sábado, 6 de julho de 2013

It Girl 4# - Garota inesquecivel

Sinopse: Ter uma colega de quarto na Waverly Academy significa noites em claro e o
dobro de roupas de grife no armário. Mas Callie Vernon nunca gostou realmente das
conversas de final de noite ou de dividir sweaters de cashmere com Jenny Humphrey,
sua colega de quarto mais nova e de bochechas-rosadas. Então, quando Jenny
roubou seu namorado, Easy Walsh, Callie não se sentiu culpada por ficar por perto e
beijá-lo pelas costas de Jenny. Ok, talvez ela tenha se senitdo um pouco culpada, mas
certamente isso não a impediu de aproveitar. Agora, se Easy poderia parar de ficar tão
irritantemente indeciso e dispensar Jenny de uma vez por todas!
Enquanto as duas colegas dividem um namorado, o resto do Dumbarton divide os
sentimentos no recém-criado clube Women of Waverly - mais conhecido como WOW!
Todas estão ligadas, dividindo seus segredos mais pessoais, e abraçando suas
outrora rivais.
Mas apesar de todo o clima compartilhar-é-se-importar, há algumas coisas que estas
garotas não estão divulgando - tipo quem está fazendo passeios noturnos... e com
quem.
Agora é só uma questão de tempo até que todo o recém-descoberto girl power
exploda em uma maciça girl fight. Mas esta batalha entre as parede de tijolos cobertos
de hera do Dumbarton - é sobre quem será a próxima It Girl da Waverly.
Algumas pessoas estão acostumadas a pensar que estão tão bem quanto as
pessoas ao redor. Eu sempre disse que estava melhor.
- Katharine Hepburn
1 – UMA WAVERLY OWL SABE QUE COISAS BOAS NEM SEMPRE
ACONTECEM PARA AQUELES QUE ESPERAM. NA VERDADE, QUEM TEM
PACIÊNCIA?
Jenny Humphrey saiu do Jameson House depois da aula de retratos e respirou o ar do
outono. Dois garotos alto e magricelas do último ano, usando calças cargo e casacos
de abrigo da Waverly jogavam Frisbee em volta do gramado viçoso. Eles pararam
quando ela passou, e Jenny se sentiu corando. Ela foi embora rápido, as folhas caídas
estalando sob suas sapatilhas-de-ballet de camurça mostarda, desejando mais do que
qualquer coisa que estivesse descendo a Avenida Amsterdan com o pai para buscar
dois bolinhos amanteigados da padaria Vienesse na esquina do seu apartamento no
Upper West Side. Tudo o que ela queria era estar nas ruas de Manhattan, perdida
entre milhões de estrangeiros. Nenhum deles estaria olhando para ela e pensando, Lá
vai a garota que Easy Walsh vai dispensar.
Jenny puxou a bainha da sua mini-saia de lã Anthropologie. Ela demorou um tempo a
mais para ficar pronta hoje, prevendo que veria Easy pela primeira vez desde a
desastrosa festa de sábado à noite, enquanto todas as garotas do Dumbarton estavam
supostamente na detenção. Ela vestiu uma meia-calça listradinha Wolford que faziam
suas pernas parecerem mais longas do que realmente eram e um casaquinho preto
RL que fazia seus peitos parecerem menores.. Mas, quando Easy não apareceu na
sala, o coração de Jenny afundou quando a Sra. Silver fechou a porta do estúdio e o
cabelo cacheado quase preto de Easy não estava em lugar nenhum. O que isso
significava? Ele a estava evitando?
Ela não falou com Easy desde a terrível revelação – durante o jogo do Eu Nunca na
noite da sábado – que ele levou Callie Vernon, sua insuportavelmente alta, magra e
linda colega de quarto que era ex-namorada dele para um jantar íntimo com o pai. Ele
não apenas não convidou Jenny, sua suposta namorada, ele sequer falou com ela a
respeito, embora meio-mundo parecesse saber. E a outra metade descobriu depois
que Tinsley A Encarnação do Mal Carmichael espalhou a novidade para um quarto
cheio de Waverly Owls alegres durante o jogo do Eu Nunca.
Easy mandou um e-mail para Jenny no sábado à noite, depois da festa desastrosa,
perguntando se ela queria conversar, mas ela respondeu que ela não estava pronta –
ela precisava entender o que diabos estava sentindo. Mas mesmo dizendo isso, ela
não pôde evitar esperar que ele tentasse se esgueirar para vê-la com as mãos cheias
de flores do campo ou escorregasse uma de suas caricaturas na sua caixa de correio.
Ela não queria ser uma daquelas garotas que dizem exatamente o contrário do que
querem, mas ainda assim - seria legal ver Easy tentar.
De repente, algo pontudo bateu na parte de trás do pescoço de Jenny, e ela se virou,
esperando ver um dos garotos do Frisbee indo na direção dela, se desculpando. Mas
em vez disso, um aviãozinho de papel pousou numa pedra no caminho, próximo ao
seu pé. Ela o pegou e abriu, seu coração saltando no peito, mas não havia nada
escrito nele.
.Pss!. Ela virou os olhos em direção ao grupo de vidoeiros a esquerda da Jameson
House. Lá, escondido entre as árvores, com a manga amarela atrás da orelha, estava
o garoto que ela não conseguia tirar da cabeça. Os enormes olhos azuis escuros de
Easy olhavam nervosamente, enquanto ele gesticulava para ela.
Jenny se arrastou lentamente na direção dele, a visão de Easy sentado a luz de velas
numa mesa de jantar com Callie e o pai, conversando e rindo, invadia seu cérebro. Ela
começou a se sentir enjoada e tentou substituir a imagem com a lembrança do
domingo, quando ela ficou na sala comunal do Dumbarton com Brett, Kara e
surpreendentemente, Callie. Elas reclamaram dos garotos – nenhum em especial,
apenas no geral. Parece que eles ficam balançando em árvores, alcançando suas
bananas, disse Callie, e então todas fizeram barulho de macacos o resto da noite.
Agora, vendo Easy entre as folhas, Jenny teve que suprimir um ooooh ooooh eeeeee
eeeee!
.Oi,. ela disse.
O sorriso de Easy se desmanchou, como se ele esperasse um cumprimento amistoso,
e Jenny se sentiu amolecendo. .Por que você está escondido nos arbustos?. Ela
levantou uma sobrancelha.
Ele saiu do meio das árvores, olhando em volta. Easy estava usando uma camisa de
rugby da Waverly coberto de manchas de grama, e os seus olhos normalmente
brilhantes estavam um pouco injetados, como se ele não tivesse dormido bem. Bem,
era justo que ele tivesse problemas para dormir – ela passou as últimas três noites
revivendo o que aconteceu, visões do alto e lindo Easy e da alta e linda Callie
contaminando seu cérebro.
.Não quero que a Sra. Silver me veja.. Ele esfregou uma mão nos olhos .Eu disse a
ela que estava doente..
.Então porque está aqui?. Jenny deixou escapar.
Os olhos azul escuros de Easy nublaram. .Eu... não sei. Eu acho que eu queria falar
com você.
-Oh.. Jenny revirou a bolsa atrás do seu óculos de sol aviador sem marca que ela
comprou numa rua em SoHo antes do início das aulas. Estava nublado, mas ela não
queria que Easy fosse capaz de ver exatamente o que ela estava pensando. Seu
irmão, Dan, costumava dizer que seu rosto era tão difícil de ler quanto um semáforo.
Depois de praguejar por causa da bolsa desorganizada, ela parou de procurar, não
querendo encontrar um absorvente ou algo igualmente embaraçoso. Em vez disso, ela
sombreou os olhos como se olhasse para cima. .Quer me acompanhar de volta ao
dormitório? Eu tenho que me aprontar para a prática.. Ele concordou lentamente e
eles viraram na direção do Dumbarton.
Eles caminharam lado a lado pelo caminho de pedras, os gritos dos alunos praticando
esportes ao longe cruzava o ar frio do outono. Eles ficaram em silêncio por alguns
minutos e Jenny ficou terrivelmente consciente do espaço enorme entre eles. Easy
caminhava fora de seu alcance e Jenny não tinha a menor idéia do que ele estava
pensando. Ela queria se virar e jogá-lo numa pilha de folhas, mas ela simplesmente...
não podia. Ela começou a cavar na bolsa de novo, finalmente encontrando os óculos.
Ela o soltou do chaveiro de coruja que ela comprou em uma lojinha em Rhinecliff que
vende todas as coisas da Waverly e escorregou os óculos pelo rosto.
Um grupo de garotas de mini-saia e meia colegial saíram da biblioteca e os encararam
quando eles passaram. Toda a Waverly comentava a respeito das revelações do jogo
do Eu Nunca no sábado à noite – houve a virgindade desmascarada de Tinsley e Brett
para discutir, isso sem mencionar a revelação de que Jeremiah Mortimer, o namorado
de longa data de Brett, infelizmente não era mais virgem, e nem a garota loira da St.
Lucius que misteriosamente o havia seguido até o Dumbarton. E obviamente, havia o
fato de que Easy Walsh havia saído furtivamente para um encontro com Callie Vernon
sem Jenny saber. O fato de Alison Quentin e Alan St. Girard terem ficado na festa
parecia totalmente banal se comparado e colocado lá embaixo na lista de fofocas da
Waverly, embora ficadas costumem ficar no topo da lista.
Easy arrastou os pés enquanto eles caminhavam. .Eu só... queria me desculpar. De
novo..
Jenny suspirou. Ela sabia que ele sentia muito. Mas isso não significava nada. Sentia
muito o que? Que ele tenha levado Callie para sair para jantar? Que ele a havia
magoado e humilhado? Que ele estragou completamente as coisas entre eles?
Ou ele sentia muito porque ele sabia que ia terminar com ela?
Jenny parou. Ela ouviu por acaso quando algumas garotas da aula de Inglês
comentaram que iriam colher maçãs no final de semana, e Jenny não pôde evitar de
ser imaginar ali com Easy, suas mãos em sua cintura enquanto ela procurava pela
mais alta e mais perfeita maçã que ela poderia encontrar e então arrancando-a da
árvore. Ela nunca havia colhido maçãs, mas isso pareceu tão idílico. Ela se perguntou
se agora eles teriam alguma possibilidade de ir. Ou se em vez disso ele levaria Callie.
Ela era tão alta que ele não precisaria ajudá-la a procurar a estúpida maçã.
.Eu acho que eu estou confusa.. Jenny encarou a gramado. .Porque você quis ir
jantar com Callie?. ela finalmente perguntou, se perguntando se Easy podia ter
sentimentos pelas duas ao mesmo tempo. Talvez, mas Jenny não queria ser uma das
garotas que Easy amava. Ela queria ser a garota que Easy amava.
.Não é que eu quis ir.. Easy voltou a olhar para ela, e ela ficou feliz por ter encontrado
os óculos. .É só que parecia mais fácil assim.. Ele se abaixou e agarrou um punhado
de folhas secas do chão, então abriu a mão e as deixou cair de volta no gramado. Ela
esperou que ele dissesse algo mais, mas ele não disse.
Essa não era a resposta que ela queria ouvir – embora ela não tivesse a menor idéia
de que resposta poderia deixar as coisas melhores. Talvez não houvesse uma. Ela
olhou para os brilhantes carvalhos laranja atrás de Easy, evitando os olhos dele. .Eu
realmente não sei o que dizer. Eu acho que eu preciso de um tempo para entender as
coisas.. Ela mordeu o lábio com gloss Stila. .Talvez você também esteja precisando
entender as coisas..
Ela segurou a respiração, esperando que ele dissesse que não precisava entender
coisa alguma. Que era por ela que ele era louco, e não importa o quanto pensasse
nada mudaria isso. Que ele sentia muito e que estaria bem ali esperando por ela
enquanto ela colocava os sentimentos em ordem. Diga.
Mas Easy apenas balançou a cabeça lentamente, as mãos enterradas no fundo dos
bolsos do jeans Levi’s desbotado e sujo de tinta. .Ok,. disse ele num meio-sussurro.
Jenny se endireitou. Deixou sai ro ar que estava segurando, se sentindo
repentinamente... vazia. .Ok. Vejo você depois, então.. Sua voz soou muito mais fria
do que ela pretendia, então ela tentou suavizar. .Não falta à aula de arte na sexta.
Você sabe que a Sra. Silver te adora..
Easy sorriu. Ela podia ver o nó no pomo-de-Adão dele. Havia um vestígio de barba
embaixo do seu queixo que parecia ter sido esquecido, e Jenny lutou contra o impulso
de se inclinar e beijá-lo naquele momento, bem ali. Talvez se ela tivesse feito isso,
pudesse fazer as coisas voltarem e ser do jeito que eram antes, antes da festa
estúpida, antes do jantar estúpido, antes das coisas terem saído do rumo.
Mas ele já estava caminhando de volta, se afastando dela, através do gramado.
.Certo.. Ele bateu dois dedos da sua mão direita na testa em uma saudação
zombeteira. .Eu... uh... até mais então..
Jenny se voltou na direção dos dormitórios, evitando olhar para trás. O que
exatamente aconteceu? Estava tudo... acabado? Lágrimas saltaram de seus olhos,
mas ela as engoliu rápido e tentou pensar em coisas alegres: bolinhos salpicados de
chocolate da padaria Vienesse; liquidações da Barneys; dias chuvosos acompanhados
de um romance de Nancy Drew; os tijolos cobertos de hera nas construções em volta.
Mas pensamentos alegres não eram suficientes para apagar o que ela sentia. Easy
era tudo que ela sempre quis em um namorado – ela se sentia tão impossivelmente
sortuda por ele gostar dela. Mas talvez fosse exatamente isso. Talvez fosse
impossível.
OwlNet -------------- Caixa de Entrada de E-mail
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De: JeremiahMortimer@stlucius.edu
Para:BrettMesserschmidt@waverly.edu
Data: : Terça-feira,8 de outubro, 14h08
Assunto: Por favor não exclua
Baby, por favor, atenda o telefone... ou me deixe ir vê-la? Eu preciso falar explicar –
Eu preciso falar com você, pessoalmente. Eu sinto muito, muito mesmo. O que eu fiz
foi – bom, foi o maior erro da minha vida. E pra um cara como eu, você sabe que isso
significa muito.
Brincadeira. Mas por favor. Me liga
Isso está me matando. Por favor.
OwlNet -------------- Caixa de Mensagem Instantânea
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HeathFerro:Hey, sexy. Quer vir aqui e estudar para a prova de bio?
KaraWhalen: Uh... Eu não estou em bio.
HeathFerro: Oh. Bom, que tal você vir aqui e nós encontramos algo para fazer?
KaraWhalen: É uma oferta muito galante, mas eu realmente havia planejado um dia
de estudo. Talvez outro dia.
HeathFerro: Sério?
KaraWhalen: Não.
2 - WAVERLY OWLS SABEM QUE PÁSSAROS DA MESMA ESPÉCIE VOAM
JUNTOS
"Como é que todas as mulheres daqui tem peitos gigantes?" Brett Messerschmidt
perguntou enquanto virava as páginas de um dos quadrinhos X-Men de Kara. Ela
afastou dos olhos uma mecha de cabelo vermelho da altura do queixo. "É daí que elas
tiram seus superpoderes ou algo assim?"
As duas garotas estavam deitadas de bruços no edredom fúcsia sedoso de estampa
indiana de Brett, folheando através de uma pilha de gibis de Kara. O laboratório de
química havia terminado mais cedo, por causa de uma "experiência" dos nerds que
estão sempre juntos na biblioteca que acabou terminando em uma pequena explosão -
e Brett e Kara planejavam usar o tempo para estudar para a prova do meio do
semestre. Seu professor, o Sr. Shaw, odiava sua vida e mantinha um relatório de
todas as vezes que fez um aluno chorar, então a prova seria praticamente impossível.
Mas seu plano de estudos durou três minutos,até Brett ligar o seu stereo e pedir para
Kara trazer alguns gibis. Felizmente, Tinsley tinha uma aula de final de tarde nas
terças, então elas tinham o quarto todo só para elas. Brett chegou ao ponto de
memorizar os horários de Tinsley e tirava vantagem do tempo que a colega de olhos
violetas e eternamente rancorosa não estava por perto.
"Eu não sei." Kara admitiu. "Muitos desenhistas homens, eu acho."
"Típico." Brett ainda estava completamente rancorosa em relação ao que aconteceu
com Jeremiah. Eles haviam terminado por uma semana e ele simplesmente dormiu
com outra. Para ser sincera, ela terminou com ele. Mas pelo menos ela conseguiu
manter as calças no lugar - mais ou menos - e isso é mais do que ela pode dizer a
respeito dele. "Garotos. Tudo que importa para eles é peitos, peitos, peitos."
Ela já havia dito a ele que estava tudo terminado. Vários e-mails argumentando
chegaram na caixa de entrada dela, pedindo para conversar, mas ela os excluiu sem
sequer abri-los. Se ele queria ficar com ela, bem, ele teria de encontrar uma forma de
voltar no tempo e desfazer o que fez com aquela vadia hippie, Elizabeth. Talvez ele
tenha esse superpoder.
"Você devia se livrar de todo esse rancor que sente pelo Jeremiah," Kara avisou, como
se ela pudesse ler a mente de Brett. Ela enrolou uma mecha de seu cabelo liso cor-demel
no indicador. "Ou isso vai devorá-la por dentro."
Brett olhou para ela surpresa, mais uma vez espantada que até cinco dias atrás ela
sequer sabia o nome de Kara. Ela costumava ser a Dama de Preto que morava no
quarto próximo ao armário de vassouras e estava em algumas de suas aulas. Então,
depois que Tinsley apareceu na festa de sábado usando um vestido sexy de Kara
direto do armário cheio de roupas desenhadas pela mãe estilista, Kara passou de
discreta ninguém para garota cool. Garota cool que jogou uma caneca da Waverly
cheia de cerveja quente na cara sórdida de Heath Ferro, Brett lembrou a si mesma. E
agora, aqui estavam elas: Kara deitada na cama de Brett perto dela, usando uma
camisa de babados e bolinhas preta e branca e um casaquinho branco ajustado,
ouvindo música dos anos 80 e examinando o corpo de super heroínas. Que diferença
alguns dias podem fazer.
"Eu não consigo evitar," Brett admitiu, girando os anéis de ouro-rosa em volta dos
dedos. "Eu só estou tão... furiosa com ele."
"Você sabe, quando você pensa nele, seu rosto fica quase da mesma cor do seu
cabelo." Kara riu enquanto virava de costas. Os cantos de seus grandes olhos
castanho-esverdeados estavam destacados com um leve toque da sombra Urban
Decay Twice Baked de Brett. Ela estava bonita - como se ela não temesse mais ser
notada pelas pessoas.
"Falando nisso..." Brett puxou uma mecha do cabelo brilhoso e examinou. Era
praticamente da mesma cor que as suas unhas recém manicuradas com Bourjois
Code Red. "Minhas raízes estão aparecendo – Eu estou meio que precisando de uma
coloração. Eu estava pensando em deixá-lo um pouco menos vermelho dessa vez."
Quando seu colorista Jacques errou pela primeira vez e usou um vermelho bombeiro
ao invés do vermelho cenoura, Brett ficou horrorizada, preocupada que todos
começassem a chamá-la Crayola ou Muppet ou qualquer coisa. Mas agora ela tinha
se acostumado a sua tintura meio punk-rock, mesmo que isso a destacasse entre
todas as suas colegas naturalmente-loiras ou morenas-de-grife.
"Definitivamente não." Kara inclinou sua cabeça cor-de-mel, sacudindo lentamente.
"Ninguém na Waverly tem um cabelo como o seu. Você parece a Jean Grey." Ela
folheou um dos gibis de X-Men, procurando por um desenho, e então ela a segurou no
alto para Brett ver.
"Oh. Quando você coloca dessa forma..." Brett riu. Pensar que algo a fazia única fazia
ela se sentir melhor. Não uma atração de freak-show ou a garota-estranha-de-New-
Jersey, mas a garota-cool-com-o-cabelo-vermelho-legal. Ela correu a mão pelo couro
cabeludo, despenteando o cabelo para esconder as raízes escuras. "Você sabe, nós
tinhamos uma reunião do Comitê Disciplinar durante o almoço, sobre aquele caso
envolvendo os membros do - olha isso - Clube de Competição de Comilança.
"O quê?" Kara sentou, jogando a cabeça de forma que seus cabelos caíram em seus
ombros. Mechas finas emoldurando seu rosto. "Que diabos é isso?"
"Você sabe. É tipo, eles se reunem e veem quantos cachorros-quentes conseguem
comer em dez minutos." Brett sentou também e virou na direção de Kara. "Aqueles
dois calouros - provavelmente os únicos dois membros – foram pegos roubando
quatro quilos de cachorros-quentes crus do freezer da cozinha depois do jantar
semana passada." Kara ergueu as sobrancelhas com descrença. "Eles se defendem
alegando que estavam 'reunindo material para as atividades do clube'," Brett fez aspas
no ar com os dedos longos, "e que resolveram apelar para métodos obscuros porque
não receberam nenhum incentivo." Ela revirou os olhos. "Todos do sexo masculino
sofrem da incapacidade de ver além dos impulsos físicos? "
Kara se inclinou para trás nos cotovelos e encolheu seus pequenos ombros. "Bem,
eles são calouros." O gibi escorregou da beira da cama e caiu fazendo barulho no
chão de madeira dura próximo a pilha arrumada de cadernos de Brett's. Brett e Tinsley
colocaram suas camas em lados opostos do quarto 121 do Dumbarton quando se
mudaram, mas ainda assim não era suficiente.
"Sim, mas mais importante, eles são homens - o que significa que eles só pensam em
satisfação imediata, sem se preocupar com o futuro. Eu quero dizer, olha só – que tal
Easy?" Brett perguntou de repente, levantando para abrir os botões de seus jeans
cigarette Citizens of Humanity. "Ele certamente sofre do mesmo mal. Eu ainda não
consigo acreditar que ele levou Callie para jantar com o pai em vez da Jenny."
Kara mordeu o lábio rosa ChapSticked. "Eu vi Jenny no estúdio noite passada. Ela
parecia tão... triste." Ela agarrou sua garrafa Dasani de cima do criado-mudo de Brett e
tomou um longo gole. "Você acha que ela vai ficar totalmente arrasada?"
"Você acha que Easy e Callie estão juntos?" Brett encolheu os ombros. Ela
honestamente não sabia. Isso era estranho. Ela costumava ver Easy e Callie como um
casal - eles eram praticamente inseparáveis durante o segundo ano - que era estranho
de repente vê-lo com outra pessoa. Mas então, para sua surpresa, ela rapidamente se
acostumou. Easy sempre pareceu tão... legal com Callie. Algo em relação a Easy e
Jenny juntos havia quase parecido natural, como se duas almas artísticas, de mesma
opinião, tivessem se encontrado. Não que Brett ainda acreditasse exatamente em
romantismo.
Então novamente, se Easy estava prestes a dispensar Jenny, talvez ele não fosse tão
legal quanto ela pensava.
"Jenny é mais forte do que parece," Brett finalmente respondeu, surpreendendo a si
mesma. Ela alacançou a tocou com os dedos as argolas douradas no topo de sua
orelha esquerda. Ela sempre foi paranóica em relação às suas orelhas serem como
orelhas de elfo, e esperava que os brincos distraissem as pessoas.
Kara concordou e fez movimentos com as bochechas, imitando um peixinho, fazendo
Brett rir. "Garotos realmente são um pé-no-saco, não são?"
"Sério. Porque não podemos simplesmente pegar o boletim, como, anos atrás?" Brett
agarrou um de seus travesseiros de pena de ganso da sua cama e começou a
amassá-los com os dedos. Não havia nada especialmente profundo na delaração de
Kara, mas ela fez a mente de Brett começar a funcionar. Garotos são mesmo um péno-
saco. Porque ela sentia que era a última a saber? "Se pode haver um clube bizarro
na Waverly dedicado a enfiar o máximo de comida possível pela garganta , podia ter
um, tipo, clube dos Caras-Pé-No-Saco – nós poderíamos alertar as outras antes que
fosse tarde."
Kara ergueu com ceticismo a sobrancelha fina e castanha, correndo a palma pelo
gargalo de sua garrafa.
"Hey, Eu posso fazer isso." Brett arremessou o travesseiro enfática, e ele aterrissou no
edredom macio sem um único som. Então ela saltou da cama, indo em direção a seu
iBook branco na mesa. "Um lugar para nós ficarmos juntas e falarmos, e apoiarmos
umas às outras..." ela continuou, a idéia tomando forma na sua cabeça. Seria tipo a
que Tinsley originalmente propôs para o seu Café Society, se bem que ele logo se
tornou uma desculpa para beber, fazer coisas estúpidas, e excluir o máximo de
pessoas possível. Brett sentou em sua mesa. "Nós podiamos ter um pouquinho de
espírito de irmandade por aqui, o que acha?"
Kara balançou a cabeça concordando. "Realmente, eu acho que essa é uma idéia
brilhante. Porque nós não fazemos um convite e enviamos?"
Brett sorriu para a nova amiga antes de abrir o iBook. Por mais que ela odiasse admitir
que ela guardasse algum rancor de Tinsley, a ideía de que ela ia começar um clube
mais significativo que o superficial, rancoroso e excessivamente sexual Café Society
lhe deu uma emoção a mais. Ela sentiu seus olhos verdes cintilarem maldosamente
enquanto ela apertava o botão Power do seu laptop.. "Concordo. Mas antes de
mandarmos qualquer coisa, precisamos decidir quem vai estar na lista de convidadas."
E ela sabia de uma colega de quarto que não estaria nela.
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De: BrettMesserschmidt@waverly.edu
Para: Destinatário Oculto
Data: Terça-feira, 8 de outubro, 15h05
Assunto: Women of Waverly
Saudações, estimadas colegas
Algumas de nós decidiram estabelecer o clube Women of Waverly (WoW!) para
reforçar o sentimento de irmandade no campus. Não queremos nada muito formal ou
ritualístico ou nada disso (sem bodes, por favor), mas um lugar onde as garotas da
Waverly possam se reunir e discutir qualquer questão ou assunto que possamos
enfrentar no campus. Sexo, amor, drogas, idiotas que se auto-denominam homens –
qualquer coisa que vocês queiram está valendo.
O primeiro encontro oficial será hoje à noite às 20h no átrio e está aberto a qualquer
membro da comunidade da Waverly que seja do sexo feminino. A copa irá
providenciar petiscos e bebidas.
Poder do Estrogênio,
Xo
Brett Messerschmidt
Representante da turma
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JulianMcCafferty: Cara, exatamente onde no Hopkins Hall eu posso encontrar a sala
de projeção do Cinephiles? Eu nunca estive lá antes.
HeathFerro: Pergunta curiosa. Antes que eu possa entregar algo, vou precisar saber
o porquê.
JulianMcCafferty: Nada especial, Ferro. Apenas interessado em participar.
HeathFerro: Fica no porão, seu bundão.
JulianMcCafferty: Obrigada. Você é realmente um amor.
HeathFerro: Beijos
3 - UMA CORUJA ESPERTA APROVEITA OS EXTRAORDINÁRIOS RECURSOS
QUE A WAVERLY OFERECE
Tinsley Carmichael se demorou na sala de projeção no porão do Hopkins Hall depois
que o Signor Giraldi liberou a turma de Italiano Avaçado. Eles haviam assistido La
Strada de Fellini – muito melhor do que sentar em uma velha sala de aula chata e
assistir as bolhas de saliva saindo da boca do Signor Giraldi enquanto ele conjuga os
verbos em italiano. Havia algo em relação a assistir filmes antigos, especialmente
filmes antigos estrangeiros, no escuro, sentados nos assentos de couro reclináveis da
sala de projeção, que fazia o pulso de Tinsley acelerar. Salas de cinema eram tão
sexy. Ela estava pronta para atacar alguém. Alguém muito específico, na verdade.
.Eu posso fechá-la, Signor,. Tinsley ronronou enquanto os outros saiam da sala e o
Signor Giraldi tentava aparentar não ter dormido durante as duas horas do filme. .Eu
estava planejando algo para o encontro do Cinephiles desta semana, se o senhor não
se importar. Eu posso trancar a porta..
Signor Giraldi olhou para o relógio. Os boatos diziam que ele e a esposa, que morava
no Thompson Hall, um dos dormitórios de garotas, tinham um encontro marcado todas
as tarde, pontualmente às 15h30 – o que era ótimo para seus alunos de terça a tarde,
já que ele sempre os deixava ir um pouco mais cedo. .Grazie, Signorina Carmichael..
Signor Giraldi sorriu distraidamente para ela antes de sair rapidamente pela porta.
Aparentemente, filmes italianos em preto-e-branco também o deixam ligado.
No segundo em que ficou sozinha, Tinsley escureceu as luzes novamente e apoiou
suas botas de couro marrom e salto alto Isabela Fiore no braço da cadeira na frente
dela. Ela ajeitou a bainha do seu minivestido de mohair laranja-queimado mais pra
cima na coxa. Com o cabelo escuro e grosso perfeitamente dividido no meio da
cabeça caindo em uma cortina lisa em volta do seu rosto, ela se sentia como uma gogo
girl muito sexy da década de 70. Ela fechou os olhos e esperou por Julian.
A porta à prova de som rangeu ao abrir atrás dela. .Hey.. Tinsley manteve as
pálpebras fechadas. Seu coração batendo ansiosamente no peito. Fazia três dias
desde que eles estiveram sozinhos. Noite passada no jantar, eles se sentaram frente a
frente, em uma mesa cheia com seus amigos, e embora Tinsley pudesse sentir o olhar
fixo de Julian no seu rosto, ela se recusou a tratá-lo de forma diferente dos outros
garotos. O que significa que ela flertou com ele, mas apenas do mesmo jeito que fez
com os outros. Toda a situação a fazia sentir como Lily Bart, a namoradeira assumida
de The House of Mirh, um livro que ela leu pela primeira vez aos treze anos e desde
então releu todo verão. Ela podia jurar que Julian havia ficado desapontado, mas era
assim que tinha que ser. Ela não podia deixar o campus inteiro saber que ela estava
com um calouro.
Tinsley se revirou no assento. Dez segundos haviam se passado desde que a porta
rangeu. E se não era ele? Seus olhos se abriram.
.Ah!. ela chiou. Julian estava parado a dois passos, apoiado na cadeira na frente dela,
encarando seu rosto. .Jesus! Você me assustou.. Arrepios percorreram sua espinha.
Ela odiava ser surpreendida – quase tanto quanto gostava.
.Desculpe, m’lady.. Julian estendeu a mão esquerda que estava nas costas, revelando
uma única florzinha rosa-e-branca. .Para você..
Tinsley polidamente cheirou a flor, tentando não parecer impressionada. Na verdade,
ela adorava quando os garotos lhe traziam coisas. No ano passado, Bradley
Alexander, um jogador de lacrosse, ouviu falar da preferência que Tinsley tinha por
doces e tentou cortejá-la com doces, encarregando as outras garotas do Dumbarton
de deixar pacotes de Swedish Fish* na sua porta e colocava caixinhas de chocolate
Lady Godiva na sua caixa de correio todos os dias. Era divertido ser coberta de
atenção, mas Tinsley só pode comer tantos doces até começar a inchar.
(*N.T. Swedish Fish é um tipo de bala de goma gelatinosa em formato de peixe.)
.Obrigada,. ela disse, pegando a flor de Julian e a colocando atrás da orelha.
Julian correu as mãos pelo encosto das cadeiras de couro, mas manteve seus olhos
em Tinsley. Ele vestia um Abercrombie azul listrado com as mangas enroladas apenas
cobrindo os cotovelos e um jeans baggy True Religion que estava sujo de grama nos
joelhos. .Isso é impressionante. Nossa sala de cinema particular..
Tinsley se levantou devagar e deu um passo na direção dele. Ela podia sentir o calor
irradiando de seu corpo. .Você quer dizer, minha sala de cinema particular,. ela
ronronou, sem tocá-lo. Ele parecia ligeiramente suado, e Tinsley sabia que seus lábios
teriam um sabor salgado e viril. Mas ela ainda não estava pronta.
Ele tentou colocar as mãos na cintura dela, mas Tinsley se esquivou. .Sente-se. Fique
confortável,. ela ordenou com a voz abafada.
Julian obedeceu, afundando no assento de onde Tinsley havia acabado de levantar.
Alguns garotos tinham a necessidade de tentar mudá-la, mas o que ela gostava em
Julian era que ele obedecia as suas regras.
E ela planejava recompensá-lo por isso. Uma vez que Julian estava sentado, Tinsley
pousou cuidadosamente no braço direito de sua cadeira, esticando as pernas sobre o
encosto, os saltos da bota enfiados embaixo do braço esquerdo da poltrona.
.Eu vi você saindo do Stansfield com a Benny hoje. Aquelas botas,. ele disse,
gemendo. Ele sacudiu a cabeça e passou os dedos pelo cano da bota antes decorrer
as mãos lentamente para o joelho de Tinsley, apertando gentilmente. Ela riu antes de
afastar a mão dele.
Julian fingiu estar ofendido. .Você me tortura com os seus textos sexies todo dia, usa
essa roupa insanamente sexy, me arrasta para o seu lugar secreto, e agora você
sequer me deixa tocá-la?. Julian deitou a cabeça para trás, o rosto lindo com uma
expressão de dor. .Você tem que me dar algo..
"Você não parecia muito torturado no almoço, quando estava conversando com Celine
Colista." Ela escorregou pelo braço da poltrona na direção de Julian até estar
praticamente tocando ele.
Julian deu uma risada profunda, grave. "Então é isso? Eu estou sendo punido por ser
amigável?"
Ela gostaria de poder dizer que estava brincando. Como se ela nunca tivesse se
preocupado em alguém gostar mais da gordinha Celine do que dela. "É isso. Você foi
muito, muito mau."
Julian gemeu de novo enquanto Tinsley passava as unhas por dentro do seu
colarinho, claramente aproveitando a sensação das unhas no seu pescoço. Ela se
inclinou na direção dele com uma lentidão deliberada, seus lábios avançando na
direção dele, um milisegundo de cada vez. Quando ela estava a dois centímetros de
distância, perto o suficiente para ver as faíscas douradas na íris dele, Julian se inclinou
para frente abruptamente e pressionou os lábios contra os dela. Um calafrio correu
pelo corpo dela - os lábios dele realmente estavam salgados - e ela escorregou do
braço da cadeira e do encosto.
"Eu tenho que ir para o treino," ela disse sem ar. Ela não estava realmente tão
preocupada com a treino quanto em ficar longe de Julian. Algo em se sentir tão
confortável com um garoto a deixava em pânico.
Os braços longos dele a envolveram "Você está me matando. Eu pensei que nós
fossemos assistir um filme - tipo Casablanca, fingindo que estávamos abandonados no
deserto..." Ele a beijou gentilmente na clavícula. "Eu gosto desta pinta," ele disse antes
de beijá-la de novo.
Rapidamente, Tinsley arrancou a si mesma dos braços dele e se levantou, alisando a
bainha do vestido. Respire fundo. Ele não é Humphrey Bogart, e você não é Ingrid
Bergman. Ele é o seu brinquedinho, e o tempo dele está acabando.
"Você quer me encontrar hoje a noite no Waxwell? Tomar um café? Ficar juntos em
algum quarto escuro?" Julian sorriu e ficou em pé devagar.
"Julian," Tinsley repreendeu, correndo os dedos pelo cabelo, "temos que ser discretos.
Nós não podemos simplesmente aparecer em um lugar e ficar juntos."
"Bem, e se eu viesse até você? No escuro?" Julian começou a revirar os bolsos em
busca de algo. Ele tirou um Zippo prateado com as iniciais JPM e estendeu para ela.
"Pegue isso. Depois que escurecer, eu vou ficar olhando a sua janela. Acenda três
vezes e eu saberei que é seguro ir até lá."
Tinsley riu e encarou o isqueiro na mão dele. Isso era tosco, claro, mas também era
incrivelmente adorável. Ela pegou o isqueiro da mão dele.
"Só não seja visto," ela avisou enquanto caminhava lentamente em direção a porta.
"Eu vou usar minha capa de invisibilidade, prometo." Julian colocou a mão no peito em
uma promessa zombeteira.
Tinsley parou na porta e abriu o isqueiro, acendendo-o algumas vezes. Ela deu a
Julian o seus olhar mais ardente, então girou sobre os saltos e desapareceu.
Sempre os deixe querendo mais
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BennyCunningham: Alerta: eu vi o Sr. Kentucky e Betty Boobs conversando na
quadra hoje, parecendo nada amistosos.
HeathFerro: Acho que a lua-de-mel acabou! Acha que ele vai voltar com a "Senhorita
Pêssegos da Georgia"?
BennyCunningham: Acho que não. Callie não é do tipo que perdoa e esquece tão
rápido. mas com certeza eu saberei disso hoje a noite no encontro da Women of
Waverly.
HeathFerro: O que diabos é isso?
BennyCunningham: Desculpa Heathie. Exclusivo para meninas.
HeathFerro: Mas isso é exatamente meu tipo favorito de encontro!
4 - QUANDO TEM DÚVIDAS, UM WAVERLY OWL SABE CONSULTAR O
LIVRO DE REGRAS.
Brandon Buchanan apanhou uma t-shirt Lacoste de jersei recém-lavada da gaveta do
seu armário, antes de parar para examinar o bíceps no espelho de corpo inteiro de
Heath Ferro. Ele vinha fazendo mais série de musculação desde que Julian entrou pro
time de squash e ele se descobriu tendo que trabalhar mais pesado no treino, se
mover mais rápido, reagir mais devagar. Ele não ia deixar um calouro tirar o seu posto
de estrela do time. Nas últimas três semanas, ele ficou no Lasell depois do treino e
passou uma hora extra com os pesos. Isso o estava chateando imensamente, e os
músculos doiam no dia seguinte, mas ele tinha certeza que estava começando a ver
resultados.
E ele estava certo que Elizabeth também notou, a garota divertida da St. Lucius que
apareceu na festa no Dumbarton tentando encontrar Jeremiah e acabou passando
todo o tempo com Brandon. Elizabeth, com sua jaqueta de couro e seus sapatos
estranhos, e que Brandon não conseguia parar de pensar. Em um certo momento na
noite de sábado, enquanto estavam juntos nos túneis escuros do campus, ela apertou
o bíceps dele e sussurrou no ouvido dele, a respiração quente no rosto dele, "Legal."
Brandon concluiu que ela estava falando dos seus músculos, e não de seu
desodorante Hugo Boss, embora ele possa ter se enganado. Elizabeth era uma
daquela garotas que pareciam insanamente imprevisíveis - mesmo para uma garota.
O que é parte do motivo de ser tão divertido pensar nela. Ela não era como todas as
garotas ansiosas da Waverly. Ele não fazia a menor idéia do que ela estava fazendo
naquele momento - ela estava em aula? Talvez ela estivesse de volta ao quarto e
dançasse em volta do KT Tunstall usando apenas a lingerie. Ele estava
agradavelmente distraído pensando nela desde que ela subiu na sua Vespa verde-mar
e ele viu seus faróis traseiros desaparecerem na escuridão enquanto ela voltava para
a St. Lucius. Quando voltou para o quarto, Brandon ficou agradecido ao ver que Heath
ainda estava fora - ele provavelmente havia coagido alguma pobre garota do
Dumbarton a deixá-lo dormir na sua cama porque "ele precisa de alguém para segurar
a mão." Brandon foi capaz de ficar acordado pensando no perfume de Elizabeth - algo
natural e cítrico - em vez do esmagador cheiro do ego de Heath Ferro.
Ele havia esperado alguns dia para procurá-la porque ele sabia muito bem que as
garotas facilmente fugiam ao captar aquela vibração de ansiedade. Mas agora a
espera estava acabada. Ele escorregou o seu Bluetooth na orelha e deu mais uma
olhada no espelho para dar sorte, mas antes que pudesse ligar para o número de
Elizabeth a porta se abriu a Heath entrou furiosamente, arfando.
Brandon rapidamente foi para longe do espelho, esperando pelo inevitável "O que
você está fazendo? Se agarrando com você mesmo?" ou "Isso não vai ficar maior se
você só ficar aí parado olhando." Mas Heath estava distraído demais para dar mais
que um aceno na sua direção. Ele se ajoelhou próximo da própria cama desfeita,
afastando sapatos e roupas para lavar rançosas e jogando no meio do chão. Brandon
olhou com desdém a pilha que se formava, "Finalmente encontrou um buraquinho na
parede do banheiro feminino? Precisa da câmera?"
"Eu acho que está aqui embaixo em algum lugar," Heath murmurou enquanto colocava
a cabeça e os ombros embaixo da cama e revirava tudo. Ele puxou sem ânimo uma
Louis Vuitton debaixo da cama, antes de se levantar. Ele ficou em pé, espirrando alto,
o cabelo loiro desgrenhado coberto de poeira, e caminhou a passos largos até a
estante de livros de Brandon. Ele bateu os dedos impacientemente no estômago
enquanto passava os olhos pelas capas.
"O que você está fazendo? Brandon suspirou profundamente e se afastou. Ele pegou
o desodorante do armário e o borrifou nas axilas.
"Hardy, Elliot, Hemingway. Por que você precisa de tantos livros?" Heath espirrou de
novo. Ótimo, Espalhe seus germes por tudo. "Aha!" Heath agarrou um livro de capa de
couro preta da terceira prateleira e Brandon teve um vislumbre do título em dourado: O
Livro de Regras da Waverly.
"Procurando por uma nova forma de ser expulso?" Brandon perguntou, sentando no
edredom Nautica.
Heath se atirou para trás na cama e folheou distraidamente pelas páginas do livro.
"Nãnãnã. Ei, você ouviu algo a respeito do seu amigo Walsh? " Apesar de estar focado
na tarefa secreta que tinha nas mãos, Heath claramente não podia resistir a espalhar
uma fofoca.
Brandon reprimiu um gemido ao ouvir o nome de Easy. "O que foi agora?"
"Nada, aparentemente." Heath olhou através das páginas antes de virar para a
seguinte, o indicador direito correndo pelos parágrafos, procurando por algo. "Apenas
ouvi que Jenny o dispensou. Callie também. Cansadas disso tudo. Vá embora, etc,
etc."
"Não." Eram ótimas notícias. Mesmo tendo esquecido Callie, ele ainda não queria vêla
com o mala do Easy Walsh. E Jenny era boa demaaaaaaaaaais para ele.
Finalmente o babaca estava tendo o que merecia. Talvez fosse algum tipo de
alinhamento cósmico, as forças do bem se unindo para manter Easy Walsh longe das
duas garotas mais legais do campus. Para sempre. "Isso é verdade?"
Heath encolheu os ombros, ainda não disposto a afastar os olhos do livro. "Isso foi o
que meus espiões me contaram."
Brandon tirou o Bluetooth da orelha e o jogou na cama. Ele ia ligar para Elizabeth
depois, de algum lugar privado e livre da presença de Heath Ferro.
"Eu sabia!" Heath gritou de repente, segurando o livro triunfante. Antes que Brando
pudesse perguntar o que ele sabia, ele havia saído do quarto, levando o livro nas
mãos e parecendo mais eufórico do que se tivesse encontrado um buraco na parede
do banheiro das garotas.
Algumas vezes, especialmente se tratando de Heath Ferro, é melhor não perguntar.
5 - UMA WAVERLY OWL NUNCA MENTE PARA OS PAIS - OU PARA AS
COLEGAS DE QUARTO.
Callie Vernon voltou apressada da aula da tarde de terça-feira, ansiosa para esvaziar
sua bolsa Chloé de couro e tirar sua saia-lápis Cynthia Rowley. O zíper nas costas
ficava pinicando na espinha, e Callie estava prestes a rasgá-la. Ela parou por um
momento do lado de fora da porta da Sra. Pardee, onde Benny e Rifat Jones e outras
garotas estavam reunidas, ouvindo a discussão que vinha de dentro.
"Eles estão mesmo transando," Rifat sussurrou enquanto Callie se aproximava,
colocando o casaco marrom da Waverly no torso longo e magro.
"Você perdeu alguns palavrões," Benny riu com sarcasmo, se apoiando casualmente
na parede, ainda vestida com a roupa do treino. "Foi incrível."
Sempre era divertido ouvir as discussões de Pardee - todos os outros dormitórios
tinham inveja porque o Dumbarton tinha o corpo docente mais flexível - mas Callie
tinha coisas a fazer. Ela ergueu as sobrancelhas para Benny e se dirigiu para as
escadas.
Quando abriu a porta do quarto 303 do Dumbarton, ela parou.
"Não pai, é sério, as coisas estão bem. De verdade," Jenny insistia no seu Treo. Callie
parou na entrada, o peso da bolsa batendo com força no seu quadril, o zíper
arranhando o tecido delicado de sua jaqueta Diane Von Furstenberg. Droga.
Jenny girou, os olhos castanhos bem abertos na direção de Callie. A felicidade forçada
na voz não apagava o olhar triste nos seus olhos. Nos últimos dias, ela tentou
convencer a si mesma que Jenny estava realmente cheia de toda essa história com
Easy. Jenny soube que Callie e Easy sairam para jantar com o Sr. Walsh, mas ela
certamente não sabia nada sobre o amasso intenso no closet, quando eles
praticamente devoraram um ao outro. E olhando para a sua colega de quarto pequena
e triste, Callie definitivamente não queria que ela descobrisse.
Ela formou com a boca as palavras, Devo sair? mas Jenny balançou a cabeça
vigorosamente, a massa de cachos escuros dançando em volta do rosto pálido, e
então voltou sua atenção para o pequeno telefone preto na orelha. "Eu só... queria
dizer Oi. Eu tenho treino agora, então eu tenho que ir, mas eu ligo mais tarde...
Também te amo."
Callie andou impaciente pelo quarto, imaginando que se ela parecesse muito feliz
talvez Jenny se contagiasse e não parecesse mais tão deprimida. Ela largou a mochila
abarrotada de livros chatos de Espanhol na sua cama e tentou não olhar para os olhos
inchados de Jenny's. Ela esteve chorando? Mas então Jenny espirrou um espirrou
bonitinho, e Callie se sentiu um pouco melhor, porque talvez Jenny fosse apenas
alérgica ao outono ou algo assim, e não tenha ligado para o pai para pedir consolo por
causa de Easy. "Eu não quis interromper sua ligação."
Jenny colocou o Treo no aparador e juntou os cabelos longos na parte de trás da
cabeça, deslizando com precisão um elástico do seu pulso delgado para mantê-los no
lugar. .Não, não se preocupe com isso. Meu pai gosta que eu mande notícias de vez
em quando, ou ele começa a achar que eu entrei para alguma fraternidade ou algo
assim..
.Pais se preocupam demais.. Callie balançou a cabeça em tom de conspiração.
.Embora provavelmente meus pais ficariam emocionados se houvessem fraternidades
na Waverly.. Ela gostava de Jenny, ela realmente gostava, passou por elas como uma
tempestade, e ela tinha certeza que as duas podiam ouvi-lo ressoar a distância. .É
como se eles pensassem que o internato é outro planeta. Eu sei que minha mãe fica
louca por eu estar fora do alcance de sua visão quando estou aqui..
Jenny suspirou enquanto revirava uma gaveta procurando pela roupa do treino. .Meu
pai tem medo que eu vá, tipo, dar o meu primeiro passo ou algo assim e ele não esteja
lá para ver..
.Isso é fofo.. Callie puxou sua Ralph Lauren sem mangas e de gola alta pela cabeça,
desaparecendo por um momento em um túnel de cabelo frizado e cashmere. Jenny
realmente era como uma criança. Ela tinha o quê, quinze? .Minha mãe se preocupa
que eu vá fazer algo que possa envergonhá-la, e ela não esteja aqui para gritar
comigo por isso.. Ela encolheu os ombros. Ela imaginava o pai de Jenny como um
daqueles tios-super-legais que usavam suéters feitos a mão e botas de combate e
davam os melhores abraços de urso, o tipo que pega você no colo e gira em volta.
Sua mãe mandava beijinhos pelo ar quando a via.
Callie andou com passos largos até o assento da janela e ligou o iPod, então trocou
quando o The Donnas começou a gritar. Pelas vidraças grossas ela podia ver um
grupo de garotas com uniforme de futebol juntando as folhas caídas e as reunindo
numa pilha. Parecia divertido. Isso a fez lembrar da mesma época no ano passado,
quando ela e Easy estavam juntos há pouco tempo. Eles não podiam manter as mãos
longe um do outro, e escapavam para os estábulos a cada oportunidade para ficar
sozinhos. Ela teve um vislumbre do seu reflexo no vidro – no seu sutiã push-up preto
Calvin Klein, ela parecia pálida e frágil. Não a garota com quem Easy gostaria de
estar.
.Eu ainda não consigo acreditar que ela é governadora.. Jenny pegou uma camiseta
amarela brilhante com um sorriso enorme de uma de suas gavetas. .Eu sei que
provavelmente é doloroso mas pra mim parece tão... glamuroso!.
.Perde a graça rápido.. Callie lançou os olhos para os ombros de Jenny, que estava
de costas para ela, enquanto lutava para passar o sutiã esportivo azul royal pelo peito
enorme. Callie olhou para baixo para o seu peito mínimo. Ela nunca foi realmente
capaz de rechear um biquíni, mas desde o final do ano passado, ela perdeu peso, e
seu peito foi a primeira coisa a desaparecer. .Imagine cada erro seu virando, tipo,
conhecimento público..
.Então, uh.... Jenny começou, corando um pouco enquanto colocava um short Adidas,
Ela levantou o rabo de cavalo, algumas sardas leves salpicadas na pele pálida no
interior do braço fino. .Eu disse a Easy hoje que eu tipo, preciso de um tempo para,
sabe, entender as coisas..
.Sério?. Callie encarou a mesa, fingindo verificar os horários do jogo de hóquei,
incapaz de olhar para os olhos sinceros da colega. Ela estava orgulhosa de si mesma
por dizer a Easy para parar de vadiar e fazer uma escolha – mesmo que ela não
pudesse evitar desejar que ele a escolhesse imediatamente e acabasse com tudo isso
– e se perguntava o que essa novidade significava para ela.
.Eu só... sinto que jamais tive a menor idéia do que se passava na cabeça dele,.
admitiu Jenny, parecendo envergonhada.
.É, ninguém tem.. Callie buscou o suéter que havia jogado no chão e se virou para
Jenny, batendo uma unha perfeitamente polida na testa. .Ele é totalmente confuso..
Jenny riu e apanhou o bastão de hóquei do canto onde o havia deixado. .É um forma
de colocar a coisa.. Quando ela olhou de volta para Callie, um sorriso estava em seus
lábios cor-de-rosa.
Callie jogou o suéter no chão na frente do closet, onde uma pilha começava a se
formar. A lembrança de abrir essa porta e encontrar Easy agachado no chão,
escondido, fez seu coração bater alto. Deslizando para junto dele, rodeados pela
floresta de roupas caras dela, fechando a porta, rindo, e então o beijo... esse foi
provavelmente o melhor momento da vida de Callie até agora.
Ela respirou fundo, imaginando se Jenny podia ouvir as batidas fortes do coração dela
atravessando o quarto – isso não era uma história de Edgar Allan Poe? As batidas do
coração de um garoto que ele havia matado acabaram levando-o até a polícia? Ou foi
a própria culpa que o colocou em apuros? Ela deveria ter prestado mais atenção na
aula de literatura da Srta. Rose.
Callie entrou rapidamente em uma calça capri Nike preta, uma camiseta branca lisa e
o casaco marrom da Waverly, que estava três números maior. Jenny equilibrou o pé
na mesa, alongando. No seu short de ginástica e o casaco com capuz cinza
desbotado, o cabelo puxado para trás em um rabo-de-cavalo alto, ela parecia meiga e
doce, tão ameaçadora quando um iogurte de baunilha.
"Quer ir para o treino comigo?" Callie perguntou, um pouco cautelosa. Apesar de ter
colegas de quarto há um mês, elas nunca foram juntas para o treino. Callie sempre foi
tão... estranha. Mas agora ela estava sentindo - o quê? Generosa, talvez? Ela podia
se dar ao luxo de ser um pouco amável com a colega mais nova.
Além disso, uma delas ia ter seu coração partido - e Callie estava certa que não seria
o dela.
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De: beerdude101@hotmail.com
Para: HeathFerro@waverly.edu
Data: Quarta-feira, 8 de outubro, 16h13
Assunto: Seu dia de sorte
Ferro:
Consegui um lote de barris de cerveja de uma cervejaria que está fechando e
pretendia vender para você com um belo desconto.
Seja rápido – eles não vão demorar.
BD
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De: HeathFerro@waverly.edu
Para: beerdude101@hotmail.com
Data: Quarta-feira, 8 de outubro, 16h16
Assunto: Re: Seu dia de sorte
Cara-
Parece tentador, mas eu não posso me arriscar tendo barris aqui no campus de novo.
Eu escapei por pouco da última vez…
H.F.
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Para: HeathFerro@waverly.edu
Data: Quarta-feira, 8 de outubro, 16h17
Assunto: Re: Re: Seu dia de sorte
E fora do campus? Minha avó tem um celeiro gigante for a da cidade e eu poderia
emprestá-lo sem cobrar muito. Rolos de feno, espigas de milho, cheiro de folhas no ar
- e mais importante, barris de cerveja baratos.
O que acha?
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De: HeathFerro@waverly.edu
Para: beerdude101@hotmail.com
Data: Quarta-feira, 8 de outubro, 16h19
Assunto: Re: Re: Re: Seu dia de sorte
Interessante...
6 - UM WAVERLY OWL DEVE ESTAR DISPONÍVEL QUANDO UM COLEGA
PRECISAR – MESMO QUE O ODEIE.
Easy caminhou pelo bosque, as pernas doloridas e cansadas depois de duas horas de
cavalgada. Sempre que Easy estava com a cabeça cheia, ele cavalgava Credo. Algo
em relação a seus olhos castanhos enormes, olhando para ele com inabalável
confiança, o fazia sentir como se ele fosse mais do que um monte de esterco. Porque,
na última semana, foi assim que ele se sentiu. A cada minuto, a imagem de Callie ou
Jenny pipocava no seu cérebro, ele pensava miseravelmente, Eu sou um babaca –a
cada fração de segundo. Credo não se importava se ele era um babaca. Ela
começava a bater os cascos alegremente quando o via entrando no estábulo, e não
perguntava onde ele esteve ou no que ele estava pensando.
Ele tinha ido direto ao estábulo depois de falar com Jenny na porta de Estúdio de Arte.
Não que ele tenha falado muito - ele não conseguiu encontrar a coisa certa para dizer.
Ele nem mesmo conseguiu encontrar a coisa errada para dizer - ele simplesmente não
conseguia pensar em nada para dizer. Uma longa, dura cavalgada era exatamente o
que ele precisava para ajudá-lo a entender essa droga toda e limpar a mente.
O único problema era, não funcionou. Então em vez de jantar na sala de jantar e
aguentar oitenta pessoas perguntando pela milésima vez se ele estava com Jenny ou
com Callie, ele decidiu caminhar pelo afloramento rochoso, próximo aos barcos, perto
de seu lugar secreto de pintura. Easy olhou em volta enquanto se instalava em uma
pedra fria, escura, pegando um charuto do bolso. Ele pegou dois charutos cubanos da
bolsa de couro preta do pai quando ele estava no saguão do Le Petit Coq na semana
passada. Era o momento perfeito para acender um e refletir.
Talvez ele devesse fazer uma lista. Tipo prós e contras? Não é isso que as pessoas
fazem quando não conseguem decidir entre duas opções? Mas a idéia de colocar
Callie e Jenny, duas garotas vivas, que respiravam, em uma lista, o fez querer dar um
tiro no próprio pé. Ou na cabeça. Ok, talvez não tanto.
Easy deu uma tragada gigante no exato instante em que ouviu um barulho na trilha.
Ele segurou a fumaça nos pulmões por um longo momento, esperando para ver se
algum professor iria aparecer e colocá-lo em problemas. Mas então um Brandon
Buchanan muito vermelho apareceu usando uma camiseta branca suada e shorts de
corrida pretos, a bolsa de squash de vinil pendurada em um ombro e o telefone
prateado na mão.
"Desculpa, cara," Brandon falou entre os dentes, passando a mão pelo cabelo suado e
despenteado. Ele fez um sinal com a mão para Easy, se desculpando e começou a
voltar.
Easy de repente percebeu que ele não queria realmente ficar sozinho. "Você não
precisa ir embora, cara. Você pode, uh, sentar."
Brandon olhou para ele por um momento como se o convite pudesse ser uma cilada,
mas então ele deu um passo a frente e apontou para o charuto de Easy. "Tem outro?"
Sempre que Brandon falava com ele, Easy tinha a sensação que ele tentava fazer a
voz soar uma oitava mais baixa.
Easy abriu o bolso frontal do colete preto Patagonia e alcançou o segundo Cuban. "É
todo seu."
"Fogo?"
Easy alcançou o isqueiro de plástico barato com o desenho de uma dançarina de hula
e Brandon balançou a cabeça. "Legal." Ele acendeu o charuto e se encostou
desconfortavelmente em uma das pedras. Ele olhou em volta rapidamente, como se
ele ainda não soubesse com certeza o que fazia ali. "Então..." Brandon tragou
profundamente. "Como vão as coisas?" ele perguntou com a boca cheia de fumaça.
Easy suspirou e olhou a fumaça que subia dos seus charutos, subindo direto para o
céu púrpuro visível através das árvores em volta deles. Era mais do que fudido que ele
estivesse ali, sentado fumando com Brandon, o cara de quem ele roubou a namorada
no ano passado - o cara que sempre olhou como se quisesse dar um soco na cara
dele mas nunca teve coragem para fazer isso. "Já estive melhor," Easy respondeu
meio torto.
Brandon balançou a cabeça e apoiou os pés em uma outra pedra. "Eu ouvi algo."
Easy encarou Brandon por um momento, tentando analisar sua capacidade de
empatia. O que diabos - por que diabos não deixar simplesmente sair? "Eu só estou...
confuso," Easy gaguejou. "Eu não faço a menor idéia com quem eu devo ficar." A mão
livre de Easy agarrou o cabelo desgrenhado, que precisava desesperadamente de um
corte. Seu pai quase teve um enfarto quando o viu na semana anterior.
"Quer minha opinião?" Brandon perguntou, o charuto pendurado nos lábios
estranhamente rosados. Ele nem mesmo soou como se quisesse matar Easy, dessa
vez. Mas agora, Brandon ficou todo íntimo no sábado à noite com aquela garota
misteriosa, de aparência exótica da St. Lucius - talvez ela fosse capaz de distraí-lo um
pouco, fazê-lo esquecer Callie. Bem, bom para Brandon. A garota era gostosa.
"Uh, sim." Easy segurou o isqueiro barato para reacender o charuto. "Eu acho que
sim."
"Certo. Então eu vou ser honesto. Eu sei que Jenny é totalmente sensacional e tudo,
mas você não acha que isso meio que aconteceu muito rápido? Eu quero dizer, ela
mal chegou aqui, e de repente vocês estavam saindo." Brandon exalou a fumaça
diretamente no ar escuro da noite. Easy suspeitou que ele tinha uma quedinha por
Jenny, também.
"É, eu acho que foi tudo muito rápido." Easy lembrou da primeira vez que ele falou
com Jenny, ele havia se esgueirado para o quarto de Callie e então Callie
desapareceu. Ele sentou na cama de Jenny, e tudo nela - o cheiro; o rosto sonolento e
sem maquiagem; o cabelo desgrenhado; a voz doce, curiosa - pareceu ser
exatamente o oposto de Callie. "Mas nós só, sabe, deixamos acontecer."
"Quero dizer. Não me leve a mal - eu meio que acho que você é um completo idiota
por não estar totalmente apaixonado por Jenny. Ela é tão meiga." Brandon falou com o
charuto na boca, então foi meio difícil entender, mas Easy pegou o raciocínio dele.
"Mas você não acha meio estranho que você esteja entre a Callie e, a anti-Callie?"
Easy tentou pensar sobre porque isso aconteceu. Sua mente imediatamente voltou
sua mal sucedida viagem a Barcelona quando ele foi visitar Callie depois do verão.
Uma combinação de coisas - o verão na porcaria do Kentucky e a sua frustração ao
pensar em mais um ano inteiro na sufocante Waverly Academy - fizeram da viagem
um pesadelo e fizeram Easy temer voltar mais uma vez a Waverly. E então quando ele
voltou para a escola, Callie estava mais sufocante e autoritária do que nunca, e de
certa forma, essa garota nova, legal apareceu no horizonte - um meio perfeito de fugir.
Foi isso que aconteceu? Ele usou Jenny como uma forma de escapar do
relacionamento com Callie porque Callie tentou pressioná-lo? Porque ele não estava
pronto para dizer "Eu amo você"? Por um milhão de vezes ele pensou no jantar com
Callie e o pai, e como Callie o havia defendido. Lembranças de repente invadiram o
seu cérebro - Callie, com seus sapatos deliciosamente inapropriados, se esgueirando
para os estábulos para passar uma hora se agarrando com ele antes do jantar; Callie
o surpreendendo com a primeira edição de Naked Lunch de William S. Burroughs no
Dia dos Namorados porque ela lembrou que ele falou que queria lê-la; Callie, cujos
olhos avelã o faziam lembrar dos dias preguiçosos de verão da infância e desejar
conhecê-la a vida inteira.
"Isso é, tipo, a clássica definição de 'no sobresalto', não é?" Brandon continuou, dando
três tragadas rápidas no charuto e tentando exalar anéis de fumaça, do jeito que os
caras sempre fazem nos filmes. "Por mais que eu odeie dizer isso, havia algo em você
e Callie que tipo... fazia sentido."
Brandon definitivamente odiava admitir isso, mas era verdade. Talvez porque Easy e
Callie eram tão claramente não feitos um para o outro - os opostos se atraem e tudo
isso. Não fazia muito sentido, mas nada relacionado ao amor fazia.
"É." Easy concordou devagar com a cabeça.
"Pega leve com a Jenny, sabe?" Brandon disse, sentindo um pouco confuso por causa
do tabaco. Pobre Jenny. Brandon podia dizer só de olhar para Easy que ele vinha
sonhando com Callie e que Jenny não tinha a menor chance. Brandon sentiu uma
pontada de amargura, mas então ele se lembrou do porque ele foi para lá. Elizabeth.
Ele havia esquecido Callie, ele havia esquecido Jenny. Era só Elizabeth o tempo todo.
"Certo." Easy sacudiu a cabeça abruptamente como se tivesse estado perdido em
devaneios. Ele olhou para Brandon, os olhos azuis de repente mais claros. Houve um
estrondo a distância e Easy olhou para o céu, como se isso pudesse torná-los
próximos, bem ali e naquele momento. "Então, uh... e a garota da St. Lucius?" ele
perguntou, em direção às nuvens acima deles.
"Elizabeth." Brandon inalou profundamente, deixando a fumaça do charuto encher
seus pulmões. Ele estava um pouco orgulhoso que Easy tivesse reparado nela -
certamente todos haviam, com a camiseta engraçada LIBERTEM O TIBET e o
pescoço longo, gracioso. "É, ela é incrível."
Easy concordou. "Ela parece legal." Ele olhou por sobre os ombros ao som de algum
animal correndo através das ervas daninhas antes de recolocar o charuto na boca.
"Ela é legal." Brandon sentiu o peito estufar um pouco, com orgulho, mas tentou não
demonstrar. "Nós passamos, uh, um tempo muito bom... conversando." Por mais que
ele estivesse aproveitando o charuto, ele realmente não queria ficar todo falante com
Easy, pelo menos não sobre suas próprias coisas. "Eu estava indo ligar para ela."
"Ligar?" Easy perguntou, um leve tom de ceticismo na voz.
Brandon interrompeu. "Porque - não devo ligar?" ele perguntou, e então se odiou por
pedir conselhos amorosos para Easy.
"Nã, eu não quis dizer isso." Easy se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos nas
coxas. "Claro que deve ligar para ela. Ou escrever um poema, fazer um pequeno
desenho, algo para mostrar que você andou pensando nela. Seja espontâneo. Ele se
encolheu.
"Uh, é. Eu definitivamente vou fazer algo." Brandon concordou, soando mais
confidencial do que sentia. Ele não era espontâneo por natureza. Ele era o tipo de
cara que avaliava o catálogo de cursos de verão e circulava as disciplinas eletivas que
o interessavam.
Easy pegou uma folha do chão e a amassou na com a mão. Ele limpou a garganta.
"Ei, Eu sei que provavelmente é desagradável para você falar comigo. Eu sei que você
sempre meio que quis, tipo, me matar, mas sabe, desculpa... por tudo."
Brandon apagou o charuto em uma das pedras e hesitou. "Não se preocupe." Eles
definitivamente não iam se tornar amigos e apertar as mãos a qualquer momento, mas
ainda assim, talvez Easy não fosse um completo idiota. "Eu tenho que voltar. Mas
obrigado pelo charuto."
"Sem problemas." Obrigado pela, uh, conversa," Easy respondeu.
"Boa Sorte," Brandon disse e então, deslizou o charuto meio-fumado em um bolso de
sua bolsa de squash. Ele se virou e começou a voltar pela trilha, exatamente quando
as primeiras gotas de chuva fizeram cócegas em seus braços extra-fortes. Talvez ele
deva ir furtivamente até a St. Lucius amanhã e surpreender Elizabeth pessoalmente.
Isso devia ser melhor do que um poema, ou algo do tipo. Certo?
7 - UMA WAVERLY OWL SABE QUE UM BEIJO É APENAS UM BEIJO
"Wow. Eu diria que nós temos uma boa quantidade de presentes." Brett disse
enquanto Jenny e Callie a seguiam pela porta de vidro giratória do átrio. A chuva lá
fora fazia um som tranquilizador contra o teto de vidro acima delas.
O Átrio do Reynolds era um espaço de dois andares com uma abóbada de vidro no
teto, desenhado por I.M. Pei, uma aquisição de muitos mil dólares concluída há
apenas alguns anos, graças ao apoio generoso do pai cheio-de-contatos-bilionários de
Ryan Reynolds's. O espaço estava cheio com frondosas figueiras e samambaias,
fazendo-o parecer tropical, mesmo no meio do inverno, e quando iluminado, era
possível vê-lo incandescente como uma lâmpada gigante através do campus. O hall
na verdade só era usado como desculpa para sessões de café-e-bolinho durante a
Semana dos Pais, e eventualmente era palco das leituras da Absinthe, a revista de
literatura da Waverly. Brett ficou chocada quando empurrou a porta de vidro e viu
dezenas de garotas reunidas em volta dos confortáveis sofás vermelhos da Pottery
Barn, algumas delas sentadas de pernas cruzadas no carpete verde e dourado
estampado.
Ela sentiu o estômago começar a cambalear um pouco, do mesmo jeito que fazia
antes de cada reunião do Comitê Disciplinar ou de um debate - era o mesmo tipo de
enjoo que ela sentia nos segundos que antecediam um mergulho na gigantesca
piscina em forma de rim dos pais. Uma vez na água, por assim dizer, ela estava bem.
Mas o salto a deixava nervosa. Brett secou as mãos úmidas nas laterais de seu jeans
skinny preto Joe's.
A tagarelice foi morrendo enquanto as três garotas seguiam em direção a um dos
sofás vermelhos vazios próximo a parte da frente da sala, que estava
consideravelmente reservado para elas, Brett olhou para as garotas - quase todo o
Dumbarton estava lá, exceto Tinsley Carmichael, que "acidentalmente" foi deixada de
fora da lista de e-mails.
Brett e Kara sentaram no sofá e assistiram enquanto Jenny se acomodava no chão
próximo a Alison Quentin e... Callie? Parece que elas são amigas de novo. Um pouco
estranho, considerando tudo o que elas não tinham em comum - e a única coisa que
elas tinham. Mas bom para elas, entrando no espírito de união feminina. Girl power.
"Obrigada a todas por virem," Brett começou, tentando fazer sua voz não soar
totalmente autoritária e chata. Ela estava usando leggings pretas e uma túnica navy
longa C&C California, mas as garotas estavam olhando para ela com tanta
expectativa, que ela pensou que devia ter vestido seu traje formal do Comitê. "Por
esse ser o primeiro encontro do Women of Waverly, eu não quero que seja muito
formal - eu acho que nós devíamos apenas usar essa oportunidade para ficar juntas e
conversar, e trazer qualquer questão que tenhamos, ou qualquer pensamento sobre o
que gostaríamos que o clube fizesse no futuro." Ela encolheu os ombros e olhou em
volta do grupo enquanto as garotas assentiam.
Benny Cunningham abriu a boca para dizer algo, mas suas palavras foram cortadas
pelo som da porta se abrindo. De repente, Heath Ferro apareceu, usando um blazer
da Waverly apertado, o cabelo normalmente bagunçado estava penteado e
emplastrado, de forma submissa. Ele sacudia um livro acima da cabeça, e para
qualquer um que não o conhecesse, ele parecia um quadro-perfeita, um garoto de
escola preparatória bem educado, ansioso por aprender.
"Não comecem sem mim!" ele gritou, abrindo caminho pela multidão de garotas, em
direção a frente da sala. As garotas deram risadinhas mas Brett olhou para ele
furiosamente. O que diabos ele estava fazendo? Quando ele ficou perto o suficiente
dela, ele mostrou o livro que trazia nas mãos - uma cópia do livro da Waverly. "Posso
recitar?" ele perguntou, com um sorriso afetado de satisfação no rosto bonito. Ele abriu
em uma página do livro e virou para encarar o grupo, claramente deliciado por ser o
centro das atenções. "Nenhum clube na Waverly pode excluir membros baseado em
sexo, gênero, ou orientação sexual." Ele fechou o livro de forma barulhenta. "Acho que
isso significa que eu estou dentro."
"Eu não sabia que Wavely tinha um graduado em Direto," Brett disse a ele irritada.
Heath parecia ter um instinto para aparecer exatamente onde ele não era querido.
"Você quer uma batalha no tribunal?" Heath sorriu afetado de volta, segurando o livro
sobre a cabeça, como uma tocha.
"Que seja, Heath. Está bem." Brett revirou os olhos e as garotas riram de novo. "Você
pode apenas fingir por um momento não ser tão garoto?"
"E pode se sentar?" Kara perguntou propositalmente. "Nós estávamos justamente
começando."
"Sem problemas, senhoras," Heath prometeu enquanto acariciava os bolsos de suas
calças cargo Abercrombie. "Mas não querem tirar uma foto do grupo antes?" Ele
segurou a pequena câmera digital prateada em frente ao rosto e tirou uma foto da
sala. Ele olhou de relance para Brett, que estava olhando furiosa para ele. "Desculpa!"
ele sussurrou, e deslizou no sofá, próximo a Kara.
Brett respirou fundo e tentou esquecer o intruso masculino. "De qualquer forma. No
futuro, poderemos falar sobre qualquer coisa que quisermos, mas eu acho que talvez
possamos começar com um tópico essa noite que vai tipo quebrar o gelo." Ela parou e
sentou no sofá, sentindo os olhos de Heath em seu peito. Pervertido. Talvez ela
pudesse chocá-lo e expulsá-lo da sala. "Então, que tal sexo?"
Todos riram com nervosismo e olharam em volta, corando. Brett podia garantir que
isso faria as coisas acontecer. "Qual a sua cena de sexo favorita do cinema?"
"Garotas Selvagens," Heath disse imediatamente, a mão no peito com seriedade.
"Mãos presas. É uma bela cena de realismo cinematográfico," ele adicionou,
lambendo os lábios.
Brett revirou os olhos. "Que tal perguntarmos ao longo da sala?" Brett apontou para
Jenny, que estava do lado oposto de Haeth no círculo.
"Hmm." Jenny descansando o queixo no punho. "Dirty Dancing." Ela encolheu os
ombros e olhou em volta, as bochechas começando a corar.
"Oh, sim," Alison concordou.
"O quê? Aquela frutinha! Quero dizer - "
Brett lançou um olhar que o silenciou. "Se você não vai seguir as regras do clube, nós
vamos chutá-lo para fora. Capice?"
Heath saudou com dois dedos. "Certo. Capitão."
"Quem é a próxima?" Brett perguntou, olhando direto para Callie.
"Eu vou ficar com Mr. and Mrs. Smith, Brad Pitt e Angelina Jolie. Definitivamente." Ela
balançou a cabeça e olhou para Kara, que estava do outro lado.
"Ligadas pelo Desejo," Kara disse. "Sem dúvida."
"Agora sim, era disso que eu estava falando!" Heath gritou, fazendo um redemoinho
dourado no carpete na frente dele, um olhar de extase no rosto. Ele levantou a mão
para bater na de Kara, cumprimentando-a, mas ela fez uma careta e olhou para longe.
Pela hora seguinte, as garotas riram e conversaram sobre sexo. Heath tentando ser
respeitoso o tempo todo, tanto que as garotas pareceram esquecer que ele estava ali.
Brett ficou sabendo de todo o tipo de coisa que ela jamais imaginou sobre as colegas:
que Sage Francis estava esperando pelo casamento para perder a coisa, que Yvonne
Stidder estava esperando apenas pela faculdade, que Rifat Jones havia feito e
desejava não ter feito. Celine Colista queria saber se sexo oral contava como sexo (as
opiniões se dividiram), e Callie queria saber se realmente doía tanto quanto as
pessoas falavam. As garotas que sabiam responderam tristemente que sim, pelo
menos da primeira vez. Brett ficou um pouco chocada, ao ver o quanto todos estavam
sendo tão aberto em relação a coisas tão pessoais. Mas isso era muito confortável, o
ambiente acolhedor onde qualquer um podia dizer qualquer coisa e tudo ficaria bem.
Brett sorriu para si mesma. Não convidar Tinsley, a vadia que julgava a todos, para o
grupo foi a decisão mais inteligente que ela já tomou.
A conversa começou a diminuir, e algumas garotas subiram para encher suas canecas
com sidra ou pegar outro biscoito de gengibre. Benny de repente deixou escapar, "O
que eu queria saber é porque os garotos sempre acham que se você fica com eles,
isso significa que você está disposta a transar com eles?" ela exigiu, com um interesse
pessoal óbvio na questão.
Todas olharam para Heath, como se lembrassem que ele estava ali. "Pensamento
interessante." Heath encolheu os ombros como se se desculpasse. "Vocês não podem
nos culpar por tentar."
"Bem, isso realmente não é justo," Trisha Reikken falou da borda de um dos sofás
vermelhos. Ela era uma veterana cheia de curvas que tinha a fama de ser disposta a
fazer mais do que beijar. "Porque eles não podem aceitar o fato de que um beijo é
apenas um beijo, e isso é tudo que eles vão ter?" Ela cruzou os braços sobre o peito
grande e olhou para Heath.
"Eu concordo com você." Sage Francis concordou balançando a cabeça loura
vigorosamente. "Garotos conseguem ficar tão distraídos com o próximo passo, que eu
acho que às vezes eles esquecem o quanto beijar é bom."
"Alguns garotos," Heath disse intencionalmente, se inclinando para a frente enquanto
falava. "Eu? Eu adoro beijar. Beijar é fabuloso." Ele levantou as palmas para cima em
um gesto de eu-sou-muito-inocente, e todas riram. "Mas, cara, então vem o próximo
passo."
"Esse é o ponto, bundão." Kara bateu com o indicador no ombro de Heath. "Algumas
vezes não há próximo passo. Algumas vezes beijar é a última parada do trem."
Heath olhou como se alguém tivesse dito a ele que Papai Noel não existia. "Sem
próximo passo?" ele disse, o rosto empalidecendo. "O próximo passo é o motivo pelo
qual o beijo foi inventado."
Todas as garotas explodiram em discordância, murmúrios de raiva atravessaram o
grupo em ondas.
Brett levantou uma mão, pedindo ordem. "Eu sinto muito, Heath, mas eu vou ter que
discordar de você. Algumas pessoas - pessoas que têm um mínimo grau de autocontrole
- podem aproveitar um beijo pelo que ele é, e parar por aí."
"Certo?" Alison concordou enfaticamente, o cabelo preto sedoso brilhava com o
reflexo da luz do átrio. Jenny se inclinou para dar uma batidinha na mão de Alison
concordando.
"Eu ainda não estou convencido." Heath sacudiu a cabeça. "Vocês estão me dizendo
que vocês podem beijar alguém e não querer mais?"
"Eu posso." Brett olhou de relance para Kara, que estava olhando para ela enquanto
ela falava, e um trovão ecoou do lado de fora . "Eu posso beijar a Kara e aproveitar o
beijo como um beijo." Ela olhou para a amiga e encolheu os ombros. Talvez isso
calasse Heath. Brett colocou o cabelo para trás afastando-o do rosto e os lábios
encontraram os de Kara em um selinho rápido. Foi macio e rápido e amigável.
"Vê?" Brett sorriu torto, uma sobrancelha arqueando na direção de Heath. "A última
parada do trem."
Brett sorriu e encostou as costas no sofá, a cabeça rodopiando de leve. Ela se sentiu
muito presunçosa e muito... quente. O beijo foi tão rápido que ela não podia ter certeza
de coisa alguma, mas talvez, quando os lábios dela tocaram nos de Kara e Brett sentiu
o leve cheiro de gloss de morango, ela sentiu alguma coisa? Huh... isso foi estranho.
Brett agarrou sua caneca de chocolate e tentou acompanhar a conversa do grupo. Ela
olhou de relance para Heath e percebeu que ele estava olhando direto para ela, um
sorriso ímpar no rosto. Ela apontou a língua para fora e então voltou-se para o grupo.
O círculo havia se dispersado em algumas conversas menores, mas olhando em volta
ela podia ver que muitas pessoas estavam apenas fingindo conversar e mantendo os
olhos em Jenny e Callie, que tinham voltado a se encarar nas bordas do círculo.
Calllie mordeu os lábios hidratados e olhou para o rosto insuportavelmente doce da
colega de quarto. Jenny sentou com as pernas cruzadas no chão com suas calças de
yoga e um grosso suéter cor de aveia no qual ela adoravelmente desaparecia. Não
importa o quanto elas competiram por causa de Easy, Callie não conseguia deixar de
querer abraçar Jenny naquele momento. especialmente depois de todo o clima
fraternal. Ela se sentia como uma grande babaca, mas isso era muito inspirador. "Você
é uma pessoa incrível, e você é minha colega de quarto, e eu quero que nós sejamos
amigas," Callie finalmente disse, realmente sentia isso. Easy era um Neanderthal. Ele
era o seu Neanderthal, certo, mas Jenny era sua colega de quarto. E talvez também
sua amiga.
"E se nós simplesmente… deixarmos ele pra lá? Pela nossa amizade?" Jenny
perguntou cheia de esperança, o rosto mais doce e angelical do que nunca.
A testa de Callie se esticou e ela abriu um sorriso largo, de alívio. Era como se algo
tivesse ligado em sua cabeça. Tão simples: apenas deixá-lo pra lá e ficar amiga da
colega de quarto. Ela olhou de novo para o rosto de Jenny com os olhos arregalados e
as bochechas rosadas, cheia de expectativa. O que Easy Walsh fez por elas, de
qualquer forma? "Isso soa como um plano."
Jenny jogou os braços em volta de Callie e Callie a abraçou de volta. A sala cheia de
garotas desistiu de fingir não estar escutando e rompeu em aplausos.
"Agora vocês duas" Beija!" Heath de repente gritou, puxando o carpete com as duas
mãos dessa vez. Mais uma vez, todas haviam esquecido completamente que ele
estava lá. "Beija! Vamos! Vocês sabem que vocês querem -"
Brett pegou um travesseiro pesado de brocado e jogou no peito dele. O encontro
definitivamente estava acabado.
8 - CHOVA OU FAÇA SOL, UMA WAVERLY OWL MANTÉM SUA PROMESSA.
Tinsley colocou a cabeça pra fora da porta do quarto depois de duas horas de uma
soneca pós-treino que durou todo o jantar. Estava realmente escuro lá fora e todo o
primeiro piso estava estranhamente deserto. O silêncio era esquisito e ela sentia
quase como se tivesse havido um desastre nuclear e ela fossa a única do campus que
não havia se escondido no abrigo-anti-bombas. Que excelente oportunidade para
chamar Julian. Só de pensar nele, sentado do outro lado do campus, olhando pela
janela do quarto no Wolcort, esperando ver o brilho de uma pequena chama, lhe dava
arrepios na espinha.
A janela do seu quarto ficava na direção oposta da dele, então Tinsley foi em direção
ao banheiro, abrindo uma das pesadas janelas de vidro opaco. Ela acendeu o Zippo
de Julian, olhando a chama brilhar pela noite uma, duas, três vezes. Os dedos
traçaram as iniciais de Julian gravadas.
Nem três minutos haviam se passado – tempo suficiente para Tinsley arrancar alguns
fios de sobrancelha no espelho – antes que ela visse uma figura toda vestida de preto
aparecer ao lado do Dumbarton. Ele apoiou as costas na parede de tijolos e deslizou
ao longo dela, a cabeça virando de um lado para o outro enquanto ele se aproximava.
"Oi," uma voz veio de baixo.
"Shh!" Tinsley fez, colocando a cabeça para for a da janela. Julian se levantou e
agarrou a mão dela, apoiando os pés na parede de tijolos e se impulsionando pela
janela. Ele tropeçou desajeitado.
"Isso parece familiar." Os olhos passando pelo banheiro - sem dúvida alguma ele
estava lembrando que foi naquele lugar que eles ficaram juntos pela primeira vez. "Eu
acho que estive aqui em um sonho uma vez," ele disse brincalhão.
"Talvez você tenha estado." Tinsley se inclinou para trás, se apoiando numa pia e
notou que Julian estava usando um colar de conchas, o tipo que uma garota compraria
quando estava de férias em Nantucker ou Fire Island. Tinsley, estreitou os olhos.
Obviamente, ela esperava que Julian tenha tido namoradas antes – ela não queria ter
de treiná-lo completamente - mas isso não queria dizer que ela queria ver vestígios
delas pendurados nele.
"Nã, não pode ter sido um sonho." Ele olhou para Tinsley por sobre os ombros e seus
olhos escuros a chamaram na direção dele. Ela queria que ele fosse até ela, mas ela
não pôde resistir. "Você sempre acorda deles."
Tinsley caminhou para longe da pia, os pés descalços tocando o chão frio. Ela puxou a
cortina atrás dela e correu uma mão pelo peito de Julian. Ela o empurrou contra a
parede e o beijou como se não o visse há meses, embora na verdade ela o tivesse
visto há aproximadamente três horas.
.Sentiu minha falta?. ela perguntou, entre beijos. As mãos dele agarravam a lateral do
corpo dela, os dedos brincando com o botão da sua T-shirt vermelha American
Apparel, pedindo permissão para ir além.
Julian rosnou e suas mãos tocaram a pele nua de Tinsley. Ela estremeceu um pouco,
enquanto eles se arrastavam devagar pelas suas costelas, e exatamente quando ela
ia afastá-los – ele não podia fazer isso sem pedir permissão, óbvio – a porta do
banheiro se abriu com um estrondo. Eles separaram os lábios e arregalaram os olhos
surpresos, mas Julian não tirou as mãos do corpo de Tinsley.
Tinsley apertou o dedo contra os lábios de Julian, o pulso acelerando. Assim que eles
prenderam a respiração o intruso começou a cantar, .Da de da de da dum... da de da
de da dum.... Os belos olhos de Julian formaram uma expressão de interrogação
enquanto Tinsley tentava determinar quem era a dona da voz. Seria ótimo se fosse
uma garota facilmente influenciável, como uma caloura, ou uma nerd. Tinsley poderia
recrutá-la para ajudá-la a colocar Julian em seu quarto, e eles poderiam continuar seu
interlúdio romântico lá. Os dois tentaram não rir enquanto ouviam o barulho da outra
fazendo xixi. Exatamente quando ela ia abrir a cortina, a voz estourou em palavras:
.Don’t stand, don’t stand so, don’t stand so close to me....
O queixo de Tinsley caiu. Merda. Obviamente Pardee era uma fã brega do Police.
Tinsley ouviu – todo o primeiro andar ouviu - a responsável pelo dormitório, Angélica
Pardee, reclamando em voz alta com o marido naquela manhã para que ele trocasse o
chuveiro deles ou encontrasse um .homem de verdade. que fosse capaz de fazê-lo.
Aparentemente ele não foi capaz. Tinsley apertou os dedos com força contra os lábios
de Julian e eles ouviram o barulho das gotas caindo no chão duro. Como ela iria se
safar se Pardee abrisse a cortina e a encontrasse com um garoto?
Então veio o barulho da cortina do box adjacente sendo fechada e a água sendo
ligada. Jesus. Estava perto. "Vem," ela cochichou, apontando a cabeça na direção da
porta. "Temos que tirar você daqui."
Julian fingiu não entender, e sussurrou de volta para ela, "O quê? Você quer ficar junto
mais um tempo?" Ele se inclinou para beijá-la.
"Depois!" ela acidentalmente falou alto, agradecida por nesse instante Pardee
recomeçar a cantar.
"Her friends are so jealous, you know how bad girls get..."
Tinsley revirou os olhos, indo para trás da cortina do chuveiro, puxando Julian atrás
dela. Ela apontou na direção da janela, mas exatamente quando ele ia sair por ela, um
grupo de garotas apareceu na calçada, indo na direção da entrada do dormitório.
Maldição. De jeito nenhum ela podia deixar as garotas a verem ajudar Julian a sair
pela janela do banheiro - ia levar cinco segundos até que todo o campus soubesse
que ela estava ficando com um calouro.
"Por ai não," Tinsley suspirou com urgência. Ela o puxou com força para longe da
janela, quase o fazendo cair, então o arrastou, na ponta dos pés, porta afora. Ele
tentou beijá-la de novo, mas Tinsley o afastou com uma palmada, com um pouco mais
de violência do que ela pretendia.
"Você pode sair pela minha janela," ela cochichou, mas antes que eles estivessem no
meio do caminho para o hall, a porta da frente começou a se abrir, e ela rapidamente
agarrou a maçaneta do armário de vassouras, colocando a força um Julian
descontente.
"O que você está fazendo?" Sua voz abafada saindo de dentro do armário enquanto
um grupo de garotas risonhas entrou no corredor.
"Eu vou pegá-lo em um minuto, quando for seguro," Tinsley rosnou sob a respiração.
Ela rapidamente tirou o olhar irritado do rosto e andou rápido em direção ao seu
quarto, tentando parecer o mais natural possível.
"T!" Sage Francis gritou assim que Tinsley alcançou a porta do quarto. "Onde diabos
você estava?"
Tinsley olhou para a garota, não compreendendo. "Do que você está falando?" ela
perguntou com um desinteresse frio, a mão suspensa na maçaneta.
"Você perdeu o encontro do Women of Waverly?" Sage sacudiu o cabelo louro-milho
pra frente e pra trás, mascando a pedaço of chiclé grande demais para sua boca.
Sage havia lido recentemente algo na Internet sobre como queimar calorias mascando
chiclé, e ela rapidamente adotou o hábito, pretendendo perder os últimos cinco quilos
que sempre a importunaram. Mas Tinsley pensava que o cheiro insuportável de
hortelã estava causando mais dano do que benefício à vida amorosa de Sage.
"O o quê?" Tinsley não sabia do que ela estava falando, e ela realmente não se
importava. contanto que ninguém soubesse o que ela esteve fazendo na última meia
hora.
O quiexo de Sade caiu "Você não recebeu o e-mail da Brett?" Suas sobrancelhas
levantaram com interesse, mas ela claramente adorou saber de algo que Tinsley não
sabia.
"O... uh, Women of Waverly?" Tinsley fez sua voz soar com o máximo de desdém
possível. O Women of Waverly? Dizer isso a entediava.
"Bem, você perdeu!" A voz de Sage borbulhava de excitação, e Tinsley não conseguiu
evitar sentir uma pontada de inveja por todas terem participado de algo e ela não.
Sage puxou com força algo embaixo da blusa navy de gola alta. "Desculpa, sutiã
continua, tipo, pinicando."
Tinsley simplesmente ergueu uma sobrancelha escura, muito bem feita, tentando não
parecer irritada. Ela tocou a maçaneta, uma parte dela queria bater a porta com força
na cara pretensiosa de Sage e deixá-la ali ajustando o sutiã, outra parte queria saber
do que Sage estava falando. Ela iria se amaldiçoar se perguntasse qualquer coisa
sobre o clube estúpido de Brett, mas, isso não significava que ela não queria ouvir a
respeito.
Sage finalmente olhou de relance e viu o olhar irritado deTinsley. "Desculpa," ela disse
rapidamente. "Eu tenho que me trocar. Mas vem comigo – Eu coloco você a par."
"Claro, que seja." Tinsley foi em direção às escadas, seguindo Sage que deixava um
rastro de folhas amarelas e laranja de suas galochas Burberry com estampa xadrez
magenta e verde enquanto caminhava. Tinsley estava tão envolvida em negar o ciúme
que sentia que ela esqueceu completamente o que esteve fazendo naquela noite - e
que Julian estava em um armário de vassouras, imaginando porque diabos ela estava
demorando tanto.
OwlNet --------------Caixa de Mensagem Instantânea
_______________________________________________
EasyWalsh: O que você está fazendo? Preciso falar com você.
CallieVernon: Sobre?
EasyWalsh: Pessoalmente. Você pode sair? Me encontra nos estábulos esta noite?
CallieVernon: Esta noite? Eu estou ocupada.
EasyWalsh: Por favor? É importante.
CallieVernon: Se você quer tanto falar comigo, você vai ter que esperar até amanhã.
Na luz do dia.
EasyWalsh: Certo. Antes do laboratório?
CallieVernon: Pode ser. Eu tenho algumas novidades para você também.
EasyWalsh: Ok. Saudade. Boa Noite.
CallieVernon desconectou
OwlNet --------------Caixa de Mensagem Instantânea
_______________________________________________
JulianMcCafferty: Cara, você trancou os túneis que levam de volta ao dormitório
semana passada?
Heath Ferro: O que quer dizer? A porta do Lasell?
JulianMcCafferty: No Dumbarton.
Heath Ferro: Você está ferrado – eu tranquei. Não queria estranhos por ali.
JulianMcCafferty: Você conhece outra saída?
Heath Ferro: O que diabos você está fazendo aí essa hora? Tinsley lhe chamou?
JulianMcCafferty: Você é um idiota.
Heath Ferro: Escuta, mano, se você descobriu como entrar nas calças dela, você
definitivamente pode descobrir como sair do dormitório.
9 - WAVERLY OWLS NÃO ENTRAM NO DORMITÓRIO DO SEXO OPOSTO - A
MENOS QUE TENHAM UM MODO DE SAIR
Jenny caminhou cuidadosamente na direção de Callie, tentando não derramar as
canecas de sidra quente que ela segurava em cada mão. Sua colega estava
encostada na beira de um dos sofás vermelhos, segurando o celular e digitando
furiosamente. Depois do encontro do Women of Waverly oficialmente terminar dez
minutos atrás, Brett e Kara foram atacadas por um enxame de garotas alegres
querendo agradecer por elas terem organizado a coisa toda, deixando Jenny e Callie
sozinhas. Enquanto ela se aproximava com as canecas, ela viu Callie colocar o
telefone de volta no bolso de seu casaco de chuva navy Ralph Lauren.
"Obrigada," Callie disse, olhando com surpresa quando Jenny alcançou a caneca.
Suas bochechas estavam coradas, e Jenny não conseguia não ficar curiosa se era por
causa da temperatura elevada no átrio ou por alguma coisa que ela tivesse escrito.
"Quer voltar?" Jenny perguntou, largando a sidra enquanto se dava conta de que
estava muito quente para bebê-la. Mesmo tendo tirado o pesado suéter de lã e usando
apenas uma camiseta preta fina Club Monaco, ela podia sentir que seu sutiã estava
molhado de suor. Repulsivo.
"Sim," Callie respondeu, parecendo aliviada. "vamos lá." As duas começaram a
caminhar na noite escura, fria, e Jenny parou por um minuto, deixando o ar frio tocar
sua pele quente antes de colocar o suéter. Logo adiante um grupo de outras garotas
se dirigiu para o dormitório. Callie e Jenny diminuíram um pouco o ritmo, o único
barulho vinha das folhas caídas estalando sob seus sapatos. Elas não estavam
falando, mas pela primeira vez Jenny podia dizer que havia um silêncio confortável
entre elas.
De certa forma, era triste que as coisas com Easy estivessem oficialmente acabadas,
que ela tivesse feito um pacto com Callie, e agora, mesmo se Easy voltasse e
dissesse que a amava, ela teria de recusá-lo, mas olhar nos olhos de Callie e prometer
na frente de todo mundo que a amizade delas era mais importante do que Easy, ou
qualquer outro garoto, fez Jenny perceber o quanto ela se sentia mortalmente culpada
em relação a toda situação. Talvez se ela fosse uma pessoa diferente, alguém como
Tinsley, ela poderia ter namorado Easy sem culpa, e isso seria maravilhoso. Mas ela
estava cansada de tentar ser outra pessoa. Ela era Jenny Humphrey, gostem ou não,
e Jenny Humphrey não rouba o namorado das outras.
"Ei, eu vou deixar um bilhete para a Brett," Jenny disse enquanto parava no lobby do
Dumbarton. O chão estava coberto de folhas e pegadas deixadas por dezenas de
garotas. Pardee ia ficar furiosa amanhã quando visse a bagunça.
"Ok." Callie deu um sorriso largo para Jenny por sobre o ombro enquanto andava em
direção às escadas. Jenny a olhou por um segundo. Apesar do fato de Callie ter
apertado tanto quanto possível o cordão da cintura de sua calça de flanela cinza
L.A.M.B., as calças ainda caiam nos seus quadris, revelando uma pequena marca de
nascença em formato de morango próximo a coluna. Jenny desejou poder fazê-la
comer pelo menos um biscoito, mas nem mesmo os deliciosos e quentes biscoitos de
gengibre a haviam tentado durante o encontro daquela noite. "Te vejo depois, colega!"
Ela acenou enquanto desaparecia de vista.
Jenny sorriu de volta para ela, ainda sentindo o calor e a excitação do encontro, e foi
na direção do quarto de Brett. Quando ela passou pelo armário de vassouras do hall
ela parou. Que barulho era aquele? Era fraco, mas definitivamente vinha do armário.
Curiosa, Jenny abriu a porta.
"Ai meu Deus!" Ela deu um salto para trás. Havia alguém ali! Um garoto! Ela podia ter
gritado se não tivesse reconhecido Julian rapidamente, o calouro alto que sempre
andava com os mais velhos. Ele estava segurando um celular preto na mão direita, o
polegar pronto para começar a teclar.
"Shhh!" Ele sibilou, parecendo quase tão assustado quanto ela.
"O que você está fazendo aqui?" Jenny sussurrou de volta, olhando de relance para o
corredor. Ela não viu ninguém, mas ela podia ouvir Benny Cunninghan e algumas
outras garotas na sala de estar vendo a reapresentação de Grey's Anatomy.
"Eu estava, uh..." As pupilas de Julian estavam dilatadas por ficar no escuro, fazendo
Jenny pensar em quanto tempo ele estava ali. E antes de mais nada, em como ele
chegou ali. "Procurando algo que deixei aqui semana passada."
Jenny sorriu com ceticismo. "O que, seu material de limpeza?" Ela apoiou a cabeça na
beira da porta, repentinamente consciente da presença de um garoto no Dumbarton.
Julian brincou com a barra gasta da camiseta justa do Pearl Jam. Uma camisa de
flanela cinza estava amarrada descuidadamente em volta de sua cintura. "Bem, eu
estava me esforçando ao máximo."
"Oh, claro." Jenny levantou as sobrancelhas concordando, desejando estar usando
algo mais excitante do que o seu suéter de lã Diesel. "Então, uh, o que exatamente
você estava procurando?"
Os olhos dele brilharam na escuridão, como se a pergunta dela o surpreendesse.
Jenny não pode evitar rir. Era meio divertido vê-lo se esforçar. Ele olhou por sobre o
ombro de Jenny. "Meu... uh... meu isqueiro."
Jenny balançou a cabeça solidária e bateu as unhas contra a maçaneta de latão. "Vou
ficar de olhos abertos. Como ele é?"
"Um Zippo. Prateado, minhas iniciais - JPM - estão gravadas nele." Ele parou e sorriu,
revelando uma pequena covinha abaixo dos lábios ligeiramente rachados. "Você o
viu?"
"Desculpa." Jenny riu e balançou a cabeça, consciente de quanto o cabelo dela
provavelmente estava frizado naquele momento. "O que é o P?"
Julian desamarrou a camisa da cintura e enfiou os braços nela a deixando abotoada. A
cabeça dele bateu na prateleira vazia no alto do armário - ele era alto. "Padgett."
"Padgett," ela repetiu, balançando a cabeça pensativa. Deve ser um daqueles nomes
de família. "Legal."
"Olha, não me leve a mal," Julian começou, coçando a cabeça. "Eu estou me
divertindo muito falando com você e tal, mas, um, a idéia de ser expulso não me
agrada. E você provavelmente não quer que as pessoas pensem que você é maluca,
falando com um armário de vassouras."
"Oh, certo." Ela riu. "Me deixe dar uma olhada." Jenny fechou a porta levemente e se
esgueirou até a sala de estar. Cerca de oito garotas estavam grudadas na televisão, e
elas não iriam sair dali até que o seriado acabasse, nem mesmo nos comerciais. Ela
deu meia volta e quase correu direto para Angelica Pardee que saia do banheiro com
um robe grosso e florido que parecia ter saído do armário da avó, seu cabelo enrolada
em um turbante atoalhado branco. "Oi!" Jenny disse radiante, dando um passo para o
lado para deixá-la passar.
"Oi, Jenny." Pardee balançou a cabeça, a característica expressão mau humorada
espalhada no rosto úmido. "Você notou o quanto o fluxo de água desses chuveiros é
baixo?"
"Não, uh, eu não percebi." Ela tentou manter a voz normal, mas ela tinha certeza, pela
maneira como Pardee a olhava que ela estava no máximo sendo engraçada. Ela
nunca ganhou um jogo de pôquer na vida.
"Ok." Pardee suspirou e foi na direção do seu apartamento no final do corredor, "Acho
que vou ter que reclamar disso também." Seus pingos caiam no chão de mogno
polido, deixando um rastro de pegadas molhadas pelo caminho. Pelo menos ela não
percebeu as folhas embarradas. Jenny esperou até ouvir a porta de Pardee fechar
antes de abrir a porta do armário.
"Você está certa que é seguro?" Julian perguntou nervoso, se esgueirando para fora
do corredor. "Eu meio que me acostumei com o armário."
Jenny riu de novo e agarrou o braço dele, puxando ele com força. O coração dela
acelerou e ela sentiu com se estivesse brincando de esconde-esconde. "Apenas fique
quieto!" ela sussurrou, travando quando eles se aproximaram da porta de Pardee. Os
dois passaram pela porta na ponta dos pés, então foram em direção à porta dos
fundos. Jenny não respirou de novo até que a porta estivesse aberta, e Julian
estivesse no gramado do lado de fora.
"Aqui," ela sussurrou com firmeza, "Agora, vá embora!" Ela tentou parecer severa mas
foi possível perceber um sorriso na sua voz.
Julian esfregou as costas da mão na testa com exagero. "Meu anjo da guarda. Você
salvou a minha vida."
"Ótimo. Você me deve uma." Jenny fez um gesto com as mãos, como se o
espantasse. "Vou continuar procurando seu isqueiro, Padgett."
Julian deu um sorriso divertido que ela não conseguiu decifrar. "Te vejo por aí," ele
disse finalmente, e então desapareceu na noite sem lua.
Jenny ficou parada na porta por um momento, respirando fundo o ar do outono antes
de explodir em risadas. Seu relacionamento com Easy podia estar dando o ultimo
suspiro, mas de repente parecia que outros garotos poderiam dar um novo sopro de
vida na Waverly.
OwlNet --------------Caixa de Mensagem Instantânea
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JulianMcCafferty: Ei, onde você foi?
TinsleyCarmichael: Aimeudeus, você saiu? Eu esqueci completamente.
JulianMcCafferty: Eu meio que percebi.
TinsleyCarmichael: Desculpa - aconteceu algo. Eu vou tentar compensá-lo.
JulianMcCafferty: É? Como?
TinsleyCarmichael: Eu te vejo amanhã. Podemos terminar o que começamos.
JulianMcCafferty: Pense nas maneiras em como pode se desculpar.
TinsleyCarmichael: Estou pensando...
10 - CONVERSAS PRIVADAS DEVEM ACONTECER EM PARTICULAR, OU
SEJA, NÃO EM PÚBLICO
Insuportavelmente cedo na manhã seguinte, Callie parou na porta de sua aula de
Latim, se obrigando a não adormecer em suas botas de cano alto Chloé. A única
maneira de ela sair da cama nas manhãs de segunda e quarta era separar uma roupa
nova na noite anterior. Hoje ela estava usando seu agasalho de cashmere Iisli no tom
de rosa mais pálido possível, uma novíssima saia preta Theory com uma prega na
frente, um par sexy de meias de croché pretas feitas à mão, e suas botas de couro
pretas. Mas nem sua roupa sexy nem a adrenalina alta por causa do encontro da noite
passada conseguia manter seu espírito alerta - Latim era absurdamente chato, e o Sr.
Gaston, que, toda quarta-feira chamava um aluno para recitar a Eneida, de cabeça,
não tornava a coisa mais suportável. Ela parou do lado de fora da sala para respirar
fundo.
"A gente pode conversar?" Easy de repente apareceu na frente dela, usando seu
suéter de lã listrado verde e dourado - aquele com os buracos nos cotovelos. Callie
odiava conhecer cada peça de seu guarda-roupa de cor. E que ela tinha memorizado
os horários dele e portanto sabia quando podia ou não esperar encontrá-lo. Ele
supostamente devia estar do outro lado do campus agora, no Webster Hall. Então, o
que ele estava fazendo ali?
"O que foi?" Callie tentou fazer a voz soar apática, mas ela não conseguiu evitar - no
momento em que ela colocou os olhos nele, ela estremeceu de leve. Ela tentou pensar
no Sr. Gaston a chamando para recitar um trecho de Ovídio e isso a acalmou um
pouco- mas também a deixou de mau humor. "Eu disse que nós podiamos conversar
depois da aula de biologia."
Easy colocou a mão no braço de Callie e a puxou para o canto do corredor, fora do
caminho dos alunos que entravam na sala de aula, e olhou para eles com ar sábio.
"Eu não consegui esperar tanto. Olha, eu..." Sua voz diminuiu. Ele parecia meio mal,
como se não tivesse conseguido dormir na noite anterior. Mas provavelmente, não era
porque ele havia ficado pensando nela ou algo assim - ele devia ter ficado até as três
da manhã jogando algum video game idiota. Ela ficou na defensiva. "Eu quero voltar."
Comigo? Ou com Jenny? Callie não conseguiu evitar o pensamento. Ela olhou os
círculos escuros ao redor dos olhos dele e enrolou a faixa rosa e macia se seu suéter
em volta do punho. "Q...quê?" Ela olhou para cima exatamente quando Benny
Cunninghan, em um vestido pólo listrado em verde e marinho - uhm, hello, listras
horizontais? – pisou na sala de aula, mas não sem antes dar a Callie uma piscada
gigantesca, totalmente óbvia.
"Eu cometi um grande erro." Os olhos azuis escuros de Easy pareciam mais tristes do
que ela jamais havia visto. Ele estava usando uma Levi’s que implorava para ser
jogada no lixo, e tinha uma mancha de pasta de dente no canto do lábio. "Eu
realmente não queria magoar você. Eu acho que eu precisava de algum, uhm, tempo
para pensar." Ele engoliu em seco. "Mas eu amo você." Ele deixou escapar, como se
ele já tivesse dito isso um milhão de vezes.
Callie mordeu a parte de dentro da bochecha, o coração doendo no peito. Ela queria
que Easy a amasse desde praticamente sempre. Ok, bem, por meses, e isso parecia
sempre. Mas o momento que ele escolheu não podia ter sido mais errado. Noite
passada, na frente de praticamente toda a escola, ela e Jenny haviam feito um pacto
de colocar sua amizade acima de Easy. Porque Easy não disse isso ontem?
"Então você terminou com Jenny?" Callie perguntou de repente, lembrando que pelo
que ela havia escutado – de Jenny – foi ela quem sugeriu que eles precisavam de um
tempo para pensar.
Easy encarou os sapatos. As pontas de seus Vans marrons pareciam engraçadas
contra o mármore recém polido do chão do corredor. "É, bem, eu ainda não fiz isso."
"Você dificulta tudo." Callie não podia olhar nos olhos de Easy - era muito difícil. Ela
tinha medo que ele fosse capaz de ver através de seus olhos e percebesse o quanto
ela sentia falta dele, e o quanto ela desejava se aninhar em seus braços e fingir ainda
era ano passado. Mas não era, e Easy não podia mudar as coisas apenas estalando
os dedos. "Só porque você se sente assim hoje não quer dizer que vá se sentir assim
amanhã. Como posso saber que você não vai mudar de idéia de novo?"
Callie olhou para baixo e de repente lembrou que suas botas de montaria Chloé eram
as mesmas que ela estava usando no terrível dia que Easy disse a ela que estava
tudo acabado. Quando ela atravessou a quadra, gritando, na frente de todo mundo,
para voltar para o seu quarto e se esconder e chorar no ombro de Tinsley, sentindo
como se sua vida tivesse acabado. Aquele foi o pior dia de sua vida - e ela teve alguns
dias ruins, como quando ela quebrou a clavícula caindo de um cavalo e sua gatinha,
Butterscotch, foi atingida por um carro no mesmo dia. Mas nada se comparava à forma
como ela se sentiu completamente rejeitada quando Easy a dispensou assim,
completamente insensível.
Easy abriu a boca para dizer algo, mas Callie o interrompeu, batendo o bico da bota
no piso de mármore. "Não." Ela gostou da forma como o som de sua voz ressou no
corredor agora silencioso – a fez se sentir forte. "Nós podemos ser amigos. É isso.
Você não pode ter sempre tudo o que quer, sempre que quiser, Easy Walsh."
Ela não percebeu o quanto ela havia deixado a raiva tomar conta de sua voz até que o
Sr. Gaston apareceu na porta da sala de aula, seu bigode preto contraído com
irritação. "Está tudo bem por aqui?"
"Sim, nós estávamos apenas terminando uma conversa." Callie balançou a cabeça
com firmeza e, com uma última olhada por sobre o ombro, deslizou atrás do Sr.
Gaston para dentro da sala de aula, deixando Easy sozinho no corredor vazio.
Ela estava feliz por tê-lo repreendido e tido a palavra final. Exceto pelo fato de que ela
não conseguia parar de pensar no quão agradáveis aquelas palavras - aquelas três
palavrinhas maravilhosas – soaram vindas dele.
11 - UMA WAVERLY OWL FAZ A CORTESIA DE DIVIDIR COM OS COLEGAS
O CONTEÚDO DE UM PACOTE QUE RECEBE DE CASA.
Ao meio-dia, a sala de correspondênciano Maxwell Hall estava palpitando de vida
enquanto as Waverly Owls fuçavam suas caixas de correio antes do almoço na
esperança de encontrar cartas de amor, o novo número da W ou, melhor ainda, um
aviso de grande volume. Tinsley teve que ficar na ponta dos pés para ver a Caixa 270,
na fila de cima. Seria de se pensar que a administração teria senso suficiente para dar
as caixas de correio mais altas à gigantes do basquete e as mais baixas aos alunos
menos compridos da Waverly. Normalmente, Tinsley não se importava de esticar - ela
sabia que ficava meio sexy na ponta dos pés, o suéter subindo e revelando parte da
pele - mas hoje por acaso estava de sapatilhas de veludo vermelho Miu Miu que não
tinham salto nenhum, com um vestido-túnica Free People curto de veludo cotelê preto.
O seu vestido sem dúvida revelaria demais do traseiro se ela tentasse se esticar
muito. Embora não fosse lá muito recatada, Tinsley não ia dar um show de graça para
toda a sala de correspondência. Frustada, ela pulou, tentando espiar a abertura, a
pesada bolsa de couro Juicy batendo desagradavelmente no quadril.
- Está com problemas? - piou uma voz atrás dela. - Aposto que está rezando para que
alguém bem alto... e bonito... e jovem... venha ajudar você.
Tinsley revirou os olhos ao ouvir a voz de Heath Ferro, virando-se para encará-lo. Ele
vestia uma camisa polo Lacoste amarela-clara que aprecia ofuscante de nova, a gola
erguida. Parecia que ia jogar golfe.
- Importa-se? - perguntou ela, numa falsa doçura, decidida a não deixar transparecer a
irritação. Seria uma espécie de piadinha sobre Julian? - Pode pegar a
correscpondência em minha caixa, ou é demais pedir isso a um super-herói?
- Nunca recuso a ajudar uma donzela em perigo - disse Heath galantemente,
alcançando sem esforço a caixa de correio. - Só que tem que prometer dividir comigo.
- Ele estendeu um cartão amarelo de AVISO DE GRANDE VOLUME por sobre a
cabeça de Tinsley.
Ela riu e pousou a mão no quadril, para não pular no pescoço de Heath Ferro.
- Ah, tenho certeza de que não é nada que te interesse. Devem ser as calcinhas La
Perla que encomendei.
- Então tem mesmo que dividir comigo. - Heath fingiu desmaiar enquanto Tinsley
pegava o cartão da mão dele. - Pensei que as meninas não dissessem "calcinha".
- Elas dizem quando tem homem por perto. - Tinsley foi direto para o guichê da sala de
correspondência, Heath seguindo-a como um filhotinho de cachorro. Mas ele não tinha
nada melhor para fazer? - Duzentos e setenta - disse ela, entregando o ticket à
menina do balcão. Rapidamente foi recompensada com um pacote do tamanho de
uma caixa de sapatos.
- Adea, é? - érguntou Heath, inclinado-se por sobre o ombro de Tinsley para olhar.
- Como é que você... Ah. - Tinsley baixou os olhos para o pacote, percebendo que sua
mãe incluíra o nome de meio no destinatário: Tinsley Adea Carmichael. - É de minha
avó dinamarquesa - murmurou ela, enquanto o resto do endereço chamava a sua
atenção. Na letra elegante e inclinada para trás da mãe, dizia Caixa 207. Meu Deus,
era o terceiro ano dela ali e sua mãe ainda não tinha o endereço certo. Era melhor que
fosse uma coisa boa. O endereço do remetente era da cobertura dos pais em
Gramercy Park. Hummm. Ela pensou que eles estivessem em Amsterdã, o pai estava
tratando de uns negócios exorbitantes, mas é claro que eles não a mantinham
informada de sas mudanças de planos.
- Vou te pagar um mochaccino se me mostrar o que tem na caixa - barganhou Heath
enquanto Tinsley colocava o pacote embaixo do braço.
- É seu dia de sorte, Ferro. - Ela deu de ombros e os dois foram para o refeitório. Ela
bem que precisava de um pouco de estimulante, ou seria impossível passar por todas
as aulas da tarde.
- Então o Julian, hein? - Heath olhou para Tinsley pelo canto dos olhos, uma
expressão perfeitamente angelical nas lindas feições. Os dois passaram com cuidado
por cima de um catálogo abandonado da J.Crew ao sair da sala de correspondência.
Cretino. Não havia dúvida de que ele sabia de algum coisa. E se Heath sabia, entõa
todo o campus naõ ficaria muito para trás. Ela rapidamente pôs a mão no antebraço
dele e apertou um pouco, baixando a voz ao registro gutural que sabia que os meninos
achavam sexy.
- Sabe que você é o único para mim, HF.
- Rá! - Ele fingiu olhar Tinsley com desconfiança, mas ela podia ver a cobiça em seus
olhos. Heath era tão excitável que uma pequena dose do típico charme Crmichael era
o bastante para fazer com que ele esquecesse Julian. Por enquanto. - Você é tão
provocante - disse ele, mantendo a porta aberta do refeitório e seguindo-a enquanto
ela ia pegar as bebidas com o barista.
- Aí, segura essa. - Heath a seguiu até uma cabine no canto. Ela largou a caixa na
mesa sem interesse e sentou-se numa banqueta estofada de couro vermelho. Heath
olhou em volta, como se isso não fosse suspeito, antes de continuar numa voz rouca. -
Meu contato na loja de bebidas disse que pode nos arrumar uns barris bem baratos e
até ofereceu o celeiro da família em algum lugar na cidade. - Ele esticou os braços no
alto para que a camisa subisse e revelasse a barriga malhada e firme. - Acha que a
gente pode subornar Marymount de algum jeito para ele deixar todo mundo sair do
campus?
Tinsley ergueu a sobrancelha e vasculhou a bolsa. Pegou uma pequena lixa de unha
Sephora que andava com ela o tempo todo, cortando a fita adesiva do pacote que veio
da mãe. Não só a lixa de unha era uma mão na roda para emergências de manicure,
como fazia com que ela se sentisse uma Nancy Drew. Ou o MacGyver.
- E se eu levar a ideia a ele? - as engrenagens já giravam; Marymount com certeza lhe
devia um favor por ela guardar os segredos dele. O fim de semana em Boston já fora
há semanas e ela, Heath e Callie conseguiram, de uma forma um tanto surpreendente,
ficar de bico fechado sobre tê-lo flagrado aos beijos com a igualmente casada
Angelica Pardee. Agora sem dúvida nenhuma era a vez de Marymount agradecer a
ela.
- Meu amor, você é linda, mas nem tanto. - Heath estendeu a mão para o pacote, mas
Tinsley o afastou de Heath. - Acha que se você pedir para deixar a gente ter uma festa
regada a cerveja fora do campus e mostrar um pouco da perna, ele vai concordar?
- Não, seu merda. - Tinsley espiou o pacote, vendo de relance a caixa dourada com a
palavra Teuscher. Hummm. Trufas suíças. Era mesmo coisa de dividir. Ela puxou a
caixa, abriu-a um pouco e retirou cinco notas de cem dólares que foram
elegantemente colocadas por dentro, no alto do forro. Sua mãe sempre lhe mandava
dinheiro, como se ela não tivesse um cartão de débito - e como se houvesse alguma
coisa em Rhinecliff para comprar além de camisetas de batik e maconha. Ainda assim,
era um delicadeza da mãe. - Eu seira um pouco mais criativa do que isso. Posso
pensar numa coisa mais legítima... Como uma sessão ao ar livre do Cinephiles. - Ela
se impressionou com a velocidade com que estava pensando. Ela realmente era uma
Nancy Drew, com um que de perversidade.
Heath voou nos chocolates, enfiando dois na boca de uma vez. Tinsley o encarou,
meio impressionada que ele pudesse ser tão grosso e ainda tão bonito ao mesmo
tempo.
- Acha que vai dar certo? - perguntou ele de boca cheia.
Tinsley pegou uma trufa de framboesa com dupla camada de chocolate em seu leito
delicado de papel e a colocou na língua, permitindo que os luxuosos sabores
derretessem devagar em sua boca. Ela encostou a cabeça na parede da cabine e
fechou os olhos. Só quando o chocolate redondo desaparecesse completamente ela
se incomodaria em abrir um único olho violetapara responder.
- Eu sei que vai.
12 - UMA WAVERLY OWL SABE QUE AS COISAS BOAS CHEGAM AO FIM —
E QUE ÀS VEZES É MELHOR ASSIM.
— O dever de casa—anunciou a Sra. Silver na quarta-feira à tarde, destacando o
suficiente a palavra dever para Jenny saber que ninguém na eletiva de desenho de
figura humana pensava nisso desta forma — será desenhar ou pintar um membro do
sexo oposto, tentando revelar algo de sua personalidade.—Seus olhos azuis de
Mamãe Noel cintilaram. — Sejam criativos. E por favor, tragam na sexta. — Ela elevou
a voz para superar os ruídos dos alunos que fechavam os blocos de desenho e
atiravam os lápis nas caixas. — Esperamos alguns visitantes no campus no fim de
semana e gostaria que eles vissem como nossos alunos de arte são talentosos.
Jenny colocou o pedaço grosso de carvão num compartimento especial em sua caixa
de lápis ArtBin e tentou não pensar no dia em que Easy lhe pediu para encontrá-lo em
sua clareira especial no bosque, quando fez o retrato dela. Agora, tudo naquele dia
parecia tão perfeito que Jenny queria poder congelar a lembrança de algum modo e se
recordar sem toda a complicação enjoada que a acompanhava.
Naquele momento, Easy estava do outro lado da sala, numa banqueta ao lado de
Parker DuBois, tomando notas em seu caderno Moleskine. Ela falou a sério no pacto
que fez com Callie — embora, pelo modo como Easy estava agindo, talvez nem fosse
necessário. Talvez Easy já a tivesse superado.
— Ah, e meninos... Gostaria que diversificassem e usassem como modelo alguém de
fora desta turma. — A Sra. Silver torceu o narizinho redondo. — Dêem uma sacudida
nas coisas. —Ela balançou os quadris numa hula-hula, como que para ilustrar o que
queria dizer.
Jenny de imediato ficou aliviada. Que bom. Agora ela e Easy sem dúvida não
poderiam desenhar um ao outro. Então ela não precisava se preocupar com a
possibilidade de ele dizer não.
Embora ela tenha ficado pensando a manhã toda em como ia ter que terminar com ele
- se eles ainda estavam juntos, o que ela nem tinha certeza - na verdade Jenny não
estava com vontade de fazer isso hoje. Não quando estava com seu jeans Citizens of
Humanity preferidos, presente de Natal do pai que representava a única vez em que
ele comprou um artigo de vestuário que ela usaria em público. É claro que ela mandou
a ele um e-mail do exato par que ela queria da Saks.com, com o tamanho e tudo, mas
ela não esperava que ele realmente fosso comprar para ela. Ela não queria que eles
se transformassem nos jeans que ela estava usando quando terminou seu
relacionamento com Easy.
- Quer uma xícara de café antes do treino? - perguntou Jenny a Kara enquanto elas
lavavam as mãos sujas de carvão nas pias nos fundos do ateliê. Ela sabia que era
neurose, mas não queria ficar sozinha agora. Alison já havia escapulido cedo da aula
para se encontrar com Alan e estudar latim na biblioteca - até isso parecia bom para
Jenny.
- Desculpe, não posso. - Kara secou as mãos sem uma das toalhas de papel de
qualidade industrial pardas e duras que sempre aparecia nos prédios de belas- artes. -
Tenho uma reunião como o Sr. Wilde para falar de meu trabalho de história.
- Ah. - Jenny sorriu para a amiga. - Sorte sua. - Ela já estava curiosa para começar o
curso de história americana avançada no ano que seguinte. Passou pelo superlindo
Sr. Wilde no Stansfield Hall uma vez e viu que ele usava uma camiseta do Modest
Mouse por baixo da camisa azul bem passada e da gravata.
As meninas pegaram as bolsas e seguiram pelo corredor, saindo do prédio. Jenny
olhou em volta mas não viu Easy em lugar nenhum. Kara pegou um tubo de Blistex
cereja no bolso do casaco de jeans surrado e passou nos lábios.
- Bom, digamos que história é uma matéria em que não me importo de ter uma
ajudazinha. – Ela piscou para Jenny enquanto elas abriam as portas duplas para o
mundo e o sol quente que brilhava, todo o campus pintado de vermelhos, laranja e
amarelos vivos.
Jenny acenou um adeus a Kara e viu a amiga se afastar. Parou para pegar os óculos
de aviador na bolsa e viu que ali, encostado numa das colunas, Easy Walsh esperava
por ela.
- Posso te acompanhar? – Easy protegeu os olhos do sol com uma das mãos
enquanto a outra segurava seu bloco de desenho. Jenny passou a bolsa pesada para
o outro ombro.
- Claro. – Os dois rapidamente andaram juntos, atravessando o pátio. Folhas enormes
de carvalho se espalhavam pela grama e Jenny se curvou para pegar um. Era amarela
com manchas alaranjadas e tão linda que Jenny pensou que gostaria de prensá-la
entre papel de seda e dar ao pai. Talvez fazer um marcador de livros. Ela não fez isso
uma vez, no acampamento de arte? Tentou pensar neste novo projeto – ou, na
verdade, em qualquer coisa que não fosse o que Easy estava prestes a dizer.
- Mas aí, eu, er, andei pensando muito. – A voz dele estava estranha, como se ele
tivesse ensaiado o que tinha a dizer, ou como se esperasse que Jenny estivesse puta
com ele. Ela parou de andar e se virou para ele. Abriu o zíper do casaco J.Crew de
capuz.
- Eu também.
Easy assentiu.
- É mesmo? – Ele não parava de tocar o maço de cigarros no bolso de trás do jeans,
como se estivesse morrendo de vontade de acender um, mas os dois estavam
parados no meio do campus, a céu aberto. – Que bom. Hummm, eu só acho que
seria, sabe como é, uma boa idéia se... a gente terminasse.
Ela estava se preparando para aquelas palavras, mas ainda assim magoaram. Mas
havia mais alguma coisa, algo que ela não esperava sentir: alívio. Pelo menos agora
tinha uma resposta. Ela e Easy terminaram. Ela e Callie podiam ser amigas e colegas
de quarto de novo. Ela assentiu devagar, vendo uma dezena de meninos e meninas
com suéteres de tricô correndo escada abaixo em um dos prédios de tijolinhos.
- Acho que é o melhor a fazer.
Ele olhou para ela hesitante, meio surpreso, como se não esperasse que fosse tão
fácil, e Jenny se perguntou se ele esperara que ela começasse uma briga, como Callie
fez quando ele terminou com ela. Todo o alojamento masculino ouviu Callie gritando
com ele. Mas esse não era o estilo de Jenny e, além de tudo, ela não estava com
raiva. Só estava triste. Ela se mexeu desajeitada de um pé para outro.
- A gente ainda pode, er... ser amigos, não é?
Jenny sabia que era difícil para ele dizer alguma coisa tão clichê e, bom, tão idiota.
Parecia tão estranho vindo dos lábios dele que quase a fez rir.
- Claro – ela lhe disse.
Easy esfregou a ponta do nariz com o polegar e o indicador sujos de tinta.
- É mesmo? – Ele olhou para ela por cima da mão e ela sentiu os olhos escuros de
Easy explorando seu rosto.
- É mesmo. – Jenny sorriu para ele, embora seu estômago ainda estivesse cheio de
nós. Apesar de ela já sentir falta de colocar as mãos nos cachos desgrenhados de
Easy, ou de beijar seus lábios rachados, ela se sentia muito aliviada porque não ia
fazer mais nada de errado.
- Olha... – Ela se interrompeu, sem ter a menor idéia do que dizer. Olhou o céu claro e
azul e viu uma coruja marrom entre duas árvores. Fez com que pensasse em seu
primeiro dia na Waverly, quando ela praticamente foi atacada por uma delas. Ela bateu
a ponta da sandália Mary Jane Dansko vermelha na grama e se perguntou se tudo na
Waverly sempre aconteceria com tanta rapidez. – Eu gosto de você, Easy. Isso não
vai mudar só porque as coisas vão ser... diferentes.
- É. – Ele sacudiu a cabeça devagar, ainda parecendo surpreso. Por sobre o ombro
dele, Jenny localizou Tinsley andando de minissaia preta, os óculos de sol Fendi
empoleirados elegantemente na ponta do nariz.
Easy mordeu os lábios meio rachados.
- É sério, você deve ser a garota mais legal que já conheci. – Ele puxou para cima as
mangas do suéter cinza de aparência cara, agora coberto de manchas de carvão.
- Vou considerar isso um elogio. – Jenny tombou a cabeça para o Dumbarton. – Olha,
eu preciso ir. – Ela se sentia meio tonta e queria conversar com Brett. Talvez chorar
um pouco. E depois ir para o treino, correr pelo campo até que as pernas começassem
a tremer a bater na bola de hóquei com força algumas vezes. E depois talvez, esta
noite, ela, Brett, Callie e Kara pudessem ver um filme na sala de estar do segundo
andar, alguma coisa boba que a distraísse, e comer pipoca queimada.
Easy parou e abriu a boca um pouco, como se quisesse dizer alguma coisa, mas não
saiu palavra alguma. Jenny simplesmente acenou para ele e se afastou. Enquanto
suas Mary Janes a levavam cada vez mais para longe do menino que ela achou que
amava, ela não se sentiu tentada a olhar para trás.
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JennyHumphrey: É oficial. Easy e eu terminamos para sempre. Ele fez o trabalho
sujo.
CallieVernon: É mesmo? Caraça. Como está se sentindo?
JennyHumphrey: Sei lá. Triste. Mas aliviada.
CallieVernon: Aliviada?
JennyHumphrey: É, estou feliz por finalmente colocar nossa amizade em primeiro
lugar.
CallieVernon: Quer dar uma animada? Umas margaridas à noite?
JennyHumphrey: Ótimo.
13 - UMA WAVERLY OWL NÃO PASSA BILHETINHOS EM AULA — É PARA
ISSO QUE SERVEM AS MENSAGENS DE TEXTO.
No final da manhã de quarta-feira, Brett encarava o quadro-negro da aula de cálculo,
incapaz de entender o que significavam todos aqueles gráficos e números, nem que
sua vida dependesse disso. A Dra. Goldstein, a professora de matemática
absolutamente arcaica com doutorado no MIT, normalmente conseguia baixar o ritmo
o bastante para que os alunos acompanhassem os complicados processos
matemáticos que escrevia no quadro, mas hoje Brett estava totalmente perdida.
Talvez porque ela e outras meninas tenham ficado acordadas até tarde na sala-deestar
do primeiro andar, fofocando sobre meninos e sexo em vez de estudar. Alguma
coisa na reunião das Garotas da Waverly realmente soltara todo mundo e ficar
sentada ali, bebendo Coca Light e comendo Pirate's Booty, foi muito, muito bom.
Normalmente, todas as meninas da Waverly pareciam competir de forma tão
inconsciente — ou consciente —com as outras, sempre querendo saber quem tinha a
bolsa mais nova, os sapatos mais sensuais ou o namorado mais gato. Mas ontem à
noite foi um alívio para tanta tensão. Brett sentia que sua vida na Waverly de repente
dera uma guinada para melhor, apesar do fato de que este ano sua vida amorosa dera
uma guinada dramática—mais com q um mergulho de bico — para pior.
Ela simplesmente não conseguia superar o fato de que Jeremiah tinha mesmo
dormido com outra. Se ele tivesse beijado aquela moderninha idiota, isso ela poderia
compreender. Os beijos aconteciam. Mas sexo? Sexo não era uma coisa que
simplesmente acontecia. Tem um monte de fases até chegar a ele — e um monte de
chances para ele parar e talvez, só talvez, sabe como é, não fazer.
Brett sentiu alguma coisa pinicar nas costas através do sué-ter fino e cinza de capuz.
Um veterano corpulento do time de futebol americano atrás dela estendia uma folha de
papel de caderno que tinha dobrado um bilhão de vezes num triângulo pequeno.
Ela ergueu as sobrancelhas para ele, perguntando-se por que ele a estava mandando
um bilhete quando eles nunca trocaram sequer duas palavras. Ele inclinou a cabeça
para a esquerda, indicando, do outro lado do corredor, a figura de Heath Ferro,
recostado na cadeira como se fosse uma poltrona. Ele piscou para Brett.
Que ótimo. Ela se virou e lentamente abriu o bilhete por baixo da mesa, com cuidado
de fazer o mínimo de barulho.
Mas será que agora Heath passava bilhetinhos? Era tão de calouro. Em sua letra
cursiva surpreendentemente bonita, o bilhete dizia, Eu vi um monte de beijos na vida,
e DEFINITIVAMENTE havia alguma coisa no seu beijo com Kara. Não é?
Brett sentiu-se corar. Como é que é? Ela resistiu ao impulso de amassar o bilhete
numa bola minúscula e jogá-lo de volta para Heath. Em vez disso, dobrou o bilhete
com cuidado em seu triângulo original e o colocou no bolso dos jeans Seven pretos de
pernas largas. Ela encarou o quadro-negro e tentou se concentrar nos números.
Depois sentiu alguma coisa vibrando em silêncio ao lado e lentamente sacou o Nokia
prata do bolso do blazer marrom da Waverly, pendurado na cadeira, e casualmente
escondeu o celular no colo. Era uma mensagem de texto de Heath.
É SÉRIO! PARECIA TOTALMENTE QUENTE. VOCÊ DEVE TER SENTIDO
ALGUMA COISA.
Ela digitou uma resposta rápida. TÁ MALUCO.
Quase de imediato, seu telefone vibrou de novo. Brett olhou pela sala e viu que a
maioria dos alunos não prestava atenção nela, ou encaravam bestificados o quadronegro,
ou digitavam sob as carteiras. De nada adiantava proibir celulares no campus;
todos os usavam durante as aulas. Ela leu o que Heath escrevera. NÃO ENGULO
ESSA. AS DUAS PARECIAM... EXCITADAS. ACHO QUE DEVIA EXPERIMENTAR
DE NOVO.
Brett tinha certeza de que ele enlouquecera de vez. Ou foi tomado pelo poder de sua
vida de fantasia. Ele provavelmente correu para o alojamento depois da reunião das
Garotas da Waverly e se gabou com todos os meninos de que tinha estado com um
grupo inteiro de gatas enquanto o resto deles jogava Xbox
ou coisa assim. Sem olhar para Heath, ela largou o celular na bolsa Hobo Kate Spade
de couro vermelho, indicando a ele que não ia dar resposta nenhuma. Depois que o
sinal tocou, Heath conseguiu espremer Brett do lado de fora da porta.
— Ei, eu falei sério. — Ele a pegou pelo braço e a puxou de lado. — Parecia mesmo
que você...
— Olha, não faço idéia do que está falando. — Brett o empurrou na parede e foi para o
fluxo de alunos felizes por terem terminado as aulas da manhã. Ninguém prestava
atenção neles, mas Brett ainda estava irritada, embora tentasse não demonstrar. —
Alguém pode ouvir, seu idiota.
Heath passou o braço no ombro de Brett e abriu a boca para dizer alguma coisa, mas
Brett o interrompeu, olhando em volta e inclinando-se para falar perto do ouvido dele.
— Eu não sou... lésbica.
— Eu não disse que é. — Heath deu de ombros. — Não tenho a pretensão de
entender o mistério da sexualidade feminina. —A gola da camisa polo Lacoste cor de
banana estava meio erguida. — Só estou dizendo que devia experimentar beijar K...
— Brett o silenciou com um olhar — ela de novo e ver como é.
Brett enxotou friamente o braço dele de seu ombro.
Heath a seguiu de perto enquanto Brett andava pelo corredor de mármore com seu
salto alto Via Spiga. Ela sentia o cheiro de loção pós-barba enquanto ele se inclinava
no ombro dela e sussurrava em seu ouvido:
— Se não quiser tentar, pode falar com a Srta. Emory. — Ele riu ao arrastar e guinchar
os tênis no chão. A Srta. Emory, professora de história, era uma famosa amante de
mulheres. — Talvez ela tenha algumas palavras de sabedoria.
A irritação de Brett ferveu por dentro, mas ela rapidamente se lembrou de onde
estava, depois que sentiu uma dúzia de olhos nela. Não havia como continuar uma
discussão de sua sexualidade — com Heath Ferro, justo com ele — diante de toda a
escola. Brett se virou e meteu o indicador com unha vermelha no peito de Heath,
quase de um jeito sedutor. Ela o fitou nos olhos verdes indolentes com os olhos
penetrantes e sustentou a encarada.
Inclinou-se para ele e os olhos de Heath passaram para os lábios dela, como se
esperasse que o beijassem.
— Não. Fale. Nisso. De. Novo. — Brett falou devagar, enunciando cada palavra, e
Heath ficou ali, parecendo hipnotizado. Pronto, pensou ela, triunfante, perguntando-se
se tinha baixado uma Tinsley nela. De repente Brett se afastou de Heath num giro de
corpo e foi para a pesada porta da frente, saindo para a clara tarde de outono.
Ela tentou organizar os pensamentos, mas parecia que eles estavam espalhados por
todo lado — meio como se sentiu o dia todo. O que ela precisava agora era ir à
biblioteca, pegar um livro de Dorothy Parker — que não era lésbica — e pensar em
outra coisa além de si mesma. De imediato uma citação de sua escritora preferida lhe
veio à mente, quase como um pressentimento: "Não são as tragédias que nos matam,
são as enrascadas."
Ela esperava que sua vida não estivesse se transformando numa dessas enrascadas.
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BennyCunningham: Acho que Brett pode estar a fim de Heath.
AlisonQuentin: Humm... E os porcos têm asas.
BennyCunningham: Não, é sério! Eles estavam cochichando no corredor hoje, e
estranhamente perto.
AlisonQuentin: Quem sabe Heath tinha alguma coisa interessante para dizer?
BennyCunningham: Francamente. Quando foi a última vez em que isso aconteceu?
AlisonQuentin: Ra. Então deve ser amor!
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EasyWalsh: Onde você está?
CallieVernon: Agora? Atravessando o pátio, indo para o treino. Por quê?
EasyWalsh: Fique onde está, chego em 2 minutos.
CallieVernon: Como é? Por quê?
CallieVernon: EZ!
14 - UMA WAVERLY OWL NUNCA CHEGA ATRASADA NOS TREINOS SEM
UMA PORCARIA DE UMA BOA DESCULPA.
Depois da mensagem misteriosa de Easy, Callie largou o celular no bolso do suéter
Vassar de capuz cinza e parou no meio do pátio, perguntando a si mesma se devia se
dar ao trabalho de ouvi-lo. Fazia frio e as aves voavam no alto em sua formação em V,
dando a impressão de que já iam para o Sul. Pássaros inteligentes. Callie sentia frio,
mas ela sempre sentia frio ultimamente — era a única desvantagem de ficar tão
magra. Não que ela se sentisse magra com o moletom grosso e felpudo e calças de
moletom cinza. Callie olhou em volta para os alunos agrupados, correndo para as
aulas, alojamentos e treinos, e percebeu subitamente que todos em volta dela
estavam em movimento enquanto ela estava imóvel. De imediato começou a fazer
alongamentos de aquecimento do hóquei, como se não fosse totalmente esquisito
fazer isso no meio do pátio em vez de no campo. Mas que porra. Por que Easy
sempre fazia isso com ela? E por que ela sempre deixava? Maldito.
Ela fervilhava ao se abaixar num V para alongar as pernas, sentindo o sangue subir a
cabeça. Ela desceu as mãos até os pés na grama e, pelas pernas abertas, viu Easy
correndo pelo pátio na direção dela. Até de cabeça para baixo ele era totalmente lindo
e ela sabia, pelo modo como a bolsa de carteiro dele batia nos quadris, que ele estava
correndo — para chegar a ela. Callie rapidamente se endireitou, o sangue correndo
pelas veias. Sacudiu o cabelo louro arruivado, que devia ter grama, insetos ou outra
nojeira de ficar de cabeça para baixo. Eca.
— Que foi? — perguntou ela bruscamente enquanto ele se aproximava, tentando
demonstrar irritação. Ela estava meio tonta — o que, disse a si mesma, era de ficar de
cabeça para baixo, não do aparecimento repentino de Easy Walsh. Ele agora vestia
um suéter de lã Michael Kors cinza-carvão, o que era lindamente improvável dele.
— Queria saber se quer ser minha modelo. — Seus olhos azuis examinaram o rosto
de Callie como se quisessem apreender tudo
de uma vez, lendo tudo. Seu olhar penetrante jamais perdia nada, ele deve ter
percebido os pedacinhos de grama no cabelo, ou como a pele estava seca. Mas ele
estava pedindo a ela para ser modelo? Mesmo depois do jeito como Callie falou com
ele hoje de manhã? — Para a aula de arte — esclareceu ele. — Temos um trabalho.
Callie sorriu da ironia. Será que hoje era o dia da mentira? Durante meses — por
praticamente um ano, desde que começaram a namorar—ela fantasiava com o
namorado artista pedindo-lhe para ir ao bosque para desenhá-la. Ele podia ter feito
uma escultura dela com cabides e latas de sopa e ela ficaria emocionada. A Edie
Sedgwick de seu Warhol. A Beatriz de seu Dante.
Mas ele nunca pediu. Até agora. Até agora, quando eles não podiam mais ficar juntos.
Não depois de tudo o que passaram, não depois do que ela prometera a Jenny. Ela
disse a Easy que eles terminaram e falara a sério. Não foi?
— Precisa que eu faça o quê? — perguntou ela lentamente, chutando a grama verde e
grossa com a ponta dos tênis Adidas pretos.
Easy sacudiu a cabeça com veemência.
— Nada. Só pose para mim. — Um sorriso se abriu em seu rosto. — Seja só você
mesma.
Callie riu. Ser ela mesma. Tá legal. Desde que ela não estivesse de calcinha.
— Tem certeza de que quer que seja... eu?
Easy não parou para pensar na pergunta.
— Tenho. — Seu olhar não deixava o rosto dela.
Ela suspirou. Não podia ficar irritada com Easy para sempre. Eles iam ter que ficar
amigos a certa altura... E talvez a altura fosse agora. Ele precisava de alguém para
pintar ou desenhar para a aula dele, e ela podia ajudar, como faziam os amigos. E ele
nem era namorado de outra—ele e Jenny eram passado. Então seria completamente
platónico.
— Tudo bem — disse ela, tentando assentir, mantendo a voz estável. Então por que
as palmas das mãos estavam suando?
Easy respirou fundo.
— Ótimo. — Ele a olhou de cima pelas pestanas longas e escuras. — Tem muita coisa
para fazer hoje à noite?
— Coisa? — repetiu Callie, divertindo-se.
— É.—Ele sorriu. — Sabe como é, latim, cálculo. Coisas.
Callie foi incapaz de evitar que o sorrisinho se espalhasse pela cara. É claro, dever de
casa, aulas—os motivos para estarem aqui, na Waverly—recaíam na categoria de
"coisas" para Easy.
— Se está perguntando se tenho tempo esta noite, então sim, como quiser.—É claro
que tinha pilhas de dever de casa, mas de repente a ideia de escapulir com Easy por
algumas horas parecia um sopro de ar fresco. — Ovídio não vai se importar se eu der
bolo nele esta noite.
— Quer me encontrar no bosque na hora do jantar?—Easy empurrou as mangas do
suéter (talvez a coisa mais cara que ele possuía) até os cotovelos, esticando os
punhos delicados.
— Tá legal. — Ela se calou. — Lanchonete depois? — Acrescentou ela baixinho. O
serviço de refeições da escola tinha um sistema em que se você perdesse o jantar—
por causa de um jogo, ou de treino até tarde, ou o que fosse — podia usar seus
pontos de jantar na lanchonete da Maxwell a qualquer hora da noite. No ano anterior,
ela e Easy sempre se encontravam nos estábulos depois do treino e namoravam por
horas, até que o salão de jantar estava fechado e depois, famintos, iam para a
lanchonete comer fritas e rolinhos de tahine.
— Até vou te pagar um milkshake de morango — prometeu Easy, os olhos cintilando.
— Fechado. — Ela assentiu sem deixar dúvidas. Milkshakes eram seus favoritos.
— Então me encontra no meu canto no bosque? Fica...
Callie o interrompeu.
— Sei onde fica, Easy.—Bem onde os meninos iam procurar cogumelos. Ela e Tinsley
tinham ido lá um dia e Callie, assim que viu o pequeno campo fechado com flores
silvestres e pedras esquisitas, ela entendeu que era o lugar secreto de Easy.
Ela às vezes folheava os cadernos de desenho dele, olhando seus traços, estranhos
mas bonitos, de árvores, folhas e ponta de cigarro, ele conseguia deixar tudo
maravilhoso.
E agora ele ia desenhá-la. Callie se sentiu meio arrepiada e ouviu um apito ao longe.
— Merda — murmurou ela. — Preciso correr. A gente se vê mais tarde. — Ela pegou
o bastão de hóquei e disparou para o campo, sabendo que Smail ia obrigá-la a dar
uma volta a mais no campo por chegar atrasada.
Mas meio que valia a pena
15- UMA WAVERLY OWL SABE QUE AS MELHORES SURPRESAS NÃO SÃO
ASSIM TÃO SUPREENDENTES
Depois que o táxi amarelo parou e deixou Brandon sozinho diante do portão coberto
de musgo do St.Lucius, ele percebeu que se envolvera tanto em realizar seu grande
gesto romântico que tinha se esquecido da parte mais importante do plano-não sabia
onde necontrar Elizabeth. Ele deu alguns passos para o que pareciam ser os
alojamentos, ciente de que os alunos que andavam por ali sem duvida nenhuma o
encaravam.
o St.Lucius era uma espécie de Waverly bizarra- osmesmos tijolinhos vermelhos,a
mesma hera e os mesmos carvalhos de cores vivas cercando o enorme pátio, no e
entanto nenhuma rosto conhecido. Ele comprou um ramalhete de orquideas em
Rhinecliff- rosas eram convencionais demais,margaridas sem graça demias- e agora,
de repente, ele se sentia meio constrangido. Os alunos claramente o olhavam
embasbacados enquanto ele afastava do peito o enorme cone de flores fúcsia e
barncas a fim de não amasá-las. Ele se sentia um Forrest Gump com sua caixa de
chocolates. Bom, tanto faz. Será que nunca viram um homem levando flores a ma
mulher na vida?
Duas meninas de short de jeans curto e blazer roxa do St.Lucius aproximaram-se de
Brandon no caminho de parelelepípedos. A julgar pelo ar surrado dos blazers, elas
deviam ser veteranas.
- Com licença.- Brandon as abordou, tentado parecer o mais inofensivo possivel.- Por
acaso sabem qual é o alojamento de Elizabet Jacob?
As meninas, as duas magras, louras e desegonçadas, trocaram um olhar. A que
estava com uma bandana de veludo marinho falou primeiro com o sotaque anasalado
de Long Island.
- São pra ela? -perguntou a menina, olhando as flores.
- O peixinho dourado dela morreu ou coisa assim ?- perguntou a outra, a testa
bronzeada fora da estação enrugada pela dúvida.
Brando ficou perplexo. Não tinham boas maneiras nesse lugar?
-Er, sim, na verdade são.- Ele ergueu as sombrancelhas sugestivamente, tentado
lembrar ás meninas a pergunta que fizera.
- Mas, humm, não. Acho que o peixinho dela está bem.
- Mas isso é mesmo um amor.- A bandana de veludo reprimiu uma risadinha.- Ela é do
meu alojamento. Emerson.- Ela apontou para um prédio de pedras brancas ao lado de
um grupo de bétulas com folhas amarelo-girassol. - Quato 101..Pegue a esquerad
depois de entrar.
- Obrigado.-Brandon seguiu a orientação, aliviado que as coisas estivessem dando
certo. Por sobre o ombro, ouviu a segunda menina gritar, "Boa sorte!"
Brandon andou pelo passadiço, ainda meio confuso por estar num lugar que parecia a
Waverly, tinha cheiro da Waverly, mas não era a Waverly. Ele parou brevemente na
porta da frente do prédio para ler a citação, supostamente de Emerson, inscrita no alto
da porta: NÃO VA AONDE LEVE O CAMINHO, MAS SIM AONDE NÃO HAJA
CAMINHO E DEIXE UMA TRILHA. Ele não pôde deixar de sorrir ao abrir a pesada
porta verde. A citação o lembrava Elizabeth, de como ela parecia fazer o que lhe dava
na telha.
Na frente do quarto 101, ele parou para se aprumar, passando nervoso a mão no
cabelo. Depois, quando estava prestes a bater, ouviu risos vindo de dentro- de duas
pessoas rindo. Uma parecia Elizabeth, mas a outra era definitivamente um homem. O
que estava havendo aqui? O pânico percorreu suas veias, seus instintos de dê-o-foradaqui
entrando em ação. Ele olhou as orquideas feito um idiota.
Mas depois pensou, Por que não? Gatou quarenta dólares nas flores e vinte dólares
de táxi até aqui. O que ele ia fazer, dar meia-volta e ir embora? E se o mesmo taxista
viesse buscá-lo, ele, com o mesmo buquê melancólico de flores? Será que Walsh faria
isso? Ele achava que não.Tenha colhões pra bater,Buchanan disse ele a si mesmo
com um assentir ríspido. E assim ele ergueu a mão e bateu na porta de carvalho
escuro, bem abaixo do adesivo do Greenpeace.
A porta se abriu rapidamente e Elizabeth, parecendo estar no meio de uma resposa
aos risos, vestindo jeans de cós baixo que pendia frouxo nos quadris e uma camiseta
cinza meio puída que revelava o piercing de diamante minúsculo no umbigo. Antes
que Brandon tivesse tepo para admirar, a cara de Eizabeth mudou de surpresa para o
prazer e ela lançou os braços no pescoço dele, quase esmagando as flores.
-Brandon!- gritou ela ´pouco antes de lhe dar um beijo imenso e molhado na boca. Bo,
foi mais ou menos isso. Quando ela finalmente se afastou, Brandon estava meio tonto.
Por que tinha esperado tanto pra vir vê-la?
E depois ele percebeu o cara sentado na cama de Elizabeth.
Elizabeth puxou Brandon para dentro do quarto, que se revelou um qurto single
surpreendentemente espaçoso.
-Entra"_ disse ela alegremente, o cabelo louro e solto roçando nos ombros. - É tão
bom te ver._ Ela pareceu se lembrar do outro sujeito.- Ah.Esse é o Morgan.
Estavámos estudando._ Elizabeth ergueu uma sombancelha para Morgan e ele
rapidamente se levantou. Vestia uma camisa de flanela e calças de veldo colête com
buracos nos joelhos, e estava descalço. E sem meias. Mas ele assentiu
educadamente para Brandon e não pareceu se aborrecer demais por ser enxotado
dali.
- Até mais tarde- disse ele, dirigindo-se aos dois, antes de desaparecer porta afora.
Mas onde é que estavam os sapatos dele?Perguntou-se Brandon, encarando o
suurado tapete azul-royal.E onde estão os, er, livros?Oque exatamente eles estavam
"estudando"?
Mas antes que ele pudesse pensar um pouco no assunto, Elizabeth estav ao lado
dele.
-Elas são lindas- piou ela, fechando os olhos e cheirando as orquideas.-Parecem
poesia.
Brandon se sentiu corar.
-Que bom que você gostou. Rosas pareciam meio convencionais demais.-Ele a viu
tirar as flores da embalagem e colocá-las delicadamente em uma garrafa de água
Nalgene pela metade que estava na mesa do computador. Bom, não deixa de ser um
vaso.
- Você já me conhece, né?- Ela o olhou maliciosamente antes de baixar a garrafa na
mesa incrivelmente arrumada. Elizabeth rapidamente voltou para os braços de
Brandon e colocou os labios macios em seu rosto.-Obrigada_murmurou ela com a voz
rouca.
Brandon fechou os olhos por um momento, depois os abriu.
-Er, eu gosto do seu quarto.- Seus olhos percorreram o espaço de pé-direito alto. Tudo
ali parecia sexy e típico de Elizabeth, do iMac reluzente na mesa à pilha de livros de
poesia, cheios de Pst-it, na mesa de cabeceira e a tapeçaria marinho e turquesa
pregada na parede. No quadro de avisos havia fotos de Elizabeth em todo o mundo,
de mochila nas costas na Europa, num safári na África, até na Grande Muralha da
China. E ele não conseguiu deixar de perceber um monte de fotos dela se divertindo
com os amigos- que por acaso eram quase todos homens.
Elizabeth colocou as palmas da mãos no peito de Brandon e, com um sorriso diabólico
na cara bonita, empurrou-o para o edredom de algosão macio na cama.
- Foi um doce da sua parte ter o trabalho de vir aqui.- Ela se deitou ao lado dele e
começou a fagar seu peito.- Estive pensando em você a semana toda- ronronou ela. O
cabelo lour estava puxado pra trás com umas fivelinhasde plástico azul, do tipo que as
garotinhas costumavam usar, e os olhos castanhos e grandes cintilavam de diversão.
-Ah, é?- Brandon não pôde de sentir que, bom, talvez o outro cara, qual era o nome
mesmo? Morgan? Que tipo de nome de mulherzinha era aquele? Não era grande
coisa. Afinal, Elizabeth tinha beijado Brandon bem na frente dele, então ela claramente
não estava preocupada com os sentimentos do outro. E agora, enquanto Elizabeth
mordiscava a orelha de Brandon, ela claramente não eatva pensando em Morgan.
ENtão por que ele deveria pensar? Não é? Éééééé.
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TinsleyCarmichael: E aí gostoso. Tá fazendo o quê?
JulianMcCafferty: Indo para o treino de squash. E você?
TinsleyCarmichael: Estou sendo pouco convenciona e matando o tênis. Voltando
para meu quarto vazio no Dubarton..Dica,dica.
JulianMcCafferty:Ainda está com meu esqueiro?
TinsleyCarmichael: Seu o quê?
JulianMcCafferty:Deixa pra lá.
TinsleyCarmichael: Vem agora, tá? Vou te fazer esquecer seu isqueiro. E rápido.
Fiquei pensando em você o dia todo.
JulianMcCafferty: Chego aí em 30 segundos.
16 – UMA WAVERLY OWL SABE QUE A MELHOR MANEIRA DE SUPERAR
ALGUÉM É FICAR OBCECADA POR OUTRO.
- Então, hummm, Justin Timberlake ou John Mayer? – perguntou Jenny meio
timidamente enquanto ela e Callie iam para o alojamento depois do treino de hóquei
na Liz do ínicio da noite, uma brisa fria espalhando os rabos-de-cavalo molhados de
suor e fazendo voar folhas de cores vivas em seu caminho. As pernas de Jenny
estavam agradavelmente exauridas dos exercicos – Smail as fizera correr muito hoje,
como preparação para o jogo deste fim de semana contra St.Lucius, cuja equipe de
hóqeui sobre a grama era a arqui-rival da Waverly. Depois de uns 10 minutos de
aquecimento, Jenny e a maioria das meninas tirou os moletons Adidas, apesar de
estar uns 6 graus negativos. Agora parecia bom, enquanto o coração de Jenny voltava
a seu batimento normal e a brisa gelada esfriava sua pele ainda qiente. Brett não
apareceu no treino e por algum motivo não era nada estranho Jenny e Callie voltarem
para o alojamento juntas. Parecia-lhe que elas na verdade se conheceram na semana
passada, e não só por causa das perguntas bobas que Jenny estava fazendo agora.(
Coca ou Pepsi: . Pepsi Diet.. Cachorro ou gato? . Gatos, mas só os pretos.. Kirsten
Dunst ou Scarlett Johansson: . Kirsten, mas com a voz da Scarlett..)
- Eai?- insistiu Jenny.- Justin Timberlake ou John Mayer? – repitiu ela.
Callie, ainda com os moletons sujos de grama e o casaco de moletom amarrado
frouxo na cintura, girou o bastão de hóquei Brine na mão e bufou uma risada.
- Está falando de música ou, tipo assim, com quem eu prefera ficar?
Jenny virou a garrafa laranja de Nalgene e deixou as ultimas gotas de água caírem na
boca.
- Pra ficar. Com certeza – esclareceu ela.
- Sem dúvida – Callie baiteu num seixo com o bastão, mandando-o quicando para a
grama. – Justin Timberlake parece saber exatamente como me beijar. Hummmm.
Dois meses antes, Jenny teria ficado apavorada com a idéia de atravessar um campus
cheio de meninos- bonitos, bem vestidos e inteligentes- e meninas, lindas, patricinhas
e perfeitas, com uma camiseta suja e shorts de ginastica. Mas agora não dava a
mínima para isso. Não importava. Este era o jeito internato de vier- benéfico, saudável,
natural e ás vezes suarento. Ela adorava.
- É mesmo ? – O estômago de Jenny roncou, lembrando-lhe que ela eatava faminta. –
Eu certamente ficaria com John Mayer. Acho que gosto...- Ela se interrompeu sem
jeito, percebendo que estava prestes a dizer [i do tipo artístico, sombrio e sensível, isto
é, do tipo Easy Walsh. Não é que ela não pudesse falar em Easy- as duas já
conversaram sobre ele muitas vezes- ela não queria estragar o clima trazendo o nome
dele á tona. Jenny se curvou para amarrar o tênis, fingindo que este era o motivo para
se esquecer de concluir a frase.
Callie assentiu distraída ao subir os primeiros degraus do alojamento.
- Ei, eu vou entrar, ta legal ? Vou pular no chuveiro antes de ir, er, para a biblioteca.
- Claro.- Jenny respondeu igualmente distraída, percebendo uma coisa se mexendo
atrás das topiarias verde-esmeralda que ladeavam as paredes de Dumbarton. Era
Julian. zanzando pelo alojamento das meninas de novo. Jenny acenou um adeus para
Callie e foi para os arbustos. Apesar de todos os seus pensamentos sobre estar suada
com um aprte saudável e natural da vida do colégio interno, ela rapidamente tirou o
elástico do cabelo, sacudiu a cabeça e deixou os cachos escuros caírem em torno dos
ombros – pelo menos ficava um pouco melhor.
Julian estava parado ali com as mãos nos bolsos, encostado na parede coberta de
hera, parecendo meio aturdido. Vestia uma camiseta verde-clara que dizia, em
caracteres amarelos retrô, NÃO É O QUE VOCÊ ETSÁ PENSANDO, e um casaco
esportivo azul-royal aberto com listras brancas descendo até as mangas.
- Preparai-vos! – disse Jenny, erguendo o bastão de hóquei como uma esapda, a
extremidade apontada diretamente para o peito de Julian. Eles tinham acabado
Hamlet na aula da Srta.Rose e ela ainda estava num estado de espírito
shakesperiano.
Ele ergueu as sombrancelhas e fez uma voz meio de Humphrey Bogart.
- Precisamos parar de nos encontrar assim.
- Ei, eu moro aqui. – Jenny sorriu e recolheu o bastão. Olhou em volta, mas ninguém
se aproximara. Primeiro tinha falado com Julian num armário de vassouras, agora
atrás de um arbusto. Era meio engraçado. Onde será que ele apareceria da próxima
vez ? e por queele estava aqui de novo? – Qual é sua desculpa agora? Está
procurando por seu... oque mesmo? Seu isqueiro..de novo ?
- Engraçadinha.- Ele deu de ombros e um raio de sol que se punha bateu no arbusto
elegantemente esculpido á frente dele, iluminando suas feições de trás. – Mas não. Eu
só estava, sabe como é, de passagem.
A luz dramática destacava usas feições ainda mais do que o normal e pela primeira
vez Jenny percebeu que as maçãs do rosto de Julian eram fortes, os olhos escuros
eram fundos, o nariz era torto. Era o tipo de rosto que ficaria ótimo em mármore,
pensou ela. Ela preciso de um minuto para perceber que era a vez dela de falar- de
nada adiantou a briçhante replica shakesperiana.
- E ai, humm, no que eu estou pensando? – perguntou ela, esperando que seu rosto
tivesse num lindo tom de rosa, e não no vermelho estou-tendo-um-ataque-cardiaco.
Julian sorriu para ela, mas pareceu meio confuso, como se estivesse perdido o fio da
conversa.
- Hein, o quê?- Ele se inclinou para frente.
- Sua camiseta. – Jenny apontou para ela e ergueu as sombrancelhas. – Deve estar
aturando isso o dia todo.
Julian olhou o peito enquanto a compreensão banhava seu rosto.
- Na verdade eu fiquei com a camiseta do Sea World o dia todo. – Ele tombou a
cabeça e deu de ombro, o que deixou parecido com um garotinho. – Acabei de trocar.
– A covinha perto dos lábios se aprofundou.
Uma risadinha saiu dos lábios de Jenny. Alguma coisa em Julian era tão simpática e
franca – era bom dar mole para ele. Distraia sua mente de outros meninos bonitos e
altos.
- Sei que vai parecer uma doidera completa, mas estaria interessado em ser modelo
para meu trabalho da aula de arte ? – Ela na verdade tinha esperanças de que ele não
pensasse que ela estava dando mole. Por que ela não estava. Não mesmo.- Acho que
você dá um grande tema.
Ele fcou perplexo e olhou em volta. Nossa! Ela esperava que ele não levasse isso a
mal.
- Er, agora? Atrás dos aburtos?
- Não! – Jenny empurrou uma mecha de cabelo errante para trás da orelha. Não
conseguia acreditar que estava parada ali conversando com um carinha lindo quando
precisava desesperadamente de um banho. Pelo menos era provável que ele, de onde
estava escondido, não pudesse sentir o cheiro dela. – Não quis dizer agora. Quem
sabe amanhã?
- Não sei se já fui obra de arte antes. – Os dedos dele brincaram brincaram com um
galho do arbustro próximo. – Parece meio legal.
- Beleza- Jenny bateu o bastão de hóquei na parede de tijolinhos. – Eu te mando um
e-mail dizendo a hora. – ela sorriu timidamente. – Quer dizer, se não encontrar você
no armário de vassouros antes disso.
Ela entrou ao som do riso dele. Enquanto suabia a escada para o quarto 303, ela
percebeu que havia claramente outros meninos bonitos no campus para distrai-la de
Easy. Talvez Callie também pudesse encontrar alguém para distrai-la do inesquecivek
Easy Walsh. Tudo finalmente estava tomando o rumo que deveria tomar.
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TinsleyCarmichael : Já são mais de 30 segundos.
TinsleyCarmichael : Você vem ou não?
TinsleyCarmichael : Julian ?
17 – UMA WAVERLY OWL SABE COMO APRECIAR A MÃE NATUREZA – EM
ESPECIAL COM OUTRA WAVERLY OWL.
O que eu estou fazendo? O que eu estou fazendo? Callie parou na beira do caminho
para a casa de barcos, bem no local onde Easy a instruira a entrar, o céu começando
a adquirir um brilho alaranjado.Seu estômago roncava um pouco, lembrando-lhe de
que ela pulara o jantar. Mas ela estava nervosa e excitada demais para comer alguma
coisa. Depois do treino, ela correu para o banho a fim de se livrar do suor e sujeira que
a cobria depois do longo treino, depois vestiu-se com cuidado. Não fazia idéia do que
constituía uma roupa adequada para a sessão como modelo no bosque como exnamorado
e, depois de pensar por uns vinte minutos, teve de se obrigar a
simplesmente se vestir. Easy pedira para pintá-la, afinal, e ele deve querer que ela
pareça o mais natural possível. Se isso significava usar roupas caras e um tanto
inadequadas, estão assim seria.
E aqui estava ela, com a calça preta apertada Theory, botas de salto alto e pontudas,
e um suéter Vince preto com um decote alto o suficiente para não ser inadequado. O
cabelo ainda molhado enrolava um pouco nas pontas e a deixava com mais frio. Ela
fechou o colete xadrez vermelho até o queixo, o forro de pele de coelho provocando
cócegas no nariz, e saiu da trilha, os saltos das botas afundando um pouco no chão
musgento. Lembrou-se de sua resolução com Jenny e de que mentira pra ela, dizendo
que estava com pressa para ir á biblioteca. Ela não ia deixar que essa história com
Easy fosse além da amizade. Na verdade, por esse motivo, ela não havia raspado as
pernas no banho – os pelos nas pernas sempre a deixavam muito pouco sensual, e
ela achava que podia aproveitar essa sensação nada sensual quando ficasse sozinha
com Easy no bosque.
Ela atravessou o bosque, passando com cuidado por arbustos e gostando de como as
folhas secas eram amassadas por seus pés. Callie respirou ar fresco e folhoso e
desejou ser uma pessoa mais dada a atividades ao ar livre- podia ser divertido, desde
que não significasse usar aquelas medonhas botas de caminhada ou o horroroso
desodorante natural. Ela chegou na pequena clareira que imaginou ser o local secreto
de Easy e sim, lá estava ele, agachado diante de um monte de tubos de tinta
espalhados na relva. Ela ficou parada ali por um segundo, fitando-o, apreendeno a
cena. Ele estava tão natural ali, mesmo de longe ela podia ler em seus movimentos
uma felicidade relaxada que ela só via quando ele estava com Credo.
E então ele levntou a cabeça e a viu, e seu rosto se dissolveu num imenso sorriso
torto.
- Oi- disse ele, levantando-se e esfregando as mãos nos jeans escuros já
empoeirados. – O que você acha? – Ele estendeu os braços, indicando a clareira.
Callie se aproximou lentamente, ciente de que até ver Easy fazendo alguma coisa tão
simples como estender os braços provocava uma volta de seus antigos sentimentos.
Porra.Isso sem dúvida ia ser mais difícil do que ela pensava, com ou sem pernas
depiladas.
- É legal – comentou ela educadamente. – Cadê as flores?
- Bom, estamos em outubro.
- Por que, não tem flores no outono? – perguntou ela cheia de petulância, já sentindo
resvalar na atitude contraria a que Easy sempre esperava. Ela não queria isso; só
sentia tão..natural. – Isso foi idiota.
Easy riu. Seus olhos azuis-escuros enrugaram nas bordas e Callie sabia, pela
expressão dele, que ele queria beijá-la, como fizera umas mil vezes- o que destruiu
seu coração. Sim, cada grama de seu ser esperava que ele percebesse como tinha
sido estúpido e voltasse correndo pra ela, atirando-se a seus pés e implorando seu
perdão. Ela sentia saudade dele.Sentia falta de sua risada grave que vinha de algum
lugar na barriga, do modo como ele erguia uma sombrancelha de leve quando achava
que ela dizia uma idiotice sobre alguma coisa.
- Não faz mal. As folhas darão um fundo perfeito, em especial, depois que o sol
começar a se pôr- disse ele.
Callie sentiu o olhar de Easy percorrendo seu corpo. Será que ele olhava assim para
todas as modelos? Há algumas semanas, Tinsley insinuara que Easy tinha vindo a
este mesmo lugar de pintura com Jenny. Isso a magou. De jeito nenhum ia deixar que
ele a magoasse de novo, não desse jeito. Callie sacudiu a cabeça com desdém.
- Eai, o que quer que eu faça aqui? Fique parada na frente das folhas?
Easy coçou o pescoço e estreitou os olhos, focalizando intensamente em seu rosto.
Callie sentiu o estômago arriar, mas tentou não deixar que seus sentimentos
transparecessem.
- Primeiro quero fazer uns esboços, para organizar algumas idéias. – Ele pegou um
enorme bloco de desenho e um toco de lápis de trás da orelha. – Você pode meio que
sentar na pedra por enquanto?
Callie olhou a pedra. Ela pensou que ser modelo significava ficar estendida numa
luxuosa espreguiçadeira de veludo, talvez usando um robe de seda casualmente
atirado em cima dela. Algo do tipo titanic , o Coração do Oceano em seu pescoço. Não
empolierada numa pedra suja e desconfortável no meio de outubro, quando estava
congelando e ela precisou vestir o colete vermelho e inchado com o capuz forrado de
pele. Se Easy queria pintar uam esquimó, podia ter procurado uma na biblioteca. Bom,
que fosse.O artista era ele. Ela se acomodou no alto da pedra, escorando os saltos
numa pequena saliência
- Assim ?
- Assim parece que você está puta de ficar sentada numa pedra- disse Easy com um
sorriso malicioso. – Ou sendo forçada a ficar na natureza.
Ela sabia que Easy meio que desprezava o fato de que ela, era meio uma princesinha
protegida.
- Tudo bem. – Callie gritou para a pedra e se inclinou, atirando os braços em torno
dela num abraço de urso gigante.- Ah,pedra. Eu te amo tanto e estou tão feliz de estar
sentada em você, apesar de você ser fria, suja e desconfortável. – Ela tentou fazer o
olhar mais apaixonado que podia e soprou beijos. Pelo canto do olho, viu Easy se
curvar de rir.
Callie entrou na encenação, fazendo uma serie de poses exageradas em volta da
pedra, depois se levantando e lançando- se as bétulas.
- Oh, árvores, oh, natureza- disse ela guturalmente, passando os braços em um bétula
magricela e branca fingindo beijá-la, colocando os lábios o mais perto da casca
esbranquiçada que podia suportar sem pensar muito nos bichos que viviam ali. Ela
atirou o cabelo como uma prima donna que adorava os refletores e viu o lápis de Easy
voar no papel,mas quando tentou se afastar da árvore, sentiu um puxão no cabelo.
- Ai! – gritou ela, levando a mão á cabeça. O cabelo estava preso num galho. Merda
de natureza.
- Está tudo bem ? – Easy chegou a seu lado em segundos, o bloco de desenho e o
lápis abandonados no chão. – Não puxe.- Enquanto ele estendia a mão para tentar
desemaranhar do galho o cabelo de Callie, ela sentiu o cheiro familiar de sabonete
Ivory misturado com cheiro rançosos de estábulo. Ela olhou Easy, que lidava
ternamente com seu cabelo, tentando não arrancar o couro cabeludo, e sentiu os
olhos castanhos se encherem de lágrimas.
- Pronto. – Easy tirou o galho da cabeça de Callie. – Está livre.- E depois ele viu o
rosto dela. – Eu te machuquei?
Não chore, não chore, não chore , ela repreendeu a si mesma, mas isso só fez com
que as lágrimas vertessem. Callie cobriu o rosto vom as mãos.
- Sim – disse delicadamente, e não mentia. Não pelo cabelo, mas pelo coração. Ela
tentou se afastar dele, mas ele foi rápido demais. Seus braços fortes a puxaram para
seu peito antes que ela pudesse protestar e depois que o corpo dela estava encostado
ao dele, ela simplesmente derreteu na lã áspera do suéter de Easy. Easy .
Ela sentiu o rosto dele em sua cabeça.
- Eu sei. Eu lamento muito, mas juro que nunca, nunca mais vou magoar você –
sussurou ele enquanto beijava o local onde o cabelo ficara preso na árvore. Ela
precisou fechar os olhos. – Eu te amo, Callie. De verdade.
E antes que pudesse parar para pensar melhor, ela o beijou. Primeiro no rosto, depois
nas sobrancelhas, no nariz e por fim na boca quente e macia que a aguardava.
18 – UMA WAVERLY OWL FICA DE LÁBIOS SELADOS, OU NÃO.
Brett olhou o dever de casa de cálculo, incapaz de se concentrar nas filas de letras e
números. Foi ao quarto de Kara para estudar, mas te agora não conseguira se
concentrar. Ela mordeu a ponta da caneta.
- O que colocou no número 12? É n²+2n, neh ?- perguntou Kara do poleiro na cadeia
vermelha, o livro de cálculo equilibrado nas coxas. Ela apertou a ponta do apagador do
lápis na testa, bem entre os olhos. – Porque, se não for, vou levar esse livro na casa
da Dra.Goldstein agora mesmo e atear fogo nele no jardim, bem do lado daqueles
gnomos horrorosos. – A Dra.Goldstien morava em uma das pequenas casas de
madeira dos docentes junto ao campus e seu jardim era salpicado de gnomos de
cerâmica coloridos que teriam sido roubados por alunos de cálculo frustrados se não
fosse por Spike, o rottweiler da Dra. Goldstein, que patrulhava o jardim, babando e
rosnando.
- Ainda bem que você tem razão, porque dizem que Spike pode farejar um aluno
irritado a uns cem metros de distância- Brett riu.- Um cachorro devorador de gente e
gnomos no jardim... Qual é a da Dra.Goldstein, afinal?
Kara se inclinou para frente como quem conspira, fechando o pesado livro num baque.
- Não ouviu falar que, tipo assim, dois anos atrás, ela começou a sair vom um aluno de
pós-graduação tipo geniozinho da Caltech que estava entrevistando ela para sua
tese?- Os olhos de Kara se arregalaram e ela tamborilou as unhas roídas no livro.- Ao
que parece, ele agora mora na cidade e aparece todo fim de semana, Sabe como é,
para [ientrevistá-la.
Brett arfou. As blusas da Dra.Goldstein sempre eram abotoadas errado e ela usava
meias díspares. Brett levava isso como um sinal de seu brilhantismo distraído – mas
quem sabe era assim porque ela ficava acordada até tarde da noite anterior, tirando
alguma coisa de seu jovem e gostoso estudante de pós?
- Ela não tem, tipo assim, uns mil anos? Eu não teria adivinhado que ela..sei lá... fazia
sexo tão selvagem e apaixonado todo fim de semana.
Kara lançou o lápis pelo quarto, que pousou bem ao lado do colo de Brett.
- Eu diria que ela tem mais poder do que isso.
- Que seja. Estive com caras mais novos e mais velhos, e acho que são da mesma
raça de idiotas.- Brett pegou o lápis amarelo n°2 de Kara e o examinou. Nenhuma
marca de dentes. Todos os lápis de Brett eram mastigados nas pontas, por mais
horroroso que ela achasse esse hábito. Alguém lhe havia dito uma vez, talvez Heath,
que mastigar lápis era um sinal de que você é sexualmente reprimida.
- Isso parece tão pessimista – disse Kara pensativa, largando o livro de cálculo no
chão e se levantando para se espreguiçar, a camiseta cinza American Apparel
erguendo-se e revelando um trecho da barriga branca acima da calça preta.- Sei que
tem alguns homens legais por ai. Tipo um ou dois.
- Tá bom.- Brett passou a mão na colcha de Batgirl azul e vermelha de Kara, alisando
as rugas que fizera ao se esparramar ali pela hora que passou. Meu Deus, o quanto a
vida seria mais fácil se ela tivesse um quarto só dela? Sem a biruta da Tinsley para ter
que andar na ponta dos pés, preocupando-se com quando ia surgir a próxima
erupção. E o quarto de Kara era tão... bacana. Era tão arrumado e limpo, e cheirava
livros novos e incenso. Ela até tinha uma folhagem pendurada no trilho da cortina. –
Só que eles moram, tipo assim, na Mongólia ou coisa parecida.
Kara girou o botão do aparelho de som, aumentando o volume do CD de Aimee Mann.
Deu alguns passos de dança no piso de madeira, parecendo meio boba, mas
totalmente á vontade. Brett a invejava por isso.
- E eles não devem ter internet por lá neh ?
Brett sorriu ao ver Kara girando pelo quarto. Até a semana passada, Kara tinha se
virado sozinha- mas depois da festa quando estavam de castigo, ela
inquestionavelmente fora adotada pela elite da waverly. Brett percebeu que esta
semana Alison Quentin e Sage Francis usaram roupas do armário de Kara, e Heath e
outro garotos foram vistos em volta dela em várias ocasiões. E no entanto, ela ainda
estava sentada com Yvonne Stiddler e outras solitárias no jantar. Para Brett, isso era
tão inimaginavelmente cool.
- Está dizendo que não namoraria alguém que morasse na Mongólia e não tivesse
acesso á internet?- brincou Brett.- Isso é descriminação.
Kara assentiu com um sorriso perverso.
- Claro, ora... Sem cibersexo, nada feito!
Brett riu. Era bom rir, esquecer Jeremiah e como ele mentira para ela, e o Sr. Dalton e
como ele também mentira para ela. Esquecer os homens era uma benção total.
- Senhoras?- Houve uma batida severa na porta aberta de Kara e Angelica Pardee,
com o roupão de banho desbotado e florido amarrado firme na cintura, olhou o quarto,
desaprovando. – Está tarde. Hora de desligar.
-Desculpe, sra. Pardee- respondeu Kara com doçura, baixando rapidamente a
música.- Só temos mis uns problemas de cálculo para terminar, depois acabamos.
Pardee apertou ainda mais a faixa na cintura e farejou o ar com censura, mas sem ver
nenhuma vela proibida, pareceu se satisfazer.
- Não demorem muito.
Brett se levantou e fechou a porta depois que ela saiu. O corredor já estava silencioso
depois da patrulha de Pardee e Brett de repente sicou ciente do fato que ela e Kara
estavam completamente a sós.
- E ai, e o último problema – Ela voltou á cama de Kara e se empoleirou alegremente
na beira com a pulsação acelerada. Foi totalmente culpa de Heath colocar essas
idéias em sua cabeça hoje á tarde, mas ela não conseguia deixar de pensar nisso
agora- ficava pensando no selinho que ela e Kara tinham trocado.
Kara pescou o livro de cálculo e se sentou na cama. O som ainda tocava, mas
baixinho, e não havia barulhos vindo do corredor. Era meio como se ela e Brett fossem
as únicas pessoas- ou pelo menos as únicas pessoas sãs- acordadas a essa hora.
Kara se recostou e colocou o dedo no caderno de Brett.
- Acho que você acertou. – Ela folheou o livro de matemática, depois olhou pra Brett. –
É a adição, não é?
Brett assentiu, sentindo-se meio confusa.
- Você está bem? – perguntou Kara, tirando um fio de cabelo claro que caíra no rosto.
– Ainda está pensando na Dra.Goldstein e o garotinho dela?
- Não!- Brett riu e pegou a garrafa de Evian na mesa de cabeceira de Kara. – Não me
faça ter pesadelos.
- Então, no que está pensando ?- perguntou Kara gentilmente, os olhos castanhosesverdeados
curiosos.
Será que ela podia mesmo falar? E se Kara pensasse que ela era uma anormal e
exigisse que Brett saísse de seu quarto? Mas ela sabia que Kara não faria isso. Tudo
nela era tão natural- nem mesmo parecia grande coisa.
- Hummm...Na reunião na noite passada.
Kara enfim corou, mas só um pouco, como se de imediato soubesse do que Brett
estava falando.
- Ah.- Ela brinou com a borda do papel do caderno, ondulando-o de uma lado a outro.-
Aquilo foi...- Ela deu de ombros e um sorrisinho se esgueirou por seu rosto. – Meio
divertido.
Brett comprimiu os lábios.
- É.
Passou –se um segundo, enquanto elas se olhavam. Brett percebeu uma pequena
sarda abaixo dos lábios cor-de-rosa de Kara. E depois Brett se inclinou, por sobre
suas páginas abertas dos problemas de matemática e garranchos a lápis, colocando a
boca lentamente na de Kara. Seus lábios se tocaram suavemente e Brett fechou os
olhos, deixando sua boca se movesse quase imperceptivelmente na de Kara. Não era
o tipo de beijo molhado e devorador que ela costumava ter com Jeremiah. A boca de
Kara era bonita e pequena e, de um jeito totalmente esquisito, era meio como...beijar a
si mesma.
E era bom.
19 – UMA WAVERLY OWL PODE SE CONFIDENCIAR COM A COLEGA DE
QUARTO...NÃO É?
Jenny subiu a escada do Dumbarton na quarta-feira á noite após passar as horas
depois do jantar na biblioteca envolvida em seu primeiro trabalho longo de historia
européia. Depois de três horas estafantes, ela ficou feliz por voltar ao quarto. Enfim
não precisava andar nas pontas dos pés por causa de Callie. Elas tinham superado
isso e era animador. Ela tentou não pensar demais na falta que sentia de Easy- só
meio que esperava poder empurrar a tristeza de lado até o dia em que não ficasse
mais triste, só nostálgica. Não era o fim do mundo, ela ficava se dizendo. E não era
que ela nunca mais fosse vê-lo. Talvez ainda pudesse ir cavalgar com ele. E ela ainda
teria aulas de arte com ele, faria piada e viria sua camiseta COMIDA SIM,BOMBAS
NÃO. Ela só não ia...beijar Easy.
Que fosse. Ela parou diante da porta 303, lendo um bilhete em marcador vermelho no
quadro branco: Amanhã á noite= 1) café. 2) estudar. 3)fofocar. 4) Todas as anteriores?
Bjs, Brett. Brett não aparecera no treino hoje mas, como era representante da turma,
só o que precisava fazer era sugerir que havia uma reunião importante e Smail a
deixava faltar sem perguntas.
Jenny abriu a porta rapidamente, meio que esperando que Callie já estivesse na
cama. Mas vibrou quando viu que a colega de quarto ainda estava acordada. Na
verdade, estava parada diante de um armário completamente vazio com um top corde-
rosa e a cueca samba-canção branca de menina enrolada na cintura, olhando pra
dentro, todas as roupas caras jogadas numa pilha instável no alto da cama vaga,
ameaçando cair a qualquer momento.
- Está fazendo faxina?- soltou Jenny, surpresa. O quarto parecia uma butique
exclusiva da SoHo que acabara de explodir.
- Hein?- Callie olhou para Jenny por sobre o ombro e piscou algumas vezes. – Ah.
Sim, acho que sim.. Só tive um impulso. – Os olhos de Callie percorreram as pilhas
imensas de roupas como se ela não conseguisse se lembrar de como foram parar ali.
– Não pensei que fosse um projeto dos grandes.
- Por que não deixa ai?- sugeriu Jenny meio sem jeito. – E termina amanhã?- Ela
largou a pesada bolsa no chão e afundou na própria cama, grata por logo estar
enroscada no velho cobertor do pai que ainda tinha um pouco do cheiro do
apartamento na rua 99 com a West End Avenue.
Callie mordeu o lábio e passou os dedos na manga de uma blusa transparente no alto
da pilha precária.
- Mas o quarto está um desastre completo- responder ela por fim, com um beicinho.
- Eu não vou me importar se você não ligar. – Jenny se apoiou nos cotovelos e tirou os
Chuck Taylors cor-de-rosa aos chutes. Eles bateram suavemente no chão de madeira.
– até parece que costuma ficar limpo.- acrescentou ela, rindo. O quarto, mesmo com
apenas as duas em todo aquele espaço, sempre parecia estar entupido de garrafas
vazias de Pepsi Diet( de Callie) e minissacos meio devorados de Doritos ( de Jenny), e
a mesa vaga sempre estava sepulatada em pilhas imensas de roupas suja, cadernos,
trabalhos velhos da escola e vários objetos que não eram necessários em nenhum
momento particular. Havia até uma tapeçaria cuidadosamente dobrada que não era
nem de Jenny nem de Callie e de algum modo apareceu um dia.
Callie juntou o cabelo em dois punhados e os puxou. Os braços pareciam frágeis
como palha e Jenny pensou no quanto gostaria de forçar a colega a comer um
chesseburger. Será que Callie estava tão desligada por estar passando fome? Ela não
sabia realmente o que fazer com isso. Deveria conversar com a Pardee? De repente
ela se lembrou dos dois Tootsie Pops que pegara na lanchonete. Jenny bateu no bolso
do blazer da Waverly e pegou os dois, como uma oferta de paz.
Callie riu e Jenny desejou mentalmente que ela pegasse um. Ela estendeu a mão,
aproximando-se de Jenny e pegando timidamente o de framboesa.
Jenny sorriu. Talvez Callie só precisasse se distrair um pouco.
- Olha, sabe aquele cara alto e bonitinho, aquele calouro?- perguntou ela enquanto
abria o pirulito de laranja e o colocava na língua.
- O Julian?- respondeu Callie com a boca cheia de pirulito, de modo que saiu algo
como. Mmmmmuuuliam?. Ela tirou o doce da boca, os lábios já tingidos de roxo.- O
que tem ele ?
- Não sei bem. – Jenny puxou os pés de lado na cama e dobrou o travesseiro sob a
cabeça. – Ele só fica meio que...rondando o alojamento. Tipo assim, ele estava lá fora
nos arbustos quando voltamos do treino hoje.- Ela riu, pensando na conversa
engraçada que teve quando o encontrou. – E ele estava no armário de vassouras
ontem. No primeiro andar.
- Perai, ele entrou no alojamento?- Os olhos castanhos de Callie de concentraram no
rosto de Jenny, iluminados de excitação. Ela tirou o pirulito da boca e o agitou para
Jenny.- Acha que ele, tipo assim, gosta de você?
- Ah, claro que não- disse Jenny rapidamente, as bochechas ficando rosadas. Ela
odiava quando as pessoas sigeriam que alguém gostava dela e ela não sabia se era
verdade. – Eu não faço idéia do que ele está fazendo. Ele bolou uma desculpa idiota,
dizendo que procurava alguma coisa.
- Sei.- Callie disparou para a cama de Jenny, sentindo-se muito faterna de repente, e
se sentou ao lado dos pés de meias rosas de Jenny.- Aposto que ele estava
procurando por você! – Ela se sentia cheia de energia só de penar nisso.
Não seria perfeito? O que Jenny precisava era de um cara lindo saindo do nada,
virando-a pelo avesso e fazendo-a esquecer que um dia conheceu um sujeitinho
chamado Easy Walsh. E Julian era totalmente gato- talvez meio alto para Jenny, mas
ela claramente gostava de homens altos. Callie deu um tapinha no pé da colega de
quarto toda animada.
- Não, isso é pura bobeira. Não parece isso.- Toda a boca de Jenny estava laranja de
pirulito e Callie teve que rir. ela parecia só uma garotinha, apesar de uma garotinha
linda. E Julian era o que? Um calouro? Não podia ser mais perfeito pra ela.- Quer
dizer, a gente teve uma química bem legal, de qualquer forma. – Ela se sentou na
cama, os olhos meio sonhadores, e brincou com um cacho longo e encaracolado.
- será que você vai esbarrar com ele amanhã?- Callie tentou não parecer ansiosa
demais. Não queria que Jenny desconfiasse de que tinha motivos pessoais nem nada.
Uma onda mínima de culpa passou quando ela percebeu que já estava mentindo pra
Jenny por não contar nada sobre Easy. Mas era pra o bem dela, neh ? Jenny ficaria
arrasada se soubesse que Easy e Callie eram meio que ..Easy e Callie de novo.
Jenny se levantou e abriu a gaveta da cômoda, pegando um pijama Nick & Nora azulmarinho
que parecia confortável, o palito branco do pirulito projetando-se da boca
como uma espécie de cigarro hiperfino. Ela olhou para Callie e sorriu diabolicamente.
- Bom, eu perguntei se ele queria ser meu modelo para o trabalho de arte.
Então...talvez eu o veja amanhã.
- Que demais!- exclamou Callie. Não conseguindo evitar- explodiu da cama e deu um
abraço imenso em Jenny. por favor, por favor, por favor, por favor, que Jenny e Julian
se apaixonem loucamente- Alguma coisa vai acontecer entre vocês dois. Eu posso
sentir!
Ela só esperava que acontecesse bem rápido.
Owl Net--------------Caixa de entrada de E-mail
________________________________________
De: JennyHumphrey@waverly.edu
Para: RufusHumphrey@poetsonline.com
Data: Quarta-feira,9 de outubro, 21:29h
Assunto: Feliz quarta-feira
Oi Pai,
Eu não parecia muito animada outro dia- acho que só estava meio esgotada depos de
uma aula de latim de matar. ( Mas você deve me ouvir recitar Cicero- já cheguei a
esse ponto em um mês!)
As coisas estão indo totalmente bem. Como sempre, estou adorando minhas aulas de
arte. Nem acredito que ganho credito por desenhar. Recebemos um trabalho novo
hoje e acho que vou fazer amanhã- com a ajuda de um cara gracinha que vai servir de
modelo pra mim. (eu adoro essa escola!)
Estamos lendo Rumo ao farol de Viriginia Woolf na aula de inglês. Pai, nem acredito
que você me deixou viver 15 anos neste planeta sem ler isso. Como podê fazer isso ?
=)
Estou com saudade. Coma um bolinho a mais do Bernard por im( se já não comeu!)
Sua filha preferida e bjs
Jenny
Owl Net—Caixa de entrada de E-mail
______________________________________________________________
De: JennyHumphrey@waverly.edu
Para: JulianMcCafferty@waverly.edu
Data: quarta-feira, 9 de outubro, 21:45h
Assunto: Seja um cidadão modelo...
...ou pelo menos uma coruja modelo. Se ainda estiver disposto a participar de meu
projeto de arte, me encontre amanhã no ateliê,sim? Ás seis e meia, por ai, ou 6:45.
Me informe. Estou louca para ver que camiseta você vai usar.
- Jenny ;)
20 - UMA WAVERLY OWL SEMPRE É UMA VENCEDORA ELEGANTE – EM
ESPECIAL QUANDO É TRAÍDA.
Na quinta de manhã, Tinsley tocou a campainha da sala de Marymount no Stansfiels
House. Era uma sala enorme no segundo andar com imensas janelas de sacada que
davam para todo o campus e, no inicio de outubro, para as vibrantes cores da
folhagem de outono. Enquanto atravessava o piso de mogno escuro e pisava no
elegantemente gasto tapete turco com as botas de couro marrom Stuart Weitzman,
Marymount se levantou de sua mesa quase chocantemente organizada.Não é que
estivesse vazia- estava numa ordem geométrica perfeita. Um grande bloco se abria no
meio, cheio de anotações cuidadosas a caneta. Pequenos porta-lápis, pratos de clips,
um porta-fita adesiva e um grampeador estavam enfileirados como que numa
formação militar, podemos atacar a qualquer momento. Até o porta-retratos de prata
da família do diretor estava num ângulo perfeito em relação a sua cadeira, para
permitir que os visitantes tivessem só um vislumbre de sua angelical esposa loura e
seus filhos. Interessante. A esposa dele era mais bonita do que a aberração de
Angelica Pardee. Tinsley apertou sua mão esticada.
- Srta. Carmichael- disse ele de um jeito agradável, embora meio eficiente demais.- O
que posso fazer pela senhorita hoje?
Tinsley percebeu que ele usava uma gravata de estampa floral, com um campo de
tulipas vermelhas e rosas. Seu secretário precocemnete careca, o Sr. Topkins, estava
com uma gravata de margaridas amarelas. Que estranho. Tinsley afundou num adas
cadeiras antigas e cruzou as pernas, esticando afetadamente por cima do joelho a
bainha do vestido verde-oliva.
- Estive conversando com a Sra. Feingold, da Biblioteca Pública de Rhinecliff, sobre
pegar uma cópia de Aconteceu naquela noite para exibir no próximo encontro do
Cinephiles. – Isto era verdade, ela passou uma hora ouvindo uma senhora fazer seu
ouvido de penico, dizendo que Clark Gable era .cortês. e todas as mulheres de sua
época .desmaiavam. por ele.
- Ah!- exclamou Marymount, recostando-se em sua cadeira e tambolirando os dedos
nas têmporas. – Execelente filme. Aquela Claudette Colbert era...um encanto.
Tinsley assentiu com entusiasmo.
- Exatamente. Então, enquanto eu conversava com a Sra.Feingold, ela falou do fato de
que a biblioteca de vez em quando faz exibições ao ar livre, eles têm todo o
equipamento para isso e estariam dispostos a emprestar para Cinephiles. – A cara de
Marymount estava ficando decididamente mais sombria enquanto ela falava, de um
jeito quase cômico, como se ele de repente tivesse chupado um lima.
Tinsley continuou apesar disso.
- E assim... Eu esperava ter permissão para um evento especial do Cinephiles fora do
campus. A Sra.Feingold tembém ofereceu o uso de seu antigo celeiro na cidade, que
segundo ela seria perfeito para projetar filme em uma parede lateral.- Essa parte era
uma mentira deslavada, a coitada da Sra.Feingold provavelmente teria desmaiado se
soubesse como estava sendo envolvida nessa farsa, mas Tinsley não podia contar a
Marymount que o celeiro pertencia ao cara da loja de bebidas.
O reitor Marymount sacudiu a cabeça lenta e resolutamente.
- Receio que esteja completamente fora de cogitação dar permissão para uma coisa
assim.- Ele passou a mão em seu cabelo fino e sem cor e tossiu. – Só as implicações
legais...- Agora ele sacudia a cabeça mais rápido, como se fosse uma idéia
incrivelmente idiota e ele nem acreditasse que Tinsley se dera ao trabalho em trazê-la
a ele.- Mas especialmente a luz de todos os problemas que tivemos por aqui nas
ultimas semanas...- Ele olhou secamente para ela por cima dos aros dos óculos. –
Simplesmente não é possível.
- Entendo suas reservas, senhor- respondeu Tinsley com educação, sentando-se mais
para frente da cadeira e baixando os olhos com humildade. Seus joelhos tremeram um
pouco pelo que estava prestes a dizer, mas ela manteve a voz estável. Ficou animada
com essa reunião a tarde toda, justo por causa deste momento. Depois que
dissesse,não haveria volta. Marymount a odiaria pra sempre, se já não odiava. Mas
era justo que ela e Callie fossem castigadas por serem flagradas naquele fim de
semana em Boston, bêbadas e seminuas, e ele, que sem sombra de duvida foi o pior
delinqüente, traindo a esposa com Pardee, ficasse completamente incólume? Tinsley
foi obrigada a se mudar para um quarto com a pé da Brett, e no entanto guardou o
segredo de Marymount. Ela certamente merecia, digamos, benefícios adicionais por
compartilhar o segredo dele.
E, com essa atitude, ela avançou.
- Sei que contraria a política da escola promover atividades foram do campus, mas
posso lhe garantir que isto não será nada parecido com a viagem a Boston.- Ela
parou, fitando as pontas das botas como se estivesse totalmente contrita e não, na
realidade, chantageando o homem.- Nunca mais vai acontecer nada parecido com
aquilo...Acho que todos ficamos meio loucos naquele fim de semana e não pensamos
nas implicações de seus atos.
Pronto.Ela disse.Tinsley penseu repetidas vezes na melhor maneira de dizer isso e
finalmente concluiu por revelar o suficiente para que Marymount não se sentisse
humilhado demais, nem ofendido demais e a expulsasse imediatamente. Se ela fosse
bem sutil, poderia dar uma saída a ele- no fundo, ele sabia do que ela falava e ela
estava permitindo que ele cooperasse e não pensasse muito que estava sendo
chantageado. Por uma das alunas. O silêncio se demorou no ar; o bater do relógio
antigo no canto e o martelar de seu coração eram os únicos sons que Tinsley captava.
Será que ele estava prestes a explodir...e expulsá-la? Ela ficaria meio impressionada
se ele o fizesse.
Depois de um silencio suficientemente estranho, Marymount deu um pigarro e Tinsley
olhou ansiosa para ele, no rosto o retrato da inocência. Pense em Bambi, disse ela a si
mesma. EM Branca de Neve. Não fiz nada de errado.Deixe que ele veja. Ela sentiu os
olhos dele examinado seu rosto, procurando por alguma coisa, mas não pareceram
encontrar nada. Por fim, ele soltou um suspiro fundo.
- E quando esta esperando que esse evento aconteça?
O coração de Tinsley pulou de alegria.
- Nesta sexta-feira...Amanha, isto é..Seria perfeito. Sei que esta muito em cima, mas o
clima deve ficar terrível e me parece uma oportunidade maravilhosa para isto, antes
que o outono realmente comece, não acha?
Marymount respirou fundo novamete e apertou o nariz. Tinsley fingiu não perceber o
que havia com ele e manteve uma expressão surpresa e grata no rosto, reprimindo o
jubilo por seu triunfo. Sempre seja uma vencedora elegante.
- Só quero que saiba, Srta.Carmichael- Marymount olhou a foto no porta-retrato em
sua mesa e isso não escapou a Tinsley- que a senhorita terá total responsabilidade
por qualquer coisa que saia de errado.
Ela assentiu gravemente, já pensando em ficar com Julian no celeiro.
- Não haverá nada de errado, senhor, mas estou disposta a me responsabilizar por
qualquer coisa que houver.
- E alem disso- continou ele, a voz inalterada, os olhos encontrando os de Tinsley pela
primeira vez em vários minutos-, esta será a ultima vez que acontece alguma coisa
assim. Compreendeu?
- Perfeitamente.- Ela assentiu, embora todos soubessem que a prmeira vez, para
qualquer coisa, raramente será a ultima.
Owl Net______________Caixa de entrada de E-mail.
____________________________________________________________
Para:Undisclosed recipients
De: TinsleyCarmichael@waverly.edu
Data: Quinta-feira, 10 de otubro, 12:38h
Assunto: Aconteceu naquela noite... isto é, amanha
Caros convidados de sorte,
Vocês estão cordialmente convocados a se unir ao Cinephiles em uma festa especial
fora do campus com a exibição de Aconteceu naquela noite... na fazenda de Miller, em
Rhinecliff, amanha (sexta-feira) as sete da noite.
O reitor Marymount graciosamente permitiu que fizéssemos a exibição especial do
filme em homenagem a seu amor imorredouro pela grande Claudette Colbert. Não se
esqueçam de amndar um e-mail de agradecimento a ele no sábado de manha. Isto é,
se ainda não estiverem desmaiados.
Transporte: confio que todos serão inventivis o bastante para pensar nisso sozinhos.
Au revior, mês enfants,
Tinsley
Owl Net______________Caixa de entrada de E-mail.
_____________________________________________________________
De: JulianMcCafferty@waverly.edu
Para: JennyHumphrey@waverly.edu
Data: Quinta-feira, 10 de otubro, 12:40h
Assunto: Re: Seja um cidadão modelo...
J,
Ainda quero te ajudar no seu novo projeto. Estarei lá as seis e meia.
Então gosta das camisetas , é? Vou tentar surpreendê-la. Nas palavras de Right Said
Fred, i`m too sexy for my shirt..
Brincadeirinha- prometo que vou totalmente vestido. A gente se vê.
- (o outro) J
Uma Waverly Owl não pensa demais em questões do coração, a não ser quando
pensa.
Na tarde de quinta, apesar do zumbido tranqüilizador da máquina de cappuccino e da
música de Dar Williams tocando no CoffeRoasters, a minúscula cafeteria no centro de
Rhinecliff, todo o corpo de Brett estava tenso. Na frete dela, Jenny estava curvada
sobre o livro, muffins de abóbora orgânica e Brett, embora não fosse da natureza nem
por esforço de imaginação, meio que gostava de estar cercada de pessoas que eram.
Mas mesmo com a atmosfera que induzia ao estudo- para não falar da cafeína- ela só
conseguia pensar no que tinha acontecido na noite anterior com Kara. O beijo . Brett
nunca havia beijado uma menina, não a serio, mas também nunca foi uma puritana,
então não pensava muito no assunto. Brett podia pensar em muitas festas em que
meninas bêbadas tendiam a ficar cheias de abraços e beijos, mas ela sempre pensou
que era principalmente para os meninos gatos que estavam olhando. Beijar Kara foi
diferente. Em primeiro lugar, ninguém estava olhando e, segundo, elas fizeram porque
queriam, e não porque estavam de porre.
Brett não precisava desperdiçar energia preocupando-se que as coisas talvez
ficassem estranhas entre ela e Kara depois de sua pequena ficada. Quando Brett
esbarrou em Kara saindo do banheiro naquela manhã, as duas de imediato trocaram
um sorriso- o sorriso tímido e malicioso que só existi entre duas pessoas que dividem
um segredo excitante. E nada ficou diferente no almoço também. Elas conversaram
como faziam antes, só que tudo estava um tanto alterado, cada uma delas sabendo
que a outra pensava sem que ninguém mais no mundo tivesse noção disso. Era
definitivamente excitante. talvez elas tenham ficado um pouco mais próximas, mas não
o suficiente para que os outros percebessem.
Brett ficou olhando para Jenny, sentada do outro lado da mesinha meio pegajosa, o
marcador amarelo apoiado sobre o livro de Biologia, pronta pra atacar. Precisou
morder a face interna da bochecha para não desabafar com Jenny agora mesmo. Mas
Jenny tinha guardado seu segredo sobre Dalton. Ela certamente era de confiança. E
Brett sentia que ia entrar em combustão espontânea se não contasse a alguém sobre
isso.
Jenny olhou inquisitivamente do livro para a amiga antes de Brett poder pensar em
outro motivo para não desabafar.
Seu olhos castanho-chocolate eram tão calorosos e amistosos, e as sardas salpicadas
pelo nariz meio arrebitado tão tranqüilizadoras e compreensivas que Brett não
conseguiu mais reprimir. Fechou o livro dela na mesa e se inclinou.
- Já beijou uam menina?- perguntou ela em voz baixa.
- Como é? – Jenny batia o marcador distraidamente no rosto, ao que parecia
esquecendo-se de que estava sem tampa, deixando uma manchinha amarela perto do
canto da boca.Estava meio confusa. – Não sei.Quer dizer, tipo assim..a sério? Ou tipo
você e Kara na reunião outra noite?
- Bom...- Brett olhou em volta, sentindo-se paranóica de repente. Aquele cara da turma
de calculo ali perto não estava ouvindo? Não, ele tinha fones de ouvido nas orelhas. –
É que nós meio que fizemos de novo.- Brett girou o dedo a corrente do colar. – Ontem
á noite.
- Perai, como é que é?- Jenny olhou como se de repente tivesse sido atingida por um
balde de água gelada. – Quer dizer, tipo assim, vocês ficaram?- Sua voz guinchou um
pouco nas duas ultimas palavras.
- Shhhh!- Brett colocou o indicador nos lábios de Jenny. Ela não queria chocar as duas
mulheres mais velhas á esquerda dela, embora as duas, com vestidos longos de
padronagem amorfa, pudessem ser elas próprias lésbicas. Mas espera-não se pode
dizer a sexualidade de uma pessoa só de olhar para ela, lembrou-se Brett. Era
exatamente isso que ela não queria que os outros fizessem com ela. Ela baixou os
cotovelos na mesa, esquecendo-se de que a seda delicada de sua blusa Anna Sui
provavelmente grudaria naquela gosma de café.- Sei lá. Mais ou menos. Quer
dizer..Eu não faço idéia do que foi.
- Aimeudeus. – Jenny fez um grampeador com os dedos e os bateu rapidamente.- Isso
é tão doido. Como é que foi?
Brett sentiu uma lufada de gratidão por Jenny. Ela reagiu com perfeição- surpresa e
curiosa, é claro, mas não chocada, nem apavorada. Brett nunca teria sido capaz de
contar alguma coisa assim a Tinsley, mesmo antigamente, quando elas supostamente
eram amigas, sem que Tinsley fizesse um comentário malicioso sobre Brett precisar
comprar um par de chinelões ou coisa parecida.
- Foi ..bom-admitiu Brett, dando de ombros.- Mas estou confusa, sabia?
- Posso imaginar. – Jenny tomou um gole da caneca de café azul-marinho com as
palavras MIKE’S AUTOMOTIVE na lateral.Os donos do CoffeeRoasters
aparentemente compravam pratos e canecas desiguais em vendas de garagem. A
idéia era meio charmosa. – Eai...Você, tipo assim, quer fazer de novo?
Brett corou.
- Mais ou menos. – O que significava que sim. Ela parou, olhando Jenny nos olhos. –
Acha que é esquisito?
- Duvido que você tenha sido a primeira pessoa no mundo a beijar uma mulher e
gostado.- Jenny riu. A máquina de cappuccino zumbiu por sobre o ombro de Brett,
sibilando alto. – Quer dizer, as mulheres são bonitas. Por que não ia querer beijá-las?
As mulheres sempre cheiram bem e ás vezes os homens podem ser totalmente
nojentos.- Depois a cara dela ficou um pouco mais séria.- E Kara é demais.Ela é linda
e doce, e é divertida.
Brett se sentiu começar a corar. Ela realmente pensava em Kara dessa forma? Bom,
ela achava que sim. Embora meio constrangida de começar a conversa , ela teve de
admitir que era bom tirar aquele peso do peito. Mesmo confusa, Brett também estava
animada e era bom poder falar sobre isso com Jenny.
- Então, eu devo ser bi, não é?- continuou Brett, baixando a voz.- Ou é uma espécie
de reação a ter sido ferrada tantas vezes por um babaca?
Jenny tomou um gole de café.Espiou pensativamente por sobre a caneca.
- Não sei. Você teve alguns, sei lá, baques dos grandes ultimamente.- Ela passou o
polegar na alça da caneca antes de abrir outro pacote de adoçante e esvaziá-lo na
bebida.- Mas talvez seja uma boa idéia não tentar rotular,sabe?Os rótulos não
significam nada.
Brett uniu os lábios num breve biquinho.
- Mas eu gosto de rótulos- admitiu Brett – Tornam tudo mais claro. – A irmã Bree
sempre disse que gostava das coisas bem loucas e que parte do sentido da vida era
sua bagunça, sua recusa em ser arrumada. Brett sempre aceitou esse conselho com
reservas. Devia ser a desculpa para ter um quarto bagunçado, ou por terminar com os
caras que ela namorava sem realmente dizer a eles. Mas quem sabe Jenny tivesse
razão?
Jenny tombou a cabeça, solidária.
- Não precisa analisar tudo demais.Só...siga seu coração. E não se preocupe..Seu
segredo está seguro comigo.- Ela levou um dedo delicado á boca e fingiu fechar o
zíper nos lábios.
Brett assentiu devagar. Seguir seu coração. Tudo bem. Quantas vezes disseram a ela
para agir desta forma e onde foi que isso a levou? A ser magoada duas vezes no
ultimo mês e meio. Mas ainda assim... Kara era tão diferente de Eric Dalton e
Jeremiah Mortimer quanto possível- tanto na personalidade como na anatomia. Não
que ela soubesse muita coisa da anatomia de Kara.Pelo menos ainda não.
22- UMA COMPETIÇÃO SAUDÁVEL FAZ BEM A UMA WAVERLY OWL .
- Você é um porre, Buchanan- cuspiu Julian enquanto atirava o corpo alto pela quadra
de squash de madeira clara num esforço febril de devolver uma bola perfeitamente
colada de Brandon. Ele se chocou na parede branca e suja da quadra enquanto a bola
caia inofensivamente diante dele.
- Então eu acabei de arrasar com você?- Brandon deixou a raquete bater no chão e
esticou a mão suada para onde Julian estava esparramado, arfando, no chão. Julian a
pegou e se levantou, gemendo. Nas outras quadras, continuavam as pancadas das
bolas de squash em raquetes; paredes e meninos suados, mas Brandon tinha cabado
de derrotar Julian, o segundo melhor jogador da equipe, pela quarta partida
consecutiva. Uma das melhores sensações do mundo era quando tudo em seu jogo
parecia estar a favor dele- quando seus reflexos eram imediatos, quando todos os
golpes batiam no ângulo exato, quando ele quase podia dizer onde a bola ia cair antes
mesmo que o adversário a pegasse.Ele estava tão ligado. Será que tinha alguma
coisa a ver com a mensagem de texto sexy que recebera de Elizabeth pouco antes do
treino?
- É. ta bom.- Julian trocou um aperto de mãos com Brandon e passou na testa
reluzente a munhequeira antes branca.- Mas espera pela próxima.
- Acha que sua derrota incrível para mim pode ter alguma coisa a ver com esse troço
de mulherzinha na sua cabeça? – Brandon gesticulou para o rabo-de-cavalo de Julian.
Será que o visual Tom-Cruise-em-Mangolia era uma boa idéia? Será que qualquer
visual Tom Cruise era uma boa idéia? Brandon abriu a porta da quadra e partiu para o
bebedouro.
- Bom jogo,gostosão.- Sobressaltado, Brandon olhou os três bancos que serviam de
arquibancada (nunca havia tantos espectadores nos jogos de squash) e percebeu
Elizabeth sentada no meio, com uma minissaia jeans que parecia ter sido cortada por
ela mesma, meia-calça preta e um top de malha de balé preto e com decote redondo.
Os saltos dos Doc Martens estavam empoleirados quase delicadamente na beira do
banco de baixo. O cabelo louro caiu pelos ombros quando ela puxou os fones de
ouvido brancos das orelhas com brincos de prata.
Brandon não percebera que a estava encarando até que Julian o cutucou nas
costelas.
- Ei. – Brandon partiu para ela, ainda meio pasmo ao vê-la num lugar tão banal como
as quadras de squash. Era quase como se ele a tivesse conjurado, uma vez que ele
ficou pensando nela sem parar desde sua sessão de amassos no quarto dela ontem.
Ela era tão gata e tão doce. E divertida e...
- O que está fazendo aqui?- perguntou Brandon, de repente constrangido pelo fato de
praticamente estar pingando de suor. Ele passou depressa a munhequeira no rosto.
- Vendo você esfregar o chão com aquele coitado.-Os olhos castanhos de Elizabeth
cintilaram de diversão enquanto Brandon deslizava ao Aldo dela na arquibancada.
Ele inchou de orgulho, mas ficou grato por não ter percebido Elizabeth- e suas pernas
sensuais-, já que isso provavelmente o distrairia. Uma vez Callie veio vê-lo jogar em
um dos grandes torneios e Brandon ficou tão sem graça o tempo todo que foi
atropelado pelo cara de Deefield que ele havia destruído nas ultimas cinco vezes que
jogaram, para detrimento de seu orgulho masculino. Callie tentou animá-lo depois,
dizendo que não foi tão ruim, mas Brandon podia detectar a ponta de decepção em
seu lindo rosto- e ele quase podia ver a repreensão da mãe controladora de Callie:. Os
Vernon não namoram fracassados.. Callie na verdade cancelara planos naquela noite,
dizendo que tinha esquecido de que era o ultimo episodio da temporada de America’s
ext Top Model. Ele decidiu tomar isso como um bom augúrio de que a relação dele
com Elizabeth começava com o pé direito.
- Obrigado. Você está muito linda.
- E não estou fazendo nada. – Elizabeth piscou para ele.- E ai, er, seu treino acabou?
Podemos sair?
Antes que ele pudesse responder, Brian Atherton, um veterano que chamava a todos
na equipe de .cara. e raspava a cabeça num tentativa inútil de disfarçar a careca
precoce, passou o braço pelo ombro de Brandon como se eles fossem grandes
amigos e não colegas relutantes de equipe.
- Cara- entoou Atherton, a boca praticamente escancarada ao ver Elizabeth-, essa é
sua namorada?
De repente Brandon percebeu que as quadras estavam perceptivelmente mais
silenciosas, não havia mais os sons de meninos xingando ou de raquetes batendo nas
paredes. Brandon casualmente se soltou do braço pesado de Atherton e respondeu
sem pensar.
- É. Esta é Elizabeth.- Ele tombou a cabeça para Atherton.- Este é Atherton.
Atherton apoiou um dos tênis no banco mais baixo e fingiu alongar o músculo da
panturrilha.
- E como é que está com esse cara?- perguntou ele incrédulo, os olhos cobiçosos nos
ombros parcialmente nus de Elizabeth enquanto espremia a garrafa de água na boca.
Brandon o vira olhar desse mesmo jeito para um Bic Mac depois de uma partida. Um
nojo.
Elizabeth fitou Atherton, aparentemente sem se impressionar. Ela deu de ombros e
sorriu, a covinha embaixo dos lábios se aprofundando maliciosamente. Brandon pegou
o olhar dela e viu que havia alguma coisa errada. Rapidamente empurrou Atherton de
lado e a conduziu para a porta.
- Está tudo bem?- perguntou Brandon depois que as pesadas portas do complexo de
squash se fecharam. O ar frio contrastava bem com a sua pele quente enquanto ele
colocava as munhequeiras no bolso de fora da bolsa de vinil preto de squash.-
Desculpe por Atherton. Ele é meio babaca. – Ele baixou a cabeça e percebeu que
ainda estava com os tênis. Tecnicamente, eles não deviam ser gastos fora das
quadras- o complexo de squash era um anexo novo em folha e o mais caro da
Waverly e havia placas ameaçadoras em toda parte.
- É. – Elizabeth tocou distraída o cabelo e vestiu a jaqueta de couro. Fechou o zíper,
impedindo Brandon de ver seus ombros loucamente atraentes. – Humm, você é
mesmo especial para mim...- Epa. Ele se virou para ela. Ela não veio até aqui só para
terminar com ele, não é?- Mas..a palavra .namorada. me fez encolher um pouco,
entendeu?- Ela mordeu o lábio.
- Humm, tudo bem..- Brandon não fazia idéia do que estava acontecendo. Nem foi ele
que escolheu usar .namorada., mas era meio o que ela era, não é? Só que..Agora ela
estava dizendo que não queria ser?
Elizabeth colocou a mão no braço nu de Brandon e ele olhou sem dizer nada sobre
suas unhas rosa-claro enquanto ela o apertava gentilmente. Ela não ia tocar nele
daquele jeito se pretendia terminar com ele.
mas ela não retirou a mão. Na verdade, começou a passar o polegar em seu pulso e
Brandon teve de se esforçar muito para não ficar completamente excitado.
- E ai, o que você estava dizendo mesmo? – perguntou ele, meio sem jeito.
- Só estou dizendo que preciso ser, tipo assim, aberta nessas coisas. – Seus olhos
castanhos o fitaram através da teia escura e espessa das pálpebras.- É que eu odeio
me sentir...presa,entendeu?- Seu olhos procuraram os dele, buscando compreensão.
Perai, como é? Então ela não estava terminando com ela- só estava dizendo que
queria, humm,estudar com outras pessoas?
- O que você pensa disso? – Sussurrou Elizabeth, aproximando-se um pouco mais
dele de modo que o cheiro de mel e incenso do cabelo o fez voltar á tarde de ontem
no quarto dela.
E de repente Brandon não estava pensando muito bem.
Owl Net __________________ Caixa de entrada de E-Mail
__________________________________________________________
Para: Garotas da Waverly, HeathFerro@waverly.edu
De: KaraWhalen@waverly.edu
Data: quinta-feira, 10 de outubro, 16:45h
Assunto: Reunião das Garotas da Waverly
Senhoras ( e Heath),
A segunda reunião oficial da GdW acontecerá esta noite as sete. Como o átrio está
reservado, podemos nos reunir em meu quarto (107, do Dumbarton), se não se
importarem com o aperto!
Obrigada por fazerem da primeira reunião um sucesso- espalhem a todas sobre esta
noite e não tenham medo de trazer suas perguntas! O tema desta noite é AMOR.
Heath- você também é bem-vindo mas, como acontecerá depois do horário de visita,
cuidado para não ser flagrado.
Bjs
Kara
Owl Net __________________ Caixa de entrada de E-Mail
___________________________________________________________
Para: KaraWhalen@waverly.edu
De: HeathFerro@waverly.edu
Data: quinta-feira, 10 de outubro, 16:51h
Assunto: Reunião das Garotas da Waverly
Não tenham medo, meus amores – vou levar presentes para minhas amiguinhas!!
Bjs
HF
Owl Net __________________ Caixa de entrada de E-Mail
___________________________________________________________________
Para: JulianMcCafferty@waverly.edu
De: TinsleyCarmichael@waverly.edu
Data: quinta-feira, 10 de outubro, 16:59h
Assunto: Sinal
Não sei o que aconteceu com você ontem, mas hoje é seu dia de sorte- vou lhe dar
um segunda chance. Não me dê outro bolo ou vai se arrepender.
Beijos!
T
23-UMA WAVERLY OWL DEVE DAR UM POUCO PARA RECEBER UM
POUCO.
Brett largou no andar do quarto de Kara o último pufe da sala-de-estar do segundo
andar e se endireitou, massageando de leve o ombro. Nos preparativos para a reunião
das Garotas da Waverly, elas arrastaram uma meia dúzia de coisas pesadas da salade-
estar e de algum modo conseguiram espremer tudo no espaço agora abarrotado,
então o quarto era um mar de bolsas de vinil coloridas e imensas. Kara desabou num
pufe azul-escuro. Brett sempre odiou essas coisas- a não ser agora, que pareciam,
bom, meio sexy. Hesitando só um pouco, ela sentou ao lado de Kara, o peso do corpo
balançando um pouco as duas, e isso as fez rir. Conversar com Jenny esta tarde fez
com que Brett se sentisse mais à vontade com a história. Não que ela estivesse se
sentindo pouco á vontade, exatamente, mas ainda assim...
- Do que vamos falar na reunião desta noite?- perguntou Brett consciente do fato de
que seus braços estavam se tocando. Ela sentiu o recheio do pufe se mexer um pouco
e afundou ainda mais perto de Kara para que as pernas se tocassem também.
Kara girou a correntinha de prata para que o fecho voltasse ao lugar certo. Suas unhas
estavam pintadas de rosa-claro, uma cor que fazia Brett pensar em sua própria Pinkie
Swear Crazy Daisy, e roídas nas pontas. Não estava maquiada e não precisava disso.
Tinha sardas mínimas e claras salpicadas no alto das bochechas, tão fracas que só se
percebia quando se estava muito perto dela. Como Brett estava agora.
- O tema é amor, então talvez a gente deva falar dos diferentes tipos de amor- sugeriu
Kara, as sobrancelhas delicadamente arqueadas.
- Hummm..- Mas Brett não conseguia pensar em nada a não ser beijar Kara de novo e,
antes de dizer alguma coisa, inclinou-se para ela. Kara evidentemente não ficou
chocada e seus lábios de moveram por instinto nos de Brett, provocando arrepios por
sua espinha. Brett tentou não comparar beijar Kara com beijar Jeremiah, mas não
conseguia evitar- era como se estivesse comendo maças a vida toda e agora
experimentasse couve-de-bruxelas depois de uma vida toda achando que as odiava,
descobrindo que elas eram mais doces que açúcar. Os lábios de Kara eram tão
macios. E ela beijava muito bem. A mão de Brett subiu para tocar o rosto de Kara.
- Da-dáááá!
As meninas se separaram, surpresas, viraram-se e viram Heath Ferro parado na porta
vestido de...drag queen. estava com uma peruca loura comprida e enormes óculos de
sol marrons Gucci, que ele tirou da cara no segundo em que viu as duas meninas
agarradas.
- Caralho!
Brett foi a primeira a saltar de pé, o rosto em brasa.
- Fecha a porta, babaca- sibilou ela para ele, mas depois disparou para fechar ela
mesam a porta. – O que é que você está fazendo aqui?
Heath colocou a mão na boca.Seus olhos estavam esbugalhados de empolgação e, se
a situação não fosse tão grave, Brett teria rido do fato de ele parecer uma mulher com
aquela peruca, apesar de vestir calças cáqui surradas e uma camiseta preta e
apertada que claramente revelava sua falta de seios. Mas talvez, á primeira vista,
alguém o pudesse confundir com uma mulher.
- Por favor, eu não quero interromper.Esta é, tipo assim, a coisa mias quente que já vi
na vida!
- Heath, não pode contar a ninguém sobre isso. – Brett apertou as mãos nas
têmporas, encontrando os olhos igualmente em pânico de Kara do outro lado do
quarto.- Estou falando sério. Vai ter que jurar, está bem?- Loucamente, mesmo que
em seu estado histérico, Brett não conseguiu deixar de perceber que Kara ficava linda
quando estava assustada.
Heath enfiou os óculos distraidamente na gola da camiseta, um sorriso exaltado ainda
esparramado na cara. Parecia que ele tinha acabado de entrar na Mansão da Playboy.
- Eu prometo...de verdade. juro por tudo o que amo...Não vou contar a ninguém sobre
isso. Nunca. – Ele olhou as duas meninas com franqueza e depois procurou alguma
coisa ma mochila, sacando por fim...uma câmera digital. – Desde que eu possa tirar
uma foto, hein?
- Como é? – Brett cerrou os lábios, irritada. Mas enquanto olhava Heath, ela começou
a sentir que ele não representava nenhuma ameaça real, pelo menos enquanto
estivesse se divertindo. Brett bateu a ponta dos Campers de camurça no chão
encerado.
- De jeito nenhum.- Kara sacudiu a cabeça para Heath de onde estava no pufe,
recostando-se. Ela alisou a saia preta e Brett pôde sentir Heath olhando intensamente
para ela, para ver se ela estava olhando as pernas de Kara. Homens.
- Ah, por favor, só uma fotinha. É tudo o que eu peço em troca de guardar o segredo
de vocês. – Heath olhava de uma menina para outra, distraidamente puxando o cabelo
de sua peruca loura. – Por favooooor! Vocês ficam tão excitantes juntas.
Brett por fim pegou os olhos de Kara e tentou enviar a ela uma mensagem. Me
acompanhe,ela tentou dizer.
- Bom...- Brett esfregou o queixo entre o polegar e o indicador.- Talvez só uma.- Se
isso ia manter fechada a boca de Heath Ferro, não era um preço tão alto a pagar.
- Ah, meu Deus, eu adoro vocês. – Heath ligou atrapalhado seu Nokia prateado, o
cabelo caindo torto na cabeça, e Brett piscou para Kara.
Kara sorriu e se levantou, esticando as pernas. Foi até onde Brett estava e a pegou
pelo braço.
- Pronta?- perguntou ela, as sobrancelhas erguidas. Tem certeza?, pareciam dizer
seus olhos.
- To- Brett riu, empurrando uma mecha de cabelo para trás da orelha esquerda.E seus
rostos se aproximaram lentamente, como se estivessem num filme, os lábios se
encontrando e abrindo-se suavemente um no outro. Era meio... sensual ter alguém
olhando. Não foi como antes, quando elas estavam sozinhas, mas era excitante de um
jeito diferente, quase como se as coisas ficassem mais eletrizantes porque elas
permitiam que alguém participasse do segredo. Elas se afastaram com relutância.
- Assim está bom?- Brett virou-se para Heath, mão colocada desafiadoramente no
quadril.
Ele passou a mão na cabeça, esquecendo-se de que não era o cabelo dele. A peruca
escorregou para a esquerda, de modo que o cabelo louro ficou empoleirado torto.
- Eu estou no paraíso? Porque... Alguém lá em cima gosta de mim.- Ele olhou a telinha
do telefone e examinando as fotos.
- Deixa eu ver como ficaram. – Kara pegou a câmera das mãos dele e ergueu para
Brett ver também. Heath tinha tirado dez fotos delas nos cinco segundos em que elas
ficaram se beijando e Brett viu as imagens de si e de Kara piscarem no visor. Tinha de
admitir que elas ficavam mesmo excitantes juntas. Depois de passar todas de uma
vez, Kara rapidamente começou a deletá-las.
- Ei, o que está fazendo?- Heath tentou pegar a câmera. – Você disse que eu podia ter
uma!- Ele se atirou em Kara, mas Brett o obstruiu até que ela terminasse. Kara pulou
na cama e ficou ali, deletando todas as fotos salvas.- Não!- gemeu ele, parecendo
uma garotinha. O que era meio adequado, considerando que estava vestido como
uma.
Brett afagou as costas de Heath.
- Olha. O que me diz disso? A cada dia que guardar o segredo, vamos tirar uma foto
sexy juntas e mandar a você por email.Está bem?- Ela olhou para Kara, que ainda
estava de pé na cama, sem sapatos com meia calça.
- Mas por enquanto- continuou Kara,quicando nos dedos dos pés, emoldurada por um
pôster em preto-e-branco de um Bob Dylan jovem no alto da cama-, a câmera é
nossa.
- Se me mandarem fotos sensuais e secretas, só para mim- e Heath engoliu seco,
como se ficasse sem fôlego só de pensar-, eu prometo que levarei esse segredo para
o túmulo.- Ele pôs a mão no coração.
- Fechado.- Os lábios em formato de coração de Brett se curvaram num sorriso e ela
encontrou os olhos de Kara novamente.- É claro que você entende- ela baixou a voz
ao registro mais ameaçador possível- que se isto vazar...Nós vamos matar você.
- Ah, eu prometo- disse ele, unindo as mãos como se rezasse.- Eu prometo, prometo
de verdade. Juro por tudo o que é mais sagrado.- Seus olhos verdes normalmente
indolentes faiscavam de...quê? Seria sinceridade?
Ou pura luxúria?
24 - UMA WAVERLY OWL SABE QUE ÀS VEZES O TRABALHO ÁRDUO É O
MELHOR REMÉDIO.
Jenny botou o material de arte na mesa no meio do ateliê e a caixa pesada de pastéis
tiniu no metal, ressoando no enormeespaço vazio. O prédio ficava aberto na maioria
das tardes para qualquer um que precisasse de mais tempo nas mesas de desenho,
mas a maior parte dos alunos não aproveitava isto.
Ela ligou o sistema de som da Sra. Silver para ter companhia. Estava sintonizado
numa emissora antiga, mas Jenny deixou ali mesmo - meio que a fazia pensar no pai,
que a cada manhã se arrastava pela cozinha com seus chinelos, fazendo café com um
dos três CDs dos Beatles que ele mantinha em rotação constante no CD player portátil
que Jenny e Dan lhe compraram de Natal. "Velharia para um velho", ele cstumava
dizer.
Enquanto voltava para sua mesa e começava a arrumar o material de arte em
categorias organizadas, Jenny não conseguiu deixar de sorrir. Ela adorava o prédio de
artes quando não havia ninguém ali. As imensas vidraças davam para as folhas de
cores vivas, cujos tons ainda eram visíveis embora o sol estivesse se pondo, e os
reflexos dos spots cintilavam atrás dela. As janelas lembravam um pouco de Nova
York, de andar pela Comlumbus Avenue à noite e olhar as imensas vitrines refletindo
as pessoas que andavam pela rua.
Jenny olhou a porta do ateliê se abrir e viu Julian entrar, comendo uma maça. Ela
podia ver a covinha perto de sua boca. ELa sorriu do outro lado da sala gigantesca.
- Oi, e aí. - A voz dela ecoou no ateliê vazio, por cima do som de música antiga dos
Rolling Stones. Ela acenou para Julian se aproximar de onde ela havia disposto o
material: um imenso bloco de papel de aquarela, pastéis, carvão, aquarelas, até tubos
de tinta. Ela exagerou nos preparativos porque não tinha certeza do que iria usar.
Estava esperando por uma... inspiração. - Você veio - acrecentou ela com um sorriso.
Julian deu outra mordida na maça verde e olhou o teto alto e inclinado e as imensas e
exageradas vidraças, gostando do que via. Depois os olhos baixaram para ela e seus
olhos dourados se arregalaram.
- Ei, estou com a roupa certa para isso? Sei que você adora camisetas, mas... - Seu
cabelo castanho-olourado estava solto e ele usava uma camisa de mangas compridas
por cima de uma camiseta apertada do show dos Raconteurs e calça preta de boca
fina. - Quer dizer, você está ótima. Como se alguém devesse desenhar você -
acrescentou ele.
Jenny queria não corar com o elogio. Ela ficou surpreendentemente nervosa quando
estava se arrumando, mas finalmente escolhera a blusa de gola rulê e mangas
bufantes chocolate Free People que ficava supermacia, parecendo seda na luz, e
jeans escuros e apertados da Gap que Jenny tinha desde que se entendia por gente.
Definitivamente não era nada elegante, mas era um doce que Julian dissesse que ela
estava linda. E ela havia mesmo passado um pouco de sombra Bare Escentuals na
cor Fire Light nas pálpebras.
- Hum, obrigada. Mas sim... Sua roupa está ótima - finalmente ela respondeu,
esperando não corar contra a sua vontade.
- Legal. - Julian pulou no pequeno tablado no meio do ateliê, onde os modelos
pasavam nas aulas. As botas de caminhada batiam pesadas na plataforma de madeira
e, com a altura a mais, ele assomava sobre Jenny - ainda mais do que o normal. - É
aqui que quer que eu fique? - perguntou ele com um sorriso.
- Talvez... - Jenny passou o polegar no queixo, ocmo sempre fazia quando tentava
visualizar sua composição. Julian era tão alto e desengonçado - ela achava que o
retrato dele devia capturar isso de algum modo. - Humm, que tal a poltrona? - Ela
gesticulou para a poltrona de veludo gasto que apareceu por acaso no ateliê outro dia,
doada pelo departamento de teatro ao departamento de artes e a Sra. Silver de
imediato a solicitou para os modelos posarem, em sua busca constante por movéis
que fossem "inspiradores". Era meio surrada e o tecido estava gasto até a base em
alguns pontos, mas havia veludo azul-royal listrado suficiente para torná-la um tanto
régia e excitante, como um trono pessoal. Julian, o rei do... do quê? Do povo altão e
lindão?
Julian afundou na poltrona, que de repente parecia pequena, os joelhos praticamente
vindo ao peito. Jenny não conseguiu reprimir o riso. Ele tossiu e se espreguiçou,
bocejando, estendendo as pernas compridas e afundando ainda mais na poltrona.
- Parece que esta poltrona está me devorando vivo.
- Está confortável? - perguntou Jenny, o lápis já voando no papel. - Essa é uma pose
ótima... Captura o quanto você é alto.
Julian se remexeu um pouco na poltrona. Ele parecia um jogador de basquete
tentando ficar à vontade num móvel de casa de bonecas.
- Tudo bem. Desde que eu não tenha que ficar auqi para sempre.
- Vou trabalhar rápido - prometeu Jenny, embora estivesse pensando em coom era
bom estar aqui com Julian e meio que quisesse jamais ter que sdair e voltar à
realidade. O ateliê era seu prédio preferido no campus e Julian a fazia esquecer de
Easy. E neste momento a última coisa em que ela querai pensar no munodo era Easy
Waksh, e como ele foi o último cara que ela desenhou. E como ele a desenhou no
bosque. Talvez desenhar alguém fosse uma sentença de morte para o
relacionamento, como enfiar alfinetes numa boneca de vodu.
Seu lápis pairou no meio de um traço no papel branco e grosso. Seria imaginação dela
a química que sentia or Julian? Ela não conseguiu deixar de se lembrar de como tinha
certeza - uma ceteza do tipo nunca-estive-tão-certa-na-vida - de que havia alguma
coisa entre ela e Easy, alguma coisa verdadeira. E então, quase com a mesma
rapidez com que começou, tudo terminou. Embora ela estivesse trsite por ter perdido
Easy, estava mais triste com o fato de ter julgado tão mal as coisas. "Amor não é amor
se quando encontra obstáculos se altera, ou se vacila ao mínimo temor." Assim disse
Shakespeare, que parecia saber alguma coisa sobre isso. Parte dela pensou que
ficaria um caco se ela e Easy terminassem - e no entanto aqui estava ela, dias depois,
já fantasiando em naufragar numa ilha tropical com outro.
Julian engoliu um pedaço grande de maçã, mal parando para mastigar.
- Nunca vim aqui. - Seus olhos vagaram pelo teto alto e inclinado e as imensas
paredes de janelas.
- Às vezes finjo que sou uma artista famosa e que este é meu loft no SoHo. - Jenny se
afastou um pouco da mesa reclinada para ver o desenho preliminar. Tinha feito um
esboço da figura de Julian, agachado na poltrona de um jeito ao mesmo tempo
desajeitado e elegante. As linhas claras do grafite pareciam combinar com ele como o
tema - se ela tivesse de passar a outro material, sem dúvida perderia parte da
proximidade que pensouestar capturando. A cena lhe dava a sensação de que podua
desaparecer a qualquer momento: Julian podia se levantar, espreguiçar-se e ir
embora. A espontaneidade do lápis parecia certa para ele.
Ele olhava diretamente para Jenny, provocando nela um solavanco, como acontecia
quando ela estava com pressa e só tinha tempo para um expresso pela manhã.
- A diferença é que podemos ver as árvores lá fora.
Ela tentou capturar os ombros arriados de Julian, a postura relaxada de seu corpo,
formando um contraste com a energia quase incapturável.
- Tem ávores em Nova York também, sabia?
- Ah, é - ele ergueu o queixo para ela. - Tipo umas cinco.
- Nunca ouviu falar do Central Park? - perguntou Jenny incrédula, tentando não sorrir.
Seu lápis disparava pelo papel. - Tem, tipo assim, uns 350 hectares de árvores.
Julian riu e sacudiu a cabeça.
- Não fique na defensiva. Eu só gosto de cidades com árvores.
- Vai começar a maltratar Nova york? Porque não acho que possa desenhar alguém
que não entende que é a melhor cidade do planeta. - Jenny parou, erguendo o lápis do
papel de um jeito ameaçador. - Quer dizer, isso contraria tudo em que acredito - disse
ela de brincadeira.
- Bom, eu meio que já disse a minha mãe que ia fazer meu retrato. Então é melhor não
estragar tudo agora.
- Como eu poderia decepcionar a sua mãe? - Jenny suspirou com uma falsa
resignação e voltou a desenhar. Não era lindo que ele tenha contado à mãe sobre a
sessão de retrato? - Você tem um rosto ótimo mesmo, sabia? - Ela não conseguiu
deixar de acrescentar. Era verdade. Depois de desenhar o fundo, Jenny finalmente
podia se concentrar na parte que se esforçara para evitar: o rosto de Julian. - Muito
expressivo.
- As meninas gostam do nariz quebrado. - disse el meio timidamente. - Elas pensam
que eu sou durão.
Jenny soprou um fio de cabelo dos olhos.
- E você é?
- Depende de sua definição.
- Acho que ser durão significa... - Elas afastou o lápis do papel por um minuto para
pensar. Podia sentir os olhs dele percorrendo seu rosto. - Significa não ter medo de se
fazer de bobo.
- Então eu sou o Rambo e o Exterminador do Futuro num só. - Julian riu. - Sou famoso
por me fazer de bobo várias vezes e me divirto muito com isso. - Ele tinha um ótimo
riso de pateta - sua boca se abria tanto que praticamente dava para ver que operou as
amígdalas. - De imediato, ela retirou a folha que operou do bloco e começou um novo
desenho. Ela precisava desenhar aquela gargalhada - como fazia todo o corpod ele
tremer de alegria, de prazer, de puro deleite por estar exatamente onde estava,
naquele exato momento. Jenny podia ler tudo na linguagem corporal dele e estava
decidida a tentar capturar isso no papel. Ela pensou novamente na tarefa que a Sra.
Silver lhes dera: revelar alguma coisa da personalidade do modelo. Ela queria que
todos olhassem o retrato de Julian e pensassem: É isso, esse cara é assim mesmo!
- Humm, se importaria se eu desenhasse você rindo? - perguntou Jenny, meio
insegura. - Quer dizer, não precisa ficar rindo o tempo todo nem nada... Mas se puder
tentar, seria ótimo.
- Primeiro quer que eu sente nessa cadeirinah de bebê, e agroa quer que eu pose
rindo? - Julian olhou para ela incrédulo, parecendo, no entanto, se divertir. - Você não
me disse que ia ser tão difícil. - E então ele riu novamente e o lápis de Jenny voou no
papel. - Vai ter que me contar umas piadas boas.
Ela gemeu.
- Sou péssima com piadas. Sempre estrago todas.
- Bom - zombou Julian -, se ser durão significa não ter medo de se fazer de bobo...
Uma risada irrompeu da garganta de Jenny. A energia dele era contagiante.
- Tudo bem - disse ela, o cérebro procurando recursos para o tipo de piada espirituosa
e criativa que pudesse impressionar JUlian. Nada. - Tá legal. O que é, o que é?
Ele deu uma gargalhada e o som dos dois pareceu subir ao teto e encher toda a sala.
O tempo passou rapidamente e só quando Julian se levantou e se espreguiçou pela
quarta vez, e fez aquela cara engraçada e maravilhosa para Jenny rir pela milionésima
vez, ela percebeu, chocada, que tinha perdido a reunião das Garotas da Waverly.
OwlNet -------------- Caixa de Entrada de E-mail
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De: TinsleyCarmichael@waverly.edu
Para: JulianMacCafferty@waverly.edu
Data: Quinta-feira, 10 de outubro, 20:55h
Assunto: Oiêêêê!
J,
Não recebeu meu e-mail? Vai bancar o difícil? Bom, tudo bem. Está dando certo...
T
25-UMA WAVERLY OWL SABE QUE OS SEGREDOS PICANTES DEVEM SER
PARTILHADOS.
Callie bocejou e tentou se animar para sair do pufe aconchegante, mas a vodca que
tinha bebido durante a reunião das GdW deixou seus membros pesados e ela
rapidamente deistiu. Heath, como prometera, tinha levado presentes- neste caso, três
garrafas de Stoli, embrulhadas em moletons na mochila. Para o grande prazer das
damas, ele ficou com a peruca loura e disse a todas que era a nova aluna de
intercambio sueco, Ingá. Sempre havia alguma coisa bizarra em jogadores de futebol
americano usando o Halloween como desculpa para se vestir de lideres de torcida e
enfiar balões por baixo do suéter, mas Heath foi uma Ingá natural, com suas roupas de
homem normais e a linda cabeça com cabelos louros compridos que ele ficava
afagando durante a reunião. Ás 21:10h, pouco antes de Pardee geralmente começar a
fazer sua ronda antes do toque de recolher, a reunião das Garotas da Waverly se
dispersou, as meninas saindo relutantemente de seus confortáveis pufes.
- Senhoras. – Heath se curvou graciosamente, o cabelo da peruca quase tocando o
chão. – Foi um autêntico prazer.
- á limpo.- Brett tinha todo o tronco para fora da janela aberta de Kara. Ela se içou de
volta e tomou ouro gole de chá não-tão-inocente. – Tem que sair daqui.- Para surpresa
de todas, ela lhe deu um abraço rápido de bêbada antes de enxotá-lo sem a menor
cerimônia para a janela. Callie ergueu uma sobrancelha. Desde quando Brett
Messerschimidt se dignava a tocar no desprezível Heath Ferro?
Depois que Kara fechou a janela após a saída de Heath, as outras meninas
começaram a seguir pela porta, ainda zumbindo de excitação e meio tontas. O tema
da discussão da noite foi o amor e todas tiveram algo a dizer, em especial quando
suas línguas se soltaram com a vodca de Heath.Mas na maior parte da reunião Callie
só ficou aninhada em seu pufe e acalentou a limonada batizada Country Time. Era
ótimo que Rifat, Benny e Sage pudessem falar de suas paixões, amores, mágoas e
tudo, mas Callie não estava exatamente em condições de dividir o que acontecia com
ela, por mais relevante que fosse para o tema em questão suas atuais idas e vindas.
- Vamos, garota?- Benny chutou o pufe de Callie com o pé com meia e riu, o cabelo
castanho espesso e perfeitamente brilhante elegantemente atrás de suas pequenas
orelhas com brincos de diamante. Mesmo quando estava bêbada, Benny nunca
transparecia. Ao que parece, era um dos benefícios genéticos de ser praticamente
descendente da aristocracia. – Você precisa sbir e se cuidar.
Calie suspirou fundo e tentou se colocar de pé, mas o quarto começou a girar de
imediato como um carrossel do mal e ela afundou de novo no pufe. Ela pousou as
costas da mão nos olhos e desejou que todas só sumissem dali. Espiou por entre os
dedos para ver se Benny ia incomodá-la mais, mas ela já estava indo para a porta.
Callie não conseguiu deixar de lamentar um pouco por estar atordoada e combalida.
Brett e Kara estavam paradas á porta, as cabeças unidas, cochichando. Que
ótimo.Deviam estar reclamando de sua embriaguez, de que iam ficar presas com ela.
Piranhas. Mas depois Brett lhe abriu um sorriso que parecia sincero e desapareceu
porta afora.
Callie fungou infeliz e percebeu pela primeira vez um fio puxado nas meias cinzas.
- Merda. – Ela passou o dedo no fio, perguntando-se se foi de ficar sentada naquela
baia fedorenta no estábulo. Uma onde quase insuportavel de desejo a inundou ao
penar que algumas horas antes ela estava a sós com Easy e ela só o deixou beijá-la
quando eles se despediram. Foi preciso um autocontrole quase sem precedentes da
parte dela e Callie sabia que se atiraria nele e o devoraria de beijos se ele estivesse ali
agora.Por que ela segurou isso por tanto tempo, caramba? Ele estava apaixonado por
ela- finalmente. E ela o amava. Por que mais alguma coisa deveria importar?
- Que foi?- Kara, que tinha se abaixado para pegar no chão uma lata de Dixie vazia,
levantou-se e olhou inquisitivamente para Callie, as bochechas rosadas de álcool.
Callie não percebeu que estava pensando alto, mas, depois de perceber, era como se
um lacre tivesse se rompido.Embora sua língua estivesse lenta, ela não conseguiu
reprimir.
Callie cruzou as pernas de novo para não poder ver mais o fio puxado.
- Sabe como é.Por que o amor não basta?Tipo assim, por que as outras coisas
importam tanto?
Kara assentiu lentamente. Callie sentiu um toque se afeto por Kara por não a olhar
como se ela fosse louca, ignorando sua voz de bebum e ouvindo o que ela dizia. era
um amor da parte dela. Ela era um amor.
- como assim? Que outras coisas? – perguntou Kara.
- Sabe como é- repetiu Callie, recostando-se no pufe, gostando do barulho do recheio
de feijão, ou seja lá o que tinha lá dentro, que se mexia para acomodá-la. É mais
assim, pensou ela bêbada.- Todo esse negocio de esconder o que se sente de
evrdade...E ficar se esgueirando por ai. Só para não magoar as pessoas...Quando só
o que você quer é amar. – Ela se sentiu agitando os braços, mas eles pareciam se
mexer por conta própria, sem nenhum sinal de seu cérebro.
Kara desabou no pufe ao lado de Callie e pos os cotovelos nos joelhos. Vestia uma
bonita túnica chocolate sobre uma saia preta e curta e meia-calça
- Perai, do que exatamente você está falando?
Callie tirou uma mecha de cabelo do rosto.
- Hummmm, você meio que tem que prometer não contar a ninguém.
Os olhos castanho-esverdeados e simpáticos de Kara pareceram sorrir enquanto ela
assentia solenemente. Ela lembrava a Callie, um pouco, uma menina que foi sua
grande amiga na segunda série.Alena qualquer coisa. É, a Alena era legal.
- Eu juro.
Callie baixou um pouco o queixo, a cabeça começando a parecer pesada.
- Bom...Easy e eu meio que estamos nos vendo de novo.
A boca de Kara formou um O de surpresa.
- Uau.- Ela soltou o ar com ruído.Cruzou os tornozelos e Callie teve um vislumbre da
pulseirinha no tornozelo- uma ritinha de couro gasto com um pingente da paz.
- Quer dizer, sei que é uma merda e tanto- continuou Callie rapidamente.- Por causa
da promessa que eu fiz a Jenny e tudo...Que eu pretendia cumprir. – Ela passou as
unhas compridas no couro cabeludo.- Mas é tão difícil.Eu ainda o amo. E será que eu
devia, sabe como é, lutar contra isso ? Para sempre?
Ela se imaginou como uma designer de interiores com trinta e poucos anos ou uma
editora importante em Nova York, dona de seu próprio apartamento ostentoso, tendo
salões e soirées semanais onde estrelas de cinema, escritores e artistas exóticos e
brilhantes iam beber e paquerar. Então, um dia,o faminto e maltrapilho artista Easy
apareceria na sua porta e lhe diria que ainda a amava. E ela devia dar o fora nele
mesmo assim? Isso não era justo.
- Não- respondeu Kara enfaticamente, surpreendendo Callie. Ela não sabia bem por
que estava desabafando com Kara, quando Kara e Jenny eram muito amigas. Mas
alguma coisa em Kara(talvez o fato de ela parecer sofrida, quem sabe?) compelia
Calie a se abrir. Isso e a vodca. É obvio. – Quer dizer, é claro que você deve ser meio
sensível porque tem muita gente envolvida.- Ela deu de ombros.- Mas se você está
apaixonada...Isso sai de controle, né?Ninguém escolhe por quem se apaixonar. E não
é motivo para se envergonhar, é?
- De jeito nenhum.- Callie assentiu. Ergue a garrafa de chá gelado e elas fizeram um
brinde bêbadas, as duas rindo.- Não existem muitas coisas verdadeiras no mundo,
sabe? E o amor é uma delas- disse ela com a voz arrastada, parecendo uma cantora
de pop briga ou uma bêbada de carteirinha.
- Sabe uma coisa...- Kara deu um pigarro depois de tomar um gole da bebida.- Eu
meio que...estou vendo uma pessoa também.
Foi a vez de Callie focar chocada.
- Só não me diga que é Haeth Ferro, ta bom? – Heath tinha sentado ao lado de Kara a
noite toda, meio que a encarando com os olhos esbugalhados, como se a estivesse
imaginando nua. Porque se ela ia ouvir Kara dizer estar apaixonada pelo esquizóide
do Heath, ela ia vomitar. Oque, deve- admitir, ela provavelmente faria muito em breve
de qualquer forma.
Kara riu.
- Não é o Heath. Mas vai me prometer não contar a ninguém também, está bom? Quer
dizer, seria muito...estranho se isso vazasse.
Callie assentiu tão enfaticamente quanto permitia seu estado de bebum.Seu estômago
já começava a gorgolejar e ela sabia, infelizmente por experiência própria, que depois
que se começava a pensar em vomitar, isso significava que o vomito não estava num
futuro distante.
- É, hummm...A Brett.
GdW era mesmo um nome perfeito.
26 - UM EX-AMIGO PODE SER O ALIADO MAIS VALIOSO DE UMA
WAVERLY OWL.
Brandon heistou do lado de fora da porta de Easy Walsh, sem ter certeza se devia
fazer isso. Ele odiava profundamente Walsh - pelo modo como ele rondou feito um
abutre no ano passado e roubou Callie dele, depois pelo modo como ele jogou Callie
de lado assim que a lindinha da Jenny Humprey apareceu, e pelo modo como ele
agora estava dispensando Jenny. Ele odiava tudo nele, inclusive seus jeans sempre
tão perfeitamente sujos de tinta como que para lembrar a todos no mundo que ele era
um artista. Tudo nele era tão espontâneo - e isso deixava Brandon completamente
maluco.
E no entanto les tiveram um cessar-fogo quando Brandon esbarrou com ele no bosque
no início da semana. Walsh realmente pedira seus conselhos - como se nem tivesse
conhecimento do fato de que Brandon esperava pelo dia em que ele seria expulso
para poder lhe dar adeus alegremente e para sempre. Se Walsh podia ser evoluído e
pedir a opinião de Brandon sobre alguma coisa, então, bom, Brandon não ia deixar
que ele fosse o único maduro na história. Resolutamente, ele bateu na porta.
- sim? - gritou uma voz abafada e distraída de dentro. Brandon abriu a porta e parou
na entrada, sem jeito. Easy estava deitado de costas na cama desfeita, as mãos em
concha sob a cabeça, olhadno o teto. Brandon, por reflexo, olhou para cima para ver
se havia alguma coisa lá - um pôster sujo, ou talvez um daqueles adesivos de estrelas
que brilham no escuro, mas não havia nada.
- Ei. - Brandon tossiu. - Está ocupado?
- Cara, eu pareço ocupado?
Brandon se empertigou, mas Easy virou a cabeça de leve e lhe deu um meio-sorriso.
Se ele estava surpreso por vê-lo ali, não havia sinal em seu rosto. Felizmente o colega
de quarto maconheiro de Easy, Alan St. Girard, não estava lá, provavelmnete com a
nova namorada, Alison Quentin, que também era boa demais para ele.
- Bom, cada um funciona de um jeito. - Brandon deu de ombros, tentando parecer tão
despreocupado quanto Easy.
- Mas não estou fazendo nada mesmo. - Easy rolou de lado, apoiando-se num
cotovelo. Estava com os indefectíveis jeans cheios de tinta e uma camiseta que
antigamente - mas muito antigamente mesmo - devia ser branca. A gaita de Bob Dylan
guinchava na estação de som do iPod branco - O que é que tá pegando?
- Sei lá. - Brandon tirou um caderno de uma cadeira e o colocou com cuidado na mesa
abarrotada, depois se sentou. Isso era totalmente doido. Ele ia pedir um conselho a
Walsh sobre mulher? - É aquela... garota. Ela está me deixando pirado.
Easy assentiu devagar.
- Aquela da festa? A de jaqueta de couro? Libertem o Tibete?
Brandon sentiu o peito inchar de orgulho.
- É a Elizabeth. Ela é incrível, mas ela meio que complica as coisas, entendeu? -
Brandon brincou com o punho da camisa listrada Banana Republic. - O caso é que ela
meio que gosta de... Ela é, tipo assim, um espírito livre. Aquele papo de não-quererse-
prender.
- E você quer meu conselho? - Easy esfregou a nuca, parecendo meio surpreso.
Brandon mordeu a face interna da bochecha.
- Bom, é. Eu gosto dela. Quero ficar com ela. Mas não quero perseguir a garota nem
nada.
- Bom, se lea é parecida comigo, então você precisa deixar que ela seja quem é. -
Easy se sentou e colocou os pés no chão. As duas meias brancas tinham buracos
imensos nos dedões. Os pais dele não mandavam pacotes com meias novas para ele
no Natal, como todo mundo fazia? Mesmo que naõ mandassem, era tão difícil assim
comprar você mesmo umas meias?
Brandon desviou os olhos das meias de Easy. Exataminou o quarto, contando cinco
copos de café do Maxwell Hall - ele os erconheceu pela corujinha marrom no fundo
branco. Ou Easy ou o colega de quarto tinha problemas com cafeína; E os dois tinham
problemas com higiene. Ele tentou se concentrar no que Easy dizia.
- É claro que eu não quero que ela deixe de ser quem ela é... Só quero ficar com ela,
sabe ocmo é, sendo ela quem é.
- Então, beleza. Parece que você tem que, tipo assim, ficar frio. Não pressione.
Pessoas como eu ficam na defensiva quando os outrros tetam nos mudar. - Easy deu
um enorme bocejo, revelando as duas obturações de platina nos molares. - Mas
depois que se está apaixonado, mesmo que seja como eu ou Elizabeth, a pessoa
pode estar disposta a mudar. Você só precisa chegar lá primeiro.
Brandon assentiu devagar.
- Isso faz sentido. - Esta sem dúvida foi a conversa mais longa que teve com Walsh.
Talvez ele naõ fosse uma pessoa tão horrível assim. Ele parecia bem legal, disposto a
ajudar. Talvez ele fosse melhor dando conselhos sobre mulheres do que seguindo os
próprios ocnselhos. - Vou dar tanto espaço a ela, que ela nem vai saber o que fazer
com ele. - Talvez desse certo. Ele não vinha tendo muita sorte com as garotas
sozinho. Talvez, com a filosofia de amor de Walsh, ele chegasse a algum lugar.
- Xbox? - Easy pegou um controle e assentiu para a televisão.
- Não, obrigado, tenho uma parada para fazer. - Brandon se levantou. - Mas...er,
obrigado. Me ajudou muito. - Ele percebeu que queria mandar um e-mail para
Elizabeth nada exagerado, só um bilhetinho para ela saber que ele entendera o que
ela disse e que por ele estava tudo bem. Por que não, ora? Ele era o Sr. Mente
Aberta.
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SaveFrancis: Esquisito, hein, que a Tinsley não estivesse nessa reunião também?
Acho que ela nem sabia da birita.
AlisonQuentin: Eu definitivamente bebi demais. Teria sido bom dividir!
SaveFrancis: Nem acredito que temos outra festa amanhã.
AlisonQuentin: Fala sério. Como é que a Tinsley conseguiu isso??
SaveFrancis: Acha que ela deu alguma coisa em troca a Marymount?
AlisonQuentin: Eca! Não me faça vomitar!
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JennyHumprey: Como foi a reunião Desculpe, eu perdi... Fiquei distraída no ateliê.
BrettMesserschmidt: Bom, a vodca do Heath não foi nada mal...
JennyHumprey: A festa do Cinephiles parece legal, né?
BrettMesserschmidt: Claro, a não ser pelo faot de que o show é de Cruela Cruel.
Que parece estar sumida esta noite.
JennyHumprey: Talvez ela tenha achado um idiota para perturbar. Coitado!
BrettMesserschmidt: É. Vou ver se Kara precisa de ajuda na faxina.
JennyHumprey: DIVIRTA-SE!
27- UMA WAVERLY OWL IMPACIENTE SE DISPÕE A TOMAR OS
PROBLEMAS NAS PRÓPRIAS MÃOS.
De todas as coisas que Tinsley Carmichael fez na Waverly- muitas envolvendo álcool,
algumas envolvendo drogas, quase todas envolvendo meninos- nem uma só vez ela
entrou num quarto de alojamento masculino- ou, pelo menos, não sozinha. E
certamente não no quarto de um calouro, nem quando ela era uma caloura. Mas
momentos de desespero pedem medidas desesperadas. Lá pelas nove horas,
enquanto a reunião cola-velcro estava rolando, Tinsley vestiu jeans Citzens escuros e
seu casaco preto e grosso Patagonia por sobre a camiseta fina e branca, fechando
todo o zíper para poder meio que sumir no escuro, o seu manto da invisibilidade.
Enquanto saia pela janela, com as botas de caminhada de couro vegetal que raras
vezes usava(presente de Natal do pai vegetariano) afundando suavemente na terra
protegida com palha, ela sentiu um arrepio de excitação. Tudo bem, então ela não
precisava exatamente se esgueirar pela janela, uma vez que nem era ainda o toque de
recolher...Mas as coisas ficavam muito mais empolgantes quando ela sentia que
estava sendo anticonvencional.
O Wolcott, o alojamento masculino dos calouros, ficava na ponta do Richardson e
Tinsley se sentiu duplamente maravilhada consigo mesma por não só invadir um
alojamento masculino, mas por escolher um de calouros em detrimento de todos os
outros veteranos mais encorpados que certamente estariam mais do que dispostos a
abrir as janelas para ela. E foi meio por isso que ela ficou ainda mais excitada com o
fato de que estava invadindo para ver Julian quando, por um motivo qualquer, ele não
apareceu para vê-la nas duas ultimas vezes- ela achava que ele, bom, meio que a
entenderia. Ele sabia que ela estava ficando morta de tédio e estava fazendo um
desafio a ela.
Ela parou do lado de fora da janela dele e tentou espiar, incapaz de olhar por sobre o
peitoril. Uma luz estava acesa e a cortina meio puxada. Tinsley quebrou um galho fino
de uma árvore próxima e ficou na ponta dos pés, batendo gentilmente no vidro. Uma
cara apareceu e a janela se abriu- mas não era Julian.
Era um cara tosco de cabelo seboso que claramente tentava parecer mais adulto
deixando a barba crescer. Infelizmente, o rosto dele não estava preparado para o
desafio e sua barbicha mal passava de uma penugem. O queixo dele caiu ao vê-la.
- Mas o que...- Depois seus olhos se iluminaram.- Ei? Você é...Eiiii!
Ele de repente foi interrompido por Julian, que o jogou de lado e olhou pela janela. Ele
parecia aturdido, para dizer o mínimo.
- Oi. Que foi? O que você está...fazendo aqui?
Não era bem a reação que ela esperava. Tinsley se endireitou, sentindo-se um tanto
ofendida. Talvez ela devesse trazer de volta o colega de quarto- embora fosse meio
bobalhão, pelo menos ficou siderado ao vê-la ali. Tinsley recuou um passo.
- Pensei em dar uma passadinha- respondeu ela friamente. – Mas se estiver ocupado,
não se preocupe. Vejo você e outra hora.
Um sorriso se espalhou pelo rosto de Julian.
- Eu não quis dizer isso.- Ele olhou por sobre o ombro e depois se curvou para frente.-
Olha, entre pela janela do canto, está bem? Um cara foi embora essa semana e o
quarto está vazio. Eu te encontro lá, tipo assim, em dois segundos, ta legal?
Tinsley deu um sorriso amarelo.
- Ta legal.- Ele sem duvida ia ter de dar uns beijos e uns amassos depois dessa
recepção. Mas ela não pôde deixar de se sentir excitada por estar se esgueirando pela
parede e contando quatro janelas. Quase de imediato, a janela se abriu e Julian
estendeu a mão para ajudá-la a pular para dentro.
- Obrigada. – Ela tirou a poeira dos jeans enquanto avaliava o quarto escuro. Estava
totalmente vazio, a não ser pelos móveis do alojamento que compunham todo quarto:
mesa, cômoda, mesa de cabeceira, cama. – Esse cara foi expulso?
- Não.- Julian sacudiu a cabeça e, para decepção de Tinsley, pegou a cadeira e se
sentou. Se ele queria brincar desse jeito, tudo bem. Ela subiu na mesa e deixou que o
pé ficasse pendurado fora do alcance dele. Por que ele não voou em cima dela? Ele
estava de sacanagem? Desde quando os calouros tinham esse tipo de habilidade? Ela
ficou meio confusa, mas também decidida a não ceder e perguntar o que estava
havendo. Se ele a agir como se não ligasse, então ela podia fazer o mesmo.- Foi uma
coisa meio esquisita...Acho que a namorada dele voltou para casa, em Montana ou
coisa assim, e sabe como é, eles falavam todo dia o tempo todo. – Julian reclinou a
cadeira sobre os dois pés. – Acho que ele fugiu para casa duas vezes esse ano. Um
dia ele foi embora. Voltou para Montana,eu acho.
- Por causa de uma garota? – perguntou Tinsley incrédula, erguendo as sobrancelhas.
Sem dúvida o cara parecia um mané.Mas ainda assim...Era uma história meio doce.
Ela balançou a perna num arco amplo, tentando roçar em Julian.Mas ele estava fora
do seu alcance.- Ela deve ser uma gata e tanto.
Ele riu.
- Existem outras coisas além da beleza.
Tinsley fingiu ficar chocada.
- Tipo o quê?
- Sei lá.- Julian bocejou e se levantou.Parecia ansioso, como se não conseguisse
decidir o que fazer de si mesmo. Ele andou até o armário e abriu a porta, espiando seu
interior vazio.- Tipo assim, bom, é legal ter alguém com quem a gente possa falar á
vontade.- Ele entrou, pôs a mão no trilho de cabide e curvou os joelhos como se fosse
fazer flexões. – Tem alguma coisa muito...sexy em só conversar com uma garota.
- Cinversar é sexy- concordou ela.Então essa distancia toda era por isso. ela ficou
surpresa por não ter pensado nisso antes. Julian queria conversar mais. Ela pensou
nas últimas vezes que eles se viram e percebeu que tinham sido fisicamente
agressivos- eles não conseguiram tirar as mãos um do outro. O alivio inundou suas
veias. Ela sabia qual era o problema e podia corrigir. Ao que parecia, ele era um
daqueles cara em mil que preferiam conversar a se agarrar. Ou pelos menos
conversar e depois se agarrar. Bom, era o que eles estavam fazendo agora, não era?
Tinsley soltou um pequeno suspiro de felicidade e baixou as costas na mesa,
deitando-se e olhando pela janela o céu azul-escuro da noite.- O que mais é
importante para você? Numa garota, quero dizer?
Julian saiu do armário e expirou pensativamente, depois se curvou para amarrar os
cadarços do tênis. Quando se levantou, o rosto corado.
- Ela tem que ser capaz de me fazer rir...E não pode ter medo de se fazer de boba.
Ela sorriu timidamente para ele. Ele tentava dizer alguma coisa a ela, falando que
estava interessado num amenina que não tinha medo de se fazer de boba- talvez, que
ela precisasse se atirar em cima dele pela primeira vez. Ela içou da mesa, sentindo-se
quase tonta e indagando se talvez fosse uma boa idéia tornar seu relacionamento
público. Ela andou até ele devagar, desfrutando de como ele olhava seus quadris que
balançavam de um lado a outro.Agora sim.
Conversar e rir era ótimo e tudo, mas defitivamente havia outra parte em um
relacionamento.
Quando ela estava prestes a estender os braços e atirá-los no pescoço dele, uma
sirene horrível e penetrante rompeu o ar da noite, fazendo-os se separar num
salto.Tinsley olhou incrédula a luz vermelha que piscava no canto do quarto- o alarme
de incêndio.O cheiro acre de pipoca queimada de repente atingiu suas narinas.
- Merda. – Julian a empurrou para a janela.- Tem que sair daqui...agora.
-Um beijo antes de ir.- Ela passou uma perna pelo peitoril, esperando. Por sobre o
guincho estridente do alarme de incêndio, podia ouvir o som dos calouros ruidosos
disparando pelo corredor. A qualquer momento estariam lá fora e seria tarde demais.-
Rápido- sibilou ela.
Julian colocou os lábios nos dela para um beijo ligeiro mas, antes que pudesse se
afastar, ela o beijou apaixonadamente, segurando seu pescoço com a mão. Depois de
alguns segundos ela se afastou, satisfeita, e pulou para o chão. Disparou dali, olhando
para trás para ver se ele a observava partir.
Infelizmente, ele não olhava.
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De: BrandonBuchanan@waverly.edu
Para: ElizabethJacobs@stlucius.edu
Data:Quinta-feira, 10 de outubro, 21:20h
Assunto: Aconteceu naquela noite?
Elizabeth,
O clube de cinema da Waverly vai fazer uma projeção ao ar livre de Aconteceu
naquela noite amanhã ás sete da noite na fazenda Miller, em Rhinecliff. Não sei se
pode sair do campus, mas seria muito divertido se você fosse.(pipoca, filmes antigos e
cerveja- o que mais podemos pedir?)
Sobre o que você estava dizendo hoje- eu entendi onde queria chegar. Só gosto de
ficar com você e estou feliz em fazer isso nos seus termos ou quaisquer termos. Pode
me chamar de Sr.Aberto!
Espero que possa ir amanhã...
Brandon
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BrettMesserschimidt: Eu te mandei a foto. Já abriu?
HeathFerro: Claro que sim! É um belo close- mas nem consigo saber que partes do
corpo são.
BrettMesserschimidt:Como é, não gostou??
HeathFerro:Tá brincando? Adorei! É a coisa mais quente que já vi- depois de vocês
duas, em pessoa. Vai me dar uns bons sonhos esta noite.
BrettMesserschimidt: Ótimo. Pode esperar por mais, desde que mantenha a boca
fechada.
HeathFerro:Prometo,prometo, prometo.Mas me diz uma coisa: isso é um umbigo?
28- UMA WAVERLY OWL JAMAIS SE ABALA COM UMA CRITICA
Hoje eu tenho uma surpresa para vocês, meus meninos- anunciou a Sra.Silver no
inicio da aula de desenho na tarde de sexta.- Todos os trabalharam tanto, então em
vez de ter uma aula comum, vãos fazer um exposição. Levante as mãos quem esteve
trabalhando...digamos, nas três coisas preferidas que fizeram nas ultimas
semanas...para que todos possamos ver como você é talentoso.- Seus olhos
cintilaram enquanto ela pegava um grande Tupperware na mesa.- E todos, por
favor...Peguem um bolinho!
- Ela está sempre tentando nos engordar- resmungou Alison de bom humor enquanto
pegava um bolinho de chocolate com cobertura de confeitos coloridos. Ela lambeu
uma parte do glacê no polegar. – Parece até João e Maria.
- Não acho que você precise se preocupar- censurou Jenny. Alison eratamanho PP de
roupa. Ela pegou um bolinho, sujando o dedo de glacê rosa, e botou na mesa.
- Vamos lá...Primeiro trabalho de arte, depois os bolinhos. Se não você vai sujar de
cobertura seu lindo desenho de Alan.
Alison riu.
- Este é para a aula de desenho de figura humana. Acha que podemos pendurá-los
agora?
Jenny assentiu.
- Claro. São para a aula de hoje mesmo.- Jenny folheou a pilha de desenhos na
prateleira. Uns das duas aulas de auto-retrato e outros d figura humana, misturados.
Ela escolheu um retrato em Crayola que Alison fez outro dia. E depois pegou dois dos
desenhos que tinha concluído na noite anterior: um de Julian empoleirado sem jeito na
poltrona, fingindo estar a vontade, e outro dele dos ombros para cima, a cabeça
lançada para trás numa gargalhada. Jenny sorriu só de olhar para eles.
- Como você sabia que Alan era meu tema? – perguntou Alison de repente,
desenrolando uma folha de papel de jornal fino.
- Adivinhei.- Jenny bateu com os quadris em Alison antes de ir até as paredes brancas
e manchadas, com centenas de buracos das tachas de apresentações de aulas
anteriores. Ela procurou não olhar a prateleira de Easy, com sua etiqueta com a letra
inclinada, nem se perguntar quem ele tinha escolhido como tema para o trabalho do
desenho avançado de figura humana.
Depois que prenderam seus desenhos na parede, as meninas recuaram para admirálos.
O de Alison era um desenho a carvão onírico de Alan deitado de lado, dando um
sorriso doce de chapado.
- Isso é muito bom.-Jenny tombou a cabeça objetivamente.- Ele parece tão doce.
- Ele é um doce- piou Alison a meia-voz.- Também adorei o seu. Julian parece
tão...feliz.
Depois de pegar seus bolinhos, as meninas andaram pela sala, examinando os
retratos intensivamente. Chegaram perto para olhar os golpes de pincel, ou traços,
depois recuavam para absorver o efeito global. Jenny se sentia como uma daquelas
velhas senhoras que iam a museus de arte aos pares e sempre tinham alguma coisa a
dizer sobre Monet ou Hopper. Á medida que o açúcar do bolinho corria por suas veias
e ela e Alison parabenizavam os colegas de turma por seus retratos, Jenny sentia-se
relaxada e feliz. A Sra.SIlver tinha posto uma música do tipo Motown e isso provocava
certa agitação em seus pés.
E ela ficou sorrindo para si mesma, pensando na noite anterior, quando ela e Julian
ficaram sozinhos ali, paquerando e rindo. Deu a todo o prédio de artes uma espécie de
energia, como se ela soubesse uma coisa sobre ele que ninguém mais sabia. Só de
pensar em Julian, Jenny se sentia melhor com tudo. Ela se perguntou como teria sido
a ultima semana se não o tivesse como distração. Ele sem duvida conseguira ajudar
desviar sua mente de Easy, de Callie, de tudo, exceto como era bom estar na Waverly,
ser artista e estar viva.
- Nossa- disse Alison baixinho.- Olha só isso.
Jenny não precisou olhar a assinatura inclinada no canto para saber que a pintura
seguinte, encostada num cavalete, a tinta a óleo ainda brilhando, pertencia a Easy.
Era difícil dizer o que era exatamente. Era abstrata e certamente não era nada
parecida com nenhuma outra pintura ou desenho da sala. Jenny sentiu uma pontada
de orgulho por ele- Easy era mesmo um artista muito bom. A pintura era um
complicado sistema de redemoinhos e pinceladas grossas, de rosa, pêssego e verdes
claros em destaque, mas unidos de algum modo, formando uma espécie de retrato de
alguém ou alguma coisa.
- Ele é muito talentoso- concordou Jenny. Neste momento, uma figura familiar do Aldo
direito da tela chamou sua atenção e , como uma das senhoras do museu, ela
semicerrou os olhos e se aproximou. Era uma marca em formato de morango e fez
Jenny pensar, porém, quanto mais que se concentrava, mais a coisa escapava dela.
Ela tentou tirar todos os pensamentos da cabeça. Talvez só lembrasse a ela um
morango.
- Jenny? Venha aqui um segundo, por favor.- Ela se virou ao ouvir a voz da Sra.Silver
e viu que ela estava parada ao lado do desenho de Julian. Ela correu e a Sra.Silver
colocou a mão forte no ombro de Jenny. – Quero lhe dar os parabéns, querida. O
modo como posou o modelo destaca sua altura extrema, e como escolheu este
momento para representar...algo tão efêmero e difícil de capturar como uma
gargalhada...Bem, você o fez de uma forma extraordinária.
- É mesmo? – O rosto de Jenny ficou rosado de orgulho, emocionada por ter o
trabalho elogiado pela Sra.SIlver que, embora sempre estimulasse os alunos, jamais
insincera em seus elogios. Ela só dizia o que realmente queria dizer.
- Ah, sim, querida.- A Sra.Silver apertou seu ombro delicadamente. – E este desenho
captura verdadeiramente a conexão que você tem com seu modelo.- Ela alisou
distraidamente o cabelo grisalho e esfrangalhado,procurando um lápis atrás da orelha
que não estava ali. Concentrou os olhos azul-acinzentados em Jenny. – Também
revela que você gosta muito dele. É absolutamente maravilhoso que você consiga
traduzir esta emoção na arte. – A Sra.Silver falou com ela por mais alguns minutos,
dando-lhe sua critica formal das linhas, contraste e perspectivas. Jenny tomava notas
em seu bloco, mas seu cérebro ainda estava toldado.
O retrato que fizera de Julian revelava como Jenny gostava dele? É mesmo? Bom,
não era assim tão interessante. Ela sempre pensou que a arte era a janela para a
alma. Talvez fosse mesmo...
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Para: Undisclosed recipients
De: HeathFerro@waverly.edu
Data: sexta-feira, 11 de outubro, 13: 45h
Assunto: Aproveitem as caronas
Companheiros festófilos,
Tomei a liberdade de organizar um serviço de transporte do portão da frente á fazenda
Miller em nome da nossa graciosa anfitriã, a sempre encantadora e deliciosa Tinsley,
que tão gentilmente organizou esse evento. Bebidas completamente incluídas.
Os carros são os seguintes:
Meu- Kara/Brett/eu
Depois- Callie/Benny/Jenny/Sage
Depois-Easy/Alan/Alison/Brandon
Todos os outros fodidos sem sorte ficam por conta própria. Ei,Tinsley, quem você quer
no seu carro? Tenho um gigolomóvel extra-especial para você e seus íntimos como
gratidão por propiciar esta festa.
IAAARRUUUUUU,
HF
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TinsleyCarmicahel: Adivinha quem é o cara de sorte que vai de carona comigo no
gigolomóvel com ama d’agua que Heath arrumou?
JulianMcCafferty: Existe um carro com cama d’agua dentro?
TinsleyCarmichael: Acorda! Não ficou empolgado? Todo cara da Waverly vai ficar
babando pela sorte insana que você tem de ir comigo. Prepare-se para dar autógrafos!
JulianMcCafferty: Estou louco para ver o filme.
TinsleyCarmichael: Meu bem, garanto que não ficara vendo o filme. Você estará em
um, ao vivo! Me encontre no primeiro andar daqui a uma hora.
JulianMcCafferty: Tá legal.
29- UMA WAVERLY OWN FICA DE BOCA DE BEBUM FECHADA.
-Eeeeaaa!- Jenny gritou enquanto o carro virava uma esquina e Callie escorregava no
banco de couro, tombando em cima dela. Callie pôs as palmas da mão para cima
numa tentativa de se deter, mas terminou sem querer tateando o peito de Jenny e
derrubando nela o copo cheio de vodca. Jenny ficou rubra- ela estava feliz que ela e
Callie fossem mais próximas, mas francamente, assim também era demais.
- Desculpe, Jenny. – Callie se desembolou de Jenny, colocando no lugar a minissaia
Nanette Lepore de lã pregueada. Ela uniu os joelhos com meias de nylon pretas;
insistira em usar uma saia, embora Jenny tenha assinalado que sentiria frio e, mesmo
no banco traseiro quente da limo, Jenny viu que ela tremia.- Eu não quis cair em cima
de você.
- Está tudo bem.- Jenny limpou a vodca derramada em seus jeans escuros Paige. Ela
na verdade ficou meio feliz por não ter de preparar outra bebida – teria sido a terceira
rodada desde que saíram da Waverly.- É meio difícil de evitar.- Ela olhou os peitos,
que pareciam muito inofensivos sob o casaco com capuz e cashmere verde que
inesperadamente chegara hoje pelo correio, com um bilhete do pai lhe dizendo para
desfrutar da mudança nas folhas de outono.
- Passem a garrafa, meus amores!- Benny Cunningham bateu a ponta das botas
Sigerson Morrison douradas na panturrilha de Callie. Callie rapidamente serviu a
vodca em seu copo, derramando um pouco de lado, antes de passar a garrafa a
Benny. Jenny olhou aquelas botas douradas, pensando que deviam custar mais do
que todo seu guarda-roupa. Ele se perguntou brevemente se seriam realmente de
ouro.
Servi-se de bebida na limusine do portão da frente até a fazenda Miller foi idéia de
Callie.
- É uma viagem curta...Precisamos maximizar!- gritou ela. Só restavam alguns dedos
de bebida em sua garrafa de Kettel One e as três e Sage Francis já sentiam os efeitos.
Chicas, acho que chagamos!- vibrou Sage, secando o que restava da bebida
transparente. O cabelo louro palha de milho estava puxado para trás num rabo-decavalo
que balançava enquanto ela abria a porta do carro e as quatro tropeçavam para
a entrada de terra. Jeeny se esticou- as limusines eram sem duvidas luxuosas, mas
meio pequenas.
Ela respirou o ar fresco, que tinha cheiro de folhas queimadas e tora de abobora. O sol
já havia se posto e grupos de alunos com suéteres grossos se reuniam em torno do
que tinham de ser barris de cerveja, ou se espalhavam em mantos quadriculados na
grama dura e amarelada. Jenny alisou o cabelo- tinha feito umas tranças soltas nos
cachos compridos.
Ela se afastou do carro com cuidado, tentando avaliar o quanto estava bêbada pelo
modo como suas botas reagiam ao chão. As botas vieram com o suéter e foram um
presente de Vanessa, a namorada do irmão que agora morava no antigo quarto de
Jenny enquanto estava na Universidade de Nova York. O bilhete dizia que vinham de
uma loja de excedentes da marinha e do exercito e pareciam mesmo- eram de couro
verde-oliva escuro, com cadarço, cheias de escudos militares. Totalmente moderna e
única, exatamente o tipo de coisa que Vanessa pensaria que Jenny precisava no
internato para .mantê-la bem longe da J.Crew.. a melhor coisa nas botas era o robusto
solado plataforma de 10 centimetros. Com elas, Jenny se sentia quase alta. Ou pelo
menos não tão nanica.
Benny a cutucou nas costas.
- A cerveja deve estar por ali.- Ela apontou para o grupo reunido do lado do celeiro
vermelho e pitoresco. Mas Jenny concluiu que estava um pouquinho tonta, e assim
andou um pouco atrás das outras meninas, apreendendo o cenário. O celeiro ficava
em frente a uma grande clareira e o filme em preto-e-branco já lampejava na parede
desbotada. O efeito era bacana- Jenny nunca fora a um drive-in na vida, mas
imaginava que isto era ainda melhor. Ela localizo Alan St.Girard e Alison recostados
num dos fardos de feno que se estavam espalhados ás dezenas pela grama. Alison
estava com as pernas esticadas no colo dele, e ele colocava uma folha de feno atrás
da orelha dela. Inesperadamente, Jenny sentiu uma pontada de inveja- ela queria ter
alguém olhando para ela daquele jeito e fazendo-lhe cócegas com feno.
Seus olhos percorreram as figuras altas na multidão, surpreendendo-se de não estar
procurando por Easy, mas por Julian.
- Digam alguma coisa para a câmera,senhoras!- Ryan Reynolds surgiu do nada, uma
filmadora digital prata e reluzente, do tamanho de uma carteira, grudada na cara.
Sage franziu os lábios cheios de gloss e fez uma pose para a câmera.
- Prioridades,bobinho.- Benny pegou Sage pelo pulso e a empurrou para o celeiro,
onde a multidão em volta da cerveja era cada vez maior. – Cerveja primeiro, paquera
depois.- Ryan desapareceu na multidão, decepcionado. Jenny ficou para trás,
sentindo-se pouco a vontade. Era bom que Benny, Sage e Callie a incluíssem em seu
grupinho, e ela conseguira sentir todos olhando para elas no momento em que saíram
do carro, como se elas fossem especiais. Como se ela fosse especial. E isso era meio
legal- mas ao mesmo tempo, cadê a Brett? Ela precisava de alguém de verdade para
conversar.
Outro carro preto estacionou na entrada de terra, provocando uma nuvem imensa de
poeira. Jenny viu com alivio que eram Kara, Brett e Heath, que saíram rindo como
estudantes do primário. Heath estava com a peruca loura da outra noite e passou os
braços nos ombros das meninas, cochichando alguma coisa no ouvido de Brett que a
fez lançar a cabeça ruiva para trás e dar uma gargalhada.
- Muito bem, quem mais acha totalmente bizarro que Heath e Brett estejam grudados?
– perguntou Benny, desabotoando o blazer de hipismo de veludo preto.- Pensei que
ela odiasse o cara.
Jenny viu Callie revirar os olhos e cambalear de leve no chão irregular antes de
rapidamente se endireitar e agir como se nada tivesse acontecido.
- Humm...Não acho que ela esteja grudada com Heath, se entende o que quero dizer.
Benny e Sage trocaram olhares, mas Jenny teve de desviar a cara rapidamente. Perai
um minutinho. Callie também sabia sobre Brett e Kara? Como? E por que ela estava
tagarelando com Benny e Sage sobre isso? Bom, talvez elas não tenham entendido.
Ou talvez elas tenham atribuído isso as divagações de uma bêbada.
Mas, pela cara de Benny, ela sem duvida sabia o que Callie queria dizer.
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Para: BrandonBuchanan@waverly.edu
De: ElizabethJacobs@stlucius.edu
Data: sexta-feira, 11 de outubro, 19:09h
Assunto: Atrasada
B,
Estou atrasada e ainda tenho que tomar um banho.(Tire esse sorriso da cara...). Te
encontro na fazenda, ta?
Com amor,
EL
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EasyWalsh: Já chegou?
CallieVernon: Já. Acabo de chegar com as meninas. O filme começou, cadê você?
EasyWalsh: Dentro do celeiro, esperando você entrar.
CalliVernon: Ah,é? Bom, assim que eu puder.
EasyWalsh: Anda logo, amor...
30- AS WAVERLY OWL SÓ BANCAM AS DIFICIES ATÉ O MOMENTO DE
CEDER.
Callie começou a formar fila com Benny e Sage para pegar a cerveja, mas ficava
sendo empurrada e todos pareciam estar pisando em seus pés ( que já estavam
desconfortáveis, espremidos nas sandálias plataforma de couro Taryn Rose pequenas
demais). E depois da mensagem de Easy, sua cabeça estava em outro lugar- ela
sabia que provavelmente não devia ficar sozinha com ele depois de ter bebido, mas a
verdade era que tinha que reprimir o impulso de se jogar para cima dele sempre que
ficava com Easy. Era como se houvesse alguma coisa por dentro que reagia á
presença dele ou coisa assim.
Ainda assim, ela não estava preparada para correr no segundo em que ele a
chamasse. Ele certamente podia esperar por ela. Ela precisava curtir a festa por um
tempo, não é? Callie passou as mãos nos braços, tentando se aquecer. Olhou o céu,
azul-escuro e lindo. As poucas estrelas que começavam a surgir pareciam lascas de
gelo. Ela bateu o volume mínimo no bolso do quadril da minissaia. Antes de sair do
quarto, Callie abriu a gaveta da mesa-de-cabeceira em busca de um prendedor de
cabelo e foi confrontada pela caixa gigantesca de camisinhas que estava ali desde o
inicio das aulas. Ela comprou por impulso, na esperança de que o sexo salvasse a ela
e ao relacionamento com Easy. Mas não foi assim que aconteceu- foi preciso terminar
para salvar tudo. Esta noite, porém, ela colocou uma no bolso. Melhor prevenir do que
remediar.
Dois segundos depois de decidir deixar Easy esperar, a oitava pessoa pisou nos pés
de Callie e ela decidiu que talvez fosse um pouco mais quente- e menos apinhado,
certamente- dentro do celeiro. Ela se libertou calmamente da fila de cerveja e andou
até o canto do celeiro, fingindo procurar na bolsinha de couro vermelha Hobo por seus
cigarros. Os sons do filme e da multidão ficavam mais fracos á medida que ela seguia
para a porta do celeiro, usando a luz do celular para se certificar de não pisar em
bosta de vaca ou qualquer outra coisa nojenta que costumava haver nesses lugares.
Ela espiou dentro da porta entreaberta e viu uma luz fraca nos fundos, umas sombras
meio assustadoras projetadas nas paredes imensas. Callie tremia um pouco, em parte
pelo frio. Será que os celeiros podiam ser assombrados como as casas velhas? E
Easy estava mesmo ali, ou ela estava totalmente sozinha?
- Easy?- sussurrou ela, a voz hesitando no escuro.
- Ei!- Ao som da voz dele, o coração de Callie acelerou e ela teve que prender a
respiração quando a cabeça de Easy apareceu por sobre a lateral da ultima baia. Não
tinha percebido como estava ansiosa para vê-lo até pensar que ele não estava ali.-
Aqui.- A luz fraca desapareceu e reapareceu enquanto Easy saia da baia e parava no
final do celeiro, segurando uma lanterna.
segurando uma lanterna.
Callie foi lentamente na direção dele, os joelhos tremendo um pouco enquanto ela
pisava no chão irregular e meio coberto de feno do celeiro. Ela não sabia por que
estava tão nervosa. Talvez por que não queria que ele soubesse que ela já estava
bêbada. Talvez por que ela podia sentir sus olhos azuis observando cada passo que
dava. Ela não pôde deixar de se sentir totalmente linda sob os olhos apreciativos delede
pernas magras, saia curta demais, suéter bojudo e tudo. Seu rosto corou de prazer
ao se colocar meio metro diante dele.
- Está perdendo a festa- disse ela, só por que foi a primeira coisa que lhe veio á
cabeça.
Easy sorriu para Callie.
- Já vi filmes na vida. E bêbados- acrescentou ele, divertindo-se.
Callie olhou as maçãs do rosto de Easy que, á luz da lanterna, pareciam mais
acentuadas e definidas. Ele estava com uma camisa de flanela suja de tinta em que
ela estava morrendo de vontade de esfregar a cara, com a calça de veludo colete
caramelo e surrada que tinha um buraco se formando no joelho e um borrão de tinta
azul na coxa direita. Estava de pé a luz da lanterna no final da antiga baia, que não
tinha cheiro de cavalo nem de estábulo, então felizmente não devia ser mais usada.
Callie percebeu pela primeira vez que Easy fizera um ninho na baia. Formou um leito
grosso de feno, e um pesado manto de lã xadrez cobria tudo. Um cobertor marrom de
fleece da Waverly estava embolado num canto, presumivelmente ara que se
deitassem por baixo, e uma cópia gasta de O grande Gatsby de capa para baixo de
manto.
- Você estava lendo?- zombou Callie, tentando esconder o fato de que ficou realmente
comovida por Easy ter preparado o espaço para ela, ou melhor, para os dois. Ela
termeu de novo, embora estivesse mais quente ali dentro. Ela nem ouvia mais o filme.
- Não.- Easy coçou a cabeça, constrangido.- Só estava esperando por você.
Callie sentiu sua firmeza diminuir, mas não desapareceu completamente. Ela cruzou
os braços e tentou não olhar diretamente para Easy, como quem procura não olhar
diretamente para o sol. Doía demais.Mas então ela percebeu três rosas vermelhas no
outro canto do manto, como se esperassem por ela.
- Por que três?- perguntou ela com um bolo na garganta.
Easy sorriu.
- Sei lá. Uma dúzia parecia...piegas demais.- Ele passou a mão nos cachos
desgrenhados.- E uma não parecia ser o suficiente.- Sua cabeça estava baixa e ele
olhou para Callie através das pestanas escuras e grossas. Ela o imaginou parado na
minúscula floricultura de Rhinecliff, debatendo-se sobre quantas rosas seriam
.suficientes..
Isso era tão pouco típico de Easy.
Ela derreteu. Easy. Antes que pudesse fazer alguma coisa, Callie atirou os braços em
seu pescoço e o beijou. A boca de Easy encontrou a dela e ela enrolou os dedos nos
cachos de seus cabelos na nuca.
- Vamos deitar- murmurou ela depois de alguns minutos intensos de beijo. Eles caíram
no manto de lã e Callie se aninhou no corpo longo e magro de Easy, querendo não
estar com o suéter grosso. Não conseguia se aproximar mais dele- ela queria que as
peles se tocassem.
Como se lesse a mente de Callie, Easy brincou com o botão do suéter.
- Dá pra tirar isso?- Em resposta, Callie se sentou e beijou seu pescoço, depois
lentamente puxou o suéter pelos ombros, revelando o sutiã meia-taça Chantelle rosa
com uma minúscula tulipa preta no meio.
Ela sentiu o hálito de Easy em sua pele.
- Lindo- sussurrou ele, passando os lábios em seus ombros. Seus dedos tremiam ao
acompanhar sua clavícula.
- Ei, sua professora gostou da pintura?- perguntou ela de repente, sentando-se para
olhá-lo. Ela começou a pensar na ultima vez em que ela e Easy se beijaram. Parecia
fazer muito tempo. Quando ele disse a ela que a amava. Ele a amava. Easy Walsh
amava Callie Vernon. Seu corpo de imediato ficou arrepiado, o que ela esperava que
não fosse brochante.Ela queria que ele dissesse novamente. As coisas agora eram
diferentes, estavam nos eixos de novo, ou pelo menos mais nos eixos que antes de
eles terminarem.
Assim é que devia ser, pensou ela, na primeira vez.
- Quê? Ah.- Easy passou a mão no braço esquerdo de Callie.- Está com frio?- Ele
pegou o cobertor de fleece e atirou sobre os dois.
Callie afastou a mão dele com impaciência.
- Ela não gostou ?
As laterais da boca de Easy se contorceram no familiar sorriso torto.
- Ela adorou. Queria saber onde encontrei uma modelo tão linda.
- Mentiroso!- Callie pôs as mãos nos ombros de Easy e o empurrou para o manto.-
Sua vez. – Ela puxou os botões da camisa de flanela com impaciência. Enquanto só
há alguns minutos ela estava pensando em esfregar a cara na camisa, agora isso não
bastava- ela queria tocar a pele dele, sentir o calor de seu corpo no dela.Ele a ajudou
a puxar os botões pelas casas, sentindo a urgência de Callie.
- Ei.- Easy parou com a camisa e pegou o queixo de Callie delicadamente, olhando-a
nos olhos.-O que nós, er, estamos fazendo?
- Não me obrigue a soletrar.- Ela pegou no bolso do quadril a embalagem turquesa e
prata, colocando-a na mão dele num movimento suave.
Easy afagou o cabelo de Callie.
- É mesmo? Você está pronta e tudo?- Ela pensou que nunca o tinha visto tão feliz.
Ela atirou sua camisa dos ombros e colocou o ouvido em seu peito, onde podia ouvir o
coração de Easy quase martelando na pele. Nunca mais estaria pronta para nada na
vida.
31- UMA WAVERLY OWL NÃO DEVE SE ESFORÇAR PARA SER O QUE NÃO
É.
Brandon parou do lado de fora do celeiro, bebendo a cerveja e olhando a multidão á
procura da cabeça loura e familiar de Elizabeth. Ele recebeu o e-mail dela de que se
atrasaria, mas o filme já estava pela metade. Não que ele estivesse acompanhandoninguém
estava. A galera estava deitada em mantos, fumando cigarros e bebendo a
cerveja vagabunda de Heath reunidos ostensivamente para se aquecer. A visão de
todos os casais aninhados lhe deu mais saudade ainda de Elizabeth. Quem ia querer
ver o repulsivo do Alan St.Girard, que nunca se incomodava em fazer a barba rala e
feia, beijando a doce Alison Quentin?
E então ele a viu, parada perto dos barris, vestida com a jaqueta de motoqueira de
couro vegetal de quando ele a viu pela primeira vez, uma pashmina vermelha enrolada
no pescoço. Brandon soltou um imenso suspiro de alivio e deu o primeiro passo na
direção dela.
Só que neste momento ela se inclinou e tocou o braço do cara com quem conversava.
Ele sabia, pelo modo como a mão de luva vermelha se flexionou, que ela estava
apertando o cara. Do jeito como apertou o braço dele.
E agora ela estava fazendo isso com o merda do Brian Atherton.
Brandon contou até doze, como o pai sempre insistira em fazer quando irritado,
porque .depois de doze segundos, as coisas grandes não parecem tão grandes.. Doze
segundos vendo Elizabeth se aproximar cada vez mais daquele desprezível, lançando
a cabeça para trás ao rir, a curva branca de seu pescoço quase cintilando á luz da lua.
E tudo para Atherton, que a fitava como se ela fosse um Big Mac e ele estivesse com
larica. Brandon irrompeu para eles, sem perceber em que mantos pisava..Cuidado ai.,
gritou alguém. As pessoas riram.
De repente,ele parou. O que ia fazer, dar um murro no cara? Ele não ia se fazer de
bobo na frente de um imbecil como Atherton.Ele tentou se lembrar do que Easy lhe
dissera. Dê espaço a ela e ela virá a você. Brandon cerrou os punhos. Ele havia dito
que daria espaço. Ele sabia que não era justo mudar de idéia 24 horas depois.
Ele avançou para a dupla, ainda tremendo de raiva mas decidido a não demonstrar.
Elizabeth sorriu quando o viu e acenou a mão de luva vermelha para ele. Ela parecia
tão feliz em vê-lo.
- E ai, gato!- Ela se inclinou para ele e plantou um beijo em seu rosto, deixando para
trás o cheiro de patchouli.
- E ai, cara, o que é que ta pegando?- Atherton ergueu a palma da mão para um high
five, um sorriso idiota colado na cara que parecia dizer:.Acha que esta é a sua
namorada?. .
Brandon ignorou o high five e assentiu para o projetor de cinema.
- ouvi umas calouras falando sobre você lá atrás.
- Não brinca.- Os olhos de Atherton varreram a multidão.- Elas eram gostosas?
- Eram- disse Brandon, acanhado.- Atrás do projetor.
- Demais.- Atherton fez uma arma com os dedos e um estalo com a boca para puxar o
gatiho. Ele olhou Elizabeth de lado.- Vejo você mais tarde.
Elizabeth nem o viu ir embora. Em vez disso, colocou a mão enluvada no braço de
Brandon e apertou. A outra mão segurava uma cerveja pela metade.
- É bom te ver, gostoso.
Brandon mal conseguia ficar de pé. Será que realmente importava a ela que 30
segundos antes estivesse apertando o braço de outro exatamente desse jeito?
- É, huum, você também.Você parece estar, humm,se divertindo.- Ele tentou manter o
tom leve, mas não conseguiu reprimir a amargura.
Elizabeth olhou surpresa para ele, as bochechas rosadas do frio.
- Como assim?
Brandon esfregou os olhos, tentando se tranqüilizar. Não conseguiu.
- Atherton! Ele é um imbecil.
Elizabeth enrijeceu e rapidamente retirou a mão do braço dele. Cruzou os braços.
- Perai...Você está puto comigo? Eu ia me encontrar com você assim que terminasse
minha cerveja. O que aconteceu com o Sr.Aberto?
- Eu sei- admitiu Brandon, chutando o chão com a ponta da bota John Varvatos
engraxada.- Mas não pensei que ia ter que significar ter de realmente ver você dar
mole pra outros caras.
- Então, o que isso significa?- As sobrancelhas dela se uniram de frustração e Brandon
sabia que ela estava realmente surpresa, e magoada, que ele agisse dessa maneira.
Mas não havia outra maneira dele agir. Assim que Atherton desapareceu, também
sumiu sua coragem. Não era o que ele queria, ver a garota por quem ele era louco
babando por outro, e nem se incomodar com isso. Isso estragava tudo.
Brandon colocou as palmas das mãos frias nos bolsos do jeans Rock & Replubic.
- Acho que isso significa que o Sr.Aberto fechou.- Ele se virou e se afastou dela
32 - CUIDADO! AS WAVERLY OWLS PODEM SER CARNÍVORAS.
Brett se recostou, desfrutando da sensação dos dedos de Kara brincando em seu
cabelo. Kara estava sentada de pernas cruzadas no cobertor de algodão grosso que
Brett trouxera e a cabeça de Brett estava apoiada em um moletom embolado no colo
dela. Normalmente, ela se preocuparia com a impressão que desse, mas tinha tomado
umas cervejas e não se importava muito. Além disso, as mãos de Brett estavam
brincando com o cabelo de Heath, que estava deitado satisfeito ao lado dela, a cabeça
encostada na barriga achatada de Brett. Havia algo de muito tranquilizador em tudo
isso — é claro que era totalmente estranho que de repente Heath fosse um amigo,
mas Brett tinha começado genuinamente a gostar dele. Ele parecia totalmente sincero
quanto a guardar o segredo das duas e era meio divertido para as meninas andar por
aí com ele, deixando a todos perguntando o que diabos estava acontecendo. Era uma
cortina de fumaça bem conveniente, Brett tinha de admitir.
Não é que ela gostasse de sentir que ela e Kara estavam enganando a todos. Não era
isso. Mas era importante manter o segredo, bom, em segredo. As coisas entre elas
ainda eram tão novas — Brett tentava seguir o conselho de Jenny de só "seguir em
frente" e não analisar demais. Ela não podia fazer isso se o mundo todo, ou toda a
população da Waverly, ficasse cochichando sobre ela.
O bolso de Heath vibrou e ele sacou o telefone para ler o texto.
— Senhoras, odeio deixá-las, mas alguém está fumando alguma coisa e preciso
participar disso. —Ele claramente tinha dificuldades para tirar os olhos delas ao se
levantar. — Não façam nada sem mim. Ou, se fizerem, tirem fotos. — Ele manteve a
voz baixa para que ninguém por perto ouvisse.
— Quer que eu pegue mais cerveja para a gente?—Brett se sentou e se virou para
Kara depois de Heath partir para o milharal.
O filme bruxuleou e cortou para uma cena diurna, iluminando o rosto de Kara. Brett
viu, pelos expressivos olhos castanho-esverdeados, que ela estava se perguntando se
Brett tentava evitar ficar sozinha com ela em público. Mas só o que ela disse foi
"claro".
Sob a cobertura do moletom amassado, Brett pôs a mão no joelho de Kara e apertou
delicadamente. Num mundo perfeito, ela seria capaz de se inclinar e beijá-la ali
mesmo, sentindo o gosto do gloss de grapefruit. Brett sentiu uma dor funda no
estômago mas ignorou-a e se levantou. Olhou para Kara com o suéter preto de gola
rulê e o colete cinza da linha de atletismo da mãe. Era tão estranho olhar uma menina
e pensar no quanto queria beijá-la. — Volto já — prometeu ela.
Brett serpenteou pelo monte de gente que se esparramava pelos mantos. A multidão
que via o filme tinha diminuído um pouco, o que não era de surpreender, parecia haver
uma multiplicidade de outras diversões sem supervisão fora do campus. Como é que
Tinsley conseguiu aprovação para isso? E onde é que estava a Tinsley, aliás? Mas as
reflexões de Brett sumiram no fundo de sua mente quando ela percebeu que as
pessoas estavam meio que cochichando enquanto ela se aproximava. Será que
estavam... falando dela? Seu rosto corou imediatamente, mas ela conseguiu ir para a
fila da cerveja com elegância suficiente.
No entanto, enquanto batia a ponta do tamanco Stuart Weitzman na grama dura e
seca, ela ouviu alguma coisa na frente na fila que quase transformou seu sangue em
gelo. "A Brett? Quer dizer que ela é...gay!.
Ela ficou enjoada. A porra do Heath Ferro. É claro. Aquele dedo-duro baixo nível e
tarado degenerado. De imediato, Brett girou nos saltos e disparou para seu manto,
obviamente se esquecendo completamente da cerveja e pisando em outros mantos
sem o menor cuidado. Do nada, um Ryan Reynolds muito bêbado e cambaleando
apareceu e passou o braço em seus ombros magros.
— Acha que posso participar um dia desses?
— Vai se foder—sibilou ela, enxotando seu braço e continuando a marchar pelo
gramado, meio cega pela escuridão e pela raiva. Enfim, ela conseguiu afundar no
manto onde Kara estava sentada.
— Qual é o problema? — perguntou Kara, vendo de imediato que havia algo errado.
— Cadê o Heath?—Brett mal conseguiu pronunciar as palavras, todo o corpo tremia
muito. — Eu vou matar esse sujeito agora mesmo. Na frente de todo mundo.
Os olhos de Kara se arregalaram.
— Do que você está falando?
Brett cerrou os lábios, tentando se acalmar. Mas seu coração batia a mil por minuto e
ela só conseguia pensar em dar um murro na cara convencida e idiota de Heath.
— Ele contou a todo mundo. Todos eles sabem. Todo mundo sabe.
— Ah. — Kara olhou em volta e Brett entendeu que ela queria abraçá-la, pegar sua
mão ou fazer alguma coisa para que ela se sentisse melhor, e isso a deixou ainda
mais irritada com toda a situação. — Mas ele não faria isso.
— Bom, ele fez. — Brett passou a mão no cabelo ruivo, esquecendo-se
completamente de como foi bom sentir Kara penteando-o com os dedos dez minutos
atrás. Mas tudo mudara agora, tudo. Tudo porque o merda do Heath não conseguiu
manter a maldita boca fechada. Ele tinha de se vangloriar, não é? Contar a todo
mundo? — Quem mais poderia ser?
Kara mordeu o lábio, preocupada.
— Não sei. Talvez não seja o fim do mundo que as pessoas saibam, né? — Uma
mecha de seu cabelo sedoso caiu no rosto, escondendo parte dos olhos inquisitivos.
Brett olhou a cara doce e linda de Kara, desejando poder concordar. Ela sabia que era
tolice ficar constrangida por estar com Kara—mas a última coisa que queria era ter as
pessoas encarando-a como se ela fosse uma aberração de circo. Ela já superara o
fato de terem descoberto sobre sua família totalmente brega e, francamente, ela não
gostava de ser o centro do tornado de fofocas da Waverly. Infelizmente, parecia que
ela já estava no olho do furacão.
33 - UMA WAVERLY OWL SABE COMO SE RETIRAR DE UMA SITUAÇÃO
DESAGRADÁVEL.
— Mas a gente ia jogar "Eu Nunca". Você não pode ir! — protestou Verena Arneval
enquanto Jenny se levantava e esticava as pernas. Jenny não se sentia muito ela
mesma a noite toda, mas não sabia bem por quê. Brett, Kara e Heath pareciam estar
em seu próprio mundo e ela não queria se intrometer. Callie desaparecera há cerca de
uma hora, deixando-a para beber com Verena, Alison, Alan e um monte de gente. Era
divertido, mas... Não era assim tão divertido. O cérebro de Jenny parecia lento da
bebida e, se ela bebesse mais, ia ficar de porre.
Para não falar do desastre que tinha acontecido da última vez em que jogou "Eu
Nunca". Não, obrigada. Ela sacudiu a cabeça resolutamente, afastando-se do fardo de
feno em que estivera sentada. Jenny brincou com o capuz do suéter cinza e olhou o
filme em preto-e-branco que ainda passava na lateral do celeiro. Ela nem estava
prestando atenção, mas de certa forma parecia tão... romântico.
— Só vou andar por aí um pouco. Volto logo.—Ela ouviu a câmera de Ryan clicar ao
tirar uma foto da bunda de Jenny quando ela se afastou. Suspiro.
Jenny nunca vira realmente o interior de um celeiro, só nos filmes e na TV, então foi
para a construção, contornando grupos de pessoas que namoravam nos mantos ou
participavam de jogos que envolviam beber o máximo de cerveja morna possível.
Trechos de conversa sobre Brett e Kara e seu caso ilícito de amor chegavam aos
ouvidos de Jenny mais de uma vez. Caramba. Parecia que o segredo já era uma
fofoca à toda. Ela semicerrou os olhos, mas não conseguiu ver o cabelo vermelhobombeiro
de Brett em lugar nenhum. Ela era uma pessoa tão reservada que ia morrer
quando soubesse que seu segredo era público desse jeito.
Jenny também procurou na multidão por outro corpo familiar, mas não viu. Talvez
fosse por isso que ela se sentia tão deprimida.
Suas botas chutavam pela grama enquanto ela virou um canto para o outro lado do
celeiro e encontrou um silêncio abençoado. Os sons do filme desapareceram. Jenny
encostou-se na madeira desbotada do celeiro e olhou a lua redonda e prateada que
pendia como um globo no céu azul-escuro, meio encoberta por uns fiapos de nuvens.
Ela colocou a cabeça pela porta do celeiro, surpresa ao ver dois pontos de luz
vermelha no fundo. Curiosa, ela semicerrou os olhos de novo, sem ter certeza do que
procurava.
A medida que sua visão melhorava, duas coisas aconteceram no mesmo instante: as
nuvens moveram-se, deixando que parte da luz da lua brilhasse em cheio no celeiro,
iluminando seu interior, e um dos pontos vermelhos se mexeu. Era Callie, de pé na
última baia, um cigarro na mão, os ombros perfeitos e nus cintilando ao luar. A parede
da baia escondia o resto do corpo, mas não era difícil adivinhar pelos ombros nus que
ela não devia estar com um tomara-que-caia.
Foi então que Jenny percebeu que o outro ponto vermelho pertencia ao cigarro de
outra pessoa. Easy.
Suas mãos começaram a tremer e lágrimas instintivamente inundaram seus olhos
quando ela percebeu o que devia saber o tempo todo: eles estavam juntos de novo. E
então, num lampejo de discernimento, ela viu a pintura abstrata de Easy na aula de
artes de hoje. Aquela forma de morango que parecia tão familiar a Jenny era a marca
de nascença na parte inferior das costas de Callie, uma coisa que só alguém que a
vira recentemente de biquini, ou de sutiã, ou sem nada teria sido capaz de retratar
com tanta perfeição. Ela sentiu o lábio inferior começar a tremer. Eles estavam juntos
de novo, mas o pior não era isso. Callie mentira para ela. Ela pensou que elas eram
amigas de verdade, mas ela estava tão... enganada.
Jenny girou e se afastou do celeiro rapidamente, para longe da festa. Não tinha
certeza de aonde ia exatamente, mas sabia que tinha de sair. Estava cansada de
beber cerveja e participar de jogos idiotas e ter gente que ela pensava que era amiga
mentindo para ela.
Enquanto seguia em frente, uma imagem horrível de Easy e Callie lhe veio à mente,
dos dois, rindo dela, por acreditar que eles todos eram amigos. Ela quase podia ouvir
Callie dizendo, "Nem acredito que ela realmente achou que você gostava mais dela do
que de mim". Jenny tropeçou em alguma coisa no chão—um sabugo de milho. Ela o
chutou com força, fazendo-o voar e bater com um baque satisfatório numa espécie de
silo de metal na frente dela.
— É melhor ver onde está mirando. Pode machucar um espectador inocente. — Jenny
ergueu a cabeça e seu coração quase parou na garganta. Julian. Estava sentado
numa espécie de banco de tronco ao lado do silo, um copo de cerveja vazio nas mãos.
Uma sensação incrível inundou todo seu corpo—aquela sensação maravilhosa e
inesperada que aparece quando, totalmente do nada, você recebe uma coisa que nem
percebeu que queria, precisava ou desejava. Como nessa manhã, quando Jenny abriu
o pacote do pai e pegou um Tupperware de muffins de chocolate e abóbora da padaria
da Amsterdam Avenue que muito possivelmente eram as coisas mais deliciosas e
reconfortantes do planeta.
Mas isso não se comparava ao que sentiu quando Julian apareceu diante dela,
sozinho, justo quando ela pensava que as coisas estavam no fundo do poço. Era por
ele que Jenny procurara a noite toda.
— O que está fazendo aqui fora?—perguntou Jenny, de repente aturdida com a
velocidade dos acontecimentos. Ela acabara de ver o ex-namorado, o namorado que
pensou que talvez amasse, nu com a ex-amiga, a colega de quarto que fez um pacto
de que as duas superariam Easy para sempre. Do que adianta fazer pactos? Ela
estremeceu para se livrar da sensação desagradável de que ela foi enganada numa
trapaça imensa. — No escuro?
Como sempre, ele tinha uma resposta pronta.
— Dei um tempo para mim mesmo.
Jenny riu.
— Quer dizer que está escondido? — Por algum motivo, ela sempre sentia o impulso
de ser ousada com Julian. Era como se uma parte de seu cérebro, que naturalmente
evitava que a boca dissesse a primeira coisa que lhe vinha à mente, de algum modo
fosse desligada. Mas ao mesmo tempo Jenny tinha a sensação de que ele não se
importava.
— Bom... —Julian se interrompeu. Apertou o copo de plástico nas mãos, esmagandoo
com ruído. Por fim, ele suspirou. — Mais ou menos. — Depois ele deu um tapinha
ao lado convidativamente e ela se sentou, sabendo muito bem de que não devia
perguntar de quem ele se escondia.
Sentados ali no banco, Jenny ficou totalmente ciente de como sua perna estava perto
da dele. Só uns 2 centímetros de ar os separavam. Nenhum dos dois disse nada por
alguns segundos, ouvindo os sons fracos do filme ao longe. Estranhamente, não era
nada desagradável.
Por fim, Julian falou, o hálito visível no escuro.
— Esse é um lugar bem legal. Eu só queria, sabe como é, que não fosse tipo um...
circo. — Seu cabelo castanho-alourado e meio comprido estava enfiado atrás das
orelhas, roçando nos ombros do casaco de fleece verde-oliva. Jenny olhou os pés —
os Tretorns pretos vintage dele eram enormes, em especial ao lado de suas botinhas
de bico redondo. Mas de algum modo eles ficavam, bom, meio bonitinhos juntos.
— Quer voltar e ver o filme? — perguntou ela, na esperança de que ele dissesse não.
Ele virou a cabeça para ela, o luar iluminando seus olhos castanhos de modo que
Jenny praticamente podia contar os pontinhos dourados neles.
— Não — respondeu Julian simplesmente.
O rosto de Jenny corou e suas mãos, dentro dos bolsos do suéter, começaram a
transpirar um pouquinho. O que estava rolando aqui? Será que... tinha mesmo alguma
coisa... acontecendo? Jenny de repente ficou meio nervosa.
— Aconteceu, er, uma coisa meio estranha agora pouco. — Por algum motivo ela
sentiu a necessidade de explicar isso a ele. Não sabia bem por quê, mas sentia que
era uma coisa que tinha de fazer. — Eu entrei no celeiro, e Callie e Easy estavam lá,
meio que... — Ela se interrompeu. Parecia que eles estiveram transando, mas ela não
ia começar a espalhar boatos. Ela sabia o quanto isso era chato. — Bom, sabe como
é. Juntos.
— Ah. — Se Jenny não estivesse tão consciente do quanto a perna de Julian estava
perto da dela, podia não ter percebido que naquele momento ele se afastou, quase
imperceptivelmente, um centímetro. — Caraca. Que merda. — Os olhos dele baixaram
para fitar os pés e ela se perguntou se ele estava pensando que os pés dela ficavam
bonitinhos ao lado dos dele. — Deve ter sido muito ruim para você... Ver Easy com
outra, quero dizer.
Jenny sacudiu a cabeça devagar e, antes que se desse conta do que estava fazendo,
pôs a mão no braço dele.
— Não foi não, é sério.—O casaco de Julian estava puído e macio como um cobertor
de bebê. Era meio excitante tocar Julian daquele jeito e ele de imediato se virou para
ela, inquisitivamente. — Foi estranho, mas não por causa do Easy. — Como se tivesse
vontade própria, o polegar de Jenny começou a afagar o braço de Julian e ela
percebeu que não pensou nem uma vez no frio que sentia desde que estava
conversando com ele. — Eu já superei, e agora meio que tenho certeza de que nunca
devíamos ter ficado juntos.
— É?—perguntou Julian, as sobrancelhas erguidas como se não tivesse certeza se
devia acreditar nela. Mas depois ele baixou os olhos para a mão dela em seu casaco e
pareceu acreditar. Ele se mexeu um pouco no banco para ficar de frente
para ela.
Ela assentiu.
— Além disso, agora eu meio que gosto de outra pessoa. — Ela cerrou os lábios para
não sorrir. Lá vinha aquela ousadia de novo.
Seu coração batia furiosamente, os dedos estavam frios, a casca do tronco pinicava
suas coxas e no entanto... Ela não queria que o momento terminasse. Em especial
quando Julian pegou a mão dela. Ele deu um pigarro.
— Eu estava torcendo para isso—admitiu ele, a voz grave e meio rouca.
Ela sentiu um cacho de cabelo escuro cair no rosto e o empurrou delicadamente para
trás da orelha. Julian passou o dedo por seu pulso, uma coisa que ela nem imaginava
que podia ser tão bom, e virou o rosto dela para ele. Jenny nem acreditava que a mão
dele tocava a dela, e enquanto ele se inclinava, Jenny ainda não estava convencida de
que isso realmente acontecia.
Os lábios cheios de Julian pararam a centímetros dos dela.
— Fiquei pensando em você o dia todo — sussurrou ele. Depois ele a beijou, a boca
quente encontrando a dela. A última coisa em que ela pensou antes de fechar os olhos
foi que o rosto dele, que parecia tão lindo pendurado na parede do ateliê, era ainda
melhor de perto.
34 - UMA WAVERLY OWL NÃO PERDE A FRIEZA, MESMO QUANDO
CHOCADA E MORTA DE RAIVA.
Tinsley abriu o isqueiro de Julian, vendo a chama subir e iluminar a noite escura. Ela
estava com o isqueiro, mas queria o garoto. Onde é que ele se meteu? Ela fechou o
isqueiro, frustrada. Não o vira desde a carona, quando ele agiu de um modo...
estranho. Heath foi gentil por ter reservado para ela o veículo mais exagerado da frota
da locadora: uma limusine Hummer com um colchão d'água na traseira. Um
transamóvel total. Mas desde o segundo em que ela encontrou Julian no portão da
frente, ele parecia meio, bom, distante. Na hora Tinsley julgou que ele estivesse
bancando o difícil, numa tentativa de irritá-la. Mas ela não devia estar se esforçando
tanto. Com as calças de veludo azul-marinho Armani de pernas largas que abrigavam
seu traseiro como se tivessem nascido para isso e o top de renda crua Anna Sui que
permitia que o contorno da lingerie chocolate La Perla fosse deliciosamente
identificável, ela não devia estar se esforçando nada.
Mas a distância de Julian fez com que ela se sentisse ainda mais atraída por ele e ela
sabia que era o que ele queria. Ele tinha esbarrado em Tinsley Carmichael, afinal de
contas, e ele sabia que tinha de ficar esperto se queria mantê-la. E assim, deitados
juntos no colchão d'água, ela massageou os ombros dele, excitando-se cada vez mais
à medida que ele resistia a seus encantos. Assim que ela estava prestes a tomar uma
atitude, o Hummer parou perto do celeiro. Ela queria ter pensado em dizer ao
motorista para pegar um caminho mais longo.
Depois de montar o filme, Tinsley olhou em volta e viu que Julian tinha desaparecido.
Ela esfregou os braços, o tecido do casaco de cetim BCBG frio em sua pele. Ela
queria que o preço para ficar tão bonita não fosse morrer congelada. Seus olhos
percorreram a multidão repetidas vezes na hora seguinte, mais ou menos enquanto
ela olhava de um lado a outro, paquerando os caras para quem ela não dava a mínima
e conversando com meninas que a matavam de tédio,
perguntando-se até que ponto Julian ia se fazer de difícil.
Por fim sua expectativa deu lugar à irritação e, no meio do filme, ela estava de saco
cheio do jogo de gato e rato. De repente ela se levantou da mesa de piquenique onde
estivera olhando Parker DuBois, o veterano sexy da Bélgica, fumar sozinho num
manto, vendo realmente o filme. Tinsley ficou tentada a ir até ali e se sentar ao lado
dele, mas depois percebeu que só interessaria fazer isso se fosse para provocar
ciúmes em Julian—e, como ele estava sumido, parecia contraprodutivo.
Ela então contornou o celeiro, animada por um momento com a idéia de que talvez ele
estivesse esperando por ela lá dentro. Talvez ele pretendesse surpreendê-la o tempo
todo e ela, feito uma idiota, perdera um tempo que eles poderiam ter aproveitado
juntos. Mas assim que parou junto à porta entreaberta do celeiro, Tinsley viu um
movimento ao longe, ao lado do silo. Reconheceu Julian, sentado em alguma coisa no
escuro, e justo quando estava prestes a gritar triunfante seu nome — ela o achara! —
percebeu que ele não estava sozinho.
E não só ele não estava sozinho, como seu rosto estava colado no de alguém.
Só uma idiota teria deixado passar a ternura com que a mão de Julian afagava o braço
da garota. Parecia ter saído direto de um filme piegas — o protagonista toca a
protagonista de uma forma íntima e afetuosa que deixa o público sem dúvidas de seus
sentimentos por ela. Por um instante, Tinsley não conseguiu fazer nada, só encarar,
petrificada. Ela praticamente podia se imaginar em uma das cadeiras reclináveis
aconchegantes de um Multiplex, vendo esta cena, em algum ponto perto do final de
uma comédia romântica vagabunda. Tocaria uma música melosa. Rolam os créditos.
De repente, ela saiu de seu estupor, a raiva inflamando em suas veias como uma
corrente elétrica. Mas. Que. Porra. Julian, com quem ela fantasiou a semana toda,
pensando nele em cada segundo — e aqui estava ele, beijando outra? Mas que
atrevimento dele!
A pulsação de Tinsley acelerou enquanto Julian recuava e ela pôde ver o rosto da
menina. Seus olhos deram um zoom como uma lente de câmera.
Jenny.
Alguma coisa nela estalou. Jenny Humphrey, que pensava poder simplesmente entrar
na Waverly Academy com suas sapatilhas de bale de camurça amarelas, o narizinho
empinado e os peitos enormes e roubar qualquer cara que quisesse, independente de
quem eles estivessem vendo no momento. Ela roubou Easy de Callie e agora meteu
seu anzol no único cara de quem Tinsley realmente gostava. Mesmo ao luar, Tinsley
podia ver suas bochechas rosadas com as sardas, o cabelo crespo caindo em
trancinhas irritantemente boêmias.
Um gemido subiu pela garganta de Tinsley, mas ela de algum modo encontrou a
compostura para não gritar a plenos pulmões. Em vez disso seus punhos se fecharam
e, percebendo que havia alguma coisa na mão direita, ela baixou os olhos. O isqueiro
de Julian.
Ela o abriu e acendeu distraidamente, ainda encarando Julian e Jenny, sabendo que a
imagem dos dois se beijando ia ficar em sua mente por muito, muito tempo. Enojada,
furiosa e muito mais magoada do que poderia admitir, Tinsley girou o braço e lançou o
isqueiro de Julian no ar noturno. Ela deu meia-volta nos saltos das botas Miss Sixty de
couro, sem sequer olhar para ver onde caiu.
35- UMA WAVERLY OWL PROCURA VER QUEM ESTÁ OLHANDO ANTES DE
DAR UM ATAQUE.
Heath Ferro tem de morrer. Heath Ferro tem de morrer. Brett mal conseguia pensar
em outra cousa alem de como estava louca para estrangular Heath. É claro que elas
nunca deviam ter confiado nele- justo quando ela começava a achar que ele era um
amigo de verdade, teve de descobrir que toda a coisa era uma espécie de jogo
divertido para ele, um jogo em que ele não conseguia resistir a se gabar com todo
mundo.
Ela viu seu conhecido cabelo louro amarfanhado por cima dos barris, um baseado fino
e branco preso nos lábios. Brett irrompeu para ele, o cabelo escorregando das fivelas
de strass que o afastavam do rosto. Quando chegou ao lado dele, ela empurrou Alan
St.Girard e puxou o baseado dos lábios de Heath.
- Mas o q...?- começou Heath, mas Brett o interrompeu. Empurrou-o alguns passos
para longe dos outros.
- Como pôde?- perguntou ela, tentando manter a voz nu sussurro. Mas era difícil, já
que estava tão puta da vida. - Como pôde contar a todo mundo, porra, sobre Kara e
eu? Nem acredito que fomos idiotas para confiar em você!
- Perai, do que você está falando?- A cara de Heath de imediato transpareceu pânico.
Suas bochechas ficaram vermelhas de cerveja e maconha, mas ele nem olhou para o
baseado que Brett lhe roubara. Seus olhos castanhos estavam arregalados de
confusão e pavor.- De jeito nenhum eu contei a alguém sobre vocês! Eu juro...tipo
assim, pelo que você quiser!- Ele passou a mão no cabelo como se tentasse arrancálo.
Brett parou.
- Você não disse nada? A ninguém ?
- Não!- Deve ter sido a combinação de cerveja, drogas e frustração, mas Brett teria
jurado que podia ver lágrimas começando a se formar no canto dos olhos de Heath.- O
que...mas e as fotos?- perguntou ele, quase timidamente.
Ela pôs a mão no braço dele e apertou um pouco. Claramente ele não era o culpado.
Mas se Heath não vazou, quem foi?
- Ta legal,desculpe.Eu só...Sei lá.- Ela lhe devolveu o baseado meio fumado.-Eu não
quis brigar com você. Mas quem mais teria contado a todo mundo? A única pessoa a
quem eu disse alguma coisa foi...-sua voz falhou.
Jenny.
Brett de repente ficou ciente do silencio em volta dela. O dialogo de Clark Gable e
Claudette Colbert era a única coisa que escutava. Sentindo o estomago afundar, ela
percebeu que todos em volta podiam ouvir perfeitamente o que ela dizia a Heath. Se
havia alguém que não soubesse dela e de Kara, agora sabia. Brett queria que o chão
se abrisse e a engolisse inteira, e ela pudesse desaparecer dessa cena infeliz sem
deixar rastros.
Ela estava prestes a virar a cabeça e ver quantas pessoas realmente estavam
olhando, quando Heath apontou uma coisa no ar.
- Mas que merda...Aquilo é...fumaça?
Quase com a mesma rapidez com que se silenciou, a multidão voltou á vida.
- Aimeudeus.- O cheiro acre de madeira queimando pendia no ar e rapidamente a
festa transformou-se num caos absoluto, em que todos tropeçavam para pegar suas
coisas e fugir do celeiro. Brett encarava estupidamente as chamas que começavam a
chamejar no céu escuro. Ela se aproximou um passo. Como foi que isso aconteceu?
- Está pegando fogo?
Pelo canto do celeiro, Callie e Easy de repente apareceram, Easy atrapalhando-se
com os botões da camisa, Callie vestindo o suéter preto e grosso. Por baixo da saia
curta, as pernas estavam totalmente nuas e ela carregava um sapato em cada mão.
Er, como é? Pedaços de feno e palha estavam grudados em seu cabelo como se ela
estivesse rolado neles, o que, a julgar pelo modo carinhoso com que Easy colocava a
mão em suas costas enquanto eles corriam, devia ser isso mesmo.
- Fogo!- gritou Easy a plenos pulmões, como se todos estivessem pasmos demais ao
ver ele e Callie aparecendo do anda, seminus, para perceber o fato de que o enorme
celeiro vermelho atrás dele estava em chamas.
36- UMA WAVERLY OWL SABE QUE ONDE HÁ FUMAÇA, EM GERAL HÁ UM
MONTE DE FOGO.
Callie se aninhou em Easy no banco traseiro de uma limo abarrotada- ninguém
parecia se importar com quem pegava carona com quem, agora que os bombeiros
tentavam debelar o incêndio imenso- ainda sem acreditar em tudo o que tinha
acontecido.Á medida que os Waverly Owls corriam freneticamente para os carros
alugados que esperavam, ansiosos para sair da cena mais rápido possível, Callie viu
Tinsley conseguir desligar o projetor e guardar o equipamento de cinema. Ninguém
parecia saber o que exatamente tinha acontecido no celeiro, a cena lembrava a ela de
algo de...E o vento levou, onde Scarlett O’Hara e todos os outros tiveram que fugir de
uma Atlanta em chamas. Assustador.
Enquanto Easy afagava seu cabelo com cheiro de fumaça, Callie só conseguia pensar
no que aconteceu entre eles. Eles realmente...transaram.Fizeram amor.O que for.
Agora tudo entre eles era diferente- de algum modo estavam ligados desta forma
totalmente intima, pessoal e incomparável.Ela se encostou em seu ombro, sem se
importar na obviedade dos dois juntos. Afinal, quase todo mundo os viu saindo
seminus, correndo do celeiro, e agora Callie sentia que todos no carro olhavam para
suas pernas nuas. Felizmente ela lembrou de se depilar.
Ela estava meio numa névoa depois do que aconteceu- a parte do sexo, não do
incêndio.De uma forma meio distorcida e dramática, parecia meio satisfatório que o
celeiro tenha pegado fogo. Parecia coisa de romance, embora Callie não soubesse
dizer qual romance.Mas agora o lugar onde ela e Easy perderam a virgindade não
existia mais-o que era preferível, de longe, a saber que um dia uma vaca imunda podia
ficar no ponto onde eles provaram o amor que tinham um pelo outro.
Depois que o carro deixou a todos no porão da frente, Easy a acompanhou ao
Dumbarton.
Eles estavam de mãos dadas e ficavam falando de como o incêndio foi doido e a sorte
que tiveram de sair de lá antes que tomasse conta de tudo, mas, no tempo em que
falavam, o segredo do que tinham dividido demorava-se sob a superfície e eles
trocavam olhares embaraçados e felizes.
- Eu te amo- sussurrou ela no ouvido dele, parada na escada de mármore do
Dumbarton. Era uma delicia dizer isso e saber que ele ia retribuir.
Ele tocou seu queixo e a beijou na testa.
- Eu também te amo.
Ela queria que ele ficasse para sempre.
Mas ele não podia e Callie tinha de voltar a um alojamento e a colega de quarto- uma
colega que não ficaria muito satisfeita vendo Callie e Easy juntos. Então ela com
relutância se separou dele e subiu a escada. Abriu a porta do quarto. Jenny já estava
vestindo o pijama, que era de tricô vermelho, coberto de peixinhos dourados. Callie
sorriu ao vê-la, ainda sentindo-se no topo do mundo e cheia de boa vontade para com
todos no planeta. Ela desabou na cama, curtindo a sensação do edredom ultramacio
nas pernas gélidas.
- Meus Deus, foi uma doidera total, não foi?
Jenny se virou para olhá-la com uma expressão estranha.
- O quê? O fato de que você mentiu para mim o tempo todo?- Sua voz falhou no final
da frase, como falhava quando ela estava prestes a chorar, e Callie se perguntou se
ela ia explodir em lágrimas. Mas isso não aconteceu.
Callie se sentou na cama, confusa. Por que todo mundo sempre ficava irritado com ela
o tempo todo quando ela só estava tentando ser legal?
- Do que está falando?
Os olhos imensos de Jenny quase saltaram para fora da cabeça.
- Do pacto que fizemos...Nós duas íamos deixar Easy pra trás, lembra? – Ela sacudiu
a cabeça devagar, os olhos não irritados, mas de cachorrinho triste.- Isso não
significou nada para você?
Callie se levantou, sem jeito.Ela era horrível para lidar com decepções- embora tenha
morado com a mãe por tempo suficiente para ficar boa nisso. Bastava alguém lhe
dizer que ela decepcionou, que ela não conseguia deixar de se sentir na defensiva.
Ela andou até o espelho e fingiu escovar o cabelo, mas na verdade procurava por
chupões.
- Não entendo por que isso é grande coisa.- As palavras saíram um pouco mais
geladas do que ela queria, mas ela não ia voltar atrás.- Pensei que você agora
estivesse com o Julian, de qualquer forma. Você estava toda animada com ele outro
dia.
- Você não entendeu nada, não é?- Os olhos jê Jenny faiscaram de raiva e ela se
aproximou da cômoda, sem deixar que Callie a evitasse.- Nem é sobre o Easy. É
sobre você.- Sua voz se suavizou enquanto ela mexia na bandeja de metal com fivelas
de cabelo, pegando uma e largando no lugar.- Pensei que a gente realmente era
amiga, mas é claro que eu estava errada.
Isso irritou Callie. Elas eram amigas- ou pelo menos, tinham sido até Jenny ficar
criticando ela. Callie semicerrou os olhos verdes para Jenny.
- Não acha que isso é meio irônico? Você gritando comigo por eu estar com Easy, que
era meu namorado antes de você me roubar!
Jenny arfou, recuando, o rosto corado de fúria.
- Não se trata se Easy!- gritou ela.
- Que engraçado- gritou Callie de volta, tirando o suéter e esperando que não
houvesse chupões em outros lugares. Parecia que Easy tinha beijado cada centímetro
de seu corpo há uma hora.- Não é o que parece.
- Nem acredito que cheguei a esperar que você fosse gente.- Jenny puxou os
cobertores na cama e afofou o travesseiro com violência.- Eu devia saber. E acho que
não devia me surpreender também, pelo fato de que você e Easy seriam tão idiotas e
egoístas a ponto de incendiar o celeiro todo com seu habito nojento de fumar!
Foi a vez de Callie arfar. Ela vestiu a parte de cima do pijama listrado de rosa e
vermelho Ralph Lauren.
- Do que está falando?- perguntou ela, entrando em pânico.- Não fomos nós que
começamos o incêndio.
- É mesmo?- As mãos de Jenny estavam nos quadris curvilineos. Ela estava pronta
para arrancar a cabeça de Callie, ou conseguir a expulsão dela ou coisa
parecida.Nunca ficou tão passional na vida.- Bom, eu vi os dois no celeiro, fumando.
Não pareci assim tão impossível.
- Você nos viu?- Callie ofegou, apertando a calça do pijama nos quadris magros.-
Então como vou saber que não foi você que botou fogo no celeiro para tentar nos
matar por que estava com ciúmes? – De repente fazia perfeito sentido para Callie.
Jenny tinha começado o incêndio e só estava fingindo estar aborrecida com outra
coisa, quando na verdade se sentia culpada e tinha medo de ser pega.- Esta me
aprece uma boa motivação.
Jenny enfiou os pés nos chinelos grossos de crochê com o forro falso de carneiro que
pareciam existir desde os anos 1980.
- É, pode ter sido mesmo.- E depois ela disparou porta afora,o cabelo crespo em
trancinhas quicando nas costas.
Mas o que será que isso significava?
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BennyCunningham: Foi tão apavorante. Nem acredito que a gente quase,tipo assim,
foi consumida em chamas...Me senti tão vulnerável.
LonBaruzza: Você nem estava perto do celeiro, sua sacana. Só gosta de parecer
donzela em perigo.
BennyCunningham:Que seja. Ainda assim, não consigo tirar da cabeça Callie e EZ
saindo meio pelados do celeiro. Mas isso é que é caso secreto.
LonBaruzza: Você conhece o ditado: não há namorada como uma ex-namorada!
Acha que a paixão ardente deles tocou fogo no celeiro?
BennyCunningham: Nojento. Todo mundo sabe que eles fumam feito chaminés...Eu
não me surpreenderia. Espero que eles não sejam expulsos.
LonBaruzza: Sei não. Eu vi a Tinsley saindo de fininho de trás dali também. Talvez
ela tenha feito isso.
BennyCunningham: Humpf. Por que você estava olhando para ELA?
LonBaruzza: E quem é que não olha?
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AlanStGirard: Acha que Callie e EZ chegaram nos finalmente? Eles foram pegos
mesmo de calça arriada!
HeathFerro:Seria muito triste se Walsh não conseguisse selar o negocio.
Apostei que ele daria cabo da Dona Peitões também.
AlanStGirard: Pensando bem...Eu VI a Jenny lá também. Acha que eles formam
um trio?
HeathFerro: Coloque HF no lugar de Walsh, por favor.
AlanStGirard: Por falar em trios- você, Brett e Kara? Elas são mesmo sapatas ou
você tem alguma coisa mais pervertida em mente?
HeathFerro: Francamente. Não há garota no campus que não esteja interessada
num passeio de pônei.
AlanStGirard: Que tipo de resposta é essa?
HeathFerro: A única que você vai ter.
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SageFrancis:Que festa mais doida. Nem sei como começar a digerir toda a merda
picante que bateu no ventilador. Dá pra acreditar que nossa representante é lésbica?
AisonQuentin: E daí? Kara é uma gata. Se eu não gostasse do Alan, quem sabe
talvez ficasse afim dela.
SageFrancis: Até parece. Você é hetero até a medula.
AisonQuentin: Você viu a namorado nova do Brandon se agarrando com o
esquizóide do Brian Atherton? Como é que isso aconteceu?
SageFrancis: Coitado do BB. Parece que as meninas sempre o tratam como lixo.
Pelo menos as que ele pega.
AisonQuentin: Ah, é? Está se oferecendo para animar o garoto?
SageFrancis: Talvez. Mas não sei se posso namorar um cara que é mais bonito do
que eu!
AisonQuentin: Alias, alguém viu o filme?
SageFrancis: Que filme?
37 TER UM VERDADEIRO AMIGO SIGNIFICA JAMAIS TER DE PEDIR
DESCULPAS — MAS UMA BOA WAVERLY OWL PEDE DE QUALQUER FORMA.
Jenny saiu do Dumbarton de pijama, querendo ter uma daquelas bolas de borracha
que a gente pode apertar quando está estressada, frustrada ou com raiva. Ela
marchou pela escada, os chinelos roçando suavemente no mármore, dando-lhe
vontade de estar com as botas grandes e pesadas — ela queria bater os pés e fazer
barulho. Mas talvez esta não fosse uma boa idéia, porque já estava quase na hora do
toque de recolher. Mas ela não podia ficar no quarto nem por mais um segundo, não
com Callie mentindo na cara dela e tentando fazer com que não parecesse nada
demais só por causa de Julian. E depois ela suspirou. Julian. Jenny parou por um
segundo quando seus pés chegaram ao primeiro andar. Num estado de espírito
diferente, ela teria sorrido ao ver o armário de vassouras onde ele esteve escondido. O
beijo dos dois foi... inesperado. E incrível. Agora, pensando nisso, ela quase riu, seu
humor começando a ficar mais leve.
A porta para o quarto de Brett e Tinsley estava aberta, mas enquanto Jenny espiava
hesitante para dentro, sem querer levar uma mordida de Tinsley, ela viu que estava
vazio. Ela foi até o quarto de Kara e bateu delicadamente.
Houve uma pausa e um farfalhar antes que Kara aparecesse vestindo uma camiseta
imensa do show dos Red Hot Chili Peppers e leggings pretas.
— Oi — disse Jenny, grata por ver uma cara amistosa. — Eu só estava procurando
pela Brett.
— Ah, sim. — Kara abriu mais a porta e Jenny viu Brett sentada na cadeira de Kara.
— O que está fazendo aqui? — perguntou Brett, a voz fria. O cabelo curto estava
puxado em maria-chiquinhas e a cara sem maquiagem parecia meio jovem e triste. Ela
vestia pijama de flanela de listras cinza mas parecia estar tremendo dentro deles.
Jenny ficou pasma. Parou onde estava e olhou para Brett sem entender.
— Eu, humm... Você não estava no seu quarto, então deduzi que estaria aqui.
— Fale um pouco mais alto, Jenny. — Brett deu um riso oco, parecendo outra pessoa.
— Mas acho que você já contou a todo mundo mesmo.
Jenny correu para ela.
— Eu não contei a ninguém! — sussurrou ela. — Nunca faria isso com você. —
Tinsley podia odiá-la, se quisesse, e até Callie podia querer matá-la, mas a simples
idéia de que Brett estivesse puta com ela fez Jenny querer cavar um buraco e se
enterrar nele. Mas Brett
não podia estar puta com ela por isso. Ela não fez nada.
— Não? — perguntou Brett, a voz hesitando. Ela passou a mão no rosto, parecendo
totalmente infeliz.
Callie. Callie e suas insinuações idiotas de bêbada. Jenny mordeu o lábio.
— Mas acho que a Callie sabe... E eu meio que a ouvi, bom, insinuando coisas. Para
outras pessoas.
Brett cobriu a cara com as duas mãos.
— Acho que vou enlouquecer—admitiu ela com desespero. Seus olhos verdes de gata
voltaram-se para Jenny, parecendo inseguros e tristes. — Desculpe, Jenny.
Eu não quis acusar você. Eu só... Não sei bem o que estou fazendo agora. — Ela
tentou rir, mas saiu mais como um soluço.—Eu praticamente estrangulei o
Heath mais cedo quando pensei que fosse ele.
— Está tudo bem — Jenny a tranquilizou. Kara fechou a porta e se jogou na cama.
Jenny se empoleirou na ponta, sem saber se Brett queria um abraço ou não.
— Mas peraí, como é que Heath sabia de vocês?
Brett deu um risinho fraco.
— Ele meio que começou isso tudo. — Ela sorriu para Kara, que estava sentada de
pernas cruzadas com o travesseiro no colo. Parecia que as duas estavam
conversando
sem dizer nada naquele quarto. — Mas não foi ele que vazou... A gente tinha um
acordo.
Jenny ainda estava meio confusa, mas assentiu assim mesmo.
— Mas... como a Callie soube de alguma coisa?
Kara deu um pigarro e as duas meninas se viraram para ela.
— Quanto a isso...—Ela olhou timidamente para Brett, apertando o travesseiro no
peito.—Me desculpe de verdade... A gente estava num momento meio de vínculo
depois da reunião passada. — Kara se encolheu e seus olhos grandes começaram a
se encher de lágrimas.—Eu não queria contar a ela, só meio que escapou. É tudo
culpa minha.
Brett deslizou da cadeira e se sentou na cama ao lado dela.
— Está tudo bem.—Ela sorriu e Jenny sabia que ela tentava parecer mais durona do
que se sentia.—Pelo menos não incendiamos o celeiro.
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De: ReitorMarymount@waverly.edu
Para: Undisclosed recipients
Datas: Sexta-feira, 11 de outubro, 23:25h
Assunto: Incêndio
Alunos da Waverly
Como muitos sabem, houve um incêndio esta noite na festa do Cinephiles na fazenda
Miller que resultou na destruição de um celeiro de setenta anos. Não só este foi um
ato totalmente irresponsável, mas também incrivelmente perigoso e infantil. Quem
quer que tenha sido o responsável por começar o incêndio será prontamente expulso
da Waverly Academy.
Um comitê disciplinar será marcado para a semana que vem para todos os presentes
na festa do Cinephiles. Seus nomes estão no registro da administração.
Este é um abuso deplorável da confiança da escola. Quem quer que tenha
informações sobre a parte culpada é moral e eticamente solicitado a relatar esta
informação de imediato — sob risco de expulsão.
Reitor Marymount
38 UM WAVERLY OWL LEAL SEMPRE FICA DO LADO DA NAMORADA —
EM QUALQUER SITUAÇÃO.
Na manhã de sábado, Callie foi arrancada de um sono profundo pelo toque de seu
celular. Ela esfregou os olhos e semicerrou-os para o visor. Tinha uma nova
mensagem de texto: Saia da cama, preguiçosa. Me encontre em frente a seu
alojamento em 20 minutos, OK? Bjs. Callie sorriu contra a vontade. Era como se Easy
não suportasse sair de vista por muito tempo. Que bom. Era assim que deveria ser.
Quando ela tirou a roupa ontem à noite, encontrou um pedaço de feno preso no suéter
e o colocou na gaveta da mesa para que, se um dia a abrisse, ela se lembrasse
daquela noite. Callie meio que queria ter um álbum de recortes, mas depois percebeu
que podia ser meio estranho colocar uma coisa assim ali. Ela podia imaginar a mãe
folheando e querendo saber por que ela guardava um pedaço de feno para a
posteridade.
Callie olhou a cama da colega de quarto, percebendo que estava vazia. Seus lençóis e
cobertores estavam retorcidos num monturo aos pés da cama. Provavelmente uma
maneira de dizer um foda-se para Callie depois da briga da noite passada. Bom, valeu
a tentativa. Até parece que ela dava a mínima se Jenny deixasse o quarto uma
bagunça — Callie deixava o quarto uma bagunça. Ela foi para o banho, decidida a não
pensar mais na coleguinha de quarto hipócrita que precisava aprender a superar seus
problemas:
Depois de vestir jeans Stella McCartney justos e o mais novo par de botas — Michael
Kors de camurça ultraconfor-táveis e pretos com forro de pele que a fazia pensar em
todos os dias de inverno que viriam e ela passaria aconchegada em Easy, com ou
sem as botas—ela correu para fora, ansiosa para entrar no salão de jantar com Easy
no braço e todo mundo saber que finalmente ele era dela de novo.
Engole essa, Srta. Humphrey.
Easy esperava por ela na escada da frente. Ela parou antes de abrir a porta e
encontrar-se com ele. Pela vidraça, ela podia ver seu perfil contra o céu claro, todas as
folhas de outono em pleno colorido.
Ela nunca havia percebido realmente o estardalhaço sobre as folhas. Mas agora as
lindas cores pareciam formar uma moldura perfeita para a cabeça de Easy.
Ela abriu a porta lentamente e ele se virou.
— Oi—disse ela, meio sem jeito, saindo do prédio. Apesar do céu azul e ensolarado,
estava congelando e ela ficou feliz por ter decidido colocar o casaco Ralph Lauren
creme. Podia sentir seu cabelo molhado começar a ficar duro no frio.
Easy ainda parecia meio sonolento, mas incrivelmente lindo com o colete xadrez
marinho e jeans.
— Quer dar uma caminhada? Eu trouxe o café da manhã. — Ela percebeu dois copos
de café pousados na escada. Ele sacudiu o saco que tinha na mão. — Bagels.
Callie tentou esconder sua decepção. Ela na verdade queria entrar no salão de jantar
juntos e que todos os vissem, para determinar como as coisas seriam daqui em diante.
Mas... Era um amor da parte dele surpreendê-la. Ela sorriu.
— De que tipo?
— Um de canela e passas extratostado, com cream cheese sem gordura. — Seus
olhos cintilaram no sol. — Mas esse é meu.
Callie bateu a mão no peito e ele riu, estendendo por um minuto a mão calosa. Ao
tocar a pele dele, ela sentiu seu calor reaparecer.
— Aonde vamos? — perguntou ela, meio rouca.
Ele pegou um dos copos de café e entregou a ela, ainda fumegando. Ela o envolveu
com as mãos, agradecida, mas estava muito consciente da brancura do casaco.
Parecia estar implorando para ser respingado com alguma coisa.
— Talvez até o penhasco?
Ela escondeu a careta. Ninguém os veria lá. Mas... tanto faz. Talvez ele quisesse
assim.
Eles partiram pelo gramado, os pés esmagando com ruído as folhas frias e coloridas.
— Todo mundo está falando do incêndio — disse Easy enquanto eles andavam.
Callie olhou para ele.
— Pois é. Não temos festas fora do campus e celeiros incendiados todo dia.
Ele tomou um gole do café, fazendo um barulhinho ao engolir o líquido quente. Depois
deu um pigarro e olhou para ela, os olhos azuis profundos parecendo perturbados.
— Bom, acho que muita gente pensa que fomos nós que começamos.
— Como é?! — Callie parou. É claro que Jenny estava espalhando boatos de que o
incêndio era culpa deles. — É a Jenny. Eu sei que é. Ela está tentando nos expulsar
daqui.
— O quê? — Foi a vez de Easy se surpreender. — Jenny? De jeito nenhum.
Callie enrijeceu o corpo. Mas ele estava defendendo aquela putinha incendiária? Ela
sentiu as palmas das mãos transpirando. De novo não.
— Ela nos viu, sabe como é. A gente teve uma briga feia ontem à noite e ela me
xingou de tudo que é nome. — Não era bem a verdade, mas Easy não precisava
saber a verdade exata.
Ele só precisava ficar do lado da namorada, sem questionar.
Easy distraidamente penteou o cabelo com a mão.
— Bom, ela deve estar supertriste e tudo.
Resposta errada. Callie afastou-se um passo de Easy e tomou um gole do café.
Quase de imediato, sentiu algumas gotas escapulirem da tampa de plástico e salpicar
o casaco. Porra.
— Se acha que ela é tão boa, talvez deva ficar com ela agora.
— Não fique assim. — Easy deu dois passos para frente e rapidamente pôs os braços
em volta dela, a reação mais rápida que ele ja teve a um dos ataques de gênio de
Callie. Callie ficou impressionada. Ele aninhou os lábios em sua orelha e Callie fechou
os olhos, esquecendo-se do café que provavelmente ia manchar seu casaco novinho.
O sussurro rouco de Easy fazia deliciosas cócegas em seu ouvido. — Sabe que ontem
à noite foi a melhor noite da minha vida.
Ela suspirou e comprimiu os lábios no pescoço de Easy. Assim estava bem melhor.
Mas ele se afastou um pouco. Sua testa estava franzida de preocupação. Seus dedos
secos acompanharam as maçãs do rosto de Callie.
— Que foi? — perguntou Callie.
— Só estou preocupado... — Ele se afastou dela e pegou uma vareta que estava no
gramado, atirando-a longe. — Se eu conheço Marymount... e depois de todos os
problemas que tive, acho que sei que... alguém vai levar a culpa por isso.
Callie pegou a mão dele e apertou. Ela e Easy finalmente estavam juntos. Eles
estavam apaixonados, bem a tempo de tomar chocolate quente depois de jantarem
juntos à noite e se beijarem no meio do pátio na primeira vez que nevasse. Não ia
acontecer nada com eles. Não podia acontecer. E se isso significasse ter de acontecer
com outra pessoa, bom, que fosse.
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BennyCunningham: Ai meu deus, já soube? Encontraram o Zippo de Julian no rescaldo
do incêndio!
TinsleyCarmichael: Não brinca.
BennyCunningham: Acho que ele é o principal suspeito. Espero que não seja expulso.
Ele é tão gracinha, apesar de ser só um calouro.
TinsleyCarmichael: Na verdade eu VI Julian atrás do celeiro... com Jenny. Acho que
estavam se agarrando. Acha que eles começaram o fogo?
BennyCunningham: Provavelmente. Tem alguma coisa suspeita num cara que é alto e
uma garota que é praticamente uma anã.
TinsleyCarmichael: Total...
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CallieVernon: E aí. Como é que vc tá?
TinsleyCarmichael: Humm, legal.
CallieVernon: Desculpe por não termos conversado essa semana.
TinsleyCarmichael: Não faz mal.
CallieVernon: Vc está com problemas por causa do celeiro? Porque acho que sei
quem foi.
TinsleyCarmichael: Pode contar, maninha.
CallieVernon: Jenny. Ela me viu com EZ, hum, juntos. Juntos, juntos.
TinsleyCarmichael: Parece um motivo para mim.
CallieVernon: Exatamente.
TinsleyCarmichael: Concordo totaaaaaal. E Cal?
CallieVernon: Sim?
TinsleyCarmichael: É bom ter você de volta ao lado negro.
CallieVernon: É bom voltar. Tchau, garota.
*** FIM ***

Um comentário:

  1. Eu sou um representante do Iowa Lutheran Hospital, localizado em Iowa City, EUA. A gerência hospitalar me deu a oportunidade de anunciar na internet como trabalhamos e que começamos de novo no ano para a compra e venda de órgãos humanos, por exemplo, Rim, se você estiver interessado nesta oferta, não hesite em nos contatar no e-mail abaixo: compensamos os nossos doadores com boa quantia de dinheiro e somos especialistas em cirurgia de órgãos e, como doador, não há risco em isto.
    E este é o nosso e-mail:
    iowalutheranhospital@gmail.com
    Você também pode ligar ou nos contatar no whatsapp +1 929 281 1248

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