terça-feira, 18 de junho de 2013

Sussurros de uma garota apaixonada

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Agradecimentos
Para um sonho de uma garota se realizar, é preciso que muitas pessoas estejam envolvidas. Gostaria de agradecer, antes de tudo, a pessoa que me fez se apaixonar pela literatura, Monica Porto. Sem ela, acho que eu nunca teria lido Harry Potter e a Pedra Filosofal e não teria me apaixonado por livros. Quero agradecer toda a minha família pela força e por acreditar em mim. Vocês acreditaram em mim certo? Brincadeirinha.
Quando encontrei a Editora Underworld eu pensei que era a pessoa mais sortuda do mundo, A editora, apesar de ser nova, tem pessoas maravilhosas e ainda acreditam em você. Isso é difícil para uma escritora nova, tanto na idade quanto na carreira. Então, eu quero agradecer todo o pessoal da editora, principalmente a Fabiana Andrade. E Marina Avila pela capa que me deixou com falta de ar de tão bonita. A A.P. Ribeiro por ser a primeira leitora deste romance e dizer que amou.
Alguém me belisca para ver se estou sonhando? Ounch. Duh, eu estava brincando.
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Para mamãe e papai,
que adoram uma história de fantasma.
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Eu era uma caloura.
Uma caloura caminhando pelos corredores desconhecidos de um lugar desconhecido. Caminhava devagarzinho com urna caixa imensa em meus braços, quase cedendo em alguns momentos. Ninguém parecia estar disposto a me ajudar, todos arrumavam e organizavam seus quartos novos. Seu novo lar. Um quarto que vamos compartilhar com uma pessoa estranha por longos quatro anos, ou mais. Eu estava prestes a conhecer a garota que saberia de todos os meus segredos mais íntimos e privados, ninguém nesta terra me conhecia tão bem assim. Isso me assustava, e, além disso, uma nova experiência estava bem na frente em minha cara. Uma nova porta que me levaria a lugares que eu nunca tinha ido antes.
Em dois dias começavam minhas aulas na Universidade de Stanford, na cidade de Jericho, Califórnia. Tenho 19 anos e começaria minha longa jornada cursando medicina, uma escolha que fez minha família dar pulos de alegria. “Teremos uma médica na família!” — disse minha mãe quando chegou a carta de aprovação da universidade. Naquele dia eu fiquei feliz, provavelmente o dia mais feliz que uma pessoa possa ter. Eu sou filha única, meu pai e minha mãe são advogados e adoram gastar sua fortuna
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comigo. Gastar, por exemplo, em uma festa de comemoração. Centenas de pessoas apareceram, eu me senti menor do que já era.
Meus pais não puderam ajudar na minha mudança. Eles trabalhavam em um grande caso, como sempre. Não puderam acompanhar a filha que estava partindo de sua linda casa de conforto. Então tudo que ouvia era os veteranos gritando pelos corredores a chegada dos calouros. Eu sorria quando alguém sorria para mim e ficava séria com os olhares maldosos em minha direção. Fiz o possível para parecer agradável, conseguir amigos no primeiro dia de arrumação, mas meus planos não estavam dando muito certo.
— Hey, cuidado, caloura. — gritou um garoto apressado, esbarrou em mim e derrubou minha caixa que antes se encontrava tão equilibrada em minhas mãos. Quando levantei meus olhos para ele, somente consegui ver seu corpo sem camisa seguindo em frente. Nem teve a decência de me ajudar. Que grande cavalheiro!
— Deixe que eu a ajudo com isso aí. — falou uma voz fina e agradável aos ouvidos. Levantei a cabeça para olhar a garota que me ajudava a colocar meus pertences de volta ia minha caixa. Ela possuía olhos escuros cativantes e sinceros, cabelos vermelhos muito cheios encaracolados, um óculos gigante se encontrava em seu rosto oval e delicado.
— Obrigada. — eu agradeci com um sorriso.
— Não há de que. Além do mais, sou a sua colega de quarto. Vi sua foto do lado da minha na papelada dos alojamentos. Sou Lucy Mitchell. — ela estendeu a mão para mim e eu apertei.
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— Brooke Watson.
— Muito prazer Brooke — ela disse com um sorriso amável. Levantamos-nos e eu equilibrei a grande caixa em meus braços novamente. Pensei se faltava muito para meu quarto, ou melhor, nosso quarto. Quando segui em frente Lucy me impediu. — Nosso quarto é aqui, você deu sorte de aquele garoto se esbarrar com você logo aqui em frente. Por isso vi que era você. — explicou ela apontando pata o lado esquerdo com a porta já aberta revelando as duas camas.
Entrei no quarto com passos minúsculos e silenciosos. Descansei minha caixa na cama da esquerda e olhei em volta. Lucy escolheu o lado direito do quarto, que já estava todo arrumado. Sua cama estava feita com lençóis rosa florido e havia ursinhos de pelúcia sobre ela. Sua escrivaninha estava lotada de coisas logo em frente à cama, como cadernos, livros, canetas, o laptop aberto e outras bugigangas. Havia um pôster acima de sua cama do filme O diário da nossa paixão. Sua parte estava impecável, e a minha parte estava nua e pedindo por atenção.
— Você não fala muito, fala? — perguntou Lucy depois de ficar me observando memorizar todas as suas coisas organizadas.
— Sou mais para reservada.
— Mas vai ter que começar a abrir a boca logo, logo. Tem certos professores que adoram fazer perguntas no meio da aula muito aleatoriamente. Isso faz as pessoas tímidas ficarem. “p” da vida, — ela disse se atirando em sua cama, fazendo alguns de seus ursos de pelúcia voarem para o chão.
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Não sou tímida, sou apenas reservada. É diferente. Esse é um dos motivos por que não tive muitos amigos na escola. Sou loira de olhos azuis, baixinha, magricela e reservada. Muitos rapazes adoram começar a puxar papo comigo e eu não digo uma palavra. Isso os faz ficar um pouco irritados. E foi por isso que acabei conhecida como “Garota sem palavras” ou, na boca dos maldosos, “Malcomida”, e até mesmo por lésbica. Assim como todas as pessoas que são zoadas na escola, eu segui em frente. Estudei bastante e fui aceita em uma boa faculdade, o que deixou meus pais orgulhosos.
— Você conhece o garoto que esbarrou em mim? — perguntei a Lucy, que encarava o teto branco. Enquanto isso eu colocava meus pertences sobre a minha própria escrivaninha, que também ficava logo em frente à minha cama.
— Danny alguma coisa. Ouvi falar dele pela minha irmã. Ela está no último ano de Publicidade e Propaganda. Você vai conhecê-la mais cedo ou mais tarde — eu sabia. Lucy adorava ficar falando. Ao contrário de mim. E não sei por que lhe perguntei d.o rapaz que esbarrou em mim, acho que apenas saiu de minha boca sem mais nem menos. — E Danny é muito grosso. Muitas pessoas o detestam por ser tão egoísta e um bad boy.
— É, notei isso quando não parou pra me ajudar — disse com um sorriso de leve.
— Ele está no quarto ano de medicina, tens uns 23 anos e muitas garotas são gamadas nele. Não me leve a mal, o cara é lindo e tal, mas ele não trata ninguém bem.
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Eu não disse mais nada, apenas deixei Lucy falando o que lhe vinha a cabeça, algo que ela adorava fazer. Enquanto isso eu arrumava a minha parte do quarto. Meus pais trariam mais caixas quando pudessem, então eu praticamente arrumei apenas minha escrivaninha e alinhei meus livros em uma prateleira.
— Qual o seu curso? — perguntei quando a voz de Lucy se apagou do ambiente. Eu não falava muito, mas gostava de ouvir os outros. Ainda mais a voz de Lucy, que parecia ser de um anjo infantil.
— Jornalismo. E você?
— Medicina.
— Não brinca? Eu nunca iria imaginar você cursando medicina. Nem em um milhão de anos.— Lucy disse enquanto mexia em seu celular rosa da Helio Kitty, sua voz soando espantada. O que me deixou um pouco chateada. Já ouvi muito sobre medicina ser para as pessoas fortes e inteligentes, e eu sou isso e muito mais. Mas as pessoas em minha volta não pensam a mesma coisa, o que me deixa muito magoada.
— Por quê? — perguntei com uni sorriso sem graça.
—Olha para você. — ela pediu e se sentou na cama e me encarou. — Você tem um jeito deque será uma professora de jardim de infância, ou até mesmo uma modelo. Você parece ser tão inocente. Aposto que muitos caras ficarão gamados em você por aqui.
Eu apenas a encarei de volta com olhos arregalados. Lucy não apenas fala muito, mas fala tudo o que passa em sua cabeça, inclusive a verdade nua e crua. Algo a que eu não estava acostumada. Por um
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momento pensei que poderíamos não nos dar bem e notei também que ela, como todas as garotas tirando eu, é vidrada em garotos. A única coisa que eu quero na faculdade é estudar e me tornar uma médica. Não quero nenhum garoto desviando a minha atenção sobre o que realmente é importante. Depois que for médica profissional que quero um namorado.
— Desculpe se te assustei. Eu sou assim mesmo, sabe. Não consigo mudar. Você é tão perfeitinha e doce, acho que podemos nos dar bem.
— É. — eu disse envergonhada por ter pensado um pouco mal de sua pessoa.
Lucy com certeza não seria a primeira e nem a última a me chamar de “professora de jardim de infância”; medicina é para os fortes e destemidos e eu pareço ser frágil como uma boneca de porcelana. Eu quero que isso mude, quero que as pessoas comecem a me levar a sério. Eu sou forte e destemida, sou apenas calada e na minha.
— Está aqui faz quanto tempo? —perguntei quando ela Ficou calada novamente.
— Desde hoje cedo. Estava ansiosa para estar aqui, minha casa é um inferno danado. Sem contar comigo, tenho cinco irmãos. CINCO. Dá pra acreditar ?!
— Acho que é melhor do que ser sozinha que nem eu. Acho que esse é um dos motivos de eu ser tão calada e Fechada — confessei. E pela primeira vez eu contei algo a uma pessoa que estava disposta a ouvir. Meus pais quase nunca estavam em casa, não tinha irmãos e minhas amigas mais próximas se mudaram para muito longe. Que sorte a minha,
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não é? Então a única opção que eu tenho é conversar com elas on-line quando podem. O que acontece raramente.
— Acho que tem os pontos altos e baixos. Adoro ficar com eles, brincar e tudo mais. Nunca fico sozinha e me sinto bem. Mas as vezes fico tão irritada que quero jogá-las pela janela — ela riu e eu a acompanhei.
— Olá —ouvi uma voz feminina junto com batidas leves na porta. Dei um sorriso enorme quando vi que era minha mãe com mais coisas minhas. Ela é diferente de meu pai, sempre arranja tempo para mim, não importa o que esteja fazendo.
— Mamãe, essa é Lucy Mitchell. Lucy, essa é a minha mãe, Jordin Watson — apresentei as duas enquanto estava nos braços de minha mãe. Ela sorriu para Lucy e apertou sua mão. E também sorriu para mim, notando que eu já havia feito uma amiga.
— Muito prazer, Lucy. Espero que você e minha filha se deem tão bem quanto eu e minha colega de quarto quando tinha a idade de vocês — minha mãe sorriu enquanto dirigiu a palavra para Lucy. Minha mãe é morena, o cabelo quase preto e olhos claros. Sou mais parecida com meu pai, loiro de olhos azuis. Algumas pessoas até nos chamam de irmãs, porque minha mãe me teve quando era muito nova.
Mas com ajuda ela conseguiu entrar na faculdade para cursar direito, aqui mesmo em Stanford. Ela deixou minhas caixas excessivas no chão, me abraçou muito apertado e logo foi embora.
— Brookezinha, sua mãe é demais — disse Lucy se atirando em sua cama novamente. — Ela é muito nova para ser sua mãe. Vocês parecem. até irmãs — ela continuou falando bem de minha mãe por um longo
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tempo. Estava começando mesmo a gostar dela, até já havia adotado um apelido para mim.
— É, muitas pessoas pensam assim. Ela é minha melhor
— Tipo aquele seriado, Gilmore Girls — ela deduziu. — Mãe filha que são melhores amigas. E..
Eu a interrompi:
— É, eu conheço a série. Gosto de pensar que somos agora eu finalmente estava colocando lençóis em minha cama nua.
— Você tem sorte. A única coisa que minha mãe diz para mim é: Você é uma imprestável.
— Isso é horrível — eu disse parando de fazer minha cama e fiz uma cara assustada. Por que uma mãe seria assim tão horrível para uma filha? Lucy é extremamente adorável.
— Ah, talvez você possa me emprestar sua mãe — disse sorrindo.
Apesar de as aulas somente começarem em dois dias, tudo na universidade estava funcionando, morávamos ali, afinal de contas. Fui jantar e Lucy me acompanhou, ela sabia de tudo, naturalmente. Ela não parou de falar nem um minuto quando sentamos no refeitório. Eu me servi com uma maçã, suco em lata e macarrão com queijo. Não estava tão ruim quanto pensei que fosse.
O refeitório era como qualquer outro, como qualquer um que você assiste em filmes e séries de IV Várias mesas azuis retangulares de no
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máximo dez pessoas eram postas aqui e ali até o salão ficar lotado. Era tipo buffcr, você escolhia o que queria e ia se sentar. Naquele dia o refeitório não estava necessariamente lotado, mas até que havia bastante gente.
— Aquele garoto, o de moletom vermelho, é meio feinho, mas é muito simpático e faz tudo o que você pedir — ela dizia enquanto eu comia e olhava para o menino de quem ela estava falando.
— Aquela guria somente entrou aqui porque os pais são ricos de morrer — Lucy disse olhando para uma menina super bem-vestida com chapinha nos longos cabelos loiros e perfeitos.
— Minha irmã não está aqui ainda, mas quero muito que você a conheça. Enquanto isso, aquele é o namorado dela, o nome dele é Jason — ela deu um grande assovio que chamou a atenção de quase todos naquele ambiente e acenou para Jason, que olhou para ela com um sorriso. Eu podia ver que ele estava um pouco envergonhado com aquela atitude de Lucy, mas o modo como ele sorriu para ela não notar foi urna grande atitude. Ele parecia ter uns 24 anos e era muito charmoso, cabelos castanhos-escuros e bem encorpado. Não consegui decifrar a cor de seus olhos por ele estar a umas quatro fileiras da gente.
— E lá está o Danny sentado com várias garotas, é claro — Lucy disse olhando por cima de meus ombros, e eu me virei para observar. Não havia visto o seu rosto quando ele esbarrou em mim, afinal de contas. Danny era bonito sim, com toda a certeza. E acho que bonito era pouco para ele. Ele tinha um ar à la Tom Cruíse, mas Danny possuía olhos dc mel muito, muito claros. Eu podia dizer que ele era alto, somente vi seu ombro
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quando ele esbarrou em mim.. E era musculoso, como aqueles caras que ficam em academias quase o dia todo para impressionar as gatinhas. Enquanto o observava com as garotas e amigos, nossos olhos se conectaram por alguns segundos.. Eu me virei ligeiramente, mas podia sentir seus olhos cravados em minhas costas.
— Ah lindo mesmo — disse uma Lucy sonhadora dando inúmeros suspiros.
— Lucy, come e para de ficar aí suspirando — pedi como se fôssemos amigas desde sempre, mas ela me obedeceu.
Era tarde da noite e eu encarava o teto. Lucy dormia tranquilamente na cama ao meu lado. Ela não roncava, apenas respirava em um modo esquisito e singular. Eu quis dormir, até tentei deitar de barriga para baixo e fechar os olhos, mas tudo passava a mil por hora em minha cabeça. Estava longe dc casa, longe de meus pais pela primeira vez, e pronta pata encarar uma jornada sozinha. A minha jornada era apavorante. Podia ser tarde da noite, mas em universidades isso não significava nada. Havia uma festa em algum lugar do prédio, dava para ouvir a música do meu quarto e eu ouvia vozes no corredor quase a cada nano segundo. Eu estava acostumada com silêncio profundo na hora de meu sono.
Ouvi um baque em minha porta e me sobressaltei. Olhei para Lucy, que dormia pacificamente. Decidi ver o que havia sido aquilo, calcei meus chinelos e fui até a porta. Quando a abri, um garoto que estava sentado diante da porta caiu sobre minhas pernas, indo ao chão. Mas ele não
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estava apenas sentado, ele estava dormindo, Ajoelhei-me ao seu lado e lhe dei uni leve tapa na cara para acordá-lo.
— Acorde, Danny — eu disse. Por que eu fui logo pensar em abrir aporta?, pensei. Tentei chamá-lo novamente e ele começou a gemer. Agarrou-se em minha perna, e quando tentei tirá-lo fui eu que caí para trás, batendo a cabeça na porta aberta. Arfei de dor e foi aí que ele acordou.
— O que aconteceu? — ele perguntou enquanto se sentava, totalmente acordado. — Por que estou aqui com você? — perguntou novamente, só que agora parecia constrangido.
— Você se atirou na minha porta, seu idiota. Quando vim ver o que era, você caiu em cima de mim e ainda por cima me atacou me fazendo bater a cabeça — respondi à sua pergunta ainda com a mão na cabeça, sabia que ali ficaria um galo logo, logo. E chamei Danny de idiota porque ele simplesmente me viu gemer de dor e não disse nada, nem um pedido de desculpas.
— E o que eu estava fazendo aqui, garota? — perguntou ele ainda sentado em meu chão, praticamente dentro de meu quarto, no vão da porta aberta.
— Como é que vou saber, foi você quem me acordou.
— Eu com certeza não iria parar aqui de propósito com você — ele disse agora se levantando, e eu fiz o mesmo.
— Como assim não iria parar aqui de propósito comigo? — perguntei aos sussurros, boquiaberta.
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— Está na cara que você é uma santa, que está aqui para ser uma professorinha no futuro — ele começou a olhar meu corpo magro e frágil com a bermuda curta e uma blusa com o símbolo de superman, e percebi que ele estava fantasiando sobre mim.
— Para sua informação garoto, eu estou aqui para ser médica — afirmei cruzando os braços, e ele fez uma cara de surpresa e começou rir.
— Isso quer dizer que irá cursar Medicina. Uau, eu queria muito estar aqui para ver isso acontecer, mas eu mesmo vou ser médico em poucos anos. Com certeza passarei aqui para ver como você estará indo — disse ele debochando, assim como todo mundo fazia.
Por que ninguém me leva a sério? — quase gritei com muita irritação, mas antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa eu apontei para fora e disse:
— Saia, agora — ele bufou, revirei os olhos e saiu de meu quarto. Fechei a porta e ele bateu fortemente, fazendo Lucy saltar da cama.
— O que está acontecendo? — perguntou ela, ainda de olhos fechados.
— Nada, volte a dormir. Foi apenas um idiota na porta — respondi e fui diretamente para minha cama. Tapei-me até a cabeça e tentei lavar todos os meus pensamentos e os sentimentos daquele momento. Não demorou muito até eu cair num sono profundo.
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Eu detesto primeiro dia de aula. Você se sente como uma alienígena em novo planeta. Como Lucy cursava Jornalismo, eu estava indo para minha primeira aula da faculdade sozinha. O friozinho na barriga estava me deixando enjoada e maluquinha. Não queria e não iria vomitar no primeiro dia de aula. Você pode ser forte, Brooke, eu sei que pode.
Caminhei ligeiramente para encontrar minha sala de aula, mapa e horários na mão. Todo mundo sabia que eu era uma caloura. Encontrei minha sala em menos de 15 minutos, acho que poderia ser pior, pelo menos não me perdi naquele lugar que parecia ser um castelo. Sentei-me em uma cadeira no meio da sala gigantesca. Eu detestava lugares lotados, mas acho que teria que conviver diariamente com isso. As salas de aula eram intensas, as cadeiras eram como em uma sala de cinema. O quadro branco era vezes maior do que nas escolas, e sabia que o professor seria urna miniatura para as pessoas que sentassem lá em cima. Um auditório, onde provavelmente poderiam caber mais de trezenras pessoas, e eu estaria ali, no meio de todas elas. Nem gostaria de imaginar se um professor um dia me fizesse uma pergunta no meio desse povo todo e eu
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errasse. Sei que faculdade é para pessoas maduras e sérias, ainda mais no curso de Medicina. Mas sempre tem um que não é maduro o bastante e que dará risadinhas e irá debochar, como, por exemplo, um rapaz que eu conheço.
Ainda não sabia o sobrenome dele, mas o chamo de Danny. Todo mundo o chama apenas de Danny. Ele pode se destacar por ser um garoto lindo de morrer, mas por trás daquei.a linda máscara há um garoto que adora fazer as pessoas se sentirem mal. Não sei por que existem pessoas assim no mundo. Será que eles falam coisas ruins e malvadas para se sentirem melhor? Chamar uma pessoa de feia não vai lhe fazer ser mais bonita. Chamar uma pessoa de perdedora não vai lhe fazer mais popular. Pessoas más como Danny não se relacionam com as pessoas normais como eu. Pessoas como ele apenas se entendem com pessoas como ele. A sala já estava lotada e a aula já iria começar e eu estava pensando em Danny? Por que eu estava pensando no Danny?
A primeira matéria do dia era Histologia e o professou já se encontrava na sala. Eu peguei meu caderno e minhas canetas e postei tudo em cima da mesa. Anotei tudo que pensava ser importante das palavras do professor Bradley. Ele parecia ser daqueles caras ranzinzas, era calvo e baixinho. Bradley possuía aqueles rostos de autoridade, que dava a impressão de que se alguém falasse ou atrapalhasse sua aula ele o expulsaria imediatamente. Sua voz era a Única que todas as pessoas ouviam e prestavam atenção. Se urna mosca passasse por ali certamente a turma toda escutaria.
— Medicina não é para os fracos, tenho certeza de que muitos de vocês aqui presentes sabem disso. No primeiro ano as salas ainda são
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lotadas como esta, mas no final nem a metade estará aqui. Muitos trocam de curso ou desistem. Enfim, como disse antes, Medicina não é para todos. Pensem nisso.
Depois de conversas disso e daquilo, a primeira aula havia acabado. Agora todos falavam e murmuravam sobre suas vidas para os amigos que já haviam feito. Eu fiquei sozinha (como sempre), guardei meus pertences e, quando meus olhos vagavam pela sala, percebi que um aluno conversava com o senhor Bradley. Aqueles cabelos pretos um pouco arrepiados não me eram estranhos, pensei, e depois de algum tempo observando vi que aquele aluno era Danny. Não podia ouvir muita coisa, mas fiquei curiosa sobre o que eles estariam conversando. Bradley falava com Danny como um pai que estivesse dando uma bronca em filho. Eu me levantei, desci as escadas não querendohar para lá e segui para a porta. Não olhe, Brooke. Não olhe Brooke. Mas quando me dei conta, Danny já estava do meu lado com um olhar perdido.
— O que você está olhando? — perguntou ele grossamente para mim e seguiu em frente, se perdendo no meio de outros alunos. As pessoas que testemunharam a cena me olharam de uma maneira estranha, talvez pensando em o que eu deveria ter feito para deixá-lo tão irritado comigo. Eu apenas baixei minha cabeça, prensei meus livros em meu peito e segui em frente, como uma garota solitária.
Por que ele é tão grosso com as pessoas? Ele possui um rosto tão agradável e gentil, mas quando abre a boca tudo aquilo se perde em questão de segundos. Eu fiquei magoada, mas gostaria de não estar. Ele não tinha nenhum valor para mim, então por que eu tinha ficado magoada? Encontrei-me com Lucy no refeitório, quando a vi eu suspirei e
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sorri. Estava cansada de ficar sozinha e ainda ser o alvo maldoso do Danny-sem-sobrenome.
— Como foi sua primeira aula? — perguntou ela, enquanto comia seu pastel de queijo.
— Foi boa. O senhor Bradley é um ótimo professor.
— Dizem que esse professor, o Bradley, é um homem sem piedade. Pode te expulsar da sala por apenas um. sussurro e te reprovar por não gostar da sua cara.
Então eu estava certa, ele é do tipo severo. Pelo menos minha habilidade de prever as pessoas ainda estava funcionando. O almoço daquele dia não estava tão agradável quanto nos dias anteriores, eu quis praticamente vomitar tudo que eu havia recém-comido. Minha cabeça estava perdida e eu encarava o nada.
— Você tá legal? Você não parece muito bem, Brooke — perguntou Lucy quando me viu fazendo careta e escondendo o rosto nas mãos.
— Não dormi muito bem essa noite e essa comida não melhorou a situação — respondi manhosamente e descansando minha cabeça na mesa gelada. Aquilo me fez tão bem que soltei um gemido de aprovação. As pessoas perto de nós me olharam com curiosidade.
— E a sua primeira aula como foi, Lucy? — perguntei sabendo que ela estava louca para me contar todos os detalhes desde quando sentei em nossa mesa pequena. Ela parecia estar prestes a explodir de tantas palavras que estavam presas em sua garganta.
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— Foi o máximo, Brookezinha, obrigado por perguntar. Um garoto tão gatinho ficou me encarando o tempo todo. Se pudesse eu transaria com ele na mesa do professor. O nome dele é Connor, tem aquelas franjas de emo, mas eu curti. O sorriso dele faz minhas pernas tremerem. Ah, enfim, acho que estou apaixonada — respondeu Lucy com um sorriso maior que a cara e um olhar sonhador. Já havia previsto que ela não falaria da aula e nem do professor, mas sim de alguém em quem poderia estar interessada. Lucy estava vestida tão delicadamente, mas com uma pitada de sexualidade. Um vestido simples, mas muito curto. Connor deve ter notado isso e logo encarou a presa. Eu era uma nada sentada ali naquela mesa com Lucy, eu vestia urna simples calça jeans e um suéter azul que combinava com meus olhos.
— Olha ele ali. — sussurrou ela para mim, batendo em meu braço com uma força impressionante.
— Da próxima vez, me chame como uma pessoa normal, sua Hulk — pedi passando a mão em meu braço direito e fazendo cara feia.
— Desculpe, mas olha ele ali — ela apontava para a nossa esquerda discretamente. Connor almoçava com outros três garotos e garotas que, assim como ele, usavam cabelos de emo; ele sorria como se estivesse filmando um comercial para a Colgate. Lucy tinha razão, ele era bonitinho, possuía uma beleza diferente de Danny. Epa, não acreditava que Danny estava em meus pensamentos outra vez. Ai meu querido Deus, me ajude!
— Desculpe quebrar o seu barato, Lucy, mas acho que ele e os amigos são um pouco emo.
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— Quem liga para isso, Brookezinha? Ele é lindo e estava me secando na aula de Criatividade. Além disso, emos são legais. Eu curto My Chemical Romance — ela disse “My Chemical Romance” como se entendesse de alguma coisa da banda, o que não me convenceu.
— Eu também não ligo para essas coisas. Foi você mesma quem disse emo de uma maneira esquisita.
— Tudo bem, vamos parar com esse assunto. E me diz, ele é bonitinho, não é? Mas não bota olho, aquele garoto é meu — disse ela observando Connor com olhos penetrantes e ardentes. Ela quase pirou quando ele olhou para ela e deu uma piscadela de tirar o Nego.
Eu queria ficar ali com a Lucy fofocando ou encarando garotos bonitos, mas minha próxima matéria era Microbiologia e eu deveria ir para a aula imediatamente. Só esperava que não encontrasse Danny em nenhum lugar em meu caminho. Dito e feito, segui até minha sala sem nenhum sinal de Danny-sem-sobrenome. Naquela sala de aula havia poucos estudantes comparado à aula de Histologia. O professor Ben deu um discurso muito parecido do de Bradley, eu Fiquei encarando a parede e pensando em outra coisa no tempo todo que ele repetia aquelas palavras que eu já havia escutado. Estava comum tédio que poderia dormir se fechasse os olhos.
Chato escutar tudo de novo não é?
Alguém que sentava ao meu lado me passou este bilhete. Olhei para ele e vi um garoto loiro de olhos verdes. Eu sorri e assenti com a cabeça, dando-lhe um sim como resposta. Ele pegou de volta o papel que havia me dado e escreveu outra coisa.
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Qual seu nome? O meu é Nicholas.
Prazer Nicholas, eu sou Brooke.
Brooke significa uma mulher gentil, Já pude perceber
pelo seu sorriso adorável que faz jus ao seu nome.
Minhas bochechas ficaram. vermelhas quando li essa ultima parte, tenho que admitir. Não importava se ele havia recém inventado tudo aquilo, mas sorri para ele novamente e ele fez o mesmo. O sinal tocou logo em seguida e ele saiu da sala como um flash. Fiquei triste, pensei que ele esperaria por mim e me seguiria a qualquer lugar que eu estivesse indo. Mas vai entender os homens de hoje em dia.
Segui em direção ao meu quarto, de novo sozinha. Joguei a mochila na cama e, logo, eu mesma. Por que as pessoas se distanciavam de mim assim tão facilmente? E por que Danny me odiava tão descaradamente se nem. me conhecia? O primeiro dia de aula foi bom e duro ao mesmo tempo. Queria ligar para minha mãe e contar tudo o que tinha acontecido e chorar em seus braços, mas eu não sou mais urna criancinha de cinco anos, tinha que aprender a viver minha vida sozinha, não importa o quanto dura ela seja.
Uma semana se passou e nada de eu encontrar Danny em partes inesperadas da faculdade e nem ter ouvido a voz bruta dele. Ouvia seus amigos próximos dizendo que já estavam ficando preocupados com seu desaparecimento. Até Lucy não parava de falar naquele assunto.
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— Alguma coisa aconteceu para ele não aparecer nas aulas e nem mesmo no seu quarto do alojamento ela disse. Isso fez meu coração pular, não tinha a menor ideia de por quê.
— Ele pode ter voltado para a casa dos pais ou algo assim — eu tentei pensar em alguma solução. Tentei pensar em alguma explicação que fizesse sentido, assim eu não ficaria tão preocupada corno já estava naquele momento. Eu não queria ficar preocupada, mas eu estava.
— Os pais dele morreram quando ele era pequeno. Ele é praticamente um órfão. E além do mais, ele contaria algo simples assim para seus melhores amigos. Ele é um idiota, mas nem tanto.
Eu estremeci. Perder ambos os pais era o que eu mais temia em minha vida inteira. Não poderia imaginar algo acontecendo com uma pessoa como Danny Talvez essa seja a razão de ele ser tão mau com as outras pessoas. Assim ele não se conectava com elas e, se algo acontecesse, ele não seria ligado a elas a ponto de chorar em seu velório.
— Oi garotas, o que tá rolando? — perguntou Nicholas sentando na nossa mesa com seu almoço, no refeitório. Nicholas se juntou ao nosso “bando de duas” há umas quase duas semanas. Ele era um cara sério, mas que nos fazia rir. Gostávamos da presença dele em nossa mesa. Lucy o encarava às vezes com olhos apaixonados, mas seu coração ainda estava virado para Connor, com quem nada ainda havia acontecido. Nicholas flertava comigo quase que diariamente. Eu correspondia às vezes, mas ainda não sabia se queria um romance no primeiro semestre de faculdade. Lucy dizia que eu era louca por não dar muita atenção ao Nicholas, que
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várias garotas são apaixonadas por ele e mais um monte de histórias malucas. Mas eu ainda não tinha me decidido.
— Danny ainda está sumido. Muita gente está preocupada agora — eu respondi para Nicholas.
— Ele vai aparecer. Posso garantir que isso já aconteceu antes milhares de vezes. Pessoas desistem da faculdade diariamente e não contam a nenhuma alma.
— É, mas ele estava quase no ultimo ano Nick, porque desistiria agora? — eu perguntei.
— E eu que vou saber, Brooke? O cara é praticamente odiado aqui na faculdade, não sei por que as pessoas o querem de volta. Deviam estar agradecendo por ele estar desaparecido. — respondeu Nick com um pouco de raiva. Era a primeira vez que o via falar assim.
— Isso foi maldade, Nick. Podemos não gostar dele, mas somos humanos, ficamos preocupados — disse Lucy botando um fim naquele assunto.
Minhas aulas continuavam interessantes desde a primeira semana, mas já tinha feito uma lista das matérias de que eu estava gostando e das que eu estava detestando.
1. Histologia — Bradley me fascina com suas palavras e aprovo a maneira como trata os alunos. Há uns dois dias duas garotas discutiam quem era o mais gato no meio da aula dele: Shia Laheouf ou josh Hartnett. Eu fiquei pensando em qual escolheria nos minutos em que Bradley as expulsava da sala aos gritos. Eu realmente fiquei abismada, eu amo e
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venero o Shia Labeouf desde sempre e Josh Hartnett tem uma carinha de anjo que faz eu me derreter toda. Com certeza dá uni empate total, na minha opinião... GOSTO ou DETESTO? Gosto!
2. Microbiologia — Ben me faz dormir em apenas seis minutos quando começa a falar. Eu gosto do cara, mas aquele rosto chato e sem graça não me faz querer prestar atenção na aula. Faço o máximo para não dormir e ficar prestando atenção. Até pedi para Nicholas me cutucar a cada dois minutos, meu braço direito já ficou dolorido de tantos cutucões. GOSTO ou DETESTO? Detesto!
3. Imunologia — A matéria é tão chata quanto a professora. Ela tem mais de 40 anos e dá em cima dos garotos de 20 no meio da aula. Eu chamo aquilo de falta de profissionalismo e sempre fico com o queixo nos joelhos quando ela Faz alguma coisa para os garotos novos. Lucy me falou algo a respeito quando mencionei isso a ela, mas agora eu não estou me lembrando. Mas tinha algo a ver com mulheres de uma certa idade que namoravam garotos muito mais novos. Eu tenho apenas uma palavra para aquilo: NOJENTO. Não estou criticando ninguém e com certeza não sou preconceituosa, mas imagine a seguinte situação... Seus pais estão divorciados e sua mãe decide namorar um garoto que pode ser o SEU namorado. Situação embaraçosa, não é? GOSTO ou DETESTO? Detesto!
4. Anatomia Descritiva — Minha matéria favorita, assim como a professora, Olivia. Ela é gentil, mc prende a atenção quando fala e é particularmente jovem. Logo na primeira semana ela deu um megatrabalho para a turma fazer e apresentar. Ela adorou o meu trabalho e pediu que falasse com ela no final da aula. Olivia tem um cabelo até a cintura de causar inveja, assim como seu corpinho sarado. Acho que
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Olivia teria mais vantagem na questão de dar em cima dos alunos. Mas, enfim, logo quando a aula acabou eu fui até ela e ela me passou um formulário sobre um estágio. Ela mencionou que nunca deu um daqueles formulários e uma vaga de estágio assim tão cedo do semestre, e ainda mais para um dos calouros. Mas quando ela reparou em mim logo percebeu que ali tinha um potencial. GOSTO ou DETESTO? Amo!
5. Bioquímica — Sem comentários. Nunca tinha visto o professor porque ele faltou as duas primeiras semanas de aulas. Eu tentei conversar com alguém para dizer que ele fosse substituído, mas aparentemente o cara é “o cara”. Somente está atrasado de acordo com seu programa de viagens. A maioria dos alunos adoraram o Lato de não ter aula logo no começo, mas eu não. Eu quero que ele apareça, eu quero aprender, eu quero ser uma médica afinal de contas. Tudo que Lenho que ver durante os próximos anos da minha vida é livros e mais livros na minha cara.
Fim do dia e ainda nenhuma notícia do Danny. Tive a coragem de conversar com os amigos dele, fiquei impressionada quando eles me receberam de braços abertos e foram gentis ao me explicarem que ainda não tinham tido notícias dele. Caminhava para o meu alojamento com os olhos grudados no chão, pensava na última vez que havia visto Danny. Naquela expressão de tristeza que estampava seu rosto doce. O que será que havia acontecido? Será que ele havia mesmo desistido? Ele parecia tão seguro de si, de que seria médico, quando adormeceu diante de minha porta.
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— O que você está fazendo aqui? — perguntei pasmada quando dei de cara com um garoto sentado na minha cama lendo um dos meus livros que antes estava na prateleira. É sério, Nicholas, o que faz aqui? — perguntei novamente, porque sinceramente ele não me ouviu na primeira vez.., ou fingiu que não ouviu?
— Calma gatinha, apenas quero falar com você — ele falou e eu esperava o que quer que fosse que ele estava prestes a dizer, mas ele apenas ficou ali sentado em minha cama me encarando com aqueles olhos verdes anormais de tão claros.
— O que quer me perguntar, Nick? — segui em frente para acabar com o transe dele e fazê-lo falar de uma vez. e sorriu quando me apressei ao perguntar o que ele queria. Eu não retribuí, eu não gostava que as pessoas mexessem eu, minhas coisas, é totalmente particular e eu preciso de espaço. Nicholas sabia disso, mas acho que decidiu ignorar.
— Vai ter uma festa daqui a pouco no alojamento masculino, no quarto do Pete. Quer ir comigo?
— Quem é Pete? — perguntei. Eu sinceramente não sabia que ele tinha amigos além de mim e de Lucy. Ou então sou estúpida demais e nunca percebi. E é claro que Nicholas podia ter mais amigos se quisesse, ele era legal, menos quando invadia a privacidade dos outros. E eu nunca havia ouvido Nicholas falar deste tal de Pete.
— É um cara que conheço que mora no meu corredor. Ele é legal.
— Tenho que estudar, Nick, tenho prova amanhã.
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— Você estuda demais, Brooke, tem que tirar um descanso. Qual é, vai ser divertido! — ele tentou me convencer e se levantou da minha cama, deixando meu livro aberto lá em cima.
— Não posso, convida a Lucy — pedi soando mais ríspida do que poderia imaginar. Ele meio que se distanciou de mim e eu me arrependi de ter sido tão má com ele. Eu fechei os olhos, respirei fundo e tentei me acalmar apenas um pouquinho. — Desculpe Nick, mas hoje não estou muito a fim — tentei fazer a situação embaraçosa se desmanchar no ar.
— Tudo bem, quem sabe na próxima? — ele murmurou dando um minissorriso. Ele era tão lindinho, não gostava de fazê-lo ficar triste, mas naquele momento e provavelmente nunca eu iria a uma festa. Prefiro mil vezes ficar no meu quarto lendo e estudando. Acho que Nicholas percebeu isso e saiu com passos silenciosos. Eu me joguei na cama e tapei meu rosto com o antebraço, dei um longo suspiro e tentei relaxar.
—Já disse que não vou com você, Nick — eu disse, quase gritando e perdendo a paciência novamente quando ouvi a porta se abrir e alguém entrar.
— Meu Deus, quem foi que te mordeu hoje? — perguntou Lucy soando não muito simpática, assim como eu.
— Ah desculpe aí, Lucy, pensei que fosse o Nick novamente — respondi sentando-me, e olhei para ela. Lucy parecia muito cansada, ela estava, assim como eu, estudando muito. Ela bocejou e se jogou na sua cama, ao lado da minha.
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— O que ele queria? Convidar você para aquela festa idiota? — ela perguntou e eu assenti. — Ele praticamente convidou metade do alojamento feminino.
— Por que ele quer que a gente vá? Eu odeio festas, deixei isso bem claro na semana passada.
— Ele quer você lá para beijar você, né? Tá bem claro que ele te quer, Brooke — ela respondeu enquanto tirava a roupa e vestia um pijama rosa claro.
Mas eu não o quero. Acho que já deixei isso bem claro — eu disse e comecei a me vestir para dormir também. Minha cabeça estava começando a doer, odiava quando aquilo acontecia, não conseguia dormir direito.
— Ele provavelmente está apaixonado por você, Brooke, se não desistiu ainda — ela murmurou e logo fechou os olhos ao se deitar, e se tapou até a cabeça. Eu estremeci quando a ouvi dizer aquilo... que Nicholas talvez estivesse apaixonado por mim. Eu gostava dele, mas não daquele jeito. Ele era um cara legal e eu apreciava demais a presença dele, mas nunca poderia me apaixonar por ele.
Uma hora se passou e eu ainda encarava o teto, e minha cabeça latejava. Olhei para Lucy e ela dormia feito um bebê. Por que só eu tenho problemas para dormir? Isso nunca foi um problema para mim até os 18 anos, mas agora está piorando muito. Parece que minha cabeça não cala a boca, e então ela começa a latejar e eu não consigo dormir. Levantei-me e abri o livro que Nicholas havia pegado de minha prateleira, A mulher do viajante no tempo, e comecei a ler. Caí no sono lá pelas 4 horas da manhã,
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mas segundos depois abri meus olhos abruptamente e me sentei na cama rápido, como se alguém tivesse gritado meu nome.
Meus olhos assustados pararam em Danny-sem-sobrenome, que estava parado diante da minha porta. Eu não gritei, apenas olhei para ele com pavor. Suas roupas eram simples, um jeans largado, uma camiseta branca lisa e tênis Adidas nos pés. Ele ficou lá parado me encarando. Minha garganta se fechou e eu não consegui dizer nada. Depois de um tempo tentando eu sussurrei:
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, franzindo a testa e observando o quarto todo à procura de alguma resposta de como ele havia entrado ali sem eu notar.
Danny me olhava amedrontado como se tivesse acabado de ver um fantasma. Meu coração, que antes batia louca- mente, agora começava a pegar no ritmo calmo e normal. Minha expressão assustada virou para uma de pena. Por que Danny estava tão assustado?
— Danny? — disse seu nome e saí da cama para ir até ele.
— Com. quem você está falando Brooke? — perguntou Lucy grogue e ainda de olhos fechados. Quando virei para olhar Danny novamente ele desapareceu. ELE DESAPARECEU! COMO ELE FEZ ISSO? Devia ter aberto e fechado a porta bem silenciosamente para eu não escutar. E ligeiramente também, porque apenas olhei para Lucy por uma questão de segundos.
Voltei para minha cama e percebi que Lucy já havia pegado no sono novamente. Mas, ao contrário dela, eu não consegui fazer o mesmo. Encarei a porta onde Danny estava parado alguns minutos antes até conseguir dormir. O que não aconteceu nas horas seguintes. Minha
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cabeça estava a mil com aqueles poucos acontecimentos. O meu relógio marcava quase 5 horas da manhã, então eu provavelmente estava perdida em meus sonhos quando Danny resolveu entrar em meu quarto e de Lucy. O que me perturbava era como ele havia saído e por que ele estava ali me encarando tão assustado.
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— Com quem estava falando ontem à noite? Pensei ter ouvido você conversando com alguém — perguntou Lucy enquanto nos arrumávamos pela manhã para um novo dia de aula. Eu sentia como se houvesse areia nos meus olhos, não havia dormido nem três horas. Com ninguém. Devo ter falado enquanto dormia — tive que mentir, não iria simplesmente largar uma bomba para ela logo pela manhã em um dia ensolarado e bonito como hoje. Não conseguiria apenas dizer: “Ah apenas conversava com Danny-sem-sobrenome. É, ele estava aqui ontem a noite me encarando como se tivesse visto um fantasma” — isso ia soar maluquice, porque Danny-sem -sobrenome nem me conhecia, então nunca iria aparecer no meu quarto no meio da noite para simplesmente quase me matar de susto e me encarar.
— Meus irmãos mais novos sempre faziam isso, o que me deixava maluca — ela confessou enquanto jogava sua mochila para cima de seu ombro direito. Eu fiz o mesmo e a segui.
— Boa aula, Brooke — Lucy se despediu quando nos separamos no corredor da universidade. Eu disse o mesmo e falei para nos encontrarmos no refeitório depois da aula, assim como nos encontramos todos os dias.
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Quando sentei em meu lugar habitual na sala de aula, bem ao centro, eu reparei que devia ter colocado outra calça jeans, essa estava muito apertada, devia ter engordado ou esta calça era uma das antigas. Meu desconforto era visível para todos os presentes, mas acho que Nicholas chamava mais atenção que o meu desconforto. O rosto dele estava pálido, com olheiras embaixo dos olhos, parecia que não dormia há dias. Ele sentou-se ao meu lado e ficou resmungando algumas coisas que eu não consegui decifrar.
— Como foi a festa? — perguntei tentando parecer curiosa, no que na verdade não estava nem um pouco.
— Ótima — ele respondeu sem sequer olhar-me nos olhos e de uma maneira bruta. Ele apenas estava esparramado em sua cadeira ao meu lado prestes a dormir ou a vomitar.
— Brooke posso dar uma palavrinha com você? — me chamou Olivia, minha professora de anatomia descritiva quando chegou na sala para dar aula. Eu me levantei, desci as escadas e fui até ela. Olhares curiosos se viraram para mim, o que me deixou muito vermelha e sem graça.
— Dei sua inscrição para o pessoal encarregado dos estágios e você foi colocada no turno da noite como você preferiu. Já entrarem em contato com você? — eu respondi um não com a cabeça e ela prosseguiu. — Então, você foi designada para cuidar do necrotério das 18h até as 22h, e organizar a papelada de quem entra e sai — ela me disse, consultando seus papéis. Eu fiquei pasma e não respondi nada. Não tinha certeza se
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tinha ouvido direito: ela disse necrotério? Tipo, aquele lugar que ficam as pessoas mortas? Eu deveria cuidar daquele lugar ã noite? Eu?
— Q-Quando eu começo? — perguntei quase aos gaguejos.
— Hoje à noite. Seus horários vão contar como horas extras e será muito bom para o seu currículo. E ainda vai ganhar um dinheiro extra — ela disse sorrindo para mim e eu retribui, só que falsamente. Virei às costas e voltei ao meu lugar, perplexa, e encontrei um Nicholas dormindo e babando em sua cadeira. Bom, pelo menos ele não estava vomitado.
Não consegui prestar atenção no que Olivia falava sem parar para toda a turma. Apenas encarava meu caderno, as palavras que havia escrito ali. Necrotério 18h às 22h. Sabia que aquela era uma ótima oportunidade para mim e agradeço profundamente a Olivia por me notar. Mas necrotérios são assustadores, eles não são retratados nada bem nos filmes de terror. Fiquei toda arrepiada somente em pensar em estar em um lugar assim à noite. Será que os encarregados desses estágios não podiam, sei lá, ligar para mim e perguntar o que eu queria fazer? Ou seria isso um tipo de pegadinha em calouros? Não, Olivia era séria demais e nunca Faria isso com seus alunos.
— O QUÊ? NECROTÉRIO? É SÉRIO? - gritou Lucy no refeitório. Eu assenti e ela soltou uma grande gargalhada. — Isso é demais, eu gostaria de trabalhar em um lugar assim. É tão sombrio e macabro.
— Vamos trocar então — sussurrei encarando minha comida intocada. Quando senti tipo um terremoto ao meu lado, notei que Nicholas havia se juntado a nós, e seu rosto não havia melhorado nada.
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— Meu Deus, o que aconteceu com você? — perguntou Lucy sem rodeios quando viu o estado de Nicholas. Mas ele não respondeu a ela, e se virou para mim com um ar zangado.
— Por que você me deixou na sala de anatomia? Olivia me acordou, nunca fiquei tão envergonhado em toda a minha vida.
— Você estava babando no meu ombro a aula inteira e eu tentei sim te acordar, Nick, mas você só resmungou. Deveria ter pensado duas vezes antes de ter ido naquela sua festinha — eu tentei mesmo acordá-lo, mas ele apenas se virou como se estivesse n.a própria cama. Ele poderia estar zangado comigo, mas eu também estava zangada com ele.
— Tanto faz. A festa foi boa, pelo menos — ele disse rudemente e começou a saborear seu almoço equilibrado em silêncio.
Adivinha, Nick? Brooke vai trabalhar no necrotério dá para acreditar? — Lucy jogou na cara dele. Ele se engasgou com a comida e logo pegou sua Coca-Cola para limpar a garganta. Olhou de mim para Lucy, e como ele percebeu que não estávamos brincando, ele perguntou:
— É sério mesmo? Porque isso é difícil de acreditar sim ele respondeu por final.
— Por que é tão difícil de acreditar, gente? Eu sou uma escola totalmente apta a trabalhar no necrotério da universidade — eu disse de uma maneira triste, que logo Lucy captou.
— Não é isso, Brooke. Não estamos questionando suas habilidades, é só que... bom... é difícil, sabe, a gente imaginar você lã, toda inocente, loira de olhos azuis como um anjo, trabalhando em um necrotério. Seria como
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ver o Nicholas aqui namorando o Connor. Muito estranho e difícil de visualizar — Lucy respondeu por ela e por Nick. Vi que Nick não gostou nada de Lucy ter usado ele e o Connor como exemplo, a expressão dele me fez rir. Mas acho que eles tinham razão, seria esquisito mesmo me ver lá à noite. Não sou uma típica garota que cuidaria de um necrotério. Mas quem seria? Uma garota de cabelos pretos e gótica?
— Apesar de não ter gostado do exemplo, eu concordo com a Lucy.
Ótimo, ambos os meus amigos, e únicos amigos, me achavam estranha em um necrotério, Eu até ficaria chateada se eu mesma não sentisse a mesma coisa. Hoje seria o meu primeiro dia como estagiária e eu já estava morta de medo e ainda era a hora do almoço. Hoje não era um dia bom, não havia de novo dormido bem, a comida que havia recém-ingerido estava dando voltas no meu estômago... acho que iria passar mal.
— Vou ao toalete — avisei a meus amigos e logo segui para o banheiro. Dei um encontrão com Brian, amigo de Danny, enquanto estava distraída, ele era praticamente uma parede. Seus músculos são quase do meu tamanho.
— Epa.
— Desculpe, Brian, estava distraída — falei um pouco envergonhada.
— Tudo bem... Brooke, não é?
— Isso mesmo — eu iria seguir meu caminho para o banheiro porque estava realmente mal, mas queria perguntar algo para Brian. — Ei, Brian, alguma notícia de Danny? — ele franziu a testa com a minha
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pergunta, devia estar pensando quem eu era ou o que eu poderia sentir pelo Danny para estar tão preocupada e à procura de notícias.
— Nada ainda, Brooke, mas se souber de algo eu te assim dito, eu sorri e agradeci. Quase corri para o banheiro quando me dei conta de que não aguentaria segurar o vômito. Eu dei sorte, consegui chegar a tempo e acertei a privada. Eu devia estar doente ou algo assim, minha dor de cabeça havia voltado tão abruptamente que senti uma vontade imensa de botar tudo para fora como se tivesse acabado de sair de uma montanha russa com o estômago cheio.
Na próxima aula não foi somente Nicholas que parecia mal, agora éramos dois. Eu não consegui prestar muita atenção nem pude aproveitar alguma coisa. Quando o sinal tocou, eu fui correndo até meu quarto, botei o travesseiro cm cima do rosto para tapar todas as pessoas rindo e conversando lá fora e caí no sono.
— Brooke, acorde... BROOKE! ouvi alguém gritando meu nome e me sacudindo delicadamente. — Você vai chegar atrasada no seu primeiro dia de trabalho, acorde! — Lucy mandou quando abri meus olhos pequeninos.
— O quê? — perguntei sem entender nada.
—Já são quase 18 horas. Você vai chegar atrasada — ela repetiu e eu me sentei na cama como um flash. Tentei abrir meus olhos ao máximo e comecei a pensar. Levantei-me da cama e fui até o banheiro, enxaguei meu rosto, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto e troquei de blusa. Quando saí, Lucy me observava, preocupada. — O que aconteceu? Quando cheguei aqui esperava encontrar esse lugar vazio, mas em vez
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disso você estava esparramada na cama como se fosse uma defunta — ela falou seriamente, e tudo cm que consegui pensar naquele momento é como eu tinha sorte de ter encontrado uma amiga como a Lucy aqui. Mais sorte ainda de ela ser minha colega de quarto.
— Acho que eu estou doente, mas não é nada de mais, Lucy. Vejo você mais tarde — tentei parecer bem disposta e sorri. Peguei meu casaco e o iPod e saí com o mapa da universidade nas mãos. Era no prédio 6, tinha que correr até lá.
Cheguei ao necrotério ofegante por causa de minha correria, pelo menos havia conseguido chegar uns três minutos antes das 18h. Eu suspirei quando me dei conta de que não estava atrasada no primeiro dia de estágio. Muito obrigada por me acordar, Lucy, te devo uma. Aquele lugar cheirava estranho, muito estranho. Será que iria me acostumar com esse cheiro?
— Ah você deve ser a nova estagiaria — disse um homem de aparentemente uns 40 e poucos anos empurrando uma maca de rodinhas com um corpo morto tapado com um lençol branco. Eu estremeci, mas ele nem notou. — Vá até a recepção e peça a Gabriel o seu crachá e o seu avental — ele disse continuando seu trajeto e entrando em unia porta transparente.
Fui procurar Gabriel como aquele senhor (quase tinha certeza que ele era meu chefe) pediu. Gabriel estava quase dormindo quando cheguei até ele.
— Graças a Deus, achei que você não viria — quase gritou ele, aliviado, quando abriu seus olhos e me viu. Mas antes eu tinha dito um
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“oi” de leve para não assustá-lo. — Aqui está o seu crachá, o jaleco... e essa vai ser a sua mesa daqui para frente. Esse lugar não é tão horrível depois que você acostuma. E, por favor, não pire com os barulhos quando estiver sozinha por aqui, as pessoas sempre acham que existem fantasmas quando estão em um necrotério começou a me explicar Gabriel, e logo percebi que eu ficaria no lugar dele. Ele estava tão feliz e aliviado, não via a hora de sair dali e nunca mais voltar. — A papelada é fácil de fazer, o senhor T vai explicar tudo para você mais tarde. E que mais posso dizer... — ele parou e olhou para todos os cantos para ver se estava se esquecendo de alguma coisa com o dedo no queixo. — Ah, não traga amigos para cá. Alguns estagiários fizeram isso antes de mim e o senhor T pirou e quase os enxotou daqui na base da violência. O senhor T é o seu chefe, a propósito, ele fica aqui à noite também, mas ele fica lá dentro com os defuntos — ele apontou para a direita. Então a parte com os corpos ficava para aquele lado. — E não esquenta, o senhor é gente fina e muito agradável, só não desrespeite as pessoas mortas que, daí sim, ele fica uma fera. Ele até conversa com eles de vez em quando... — Ai, meu Deus, esse garoto não parava de falar um minuto. — E, ah, quando o senhor T te chamar, você vai correndo. Um defunto acabou de chegar, então ele provavelmente vai precisar de você daqui a pouco. E agora eu estou indo. Boa sorte — ele finalmente parou de falar quando me entregou uma caderneta com lacunas para eu preencher com os dados das pessoas falecidas. Fiquei observando Gabriel ir embora... ele estava tão feliz! Será que aquele lugar era tão horrível assim?
Larguei na mesa de Gabriel — ops, agora era minha mesa - o que tinha nas mãos, vesti o jaleco branco e prendi meu crachá com meu nome.
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Quando me virei para pegar a caderneta que havia largado na mesa para ir procurar o senhor T, dei de cara com alguém.
— Ai, meu Deus, Danny, você quase me mata de susto — parei um instante com as mãos no peito, fechei os olhos e respirei fundo. — O que você está fazendo aqui, e por que ninguém sabe onde você está? Está todo mundo morrendo de preocupação.
— Brooke, eu...
— E eu sei que não gostamos um do outro, mas mesmo assim eu fico preocupada com as pessoas. Mesmo com aquelas que eu não me dou muito bem e que me odeiam continuei meu discurso sem nem mesmo escutar o que ele estava tentando dizer.
— VOCÊ MORREU AÍ, CALOURA? VENHA FAZER SEU TRABALHO! — gritou o senhor T da sala onde guardavam os falecidos. Eu peguei minha prancheta e uma caneta e corri até lá com Danny atrás de mim. Será que o senhor T iria ficar bravo? Porque Gabriel acabara de me avisar para NÃO trazer amigos. Mas, tecnicamente, Danny não era meu amigo, e era meu primeiro dia, o senhor T podia não ficar bravo nem nada. — Ah, você está aí — ele disse enquanto eu entrava quase aos tropeços. Naquela sala o cheiro era dez vezes pior do que na recepção, comecei a respirar pela boca e caminhei até onde o senhor T estava.
Ele estava com um pobre garoto aberto na mesa. Não fiquei enjoada nem nada porque eu já havia visto gente morta,em um tour que eu fizera antes de entrar na faculdade. — Anote tudo o que eu disser, certo? — meu chefe perguntou e eu assenti. — Ótimo — ele colocou seus óculos e com as luvas ensanguentadas começou a ler uma ficha. Engraçado... ele nem
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havia se importado com a presença de Danny, que estava a meu lado sem dar um pio. — O nome desse garoto é Danny Jones García, idade, 23 anos, olhos cor de mel, cabelos pretos... — senti meu coração pular mais rápido a cada palavra que ele pronunciava. Quantos Danny ria face da terra podiam ter as mesmas características físicas? Meus olhos caíram no rosto do rapaz morto e olhei para Danny ao meu lado e eu quase comecei a rir.
— Isso é algum tipo de piada? — eu perguntei quase a beira das gargalhadas.
— Não tem nada engraçado na morte de alguém, mocinha — ele disse sério. Eu fiquei vermelha e minha vontade de rir desapareceu.
— Mas é impossível, ele não pode estar morto. Ele está bem aqui no meu... — e quando eu me virei Danny não estava mais ao meu lado. Minha cabeça começou a girar e eu não me senti muito bem.
— Ele não tem um irmão gêmeo, por acaso, tem? — perguntei, mas já sabia a resposta. O que será que estava acontecendo comigo? O que estava acontecendo?
— Você está bem... ah... Brooke? — ele perguntou largando os papéis e caminhou até mim, me chamou pelo nome quando leu meu crachá.
— É só que... eu... não pode ser... eu o conhecia. Pode me dar licença? — perguntei quase a beira do desmaio. Quando ele disse que sim, eu lhe entreguei a prancheta e corri porta afora ã procura do banheiro. Corri pelos corredores cinzentos e assombrosos não acreditando no que eu havia visto naquela mesa. Não podia ser, eu o vi ontem a noite no meu quarto e sem falar que ele tinha acabado de aparecer ao meu lado. Ou eu
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estava imaginando tudo aquilo? Finalmente eu encontrei o banheiro feminino, e era tão pequeno que achei que poderia sufocar. Caminhei até a pia e lavei meu rosto com água gelada.
— Você está bem? — uma voz masculina perguntou, eu soltei um grito e comecei a tremer.
— Esse é o banheiro feminino, você não deveria estar aqui... Danny — sussurrei à beira das lágrimas.
— Desculp... — ele começou a falar, quando me virei para encará-lo.
— O que você está fazendo aqui? Você está morto, Danny, não pode estar aqui. Ai, meu Deus, estou completamente maluca, estou falando com um cara morto — disse levando as mãos pro ar e molhando todo o espelho que havia atrás de mim.
— Olha garota, você acha que eu não sei que estou morto? Eu estou atravessando paredes durante horas e aparentemente ninguém consegue me ver além de você. Você deve ser mesmo muito esquisita — disse ele duramente, mas eu acho que mereci,
— Vi que você não mudou em nada desde que morreu.
— E por que mudaria?
— Fique longe de mim — eu pedi com muita raiva em minha voz, apontando para seu rosto morto. Nunca tinha ficado tão brava com alguém assim antes. E é irônico que somente um fantasma era capaz de me tirar do sério. Não acreditei que tinha acabado de pensar na palavra “fantasma”. Será que eu estou ficando maluca?
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Olhei-me no espelho novamente e tentei parecer apresentável para o senhor T quando voltasse. Fechei os olhos e pensei que ele já devia ter tido uma primeira impressão de mim e que não devia ser nada boa. Que primeiro dia, hein? Tinha esperança de, quando abrisse meus olhos, nada daquilo houvesse realmente acontecido. Que eu somente estava no meu quarto tendo um sonho maluco com uma aparição de Danny... mas quando os reabri, Danny ainda estava ali atrás de mim, encarando-me pelo espelho com um rosto quase que triste e pedindo perdão por tudo de mal que ele algum dia havia feito.
— Por que você ainda está aqui? — murmurei e levei água até meu rosto novamente. — E por que só eu posso vê-lo? — sussurrei tão baixinho que somente eu pude ouvir, mas era esse o meu propósito.
— Pra onde eu posso ir? Ninguém me vê — respondeu ele tristemente e bufando.
— É, mas eu tenho que trabalhar, e ter você lá no meu aio me observando a cada segundo não vai me fazer bem... eu tentei não ficar irritada, afinal ele estava mesmo triste e estava morto. — Depois do trabalho você pode aparecer lá no meu quarto — eu terminei e ele me olhou com um brilho de esperança fora do normal. Ele de algum modo sorriu e fez que sim com a cabeça. Aquele sorriso quase me fez derreter, e depois disso ele desapareceu diante de meus olhos. Pisquei diversas vezes e meus olhos se encheram de lágrimas. Não acreditava que tinha acabado de convidar um Fantasma para meu quarto.
Eu não podia estar gostando de um cara morto, isso não era saudável e com toda a certeza do inundo não era nada normal. Ai, meu
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Deus, talvez eu seja mesmo uma esquisitona, das grandes. Caminhei de volta até a sala dos defuntos e onde o senhor T me esperava preocupado.
— Você está bem mesmo? Porque você não estava nada bem quando saiu daqui correndo — ele me perguntou novamente e eu lhe dei a mesma resposta.
— Estou bem, senhor T. Sério mesmo.
— Ótimo. Agora vamos ao trabalho, não é mesmo, mocinha?
O senhor T pesava os órgãos de Danny na balança ao lado de onde o corpo morto dele descansava. Enquanto ele fazia isso, eu anotava na minha prancheta todos os dados. Toda vez em que olhava para o corpo sem vida de Danny eu sentia um aperto no coração.
— Qual é a causa da morte? — eu perguntei curiosa e também com medo da resposta. Eu conhecia o Danny, eu poderia não gostar dele (eu gostava???), mas eu não suportava a ideia de uma pessoa fazendo mal a uma pessoa que eu conhecia. Ainda mais uma pessoa como o Danny... tão lindo. Mas também ele poderia merecer, quero dizer, ele não era e ainda é grosso e rude com as pessoas? E isso pode tirar algumas pessoas do sério.
— Ele foi estrangulado — o senhor T respondeu mostrando as marcas de mãos no pescoço de Danny. Nesse momento eu senti pena dele... coitado do Danny O que fizeram com você? — Aconteceu ontem por volta das 4 horas da manhã. Ele foi encontrado hoje por volta das 14 horas dentro de uma sala de limpeza da universidade — meus olhos foram para meu chefe ligeiramente, como se ele acabasse de dizer que tinha transado com a minha mãe. Sobressaltei- me porque foi praticamente neste horário que Danny havia aparecido no meu quarto,
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ontem á noite. Será que foi por isso que ele me encarava tão assustado? Porque sabia que estava morto e que eu, Brooke Watson, podia vê-lo?
Eu e o senhor T fizemos os mesmos procedimentos nos rãs corpos seguintes. Fiquei aliviada em saber que não conhecia nenhum deles. Conhecer um dos mortos pessoalmente já era o bastante.
— Qual seu nome? — perguntei ao meu chefe no silêncio que estava começando a me incomodar.
— Ah, eu não disse ainda? — ele perguntou sorrindo, e disse que não com a cabeça. —Bom, meu nome é Troy, Troy Halling, mas pode me chamar de senhor T. Aparentemente os garotos de sua idade gostam de chamar assim. Dizem que Troy é muito infantil, então virou moda — respondeu ele dando um simples sorriso. O senhor T era de fato agradável, como o Gabriel tinha comentado antes de cair fora do necrotério. Ele tinha cabelos castanhos escuros, mas com muitos fios brancos. Vestia aquelas roupas de médico azuis que combinava com seus olhos claros.
— Fico feliz que você está segurando a barra murmurou enquanto carregava um coração com ambas as mãos, de uma mulher idosa. — Muitos começam aqui e não duram nem um dia. Mas estou sentido que você pode cuidar da situação.
— Por quê? Eu praticamente pirei há algumas horas atrás.
— Você passou mal porque conhecia o falecido, é diferente. Muitos começam aqui e vomitam a cada vez que disseco um de nossos amigos aqui. E outros desistem facilmente — agora ele carregava o pâncreas.
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— Não vou desistir — disse firmemente e ele sorriu feliz como um pai orgulhoso.
Quando terminamos o trabalho eu segui para a recepção e encontrei uma senhora com urna cara desagradável andando para lá e para cá. Ela estava nervosa e com os olhos muito vermelhos.
— Posso ajudá-la? — perguntei com uma voz agradável. Acho... q-que sim. Meu s-s-s-sobrinho Danny...está aqui. Eu q-q-q-quero, sabe...me despedir — disse ela aos gaguejos. Meus olhos começaram a brilhar mais que deveriam por conhecê-la em uma circunstância como aquela.
— Claro, senhora...?
— Pode me chamar de Elly.
— Tudo bem, Elly. Pode caminhar comigo — a guiei para a sala onde estava o corpo de Danny. O Sr. T estava lá ao lado do corpo descansando sob um lençol branco que lhe cobria até a cabeça. Quando chegamos em frente à maca, Elly, apesar de não me conhecer, se grudou em meu braço esquerdo, tremendo. Troy olhava para nós duas com um olhar de tristeza.
— Você está pronta? Troy perguntou. Elly demorou a responder por causa das lágrimas que escorriam em seu rosto triste e apavorado.
— S-s-s-s-sim — ela finalmente disse aos gaguejos e apertou mais meu braço. Eu quase gemi de dor, mas foi Elly quem gemeu, quando viu o rosto sem vida do sobrinho. Ela largou meu braço e ficou bem pertinho do rosto de Danny. Sua mão tremia quando a fez o movimento para passá-la
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no rosto pálido e sem vida do sobrinho. Elly desatou a chorar e murmurar: — Tão novo... tão bonito
Quando me dei conta, as lágrimas escorriam em meu rosto e iam parar em meu queixo. Olhei para Troy e vi Danny LO lado dele observando a tia. Seu rosto era de dar pena, eu o abraçaria até o fim de meus dias, se ele estivesse vivo.
— Por favor, diga a ela que eu a amo — ele pediu sem tirar os olhos da tia. Eu limpei as lágrimas que ainda estavam em meu rosto e a garganta.
— Ele te amava muito sra Elly — eu disse quase sussurrando. Qualquer som neste lugar soaria alto demais.
— Você o conhecia? — ela perguntou olhando-me nos olhos.
— Ele era... —parei de repente e olhei para Danny. Ele exibia um sorriso triste em minha direção — ...meu amigo. Ele me contou que a amava muito. — Elly enlaçou meu pescoço com seus braços e me abraçou apertado. O sorriso de Danny agora ia de orelha a orelha. Não sei por que ele estava tão feliz, se fosse eu no lugar dele, choraria sem parar como uma condenada.
Depois de muitas lágrimas Elly foi embora, mas deixou para trás convites e mais convites para eu visitá-la quando possível. Se eu era amiga de Danny, eu era, portanto, amiga dela. Eu não me importei com seu pedido, aliás, fiquei contente de ela pensar em mim como uma das amigas
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de Danny. Assim talvez Danny aparecesse quando eu estivesse por lá e eu poderia mais uma vez dar recados dele para ela.
A cavalaria chegou momentos depois de Elly ter ido embora, e quando eu digo cavalaria eu digo a polícia.
Eles procuravam provas do crime, alguma coisa de útil que levasse ao assassino. O sr. T não conseguiu dar muitas informações além de que ele fora estrangulado e havia pele sob suas unhas. Nada no corpo de Danny revelava algo mais, porém talvez apenas a “pele” pudesse ser o suficiente. O DNA dessa pele poderia ser processado e talvez, se tivéssemos sorte, iria bater com alguém que já tivesse ficha, ou até mesmo com algum suspeito que já tivessem.
O sr.T não conseguiu ficar de boca calada e me envolveu na investigação. Ele contou que eu era amiga de Danny, e logicamente os policiais vieram me fazer algumas perguntas. Como se eu pudesse saber de alguma coisa; Danny me odiava, afinal de contas, até parece que ele me contaria algo da sua vida. Mas como eu tinha, sim, presenciado uma cena esquisita na última vez que eu o vira, achei melhor dar isso para polícia. Poderia ser alguma pista.
— Eu vi Danny discutindo com um dos meus professores. O professor Bradley se não me engano, Sr. Policial.
E foi isso o que eu contei, o policial experiente com muíto gel no cabelo chamado Lewis disse que isso já era algo para seguir em frente. Poderia ser verdade, mas eu duvidava que Bradley tivesse algo a ver com isso, ele poderia ser rígido e um pé no saco, mas a última coisa que ele parecia era um assassino de alunos.
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Poderiam existir n motivos para eu poder ver Danny -agora-com-sobrenome Garcia. Mas estes cinco estavam passando pela minha cabeça diariamente:
1 — Eu estou tendo alucinações.
2 — Tumor dos grandes no meu cérebro.
3 — Eu matei Danny no meu sonambulismo desconhecido e ele está atrás de mim por vingança.
4 — Eu estou completamente pirada, o que faz de mim uma esquisitona de primeira.
5 — Eu estou morrendo. Afinal, muitas pessoas dízem ver espíritos quando estão em seus últimos dias. Vai saber, essas dores de cabeça, cansaço, vômito e outros sintomas poderiam significar que estou doente, e que provavelmente vou morrer.
Esperei Danny pelos próximos dias e nada de ele aparecer, estava começando a ficar nervosa. Por que eu estava nervosa? Por que eu queria vê-lo novamente? Será que ele só estava aqui entre os vivos para dizer à
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tia que a amava? Eu queria pensar que sim, mas eu sentia ali no fundo do meu coração que havia mais na história em relação a Danny. Talvez ele estivesse passando mais tempo perto da tia, observando-a, ou ele podia ter perdido a noção do tempo. Ele estava morto, afinal de contas, tudo pode mudar no outro lado. Odeio, odeio admitir isso, mas eu PRECISAVA vê-lo e isso já estava bem evidente para todos.
— Está procurando alguém.? — perguntou Nicholas, meu lado, na aula de histologia.
— Nope. Ninguém, por quê? — eu sabia o porquê dessa pergunta. Meus olhos ficavam perambulando por toda a sala a procura de Danny. Até a minha esquisitice estava agora visível para todos.
Nicholas estava prestes a dizer algo extremamente maldoso quando Bradley começou a dar sua aula. E todo mundo sabe que quando Bradley começa a falar absolutamente ninguém pode interrompê-lo ou atrapalhá-lo. Fiquei contente por esta interrupção, não queria responder a Nicholas que estava à procura de uma pessoa que todos já sabiam estar morta.
— Eu ainda não consigo acreditar que ele esteja morto disse Lucy no refeitório toda tristonha. — Ele podia não ser um cara totalmente legal, mas ele iluminava esse lugar por ser tão gatinho.
— Por mim, ele está bem onde que está, no fundo daquele cemitério. Esse mundo está melhor por não haver mais uma pessoa idiota e sem noção como ele — confessou Nick bruscamente, o que me deixou muito zangada.
— Como você pode falar isso? Ninguém está melhor morto, Nick. A tia dele está arrasada — eu queria sair correndo para não ouvi-lo mais
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falar, ou até mesmo socar o Nicholas bem aqui na frente de todos por dizer algo tão maldoso.
— Ah, qual é meninas, não...
— Desculpe Nick, mas tenho que concordar com a Brooke — Lucy o interrompeu, deixando-o constrangido.
— Claro que concorda — ele murmurou secamente e se levantou. Jogou a mochila no ombro e caminhou até o lixo com sua bandeja. Depois que jogou fora os restos de comida, ele largou a bandeja quase que furiosamente na mesa das bandejas usadas. Nem olhou para trás quando saiu porta afora do refeitório, parecendo muito bravo conosco. Ou só comigo?
— O que há de errado com ele? — eu perguntei depois que assisti àquela cena.
— Talvez seja ciúme. Você não para de falar no Danny desde que ele morreu.
— Isso não é verdade — respondi boquiaberta.
— É sim, querida — ela confirmou sacudindo sua enorme cabeleira com cachos ruivos. — Danny isso, Danny aquilo. Você adora comentar de quando viu ele morto naquela mesa no necrotério, isso realmente não é agradável. E você sabe, Brooke... Nicholas tem uma grande queda por você. Então, por favor, parede falarem um cara morto e vai se divertir, você está precisando.
— GRAÇAS A DEUS! — eu gritei. Mas eu não estava gritando por causa do que Lucy havia dito, mas porque Danny havia aparecido. Ele
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estava sentado ao lado de Lucy, gargalhando perante minha expressão de felicidade por tê-lo visto. E também porque todos perto de minha mesa no refeitório estavam olhando para mim com olhos curiosos.
— Ahhhh, hummm, graças a Deus alguém está me entendendo. Você leu a minha mente, Lucy. Estou precisando me divertir — eu sussurrei porque as pessoas ainda olhavam para mim com as testas franzidas. Lucy era uma delas, mas, depois do que eu disse, ela pareceu acreditar que eu realmente estivesse falando com ela e não sendo uma maluca que grita no refeitório chamando a atenção de todos.
— Bom. Vou conversar com alguns dos amigos de Danny mais tarde para descobrir se tem alguma festa marcada para esta semana — disse Lucy encarando sua comida. Ainda bem que Lucy não estava prestando atenção em mim, porque meu olhar estava preso na pessoa que estava sentado ao lado dela, E eu sorria sem parar.
— Vai ter uma festa amanhã à noite no quarto do Brian — informou Danny para o que Lucy havia acabado de comentar.
— Vai ter uma festa amanhã à noite no dormitório do Brian — eu repeti o que Danny disse.
— Como você sabe? — perguntou Lucy parando de comer e me encarando.
— Ah, a notícia está correndo por aí.
— Realmente, Brooke, você tem que aprender a mentir melhor — murmurou Danny descansando seus cotovelos na mesa e se inclinando
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para ficar mais perto de mim. Eu Iimpei minha garganta para não rir e tentei não encará-lo.
— Legal, está marcado então — Lucy disse sorridente. Nós duas não íamos a uma festa desde o começo do semestre, então eu podia ver que ela estava animada. — Connor pode estar lá — ela sorriu mais ainda, eu não pude deixar de sorrir também.
— Coitada de Lucy, esse tal de Connor está transando com uma garota qualquer da sala dele. Mas, se serve de consolo, ele tem uma quedinha pela Lucy, afinal, ela é bonitinha — cantarolou Danny parecendo estar com muito tédio. Ele segurava a cabeça com as mãos diante de mim. Ele estava quase tapando a minha visão de Lucy Eu tenho a total certeza de que ela piraria se escutasse Danny dizendo que ela era bonitinha.
— Acho melhor você esquecer esse tal Que tal o Brian? Ele é um cara legal — eu tentei convencer Lucy a tirar Connor totalmente de seu caminho, Ela não merece ficar arrasada por um cara que provavelmente irá quebrar seu coração em milhares de pedacinhos.
— Por quê? Você está tão estranha ultimamente! — Danny riu com o comentário de Lucy, como se estivesse dizendo: Viu, eu disse que você tem que aprender a mentir melhor, Brooke. Eu queria responder para ele que eu nunca menti assim tão descaradamente antes em minha vida. Mas eu acho que teria que me acostumar, porque quem vai acreditar em mim quando eu disser que estou falando com um fantasma?
— Só estou comemorando. Vi Connor com uma menina no outro dia, não queria te contar porque não queria te magoar — acho que essa
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mentira foi até acreditável. Pelo menos Lucy acreditou, enquanto Danny me encarava com um sorriso no rosto.
— Ah, eu não acredito... Bom, mas a gente nem está junto — disse Lucy, mas, depois de pensar seriamente no assunto, continuou: — Acho que você tem razão, Brian parece ser muito legal — admitiu Lucy, terminando sua refeição.
— Na verdade você não tem razão, Brooke, Brian fica com umas dez garotas a cada festa.
— E agora que você me diz isso? — sussurrei de volta para Danny sem olhá-lo.
— O quê, Brooke?
— Nada, apenas me lembrei que tenho que ligar para o Sr.T... vou chegar mais tarde hoje.
— Essa foi até convincente — murmurou Danny quase que orgulhoso — Sabe, Brooke... você é realmente muito, muito bonita. Eu deveria ter ficado com você quando era... — e ele bufou. Ele estava tão perto de mim que agora eu não conseguia mais ver Lucy. Danny estava praticamente em cima da mesa, a centímetros de meu rosto.
— Você está bem, Brooke? Você está muito, vermelha — ouvi Lucy dizer.
— Ahhh... sabe... eu v-v-vou para a aula, estou praticamente atrasada — levantei-me aos trancos e fui caminhando até a porta. Ouvi Lucy gritar:
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— Mas ainda faltam 15 minutos, Brooke
Mas eu segui em frente com Danny a meu lado. Ele acabou de dizer que eu era bonita e isso me deixou sem jeito. Como Lucy disse, eu estava vermelha, eu podia sentir que estava como um tomate. Eu só via Danny rindo em minha visão periférica.
Lembram-se quando eu queria mesmo poder ver Danny novamente? Isso se dissipou no instante que ele começou a falar comigo em público. Eu não podia simplesmente falar com, ele nos corredores da universidade e nem podia pedir que ele calasse a boca. É realmente muito estranho estar caminhando com ele quando de repente as pessoas atravessam ele. Quando eu olho para Danny ele parece estar vivo, nada em sua aparência sugere que ele esteja morto, então é estranho para mim quando vejo as pessoas passando através dele e nem sentirem nada, nem mesmo um arrepio.
— Você deve vestir uma roupa bonita para a festa de amanhã — ele falava e eu claramente não respondia.
— Não quero ser chato, mas já sendo... Você pode vestir sei lá, uma saia curta pra mostrar essas pernas magricelas. Você parece ser uma líder de torcida. Você foi uma, na época da escola? — ele perguntou, mas eu não respondi. Minha paciência estava quase se esgotando quando entrei na sala de aula e sentei em meu lugar de sempre. Nicholas apareceu depois de um tempo.
— Aposto que você foi líder de torcida. Você é loira de olhos azuis, quase todas as líderes de torcida são assim. Mas você é inteligente, pelo
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menos eu acho que é, está cursando medicina afinal de contas... — Danny começou a falar e não parou mais.
— Por que você nunca para de defender o cara morto? Sinceramente Brooke, ele nunca foi um cara decente, ainda mais com você... — Nicholas também começou a falar e não parou mais. Minha cabeça estava prestes a explodir.
— E agora eu começo a pensar, eu nunca vou ser um mé— dico, o que é uma pena porque eu iria salvar tantas vidas...
— O cara não ia nem ser um médico bom, pra começo de conversa. O jeito arrogante dele iria espantar todos os pacientes...
Os dois deviam estar sincronizando suas conversas. Eu estava prestes a explodir a qualquer momento.
— Não gosto desse cara, Brooke; quero dizer, olha para ele. Todo engomadinho, e ainda tem uma queda por você. Ele devia arrumar uma vida ao invés de ficar te perturbando...
— O cara tá morto Brooke, esquece o cara. Eu tô aqui, você sabe, não é?
— Eu não acredito nesse cara. Eu poderia socá-lo, se pudesse — retrucou por fim Danny.
— EU PRECISO SAIR DAQUI - eu gritei já me levantando.
— Aonde você vai, Brooke? A aula nem começou ainda
— perguntou Nick enquanto descia as escadas.
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— Dor de cabeça — gritei quando estava prestes a sair pela porta.
Eu corri para o meu quarto a toda velocidade.
— O que você está fazendo? — perguntou Danny e eu me assustei, e quase esbarrei feio em uma garota. Danny não estava correndo, ele estava apenas flutuando ao meu lado.
Quando cheguei ao meu quarto, largueí minha mochila na cama e fui verificar se Lucy não estava por ali em algum lugar.
— O que você está fazendo, Brooke? Você tem aula, não pode perder. Você quer ser uma boa médica ou não? — enquanto Danny falava, eu fui fechar e trancar a porta do quarto.
— CALE A BOCA! CALE A BOCA! CALE A BOCA, DANNY! — gritei desesperada e irritada. Dei graças a Deus por quase todas as pessoas do alojamento estar em aulas naquele horário, ou então eles iriam acabar me ouvindo e saberiam de fato que eu estava louquinha da silva. — Por favor, apenas cale a boca — sussurrei cansada e sentei em minha cama. O silêncio não durou nem cinco minutos.
— O que foi que eu fiz? — perguntou ele seriamente provavelmente pela primeira vez, mas meu olhar se encontrava no chão e não nele.
— Como vou estudar se você não cala a boca? Como vou prestar atenção em minhas aulas se você não cala a boca? Como vou conversar com meus amigos quando você não CALA A MALDITA BOCA? — gritei por final, agora o encarando.
— Desculpe — ele falou, mas agora eu estava à flor da pele.
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— Você não pode ficar conversando comigo quando estou conversando com outras pessoas. Você sabe que eu não posso olhar e nem conversar com você, Danny. Ninguém pode te ver a não ser eu. Você não está vivo, por favor, lembre-se disso — ele parecia prestar atenção no que eu dizia e até concordou com a cabeça enquanto encarava o chão.
— Vou tentar. Isso é novidade pra mim.
— Pra mim também.
Caminhei até ele, e como ele encarava o chão, e é muito alto, eu entrei no lugar que ele estava encarando, quase encostando nele, até que seus olhos caíram nos meus. Eu queria tocá-lo, mas não podia. Minha mão iria provavelmente passar através dele, como se nada houvesse ali.
— Eu vou para a aula. Encontro-te aqui mais tarde? — sussurrei. Reparei que ele levantou a mão esquerda até meu rosto, mas deteve-se ao pensar que não conseguiria me tocar, assim como eu.
— Claro — ele respondeu depois de segundos de constrangimento.
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Quando voltei para a aula de anatomia descritiva, minha professora Olivia estava passando uma matéria importante para as provas que viriam em breve. Ela olhou para mim quando entrei, mas nada disse. Nós, alunos, podemos agir sob livre e espontânea vontade quando estamos na faculdade, então entrar e sair na sala é algo normal do dia-a-dia, desde que não atrapalhe a aula. Sentei ao lado de Nicholas e tirei o material da mochila para copiar o que Olivia passava no quadro.
— Como você está? — perguntou Nick aos sussurros.
Muito melhor, só fui tomar um remédio — acho que minhas mentiras estão cada vez mais convincentes. Não sei se isso é bom ou ruim. Bom, porque eu poderia mentir em tudo o que dizia a respeito de Danny, como naquele momento, mas ruim quando fosse pega. Um flagra total: espero que isso não aconteça comigo. Afinal, minhas mentiras são pequenas e inofensivas, e somente para o bem de Danny... e está ajudando no meu também. Não queria que me chamassem de maluca e me mandassem para um hospício, onde provavelmente era o meu lugar.
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— Lucy me mandou uma mensagem de texto dizendo que vai ter uma festa amanhã no quarto do Brian — Nick afirmou e eu assenti. — Posso ir?
— Claro que sim, Nick — respondi. Não estava olhando para ele, mas senti um sorriso enorme se formando no seu rosto. Isso era um problema. Quando Nick vai se tocar que não quero nada com ele?
O sinal tocou e eu saí correndo da sala, ouvi Nick gritar alguma coisa para mim, mas não consegui decifrar o que era. Quando abri a porta do meu quarto, Danny estava estendido na minha cama encarando os livros na prateleira. Antes de falar qualquer coisa, eu fui verificar se Lucy estava ali dentro.
— Ela entrou e saiu há alguns minutos. Fale para ela na próxima vez que cantar não significa gritar — ele avísou gentilmente, mas tinha um sorriso no canto de sua boca. Eu achei aquilo extremamente sexy.
— E aí? — disse e sentei á sua frente. Ele me encarou com olhos tristes. — O que está errado?
— Nada. Absolutamente nada, esse é o problema. Eu não faço nada o dia todo. Eu não como, não durmo, não preciso estudar e nem assistir às aulas. Eu observo as pessoas, mas nenhuma delas pode me ver. Queria ler um livro da sua prateleira, mas eu não posso tocar em nada.
O único momento que me sinto vivo e bem é quando estou com você — ele respondeu sentando-se à minha frente de uma maneira que me fez sentir mal. Eu não queria que ele se sentisse miserável em minha não presença.
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— Você sabe por que está aqui? — perguntei aos sussurros.
— Não.
— Você sabe quem te matou?
— Não me lembro de nada a respeito disso, nada mesmo — ele respondeu com uma bufada.
— Você tem alguma ideia quem possa ter tido mágoas Contra você?
— Acho que você anda assistindo muito CSI pro meu gosto, Brooke.
— Estou tentando te ajudar, mas, se você não quer a minha ajuda... — levantei-me da cama.
— Espere — ele pediu, e eu voltei para onde estava.
— Olha, você sabe que eu não sou uma pessoa muito agradável. Eu posso ter tido sim muitas pessoas com ódio de mim — pela primeira vez estávamos tendo uma conversa verdadeira. Sem aquelas porcarias de deboche ou algo do tipo.
— Alguém com ódio o bastante para te matar? — perguntei delicadamente para a conversa não desandar ou o clima mudar.
— Não que eu saiba... espera... roubei as bebidas de uns caras no semestre passado de brincadeira e eles ficaram muito, muito irritados. Eles eram tipo motoqueiros — eu fiquei com os olhos esbugalhados.
— Brincadeira? Ah, Danny conta outra, vai.
— É sério.., até mesmo devolvemos a grafia. Mas o que não sabíamos era que as bebidas eram na verdade um tipo de vinho muito
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raro. Dá pra acreditar? Motoqueiros bebendo vinho.— e ele caiu na gargalhada. Pela primeira vez eu estava vendo-o pela pessoa que ele realmente é/era. Eu dei um sorriso de leve e me aproximei mais de onde ele estava. Assim ficamos a meros centímetros, distância suficiente para podermos nos tocar. — É idiotice, não é? Ficar rindo quando você está morto — ele disse entre o ataque de riso.
— Danny... — sussurrei tristemente e ele percebeu. De repente havia lágrimas escorrendo de meus olhos. Não havia nem notado quando haviam ficado molhados.
— Brooke... — ele pronunciou meu nome tão docemente que poderia jurar que não tinha saído de sua boca. — Por que você disse que eu odiava você? — eu franzi a testa, não entendendo do que ele estava falando. — No necrotério, antes de você saber que eu estava morto. Você disse que estava preocupada, até mesmo achando que eu odiava você.
— Você me odeia. Você deve ter ficado muito decepcionado quando reparou que eu era a inica pessoa com quem podia se comunicar — respondi secando as lágrimas de meu rosto, lágrimas que não paravam mais.
— Pra começo de conversa, eu não te odeio. Como eu poderia te odiar se eu nem mesmo te conheço?
— M-m-m-as você foi t-t-t-ão ruim comigo, eu pensei...
— Eu sou assim com todo mundo. É um mecanismo de defesa, assim, se acontecesse alguma coisa, eu não sentiria nada por ninguém. Eu fiquei completamente arrasado quando meus pais morreram e nunca quis ter aquele sentimento de novo. Então eu comecei a ser rude com as
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pessoas, até mesmo com você. E eu lamento muito sobre isso, você é... uma das razões por que eu queria voltar à vida — encarei-o profundamente quando ele pronunciou essas últimas palavras. — E quando a escuridão tomou conta de mim... eu vi... você. Você me viu, eu achava que estava no céu... vendo uma pessoa tão linda. Mas depois me dei conta de que você estava viva e eu morto — eu queria tanto tocá-lo, sentir sua pele na minha. Ele estava pensando a mesma coisa, pois sua mão esquerda foi até meu rosto e tentou tirar as lágrimas que ainda restavam em meu rosto, fechei meus olhos, mas não senti nada. Quando os reabri queria ver aqueles olhos cor de mel, mas a única coisa que vi foi a minha cama vazia.
— Brooke, o que está errado? — ouvi uma voz feminina, quando virei meu rosto para encará-la, Lucy vinha até mim e sentou em minha frente, tirando as lágrimas que Danny queria ter tirado. — Ah, Brookezinha, me diga — tentou ela novamente tristemente segurando minhas mãos com força, como uma irmã faria.
— É só que... eu queria que ele estivesse vivo sabe? EIIy, a tia dele.., você não a viu, Lucy, ela estava tão desesperada. Nunca vi alguém agir assim antes.
— Ah querida, Danny está em um lugar melhor. E Elly irá ficar bem — ela quis me confortar dando-me um abraço de urso. Se Lucy soubesse que o espírito de Danny ainda estava por aqui ela provavelmente iria surtar. Então decidi deixá-la com sua ilusão sobre onde Danny poderia estar. Coloquei Elly na história para não precisar inventar uma mentira que Danny e eu nos conhecíamos muito antes de ele morrer e que eu queria que ele estivesse vivo ao meu lado.
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Horas mais tarde eu fui para o meu trabalho. Gabriel tinha razão, aquele lugar não era tão ruim depois que você acostuma. Ainda tinha uma pessoa tão boa e carinhosa quanto o Sr. T, que cuidava de tudo por ali. Aquele, porém, era um dia diferente, em que o Sr. T foi resolver alguns assuntos pessoais e eu fiquei sozinha cuidando da recepção até ele chegar. Comecei lendo um livro, mas depois de algumas horas eu decidi escutar música. O barulho naquele lugar estava me apavorando como nunca. Gabriel disse que todo mundo achava que eram fantasmas, mas com a minha experiência eu até podia acreditar no que ele havia dito. Não vi ninguém, por alguma razão eu somente podia ver o fantasma de Danny Garcia.
Enquanto escutava o som do AC/DC, eu organizava toda a papelada da semana anterior. Não era nada difícil, mas o sistema de Gabriel era muito complicado, decidi adotar outro. Então, além de organizar a papelada da última semana, eu também estava organizando todos os papéis de acordo com meu próprio sistema. O Sr. T adorou de como eu estava tomando iniciativas e tentando me adaptar a meu espaço. Depois eu teria que explicar para ele de como tudo aquilo iria funcionar.
Eu estava tão perdida em minha música que não reparei em Danny sentado em minha cadeira. Apenas vi que ele movimentava a boca e eu não estava escutando absolutamente nada por causa da música alta.
— O que você está fazendo? — perguntou ele, depois que removi meus fones de ouvido. A aparência dele nunca muda, nem as roupas, nem nada. A única mudança que eu sempre noto são as suas expressões. Naquele momento, por exemplo, ele estava sorrindo. Nada de sorriso falso, mas um sorriso que estava feliz por estar me vendo. Eu sorri de volta, não
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podia ler seus pensamentos, e ele nem poderia concordar comigo, mas eu estava feliz por ele estar ali.
— Estou, sabe?, só trabalhando. Vai ficar bom no meu currículo.
— Quer ajuda? Você parece estar afogada em papéis — ele retrucou sorrindo.
— Estou ótima, mas obrigado por se oferecer — sorri de volta. Na verdade eu queria que ele me ajudasse, eu realmente estava afogada em papéis. Mas como ele estava morto e não podia tocar em nada, ele não poderia exatamente me ajudar.
— Você pode conversar com outros fantasmas? — perguntou ele enquanto brincava em minha cadeira giratória. Se alguém entrasse ali naquele momento, esse alguém provavelmente iria ficar assustado e nunca mais voltar. Porque, sabe como é... minha cadeira estava girando para o lado esquerdo e direito... como se uma pessoa realmente estivesse ali sentada girando pra lá e pra cá.
— Não. Só vejo você. Por quê? — ele parou muito de repente e olhou para mim como se estivesse surpreso.
— Eu pensei que você falasse mesmo com fantasmas, tipo diariamente. Antes mesmo de eu aparecer — disse ele parando de girar na cadeira.
— Nope. Eu não vejo nadinha, apenas você.
— Isso é estranho... — começou ele seriamente, pensando no assunto. Ele naquele momento parecia estar realmente vivo. Eu sei que eu iria algum dia conversar com ele em público por realmente achar que ele
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estivesse vivo ao meu lado. — Isso me torna especial não é? — perguntou com um ar excitante.
— Acho que sim.
— Então eu sou seu fantasma particular. Deve ser estranho para você — ele estava realmente não sendo rude comigo? Ou eu estou sonhando? Cadê o Danny maldoso e sem caráter?
— Antes era. Você viu como eu pirei quando o vi.
— Achei que você havia pirado por me conhecer, só isso.
— E você se comunica com os outros fantasmas? — perguntei sem ao menos olhar para ele. Meus braços estavam quase cedendo com tantos papéis que segurava para colocar na prateleira correta.
— Eu os vejo, mas não converso com eles. A1guns por alguma razão, estão ensanguentados e com buracos enormes na cabeça ou no estômago. Eu tenho medo de me aproximar deles, apesar de eu já estar morto — eu esperava uma resposta como essa, mas por algum motivo isso me deixou muito inquieta e eu estremeci. Pensei no que Danny acabava de falar. Olhei para ele e reparei nas marcas em seu pescoço, era a maneira que ele morreu. Talvez os fantasmas mantenham a aparência de quando eles morreram. Danny apenas tinha um hematoma no pescoço, enquanto outros tinham buracos de bala e sangue por toda parte. Fiquei feliz nesse momento por somente poder ver Danny.
— Tem algum por aqui agora? — perguntei. Eu já estava assustada, algo a mais em minha cabeça não iria fazer muita diferença.
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— Sim. Há uma senhora de idade que fica batendo a cabeça na parede, por isso esses barulhos que você tanto escuta. E há um homem andando para lá e para cá encarando o chão como se tivesse esperando por alguém na sala da autópsia.
Eu estava errada. Eu estava completamente errada. Eu 1 [quei sim mais apavorada do que antes.
— Você está brincando, não é? Por favor, diga que você está brincando — soei amedrontada. Eu sabia que ele não estava brincando, porque o barulho que ele havia mencionado era a razão por eu ter parado de ler. Pensei que estava relacionado com os dutos de ventilação, mas Gabriel aparentemente estava errado quanto a este lugar não ter fantasmas.
— Calma, eu não vou deixá-los chegarem perto de você — murmurou Danny sentando-se no chão perto de onde agora eu me encontrava. Pelo som em sua voz ele estava apreciando o meu medo. Por quê?
— Você fez isso de propósito agora eu não vou poder entrar mais aqui sem você para me dizer onde os fantasmas estão — joguei na cara dele ao me levantar, ele continuou no chão apenas me observando. Senti que fiquei vermelha quando seus olhos não desgrudavam dos meus, meu coração começou a bater tão desesperadamente como se eu tivesse corrido quilômetros. Quando ele se levantou e parou a centímetros de mim, eu literalmente parei de respirar. Eu não conseguia pensar, eu não conseguia respirar. EU PRECISO DE AR. EU PRECISO QUE ELE ESTEJA VIVO.
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Intensidade: era o que eu sentia. Eu queria derramar minhas lágrimas que estavam prestes a cair como um oceano. Eu não queria acreditar, eu não podia acreditar no que eu estava sentindo. Eu desviei meus olhos de Danny e corri para o banheiro feminino. A ideia de não poder tocar em alguém é insuportável ainda mais quando essa pessoa está a centímetros de você e tudo o que você quer é um simples beijo ou um toque em sua mão. Eu não queria acreditar, mas eu estava, sim, apaixonada por um fantasma. Um fruto proibido, algo que eu nunca vou poder ter por completo. Por que isso estava acontecendo comigo? POR QUÊ?
— Você está bem? — perguntou Danny ao meu lado enquanto estava no banheiro.
— Preciso do meu espaço Danny, meu Deus. Vá embora — pedi tentando parecer irritada, mas soou como eu menos queria que soasse. Magoada uma garota de coração partido.
E isso era tudo o que eu sentiria quando ele atravessasse a luz e se reunisse a seus pais.
Danny respeitou meu desejo e desapareceu. Eu não queria que ele fosse, mas também não queria que ele ficasse. Cada vez que olhava para ele eu sentia algo mais forte se formando dentro de meu coração. Vai ficar tão grande que na hora de se quebrar vai doer ainda mais. Eu não podia mais vê-lo. Eu estava sendo egoísta, sim, afinal, eu era a única que podia vê-lo e ajudá-lo, mas a dor de não tê-lo era uma facada em meu frágil coração. Eu devia fazer alguma coisa, mas eu precisava escolher. Eu poderia guardar para mim mesma toda essa paixão e ajudá-lo o mais
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rápido possível, ou ficar vendo-o pelo resto de minha vida. Acho que a primeira opção seria mais apropriada. Vou guardar meus sentimentos dentro de uma caixa e nunca mais vou abri-la.
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Danny
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Eu sei por que estou aqui, ainda, na terra dos vivos. Eu quero conclusão em meu assassinato, eu quero que minha tia fique bem e saiba o quanto eu a amo. Mas como posso ir embora depois de tudo isso? É claro que eu não quero ficar aqui, eu quero me encontrar com meus pais, onde quer que eles estejam. Mas o que eu estou sentindo agora é uma pressão enorme em meu coração que não bate mais. Não acredito que estou morto, pois estou sentindo o significado do verdadeiro amor. Será que é amor?
Quando eu olho para ela meu mundo acaba. Quando eu olho para ela eu me esqueço que estou morto, na verdade, eu me sinto mais vivo do que alguém possa se sentir. Como eu posso ir embora quando tudo o que eu quero está aqui na terra? Sei que é egoísmo querê-la somente para mim, mas será que não tê-la é pior? Sei que eia sente o mesmo, eu consigo ouvir as batidas de seu coração cada vez mais forte quando eu me aproximo. Sinto a sua decepção quando não consigo tocá-la.
Arrependo-me de tê-la tratado mal naquele dia de madrugada quando acabei dormindo em frente ao seu quarto. Eu agiria de maneira completamente diferente se eu soubesse. Eu a teria beijado se soubesse que nunca mais poderia tocá-la. Eu a quero muito, mas nada podemos fazer para que alguma coisa mude para... melhor.
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A notícia sobre a festa de Brian se espalhou por todo o alojamento . Todo mundo estava falando sobre isso o tempo todo, até os professores avisaram para não chegarmos para a aula no dia seguinte com ressaca. A minha vontade de ir para a festa se extinguiu de uma hora para outra, eu detestava multidões, me sentia como se não conseguisse respirar, mas eu iria fazer esse sacrifício por Lucy, ela estava tão excitada.
— Não sei o que vestir. Essa blusa ou esse vestido? — ela balançava roupas e mais roupas em minha frente há quase uma hora. A festa começaria dentro de 15 minutos e ela ainda estava indecisa. Eu havia chegado do necrotério e me arrumado em minutinhos. Vestia um vestido amarelo um pouco acima dos joelhos, meu cabelo estava solto e eu usava una tiara. Eu não queria me arrumar muito, para mim essa festa não passava de uma perda de tempo.
Enquanto Lucy balançava a blusa rosa pink e o vestido preto sexy, minha cabeça começou a pensar em onde Danny poderia estar. Sei que havia dito que não queria mais vê-lo, mas não saber onde ele estava ou se estava “bem” me deixava frustrada e agoniada. Eu não gostava daquele sentimento, mas talvez assim fosse para o melhor de todos.
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— Terra para Brooke. Por onde você anda? Estou esperando a sua resposta por quase um zilhão de anos e você nem está prestando atenção em mim — disse Lucy ansiosa.
— É claro que estou prestando atenção em você. Só estava pensando... Ah acho melhor você ir com o vestido preto. Vai deixar Connor com ciúmes e Brían excitado — desabafei o que ela queria ouvír.
— Gostei da observação. Então vai ser o preto — a deixei feliz, que bom. Agora a ansiedade dela não estava tão evidente. Lucy pegou todas as coisas que precisaria e levou para o banheiro, eu quase não acreditei quando ouvi a água correr. Nós vamos chegar atrasadas, pensei. Mas acho que em festas desse tipo ninguém realmente se importa.
Como Lucy iria demorar pelo menos mais vinte minutos, eu deitei em minha cama e fiquei encarando a prateleira de livros. Estava me levantando para pegar Romeu e Julieta quando Danny atravessou a porta sem abri-la. Ele estava diferente, parecia que sua pele estava mais pálida que o normal, e sua expressão não era das melhores.
— Você está bem? — perguntei, ainda de pé ao lado da cama, ele na frente de minha porta. A distância era grande, gostaria que tivéssemos mais perto... como se isso fizesse uma grande diferença.
— Tecnicamente eu não estou bem, estou morto — respondeu Danny bruscamente. Sua testa estava franzida, os olhos duros e maldosos. O velho Danny estava de volta. Eu queria conversar, mas como ele estava naquele seu estado estúpido nada disso sairia bem. — Você está bonita — ele sussurrou com olhos quase que doentes, olhando-me de baixo a cima.
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— Espero que se divirta com os garotos da sua idade... e, sabe... fique com algum deles. Você está linda demais para ser desperdiçada.
Aquilo me magoou muito mais que ele poderia imaginar. Eu não iria ficar com ninguém, eu queria ser desperdiçada porque nenhum daqueles caras seria quem eu queria. Além das palavras que ele usou, o tom com que Danny as pronunciou me deixou completamente irritada. Quando me dei conta, eu estava indo rapidamente em sua direção com um olhar matador e o dei um tapa em seu rosto. Na verdade eu tentei dar um tapa em seu rosto, tudo que aconteceu foi minha mão dando um tapa no ar. Eu havia me esquecido que ele estava morto como já pensara que algum dia aconteceria. Ele pareceu triste com o meu feito, nas eu não sabia o motivo. Tudo bem que eu tentei dar um tapa nele, mas ele nem sentiu, para começo de conversa.
Como se não estivesse ruim o bastante, Nicholas ent rou feliz da vida pela porta, dando diretamente comigo. Quando ele me viu parada ali, não se deu conta de que alguma coisa estava errada. E como poderia, se ele estava olhando para meu corpo.
— Você está linda Brooke — Nick disse com um sorriso maior que a cara e me abraçou. Danny não se moveu nem um centímetro, nem mesmo quando Nick passou por dentro dele. Seus olhos não desgrudavam dos meus. Quando Nick me abraçou, ele fez uma cara de nojo como se não pudesse acreditar que Nick podia me tocar e ele não. Eu senti naquele momento que ele poderia desaparecer para sempre e nunca mais voltar para mim. Eu balancei minha cabeça dizendo um não para ele com lágrimas nos olhos, mas ele.., desapareceu.
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— Ah, você já está aí, que bom. Agora podemos ir — ainda bem que Lucy saiu do banheiro naquela hora, fazendo Nick tirar suas mãos e sua atenção de mim para ir abraçá-la. Eu fiquei onde estava, atordoada, encarando o lugar onde Danny havia desaparecido. A mínima vontade de ir para a festa desapareceu em segundos. Queria ficar no meu quarto esperando por ele, eu queria ficar aqui no meu quarto sozinha até que ele aparecesse. Mas isso não aconteceu, Nick e Lucy se engancharam em meus braços e seguimos em frente para o corredor de Brian.
— Você está bem, docinho? Está muito quieta — perguntou Nick, fazendo-me estremecer com a palavra “docinho”
— Estou ótima, Nick — respondi forçando um sorriso falso do qual ele nem desconfiou.
Levamos mais tempo que o normal para encontrar o quarto de Brian e seu colega. Como eles estão no terceiro ano de medicina, o alojamento deles era muito mais longe modo da festa, eu me deparei com garotos bebendo cervejas, garotos beijando garotas, garotas beijando garotas, garotas sem blusa e uma farra que não tinha nada a ver comigo. Lucy, no entanto, adorou o que viu, avistou Brian no fundo do quarto e já foi atrás dele. Eu apenas a observei, Brian ofereceu a ela um copo de cerveja e ela aceitou sem hesitar.
— Ah, meu Deus. Eu conheço aquela garota — resmungou Nick ao meu lado, excitado por conhecer uma garota que parecia ser muito mais velha do que ele. — E ela está olhando para cá — disse ele nervoso.
— Bom, pra mim que ela não está olhando — murmurei para ele. Níck saiu de perto de mim quase como se estivesse hipnotizado pela
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garota ruiva com peitos enormes. Eu pensei em ir embora depois que ele me deixou, mas Lucy não tirava os olhos de mim. Fazia sinais a todo o momento, compartilhando comigo como estava sendo com Brian.
Meia hora se passou e eu me encontrava sentada no chão perto da porta do lado de fora. Apenas reparava em quem entrava e em quem saía, mas a quantidade de gente que entrava dominava a quantidade que saia. Então eu tinha a certeza absoluta de que lá dentro havia uma multidão das grandes, não dando nem para se mexer. Sobressaltei-me quando um garoto de cabelos escuros, olhos escuros e bem arrumadinho saiu aos tropeços do quarto de Brian.
— E aí, gatinha? — ele se sentou ao meu lado, eu podia sentir o bafo de álcool. Eu me distanciei, mas ele se aproximou ainda mais. Ele estava totalmente tomando conta do meu espaço privado. — Meu nome é Aaron, qual o seu? — ele começou a puxar assunto, eu não queria dizer nada, mas como ele estava caindo de bêbado, ele não se lembraria de nada na manhã seguinte mesmo.
— Brooke — respondi apertando a sua mão.
— Então Brooke, porque está aqui fora quando lá dentro está rolando uma festa irada?
— Posso te perguntar a mesma coisa.
— Eu só estou tomando um ar. Tive sorte de encontrar uma gatinha que nem você por aqui.
Eu não disse nada, apenas lhe mandei um sorriso mínimo. Eu queria ficar sozinha, quando ele entrasse, eu provavelmente iria para meu
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quarto. Mas o problema é que Aaron não calava a boca, e estava demonstrando interesse em mim. Deu-me vontade de vomitar.
— Então, você conhecia o garoto que morreu? — perguntei para ele. Já que Aaron queria tanto conversar, teríamos uma conversa da qual eu pudesse tirar algum proveito.
— Ah, o Danny?! Claro que conhecia, o cara era meu colega de quarto. Muitas garotas eram gamadas naquele cara. A morte dele foi uma perda para as garotas — e ele começou a rir, dar gargalhadas na verdade.
— Como ele era? — queria permanecer no assunto.
— Hummm. Danny era odiado por muitas pessoas, principalmente umas garotas que eram apaixonadas por ele, mas para quem ele nunca dava bola. Mas comigo ele era um cara legal, ele me respeitava e eu o respeitava. Acho que devíamos agir assim porque, afinal, éramos colegas de quarto as gargalhadas dele desapareceram e apenas um sorriso falso permaneceu. Ele levou seu copo de cerveja á boca e o tomou tudo em apenas um gole. Quando ele terminou parecia que estava tonto. — Vamos parar de falar naquele cara morto e vamos nos divertir — eu achei que ele iria se levantar para entrar para a festa novamente, mas em vez disso ele virou o rosto e tentou me beijar. Eu consegui virar bem a tempo de os lábios dele não tocarem nos meus, ele acabou beijando minha bochecha.
Quando ele se deu conta de que eu havia virado o rosto, tentou me beijar novamente. Mas dessa vez eu me levantei, o olhar dele estava quase ameaçador, penetrando nos meus enquanto ele mesmo se levantava. Eu tentei dar alguns passos para ir para meu quarto, ou qualquer outro lugar, mas ele segurou meus ombros e me jogou na parede.
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— O que você está fazendo? Sai de perto de mim — eu tentei socá-lo, mas ele segurava meus braços com força, então eu dei um chute em suas canelas. Ele gemeu de dor e me soltou. Eu corri, meu coração saltando no meu peito, tudo que eu queria era chegar a meu quarto e fingir que essa noite nunca havia acontecido.
— Hey, vagabundinha. Não ache que vá escapar tão fácil. Nenhuma garota diz não pra mim — ele gritou atrás de mim enquanto eu corria.
Eu soltei um lamento quando virei o rosto para a frente e comecei a correr mais rápido. A maioria das pessoas ou estavam dormindo ou estavam lá atrás na festa de Brian. Enquanto corria tentava achar a chave que se encontrava cm algum dos bolsos do vestido amarelo que combinava com meus cabelos. Quando cheguei à minha porta eu estava ofegante demais, e meu coração parecia que ia sair através de minha boca. Coloquei a chave na fechadura, eu estava tremendo furiosamente, e a virei. Quando ouvi o estalinho que havia destrancado, Aaron me pegou pelos ombros e me virou para encará-lo.
— Não me toque... ME LARGA! — gritei e me debati para tirá-lo de mim. Consegui lhe dar um tapa e com isso consegui alguns segundos para me virar e abrir minha porta. Ele me empurrou com toda a força quando consegui abrir a porta e caí no chão. As luzes de meu quarto piscavam loucamente, permaneci no chão e recuava enquanto Aaron entrava e se ajoelhou ao meu lado.
— NÃO... não, pare... — ele tentou me beijar novamente e eu fíz de tudo para não deixá-lo tocar em meus lábios. Agora lágrimas escorriam
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descontroladamente enquanto pedia para ele me soltar e o tentava chutar e bater, mas ele era muito forte.
De repente eu avistei Danny ao nosso lado, ele pegou Aaron pelos ombros e o atirou tão longe que ele parou fora da porta de meu quarto. Aaron olhou para todos os lados procurando a pessoa que o havia jogado longe, mas não encontrou ninguém. Sua expressão era de pavor quando olhou para mim enquanto se levantava. As lâmpadas de meu quarto e as do corredor piscavam furiosamente até que estouraram; eu gritei, protegi meu rosto com as mãos e me levantei. A atitude de Danny lembrou à daqueles assassinos quando avistam sua presa, seus olhos vidrados nos de Aaron e seus punhos cerrados. De repente a porta se fechou sozinha, dando um estouro. Aaron não entraria mais ali, disso eu tinha certeza.
— D-Danny — gaguejei. Meus nervos ainda estavam à flor da pele. Quando seu corpo se virou para mim, ele relaxou. Seus punhos não estavam mais cerrados, seus olhos eram amáveis e sua expressão era de pura preocupação. Eu dei passos apressados em sua direção para poder abraçá-lo, mas ele recuou. — Mas... você o tocou. Jogou Aaron pra fora do meu quarto. Eu posso tocar em você agora — eu dei mais alguns passos à frente.
— Não — ele disse decidido, estendendo a mão para eu parar, e eu obedeci. Ficamos parados frente a frente até que o silêncio começou a nos incomodar. — Você está bem? — ele perguntou ainda preocupado. Eu assenti enquanto limpava de meu rosto as lágrimas secas e os cacos de vidro em meus cabelos.
— Sim, estou Ótima. O-o-brigado.
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— Desculpe.
— Pelo quê? — perguntei, curiosa. Ele havia acabado de salvar a minha vida, não tinha nada para se desculpar.
— Pelo Aaron — começou Danny respirando fundo. — Ele costuma ficar violento quando bebe muito, devia ter te avisado. Sinto muito Brooke, eu sinto muito — ele parecia tão arrependido, eu queria abraçá-lo e dizer que estava tudo bem.
— Você não tinha como saber nada disso. Nem que amos nos conhecer naquela festa. Danny, você não tem nada de que se desculpar.
— Mas... eu devia ter dito alguma coisa. Eu tenho que proteger você.., ah, eu vou matá-lo — ele resmungou muito irritado, cerrando seus punhos novamente. Eu tive que sorrir face à ideia de que ele estava todo superprotetor em relação a mim. E isso me fez amá-lo ainda mais.
Enquanto Danny resmungava para si mesmo caminhando para lá e para cá, eu me posicionei em seu caminho, o que quase nos nos fez chocarmos um no outro. Ele deu um passo para trás e eu um para frente, e fiquei na ponta nos pés, assim ficando na altura perfeita de sua boca.
— Eu não sei como fiz aquilo com o Aaron, Brooke. Por favor, não... — ele tentou me convencer, mas eu não queria ouvir. Eu estava a meros centímetros de seus lábios, minha respiração elevada, olhos abertos para ver aquilo realmente acontecer. Danny molhou seus lábios carnudos e eu sabia que ele queria também... mais do que tudo. Mas ele desapareceu.
Eu quis gritar, eu quis espernear, eu faria de tudo para tê-lo de volta.
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Enquanto Lucy ainda estava se divertindo na festa eu limpei os cacos de vidro do chão e peguei minha chave que havia ficado do lado de fora da porta. Tranquei-a e deitei na cama, abraçando as pernas. Fiquei repassando a cena do ataque de novo e de novo em minha cabeça perturbada. Eu não queria pensar naquilo, não mesmo, mas queria descobrir como Danny havia atirado Aaron tão longe. Ele tinha sim tocado em seus ombros e o jogado, eu vi, Danny o tocou.
Se eu descobrisse como Danny conseguiu fazer isso nós poderíamos nos tocar, nem que fosse por alguns minutos. Além de tocar em Aaron, Danny conseguiu estourar as lâmpadas do meu quarto e as do corredor, e sem falar no movimento forte da porta se fechando. Danny estava muito irritado; eu já tinha lido em alguns livros sobre fantasmas que, quando se enfurecem, podem fazer coisas desse tipo.
— Por que voltou? Eu procurei você por toda parte, achei que tinha acontecido alguma coisa — perguntou uma Lucy preocupada ao adentrar a porta.
— Minha cabeça começou a doer e eu voltei pra cá — respondi tentando soar convincente, mas alguma coisa dentro de mim disse para não mentir. Respirei fundo e disse: — É mentira... Eu voltei porque Aaron, o colega de quarto de Danny, me forçou a beijá-lo, e quando eu recusei quis voltar pra cá, mas ele me seguiu... ele tentou... — eu não consegui terminar o que estava dizendo, senti uma vontade terrível de cair em lágrimas. O rosto de Lucy se contorceu em pavor, veio correndo até mim cama e se ajoelhou diante de minha cama.
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— Ah Brooke, ele fez alguma coisa com você? Se sim, eu vou voltar lá agora mesmo e MATAR AQUELE FILHO DA M ÃE! ELE ACHA QUE PODE AGIR ASSIM E FORÇAR AS GAROTAS A FAZEREM O QUE ELE QUER? AH, EU VOU DENUNCIÁ-LO E DEIXAR-LO PELADO NA FRENTE DA FACULDADE TODA. JURO, BROOKEZINHA EU VOU ESGANAR AQUELE CARA! — gritou Lucy, e levantou as mãos para o ar fazendo como se estivesse esganando alguém. A vontade de chorar desapareceu quando ela começou a gritar e gesticular. Eu comecei a rir, na verdade, porque Lucy se importava mesmo comigo e estava disposta a esganar o cara que me tinha me feito mal.
— Não, Lucy, relaxa. Ele não fez nada, portanto não precisa esganar ninguém nem deixar ninguém pelado... — soltei umas risadinhas e ela passou a mão em meus cabelos parecendo muito preocupada.
— Você está bem mesmo? Posso voltar para a festa e sabe... Não, está tudo bem, Dan... hummm, um rapaz conseguiu me salvar. Foi como uma cena de cinema agora eu estava deixando Lucy muito curiosa, vi uma luz extrema brilhar no canto de seus olhos arregalados.
— Que irado! Ah, por que isso não acontece comigo? Eu quero ser salva por um cara bonito. Ele era bonito não era? Tinha que ser bonito, você tem que me mostrar quem ele é no refeitório amanhã.
— Claro que ele é bonito, lindo de morrer é pouco — contei a ela. Eu queria tirar o peso de minha alma e contar sobre Danny para Lucy, mas não queria que ela pensasse que eu era maluca. Agora teria que inventar uma desculpa para o fato de meu salvador não se encontrar nunca no refeitório nem em qualquer outro lugar da faculdade. Lucy não
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iria vê-lo, somente eu conseguia vê-lo. Pensei que dormir naquela noite não seria muito fácil, mas me enganei: estava tão cansada que apaguei rapidamente.
É claro que a notícia de meu incidente já estava circulando pela manhã. Aaron provavelmente contou o acontecido para um amigo confiável, e o amigo confiável contou para outro amigo confiável e assim foi alastrando aquele veneno pelo campus inteiro. Aquela falação toda não era nada boa para Aaron, afinal agora ele era um agressor. Nicholas estava tão irritado com Aaron que ele mal conseguia conter sua raiva no refeitório. Apenas ficou encarando o Aaron durante todo o almoço. Todos olhavam para mim com tristeza e outros se distanciavam quando eu passava como se tivessem medo de ficar perto de mim. A falação não girava apenas em torno do ataque de Aaron, mas também em quem teria me salvado. Falava-se em um tipo de fantasma me protegendo ou então que eu tinha poderes. Eu ria quando Lucy ou Nick comentavam sobre isso, ria tentando parecer convincente, não queria que eles soubessem que alguém estava mesmo me protegendo, e que esse alguém era um fantasma. Então continuei com minha história de que um garoto havia me salvado. Lucy e Nick queriam conhecer o ai rapaz, mas eu sempre dizia que ele não estava no refeitório, que na verdade poderia ser um dos funcionários do alojamento porque parecia ser mais velho.
A história sobre meu fantasma pessoal e os possíveis poderes como Carne, a estranha desapareceram quando outro garoto da turma de Danny foi encontrado morto. A maneira como Vincent foi morto foi igual à de Danny, estava com o Sr. T quando ele realizou a autópsia e indo o
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trabalho. A polícia apareceu lá novamente e eles me perguntaram se eu conhecia aquele rapaz também, mas eu não tinha nada a dizer, pois eu realmente não o conhecia.
Fiquei paranoica quando pensei que veria o fantasma daquele garoto também, mas, depois de dias sem nenhuma aparição, me senti aliviada.
Pouco a pouco, porém, eu ia ficando agoniada: já fazia mais de vinte dias que Danny não aparecia para mim. Ele havia dito claramente que não gostava de ficar em outros lugares, porque não se sentia bem. Será que Danny realmente não se lembrava de seu assassino? Ele poderia estar escondendo este fato para me proteger? Fazia algum sentido, mas ele não poderia fazer nada a respeito dos assassinatos. Gostaria que ele aparecesse para que eu pudesse lhe perguntar se existia alguma possibilidade de Aaron ser o seu assassino. Aaron era seu colega de quarto e teria oportunidade, e eu mesma o vi em ação, e vi a fúria seus olhos quando ele me perseguia pelo alojamento e me aterrorizava. Estava fazendo o possível para prestar atenção nas aulas e estudar para as provas. Mas como poderia me dedicar cem por cento, enquanto houvesse um assassino à solta e um fantasma que não aparecia mais para mim?
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— Qual é, Danny? Eu preciso falar com você, onde você está? — perguntei encarando o teto sobre a minha cama, como se ele pudesse me ouvir lá em cima. Fechei meus olhos depois de segundos sem resposta e respirei fundo. Quando os reabri, Danny estava deitado em minha cama com a mesma roupa de sempre e com um sorriso assustador... mas sexy, tenho que admitir.
— Você consegue me ouvir quando o chamo? — perguntei aos sussurros ignorando o largo sorriso em seu rosto.
— Bem que eu gostaria, mas na verdade não. Foi apenas coincidência — Danny respondeu tirando o sorriso do rosto. Senti como se ele estivesse feliz em outro lugar e, quando apareceu para mim, aquela felicidade houvesse se extinguido. Não gostei daquela sensação.
— Onde você estava todo esse tempo? — sussurrei novamente, e por algum motivo queria manter a minha voz baixa.
— Por aí.
Ficamos nos encarando, sérios. Então, eu me encostei na escrivaninha e ele continuou deitado em minha cama. As respostas dele
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eram diretas e sem emoção, o que me fez sentir tristeza e solidão. Parece que esses dias sem a minha presença o desintoxicaram de sua atração por mim. Eu sentia o mesmo por ele, mas a maneira como ele me encarava naquele momento me deu medo. Medo por ele não me querer mais, medo de ele não aparecer mais para mim.
— Outro garoto foi morto, do mesmo modo que você — consegui dizer com esforço depois de muito tempo. Meu tom não era de felicidade e nem de tristeza. Ele estava se comportando como se não estivesse nem aí para mim, então decidi fazer o mesmo.
— Fiquei sabendo. Rondei por esta faculdade por muito tempo, você não faz ideia do que as pessoas fazer e o que dizem. Estou me divertindo bastante — ele confessou voltando a abrir o sorriso. Então era isso que e estava fazendo este tempo todo, espionando as pessoa Que sutileza.
— Não sabe quem é o assassino? — perguntei, esperançosa. Talvez, se descobrisse o assassino, Danny pudesse encontrar paz e seguir em frente.
— Infelizmente não. Posso estar apenas em um lugar ç cada vez e com toda a certeza ficar espionando garotos que eu não estou fazendo — respondeu ele com um sorris ainda maior. Eu logo vi o que aquele sorriso significava era malandragem, eu podia ver claramente. Então tudo que ele fazia naqueles dias era espionar mulheres, esse, sim, era o Danny que me magoava quando estava vivo. Eu não quis revelar meus sentimentos, mas só de pensar em ele espionando outras garotas me deu nojo e uma grande tristeza. Por que eu poderia imaginar que ele teria olhos
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— Quero que você vá embora — sussurrei lentamente com lágrimas nos olhos. Eu piscava seriamente e olhava para cima mais que deveria. Eu com certeza não deixaria aquelas lágrimas caírem enquanto ele estivesse me encarando. Não queria que ele soubesse que tinha me machucado, mas eu não consegui realizar tal façanha. Ele notou e o sorriso safado do rosto se extinguiu, e então Danny se levantou de minha cama.
— Brooke, não é o que você está pensando. Eu não... — ele foi caminhando em minha direção, mas fui dando passos para trás até minhas costas encontrarem a porta.
— Eu quero que você vá... por favor — murmurei com tristeza e deixei sem querer uma lágrima cair em meu rosto. Eu a enxuguei rapidamente com as costas de minha mão. A expressão de Danny era de puro arrependimento, o que me fez querer chorar ainda mais quando percebi que ele poderia chorar também. Mas eu queria que ele sentisse a minha dor, a minha decepção. Ele caminhou até mim, parou a centímetros de me tocar. Eu quis dar mais passos para trás, mas minhas costas já estavam na porta. Fechei meus olhos para não encarar aqueles olhos cor de mel penetrantes e para não deixar mais lágrimas fugirem de seu esconderijo. Virei meu rosto para a direita e ouvi algo em meu ouvido esquerdo em alto e bom som.
— Desculpe-me — com um tom de dor. Não sei o que esse pedido de desculpas significava. Por ele não poder ficar comigo? Por olhar mulheres nuas aqui e ali durante todos esses dias? Por não saber quem é o assassino? Por me fazer chorar? Eu apenas decidi esquecer aquele momento entre nós quando abri meus olhos e não o encontrei ali, à minha
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frente. Por mais que ele me machucasse, por mais que ele me fizesse chorar, meus sentimentos em relação a ele nunca iam embora. Não sei se isso era bom ou ruim.
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Danny
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Brooke.
Como pode um nome significar tanto? Como pode uma pessoa significar tanto para uma, pessoa como eu? Não falo isso por eu ser um idiota completo, às vezes, mas por eu ser um cara morto que ainda caminha por esta terra à procura de alguma coisa. Tentei ficar distante, fingindo que não me importava, mas é quase impossível. Eu menti para ela, menti para não ficar pior do que já está. A única coisa que eu fiz em meu desaparecimento foi vigiá-la distância, a segurança dela é tão pesada em meu peito que eu sinto que devo protegê-la mais do que uma pessoa normal faria. Eu queria admitir que a amo, mas isso só ornaria tudo mais impossível do que já é.
Meu coração não bate, mas ainda assim eu o sinto batendo dentro de mim quando estou perto dela. Eu sinto seu cheiro doce entrando em minhas narinas e sinto o desespero de não poder tocá-la. Pele contra pele, uma união entre duas pessoas que sentem o mesmo. Eu prefiro que ela me odeie a ferir aquele rosto lindo e sensível por eu não ser como ela me quer... um ser humano vivo. Eu a vejo chorar, chorar por mim, uma alma perdida entre tantas outras que andam por aí. A única coisa que eu posso fazer é ficar parado nas sombras e esperar que tudo aquilo passe e que ela volte a viver sua vida, mas vejo que ela não mais exibe aquele sorriso aberto e maravilhoso e os olhos brilhantes e felizes para ninguém, pois se sente magoada. Tudo o que eu digo a mim mesmo é que ela vai se acostumar com a minha ausência e finalmente vai conseguir seguir em frente, mas tudo piora e se desmorona diante de meus olhos. Minha
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ausência apenas traz mais dor e sofrimento, e tudo o que posso fazer é observar e esperar que esses sentimentos vão embora... mas não vão.
Lucy é uma grande amiga, mas eu nunca notaria sua presença se estivesse vivo. Nunca perceberia que seu rosto gentil é como o de uma irmã amorosa que faria de tudo para ver você feliz novamente. Foi isso que ela fez para a minha Brooke. Lucy não entendeu o porquê daquela tristeza abrupta de Brooke, pensou em inúmeras alternativas, mas nenhuma parecia ser ruim o bastante para deixar sua amiga triste daquela maneira. Brooke não contava a verdade e eu não a culpava, não são muitos os que acreditariam que ela estava vendo o fantasma de um garoto da faculdade que morreu meses antes. O amigo delas, de quem eu não vou muito com a cara, também tentou trazer a animação de Brooke de volta. Mas nada que eles faziam adiantava alguma coisa, Brooke se enterrava nos livros e estudava dia e noite no necrotério. Troy até se acostumou com a presença dela lá depois das aulas, Brooke saindo do necrotério lá pelas 11 horas da noite.
Depois de três semanas, eu decidi que havia cometido um erro, um erro terrível. Fiquei perdido na ideia de voltar para a vida dela e piorar ainda mais a situação. Eu a deixei, com certeza ela não me receberia de braços abertos. Fiquei voando dias a fio pensando em o que faria para que ela voltasse à sua rotina anterior e a ser a amiga simpática que Lucy e Nicholas um dia haviam conhecido. Encontrei Brooke tarde da noite em sua cama, sozinha, com um livro sobre o rosto, enquanto Lucy estava em uma festa no quarto de alguém do segundo andar. Quando limpei a garganta para anunciar a minha presença ela simplesmente levou um susto dos grandes e deixou o livro cair no chão. Quando seus olhos azuis
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como o oceano vieram até mim, vi uma tristeza profunda e não podia acreditar que eu era a causa daquilo.
— O que você está fazendo aqui? Já tinha começado a pensar que você havia sido somente uma alucinação da minha cabeça — disse ela, cruzando os braços e se recostando totalmente nos travesseiros atrás de si. Nenhum sorriso, nenhum tipo de sentimento que aquele rosto angelical gostaria de mostrar.
— Preciso de sua ajuda — murmurei com tom gentil e nada mais.
— E por que você precisaria da minha ajuda? — perguntou ela com um rancor que eu não sabia que poderia existir em uma pessoa tão linda e gentil como ela.
— Eu me lembrei de uma coisa — fiz uma pausa, olhei profundamente em seus olhos e dei três passos em direção à sua cama. Fazendo isso, pude ver as olheiras embaixo de seus olhos perfeitos. Quero descobrir quem me matou! — disse, finalmente. Isso a surpreendeu muito, suas sobrancelhas se elevaram e sua expressão ficou menos rancorosa. Sentei em sua cama e nossos olhos ficaram da mesma altura. — Preciso de sua ajuda — sussurrei.
— Por quê? — sussurrou ela de volta, olhando-me diretamente em meus olhos com uma dor evidente.
— Não posso simplesmente falar com os vivos, posso? — perguntei com um leve sorriso ao qual ela não correspondeu. Ela queria, isso eu sabia, mas não o fez. Ficou sentada, de braços cruzados e pensando no que eu acabara de lhe pedir. Depois de muito tempo ela apenas disse:
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— Não, eu não posso. Eu te odeio — ela respondeu como uma criança emburrada. Como se eu tivesse roubado sua Barbie e agora quisesse brincar com ela novamente. Aquilo me pareceu adorável, para dizer a verdade.
— Eu te odeio mais — retruquei, cruzando meus braços também.
— EU te odeio mais — disse ela, o “eu” bem forte, e se sentou na cama, ficando perto de meu rosto.
— Podemos nos odiar, mas ainda assim preciso de sua ajuda — sussurrei seriamente e com firmeza, e ela pareceu entender.
— Tudo bem, eu te ajudo. Mas me prometa uma coisa... — ela começou decidida e parou por alguns segundos.
— O quê? — perguntei com curiosidade. Ela descruzou os braços e começou a encarar as mãos que estavam sobre suas pernas, pensando seriamente em como dizer o que estava em sua mente.
— Me prometa que... você vai aparecer todos os dias. Que você não vai me deixar sozinha — sussurrou ela em um tom que foi quase inaudível. Eu pensei naquela resposta, pensei nos dias que ela viveu sem mim e em quanto ela perdeu por minha causa. Nada daquilo haveria acontecido se eu não tivesse dado uma de gostosão e dito mentiras deslavadas. Aquelas olheiras, aquela tristeza, aquela solidão, tudo era culpa minha, e quem sou eu para recusar algo que a deixaria feliz. Mesmo eu sendo esse algo que a deixaria feliz?
— Eu prometo — murmurei de volta e ela me olhou surpresa, como se eu fosse ser capaz de dizer “não” para aquele rosto delicado e perfeito.
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Ela deu um sorriso que eu jamais esquecerei e que me iluminou profundamente. Quem um dia iria prever que um fantasma deixaria uma pessoa feliz? E quem um dia iria prever que um fantasma se apaixonaria por uma viva? Isso para mim parecia algo que poderia acontecer em filmes de romance para a grande tela de cinema. Mas agora aqui estou eu, conversando com uma humana viva, enquanto estou morto e usando as mesmas roupas do dia de meu assassinato, meses atrás. Eu devia estar triste, mas eu me recuso a estar triste com a minha morte quando uma pessoa como a Brooke consegue trazer a tona o melhor de mim. Quem poderia ter me matado? Por que eu não me lembrava? E porque eu não lutei de volta? Sou, afinal, um homem corpulento e forte, por assim dizer. Mas uma coisa é certa, eu tenho que proteger minha Brooke enquanto ela estiver me ajudando, Deus me livre se ela encontrar o assassino e ele fizer algo contra ela. Eu morreria pela segunda vez.
Não conseguia acreditar no que Danny havia me pedido. claro que sempre pensei em ajudar a descobrir o seu assassino e em como o assassinato aconteceu, mas Danny nunca tinha pedido assim tão abertamente a minha ajuda. Havia grande determinação em sua voz quando ele o fez, e é por isso que aceitei. Eu sofri quando ele me deixou completamente sozinha por quase um mês. Senti como se meu coração tivesse sido arrancado e nada houvesse em meu peito além de solidão e de uma tristeza aguda. Senti como se o mundo inteiro tivesse desmoronado e eu fosse a única sobrevivente. A única viva entre milhões e milhões de fantasmas. Senti uma pontada de felicidade quando Danny finalmente apareceu depois de tanto tempo caminhando por aí e aprontando por
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todos os cantos, mas também senti urna pontada de raiva por ele ter me deixado. Pedi a ele que fosse embora naquela hora e também que não desaparecesse para sempre. Não sei onde ele estava com a cabeça quando decidiu me deixar sozinha neste mundo.
Posso dizer, no entanto, que algo de bom veio em meio a toda a minha depressão. Em todas as provas e trabalho que fizera nas últimas semanas, eu tirei nota máxima. Estou adiantada em quase todas as matérias por já ter lido tudo o que os professores mandaram ler. Virei uma com completa CDF na ausência de Danny; não que eu antes não o fosse, mas digamos que “piorou” muito depois do desaparecimento dele. Lucy e Nick se esforçaram tanto para me deixarem feliz, mas tudo o que eu via ao olhar para eles era a ausência de Danny a seu lado. Por isso me afastei, decidi que o melhor lugar para ficar era no necrotério, onde tinha somente a Troy e aos defuntos como companhia. Estando lá, eu me sentia mais perto de Danny. Ficava estudando com os barulhos que aquele lugar abrigava, os barulhos que agora sei que de fato são causados por fantasmas que não vejo. Por algum motivo, o único com quem eu conseguia me comunicar era Danny Garcia.
Troy, também conhecido como o Sr. T, me ajudou mais que qualquer outra pessoa. Ele sabia que algo estava errado comigo, mas compreendia que eu não queria falar a respeito e não me pressionava para saber a verdade nem para tentar me animar. Acho que por isso também achei o necrotério mais agradável para mim, eu podia ser eu mesma que ninguém ali presente perguntaria o porquê da minha tristeza e o porquê de toda aquela morbidez. Troy me tratava como a Brooke
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normal de antigamente, enquanto Lucy e Nick lançavam olhares desconfiados a cada minuto que passavam comigo.
Quando Lucy chegou da festa ontem á noite eu não pude mostrar para ela a minha felicidade, mas, pela manhã, estava claramente visível. Enquanto ela estava de ressaca na cama, deitada de bruços, com o braço esquerdo para fora e um balde de segurança a seu lado, eu me aprontava com um sorriso de orelha a orelha.
— Você está completa e inteiramente assustadora — resmungou Lucy ao abrir os olhos e me ver pra lá e pra cá parecendo feliz da vida. Sua voz falhava e nem um músculo de seu corpo conseguia se mexer, como se ela estivesse com uma imensa dor.
— E você parece um gafanhoto morto. Não acredito que você não trocou de roupa ontem à noite, eu consigo ver a calcinha enfiada na sua bunda daqui, sabia?
— Ha-há-há, muito engraçado — soltou ela com um riso falso e voltou a fechar os olhos e a resmungar.
— Estou falando sério, até parece que você não nota — murmurei séria. Lucy estava completamente jogada na cama e usava um vestido muito curto vermelho-vivo, por isso que conseguia ver claramente que sua calcinha preta estava enfiada na bunda e estava... do avesso! — AI, MEU DEUS! — gritei, e isso a fez levantar a cabeça e tirar a cabeleira ruiva encrespada de seu rosto. Ela apertava seus olhos com muita força. e franzia sua testa, parecia mesmo com muita dor de cabeça.
— O que é? Jesus Cristo, você vai acordar todos os pobres coitados que dormem por aí Brookezinha — afirmou ela, agora me encarando
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ainda com a voz falhando. Quando cu não abri a minha boca para dizer o que eu acabava de descobrir, ela se sentou na cama e me encarou ainda mais. — O que aconteceu com você? O diabo não está mais no seu corpo magricelo?
— Que conversa é... Argh nunca teve nenhum diabo no meu corpo, Deus do céu.
— Humm sei. Então ficar como uma zumbi dias a fio é rotina para você? — perguntou Lucy agora passando a mão na cabeça e fazendo uma careta que parecia ser de desconforto. Eu nem pensei em responder à sua pergunta, eu não iria dizer a razão de meus dias sombrios para uma garota de ressaca, mas... quem sabe um dia? Quando ela ne viu cruzando os braços e fazendo uma cara de mãe que pegou a filha no flagra, Lucy olhou para os lados como se procurasse uma saída de emergência.
— Você transou ontem a noite, não foi? — perguntei firmemente, mas com um leve sorriso no canto da boca, algo que fez Lucy ficar mais à vontade e, segundos depois, ela mesma estava sorrindo.
— Como você sabe disso?
— Ah, fala sério. Seu vestido nem está totalmente abotoado atrás e sua calcinha está do avesso. Qualquer pessoa que visse isso saberia!
— Então foi bom que foi você quem viu essa cena e não a minha mãe — disse ela se desatando a rir, mas segundos depois ela parou um pouco por causa da dor de cabeça. — Isso quer dizer que você é você mesma? Ou alguém invadiu seu corpo? Por favor, quero a Brookezinha de volta e não um demônio dentro do corpo dela — Lucy falou isso tão seriamente que pensei que ela tinha mesmo pensado nessa possibilidade.
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Eu desatei a rir e me atirei na cama dela, assim nós duas rimos a beça. Sentamo-nos na posição de indiozinho uma em frente à outra e entrelaçávamos nossas mãos a toda hora, enquanto trocávamos de histórias.
— Então quem foi o felizardo? — perguntei primeiramente.
— Ah, meu Deus, você não vai acreditar, Brookezinha. Está pronta? — ela fez uma pausa e me deu um sorriso maior que qualquer outro. — Foi o Aaron.
— AH-MEU-DEUS! — disse, entre pausas, apavorada.
— Pera aí, deixa eu explicar — começou Lucy pegando em minhas mãos. — Tudo começou quando eu fui até ele na festa e comecei a xingá-lo pelo que ele fez com você. Fiquei “p” da vida quando ele pareceu não se importar. E foi aí que eu comecei a gritar como ele era um cretino dos grandes e um tarado que somente queria atacar as garotas indefesas. Todo mundo na festa percebeu a nossa briga e todos pararam pra escutar, foi embaraçoso pra ele. Eu pensei que ele ia chorar, Brooke. Daí quando ele saiu do quarto da festa eu saí atrás dele porque eu não havia terminado de dizer o que eu tinha em mente. Apesar de eu estar dizendo aquelas coisas horríveis pra ele, Aaron não pareceu estar bravo comigo e nem nada parecido. Depois que disse a ele que era pra pedir desculpas pra você, ele começou a me explicar umas coisas da vida dele. Aaron me contou que ele faz essas besteiras quando bebe muito, que policias já vieram falar com ele por causa com que aconteceu entre vocês dois, e que depois disso ele nunca mais colocou uma gota de álcool na boca. Daí ele começou explicando que o Danny, sabe, o Danny que morreu?... Era ele quem
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segurava a barra quando ele bebia, e agora que Danny está morto, ele estava começando a se descontrolar. Coitadinho dele, Brooke, ele vai pedir desculpas pra você. E sabe... depois nós Fomos para o quarto dele, conversamos quase a noite toda, e Lima coisa levou a outra, e eu tive os melhores orgasmos de toda a minha vida — disse ela sorrindo no final e revirando os olhos como se fosse transportada para outro mundo.
— Nossa... Espero que ele me peça mesmo desculpas — disse por fim. Eu não sou dessas pessoas rancorosas que guardam ódio dos outros para toda a eternidade, mas o que o Aaron fez comigo vai ser difícil de esquecer. Um pedido de desculpas, pelo menos, já seria um grande passo. E a história dele batia com a história que Danny me contou depois do ataque que sofri. Tudo que eu podia imaginar é que Aaron falara a verdade para Lucy; assim espero, porque ela estava muito feliz, apesar de cansada e parecendo um caco.
— E você? O que fez ontem à noite? — perguntou Lucy curiosa.
— Sabe, a mesma coisa de sempre. Estudei até não poder mais e...
— Ah meu Deus, esquecemos que temos aula — quase gritou Lucy enquanto se levantava da cama e começava tirar a roupa bem ali na minha frente.
— Sabe, faltam apenas vinte minutos pra aula acabar — eu a interrompi.
— Se você sabia, por que ficou aqui comigo? Você é mais CDF de toda a universidade. Pensando melhor, você é a mais CDF de todas as pessoas de todo esse planeta e de todos os planetas. Acho que você é mais CDF que todos os alienígenas juntos. Você não é um alienígena, é? —
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perguntou ela enquanto tirava seu vestido e colocava um pijama de ursinhos. Isso era sinal de que não iria sair do quarto o dia todo.
— Quer parar de falar essas coisas? Eu não sou nenhum. ET, nem demônio, nem diabo, nem fantasma, nem zumbi,. nem nada parecido. E eu fiquei com você porque precisava de mim e eu de você. E não fui para aula porque estou adiantada, já entreguei o trabalho de hoje há uma semana, — respondi ainda sentada na cama dela.
— Uma semana atrás? — disse ela franzindo a testa encarando o chão e de repente seu rosto de iluminou, come se tivesse descoberto a resposta de uma grande pergunta, — A-há, já sei: você é um robô!
— Por que você insiste em pensar nessas coisas? Eu sou apenas a Brooke.
— Sem querer ofender, Brookezinha, mas nunca na vida encontrei uma pessoa como você — confessou Lucy enquanto voltava para se sentar a meu lado em sua cama.
— Isso é ruim? Você deve ficar feliz por eu ser diferente das outras pessoas.
— Humm — disse ela desconfiada. — Apenas me prometa que não vai ficar no modo zumbi ligado nunca mais — continuou ela quase com um beiço. Fiquei triste por deixá-la de fora de toda a minha “depressão—Danny”. Lucy era uma ótima amiga e eu fui uma idiota por não notar isso antes.
— Sim, eu prometo — e sorri. Ela me deu um grande e apertado abraço.
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O que continuava na minha cabeça era do quê Danny havia se lembrado. Será que ele se lembrou de algo de seu assassinato? Eu tinha que ajudá-lo com isso, parecia até um dever meu para com ele. Mas por quê?
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— Olha só quem voltou para a terra dos vivos? — perguntou Lucy empolgada como se tivesse acabado de ganhar na loteria.
— Eu estou vendo coisas? É mesmo a Brooke, vivinha da silva? — perguntou Nick levantando-se de seu lugar no refeitório e abriu os braços para mim com um sorriso estampado no rosto. Por que essa agora de ficarem me comparando a zumbis? Eu não estava mordendo ninguém a procura de carne e sangue, eu estava apenas vivendo na minha. Eu até gostava dos filmes de zumbis como Resident Evil e ZombieLand, mas eu não tinha nada a ver com eles, e isso já estava me dando nos nervos.
— Ok, sem mais palavra envolvendo zumbis ou eu bato em vocês — disse, decidida.
— E ela está de volta — Nick disse me apertando em mais um abraço, e eu deixei a irritação de lado e abri o melhor sorriso que tinha para meus amigos. Isso os deixou felizes, e a nossa refeição ficou mais agradável.
Lá estava eu novamente em meu canto no refeitório ao lado de Nick e Lucy. Eu pensava que as coisas haviam mudado, como se os garotos
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tivessem de repente ficado mais maduros, ou as patricinhas tivessem adquirido mais bondade em seus corações, mas não... tudo continuava como quando os deixei. A não ser, é claro, o caso amoroso secreto entre Lucy e Aaron.
Eu pensava que as desculpas de Aaron iriam vir em, sei lá, uma semana, ou no mês que vem, ou talvez até nunca, mas Aaron havia aparecido em nossa mesa no refeitório e sentado ao lado de Lucy. Então ele me encarou. Foi engraçado ver Nick naquela situação, ele franzia a testa de Lucy para Aaron e depois de Aaron para mim. Nick não estava entendendo absolutamente nada daquela situação. E nem as pessoas que estavam sentadas perto de nossa mesa; eu apenas ouvia uns cochichos e olhares em nossa direção.
— Tá legal, o que está havendo? — perguntou Nick decidido.
— Aaron me prometeu que pediria desculpas a Brooke — respondeu Lucy como se estivesse orgulhosa e tivesse feito algo que nenhum outro ser humano poderia algum dia fazer. Eu pensei sinceramente que Aaron estivesse ali na nossa mesa apenas porque havia transado com Lucy, mas... como eu estava errada. Estava? Nick, no entanto, notou algo mais.
— Vocês dois... — ele começou, mas não conseguiu terminar, então achei melhor eu terminar por ele.
— E eles tiveram uma noite especial ontem, que não envolvia roupas.
— BROOKE! — gritou Lucy, mas ela não estava magoada, apenas um pouco envergonhada, somente um pouco.
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— Ah, qual é? O Nick é da turma, ele não se importa em saber das nossas experiências sexuais. Não é, Nick? — me virei para ele, que fez um não com a cabeça. — Viu, Nick é um dos únicos caras maduros desta faculdade — e com isso eu parei meu olhar em Aaron, que me olhava desconfiado, e que finalmente decidiu dizer o que havia ido fazer em nossa mesa.
— Eu sinto muito, Brooke, sério mesmo. O Danny que me tirava das roubadas em que eu entrava, mas agora que se foi eu fiquei perdido. E eu não bebo desde aquela noite, pode confiar em mim. Nunca mais vou levantar a não para uma mulher; portanto, desculpe-me — disse ele envergonhado e passou a encarar a mesa depois de terminar. Lucy passava a mão em suas costas e sussurrava algumas coisas em seu ouvido que nem eu nem Nick podíamos ouvir. Eu podia dizer que fiquei impressionada, Aaron não parecia ser tão ruim, afinal de contas.
— Tudo bem... está quase perdoado. Mas... se fizer uma coisa sequer que faça a minha Lucy chorar, você vai se ver comigo. Vou te fazer coisas das quais você nunca ouviu falar na sua vida. Vou fazê-lo chorar como uma criança e impIorar por ajuda. — Acha que eu fui muito dura? Eu não, homens precisam de uma gelada de vez em quando. Todos na mesa olharam para mim como se eu tivesse dito que iria matar o cara, um silêncio mortal reinou até que ouvi:
— Muito bem, Brooke, estou orgulhosa de você — isso não veio de ninguém da minha mesa, mas de Danny, se encontrava sentado ao meu lado. Eu nem olhei para e apenas disse:
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— Está entendido, Aaron? Se tudo der certo, eu perdoo completamente.
— C-c-claro — respondeu ele de mãos dadas com Lucy.
— Meu Deus, por onde você andou por todo esse tempo? — perguntou Nick, olhando-me com olhos esbugalhados.
— O quê? Estava apenas sendo sincera. Eu trabalho e um necrotério, pelo amor de Deus. Sei de várias ferramentas que vocês nunca ouviram falar — essa foi a minha resposta e eu não deveria ter dito tudo aquilo. Pareceu ainda mais que eu era uma louca assassina, Aaron ainda me encarava com medo, Lucy o reconfortava e Nick... bom, os olhos que ainda estavam esbugalhados. Virei-me para o lado esquerdo e encontrei um Danny sorridente que de repente levantou polegar para mim, claramente mostrando aprovação e que eu tinha todo o controle da situação. Eu revirei os olhos e voltei para minha comida, que ainda estava intocada.
O assunto foi esquecido no ar depois de poucos minuto graças aos deuses, e as nossas conversas foram ficando t pouquinho mais agradáveis. Eu disse um pouquinho.
— Então vocês estão oficialmente namorando? — perguntou Nick. Não sei se o tom dele significava aprovação ou não. Lucy não se importava com o que ele pensava, era a vida dela, afinal de contas. Mas levar uma pessoa para a nossa mesa e para o nosso grupo que alguém não aprovava era algo... ruim? Desrespeitoso? Ainda mais alguém que já havia me agredido. É, ele pediu desculpas e tal, e eu quase aceitei, mas isso não significava que eu ou o Nick iríamos esquecer do assunto assim de uma
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hora para outra. Eu sabia que o Nick pensava o mesmo que eu quanto ao assunto de ele machucar a Lucy, mas acho que não tão macabramente como eu.
— Estamos — respondeu um deles superanimado, e você não vai acreditar qual dos dois. Sim, foi o Aaron que disse isso, feliz da vida, Lucy deve ter feito um ótimo trabalho na cama ontem à noite, porque o cara não tirava os olhos dela, ele estava “amarradão” nela, como diriam certos garotos festeiros. E como eu sei disso? Eu não digo nem que a vaca tussa.
— Que ótimo — murmurou Nick nem um pouco animado, perdeu totalmente o apetite em relação à comida que e encontrava em sua frente.
— Ihhh, Nick não gostou nada disso, mas pode realimpar para ele, Brooke, que Aaron não é tão ruim assim. Quero dizer, quando ele está sóbrio, é um cara legal. Fui colega de quarto do cara, então eu sei que ele vai tratar bem a Lucy... desde que não beba — esse foi o discurso do Danny em relação ao namoro dos dois. Fiquei surpresa que alguém daquela mesa os aprovasse, e esse alguém nem vivo estava.
O sinal tocou antes mesmo de eu dizer o que eu pensava sobre aquilo, mas; eu e Lucy teríamos tempo suficiente para conversar sobre o assunto em nosso quarto compartilhado. Fui andando até minha sala de aula com Danny ao uno lado. Pela primeira vez, ele não falava nada, aquilo foi muito esquisito. Ele SEMPRE tinha algo para falar ou fofocar. Deixei passar, eu não podia simplesmente perguntar a ele o que estava errado na frente de todo mundo sem que me chamassem de louca.
Fiquei surpresa por encontrar policiais em minha sala de aula, eram cinco ao todo. Perguntei a mim mesma o porquê de tantos deles. Eu não
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era a única, todos os alunos de anatomia descritiva estavam em alerta e sussurravam entre si para saber o porquê de tudo aquilo. Minha professora favorita, Olivia, conversava com um deles, e eu tinha certeza de que aquele que conversava com ela era o mesmo que havia me feito perguntas sobre o Danny no necrotério. O nome dele era Lewis, tinha muito gel no cabelo e sua barba havia crescido muito desde a última vez em que eu o vira. Além disso, ele parecia exausto, como alguém que não dormisse há dias, ou até mesmo semanas.
Caminhei com Danny, também surpreso, e sentei em meu lugar habitual. Dali eu pude reparar mais nos policiais que acompanhavam Lewis, que parecia ser o mais velho e mais exausto de todos, parecia o chefe da operação. Os outros policiais não impunham o mesmo respeito que Lewis, uma autoridade de fato. Quando ele começou a falar, todos os presentes fizeram silêncio, todas as centenas de pares de olhos olhavam para o policial Lewis. Eu o olhei, mas por alguns segundos meus olhos se voltaram para Olivia. Ela estava sentada em sua cadeira, encarando a mesa azul clara, o cabelo loiro liso e comprido caía sobre os ombros, e sua expressão era de pura tristeza. Aquilo mexeu comigo, eu sabia que naquele momento a notícia não seria boa. Danny notou meu olhar sobre Olivia, a expressão dela e a minha, e ele entendeu o que eu sentia. Ele pôs sua mão perto da minha, que descansava na mesa, como se me desse um sinal de que estava ali comigo, de que eu não estaria sozinha depois daquele aviso. Isso me acalmou.
— Como vocês bem sabem, assassinatos vêm ocorrendo. Danny Garcia há mais de dois meses, Vincent Gomez há três semanas e agora Gabriel Santiago... — Lewis tentou continuar, mas o murmúrio estava alto
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demais e, além disso, uma garota no fundo da sala começou a chorar. — Ele foi encontrado ontem à noite no campus da universidade assassinado do mesmo modo que Danny e Vincent. Todas as vítimas foram estranguladas e deixadas em algum lugar da universidade. Já é o terceiro caso em menos de três meses, o que nos leva a crer que temos um serial killer perto de nós, pessoal. A única coisa que peço é que tenham cuidado de agora em diante, os garotos principalmente. Tentem sempre estar acompanhados de seus amigos e não fiquem zanzando pela universidade até tarde da noite. A questão é simples: querem permanecer vivos? Nada de festas e de correr riscos, isso é sério. Algumas vidas já foram perdidas, e eu odiaria voltar aqui e encontrar outro colega de vocês morto. — Lewis falava sério, e suas palavras eram assustadoras, o que causou pânico e muita falação, mas ele ainda não havia terminado. — É claro que estamos tomando providências, esses policiais se revezarão e ficarão disponíveis 24 horas por dia. Todos vocês serão interrogados por mim, que sou o encarregado do caso. Não importa quantos mil alunos há nessa faculdade, eu farei de tudo para descobrir onde esses garotos estavam, quem eram seus amigos, que festas frequentavam, em que brigas se envolveram e tudo o que conseguir descobrir com toda a ajuda de vocês. O horário de cada aluno já foi marcado e quem não comparecer receberá uma visita especial minha. Nada de gracinhas crianças... Os horários vão ser postos no mural da sala depois da aula. Tenham um ótimo dia e se cuidem.
E foi assim. Lewis nos meteu um medo tremendo de sair até mesmo da sala de aula sem companhia. Todos nós estávamos lá, parados, petrificados com o aviso de Lewis, até mesmo Olivia que não conseguiu dar mais aula e nos dispensou mais cedo. Mas antes de sairmos, o aviso dos horários foi posto no mural. Todos silenciosos iam até o mural,
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procuravam seu nome, viam o horário e seguiam porta afora. O meu horário estava marcado para o dia seguinte à tarde.
Brooke Watson — 16h35m
Teria que avisar ao Sr. T que talvez chegasse tarde no necrotério.
— Bom, pelo menos eles estão fazendo algo para desvendar meu assassinato — disse Danny quando estávamos em meu quarto. Eu estava estendida em minha cama, pensando sobre tudo aquilo, enquanto Danny caminhava de um lado para o outro, impaciente.
— Não apenas o seu assassinato, mas também o de Vincent e Gabriel.
— Você acha que esse tal de Gabriel é aquele que trabalhava no necrotério antes de você? — perguntou Danny. Eu apenas franzi a testa e fiquei imaginando como ele sabia ue antes de mim existia um tal de Gabriel. E eu comecei a pensar que talvez fosse ele mesmo, mas que esperava que não fosse. Ele foi tão gentil comigo naquele dia, e aparentava estar tão feliz, como se tivesse entrado em férias ou algo do tipo.
— Espero que não. Falarei com Troy sobre isso hoje à noite. Se o corpo de Gabriel tiver chegado até ele, Troy saberá e me dirá a verdade — sussurrei.
Depois de um longo tempo em silêncio, em que pensei que até Danny havia desaparecido, lembrei de uma pergunta que estava me incomodando já havia algum tempo. Levantei minha cabeça e vi que Danny estava sentado em minha cadeira da escrivaninha e me olhava com o olhar perdido.
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— Quero que te perguntar uma coisa — eu disse.
— Manda.
— Promete que não vai ficar bravo?
— Sim — respondeu ele sorrindo. Sentei-me na cama e o encarei.
— Você acha que seria possível... sabe... o Aaron... t-t-ter te... ele não me deixou terminar.
— me matado? — terminou ele, que caiu na gargalhada. Eu não mexi nem um músculo, não achava aquilo nada engraçado. — Qual é, Brooke? Aaron era meu colega de quarto, eu conhecia o cara como a palma da minha mão. Ele não machucaria uma mosca.
— Eu não penso assim, eu acho o que ele fez comigo algo bem sério — e de repente ele notou o quanto eu havia ficado magoada. Aaron podia ser um amigo camarada e tudo mais, com ele, mas Aaron era diferente quando ficava bêbado Danny mesmo disse isso. Então, por que não?
— Desculpe, B...
— Ele teve oportunidade, e, se ele estivesse bêbado poderia ter feito isso sim — interrompi o seu pedido desculpas e continuei com a minha teoria.
— Nisso você pode até ter razão, mas a polícia está procurando um serial killer, Brooke. Você mesma ouviu Aaron dizer que ele não bebe desde o seu ataque.
— Ele pode estar mentindo — continuei decidida.
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— Tudo bem. Mas, se eu não estou enganado, Lucy estava com Aaron ontem à noite. Então ele não poderia ter matado Gabriel — disse Danny ao seu tom normal. Ele não se vangloriou nem mostrou-se rude. E ele tinha razão, queria tanto achar alguém em quem pôr a culpa que eu não estava dando atenção aos fatos. E o fato era que Lucy estava com Aaron no dia anterior à noite. A festa tinha começado lá pelas 22 horas e eles ficaram no quarto de Aaron a mais ou menos umas 4 horas. Lucy notaria se ele tivesse desaparecido.
— Tudo bem — revelei depois de ter pensado na verdade. — E o que você se lembrou quando veio me pedir ajuda? Você ainda não me disse nada sobre isso.
Ele ia responder, mas nós dois ouvimos barulhos e ficamos em alerta. O som não estava vindo do corredor, mas do meu banheiro. Danny e eu nos entreolhamos desconfiados e miramos na porta do banheiro. E de repente duas pessoas saíram de lá.
— Com quem você está falando? — perguntou Lucy aos tropeços enquanto saía do banheiro, com Aaron atrás de si.
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— Ah, humm, no celular — respondi toda atrapalhada
— E cadê seu celular? — perguntou Aaron enquanto abotoava sua camisa xadrez. Aaron podia ser bonito e tudo mais com seu 1,80 metro, com seu cabelo preto perfeito caindo nos olhos e olhos escuros como se fossem pretos, mas eu NÃO queria vê-lo sem camisa.
— Está no meu bolso — respondi. Eu nem sabia se tinha bolsos naquela minha calça jeans, mas eu não iria ser pega no flagra naquela mentira, pelo menos não naquela vez. Eu tinha outra coisa em mente para tirar a atenção de mim.
— O que vocês estão fazendo aqui? Vocês não têm aula? — perguntei, levantando-me e cruzando os braços. Danny por alguma razão não havia desaparecido, ele estava ali comigo, encarando-os, como eu.
— Saímos mais cedo por causa daquele garoto morto. Daniel ou Guilherme, sei lá como era o nome dele — respondeu Aaron. A maneira como ele disse aquilo, sem o mínimo de respeito, deixou-me irritada.
— O nome dele era Gabriel, para sua informação — fiz uma pausa e continuei. — E vocês decidiram que seria melhor transar no banheiro
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por quêêê? — perguntei querendo uma resposta logo de cara, e foi a Lucy quem respondeu.
— Na verdade, Brookezinha, começamos no quarto, mas, quando você entrou falando sozinha, tivemos que continuar no banheiro — eu riria daquela situação, mas eu já estava irritada. Ainda mais quando Danny começou a rir.
— Eu não estava falando sozinha, eu estava no celular. E vocês continuaram transando no banheiro quando eu estava aqui? — os dois acenaram positivamente. — Argh, isso é nojento. Vocês não têm respeito, não? — Danny me lançou um olhar estranho, como se não entendesse do que eu estava falando.
— Como assim, nojento, Brooke? Todo mundo faz... — perguntou Lucy, e eu a interrompi.
— Não estou falando disso, dãã, estou dizendo que vocês poderiam ter parado quando eu entrei. Continuar em outro lugar que estivesse, sei lá, vazio — sei que isso podia parecer estranho, mas eu não gostava de estar em uma parte do quarto enquanto duas pessoas estavam mandando ver no cômodo ao lado, onde eu poderia entrar a qualquer momento. Já peguei duas pessoas no flagra uma vez e foi sinceramente um pesadelo. As pessoas poderiam pelo menos escolher um lugar que exista tranca, não é, para ter mais privacidade?!
— Vamos ter mais cuidado na próxima vez — disse Lucy.
— E, por favor, procurem trancar o lugar em que vocês estão... Entendem? Não quero entrar de repente em meu quarto ou banheiro
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algum dia e ver vocês dois... sabem?! — acho que isso os fez entender o que eu estava tentando dizer todo aquele tempo, inclusive o Danny.
— Não sei por que viemos para o meu quarto, pra começo de conversa, Aaron. Você tem o quarto todo pra você desde que Danny morreu — disse Lucy para Aaron, que assentiu. Foi estranho para Danny ouvir seu nome sair da boca de outra pessoa que não fosse eu, ainda mais com a palavra “morto” na mesma frase. Pude ver a tristeza era seus olhos claros.
Lucy e Aaron decidiram que ainda não haviam terminado o que eles haviam começado na cama de Lucy e no banheiro e saíram porta afora, mas antes eu consegui gritar:
— POR FAVOR, TRANQUEM AS PORTAS! — isso pelo menos fez uma pessoa rir: Danny. —Esqueci totalmente de dizer para terem cuidado — revelei tristemente.
— Se eles trancaram a porta, como você pediu, eles estarão seguros — murmurou Danny, o que me confortou um pouco.
— Então me fale sobre o que você se lembrou ou vou ficar louca se não souber de uma vez. — Danny assentiu e eu me sentei, ele continuou em pé no mesmo lugar.
— Você me viu tendo uma discussão com Bradley unia vez. Eu não me lembro de muitas coisas, mas, às vezes, elas me voltam repentinamente. Estava discutindo com o professor Bradley por causa de um trabalho que eu havia feito. O professor Bradley acreditava em mim, me usava como exemplo nas aulas por ser um bom aluno. Mas quando ele me devolveu um trabalho com nota F, fiquei assustado, pois havia dado
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tudo de mim naquele trabalho. Sabia que algo estava errado, então descobri que alguém trocou o meu trabalho original por um comprado pela internet. O professor Bradley ficou muito de cara comigo, não acreditava que eu havia feito uma coisa daquelas. Disse a verdade a ele, mas ele não acreditou, disse que precisava de provas. O que eu podia fazer? Algum engraçadinho trocou o meu trabalho dedicado por uma cópia barata da internet. Descobri quem foi e decidi confrontá-lo. Não me lembro o que houve depois disso — Danny parecia arrasado depois de me dizer a verdade, O que ele disse depois fez meu coração se despedaçar em milhares de pedacinhos. — Vou ser lembrado por algo que eu jamais fiz. Bradley sempre pensará que eu não era a pessoa que ele pensou que eu era. Um fracassado que copiava os trabalhos da internet.
— Não vou deixar isso acontecer — eu disse sobressaltando-o. Levantei-me da cama e fui até ele. Seus olhos mostravam uma tristeza inconfundível. — Qual é o nome dele? — perguntei aos sussurros. Ele demorou até me dar um nome.
— Foi o Brian — revelou-o quase que envergonhado.
— Seu melhor amigo, Brian? — perguntei surpresa e ele assentiu.
— Ele nunca foi um bom amigo, agora que parei para pensar. Ele somente queria a minha ajuda para se dar bem nas provas e nos trabalhos. Nunca pensei que ele faria urna coisa assim para me prejudicar.
— Você acha que ele poderia te matar? — perguntei, direta. Danny não ficou surpreso com a pergunta, na verdade eu pensei que ele até mesmo a esperava.
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— Eu pensei que ele era meu amigo, me pergunto o que mais ele estava disposto a fazer para me impedir de ser o que eu vim para cá para ser, ou o que ele faria para me impedir de dizer a verdade.
— Ele vai dizer a verdade — eu disse irritada. Danny franziu a testa, mas pareceu entender o que eu estava prestes a fazer. Eu fui até minha porta e a escancarei e depois fui à procura do ex-melhor amigo de Danny.
— Brooke, por favor, não. Conte à policia, mas não vá sozinha até ele — pediu Danny preocupado enquanto eu caminhava até o quarto de Brian com passos apressados. Quando Danny reparou que eu não pararia de maneira alguma, ele tentou me impedir. Ele se pôs na minha frente, mas eu o atravessei.
— Por que fez isso? — sussurrei muito baixo quando o corredor se encontrava vazio.
— Ele pode ser o assassino e te matar, assim como ele me matou — murmurou ele muito perto de meu rosto. Ele estava bravo comigo, ele não queria mesmo que eu fosse até Brian. Mas eu já estava no corredor do quarto de Brian e decidi seguir em frente. — BROOKE! — ele gritou e me seguiu.
A porta do quarto de Brian estava aberta, ou melhor, escancarada. Havia uma meia dúzia de rapazes ali dentro conversando e bebendo cerveja. Quando eu entrei um deles assoviou, o que deixou Danny muito bravo e as luzes começaram a piscar. Eles notaram, um estava prestes a dizer alguma coisa quando eu disse em alto e bom tom:
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— Brian, posso falar com você? — ele assentiu, mas quando vi seus coleguinhas não se mexerem, tive que acrescentar: — Em particular. — Pude ver na expressão de Brian que ele não tinha a mínima ideia sobre o que eu poderia querer falar com ele, mas pelo menos ele notou no meu tom de voz que coisa boa não era. Brian mandou os rapazes saírem em um tom educado, um deles mandou um “boa sorte” para Brian enquanto saiu porta afora e fechou a porta. Brian largou a cerveja e começou a me encarar, enquanto Danny avaliava a situação e a bagunça que era o quarto de Brian.
— O que você quer? — perguntou ele em um tom nada agradável.
— Eu quero que você fale a verdade sobre o trabalho que você roubou de Danny e disse que era seu — eu fui direta e pareci ameaçadora até para mim mesma, de tão séria que a minha voz saiu. Brian ficou petrificado e não soube o que dizer. Depois que eu dei um sorrisinho falso para aliviar a situação, ele relaxou.
— Como você sabe disso? Ninguém sabia a não ser eu e Danny — perguntou ele, interessado.
— Não interessa.
— Eu sabia que ele te achava uma coisinha linda, mas não sabia que vocês dois estavam se encontrando às escondidas.
A historinha de que se odiavam era só para o grande público? — perguntou ele entre risadinhas nervosas.
— Diga a verdade ao professor Bradley ou eu direi à polícia — mais uma vez minha voz saiu sombria, mas eu não liguei naquele momento.
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Queria que ele me levasse a sério, mas a única coisa que ele fazia era sorrir daquele jeito estúpido.
— Uau, você sabe de tudo mesmo, hein?? — de repente a maneira envergonhada que ele exibia em seu rosto se tornou algo sério e assustador. Ele veio até mim tão rápido que nem vi quando seu rosto estava a centímetros do meu. — Como você sabe que eu não sou o assassino? — perguntou ele rispidamente, muito próximo ao meu rosto, de modo que eu podia sentir seu hálito nojento de cerveja. Ele me olhava de uma maneira amedrontadora; eu não sei o que tinha dado em mim, mas eu sabia que ele não era o assassino. Estava fazendo aquilo somente para me intimidar, e a única coisa que eu consegui fazer foi rir na cara dele. Danny não gostou nadinha daquilo; as luzes do quarto piscavam rapidamente.
— Acho melhor você sair daqui agora, Brooke — exigiu Danny do meu lado esquerdo. Eu não o olhava, mas eu tinha a certeza que ele estava irritado e com medo em relação à segurança que eu sentia.
— Você acha que eu sou burra só porque sou loira? Nem em um milhão de anos um frangote que nem você poderia ser um serial killer! — Isso o deixou ainda mais irritado, mas a pose de assassino não estava mais lá. — Agora, eu quero que você vá até o professor Bradley e diga a verdade.
— Nunca vou fazer isso — ele disse rispidamente na minha cara.
— Você vai dizer a verdade ou eu farei você dizer a verdade — eu não era assim tão assustadora, mas quando alguém mexia com as pessoas que eu amava eu ficava uma fera. Brian prendeu seu sorrisinho no rosto
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quando as lâmpadas de seu quarto explodiram, todas as latinhas de cerveja voaram batendo nas paredes, algumas explodiram e outras apenas se abriram, derramando cerveja por todo o chão, a porta do banheiro se fechou sozinha num estouro, enquanto a porta da frente se escancarava. Eu fiquei parada, no mesmo lugar que eu estava, como se tudo aquilo fosse normal para mim. Enquanto isso, Brian protegia sua cabeça com ambas as mãos, como um menino assustado.
— Quando Aaron me disse o que aconteceu com ele eu não acreditei. Você é o quê? Tipo a Carne com poderes mentais? — perguntou Brian, agora assustado, avaliando o estrago que as cervejas haviam feito.
Eu não respondi, apenas fui até onde ele estava e agarrei seu braço esquerdo, o que o deixou ainda mais assustado do que antes. Eu era muito menor do que Brian, tinha míseros um metro e cinquenta e poucos e Brian tinha lá seus quase 1,80 metro e ainda sim era eu quem estava segurando seu braço e o ameaçando. Nós estávamos quase ultrapassando a porta aberta quando Danny me chamou.
— Brooke, leve isso.
Eu me virei na direção em que Danny estava apontando, ainda segurando o pulso de Brian. Minha mão era tão pequena que eu mal conseguia segurar seu imenso braço malhado. Peguei o trabalho que apresentava um belo A+ com caneta vermelha sobre a escrivaninha e levei comigo. Brian me olhou com mais pavor quando viu que eu o havia encontrado.
— Mas como foi que você...
— Cale a boca — eu disse e segui em frente.
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Eu ia caminhando com passos largos pela faculdade segurando fortemente o braço de Brian, enquanto todos os olhos passavam de mim para ele, como se eu estivesse prestes a matá-lo. Danny sorria ao meu lado, sem nada dizer. Eu queria rir com ele, mas aquela não era a hora para isso. Brian já pensava que eu era a Carne, a estranha, e eu não queria mais nenhuma maluquice vinculada a meu nome.
— Se contar urna palavra sobre o que aconteceu em seu quarto eu vou fazer você perder a memória, inclusive tudo que aprendeu sobre medicina. Terá que aprender tudo de novo. Você quer isso? — perguntei enquanto caminhávamos rapidamente.
— N-n-n-ão. Por favor, não faça isso.
— Isso só depende de você — eu decidi usar contra Brian o que ele mais temia. Danny disse que Brian queria ser um ótimo médico e que queria ser o melhor da classe, por isso quis tirar Danny daquela competição. Danny estava prestes a dizer algo muito inteligente e engraçado para mim quando chegamos aonde eu queria: a sala dos professores.
Eu dei uma batidinha leve na porta e segui até o professor Bradley, que se encontrava sentado a urna mesa redonda, corrigindo trabalhos Olivia, Ben e outros dois professores que eu desconhecia estavam na sala. O cômodo não era muito grande, no total havia seis mesas redondas verdes e uma mesa retangular com guloseimas e o cafezinho. O clima da sala não era completamente triste, mas havia, sim, um clima pesado. Quando entrei apressadamente, quase todas as cabeças se viraram para
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mim e para Brian. Joguei o trabalho verdadeiro de Danny na frente de Bradley e com isso eu chamei a atenção de todos os presentes na sala.
— Mas que diabos...? — anunciou Bradley tirando os óculos de leitura e encarando a mim e a Brian com olhos irritados, exigindo uma explicação. Eu finalmente larguei i o pulso de Brian, que começou a massageá-lo. Olivia me fitava com um olhar confuso.
— Diga a verdade — eu disse, apontando para o trabalho na frente de Bradley, soando muito irritada. Brian fez cara feia para mim, eu cruzei os braços o encarei até que ele começou a falar. Enquanto tudo isso acontecia, Danny estava sempre ao meu lado. O que me deixou feliz.
— Tudo bem, Deus do céu — começou Brian, e todos os presentes na sala dos professores olhavam para ele confusos e ansiosos. — Danny Garcia não tirou aquela cópia da internet, eu fiz aquilo porque roubei o trabalho dele e coloquei o meu nome. Eu estava precisando de uma nota boa na sua matéria, professor Bradley, e ele estava tão bem nas notas.., então eu fiz isso. — Brian bufou depois que revelou a verdade, como se um grande peso tivesse sido tirado de suas costas. O senhor Bradley, assim como todos os outros professores, encaravam Brian com decepção. Depois que Bradley olhou de Brian para mim, ele pôs seus óculos para ler e começou a folhar o trabalho que devia ter no mínimo umas duzentas páginas.
— Eu sabia que você não era inteligente o bastante para Fazer isso. Este trabalho aqui é uma obra prima — disse Bradley levantando o trabalho sobre DNA de Danny para todos os presentes verem. Danny sorriu, eu sabia que ele estava Feliz da vida por Bradley estar elogiando o
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seu trabalho para todos, ainda mais por ter tirado a nota mais alta. Brian tentou se virar para sair da sala, mas eu o impedi.
— Não tão rápido — eu disse, pegando em seu pulso novamente. — Você teve alguma coisa a ver com a morte de Danny e dos outros garotos? — perguntei, e ele esbugalhou os olhos.
— É claro que não, mas por que eu... — não o deixei terminar, dei-lhe um tapa na nuca que fez seus cabelos loiros escuros se emaranharem. Brian apenas soltou um “Eí!” e começou a passar a mão na nuca.
— Brooke — pediu Olivia depois de meu tapa com um olhar de “Pare”.
— Ele é um idiota — eu disse como se fosse a coisa niais lógica na face da terra.
— Mesmo assim, deixe-o falar — ela me lançou um meio sorriso, ela concordava comigo. Isso fez com que eu me sentisse menos mal em relação ao tapa.
— É claro que não matei nem o Danny nem os outros — Brian disse. E é claro que eu pensei que ele criaria uma longa defesa em sua pessoa, mas isso somente foi tudo o que saiu de sua boca.
— Ele me ameaçou no quarto dele! Quando Danny descobriu a verdade sobre o que ele havia feito, Danny foi falar com ele, mas nunca mais voltou — eu contei aos professores, mais diretamente para Bradley e Olivia. Houve um grande silêncio na sala até que Brian decidiu abrir a boca.
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— Ele veio conversar comigo sim, mas, quando ele saiu, estava vivinho da silva tá legal?!
Eu revirei os olhos e cruzei meus braços.
— Como você sabe disso, Brooke? — perguntou Olivia surpresa, e eu já estava esperando que essa pergunta pudesse surgir. Então não fiquei surpresa nem apavorada por mentir.
— Danny e eu estávamos namorando. Ele me disse que Brian havia pego o trabalho dele, que iria confrontá-lo, mas depois dessa conversa ele nao apareceu mais — eu disse como uma namorada atordoada pela morte de seu namorado. Tinha até lágrimas nos meus olhos, e Danny me olhava impressionado.
— Por que não contou e nos trouxe a verdade antes? — continuou Olivia com as perguntas.
— Porque achei que esse idiota aí iria criar coragem ser homem o suficiente para contar a verdade — e foi aí que eu comecei a chorar. Olivia se levantou da mesa redonda, foi até mim e me abraçou. Sussurrou coisas gentis em meu ouvido e me levou até o sofá azul escuro que eu nem havia reparado que havia no canto esquerdo da sala. Foi aí que eu percebi que Lewis estava parado na porta atrás de nós, observando toda aquela cena.
— Venha comigo, meu filho — pediu Lewis para Brian.
— Mas eu não fiz nada — insistiu Brian levando as mãos para cima, como se alguém tivesse dito para ele erguer as mãos em vista e se ajoelhar.
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— É só uma conversa, filho, vamos — Brian cedeu e Ioi com o policial Lewis. Os professores encaravam a situação como se nunca houvessem deparado com isso antes, mas eu acho que a maioria ali nunca tinha sequer conversado com um policial.
Eu fiquei no sofá com Olivia, ela me passou um café bem quente e me envolveu com seus braços gentis. Eu não sabia dizer naquela hora a expressão maravilhosa que Danny revelava, lá no meio da sala, com os braços cruzados, seus olhos brilhando e um sorriso imenso estampado no rosto, me olhando. Pensei que ele desapareceria como todas às vezes, mas não, ele continuou ali, me esperando até que eu decidisse ir para meu quarto.
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—Você foi absolutamente incrível — Danny disse, enquanto estávamos sentados na cama em meu quarto. Mas antes, é claro, eu já havia verificado se Lucy e Aaron não estavam aqui ou ali fazendo Deus sabe o que. — Desde o momento em que eu fiz aquelas coisas explodirem no quarto de Aaron você lidou muito bem a situação — confessou ele sorridente.
— Ah, qual é, Danny? Eu fui demais desde o momento em que eu pisei no quarto de Brian. Foi você que amarelou quando ele veio pra cima de mim com cara de mal — eu disse entre gargalhadas.
— Tudo bem, você venceu. Mas eu não acredito que você levou o crédito pelas coisas que eu fiz no apartamento de Brian.
— Pois é, me desculpe sobre isso — disse sentindo-me envergonhada.
— Por quê? Não se desculpe, eu achei aquilo o máximo. Na verdade, sou eu que tenho que me desculpar por Perdei o controle daquela maneira. Eu não suporto a ideia de alguém lhe fazendo mal, isso... acaba comigo — ele confessou no final, aos sussurros.
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— Quer saber a verdade? — eu perguntei e ele assentiu, indo sentar-se mais próximo de mim. — Eu sei que vai soar totalmente retardado o que vou dizer, mas ahh, eu nem importo mais. Quando... você faz aquelas coisas para me proteger... eu me sinto amada... por você — sussurrei. Não me importava mais se ele não sentia o mesmo em relação mim, eu apenas queria que ele soubesse.
Danny não disse nada, apenas se ajeitou na cama e ficou de frente para mim. Ele encarou a maneira que o meu cabelo caía sobre meu rosto, olhou profundamente nos meus olho e por fim para a minha boca. Desviou o olhar de tudo o que era meu e limpou a garganta.
— Eu beijaria você, se pudesse — isso soou como um facada em meu coração. Ele finalmente estava admitindo que sentia algo por mim?! E aquilo não importava, de qualquer maneira, porque, no final das contas, não podíamos ficar juntos.
Eu me ajoelhei diante dele e cheguei pertinho de sua boca. Ele recuou.
— Você tocou no Aaron quando estava com muita raiva então talvez isso possa acontecer de novo — e eu tentei beijá-lo mais uma vez.
— NÃO, BROOKE! - gritou Danny, e saiu de minha cama e de perto de mim. Eu só o tinha visto assim uma vez. E foi quando ele estava bravo com Aaron. Enquanto ele falava, ou melhor, gritava comigo, eu levantei-me de minha cama e fui caminhando até ele, e ele sempre ia recuando. — VOCÊ ACHA QUE EU GOSTO DE ME AFASTAR DE VOCÊ? EU QUERO TOCAR EM VOCÊ, EU QUERO TE BEIJAR. MAS NÓS NÃO PODEMOS, BROOKE, POR FAVOR, ENTENDA ISSO. EU TE AMO, MAS SINCERAMENTE
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EU NÃO POSSO FICAR COM VOCÊ TODOS OS DIAS SE VOCÊ FICAR ME ATACANDO DE MINUTO A MINUTO! - Uma pessoa normal teria parado para recuperar o fôlego, mas Danny disse tudo isso sem precisar pegar mais um pouco e ar. Ele está morto Brooke, ele não respira.
— O que você disse? — parei de segui-lo e perguntei com olhos arregalados. Ele me encarou e parou para pensar em o que eu queria saber, ou melhor, em eu querer que ele repetisse. Por um momento, eu pensei que havia imaginado aquelas três palavras e sete letras, mas de repente:
— Eu te amo — saiu de sua boca, de uma maneira tão doce que eu podia até chorar.
— Você está falando sério? — perguntei aos sussurros. Dessa vez foi ele que veio até mim e disse:
— Eu te amo tanto que morreria novamente por você — eu queria dizer aquelas palavras para ele também, mas ele me interrompeu antes que eu pudesse me mexer. — Eu te prometi que sempre ficaria ao seu lado, mas você tem que me prometer que não ‘vai tentar me tocar novamente. — Eu tentei falar, mas hesitei. Ele continuou: — Por favor, Brooke. Eu não suporto quando você se aproxima e eu tenho que recuar. Eu NÃO quero recuar, eu quero que você saiba disso. Eu quero você. — As palavras sinceras e nada rudes que saíam de sua boca faziam meus joelhos tremerem e meu coração pular de alegria. Para mim, ouvir aquelas palavras eram melhor que poder tocá-lo. Então foi por isso que eu sussurrei:
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— Eu prometo — ele sorriu, e eu não pude deixar de fazer a mesma coisa.
— E você está atrasada — ele anunciou. Eu estava tão perdida naquele rosto divinamente perfeito que nem juntei as pecinhas de minha vida.
— O quê?
— Você está atrasada, Brooke. Para seu estágio no necrotério.
— Oh — por mais que eu sabia o que aquelas palavras poderiam significar, eu ainda estava esperando palavras profundas de amor. Mas que bobagem, a minha.
— Eu te espero aqui — Danny disse e eu não entendi, ele reparou na minha testa franzida, então esclareceu mais as coisas. — Há um serial killer por aí, e você espera que eu deixe você caminhar por este campus sozinha?
— Mas ele só mata garotos! — eu disse sorrindo, enquanto abria meu guarda-roupa e procurava algo para vestir.
— Isso não vai me impedir — então ele me deu uma piscadela e eu sorri ainda mais. Que garota não ficaria feliz em ter aquele garoto que ela ama a seguir em todos os lugares somente para deixá-la mais segura? Quanto mais tempo com Danny eu tivesse, mais feliz eu estaria.
Eu me troquei rapidamente porque obviamente eu estava atrasada, nem havia me lembrado que tinha estágio hoje à noite. O que era difícil, porque eu tinha TODOS os dias a noite estágio no necrotério da Universidade, exceto sábados e domingos. Mas a gente pode se esquecer
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das coisas ligeiramente quando a pessoa que você está apaixonada diz que te ama... Eu disse pessoa? Eu quis dizei’ Fantasma, você está me entendendo, não é? É algo muito rápido e simples de se entender. Garota está apaixonada por um fantasma, o fantasma está apaixonado pela garota. O resultado disso tudo? Eu não sei, ainda estou tentando descobrir como tudo vai se resolver. Ou eu sou burra o suficiente em pensar que um dia tudo vai se resolver. Mas eu sou uma das pessoas que gostam de pensar que tudo acontece por uma razão, Danny apareceu a mim, portanto, EU SEI que algo bom tem que sair disso.
Danny me acompanhou até o necrotério, até ficou me esperando no lado de fora da porta transparente da sala de autópsias. Ele olhava para dentro de hora em hora para se certificar de que eu ainda estava viva e bem. O que para mim pareceu a coisa mais doce que um rapaz jamais havia lito por mim, se bem que, por outro lado, dentro daquela sala havia apenas Troy, eu e os defuntos. Então eu sabia que nada ali dentro poderia acontecer, eu conhecia demais o Sr. T para descartá-lo como o serial killer que os policiais estavam procurando. A sala de autopsia apenas possuía uma entrada e uma saída, e isso Danny estava cuidando para mim e para o Sr. T, embora ele não soubesse.
— Sr.T? — disse seu nome quando ele descobria a causa da morte de um homem de aproximadamente 30 anos.
— Hum? — ele resmungou sem olhar para mim, e decidi seguir em frente.
— O tal Gabriel que foi assassinado pelo serial killer do campus... era o Gabriel que trabalhava aqui antes de mim? — perguntei e Troy
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parecia que não havia me escutado, ou que não queria me responder. Pensei que seria a segunda alternativa, ele não era surdo, afinal de contas.
— Infelizmente sim, querida — murmurou ele docemente e com um olhar triste. — Não sei quem poderia estar matando esses garotos saudáveis e inteligentes. Um desperdício para a medicina moderna — ele continuou com aquele tom de dar dó. Troy, no decorrer dos dias e meses, tinha se tornado quase uma espécie de segundo pai para mim, ou, se não fosse isso, um bom amigo no ambiente de trabalho. Eu apreciava a companhia dele tanto quanto a de Lucy. Ele era viúvo e seu filho já era um homem feito, que vivia com esposa e filhos, então Troy passava a maior parte do tempo cuidando do necrotério e falando com os mortos, literalmente.
— Ele estava tão feliz quando saiu daqui... Lembro-me de ter pensado que este lugar não era tão agradável, vendo a reação dele...
Mais uma vez Troy ficou em silêncio, e minutos depois retomou a conversa:
— Gabriel estava feliz quando saiu porque iria passar um tempo com seus pais. Ele não os via há uns bons três anos... eles moravam longe daqui, sabe, e os pais não podiam vir nem ele podia ir.
E novamente pensei no rosto feliz de Gabriel ao atravessar as portas para ir embora. No momento em que ele estava livre para rever seus pais. Relembrar aquela cena me doeu o coração, e, assim como Troy, eu comecei a pensar em poderia matar esses garotos tão inteligentes e felizes. Foi nesse momento que senti uma raiva tremenda do tal seriaI killer, eu mesma queria procurá-lo e levá-lo para a delegacia. Minha ansiedade de
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saber a verdade era tanta que sentia que poderia fazer de tudo para desvendar esse mistério. Enquanto eu observava o Sr.T mexendo nos órgãos ele homem na mesa de autópsias, disse a mim mesma e faria de tudo para descobrir o assassino daqueles garotos, o assassino do meu Danny. Como ele ousou tirar essa pessoa de mim? E eu disse “ele” porque as chances de uma mulher ser uma serial killer são mínimas, ou pelo menos é o e dizem as pesquisas. Além disso, você tem que encarar os fatos. Eu sou uma defensora das mulheres, mas será que alguma mulher seria capaz de assassinar três garotos superfortes que malhavam quase todos os dias e enforca-los com as próprias mãos? Não são todas as mulheres que conseguiriam tal feito.
Danny me acompanhou do necrotério até meu quarto, depois de meu turno. Ele ficou atento a todas as pessoas que passavam por nós e todos os barulhos que nos cercavam. Por mais medo que eu sentisse de encontrar o assassino, única coisa em que eu pensava enquanto caminhava ao lado de Danny era encontrá-lo em flagrante e descobrir quem ele era.
A noite passava rapidamente e eu estava morta de cansaço. Amanhã seria a minha entrevista com Lewis na delegacia, e eu pretendia responder as perguntas com toda sinceridade, mas também pretendia levar alguma informação de volta para meu quarto. Nem que isso significasse que ter que roubar o dossiê do assassinato de Danny e dos outros garotos.
— Boa noite — disse Danny, quando eu já me encontrava quentinha na cama e prestes a desmaiar de tanto sono.
— Boa noite — resmunguei.
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— Boa noite, Brooke — disse Lucy. A minha intenção era dar aquele boa-noite para Danny, já que eu havia dado boa-noite para Lucy momentos antes. O que pareceu algo estúpido de dizer para um fantasma, mas eu estava tão perdida de sono que nem me dei conta disso.
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Sabe aquela sensação de que você está debaixo d’água e tudo o que escuta são vozes distorcidas? Foi assim que eu me senti quando acordei com Lucy e Danny tentando me acordar para não perder meu primeiro horário de aula. Enquanto Lucy me sacudia, Danny gritava para me acordar.
— ACORDA, RAIO DE SOL — gritou Danny.
— Parem de gritar, já vou acordar, Deus do céu. — resmunguei enquanto esfregava os olhos.
— Em primeiro lugar, Brooke, você já perdeu o primeiro o segundo horário. Tentei te acordar enquanto estava saindo hoje cedo, mas você simplesmente não se mexia. Parecia uma lagartixa morta — disse ela sentando se na minha cama.
— E em segundo e terceiro lugar?... — perguntei ainda de olhos fechados.
— Não tenho a menor ideia, não sei por que diabos comecei com essa contagem — Lucy respondeu e eu soltei uma gargalhada. Acho que simplesmente fiquei feliz por ela r ter comentado o meu “Parem de gritar”,
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já que ela não estava gritando e que havia apenas eu e ela dentro do quarto.
— Como vão as coisas entre você e Aaron? — decidi que se ela falasse sobre a própria vida, ela esqueceria as perguntas que ela queria me fazer. Como, por exemplo, como eu sabia que Brian havia roubado o trabalho de Danny, que Danny e eu supostamente estávamos namorando e não sabia de nada.
— Estão ótimas, Brookezinha, estamos transando feito loucos, mas o que eu quero saber é por que você não me contou que você e Danny mortinho da silva estavam namorando? — ah, eu sabia que esse assunto iria se arrastar rapidamente pelo campus inteiro eventualmente.
— Aconteceu, Lucy, e quando eu me dei conta ele estava morto e ninguém mais sabia que estávamos juntos — respondi tão naturalmente que até parecia verdade Minha cama estava tão confortável eu não queria sair dali nunca mais.
— Bom, pelo menos, agora, eu e Nick sabemos por que, você ficou naquele modo zumbi estranho por tanto tempo. Você estava com saudades dele, não é? — perguntou ela com um tom de tristeza. Pelo menos algo de bom veio de toda a falação, eu não podia simplesmente dizer que estava tão deprimida porque um fantasma não queria mais me ver. Acho que o luto me faria parecer uma pessoa mais sã.
— Você me descobriu — respondi com um sorriso sem graça como se ela tivesse me pego no flagra.
— Você poderia ter me dito, eu poderia ter te ajudado — ela disse de uma maneira que me fez sentir vergonha, como se eu não fosse uma
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boa amiga. Mas eu estava justamente ocultando Danny-fantasma dela por querer protege-Ia.
— Desculpe-me, Lucy, eu deveria mesmo ter te contado, nas naquele momento achei que poderia resolver as coisas sozinha.
— Hum... eu te perdoo. Mas só se você levantar sua bunda magrela dessa cama, for tomar banho e almoçar comigo e com Nick. Vamos te esperar no refeitório — ela deu um tapa em minha bunda e saiu porta afora, sorrindo. Danny estava parado em frente à minha escrivaninha e seguiu-a com o olhar.
— Você teve sorte de dividir o quarto com Lucy, ela é uma boa garota — ele disse.
— Também acho, ela é minha melhor amiga — murmurei sorrindo para ele. Eu estava prestes a entrar no banheiro quando perguntei — Você acha que eu devo contar a eia?
— Sobre mim? — ele perguntou e eu fiz que sim com a cabeça. — Eu não me importaria se você contasse — eu dei um meio sorriso para Danny e entrei no banheiro.
Eu poderia dizer que eu era uma das garotas populares da Universidade, porque as pessoas sempre cochichavam quando eu passava, apontavam ou olhavam feio para mim. Eu já estava acostumada com aquilo, por assim dizer, mas os amigos de Brian estavam mesmo irritados comigo. Mas eu estava feliz por saber que Brian não havia espalhado para todos sobre os meus supostos poderes.
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— Não ligue para eles, Brooke. Você fez a coisa certa ontem, em relação ao Brian — Lucy concordou comigo quando me sentei à mesa do refeitório com ela e Nick. Os cochichos sobre mim poderiam ter acabado quando i sentei, mas os olhares dos amigos de Brian eram penetrantes. Até Danny se incomodou com aquilo e começou encará-los de volta, como se eles pudessem vê-lo.
— Sinto muito pelo Danny, Brooke. Eu não teria agido como um completo idiota se soubesse que vocês dois estavam juntos — se desculpou Nick. Aquele gesto me fez gostar ainda mais de sua companhia e amizade. Eu sorri para ele e lhe dei uma palmada de leve nas costas para mostrar que eu compreendia e o desculpava.
— Vocês não vão acreditar... — começou Aaron depositando sua bandeja em nossa mesa e se sentando ao lado de Lucy. - A pele sob as unhas de Danny. Adivinhem de quem era? — Nós o encaramos, todos, inclusive Danny. — Era do Brian. O resultado de DNA demorou pra sair, mas ontem quando o policial Lewis veio pra questioná-lo, ele encontrou Brian no meio do escândalo na sala dos professores feito por você, Brooke — disse ele apontando para mim. — Brian está lá na delegacia desde ontem quando o pegaram alegando que é inocente.., que Danny e ele apenas tiveram uma briga antes de Danny morrer — houve silêncio, e Aaron começou a devorar seu almoço. Danny não tinha me dito nada sobre qualquer briga, e eu achei isso estranho. Quando olhei para ele, sabia que ele pensava a mesma coisa.
— Vocês acham que Brian poderia mesmo ser o assas sino? — perguntei, incrédula. Os fatos poderiam levar até ele, mas eu mesma tinha conversado com ele quando Danny estava desaparecido e ele parecia
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mesmo preocupado. Mas seria pelo fato de ele tê-lo matado ou pelo fato de que Brian se importava mesmo com o amigo?
— Eu sou amigo de Brian, o cara pode ser hardcore, mas eu não acho que ele é um serial killer — respondeu-me Aaron enquanto comia.
— Como assim hardcore? — perguntou Nick, agora interessado.
— Sabe, ele é daqueles caras da pesada. Que gostam de festas e brigas de vez em quando, fazem de tudo para se dar bem nas provas e trabalhos. Essas coisas... — respondeu Aaron com a boca cheia de batatas fritas. Nick, eu e Lucy nos entreolhamos. Será que o serial killer estava mais próximo do que a gente jamais poderia imaginar?
Enquanto policiais rondavam pelos corredores, Danny e eu caminhávamos até minha próxima aula, que seria de Microbiologia. A sala, por alguma razão, estava mais vazia que o normal. Aparentemente eu não era a única a querer ficar na cama até tarde. Mas o problema não era esse, muitos calouros decidiram que ficariam seguros em suas próprias casas, e com isso começou a haver mais faltas, e as aulas virtuais, pela internet, começaram a ser mais frequentes. Ou seja, enquanto eu estava ali na sala de aula escutando o professor, meus colegas estavam em suas camas ou sofás escutando e vendo o professor em suas casas. Os trabalhos podiam ser enviados por correio e as provas foram adiada por tempo indeterminado.
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— Você realmente acha que Brian pode ser meu assassino? — perguntou Danny no meio da sala de aula enquanto estava sentado ao meu lado parecendo ser qualquer outro aluno.
Eu não sei, poderia ser?
Poderia parecer estranho, mas enquanto o professor ministrava sua aula eu conversava com Danny. Ele me perguntava normalmente e eu escrevia a resposta em meu caderno, que estava aberto. Não havia muitas pessoas perto de mim para perceberem que eu não escrevia a matéria do quadro ou o que o professor dizia.
— Eu pensei que ele fosse meu amigo, mas aí ele roubou meu trabalho e me fez parecer o cara mais idiota do mundo. Então eu não sei o que pensar. Ainda mais quando ele diz que brigamos, e eu não me lembro nada disso.
Você vai se lembrar, não se preocupe!
— Espero que sim... Há tantas coisas de que eu não me lembro. Seria muito mais fácil se eu me lembrasse de meu assassinato, não é? — perguntou ele entre sorrisinhos nervosos.
Acho que você lembrará quando for o momento certo:)
— Você provavelmente tem razão.
É claro que tenho razão. Sempre tenho razão. Hahaha
— Sabichona — ele disse, e eu dei um sorriso de leve. Não poderia simplesmente cair na gargalhada no meio da sala aula quando o professor
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falava sobre determinados tipos de bactérias. Eu iria parecer uma louca que tinha acabado de sair de um manicômio.
Sabe quando você está botando e tirando coisas em seu pen drive? E sem querer seus dedos bêbados excluem seu trabalho mais importante do semestre? É, foi isso o que aconteceu comigo. Consideramos o pen drive uma salvação para muitas pessoas, mas, quando excluímos algo dele, não tem volta. Gosto de pensar que estamos em uma época boa em tecnologia, mas por que eles não podiam introduzir, sei lá, uma lixeira onde pudéssemos rever os arquivos excluídos, orno em qualquer computador normal?
Minha entrevista com Lewis era dali a pouco tempo e já estava pirando. Fiquei encarando a tela do computador om o queixo caído por quase meia hora, não acreditando que algo assim algum dia pudesse acontecer comigo. Sou cuidadosa para essas coisas, ou pelo menos eu me considerava cuidadosa antes daquilo. Quando me dei conta do que tinha feito me deu uma intensa vontade de chorar e de quebrar tudo à minha volta, incluindo o computador e o drive. Bati os punhos na mesa com toda a força que eu tinha, de olhos fechados, mas isso não fez com que eu me sentisse melhor, apenas acrescentou mais uma dor no meu dia.
— O que houve? — perguntou Danny quando me sentada toda irritada em frente ao computador que se encontrava na escrivaninha.
— Perdi todo o meu trabalho de Anatomia Desci murmurei quase à beira das lágrimas.
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— E daí? Faz de novo — disse ele, como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Isso me deixou com muita raiva.
— Você não entende. Eu fiquei dias escrevendo trabalho, mais de duzentas páginas perfeitas no lixo. E como se isso não fosse suficiente, a entrega é para três dias. TRÊS DIAS, DANNY! — gritei no final. Estava tão agitada que não consegui ficar mais naquela cadeira por muito mais tempo. Fiquei zanzando para lá e para enquanto Danny me observava sentado na cama. Seus olhos me acompanhando, ele nem se incomodou pela maneira que eu gritei com ele.
— Você se lembra das coisas que escreveu? — perguntou Danny depois de alguns minutos de silêncio. Acho que ele esperou um pouco para minha raiva sair do meu corpo.
— É claro que eu me lembro, fui eu quem escreveu. Mas não me lembro de tudo, não sou uma máquina, droga!
— Você acha que isso nunca aconteceu comigo? N verdade isso acontece com todo mundo... Ficamos zangados, queremos quebrar tudo e gritar. Mas sabe o que fazemos depois? — perguntou ele com uma voz sensível amigável. Eu balancei a cabeça com um não. — Começamos a escrever novamente — disse Danny com um sorriso leve, e então ele levantou-se e foi até mim. — Escrevemos o que lembramos, acho que são as coisas mais importantes. Escrevemos coisas novas, melhoramos o que estava cm nossa cabeça e no final tudo ficará bem. Afinal de contas, a professora Olivia adora você, tenho certeza de que se lhe disser o que aconteceu, ela vai entender e lhe dará mais alguns dias para finalizar o trabalho.
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Danny entrou em minha cabeça. É claro que ele estava em meus pensamentos desde a primeira vez que o vi, mas não é isso o que eu estou dizendo. Quero dizer que suas palavras sobre o assunto me fizeram compreender. O que eu tinha feito estava feito, não posso voltar atrás, então tudo o que eu pedia fazer era respirar fundo, seguir em frente e deixar as coisas fluírem. Afinal, a vida nem sempre é lá uma maravilha.
— Você está certo — murmurei depois de respirar fundo, e olhei para os olhos claros em minha frente.
— Claro que estou certo. Sempre estou certo — ele disse, e eu caí na gargalhada. Eu havia dito algo parecido havia alguns minutos. Não acredito que ele lembrava das coisas que eu falava. Quero dizer, é muito raro os homens se lembrarem do que nó mulheres dizemos, não é? Pelo menos, é o que todo mundo fala, inclusive os homens.
— Temos que ir para delegacia — interrompeu Danny as nossas risadas.
— Você vai mesmo querer ir?
— É claro. Nunca iria perder um interrogatório de meu próprio assassinato — ele sorriu. A maneira que ele disse isso foi quase como se já tivesse aceitado a morte. Sem nenhuma tristeza. Acho que Danny era como meu trabalho excluído... sem volta.
Dava uns vinte minutos de ônibus até a delegacia e isso me deu tempo para pensar. Não tinha parado para imaginar antes como tudo aquilo que estava por vir poderia se tornar difícil. Quero dizer, Lewis
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estava na sala quando eu pedi para Brian dizer a verdade sobre o trabalho de Danny. Então isso provava que eu estava mentindo na primeira vez em que o vira, e que eu não sabia qual era o motivo da discussão entre Danny e o professor Bradley. E o fato de Danny ser meu namorado. Eu tinha dito a Lewis que ele era apenas meu amigo. O que ele iria pensar de mim agora? Que sou uma grande mentirosa que tem algo a ver com a morte do namorado? Tudo o que Lewis me perguntou naquele dia e eu respondi eram verdade, mas, com o passar do tempo, tornou-se mentira.
Eu quero falar a verdade, quero ajudar na investigação. Tudo que Lewis e o resto da equipe querem é pegar o serial killer com as nossas verdades. E eu não podia fazer isso. Claro que iria responder às perguntas com toda a minha sinceridade, mas teria que omitir várias partes para que eles não desconfiassem de mim. Policiais sabem quando alguém está escondendo algo, e se eles pensarem que esse algo tem a ver com a minha participação nos crimes? Isso eu não poderia suportar, Danny precisava de mim para encarar o mundo e o seu assassino. Eu teria que soar o mais convincente possível. Teria que fazer as minhas mentiras parecerem verdades.
Quando entrei na delegacia com Danny ao meu lado, tudo o que vi nos semblantes das pessoas sem uniforme oi medo. Encontrei alguns rostos conhecidos parados em lente a uma sala que dizia na porta — Interrogatório. A porta estava fechada, alguns de meus colegas estavam ali. Uns esperando pelos outros, ninguém falava. Os murmúrios de vozes saíam de todos os lugares, menos naquele espaço. Esperei a minha vez como todos os outros.
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— Brooke Watson — chamou Lewis se dirigindo a mim, quando saiu da sala com um garoto pálido. Aparentemente eu não era a única a ficar com medo daquilo tudo.
— Lewis — eu disse seu nome com um aceno.
Meu coração queria fugir pela boca de tanto que batia. No momento que botei meus pés dentro daquela sala fechada eu quis dar meia-volta, sair correndo e nunca mais olhar para trás. A sala não era grande nem pequena. As paredes eram de um verde-escuro horrível, a mesa era retangular e de metal. O espelho duplo era tão grande quanto o quadro negro das salas de aula de Stanford. Lewis não era o único a estar na sala, um homem sem uniforme esperava sentado em frente à mesa. Vários papéis se encontravam em frente a ele.
— Sente-se, Brooke, e fique à vontade — disse o homem que não era novo nem velho. Usava óculos de grau com armação preta e pude ver seu nome quando sentei-me em sua frente. Terry Kind — Psiquiatra. — Sou Terry Kind e irei lhe fazer algumas perguntas. Espero que as responda com sinceridade — eu apenas esbocei um sim com a cabeça. Lewis havia fechado a porta e estava encostado à parede espelho. Seus olhos não se despregavam dos meus e isso deixou pouco à vontade.
— Você conheceu as três vítimas? — ele fez a primeira pergunta colocando em minha frente as fotos de Danny e dos outros garotos.
— Conhecia Danny e Gabriel — respondi apontando para os rostos bonitos e sorridentes.
— Qual era a sua relação com eles?
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— Danny era meu namorado e apenas me encontrei com Gabriel uma vez.
Terry iria perguntar mais alguma coisa, mas Lewis foi mais rápido que ele.
— Essa não foi sua resposta na primeira vez em nos vimos — afirmou Lewis muito sério, trocando o peso do corpo de lado. Eu já esperava essa pergunta, não queria deixar que percebessem o quão nervosa eu estava, apesar c meu coração bater tão rápido e de minhas palmas suavam.
— Começamos a namorar provavelmente umas semanas antes de ele morrer. Ninguém sabia. Acho não queria que todo mundo ficasse com pena da namorada do cara morto — respondi, soando o mais sincera possível.
— E quanto à discussão com o professor Bradley? Você disse que não sabia nada do assunto — perguntou Lewis, novamente. Ele estava sério, como qualquer policial estaria, mas não estava com aquela voz ameaçadora. Apenas queria saber o porquê das minhas mentiras. Senti que ele não me considerava culpada e isso me deixou mais calma. Ainda mais quando Danny finalmente apareceu, atravessando a porta como qualquer fantasma faria e ficou perto de Lewis.
— Eu não tinha nada a ver com aquele assunto. Queria que Brian resolvesse tudo, mas vi o quanto covarde ele era quando não disse nada.
— E por que omitiu essas informações? Está omitindo alguma coisa agora?
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Fiquei um pouco brava com a pergunta, mas até que eu havia merecido essas perguntas.
— Eu havia visto meu namorado morto na mesa cio necrotério em meu primeiro dia de trabalho. Então me desculpe por ter ficado tão abalada com o assunto e não conseguir pensar direito nas respostas que você queria ouvir respondi com dureza. — E não, eu não estou ocultando nada. Estou respondendo às perguntas com sinceridade, como o Terry aqui me pediu — isso soou convincente. Eu vi nos olhos dos três homens que estavam presentes naquela sala.
— Notou algo diferente no comportamento de Dan ny antes de ele morrer? — perguntou Terry.
— Ele apenas estava muito irritado com Brian, por ter leito o que fez. Danny confiava nele. Ele passou semanas aperfeiçoando aquele trabalho sobre DNA, poderia ate virar um livro, de tão perfeito que Danny o fez. Então quando Danny descobriu o que Brian havia feito decidiu ir conversar com ele. Pedir para Brian falar a verdade para professor Bradley. Ele foi e nunca voltou.
— E quanto a Gabriel?
— Eu o vi apenas uma vez. Ele estava feliz porque iria visitar a família.
— Onde você estava no dia do assassinato de Danny? Em 22 de setembro, por volta das 3 ou 4 horas da madrugada? — agora era o momento dos álibis. Essa seria fácil. Danny finalmente saiu de perto de Lewis e foi para perto de Terry que folhava os papéis à procura dos
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horários da morte. Pude ver que Danny lia o que podia sobre os acontecimentos sobre tudo o mais que conseguia ler.
— Em minha cama.
— Alguém pode confirmar isso?
— Minha colega de quarto, Lucy.
— Em 29 de outubro, por volta das 19 horas?
— É bem no horário de meu trabalho, eu nunca faltei. Troy, meu chefe, pode confirmar isso.
— Em 10 de novembro, por volta das 3 horas da madrugada?
— Dormindo. Eu não sou uma garota festeira.
— Tudo bem. Acho que terminamos por aqui — disse por fim Terry. Meu coração, que havia antes se acalmado, começou a bater mais rápido. Dei-me conta de que não queria que aquilo acabasse. Queria pelo menos saber de alguma informação a mais.
— Vocês sabem de algo concreto? Mais alguma informação? — perguntei quando levantei. Lewis foi até mim e me respondeu.
— Quando soubermos de alguma coisa, Srta. Watson, entraremos em contato.
— Mas eu quero saber quem fez isso com meu Danny — disse eu, à beira das lágrimas. Isso saiu tão naturalmente que até eu fiquei impressionada. Mas, na verdade, cru verdade. Danny e os outros dois presentes na sala ficaram quietos olhando-me com um olhar de tristeza.
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— Estamos fazendo o possível, Brooke. Não descansa remos até esse cara estar atrás das grades — anunciou Lewis colocando a mão em meu ombro e o apertou. Eu assenti e ele me guiou até a porta, abrindo-a.
Vi mais rostos assustados quando saí da sala de investigação. Apesar de estar tristonha, quase à beira das lágrimas, eu estava calma e aliviada.
— Não é tão ruim — sussurrei para as três pessoas que esperavam sua vez. Dois sorriram para mim, tornando suas expressões mais agradáveis. O outro me olhou como se eu fosse maluca.
O sol ainda brilhava bastante quando coloquei meus pés no lado de fora da delegacia. Com o frio agravado, o sol estava fazendo milagres. Eu vestia um sobretudo preto, com calça jeans e uma bota até os joelhos e ainda estava com frio. Era estranho ver Danny ao meu lado usando cima mera camiseta branca.
— Parabéns, você não é uma suspeita. Depois que você fez aquele drama todo com a minha morte, Terry escreveu “inocente — álibi confere” no lado de seu nome.
— Ótimo — disse em voz alta como se eu estivesse caminhando com uma pessoa real a meu lado. Um cara que passou por mim olhou-me de cima a baixo e ainda continuou olhando quando passou por mim. Ele exibia uma expressão não muito agradável, me olhava como se eu fosse uma doente mental. Talvez eu esteja mesmo louca, quem sabe.
Caminhei com Danny até a parada de ônibus e esperei. O ônibus chegou cinco minutos depois, e estava quase vazio quando entramos. Danny me contava o que ele havia lido nos papéis de Terry enquanto ele me fazia perguntas.
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— Os principais suspeitos são Brian e Aaron. Aaron não conseguiu responder o que andava fazendo na hora dos assassinatos. Provavelmente ele estava caindo de bêbado em algum lugar do campus — ele fez uma pausa. — Seu álibi foi confirmado com Lucy e Troy. O policial Lewis deve ter perguntado a eles onde você andava, porque você mentiu na primeira vez — ele parou e soltou uma gargalhada. Que bom que ele estava se divertindo à minha custa. — Mas eu não posso acreditar que meus dois melhores amigos são os principais suspeitos de serem o serial killer. E, pior ainda, suspeitos pelo meu assassinato — murmurou ele depois de subitamente parar de sorrir. Ele encarava o chão do ônibus com um olhar triste. Eu nem poderia imaginar o que eu sentiria se Lucy ou Nick fossem suspeitos pelo meu assassinato, por exemplo. Danny estava sofrendo, tudo que consegui fazer naquele momento foi dar um sorrisinho para ele de leve e ainda sim um carinha lã do fundo do ônibus pensou que fosse para ele.
Quando desci do ônibus com Danny flutuando ao meu lado fui diretamente para o necrotério de Stanford, onde Troy me esperava. Eu já estava dez minutos atrasada. Lucy não se incomodou, ele sabia que eu havia estado na delegacia. Ele tinha deixado o trabalho da recepção para mim, principalmente organizar toda a papelada. Fiz tudo enquanto Danny ainda falava sem parar no meu ouvido. Eu ouvia certas palavras, mas estava tão perdidamente afundada em meu trabalho que não consegui prestar muita atenção a ele. Soltei um bocejo quando Troy veio me oferecer um sanduíche de salada, eu aceitei. Estava faminta, havia esquecido de comer quase o dia todo.
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— Você deve ir embora — disse Troy enquanto mastigava eu próprio sanduíche.
— O quê?
— É melhor você ir para o seu alojamento. Você parece muito cansada, e, além do mais, você fez um ótimo trabalho com toda essa papelada — disse ele. Eu quis negar, dizer que não, que eu estava ótima, somente com muitos pensamentos em minha cabeça. Mas eu estava mesmo cansada e queria muito a minha cama.
— Tudo bem — murmurei com um leve sorriso.
Vesti meu sobretudo que estava pendurado atrás da porta e segui para a noite. Quando abri a porta pesada urna rajada fria de vento percorreu meu corpo. Eu tremi. Fechei o casaco e me abracei. Com o vento, era difícil respirar, meu nariz parecia congelado, comecei a respirar pela boca.
O silêncio na noite era profundo. Só ouvia meus próprios passos e os gemidos do vento. Não era muito tarde, talvez fosse lã pelas 22 horas e nem mesmo uma alma se encontrava pelas pequenas ruas do campus de Stanford.
— Que sinistro — murmurou Danny, percebendo, como eu, a noite silenciosa e deserta.
Meus passos não eram apressados, na verdade eu caminhava na velocidade de uma tartaruga. Eu poderia ter medo daquela noite parada e gélida, mas tudo o que senti foi paz. Danny apenas me acompanhava, olhando para todos os lados. Talvez procurando algo. Meus olhos se
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fixaram no chão, estava quase prestes a cantar quando Danny parou. Eu ia perguntar o que estava errado quando ele levou indicador à boca, me pedindo silêncio.
— Vire-se devagarzinho e saia correndo — sussurrou e com um tom assustado. Meu coração, que antes se encontrava pacífico e feliz, agora batia como uma metralhadora.
Queria ver o que havia assustado tanto Danny, então virei meu rosto para frente. Congelei. Eu poderia me virar, sair correndo, mas o quanto medrosa eu seria? O serial killer do campus estava bem à minha frente fazendo outra vítima.
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Eu estava em uma rua bem parecida com um beco, estreita e escura. A luz da lua iluminava mal aquela escuridão. Uma única luz pendia naquela ruazinha. Havia uma caçamba de lixo azul muito grande atrás do assassino e de sua vítima. Havia uma pessoa sobre o corpo imóvel de um garoto. Sabia disso que a vítima era um garoto pelas calças e tênis masculinos. Não conseguia ver nenhum dos rostos.
Minha respiração aumentou, uma rajada de vento frio veio em minhas costas, o que me fez gemer. Se eu pensava que aquela cena era assustadora, eu não poderia achar uma palavra tão horripilante para descrever o aconteceu em seguida.
Com meu gemido por causa do frio, o assassino reparou em minha presença. Sua cabeça virou para trás com uma rapidez impressionante, o que me fez querer correr e gritar, Ele levantou-se devagarzinho e simplesmente ficou parado ao lado do corpo, me encarando. Por algum motivo eu ainda estava ali, parada diante do assassino. Danny me pediu novamente para que corresse, mas eu não podia fazer isso eu: conhecia o garoto que estava ao chão, não poderia deixá-lo para morrer nas mãos de um lunático.
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Você deve estar se perguntando se eu conhecia o assassino. Eu não poderia responder a essa pergunta. Por quê? Bom, ele vestia um sobretudo preto, tênis comuns pretos, luvas pretas e, além de tudo, uma máscara preta, Sabe o que os ladrões usam quando vão assaltar um banco ou qualquer outra coisa? Como uma touca preta que vai até o pescoço, deixando somente buracos para os olhos e talvez a boca. Mas nenhum buraco mostrava sua boca, somente dois furinhos mínimos para os olhos, tornando-os impossíveis de reconhecer.
Ele deu dois passos em minha direção e parou. Talvez me avaliando, ou pensando se iria até mim ou não. Ele se decidiu. Deu outro passo para minha direção, e outro.
— Não chegue perto de mim ou vou gritar — anunciei confiante. Peguei minhas chaves em meu bolso e deslizei suas partes afiadas entre meus dedos. Ele escutou o tintilar de chaves e viu o que estava fazendo. Foi quando ele parou.
Com isso olhei rapidamente para Danny. Sua expressão me fez ter medo, seus punhos estavam fechados. Fiquei feliz em estar ao lado dele, porque eu temia o que ele poderia lazer para a pessoa que havia tirado sua vida.
Quando o assassino deu outro passo cm minha direção, duas lâmpadas da rua de trás explodiram, e eu ele soltei um rito rouco, sobressaltada. A única luz que havia naquela ruazinha piscava feito louca, dois jornais que descansavam no chão levantaram voo. A caçamba imensa começou a tremer violentamente, a tampa se abriu com um forte estalo. O assassino, assim como eu, observava todos aqueles acontecimentos. Depois
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que a caçamba saiu do chão ele virou o rosto mascarado para mim, seu peito arfando. Ele virou as costas e correu para o fundo da ruazinha.
— Peça ajuda — disse Danny e começou a correr atrás do seu próprio assassino.
E quanto a mim? Eu corri até o garoto apagado no chão e me atirei a seu lado. Seu pescoço estava muito vermelho, com as marcas das luvas pretas do assassino que acabara de correr. Encostei a cabeça em seu peito e senti uma respirada, soltei um sorriso de alívio. Coloquei a mão direita no bolso mas não encontrei o que estava procurando. Ótimo, justo hoje meu celular estava em cima de minha cama carregando e eu ali precisando dele! O que poderia fazer agora?
— Preciso de ajuda — soltei não muito alto. — ALGUEM ME AJUDE! POR FAVOR! EU PRECISO DE AJUDA - gritei dessa vez com todas as minhas forças. Deve ter sido um milagre que Aaron não houvesse acordado. Sim, Aaron. Lucy iria surtar quando soubesse que seu Boy Toy quase tinha se tornado a próxima vítima do serial killer do campus.
— ALGUÉM! POR FAVOR! — gritei e nada, ALGUÉM ME AJUDE! — apenas silêncio. Comecei a choram. Peguei a mão de Aaron e a apertei na minha. — Vai ficar tudo bem — sussurrei para ele. Olhei para ambos os lados com alguma esperança e nada. Sabe aqueles filmes de terror quando a mulher gostosa grita por ajuda e ninguém aparece? , conheço a sensação. E não, eu não me acho gostosa. Decidi tentar novamente e o que saiu foi assustador até para mim. Eu poderia ser contratada para qualquer filme de terror sendo a garota que grita por ajuda.
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Ouvi passos quase que silenciosos vindos em minha direita. Olhei assustada e um rosto amável apareceu para meu resgate das sombras.
— Liv — disse seu nome com uma voz chorosa e fui correndo até ela. Abracei-a com muita força, mas ela não reclamou. Ela me abraçou de volta e disse que tudo ficaria bem. Sua voz estava muito assustada e seu coração batia a mil por hora. Tirei minha cabeça de seu peito quando duas viaturas de policia chegaram quase que se batendo. Senti uma pontada de felicidade quando vi o rosto de autoridade do policial Lewis, e fiquei sabendo naquele momento que ele iria, sim, de fato, pegar o assassino. E eu podia sentir que estava próximo, muito próximo, de isso acontecer.
Uma ambulância chegou momentos depois, antes mesmo de Lewis conseguir chegar até mim e Olivia, a professora de Anatomia Descritiva. Dois paramédicos correram até Aaron e o colocaram em uma maca. Quando um deles veio até mim, que ainda permanecia nos braços amorosos de Olivia, eu disse que estava bem. Isso feito, a sirene começou a tocar e levaram Aaron para o hospital em segurança. Um peso saiu de meus ombros.
— Você está bem, menina? — perguntou Lewis seriamente enquanto tocava em meu rosto delicadamente.
— Estou bem — murmurei e escondi meu rosto no peito de Olivia. Eu parecia uma criança assustada, e, na verdade, me sentia como uma. Olivia passou as mãos entre meus cabelos e disse para Lewis:
— Ela está apenas muito assustada.
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Lewis entendeu e eu o ouvi caminhando para onde Aaron estava desmaiado. Enquanto ele caminhava para lã e para cá tive tempo de me recompor. Respirei fundo e me desapeguei de Olivia. Ela olhou-me nos olhos tristonha e passou uma mão muito quente em meu rosto.
— Melhor? — perguntou. Eu apenas assenti com um movimento de cabeça.
Observei Lewis até ele querer falar comigo novamente. Olivia passou o braço sobre meu ombro e aguardou comigo. Senti uma imensa afeição por ela. Olivia poderia me deixar sozinha com aquele frio intenso. Ela não tinha visto nada de fato, então ela não precisaria contar muita coisa para polícia, mas mesmo assim ela estava ali comigo.
As perguntas de Lewis foram diretas. Como ele era? Assustador. Alto ou baixo? Nem alto nem baixo, médio. Gordo ou magro? Magro. Homem ou mulher? Pensei muito e fiquei indecisa. Tudo estava muito coberto, poderia ser uma mulher ou um homem. Que roupa usava? Absolutamente tudo preto, não vi pele alguma para saber se era branco ou negro. Ele tocou em alguma coisa? Somente em Aaron, nas isso não importaria, ele usava luvas, senhor policial Porque ele fugiu? Essa eu tive que pensar por alguns segundos, disse que eu iria gritar muito se ele se aproximasse e o ameacei com minha chave. Eu não fui muito convincente nesta parte, mas, ei, eu não podia simplesmente dizer que meu amigo camarada chamado Danny o assustou. Mas de uma coisa eu tinha certeza absoluta: a pessoa que eu vi não era Brian, de maneira alguma poderia ser ele. Brian era muito musculoso, grande como uma parede. Os dois maiores suspeitos de Lewis foram descartados na mesma noite.
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Depois disso Olivia me levou para meu quarto. Eu disse que não era necessário, mas ela me levou mesmo assim. Ela foi útil, porque quando me atirei em minha cama branca como papel Lucy ficou fazendo perguntas. Eu hesitei e contar sobre Aaron, então Olivia contou tudo a ela. Apesar de eu estar supercansada, fui até Lucy e a abracei fortemente quando ela começou a soluçar. Ela me beijou na boca quando Olivia disse que eu havia salvado o homem dela. Foi meio constrangedor, mas com esse ato eu percebi o quanto ela amava Aaron. E com isso eu havia decidido que iria perdoá-lo totalmente pelo dia que ele me atacou.
No fim eu não consegui dormir. Depois que Olivia saiu de nosso quarto, Lucy me pediu para ligar para Lewis e perguntar para qual hospital Aaron havia sido levado. Fomos de táxi até o hospital Mercy e esperamos até que alguém nos trouxesse notícias sobre Aaron. Lucy estava muito inquieta e não parava de roer as recém-pintadas de preto. Dei um leve tapa em sua mão para ela parar, e ela estava prestes a gritar comigo quando um médico nos chamou.
As notícias eram boas. Aaron iria se recuperar totalmente c sem nenhum dano permanente. Lucy e eu sorrimos e nos abraçamos, ficamos no hospital até o horário de visita. Aaron iria ficar no hospital pelo menos por mais um dia.
Somente uma coisa me incomodava. Onde Danny estava, e se ele tinha sido capaz de saber quem era a pessoa por trás da máscara preta.
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O Natal estava chegando, portanto quase metade dos alunos estava na casa de seus entes queridos, inclusive a minha colega de quarto e melhor amiga Lucy. Ela foi para casa de sua grande família havia uns três dias e eu já estava começando a sentir sua falta. Estava sozinha naquele quarto por dias que pareciam não passar, e estava quase enlouquecendo. Se ao menos Danny aparecesse eu não ficaria nessa frustração. É claro que eu saía para o café da manhã, quando não estava com preguiça, e para o almoço e o jantar, mas não era a mesma coisa quando Lucy e Nick não estavam ali para me contar as fofocas do dia ou todas as besteiras que eles diziam para deixar meu dia melhor.
Danny não passava mais todo o tempo comigo. Ele não conseguiu alcançar o assassino, afinal de contas. Se punia diariamente por ter fracassado. Passava então quase que dia e noite observando as pessoas, observando se alguma coisa estava fora do comum. Ele talvez esperasse que, assim com naquela noite, pudesse topar com o assassino no ato. Para mim o herói daquela noite havia sido Troy, porque se não fosse ele eu não estaria lá para salvar Aaron, em primeiro lugar. Eu ainda estaria catalogando papéis enquanto Aaron era sufocado até a morte.
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A história de Aaron sobre o acontecimento foi breve. Um momento ele estava naquela ruazinha indo encontrar Lucy e no segundo depois ele estava acordando no hospital. A chave de tudo foi o clorofórmio: isso explicava o porquê de os rapazes não reagirem ao assassino.
Eu ainda não estava com a minha família por uma questão muito, muito simples. Eles eram advogados muito famosos e bem pagos, os clientes requeriam mais tempo deles e eu acabava ficando sozinha até alguns dias antes do Natal. Naquele momento, então, eu me encontrava na cama jogando xadrez comigo mesma, o quão idiota isso era? Eu tinha lido Amanhecer, de Stephenie Meyer, quase que o todo, então logicamente eu precisava tratar de fazer alguma coisa, não importando o quão idiota pudesse parecer.
— Acho que você está totalmente perdida aí.
— AH MEU DEUS, QUAL O SEU PROBLEMA? — gritei para Danny, que apareceu ao meu lado sem eu sequer nota-lo e quase me matou de susto. — Já disse pra você parar de fazer isso. Qual é a sua? Tem prazer de me ver morrendo de susto toda vez que você aparece? Deus do céu!
— Nossa, já vi que você está nervosinha. Acho que vou embora — ele disse virando-se para a porta, como se estivesse vivo e pudesse atravessá-la.
— NÃO! — gritei com desespero quase que me levantando da cama para impedi-lo. Respirei fundo antes de dizer: — Desculpe-me, tá legal? Eu estou sozinha por tanto tempo que parece que eu surtei. Sinto muito mesmo — murmurei timidamente e vi que ele andava para mais perto de mim, o que me deixou feliz e menos deprimida pela minha solidão. Por
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que ainda está aqui? Não deveria estar com seus pais, como todo mundo? — perguntou ele sentando-se na ponta de minha cama. Danny estava vestindo a mesmíssima roupa de sempre, uma calça jeans preta largada com uma camiseta branca e com tênis Adidas, mas quando ele se sentou em minha cama a luz refletiu nele de uma maneira angelical. Seu rosto gentil naquele momento parecia brilhar, seus olhos ficaram mais claros que o normal, pude ver os braços fortes pela musculação diária de quando estava vivo e bem. Ele parecia estar mais vivo do que nunca.
— Hum, eu deveria, mas meus pais são pessoas ocupadas demais — respondi bufando lenta e tristemente.
— Eles podiam fazer um esforço para ficarem mais com você, ainda mais com tudo o que você está passando. EIes deveriam trabalhar menos — murmurou ele delicadamente e mais sutil que nunca. Hoje devia ser um dia bom para ele, geralmente seu humor variava, o que me deixava à flor da pele. Nunca sabia quando ele iria começar a ser rude comigo.
— Você não entenderia. Eles me amam, é claro, faze de tudo para me verem feliz. Eu posso dizer que eles s. os melhores país do mundo. Você os amaria.
— Adoraria conhecê-los — disse Danny. — Ou melhor, adoraria observá-los quando você for para lá. Posso ir? Você não ficaria envergonhada comigo na presença deles? — e. pude perceber quando ele limpou sua garganta na hora dai perguntas, com medo de ser rejeitado. Seus olhos não mi olhavam e ele encarou o chão. Como se algum dia eu pudesse negar alguma coisa para ele. Por que ele não sabia disso?
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— Hum, deixe-me pensar... É claro que você pode i engraçadinho. Quero que você conheça a minha mãe, ela a pessoa mais divertida e amorosa da face da terra. E me pai é a pessoa mais doce — respondi animada e com e’ sorriso largo no rosto, isso o fez sorrir, ou melhor, soltou umas gargalhadas fofas. Depois de um momento de silêncio ele começou a encarar meu jogo de xadrez; eu não sou nisso, estava esperando que ele não notasse.
— Então você costuma jogar xadrez... sozinha? — ele perguntou franzindo a testa e com um divertimento em sua voz, como se estivesse prestes a cair na gargalhada novas mente. Eu assenti sem me importar com o que ele poderia pensar de mim. — Isso é estranho.
— Uau, como você é esperto. É óbvio que isso é estranho, mas isso não me impede de jogar... nunca — disse sorridente, e ele soltou o sorriso que estava guardando de dentro de si. Ele sentou com as pernas cruzadas como índio, como eu, na [rente do tabuleiro. Eu podia sentir o que aconteceria depois.
— Vamos ver se você pode me vencer — ele desafiou levantando apenas uma sobrancelha e fazendo uma careta que me fez abrir um enorme sorriso. O que estava acontecendo? Será que estávamos mesmo trocando sorrisos idiotas feito um casal de apaixonados?
— Você vai ganhar todas, eu não sou muito boa nisso
— confessei, mas ele nem ligou. Pediu que eu colocasse as peças nos lugares iniciais e eu o fiz. Eu era a cor branca e ele, o preto. Eu comecei movimentando meu peão, ele pediu que eu movimentasse um dele também. E assim fomos jogando xadrez, pelo menos eu não estava jogando
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sozinha e nem estava quase entrando em depressão por estar tão solitária. Eu estava com uma das pessoas que mais amava nesse mundo. Pela primeira vez fiquei feliz por Lucy não estar ali comigo.
Jogamos xadrez por horas a fio até chegar à noite e eu não estava nem um pouco cansada, na verdade estava me divertindo à beça.
— Assim não vale, você não disse xeque-mate antes de me vencer — o ameacei com o indicador de uma maneira brincalhona.
— Você disse que era ruim e já ganhou quase todas as partidas. Estamos quites — disse Danny.
— Na verdade você é tão ruim quanto eu. Posso ser ruim, mas você é pior — ele sorriu e eu dei um soquinho de leve em seu ombro como um bom amigo camarada provavelmente o faria. O rosto sorridente de Danny se transformou em algo aterrorizante, como se acabasse de saber que alguém conhecido dele tivesse morrido. Eu não entendi aquela expressão, e o olhei confusa por um certo tempo. Somente quando ele olhou para seu próprio ombro e para mim que eu me dei conta da situação que havia se passado.
Minha respiração começou a se elevar rapidamente, meu peito até doía de tão forte que o coração batia. Eu estava tão distraída que nem havia me dado conta de que eu realmente havia tocado em Danny. Eu tinha dado um soquinho nele e nem tinha me passado pela cabeça que ele estava morto e que nada daquilo poderia sequer acontecer.
— Isso aconteceu não é? Eu realmente toquei em você — sussurrei lentamente e estremeci. Ele assentiu com a cabeça e eu praticamente perdi o controle. Joguei todo meu jogo de xadrez no chão em um ato de
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desespero me sentei a meros centímetros dele. Eu queria me certificar de que eu podia tocar nele novamente antes de pular em seu pescoço.
Minha mão tremia quando a levantei para tocá-lo, Danny dessa vez não me impediu. Ele sempre me impedia quando tentava tocá-lo, sempre. A questão de ele não estar me impedindo deixou-me mais nervosa. Ele não se mexia, não mexia um único músculo, como se o efeito pudesse passar se ele se mexesse. Minha mão esquerda foi lentamente até seu peito, eu tremia mais ainda quando estava quase, quase o tocando. Quando senti o tecido de sua roupa em minha mão trêmula uma lágrima caiu em meu rosto e respirei fundo, como se o pior já tivesse passado. Danny fechou seus olhos agora aliviados e felizes e sentiu minha não passando de seu peito e indo até seu ombro. Ele abriu os olhos com desejo quando descansei minha mão em seu braço musculoso debaixo de sua camiseta. Danny finalmente se mexeu e levou sua mão direita até meu rosto, e tirou a lágrima que eu não havia secado.
— Isso realmente está acontecendo? — perguntei aos sussurros, ele assentiu rapidamente e chegou mais perto de mim. Pôs uma mão em minha cintura e a outra mão passava em meu rosto sem parar. Seus olhos pareciam satisfeitos, até mesmo realizados.
— Sua pele é tão... macia. Você é perfeita — ele disse sinceramente quase que hipnotizado. — Eu nunca pensei que poderia tocá-la, eu... — eu percebi que ele estava prestes a atropelar as palavras, que não sabia o que dizer. Ele estava sem palavras, ele me olhava como se eu fosse um diamante raro que nunca poderia perder. Aquele olhar, aquela sensação me fez sentir a pessoa mais feliz e sortuda de todo o planeta. E como eu poderia pensar assim se ele estava morto? Eu não sabia o que estava
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acontecendo, eu com certeza não havia pedido nada assim de Natal e nem havia feito pedido algum para qualquer realizadora de desejos.
Eu queria senti-lo em mim, levantei-me me posicionei em cima dele. Ele separou as pernas para que eu me encaixasse perfeitamente no centro dele. Ele me envolveu com seus braços, apertando-me mais contra ele, como se nunca pudéssemos estar perto o suficiente. Eu toquei em seu rosto pela primeira vez, no seu belo rosto que muitas garotas matariam para sentir. Nossas testas e narizes se tocavam e meus olhos se fecharam.
— Beije-me, Danny, por favor — sussurrei em desespero. Senti sua mão passar para minha nuca e então aconteceu. Nossos lábios se moviam devagarzinho para conhecer o território, mas isso não durou muito tempo. Queríamos nos beijar havia tanto tempo que movimentos gentis e doces não seriam suficiente para nós. Ele colocou primeiro a língua dentro de minha boca e eu gemi quando nossas línguas se tocaram. Levei minha mão para passar entre seus cabelos macios e trouxe mais para perto de mim. Como se já não estivéssemos perto o bastante. Mas eu o queria, eu nunca pensei que isso
poderia acontecer. Será que estava acontecendo? Será que eu estava sonhando? Diante do que aconteceu depois, eu soube realmente que não era sonho algum.
— Eu te amo. Tanto... tanto — confessou Danny quando parou ofegante depois de nossos beijos. Meu coração derreteu, mas ainda assim batia desesperadamente como se quisesse fugir. Eu peguei a mão de Danny que descansava em minha coxa e a levei até meu coração acelerado. Eu queria que ele soubesse como ele estava fazendo me sentir.
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— Eu te amo... mais que tudo nesse mundo — sussurrei em seu ouvido e depois encarei seus olhos brilhantes e felizes. Eu queria que aquele momento durasse para sempre. Eu vou me lembrar daquele momento para sempre. Ele entrelaçou seus dedos nos meus e voltamos a nos beijar ferozmente. Eu não queria parar de beijar nunca aqueles lábios carnudos e perfeitos. Danny sabia o que fazia, e o mais estranho ainda era que ele sabia o que me deixava mais excitada. Ele colocou sua mão por debaixo de minha camiseta e tocou em minhas costas. Eu tive que deixar sua boca e soltar um alto gemido, segundos depois seus lábios estavam em meu pescoço. Eu estava à beira da loucura, mas isso não durou muito tempo. Ouvi alguém abrindo minha porta com um tilintar de uma chave. Eu e Danny nos olhamos rapidamente e ele desapareceu. Quando a porta se abriu eu perdi o equilíbrio por não estar mais em cima de Danny e me estatelei toda no chão gelado.
— O que você está fazendo no chão desse jeito como uma louca doida? — perguntou Lucy espantada quando me viu com uma perna ainda na cama, mas o resto todo no chão. Aquilo doeu, realmente doeu muito. Danny podia ter me avisado que ele cairia fora, mas que covarde.
— LUCY, VOCÊ VOLTOU — gritei como se eu estivesse surda de um ouvido, ou talvez dos dois. Ela se espantou ainda mais com a minha gritaria.
— Você está drogada, Brooke? Bebeu alguma coisa? Ou isso é natural? Meu Deus, realmente não entendo essas suas viradas de humor e loucura — perguntou ela indo até seu armário e o abrindo. Enquanto isso, eu me movimentava devagarzinho para não doer tanto minhas costas. Eu
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não respondi ao comentário de Lucy, ela riu depois de perguntar, então ela devia estar brincando, foi o que pensei.
— Por que voltou tão cedo? — perguntei sentando me novamente em minha cama devagarzinho como se eu Fosse uma velhinha.
— Como sou a pessoa mais inteligente da lace desse lindo planeta, me esqueci completamente dos presentes de Natal. Dá pra acreditar? — e com isso ela tirou várias caixas de presente bem do fundo do armário e colocou mochila, que parecia ser maior que ela. — Eu jurava que eles já estavam na mala, mas quando fui pegá-los para deixa-los sob a árvore de Natal, não os encontrei e pirei. Vim correndo pra cá.
— Ah, ainda bem que isso não aconteceu na véspera Natal, você nunca iria vir pra cá e voltar a tempo — conclui, e ela concordou. Depois de um tempo parada na portG olhando para mim e em seguida para o canto do meu lado i do quarto, ela disse:
— O que você estava fazendo quando entrei, afinal? perguntou desconfiada. Eu sorri um pouco para ter tempo de inventar algum tipo de desculpa, e o que eu consegui encontrar em alguma parte de meu cérebro foi:
— Ah, você sabe que eu adoro Natal, Lucy. Eu estava pulando na cama e quando vi alguém entrando me assustei
— isso não me pareceu muito convincente, mas aparentemente Lucy acreditou. A minha habilidade de mentir estava ficando cada vez melhor, e isso graças a Danny Garcia.
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— Hum, tome cuidado na próxima vez. Você pode, sei lá, bater a cabeça em algum lugar. E se isso acontecer, ninguém vai estar aqui pra te ajudar — disse ela muito séria.
— Vou tomar cuidado... eu prometo.
Lucy largou a mochila de presentes no chão e veio até mim, abraçou-me fortemente e me desejou um Feliz Natal, e me entregou um pacote bem embrulhado com árvores de Natal como estampa.
— Obrigado por pensar em mim — agradeci sorridente.
— Sempre — Lucy respondeu, como se nunca pudesse me esquecer, e isso me fez parar de querer mata-Ia por ter interrompido o amasso com Danny.
— Comprei algo para você também — eu corri para meu armário e tirei um tubo embalado, que continha um pôster de Titanic. Eu sabia que Lucy amava romances e que tinha uma grande coleção de pôsteres dos seus filmes preferidos. Ela me disse há algumas semanas atrás que nunca conseguia achar o pôster de Titanic, que era impossível. Desde e então, eu revirei praticamente todos os lugares de pôsteres que eu podia pensar e encontrei um bem conservado em uma lojinha quase que caindo aos pedaços. Eu sabia que Lucy iria pirar quando o abrisse. — Espero que goste — ela sorriu feliz e depois de outro abraço ela saiu do quarto. Eu fiquei parada onde estava e me vi sozinha novamente. Havia apenas alguns minutos tudo estava tão perfeito... como um sonho.
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Nos dias que se passaram, antes de minha mãe aparecer para me buscar para passar o feriado com ela, Danny não apareceu para mim. Eu o sentia me vigiando toda vez que eu saia de meu quarto, mas ele nunca se dirigia a palavra para mim, eu nunca conseguia vê-lo. Eu meio que sabia o motivo, porque eu sentia a mesma coisa.
Quando você ama alguém, tudo o que você quer é ficar com essa pessoa. Tocar sua mão, beijar seus lábios, entre- laçar seus dedos, sussurrar no ouvido um do outro e cair na gargalhada no meio do refeitório para todos verem que vocês dois estão felizes juntos. Eram esses os pensamentos que me vinham, me assombrando. E provavelmente estariam assombrando Danny também. Não sabíamos o que havia acontecido naqueles parcos segundos para eu conseguir tocá-lo, senti-lo sobre minha pele. Será que foi a lua?
O alinhamento das estrelas? Ou foi somente algo que Danny sentiu ou deixou de sentir? Eu pensava nisso. O que Danny pensava? Eu podia ver em seus olhos qual era a última coisa que ele queria estar fazendo: ficar longe de mim, isso estava me matando. Por que não podemos simplesmente ter o que queremos? Por que tudo tem que ser tão difícil? Eu estava me sentindo como Lois Lane sem Clark Kent.
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Depois que vi o rosto feliz de minha mãe pareceu que tudo voltou para o lugar. Pelo menos naquele momento. Seus olhos azuis, como os meus, me fizeram sentir segura Quando olhava para ela eu me sentia em casa. E era para onde eu estava indo, o que me deixou de bom humor. Eu levava minha mochila nas costas com poucas roupas, presentes e os acessórios de que precisaria para passar o feriado. Não vi Danny em lugar nenhum quando eu e minha mãe íamos para o carro. Joguei minha mochila no banco de trás do Audi A4 prateado e me sentei no banco da frente.
Era uma viagem tranquila, de mais ou menos meia hora. Eu observava as árvores com neve, como a luz do sol refletia nelas, deixando tudo em um ótimo clima de Natal. Minha mãe pegou esse tempo de viagem para me fazer perguntas. Eu sinceramente não gostava quando ela fazia esses interrogatórios, me sentia como na sala de Lewis outra vez.
— A polícia tem mais alguma notícia sobre os assassinatos? — perguntou ela.
— Algumas coisinhas, mas eles estão fazendo de tudo pra descobrir, mãe. Lewis é gente boa.
— Hum. E o seu amigo, Aaron, como ele está?
— Bem. Ele ainda está rouco, por causa, você sabe, do estrangulamento.
— Dou graças a Deus por você e aquele garoto estarem bem. Não sei o que seu pai e eu faríamos se alguma coisa acontecesse a você, querida — disse minha mãe tristonha. Será que ela pensaria a mesma coisa se ela soubesse o que Aaron havia feito comigo? Ou quase feito? Mas
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isso não importava, eu o havia perdoado. Disse isso a ele quando o visitei no hospital, e ele quase chorou de alegria. Ele até me envolveu em seus braços e me abraçou forte, agradeceu por eu ter salvado a sua vida.
— Estou ótima mãe, está tudo bem — levou alguns mi— nutos até ela começar com as perguntas novamente.
— E os estudos? Vão bem?
— Sim. Tiro nota máxima em quase tudo.
— Essa é a minha garota — disse ela sorridente. A minha mãe não era daquelas que dizia — Não fez mais do que sua obrigação. Não, ela ficava mesmo feliz por mim e ainda colocava pendurado na geladeira meus melhores trabalhos. Mas, como agora estou na faculdade e ela não pode ver meus trabalhos e provas, essa fase provavelmente acabou.
— Como está o papai? Quero muito vê-lo — perguntei ansiosa.
Seu pai não aguenta mais esperar. Abriu um sorriso dos grandes quando viu que eu vinha te pegar. Ele iria vir, mas você conhece seu pai. Ele está lá arrumando a arvore de Natal da maneira que você gosta — respondeu ela sorrindo. Eu fiquei mais ansiosa ainda para chegar em casa. Meu pai, que você possa imaginar. Parece até mágico.
Quando minha mãe e eu chegamos, corri para a varanda. A casa era branca e de dois andares, grande para somente três pessoas, mas gostávamos do espaço. Olhei para trás antes de abrir a porta e notei que Danny estava parado em frente a minha casa. Ele olhava para cima, admirando. Eu sorri e virei a maçaneta, fui recebida pelos latidos de Shelby, o labrador da casa. Beijei seu focinho e em seguida ouvi alguém
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chamando por mim. De repente me senti a pessoa mais feliz da Terra. Eu estava em casa, com meus pais, e com Danny.
— Onde está minha princesa Anel? — chamou uma voz doce. Fui até a sala onde meu pai se encontrava, perto da lareira onde estavam penduradas três meias de Natal com nossos nomes. Jordin, Tom e Brooke.
Corri para meu pai com um sorriso largo e o abracei forte. Ele me tirou do chão como se eu ainda fosse uma menininha.
— Senti sua falta — eu disse. Ele beijou minha testa quando o abraço acabou e disse o mesmo para mim. Meu pai era alto, o alto da família. Seu cabelo era loiro como o meu, e o achei diferente e mais jovem por seu cabelo estar comprido até as orelhas. Ele nunca havia deixado seu cabelo crescer antes, mas combinava com ele.
— Ah MEU DEUS! — gritei. — Papai, é a coisa mais linda que vi na vida — disse espantada. Acho que fiquei um longo tempo encarando aquela paisagem linda à minha frente. A árvore de Natal mais bonita que alguém poderia ter feito. A árvore era grande, com quase três metros de altura, e havia luzes coloridas brilhantes em volta dela, enfeites rnaravilhosos, bolas vermelhas e verdes. Havia um pouco de neve de isopor em alguns galhos e até pequenos Papais Noéis. Encontrei no topo da árvore uma das minhas bonecas de quando era ainda menina, uma Anel para substituir o anjo tradicional. De repente meus olhos se encheram de lágrimas, esse era com certeza o melhor presente que alguém havia me dado. Quando me virei para elogiar meu pai novamente, Danny estava parado perto da porta da sala, provavelmente estivera ali por todo aquele
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tempo que eu admirava a árvore. — É simplesmente maravilhoso, papai, é mágico — disse por fim.
— Tudo pela minha princesinha.
Essa é a história. Quando eu era menina, eu me apaixonei pelo desenho da Disney, A pequena sereia. Eu queria ser uma sereia, desejava ser uma sereia. Queria ser ruiva e ser princesa. Tinha provavelmente uma dúzia de bonecas da Anel e do Linguado, que eu guardo até hoje. Meu pai um dia chegou em casa com uma fantasia da Anel, com as barbatanas, o bustiê de conchas e uma peruca ruiva. Pa ote completo. Quando eu as vesti, meu pai começou a me chamar de princesa Anel. E nunca mais parou. Eu poderia ficar envergonhada por isso, mas a minha infância foi ti m a época linda e amorosa. Algo que eu gostaria sim de lembrar de vez em quando, e meu pai fazia isso por mim. EIe sabe que eu cresci, que virei mulher, mas isso não o impede de chamar a filha de princesa Anel. Eu o amava por isso.
Fui para meu quarto e me atirei na cama. Olhei para teto e encarei as estrelas grudadas no teto. Senti um vento vindo de minha janela e olhei para esquerda, encontrando Danny. Não pude deixar de sorrir.
— Você estava certa — ele disse.
— Sobre o quê?
— Seus pais. Você tem sorte em tê-los — ele disse parecendo um pouco tristonho. Lembrei-me que os pais dele haviam morrido e isso me fez estremecer. Pobre Danny.
— Eu sei.
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Ele começou a passar os olhos por todo o meu quarto. Minhas paredes eram de um rosa muito claro, minha cama era de casal, havia uma escrivaninha com o computador do lado esquerdo perto da janela, o armário do lado direito perto da porta, muitas prateleiras com livros e bonecas Anel. Ele sorriu quando as encarou.
— Não acredito que você gostava da Ariel. Pra mim essa é a pior das princesas da Disney — confessou ele sorrindo
— Eí, não fale isso da Ariel.
— Estou brincando — ele levou as mãos para cima como se estivesse se rendendo, e sorriu.
— Ótimo. De quem você gostava quando era criança?
— Superman — ele disse, e eu sorri com a resposta.
— Adoro Superman — ambos sorrimos e ouvi uma batida na porta. Minha mãe entrou com um pequeno prato com biscoitos de Natal feitos em casa.
— Seu pai os fez. Estão deliciosos. Daqui a pouco desça para contar as novidades para seu pai, ele quer saber de tudo — e ela saiu. Danny a observou com felicidade.
— Eu o apresentaria a ela se pudesse — eu lhe disse enquanto comia o biscoito de chocolate.
— Eu sei — murmurou ele com um tom doce. Depois de muito tempo em silêncio eu soltei algo que ele não esperaria que eu pudesse dize. Isso chocou até a mim:
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— Vou descobrir como podemos nos tocar novamente — disse, confiante. Minhas mãos estavam entrelaçadas enquanto eu estava sentada em minha cama. Ele estava perto da janela, e me dirigiu um olhar que parecia ser de decepção. Ele passou sua mão entre seus cabelos e fechou os olhos, tenho certeza que se ele pudesse respirar fundo o teria feito.
— Não, você não vai — ele falou sério.
— Vou sim. Aconteceu uma vez, pode acontecer novamente — ele bufou e se aproximou de mim, sentou-se em minha frente.
— Pode nunca mais acontecer — ele sussurrou. Isso me deixou triste.
— Eu não acredito nisso — anunciei novamente, confiante.
— Eu quero te ver feliz. Você nunca vai ser feliz comigo — murmurou Danny quase como se estivesse envergonhado.
— Eu sou feliz com você — insisti. — Você acha que eu não ficaria trancada em meu quarto por toda eternidade somente para ficar com você? Eu ficaria.
— Eu sei. E é disso que eu tenho medo — ele disse com frustração e levantou-se de minha cama. — Eu não quero que você perca sua vida por minha causa. Quero que você seja uma ótima médica, encontre um marido e crie uma família. Eu quero que você seja feliz.
Meus olhos se encheram de lágrimas e sussurrei com dor.
— Sou feliz com você. Você é meu Clark Kent.
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Ele iria me dizer alguma coisa, mas minha mãe gritou do andar de baixo.
— ESTAMOS ESPERANDO VOGÊ, QUERIDA!
— ESTOU INDO — gritei de volta. Passei as costas de minha mão em meus olhos e saí de meu quarto sem olhar para Danny.
Os dias seguintes foram agradáveis. O Natal foi Ótimo i e Danny estava presente, mas nada do assunto anterior foi mencionado. A maior parte dos presentes que cercavam” a linda árvore de Natal eram para mim. Todos meus parentes se lembravam de mim, ou melhor, meu pai os fazia lembrarem-se de mim. Ganhei um porta-retrato cor-de-rosa com plumas de minha tia Nancy, uma camiseta fashion de meu tio Marcos, o livro Escola de espias, da escritora Ally Carter, dos meus primos, um iPod de 60Gb de minha mãe (quase pirei quando o abri... ok, eu realmente pirei e dei pulinhos de felicidade quando o abri) e, por último, ganhei o box da série que eu amava, Glee.
O jantar foi delicioso, assim como todo o tempo que passamos juntos. Meu pai e eu seguimos em direção a biblioteca, eu porque queria encontrar um livro para ler na faculdade, e meu pai porque queria encontrar um livro sobre direito.
Nossa biblioteca era razoável, nada muito grande, mas também nada muito pequeno. Eu e minha mãe tínhamos um gosto bem parecido,
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particularmente em romances. E era o que eu ia procurar, mas acabei encontrando algo muito mais interessante.
— Pai.
— Hum? — resmungou ele enquanto folhava um livro sentado no sofá marrom.
— Por que todos esses livros de fantasmas? — perguntei curiosa. Havia mais de dez deles. Como conversar com um fantasma, Como ajudar um fantasma, Fantasmas são amigos? E muitos outros. Não sei se já os tinha visto antes, porque na realidade eu nunca havia ido naquela parte antes, parecia ser nova.
Meu pai franziu a testa e demorou um pouco até me responder. Eu apenas o encarava com atenção. Em que será que ele estava pensando tanto?
— Eles eram da sua avó querida, Marylin — respondeu ele seriamente. Eu continuei encarando-o, pedindo mais i n formações, então assim ele o fez. — Ela acreditava que podia vê-los. Minha mãe sempre queria ajudá-los. Quando ela morreu, eu herdei os livros, pensei que pudessem ser úteis algum dia — terminou. Meus olhos encaravam o chão, como uma criança envergonhada. Então eu não era a única da família que podia vê-los. Eu me sentia melhor, apesar de tudo.
— E você já os viu? — perguntei sem pensar, quase mura murando. Meu pai largou seu livro que antes folhava em seu lado e começou a me avaliar. Eu por alguma razão não consegui olhar em seus olhos, e ele percebeu.
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— O que está errado, princesa? — meu pai me perguntou com um tom triste.
— Nada — resmunguei e cruzei os braços.
— Eu sei quando algo está errado com você — afirmou ele. — Me conte.
Eu revirei os olhos, tentando pensar em uma alternativa para escapar dessa. Mas meu pai me conhecia demais para deixar aquilo passar. Bufei e fiquei encarando as prateleiras cheias de livros velhos e novos. Abri a boca para dizer algo, mas tornei a fechá-la rapidamente. Será que meu pai entenderia se eu dissesse a verdade? Será que ele pensaria em mim como uma aberração? Sua mãe podia vê-los, será que ele aceitava isso nela? Peguei uma cadeira e a postei em frente a ele, sentei-me.
—Eu...
—Você pode vê-los — afirmou. Meus olhos, que antes encaravam seus pés foram até olhos claros de meu pai. Seu tom não foi de reprovação em nenhum sentido. Ele fez uma afirmação sem nenhum tipo de rejeição, e isso me fez sentir mais segura e... aliviada. Meus olhos se encheram de água e balancei a cabeça em um sim.
— Oh, querida — sussurrou ele tristemente. Seu olhar em direção a mim não mudou. Eu era a sua princesinha, não importava o que eu visse. Seu tom foi de tristeza, como se ele não quisesse o fardo em meus ombros. Como se Fosse ele o culpado. Ele estendeu seus braços e eu o abracei com [orça. Algumas lágrimas caíram, mas não foi de tristeza e nem de infelicidade, muito pelo contrário.
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— Não é tão ruim — disse depois do término do abraço. Limpei as lágrimas de meu rosto e sorri.
— Desde quando você consegue vê-los?
— Não muito tempo... quando começou a faculdade — ele pareceu aliviado com minha resposta. Acho que a pessoa que pode ver fantasmas desde nascimento seria uma aberração maior?
— Eles te incomodam? -. perguntou ele curioso.
— Santos é que eles não são — respondi, já gargalhando. Meu pai sorriu e eu gostei daquilo. Mas uma coisa me incomodou. — Eu não vejo todos eles. Apenas um — isso prendeu a atenção dele. — Eu o conhecia. Ele... — respirei fundo antes de continuar. — Ele foi a primeira vítima do serial killer do campus.
Meu pai me olhava com atenção e seriamente. Que será que ele estava pensando?
— Somente ele? Mais ninguém? — E eu disse que não com a cabeça. — Ele é perigoso?
— Não, apenas irritante — resmunguei.
— Qual é, eu não sou tão mal assim.
Digamos que eu dei um pulo da cadeira em que estava e até meu pai se sobressaltou. Isso não foi nada legal. A biblioteca estava tão silenciosa e uma conversa séria e importante estava em andamento e então Danny aparece e quase grita aquilo no meu ouvido.
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—Jesus! — eu disse irritada. — Vá embora — mandei, mas ele ficou parado ali. Meu pai me observava com divertimento, ele até sorriu.
— Ele está aqui? — perguntou meu pai com uma excitação. Eu disse que sim e ele continuou. — Espero que você não perturbe muito a minha filha, rapaz. Caso contrário, terei que chutar você, seu fantasma — disse ele com autoridade.
— Ele sabe que eu salvei a sua vida uma vez, não sabe? — Danny perguntou. Eu tive que rir.
— O que ele está dizendo? — quis saber papai.
— Ele quer primeiro se apresentar, O nome dele é Danny. Danny este é meu pai, Tom — eu os apresentei. Foi uma cena estranha. Danny apenas olhava para ele com as sobrancelhas franzidas e meu pai ficava procurando alguém pela sala.
— Muito bem. Danny então... espero que não faça mal à minha filha — disse meu pai.
— Pelo menos ele aceitou a ideia sobre mim. Já é algo positivo, mas não fale nada sobre as coisas que você está pretendendo fazer comigo. Isso, eu posso garantir, ele não vai aceitar numa boa. Principalmente toda a história de encontrar meu assassino e principalmente a história de nossos beijos. Ele não iria gostar de saber que sua princesinha está beijando um cara mortinho da...
— CALE A BOCA! - gritei para Danny e sorri para meu pai. É, algumas coisas meu pai com certeza não poderia saber. E virei-me para ele: — Me prometa uma coisa pai.
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— Claro, querida.
— Não conte a mamãe sobre isso. Se não ela vai ficar louca. Principalmente com todos esses assassinatos acontecendo no campus... ela já está planejando em me manter aqui até o resto do semestre, posso ver em seus olhos.
Demorou um pouco, mas meu pai acabou concordando.
— Ótimo. E quando ela me pegar falando sozinha pode, por favor, falar pra ela que estou ensaiando para alguma apresentação da faculdade? — meu pai sorriu e assentiu. Eu, pela primeira vez em muito tempo, fiquei aliviada. Como se um peso enorme tivesse saído de minhas costas. — Posso pegar esses livros? — perguntei apontando para os livros de fantasmas.
— Claro, assim você pode entender melhor esse rapaz que te persegue.
Danny não gostou disso, apesar de ser verdade. Eu peguei os livros e subi para meu quarto.
— Você não vai encontrar nada aí. Tenho certeza de que é tudo pura bobagem — disse Danny quando espalhei os livros em minha cama. Sentei e peguei um para começar uma tarde de leitura.
Tenho que admitir que aqueles livros eram assustadores. Havia histórias reais de fantasmas que usavam seu “poder” para ferir e assustar outras pessoas. Fiquei feliz por ter somente o fantasma Danny em minha vida. E na realidade tem certas pessoas que até caçam fantasmas para sobreviver. Nossa, isso sim era bizarro.
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Acordei rodeada pelos livros e com um sobre meu estômago. Fiquei um pouco na cama encarando as estrelas no teto e pensando que nunca mais queria ter de levantar da cama. Tudo estava tão confortável, que, apesar de querer retornar para Stanford, não queria me mexer. Fiquei até altas horas com os olhos vidrados nos livros, enquanto Danny ficou sentado no chão assistindo à televisão que eu havia ligado somente para ele. Fiquei surpresa por ouvir meus pais subindo as escadas tarde da noite, e eles foram até meu quarto e minha mãe perguntou o que eu poderia estar lendo àquela hora da noite.
— Deixe a menina ler em paz, amor — ordenou meu pai dando-me uma piscadela quando fechava a porta e me deixava sozinha com Danny.
Deus, corno eu estava bem por pelo menos uma pessoa saber o que estava acontecendo comigo. Estava mais que grata por ter alguém como meu pai na vida. Acho que nunca o amei mais, a não ser talvez naquela vez em que ele me presenteou com a fantasia completa da Ariel.
— Descobri algo muito útil — disse para Danny que estava deitado no chão olhando para as estrelas, assim como eu.
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— O quê? — resmungou ele.
— Sei por que eu consegui tocar você — fiz uma breve pausa. — E podemos fazer isso novamente.
Ouvi-o respirar fundo e se levantar. O que foi estranho porque ele não podia respirar. Danny sentou-se na ponta de minha cama e me olhou seriamente.
— Você não está brincando? — ele perguntou.
— Por que eu faria isso? Nunca brincaria com uma coisa dessas — sussurrei sem olhar para ele. Mas pude vê-lo sorrir pelo canto do olho.
— Eu não acredito que você conseguiu. Eu realmente achava que nunca mais aquilo iria acontecer — disse ele sorrindo. Sentei na cama e a luz do sol bateu em mim, fechei os olhos para me acostumar com aquela luz forte repentina. Meu cabelo estava todo emaranhado, para todos os lados. Mas quando abri os olhos... Danny me olhava tão... digamos que ele parecia estar hipnotizado. Seus olhos não saíam de mim. De todo o meu corpo. Uma garota simples e quase normal que podia vê-lo.
— Você é tão... tão... tão... linda — murmurou ele com paixão. Eu lhe dei um meio sorriso, minhas bochechas provavelmente estariam mais vermelhas que pimenta. Eu iria dizer alguma coisa, mas ele se levantou e foi se sentar bem em minha frente, a centímetros de mim. — Eu quero que você saiba uma coisa — ele sussurrou. Meu pulso acelerou.
— O quê?
— Naquela noite em que eu adormeci na sua porta — ele começou.
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— Sim?
— Eu não parei lá por acaso.
Eu franzi a testa, estava prestes a perguntar o que ele queria dizer com aquilo quando ele disse:
— Eu estava lá por sua causa. Quando esbarrei em você no seu primeiro dia... eu senti algo. Não sei o que era, era algo forte. Por isso eu não te ajudei a juntar suas coisas que haviam caído. Eu apenas segui em frente. E depois... — ele fez uma pequena pausa. — Aquilo não saía mais da minha cabeça, então eu perguntei para algumas pessoas onde era seu quarto e fui até lá. Bati na porta de propósito na esperança que fosse você que abrisse — ele parou. Eu queria ouvir mais.
— Você sentiu mais alguma coisa quando eu apareci? — eu perguntei e ele assentiu. Meu coração batia tão forte, eu sabia que ele poderia ouvi-lo. — Conte-me — pedi. Ele fechou os olhos, seja o que fosse, era difícil para ele me dizer.
— Desde que meus pais morreram tudo que eu sentia em relação às pessoas era tudo menos amor. Quando abri meus olhos eu vi você com uma camiseta do Superman... ele riu. — Foi como se você fosse meu sol. Tudo o que eu sentia perto de você era apenas amor, bondade, tudo aquilo que eu havia trancado dentro de mim por anos.
— Por que você não me disse nada? Pelo contrario, você me tratou mal.
— Eu não queria que aquilo fosse verdade, então eu fiz o que eu sempre fiz com as pessoas. Tratei-a mal.
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— E quanto à outra coisa? Por que não me contou?
— Depois daquela noite eu pensei que você não me daria uma segunda chance. Não podia simplesmente lançar pra você um “Ei, você faz meu mundo brilhar, quer ficar comigo?” E depois descobri aquilo tudo com o Brian, e em seguida eu estava morto — seus olhos estavam molhados e tristes. Ouvi-o com toda a minha concentração e eu comecei a me sentir cada vez menor. Por que tudo na vida era tão difícil?
— Eu iria — disse depois de um tempo de puro silêncio.
— Iria o quê?
— Dar uma segunda chance a você. Eu sabia de alguma maneira que a sua rudeza era apenas uma máscara. E que por trás dela havia um homem puro e cheio de amor e sinceridade — eu olhei profundamente em seus olhos. — Eu estava certa — disse seriamente. Ele, no entanto, sorriu.
— Como você faz isso? — ele perguntou enquanto esfregava seus olhos para secar as lágrimas que não haviam caído.
— Isso o quê? — perguntei confusa.
— Me faz feliz mesmo sendo um cara morto.
— Pra mim você nunca esteve tão vivo.
— QUERIDA, CAFÉ DA MANHÃ! — minha mãe gritou do andar de baixo.
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Era de tardezinha quando meu pai me levou para o campus. Ele me acompanhou até meu quarto e pôs minha mochila em cima da cama. Observou bem meu alojamento antes de me dar um beijo na testa.
— Cuide-se princesa — ele murmurou, soando preocupado. Antes de sair e fechar minha porta, disse: — Vou conversar com o policial Lewis para ver como vão as coisas. Talvez, quando pegarem o assassino, Danny deixe você em paz — ele disse e eu sorri falsamente, porque eu NÃO queria que Danny fosse embora. Isso me assustou e eu me senti estúpida. Eu teria que deixá-lo ir quando fosse a hora certa e não sabia se poderia suportar.
— Então me fala qual é o segredo? — perguntou Danny atrás de mim. Quando me virei ele estava esparramado em minha cama como se fosse dono do lugar.
— Pra começar, pode ir tirando seus pés de minha cama e sente-se como uma pessoa normal — respondi brincalhona.
Fui até meu armário e tirei de lá uma caixa contendo um jogo de quebracabeça. Juntei vários cadernos sobre a cama para ter algo plano para montarmos. O resultado final seria a Monalisa.
— Então o segredo é montar um quebracabeça?! — disse ele com divertimento.
— Cale a boca — sentei-me em frente ao Danny em posição de índio, somente o jogo nos separava. Eu só posso te tocar quando você está com muita, muita raiva... ou quando você está totalmente relaxado. Não pode TER muitas coisas em sua mente. Ficamos jogando xadrez horas
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antes do nosso primeiro toque acontecer, a sua mente só tinha uma coisa em mente: o jogo.
— Hum — ele não acreditou assim tão facilmente.
Montamos por algumas horas, pois o quebra-cabeça era enorme e as peças, muito pequenas. Tentei tocá-lo três vezes, mas minha mão o atravessou em todas as tentativas.
— Já está relaxado? — perguntei quase que caindo sono. Ele parecia estar entediado.
— Se você ficar me perguntando isso a cada cinco segundos eu nunca vou relaxar.
— Ei, não use esse tom comigo — pedi, com uma leve irritação.
— Que tom?
— Ah, esquece — resmunguei e bufei. Comecei a segurar a cabeça com a mão direita que estava apoiada na perna. Fui dar um tapinha na testa de Danny, mas minha mão a atravessou. Ele ficou irritado.
— Não faça mais isso — Danny quase gritou. — Isso não está funcionando. Vamos parar.
— Eu digo quando podemos parar — minha voz soou com autoridade.
Quando ele fez cara feia eu me ajoelhei bem em cima de nosso jogo quase completo e comecei a lhe dar vários tapas pelo corpo. Ou a tentar lhe dar tapas, mas minha mão sempre o atravessava.
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— Brooke, pare — ele pediu. Eu continuei, ele não sentia dor mesmo, então eu podia ficar fazendo aquilo o dia inteiro.
Quando minha mão foi em direção de seu rosto cu apenas ouvi um “Aí!” e senti minha mão doer. Levei a outra indo para lhe dar um tapa, mas ele me impediu. Ficou ali parado segurando meu pulso enquanto me encarava. Minha respiração era pesada, meu coração batia a mil por hora. Sem pensar duas vezes sua mão livre foi até minha nuca e ele me puxou até seus lábios. percebendo que os ataques de violência haviam acabado ele soltou meu pulso e sua mão foi para debaixo de minha blusa. Nossas línguas se entrelaçavam enquanto sua mão passeava pela minha barriga e ia subindo. Sua mão tocou em meu seio por cima do sutiã e eu fiquei toda arrepiada. Tentei soltar minha boca da sua para soltar um gemido, mas ele começou a beijar ainda mais apaixonadamente do que antes.
— Você quer? — perguntou ele entre as pausas de nossos beijos.
— Sim. Eu quero você — sussurrei ofegante. Sentei-me sobre ele novamente, como na primeira vez, e tirei sua camiseta. Quando a joguei para o chão, ela simplesmente desapareceu. Se fosse em outra ocasião, eu iria tentar entender o que havia acontecido, mas minha mente estava em outro lugar.
Pela primeira vez, vi seu peito nu e aquilo me fascinou. Ele era tão... perfeito! Totalmente musculoso e havia urna cicatriz reta e branca na horizontal em cima de seu mamilo esquerdo. Enquanto eu tocava seu peito nu, ele beijava meu ombro, meu pescoço... Ele estava prestes a tirar minha camiseta rosa quando...
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— Por que toda vez que eu abro a porta eu pego você estatelada em algum lugar? — perguntou Lucy seriamente quando abriu a porta do nosso quarto compartilhado em Stanford.
— Ah, meu Deus, eu estou sangrando! — quase grite quando vi sangue em minhas mãos. Minha cara foi e direção à beirada direita da cama, meu nariz sangrava sem parar. Lucy estendeu um montinho de papel higiênico, quando levantei aos tropeços. — Você quer mesmo saber, Você quer mesmo saber o porquê dessas minhas maluquices? — perguntei quase parecendo uma bêbada.
— Claro, vá em frente — ordenou Lucy enquanto parava em frente a sua cama e cruzava os braços. Claro que foi depois que ela jogou a sua mala imensa sobre a própria cama.
— O culpado de tudo isso é o Danny. Pronto, falei. Eu me sinto melhor — disse, fanha por enfiar uma boa porção de papel higiênico em minha narina direita.
— Você só pode estar brincando. Isso é impossível, o carinha tá mortinho da silva Brooke — retrucou Lucy permanecendo no mesmo lugar e com os braços cruzados. Escolhi justo o dia em que ela estava séria de morrer. Seus cabelos ruivos encrespados e os óculos de grau enormes pareciam até ameaçadores.
— Dã! É óbvio que ele está morto. Estou dizendo que o fantasma dele ainda está aqui — disse como se fosse a coisa mais normal do mundo. Como meu pai havia aceitado a história numa boa, eu concluí então que poderia acontecer a mesma coisa com a Lucy.
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— Hum. Você disse fantasma? — perguntou ela descruzando seus braços. Naquele momento ela estava tensa.
— Sim. Fantasma, Lucy — quando disse isso eia soltou uma longa gargalhada. Eu apenas fiquei olhando para ela com papel enfiado em meu nariz seriamente. Somente quando Danny apareceu e eu comecei a falar com ele na frente dela que Lucy começou a prestar atenção em mim.
— Por onde você andou, seu frangote? — perguntei irritada. As risadas de Lucy cessaram e Danny percebeu o que estava havendo.
— Eu não acho que essa seja uma boa ideia — disse ele assustado.
— Tarde demais pra isso, colega.
— Ei, não foi culpa minha, tá legal? Quando eu fico nervoso eu meio que desapareço — retrucou Danny irritado.
— Mas você podia ter avisado antes. Ë a segunda vez que eu me machuco por sua causa — eu disse, fanha, com o dedo indicador apontado para ele. Danny soltou uma risada por causa de minha voz.
— Não se atreva... — falei assustadoramente e ele parou.
— Então ele está aqui? — perguntou Lucy se aproximando mais de mim.
— Infelizmente sim — murmurei ainda irritada... e fanha. Era para eu estar irritada com Lucy, era ela afinal que havia pela segunda vez nos interrompido bem no momento que as coisas estavam esquentando...
— Brooke, você sabe que eu te amo, mas isso é uma loucura total — sussurrou ela parecendo uma psicóloga nerd.
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— Faça alguma coisa — ordenei para Danny. Ele apenas franziu as sobrancelhas e fez uma careta.
— Fazer o quê?
— Pisque as luzes, mova alguma coisa. Qualquer coisa. — Lucy apenas me olhava com atenção.
— Somente faço essas coisas quando estou muito irritado.
Eu revirei os olhos e disse para a Lucy:
— Ele só faz isso quando está muito irritado — ela apenas um sorrisinho falso. Eu bufei e me voltei para Danny novamente. — Danny faça qualquer coisa, ela não acredita em mim — pedi.
— Ótimo, eu vou tentar — disse ele por fim.
— Ele vai tentar — eu anunciei sorrindo para Lucy. —Mas, se você não acreditar em mim, pode perguntar Brian, o assassino, e especialmente para Aaron. Eles viram o que Danny pode fazer. Eles pensam que eu tenho tipo de poder... o que na verdade é legal — sorri mais ainda.
— Bom, Aaron me disse o que aconteceu. Ele ficou apavorado — disse ela pensando no assunto.
— Não estou conseguindo — Danny proclamou entre- dentes.
— Que tipo de fantasma você é? Nossa, não consegue nem mexer um lápis. Deus do céu! — fiz de propósito só para ele ficar irritado. E funcionou. A minha cama e a de Lucy começaram a tremer, a porta do banheiro se fechou e todos os meus livros voaram pelo quarto. Até eu fiquei impressionada. — Hum, nada mal — murmurei ainda fanha.
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Danny apenas encarava o chão. E Lucy, bom... ela estava com os olhos esbugalhados e olhava para mim. Foi arrepiante.
— Ele está mesmo aqui? — sussurrou ela ainda apavorada.
— Foi o que eu estava tentando te dizer desde o começo. Mas não se preocupe, ele não é do mal. Pelo menos não para você.
— Me desculpe, Brooke. Não foi minha intenção te machucar, eu prometo que não vai acontecer outra vez — anunciou ele tristemente. Eu levei um tempo até dizer algo de volta.
— Tudo bem, desde que não aconteça novamente — eu disse, e ele assentiu com a cabeça. Eu finalmente tirei o papel do nariz.
— O que ele está dizendo? — perguntou Lucy olhando para todos os lados para ver se ela podia ver ele também.
— Ele está pedindo desculpas por ter me machucado.
— Como, exatamente... — ela começou a perguntar, mas eu a interrompi, respondendo o que ela tinha em mente.
— Estávamos nos beijando, ele desapareceu e eu me desequilibrei — se Lucy não estava tão assustada antes, isso mexeu com ela.
— Você beija um fantasma? Como isso é possível?
— Eu achei esse livro supermaneiro da minha avó que também via fantasmas e decidimos tentar o que ele indicava pra ver se funcionava. Já havíamos nos beijado antes, então apenas estávamos tentando que acontecesse de novo.
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— Hum. Estou sem palavras — disse ela por fim, totalmente amedrontada. Ela foi caminhando até mim ligeiramente, e sinceramente eu pensei que ela ia me esfaquear com alguma faca invisível, mas tudo o que ela fez foi atirar seus braços em minha volta. — MUITO OBRIGADO PELO PÔSTER! — gritou ela sorrindo e me abraçando apertado. — Foi o melhor sente do ano — continuou ela feliz da vida. Naquele momento era eu quem estava sem palavras.
Quando o abraço se desfez ela me deu um rápido beijo na bochecha (com um grande smack) e correu até sua mala. Tirou de dentro o pôster que eu havia lhe dado e começou a grudá-lo ao lado do pôster do filme O diário da nossa Virei-me para ver Danny e ele também estava sem palavras apenas nos encaramos por um tempo e viramos para Lucy que grudava seu pôster toda faceira. Enquanto recolhia os livros que Danny havia espalhado por todo o quarto, eu perguntei a Lucy.
— Então você não se...
— Se eu não me incomodo que você e Gasparzinho ficam se entrosando aqui e ali? Para a sua informação, Brookezinha, eu já vi um fantasma uma vez. Eu tive certeza porque eu podia ver através dele, então eu sei com certeza que fantasmas são reais.
— Então porque ficou tão assustada quando falei?
— Porque eu sinceramente pensei que você tinha enlouquecido. Quais as chances de urna pessoa do campus realmente ver o espírito de Danny? Quase zero. Mas não se preocupe, depois do showzinho que ele deu, você para mim parece totalmente sã.
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— Nossa, que alívio — não sei se isso saiu da maneira que deveria ter saído. — Por favor, não conte a Aaron, ele já está tão apavorado com tudo que está acontecendo, ele não precisa de outra coisa bizarra em sua vida. E não fale ao Níck também...
— Relaxe, Brookezinha, seu segredo está guardado comigo.
— Ah, obrigada, Lu — disse enquanto a abraçava. Não sei por que algum dia eu pensei que Lucy não entenderia.
— Você é a minha melhor amiga. Amo você.
— Amo você — ela disse e eu sorri de felicidade.
— Agora me conte como foi seu Natal — pedi para Lucy. Sentamos em sua cama e ela começou a me contar os melhores momentos. Pude sentir Danny nos observando, e, quando olhei para ele, seu rosto estava radiante. Ele parecia brilhar, e sorria. Sorri de volta, ele fez um sinal de que voltaria depois e ele foi desaparecendo aos poucos.
— Meus pais adoraram o Aaron. Acho que pela primeira vez eles sentiram orgulho de mim. Não os vi assim tão orgulhosos e felizes com minha escolha, nem quando fui aceita na faculdade. Que decepção, meus pais são um caso perdido. A única coisa que ganhei de Natal foi roupas, então imagine o meu surto quando abri o seu presente. Comecei a gritar e toda a minha família me olhava como se eu fosse uma louca varrida. Mas eu não liguei, fiquei feliz naquele momento por ter ganho algo que eu realmente queria. Graças a você, meu Natal foi salvo — disse ela sorrindo. — E o seu?
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— Foi legal — não quis dizer “maravilhoso” porque não queria que ela se sentisse desafortunada por ter uma família tão desapegada e eu sabia como ela não gostava de reuniões de família. — Meu pai montou a melhor árvore de Natal do planeta, ganhei o iPod de 60 giga que eu queria de minha mãe, Danny conheceu meus pais e eu contei o segredo sobre o Danny ao meu pai. Foi aí que ele me disse que minha avô Marylin também podia vê-los, mas ela via a todos, eu apenas vejo Danny... por alguma razão.
— Ele aceitou numa boa?
— Com certeza ele aceitou mais facilmente que você — respondi sorrindo. — Ele acha que Danny me assombra.
— Não acredito — ambas soltamos uma gargalhada alta — Eu quis te contar tantas outras vezes, mas...
— Pare. Eu sei que isso deve ser difícil pra você. Eu entendo, então não precisa se desculpar por nada — murmurou ela muito compreensiva.
— Obrigada — agradeci por fim.
— Por quê?
— Por me aguentar por todos esses meses, me aceitar da maneira que eu sou. Não existem muitas pessoas boas como você — confessei com seriedade.
— Fico feliz de ter você como amiga. Você arrasa, Cachinhos Dourados.
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— Nossa, não ouço essa desde os tempos de escola, ugh — ela sorriu.
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Outro garoto foi assassinado pelo serial killer do campus. O nome dele? Ninguém menos que Brian Gobdy, ex-amigo de Danny. Ele foi encontrado ontem à noite, mas somente hoje pela manhã os rumores entrarem em ação e chegaram aos meus ouvidos. A polícia não saía mais da Universidade de Stanford e a partir daquele momento as aulas foram canceladas. As pessoas que gostariam de permanecer nos alojamentos da faculdade teriam que cumprir o toque de recolher e muitas outras medidas de segurança seriam tomadas. Todo mundo se olhava com suspeitas, ninguém mais falava um com outro, o clima se tornou mais tenso do que antes estava. Parecíamos uma cambada de zumbis.
Minha mãe foi até meu alojamento e me mandou ar rumar minhas coisas porque iria me levar para casa. Eu gritei e disse que não. Sentei na cama irritada com braços cruzados e fiquei encarando o chão, esperando talvez que ela virasse as costas e fosse embora. Mas não foi assim tão fácil. Eu disse não, não, não, não e ameacei ligar para o papai, porque ele entenderia e faria a minha vontade. Ela pela primeira vez em muito tempo ficou brava comigo. Eu me senti mal por falar aquilo, mas eu não iria deixar Lucy absolutamente sozinha em nosso quarto. E, além disso, eu
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tinha que ajudar Danny, e eu tinha que pensar em meu trabalho. Não podia deixar Troy sozinho com os defuntos, tinha que ajudá-lo, agora mais que nunca.
Minha mãe somente me deixou ficar por que:
1) Eu disse que não sairia dali. Ela poderia esperar para sempre, mas eu não sairia dali;
2) Disse que não sairia do quarto, e quando saísse para as refeições, Lucy e Nick iriam comigo;
Mas a opção que a deixou mais tranquila foi a última:
3) O serial killer do campus só mata garotos.
Ela cedeu. Saiu bufando do meu quarto, resmungando coisas que eu não consegui entender. Ainda bem que Danny não estava presente quando eu e minha mãe discutíamos, porque eu sabia que ele ficaria do lado dela. É claro que ele precisava da minha ajuda para encontrar o assassino, mas isso não estava na questão daquele momento. Ele me queria segura. “Eu não quero que nada aconteça com você, eu posso esperar” — palavras dele. Eu tinha que ficar, ainda mais agora que Danny estava começando a se lembrar de tudo, quase todas as memórias de sua vida. Nós apenas estávamos esperando a memória certa para sabermos quem era o assassino e para colocá-lo atrás das grades.
— Eu não acredito que você não foi com sua mãe — Danny disse quase aos gritos. Lucy lia um livro quando a nossa discussão começou, ou pelo menos ela fingia que ha.
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— Eu tenho que ficar aqui. Muitas pessoas precisam de mim — retruquei irritada.
— Lucy e Nick podem muito bem se virar sem você e Troy pode contratar outra pessoa para ficar no seu lugar.
Eu não podia acreditar que ele estava falando aquelas coisas para mim. Não sei por que ele estava tão obcecado pela minha segurança, o serial killer só ia atrás de garotos. Eu não estava sofrendo nenhuma ameaça.
— Não me importo com o que você pensa, vou ficar aqui e ponto final — cruzei os braços e desviei os olhos dele.
— Ótimo, mas quando você aparecer morta em algum lugar não venha colocar a culpa em mim — resmungou ele ainda muito irritado.
— É, talvez seja isso mesmo que eu queira — sussurrei muito baixo, mas ele ouviu.
— NÃO DIGA ISSO! ele gritou. — Não acredito que você possa pensar em uma coisa dessas — eu continuava sem encará-lo, mas conseguia sentir sua fúria. — Acho que não devemos nos ver por algum tempo — disse ele afinal.
— Você não pode fazer isso, você sabe como eu fiquei na última vez.
— Isso vai ser para o seu próprio bem, você vai me agradecer um dia.
— Não se atreva — eu disse entredentes
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— Adeus, Brooke — ele começou a desaparecer aos poucos, quase Como para me provocar. Então eu gritei:
— EU TE ODEIO! — e peguei um livro e atirei contra ele, mas o livro o atravessou
Quando finalmente ele desapareceu, eu me joguei na cama e comecei a chorar, e Lucy correu até mim e me abraçou. Ela não escutou a briga toda entre mim e Danny, mas ela sabia o que estava acontecendo, portanto apenas me abraçou e não disse nada. Agradeci pela milésima vez por ter Lucy em minha vida e amaldiçoei o dia em que Danny apareceu em minha vida.
Os dias passavam devagar. Sem ter muito o que fazer, Lucy, Nick e eu passávamos a maior parte do tempo no alojamento montando quebra-cabeças ou nos entretendo com jogos de tabuleiro. Não era tão ruim assim, podíamos nos divertir. Ainda mais quando Nick conseguiu uma televisão e um aparelho de DVD para o nosso quarto. Assistíamos a filmes até tarde da noite e comíamos pipoca. Nick dormia no chão com o colchão que ele havia trazido. Não era permitido garotos no alojamento, mas os tempos eram difíceis e queríamos Nick seguro.
Aaron não se juntou a nós porque ele não tinha voltado mais para a faculdade depois do ataque que sofrera, nem mesmo para visitar Lucy. Eles ainda estavam namorando, mas não se viam tanto quanto antes.
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Quando voltava para o quarto, encontrei Olivia cheia de papéis e toda enrolada. Ela parecia nervosa e os deixou cair no chão. Corri até ela e ajudei a juntar todas as provas e trabalhos que pareciam livros de tão grossos.
— Ah, obrigada, querida.
— Você está bem? — perguntei.
— Estou só... sabe... um pouco agitada, eu acho, corno todo mundo. — Eu assenti e lhe entreguei todos os papéis que consegui pegar antes que ela.
— Você não devia estar em casa? — perguntei. Achei estranho ela estar caminhando pelo alojamento. Ainda mais porque as aulas haviam sido canceladas.
— Oh, não, alguns professores se ofereceram para ajudar a cuidar do campus, principalmente à noite, então o diretor me ofereceu um quarto aqui, já que eu moro muito longe.
— Gentil da sua parte.
— Não gosto da ideia de ter um assassino por aqui, mas tenho que ajudar — e dizendo isso ela deu um sorrisinho. Ela parecia muito assustada, mas ainda assim estava disposta a ajudar os alunos.
— Porque toda essa carga pesada? — perguntei sorrindo e olhando para a pilha de provas e trabalhos.
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— Como tenho algum tempo livre fui até minha sala e peguei os trabalhos que precisam ser corrigidos e as provas que precisam ser corrigidas — respondeu ela, sem muito entusiasmo.
— Você quer ajuda? — ofereci e ela franziu a testa. — Eu também tenho muito tempo livre agora, então, sabe, posso ajudar um pouco.
— É sério? Ah, eu iria adorar, Brooke. — acho que nunca a vi sorrir tão abertamente antes. Ela parecia aliviada, quem dera se todos os professores fossem tão dedicados e legais como ela.
— Claro.
— Pode me encontrar em meu quarto dentro de dez minutos? Tenho que fazer algo antes, mas depois estou livre.
Eu assenti.
— Ótimo. É no quarto andar, numero 62.
— Tudo bem, encontro você lá.
Segui para meu próprio quarto e encontrei Lucy adormecida. Esparramada, como se não dormisse há dias, e ainda eram quatro horas da tarde. Eu sorri e escrevi em um bilhete que estaria com Olivia. Voltaria mais tarde depois de meu turno no necrotério e então poderíamos assistir a algum filme. Quando estava quase chegando para abrir a porta, Danny se materializou em minha frente. Soltei um gritinho, mas não acordei Lucy.
— O que está fazendo aqui? Disse que não iria mais me ver — eu soei séria até demais.
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— Lembrei de algo importante do meu ataque.
— Fale rápido, tenho que ir.
— Ir aonde? Você disse que não sairia sem seus amigos — resmungou ele. Eu ameacei ir sem deixá-lo falar e ele mudou assunto. — Eu não cheguei a ver o rosto da pessoa que me matou, mas eu vi um relógio. Sei que já o vi antes, mas não estou lembrando a quem pertence — ele me contou. Eu apenas o encarei.
— Um relógio... tudo bem. Como ele era?
— Vi de relance antes de o assassino me fazer cheirar clorofórmio. Mas ele era de prata, pequeno e tinha urna pulseira de couro fina que estava um pouco rasgada. Sei que já vi antes. Você se recorda de alguém que tenha um relógio assim?
— Não, não sou dessas pessoas que reparam em coisas pequenas — respondi triste por não saber. Por um momento, esqueci de nossa briga e tudo que dissemos. Ah, como eu queria beijá-lo. Esquece, Brooke, você tem que ir se encontrar com Olivia. — Vou ficar atenta, agora tenho uma noção do que procurar, você deve fazer o mesmo — ele assentiu e eu saí para ir encontrar Olivia.
Bati na porta dela e esperei até ela abrir. Olivia me saudou muito sorridente e me deixou entrar. O quarto dela era parecido com o meu e de Lucy, mas no lugar de minha escrivaninha ela tinha uma mesa grande e redonda onde havia colocado a imensa pilha de papéis. A cama estava feita, enquanto a da esquerda estava sem lençóis. Havia poucas coisas dela ali, nem foto nem nada parecido. Parecia um quarto triste.
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— Quer algo para beber antes de começarmos?
— Não, obrigada.
— Então vamos ao trabalho.
Sentamos nas duas cadeiras que nos esperavam e me ofereceu uma caneta azul e outra vermelha. Enquanto ela lia os trabalhos eu iria corrigir as provas de múltiplas escolha. Ela me deu o gabarito e fomos ao trabalho. Percebi que Olivia era muito séria, e isso era algo bom em uma mulher. Eu admirava Olivia por ser tão legal com os alunos principalmente comigo. Pela primeira vez eu a via de jeans o que pareceu estranho para mim. Talvez porque ela usava saias até o joelho. Ficamos ali por mais ou menos duas horas. Eu tinha que ficar atenta no horário para no me atrasar para meu turno no necrotério.
— Que horas são? — perguntei.
— Dez minutos para as seis horas. Você tem que ir para o necrotério?
— Sim, Troy não me dá descanso — respondi sorridente.
Ela tirou o casaco curto e leve, e se levantou. Olivia me ofereceu uma Coca Cola antes de ir, ela havia lido meus pensamentos. Foi quando ela estendeu a mão esquerda . para pegar a lata que eu o vi. Aquilo que Danny havia me perguntado se eu tinha visto antes, você provavelmente deve se lembrar: um relógio de prata, pequeno e com uma pulseira de couro fina e um pouco rasgada.
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Meu coração pulou. Eu agradeci a Coca Cola com um sorriso forçado. Não queria pensar no que havia visto e nem no que aquilo significava. Danny devia ter cometido um erro, talvez ele se lembrasse do relógio de Olivia em outro lugar, não no momento de seu assassinato. Tinha que haver alguma explicação. Eu apenas não queria acreditar naquilo, então eu fiquei lá sorrindo para ela e bebendo minha Coca até que acabasse.
— Há quanto tempo você é professora? — perguntei.
— Eu tenho 29, leciono desde os 21.
— Você gosta dessa profissão? — O que você está fazendo, Brooke?
— Gosto. Quando vejo uma nota alta em uma prova ou trabalho eu me sinto realizada. O aluno sabe aquilo por minha causa, e isso é uma ótima sensação — falou ela enquanto caminhava pelo quarto. Por fim ela descansou e se sentou em sua cama, ficou de frente para mim. Como uma pessoa tão doce como ela poderia ser algo tão horrível? Eu não conseguia acreditar.
— Você é uma ótima professora, minha favorita.
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— Obrigada, Brooke, e você é uma ótima aluna — ela sorrindo.
— Então, depois de todo esse caminho que você correu, não entendo como uma pessoa gentil como você poderia ser uma assassina. Ou melhor, uma serial killer — dei um gole em minha Coca e sussurrei: — Inacreditável.
Eu esperava que ela começasse a rir ou me olhasse corno eu estivesse maluca. Ou até mesmo eu esperaria por ela em cima de mim para me matar. Mas tudo que ela fez foi dizer:
— Eu sabia que você iria descobrir — disse, fechando os olhos e bufando. Ela não era nem um pouco ameaçadora, na verdade nem o tom de sua voz mudou. Estava gentil adorável como sempre. — Quando você me viu naquele dia, eu soube que era uma questão de tempo.
— Ótima fantasia, afinal — disse eu, em relação à roupa preta. — Nem imaginava que fosse uma mulher — eu não sei por que eu estava tão calma, conversar assim normalmente com uma assassina não era normal. Mas eu tinha a sensação de que ela não me machucaria. De que ela NUNCA me machucaria. Acho que ela descobriu o que eu estava pensando.
— Eu não vou machucá-la — é, por algum motivo ela só só atava rapazes.
— Por quê? Por que você os matou? — não me segurei e tive que perguntar, aliás, eu queria e necessitava de algumas resposta.
— Eles mereceram. Garotos que abusam de mulheres não devem viver— respondeu ela cruamente. Eu me arrepiei toda e não foi
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simplesmente pela maneira que ela disse o que disse, mas pela resposta também. Danny havia abusado de alguma pobre garota? Ele não poderia... ele nunca faria mal a ninguém. Olivia se levantou e cruzou os braços. — Exceto talvez aquele garoto, o Danny. Ele foi apenas um erro, não deveria ter acontecido — ela confessou quase envergonhada, o que me deu nojo. A partir daquele momento eu comecei a sentir nojo daquela pessoa que eu pensei que amasse.
— Esclareça isso, por favor — pedi com os dentes cerrados.
— Eu pensei que Brian estava sozinho no quarto. Eu não sabia que Danny estava lá. Quando me dei conta, era Danny quem estava adormecido em meus braços, e não Brian.
— Então por que você o matou se viu que tinha cometido um erro?
— Porque eu tinha certeza absoluta de que ele viu que era eu antes de fechar os olhos. Não podia correr o risco de ele contar para a polícia quando acordasse. Tive que mata-lo e eu sinto muito por isso.
Eu fiquei a olhando para Olivia e sentindo pena por existir alguém tão miserável no mundo. Como eu pude confiar nessa pessoa? Como eu deixei ela me confortar em momentos de tristeza mais de uma vez, se ela mesma era a culpada? Como eu não vi isso antes? Como ninguém viu isso antes?
— E o que Brian fez de tão terrível por merecer esse destino? — perguntei com desdém e isso a deixou zangada.
— Aquele parasita estuprou a minha irmã casula. Apenas 16 anos e ele a violou — respondeu Olivia quase aos gritos.
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— E quanto ao Gabriel?
— Ele estava se gabando com os amigos quando chegou de férias. Disse que deu um trato total em uma garota que ele odiava.
— Como você sabe se era verdade? Poderia ser uma brincadeira.
— Era verdade porque eu pesquisei na internet as notícias onde seus pais moravam. Nancy Cassidy, 14 anos, estuprada e quase surrada até a morte. Gabriel foi embora depois do ato e Nancy não pôde contar à polícia porque estava em coma — Deus! E eu pensando que Gabriel era uma pessoa decente e adorável. Eu estava julgando mal o caráter das pessoas ultimamente. — Todos os garotos mereceram morrer.
Meu coração começou a bater tão rapidamente que eu pensei que ele fosse fugir. Tudo o que eu conhecia de Olivia desapareceu, até mesmo o sentimento de que ela não poderia me machucar. Ela era tão fria, comecei a odiá-la.
— Você não tinha o direito de fazer a justiça com as próprias mãos. Isso é errado. Pensei que uma pessoa inteligente como você saberia disso.
Que cena hilariante. Uma aluna passando um sermão em uma professora. Virei as costas e fui até a porta, virei a maçaneta e estava trancada.
— Procurando isso? — ouvi sua voz atrás de mim e um tilintar de chaves.
Virei para encará-la e ela balançava o molho de chaves de um lado para o outro com um sorriso no rosto. Danny a havia visto em ação e morreu por isso. Eu iria morrer como ele, morrer por saber a verdade.
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Não, eu não iria morrer. Eu não iria deixar isso acontecer, eu tinha que chamar a polícia e revelar a verdade para Lewis.
— Deixe-me sair. Eu prometo que não irei dizer nada a ninguém sobre isso — tentei usar a minha habilidade de mentir. Mas não funcionou, pela primeira vez não funcionou. Olivia apenas riu.
— Não seja tão ingênua, Brooke. Eu te conheço.
— Você não sabe nada sobre mim — disse com uma cara de nojo. Ela caminhou ligeiramente até mim e me deu um soco tão forte que eu quase caí no chão. Meu lábio superior começou a sangrar.
— Eu sei muito mais que você imagina. Como, por exemplo.., que você não tem superpoderes como a maioria das pessoas daqui gosta de pensar. Não, a pessoa por trás disso é Danny, não é? Seu precioso Danny, o namorado que você nunca teve.
— Como vo...
— Eu instalei um microfone no seu quarto. Sei tudo o que você e seus amigos disseram desde quando você me viu com Aaron.
— Ele mudou, ele...
— Me poupe. Eles nunca mudam, Brooke. Aaron abusou muitas garotas antes de você aparecer. E é por isso que eu tenho que matá-lo na próxima vez que ele aparecer por aqui.
— Você vai estar presa até lá — disse com firmeza.
— Aí é que você está errada. Eu gosto de você, Brooke...
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— começou ela passando a mão em meu rosto e depois o segurando com ambas as mãos. Ela me encarou a centímetros de mim, eu pensei que ele fosse me beijar quando ela foi se aproximando mais e mais, mas ela foi até meu ouvido e sussurrou — ... mas você tem que morrer — e me deu um beijo no rosto.
É óbvio que depois do que ela me disse eu não fiquei parada. Depois do beijo que ela me deu, Olivia virou as costas e eu a empurrei. Ela caiu no chão e a chave foi parar embaixo na cama inutilizada. Eu dei um chute muito forte em seu estômago para impedi-la de se levantar e fui rapidamente para o chão para tentar pegar a chave. Estendi minha mão para debaixo da cama, mas estava muito longe. Quando tentei ir mais para o fundo senti uma dor alucinante nas costelas, Olivia havia me chutado. Eu gritei de dor e ela me fez levantar.
Eu tentei socá-la, mas ela se defendeu. Tentei novamente, ela me bloqueou e me socou pela segunda vez. Para uma professorinha ela sabia muito bem lutar. Eu não era páreo para Olivia e ela sabia disso. Eu já estava me sentindo derrotada, mas quando ela tirou uma faca muito maior que as normais de cozinhas de dentro de uma de suas gavetas eu entrei em pânico. Queria gritar e pedir socorro, mas não iria funcionar de qualquer maneira. A porta estava trancada e, antes mesmo que eu conseguisse dar um grito qualquer, ela poderia cortar minha garganta com aquela lâmina.
Ela me chutou e eu caí no chão, tremendo e me sentindo encurralada. Não tinha para onde ir e não tinha ninguém para me ajudar. Ou melhor, nenhum ser humano, mas um fantasma... isso eu tinha E quando ele atravessou a porta do quarto de Olivia e me viu naquele
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estado... digamos que seus poderes ficaram instáveis. Se você fosse um fantasma e sua assassina estivesse prestes a matar a pessoa que você ama, o que você faria?
Eu nunca vi Danny daquela maneira. Seus olhos cravaram nos de Olivia quando eu olhei para a porta e ela se virou. Em um momento Danny estava parado em frente à porta, no outro ele estava a centímetros cio rosto de Olivia com um olhar amedrontador. A imagem dele estava diferente, ele ficava transparente e depois ficava em seu estado normal. Tudo, e eu digo absolutamente tudo, começou a levitar no quarto de Olivia, menos eu. Foi como se um tornado estivesse se centrando ali, centenas de folhas voaram pelo quarto, todos os móveis levantaram do chão. O vento estava tão forte que eu não conseguia ficar de olhos abertos por muito tempo.
Vi Olivia a centímetros do chão, procurando pasma para o que pudesse estar causando tudo aquilo. Enquanto isso, Danny ainda olhava para dentro de seus olhos, mesmo ela estando muito acima do chão. Quando eu pensei que tudo iria parar, Olivia foi arremessada para a parede mais próxima. Ouvi um som forte e ela caiu no chão totalmente inconsciente. E foi quando tudo voltou ao normal. Os móveis caíram no chão com um estrondo, o vento parou e as coisas voando desceram.
Apesar de Olivia estar inconsciente Danny ainda a olhava com uma fúria inacabável. Levantei-me e fui ao seu encontro.
— Eu vi o rosto dela. Eu vi o rosto dela quando estava te esperando no seu quarto — murmurou ele sem tirar os olhos de Olivia. — Quando Lucy acordou e disse em voz alta o que possivelmente você estaria fazendo
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com Olivia eu vi o momento final da minha vida. E era ela. Desculpe-me por não ter chegado antes — sussurrou ele com tristeza.
— Ei, estou bem — afirmei segurando seu rosto com minhas mãos. Ele me olhou surpreso por tocá-lo em um momento que ele tanto precisava. Ele chorou pela primeira vez.
— Ela machucou você — ele sussurrou enquanto passava a mão em meu rosto. Eu murmurei que estava bem novamente e ele me apertou contra seu corpo. — Temos que ligar para a polícia — ele lembrou-me.
Saí de seus braços e fui à procura do celular dela. Encontrei-o dentro de sua bolsa Gucci. Liguei para Lewis e contei o que aconteceu. Disse que Olivia era a assassina e que ela havia tentado me matar. Ele soou tão surpreso quanto eu. Contei onde eu estava e disse para se apressar. Como não sou estúpida, contei a ele já no telefone quem eles deveriam procurar. Olivia podia estar inconsciente, mas quem poderia garantir que ela não acordasse e terminasse o serviço de me matar?
Enquanto pegava a chave debaixo da cama, Danny estava agachado no chão e não tirava os olhos da mulher que lhe tirara a vida. Destranquei a porta e a deixei entreaberta. Esperamos pacientemente por Lewis, eu e Danny trocando olhares. Fui até ele em um momento e pedi que se levantasse Certifiquei-me de que podia tocá-lo antes de beijá-lo, e eu podia. Passei levemente minha mão em seu rosto e encarei aqueles olhos claros brilhantes. Quando fui beijá-lo ele me empurrou fortemente e eu caí no chão.
Olivia havia acordado e se atirava em minha direção. Fui para trás enquanto ela avançava. Ela conseguiu me cortar com a faca no braço
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direito, e eu gritei de dor. Quando ela levantou a mão para tentar me cortar novamente ouvi dois tiros. Sentei-me no chão, apertei meu braço que doía sem parar e olhei para o corpo de Olivia que jazia no chão sangrando, morta.
— Você está bem, querida? — perguntou Lewis enquanto me ajudava a levantar.
— Melhor impossível.
Quando olhei para a porta, outros tantos policiais entraram no quarto e um paramédico foi até mim. Teria que ir para o hospital para receber pontos, o corte foi profundo. Danny agora me olhava aliviado e sorriu quando nossos olhos se encontraram. Eu queria sorrir, mas notei que o hematoma em seu pescoço havia sumido. Com todas as informações que havia lido nos livros de minha avó eu sabia o que aquilo significava: que ele estava pronto para ir embora, ir para a luz, um lugar onde pessoas o esperavam... um lugar sem mim.
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Uma semana se passou desde a descoberta da identidade do serial killer e eu ainda tinha pesadelos durante a noite. Mas Danny sempre estava ao meu lado quando acordava suada e assustada. Eu o abraçava quando podia tocá-lo, ou apenas memorizava cada centímetro de seu rosto até conseguir dormir novamente.
A notícia sobre Olivia ser a serial killer do campus apareceu nos jornais e até na televisão. As aulas voltaram, mas ninguém conseguia ainda acreditar que Olivia poderia ter sido a causadora de tanta dor e sofrimento. Ela, que ainda havia fingido se importar.
Danny queria conversar comigo sobre algo que eu sabia muito bem o que era, mas eu sempre o interrompia ou apenas o ignorava. Senti ódio de mim mesma por pensar que eu pudesse mantê-lo aqui. Eu o queria feliz, mas não estava dando a ele o que ele mais queria: voltar para seus pais e descansar na luz, em paz. Então, quando ele tocou no assunto novamente, eu aceitei.
— Brooke, precisamos conversar — ele começou dizendo enquanto eu procurava algo para vestir para ir me encontrar com Nick e Lucy na
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festa de Aaron. Não, ele não estava mais bebendo, era apenas seu aniversário de 24 anos.
Joguei os dois vestidos que tinha nas mãos sobre a cama e disse com uma dor em minha voz.
— Eu sei. Você tem que ir.
Ele assentiu com um longo movimento de cabeça e caminhou até mim. Não consegui olhar em seus olhos enquanto ele falava.
— Eu fiquei aqui porque queria que minha tia soubesse o quanto eu a amava. Eu fiquei porque queria uma conclusão sobre a minha morte. E eu fiquei porque eu queria que você soubesse o que eu sentia por você. Você foi a tima pessoa que eu vi em minha mente quando morri, acho que foi por isso que eu apareci em seu quarto. Eu queria estar com você. — Eu senti as lágrimas chegando. — Tudo o que eu queria se realizou. Eu sinto que agora eu posso ir.
— Eu queria tocar em você — sussurrei de olhos fechados quando as primeiras lágrimas caíram.
— Acho melhor não.
Não fiquei brava com sua resposta, na verdade eu até a esperava. Apenas fiz um sim com a cabeça para mostrar a ele que entendia.
— Olhe para mim — ele pediu. Eu o fiz. Eu sabia que ele sentia a mesma dor que eu, mas eu vi naqueles olhos uma felicidade que eu nunca havia visto antes. Seus olhos brilhavam. — Eu sempre vou estar com você.
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— Não, você não vai — disse bruscamente e virei as costas para ele. Meu coração doía, parecia se partir cada vez mais e a qualquer momento iria se despedaçar com toda a força. Em milhares de pedacinhos que levaria meses, anos para juntá-los e colá-los novamente. Eu sabia que isso iría acontecer desde o momento em que comecei a sentir algo por ele. Por que eu não fiquei longe? Por que eu tinha que ser tão tola e infantil? Eu sabia que não poderia tê-lo, mas mesmo assim fui atrás dele. O que havia de errado comigo?
— Você sabe que eu te amo... mas meu lugar não é aqui — o ouvi dizer. Comecei a soluçar de tanto chorar.
— Então eu posso ir com você — disse chorosa quando me virei para encará-lo. — Eu... vou sair daqui e ficar no meio da rua até alguém passar por cima de mim... Ou eu posso me matar agora mesmo — peguei uma tesoura que estava perto de mim e, com lágrimas escorrendo, a levei até meu pulso.
Danny foi rápido e jogou a tesoura longe. Colocou ambas as mãos em meus braços e me segurou em sua frente. Também havia lágrimas em seus olhos.
— Eu nunca te deixaria fazer algo assim.
— Mas eu q-q-quero morrer, eu quero ficar com você pra s-s-s-sempre.
Ele me envolveu em um abraço forte e apertado. Tudo que eu podia fazer era chorar e implorar a Deus que me tirasse daquele mundo.
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— Pense em Lucy, Nick, Aaron, seus pais, Troy... todos eles precisam de você mais do que eu.
— Mas eu preciso de você — teimei.
— Ficaremos juntos — começou meu Danny, afastando a cabeça e olhando nos meus olhos molhados, em minha alma machucada — Eu prometo que ficaremos juntos. Você é minha Lois Lane. Clark e Lois sempre ficam juntos, apesar de tudo que passam, não é?
— Sim.
— Ficaremos juntos, eu prometo. Mas prometa que você não vai fazer algo estúpido como tentar se matar. Prometa-me.
Eu hesitei.
— PROMETA-ME, BROOKE! - gritou ele enquanto apertava mais meus braços.
— SIM. Tudo bem.
— Diga.
— EU PROMETO! — gritei.
Seus lábios caíram nos meus e nos beijamos pela última vez. Eu diria que foi perfeito, mas eu chorava feito uma condenada. Lágrimas se misturaram ao nosso beijo, tudo que eu queria era que aquele momento nunca acabasse. Mas nem sempre podemos ter o que queremos.
— Eu te amo — sussurrou Danny.
— Eu te amo mais.
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Enquanto ele dava pequenos passos para longe de mim, acenou um não com a cabeça e com um sorriso ele me disse:
— Isso não é possível.
Quando Danny parou, ele começou a brilhar fortemente. Meus olhos doíam, mas eu queria e iria ficar de olhos abertos para vê-lo me deixar. Depois de um grande sorriso em minha direção ele lentamente começou a desaparecer. Primeiro seus pés, suas pernas, seu peito e por último seu rosto. Ele sumiu, mas ouvi:
— Eu amarei você para sempre, Lois Lane.
Eu sorri. Eu deveria sorrir?
Um mês se passou e eu ainda esperava encontrar Danny em algum lugar perto de mim. Observando-me, cuidando de mim como ninguém nunca havia feito. Sonhei com ele, sonhei com ele todas as noites. Era isso o que me deixava sã, isso e Lucy. Queria pensar que ele ainda estava por aí, invisível, cuidando de mim e me amando com seu jeito único. Era isso que eu estava fazendo. Decidi visitar a tia dele todo mês, ela me contava histórias sobre ele e sobre as coisas que costumava fazer. Isso fazia com que Danny se tornasse real, e também tudo o que passamos juntos. A cicatriz em meu braço esquerdo também me fazia lembrar o quanto real aquilo foi.
Uma coisa é certa. Eu não me arrependi de nenhuma escolha que fiz. Acho que a minha melhor escolha na vida foi no dia em que decidi amá-lo. Ele está sempre comigo e sempre o amarei. Meu Clark Kent.
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O QUE VOCÊ FARIA
SE TIVESSE UMA
Arrependo-me e tê-la tratado mal naquele dia de madrugada quando acabei dormindo em frente ao seu quarto. Eu agiria de maneira completamente diferente se eu soubesse. Eu a teria beijado se soubesse que nunca mais poderia tocá-la. Eu a quero muito, mas nada podemos fazer para que alguma coísa mude para... melhor. — pensamentos de Danny da página 78.
Sonhava com aquele garoto chamado Danny quando ouvi um baque em minha porta e sobressaltei. Olhei para Lucy, que dormia pacificamente. Decidi ver o que havia sido aquilo.
Calcei meus chinelos e fui até a porta. Quando a abri, um garoto que estava sentado diante de minha porta caiu sobre minhas pernas, indo ao chão. Mas ele não estava apenas sentado, ele estava dormindo. Ajoelhei-me ao seu lado e lhe dei um leve tapa na cara para acorda-lo.
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— Acorde, Danny — eu disse. Porque fui logo pensar em abrir a porta?, pensei. Tentei chamá-lo novamente e ele começou a gemer. Agarrou-se em minha perna, e quando tentei tirá-lo fui eu que caí para trás, batendo a cabeça na porta aberta. Eu arfei de dor e foi aí que ele acordou.
— O que aconteceu? — ele perguntou enquanto se sentava, totalmente acordado. — Por que estou aqui com você? — perguntou novamente, só que agora ele parecia constrangido.
— Você se “atirou” na minha porta, seu idiota. Quando vim ver o que era, você caiu em cima de mim e ainda por cima me atacou me fazendo bater a cabeça — respondi á sua pergunta ainda com a mão na cabeça, sabia que ali ficaria um galo logo, logo. E chamei Danny de idiota porque ele simplesmente me viu gemer de dor e não disse nada, nem um pedido de desculpas.
— E o que eu estava fazendo aqui, garota? — perguntou ele ainda sentado em meu chão, praticamente dentro de meu quarto, no vão da porta aberta. Ele se levantou e começou a encarar todas as coisas em sua volta. Eu, meu quarto, o corredor. Achei aquilo estranho.
— Como é que eu vou saber, foi você quem me acordou.
— Hum.
Ele me encarava como se já me conhecesse. Encarei-o enquanto ele me encarava. Quando seus olhos bateram em minha camiseta do Superman, ele disse algo estranho:
— Você é minha Lois Lane — ele sussurrou, quase inaudível.
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— O quê? Qual é o seu problema? Eu nem te conhe...
Eu parei de tagarelar. Senti um déjã vu tão grande... Eu conhecia aquelas palavras. Lois Lane. Alguém já havia me chamado de Lois Lane antes, mas quem?
DANNY!
DANNY!
DANNY!
DANNY!
DANNY!
DANNY!
DANNY!
DANNY!
DANNY!
DANNY!
— Danny! — sussurrei seu nome quase não acreditando em quem estava parado na minha porta.
— Você se lembra — disse Danny sorridente.
— Você se lembra também?
— Sim.
Aquela cena estava tão estranha, decidi beliscá-lo.
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— Eeeiiiiiiiiiiiii!
— Você não está morto.
Ele pensou por alguns segundos e avaliou a nossa situação.
— Não estava morto neste dia — fez uma pausa. — Somente daqui a duas semanas.
— Isso não é real — eu disse colocando a mão na cabeça como se estivesse doendo muito.
— Eu me lembro de estar te dizendo “adeus”. E quando eu abri os olhos vi você. Talvez isso seja o céu — ele chutou.
— Não seja idiota, eu não estou morta.
Avaliamos a situação novamente. Eu fui até meu relógio de cabeceira que marcava quase três horas da madrugada, peguei o celular e voltei para Danny, que esperava na porta aberta.
— Não é possível. Aqui diz que estamos ainda em 2009.
— Como isso é possível? — ele perguntou confuso.
— Talvez tenhamos voltado no tempo — eu disse, animada com a ideia.
— Isso importa? — ele perguntou do nada. O quê?
— Importa por que e como estamos aqui?
— Não.
— Que bom — ele disse, e depois me beijou.
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Foi diferente da primeira vez. Talvez porque eu estivera beijando um fantasma, quem sabe. Esse sonho estava mais do que bom... mas o estranho disso tudo é que não parecia sonho algum. Deixei isso de lado e me concentrei na língua de Danny, que buscava a minha sem parar. Suas mãos que massageavam minha cintura e nuca estavam em um ritmo tão perfeito que eu queria gemer. Ele me apertou contra porta e ficamos conectados. O nosso beijo quente continuou até que ouvi Lucy falar enquanto dormia.
— Aaron está em seu quarto? — perguntei esperançosa.
— Não me lembro... ahh...
— Pense rápido.
— Não, nesse dia ele estava em uma festa. Ele só apareceu no dia seguinte.
Danny e eu nem discutimos, juntamos nossas mãos e corremos até o quarto dele e de Aaron. Trancamos a porta quando entramos e comecei a tirar minhas roupas como se estivessem pegando fogo. Danny fazia o mesmo. Nossas bocas se conectaram e fomos, nus, dando passinhos para a frente até chegarmos à sua cama. Ele me deitou delicada- mente e se colocou sobre mim. Suas mãos estavam em todo lugar, como se não tivéssemos tempo suficiente e o mundo fosse acabar amanhã. Sua mão deslizava em minhas pernas, minha cintura, estômago, seios, enquanto nos beijávamos com paixão. Eu passava minha mão em seus cabelos macios e perfeitos e fazia carinho em suas costas.
— Eu senti tanto a sua falta — murmurei entre beijos e toques.
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— Eu quero você — ele sussurrou.
— Eu quero você.
Ele tirou uma camisinha de dentro da gaveta do armário ao lado, a abriu e vestiu. Abri ainda mais minhas pernas e ele entrou em mim devagarzinho. Seus olhos se mantinham nos meus e gememos juntos quando ele estava por fim todo dentro de mim. Beijei sua testa, seus olhos fechados, suas bochechas e sua boca, como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Quando ele começou a se mover eu me senti no paraíso. Fazer amor com a pessoa que você ama é o melhor êxtase que alguém possa ter. Ele beijava meus ombros, pescoço e meus mamilos duros.
Nossos corpos se encaixaram como uma luva, era como se ele fosse feito especialmente para mim e ninguém mais. Entramos em um ritmo que deixou eu me sentindo a mulher mais satisfeita do mundo. A maneira que ele me tocava, como ele me tomava, era o que eu sempre quis.
Eu gemia, gemia e gritava seu nome. Porque ele era meu, finalmente, de uma maneira que nunca pensávamos que seria possível. Eu o amava mais que a qualquer outra pessoa no mundo, e ele era meu. Estava dentro de mim e me fazia ser a pessoa mais feliz da terra. Chegamos ao êxtase juntos, ele desabou sobre mim. Estávamos ofegantes e eu tremia. Beijei sua cabeça quando ele descansava em meu peito, e caímos no sono.
O curso da história mudou e agora estávamos juntos. Como Danny tinha me prometido. Acordamos naquela manhã como um casal em lua de mel, felizes por estarmos juntos. Ficamos no quarto nos beijando e fazendo
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amor até a hora em que éramos obrigados a nos levantar. As duas semanas seguintes passaram como mágica e finalmente chegou o dia. O dia em que Danny morreria, afinal de contas. Ele teria que estar lá quando acontecesse. Mas não se alarme, nós temos tudo planejado.
Danny foi brigar com Brian naquela noite, eu estava em algum lugar ali perto e Lewis estava comigo. Quando ele saiu do quarto, Olívia o seguiu. Quando ela o apagou e levantou as mãos para estrangulá-lo, Lewis e seus companheiros entraram em ação. Olivia foi presa por tentativa de assassinato e Danny sobreviveu, assim como os outros três garotos que seriam mortos em seguida.
Eu e Danny estávamos juntos em nosso quarto rindo disso e daquilo quando alguém bateu na porta e entrou. Era a última pessoa que eu esperava ver.
— Que bom. Vocês estão juntos — disse ele aliviado.
— Troy?
— Sim, Brooke. Bom vê-lo bem, Danny.
— Como você...? Você se lembra. Como você se lembra quando ninguém mais se lembra?
— Ora, porque fui eu quem fez isso tudo — disse ele, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Danny e eu somente o encaramos.
— Você? Como? Como é possível?
— Querida, eu sou apenas um Ajudante.
— Ajudante? De quem? — perguntou Danny.
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— Da Humanidade, é claro — Eu e Danny estávamos mais perdidos do que uma vovozinha procurando os óculos no próprio rosto. — Apenas um, em cada século, um Ajudante da Humanidade nasce. Essa única pessoa terá poderes que poderá ajudar a Humanidade.
— E essa pessoa é você? Aqui? Justo aqui em Jericho? Isso é loucura — eu disse, boquiaberta.
— Por que você retrocedeu o tempo? — perguntou Danny.
— Nós, Ajudantes da Humanidade, sabemos quando vários desastres acontecem ao mesmo tempo. E, além disso, eu posso saber com apenas um toque em uma pessoa morta qual o futuro ela teria se estivesse viva. E o futuro de Danny foi muito grande para eu simplesmente ignorar.
— Mas isso não afeta o mundo de alguma maneira? Você afinal está desfazendo mortes— eu disse.
— Nada está definido quando a morte não é natural. Eu posso mudar o destino de algumas pessoas que foram assassinadas, tiradas de suas vidas que teriam sido ótimas.
— Como isso acontece?
— As mortes naturais não podem ser evitadas, mas os assassinatos... Bom, isso é outra história. Somente vocês dois impediram três mortes nos próximos meses, e, assim como vocês se lembram do que aconteceu, outras pessoas conhecem a verdade e com sorte farão a coisa certa.
— Você pode voltar no tempo quantas vezes quiser? — perguntei.
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— Podemos retornar no tempo quantas vezes necessárias para consertar o que deve ser consertado. Por que vocês acham que os déjà vus acontecem? Algumas pessoas são fortes o bastante e têm uma leve impressão de que aquilo já aconteceu. Alguns déjà vus são tão fortes que a pessoa pode até prever o futuro, como premonições.
Danny e eu nos encaramos.
— Não precisarei dos seus cuidados em meu necrotério nos próximos meses, Brooke. Estou certo de que poderei cuidar de tudo sozinho. Enquanto isso, apenas aproveitem o tempo que perderam — Troy disse, e deu uma piscadela. Quando ele estava quase saindo, eu o chamei.
— Troy?
— Sim, querida.
— Obrigada.
— Amor verdadeiro como o de vocês dois deve ser vivido — terminou, e, dito isso, ele saiu.
— Você ouviu isso, Brooke? Meu futuro vai ser grande, acho que você escolheu o cara certo — disse ele sorrindo. Sentei em seu colo e o beijei.
Brian foi preso por estupro nas semanas seguintes, assim como Gabriel. Digamos que eu dei uma ajudinha aqui e ali. Apresentei Lucy para Aaron quando fiquei sabendo por Danny que ele havia parado de
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beber. Foi como se os dois soubessem que já tivessem uma ligação anterior e rapidamente se entenderam.
Danny estava feliz por voltar às aulas que perdeu, e eu estava me lamentando porque teria que estudar tudo de novo. O meu laço de amizade com Lucy estava no caminho certo e Nick não deu em cima de mim por saber que eu já estava comprometida. O professor Bradley anunciou que o trabalho de DNA de Danny seria publicado como livro. Nós rimos, nós choramos, nós vivemos.
— Então esse é o grande rapaz de quem a minha princesa sempre fala? — perguntou meu pai sorrindo quando apresentei Danny no Natal, na maneira tradicional. Nada de fantasmas e nada de papos mórbidos.
Minha mãe o adorou, até já está fazendo planos de casamento. Essas mães só pensam nisso...
Quando deu meia-noite, no ano-novo, fizemos brindes.
— À minha Lois Lane.
— Ao meu Clark Kent.
— O que eles disseram? — perguntou meu pai confuso.
— Não tenho a menor ideia. — disse minha mãe por fim.
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Na mitologia nórdica, as valquírias eram deidades menores, servas de Odin. O termo deriva do nórdico antigo valkyrja (em tradução literal significa “as que escolhem os que vão morrer.”)
As valquírias eram belas jovens mulheres que montadas em cavalos alados e armadas com elmos e lanças, sobrevoavam os campos de batalha escolhendo quais guerreiros, os mais bravos, recém-abatidos entrariam no Valhala. Elas o faziam por ordem e benefício de Odin, que precisava de muitos guerreiros corajosos para a batalha vindoura do Ragnarok.
As valquírias escoltavam esses heróis, que eram conhecidos como Einherjar, para Valhala, o salão de Odin. Lá, os escolhidos lutariam todos os dias e festejariam todas as noites em preparação ao Ragnarok, quando ajudariam a defender Asgard na batalha final, em que os deuses morreriam. Devido a um acordo de Odin com a deusa Freya, que chefiava as valquírias, metade desses guerreiros e todas as mulheres mortas em batalha eram levadas para o palácio da deusa.
As valquírias cavalgavam nos céus com armaduras brilhantes e ajudavam a determinar o vitorioso das batalhas e o curso das guerras. Elas também serviam a Odin como mensageiras e quando cavalgavam como tais, suas armaduras faiscavam causando o estranho fenômeno atmosférico chamado de Aurora Boreal.
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Esta obra foi digitalizada pelo Grupo As Valkirias para proporcionar, de maneira totalmente gratuita, o benefício da leitura àqueles que não podem pagar, ou ler em outras línguas. Dessa forma, a venda deste e‐book ou até mesmo a sua troca é totalmente condenável em qualquer circunstância.
Por favor prestigie o autor e incentive a editora comprando o livro.

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