sábado, 6 de julho de 2013

Série simplesmente Livro 02 - Simplesmente escandalosa

Simplesmente Escandalosa
Simply Scandalous
Carly Phillips
Digitalizado e revisado por Gisacb4
O rico, jovem e belo advogado Logan Montgomery precisa arruinar a própria reputação! De outro
modo, seu pai, o influente juiz Montgomery, continuará insistindo na carreira política do filho.
A única esperança de Logan para se safar dessa
é ser visto circulando ao lado de uma mulher cuja família é um escândalo.
A sedutora Catherine Luck é a mulher perfeita, em todos os sentidos. Só que, quanto mais tempo
Logan passa com a bela loira, mais ele se convence de que desistirá de tudo por uma noite em sua
cama...
Copyright para a língua portuguesa: 2000 Editora Nova Cultural Ltda.
CAPÍTULO UM
--Bem no alvo, não foi? Logan Montgomery gemeu baixinho.
—Você anda assistindo a filmes demais, vovó.
—Do James Bond... mas só com Sean Connery. Aquele tal de Pierce Brosnan que o substitui é
muito novo, e aquele outro, antes dele, é um esnobe. Não saberia como satisfazer uma verdadeira
mulher, mesmo se ela...
—Vovó! — Logan a fitou com absoluto espanto.
—O que houve? Não costumava ser tão pudico. Logan conteve uma risada.
—E você não costumava dizer essas coisas. Melhor se cuidar. Ela riu de modo nada refinado.
— Você também... caso contrário, acabará como seu pai: um pedante.
— Com sua influência? Jamais! — Logan sorveu um gole do champanhe caríssimo. Que
desperdício de dinheiro, pensou. Com o calor que fazia, uma cerveja gelada cairia bem melhor. —
Diga-me, vovó. Por que fez tanta questão de que eu viesse?
Ele esperava poder ignorar o convite formal que lhe fora entregue em mãos, em casa, embora
o evento anual fosse uma tradição para os Montgomery. Logan não dava a menor importância a
esse tipo de coisa, mas para sua avó, Emma, era uma outra história, e ele a adorava.
—Por causa dela, ali, perto da piscina. — Emma indicou. Ela organizou essa festa. E a
competência personificada. Logan estreitou os olhos e nada viu além dos terríveis vestidos florais
das senhoras presentes e do severo uniforme branco e preto dos garçons.
—Tudo o que vejo ali é um bando de pingüins, vovó. Por que não disse ao juiz para
simplificar um pouco? Os garçons estão vestidos para atender a uma cerimônia formal, não a um
coquetel, numa tarde quente como esta. Pobres-coitados...
Logan gostava de reunir-se com a família e com os amigos, de vez em quando, mas estar ali,
naquele evento, não era bem como ele escolheria passar aquela tarde de sábado.
—Seu pai tem seus padrões — disse Emma, com altivez, imitando o filho, o juiz Edgar
Montgomery. — Edgar acredita que o modo de trajar diz muito de uma pessoa. Mas já falamos o
suficiente sobre seu pai. Querido, olhe outra vez. Vê algo interessante?
Logan a obedeceu, mas o que lhe chamou atenção foi o guarda-sol espalhafatoso com o qual
uma das amigas de sua mãe tentava se proteger do sol inexistente.
—E então? — Emma o cutucou nas costelas.
Logan continuou a observar, até que foi compensado pela visão de uma adorável criatura,
atrás do balcão do bar, montado à beira da piscina.
Era uma jovem loira, de rosto delicado e traços suaves. Seus olhos eram de um verde
profundo, visível até da distância em que ele se encontrava.
A moça saiu de trás do balcão, e ele pôde vê-la por inteiro. Ela irradiava os raios solares,
mesmo naquela ocasião de céu cinzento.
Quando inclinou-se para enxugar a superfície do balcão com um pano, Logan admirou os
movimentos harmoniosos, os contornos sob a blusa branca conservadora e as pernas bem
torneadas abaixo da saia preta. O interesse foi substituindo a curiosidade, e logo ele sentiu a
temperatura do corpo subir. Correu um dedo por dentro do colarinho da camisa branca para
poder respirar.
A garota endireitou a coluna. Era do tipo mignon e não devia medir mais do que um metro e
sessenta de altura.
Considerando-se o fato de ele possuir uma irmã com mais amigas circulando pela
propriedade do que Logan era capaz de contar nos dedos, considerava-se um entendido em
mulheres. E aquela ali o intrigava.
Correu o olhar pela cintura estreita e os quadris arredondados. Não importando em que
sentido fitasse, da cabeça aos pés ou vice-versa, gostava muitíssimo do que via. Não, aquela não
era uma garçonete comum.
— Pare de babar e diga-me o que está vendo, menino.
— Um pingüim muito sensual — murmurou.
—Brinque o quanto quiser, mas saiba que ela poderá ser a solução para seu problema.
—Problema? Desde quando tenho um?
Um outro olhar enquanto a jovem garçonete contornava o bar, com incrível graça, o fez
sorrir, deliciado. Se de fato estivesse com algum problema, jurava que não se importaria se ela
fosse a solução.
—Não quer acabar de vez com as expectativas mirabolantes doa Montgomery? Ou prefere
que seus pais e seus amigos poderosos continuem pressionando-o para que se junte a eles? Ouça o
que digo, Logan. Se não tomar uma atitude, e rápido, pelo menos até o próximo sábado, perderá o
controle da própria vida. Precisará dizer adeus à paz e à quietude, como também ao salário baixo
que recebe como defensor público.
—Você não precisa falar como se estivesse feliz com isso, vovó. No entanto, seus instintos o
avisavam de que ela não queria apenas chocá-lo. Emma vivia naquele mausoléu junto com seus
pais e estava sempre bem informada. Logan voltou a atenção à avó, que continuou a pressioná-lo:
—Não pode simplesmente continuar dizendo "não, obrigado", precisa agir. — Ela tocou o
coque perfeito, enquanto falava. Até mesmo com a umidade do ar, seu penteado mantinha-se
Impecável. — Sabe que Edgar é teimoso feito uma mula, sempre insiste que tudo seja a seu modo,
e esse péssimo hábito vem piorando a cada dia.
Logan precisou conter uma gargalhada.
—Veja como fala, vovó!
—Por que eu deveria? A idade me dá o direito de dizer, ou de fazer, tudo aquilo de que a
juventude me privou. Saiba que a expressão certa é "jovem e estúpido", e não "velho e estúpido".
Logan deu uma risadinha.
—Agora sei por que papai a quer num asilo.
Logan olhou para a mulher que fora a única fonte de amor e de afeição que ele e a irmã
conheceram. Pelo bem dos netos, Emma sempre dava um jeito de minar os esforços de seus pais
de torná-los clones de si mesmos. Eles se julgavam perfeitos. Com sua irmã, Grace, Emma atingira
aquela meta.
Mas com Logan, o filho único, as coisas não foram tão fáceis. Ninguém acreditava que ele
pretendesse traçar o próprio destino. Nem mesmo o fato de estar trabalhando, havia quase dois
anos como defensor público conseguiu abalar a fé dos Montgomery. Para eles, Logan estava
destinado a seguir seus passos.
Exceto para sua adorada avó. Para Emma, Logan, o neto que ela criara, era um homem com
suas próprias crenças.
Logan retomou aquilo que Emma dissera antes:
— Mas diga-me, vovó, o que acontecerá de tão importante no próximo sábado?
— Eu começava a achar que nunca iria perguntar. — Fez sinal para que Logan se levantasse e
caminhasse a seu lado.
Logan a seguiu resignado, até que Emma parou e apontou com o dedo para o pátio, onde
Edgar conversava com amigos.
—Dentro de uma semana, seu pai e aquele bando de conservadores anunciarão sua
candidatura à prefeitura da cidade. Hampshire precisa de sangue novo, e você, o filho
maravilhoso da estimada família Montgomery, é a pessoa mais indicada para ocupar o cargo.
—Tolice. Isso jamais acontecerá.
—De fato, não, e lhe direi por quê. Nós iremos desgraçá-lo em público, querido, libertá-lo,
para que viva como bem desejar. Logan suspirou diante de tamanha dramaticidade.
—Quanto exagero, vovó...
—Você dirigiu durante uma hora, de sua casa até aqui, Logan. Já que veio, pelo menos me
ouça.
Bem, ele não iria a nenhum lugar, e a vista dali era deslumbrante. Portanto, cruzou os braços
diante do peito e a encarou.
—Diga-me, então... que maluquice está planejando desta vez? — Apontou para a moça no
bar. — E como aquela belezinha poderia me ajudar?
—Você precisará de um escândalo, Logan, e quem melhor para arruinar sua reputação do
que alguém com uma história familiar de prostituição?
Logan estudou a jovem, o alvo de Emma.
—Não... Você não está falando sério.
A garota deixara o bar e agora transitava por entre os convidados, falando com discrição com
os garçons e servindo hors d'oeuvres aos convidados. Seu ar de autoridade ao falar a diferenciava
dos demais funcionários. Assim como sua minissaia preta a destacava das outras garçonetes
usando calças compridas. Um laço preto no colarinho da blusa acentuava as linhas de seu rosto.
Como ele não a notara antes?
—Aquela é a proprietária do Pot Luck, o bufê que contratamos para esta tarde. Não costuma
atender pessoalmente às recepções, mas insisti em tê-la aqui, esta tarde.
—Aposto que sim.
— E uma mulher de fibra, do tipo que eu gosto. Lembra-se daquela escola de modelos que a
polícia fechou no ano passado?
— Mais ou menos... Eu me encontrava fora do Estado. — Logan se formara em direito na
Universidade de Colúmbia, e quase de imediato começou a trabalhar em Manhattan, permanecendo
lá até o ano anterior, quando o ataque cardíaco que Emma sofreu o trouxe de volta.
Além de Grace, sua irmã, que Logan costumava ver em Nova York, Emma era a única da
família que contava.
—A moça e a irmã dela herdaram o negócio. Mas dizem que o proprietário anterior, tio
delas, usava a escola como disfarce para um serviço de acompanhantes de luxo.
—Mas a garota não estava envolvida.
—Lógico que não! Na época, era apenas uma criança. Todavia, pense na reação de seus pais
se você levar para casa uma mulher cuja família esteve envolvida em tal escândalo.
Decerto ela nada tivera a ver com os negócios do tio, e Logan recusava-se a comentar aquele
assunto ultrajante.
—Sabe que não costumo levar mulheres para conhecer meus pais, vovó.
Por que levaria? Eles tomariam isso como um sinal de que seu filho pródigo tinha intenção
de se casar. Logan não podia negar que sonhava em ter uma esposa carinhosa esperando-o de
braços abertos ao final de um longo dia. Queria muito isso, porém, ainda não encontrara uma
mulher que o interessasse o suficiente, alguém com quem se imaginaria partilhando da mesa de
jantar para o resto da vida.
—Contudo, sei que faria isso, se encontrasse a moça certa. Emma disse isso com um brilho
nos olhos que o alarmou.
Emma tinha um plano, e Logan desejou saber mais a respeito dele. Ela já admitira ter um,
mas era óbvio que não o inteiraria de todos os detalhes. Logan a conhecia bem demais para ser
complacente. No entanto, por ora decidiu ver até onde a avó iria.
—Minha vida social é intensa e bastante satisfatória, e, por enquanto, não penso em desistir
dela, por ninguém.
Na verdade, Logan era um homem ocupado, embora não se ocupasse muito com mulheres.
Porém, uma pequena mentira não faria mal a ninguém, menos ainda a Emma, que precisava
acreditar que seu neto era feliz e estava à procura da futura sra. Montgomery.
Nesse entretempo, ele mantinha alguns relacionamentos, fugazes, na verdade; e, embora
apreciasse o sexo frágil, como qualquer outro rapaz, no momento não via a possibilidade de
algum relacionamento duradouro.
As mulheres que Logan encontrava no trabalho, de lá para cá pelo tribunal, se importavam
mais com o que o nome Montgomery poderia fazer por elas do que por ele, como pessoa.
O mesmo acontecia com as que freqüentavam o ilustre círculo de amizades de seus pais, que
acabavam ficando bastante desapontadas, quando descobriam que Logan vivia do próprio salário,
e nada tinha a ver com a fortuna dos Montgomery.
E manter um casamento por causa das aparências, como no caso de seus pais, não o
interessava. Ninguém se beneficiava num matrimônio sem amor, muito menos os filhos, quase
sempre criados pelos empregados e ignorados por quem deveria amá-los.
—Abra os olhos, rapaz, e pense naquilo que falei sobre Edgar desejar transformá-lo em
prefeito da cidade. Se uma conversa séria não adiantar, poderemos recorrer aos cabeçalhos nos
jornais. "Filho do juiz Montgomery tem sido visto em todas as ocasiões em companhia da sobrinha
de um ex-aliciador de mulheres." Não que eu seja a favor de tal atitude. Catherine não merece isso.
— Emma indicou a jovem, que se encontrava de volta ao bar.
Bem, pelo menos tinha um nome. Logan precisava sabê-lo, se desejasse conhecê-la melhor.
—Sabe o quanto os jornais exageram quando o assunto é sexo, meu filho. Antes que perceba,
você será um ex-candidato.
Logan soltou um gemido.
—Detesto decepcioná-la, vovó, mas escândalos sexuais, hoje em dia, já não descredenciam
mais ninguém.
Emma deu de ombros.
—Talvez não, mas, em todo caso, notei que se interessou por ela... Siga meu conselho e vá
procurá-la. Algumas vezes sendo visto em público com Catherine resultará em embaraço
suficiente e, na certa, seu pai desistirá da campanha.
Logan meneou a cabeça.
— Que imaginação fértil a sua! Não será necessário ir tão longe. Em último caso, um debate
na televisão entre os candidatos à prefeitura seria suficiente.
— E quanto isso afetaria sua carreira profissional? Estou ciente de que o escritório de
defensoria pública é seu primeiro passo em direção ao próprio escritório de advocacia.
— Agradeço sua preocupação, vovó, mas saberei como lidar com o problema.
De repente, alguém bateu com afeto nas costas de Logan.
—É bom vê-lo aqui, filho. Sabia que você aproveitaria a chance de estar com nossos amigos e
colaboradores.
Com um movimento que aperfeiçoara com o decorrer dos anos, Emma ergueu uma
sobrancelha, como se dissesse: "Não falei?" Logan olhou para o pai.
—Claro... São pessoas importantes, papai.
—Fico satisfeito que encare desse modo, filho. Agora, só precisa aprender a arte de fazer
amigos e influenciar pessoas.
—Será mesmo que preciso disso? — Logan fingiu-se de desentendido. — Julguei que esta
fosse uma simples reunião ao ar livre, não que tivesse o objetivo de angariar fundos para algum
tipo de campanha política.
—Gosto do seu senso de humor, Logan.
Por trás do juiz, Emma fez uma careta diante de sua incoerência.
— Ainda bem...
— Mas você sabe tão bem quanto eu que, atrás de um evento como este, sempre existe um
propósito. O fato de você ter vindo confirma isso.
Logan esperou um instante antes de virar-se e passar um braço em torno dos ombros da avó.
—Emma me trouxe aqui, papai. Por nada no mundo eu perderia mais essa sua
extravagância. Além desse, não existe nenhum outro propósito.
Logan abraçou a anciã. Sua fragilidade o surpreendeu um instante, antes de tranqüilizar-se.
Não se deixava enganar por aquele corpo idoso, que escondia uma mente ágil e um espírito
generoso.
—Prometi a ele um bom divertimento.
O juiz lançou à mãe um olhar de advertência antes de virar-se para o filho.
—Precisamos conversar — disse o juiz.
Logan observou o pai. Com aquele terno escuro e aquele ar autoritário, o juiz Montgomery
mostrava toda a aparência de um homem que tinha nas mãos o controle dos próprios domínios.
Pena que Logan não vivia mais naquele reino, nem podia mais ser manipulado.
—Não há nada para dizermos um ao outro, papai. O juiz meneou a cabeça.
—Só quero seu bem, filho, e isso significa colocá-lo na prefeitura.
—Isso seria bom para você, que deseja manter a tradição política da família. Quanto a mim,
quero viver a meu modo.
—Você é muito jovem. Acabará mudando de parecer. Logan ergueu uma sobrancelha.
—E provável. Afinal, acabei comprando a casa na praia, mesmo após você ter tentado
sabotar as negociações. E obtive o emprego na defensoria pública, mesmo após você ter usado sua
influência pessoal para impedir. Sendo assim, talvez eu possa mudar de parecer, mas isso quando
o burro criar asas e voar.
Edgar estreitou os olhos.
—Influência sua, mamãe!
— Eu me orgulho dele, e você também deveria se orgulhar, Edgar. Que vergonha! Eu o criei
para ser uma pessoa bem melhor!
— Logan, veja se consegue convencer sua avó a se recolher. Ela deve estar cansada.
Falaremos mais tarde. — E, sem esperar por resposta, Edgar os deixou. .
— Ele está determinado, Logan.
— E eu, mais ainda, vovó.
Na verdade, Logan estava cansado de tanto lutar contra o pai. Só o que desejava era não
precisar batalhar por cada passo que dava.
—Ainda crê que não precisa de meu auxílio?
— Adoro você por se preocupar comigo, vovó, mas estou certo de que conseguirei convencer
o juiz.
— Pode ser... Mas com a ajuda de Catherine seria bem mais interessante.
Logan seguiu o olhar da avó até a mulher parada junto a uma das mesas, ajustando um
microfone, e teve de concordar. Não importando o quanto estivesse tentado, entretanto, não usaria
uma inocente como um peão no jogo que sua família fazia.
Mas isso não o impedia de tentar uma aproximação. Como Emma previra, Catherine o
fascinava de um modo como poucas haviam feito, e Logan queria saber por quê.
Colocou a taça de champanhe na bandeja de um garçom que passava por ali e preparou-se
para a investida.
—Vá falar com ela, querido... Estarei aqui, se precisar de apoio.
Logan beijou o rosto enrugado.
—Tenho certeza de que sim...
Logan fitou Catherine, que retornara ao balcão, e sorriu. Ela lidava com copos e garrafas com
habilidade. Um dos garçons parou perto dela e disse-lhe algo ao seu ouvido. Catherine saiu detrás
do balcão e dirigiu-se à residência.
Sem a sua presença, o bar ficou vazio e sem graça, como se encontrava a recepção, antes de
ele notá-la. Suspirou, vendo a oportunidade de aproximar-se de Catherine ir embora.
—Na certa, ela foi pegar mais guloseimas, e logo estará de volta. — Emma piscou, marota.
—Tem razão, querida. Vou esperar.
Nos últimos quinze minutos, aquele homem atraente e sensual não tirara os olhos dela,
Catherine notou. Devia ser proibido alguém ser tão bonito. A cor dos olhos já era suficiente para
atrair olhares por onde passasse. O tom de azul era tão intenso, que nem parecia humano em
contraste com os cabelos escuros.
Catherine não podia imaginar o que lhe despertara o interesse nela, quando havia dúzias de
outras jovens na festa, a maioria bela com seus vestidos de seda, e com unhas e cabelos
impecáveis.
Os passos de Catherine ecoavam no piso de mármore ao caminhar. Havia anos ela não se
sentia assim... inadequada. Observou o próprio uniforme de trabalho, o mesmo que usava em
qualquer uma das recepções atendidas pela empresa. Em vez de se sentir confortável, julgou-se
um peixe fora d'água e transportada de volta no tempo, quando ela e sua irmã eram as irmãs
Luck, e percorriam o lado errado do caminho.
Catherine balançou a cabeça. Não tinha por que negar, mas os ricos eram diferentes.
Contudo, não dera duro e chegara aonde chegara para permitir que a insegurança a perturbasse.
Na certa sobreviveria àquele evento, contanto que não chovesse e precisassem retirar água do
local por meio de baldes.
Catherine e a Pot Luck não podiam se dar ao luxo de um desastre, justo agora. Com Kayla,
sua irmã e sócia nos negócios, grávida e precisando ficar na cama de repouso por ordens médicas,
Catherine estava alcançando seu limite.
Após ter programado a comemoração, além de mais algumas outras, preparado e
supervisionado o cardápio para aquele dia, e agora estar substituindo o barman, sentia-se exausta e
estressada. Desde que a temperatura elevou-se, o número de festas e recepções ao ar livre cresceu,
e a Pot Luck estava com a agenda lotada para os próximos dias.
Sua empresa aceitava todo tipo de serviço, desde a organização de encontros completos a
uma simples recepção. Algum dia, quando sua reputação estivesse mais estabilizada e houvesse
mais recursos excedentes no banco, poderia ser mais seletiva.
Depois desse dia, se tudo corresse bem, aquele "algum dia" poderia chegar mais cedo do que
imaginava.
A festa dos Montgomery não fora programada com a antecedência exigida, mas Catherine
não teve dificuldade em rearranjar sua programação para acomodar Emma Montgomery. Aquele
evento poderia ser uma ótima referência para seu bufê, e ela não permitiria que nada arruinasse
aquela chance, nem mesmo um cozinheiro temperamental, que além de funcionário, era seu
amigo mais antigo.
Catherine adentrou a cozinha, que era uma das mais bem equipadas que já vira.
— Como vão as coisas, Nick? — Catherine aproximou-se dele e beijou-lhe a face.
— Vão bem... Saiba que o pato não está frio como andaram dizendo. — Fatiou um pedaço de
carne com a faca.
— Eu jamais falei que estava. Os convidados adoraram os hors d'oeuvres. Aposto como farão
propaganda sua daqui até Boston.
— Já sou famoso o suficiente lá, e não preciso de elogios, apenas de ajuda, e que chegue
rápido, para que a comida seja servida quente, e sem reclamações.
Alguém de fato se queixara da temperatura da comida, e Catherine precisava providenciar
ajuda ao cozinheiro, mas, primeiro, tentaria acalmá-lo.
Ela o fitou, notando sua zanga. Crescera com Nick, e sabia quando deveria começar a se
preocupar, ou quando seria capaz de contornar a situação com uma palavra ou duas.
Bastou dar uma olhada dentro do forno e inalar o delicioso aroma escapando dele para sua
boca encher de água.
— Isso está cheirando divinamente, Nick! Não conheço outro que consiga criar pratos tão
deliciosos.
— Não adianta me bajular, Catherine. Já disse que não funciona. — Nick a encarou com
atenção pela primeira vez naquele dia, e tocou de leve seu rosto. — Você está vermelha.
— Com toda essa correria, esqueci de passar protetor solar. — Catherine deu de ombros. —
Além disso, nem todos temos a sorte de possuir uma pele morena como a sua.
—Você é clarinha. Devia ter mais cuidado.
Catherine suspirou. Desde que conseguia lembrar, Nick sempre procurou protegê-la. Ele
tinha a aparência clássica das pessoas nascidas no Mediterrâneo, e a maioria das mulheres o
teriam agarrado na primeira oportunidade. Não Catherine, porém. Amores vinham e iam; bons
amigos eram para sempre.
—Prometo que terei, querido. Mas pare de reclamar.
—Só se você jurar dar uma olhadinha nos homens lá fora. Há de todos os tipos e tamanhos.
Altos, baixos, gordos, magros, ricos e riquíssimos... E só escolher.
O estranho sensual e de cabelos negros surgiu na mente de Catherine, mas ela fez força para
bani-lo de lá. Antes de ter entrado naquela mansão luxuosa, com toda aquela gente elegante
circulando pelo jardim, ela acreditava-se acima das recordações dolorosas associadas a sua origem
humilde. No entanto, toda aquela sofisticação trouxe de volta as lembranças dolorosas.
Catherine e aquele desconhecido que a fitara de modo insistente pertenciam a mundos
distantes, sem dúvida.
—Essas pessoas vivem de um jeito muito diverso do nosso, Nick.
—Só porque você quer, não que seja verdade. Precisa sair, conhecer rapazes, se distrair...
Passa muito tempo sozinha, Catherine!
Ela deu de ombros.
—Pelo menos estando só, eu não me decepciono. — Suspirou. — E minha culpa se ainda não
encontrei o sujeito certo?
Catherine precisava encontrar um homem que a merecesse, e que por ele arriscasse seu
coração. Não importando o que Nick pensasse, não seria naquela festa que o acharia.
—Como sabe se é certo ou não? Você foge deles antes que possam provar o que são. Tomeme
por exemplo.
—Eu o rejeitei quando tínhamos dezesseis anos, mas você conseguiu sobreviver. — Ela
verificou as horas no relógio de pulso. — Bem... O dever me chama. E melhor deixar essa conversa
fiada e ir trabalhar.
—Pense no que eu falei.
—Vou pensar... Você é um príncipe — disse ela, por sobre o ombro, antes de sair da cozinha.
Catherine exalou outro suspiro, desolada ao olhar para o céu e ver as nuvens mais escuras e
pesadas do que estavam cinco minutos atrás. Um pouco abalada devido ao diálogo que acabara de
ter, apoiou-se no balcão do bar, cerrou as pálpebras e procurou se acalmar.
Uma voz profunda causou-lhe um sobressalto: — Diga-me... o que foi que colocou tanta
preocupação nesse lindo rostinho?
Catherine nunca ouvira aquela entonação quente, mas seu corpo reagiu de imediato.
Adivinhava a quem pertencia; só não imaginava como lidar com seu dono.
CAPÍTULO DOIS
Catherine ergueu as pálpebras e se viu diante de um par de olhos azuis como o céu.
Passado o choque, forçou-se a sorrir.
—Deseja um drinque, senhor? Logan sorriu.
—Sim... O que sugere?
Ele era dono de uma boca sedutora como Catherine jamais vira e sorria de modo
deslumbrante. Era perfeito demais. E masculino ao extremo. Sexy como nenhum outro.
Catherine espantou-se com o modo como deixou suas pernas trêmulas. Estreitou os olhos
para avaliar que tipo de drinque ele escolheria para beber, mas estava apenas substituindo o
barman, e olhar para ele não a ajudaria a adivinhar sua preferência.
—Temos de tudo aqui... ou quase. Do que gostaria? Logan inclinou-se em sua direção, os
cotovelos apoiados no balcão. Sua colônia era deliciosa e exclusiva, uma combinação sensual que
fazia lembrar especiarias, tentações e... problemas.
—Algo que refresque.
Nuvens cinzentas e ameaçadoras agrupavam-se no firma-mento, e uma forte brisa já
começara a soprar vinda do oceano, fazendo cair a temperatura.
—Um copo de água gelada funcionaria — Catherine murmurou. As íris dele escureceram, de
súbito, e ela constrangeu-se ao se dar conta de que pensara em voz alta. Logan, em seguida, deu
uma risada.
—Sei de várias outras coisas que também funcionariam.
Aquele homem era por demais seguro de si... por demais sedutor, e Catherine não era tão
confiante como gostaria que todos acreditassem que era. Mas a vida a ensinara a não confiar
demais, especialmente se tratando de um moço com todo aquele charme, e sabendo tão bem como
usá-lo.
Fitou-o com altivez, decidindo não entrar em seu jogo.
— Que tal então uma cerveja, senhor? O sorriso dele se alargou.
— Agora você acertou!
Logan contornou o canto do balcão e sentou-se em uma das cadeiras altas do bar, perto
demais, no pouco espaço que Catherine tinha para trabalhar.
Ela o serviu.
—Acompanha-me?
— Não, obrigada, estou de serviço. — Com um pano, Catherine fingia limpar a fórmica
imaculadamente limpa.
— Por que não? Por causa de seu chefe? Falarei com ele, se quiser.
— Eu sou o chefe aqui, e não costumo misturar trabalho com prazer.
Muito menos quando o risco parecia tão grande... e, se suas pernas trêmulas eram alguma
indicação, podia calcular o tamanho do prazer que seria.
—Um uísque com soda, por favor, senhorita — alguém pediu, do lado oposto do bar,
interrompendo-os.
Catherine agarrou-se à oportunidade de afastar-se de Logan e respirar. No entanto, ao
preparar o drinque, sentia o olhar ardente sobre si.
De repente, notando uma complicação perto dali, Catherine apressou-se em ir evitar o
desastre. Era um dos convidados, que bebera além da conta e passara a perturbar uma das
garçonetes.
Catherine estava habituada àqueles contratempos, mas isso, junto com a ameaça da chuva e a
necessidade de que as coisas corressem bem naquele evento, deixavam-na estressada-
Para piorar as coisas, o juiz Montgomery interpelou-a na volta ao bar. Embora Emma a
tivesse feito acreditar que a festa era dela, seu filho deixara claro que ele pagava as contas.
O juiz Montgomery pediu-lhe para que avisasse as demais garçonetes para que circulassem
mais, e que todas, incluindo ela própria, estavam proibidas de conversar com os convivas. Pelo
bem dos negócios, Catherine precisou engolir o orgulho e acatar a ordem. Não havia necessidade
de informar o homem que pagava pelo evento que o convidado em questão é que viera a ela. Ele,
na certa, não acreditaria. Em vez disso, fez uma leve reverência e afastou-se em direção ao bar. De
uma coisa tinha certeza: respiraria aliviada quando aquele dia terminasse.
Encontrou seu visitante sentado no mesmo lugar, de braços cruzados.
— Está precisando dar uma parada.
— Não posso me dar a esse luxo, senhor.
Logan olhou para o lugar onde ela estivera conversando com o juiz e, em seguida, bateu de
leve no banco ao lado do seu.
—Sente-se aqui e abra seu coração... Sou bom ouvinte. — O que parecia ser genuína
solidariedade deixou as feições de Logan ainda mais belas.
Se Catherine permitisse, ele seria capaz de seduzi-la apenas com aquele ar solícito. Mas que
tola! Aquela era sua meta. Apesar disso, a temperatura de seu sangue aumentou. Ou era sua
entonação quente e sensual que causava isso?
—Creio que nossos papéis estão trocados. Sou eu do lado de dentro do balcão, portanto,
aquela que deveria oferecer o ombro amigo.
Logan estendeu a mão e tocou seu brinco prateado.
—Mas não sou eu aqui que está precisando de um. "Que homem intrigante!", pensou
Catherine. Parecia conhecê-la tão bem...
— Aprecio sua gentileza, mas acabei de receber um aviso: nada de conversa com os
convidados.
— Você está fazendo um grande trabalho aqui. Eu, em seu lugar, não permitiria que nada, ou
ninguém, me perturbasse.
Lógico que ele nada sabia sobre precisar agradar um cliente, ou mesmo sobre ter de pagar as
contas no final do mês. Catherine precisava do sucesso daquela festa, e isso não aconteceria se
passasse a tarde deixando-se envolver por um homem lindo e fora de seu alcance.
— Não sou uma das convidadas... Estou aqui para trabalhar. Lembra?
— A comemoração está sendo um sucesso. Ignore-o. Por que permitir que lhe diga o que
fazer?
— É o juiz quem está pagando por meu serviço. Por falar nisso... — Catherine ergueu uma
sobrancelha. — Ele avisou para que eu ficasse longe de você... Mas quem sabe tenha dito isso
munido das melhores intenções...
Logan balançou a cabeça.
— Por que o cinismo?
— Honestidade, eu diria. Sou uma pessoa que diz o que pensa e sente.
— Procurarei não esquecer. Bem, se você quer assim, o que posso fazer? Sirva-me outra
cerveja, sim? Esta perdeu o gelo.
— Não perturbe a moça, Logan — disse Emma Montgomery, interrompendo-os.
— Eu tentava convencê-la a me dar uma chance, mas você chegou e estragou tudo.
— E, pelo visto, você falhou miseravelmente.
— Puro engano. Ela estava prestes a aceitar sair comigo para beber algo.
Catherine achou graça.
—Eu estava?
Logan passou o braço pelo espaldar da cadeira, e Catherine tremeu quando sua mão roçoulhe
o ombro.
—Estava.
Seus olhares se encontraram, e Catherine se perguntou: "Por que não?".
—Sempre soube que meu neto tinha bom gosto. — As palavras de Emma Montgomery
deram-lhe a resposta.
Sair com um homem bonito e atraente era uma coisa; outra bem diferente era começar a
fantasiar a seu respeito.
Aquele rapaz era um Montgomery, uma das famílias mais ilustres da região. Seus familiares
jamais a aceitariam, nem mesmo se Emma Montgomery exigisse isso...
Catherine não pôde evitar de se perguntar se Emma seria tão simpática em relação a ela e seu
neto como fora com os negócios. Agora entendia o aviso do juiz Montgomery e seu óbvio desdém.
Eles não a queriam perto do filho. Emma deu palmadinhas afetuosas em sua mão.
—Que reunião agradável, Catherine! Você excedeu minha expectativas.
Minutos atrás, Catherine teria concordado com ela, mas agora se viu duvidando. E se havia
algo que ela detestava era sentir-se insegura. Concluiu que precisava afastar-se daquela gente
antes que perdesse a fé em si mesma. Uma fé que conseguira a duras penas.
Suspirou e consultou o relógio de pulso. Estava quase no fim.
—Queiram me desculpar, mas preciso voltar ao trabalho.
—Quer dizer que, afinal, se recusa a sair comigo? Não é nada demais, apenas um simples
drinque.
Os olhos dele anuviaram, como os de um garotinho decepcionado. Se Catherine não tomasse
cuidado, acabaria acreditando que de fato ferira seus sentimentos, quando o máximo que
conseguiria fazer, decerto, fora ferir seu orgulho.
Observou Emma Montgomery afastar-se, a avó dele, e balançou a cabeça, desapontada.
Então, virou-se para o privilegiado filho do juiz.
—Não consigo entender o que você pode estar procurando aqui, mas, seja o que for, não
posso fornecer-lhe.
—Quero apenas companhia. Sua companhia. Catherine passou a estudá-lo, tentando avaliar
o grau de sua sinceridade.
—Lamento, mas tenho outros planos. — Ela ajeitou a saia, que subira alguns centímetros,
sem que percebesse.
— Está me magoando...
— Você sobreviverá.
Logan a deixava sem fôlego e confusa, a ponto de não saber mais o que fazia. Mas não podia
mandá-lo embora. Pior: Catherine não queria que ele fosse.
—Como quiser... Mas uma outra bebida você não pode me negar.
Catherine estava sendo paga para servir, mas não gostou de ser lembrada disso. Quanto mais
rápido lhe desse o que pedira, mais rápido ele iria embora.
—Muito bem. Já decidiu o que deseja?
Logan duvidava que ela fosse gostar de saber de seu verdadeiro desejo, ainda mais quando
os colocava na horizontal com os corpos despidos e espremidos sob os lençóis, ali mesmo, na
cabana atrás da piscina.
—Decida-se. Preciso reabastecer as bandejas.
O hálito quente de Catherine alcançou a face de Logan. Seu perfume, uma inebriante mistura
oriental, entorpeceu-lhe os sentidos. Olhou para as pernas bem torneadas, procurando ser
discreto, porém, a visão era por demais tentadora para um homem resistir.
Tamborilando os dedos sobre o balcão, Catherine insistiu:
—Estou esperando.
— Não seja tão impaciente... Preciso da certeza de que terei exatamente o que quero. —
Logan precisava despertar seu interesse, fazê-la querer conhecê-lo melhor, tanto quanto queria
conhecê-la.
— Estou desconfiada de que toda essa conversa é uma desculpa para demorar-se por aqui.
Não entendo por quê. — Seus olhos verdes faiscavam, cheios de curiosidade.
O que, Logan decidiu, ser melhor do que desdém ou desinteresse. De fato, ele não queria se
afastar. Preferia ficar e deliciar-se com sua beleza loira.
Catherine conseguia ser muitíssimo feminina, e era bem provável que seria capaz de
adivinhar seus pensamentos. Já devia ter percebido que ele queria mais do que apenas sua
companhia, e acertara. No entanto, por mais que ele a desejasse, era cedo ainda.
—Quero algo especial... Mais do que apenas uma cerveja gelada. — Ele olhou para as mãos
dela, pela primeira vez notando as unhas curtas e bem tratadas. Não eram artificiais, nem pintadas
com esmalte vermelho. Aquilo o agradou. Inclinou-se para a frente. — Gostaria que criasse algo
mágico para mim.
—Não acha que já passou da idade de acreditar em magia? Se a magia deixara a vida dela,
Logan queria ser aquele a restaurar sua fé.
—Tenho idade suficiente para saber o que quero, mas não idade demais para você... —
Estendeu a mão e afastou-lhe uma mecha da testa, em seguida correu os dedos por seu rosto.
Os brincos prateados que Catherine usava eram intrigantes. Um delicado contraste com sua
língua afiada e seu severo exterior. Logan riu.
—Você causa um mal danado ao ego masculino, sabia disso? Não que Logan acreditasse em
sua declarada rejeição. O pulsar descontrolado no pescoço dela e o modo como corou quando ele
deslizou a mão por seu rosto a traíram.
Quando Catherine sorriu com seus dentes alvíssimos, revelou-se uma covinha em cada um
dos cantos dos lábios sedutores. Logan jurou que provaria o sabor daquela boca, naquele dia
mesmo, antes que a noite terminasse.
—E então, sr. Montgomery? Já se decidiu?
O tempo passava depressa. Ele fitou aqueles fascinantes olhos verdes antes de inclinar-se e
sussurrar em seu ouvido:
—Desejo tornar seus sonhos realidade... todos eles.
Catherine sentiu-se arrepiar. Havia pelo menos umas cinqüenta pessoas passando por ali, e,
mesmo assim, ela não foi capaz de reprimir o tremor de excitação que as palavras dele causaram.
Graças ao tom rouco de sua voz, Catherine soube o que Logan a queria, mas a sinceridade
em suas íris azuis a fez querer acreditar que ele queria mais do que um simples flerte.
Ainda assim, após aquele jogo perturbador, Logan levantou-se e a deixou, fazendo-a lembrar
que havia outros convidados à espera. Observou-o atravessar as portas duplas e entrar na mansão,
sem olhar para trás.
Seus instintos não a enganaram. Logan a vira apenas como uma interessante diversão, mas
desistiu do desafio ao notar que não era uma mulher fácil. Deu de ombros. Já não havia desistido
dele? Então por que o desapontamento?
Na hora seguinte, as nuvens escureceram ainda mais. Os convidados começaram a se
despedir, pouco a pouco, e a equipe de limpeza já se encontrava a postos para iniciar o trabalho,
assim que o último deles se fosse. O funcionário que se encarregaria do próximo turno já chegara,
e Catherine não tinha mais motivos para permanecer na propriedade.
Passou por alguns convivas ao se dirigir à entrada da mansão. Lá, entrou no closet, maior do
que o quarto que ela partilhava com a irmã, e acendeu a luz.
Como o dia desde cedo ameaçava ser chuvoso, o local encontrava-se repleto de casacos e de
sobretudos, assim como a capa de chuva de Catherine.
—Vovó!
Catherine de imediato reconheceu a voz profunda, e virou-se a tempo de ver Logan abrir a
porta e olhar dentro do closet.
—Vovó? É você?
—Não. A não ser que esta festa tenha me feito envelhecer mais do que eu julgava possível.
Ele caminhou em sua direção, fitando-a com intensidade.
—Posso garantir que nada disso aconteceu. Você continua linda e jovem... Uma combinação
para lá de letal.
Catherine decidiu ignorar o comentário.
—Julguei que tivesse ido embora. — Ela segurou a capa contra si, como se pudesse assim
evitar que sucumbisse ao charme dele.
— Esteve me vigiando?
— E minha obrigação estar atenta aos convidados.
— É mesmo? E esconder-se atrás do trabalho também é?
—Como assim? — indagou, apesar de ter entendido muito bem: Logan não acreditara em
sua fingida frieza.
Ele aproximou-se.
—Estou dizendo que, toda a vez que tento chegar mais perto, você usa o trabalho como
desculpa para fugir de mim. Eu a amedronto, Catherine? Seria a última coisa que desejaria.
—Diga logo, sr. Montgomery, o que quer de mim. Logan riu.
—Um tratamento cerimonioso não me manterá à distância. Trate-me por Logan.
— Eu...
— Fale: Logan.
Catherine umedeceu os lábios, de repente secos, ciente de que ele acompanhava o
movimento.
—Logan.
—Ótimo. Bem... se quer mesmo saber, eu lhe direi. Pretendo apagar esse cinismo de seus
belos olhos, quero tornar seus sonhos realidade, quero...
—Você quer se divertir.
Ele teve a audácia de achar graça.
—Isso também.
Catherine adoraria ser capaz de resistir àquela formosura toda, de sorriso fácil, mas isso
significava sair dali correndo e voltar para seu apartamento vazio, porém, onde estaria mais
segura.
—Logan, creio que...
Naquele instante, um forte bater da porta a sobressaltou.
—Silêncio. — Ele pôs o indicador sobre seus lábios.
Antes que Catherine se desse conta, Logan já segurava a maçaneta. O som do metal batendo
contra o piso de mármore a fez arregalar os olhos. Em seguida ouviu-o praguejar baixinho.
—O que houve?
—Nada, contanto que você não sofra de claustrofobia. — Ele pegou a maçaneta do chão. —
Isso está parecendo arte de minha avó. Não que eu me importe.
—Como assim?
Logan bateu na madeira com o punho cerrado.
—Abra, vovó!
—Por que a pressa? A companhia é boa, e vocês têm todo o tempo do mundo. Fiquem aí.
Vou procurar alguém que entenda de fechaduras. Creio que fiz um belo estrago, mas não foi de
propósito. A maçaneta caiu na minha mão quando tentei entrar — mentiu. Em seguida, ouviu-se o
som de seus passos se afastando.
—Ela não fez isso! — Catherine não sofria de claustrofobia, mas não estava gostando da
sensação de estar presa numa armadilha. Ainda mais com aquele homem.
—Pode acreditar. Ela fez. — Logan deu de ombros. — Lamento muito. Emma tem a
tendência de se empolgar pelas coisas. Empolgou-se com você.
—Só ela?
—Está sugerindo que nós dois planejamos isso? — Ele sorriu bem-humorado. — Estou
interessado, não desesperado. Posso conseguir minha mulher sem a ajuda de ninguém.
— Sua mulher? Você está falando como o homem de Neanderthal. Que tal derrubar a porta,
Tarzan?
— Se eu tentar nos tirar daqui, você me acompanha naquele drinque?
— Então, quando não está usando sua avó, lança mão do suborno?
— Isso é um "sim"?
Catherine acreditava que Logan nada tinha a ver com a presente situação. Aquilo era, sem
dúvida, coisa da excêntrica Emma Montgomery. A questão era: por quê.
Emma, com certeza, não achava que Catherine seria a escolha adequada para seu neto, nem
devia acreditar que Logan não fosse incapaz de conseguir alguém para sair com ele.
Por falar em sair, Catherine precisava decidir. O closet, que antes parecera tão amplo,
tornava-se menor a cada minuto. Não conseguia respirar sem inalar o perfume dele, uma
fragrância erótica que a deixava sem fôlego e ameaçava sua sanidade.
Um drinque num lugar público seria mais seguro do que ficar ali junto daquele homem.
Fitou-o, fingindo a maior naturalidade possível.
—Está bem, Logan... Mas apenas um, certo?
Só esperava não se arrepender mais tarde de ter concordado.
CAPÍTULO TRÊS
ão sei se fico feliz por você ter aceitado, ou insultado, por sua pressa em sair daqui —
queixou-se Logan.
N
—Não se empolgue tanto. Aceitei porque estou com sede. Agora, dê um jeito nessa porta.
Enquanto Catherine estivesse por perto, Logan jamais teria seu ego inflado. No entanto, era
honesto o bastante para admitir que queria estar com ela, que precisava de algum tempo com
aquela bela jovem, mas dado com espontaneidade, não arrancado à força.
Logan olhou para a porta antes de golpear a madeira com vigor, usando o ombro. Gemeu de
dor, e a porta continuou onde estava. "Droga!" Anos jogando beisebol no colégio deixaram alguns
de seus ossos arruinados.
No mesmo instante, Catherine foi até ele.
—Machucou-se? Sinto muito...
—Não foi sua culpa — murmurou ele, entre os dentes. Então contou até dez e esperou voltar
ao normal.
Mãos suaves tocaram-no. Logan permitiu que Catherine lhe tirasse o paletó. Se desejava
bancar a enfermeira, nada tinha contra, embora não sentisse nenhum orgulho por estar tirando
proveito da sua generosidade. Mas duvidava que tivesse outra oportunidade de tê-la tão perto. O
perfume que ela usava, sutil e embriagador, parecia envolvê-lo como uma nuvem protetora.
Catherine sentou-se no chão, as costas contra a parede, e convidou.
—Sente-se aqui.
Logan sentou-se e ela então começou a trabalhar seus músculos dos braços e ombros com as
pontas dos dedos. A pressão era tão agradável que ele gemeu, deliciado.
— Isso é muito bom... Obrigado.
— Não precisa agradecer. Agora, diga-me: como foi que acabamos deste jeito? O que o fez
pensar que sua avó estivesse aqui?
Logan inclinou a cabeça para melhor focalizar o movimento rítmico de seus dedos.
—Um dos garçons chegou para me avisar de que veio ao closet e estaria a minha espera. Até
aí, nada de mais.
Catherine continuava a massageá-lo.
—A não ser que você conheça minha avó. Ah... Um pouco mais pra cima...
Ela obedeceu.
Aqueles dedos eram mágicos, e Logan se viu seduzido... pelo toque, pelo perfume, por ela.
— Melhor?
— Não tenha a menor dúvida!
—A qualquer minuto, alguém deve chegar para nos tirar daqui.
— Se acredita nisso é porque não conhece minha avó.
— Porém, temos de sair daqui, de qualquer modo... Nesta casa deve haver alguém que saiba
lidar com algo tão simples como uma maçaneta quebrada; até mesmo um dos faxineiros poderá
fazer isso.
— Se é que Emma pediu a alguém para vir, e não creio nisso. — Logan virou a cabeça para o
lado e fitou-a nos olhos verdes e brilhantes.
— Eu devia estar lá fora. Alguém pode querer um drinque — disse Catherine, mas seu
protesto não o convenceu.
— Emma já deve ter contornado a situação. Além disso, a festa acabou, com o juiz lembrando
a todos do desjejum formal que ele estará oferecendo, pela manhã.
Logan sabia disso porque passara horas tentando assegurar ao pai de que não estaria
presente, que não iria se encontrar com seus futuros partidários e que, decerto, não estaria presente
à entrevista com a imprensa no próximo sábado.
E, pelo modo como o juiz o fitou, ficou óbvio que não acreditou em suas palavras. Pior para
ele. Edgar não poderia dizer que não fora avisado.
— Você costuma chamar seu pai de juiz?
— Não é o que ele é?
— Mas também é seu pai.
— Que trata a todos como se estivesse no tribunal.
—Sempre pensei que ter um pai, qualquer que fosse, seria melhor do que não ter nenhum.
Então, ela não tinha um pai. Logan guardou a informação, sentindo ser aquela uma
importante faceta em sua natureza, talvez um meio de derrubar suas defesas.
—Nem sempre. Todavia, não me leve a mal. Edgar é um pai sempre presente em nossas
vidas, contanto que sigamos os regulamentos à risca.
Contudo, isso estava perto de mudar. Edgar Montgomery tolerava bem o comportamento...
por se assim dizer... irregular de seu único filho, mas apenas porque, no fim, sempre obtinha o que
desejava. No entanto, dessa vez isso não aconteceria, o que poderia causar o rompimento
definitivo de Logan com a família.
— Você disse "nós"?
— Eu e minha irmã, Grace.
—Também tenho uma irmã. Mas, diga-me, como foi crescer aqui, nesta mansão? —
Catherine fez um gesto gracioso com a mão.
Gomo regra geral, Logan preferia não relembrar a infância. Revelara mais naquela conversa
do que nos trinta anos passados. Junto com as lembranças, vinha sempre o temor de acabar
sozinho, como Edgar.
Não importava quantas pessoas o juiz trouxesse para casa, não importando o fato de ter sua
mulher sempre por perto, seguindo cada um de seus movimentos, pois ele era como uma ilha.
Permitia que os demais se chegassem, mas nunca perto demais. Nem mesmo os próprios filhos.
Catherine olhava para Logan e para sua fortuna com suspeita. Por esse motivo, resolveu usar
de sinceridade:
—Foi muito solitário.
A mão dela fechou-se em torno da dele, e, em seguida, Catherine pousou a cabeça em seu
ombro.
Atônito, Logan olhou para suas mãos entrelaçadas. Ela viera a ele com uma simples verdade.
Sendo sincero, apenas conseguira abrir uma brecha em suas defesas. Dinheiro e status não a
impressionaram, sinceridade sim. O respeito que sentia por ela cresceu.
Catherine se pôs de joelhos e fitou-o com curiosidade no olhar.
— Como pôde sentir solidão estando rodeado de gente?
— Porque ninguém, exceto Emma, nos dava valor. Ela sorriu, o que o comoveu.
— Gosto dela.
—Eu também. — E Logan supôs que devia agradecer à avó por tê-la conhecido.
No entanto, pretendia passar-lhe uma preleção, por estar •e intrometendo em sua vida. Não
que Emma fosse ouvi-lo.
—Diga-me, Catherine... Como conheceu minha avó?
—Numa festa beneficente, em Boston, onde trabalhei. Emitia queria mais hors d'oeuvres, e foi
à cozinha apanhá-los. Eu a atendi, e começamos a conversar. Logo depois, contratou meu bufê
para este evento.
Logan a fitou e se deu conta de estar muitíssimo grato por ter vindo.
—Vovó é uma mulher inteligente... e muito esperta.
—Está dizendo isso porque ela nos trancou aqui?
—Porque Emma gosta de você... e eu também. — Seus olhares se encontraram, e o local
pareceu carregado de eletricidade.
Logan pegou-a pelo queixo, aproximou os rostos... e esperou. Se notasse alguma hesitação
nela, não iria em frente, Não escondeu o desapontamento quando Catherine fez um gesto de
negativa.
Quando tentou soltá-la, a súbita pressão dos dedos dela em seu pulso o fez parar.
—Não.
—Não o quê? Não me beije ou não se afaste? Porque não faço esse tipo de jogo, Cathe. Eu te
quero e sei que você também mo quer.
—Porém, o que quero e o que é bom para mim são duas coisas diferentes — sussurrou e o
encarou. Esse foi seu grande erro.
Não existia mais ninguém além de ambos naquele ambiente, e, como se fosse a coisa mais
natural do mundo, Logan aproximou-se e beijou-a.
Um beijo doce, como Catherine jamais havia provado, que, de repente, terminou. Ela sentiuse
desamparada.
Logan olhou-a, muito sério, mas não se afastou. Ao contrário, buscou-lhe os lábios outra vez,
mas agora de modo mais ardente.
Catherine cerrou os olhos e entregou-se ao calor daquele instante.
Sem nenhum aviso, um ruído à porta a fez afastar-se de um salto, interrompendo o beijo
passional, que jamais deveria ter acontecido.
—Parece que vieram nos resgatar, Cathe.
Catherine fez força para se mover. Ignorando as batidas rápidas de seu coração, levantou-se,
evitando fitá-lo. Perdera a cabeça, e sabe-se lá até onde teriam ido se não tivessem sido
interrompidos.
Depressa, pegou a capa, a bolsa e aprontou-se para sair, porém, Logan segurou-a pelo braço.
— Você nada fez de errado, Cathe.
— Quem disse que fiz? Afinal, um beijo é apenas um beijo. Ele ergueu as sobrancelhas.
—Gostaria de dizer que lamento muito, mas não posso. — E Logan a precedeu em direção à
saída.
Catherine observou-o, perguntando-se o que havia acontecido para ter perdido o controle.
Observou as mãos trêmulas, sentindo a energia sexual pulsando através dela.
Desejou que desejo fosse tudo o que sentisse por Logan Montgomery. Sexo era puramente
físico e fácil de se deixar para trás. Ele, não.
Havia um homem de verdade escondido atrás do playboy charmoso que Logan aparentava
ser. Ainda restava nele algo do garoto solitário que fora, que crescera naquele mausoléu, igual a
ela, que também fora uma criança solitária, desenvolvendo-se em meio à pobreza.
Para piorar as coisas, Catherine descobriu que, em algum ponto entre a entrada naquele
roupeiro e a saída, Logan passou a ter importância para ela.
Catherine ouvia os movimentos de alguém lidando com a fechadura. Segundos depois, as
dobradiças foram removidas, e a porta, retirada do batente.
Catherine passou direto por Logan. Piscou até que a visão se ajustasse à claridade. Quando
Logan aproximou-se, ela já havia se recomposto.
—Bem... Eu preciso ir. Boa noite. — Estendeu-lhe a mão, sentindo-se meio ridícula. Em
seguida, sentiu-o corresponder ao cumprimento.
— Não está esquecendo nada, Catherine?
— Estou?
—Você me deve um drinque, e eu jurava que era uma mulher de palavra.
—Não nos tirou de lá, lembra?
—Eu disse que tentaria, e tentei. — Ele esfregou o ombro, para enfatizar o que dizia.
Ele tinha razão. Catherine lhe devia um drinque, mas não precisaria fazer isso já. Pelo menos,
teria chance de pensar melhor em tudo o que estava acontecendo. Fosse lá o que fosse, não devia
passar de um entusiasmo passageiro.
—Lamento, mas não irei a lugar algum vestida deste modo.
—Por que não? Você está linda. Venha, confie em mim, Cathe. Confiar nele? Catherine quase
riu. Seu pai não dissera a mesma coisa a sua mãe uma noite antes de partir para nunca mais
voltar? Se Catherine concordasse em acompanhá-lo, na certa acabaria sendo seduzida e
abandonada. Então por que algo dentro dela lhe dizia que aquele homem merecia o risco?
—Sinto muito. Estou com a van da empresa e não posso deixá-la estacionada aqui.
Logan a fitou, com suspeita no olhar.
—Acho que você está tentando me enganar... Que tal apostarmos? Se isso for verdade, você
poderá ir para casa. Se não, será drinque e jantar.
Agora ela o pegaria.
—Essa será fácil.
Catherine abriu a bolsa e de lá tirou a chave da van. Alguns minutos mais, e então estaria
livre para voltar para casa.
—Veremos... — Logan estendeu a mão para pegar o chaveiro, mas, em vez disso, seus dedos
envolveram os dela, com firmeza.
Catherine o seguiu através dos jardins. A chuva, que havia se contido durante a festa, enfim
caía. Logan passou o braço em torno de seu ombro enquanto a conduzia aos fundos da residência,
onde os veículos encontravam-se estacionados.
Logan ligou o ar quente do jipe. Catherine, do banco de passageiro, a seu lado, olhou para a
noite lá fora. A chuva batia tão forte e rápida que o pára-brisa não dava conta de limpá-lo. Logan
era forçado a chegar para a frente para tentar enxergar o caminho.
O silêncio reinava ao lado dele.
— Ficar zangada não ajudará em nada.
— Não estou zangada. Estou furiosa!
— Com o quê?
— Para começar, com sua avó. E para finalizar, com meu assistente.
— Ouviu o que ele disse... Emma assegurou a todos que você estava dando um passeio para
conhecer a mansão, e que eles podiam ir em paz, porque ela lhe providenciaria uma carona para
casa, o que estou providenciando... assim como vovó planejou — acrescentou, num sussurro.
A última coisa que Logan precisava naquele momento era de uma avó intrometida fazendo
planos para ele, não quando Catherine confiava tão pouco. Queria que ela o aceitasse, que
confiasse nele.
—Quer que acredite que você não planejou nada disso, Logan?
—Não existe plano algum, pelo menos de minha parte. Por mais que desejasse mantê-la
consigo, Catherine preferia
ir embora. Só um crápula forçaria sua presença perante uma mulher.
— Para onde? — perguntou ele.
— Como posso saber? Ele a fitou.
— Vou levá-la embora, Cathe.
O silêncio mais uma vez se fez. Catherine, então, olhou para ele, surpresa.
—Por quê?
— É óbvio que você prefere assim. Pensei que fosse gostar de um drinque, para relaxar, mas
me enganei. Longe de mim querer impor-lhe minha presença mais que o necessário.
— Você é sempre assim tão cavalheiro, ou está querendo se fazer de bonzinho?
Logan deu de ombros.
— Você é sempre assim tão cínica?
— Respondendo uma pergunta com outra pergunta, sr. advogado?
— Nós, advogados, somos ladinos por reputação, portanto, não tenha idéias positivas e
suaves a meu respeito.
Logan jamais bancara o capacho para que alguém pisasse nele, e, embora na certa acabasse
caindo de joelhos implorando por Catherine, jamais admitiria isso em voz alta. O pensamento o
fez contorcer-se no assento.
Ela riu.
— Há várias maneiras de descrevê-lo, Logan Montgomery, e de ser... suave, não é uma delas.
— Diga algo que eu ainda não saiba. — Quanto mais inalava seu perfume, mais crescia seu
desejo por ela. Droga. Precisava afastar-se, e o quanto antes. — Como eu já disse, estou interessado,
não desesperado. Seu endereço, por favor.
A força com que a chuva batia no pára-brisa era uma prova de que a meteorologia acertara
em cheio ao prever uma tempestade para aquela noite. Logo a estrada ficaria ainda mais perigosa
do que estava. Mesmo conseguindo chegar à casa dela, seja lá onde fosse, não daria para voltar à
mansão. Ele observou-a e duvidou que fosse lhe oferecer abrigo. Não que a culpasse. Após o que
Emma havia feito, Catherine decerto não permitiria que ele passasse a noite em sua casa, nem que
fosse para dormir no chão da varanda. Seria forçado a pernoitar num quarto de hotel, mesmo
preferindo não gastar dinheiro.
Viver de seu salário de defensor público não fora nenhum problema até ele decidir comprar
a velha casa de praia e reformá-la. A paz e a tranqüilidade que a vista do oceano proporcionava
merecia o sacrifício, mas a reforma consumira todas as suas reservas de dinheiro. Ele sabia que
precisava economizar, mas voltar a viver na mansão por economia e sacrificar sua independência,
nem pensar. Olhou para sua passageira.
—Deixarei você em casa em segurança, não se preocupe. Catherine suspirou, mas o começo
de um inesperado sorriso surgiu em seus lábios.
—Qual é a graça?
—Assim fica difícil não gostar de você. Logan acariciou-lhe a face.
—Não era essa minha intenção... mas não posso dizer que esteja desapontado.
Catherine sorriu e se pôs a observar o homem ao seu lado. Ele sabia como tirar vantagem da
situação sem que ela se sentisse como se estivesse sendo manipulada. Justamente quando ela
erguera suas defesas contra o charme daquele homem atraente, ele resolvia bancar o cavalheiro.
Mas ela ainda não sabia ao certo se poderia confiar nele. Pior, ela não sabia se podia confiar em si
mesma.
— E então? Onde você mora?
— No centro de Boston.
— Tão longe? Fica a uma hora de distância daqui.
—Por causa disso foi que planejei passar a noite com minha irmã.
O motorista do carro da frente freou, e Logan precisou agir rápido e desviar para evitar uma
colisão. O jipe derrapou perigosamente, e Catherine agarrou-se com ambas as mãos ao painel.
Logan praguejou, e, com habilidade, conseguiu controlar o automóvel.
—Você está bem, Cathe?
—Sim, estou. — Ela suspirou. Não havia como chegar em segurança à residência de Kayla, a
meia hora de distância, com toda aquela chuva.
Catherine mordeu o lábio inferior. O destino parecia conspirar para mantê-la junto com
aquele homem, tão errado para ela. Embora ele tivesse aberto uma brecha em suas reservas, ela
vivera o bastante para entender que havia classes sociais que não se misturavam.
— Moro a dez minutos daqui. E sua irmã? — Logan quis saber.
— Muito mais longe...
Ele ergueu uma sobrancelha, atento à estrada em frente.
—Iremos para a minha, então.
Catherine permaneceu quieta. Não havia muito o que dizer. Deu uma olhada nas casas das
redondezas, todas suntuosas, e soube com certeza que eles nada tinham em comum, além da
atração. Ele logo perceberia isso.
— E onde fica isso?
— Tenho um pequeno chalé na praia.
— Pequeno chalé? — Ela riu. — Mal posso esperar para ver! Percorreram o restante do trajeto
em quietude. Catherine não queria distraí-lo e arriscar sofrerem algum acidente.
—Aqui estamos! — Logan entrou por um caminho quase oculto por entre as árvores.
Perto dali havia uma casa de tamanho médio, bem menor do que ela havia imaginado, com
varanda, janelas amplas, paredes brancas e acabamento de madeira.
Ele parou o jipe e desligou o motor. No súbito silêncio, a chuva batia forte contra o párabrisa.
—Gostou, Cathe?
Uma residência tradicional à beira-mar, cômoda e confortável, atraente e convidativa,
idêntica a seu dono. Ela suspirou. "Catherine Ann, você está numa grande enrascada."
—Achei incrível.
Logan olhou para o céu escuro, de onde a borrasca descia com incrível violência.
— Ainda bem que gostou... Porque, se a chuva continuar como está, corremos o risco de ficar
presos aqui. As estradas nesta região tendem a alagar depressa.
— Céus! Não posso pensar em coisa pior. — Catherine mordeu o lábio inferior.
A tentação de ligar o rádio para saber as notícias sobre o tempo combatia com o desejo de
trancar-se ali com ele e esquecer-se do mundo lá fora, pelo tempo que desse.
Ela fechou os olhos ouvindo o barulho da chuva caindo em cadência com o rápido pulsar de
seu coração.
O rugido de um trovão a fez saltar no assento e abrir os olhos. De onde estavam, dentro do
carro estacionado um pouco distante da casa, Catherine tinha uma bela visão do oceano. As ondas
enormes desmanchando-se em espuma branca na areia, e retraindo-se em seguida, sem qualquer
aviso, assemelhavam-se ao crescer e ao declinar do desejo existente entre um homem e uma
mulher, pensou ela. Um violento tremor sacudiu seu corpo. Logan pousou a mão em seu ombro.
—Você está bem?
Ele queria restituir sua confiança, mas seu toque causou efeito contrário, aguçando seus
sentidos. Catherine sentiu que precisava sair daquele carro.
—Não dá para irmos mais adiante?
—Não com este veículo. Até aqui, a estrada é pavimentada. Mais adiante, é só lodaçal.
Embora a visibilidade fosse péssima, ele tinha razão.
— Dizem que a água da chuva faz bem para a pele e ainda é melhor para alma. Além disso,
estou usando sapatos de sola de borracha. Vamos?
— Isso é que é ter espírito esportivo. Eu poderia me oferecer para carregá-la, mas o chão fica
escorregadio quando molhado. — Logan desceu e foi abrir-lhe a porta.
Catherine aceitou a mão que ele estendia.
—Pronta?
Outro trovão quebrou o barulho monótono da chuva, e foi seguido por um relâmpago, que a
tudo iluminou.
—Pronta! — disse ela.
A caminhada através das poças não foi fácil. Catherine escorregou diversas vezes,
ameaçando levar Logan consigo para o chão. A tempestade caía sobre eles forte, deixando-os encharcados.
Ela ria ao chegarem ao chalé.
Um instante após Logan colocar a chave na fechadura, ele parou, e seus olhares se cruzaram.
Ali, naquele breve instante, ocorreu um inusitado intercâmbio de emoções.
O tempo parou. Houve uma descarga elétrica no ar. Alta voltagem. A chuva desapareceu e
toda a paisagem circundante saiu de foco. Ali, naquele breve instante, só existiam eles dois,
encarando-se como se realmente estivessem se vendo pela primeira vez. Catherine soube então
que um grande problema a aguardava atrás daquela porta.
CAPÍTULO QUATRO
tempestade desabando lá fora não era nada e comparada às emoções tumultuadas de Catherine.
Ela avançou para o mal iluminado hall, e Logan fechou e trancou a porta atrás> de si.
—Fique à vontade — disse ele, indicando o sofá.
Ela caminhou devagar pela sala e parou diante das enormes janelas que, durante o dia,
descortinavam o oceano, aterrador, numa noite tempestuosa como aquela.
O aposento, assim como o restante da casa, era um reflexo do homem. As paredes de
madeira eram essencialmente masculinas, como o próprio Logan, e tão acolhedoras quanto ele. O
sofá de couro marrom e os móveis davam um charme confortável ao rústico interior da residência.
Embora Catherine vivesse num apartamento minúsculo, tornou-se óbvio que, no tocante à
decoração de ambientes, ela e Logan tinham gostos semelhantes. A casa fora decorada visando-se
o conforto e a comodidade; os acolhedores tons de marrom, em vários modos, combinavam com
seu estilo pessoal.
Naquela residência nada havia de formal, nem piso de mármore ou candelabros de cristal. O
que a família dele pensaria disso? Ela seria capaz de apostar que poucos jantares familiares
aconteciam ali, e o pensamento a entristeceu. De que espécie de afirmação Logan estava atrás, ao
optar por viver num lugar como aquele? Estaria sendo contrário à família de propósito, ou será
que gostava mesmo do cheiro de mar?
—Toalha? — Logan reapareceu trazendo duas toalhas e estendeu uma delas a Catherine.
A
— Obrigada. — Ela tirou a capa e olhou em torno, à procura de um lugar para colocá-la.
— Pode deixar — disse ele, pegando-lhe a capa da mão. Em seguida colocou-a no cabideiro
de madeira, perto do corredor. — Mais fácil do que jogar no espaldar da cadeira, não acha?
Catherine sorriu.
— Então você é do tipo ordeiro, um lugar para cada coisa, cada coisa em seu lugar... Estou
admirada.
— Não devemos julgar as pessoas antes de conhecê-las— Elas podem acabar nos
surpreendendo.
— E bom saber que você não é machista, desses que não lavam um prato porque dizem que é
coisa de mulher.
Ele deu de ombros.
—Você pode estar prestes a descobrir isso.
Estaria ele lançando um desafio, esperando que ela saísse correndo assustada? Se fosse,
ficaria desapontado. Catherine chegara até ali e pretendia ir até o fim. Não sabia quando decidira
isso. Diante do pensamento, uma chama delicada ardeu em seu corpo, encheu-lhe a boca e
esparramou-se por seus seios. Molhou os lábios, que ficaram secos de uma hora para outra.
— Pode ser... Quem o vê não diz que está diante de uma pessoa de gostos simples. Estou
impressionada.
— Sou mesmo. Quando eu era criança, certas coisas não me eram permitidas, e uma delas era
deixar uma trilha de roupas no chão atrás de mim. Velhos hábitos são difíceis de largar.
— Não me diga que não havia alguém para fazer o serviço sujo para você..
— Claro que sim. Mas bastou uma palmada no traseiro que levei de Emma para me curar
para sempre desse péssimo costume.
Catherine achou inacreditável. Emma era uma daquelas pessoas determinadas, que quase
sempre obtinham o que desejavam. Um tremor a abalou ao se dar conta das implicações; Logan
praticamente fora criado pela avó e vai ver que ele também sempre obtinha o que desejava.
—Vovó agiu certo... Sempre foi um encanto de pessoa.
O brilho e o riso em seus olhos falavam de sua afeição pela avó, e o respeito de Catherine por
ele cresceu. Como não gostar de um homem que era tão condescendente com uma pessoa idosa
como Emma? E que não se constrangia em demonstrar seu afeto por ela?
— Os empregados estavam sempre muito ocupados provendo meus pais do necessário, e não
precisavam de duas crianças mimadas dando mais trabalho.
— Vejo também que não tem medo de reconhecer quando está errado, Logan.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Eu disse a você, sou único. — Sorriu. — E quanto a estar errado... bem, isso quase nunca
acontece.
— A arrogância é uma qualidade bem masculina.
—Falei que era único, e jamais neguei que era másculo. Como se ela precisasse ser lembrada
da sua potente masculinidade. Catherine segurou a toalha macia com mais força. Resolveu mudar
de assunto. — Emma ainda hoje tenta mantê-lo na linha?
—Pelo menos tenta. — Logan secava os cabelos enquanto falava. Quando terminou, colocou
a toalha em torno dos ombros largos.
Os olhos e Catherine encontraram os dele. Aquelas íris azuis soltaram faíscas ao estudá-la
como se a acariciasse.
O silêncio tornou-se inquietante, mas Catherine não era capaz de desviar o olhar.
Logan deu um passo adiante, sem deixar de fitá-la, e tirou a toalha de suas mãos trêmulas. O
calor de seus corpos se misturavam, e a respiração dele transformou-se num zunido sedutor em
seus ouvidos. Sem qualquer aviso, ele ergueu a toalha até sua cabeça, começando a secar-lhe os
cabelos. Incapaz de evitar, Catherine fechou os olhos e recostou-se ao seu peito.
O som da chuva batendo contra as paredes da casa soava alto em seus ouvidos. Ou seriam as
batidas de seu próprio coração? O desejo por ele era mais forte do que tudo que ela já havia
experimentado, algo que a consumia e a enervava.
—Pode deixar... — disse ela.
—Como quiser. Não quer tirar essas roupas molhadas? Ela virou a cabeça.
—Não acha que está apressando as coisas? Ele achou graça.
—Eu não disse que pretendia tirá-las para você, embora pudesse ser persuadido a fazer isso.
- Engraçadinho! — disse ela, incapaz de conter o riso. Logan pegou sua mão.
—Venha. Deve estar congelando com esses trajes molhados. Tenho um suéter que deve lhe
servir.
—Eu apreciaria muito!
Cinco minutos depois, ela se encontrava sozinha no banheiro, roupas secas sobre a banqueta.
Pegou o suéter e levou-os ao rosto. Cheiravam a limpeza e ao perfume sutil de Logan. Catherine
não sabia se a essência masculina era real ou existia somente em sua imaginação, mas não
importava, a afetava do mesmo modo. Um tremor violento a sacudiu e nada tinha a ver com o fato
de estar molhada e com frio, mas tinha tudo a ver com Logan Montgomery.
Encontrava-se na casa dele, usando as roupas dele, e permitindo-se ser emocionalmente
seduzida, tanto por todas as suas contradições quanto pelo homem em si. Logan não era nada
como ela imaginara;.não era artificial, nem pomposo como o nome Montgomery e a sua tradição
sugeria.
No entanto, Catherine não acreditava que fosse se interessar a sério por uma mulher fora de
seu mundo, e não estava certa se sabia que mundo ele habilitava. O que significava que também
não estava certa sobre a espécie de fascinação que aquele homem exercia sobre si.
Suspirou. Naquele momento, quase podia acreditar em sonhos impossíveis.
Hora de voltar a colocar os pés de volta no chão. Ele vivia ali, naquela casa simples, mas
dado o luxo em que crescera e as pessoas com quem fora criado, tinha de estar sendo levado a
fazer isso por algum motivo oculto, um que podia muito bem incluí-la. E, mesmo que estivesse
sendo sincero, que não houvesse motivo nenhum para um homem com o sobrenome
Montgomery, a novidade de uma mulher como Catherine logo se tornaria banal.
Logan quase não conseguia distinguir o barulho da chuva daquele do chuveiro, não com
Catherine no aposento ao lado, a água escorrendo pelas curvas de seu corpo tentador. Apoiou as
mãos no balcão da pia da cozinha e gemeu.
Ela reagiu com intensidade quando ele tocou em seus cabelos, e foi o suficiente para deixá-lo
louco. Mas precisava ter calma, caso contrário correria o risco de perder o terreno ganho.
A água parou de escorrer no banheiro, colocando-o em meio a um profundo silêncio. Logan
tinha a noite inteira para ganhar a confiança de Catherine... e talvez mais, muito mais. Assim
esperava. E, no momento, isso era mais importante do que levá-la para cama.
—Olá, Logan.
—Olá...— Ele virou-se da porta do refrigerador, e o ar ficou preso em sua garganta.
Os cabelos loiros, que antes estiveram presos num coque, agora caíam em ondas suaves e
brilhantes em torno do rosto lavado. A pele dela era translúcida, tocada apenas por um adorável
corado em ambas as faces. As curvas, tão óbvias sob o uniforme severo, agora escondiam-se sob as
roupas largas e imensas que ele lhe emprestara.
Catherine precisou dobrar as mangas umas cinco vezes, assim como o elástico na cintura da
calça, e o efeito era uma surpreendente mistura de doçura e vulnerabilidade, duas palavras que
ele antes não associara à mulher diante de si.
Logan a vira vestida para o trabalho, a vira molhada e desarrumada pela corrida na chuva. E,
embora a achasse cada vez mais desejável a cada transformação, essa última o deixou sem fala. A
imagem da mulher suave e acessível, parada ali, na cozinha, e usando suas roupas, tocou seu
coração.
—Posso ajudar? Até que me saio bem com as panelas.
—O que a torna uma mulher comum — disse ele, retomando a brincadeira de antes.
Catherine curvou uma sobrancelha, fingindo-se de ofendida.
—Isso depende. Em muitos aspectos, não sou como as outras.
—Sei disso, Catherine... Você é especial. Ela corou.
— Pare, Vamos! Está me embaraçando...
— Uma moça que fica vermelha diante de um elogio... Isso é extraordinário.
Catherine deu de ombros.
— Você deve andar lidando com as mulheres erradas.
— Pode ser. Mas pelo menos agora encontrei a certa. Por que não se senta e deixa que eu
cuido de tudo?
Catherine puxou as mangas para cima, que tornaram a escorregar. Deu de ombros e dirigiuse
a uma das cadeiras em torno da mesa.
— Um homem com tantas habilidades, e ainda sabe cozinhar! Não acredito.
— Detesto desapontá-la, mas não tenho escolha. — Abriu a porta da geladeira e de lá tirou
uma travessa coberta. — E lasanha, a especialidade da cozinheira de Emma.
Catherine levou a mão ao peito.
—Assim você acaba destruindo minhas fantasias! Logan meneou a cabeça, e em seguida
aproximou-se dela.
Inclinou-se, segurando nos braços da cadeira.
—Não as estou destruindo, Catherine, pelo contrário: pretendo realizá-las... todas elas.
Antes que ela pudesse pensar, Logan endireitou-se e voltou a atenção à lasanha. A distância
deu a ele a chance de se acalmar, antes que se descontrolasse e estragasse tudo.
— Ainda bem que Emma existe. Com ela, você não morrerá de fome.
— E desagradável ter de admitir, mas é verdade. Já ouviu falar como o trabalho na defensoria
pública é exaustivo?
—Não muito.
Logan desejava saber tudo a respeito dela, e ouvi-lo falar de si próprio talvez a encorajasse a
revelar-lhe fatos da própria vida.
—É pura escravidão. Eu, por exemplo, trabalho três vezes por semana no escritório, de
manhã até a noite, e o restante dos dias fico no tribunal. Quando não estou lá nem no escritório,
estou trabalhando em casa. Como vê, não me sobra muito tempo para praticar culinária. No
entanto, sou homem bastante para admitir que aprecio uma boa comida. Tento evitar o máximo
possível todos aqueles rituais da família, mas em geral não resisto quando Emma me convida para
jantar.
Um brilho intrigante iluminou os olhos verdes de Catherine. Ela apoiou o queixo nas mãos.
— Deve ser reconfortante ter alguém como Emma se preocupando com você, cuidando de
seu bem-estar.
— Muito. — Logan colocou a travessa para aquecer no microondas.
— Mas deve gostar do que faz. Por que optou pela defensoria pública?
— Em vez de trabalhar num desses famosos escritórios de advocacia em Boston, onde se
advogam as causas das grandes empresas, e não as pessoas?
Edgar daria qualquer coisa para colocá-lo numa posição de poder e prestígio, passando por
cima daquilo que Logan desejava na vida e na profissão. Como resultado disso, ele não era capaz
de disfarçar o desgosto que sentia pelos planos do juiz quanto ao seu futuro profissional.
Diante de seu tom amargo, Catherine moveu-se, desconfortável, no assento.
— Estou aborrecendo você com minha conversa, Logan? Toquei em alguma ferida?
— Na verdade, sim. — Ele amaldiçoou a própria inabilidade em esconder a frustração que
sentia, e reprovou-se por tê-la atirado sobre Catherine. — Contudo, desculpe-me se pareci
grosseiro. Não tive essa intenção.
A expressão dela suavizou-se.
— Você de fato sabe reconhecer quando está errado. Eu não pretendia melindrá-lo, ou
mesmo, insultá-lo. Fiquei surpresa apenas com o caminho profissional que escolheu.
— Por que será? É tão estranho pensar em mim ajudando os pobres e os oprimidos? Ou será
que acredita que ninguém usando o sobrenome Montgomery pode não ser tão... esnobe? — Logan
aproximou-se dela e pousou a mão sobre a mesa, espalmando, convidando-a para tomá-la. — Não
estou criticando-a, Catherine, mas eu não seria capaz de julgá-la pelas aparências, ou a qualquer
outro alguém.
— E apreciaria se eu fizesse o mesmo. — A sombra de um sorriso tocou os lábios dela. —
Creio que você me pegou revelando a prevenção que tenho contra as classes privilegiadas.
— Era vez de julgar-me baseando-se naquilo que sabe a meu respeito.
— Eu mal o conheço, Logan.
— E verdade. Porém, confie em mim, Catherine.
Ela hesitou. Para Logan, aqueles segundos pareceram ser uma eternidade, até ela, por fim,
resolver juntar a mão à dele.
Gostando de sentir seu toque, ele acariciou seu pulso. Ela apenas o fitava, os olhos brilhando
feito duas esmeraldas.
—Fale-me de você, de sua família. Catherine piscou, estranhando a sugestão.
— Não há muito o que dizer. Tenho uma irmã, assim como você. Somos sócias no bufê, mas
agora ela está grávida e em repouso forçado. E casada com um policial arrogante. — Seu sorriso
não combinou com o modo como referiu-se ao cunhado. Sem dúvida não desgostava tanto dele
como proclamara.
— Alguém mais?
— Não. Minha mãe faleceu há muitos anos, e papai nos deixou quando éramos crianças. Mal
me lembro dele. Fomos criadas por um tio e uma tia, mas eles... — Catherine hesitou, e Logan
sentiu que ela preferia evitar o assunto. — ...faleceram no ano passado.
Logan entendeu sua hesitação. Aquilo que Emma revelara sobre o tio devia ser um assunto
que Catherine não gostaria de discutir, ainda mais com um estranho.
— Sua irmã é mais velha ou mais nova do que você? — perguntou, para relaxar a tensão que
sentia nela.
— Kayla é a caçula. Nasceu um ano depois de mim... Mas é mais madura e eficiente do que
eu.
Logan não gostou daquela autocrítica.
— Algo me diz que você não está dando a si mesma o crédito que merece.
— Conheço-me melhor do que você.
Logan olhou para as mãos de ambos. Voltou a palma dela para cima e traçou as linhas finas
de seu pulso com o polegar. Um súbito tremor percorreu-a. Ele sorriu, contente.
— Tem razão. Por isso mesmo gostaria de conhecê-la melhor. Observei seu trabalho sob
condições estressantes, embora a festa tenha sido um sucesso. Sendo assim, dizer-se menos eficiente
do que sua irmã não me parece justo.
— Há uma grande diferença entre colocar-se em segundo Lugar e estar ciente dos próprios
limites. Para sermos bem-sucedidos na vida é necessário que conheçamos a nós mesmos, por
dentro e por fora.
— Estou impressionado, srta. Luck. Ela sorriu.
— Obrigada, sr. Montgomery.
— E Logan, lembra?
Catherine lembrava. Cada minuto dentro daquele closet ficaria gravado para sempre em sua
memória.
—Agora, importa-se em me dizer por que um evento de tanto sucesso, como foi a reunião
desta tarde, deixou-a tão tensa?
Catherine estava assustada com as emoções que Logan lhe despertava. A satisfação que
sentia por ele ter aprovado seu trabalho, misturava-se à cautela que sentia quanto aos seus
motivos para elogiá-la. A sós na casa dele, sedução devia estar passando pela sua mente. Deus
sabia que também passava pela dela.
—Atender a essas festas é meu meio de sustento. A de hoje não foi mais estressante do que as
demais.
Nunca antes se sentira tão desconcertada, o que revelava muito de seus crescentes
sentimentos por Logan. Não gostava de mentir para ele, e ainda assim, não podia admitir que a
não aprovação do pai dele é que arruinara aquele dia e a deixara nervosa. Decerto agora o juiz
colocaria sua empresa na lista negra, em vez de recomendá-la.
—Não acredito.
Ela sorriu, apesar de seus pensamentos negativos.
—Não esperava que acreditasse. Mas aprecio sua confiança em mim. Em minha eficiência,
quero dizer.
A súbita campainha do telefone os interrompeu. Logan lançou-lhe um olhar pesaroso antes
de soltá-la. Atendeu no terceiro toque.
—Alô. Sim, Emma, Catherine chegou em casa em segurança. — Outra pausa. — Casa de
quem? — Ele olhou para Catherine e piscou. — O que você acha? Mas não se preocupe, porque ela
foi entregue sã e salva, e eu também estou inteiro.
Catherine ouvia Logan usar de toda a paciência para falar com Emma, e ao mesmo tempo
protegia sua privacidade.
Apreciou sua discrição e quase o invejou pelo afeto e a força que recebia da avó. Catherine
nunca teve nada parecido, a não ser da irmã. Alegrou-se. Pelo menos, com Kayla sempre poderia
contar.
—Não, não quero falar com o juiz, vovó. Emma! Eu disse não. Diga a ele... Olá, papai.
Catherine conteve um gemido. A última coisa que precisava era de um lembrete das
diferenças entre os dois, não quando pareciam mínimas enquanto estavam juntos. O juiz, pai de
Logan, conseguia deixá-la insegura com sua simples presença.
—Lamento, mas não participarei do desjejum. Além disso, não estarei com fome.
Catherine teve de rir.
—Corrida à prefeitura? Planejo estar cansado demais para correr para algum lugar pela
manhã. Preciso desligar... Até mais.
—Logan colocou o fone no gancho antes que seu pai o impedisse. Encarou Catherine,
sorrindo.
—Minha nossa! Eu o deixei falando sozinho. Será que tornará a ligar? Uma das regras
infalíveis de Emma: se você avisar que vai desligar, a pessoa entenderá e não insistirá.
— Suponho que devo me lembrar disso.
— Poderá ser útil no futuro, Cathe.
— Sua avó é uma mulher muito ativa para a idade dela.
—Catherine não podia evitar gostar de Emma.
Quanto mais sabia da infância de Logan e de seu relacionamento com a avó, mais seu
respeito por ela crescia. Se Logan era um homem decente, e apostava que era, devia isso a Emma.
Logan assentiu.
—Vovó faz questão de ser. Diz que mantém sua saúde e juventude aqui. — Apontou a
têmpora. — Porém, o fato é que me leva junto e me força a estar pronto para a ação.
—Entendo. Emma nos prendeu no roupeiro. Eu diria que agora você terá muito trabalho
para se manter a um passo a frente dela.
—Algumas vezes não merece o esforço. Afinal, vovó hoje assumiu o comando, e veja aonde
isso nos levou.
—E onde seria isso?
—Estamos juntos, e a sós, não estamos?
Catherine entendeu que o próximo movimento teria de partir dela. E não se surpreendeu.
Logan vinha se portando como um perfeito cavalheiro, e não mudaria de atitude só porque
estavam a sós sob o mesmo teto..
Nas duas últimas horas, ele tornou-se ainda mais sensível a seus sentimentos e ofereceu a
Catherine coisas que ela dificilmente receberia: respeito, admiração e aceitação. O fato de ele
desejá-la não era preciso ser mencionado.
—A escolha é sua, Catherine. — Sua entonação era profunda e calorosa, confortante como a
de um amigo, sedutora como a carícia de um amante.
Ela estremeceu diante da idéia.
O silêncio se estendeu, até Catherine não ser capaz de suportar mais. Nada a impedia de
estar com Logan, exceto...
Os três bipes do microondas anunciaram que o jantar estava pronto, salvando Catherine dela
mesma. Pelo menos, por enquanto.
CAPÍTULO CINCO
atherine sentara-se no sofá enquanto folheava uma revista, de costas para as janelas e para
o oceano. O barulho da chuva junto com a arrebentação das ondas do mar era relaxante. Fechou os
olhos, e o ruído ficou mais forte, bem como as batidas de seu coração.
Logan... só de pensar nele sentiu uma centelha de desejo começar a irradiar-se em seu ventre.
Forçou-se a erguer as pálpebras e notou que tinha as mãos trêmulas. Um rápido olhar em
direção à cozinha deu-lhe a certeza de estar só.
Catherine suspirou. Suspeitava que se metera numa grande encrenca, considerando-se o fato
de sentir aquela febre de volúpia só por sonhar acordada com Logan. Melhor se concentrar
naquilo que ele fazia na cozinha.
Logan preparava a sobremesa, uma vez que afirmou ser capaz de fazer sem a menor
dificuldade. Contudo, a receita era um segredo, e Catherine devia ficar na sala, aguardando.
Ao terminar de folhear a revista, ela decidiu não continuar ali com aqueles pensamentos
eróticos.
C
Caminhou até a porta da cozinha e parou à soleira. Ele encontrava-se de costas, junto ao
balcão da pia, entretido no que fazia e cantarolando baixinho. Não dava para ver o que preparava,
mas ela preferiu não se aproximar.
Recuou um passo, no mesmo instante em que um relâmpago iluminou o ambiente, seguido
de um forte trovão. Gritou, assustada. Logan voltou-se e sorriu.
— Já sei. O trovão. Assustou-se e veio até aqui em busca de conforto.
— Você me pegou em flagrante.
— Garota malvada! Mas o trovão já passou. Espere-me na sala. Estou terminando.
Catherine voltou a sentar-se no sofá.
— Eu, expulsa da cozinha... Quem acreditaria? O telefone tocou, e Logan pediu:
— Pode atender, por favor?
Catherine pegou o aparelho ao lado do sofá.
—Residência de Logan Montgomery.
A resposta que recebeu foi a risadinha de Emma.
— Então Catherine chegou em casa sã e salva... — disse ela, imitando Logan. — Será que meu
neto acha que acreditei na história que me contou? O pai dele pode ter acreditado, mas eu, não.
Nós, mulheres, somos mais espertas do que eles. Não se esqueça disso, meu bem.
— Sim, senhora. — Catherine achou graça. — De fato, estou sã e salva, e em casa, embora não
na minha.
— Pelo menos está bem protegida da tempestade.
—E também fora do closet, e não graças a você. Emma riu de novo.
— Já não se fabricam mais fechaduras como antigamente, meu anjo. A maçaneta caiu em
minha mão, imagine só!
— Quem é? — Logan quis saber, ao se aproximar carregando uma bandeja.
— Sua avó. Estávamos discutindo o acidente no closet.
— Mantenha-a na linha. Também tenho algo a dizer a Emma a esse respeito.
— Emma? Logan quer falar com você.
— Lamento, mas me esperam para um jogo de cartas. Preciso desligar.
— Mas...
— Até mais!
Catherine olhou para o fone e em seguida para Logan.
—Jogo de cartas? Numa noite dessa? Logan pousou a travessa sobre a mesinha.
—Não confie muito no que ela diz. Vovó também é mestre em se esquivar das situações.
Pronta para a sobremesa?
— Sim. Estou louca para conhecer seus dotes culinários. Ela sentou-se, enquanto Logan
servia o doce.
— Pudim de chocolate?
—O melhor pudim de chocolate que você já provou. — Logan colocou uma pequena porção
numa colher e estendeu-lhe, para que ela provasse.
Catherine permitiu que ele colocasse a colher em sua boca e, durante todo o tempo, os olhos
azuis jamais piscaram, jamais deixaram sua boca. Fechou os olhos e saboreou o doce.
—Delicioso! — Catherine se deparou com Logan, e a intensidade de seu olhar a fez
estremecer. Limpou os lábios Com a ponta da língua. — Usou pó para pudim? — indagou, procurando
por uma conversa que acalmasse seu desejo.
Ele levou a mão ao peito.
—Agora você está me ofendendo, Catherine! Por acaso serviria uma sobremesa tão comum a
uma mulher tão extraordinária? — Hesitou um instante, antes de confessar, com um jeito travesso.
— Tudo bem... Usei pó para pudim.
Ela sorriu.
— É minha sobremesa favorita. Costumavam caçoar de mim, por causa disso, na escola de
culinária. Ninguém acreditava que alguém capaz de preparar doces tão sofisticados, tivesse um
gosto tão... camponês.
— Você freqüentou uma escola de culinária? Então, fiz uma sobremesa de camponês para
uma expert?
— E o que tem isso? Você precisou improvisar, e não existe nada mais prático do que
misturar leite ao conteúdo de uma embalagem. Além disso, não esperava nada mais bem elaborado,
pelo menos antes do segundo encontro. — Ela o fitou com mais atenção. — O que houve?
Não se sente bem?
—Estou ferido. O ego de um homem é muito frágil, minha cara.
Catherine gargalhou e terminou de comer o pudim.
—Este foi de fato o melhor pudim que comi na vida. Seu talento como cozinheiro merece
ser...
Logan a interrompeu pousando o dedo em seus lábios. O toque pareceu carregado de
eletricidade e ela parou de rir subitamente.
—Você tinha pudim aqui. Vê? — Ele mostrou-lhe o dedo sujo de chocolate.
Catherine assentiu, muda, sabendo o que aconteceria a seguir. Logan a encarou, deixando
bem claro o quanto a queria.
—Quer mais um pouco?
Seduzida pelo olhar ardente, pela voz profunda, e levada pelo desejo ardendo entre eles,
Catherine inclinou-se para frente, sem se desviar dele. Sem que Logan esperasse, ela lambeu o
chocolate de seu dedo.
Ele, então, bem devagar, traçou o contorno da boca sensual.
— Melhor do que lamber a panela, não acha, Cathe?
— Muito melhor...
Logan havia afastado a mão, mas Catherine não sabia se seria capaz de dizer mais alguma
coisa. Tinha os lábios formigando e o corpo também.
Tentou adivinhar se Logan era capaz de ler sua mente, se sabia o quanto ela o desejava.
Enfim, suspirou.
— Vou lavar as mãos.
— Fugindo, Cathe?
— Não. Dando um tempo. Logan reclinou-se para trás.
— Não muito, espero.
Catherine retornou à sala quando Logan colocava lenha na lareira. Com a ajuda de bolas de
jornal, o fogo se elevou quase que de imediato.
Ela se oferecera para colocar ordem na cozinha após o jantar. Logan, no início, protestou,
mas Catherine insistiu. Era a coisa mais educada a fazer depois de ele ter preparado o jantar.
Também achava que precisava manter-se à distância daquela potente masculinidade. O
trabalho enfadonho de colocar pratos e talheres na lavadora de louça devia ajudar. Ela era uma
conhecedora no assunto.
Aos dezesseis anos, Catherine enturmou-se com as pessoas erradas, uma desculpa para se
manter longe da solidão do apartamento onde vivia. Kayla fazia a mesma coisa, mas era esperta o
bastante para escolher a biblioteca pública para se distrair lendo um bom livro.
Catherine não fora tão brilhante. Certa noite, saiu para jantar com os amigos e escolheram
um restaurante caro, um ao qual eles não poderiam se dar ao luxo sequer de entrar. Embora ela
tivesse hesitado, os companheiros a convenceram a ir em frente, alegando que seria o máximo
pedir os pratos mais caros e depois escapar sem pagar a conta. Graças à preocupação de Kayla
pela irmã, que julgava que sem dinheiro ela não sairia com aquelas pessoas, Catherine estava sem
a carteira.
De qualquer modo, entrou no estabelecimento. Mas parou por um instante longo demais ao
chegar a hora de escapar sem pagar. Ela foi a única do grupo com algum sentimento de culpa, e a
única a ser pega.
Um policial a levou de volta para a residência, e Catherine passou o restante do verão
lavando pratos na cozinha do restaurante. E teve sorte de não ter passado a noite na prisão.
Catherine sempre agradeceria ao dono do estabelecimento, não apenas por ele impedir que
ela sofresse penas mais severas, mas por ter mudado seu destino. Aquele homem foi o responsável
por seu interesse pela boa comida. Ofereceu-lhe trabalho e o porto seguro que Catherine jamais
tivera.
Sorriu diante das lembranças. Havia anos ela não pensava em Otto e em sua esposa. Sem
dúvida a proximidade de Logan com a avó despertou-lhe as melhores recordações de sua infância
e juventude, que afinal não eram tão ruins como julgava.
Mesmo o simples ato de lavar pratos tinha seu lado bom. No entanto, o fato de estar na
cozinha não deu a ela a tranqüilidade de que precisava, porque sua pele continuava a arder num
círculo de fogo invisível. E desejou consumir-se nele.
Observou Logan em silêncio. Ele tomara banho e se trocara enquanto ela arrumava tudo.
Fascinada, Catherine admirou os músculos do dorso dele.
Logan olhou por sobre o ombro, e Catherine de imediato se recompôs. Caminhou até o fogo
e sentou-se no chão, as costas contra o sofá.
—Fogo na primavera?
—Por que não? — Logan voltou-se para as labaredas. — Essa é uma das vantagens de se
morar na praia, ainda mais nesta região. — Levantou-se. — Pode-se tirar proveito de um friozinho
noturno em qualquer estação do ano.
Seus olhos azuis encontraram os dela. Não havia frio no ar, e o fogo na lareira nada tinha a
ver com a quentura dentro dela.
—Gosta de música, Cathe? Catherine assentiu.
—Algo suave. — Sem pensar, ela começou a massagear as têmporas.
Logan aproximou-se.
— Está tudo em ordem?
— Sim... E apenas uma leve dor de cabeça, como sempre acontece após um grande evento.
— E seu corpo liberando o estresse, embora você o negue.
— Acertou na mosca.
Logan aproximou-se do aparelho de som e colocou um CD. Uma linda melodia os envolveu.
Logan voltou para junto dela e sentou-se no chão.
A música melodiosa era um perfeito antídoto para sua exaustão, e ela sentiu a tensão aos
poucos abandoná-la.
—E a cabeça? Dói muito?
Catherine fez que sim. Logan se ajeitou melhor e a trouxe para perto dele.
—Para sua sorte, tenho o remédio adequado para curá-la... Venha aqui, Catherine. — Deu
um tapinha no próprio joelho.
Ela não hesitou. Como poderia?
Não era do seu feitio confiar em alguém que acabara de conhecer, mas Logan inspirava
confiança, e Catherine confiava nele. Suspirou e acomodou-se entre o "V" das pernas fortes.
Logan pegou-a pela cintura para melhor acomodá-la, e Catherine sentiu o sangue se aquecer
nas veias.
— Relaxe. Enquanto estiver tensa, não se livrará da enxaqueca.
— Mantenha suas mãos onde estão e eu garanto que relaxar será a última coisa que serei
capaz de fazer.
Logan achou graça.
- Agora, deite-se para trás e apóie-se aqui — instruiu ele, indicando o espaço entre seus
joelhos.
Catherine o fitou com suspeita, mas fez como lhe pediu.
—Feche os olhos.
A última coisa que Catherine viu antes de fechar os olhos foi seu sorriso arrebatador.
— Agora, respire fundo e concentre-se no barulho do fogo crepitando.
Como se numa deixa, a madeira na lareira começou a estalar, soando alto na sala silenciosa.
O cheiro de pinho queimando impregnou-lhe as narinas. E a cada vez que respirava, mais um
músculo de seu corpo relaxava.
Logan começou a massagear-lhe as têmporas com dedos gentis e com movimentos suaves.
—Ouça o ritmo da chuva.
Ela assim o fez. Além da tempestade desabando lá fora, havia uma outra desabando dentro
dela.
— Hum... Não pare. Logan riu.
— Eu não sonharia em fazer isso.
— Diga-me... Como soube que possuía esse poder de cura, Logan?
— Foi uma lição da infância... — Seus dedos faziam mágica enquanto ele falava.
Uma gentil, pressão, uma suave carícia em seu couro cabeludo. Seu toque era muitíssimo
agradável.
—Como assim?
—Minha irmã sofria de enxaqueca, desde criança, Grace passava bem nos sábados e
domingos, mas durante a semana era uma outra história.
—Por quê?
—Meus pais costumavam viajar nos fins de semana, mas depois voltavam para casa e
estavam sempre por perto. Saíam muito, voltavam tarde e nos acordavam com suas intermináveis
discussões.
Catherine sempre acreditou que o dinheiro facilitava a vida de todos. Estava mais velha e
mais esperta agora, mas ainda magoava saber que Logan também não tivera uma infância ideal.
—Nada para você foi fácil, também...
—Pior ainda para Grace. Sempre que meus pais discutiam, ela ia para o meu quarto e, na
maioria das vezes, com a dor de cabeça quase matando-a. Puro estresse.
Seu óbvio amor pela irmã também era inconfundível, e Catherine entendia bem daquilo.
Logan alegava não ter sido afetado pelas brigas constantes dos pais, mas Catherine duvidava
disso.
—- Por que eles não se separaram?
— Lema de família. Os Montgomery não se divorciam.
— Eu julgava que os ricos não brigassem por se tolerarem
—disse ela, tentando aliviar o clima sombrio que se estalou graças às antigas reminiscências.
— Aquele lema era válido apenas em público, Cathe. Mesmo com toda a fortuna gasta na
construção da mansão, suas paredes eram muito finas.
— Então, você e Grace eram forçados a ouvir o que eles diziam.
— Não tínhamos alternativa. Grace ficava muito tensa, e eu permanecia a seu lado,
massageando suas têmporas até que se acalmasse e adormecesse.
Sua dedicação à irmã dizia a Catherine que espécie de homem ele era.
— Espero que ela tenha apreciado isso.
— Sim, e aprecia, até hoje.
Fosse qual fosse o mágico desempenho de Logan, com a irmã era algo fraternal. O que ele
fazia com Catherine naquele momento, porém, era puro erotismo. Era sensual e íntimo, e ela sabia
que a sedução era sua meta.
Forçando as pálpebras a permanecerem erguidas, ela o fitou, desejando saber mais a seu
respeito.
—Onde sua irmã se encontra, no momento?
—Em Nova York, onde trabalha como fotógrafa, mas evita os compromissos sérios, com
medo de acabar como nossos pais.
—Deu risada, mas não havia prazer nela. — Grace aceita dinheiro da família, alegando que
eles lhe devem isso, por tudo o que a fizeram passar.
—É como você se sente sobre isso?
—Na verdade, vivo só de meu salário, nem um centavo a mais. Se eu tocar nos recursos da
família, embora tenha direito a eles, estarei desistindo do controle sobre meu destino, algo que não
pretendo fazer. Creio que Grace seria mais feliz se agisse assim. Mas vamos deixar para falar sobre
Grace num outro dia. A noite nos pertence, Catherine. Agora, a escolha é sua.
Catherine ergueu-se rápido e percebeu que a enxaqueca se fora. Logan Montgomery possuía
dedos poderosos.
— Sente-se melhor?
— Nem fale! — Ela sentou-se sobre os joelhos e o fitou, sorrindo. — Você é capaz de seduzir
qualquer mulher, se elas usarem a dor de cabeça como desculpa.
—Seja como for, você acaba de admitir que a sua passou. Catherine assentiu, a luxúria dentro
dela aumentando e alcançando proporções insuportáveis. A fúria da borrasca caindo lá fora e a
quentura das chamas nada tinham a ver com o ardor em seu íntimo.
Mas Catherine não pôde evitar a dúvida. Uma noite apenas seria suficiente?
CAPÍTULO SEIS
atherine ergueu a cabeça e olhou para Logan. Ele deixava a decisão para ela. Seu corpo
dizia sim, mas sua mente, não tinha certeza.
—Se quer saber algo, Catherine, pergunte agora, seja lá o que for.
Ela riu.
— Então você também lê pensamentos, além de ser o excelente massagista que é.
— Como já disse, sou um homem de muitos talentos. Agora, pare de tentar ganhar tempo.
O silêncio aflorou, e só o barulho da chuva restou entre eles.
—Há apenas uma coisa que eu gostaria de deixar claro.
—Comigo você estará em perfeita segurança. Catherine balançou a cabeça.
— Você é o último homem que eu consideraria seguro. Acho a tempestade, aquelas ondas
enormes lá fora, bem mais seguras do que você. Mas entendi e agradeço. No entanto, não estava
me referido a isso.
— O que seria então? — Logan acariciou seus cabelos.
— Quero que me diga se isso que estamos vivendo agora significa para você mais do que a
aventura de uma noite. Mas veja bem... Não estou pedindo que faça promessas. — Ela o encarou,
sem o menor constrangimento.
Seguiu-se um breve momento de quietude. Catherine sentiu uma pontada de apreensão.
Logan estaria prestes a mentir?
—Significa muito mais, Cathe. Eu a respeito demais para levá-la para a cama e depois sumir
de sua vida.
—Está querendo dizer que, quando esta noite terminar, você irá me procurar?
O sorriso dele desapareceu, substituído por um olhar intenso que a deixou em fogo.
—Em seguida.
Catherine se convenceu de que não poderia pedir por mais. Ou confiava nele ou não
confiava. E ela não estaria ali se não confiasse.
—Você não pretende prolongar muito mais isso, não é?
Logan soltou o ar que não notara estar prendendo nos pulmões. Por um instante, chegou a
acreditar que ela não cederia. "Não estou pedindo que faça promessas." Porém, Catherine sabia
que ele as teria feito de bom grado.
C
Sem querer esperar mais nem um segundo, ele a pegou no colo e carregou-a até as janelas de
onde se descortinava o oceano. Seu mar, sua praia, o cenário que significava muito para Logan,
porque representava sua própria vida. Todas as coisas que desejava partilhar com Catherine.
Ela enlaçou os dedos em sua nuca.
—Dê uma olhada, Cathe.
Catherine virou a cabeça para a janela, enquanto ele inalava suave perfume, desprendendose
de suas mechas.
—Deve ser um panorama deslumbrante, num dia claro... Mesmo agora, é bonito, mesmo
com a tempestade. — Suas pálpebras fecharam, e ela segurou-se a ele com mais força. — Moro
num apartamento pequeno, e algumas vezes, com sorte, consigo ouvir o ruído da chuva. Na
maioria das vezes, no entanto, o barulho se perde em meio às buzinas dos automóveis.
— Então, você não deve ter medo de borrascas. Catherine meneou a cabeça.
— Ao contrário, gosto delas.
Logan fechou os olhos e visualizou-a deitada na cama, sozinha, nua e ouvindo os pingos
batendo contra a vidraça.
— Você não, Logan? Ele a olhou.
— Eu o quê?
—Gosta de tempestades? Deve gostar, já que mora num chalé com todas essas janelas.
—De fato. E ainda tem o sussurro do oceano, misturado à arrebentação na praia. Chega a ser
erótico.
Logan a fez descer para o chão, devagar, sentindo seus seios contra seu peito.
Catherine o fitou dentro dos olhos e experimentou uma forte vertigem. Uma sensação
peculiar, inebriante, como seja tivesse estado em seus braços muitas vezes.
E Logan parecia sentir o mesmo, segundo sua expressão.
Seus corações pulsavam no mesmo ritmo. Seus corpos se amoldavam.
—Acredita em destino? — ele indagou, afagando a cabeleira de Catherine.
Ela estremeceu.
—Destino? Não sei...
Logan também não soubera. Até aquele momento. Agora, porém, tinha a nítida intuição de
que suas vidas estavam se entrelaçando.
Catherine aspirou o cheiro de sua pele deliciada. Quando Logan começou a acariciá-la, teve
plena consciência do que aconteceria se continuasse ali.
Ele a tocou a princípio com delicadeza. As mãos experientes correram dos ombros delicados
para as costas e detiveram-se nos quadris arredondados.
—Você é linda — sussurrou e beijou-lhe de leve o pescoço, incendiando-a com um rasgo de
desejo.
Catherine arqueou-se, sorriu, depois pousou as mãos nos ombros musculosos e abraçou-o.
Tímida, espalmou no tórax rijo, tateou os músculos torneados.
—Isso. Continue assim... — Logan encorajou, antes de roçar os lábios nos dela.
Catherine arquejou. Todas as suas defesas e dúvidas começaram a se dissipar. Logan
explorou sua boca com sensualidade e minúcia, devastando-a com a força do seu desejo.
Suas roupas foram tiradas por mãos febris, em seguida as dele. Os seios nus comprimiram-se
contra o peito largo. As carícias de Logan tornaram-se mais ousadas. Enquanto suas bocas se
fundiam em um beijo apaixonado, ele deslizou o joelho provocantemente entre as coxas dela. E
murmurou coisas sem sentido, mordiscando-lhe o pescoço, o colo...
Logan tocou-lhe os seios, primeiro com a mão, depois com a boca, beijando os mamilos,
estimulando-os com a ponta da língua. Sorriu ao perceber que ela se abandonava a suas carícias,
que atirava a cabeça para trás, enrascava os dedos em seus cabelos e gemia de puro deleite. Tudo
nela o excitava, e Logan queria lhe mostrar todo o prazer que poderiam partilhar juntos.
Levantou-se do chão, e antes que ela pudesse questioná-lo, tornou a pegá-la no colo.
—Você não devia tornar isso um hábito. Está me mimando demais, sabia?
— E isso é tão ruim, Cathe? Catherine riu.
— Não. E delicioso!
Antes que Catherine se desse conta, Logan deitou-a no sofá e ajoelhou-se entre suas pernas.
— Catherine... Até onde quer ir? Podemos parar agora... Ela sorriu. Apertou-lhe as nádegas
firmes de modo insinuante.
— Acho que você não quer parar, Logan...
E ele tornou a beijá-la com cada vez mais urgência. Quando ergueu o rosto para fitá-la,
Catherine estava no auge da excitação.
Logan esticou o braço e abriu a gaveta do criado-mudo. Apanhou um pequeno envelope
plástico. Rasgou-o com os dentes.
Os dois se entreolharam.
— E sua última chance de dizer "não" — sussurrou, beijando-a de leve nos lábios.
— Quer que eu faça isso, Logan?
— Claro que não!
Beijaram-se com sofreguidão para selar seu pacto. Quando Logan tornou a fitá-la, os olhos
azuis brilhavam com determinação. Colocou o preservativo e ondulou os quadris contra os dela.
Catherine gemeu. Logan beijou-lhe os seios mais uma vez. Catherine afastou as coxas e
cingiu-o com as pernas.
Logan nunca vira uma mulher se entregar de tal maneira: com total receptividade e
confiança. E era assim que devia ser.
Por mais que ansiasse por mergulhar no corpo dela, obrigou-se a esperar mais um pouco.
Queria tornar aquele momento especial para Catherine. Tanto que a faria se sentir a mais especial
entre todas. Então, roçou os lábios nos dela e começou a penetrá-la com todo o vagar.
A pressão aumentava à medida que avançava. Num dado momento, o prazer e a dor
mesclavam-se e arremessaram-no numa espiral de doce agonia.
Catherine, num gesto instintivo, ergueu os quadris para recebê-lo por inteiro. Era assim que
as coisas deviam ser, pensou. Os dois unidos como um só ser.
E rodopiou num turbilhão de sensações e calor, enquanto ouvia Logan sussurrar palavras
doces ao seu ouvido. Ele estava se movendo num vaivém provocante, estudado, sensual. Os dois
beijaram-se com paixão para completar a fusão de seus corpos.
Catherine gritou quando arrepios de prazer varreram-na de cima abaixo, um após o outro,
embalando-a em espasmos cada vez mais intensos. E Logan escondeu o rosto na curva de seu
pescoço, acelerando seus movimentos, num ritmo vertiginoso, furioso.
Ela atingiu o clímax. Depois relaxou, muito corada, a respiração errática, com um sorriso
satisfeito. Logan atirou a cabeça para trás, e seu semblante espelhou o êxtase que o engolfava.
Catherine abraçou-o. Quando ele também esgotou o seu último espasmo de glória, ela
acariciou-lhe os cabelos com indizível ternura.
Logan suspirou e rolou para o lado sem soltá-la. Aconchegou-a em seu peito e ficaram
quietos. A paz fluía de seus corpos como um rio sereno. Ele beijou a fronte de Catherine e
acariciou-a. Não tinha muita certeza de que conseguiria deixá-la partir.
Logan espreguiçou-se, erguendo os braços. Catherine rolou e ficou de costas, longe do seu
contato físico. Aquilo o alertou.
Se ela precisava de distância, ele respeitaria isso, mas não antes de fazê-la entender certas
coisas. Nunca se sentira assim com alguém, e apostava que com ela acontecia o mesmo. Fechou o
espaço entre eles e abraçou-a.
Catherine não o afastou, mas sem dúvida precisava de espaço. As próximas palavras dela
confirmaram suas suspeitas:
— Está esfriando aqui, não acha?
— Não. Estou bastante confortável. — Ele beijou sua face. Ela riu, soando mais relaxada.
— Você sabe o que estou querendo dizer...
Ele sabia. Agora que ela chamara sua atenção, o estalar da lenha na lareira o alertou.
—Deixe-me apagar o fogo da lareira e poderemos ir para o quarto.
Logan prendeu o fôlego, aguardando que ela protestasse. Após a intimidade que
partilharam, Catherine não iria querer passar o restante da noite sozinha naquele sofá.
Por fim, ela assentiu e Logan respirou aliviado.
Dando a Catherine alguma distância e privacidade, levantou-se e vestiu a calça jeans antes
de ajoelhar-se perto da lareira. Não era fácil, sabendo que ela estava despida atrás dele. Mas de
algum modo, ele conseguiu.
Logan não se considerava nenhum perito em decifrar os sinais que as mulheres enviavam,
mas sentiu que Catherine estava precisando da combinação de espaço e tranqüilidade. Uma entre
as muitas coisas que gostava em Catherine era sua honestidade.
Logan encontrara, enfim, a mulher que gostava de tudo na vida dele, e de nada que se
relacionava à fortuna ou ao status dos Montgomery.
Se dependesse dele, ela não iria lugar algum. Pelo menos, não tão cedo.
CAPÍTULO SETE
atherine acordou com o sol da aurora esparramando raios dourados, aquecendo a terra e
desenhando suaves radiâncias na superfície do mar. A vegetação farfalhava com a brisa, e os
pássaros orquestravam suas alegres melodias.
Ouviu o som da água escorrendo no banheiro e ergueu o corpo, apoiando-se nos cotovelos,
encontrando vazio o lado da cama. Tornou a deitar-se, sentindo-se incrivelmente bem, cada
músculo de seu corpo lembrando-a da noite anterior.
C
Chegou a temer o "depois", sem saber como Logan se comportaria junto da mulher da qual já
obtivera o suficiente. Mas quando ela afastou-se, dando-lhe a opção do espaço, ele rejeitou. Tudo o
que aconteceu, antes e durante, fora como um sonho.
Devia estar tão depauperada que mal se lembrava de ter deixado o sofá e ido para o quarto.
Quando Logan se aproximou, após ter apagado o fogo da lareira, ela aninhou-se em seu peito
largo e adormeceu.
Na hora, não tivera tempo e nem energia para pensar, mas agora tinha. Não se arrependia da
noite anterior. Logan fora gentil e atencioso, sempre atento a seus sentimentos, aquilo que ela
desejava. Mas era de se esperar.
O único relacionamento de uma só noite que tivera ela vivera com o homem certo, em todos
os sentidos, só que não era adequado para ela. Os mundos deles colidiriam e destruiriam tudo de
belo que haviam partilhado.
O toque inesperado do telefone interrompeu seus pensamentos. Ótimo, pensou ela. Não
estava mesmo gostando do rumo que tomavam. Deixou o telefone tocar, até a secretária eletrônica
entrar em funcionamento. De imediato reconheceu a voz de Emma. Será que ela nunca dormia?
—Logan? Cathe? Parem de brincar de esconde-esconde e venham atender. Sei que estão aí.
Catherine gemeu baixinho e ergueu o fone.
— Alô?
— Cansados demais para falar comigo? Bom sinal.
— Emma! — Catherine caiu para trás, sobre os travesseiros.
Não era de admirar que Logan tivesse desistido de acompanhar a avó. Ela, na certa, tinha
mais saúde e resistência do que eles dois juntos.
—Que bom que reconheceu minha voz, querida! Noites longas costumam anuviar o cérebro.
Como está se sentindo esta manhã?
Catherine recusou-se a morder a isca.
—Bem, Emma. E você?
—Você disse "bem"? Preciso avisar meu neto para melhorar seu desempenho.
Catherine quase riu. O desempenho de Logan fora espantoso, não que isso fosse da conta de
Emma. Tentou adivinhar há quanto a avó dele não levava uma boa lição.
—Você tem razão... Talvez tenha sido o longo trajeto até aqui, ou a corrida na chuva, mas
Logan não usou aquilo que tenho certeza-ser sua normal... potência.
Emma deu uma tossidela, e Catherine se deu conta que a porta do banheiro estava aberta e
que Logan devia ter ouvido o final da conversa. Ele se encontrava junto à cama, de calça jeans e
com uma toalha nos ombros, e a fitava com ar indagador.
—E Emma — Catherine murmurou, apontando para o aparelho.
Logan fez sinal para que ela fizesse silêncio e lhe passasse o telefone. Catherine assim o fez, e
ele apertou a tecla de viva voz.
—Isso costuma acontecer na primeira vez, meu anjo, mas estou certa de que sua performance
vai melhorar.
Catherine não pôde evitar uma risada. Emma fungou.
—Sei que está aí, Logan. E saiba que não gosto dessa história de viva voz nos telefones. E
muito indiscreto. Será que não aprendeu o que lhe ensinei sobre classe e refinamento?
Desta vez foi Logan quem riu.
— Tudo o que sei, devo a você. Ninguém lhe disse que espionar a intimidade dos outros
também é muito indiscreto?
— Não estava espionando, só conversava com Catherine. Diga a ele, meu bem.
Catherine mordeu os lábios para não gargalhar.
—E verdade, Emma. Sei que você estranhou minha presença na casa de seu neto, mas, como
moro longe e as estradas já tinham trechos de alagamento, resolvemos vir para cá. Mas nada
aconteceu. — Cruzou os dedos atrás das costas ao dizer isso.
—Mentirosa! — Logan sussurrou, ao juntar-se a ela no leito. O perfume másculo de sua loção
após a barba a despertou.
Catherine puxou o lençol sobre si, mas o esforço foi tardio.
—Sei que nada houve, Catherine. Meu neto é um cavalheiro. E você, uma dama perfeita para
ele... Mas agora preciso me apressar. Tenho um compromisso. Um bom dia aos dois! — O clique
da ligação sendo cortada, foi seguido pelo ruído de linha.
Logan desligou o viva-voz, e ambos riram.
—Você não faz idéia do que aquela senhora de aparência inocente é capaz.
—Como assim?
—Emma já tinha um plano traçado para nós dois, antes mesmo de nos conhecermos. Ela
nasceu para fazer esse tipo de coisa.
Catherine sorriu.
—Pelo visto, sim. Mas também teve uma grande influência sobre você e seu caráter.
—Como foi que descobriu isso?
—Bem, além de ser tão óbvio, sou boa observadora. — Tornou a olhar em torno do aposento.
— Tudo aqui fala de você, de sua personalidade. Os móveis de madeira são antigos, como eu
gosto, porém, são totalmente masculinos, assim como os tons da decoração. Contudo, notei alguns
toques femininos, que só podem ser de Emma.
Logan deu uma risadinha.
—E quais são?
—Bem, um homem não dá importância a certas coisas, como tapetes ao lado da cama, apesar
de darem calor ao ambiente. E também a bandeja com as chaves... E os suportes de mármore para
livros, foram presente de alguém?
Catherine preferia crer que Emma tinha dado os toques nos detalhes, e que Logan não tinha
por hábito trazer mulheres para casa.
—Está mais ou menos certa, Cathe. Emma providenciou os tapetes e mais algumas coisas
que nem me lembro...
—E o restante? — indagou ela, prendendo o fôlego.
—O restante quem providenciou foi uma linda mulher com dinheiro para gastar.
Catherine sentiu uma pontada de ciúme, mas procurou não demonstrar isso.
—Seja quem for, tem bom gosto.
—Tem de ter. Aprendeu tudo o que sabe sobre decoração com a avó dela. Grace é daquelas
pessoas que aprendem rápido.
Catherine respirou aliviada.
—Você a vê com freqüência?
—Não. Mas nos falamos todas as semanas, em geral no domingo à noite. Gosto de ter certeza
de que ela não está metida era nenhuma encrenca, e ela gosta de se manter informada sobre o que
acontece em Hampshire. Mesmo que não admita, Grace sente falta dos amigos daqui, e também
da família, embora não de toda ela.
—Você e Emma.
—Mamãe também. Ela e Grace são muito próximas. E com papai que ela implica.
—Decerto ainda acabará voltando para a mansão. Logan deu de ombros.
—Para que isso acontecesse, muitas coisas teriam de mudar. Mas nunca se sabe. Milagres
podem acontecer. — Seus olhos prenderam os dela, e Catherine sentiu os joelhos enfraquecerem.
Ela suspirou.
— Que horas são, Logan?
— Dez.
— Já?! O tempo passou rápido!
— Estou considerando isso como sendo um elogio! Catherine pegou o travesseiro e atirou
nele.
— Aposto que sim.
— Notou que estou mantendo o que prometi? Catherine ergueu a sobrancelha.
— Como assim?
—Já amanheceu, e isso significa que estamos juntos por mais do que uma noite. — Seu jeito
travesso desarmou as defesas de Catherine.
Para uma mulher não muito crédula, Logan estava muito perto de fazê-la acreditar nas
promessas que fizera.
Sua mãe também acreditou nas promessas de seu pai, de que não iria embora, e ele ficou,
mas apenas o suficiente para lhe dar duas filhas antes de desaparecer para sempre.
Mas Logan não era como seu pai. Graças a Emma, ele fora criado para ser responsável e
decente. Não que ela fosse tola o bastante para esperar dele algum compromisso sério; era o que
ela mantinha-se dizendo. No entanto, Catherine começava a temer que, se ficasse muito tempo
perto dele, acabaria querendo exatamente isso.
—A manhã já se foi... e eu preciso ver minha irmã — disse Catherine, sem muito entusiasmo.
Ir para longe dali, de volta à realidade, onde sua prática irmã e seu marido policial, o Sr.
"Sabe-Tudo", dariam a ela uma boa sacudidela mental, e a fariam lembrar por que não devia
acreditar na fantasia que começava a compor.
—Eu estava pensando em sairmos para tomar o desjejum, e depois disso eu a levaria até lá.
Catherine mordeu o lábio. Na certa mais tarde ela se arrependeria, mas ele merecia alguma
gentileza da sua parte.
—Dê-me cinco minutos para um banho e eu mesma preparo nosso café da manhã. Depois,
você me leva ao apartamento de Kayla.
Logan inclinou-se, até sua boca ficar próxima, e Catherine esperou pelo beijo.
—Eu adoraria tomar seu café, mas a despensa está vazia.
—Que pena... Ele achou graça.
—Nem tanto. Podemos preencher o tempo fazendo outra coisa... Catherine fez menção de
protestar, mas ele a interrompeu de uma forma muito convincente...
Seguindo as instruções de Catherine, Logan parou o carro diante de uma casa com paredes
amarelas, janelas brancas e de aparência agradável. O sol a banhava de luz, agora que a chuva
passara. O trajeto de meia hora passou rápido, com Catherine falando durante todo o tempo.
Agora ele sabia tudo sobre Kayla, irmã dela, seu marido e o bebê que estavam esperando.
Catherine amava a irmã, sem dúvida, e, apesar de suas queixas, tornou-se óbvio que também
gostava do cunhado. Ele suspeitava que Catherine falara tanto, e tão nervosa, para evitar discutir a
possibilidade de eles tornarem a se ver.
Ela não acreditava que tivessem algum futuro juntos, e Logan pretendia mostrar-lhe que
estava errada.
Em Catherine, ele detectara uma vontade profunda de poder desfrutar do tipo de vida que
sua irmã agora desfrutava, mesmo que não admitisse isso. Ele reconhecia os desejos dela, por
serem semelhantes aos dele, desejos que não havia realizado. Até Catherine aparecer.
—Bem, aqui estamos.
Logan voltou-se para fitá-la e notou sua mão na maçaneta.
—Aonde pensa que vai, Cathe?
—Como assim? Estou indo ver minha irmã.
—E pretende ir assim, sem dizer nada? Ela abriu a boca. Em seguida fechou-a.
—Diga "até logo", moça! Ela meneou a cabeça.
— Não sei por que permito que você me confunda desse modo. Ninguém jamais fez isso.
Nem mesmo Nick.
— Quem é Nick? — ele perguntou, detestando ouvi-la falar o nome de um outro homem.
— Meu cozinheiro e grande amigo. Freqüentamos a mesma escola de culinária. Ele caçoa de
mim desde que era menor do que eu, e mesmo após eu ter chutado sua canela pela primeira vez.
—E esse Nick. Ele é seu...
—Amigo — ela afirmou, muito séria. — Um ótimo amigo. Nick nunca tentou me namorar,
desde que éramos crianças.
Logan apreciou sua atitude. Ela havia entendido e tentou tranqüilizá-lo. Ele jamais
sucumbira ao ciúme, mas não era de surpreender que sua primeira vez envolvesse Catherine.
Nenhuma garota jamais o afetara tanto quanto ela.
Catherine aprontou-se para sair do automóvel.
—Adeus, Logan. — Desviou o olhar e fez menção de ir.
—Espere.
—O que foi?
—Por que "adeus"?
Ele tinha várias palavras na ponta da língua, mas aquela não era uma delas. Eles tornariam a
se ver. Catherine suspirou.
—Foi muito bom estar com você, mas...
—Foi muito mais do que isso.
—Não pode ser, Logan.
—Por quê? Porque sou um Montgomery?
—Esse é apenas um dos motivos. — Catherine não se atrevia a dizer mais, senão estaria
admitindo seus verdadeiros sentimentos e o fato de estar perto demais de se apaixonar por ele.
"Amor à primeira vista não existe." Uma vez fora daquele carro, ela se lembraria disso.
—Estamos no ano 2000, Cathe, e essa coisa de diferenças sociais deixaram de existir.
"Diga isso ao juiz, seu pai", Catherine pensou. Logan tinha ido tão longe tentando se
distanciar da família e de seu estilo de vida, que só podia acreditar no que dizia. Ele só não se dera
conta do que poderia acontecer quando dois mundos como os deles colidissem.
Além disso, Catherine não tinha dúvida de que, quando ele voltasse para casa, ela se tornaria
uma lembrança distante.
—Então? Tornaremos a nos ver? Ela suspirou.
—Pode ser...
Ele sorriu e Catherine soube que estava perdida.
—Ótimo. Passo para apanhá-la na sexta. Jantaremos em Boston antes de irmos para a praia.
Talvez o tempo esteja bom e então lhe mostrarei alguns lugares especiais, bem escondidos dos
olhos alheios.
Ele sempre levava a melhor sobre ela, e sabia disso.
— Você não acha que é muito literal?
— Sou sincero. E você me fez acreditar que valoriza isso.
— De fato, é verdade.
Sem saber mais o que dizer, Catherine levou a mão à maçaneta.
—Sendo assim, acredite quando digo que quero tornar a vê-la. O que existe entre nós é
intenso, forte demais para ser esquecido.
O coração dela disparou. Logan era bom com as palavras. Trespassava suas defesas e a fazia
crer no impossível.
Ela olhou para a frente da casa e viu Kane, seu cunhado, saindo de lá, talvez com a intenção
de verificar o veículo suspeito parado a sua porta. Não queria ter de apresentar os dois homens e
depois precisar suportar as perguntas do policial.
—Preciso ir, Logan.
—Sexta-feira, então? Lembre-se de que me deve um café da manhã.
Ela o encarou. Fizera amor com ele, confiara nele e se abrira para Logan. A única pessoa com
quem era preciso combater era contra si própria.
—Você está usando meu suéter favorito e pretendo pegá-lo de volta, eu mesmo.
Logan era insistente, mas não tinha como saber que ela já havia tomado uma decisão quanto
a eles dois.
—Telefone, está bem? — disse ela.
Antes que Logan pudesse responder, abriu a porta e se foi.
Logan não sabia onde Catherine morava, nem tinha o número do telefone. Claro que, graças
a Emma, ela seria encontrada com facilidade. Porém, se ele de fato estava interessado, teria de se
esforçar. Catherine não era uma tola, e nem tentava bancar a difícil. Queria apenas ter certeza de
que ele falava sério antes de entregar-se sem reservas àquela relação.
— Logan Montgomery?! Você passou a noite com Logan Montgomery?! — Kayla quase
gritou dentro do pequeno banheiro.
— Sim... Por que o espanto?
Sua irmã foi pegar o jornal que se encontrava sobre a mesa-de-cabeceira e começou a folheálo.
— Eu li algo a respeito dele, em algum lugar... Na coluna "Ricos e Famosos"...
— Espere aí. — Kayla costumava ler ficção, literatura e jornais medicinais, mas... — Agora
deu para se interessar pela coluna de mexericos? Pare mundo, que eu quero descer!
— Aqui está! Dê uma olhada nisso.
Suspeitando que não iria gostar do que veria, Catherine aceitou o periódico e viu-se diante
de uma fotografia de Logan tirada na tarde anterior, na festa. Mesmo à distância, seu charme era
devastador.
—Leia o artigo, Cathe. Catherine começou a ler:
—"Logan Montgomery, filho do juiz Edgar Montgomery e de sua esposa, Annette, está
prestes a anunciar sua candidatura à prefeitura de Hampshire. Embora o charmoso e mais
cobiçado solteiro negue isso, o juiz Edgar avisou a esta repórter para se manter atenta, como se
qualquer um de nós precisasse de um motivo adicional para ficar com os olhos pregados nesse
perfeito espécime. Pior para nós, garotas simples e trabalhadoras, ele estar destinado a ser..."
Catherine largou o jornal, deixando-o sobre a cama.
—Chega. Recuso-me a ler esse lixo.
—Oh, meu Deus! Você se apaixonou por ele... Catherine balançou a cabeça. Ainda não
admitira aqueles sentimentos, nem a si mesma. Não podia se deixar assim tão exposta, nua e crua.
— O que faço agora? — Sentou-se no leito de Kayla.
— Que tal começar me contando o que está havendo? Catherine se virou e olhou para o
cunhado, que acabara de chegar, parando à soleira.
—Vá embora! — disseram as duas ao mesmo tempo.
—Você só reclama de minha presença quando sua irmã está aqui, Kayla.
— Pelo menos o faço sofrer um pouco... sofrer faz um bem enorme à alma.
— Vocês dois, não comecem, por favor... Quero dar uma palavrinha — pediu Kayla.
Catherine suspirou. Conhecera Kane logo após ele ter saído pela primeira vez com sua irmã,
e tinha um enorme respeito pelo detetive, por sua devoção a Kayla.
— Vá em frente — disse Catherine à irmã. Kayla virou-se para o marido.
— Cathe precisa de um lugar onde possa pensar.
— Preciso?
Ignorando Catherine, Kayla continuou:
—Ela ficará aqui até resolver algumas coisas.
—Ficará?! — Kane estreitou os olhos, fingindo que a idéia não o agradava.
Catherine deu uma risadinha.
—Ficarei. — Ela cruzou os braços diante do peito.
Até Kayla ter mencionado, não percebera o quanto estava precisando do apoio da irmã, e
que não queria ficar sozinha com suas conjecturas.
Catherine olhou para Kayla, aconchegada às cobertas, o ventre volumoso salientando-se sob
os cobertores. O bebê estava para nascer, e Catherine queria estar por perto quando isso
acontecesse.
Kane caminhou até o lado da esposa.
—Você não tem de trabalhar, cunhadinha querida?
—Não há nenhuma festa programada antes do próximo fim de semana, e nosso novo gerente
cuidará do evento no sábado. Sendo assim, vim para ficar, cunhadinho querido.
—Então, sinta-se em sua casa. Mas não mude a decoração enquanto estiver aqui.
—Alguém que não goste de figuras de animais deve ter algum problema fundamental em
relação à vida. Eles acrescentam calor...
—E para isso que servem os animais de estimação de verdade.
—Todos os meus acessórios são falsos, Kane. Sei respeitar os direitos dos animais. Mas, se é
um bicho de estimação que você quer, posso parar no próximo pet shop e...
—Nem pensar! Estou indo... Catherine riu.
— Era esse o plano, Kane. Agora, falando sério, obrigada por me deixar ficar.
— Você sempre será bem-vinda. — Ele agraciou Catherine com um sorriso genuíno. — Fique
o quanto precisar, contanto que se mantenha longe de meu caminho.
— Ele está brincando, Cathe.
— Claro que estou, e Cathe sabe disso, meu amor — disse ele, num tom afetuoso que
reservava apenas para a esposa.
Para surpresa de Catherine, ela viu-se invejando-os. Costumava passar bastante tempo com
Kayla e Kane, e estava feliz por a irmã ter encontrado amor e aceitação. Mas ela não invejava
aquilo que Kayla e Kane partilhavam. Jamais imaginou que desejava o mesmo para si.
Até aquele momento.
Até ter conhecido Logan, o homem favorito de Hampshire. O admirado rapaz solteiro
destinado a casar-se com alguém de seu meio, concluiu, lembrando-se das palavras finais do
artigo, que não ousara verbalizar.
CAPÍTULO OITO
a segunda-feira, na hora do almoço, Logan colocou uma moeda no telefone público, discou
o número de Catherine. Ouviu as chamadas incessantes antes que a secretária eletrônica
atendesse.
Praguejou baixinho. Sua única hora livre no dia, e não conseguia falar com ela.
— Montgomery, o juiz, deseja vê-lo em sua sala. Parece que seu cliente tornou a causar
problemas — avisou o oficial de justiça, do corredor.
N
Logan gemeu ao largar o fone. Algumas vezes, ás prioridades nos sugava, pensou,
afastando-se.
Não era inteligente ficar se escondendo. Não dizia muito sobre sua habilidade de fazer frente
aos problemas. Mas Catherine não queria aquilo, só queria esquecer, que após ter passado a noite
com Logan, ele não havia telefonado.
Ela chegara à casa de Kayla no domingo, e já era terça-feira. E daí que não dissera a Logan
onde encontrá-la? Ele não era advogado? Se de fato desejava achá-la, na certa a encontraria.
Por mais que tivesse dito a si mesma para não esperar muito dele, seu silêncio doía. Porque,
apesar de todas as verdades, Catherine sabia na mente, e seu coração queria acreditar que ela era
diferente, especial.
Queria esquecer, e cuidar da irmã grávida ajudaria. Além disso, permitiria a Kane sair para
trabalhar sem se preocupar com a esposa sozinha em casa. Era o mínimo que ela poderia oferecer
em troca, por ter invadido a residência deles e sua privacidade.
Bateu a porta do quarto, levando uma bandeja com o lanche de Kayla.
— Se for mais bolinho, estou satisfeita, obrigada.
— Torradas com geléia, desta vez — disse ela, fechando a porta atrás de si com o pé.
Kayla ergueu-se na cama.
— Fiz do jeito que você gosta. Experimente.
— Sente-se aqui, Cathe.
Após pousar a bandeja sobre a mesa de cabeceira, Catherine sentou-se na beirada da cama.
— Estou sentada. O que há? E o bebê?
— Não. E sobre toda essa comida. Eu a conheço melhor do que ninguém. Você costuma
cozinhar feito louca quando está preocupada. Além disso, passaram-se dois dias e você não tornou
a mencioná-lo, e passa o tempo todo naquela cozinha.
—Ele quem? — perguntou ela, evitando o olhar da irmã. Kayla suspirou.
—Sabe que estresse faz mal para o bebê. — Acariciou o ventre volumoso. — E é estressante
ficar me preocupando com você, Cathe. Agora, pare de bancar a difícil e conte o que está
acontecendo.
Catherine levantou-se.
—Você se lembra de quando éramos meninas? Na época do Natal, todas as crianças da
vizinhança recebiam vários presentes. Eles vinham embrulhados com papel bonito e amarrados
com laços de fita, e eram postos sob a árvore enfeitada, mesmo sendo uma bicicleta usada ou uma
boneca de trapo.
—E nós não tínhamos nada disso.
— E verdade. Quantas cartinhas para o Papai Noel deixei de escrever para pedir apenas que
papai voltasse para casa.
— Eu nunca soube disso... Você nunca me contou. Jurava que a falta de presentes não era
importante, como era para mim.
Catherine balançou a cabeça.
—Não queria que você soubesse... — Mordeu o lábio. — Levou algum tempo, mas após os
primeiros dois anos depois de sua partida, por fim, convenci-me de que ele não voltaria... e parei
de acreditar.
—Em muito mais do que apenas em Papai Noel. Catherine assentiu.
—E então, de repente, conheço Logan. Desde o início sabia que pertencíamos a mundos
opostos. Entendi que para ele eu não passava de uma interessante diversão. No entanto... — Para
seu horror, Catherine se viu perto das lágrimas. Rápida, enxugou os olhos.
—Você acreditou nele? Ela fez que sim.
— Não acha que deveria ter lhe dado seu endereço e o número do telefone?
— Sei que é tolice, mas achei... achei que se ele fizesse força para me encontrar, provaria que
fora sincero. E não seria tão difícil. Sua avó sabe onde me encontrar.
— Verificou se há recados em sua secretária eletrônica?
— Verifiquei. Além disso, Logan me trouxe aqui. Em último caso, sabe onde encontrar você.
— Pode ser que ele esteja ocupado com o trabalho.
— Por mais que esteja, decerto teria um minuto para me telefonar. — Para tentar descobrir
onde a pegar na sexta à noite.
Na certa teria desistido do encontro.
O som da campainha da porta interrompeu seus pensamentos.
— Esperando alguém? — Catherine perguntou à irmã.
— Deve ser a esposa do chefe de Kane... Quero dizer, seu antigo chefe. Ele se aposentou no
ano passado, mas vem me ver todas as semanas com... mais comida.
— Vou atender.
Catherine fez força para espantar a tristeza ao sair do quarto e dirigir-se à porta. Se pretendia
ficar, era para dar apoio à irmã e não para estressá-la.
Do outro lado da porta, havia um entregador, e não a esposa do capitão, como Kayla previra.
— Entrega para Catherine Luck. Ela estreitou os olhos.
— Que estranho...
— E você? Preciso de sua assinatura.
Catherine assinou o recibo e aceitou a pequena caixa envolta em papel marrom. Virou-a para
ver o remetente, escrito numa letra nada familiar.
Ao desembrulhar a caixa, Catherine esperou que aquilo não fosse uma ilusão.
Logan largou as chaves sobre a mesa e largou a pasta sobre a cadeira. Sua escrivaninha
apinhada de pastas e papéis, que o manteriam ocupado o mês inteiro.
Soltou uma imprecação. Acrescentando a isso o calendário de terça à noite, quando ele
representava qualquer dos casos que surgia, por mais escabrosos que fossem, o resultado é que
não teria tempo algum para si mesmo.
Tempo para dormir ou para tentar falar com Catherine, concluiu, continuando a tentar.
Obtivera o número do telefone dela através de Emma, e tentara encontrá-la em todos os intervalos,
durante as seções do tribunal. No entanto, somente a secretária eletrônica respondia.
Após o que partilharam, o que ele tinha de dizer, não podia ser resumido em seis segundos,
e era todo o tempo que tinha.
Prometera procurá-la em breve. Deixara-a na residência da irmã, no domingo, e já era terçafeira.
Todo esse tempo e nenhuma notícia...
Logan esfregou os olhos cansados e tornou a pegar o telefone. Discou, e mais uma vez quem
respondeu foi a secretária eletrônica.
— Mas que droga! — esbravejou ele, batendo o telefone.
— Controle essa língua. Não foi para isso que o eduquei. Logan virou-se para a porta que
Emma abrira, entrando sem nenhum aviso.
—Emily Post não a ensinou a bater antes de entrar, vovó? — Por que eu deveria ter feito
isso? A porta estava aberta. Logan levantou-se e andou em torno da mesa.
— E bom tornar a vê-la, vovó. Você sempre será bem-vinda, e sabe disso. — Ele a beijou no
rosto perguntando-se que motivo a trouxera ao seu escritório àquele horário.
— Precisamos conversar, Logan — O brilho em seus olhos o intrigou, mais do que o
perturbou.
"Emma deve estar aprontando uma das suas..."
—Como você chegou até aqui, vovó?
—Ralph me trouxe. Embora eu ainda diga que aquele guarda estava enganado, pois não sou
o terror da estrada.
Logan nunca permitiu que ela soubesse, mas após Emma ter passado com o automóvel sobre
suas rosas premiadas no jardim, ele providenciou para que ela fizesse exame de vista e não
obtivesse a renovação da carteira de motorista. Queria que Emma vivesse o mais possível.
— E bom saber que foi tão prudente — disse ele, sabendo que ela ainda insistia em dirigir,
sempre que podia.
— Como se eu tivesse alguma escolha... Se me atrevesse a vir guiando, seu pai teria mandado
a polícia ir atrás de mim. Sua própria mãe. Imagine só!
— Posso imaginar. — Deu uma risadinha. — Mas preciso falar com Cathe. Depois
poderemos conversar.
Emma olhou com suspeita para o telefone.
—Conversaremos antes disso. Você fala com ela depois. — Emma parecia estar em pânico. —
Ainda não jantei. Vamos conversar naquele bar simpático lá embaixo?
—Ótimo. Vamos lá.
Logan conseguiu reunir alguns papéis e colocá-los na maleta antes que ela o agarrasse e
puxasse em direção à porta.
Minutos depois, os dois se encontravam sentados a uma das mesas do bar do edifício.
—Quer ver o cardápio? — Logan ofereceu.
Emma fez que não sem que um só fio de seus impecáveis cabelos brancos saísse do lugar.
— Qualquer coisa que você pedir estará bem para mim.
— Mas eu pensei que estivesse com fome, vovó.
— Estava, mas perdi o apetite.
— Duas cervejas — pediu ele, ao garçom.
Logan reclinou-se para trás e olhou em torno do local lotado.
—Está bem, querida. Você me arrastou para cá, para um lugar público, para que eu não
fizesse uma cena. Agora, fale.
O garçom trouxe as cervejas e os serviu.
—Por que está dizendo isso? Será que não posso dar uma passadinha para visitar meu neto
favorito?
— Sou seu único neto, vovó. Diga logo. Ela suspirou.
— Tem trabalhado muito?
— Feito louco. A semana está sendo infernal.
— E ainda mal começou. Então está sem tempo para se divertir...
— Outra vez me controlando, vovó?
— Como se atreve a dizer isso de sua avó! Precisei caçá-lo em seu escritório às dez da noite
para poder vê-lo... creio que não tenho de dizer mais nada. — Virou a cabeça para o lado. — As
mulheres de sua vida precisam ser bem compreensivas.
"Não existe mulher alguma em minha vida", ele quase disse. Era sua resposta padrão à
bisbilhotice nada sutil de Emma.
Porém, conteve-se. Ambos sabiam que dessa vez seria mentira.
Por mais que valorizasse sua privacidade, Logan não se importava de se abrir com Emma
sobre seus problemas. Ela o entendia melhor do que ninguém e sabia que estava interessado em
Catherine. Mais importante: a avó também gostava da moça.
Logan inclinou-se para a frente.
— Não tenho certeza de como Catherine se sente ao meu respeito. Não consigo falar com ela.
— Não consegue ou tem estado muito ocupado? Sabe o que dizer sobre só trabalhar e nunca
se divertir. Você devia procurar Catherine, sair com ela para passearem juntos. Verá como se
livrará de toda essa tensão que carrega consigo.
Logan não estava com muita paciência para ouvir as queixas da avó, e não gostava do modo
como falava sobre Catherine, como se ela fosse mera diversão e nada significasse para ele.
— Pare com isso, vovó. Catherine não é qualquer uma. Emma juntou as mãos.
— Graças a Deus!
— Graças a Deus o quê? Alguém mais além do juiz andou censurando seu modo de falar?
— Logan, eu o criei, e o amo muito, mas você às vezes banca o estúpido. Dei graças a Deus,
pois, se melindrou por causa de uma coisinha à toa que falei sobre Catherine, é porque," enfim,
aconteceu!
— Do que está falando, vovó?
— Você caiu de quatro, como se diz por aí. Eu sabia que iria acontecer. Agora, eis o plano. —
Ela falava depressa, decerto para evitar que ele a interrompesse. — Tomei algumas providências
quando soube que vocês passaram a noite juntos.
Logan meneou a cabeça. Emma era um verdadeiro turbilhão.
— Isso me fez lembrar de uma coisa, vovó. Ainda não conversamos sobre o incidente no
closet.
— Oh, eu julguei que você e Catherine já haviam me dado uma lição.
— E, mesmo com a lição, você não se emendou. Agora me ouça e tente entender. Por mais
que eu aprecie suas boas intenções, prefiro que não se meta. Tenho trinta e um anos, vovó. Você
levaria a mal se eu pedisse para que me deixasse em paz?
— Claro que não, mas é tarde para isso. Precisa de ajuda, querido, e estou aqui para oferecêla.
— Eu também estou aqui, ouvindo.
— Você disse na festa que queria realizar os sonhos de Catherine. E antes que pergunte como
sei disso, eu direi. O interfone da piscina, perto do bar, ficou ligado, mas foi um acidente —
confessou, incapaz de encará-lo.
— Você está dizendo que ficou sentada dentro de casa, ouvindo? — Estava cada vez mais
difícil para Logan engolir a própria fúria.
— Sim — admitiu, com ar constrangido.
Emma não era maliciosa nem tinha a intenção de causar nenhum mal. Mas saber isso não
ajudava em nada.
Logan fechou os olhos e contou até dez, tentando controlar a frustração. A pena por
assassinato no Estado era severa, mas ainda assim, naquele caso, poderia ser considerado homicídio
justificado; o júri poderia fazer uma exceção pelo fato de ele ter estrangulado a avó de oitenta
anos.
— Só queria saber se escolhi a garota certa, meu amor, se vocês dois estavam se dando bem.
Você nunca me conta as coisas.
— Isso porque você reage... como agora. Pode não ter notado, vovó, mas desta vez você
ultrapassou os limites da decência.
— Sei disso e lamento muito. Contudo, aquele ataque do coração me matou de susto. Bem,
não literalmente, graças a Deus. Mas tenho de vê-lo casado e feliz antes de ir desta para a melhor...
Você sabe o que quero dizer.
Logan sabia. E entendia. O enfarte que ela sofrerá também tirara anos dele. E o motivo de ele
permitir que a avó se saísse bem dessa era ele a amar e estar grato por Emma ainda estar por
perto.
Mas ela não podia ir até os extremos, não quando envolvia Catherine.
—Eu já disse a você que não pretendo usar Catherine para acabar com as pretensões de meu
pai, nem para nenhuma outra coisa. Devia envergonhar-se do que fez, vovó. Alardeia sua afeição
por Cathe e ao mesmo tempo planeja usá-la...
Emma levantou-se, indignada.
—Não fiz nada disso!
—Sente-se, Emma. Ela tornou a sentar-se.
—Queria ver vocês juntos, Logan, se é o que pretende dizer, e você devia me agradecer por
isso. E quanto a querer usá-la, que culpa tenho eu se o passado da família dela impede que seja
eleito prefeito da cidade? Não, isso nada tem a ver com o motivo que me fez trazê-lo à festa.
Desejava que a conhecesse, meu querido.
— E se nós não nos déssemos bem?
— Claro que eu teria lamentado, mas aceitado.
Logan passou a mão por entre os cabelos. Se os dois dias de trabalho não foram suficientes,
ele ainda tinha de enfrentar aquele problema.
—Então, faça isso agora, por favor.
Emma bateu, afetuosa, na mão dele, como costumava fazer quando ele era criança, um gesto
que, através dos anos, tornou-se incrivelmente reconfortante. Mas naquele momento, o deixou
preocupado.
O que Emma disse a seguir provou que seus instintos estavam certos:
—Só mais uma coisa...
—É muito romântico, Cathe. — Kayla estava radiante, e não era apenas devido à gravidez.
Catherine sabia que sua irmã estava empolgada com os presentes diários que Logan lhe
enviara, mas não mais do que ela. Olhou para os três, e um calor delicioso espalhou-se por seu
corpo. Logan fazia aquilo por ela, pensou. Balançou a cabeça.
— Na verdade, Kayla, estou tão surpresa que não sei o que dizer.
— Queria sinceridade, não é? Está parecendo que é justo isso o que ele está lhe dando.
Catherine assentiu. Uma caixa diferente chegava a cada dia. Junto com a fadinha que chegara
na terça, havia um cartão dizendo: "Para que seus sonhos se tornem realidade".
Na quarta, uma esfera de vidro com uma bela paisagem dentro dela. Para um bom
observador, o presente poderia ter pouco significado. Mas para ela, retratava uma canoagem no
Charles River. Um leve agitar fazia cair neve sobre o barco. Neve no verão. Ela lembrou-se das
palavras no cartão: "Milagres acontecem". Logan era o seu milagre, seu coração dizia.
O terceiro presente, que chegara naquela manhã, era uma prova disso. Um CD com a mesma
música que ele colocou para tocar na noite em que passaram nos braços um do outro, e uma outra
nota: "Até que estejamos juntos de novo".
Catherine correu a ponta dos dedos pela embalagem do disco, e um desejo diferente a
assaltou: o de ter aquela melodia entrando em seus ouvidos ao mesmo tempo que Logan a penetrava.
Uma volúpia intensa lhe causou um arrepio, e ela abraçou a si mesma, tentando parar de
tremer.
— Cathe? Você está bem?
— O quê? Ah, sim, Kayla, estou. Desculpe-me... Não sei mais o que pensar. Estes presentes
são...
— Doces? Dão motivos para sonhar? Esqueça isso e concentre-se naquilo que está sentindo.
Catherine riu.
—Lembro-me de ter dito exatamente isso após seu primeiro encontro com Kane.
Kayla deu uma risadinha.
— E veja aonde isso me levou. — Acariciou a barriga.
— Se você quer me assustar, está conseguindo. — Mas não podia negar que a idéia de ser
esposa de Logan, e mãe de seus filhos, era tentadora.
Contudo, não devia apressar as coisas. Logan queria uma outra noite apenas e um futuro a
longo prazo jamais fora mencionado.
— Vai me dizer que você nunca pensou em ter um marido, muito amor, segurança... uma
casa, crianças...
— Um cachorro e cerca branca em torno da casa? Seja realista, Kayla. É sobre mim que
estamos falando, não sobre você. Eu não inspiro pensamentos de permanência nos homens. —
Claro que jamais havia considerado algum futuro junto com nenhum outro.
— Oh, e você acha que eu inspirava? Antes de Kane? Não acredita que existe uma pessoa que
foi destinada a você?
— Não sou uma romântica incurável como você, Kayla. E mesmo que eu fosse, é sobre Logan
Montgomery que estamos falando. Você não viu aquela casa, digo, aquela mansão. O closet na
entrada é maior do que o quarto onde fomos criadas.
— Antes que você comece, lembre-se de que tenho resposta para todos os seus argumentos.
— Exceto para esse. Você é capaz de me ver como esposa do prefeito? — Catherine fez um
gesto indicando as próprias roupas, as que ela fora pegar no apartamento.
Usando camiseta preta, calça branca de brim e sandálias de couro nos pés, ninguém poderia
dizer que ela não era do tipo recatado.
— E por que não? Posso vê-la sim, como esposa do prefeito. E preciso apenas adaptar-se. Mas
se não me engano, ele negou os boatos de sua candidatura. Aquele homem está interessado em
você, Cathe, do jeito que é, e decerto não está preocupado com essas coisas. Além disso você é
mais do que merecedora de casar-se com um homem como ele... a não ser que esteja procurando
por uma desculpa para afastar-se de Logan. — Kayla adivinhou.
— Por favor, tenha logo esse bebê para ter mais com que se preocupar além de mim.
— Eu poderia ter dez filhos, e ainda assim continuaria me preocupando com você.
— Sei disso.
Catherine suspirou, olhando para os presentes sentimentais que ele enviara. Apesar disso,
não seria tão tola a ponto de acreditar que Logan estivesse seriamente interessado, não importando
o quanto seu coração discordasse.
CAPÍTULO NOVE
atherine não precisou questionar-se a respeito de Logan. Tinha absoluta certeza de que o
desejava.
Os presentes e os cartões que recebeu dele a ajudaram a chegar a essa conclusão. Ela sacudiu
a esfera de vidro com a paisagem dentro e observou a neve tremeluzir e cair suavemente sobre o
cenário de verão.
E após ter ouvido horas a fim o CD de jazz, seu coração palpitava no mesmo ritmo que as
batidas das canções, e seu corpo ansiava pelo toque das suas mãos suaves. Começava a acreditar
que ele tinha razão ao afirmar que eles mereciam uma chance.
Quando a campainha da porta tocou, passado, dinheiro, classes sociais deixaram de ter
importância... ou qualquer outra coisa a não ser-estar com ele.
Logan não só a seduzira, mas também derrubara a parede que ela erguera em torno de si
para mantê-lo afastado. Mesmo à distância, ele dera um jeito de tocá-la fundo. E que Deus a
ajudasse, agora que ele chegara.
C
Kane a precedeu e foi atender, e isso deu a ela tempo para se acalmar. No instante em que
desceu a escada, ouviu a voz dos dois homens. Eles deviam ter descoberto que tinham a lei em
comum, embora trabalhassem em diferentes jurisdições.
Catherine avistou Logan no instante em que pisou no hall de entrada. Os olhos azuis e
penetrantes encontraram os seus. Ela captou uma chama neles e sentiu-se arder em um fogo
invisível.
Logan a fitava como se pudesse ler sua mente, como se soubesse de seus desejos mais
secretos.
Embora continuasse a conversar com Kane, Logan estendeu a mão para Catherine. E, tão
logo ela se aproximou, segurou seus dedos e puxou-a para si.
A pele dele era quente, seu toque, possessivo. Ela julgou que havia acalmado o calor que
sentia no ventre, mas se enganou.
Catherine pigarreou e se aproximou, as pernas meio trêmulas.
—Vejo que vocês já se apresentaram.
Kane assentiu, e Logan abriu a boca para falar, mas a voz de Kayla soou do topo da escada:
—Porém, eu ainda não fui apresentada.
— Você deveria estar na cama — queixou-se Kane, embora com extrema ternura.
— Imagine... Suponho que um de vocês terá de trazer o sr. Montgomery aqui em cima para
sermos apresentados — disse Kayla, sabendo que nem Catherine nem Kane faria tal coisa.
— Chame-me de Logan. E um prazer conhecê-la, Kayla — Logan sorriu diante da
semelhança entre as duas irmãs.
— Você já pode voltar para a cama, querida... ordens médicas. — Em seguida, Kane virou-se
para Logan. — Prazer em conhecê-lo, Montgomery. Vou subir e levar minha mulher de volta para
o repouso.
—Eu só queria vê-lo tentar fazer isso! — Kayla o repreendeu. Catherine riu, sua risada
ecoando nos ouvidos de Logan, excitante e sensual, igual a como ele lembrava. Lógico que ela
estava acostumada àquelas brincadeiras. Logan não. Nem uma só vez ele viu seus pais tão felizes
juntos.
Mas ele tivera aquela chance. Graças a Catherine, eles poderiam ver aonde aquele sentimento
os levaria.
Antes de Kane alcançar o primeiro degrau, ele voltou-se e chamou:
—Montgomery? Logan ergueu os olhos.
—Magoe minha cunhada e terá de se ver comigo. — E continuou seu caminho.
Logan entendeu o aviso, e o aceitou sem dificuldade. Mas duvidava que Catherine tivesse
apreciado a interferência do cunhado. No entanto, ao fitá-la, em vez de zanga, o que viu em seus
olhos foi admiração e incredulidade.
—Ora essa! Julguei que ele me tolerava por causa de Kayla — disse ela, em resposta à
pergunta muda nos olhos dele.
A reação de Catherine o surpreendeu. Ela sempre se sentira assim tão sozinha? Logan sabia a
resposta, porque costumava sentir o mesmo. Mais uma coisa que ambos tinham em comum. Mais
uma coisa que ele desejou mudar na vida dela.
Sem parar para pensar, Logan a abraçou.
— Lá vem você outra vez, subestimando-se. Não gosto disso, Catherine.
— E do que você gosta, Logan? — As íris verdes brilhavam, alegres.
— De você. — As mãos dele deslizaram para a cintura estreita de Catherine.
Como a blusa dela terminava na altura do cós da calça preta, seus dedos tocaram em sua pele
nua. Logan soltou um gemido.
—Repita isso — pediu ela.
Logan a encarou e viu em sua expressão a necessidade de ser tranqüilizada.
—Eu a quero, Cathe. Toda você. Ela suspirou.
Catherine e surpreendeu ao aproximar-se mais. Seus corpos se encontraram, e uma chama
acendeu dentro dele, forte e rápida. Não havia como errar quanto a reação do seu corpo.
Logan a fitou, esperando ver dúvidas em seu semblante, mas apenas encontrou uma clara
certeza.
Logan nunca sentira tanto alívio. Quando Emma o informou que estivera enviando presentes
a Catherine... a fadinha e todas aquelas coisas, ele esteve prestes a sofrer um enfarte. Emma se
superara.
No entanto, de acordo com o que ela informara, ele poderia escolher entre esbravejar e
aceitar o inevitável, correndo para Catherine.
Logan ainda não estava recebendo os telefonemas da avó, e mal falava com ela, mas
escolhera correr atrás de Catherine. Uma vez que aquela doce velhinha de oitenta anos interferia,
o que mais ele poderia fazer?
Catherine não se impressionava com presentes caros, dinheiro ou coisas materiais. A
honestidade o fez alcançá-la uma vez, durante o episódio do roupeiro. Ele não esqueceria aquilo.
Quando a deixou na casa da irmã, no domingo, sentiu-a cheia de suspeitas. Se queria
alcançá-la outra vez, primeiro ele precisava fazer sua cabeça. Com seu corpo, ele não teria
dificuldade, pensou. Sendo assim, durante as paradas no trabalho, ele saiu para comprar outros
dois presentes, escolhidos para que falassem por ele.
Pelo visto, acertara em cheio, concluiu enquanto ela puxava sua camisa de dentro da calça
jeans e começava a acariciar suas costas.
—Creio que devemos ir para algum outro lugar — disse ele, e Catherine assentiu. — Está
pronta para começar a acreditar nas possibilidades?
Porque ele não queria mais uma outra noite com arrependimentos pela manhã.
A semana sem ela fora infernal. E, se esse sentimento entre eles aconteceu tão depressa,
Logan estava disposto a permitir que tomasse a liderança. Ele tivera muitas imitações daquilo que
ele e Catherine partilharam, para não reconhecer seu potencial.
Mas ela também precisava estar aberta para o futuro. Ele abraçou-a e esperou sua resposta.
—Acredito em você, Logan.
Ele seria um tolo para não perceber o quanto a admissão lhe custara. E isso merecia
reciprocidade de sua parte.
—Eu estava pensando em irmos para o chalé... Há uma coisa que quero que saiba. Você foi a
única mulher que levei para lá.
Ele a beijou antes que Catherine pudesse dizer alguma coisa. Queria tranqüilizá-la, mas o
fogo ardeu dentro dele, rápido e sem aviso. Quebrar o contato não foi fácil, mas Logan conseguiu.
Catherine gargalhou, deliciada.
—Você de fato é bom com as palavras, sr. Montgomery.
—Sou, não sou? Agora, vamos!
No instante em que a porta do chalé fechou-se atrás deles, todos os sentimentos vieram à
tona. Catherine não estava certa sobre quem começou, quem primeiro abraçou quem.
Delírio. Deliciosa agonia. Era assim o beijo de Logan. Catherine nunca na vida fora beijada
com tamanho ímpeto. Com tamanha sensualidade. Com tamanha suavidade.
Aquele era o problema. Nada jamais fora tão perfeito, tão bom... Como aquilo era possível?
A vida não era assim. Ela não nos proporcionava algo tão bom sem exigir algo em troca.
Catherine semicerrou as pálpebras, desnorteada, e tentou refletir. Mas, ao que parecia, Logan
tinha acabado de lhe roubar toda a faculdade de raciocínio.
Quando foi que caíra no sono? Catherine piscou diante dos raios de sol que invadiam o
quarto. Espreguiçou-se e sentiu o protesto dos músculos doloridos, resultado da noite de amor
ardente.
Logan jogou uma das pernas sobre as dela, como se tentasse prendê-la ali. Catherine achou
graça. Não pretendia ir a lugar algum, não antes do meio-dia, quando precisaria voltar para casa e
preparar a recepção do dia seguinte.
— O que há de tão engraçado?
— Você, Logan.
—Eu sou engraçado? Mesmo assim você me ama, não é? Com um só movimento, ele rolou
sobre ela, apoiando o próprio peso em ambas as mãos.
Amava? Oh, não... De modo algum. Não tão rápido. Não agora. Não aquele homem.
Catherine tentou desvencilhar-se, mas Logan a manteve presa. Quanto mais ela se mexia,
mais seus corpos se uniam. Mais sua sólida masculinidade a pressionava. Catherine sentiu o apelo
do desejo crescer dentro dela.
—Pare de se debater, Catherine! Agora, antes que aconteça algo que você não quer que
aconteça, por que não diz o que tanto a assusta?
Catherine parou e balançou a cabeça. Podia ter desnudado seu corpo para Logan, mas não
iria despir a própria alma. Não podia entregar-lhe aquele tipo de poder sobre ela.
—Está bem, Cathe. Que tal eu dizer a você o que está me assustando? Depois, será sua vez.
—Parece justo.
E daria a ela tempo para recobrar o equilíbrio e inventar algo para dizer a ele. Qualquer coisa
seria melhor do que a verdade.
Que piada! Catherine Luck, a filha de um gerente de supermercado, um homem do qual ela
mal se lembrava, apaixonado por Logan Montgomery, filho do mais influente e poderoso juiz e da
mais ilustre família do Estado.
Se ela não tomasse cuidado, a risada histérica que sentia borbulhando dentro de si viria à
tona e se transformaria em lágrimas. E Catherine jamais chorava. Não desde aquele Natal em que
descobriu que Papai Noel era uma fraude, e que seu pai nunca mais voltaria.
—Olhe pra mim, Catherine.
Ela fez força para fitar aquele rosto lindo. O único modo de derrotar seus temores era
enfrentando-os. Fizera isso antes, e seria capaz de fazer agora. Sorrir foi o mais difícil.
—Está bem, Logan. Você primeiro.
—Você está fugindo de mim. Não importa o quanto eu esteja sendo sincero, continua á fugir.
Catherine não pôde negar o fato. Logan não apenas se abrira verbalmente, como também não
se continha quando faziam amor.
A experiência de Catherine era limitada, mas, mesmo se seu passado sexual fosse
acidentado, ela era inteligente o bastante para não pensar que uma experiência extraordinária entre
os lençóis teria algum significado fora do quarto.
Sua mãe pensara que sim. Sofrerá por se apaixonar por um homem que só a queria na cama,
e em mais nenhum outro lugar.
Catherine meneou a cabeça. Não queria para si o mesmo destino.
—Não estou fugindo de você, Logan. Estou... — Ela pensou em tudo que poderia dizer, e
optou pela verdade: — ...querendo escapar do resultado disso.
Logan se virou para o lado.
— Outra vez as diferenças sociais? Medo de que não dê certo?
— E isso.
— Está bem. Faremos tudo a seu modo, seja lá como for. Se der certo, ótimo; se não, quem se
importa. Sente-se melhor assim?
— Não.
— Ótimo. Isso significa que você se importa.
— Importo-me.
O olhar dele se suavizou.
— Há algo que quero dizer sobre essa sua sinceridade.
— Qualquer homem que envia presentes como os que você me enviou merece isso em troca.
Meus sonhos têm importância para você, Logan.
Ele se desviou. Catherine não pôde ver sua expressão, mas notou seu desconforto.
— O que foi, Logan?
— Seus sonhos me são caros, jamais duvide disso. Mas é que... — Passou a mão pelos cabelos
desalinhados. — Droga, você acredita que um homem lhe enviaria uma boneca vestida de fada?!
— Por quê? Você não enviou?
Quando ele fez que não, Catherine sentiu um aperto no peito.
— A esfera de vidro com a neve no verão?
— Esse fui eu. O CD também, e os cartões acompanhando ambos.
— Mas e a fadinha?
— Foi Emma, Cathe. E, se você tem alguma consideração por mim, por favor, não me
pergunte como vovó sabe tanto sobre nós.
Catherine assentiu. Não estava certa sé queria saber aquilo.
— Então, ela quer que fiquemos juntos?
— Tudo indica que sim.
Aquela era a peça do quebra-cabeça que desde o início não fazia sentido. Por que Emma
Montgomery, não importa o quanto fosse excêntrica, procurava uma mulher como Catherine para
seu amado neto?
Catherine se saíra bem na vida por si mesma. Não negava isso. Na verdade, orgulhara-se do
que obtivera. Mas ela sabia bem de suas raízes, sabia também que sua família não era do tipo que
agradaria os ilustres Montgomery. Colocando de lado o fato de ela ter vindo de uma família de
classe social baixa, o recente passado também não fora muito gentil para com a família Luck.
Não só sua tia acabou se casando com o homem errado como, além de tudo, ele também
envolvia-se com a prostituição. Para piorar as coisas, os dois morreram e deixaram a escola de
modelos, que era usada como fachada para seus negócios ilegais, para Kayla e Catherine. E toda
essa história sórdida durante algum tempo constou dos noticiários.
Logan não mencionara aquele fato, mas talvez ele estivesse sendo apenas cavalheiro. De
qualquer modo, ela também não planejava discutir aquela história de humilhação familiar.
— Eu não entendo, Logan.
— Não entende por que ela gosta de você? Catherine preferia não falar sobre aquele assunto.
— Sou uma pessoa fácil de gostar... Mas não faz sentido Emma ter se esforçado tanto para
que ficássemos juntos. Penso que existem mulheres mais adequadas para você. Claro que não sei o
nome de nenhuma delas... Não freqüento o mesmo círculo de vocês.
—Para mim, faz sentido... todo o sentido do mundo. Catherine via muito de Emma em
Logan, seu charme, sua personalidade e determinação, e quase que podia acreditar que Emma
também achava que eles dois eram perfeitos um para o outro.
Logan encostou o rosto no dela. Uma coisa tola, mas só de senti-lo assim tão perto causou
uma resposta esmagadora nela. E quando ele falou sobre eles, como se não houvesse barreiras
separando-os, ela desejou ardentemente render-se a suas palavras sedutoras, a suas promessas
mudas. Sem se dar conta disso, ela aninhou-se mais a ele.
—Sua vez, Cathe. Diga o que tanto a incomoda. Catherine sorriu. Não era difícil
considerando-se a preocupação genuína que via naqueles olhos azuis. Como poderia não ter se
apaixonado?
Mas no fundo sabia o que os separava, e era o seu velho bom senso. Só porque se apaixonara
não significava que Logan precisava saber disso.
— Não há nada me incomodando, exceto que estou faminta.
— Não acredito em você — ele sussurrou em seus ouvidos. — Porém, em todo caso, também
estou com fome.
— Ótimo. Então fique aí deitado e deixe que eu cuido da comida. Prometi isso, lembra?
— Só se prometer me levar para passear após a refeição. Quero caminhar na praia com você.
Será muito bom.
— Você e suas barganhas... Logan deu uma risadinha.
— Faz parte da minha capacidade de sedução.
Sim, ele era mesmo muito charmoso. Entretanto, após tê-lo conhecido, Catherine aprendera
um pouco mais sobre semântica. Logan queria que ela falasse, e Catherine falaria.
Mas não era obrigada a dizer-lhe o que lhe ia no coração.
CAPÍTULO DEZ
ogan a pegou pela mão e conduziu-a à praia. A noite estava agradável, e a brisa tépida
sobre ele agia como um bálsamo. Olhou para o oceano escuro e brilhante à luz das estrelas e
sorriu, satisfeito.
Catherine tinha preparado uma refeição muitíssimo saborosa, diferente de tudo o que Logan
já provara. Deixou-o impressionado, não apenas por seu talento e habilidade, pois ela fizera
milagres com o pouco que ele tinha na despensa, mas com a satisfação que a tarefa lhe
proporcionou.
Catherine não era uma mulher que exigia ser servida, ou que esperaria contar com serviço de
quarto, só porque seu sobrenome era Montgomery.
— Fale-me de seus planos para candidatar-se à prefeitura, Logan.
— Quem disse que pretendo me candidatar?
L
— Ouvi você mencionar algo a respeito quando falou com seu pai pelo telefone, na semana
passada. E também é o que dizem os jornais.
Logan parou de caminhar e a encarou.
—Como se sente em relação a isso, Cathe? — Ele precisava saber o que ela achava. Estudoua,
mas sua expressão estava indecifrável.
O rugido da arrebentação das ondas na praia era relaxante, e o vento agitando-lhes os
cabelos trazia até ali o cheiro de água salgada do mar.
Logan respirou fundo. Naquele lugar, ele encontrava a paz que dele se esquivou durante
toda a vida. A compra do chalé fora a coisa mais certa que fizera.
Quando os imensos olhos verdes de Catherine encontraram os seus, ele soube. Naquela
mulher, Logan encontrara aquele mesmo contentamento esquivo. Ela também trazia-lhe paz.
Catherine deu de ombros.
—O que você faz não é de minha conta...
—Há algo que quero deixar claro, Cathe. De agora em diante, tudo o que se refere a mim
também se refere a você. E esse o significado de "nós dois". — Pegou-a pelos braços e puxou-a
contra si.
Os seios fartos de Catherine pressionaram-se contra seu peito nu, e ele soltou um gemido.
Graças à privacidade que desfrutavam naquele trecho da praia, nenhum dos dois estava
totalmente vestido. Logan usava apenas short, e ela, uma de suas camisas, e nada mais. Tirando
proveito disso, Logan deslizou as mãos por baixo da camisa e alcançou-lhe os mamilos.
Catherine suspirou.
—Nós dois... Gosto do modo como soa. Você faz tudo parecer tão simples...
—Porque ela é simples. Só um lembrete. Não estou me candidatando a nada.
Catherine sorriu.
—E bom saber disso. A imagem pública de um político não combina com você.
—Eu não sabia que me conhecia tão bem. Se meu pai também me conhecesse, nós não
estaríamos tendo esta conversa.
O juiz não conhecia nem fazia questão de conhecer seu único filho, exceto como sendo uma
extensão de si mesmo. E jamais se deu ao trabalho de tentar. E aquilo magoava.
—Você conversou com ele a esse respeito, Logan?
—Vezes e mais vezes. Edgar Montgomery não aceita minha recusa e prossegue com seus
planos de me ver sentado na cadeira do prefeito. Pelo menos, até que eu descubra um modo de
fazê-lo desistir da idéia.
—Quer que ele aceite muito mais, não é? Mais do que sua decisão de não se candidatar à
prefeitura.
A brisa lhe soltara algumas mechas dos fios presos, e Catherine tentou prendê-las com a
mão.
— Você sabe que sim. E humano desejar a aprovação dos pais naquilo que fazemos.
— Realizou muito na vida e merece essa aprovação, Logan. Entretanto, o juiz não faz isso
porque suas prioridades não são as mesmas dele. Na verdade, acho isso muito triste. Vocês dois
saem perdendo com essa história.
— Alguém já disse que é muito perspicaz, mocinha?
— Não. De todo modo, aprendi a conhecê-lo. Sou capaz até de adivinhar seus sentimentos.
Logan deu uma risadinha.
— Sou um homem de sorte por ter alcançado tanto em tão pouco tempo. .
— Nem tanto assim... — Catherine sorriu. — E sua mãe? Ela não pode ajudar? Já conversou
com ela a respeito?
Logan fez que não, espantado. Ali estava uma solução tão simples que nunca lhe ocorrera.
—Por muito tempo eu a vi como uma extensão do juiz. Para ser franco, nesses anos todos
aprendi bem pouco a respeito deles.
E, embora quase nunca ficasse repisando a falta de calor familiar, era ciente de que cometera
algumas injustiças a respeito de sua mãe.
Catherine endireitou os ombros.
— Talvez seja hora de tentar entendê-los.
— Você é uma mulher sagaz, Catherine Luck.
— Uma outra, muito mais sagaz do que eu, disse-me que as mulheres são mais espertas do
que os homens. Talvez tenha acabado de provar que ela estava certa.
— Se é de Emma que está falando, por favor, jamais dê a ela a satisfação de saber que está
certa em alguma coisa, seja no que for. Vovó ficará impossível.
Catherine riu, divertida.
—Ela já é. E talvez, se você fizesse as pazes com sua mãe, poderia incentivar Grace a voltar
para casa. — Tocou o rosto dele. — Sei que gostaria que isso acontecesse.
Logan segurou seu pulso e a fitou, observando sua expressão solene. Catherine se importava
mesmo com ele e com sua família.
—Sim, eu gostaria, e também queria saber o que se passa nessa sua cabecinha inteligente.
Catherine passou o braço em torno de sua cintura.
— Nada que mereça ser discutido, juro. Você também já está me conhecendo muito bem.
— Fico satisfeito em saber disso.
Logan se virou para o oceano escuro e para a lua, as estrelas brilhavam no céu. Eles
avançaram o suficiente. Foram até aonde deu, por enquanto.
—Conhece algum outro lugar que ofereça esta tranqüilidade? — perguntou, esperando que
ela tivesse visto seu céu do mesmo modo que ele via.
Catherine ergueu a cabeça para obter uma melhor visão.
—Tudo aqui é deslumbrante. Não só a paisagem, mas o chalé, o silêncio... E como uma
bênção de Deus.
Logan encostou o nariz no pescoço sedoso.
—Como você. — Ele queria o maior tempo possível junto dela. Consultou as horas. — São
quase dez. Temos uma hora antes de eu levá-la de volta.
O olhar de Logan pousou nos lábios dela, lembrando a intensidade daquele mesmo luar. Ele
trouxe as mãos de suas costas para os seios fartos e acariciou-os.
Catherine soltou um gemido.
— Uma hora... Q que pretende fazer nesse período? Ele pegou sua mão.
— Vamos correndo para o chalé. Lá você descobrirá.
Devia ter perdido o juízo. Logan segurava sua mão e a seduzia com seu olhar, seu toque,
suas palavras... Mas Catherine confiava nele.
Sua mãe um dia acreditara em seu pai... porém, Thomas Luck fora como Logan. Não era um
homem confiável, leal e trabalhador. Por causa dele, as irmãs Luck cresceram desconfiadas de
tudo. No entanto, Kayla acabou acreditando em Kane e em seu futuro juntos, e agora era feliz.
Talvez fosse hora de Catherine fazer o mesmo.
Correram pela praia, e quando alcançaram a casa, ela estava sem fôlego e gargalhando.
—Cathe... — A voz dele soou profunda e rouca, antes de beijá-la com paixão.
Havia fogo ardendo nos olhos azuis.
Rindo, Catherine se afastou quando um flash explodiu diante de seus olhos. Eles não estavam
sozinhos.
— Mas o que... — Logan reagiu primeiro, escondendo-a atrás de si.
— Sr. Montgomery? Viemos para o anúncio de sua candidatura à prefeitura de Hampshire.
— A repórter olhou para o relógio de pulso. — Julguei que a entrevista com a imprensa estivesse
marcada para as dez, mas...
— Entrevista com a imprensa?! — perguntou Catherine, atrás de Logan.
— Isso mesmo. O juiz disse às dez, embora eu possa ter me enganado.
— E que importa isso? — desafiou Logan. — De qualquer modo, você acaba de obter seu
furo de reportagem.
Catherine puxou a bainha da camisa de Logan para baixo, embora mal cobrisse suas coxas.
Nunca antes se sentira tão vulnerável, tão exposta.
— Você disse que essa entrevista estava programada? — Mesmo ao perguntar aquilo, o
coração de Catherine gelou.
— Há mais de uma semana... Você é...
— Descubra por si mesma. — Em seguida, Logan virou-se para Catherine. — Vamos entrar.
Precisamos conversar.
— Não estou certa se há algo a dizer.
— Será que não podemos discutir isso em particular? — Logan gesticulou em direção a
repórter e sua câmera.
Sem olhar para nenhum deles, Catherine caminhou em direção ao chalé.
Logan fechou a porta atrás deles e pegou suas mãos.
— Cathe...
— Não. Prefiro que não faça isso.
— Tocá-la ou explicar?
Catherine virou-se para fitá-lo, as emoções tumultuadas estampadas no rosto. Logan preferiu
esconder as dele sob uma máscara indecifrável.
—As duas coisas.
Aquilo o magoou. Ela não queria sequer ouvir suas explicações.
—Não sei se o que vai dizer fará alguma diferença. Logan jamais saberia que aquela resposta
a feria mais do que a ele. Catherine balançou a cabeça em sinal de puro desânimo. Não entendia
aquele tipo de vida e não acreditava que se acostumaria em estar sempre em foco, caçada sem
cessar pela mídia.
—Você terá de me ouvir, Cathe, pois me deve isso, após tudo o que partilhamos.
Ela assentiu.
— Diga,, então. Estou ouvindo.
— Pelo jeito, o juiz marcou essa entrevista aqui porque sabia que eu não compareceria a lugar
algum que ele escolhesse. Como nada sabe sobre nós... estou certo de que tudo não passa de uma
infeliz coincidência.
Catherine suspirou e tornou a puxar a barra da camisa para baixo. Logan não suportaria vêla
humilhada, e por sua causa. Se o dinheiro pudesse evitar que aquela fotografia fosse publicada,
ele recorreria aos recursos do fundo ao qual tinha direito. Mas não adiantaria. Uma boa notícia
valeria muito mais.
— Está bem, acredito que seja armação de seu pai e lamento muito que ele ainda tente
controlá-lo. — A mágoa continuava nos olhos dela, junto com a resignação. — Mas não estou bem
certa de que poderei ficar com você e ser notícia nos jornais.
— Cathe...
— Acho que sua avó também está metida nessa história. Emma nos trancou no roupeiro e me
enviou aquele presente de modo calculado, para que eu me apaixonasse por você.
Logan a fitou. Pretendia tirar aquela história a limpo. Assim como também a possível
participação de Emma. O fato de a avó ter sugerido mais ou menos isso despertava suas suspeitas.
—Admito que vovó tem feito planos, como já comentei com você, Cathe. Mas não acredito
que vovó seria capaz de ir tão longe.
Apesar de tudo, Emma tinha bom coração e gostava de verdade de Catherine. Logan queria
acreditar na integridade dela. De outro modo, todas as coisas boas que aconteceram em sua
infância e até na fase adulta seriam baseadas em meras ilusões. .
Catherine passou os braços em torno de si.
—Não importa quem chamou a imprensa. Só quero ir embora, antes que isso aqui se
transforme num circo.
Logan praguejou, incerto sobre quais sentimentos ela abrigava atrás do muro que erguera
para se proteger. Todavia, agora não tinha tempo para descobrir, porque Catherine tinha razão.
Precisava tirá-la dali, o quanto antes.
Um rápido olhar pela janela revelou um sedã preto estacionado na rua em frente. Como
sempre, a presença do juiz era inoportuna. Logan esfregou os olhos e gemeu.
Esperava que a sua realidade abrisse os olhos dele. Apesar de tudo, visto o que estava
acontecendo naquele momento, continuava tendo suas cordas puxadas feito uma marionete.
Mas isso teria um fim. Naquele dia mesmo.
Fúria e frustração pulsavam dentro dele, forte como o desejo que sentira alguns minutos
atrás. A última coisa que queria era dar a Catherine um motivo para sair dali zangada e talvez
para sempre. Mas precisava deixá-la ir, devia isso a ela. Se desejava que as coisas entre eles
voltassem a ser o que eram.
Tomada a decisão, Logan pegou as chaves da caminhonete que deixara pendurada no portachaves
no hall e estendeu a ela.
—Aqui está. Vá para lá e não fale com ninguém. Não responda a nenhuma pergunta. Apenas
entre no veículo e vá embora.
Ela o fitou com olhos sombrios.
—Eu agradeço.
Por que aquelas duas palavras tinham o sabor do adeus?
Logan puxou-a contra si, e Catherine não se afastou, mas a alegria se fora.
Batidas à porta o fizeram levantar a cabeça e olhar naquela direção. Em seguida, Logan
beijou-a nos lábios. Tornaram a bater, com mais insistência desta vez.
—Assim que eu girara a maçaneta, você sairá e não parará, haja o que houver.
Catherine apenas assentiu.
—Isso não é um "adeus", Cathe. Nós não terminamos.
—Você é mesmo um idealista. — Ela tocou seu rosto. Logan balançou a cabeça enquanto
alcançava a porta.
—Engano seu. Sou realista, e, quando tudo isso acabar, você fará parte de minha realidade.
Agora, vá.
Ele abriu a porta, certo de que Catherine passaria direto pelo juiz. Em vez disso, contudo, ela
parou e o encarou.
—Juiz Montgomery... Como está?
Por um instante, o pai dele pareceu surpreso, o olhar indo de Catherine para os repórteres
aguardando. — Senhorita...
—Luck. Catherine Luck.
Logan não ficou preocupado quando ela revelou seu nome. De qualquer modo, os jornais o
publicariam. Mas sorriu desgostoso diante do esnobismo do pai.
Catherine havia feito um trabalho na mansão, há poucos dias, e o juiz não se deu ao luxo de
tentar lembrar-se de seu nome. Mas agora ele lembraria.
Catherine estendeu a mão, e, após uma breve hesitação, Edgar aceitou o cumprimento.
—Eu a conheço?
—Trabalhei na sua festa, na semana passada.
Logan viu a curiosidade no semblante do pai se transformar em censura.
—Agora me recordo... Emma a contratou, e me lembro também de termos conversado sobre
confraternizar-se com os convidados.
—Exato.
—Creio que não preciso perguntar o que você está fazendo aqui — disse ele, com sarcasmo.
—De fato, não precisa. Mas, desde que não está me pagando, não há muito o que discutir.
Contudo, quero lhe dizer uma coisa, antes de ir.
Logan interveio:
— Catherine, você não precisa tolerar isso. Esta é minha casa.
— Eu sei. — Ela sorriu, mas sem nenhum contentamento. — Considere isso como meu
presente de partida. — Virou-se para o juiz. — Quanto mais o senhor tentar controlar a vida
daqueles que ama, para mais longe eles irão. Senhor...
Catherine afastou-se antes que Edgar pudesse registrar suas palavras. Quando ele começou a
reagir, Catherine já dava partida no motor.
Logan ouviu o alvoroço que se formou lá fora após sua ida. Controlar-se diante de seu pai
não era fácil, e ele tirou um minuto para se recompor.
—Luck... Lembro-me bem desse nome... Ela é a sobrinha daquele mafioso... — murmurou o
juiz. — Quer me dizer o que está havendo entre vocês dois, Logan? E como pretende explicar isso
aos repórteres?
A fúria em Logan ameaçava vir à tona, mas ele fez força para se conter. O juiz Montgomery
jamais perdia a calma.
Com determinação e autoridade Logan ganharia mais do que perdendo a calma, algo que ele
aprendera em criança. A melhor maneira de atingi-lo era combatê-lo com as mesmas armas.
Assim, olhou para o pai.
—Não tenho o que explicar, nem a você e nem a ninguém. Precisa se convencer, de uma vez
por todas, que eu dirijo meu destino. E eu mando em minha casa. — Suspirou. — E não gostei nem
um pouco do modo como você falou com a mulher que eu amo.
O juiz meneou a cabeça.
—Entendo, filho. Você é jovem, e ela é bem bonita, mais do que gostaria de admitir. Porém,
não jogue sua vida fora. Essa coisa de amor não existe. Uma esposa de um bom nível social é tudo
o que um homem público precisa.
Logan ergueu uma sobrancelha.
— Não sou um homem público, e nunca serei, está ouvindo? Não me candidatarei à
prefeitura, nem vou procurar emprego numa dessas firmas poderosas de advocacia, nem pretendo
me mudar para um edifício luxuoso, ou pior: voltar a morar na mansão.
— Se prefere viver nessa... nessa cabana, eu e sua mãe aceitamos sua vontade. Afinal, não
temos escolha. Mas só porque mora aqui não significa que tenha de se envolver com uma mulher
de tão baixo nível.
Agora ele fora longe demais. Logan cerrou os punhos com força, não gostando de ouvir seu
pai insultar alguém que nem sequer conhecia. A mulher dele, Logan pensou, e era hora de o juiz
entender isso.
—Ouça bem o que vou dizer, juiz Montgomery, porque direi apenas uma vez. Nunca mais se
atreva a insultar a moça com quem pretendo me casar, entendeu? Ela vai ser sua nora. Ou aceita
isso, ou esquece que existo!
Apesar de tudo, Logan nunca chegou a se afastar da família, pois se agarrava à esperança de
algum dia ter o lar sólido com que sempre sonhou.
O juiz empalideceu, apesar da pele bronzeada. Apoiou-se à parede, e Logan aproximou-se.
— Papai? Você está bem? — Nunca teve motivos para se preocupar com a saúde de Edgar, e
o medo acabou com sua raiva.
— Estou... — Edgar se recompôs depressa, como também recuperou a cor. — Pense em seu
futuro, filho. Não arruíne tudo só para me espezinhar. Raciocine. A união da família é importante.
— Se acha tão importante, lembre-se de tudo o que eu disse aqui hoje, porque falei sério.
Desista de tentar me controlar e me aceite como sou. Aceite Catherine.
O juiz soltou um suspiro.
—Você acabará se cansando dela. —Nunca.
—É muito parecido com sua avó, Logan. Bem, os repórteres estão à espera. O que pretende
dizer a eles?
—A verdade.
Em silêncio, o juiz virou-se e foi embora.
Logan queria que tudo fosse diferente, mas não podia se incomodar com aquilo naquele
momento. Tinha uma vida para recuperar. Na hora em que mostrasse a todos quem era Logan
Montgomery e para onde ele estava se dirigindo, estaria claro para todos.
Incluindo Catherine.
CAPÍTULO ONZE
atherine decidiu trabalhar em casa. Estava com dor de cabeça e não sabia ao certo se deviase
ao estresse.
Junto com suas assistentes, passara a tarde preparando a recepção do dia seguinte. O
pequeno estúdio que ela e Kayla haviam alugado estava lotado, e toda aquela agitação a deixava
com a mente meio entorpecida, ainda mais após ter dormido tão pouco à noite.
Seu corpo ainda formigava nos lugares que Logan tocara. Estremeceu diante das lembranças.
Afinal, não devia estar tão cansada, se ainda era capaz de pensar nas horas passadas nos braços de
Logan, e reagir com tanta intensidade a isso.
Começou a misturar os ingredientes para o preparo dos crepes. O toque do telefone não a
surpreendeu. Estivera ouvindo-o a cada trinta minutos, a maior parte do tempo.
Logan ligara cinco vezes, de acordo com os recados deixados na secretária eletrônica. Após
ouvir o primeiro deles, baixou todo o volume. Não queria falar com Logan, não estava pronta para
ouvi-lo.
Não até o embaraço passar. Não até ser capaz de entender como a família de Logan podia
querer ditar as regras na vida dele sem se importar com o resultado disso. Eles nunca tinham
discutido seu futuro com seriedade, mas, mesmo que tivessem feito isso, Catherine não estava
certa de que aceitaria viver em suspense, sem saber quando viria a próxima humilhação.
A única coisa positiva naquela história fora seu confronto com o juiz Montgomery, quando
lhe dissera o que estivera entalado em sua garganta.
Continuou a mexer a massa para os crepes, aos poucos acrescentando mais leite. Já estava
com o recheio pronto, e logo terminaria.
C
Afastou os cabelos da testa com as costas da mão, tentando adivinhar o que sua mãe diria se
soubesse que sua filha Catherine decidira afastar-se do homem que amava. "Você seria uma tola se
o abandonasse, Catherine Ann."
Claro que sua mãe vivera e morrera devido a crer no amor, e Catherine se recusava a tornarse
sua réplica, fingindo ser melhor do que era e definhando por um homem que não poderia ter.
Ou, nesse caso, não deveria ter. Logan Montgomery era dor de cabeça, na certa.
O som da campainha da porta chegou como uma trégua, e Catherine foi atender.
—Eu disse a você, Nick, que avisaria quando os crepes... — Ficou muda ao se ver diante de
Logan, parado à soleira.
—Percebo que esperava outra pessoa. Lamento se a desapontei. Logan jamais a desapontaria.
Mesmo com a barba de dois dias por fazer e o cansaço estampado nas belas feições, continuava
sendo a resposta para todos os sonhos dela.
—O que posso fazer por você, Logan?
—Para começar, deixe-me entrar.
Catherine suspirou, sem saber ao certo se queria que ele entrasse. Pelo menos em seu
apartamento não havia recordações dele, além daquelas gravadas em sua memória.
—Você está com meu carro, e vim pegá-lo.
Nick ficara de levar-lhe a caminhonete de volta no dia seguinte. Mas Catherine duvidava que
Logan desejasse ouvir o nome dele mencionado naquele momento. Ela também duvidava que ele
aceitasse apanhar as chaves diante da porta e fosse embora.
Assim, decidiu demonstrar indiferença, fazê-lo entrar e sair do apartamento, assim como de
sua vida, não importando o quanto custasse fazer isso.
—Entre. — Ela se afastou para lhe dar passagem e, ao fazer isso, seu perfume sutil alcançoua;
seus joelhos tremeram.
Logan entrou na sala de estar e olhou em torno, antes de observar o piso. Então, ergueu as
sobrancelhas diante do tapete com estampa imitando pele de leopardo.
—Este ficaria bem no chalé.
O coração de Catherine quase parou de bater.
—O que você deseja de mim? Não acha que o que houve já provou o quanto isso é
impossível?
Logan se aproximou rápido, e Catherine se viu cercada por sua presença máscula. Ele
estendeu a mão em direção à ponta do seu nariz.
—Farinha?
Catherine assentiu, tentado não pensar no quanto aquele simples gesto a afetara. Esfregou a
ponta do nariz com as costas da mão.
— Eu estava preparando crepes.
— Parece delicioso.
O estômago de Logan roncou ao dizer isso.
— Você está com fome? Ele deu uma risadinha.
— Não quer me alimentar, moça bonita?
Sem mais uma palavra, Catherine dirigiu-se à cozinha.
—Espero que não esteja faminto, porque não tenho muito a oferecer.
Tinha de ir ao supermercado. A despensa estava quase vazia; só havia biscoito chinês e os
itens padrões que ela mantinha para os pratos mais elaborados.
—Qualquer coisa que me oferecer estará ótimo. — Logan ficou à vontade, como se estivesse
em casa, sentando-se em uma das banquetas do balcão que separava a sala da cozinha.
Catherine suspirou e decidiu que os biscoitos chineses serviriam. Foi até a despensa, pegou
sua única opção e estendeu-a a Logan.
—Aqui está. Coma. Ele deu de ombros.
—Adoro isto. — Abriu a embalagem e ofereceu: — Quer um pouco?
—Não, obrigada.
Logan levou um punhado à boca e apontou os ingredientes dos crepes.
—Gosto de vê-la trabalhar. Catherine exalou outro suspiro.
—Não sei se aquela fotografia será publicada ou não — disse ele, vendo-a permanecer em
silêncio.
A súbita mudança de assunto pegou-a de surpresa. Catherine contemplou sua expressão
séria sem saber o que falar.
—Alguma chance de eles a esconderem na página de trás?
— Duvido muito. Queria que não tivesse acontecido, Cathe. Ela o encarou.
— Talvez sim, mas não era essa sua meta? Ele levantou uma sobrancelha.
—Não pode estar pensando que tenho algo a ver com a entrevista com a imprensa.
Catherine fez que não. Se havia uma coisa em que acreditava era na integridade dele.
—Lógico que não... Mas não pode negar que ser surpreendido, quase que despido, junto com
a mulher do momento ajudará a derrubar as pretensões de seu pai.
Catherine prendeu o fôlego, aguardando a resposta. Como se o que ele dissesse, fosse lá o
que fosse, pudesse mudar os fatos.
—Eu gostaria de poder negar.
E Catherine adoraria que ele negasse que ela era a mulher do momento, e magoou-se quando
Logan não fez isso.
Que mundo de contradições Catherine se tornara! Ora afastando-o, ora querendo que Logan
voltasse. Nunca estivera tão confusa quanto aos próprios sentimentos.
Nada disso. Conhecia-os muito bem. Amava um homem que não podia ter.
— E como seu pai recebeu a notícia de sua recusa em concorrer à prefeitura?
— E óbvio que não muito bem. Como de costume, eu o desapontei.
E como de costume, Logan sentiu o mesmo desapontamento de Edgar por eles não serem
capazes de se entender e, desta vez, o estrago seria permanente.
— Lamento, Logan. Acha que ele vai superar isso?
— Para ser honesto, não sei dizer.
— Mas gostaria que isso acontecesse, não é? Queria que continuassem sendo uma família?
— Não se o juiz insistir em agir com tanta arrogância. No entanto, você me conhece muito
bem. Por isso, se houvesse um modo de nós dois nos entendermos, sem que o juiz interferisse em
meus passos, ficaria feliz
— Então, tente sua mãe. Nunca se sabe...
Logan assentiu, pensativo. Catherine estava certa. Ele ainda não havia exaurido todos os
caminhos em direção à paz.
Quando Edgar empalideceu e precisou apoiar-se na parede, Logan notou o quanto queria
que ele continuasse por perto, ainda por muitos anos. A idéia de perdê-lo para sempre o assustou.
Logan mordeu um biscoito.
Catherine estava ocupada, mexendo na massa e ignorando-o. Ele tornou a enfiar a mão na
caixa para pegar mais um, e, dessa vez, encontrou um prêmio, um anel de plástico. Logan
espantou-se. O destino algumas vezes nos sorri.
Até ter dito a Edgar que pretendia se casar com Catherine, não havia notado que era aquilo
tudo o que planejava fazer. Não que ela fosse receber bem a idéia. Ainda não. Catherine precisava
de tempo, o que era ótimo; eles teriam chance de se conhecerem melhor.
Sem nenhum aviso, Catherine aproximou-se e tocou-lhe o braço.
—Família é família, por pior que seja, Logan. Não acha que sua mãe iria querer fazer com
que vocês dois se entendessem?
Após o modo como fora tratada, era extraordinário ela continuar insistindo para que ele e o
juiz se entendessem. Mas Catherine não tinha um pai, e muito menos uma família, além de Kayla,
e decerto sentindo a falta disso quisesse evitar que ele sofresse a mesma solidão que sentia. Uma
solidão que Logan ansiava por preencher.
E faria isso.
Com discrição, Logan colocou o anel no bolso da calça.
—Pensarei em tudo o que você disse, Cathe. Mas agora, que tal pararmos com esse assunto?
Cansei de falar sobre meu pai.
Ela meneou a cabeça.
—Julguei que estivéssemos falando sobre a sua necessidade de viver bem com os seus.
— Acho que estávamos... Mas agora, vamos falar sobre nós. Catherine sorriu, relutante.
— Você nunca desiste, não é?
— Nunca.
Logan não desistiria até Catherine olhá-lo e ele notar confiança e amor brilhando naquelas
íris verdes.
Colocaria o juiz em seu devido lugar. Recuperar a confiança de Catherine poderia não ser tão
difícil, contanto que gente de fora não interferisse.
Catherine olhou para Logan e balançou a cabeça. Não era justo alguém ser tão charmoso, ter
tanto carisma. Ele poderia fazer dela o que quisesse, e com facilidade, pensou ela, desgostosa.
—Vamos, Cathe, diga-me por que tem tanto medo de se soltar. Ela estava grata por ter algo
para fazer com as mãos, e continuou a mexer a mistura na tigela sem fitá-lo.
—Contei pra você que minha mãe foi abandonada? — indagou, num rompante.
Não falava sobre a infância com ninguém além de Kayla. Ainda assim, revelar isso a Logan
lhe pareceu natural. Ele inclinou-se para a frente.
— Sim, você comentou algo a respeito.
— Bem, meu pai a deixou com duas crianças pequenas.
— E crê que farei o mesmo?
—Não se trata disso, Logan. A vida é mesmo assim, cheia de obstáculos. Não importando
que você seja pobre ou rico, ou o casal mais feliz do mundo, cedo ou tarde, ela apronta uma das
suas.
Catherine achou a explicação mais complicada do que julgava, mas Logan parecia estar
entendendo. Uma outra coisa especial nele era sua habilidade em ouvir.
—Para começar, temos idéias diferentes, ou há problemas no horizonte, isso já é uma boa
munição contra nós. — Catherine respirou fundo. — Nós temos um bom estoque contra nós.
Logan achou que a explicação tinha alguma lógica. Pelo menos para ela.
Mas não concordava. Eles tinham mais em comum do que ela desejava admitir, e poucos
problemas no horizonte. E ele já cuidara do maior deles. Se seu pai tinha de escolher entre a
política e seu filho, na certa optaria por seus pomposos ideais. Aquilo machucava, porém Logan já
havia aceito aquela realidade, muitas vezes, no passado.
Sendo assim, a família não seria um empecilho. Nada seria, além das idéias de Catherine.
Ele a encarou.
—Só haverá munição contra nós se você escolher acreditar nisso.
—Sonhando outra vez?
—Não, Cathe, de volta à realidade. Ao fato de que, sim, a vida pode pregar algumas peças,
mas, se as pessoas permanecerem juntas, conseguirão superar todos os problemas.
Logan tentou adivinhar se Catherine de fato o ouvia e notou que seus olhos permaneciam
fixos nos dele e que estavam úmidos. Ela estava mais do que atenta, e no momento, digeria o que
ele dissera. Deu a ela um momento em silêncio, para que levasse suas palavras ao coração.
Os dedos dela brincavam com a correntinha que trazia no pescoço, chamando a atenção dele
para a pele clara do vale entre os seios. Aquilo não era algo que ele era capaz de ignorar, embora,
na última meia hora, tivesse tentado arduamente fazer isso.
O que ele sentia por Catherine era muito mais do que apenas lascívia, mesmo quando seu
crescente desejo por fazer amor com ela ali mesmo no chão da cozinha ameaçava transformar
aquela afirmação em uma grande mentira. Logan pretendia provar que não era.
Logan levantou-se, antes que jogasse o bom senso para o alto. Precisava sair dali e ir para o
chalé tomar um banho frio. Duvidava que o trajeto de uma hora até a praia esfriasse seu desejo.
Dissera para que viera, e agora a deixaria sozinha para pensar a respeito, rezando para que
ela aprendesse a confiar nele.
— Você vai embora, Logan?
— E melhor. Sei que terá muito trabalho pela manhã. Catherine assentiu, então saiu da
cozinha. Pegou as chaves da picape e foi ao encontro dele à porta.
— Logan, você tem sido...
— Não... Por favor, não diga nada.
— Por que não? Não sabe o que estou querendo dizer.
—De fato não sei, e prefiro deixar como está. — Enfiou as mãos nos bolsos da calça. — No
entanto, quero dar-lhe algo antes de ir.
— Não posso aceitar mais nada de você. Logan deu uma risadinha.
— Isto eu garanto que pode.
Apanhou o anel de plástico e estendeu-o a Catherine. Ele não poderia ter feito melhor se
tivesse planejado.
Jóias e dinheiro teriam pouco efeito para Catherine. E Logan tinha um pressentimento de que
aquele pequeno gesto seu significaria muito mais.
—O que é isso? — Mesmo um tanto confusa, ela sorria. Logan precisou de todo o
autocontrole para não beijá-la.
—Meu anel. — Também sorriu. — Mas vá com calma.
Se o coração de Catherine já não pertencesse a Logan, passaria a pertencer. Olhou para o
anelzinho em sua mão. Como algo tão singelo podia significar tanto?
Colocou no terceiro dedo da mão direita. Logan seguiu seus movimentos.
—Ligarei para você, Cathe. Bem tarde esta noite.
—E se eu lhe pedir para você ficar? — Ela pegou sua mão e entrelaçou os dedos nos dele.
—Então, eu perguntaria se estava certa disso.
Certa de que queria estar com ele? Sem dúvida. Certa de estar fazendo a coisa certa? Bem,
talvez fosse hora de começar a confiar.
—Toda a certeza do mundo.
Logan segurou seu rosto com a mão em concha e a olhou com intensidade.
—Desistiu de lutar contra a paixão que sente por mim?
— Acho que sim.
Diante disso, Logan a beijou.
O calor e a ternura de seu toque causaram um verdadeiro reboliço em suas emoções. A
volúpia e a ânsia de tê-lo dentro dela cresceu mais rápido do que quando suas dúvidas
desapareceram.
CAPÍTULO DOZE
ezesseis anos, doces dezesseis anos, pensou Catherine ao finalizar a decoração da mesa do
aniversário.
Desde a festa dos Montgomery, recebeu vários telefonemas e encarregara-se de um bom
número de recepções. Precisava agradecer a Emma pelas referências. Mas isso fora antes do seu
confronto com o juiz Montgomery. Ela não podia imaginar quais seriam as conseqüências daquele
episódio.
Todavia, em apenas um ano, ela e Kaya tinham feito uma boa reputação, e elas e o bufê
sobreviveriam sem as referências dos Montgomery.
No entanto, Catherine não sobreviveria sem Logan. Seu coração sabia disso, assim como sua
mente. A questão era: o que fazer a esse respeito?
Quando alcançou o topo da escada, seu cansaço era grande. Seu corpo ainda tinia do prazer
que Logan lhe proporcionara na véspera.
A frente do restaurante compreendia a sala de espera e o bar. Ao observar o local, as
banquetas acolchoadas lhe pareceram macias e confortáveis. Achou que ninguém se importaria se
ela sentasse em um deles e descansasse um pouco antes de pegar o carro e percorrer um trajeto de
meia hora até Boston.
— Deseja um drinque? — O barman lhe ofereceu. Catherine sorriu.
— Aceito. Gim-tônica, por favor.
— Num minuto. — Ele ligou o aparelho de televisão posicionado no alto do bar. — Minha
namorada vai participar de um show ao meio-dia.
— Meus parabéns!
— Por enquanto faz apenas algumas aparições, mas sonha em ser descoberta por alguma
grande rede de televisão. — Com o controle remoto, ele aumentou o volume do aparelho.
Exceto por algumas pessoas começando a chegar à recepção, nenhum dos patronos se
encontrava no bar. Catherine tentou relaxar e olhou distraída o show acontecendo na tela.
—Ela leva jeito — Catherine murmurou, vendo a moça dançando.
O barman assentiu.
—E verdade... Espero que um dia consiga alcançar o que merece.
Catherine piscou diante da próxima cena: o chalé de Logan na praia.
—Quer aumentar o volume, por favor?
D
A voz metálica da repórter pouco fez para acalmá-la.
—O homem maravilha de Hampshire, Logan Montgomery, desmentiu com firmeza os
rumores de estar concorrendo à prefeitura da cidade. Apesar do desmentido, o juiz Montgomery,
seu pai, insiste em afirmar que o jovem, belo e rico advogado estará, sim, candidatando-se.
Catherine sorriu. Pelo menos, Logan fora capaz de fazer a mídia ver as coisas a seu modo. De
repente, a imagem da bela repórter foi substituída pela dele, usando calça jeans e suéter, tendo ao
fundo seu chalé na praia. Ele parecia mais sensual que nunca, e Catherine sabia que ela fora a
causa daquele seu jeito selvagem, antes de eles terem sido surpreendidos pelo fotógrafo.
As palavras de Logan interromperam seus pensamentos:
— ...e agradeço pela confiança do juiz e daqueles que o apóiam, mas confesso que candidatarme
à prefeitura não é algo que esteja em meus planos.
— E quais seriam esses planos, sr. Montgomery? — perguntou a jornalista.
— Após minha permanência no escritório de defensoria pública, pretendo abrir meu próprio
escritório de advocacia.
Catherine não pôde evitar de notar a classe, a postura perfeita dele diante da repórter. Seu
peito se apertou perante a possibilidade de Logan acabar acatando as idéias do juiz e acabar
chegando ao topo. Mas ainda sozinho.
Tentou adivinhar o que teria havido entre os dois homens após sua saída repentina. Logan
fora vago quando ela o questionou. Podia imaginar o desprazer que o juiz sentiu ao encontrá-los
juntos.
— Há sempre um juiz em cada geração dos Montgomery, ou então, alguém ocupando um
cargo público, conquistando o mundo a passos largos. Não o incomoda quebrar tal tradição, sr.
Montgomery?
— De modo algum. — Logan olhava direto para a câmera. — Prefiro conquistar o mundo
mais devagar, uma pessoa por vez.
Os olhos de Catherine brilharam. Com a ênfase que ele dera à afirmação, podia muito bem
estar falando direto com ela e lhe prometendo eterna devoção.
—O desmentido feito pelo sr. Montgomery sobre concorrer às eleições não poderia ter
acontecido em hora mais conveniente. Minutos antes do início da entrevista, esta fotografia foi
tirada do sr. Montgomery, em uma posição bastante comprometedora.
O pesadelo de Catherine surgiu, enfim, para a cidade inteira ver, já que aquela era uma
estação local. Lá estava ela, vestida apenas com a camisa de Logan, os braços dele em torno de sua
cintura, o short, a única roupa que ele usava, escondido pela posição em que se encontravam.
—Ei, essa não é...
— Sou eu — disse ela, interrompendo o barman. Em seguida voltou a atenção à tevê.
— A mulher com Logan Montgomery é Catherine Luck, co-proprietária, com sua irmã Kayla
Luck, de um bufê local, chamado Pot Luck.
— Toda publicidade é bem-vinda — murmurou Catherine, e continuou atenta, observando
sua vida ser exposta a mexericos, especulações e ridículo.
— As irmãs Luck tornaram-se conhecidas devido ao escândalo envolvendo um negócio que
elas herdaram, uma charmosa escola de modelos, mas que servia de fachada para uma rede...
"Bom Deus, o que eles desenterrarão a seguir?!"
— ...e, com esse passado, Catherine Luck não seria a mulher que se esperaria ver ao lado de
Logan Montgomery. No entanto, uma simples brincadeira na praia é diferente de...
— Desligue isso, por favor.
O barman olhou de Catherine para a repórter, e em seguida desligou o aparelho.
Catherine tentou respirar, mas seu coração batia tão rápido que ela julgou que seu peito fosse
explodir. Porém, procurou se acalmar, e seu primeiro pensamento coerente foi Kayla, sofrendo
uma gravidez de risco. Precisava verificar se ela estava bem.
Decerto Kayla assistira ao noticiário, e Catherine precisava tentar minimizar o estrago. Se não
assistiu, então Catherine queria ser a primeira pessoa a falar sobre aquilo com a irmã. E com Kane.
Pegou a bolsa e deixou o local. Até saber se Kayla estava bem, não podia pensar nas
conseqüências do escândalo em relação a si mesma.
Olhou para o anel de plástico em seu dedo. Isso para não mencionar as conseqüências em
relação ao seu relacionamento com Logan.
— Catherine não está atendendo ao telefone, mas tenho um pressentimento de que ela está lá.
— Não estou gostando nada disso, Logan. — Emma caminhava de um lado para o outro na
sala.
Emma chegara ao escritório logo após o neto, e partilharam de uma xícara de café enquanto
comentavam sobre as más notícias televisivas.
— Eu também não.
— Tente outra vez... Quem sabe agora você consegue.
— Venho tentado falar com Cathe a cada cinco minutos, desde ontem.
Catherine não atendia ao telefone, nem retornava suas chamadas.
Sua vida outrora solitária se transformara numa receita para o desastre. Catherine, a única
mulher que ele amava, era também a única que não merecia ser objeto das indignidades da
imprensa.
A foto deles abraçados na praia passara de jornal a jornal, de tablóide a tablóide, tudo em
tempo recorde. Logan não sabia que sua intimidade despertava tanto interesse. Seria até engraçado,
se as conseqüências não fossem tão desastrosas.
Pegou o telefone e mais uma vez discou o número de Catherine.
—Ela entrou em trabalho de parto? — Para sua surpresa, Catherine atendeu após o primeiro
toque.
— Cathe?
— Logan?
— Estava esperando uma ligação de Kane?
— Estava.
Ele aguardou um silêncio tenso a seguir, mas em vez disso, ela continuou a falar:
—Não é uma boa hora, Logan.
—Mexericos exalam mau cheiro, Cathe, e isso nada tem a ver conosco.
Logan ouviu um bipe e soube que Catherine estava recebendo outra ligação.
—O que ela disse? — quis saber Emma, inclinando-se para perto do aparelho.
Logan fez um gesto para que a avó se afastasse. Emma, então, foi sentar-se em uma poltrona.
Uma boa coisa resultará de todo aquele fiasco. Emma parecia ter decidido respeitar sua
privacidade.
—Preciso desligar, Logan. Tenho outra ligação.
—Atenda. Eu espero. — Logan sabia o quanto Kayla era importante para ela, e era óbvia a
sua preocupação pela irmã.
—Não tenho tempo agora para discutir sobre nós dois.
A questão era: ela teria tempo mais tarde ou estaria usando a desculpa para afastá-lo?
—Entendo... Vá ver sua irmã. Mas pense sobre isto: eu te amo.
— Sinto muito, Logan. Adeus.
— Apenas pense no que eu disse.
—Vou desligar. Logan ficou desolado.
— Irá atrás dela, não é? Porque eu tive uma idéia. Podemos...
— Esqueça, Emma. Cuidarei disso a meu modo.
—Ótimo. Tire sua velha avó da jogada. Negue a ela a maior satisfação do mundo. —
Suspirou.
— Você vai sobreviver.
— Bem, já vou indo...
— Levarei você até o elevador.
— Não. Fique aí.
—Amo você, vovó. Emma sorriu.
—Também te amo, e a Catherine. Mesmo que ela não diga a mesma coisa. Mas não posso
culpá-la.
Logan meneou a cabeça.
— Você é por demais perceptiva, por demais esperta para meu gosto.
— Ah, mas admita que coloco um pouco de tempero em sua existência insossa!
— Isso também.
Ele a observou sair da sala e em seguida ouviu sua voz falando e brincando com os
funcionários, lá fora.
Kayla e Kane tiveram um garotinho. Sentada havia horas na sala de espera, Catherine estirou
as pernas para a frente. Sua irmã agora tinha uma família, e ela planejava ser a melhor tia do
mundo para aquela criança.
Endireitou-se no assento, pela primeira vez dando-se conta de que estava pronta para
enfrentar o desafio. O nascimento daquele bebê abriu-lhe os olhos para muitas coisas.
Uma nova vida significava novas possibilidades. Novos rumos. Podia aprender com aquilo.
Não deixaria seu passado levar a melhor sobre seu futuro. Verdade que viera de um lar pobre, e
que o tio que a criara envolvera-se com o crime organizado. Porém, ela já havia superado isso, e o
juiz também teria de superar, porque Catherine Luck estava viva e queria para si exatamente
aquilo que sua irmã conseguira, e iria à luta para conseguir.
"Eu te amo", dissera Logan.
Bem, ela também o amava e lhe mostraria isso.
— Sr. Montgomery? — Era o oficial de justiça.
— Sim?
— Pediram para entregar-lhe isto, em mãos.
Logan pegou o envelope que ele lhe entregou e o examinou.
— Quem o trouxe?
— Uma mulher. Loira, alta e bonita, e usando um perfume... inebriante.
Logan deu uma risadinha.
— Você tem uma memória de elefante. Já pensou em ser detetive?
— Nada disso. E que ela era do tipo que não se esquece. Vou indo, senão minha esposa me
mata quando eu chegar em casa.
Logan abriu o envelope, cheio de curiosidade. Ao retirar de dentro dele uma folha de papel
dobrada, um punhado de algo parecido com confete caiu ao chão, a seus pés. Então, leu: "Venha
para casa".
A pulsação dele disparou. Olhou para a sala em frente, através da porta entreaberta, mas não
havia mais ninguém ali.
Contudo, entendera o recado. Ela deixara de lado as dúvidas e os temores e estava pronta
para depositar sua fé no desconhecido.
Logan sabia o quanto aquilo lhe custara e pretendia fazer com que sua amada jamais se
arrependesse da escolha. Pegou a pasta e saiu porta afora.
Logan entrou no chalé e fechou a porta atrás de si. Largou a pasta no chão e olhou em torno.
—Catherine?
Não houve resposta.
Avançou até a cozinha. Embora ela não se encontrasse ali, havia marcas de sua presença. Sua
velha mesa fora transformada.
Uma toalha de linho bege cobria o tampo marcado por antigas cicatrizes, e um buquê de
flores adornava o centro. O aroma delicioso o fez concluir que estivera cozinhando.
Logan deixou a cozinha e dirigiu-se ao quarto. Lá, encontrou velas e incenso espalhados em
todo o ambiente, criando um inegável clima sensual.
Olhou através das cortinas caindo das colunas da cama.
Catherine encontrava-se deitada, à espera dele, o corpo coberto apenas pelo lençol. Parecia
uma ninfa, etérea e deslumbrante, o sonho de qualquer homem apaixonado. E tudo o que ele
precisava fazer era dar um passo a mais, sobre o tapete de leopardo...
Catherine o fitou. A determinação para explicar e esclarecer as coisas entre eles combatendo
a vontade de correr para os seus braços.
Antes que ela pudesse decidir, Logan já chegara ao leito.
— Eu não disse a você que aquele tapete ficaria bem aqui?
— Logan...
—Quando você decide chegar, faz isso em grande estilo. Já começava a perder as esperanças,
Cathe. Concluí que não havia nada que eu pudesse fazer para convencê-la de que nós dois não
éramos um desastre prestes a acontecer.
Ela estendeu a mão e tocou seu rosto.
—Cresci muito sozinha, Logan, sempre esperando que meu pai voltasse, e contando apenas
com uma mãe que nunca estava presente. Pelo menos, não emocionalmente. Talvez por isso
sempre estive preparada para o pior.
—E o pior sempre acontecia. Ela assentiu.
— Mesmo conosco aconteceu, não é, Cathe? A entrevista, o frenesi em torno de nosso caso,
criado pela mídia...
— No entanto, tudo o que houve serviu para me mostrar que eu era capaz; e me forçou a
correr atrás daquilo que desejava. — Ela o fitou nos olhos. — E eu queria você.
Logan enlaçou-a pela cintura e puxou-a para si.
— Sabe que também te quero. Mas querer apenas não é suficiente. Não no nosso caso.
— Sei disso. — Catherine descansou a cabeça em seu ombro e aninhou-se ainda mais junto a
ele. — No início, todo aquele escândalo foi a desculpa perfeita para eu fugir, esconder-me. Mas
sua ausência me fez entender o quanto seria infeliz sem você. Te amo muito, Logan Montgomery.
Logan rendeu-se à paixão, beijando aqueles lábios sensuais com voracidade. Nada mais lhe
importava no mundo, a não ser possuí-la.
—Eu te amo — ela murmurava.
Para seu espanto, Catherine sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Era a emoção, por ter
obtido aquilo que sempre desejara, coisas com as quais jamais se atrevera a sonhar.
Uma lágrima salgada escorreu pelo canto de sua boca. Logan a fitou.
— Você está chorando? — Ele secou seu rosto com a mão. Catherine deu de ombros, então
forçou um sorriso.
— O que posso dizer? Sou maníaca por finais felizes.
Ele apertou suas mãos com força, desejando que ela nunca o deixasse.
— Julguei que não acreditasse em finais felizes, querida.
— Isso foi antes de conhecê-lo.
—Pode ser um choque para você, mas eu também não acreditava.
Com todas as tentativas infrutíferas de convencer Catherine de que eles teriam um bom
futuro juntos, Logan quase que perdera a fé na própria felicidade.
—O que o fez mudar de idéia?
— Você. Você é minha felicidade, Cathe. Ela rolou na cama e estendeu-lhe os braços.
— Então, venha para casa, meu amor.
Fim
CARLY PHILLIPS adora escrever romances, comer pipoca em dias frios e escrever cartas
para as amigas. Ela diz que todas as situações amorosas que presenciou fazem parte de seus
romances (com as devidas adaptações de nomes, claro). Mas suas amigas sempre encontram suas
histórias dentro dos romances de Carly.

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