas me agarraram
fervorosamente pela cintura, me puxando de volta para trás, até que ele me penetrou. Gritei.
Com visível dificuldade, a Fera tentou manter o resquício humano que ainda possuía. Seu corpo inteiro
balançou, enquanto ele me segurava firme no lugar, e, com uma voz abafada, disse:
-Você vai se acostumar comigo num instante.
Mas eu já estava me acostumando antes que ele terminasse a frase. Meu corpo todo subitamente
pareceu em chamas. Eu gemia, me balançando para a frente e para trás. Aquilo era muito além do que
eu jamais experimentara. Puxando os meus quadris com golpes curtos, a Fera começou uma investida
gradual, mas permanente.
-Devagar -eu o ouvi murmurar, possivelmente para si mesmo, enquanto prosseguia penetrando meu
corpo. Ele investia devagar e me segurava firmemente no lugar. Tudo o que eu podia fazer era
permanecer imóvel, ofegante, morrendo de prazer num instante e, no outro, sentindo uma dor imensa.
Jamais pensei que fosse possível suportar a total
penetração da Fera, mas foi. Quando ele me possuiu completamente, eu mal podia respirar, pois me
sentia como se estivesse sendo perfurada. Eu só tinha consciência daquela parte em mim, onde ele me
preenchia.
Bem devagar, respirando com dificuldade e em meio a rosnados, a Fera começou a se mover, entrando
e saindo de mim. Ele prosseguiu em ritmo lento por um bom tempo, deixando que eu me acostumasse
totalmente com ele. Mas, por fim, seus gemidos se tornaram mais altos e selvagens, e suas investidas
passaram a ser mais fortes e rápidas. Sua respiração queimava a pele das minhas costas. Suas mãos
perfuravam minha carne, machucando a pele sensível. Achei ter sentido seus dentes mordendo meu
ombro.
Eu estava excitada a ponto de sentir dor. Já tendo perdido a timidez há muito, comecei a me tocar a fim
de aumentar o prazer, enquanto me esfregava contra a Fera.
Mas era tarde demais. Com um grito ensurdecedor e uma última investida, a Fera me invadiu com um
furor que pude sentir ao longo de minhas pernas trêmulas.
Fiquei profundamente desapontada e inclinada a me afastar, mas ele me segurou firme no lugar,
permanecendo ao meu lado, inteiramente excitado, pegando minha mão e colocando-a de volta no
meio de minhas pernas. Ele a segurou até que eu a mantivesse ali, como ele queria.
Fiquei temporariamente encabulada por ele saber o que eu estava fazendo, mas logo passou, e meu
entusiasmo voltou. Ao me dar conta de que tinha o tempo que quisesse para aproveitar com a Fera,
voltei a me estimular. Enquanto isso, ele lentamente saiu de mim, quase por completo, depois, igualmente
devagar, voltou a me possuir. Ele continuou pacientemente, enquanto eu buscava meu próprio prazer.
Eu tinha todos os sentidos em estado de alerta e excitação. Minha pele se repuxava sob as mãos brutas
que agarravam meus quadris. Meus ouvidos ecoavam com os sons animalescos dentro do quarto
enluarado. Meus olhos se desviaram para o chão, onde se refletiam as imagens de nossas sombras
contrastantes, fundindo-se uma na outra. Minhas coxas estavam meladas e molhadas em seu interior.
Pensei nos dentes afiados da Fera em meus ombros, quando finalmente encontrei o prazer.
Issodeuinícioàsminhasvisitasnoturnasao quarto da Fera. Para mim, cada noite era mais prazerosa que a
anterior, e eu já não me sentia envergonhada. Na verdade, minha Fera parecia cada vez menos fera
para mim, e minha afeição por ele tornava-o até bonito. Apesar disso, a cada noite, quando a Fera me
pedia em casamento, eu gentilmente declinava.
Um dia, meses depois, recebi um recado de que meu pai estava doente. Mostrei o bilhete à Fera durante
o jantar. Após lê-lo, ele me olhou, aterrorizado.
-Bela, por favor, não vá -implorou ele.
-Mas eu preciso! -gritei. -Se algo acontecer ao meu pai antes que eu o veja novamente, eu jamais o
perdoarei!
A Fera ficou em silêncio por um tempo. -Bela -disse ele, em tom suplicante-,se você deixar esse castelo
será a minha morte.
-Não entendo -respondi, subitamente irritada com todo o mistério que o cercava. O fato de haver tantas
perguntas sem resposta se tornara uma questão mal resolvida entre nós. Mais uma vez eu voltei a pedir: -
Será que você não poderia explicar suas palavras misteriosas?
-Não posso -a resposta de sempre. Mas a aflição diante de sua impossibilidade de me dizer a verdade o
tornava um pouquinho mais indulgente. Não vou impedi-la de deixar o castelo, contanto que prometa
voltar para mim em um mês -disse ele. -Se você demorar mais que isso eu certamente morrerei.
-Prometo -respondi com um suspiro, sabendo que não arrancaria mais nada dele.
-Espero que você cumpra sua promessa, Bela -disse ele, inconsolável. Então se levantou, parando na
soleira da porta. -Haverá dois baús para você encher com as riquezas do castelo e levar para a sua
família.
Naquela noite eu estava mais ansiosa do que de costume para estar com a minha Fera, mas também
havia muito a ser feito quanto aos preparativos de minha viagem. Apressava-me de um lado para o outro
freneticamente, sempre ansiando pelo momento em que poderia estar com minha Fera, para uma
despedida mais íntima.
Quando finalmente entrei em seu quarto, eu certamente tremia de excitação. A Fera estava sentada
numa cadeira no canto do quarto escuro. Ao tirar meu roupão, posicionei-me, como de costume, na
beirada da cama, da forma como ele mais gostava que eu fizesse. Em alguns segundos eu estava
ensopada de suor, latejando por ele. Era assim que eu me sentia em relação a ele. Já era o suficiente
estar ali, esperando, tremendo, com as mãos sobre os joelhos, na expectativa do que estaria por vir,
despertando aquela reação em mim.
Eu nem o ouvi se aproximar, quando subitamente senti suas mãos rudes acariciando a minha pele macia.
-Vire-se -disse ele, repentinamente, em seu tom rouco.
Parei, por um instante, estarrecida.
-Esta noite quero ver seu rosto -disse ele, simplesmente.
Intrigada pela novidade, obedeci ao seu pedido e me virei. Silenciosamente o observei, enquanto ele
tirava suas roupas, podendo, pela primeira vez, vê-lo completamente. Ele parecia muito mais feroz e
animalesco sem roupa. Estremeci ao vê-lo nu. Novamente, como na primeira noite, me ocorreu que ele
parecia bem mais fera do que homem.
Masele é um homem, insisti, recusando-me a aceitar qualquer ideia que desse fim àqueles prazeres
noturnos. E fechei meus olhos com a aproximação da fera nua.
-Abra os olhos, Bela! -rosnou ele.
Eu o fiz e vi sua masculinidade apontada diante de meus lábios. Ele pegou minha cabeça com as mãos,
mas eu resisti. A Fera deteve-se em forçar-se em minha boca, mas também não soltou minha cabeça.
Olhei aquilo à minha frente. Era diferente de um homem normal. Além de maior, tinha uma coloração
bem mais escura. Experimentei colocar minha língua para fora, passando-a levemente no objeto que me
trouxera tanto prazer. A Fera estremeceu e subitamente fui tomada pelo desejo de satisfazê-lo. Abri a
boca e primeiro o acarinhei suavemente com os lábios, mas logo me vi sugando, faminta. Ele era tão
enorme que eu só conseguia tomá-lo parcialmente, mesmo assim, com grande esforço, mas ele não
parecia se incomodar; a porção que eu conseguia ter, eu tomava com gosto, e o abocanhava com os
lábios, língua e maxilar.
Subitamente a Fera me deteve e saiu de minha boca empurrou-me sobre a cama e afastou minhas
pernas. Eu olhava dentro de seus olhos escuros, enquanto ele se aproximava. Havia algo brilhando ali -
algo que não era humano. Eu queria desviar, mas seu olhar prendia o meu. Uma onda de terror passou
por mim.
A Fera rugiu ruidosamente ao me penetrar. Minhas pernas estavam totalmente afastadas, enquanto eu
tentava acomodar sua forma imensa. Ele se roçava e gemia impiedosamente, servindo-se de minha
carne macia. Seu hálito quente ardia em minha pele e eu olhava com terror e fascínio, enquanto seus
dentes afiados cuidadosamente mordiscavam meus ombros e seios.
Mas meu terror vinha acompanhado por aquele prazer familiar que a Fera já cultivara em mim. Ambos
atuavam junto a ele, levando-me a uma paixão que eu jamais experimentara. Eu me deleitava com o
pelo animal que cobria seu corpo e os sons que ele emitia ao me possuir animalescamente. Eu me
contorcia e gemia, com suas mãos brutas e imensas machucando minha carne macia, incessantemente,
enviando arrepios de prazer abaixo da superfície. Eu gritava repetidamente, em total abandono,
suplicante e tonta, sob as sensações de profunda agonia e prazer que me inundavam. Era uma onda de
prazer atrás da outra, até que ouvi vagamente um rugido tremendo da Fera, em meio aos meus gritos.
Antes que pudesse recobrar o fôlego, já era de manhã!
Parti com tanta animação que nem pensei na minha Fera durante dias. Meu pai se recuperou logo que
cheguei, e fiquei entretida pelos dias movimentados da família numerosa. Um mês se passou num instante
e era hora de regressar ao castelo.
Sem dúvida, as histórias que você leu fizeram com que eu parecesse um tanto indelicada e até relutante
em voltar à minha Fera. Isso estava muito longe de ser verdade. Eu sentia terrivelmente a sua falta! Eu
queria regressar ao castelo mais que tudo. Porém, minha mãe caía em prantos sempre que eu tentava
partir.
Assim, quase dois meses se passaram, até que um dia, tarde da noite, acordei sonhando com o castelo e
a minha Fera. Tudo estava escuro no sonho, e eu andava pelos corredores do castelo à procura da Fera.
Ao entrar em seu quarto, o vi dormindo serenamente em sua cama. Ao me aproximar dele, me ocorreu
que minha Fera não estava dormindo, ele estava morto! Meu próprio grito havia me alertado.
Subitamente, eu me lembrei do aviso da Fera, de que ele certamente morreria se eu ficasse longe por
mais de um mês!
Imediatamente pulei da cama e arrumei minhas coisas. Pela manhã, eu estava pronta para partir e, após
uma despedida triste, porém firme, iniciei mi nha jornada de volta ao castelo e à minha Fera. Oh, como
sofri nesse dia, temendo que talvez nunca mais voltasse a vê-lo! Mal sabia eu o quanto havia de verdade
naquilo...
Ao final daquele dia, quando finalmente cheguei ao castelo, corri direto ao quarto da Fera. Ele estava
deitado na cama, exatamente como em meu sonho.
-Não! -gritei, correndo até junto dele. -Por favor, Fera, não morra!
Sua cabeça inclinou ligeiramente ao ouvir minha voz. Vibrei de felicidade e o enlacei em meus braços. -
Graças a Deus você não está morto -eu murmurava por entre lágrimas.
-Você voltou -foi tudo que ele disse.
-Sim, voltei... para sempre! -Eu sabia que jamais o deixaria novamente. -Você quer se casar comigo, Bela?
-perguntou ele. -Sim, Fera -eu disse, chorando. -Sim, sim, sim!
Eu mal tinha pronunciado essas palavras quando, subitamente, houve um clarão. No momento seguinte,
um estranho estava sentado no lugar onde a Fera estivera deitada. Minha fera havia desaparecido.
Suspirei atordoada e dei um passo atrás.
-Oh, Bela -exclamou o estranho. -Você finalmente me libertou da maldição!
Pisquei os olhos, tentando compreender as palavras do homem. Ele estava explicando que era minha
Fera, mas, na verdade, tratava-se de um príncipe que fora transformado em Fera pela maldição de uma
bruxa diabólica. Por ser uma bruxa extremamente perversa, ela acrescentara como condição quase
inalcançável de sua libertação que ele se casasse com seu verdadeiro amor ainda sendo uma Fera!
Então, pensei, esse estranho é a minha Fera. Observei seu rosto e vi que ele era, de fato, um belo príncipe.
Não pude descrever a decepção que senti, além disso, jamais vira minha Fera tão feliz quanto nesse dia.
Nós nos casamos.
E agora tenho de terminar minha fábula, pois está ficando tarde e está na hora de me preparar para meu
marido, o príncipe. Agora ele vem ao meu quarto e, como sempre, preciso estar pronta para ele.
Mas não posso buscar brilho selvagem em seus olhos.
Ou ouvir aquele rosnado ensurdecedor.
Parei de procurar por essas coisas há anos.
BARBA AZUL
Era uma vez um rico cavalheiro que adquiriu muitas propriedades espalhadas ao longo de vários reinos.
Ele viajava muito de um lugar para outro, jamais permanecendo por muito tempo num local, para que
ninguém soubesse exatamente onde residia nem o que fazia ou com quem. Por isso havia muita
curiosidade e especulação sobre ele.
Essas circunstâncias eram agravadas por seu aspecto, que parecia confirmar sua aparente
excentricidade, pois ele era tão desafortunado que possuía uma barba azul. Seu misterioso estilo de vida,
aliado à sua aparência peculiar, depunha contra ele de modo provavelmente injusto e o reputava como
dono de um caráter duvidoso. Seu sobrenome foi esquecido e ele era conhecido simplesmente como
Barba Azul.
A misteriosa vida de Barba Azul era assunto habitual das conversas entre vizinhos de suas inúmeras
mansões, castelos e propriedades, e, como as histórias contadas sobre ele, sua reputação se tornava
mais e mais escandalosa. De fato, acreditava-se firmemente que Barba Azul possuía tantas propriedades
exclusivamente para abrigar inúmeras esposas. Mas, como elas não apareciam, ficava estabelecido que
tinham sofrido alguma tragédia. Ninguém sabia dizer ao certo quem eram as mulheres. No entanto, as
damas se retraíam de medo sempre que Barba Azul se aproximava.
Acontece que uma das vizinhas de Barba Azul era uma viúva com duas filhas adultas. Ao visitar sua
propriedade naquela região, Barba Azul notou as filhas e, logo depois, revelou à viúva seu desejo de se
casar com uma delas, deixando que as próprias moças escolhessem com quem seria. Porém, diante da
oferta de Barba Azul, as filhas da viúva o passaram repetidamente uma à outra, já que nenhuma das
duas gostava da ideia de ter um marido de aspecto tão medonho e passado tão duvidoso. Assim, elas o
recusaram seguidamente, até que Barba Azul, no empenho de ganhar a afeição de uma ou de outra, as
convidou para um de seus castelos distantes. Elas logo aceitaram, pois estavam curiosas por saber como
vivia Barba Azul e averiguar se eram verdadeiros os boatos sobre sua fortuna extraordinária e suas
excentricidades.
Então a viúva e suas duas filhas, junto com um grupo de amigos íntimos, foram se hospedar no castelo de
Barba Azul. Todos permaneceram como convidados um mês inteiro, período que transcorreu com
inúmeras festas, belos jantares e outros tipos de divertimento que ninguém queria que acabasse, muito
menos as filhas da viúva. Aliás, a visita correu tão bem que a irmã mais velha começou a achar que
Barba Azul já não era tão temível de ser olhado, e até sua barba já não parecia tão azul.
Pouco tempo depois, Barba Azul e a filha mais velha da viúva estavam casados. E, apesar dos boatos
sobre ele, sua noiva encontrou um marido amável e atencioso, que não economizava para prover todos
os seus desejos. Ela ingressou contente em sua nova vida com ele.
Porém, como todos que já foram casados sabem, há muita coisa que não se descobre sobre o outro até
um bom tempo depois do casamento. Certo dia, a esposa de Barba Azul descobriu isso, quando o
marido se preparava para partir rumo a uma longa viagem que o manteria afastado por pelo menos uma
semana, cuidando de negócios. Ela estava decepcionada pelo fato de o marido se ausentar tão rápido
após o casamento, mas Barba Azul logo lhe sugeriu que se divertisse, dando festas e enchendo o castelo
de convidados. Deu-lhe uma argola com muitas chaves que abriam todas as portas dos cómodos, dando
acesso a todos os pertences em seus interiores, de modo que ela tivesse qualquer coisa que seu coração
desejasse.
Mas, subitamente, a fisionomia de Barba Azul ficou séria. Ele apontou para uma chave pequenina, de
aparência estranha, presa à argola. Ao mostrar a chave à esposa, Barba Azul explicou que era da porta
de um pequeno cômodo no final do corredor, no andar térreo do castelo. Sem maiores explicações,
Barba Azul proibiu terminantemente que ela usasse a chave e entrasse no cômodo, alertando-a que
sofreria imensamente caso o desobedecesse. Apesar de suas repetidas tentativas para saber a razão
dessa proibição, ela nada conseguiu. Ela olhava a pequena chave enquanto o marido se despedia
carinhosamente.
É de se pensar que a esposa de Barba Azul estivesse ávida por chamar seus amigos e dar uma grande
festa, mas, na verdade, enquanto via a carruagem do marido se afastar através da janela, ela foi
tomada pela curiosidade de saber o que havia no quartinho no fim do corredor térreo do castelo. E, de
fato, a pobre dama não conseguia pensar em mais nada, tornando-se totalmente incapaz de encontrar
prazer nos inúmeros luxos que estavam diante dela.
Levando a chavinha até o quarto proibido, ela ficava de um lado para o outro dos longos corredores do
castelo de Barba Azul, refletindo sobre o aviso dado pelo marido. A certa altura, ela se viu em pé na
soleira da porta do quarto no qual sua entrada fora proibida. -Preciso dar uma olhada aí dentro, ou não
terei paz -ponderou ela.
Sem pensar mais sobre o assunto, ela cuidadosamente encaixou a pequena chave no buraco da
fechadura e virou a maçaneta. Ao soltá-la, a porta se abriu, mas o quarto estava um breu, com as
cortinas fechadas. Ela percorreu os bolsos em busca de fósforos e, ao achá-los, rapidamente acendeu
um.
Ela deu um passo à frente assim que seus olhos, acostumando-se à escuridão, pousaram sobre uma mesa
imensa. Havia algemas presas à mesa, com o propósito óbvio de prender alguém. Seus olhos se
arregalaram.
Em outra parte do quarto ela viu uma corda grossa pendendo do teto. Mais ou menos no meio da corda
havia uma algema e, logo abaixo, a corda se dividia em duas partes ligadas a outra algema presa ao
chão. Numa parede próxima havia várias tiras de couro, de diversos comprimentos e larguras.
Ao olhar os objetos horrorizada, a esposa de Barba Azul subitamente lembrou dos inúmeros boatos que
ouvira sobre as esposas anteriores do marido, todas supostamente mortas. De repente, lhe ocorreu que
ele provavelmente as teria matado nesse mesmo quarto, já que, sob seu olhar inexperiente, os objetos
que via ali não serviam para outro propósito.
Mas não havia mais tempo para pensar sobre a questão e, naquele exato momento o fósforo que ela
segurava lhe queimou os dedos. Com um rápido gemido, a moça largou no chão o fósforo e a argola
com as chaves, aterrorizada. Tremendo muito, ela apalpou em busca das chaves na escuridão e,
finalmente após encontrá-las, saiu correndo do quarto proibido, passando pelo corredor, e entrou na
primeira porta que encontrou aberta. Desabou numa cadeira.
Apavorada, ela lentamente foi recobrando a compostura. Dizia a si mesma que o marido não teria como
saber que ela entrara no quarto -pois não tocara em nada. Pensando nisso, ela olhou o chaveiro e
suspirou. Seria só sua imaginação, ou a chavinha do quarto proibido havia mudado? Sim, ela se tornara
vermelho vivo!
Essa descoberta fez com que seu coração voltasse a disparar e, desesperada, ela pegou uma ponta de
seu casaquinho e esfregou a chave vigorosamente, mas, apesar de todo o seu empenho, o vermelho
não saía da chave. Depois de um tempo ela percebeu que se tratava de uma chave encantada e, se
seu marido a visse, saberia que ela o havia desobedecido. Mas ela pensou:
-Se eu tirar a chave da argola, talvez Barba Azul acredite que ela se perdeu.
Ao pensar nisso, uma sombra escura recaiu sobre ela. Ao olhar para cima, ela viu ninguém menos que
Barba Azul, em pé, à sua frente. Ela escondeu as chaves atrás de si e tentou desesperadamente parecer
feliz ao vê-lo, mas ele podia ver em seu rosto, mais pálido que a morte, que ela entrara no quarto
proibido.
Entretanto, Barba Azul não acusou a esposa imediatamente. Em vez disso, falou com ela de forma
agradável, contando-lhe que, ao se aproximar da cidade, encontrara um mensageiro que vinha ao seu
encontro para dizer que o negócio havia sido concluído de forma satisfatória, o que tornava sua viagem
desnecessária. Ele explicou tudo isso amavelmente, porém a pobre esposa não saberia dizer nada do
que fora dito, de tão preocupada que estava.
Mas, por fim, Barba Azul pediu gentilmente à esposa que lhe desse a argola com as chaves. Como você
pode imaginar, a moça fez tudo o que podia para retardar a entrega, mas o marido não mudava de
assunto, e ela acabou lhe dando as chaves.
Barba Azul as examinou cuidadosamente, depois lhe disse: -Por que a chave que a proibi de usar ficou
vermelha?
Ao ouvir isso, ela explodiu em lágrimas e confessou tudo, implorando que o marido a perdoasse. Mas
Barba Azul agarrou-a vorazmente, arrastando-a, propositalmente, até o quartinho no fim do corredor,
dizendo: -Agora você irá conhecer seu próprio destino naquele quarto!
A pobre mulher suplicou ao marido por piedade, com lágrimas correndo por seu lindo rosto, de modo que
o mais duro dos corações teria amolecido. Mas Barba Azul virou o rosto, destrancando o quarto
rapidamente, forçando a esposa relutante a entrar, e entrando em seguida. Depois trancou a porta atrás
deles.
A esposa de Barba Azul subitamente ficou em silêncio, aguardando, em pé, no quarto escuro. Sem
qualquer dificuldade ou hesitação, Barba Azul logo acendeu uma lanterna e a colocou numa mesinha,
próximo à mesa com as algemas. Depois se aproximou da esposa.
Ela prendeu a respiração completamente aterrorizada, enquanto Barba Azul levou a mão até seu rosto e
suavemente o acariciou, antes de baixar as mãos até seu pescoço, cuidadosamente pegando abaixo
da gola de lese de seu vestido. Ela apertou os olhos, pensando que ele a estrangularia naquele mesmo
instante. E, extraordinariamente, algo dentro dela voltou à vida, ao toque do marido. Ela ainda o amava!
De uma só vez ouviu-se o ruído de um rasgo, e seu vestido foi arrancado e puxado, em pedaços. Depois
foi sua roupa de baixo e, antes que seus olhos se acostumassem à luz fraca, ela se viu diante do marido
sem um fiapo de roupa sequer. Ela sentia novas lágrimas brotando em seus olhos, ao lembrar o carinho
com que ele a segurara nos braços, apenas horas antes. O fato de que ele poderia matá-la (o que
acreditava que ele estivesse prestes a fazer) partia seu coração.
Barba Azul conduziu a esposa até a corda que a deixara pensativa instantes antes. Com grande
habilidade ele prendeu seus punhos àalgema central, ajustando-a de forma que os braços ficassem
estendidos acima da cabeça. Depois prendeu as algemas dos pés ao chão, que tinham uma distância
que lhe causava uma sensação constrangedora. Horrorizada demais para falar, ela permanecia aberta e
esticada, muda e trêmula. Assim, após confiná-la, Barba Azul se aproximou da parede de onde pendiam
as inúmeras cordas. Vendo que o marido as examinava criteriosamente, ocorreu-lhe o que seriam aquelas
tiras de couro e como ele as usaria nela. Ao perceber isso, ela compreendeu também que sua vida não
estava em perigo, mas ela estava apreensiva demais pelos horrores encobertos para que pudesse ter
algum alívio. Ela começou a lutar com as amarras ao ver que ele escolhera uma tira negra grossa. Barba
Azul se virou na direção da esposa dizendo: -Pelo grande amor que lhe tenho, você levará apenas trinta
chicotadas.
Após um segundo de choque e silêncio, a esposa de Barba Azul começou novamente a rogar por
clemência. Ele ignorou com a mesma calma e tom casual, prosseguindo um pouco mais alto para
sobrepor seus gritos.
-Você irá contar as chicotadas à medida que eu as proferir. Se pular uma sequer, começarei do início. E
também terá de aceitá-las por vontade própria, reconhecendo que as merece. Pode gritar, mas não
poderá protestar, ou começarei novamente.
Logo após esse temeroso discurso, Barba Azul largou o chicote que voou brutalmente nas costas da
esposa, pela primeira vez. Ela gritou e novas lágrimas brotaram em seus olhos.
-Começaremos novamente -foi a resposta cruel de Barba Azul e outra vez o chicote atingiu a carne de
sua mulher. Dessa vez ela anunciou:
-Um!
Um instante depois outra chicotada a atingiu, e ela ouviu a própria voz gritar: -Dois! Choque e horror se
misturavam à sua vergonha
e, ainda assim, com o próximo golpe do chicote ela conseguiu gritar:
-Três!
Barba Azul continuou a investida, e a esposa obedientemente gritava o número correspondente de
cada uma das dolorosas chicotadas. Sistematicamente, Barba Azul parava para perguntar:
"Quantas chicotadas ainda quer, meu amor?", ou "Diga-me, quantas chicotadas ainda devo lhe dar?", ao
que ela era forçada a responder com a quantidade restante para completar as trinta chicotadas. De
alguma forma ela conseguiu fazer tudo isso, apesar de sua pele ter tomado um tom de vermelho ardente,
muito antes de terminarem os trinta golpes.
Quando ela finalmente suportou a contagem, o marido se aproximou e carinhosamente beijou-lhe o rosto
e lábios. Apesar de agora saber que ele não a mataria, ela ainda pensava no que estaria por vir. Mesmo
assim, se viu retribuindo seus beijos, em parte por alívio, em parte por uma necessidade nova e
incompreensível que crescia dentro dela. Ela começou a dizer palavras profundamente suaves de
perdão e amor. Mas Barba Azul afastou os lábios dos dela, repreendendo-a carinhosamente.
-Uma esposa amorosa não lança mão de algo que não lhe foi livremente dado pelo marido.
Barba Azul cuidadosamente soltou as mãos e os pés da esposa, puxando-a para seus braços,
carregando-a até a mesa das algemas. Ele a colocou sobre a mesa com cuidado, posicionando seu
corpo para que ficasse sobre as mãos e joelhos, com as pernas bem afastadas. Depois Barba Azul forçou
sua cabeça abaixo, para a mesa, e colocou inúmeros prendedores ao redor de seu pescoço para
mantê-la no lugar.
Ela estava profundamente humilhada e agitada pelo fato de suas partes mais íntimas estarem à mostra.
Horrorizada, ela percebeu que o marido caminhara até aquela ponta da mesa e a observava.
Ela sentia seu hálito morno em seu corpo quando ele se aproximou, depois algo macio e molhado to cou
suas partes expostas. Ela levou algum tempo até perceber que era sua língua e gemeu de prazer e
apreensão. Ele prosseguiu implacavelmente, até que ela ficasse incapaz de lutar contra os sentimentos
de excitação que a tomavam. Ela relutava sob as amarras, no empenho de aumentar seu próprio prazer.
Mas, pouco antes de atingir o clímax, o marido parou, deixando-a ansiosa e aflita. Ele repetiu esse
processo várias vezes e, a cada uma delas, provocava sua submissão perguntando:
-A quem obedecerás desse dia em diante? -E, a cada pergunta, o que mais poderia ela dizer, além de
prontamente reconhecer seu poder e obedecê-lo?
Barba Azul continuou provocando a esposa desta forma por um tempo que, para ela, pareceu uma
eternidade. Porém, ele subitamente parou e caminhou até o lado oposto da mesa, posicionando-se
diretamente em frente a ela. Depois lhe soltou o pescoço e ergueu-lhe a cabeça. Já estava com as
calças abertas e sua excitação estava a apenas alguns centímetros de seus lábios.
Ela hesitou por apenas alguns instantes antes de entender o que ele tinha em mente. Depois o tomou
vorazmente, sentindo um apetite feroz em satisfazê-lo de qualquer maneira que ele a deixasse. Ele a
observava atentamente, enquanto ela se deleitava com o prazer que lhe proporcionava.
Ela o tomava em golpes cada vez mais fortes e rápidos, mas quando ele estava a ponto de explodir, ela
recuou, da mesma forma como ele fizera com ela. Naquele instante os olhares se encontraram, e ela
pôde ver a exigência silenciosa.Hipnotizada por seu olhar poderoso, ela arqueou o pescoço e, num gesto
submisso, o tomou novamente, realmente o saboreando.
Ao terminar, Barba Azul voltou a colocar carinho samente a esposa sobre a mesa e prendeu seu pescoço
como antes. Depois saiu da sala.
Ela aguardou seu regresso em total agonia.
Ele finalmente voltou, carregando um pequeno frasco. Mais uma vez se colocou ao pé da mesa. Ela
esperava ofegante enquanto o marido preparava seu próximo ato.
Ela sentiu uma sensação fria adentrando seu corpo e relutou para se afastar, mas Barba Azul a aquietou,
segurando-a firmemente com sua mão livre. Algo a estava perfurando! Algo terrivelmente frio!
Ela lentamente percebeu que só podia ser algum tipo de objeto volumoso feito de líquido congelado, por
sentir a penetração aguda e subsequente umidade, à medida que o objeto derretia.
O frio despertou-lhe os sentidos, tornando-os mais alertas, de modo que o desejo que ela sentia foi se
tornando doloroso. Mas antes que a dor se transformasse em prazer, o objeto se dissolveu. Ela gemia
queixosa enquanto o marido lentamente repetia o processo e ria de vez em quando de sua óbvia
irritação. Mas ela não percebia nada além da deliciosa tortura entre suas pernas.
Isso continuou até que a esposa de Barba Azul ficasse febril e trêmula. Ao vê-la assim, ele parou
subitamente a ação agonizante e voltou a deixá-la sozinha no quarto. Ela gemeu baixinho. Havia uma
dor excruciante pulsando ao longo de seu corpo e a posição em que ela se encontrava tornava
impossível eliminá-la. A dor pungente latejava entre suas pernas, alastrando-se lentamente por seu tronco
e membros. Ela sabia que teria de esperar até que o marido quisesse aliviá-la. E esperou.
Barba Azul finalmente voltou ao quarto, trazendo consigo outro recipiente. Ela prendeu novamente a
respiração, conforme o marido retomou sua posição.
Dessa vez foram as mãos de Barba Azul que ela sentiu, acariciando-a. Ela gemeu de prazer, mas,
segundos depois, sentiu um calor ardente no local onde ele havia esfregado, e gritou de frustração.
Barba Azul voltou a aquietá-la e a manteve firme, mas o movimento de sua mão ficava mais brutal,
furiosamente a detendo, até que ela não sentia nada além da queimação do lugar onde ele friccionara.
Mas essa dor também deu lugar ao prazer, e ela alternava entre gritos e gemidos, num instante
tremulando os lábios violentamente, no intuito de fugir de seu carinho torturante, logo depois movendo os
quadris de encontro às suas mãos para aumentar o prazer. Mas ele sempre parava quando percebia sua
satisfação e, à procura do unguento misterioso, ele reiniciava o processo, abrindo-a, forçando o calor
profundamente dentro dela.
Finalmente, a pobre dama já havia suportado tudo que podia, e começou a chorar desoladamente.
Desgostoso por ver a esposa tão infeliz e pensando que ela já havia sido suficientemente punida, Barba
Azul rapidamente soltou-lhe os membros e a ergueu na mesa. Ele a segurou firme nos braços e beijou seu
rosto molhado repetidamente, confortando-a com palavras amorosas. Mas ela continuava a soluçar.
Percebendo o que a esposa queria, Barba Azul logo a puxou para si, penetrando seu corpo latejante. Ele
fez amor com ela suavemente, pelo tempo que ela quis. Eles permaneceram ali, na verdade, pelo
restante do dia, e dessa vez ele a satisfez repetidamente, até que seu sofrimento fosse inteiramente
esquecido.
Assim como esquecidas as suas promessas de obedecer o marido, me atrevo a dizer que eles voltaram a
visitar aquele quarto outra vez!
O Gato e a Rata
O jogo de gato e rato é lendário e um dos assuntos favoritos dos romancistas. O que atrai para dentro do
jogo que parece tão fascinante quanto antagônico? É uma questão complicada que será eternamente
analisada pelo filósofo. Eu também fiz minhas tentativas para solucionar o enigma.
Parece-me que o jogo era bem mais atraente nos tempos antigos. Hoje em dia é decididamente menos
prazeroso. De alguma forma, conforme os riscos aumentam, os jogadores se tornam mais ameaçadores e
o jogo mais cruel. Na verdade, nem é mais jogado como antes. Uma coisa é certa, o objeto do jogo já
quase foi eliminado.
Já faz tempo que ficou estabelecido, por exemplo, que o gato é fisicamente mais forte do que o rato. No
entanto, a rata jamais foi um adversário à altura, em virtude de seus instintos e sua determinação
impecável. Ao longo dos anos, o gato acumulou muitas vantagens desleais sobre o rato, eliminando do
jogo a regra da vantagem. Essa evolução teve um efeito peculiar de tornar o jogo mais sedutor para o
rato, e tedioso para o gato. E eu começo minha fábula sob essas circunstâncias entre gato e rato.
Na história que conto, a supremacia pertence ao gato. O rato tem muito menos poder na maioria dos
casos: ganha e acumula menos riqueza, tem uma voz menos ativa nos eventos mundiais e, resumindo,
menos vantagens do que o gato. Como era de se esperar, sob tais circunstâncias, o rato perdeu muito de
sua personalidade e o gato sente a perda sem reconhecêla. Assim, quando ele encontra uma daquelas
ratinhas encantadoras e tenazes que se recusam a aceitar esses termos amistosamente, essa nova raça
de gato fica temerosa demais para reagir apropriadamente.
Por outro lado, o rato perdeu o respeito pelo gato, julgado preguiçoso e mimado pelos ratos que se
submetiam à sua superioridade. Então, o jogo chegou ao estágio final de existência e só em casos raros,
como a história aqui descrita, é jogado com o vigor dos tempos antigos.
Ao começar minha fábula, a rata leva uma vida modesta no buraquinho da parede do mundo do gato.
Ela se veste com trapinhos fúteis, que é a moda do mundo moderno do gato, mas não cobre quase
nada, fazendo-a sentir-se sempre nua e explorada. Mesmo assim, nossa rata se sente relativamente
segura quanto ao gato, por conta de seu comportamento rebelde, interpretado por ele como uma
malevolência insensível. Isso vem bem a calhar para a rata, pois ela detesta o gato.
-Covardes! -diz a rata rindo, ao ver outro gato passando pelo buraquinho da parede, apressado para se
afastar da criaturinha ali de dentro. Como ficam medrosos esses gatos enormes ao se depararem com a
ira de uma pobre ratinha indefesa! Provavelmente escaparei do destino de minhas irmãs tendo a mera
animosidade como defesa.
De fato, não foi difícil para ela levar adiante os sentimentos de animosidade. Ela detestava ser explorada
nesse mundo dominado pelos gatos, sem jamais ser compreendida ou reconhecida por sua inteligência e
sensibilidade. Ainda assim, sempre que um gato parava diante da abertura de sua casinha para olhá-la,
ela era tomada por estranhas sensações tanto perturbadoras quanto temíveis. Mas ela se recusava a
deixar que os gatos vissem o seu medo ou, mais precisamente, sua esperança contida de um dia
conhecer um gato de verdade, como aqueles sobre os quais lera em romances. E ela assobiava e os
xingava, rindo para si mesma quando eles quase tropeçavam nos próprios pés, na pressa de fugir delá.
Ela assumiu uma fisionomia de arrogância altiva ao ouvir outro gato se aproximando. Ele era bem maior
que ela, assim como os outros, mas ela lembrava a si mesma que tamanho não era tudo. Ela tinha
certeza de que sua vontade era muito superior à dele.
Ela se esforçou para manter a compostura, enquanto o gato se colocou diante da entrada, com os olhos
se movendo entretidos sobre seu corpinho. A inquietação habitual a inflamava por dentro. Com que
direito os gatos pensavam poder cobiçar ratas de forma tão rude? Como as coisas chegaram a ponto de
isso parecer um comportamento aceitável? Caso se comportasse como as outras ratas, agora seria
esperado que ela se lisonjeasse com a honra dessa atenção! Ela empinou ainda mais o queixo e encarou
o olhar do gato com desdém.
Contrariada, ela percebeu que ele era mais bonito que o comum. Nos dias atuais era realmente raro ver
um gato que se importasse com a aparência. Eles geralmente era esculhambados, de modo que
chegava a ofender qualquer um que estivesse por perto. Mas as ratas também estavam tão ocupadas
com sua própria aparência que raramente lhes ocorria que os gatos não valiam todo esse empenho.
No entanto, esse gato era um dos poucos que se poderia considerar que valia a pena. Mas, na opinião
da rata, isso era apenas mais uma razão para evitá-lo, pois os gatos bonitões eram piores que os feios. Eles
estavam em alta na praça e sabiam disso, e era bem difícil conquistar sua afeição por um momento,
quanto mais obter qualquer tipo de devoção em longo prazo. Ao olhar para a expressão de
autoconfiança desse gato, a rata percebeu que provavelmente haveria inúmeras ratas à sua disposição.
E ela se forçou a ignorar sua beleza física.
Mas era impossível não notar o pelo farto que caía em ondas escuras sobre sua face, os traços recortados
que emolduravam uma expressão de absoluta confiança e equilíbrio. Seu corpo musculoso se
movimentava com uma graça natural. Os instintos aguçados da rata lhe diziam que seria melhor que ela
se livrasse dele rapidamente. E ela mostrou a sua arma mais eficaz diante dos gatos: sua língua.
-Olhe o quanto quiser, porco -rosnou ela. Você jamais terá permissão para tocar. -Pois, ao menos nesse
estranho mundo em que ela vivia, não era permitido que um gato forçasse uma rata a se submeter
contra sua vontade. E, de fato, não havia a menor tentação para que o fizessem, já que as ratas estavam
se oferecendo como escravas desses grosseiros desmerecedores!
Para espanto da rata, o gato riu de sua argumentação, depois esticou a pata para dentro de seu
pequeno esconderijo. Com muita cautela para não tocar-lhe a pele, ele usou seu dedo ágil para erguer
até o ombro o trapinho que cobria o corpinho, deixando-o totalmente à mostra. Com um chiado
zangado ela espalmou-lhe a pata. -Você disse que eu poderia olhar o quanto quisesse, não disse? -ele riu.
A ratinha possuía uma fraqueza: era extremamente competitiva -principalmente quanto às questões de
perspicácia e desejo. Tinha um gênio facilmente atraído ao jogo de gato e rato. A réplica espirituosa do
gato, aliada ao seu temperamento calmo e total desprezo ao seu mau humor, foi estímulo suficiente para
que ela ignorasse sua apreensão e mudasse de ideia quanto à resolução anterior de se livrar dele
imediatamente. Talvezfosse melhor atormentá-lo um pouquinho antes.
Os olhos dela detinham os dele com um súbito interesse, e o canto de sua boca exibia um sorrisinho
malicioso. Ela deu de ombros e tentou assumir uma aparência de indiferença casual.
-Eu estava pensando em você, agora mesmo disse ela, zombando. -Eu detestaria ver seu ego ferido pela
recusa de algo que deseja.
-Que meigo de sua parte se preocupar com meu bem-estar -respondeu ele, sorrindo. Os olhos dele
queimavam os dela, ao acrescentar: -Mas sobre isso, nós dois sabemos que você não precisa se
preocupar. -Ela imaginou se aquela afirmação significava que ele não a achava atraente, ou se estaria
excessivamente confiante de que ela cederia, caso ele a quisesse. Ele a percebeu confusa e riu. Mais
curiosa do que nunca, ela se aproximou timidamente, dizendo:
-Imagino que você tenha ratinhas demais com que se distrair para se empolgar com apenas uma, em
vista do harém de escravas que deve possuir para atender aos seus pedidos. -Ela disse isso como se o
estivesseelogiando, mas o recado foi bem claro. Uma das coisas que ela mais detestava sobre esse
mundo moderno dos gatos era a forma como as ratas estavam sempre dispostas a se rebaixar vendendo
o próprio corpo aos gatos, como suas escravas sexuais. Ainda assim, ela sabia que havia ferido o orgulho
dele ao dizer que, embora pudessem comprar tudo
o que desejassem das ratas, eles eram obrigados a pagar por isso. Com sua afirmação ela estava
insinuando que ele também teria de pagar por favores, mesmo que desconfiasse que isso não fosse
verdade nesse caso.
No entanto, a afirmação não fez com que o gato desistisse, e com uma pose um tanto descontraída, ele
respondeu:
-Mesmo assim estou disposto a lhe dar a chance de ser minha escrava, se me pedir educadamente. Ele
adorou a forma como os olhos dela faiscaram de raiva diante de sua resposta. Ele estava se divertindo
imensamente em provocá-la.
-Certamente não quero ser sua escrava! -bufou ela. Como ele podia inverter tudo dessa forma?
Ela desejou, com todo o coração, ter o poder de arrancar o sorriso do rosto daquele gato abusado!
-Se você não tivesse o desejo oculto de ser minha escrava, não teria tocado no assunto -argumentou ele.
Sua arrogância a irritava e seus olhos piscaram, exibindo um sorriso de desdém.
-Você seria tão convencido a ponto de achar que eu quis dizer que queria ser sua escrava?
-Eu posso apostar meu rabo.
-Puxa, mas você é bem confiante, hein? -desafiou ela, em busca de uma chance de fazê-lo ver o quanto
estava errado. Ela era inexperiente demais no jogo para perceber que ele a estava provocando.
-Devo provar isso a você? -perguntou ele, devolvendo o desafio.
-Prove...! -Sua audácia era realmente demais. Algum tipo de alerta soou dentro do cérebro dela,
advertindo-a para ter cautela, mas ela estava atiçada demais para ter cuidado. Além disso, era
extasiante finalmente encontrar um gato com desenvoltura e tanta perspicácia. Sua coragem ancestral
revolveu por dentro, diante daquela postura desafiadora. Ela sentiu que precisava colocá-lo em seu
lugar, portanto, sem pestanejar, disse: -Se você puder provar qualquer coisa além de meu profundo
desprezo por você, serei sua escrava hoje mesmo, por essa noite!
Assim que as palavras saíram, ela sentiu uma onda de terror. Teria realmente dito aquilo? E quando havia
saído da proteção do abrigo de seu buraquinho na parede?
Não importava. Ela jamais cederia, e ele acabaria sendo forçado a partir com o rabinho entre as pernas,
fracassado e humilhado. Pensar nisso a fez sorrir.
O gato também estava sorrindo, pensando, que exatamente quando parecia que todas as ratas eram
tolinhas dóceis prontas para se submeterem a qualquer coisa à sua frente, ele encontrara essa pequena
preciosidade. Veja só... era exatamente o que ele vinha procurando a vida inteira. E pensar que ele
quasea evitou, segundo o conselho de vários outros gatos a quem ela rejeitara. -Bruxinha -era como todos
a chamavam! Que tolos! Por ser tão extraordinária já era de se esperar que ela naturalmente quisesse um
gato que estivesse disposto a encará-la. Ele reconheceu isso por também ser do mesmo tipo dela, com
preferência por uma bela disputa antes de acasalar. Ele precisava continuar provando seu direito de
possuir sua parceira, enquanto ela precisava de um par que valesse a pena e fosse destemido. Por
instinto, ele sabia que ambos sentiam essas coisas, embora soubesse que ela ainda não as compreendia
inteiramente.
O gato se aproximou da rata e gentilmente moveu uma mecha de cabelos para o lado. Ela sentiu o
hálito morno em seu rosto quando ele sussurrou:
-Como podemos testar isso?
Ela inspirou o ar e o prendeu. Uma ideia ou outra passaram por sua mente, mas ela continuou quieta. Ela
se sentia totalmente sem ação.
-Talvez um beijo -sugeriu ele, por fim, após deixá-la pensar um pouco.
Ela suspirou aliviada. Tudo que teria de fazer era suportar um beijo sem desfalecer sobre ele. Ela estava
certa de que podia fazer isso. Que deleite seria mandá-lo pegar a estrada depois que ele se
descabelasse para mostrar seu melhor beijo. Ela quase caiu na gargalhada com a ideia.
Ele olhou em seus olhos e viu seu divertimento. Então ela já estava cantando vitória, não é? Bom. Ele
precisava pegá-la desprevenida. Mas alertou a si mesmo para ser cauteloso. Ela era um achado raro no
mundo, e ele não a perderia.
Agora confiante, a rata arqueou o pescoço para trás na expectativa do beijo do gato, mantendo o olhar
ansioso nos olhos dele. Ele a encarou enquanto seus lábios se puseram logo acima dos dela, por um
tempo que pareceu uma eternidade. Uma incerteza preencheu os olhos dela e ela subitamente ficou
impaciente. Ele ia fazer aquilo, ou não? Que tipo de tolo diz que irá beijá-la e não o faz?
Os lábios dele continuaram tão perto que estavam quase tocando os dela. -Bem-ele finalmente sussurrou
–Aonde você quer?
-O quê? -ela sussurrou de volta.
-O beijo -explicou ele. -Onde você quer que eu dê?
Ela o encarou, chocada. Imagens que a deixaram tonta invadiram seus pensamentos, mas ela
instantaneamente se esforçou para eliminá-las de sua mente. Ela estava tremendo. E mais uma vez
lembroua si mesma que o mais prudente seria se livrar dele rapidamente.
E como ela deveria responder a sua pergunta sem soar como se quisesse que ele a beijasse? Ele
realmente levava jeito para enfurecê-la. O que ela realmente gostaria de fazer era... De repente ela teve
uma ideia.
-Acho que o lugar menos ofensivo seria o meu pé -disse ela, finalmente, com um sorriso ávido.
-Então, no pé será -respondeu ele, sem desapontamento. Ele não havia esperado nada menos.
Além disso, sua pergunta sugestiva alcançara o efeito pretendido. Ele notou que ela perdeu a
compostura, mesmo que apenas por alguns instantes.
Ele baixou sobre um dos joelhos diante dela, num gesto extremamente submisso. Ao se preparar para seu
ataque, a ratinha sentiu uma decepção estranha, por ele ter se deixado abater com tanta facilidade, e
um arrependimento esquisito, pois logo tudo estaria acabado. Lá de dentro, ocorreu-lhe que ela torcera
para que ele tivesse sido mais esperto ou forte, algo assim... mas ela logo se repreendeu por ter sido tão
tola, lembrando que era o seu orgulho e liberdade que estavam em jogo ali. O gato gentilmente pegoulhe
a patinha e pousou a boca morna sobre ela, dando um beijo demorado. Assim que o beijo terminou,
a ratinha recuou a pata para trás, num movimento que deu a entender que ela tinha a intenção de
chutar o gato no rosto -atitude que demonstraria de uma vez por todas seu autodomínio e ausência de
reação a ele. Porém, ao lançar o pé à frente para dar o chute, ele a pegou pelo tornozelo num golpe
preciso. Ela respirou ofegante diante dessa reviravolta dos acontecimentos. A força que sentiu no aperto
que ele mantinha em sua perna causou-lhe uma vibração pelo corpo. Ela tentou se soltar, mas ele a
segurou sem qualquer dificuldade, como se segurasse uma borboleta pelas asas. Ela foi desarmada de
uma só vez.
E subitamente perdeu o chão, balançando e se esforçando para manter o equilíbrio num pé só. Com
braços e pernas a esmo, ela foi de quadris ao chão. Com a agilidade de uma pantera, o gato se esticou
e a pegou, impedindo o impacto da queda. Primeiro ela ficou aliviada, depois, horrorizada. As mãos dele
abrigavam suas nádegas. Ela se moveu para se levantar, mas ele a segurou.
_ Ainda não avaliamos o efeito do beijo -disse
ele, sorrindo. _ O que você quer dizer? -perguntou ela, ainda se esforçando para levantar e se afastar das
mãos
dele. _ O que quero dizer -explicou ele, calmamente -é que quero ver se fui capaz de inspirar algo além
de seu puro desprezo por mim com meu
beijo. _ Ah... bem, suponho que desprezo resuma bem os meus sentimentos -ela mentiu, tentando
aparentar calma e indiferença. Mas era difícil, com suas mãos fortes a segurando daquele jeito. _ Eu não
acredito em você -respondeu ele. E gosto de verificar as coisas, sempre que possível. _ Bem, mas não é
possível -devolveu ela. -Portanto, você terá de aceitar minha palavra. _ Mas é possível -argumentou ele. -
Não é apenas possível, como também simples e indolor. E, ao dizer isso, ele tirou as mãos debaixo dela e
afastou-lhe as pernas. Ela finalmente percebeu o que ele pretendia fazer. Um formigamento persistente
começou a aumentar entre suas pernas, começando antes do beijo. Agora, o seu desejo latejava em seu
corpo inteiro.
-Não -protestou ela. -Não. -Ela balançou a cabeça de um lado para outro, tentando desesperadamente
fechar as pernas.
-Se é como diz -disse ele, num tom irritantemente ponderado, soltando suas pernas por um instante -,
depois de uma breve inspeção eu partirei daqui e jamais a perturbarei novamente. Mas, se você estiver
mentindo como eu desconfio, será minha escrava legítima por esta noite.
Ela suspirou aterrorizada. Quando foi que tudo se inverteu e ele se tornou o conquistador? -Você pode
admitir o seu desejo por mim diretamente, se preferir -disse ele, pacientemente.
-Nunca! -disse ela, quase gritando.
-Bem, então, você não tem nada a esconder, tem? -perguntou ele. O olhar dele prendeu o dela, e foi
como se ela tivesse sido hipnotizada, deixando que ele lhe afastasse as pernas. Seus dedos tocaramna,
provocantes. Ela amaldiçoou seu corpo traiçoeiro mesmo ao se arrepiar de prazer, quando ele
escorregou o dedo adentrando a umidade reveladora. Ele soltou um gemido e a puxou para seus braços.
-Ganhei -disse ele, antes que seus lábios exigissem os dela.
Ela estava com o orgulho em pedaços, mas já não podia negar que ele ganhara a batalha. Ainda assim,
ela cedeu queixosa. Ela piscava com raiva e mordeu-lhe a língua, quando ele a colocou em sua boca.
Isso não chegou a decepcioná-lo; mais uma vez era O que ele esperava dela. De boa vontade, ele
deixou que ela desabafasse toda a raiva em cima dele. Minal, ele compreendia o quanto era irritante
perder.
Ele gentilmente a segurou nos braços, até que ela parasse de resistir, sempre a beijando carinhosamente.
Ela se esforçava para lutar contra sua atração por um adversário tão valioso; mas, aos poucos, começou
a sucumbir aos sentimentos ternos que ele despertou nela, e finalmente aceitou a própria derrota,
retribuindo seus beijos com a mesma paixão fervorosa. Ela enlaçou-lhe o pescoço com os braços e o
abraçou com as pernas. Mas ele festejou a entrega total apenas por um momento. Ele já decidira que a
queria por muito mais que apenas uma noite de servidão. Era hora de aumentar as apostas do jogo.
O gato recuou do abraço da ratinha e perguntoulhe: -Como pode ser isso, se eu, que sou seu amo, estou
aqui a servi-la, minha escrava?
Ela ficou demasiadamente estarrecida com a interrupção indelicada para responder. Pensara que a total
entrega satisfariaseuanseiopor dominá-la, mas, aparentemente, se enganara quanto a isso. No entanto,
ele não esperava uma reação dela. Com um rápido movimento ele espalmou as nádegas dela, dizendo:
-De pé, escrava.
Com as bochechas em fogo, a ratinha subitamente se levantou, procurando endireitar as roupas
desalinhadas que vestia, apesar disso ser inútil. Ela olhou o gato, silenciosamentejurando achar um meio
de ficar quite com ele. Mas ele prosseguiu como se não tivesse qualquer preocupação na vida.
-Siga-me, escrava -disse ele, guiando o caminho. Mas antes que ela desse o primeiro passo, ele
acrescentou:
-De joelhos. Ela o olhou boquiaberta, horrorizada, quase en
gasgando com as próprias palavras. -Não farei isso -conseguiu dizer finalmente. -Você o quê? -perguntou
ele, fingindo cho
que com o rompante. Porém, mais uma vez era o que ele esperava. Ele sabia que seriam necessários o
céu e a terra para fazê-la ficar de joelhos. Mas, por sorte, ele tinha o poder do céu e da terra sobre ela,
naquele determinado instante, por saber que seu orgulho jamais a deixaria voltar atrás numa aposta.
-Você me ouviu -reafirmou ela, firme, diante dele. -Então, você está -disse ele, calmamente -se recusando
a honrar nossa aposta? Diante disso, ela parou: -Eu o servirei como sua escrava por esta noite, mas não
de joelhos.
-Você concordou em ser minha escrava, e uma escrava é obrigada a fazer tudo como indicado por seu
amo ponderou ele, sagazmente.
-Além disso,posso lhe garantir que é bastante comum que essa posição seja pedida a uma escrava...
além de muitas outras.
Diante disso a rata ficou em silêncio. Ela nunca havia sido uma escrava.
-Diga-me -continuou ele -, se eu fosse seu escravo, não estaria de joelhos, nesse exato momento?
A rata permaneceu em silêncio, pois mal podia negar que daria tudo para vê-lo de joelhos naquele
momento. O gato sentiu que era o instante perfeito para conduzi-la a um novo jogo.
-Foi você quem propôs a aposta ele lembrou-a.
Agora, a menos que queira uma nova disputa para ganhar sua liberdade de volta, é obrigada a me servir
da forma como eu quiser.
Só levou um segundo para que seus olhos faiscassem cheios de vida, e para que ela mordesse a isca que
ele jogou diante dela.
-Uma nova disputa?
-Sim -disse ele, suavemente. Depois, fingindo mudar de ideia, ele acrescentou: -
Quero dizer, não.
Não creio que eu poderia ser induzido a isso. Afinal, já tenho um bom negócio aqui, com você como
minha escrava por essa noite.
Ele quase sorriu ao ouvir as palavras que esperava, quando ela disse com toda a
avidez:
-Mas nós podemos fazer dobrado, ou nada!
-Por que eu deveria arriscar duas noites prováveis de escravidão, por uma garantida, que já tenho? -
perguntou ele. -Não, esqueça. Você está perdendo tempo. De joelhos, por gentileza.
-Então, o que você quer? -perguntou ela.
-Bem, para pensar em abrir mão da minha noite como seu amo, eu preciso ter a chance de ganhar algo
de muito mais valor para mim, digamos... você, como minha esposa. -Ele estava tão chocado quanto ela
ao dizer aquilo, por só ter a intenção de fazêla ficar com ele por um tempo indefinido. Porém, uma vez
ditas as palavras, ele soube que as dissera para valer. Ele adorou a sensação da natureza desafiadora.
Eles tinham uma química perfeita, e ele sabia que ficariam se desafiando pelo restante da vida.
Mas quando a ratinha ouviu aquelas palavras, quase riu.
-Você espera que eu aposte uma noite como escrava contra a escravidão eterna? -perguntou ela,
incrédula.
-Como minha esposa você não chegaria a ser uma escrava -deleitou-se ele. -Mas é lisonjeiro saber que
seu primeiro instinto é achar que você seria a perdedora.
Isso arranhou seu orgulho e ela rosnou, ressentida.
-Foi apenas por usar de truques que você ganhou a última aposta. Foi totalmente injusto, e posso garantir
que isso não voltará a acontecer. -Apesar disso, ela não conseguia evitar pensar em sua mão indiscreta e
não sabia como faria para fazer valer aquela afirmação impulsiva.
-Devo interpretar isso como o seu desejo de passar novamente pelo teste? -perguntou ele, com um sorriso
provocador.
-Não! -soltou ela, mortificada. Ela tentou esconder as bochechas coradas virando a cabeça, num gesto
arrogante. -O que quero dizer é que desafio a eficácia de um teste tão bárbaro.
-Oh, posso assegurá-la que há um meio mais preciso de descobrir a verdade do que por meio de suas
palavras -argumentou ele. -O que senti ali certamente não foi desprezo.
Ela ficou irritada e constrangida ao lembrar.
-Se você causasse em mim o impacto que supõe, parece que de alguma forma teria tirado a verdade
dos meus lábios.
-Isso é outro desafio? -perguntou ele.
-Eu... bem -gaguejou ela, dessa vez um pouco mais prudente. Mas de repente ela pareceu tomar uma
decisão. -Sim!
Ele estendeu-lhe a mão. -Então, você aceita os termos... esta noite de escravidão contra se tornar minha
esposa?
-Esses termos não são justos e você sabe disso! -protestou ela.
-Se é justo ou não, eu não sei -respondeu ele. -Mas cabe a mim, o vitorioso em vigor, estabelecer os
termos e aí estão eles. É pegar ou largar.
Seu queixo tomou uma expressão obstinada, enquanto a raiva faiscava em seus olhos. Ela preferia morrer
a concordar com seus termos ultrajantes.
-Vamos acabar logo com essa noite -explodiu ela.
Ele suspirou, ponderando silenciosamente sobre quanto tempo levaria até que ele conseguisse dobrála
para aceitar suas condições. Ele estava em dúvida entre dois ou três minutos. Ele pousou a mão nas
pequenas costas e empurrou com carinho.
-De quatro, então, escrava -lembrando-a.
Ela respirou fundo, garantindo a si mesma que podia fazer aquilo. Mas sua primeira tentativa falhou. Seus
membros pareciam mais rígidos do que o habitual. Era como se possuíssem vontade própria e se
recusassem a ceder sob aquelas circunstâncias. Seu rosto ficou vermelho vivo, quando ela finalmente
conseguiu forçar o corpo a se sujeitar e logo ficou prostrada diante do gato arrogante, sobre as mãos e
joelhos.
A posição era nova para ela. Ela estava tomada de vergonha e humilhação. Mas havia outra coisa. Ela
se sentia agitada e inexplicavelmente sensível. Lá grimas inconvenientes encheram-lhe os olhos. Ela se
esforçava para abafar seus soluços para que seu algoz não soubesse a extensão de seu transtorno.
Enquanto isso, ele se posicionava atrás dela. Apesar de manter as pernas bem juntas, ela sabia que não
poderia ocultá-las da visão dele. As estranhas remexidas internas que isso lhe provocava faziam com que
as lágrimas fluíssem mais rápido. Ela estava num estado emocional perigosamente excitado.
A mão do gato acarinhava suas partes expostas de forma possessiva. Ele gargalhou ao senti-la
novamente em seu desejo molhado. Ela respirou ofegante, beira do pânico. Preciso recobrar a minha
compostura, pensou ela. Mas havia um turbilhão por dentro, e ela mal sabia por onde começar.
Seu capturador espalmava-lhe as nádegas levemente, dizendo:
-Adiante, escrava. -Desajeitadamente, ela se arrastava à frente, odiando-o mais a cada investida. Ele
caminhava atrás dela, deleitando-se com a cena, sem de fato gostar de vê-la tão subjugada. Ele a
achava magnífica quando assumia uma postura autoritária.
As lágrimas ameaçavam voltar, mas a rata piscava para detê-las, fazendo o melhor possível, decidida a
ao menos manter a aparência de uma compostura interior. Mas a cada movimento ela se sentia mais
depreciada e logo se entregava ao desespero.
-À esquerda aqui, por gentileza -o gato instruiu, alegremente.
Ela parou abruptamente.
-Mas isso vai dar do lado de fora, em público contestou ela, horrorizada. Por milagre, até então, eles não
haviam se deparado com ninguém em suas caminhadas, mas ela sabia que as chances de encontrar
outros gatos e ratos seria bem maior, caso deixassem
o abrigo onde estavam. Certamente, esse demônio que estava prestes a ser seu amo pela noite não seria
depravado a ponto de forçá-la a acompanhá-lo lá fora!
-Eu sei aonde vai dar -disse ele. -pegar um ar fresco e você deve me acompanhar.
-Mas há muitos gatos lá fora! -Ela não iria... não poderia... ir lá fora, onde todos a veriam nessa posição e a
partir dali a julgariam uma escrava. O que faria?
Ele viu a expressão de absoluto desespero em seu rosto, mas não recuaria agora -não depois de ter ido
tão longe com ela. Ele estava decidido a fazê-la se submeter a ele inteiramente, e sabia que a única
forma de conseguir isso seria uma vitória integral. Ele estava estarrecido pelo fato de ela ter resistido tanto
tempo. Mas sabia que ela já não podia mais agüentar. Ela iria preferir qualquer coisa a servi-lo
publicamente, de quatro. E ele certamente não tinha a intenção de permitir que outros gatos a vissem
numa posição tão humilhante.
Com um ar de impaciência ele gentilmente a cutucou à frente, com a perna.
-Adiante, escrava! -ordenou ele.
Ela não se mexeu. As lágrimas desciam por seu rosto. Ele lutou contra o ímpeto de parar o jogo e tomá-la
em seus braços. Mas haveria muito tempo para isso depois, e ele se obrigou a dar-lhe outro cutucão.
-Vamos, empregada. -Mas sua voz começava a perder a autoridade. Ele estava estarrecido pela
teimosia dela. Aceite o desafio, ele mentalmente lhe implorava; ainda assim irá perder, mas ao menos irá
fazê-lo com um pouquinho mais de dignidade.
-Eu aceito o desafio -ela engasgou entre soluços.
Ele soltou um suspiro.
-Então levante-se -disse ele, fingindo indiferença. -A menos que tenha gostado de ficar aí embaixo.
A ratinha levantou como um foguete. Ela tremia de alívio e foi logo tirando a poeira das mãos e joelhos,
tentando recobrar a compostura. Ocorreu-lhe que ela se colocara em toda aquela humilhação sem um
bom motivo. E o que importava para ela o fato de a aposta ser muito alta? Ela não iria -não poderia -
perder para ele uma segunda vez, pois agora isso exigiria uma confissão de seus lábios, e ela ainda tinha
total domínio sobre eles. já que não ocorria o mesmo com outras partes de seu corpo. Não, ele jamais
conseguiria fazer com que ela desse uma confissão tão contundente como fizera com seu corpo.
O gato conduziu a rata até seus aposentos, que, obviamente, eram muito superiores ao seu buraquinho
na parede. A irritava profundamente o fato de os gatos geralmente possuírem muito mais que os ratos,
especialmente porque, na realidade, os ratos trabalham tão duro quanto eles, se não mais. Ela olhou
para ele, agitada e incerta.
-Então, tudo que tenho de fazer é permanecer aqui com você, sem... -ela fez uma pausa -... sem...
-Sem confessar seus verdadeiros sentimentos por mim? -sugeriu ele, com um sorrisinho.
-Sem confirmar suas ilusões quanto aos meus sentimentos por você -ela o corrigiu, já mais esperançosa e
composta. -E por quanto tempo você planeja me manter aqui?
-Você acha que duas horas seriam suficientes? -perguntou ele, carinhosamente. -De forma alguma
levarei duas horas para fazê-la confessar seu desejo por mim, mas, mesmo assim, acho que duas horas
podem ser o tempo que eu gostaria de ter para esse passatempo preferido. -Ele caminhou informalmente
até a janela para esconder dela sua fisionomia. Ele só poderia derrotá-la se ela mordesse a isca.
-Eu não estou nem aí para suas preferências pessoais -despejou ela, desejando poder fazê-lo perder, ao
menos uma vez, sua presunçosa autoconfiança.
- Essa é a sua forma de pedir três horas, em vez duas? -ele provocou.
- Duas horas são mais que suficientes para aturar a sua presença -respondeu ela. -E você será o único
dando confissões, quaisquer que sejam.
Ele se parabenizou pela habilidade de engabelá-Ia mais uma vez. Ela realmente seria uma adversária
forte, se não fosse tão cabeça quente. Ele eliminou o sorriso dos lábios e voltou-se para ela.
-Outro desafio?
- Bem... -ele pensou por um instante. -Acho que poderia tolerar vocêcomo meu escravo por uma noite.
Sim!
-Então, para que nos entendamos -ele rapidamente atacou para matar. -Se você declarar o seu óbvio
desejo por mim primeiro, será minha es
posa? Caso eu declare meu desejo antes, me torna
rei seu escravo?
Ela pensou por um momento.
-Sim, creio que isso resume as coisas.
-Então -disse ele, com um sorriso. -Só para que você saiba, se você tiver uma chance de brigar para ter
qualquer tipo de declaração de minha parte, terá de fazê-lo daí. -Ele apontou o dedo na direção de
uma cama imensa, no meio do quarto.
A ratinha mordeu o lábio, olhando na direção da cama. Ela estava pensando a mesma coisa. E por que
não? Ela não se incomodaria de experimentar prazeres do gato que arrancara o melhor dela até agora.
O gato quase rosnou em voz alta, ao ler seus pensamentos,julgando por sua fisionomia. Talvez ele devesse
ter ficado com o que conseguisse dela como escrava.
Mas não, isso jamais o satisfaria. Ele queria sua ratinha para sempre como sua rival e parceira de jogo.
Ele chegou mais perto dela e ergueu-lhe o queixo.Os olhos dele prenderam os dela. Decidida a ganhar o
jogo, ela foi aos lábios dele com fervor.
Agora poderia finalmente ceder ao desejo que vinha crescendo dentro dela, ao longo daquele
joguinho.Ela o enlaçou com os braços e se apertou junto a ele.Contanto que não falasse, tudo ficaria
bem.
Com grande destreza ele a tirou do chão e a levantou nos braços, carregando-a até a cama. Ele queria
tirar as roupas e sentir a maciez dela roçando em sua pele, mas precisava da vantagem de permanecer
vestido pelo maior tempo possível. Ele também queria que ela ficasse totalmente à vontade, então
cuidadosamente diminuiu as luzes. Ele se inclinou sobre ela e removeu com habilidade os trapinhos que
ela vestia.Depois recomeçou a beijá-la,enquanto suas mãos acariciavam-lhe vorazmente a pele nua.
Embora as mãos e beijos que ele lhe dava estivessem causando arrepios por todo seu corpo, em algum
lugar, no fundo de sua consciência, a rata ouvia um alerta, repetidamente, mas estava longe demais
para ser identificado. Ao se empenhar para retomar o autocontrole de sua mente, lentamente lhe
ocorreu que ela não deveria permitir, sem reação, que ele a seduzisse dessa forma. Ela é que deveria o
estar seduzindo. Afinal, não queria apenas evitar perder a aposta, queria ganhá-la. Ela queria vê-lo de
joelhos, rastejando diante dela, do mesmo jeito que ela fizera diante dele. Ela se ergueu e empurrou o
peito dele com as mãos, no intuito de fazê-lo deitar de costas na cama. Quando ele cedeu, ela
lentamente começou a tirarlhe as roupas. O corpo dele era tão belo em sua masculinidade que ela não
podia deixar de pensar se, ao desnudá-lo, ela não estaria prejudicando sua própria causa, mais que a
dele.
Respirando fundo, ela lentamente baixou os lábios até o rosto dele. Ele tentou buscar os dela, mas ela
recuou, depois repetiu o gesto, até que ele a deixasse em total controle do beijo. Assim que essa
pequena batalha foi vencida, ela passou a beijá-lo abaixo, passando por seu queixo e pescoço, até o
peito e descendo, até ouvi-lo respirar ofegante. Foi quando ela percebeu que tinha uma clara vantagem
sobre ele, e que seu desejo era visível. Ela podia facilmente notar o efeito que estava causando sobre ele.
Sua confiança cresceu quando ela baixou os lábios por sobre a protuberância que ele exibia. Ele fez uma
tentativa lamentável de detê-la antes que ela fechasse os lábios envolvendo-o, suavemente chupando a
ponta. Um gemido baixinho escapou dos lábios dele. Por um instante ela se perguntou se aquilo contava.
Aquele gemido, certamente, se traduzido em linguagem, seria uma expressão de seu óbvio desejo por
ela. Mas ela sabia que precisava de mais. Bem, havia mais uma forma de depenar um gato! Ela o
abocanhou mais voraz, sofrendo com o tamanho que chegava ao fundo de sua garganta. Subitamente
ele afastou-lhe a cabeça.
-O que houve? -disse ela, de olhos arregalados com uma inocência pretensa. Mas ao achar que
o ridículo seria uma arma melhor, ela deixou que seus lábios exibissem um sorriso malicioso. -Temeroso? -
provocou ela.
-De jeito nenhum -respondeu ele, com ar de civilidade forçado, mas um músculo em seu maxilar pulsava
violentamente. -Eu simplesmente quero mais.
Assim, ele arqueou o corpo dela em sua direção e ela aterrissou ao seu lado, de frente para a ponta
oposta da cama. Ela sabia o que estava pensando e começou a reclamar, mas ele ergueu uma
sobrancelha com o mesmo ar desafiador que lhe lançara. E o que ela poderia fazer?
Dessa vez, ao tomá-lo em sua boca, ela já não estava tão confiante. Suas mãos fortes enlaçaram seus
quadris, para que ele pudesse manter seu corpo no lugar, enquanto seus lábios e língua desceram até
ela. A língua dele, com a precisão de um compasso, pousou diretamente sobre o seu ponto mágico,
marcando o primeiro gol. Ele começou um movimento circular firme e contínuo ao seu redor. Ela se
esforçou para se afastar de seu adversário habilidoso, mas ele a manteve firme no lugar com suas mãos,
enquanto prosseguia a atormentá-la com a língua.
Ela subitamente percebeu que havia contido seu próprio ataque, enquanto tentava se defender do dele.
E se empenhava desesperadamente para reunir seus sentidos e se concentrar naquilo que tinha de ser
feito. Ela o apertou com os lábios, lambendo e sugando furiosamente, no intuito de retribuir o imenso
prazer que ele lhe estava proporcionando. Ele foi tomado de surpresa por sua investida vigorosa e deteve
a língua por um instante, tentando recuperar o controle, mas, somente por um instante. Ambos gemiam e
tremiam pelo efeito do prazer de suas mãos.
Mas nenhum dos dois permitia que o outro se satisfizesse, pois isso o enfraqueceria. Em vez disso, eles
repetidamente levavam um ao outro à beira do abismo de prazer, depois paravam, na esperança de
que o outro fosse rogar pelo fim do tormento. O gato estava tão excitado que a ratinha podia sentir o
gosto de seu prazer, que minava em pequenas gotas salgadas, como o excesso que vinha se
acumulando dentro dele agora estava prestes a explodir. Também o gato, ao se retrair da pequenina
membrana pulsante da ratinha, faria uma pausa para depois mergulhar a língua em sua umidade,
deleitado com o efeito que causava nela. Ele sabia que ela estava muito perto. Se ele pudesse se conter
por mais um tempinho, gozaria desse prazer com ela, eternamente. Mas ele percebeu que teria de fazer
algo depressa, se fosse para ganhar. Ele sentia que estava perdendo o controle. Ao parar subitamente
para mudar seu curso de açâo, ele se ergueu sobre ela e afastou suas pernas. Ao penetrá-la num golpe,
ela soltou um grito que quase o fez se render ali mesmo, e confessar seu desejo por ela. Ele sabia que era
extremamente perigoso tomá-la dessa forma, quando ele próprio estava tão excitado, mas era sua única
chance. Ele era fisicamente mais forte que ela, mesmo com sua equivalência sexual. Com isso em mente,
ele mordeu o lábio e assumiu a vantagem da disputa, fazendo com que sua excitação aumentasse. Ele
colocou a mão no lugar onde antes tivera a língua e esfregou suavemente, enquanto a penetrava
implacavelmente.
A rata estava muito perto. Seu rosto estava corado e ela se esforçava para respirar. Cada músculo no
corpo do gato se retesava enquanto ele procurava manter o controle, observando atentamente cada
um dos gestos dela.
-Vamos, benzinho -persuadia ele.
O momento chegara. Ele viu a vulnerabilidade em seu rosto, quando ela atingia seu ponto mais fraco, e
se odiou por fazê-lo, mas bruscamente cessou os movimentos que agora ela mais queria e deixou
totalmente o corpo dela.
Ela o encarava em estado de choque. Sua mão foi até o lugar que ardia para ser tocado, mas ele a
deteve, segurando firmemente para que ela não a pudesse usar. Ela se inquietou embaixo dele por um
instante.
-Por favor! -sussurrou ela.
-Por favor, o quê? -perguntou ele.
Os lábios dele estavam tão próximos aos dela que se tocaram quando ele falou. O prazer era penoso. A
raiva estava estampada nos olhos quando ela desviou de seus lábios mornos e novamente se agitou
embaixo dele. Ele deslizou novamente para dentro, indo até o fundo dela, permanecendo totalmente
imóvel. O suor escorria em suas costas e cada terminação nervosa em seu corpo gritava para que ele
cedesse a ela, para acabar com aquele tormento, mas ele mantinha o seu território. Havia lágrimas nos
olhos dela.
-Diga-me que você quer -disse ele, numa voz enganosamente suave e gentil. -É tudo que você tem a
fazer. -Ela se agitou novamente. Ele não queria perdê-la agora. Com movimentos lentos e suaves ele
recomeçou. Sua mão também retomou o carinho.
-Oh, não -ela choramingou.
Apesar da agonia, ele sorriu.
-Oh, sim -ele respondeu.
Como um instrumento musical bem afinado, o corpo dela reagia em sincronia perfeita com cada toque.
Ela estava febril em seu empenho e ele estava ficando impaciente. Por que ela tinha de ser tão teimosa?
Ele a faria uma esposa muito feliz. Quando sua excitação começou a dominá-lo e levá-lo próximo demais
ao limite, ele pensou em perdê-la para sempre, e isso foi suficiente para esfriar seu desejo e deter suas
próprias ânsias.
-É isso -ele instruiu amavelmente ao vê-la novamente quase no auge. -Agora me diga que me quer. -Ele
saiu quase totalmente dela e parou.
-Não! -ela gritou. Mas ela se referia à parada, ignorando totalmente o que ele queria. -Por favor... oh, por
favor, não pare.
Ele não queria medir palavras numa hora dessas, mas não poderia ter disputas sobre a questão depois.
-Diga-me que você me quer -repetiu ele. -Eu... -ela se conteve. Ele saiu completamente dela. -Eu... -
repetiu ela.
Ele gemeu ruidosamente, pensando que ela tivesse tanta resistência quanto ele. Ele voltou a penetrála e
se manteve imóvel.
-Diga-me, meu bem -suplicou ele. -Eu... te quero -sussurrou ela, as lágrimas rolando pelo rosto.
O gato queria confortar a ratinha, mas isso teria que ficar para mais tarde. Ambos haviam se segurado
por tempo demais. Ele a penetrou com fervor repetidamente, pensando apenas em selar a sua vitória
com a satisfação final, mas, subitamente, ele se lembrou do prêmio que ganhara e o que isso havia
custado para ela.
Com a última porção do autocontrole que ainda lhe restava, ele diminuiu o ritmo das investidas e voltou a
se ocupar em satisfazê-la. Afinal, ele não podia acreditar que quase se esquecera dela, para se satisfazer
sem satisfazê-la. E que esposa feliz!
O gato juntou suas forças e se conteve, concentrando-se em dar à ratinha aquilo de que ela precisava. E
ela logo alcançou o objetivo de tanto empenho. Dessavez ele a levou até o fim, depois, com um grito
sonoro se derramou dentro dela, em alívio absoluto.
Eles ficaram abraçados depois, ambos trêmulos com a experiência. Depois de um tempo o gato se
ergueu do abraço para observar-lhe o rosto.
Depois de retomar sua compostura, um leve rubor cobriu-lhe o rosto. Mas ela se esforçou para manter
uma atitude de indiferença, ao cruzar com o olhar do gato com ousadia e dizer, casualmente:
-Eu tenho de confessar que você me pegou desprevenida dessa vez... O que me diz sobre uma
revanche?
Cinderela
Era uma vez uma princesa de contos de fadas que não estava vivendo feliz para sempre. Ela se chamava
Cinderela, e acontece que, muitos anos depois de ter se casado com um príncipe, ela começou a
pensar se não teria sido mais feliz antes que a madrinha intrometida a tivesse mandado para aquele baile
fatídico.
Uma coisa é certa, os amados sapatinhos de cristal haviam se tornado terrivelmente desconfortáveis. Os
pés de Cinderela sofreram com o aperto do vidro e ela quase não agüentava a dor quando se
aventurava de um cômodo para outro. Quando saía do castelo era ainda pior. Qualquer vontade de sair
e passear era rapidamente aniquilada pelo horror da dor aguda que ela teria de aturar para caminhar
o príncipe também se tornara uma fonte de desprazer para Cinderela, que se sentia tão confinada no
castelo do marido quanto seus pés dentro dos sapatos de cristal. Ah, no começo fora imensamente
excitante pensar que ele a escolhera dentre todas as mulheres de seu reino para ser sua esposa! Ao
escapar para se casar, ela sentia que realmente o amava, por nenhuma outra razão a não ser esta.
Mas a empolgação logo cessou e depois Cinderela foi deixada com sensações bem menos prazerosas. A
atenção que o marido lhe dedicava parecia lisonjeira no início, mas, em retrospectiva, já não parecia ter
muito a ver com ela. Seus desejos e apetites eram chocantes em tipo e intensidade, prosseguindo
fervorosos até serem satisfeitos, para acabar rápido demais, dando em nada. Ela ao mesmo tempo
admirava e se ressentia por sua determinação em satisfazer aqueles desejos. Seu instinto e aspiração
iniciais em satisfazer
o marido acabaram se transformando numa tarefa. E assim que a tarefa estivesse concluída, ele se
retirava dela, tanto física, quando emocionalmente. No fim ela estava se sentindo isolada e, às vezes,
subestimada. Mas se esses deveres nem chegassem a ser solicitados, ela se sentia ainda pior,
inadequada.
Além desses problemas que existiam quando Cinderela e o príncipe estavam juntos, surgiam outros
igualmente desconcertantes quando estavam separados. Cinderela, em seu tédio, não podia deixar de
pensar aonde o marido ia e o que fazia quando estava longe dela. Deixada só, apenas com os
sapatinhos de cristal como companhia, ela se sentia um tanto abandonada. Ela começou a invejar o
príncipe e as coisas que ele fazia, e até as pessoas com quem ele as fazia.
Era muito decepcionante. E Cinderela estava desapontada consigo mesma e todo o restante, por ter
feito tudo o que podia para ganhar essa posição de esposa do príncipe? Por que ela e todas aquelas
mulheres haviam competido tão avidamente por um homem que mal conheciam?
Pior de tudo era a sensação de inutilidade. Cinderela estava completamente desnorteada quanto ao
que fazer para melhorar sua situação. Ela imaginava ainda gostar do príncipe, mas ele não a estava
fazendo feliz.
Certo dia, tudo pareceu demais para Cinderela suportar e, numa crise de ansiedade, ela escancarou as
portas do castelo e saiu correndo. O sol tinha um brilho encorajador, e os pássaros cantavam uma
canção que fazia tudo parecer possível e isso tomou seu coração e ela começou a correr. Mas seu
desconforto logo atropelou tudo, forçando-a a parar e se sentar num tronco próximo. Ela começou a
chorar desesperadamente.
Subitamente, um som suave e tilintante, acompanhado por pequenas luzes piscantes envolvera o ar ao
seu redor. Ela olhou acima com uma sensação de reconhecimento e, bem ali, à sua frente, estava a fada
madrinha de sua infância.
-O que a incomoda tanto, Cinderela? -perguntou a gentil senhora. -Oh, fada madrinha! -exclamou ela. -
Eu
não estou vivendo feliz para sempre!
Sua fada madrinha estava chocada. Não era comum que ela fosse chamada de volta pelas lágrimas de
um afilhado a quem já agraciara com seus encantos. Na verdade, isso jamais acontecera com ela. Ela
sentou perto de Cinderela e ternamente pegou suas mãos, decidida a achar a causa de tudo isso. Será
que alguma bruxa malvada teria lançado uma maldição sobre sua afilhada?
-Diga-me, querida, o que a está deixando tão infeliz?
Cinderela pensou por um instante. Como poderia explicar aquilo? Não era nada específico que estava
causando a sua infelicidade. Era algo além do vazio. Então ela se lembrou dos sapatinhos de cristal. Estes
certamente eram uma fonte de infelicidade que ela podia identificar claramente.
-Os sapatinhos de cristal que você me deu estão me tornando muito infeliz, madrinha -choramingou ela.
A fada madrinha respirou fundo.
-Por que, minha querida? -ela gritou, na defensiva. -Eu estava certa de que eles serviriam perfeitamente! -
Como é que a garota se atrevia a questionar suas habilidades?
-Bem, sim, mas são tão confinantes! -respondeu Cinderela. Afadamadrinhacaiuemsilêncioprofundo,
estarrecida. O que poderia dizer? Quem poderia imaginar que um sapato de cristal, ou o reino de um
príncipe, ou qualquer outra aspiração de conto de fadas não seriam confinantes?
-É como se eu não pudesse ser eu mesma nesses sapatos -continuou Cinderela. -Eu nem me lembro mais
quem sou.
-Ah -disse a sábia fada madrinha. Ela não podia compreender a relação entre essa reclamação e os
adoráveis sapatinhos de cristal, mas, por acaso, conhecia intimamente a eterna questão de identidade
pessoal. Hoje em dia, que fada madrinha não conhecia? Com sapos que acreditavam ser príncipes e
lobos que imitavam vovozinhas? E, por sorte, a cura recomendada veio na forma de dois sapatinhos feitos
da mais macia pele de orelhas de carneiro, costurados com ostendõesdeasasdemorcego,etudoissovinha
sobre solas emborrachadas de milhares de dedinhos de sapo. Além de enfatizar os desejos daquele que
os calçasse, os sapatos eram, acima de tudo, confortáveis, então, com um pouco de sorte, eles curariam
Cinderela de todos os males que a assolavam.
-Eu tenho a cura -anunciou a fada madrinha -, mas preciso lhe dar um aviso: a descoberta pessoal é uma
atividade solitária, e o descobridor tem de ter cuidado para não alienar aqueles que são importantes
para ele.
Cinderela concordou com a cabeça, impacientemente. O alerta de sua fada marinha era ambíguo
demais para preocupá-la excessivamente, principalmente porque ela estava tão descontente a ponto
de experimentar qualquer coisa nova, apesar das consequências.
Então, sem mais delongas, a fada madrinha brandiu a varinha de condão, batendo suavemente sobre
ospés de Cinderela, um decadavez.Asduas assistiram fascinadas enquanto os sapatos de cristal se
desintegraram no ar. Quase imediatamente o vidro foi substituído por um material supermacio em tom de
rosa claríssimo. O material ex6tico teceu a si mesmo envolvendo os pés de Cinderela, a começar pelas
pontas dos dedos, continuando por todo o pé e finalmente chegando ao calcanhar. Os olhos de
Cinderela se arregalaram de encanto conforme os sapatos incríveis tomaram forma no mais belo
desenho ao redor de seu pé. Ela arqueou o tornozelo e o girou de um lado para o outro, admirada, sem
jamais ter visto algo tão extraordinário na vida.
Os pés de Cinderela, que haviam sido sufocados pelos sapatos de cristal, agora tinham uma sensação
secreta que voltava, como uma espécie de alerta diante da maciez do magnífico material que invadia
todas as terminações nervosas de seus pés. Ela sacudia os dedinhos aprovando, e a sensação deliciosa
de sua pele em contato com a flexibilidade dos sapatos dava arrepios de deleite ao longo de suas
pernas. Ela ficou radiante de alegria. Sentindo-se como se tivesse a habilidade e a graça de uma gazela,
ela se projetou sobre os dedos, rindo alegremente ao abrir os braços para uma pirueta. Sua fada
madrinha sorriu ao ver Cinderela. Talvez ela também devesse providenciar um par para si mesma...
Mais tarde, naquela noite, quando o príncipe regressou ao castelo, chamou por Cinderela repetidamente
e acabou vendo que ela não estava. Ele ficou extremamente preocupado com isso, já que nunca havia
acontecido antes e, além do mais, sempre havia perigos à espreita no reino. Havia ogros e bruxas e até
coisas piores nas florestas pr6ximas, s6 aguardando por uma oportunidade de penetrar o reino e causar
prejuízo. Ao percorrer o castelo sem sinal de sua esposa, ele foi ficando cada vez mais preocupado. Teria
algum percalço ocorrido a Cinderela?
Quando certificou-se de que Cinderela não estava em lugar algum do castelo, o príncipe montou em seu
cavalo e partiu para encontrá-la. Ele circundou o castelo e depois o reino, abrangendo áreas cada vez
maiores, para que cobrisse cada centímetro até as fronteiras. Ao fazer isso, ele parou em cada local
habitado para perguntar se alguém teria visto Cinderela.
A busca continuou por muitas horas, até que o príncipe chegou a uma certa taberna da qual se ouviu
uma música ao vivo. Frustrado e exausto por seu profundo fracasso até então, ele achou que a taberna
não seria um lugar provável, porém, sem querer deixar cantinho algum sem ser verificado, desceu do
cavalo e entrou.
O príncipe perdeu o ar de estarrecimento assim que as portas da taberna se fecharam atrás dele. Ali,
diante de seus olhos incrédulos, estava Cinderela, rindo e dançando como se não tivesse qualquer
preocupação no mundo. Sua expressão era mais feliz do que ele vira em vários anos, e sua afronta foi
temporariamente isolada pelas lembranças da última vez em que ela estivera exatamente assim, há
muito tempo, no salão de baile onde eles se conheceram. Foi aquela expressão que roubou seu coração,
e o fez cegar para tudo até encontrá-la novamente e fazê-la sua esposa.
Mas logo depois que se casaram, aquela fisionomia desaparecera de seu rosto, e a expressão franzida
tomou seu lugar.
Isto é, até agora.
E, por mais que o príncipe tivesse desejado voltar a ver aquele semblante no rosto de Cinderela, este
certamente não era o quadro que ele imaginara. Por que ela estaria ali? Com quem? Como poderia ter
vindo até ali sem a menor preocupação com seus sentimentos, ou mesmo um pequeno bilhete para
avisá-lo onde estaria, que o pouparia do esforço e agonia das últimas horas que ele passara tentando
encontrá-la? Ele estava chocado e confuso por seu comportamento surpreendente. Mas sua confusão
logo deu lugar à raiva, à medida que ele entrou na aglomeração, em direção à esposa.
Cinderela finalmente percebeu a presença do príncipe. Ao vê-lo se aproximar, seu rosto congelou de
surpresa por uma fração de segundo, antes que ela corresse para seus braços. Ela estava ofegante e
sorridente ao beijá-lo e sussurrou alegre:
-Aí está você, meu querido! O príncipe foi totalmente desarmado por essa saudação.
-Eu queria tanto que você estivesse aqui, e agora você está! -continuou ela, passando uma das mãos ao
redor do pescoço dele, e com a outra pegando-lhe a mão para uma dança, na qual ele se viu mesmo
antes de concordar. Ela observou seu rosto com um sorrisinho estranho nos lábios. Parecia estar em busca
de algo.
Com esforço ele se livrou do encanto e finalmente perguntou:
-Por onde esteve? -Aquilo pareceu meio insípido, já que ela obviamente estivera ali, naquela ta berna
estranha. Então, ele acrescentou: -Por que não me disse para onde ia?
-Até alguns instantes eu me esquecera totalmente de você -foi a resposta franca, tão isenta de culpa que
tornou impossível sentir ofensa.
O príncipe voltou a ficar estarrecido, alternando estados de confusão, choque, irritabilidade e raiva.
-Vou levá-la para casa -anunciou ele, conduzindo Cinderela para fora da taberna e erguendo-a sobre
seu cavalo. Ela foi disposta o bastante, mas sem dar uma palavra. Enquanto cavalgavam em direçâo ao
castelo, ela se aninhou junto a ele, repetidamente, e apertou os braços afetuosamente abraçando-lhe o
peito. Ela se sentia excitada e viva por estar cavalando com o marido, à noite, e o fato de roçar contra o
príncipe tendo as pernas abertas sobre o cavalo a atiçava ainda mais. Ela sentia como se cada minuto
seu fosse para ser aproveitado, vivido e desfrutado. Não
podia deixar que nem um momento sequer se passasse sem que ela desfrutasse de algum prazer.
O príncipe estava tentando se manter indiferente, mas era quase impossível para ele permanecer assim,
enquanto Cinderela se esfregava de encontro a ele de modo tão provocativo. Ele sentiu como se ela
estivesse zombando dele, mesmo assim parou o cavalo subitamente e a puxou para o chão. De volta ao
território familiar, ele rasgou a saia da esposa, ciente do que queria e que ela estaria disposta a ceder.
Cinderela saltou, afastando-se do príncipe, e correu, meio desnuda, rumo à escuridão. O príncipe não
podia vê-la claramente, mas podia ouvi-la alvoroçada, gargalhando como criança.
Cinderela rodopiava pelos campos. Não sabia dizer o motivo, mas ainda se sentia relutante em ser
possuída.
Depois de um momento de choque, o príncipe seguiu Cinderela, chamando seu nome em voz alta. Isso a
divertia ainda mais, e ela gargalhou mais forte, rodopiando na escuridão. O ar estava fresco em seu
corpo, que começou a formigar.
A essa altura, o príncipe havia atingido os limites de sua resistência e a chamou novamente, no mesmo
tom que um pai aborrecido faz com uma criança levada. Mas Cinderela não dava a menor atenção,
prosseguindo com seu modo esvoaçante como borboleta, ao redor do príncipe e de seu cavalo.
O príncipe percebeu que a única forma de pôr um fim naquele comportamento bizarro de Cinderela era
buscá-la, o que prontamente se propôs a fazer. Ele lentamente adentrou a escuridão agachado, para
ouvir suas risadas e respiração, e seus passos leves, enquanto corria. Seu corpo enrijeceu de expectativa.
Seu coração batia forte no peito. Subitamente, ele também se sentia muito vivo.
Assim que percebeu que o príncipe a perseguia, Cinderela parou de gargalhar. O ar parou na garganta.
Onde estaria ele, exatamente? Estava muito escuro e não havia muitas sombras para discernir as coisas.
Um medo infantil a tomava, mas um estra nho tilintar de expectativa foi se acumulando e se sobrepondo
ao medo.
A alguns metros de distância, Cinderela podia identificar as sombras mais escuras de uma floresta.
Pensando em se esconder nessa mata, ela cautelosamente deu um passo na direção das sombras. Por
um instante ficou totalmente imóvel, ouvindo. Saber que seu marido estava em algum lugar ali, na
escuridão, escutando, esperando e caçando-a como uma presa causou-lhe um profundo arrepio. Ela
resistiu ao ímpeto de disparar rumo à floresta e deu mais um passo. Ela novamente ficou ouvindo, mas
não havia som algum.
Ela ergueu o pé para dar outro passo.
Porém, mais rápido que uma fera selvagem, o príncipe a pegou, agarrando-a pelo braço e puxando-a
para si, de uma forma que Cinderela foi de encontro a ele um tanto abruptamente.
Antes mesmo que pudesse assimilar a sua situação e gritar, ele já esmagava seus lábios com os dele.
Seu corpo inteiro tremeu contra o do príncipe e, ao sentir seu tremor, ele afastou a boca da dela para
observar seu semblante. Não havia mais raiva nos olhos dele, apenas desejo. Os olhos dela refletiam
esse desejo, então ele a beijou novamente, porém dessa vez com muito mais suavidade.
Dessa vez o príncipe foi mais devagar, primeiro arrumando um lugar para Cinderela, depois retirando-lhe
as roupas e, finalmente, tirando as suas próprias. Hesitante, ele colocou a mão sobre ela, simplesmente
tocando-lhe a pele e espalhando os dedos para que ela se acostumasse com as mãos quentes so bre
sua carne fresca. Ele percorria as mãos por seu corpo, no início, afagando amavelmente, depois se
tornando mais exigente ao redescobrir os lugares que haviam lhe proporcionado tanto prazer. Ele se
debruçou sobre Cinderela e beijou-lhe os mamilos, enquanto suas mãos se movimentavam sobre sua barri
ga, descendo até o meio de suas pernas. Ela curvou os lábios e gemeu. Mas a mão do príncipe
subitamente Se tornou brusca e até agressiva ao tocá-la brutalmente.
Algo no fundo da consciência de Cinderela recuou, depois tomou vida. Não; ela não deixaria passar essa
oportunidade! Com ousadia, ela pegou mão do marido e parou seu toque pouco criativo. Após um
breve instante de posse de sua atenção, ela posicionou a mão dele corretamente entre suas pernas,
pressionando as pontas dos dedos naquele lugar particular onde ela sempre quisera que ele tocasse. Ela
movia os dedos dele bem lentamente sobre seu corpo da forma mais prazerosa e na medida certa de
compressão. Ela sentiu seu choque inicial, mas ele também não a surpreendera eminúme ras ocasiões?
O príncipe deixou que Cinderela guiasse sua mão, procurando a melhor forma de deter seu impulso de
agarrar e, subitamente, percebeu que estivera apenas fazendo tentativas infrutíferas de tocá-la ali, no
intuito de penetrá-la e tomá-la como um touro no cio.
Como um hipnotizado, o príncipe estava inteiramente sob o feitiço de Cinderela e esperava
ansiosamente que ela lhe indicasse ainda mais o rumo de seu prazer. Foi preciso esforço e autocontrole
para se conter e tocá-la com carinho e gentileza no lugar' onde sua mão pressionava a dele, adentrando
a carne macia, mas concentrando todas as suas energias naquilo que ela estava tentando lhe mostrar.
Ela ' afrouxou a mão e ele se tornou mais habilidoso e' causou grande sensação quando passou a mover
os quadris de encontro à sua mão competente.
Usandoaspartes maissensíveisdaspontasdeseus dedos, o príncipe gentilmente percorreu toda a parte
exposta de seu corpo, numa busca vigilante por. pistas de seus segredos. Logo acima de sua fenda
macia, ele descobriu um botão que aparentava ser. bem tenro. Ele notou a forma como Cinderela se
arrepiou quando ele o massageou da forma correta, logo acima de onde este começava, num
rnovimento circular, sob a pressão e velocidades exatas. Ele ficou empolgadíssimo ao vê-la tremer e
balançar sob seus dedos e não podia resistir a deslizar, vez por outra, um de seus dedos para dentro dela,
estremecendo ao sentir sua maciez sedosa e molhada, que era a recompensa por seu empenho.
De vez em quando, em sua impaciência, o príncipe inconscientemente aumentava o ritmo de seus
dedos, na ânsia de levar Cinderela ao clímax. Mas, a cada vez que fazia isso, ela o trazia de volta à
atenção com um suave movimento de sua mão, como lembrete de sua maneira preferida. Cada um
desses pequenos incidentes gerava outra onda de excitação a preencher suas vísceras, até fazê-lo
pensar que iria explodir. Mesmo assim, ele estava decidido que ela tinha de ser inteiramente satisfeita, e
teria mantido essa prazerosa brincadeira por toda a noite, caso ela desejasse.
Entretanto, Cinderela já estava respirando aceleradamente, em pequenos suspiros ofegantes. Ela havia
perdido momentaneamente toda a consciência do príncipe, e pequenas cenas sensuais estavam se
passando em sua mente. Enquanto isso, o príncipe podia sentir que estava muito próximo de dar à esposa
a satisfação que ela sempre lhe dera, portanto, ele depositou toda a sua concentração naquilo que seus
dedos estavam fazendo. Ele se forçou a manter um ritmo lento e constante, enquanto as pontas dos
dedos friccionavam e circulavam implacáveis sobre o corpo dominado. Subitamente ele percebeu que
ela havia chegado ao cume de sua excitação e foi preciso todo o seu autocontrole para manter o
ritmo equilibrado até que ela estivesse inteiramente aliviada, mas foi exatamente isso que ele fez. E
mesmo depois que ela já havia terminado, ele manteve a mão ali, depois beijou e lambeu-a naquele
lugar, saboreando a suavidade molhada. Cinderela gemia e se contorcia de contentamento. Porém,
desta vez a resistência do príncipe chegara ao seu limite e ele se ergueu, depositando toda a sua rigidez
dentro de Cinderela, com uma sensação melhor do que jamais tivera. Ela jamais fora tão macia e
suculenta ali, como agora, após todo esse prazer, e ele a segurava firmemente contra si, enquanto a
penetrava e tentava desesperadamente segurar o prazer pelo maior tempo que pudesse. Ele não queria
que acabasse nunca, mas também não conseguia parar, e chegou àquele ponto de uma liberação
extraordinária que passa tão rápido quanto chega.
Depois, o príncipe segurou Cinderela por mais tempo do que jamais fizera, pulsando e gemendo
enquanto a apertava contra si. Foi ela quem se mexeu primeiro e ele se afastou resmungando, enquanto
ela começava a se vestir. Eles se vestiram em silêncio, pois agora ela estava bastante sonolenta e ele a
segurou protetor, à sua frente, no restante da ca
valgada para casa. No castelo, ele a desceu do cavalo e a carregou até a cama e tirou seus sapatinhos
macios. Depois foi para a cama ao seu lado e os dois rapidamente caíram no sono.
Na manhã seguinte, Cinderela acordou sozinha como sempre (pois não era de acordar cedo), mas
percebeu uma rosa ao seu lado. Isso colocou um sorriso em seus lábios, mas esse logo foi paralisado pela
lembrança atônita dos acontecimentos da noite anterior. Ela se perguntava o que o marido teria
pensado de seu comportamento estranho. Ela não se lembrava de afirmações desaprovadoras por parte
do príncipe, mas, por outro lado, não houvera muita conversa. Ela lembrou de como ele estivera
equivocado e da forma como ela o provocara, resultando nas iniciativas carinhosas e suaves por parte
dele.
Cinderela continuou a pensar sobre a questão depois de se levantar da cama, e ver ali no chão os
sapatinhos cor-de-rosa. Ela se abaixou e pegou um deles, e uma estranha empolgação correu pelo
braço acima. Ela observou o calçado delicado. Era tão lindo e macio que ela não pôde evitar calçá-lo. E
novamente teve uma sensação de experimentar tudo de bom que a vida tinha a oferecer. E, mais uma
vez, ela esqueceu do castelo e de seu marido, o príncipe.
Nesse dia Cinderela sentiu um forte interesse por seu reino e, mais especificamente, pelas pessoas que ali
moravam. Ela estivera tão reclusa em sua vida até então, e desejava ver como os outros viviam. Saiu
passeando pelas cidades e lojas, buscando conhecer as coisas do mundo, e a forma como se encaixava
nelas. Havia tantas coisas intrigantes para se entreter, e lá estava ela, enfurnada no castelo, como uma
Rapunzel, constrangida e temerosa demais para fazer parte de tudo aquilo. Ela descobriu que havia
muitas coisas que lhe agradavam e o dia passou voando; quando se deu conta, já era noite.
Enquanto isso, o príncipe mais uma vez voltou para casa e viu que Cinderela não estava lá. Imaginando
que ela tivesse voltado à taberna, ele saiu a cavalo para encontrá-la. Mas ela não estava na taberna e
ninguém por lá a vira, ou sabia de seu paradeiro. Mais uma vez o príncipe se viu irritado com a \ esposa.
Apesar de acabar ficando encantado com o seu comportamento na noite anterior, ao pensar no que se
passou, ele sentia que a forma como se entregara aos desejos dela fora ligeiramente chocante, para que
tudo sumisse na noite seguinte. Ele pensou onde ela poderia estar e com quem, e um ressentimento
invejoso o tomou. Teria ela se esquecido dele novamente? Ele suspirou de frustração. Depois de seu
empenho em satisfazê-la, o fato de que ela poderia facilmente esquecê-lo e desfrutar a companhia de
outros o fez sentir-se um tanto inadequado!
Remoer todas essas hip6teses só serviu para dar combustível à sua raiva. Ele subitamente se sentiu
esgotado e resolveu ir para casa e pôr um ponto final em seus joguinhos infantis.
Mas, ao regressar ao castelo, descobriu que Cinderela havia chegado e estava num 6timo astral, sorrindo
e gargalhando, e nem notara o mau humor do príncipe. Ela contou empolgadamente sobre seu dia, e as
diversas coisas interessantes que vira. Tudo parecia inofensivo e, assim, o humor dele melhorou. Até
porque é impossível para qualquer marido se manter zangado quando a esposa está tão feliz.
Mas o príncipe sentia uma ansiedade e inquietação persistentes. Era como se tudo estivesse mudando.
Seria para melhor, ou pior?
Ele esticou os braços para a esposa e a trouxe para si. Ela passou os braços ao seu redor e o beijou
apaixonadamente. Podia senti-lo rígido enquanto ele colocava a mão por baixo de sua blusa, mas
subitamente se afastou dele, ofendida por sua impulsividade excessiva. Nossa, era como se o marido só
precisasse de um pouco de energia.
-Estou com vontade de tomar um banho murmurou ela. -Você não poderia preparar para mim?
Como ele poderia recusar? Ele seguiu mal-humorado, mas foi preparar seu banho. Vendo a água encher
a banheira, ele pensou que ter espuma tornaria o banho mais prazeroso para ambos, já que ele
planejava entrar quando ela estivesse se banhando, e ele adorava a maneira como as bolhas de sabão
voavam e grudavam em suas curvas magníficas. Ele cum
priu essa tarefa com bastante facilidade, mas depois lhe ocorreu que velas sem dúvida fariam com que
as, bolhas de sabão reluzissem pelo ar. Esses pensamentos afastaram seu baixo desânimo e ele até estava
sorrindo quando ela entrou no banho. Ela deu uma olhada para as velas e depois para o rosto dele, e
corou quando ele lhe deu uma piscada. Estaria ele flertando com ela? Seu coração deu um salto.
E mesmo quando Cinderela tirou seus sapatos en-. cantados, ela ainda estava muito entusiasmada com
a atenção do marido para se sentir infeliz.
Pela necessidade de uma tarefa que lhe tirasse a atenção dos membros latejantes, o príncipe pegou o
sabão e começou a passá-lo em Cinderela, começando por seus pés, lentamente massageando seu
corpo, do dedo do pé, passando pelo calcanhar, acariciando suavemente, depois subindo por sua
perna e coxa. Ela fechou os olhos e gemeu de prazer. Ele não se apressou com a tarefa, mas percebeu
seu desejo de relaxar do dia de raro movimento, também desejando aproveitar a ocasião que estava por
vir, e
o marido a banhava de forma muito agradável.
Enquanto o príncipe amavelmente ajudava Cinde-' rela em seu banho, fazia perguntas sobre o seu dia e
ouvia atentamente as respostas. A água morna e sua terna gentileza deixaram suas bochechas rosadas
de tanta expectativa. De repente lhe ocorreu que o marido era infinitamente mais atencioso, charmoso e
romântico quando seu corpo a desejava, do que após já tê-lo satisfeito. E, em contrapartida, sua
atenção estava fazendo com que ela o desejasse.
O príncipe ensaboara minuciosamente suas pernas e pés, e agora ensaboava as suas partes íntimas. Até
então ela vinha conversando alegremente, quando ele tomou um novo rumo que a silenciou. Seus
olhares se cruzaram e sua mão lentamente a lavava em seu local frontal mais íntimo deslizando até a
parte de trás, onde também explorou o côncavo, sem parar até que as duas regiões estivessem
imaculadamente limpas. Depois ele ensaboou a lombar e os seios, os ombros e as costas. Então deixou
escoar a água da banheira e ligou a torneira para enxaguá-la.
O banho foi tão bem conduzido que o coração de Cinderela foi tocado, assim como o restante de seus
sentidos. Não foi um banho dado por um amante impaciente, mas por alguém com amor para dar. A
atenção dispensada por ele preencheu-lhe o coração.
Cinderela se levantou do banho e ficou inteiramente imóvel, enquanto o príncipe pegava uma toalha
grande para secar seu corpo. Ela lhe observava o rosto enquanto ele cuidadosamente enxugava suas
curvas e ângulos, dando atenção especial ao espaço entre suas pernas, com maior suavidade, mas uma
meticulosidade que a deixava sem ar. Depois ele dirigiu sua atenção às suas pernas e pés, ajoelhando
diante dela e pousando cada um dos pés sobre sua perna para secar seus dedos.
O príncipe subitamente largou a toalha e começou a acariciar Cinderela com os dedos. Ainda de
joelhos, ele acarinhava-lhe a pele, tão macia e rosada, e sensível pelo banho. Ele a abraçou com todo
carinho e beijou sua barriga, enquanto suas mãos percorriam as costas, num abraço firme, porém
amável. Cinderela tremeu.
Segurando seus quadris, o príncipe virou o rosto para beijar-lhe o abdômen repetidamente, depois mais
abaixo, no calor em meio às pernas, mergulhando a língua em busca do lugarzinho do prazer secreto que
ele descobrira na noite anterior.
O príncipe lambeu com firmeza a parte da frente entre as pernas de Cinderela, repetidamente e, ao
deslizar a língua, ele agitava a língua dentro de suas cavidades, passando-a por todos os lugares sensíveis
pelo caminho. Toda a sua energia estava centralizada naquela parte que ela havia explorado, e parecia
que todos os seus sentidos existiam apenas em sua língua, e era como se ele pudesse ver, cheirar, sentir, .
saborear e ouvir Cinderela.
Por fim, o príncipe encontrou o que estava procurando e cautelosamente começou sua busca
implacável pelo prazer de Cinderela. Ele lançava a língua em golpes e a circulava ao redor do pequeno
ponto mágico, de maneira lenta e minuciosa. As mãos dela instintivamente foram para a cabeça dele e
os dedos se embrenharam em meio aos cachos escuros. Ele podia sentir seus tremores enquanto a
tomava, e leu ego se enchia triunfante. De vez em quando ele não resistia em mergulhar a língua no local
mais profundo de seu corpo, para saborear seu delicioso conteúdo. Isso fazia com que ambos gemessem
de prazer.
Mas Cinderela subitamente desejou que o marido a acompanhasse em seu prazer. Em sua mente ela
havia idealizado uma imagem e queria experimentála com suas outras faculdades. Então, ela pegou o
príncipe pela mão e o conduziu para a cama. Sem nenhuma palavra, ela tirou suas roupas, desfrutando
de seu porte musculoso, depois finalmente o empurrou para a cama. Seu corpo estava rígido e tenso, ao
ceder à vontade dela. Ela se posicionou ao lado dele, de forma que não deixasse dúvidas sobre o que
ela pretendia. Ela rolou para o lado e dobrou uma perna o suficiente para se expor para ele, e tomou
toda a sua rigidez na boca. Ele enlaçou seus quadris e a puxou para seu rosto, colocando a língua em seu
centro de prazer, voltando a lambê-la.
Cinderela nunca se deleitara tanto ao ter o príncipe em sua boca. Havia sido cansativo, no passado,
estar sobre ele, tentando satisfazer sem saber se ela deveria fazer mais rápido ou mais devagar, ou
quando era o bastante. Agora, ela simplesmente saboreava ao tê-lo em sua boca, e não se preocupava
com o seu desempenho, porque ela subitamente percebeu, que era muito fácil fazer com que ele
desfrutasse.. Dessa forma ela apenas se permitia ter o prazer dado, por ele, acarinhando-o com sua
língua e lábios, maravilhada com sua rigidez masculina. O simples fato de saboreá-lo, deixando por conta
dele o movimento de entrar e sair de sua boca como quisesse, a fazia' se sentir extremamente sensual. Ela
tinha arrepios pelo corpo quando suas estocadas forçavam-na ai abrir mais a boca, ou quando o sentia
pressionando no fundo de sua garganta. E durante todo o tempo ele jamais parava de lambê-la, fazendo
com que ela quase se perdesse em meio às sensações de tê-lo preenchendo sua boca e garganta,
enquanto continuava a saciar suas partes íntimas. Cinderela cada vez mais mergulhava em si, mesmo
passando os momentos de maior comunhão que já tivera com o marido.. Ela simplesmente perdeu a
consciência de tudo que não estivesse relacionado ao seu próprio prazer, sensual.
Lábios e línguas lambiam e chupavam. Pernas estavam escancaradas, para que olhos ávidos pudes
sem olhar lá dentro. A pele era para ser tocada; cada parte, cada célula parecia gritar com uma pressão
acumulada para alcançar o fervor da liberação. Nesse momento, isso era seu motivo de viver.
Aquilo a percorreu e envolveu. No momento seguinte já havia passado. Mas permanecia um prazer
suave e persistente.
Isso era, sem dúvida, o que seu marido havia experimentado tantas vezes antes; e pensar que ela se
ressentia com ele por isso! Ela havia pensado que estava satisfazendo apenas a ele, mas não! Todo o
tempo ela estivera em busca de algo para si mesma, e agora que havia encontrado, entendia
perfeitamente por que o marido se deleitava tanto.
Ela ficou deitada imóvel, desfalecida, divertindo-se com as sensações deliciosas que continuavam a
percorrer seu corpo. O marido ainda não chegara ao seu próprio momento, mas ela sabia que chegaria,
e não tinha pressa de fazê-lo chegar lá. Em vez disso, saboreava a feliz receptividade que sentia nele.
O príncipe se moveu lentamente para abraçar a esposa, beijando-lhe o rosto, pescoço e lábios. Seu
corpo estava fraco quando ele afastou suas pernas para descansar no meio delas. Ela ergueu os braços
para ele, que envolveu-se no abraço com um beijo profundo. Ele se maravilhou com a inacreditável
maciez e umidade onde ela o recebeu. E nem conseguia se lembrar de quando havia se sentido tão
excitado. Seu corpo inteiro sacudiu e ela se sentia como se fosse parte dele, como se fosse inteiramente
sua. Seu gozo foi mais intenso e poderoso do que ele jamais havia experimentado, realmente trazendo.
estrelas para seus olhos.
O príncipe não se mexeu por alguns instantes, simplesmente segurou Cinderela em seus braços, enquanto
continuava preenchendo-a. Sua mente revivia. os acontecimentos da noite, detalhadamente, como,' se
tentassem revelar um mistério. Uma luz estranha; veio aos seus olhos.
Porque ele nunca havia pensado em atrair seus sentidos, provocando seu corpo para se abrir para ele,
em vez de meramente possuí-la? Como ele pôde ser tão arrogante a ponto de descartar os segredos de
dar prazer ao corpo dela? Seu próprio prazer aumentara dez vezes com esse modo engenhoso de fusão;
sem mencionar que sua masculinidade ia até
o céu quando ele testemunhava o poder absoluto que ele podia exercer sobre sua mente, coração e
corpo -não o poder de ter essas partes, mas o poder de excitar e emocionar. Ele jurou a si mesmo que
nunca mais perderia essa parte tão importante e extraordinariamente prazerosa da união.
E Cinderela finalmente viveu feliz para sempre!
Entre o Sol e a Lua
Era uma vez um homem que de tão pobre mal podia sustentar sua família. Eles viviam numa casinha
precária, em uma vila remota, sem perspectiva de futuro.
Numa noite, com a chegada do vento do norte assoviando pela floresta, balançando a pequena
cabana em que moravam, um imenso urso branco subitamente apareceu à porta.
-Boa noite -disse o urso.
-Boa noite -respondeu o homem. Embora ele nunca tivesse encontrado um urso falante por aquelas
redondezas, acreditava que animais falantes eram encantados. Na verdade, era uma grande honra ser
abordado por tal criatura.
A família do homem rodeou a sala, cercando o visitante peculiar, ansiosa para saber o que o levara
até aquela casa humilde.
-Vim por sua filha mais velha -disse o urso, sem cerimônia. -Se ela vier comigo terá tudo que deseja e, além
disso, farei você e sua família ricos na mesma proporção que hoje são pobres. Iludida pelas palavras do
urso branco, a filha mais velha implorou aos pais que a deixassem ir -pois eles insistiam que traria má sorte
dar a filha em troca de riqueza. Mas no fim cederam, para que a aventura não fosse negada à jovem.
A arrumação das malas não levou muito tempo, pois a coitadinha não possuía quase nada. Ela juntou
coragem e beijou cada parente para se despedir e subiu nas costas do urso branco. Mal teve tempo de
olhar para trás e ver a família pela última vez antes de ser levada numa velocidade extraordinária para
um imenso castelo. Lá, os serviçais se apressaram em ir e vir para recepcioná-la, Tudo aconteceu tão
rápido que ela quase não pôde ver os arredores extravagantes, e subitamente se sentiu muito
amedrontada. O que havia sido feito dela?
Percebendo sua ansiedade, o urso instruiu uma empregada idosa e gentil a levar a garota até seu quarto.
Mas antes de deixá-la, ele avisou que não tivesse medo, garantindo que o castelo era realmente
encantado e que, enquanto permanecesse ali, to dos os seus desejos seriam imediatamente atendidos.
Ele deu a ela um sininho dourado acrescentando que, caso falhassem em sua ordem, tudo que ela
precisava fazer era tocar o sino pensando em qualquer coisa que desejasse no interior das paredes do
castelo e aquilo seria imediatamente realizado. Então, ao curvar-se polidamente, o urso a deixou com a
serviçal que saiu amistosamente, acompanhando a moça até
o quarto. Ela não saberia dizer sobre o que a empregada falou, de tão preocupada que estava, mas o
jeito sociável da velha senhora teve um efeito calmante sobre seus nervos.
No quarto, logo notou a cama, uma peça de mobília de mogno entalhado, forrada com magníficos
lençóis de seda. Depois avistou uma penteadeira esplendidamente ornamentada como a cama e
coberta de acessórios de ouro maciço para seu uso.
Num dos cantos do quarto havia uma série de armários, cada um maior que o outro, maiores que o
quarto que ela compartilhava com suas irmãs na casinha do pai. Os armários estavam repletos de trajes
de diversos tipos e cores, todos feitos sob medida para ela. Escolheu uma peça mais fina do que qualquer
outra que jamais possuíra e, pensando em como estaria a família, se instalou na cama confortável que
fora especialmente preparada para ela. Sua ansiedade tinha passado quase completamente, mas ao
deitar a cabeça em seu travesseiro de veludo, foi tomada por uma inquietação. Tudo era tão perfeito e,
ainda assim, ela sentia um estranho vazio
e ansiedade.
Estaria com saudades de casa?Não, embora amas se sua família, estava na idade de ter a privacidade
de seu quarto, com seus objetos, e isso era mais do que bem-vindo! Além disso, lembrava-se também de
se sentir assim na casa de seu pai. Naquela época, achava se tratar de um simples descontentamento,
causado por seu desejo fervoroso por coisas mais aprazíveis, mas aqui estava novamente a sensação,
mais forte do que nunca, mesmo em meio a incrível luxo e riqueza. Ela ainda sofria do mesmo anseio, sem
saber exatamente o que queria.
Antes que pudesse considerar tudo isso por mais tempo, a porta de seu quarto se abriu subitamente,
depois se fechou, e ela ouviu alguém entrar. Ela havia apagado a vela, e a luz da lua não podia entrar
pelas cortinas grossas de veludo que cobriam as janelas, o que tornava totalmente impossível ver quem
era.
No entanto, ela não ficou imediatamente alarmada, supondo se tratar da criada gentil que regressara
para ajudá-la a se preparar para deitar. Ou, talvez, por perceber sua melancolia silenciosa, a mulher
talvez tivesse encontrado a cura invisível e a trazido para ela! Não foi isso que o urso prometeu quanto a
todos os desejos serem imediatamente concedidos?
Mas dessa vez não havia a conversa tola da criada; não, nem sequer uma resposta quando a garota
perguntou:
-Por favor, quem é?
Ela lentamente sentou na cama e instintivamente virou a cabeça na direção do intruso, esforçando-se
para identificar o significado dos sons embaralhados que ouvia agora. Enquanto olhava para o breu, seus
olhos se arregalaram. As órbitas sem visão olhavam de um lado para o outro, num súbito terror.
Depois lhe ocorreu que o invasor havia se despido. Então ouviu alguém se aproximar da cama. Ela mal
podia respirar de tão horrorizada, mas, de alguma forma, conseguiu sussurrar:
-Quem é?
O estranho continuou sem dizer nada.
-Quem é? -repetiu ela, mais enfaticamente. -É o senhor, sr. Urso? -Mas, ao perguntar isso, ela percebeu
que não podia ser, pois o urso não usava roupas nem sapatos, como fazia esse visitante não convidado.
A pergunta foi mais uma vez ignorada, já que o intruso calmamente se sentou na cama. Ela agora estava
certa de que não poderia ser o grande urso branco,poisosujeitoqueestavaao seulado tinhaotamanho
preciso de um homem. Ela não vira nenhum homem no castelo (todos os serviçais que encontrara eram
mulheres) e não tinha ideia de sua identidade.
Ela começou a se desvencilhar das cobertas pensandoem sair da cama como um raio, quando
subitamente
uma mão a pegou gentilmente pelos cabelos.
Ofegante, ela repetiu a pergunta:
-Por favor, me diga quem é!
Segurando mais firme os cabelos, o homem cuidadosamente os retorceu com a mão, dando voltas até
chegar ao couro cabeludo. Depois gentilmente puxou a mão para baixo, forçando sua cabeça e corpo
até a cama e abaixo dele. Então ele segurou sua cabeça firmemente, até que os lábios tocaram os dela.
-Sou eu -respondeu ele, num sussurro suave, encostando levemente nos lábios dela, enquanto falava.
-Seu amante, querida.
No instante seguinte seus lábios pressionavam os dela, abrindo-lhe a boca. Os lábios mornos e a língua
provocante pareciam responder um chamado de algum lugar das profundezas de seu ser. Ela ficou
estarrecida pela reação imediata de seu corpo.
Mesmo assim, a ideia de um estranho completo segurá-la a enchia de terror. Ele ergueu a boca para dar
beijinhos ao longo de seu maxilar.
-Preciso saber quem é você -ele sussurrou em meio aos beijos. -E você... você é a razão pela qual estou
aqui.
-Mas... -Ela tinha tantas perguntas, mas ele a silenciava com a boca.
Pela posição em que ele se encontrava, acima dela, e a forma como a segurava, ela sabia que se
tratava de um homem grande e musculoso. Cheirava a creme
de barbear e água de colônia. Seus cabelos ainda estavam molhados do banho. Mas quem era ele? Seu
beijo era tão intenso que ela tinha consciência
de que, a princípio, nem o estava retribuindo. Um sentimento de calor subia de seu útero. Ela tentava
manter a lógica e a razão. -Por favor implorou ela - acenda uma lanterna
para que eu possa ao menos vê-lo. Mas ele não respondeu a seu apelo nem permitiu a luz. Seguiu
devorando-lhe os lábios e a pele corada.
Embora seu corpo estivesse cobrindo o dela, ele se mantinha ligeiramente erguido para que seu peso não
a esmagasse. Ainda assim, permanecia bem perto,
para que ela pudesse senti-lo enrijecendo sobre ela. Seu próprio desejo estava se tornando uma força
maior na entrega, comparado à forma como ele segurava seus cabelos. Ela esticou a mão na tentativa
de tocar-lhe o rosto,
imaginando que pudesse ao menos sentir suas feições com os dedos, mas ele gentilmente afastoulhe
a mão e continuou a beijá-la.Seu hálito era quente e agradável. Fragmentos das últimas horas flutuavam
em seu pensamento. O estranho, que surgira de repente, disse que tanto ele quanto ela eram a razão
para ambos estarem ali. E ela não podia esquecer das palavras do urso, prometendo que o castelo lhe
traria tudo que ela desejasse. Mas ela só se lembrava vagamente dos anseios que estivera sentindo
quando o estranho entrou em seu quarto, pois todos eles haviam desaparecido com sua chegada!
Seria o seu próprio desejo que teria trazido esse estranho até ela? Não estaria ele, de fato, fazendo coisas
que ela sempre desejara que alguém fizesse? Mas quem era ele? Ele era real ou apenas um produto de
sua imaginação? Oh, mas era impossível pensar com ele ali beijando-a! Seus lábios eram insistentes e
provocantes, e ela começou a sentir que se entregava ao destino, por mais incerto que fosse, e isso era
infinitamente mais prazeroso do que qualquer coisa que encontrara em sua vida até então.
Um novo desejo estava surgindo dentro dela. Ela queria que esses beijos durassem para sempre, mas logo
percebeu que ele já estava colocando a mão por baixo de sua camisola. Por um instante ele colocou a
mão quente em sua barriga, deixando que ela se acostumasse com seu toque. Ele começou a mover a
mão devagar e suavemente, explorando seu corpo com cuidado, detalhadamente, deixando cada
parte tocada cheia de desejo, ao passar para a próxima. Sua outra mão ainda segurava seus cabelos,
evitando que ela pudesse escapar, embora seu desejo de fugir tivesse desaparecido. Na verdade, os
braços dela, parecendo se mover por conta própria, enlaçaram-lhe o pescoço e seus lábios começaram
a emitir sons profundos e incompreensíveis para ambos.
O estranho cuidadosamente soltou os cabelos dela.
Ele voltou a colocar os lábios sobre os dela e lentamente baixou as alças da camisola sobre os ombros,
tronco e pernas. Ao tê-la inteiramente exposta em suas mãos, ele começou a acariciá-la mais
avidamente, sentindo cada centímetro, de sua cabeça até seus pés, como se quisesse vê-la através de
seu toque.
Ela tremia sob ele enquanto o homem lentamente prosseguia em seu exame íntimo, parecendo
fascinado por cada curva ou reentrância. Ela não tinha dúvidas quanto à reação dele sobre o que
descobria, pois podia sentir seu corpo rígido contra o dela ao longo de suas façanhas.
Mas, a despeito de sua excitação crescente, ele não tinha pressa e seus dedos experientes aos poucos
davam lugar a uma língua ainda mais habilidosa. Puxando a roupa de cama com as mãos, ela sentia se
submeter completamente sob a sedução desse amante envolvente.
Enquanto isso, as mãos fortes do estranho a seguravam firmemente conforme ele prosseguia excitando-a
com a língua. Ela quase desmaiou pelo prazer que ele lhe oferecia, e, exatamente quando sentiu que
algo em seu ser estava prestes a explodir, ele se levantou e a acomodou de forma que recebesse seu
corpo por inteiro.
Mas ela se agitou contra ele num pânico súbito, quando novamente lhe ocorreu que ela não sabia quem
era o homem. Ele parou e se conteve, sem querer tomá-la à força. Tremendo de desejo em todo
o seu ser, ela desesperadamente esticou o braço para tocar seu rosto, mas, mesmo no escuro, ele
facilmente interceptou seus punhos, segurando-os firmemente acima de sua cabeça, evitando outras
tentativas de ela descobrir a sua identidade.
Deitada e presa, seus temores pareciam sem sentido, principalmente enquanto seu corpo estava tomado
pelo desejo ardente por quem quer que fosse esse homem. Ele beijou seus lábios com carinho, como se
quisesse se redimir por segurar suas mãos, e ela o envolveu com as pernas, dando-lhe, por fim, o
consentimento pelo qual esperava.
Seu beijo subitamente ficou mais agressivo, enquanto ele penetrou abruptamente o seu corpo desejoso.
Ela virou a cabeça para o lado num reflexo, e olhou a escuridão que os cercava, temporariamente
tomada por muitas sensações que a invadiam e transbordavam. Mas na palpitação seguinte, ela virou de
volta para ele e recebeu seus lábios ansiosamente, sentindo seu hálito morno e saboreando sua língua.
Inteiramente entregue ao seu amante secreto, ela começou a reagir, movendo seu corpo para aumentar
o prazer que ele lhe proporcionava. Desejando abraçá-lo, mas impossibilitada de usar seus braços ainda
presos, ela se agarrou a ele com as pernas. Eles continuaram assim noite adentro, até que, finalmente, os
dois se aquietaram e ficaram serenos.
Na manhã seguinte ela acordou sozinha e por mais que tentasse não conseguiu encontrar um único
homem no interior do castelo. Em vez disso, descobriu vários cómodos, quartos cheios de tecidos
suntuosos de todos os estilos e texturas; quartos contendo inúmeras prateleiras de linhas e lã de toda
espessura e tonalidade; quartos com flores cultivadas; um cómodo estava repleto de todo tipo de botão
imaginável. Resumindo, para cada ocupação a que uma dama podia desejar se engajar, havia um
quarto contendo uma enorme variedade de materiais para aquela atividade.
Acontece que, embora a jovem fosse obrigada a passar todos os dias sozinha, ela nunca tinha tudo o
que gostaria ou a interessava. E a cada noite o seu amante misterioso vinha deitar ao seu lado no escuro,
sempre partindo antes do amanhecer, para que ela nunca pudesse ter qualquer visão dele. As semanas
iam e vinham e, apesar de ter passado a amar as noites, ela começou a se cansar dos dias isolados,
mesmo com a variedade de materiais que estavam disponíveis para a sua diversão.
Um dia, lembrando as palavras do urso branco ao chegar ao castelo, ela tocou o sininho dourado e
desejou vê-lo. Ele imediatamente apareceu. Mas ela não estava certa de como proceder. -Quem -
começou ela -é o senhor desse castelo?
-Sou eu -respondeu ele.
Ela ficou em silêncio por um instante. Queria pedir informações sobre o homem que vinha vê-la a cada
noite, mas lhe ocorreu que seu amante poderia tê-la enganado quanto ao urso branco. Talvezo urso
ficasse zangado pela descoberta de suas intimidades noturnas. Oh, como ela desejava que sua mãe
estivesse ali para aconselhá-la!
Esse pensamento deu-lhe uma nova ideia, e ela perguntou ao urso se ele poderia levá-la para visitar a
família. O urso imediatamente concordou, sob uma condição.
-Logo depois que você chegar -alertou ele -sua mãe irá tentar chamá-la para falar-lhe em particular.
Evite fazê-lo, ou trará má sorte para nós dois.
A jovem pareceu relutante em concordar com essa condição, porque uma conversa particular com a
mãe' era exatamente o que ela queria. Mas finalmente consentiu, por estar ansiosa para ver sua família, e
pensou que poderia haver outro meio para obter as respostas que buscava.
Os serviçais logo foram chamados para fazer suas malas e ela foi novamente conduzida nas costas do
urso. Em pouco tempo eles surgiram diante de uma mansão enorme. -Você chegou -disse-lhe o urso. -É
aqui que sua família mora agora.
Ela ficou contente e se apressou para estar com eles. Mas o urso ainda se deteve por um instante,
profundamente apreensivo.
-Lembre-se de meu aviso! Não fique sozinha com sua mãe, isso será muito ruim para nós dois.
O seu regresso ao lar foi realmente feliz, e nenhum de seus parentes queria mais nada. Ela não se
esqueceu da promessa ao urso branco. E, como ele havia previsto, sua mãe fez várias tentativas para
ficarem a sós, mas ela conseguiu ludibriar cada uma delas.
Porém, sua mãe não era fácil de enganar e finalmente conseguiu arranjar uma conversa particular com a
filha, em que muitas perguntas foram feitas para descobrir como as coisas no castelo do urso branco
realmente eram. Não demorou para que a jovem confidenciasse à mãe sobre o homem misterioso que
entrava em seu quarto toda noite.
Sua mãe ficou muito alarmada por tudo o que a filha disse e, dando-lhe uma vela, a instruiu a levá-la e
escondê-la sob o travesseiro.
-Quando o estranho estiver dormindo, acenda a vela e você poderá descobrir sua identidade. Mas ela
acrescentou: -Cuidado para não inclinar a vela e deixar que pingue sobre ele.
Levando esse conselho, a jovem fez a jornada de volta ao castelo, com a vela escondida entre seus
pertences.
Logo chegou a noite, e transcorreu como de costume; assim que a escuridão caiu sobre seu quarto, seu
amante anônimo veio vê-la. Ela sentira sua falta enquanto estava longe e ansiava por seu toque no
quarto escuro. Ele não a deixou esperando, pois também a desejara durante sua ausência.
Como amante, ela o conhecia bem, mas ainda se perguntava de quem era a língua que saboreava seus
lábios. De quem era o hálito quente que arfava sobre sua pele delicada? De quem eram os dedos fortes
que golpeavam e exploravam os inúmeros lugares ocultos de seu corpo, e a quem pertenciam os braços
que a seguravam com firmeza? De quem era
o corpo que a preenchia tão completamente, de tantas maneiras, com um frenesi tão violento?
E ela não conseguia se conter e deixar de entregar-se de coração aberto, por mais questionável que
fosse.
Finalmente seu amante dormiu ao seu lado. Ela apalpou embaixo de seu travesseiro em busca da vela
que colocara mais cedo e, descartando os alertas do urso quanto à má sorte, acendeu-a e colocou
diante do rosto do estranho. Ali ela viu o mais lindo príncipe que poderia imaginar e imediatamente se
apaixonou por ele, sentindo que tinha de beijá-lo na quele exato momento. Ela se inclinou e gentilmente
tocou-lhe os lábios e, ao fazê-lo, uma gota da vela caiu sobre seu peito. Ele acordou imediatamente,
inquisitivo:
-O que você fez?
A jovem apaixonada não podia imaginar seu descontentamento até que ele explicou que era, de fato,
um príncipe que, ao nascer, fora prometido em casamento a uma princesa a quem ele não amava.
Quando se recusou a casar-se com ela, sua madrasta lançou-lhe uma maldição, segundo a qual ele
apareceria de dia como um urso branco e, à noite, regressaria à sua forma humana. Sua única chance
de escapar ao casamento indesejado e à maldição era permanecer sem ser visto por seu verdadeiro
amor durante um ano inteiro.
-Agora preciso ir para o castelo que fica a leste do sol e a oeste da lua e me casar com a princesa
horrenda -disse ele.
Ela chorou amargamente ao ouvir tudo isso, mas nem as lágrimas ou os pedidos poderiam mudar o
destino, e eles passaram aquela noite infelizes, abraçados um ao outro, no escuro.
Na manhã seguinte, a pobre dama acordou sozinha. O castelo e o príncipe haviam desaparecido. A
única coisa que restara era o monte de farrapos que ela trouxera consigo na primeira viagem até ali. Ela
chorou até a última lágrima que possuía.
-Preciso achá-lo e trazê-lo de volta -finalmente resolveu. Mas onde era o castelo que ficava a leste do sol
e a oeste da lua?
Ela pegou sua trouxa e partiu pela estrada mais próxima. Depois de viajar uma pequena distância, se
deparou com uma velha senhora sentada à beira da estrada. Perguntou se a mulher maltrapilha sabia
como chegar ao castelo que ficava a leste do sol e a oeste da lua.
-Você é o verdadeiro amor do príncipe que vive lá? -perguntou a mulher, já ciente de tudo. -Ora, sim, -
respondeu a jovem, estarrecida. -Você conhece o caminho para lá?
-Não -gargalhou a mulher, como se fosse uma piada. Mas depois ela acrescentou mais gentilmente. -Leve
essa maçã dourada, pode ser útil para você em sua viagem.
Então a jovem pegou a maçã e seguiu seu caminho. Em pouco tempo, ela se deparou com outra velha
senhora à beira da estrada. A quem também abordou pedindo orientações de como chegar ao castelo.
-Você só pode ser o verdadeiro amor do prínci-:i pe -disse a velha, exatamente como a anterior. -Sim, sou
eu -respondeu ela. -Por favor,' poderia me dizer o caminho para o castelo?
Mas essa senhora não podia oferecer nenhuma orientação quanto ao local do castelo do príncipe. Ela
deu à jovem um prendedor de cabelos encantado, instruindo-lhe a usá-lo caso encontrasse o príncipe,
pois, ao fazê-lo, lhe traria boa sorte.
Ainda sem a menor ideia de como encontrar o príncipe, a jovem de coração partido continuou
obstinadamente e, a certa altura, encontrou mais uma senhora ao longo da estrada. Com essa mulher
ela manteve um contato semelhante ao que tivera com as duas anteriores. Esta lhe advertiu que
procurasse pelo vento do leste para a informação que desejava e, ao lhe dar uma pena mágica, a
instruiu para lançála diante de si e segui-la até o lar do vento do leste.
Conforme orientação, a jovem arremessou a pena mágica à sua frente e esta foi logo tragada por um
vento forte que vinha do oeste. Seguindo a pena mágica, ela avançava muito mais depressa e
rapidamente se viu à porta do Vento Leste. Entretanto, sua jornada estava longe de terminar, pois o
Vento Leste não sabia a localização do castelo a leste do sol e a oeste da lua. Então ela o levou ao seu
irmão, o Vento Oeste, que a levou para ver o Vento Sul, até que finalmente ficou decidido que o Vento
Norte era o único que poderia ajudá-la.
E, assim, depois de muitos dias e noites de viagem e muita labuta, ela saltou sobre as asas do Vento Norte
e seguiu a caminho do castelo que ficava a leste do sol e a oeste da lua.
Quando o Vento Norte finalmente a deixou na entrada do tão procurado castelo, ela estava horrorosa e,
por mais que tentasse, não conseguiu entrar. Frustrada, ela sentou embaixo de uma imensa janela] para
pensar em algo que pudesse fazer. Inconscientemente, começou a brincar com a maçã dourada que
fora dada pela primeira mulher à beira da estrada. Ela lançava a maçã para o ar, pegando-a, quando
caía.
E a madrasta do príncipe a viu brincando com a maçã dourada da janela acima. A mulher mesquinha
instantaneamente resolveu que queria aquele tesouro e ofereceu à moça qualquer coisa em troca.
-Eu desejo ver meu verdadeiro amor, o príncipe -anunciou a menina ousada.
A madrasta do príncipe foi pega de surpresa por essa resposta audaciosa, mas permitiu que ela entrasse
a fim de ter a chance de tirar a maçã dela.
-Se você é realmente o verdadeiro amor de meu enteado, o príncipe -começou a guardiã engenhosa-,
então sem dúvida poderia apontá-lo em meio a uma centena de homens.
-É claro -respondeu a garota.
-Bem, nesse caso, eu lhe concederei uma chance de identificar seu grande amor em meio a cem
homens, em troca dessa maçã dourada.
-Com prazer -concordou a jovem, segurando a maçã, mas, pensando bem, ela acrescentou: -é claro
que também precisarei de um banho e um vestido novo.
A madrasta concordou com suas condições, dando uma gargalha maliciosa e arrancando-lhe a maçã
das mãos, depois tocou uma sineta chamando um serviçal. Após despachar a jovem e deixá-la por conta
da criada, ela saiu para regozijar-se sobre seu tesouro.
O verdadeiro amor do príncipe se banhou em água aromatizada, depois recebeu um lindo traje dourado
para vestir. Subitamente lembrando as palavras da segunda mulher à beira da estrada, ela ergueu os
cabelos e os prendeu com o pente encantado.
Quando esses preparativos estavam concluídos, ela seguiu a criada até a sala de jantar. Porém, ao
chegar, encontrou uma sala vazia, com apenas um lugar posto à mesa. Um belo serviçal entrou,
trazendo-lhe inúmeros pratos deliciosos para o jantar.
-Eu não irei jantar com o príncipe? -perguntou ela.
-Após o jantar, madame, a senhora será levada diante do príncipe e poderá escolhê-lo... ou outro que
desejar.
Ele disse aquilo de forma bastante civilizada, porém com um sorrisinho no rosto que fez a jovem
recuar, como se tivesse sido estapeada.
-Eu percorri uma distância enorme para encontrar meu príncipe -disse ela, orgulhosa. -Não posso nem
imaginar por que você insinuaria que eu poderia escolher algum outro que não ele!
-Talvez tenha sido um pensamento desejoso foi sua réplica. -Veja, sou um dos outros 99 homens dentre os
quais irá escolher um.
-Sim, eu vejo -repetiu ela, sucinta, pensando consigo mesma: Você será punido por sua impertinência
quando eu me casar com o príncipe! Ela comeu o que pôde do jantar, em silêncio.
Logo após a refeição, foi conduzida à sala onde finalmente poderia ver seu amado príncipe. O serviçal a
deixou à porta. Respirando fundo, ela a abriu. Lá estava a madrasta do príncipe.
-Onde está o príncipe? -exigiu a jovem, frustrada.
-Ele está bem ali, atrás daquela porta -respondeu a madrasta, apontando para outra porta, do outro lado
da sala.
-Porém -acrescentou ela enquanto a garota corria naquela direção -, há algumas coisas que você
precisa saber antes de entrar ali. -Ela sorriu e prosseguiu. -Há cem homens naquela sala. Todos eles foram
enfeitiçados, portanto não podem sair do lugar onde estão, nem produzir som algum. Foi necessário fazer
isso, pois, se você realmente ama o príncipe, deverá encontrá-lo sem que ele a ajude.
-Eu não preciso ouvi-lo falar para encontrá-lo, e ele também não precisará vir até mim -respondeu ela.
-E também -continuou a madrasta, ignorando sua afirmação e abrindo um sorriso mais largo -, já que
você reforçou a maldição original trazendo luz sobre a escuridão, agora você terá de renunciar à luz e
novamente adentrar a escuridão para encontrar e salvar seu amado príncipe.
A jovem ficou ofegante. -Você quer dizer que eu terei de distingui-lo dos outros 99 no escuro?
-Se o amor for realmente verdadeiro, isso pode ser feito -respondeu a mulher cruel, voltando a dispensar a
jovem ao tocar a sineta dos serviçais. Mas antes de deixá-la sozinha, voltou-se para acrescentar: -cuidado
com quem você fala na sala, pois a sua escolha do "amor verdadeiro" será segundo aquele com quem
você falar primeiro. -E ela se foi.
A moça se voltou para a criada que atendeu à campainha, uma mulher mais velha, que a olhava
gentilmente:
-Eu lhe serei grata se puder me oferecer algum conselho -implorou ela.
-Tire suas roupas -disse a idosa, calmamente.
-O quê? -exclamou a garota.
-Tire suas roupas -repetiu a mulher. -Será assim que você vai escolher o homem que você conhece. -Mas e
se... -ela parou, incerta.
-É a única forma -respondeu a velha sagaz. Depois disso você não terá outra chance.
Vendo a sabedoria das palavras da mulher mais velha, ela rapidamente tirou as roupas. Depois abriu a
porta e adentrou a escuridão. A porta atrás dela se fechou imediatamente.
Embora a sala estivesse em silêncio, ela podia sentir a presença dos homens que se aglomeravam no
recinto espaçoso. Ela seguiu em frente, lentamente.j Subitamente, lhe ocorreu que ela jamais havia
tocado no rosto de seu príncipe, pois ele impedira todas" as suas tentativas de desvendar sua identidade.
Ela só o vira rapidamente, aquela vez, sob a luz da vela;' Ela só o conhecia como amante. Isso seria o
suficiente para ajudá-la agora?
De repente, ela sentiu alguém ao seu lado. Esticando a mão no escuro ela descobriu um homem ali, em
pé. A lembrança do empregado com sorriso malicioso passou por sua mente e ela recuou de irnediato.
Mas o homem esticou a mão e a segurou. Com
o coração disparado, ela o deixou se aproximar. Suas mãos deslizaram ao longo de seu corpo, tocando
suas partes íntimas. Ela tentou se concentrar nas mãos dele e relembrar exatamente como as mãos de
seu príncipe a faziam sentir quando ele a tocava. Seriam essas mãos que a acariciavam agora? O
homem colocou uma das mãos entre as suas pernas, afastando-as e introduzindo o dedo em seu corpo
quente.
Mas algo estava errado. Os dedos que ali tocavam eram frios, não quentes como os de seu amante. Com
um gritinho de horror, ela se afastou das mãos do impostor.
O homem seguinte tinha mãos bem mais quentes. Assim como o anterior, ele a tocou intimamente, sem
reservas. Será que todos os homens seguravam e agarravam uma mulher daquela mesma maneira?
Mas parecia haver algo familiar em seu toque. Ela elevou o rosto em sua direção, em meio à escuridão.
Seus lábios imediatamente desceram aos dela, num beijo suave. Pressionando o seu corpo de encontro
ao dele, ela lentamente passou os braços ao redor de seu pescoço, achando que esse poderia ser seu
príncipe. Seu corpo começou a reagir aos beijos e carícias, e ela lentamente assimilou que esse não
poderia ser seu príncipe, pois seus beijos eram molhados demais!
E ela percorreu toda a extensão da sala, numa busca vã por seu príncipe. Houve, de fato, algumas vezes
em que ela pensou tê-lo encontrado, porém, temendo escolher o homem errado, ela sempre se abstinha
de falar. Mesmo assim ela abraçou os homens que a lembravam aquele que amava, sim, chegando a
permitir que alguns deles a tomassem, ali mesmo, no meio da sala, achando que finalmente havia
encontrado seu príncipe, para, momentos depois, acabar descobrindo que não podia mesmo ser ele.
Seu corpo inteiro sacudiu de frustração e ansiedade pela dimensão da tarefa que se encontrava diante
dela. Ela estava em constante estado de excitação ao andar pela sala, fazendo coisas inimagináveis,
com totais estranhos. E, ao cair da noite, ela não
conseguia distinguir um toque de outro, mas só esperava por um sinal milagroso que a iluminasse e
libertasse daquela busca degradante a qual havia sido forçada a suportar. E todo o tempo sabia que seu
príncipe estava ali, enquanto ela atravessava a sala, silenciosamente ouvindo seus gemidos e gritos,
percebendo sua inabilidade de desistir dos braços de cada impostor antes de dar um pouquinho de si
mesma para ele.
Aslágrimasescorriam porsuasbochechasenquanto ela se forçava a seguir em frente, desanimada, mas
incapaz de desistir até que o encontrasse. Ela se perguntou se já teria encontrado o criado da sala de
jantar e, em caso positivo, até onde o deixara ir. Seria um dos homens que a tomaram bem ali no chão,
aliviando a fome dolorida que ela sentia, mesmo que por um momento?
Ela seguia em frente cambaleante, cegamente, rezando por um milagre. E ali, à sua frente,estava outro
homem. Ela se aproximou dele com lágrimas
no rosto.
o homem abruptamente a agarrou num abraço e esmagou-lhe os lábios sob os dele. Ela não podia se
lembrar de já ter sido beijada tão violentamente e se esforçou para se afastar do tranco selvagem que
estava causando hematomas em sua pele. No entanto, ele não afrouxou, e ela quase gritou por ajuda,
mas, na mesma hora, lembrou que não podia falar. Se falasse, não somente perderia seu príncipe para
sempre, mas possivelmente também seria obrigada a ficar com esse homem bruto! Foi tomada por um
terror insuportável, ao se dar conta de que o estranho violento poderia forçá-la sem que ela pudesse
sequer pronunciar uma única palavra.
Mas o homem pareceu se conter e diminuiu a pressão, mas não o bastante para que ela pudesse
escapar dele. Por alguns instantes, ele simplesmente a segurou junto de si, e ela podia sentir seu coração
disparado dentro do peito. O rosto dele estava enterrado em seus cabelos e, por um momento,
hipnotizado pelo aroma, ele relaxou a pressão e inalou seu perfume adocicado.
Pensando que esta seria a sua oportunidade de sair correndo, ela se soltou do abraço e se virou para
escapar. Naquele instante a presilha encantada caiu de seus cabelos e os soltou, enquanto seu
apreensor tentava pegá-la. Suas madeixas soltas caíram diretamente numa das mãos dele, que a fechou
firmemente, prendendo-as. Ela foi abruptamente forçada a frear sua fuga.
Lenta e propositalmente, ele enrolou seus cabelos em volta de sua mão, dando voltas, trazendo-a cada
vez para mais perto, até que o rosto dela estivesse a apenas alguns centímetros do seu. Algo dentro dela
revolveu. Com a mão ainda agarrando seus cabelos, ele gentilmente a puxou, forçando sua cabeça
para trás e a posicionando diretamente abaixo. Ela sentiu seu hálito morno familiar em seus lábios antes
que ele os tomasse num beijo suave, exatamente como os antigos beijos que ela agora lembrava tão
bem. Ela estremeceu em pensar que quase saíra correndo dele. Mas porque ele fora tão violento quando
ela se aproximou?
Ela subitamente corou ao imaginar seu príncipe ali, em pé, no escuro, ouvindo os sons enquanto ela se
entregava aos impostores que habilmente a enganaram, fazendo-a pensar que eram ele. Ela se deu
conta de que a raiva o levou a agarrá-la com tanta brutalidade.
Mas ele agora estava carinhoso com ela, enquanto seu corpo fundia-se no dela, bem ali, onde ele fora
obrigado a ficar até que ela o libertasse. Eles se agarraram na escuridão e, finalmente, certa de ser o
verdadeiro príncipe, ela sussurrou:
-Eu te amo.
Diante dessa admissão, eles regressaram ao castelo do urso branco, onde ambos haviam deitado juntos,
em sua própria cama. Havia cem velas acesas ao redor do quarto e os dois se olhavam, impressionados
pelo que havia acontecido.
O príncipe e seu verdadeiro amor se casaram, é claro, e viveram felizes para sempre, desde aquele dia. E,
apesar de não amar nada além da visão de seu lindo príncipe, sua esposa às vezes sonha com aquele
amante desconhecido e, em algumas ocasiões, ele vem até ela.
Mesmo agora, nessa mesma noite, o príncipe está esperando do lado de fora do quarto até que esteja
totalmente escuro, quando eleentrará silenciosamente...
O Espelho na Parede
Era uma vez, num reino muito conhecido pelas belas mulheres que lá viviam, um feiticeiro que se
apaixonou por uma das donzelas do lugar. No entanto, a jovem não foi sincera com o feiticeiro e, depois
de pouco tempo, ele morreu com o coração partido. Em seu último suspiro, lançou uma maldição sobre
todo o reino, que, pelo que sei, perdura até hoje.
Sob a maldição do feiticeiro desiludido, todas as mulheres do reino subitamente pareciam desconhecidas
e desagradáveis para seus parceiros e para elas mesmas. Elas logo iniciaram uma batalha para se
tornarem exatamente o oposto do que a natureza queria que fossem. Primeiro, passaram fome até quase
a morte, pois a magreza era vista como mais atraente do que a aparência feminina saudável. As que
não podiam suportar essa privação se submetiam a outros métodos humilhantes para se livrarem da
carne indesejada. Depois, seus seios tinham de ser alterados em sua forma natural para um protótipo mais
rijo e maior, o qual, embora causasse muita dor e inúmeros problemas de saúde, tinha um efeito mais
atraente para todos. Envelhecer era a mais detestável de todas as manifestações da natureza nas
mulheres, e precisava ser evitada a qualquer custo. Elas faziam tudo que estivesse a seu alcance para
prevenir o envelhecimento, submetendo-se a procedimentos médicos quando tudo o mais falhava.
Embora uma existência assim possa parecer improvável a muitos leitores, posso garantir que é bem
verdadeira. Não se pode explicar muito fielmente até onde essas pobres criaturas estavam dispostas a ir
em seu esforço para ser qualquer coisa que não o que eram. Até seus cabelos e os pelos de seus corpos
eram incompreensíveis para elas, que os cortavam, , coloriam, arrancavam, depilavam, raspavam e os
eletrocutavam até que cada fio estivesse alterado ou destruído.
As poucas mulheres que conseguiam se enquadrar a essasdesconfortáveis expectativas recebiam o
status de rainha -por um período curto -, mas durante o qual se esperava que dessem prazer aos homens
e punissem as mulheres que não correspondiam apropriadamente ao que se esperava que fossem.
Resumindo, uma grande infelicidade se abateu sobre as mulheres que moravam nessa terra amalçoada
Acontece que uma bela mulher, mesmo para aqueles tempos, estava chegando ao seu prazo de
validade; ou seja, estava se aproximando da idade em que seu valor como mulher e rainha, segundo os
padrões
sob os quais era regida a maldição, chegaria ao fim.
A futura rainha-aposentada buscava freneticamente por livros e impressos de consultoria às mulheres do
reino, mas, sem encontrar consolo ou guia suficientes, ela finalmente se viu diante de um espelho imenso,
pendurado sobre uma parede em seu quarto. Em estado de desespero ela gritou:
Espelho, espelho meu,
Quanto tempo até eu cair?
A minha beleza era vã?
Ou pode a dor diminuir?
Os espelhos, junto com as publicações femininas ao redor daquela terra, estavam sob o feitiço da
maldição; eles eram, na verdade, os próprios condutores através dos quais o feitiço ganhava força e
poder.
O espelho, no entanto, vinha esperando pacientemente por essa oportunidade e agora respondeu:
Tua beleza, antes sem par,
Muito em breve terá sumido,
Alguém como fostes tens de achar,
E seu coração tem de ser comido!
A rainha engasgou aterrorizada com as palavras do espelho, que continuaram ecoando baixinho em seu
quarto. E seu coração tem de ser comido! Mas que coisa horrível (e superengordativa), pensou ela. Ela
olhou mais próximo do vidro. Ali, viu duas rugas finas que se acomodavam abaixo de seus olhos fundos.
Ela se afastou do espelho com um gritinho.
E seu coração tem de ser comido!
Incapaz de encarar o espelho por mais tempo, a rainha saiu de seu quarto como uma flecha. De
repente, viu-se cara a cara com sua enteada, Branca de Neve, chamada assim por causa de sua pele
clara e pura como a neve recém-caída. A rainha jamais gostara muito dela -porque nessa época não
existia muita afeição entre as mulheres, mesmo para com as crianças -, mas ela a suportara até agora em
memória do pai de Branca de Neve.
No entanto, nessa ocasião a rainha não pôde deixar de perceber a beleza de Branca de Neve, e lhe!
ocorreu que a criança insípida havia crescido e se' tornado tão bela quanto ela própria já fora um dia.
Alguém como fostes tens de achar. A rainha estremeceu ao se lembrar das palavras do espelho, e
imediatamente mandou Branca de Neve afastar-se dela e ir trabalhar na cozinha.
E, por um tempo, a vida prosseguiu dessa forma, com a pobre Branca de Neve forçada a trabalhar de
empregada na casa de seu pai. E sua madrasta, a rainha, em estado de desânimo a ponto de não
poder olhar para Branca de Neve, sem ser acometida por dor aguda.
Certa manhã, como o prazo de validade da rainha se aproximava cada vez mais, a mulher
desafortunada novamente se viu diante do imenso espelho de seu quarto. Logo ela estaria fazendo o
mesmo apelo doloroso:
Espelho, espelho meu,
Quanto tempo até eu cair?
Minha beleza era vã?
Ou pode a dor diminuir?
O espelho esperara pacientemente que ela voltasse e, dessa vez, respondeu com uma determinação
ainda mais arrepiante:
Tua beleza, antes, sem par,
Muito em breve sumirá,
Veja Branca de Neve,
O coração dela servirá!
A rainha rodopiou se afastando do espelho num ataque de fúria e agarrou a cadeira mais próxima com o
intuito de atirá-la no espelho ofensor e estilhaçá-lo de uma vez, mas desistiu; primeiro porque acreditava
que o espelho lhe dava a única esperança verdadeira, e também porque, em seu estado de
subnutrição, não tinha forças para levantar a cadeira. Em vez disso, se sentou. Ela realmente comeria o
coração de Branca de Neve se essa fosse a única maneira de recuperar sua beleza.
Ciente disso, a rainha resolveu acabar logo com tal infortúnio e imediatamente mandou chamar seu
criado de maior confiança para ajudá-la. Tal criado, na verdade, era um belo príncipe disfarçado, pois
era apaixonado pela rainha e assim podia ficar mais perto dela, esperando uma oportunidade de ganhar
seu coração.
O príncipe ouviu o pedido da rainha em choque I, e, em silêncio, olhou-a incrédulo com seus belos olhos
azuis. Como o verdadeiro amor era o único antídoto contra a maldição do feiticeiro, o príncipe ignorava
totalmente que o prazo de validade da rainha estivesse próximo. Na verdade, a seus olhos ela se tornava
mais bela a cada dia.
Mas o príncipe não podia recusar nada à rainha, seu amor por ela era tão imenso que ele logo
concordou em ajudá-la. Reconhecendo que essa seria a oportunidade pela qual tanto esperara, ele
impôs a condição de que a rainha passasse a noite com ele, longe do castelo. Desesperada para ter o
coração de Branca de Neve, ela concordou.
O príncipe encontrou Branca de Neve trabalhando na cozinha, mas o gentil rapaz não tinha qualquer
intenção de prejudicá-la. Em vez disso, ele a levou para a floresta para se esconder em segurança;
depois, ao encontrar uma ovelha, ele matou o animal e cuidadosamente embrulhou seu coração.
Contente por ter feito a coisa certa, regressou à rainha e lhe apresentou o coração falso.
A rainha não perdeu tempo em cozinhá-lo em óleo não-saturado, de baixo teor de calorias, rico em
ômega-3, e depois tentou comer um pedaço. Ela não conseguia detectar nada de diferente no gosto,
mesmo assim, foi preciso cada milésimo de sua força de vontade para engoli-lo. A maldição cruel que a
atormentava fezcom que comesseaté o último pedacinho.
Depois, a rainha estava ansiosa para pôr-se diante do espelho e ver os resultados, mas o príncipe logo
lembrou-lhe de sua promessa de passar a noite com ele, insistindo que partissem imediatamente, de
modo que chegassem ao destino antes do cair da noite. A determinação do príncipe acabou vencendo,
e os dois finalmente saíram juntos.
Eles viajaram para a floresta, bem longe da maldição das terras da rainha, rumo à matas encantadas,
até que finalmente chegaram a uma casinha de pedras quase escondida por inúmeras plantas
trepadeiras com roseira de aroma mágico. Os galhos se sobrepunham às pedras e seguiam acima, quase
cobrindo o telhado. Ao se aproximar, o casal sentiu o aroma exalado, e este os envolveu. Não se sabe ao
certo se era o encantamento das flores que o cercavam, ou se por pertencer ao príncipe, mas a verdade
é que nem o chalé, nem seu interior foram tocados pela maldição do feiticeiro.
No instante em que a rainha entrou pela pequena porta, ela se sentiu maravilhosamente bela e
estimada. As próprias paredes pareciam abraçá-la, e ela foi tomada de felicidade. Ela pensou que isso só
poderia ser o efeito da recuperação de sua beleza por ter comido o coração de Branca de Neve, mas,
na verdade, se sentia como se sentiria todos os dias de sua vida, se não estivesse sob o poder de um
feitiço.
A rainha se voltou para o príncipe com um sorriso radiante. Ele a olhou e pensou que jamais a vira tão
bela. Pegou-lhe a mão e a conduziu por uma escada estreita até um quarto aconchegante. No meio
dele havia um espelho imenso.
O príncipe gentilmente colocou a rainha diante do espelho. Não era encantado, portanto, pela primeira
vez, a rainha se viu como realmente era, e não segundo os padrões mantidos fora das paredes do chalé.
Ela se olhava impressionada.
O príncipe pôs-se atrás da rainha e observou. Ele logo viu que seu plano havia dado certo e que a ela
finalmente se via com o olhar dele. Depois viu os olhos dela encontrarem os seus.
Subitamente, a obsessão da rainha por sua própria aparência sumiu, e ela percebeu o quanto seu criado
era belo. Mas que casal extraordinário eles formavam, percebeu ela, olhando os dois pelo espelho! Ela se
perguntava como seria possível nunca ter notado os seus cabelos escuros e cacheados nas pontas. Ou
como sua pele morena e macia iluminava seus olhos azuis.
O príncipe olhava o rosto da rainha enquanto ela
o encarava. Suas expectativas para a noite eram mínimas, basicamente que, em meio à segurança da
floresta, ela percebesse os sentimentos do príncipe e aceitasse seus galanteios. Ele não se atrevera a ter
grandes esperanças e ficou chocado ao ver o desejo ardendo nos olhos dela.
Notando tal desejo, ele lentamente começou a desabotoar-lhe o vestido. Ela não resistiu, nem tremeu de
medo por não ser boa o suficiente; ao contrário, se arrepiou de expectativa. Com um som suave, o
vestido caiu ao chão. Ela olhava seus músculos em silêncio enquanto ele mantinha o controle ao tirar
roupas delicadas. Ela parecia hipnotizada, enquanto os dedos grandes do príncipe manuseavam o
tecido sensível. Pela primeira vez, ela sentia-se verdadeira mente excitada.
Suas peças de roupa caíam ao chão, uma a uma. Ela olhava com interesse à medida que seu corpo ia
se revelando. Ao erguer os olhos e encontrar os do príncipe no espelho, o desejo que viu a deixou
perplexa. Com o coração pulsando no peito, ela o olhou com a mesma intensidade ardente.
Subitamente, foi como se ela estivesse assistindo a dois estranhos, tão desconhecidas eram as imagens no
espelho, e não conseguia tirar os olhos do que" via. Ela via uma mulher trêmula enquanto seu amante
baixava a boca morna até a parte de trás do seu pescoço para um beijo demorado e sensual. Ele
continuava a beijá-la levemente pelos braços, descendo ao redor da cintura e abraçando-a ternamente.
O rosto da mulher estava corado, tinha os lábios abertos e a respiração ofegante.
O homem no espelho ia se tornando mais agressivo, e suas mãos começaram a acariciá-la com uma
eficácia que não deixava nenhuma parte intocada. No entanto, isso não parecia ofendê-la, já que ela
apenas gemia suavemente, enquanto olhava à frente e permitia, em silêncio, total acesso ao seu corpo.
A rainha olhava com grande interesse, vendo as mãos masculinas percorrerem cada parte do corpo da
mulher. Seus olhos seguiam cada movimento, cada toque, cada intimidade. Uma sensação de desejo
pulsante a tomou, enquanto olhava.
Subitamente o homem no espelho se afastou da mulher para remover suas próprias roupas. Ela continuou
olhando em silêncio para a sua frente, como se estivesse enfeitiçada. A rainha se perguntava porque a
mulher não se virava para ver seu amante se despir, tão bela era a imagem, esplêndido em sua
excitação. Por um instante, ele olhou para a dama que o encarava e depois para objeto de seu interesse.
Isso o fez sorrir, e ele continuou olhando à frente, para ela, encontrando os olhos da rainha, enquanto
passava os braços ao redor de sua dama e a beijava no rosto.
A rainha se sentia trêmula de expectativa ao ver o homem agora se posicionando atrás da mulher do
espelho. Ela afastou ligeiramente as pernas imitando a mulher, enquanto a via acomodar seu amante. Ela
imaginou que podia sentir suas mãos fortes perfurando seus próprios quadris enquanto ele segurava a
mulher com firmeza, e se projetava para dentro dela. Parecia sua própria voz enquanto a mulher gritava
de prazer. A visão era tão real que ela fantasiou poder sentir a mesma coisa quando o homem do
espelho penetrou a mulher.
Ela estava tão completamente envolvida pela imagem diante de si que não percebeu quando começou
a mover os próprios quadris no mesmo ritmo da mulher a que assistia. Ela se maravilhava ao ver a
expressão intensa de prazer naquele rosto, os gemidos liberados que seus lábios soltavam e seus quadris
ondulantes em abandono selvagem.
Sua própria excitação aumentou enquanto via cada detalhe da performance íntima que estava se
passando diante dela. Sentiu a parte superior do corpo arquear ligeiramente à frente enquanto o
homem do espelho gentilmente incentivava sua amante a fazer o mesmo. Seus olhos voltaram a se
encontrar no espelho, enquanto ele a penetrava, cada vez mais forte e rápido.
De repente, a rainha foi despertada de sua maldição e percebeu, que a mulher no espelho não era
ninguém senão ela mesma, e que era seu belo criado quem retribuía o olhar, posicionado atrás dela. Por
um instante, ela congelou, subitamente envergonhada por ele tê-la visto assim.
Percebendo a mudança em sua rainha, o príncipe logo desviou do espelho, para que ela o olhasse de
frente. Ele a beijou carinhosamente, tomou-lhe nos braços e a carregou até um sofá próximo. Mas ela
olhava furtivamente para o espelho.
O príncipe segurava a rainha se fundindo a ela novamente, sussurrando palavras doces durante todo o
tempo. O espelho parecia dar segurança a ela, então virou o pescoço para ver o reflexo. E ela se viu
fazendo muitas coisas extraordinárias ao longo da noite. O príncipe ficou encantado por sua curiosidade,
e foi cuidadoso em fazer com que o acontecimento tão esperado durasse até que ela estivesse
inteiramente satisfeita.
Depois, ele continuou a segurar sua rainha junto de si, por toda a noite, acarinhando-lhe o corpo
suavemente, para que, pela manhã, nem um pedacinho seu tivesse sido negligenciado a um carinho ou
toque. A rainha sorriu ao adormecer e sonhar com um mar de rosas.
De manhã, a rainha não queria ir embora. Mas o príncipe sabia que tinha de levá-la de volta ao castelo,
para certificar-se de que seu amor de fato havia tocado o coração dela e a libertado da maldição.
A rainha arrancou uma das rosas ao passar pela soleira do chalé e a colocou na bolsa, para sempre se
lembrar do prazer que encontrara ali. Mas, enquanto viajavam pela floresta, ela foi ficando desanimada
e, ao chegarem ao castelo, estava tomada de ansiedade. O príncipe parecia relutante ao deixá-la com
um beijo e a promessa de voltar mais tarde naquele dia.
Com a partida de seu criado, a rainha não hesitou em ir até o espelho de seu quarto. Ao chegar lá, ela
resfolegou horrorizada. Nada havia mudado desde a última vez em que vira aquela coisa horrenda! Ela
não tinha nada de linda, ao contrário, era a mesma mulher envelhecida do dia anterior. Teria o espelho
mentido e Branca de Neve dado a sua vida em vão?
A rainha se compôs e se dirigiu ao espelho assim:
"Espelho, espelho, não se esquive,
ou tu virás ao chão,
Diga agora e não me irrite,
O que disseste do coração?"
E num instante o espelho respondeu:
"Seu amante é um grande mentiroso.
Branca de Neve está viva na floresta.
Ela precisa de um veneno poderoso.
Pois é só isso que lhe resta!"
Seu amante é um grande mentiroso. O criado trapaceara! Os olhos da rainha faiscaram com lágrimas
contidas, enquanto ela sentia um arrepio frio de ódio em seu coração. A lembrança da noite anterior no ,
chalé fora apagada pelo espelho malevolente, então, .. sem qualquer outro pensamento a respeito, a
rainha passou o resto do dia preparando um veneno para Branca de Neve. Ela cuidadosamente untou
com veneno um belo pente de prata que, ao tocar a cabeça de Branca de Neve, imediatamente a
conduziria ao coma profundo. O príncipe notou a mudança na rainha quando voltou ao fim do dia. Seus
lindos olhos emanavam ódio quando lhe contou o que o espelho dissera.
Mais uma vez ele prometeu ajudá-la entregando o pente para Branca de Neve, sob a condição de que
ela passasse outra noite com ele no chalé.
Mas o bom príncipe ainda não tinha intenção de prejudicar Branca de Neve e, ao encontrá-la na
floresta, pediu um punhado de cabelos para que juntasse ao pente e temporariamente acalmasse sua
amada rainha. Branca de Neve logo concordou, e o príncipe voltou à sua rainha com outra prova falsa.
Ao ver os cabelos de Branca de Neve no pente, a rainha se encheu de esperança. Ela queria ficar diante
do espelho e ver os resultados, mas o príncipe insistiu que partisse imediatamente com ele, como
prometera. Ela concordou, relutante, e logo em seguida os dois chegaram à cabana. E, mais uma vez, ao
entrar na casinha, uma sensação de prazer e bemestar se apoderou da rainha. Dessa vez ela seguiu o
príncipe até o quarto, onde o adorável espelho agora estava posto de frente para a cama.
As recordações das atividades da noite anterior surgiram na mente da rainha, e uma onda de prazer
passou por seu coração. Ela se despiu empolgadamente e deitou na cama do príncipe, olhando o
espelho, vendo-o chegar por trás dela e começar a afagar seu corpo. Ela afastou as pernas. Era delicioso
ver seu próprio corpo naquela posição no espelho, com o príncipe acima dela, admirando e tocando. Ele
acariciava suas costas deliciosamente provocando-a, até que ela finalmente curvou os quadris, fazendo
com que o meio de suas pernas o tocasse na mão. Ele mergulhou de forma atrevida na umidade dela,
mas a rainha apenas suspirou, enquanto prosseguia encarando seu rosto rubro no espelho.
Para não alarmá-la, o príncipe calmamente levantou os quadris dela, ajustando-a para que ela se
apoiasse nos antebraços e joelhos com as nádegas para o alto. Ela olhava atónita enquanto o príncipe
se ajoelhava atrás dela, olhando suas partes mais íntimas.
Sem constrangimento ou temor (do que deveria ter medo agora que se sentia tão linda e inteiramente
amada?), a rainha via a excitação de seu amante crescendo enquanto ele olhava, pegava e beijava
suas partes íntimas. Ela gemeu de prazer com a lembrança do que estava por vir. O príncipe pareceu ler
seus pensamentos e a penetrou por trás, enquanto ela olhava. A visão de tê-lo em fusão com ela era
quase tão maravilhosa quanto a sensação: sua rigidez deslizando para dentro de seu corpo, suas mãos
imensas agarradas aos seus quadris, suas feições masculinas exibindo uma expressão de êxtase intenso.
Ela começou a se mover, no início, devagar, depois, cada vez mais rápido, se esfregando nele
freneticamente, sempre deleitada com a imagem de seu corpo no espelho, com seus seios balançando
e suas nádegas sacudindo a cada investida. Não lhe ocorreu que seu balanço fosse pouco atraente, pois
a maldição estava bem longe de sua mente. Ela baixou a cabeça sobre a cama e seu corpo tremeu de
êxtase.
Na manhã seguinte, a rainha voltou a tirar uma das rosas de sua vinha ao partir do pequeno chalé, e
começou sua jornada de volta para casa, com o coração apertado. Mas é difícil se livrar de antigos
vícios e, assim que virou o trinco da porta, após a partida do príncipe, ela zarpou para o quarto, para uma
nova descoberta do espelho. Apenas uma olhada nele causou à pobre rainha tanta angústia e
decepção que ela lançou-se num choro convulsivo, sobre a cama. Após se recuperar desserompante, a
rainha encarou o espelho mais uma vez, com as seguintes palavras:
Espelho, espelho, quero saber,
Meu amante ainda mente?
Branca de Neve chegou a morrer,
É dela o cabelo no pente?
O espelho não tardou em responder:
Branca de Neve continua bela e rara,
E sua vida a faria viver,
Mas um espartilho de seda cara,
Você deve para ela tecer!
A rainha estava radiante com essa nova oportunidade e imediatamente se pós a trabalhar para que
tivesse o espartilho e seus cordões mortais prontos e embrulhados para a sua vítima até a hora em que o
príncipe chegaria à porta naquela tarde. Mas, dessa vez, a rainha não confidenciou suas verdadeiras
intenções ao príncipe. Em vez disso, ela o convenceu de que estava arrependida por seu
comportamento em relação a Branca de Neve e desejava que ele lhe entregasse o presente como um
pedido de desculpas. O príncipe, totalmente incapaz de detectar qualquer maldade em sua amada
rainha, imediatamente! saiu em disparada rumo à floresta para fazer o que ela lhe pedira, após obter sua
promessa de passar outra noite em seu chalé.
Branca de Neve recebeu o presente com grande prazer, e o príncipe, sem suspeitar de qualquer
deslealdade da rainha, logo foi embora. Quanto a Branca de Neve, ela não pôde resistir ao lindo
espartilho e, quase rasgou as próprias roupas na ânsia de experimentar a peça elegante.
Mas, assim que o corpete tocou-lhe a pele, como se tivessem vida própria, os cordões começaram a
apertar, forçando Branca de Neve a arfar, e continuaram pressionando até que ela não pudesse mais
respirar. Ela caiu no chão e ali permaneceu quase sem vida, até bem mais tarde, quando foi descoberta
e colocada num lindo caixão de vidro. Mas a história de Brancade Neve' terá de esperar até outra hora,
pois o príncipe está prestes a voltar para a sua rainha, e eu estou certa de que você quer saber o que
aconteceu à pobre dama.
Para espanto do príncipe, ele voltou para encontrar a rainha completamente mudada. Sua pele parecia
artificialmente lisa, como se tivesse sido completamente esticada. Seus olhos pareciam os de um falcão,
imensos e saltados. Seus seios eram rijos e artificiais, e ela estava terrivelmente magra. Ele logo percebeu o
que ela havia feito. Mas ainda a amava, portanto, com menos esforço do que o necessário para se
pegar um pássaro, ele ergueu a rainha e a colocou sobre seu cavalo, depois a levou para o chalé.
Mas, nessa ocasião, não havia rosas florescendo e a casa parecia triste e sem brilho. Depois de entrar, a
rainha se sentiu cheia de remorso e infeliz.Ela subiu as escadas correndo e foi até o quarto, na esperança
de que o prazer que antes tivera ali lhe consolasse, mas, ao olhar para o espelho sem encanto, ela
suspirou de susto. Sua aparência era quase desumana! Ela caiu na cama tomada de arrependimentos,
chorando. Não podia ficarmaisnemum minuto nacasacom o príncipe.
E por três longos meses o príncipe ficou solitário e triste, e a rainha permaneceu rainha, não perdendo a
validade, e Branca de Neve continuou em seu caixão de vidro.
Então, um certo dia, enquanto a rainha estava em seu quarto, ela se deparou com as rosas que colhera
na cabana do príncipe. Para sua surpresa, estavam frescas como no dia em que haviam sido colhidas.
Ela as levou até o rosto e seu aroma encantado a fez lembrar da época que passou no chalé com o
príncipe. Ela subitamente percebeu as coisas das quais abriu mão e como estava infeliz desde então.
Preciso desfazer isso, pensou ela.
Com pronta determinação, ela pegou o cobertor de sua cama e cobriu o espelho, estilhaçando-o em
mil pedaços.
Depois chamou dois mensageiros; o primeiro, ela mandou até a floresta, onde Branca de Neve dormia
em seu caixão, e o outro, até seu amado serviçal., Então esperou.
A rainha aguardou em seu quarto por horas, mas para ela pareceram poucos minutos. Quando o sol
finalmente começou a baixar no céu, ela pensava; em suas visitas à cabana, tão linda com as vinhas de
roseiras. Mesmo ao enfraquecer da luz através da janela, seu rosto reluziu e corou ao lembrar das imagens
do espelho do quarto. Quando as sombras co meçaram a pairar, pela chegada da noite, a rainha sentia
doer todo o seu ser, ansiando pelo toque suave e amoroso do criado.
Ela fantasiou que podia sentir um leve relaxamento em seu corpo, e um terror súbito a assolou; mas ela foi
acordada por passos na porta e lá estava ele, seu príncipe-criado!
Ao ver a rainha de volta à sua aparência anterior;
o príncipe quase chorou de felicidade. Ele a acalmou, pegando-a nos braços e levando-a porta afora.
Eles montaram num lindo cavalo branco e o animal não descansou até levar o casal extasiado até a
casinha embrenhada na mata.
E o que eles fizeram lá é exatamente o que eu ou você estaríamos fazendo, caso nosso príncipe estivesse
aqui!
Sra Fox
É de esperar que, a certa altura do casamento, uma esposa possa desejar outra pessoa que não o
marido. Foi o caso da Sra. Fox.
Não que ela estivesse descontente com o casamento, ou com o Sr. Fox, jáque se davam extremamente
bem. O Sr. Fox era muito atraente e sofisticado, e ela se mantinha eternamente cativada por seu charme
e inteligência. Esses atributos radiantes combinavam perfeitamente com a natureza inquisitiva da esposa,
que se tornara uma parceira descontente e menos realizada. Acima disso, o Sr. Fox é galante e atencioso,
e sua postura romântica só melhorou ao se deparar com a indiferença casual da Sra. Fox, o que a fez
parecer um tanto misteriosa para ele. Resumindo, suas personalidades aliadas resultaram num "dar e
receber" encantador, do qual ambos desfrutavam.
Havia apenas um detalhe irregular que surgira no casamento dos Fox. Uma pena, por ser tão inevitável.
Por baixo do aparente desprendimento da Sra. Fox havia uma curiosidade que quase a levava à loucura.
Quando sua curiosidade atingia seu auge, ela chegava a se tornar imprudentemente ousada, se não
verificasse essa tendência com um ar de pretensa indiferença. Portanto, apesar de amar o Sr. Fox acima
de todas as coisas, seu temperamento impetuoso despertava nela um tédio em relação às coisas já
realizadas e uma ansiedade pelo novo ou proibido.
O Sr. Fox ignorava qualquer sintoma desse tipo na esposa. Ele adorava sua impetuosidade pelo
desconhecido e era levado por seu comportamento -mis-q terioso.
Mas essas ânsias da Sra. Fox não eram estranhas nem novas para ela; eram, na verdade, manifestadas,'
na forma de um certo Sr. Wolfe.
O Sr. Wolfe era o melhor amigo do Sr. Fox, alérru de seu maior rival. Desde a infância, tudo o que
despertasse a atenção de um imediatamente se tornava uma questão de interesse supremo para o
outro. Nã foi diferente quando o Sr. Fox viu a esposa pela primeira vez. Ao longo de todo o namoro, o Sr.
Wolf, flertou com ela descaradamente, aproveitando to-: das as oportunidades para provocar a Sra. Fox
com propostas indecorosas. Ele estava sempre passando' a língua durante um beijo aparentemente
educado.
em sua mão, ou exalando uma respiração quente junto a sua orelha, ao dizer algo supostamente
civilizado.Aopassoqueessasintimidades proibidaseram indesejadas e ignoradas pela Sra. Fox, elas sempre
a faziam tremer. É claro que, uma vez casados, a rivalidade acabou. O Sr. Wolfe aceitou sua derrota com
espírito esportivo e até chegou a se casar logo depois, portanto a questão foi esquecida por todos.
Todos, menos a Sra. Fox.
Agora ela era tão simples e meiga quanto impetuosa e complexa. Na verdade, ela combinaria muito
mais com a natureza impulsiva do Sr. Wolfe.
E a Sra. Fox certamente não desejava se casar com ele, mesmo que seus pensamentos ocasionalmente
divagassem na direção desse homem sombrio e volátil, às vezes desencadeando especulações
selvagens sobre a forma como ele desempenhava suas funções de marido, dentro do quarto. Isso não
significava que faltassealgoemseucasamento,poisnão lhefaltavanada no tratamento dispensado por seu
marido, e nenhuma de suas atitudes eram faltosas. Ao contrário, o Sr. Fox era tão esperto e habilidoso no
quarto quanto em todas as outras coisas. Ele sabia exatamente como encontrar cada terminação
nervosa na anatomia da Sra. Fox e, mais importante, o que fazer depois de achá-las. Jamais se satisfazia
antes de garantir o prazer dela. Pode-se dizer que o Sr. Fox era tudo que a Sra. Fox poderia querer num
amante.
Exceto, é claro, o fato de não ser o Sr. Wolfe.
E, apesar de tudo isso, o Sr. Wolfe se tornara um amigo querido para a Sra. Fox. Ela realmente gostava da
companhia dele, a despeito da ânsia secreta que trazia dentro de si por toda e qualquer informação
sobre sua vida particular. A Sra. Fox simplesmente compensava isso gabando-se de seu próprio marido.
Ela fazia grandes rodeios se vangloriando das virtudes do Sr. Fox, todas verdadeiras, obvia-; mente, mas
que já haviam perdido seu tom atraente por estarem sempre disponíveis (ao contrário do charme
proibido do Sr. Wolfe). O Sr. Wolfe não parecia perceber essa excentricidade na amiga, por ela sempre
parecer tão absorvida por seus próprios pensamentos.
Dessa forma, o tempo passou e você pode até pensar que a curiosidade da Sra. Fox diminuiu por conta
de sua frustração, mas não! Ela ficou mais forte. A pobre Sra. Fox não conseguia pensar em quase nada
além do Sr. Wolfe e como seria ser a Sra. Wolfe. De tão preocupada com esses pensamentos, a Sra. Fox
mal podia desfrutar dos talentos consideráveis do Sr. Fox sem que sua mente divagasse rumo ao Sr. Wolfe.
E isso, na verdade, era o que instigava o pobre Sr. Fox a fazer uso de todos os seus esforços para satisfazêla.
Havia algo simplesmente mais intrigante na sensação do desconhecido e do proibido do Sr. Wolfe, ao
contrário dos prazeres conhecidos e reais que seu marido tinha a lhe oferecer. Para a Sra. Fox, a grama
do vizinho era sempre mais verdinha.
Um dia, quando a Sra. Fox estava encobrindo sua culpa e fazendo gênero sobre as inúmeras qualidades
de seu marido com a Sra. Wolfe, esta última subitamente suspirou infeliz.
-É uma pena que eu não possa experimentar os talentos do Sr. Fox em primeira mão -disse ela, distraída.
Assim que as palavras escaparam de sua boca, a Sra. Wolfe percebeu o impacto do que acabara de
dizer. Ela desviou o rosto, horrorizada, cruzando com o olhar aterrorizado da Sra. Fox. Corando
profundamente, ela ficou imediatamente arrependida.
-Oh, minha nossa! Eu jamais quis dizer... realmente... o que eu quis dizer... -ela continuou gaguejando,
desesperadamente em busca de um meio de se retratar da afirmação escandalosa.
A Sra. Fox, em princípio, ficou aturdida demais para replicar, tal foi sua perplexidade ao ouvir aquelas
palavras tão contundentes da sempre constante Sra. Wolfe, mas sua compostura logo voltou e
aproveitou a oportunidade que secretamente desejara.
-Isso é, na verdade, o que eu também cheguei a pensar, eventualmente -admitiu ela. Ela não se atreveria
a confessar a dimensão dessas imaginações, ou que não conseguia pensar em quase nada além disso,
desde a noite do casamento dos Wolfe.
- Você... ? A doce Sra. Wolfe ainda estava muito atrapalhada para contribuir com a conversa
- Afinal, isso é normal continuou a Sra. Fox, decidida a usar a derrapada inesperada da amiga para se
estender em seus próprios desejos ou, ao que parece agora, de ambas.
- Nossos maridos, apesar de muito talentosos, são absolutamente opostos. Como poderíamos deixar de
pensar em como seria estar com um homem tão diferente do nosso? A Sra. Wolfe absorveu aquilo e
pareceu relaxar:I um pouquinho.
-Talvez-concordou ela. Mas nós nunca poderíamos... quero dizer ela se conteve novamente.
-Há um jeito sugeriu a Sra. Fox, de maneira, astuta, com seu coração disparado pela próprias ousadia. A
Sra. Wolfe continuava sem palavras, mas havias uma centelha de interesse quando seu olhar encon trou
o da Sra. Fox. A Sra. Fox fingiu estar observando a situação. Na? verdade, ela já interpretara esse quadro
em sua menti ao menos uma centena de vezes. -Num quarto escuro refletiu ela – nossos maridos não
conseguiriam nos distinguir com tanta facilidade. Elas se entreolharam em silêncio por um instan te. Seus
corações estavam disparados diante das implicações das palavras da Sra. Fox. Nenhuma das duas se
atrevia a falar; então, as duas falaram ao mesmo tempo.
A Sra. Wolfe perguntou:
-Mas como? -Exatamente como a Sra. Fox havia imaginado.
-Você realmente faria?
As mulheres não conseguiam conter a gargalhada de nervoso. Isso aliviou um pouco a tensão e, para o
espanto da Sra. Fox, a Sra. Wolfe falou primeiro, num sussurro quase sem ar:
-Faria!
A Sra. Fox só podia se maravilhar pela Sra. Wolfe ser tão cheia de surpresas sob aquela aparência tão
tímida!
As particularidades foram facilmente providenciadas, depois que a intenção fora estabelecida, e cada
uma delas realizou sua parte na preparação do evento avidamente. Parecia lógico que elas
simplesmente trocassem de lugar durante uma das muitas festas que a Sra. Fox promovia, quando era
comum que os Wolfe e outros convidados ficassem para passar a noite. Os outros convidados seriam
acréscimos na confusão geral e, com sorte, ajudariam a afastar qualquer ideia de que havia algo errado
que pudesse ocorrer a seus maridos.
Com a aproximação do dia do evento, ambas as esposas não conseguiam evitar os comentários
repetidos de seus planos, para que tudo saísse perfeito e para reviverem a empolgação daquilo que
estavam prestes a fazer, aumentando a expectativa do que estava por vir. Só de imaginar, elas ficavam
coradas.
E a noite finalmente chegou, quando a tão esperada fantasia seria realizada. A festa, em si, foi longa,
causando uma agonia provocante que as deixou com os nervos à flor da pele.
Depois da festa, a Sra. Fox se arrepiava, deitada ao lado do marido, esperando que ele dormisse. Seus,
braços a enlaçaram como resposta. Ela se perguntava como a Sra. Wolfe estaria lidando com aquilo.
Ambas haviam concordado em gentilmente declinar qualquer investida dos maridos." Depois, a esposa
impostora mudaria de ideia. Não havia dúvida que os dois maridos aceitariam as "esposas" retardatárias;
afinal, apesar de diferentes, eram homens, e se-: ria realmente uma exceção se um deles falhasse nessa
noite.
A Sra. Fox ouvia atentamente enquanto a respiração do marido diminuía e relaxava em seus braços. Ele
finalmente havia dormido! Ela cuidadosamenteí saiu da cama, sem perturbá-lo, deixando o quarto.
A Sra. Wolfe já estava esperando por ela nas sombras do corredor. As conspiradoras trocaram um, abraço
rápido e depois se apressaram até seus novost quartos.
A Sra. Fox não pensou no que a Sra. Wolfe estava, prestes a fazer com seu marido, pois estava excitada
demais por conta do que aconteceria com ela própria. Além disso, o que quer que fizessem juntos, seu
marido pensaria estar fazendo com ela. Com o coração disparado dentro do peito, ela entrou
silenciosamente no quarto, que estava um breu, onde dormia o Sr. Wolfe, tirou seu vestido e deitou
na cama, ao seu lado. Ele gemeu dormindo quando ela roçou seu corpo nu de encontro ao dele. Suas
mãos instintivamente a abraçaram e a puxaram para mais perto.
A Sra. Fox levantou o rosto e encontrou os lábios úmidos do Sr. Wolfe. A barba por fazer em seu rosto era
mais cerrada do que a de seu marido. Ele logo respondeu ao seu beijo, mesmo dormindo, e seus
braços se apertaram ao seu redor, chegando quase a machucar seus lábios com os dele. De repente ele
estava acordado.
O Sr. Wolfe não questionou ou provocou como talvez o Sr. Fox teria feito, em vez disso, reagiu
violentamente, virando-a de barriga para cima, e cobrindo seu corpo com o dele. Apesar de alarmada
por sua brutalidade, não havia lugar para hesitações, pois ele a segurou e pressionou seus lábios com os
dela. Mas ela não estava hesitante, ou, se estivesse, isso fora logo esquecido durante esse abraço
conturbado.
Suas mãos foram ao ar num gesto de defensiva, mas isso foi tão ineficaz quanto uma defesa que mais
parece um carinho. Ela abriu as palmas das mãos no peito dele e acariciou os pelos enrolados que
cobriam seus músculos, tão diferentes do corpo delgado de seu marido. Ansiando por sentir sua rudeza
de encontro à sua pele, ela passou os braços ao redor de seu pescoço e inclinou as costas, pressionando
seus seios nus contra seu peito. Seu corpo era tão quente, rijo e forte que a fez tremer.
-Perdão, meu amor -murmurou ele. -Sei que a assusto quando sou muito rude. -Ele começou a afrouxar o
abraço.
-Não! -ela protestou. Depois, se contendo, sussurrou, disfarçando a voz. -Eu quero assim, querido.
Houve um silêncio por um momento, e a Sra. Fox imaginou se teria se delatado.
-Tem certeza? -perguntou ele, por fim.
-Sim -sussurrou ela. -Não me poupe em nada essa noite.
Ele gemeu ruidosamente, depois levou os lábios aos dela, sem tocá-los, por um breve momento. Ela podia
sentir o hálito morno em seu rosto quando)
ele voltou a perguntar:
-Tem certeza?
-Sim! Sim! -sussurrou ela. -Por fa... -Mas ela não pôde terminar seu pedido porque os lábios dele voltaram a
cobrir os seus.
O Sr. Wolfe enfiou a língua na boca da Sra. Fox, saboreando sua língua e seus lábios. Em seguida ele
beijou suas bochechas, queixo e pescoço. Onde ele a beijava, sua pele ficava em brasa com o hálito
quente e o rosto áspero. Seu corpo queimava e formigava por causa dos lábios e língua dele. Ele beijou e
lambeu-lhe os seios, fazendo-a gritar. Depois passou para sua barriga e foi descendo, cobrindo cada
centímetro dela com seus beijos. Ao afastar suas pernas, ele afundou a língua ali. Ele parecia um animal
selvagem, sua boca parecia estar em toda parte ao mesmo tempo. Mas ele ainda não a havia satisfeito,
não! Sua língua continuava a buscar por todo o seu corpo, e, quando terminou, ele havia saboreado
cada lugar oculto entre suas pernas. E mesmo com o quarto escuro como um breu, as bochechas da Sra.
Fox queimavam de vergonha. Mas ela não conseguia se afastar dele; ele a segurava com firmeza demais
para isso! Seus lábios e língua se apoderaram dela, famintos, sem qualquer preocupação com seus
esforços.
O Sr. Wolfe finalmente cessou de lambê-la, mas, ela já tinha superado a vergonha e agora queria mais!
No entanto, ele tinha outros planos e, colocando cada um dos joelhos dela em seus ombros, se
aproximou dela novamente, esticando suas pernas para
o alto e afastando-as. Segurando-a firmemente para que ela não se movesse, ele se projetou dentro dela.
Ela deu um grito ruidoso ao sentir como ele era grande. Todo o controle que ela tinha parecia se esvair e
ela voltou a gritar repetidamente, enquanto ele a penetrava. E, à medida que sua empolgaçâo crescia,
ele acelerava o ritmo.
Embora a Sra. Fox adorasse ser possuída bem aberta, lamentava não poder se mover de forma alguma
na posição que se encontrava.
Como se lesse a mente dela, o Sr. Wolfe subitamente a virou de bruços, e a puxou, colocando-a sobre os
joelhos. A Sra. Fox cedeu sem demora, e resfolegou quando ele voltou a penetrá-la por trás. Ele abraçou
seu corpo e beliscou seus mamilos com seus dedos fortes, enquanto prosseguia em sua penetração. Ela
respirava ofegante, em absoluto deleite ultrajante.
Ele começava a ficar mais rude e agressivo. Sua esposa impostora sem querer se moveu um pouquinho
para fugir dos golpes bruscos, mas ele a agarrou pelos cabelos e segurou, forçando seu corpo para trás e
obrigando-a a ficar no lugar, a menos que quisesse sentir mais dor. Ela voltou a gritar, mas ele parecia não
ouvi-la. Ao que tudo parecia, ele começava a ficar mais cruel por causa de seus gritos. Ela se movia
desesperadamente, tentando diminuir o vi-gor dos golpes, mas suas tentativas só o instigavam ainda mais.
As lágrimas escorriam por seu rosto, e ela foi obrigada a ficar imóvel e agüentar o ataque implacável. Ela
odiava o Sr.Wolfe; apesar disso, uma ânsia irrepreensível a possuía, mesmo com seu desconforto e raiva.
Ela se perguntava como a Sra. Wolfe poderia suportar esse acasalamento rude, mesmo ao colocar a
mão entre as pernas, aumentando o próprio prazer.
Ela foi lentamente se conscientizando de seus outros sentidos, e particularmente estava alerta quanto ao
som que ecoava dentro de seus ouvidos. Era um som externo, baixo e áspero. Meros sussurros e grunhidos,
mas tinham o tom de desejo e horror. O som inquietante vinha ecoando em seus ouvidos havia algum
tempo. Mas o que seria?
Ela foi subitamente tomada de revolta. Era ela! Era o som de sua própria voz, meio sussurrante, meio
grunhindo os seus desejos ilícitos, repetidamente.
-Mais forte -ela se ouvia gemer. -Mais forte, eu quero mais forte!
Por quanto tempo ela estaria repetindo aquela afirmação vergonhosa, por entre seu esforço e suas
lágrimas? Quanto mais agüentaria? Mas mesmo inteiramente consciente disso, ela não conseguia parar;
continuava soltando as palavras engasgadas:
-Mais forte... eu quero mais forte.
A Sra. Fox se sentia possuída. Seu desejo a estava controlando e dominando. Seu terror inicial quanto ao
que estava fazendo lhe causara sensações hesitantes, só por um instante, depois regressaram com o
dobro da força. Ela não sabia o que fazer. Estava aterrorizada, temendo que aquilo terminasse antes que
tivesse tido o suficiente.
-Por favor, oh, por favor -ela implorava e soluçava agora -, não pare! -Por entre seus soluços ela
continuava a se dar prazer, mesmo com seu pobre corpo doendo da cavalgada rude que ele fazia nela.
E ela percebeu que sabia que seria assim com o Sr. Wolfe. Mal podia dar conta de seu desejo por ele,
mas ainda queria mais!
Ela se agarrou à cama no intuito de se manter firme enquanto recebia as investidas e sabia que fora ela
quem o hipnotizara com o mantra "Forte, mais forte". Ela gostaria de poder deter a si mesma. Isso era
loucura. Mesmo assim, seus dedos trêmulos continuaram esfregando e seus lábios repetiam:
-Forte, mais forte, forte!
O Sr. Wolfe agarrou a Sra. Fox pelas nádegas e as apertou brutalmente. Depois enfiou os dedos nela e os
usou para entrar mais fundo, perguntando:
-Está bem forte?
Uma luxúria insana dominava a Sra. Fox, de modo que, mesmo soluçando de agonia, ela ainda
continuava a pedir:
-Forte, mais forte!
O Sr. Wolfe agora trabalhava em seus quadris como quem amassa pão, com seus dedos grandes
afundando em suas nádegas e manipulando a suavidade ao redor de seu pênis. Sua cabeça estava
caída sobre a cama, mas ele ainda a segurava, apertando e beliscando, enquanto simultaneamente a
puxava para ele e a penetrava. Ele também estava ficando enlouquecido por seu mantra, implorando
que ele fizesse mais forte, fosse mais rápido, e, acima de tudo, não parasse. Seus quadris pareciam massa
de pão em seus punhos, enquanto ele continuava a se socar contra a suavidade dela. A Sra. Fox
finalmente chegou aos píncaros da excitação. Apertou bem os olhos e ondas a tomaram, seu corpo
quase partiu, mas seus lábios continuavam murmurando, repetidamente: _ Forte, mais forte, forte! -Todo o
seu ser entrava em convulsão de um prazer trêmulo e inexplicável. Sentindo seus tremores e ouvindo seus
gritos suaves, o Sr. Wolfe perdeu o controle. A Sra. Fox sentia seu corpo num terremoto e, com um grito
sonoro, ele se projetou dentro dela uma última vez. Quando terminou, ele a pegou nos braços. Ela estava
tremendo violentamente quando ele de súbito se tornou muito gentil, pedindo perdão por seu tratamento
rude com ela. Ele deu beijos carinhosos em seu rosto e ombros, xingando a si mesmo e pedindo que ela o
perdoasse. Finalmente seu tremor diminuiu e só então ele caiu num sono profundo. Ainda com o rosto
molhado de lágrimas, a Sra. Fox saiu da cama e deixou o quarto dos Wolfe, com um desejo febril de estar
com seu marido amável. Enquanto isso, você não deve pensar que a Sra. Wolfe tenha sido devagar ao
acordar o Sr. Fox, pois ela entrou escondida em seus braços, de forma bem semelhante ao que a Sra. Fox
havia feito.
-O que é isso, agora? -O Sr. Fox provocou, ao sentir sua suavidade sedosa se aconchegando a ele.
Mas não houve necessidade da resposta da Sra. Wolfe, pois seuslábiosjáestavamprocurando osdela, com
umbeijosuave.Aempolgaçãoatomouenquanto ela pôs seus braços ao redor de seu pescoço. Sua pele
era tão morna e esguia que ela não conseguia evitar roçar sua nudez contra a dele. Ele a beijava com
destreza, mordiscando seus lábios e provocando-a com a língua.
Enquanto o Sr.Foxbeijavaa Sra.Wolfe,suasmãos gentilmente vagavam ao longo de seu corpo, fazendo
cócegas em sua pele e deixando-a arrepiada, enrijecendo seus seios. Depois suas mãos se moveram
para os seios, onde ele desfrutou ainda mais. Com as pontas dos dedos, ele apertava e contornava os
mamilos. A Sra. Wolfe estava ofegante pela doce tortura. A Sra. Fox certamente não mentira ao descrever
os talentos do marido.
O Sr. Fox foi devagar, sem pressa, nada de agarrões desesperados, mas manuseando prazerosamente os
seus seios, até que ela pudesse morrer se ele pegasse em outro lugar. Por fim, quando ela pensou que
fosse perder a cabeça, ele finalmente desceu a mão, mas parou em sua barriga, até que ela ergueu os
quadris da cama e os posicionou em sua mão. O Sr. Fox riu com sua impaciência óbvia e sussurrou:
-Calma, amor.
A Sra. Wolfe jamais estivera na posição de ter de esperar ou suplicar; na verdade, ela estava bem
acostumada a ser servida sem demora. Essa provocação criou uma dor que contorceu o meio de suas
pernas, e uma sensibilidade imensa em suas terminações nervosas, então ela se sentiu carente,
desesperada e irritada, tudo de uma só vez. Ela ergueu os quadris e os empurrou vorazmente contra a
mão dele, silenciosamente amaldiçoando o seu controle. Gargalhando de seu desprazer óbvio, ele
continuou acarinhando-lhe a pele com cruel gentileza, fazendo carícias suaves entre suas pernas, mas
logo saindo dali para percorrer os quadris, barriga e coxas, depois de volta ao meio das pernas.
A Sra. Wolfe estava se tornando ansiosa, mas o que poderia fazer? Temendo dizer algo errado e se
delatar, não podia fazer nada além de esperar. No entanto, sua necessidade estava se tornando cada
vez mais voraz, e os pequenos toques provocantes, apesar de terem a eficácia de um profissional, tinham
um efeito de duração curta, e não chegavam nem perto de satisfazê-la. Ela gemia de agonia e
balançava os quadris desavergonhadamente, novamente em busca de sua mão. Estava começando a
ficar cada vez mais indignada com o Sr. Fox. Como a Sra. Fox podia agüentar toda essa terrível
provocação?
Enquanto isso, o Sr. Fox parecia desfrutar muito para se importar com o desconforto dela. Ele mal
conseguia rir de seu esforço usando as mãos dele para conquistá-la, mesmo quando estas estavam
entretendo-a. Ele adorava a forma como o meio de suas per
nas ficava cada vez mais umedecido, sempre que ele tocava ali. Aprovava a disciplina e o autocontrole,
além de acreditar que, para cada gemido de expectativa, um segundo de prazer era acrescentado à
satisfação final. Então, mantinha isso em mente enquanto seus dedos continuavam na dança torturante
sobre o corpo dela. Ele também sentia o pulsar em seu próprio corpo, latejando de ânsia para mergulhar
em sua umidade e se perder de prazer. Mas tudo a seu tempo.
Além disso, o Sr. Fox adorava tocar a esposa. Parecia que, a cada vez que o fazia, ela sentia uma nova
excitação. Ele gostava especialmente de encontrar seus lugares mais sensíveis, e uma vez que estivesse
apropriadamente aquecida, ela tendia a ceder bem mais às manobras mais exigentes. Sentindo que ela
estava em tal condição naquele momento, suas mãos lentamente abriram caminho subindo por suas
coxas, mantendo-as bem afastadas. Ele beijou ali no meio, enquanto deslizava uma das mãos para
baixo. Sua língua lentamente trilhou sua fenda encharcada, enquanto seu dedo serpenteou entre suas
nádegas e pousou na abertura que encontrou ali. A Sra. Wolfe ficou estarrecida demais para se mover,
então suas pernas permaneceram totalmente abertas, e seus dedos se agarraram aos lençóis nas laterais
da cama. Cada molécula gritava em mudez, mas esperando pacientemente pela libertação. Ela, porém,
respirava ofegante e gemia.
O Sr. Fox se divertia acariciando as suas costas com o dedo, enquanto simultaneamente brincava em seu
ponto de prazer sabiamente, com a língua. Ele fazia isso com grande experiência, friccionando a língua
sobre a área sensível, com a pressão exata para causar arrepios por todo seu corpo, depois parava
subitamente para engolir seus fluídos com um riso malicioso. Enquanto isso, seu dedo continuava a
provocar entre as nádegas, e até penetrava-a de vez em quando, cada vez mais fundo, incentivando
pequenos suspiros.
A Sra. Wolfe refletiu que, por mais forçoso que fosse seu marido, ela jamais se sentira tão ultrajada.
Enquanto o Sr. Wolfe possuía o que quisesse, ela podia ter o que desejasse dele, também. Mas isso, de
certa forma, era diferente. Parecia que o Sr. Fox controlava a ambos; e ela não gostava nem um pouco
disso. As lágrimas vieram aos olhos e ela chorou de frustração e impaciência.
Agora o Sr. Fox acreditava tê-la onde ele finalmente queria. Ele se recostou na cama e disse:
-Venha pegar.
A Sra. Wolfe estava estarrecida. Ela certamente nunca havia escutado um desaforo como esses do Sr.
Wolfe. E nunca vira um homem demonstrar tamanho controle.
Mas ela tinha que continuar, pois precisava amargamente daquilo que ele vinha contendo. Então ela se
levantou e se preparou para montar no Sr. Fox.
No entanto, não era isso que o Sr. Fox pretendia. Ele a deteve antes de penetrá-la.
-Primeiro me mostre o quanto você quer.
Oh, como ela o odiava! Ela quase esqueceu de si mesma no calor da raiva, para lhe dizer o que pensava
dele. Aparentemente ignorando isso, a mão dele gentilmente acariciava sua cabeça, seus cabelos,
mesmo quando ele pressionava sua cabeça abaixo. Ela engoliu sua indignação e abriu a boca para
aceitar seu pênis rijo. Ele continuou a pressionar sua cabeça abaixo, até que ela pudesse senti-lo no fundo
de sua garganta.
-É isso-elegrunhiudeprazer -,sevocêquer, vai ter de trabalhar para ter.
O rosto dela ardeu ao ouvir essas palavras, mas a aflição entre suas pernas estava se tornando
insuportável, e o que ela podia fazer?
A Sra. Wolfe fez tudo o que podia para dar prazer ao Sr. Fox, lambendo e chupando com a maior
destreza que sabia, e usando também as mãos, como ele o fizera, para que pudesse ganhar sua
recompensa. Ela chupou até que estivesse certa de tê-lo feito bem, e até pensou em algumas coisas que
não pensara antes, como o seu desejo de ganhar os prazeres que
o Sr. Fox exibia à sua frente. E lhe ocorreu que isso também estava fazendo com que suas vísceras
doessem ainda mais do que as sábias carícias do Sr. Fox.
Mas, oh, por quanto tempo ela ainda teria de esperar para ter alívio? As lágrimas encheram seus olhos
enquanto ela prosseguia se empenhando diante dele, quase se engasgando em seu esforço para lhe
proporcionar prazer.
O Sr. Fox acreditava firmemente em autocontrole, mas não era uma máquina, e seu corpo também tinha
suas limitações. Ele parou abruptamente o ato oral, para não se envergonhar nem desapontar sua
parceira, depois de todo o seu empenho. Ele disse:
-Você ganhou a sua recompensa! -E a puxou para seu corpo latejante.
A Sra. Wolfe gemia ruidosamente, enquanto pousava seu corpo sobre o dele. Era uma sensação tão boa
em tê-lo finalmente deslizando para dentro dela! Ao menos a dor entre suas pernas começara a diminuir
um pouquinho, enquanto ela se balançava para cima e para baixo, à frente e atrás, tentando sentir da
melhor forma.
O Sr. Fox brincava com seus seios e os beliscava, mas, quando os movimentos da Sra. Wolfe se tornaram
mais frenéticos, ele passou a mão entre suas pernas e começou a ajudá-la. Ela arfava e gemia, mais uma
vez perplexa pela esperteza do Sr. Fox. Os dedos dele eram bem mais eficazes do que a sua fricção, e ela
reduziu os movimentos a um mero balanço, permitindo que seus dedos talentosos fizessem o restante. Ela
embalava os quadris para frente e para trás em seus dedos, enquanto ele a estimulava. Com a outra
mão, ele beliscava seus mamilos.
A Sra. Wolfe não estava acostumada a esse tipo de relação mais suave. As ações mais vigorosas de seu
marido revelavam suas atrações e necessidades. A compostura absoluta do Sr. Fox, por sua vez, parecia
quase uma indiferença, mesmo que aumentasse consideravelmente o prazer. Ela fechou os olhos e
imaginou seu marido arrebatando a pobre Sra. Fox e isso levou a uma conclusão ainda mais devastadora
quanto aos seus esforços da noite.
Ela desabou sobre o Sr. Fox. Ele passou os braços ao redor dela e a segurou firmemente pelos ombros,
enquanto a penetrava repetidamente. Ela se agarrou a ele. E a Sra. Wolfe esqueceu de tudo por um
instante, simplesmente fantasiando na penumbra do pós-sexo. Mas ela finalmente percebeu que o Sr. Fox
havia adormecido, com ela ainda sobre ele. Ela saiu silenciosamente do abraço, tomando cuidado para,
não acordá-lo. Depois rapidamente se vestiu e saiu do quarto dos Fox.
A Sra. Fox estava lá para encontrá-la no corredor, e seus olhos se cruzaram e se examinaram por um
momento, em silêncio. A Sra. Wolfe corou, ao pensar o que a Sra. Fox achara de ter seu marido em
primeira mão. Mas a Sra. Fox passava pelo mesmo constrangimento e pensava na mesma coisa! E ambas
perceberam que estariam melhores com seus próprios maridos, no fim das contas.
Talvez o leitor agora espere que eu reitere o sábio provérbio que diz que a grama do vizinho é sempre
mais verdinha, e as pessoas têm de se contentar com o que possuem. Mas não tenho certeza se essa
seria a conclusão apropriada para essa fábula em particular, pois a Sra. Fox e a Sra. Wolfe continuam
com as excursões ocasionais ao quarto uma da outra até hoje. E se por um lado é bem verdade que a
grama não é tão verde para nenhuma das duas, acaba sendo razoável, no fim das contas.
E há tantos tons de verde, não é?
Branca de Neve na Floresta
Era uma vez um rei e uma rainha que tinham tudo que desejavam, exceto um filho. Nas noites frias de
inverno, eles se sentavam junto à lareira aconchegante e a rainha fazia sua tapeçaria enquanto o rei a
olhava, e os dois conversavam sobre os acontecimentos do dia. Mas, de vez em quando, a rainha parava
tudo que estava fazendo para olhar pela janela e ver a neve caindo. E lá ficava ela, contemplando a
neve, esquecendo completamente o que dizia ou com sua tapeçaria no ar. Seu marido sabia bem o que
prendia sua atenção nessas ocasiões: era a visão do filho deles.
Numa determinada noite, a rainha acidentalmente furou o dedo com sua agulha. Uma gota vermelha de
sangue surgiu e, enquanto olhava para ela, a rainha suspirou profundamente, murmurando:
-Se eu pudesse ter uma filha com lábios vermelhos como esse sangue, a pele branca como a neve e
cabelos negros como o carvão que queima no fogo...
Em um ano o desejo da rainha se realizou, e o feliz casal foi abençoado com uma filha que tinha lábios
vermelhos como sangue, pele branca como a neve e cabelos negros como o carvão. Eles a chamaram
de Branca de Neve.
A rainha morreu logo após o nascimento da filha e, alguns anos depois, o rei voltou a se casar. A nova
esposa era uma bela rainha, e os três viveram felizes por um tempo. Mas antes que Branca de Neve
completasse dez anos, seu pai também morreu, deixando-a para ser criada pela madrasta. No começo,
a mulher era amável, mas, a cada ano, Branca de Neve ficava mais bonita e, na mesma proporção, sua
madrasta envelhecia e temia perder a própria beleza, começando a se ressentir dela. Um dia, a rainha
proibiu a compra de vestidos de festa e outros adornos aos quais Branca de Neve estava acostumada, e
obrigou-a a trabalhar na cozinha. Mas, mesmo vestida de trapos, a beleza de Branca de Neve não podia
ser ignorada e, para a sua madrasta, temerosa de perder a própria beleza, parecia que Branca de Neve
se tornava mais bonita apenas para atormentá-la.
No fim das contas, a rainha já não podia mais suportar a beleza de Branca de Neve, então providenciou
para que um criado a levasse para longe e a matasse. Mas ele não fez mal a Branca de Neve. Em vez
disso, levou-a para a floresta e alertou-a quanto às intenções da rainha. Branca de Neve ficou
aterrorizada, mas o criado lhe garantiu que, a apenas pouca distância dali, havia a cabana de sete
anõezinhos que viviam juntos na floresta. Ele prometeu que os anões a manteriam segura.
Quando o criado a deixou, Branca de Neve viu-se sozinha pela primeira vez em sua vida. A floresta era
cheia de barulhos estranhos, e ela saiu correndo em busca da cabana dos anões. Embrenhou-se pela
floresta e encontrou um pequeno bangalô, que só podia ser o lar dos anões, pois a porta era tão
pequena que Branca de Neve tinha de se abaixar para entrar.
Com a curiosidade superando seus medos, Branca de Neve bateu diversas vezesà pequena porta.
Percebendo que os anões não deveriam estar ali, e impaciente para ver seu interior, ela abriu a porta e
entrou.
Uma vez dentro da cabana, não restava dúvida de que era a casa dos anões, pois havia sete
cadeirinhas ao redor de uma mesa, sete sousplats, e assim por diante. Ao caminhar dentro da casa,
Branca de Neve viu sete pequenas poltronas numa sala de estar e, mais adiante, sete caminhas
caprichosamente arrumadas num quarto. Que tipo de homens são esses, ela pensou.
Os sete anões, na verdade, eram sete belos príncipes sob a maldição de uma bruxa demoníaca. A
maldição, além de torná-los bem pequenos, também atingiu cada um com uma enfermidade que
gerava crises de espirros, sonolência, mau humor etc. Sem ver solução para sua situação, os príncipes
deixaram a sociedade para viver juntos na floresta, onde afinal se tornaram conhecidos pelas
características que receberam em consequência da maldição, passando a se chamar Atchim, Soneca,
Zangado, Feliz, Dengoso, Dunga e Mestre. Essaseram as circunstâncias dos anões quando chegaram para
encontrar Branca de Neve naquela noite.
Desde o primeiro encontro, Branca de Neve ficou encantada com os anões e se sentiu um tanto segura
com eles, em sua pequena cabana na floresta. Quanto aos príncipes-anões, eles se apaixonaram
profundamente por Branca de Neve. Nada que ela dissesse deixava de agradá-los, e eles faziam tudo
que ela pedia. Eles se tornaram melhores amigos em pouco tempo.
Mas, numa noite, os anões entreouviram Branca de Neve chorando em sua cama. Alarmados, correram
para o seu lado e imploraram para que ela contasse a causa de sua aflição. Após muito insistirem, Branca
de Neve confessou sua solidão e lhes contou seu profundo desejo de ter um príncipe para amar. Essa
declaração os entristeceu profundamente, mas Mestre subitamente anunciou que conhecia o remédio
para Branca de Neve
-O que é? -perguntou ela.
Mestre não respondeu à pergunta, mas fez outra:
-Você confia em seus anões devotos, Branca de
Neve? -É claro! -gritou ela. -Deite-se e feche os olhos e então veremos
continuou ele.
Branca de Neve concordou, e logo sentiu as mãos dos sete homenzinhos em seu corpo, erguendo sua
camisola e tocando sua pele nua.
Branca de Neve deu um salto da cama. O que quer que estivesse esperando, certamente não era aquilo!
-As coisas nem sempre são como parecem, que
rida Branca de Neve -avisou Mestre. -Mas não podemos fazer muita coisa para ajudá-la até que você
confie em nós. E com isso ele e seus seis companheiros deixaram Branca de Neve sozinha em sua
infelicidade.
O incidente logo foi esquecido e a amizade entre os oito voltou a florescer. Mas Branca de Neve ainda
estava aborrecida por uma solidão dolorosa e, numa noite, seus soluços foram novamente ouvidos pelos
anões.
Eles se apressaram até Branca de Neve com perguntas. Ela explicou seu desejo melancólico por um
príncipe para amar. E, novamente, Mestre afirmou conhecer a cura.
-Por favor, me diga! -gritou Branca de Neve.
-Você confia em seus devotos anões? -ele lhe perguntou.
-Sim! -ela jurou.
-Então, deite-se e feche os olhos -instruiu ele.
Branca de Neve assim o fez, e, em alguns segundos, ela novamente sentiu as mãos de todos os sete
anões sobre seu corpo. Ela resfolegou e deu um pulo. Mas o que eles estavam pensando?, ponderou ela.
-Fique calma, pois jamais lhe faríamos mal, Branca de Neve. -Mestre a acalmou, acrescentando,
tristemente: -Já é o suficiente que você não confie em nós.
E com isso os sete homenzinhos saíram silenciosamente, deixando-a sozinha.
A questão foi novamente esquecida e, com o passar dos meses e a chegada dos ventos frios à floresta,
Branca de Neve e os sete anões ficaram mais próximos do que nunca, em sua cabaninha aconchegante.
Ainda assim, a pobre Branca de Neve lamentava a ausência de um príncipe só seu para amar, pois todas
as princesas não podem deixar de querer um príncipe. E logo os anões foram novamente perturbados
pelo som de seu pranto.
Eles logo se apressaram até ela, como haviam feito nas vezes anteriores. Ela voltou a lhes contar sobre seu
desejo de um príncipe amante. E novamente Mestre jurou saber a cura para a sua solidão.
-Você confia em seus devotos anões? -ele lhe perguntou, como fizera antes. -Com todo o meu coração! -
gritou Branca de Neve.
-Então, deite-se e feche os olhos -disse ele.
Ela o fez e, assim como das outras vezes, sentiu os leves toques das mãos dos anões, como sopros leves,
passando por seu rosto e corpo. Dessa vez ela não pulou, mas confiou que eles não lhe fariam mal.
Branca de Neve deixou seu corpo relaxar e, ao fazê-lo, o calor a tomou, envolvendo-a numa quentura, e
uma estranha sensação de formigamento começou a revolver dentro dela. Os dedos logo foram
substituídos por lábios úmidos e macios que buscavam os seus. Ao primeiro beijo que tocou seus lábios,
Branca de Neve abriu os olhos e viu diante de si o mais lindo príncipe que seus olhos já haviam visto. Ele
segurou sua mão e buscou seus lábios para um segundo beijo. Ali, diante de seus olhos arregalados,
apareceu outro príncipe, ainda mais bonito, depois outro, até que todos os sete anões haviam recobrado
sua forma de príncipe -um mais magnífico que o outro. Cada príncipe era mais singular que o anterior,
com uma masculinidade arrebatadora e uma perfeição física. Um tinha cabelos louros e olhos azuis, outro
era ruivo de olhos castanhos. Um tinha o peito coberto de pelos, enquanto outro era liso como seda. Até
a cor de sua pele era singular e única, com um príncipe negro como carvão, outro de cor amendoada.
Resumindo, não havia uma característica masculina que faltasse dentre os sete homens.
Branca de Neve estava tremendo de choque e deleite.
-Escolha seu príncipe -ela ouviu um deles sussurrar em seu ouvido. Mas permaneceu em silêncio, pois não
podia suportar a ideia de perder nenhum dos magníficos príncipes que estavam diante dela.
Os príncipes não questionaram seu silêncio. Em vez disso, removeram seustrajes, que haviam se
transformado em farrapos durante sua transformação. Em seguida, eles se puseram a tirar a camisola de
Branca de Neve e esta rapidamente desapareceu quando as 14 mãos foram postas em ação. Livre do
impedimento da camisola, as mãos agora estavam livres para acariciar seu corpo ruborizado e trêmulo,
passando por cada curva, côncavo e relevo, e encontrando todos os seus lugares mais ocultos, As mãos
a exploravam inteiramente, aderindo aqui e ali, mas não deixavam nenhuma parte intocada. Enquanto
isso, os lábios deles devoravam os dela.
Mas as bocas famintas se tornavam impacientes demais para esperar em vão pelos lábios de Branca de
Neve, então procuravam outros lugares para beijar. Branca de Neve gemia e tremia fervorosamente,
enquanto as mãos e lábios dos sete príncipes consumiam cada parte dela. Ela estremeceu ao sentir os
dentes afiados de um príncipe mordiscando seu mamilo, enquanto outro príncipe gentilmente sugava o
outro. Uma língua deslizou até sua barriga enquanto outra brincava descendo até o meio de suas pernas.
Outro par de lábios tomou os seus, num beijo profundo e demorado.
Branca de Neve estava tão envolvida de excitação e desejo que tinha dificuldade para respirar e, por
um instante, temeu perder a consciência. Ela estava próxima do delírio, enquanto esperava
ansiosamente pelo que estava por vir.
Percebendo seu dilema e o remédio para ele, os príncipes gentilmente posicionaram Branca de Neve de
modo que recebesse seu primeiro príncipe, um belo homem com cabelos louros e olhos do mais profundo
azul. Ele a beijou carinhosamente, enquanto a penetrava. Branca de Neve gritou de êxtase irrepreensível
de tanto prazer.
Você não deve pensar que os outros príncipes permaneceram inertes enquanto isso. Um deles segurou
sua perna direita, enquanto outro segurou a esquerda. Um terceiro príncipe beijou seus lábios, enquanto
mais dois beijavam seus seios. Todos eles assistiam ao príncipe mais claro possuir Branca de Neve e,
pacientemente, esperavam por sua vez, e ela teve de fechar os olhos por um instante apenas para
recuperar o fôlego.
Bem na hora em que Branca de Neve estava se aproximando do ápice de seu prazer com o príncipe
louro e gentil, os homens que seguravam suas pernas afastaram-nas mais um pouco para que ele
pudesse penetrá-la mais profundamente. Essa manobra surtiu efeito rapidamente, e todos os olhos
assistiam ao casal, enquanto eles se submetiam aos últimos lances de prazer.
Logo depois disso o príncipe claro deu um passo para o lado e outro príncipe, mais escuro, tomou seu
lugar. Esse não era tão gentil como o primeiro, mas deu tanto prazer a Branca de Neve quanto o outro, se
não mais. Com seus olhos encarando vorazmente os dela, ele contorceu seu corpo e cintura, de modo
que a perna esquerda passasse por cima da direita. Com a ajuda de outro príncipe que a segura-, va na
posição desejada, o príncipe escuro possuiu , Branca de Neve sem jamais tirar os olhos dela. Mais uma vez
seu desejo e excitação começaram a crescer dentro dela. Com tantos príncipes para servi-la, não havia
mais nada para ela fazer -na verdade,não havia nada que ela pudesse fazer, a não ser simplesmente
ficar ali deitada e aceitar o prazer oferecido pela união de suas forças. E foi exatamente o que Branca de
Neve fez. Ela tinha plena consciência de cada príncipe individualmente, enquanto estes a tomavam, e
prestava atenção a cada toque de seus dedos e lábios. Os príncipes a seguravam firmemente, enquanto
o amante moreno a penetrava repetidamente, saboreando-lhe, porém cuidadoso para não se
envergonhar colocando o seu próprio prazer antes do dela. Branca de Neve se continha e gemia
enquanto a doce agonia prosseguia se acumulando dentro dela, até que mais uma vez ela tremeu de
prazer, preenchida pelo príncipe moreno.
Instantes depois, ele foi substituído por outro príncipe. Seus olhos eram de um verde-esmeralda profundo,
e seu belo sorriso exibia dentes perfeitos. Com Branca de Neve ainda na mesma posição deixada pelo
príncipe anterior, com uma perna atravessada para o lado, o príncipe de olhos verdes a penetrou,
beijando-lhe os lábios carinhosamente. No instante seguinte seu amante habilidoso a virou e colocou de
joelhos, sem lhe causar o menor desconforto, e ela ainda estava unida a ele!
Branca de Neve olhava cegamente enquanto o príncipe a tomou devagar, com longas investidas por
trás. Enquanto isso, outro príncipe continuava a tocála, com carícias íntimas ao longo de suas nádegas e
coxas, provocando-a, enquanto cada um deles ansiosamente vivia a expectativa de sua vez de estar no
meio daquelas pernas e preenchê-la.
Branca de Neve olhou acima e viu um príncipe de pele negra próximo a ela. Da forma como estava
posicionada sua cabeça, ela alcançava a medida exata de seus quadris, que a colocava tão perto de
sua masculinidade, rígida, pulsando, apontando diante dela, a apenas alguns centímetros de seus lábios.
Ele acarinhou seus ombros e recuou, enquanto olhava o outro príncipe penetrá-la.
Branca de Neve olhava maravilhada para a protuberância negra. Sua boca estava ligeiramente aberta
dos suspiros que escaparam de seus lábios e agora ela percebia que o príncipe negro estava avançando
lentamente, até que sua umidade podia ser sentida em seus lábios. Ele não se forçou em sua boca, no
entanto, esperou para que os lábios dela abrissem mais, o que fizeram, em seu ritmo próprio e no instante
seguinte ele estava inteiramente dentro dela. Tremendamente excitada, ela balançava o corpo à frente
e para trás, deleitando-se em abandono. Como ela desejara ter um príncipe que lhe desse prazer. Agora
jamais se contentaria com apenas um! E agora os príncipes serviam Branca de Neve com merecimento,
cada qual de uma forma única e diferente, até que ela tivesse provado os presentes de todos os
sete. E mesmo quando não era a vez deles em satisfazê-la, continuavam a servi-la fielmente, assistindo-lhe
de todas as formas que podiam para que ela alcançasse o máximo de prazer. Finalmente exausta, ela
caiu num sono profundo.
Na manhã seguinte, Branca de Neve acordou sozinha e quase acreditar ter sonhado com todo o
episódio, exceto que em seu corpo havia pequenas evidências de que ela de fato havia sido arrebatada
na noite anterior. Mas para onde meus príncipes teriam ido? Ela se perguntava. E de onde teriam vindo?
Ela foi deixada para pensar sobre isso como lembrete do dia, até que os sete anões voltassem para casa,
naquela noite. Mas, ao vê-los, Branca de Neve se sentiu um tanto tímida, e pensou em como deveria
abordar o assunto.
Branca de Neve permaneceu em silêncio durante todo o jantar, mas as lembranças da noite anterior
piscavam em sua mente. Ela lutava contra as imagens de forma febril, mas elas continuavam a atacála
até que ela gritou:
-Onde estão meus príncipes?
Em segundos a verdadeira identidade dos anões lhe foi explicada. Branca de Neve tinha apenas de
beijar os lábios de qualquer anão para libertá-lo, mesmo que temporariamente, da maldição. E como
Branca de Neve ficou feliz ao saber disso! Ainda assim, ela novamente se perguntava como poderia
escolher um acima de outro. Ao examinar cada um de seus rostos, ela podia ver claramente que todos
eram igualmente devotos a ela.
-Não posso escolher entre vocês, meus queridos príncipes -disse ela aos anões. -Como poderia?
Os anões se entreolharam. Eles jamais negaram nada que ela desejasse,e não poderiam fazê-lo agora.
-Você pode ver todos os seus príncipes novamente, se é isso que deseja, Branca de Neve -disse Mestre,
carinhosamente. -Fica inteiramente por sua conta.
Branca de Neve se aproximou de Mestre e, fechando os olhos, gentilmente beijou-lhe os lábios. Ela os
abriu para ver seu lindo príncipe louro diante de si. Depois foi até onde estava Zangado e beijoulhe os
lábios. Lá estava seu príncipe moreno, mais rude. Arrepios a percorreram ao beijar um anão após o outro,
descobrindo suas verdadeiras identidades. Ela levou os príncipes até o quarto e permitiu que tirassem sua
roupa. Tremia de desejo, em pé, despida, diante de seus sete amantes. Ela adentrou o círculo dos
príncipes e se permitiu mergulhar no prazer.
Noite apó snoite Branca de Neve passava com seus sete príncipes, e o tempo passou rapidamente. De
vez em quando, ela tinha notícias do castelo da rainha, mas isso não a preocupava, pois ela estava
convencida de que os anões a manteriam segura.
Um dia, um serviçal veio trazer uma mensagem da rainha, que alegava agora ter muito remorso e
aborrecimento pelas injustiças feitas contra Branca de Neve no passado. O criado entregou a Branca de
Neve um presente, para provar que ela havia mudado. Mas esse serviçal havia sido enganado pela
rainha, pois ela ainda desejava a morte de Branca de Neve.
Branca de Neve aceitou o presente com apreensão. Ela não questionou a natureza dúbia do presente
como deveria; em vez disso, ficou com receio de deixar seus belos príncipes, caso a rainha exigisse que
Branca de Neve voltasse ao castelo.
Pensativa, Branca de Neve abriu o presente. Ela olhou encantada ao ver o lindo espartilho de seda
quehaviadentro. Pensandoemseuspríncipesecomo reagiriam ao vê-la nessa peça exótica, ela se
apressou em experimentá-lo. Mas, no instante em que tocou sua pele, o corpete, que estava
amaldiçoado por um feitiço, subitamente começou a se fechar ao redor de seu corpo, apertando
sozinho, até que Branca de Neve não podia mais respirar. Ela caiu no chão e permaneceu ali, imóvel,
como se estivesse morta.
Quando os sete anões regressaram à cabana no fim daquele dia, encontraram Branca de Neve onde
havia caído, parecendo morta. Tomados de tristeza, os anões a deitaram sobre uma das camas depois
foram fazer um belo caixão, entalhado em mogno. O caixão demorou vários dias para ficar pronto, mas,
finalmente, quando chegou a hora de enterrá-la, ela ainda estava tão linda e cheia de vida que nenhum
deles conseguia fechar a tampa. Eles fizeram outro caixão, de vidro, e colocaram Branca de Neve
dentro. Todos os dias, sem falta, os anões iam prestar sua homenagem, olhando e lamentando
profundamente a sua perda.
Vários meses se passaram até que, certo dia, a rainha realmente se arrependeu das maldades feitas à
Branca de Neve. Ela mandou outro serviçal à floresta, com instruções de cortar os cordões do espartilho
de Branca de Neve e libertá-la da maldição.
Mas o criado não conhecia a floresta e a casa dos anões e, depois de dar muitas voltas pela área,
acabou se perdendo. Receando voltar ao castelo sem ter realizado sua missão, ele se sentou embaixo de
uma árvore para pensar no assunto. E um belo príncipe passou em seu cavalo branco.
O serviçal lhe fez sinal para pedir ajuda quanto à incumbência da rainha e, como os príncipes são
conhecidos por passar em florestas em ocasiões como essa, ele entusiasticamente concordou em
encontrar e salvar Branca de Neve.
O belo príncipe facilmente encontrou a casa dos anões e, minutos depois, achou Branca de Neve em seu
caixão de vidro. Ele abriu a tampa e a olhou por um instante, antes de arrebentar os cordões. Ela
acordou imediatamente, e olhou o lindo príncipe.
-Eu te amo, Branca de Neve -disse ele.
Case comigo e seja minha princesa.
Agora Branca de Neve se esquecia qual anão correspondia a que príncipe, mas sabia, sem sombra de
dúvida, que este não era um de seus sete príncipes.
- Não posso me casar com você -disse ela, olhando ao redor, à procura de seus príncipes. O príncipe
ficou chocado; ele estivera certo de que não era assim que a história terminava, mas, depois de tanta
coisa, finalmente deixou Branca de Neve na casinha dos anões. E, oh, que festa aconteceu lá, quando os
príncipes-anões regressaram e viram que Branca de Neve estava viva!
A rainha, é claro, fez repetidas tentativas de trazer Branca de Neve de volta ao castelo, mas, para
surpresa de todos, ela recusou solenemente. Todos os meios de provocação e coação foram
empregados, mas nada podia persuadir Branca de Neve a voltar. A rainha foi forçada a ceder, e Branca
de Neve obteve permissão para continuar no chalé com os anões.
O estranho comportamento de Branca de Neve gerou boatos, mas a rainha e aqueles a seu serviço
mantêm o boato de que Branca de Neve realmente se casou com o príncipe que a salvou na floresta, e
que ele a levou para um reino distante. Talvez seja essa a história que você ouviu.
Mas posso garantir que Branca de Neve permaneceu na casinha com os anões, escondida na floresta.
Não há dúvidas que ainda esteja lá.
As Roupas da Imperatriz
Essa história é sobre uma imperatriz. Durante a era mística de seu reinado, havia muitas imperatrizes e
rainhas no poder pelo mundo afora. Conta-se que essas mulheres lendárias governavam criteriosamente
e promoviam grande amizade entre seus reinos e as nações vizinhas. Quanto aos seus súditos, bem, você
jamais ouviu nenhum incidente de revolta, ouviu? Claro que não, pois essas mulheres eram líderes
supremas, e um dos grandes mistérios na história é como elas perderam o poder. Suspeito que tenha tido
algo a ver com um herdeiro masculino que, de alguma forma, tedioso por sua existência pacífica, pensou
que seria mais interessante se a questão da autoridade fosse decidida por força bruta. Mas essa teoria
terá de ser abordada uma outra hora, pois estou me desviando da história que originalmente pretendia
contar.
A imperatriz sobre quem trata essa história governou seu reino com sabedoria e gentileza, como já foi
mencionado, e era respeitada e admirada por todos que a conheciam. Ela detinha a maior lealdade de
seus súditos, e todos os reinos que faziam fronteira com o dela eram seus aliados. Seu marido e zeloso
assistente, o imperador, a ajudava a transformar todas as suas inclinações em lei, acreditando em seu
bom senso, sem qualquer hesitação.
Havia apenas uma excentricidade discernível na personalidade da imperatriz e talvez isso fosse esperado
em alguém tão extraordinário como ela. A imperatriz adorava atenção e a ocasião em que ficava mais
feliz era sob os holofotes e todos os olhos voltados a sua direção,
Com o passar dos anos, o desejo da imperatriz por atenção cresceu, e às vezes ela fazia coisas que
chamavam ainda mais a atenção para si. Seus vestidos se tornaram mais ousados, feitos de tecidos
tingidos das cores mais chamativas e talhados de forma a exibir o máximo possível seu corpo. E ela
também tendia a deixar as portas abertas onde a privacidade era geralmente esperada.
Seu marido, o imperador, tinha consciência dessa crescente peculiaridade na personalidade da esposa,
mas, como ocorria com todas as coisas pertinentes a ela, ele achava aquilo profundamente charmoso e
encantador.
Tudo transcorria de forma feliz para todos, até acontecer um fato muito singular durante um grande
banquete que havia sido organizado para comemorar o aniversário da imperatriz.
Havia mais fofoca do que o habitual cercando essa festa de aniversário, pois se comentava que a
imperatriz descobrira um costureiro excepcional, cujos desenhos nunca haviam sido vistos antes naquela
região. Os trajes da imperatriz atraíam interesse até mesmo sob circunstâncias comuns e, nessa ocasião,
com o mistério acrescentado ao novo costureiro, a curiosidade de todos para ver as novas roupas da
imperatriz estava especialmente aguçada.
Quando finalmente chegou a noite do grande banquete, as pessoas se enfileiraram bem cedo do lado
de fora do castelo, ansiosas para ver a amada imperatriz. Os serviçais corriam de um lado para outro em
total empolgação, especulando sobre o que sua ama estaria usando. Até mesmo o imperador
aguardava avidamente pela entrada triunfal da esposa.
Na hora esperada, o imperador e seus convidados se reuniram ao redor da elegante mesa de jantar,
enquanto os serviçais se postaram alertas em todos os pontos da sala, prontos para saltarem ao menor
pedido de qualquer convidado.
Subitamente, houve um alvoroço pela sala. O imperador olhou acima e viu a imperatriz.
Ela estava nua como no dia em que nascera!
Houve alguns suspiros, mas, no geral, todos se recuperaram de forma até bem admirável. Uma duquesa
da cidade mais populosa do reino manifestou-se.
-Sua Alteza -disse ela, com a mais sincera expressão de respeito -precisa me dar o nome de seu novo
costureiro. Jamais vi algo assim!
Imediatamente a sala foi invadida por vozes que ecoavam a singularidade e o esplendor do traje da
imperatriz. Apenas o imperador permaneceu em silêncio com um pequeno sorriso de diversão particular
nos lábios. Ele sabia que a imperatriz não poderia agir mal sob o olhar de seus súditos e que eles jamais se
atreveriam a admitir, nem para si mesmos, que ela não estava vestindo nada. Mas achou que ela fora
longe demais. Ele percebeu que, como imperador, seu dever era aconselhar a esposa quanto a essa
questão. Mas como ele poderia apoiar sua crescente necessidade de atenção, que vinha se
transformando em exibicionismo, sem atrapalhar sua autoridade como governante?
O imperador olhou ao redor da sala e observou a adoração incondicional nos rostos dos serviçais,
conforme estes serviam graciosamente à imperatriz. Seu sorriso se alargou com a ideia que lhe ocorreu.
Ele permaneceu quieto e pensativo ao longo da noite enquanto desenvolvia seu plano. Ninguém notou a
preocupação do imperador, pois, como sempre, a imperatriz centrava todas as atenções. Algumas
semanas depois, o imperador sorriu novamente ao se vestir para um compromisso que havia
cuidadosamente planejado. Tudo tinha saído satisfatoriamente, e a imperatriz ficara mais empolgada do
que qualquer um com a ideia. Uma produção teatral, bem ali, no castelo! Afinal, havia séculos que algo
assim não era feito. Ela pediu para saber dos detalhes, mas, obviamente, o imperador se recusou a lhe
contar qualquer coisa que pudesse estragar a surpresa. Nem mesmo os empregados, que supostamente
deveriam fazer parte da produção, falavam uma palavra sequer a respeito. Além disso, a imperatriz não
fazia ideia do talento que eles possuíam fora das tarefas comuns e jamais as tinha visto em prática!
Foram feitas grandes reformas para converter um dos cômodos do castelo em um magnífico teatro. O
cômodo localizado próximo ao centro do castelo, foi escolhido por ser inteiramente redondo. Por toda a
extensão das paredes sem emenda, os pintores tra balhavam dia e noite para criar desenhos exóticos e
acordar a porção do cérebro que mais apreciava aquelas coisas teatrais. De um lado, os assentos do
teatro foram organizados em fileiras descendendo da parede. Porém, o mais peculiar era o camarote,
que foi criado para a imperatriz e seu marido, posicionado no lado oposto às poltronas e projetado em
todas as direções do pequeno palco.
O camarote era, na realidade, um pequeno cómodo construído de painéis que se estendiam à frente. Os
painéis eram feitos do mais fino cristal e eram excepcionais, pois cada um deles oferecia um ponto
diferente de visão de onde se podia assistir ao evento. Dessa forma, ao olhar através de um painel, tudo
parecia precisamente idêntico à visão através de um vidro comum, mas, ao olhar através de outro, a
mesma imagem surgiria ligeiramente ampliada e, ao olhar através de mais um, haveria um efeito ainda
mais ampliado. Aslentes para ópera eram totalmente desnecessárias, pois, para ver o evento mais de
perto, era preciso apenas olhar através de um painel diferente.
Para os detalhes finais dos preparativos, o imperador pediu à esposa que na noite de abertura vestisse o
mesmo traje usado em seu banquete de aniversário.
Quando a noite do grande evento finalmente chegou, o imperador foi até o teatro do castelo momentos
depois que a imperatriz havia chegado. Ele parou por um instante, ao vê-la sozinha, em pé, no camarote.
Pensou se ela teria ideia do que estava por vir. Será que iria gostar do fato de ele ter planejado
essa noite para ela? Se ele a tivesse compreendido corretamente na noite do banquete, e estava certo
de tê-lo feito, ela ficaria realmente intrigada pelo que ele organizou com tanto esmero, apesar do quanto
parecesse aterrador ou inimaginável à primeira vista.
Enquanto a observava através do espelho, o imperador podia ver claramente os detalhes do corpo da
esposa através do traje imaginário que ela vestia. Ela permanecia com a postura perfeitamente ereta
enquanto olhava pelo cristal, para um lado e para o outro, fascinada pelo efeito dos painéis incomuns.
O imperador se juntou a ela, casualmente, no camarote. Os serviçais entraram no teatro
sincronizadamente e assumiram seus lugares ao redor da sala de cristal. A imperatriz resfolegou ao ver o
marido.
-Que tal meu novo traje? -perguntou ele, curvando-se ligeiramente, como costumava fazer sempre que a
encontrava.
Como esperado, ela rapidamente disfarçou o choque e, erguendo ligeiramente o queixo, o repreendeu
suavemente:
-Então, você descobriu a identidade do meu novo costureiro!
-Descobri, sim -respondeu ele, olhando indiferentemente através do painel de cristal para ver como
estavam indo os serviçais e calculando mentalmente quanto tempo ainda faltava até o espetáculo
começar. Ele fingiu não perceber o fato de estar completamente excitado. A imperatriz também se
esforçava para ignorar tal condição e manter uma aparência externa tanto honrada quanto indiferente.
Mas o estufar de seu peito dava evidência da maior necessidade de oxigênio que só se torna necessária
quando proveniente de um coração disparado. O imperador percebeu aquilo e conteve um sorriso. Ele
estivera torcendo para conseguir essa reação lá pela segunda parte do primeiro ato. Tudo estava indo
melhor do que ele imaginara.
E chegara a hora do início da apresentação.
Bem lentamente, o imperador esticou a mão e tocou o seio da imperatriz. Chocada, a imperatriz
instintivamente olhou pelos painéis de vidro. Naquele momento, a iluminação sobre sua cabeça pareceu
aumentar, enquanto as luzes fora do camarote pareceram diminuir. Mesmo assim, ela podia ver os
serviçais claramente. Eles pareciam esperar algo dela e do imperador. Ela se voltou para o marido,
inquisitiva, mas ele mal olhou para ela, lentamente passando a mão por seu seio, descendo até a barriga
e pela curva de seus quadris. Um pequeno arrepio passou por ela. De uma forma ou de outra, o evento
começara.
O imperador esperou silenciosamente que a imperatriz compreendesse a situação, totalmente intrigada
por um misto de confusão e relutante excitação, que era evidente em seu semblante.
-Eu pensei que haveria uma peça, ou... algum... entretenimento. -Ainda pronunciando as palavras,
pareceu lhe percorrer um estalo.
-E há -respondeu o imperador. Então, ele foi para trás dela e, pegando-a pelos ombros, cuidadosamente
a virou para que ela ficasse de frente para os painéis de cristal e os rostos ávidos do público. A imperatriz
congelou no lugar, olhando os rostos dos serviçais e mulheres que impacientemente aguardavam o
entretenimento que ela estava prestes a prover. Nas expressões, ela viu uma variedade de reações que
iam desde o tom intrigado até o choque, surpresa, empolgação e até excitação. Havia sorrisos lascivos
em alguns rostos dos serviçais homens, enquanto olhavam-na abertamente. Ela retribuía o olhar
horrorizada, mesmo quando uma onda de instigação tomou-lhe as vísceras.
A imperatriz permaneceu imóvel, dividida entre um forte desejo de ficar e uma imensa ansiedade de
partir. Naquele instante, ela se conscientizou de seu desejo mais sombrio, e o temeu vigorosamente por
querê-lo. Ela respondeu a esse dilema bem ao modo que faz uma gazela quando seu olhar é capturado
no escuro por uma luz brilhante que a deixa paralisada de incerteza.
Os lábios mornos do imperador estavam na sua nuca, enquanto as mãos se moviam deliberadamente
abaixo, acarinhando suas costas e quadris. Hipnotizada, a imperatriz silenciosamente via os olhos dos
serviçais conforme estes seguiam os movimentos das mãos de seu marido com imensa atenção,
principal-mente quando ele as levou ao redor de sua cintura, depois subiu, segurando seus seios. Ele a
acariciava com um toque conhecedor, afagando-a atrevidamente. Todo o tempo ele prosseguiu
beijando seu pescoço e suas costas, enquanto ela olhava os rostos do público totalmente muda. Mesmo
quando ele súbita e brutalmente apertou seus mamilos, fazendo com que um suspiro lhe escapasse dos
lábios, ela não tirou os olhos dos espectadores, que encaravam encantados pela exibição diante deles.
Imóvel e quase sem ar, a imperatriz só podia imaginar qual seria o próximo movimento do imperador, já
que suas mãos desceram lentamente, até que roçaram o meio de suas pernas. Os olhos dos
espectadores seguiam as mãos, enquanto estas circulavam de um lado ao outro, roçando-a levemente,
provocativas.
O imperador estava ficando impaciente para saber se a imperatriz estava realmente disposta a aceitar o
papel que ele havia criado para ela nesse drama e, por isso, os serviçais continuavam olhando
fascinados, enquanto ele a tocava mais intimamente, colocando seu dedo dentro dela, em busca da
resposta para sua pergunta não dita. Ele gemeu de prazer ao sentir sua reação molhada e macia.
Com a conclusão bem-sucedida do teste de palco,
oimperador não viamotivospara adiara performance. Gentilmente, inclinou a parte superior do corpo da
imperatriz à frente, para que fosse dobrada à altura da cintura. Instintivamente, as mãos dela foram de
encontro ao painel de cristal à sua frente para ter apoio, para se equilibrar em sua nova posição.
Enquanto isso, o imperador afastou-lhe as pernas, com seu pé, mantendo uma das mãos no fim de suas
costas para mantê-la no lugar.
-Você é a apresentação programada, imperatriz -disse ele, ao se projetar para dentro dela.
A imperatriz ficou ali, pasma, apoiada na parede de vidro, enfraquecida, incapaz de pensar em qualquer
coisa além do recinto repleto de serviçais que silenciosamente assistiam enquanto o imperador a possuía
bem ali, diante de todos. Ela olhou para o chão,ainda incerta,emmeioàssensaçõesconflitantes que a
transbordavam. Mas logo se sentiu instigada a sair de seu transe e sucumbir ao prazer excepcional que se
acumulava dentro dela. Ela lentamente começou a reagir ao marido, primeiro, consciente, com
movimentos ainda desconfortáveis e meio estranhos, enquanto deixava escapar gritinhos e suspiros.
Porém, à medida que a qualidade sonhadora do evento começou a diminuir, e adentrar a realidade do
que estava acontecendo, ela foi ficando cada vez mais excitada, e seus movimentos passaram a ser
desinibidos e frenéticos, até que, finalmente, ela estava lançando seus quadris de encontro ao imperador
num frenesi de prazer.
Apesar de manter o olhar colado ao chão, a imperatriz tinha total consciência dos espectadores ao seu
redor, observando cada um dos movimentos com grande interesse. Mesmo assim, ela deslizou a mão ao
meio das pernas, tocando a si mesma, fechando os olhos bem apertados. Ela não tinha dúvida de que os
olhos atentos viam sua mão proporcionando prazer a si mesma, aliás, isso até aumentava seu prazer. Ela
estava totalmente consciente dos movimentos e sons estranhos que fazia e, por outro lado, engajada
intimamente com o imperador nesse ato.
Mas qual era a reação do público diante da exibição? Pensou ela. No que pensavam enquanto estavam
ali sentados, silenciosamente assistindo a ela e o imperador em devaneios, em total abandono? Ela podia
sentir o prazer extraordinário que seu marido lhe estavadando, mas como seriada perspectiva deles?
Essas reflexões só faziam aumentar sua excitação e, subitamente, ela queria mais que tudo ver os rostos
das pessoas que haviam se reunido ao redor do vidro para assistir. Ela virou a cabeça de lado, na
tentativa de olhar para cima. Seu corpo todo estava em convulsão, enquanto ela olhava nos olhos da
multidão que silenciosamente a encarava perplexa. Alguns estavam olhando para o lugar onde ela e o
marido estavam fundidos. Outros olhavam seus seios balançantes. Outros, ainda, observavam seu rosto.
Os olhos tinham todos os tamanhos, desde os normais até os extragrandes, e a espiavam através dos
painéis de vidro com o efeito desejado. A imperatriz estremeceu ao tentar imaginar a visão que se
apresentava a partir de cada ponto de perspectiva. Uma onda de prazer após a outra passava por seu
ser, enquanto ela olhava os rostos, um após o outro, e os via olhá-la.
A reação da imperatriz aumentou a excitação do marido, que se tornou mais agressivo, usando-a, de
maneira selvagem, à medida que sua empolgação continuava a crescer. E, ao longo do evento, os olhos
atentos não deixaram que nada escapasse. Eles captaram tudo, desde o aperto esmagador que o
imperador mantinha nos quadris da imperatriz até os gritinhos que escaparam de seus lábios pelas
investidas violentas, chegando à perda do equilíbrio da pobre dama sob o ritmo exigente do marido. E,
mesmo então, para espanto do público, o imperador não recuou, nem mesmo quando as mãos da
imperatriz escorregaram da parede rumo ao chão, tentando freneticamente se endireitar, ele ainda
prosseguiu impiedosamente aparentando ignorar seu apuro. Foi realmente chocante ver a imperatriz em
tal posição, curvada pela cintura, com as mãos e pés agarrados ao chão, desesperadamente, enquanto
o imperador persistia em penetrá-la de forma tão determinada, por trás.
Porém, o mais impressionante de tudo foi a forma como a imperatriz, através de seus empenho
extraordinário, independentemente de qualquer outra coisa, continuou curvando o pescoço na direção
dos serviçais, esforçando-se para mantê-los em seu ângulo de visão, desesperadamente olhando para
seus rostos e freneticamente buscando seus olhos!
E, em meio a tudo isso, seu corpo todo tremeu, repetidamente, demonstrando o seu prazer na exibição.
Finalmente, a excitação do imperador atingiu seu auge, e a imperatriz sentiu sua umidade quente
escorrendo por suas pernas. Mesmo então, ele não a soltou, mas permaneceu dentro de seu corpo,
lânguido e controlado. Um rubor tomou as bochechas da imperatriz, diante da posição humilhante que
fora obrigada a manter desde que perdera o equilíbrio, e ainda permanecia sobre as mãos e pés, no
chão, e seu corpo estava estranhamente curvado na cintura. Posicionada dessa forma, tudo que ela
podia fazer era aguardar a instrução do imperador com o rosto em chamas, mas, ainda assim, não podia
desviar o olhar dos homens e mulheres que continuavam a encará-la. E, apesar de seu constrangimento,
ela podia sentir a sensação de provocação se acumulando dentro dela novamente!
Mas, finalmente, o imperador acenou para que os serviçais fossem embora. Eles também pareciam
relutantes em desviar o olhar, enquanto saíam lentamente do teatro, e viravam a cabeça para trás
repetidamente, para uma última olhada.
Sozinho com a esposa, o imperador finalmente a aliviou daquela posição, tomando-a nos braços para
um terno abraço.
-Você gostou disso, não foi? -perguntou ele, observando seu rosto por um momento. Ela assentiu com um
rubor acanhado, ainda muito constrangida para admitir o quanto havia gostado. -Fico contente, pois
você está programada para atuar na próxima semana; dessa vez a performance será para um público
nobre.
A imperatriz se afastou do marido e encarou-o incrédula. Ainda estava muito transtornada para falar, mas
começou a assimilar que, se o que haviam feito se espalhasse, seria a sua ruína. É claro que era
possívelconseguir persuadirosserviçaispara mantêlos quietos, mas nobres...?
O imperador sabia de seus pensamentos e deu uma risada provocativa.
-Será que me esqueci de lhe contar, meu amor? Os painéis de cristal em nosso pequeno camarote são
mágicos. Todos que olham para dentro dele são colocados sob um feitiço que os faz esquecer de tudo
que veem. Somente os que olham de dentro para fora conseguem manter a lembrança.
-Ele lhe deu um grande sorriso de satisfação. Então,como você vê, minha querida, cada vez que alguém
vier a esse teatro, ficará chocado e perplexopor sua atuação, como se fosse a primeira vez que a
viu!
-Você quer dizer que os serviçais não se lembrarão do que acabaram de ver? Gritou ela. Ela não
podia conter sua alegria e começou a bater palmas de contentamento.
-Gosta de seu novo teatro, imperatriz? omaridolhe perguntou, rindo.
-Oh, sim! Ela respondeu, feliz.
Imagine, de agora em diante, ela podia ter toda a atenção que sempre quisera, sem jamais ter de se
preocupar com os efeitos que isso poderia ter na sua posição de governante!
Pensou em quão empolgante havia sido ter todos aqueles olhos sobre si. O que estariam pensando
enquanto assistiam? Imaginou que outras coisas o imperador faria com ela enquanto os serviçais e nobres
olhassem interessados. O imperador riu novamente, ao ver a mudança de semblante da imperatriz, com
seus pensamentos.
-Convidei duques e duquesas de todo o reino para assistirem à nossa próxima produção disse ele. –Talvez
nós devamos começar a ensaiar agora! E eles passaram o restante da noite fazendo exatamente isso.
A Garota dos Gansos
Era uma vez uma princesa que, desde o dia de seu nascimento, fora prometida em casamento a um
príncipe de um reino longínquo. Quando finalmente chegou a época de encontrar seu príncipe, houve
uma grande tristeza em seu reino, pois ela era uma princesa meiga e gentil, adorada por todos. Sua mãe,
a rainha, era a mais entristecida pelo acontecimento, e juntou vários tesouros para a filha levar.
Os preparativos levaram muitos meses e, quando foram concluídos, havia tantos baús que não se podia
ver o fim. Abarrotando os baús imensos, havia joias da mais rara qualidade, acessórios de ouro e prata
para o uso diário da princesa, metros e metros dos mais finos tecidos de todas as cores do arco-íris e
muitos outros itens, todos de excelente qualidade e em grande abundância. Nenhum pequeno detalhe
foi desprezado, para que tudo que fosse condizente a uma princesa estivesse incluído. Na verdade, um
legado até mesmo para uma rainha.
Esses baús abarrotados foram cuidadosamente colocados em carrinhos longos, posteriormente assistidos
por guardas selecionados entre os mais devotados serviçais do reino. Além dessa carga extravagante, a
princesa recebeu, como sua criada pessoal e acompanhante, a bela filha do mais fiel criado do rei, um
homem que descendia de uma longa linha de serviçais do trono. Essa criada foi a escolha mais
agradável para a princesa, pois a moça fora sua companheira querida, desde a infância.
Para a sua jornada, a princesa recebeu um cavalo encantado que podia falar, chamado Falada. Por
último, a princesa foi presenteada com um colar de ouro no qual havia uma aliança real pendurada,
pertencente ao seu noivo e príncipe. Ela deveria devolver a aliança ao príncipe em seu casamento.
Quando estava tudo pronto para a partida, o castelo inteiro veio desejar uma boa viagem, e a jornada
começou.
Houve muito alvoroço com a partida dos viajantes, e a princesa e sua dama de companhia passaram as
primeiras horas da viagem alegremente. Mas elas logo se cansaram do ritmo mantido pelos outros,
preferindo viajar de modo bem mais agradável. Na verdade, a princesa não queria se casar,
principalmente com um príncipe que jamais vira. Isso não quer dizer que de alguma forma ela alimentasse
esperanças de evitar o casamento, pois era obediente e leal com o dever característico daqueles que
possuem sangue real. Ainda assim, ela tinha intenção de desfrutar de seus últimos instantes de liberdade
pelo maior tempo possível.
Desta forma, determinada a não ser apressada rumo ao seu destino inevitável, ela convenceu a sua
caravana a seguir em frente, permitindo que ela e a criada seguissem seu ritmo próprio. Afinal, era uma
viagem de apenas alguns dias dentro das propriedades reais, além disso, ninguém na procissão estava
em posição de negar qualquer coisa que ela desejasse.
Naquele primeiro dia de jornada estava particularmente quente e, tendo feito diversas paradas para
descansar, a princesa e sua acompanhante logo ficaram para trás do restante do grupo. Quando já
estava chegando o final da tarde, as duas chegaram a um córrego e, empolgadas com a possibilidade
de tomar um banho após uma cavalgada tão tediosa, concordaram que seria um lugar perfeito para
montar acampamento e passar a noite.
As damas desmontaram seus cavalos avidamente, removeram as roupas empoeiradas e se apressaram
para entrar na água. Foi uma sensação maravilhosa poder lavar o pó da estrada.
Mas a princesa não estava acostumada a cuidar de si mesma e logo seu cabelo estava embaraçado e
cheio de nós. Vendo a princesa em dificuldades, sua criada se apressou a ajudá-la.
A água maravilhosamente fresca acarinhava-lhes os membros cansados, e a acompanhante lavava
carinhosamente o cabelo da princesa, enquanto o balanço da corrente fazia com que seus corpos se
tocassem, repetidamente. Em pouco tempo a coerção sutil das ondas fez efeito e as mulheres
começaram a se encantar cada vez mais uma pela outra.
Assim que o cabelo da princesa estava lavado e enxaguado, ela imediatamente se pôs a retribuir o
favor, de forma que o mesmo processo se repetiu com a princesa lavando o cabelo de sua
acompanhante. Enquanto isso, as duas mulheres foram ficando mais ousadas, permitindo que seus corpos
se tocassem por mais tempo quando a água os aproximava, como se por
acidente,masficandocadavezmaisexcitadaspelo toque extraordinário do corpo da outra. Os cabelos
limpos reluziam sob o sol vespertino.
Mas a princesa ainda não estava querendo se separar de sua charmosa dama de companhia, portanto,
por diversão, como num sonho, começou a acariciá-la, usando o sabão que tinha nas mãos para
parecer estar lavando a dama, mas, na verdade, apenas por querer tocá-la mais intimamente. Ela foi
tomada por uma curiosidade de saber o que a outra mulher sentia e como isso se comparava a ela;
porém, mais que isso, estava ansiando por dar e receber prazer.
Não tardou para que a acompanhante fosse consumida pelos mesmos desejos que a princesa, e ela
também começou a tocá-la suavemente, e explorar o corpo da amiga. Cada uma delas se maravilhou
com as pequenas peculiaridades de seus charmes femininos semelhantes.
Aos pouquinhos, elas se tornaram mais íntimas uma da outra, descobrindo -como só as mulheres
autoindulgentes nessa forma extravagante de se amar -o quão extraordinário é tocar alguém como a si
mesma. Oh, como é doce sentir o enrijecer do mamilo de sua amante entre seus dedos, enquanto ela
acaricia o seio maduro, amorosamente. Como é excitante deslizar a mão pelo corpo da amante e
acariciar suas curvas da cintura e quadris, e suas nádegas arredondadas. Seu coração mal podia
agüentar quando, buscando no pequeno triângulo de pelos, na junção de duas pernas macias, ela
finalmente descobre um botãozinho que leva a outra a tremer da mesma forma que se sente quando
tocada ali. Ela não pode resistir a deslizar o dedo para dentro da suavidade feminina e sentir o calor e a
umidade que existe lá dentro.
Cobertas de bolhas de sabão, elas avidamente acariciavam uma a outra, descobrindo com deleite
que,apesar de suas pequenas distinções, eles eram, de fato, muito parecidas.
Sem ter mais a necessidade de atuar sob a desculpa do banho, a princesa e sua acompanhante
enxaguaram o sabão e foram para a margem. Elas prazerosamente secaram uma à outra, rindo e
provocando. Resolveram que um colchão seria o suficiente para a noite e se puseram a trabalhar
empolgadamente. Como duas fadas numa floresta encantada, elas iam de um lado para outro, se
divertindo com sua nudez. A cama foi finalmente arrumada, e a criada se deitou sobre ela timidamente.
A princesa se aninhou ao lado de sua dama de companhia e suavemente lhe beijou os lábios. A criada
retribuiu o beijo ardentemente, pressionando o seu corpo contra o da princesa. Elas se abraçaram como
amantes, dando um longo beijo após o outro, nos lábios rosados. Em meio aos beijos, elas sussurravam
frases de carinho declarando sua afeição de todo o coração, e foi extraordinário para ambas quando os
seios tocaram outros seios, as pernas se embrenharam em outras pernas e fendas úmidas roçavam uma
na outra. Elas agora estavam terrivelmente excitadas e queriam mais. A princesa virou seu corpo de
modo que ficasse de lado para a criada, mas de frente para a posição oposta. A experiência era nova
para ambas, mas, cada uma delas, como se por instinto, facilmente encontrou sua posição diante da
outra. Com um arrepio de expectativa, elas primeiro examinaram, depois gentilmente afastaram as
pernas e acariciaram com a língua o corpo delicado uma da outra. Gritos suaves escaparam de seus
lábios enquanto descobriam os deleites de prazer que poderiam dar uma à outra.
Conforme a excitação crescia, elas se grudavam mais fervorosamente e seus quadris se agitavam de
encontro às línguas que agiam em suas ânsias. O abraço era tão voraz que de longe elas mais pareciam
uma só criatura, em vez de duas, e seus gritos ecoavam pela floresta enquanto os cavalos olhavam,
silenciosamente. Tudo logo passou, mas a princesa e sua criada continuaram abraçadas, tremendo, e
sussurrando sentimentos de amor uma para a outra.
Mais tarde, naquela noite, a criada foi acordada por um objeto rijo que estava alojado na roupa de
cama, embaixo dela. Apalpando as cobertas ela descobriu o anel real, que havia caído do pescoço da
princesa enquanto faziam amor. Ela rapidamente pegou o anel e o escondeu na roupa de baixo.
Enquanto isso, uma trama terrível começou a tomar forma em sua mente.
A criada sabia que deveria estar contente com sua posição como dama de companhia da princesa,
pois uma amante mais gentil não poderia ser encontrada em reino algum. Na verdade, a princesa a
tratava mais como uma irmã do que como uma serviçal. Talvez tenha sido exatamente essa
benevolência da princesa que causou tanto descontentamento na criada. Qualquer que tivesse sido a
razão, a criada estava imensamente enciumada da princesa e cobiçava suas posses e sua alta posição.
Acima de tudo, ela tinha inveja porque a princesa ia se casar com um príncipe. Para a criada, casar com
um príncipe lhe daria a liberdade e o poder que ela tanto queria. Ela seria uma princesa e teria qualquer
coisa que desejasse.
Depois que a ideia de trair a princesa havia sido concebida, ela rapidamente cresceu, assumindo o
controle da mente da criada, impedindo que qualquer outro pensamento pudesse interferir. Ela ignorava
qualquer sentimento de compaixão pela princesa e, mesmo quando lhe ocorreu que ela talvez tivesse de
ameaçar a vida da princesa para realizar seu sonho, não recuou, apesar de estremecer com a ideia. Mas
ela amava a sua ambição muito além do que a amável princesa. Ainda assim, resolveu fazer tudo que
estivesse ao seu alcance para não machucar a princesa, já que voltou a repassar mentalmente os
detalhes de seu plano, sempre agarrada ao anel real.
No dia seguinte, a criada não revelou suas intenções à princesa. Em vez disso, meditou infeliz durante a
manhã, enquanto retomavam a viagem.
Por volta de meio-dia, a dupla passou por outro riacho. Um tanto sedenta, a princesa disse à sua dama:
-Por favor, desça de seu cavalo e me traga um pouco de água.
Mas a criada se recusou, dizendo:
-Você mesma pode pegar.
Aquilo chocou a princesa, mas ela se sentia muito afeiçoada à garota para levar a questão adiante
como deveria e, portanto, desceu do cavalo e foi até o córrego beber água. Mas Falada, o cavalo da
princesa, marcou tudo que acontecera.
Um pouco mais adiante, na estrada, a princesa novamente sentiu sede e, esquecendo do incidente
anterior, mais uma vez solicitou ajuda da criada, dizendo:
-Por favor, desça de seu cavalo e me traga um pouco de água.
Novamente a criada se recusou a ajudar a princesa com uma resposta grosseira, e a princesa foi
obrigada a pegar sua própria água. Mas depois de beber, ela se levantou e viu que a criada também
havia descido do cavalo.
A expressão nos olhos da criada fez com que o coração da princesa se enchesse de terror. Parecia que
ela iria matá-la, mas, em vez disso, ela ordenou que a princesa tirasse todos os seus trajes reais e vestisse os
seus, de criada. Aquele pareceu um pedido estranho, mas a princesa obedeceu silenciosamente, mesmo
vendo a criada vestir seus robes. Depois a criada montou em Falada, deixando seu cavalo para
que a princesa montasse. A princesa ficou imaginando o que teria acontecido, mas não disse nada,
pensando que seria mais prudente esperar até que elas chegassem à segurança do reino antes de
questionar
o seu comportamento bizarro. Quanto à criada, ela continuou postergando o momento de concluir seu
plano, pois, na verdade, não teria prazer em executar a tarefa que tinha pela frente.
Elas viajaram assim por um tempo, com a princesa temerosa demais para falar e a serviçal ponderan
do o destino solenemente. Quando finalmente chegaram a uma bifurcação na estrada, que marcava a
entrada do reino do noivo da princesa, a criada sabia que não podia esperar mais. Parou o cavalo da
princesa e a fez descer. Antes que a princesa tivesse tempo para falar, a serviçal rapidamente mostrou
um punhal. Apontando o punhal para o coração da princesa, ela lhe deu um ultimato: jurar jamais revelar
sua verdadeira identidade ou seria morta. A princesa estava chocada demais para falar, mas a criada
projetou o punhal à frente, dizendo:
-Eu sei que você não irá quebrar um juramento real, portanto, jure agora, ou morrerá! O que a princesa
poderia fazer? Para salvar a própria vida, ela fez conforme a serviçal mandou. E tudo correu exatamente
como a criada planejara, quando as duas mulheres chegaram ao destino, a criada foi imediatamente
tomada pela princesa, sendo recebida no castelo do príncipe com muita alegria e comemoração.
Quanto à verdadeira princesa, ela foi obrigada a agir como uma serviçal. Ficou trancada no ex-quarto
de sua criada e forçada e desfazer suas próprias malas, que agora pertenciam a ela. A criada concluiu
esse feito demoníaco ao mandar uma ordem dizendo que toda a caravana fosse mandada de volta ao
antigo reino.
Com seu plano tão bem conduzido, a princesa impostora não perdeu tempo em se casar com o príncipe,
que não suspeitou de nada. Mas a verdadeira princesa se recusou a servir a criada traidora e, sem ter
qualquer treinamento ou habilidade para o emprego, não encontrou nenhuma posição melhor do que
cuidar dos gansos reais. E foi assim que ela ficou conhecida como a Garota dos Gansos.
Dessa forma, o príncipe e sua noiva viveram felizes para sempre, mas, por outro lado, a garota dos gansos
sofreu uma vida de pobreza e solidão, na qual seus únicos companheiros eram os gansos de quem
cuidava no quintal.
Um dia, o príncipe quis sair a cavalo e, ao ver que
o seu estava longe para receber ferraduras, ele montou Falada, o cavalo da princesa.
Falada era um bom cavalo e lá foram eles, galopando até que chegaram à bifurcação da estrada onde
a criada forçara a princesa a fazer o juramento ou perder a vida. Ao passarem por esse local, Falada
diminuiu e passou a trotar, murmurando:
-Foi aqui que a garota serviçal teria matado a sua verdadeira princesa se ela não tivesse jurado manter a
sua identidade em segredo.
O príncipe ficou chocado com essa afirmação, mas permaneceu em silêncio,deixando que o cavalo
prosseguisse na mesma direção para ver o que mais ele poderia saber. Eles viajaram mais um pouco e,
em outro lugar da estrada, voltou a diminuir, dizendo:
-Foi aqui que a serviçal obrigou que a princesa trocasse de roupas com ela.
Novamente, o príncipe se manteve calado e seguiu em frente com o cavalo. Ao chegarem ao córrego
onde as duas haviam tomado banho, Falada parou, dizendo:
-Foi aqui que a serviçal e sua princesa verdadeira se banharam e acariciaram uma a outra, fazendo com
que o anel caísse do pescoço da princesa e nas mãos da criada.
Diante disso, o príncipe bruscamente virou Falada e deu a volta, conduzindo-o em galope de volta ao
castelo. Ao chegar lá, ele imediatamente mandou chamar a esposa, que agora ele via como criada.
Apesar de o castigo para tal ato de traição geralmente ser severo, o príncipe se apaixonara pela esposa,
sendo ela serviçal ou não. Não queria machucá-la, e se pôs a pensar, tentando imaginar uma punição
apropriada para seus atos.
Subitamente, ele ouviu passos atrás de si. Ela sorriu para ele, inocentemente.
-O que deseja, meu marido? -perguntou ela.
-Quero que você me traga a minha verdadeira noiva -disse ele, baixinho. Diante do pedido inesperado,
ela ficou totalmente pálida, mas ele a tocou gentilmente no rosto, dizendo: -Façacomo eu digo.
Aterrorizada quanto ao seu destino, a dama se apressou em fazer o que ele mandou. Ela rapidamente
encontrou a Garota dos Gansos e lhe falou sobre o pedido do príncipe. Ao ver a expressão apavorada
de sua ex-criada, a verdadeira princesa supôs que o príncipe havia descoberto o segredo. Para espanto
da serviçal errante, a Garota dos Gansos apertou seu braço e assegurou-lhe:
-Eu não vou deixar que ele lhe faça mal! Apesar de que, na verdade, ela não sabia como poderia
manter essa promessa. De fato, não há poder sobre a terra que possa salvar uma mulher que faça tal
maldade a outra, de sua mesma natureza. E nem há força no céu que salvará.
A criada ficou perplexa pela bondade de sua examante. Mas ela não podia desfazer o que já havia sido
feito.
Tremendo, agarradas uma à outra, as mulheres se aproximaram do príncipe, em seu quarto. Vê-las tão
amedrontadas tocou seu coração. Mas ele havia pensado numa retribuição para sua esposa e estava
determinado a ver acontecer até o fim.
-Eu quero ter o que a sua fraude me roubou, esposa -afirmou ele. Mas ao olhar para a Garota dos Gansos
ele quase mudou de ideia, pois sua aparência estava severamente alterada pela imundície do quintal e
da falta de acomodações da pobre garota.
-Mas primeiro ela tomará um banho -disse ele. Sua esposa começou a tocar a sineta chamando pelos
serviçais, mas ele a deteve. -Você irá banhála, como fez no riacho -instruiu ele.
A esposa do príncipe lentamente despiu a Garota dos Gansos. Ao olhar para seus olhos solidários e seu
rosto sujo, ela corou de vergonha. Subitamente lembrou como esta sempre fora boa para ela. Lamentou
seu tratamento à princesa, mesmo antes de seu segredo ser descoberto, mas, oh, como ela amara ter
sido uma princesa!
Quando a Garota dos Gansos estava totalmente despida, a criada a conduziu a uma imensa banheira,
cheia de água e espuma. A garota abaixou na água, e a esposa do príncipe se curvou para banhá-la.
-Será mais fácil se você tomar banho com elainterrompeu o marido. -Não foi assim que você fez no
córrego?
Relutante e com dedos trêmulos, sua esposa tirou a roupa e entrou na banheira. Apesar de seus medos
quanto ao futuro incerto, ela podia sentir um formigamento se formando nela. No entanto, em sua atual
circunstância, era tão perturbador quanto prazeroso. De pernas abertas ao redor da Garota dos Gansos,
com um joelho de cada lado, ela começou a lavar os seus cabelos. Lágrimas de arrependimento corriam
por seu rosto ao cruzar o olhar gentil da verdadeira princesa, que simplesmente olhava de volta para sua
criada, sem qualquer traço de raiva. O príncipe observava silenciosamente, enquanto a Garota dos
Gansos teve a ousadia de começar a lavar os cabelos de sua ex-criada, da mesma forma como fizera no
riacho, naquela noite, tempos atrás.
De cabelos limpos, e mechas brilhantes coladas ao corpo, as mulheres pegaram o sabonete e
começaram a espalhar espuma no corpo uma da outra. O príncipe olhava perplexo, enquanto as
mulheres se banhavam intimamente, como haviam feito na floresta. Usando apenas sabão e as mãos,
elas se lavaram inteiramente, sem deixar parte alguma intocada. A Garota dos Gansos ficou tão
comovida pela amabilidade de sua ex-criada que, esquecendo totalmente do príncipe, ela passou os
lábios nos dela, num beijo rápido. Oh, como ela havia agonizado pelo que a outra fizera, enquanto ela
era a Garota dos Gansos! Mas, acima de tudo, ela tinha o coração partido, por ter sido sincera sobre
cada palavra de amor que pronunciara naquela noite, na floresta.
Sua ex-criada estava atormentada por tantos sentimentos conflitantes para retribuir o beijo, e subitamente
se levantou e saiu da banheira.
O príncipe deu à esposa uma toalha macia e a instruiu a secar o corpo da Garota dos Gansos. Ela
obedeceu, e novamente a garota retribuiu o favor ao fazer o mesmo por ela.
Agora o príncipe conduziu as duas mulheres à sua cama, dizendo numa voz casual-apesar de tremer de
absoluta instigação:
-Por favor, senhoras, mostrem-me como se acariciaram ao lado do córrego. -As mulheres hesitaram,
constrangidas. A pele, rosada pelo banho, formigava e queimava numa mistura de consciência e
excitação.
No entanto, o príncipe estava muito impaciente para saber tudo que se passara entre a esposa e a
princesa. Sua relutância era como tortura para ele,
que se dirigia às damas à sua frente, impacientemente,
dizendo:
-Vocês duas me traíram, uma com infidelidade e a outra por malandragem. Segundo a lei, posso puni-las
como eu quiser. Portanto, vocês podem pagar a dívida para mim, aqui e agora, integralmente, ou sofrer
a punição integral da lei. -Ele disse isso a elas apenas por estar altamente excitado e desejar induzi-las à
ação por qualquer meio necessário. Na verdade, o príncipe já perdoara completamente a ambas, ao
vê-las no banho.
As mulheres seguiram para a cama meio esquisitas, e se acomodaram uma ao lado da outra, como
haviam feito anteriormente, com as cabeças viradas em direção oposta ao nível do olhar diretamente
em frente aos quadris. O príncipe observava silenciosamente enquanto as mulheres se esforçavam para
superar o constrangimento. Ele nem piscava por estar tão absorvido com a visão delas, que se tocavam
sobre os corpos macios, suavemente provocando as partes mais íntimas sob seu olhar e tocando suas
fendas com a língua. Ele lentamente caminhava de um lado ao outro da cama, querendo testemunhar
tudo, de todos os ângulos. Estava hipnotizado pela imagem da língua rosada da Garota dos Gansos e a
forma como ela a usava nos lugares mais íntimos de sua esposa -lugar onde ele pensou ser o único a
penetrar. E estava igualmente envolvido pela visão de sua esposa fazendo o mesmo ritual com seus lábios
e língua, até que ele não pôde resistir e beijou seu lábios, saboreando a evidência do que ele estava
vendo ali.
A Garota dos Gansos nem sequer notava a presença do príncipe, de tão feliz que estava ao novamente
abraçar a criada. Ela a acariciava fervorosamente com os lábios e a língua, deleitando-se em cada
arrepio, e sacudida do corpo de sua amante, em resposta a seu toque.
E, finalmente, a criada, que experimentara tantas sensações conflitantes naquele dia, começou a relaxar.
Havia sido muito traumático: a começar pela vergonha de ter exposto aquilo que fizera, seguido pelo
terror das consequências que ela poderia sofrer por suas ações, e, finalmente, seu alívio impressionante
ao ouvir a declaração do marido, de que sua punição não iria além daquele quarto. Ela fora tratada
com mais gentileza do que merecia, e sua punição era, na verdade, exatamente o que ela vinha
sonhando todos esses meses, pois, apesar de ter se apaixonado pelo marido, ela não conseguira
esquecer totalmente o charme de sua amante, nem o amor excepcional que haviam feito.
Levou alguns minutos para que seu corpo se recuperasse do choque do dia, mas, finalmente, ela
começou a se perder na maciez da princesa. Logo as duas estavam tão envolvidas uma com a outra
como havia sido na noite junto ao córrego. Incapaz de suportar ser apenas um espectador por nem mais
um instante sequer,o príncipe gentilmente empurrou a esposa para o lado de sua amante e se ajoelhou
no meio das pernas da Garota dos Gansos. Ele olhou para o rosto da esposa.
-Toque-a.
Sua esposa se esticou e tocou com os dedos a Garota dos Gansos, meio hesitante. O príncipe ficou
olhando os dedos brincando ao longo da abertura, e os pressionou gentilmente, forçando-a a ser mais
íntima. Ele se curvou para beijar os lábios da esposa. Com os lábios ainda tocando os dela, ele sussurrou:
-Fale-me qual é a sensação que ela lhe dá.
Ela estremeceu com o misto de emoções que revolviam dentro dela. Aparentemente sob seu ritmo
próprio, os lábios dela sussurravam a resposta verdadeira para a pergunta dele:
-Macia, molhada -e, depois de uma pequena pausa, ela acrescentou: -Quente.
Ele se afastou da esposa e ficou novamente de frente para a Garota dos Gansos, mas seus olhos nunca
deixaram os dela. A Garota dos Gansos os observava interessada, afastando as pernas amplamente, e
gemendo de leve. Ele disse para a esposa:
-Abra-a para mim.
A criada sentiu uma pontada de ciúme. Mas, no instante seguinte, ela pensou, Que direito tenho de sentir
ciúme, quando já tive tudo isso e me afastei da princesa? Além disso, como posso sentir ciúme de alguém
que amo? Pois ela percebeu que ainda amava a princesa e silenciosamente jurou que jamais voltaria a
traí-la.
Sem mais demora, a criada preparou a Garota dos Gansos para o marido penetrá-la. Ela tremia sob a
influência das inúmeras sensações que se misturavam dentro dela, e logo estava ciente de sua própria
necessidade latejante, ao ver o marido lentamente possuir a Garota dos Gansos. Ela gemia e aceitava o
príncipe com o mesmo prazer que dera à esposa por tantas vezes. O príncipe olhava para o rosto da
esposa enquanto ela o olhava, e isso aumentava o seu prazer.
A criada não conseguia tirar os olhos da imagem diante de si. Quando viu a Garota dos Gansos de rosto
corado, entendeu perfeitamente o prazer que ela estava sentindo. E, finalmente, tinha consciência de
como a Garota dos Gansos sofrera por sua causa.
Sem se dar conta de sua ação, a criada esticou a mão e tocou o rosto da Garota dos Gansos, correndo
os dedos por seus lábios. Sua mão lentamente foi baixando, traçando a curva do maxilar e, mais abaixo,
acariciando os seios macios.
A Garota dos Gansos gemia aflita, tomada pela onda de prazer ao ser montada. Subitamente, a criada
queria ajudar a amante, se pudesse. Ela lentamente moveu a mão mais abaixo, até o lugar secreto que
conhecia tão bem, onde remexeu os dedos suavemente, circulando, cada vez mais rápido.
A Garota dos Gansos gemia mais alto, buscando ar. O príncipe continuava a penetrá-la, enquanto ela
olhava, fascinada, a esposa dele. Ela sorriu e continuou a massageá-la no pequeno botãozinho inchado,
circulando suavemente, mas com firmeza. Ela
estava chegando perto. A criada se curvou para beijar os lábios febris de sua amante. A garota dos
gansos serpenteava e gemia. E o príncipe a penetrava. E os dedos de sua esposa continuavam nos
movimentos circulares.
Subitamente, os olhos da Garota dos Gansos se arregalaram, e seu corpo tremeu violentamente,
enquanto ela gritava. Num impulso de emoção, ela abraçou a criada e a beijou repetidamente.
Mas ainda havia a questão do príncipe. A criada olhou para o marido.
-Deite-se, esposa -ordenou ele.
Ela tremeu de expectativa mesmo quando ela subitamente explodiu em lágrimas.
A Garota dos Gansos imediatamente se apressou em seu socorro, e a abraçou, mas o príncipe
gentilmente afastou a esposa para longe dela.
Ele puxou a esposa para seus braços, onde a possuiu gentilmente, com carinho, mesmo com a Garota
dos Gansos olhando interessada. Ele beijou o rosto molhado de lágrimas da esposa e tentou consolá-la,
dizendo:
-Você é minha esposa por direito, pois foi você quem realmente quis se casar comigo. -Ele sabia que a
Garota dos Gansos não o faria feliz e, além disso, era tarde demais, agora que ele já tinha se apaixonado
pela criada.
Ao ouvir sua declaração, a esposa se encheu de alegria. Ela olhava a Garota dos Gansos, enquanto seu
marido continuava a fazer amor com ela gentilmente. A Garota dos Gansos se aconchegou a ela e
beijou-lhe os lábios.
A criada lentamente passou os braços ao redor da Garota dos Gansos, puxando-a para mais perto, tão
perto que seus seios se comprimiram. Sensações emocionantes passaram por ela, enquanto se dividia
entre os dois amantes. Da cintura para cima, ela se agarrava à garota dos gansos, que sussurrava
doçuras em meio aos beijos, e beliscava-lhe os mamilos, provocando-a.
Mas, da cintura para baixo, estava engajada num abraço muito mais tumultuado com seu marido, o
príncipe. Ela o prendia com as pernas, enquanto ele a penetrava repetidamente e seus olhos fitavam
famintos as duas mulheres abraçadas uma à outra. E, mais uma vez, a Garota dos Gansos retribuiu um
favor à amiga, ao pegar sua mão cuidadosamente e levá-la ao lugar onde ela e o marido estavam
unidos, acariciando-a logo acima. A criada se prendia desesperadamente aos dois e gritava de prazer. O
príncipe agora queria a esposa só para ele, e gentilmente empurrou para
o lado a Garota dos Gansos, enquanto se debruçava à frente para reivindicar seus lábios e empurrar-lhe
as pernas à frente. Essemovimento teve o efeito de abrir seu corpo mais amplamente para recebê-o, e
ele finalmente se permitiu entregar-se ao próprio desejo e se satisfazer com a esposa.
Mais tarde, quando os três estavam deitados descansando calmamente, a ex-criada buscou a princesa
verdadeira, subitamente ansiosa para, de alguma
forma, se redimir com ela, por tudo que sofrera. Ela nunca mais faria outra mulher sofrer no intuito de
beneficiar a si mesma!
-Você precisa vir para o castelo e viver como uma princesa real -implorou ela. -Serei sua serviçal e
trabalharei noite e dia para compensá-la por tudo! Seu marido ergueu a cabeça da cama, pronto para
protestar sobre a sugestão, mas Garota dos Gansos o interrompeu.- Se você realmente deseja que eu
viva nesse castelo, concordarei feliz, mas não creio que seria apropriado para uma princesa agir como
minha criada. - Mas todos nós sabemos que eu não sou real
mente uma princesa -disse a criada arrependida. -Mas você é -argumentou a ex-Garota dos
Gansos. -É claro que você é! -disse o príncipe. -De qualquer forma, devo dizer que, ao se casar comigo,
seu status deixou de ser o de uma mera criada! -As duas princesas riram. O príncipe descansou
novamente, enquanto as duas cochichavam carinhos, fazendo planos empolgantes para o futuro -juntas.
E nunca ocorreu a nenhuma delas comunicar ao príncipe sobre esses assuntos.
Mas, por mais estranho que pudesse parecer, o príncipe não se importava. Aliás, ele jamais fez uma
reclamação sobre qualquer decisão de suas esposas desde esse dia!
A Ovelha em Pele de Lobo
Eu sou uma dama. Sempre me comporto de uma maneira condizente a uma dama. E sou recompensada
pelos meus esforços, como o são todas as damas, com o respeito de homens e mulheres meus
semelhantes. Isso pode parecer uma recompensa pequena pelas dificuldades que se enfrenta ao se
deparar com as expectativas depositadas nas damas, e, sinceramente, com o passar dos anos, encontrome
mais e mais consciente das limitações que me cercam e a deficiência resultante de novas oportunidades
que me são apresentadas. Mas quais são as minhas alternativas?
Isso não significa que me arrependo das decisões que tomei. De todos os estilos de vida possíveis que eu
poderia ter escolhido como mulher, esse foi, sem dúvida, o mais tolerável para mim. Ocorre apenas que
não posso evitar pensar porque só com as mulheres as fronteiras entre as limitadas escolhas são tão
distintas.
Você já percebeu, por exemplo, como as mulheres de instinto maternal forte tendem a perder outros
aspectos de sua personalidade ao ter uma criança? Dentro dela, ou fora, não sei exatamente como,
qualquer engajamento em atividades não maternais parecem ser vistos por ela como uma ameaça ao
seu direito de ser mãe.
Ela abre mão de oportunidades profissionais e nega sua sexualidade, se vestindo como uma cafona, ou
até usando algo para combinar com a roupa da criança. Asoportunidades sexuaisou profissionais afinal
diminuem, e ela se torna um ser unidimensional e insosso para qualquer um que não queira falar sobre
fraldas.
Depois, é claro, há a mulher que escolhe o estilo de vida profissional. Seus colegas não são tão tolerantes
quanto os de sua mãe. Ela está em território
perigoso e não pode se sujeitar aos menos sofisticados, ou às suas tendências naturais, para não ser
rotulada como "não-profissional", e perder tudo aquilo pelo que trabalhou tão duro. Ela tem de ser muito
cuidadosa com a forma como se apresenta e se comporta. Se tiver filhos, aparenta estar sempre cheia
de culpa, pois para continuar bem-sucedida em sua carreira é necessário superar esses instintos maternais
que podem ser considerados fracos e não profissionais por suas contemporâneas.
Certamente, de longe, o pior destino para ela é o daquela mulher que escolhe a sexualidade como
ponto predominante em sua vida -geralmente uma escolha que é descoberta no caminho de menos
resistência, ou nem sequer é uma escolha, apenas uma opção. Embora essa mulher pareça ser admirada
pelos homens, ela é um tanto solitária, pois eles somente a usam. Ela se exibe com roupas curtíssimas,
mostrando o único quilate que acredita possuir, e sua única chance para encontrar amor e segurança.
Permite-se ser explorada, apenas para acabar sem nada, por alienar outras mulheres e desobrigar os
homens de toda a sua contabilidade. Algumas vezes chega a perder o direito da parte maternal dela
mesma, se for ingênua o bastante para tentar furar as fronteiras desses dois estilos de vida e alguém
decide chamá-la.
Os homens, é claro, não têm tais fronteiras. No entanto, parecem ser os mais decididos a manter intactas
as fronteiras femininas. Não sei por que é assim, já que isso decididamente torna as coisas quase tão
desagradáveis para eles quanto para elas. Mas parece que essas fronteiras produzem uma pequena
medida de segurança para os homens. Elas ajudam a definir as mulheres em suas vidas. Não se trata de
um plano infalível, é claro, mas funciona bem o suficiente e, imagino, segundo sua estimativa, vale o
preço.
Conforme já afirmei, nunca lamentei a escolha que fiz, e sim o fato de ter de fazer uma escolha, para
começar. E, apesar de ser feliz como uma mulher dentro de suas fronteiras pode ser, às vezes fico
pensando em como teria sido escapar para outra realidade.
Mas como eu poderia fugir, mesmo que rapidamente, sem arriscar tudo?
Já refleti muito sobre isso, principalmente nos últimos anos, e passei a perceber que só há uma resposta.
Eu teria de temporariamente me tornar outra pessoa. Mas quem?
Essa é uma pergunta significativa, porque, se eu fosse realmente conduzir a experiência, certamente ia
querer tirar o máximo de prazer dela. Para mim, havia somente uma pessoa que podia ajudar a realizar o
meu objetivo.
Numa noite, abordei meu marido com a questão... não diretamente, é claro. Isso certamente teria sido
tolice. Eu não queria assustá-lo ou aliená-lo. Mas precisava de sua participação, mesmo que involuntária,
assim como o benefício de sua experiência. A ironia da situação não passou despercebida, e admito que
fiquei um tanto descontente por isso, mas não era a hora de me ressentir de meu marido, simplesmente
pelo fato de ser um homem, tinha direito de ter tais experiências à sua disposição e eu não.
Geralmente tenho muito pouca dificuldade em obter o que quero de meu marido. Ele é bondoso e gentil
no que diz respeito a maridos, e, com o passar dos anos, desenvolvi uma abordagem razoavelmente
metódica para lidar com ele. Confesso que é um caminho mais longo para lidar com alguma coisa, e
talvez um pouco infantil também, mas funciona tão bem que acho estar de bom tamanho para quem
tem de procurar um método melhor. Vou divulgar minha estratégia aqui, caso você tenha uma mente na
qual testar. Sempre que quero algo de meu marido, primeiro questiono o seu amor por mim. Isso já dá o
tom desejado, pois o coloca numa posição de fazer uma declaração a qual, em alguns minutos, lhe
darei a chance de provar. Com um começo em vantagem, parece improvável que se possa falhar. Além
disso, eu adoro ouvi-lo dizer isso. Depois, deixo meu marido ciente de que quero algo dele, mas sempre
pergunto se ele fará, antes de dizer o que é! Ele geralmente responde afirmativamente, mesmo que haja
uma pequena pausa antes de fazê-lo, e, às vezes, uma pequena condição, como "se eu puder" ou algo
assim. Mas eu não presto muita atenção a isso. O mais importante é que, como a maioria dos maridos, ele
está disposto a me agradar, se puder. É sempre melhor para meu marido me agradar quando ele se
imagina um benfeitor maravilhoso por fazê-lo. Que diferença faz se às vezes me acho merecedora desses
pequenos "mimos" sem ter de apelar para o ego de meu marido? Esses não são pensamentos que valem
a pena ser cultivados, pois são obstáculos entre uma mulher e o que ela quer. São meras noções
românticas que, se permitidas, irão interferir nos objetivos da dama. E, além disso, não têm nada a ver
com amor, pois, quaisquer que sejam as suas faltas, sei que meu marido me ama.
Mas nesse caso em particular eu ainda estava inquieta quanto a dizer ao meu marido o que eu queria.
Sabia que seria, em princípio, desgostoso para ele. Então, adiei um pouco mais, alertando que seria difícil,
mas ressaltando e enfatizando sua importância para mim. Minha súplica foi tão cheia de emoção que
até senti as lágrimas nos olhos, e cheguei a ficar imbuída a parar por um instante para me recompor,
antes que eu pudesse prosseguir. Com imensa preocupação, meu marido pegou minhas mãos e me
garantiu, fervorosamente, que realmente faria tudo que estivesse a seu alcance para realizar o meu
desejo. De posse de seu compromisso, continuei.
-O meu desejo, querido marido, é saber os detalhes íntimos da experiência sexual mais excitante que
você já vivenciou. -Vi a preocupação se transformar em choque. Depois ele riu. Imagino que seja algo
tolo para que eu tenha feito tanto alvoroço, mas você tem de levar em conta que, como uma dama
apropriada, muito pouco era esperado de mim no quarto. De fato, ali, muito pouco acontecia. Eu temia
que ele não fosse me levar a sério.
Seu riso lentamente foi se apagando, e ele me deu um sorriso paternal. Assim como eu temia, ele estava
prestes a me aplacar com uma de nossas experiências insípidas. Coloquei a mão sobre seus lábios.
-Antes de atender meu pedido, ouça-me -roguei. -Sei que me ama e sei que me respeita. Por conta
dessas duas coisas (coisas que valorizo profundamente), creio que preciso ser eliminada da compilação
de lembranças das quais você irá escolher. Não estou à procura de uma história de romance, ou amor.
Só quero ouvir sobre o seu encontro sexual mais memorável, incomum e excitante com uma mulher; não
importa o quanto seja chocante, aterrorizante ou constrangedor. Tudo que peço é que você escolha a
melhor passagem de que possa se lembrar e não omita nada para poupar meus sentimentos.
Pensei saber o significado de cada expressão por trás das belas feições de meu marido, mas jamais vira
aquela fisionomia em seu rosto. Ele abriu a boca para falar, depois a fechou.
Ali, percebi que ele, de fato, possuía tallembrança. Estava em sua mente naquele exato momento!
Lágrimas verdadeiras inundaram meus olhos dessa vez, e busquei suas mãos desesperadamente.
-Sei que é um pedido estranho, mas realmente quero saber a respeito -disse a ele. Na verdade, a única
esperança que eu tinha de saber sobre essas questões seria recorrer a um estranho total, e eu ainda não
estava totalmente insatisfeita com a minha situação!
Meu marido acabou cedendo, é claro, mas juro que foi mais difícil do que a vez em que eu queria aquela
pulseira de diamantes terrivelmente cara!
Ele ficou verdadeiramente desconfortável quando finalmente começou a me contar. Foi uma
experiência que ele tivera em sua juventude, muitos anos atrás. Enquanto descrevia o caso
relutantemente, não havia dúvidas de que ele estava dizendo a verdade, pela expressão no seu rosto
junto com o ligeiro tremor em sua voz, que convenciam inteiramente quanto à autenticidade do que ele
dizia. E, por sorte, o incidente não me causou repulsa. Era algo que eu nunca havia tentado antes, algo
em que eu imaginava que meu marido não estivesse interessado, mas não é algo que um homem
costuma se sentir a vontade para sugerir a uma dama como eu. Estranho que a simples ideia sobre isso
me causasse arrepios de excitação! Sim, esse havia sido um caminho sábio a tomar. Agora eu sabia de
quem eram os sapatos que eu pediria emprestado para fugir de minha realidade e experimentar as
delícias de uma existência vastamente diferente.
Fiz muitas perguntas ao meu marido. Depois de um tempo, principalmente depois de ver que não estava
magoado nem aborrecido, ele ficou mais à vontade. Respondeu todas as minhas perguntas de forma até
bem satisfatória. Contou-me tudo que sabia sobre a mulher, embora fosse muito pouco, já que a vira
apenas aquela vez. Mas que tristes limitações pode haver para tais mulheres! Quase fiquei com inveja
dela, exceto que, mesmo dando ao meu marido um prazer tão inesquecível, ela não foi capaz de fazê-lo
se interessar em conhecê-la melhor.
Meu marido não sabia nada a respeito das minhas razões ou do meu pedido bizarro e, intencionalmente,
as mantive em segredo. Queria que tudo fosse uma surpresa maravilhosa.
Preparei-me durante dias. E mesmo quando estava tudo providenciado nos mínimos detalhes, eu adiava,
pois confesso que estava excessivamente nervosa.
E chegou o dia em que eu estava pronta. Aconteceu quase acidentalmente, na verdade. Por
curiosidade, coloquei uma peruca loura que havia comprado para essa ocasião e me olhei. Meu
coração disparou instantaneamente e eu sentia as borboletas voando em meu estômago! Sim, eu
certamente estava pronta.
Lentamente coloquei a nova maquiagem que havia comprado. Primeiro, passei o lápis preto nos olhos,
para fazê-los parecer bem maiores do que são. Depois veio o batom. Já fazia pelo menos dez anos que
eu não usava batom, mas tinha certeza de que nunca havia usado aquele tom particular de vermelho.
Eu não conseguia parar de rir ao passá-lo nos lábios. Eu me sentia um pouco como uma criança se
vestindo com as roupas de outra pessoa.
Depois vieram as meias. É difícil acreditar que as mulheres tivessem de se contentar com elas antes da
meia-calça. Mas que sensação maravilhosa usá-las sem calcinhas! Ficar exposta ao ar dessa forma.
Legal. Outra vez não pude conter um risinho. Torcia para que não fosse fazer papel de boba e ficar rindo
durante todo o evento.
Um drinque teria ajudado, mas estava decidida a esperar até o último minuto para tomar apenas um.
Afinal, não quena ficar alegrinha. Queria que todos os meus sentidos estivessem totalmente aguçados
para que eu pudesse sentir cada sensação.
Após colocar a peruca, a maquiagem e as meias, terminei. Sentia-me como se uma parte de mim
estivesse faltando, pois eu não era do tipo que se sentia à vontade sem roupa, mas não tinha como voltar
atrás agora.
Tendo decidido essa parte, fiquei de olhos arregalados diante do espelho. A mulher que me olhava de
volta parecia estranhamente vulnerável. Ela era bonita, com aquela beleza chamativa que pertence às
mulheres que humildemente se apresentam em bandejas forradas de lese ou seda, vestidas da melhor
forma que podem, na esperança de que isso lhes traga amor, fama, dinheiro ou felicidade. E pensei
comigo mesma: Nossa, qualquer mulherpode fazer isso, é tão fácil quanto comprar uma fantasia! Meus
lábios em vermelho vivo sorriram para mim.
Subitamente lembrei-me de uma última coisa. Procurei no meio da maquiagem até encontrar um lápis
marrom. Então, cuidadosamente, fiz uma pinta sobre o lábio. Pronto. Perfeito! Permiti-me mais uma
risadinha nervosa.
Como sempre, meu marido veio para casa na hora. Escondi-me nas sombras de nossa sala de jantar até
achar que era o momento certo. Meu coração disparava no peito, ridiculamente. Seria do meu velho
marido de quem eu estava me escondendo? Ele entrou pela porta da frente, como sempre, chamando
meu nome. Mas dessa vez não respondi. Eu queria que cada pequeno detalhe dessa noite fosse
diferente, memorável.
Ele chamou meu nome pela segunda vez. Eu o ouvi subir as escadas, um degrau de cada vez. Houve um
som remexido lá em cima quando ele chamou meu nome pela terceira vez. Meu coração batia
dolorosamente. Estava quase com medo. Era uma sensação semelhante à que eu sentia quando
brincava de pique-esconde quando criança.
Escutei seus passos na escada, dessa vez, descendo. Agora havia um tom de preocupação em sua voz
quando ele entrou na cozinha e de novo chamou meu nome. Finalmente saí silenciosamente da sala de
jantar. Fiquei imperceptível, junto à parede da sala ampla.
Em alguns minutos ele entrou na sala de estar e parou, esticando a cabeça. Fiquei totalmente imóvel
enquanto o olhava. Depois de um instante ele sentiu a minha presença. Virou a cabeça precisamente
para onde eu estava, junto à parede. O choque estampou seu rosto. Em princípio ele nem pareceu me
reconhecer.
Eu não ri, nem sequer dei um sorriso. Uma nova sensação se apossava de mim, detendo os meus risos. Eu
mal podia respirar quando meu marido ficou me olhando, em pé.
Mas sua confusão finalmente se desfez e em nos
sos olhos surgiu o reconhecimento. Ele me conhecia. E eu o conhecia. Ele percebeu o que eu queria que
ele fizesse e eu, é claro, tinha o meu roteiro decorado.
Ele não disse uma palavra, mas caminhou na minha direçâo lentamente. Seus olhos me percorreram, sem
perder nada. Um sorriso começou a se formar em seus lábios, mas desapareceu na mesma velocidade.
Enquanto olhávamos nos olhos um do outro, ele subitamente ficou muito sério.
-Você tem certeza de que quer fazer isso? perguntou ele, suavemente.
Aquilo quase me levou às lágrimas, mas eu logo as contive. Seu amor e dedicação eram a minha razão
de viver, mas essa noite queria outra coisa dele. Voltaríamos a isso mais tarde. Resisti ao ímpeto de correr
para os seus braços e dizer o quanto o amava.
Em vez disso, ergui meu queixo e assumi uma postura indiferente.
-Isso é com você -respondi, prendendo o seu olhar, e acrescentando, espertamente: -E depende de
quanto dinheiro você tem. -Não parecia ser a minha voz falando.
-Eu tenho bastante dinheiro -ele disse, entrando na brincadeira. -E eu soube que você é a mulher que vai
me dar o que quero.
-Porque você não me diz o quer e eu lhe direi se posso ou não ajudá-lo -eu disse, no mesmo tom
-Você sabe o que quero -respondeu, simplesmente. -É o que todo homem quer quando vem até você.
Dizem que é a sua especialidade.
- Sim-confessei, ligeiramente trêmula. -Acho que sei o que você quer. _ Então não percamos mais tempo -
disse ele, tirando as roupas. Eu parei por um instante, vendo-o se despir. Eu podia ver a evidência de sua
instigação em suas calças. Nem podia me lembrar a última vez que vi naquilo. Enquanto o olhava, me
esforçava para respirar, e meu coração estava acelerado. Ele finalmente ficou nu na minha frente. Ele
estava totalmente excitado.
-Onde você me quer? -perguntei, indo direto
ao ponto. Afinal, era para isso que estávamos ali.
Ele olhou ao redor de nossa sala de estar como se a estivesse vendo pela primeira vez. Finalmente
apontou para um antigo sofá pequeno, quadrado, do tipo usado para pousar os pés.
-Debruce ali.
Fui passeando até ele, concordando com sua direção. Ao passar por ele dei-lhe um pequeno tubo de
lubrificante.
-Para o que quer, vai precisar disso -eu disse,
tentando desesperadamente parecer casual. Eu não queria fugir muito ao roteiro original, mas sabia
que ia precisar de algo para abrandar o desconforto que tinha certeza que iria sentir em minha primeira
vez.
Debrucei-me sobre o sofá como ele pedira e imaginei o que a outra mulher teria feito, com base na
informação que meu marido havia me dado. Na verdade, eu havia treinado a posição inúmeras vezes
quando estava sozinha, tentando em vários lugares ao redor da sala e, a cada vez, fiquei tremendo de
ansiedade para me soltar. Enquanto isso, meu marido se preparava com o lubrificante que eu lhe dera.
Eu esperei, divertindo-me com as estranhas sensações que acompanhavam a minha exposição total. Eu
me perguntava o que aquela outra mulher havia sentido naquela noite memorável, tanto tempo atrás.
Quanto a mim, jamais estivera tão estranhamente excitada antes.
Subitamente, senti meu marido perto de mim. Ele me empurrou levemente à frente, me manobrando de
modo, eu sabia, a ficar exatamente na posição que ele vivera. Quanto me acomodei como ele queria,
minha cabeça e antebraços estavam pousados no chão e meus joelhos estavam no sofá, bem abertos.
Nessa posição meus quadris eram forçados incrivelmente para o alto, e totalmente escancarados.
O terror e a excitação maníaca me deixaram meio zonza, dando a impressão de sonho em relação
àqueles primeiros momentos. Mas quando eu senti as mãos dele agarrando os meus quadris, pronto para
o que estava por vir, logo fiquei alerta sobre tudo ao meu redor. Parecia que todos os meus sentidos
haviam sido aguçados, então, cada detalhe parecia magnífico e distinto.
Prendi a respiração ao sentir a rigidez de meu marido pressionando contra mim. Meus quadris logo se
contraíram, querendo fechar e se mover à frente para fugir dele. Mas tanto a minha posição quanto a
forma como ele me segurava não deixavam que eu escapasse, portanto fui obrigada a permanecer
imóvel enquanto ele se forçava dentro de mim. Apesar de minha boa intenção, gritei.
Meu marido logo parou. Ele não recuou, mas se segurou perfeitamente imóvel onde estava. Havia
lágrimas de decepção nos meus olhos. Não esperava aquela primeira dor pontiaguda.
Mas no momento seguinte, a pontada começou a diminuir. Mesmo assim, ainda estava terrivelmente
desconfortável. Sem agüentar a dor e o desconforto, eu ainda estava impressionantemente excitada. E
estava bem longe de abrir mão da experiência.
Não posso parar agora, eu pensei. Vim muito longe. Além disso, se ela pôde, eu também posso!
Com determinação renovada, arqueei minhas costas, empurrando meus quadris para cima e me abrindo
mais para meu marido. Ele gemeu quando fiz isso, e seus dedos apertaram meu corpo. Ele avançou bem
devagar, cuidadosamente penetrando e, por seu rugir, eu podia ver que ele estava usando cada
milímetro do controle que possuía para ir devagar. Mesmo assim, tive de morder o lábio para evitar gritar
novamente.
Mas ele finalmente estava todo dentro de mim. A combinação do choque, excitação e incômodo, algo
que eu jamais sentira antes. Ao me acostumar com o incômodo, quase senti decepção, de tão
excepcional que aquele aspecto da intimidade havia sido para mim.
Ele recuou gradativamente, depois voltou a se mover à frente, lentamente. Estava sendo muito cuidadoso
e gentil porque era eu. Mas eu não queria ser eu nessa noite. Queria ser ela. Se eu realmente ia sentir o
que ela sentiu, toda essa ternura teria de desaparecer.
-Você está gostando? -perguntei ao meu marido, enquanto ele prosseguia saindo de mim lentamente. -
Sim -ele gemeu. -Você gosta do meu tanto quanto gostou do dela? -pressionei.
-Mais!
Eu agora estava me acostumando a ele. Ainda era terrivelmente difícil mas, estranhamente, isso
acrescentava à empolgação. Comecei a mover meus quadris, apertando e afrouxando, conforme eu
me lembrava da descrição que ele havia feito dela.
-Era assim que ela se movia? -perguntei, enquanto os meus quadris estranhamente aprendiam
o ritmo. -Sim! -Ela gostava com força e rápido, não era?
continuei, lembrando do que ele havia me contado. -Sim, ela gostava com força e rápido -ele repetiu
numa voz baixa, quase imperceptível. -Façaassimcomigotambém-ordenei.-Quero com força e rápido! -
Meubem-elegemia nãoqueromachucála. -Mas depois ele aumentou o ritmo. -Você não se importou se a
estava machucando -argumentei. Eu mexia os quadris mais rápido. -Ela era diferente -disse ele, mal
sabendo o que estava falando.
-Faça de conta que sou ela -eu disse. E comecei a dizer coisas que ela havia dito para ele, exatamente
da forma como me lembrava que ele contara.
-Mais forte! -gritei, sacudindo furiosamente os quadris, massageando-lhe comigo. -Sim, assim é melhor
agora você está recebendo o valor do seu dinheiro -Eu estava num ponto além da preocupação com a
minha aparência ou com meus atos. Era como se eu realmente fosse a outra mulher, trabalhando com o
maior afinco possível para satisfazer um total estranho por dinheiro. E meu marido estava tão perdido
quanto eu. Ele se lançava contra mim com uma violência que eu jamais imaginei que possuísse. Sem
acanhamentos, coloquei a mão no meio das minhas pernas e me acariciei.
-O que é que eu sou? -perguntei a ele, subitamente, precisando ouvir as palavras. -O quê? -ele estava
quase alheio ao que o cercava.
-Diga-me o que sou -pedi.
-Você é minha esposa, meu bem... minha esposa adorável -ele estava ficando incoerente.
-Não! -eu me esfregava com maior vigor. Não conseguia me conter. -Diga que sou o que ela era -
sussurrei.
Ele gemeu.
-Agora... por favor -implorei, ainda apertando e afrouxando em volta dele, enquanto ele entrava e saía
de mim. Ele arquejava ruidosamente. Ocorreu-me que, mesmo com tão pouca prática, eu já estava tão
boa, ou melhor, do que ela fora nisso.
-Puta -ele disse, baixinho. E assim ele soltou um berro se forçando para dentro de mim, até o fundo. Eu o
senti tremendo lá dentro. -Oh, você é uma putinha tão gostosa!
Fechei os olhos e tremi, enquanto uma onda de prazer vinha após a outra. E naquela fração de segundo,
senti um profundo abandono e prazer excepcional, de ser uma puta imoral, mas sem o remorso ou a
solidãoque elaprovavelmentedevater sentido depois.
Mais tarde, meu marido se agarrou a mim até enquanto dormia, e eu -agitada demais para descansar,
relembrava os acontecimentos da noite nos mínimos detalhes. Se eu não tivesse sentido aquela
suavidade reveladora por trás, jamais acreditaria que fizera aquilo. Quanto ao meu marido, nunca o vira
tão chocado. Mas essa não foi sua única reação, Depois, quando me pegou nos braços, ele tremia tão
violentamente quanto eu.
Um sorriso de triunfo se abriu nos meus lábios, enquanto me aninhava ao corpo quente de meu marido.
Seus braços instintivamente me enlaçaram. Eu havia sido capaz de atravessar as fronteiras que por tanto
tempo definiram a minha existência, e com resultados muito prazerosos. Na verdade, pode-se dizer que
foi um sucesso total. Eu não havia apenas descoberto um novo prazer, mas, no processo, consegui colher
para mim mesma um grande benefício do passado de meu marido. Não havia dúvida em minha mente
de que essa nova lembrança que meu marido e eu acabáramos de criar juntos substitui, para sempre na
mente dele; a lembrança de tanto tempo atrás.
E, na verdade, não é que foi inacreditavelmente fácil? De fato, aquelas mulheres não são nada melhores
que nós! Qualquer dama pode fazer o que elas fazem. É só uma questão de mudar de aparência, assim
como no provérbio se fala do lobo em pele de cordeiro,suponho que,nessecaso,vocêpossa dizer que é o
cordeiro que está na pele do lobo!
Eu certamente assumirei esse fascinante papel novamente. Mas preciso me lembrar de ir com cuidado...
se não, posso perder o meu caminho de volta!
O Patinho Feio
Era uma vez um homem e uma mulher que tinham cinco filhas. As quatro filhas mais velhas eram
excepcionalmente belas, porém a caçula era comparativamente estranha, com ossos e feições grandes
e longe de ser perfeita. Por conta disso, era perturbada pelas irmãs, e mesmo os pais faziam pouco para
esconder sua reprovação, lamentando sua má sorte em ter tal criança e pensando se algum dia ela se
transformaria. Elestodos criticavamincessantemente a pobre garota, dizendo coisas como -quem sabe, se
você comesse menos, seria menor -apesar de ela não comer mais que as outras -ou se você passar limão
nos cabelos eles não serão dessa cor tão apagada. Na verdade, a garota desafortunada ia para a
cama muitas vezes faminta e passava limão nos cabelos, mas nada do que fazia parecia fazer diferença.
Eles sempre achavam alguma coisa de errado com ela.
O povo da cidade não era diferente de sua família. Eles insultavam e criticavam a irmã mais nova e
insossa e outras garotas como ela. Por ser comparada às irmãs mais velhas bem mais bonitas, a mais nova
se tornou conhecida de todos como "a patinha feia".
Conforme as garotas cresciam, as quatro filhas mais velhas ficavam cada vez mais bonitas. E, ao ficarem
mais belas, elas também se tornavam mais arrogantes e insensíveis. Mas, a cada dia a patinha feia era
mais gentil e generosa e, apesar dos maustratos constantes, cada uma das irmãs preferia a sua
companhia em lugar da companhia de qualquer uma das outras.
Logo as meninas se tornaram mulheres. Agora, a mais velha de todas era uma mulher arrebatadora e
pensava consigo mesma:
-Por que eu devo continuar a estudar quando posso ganhar uma vida melhor simplesmente deixando que
os homens olhem para a minha beleza? -Pois, de fato, naquela época, as mulheres podiam ganhar
quantias significativas de dinheiro para exibir sua beleza aberta e explicitamente aos homens que
valorizavam a mulher segundo essa qualidade. E a filha mais velha ganhou o mundo com apenas esse
atributo para fazer a sua fortuna.
A segunda irmã mais velha também era muito bonita, e pensou para si mesma:
-Por que tenho de fazer qualquer coisa que seja, se os homens me acham tão atraente e estão sempre
dispostos a fazer tudo por mim? -E se lançou ao mundo com o ponto de vista de fazer sua fortuna à vista
da generosidade de seus muitos admiradores.
A terceira irmã mais velha nunca teve a chance de formular um plano de qualquer natureza, pois o
destino interveio e ela estava casada com um jovem, de quem estava grávida.
A quarta irmã pensou:
-Oh, o que significam os homens para mim, se sou mais bela do que todas as minhas irmãs mais velhas
juntas? -E ela resolveu fazer uma fortuna maior do que as outras, sem ter de se submeter aos homens
como elas o faziam. Com muita confiança em sua beleza, ela saiu em busca da realização disponível
para as mulheres belas de sua época, que era ser modelo profissional de moda e beleza.
E a irmã mais nova, que era a patinha feia, não tinha ilusões de trilhar seu caminho no mundo por meio de
sua aparência, portanto ela percebeu que estaria mais bem servida se continuasse a estudar. Ela
encontrou uma pequena universidade rural, longe dos preconceitos de sua cidade natal. Sem contar
nada a ninguém, conseguiu uma casinha próxima ao campus da universidade e começou sua nova
vida.
A patinha feia logo se adaptou à vida acadêmica. Ela gostava imensamente de seus estudos e se
fortaleceu por seu crescente conhecimento de si própria e do mundo ao seu redor. As pessoas que ela
escolheu para se relacionar não pareciam notar tanto que ela não era bonita, pois valorizavam as muitas
outras qualidades que ela possuía. Sem os constantes lembretes da sua carência de beleza perfeita, ela
lentamente começou a ganhar autoconfiança. Era repetidamente surpreendida pelas pequenas
manifestações de alegria em sua vida, e estava mais feliz do que jamais imaginara ser possível.
Numa tarde de primavera, enquanto a patinha feia descansava despreocupada à sombra de uma
imensa árvore no quintal, lendo um livro, subitamente surgiu uma sombra sobre ela. Ela olhou para cima e
pôs os olhos na criatura mais bela que já vira em toda a sua vida.
Ele era bem moldado e moreno, e sorria para ela. Ainda pensando que fosse criação de sua mente
(talvez um personagem da história romântica que ela estava lendo), a princípio ela apenas o olhou,
muda. Vendo a sua expressão de surpresa, o jovem se dirigiu a ela em tom amistoso, explicando que
estava apenas passando por ali a caminho de um lago onde iria nadar. Aparentemente, o único
caminho para se chegar ao lago escondido era atravessando o quintal da patinha feia!
A patinha feia reconheceu o belo rapaz como um colega da mesma faculdade em que estudava. Ela
sentiu secretamente que iria gostar de vê-lo nos dias quentes de verão a caminho do lago para algumas
braçadas vespertinas. Talvez de maneira demasiadamente calorosa, ela lhe disse que ele seria muito
bemvindo a atravessar o seu quintal sempre que quisesse.
Mas o belo rapaz não a deixou imediatamente após a sua concessão, ao contrário, ele permaneceu e
perguntou sobre o livro que ela estava lendo, sobre suas aulas na universidade e outras questões sobre
ela, que nenhum outro homem jamais havia perguntado.
Os olhos da patinha feia brilharam de felicidade enquanto ela papeava com seu novo amigo, mas,
subitamente, as imagens de suas irmãs piscaram diante dela, que lembrou como era feia. E ela se sentiu
envergonhada por qualquer homem olhá-la, e, dando uma desculpa, fugiu bruscamente para dentro da
casa, onde viu, por uma janelinha, o jovem partir rumo ao lago. Ele era enérgico e saudável, com braços
e ombros grandes, e ela desejou, pela milésima vez, ser bonita como as irmãs.
Os dias foram ficando mais quentes, e logo as árvores e flores haviam florescido inteiramente. O jovem
agora passava pelo quintal da patinha feia quase todos os dias a caminho do lago. E a cada vez que
passava, ele parava e falava com ela. Lentamente, ela superou o seu constrangimento em relação a ele,
chegando a ansiar por suas visitas, e os dois tiveram a chance de se conhecer melhor. Às vezes, eles
passavam um pelo outro na universidade, e ele a empolgava por chamar seu nome.
Um dia, o belo rapaz convidou a patinha feia para acompanhá-lo ao lago. Ela declinou rudemente, mas,
desse dia em diante, sentiu uma estranha atração em direção do lago, e freqüentemente se via
imaginando como era a água, e como seria brincar nela com
o seu belo amigo.
E foi assim até uma manhã de verão extraordinariamente quente, quando a patinha feia saiu da cama e
foi até o lago de camisola. Ela disse a si mesma que só queria olhar o lago, mas ele era mais bonito do
que imaginara. Ela olhou em volta com culpa. Certamente não haveria ninguém por perto a essa hora da
manhã. Ela poderia simplesmente entrar na água fresca por um tempo e depois voltar para casa. Antes
que pudesse se deter, já havia tirado a camisola e
entrado na água.
A patinha feia espirrava água por todo lado, nadando alegremente. A água parecia seda em sua pele.
Quando se cansou de nadar, ficou boiando, olhando as nuvens que cobriam o céu azul de verão. Dessa
forma, ela se esqueceu completamente da hora.
A patinha feia não notara a sua aproximação até que ouviu um barulho na água resultante do mergulho.
Ela ficou totalmente imóvel, paralisada de terror, enquanto esperava que ele subisse à tona. Torcia muito
para que ele não estivesse de olhos abertos embaixo d'água, pois tinha vergonha que ele olhasse seu
corpo. E como ela poderia sair da água e colocar a camisola de volta?
Finalmente, sua cabeça e braços surgiram na superfície. Havia um sorriso enorme em seu belo rosto.
-Eu a tinha imaginado uma garota naturalista, mas não achei que tivesse tanta coragem -disse ele,
alegremente.
Então ele tinha aberto os olhos embaixo da água! Ela ficou tão horrorizada e constrangida que as
lágrimas vieram aos seus olhos. Ele estava nadando lentamente em sua direção. Ela queria lhe pedir que
virasse para o outro lado para que ela pudesse sair da água, mas temia o som que faria ao tentar falar.
Ele ainda sorria quando se aproximou. Ela viu que ele estava segurando algo na mão para ela e
percebeu que era o seu calção de banho.
-Agora estamos quites -disse ele, gargalhando.
No entanto, ela não sentiu estar "quites" com o belo jovem, e ficou simplesmente ali, em silêncio,
segurando o calção no ar.
Finalmente, ele pareceu notar seu constrangimento. Lentamente pegou o calção de seus dedos tensos e
o jogou para a margem. Ele estava bem perto e ela imaginou que ele estaria pensando como ela era
feia, e até esperou que ele fosse soltar uma gargalha ou insulto no momento seguinte, mas, para sua
profunda perplexidade, ele lentamente baixou a cabeça e pousou os lábios nos dela. A sensação era tão
gloriosa que ela quase perdeu o equilíbrio, mas, no mesmo instante, ele a abraçou e a puxou para mais
perto, para que não houvesse perigo de ela ir a lugar algum. O corpo dele era extremamente quente.
Seus lábioseram exigentes e insistentes. Seus braços a prendiam mais forte, fazendo com que seus corpos
se comprimissem juntos. A água estava agitada ao redor deles. No tumulto de seu primeiro beijo, a
patinha feia esqueceu que era feia e retribuiu-o com toda a paixão que sentia. Ela então percebeu que
estava se apaixonando
por ele, e se perguntou se ele podia adivinhar seus sentimentos e o que achava disso. Enquanto ela
pensava essas coisas, ele afastou os lábios para olhá-la nos olhos. Ele sorriu para ela com uma expressão
de incerteza, confessando-lhe que também a amava. Depois
a beijou repetidamente e sem parar! Ela se agarrou a ele, sem querer que os beijos cessassem. Mas, de
repente, seus beijos começaram a ficar mais impetuosos, e suas mãos tocavam por toda parte.
Ela descobriu que adorava a sensação de pressionar seu corpo nu contra o dele. Sentia-se tonta de
felicidade em ter suas mãos fortes e belos lábios sobre sua pele, mas os beijos se tornavam cada vez mais
aflitos e ansiosos, e o corpo dele pressionava rigidamente contra o dela. Ela estava totalmente
despreparada para o que estava acontecendo. E o que é pior, ela não podia evitar pensar que fazia
parte disso.
Com um gritinho, ela se afastou dele. Sabia que ele gostava dela de alguma forma, mas será que
realmente poderia amá-la? Ela não se permitiria ser subjugada, sendo feia, ou não!
Boas ou más, preciso saber quais são as suas intenções em relação a mim, pensou ela, e se eu concordo,
quaisquer que sejam.
Por um instante eles ficaram separados, e, por um momento pareceu que ele estava zangado com ela.
Mas ele logo sorriu.
-Eu vou virar o rosto para a floresta enquanto você se veste -disse ele, gentilmente. -Mas você irá me
esperar? -perguntou ele.
-Sim, vou esperar por você -prometeu ela.
-Olhem, se não é a nossa querida irmãzinha sem sal! -gritaram as quatro, alegremente. A mais nova das
cinco sorriu ternamente para suas irmãs. -Desculpem por estar atrasada -disse ela. Mas que bom ver vocês
todas juntas novamente!
-Devo dizer -afirmou a mais velha, se dirigindo à caçula. -Os anos devem ter sido bons para você, pois
jamais a vi com uma aparência tão boa!
A patinha feia sorriu.
-Duvido que os detalhes de minha vida possam prender sua atenção por um instante, com vidas tão
excitantes como devem ter sido as suas -respondeu. Ela corou levemente ao dizer isso, pois estava
pensando na noite anterior que tivera com seu amado marido e estava certa de que, mesmo com toda
a sua beleza, suas irmãs não poderiam ter experimentado maior felicidade do que a dela.
-Que emocionante! -exclamou a terceira irmã, com amargura. -Fui roubada de toda a emoção que
deveria ter tido.
-Ao menos você se casou -resmungou a outra, com ainda mais amargura. -Casada! -respondeu ela. -
Encarcerada seria uma palavra mais apropriada. -Você não está feliz por estar casada? -perguntou a
patinha feia, chocada. -Pareço estar feliz? -respondeu ela, com lá
grimas se formando dentro de seus belos olhos. As quatro irmãs a encaravam surpresas. -Oh, meu marido
nunca me amou -confes
sou. -Quando éramos jovens ele tinha atração por mim, mas só queria uma coisa. Confundi aquilo com
afeição. Nunca parei para pensar no que ele realmente sentia por mim. Estava tão feliz em ter atenção e
tão certa de que minha beleza o faria me amar. Mas ele não me ama! Para ele as mulheres são objetos
substituíveis. Ele tem casos, enquanto eu fico em casa e tomo conta de nossos filhos. _ Meu Deus -disse a
mais velha. -E eu achei que estivesse ruim para mim. -Eu daria qualquer coisa para ter a sua vida! disse a
dama infeliz.
_ Não, acho que não daria -disse a mais velha. Depois ela se voltou às irmãs com sua história triste. -Veja,
pensei em fazer minha fortuna mostrando minha beleza abertamente aos homens, então, me tornei uma
dançarina erótica. Imaginei que pudesse ganhar a vida bem melhor assim do que através de qualquer
coisa que os estudos pudessem me ensinar. E, no começo, eu estava certa. Mas só se pode fazer isso por
um tempo. Logo há garotas mais jovens que tomam o seu lugar e você não ganha quase nada depois
disso.
-Talvez-disse a outra, com o casamento infeliz, sem enxergar a ironia. -Você deveria ter se casado com
um de seus admiradores enquanto ainda era jovem.
-Aí eu estaria no mesmo barco que você! respondeu a mais velha, desgostosa. -Além disso, a maioria
deles já estava casada. -Ela suspirou infeliz, antes de prosseguir. -De qualquer forma, como eu poderia
confiar num homem depois de ver o comportamento que eles têm quando não estão com as esposas?
-Isso é bem verdade -disse a outra irmã, que fizera a vida vendendo mais de si do que a mais velha. -Uma
vez que você vê esse lado dos homens, não pode mais voltar a confiar neles. -Ela olhou tristemente para
a irmã mais velha e acrescentou: _ E quando você vende essa sua parte, ela já não lhe pertence. Isso se
torna uma ocupação tediosa. Eu nunca desfrutei, realmente, de estar com um homem, porque nunca foi
sob as minhas condições.
-Você fez com que fosse tão fácil para os homens a tratarem assim -disse a irmã infeliz, de forma áspera,
acrescentando um novo fôlego- e o restante de nós também.
-Ah, então é culpa nossa pelos homens serem como são -respondeu a irmã mais velha, na defensiva. -
Porque as mulheres são sempre tão velozes em culpar as outras mulheres?
-Talvez seja porque você está disposta a fazer coisas por um preço, que, de outra forma, os homens
teriam se provar merecedores -disse ela, ressentida, agora ficando zangada. -Muitas mulheres, assim
como eu, continuam a trabalhar para evoluir... e são, aliás, muito mais dos que seus homens merecem.
Mas os homens não precisam despender esforço algum, no entanto eles têm as mais belas mulheres ao
seu alcance, contanto que tenham
dinheiro.
-Bem, deve deixá-la feliz o fato de que nós pagamos um preço bem alto oferecendo-lhes esse serviço -
disse a irmã mais velha.
-Sim, eu vejo que sim -disse a irmã, lentamente. -Mas você escolheu o preço a pagar em troca dos
impostos que recolheu. O restante de nós não fez qualquer escolha do gênero nem recolheu tais
impostos, no entanto, temos de pagar o preço junto com você!
Houve um silêncio por um instante depois desse rompante.
A terceira irmã mais velha estava acabrunhada, falando de seu casamento, enquanto a irmã mais velha
fazia uma tentativa de mudar de assunto.
-Você sabe -disse ela, com um suspiro -, é verdade sobre os homens. A maioria dos meus clientes são
gordos, carecas e horrendos.
-Realmente -opinou a quarta irmã mais velha, que ficara em silêncio até então. -É porque se espera que
sejamos perfeitas, num mundo onde a perfeição não existe. O padrão é tão alto que nenhuma mulher
poderia alcançá-lo. Enquanto isso, os homens simplesmente se sentam e desfrutam do espetáculo. Eles
não têm preocupação com sua aparência, porque ninguém jamais os nota. São invisíveis. As irmãs riram
em concordância ao ouvirem isso. -Mas você chegou à perfeição física -interferiu a patinha feia, que
ouvira silenciosamente, em choque, a arenga confusa das irmãs. -Vi sua foto na capa daquela revista
prestigiada.
-Tenho vergonha daquela foto -disse a irmã, com emoção, ganhando total atenção das outras, depois
continuando a sua própria história, como segue.
"Seique souumabelamulher.Dediqueiminha vida inteira beleza! Mas isso não é suficiente para satisfazer os
editores das... rá! -ela fez uma pausa antes da palavra para dar mais ênfase -revistas femininas. Como as
mulheres agüentam lê-lasnão compreendo.
-De qualquer forma, descobri que eu não era, na realidade nenhuma de nós é, boa o bastante para as
páginas daqueles catálogos militantes de desilusão e tortura feminina. Antes que sequer fosse aceita
como candidata, descobri que teria de me submeter a inúmeras cirurgias remodeladoras e literalmente
parar de comer. Fiz tudo isso e fui escolhida para a revista que você mencionou. Porém, você acredita
que, depois de tudo o que sofri e suportei, no fim eu ainda não era bela o suficiente e a foto teve de ser
retocada na versão final? -Havia lágrimas em seus olhos enquanto ela olhava para a irmã mais nova. -
Aquela não é uma foto minha, mas de um fantasma; o mesmo fantasma usado para mulheres que estão
na corrida pela perfeição. -Ela olhou em volta tristemente, para suas irmãs, depois acrescentou: é o
mesmo fantasma que arruinou as vidas de cada uma de nós.
Por alguma razão, isso levou a irmã mais nova ao centro da atenção delas. Quase simultaneamente as
mulheres se voltaram para ela.
-Como tem sido a vida para você? -perguntou a mais velha.
-Bem, eu certamente estou satisfeita com ela -respondeu, humildemente, sem querer se exibir de sua
própria felicidade diante do que acabara de ouvir
-Você continuou a estudar, não foi? -outra irmã perguntou. -O que você estudou?
Timidamente, ela começou a contar para as irmãs sobre seus estudos, nunca poupando palavras quando
falava de coisas que aprendera. Ainda assim, o silêncio delas a intimidava, e sua voz sumia. Sem dúvida
elas achariam sua vida ridícula.
Mas a irmã mais velha não zombou nem riu. Questionavam-na com interesse, e ela foi contando sobre
seus vários interesses e seu casamento, sua filhinha. Sentindo-se culpada por sua sorte e felicidade, ela se
omitiu em contar sobre os tantos pequenos prazeres de sua vida; como o fato de seu marido trabalhar
duro para se manter em forma para ela, ou como ele jamais perdera o interesse em fazer amor com ela.
No entanto, as irmãs eram astutas demais para não enxergarem essas coisas em seu rosto, e não podiam
evitar invejá-la pelas realizações, apesar de seus supostos defeitos físicos
A terceira irmã, sendo a mais amarga de todas, não podia deixar de afirmar: -Parece que nós todas
teríamos nos dado melhor se tivéssemos nascido feias! A mais velha imediatamente saltou em defesa da
mais nova, dizendo: -Você está com inveja. A mais nova tomou coragem depois disso. -Não acho que eu
seja tão feliz por ser feia disse ela, lentamente, pensando. -É claro que não recorri à beleza física para me
fazer favores, e isso foi uma parte. Mas, principalmente, senti que, independentemente do que eu busque
na vida, devo primeiro identificar o que realmente é, depois descobrir o que iria me custar. E foi o que fiz.
Ela olhou para a irmã tão infeliz e mal casada e prosseguiu:
-Você mesma disse que se tivesse recuado e esperado,teria descoberto que seu marido não a amava de
verdade. Mas se permitiu ser lisonjeada por esses mimos, sem perceber que não se tratava de mimos
realmente, pois ele não se importava nem um pouco com você.
Ela virou para as outras irmãs e continuou:
-Cada uma de vocês sofreu de forma semelhante, porque se deixaram ser usadas como objetos naquele
momento. Receberam seu pagamento, mas não foi suficiente, levando em conta que trocaram suas
próprias exigências por uma vida feliz por esse pagamento.
De certa forma, vocês tornaram os homens isentos de suas ações. Depois disso, parecia haver muito
pouco a ser dito. Finalmente de volta ao seu lar, seu céu, a patinha feia suspirou aliviada. Era tarde, mas
uma luz de boasvindas se acendeu na entrada. Havia flores frescas, recém-cortadas num vaso sobre uma
mesinha. Ela parou um instante para cheirá-las, saboreando tudo no fato de estar em casa. Seguiu
escada acima, até chegar a um quartinho, no alto. Entrou, andando cuidadosamente pela escuridão,
até uma pequena cama onde mal se ouvia o som do sono emitido dos cobertores macios. Ela parou
para beijar o rostinho, macio e morno. Arrumou as cobertas e admirou a filha, tão linda quanto as tias. Ela
a ensinaria a desfrutar de sua beleza, mas não viver em função dela. Deixou a filha dormindo e
silenciosamente seguiu seu caminho pelo corredor, até o quarto maior. Ao entrar, parou e fechou os olhos
por um instante, inspirando profundamente o cheiro de colônia misturado ao seu perfume. Era uma noite
quente, e ela ficou encantada ao ver as cortinas balançando com a brisa.
Ela tirou as roupas e foi calmamente até a cama. Ele estava acordado, e sem dar nenhuma palavra,
pegou-a nos braços e a puxou para seu calor. Ela se aninhou novamente a ele e sentiu a rigidez de seu
corpo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário