sexta-feira, 7 de junho de 2013

Ally Carter - Espiãs também se enganam 3#

Ally Carter – Gallagher Girls 03 – Don’t Judge a Girl by Her Cover


―Estamos nos movendo.‖ O homem ao meu lado disse em um microfone em sua manga, e eu sabia que as palavras não eram para mim.
O ar de agosto estava quente e pesado com o cheiro do sal do mar e do escape de ônibus. As estradas estavam cheias, e para todo lugar que olhava eu via tons de vermelho, branco e azul. Para todo lugar que me virava, sentia os olhos de profissionais treinados encarando, vendo, gravando cada palavra, analisando cada olhar dentro de cem metros.
Parte de mim queria se libertar dos grandes homens de ternos escuros que me ladeavam de ambos os lados; outra parte queria se maravilhar com os cães farejadores que estavam examinando caixas a vinte metros de distancia. Mas acima de tudo, eu queria mentir quando outro homem, com uma prancheta e um receptor, perguntasse pelo meu nome.
Afinal, eu passei muito tempo aprendendo como puxar rapidamente identidades falsas e recitar perfeitamente espertas histórias secretas em situações como esta, então foi difícil quando pensei para dizer, ―Cammie. Cammie Morgan.‖
Foi mais estranho do que eu poderia ter pensado conforme esperei por ele examinar a prancheta e dizer, ―Você pode entrar.‖
Como se eu fosse simplesmente uma garota de dezesseis anos.
Como se eu não pudesse ser uma ameaça.
Como se eu não estudasse em uma escola para espiãs.
Caminhando pelo saguão do hotel, não pude evitar lembrar-me do meu primeiro exercício que meu professor de operações secretas já me deu:
Perceber as coisas.
Luzes e câmeras brilhavam em todos os ângulos. Uma enorme rede de balões vermelhos, brancos e azuis serpenteava através do espaço cavernoso como uma cobra patriótica. Acima no mezanino, a delegação do Texas estava cantando sobre rosas amarelas, enquanto uma mulher passava com um chapéu de espuma grande em forma de pêssego da Geórgia.
Examinei o conjunto de mulheres e garotas. Maridos e esposas. Crianças e idosos. A última vez que estive em uma multidão como essa foi em uma época diferente e uma cidade diferente, então talvez fosse o ar-condicionado gelado do hotel ou apenas uma lembrança de um dia frio no DC, mas por alguma razão, eu tremi e lutei contra um caso grave de déjà vu quando olhei em volta e disse o nome que eu não tinha falado há semanas.
―Zach.‖
Então eu pisquei e me perguntei se uma parte de mim sempre se preocuparia se ele podia estar me seguindo.
―Por aqui,‖ o homem ao meu lado disse, mas nós não paramos no fim da linha que se torceu e virou na frente do balcão de registro coberto de mármore. Nós nem sequer diminuímos o passo à medida que passamos entre duas fileiras de elevadores. Em vez disso descemos um corredor estreito que parecia meio mundo de distância das luzes brilhantes e do teto alto do saguão. Carpete de pelúcia deu lugar a azulejos de linóleo lascados até que finalmente estávamos diante de um elevador que tenho certeza que os hóspedes do hotel nunca foram destinados a ver.
―Então, você é amiga do pavão?‖ O agente do Serviço Secreto perguntou enquanto esperávamos as portas se abrirem.
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―Como?‖ perguntei, porque mesmo que eu nunca tenha estado em um hotel tão bom, tinha certeza que não havia pássaros exóticos no alpendre.
―Pavão,‖ o agente disse de novo conforme entramos no carro de serviço que logo nos carregava, sem parar, para o andar de cima.
―Olha, nós usamos codinomes,‖ ele explicou como se eu fosse... uma garota de dezesseis anos, ―quando falamos sobre o protegido. Então você e Pavão, vocês são… amigas?‖ perguntou ele, e novamente percebi que ele não estava me olhando do jeito que um segurança profissional bem treinado e bem armado olha para uma ameaça potencial (porque eu sei uma coisa ou duas sobre seguranças profissionais bem treinados e armados!). Não. Ele estava olhando para mim como se eu fosse... uma Garota Gallagher.
Claro, se você estiver lendo isso já deve saber da existência de dois tipos de pessoas neste mundo — aquelas que conhecem a verdade sobre o que acontece dentro dos muros da Academia Gallagher para Excepcionais Jovens Mulheres, e aqueles que não sabem.
Algo na forma como o agente estava tentando pesar as minhas roupas, um pouco fora de estilo contra a reputação de arrogante da minha escola, me disse que ele era definitivamente o segundo tipo — que ele presumia que éramos todas ricas; achava que nós éramos todas mimadas; e que ele não tinha idéia do que o estilo = ' font-family: ‘ "I Goudy Itálico", "serif" > realmente significava ser Garota Gallagher.
E isso foi antes de ouvir os gritos.
Conforme as portas do elevador se abriram, um estridente ―Eu vou matar alguém!‖ ecoou por trás da porta dupla no final do corredor.
E então eu tinha cem por cento de certeza de que o homem ao meu lado não sabia a verdade sobre a minha irmandade, porque ele não tirou a sua arma; ele nem mesmo vacilou, conforme um segundo agente do Serviço Secreto abriu as portas duplas e sussurrou, ―Pavão está irritada.‖
Em vez disso, ele caminhou em direção a garota gritando — mesmo ela sendo uma Garota Gallagher. Mesmo seu nome sendo Macey McHenry.
Antes desse dia, eu nunca tinha estado em Boston. Eu nunca tinha tido uma escolta do Serviço Secreto. E definitivamente nunca fui uma VIP (ou a amiga/colega de quarto/hospede de uma VIP) em uma convenção política nacional. Mas entrando no que eu tenho certeza que era a segunda melhor suíte do hotel, eu adicionei outra coisa para a lista: eu nunca tinha visto Macey McHenry tão zangada como estava naquele momento.
―Sério, Macey acho que ele é adorável.‖ O tom calmo e manejado de Cynthia não podia ser mais diferente do que o da sua filha. ―Ele é o único filho de um futuro presidente... Você é a única filha de um futuro vice-presidente... Se as pessoas querem ler sobre a possibilidade de um casamento na Casa Branca daqui a oito anos, não vejo nenhum motivo para detê-los. Realmente, eu não sei por que você tem que ser tão dramática.‖
Naquele momento fiz uma anotação mental de que se a Sra. McHenry pensava que Macey era muito dramática, então ela provavelmente nunca deveria ser deixada sozinha com a melhor parte de nossa classe do segundo ano.
―Se aquele garoto—‖
―Aquele garoto,‖ sua mãe corrigiu ―é o filho do Governador Winters—‖
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―—tentar flertar comigo—‖ Macey continuou, mas a Sra. McHenry falou acima dela.
―E se aparecer com aquele garoto, vai nos dar dois por cento de atenção em Ohio, então você vai aparecer com aquele garoto.‖
―Porcentagens.‖ Macey deu um suspiro exasperado. ―Você sabe que não gosto de matemática.‖
Bem, eu tinha visto pessoalmente Macey McHenry fazer álgebra linear sem uma calculadora (depois de dominar o sistema de nossa companheira de quarto, Liz, é claro), mas a garota na minha frente não era a Macey eu conhecia da escola. Ela não era a garota na TV da suíte também, sorrindo, acenando e de mãos dadas com o pai no noticiário nacional. Em vez disso, ela era o outro tipo de Garota Gallagher — do tipo pelo qual o agente esperava: o tipo esnobe, o tipo mimada, do tipo que saiu da limusine de seus pais e entrou em nossa escola quase um ano antes, com botas de combate e um piercing de diamante no nariz.
―Esta foi a cena de hoje de manhã quando o senador James McHenry e sua família chegaram aqui em Boston para se juntarem ao Governador Winters e aceitar oficialmente a candidatura à vice-presidência,‖ o âncora da TV dizia. Mas duvido que Macey ou a sua mãe estavam ouvindo conforme jogavam facas pelo olhar uma para a outra.
―Você vai fazer isso, Macey,‖ disse a sua mãe. ―Você vai—‖
Mas então a minha escolta pigarreou, e a Sra. McHenry se virou. Eu esperava que ela esguichasse como fez ao telefone, quando Macey tinha me ligado para me convidar para me juntar e eles, mas em vez disso ela acenou na minha direção e disse, ―Ali, sua amiguinha está aqui.‖
Alguma coisa na maneira que sua mãe falou sobre mim fez Macey aspirar. Fiquei aliviada que ninguém reparou como os punhos cerrados da minha companheira de quarto se apertaram apenas por um momento antes de ela se virar e soltar, ―Nós vamos dar uma caminhada.‖
―Não se esqueça do ensaio!‖ a mãe dela gritou, mas Macey já estava me puxando para fora das portas duplas.
Peguei o olho do agente mais uma vez enquanto ele tentava descobrir o que eu poderia ter em comum com a garota que me puxava. Na TV, alguém disse, ―Cynthia McHenry é uma conhecida empresária e filantropa. O casal tem uma filha, Macey, uma estudante da Academia Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais, em Roseville, Virgínia.‖
Nossa escola.
Na televisão nacional.
Milhares de pensamentos correram minha mente antes de Macey bater as portas atrás de nós, como se trancasse minhas preocupações do outro lado. Ela deu um sorriso malicioso, e pela primeira vez naquele dia eu reconheci minha amiga na garota que estava parada a minha frente.
―Então, o que achou do meu disfarce?‖
CAPÍTULO DOIS
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Espiões têm disfarces para todas as ocasiões: pseudônimos e passaportes, canivetes e identidades falsas. Um bom operário pode se tornar outra pessoa com o derrubar de um chapéu (e às vezes, chapéus de verdade estão envolvidos), mas eu raramente via alguém tão profundamente disfarçado quanto Macey McHenry estava naquele momento.
―Pavão está se movendo,‖ um dos agentes murmurou em seu punho enquanto eu seguia Macey entre a sede temporária dos Winters-McHenry. Passamos por filas de notebooks e internos berrantes usando ternos de negócios, bottons de campanha e parecendo como se não tivessem tido uma boa noite de sono desde New Hampshire.
De fato, eu realmente ouvi um cara dizer, ―Eu não tive uma boa noite de sono desde New Hampshire.‖
Mas os cabelos pretos de Macey estavam tão brilhantes quanto sempre, seus olhos azuis perfeitamente claros.
―Jesus, Camaleoa, você tem alguma idéia de quão firme você está para ser pega?‖
Ela andou, aparentemente ignorando que ela era como uma princesa, e o salão estava cheio de cidadãos que estavam lá para ter certeza de que seu pai reivindicasse o trono dele.
―Digo, primeiro eu tentei a escola, mas você alguma vez tentou tirar alguma coisa da Professora Buckingham?‖
Minha colega de quarto falava calmamente como se seu rosto não estivesse sendo exibido em cada lar na América naquele exato momento. ―De qualquer maneira, depois eu perguntei ao Serviço Secreto e—‖
―Espera,‖ interrompi. ―O Serviço Secreto te deu o número de telefone dos meus avós?‖
―Bem,‖ Macey admitiu, ―Eu pedi ao Serviço Secreto o número, mas acabei conseguindo ele por fontes mais secretas.‖
Eu abaixei minha voz quando perguntei, ―A agência?‖
―Liz,‖ ela sussurrou de volta, e eu não pude deixar de sorrir conforme pensei sobre nossa menor/mais esperta colega de quarto.
―Então, teve um bom verão?‖ Macey perguntou conforme deixamos o quarto de guerra e começamos a descer outro corredor comprido.
―Sim,‖ falei, quase sem fôlego. Dois meses no rancho dos meus avôs em Nebraska não tinha me deixado completamente fora de forma, mas a vida se moveu para um passo diferente lá, então eu ainda sentia como uma luta em acompanhar Macey. ―Foi bom. Simplesmente...‖
Pensei sobre nossas colegas de classe, que pareciam se espalhar em cantos diferentes do mundo sempre que a escola não estava em funcionamento. Pensei sobre minha mãe, quem tinha me colocado em um avião no primeiro dia do recesso de verão e não tinha mandado sequer um cartão postal desde então. E finalmente, pensei sobre dois garotos: um que eu não tinha visto em meses e outro que eu parecia imaginar em toda parte, mas quem eu sabia que poderia nunca mais ver novamente.
―Legal,‖ falei finalmente. ―Meu verão foi legal."
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Macey me conhecia bem agora, então ela apenas sorriu e disse, ―O meu também.‖
Nossos passos eram silenciosos e suaves contra o carpete conforme entramos no túnel que passava sob uma rua entre o centro de convenção e o hotel.
Os agentes do Serviço Secreto flanqueavam as portas, e eu ouvi um sussurro em seu pulso, ―Pavão está chegando à cena.‖
―Então posso te chamar de Pavão?‖ brinquei.
―Isso depende: você quer se sentir segura enquanto dorme e...‖ Macey começou, mas então duas mulheres de idade usando os maiores girassóis que eu já vira passaram por nós, e Macey sorriu para elas — sim, realmente sorriu — e disse, ―Bem, a delegação de Kansas parece festiva!‖
A mudança nela tinha sido fácil, como se seu sorriso de mil watts estivesse vinculado a um interruptor que os fatos o faziam se ligar e desligar. Claro, eu podia ter o legado da CIA, mas naquele momento era óbvio que Macey sabia tanto sobre identidades, agendas e alianças secreta quanto ninguém que eu já conhecera.
―Então,‖ comecei, ―o que há de novo com você?‖
Ela puxou um pedaço de papel ordenadamente digitado de seu bolso. ―Seis da manhã: aparecer nos shows nacionais matinais. Nove da manhã: se preparar para vestir um terno.‖ Macey se inclinou próximo e adicionou com um murmúrio,
―Evidentemente, vermelho me faz parecer um lixo.‖
Ela retomou sua postura habitual e andou mais rápido, a rampa inclinada nos levando cada vez mais perto de um par de portas de metal no fim do túnel.
―Onze da manhã,‖ continuou ela, ―diversão, ligação de família com mamãe e papai.‖ Macey parou. Descansou as mãos nas alças de metal.
―Então, você sabe,‖ disse ela conforme abriu as portas da maior sala que já vi, ―como sempre.‖
Cadeiras — milhares de cadeiras vazias — espalhadas pelo chão da arena. Placas com os nomes de todos os estados penduradas acima delas. Começamos por Oregon, depois passamos por Delaware e Kentucky. Stands subiam atrás de nós. Estiquei minha cabeça para cima, examinando as skyboxes que circulavam a arena, ostentando os logotipos de cada canal de notícias conhecidos pelo homem.
Macey e eu ficamos ali por um longo momento, sozinhas pela primeira vez.
Talvez por isso ela se sentisse segura para sussurrar, ―Obrigada por ter vindo, Cam.‖
O rosto do pai dela estava na capa de cada revista nos Estados Unidos. Ela estava prestes a ser a dama do maior baile do país. Provavelmente toda garota no país teria trocado de lugar com ela, mas eu vi o tormento em seus olhos conforme ela parou perdida dentro daquele espaço enorme, e eu soube por que eu estava aqui. Lembrei-me de que uma Garota Gallagher é tão boa quanto seu backup.
―Vamos acabar com isso e voltar para a escola, ok?‖ falei.
―Tudo bem,‖ respondeu ela. Eu podia jurar que ela quase sorriu.
E ela poderia ter sorrido, se nós não tivéssemos sido interrompidas pelo som de passos atrás de
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nós e uma voz dizendo, ―Olá, senhoritas.‖
Eu não sei quanto a você, mas existem algumas hipóteses que eu tendo a fazer em relação a um garoto adolescente que insiste em chamar garotas adolescentes de ―senhoritas.‖ Você espera que ele seja bonito. Você espera que ele seja lisonjeiro. O tipo de cara que é dono de mais produtos de cabelo que você.
Mas Preston Winters não... era.
Ele era cerca da mesma altura de Macey, mas acho que não estou exagerando quando digo que tenho certeza que Liz podia ter levado ele a uma briga. Seu terno pendurado emoldurava seu corpo magro como se ele fosse um garoto brincando com joguinhos de vestir, o que não era uma área muito boa considerando que ele usava um relógio de pulso do Homem Aranha.
―Pergunta rápida,‖ Macey sussurrou. ―Quando a sua mãe disse que não devíamos usar qualquer movimento de Proteção e Aplicação neste verão, isso não se aplica aos filhos de candidatos presidenciais, não é?‖
―Eu acho que pode se aplicar especialmente a eles.‖
Não tenho certeza se foi a presença do Serviço Secreto ou a natureza sigilosa da nossa irmandade, mas algo fez Macey respirar fundo e sorrir (e sussurrar uma palavra muito ruim em Português).
―Você está parecendo bem... patriota..., hoje, Srta. McHenry,‖ disse Preston, olhando Macey de cima a baixo.
Lancei um olhar para o conjunto de suéter vermelho, branco e azul de Macey (eu sei... Macey estava usando um conjunto de suéter!) e segurei um riso.
―Não acredito que nos conhecemos,‖ o garoto disse, se virando para mim e estendendo sua mão. ―Eu sou Preston. Você deve—‖
―Estar ocupada,‖ falou Macey, tentando me afastar.
―Cammie,‖ terminei, resistindo ao puxão de minha colega de quarto o suficiente para apertar a mão de Preston. ―A colega de quarto,‖ disse.
Ele se curvou levemente para frente na cintura e disse, ―É um prazer conhecer você, Cammie a colega de quarto—‖
Antes que ele pudesse terminar ouvi uma voz aguda chamar, ―Família McHenry, palco esquerdo!‖ Uma mulher elegante estava andando para o palco, a mãe e o pai de Macey seguindo cautelosamente atrás dela. Ela tinha uma prancheta. E pequenos óculos com aros de chifre pendurados em volta de seu pescoço. E não um, mas dois lápis presos em sua pilha enorme de cabelos no topo de sua cabeça.
―Família Winters, palco direito!‖
Enquanto o governador de Vermont e sua esposa tomavam seus lugares, eu não pude evitar pensar que um dos mais poderosos homens do país parecia absolutamente aterrorizado com a mulher com a prancheta.
―Família McHenry!‖ a mulher chamou de novo. ―Estamos perdendo—‖
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―Aqui estou eu,‖ disse Macey, correndo em direção ao palco.
A mãe dela rolou os olhos. Seu pai checou o relógio. Mas a Moça da Prancheta apenas falou, ―Excelente! Não podemos ter um novo Camelot sem nosso povo jovem. Apenas olhe para esses rostos brilhantes.‖
―Na verdade, devo minha aparência a sua companhia, Srta. McHenry.‖ O grupo inteiro pareceu surpreso em ouvir Preston falando — especialmente Preston.
Mas em vez de calar a boca, ele continuou. ―Aquele novo creme de redução de cicatrizes é... uau. Bom trabalho,‖ ele adicionou com um aceno auto-consciente.
A Moça da Prancheta lançou um olhar para ele, e estava bem óbvio que os rostos brilhantes deviam ser vistos e não ouvidos. ―Eu ficarei aqui agora,‖ disse Preston, tomando seu lugar ao lado de seus pais.
Os candidatos se revezaram atrás de um pódio coberto com o que parecia ser todos os pedaços de tecidos vermelhos, brancos e azuis do leste do Mississippi. Macey ficou no centro de tudo, nunca se encolhendo contra o holofote, enquanto eu deslizei para o fundo da arena e peguei um lugar entre as sombras.
O número de vezes que a Moça da Prancheta fez o Governador Winters e o pai de Macey praticarem apertos de mãos e depois se virarem para acenar para a multidão imaginária: 14
O número de vezes que Macey olhou fixamente para sua mãe: 26
O número de vezes que Preston tentou chamar a atenção de Macey e ela totalmente o ignorou: 27
O número de vezes que Macey teve que praticar uma curvada enquanto dançava com seu pai: 5
O número de vezes que eu tive que sentar sozinha na enorme arena, me perguntando se liberdade e democracia sempre era ensaiado assim: 55
Ao meio-dia, a Moça da Prancheta estava repetindo as coisas uma última vez.
―Exatamente as 08h05min a música começará.‖ A Moça da Prancheta ergueu suas sobrancelhas dramaticamente. ―Nesse momento,‖ disse ela, estudando os candidatos e suas famílias através dos óculos de armação escura, ―eu recomendo dança espontânea.‖
Preston sorriu para Macey. Macey estremeceu.
―Os balões iram cair as 08h06min. Comemoração, comemoração. Dança, dança. Pausa para o comercial.‖
―Tudo feito?‖ Eu perguntei quando Macey apareceu ao meu lado um minuto depois. Ela parecia mais aliviada do que eu jamais a vira estar. (E isso inclui a vez quando o Dr. Fibs anunciou que não precisaria mais que ela o ajudasse com os joanetes dele. O que, sem necessidade de dizer, é bem aliviante.)
―Vamos,‖ Macey me disse, mas ambas devíamos ter ficado um pouco descuidadas durante as férias de verão, porque Preston já estava na nossa cauda.
―Então, posso convidar as senhoritas para um refresco do meio-dia? Ouvi que a delegação do Havaí pode estar assando um grande porco.‖
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Naquele ponto eu posso ter lamentado por Preston porque essa era a coisa mais estranha que eu já tinha ouvido. Mas Preston não se acanhou de sua estranheza — ele a abraçou. Nenhuma parte de Preston Winters lamentava por si mesmo. Ele era a única pessoa que eu conhecia que era completamente sem nenhum disfarce. E eu gostava dele por isso.
―Desculpe Preston,‖ disse Macey conforme agarrou meu braço e me puxou em direção as portas. Ela acenou seu itinerário gasto na frente dele. ―O dever chama.‖
Mas se havia uma coisa que viver com a filha de um político tinha me ensinado, era que eles nunca aceitam não como resposta.
―Ei,‖ ele falou. ―É. Itinerários. Fazendo sua parte. Isso é ótimo.‖ Nós estávamos a dez passos a frente dele, mas para um cara magro ele era bem rápido. E persistente. ―Eu vou com vocês.‖
Desde que havia dois agentes do Serviço Secreto ao nosso lado, e uma multidão de jornalistas se erguendo por uma transmissão ao vivo, Macey deve ter pensado duas vezes antes de impedi-lo. Ao invés ela se empurrou contra as portas de metais novamente, e logo estávamos retraçando nossos passos pelo túnel subterrâneo.
Um homem mais velho com cabelos brancos espalhados e sobrancelhas selvagens quase me derrubou, murmurando um enorme sotaque sulista, ―Com licença, senhorita.‖
Um par de mulheres usando camisetas escritas ―Washingtonianos por Winters‖ praticamente se dobraram em frente de Preston, mas ele simplesmente continuou nos acompanhando, quase correndo para nos alcançar.
―Então, vocês senhoritas estudam na mesma escola, eu entendi certo?‖ Preston arquejou. ―Todas as mulheres da Academia Gallagher são tão impressionantes como vocês duas?‖
Macey se virou para ele. ―Na verdade, impressionar é o que fazemos de melhor.‖
―Então, Preston,‖ falei, ansiosa para mudar de assunto. Viramos e descemos o corredor estreito e sujo que tinha me levado a Macey naquela manhã. ―Você deve estar animado... com o seu pai. Primeiro filho. Tudo aquilo.‖
―Ah, é,‖ disse Preston. ―Estou bem animado com o plano do meu pai para a América.‖
Ele podia ser o filho de um político, mas eu era a filha de um espião, então eu conhecia uma mentira quando ouvia uma. Conforme chegamos ao elevador de serviço, assisti Macey apertar o botão freneticamente, e vi os planos mentais dela das maneiras de como se livrar de Preston, mas tudo que pude fazer foi pensar sobre outro garoto e outro elevador, e me lembrar que há algumas coisas que mesmo uma Garota Gallagher não pode aprontar com ela.
Enquanto as portas se abriram, nós todos subimos. Ela estava apertada, então um dos agentes do Serviço Secreto se reteve.
―Esse é Charlie, a propósito,‖ disse Preston, gesticulando para o homem que parecia usar mais do que sua parte justa do pequeno espaço. ―Charlie tem estado comigo desde... quando foi? Missouri, eu acho?‖
A porta se fechou. Charlie não disse uma palavra. E sob sua respiração, ouvi Preston preencher o silêncio incômodo com um sussurro, ―Bons tempos.‖
O percurso para cima pareceu levemente maior dessa vez. Eu devia ter me perguntado o motivo, mas não perguntei — não até que ouvi o tinido e vi as portas se abrirem para um espaço que eu tinha certeza que nunca tinha visto antes.
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Nós podíamos muito bem estar em um país diferente — um prédio diferente — conforme demos um passo para o brilho fluorescente de um cômodo que não tinha nenhum carpete vermelho, nenhum interno apressado ou guardas pacientes. Um carrinho do serviço de quarto sem duas rodas parava ao longo de uma parede. Havia carros da lavanderia e velhas cabeceiras. Máquinas enormes agitavam, enchendo o espaço com um barulho alto e um calor quase insuportável.
―Você apertou o botão errado?‖ perguntei, olhando para Macey.
―Diz 12h05min: filmar vídeo promocional. Elevador de serviço. Nível R.‖ Ela apontou para o grande R que estava pintado na parede a nossa frente.
Olhei para Charlie, que não tinha dito uma palavra desde que deixamos o andar do centro de convenção, mas ele não hesitou em segurar sua manga e dizer, ―Controle, estou com Pavão e Cachorro Louco—‖
Ao meu lado, Preston ergueu as sobrancelhas e sussurrou, ―Eu mesmo escolhi esse.‖
Mas Charlie continuou. ―Estamos no Nível R. Estão filmando o vídeo aqui, ou foi mudado?‖ Ele olhou para mim. ―Estão checando.‖
O ar estava quente e mofado, o quarto pequeno demais para ser um andar inteiro. Uma porta com uma pequena janela estava do outro lado, então eu não fiquei surpresa em ouvir Macey dizer, ―Aposto que devemos estar lá fora,‖ e vê-la se empurrar para fora contra a luz.
Há muitas coisas que uma Garota Gallagher tem que ser: corajosa, audaciosa e totalmente destemida de altura, só para nomear algumas. E todas essas vieram a calhar enquanto Macey, Preston e eu demos um passo até o telhado do hotel.
Um vento forte soprou no abrigo, golpeando e fechando as portas de metais atrás de nós. Conforme andamos em direção a beirada do telhado e espiamos a cidade, vimos o campanário de uma igreja histórica e arranha-céus. Alguns edifícios pareciam como se o próprio Paul Revere fosse sair do mesmo; outros pareciam vindos direto do futuro. Sessenta metros abaixo, novos ônibus e vans paravam na auto-estrada engarrafada, mas no telhado do hotel o caos da convenção pareceu estar muito, muito distante. E esse, eu acho, que era o problema.
Não havia nenhuma multidão de câmeras, nem especialistas em relação pública. Olhei para Macey, que disse o que eu estava pensando. ―Isso não está certo.‖ Então ela se virou para Preston. ―Onde devíamos estar, exatamente?‖ Macey olhou de Preston para sua agenda gasta, e depois finalmente levantou sua mão. ―Deixei-me ver seu itinerário.‖
―Ok, é... veja que isso não é fácil para...‖ Preston tropeçou em suas palavras e depois admitiu, ―Minha mãe está com ele.‖
Olhei para trás de nós, procurando por Charlie, mas o homem não estava em lugar algum, e naquele momento, tudo pareceu mudar.
Talvez foi meus quatro anos de treinamento, ou meus dezesseis anos e meio sendo a filha de Rachel Morgan, mas de alguma maneira, algum jeito, eu sabia que o telhado era um lugar muito ruim para se estar.
―Ei, você‖ — Preston começou conforme eu corri em direção as portas de metais — ―corre realmente rápido.‖
Mas eu mal o ouvi conforme me empurrei com toda minha força contra a porta, tentando em vão a alça, batendo contra o metal cinza. Estava trancada — ou emperrada — e não havia saída de onde tínhamos entrado.
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―Isso não está certo,‖ Macey disse atrás de mim, checando novamente seu itinerário, ainda tão impregnada na parte de si mesma que era a filha de um político que estava ignorando a outra parte— a parte espiã — a garota que ela pensava que não seria durante as férias de verão.
―Algo simplesmente não está...‖ mas então ela falhou. Os olhos azuis de Macey encararam os meus. Eu vi neles uma realização — um medo — conforme ela olhou para baixo no papel em suas mãos e depois de volta para mim...
E então em direção ao helicóptero que estava voando muito baixo, muito rápido, e se dirigindo direto para nós.
CAPÍTULO TRÊS
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Aqui está a coisa sobre operações secretas: as coisas realmente ruins sempre acontecem quando você menos espera. Os caras maus não dão a você heads-up quando você vai ser atacada. Eles não te esperam trinta minutos depois de ter comido. E eles nunca, nunca deixaram você parar para pôr um sapato confortável.
Então, o treinamento para esse tipo de vida significa uma coisa: colégio espião nunca está realmente fora da sessão.
Eu pensei sobre o pedaço de papel nas mãos de Macey e falei para eu mesma que isso não poderia ser um inocente engano, uma troca de planos. Isso não significa que os nosso professores tinham intencionalmente elaborado colocar Macey — e por extensão, eu — sobre um telhado com algum tipo de teste terrível em mente. Isso não significa que nós temos uma luta se aproximando. Isso não significa que o meu coração tinha motivos para acelerar.
Mas ainda assim eu olhei para a minha colega de quarto e perguntei, ―Você está pensando no que estou pensando?‖
Macey deu de ombros. ―Nossos professores não podem fazer nada em frente a ele.‖ Ela apontou para Preston, que estava inclinado sobre o corrimão, olhando para o caos nas ruas abaixo, completamente inconsciente sobre a mancha preta que estava no horizonte e se movendo rápido.
Eu pensei sobre o itinerário perdido de Preston. ―Talvez ele não devesse estar aqui?‖ E com isso, Macey deixou seu pedaço de papel cair. Eu o vi girar e flutuar no ar e rodopiar em torno de nós, enquanto o helicóptero pairava mais baixo. Era como se Macey havia deixado o seu disfarce cair também. O hotel estava cheio de pessoas que via apenas a filha do candidato, mas logo em seguida — logo ali — não havia dúvida de quem Macey McHenry tinha que ser.
―Ei, vocês, olhem —‖ Preston disse, finalmente notando o helicóptero sobre nós. Ele parou de repente quando uma corda caiu do helicóptero e balançou entre o céu e o telhado.
Eu ouvi um clique, um rangido metálico como a porta para o telhado aberto. Mas em vez de Charlie, dois homens mascarados entraram no sol brilhante. E então eu não pude me conter, eu gritei: "Eu estou de férias!"
Eu senti Macey atrás de mim, vi Preston encarando uma figura escura descendo de rapel do helicóptero como se de algum modo, ele havia saído de um vídeo game — ou de um pesadelo.
―Eles não se parecem com os eleitores indecisos,‖ ele disse, como se sarcasmo fosse uma arma que ele confiou em toda sua vida e ele realmente não queria falhar.
Os homens mascarados não correram para nós. Eles não foram descuidados. Eles foram deliberados. Eles eram bons, se movendo com propósito, mantendo um constante espaço, como eu e Macey ficamos lado a lado nos apoiando no centro do telhado.
"Preston!" Eu gritei. ―Vá para baixo.‖
Eu queria que ele se escondesse, eu queria que ele ficasse inconsciente ou cego. Eu queria que ele estivesse em qualquer lugar, menos aqui. Eu sabia muito bem como ter um garoto normal no meio de um exercício de CoveOps poderia acabar. É um capítulo que eu não preciso ler de novo.
"Isto não é"— Eu disse com um grunhido enquanto eu me defendia do golpe do primeiro atacante. —"uma boa"— eu dei um meio-passo para minha direita e chutei um dos homens mascarados no joelho. —―Hora para mim!‖
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O homem mascarado parou diante de mim. Dentes brancos brilhavam por trás da máscara escura. Por uma fração de segundo eu pensei que era o sorriso do Sr. Solomon. O primeiro atacante que veio do helicóptero tinha as curvas inconfundíveis de uma bela mulher, e uma parte de mim perguntou se era a minha mãe.
E então, do nada eu senti um soco, um golpe perfeito, e quando caí no telhado, vi helicópteros de notícias aparecerem e formarem um enxame em torno de nós — E eu soube. Eu soube que ninguém da Academia Gallagher seria tão descuidado.
Eu sabia que a minha mãe e o Sr. Solomon preferiam morrer a expor nossa escola a esse tipo de estágio.
Eu sabia que havia algo a mais por trás do soco — não no punho do agressor, mas em seus olhos.
E então, mas do que nunca, eu sabia que tinha de tirar Macey e Preston para fora do telhado.
Eu não sei como explicar o que aconteceu depois, mas naquele instante, todas as aulas de P&A (proteção & aplicação) que eu não tive voltaram para mim. Naquele momento, eu soube que sobreviver não é apenas sobre socos e pontapés; também é sobre geometria e sincronismo. É sobre ter seus reflexos rápidos enquanto sua mente fica mais lenta.
Talvez isso durou um minuto, ou talvez durou um mês. Tudo o que eu realmente sei foi que um dos homens se moveu em minha direção. Eu abaixei e o seu punho voou, quase perdendo a minha cabeça. Mas o meu foco já estava em outro lugar — meus olhos estavam varrendo o telhado, à procura de uma arma, uma saída, ou ambos. Foi quando eu o vi — uma estreita janela e uma tábua balançando do lado de fora do telhado. Ele tinha trilhos nos dois lados e foi anexado a um sistema de roldanas.
Meu coração disparou. O vento rugia nos meus ouvidos enquanto eu agarrei a mão de Preston e gritei, ―Venha!‖
Havia pegadas atrás de mim — uma mão no meu braço. Girei em volta, mas antes que eu pudesse dar um golpe, Preston puxou a mão livre e socou o homem na garganta. Foi um perfeito golpe de sorte, mas eu estava disposta a aceitar qualquer ajuda que pudesse enquanto eu puxava o potencial primeiro filho para fora do perigo e para a janela estreita.
"Eu bati em um cara," Preston disse, olhando para o punho, como se isso fosse a coisa mais chocante de tudo.
―Eu sei, bom trabalho.‖ Eu disse alcançando os controles; mas pela primeira vez, Preston pareceu notar que eu o tinha guiado para algo que estava pendurado do lado de fora de um prédio de sessenta andares.
"Espere!‖, gritou ele.
―Você ficará bem,‖ eu disse para ele.
―Mas eu não deveria...‖ murmurou na forma de um menino que sabe que ele deve ser cortês, mas não sabe bem como.
Atrás de mim, eu ouvi Macey gritar de dor, mas eu mantive meu foco e apertei o botão verde, sabendo que de alguma forma fazer Preston descer do telhado, era a minha missão naquele momento.
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―Se segura!‖ eu gritei, e no instante seguinte a gravidade tomou controle e Preston caiu vinte andares para a segurança.
Eu poderia ter saboreado esse fato, mas os atacantes pareciam retornar o seu foco, e vi a mulher levantar a mão e apontar para onde Macey estava tomando o seu lugar ao meu lado.
―Pegue ela‖ a mulher ordenou. Eu dei um olhar de relance para a minha amiga, a filha de um senador dos Estados Unidos e de uma das mulheres mais ricas do mundo. Minha amiga, que havia sido destaque em todos os noticiários dos Estados Unidos, e que seria um sonho para qualquer seqüestrador.
Macey e eu estávamos recuando lentamente, chegando mais e mais perto da parede atrás de nós, e eu sabia que estávamos encurraladas.
―Não‖, eu chorei, como se isso fosse tudo que poderia fazer com que eles parassem.
E então eu vi aquilo — um respiradouro enferrujado dez metros a direita da porta que eu tinha desistido de qualquer esperança de abrir. Eu me joguei no chão, chutei o respirador mais forte que pude, e senti ele se balançar levemente. Eu chutei novamente enquanto, atrás de mim, os homens avançaram para Macey. Eu ouvi um estalo revoltante. Eu me virei e vi a minha colega de quarto agarrar seu braço, e cair no chão, gemendo de dor, então eu chutei mais forte, e desta vez o velho respirador cedeu por pressão. Ele se soltou, e eu o atirei em direção à cabeça de um dos homens que estava chegando perto de Macey. Ouvi o choque de metal contra o crânio, mas não parei para observar os danos — eu estava muito ocupada agarrando Macey e a empurrando em direção ao buraco que o respiradouro tinha deixado no muro.
Comecei segui-la, mas alguém agarrou meus ombros com um aperto de aço me mantendo no lugar. Eu me agarrei contra ela, mas quando eu tentei me erguer, minha mão roçou em um anel de ouro gravado com um emblema que eu poderia jurar já ter visto antes. Por uma fração de segundo minha mente ainda tentava lembrar disso.
Mas então eu ouvi uma voz frágil dizer "Cam", e lembrei-me da minha amiga — minha missão.
Eu agarrada forte, me inclinando para frente, rezando para que o meu impulso me levasse através da abertura na parede para um lugar mais seguro. De repente, me lembrei do button da campanha de McHenry Winters na minha blusa. Ouvi minha camisa rasgar enquanto eu puxava o button, e espetei o alfinete na mão no meu ombro esquerdo.
A mulher atrás de mim gritava de dor enquanto eu empurrava Macey todo o caminho através do orifício e seguia atrás dela.
―Corra Macey!‖, eu gritava ―vá!‖
Eu não estava pensando. Nenhuma estratégia veio à mente. Nenhum flash card ou uma palavra do vocabulário. Essa era a velha história da luta contra o vôo. Olhei Macey, cujo braço estava pendurado em um ângulo estranho, eu senti meu lado e sabia que minhas costelas estavam machucadas na melhor das hipóteses, e talvez quebradas, e eu sabia que a luta não seria uma opção muito maior — e que tínhamos de sair de lá e logo.
―Vá‖ eu disse para ela. Atrás de nós, eu ouvi a porta de metal abrir novamente. Um flash de luz cortada pelo chão de cimento, iluminando um par de longas pernas dobradas em um ângulo estranho, projetando-se por trás de um maciço de máquinas da sala.
Eu ouvi Macey sussurrar ―Charlie.‖
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Nós passamos pela as máquinas batendo, e contornamos uma década de móveis quebrados e relíquias do hotel até chegar ao elevador que nos trouxe aqui.
E então, pela primeira vez, eu sinceramente me senti como se pudesse chorar.
As portas do elevador estavam abertas. Projetava fios estraçalhados da caixa de controle, provocando ainda onde haviam sido puxados para fora da parede e cortado em dois com precisão profissional.
Não havia nenhum lugar para correr, nenhum lugar para se esconder. Eu me virei para olhar as três figuras, aproximando-nos em perfeita formação— um grupo de caça com um helicóptero pronto para levar a minha amiga para um lugar que eu não ouso imaginar.
Olhei ao redor por uma arma, achei um rolling cart1 e o empurrei em direção a eles com todas as minhas forças, esperando que pudesse servir como a melhor bola de boliche da história e bater as figuras vestidas de preto em um strike. Mas o homem da frente simplesmente o arremessou para o lado.
"Cam", Macey sussurrou. Ela estava ficando mais pálida. Seu braço esquerdo havia inchado para o dobro do tamanho normal, mas ainda assim ela conseguiu apontar para a sua direita, em direção a um buraco quadrado na parede— um eixo ou uma rampa de algum tipo.
Eu não sabia o que era ou aonde ele levava. E eu não tive tempo de perguntar. Acabei de pomba2 empurrando Macey antes de mim. Um dos homens se arremessou para frente. Eu ouvi um grito de "não" reverberando para baixo no eixo, mas era tarde demais. A gravidade tinha assumido, e eu era arremessada em direção ao desconhecido, rezando para que fosse melhor do que o lugar que eu tinha acabado de sair.
Em queda livre, senti minha cabeça bater contra o eixo de metal. Algo quente e úmido escorria em meus olhos, e ainda me senti... Grata... Esperançosa. Tonta.
Houve um baque suave. O chão debaixo de mim parecia rolar, mas pelo menos havia chão.
Virei-me e apertei com tontura e dor, para ver cair uma gota vermelha em folhas brancas. Macey estava inconsciente ao meu lado.
Eu pus minha cabeça para trás e sentir o mundo começa a girar. Ao longe, alguém gritou: "Serviço Secreto dos Estados Unidos, abra!"
E através de uma névoa obscura, a minha mente voltou à última vez que o mundo tinha ido de cabeça para baixo. Um garoto estava mergulhando-me no centro da minha escola e me beijando. Por um momento, eu quase podia ver o rosto dele encostado na minha direção, como se minha vida estivesse piscando diante dos meus olhos.
E depois o mundo todo ficou preto.
CAPÍTULO QUATRO
1 Um carrinho com rodas para colocar coisas dentro
2 Dove - quer dizer pomba a ave, ou pacifista.
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Nem todo sono é igual, disso eu tenho certeza. Afinal, eu experimentei muitas variedades dele de primeira mão. Há o sono ‗Bex-me-desafiou-para-uma-luta-de-kickboxing‘, onde a exaustão é igualada apenas pela dor de seu corpo. Há o sono ‗Vovó-Morgan-fez-um-jantar-enorme-e-não-há-outro-lugar-onde-eu-tenha-que-estar‗ que só acontece em lugares onde você se sente totalmente segura. E então há o outro tipo — o pior — quando seu corpo vai a algum lugar que sua mente não pode seguir: o sono ‗Mamãe-acabou-de-me-contar-que-meu-pai-nunca-voltará-para-casa‘. Seu corpo descansa, mas seu coração... tem outras coisas para fazer, e você acorda na manhã seguinte orando, esperando, torcendo que a noite anterior tenha sido um sonho terrível.
Eu nunca soube que era possível ter todos os três tipos de uma vez. Mas é. Eu sei disso agora. ―Não se mova,‖ disse uma voz profunda.
Senti a luz primeiro queimando pelos meus olhos fechados, me forçando a virar a cabeça longe do brilho. Enquanto me movi, uma corrida de dor incandescente queimou por mim, e uma voz profunda riu.
―Eu sei que você não é de seguir regras, Srta. Morgan, mas quando eu lhe disser para ficar quieta, você possa querer fazer o que eu digo.‖
Pisquei e engoli, mas minha boca parecia como se estivesse cheia de areia, os meus olhos como brasas. Eu tentei me sentar ereta, mas uma mão de empurrou de volta para baixo em almofadas macias. Eu olhei para a face obscura da minha mãe — minha diretora — e a melhor espiã que eu já conheci.
E depois de algum modo encontrei a força para dizer: ―Isso não foi um teste, foi?‖
Eu não sabia onde estava, nem o dia nem a hora, mas eu conhecia o rosto da minha mãe, e isso foi o suficiente para dizer a resposta à minha pergunta.
―Bem-vinda de volta,‖ ouvi a voz profunda dizer, e me virei para ver Joe Solomon parado no pé da minha cama; mas pela primeira vez desde que o conheci, eu não estava preocupada em como meu cabelo parecia na sua presença.
―Sr.—‖ Eu comecei, minha voz áspera.
―Aqui.‖ Minha mãe trouxe um copo de água para os meus lábios, mas eu não consegui beber.
―Macey,‖ eu chamei, me sentando rapidamente. Minha cabeça nadou e minha garganta queimou, mas nada podia me impedir. Milhares de perguntas vieram à mente, mas naquele momento apenas uma realmente importava. ―Macey! Ela está_―
―Ela está bem,‖ mamãe disse suavemente.
―Melhor do que você, na verdade,‖ disse o Sr. Solomon. ―Um braço quebrado não é tão assustador quanto...‖ Ele falhou, mas bateu em suas têmporas, e pela primeira vez senti o curativo que cobria minha cabeça. Lembrei-me da queda pelo mastro, o sangue em meus olhos e em seguida, espiã treinada ou não, eu me senti um pouco tonta e me deitei de volta no travesseiro.
―Onde eu estou?‖ perguntei, percebendo que ao invés da saia que usava em Boston, eu estava no meu mais antigo e mais macio pijama. Em vez da dor de hematomas frescos, meu corpo doía como se eu não tivesse me movido nos últimos anos, então eu sabia modificar a minha pergunta. ―Desde quando?‖
―Você esteve fora um pouco mais de um dia,‖ disse o Sr. Solomon. ―Trouxemos você aqui logo
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que pudemos.‖
―Aqui?‖ olhei em volta. A parede ao lado da minha cama era áspera abaixo de meus dedos. O chão era de madeira sólida. Eu estava em uma cabine, percebi provavelmente pertencente à escola ou a CIA. ―Isto é uma casa segura?‖
Eu não tinha idéia de quanto era segura até ouvir meu professor dizer, ―É melhor que seja. Sou dono dela.‖
Sr. Solomon era proprietário de uma casa. Sr. Solomon era proprietário desta casa. Em qualquer outro dia eu podia ter absorvido todos os detalhes do lugar — a colcha de retalhos, a caixa de equipamentos, o cheiro de pinho fresco e naftalina antiga. Eu poderia ter me maravilhado que o Sr. Solomon vivia em algum lugar, que ele tinha raízes.
―Eu não uso muito,‖ Sr. Solomon disse, como se estivesse lendo minha mente. ―Mas veio a calhar‖ — ele parecia estar considerando suas palavras — ―na ocasião.‖
Eu não parei para pensar nas ―ocasiões‖ da vida do Sr. Solomon. Eu sabia que minha imaginação jamais poderia lhes fazer justiça, então ao invés eu somente sentei lá tentando reunir a coragem de dizer, ―Charlie?‖
Mamãe sorriu. Ela alisou meu cabelo. ―Ele vai conseguir, Cam. Ele vai ficar bem.‖
Isso deveria ter me acalmado, mas não aconteceu. O sol rompia por entre as árvores pesadas lá fora, e raios caíam sobre a cama. Sentei-me um pouco mais reta. ―Macey está aqui também?‖
Meu professor assentiu. ―Lá fora. Demorou um pouco para tirá-la de perto do Serviço Secreto depois de tudo, mas‖ — ele parou, olhou para a minha mãe depois de volta para mim — ―nós fomos mais fortes.‖
Às vezes parece que nós Garotas Gallagher gastamos metade do nosso tempo imaginando sobre as coisas que os nossos professores têm visto e feito. Mas naquele dia eu não pedi por detalhes. Naquele dia, eu tinha visto o suficiente para saber que talvez não quisesse ouvir as histórias.
―O que aconteceu?‖ perguntei. Eu não olhei para minha mãe ou meu professor. Meus dedos traçaram o tecido da colcha. Eu era a única que tinha estado lá, e ainda assim tudo que eu podia fazer era dizer, ―Quero dizer, aquilo foi...‖
―Uma tentativa de seqüestro? Sr. Solomon acabou por mim, e eu assenti com a cabeça, tentando agir tão profissional como meu professor soava. ―Essas coisas, elas acontecem — ou quase acontecem — mais do que você pensa.‖
Eu tentei assentir e um sorrir. Afinal, a verdadeira medida de operações secretas reside no quanto ninguém sabe. Mas as pessoas iriam saber sobre isso. ―Noventa e nove vezes de cem não chegam tão longe, mas—‖
―Eles eram bons,‖ falei, quase tremendo com a memória.
Sr. Solomon concordou. ―Sim,‖ disse ele, como se uma parte dele não pudesse deixar de ficar impressionado. ―Eles eram. O Serviço Secreto e o FBI vão fazer algumas perguntas para você. Srta. Morgan, esses agentes terão Nível Seis de autorização no máximo — então você sabe o que irá dizer a eles?‖
Assenti. ―Minha colega de quarto me convidou para a convenção. Fomos atacadas no telhado. Escapamos.‖ Me senti recitar história de capa que teria que contar; encontrei-me relembrando que sei catorze idiomas diferentes e ainda assim minha vida é dominada por coisas que não
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posso dizer.
Olhei para fora da janela, vi as árvores que nos rodeava, uma clareira, e ao longe um lago espumante. Macey estava no final de um longo cais, olhando para a água.
―Tivemos sorte,‖ acrescentei baixinho, e naquele momento minha história de capa não me parecia de jeito nenhum como uma mentira.
O telefone celular da minha mãe tocou e ela correu para atendê-lo. A ouvi sussurrar para alguém que chamou de Sir. Virei-me e olhei para fora da janela para a garota no cais, e então levantei lentamente e sai em direção a uma porta blindada antiquada.
―Não há nada de errado lá,‖ disse o Sr. Solomon. Parei e me virei para vê-lo apontando para minha cabeça grogue. ―Confie em mim, Cammie, tudo vai ficar bem.‖ Ele tocou uma cicatriz fraca em sua têmpora. ―Eu sei um pouco sobre essas coisas.‖
Sr. Solomon era o melhor professor que eu tinha, e eu não queria decepcioná-lo. Então menti e disse, ―Eu sei.‖
―Ei,‖ eu disse quando cheguei ao fim do cais. Macey ainda estava parada lá, fitando o lago imóvel tranqüilo. Arranhões corriam por sua bochecha esquerda. Seu olho direito estava rodeado de preto, e seu braço esquerdo pendurado em um cabo que totalmente não fazia jus. Enquanto caminhava em direção a ela, eu não pude evitar pensar que se Macey parecia daquele jeito, então eu provavelmente nunca vou querer ver um espelho novamente. ―Bem-vinda de volta,‖ disse ela.
―Obrigada.‖
―Como está a cabeça?‖
―Doendo. Como está o braço?‖ Minha colega de quarto não respondeu. Ela não fez comentários sobre o meu cabelo horrível ou as contusões em nossos rostos que nenhuma quantidade de corretivo pode esconder.
Havia coisas demais a dizer, então eu não a pressionei. Em vez disso eu me desloquei e ouvi as tábuas rangerem sob meus pés e pensei sobre como a nossa escola tinha nos ensinado a sair daquele telhado, mas nada na nossa educação excepcional tinha nos dito o que deveríamos fazer depois.
Eu queria sentar na sala de aula de CoveOps e ouvir enquanto o Sr. Solomon dissecava cada movimento, cada pista, cada soco.
E eu queria bloquear minha mente e nunca mais pensar nisso novamente.
Queria saber quem tinha feito isso, o motivo e como.
E queria acreditar que tinha acabado, e foram os tipos de detalhes que não importavam agora.
Eu queria tirar o maior treinamento que já recebi e aprender com ele, ser melhor por causa dele.
Queria que ele deixasse de ser real.
Eu queria mil coisas diferentes conforme ficamos parada lá, mas acima de tudo, eu queria que a garota que tinha estado ao meu lado em Boston se virasse e percebesse que eu estava ao seu lado agora.
―Eu vi Charlie fazer isso,‖ eu disse, mas Macey não sorriu.
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―Você conversou com Preston?‖ tentei, mas seu olhar nunca oscilou.
―Macey, você quer conversar sobre isso?‖ perguntei, mas sua respiração continuou uniforme, seu olhar não se moveu.
―Macey,‖ eu tentei, ‖por favor, diga alguma coisa. Por favor diga—‖
―É bom,‖ disse ela conforme a brisa atrasada do verão soprou entre as árvores. ―Eu gosto disso. Gosto da água.‖
―Você não tem uma casa em Martha's Vineyard?‖ eu perguntei, imaginando como um barracão em um lago calmo poderia se comparar; mas Macey continuou fitando a quietude e falou, ―Isso é melhor.‖
―Nós vamos ter que responder perguntas. Vamos ter que ser muito cuidadosas com o que dissermos. Nós—‖
―Eles já me informaram,‖ disse Macey, seus olhos nunca deixando o horizonte. ―Essa parece ser uma casa segura.‖ Ela finalmente se virou para olhar para mim. ―Não parece segura, Cam?‖
―Sim, Macey,‖ eu disse suavemente. ―Parece.‖
Estava ficando tarde. Meu relógio interno tinha reiniciado, e algo na maneira como o sol mergulhou atrás das colinas cobertas de árvores que nos rodeavam por todos os lados me disse que já era quase oito horas.
―Está quase na hora,‖ disse Macey como se ela tivesse lido minha mente. "Eles estão vindo. Meus pais me querem com eles—‖
―Claro,‖ eu soltei.
―—na campanha eleitoral,‖ Macey terminou. Encarei-a, esquecendo minha dor de cabeça e dores musculares por um momento. Ela forçou um sorriso. ―Subimos dez pontos nas pesquisas.‖
Eu não sabia o que dizer, então não disse nada. Em vez disso, ficamos lá até que ouvimos a porta atrás de nós guinchar e bater. Um minuto depois um helicóptero apareceu no horizonte e mergulhou, suas lâminas giratórias enviando ondas através do lago calmo antes de pousar em algum lugar na floresta.
O vento ficou mais frio. Macey envolveu o braço bom em torno de si mesma e tremeu com a brisa, mas não se moveu do final da doca.
O nome dela estava provavelmente em todos os noticiários nos Estados Unidos. Não era difícil imaginar que, de volta em Boston, uma sala cheia de estagiários estava zumbindo sobre discursos que tinham que ser reescritos e comerciais remontados. A campanha tinha uma nova estrela — um novo ângulo. Mas tudo isso parecia um outro mundo, então eu fiquei ao lado de minha amiga e pensei pela primeira vez que Joe Solomon estava errado sobre alguma coisa.
Eu não tinha sofrido muito menos que Macey McHenry.
Não por pouca coisa.
CAPÍTULO CINCO
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Eu conheço os sons que minha escola faz — o guincho dos passos e o ranger de portas, as vozes silenciosas durante a semana final, o caos ruidoso do Grand Hall antes do jantar.
O primeiro dia de um novo ano tem um som próprio, conforme limusines descem a pista sinuosa e portas de carros batem, malas golpeiam contra corrimões, e garotas gritam e dão abraços de olá.
Mas o primeiro semestre do meu terceiro ano... Esse semestre começou com um sussurro tão calmo que eu quase não o ouvi.
―Macey está tendo o primeiro semestre de folga?‖ uma sênior perguntou a outra enquanto elas se reuniram no corredor fora da biblioteca.
―Eu ouvi que eles tiveram que amputar o braço de Macey e substituí-lo por um membro biônico que o Dr. Fibs fez em seu laboratório,‖ uma garota da oitava série disse quando eu passei pela porta de quarto comum delas.
Garotas Gallagher gastam seu tempo livre espalhadas pelos quatro cantos do mundo, mas naquele ano todas as meninas que voltaram das férias de verão trouxeram de volta as mesmas perguntas. Então eu continuei me movendo, vagando pelos silenciosos corredores como uma sombra, até o momento em que virei a esquina e Tina Walters correu até mim.
―Cammie!‖ Tina gritou, e na calma recém-encontrada da nossa escola, a palavra ecoou. Ela jogou os braços em volta de mim. ―Você está bem!‖ ela proclamou, depois reconsiderou. ―Você está bem, não está?‖
―É, Tina, estou—‖
―Porque eu ouvi que você matou um deles com um botão de campanha?‖
Tina é uma adolescente, uma espiã em treinamento e a única filha de um dos primeiros colunistas de fofocas do país, portanto não é de se surpreender que ela tenha teorias loucas. Um monte delas. O tempo todo. Mas naquele segundo, minha mente voltou ao telhado ensolarado. Eu vi as sombras das lâminas giratórias, senti as mãos que agarraram meus ombros e depois ouvi o grito aflito conforme espetei o botão dos Winters-McHenry em uma mão usando um anel que eu tinha certeza que tinha visto antes.
―Cam?‖ Tina perguntou, mas eu só balancei a cabeça.
―Sim, Tina.‖ Minha garganta estava estranha, conforme falei. ―Algo assim.‖
E então eu saí.
Quando você é conhecida como a Camaleoa, às vezes você pode sentir como se toda a sua vida fosse apenas um jogo elaborado de esconde-esconde. Felizmente, eu sou muito boa em se esconder. Infelizmente, minhas melhores amigas são muito boas em procurar.
―Cam!‖ alguém chamou entre as sombras. ―Nós sabemos que você está aqui.‖
A voz era suave e sulista, os passos tão delicados que eu sabia que só podiam ser de uma pessoa pequena o suficiente para rastejar sobre aquelas tábuas em particular sem fazer barulho.
―Ah, Cammie,‖ Liz praticamente cantou, conforme ela rastejou pelo corredor antigo que (eu acho) tinha sido uma parte muito importante da estrada de ferro subterrânea, e teve mais recentemente
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servido a um propósito secreto muito menos nobre.
―Achei que iríamos encontrar você aqui,‖ disse outra voz. Minha segunda companheira de quarto se empurrou para fora das sombras.
Se possível, acho que Liz tinha ficado ainda menor e Bex tinha ficado ainda mais bonita durante as férias de verão. Os cabelos loiros de Liz estavam quase totalmente brancos por passar todo o verão no sol. O sotaque de Bex estava mais forte, como sempre fica depois de passar meses com seus pais na Inglaterra. (Claro, Bex jurou ter gastado uma boa parcela de tempo realmente fazendo vigilância com o Serviço Secreto de Inteligência Britânico (MI6) em um país Africano que deve permanecer anônimo.) Sua pele escura brilhava e seu cabelo estava mais comprido do que estava no início do o verão.
―Não é um pouco cedo no semestre para se esconder, querida?‖ Bex tentou provocar. Eu tentei sorrir.
―O que me entregou?‖ perguntei.
―Padrões irregulares de poeira lá fora na entrada,‖ Bex falou. ―Você está ficando descuidada.‖ E então ela parou. A forte, corajosa Bex, pareceu recuar quando percebeu o que tinha dito, ―Eu não quis dizer...‖
―Está tudo bem, Bex,‖ eu disse a ela.
―Você não foi descuidada!‖ Bex deixou escapar novamente.
Então Liz pulou. ―Todo mundo está falando sobre como você estava ótima — sobre como, se você não estivesse lá...‖ Mas ela não terminou, o que foi simplesmente bom. Ninguém queria pensar em como essa frase tinha que acabar.
Bex deslizou para uma dos engradados virados e caixas que enchiam o lugar. ―Você já a viu?‖
―Não desde o dia seguinte. Levaram-nos para a casa do lago do Sr. Solomon, mas depois eles a levaram de volta para seus pais.‖
―Ela está voltando,‖ Liz perguntou. ―Não está?‖
―Eu não sei,‖ eu disse com um encolher de ombros.
―Quero dizer... eles não iriam querer que ela ficasse com eles o tempo todo, iriam? Eles a querem aqui, onde está segura?‖
―Eu não sei, Liz,‖ eu disse, mais afiada do que pretendia.
―Digo... Eu não sei se ela está voltando,‖ falei, mais suavemente. ―Eu não sei quem tentou fazer isso, por que ou... eu simplesmente não sei,‖ sussurrei novamente, então me virei para olhar pela pequena janela circular.
―Ela me convidou.‖ A voz de Bex cortou de voz através do silêncio. ―Antes da convenção, ela ligou para nosso apartamento e me pediu para vir, mas a minha mãe e meu pai estava em casa, e eu...‖ Bex falhou, não sabendo, eu acho que querer ficar com seus pais não é realmente um sinal de fraqueza.
―Eu deveria ter estado lá.‖ Ela não parecia invejosa sobre ter perdido um bom combate. Em vez disso, ela soou culpada.
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―Eu também,‖ disse Liz, se abaixando no chão empoeirado. ―Quando ela ligou, minha mãe disse que eu podia ir, mas eu só tinha mais alguns dias com meus pais, então falei não.‖
Eu assenti. Todas nós pensamos que tínhamos a melhor parte do ano para passar juntas, mas em qualquer vida — especialmente a vida de um espião — o amanhã nunca é garantido. E aí está — a coisa mais importante que qualquer uma de nós tinha aprendido em nossas férias de verão.
―Tina Walters disse que os pais de Macey tinham contratado um ex-SEAL3 da Marinha para posar como um Sherpa e esconder Macey no Himalaia até a eleição acabar,‖ Liz disse.
―Sim, bem, Tina Walters diz um monte de coisas. Tina Walters geralmente está errada,‖ respondeu Bex.
Mas pensei sobre quão perto Tina tinha estado com sua teoria do botão de campanha; lembrei-me de que Tina tinha dito há anos que havia uma escola de elite para garotos espiões, e todas nós pensávamos que era um boato maluco, até o semestre passado, quando uma delegação do Instituto Blackthorne tinha se mudado para a ala Leste, somente a poucos metros de onde estávamos sentadas agora.
Então eu olhei ao redor do espaço vazio e empoeirado e disse, ―Nem sempre.‖
Na primavera passada, descobrir quem aqueles meninos eram, e se podiam ou não ser confiáveis tinha parecido ser a missão mais importante de nossas vidas. Gráficos de resumos de vigilância e padrões de comportamentos ainda cobriam as paredes da nossa sede de operação anterior, mas a fita estava começando a perder a sua espera. Os fios ainda corriam para a Ala Leste, uma lembrança do dia em que os garotos do Instituto Blackthorne pareciam ser uma missão — de volta para quando as missões tinham sido acerca de nos preparar para o mundo real; antes que o mundo real nos encurralasse num terraço de Massachusetts.
Liz deve ter seguido o meu olhar e lido minha mente, porque eu a ouvi dizer, ―Você ouviu do... você sabe... Zach?‖
Eu pensei de volta no turbilhão de imagens que tinham enchido minha mente antes de eu ter apagado, e quase perguntei, ―Alucinações depois de uma lesão na cabeça contam?‖ Mas não perguntei por que
A) Eu posso muito bem ter ficado louca.
B) Para uma Garota Gallagher, ―Louca por um Garoto‖ pode ser o tipo mais perigoso de loucura.
Então ao invés eu me virei para olhar pela janela e vi a longa fila de limusines descendo a auto-estrada 10, trazendo minhas colegas de classe de volta para a segurança de nossos muros.
Era a mesma cena que eu testemunhava há anos — os mesmos carros, as mesmas garotas. Mas no instante seguinte, o cenário mudou totalmente. Vans — dezenas delas — se apressaram descendo a auto-estrada, derrapando em valas no lado da pista. Pessoas saíram correndo e começaram a ajustar antenas parabólicas e equipamentos. Helicópteros se juntaram ao redor da escola.
―Ah. Meu. Deus,‖ murmurei, ainda encarando, sentindo Bex e Liz se amontoarem ao redor da janela de cada lado de mim. Olhei para as minhas melhores amigas conforme sirenes começaram a chiar através do ar calmo e tranqüilo: ―CÓDIGO VERMELHO. CÓDIGO VERMELHO. CÓDIGO VERMELHO.‖
3 Um membro de uma unidade especial de Guerra Naval, que é treinado para a guerra não-conven- cional; Seal é um acrônimo para Sea Air and Land.
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―O que isso significa?‖ Liz gritou. Bex e eu apenas sorrimos.
―Macey está voltando para casa.‖
CAPÍTULO SEIS
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Não é preciso ser um gênio para saber que o mundo inteiro pode mudar em um instante, e assim que corri para fora da passagem secreta e para o corredor do segundo andar, eu podia ver, ouvir e sentir a diferença. Por dias os corredores pareciam como um túmulo. Mas agora, ao invés do silêncio de pedra, toda a escola estava em chamas (sem realmente queimar, claro).
Luzes vermelhas piscavam e ofuscavam. À minha direita, um cartaz anunciando a oportunidade de passar um semestre em Paris deslizou sobre uma demonstração de técnicas de escrita secreta usada através das eras (o que não era absolutamente necessário uma vez que, este mês, foi com tinta invisível).
Conforme nós passamos correndo pelo departamento de Criptografia e Codificação, eu vi a placa na porta de capotar para se transformar em Gabinete de Conexão com a Ivy League.
Nossa escola estava se encobrindo, puxando seus disfarces tão habilmente como qualquer agente experiente pode fazer, e conforme Bex, Liz, e eu corremos contra uma corrente de alunos da oitava série em nosso caminho para ficar de guarda fora do celeiro de Proteção e Aplicação, não pude evitar de sorrir. Afinal, fazia trezentos e sessenta e quatro dias desde que Macey tinha chegado a nós durante um Código Vermelho. Pareceu simplesmente apropriado ela voltar para nós em um.
Mas enquanto corremos pelo Hall da História, assisti a espada de Gillian Gallagher desaparecer no estojo que mantém o nosso mais profundo tesouro, e algo me bateu: não teríamos um Código Vermelho para Macey, estávamos tendo um Código Vermelho para Macey e quem que estivesse vindo com ela.
A porta do escritório da minha mãe se abriu. Dentro, eu vi a nossa diretora, vestindo seu melhor terno e uma expressão sombria. "Acho que estamos prontos para o nosso plano?" ela dizia.
Assim que entramos no escritório ouvi mais vozes.
"Agora a América espera por seu primeiro vislumbre de Macey McHenry, a corajosa jovem que tem recentemente sido introduzida aos holofotes — e ao perigo." (Evidentemente, uma das precauções do Código Vermelho para fazer o escritório da diretora parecer uma escola normal é adicionar uma TV.)
Bex folheou canal após canal até chegarmos à imagem que nos fez congelar.
"E aqui estamos," disse uma correspondente alta em um microfone enquanto passeava por um familiar trecho da Rodovia 10, "fora dos portões da Academia Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais, onde uma jovem excepcional estará voltando em breve, após o incidente mais traumático de sua vida. E a pergunta continua: Será que estas paredes serão suficientes para manter Macey McHenry segura?"
As sirenes finalmente pararam. Minha mãe disse, "Está na hora."
Ok, aqui está a coisa que você precisa saber sobre escolas de espiões — não se trata de escondê-las. Não. Porque, vamos encarar, escolas de espiões têm alunos, e os alunos têm pais, e os pais farão perguntas. De acordo com Liz, pais não-espiões são realmente grandes em questões óbvias como "Então, onde exatamente fica sua escola?" (Pais espiões muito mais provavelmente invadem um banco de dados do governo ou colocam um GPS no seu dente ou algo assim.) Em todo caso, você meio que precisa de uma escola real para apresentar ao mundo; mas como tudo na minha vida, minha escola não era exatamente o que parecia.
Seguindo minha mãe descendo as escadas, eu não pude evitar achar que a nossa primeira linha
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de defesa estava prestes a ser posta à prova, porque embora a Academia Gallagher nunca tenha estado exatamente escondida (é uma mansão enorme e colossal, afinal), minha escola nunca tinha ido à procura dos holofotes.
Quando Gillian Gallagher converteu a casa de sua família em uma escola onde jovens mulheres pudessem aprender as habilidades secretas que nenhum homem jamais iria ensinar, ela teve o bom senso de não colocar "A Academia Gallagher — Educando Operárias do Governo Desde 1865" na placa. Em vez disso ela chamou de uma escola final para as meninas mais marcantes do dia. Nosso disfarce evoluiu com os tempos, mas nossa missão final permaneceu a mesma: garantir que ninguém nunca saiba quão excepcionais realmente somos. O que, vamos admitir, é muito mais fácil quando não há duas dúzias de equipes de noticiários nacionais filmando todos seus movimentos.
Quando chegamos ao hall de entrada, eu poderia jurar que todo o corpo estudantil estava segurando a respiração enquanto minha mãe abriu a porta dupla e saiu.
Sol quente irradiou para baixo. Meu estômago rosnou, e por um segundo eu me perguntava o que nosso chefe estava fazendo para o jantar de boas-vindas de volta. Mas quando eu vi três grandes SUVs pretas entrando pelo portão, eu perdi totalmente o apetite.
"Serviço Secreto," minha mãe sussurrou para nós conforme eles começaram a descer a pista sinuosa. Lembrei-me que nem mesmo os protetores Macey saberiam o que nós realmente fazemos por trás de nossos muros.
Um homem de aparência eficiente com um toque de cinza salpicado em seu cabelo escuro desceu de um dos veículos e caminhou em nossa direção. "Sra. Morgan? Agente Hughes. Falamos ao telefone."
"Sim," disse minha mãe. "Você é o agente responsável pelos detalhes de segurança da família McHenry. Esse é o termo, não é?" perguntou ela, uma mão contra o peito como se esse fosse um território totalmente novo para ela.
O homem sorriu e balançou a cabeça. "Sim, senhora," disse a ela. "Agora, não quero que você se preocupe com nada. Nossos agentes serão responsáveis pela segurança da Srta. McHenry. Eles vão responder a quaisquer perguntas que você tiver e mantê-la informada do que o Serviço precisa de você. Ninguém está esperando que você pense como um profissional de segurança."
"Isso é um alívio," minha mãe disse a ele na voz mais absolutamente incrível e irônica que eu já ouvi. (Já mencionei ultimamente que a minha mãe é a MELHOR ESPIÃ DE TODOS OS TEMPOS?!)
"Ah, desculpe," disse minha mãe, olhando para o Agente Hughes e depois para nós. "Por favor me permita apresentar as colegas de quarto de Macey. Essa é Elizabeth Sutton e Rebecca Baxter, e minha filha, Cammie."
Mas o Agente de Hughes não estava ouvindo. Ele estava ocupado demais me encarando — a garota que quase nunca é encarada.
"Você estava no telhado?" perguntou ele, mas não era uma pergunta. Ele se aproximou; seu olhar passou pelo curativo na minha cabeça, depois procurou os meus olhos. "Não se preocupe com nada, mocinha. Nós vamos cuidar bem de todas vocês."
Eu assenti e olhei para longe, pensando no meu disfarce — eu devia parecer assustada, cansada e pronta para deixar que outra pessoa lutasse por Macey.
Lembrei-me então que os melhores disfarces sempre têm umas raízes de verdade.
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"E os muros circulam o terreno inteiro?" Agente Hughes perguntou conforme andávamos em torno do campus.
"Sim," minha mãe disse.
"De acordo com os diagramas, você tem mesmo câmeras de segurança?" Seu olhar derivou ao longo de nossos muros cobertos de hera.
"Sim," mamãe disse calmamente. "Algumas." (Na verdade, há 2.546, mas por razões óbvias ela não compartilhou isso.)
"Bem," o agente continuou, "tenho certeza que nossa equipe pode consultá-la sobre como" — ele parecia estar pensando em suas palavras — "apertar um pouco as coisas."
"Sim," disse a minha mãe com um olhar em minha direção — sua filha, que tinha deslizado entre as defesas da Academia Gallagher por anos. "Isso seria mais útil."
E então o pânico se postou. O Serviço Secreto iria "apertar" as coisas?
"Como a equipe avançada lhe disse na semana passada, colocaremos um dos nossos agentes com a Srta. McHenry."
O Serviço Secreto iria "colocar" pessoas?
"Tempo integral," Agente Hughes acrescentou. "Alguém para ir com ela para as aulas. Morar aqui. Acompanhá-la em todos os lugares para onde vai."
O Serviço Secreto iria nos "acompanhar" nos lugares?
Olhei para Bex e Liz, assistindo elas engolirem o mesmo terror que eu estava sentindo. Nossa escola tinha nos preparado para um monte de coisas, mas eu tinha que me perguntar se tinha nos preparado para algo como aquilo.
Mas as surpresas estavam apenas começando, porque depois a minha mãe sorriu e disse, "É claro."
O agente andou à frente, avaliando nossos terrenos, nossos muros, nossa vida. No final da nossa longa (e fortemente protegida) pista, antenas parabólicas subiam de caminhões de noticiários, prontos para emitir fotos de nossa escola no mundo todo, e eu sabia que a coisa mais perigosa em nossa história estava prestes a acontecer em frente aos olhos deste homem. E não havia nada que qualquer uma de nós pudesse fazer para impedir.
"Oh," Agente Hughes disse quando os portões se separaram para um último carro. "No horário certo."
A limusine se virou para a estrada, mas em vez de se aproximar da mansão, parou. Homens de terno escuro saíram do carro, e me lembrei como, um ano atrás, um carro exatamente como esse tinha trazido Macey para nós. Como déjà vu, o Senador e a Sra. McHenry desceram do banco de trás e ficaram parados entre os nossos grandes portões de pedra.
Eu podia ouvir a conversa dos repórteres na distância. As luzes de suas câmeras brilhavam mesmo no sol do verão. E então a porta do carro se abriu novamente. E o déjà vu acabou.
Um ano antes, Macey tinha saído do banco de trás de um carro quase idêntico, mas desta vez,
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ao invés de botas de combate, ela usava escarpins quase iguais aos de sua mãe. Sua saia curta e o piercing de diamante no nariz foram substituídos por modestas calças pretas, um suéter, e um eslingue.
No início eu esperava que sua roupa fosse a única diferença; mas quase não reconheci a garota que permitiu que sua mãe a abraçasse firmemente, que não protestou quando o pai pegou sua mão boa e levantou os punhos unidos para o céu.
Bex cortou-me com um olhar que dizia ‗Tem certeza que é você quem teve traumatismo craniano?‘ mas eu só assisti os três McHenrys se empurrarem contra as câmeras e as perguntas e começaram vir em direção da escola.
De volta para nós. Eu pensei sobre a garota que tinha chegado aqui no outono passado e aquela que tinha deixado na primavera passada e, finalmente, na jovem que tinha estremecido em um lago, e fiquei imaginando qual das identidades secretas Macey ia ser agora.
À medida que eles se aproximavam, eu esperei que ela olhasse para mim e desse aquele sorriso malicioso que tinha me dado fora da suíte de seus pais em Boston, mas quando dei um passo à frente, um amplo corpo de terno escuro se moveu para bloquear meu caminho.
"Desculpe-me, senhorita," disse o agente do Serviço Secreto. Foi a primeira vez que algum deles tinha me visto como uma ameaça, mas eu não tomei isso como um elogio.
Atrás de mim, ouvi minha mãe dizer, "Senador, Sra. McHenry, é tão bom vê-los novamente. Só lamento ter que ser sob circunstâncias tão preocupantes." Ela apontou para as portas da frente. "Vocês não vão entrar?"
Exatamente quando me senti sendo empurrada para fora da imagem, a procissão parou. O Senador da Virgínia deu um passo em minha direção e falou, "Cammie?" Ele colocou as mãos grandes em meus ombros, segurando firmemente.
"Obrigado," disse ele, e eu podia jurar que ouvi sua voz falhar. Quando ele olhou nos meus olhos, eu não pude evitar: senti meus lábios tremerem. Minha visão embaçou. Foi fácil lembrar como é a sensação de ter um pai conforme o senador sussurrou, "E eu sinto muito."
Esse podia ter sido o momento mais doce e genuíno na história da família McHenry, se a mãe de Macey não tivesse, em seguida, se virado para sua filha e sussurrado, "Vá ao banheiro e coloque um pouco de corretivo sobre isso."
Ela apontou para o machucado no canto do olho de Macey. "Sério," disse ela à filha, "não há nenhuma necessidade de parecer como um bandido de rua comum mesmo quando não há câmeras por aí."
E, assim, o momento terminou.
CAPÍTULO SETE
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Existem muitas coisas para amar em relação ao jantar de boas vindas de volta.
1. Ouvir o que todo mundo fez durante suas férias de verão (o que é provavelmente muito mais interessante em uma escola onde há uma possibilidade muito boa das histórias incluírem tiros de verdade).
2. O fato de que mesmo que Vovó Morgan faça provavelmente o melhor frango e bolinhos em todo o mundo, nosso chefe costumava trabalhar na Casa Branca, e às vezes uma menina apenas precisa de um pouco de crème brûlée.
3. Fofoca.
Mas naquela noite, nem uma, nem duas realmente poderiam prender uma vela de três. De jeito nenhum.
―Então, Cammie,‖ Tina Walters disse conforme se espremeu para o banco a minha frente, apertando Liz e Anna Fetterman juntas, ―eu ouvi que você colocou três deles no hospital.‖
―Tina,‖ eu suspirei, ―não foi assim.‖
Eva Alvarez estava tentando assinar o elenco de Macey, o que foi difícil porque o gerente de campanha não queria nada para obscurecer o enorme adesivo Winters-McHenry já colado no antebraço de Macey. Bex estava escolhendo um dos baguetes da cesta em cima da mesa (apesar de que os professores não tinham feito a sua entrada ainda e, portanto, comer podia ser punível com a morte — ou pelo menos algum sério dever de casa extra de Cultura e Assimilação se Madame Dabney te pegar.)
―E, Macey‖ — Tina rodopiou para a menina ao meu lado — ―rumores dizem que você foi vista em uma posição comprometedora com um certo futuro primeiro filho.‖
E com isso, tudo ficou calmo novamente.
Toda a classe do terceiro ano se virou e olhou, mas eu continuei fazendo exatamente o que fazia: estudar Macey. A esnobe que tinha vindo para nós um ano antes teria zombado; a menina que tinha coberto dois anos de trabalho de criptografia avançada em nove meses podia ter revirado os olhos; mas a garota ao meu lado simplesmente disse, ―Alguém precisa de fontes melhores.‖
Havia sido a primeira vez que ela tinha falado, e algo em seu tom me fez pensar se a menina à beira do lago havia desaparecido para sempre ou não.
―Então, quem acha que vamos ter que ficar em Código Vermelho por todo o semestre?‖ Anna Fetterman perguntou, nem mesmo tentando disfarçar o medo em sua voz.
Minhas colegas de quarto e eu nos entreolhamos, a cena que nós testemunhamos lá fora jogando por todos os nossos rostos.
―Bem, eles vão te dar um agente do Serviço Secreto em tempo integral, não é?‖ Tina perguntou.
Macey assentiu.
―Talvez o Serviço Secreto... você sabe‖ — Liz hesitou e depois baixou a voz para um sussurro — ―saiba.‖
Mas tudo que eu conseguia pensar era nos agentes que haviam me interrogado depois de
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Boston, as mentiras que tive dizer para manter nosso segredo seguro.
―Mamãe não,‖ comecei. ―Ela não concordaria com isso.‖
―Seria um teste muito bom, porém, não seria?‖ Bex perguntou.
Eu podia dizer pelo tom da sua voz que ela já estava se preparando para o desafio — o pensamento de trazer o mundo exterior para dentro de nossos muros, o perigo, o risco, a possibilidade de deixar um membro do Serviço Secreto dos Estados Unidos inconsciente em algum momento durante o semestre.
―E se você receber um agente homem?‖ Courtney Bauer entrou na conversa. ―Todos os caras do Serviço Secreto não são realmente gatos?"
―Eles são bons,‖ disse Macey indiferente, como se tivesse visto outros mais gatos (e eu tenho certeza que ela tinha).
―E se ele for tipo, gato como o Sr. Solomon?‖ Anna perguntou e em seguida corou.
Por mais que eu quisesse me juntar e me sentir animada com um possível (gato) recém-chegado, tudo que eu conseguia pensar era que já havia um risco e um perigo muito grande. Lembrei-me da sensação no meu estômago enquanto o elevador nos levava para o telhado em Boston. Eu poderia ter impedido naquele momento. Se eu tivesse ficado focada, se minha mente tivesse estado em qualquer lugar menos em um certo garoto, minha escola e minha irmandade ainda poderiam estar seguras. Mas em vez disso, uma geração de gênios estava sentada em torno de pãezinhos e discutindo os bíceps teóricos da pessoa que pode comprometer todo o nosso estilo de vida (e se ele iria ou não realmente levar um tiro por Macey se a necessidade surgisse).
De repente as portas na parte de trás do salão se abriram, e minha mãe apareceu, levando os nossos professores para baixo no centro do enorme salão.
Eu vi o novo rosto do Sr. Smith, o nosso instrutor de Países do Mundo, que é um dos mais paranóicos operários do governo do planeta e escolhe para provar isso conseguindo um rosto novo a cada ano durante as férias de verão. Eu ouvi a murmuração de mais de uma centena de adolescentes conforme perceberam que este ano o rosto novo do Sr. Smith era... bonito.
E depois um silêncio atravessou a multidão, porque os nossos professores não estavam sozinhos.
Os pais de Macey estavam andando pela porta, acenando e dando apertos de mão, seguidos por um membro do Serviço Secreto dos Estados Unidos. Tenho certeza que se houvesse qualquer bebê para beijar, o Senador teria feito isso.
Há um monte de coisas assustadoras em uma Garota Gallagher, mas ter pessoas que não pertencem a nossa escola, andar dentro dela, está no topo da lista. E eu sabia que estávamos sendo recebidas de volta a uma escola muito diferente.
―Ooh,‖ disse Liz ao meu lado. Com os olhos arregalados, ela assistiu os pais de Macey cumprimentarem nossa professora de Cultura e Assimilação, Madame Dabney.
Do outro lado da mesa, Bex riu e sussurrou, ―Teste surpresa?‖
―Bem-vindas de volta, senhoritas,‖ disse minha mãe na frente do salão. ―Eu posso dizer honestamente que nunca me senti tão feliz em ter todas vocês aqui...‖ Ela parou; seu olhar varreu a sala, que instantaneamente ficou escura conforme o sol caía no horizonte. Se eu não a
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conhecesse melhor, eu podia jurar que ouvi a voz de minha mãe falhar conforme terminou, ―sãs e salvas.‖
Ninguém sussurrou. Ninguém riu ou brincou. O que havia acontecido com Macey (e comigo) não tinha sido um conto selvagem que tínhamos trazido de volta das nossas férias de verão. Foi real. E ninguém teve vontade de rir mais.
―Como vocês sabem, os olhos do mundo estão agora em cima da Academia Gallagher,‖ Mamãe continuou. Eu não pude evitar de lançar um olhar para os McHenrys para ver se eles adivinhavam o significado secreto da minha mãe, mas os dois continuavam assentindo o mesmo aceno sombrio que deve ser a segunda natureza de alguém com seu nome em uma cédula.
―Temos que aprender e perseverar. Temos que ser cuidadosas e corajosas. E o mais importante‖ — naquele momento pareceu que uma centena de garotas se sentaram um pouco mais reto, literalmente subindo para o desafio — ―devemos proteger nossa irmandade.‖ Sua voz ficou um pouco mais forte. ―E nossas irmãs.‖
Eu não sei ao certo quantas Garotas Gallagher ativas existem no mundo. Centenas. Milhares. Nós desaparecemos na sociedade e fazemos nosso trabalho sem uma palavra de agradecimento ou qualquer esperança de louvor. Eu posso ser a Camaleoa, mas na verdade, toda Garota Gallagher tem que ser um tanto invisível. No entanto, agora estávamos todas no centro das atenções.
―Há coisas que se esperam de nós,‖ minha mãe continuou. ―Por essa razão, haverá algumas mudanças neste semestre.‖
Um sopro ligeiro atravessou a multidão.
―Lições AM serão dadas dentro da segurança da mansão.‖ Senador McHenry assentiu com a cabeça como se esta parecesse uma boa idéia, não realmente entendendo quão bom, considerando que um paparazzo com uma lente telefotográfica pudesse ter algumas dúvidas, se alguma vez ele viu uma adolescente praticando um perfeito Forenstyl Flip em um membro da equipe de manutenção de 130 quilos.
―Além disso, já que a nossa aluna mais notável do momento está preocupada, estaremos impondo uma estrita política de não comentar,‖ Mamãe continuou.
―Estejam preparadas, senhoritas. As pessoas vão querer saber como Macey está lidando.‖ Olhei para a garota ao meu lado, me perguntando a mesma coisa. ―Mas não vão ouvir de nós.‖
Garotas Gallagher guardam segredos — é o que fazemos. E essa missão nunca pareceu tão pessoal.
―E talvez a maior mudança de todas,‖ mamãe disse lentamente. Eu senti o salão se inclinar. ―Este semestre iremos receber um membro da segurança dos McHenry nesta escola para a proteção de Macey.‖
Eu não posso jurar isso ou qualquer coisa, mas por um segundo os olhos dela se fecharam sobre mim.
―A segurança de Macey McHenry não vai mudar o que e como aprendemos. Para esse fim, vamos saudar a Agente Abigail Cameron, que será responsável pelos detalhes de segurança da Srta. McHenry.‖
A sala em torno de mim se encheu de ruídos e movimentos, mas em minha mente, as coisas
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ficaram subitamente calmas e lentas. Uma mulher com longos cabelos escuros e lindos olhos verdes apareceu na parte de trás do salão.
―Por acaso, a Agente Cameron é uma graduada da Academia Gallagher e, portanto, unicamente qualificada para dar a Macey a melhor proteção possível.‖
Eu sei, tendo aprimorado minha leitura labial no semestre anterior, que o salão foi um coro de ―Uau, ela é bonita‖ e ―Espere, quem é essa?‖
Eu sei que toda Garota Gallagher no Grand Hall estava olhando para a mulher andando pelo salão, pensando. ‗Essa é a nossa irmã‘.
Mas eu não.
Tudo que eu pude fazer foi encará-la e sussurrar, ―Tia Abby?‖
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CAPÍTULO OITO
Quando você passou quatro anos vivendo com uma certa agente secreta em treinamento Britânica que ama praticar ataques espontâneos e manobras de auto-defesa enquanto você escova os seus dentes, precisa de muita coisa para baixar sua guarda. Então eu gosto de me considerar como o tipo de pessoa que pode manter uma expressão estável durante qualquer coisa. Ou... bem... quase qualquer coisa.
Eu tentei me lembrar da última vez que vi a irmã de minha mãe — não desde antes de mamãe deixar a CIA, não desde antes de eu começar a estudar aqui. Não desde antes... de meu Pai. E ainda assim ali estava ela, a seis metros de distância e andando para mais perto.
Seu cabelo estava mais longo do que eu me lembrava, passavam seus ombros agora. Ela ainda era magra e atlética, mas parecia menor de alguma maneira, e depois, gênio como sou, percebi que talvez eu esteja simplesmente mais alta.
―Ei, Cam,‖ Bex sussurrou, me espetando nas costelas, ―Cameron não é o nome de solteira da sua mãe?‖
―É,‖ murmurei como se isso fosse apenas uma grande coincidência.
Eu estudei cada movimento dela conforme se moveu entre as mesas; ela era a personificação do que cada garota naquele salão queria ser quando crescesse.
―Ela parece meio... familiar,‖ disse Liz, e eu quase podia ouvir sua mente trabalhando, engrenagens girando, como se o rosto de minha tia fosse um código que ela estava tentando quebrar.
Então Abby piscou para mim, e, para Bex, as peças se encaixaram. ―Sem chance!‖ Ela apontava entre minha tia e minha mãe como se memorizasse cada detalhe de suas semelhanças de família inconfundíveis. ―Aquela é sua tia—‖
―Shhh!‖ Sussurrei, cortando-a. Afinal, Tina Walter estava apenas a poucos metros de distância; os McHenrys e o Agente Hughes estavam na frente do salão; havia pelo menos uma dúzia de razões do porque essa não era uma boa hora para rodar toda a árvore genealógica de Cameron, não menos do que era que eu estava já muito notada por lá mais do que qualquer camaleão deve legitimamente ser.
Minha mãe era a diretora.
Eu tinha tido um relacionamento (meio que) ilegal com um garoto normal que tinha colidido (literalmente) em minha prova de Operações Secretas no último dezembro.
E a última vez que diversos membros do corpo estudantil tinham me visto, eu estava beijando um garoto da escola de espiões rivais no meio do hall de entrada durante a semana das provas finais.
Eu não era invisível mais. E algo me disse que ter minha tia liderando os detalhes de segurança de Macey não ia ajudar na questão. De maneira alguma. Porque mesmo que eu não a tenha visto há anos, tenho certeza que se há uma coisa que Abby não é, é invisível.
―Cam,‖ a voz de Liz era suave. ―Você parece como se tivesse visto um fantasma.‖
Tia Abby finalmente chegou à frente do salão, e eu apenas sentei lá me sentindo talvez como... eu sempre me senti.
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QUESTÕES QUE EU NUNCA QUERIA OUVIR NOVAMENTE DEPOIS DAQUELA NOITE:
1. Zach ligou/escreveu/arrombou e/ou colocou escutas na casa dos meus avôs durante as férias de verão? (Porque a resposta era não.)
2. Eu sabia que os canais de notícias somente mostram a parte da matéria do ataque em Boston, mas aconteceu de ser a parte onde minha saia subiu? Subiu! (Porque, infelizmente, a resposta era algo que eu não podia esquecer.
3. Eu achei que o novo rosto do Sr. Smith o fez parecer meio que... gato? (Porque Smith e gato eram duas palavras que eu nunca queria ouvir juntas novamente.)
4. Onde Tia Abby trabalhava? (Porque eu não sabia.)
5. O que Tia Abby tinha feito? (Porque eu não podia sequer adivinhar.)
6. Porque uma operária no auge de sua carreira sairia do campo para assumir os detalhes de segurança de Macey, quando havia muito mais operárias do quarto ano que dariam tudo para manter uma delas salva? (Porque eu não queria pensar nisso.)
―Qual é, Cam,‖ Liz pretextou na manhã seguinte, a falta de inteligência significativa finalmente pesando sobre ela. ―Ela é sua tia. Você tem que saber alguma coisa.‖
Eu somente dei de ombros. ―Liz, ela é uma agente secreta disfarçada — você sabe como é.
Liz me fitou sem expressão, mas Bex assentiu. Afinal, seus pais estavam com o Serviço Secreto de Inteligência Britânico, então ela sabia. Melhor do que ninguém.
―Você acha que ela irá lecionar alguma aula?‖ Liz agarrou seu projeto de crédito extra do Sr. Mosckowitz como se sua vida dependesse dele (porque, quando você é Liz, sua vida meio que depende). ―Eu tentei invadir Langley, e tudo sobre ela era confidencial. Digo, seriamente confi — Ai!‖ Liz gritou.
Eu não sei como ela fez isso, mas Elizabeth Sutton, a Garota Gallagher mais inteligente talvez em toda a história das Garotas Gallagher, tinha acabado de cortar seu queixo com um clip de papel.
Bex riu. Liz sangrou (mas só um pouco). Meu estômago roncou, e eu senti o relógio dentro de mim batendo novamente, me dizendo que estava na hora, então agarrei minha bolsa e chamei, ―Vamos. Não queremos estar atrasadas.‖
Eu já estava no corredor antes de perceber que alguém estava faltando.
―Macey!‖ Eu gritei, puxando a porta do banheiro. ―Estamos descendo para—‖ Mas não pude terminar. Porque Macey McHenry, a garota com a aparência física tão perfeita que uma modelo se sentiria inferior, estava trocando de roupas no banheiro. E então eu vi o porquê.
Uma ferida cobria seu lado inteiro, reflexos verdes sangrando em roxo. Seu cotovelo ainda estava inchado duas vezes o normal. Eu não precisava ouvir o estremecer dela para saber quanto doía, e ainda assim o olhar em seu rosto de me ver testemunhando sua vulnerabilidade era a coisa mais dolorosa de tudo. O orgulho de Macey era a única coisa que tinha saído ilesa, e ela iria protegê-lo nem mesmo que a matasse.
―Cam!‖ Bex gritou lá de fora. ―Estamos famintas!‖
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―Podem ir,‖ falei, meus olhos ainda presos com os de Macey no espelho.
―Macey não quer me deixar sair sem delineador.‖ Essa deve ter sido uma história acreditável, porque a porta se fechou. A suíte ficou quieta, e Macey se virou.
Sem palavras, ela estendeu seu braço para mim, e eu deslizei a manga de sua camisa. Ela se virou de volta para o espelho, mas não encontrou mais meus olhos quando disse, ―Ninguém descobre.‖
Bex teria achado isso legal. Liz teria calculado a quantidade exata de força necessária para fazer aquele tipo de estrago. Feridas como aquela valeriam uma semana de trabalho por crédito extra em P&A. Mas Macey não queria ouvir essas coisas. E eu também não, porque eu não queria dizê-las.
Então a ajudei com o suéter da escola me perguntando:
7. Eu achava que Macey estava bem? (Porque eu era a única que parecia estar se perguntando isso.)
Em algum momento durante a noite nossa escola deve ter se revertido. O Código Vermelho tinha acabado. O Senador e sua comitiva tinham ido embora. Estantes e pinturas tinham se virado novamente, e no Hall de História, a espada de Gilly estava brilhando em seu estojo protetor.
Tudo parecia certo. Tudo parecia normal. Depois ouvi uma voz que eu não ouvia há muito tempo dizer, ―Ei, baixinha.‖
Minha mãe me chama de criança. Minhas amigas me chamam de Cam. Zach me chamava de Garota Gallagher. Mas nenhum apelido na história nunca teve o mesmo efeito em mim tanto quanto ―Baixinha.‖ Eu de repente senti o impulso de me virar muito, muito rápido e comer algodão doce até ficar doente. Mas ao invés eu somente disse, ―Oi.‖
―Alguém cresceu.‖
―Tenho dezesseis anos,‖ eu disse, o que era provavelmente a coisa mais estúpida de se dizer, mas não pude evitar. Até mesmo gênios têm o direito de ser estúpidos às vezes. Senti Bex e Liz virem do Grand Hall e pararem ao meu lado.
―Gente, essa é‖ — olhei para ela, me perguntando como ela podia parecer exatamente a mesma coisa quando quase tudo na minha vida estava diferente — ―Tia Abby?‖ Saiu como uma pergunta, mas não era.
―Não me diga,‖ minha tia disse conforme se virou para Bex, ―você deve ser uma Baxter.‖
Bex irradiou. Não importava se as duas nunca tivessem se conhecido antes. Minha tia nunca esperava em apresentações. O que estava tudo bem — Bex nunca esperava nada. ―Então como está o seu pai?‖
―Ele está ótimo,‖ Bex falou com uma risada.
Abby piscou. ―Faça-me um favor e diga a ele que Dubai no Natal não é divertida sem ele.‖
Ao meu lado, eu podia praticamente sentir a mente de Bex girando fora de controle, se perguntando sobre Dubai em dezembro. Mas Abby não ofereceu detalhes; em vez disso ela somente se virou para Liz.
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―Oooh,‖ Abby falou conforme examinou o corte fresco no queixo dela. ―Clip de papel?‖ perguntou.
Os olhos de Liz se arregalaram mais. ―Como você sabe disso?‖
Abby deu de ombros. ―Eu vi coisas.‖
Eu relembrei da cabana do Sr. Solomon. Sempre que ele e minha mãe falavam sobre as coisas que viram e fizeram, eu queria esconder os detalhes de suas vidas. Mas enquanto Abby falou, nós pegamos cada palavra.
―Fibs ainda tem aquele protótipo PeleNova em seu laboratório?‖ minha tia perguntou.
―Aquilo não é um pouco‖ — Liz começou — ―forte?‖ (Cujo era um pouco atenuado, desde que eu sabia que de fato a Academia Gallagher desenvolveu o PeleNova depois de uma aluna da oitava série ter caído em um tanque de nitrogênio líquido.)
Abby deu de ombros. ―Não se você misturá-lo com um pouco de babosa. Esfregue um pouco daquilo, e de jeito algum deixará uma cicatriz.‖
―Sério?‖ Bex e Liz perguntaram exatamente ao mesmo tempo.
Abby se inclinou para a luz. ―Isso parece com o rosto de uma mulher que sobreviveu a uma luta de facas em Buenos Aires?‖
Cada garota no hall de entrada (naquele momento já havia algumas) se esticaram para olhar para sua pele de porcelana impecável.
―Essa não é uma boa idéia, Srta. McHenry,‖ minha tia disse, sobressaltando suas admiradoras. Virei-me e vi Macey alcançando as portas da frente, e percebi que Abby tinha sentido ela sem sequer se virar. E assim rapidamente sua pele parou de ser a coisa mais incrível nela.
―Eu não tomo café da manhã,‖ Macey disse. (O que era mentira, mas eu não disse isso.) ―Eu vou dar uma volta.‖
Ao som das palavras ―café da manhã,‖ as garotas no hall de entrada pareceram se lembrar que tinham passado o verão inteiro sem ter o acesso às waffles do nosso chef Bélgico. Elas se removeram, uma por uma, até que havia somente eu, minhas três melhores amigas no mundo, e a mulher que me ensinara como usar uma corda de pular para paralisar temporariamente um homem quando eu tinha sete anos.
Ela deu um passo na direção de Macey. ―A divisão de segurança notou dois helicópteros na vizinhança essa manhã — provavelmente paparazzis procurando por fotos suas — mas até tivermos certeza...‖
Ela deslizou entre sua protegida e a porta. ―Você não pode ir lá fora. Sinto muito.‖ Ela adicionou a última parte depois, como se pensasse melhor.
―Esse não é o porquê de você estar aqui?‖ Macey a lembrou e deu um passo em direção a porta novamente, mas Abby casualmente a cortou.
―Na verdade, esse é o porquê de eu estar aqui.‖ Abby apontou para seus pés e se inclinou contra a porta. Podia ter sido um gesto casual de outra pessoa, em outro lugar. Mas quando olhei de minha tia para Macey, percebi que elas eram fortes. Eram espertas. Ambas costumavam ser as garotas mais bonitas no lugar. A última vez que tive uma sensação como essa, envolvia o laboratório do Dr. Fibs e dois químicos que eram ambos potentes e voláteis, e não gostavam de
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serem postos juntos sob pressão.
―Regra número um, senhoritas,‖ minha tia falou. ―Sejam descuidadas... sejam apanhadas.‖
Conforme ela saiu, Bex agarrou meu braço e fez uma careta, ―Ela é impressionante!‖
Então, sem se virar, Abby gritou, ―Eu sei.‖
O resto da manhã foi um borrão.
Macey estava na sala do terceiro ano em Países do Mundo, então se sentou bem ao meu lado enquanto o Sr. Smith falou por quarenta e cinco minutos sobre os prós e contras de fazer sua cirurgia plástica com as facilidades aprovadas da CIA. (Evidentemente, o trabalho é de alta qualidade, mas desde que eles tecnicamente não ―existem,‖ a papelada do seguro é um pesadelo!).
Madame Dabney deu uma aula de reciclagem agradável e relaxante no básico: ou seja, identificando cada pedaço em um lugar definido de vinte pedaços (e os melhores métodos correspondentes no qual cada utensílio pode ser usado como uma arma).
As coisas pareciam perfeitamente normais conforme começamos a descer as grandes escadas e Liz se dirigiu ao laboratório do Dr. Fibs no porão.
―Até logo!‖ ela gritou, o que estava bem.
Eu me acostumei com a idéia de que Liz seria destinada a trajetória de pesquisas e operações, enquanto Bex e eu estávamos treinando para uma vida no campo.
Não foi até eu ouvir Macey dizer, ―Vejo vocês no almoço,‖ então me lembrei que ela ainda estava atrás do resto de nós, academicamente.
Conforme ela foi para a aula do primeiro ano de crepitação lecionada pelo Sr. Mosckowitz, Bex e eu nos movemos para a passagem pequena embaixo da grande escada e entramos atrás de um espelho de moldura dourada. Um feixe de laiser examinou nossos rostos, lendo nossa imagem da retina. Os olhos da pintura atrás de nós se tornaram verdes, e um espelho escorregou de lado, revelando o elevador para as mais secretas salas de aula da escola mais secreta do país.
Mas eu não senti nenhuma agitação. Eu não estava pensando sobre testes surpresa ou como o Sr. Solomon estava como naquela última vez quando fazíamos exercícios de reconhecimento de vastidão e ele enrolou suas mangas.
Ao invés eu somente disse, ―Bex,‖ e esperei pelo ―É‖ da minha melhor amiga.
―Estou preocupada com Macey.‖
―Por quê?‖ Bex perguntou, pressionando sua palma contra o vidro dentro do elevador. ―Ela parece bem para mim.‖
Posicionei minha palma ao lado da de minha melhor amiga. ―Isso é o que me preocupa.‖
Bex é negra e eu sou branca. Ela é bonita e eu sou natural. Ela cresceu em Londres e eu passei meus verões em um rancho no meio do nada. Ela nasceu para a briga e eu para o vôo. Mas do jeito que ela olhou para mim, me lembrou que Bex e eu éramos parecidas em todos os aspectos que importavam.
―Eu sei de algo que fará você se sentir melhor,‖ ela disse.
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―O que?‖ perguntei conforme o elevador a nossa volta deu um estrondo para um início. Minha palma ficou quente e eu tirei minha mão do vidro. Uma luz estranha e diferente de tudo o que eu já tinha visto preencheu o elevador, e através de um brilho roxo misterioso, minha melhor amiga sorriu.
―Estamos prestes a ver o Subnível Dois.‖
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CAPÍTULO NOVE
Quando você é a primeira Garota Gallagher desde a própria Gilly a encontrar e usar a passagem atrás do corredor do terceiro andar que contém um milhão de dólares em moedas partidárias, você pode começar a pensar que a mansão Gallagher não pode te surpreender mais.
Mas você estará errada.
O elevador parou. Eu sabia que as portas estavam prestes a deslizarem abertas e revelarem o lugar mais secreto que já vimos. Segurei minha respiração, esperando. Então de repente o elevador se empurrou para trás, nos jogando contra as portas.
―Cam,‖ Bex disse conforme fomos lançadas pelo menos trinta metros pelo subsolo. ―Isso deveria ser—‖ ela começou, mas de repente fomos mergulhadas para baixo novamente.
Nós paramos. ―DNA PRESENTE, POR FAVOR,‖ uma voz mecânica soou dentro do elevador. Uma fresta estreita apareceu no invólucro de aço inoxidável. Era exatamente do tamanho de um dedo, então eu alcancei para tocá-lo.
―Ai!‖ Eu gritei. Um pequeno alfinete tinha me picado. Então ele desapareceu, e uma agulha nova o substituiu. Uma pequena gota de sangue borbulhou no topo do meu dedo.
―Sem chance,‖ Bex disse, balançando sua cabeça enfaticamente. (E foi assim que eu aprendi que a garota que uma vez tinha se vangloriado por dominar uma luta de espadas com um traficante de armas no Cairo no recesso de primavera, tinha medo de agulhas.)
―DNA PRESENTE, POR FAVOR,‖ a voz exigiu novamente, dessa vez soando levemente menos paciente, então Bex colocou seu dedo no momento em que o elevador parou.
As portas se abriram... e eu soube que nada no Subnível Um tinha me preparado para o Subnível Dois.
Fazia quase exatamente um ano desde que Bex e eu tínhamos botado os olhos no Subnível Um. Lá as paredes eram feitas de aço inoxidável e vidro fosco. Nossos passos ecoavam. Eu sempre levava um suéter. Tudo lá era calmo e moderno, como entrar no futuro — nosso futuro. Mas entrar no Subnível Dois... não era.
A minha volta, outras portas de elevador se abriram; outras garotas com dedos sangrando estavam pisando sobre pisos de tábuas grossas de carvalho rangentes.
O forro era um quebra-cabeça de pedra grossa e vigas pesadas, e conforme eu alcancei para tocar as paredes de pedra, percebi que não havia costuras. Nem argamassa. Só uma quantia indeterminável de calcário e terra nos separando do mundo lá fora.
Minhas colegas se mexeram e viraram, ocupadas demais observando cuidadosamente o espaço pouco iluminado para perceberem o homem que saiu das sombras e disse, ―Bem vindas ao Subnível Dois.‖
Ele se virou e começou a descer os pisos levemente inclinados, nos levando para uma espiral regular.
―Eu altamente recomendo que prestem atenção, senhoritas,‖ Sr. Solomon instruiu. ―O primeiro dia é o último dia que terão um guia.‖
Corredores se ramificaram da passarela em espiral para um labirinto de pedra. Passamos por
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portas arqueadas, e a inclinação ficou íngreme. Um amplo corredor estava rotulado, simplesmente, ARMAZÉM, mas as portas que revestiam o corredor estavam marcadas com tudo desde F, FALSAS OPERAÇÕES DE BANDEIRA; H, HITTLER, SUAS TENTATIVAS DE ASSASSINATOS. Eu sempre ouvi sobre os segredos serem trancados em pedra, mas nunca tinha os visto com meus próprios olhos até agora.
Andamos pelo que pareceram ser cinco minutos. O ar a nossa volta estava úmido e calmo, e ainda assim algo me disse que mesmo na intenção do inverno ou calor do verão a temperatura nunca variaria mais do que três graus.
E então finalmente Joe Solomon parou. Enquanto demos um passo para um piso de pedra sólida, olhei para trás para a passarela em espiral — para os corredores que se ramificavam como um labirinto — e de repente senti pena do agente inimigo que alguma vez foi tolo o suficiente para tentar penetrar esse estoque de conhecimento secreto. E finalmente sorri, me perguntando o que na terra (ou sob ela) poderia residir no Subnível Três.
―Operações Secretas,‖ Sr. Solomon andou por um conjunto de enormes portas duplas para uma sala duas vezes maior do que a biblioteca da mansão acima de nós. Tal como na biblioteca, uma passarela no segundo andar circulava a sala, e mesas de madeira antiquadas estavam arrumadas em forma de U pelo piso.
―O serviço clandestino...‖ nosso professor continuou falando conforme toda a turma do terceiro ano de Operações Secretas se apressou para pegar uma cadeira.
―É uma vida estando onde você não devia estar — de fazer o que você não devia fazer.‖
Havia uma cadeira de madeira na frente da sala, mas em vez de se sentar, ele agarrou as costas dela com ambas as mãos. Era a primeira coisa em Operações Secretas que pareceu familiar.
―Isso significa entrar, senhoritas.‖ Ele vasculhou a sala. ―E mais importante, significa sair.‖
Eu pensei em hotéis e chutes na lavanderia, e por um segundo minha cabeça doeu. Senti-me um pouco atordoada conforme nosso professor dizia, ―Extrações são definidas por dois fatores, Srta. Baxter. Nomeie-as.‖
―Elas acontecem em territórios hostis,‖ disse Bex.
―Correto,‖ Sr. Solomon respondeu, dando um passo. Ele escreveu a resposta de Bex em um antigo quadro de giz rolante na frente da sala. ―Essa é uma das qualificações para extração. Srta. Fetterman, qual é a segunda?‖
Conforme esperamos pela resposta de Anna, ouvi o giz contra o quadro. Tudo ficava mais alto aqui, especialmente a voz límpida e luminosa que disse, ―Ninguém nunca sabe sobre ela.‖
Todas as cabeças se viraram. Eu nunca tinha visto alguém dominar uma sala mais facilmente que Tia Abby ,quando disse, ―Você ensina, Joe?‖
Oh. Meu. Deus.
Talvez fosse a espiã em mim... ou a garota em mim... ou a sobrinha em mim... mas quando Tia Abby posicionou sua mão em seu quadril, eu podia ter jurado que estava fazendo algo que eu nunca achei que qualquer Garota Gallagher ousaria fazer: flertar com Joe Solomon!
―Agente Cameron,‖ Sr. Solomon disse. ―Que bom que você pôde se juntar a nós. A turma do terceiro ano...‖ Ele apontou em nossa direção. Tia Abby acenou com dois dedos.
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―Olá, garotas.‖
―... e eu estávamos nos preparando para discutir operações de extrações.‖ Ele deixou o giz no suporte do quadro e bateu as mãos juntas duas vezes. ―Talvez você possa emprestar uma perspectiva única para esse assunto.‖
―Ah, Sr. Solomon,‖ Abby disse com um sorriso, ―você sabe como mostrar a uma garota uma boa hora.‖
Ela andou em volta das mesas em forma de U, examinando as paredes, as estantes de livros, tudo no Subnível Dois; e eu percebi que enquanto eu estava vendo-o pela primeira vez, minha tia o estava vendo novamente depois de muito tempo. Perguntei-me se poderia parecer diferente em função de tudo que ela aprendeu desde que saiu.
―Como eu dizia,‖ Sr. Solomon continuou, ―extrações são perigosas. E são difíceis—‖
―Especialmente em Istambul,‖ Tia Abby adicionou suavemente, e nosso professor riu.
Soava como uma piada interna, exceto pelo fato de que espiões não fazem piadas internas! Há muita informação ―internamente,‖ e a mantemos assim. Mas a coisa mais louca não era que Tia Abby tinha feito uma piada. ...Nem mesmo que ela estava flertando. A coisa mais louca era que eu tinha certeza que sorrir e rir eram o jeito do Sr. Solomon retornar o flerte!
Lá estávamos, em uma caverna de pedra e segredos, e ainda assim parecia que minha tia tinha trazido o sol com ela, iluminando um lado do meu professor que eu nunca tinha visto.
Pela primeira vez em semanas, minha cabeça não doeu. Boston era apenas uma cidade em Massachusetts.
Eu podia ter ficado contente em ficar sentada daquele jeito o dia todo — a semana toda. O ano todo. Mas então as luzes se apagaram. No fundo da sala um projetor velho veio à vida, e uma imagem cortou pelo escuro.
―Tenho certeza que todas vocês já viram isso antes,‖ Sr. Solomon disse.
Mas eu não tinha visto. Um calafrio passou por mim conforme percebi... Eu tinha vivido aquilo.
A classe inteira pareceu segurar o fôlego enquanto o filme cortou entre ângulos diferentes, câmeras diferentes, diferentes noticiários. Partes das filmagens haviam sido exibidas continuamente em cada televisão no país por dias, mas como a maioria das coisas que nós Garotas Gallagher fazemos, havia muito mais na história, e naquele dia estávamos vendo a versão não-censurada.
―O que estou preste a mostrar-lhes é um exemplo quase clássico de uma operação de extração à luz do dia em uma área ocupada.‖
Eu pensei que o Sr. Solomon olharia para mim. Esperei que minha tia perguntasse se eu estava bem. Eu queria que alguém admitisse que aquilo não era uma aula — era o dia mais difícil da minha vida. Mas a única mudança na voz de nosso professor foi uma pausa súbita antes de adicionar, ―Para nossa sorte, ela não funcionou.‖
E então eu percebi que não estávamos lá para estudar o que Macey e eu tínhamos feito certo. Nós não éramos os operários profissionais no telhado naquele dia. Éramos apenas duas garotas que tiveram sorte, e sorte não é uma habilidade que alguém possa aprender.
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A poeira continuou dançando na luz do projetor. Em nenhuma ocasião alguém disse, ―Se isso é demais para você, Cammie, você pode sair‖ ou ―Srta. Morgan, o que você estava pensando lá?‖
Eu era apenas mais uma na sala, não a garota no telhado. Os sons eram diferentes lá — somente o zumbido da voz do meu instrutor. As respostas de perguntas. Os gritos abafados dos operadores da câmera conforme trocavam de posição.
Mas na minha cabeça eu vi o turbilhão de lâminas circular. Ouvi os grunhidos e chutes, o rugido distante do vento vindo do porto. Em minha mente, o filme era mais claro e lento conforme Preston caiu para a segurança. E então eu assisti uma figura mascarada ignorar o filho de um presidente potencial, apontar para minha melhor amiga, e dizer as palavras que eu nunca tinha ouvido realmente antes.
A sala estava escura.
As paredes a nossa volta eram grossas.
E tenho certeza que minha tia foi a única pessoa que me ouviu murmurar, ―Pegue ela.‖
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CAPÍTULO DEZ
Existem coisas que espiões freqüentemente carregam com eles: cama de bolso, identidades falsas, e a arma ocasional-barra-câmera-barra-acessório de cabelo. Mas as coisas mais pesadas, eu acho, são os segredos. Podem te afogar, se você deixá-los. Enquanto me sentava no Subnível Dois naquele dia, eu soube que esse que eu prendi era tão pesado que eu nunca pudesse ver de novo a superfície.
Quando a aula acabou, as luzes se acenderam e eu escutei a metade dos meus colegas espalhados para explorar seu novo ambiente. Eu vi Mick Morrison contornar Mr. Solomon com dúzias de perguntas sobre a Teoria Marciano e sua boa utilização em ambientes urbanos, mas o resto da classe se reuniu ao redor de tia Abby, que estava fazendo uma reconstituição muito dramática sobre a vez que teve que se esgueirar de um engenheiro nuclear de Taiwan durante a estação chuvosa.
―Então eu disse a ele eu sei que é um riquixá (é um meio em que uma pessoa que puxa uma carroça de duas rodas onde se acomodam mais uma ou duas pessoas.), mas isso não significa que ele não flutua!" Abby disse.
Tina e Eva desataram a rir, mas eu sabia que tia Abby estava observando com o canto dos olhos quando saí da sala de aula e comecei a subir a longa rampa em espiral que levava à mansão acima de nós. Eu sabia que ela estava ouvindo quando Bex caminhou ao meu lado e disse ―Cam, devagar.‖ como se fosse possível para eu ultrapassar ela. (O que não é.)
Mas eu continuei em espiral ascendente, lembrando as palavras que eu tinha escutado, mas não tinha ouvido; recordando a indiferença dos atacantes quando Preston caiu para a segurança sobre o lado do telhado — as coisas que eu tinha assistido, mas não tinha visto.
―Eu fui uma idiota‖ eu disse.
―Você foi brilhante‖ Disse Bex, e vindo de qualquer outra garota em qualquer outra escola, essas palavras podem ter soado como aprovação fingida. Mas não dessa garota. Não nessa escola. Vinda de Bex era um fato incontestável, e ela estava disposta a pegar qualquer um que dissesse o contrário.
"Duas meninas nesta escola poderia ter feito o que fez," Ela levantou uma sobrancelha. "E você é uma delas".
Ao chegarmos ao elevador e entrarmos, pensei em como existem dois tipos de segredos: o tipo que você deseja manter dento, e do tipo que não se atrevem a sair.
Eu poderia ter olhado Bex. Eu poderia ter baixado a minha voz, e aí, nesse elevador minúsculo de uma centena de metros abaixo da terra, eu poderia ter certeza de que ninguém pudesse ouvir.
Mas minha mãe e o Sr. Solomon são os dois melhores espiões que eu conheço. E eles não contaram para Macey, eles não contaram para mim.
Assim que a porta do elevador se abriu, eu ouvi o som das meninas descendo os degraus acima de nós. O cheiro do almoço vindo do grande hall. Às vezes, as coisas se movem através da nossa mansão tão rápido como o fogo. E foi quando eu soube que eu tinha o segundo tipo de segredo.
Não me atrevi a libertá-lo.
Em vez disso, o levei para o grande Hall, e sentei na mesa de almoço dos juniores, mal olhando
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para cima, até que ouvi Eva Alvarez anunciar ―Cartas aqui.‖
Ela deixou cair um cartão postal em cima da mesa na minha frente e, imediatamente, eu reconheci os sapatos de rubi do Museu Nacional de História Americana e do Mágico de OZ e, o mais importante, aonde eu e o Zach nos vimos pela a primeira vez, pelo o que realmente éramos.
Esta não é uma alucinação, eu disse a mim mesmo. Isto é real, eu pensei enquanto virava e estudava o manuscrito, que, na primavera passada, eu assisti lavar na chuva.
E eu li as palavras "Tenha cuidado".
Passei o resto da semana tentando falar com a tia Abby sozinha, mas o problema era, a partir desse ponto em diante, minha tia nunca ficou sozinha.
―Um, tia Abby, podemos... Conversar?‖ Eu perguntei segunda-feira a noite, depois do jantar, mas, Abby apenas sorriu e foi em direção a porta. Infelizmente, metade da turma do segundo ano foi junto.
―Claro, baixinha. Eu estava apenas indo ensinar a essas garotas um golpe muito legal com uma mangueira de jardim. Quer vir?"
Quando eu a vi no saguão terça à tarde, eu perguntei, ―Hey, tia Abby, você talvez tenha algum tempo para... apanhar... à noite?‖
―Ooh, desculpe Camster.‖ Ela me disse enquanto ela seguia Macey para a aula de P&A. ―Fibs me pediu para ajudá-lo com um pacote desse super poderoso creme letárgico que eu aprendi a fazer na floresta Amazônica. Pode levar toda a noite.‖
Todo lugar em que eu virava ouvia perguntas como ―Ei, Cammie, Ebby já te mostrou o que ela fez com um grampo em Portugal?‖
Ou ―Bem, eu ouvi dizer que as cinco maiores cooperativas estavam implorando para ter detalhes sobre Macey, mas o próprio vice-diretor da CIA chamou Abby e perguntou se ela aceitaria o trabalho‖
No sábado, estava começando a sentir que a única história da tia Abby que eu não iria dizer, era a única história que eu queria ouvir.
E, no domingo, tinha começado a chover.
Os salões parecia mais escuro do que o habitual para o início do semestre enquanto eu andava para o escritório da minha mãe. Quando eu passei o assento da janela do segundo andar, eu não pude resistir a puxar as cortinas de veludo vermelho e olhar através do vidro ondulado.
Pesadas nuvens cinzentas estavam penduradas baixo no céu, mas as árvores eram exuberantes e o verde da floresta. Nossas paredes ainda estavam altas e fortes, e além delas, não avistei nenhuma van de notícias. Eu pensei por um segundo que talvez o pior de tudo tinha acabado, mas então um relâmpago cortou através do céu, e eu sabia que a tempestade estava apenas começando.
"Cammie!" ouvi a voz da minha mãe através do Hall da História, e me afastei do vidro.
Andando para o escritório da minha mãe, não pude deixar de notar que ela estava sorrindo como se isso fosse exatamente como o primeiro domingo, após as férias de verão, deveria ser—só que desta vez era definitivamente diferente. Porque em primeiro lugar, não havia música. A música alta. Música Rápida. Música que definitivamente não era da variedade de Cultura e da
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Assimilação!
E segundo, a comida não cheirava horrível. Claro, não tinha o excelente aroma que vinha do Grande Hall, mas não se parecia com a fumaça (e / ou materiais perigosos) que sempre saía de lá. E isso parecia um bom sinal.
Mas logo que cheguei à porta do escritório da minha mãe, eu pude ver que o que realmente diferenciava esse domingo à noite, desta vez, minha mãe não estava sozinha.
―Hey, baixinha, eu estou falhando‖ Minha tia piscou para mim, enquanto puxou uma uva de uma cesta de frutas da mesa da minha mãe. ―Sua mãe e cozinhar‖, disse Abby, agarrando-me pela mão e me girando no ritmo da música, ―isso, eu tinha que ver".
―Ninguém está te obrigando a comer qualquer coisa.‖ Minha mãe repreendeu, mas Abby apenas continuou dançando, me puxando para dentro e para fora até que ela sussurrou no meu ouvido: "Eu tenho um antídoto para noventa e nove por cento das doenças de origem alimentar conhecidos pelo homem na minha bolsa, apenas no caso‖.
E então eu não consegui me conter. Eu ri. Por um segundo, parecia certo. Por um segundo, parecia segura. Tudo era diferente... Mas familiar. A dança. A música. Os sons e os cheiros da minha mãe fazendo seu famoso (e de um modo ruim) goulash (um guisado de carne de vaca). Era como se eu fosse ter flashes da vida de outra pessoa. E então isso me bateu: era a minha vida. Com o papai.
Papai costumava ouvir essa música. Papai e eu costumávamos dançar na nossa cozinha em D.C.
E de repente eu não tinha vontade de dançar mais.
Mamãe me viu caminhar até o rádio e abaixar o volume.
"Oh, Cam," minha tia disse com um suspiro. "Olhe para você. Crescida e quebrando corações..." Ela levantou as sobrancelhas. "E as regras. Honestamente, como uma tia, eu não sei o que me deixa mais orgulhosa."
"Abigail," Mamãe avisou baixinho.
"Rachel", a minha tia materna imitou o tom de sua irmã. ―Talvez o serviço secreto dos Estados Unidos não deveria estar encorajando-a a quebrar regras—especialmente nesta escola em particular, durante este ano em particular‖.
"Talvez a diretora da Academia Gallagher devesse tentar se lembrar que a vida de uma espiã é, por definição, regras opcionais," minha tia palestrou de volta.
"E, enquanto estamos no assunto:" disse minha mãe, levantando a voz, "talvez o Serviço Secreto dos Estados Unidos deva considerar que seria imprudente dizer aos alunos da Madame Dabney da oitava série como fazer seu próprio clorofórmio de Kleenex e fatias de limão?
"Sim, eu não podia acreditar que não haviam descoberto como fazer isso ainda", disse Abby, como se as normas para a sua irmandade tinha descido consideravelmente.
"Essa técnica foi proibida em 1982!"
―Hey, Joe disse—‖
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―Eu não me importo com o que Joe diz!‖ Minha mãe gritou, e dessa vez a sua voz transmitia fogo.
"Abigail, existem regras por uma razão. Regras existem porque quando as pessoas não seguem, as pessoas podem se machucar."
As palavras permaneceram no ar. Minha mãe parecia estar tremendo enquanto ela terminava. "Ou talvez você tenha esquecido."
Eu conhecia tia Abby minha vida inteira, mas eu nunca tinha visto seu olhar como estava. Ela parecia divida entre lágrimas e fúria, enquanto a tempestade rugia lá fora, e o goulash congelado, e eu queria saber se alguma de nós iríamos voltar a dançar.
"Rachel, Eu—"
―Pegue ela‖
Eu não sei por que eu tinha dito aquilo. Um minuto eu estava ali observando elas argumentarem, e no próximo, o segredo que eu estava carregando comigo todo o caminho de Subnível dois, estava quebrado.
Minha mãe se aproximou. Abby se afastou. E lá fora, a chuva estava caindo contra as paredes das mansões como uma maré.
―O que você disse Cammie?‖ minha mãe pediu como alguém que já sabe a resposta para sua pergunta.
―Eu me lembrei...‖ Eu me afundei no sofá de couro. Minha mãe se aproximou mais, mas, atrás dela, tia Abby balançou levemente, quase imperceptível, sua cabeça. — um aviso. Cuidado com o que você deseja.
"Lembrei-me de alguma coisa... sobre Boston. Coloquei Preston naquela janela, e eles realmente não... se importaram.‖ Mamãe estava deslizando para a mesa de café na minha frente, movendo-se lentamente, como se tivesse medo de me acordar desse sonho terrível. "Eles disseram pegue ela.‖
"Cam—" minha mãe começou, mas os flashes piscaram nos meus olhos novamente. —uma porta cinza, um helicóptero negro e, finalmente, um pedaço de papel branco esvoaçante para o chão.
"A agenda de Preston,‖ sussurrei, mas desta vez eu não podia olhar para a minha mãe. — Eu olhei para a minha tia. ―Ele nunca deveria estar lá. Deveria?‖
Mamãe começou a dizer algo, mas a tia Abby passou por ela e caiu no sofá de couro ao meu lado. "Não."
Algumas pessoas poderiam perguntar por que isso importaria—nós sabíamos por semanas que Macey estava em perigo. Mas, sentada aqui, ouvindo a tempestade que tinha acabado de chegar, não pude deixar de sentir como ele fez toda a diferença no mundo. Os seqüestradores não estavam lá para o filho e a filha de duas das famílias mais poderosas do país. — Eles queriam apenas um deles.
E ela era uma das minhas melhores amigas.
―É verdade criança.‖ Disse minha mãe, "Preston Winters não deveria estar lá. por isso só podemos supor que ele não era o alvo."
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Eu concordei. Ela alisou o meu cabelo. Mas nada poderia manter meu coração batendo quando eu perguntei, "Quem eram eles?"
―Mais de três centenas de grupos reivindicou o crédito para o ataque‖, minha tia disse, e acrescentou com um encolher de ombros ―o que significa pelo menos 299 deles estão mentindo".
―O anel‖ eu disse, fechando os meus olhos e vendo a imagem que estava queimando na minha mente. ―Eu desenho para você uma imagem do anel. Você tem—‖
―Nós estávamos olhando para ele, criança.‖ Disse minha mãe suavemente. Mordi o lábio, precisando pelo menos saber de onde aquela dor que eu estava sentindo estava vindo.
―Porque Macey?‖ Eu soltei, voltando à minha mãe.
"Ela é filha de pessoas muito poderosas, Cam. Eles têm inimigos muito poderosos."
E então eu fiz a pergunta mais terrível do que qualquer coisa que eu tinha visto no telhado. "Ela vai ficar bem?"
Minha mãe e minha tia olharam uma para a outra, duas veteranas de CoveOps que tinham visto o suficiente para saber que não havia nenhuma resposta fácil para minha pergunta.
"O Serviço Secreto é bom, Cam‖, disse minha mãe. "Sua tia Abby é muito boa."
Ela olhou para a minha tia como se nenhuma quantidade de rivalidade nunca poderia vir entre elas. Então, eu sentei lá por muito tempo pensando sobre irmãs. Sobre a nossa irmandade.
E, de repente pareceu engraçado. Parecia louco. Estávamos no meio da Academia Gallagher, onde as pessoas são ambos loucos e muito, muito bom em ser louco por segurança. Claro Macey iria ficar bem.
―Bem, pelo menos nós estamos na escola mais segura do mundo. E não é como Macey vai a lugar algum, certo?"
Eu disse com um sorriso— totalmente não esperando minha tia voltar a sorrir e dizer, "Sim... bem... Cam, você já foi para Cleveland?"
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CAPÍTULO ONZE
Ohio tem oito colégios eleitorais e um histórico de alto comparecimento às urnas. Tem um governador em uma parte e dois senadores na outra parte. Em setembro, também havia muitas mulheres que não estavam certas sobre em quem votar, mas estavam certas de uma coisa: Macey McHenry era uma menina muito corajosa por ter sobrevivido ao que aconteceu em Boston.
Macey McHenry iria valer muitos votos.
E então ela estava indo lá. Sozinha.
Bem... se por sozinha você quer dizer com uma das mais honradas Garotas Gallagher em anos (quem, dizem, que parece comigo quando uso meu cabelo para trás), uma caravana de catorze agentes do Serviço Secreto pessoais, e pelo menos trinta membros do time avançado que seguiam cada movimento de seu pai. Mas no sentido mais importante ela estava sozinha. Porque ela iria sem agente.
Na segunda-feira de manhã, Macey estava acordada às cinco horas e juntas nós todas a acompanhamos pela escada, onde o cheiro de rolos de canela flutuavam da cozinha. Lá fora, o sol estava nascendo distante. Uma luz nublada caia no horizonte, e pelas janelas eu pude ver os guardas fazendo umas varreduras dos bosques.
Liz usava seu pijama de E=mc², e o cabelo de Bex estava parecendo particularmente fora de controle, mas ainda assim seguimos Macey pela mansão até que vimos Tia Abby.
Ela usava um terninho cinza escuro com uma simples blusa branca. Um receptor de plástico pequeno já estava pregado em seu colarinho, os fios desaparecendo dentro de seu casaco. Ela parecia fazer parte — ela fazia parte. E então nós entregamos Macey para ela sem nenhuma palavra, a mudança da guarda.
E então eu fui e tomei um banho.
E depois eu comi um rolo de canela.
E não ouvi coisa alguma do que o Sr. Smith disse sobre a Roma antiga e as catacumbas, o que se você soubesse onde procurar, ainda proporcionava um belo acesso à cidade.
Durante todo o dia, pareceu como se as pessoas continuassem dizendo exatamente o que eu estava pensando.
―Bem, eu acho que ela provavelmente já está lá a essa hora,‖ Tina disse depois do café da manhã.
―Macey irá ver tantas táticas legais de proteção,‖ Eva observou em nosso caminho para PDM.
―Ela está com Abby,‖ Liz disse em enquanto descíamos a grande escada.
―E Abby arrasa,‖ Bex me relembrou exatamente quando nos separamos de Liz e nos dirigimos para o elevador para o Subnível Dois.
De um ponto de vista puramente intelectual eu sabia que Macey estava tão bem protegida quanto possivelmente podia estar, mas o Sr. Solomon tem nos ensinado há um ano que ser um espião não é sempre questão de ser intelectual — é questão de instintos. E naquele momento meus instintos me diziam que esse seria um dia muito longo.
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E isso foi antes do Sr. Solomon nos encontrar na entrada para o Subnível Dois com uma pilha de camisetas dos Winters-McHenry e dizer, ―Vamos lá.‖
Eu já estive em um helicóptero com o Sr. Solomon duas vezes antes. A primeira vez eu estava vendada. Na segunda, eu tinha acabado de descobrir que havia outra escola espiã super secreta... para garotos! Mas naquele dia, garotos e vendas pareciam fácil em comparação.
―Ameaças à segurança vem em quantas formas, Srta. Alvarez?‖ Sr.Solomon perguntou.
―Cinco,‖ disse Eva, mesmo que, tecnicamente, nós não tínhamos coberto aquele capítulo ainda.
―E quem pode me dizer quais são elas?‖ nosso professor continuou.
―De longo alcance, curto alcance, suicídio, estáticas...‖ Bex provocou, porém não para se mostrar, mas como se ela tivesse que dizer — como se aquilo tivesse estado em sua mente tempo demais e ela tinha que libertar.
―São quatro,‖ Sr. Solomon nos disse.
As hélices do helicóptero estavam girando; o chão abaixo de nós rugindo — árvores e colinas, rios e rodovias, cidades cheias de escolas normais e crianças normais e pessoas que nunca saberiam as respostas para as perguntas do nosso professor.
―Internas,‖ eu disse tão suavemente, com as hélices girando e o vento jorrando eu me perguntei por um segundo se alguém tinha ouvido.
Mas nós somos Garotas Gallagher. Ouvimos tudo.
―Está certo,‖ Sr. Solomon nos falou. ―E essa é a maior.‖
Eu disse a mim mesma que ele não estava falando de Macey — que ele não queria dizer que o que tinha acontecido em Boston tinha sido orquestrado por alguém interno, alguém próximo. Mas ele estava falando em termos gerais, lembrando a nós todas do que sabíamos bem, que traidores são as pessoas mais perigosas de todas.
―Vocês verão muitas coisas hoje, senhoritas. Operários maduros trabalhando no campo com um objetivo básico. Não é questão de inteligência, e nem de operações. Hoje é questão de proteção, pura e simples.‖
Em minha mente eu já estava correndo pelos cenários com que somente um homem como Joe Solomon podia vir. Eu imaginava quais testes podiam estar esperando no chão.
Bex devia estar pensando pelas mesmas linhas, porque ela perguntou, ―Qual é nossa missão?‖
―É uma difícil,‖ Sr. Solomon avisou, depois sorriu. ―Apenas observem. Apenas ouçam. Apenas aprendam.‖
Garotas Gallagher são convocadas a fazer coisas difíceis. O tempo todo. Mas até aquele dia eu não sabia que a nossa missão mais difícil de todas era não fazer nada.
Afinal, uma coisa é pegar um grupo de adolescentes altamente treinadas para futuras espiãs e deixá-las em uma multidão de milhares e dizer a elas para encontrar a potencial ameaça à segurança. É outra coisa diferente pegar essas mesmas garotas, equipá-las com unidades de comunicação ajustadas com a mesma freqüência do Serviço Secreto (não que o Serviço Secreto realmente soubesse ou algo assim), e dizer a elas para sentarem e aproveitarem o show.
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Eu nem sequer gosto de deixar alguém mais pôr a calda em minhas waffles (eu tenho um processo), então deixar outras pessoas ficarem no comando da segurança de Macey... bem... vamos apenas dizer que era um pouco fora da minha zona de conforto.
E como se isso não fosse ruim o suficiente, os jeans que alguém tinha embrulhado para eu colocar eram pouco confortáveis de um lado. E eu não sei sobre todas as outras, mas Bex Baxter é a única garota que pode entrar e sair de um helicóptero sem ele desgraçar seu cabelo.
Acima de tudo, eu queria fingir que ainda acreditava que vivia em um mundo onde cabelos e jeans realmente importavam. Mas não. Então apenas pensei sobre minha missão e encarei a multidão.
E então eu desapareci.
NOÇÕES ESSENCIAIS SOBRE SER UMA CAMALEOA por Cameron Ann Morgan
1. É muito importante, em todas às vezes, parecer como se você pertencesse.
2. Quando o N°1 é difícil, tente apontar para pessoas imaginárias e andar propositalmente em direção a ninguém.
3. Quietude. Quietude é o segredo (exceto quando você está fazendo o N°2) porque as pessoas vêem movimentos mais facilmente do que vêem as coisas. Então quando estiver em dúvida, congele.
4. Ajuda totalmente quando você não tem aquela aparência especial (em maneiras tanto boas quanto ruins).
5. Familiarize-se com seu ambiente.
6. Não se vista de um jeito chamativo, elegante, feio ou obsceno.
7. Se esconder é para amadores.
―Isso é... uau,‖ Bex disse dez minutos depois de chegarmos ao parque... ou o que eu achava que devesse ser um parque.
Um longo caminho de grama cobria pelo menos dois quarteirões da cidade. Belas construções históricas preenchiam o espaço, mas no lado mais distante, alguém tinha erguido um palco. Arquibancadas circulavam atrás dele, de frente para o gramado, e de onde Bex e eu estávamos parecia como se metade de Ohio tivesse ido ver o retorno triunfante de Macey.
Além dos alto-falantes eu vi um político local tentando fazer as pessoas nas arquibancadas atrás dele cantarem ―Winters‖ enquanto as pessoas na grama em frente ao palco foram ditas a gritar ―McHenry.‖
―A política Americana é sempre tão... louca?‖ minha melhor amiga sussurrou.
Eu queria dizer a ela que isso não era nada comparado a insanidade da convenção (porque, por exemplo, eu não tinha visto ninguém com chapéus em forma de fruto... ainda), mas de alguma maneira trazer Boston a tona não pareceu uma boa idéia, então ao invés disso eu somente assenti e tentei me espremer entre a multidão.
Uma bandeira enorme (que eu estou razoavelmente certa que também era a prova de balas)
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circulava o palco, escrito PERCORRER O CAMINHO. Eu me virei e examinei a longa fila de barricadas que corriam pelo centro da multidão. Um grande ônibus de excursão virou a rua e parou no fim do beco que cortava pelo público. Suas portas se abriram, e em algum lugar na distância, a Banda de Marcha da Tri-County High School começou a tocar, conforme o Governador Winters e o Senador saíram e começaram a descer o longo do passeio público cheio de mão para apertar e bebês para beijar — duas mil pessoas gritando, qualquer uma delas podia ter feito um calo em minha cabeça.
Em meu ouvido eu escutei um fluxo constante de vozes desconhecidas.
―Senhor, você poderia tirar suas mãos de seus bolsos, por favor?‖ um agente alto do Serviço Secreto perguntou ao homem atrás de mim.
―Time Delta, eu não gosto dos olhares do cara nos degraus da biblioteca. Repito, os degraus da biblioteca.‖
Instantaneamente, senti a classe inteira do terceiro ano de Operações Secretas da Academia Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais girarem para ver um cara com um sobretudo se aproximar de um homem com uma camisa xadrez e bloquear sua visão dos candidatos, que estavam passando na rua abaixo deles.
Um grupo de mulheres estavam acenando com uma placa que dizia DEUS ABENÇOE VOCÊS, MACEY E PRESTON, como se na sugestão, Preston correu em direção às mulheres e abraçou-as enquanto, a seis metros, a CNN pegava a cena toda ao vivo e em cores.
Mas Macey não correu para lugar algum. Ou abraçou ninguém (o que é totalmente seu caráter de qualquer maneira — com tentativa de seqüestro ou não). Em vez disso, ela segurou a mão de seu pai. Ela acenou. Sorriu.
―Nós temos que ser perfeitos a cada segundo de cada dia, senhoritas.‖ Ouvi Joe Solomon dizer algumas coisas bem emocionantes nos últimos dois anos, mas não acho que algum dia já ouvi ele soar mais solene quando disse, ―Os caras maus só tem que ter sorte... uma vez.‖
E então eu não pude evitar. Eu pensei sobre Boston, pensei sobre sorte. Pensei sobre quão perto chegamos de ter um final muito ruim para nossas férias de verão.
―Eu não sei se algumas de vocês irão entrar em serviços de proteção algum dia ou não, senhoritas, mas se vocês entrarem...‖ A voz do Sr. Solomon era suave em meu ouvido, constante contra o barulho das ordens do Serviço Secreto, ―Este é o seu pior pesadelo.‖
Naquele momento, tenho certeza que Bex queria arrastar nossa colega de quarto para o automóvel a prova de balas mais próximo e dirigir de volta para Roseville tão rápido quanto humanamente possível. Mas isso não iria acontecer porque:
1) o verdadeiro Serviço Secreto poderia atirar em nós se tentássemos;
2) os correspondentes da CNN poderiam ter algumas perguntas bem interessantes se Bex derrubasse os corpos dos homens do Senador McHenry com alguns chutes bem posicionados;
3) nossas notas intercalares estavam em não fazer exatamente aquilo, e como se precisássemos de lembrete, a voz do nosso professor era constante em nossos ouvidos.
―Dada a direção e velocidade do vento, a maior ameaça de um atirador é aonde, Srta. Morrison?‖
Bex e eu nos entreolhamos e declamamos, ―O campanário da igreja,‖ exatamente quando Mick
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disse as mesmas palavras.
―Quatro membros do Serviço Secreto tinham se infiltrado nos manifestantes do outro lado da rua, Srta. Fetterman,‖ Sr. Solomon perguntou de novo. ―Identifique os agentes.‖
―Hum...‖ Anna começou enquanto, na rua a nossa frente, Tia Abby e Macey estavam passando. ―Mochila vermelha,‖ Anna respondeu. ―Senhorita com a bandana azul. O homem com camiseta amarela e...‖ Ela falhou.
―Alguém?‖ Sr. Solomon disse.
―O cara com a barba vermelha longa,‖ me encontrei dizendo. Eu não tinha certeza quando tinha visto ele, mas assim que falei as palavras, sabia que era verdade.
―Por quê?‖ perguntou Sr. Solomon.
―A estática,‖ falei. ―Dois minutos e meio atrás houve uma explosão de estática na freqüência do Serviço Secreto. Ele se encolheu.‖
Em algum lugar na multidão de corpos, eu podia ter jurado que senti Joe Solomon sorrir.
Eu costumava me perguntar se os Agentes do Serviço Secreto alguma vez se cansavam de ouvir os mesmo discursos das mesmas pessoas uma dúzia de vezes durante um dia, até que alguém, ou tinha que dar um discurso que dizia que eles ganharam, ou um que perderam. Mas depois daquele dia eu comecei a me perguntar se o time de segurança sequer ouvia os discursos.
―Time Beta, protestantes ficam em Nível Dois. Repito, protestantes ficam em Nível Dois,‖ uma das vozes anônimas disse.
―Time Charlie, temos movimento anormal em uma janela do prédio do Banco Nacional da Cidade,‖ outra voz disse, e em um lampejo, todas as cortinas no quarto andar do prédio do outro lado da rua foram puxadas para baixo.
E então... uma voz eu reconheci. ―Pavão está no palco — pronto e se movendo.‖
―Tia Abby,‖ murmurei para Bex.
―Pavão?‖ ela murmurou de volta.
No palco, o Senador estava abanando sua mão e dizendo, ―Família. Eu não tenho que dizer ao estado da castanha o quanto família significa para mim.‖
A multidão aplaudiu loucamente por alguns minutos, mas quando Macey substituiu seu pai no microfone, um silêncio caiu de forma tão completa sobre os eleitores de Ohio que eu poderia ter jurado que alguém ou algo tinha abaixado o botão do volume.
―É ótimo estar aqui hoje.‖ Macey olhou por toda a multidão. Ela parecia perdida por um momento — espantada. Mas então eu podia ter jurado que seu olhar caiu sobre Bex e eu. Uma luz nova pareceu encher seus olhos conforme ela olhou para nós e adicionou, ―Com minha família.‖ Nesse ponto o Senador McHenry colocou seu braço em torno de sua esposa, e eu não pude evitar de pensar na direção da Moça da Prancheta sobre ―abraço espontâneo.‖
―E há algo que eu quero dizer,‖ Macey continuou, mais forte agora. ―Não há nada que não possamos fazer se ficarmos juntos. Não há nada que não possamos superar se tentarmos. Aprendi isso com as pessoas que me amaram. As pessoas que conhecem... meu verdadeiro eu.‖
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Dessa vez eu sabia que Macey estava olhando diretamente para nós.
Ao meu lado, ouvi Bex sussurrar, ―Essa é a nossa garota.‖
―Srta. Baxter.‖ A voz do Sr. Solomon nos trouxe de volta para o momento, para a missão.
―Há um homem a nove metros atrás de você com uma jaqueta de brim. Pegue as impressões digitais dele sem o seu conhecimento.‖ Com um piscar de olhos, Bex tinha desaparecido.
Houve mais discursos, mais aplausos, mas eventualmente Macey desceu os degraus no lado esquerdo do palco e pegou uma lacuna na arquibancada que levava para uma área segura atrás delas. Assim que ela desapareceu, ouvi a voz da minha tia dizendo, ―Pavão está seguro e esperando na tenda amarela,‖ e eu dei minha primeira respiração funda desde domingo à noite.
A multidão encarava o palco enquanto o Governador Winters dizia, ―Nossos oponentes tiveram quatro anos para falar a conversa, mas agora é hora de percorrer o caminho!‖ Pessoas aplaudiram. Pessoas riram. Era como se ele fosse um mestre de marionetes e duas mil pessoas pulassem a cada vez que ele puxava as cordas.
Mas eu não aplaudi. Eu não ri. Eu somente continuei ouvindo a voz do Sr. Solomon — não em meus ouvidos — em minha cabeça. Lembrei-me de algo que ele disse no helicóptero. ―Proteção é dez por cento de protocolo e noventa por cento de instinto.‖
E naquele momento meus instintos me diziam para me virar. Talvez fosse a maneira de que os prédios se alinhavam na relva, talvez fosse a multidão de pessoas que passavam por mim, mas algo me fez pensar no semestre passado e em Washington, D.C. Então enquanto o Senador e o Governador Winters pararam com suas mãos dadas sobre suas cabeças, e a banda começou a tocar, eu me virei e assisti a multidão bater palmas e dançar. Os candidatos empurraram as barreiras, e o povo se aproximou, mas um cara fugiu.
Longe da bandeira a prova de balas.
Longe de tudo.
Exceto das arquibancadas e da tenda amarela que estavam atrás deles.
Outra bandeira pendia do lado das arquibancadas, anunciando www.winters-mchenry.com, e eu observei ela baquear com a brisa, um canto livre, batendo contra o poste de alumínio, mas ninguém percebeu o barulho. Ninguém viu a brecha. Nenhum cidadão teria apreciado aquela lasca de acesso, e o que ela significava. Mas o cara com o boné vermelho andou em direção a bandeira. Ele escorregou pela pequena abertura, e foi ai que eu soube que ele era um artista pavimentar.
Eu soube que ele era como eu.
―Não,‖ me senti gritar; mas com a banda, a multidão e a tagarelice dos agentes de segurança sobre linhas de corda, a palavra se perdeu. E ele tinha desaparecido.
Eu segui, me empurrando contra a abertura, mas tudo que pude ver foi lixo, fios emaranhados e hastes de metal.
Para um dia tão ensolarado, estava escuro sob as arquibancadas; para uma multidão tão barulhenta, o barulho parecia bem distante. Uma brisa quente soprou confetes vermelhos, brancos e azuis em meus pés, enquanto a banda tocava e as pessoas aplaudiam.
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E eu senti alguém atrás de mim.
E pela segunda vez naquele mês, uma mão estranha agarrou meu ombro.
Eu esqueci completamente sobre a missão do Sr. Solomon conforme alcancei atrás e agarrei a mão, entrei na jogada, e girei o cara suavemente pelo ar, assistindo ele colidir contra um balão vermelho com um estouro.
Mas de repente era eu quem estava sem ar, conforme olhei o cara que estava deitado embaixo de mim, e ouvi as únicas palavras que eu totalmente não estava preparada para ouvir.
―Olá, Garota Gallagher.‖
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CAPÍTULO DOZE
Zach estava ali. Zach estava olhando para mim através da sombra das arquibancadas, deitado de costas, com os ombros presos debaixo dos meus joelhos.
Ele era real desta vez. Não eram genes de espiã ou hormônios adolescentes fugindo de mim. Eu não estava alucinando, sonhando ou sendo vítima de algum holograma esquisito da diversidade de contra vigilância.
Eu estava simplesmente olhando...
Para Zach.
―Ei, Garota Gallagher,‖ ele disse depois de... eu não sei... uma hora ou algo assim, ―você vai me deixar levantar agora?‖
Mas eu totalmente não queria deixá-lo se levantar porque:
A) Eu tinha a posição superior, e com qualquer garoto — muito mais um Garoto Blackthorne — posição superior é algo que você deve manter quando tiver chance;
B) se eu não o deixasse levantar, haveria muito menos possibilidades dele retaliar me jogando pelo ar como uma boneca de pano (o que eu totalmente não passaria por ele);
C) eu meio que gostava de saber onde estava com Zach. Por uma vez.
Então ao invés de me mover para o lado e puxá-lo pelo pé como uma boa garota, eu apenas me inclinei sobre ele como uma Garota Gallagher e disse, ―O que você está fazendo aqui?‖
Mas Zach não me respondeu imediatamente. Em vez disso, ele fez aquela coisa dele que sempre faz. Ele me deu aquele olhar que era tão profundo — tão intenso — que era como se ele tivesse me mandar a resposta através de alguma linha cósmica, psíquica ou algo assim.
Depois ele riu e falou, ―Estou muito interessado na política de Ohio.‖
Eu fui para trás, tropeçando em meus pés enquanto soltei, ―Você não pode votar.‖
―Sim, mas eu posso tomar parte na campanha.‖ Ele apontou para o botão dos WINTERS-MCHENRY em seu casaco para provar seu ponto. E então isso me bateu — as sensações de pânico que garotos bonitos e tentativas de seqüestro têm incitado dentro das Garotas Gallagher por uma centena de anos.
Eu pensei sobre vê-lo cerca de um bilhão de vezes. Eu imaginei o que ele estaria usando e que coisa legal eu diria, mas posso garantir a você que em nenhuma das minhas fantasias eu estive usando meus jeans mais inconfortáveis e uma camiseta que era duas vezes maior. Eu pensei sobre qual tipo de garota eu seria — interessada, mas indiferente, adorável, mas divertida. E ainda assim eu não era nada dessas coisas conforme olhei para baixo para ele e murmurei, ―Você está bem longe de Blackthorne.‖
―É.‖ Ele sorriu. ―Bem, eu ouvi que Macey McHenry iria fazer sua primeira aparição pública após a convenção aqui hoje‖ — ele se levantou e removeu alguns confetes do meu cabelo — ―e onde há uma Garota Gallagher, geralmente há outras.‖
Seu sorriso se aprofundou, e naquele momento eu seriamente pensei que gritaria (mas por uma razão totalmente diferente.)
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―Nós somos como fumaça e fogo desse jeito,‖ gaguejei, tentando o meu melhor para agir mais calma do que me sentia.
Ele deu seu sorriso lento e esperto. ―Algo assim.‖
E então um tipo totalmente novo de pânico me acertou — ZACH ESTAVA AQUI! Porque ele sabia que Macey estaria aqui? E porque ele pensava que eu poderia estar com Macey?
(Nota para si: Modificar o tradutor Garoto-para-Inglês de Liz para avaliar interpretações múltiplas de uma vez só!)
Não podia ser isso — podia? Era possível que Zachary Goode tinha escapado de sua escola de espiões super secreta porque essa era sua primeira chance de me ver fora da minha escola de espiãs super secreta?
Ah.
Meu.
Deus.
Posso retornar para a batalha com os atacantes no telhado agora? Porque pelo menos com os atacantes do telhado você sabe onde pisa! Mas garotos — especialmente esse garoto — parecia sempre ser um mistério.
Eu ouvi a multidão explodir em aplausos novamente conforme o governador continuou o seu discurso, mas parecia que tudo isso estava acontecendo do outro lado da terra.
―Eu pensei que você tinha prometido ficar fora de passagens secretas e entradas de lavanderia4, mas acho que...‖ ele começou, mas não terminou.
Ao invés, ele estendeu a mão e seguiu a ferida que tinha feito tudo menos desaparecer ao longo do meu cabelo, e eu senti algo que não tem absolutamente nada a ver com o trauma contundente.
E então algo me ocorreu. ―Como você sabe sobre a entrada da lavanderia?‖
Zach respirou fundo, depois sorriu e apontou para si mesmo como costumava fazer e disse, ―Espião.‖
Eu ouvi uma voz em meu ouvido dizer, ―Camaleoa, eu sei que você está sendo camaleoa, mas se você puder acenar ou algo assim, ou me dizer onde está, isso seria ótimo.‖
―Arquibancadas,‖ eu disse a ela.
―Bex?‖ Zach adivinhou.
―É,‖ respondi.
―Então você tem apoio?‖ Era uma pergunta verdadeiramente estranha no que estava se transformando um dia verdadeiramente estranho, então por um segundo eu só parei ali, imaginando se ele estava me perguntando aquilo como um garoto ou se estava me perguntando
4 É tipo aquelas janelinhas que tem nos EUA onde as pessoas jogam roupas sujas e tal, e elas caem lá embaixo na lavanderia... Não sei um nome em português para aquilo
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aquilo como um espião. ―As garotas estão aqui? E Solomon?‖
―É claro que estão.‖
Mas então uma das centenas de vozes em meu ouvido estava dizendo ―Time Alpha, há movimento sob as arquibancadas,‖ e em um instante eu me movi.
―Zach, há alguém sob—‖
Eu parei. Percebi que nós éramos as pessoas sob as arquibancadas.
―Vocês!‖ um dos agentes gritou. Mas conforme eu me virei para encará-lo, sua mão direita, que estivera se aproximando em direção de sua arma, relaxou. Ele quase sorriu. E talvez pela primeira vez em todos os tempos eu percebi quão totalmente útil ser uma garota de dezesseis anos podia ser.
―Senhorita,‖ o agente disse, ―essa área é restrita. Terei que pedir que você volte para trás das barras.‖
―Oh meu Deus,‖ falei, soando bem mais excêntrica do que meu QI poderia sugerir. ―Eu tenho que ir ao banheiro, então nós—‖
―Nós?‖ o agente disse, entrando em alerta novamente. Ele examinou a área. Homens grandes de ternos escuros apareceram do nada. O receptor estava vivo com conversas e comandos.
―Eu estava...‖ Comecei, as palavras vindo mais difícil agora. E ainda assim continuei me virando e olhando.
Mas Zach já havia desaparecido.
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CAPÍTULO TREZE
―Sim, nós estamos procurando por um banheiro.‖ Uma voz veio cortando pela barricada de agentes em ternos escuros que me circulavam. Embora os agentes do Serviço Secreto sejam notoriamente espertos e incrivelmente bem treinados, todos a minha volta pareceram se encolher a vista de Macey McHenry.
Assisti minha colega de quarto se virar para os agentes e convocar sua Garota Gallagher interior (a esnobe). ―Você tem um problema com isso?‖
E foi assim que uma camaleoa foi salva por um pavão.
―Obrigada, garotos,‖ Tia Abby disse, aparecendo ao lado de Macey. ―Acho que podemos assumir daqui.‖
Conforme ternos escuros se espalharam, minha tia me pegou pelo braço e me guiou para fora de sob as arquibancadas em direção ao sol da área principal do evento, enquanto ela cantou baixinho, ―Eu vou contar a sua mãe.‖
―Desculpe, Tia Abby,‖ eu disse a ela. ―Eu só‖ — pensei em Zach... Zach misterioso... desaparecendo de repente — ―vi uma coisa,‖ falei — não uma pessoa.
Mas minha tia estava balançando sua cabeça. ―Eu não quero nem saber como você chegou aqui,‖ Ela parou. ―Espera, é melhor você me dizer como chegou aqui.‖
Depois de explicar, ela andou seis metros até onde uma equipe de segurança estava em torno de uma linha de Suburbans escuros.
―Veículos de extração de emergência,‖ falei, me virando para Macey, que estava ocupada demais encarando meus pés, maravilhada com qualquer uma das coisas totalmente legais de vigilância a nossa volta.
―Te dou quinhentos dólares se você me vender esses sapatos,‖ disse Macey. Olhei para baixo para os escarpins que sua mãe tinha sem dúvida a forçado usar, e eu totalmente sabia que ela não estava brincando. Mas você não pode colocar um preço no conforto (como todos artistas pavimentares sabem), então eu fingi que não tinha ouvido ela, o que não é muito difícil considerando que eu absolutamente tinha outras coisas em minha mente!
Zach tinha vindo para o comício! Para me ver?
―Macey, você nunca vai acreditar em quem eu acabei—‖
―Ei,‖ uma voz me cortou. ―Eu conheço você!‖
Eu reconheci a voz, mas mais do que isso, reconheci o olhar no rosto de Macey enquanto Preston apareceu.
―Você não tem algum bebê para beijar?‖ Macey disse com um suspiro.
―Cammie, certo?‖ Preston perguntou. ―Macey não me falou que você viria.‖
―É. É uma grande chance ver o processo político de perto e—‖
―Sério,‖ Macey rompeu. ―Vá. Beijar. Um bebê.‖
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―Você pode acreditar nisso?‖ Preston perguntou, empertigando sua cabeça na direção de Macey. ―Toda vez que ela me vê, tudo que faz é me chamar de bebê e falar sobre beijos.‖
Macey parecia meio como se quisesse matá-lo. Mas eu meio que queria rir.
Talvez fosse apenas porque eu tinha garotos em mente. Talvez fosse o alívio de saber, por enquanto, que Macey estava bem. Mas naquele momento Preston pareceu meio... Gato?
Não. De jeito nenhum, eu disse a mim mesma. E então eu olhei para Macey, que odiava estar em sapatos desconfortáveis e sob a vontade de seus pais, e pensei que talvez Preston Winters era a única pessoa que poderia odiar todas aquelas coisas tanto quanto ela odiava. E como todo espião sabe, inimigos comuns são como aliados sempre começam.
―Então oi,‖ Preston disse suavemente.
Um coro gospel estava cantando distante. O Serviço Secreto estava se preparando para a longa caminhada de volta para os ônibus. Mas Preston não pareceia notar; não pareceu se importar. Ele pareceu totalmente imune ao olhos curiosos e ouvidos atentos quando se inclinou mais perto e disse, ―Estou feliz por ver você.‖
Oh meu Deus, pensei. É possível dois garotos flertarem comigo dentro de dez minutos um do outro?
Mas isso não era um flerte.
Era pior.
Totalmente, infinitamente, completamente pior, porque enquanto a banda gospel parou de cantar e alguns aviões militares sobrevoaram, Preston olhou para mim como se realmente estivesse me vendo e disse, ―Eu queria te agradecer... por Boston.‖
A garota em mim começou a exalar ao mesmo tempo em que a espiã em mim estudou a mudança no padrão de respiração dele e a dilatação de seus olhos. Eu estava seriamente começando a entrar em pânico conforme ele dizia, ―Aquilo foi realmente... impressionante da sua parte.‖
―Ah, não foi nada!‖ eu proferi abruptamente.
―Cammie está sempre fazendo coisas assim,‖ disse Macey, ouvindo minha inquietação. ―Ela é uma Escoteira e tanto.‖
―Bem, o que quer que ela seja,‖ disse ele, se virando para Macey, ―pareceu que você é também.‖
Conforme Macey deu uma olhada para mim, eu soube que nenhuma de nós queria imaginar o que poderia acontecer se o primeiro filho potencial pensasse muito no que tinha visto no telhado.
―Eu estava tão perdido,‖ Preston disse. ―Mas vocês duas, vocês estavam... racionais.‖
―Então, Macey,‖ falei alto, ―Eu realmente apreciei seu discurso.‖
―Quero dizer‖ — Preston continuou como se eu nem mesmo estivesse parada ali... como se ele não estivesse ali. Ao invés ele encarou longe como se o filme do que tinha acontecido em Boston estivesse passando em sua mente — ―havia, o que? Dez caras atrás de nós?‖
―Dois homens, uma mulher,‖ Macey e eu o corrigimos exatamente ao mesmo tempo.
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―E vocês garotas eram...‖ Ele olhou para nós como se estivesse nos vendo pela primeira vez. ―Vocês são garotas!‖ ele soltou como se esse fato tivesse totalmente fugido dele até agora.
―Obrigada por notar,‖ Macey falou, agarrando meu braço e me puxando para longe.
Preston nos seguiu. ―Mas vocês agiram por si próprias contra cerca de uma dúzia—‖
―Três!‖ Macey e eu o corrigimos novamente.
―Homens,‖ Ele parou a nossa frente, bloqueando nosso caminho. O que significa que a menos que quiséssemos impressioná-lo com nossas habilidades físicas ainda mais, nós provavelmente teríamos que esperá-lo sair.
Simplesmente quando eu pensei que as coisas não podiam ficarem piores, ele olhou direto para Macey. ―Quanto você pesa?‖
―Ei!‖ rompi, dando um passo entre eles. ―Não foi nada. Sério! Foi como aquelas mulheres que levantam caminhões que estão sobre seus bebês — foi assim que me senti.‖
Tentei soar como se aquele momento tivesse sido cheio de emoção, adrenalina e estranho para mim como foi para ele.
―É,‖ Macey adicionou.
―Mas os movimentos...‖ ele começou.
―Minha mãe me fez ter uma aula de autodefesa,‖ soltei. (Totalmente não era mentira.)
―Uau,‖ ele assentiu. ―Espero que você tenha ganhado crédito extra.‖
―Eu ganhei,‖ falei. (O que também não era mentira.)
―Bem...‖ Preston correu sua mão pelos cabelos e ajeitou a gravata. ―Eles devem estar ensinando a vocês algo especial naquela escola sua.‖
Macey e eu nos entreolhamos como se soubéssemos que podíamos matá-lo, mas escapar poderia ser mais difícil do que de costume.
E então ele riu.
E nós respiramos.
E ele olhou para ambas de nós com (se ele não fosse o filho de um político e tudo) uma expressão de autêntica gratidão conforme disse, ―Só estou feliz de ter feito isso com garotas como vocês.‖
―Sr. Winters!‖ um dos agentes chamou. ―Estamos indo.‖
Um time de agentes o circularam, levando Preston, mas Macey permaneceu um segundo mais.
―Bem, ele pareceu... gentil?‖ Eu finalmente encontrei a força para murmurar.
Mas Macey meramente olhou para mim. ―Você é uma espiã, Cam. Você não sabe que nada nunca é o que parece?‖
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Eu não cheguei a mencionar Zach. Não cheguei a contar a ela o que eu pensava de seu discurso. Não cheguei sequer a perguntar para Tia Abby se ela estava falando sério quanto a contar para minha mãe que eu tinha sido pega fora dos limites.
Ao invés eu observei o Serviço Secreto se amontoar envolta de minha colega de quarto novamente. Um portão se abriu e Macey andou em direção aos seus pais. Seu pai alcançou sua mão, mas ela já estava acenando, ganhando votos, sorrisos e apertos de mão.
E já havia uma voz em meu receptor me dizendo que era hora de ir para casa.
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CAPÍTULO QUATORZE
Você sabe quanto tempo levou para voltar para a escola? Cento e setenta e dois minutos. Você sabe quanto tempo demorou para as coisas voltarem ao normal? Bem... Acho que eu ainda estou meio que esperando.
Assim que voltamos, Sr. Solomon nos arrastou todo o caminho para baixo no Subnível Dois para revisar fitas de vigilância e fazermos um teste surpresa (Eu pontuei 98%). Na hora em que subimos as escadas para o Hall de entrada ouvi o raspar de garfos e o tilintar de gelo em nosso segundo melhor cristal, mas eu totalmente não fiquei faminta, especialmente quando vi Macey entrando pela porta da frente.
―Macey!‖ gritei.
―Cam,‖ Bex e Liz correram atrás de mim. ―O que está acontecendo?‖
Era uma noite normal em uma escola muito anormal. Mas mesmo pelos padrões da Academia Gallagher eu tive um dia bem excepcional, então corri em direção ao hall de entrada e subi as escadas, ainda chamando, ―Macey!‖
No momento em que a alcancei, ela já tinha tirado seu casaco e estava parada lá com uma blusa de seda. Ela carregava um colar de pérolas e tinha abarrotado a echarpe que usara no comício em sua bolsa. A cada passo, Macey estava largando sua falsa fachada — seu disfarce — um pedaço de papel por vez.
―Você voltou,‖ falei.
―É,‖ disse ela com o tom incrivelmente cansado, ―muito observadora. Ei, o que aconteceu com você hoje?‖ Ela deu outro passo, então tirou outro pedaço de roupa que apenas uma mãe poderia gostar. ―Quando te vi, você parecia meio... pirada?‖
―Espera,‖ disse Bex, ―você a viu?‖
―Sim, eu iria te contar, mas bem... nós não tivemos exatamente um momento... e isso não é algo que você... E eu simplesmente não sabia como... E—‖
―Cammie,‖ Bex me interrompeu. Ela cruzou os braços, me encarou, e me deu aquele olhar de ―você tem uma explicação a dar‖ que eu aprendi a amar. E temer. (Bem, principalmente temer.) E eu soube que não podia guardar meu segredo por mais tempo.
―Eu vi algo!‖ rompi. Depois tive que me corrigir quando disse, ―Alguém.‖
Os corredores estavam quietos a nossa volta. Escuros. Os dias estavam se encurtando. O verão estava finalmente acabado. E talvez foi por isso que tremi quando disse, ―Zach.‖
Tempo que me levou para contar a história toda: vinte e dois minutos e quarenta e sete segundos.
Tempo que eu teria levado para contar a história se não tivesse sido constantemente interrompida: dois minutos e quarenta e seis segundos.
Número de vezes que Liz disse ―Não brinca!‖: trinta e três.
Número de vezes que Bex me deu seu olhar ―Você poderia ter me levado com você‖: nove.
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Mas o que ele estava fazendo lá?‖ Liz estava perguntando novamente (sétima vez, para ser exata).
―Eu não sei,‖ eu consegui balbuciar. ―Digo, num minuto eu estava pensando que ele estava violando a segurança — bem, tecnicamente, ele realmente violou a segurança...‖ Eu falhei. ―E no minuto seguinte eu estava girando ele no chão e—‖
―Olhando profundamente nos olhos dele?‖ Liz supôs, porque embora violações de segurança possam ser sérias, olhares é algo que nunca deve ser ignorado.
―Talvez a Blackthorne estivesse lá para uma missão também?‖ Bex perguntou.
―Talvez,‖ falei, mas meu coração não achava isso. Eu pensei no cartão postal secreto dele — seu alerta — e na maneira que ele olhou para mim naquele dia. ―É só que algo nele parecia... diferente.‖
―O que?‖ disse Bex. Eu podia sentir ela se mexendo em minha direção. Como um tigre. Ela era letal e bonita, e igualmente como um felino no departamento de curiosidade. ―O que você está pensando?‖
Eu não sabia o que era mais preocupante — que houve uma brecha, contudo pequena, no perímetro de segurança de Macey, ou que Zach tinha deslizado por ela.
Eu pensei sobre o garoto que tinha me beijado na primavera passada e no que tinha olhado para mim embaixo das arquibancadas.
―Ele parecia‖ — comecei lentamente, ainda tentando reunir as peças — ―preocupado.‖
―Ooh!‖ Liz deu um gritinho agudo. ―Ele quer proteger você!‖
―Eu não preciso de proteção,‖ eu disse a ela, mas Liz apenas deu de ombros.
―É a intenção que conta.‖
―Bem, há outra opção,‖ disse Bex, com um sorriso muito maldoso. ―Talvez ele foi para embaixo das arquibancadas sabendo que você não seria capaz de resistir de segui-lo até embaixo das arquibancadas...‖
Ela deixou sua voz falhar conforme me encarou, as possibilidades tardando até que Liz sentiu a necessidade de soltar: ―Então você poderia estar sozinha!‖
Certo, eu não queria soar como se estivesse me gabando. Ou amadora. Ou ingênua. Mas é errado admitir que estivesse meio que esperando o dia todo que essa fosse a razão? (Em parte porque, como uma garota, essa é uma boa razão, e como uma espiã, isso significa que ele não estava conspirando em cometer alta traição).
―Não,‖ rompi. ―Não. Isso não pode ser possível. Ele não deixaria sua escola, iria todo o caminho até Cleveland e penetraria em uma área restrita e tudo apenas para... me ver.‖
Eu virei para Macey, nossa residente perita em todas as coisas relacionadas a garotos. ―Ele faria?‖
―Não olhe para mim,‖ Macey falou, abanando as mãos (que estavam, naquele momento, segurando um escarpin, um casaco, e um botão da campanha ―percorra o caminho‖). ―Eu tenho outro tipo totalmente diferente de problema com um garoto.‖
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Espera. MACEY McHENRY TINHA UM PROBLEMA COM UM GAROTO? Eu não podia ter certeza que tinha ouvido corretamente, e evidentemente eu não estava sozinha.
―Problema‖ — Liz balbuciou — ―com um garoto. VOCÊ?‖
Macey rolou seus olhos. ―Não esse tipo de problema. Preston.‖
―Ah,‖ disse Liz, soando matemática demais, ―se você quer saber a verdade, ele é meio que bonitinho. E consciente socialmente. Sabe, eu li esse artigo no—‖
―Ele é uma aberração,‖ Macey disse, a cortando.
―Mas vocês tem tanto em comum,‖ protestou Liz. Macey a espreitou os olhos. ―Digo, fora o negócio de ser uma aberração.‖
―Coisas em comum são superestimadas,‖ disse Macey com outro suspiro.
―Bem, então,‖ falou Liz, ―qual é o problema?‖
―O problema é que nós fomos atacadas por três operários altamente treinados e sobrevivemos para contar a história,‖ falei sem mesmo perceber que sabia a resposta o tempo todo.
―Bingo,‖ disse Macey. ―E Preston ficou impressionado. Muito impressionado.‖
―Então garotos realmente fazem passes para garotas que chutam—‖
―Bex!‖ eu cortei minha melhor amiga.
Posso apenas dizer que é bem difícil lidar com garotos que podem querer...
A) Namorar com você, ou
B) Matar você, ou
C) Aprender as origens de suas capacidades grotescas de autodefesa!
E naquele dia era altamente possível que nós podíamos estar lidando com TODOS OS TRÊS! O drama de garoto algum dia iria desaparecer da minha vida?! Sério, estou perguntando.
―Mesmo depois que você foi embora ele não calou a boca sobre isso,‖ Macey me disse.
―Você podia tê-lo feito calar,‖ Bex sugeriu.
―Não pense que eu não tive vontade.‖
Um grupo de alunas da oitava série passou, cantando do topo de seus pulmões, mas nós quatro permanecemos quietas e paradas dentro da alcova escura.
―Você está sorrindo,‖ Macey rompeu, sem dúvida acusando Bex de fazer algo do gênero dela.
―Por que você está sorrindo?‖
―Nada,‖ Bex disse balançando a cabeça. ―Eu só fico pensando...‖
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Bex não é de falhar. Ela sempre sabe o que vem depois e nunca começa o que não pode terminar. Então talvez fosse esse fato, ou o jeito como o sorriso desapareceu de seu rosto, mas algo me fez segurar meu fôlego conforme ela encontrou as palavras para dizer, ―Eu só fico pensando quão chocados eles devem ter ficado. Você sabe... eles. Eles pensaram que estavam indo atrás de uma garota. Mas ao invés encontraram...‖
―Garotas Gallagher,‖ Liz terminou para ela.
As duas sorriram uma para a outra. Mas Macey e eu — nós somente encaramos a escuridão, uma nova compreensão caindo em ambas de nós conforme eu disse, ―Mas eles não estavam surpresos.‖
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CAPÍTULO QUINZE
É fácil imaginar que uma família de espiões teria muitos inimigos. Bem, acontece que não temos nada sobre os políticos e pessoas que fabricam cosméticos semi-perigosos. Enquanto passamos por cada negócio obscuro e escândalo político, a lista de suspeitos era longa — longa como, o número de dígitos do PI que Liz conhece de cor — e eu não dormia facilmente.
―É impossível,‖ eu disse a Bex um dia em P&A, mas Bex, tristemente, equivocou-se, porque ao invés de lamentar, ela agarrou meu braço e executou a mais perfeita Manobra Axley que eu já vi.
―Ai,‖ olhando para ela. Mas Bex somente riu.
―Marica,‖ disse ela, depois deu um passo para trás para demonstrar. ―Não é impossível. Tudo que você tem que fazer é deslocar o seu peso num sentido inverso—‖
―Não o movimento,‖ soltei enquanto fiquei de pé, desloquei meu peso e mostrei a ela. ―Macey,‖ sussurrei enquanto ela aterrissou no tapete.
―Ah,‖ disse Bex, me encarando.
Lá fora, as primeiras sugestões de cores estavam aparecendo nas árvores, e o vento estava ficando mais frio. O outono estava chegando, e os mistérios do verão ainda estavam bem vivos.
―Eu toquei neles, Bex,‖ falei, minha voz baixa contra o barulho constante de grunhidos e pontapés que enchiam o celeiro. Minha respiração era difícil.
―Eu ouvi a voz e senti o cheiro do hálito deles e não posso dizer nada sobre eles a não ser...‖ falhei. Mas Bex, que é perita no departamento tanto de espiã quanto melhor amiga, leu minha mente. ―É o anel, não é?‖
Gotas de suor corriam de minha testa para o queixo, mas eu não as limpei. ―Eu vi aquele emblema em algum lugar antes.‖
―Acredito em você, Cam,‖ Bex começou devagar. ―Mas você não o desenhou e fez Liz procurá-lo no banco de dados da CIA?‖
―Sim.‖
―E se eles são tão bons quanto você diz, realmente acha que aquela mulher usaria um anel que poderia nos levar a ela? Seria um erro,‖ Bex terminou, e eu apenas fiquei ali, a verdade não dita se postando a nossa volta: eles não cometiam erros.
―Morgan!‖ nosso professor gritou. ―Baxter! De volta ao trabalho, por favor.‖
Eu puxei Bex por seus pés.
―Sabe,‖ Bex falou, ―há um recurso que não utilizamos ainda.‖
Pela janela, eu vi minha mãe cruzando o terreno.
―Não!‖ soltei conforme Bex me atacou, seu pé velejando perto demais de minha orelha.
―Eu não vou espiar minha mãe novamente,‖ falei, talvez alto demais considerando que Tina Walters e Eva Alvarez estavam a três metros de distância.
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―Quem disse alguma coisa sobre sua mãe?‖ Bex sussurrou para mim, gesticulando atrás de nós para a parede de pedra e o Sr. Solomon.
―Sem chance,‖ sussurrei. ―Minha mãe foi ruim o suficiente, mas o Sr. Solomon seria—‖
―Olhei de novo,‖ ela murmurou.
E então eu vi que o Sr. Solomon não estava sozinho. Que ele estava com alguém. Ele estava sorrindo. Eles estavam gargalhando. E que minha melhor amiga no mundo pensou que eu deveria bisbilhotar minha tia Abby.
Eu gostaria de salientar que, apesar de evidências ao contrário, eu não gosto de quebrar regras. Eu não aprecio violar a privacidade de outras pessoas — especialmente pessoas que amo. E tento nunca, jamais botar o meu nariz nos negócios de outras pessoas. Ainda assim, não pude me livrar da sensação que o que estava acontecendo com Macey tinha se tornado o meu negócio conforme eu caia a um metro por um mastro de metal e aterrissei em uma caçamba cheia de roupa suja. Então foi por isso que nos reunimos em nossa suíte naquela quinta-feira à noite.
E foi por isso que não protestei conforme Bex perguntou, ―Então, todos claros?‖
Macey amarrou seus tênis de corrida e Liz agarrou sua lanterna, enquanto eu simplesmente me sentei lá, dizendo a mim mesma que havia uma grande diferença entre espiar e bisbilhotar, e espionagem não é tanto sobre descobrir coisas embaraçosas como são, você sabe, é questão de salvar vidas (e outras coisas importantes). Macey estava segura. O Serviço Secreto e Tia Abby estavam no caso. Mas se alguém estava caçando Garotas Gallagher, então nenhuma de nós descansaríamos até sabermos quem. E por que.
Relatório de Operações Secretas FASE UM 18h30min
Na noite de 1º de Outubro, a Operária McHenry anunciou para todo o batalhão pós-jantar no Grand Hall que ela estava indo correr no bosque.
A Agente Abigail Cameron declarou que a protegida não estava permitida a ir ao bosque sozinha, e que a Agente Cameron tinha uma enxaqueca, portanto, a protegida não iria a lugar algum.
A Operária McHenry (também conhecida como a protegida) declarou que iria correr no bosque e se a Agente Cameron não gostasse, ela poderia... (Bem, vamos apenas dizer que foi em Árabe. E não era muito elegante.)
A agente Cameron anunciou (mais alto, e em persa) que a protegida não iria deixar a mansão.
A Operária McHenry respondeu (ainda mais alto) que ela IRIA.
E então ela fugiu do Grand Hall. Rápido.
Agente Cameron não teve chance a não ser seguir.
Andando pela mansão com Bex naquela noite, eu senti um mal estar no estômago — não por causa do que estávamos prestes a fazer, mas porque eu estava com medo que isso realmente podia funcionar. Eu podia aprender algo que não poderia desaprender. E todo espião sabe que vivemos nossas vidas em uma base de necessidade de saber por uma razão.
Lancei um olhar para fora da janela e vi um borrão conforme Macey tracejou pelo bosque. Abby seguia estreitamente atrás dela. De trás de uma árvore, uma lanterna desligou e ligou, a maneira de Liz de nos dizer que costa estava limpa. Tudo estava indo de acordo com o plano, e ainda
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assim uma sensação nervosa se postou conforme eu andei em direção ao quarto de minha tia e bati, sabendo muito bem que ninguém atenderia.
Demorou dez minutos inteiros para arrombar o quarto de Tia Abby. Sim, dez minutos. Não necessariamente porque minha tia tinha usado cada detecção de vigilância conhecida pelo homem, mas porque não podíamos ter certeza se ela não tinha, e Bex e eu não tínhamos nenhuma chance. (Nós éramos do terceiro ano, afinal!)
Quando finalmente entramos no quarto de Abby, por alguma razão eu prendi minha respiração. Nossas lanternas iluminaram um armário cheio de roupas que nunca tinha visto minha tia usar. Havia uma cômoda coberta com bugigangas, quinquilharias de outros mundos e outros tempos, e não havia nenhuma dúvida em minha mente que cada uma guardava uma história que eu nunca tinha ouvido. Estava ouvindo seus contos selvagens por semanas, mas todo espião aprende desde cedo que as histórias que mais importam são as que você não conta.
Abby tinha voltado para nós — mas um olhar em volta de seu quarto me disse que uma parte dela ainda estava muito longe.
O feixe de minha lanterna quase me cegou quando brilhou contra o espelho. Uma pequena foto preta-e-branca estava presa no canto de baixo do vidro. Eu fiquei lá um longo tempo encarando a imagem de minha tia, meu professor favorito e meu pai — todos os três rindo de uma piada que há muito tempo acabou.
Por um segundo eu quase me esqueci do que estávamos procurando. Alguém estava atrás de Macey, mas naquele momento minha tia era o mistério que eu mais queria resolver.
―Cam.‖
A voz de Bex cortou pelo escuro conforme o feixe de sua lanterna caiu em cima — uma imagem que eu nunca esperava ver novamente.
―É isso,‖ eu murmurei, me aproximando para olhar para a fotografia preta-e-branca granulada — vista de perto de uma mão. Era bem boa considerando que tinha sido tirada com um satélite da NSA a algumas centenas de milhas acima da terra. Ela não mostrava os rostos. Se eu não soubesse, não teria sequer reconhecido meu próprio ombro e pescoço. Mas a mão estava completamente em foco, o anel tão claro quanto o dia.
―Você o reconhece?‖ perguntei, sentindo meu coração bater mais rápido, vendo a prova que finalmente eu não estava perseguindo uma imagem fantasma de minha mente.
Bex encarou mais fixamente. ―Talvez,‖ disse ela, depois balançou sua cabeça.
―Eu não sei.‖
18h30min
Agente Cameron conseguiu trazer a Operária McHenry de volta para a mansão. Infelizmente, as Operárias Morgan e Baxter não tinham nenhuma maneira de saber disso.
―Ah, Joe!‖ a voz de Abby ecoou abaixo no corredor. ―Você vai me meter em tantos problemas.‖
Eu congelei, totalmente incerta do que era mais aterrorizante: o olhar no rosto de Bex, o tom de flerte na risada da minha tia ou uma chave sendo inserida na fechadura da porta de Abby.
Eu não tinha idéia do que fazer. Digo, como regra, se esconder nunca é uma idéia muito boa. Quando em dúvida, saia, Sr. Solomon sempre diz. Mas eu não estava exatamente certa do que
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ele diria quando ele é a pessoa que está prestes a te flagrar.
―Cama!‖ eu soltei, agarrando Bex pela nuca. ―Agora!‖
Rastejando para baixo da cama de Tia Abby, não pude evitar pensar nas milhares de vezes nos últimos quatro anos e meio quando me perguntei onde ela estava e o que estava fazendo. (Nota para si: seja muito, muito cuidadosa quanto ao que deseja.)
―Ah, Joe, pare!‖ minha tia exclamou conforme a porta se abriu. ―E se Rachel descobrir? Ela nunca me perdoaria.‖
Na escuridão debaixo da cama, Bex olhou para mim, seus olhos tão arregalados e brilhantes quanto a lua, conforme ela sussurrou a palavra, ―Solomon!‖
Eu queria colocar minhas mãos em meus ouvidos e cantar. Queria desejar que eu estivesse em outro quarto — outra galáxia — mas em vez disso eu apertei meus olhos.
E isso foi provavelmente o porquê de eu não ter visto a colcha da cama se levantar e duas mãos agarrarem meus tornozelos.
Minhas costas derraparam no piso de madeira conforme uma grande força me puxou de meu esconderijo.
Minha tia olhou para baixo para mim e disse, ―Ei, baixinha.‖
A boa notícia era que o Sr. Solomon não estava em lugar algum. A má notícia era que minha tia tinha tido absolutamente nenhum problema em nos encontrar.
―Bex, querida, você poderia nos dar um minuto?‖ Bex olhou para mim. Uma das regras básicas de ser uma Garota Gallagher era simples: nunca deixar sua irmã para trás. Mas isso era diferente, e ambas sabíamos disso.
―Vejo você lá em cima,‖ falei enquanto ela saiu. A porta se fechou atrás dela, e Abby se virou para mim. ―Você realmente cresceu.‖
―Tia Abby,‖ eu me apressei com as palavras. ―Eu—‖ Eu tinha a intenção de dizer ―sinto muito‖, mas Abby terminou por mim. ―Falhou.‖
Ela caiu sobre a cama e tirou um mocassin preto (padrão do Serviço Secreto) que estava coberto de lama. Eu olhei em volta do quarto. ―Hum... onde está o Sr. Solomon?‖
―Eu não sei,‖ Abby deu de ombros. Ela deve ter lido minha expressão confusa porque depois ela adicionou, ―Ah, Joe,‖ imitando seu tom anterior.
Ela riu. ―Baixinha, você devia ter visto o olhar em seu rosto.‖
―Eu fui tão óbvia assim?‖ perguntei.
―Ah, de jeito nenhum,‖ disse Abby, e por mais louco que possa soar, eu me senti um pouco orgulhosa. ―Mas a coisa da cama é meio que uma tradição da família Morgan.‖
―Por quê? Minha mãe—‖
―Oh, não sua mãe.‖ Abby me parou. Ela ergueu uma sobrancelha.
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―Seu pai.‖
Seu pai, ela disse. Ela simplesmente... se voluntariou. Meu pai sempre esteve com minha mãe e eu, e ainda nenhuma de nós nunca dizíamos o nome dele. Percebi então que meu pai era como um fantasma que somente Tia Abby não temia. Ela andou até a cômoda e puxou um saco de M&M‘s.
―Quer um?‖ ela perguntou, me oferecendo o saco.
Por um segundo eu pensei sobre a primeira vez que encontrei Zach, mas o pensamento rapidamente se desfez.
―Deus, seu pai amava doces!‖ exclamou conforme afundou na cama.
―Você pegou isso dele, sabe. Eu me lembro dessa vez, estávamos seguindo esse agente duplo por um bazar em Atenas, e havia uma senhora vendendo chocolates. Eles pareciam tão bons. E eu pude ver seu pai, e era tudo o que podia fazer para manter o olho sobre o sujeito. Mas seu pai era um artista pavimentar — você sabe disso, certo? Então ele segue esse cara, enquanto eu estou acima numa varanda no segundo andar pegando a coisa toda em vigilância e encaminhando-a de volta para Langley. E seu pai é um profissional, mas eu pude dizer que ele queria tanto algo doce que mal pode aguentar. O único problema é...‖
Eu assisti minha tia continuar. Havia uma luz em seus olhos, uma facilidade em suas palavras que eu não acho que tenha ouvido antes. Era apenas outra história engraçada, um conto divertido. Digo, com certeza era confidencial e perigoso e ela podia estar violando cerca de uma dúzia de estatutos da CIA ao me contar, mas ainda assim ela falava, e eu ouvia.
―Aqui está a coisa que você tem que saber,‖ ela disse conforme se inclinou perto.
―Tudo estava tão lotado que se você piscasse na hora errada poderia perder alguém, então é uma cauda difícil, sabe? E eu estava acima dessa varanda, mas o serviço de quarto queria entrar e limpar. A empregada estava gritando, eu gritei de volta, e desviei o olhar por — eu não sei — dois segundos. Sério. De maneira alguma foi mais do que isso. E quando olho para trás, seu pai tinha chocolate em um lado do rosto e está sorrindo para mim.‖
Abby jogou sua cabeça para trás, e uma parte de mim queria ir ao lado dela. Tentei imaginar meu pai vivo e a meio mundo de distância. Mas a outra parte de mim queria chorar.
―Até hoje eu não sei como ele fez aquilo. Eu voltei e olhei as fitas, também.‖
Ela bateu as mãos juntas como se sacudisse a poeira de algum velho mistério que tinha desistido de resolver. ―Nenhum sinal.‖ Então ela olhou para mim de novo. ―Ele era bom assim.‖
Empurrou-se de volta para a cama e me disse, ―Você é boa assim.‖ Da maneira que ela olhou para mim, não estava dizendo isso como uma tia, estava falando como uma espiã.
Mas eu não queria ser comparada ao meu pai naquele lugar. Daquela maneira. Eu não merecia, então falei, ―Não sou.‖
―É, talvez você não seja,‖ Abby disse, e apesar do meu protesto, uma onda de mágoa correu por mim. Mas então ela ergueu uma sobrancelha. ―Mas você será.‖
Uma nova sensação circulou por mim — alívio. Eu me senti... como uma garota. Como se eu não soubesse todas as respostas e que estava tudo bem porque ainda tinha tempo para aprendê-las.
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―Então você não vai contar para minha mãe?‖
―Por quê?‖ Abby olhou para mim. ―Para que ela fique zangada com nós duas?‖
Pareceu ser um ponto justo até que eu percebi...
―Mas porque ela ficaria zangada com você?‖
―Por mostrar para você isso,‖ o som de um caderno pesado caindo sobre sua cômoda me pegou de guarda baixa. As folhas de papel quase pareciam assobiar conforme ela folheava as páginas.
―O livro de ameaças,‖ minha tia me disse conforme eu olhei para o livro. As capas mal podiam contê-lo.
―Isso é apenas desse mês. Isso é só de Macey — sem nem contar o resto da família McHenry,‖ Ela folheou as páginas, mas não me atrevi a ler as palavras.
―Nós mantemos cópias de cada carta, cada e-mail, cada chamada ao 911 e cartões de entrega de flores suspeitos. Seguimos o caminho de tudo, Cam, e analisá-lo e estudá-lo e isso é o que fazemos.‖
Ela folheou o livro grosso uma ultima vez e disse de novo, ―Isso é apenas deste mês.‖
Todo espião sabe que o que você não diz é tão importante — talvez mais — quanto o que faz. Tia Abby não me disse que o que estava acontecendo era maior que quatro Garotas Gallagher em treinamento e um quarto secreto. Ela não me disse que havia um monte de pessoas malucas nesse mundo, e muitas delas eram fascinadas por uma das minhas melhores amigas. Mas essas eram talvez as únicas coisas das quais eu tinha certeza enquanto dei um passo em direção a porta. Ainda assim, havia uma coisa que eu tinha que perguntar.
―O que é este símbolo?‖ perguntei, apontando para a foto de satélite da mão, que tinha caído no chão. Minha tia casualmente olhou em minha direção.
―Não tenho certeza. É uma das ligações que estamos rastreando. Provavelmente não é nada, porém. Eles eram bons demais para cometer um erro que nos levaria até eles.‖
―Foi o que Bex disse.‖
―Bex é boa.‖
―É,‖ eu disse, me virando para sair. Então parei. ―Eu já o vi antes... antes de Boston.‖
―Você se lembra onde?‖ Abby perguntou. Uma nova luz encheu seus olhos, e eu tive a sensação que estávamos jogando um jogo secreto, ambas esperando ver se a outra piscaria primeiro.
―Vai vir até mim,‖ falei, o que não respondeu exatamente a pergunta, mas estava tudo bem. Eu tive a impressão que não importava exatamente.
―Se você se lembrar, me avise,‖ disse ela, e eu teria apostado a fazenda (ou... bem... a fazenda da Vovó e do Vovô) que ela já sabia.
Eu estava a meio caminho da porta quando ela chamou, ―Cam.‖ Estendeu um pedaço de papel. ―Já que você está aqui, se importaria de dar isso a Macey?‖
Eu parei no corredor por um longo tempo, lendo a primeira linha várias vezes, desejando que
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estivesse escrito em papel-evaporador, tentando encontrar uma maneira de fazer as palavras dissolverem.
Itinerário: Sábado, 05h00min da manhã.
Pavão parte da Academia Gallagher para Filadélfia, PA.
Coisas Que Você Pode Fazer Quando a Vida de Uma de Suas Melhores Amigas Possa Estar em Risco, e Ela Tem que Ajudar Seu Pai na Campanha para Vice Presidente de Qualquer Maneira, e Você Realmente, Realmente Não Quer que Ela Vá:
1. Coagir o Sr. Mosckowitz a mudar o exercício onde as alunas da nona série (a série onde Macey estava agora) sejam trancadas em uma sala e não possam sair até quebrarem a Equação de Epstein.
2. Invadir os bancos de dados do Serviço Secreto, deixando indicações de que a supramencionada colega de quarto esteja fazendo algumas ameaças incrivelmente perigosas a outro protegido, Preston Winters (por que ela totalmente fez).
3. Se a colega de quarto tiver uma reação alérgica ao creme experimental noturno de sua mãe, resultando em um terrível surto, que a deixe não fotogênica e improvável para testar em mulheres indecisas entre as idades de 21 e 42 no processo, de modo que ela não seja, requeria na campanha eleitoral afinal!
4. Duas palavras: intoxicação alimentar (mas apenas como último recurso).
Esses eram realmente bons planos. Afinal, Bex e eu não tínhamos simplesmente tirado ‗A‘ no exame de Pensamento Logístico e Planejamento para o Sucesso do Sr. Solomon por nada. Logisticamente falando, nós estávamos sendo tão dissimuladas quanto podíamos ser, sem ir direto e amarrar Macey em sua cadeira (um plano que Bex propôs freqüentemente).
Mas o Sr. Mosckowitz não iria fazer seu teste em sala fechada este ano, desde que tinha desenvolvido um caso de claustrofobia depois de uma missão de verão super secreta que envolvia uma privada e duas cabeleireiras libanesas.
E acontece que o Serviço Secreto não leva ameaças de mortes por protegidos tão a sério. Especialmente se são garotas. Mesmo que sejam Garotas Gallagher.
E nós devíamos saber que Macey nunca teria uma espinha. Nunca. Isso vai contra as leis da natureza ou algo assim.
E o pior de tudo, a última parte de nosso plano principal não funcionou porque uma pessoa não pode ter intoxicação alimentar se a pessoa não come mais comida.
Eu não sabia se eram os nervos ou se ela realmente estava se revertendo de volta para Macey que era, quando veio até nós um ano antes, mas noite após noite sentávamo-nos à mesa do terceiro ano no Grand Hall, enquanto nossa colega de quarto empurrava a comida em volta de seu prato — sem comer, sem rir. Somente esperando pelo que viesse depois.
―Isso é ruim,‖ Liz disse na sexta-feira de manhã conforme deixamos Cultura e Assimilação. Os corredores estavam cheios. E o tempo estava acabando.
―Nós podemos sempre—‖
―Não!‖ Liz e eu disparamos, sem realmente pensar que essa era a hora ou lugar para sermos lembradas do argumento de Bex, ―ninguém pode sair dos meus nós‖, mas foi Macey que nos fez parar.
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―Está tudo bem, gente,‖ disse Macey. Ela se virou em direção ao laboratório no porão do Dr. Fibs.
―Obrigada por tentar e tudo, mas eu tenho que ir.‖ Do jeito que ela disse isso, eu sabia que tirá-la da viagem não era realmente o debate. Ela deu de ombros e adicionou, ―É o trabalho.‖
Eu podia ter discutido; eu podia ter pretextado, mas naquele momento eu percebi que Bex e eu não éramos as únicas que tinham nascido para os negócios da família — um fato genético. A primeira frase completa de Macey tinha sido ―Vote no Papai,‖ e nem mesmo uma tentativa de seqüestro, testes, e nós três podíamos tirá-la da campanha eleitoral.
Conforme Bex me puxou em direção ao elevador e ao Subnível Dois, o caos dos corredores sumiu substituído pelo zumbido abafado do elevador, os lasers e os sons de um novo conjunto de preocupações em minha cabeça.
―O que?‖ Bex perguntou.
―Zach,‖ eu disse trôpega.
―Cam, ele é um sonho — eu não vou te negar isso — mas não acho que garotos sejam a coisa mais importante agora.‖
―Zach passou.‖
Pensei nele parado atrás das arquibancadas. Pensei em mim parada atrás das arquibancadas. Na área restrita. ―Zach passou pela segurança. Se ele o fez...‖ Eu falhei, não querendo dizer o pior que estava em minha mente. Bex assentiu, não querendo ouvir.
Um momento depois estávamos saindo do elevador. Nossos passos ecoaram conforme corremos, circulando, circulando e circulando a rampa em espiral, mais baixo para a profundidade da escola.
―Não se preocupe, Cam,‖ disse Bex, nem sequer perto de estar sem ar. ―Vamos pensar em algo. Se o Sr. Solomon não nos matar por chegarmos atrasadas.‖
Mas então ela parou. Em parte, eu acho, porque finalmente chegamos à sala de aula; em parte porque nosso professor — talvez nosso melhor professor, o mais rígido — não estava em lugar algum. Eu não sei como garotas normais se comportam quando o professor está fora da sala, mas Garotas Gallagher ficam quietas. Loucamente quietas. Porque operárias em treinamento aprendem desde cedo que você nunca pode realmente confiar que está sozinha.
Então Bex não disse nada. Eu não disse nada. Até mesmo Tina Walters estava sem palavras.
―Vocês são as do terceiro ano?‖
A voz era uma que eu não conhecia. Virei-me para ver um rosto que não reconheci. Um homem. Um homem idoso em um uniforme do departamento de manutenção da Academia Gallagher. Seu crachá dizia ―Art‖ e ele estava olhando para nós como se soubesse que éramos pessoalmente responsáveis pelo ácido clorídrico derramado no laboratório do Dr. Fibs, que provavelmente demorou duas semanas para ser limpo.
―Solomon disse que vocês eram as do terceiro ano,‖ Art nos disse.
―Sim, senhor,‖ Mick falou, por que:
1) Nós todas estivemos tendo aulas de cultura desde a sétima série e Madame Dabney faz seu
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trabalho bem, e
2) na Academia Gallagher, todo mundo é mais do que parece.
Nós parecíamos garotas normais, mas não éramos. Nossos professores podiam se misturar com qualquer um em uma escola preparatória no mundo, mas eles eram muito mais. Cada garota naquela sala sabia que para gastar sua aposentadoria no departamento de manutenção da Academia Gallagher você tem que ter tido uma alta autorização e grandes habilidades — você está aqui por uma razão. Então Art era um ―senhor‖ para nós. Nenhuma dúvida quanto a isso.
Ainda assim, Art nos olhou como se nós fossemos exatamente o que ele esperasse.
Conforme ele se virou e começou a sair pela porta, nós olhamos atrás dele. Mas então ele parou e chamou de volta sobre seu ombro.
―Bem? Vocês virão ou não?‖
Nós subimos e seguimos Art exatamente do jeito que entramos.
Ninguém perguntou pelo Sr. Solomon, mas um olhar para as garotas seguindo a caminhada do homem da manutenção me disse que nós todas estávamos nos perguntando a mesma coisa.
Bem, essas duas coisas:
1.) Onde estava o Sr. Solomon? E
2.) O que tinha acontecido com Art?
O homem andava com uma mancada leve, seu pé direito nunca aterrissando totalmente sobre o piso de pedra. Sua mão esquerda pendia contra seu lado em um ângulo estranho, e óculos grossos fundo de garrafa deviam fazer o mundo parecer muito diferente através de seus olhos.
Mas nada disso o manteve de soltar, ―Walters!‖ quando Tina sussurrou algo para Eva, então tenho certeza que não havia nada errado com seu ouvido.
Passamos por portas antigas de madeira com fechaduras que pareciam como se eles tivessem requerido chaves de duas toneladas. Nós subimos mais, passamos por salas que pareciam sets de filmes antigos de monstros.
Quando nos aproximamos do topo, nós todas andamos mais rápido, em direção ao elevador, antecipando que éramos inteligentes, maduras e espertas o suficiente para adivinhar o que vinha depois. Mas uma das regras de ouro de operações secretas é antecipar sempre, nunca cometer, e essa teria sido uma boa hora para relembrar isso.
Porque Art gritou, ―Senhoritas!‖ E a classe inteira parou.
Nos viramos para ver o homem parado em frente a uma daquelas portas enormes que, até esse momento, eu nunca tinha visto aberta. Ele entrou e ligou um interruptor. Luz substituiu a sombra e dançou sobre o piso de pedra conforme ele deu um passo com sua perna manca.
―Bex,‖ eu sussurrei enquanto o seguimos para dentro. ―Ele parece...‖
Mas eu não terminei. Ah, quem eu estou enganando — eu não pude terminar. Porque a sala para a qual estávamos entrando não era somente uma sala normal. Não era um lugar para uma aula normal.
Fileiras de roupas alinhavam duas longas paredes. No centro, prateleiras estavam cobertas com
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acessórios. Espelhos permaneciam em uma longa fila no fundo da sala, estantes e cômodas, todas rotuladas, esperando.
―É um closet,‖ Eva Alvarez disse em pavor.
―E é... enorme,‖ Tina Walters respondeu.
Sei que garotas normais provavelmente adorariam se encontrar dentro de um closet duas vezes o tamanho da maioria das casas suburbanas. Mas não esse closet. Esse closet podia somente ser apreciado por uma Garota Gallagher.
Nós todas entramos, sabendo que estávamos à frente de uma aula diferente de qualquer outra que já tivemos.
Eva alcançou outro interruptor, e as luzes circulando os espelhos no fundo da sala se ligaram, exibindo chapéus e perucas, óculos e dentes falsos. Sobretudos e guarda-chuvas.
Olhei para o homem que nos trouxera aqui. Virei meu olhar de sua perna manca e braço mutilado... e eu soube.
Art deu um passo para o centro da sala e disse, ―Senhoritas.‖
Ele tirou seus óculos com o braço esquerdo, o qual, pela primeira vez, pareceu normal e reto. Ele chutou fora seu sapato direito, o pegou, e deixou uma pequena pedra cair sobre sua mão, e depois ficou em pé sobre sua perna direita. E então finalmente ele tirou a peruca e a deixou na prateleira central que corria no comprimento da sala.
Tina Walters arfou. Anna Fetterman tropeçou para trás. Sr. Solomon era o único na sala que estava sorrindo conforme estendeu seus braços no closet da Academia Gallagher. ―Pequenas mudanças. Grandes diferenças.‖
Ele desabotoou a camisa de ―Art‖ e parou em nossa frente com uma camiseta branca (as calças pretas, no entanto, ficaram). ―Bem vindas à ciência do disfarce.‖
Um minuto inteiro depois, metade da classe ainda encarava Joe Solomon, se perguntando como o velho e deplorável Art podia ser o mesmo cara totalmente gato que víamos todo dia de aula por mais de um ano.
Mas eu estava me virando, encarando uma fantasia absoluta de camaleão — um lugar com todo o propósito de fazer uma garota desaparecer.
E então eu vi Bex, e minha alegria instantaneamente foi substituída por inquietação.
Porque ela estava sorrindo. E assentindo. E sussurrando, ―Plano B?‖
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CAPÍTULO DEZESSEIS
Relatório de Operações Secretas
Depois de aprender que a Operária McHenry estava em perigo por uma pessoa (ou pessoas) que sabia a identidade real da Academia Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais, as Operárias Morgan, Baxter e Sutton decidiram implementar uma operação sombria para supervisionar a segurança da Operária McHenry. Ela também envolvia uma grande variedade de sombra nos olhos.
Ela era louca? Sim.
Era necessária? Talvez.
Havia alguma possibilidade de convencer Bex a ficar fora? Somente se concordássemos a ir com a opção de amarrar, assim a outra, realmente parecia ser nossa melhor aposta.
Nós passamos toda a tarde de sexta-feira pesquisando, planejando, e fazendo alguns acessórios seriamente secretos, mas no sábado de manhã tudo que eu pude fazer foi andar com Bex e Liz pelos corredores e combater a combinação de nostalgia e os nervos que pareciam estar mais fortes a cada passo.
Afinal, eu não tinha estado fora dos terrenos (não oficialmente) por meses; não tinha aberto qualquer uma das passagens; não tinha quebrado qualquer uma das regras. (Ok, eu não tinha quebrado qualquer uma das grandes regras.)
Mas conforme eu cheguei na estátua das irmãs Rozell (duas Garotas Gallagher idênticas que tinham sido postas como agentes duplas — literalmente — durante a Primeira Guerra Mundial), eu não pude me livrar da sensação de que eu estava prestes a desencadear uma abertura para algo muito mais sombrio e profundo do que qualquer passagem secreta que já encontrei antes.
E isso foi antes de ouvir Liz gritar, ―Eca!‖ e a vi pular para trás, tropeçar sobre o pé de Bex, e bater contra a parede, ralando seu cotovelo no processo.
As Operárias trouxeram o equipamento necessário para uma operação detalhada de engano-e-disfarce. Elas, entretanto, não trouxeram o equipamento necessário para matar aranhas.
Teias de aranha empoeiradas pendiam entre os faróis baixos, como pequenos detectores de vigilância da natureza. As maiores aranhas que já vi correram da luz, e eu só fiquei lá relembrando que havia muitas, muitas razões pelas quais uma Garota Gallagher deve manter a prática.
Um: você não quer perder sua vantagem.
Dois: você nunca sabe quando poderá ter que recorrer ao seu treinamento. E,
Três: se você passar muito tempo sem usar as passagens secretas, outras coisas tendem a assumir em sua ausência.
Até mesmo Bex deu um grande passo para trás. (Porque, por mais que Bex seja perfeitamente propensa a domar três atacantes armados de uma vez, aranhas são uma coisa totalmente diferente.) Mas Liz era a pessoa para quem eu estava olhando. Afinal, lá estávamos nós, trancadas dentro do lugar mais seguro no país, e, no entanto ela já estava sangrando.
―Ei, Liz, talvez você devesse ficar aqui. Você sabe... criar e colocar para funcionar um centro de
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comunicação?‖
―É melhor eu ficar no local,‖ ela argumentou de volta.
―E cobrir para nós,‖ adicionei, ―se alguém começar a perguntar onde estamos.‖
―É sábado,‖ ela me lembrou. ―Em uma construção enorme. Que você é conhecida por desaparecer dentro.‖
―Mas—‖ Eu não sabia o que estava vindo sobre mim, mas subitamente senti como se alguém devesse mudar meu apelido de Cammie a Camaleoa para Cammie a Corrupta. Eu estava prestes a arrombar minha escola (de novo), para fazer algo que não deveria estar fazendo (de novo). Mas isso não era o que me preocupava quando olhei para Liz, quem mal pesava quarenta e cinco quilos, e então para o túnel secreto que podia estar nos levando para verdadeiros vilões com armas de verdade.
―Liz, é só que—‖
―Por que você não está dizendo para Bex ficar atrás?‖ Liz atirou de volta, mas nós todas sabíamos a resposta: o único jeito de Bex perder isso seria se estivesse inconsciente. E amarrada. E trancada em uma caixa de concreto. Na Sibéria.
O que foi um pensamento que quase me fez rir. Quase. Mas quando ouvi Bex dizer, ―Talvez você devesse passar essa, Lizzie.‖
Eu sabia que a minha melhor amiga estava pensando isso também. Que uma vez que continuarmos à frente, pode não haver volta. Em muitas maneiras.
Liz é um gênio — o tipo de gênio que deixa o resto de nós com vergonha. Ela sem dúvida conhecia as chances. Ela provavelmente calculou a chance de sermos pegas, de nos machucarmos, e (se não fosse muito traumático para ela pensar) de uma de nós derrubarmos uma grade completa em nosso teste. Mas ainda assim ela virou desafiadoramente e se empurrou através das teias de aranha.
Não havia esconderijos em nossa trajetória — sem volta — então Bex estendeu seus braços em frente a porta, gesticulando ―depois de você.‖
Eu entrei na escuridão sem nada a não ser meu treinamento, meu disfarce e minhas amigas que me seguiriam até o fim do mundo, não importando o que nos esperasse do outro lado.
Bem, acontece que o que estava nos esperando era uma minivan Dodge 1987.
E Liz tinha as chaves.
―Liz,‖ falei, andando em direção dela, torcendo para que ninguém entrasse dirigindo e nos visse. (Em parte porque nós totalmente não devíamos estar ali. Em parte por que... bem... era uma minivan realmente feia.)
Mas Liz somente disse, ―Entrem.‖ Depois parou. ―Quem vai dirigir?‖
Bex estendeu as mãos para as chaves, mas dada a tendência dela de esquecer qual lado da estrada deveríamos estar, eu tirei elas de seu alcance.
―Liz,‖ falei de novo, de olho no pára-choque enferrujado, ―quando você disse que podia nos conseguir um carro... Liz, onde você conseguiu esse carro?‖
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―É um projeto,‖ ela disse simplesmente, colocando o cinto no banco de trás.
Puxei a porta do lado do motorista, e por um segundo pensei que ela iria cair de suas dobradiças. Eu olhei para o banco. O enchimento estava rompendo suas costuras desgastas. O volante estava sendo segurado em quase inteiramente por fita adesiva.
―Que tipo de projeto?‖ Eu perguntei, quase com medo da resposta porque algo me dizia que empurrar a van para a Filadélfia não iria realmente ajudar os nossos objetivos de nossa missão.
―Ah, me dê elas,‖ Bex disse, pegando as chaves da minha mão. Enfiou elas na ignição, se virou e depois... nada.
―Ótimo!‖ soltei. ―Nem sequer funciona.‖ Mas então eu senti. O carro estava ligado, mas estava quase completamente silencioso, quase completamente imóvel.
―Nova tecnologia,‖ disse Liz, com um encolher de ombros. ―Dr. Fibs tem me ajudado. Nós podemos fazer até 452 quilômetros por galão agora,‖ ela falou, com apenas uma leve dica de um sorriso triunfante. ―Mas acho que vou tê-la fazendo 522 até o Natal.‖
E quem disse que Garotas Gallagher na trajetória de pesquisa e operações nunca têm a chance de salvar o mundo?
Nós passamos as próximas horas em silêncio. Bem, se por silêncio você quer dizer que Liz estava batendo sem parar como faz quando está nervosa, e Bex estava totalmente sintonizando ela como faz quando está nervosa. E eu? Eu apenas dirigi, ouvindo a chuva que começou conforme atravessamos a fronteira da Pensilvânia. Os limpadores de pára-brisa não deviam ser de tão alta tecnologia como o motor porque prenderam e pararam, deixando riscas através do vidro que chamava a luz dos faróis passando, e durante o caminho para a Filadélfia, tudo era um borrão.
―Vire à direita,‖ disse Liz, navegando nosso caminho pelas ruas estreitas de paralelepípedos. Edifícios mais antigos do que a Declaração de Independência subiam para o céu chuvoso. Talvez eu estivesse esperando o barulho de Ohio, os bloqueios e o caos da convenção, mas em vez disso olhamos para fora do pára-brisa sujo para as ruas lisas pretas, e eu não pude deixar de pensar que senti algo... diferente.
―Tem certeza que este é o lugar certo?‖ perguntei. Liz inclinou-se entre os dois bancos da frente, mas antes que ela pudesse agir como se estivesse insultada, nós viramos e vimos um grande edifício de pedra que cobria a dois quarteirões da cidade.
Colunas enormes mediam a sua entrada principal, de modo que mais parecia um templo romano do que uma estação de trem. E ali, no centro da fachada, havia uma bandeira de quinze metros de comprimento que se lia WINTERS-McHENRY: COLOCANDO A AMÉRICA DE VOLTA NOS TRILHOS.
A chuva caía mais forte. Poças refletiam nas calçadas. E ao meu lado, Bex disse, ―Nós estamos aqui.‖
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CAPÍTULO DEZESSETE
Toda missão é uma lição — na escola e na vida. E antes que nós sequer chegarmos às portas da estação da Trigésima Rua, eu aprendi duas coisas muito importantes.
1. Se vestir com duas outras garotas na parte traseira de uma minivan Dodge totalmente deveria valer crédito extra em P&A.
2. Mesmo que elas sejam suas melhores amigas, você nunca deveria confiar a outro operário para escolhê-las para você.
―Não acredito que estou usando isso,‖ eu resmunguei conforme puxei a barra do pequeno vestido preto que Bex tinha pessoalmente contrabandeado do Subnível Dois. Mas aquilo não parecia como um vestido. Parecia com... uma tortura. Uma tortura com as costas muito baixas e sapatos altos demais.
Uma fila de limusines estava alinhada fora das escadas principais. Os agentes do Serviço Secreto montavam guarda em cada saída possível, mas Bex ainda assim sussurrou, ―A chave para engano e disfarce é romper com tendências e normas.‖
E naquele momento eu sabia que ter amigas gênios que são realmente boas em memorizar livros às vezes pode ser uma coisa muito ruim, porque Bex estava certa: nada sobre aquele vestido era norma.
Ainda assim, eu não pude deixar de dizer, ―Então você deveria estar usando-o.‖ Mas Bex apenas encolheu os ombros.
―Eu adoraria,‖ disse ela. ―E esse é o problema.‖
Aqui está a coisa que você precisa saber sobre disfarce: não se trata de ser invisível. Não se trata de passar despercebido. E sim ser irreconhecível — mudando sua própria pele. E naquele momento eu não estava preocupada com o Serviço Secreto ou com os quinhentos doadores de partido influente. Naquele momento nossa preocupação era Tia Abby: enganar ela significava deixar nossas identidades na van.
Olhei para Liz, cujos longos cabelos louros estavam escondidos sob uma peruca marrom escura. Bex usava uma peruca também, além dos óculos e uma roupa acolchoada que mudou sua silhueta natural de atleta. Tínhamos usado todos os truques no closet da Academia Gallagher, e conforme passamos pelas janelas escuras da estação, eu peguei um vislumbre de três desconhecidas antes de perceber que, surpreendentemente, elas eram nós. Eu nem sequer me reconheci sob a peruca, lentes de contato colorida, e o nariz falso que mudou o meu rosto esquecível para um... que não era.
―Ok, gangue,‖ disse eu, ―de acordo com o projeto, há um painel de acesso ao elevador no lado leste do prédio. Podemos nos sujar um pouco, mas—‖
―Eu pensei que iríamos apenas passar por portas,‖ disse Liz, piscando três convites lindamente gravados e algumas identidades falsas maravilhosamente autênticas.
Os ingressos custavam U$20,000 cada um. O serviço secreto tinha revisto a lista de convidados por semanas, então Bex e eu paramos debaixo de uma lâmpada e estudamos Liz.
―Eu quero mesmo saber onde você conseguiu isso?‖ perguntei.
Liz parecia ponderar, e depois ela disse, ―Não.‖
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E com isso eu me lembrei que Liz era provavelmente a mais perigosa de todas nós.
Entrar na estação era como entrar em outro mundo. Belas esculturas cobriam um teto que tinha pelo menos quatro metros de altura. Um quarteto de cordas tocava da sacada do segundo andar, a sua música ecoando no chão de pedra, enquanto quinhentos homens e mulheres comiam, bebiam e conversavam sobre a estrada para a Casa Branca.
Eu não queria pensar nos tipos de favores que alguém teve de fazer para fechar a estação inteira para a noite (e chegando a pensar sobre isso, um verdadeiro ato do Congresso pode ter sido envolvido), então eu somente fiquei no topo da escada com minhas melhores amigas e uma grande estátua do anjo Miguel, que segurava um soldado caído em seus braços, suas asas prestes a levantar vôo. De alguma forma, parecia que todas nós quatro estávamos à procura de Macey.
―Algum sinal?‖ Pedi vinte minutos depois enquanto entrei no meio da multidão.
―Negativo,‖ respondeu Bex.
―Uau, vocês sabiam que o sistema de trem da Pensilvânia remonta a—‖
―Liz!‖ Bex e eu soltamos em uníssono.
―É Rato de Biblioteca,‖ Liz corrigiu, e eu não pude reclamar.
―Rato de Biblioteca, o que a agenda oficial dizia mesmo?‖ perguntei, precisando ouvir.
―Dizia que Macey estará fazendo uma aparição pública hoje. Ela vai chegar às sete e meia, através do Expresso de Volta aos Trilhos — qualquer que seja.‖
―Que horas são?‖ falei.
―Você sabe que horas são,‖ Bex lembrou, mas eu esperava que estivesse errada, porque os candidatos e suas famílias estavam... atrasados.
Atraso significava erros.
Erros significavam problemas.
E os problemas... bem, eu realmente não queria pensar no que eles significavam.
O alerta do Sr. Solomon continuava voltando para mim conforme eu avaliei a multidão, lembrando que os bandidos poderiam ser qualquer um, que poderiam estar em qualquer lugar — que eles sabiam quem nós éramos. E eles só podiam ter sorte... uma vez.
Talvez fosse meu treinamento espião; talvez fosse uma imaginação louca e hiperativa, mas parecia que todo lugar que eu olhava, as pessoas pareciam suspeitas.
Havia um homem com uma gravata vermelha borboleta que esbarrou em mim não uma, nem duas, mas três vezes e ele tocou em mim. Meu primeiro instinto foi o de chamar Macey pelas unidades de comunicação para ver se ele estava flertando, mas depois me lembrei que a única Garota Gallagher que com certeza teria uma resposta era a única Garota Gallagher para quem eu não podia perguntar.
―Camaleoa,‖ a voz de Bex soou no meu ouvido. ―Cammie, você está—‖
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―Estou aqui,‖ disse eu.
―O que há de errado?‖ seu sotaque estava pesado novamente.
―Nada. Quero dizer—‖ eu estava girando, sendo menos discreta quanto podia ser, mas algo estava... errado.
―Olhos,‖ falei, citando o último recurso de um operário — seus instintos. ―Eu sinto olhos. Alguém está... observando.‖
―Sim,‖ Bex disse, sua voz grossa com um duh retumbante. ―Você está gata.‖
Bem, isso explicava uma coisa, porque em ser discreta eu sou boa. Ser invisível eu sou boa. Em ser gata eu totalmente não sou boa.
Eu me empurrei pela multidão novamente, sabendo que estava ficando cada vez mais tarde, e eu não podia deixar de me preocupar mais e mais. Os momentos de Boston passaram por minha mente. Fechei os olhos e estremeci, vi uma multidão quase idêntica, senti aquela sensação quase idêntica.
―Rato de Biblioteca, Duquesa,‖ eu comecei, mas parei porque não tinha idéia de como essa frase deveria terminar.
―Algum sinal deles?‖ Perguntei ao invés.
―Nada de ônibus,‖ Liz me disse do seu ponto de vista próximo a janela.
―Nenhum sinal na entrada leste. Espera,‖ Bex disse, parando subitamente.
O sentimento da multidão estava mudando. Uma energia tão palpável correndo através da histórica estação antiga que eu olhei para fora das janelas enormes para o céu nublado, meio esperando relâmpagos.
―Oh meu Deus,‖ exclamou Liz, ecoando a surpresa de Bex.
―O que?‖ Falei em voz alta, não me importando se alguém notara.
Eu me virei, olhando para a entrada principal da estação, mas então senti a multidão se mexer atrás de mim. Eu me virei lentamente e percebi que não havia ônibus. Não havia escolta.
Em vez disso, um longo trem antigo com uma bandeira antiquada vermelha, branca e azul pendurada no vagão estava lentamente se movendo para a estação.
No instante seguinte, não importou o quão ótimas eram as nossas unidades de comunicação, porque o grito que veio de quinhentos eleitores fanáticos foi suficiente para abafar até mesmo o som das vozes das minhas melhores amigas em minha orelha.
O governador Winters e o pai de Macey saíram para o palco atrás do vagão, seguidos por suas esposas. Macey e Preston estavam a um passo atrás deles.
Esperei que o medo em meu estômago diminuísse. Eu disse a mim mesma que estava louca. Afinal, Macey estava sorrindo. Estava acenando. Ela era a operária perfeita com o disfarce perfeito. Tia Abby estava ao seu lado. Ela estava bem.
Por um segundo uma onda de alívio como nada que eu já tivesse sentido tomou conta de mim.
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Mas depois a multidão se moveu, e por uma fração de segundo o meu olhar caiu sobre um homem.
Um homem com cabelos brancos e sobrancelhas selvagens.
Um homem que eu tinha visto antes.
Em Boston.
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CAPÍTULO DEZOITO
Não significava que era alguma coisa. Provavelmente eram as probabilidades. Afinal, havia provavelmente um monte de pessoas que iam a convenções e comícios políticos. E o Serviço Secreto estava ali — o Serviço Secreto era bom.
Ainda assim, eu não sabia o que era mais assustador: que eu tivesse visto um homem na multidão, que literalmente bati no exato dia em que minha colega de quarto fora atacada, ou que — rápido daquele jeito — o rosto familiar tinha desaparecido.
―Duquesa!‖
Eu praticamente gritei, mas a multidão estava alta demais, a corrida muito perto, e as pessoas que queriam o bilhete Winters-McHenry para vencer no Dia da Eleição estavam excitadas demais enquanto eu chamei minhas amigas pelas unidades de comunicação.
―Duquesa, tem um cara... em um terno...‖ Escalei a escada principal para poder examinar melhor a plataforma, e aí foi quando eu percebi que tinha descrito metade da multidão vibrante.
―Um terno escuro,‖ adicionei. ―Cabelos brancos bagunçados. Sobrancelhas selvagens. Bigode,‖ eu recitei, identificando as características tão rápido quanto podia pensar nelas.
A Operária percebeu que saltos incrivelmente altos dificultam bastante perseguir rapidamente uma pessoa sobre pisos escorregadios!
A banda tocava. Pessoas bebiam. E onde o trem parou no fim da plataforma, eu vi o rosto novamente. Reconheci algo na maneira que ele se movia, e minha mente voltou para o corredor do hotel em Boston enquanto a delegacia do Texas celebrava.
E então eu lancei um olhar para o trem e vi Tia Abby em pé na ponta, a três metros de Macey e exatamente onde deveria estar. E o homem de cabelos brancos se aproximou.
Eu não sabia como descrevê-lo, e essa talvez fosse a coisa mais notável de todas. Ele estava simplesmente se movendo entre a multidão como se tivesse algum outro lugar onde tinha que estar. Chame-me de louca, mas eu não pude afastar a sensação de que ninguém paga U$20, 000 para sair no meio do evento principal.
Eu me apressei entre a multidão tão rápido quanto me desafiei sem:
A) cair no chão, e
B) atrair atenção. E eu estava indo bem em ambos, até que um garçom escolheu aquele momento para perder o controle de uma bandeja de champanhe. Enquanto as taças caíram, eu dei um passo para o lado e me virei. E corri direto até Preston Winters.
―Ah, eu sinto muito!‖ ele exclamou, me agarrando pelos ombros como se eu estivesse prestes a cair. (O que eu não estava, mas ele provavelmente não precisava saber que eu tinha sessões inteiras das aulas de Proteção e Aplicação dedicadas a ajudar uma operária a manter o equilíbrio.)
―Você está bem? Posso te arranjar um... ponche… ou algo assim?‖
―Estou bem, obrigada, mesmo assim,‖ falei conforme corri pela lista mental de coisas que estavam dando errado naquele momento, esquecendo a mais inoportuna de todas.
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―Nós já nos conhecemos antes?‖ Preston perguntou, olhando para mim de um jeito que dizia que, apesar da longa peruca preta e do vestido preto apertado, havia algo muito familiar em mim.
―Não, acredito que não,‖ eu disse em meu melhor sotaque sulista. Tentei me afastar. O homem estava descendo a extensão do trem e se dirigindo ao túnel de pedra de onde o mesmo tinha emergido, e eu somente fiquei ali pensando em minhas opções.
A Operária se arrependeu de não ter pegado os novos Napotine patches em forma de Band-Aids do Dr. Fibs. Ela também se arrependeu de não pegar alguns Band-Aids normais, porque seus sapatos realmente machucaram seus pés.
O pai de Preston estava em pé sobre um palco provisório atrás do vagão do trem antiquado — uma homenagem física aos tempos melhores — e disse a multidão, ―Nós vamos colocar a América de volta nos trilhos!‖
A multidão aplaudiu, mas eu estava ocupada demais ouvindo duas vozes. Uma pertencia ao garoto da minha frente, que estava perguntando, ―Eu sei, você estava no comício de Atlanta, não estava?‖
A outra voz zumbia em meu ouvido conforme Bex exclamou, ―Vocês nunca vão acreditar em quem está aqui! Olhos,‖ disse ela de novo. ―Eu tenho olhos em—―
Mas então não havia nada além de estático conforme a voz da minha colega de quarto desapareceu. Meu primeiro pensamento foi levar minha mão até minha orelha e gritar como uma amadora total, mas eu não o fiz.
―Agora, eu sei que nos conhecemos antes,‖ Preston continuou, alheio ao pânico que eu sentia.
―Qual é. Ajude-me.‖ Eu podia ter mentido. Podia ter lutado. Mas horas desesperadas pedem medidas desesperadas, então eu arrisquei e convoquei uma arma de uma Garota Gallagher de último recurso. Eu flertei.
―Desculpe,‖ falei, batendo meus cílios falsos. ―Eu só fico um pouco tímida sempre que estou perto de homens bonitos assim.‖
―Hum...‖ Preston engoliu seco. ―Bonito?‖ Instantaneamente, senti a mesa se virar.
―Sim,‖ respondi, alcançando para segurar seu bíceps. ―Eu juro, você é ainda mais forte do que parece ser na TV.‖
Ele engoliu seco de novo e de alguma maneira conseguiu resmungar, ―Você sabe eu levanto... coisas.‖
―Oh, eu posso ver.‖ Em meu ouvido, a voz de Bex estava ficando abafada, mas minha missão naquele momento era sair de perto de Preston Winters sem deixá-lo perceber que a garota no vestido preto era também a garota no telhado.
―Você sabe, esse é meu preferido dos seus ternos. Também gosto do listrado da marinha, é claro, mas você estava usando aquele em Boston, não estava? Então agora esse é o meu favorito...‖ Eu comecei a tagarelar sobre qual das gravatas de Preston ficava melhor com seus olhos, mas antes que eu pudesse dizer uma palavra, Preston já estava apontando para seus pais do outro lado do salão.
―Espere. Ah, você sabe, eu acho que eles precisam de mim para... alguma coisa.‖
―Ah, mas—‖ falei conforme ele começou a sair.
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―Obrigada por seu voto,‖ ele exclamou, se virando de volta.
Mas eu já tinha desaparecido.
―Duquesa,‖ eu tentei conforme me aproximei do túnel do trem.
―Duquesa,‖ tentei novamente, lançando um olhar para trás na festa, para Macey e minha Tia Abby, e eu soube que tinha duas escolhas. Um, eu podia descer até a minha tia, o que resultaria em reforços e na possibilidade de ela contar a minha mãe o que eu estava fazendo. Ou dois, eu podia seguir a pessoa de interesse de uma tentativa de seqüestro por um túnel escuro, sem reforço, sem ajuda.
Então eu fiz a segunda, porque, no momento, era a menos assustadora das minhas opções.
Conforme eu entrava no espaço escuro, o som da multidão desaparecia atrás de mim enquanto, em meu ouvido, minhas unidades de comunicação começaram a estalar e zumbir.
Eu passeei pelo túnel escuro, meus sapatos (totalmente inconfortáveis) tão silenciosos quanto um sussurro contra o concreto frio. Mas isso foi antes de uma mão apertar minha boca, um braço agarrar firmemente minha cintura e alguém me puxar do chão.
―Ei, Camaleoa, como você está indo?‖ A voz de Bex soou forte em meu ouvido.
Meu primeiro pensamento foi lutar contra os braços que me seguravam. Meu segundo foi, ‗Ei, como Bex pode estar falando em meus ouvidos se minhas unidades de comunicação estavam fora?‘
Mas então os braços me soltaram e eu virei para encarar minha melhor amiga. ―O que você está fazendo aqui?‖ perguntei.
Ela sorriu. ―Adivinhe quem mais veio todo o caminho de Roseville?‖ perguntou ela, seus olhos brilhando. ―Bex é sábado. Eu realmente prefiro não fazer um teste se puder evitá-lo.‖
Então ela agarrou meus ombros e me virou. ―Olhe.‖
A primeira vez que eu vira Joe Solomon, ele estava perambulando para o Grand Hall durante o jantar de boas-vindas de volta de meu segundo ano. Nenhuma de nós sabia de onde ele viera ou porque estava lá. Em pé nas sombras, não foi difícil lembrar como aquilo parecia.
―Ele fica gato de smoking,‖ Bex disse, e eu comecei a vociferar por que... bem... isso meio que é desnecessário de dizer, e também tínhamos outras coisas para nos preocupar. Outras coisas seriamente importantes. Porque naquele momento o Sr. Solomon não estava mais sozinho.
―Ooh, ele tem um amigo gato de smoking,‖ Bex provocou. Mas eu sabia melhor — eu tinha visto aquele homem e seus cabelos brancos e sobrancelhas selvagens antes. Eu tinha visto ele. Em Boston.
Os dois homens se falaram por um momento, então o Sr. Salomão virou-se e começou a se afastar, variando o seu ritmo a fim de ouvir os passos de alguém que pudesse estar seguindo no túnel escuro, um procedimento do livro de contra vigilância se alguma vez houve um. Bex piscou para mim, mais do que pronta para o desafio, depois escorregou para dentro do túnel a uma distância segura atrás do nosso professor. Mas eu continuei encarando o cara deixado na esteira de Joe Salomão.
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Alguém que o Sr. Solomon conhecia.
Alguém que o Sr. Solomon parecia respeitar.
Alguém que tinha o dom de estar onde Macey — e eu — acontecíamos de estar.
Talvez tenha sido alguma beleza própria que Bex vira e que eu tinha perdido. Talvez fosse a maneira como o homem de cabelos brancos tinha se endireitado no túnel escuro e se movido com uma graça de que não pertencia ao resto do seu corpo. Mas por alguma razão, eu pensei de volta no jeito como o Sr. Solomon tinha ficado no uniforme de ―Art‖ e nos disse como a arte do engano e disfarce não era complexa — era simples: basta dar aos olhos algo novo para olhar de modo que a mente não veja verdadeiramente.
Minha mente voou de Boston e voltou, o déjà vu ficando forte, as peças do quebra-cabeça se pondo no lugar. Fechei os olhos e vi olhos e não sobrancelhas, uma boca e não um bigode. Eu arranquei o disfarce pedaço por pedaço até fiquei no escuro, finalmente vendo.
―Zach.‖
Eu tenho que admitir que naquele momento tinha sentimentos mistos sobre a situação. Eu tinha visto Zach! Claro, ele estava usando um disfarce. Claro, todos os garotos (principalmente Garotos Blackthorne) provavelmente são especialistas na arte de enganar!
Mas isso não mudava o fato de que eu pensara ter o visto uma dúzia de vezes antes de verdadeiramente ficar cara a cara com ele em Ohio. E naquele momento, eu sabia. Respirei, percebendo que, por um lado, eu não tinha tido Zach na mente, em Boston. Minha mente não estava fazendo truques comigo. Eu não estava louca por um garoto — ou qualquer outro tipo.
Por outro lado, eu o tinha em minha cauda, e como uma espiã eu não sabia o que era pior.
O Serviço Secreto estava de guarda nas extremidades do túnel, mas uma pequena escotilha estava aberta, um carro carregado com bandejas de comida e engradados de bebidas estava esperando para ser colocado a bordo. Zach caminhou lentamente em direção a ele, e então num piscar de olhos ele desapareceu.
Por um segundo eu tive que piscar, mas não havia dúvida em minha mente de onde ele estava. A única coisa a se perguntar era... por que.
Eu podia ver Bex quase no fim do túnel, ainda mantendo sua distância do Sr. Solomon. Assim que ela saísse o túnel e recuperasse a recepção em suas unidades de comunicação, ela contaria a Liz que mantinha os olhos em nosso professor. Na distância, o quarteto de corda tocava a mesma música que tínhamos ouvido em Ohio, seguindo os mesmos discursos. Vapor jorrava do trem ao meu lado. Ouvi o gemido metálico de uma máquina que não seria retida por muito tempo.
E fiz e única coisa que eu podia fazer.
Eu entrei a bordo.
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CAPÍTULO DEZENOVE
Eu aprendi muito naquele dia. Como nunca deixar Bex escolher a refeição durante as paradas na viagem. Sempre trazer um par extra de sapatos. E meia hora depois, eu pude adicionar mais uma coisa a lista:
Nunca, jamais se voluntarie para fazer vigilância em um trem em movimento.
Especialmente se o trem também está ocupado por sua tia, uma das suas melhores amigas (que não sabe exatamente que você está ali), e trinta e sete membros do Serviço Secreto dos Estados Unidos!
O trem tinha dezessete vagões de corredor estreito e guardas armados, de compartimentos apertados e pessoas altas em números da eleição e cafeína. Então eu abaixei minha cabeça e me espremi pelo corredor e tentei não esquecer que, quando você enfrenta ser alguém que você não deve ser, a regra número um é simples:
Seja outra pessoa.
Eu peguei a prancheta mais próxima e me movi objetivamente pelo corredor abarrotado. Os motores gritaram, voltando à vida. Os compartimentos zuniram. E eu continuei me movendo, sorrindo, agindo como se eu estivesse emocionada por fazer parte da história.
Zach podia estar em qualquer lugar, e julgando por suas habilidades de disfarce e engano até agora, ele podia ser qualquer pessoa. Então eu continuei fazendo meu caminho descendo o corredor, balançando com o movimento do trem, até que um dos internos me chamou. ―Ei, onde você está indo?‖
―Novo discurso para o Pavão,‖ falei, mostrando a prancheta e rolando meus olhos.
―Oooh,‖ um dos caras disse, fazendo uma expressão simpática.
―Compartimento catorze,‖ disse ele, apontando para o próximo vagão.
―Divirta-se,‖ ele zombou, e eu sabia que o disfarce de Macey estava firmemente no lugar conforme abri a porta para o vagão de ligação.
Eu desci o corredor lotado, não sabendo o que encontraria. Mas então eu soube que tinha cometido o maior erro da minha vida. Atrás de mim, ouvi uma voz bem distinta vinda da multidão, dizendo, ―Pavão está se movendo.‖
Eu estava longe da escola. Em um disfarce. E usando um vestido preto pequeno enquanto minha favorita (e única) tia estava vindo atrás de mim!
Uma porta esta a minha esquerda, número catorze. Pressionei minha orelha contra ela, mas não ouvi nada. Tentei a maçaneta. Trancada. É claro.
―Sim,‖ a voz de Abby dizia, chegando perto.
Eu estava desesperada. Bati. ―Srta. McHenry, você está aí? Posso ter uma palavra?‖ Perguntei, ainda apegada ao meu disfarce.
―Absolutamente,‖ Abby disse atrás de mim. ―Um perímetro de cento e vinte metros deve ser mais do que amplo.‖
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Eu estava realmente desesperada. Eu puxei um grampo do meu cabelo. E tentei a fechadura.
Senti a fechadura se virar ao mesmo tempo em que Abby se libertou da multidão, e no segundo seguinte eu fui cercada por escuridão.
Eu senti alguém me agarrar, mas me esquivei.
Uma mão agarrou meu cabelo — ou o que pensava ser meu cabelo — e puxou a peruca. A voz de Abby estava mais alta agora — exatamente ali fora — e dentro do pequeno compartimento tudo ficou parado.
Havia um fraco brilho amarelo em uma pequena brecha debaixo da porta, e na luz eu vi Zach olhar a peruca e depois para mim e em seguida para a peruca novamente.
―Você não devia estar aqui, Garota Gallagher.‖ Não era brincadeira. Não era divertido. Ele não estava sorrindo ou flertando. Ele estava… Zangado.
Zangado como eu nunca tinha o visto. Zangado como eu nem sequer sabia que ele podia ser. Eu sempre soube que Zach era forte (uma garota não treina com um cara em P&A por um semestre inteiro e não descobre isso), mas naquele momento ele estava como uma pedra. A primeira coisa que me atingiu foi o choque. A segunda... foi a raiva.
―Você está me dizendo que eu não deveria estar aqui?‖ Eu rompi. Claro, minha tia e a metade do Serviço Secreto dos Estados Unidos estavam provavelmente bem ali fora da porta naquele momento, e ainda assim eu não pude me parar.
―É perigoso,‖ disse ele.
―Caso você não tenha notado, eu posso tomar conta de mim mesma.‖
Infelizmente, o trem escolher aquele momento para guinar, e apesar do melhor treinamento de proteção e aplicação do mundo, eu me encontrei tropeçando, caindo nos braços estendidos de Zach. Eu comecei a me afastar, mas ele me segurou.
―Shhh,‖ disse ele conforme as vozes no corredor lá fora desapareceram por um segundo.
E então a coisa mais assustadora de todas aconteceu: Zach pareceu como se quisesse me beijar...
Mas ele não beijou.
Ele era o mesmo garoto que tinha me inclinado no estilo de filmes de cinema em frente a toda a minha escola no meio da semana das finais, e ainda assim ali estávamos amontoados no escuro de um trem em movimento, adrenalina e um chuvisco a nossa volta, e ele não fez um movimento sequer.
―Belo disfarce,‖ ele me disse, sorrindo por fim.
―Você também,‖ falei. Eu pensei naquele momento — o que significava, o quanto eu queria que durasse, e do que eu estava disposta a desistir para encontrar a verdade. Então foi por isso que eu adicionei, ―Estava ainda melhor em Boston.‖
Há momentos da vida de um espião em que o tempo acelera, e depois há segundos que duram uma eternidade. E esse... esse era um daqueles casos que pareciam durar anos.
No espaço estreito, com os braços de Zach ainda envolvidos em torno de mim e as vozes ainda ecoando lá fora, eu assisti a expressão dele mudar de confusão para choque, para o olhar de
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alguém desesperado por um plano.
―É, eu—‖
Alguém estava batendo da porta. Meus olhos estavam arregalados conforme encarei os dele.
―Aqui,‖ disse ele, gesticulando para os beliches desmontáveis acima que, antes daquele momento, eu tinha visto somente em filmes antigos.
Mais batidos.
Lá fora, alguém gritou, ―Quem tem uma chave para essa?‖
Mas quando a porta se arrebentou aberta, Zach e eu não estávamos em lugar algum. (Nota para si: não se torne uma espiã se você for sequer um pouquinho claustrofóbica.)
―O que está acontecendo, Zach?‖ Eu sussurrei através da escuridão do pequeno beliche desmontável. A que nós tínhamos dobrado. Conosco fechados dentro.
Seu braço estava em volta da minha cintura. Seu hálito estava quente em minha nuca. Claro, eu podia ouvir a Tia Abby no pequeno compartimento dizendo, ―Macey, eu não quero mais discutir sobre isso. Apenas espere aqui,‖ mas eu não me importava.
―Você estava em Boston, Zach.‖
―Shhh,‖ ele murmurou, me aproximando com um puxão em volta de mim.
Fora da nossa pequena beliche apertada, ouvi mais vozes vindas do compartimento catorze. Eu teria conhecido o padrão de discurso de Macey em qualquer lugar. Mas a outra voz era familiar também, e ainda assim eu não pude...
―Sabe,‖ a mais profunda das duas vozes disse, ―Me disseram que esse é o meu melhor terno.‖
Preston!
Eu ouvi mais conversa e música, mas tudo aquilo parecia estar a milhões de quilômetros de distância conforme eu permaneci ali, minha mente correndo mais rápido do que o trem.
―É por isso que você sabia sobre a entrada da lavanderia,‖ eu silvei, outra peça do quebra-cabeça se pondo no lugar.
―Por que você estava lá, Zach?‖ sussurrei, ficando desesperada.
―Agora não,‖ sua voz era gentil, mas forte.
―E não diga que é porque estávamos em perigo, porque na hora não estávamos em perigo algum.‖
―Você quer tirar um cochilo ou algo assim?‖ ele murmurou.
―Sim, e enquanto estamos no assunto, por que você está aqui?‖
―Eu poderia te perguntar a mesma coisa, Garota Gallagher, exceto que devíamos estar calando a boca agora.‖
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O que era uma idéia muito boa porque as vozes lá fora pararam. Macey e Preston não estavam conversando mais, porém a espiã (sem mencionar a garota) em mim sabia que de alguma maneira eles ainda estavam lá. Porque havia sons. Sons que eu reconheci. Sons sobre os quais eu não queria pensar muito. Porque acho que eram sons de beijo.
E eu estava atualmente esmagada contra um garoto que eu tinha beijado!
E naquele momento beijo precisava ser a última coisa em minha mente!
―Sobre o que você e o Sr. Solomon estavam conversando?‖ falei, porque, francamente, eu precisava dizer alguma coisa!
Mas Zach deve ser imune aos sons de beijo. Ou pensamentos de beijo, porque ele soltou, ―Você não entendeu, não é?‖ Ele me virou de maneira que nossos rostos estavam a centímetros de distância um do outro no escuro.
―Isso é perigoso, Cammie,‖ disse ele, não Garota Gallagher. ―Isso é—‖
―É. Eu meio que descobri isso no dia quando acordei com uma concussão.‖
―Não faça piada disso.‖
―Quando ‗concussão‘ é sinônimo de ‗fazer piada‘?‖
―Você não devia estar aqui,‖ disse ele lentamente, como se eu não fosse brilhante o suficiente para acompanhar.
―Você está aqui,‖ eu rebati.
―Escute, esse não é o lugar para...‖
―Uma garota?‖
O trem podia estar lotado de guardas armados... Minha colega de quarto e o futuro potencial primeiro filho dos Estados Unidos podiam estar dando uns amassos a poucos metros de distância... O mundo como eu conhecia podia estar prestes a acabar se Zach e eu fôssemos pegos... Mas eu. Não me importava.
―Uma estudante?‖ Tentei de novo.
―O que, Zach? Diga-me o que você é que eu não sou.‖
E então meus olhos devem ter se ajustado ao escuro, porque eu juro que pude vê-lo — realmente, verdadeiramente vê-lo — conforme o garoto mais petulante que já conheci olhou para mim e sussurrou, ―Eu sou alguém que não tem nada a perder.‖
Tudo desapareceu naquele momento — o barulho lá de fora, a batida do vagão, a pressão, e o cansaço. Eu não sei o que teria acontecido depois. Talvez eu tivesse chorado.
Talvez eu tivesse me rendido. Ou talvez eu tivesse exigido mais respostas para as perguntas que eu mal desafiei a perguntar.
Mas nunca saberemos.
Porque exatamente enquanto Zach tocou meu rosto, o mundo caiu embaixo de nós. A gravidade tomou o controle. Em um momento eu estava nos braços de um dos mais complexos (e
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deslumbrantes) garotos espiões de todos os tempos, e no seguinte eu estava aterrissando como uma tonelada de tijolos no chão duro e frio de um trem em movimento, enquanto uma das minhas melhores amigas olhava para baixo para mim. E para o garoto em cima de mim.
E disse, ―Bem, isso não estava no meu itinerário.‖
Pelo menos Preston tinha ido embora — ou pelo menos eu pensava que Preston tinha ido embora. Eu não podia ter certeza porque estava tomando um segundo para recuperar minha atitude.
―Srta. McHenry!‖ uma voz masculina gritou do outro lado da porta. ―Serviço Secreto! Está tudo bem?‖
Eu encarei Macey. Zach estava inclinado sobre mim, uma de suas pernas entrelaçado com a mochila de Macey. Uma bandeja de comida tinha caído conosco e estava agora espalhada por todo o chão.
Macey nos olhos, com o olhar mais incomum em seu rosto, como se ela soubesse que, com uma única palavra ela pudesse fazer aquela porta — e nosso mundo inteiro — desabar. Ela sorriu, saboreando o momento antes de lentamente dizer, ―Está tudo bem. Eu só derrubei uma bandeja.‖
―Podemos mandar um carregador para—‖
―Não!‖ Macey soltou. ―Eu quero ficar sozinha, ou isso é muito difícil de entender?‖
Ouvi passos de retirada.
Macey caiu no banco a nossa frente enquanto Zach e eu tentamos nos endireitar.
―Oi, Zach,‖ disse ela, sua perna direita balançando conforme ela sentou com a mesma sobre a direita.
―Ei, Macey,‖ ele falou, conforme ele caiu para o espaço da garota mais altamente protegida no país todos os dias.
―Desculpe pela visita espontânea,‖ ele disse com um olhar que me disse que ele pensava que era inteiramente esperto demais, ―mas Cammie simplesmente tinha que ficar sozinha comigo. Você sabe como ela fica.‖
Eu bati em seu braço.
Ele recuou. ―Sabe, você vai me machucar um dia desses, e se sentirá muito mal por isso.‖
―É,‖ comecei. ―bem, talvez se você fosse honesto comigo por um—‖
―Hum, só pra vocês saberem,‖ Macey falou, me cortando conforme se inclinou para trás, apreciando a cena, ―Abby estará de volta em aproximadamente dois minutos, então vocês pombinhos podem querer fazer isso rápido.‖
Eu totalmente esperei que o garoto a minha frente recuasse a palavra ―pombinhos.‖ Mas ele não o fez.
Ao invés ele agarrou a bolsa que estivera carregando e se virou para Macey.―Obrigado.‖
Ele posicionou seu joelho no banco e se inclinou em direção a janela escura, encarando a escuridão conforme disse, ―Essa é a minha parada, de qualquer maneira.‖
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Bem, pelo que eu podia dizer, o trem não estava parando. Ele nem estava sequer diminuindo a velocidade.
―Ei, McHenry, você se importa?‖ Ele gesticulou para a porta e depois deu um passo para trás enquanto Macey a abriu e checou o corredor.
―Oh, oficial,‖ ela chamou o sentinela posto no corredor lá fora. ―Posso ver sua arma?‖
Conforme o homem virou suas costas para nós, Zach correu para o corredor e em direção a porta no fim do vagão. Eu comecei a seguir, mas ele parou subitamente e se virou para mim.
―Ei, Garota Gallagher,‖ ele disse, olhando para mim mais profundamente do que nunca, ―me prometa uma coisa.‖
O trem estava mais rápido agora. A noite corria pelas janelas. E Zach deu um passo ainda mais perto. ―Tenha‖ — ele alcançou e gentilmente tocou o lugar onde minha contusão tinha estado como se ela ainda estivesse fresca e inchada — ―cuidado.‖
E então Zach deu um passo para o fim do vagão e puxou a porta. O barulho venceu por um instante. Nós estávamos passando por uma enorme ravina, nada em ambos os lados, enquanto Zach abriu seus braços. Ele olhou para trás para mim por uma fração de segundo.
E pulou para a noite.
―Então...‖ a voz atrás de mim era forte e uniforme. Eu me virei para ver uma Macey pesarosa e uma Tia Abby impressionada me encarando e o pára-quedas que era de Zach sumindo.
―Eu entendo que esse é o homem na sua vida.‖
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CAPÍTULO VINTE
Quando um agente está comprometido em uma missão, há um monte de coisas que têm que ser ditas. E feitas. Por exemplo, é ótimo se você tem uma lenda ou duas e pode sacar para distrair o apanhador das intenções reais do apanhado. Além disso, desorientação é sempre útil, então você pode colocar a culpa em qualquer um menos você mesmo. Ou você pode retirar.
Mas nós estávamos em um trem em movimento.
E eu não tinha um pára-quedas.
E Tia Abby estava olhando diretamente para mim.
Eu esperava que ela sorrisse como tinha feito quando me puxou para fora debaixo de sua cama, mas ela olhou para mim com um olhar que possuía partes iguais de fúria e medo, conforme Macey e eu nos lançamos de volta no compartimento catorze.
―Sentem-se,‖ minha tia ordenou, e nós duas nos sentamos no beliche inferior enquanto minha tia começou a andar.
―Você sabe o que fez?‖ perguntou ela, mas não era realmente uma pergunta. "Você sabe o que poderia ter acontecido essa noite?"
Sua voz tremeu. Eu temi por um segundo que o Serviço Secreto pudesse entrar pela porta novamente, mas o trem estava barulhento, a chuva estava forte e nós continuamos avançando pela noite. Olhei ao redor do pequeno espaço. Não adiantava. Eu, Cammie a Camaleoa, não tinha absolutamente nenhum lugar para me esconder.
―Você tem alguma idéia de como tudo isso é perigoso? Se o Serviço Secreto pegasse você... Se um membro da mídia tivesse um vislumbre do que você pode fazer... Se há duas garotas na escola — no mundo — que deveriam saber melhor do que arriscar assim deveria ser vocês duas!‖
"Eu pensei que regras fossem feitas para serem quebradas,‖ falei, confusa no começo, mas ficando irritada.
―Pensei que ser um espião era regras opcionais,‖ disse, lançando suas próprias palavras de volta para ela.
―Ser um espião significa você nunca ter o luxo de ser negligente!‖ O trem balançava e a noite escurecia enquanto minha tia inclinou-se e disse, ―Confie em mim, Cameron. Essa é uma lição que você não quer aprender a maneira mais difícil.‖
Talvez tenha sido o som da chuva, ou o olhar nos olhos dela, mas eu não conseguia parar de pensar no modo como ela tinha mudado no escritório da minha mãe, se transformando da Abby que eu conhecia para uma mulher que eu nunca tinha visto antes. E rapidamente percebi que a mulher sorridente, risonha e dançante que entrara na minha vida depois de quatro anos e meio, era só mais um disfarce — uma Garota Gallagher fingindo ser algo que não é.
―Onde você estava Tia Abby?‖ Eu me ouvi perguntar.
―Papai morreu, e você não estava lá,‖ falei, relembrando de um tempo em minha vida que eu tinha feito de tudo para esquecer. Ouvi minha voz falhar, senti meus olhos borrarem.
Eu disse a mim mesma que era o constante balanço do trem que me fez me sentir insegura, mas
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eu sabia melhor conforme gritei, ―Ele morreu e você nem sequer foi ao funeral. Você não ligou. Você não visitou. Papai morreu, e desde então você foi um fantasma.‖
Abby virou as costas para mim. Ela começou a sair pela porta, mas aquelas palavras haviam estado vivas em mim por anos, as dúvidas e perguntas empilhadas, e eu não poderia segurá-las mesmo que tentasse.
―Nós precisamos de você!‖ Pensei na minha mãe, que ainda chorava quando achava que ninguém podia vê-la, e antes mesmo que percebesse, eu estava chorando também. ―Por que você não estava lá quando precisávamos de você?‖
―Você não aprendeu ainda, Cam?" A voz de Abby era suave agora, como se ela estivesse sendo arrastada de volta para um sonho.
"Há algumas coisas que você não quer saber.‖
Eu podia sentir o trem — ou talvez apenas o mundo — diminuindo a velocidade conforme ela pisou na direção da porta e sussurrou, ―Fique longe daquele menino, Cammie.‖ Não foi uma ordem dessa vez, foi uma demanda.
―Zach?‖ Macey perguntou, como se pudesse ser qualquer outra pessoa. ―Ele é de Blackthorne. Nós o conhecemos.‖
Então Abby olhou para mim. Pela primeira vez, pareceu como se ela quisesse sorrir, mas não havia alegria em sua expressão quando ela perguntou, "Você conhece?"
Eu amo a Academia Gallagher à noite. Há beleza nas sombras — o único momento em que o exterior reflete o que realmente está acontecendo lá dentro. Nada é verdadeiramente preto ou branco. O mundo todo em tons de cinza.
E naquela noite não era diferente.
―O que isso significa?‖ Liz perguntou, e Bex mediu os passos, mas eu somente fiquei em pé na pequena janela em forma de diamante de nossa suíte, fitando lá fora os terrenos escuros, deixando a história que eu tinha acabado lavar sobre mim.
―Espere, você quer dizer que Zach teve que saltar de um trem em movimento?‖ Bex perguntou, nem mesmo tentando esconder a inveja em sua voz.
Olhei para Macey, que encolheu os ombros.
―Ainda não acredito que você deixou a mansão desse jeito,‖ disse ela, examinando minha saia curta e sapatos altos.
Eu tentei sorrir. ―Originalmente, havia também uma peruca.‖
Esperava que ela risse. Eu queria que ela rolasse os olhos ou dissesse algo sobre o mundo do cabelo sintético e pessoas privadas de senso moda o suficiente para realmente usá-los. Eu queria que fosse engraçado. Mas não era.
―Então, Abby estava realmente...‖ Liz começou, depois abaixou a voz, ―brava?‖
Assenti. A palavra não fazia justiça, mas no momento, era a única que eu tinha.
―Você não vai ter problemas, Cam,‖ Bex argumentou. ―Abby é legal.‖
Mas ela não tinha visto a mudança de Abby no trem. Ela não tinha ouvido o tremor na voz da
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minha tia e visto o olhar em seus olhos enquanto passeava pelo Hall da História, para o escritório da minha mãe e fechou a porta, deixando que Macey e eu fizéssemos sozinhas nosso caminho para cima.
―O que?‖ Bex perguntou, provando que me conhecia talvez melhor do que eu me conhecia.
―Ele...‖ Lutei com o que eu queria dizer, o que eu queria acreditar. ―Ele não me beijou.‖
Sim, eu tinha acabado de ser severamente repreendida por um membro do Serviço Secreto dos Estados Unidos. E sim, eu tinha sido pega andando sorrateiramente e violando cerca de uma dúzia das regras da escola. E sim, meu cotovelo estava totalmente inchado de onde Zach e eu aterrissamos no chão do compartimento de Macey.
E ainda assim essa era a coisa que mais me preocupava.
―Ele não flertou,‖ falei finalmente. ―Não me provocou... Quer dizer, uma vez que eu descobri que eu o tinha visto em Boston—‖
―Espere,‖ Bex disse, aproximando-se, ignorando completamente a grande pilha de comidas porcarias que ela e Liz tinham contrabandeado de volta para a escola após a viagem delas para casa. Havia algo novo em seus olhos enquanto ela disse, ―Zach estava em Boston?‖
―Eu ficava pensando que o tinha visto lá,‖ eu disse de novo, mais calma agora. ―Mas achei que eu estava... você sabe...‖
Bex e Liz se entreolharam como se totalmente não soubessem.
―Ela pensou que só tinha visto ele porque queria ver ele,‖ explicou Macey.
―Ooooh,‖ Bex e Liz suspiraram juntas.
―É um subproduto de um beijo muito dramático,‖ prosseguiu Macey como um médico identificando um efeito colateral comum. ―Continue.‖
―Então eu não pensei nada sobre isso. Mas hoje eu o vi novamente. E ele estava no mesmo disfarce, e eu soube que era ele em Boston.‖
Olhei para a pilha de papéis de bala e sacos de batatas fritas meio comidos e pensei sobre como, um ano atrás, nós nos amontoamos naquele mesmo quarto, fuçando pelo lixo de Josh, mas havia muita coisa sobre garotos e seus segredinhos sujos que ainda tínhamos de aprender.
―Então ele te seguiu antes?‖ Liz perguntou. ―E daí? Ele provavelmente estava apenas fazendo o que nós estávamos fazendo — acompanhando Macey.‖
E então ela parou. E percebeu.
―Em Boston, não havia nenhuma razão para acompanhar Macey,‖ falei, só porque eu precisava dizer as palavras em voz alta. Olhei para os terrenos que pareciam mais escuros do que o normal. E mais frios. De alguma maneira quando eu não estava olhando, o outono tinha chegado, e eu tremi um pouco, ainda arrepiada pela chuva.
―Talvez ele soubesse o que ia acontecer,‖ disse Macey.
―Ou talvez ele fosse uma das pessoas fazendo,‖ disse Bex, o velho ceticismo voltando à sua voz.
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―Ou‖ — os olhos de Liz eram os únicos brilhando quando ela disse — ―ele queria estar perto da Cammie!‖
Macey deu de ombros como se dissesse que a nossa pequena amiga loira tinha um ponto.
Seja como for, isso não mudava o fato de que um garoto espião muito bonito e misterioso estava lá ou para nos salvar, ou nos sequestrar ou para nos namorar.
E eu não tinha certeza de para qual estávamos mais bem equipadas para lidar.
Eu não sei quanto a garotas normais, mas para garotas espiãs, há poucas coisas tão assustadoras quanto uma porta fechada, uma sala trancada e uma conversa sussurrada que você não consegue ouvir direito. Bem, o dia seguinte da minha vida estava cheio de todos os três.
O Hall da História permaneceu escuro. As portas do escritório de minha mãe permaneceram fechadas (e, infelizmente, à prova de som). Pensei na passagem que levava até atrás da sala, mas depois sacudi a noção da minha cabeça. Eu não sabia o que minha tia tinha dito a ela. Eu não sabia em que tipo de problemas eu estava.
Ao meu redor garotas preocupadas com testes e projetos. Pessoas abriam cartas de casa e continuavam o debate sobre se o novo rosto do Sr. Smith o deixara tão gato quanto o Sr. Solomon ou não. Mas eu não pude deixar de pensar em como o mundo é apenas uma teia de segredos. Fiquei me perguntando se havia alguma maneira de se libertar.
Naquela noite de domingo eu caminhei em direção ao escritório da minha mãe, pensando em Abby e Zach, Filadélfia e Boston — todas as perguntas que ninguém nunca respondeu, mas conforme pisei o pé dentro do Hall da História, eu me encontrei fitando a espada de Gilly.
Eu me ouvi sussurrar, ―Alguém sabe.‖
Enquanto bati na porta do escritório da minha mãe, eu sabia que não ia ser um jantar de domingo à noite normal...
Porque Macey já estava lá.
Olhei da minha mãe, para minha companheira de quarto e finalmente para minha tia. Eu esperei gritos. Mas quando a minha mãe sussurrou ―Cammie,‖ foi pior. Bem pior. A porta se fechou atrás de mim, e eu vi o Sr. Solomon de pé ali. Eu não sabia o que esperar mais.
―Mãe, eu—‖
―Fui informada de que Liz e Bex estavam fora testando um protótipo de um novo equipamento para o Dr. Fibs durante a sua pequena... missão na noite passada?‖ Mamãe perguntou.
Seus olhos pareciam estar me alertando para não me defender. ―Sim,‖ respondi rapidamente.
―Muito bem.‖
Por um segundo eu pensei que podia ser tudo, mas é claro que a palestra não tinha acabado.
―Cameron, eu confiei em você para acreditar em mim quando falei que a segurança de Macey não era mais sua preocupação.‖
―Sim, senhora.‖
―Eu confiei em você para saber que o protocolo de segurança não é algo que deve ser interferido por um capricho.‖
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―Sim, senhora.‖
―Eu confiei em você, Cammie.‖ A voz da minha mãe era mais suave então, de modo que fora a parte mais difícil de ouvir.
―Recebi um telefonema da mãe de Bex na noite passada,‖ mamãe continuou, e eu me preparei para a ira de duas mães espiãs zangadas. "Os Baxters gostariam que você passasse o recesso de inverno em Londres—‖
―Sério?‖ Eu perguntei surpresa.
―E se eu ouvir,‖ Mamãe falou acima de mim. ―Se eu ver... Se eu sequer suspeitar que você saiu desses terrenos novamente sem permissão, então isso não vai acontecer. Estou sendo clara?‖
―Sim,‖ eu disse, sentindo o peso da situação se postando sobre mim.
―As últimas pesquisas estão igualadas,‖ disse minha mãe. Ela estava muito calma. Tranqüila demais. ―É compreensível então que os pais de Macey irão querê-la com eles tanto tempo quanto—‖
―Não!‖
―—possível,‖ mamãe continuou como se eu não tivesse dito uma palavra.
Lancei um olhar para Macey. Ela tinha estado quieta durante o dia todo, mas de pé no escritório da minha mãe, seu silêncio parecia infinitamente mais alto.
―Isso será, é claro,‖ Mamãe falou lentamente, ―algo que não vamos permitir.‖
Eu já tinha aberto minha boca para protestar quando a ouvi e parei subitamente.
―Você quer dizer,‖ Macey estava dizendo ao meu lado, ―quer dizer que eu não vou ter que... ir?‖
―Não,‖ Sr. Solomon disse. ―Francamente, Srta. McHenry, o risco é alto demais. Nós te queremos em casa, onde você pertence.‖
Eu vivi com Macey por um longo tempo, mas uma coisa que todo espião eventualmente aprende é que você nunca sabe tudo, e eu nunca tinha visto Macey parecer do jeito que parecia naquele momento. Eu pensei na garota que tinha pulado fora da limusine, e na garota que ela tinha se tornado antes dessa eleição maluca começar a mudá-la de volta. Era como se a palavra "casa" fosse um código — um sinal — e que sozinha dizia a ela que estava segura e podia abaixar a guarda.
―Suponho que está tudo bem para você?‖ minha mãe perguntou, e Macey assentiu.
Sr. Solomon afastou-se da porta, então como quaisquer boas operárias (para não mencionar garotas adolescentes com problemas), nós fugimos por ela.
―Ah, Cammie,‖ Mamãe me chamou, e eu parei enquanto Macey se moveu para frente. O Sr. Solomon e Tia Abby seguiram minha companheira de quarto para fora e fecharam a porta enquanto minha mãe se aproximou. ―Não se preocupe com Macey, Cam.‖
Mas não era uma frase calmante. Era uma ordem. ―O Serviço Secreto é muito bom no que faz. Para todas as nossas diferenças, minha irmã é muito, muito boa no que faz. Eu não quero você se preocupando com Macey.‖
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―Ok.‖
―Eu falo sério.‖
―Eu também,‖ falei. E naquele momento, eu realmente falei.
―Eu sabia que você estava no compartimento.‖ A voz de Macey cortou pelo Hall da História. Lá embaixo no Grand Hall, as garotas estavam comendo, pessoas estavam fofocando, mas Macey apenas sentou no degrau do topo fitando o hall de entrada como se não tivesse força para ficar de pé.
―Não ouvi você ou algo assim,‖ continuou ela enquanto eu me aproximava. ―Foi apenas uma... sensação.‖ Então ela olhou para mim. ―Sabe?‖
―Sim,‖ falei, e eu sabia.
―O compartimento superior de dormir estava pendurado muito baixo, a revista sobre o banco havia se movido, e eu simplesmente... sabia.‖
Então ela olhou para mim. ―Eu sou boa nisso, certo?‖
―Sim. Você é.‖
―Quando a sua mãe me chamou, eu pensei... eu pensei que ela ia me chutar para fora.‖ Ela encolheu um pouco. ―Normalmente é quando eu sou expulsa.‖
Eu já tinha visto Macey sem maquiagem e em seus jeans largos. Já ouvi o que ela diz enquanto dorme, vi a forma como seus lábios se movem quando está lendo e as palavras simplesmente não diminuem. Eu conheço Macey McHenry, mas naquela noite, sentada na escadaria, eu percebi que nunca soube como é ser ela.
Os McHenry têm cinco casas, mas este é o único lar de Macey. Ela é a filha mais famosa da América, mas Liz, Bex e eu somos a única família dela.
―Ninguém irá expulsá-la, Macey.‖ Tentei rir. ―Você sabe demais. Nesse momento teríamos que te matar.‖
Demorou quarenta e sete segundos, mas eventualmente Macey sorriu. Eventualmente ela riu.
―Então, Preston?‖ Eu falei, porque, honestamente, eu estava meio que a ponto de explodir. E... ok... eu tinha levado praticamente vinte e quatro horas para mencionar isso, mas eu tinha outras coisas em minha mente. Como a minha sanidade, meu futuro, e se o desinteresse repentino de Zach em beijar tinha ou não alguma coisa a ver com o fato do meu cabelo tender a ficar frisado quando está chovendo. Porém isso não me impediu de me inclinar perto e sussurrar, ―Eu ouvi ou não ouvi você beijando Preston?‖
―Existem pessoas que eu posso contratar para matar você e fazer com que pareça um acidente.‖
Agarrei o corrimão e me impeli um par de degraus. ―Ele não é tão ruim.‖
―Sério. Não haveria nem mesmo um inquérito.‖ Macey deu um passo e depois acrescentou, ―Além disso, tenho mesmo que te dizer que namorados secretos são os mais gatos?‖
Apesar de tudo, eu sorri. ―Entendi.‖
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CAPÍTULO VINTE E UM
Ainda me lembro do dia — do momento — quando encontrei a minha primeira passagem secreta. Eu estava na escola há três dias. Minha mãe tinha acabado de começar seu trabalho. Meu pai tinha acabado de morrer. E eu tinha acabado de chegar à escola sobre a qual eu ouvira minha vida toda (ou, bem, as partes da minha vida que vinham depois da parte onde descobri que minha mãe e meu pai tinham mais razões encobertas para faltarem na minha formatura do jardim de infância).
Eu estava perambulando pelos corredores, me perguntando sobre este edifício que era maior, mais antigo e mais bonito do que qualquer coisa que eu já tinha visto. Perguntando-me quanto tempo levaria para eu perceber que a minha mãe nunca iria embora novamente e meu pai nunca mais voltaria.
Perguntando-me se realmente pertencia à Academia Gallagher e se eu era realmente digna de carregar os nomes de família, tanto Morgan quanto Cameron.
Mas então eu parei no corredor da biblioteca.
Uma janela estava aberta. A escola ainda tinha o ar antigo de um prédio que tinha sido ocupado por um longo tempo, e eu assisti uma brisa soprar através das janelas e empurrar um pouco de pó ao longo do piso de pedra, rolando poeira pelas frestas como a água em um rio. Mas em um ponto, ao invés de rolar, ela saiu de cena como se houvesse uma cachoeira no reboco que mal podia ser vista a olho nu, desaparecendo sob uma parede de pedra sólida.
Eu empurrei e puxei por cinco minutos antes da parede se abrir, e eu encontrei meu primeiro caminho de desaparecer na planície vista.
Três dias antes de eu encontrá-lo. Três dias que eu estava neste lugar que amava. Três dias...
E já estava procurando caminhos para fora.
E isso foi antes de ser proibida de sair.
PRÓS E CONTRAS DE ESTAR TRANCADA DENTRO DOS TERRENOS MAIS INCRÍVEIS DO MUNDO:
PRÓ: É muito mais fácil proteger sua colega de quarto das pessoas que querem seqüestrá-la se ela passa a maior parte do tempo em seu quarto.
CON: Quando o Sr. Mosckowitz lhe pede para ajudá-lo a provar seu papel para o seminário de Excelência em Encriptação Européia na noite de sexta-feira, você não pode dizer ―Desculpe, eu vou estar fora da cidade.‖
PRÓ: Ficar fora de túneis secretos e antigos significa que você não obtém nem de longe tantas manchas questionáveis em sua blusa branca.
CON: Quando a sua companheira de quarto testa uma descoberta, marco na tecnologia do combustível limpo (cujo acontece de residir dentro de uma minivan Dodge), você não consegue carona.
PRÓ: Você não tem que se preocupar em correr para o garoto que pode ou não pode ter estado te seguindo.
CON: Você não pode correr para o garoto que pode ou não pode ter estado te protegendo.
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(Mesmo que você realmente não precise de proteção, é totalmente o pensamento que conta.)
PRÓ: Você tem muito tempo para pensar.
CON: Você nem sempre gosta do que está pensando.
Zach não tentou me beijar.
Naturalmente, existem mistérios maiores no mundo, e tenho certeza que a CIA teria classificado a informação como uma preocupação de baixo nível (eu sei... eu perguntei a Liz). Talvez fosse a maneira como as paredes pareciam próximas e os terrenos pareciam pequenos, mas por alguma razão aquele fato continuou me pressionando para baixo, dia após dia.
Não me interprete mal, não é que eu pense que sou totalmente beijável (porque, acredite em mim, eu não sou), mas todas as manhãs eu passava pelo lugar onde ele tinha me inclinado na frente de toda a escola. No Grand Hall, todas as noites eu comia no exato lugar onde nós tínhamos dançado. E a cada dia, a cada passo, novas perguntas enchiam minha mente:
• Por que Zach estava em Boston (entre outros lugares)?
• O que ele quis dizer quando disse que era alguém que não tinha nada a perder?
• Quem tinha definido todo esse movimento? E por quê?
Por três semanas eu vaguei pelos corredores, me perguntando sobre as pessoas que me feriram e um garoto que não tentara me beijar: dois grandes mistérios.
Mas havia apenas um deles que eu tinha alguma esperança em resolver.
―Você verificou novamente?‖ Eu perguntei a Liz conforme deixamos Cultura e Assimilação.
―A Professora Buckingham me contou que a MI6 registra uma dúzia de novos grupos terroristas em seu banco de dados todas as semanas.‖
―Eu sei,‖ disse Liz. ―Mas, Cam, não há nada lá. Eu executei a imagem do anel daquela mulher através do MI6, MI5, CIA, NSA e FBI. Acredite, se eles tivessem as iniciais, eu invadi, e aquela imagem não está em lugar algum.‖
―Eu não inventei esse símbolo! Tem de existir...‖ Eu soltei, mas o olhar que as minhas três melhores amigas do mundo estavam me dando, me fez parar subitamente.
―Cam, querida,‖ Bex disse. ―Tem alguma coisa... te incomodando?‖
―Bem, eu...‖ comecei, mas Macey foi quem respondeu.
―Ela ainda está pirada sobre Zach.‖
Eu posso ser um artista pavimentar, mas Macey McHenry sempre sabe mais sobre garotos e todas as coisas relacionadas a eles de que eu jamais poderei compreender.
―O que?‖ Macey perguntou com um encolher de ombros quando eu a encarei. ―Eu sou intuitiva.‖ Ela deu um passo. ―Além disso, você fala enquanto dorme.‖
Ela estava certa. Zach e eu tínhamos caído daquele beliche do trem juntos, e o mundo tinha ficado de cabeça para baixo desde então.
―Garotos!‖ Eu exclamei, mas felizmente os corredores estavam barulhentos, as meninas estavam
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com pressa, e a palavra se perdeu no meio da multidão. Algum dia os entenderemos?
―Ele não pode ser... mau?‖ Liz perguntou baixinho.
―Quero dizer, nós não estabelecemos no ano passado que Zach não é mau?‖ Ela não estava perguntando como uma garota, estava perguntando como uma cientista que realmente não queria reavaliar seus modelos, duplicar sua pesquisa, e alterar qualquer uma das coisas que achava que já tinha provado sem sombra de dúvida.
Mas ela não tinha estado no trem. Ela não tinha visto com seus próprios olhos que Tia Abby sabia algo sobre Zach. E Zach sabia algo sobre Boston. E alguém sabia algo sobre aquele emblema. Enquanto Liz começou em direção aos laboratórios e Macey para Criptografia, Bex e eu embarcamos no elevador para o Subnível Dois, e eu não pude deixar de perguntar, ―Que bem faz ter habilidades de espionagem de elite se as pessoas que têm a informação altamente confidencial são ainda mais de elite?‖
Bex sorriu para mim. ―Porque onde estaria a graça nisso?‖ A rampa em espiral parecia mais íngreme conforme nos levava mais e mais profundo para o Subnível Dois. Quando chegamos ao fundo, ela parou e olhou para mim.
―E talvez haja algumas coisas‖ — ela falou devagar, e eu sabia que as palavras eram quase dolorosas conforme ela disse — "que nós não devamos saber.‖
―Motivação,‖ disse o Sr. Solomon enquanto nos instalamos em nossas cadeiras ao redor das mesas à moda antiga da sala de aula de Operações Secretas.
Por semanas eu estive vindo àquela sala, estudar nosso professor, tentando encontrar alguma pista em seus olhos sobre Zach, o trem e um milhão de outras perguntas que invadiam minha mente.
―É por causa delas que as pessoas fazem as coisas que fazem,‖ disse o nosso professor, a sentença tão simples e básica quanto qualquer lição que sempre aprendemos; e ainda assim algo no tom de Joe Salomão me disse que era também a mais importante.
―O que, senhoritas‖ — ele deu um passo, examinando a sala escura — ―está quase sempre ligado ao por que. Existem seis razões para qualquer um fazer qualquer coisa: Amor. Fé. Ambição. Tédio. Medo...‖ disse ele, contando-as em seus dedos; mas um ele deixou por último, dando uma respiração profunda antes de dizer, ―Vingança.‖
Eu pensei nas pessoas no telhado, me perguntei quais dessas seis coisas os trouxera ali. E por quê.
―Temos acessórios,‖ falou Sr. Solomon. ―Temos unidades de comunicação, rastreadores e satélites que podem fotografar as asas de uma mosca, mas não se enganem, nós praticamos uma arte muito antiga. Seis coisas, senhoritas. E elas não mudaram em cinco mil anos.‖
Sr. Solomon se voltou para o quadro. Minhas colegas se sentaram atentas, mas minha mente estava girando, repetindo de novo e de novo o que meu professor acabara de dizer. Agarrei a ponta da mesa. Vi a sala de aula desaparecer. O mundo entrou em foco conforme eu disse as palavras, eu devia saber por semanas, porém só agora percebi.
―Eles são velhos.‖
"O que você está falando?" Bex perguntou. Pela primeira vez na sua vida ela mal conseguia me acompanhar enquanto eu saí do elevador e comecei a subir a grande escadaria.
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―Nós estávamos erradas. Eu estava errada,‖ falei, as palavras vindo mais rápido agora.
―Cam, o que—‖
―Claro que Liz não encontrou nos arquivos do computador. Voltando cinqüenta anos não iria ajudar. Voltando uma centena não ajudaria. Bex, eles não são uma nova ameaça!‖
No hall de entrada abaixo de nós, as garotas estavam indo para almoço. Os corredores estavam vivos com o cheiro de lasanha e conversas dos exames semestrais, mas minha melhor amiga e eu estávamos sozinhas no Hall da História conforme apontei para o tesouro mais sagrado da nossa escola.
―Eles são velhos.‖
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CAPÍTULO VINTE E DOIS
―É isso,‖ eu murmurei, olhando fixamente para o livro em cima da mesa a minha frente. ―Eu passei por aquela espada de um milhão de vezes. Eu deveria ter percebido assim que voltamos. Deveria ter reconhecido no telhado. Eu deveria ter... eu sou uma idiota!‖
―Está tudo bem, Cam,‖ acalmou Liz. ―Vocês estavam... com concussões.‖
―Obrigada,‖ falei, embora não tenha ajudado tanto quanto deveria.
Olhei para a gravura no livro antigo. Cada aluna nova na história da nossa escola tinha ouvido a história de Gillian Gallagher e olhado para aquela exata imagem, mas naquele dia eu não olhei para o presidente Lincoln ou as dezenas de homens que estavam ao redor dele. Eu nem sequer olhei para a moça com a espada, que estava se movendo através do salão de baile com mais graça e força do que uma saia algum dia permitiria.
Desta vez eu olhei para o homem no chão, uma pistola caindo de sua mão mole, a bainha vazia ao seu lado. Desta vez eu encarei o emblema pequeno que tinha visto um milhão de vezes no punho da espada, pouco visível ao lado da mão de Gilly.
―É isso,‖ eu disse suavemente, movendo o livro para captar melhor a luz.
Liz leu a legenda em voz alta: ―Gillian Gallagher mata Joseph Cavan, fundador do Círculo de Cavan. Virgínia, Dezembro de 1864.‖
―Ela o matou com a própria espada dele,‖ Bex disse em reverência.
Então eu deixei cair uma foto de satélite sobre o livro aberto. "O Círculo de Cavan tenta sequestrar Macey McHenry, Massachusetts, dia de hoje.‖
―Então, o Círculo de Cavan...‖ Liz começou.
―Está vivo e bem,‖ Bex acabou.
Olhei para minhas companheiras de quarto. ―E eles querem a nossa amiga.‖
Eu sabia que a primeira tentativa de matar o presidente Lincoln tinha realmente acontecido. Eu passava pela espada e pensava sobre Gilly uma dúzia de vezes por dia durante anos, mas antes daquele momento a história de Gilly parecera um sonho fabuloso. Então, em pé na biblioteca, com o fogo crepitando ao nosso lado, não pude afastar a sensação de que tínhamos acabado de ver um dragão no lago, um fantasma nos laboratórios. Um mal antigo estava vivo no mundo. Eu sabia que Gilly tinha ganhado a batalha no salão de baile naquela noite, e quase imediatamente ela começou a escola, talvez por entender que a guerra estava longe de acabar.
―Você não acha que eles estão atrás de Macey porque ela é...‖ Liz começou. ―Você sabe...‖ Ela baixou a voz para um sussurro. ―Descendente de Gilly?‖
Eu pensei no dia, mais de um ano antes, quando minha mãe tinha partilhado essa informação. E quando olhei para Bex, a expressão em nosso rosto dizia exatamente a mesma coisa: Absolutamente.
As pessoas no telhado tinham motivos para odiar a escola e motivos para odiar Gilly. Macey era a última verdadeira Garota Gallagher — a melhor chance deles de vingança real.
Olhei para a foto de satélite novamente, a imagem granulada em preto-e-branco que tinha estado
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em minha mente por semanas, e pensei no que Bex e Tia Abby haviam dito: A mulher no telhado tinha feito muito bem seu trabalho para usar um anel que permitisse que ela fosse identificada. Mas agora eu sabia que é exatamente por isso que ela tinha usado. Pensei no olhar no rosto de Abby conforme estudei aquela imagem em seu quarto, e percebi que minha tia sabia disso o tempo todo.
Pela primeira vez em muito tempo, um monte de coisas fez sentido.
Mas isso não significava que eu tinha de gostar.
Daquele momento em diante, tudo — e eu quero dizer tudo mesmo — em nossa escola parecia diferente.
A seção da história da Academia Gallagher da biblioteca?
Cheia de livros que não contavam toda a história.
Aquela pintura de Gilly situada em uma janela, encarando nossas paredes? Agora eu tinha uma idéia completamente diferente do que a fundadora da nossa escola temia ver na distância.
No final da semana, eu não tinha ouvido uma palavra de que os meus professores tinham dito, sem ler entre alguma linha imaginária, morder alguma pergunta que sabia que eles provavelmente nunca responderiam:
Quem, exatamente, era o Círculo de Cavan?
O que eles querem? Onde eles estiveram nos últimos cento e cinquenta anos?
E, a mais importante, conforme Liz e Bex me acompanharam em nosso caminho para o jantar naquela noite de sexta-feira, o que deveríamos dizer a Macey?
Porque, acredite ou não, ―Ah, a propósito, você sabe o cara que Gilly matou? Bem, eu acho que ele ainda tem amigos que estão realmente irritados quanto a isso, e estão tentando se vingar em você. Ah, nós mencionamos que você é bisneta de Gilly, e é por isso que foi admitida na escola em primeiro lugar?‖ era mais difícil de trabalhar em conversas diárias do que você possa imaginar.
―É khabar ko kisi Kitab dein andar ke daal, kuch aisa ya?‖ Liz sussurrou enquanto praticávamos nosso Hindi e comíamos nosso macarrão com queijo (do tipo gourmet); e ainda assim, por mais que eu apreciasse os cartões flash de Liz, eu não achava que plantar a notícia no livro didático de Macey fosse a melhor maneira de contar a ela a verdade.
―Usse apne pari panch ke guerra jani dushmano puchain naam ke dein aur aur phir ek naam jord.‖ Bex ofereceu, mas eu balancei a cabeça porque a opção ―Ei, Macey, justo quando você pensou que ninguém poderia odiar a sua família mais do que você‖ não parecia ser o caminho a percorrer também.
A verdade da questão é que, nós podíamos saber catorze idiomas diferentes, mas quando se trata de notícias ruins, nem mesmo uma Garota Gallagher pode sempre encontrar as palavras.
―Talvez,‖ eu disse devagar e em Inglês, apesar dos professores que percorriam o Grand Hall tendo certeza de que o nosso Hindi tinha o sotaque que todas estávamos tentando dominar, ―talvez a gente não deva...‖
―Contar a ela?‖ Liz perguntou, lendo minha mente.
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Eu não gosto de guardar segredos, o que, dada a minha profissão escolhida, é estranho, mas é verdade. Mas eu me lembrei do jeito que me senti na minha primeira viagem de elevador do Subnível Dois — que existem alguns segredos que guardamos porque não podemos suportar deixá-los sair, e alguns porque é melhor mantê-los guardados. Fitei minhas duas melhores amigas e me perguntei sobre o tipo do qual estávamos guardando agora.
―Eu gostaria de saber,‖ Bex disse simplesmente, e eu assenti, não surpresa, mas feliz em ouvir o mesmo.
―Eu...‖ Liz sussurrou e inclinou-se mais perto. ―Eu acho...‖ ela gaguejou de novo, e eu podia dizer que Liz o gênio sabia que quanto mais informações você possuísse — mais pontos de dados que você trace — melhor seriam suas conclusões. Mas Liz a garota, sabia que a ignorância é às vezes uma bênção.
―Não,‖ ela disse, finalmente, com um balanço de cabeça. "Eu não iria querer saber. E, além disso,‖ — ela olhou para mim, seus olhos azuis alargados — "se fosse melhor que Macey soubesse, sua mãe, Abby e o Sr. Solomon e todo mundo não teriam... contado a ela?‖
Eu odeio quando ela está certa. E, infelizmente, isso acontece muito.
Senti Bex e Liz me encarando, e eu sabia que era meu o voto de desempate. Uma garota na mesa do quarto ano segurava uma cópia do jornal; ele balançou conforme ela virou a página.
A manchete, "A Corrida Presidencial de Terça-feira Perto Demais,‖ gritou mais alto que as vozes de uma centena de garotas tagarelas enquanto Macey atravessou as portas na parte de trás do salão com o resto das alunas da nona série que tinham ficado no final de P&A. Ela estava sorrindo; estava rindo; a garota à beira do lago parecia mais longe, e ainda assim eu sabia que ela ainda estava dentro de Macey em algum lugar, e eu realmente não queria vê-la novamente.
―E aí?‖ Macey perguntou conforme tomou a cadeira ao meu lado. Eu não tinha a menor idéia do que ou como dizer.
Felizmente, Joe Solomon foi quem respondeu, ―Teste surpresa.‖
―Agora, eu sei que algumas de vocês não estão na trajetória de estudo de CoveOps,‖ Sr. Solomon disse, olhando para baixo na mesa de toda a classe do terceiro ano, ―mas há aspectos dessa vida — deste mundo — do qual você nunca pode ir fugir. Nunca. O fato de que quase tudo o que você diz para quase todo mundo que ama para o resto de sua vida será uma mentira é um deles. Portanto, se vocês não se importam com um pouco de trabalho extra...‖ ele falou, olhando para Liz, que estava meio que me perguntando se eu não me importava por uma sobremesa extra ―roupas lisas. Hall de entrada. Vinte minutos.‖
Dez minutos depois, eu estava descendo correndo pelas grandes escadas, meio passo atrás de Bex e Liz. A adrenalina que só vem por ir a outro lugar, fazer outra coisa, ser outra pessoa por um pouquinho estava começando a correr em mim novamente. Macey estava ao meu lado. Eu não tenho a menor idéia de onde estávamos indo, mas para ser honesta, eu não me importava.
Abby estava de pé na porta, dando um sorriso inteligente e maroto a todas que passavam. Mas conforme Macey e eu demos um passo em direção a porta, o sorriso da minha tia totalmente não foi o que recebemos.
Um braço. Isso foi o que eu vi primeiro. Um braço bloqueando a porta, alcançando o ombro de Macey.
―Desculpe,‖ disse Tia Abby. ―Não é um local seguro.‖
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Eu dei a Macey um simpático encolher de ombros e tentei passar. Mas Abby, mas não se mexeu. ―Oh.‖ Ela olhou para mim. "Acho que você e sua mãe têm um... acordo?‖
Eu podia ouvir os passos recuando na escuridão exterior. Podia sentir a oportunidade escapando.
―Mas—‖ comecei. Eu não sei se estava argumentando com a minha tia, com o meu professor, ou com a sombra do Serviço Secreto de Macey, mas eu sabia que a situação exigia uma grave argumentação com alguém. ―Mas isso é uma missão!‖ Eu soltei. Abby apenas balançou a cabeça.
―Desculpe-me, meninas,‖ disse ela. ―Claro‖ — ela lançou um olhar para Macey — "Eu levaria uma bala por você, mas isso não significa que eu vou provocar a ira de Rachel.‖
Bex e Liz derraparam até parar lá fora e se voltaram para nós, os olhos de Bex perguntando por que estávamos demorando tanto; mas Tia Abby virou-se, na escuridão, sem uma segunda olhada.
―Ei,‖ eu disse, correndo para alcançar Macey. ―Você está bem?‖
Ela sorriu. ―Estou ótima.‖ Mas ela não soava ótima. Nem mesmo um pouco.
―É comigo que você está falando,‖ eu disse a ela. ―Eu não posso votar, lembra?‖
―Eu...‖ Desta vez, ela realmente parecia estar pensando na resposta, e eu sabia que havia uma chance de eu conseguir a verdade em vez da linha do partido. ―Estou com raiva,‖ disse ela finalmente, as palavras ecoando pelo longo corredor vazio.
―Ok.‖
"E eu estou enjoada disso.‖ Ela segurou o gesso que cobria o braço esquerdo. ―Este lembrete estúpido, sujo, comichão... Mas aparentemente eu marco dez pontos com ele.‖
―Ok.‖
―E estou tão cansada...‖ Sua voz era suave então, a sua luta quase desapareceu conforme ela caiu na escada. ―Estou tão cansada de ser Macey McHenry.‖
Eu afundei na escada ao lado dela.
―Poderia ser pior,‖ tentei, esperando que meu sorriso não parecesse tão falso quanto eu me sentia.
―Você poderia ser canhota,‖ eu disse, apontando para o gesso em seu braço esquerdo.
Macey riu. ―Eu poderia estar presa em um ônibus de campanha... com a minha mãe.‖
―Você podia ser sua mãe,‖ eu tentei.
―Eu podia ser o Preston,‖ ela disse com uma risada.
Eu pensei nisso por um segundo. Se Macey estava ficando louca vivendo no edifício mais seguro no país, com Tia Abby como sua segurança, e então o filho de um candidato presidencial tinha que estar para fora de sua mente.
―Eu estou tão pronta para isto acabar,‖ disse ela, como se tivesse acabado de admitir o seu mais profundo e obscuro segredo. ―Estou tão pronta para terça-feira.‖
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Esse era o momento que estávamos esperando — a abertura que eu precisava para contar para ela, a verdade sobre o motivo do que estava acontecendo, e avisá-la que não iria acabar tão rápido — que ela não ia deixar de ser descendente de Gilly na quarta-feira.
―O que?‖ ela perguntou, lendo o meu rosto. Eu tinha ido àquele corredor para contar a ela a verdade, para alertá-la, mas Macey ainda tinha esperança de que terça-feira poderia marcar o fim, e eu não quis tirar isso dela tão cedo.
Eu me encontrei de pé, pensando, movendo.
―O que você quer fazer, Macey?‖ perguntei.
―Eu quero... eu quero não ser vigiada o tempo todo,‖ disse ela.
―Não quero ser observada pelo povo da cidade. Não quero ser observada pelos meus pais. Eu simplesmente não quero ser‖ — ela virou seu olhar para mim — ―observada.‖
Quando você tem a aparência de Macey McHenry, o desejo de desaparecer pode parecer loucura. Mas não se você é uma adolescente. Não se você está na capa de cada revista dos Estados Unidos nos últimos seis meses. E não se você é um camaleão.
Eu era talvez a única pessoa no mundo que poderia entender, e talvez era por isso que ela me contara.
E talvez seja por isso que eu disse, ―Vamos.‖
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CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Eu sabia que era contra as regras?
Sim.
Eu achava que era uma tolice?
Absolutamente.
Eu achava que valia a pena? Honestamente?
É, acho que sim.
Às vezes eu me pergunto o que me faz ser a Camaleoa — por que eu gosto de esconder e me misturar, porque prefiro ser invisível a ser notada. Mas conforme Macey e eu descemos o corredor do porão, eu sabia que ser invisível não era sem sua atração.
Afinal, tinha tomado noventa minutos, mas Macey McHenry tinha ficado pronta com sucesso (não mais), e agora estávamos prontas para o mundo exterior. Lancei um olhar para a garota ao meu lado. Seus olhos azuis de sempre estavam escondidos atrás de lentes de contatos marrons e óculos grossos. Acrescentamos um leve traço de sardas em seu nariz pálido. Seus cabelos pretos brilhantes estavam sob uma peruca ruiva encaracolada, e eu sabia que isso era tudo que alguém que olhasse para ela lembraria: grandes cabelos vermelhos e óculos.
Alcancei a velha tapeçaria da família Gallagher que pendia contra a parede de pedra, depois olhei para a garota que eu dificilmente reconhecia, e falei ―Você tem certeza?‖
Ela colocou a mão na pequena crista que estava inserida na pedra e torceu a espada, desencadeado a liberação de uma das minhas passagens secretas favoritas.
―Pode apostar.‖
Roseville sempre me pareceu o tipo de lugar onde nada jamais realmente muda, mas naquela noite, as luzes queimavam na distância, e um brilho iridescente crescia do horizonte enquanto Macey e eu entramos na cidade. Havia um som, também, que ia e vinha, um baixo estrondo, como um rio. A nossa volta, as pessoas estavam correndo de restaurantes, com os braços cheios de cobertores em toda a praça, fluindo na direção da luz.
―O que você quer fazer?‖ Virei para Macey.
Ela estava olhando para um reflexo em uma vitrine de duas meninas. Para os cidadãos de Roseville elas provavelmente pareciam garotas normais. Pessoas passaram por elas sem um segundo olhar. A ruiva no vidro não era uma conseqüência. Ela era despercebida e invisível.
Ela era como eu.
E ela estava adorando cada segundo disso conforme falou, ―Nós seguimos elas.‖
Ok, como uma artista pavimentar, essa não era a cauda mais difícil que já enfrentei. As luzes eram fortes e cada vez mais brilhantes. Dezenas de pessoas estavam andando na mesma direção, descendo as ruas laterais que saia da praça.
Um par de homens estava passando, discutindo.
―McHenry,‖ um dos homens cuspiu para o outro. ―Ele não é melhor que os outros.‖
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Olhei para Macey, esperando ver algum tipo de reação em seus olhos, mas sua expressão era tão indiferente como alguém poderia esperar o de uma menina de dezesseis anos seja.
―Eu não me importo se ele tem vínculos com Roseville!‖ um dos homens protestou.
―Você quer dizer sobre a filha dele estar na escola?‖ o outro homem perguntou.
E então Macey fez algo que nunca vou esquecer. Ela tocou no homem, verdadeiramente fazendo contato físico, e olhou nos olhos dele. Segurei minha respiração por um segundo enquanto Macey McHenry — a exata garota da qual ele estava falando — o olhou com suas lentes de contato e disse, ―Com licença.‖
―Não, me perdoe, moça,‖ o cara disse, e então voltou para o seu amigo. Continuou andando em direção às luzes.
Eu sabia que estávamos quebrando uma promessa para minha mãe, e que estávamos correndo um risco terrível. Mas o olhar no rosto de Macey naquele exato momento fez tudo ficar bem.
Então viramos uma esquina, e eu vi as linhas de orbes brilhantes, a bandeira americana acenando, e ouvi o som atroador para o que era. Não era um rio...
Futebol.
O estádio de futebol de Roseville ficava do outro lado da cidade, aninhado contra as montanhas altas que subiam do vale apenas a quarenta e cinco metros atrás de mim. À distância, a banda começou a tocar. O som ecoava pelas colinas. A torcida ficou mais alta enquanto caminhávamos em direção à cerca de arame, nos juntando ao fluxo de pessoas que corria dentro dos portões. Vigas de aço moldavam as arquibancadas. Partículas de poeira e detritos caíam às vezes como uma queda de neve fraca conforme ficamos embaixo da arquibancada, olhando para o campo. Havia funcionários uniformizados segurando marcadores laranja grandes. Um treinador passeou para frente e para trás, gritando ordens que ninguém parecia ouvir. Líderes de torcida se moviam em perfeita harmonia, suas saias vermelhas plissadas voavam conforme elas gritavam e chutavam. E por trás delas sentavam-se um pequeno palco com cinco meninas com coroas e vestidos extravagantes.
―Oh meu Deus,‖ Macey disse, apontando para a garota no centro, que usava um vestido branco e uma tiara. Ela soava tão oprimida quanto eu me sentia.
―Eu acho que talvez ela seja a rainha deles,‖ chutei, porque, honestamente, estávamos em território completamente estrangeiro!
Espiões têm que estar confortáveis em todos os tipos de situações sociais, mas não acho que já tenha estado em qualquer lugar onde algumas pessoas usavam tiaras e outras vestiam moletons. Quero dizer, eu já tinha assistido futebol na TV com o vovô Morgan, mas nunca tinha visto nenhuma garota lá usando roupas formais!
Um caminho circulava o campo de futebol. Do outro lado estava as arquibancadas opostas, a equipe adversária. Macey e eu começamos a caminhar naquela direção, passando o carrinho de comida, e corremos diretamente a Tina Walters.
―Com licença,‖ disse Tina, tropeçando um pouco. E então ela olhou para Macey. Olhou para mim. Ela abriu a boca para falar, mas então, com a mesma rapidez, balançou a cabeça como se dispersasse um pensamento louco.
―Hummm... desculpe.‖ Agarrei Macey e saímos.
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Macey olhou para mim, seus olhos coloridos arregalados conforme nós duas silenciosamente declaramos, Teste rápido!
Perto da casa de banho, vimos Eva Alvarez posando como um membro do corpo da bandeira do outro time e conversando com uma mulher de meia idade vestindo um corpete Eu [coração] # 32 que era tão grande quanto sua cabeça.
Ouvi a risada de Courtney Bauer debaixo das arquibancadas. Agora eu sei, tecnicamente falando, que uma multidão completa de Garotas Gallagher devesse me fazer-me sentir segura, mas naquele momento elas não eram reforços — eram operárias altamente treinadas que podiam desmanchar nosso disfarce a qualquer momento.
Macey e eu ficamos calmas e continuamos andando, pegando as vistas e sons, até que de repente as coisas pareciam... diferentes. Novamente. Senti as Garotas Gallagher no meio da multidão, mas também... outra coisa. O jogo deve ter ido bem para Roseville, porque a torcida da casa estava aplaudindo; mas por algum motivo me encontrei pensando em outro dia e outra multidão. Mas desta vez eu não achava que era louca conforme a minha mente voltou a Washington, D.C. Desta vez, eu sabia o que estava procurando.
―Ele está aqui,‖ murmurei enquanto meu olhar varreu a multidão, já não vendo fãs de futebol e torcidas organizadas, membros da banda e jogadores formados velhos.
―O que?‖ Macey perguntou sobre o barulho da multidão.
―Zach,‖ sussurrei de volta.
―Eu não sei por que ele não te beijou!‖ Macey disse com um suspiro exasperado, como se totalmente não estivesse no clima para desabafos novamente.
―Não.‖ Balancei minha cabeça. ―Ele está aqui.‖
E isso chamou a atenção da minha companheira de quarto. ―Como você sabe?‖ ela perguntou, virando-se para tomar o meio da multidão.
―É uma coisa de artista pavimentar?‖
―Não,‖ eu disse. ―É uma coisa de garota.‖
Macey assentiu com a cabeça como se soubesse exatamente o que eu estava sentindo. Ela examinou as arquibancadas.
―Talvez Blackthorne esteja aqui para um exercício de CoveOps também?‖ ofereceu, mas eu balancei a cabeça.
―Ooh! Alerta de Solomon!‖ Macey disse então, vindo ainda mais vivo.
Nosso professor estava próximo ao mastro. Nosso professor estava olhando na nossa direção. Teria sido fácil virar, tentar se esconder. Mas felizmente Macey ficou comigo, quieta e parada, conforme o olhar de Joe Solomon passou sobre nós.
Talvez fosse o instinto ou o treinamento que me fez congelar. Ou talvez tenha sido a visão do garoto de pé doze metros atrás do meu professor, no meio da pista, olhando diretamente para mim.
Ser reconhecida durante uma operação secreta é ruim. Estamos falando que a democracia (para não falar a vida) como você conhece pode deixar de existir... ruim. Agentes inimigos podem tentar
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te matar. Amigos que não têm idéia de que você está se colocando como uma tradutora das Nações Unidas e usando o nome de Tiffany St. James podem totalmente destruir o seu disfarce. Mas até aquele momento,
Eu não tinha percebido o quão perigoso era ser reconhecida por...
Seu ex-namorado.
―Aquele não é...‖ Macey começou, mas eu não pude esperar que ela terminasse.
―Josh.‖
Minha mente correu por todas as razões pelas quais eu não devesse entrar em pânico. Afinal, era um baile e parecia que toda a cidade de Roseville tinha vindo para o show. E não só isso, mas naquele momento eu parecia mais como Macey que comigo mesma, conforme parei lá com minha peruca preta longa e lentes de contato azuis, e calça jeans que o meu verdadeiro eu nunca usaria para se divertir em uma noite de sexta-feira. Mas a esperança que agarrei mais forte, conforme eu fiquei de pé a seis metros de distância do meu primeiro namorado, era simples: eu ainda era a garota que ninguém vê.
Mas houve sempre uma exceção para essa regra. E ele estava bem na minha frente.
―Será que ele... encheu um pouco?‖ Macey perguntou, apertando os olhos para ver melhor através de seus óculos falsos. ―Ele parece... mais quente,‖ acrescentou ela, como se totalmente aprovasse.
Eu queria dizer que não. Queria fingir que não importava. Mas quando ele se virou e começou a caminhar para longe de nós, eu fiz o que qualquer espiã (para não mencionar a ex-namorada) faria: eu o segui.
Eu deveria ter esperado por Macey, mas ao invés eu me encontrei me empurrando entre a banda de marcha, cujo estava se alinhando para entrar em campo no intervalo. Eu me dirigi atrás do garoto que estava andando livremente no meio da multidão — sem se esconder. Sem disfarce. Fiquei maravilhada com o fato de que há garotos no mundo que são exatamente o que parecem.
Do ponto de vista de uma artista pavimentar, seguir um garoto como Josh Abrams é tão fácil quanto parece. Afinal, ele é inexperiente, inconsciente, e totalmente despreocupado com os Fundamentos do Ensino de Contra-Vigilância (meu livro favorito quando eu tinha sete anos). E, no entanto, alguma coisa naquela missão era mais difícil do que qualquer coisa que eu fizera há muito tempo. Talvez fosse o fato de que eu estava em um terreno totalmente desconhecido. Talvez tenha sido a forma como as multidões se esmagavam a minha volta, dificultando seguir contra a corrente. Ou talvez tenha sido a visão de outro garoto que apareceu do nada e agora estava bloqueando meu caminho.
―O que você está fazendo aqui, Garota Gallagher?‖ a voz de Zach era baixa, mas forte. Ele agarrou meu braço e me levou para fora do caminho de um conversível que estava dirigindo o assistente calouro do baile ao redor da pista.
―Exercício de CoveOps,‖ menti. ―Você?‖
―Pensei que você não devesse deixar a escola,‖ ele me disse.
―É, porque você permanece tanto no campus ultimamente. Sério, Zach, você alguma vez fica em Blackthorne?‖
Mas ele não respondeu (o que, Macey me diz, é uma reação típica de ambos garotos e espiões,
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então eu não sabia o que ele estava sendo naquele momento).
―Eu tive uma sensação de que você pudesse tentar algo como isto.‖ Soou como a coisa mais verdadeira que me dissera em séculos.
―Apenas me diga...‖ Zach começou, e pela primeira vez a sua raiva pareceu desaparecer. ―Apenas me diga que você não fez isso para ver o Jimmy.‖
―Josh,‖ eu corrigi Zach mais ou menos pela milésima vez, mas ele não sorriu, e de alguma forma eu sabia que a piada estava tinha acabado há muito tempo.
―Não,‖ eu disse, falando sério. ―Eu só... estou aqui.‖
Não procurei por ele, mas de alguma maneira eu sabia que Josh estava com um grupo de amigos a três metros de distância. Zach estava bem na minha frente. Lá estava eu, presa entre dois garotos que não podiam ser mais diferentes. Se eu tivesse sido outra garota com outro disfarce, eu não sei o que teria feito, mas naquele momento, só uma coisa importava.
―Por que você estava em Boston, Zach?‖
O ar era fresco e calmo a nossa volta. Uma música suave começou pelo alto-falante conforme a turma do baile fez seu caminho para o centro do campo. Eu senti mais do que uma nova estação soprando na brisa, então talvez tenha sido por isso que olhei para o garoto que eu não via em meses e falei, ―Por que você está aqui, Zach?‖
Dei um passo mais perto dele, esperando que ele fizesse o mesmo, que brincasse, que sorrisse. E mais do que qualquer coisa, queria que ele dissesse Estou aqui por você.
O espaço entre nós encolheu, mas enquanto eu dei outro passo para frente, Zach deu um passo para trás. Na primavera passada, ele me provocara, flertara comigo — eu tinha sido quem era difícil de conseguir. Mas em pé sob aquelas luzes brilhantes, eu podia ver que de alguma maneira, nos últimos meses, Zach e eu tínhamos mudado de lugar. Eu não gostava do jogo desse lado do campo.
―Qual é,‖ disse ele, pegando minha mão (mas não de uma maneira gentil, romântica). ―Estamos levando Macey para casa.‖
―Não estamos fazendo nada.‖
―Ótimo,‖ disse ele, começando a se afastar. ―Eu vou encontrar Solomon e pegar a opinião dele.‖
―Zach,‖ comecei, o cortando, mas ele passou por mim.
―Você sequer sabe quem está por aí?‖ ele soltou mais alto, e rápido assim se aproximou. ―Você sequer se importa?‖
―O Círculo de Cavan está atrás da minha irmandade, Zach. Não da sua. Eles estão caçando minhas amigas. Estão mandando Garotas Gallagher a estrada de lavanderia abaixo, então não apareça aqui e queira me palestrar sobre o que está em jogo.‖
Ele respirou como se para falar, mas eu não o deixei.
―Se os seguidores de Joseph Cavan querem acertar as contas com a tataraneta de Gillian Gallagher, então eles terão que lidar com todas nós, e isso não necessariamente inclui você.‖
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O locutor estava falando pelo alto-falante, dizendo algo sobre a rainha do baile e seu amor profundo por filhotes de cachorro ou algo assim, mas eu só olhei para Zach, tentando evitar a sensação de que eu não tinha realmente o visto em meses. Se alguma vez o vi realmente.
―Por que eu sinto que não posso confiar em você mais?‖
Eu queria que ele explodisse. Queria que ele lutasse, protestasse, discutisse — fizesse qualquer coisa a não ser olhar profundamente em meus olhos e dizer, ―Porque a Academia Gallagher não admite tolos.‖
Centenas de pessoas lotaram os estandes ao nosso redor. Eles eram professores e contabilistas, mães do lar e homens que trabalhavam na fábrica de papel higiênico — pessoas normais fazendo o seu melhor para viver vidas normais. Não podiam estar mais longe de Macey McHenry (tanto a espiã e a garota) se tentassem.
E, no entanto, ela estava bem ali ao lado deles.
Ao nosso lado.
E ela tinha ouvido tudo o que tínhamos dito.
―O laço familiar com Roseville,‖ Macey suavemente repetiu o que o homem na rua tinha dito.
―Macey,‖ eu disse, me aproximando.
―Isso significa...‖ ela começou, e eu sabia que havia uma dúzia de maneiras para frase poder terminar. Se eu tivesse acabado de descobrir que era parente de Gillian Gallagher, teria ficado em êxtase. Bex teria pensado que era a coisa mais legal de todos os tempos. Liz poderia ter decidido realizar alguns sérios experimentos de DNA para determinar se a dissimulação era hereditária.
Mas não importava o que teríamos feito. O que realmente importava era o que Macey faria.
―Você sabia disso?‖ ela me perguntou. Sua voz estava rachando. Seu lábio tremia. ―Há quanto tempo você sabe disso?‖
Eu podia ter mentido, eu acho. Mas não menti. Talvez porque Macey vivia comigo há mais de um ano, e perceberia. Talvez porque ainda não tivéssemos atingido mentir para um operário treinado em CoveOps. Ou talvez eu só pensasse que Macey tinha o direito de saber que das milhares Garotas Gallagher no mundo, ela era a única que carregava o sangue de Gilly nas veias.
―Sim, minha mãe nos contou no último—‖
―Nós!‖ Macey soltou. ―A escola toda sabe?‖
―Não! Somente Bex, Liz e eu. Minha mãe explicou tudo isso depois que você foi aceita. Ela—‖
―Então, eu sou a descendente de Gillian Gallagher?‖ O fogo pareceu estar desaparecendo dela, por isso estendi a mão, ainda meio com medo de que quando a tocasse ela virasse cinzas. ―Então é por isso que me deixaram entrar.‖
―Macey, não é—‖
―Verdade?‖ disse ela, me encarando, mas pela primeira vez na minha vida eu não podia mentir — não podia me esconder. Eu só podia observar conforme ela se afastou sem dizer mais nada, entre os membros vestidos de vermelho da Banda de Marcha de Roseville, que estavam saindo do campo.
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―Macey!‖ chamei atrás ela, mas então a mão de Zach estava na minha.
―Cam—‖ ele começou.
―Agora não, Zach.‖ Eu me afastei. Talvez quisesse encontrar Macey. Ou talvez só quisesse estar em qualquer lugar menos ali.
Entrei no meio da multidão, me empurrando entre a banda e para um espaço aberto — vendo potenciais ameaças para qualquer direção que me virasse.
Seis metros à minha direita e até acima três filas, havia um cara com um boné vermelho que ficou de pé para aplaudir um segundo mais tarde, como se a sua atenção estivesse em outro lugar. Na faixa entre as líderes de torcida e as arquibancadas, duas mulheres estavam juntas examinando a multidão enquanto vestiam sapatos que nenhuma dona de casa de cidade pequena seria pega morta dentro
Eu queria gritar na minha unidade de comunicação e chamar por reforços, mas eu não tinha comunicação.
Não havia reforço.
E Macey já tinha desaparecido.
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CAPÍTULO VINTE E QUATRO
A estrada para Roseville nunca pareceu tão demorada. Nas horas que se passaram, a mansão nunca pareceu tão grande. E eu nunca tinha me sentido tão estúpida como quando Bex, Liz e eu fomos de quarto em quarto, andar em andar, à procura de Macey.
Relatório de Operações Secretas 05h00min horas
As Operárias Morgan, Baxter e Sutton realizaram uma pesquisa detalhada da Mansão Gallagher, seguindo o padrão clássico de detecção do livro didático. (Elas tinham certeza disso porque a Operária Sutton trouxera o livro real.)
―Eu sei que ela voltou,‖ falei pelo que deve ter sido a centésima vez, mas tive que continuar dizendo as palavras. Não importava que nem Bex nem Liz precisassem as ouvir.
―Eu segui as pegadas dela descendo o túnel... Ela voltou por esse caminho — estou certa disso. Ela deixou a peruca na porta com o resto do seu disfarce, então eu deixei a minha lá também e fui procurá-la...‖
Olhei para Bex e Liz, nem mesmo tentando esconder meu pânico conforme implorei para que elas acreditassem em mim. ―Eu sei que ela voltou!‖
Eu queria que Liz citasse as chances incríveis em nosso favor de que Macey estava bem. Esperava que Bex me dissesse que tudo ia ficar bem, mas ao invés ela só olhou para mim e perguntou, ―Numa escala de um a dez, quanto ela estava com raiva?‖
Estávamos na biblioteca, mas não havia nenhuma garota entre as pilhas. O relógio em minha cabeça me dizia que era quase cinco da manhã. O fogo na lareira não era nada além de uma pilha fumegante de cinzas — a única luz no cômodo. Pensei na pergunta de Bex, lentamente percebendo que raiva não era a palavra. Raiva poderia ser manobrada por desafiar Bex para uma boa partida de caratê no celeiro de P&A. Raiva vai embora com uma boa noite de sono.
―Não é raiva,‖ falei, balançando a cabeça. ―Era mais como se ela estivesse—‖
―Decepcionada.‖ A voz de Liz foi tão suave que eu mal ouvi, e até agora não tenho certeza se ela sabia que tinha dito a palavra em voz alta. Estivemos procurando por Macey por horas, mas alguma coisa na maneira que ela afundou na escada em espiral me fez perceber que, em algum lugar ao longo do caminho, Liz tinha desaparecido também.
―Quando Macey descobriu, estava decepcionada,‖ disse Liz novamente, e eu sabia que ela estava certa.
―Sim,‖ eu disse, me virando para ela. ―Decepcionada.‖
―Oh, eu vou quebrar uma coisa quando a encontrarmos...‖ o sotaque de Bex estava voltando em oscilações.
―Ela vai abocanhar a si mesma se continuar agindo dessa maneira estúpida. Correndo pelo país por conta própria...‖
―Você não entende, não é?‖ Era a primeira vez que eu ouvia Liz levantar sua voz, a primeira vez que tinha visto sua pele tão mortalmente branca. Até mesmo Bex parou e encarou.
―Quero dizer, olhe para você — olhe para vocês duas! Vocês não sabem como é. Vocês... fazem parte,‖ disse Liz, como se Bex e eu estivéssemos no núcleo de um segredo antigo e não
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percebêssemos isso. E eu acho que, de certa forma, estávamos.
―Você.‖ Liz se virou para Bex. ―Você vai por todo o mundo com sua mãe e seu pai, rastreando traficantes de armas e demarcando terroristas durante as férias de verão.‖
Bex começou a protestar até que percebeu que o que Liz dizia não era um insulto e, além disso, era absolutamente verdade.
―E você,‖ Liz falou, virando para mim. ―Cam, sua mãe é a diretora... Sua tia é uma lenda viva...‖ Por alguma razão senti minhas bochechas corarem.
―Vocês não têm idéia do que é ser... normal. E então um dia alguém lhe diz que a escola mais difícil, mais de elite, mais incrível no mundo é em Roseville, Virgínia‖ — a voz de Liz tinha tomado uma qualidade muito sonhadora, mas conforme postou seu olhar sobre nós, suas palavras viraram aço — ―e eles querem você.‖
Eu pensei sobre o que ela disse e percebi que nunca houve um momento em minha vida que tive dúvidas se eu podia me tornar uma Garota Gallagher ou não. Para Bex, a barreira mais difícil fora a geografia.
―Sim,‖ disse Liz, lendo nossas expressões. ―Eu sempre fui muito bem na escola.‖
Esse era provavelmente o eufemismo do século, mas não me atrevi a interromper.
―As pessoas sempre me disseram que eu era inteligente — as pessoas sempre disseram que eu era especial. Porém Macey...‖ a voz de Liz rachou. Meus olhos estavam embaçando, e até Bex pareceu como se estivesse prestes a chorar.
―O que as pessoas sempre disseram a ela?‖
Eu não queria pensar na resposta para aquela pergunta — não naquele momento. Nunca. Então nós três nos sentamos rodeadas por livros, segredos e à luz de um fogo de morrer, finalmente percebendo que nós éramos as únicas pessoas na vida de Macey que sabiam não julgar uma garota pelo disfarce.
―Nós temos que encontrá-la,‖ disse Bex, começando pela porta. ―Agora.‖
Mas eu já estava bem à frente dela, empurrando para frente, levando uma onda de cansaço e de terror; o instinto me carregando adiante conforme torci para estar errada.
Eu podia as ouvir seguindo atrás de mim, seus passos ecoando no chão de pedra antiga enquanto Bex chamou, ―Nós já olhamos ali embaixo.‖
Mas eu apenas corri mais rápido pelos corredores abandonados, passando por salas de aula vazias, janelas escuras e, finalmente, descendo a escada que levava ao longo corredor do porão — para o lugar onde, de certa forma, tudo tinha começado.
Não havia janelas lá. O corredor estava escuro, o chão de pedra áspero, mas ainda assim eu corri para o lugar onde minha mãe nos trouxe há mais de um ano atrás e nos contou a verdade sobre Macey.
Conforme eu parei em frente à tapeçaria que mostrava toda a árvore da Família Gallagher, tentei imaginar quantas vezes eu tinha desaparecido por trás dela, mas sabia que a nossa viagem naquela noite tinha sido a jornada mais importante que esta passagem já testemunhara.
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Eu estava respirando com dificuldade, quase com medo do que encontraria, enquanto Bex e Liz apareceram ao meu lado.
―Ela está aqui em algum lugar,‖ disse Liz. ―Ela tem que estar. Ela...‖
Mas eu não estava realmente escutando enquanto puxei o tapete de lado e virei a pequena espada na crista da Academia Gallagher, que estava embutido na parede de pedra.
―Ela pode estar no quarto comum da nona série,‖ Liz dizia do jeito de alguém que tem de continuar a falar ou então vai adormecer. ―Elas têm aquelas cadeiras realmente confortáveis...‖
Entretanto eu só assisti a parede escorregar de lado para revelar o corredor vazio. Ouvi os sons do silêncio ecoar pelo eixo. Olhei para o lugar onde Macey e eu tinha deixado nossos disfarces mais cedo naquela noite — o lugar onde nenhuma peruca, nenhum óculos, nenhum traço das garotas que tínhamos sido mais cedo naquela noite restara.
―Ela está aqui,‖ disse Liz. ―Ela não pode ter...‖
―Saído.‖
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CAPÍTULO VINTE E CINCO
―Diga-me.‖ A voz do Sr. Solomon estava firme conforme ele sentou na mesa de centro em frente ao sofá de couro no escritório da minha mãe.
Não olhei ao redor da sala. Eu não ouvi enquanto minha mãe falava em um telefone e minha tia em outro. Não observei Liz e Bex conforme elas se sentaram no banco da janela, respondendo a perguntas de Buckingham e do Sr. Smith. Foi o caos mais silencioso que eu já tinha visto ou ouvido, então eu somente sentei lá, tentando manter minha mente cansada de submergir demais naquela passagem vazia, perseguindo Macey.
Um andar abaixo de nós, as garotas estavam se reunindo para café da manhã de sábado; acima nas suítes, metade da classe do terceiro ano estava provavelmente dormindo. As notícias sobre Macey não tinham se espalhado ainda, mas se espalhariam... e eu sabia que era com as pessoas no escritório da minha mãe se certificarem de que não se espalhasse muito longe; então talvez seja por isso que Joe Solomon olhou para mim como se fôssemos as únicas duas pessoas na sala — na escola. O mundo dele não estava desmoronando. Ele iria o juntar — eu podia juntá-lo.
Eu apenas tinha que...
―Diga-me tudo, Srta. Morgan.‖
―A última vez que a vi foi na noite passada.‖
―Tudo.‖
―Às oito e quarenta e sete na noite passada nós estávamos na cidade... no jogo de futebol,‖ eu admiti, esperando que ele gritasse ou pelo menos olhasse confuso, mas Joe Solomon não é um dos melhores agentes secretos do mundo por nada, então ele apenas assentiu e me disse para ir em frente. ―E vimos Zach.‖
Talvez fosse minha imaginação hiperativa, mas eu podia ter jurado que isso fez o Sr. Solomon piscar. Eu pensei no jeito como ele e Zach se encontraram no túnel de trem na Filadélfia. Uma dúzia de questões veio à mente, mas tanto quanto queria respostas, eu queria mais Macey de volta. Então falei, ―Você quer palavra por palavra?‖
Ele parecia apreciar a oferta, mas balançou a cabeça. ―Agora não.‖
―Zach e eu estávamos falando sobre o Círculo de Cavan — eu descobri, você sabe. Do anel e da espada?‖
Ele sorriu. ―Eu sabia que você descobriria. Continue.‖
―Macey nos ouviu. Ela não sabia que estava relacionada com Gilly. Ela queria saber se era por isso que foi aceita aqui. Ela não sabia de nada até então, depois ela... correu. Estava barulhento, lotado e eu a perdi.‖
Eu não podia olhar para ele. ―Eu deveria ser uma artista pavimentar, e eu a perdi.‖
―É o que ela faz, Srta. Morgan.‖ Os olhos do Sr. Solomon encontraram os meus, mas havia uma mudança nele de alguma forma. ―Correr,‖ ele acrescentou.
―É claro que, tecnicamente, o padrão dela é fazer algo para ser expulsa, mas isso não é uma opção agora, então ela esta fazendo a coisa pessoalmente. Você sabe o que estou dizendo, Srta. Morgan?‖
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Mas infelizmente, eu não sabia.
―Às vezes as pessoas correm... para ver se você vai vir atrás delas.‖
Eu vi Joe Solomon todos os dias escolares por mais de um ano, mas não acho que irei algum dia realmente conhecê-lo. Há momentos em que ele é uma das pessoas mais fortes que já conheci, e depois há outros — como esse — quando acho que ele possa ser quebrado, no fundo, em um lugar que nunca consertará.
E então rápido assim, ele se tornou meu professor novamente. ―Está faltando alguma coisa em seu quarto?‖
Eu parei por um segundo, fechei meus olhos, e visualizei o espaço. ―O passaporte dela.‖
―Nenhuma roupa? Dinheiro?‖
―Ela tem catorze cartões de crédito diferentes e sabia os números de todos de cor.‖
Sr. Solomon pareceu como se quisesse sorrir, como se quisesse rir. ―Ela também é um dos rostos mais famosos no país agora, Srta. Morgan,‖ ele me disse, nenhuma pista de preocupação em sua voz.
―Acho que podemos rastreá-la.‖ Mas então ele leu minha expressão, e o sorriso sumiu de seus lábios. ―O que?‖
―Bem,‖ falei lentamente, ―se lembra que tivemos aquela aula de disfarce?‖
Não havia tempo para gritaria. Não havia lugar para lições de mãe e filha em pesar. Conforme nossos professores se reuniam a nossa volta, eu dei a eles detalhes dos itens que Macey levara com ela. Quando terminei, minha mãe balançou sua cabeça e começou pelo telefone. Infelizmente, Tia Abby não estava tão facilmente distraída.
―Eu sei o que eu fiz,‖ falei antes que minha tia pudesse proferir uma palavra.
―Sabe?‖ Havia algo mais profundo em seus olhos. Ela não era apenas a Tia Abby então; ela era mais do que a protetora de Macey; por uma fração de segundo ela era a mulher no trem, mas então — tão rápido assim — aquela mulher desapareceu.
―Você foi até a cidade sozinha e... e agora, chegando terça-feira, iremos ter que exibir Macey McHenry, e se não pudermos, cada agente no Serviço Secreto e metade do FBI irão descer sobre essa mansão, Cameron, e eu não sei se mesmo a sua mãe pode mantê-los fora. Eles irão puxar carpetes e derrubar portas até rastrearem cada passo de Macey, e no processo, eles podem pegar minha cabeça por boa medida. E enquanto isso, ela—‖ Abby posicionou uma mão em seu quadril, e pela primeira vez, eu vi um coldre. Como fumaça e fogo, eu sabia que em algum lugar havia uma arma. ―Ela está lá fora. Ela só conhece bem—‖
―Nova Iorque!‖ Buckingham gritou e abaixou um telefone.
―Uma jovem equivalente a descrição de Macey adiquiriu um bilhete de ônibus para Nova Iorque na noite passada. E alguém usando uma das contas comercial da mãe de Macey reservou um jato particular para a Suíça.‖
Abby olhou para mim. ―A família dela tem uma casa lá,‖ falei. ―Encaixa.‖
Mamãe se virou para Buckingham. ―Temos formadas na Suíça?‖
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―É claro,‖ foi a resposta de Buckingham.
―Coloque-as atrás dela até que possamos ter uma equipe no lugar.‖ A Professora Buckingham se virou para ir, mas Mamãe chamou atrás dela.
―E Patricia, diga a elas que é um alvo difícil. Diga a elas que é uma de nós.‖
Eu daria qualquer coisa para Macey ter ouvido isso. Talvez então ela tivesse acreditado em mim. Talvez ela não tivesse fugido. Talvez então as coisas estivessem muito diferentes. Mas Macey não ouviu, e esse era o problema. Ela estada a meio mundo de distância. Por conta própria. E um olhar para os olhos preocupados de minha mãe me disse que nós provavelmente não éramos os únicos procurando por ela.
Conforme Abby se arremessou para a porta, Bex, Liz e eu corremos atrás dela.
―Quando partimos?‖ Bex disse.
―Nós não estamos indo a lugar algum,‖ Abby soltou. Pelas janelas eu podia ver que um helicóptero já estava rodando suas hélices, a esperando. Ela correu em direção a escada, mas então parou subitamente.
―Ela vai ficar bem, vocês sabem.‖ Por um segundo, Abby era o seu velho eu conforme ergueu uma perna.
―Confiem em mim.‖
Eu sei, cientificamente falando, que todos os dias têm vinte e quatro horas. Um mil, quatrocentos e quarenta minutos. Oito mil e quatrocentos segundos. Mas até Liz admitiu que os dias que seguiram pareceram mais longos, enquanto nós encaramos cada janela que passamos, esperando que os portões se abrissem, para ver Tia Abby e Macey descendo a alameda.
Mas os portões continuaram fechados. A alameda continuou vazia. E Macey continuou desaparecida.
Na segunda à noite, uma sensação estava ressurgindo dentro de mim como um vírus que tenha estado dormente por anos, e conforme eu pensava sobre quando meus pais iam embora por dias ou semanas; antes dos dias quando eu sabia que meu pai não iria voltar de maneira alguma. Descendo as escadas para o jantar, eu não pude afastar a sensação de que sou realmente ótima em desaparecer, mas Macey podia ter sido um tipo totalmente diferente de desaparecer.
―Ooops, desculpe,‖ alguém disse, ao mesmo tempo em que olhei para cima para ver Tina Walters correndo para cima pelas escadas. A placa sobre o Grand Hall dizia que iríamos conversar naquela noite em Português; os aromas que preenchiam o hall de entrada me disseram que teríamos lasanha. Mas algo na maneira que Tina me olhou me disse que nenhuma das alunas do terceiro ano estava se sentindo muito fome.
―Você está bem, Cam?‖ perguntou ela, e eu assenti, mas por alguma razão não pude sair do caminho dela.
―Tina, você...‖ comecei, então parei porque honestamente eu não podia acreditar no que estava prestes a perguntar. ―Suas fontes ouviram alguma coisa?‖
Eu queria que ela me dissesse que Macey estava bem. Eu teria liquidado uma história maluca sobre uma garota equivalente a descrição de Macey que tenha estado demarcando um sicário ex-KGB em Bucareste. Eu precisava de qualquer coisa menos a visão de Tina balançando sua
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cabeça e dizendo, ―Nem uma palavra.‖
Ela sorriu simpaticamente. ―Mas nenhuma notícia pode ser boa notícia, certo?‖ ela perguntou. ―Todo mundo está procurando por ela.‖
Mas conforme eu olhei para cima para o Hall da História, tudo o que eu pude fazer foi encarar a espada que permanecia reluzindo dentro de seu estojo, uma lâmina afiada cortando pelo tempo, e sussurrar, ―É disso que eu tenho medo.‖
Eu sou especialista em se esconder. Não para me gabar, mas é verdade, e conforme eu sentei encarando meu prato naquela noite, algo no desaparecimento de Macey não fazia sentido.
―Ambos os disfarces,‖ falei.
―O que?‖ Bex perguntou, se inclinando para perto.
―Ambos os disfarces estavam desaparecidos quando voltamos — o que ela usara e o que eu usara.‖
Então Bex sorriu largamente para mim. ―Você está pensando o que eu estou pensando?‖ ela perguntou, e em um piscar de olhos estávamos subindo as escadas, Liz se arrastando atrás de nós.
O Hall da História estava escuro. A porta do escritório da minha mãe estava fechada, mas eu não diminuí a velocidade até que a Madame Dabney apareceu do nada, firmemente bloqueando meu caminho.
―Eu preciso ver a minha mãe,‖ proferi.
―Ah, Cammie querida, temo que sua mãe não esteja aqui.‖
―Mas eu preciso vê-la!‖
―Bem, não duvido disso, mas dada as circunstâncias recentes, a diretora saiu para ver o Senador e a Sra. McHenry para explicar por que sua filha possa estar... atrasada... para a hora da festa da campanha amanhã à noite. Isso é, se a trazermos da Suíça a tempo de qualquer maneira,‖ Madame Dabney adicionou exatamente quando Bex e eu avançamos.
―Mas Macey não está na Suíça!‖ nós proferimos ao mesmo tempo.
Madame Dabney parou. Ela se virou. ―Por que você diz isso? O que você sabe?‖
―Bem...‖ Bex, Liz e eu nos entreolhamos. ―É só que ela levou ambos os disfarces. E vocês estiveram procurando ela na Suíça há três dias. Acho que a razão para ninguém ter a encontrado é que ela não está lá.‖
―Cameron, querida, entendo sua preocupação, mas uma garota com a descrição equivalente a de Macey tomou um avião particular para a Suíça—‖
―Mas—‖ comecei, mas Madame Dabney não me deixou terminar.
―O passaporte dela foi reservado. Ela está lá, senhoritas.‖ Madame Dabney bateu de leve em meu braço.
―Ela está lá. E não quero que se preocupem. Vamos encontrá-la.‖
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Subindo as escadas para nossa suíte, não pude evitar de pensar se Macey merecia ser chamada de Garota Gallagher ou não merecia; se ela era boa o suficiente ou não era. Não poderíamos ter as duas coisas, não importa o que nosso corpo docente parecesse pensar.
Fechei a porta atrás de nós e olhei para Bex. ―Se você fosse Macey, o que você faria?‖ Perguntei.
―Eu ficaria fora da grade, para começar,‖ Bex disse, e eu assenti. ―Cartões de crédito e passaportes são coisas de amadores. Eu não me importo em que série ela tecnicamente está, Macey não é nenhuma amadora.‖
Bex fez um gesto como se quisesse dizer que era a minha vez. ―Se eu tivesse o rosto mais reconhecível no país e dois disfarces em minha posse, de jeito nenhum eu viajaria até a Europa sem usar um deles.‖
Bex balançou a cabeça e eu olhei para Liz, que encolheu os ombros.
―Eu sou uma nerd,‖ ela admitiu. ―Eu não sei CoveOps.‖
―Você conhece Macey,‖ Bex sussurrou, e essa era talvez a coisa mais verdadeira que qualquer uma de nós tenha dito em muito tempo.
Liz recostou em sua cama. Eu podia vê-la percorrendo o gigante banco de dados que é a sua mente, mas a resposta não estava lá — estava em seu coração. Então finalmente ela respirou fundo e disse, ―Acho que só iria querer ir para algum lugar seguro.‖
A mansão estava quieta. Encostei-me em uma janela resfriada, observando as peças do quebra-cabeça flutuarem em minha mente até que eu sabia que não se encaixavam perfeitamente. Eu pensei nas palavras de Liz, e no olhar pálido e fantasmagórico no rosto de Macey conforme nós estávamos na luz brilhante demais de um campo de futebol frio. O ar frio tomou conta de meus braços — vi a nossa companheira de quarto tremer com o vento. E então... eu sabia.
―Pegue as chaves para o Dodge, Liz,‖ falei conforme levantei e comecei pelo meu armário.
Bex já estava se preparando — para o que, não importava. Mas Liz me estudou.
―Onde estamos indo?‖
―Trazer nossa irmã para casa.‖
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CAPÍTULO VINTE E SEIS
Eu não acho que nenhuma garota na história da Academia Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais tenha alguma vez fugido da escola antes daquele fim de semana, mas na Terça de manhã, o total tinha saltado para quatro.
Enquanto Liz dormia e Bex dirigia, eu sentei no banco passageiro do Dodge, me preocupando de que não a encontrássemos. Afinal, no final do verão, a floresta tinha ficado carregada com folhagem verde, ervas daninhas, e gramas altas revestindo as estradas estreitas. Mas em novembro, os campos estavam em incultos, as árvores nuas, e na luz pálida do amanhecer, o mundo inteiro parecia uma miragem, ou talvez apenas como um disfarce muito bom; e eu não pude evitar pensar que, com habilidades de espionagem ou não, eu tinha sido uma garota com uma contusão na última vez que estive lá.
Bex dirigia lentamente descendo uma estrada asfaltada até que, finalmente, eu vi uma pista de cascalho mais substancial do que uma trilha, e falei, ―Vire aqui.‖
―O que é isso, algum tipo de casa segura?‖ Bex perguntou conforme ambas nos apertamos através da luz pálida e da mata densa, e eu pensei no que o nosso professor de CoveOps tinha dito.
―É melhor que seja,‖ eu disse enquanto Bex parou. ―Sr. Solomon é o dono.‖
Relatório de Operações Secretas
As Operárias Morgan, Baxter e Sutton decidiram prosseguir a pé, considerando que o dono da propriedade era um profissional da segurança altamente treinado (além de ser muito, muito quente).
Empurrando através da mata, eu procurei por algo familiar. O telhado de uma cabine mal era visível através das árvores, mas não havia nenhuma fumaça da chaminé — sem sinais de vida — e uma centena de dúvidas pareceu me importunar: E se eu estava errada e esse não era o lugar para onde Macey tinha fugido? E se nós chegamos tarde demais? Então fiz uma pergunta que me assustava menos, ―E se essa não for a casa certa?‖
Conforme dei mais um passo, a mão de Bex agarrou meu braço, e eu congelei. Eu não tinha que olhar para baixo para saber que o meu pé direito estava a centímetros de distância de um fio fino que, sem dúvida, acionaria um alarme silencioso. Eu não tinha que ouvir Bex dizer, ―É o lugar certo,‖ para saber que era verdade.
Agora, normalmente, sob circunstâncias secretas ideais, um agente altamente treinado diminuiria a velocidade. E avaliaria o cenário. E planejaria uma rota cuidadosa, ou reagruparia. Mas circunstâncias secretas ideais quase nunca incluem Liz.
―Ei, o que vocês estão...‖ ela começou, e no instante seguinte estava tropeçando numa pedra com um grito de, ―Oopsie querida!‖
Ela disparou de cabeça sobre o fio fino próximo ao meu pé e caiu sobre uma pilha de folhas. Bex e eu miramos para ela, mas era tarde demais: a gravidade estava tomando o controle, e Liz estava deslizando ladeira abaixo, caindo através de arbustos, cortando entre dois sensores de movimento infravermelho tão perfeitamente que estou certa de que não poderíamos ter repetido a precisão se tentássemos.
―Ela vai bater naquele—‖ Bex começou, mas depois não conseguiu concluir, porque em vez de
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trombar com um tronco caído, Liz de alguma forma conseguiu mudar de direção, parando através de um emaranhado de videiras de amora.
―Liz!‖ Eu gritei, correndo atrás dela até que o terreno estava muito íngreme, as folhas caídas muito molhadas de orvalho, e meus pés escorregaram sob mim também. Atrás de mim, ouvi Bex suspirar conforme perdeu o equilíbrio também.
Ramos bateu contra meu rosto. Minhas mãos caíram na lama, e eu ainda caí para frente, mais e mais rápido. Em minha mente, sirenes já estavam soando — a equipe da SWAT já estava a caminho.
E então, finalmente, a queda parou. Eu sentei no chão, coberta de lama e folhas em decomposição. Não senti nada a não ser minha respiração e o esmagar de Bex, que aterrissou em cima de mim.
Eu consegui limpar a lama dos meus olhos, enquanto duas pernas impossivelmente longas apareceram acima de nós, e Macey McHenry disse, ―Você está atrasada.‖
Macey parou ao meu lado. Nós observamos nossos reflexos no vidro e encaramos o lago. Não pude deixar de pensar que tinha nos tomado um longo tempo para andar do final do cais.
As Operárias decidiram aproveitar esta rara oportunidade para fazer um reconhecimento detalhado de casas temporárias de profissionais de segurança treinados, durante o qual elas descobriram o seguinte:
• Uma caixa de iscas, varas e anzóis que poderia ser MUITO útil em táticas de interrogatório ilegais. (Mas após uma inspeção mais minuciosa elas pareciam ser usadas para a pesca de verdade.)
• Quatro camisetas brancas e lisas
• Seis pares de meias tubo
• Um canivete suíço (que parecia ter sido emitido pelo próprio Swiss Army)
• Quarenta e sete mapas em dezesseis idiomas
• Zero cartas de amor, fotos ou cadernos com rabiscos na capa
• O mais abrangente kit ajuda reunido pelo homem
―Comida de gato!‖ Liz gritou conforme espiou dentro de outro gabinete. Eu a ouvi correndo para escrever isso na lista, e então ela disse, ―Eu me pergunto o que isso significa?‖
Eu podia sentir Bex e Liz pulando para tomar cada detalhe do lugar, maravilhadas com o fato de que as cortinas eram caseiras e as janelas não eram à prova de balas. Mas eu só fiquei perto à cama estreita na varanda de dormir, olhando para a colcha de retalhos, revisitando as coisas que o Sr. Solomon me dissera ali, sabendo de alguma forma que não havia respostas naquela pequena cabana. Não importa o quanto Liz olhasse, eu duvidava que ela encontrasse uma bola de cristal.
Macey parou ao meu lado. Nós observamos nossos reflexos no vidro e encaramos o lago. Não pude deixar de pensar que tinha nos tomado um longo tempo para andar do final do cais.
Talvez Liz estivesse certa e ela queria um lugar seguro. Talvez o Sr. Solomon realmente entendia que correr era a única maneira de Macey descobrir se nós correríamos atrás dela. Ou talvez, como eu, ela só queria desaparecer por um tempo.
Mas isso não mudava o fato de que nós tínhamos encontrado ela.
E não éramos as únicas pessoas procurando.
A porta de tela rangeu enquanto saímos. Tinha levado menos de três meses, mas de alguma
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forma tínhamos encontrado o caminho de volta, e eu tinha que saber se Macey ainda era a garota à beira do lago.
―Macey,‖ comecei, mas antes eu pudesse respirar, ela leu minha mente.
―Eu sei que não podemos ficar.‖
Há algo intrinsecamente seguro em casas do lago com proteção da CIA, folhas caídas e concursos sobre quem pode saltar pedras mais distantes (Bex totalmente ganhou, por sinal). Mas todo espião sabe que as coisas sempre mudam. Sempre. E a van estava esperando.
―Podemos voltar para a escola, ou você pode ir ficar com seus pais na festa, mas...‖ Eu me senti procurando pelas palavras que temia.
―Eu fui tão fácil assim de rastrear?‖ Macey perguntou, ainda encarando o lago, como se fosse um espelho.
―Não,‖ eu disse, e pela primeira vez ela me lançou um olhar.
―Nós encontramos você porque você é boa demais para ser rastreada com um telefonema.‖
Sentei-me no final do cais. ―Além disso, você pegou ambos os disfarces. Em um deles, você pode parecer como outra pessoa.‖ Pensei na peruca preta brilhante que eu usara. "No outro, a pessoa certa pessoa pode parecer com você.‖
―A partir daí, era fácil imaginar que você ofereceu a alguma menina pobre e inocente uma carona para a Europa e trocou de passaportes com ela,‖ acrescentou Bex enquanto ela e Liz andaram atrás de nós.
―Então isso explica como vocês adivinharam—‖ Macey começou.
―Soubemos,‖ Liz corrigiu, relutante a aceitar crédito parcial quando tinha adquirido uma resposta certa.
―Souberam,‖ Macey continuou, ―que eu não estava na Suíça. Como me encontraram aqui?‖
Olhei para o lago e pensei em um dia a não muito tempo atrás. ―Aqui é onde eu teria vindo,‖ falei, não percebendo até então que era verdade.
―Eu também,‖ acrescentou Bex.
Nós todos olhamos para Liz, que assentiu. ―Sim.‖
Macey riu. Foi tão rápido e limpo que eu podia ter jurado que enviou uma ondulação percorrendo pelo lago. ―Eles estão realmente buscando na Suíça ainda?‖
―Nesse momento eles ampliaram a rede para incluir metade da Europa Setentrional,‖ Bex disse com um sorriso.
―Ainda acha que eles só deixaram você entrar por causa de quem sua família é?‖ perguntei.
―Sim.‖ A resposta de Macey me chocou. Eu estava no processo de me levantar. A madeira grossa da doca apertava minhas mãos como se suportassem muito do meu peso, e ainda assim não consegui me mover,
Macey sorriu. Ela ergueu uma sobrancelha e disse, ―Mas não é por isso que me mantêm lá.‖
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De todos os testes que Macey McHenry passou no ano passado, não havia dúvida em minha mente de que esse era o maior deles.
―Além disso,‖ disse ela divertidamente batendo seus olhos, ―meu pai é potencialmente o segundo homem mais poderoso do país.‖
―Bem,‖ Liz disse suavemente, ―não por muito tempo.‖
―Por quê?‖ Eu perguntei, olhando para ela.
―Porque as urnas abriram há duas horas.‖
Espiões são ótimos em fingir, por isso nos fizemos acreditar que a pior parte tinha acabado; agimos como se tudo fosse ficar bem. Nós rolamos janelas abaixo, cantamos do topo de nossos pulmões e tentamos não pensar por que tivemos que fazer paradas não programadas e, por sua vez, sem sinalização, e dezenas de outras técnicas de contra-vigilância que era o sinal de motoristas realmente ruins e espiões realmente bons.
Mas não importa quão boas nós éramos em contra-vigilância veicular, havia pelo menos uma batalha perigosa que eu sabia que nunca venceríamos.
―Nós a temos.‖
A parada do caminhão era alta — cheia de sons de motores a diesel e o tilintar de pratos e talheres sendo retirados de mesas gordurosas — e por um momento, eu temi que minha mãe não tivesse me ouvido. ―Eu disse, nós temos—‖
―Sim, Professora Buckingham,‖ Mamãe disse lentamente, e no início comecei a corrigi-la. Eu queria dizer que ela havia confundido o som da minha voz. Muito mal. Mas então mamãe continuou.
―É muito bom ouvir de você. Na verdade, eu estive me perguntando onde você está agora, Patrícia?‖ Minha mãe perguntou, e eu sabia que alguém estava perto.
―Nós estamos a caminho até você,‖ eu disse, não querendo falar muito sobre o telefone.
―Mãe, desculpe por fugirmos.‖ Com cada respiração, as palavras vieram mais rápido.
―Tentamos dizer para a Madame Dabney, mas todos estavam tão ocupados procurando na Suíça, porém eu sabia no fundo que ela não estava lá, e—‖
―É claro que as coisas estão prontas para você aqui. Se Macey tiver concluído sua prova de biologia e estiver pronta, o Serviço Secreto deverá trazê-la aqui para D.C. para que ela possa se juntar aos seus pais assim que possível.‖
Eu pisei mais para baixo no corredor estreito, longe da sala de jantar lotada, me distanciando da corda gordurosa do telefone ao seu limite conforme falei, ―Eles não sabem que ela fugiu, não é?‖
―Claro que não,‖ Mamãe respondeu, a espiã irrevogável. ―Seria problema demais.‖
Eu pensei no Senador e na Sra. McHenry, e alguma coisa me fez sorrir.
―Então quanto zangados eles ficaram por ela não estar lá?‖
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―Eu tenho tomado conta de tudo,‖ Mamãe disse, sua voz perfeitamente uniforme e agradável.
Uma televisão mostrava uma cobertura de notícias ao vivo — um mapa dos Estados Unidos, pronto para ser dividido em cada estado em vermelho e azul. Era o dia das eleições na América, mas havia um voto restante que importava, e, ironicamente, era o único que os McHenry perderam há muito tempo atrás.
―Cam!‖ Bex gritou, ―está na hora.‖
―Mãe,‖ falei, de repente precisando dizer, ―eu te amo.‖
Uma longa pausa preencheu na linha. Por um segundo, pensei que podia ter perdido ela.
―Eu me sinto exatamente da mesma forma. E Patricia,‖ a voz de minha mãe ficou mais baixa. ―Rápido. E seja cuidadosa.‖
Eu poderia ter dito uma centena de outras coisas, exceto que o telefone público não era seguro (para não mencionar higiênico) e, além disso, minhas amigas — e nossa missão — estavam esperando.
As Operárias começaram os preparativos para irem disfarçadas para dentro de território hostil (também conhecido como a festa presidencial oficial do partido Winters-McHenry).
As Operárias Sutton e Baxter estavam excitadas ao saberem que seria necessário comprar roupas novas.
Infelizmente, de acordo com a Operária McHenry, para misturar-se totalmente, as roupas novas das Operárias não poderiam ser muito bonitas. Ou confortáveis.
Washington, DC, foi a primeira casa que eu realmente conheci em todos os tempos, mas naquela noite as ruas pareciam estrangeira pela primeira vez. Talvez tenha sido o veículo que eu estava dirigindo (minivans Dodge com motores super desenvolvidos não são exatamente comuns, você sabe), ou talvez tenha sido o fato de que a garota mais famosa do país estava no banco traseiro com uma peruca vermelha, mas eu me senti qualquer coisa, menos invisível conforme viramos as ruas cheias de vans de noticiários e barricadas do Serviço Secreto.
Enquanto nos aproximamos do hotel, passamos por correspondentes transmitindo ao vivo para cada canal de noticiários no país, e não pude evitar — eu pensei em Boston. Ao meu lado, Macey tremeu, e eu soube que não era a única.
Eu estava começando a meditar como exatamente iríamos coagir ou nos esgueirar para dentro (Macey não podia aparecer sem o Serviço Secreto, afinal!), quando uma voz familiar cortou através do caos. ―Cameron!‖
As Operárias se lembraram que possíveis seqüestradores nem sempre são tão assustadores quanto operárias altamente treinadas/mães/diretoras que acontecem de saber que você está fora da escola sem permissão.
―Cammie,‖ minha mãe chamou de novo, correndo ao nosso encontro.
―Mãe, eu—‖ comecei, querendo explicar ou me desculpar, implorar perdão e misericórdia, mas não consegui fazer nada disso porque, no instante seguinte, os agentes do Serviço Secreto se juntaram ao nosso redor. Notei a unidade de comunicação no ouvido de minha mãe. Percebi que todos os agentes a nossa volta eram mulheres. Um dos agentes piscou para mim, e eu me perguntei por um segundo se Tia Abby não era a única Garota Gallagher que tinha tomado uma
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missão especial.
Contudo minha mãe não piscou. Não sorriu. Em vez disso, ela agarrou meu braço e nos conduziu para o edifício.
Algo está acontecendo, pensei. Algo está errado. Havia uma centena de perguntas que eu queria perguntar, mas não tive o tempo — muito menos o fôlego — para fazê-las enquanto uma porta de saída de emergência foi aberta e eu e minhas amigas fomos levadas para dentro.
Andando pelo corredor estreito, a sensação de déjà vu era forte conforme passamos por pilhas de placas e carros de aluguel Winters-McHenry — bastidores da festa — até que finalmente acabamos em um espaço com espelhos dourados e paredes cobertas de seda. Lembrou-me da sala de chá da Madame Dabney e percebi que, de certa forma, nossa escola nos preparara para esse momento nos últimos quatro anos e meio.
Uma garota normal poderia ter olhado os tetos ornamentados e se questionado se algo ruim podia acontecer em um lugar tão bonito. Mas nós somos Garotas Gallagher. Nós sabemos mais.
―Macey,‖ Mamãe disse para minha colega de quarto, nem sequer olhando para mim. ―Vá com estes agentes. Seus pais estão esperando por você.‖
Todavia Macey não se mexeu, e eu me lembrei que este era o mundo onde Macey tinha nascido. O mundo que ela tinha escolhido era uma cabana próxima a um lago.
―Vá em frente, querida,‖ Mamãe insistiu.
O próprio Governador Winters passou então — e eu soube que estávamos no meio de um dos lugares mais seguros no país e, contudo, algo pairava no ar conforme minha mãe disse, ―Eu preciso falar com Cammie um—‖
Não tenho certeza do que minha mãe teria falado — o que teria me dito — mas ela nunca teve a chance de terminar, porque no instante seguinte, um grito de ―Aí está você‖ entrou pela sala. As urnas estavam fechadas, então talvez seja por isso que Cynthia McHenry não hesitou em falar bruscamente com sua filha. ―O que você está vestindo?‖
Macey alcançou para cima como se tivesse totalmente esquecido a peruca vermelha.
―Protocolo, senhora,‖ um dos agentes ao lado de Macey respondeu. ―Nós achamos que fosse melhor manter sua filha disfarçada enquanto a tiramos da escola.‖
―Bem, ela está em uma área segura agora.‖ disse a mãe de Macey, depois começou a ir para o salão de baile, que estava se enchendo a cada segundo.
―Bem, você vem ou não?‖ ela perguntou, cercando nós todos. Macey nos olhou como se pedisse apoio, mas sabíamos que ela tinha que ir sozinha.
Ela deu um passo de distância, mas eu estava tão ocupada tentando decifrar a preocupação nos olhos de minha mãe que quase não vi minha amiga se mover.
―Cam, nós precisamos—‖ Mamãe começou, mas novamente não chegou ao fim.
―Sra. Morgan,‖ Cynthia McHenry soltou. ―Venha comigo, por favor.‖ Mamãe poderia ter dito não. Poderia ter se afastado.
Mas ao invés disso falou, ―Espere aqui,‖ e eu sabia que ela não era apenas minha mãe e diretora
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— ela era uma Garota Gallagher, e iria agarrar seu disfarce até o fim.
PRÓS E CONTRAS DE INVADIR UMA FESTA PRESIDENCIAL:
PRÓ: o pessoal do Serviço Secreto e os membros da mídia nacional estão em toda parte, então sua mãe não pode gritar com você por fugir.
CON: Você sabe que ela vai gritar contigo eventualmente, e quanto mais acumular — pior.
PRÓ: Pessoas que desistiram de dormir, comer, e qualquer tipo de normalidade por dois anos (e/ou grandes quantidades de dinheiro) a fim de tornar alguém presidente, realmente não poupam o camarão gigante no buffet de comida.
CON: Pessoas que estiveram fazendo a campanha e vivendo dentro de malas de viagem, ônibus e trens por aquele período de tempo também têm uma tendência a deixar sua higiene pessoal (para não mencionar seu respeito por espaço pessoal) ficar um pouco, digamos, oblíquo.
PRÓ: Acontece que, festas de partidos políticos vêm com bandas!
CON: As bandas tocam a mesma música dos comícios de novo, de novo e de novo.
Espiões passam a maior parte do seu tempo esperando. Sei que parece loucura, mas é verdade. E em pé no grande salão naquela noite, contando os balões que pairavam nas redes acima (havia pelo menos 7.345, a propósito), não pude deixar de pensar que estávamos vivendo o melhor treinamento de operações secretas que já tivemos.
Bex passou uma boa parte da noite conversando com um executivo do petróleo que mais tarde soubemos que era culpado de trocar informação privilegiada (poucos dias depois nós invadimos o Securities and Exchange Commission5 e deixamos uma denúncia anônima, para sua informação). Liz usou sua memória fotográfica para reler sua cópia do Encriptação Avançada e Você, em preparação para um grande teste na classe do Sr. Mosckowitz's.
Mas tudo que eu pude fazer foi pensar no olhar nos olhos de minha mãe enquanto Cynthia McHenry a afastou.
Sussurrei, ―Algo está errado.‖
―Cammie.‖ Uma voz cortou minhas preocupações, então eu me virei. ―Ei, eu pensei que era você,‖ disse Preston, fazendo seu caminho em nossa direção.
Bex o olhou de cima para baixo. Liz brincava com seu top. Na frente do salão, o apresentador chamou todos ao silêncio, e ordenou que o volume de uma das televisões fosse aumentado, enquanto um apresentador disse, ―Sim, é oficial. Estamos oficialmente chamando Ohio para o Governador Winters e Senador McHenry.‖
Uma alegria enorme encheu o salão de baile. As pessoas levantaram seus copos para brindar o estado do Buckeye, mas minha mente estava voltando para as sombras debaixo das arquibancadas em um dia ensolarado.
―Então, vocês são amigas de Macey também?‖ Preston perguntou, virando-se para Bex e Liz, e eu pude realmente sentir minha nota em Cultura e Assimilação tomar uma queda livre.
―Oh, me desculpe,‖ eu me apressei para dizer. ―Preston Winters, essa é Rebecca.‖
5 Órgão regulador do mercado de capitais americano
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―Bex,‖ Bex corrigiu-me com seu sotaque americano.
―E Liz,‖ eu disse. Liz corou, mas não disse nenhuma palavra.
―Então, você está pronto para isso acabar?‖ Eu perguntei, por que... bem, tenho certeza que eu devia dizer alguma coisa.
Ele olhou em volta, depois se inclinou e sussurrou, ―Estou morrendo para isso.‖
―Tenho a sensação de que o Serviço Secreto não gostaria da sua escolha de palavras,‖ Bex disse a ele.
―Acho que não.‖ Ele riu.
A nossa volta eu podia sentir o salão conforme a noite chegava e o mapa na parede tornou-se dividido nas linhas de batalha de vermelho e azul.
―Ei,‖ Preston disse, olhando para mim. ―Posso falar com você por um segundo?‖
Lancei um olhar para Bex e Liz, que assentiram para que eu fosse, então o possível primeiro filho e eu caminhamos para um canto tranqüilo da festa.
―Eu totalmente admito que o que estou prestes a dizer vai oficialmente me tornar em uma garota.‖ Por um segundo, eu esqueci os meus medos e ri.
―E eu reconheço isso,‖ o garoto a minha frente continuou. ―Então tem que valer alguma coisa, certo?‖
―Certo,‖ respondi, mordendo de volta um sorriso.
―Mas é só que eu tenho que lhe perguntar sobre... Macey alguma vez falou alguma coisa sobre mim?‖ ele finalmente proferiu.
Apesar da minha educação excepcional, eu totalmente não sabia como responder sua pergunta. Talvez tenha sido porque tínhamos gastado mais de um ano tentando entender os garotos, mas em todo esse tempo nunca tinha passado pela minha cabeça que podíamos ser tão criptografadas para eles. Mas o mais provável, era porque eu não tinha a menor idéia do que falar.
―Ela não fala muito sobre nada disso,‖ finalmente admiti, gesticulando em torno da festa elaborada — o outro mundo dela. ―Não é realmente... ela, sabe?‖
Preston sorriu. Ele sabia. E naquele momento eu soube que não era realmente ele também.
―Você alguma vez pensa em Boston, Cammie?‖ ele perguntou, mas não tive a chance de admitir que eu pensava nisso — muito.
―Eu penso,‖ disse Preston, e então ele sorriu. ―Ela é realmente algo, não é?‖
―Sim,‖ falei lentamente. ―Ela realmente é.‖
Ele olhou para mim então como eu tinha sido olhada talvez uma ou duas vezes em toda minha vida, e eu senti o tremor sutil que vem com ser verdadeiramente vista. ―Algo me diz que ela não é a única.‖
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―Preston—‖ Eu comecei, mas o possível primeiro filho apenas balançou a cabeça.
―Quaisquer que sejam os segredos que você e Macey têm, Cammie, eu não quero saber.‖ Ele deu um passo de distância, mas depois parou de repente e se aproximou.
―Apenas me diga uma coisa: envolve Spandex6?‖ Ele fechou os olhos e um olhar realmente tolo cruzou seu rosto.
―Porque em minha mente envolve Spandex.‖
―Preston,‖ disse eu, rindo e o batendo levemente no braço.
Eu vi Macey caminhando em direção a Bex e Liz, e antes que eu pudesse dizer outra palavra, Preston fez um caminho mais curto até ela.
―Eita, Preston.‖ Macey revirou os olhos. ―Você não tem uma—‖
―Macey,‖ Preston falou, a cortando, ―eu vim para dizer que, se os nossos pais ganharem, nós vamos nos ver bastante.‖
Macey abriu a boca como se para protestar, mas Preston não a deixou respirar.
―E se eles perderem... bem, acho que ainda deveríamos nos ver bastante de qualquer maneira. Então,‖ ele terminou com um encolher de ombros. ―Isso é tudo. Senhoritas aproveitem a festa.‖
E com isso ele se afastou, e tudo que Liz, Bex, Macey, e eu podíamos fazer era observá-lo ir.
―Ele pareceu um pouco...‖ Macey começou, mas foi Bex e Liz que terminaram.
―Quente?‖ elas disseram em uníssono.
Macey assentiu como se talvez fosse verdade, talvez fosse razoável admitir, talvez — apenas talvez — possa haver uma vantagem em ser filha do vice-presidente afinal. Mas então o olhar dela mudou e houve um lampejo em seus olhos.
―E falando em quente...‖ disse Macey, ―o que há de novo com Zach?‖
Pensei em Preston, que tinha acabado de fazer uma das coisas mais corajosas que eu já testemunhara, e percebi que para amar alguém é preciso coragem. É preciso força. Mas eu nunca fora corajosa quando se tratava de Zach — eu nunca dei uma chance ou falei o que queria falar. Pensei na maneira que ele olhou para mim no jogo de futebol, e de repente pareceu tarde demais.
―Eu não acho que ele goste de mim mais. Talvez ele nunca tenha gostado de mim. Talvez ele só gostasse de... um desafio?‖
Macey deu de ombros. ―Acontece.‖
―Não, Cam!‖ Liz protestou. ―Talvez ele só...‖ Mas ela não podia terminar, porque a única maneira era aquela frase acabar mal.
―Bem, agora é sua chance de descobrir,‖ disse Macey conforme apontou entre a multidão para o
6 Fábrica de artigos esportivos
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garoto que estava no centro com as mãos nos bolsos, os ombros caídos como se fosse o cara mais inocente do mundo.
―Eu ouvi que alguém está matando aula,‖ Zach me disse. Ele sorriu. Estando lá, parecia quase como se nada de ruim tivesse acontecido — ou nunca fosse acontecer de novo.
―Há um garoto na minha vida,‖ eu disse a ele. ―Ele é uma influência muito ruim.‖
Então Zach assentiu. ―Garotos ruins tem uma maneira de fazer isso. Mas eles valem à pena.‖
O salão estava muito quente e lotado. Eu me senti quase tonta conforme Zach inclinou-se perto de mim e sussurrou, ―Posso falar com você?‖
Assim que senti a mão dele na minha eu me esqueci das palavras da minha mãe. Não pensei na minha promessa. Eu queria algum lugar calmo, algum lugar fresco. E acima de tudo, eu queria respostas. Então deixei Zach me levar por uma porta lateral até uma rua que tinha de alguma forma se tornado um beco, graças aos perímetros do Serviço Secreto e os bloqueios de D.C.
Eu tremi, coloquei meus braços em volta do meu peito e desejei ter trazido um casaco de inverno. De repente pareceu frio demais para a primeira terça-feira de novembro.
Alguém tinha aberto uma porta para o hotel, e eu ouvi a banda parar. Algum outro estado deve ter sido chamado, porque um gemido soou durante a noite, mas eu não estava realmente escutando. Não mais.
Porque estava escuro.
E eu estava com frio.
E Zach estava tirando seu casaco e o pendurando em torno de meus ombros, que (de acordo com Liz, que verificou duas vezes com Macey) é a única coisa mais sexy que um cara pode fazer.
Suas mãos ficaram em meus ombros um segundo a mais do que tinham que ficar. O casaco estava quente e cheirava a ele. O vento soprou mais forte, pegando pedaços soltos de confete na brisa e as girando em torno de nós como uma tempestade de neve patriótica.
Esse era o momento em que tudo deveria ser perfeito.
Afinal, garoto realmente bonito?
Confere.
Cenário dramático e romântico?
Confere.
Proximidade sem supervisão parental?
Confere duplo.
Mas nada sobre Zach é um garoto normal, assim como nada sobre mim é uma garota normal, então em vez disso, eu olhei para ele e perguntei, ―Por que você estava em Boston?‖
Zach recuou. Ele balançou a cabeça e olhou para o chão enquanto murmurou, ―Há coisas que não posso te dizer, Garota Gallagher.‖
―Não pode?‖ perguntei. ―Ou não quer?‖
Mas Zach não respondeu. Ele apenas me olhou como se dissesse, ‗Qual é a diferença‘.
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―Diga-me,‖ eu sussurrei, tentando não pensar no fato de que Zach não estava me perseguindo mais. Em vez disso, ele estava olhando para baixo, para mim, e pela primeira vez, percebi que ele tinha crescido, que estava mais alto e mais forte, e de jeito algum o garoto que me beijou na primavera passada.
―Há algumas coisas que você não deve saber.‖
Sei que parece loucura, mas eu acreditei nele. Afinal, eu vivi toda a minha vida em uma base de necessidade de saber, e naquele momento eu estava disposta a aceitar a palavra de Zach por isso. Eu estava disposta a acreditar.
Do canto do meu olho, vi minhas colegas de quarto saírem do hotel e passarem para a rua.
Eu ouvi Macey chamar, ―Cam!‖ Mas o meu olhar estava trancado com o de Zach.
Segredos e confetes permaneciam no ar a nossa volta até que de repente as coisas escureceram e demoraram.
Até que não saber deixou de ser uma opção para mim nunca mais
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Até que eu vi a van.
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CAPÍTULO VINTE E SETE
Eu sei que só durou alguns minutos. Eles me disseram isso. Eu vi o vídeo de vigilância, o pouco que existia. Ainda assim, a única coisa que tenho certeza é que em um segundo estávamos nas sombras dos postes, e no seguinte, estávamos envoltas em preto. Três quarteirões foram eliminados, e através da névoa, só o Monumento de Washington continuou brilhando.
―Macey!‖ Eu gritei, sabendo mais em meu coração do que em minha mente que algo estava seriamente errado.
Comecei a descer correndo a rua, longe de Zach e em direção a minha amiga, ao mesmo tempo em que os faróis atravessavam a escuridão, exatamente enquanto as barreiras foram esmagados contra a van que prosseguiu tão rapidamente pela rua vazia que eu realmente parei. Eu realmente encarei.
Macey. Macey tinha perambulado perto de mim e mais longe de Bex e Liz. Ela estava ali, sozinha no brilho dos faróis; a dezoito metros de ajuda de qualquer espécie.
―Corra!‖ Eu gritei, correndo na direção dela, mas era tarde demais.
A van estava muito perto. Sua porta lateral deslizando aberta. Figuras mascaradas estavam se inclinando para fora. Tudo estava tão lento que não tive certeza de que meu grito sequer a alcançou conforme ela ficou aturdida no brilho.
E assistiu a van passar por ela.
Nós fazemos esses testes em CoveOps às vezes, onde o Sr. Solomon nos faz quatro ou cinco perguntas diferentes ao mesmo tempo — algumas que fazem você processar, algumas que fazem você se lembrar, algumas testam seus instintos, algumas testam sua habilidade. E foi isso que pareceu. Eu sei que soa loucura. Sei que você não vai acreditar em mim. Mas realmente pareceu como um daqueles testes conforme eu estava na luz do Monumento de Washington e memorizei tudo sobre a van; enquanto observei o tipo de relógio de pulso que o condutor estava usando, e se o homem saltando para fora da porta lateral provavelmente me bateria primeiro com a mão direita ou com a esquerda. Enquanto eu pensava em Boston; enquanto ouvi as palavras ―pegue ela‖ mais uma vez; enquanto percebi que Macey não tinha sido a única Garota Gallagher no telhado naquele dia.
Enquanto me lembrei que nada nunca é como parece.
Pneus guincharam através da calçada conforme a van derrapou passando por mim, virando noventa graus, bloqueando o caminho de onde eu vinha.
―Cammie!‖ o grito de Zach parecia distante, perdido atrás de uma montanha de borracha e aço.
À minha direita, vi minhas colegas de quarto correndo mais perto, mas o mundo estava em câmera lenta. Ajuda parecia a anos-luz de distância conforme um grande homem saltou da parte traseira da van. Mas ele era muito grande — muito lento. Eu me esquivei de seus golpes e envolvi meu pé atrás de seu joelho, me empurrei e ele tropeçou, prendendo um segundo homem contra a porta da van por uma fração de segundo, e eu comecei a correr.
―Cammie!‖ a de Bex ecoou pela noite vinda do sul.
―Macey!‖ Gritei em resposta. ―Salve Macey!‖
Mas Macey não precisava de salvação. E agora eu sabia que esse era o problema.
Eu não sabia o que estava acontecendo. Não sabia onde Zach tinha ido. Tudo o que sabia era
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que eu tinha que continuar correndo — cada vez mais rápido até que os braços fortes me pegaram pela cintura. Antes de meus pés sequer saírem do chão havia um pano sobre minha boca — um cheiro doente. Tentei não respirar enquanto agitava meus braços e o mundo começou a girar.
E então caindo.
Eu me lembro de cair.
Através do misterioso brilho das luzes da van, eu procurei por Zach, mas as figuras eram um borrão conforme a calçada correu para me encontrar — muito rápido, muito rígido.
Minha cabeça estava pegando fogo. Meu corpo estava esmagado sob o peso do meu agressor. Alguém ou alguma coisa deve ter nos derrubado, porque o pano desapareceu — a névoa estava partindo somente o suficiente para eu ver minhas colegas de quarto combatendo dois homens com o dobro do tamanho delas. Liz agarrou em volta das costas do grande homem, enquanto Bex desviou dos golpes dele. Macey lutou contra o segundo homem, e eu queria gritar para ela correr, mas minha cabeça latejava como se houvesse simplesmente fatos demais — perguntas demais — para minha mente acomodar, e as palavras não vieram.
E então o peso esmagador desapareceu. Um ar mais limpo correu por meus pulmões. Mas antes que eu pudesse me empurrar para cima, o pano estava no meu rosto novamente. Os braços estavam me segurando mais apertado e a névoa em meus olhos estava ficando mais espessa, então convoquei minha última gota de força e bati minha cabeça no crânio do meu agressor.
Ouvi um estalo, senti o sangue de um nariz quebrado derramando sobre mim conforme tropecei sobre meus pés. Mas o mundo estava girando muito rápido, minhas pernas muito pesadas. Os braços me encontraram novamente. Senti a van se aproximando conforme meus sapatos de salto alto arrastaram contra a calçada, e eu busquei na escuridão por ajuda — por esperança. E foi quando eu vi Macey.
Ela estava correndo em minha direção. Tão forte. Tão rápida. Tão bonita.
―Ela está segura,‖ sussurrei, mas ninguém ouviu as palavras — a mentira.
Percebi o movimento parar tarde demais. Senti o lado direito do meu corpo afundando, mas eu não lutei para ficar em pé. Em vez disso, observei minha colega de quarto correr mais rápido, a ouvi chamar meu nome mais alto, porém o único pensamento que encheu minha mente confusa foi que a garota à beira do lago não era páreo para a garota a minha frente.
―Não!‖ Eu ouvi a palavra, mas não me lembrei de ter gritado. Vi o lampejo — ouvi a explosão —mas eu não tinha visto a arma.
Eu me arremeti, mas era tarde demais. Nem mesmo a Academia Gallagher pode ensinar alguém a voltar no tempo.
Gritos encheram o ar. O pânico se espalhou com o vento conforme a bala ecoou pela rua escura e para a noite. E foi quando eu soube que a voz que eu ouvira não era minha. Outra pessoa estava gritando. Outra pessoa estava correndo entre a escuridão. Outra pessoa estava se jogando no ar na frente de Macey e depois caindo duramente no chão escuro.
A mão com a arma tentou me puxar para trás, mas eu girei e chutei, ouvi um estalo chocante, e observei a figura mascarada cair.
Eu pisei, mas minhas pernas falharam. Caí no chão e tentei rastejar, mas não consegui. Talvez
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tenha sido as drogas contidas no pano, talvez tenha sido a pancada em minha cabeça, ou talvez tenha sido a visão da minha colega de quarto gritando sobre o corpo ferido da minha tia, mas por algum motivo meus braços se esqueceram de como se mover.
―Tirem-na daqui!‖ O Sr. Solomon apareceu do nada.
―Agora!‖ A voz de minha mãe ecoou no vento.
Uma mão agarrou meu braço novamente, mas desta vez eu ataquei com mais raiva do que já senti, subindo os joelhos, girando, chutando, gritando, ―Dê...‖
Foram os olhos que me fizeram parar. E as mãos que de repente se estenderam em minha direção. E as palavras, ―Garota Gallagher‖
Eu queria me afundar na calçada, descansar. Dormir. Mas a mão de Zach encontrou a minha de novo. Ele me levantou enquanto minha cabeça flutuou, minha garganta queimou e o mundo começou a se desfazer à minha volta.
―Corra,‖ disse ele, me arrastando de volta para onde tínhamos vindo — norte, em direção à porta do hotel. Longe da van. Longe da briga. Longe do tiro que ainda ecoava nas partes mais escuras de minha mente.
À distância uma sirene soou. Alguém gritou, ―Serviço Secreto dos Estados Unidos!‖ E a doze metros de distância minha tia estava deitada no chão. Sem se mover.
Macey se inclinou sobre ela. O casaco de Zach tinha caído dos meus ombros, e Macey o segurou sobre a ferida no peito de Abby, tentando impedir que o sangue derramasse no asfalto escuro, manchando tudo o que tocasse.
―Abby,‖ sussurrei, mas Zach não me deixou me afastar.
Ouvi a van ligar atrás de nós. Os agentes do Serviço Secreto gritaram. Mais tiros ecoaram, e contudo eu senti Zach parar. Corri em seu ombro, muito ocupada olhando atrás de mim para ver o homem que estava entre nós e a porta.
Eu vi a arma. Percebi a van conforme ela avançou, a segundos de distância e chegando mais rápido. Ouvi os gritos da luta atrás de nós. Mas nada naquela noite era mais alto do que o sussurro surpreso do homem mascarado, enquanto ele olhou para o garoto que estava ao meu lado e disse, ―Você?‖
Nós temos teorias sobre o que aconteceu depois — mas não razões. Nenhum por quê. Talvez fossem as sirenes ou o Serviço Secreto, mas o homem correu em vez de lutar. Ele fugiu pela escuridão enquanto minha mãe gritou o meu nome, mas a voz dela estava alta demais. Seu ímpeto foi muito forte conforme ela arremessou seu corpo contra o meu, me atirando profundamente nas sombras.
Uma parede de corpos subiu a minha volta — agentes do Serviço Secreto, policiais, as mulheres que tinham nos acompanhado da van para o hotel. As mulheres que estiveram esperando... por mim.
Tentei levantar, mas mãos fortes me empurraram para baixo, de volta contra o edifício, segura por baixo das paredes da minha irmandade, que tinha sido transportada de alguma forma de Roseville e estava de guarda a minha volta.
―Abby!‖ Eu gritei conforme uma das mulheres se moveu. Eu pude ver entre as suas pernas onde
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minha tia estava deitada no chão, com sangue encharcando sua blusa, não se movendo. ―Tia Abby!‖ Gritei novamente.
Minha mente voltou à Filadélfia. Eu vi um anjo segurando um soldado caído, voando do fogo da guerra.
―Não!‖ Eu comecei a engatinhar como uma criança, fraca e indefesa, pensando em meu pai, que morreu de um jeito que nunca vou saber, em um lugar que nunca vou ver, me perguntando naquele momento terrível o que era pior — não saber, ou assistir a vida escoar de alguém que você ama diante de seus olhos.
Minha mãe estava gritando. Estava caindo de joelhos ao lado de Abby. Então eu lutei mais.
―Mantenha-a abaixada!‖ A voz era do Sr. Solomon. O tom era um que eu nunca tinha ouvido antes e nunca esperava ouvir novamente.
―Eles podem voltar!‖ O círculo em volta de mim se apertou. ―Não vão parar de vir até pegar ela.‖
Pegar ela.
Toda a minha luta me deixou então. Caí contra a parede, enquanto as sirenes gemiam, uma dormência veio e as palavras ecoaram na noite. Pegar-me.
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CAPÍTULO VINTE E OITO
23h00min horas
―Ela está histérica!‖ um dos paramédicos disse. As luzes e as sirenes eram demais para mim. Eu gritei. Lutei. Eu tinha que ser ouvida.
―Dê algo a ela,‖ uma mulher disse.
―Mas—‖ o paramédico começou.
―Eu sou a mãe dela! Dê!‖
02h00min horas
―Os médicos não têm nenhum comentário sobre a condição da agente do Serviço Secreto que foi baleada ontem à noite em um tiroteio relatado no centro de Washington, D.C. A agente tinha sido atribuída a segurança pessoal de Macey McHenry, mas relatos indicam que, dado o resultado da eleição de ontem à noite, a Srta. McHenry não terá mais necessidade de proteção do Serviço Secreto, que a vida para Macey McHenry pode e vai voltar ao normal.‖ Ouvi a TV se desligar com um clique.
Eu me mexi, pisquei e reconheci a sala a minha volta — o sofá de couro, as prateleiras de livros. Mas os remédios eram muito fortes. Ou talvez eu fosse muito fraca.
Dormi novamente.
04h45min horas
―Vocês garotas deveriam estar na cama.‖
―Não, obrigada, professor,‖ Bex disse.
―Rebecca, sua mãe e seu pai pessoalmente me pediram para cuidar de você, e eu gostaria que você fosse para a cama.‖
―Estou bem onde estou, professor. Obrigada.‖
―Eu tive o pressentimento de que você poderia dizer isso. Pelo menos deixe a Srta. Sutton dormir um pouco.‖
05h20min horas
Eu sabia que não estava sozinha. Os sussurros de Bex eram suaves fora da porta. Liz estava murmurando alguma coisa, meio dormindo. Depois uma sombra cortou a sala, e eu vi o Sr. Solomon em pé sob o luar, encarando lá fora o terreno.
Mas devem ter sido as drogas — eu devia estar dormindo ainda — porque parecia que os ombros dele estavam balançando. Eu podia jurar que a mão dele limpou seu rosto. Não era real.
Eu estava adormecida.
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Joe Solomon não chora.
06h25min horas
―Cammie.‖ A voz de minha mãe era alta e áspera, e eu soube que ela estava chorando. Se quiser saber a verdade, isso me assustou mais do que tudo. Eu pensei que talvez eu estivesse morta. Perguntei-me se eu estava olhando de um caixão e não um sofá de couro. E então pensei na Tia Abby.
―Ela está em cirurgia,‖ disse minha mãe, respondendo minha pergunta não feita, lendo minha mente. Respirou fundo. ―Ela está em cirurgia.‖
Eu me empurrei para cima e um cobertor caiu do meu colo para o chão. Havia ataduras na minha cabeça e no meu braço. Era familiar demais para ser outra coisa senão um sonho muito ruim.
―Você dormiu querida?‖
Eu pensei que era uma questão óbvia — um estúpido desperdício de tempo. Mas todos os bons interrogadores sabem para começar com coisas que o indivíduo sabe ao certo. Então assenti com a cabeça. Minha mãe disse, ―Bom.‖
Ela estava sentada na mesa de café a minha frente — o exato lugar onde todo domingo à noite ela colocava bandejas de vegetarianos e tigelas de mergulho. Mas naquela manhã ela somente sentou lá com as mãos no colo. Seria ela uma mãe ou uma espiã naquele momento? Eu não tenho certeza. Mas eu sabia o que precisava.
―Diga-me,‖ exigi, não me importando quem ouviu — o quanto a nossa voz transportou. Eu vi o Sr. Solomon próximo à mesa dela, sabia por que ele estava lá.
―Vocês dois, comecem a falar,‖ disse eu, mas minha mãe estava deslizando em minha direção.
―Querida, isso não é algo—‖
―Eu tenho o direito de saber!‖
Ela ficou mais firme, ainda a chefe de mim e não prestes a me deixar esquecer. ―Cameron, há uma hora e um lugar para—‖
―Eles não estavam atrás de Macey,‖ eu disse. ―Eles nunca estiveram atrás de Macey. E... vocês sabiam.‖
―Cameron, isso—‖ Mas Mamãe não teve a chance de terminar, porque o Sr. Solomon estava deslizando para o canto de sua mesa, cruzando os braços conforme disse, ―Nós não sabíamos qualquer coisa mais do que você, Srta. Morgan. Não por muito tempo.‖
―Mas...‖ comecei, minha cabeça girando, ―Filadélfia.‖ Eu pensei na porta fechada do escritório da minha mãe no dia seguinte, o terror recém-descoberto da minha tia no trem. Um calafrio como nenhum que já senti correu por mim enquanto eu falei, ―O que Zach te disse naquele túnel, Sr. Solomon?‖
Meu professor assentiu. Ele quase sorriu. ―Ele tinha ouvido que Macey não era o alvo. Essa era uma possibilidade o tempo todo — nós sabíamos disso, mas Zach tem fontes—‖
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―Que tipo de fontes? Quem são eles? Onde estão eles? O que—‖
―Isso é tudo que você consegue Cammie,‖ disse Joe Solomon, e eu o odiei um pouco. Mas então ele deu de ombros, derrotado. ―Porque isso é basicamente tudo o que há.‖
Sr. Solomon é um bom mentiroso — o melhor. E eu o odiava por isso também.
―Joe,‖ minha mãe disse calmamente, como se eu não estivesse discutindo e machucada. Como se tudo em minha vida não estivesse subitamente diferente. E acabado. ―Você poderia nos dar um minuto?‖
Um momento depois ouvi a porta abrir e fechar. Eu sabia que estávamos sozinhas.
―Querida, não...‖ Ela parou de falar, incapaz de terminar, até que a Garota Gallagher nela pôs de lado a mãe, e ela encontrou a força para continuar.
―Você vai ficar bem, Cammie. Os administradores Gallagher foram notificados. A força total da escola e da Agência está atrás de nós. Você vai ficar bem.‖
Eu amo o escritório da minha mãe. É a coisa mais próxima de um lar que tive nos últimos anos. Eu sentei lá por muito tempo naquela manhã fitando as imagens que costumavam estar em sua penteadeira no nosso apartamento em Arlington. Antes de ela ser diretora. Antes de eu ser uma Garota Gallagher. Antes de perdermos meu pai.
Antes de perdemos um monte de coisas.
―O que acontece agora?‖ Ouvi minha voz falhar e sabia que eu estava quase chorando, quase suplicando. Minha raiva tinha desaparecido, e em seu despertar invadiu uma onda de tristeza e terror tão forte que eu mal podia respirar. Eu pensei no sangramento de Abby. Pensei em Macey e Preston.
E, finalmente, eu vi Zach conforme ele pairava sobre mim, enquanto minha mente girou para baixo em uma entrada de lavanderia, despencando em uma queda livre que eu temia nunca acabar. ―É só que... Mãe... por quê?‖
Minha mãe me segurou. Minha diretora alisou meu cabelo. E a maior espiã que já conheci sussurrou, ―Nós vamos descobrir. Eu prometo que vamos descobrir.‖
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CAPÍTULO VINTE E NOVE
As aulas deveriam ter acabado, mas não acabaram. A semana das finais já deveria ter passado, mas ainda estava a semanas de distância. E, no entanto, cada garota na minha escola sabia que as minhas colegas de quarto e eu já havíamos sido testadas. Pensei na Tia Abby, e eu sabia que mal tínhamos passado.
Demorou três semanas para acontecer, para o Sr. Solomon bater na porta da sala de chá da Madame Dabney, para minhas colegas de quarto e eu sermos chamadas lá em baixo.
Seguindo nosso professor pelo corredor naquele dia, eu não deixei minha mente vagar — eu conhecia locais escuros demais para onde ela poderia ir, então mantive minha atenção nos passos, nas escadas e nas paredes. Até o Sr. Solomon abrir a porta do escritório da minha mãe—
E alguém dizer, ―Ei, baixinha.‖
―Abby!‖ Bex e Liz gritaram ao mesmo tempo, correndo em sua direção, jogando seus braços em volta dela.
―Garotas,‖ disse minha mãe, como se as lembrasse que (pelo menos no caso de Bex) não conhecem a própria força.
Minha tia estava mais pálida do que eu lembrava. E mais fina, quase frágil. Seu braço direito estava segurado por uma tipóia. Mas seus olhos eram os mesmos — então foi para onde eu olhei enquanto cheguei mais perto.
―Como você está?‖ Eu perguntei, quase com medo da resposta, mas perguntando de qualquer maneira.
Minha tia sorriu. ―Nunca estive melhor.‖
Perguntei-me se ela poderia estar mentindo — ou se eu seria uma operária boa o suficiente para saber. ―Evidentemente, Langley precisa de alguém com uma ferida de bala recente para representar um conhecido traficante de armas em... bem... em algum lugar.‖
Ela olhou para o céu e inclinou seu quadril, em seguida, segurou sua tipóia para nós vermos. ―Isso é o disfarce final ou o quê?‖
Mas, surpreendentemente, nós quatro não concordamos.
―Você realmente tem que ir?‖ Liz olhou para a mala de Abby. ―Podia ficar aqui, não podia? Você podia lecionar?‖
―Incrível!‖ Bex exclamou, mas Abby já estava balançando a cabeça, puxando sua bolsa sobre o ombro bom. Mas isso não impediu Bex de dizer, ―Oh, você podia vir comigo para casa para o Natal. A Cam está indo. E meu pai e minha mãe adorariam ver você.‖
―Obrigada, Bex,‖ Tia Abby falou, ―mas eu acho que tenho algumas... outras coisas que tenho que fazer.‖
Por cerca da milionésima vez no último mês eu pensei no que estava acontecendo fora dos nossos muros, mas então me lembrei de não fazer as perguntas que não queria respondidas.
―Então acho que vejo você mais tarde.‖ Abby abraçou minha mãe, que sussurrou algo em seu
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ouvido.
Conforme ela pisou em direção à porta, olhou para as minhas colegas de quarto e eu. ―Desculpe, turma, mas eu não faço despedidas.‖
Mas então ela parou. Deixou cair sua bolsa e virou. ―Oh, que diabos.‖
E posso dizer honestamente que nenhum dos treinamentos de espionagem no mundo me preparou para a visão de minha tia agarrando Joe Solomon pela camisa.
E o beijando.
Na boca.
Por oitenta e sete segundos.
Liz engasgou. Bex ficou lá com o queixo no chão. E eu — eu olhei para minha mãe, que estava olhando para os dois como se seu mundo não pudesse ficar mais estranho.
Quando acabou, Tia Abby finalmente buscou ar (Sr. Solomon, eu notei, não fez muita coisa). Minha tia olhou para sua irmã, ergueu o quadril, e falou, ―Bem, alguém tinha que fazer isso.‖
E foi quando ela saiu.
Mamãe e o Sr. Solomon ainda estavam bastante perplexos, dado o que tinha acabado de acontecer e tudo, mas Bex, Macey, Liz e eu a perseguimos, observando a lenda viva que compartilhava meu nome caminhar pelo Hall da História, passar a espada que tinha começado tudo, e então começar a descer a escada grande, longe de nós.
Naquele segundo final, todos que eu amava estavam quentes e seguros.
―Não seja um fantasma dessa vez.‖ Minha voz cortou pelo hall de entrada vazio. "Vá fazer o que tem que fazer, mas não seja um fantasma, certo?‖
Abby se virou para mim, depois puxou um casaco da bolsa em seu ombro.
―Aqui. Acho que alguém deu isso para você.‖
Não olhei para ver se o sangue da minha tia ainda manchava o casaco de Zach. Não me deixei pensar naquela noite. Em vez disso, eu só peguei e tentei pensar por que ele havia o dado para mim e nada mais.
―Abby.‖ Era a voz de Macey, e pelo olhar em seu rosto, ela estava tão chocada quanto qualquer um em ouvir.
―Eu nunca disse... Quero dizer, você deve saber... Acho que o que estou tentando dizer é...‖
Abby parou. Sua mão boa estava no corrimão liso. Seu cabelo caía sobre um ombro, ela sorriu, colocou seus óculos de sol, e falou, ―Eu disse que levaria uma bala por você.‖
E então ela se afastou.
Eu fiquei lá por muito tempo, observando-a ir, porque isso é tudo o que restava a fazer.
Bex e Macey foram para o Grand Hall para o almoço.
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Liz andou até a biblioteca.
Fiquei sozinha, dizendo a mim mesma que minha tia iria voltar algum dia — que o mundo precisava dela fora das paredes da minha escola, e por enquanto, eu era necessária dentro.
Que por enquanto, tudo que eu podia fazer era esperar.
―Sétima série!‖ A voz de Patricia Buckingham flutuou no hall de entrada conforme as mais novas Garotas Gallagher seguiram atrás dela, fora do Grand Hall.
―Vamos proceder em um grupo para o laboratório para o seu exame. Não entrem até eu lhes der o seu—‖ Ela parou de repente e gritou para as meninas na frente do grupo, ―Emily Sampson! Eu vi isso!‖
Eu me perguntei se eu já tinha sido assim tão pequena. Vi a inocência nos olhos delas, e eu sabia de alguma forma que nunca me sentiria assim novamente. Eu tinha visto muito — eu sabia muito pouco. E por razões que eu nem sabia na hora, eu corri atrás delas.
―Professora Buckingham,‖ Eu chamei, pisando mais perto da mulher que era ao mesmo tempo o mais antigo membro do corpo docente da Academia Gallagher e também o único membro cuja aparência não mudara nada desde que eu estava na sétima série.
―Sim, Cameron?‖ Buckingham disse, e naquele momento ela parecia eterna. Como se um grande espião do vigésimo século tivesse a esculpido em pedra.
―Eu tenho uma pergunta... sobre história.‖
―História da Espionagem é um curso no programa de estudos no semestre da primavera, Cameron. Espero que você saiba disso.‖
Ela guiou outra aluna da sétima série descendo o longo corredor.
―Agora, como você pode ver, estou muito ocupada ajudando as nossas alunas mais novas a se adaptarem.
Sissy!‖ Buckingham gritou conforme as empurrou adiante, mais distante de mim, enquanto o vento uivou ruidosamente lá fora.
―Sim, senhora,‖ disse eu. ―Posso ver isso. É só que eu estava me perguntando... sobre o Círculo de Cavan.‖ Quando ela se virou, seus olhos azuis perfuraram os meus.
―Eu preciso saber...‖ Chamei atrás dela, minha voz embargando sob o peso dos medos tinha carregado por semanas. ―Preciso estar preparada.‖
―Sinto muito, Cameron. Não é algo... Desculpe.‖ Ela deu um passo. As vozes das alunas da sétima série enfraqueceram conforme elas viraram a esquina — desapareceram de vista.
Eu me virei para encarar fora das janelas, vi os primeiros flocos de inverno começarem a cair e soprar por todo o terreno. Em poucas horas, tudo estaria coberto, como se a própria Terra estivesse puxando o seu melhor disfarce.
―Talvez na Primavera.‖ A voz de Buckingham cortou através do corredor resfriado, perseguindo-me como um vento forte. Virei-me para olhar para ela. ―Sim,‖ disse ela novamente, e por uma fração de segundo — nada mais — ela pareceu uma mulher velha.
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O corredor pareceu como o próprio tempo, e Patricia Buckingham e eu estávamos em lados opostos — ela olhando para trás tudo o que tinha visto, eu me perguntando o que estava por vir.
Então a Professora Buckingham assentiu mais uma vez e disse suavemente, ―Talvez na Primavera.‖
Assisti ela desaparecer no longo corredor enquanto lá fora o céu ficou cinza, o chão ficou branco e o inverno se postou.
O casaco de Zach estava em meus braços, então eu o coloquei em torno dos meus ombros. Ele ficou lá, pesado e quente e o frio parecia um pouco mais distante. Conforme coloquei as minhas mãos nos bolsos, senti algo roçar contra os meus dedos. Retirei um pequeno pedaço de papel-evaporador e estudei o manuscrito que eu vira duas vezes antes:
Divirta-se em Londres
—Z
E então, apesar de tudo, eu sorri, olhei para o bilhete e sabia que a primavera viria — ela sempre vinha. Então encarei por aquela fria janela, observando minha respiração se acumular no vidro, tentando não pensar na minha vida após o descongelamento.
FIM

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