segunda-feira, 17 de junho de 2013

Garotas boas não tem vez

Garotas Boas Não Têm Vez
(Nice Girls Finish Last)
Natalie Anderson
Depois de um selvagem e desastroso relacionamento no passado, Lena agora é uma garota muito boazinha mesmo. E está orgulhosa de si mesma por ter tanto autocontrole, já que trabalha para o time mais sexy da Nova Zelândia. É pura testosterona, mas sem nenhum contato! Passando o dia a dia no vestiário dos meninos, Lena pensa que é imune até mesmo ao abdômen mais tanquinho que existe. Mas logo Seth surge em sua vida, e de repente desperta a menina má dentro dela, pronta para jogar...
Digitalização: Vicky Revisão: Bruna Cardoso
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
2
Querida leitora,
Resistir ao time de rúgbi mais sexy da Nova Zelândia não é para qualquer uma! Mas Lena havia passado por um trauma no passado, e não deixaria que um belo abdômen tanquinho a desnorteasse. Mas Seth é diferente, e despertará a garota má que se esconde dentro dela!
Como se trata de um romance que tem como um dos cenários partidas de rúgbi estamos apresentando um pequeno glossário para que você possa aproveitar cada momento dessa história e ainda aprender sobre um dos jogos mais populares da Europa!
Boa leitura!
Equipe Editorial Harlequin Books
Glossário:
Abertura: posição de uma equipe de rúgbi que joga recuado.
Pilar: jogador da primeira linha em um time de rúgbi, podendo ser pilar aberto (loosehead prop) ou pilar fechado (tighthead prop).
Placagem: quando um jogador agarra o que está com a posse da bola e o conduz ao chão para tentar tomá-la.
Ruck: jogada que acontece depois da placagem. Quando o jogador alvo da mesma solta à bola é formado um ruck e outros membros da equipe também podem se juntar a eles, empurrando-os para tentar fazer a bola ficar do lado do time. Os jogadores que estão dentro do ruck, por sua vez, não podem colocar as mãos na bola.
Ensaio: forma principal de marcar pontos no rúgbi. Consiste em apoiar a bola com uma das mãos no chão na área do gol do adversário.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
3
Tradução Morena Madureira
HARLEQUIN
2012
PUBLICADO SOB ACORDÓ COM HARLEQUIN ENTERPRISES IIB. V./S.à.r.l.
Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte.
Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.
Título original: NICE GIRLS FINISH LAST
Copyright © 2011 by Natalie Anderson
Originalmente publicado em 2011 por Mills & Boon Modern Heat
Projeto gráfico de capa: núcleo i designers associados
Arte-final de capa: núcleo i designers associados
Editoração Eletrônica: ABREU'S SYSTEM
Tel.: (55 XX 21) 2220-3654 / 2524-8037
Impressão: RR DONNELLEY
Tel.: (55 XX 11)2148-3500
www.rrdonnelley.com.br
Distribuição exclusiva para bancas de jornal e revistas de todo o Brasil:
Fernando Chinaglia Distribuidora S/A
Rua Teodoro da Silva, 907 - Grajaú, Rio de Janeiro, RJ - 20563-900.
Para solicitar edições antigas, entre em contato com o
DISK BANCAS: (55 XX 21) 2195-3186
Editora HR Ltda.
Rua Argentina, 171, 4º andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ - 20921 -380.
Correspondência para: Caixa Postal 8516
Rio de Janeiro, RJ - 20220-971.
Aos cuidados de Virginia Rivera
virginia.rivera@harlequinbooks.com.br
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
4
CAPÍTULO UM
— Estou entrando! — Lena tapou os olhos com uma das mãos e abriu a porta do vestiário. Ela sempre dava o alerta primeiro, oferecendo-lhes tempo para se cobrirem se quisessem. Alguns o faziam, outros já nem se importavam mais. Após um ano e meio, eles estavam tão acostumados com a presença dela que a confundiam com o papel de parede. Mas, naquele dia, ela circulava entre os rapazes mais do que o habitual, e eles tiravam e colocavam a roupa mais do que o habitual também.
Espiou entre os dedos e notou que estavam sem roupa naquele momento, mas usavam toalhas em volta da cintura. Toalhas curtas. Tirando a mão do rosto, ela levantou a pesada sacola do ombro e começou a esvaziá-la.
— Trouxe o novo lote, vocês querem vesti-los agora?
— Ainda não, é hora da foto na ducha — respondeu por todos Ty, o capitão do time.
— Ah... Tudo bem. — Ela colocou o punhado de shorts de volta na sacola e olhou em volta, procurando um local para deixá-la. E ficou paralisada. Girou os olhos lentamente da esquerda para a direita, evitando esboçar sua reação aos 19 garotos quase nus que a cercavam, e bem de perto, naquele momento.
Recorreu à disciplina interna para manter o foco nos rostos maliciosos deles. A tentação de comê-los com os olhos estava sempre à espreita... Mas como podia ser diferente? Eles eram atletas campeões que tinham enormes músculos como prova de seu esforço constante, e nenhuma mulher com sangue correndo nas veias poderia estar imune ao desejo de admirá-los. Lena era como todas as outras mulheres, apenas fingia não ser.
Ela semicerrou os olhos, pois os rapazes estavam todos sorrindo para ela e caminhando em sua direção, fechando o círculo ao seu redor. Sim, estava no meio do vestiário masculino e parecia estar disputando a bola com o time de rúgbi. Mas, apesar do fato de que milhares de mulheres fariam qualquer coisa para estar naquela exata posição — dispensando as toalhas —, ela não era uma delas.
— O que vocês estão fazendo? — questionou ela, forçando um tom de irmã mais velha e sofredora.
— Precisamos da sua ajuda — respondeu Ty, que novamente falava por todos e tentava parecer inofensivo.
Lena entregou a ele a sacola e torceu para que recuasse e levasse os outros a fazer o mesmo.
— Preciso ir buscar as camisas. Estou apenas tirando as pregas de algumas delas.
As atribuições de seu cargo incluíam uma frase nebulosa, "realizar outras tarefas quando requerida", e naquele dia do ano aquilo significava fazer papel de
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
5
camareira enquanto os Silver Knights participavam de uma sessão de fotos para seu calendário anual.
— Precisamos que você faça outra coisa primeiro — disse Jimmy, o abertura da equipe.
— Sério? O quê?
— O fotógrafo disse que precisamos brilhar.
Lena engoliu em seco e levou um microssegundo para manter o controle. Em seguida, pediu para esclarecerem a incumbência.
— Brilhar?
Jimmy assentiu com a cabeça enquanto segurava uma garrafa. Era óleo de bebê.
— É para espalhar por todo o torso.
— Vocês podem passar um no outro — replicou Lena, fazendo uma alusão ao fato de eles realmente gostarem de se atracar na lama durante os jogos. Ela nunca mostrava seu lado insolente no estádio: preferia ser profissionalmente educada. Assim que ela ia conhecendo melhor os novatos, tratava-os amigavelmente, como se fossem seus irmãos, mas, até aquele momento, era bastante fria.
— Nós teremos que tirar fotos com bola logo em seguida. — Eles entreolharam-se e sorriram maliciosamente. — Se ficarmos com as mãos oleosas, não vamos conseguir segurá—la. Vai ficar muito escorregadio.
Escorregadio, é? Com bolas. Ah, eles estavam apelando naquele dia...
Lena podia não estar interessada, mas era humana, e ver-se rodeada por 19 astros do esporte quase nus e extremamente sarados faria qualquer mulher começar a suar. Ela se recusou vigorosamente a suar, mas, ainda assim, sua temperatura subiu um grau.
— E só vocês lavarem as mãos — respondeu ela, apontando a óbvia solução ao dilema.
— Não vai funcionar. — Ty esfregou as pontas dos dedos bem perto de seus olhos para mostrar que ainda estavam escorregadios.
— Você precisa nos ajudar — suplicou Max, um dos pilares, fazendo cara de garotinho indefeso. — Bem, podíamos pedir ao fotógrafo para fazer isso, mas... — Ele não ousou terminar a frase.
Ela sabia que aqueles ultracompetitivos jogadores gostavam de gozações, mas tinha o respeito deles. Os garotos sempre atendiam suas solicitações de trabalho e repreendiam as investidas dos mais abusados, mas, por outro lado, Lena também sabia que eles forçavam todos os novatos a se arriscarem convidando-a para sair.
Parecia que levar um fora seu era um tipo de ritual de iniciação. E ela nunca desapontava os veteranos, dizendo "não" para todos. De fato, Lena não queria sair com nenhum deles. Compulsivos, aqueles semideuses de elite nunca priorizavam suas namoradas, e em seu próximo relacionamento — que de qualquer forma só iria começar dali a anos — ela com certeza seria a prioridade número um. Sem falar que seria a única mulher. Três era gente demais.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
6
Além disso, na verdade eles não queriam sair com ela, que não era uma dessas garotas de parar o trânsito. Aquele era apenas mais um jogo para os rapazes, não uma coisa para se levar a sério ou da qual se orgulhar.
Mas Lena recusou-se a ficar desconcertada com a pegadinha da vez. Não iria ficar corada, nem dar risadinhas envergonhadas, muito menos fazer qualquer coisa que uma menininha assustada faria. Ela sabia o que esperavam: o usual e bem dado fora. Mas desta vez eles tinham ido longe demais e agora ela não iria jogar o jogo deles. Então eles queriam que ela passasse óleo de bebê em seus corpos?
— Claro, sem problemas. — Ela esticou a mão para pegar a garrafa. — Quem é o primeiro?
Os garotos arregalaram os olhos.
— Você vai mesmo fazer isso? — disse o rapaz que estava em sua frente. Pois é, eles nunca imaginaram que ela diria "sim". Sobretudo porque, até então, Lena vinha adotando a postura de nunca ficar a dois passos de distância de qualquer um deles.
— Claro que sim. — Ela tirou a tampa da garrafa e despejou óleo em uma de suas mãos. — Realizar outras tarefas quando requerida, certo? — disse Lena, antes de elevar o tom. — Mas eu poderia obviamente processar vocês por assédio sexual... — Para dar um efeito mais impressionante à ameaça, fez uma pausa. Em seguida, bateu a palma da mão com força no primeiro peitoral que encontrou pela frente.
Ela sentiu o estremecimento de sua vítima, notou o silêncio repentino e tirou o sorriso do rosto. É agora eles estavam preocupados.
— Não é você quem está tendo que posar quase nua para fotos que as pessoas vão pregar na parede — reclamou o pilar com cara de garotinho indefeso. — Se isso não é assédio sexual, eu não sei o que é.
Lena ergueu as sobrancelhas e apertou mais uma vez o vidro de óleo.
— Esse é o preço, meninos. A fama tem seu custo...
— E nós estamos pagando. — O próximo da fila também estremeceu quando ela estalou sua mão oleosa contra ele.
Com uma eficiência implacável, Lena aplicou óleo entre bruscos tapas e palmadas na pele nua dos garotos. Foi preciso apenas alguns minutos para cuidar de cada um deles, e aquele vestiário parecia mais a temida enfermaria dos tempos da escola.
— Vocês já estão prontos, rapazes? — O fotógrafo apareceu vindo da entrada do túnel que dava para o campo acompanhado de Dion, o novo administrador do estádio.
— Quase — murmurou o último deles.
— Pronto — disse Lena abruptamente, lançando olhares ao redor. Eles permaneceram em silêncio, com os olhos bem abertos. Um dos garotos pressionava o peito com a mão, provavelmente um local que havia sido estapeado um pouco forte demais. Ela esforçava-se para segurar o riso, pois, apesar de suas tentativas de provar o contrário, era humana e precisava reagir àquilo tudo. Mas teria de estar sozinha para isso.
— O que vocês estão esperando? — Ela abriu caminho entre os atordoados atletas e chegou até a porta pela qual havia entrado. — Volto já com as camisas.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
7
Saiu do vestiário, e seus saltos ressoavam em um ritmo acelerado no chão de concreto. Estava à beira do descontrole.
Após seis passos pelo corredor, e fora de perigo, ouviu os gritos de protesto deles e parou para prestar atenção. Mantendo as mãos ainda lambuzadas de óleo longe de seu vestido, encostou-se à parede fria, fechou os olhos e também sucumbiu. Soltou então a risada rouca, prazerosa e malvada que vinha segurando com firmeza por tempo demais.
Aqueles folgados. Os olhares em seus rostos haviam sido impagáveis e Lena desejou ter dito o que realmente pensara, dando-lhes um fora inesquecível. Mas um ou dois tapas de verdade haviam lhe deixado satisfeita do mesmo jeito. Seus ombros e costelas chacoalhavam e sua barriga doía de tanto rir. Aliviada, respirou fundo e abriu os olhos.
— Ei! — Lena recuou, batendo a parte de trás da cabeça na parede. Um estranho estava parado bem em sua frente, mais perto do que os sarados garotos do rúgbi haviam estado alguns minutos antes. Ela olhou para os frios olhos azuis que a penetravam. Ai, meu Deus. Menos de um segundo depois, já havia absorvido a perfeita simetria de seu rosto, suas negras sobrancelhas, a curva da boca, os vívidos e intensamente profundos olhos... Menos de um segundo depois, já registrara sua altura, sua largura, sua força... Menos de um segundo depois, já estava enfeitiçada por aquele maravilhoso estranho... Menos de um segundo depois, seu corpo já reagira.
Ela podia ter sentido um pequeno calor dentro do vestiário, mas agora sua temperatura subia no ritmo de um foguete. Sua reação era inteiramente feminina: Lena ardia, nervosa, e pulsava para a vida. Tudo aquilo era muito, mas muito fora do comum. Ela era imune a sentir interesse por qualquer um daqueles atletas arrogantes, certo? Ao menos tinha que ser para poder trabalhar ali. Pressionou a parede fria de concreto com força, mas o estranho não recuou.
— Andou se divertindo? — perguntou com uma voz arrastada, confiante e levemente provocativa.
Ele a olhava da cabeça aos pés, avaliando-a. Lena encolheu-se... Em desaprovação?
Sua habilidade de sempre dar respostas gélidas havia ido por água abaixo. O olhar inesperado e absurdamente sexy que ele lançava, como se ela fosse a Maria-chuteira que com certeza nunca seria, despertou-lhe uma vontade de provocar. Ela olhou-o e curvou os lábios, sugestivamente.
— Você não imagina o quanto — respondeu, com a mesma voz arrastada.
Ele semicerrou os olhos em uma fração de segundos. Agora suas piores suspeitas estavam confirmadas. Ele pensava mesmo que era uma Maria-chuteira. Aquele novato precisava de umas palmadas.
— Você deveria estar aqui? — perguntou ele, ainda sem sair da frente dela. — Pensei que esta fosse uma área restrita.
— Acho que isso depende de quem você conhece — disse Lena suavemente, totalmente descarada.
— Quantos deles você conhece?
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
8
— Ah, eu conheço todos — respondeu lentamente. — E muito bem. Ela nem precisou tentar fazer uma voz rouca, sedutora; já soava assim naturalmente.
As risadas ecoaram mais uma vez dentro do vestiário, com certeza eram mais brincadeiras eróticas dos garotos. O estranho arqueou as sobrancelhas.
— E, pelo visto, todos se divertiram.
Lena abriu a boca discretamente, esperando que ele não notasse apenas o suficiente para poder respirar. Também passou a ponta da língua nos lábios, que estavam mais secos do que nunca. Ela ainda não conseguia escapar da prisão daquele olhar, mas ele só podia estar brincando. Será que realmente pensava que ela havia transado com um time inteiro de rúgbi? Ah, ele teria de pagar por isso. Deu outra resposta afiada.
— Você não tem ideia de como foi bom.
Ele se aproximou ainda mais, colocando uma mão na parede atrás da cabeça dela.
— Então me conte.
Perturbada, Lena sentiu-se mais uma vez em brasa enquanto processava o provocante pedido. O brilho malicioso de seu olhar trouxe à tona um mar de sensações que parecia soterrado dentro dela. Agora aquelas águas estavam livres e acompanhavam suas pulsações, levando calor para todos os seus poros. As gozações no vestiário não eram nada perto da tentação com a qual se deparava naquele momento. A diabinha dentro dela passou de "atrevidinha" para uma completa devassa. O desejo de chocar aquele rapaz era irresistível.
— Sabe, todos dizem que são os garotos que são estimulados visualmente — disse ela, fingindo estar pensativa. — E que para as mulheres ficarem excitadas é preciso algo mais sonoro.
— E isso não é verdade?
— Não. — Ela balançou a cabeça, mas ainda não conseguia desviar dos olhos dele. — Nós somos visuais. Adoramos apreciar cada parte do corpo, assim como vocês. E uma sala inteira cheia de lindos homens nus? — murmurou Lena. — Não me restou nenhum neurônio.
As dobras dos olhos dele se enrugaram enquanto sua boca esboçava um sorriso travesso.
— Você algum dia teve neurônios?
— Bom... — Ela mordeu o lábio e piscou afirmativamente para ele. — Apenas alguns.
— E agora eles foram queimados?
— Torrados — sussurrou ela.
— O time inteiro, hein? — Alguma coisa dançava nos olhos dele.
— Pois é — suspirou Lena. Em seguida, sorriu: havia descoberto de que forma iria ensinar àquele garoto a lição da qual tanto precisava. Ela avançou um pouquinho e pegou na estilosa e certamente caríssima jaqueta dele. Levantou o rosto e, ofegante, aproximou-se para confirmar. — Coloquei minhas mãos em cada um deles.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
9
— Você fez isso, agora? — Ele não se afastou, na verdade até chegou mais perto. Aquilo era perfeito, pois assim ela podia passar as mãos oleosas e escorregadias nele sem ser notada.
— Você nem imagina a excitação... — Ela lançou-lhe um olhar, sem perceber que havia parado de falar. O sorriso dele estava ainda mais largo e seu rosto cintilava, causando um efeito absolutamente hipnotizante.
— Quer saber? — Com a voz mais baixa, ele afastou-se um mero milímetro, deixando-a ainda mais fascinada. — Eu não acredito em você.
Surpresa, Lena arregalou os olhos, mas afundou os dedos no tecido macio e luxuoso.
— Eu nunca minto. — Ela já havia aprendido uma dura lição antes.
O estranho colocou sua outra mão na parede atrás dela. Agora ela estava realmente presa e o corpo dele estava a um suspiro do seu. Lena esforçava-se para não demonstrar o arrepio que essa proximidade lhe causava. Prendendo a respiração, ela tentava reduzir sua pulsação e retomar o controle de si.
Ele devia ser um novato, ou um jogador de outro time que visitava o estádio. Era alto o bastante, tinha aqueles ombros, isso sem falar na arrogância...
— Então você andou beijando todos aqueles garotos lá dentro? — perguntou ele com um olhar atento e decidido.
Lena arqueou as sobrancelhas.
O nariz dele quase tocava no dela. Seus olhos azuis continuavam penetrantes, mas agora estavam descaradamente sensuais e irradiavam prazer, o que intensificou a atração de Lena. Ossos, músculos, cérebro... O pacote completo. Sua expressão era di-ferente de tudo o que havia visto em qualquer jogador do time, apesar de todos os convites que havia recebido deles. Esse cara parecia tão determinado e estava tão focado nela... Mal conseguia respirar.
— Se você realmente os tivesse beijado — disse ele —, eu veria isso no seu rosto. Mas seu batom está intacto.
— Talvez eu tenha retocado.
— Seus lábios não estão inchados, sua pele não está avermelhada, seus olhos não têm aquele brilho...
As palavras dele atiçavam as loucas reações que ocorriam dentro do corpo de Lena. Um frio na barriga tornava quase impossível manter a calma. Aquela necessidade de ser extremamente perversa precisava ser reprimida de alguma forma, ela só não sabia como. Tudo o que sabia era que estava respondendo-lhe de novo.
— Eu me recupero rápido. E necessário, quando você faz várias coisas de uma só vez. Uma garota como eu tem histamina.
— Ah, tem? — Ele parecia satisfeito. — Então um a mais não vai fazer muita diferença, não é mesmo?
Ela congelou.
— Um a mais de quê?
Essas palavras talvez nem tenham saído de seus lábios. Mas quem se importava? Naquele exato momento, ele se aproximou mais.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
10
Os lábios dele encontraram os dela, clamando por dominá-los completamente. Lena nem pensou em interrompê-lo. Por um momento de puro choque, ficou paralisada, canalizando sua força para outro lugar. Ela derreteu, agradecendo à parede na qual se apoiava por sustentá-la de pé.
Os dois ficaram um bom tempo entre beijos, um beijo daqueles. Ele tinha o controle total da situação e primeiro roçou-lhe os lábios, depois os separou com a língua e penetrou-lhe a boca, explorando-a profundamente. Aquilo a trouxe de volta a si, mas não para enfrentá-lo, o que ela provavelmente deveria ter feito. Mas a única coisa que ela conseguia fazer era entregar-se e beijá-lo também. Ele era extremamente másculo, um muro de calor, força e solidez que a transformou em uma mulher maleável, apta a ser moldada da maneira que ele quisesse.
Ela ouviu o gemido e deixou-se levar pelo amasso enquanto ele a pressionava ainda mais contra a parede. Suas mãos seguravam-lhe o rosto e, por alguns segundos de puro deleite carnal, ele a deixou louca. Mas, quando ela estava realmente entrando em êxtase, ele se afastou, ajustando-se de uma maneira que pudesse olhar bem para ela.
— Agora você está com aquele brilho — disse, com a voz cheia de satisfação.
Lena arfava e se preparou para soltar alguma ironia da ponta de sua língua, mas antes mesmo de o som sair ele mergulhou de volta e pegou-a com a sua. Agora era ela quem gemia. Ah, como ele era quente. E confiante. E delicioso.
Ela saboreou-lhe o sorriso enquanto recebia uma série de beijos suaves e provocantes. As mãos do estranho escorregaram até seu pescoço, os dedos acariciavam-lhe a nuca, espalhando uma sensação prazerosa na pele. Mas o tesão de Lena estava em um lugar bem mais profundo.
Aquele mar que estivera soterrado agora transbordava de calor, pulsando em suas veias até que o desejo tilintasse em cada uma de suas células. A vontade disparou. Com os músculos totalmente aquecidos, Lena estremeceu e apertou mais sua boca contra a dele, conduzindo-os de volta à fome incontrolável com a qual haviam se beijado segundos antes.
Ela havia se esquecido completamente de limpar o óleo de sua mão na jaqueta dele para se vingar de sua arrogância presunçosa. Tudo no que conseguia pensar era em tê-lo mais perto, com mais força. Ela o agarrou enquanto o tesão dominava seu corpo. Era impossível apagar aquele fogo. Lena o beijou faminta, selvagem, inquieta. Descuidada.
Suas mãos apertavam a jaqueta dele, seus dedos do pé iam pressionando os sapatos, os músculos latejavam em seu ventre. Ela queria se atirar a algo realmente rígido. E essa coisa realmente rígida a estava pressionando naquele exato instante.
Mesmo que quisesse, Lena não poderia ter escapado daquele estranho. Uma força violenta os descontrolava, impondo-lhes cada vez mais intimidade, mais fúria, mais fome. Ela devorava essas sensações. Devorava-o. Estava deliciosamente fora de con-trole e extremamente entregue àquela experiência maravilhosa.
Com os lábios colados e as línguas acariciando-se, eles estavam presos a um ritmo profundo, bruto, escandalosamente excitante. As mãos dele apertaram-lhe as costas, passaram pela cintura e chegaram às nádegas dela, puxando sua pélvis com força.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
11
Fazia uma eternidade que ela não libertava seu corpo. E nunca tinha ficado tão excitada após apenas algumas frases atrevidas e alguns beijos. Mas isso era muito mais do que simplesmente beijar. O fogo incontrolável transformou sua razão em cinzas e Lena gemeu dentro da boca dele.
Ela estava tão carregada de tensão que não conseguia esticar os dedos, mas escancarou-lhe a jaqueta para poder pressionar seus firmes e doloridos seios contra aquele peitoral de aço. Com a força do movimento, a jaqueta escorregou pelos ombros dele, prendendo-lhe os braços, mas o que importava era que suas mãos estavam exatamente onde ela as queria: apertando suas costelas, puxando-as para mais perto das dele no compasso de cada investida da língua.
Uma porta bateu. Outros barulhos vieram em seguida... Um repentino som de vozes: vozes de homem.
Ele a soltou instantaneamente. Lena bateu as costas contra a parede, acertando a fria e dura realidade. Dando um passo à frente, ele fez uma barreira com seu corpo para que ela não pudesse ser vista por quem estava na porta, um movimento de surpreendente proteção. Mas Lena não parou para agradecer. Não depois de ter feito pedacinhos de sua reputação.
Seu cérebro gritava a ordem de comando. O corpo a seguia.
Lena fugiu.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
12
CAPÍTULO DOIS
Mais rápido mais rápido. Lena sabia exatamente como cortar caminho pelos inúmeros corredores do enorme complexo. Chegou depressa a seu escritório, pegou a bolsa e correu para o banheiro antes que pudesse soltar o ar preso em seus pulmões.
Quando olhou sua imagem refletida no espelho, engasgou-se e agradeceu aos céus por ter chegado até ali sem que ninguém a visse. Tinha o batom borrado, o cabelo bagunçado e a boca inchada. Suas pupilas estavam tão dilatadas e escuras que parecia que havia tomado alguma droga. Mas de fato estava alterada: o desejo, os hormônios, a mais forte das drogas naturais. Queria ter sido levada até o topo por aquela onda, não ter sido derrubada na metade do caminho rumo ao paraíso... Ah, como havia sido idiota.
Lena esfregou as mãos, mas ainda podia sentir o cheiro de óleo de bebê. Pegou um punhado de toalhas de papel e as colocou embaixo da água fria, pressionando-as contra os lábios. Aquilo não os esfriou nem um pouco. Ela não sabia se era melhor retocar o batom ou deixar do jeito que estava. Decidiu reaplicá-lo, porque ficar sem nada iria parecer mais estranho. Ela nunca ia de cara lavada ao trabalho, tinha uma imagem a zelar. Refinada, competente, profissional. O arrebatamento do beijo ia passar em alguns minutos, não é? Ai, como havia sido tola, tão tola...
Ela havia batalhado tanto para ganhar respeito e ter uma boa reputação ali, e agora tinha acabado de estragar tudo. E para quê? Aquele fora um beijo para toda a vida, sem dúvida. Mas não valia seu emprego.
Apesar de seu coração bater acelerado e de estar desesperada para fugir dali, tinha que retornar e iniciar o processo de gestão dos estragos, e era melhor que fizesse isso o quanto antes. Enquanto penteava os cabelos, fechou os olhos e contou até dez. Ela iria organizar as últimas camisas para o time e depois dar um jeito no turbilhão em que sua vida tinha acabado de entrar. Pegou os tecidos e os deixou perfeitos ao mesmo tempo em que várias questões passavam depressa por sua cabeça, deixando-a mais tonta do que se estivesse na montanha-russa de um parque de diversões.
Quem era ele? Como e por que estava lá? Aquele não era o período de contratações e ele estava certo quando disse que se tratava de uma área restrita... Então, quem era? E ela, no que estava pensando? A culpa era dele... Certo? Ele havia chegado perto demais, feito comentários insolentes e iniciado todo o explosivo
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
13
episódio. Ele a havia beijado. Ela era a parte inocente... Ou algo do tipo. Mas seu coração sabia a verdade e seu corpo queria mais.
Seth havia ajeitado à jaqueta nos ombros e se afastado assim que ouvira a porta se abrindo. Sem fôlego e totalmente fora de si, ele havia sido guiado pelos instintos ao protegê-la daquele jeito.
Mas, nos poucos segundos que se passaram até a porta fechar-se novamente, e sem que ninguém deixasse o vestiário, ela foi embora. Mais rápida do que um relâmpago, voara pelo corredor. Ele não a seguiu, apesar de tê-la visto por um milésimo de segundo dobrando a esquina. Ela sabia exatamente como sair dali. Ele, não. Então o melhor que podia fazer era encontrar Dion. Ele poderia dizer quem era aquele furacão. Uau.
Rindo sozinho, passou as costas da mão sobre a boca, checando-a. Sim, aquele vermelho intenso que havia nos lábios dela estava impregnado em sua pele. Esfregou novamente a boca para ter certeza de que as marcas haviam saído e passou as mãos pelo cabelo, respirando profundamente para tentar liberar um pouco da tensão que sentia.
Ele nunca havia imaginado que aquilo pudesse acontecer. Estava tão atordoado que era um milagre conseguir andar. Mas andar ele podia, sim. Só foi preciso esperar que um pouco de sangue subisse da cueca para sua cabeça. Isso demorou algum tempo, principalmente pelo fato de que tudo em que conseguia pensar era naquela mulher com a pele mais clara e os olhos verdes mais intensos que já havia visto, totalmente felina. Levando em conta o vestido formal que usava, além do salto e da maquiagem, imaginou que trabalhasse no estádio. Talvez fosse relações públicas, por conta de sua aparência refinada. Bem, menos refinada agora, depois de ter feito uma bagunça nela...
Mas nenhum desses pensamentos estava ajudando-o a retomar o controle. Esforçando-se para se acalmar, respirou fundo mais uma vez e, com passos largos, entrou no vestiário.
— Você está aí, Dion?
Seth deteve-se alguns passos depois, levando um susto com o que via. Dion estava ao lado de um grupo de jogadores de rúgbi que vestiam apenas toalhas em volta da cintura, enquanto outros posavam em um canto da sala. Entre os dois grupos estava um fotógrafo que, com a câmera posicionada na frente do rosto, dava ordens e disparava cliques e mais cliques.
— Oi, Seth! Que bom que você conseguiu vir. — Dion havia recentemente assumido o cargo de administrador do estádio. Ele era mais um obcecado por empreendimentos imobiliários e, na opinião de Seth, seu mais novo passatempo não poderia vir em uma hora melhor. Naquele momento, tinha mais de uma razão para achar isso.
— Pois é, obrigado. — Seth sorriu extremamente satisfeito por ter ido lá naquele dia. — O que está acontecendo aqui?
Dion olhava para ele com uma expressão curiosa.
— O que você fez na sua jaqueta?
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
14
Surpreso, Seth olhou para baixo e viu listras de alguma coisa não identificada espalhadas por sua lapela. Franziu a testa, passou os dedos em uma das manchas e sentiu que era algo oleoso. Foi aí que lembrou: a garota dos olhos verdes tinha agarrado sua jaqueta no meio do amasso. Ela havia segurado com força exatamente aquela parte de seu casaco. Devia ter algo viscoso nas mãos e havia espalhado tudo sobre ele. Aquela malandrinha. Ele riu, achou aquilo engraçado e não menos excitante.
— Nossa não sei.
Ele tirou a jaqueta, estava até feliz por isso, já que ainda sentia uma chama arder dentro de seu corpo.
Dion continuava a olhá-lo com curiosidade, mas Seth desviou sua atenção para o time.
— O que eles estão fazendo?
— As últimas fotos para o calendário anual.
— Sério? — Seth riu dos pobres coitados. A maioria tinha os braços cruzados sobre os peitorais brilhantes. Ele semicerrou os olhos.
— O que eles passaram em vocês? — perguntou ao jogador que estava mais perto.
— Óleo de bebê.
Alguns deles começaram a rir novamente e a bater em seus peitos como se fossem homens das cavernas.
— Ela nos pegou de jeito.
— Eu ainda consigo sentir a palmada arder — resmungou um deles, esfregando a mão pelo ombro. — Ela é sádica. — Ele girou seus olhos para cima. — Mas valeu a pena.
— Quem pegou vocês de jeito? — perguntou Seth, tentando demonstrar pouco interesse.
— Lena. — O nome provocou mais risinhos maliciosos e sons de tapas. Lena. Ah, sim. Não era Lena o nome da mulher sobre a qual Dion havia falado? A mulher que tinha o poder de salvá-lo do pesadelo da próxima semana caso ele conseguisse convencê-la a ajudá-lo? Aquela da qual ele precisava!
Era ela mesma. Mas agora não queria mais que ela concordasse apenas com seu plano de última hora, queria que dissesse "sim" para outra coisa também. Seth rangeu os dentes após seus músculos serem atravessados por uma onda de testosterona, puro desejo de macho e curiosidade sexual. A curiosidade era tanta que ele não conseguiu evitar perguntar o que exatamente tinham feito com a sedutora Lena.
— Pedimos a ela que nos passasse óleo — disse um deles com um sorriso descarado. — Achávamos que ela iria ser orgulhosa e se recusar, mas não. Ela passou óleo em todos nós, aos tapas. E que tapas!
O time todo explodiu em gargalhadas.
— Perfeito! — gritou o fotógrafo, girando e pressionando o disparador de sua máquina enquanto pegava imagens dos rapazes juntos. — Continuem conversando.
— Você tinha que ter visto a cara dela. Seth tinha visto muito bem.
— Ela riu? — Ele ainda podia ouvir sua gargalhada, que o havia conduzido a ela como um ímã atrai partículas de aço, sem que pudesse pensar em resistir.
— Não, isso ninguém nunca vê, ela não deixa. E mais fria do que uma geladeira.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
15
Seth não concordava, não. Olhou para a jaqueta em suas mãos, retirou o que tinha nos bolsos e jogou-a na lixeira. Não iria tirar as manchas de óleo dali. Em seguida, virou-se novamente para os jogadores, incapaz de resistir a fazer mais perguntas: queria ter certeza de que era ela.
— Ela não estava usando um vestido azul, estava? Dessa altura mais ou menos? — Ele indicou um ponto abaixo de seus ombros.
— Cabelo escuro, pele clara, olhos verdes e... — Parou de falar, percebendo um pouco tarde demais que todos haviam ficado quietos e que estava começando a entrar em detalhes específicos demais...
— Você a notou — disse Ty, que Seth sabia ser o capitão do time.
— Eu falei dela para você. Lena Kelly. — Dion desviou o olhar propositalmente de Seth para a lixeira, e depois de volta para ele.
— Relações públicas, organização e outras coisas.
Sim, definitivamente era a mulher que Dion havia dito para Seth ter ao seu lado. Lena possuía o poder de convencer a administração a permitir que ele levasse seus garotos ao estádio, os jovens em situação de risco que precisavam não só de um pouco de disciplina, mas de inspiração. Mas Dion não havia dito que ela era tão interessante. E agora, apesar de estar eirado, Seth estava mais focado nesse fato do que em resolver o problema que o havia trazido ali.
Ela realmente tinha um motivo mais forte do que ele para estar circulando pelos vestiários. E mais do que isso: havia de fato colocado as mãos em todos os garotos. Ele não conseguiu disfarçar sua risada, que foi percebida pelo capitão.
— Cara, nem se dê ao trabalho, ela não está interessada. Ah. Seth pigarreou.
— Ela é comprometida? — Era melhor que não fosse, ou não deveria tê-lo beijado tão ardentemente, faminta. Uma onda de agressividade lhe tomou, endurecendo-o. Ele odiava infidelidade.
— Não, mas diz "não" para todo mundo. Ela quase se diverte com isso. Dá para ver em seus olhos, mas ela nunca diz o que está pensando — explicou Ty. — Quem dera ela falasse.
— Ela tem olhos bonitos — grunhiu um dos atacantes. Olhos libidinosos. Seth relaxou. Ele não estava interessado em compromisso, muito menos em se sujeitar a uma traição. Mas estava mais do que pronto para jogar.
— Ela tem tudo bonito — avaliou outro jogador. — Mas ninguém chega perto. Ela é totalmente fora de alcance.
— Entendi. — Seth abaixou a cabeça e respirou fundo para esconder a sensação de prazer que sentia por sua sensacional vitória. Ele precisava parar de estufar o peito como um maldito galo de briga, tudo porque a desinteressada Lena havia se interessado consideravelmente por ele.
— Você realmente gostou dela — afirmou Dion discretamente. O time inteiro parou de rir e encarou Seth. Eles não pareciam mais nem um pouco amistosos, estavam mais para agressivos.
— Não, imagina. — A testosterona voltou a subir. Ele enfrentaria aquele ataque com prazer, mas precisava dos garotos ao seu lado se queria que o ajudassem com o
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
16
projeto dos jovens em situação de risco. Preferiu desviar-se do foco. — Apenas notei o que todos vocês já haviam notado.
Agora ele percebia como a atmosfera havia ido da brincadeira para a proteção. Aquilo significava que eles a respeitavam. Também era um sinal de que ela não podia ser apenas um passatempo.
Precisava ser cuidadoso. Havia gostado de Lena mais do que o normal e queria muito ter um caso com ela. Estava em abstinência há quase um mês e ela seria uma bem-vinda distração para as questões de concessão de construção com as quais vinha lidando. E, sim, ela havia gostado dele também. Isso ficara nítido no fervor de seus beijos, e ele sabia que conseguiria fazê-la aceitar. Contanto que sua postura de não se envolver com ninguém não estivesse ligada à espera por um marido. Casamento não era um de seus planos.
— Ela vai dar um fora em você — disse Ty. — Não sai com ninguém famoso.
Mas Seth não era famoso do mesmo jeito que esses rapazes eram. Dez minutos antes ela não o reconhecera, nem lhe dera fora algum. Em um clima propício, Lena Kelly não estava fora de alcance coisa nenhuma.
Os olhos de Dion estavam com aquele brilho de encantamento que surgia sempre que se interessava por um prédio para comprar.
— Acho que você teria mais sorte do que a maioria. — Ele virou-se para Ty. — Quer fazer uma aposta?
— Não — disse Seth com firmeza, instantaneamente. Aquela conversa já tinha ido longe demais. — Nunca aposte uma mulher. Dá azar.
Dion lançou-lhe um olhar e riu.
— Você está certo. E nós já perturbamos Lena o suficiente hoje. Imagina o que ela faria se nos ouvisse agora?
O time inteiro estourou em gargalhadas novamente. O fotógrafo quase pulava de satisfação enquanto fazia os cliques.
Dion tinha uma expressão presunçosa. Seth suspeitava de que a ideia da aposta era uma forma de testar sua reação. Como havia sido descuidado... Mas ele também deu uma risada maliciosa. Os iguais se reconhecem.
— Então estão preparando um calendário, é? — Ele sabia que mudar de assunto não iria enganar Dion. O capitão do time também o observava, mas tentou o desvio mesmo assim. — Vocês devem estar adorando isso.
— Ah, mas é claro — alguns dos garotos grunhiram.
— Preciso de todos vocês de volta para a foto agora — chamou o fotógrafo. Enquanto eles se alinhavam, pensamentos tomaram conta da cabeça de Seth. A temperatura daquele beijo fora surreal, como enfiar-se em uma sauna depois de passar um dia na neve, sentindo a pele arrepiada apesar do calor imenso. O corpo não conseguia decidir se aquilo era prazeroso ou doloroso, apenas intenso, diabolicamente bom.
Ele ansiava por mais da supostamente inalcançável Lena. O desejo doía-lhe nos ossos. Gostava de um desafio e de uma caçada mais do que ninguém. Acostumado com o
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
17
sucesso, ele acreditava que não havia razão alguma para que ela não concordasse com seus dois pedidos.
— Estou entrando!
O corpo de Seth reconheceu aquela voz levemente rouca e cantada antes de seu cérebro. Instintos predatórios vieram à tona; seus olhos ficaram mais focados. Ele teve de se virar levemente para o lado para poder relaxar. Sim, aquele era um desafio, mas não precisava ser de domínio público. Os garotos sorriam para a câmera, mas sentiu a atenção deles desviar-se para sua direção assim que a ouviram entrar. Eles queriam ver o que iria acontecer. O que significava que, ao menos agora, nada iria acontecer. Mais tarde? Absolutamente tudo.
Ele tentou agir com indiferença, mas seria mais estranho se não olhasse, e, quando os ecos de seus saltos se aproximaram, olhou. Ela estava escondida por uma montanha de camisas que a cobria como se fosse uma cortina, mas reconheceu seu vestido. Seu corpo reagiu como se houvesse encontrado sua parceira dos sonhos e ele apertou os músculos enrijecidos com força.
— Obrigado, Lena — disse Dion. — Pendure-as ali para a gente, pode ser? Eles vão precisar tomar um banho depois disso. Não queremos aquele óleo espalhado pelas roupas.
Seth sabia que Dion tinha acabado de lançar mais um olhar especulativo para a lixeira onde a jaqueta agora descansava. Mas ele não iria dizer uma palavra sequer.
— Lena, esse é Seth Walker — acrescentou Dion. — Seth, essa é nossa sempre eficiente rainha das relações públicas, Lena.
Seth ficou aguardando que ela reagisse depois que ouviu seu nome. Apesar de não esperar que todo mundo no país conhecesse seu rosto, seu nome era bastante falado. Mas Lena estava extremamente ocupada pendurando as camisas e ainda estava escondida. Quando finalmente virou-se, tinha cara de paisagem. Não era de se admirar que o time dissesse que era inalcançável. Queria mesmo era mostrar a ela outra paisagem.
Seu olhar ficou sem expressão por alguns segundos, antes que ele deixasse a fantasia ir embora e voltasse a si. Ela não estava olhando para ele, o que o impedia de ver se aquele brilho ainda permanecia lá. Seu batom estava perfeito, mas a boca parecia mais volumosa. Um desejo frustrado o invadiu e Seth amaldiçoou a presença de uma tropa inteira de jogadores de rúgbi.
Seth Walker. Claro, era ele. Lena não precisava do Wikipédia para saber tudo sobre ele. Ela deveria tê-lo reconhecido antes. Lembrava-se de seu nome de quando fez um negócio de zilhões com uma grande empresa e deveria ter reconhecido seu rosto das colunas sociais ou das revistas femininas. Esse homem era o acessório mais desejado de todas as belas socialites da cidade. Na verdade, ele era dono de metade do centro da cidade, responsável por toda aquela transformação dos antigos armazéns em apartamentos estilosos, restaurantes e boates badalados. Era tão compulsivo por sua carreira que fazia aqueles atletas parecerem jogadores amadores das quintas-feiras à noite. Seus projetos vinham sempre antes de sua vida pessoal. Isso o fez perder muitos pontos.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
18
Essa constatação proporcionou a ela frieza suficiente para conseguir olhar em sua direção e dar um sorriso impessoal, profissional. Mas não conseguiu olhá-lo nos olhos, e seu coração disparou quando viu que ele não estava mais usando a jaqueta. Ele devia ter percebido o que havia feito e se livrado dela. Lena passou os olhos pela sala e viu a ponta de uma manga saindo de dentro da lixeira.
Tudo bem. Olhou rapidamente de volta para ele, tentando não derreter diante do sorriso e dos brilhantes olhos azuis... Teria ele acabado de balançar a cabeça por um segundo?
Pela ausência de reação dos garotos na sala, sabia que ele não havia dito nada sobre o que acontecera no corredor. Eles estavam estranhamente quietos naquele exato segundo, mas talvez o fotógrafo tivesse tido um ataque de estrelismo e exigido que se comportassem. Tinha certeza de que Seth Walker não havia se gabado do que acabara de ocorrer entre eles.
Isso o fez ganhar de volta muitos pontos. O modo como às mangas de sua camisa ficavam coladas aos seus largos ombros também o fez ganhar alguns bônus extras. Sem ser solicitado, seu cérebro continuava buscando mais informações sobre ele. "Solteiro do ano" foi à manchete que ressoou em sua cabeça. Se fosse para julgá-lo por seu comportamento de dez minutos atrás, estava mais para "solteiro da eternidade". Sem dúvida seu interesse era azaração. Qualquer homem que se aproximasse e beijasse uma mulher desconhecida na primeira chance que tivesse tinha de ser evitado para sempre.
Tinha de ser.
Mas Lena não estava mais cautelosa como deveria. Estava imensamente aliviada pelo fato de que aquele estranho sexy não era um novato do time. Ele não tinha nada a ver com rúgbi. Seth e Dion deviam ser amigos e Lena imaginou que ele estivesse ali para conhecer o estádio. Mesmo os empresários mais bem-sucedidos ficavam empolgados em ter um passe livre por ali. Ficou um pouco mais agitada.
Tecnicamente, Dion não era seu chefe: havia sido convidado para administrar o estádio pelo conselho, enquanto ela era funcionária do time de rúgbi. Assim, como Seth era apenas um amigo de um colega de trabalho, não havia nem sombra de um conflito profissional. Não precisava ter entrado em pânico. Agora seus hormônios, que estavam adormecidos há bastante tempo, corriam por seu corpo enchendo sua cabeça de fantasias excitantes.
Ela tentou acalmar seus desejos com um pouco de sensatez, assim como vinha tentando fazer com bastante empenho no último ano. Havia descartado de sua vida o quesito paquera por tanto tempo, e um conquistador barato provavelmente não seria o tipo de homem com o qual ela voltaria à ativa nesse assunto.
Foi então que, mais uma vez, ouviu o sussurro da diabinha que vivia dentro dela: ele sabia como se divertir. Tinha de haver um motivo para ele fazer tanto sucesso com as mulheres, e não se tratava apenas de sua gorda conta bancária. Ele sabia beijar. Era óbvio que sabia como fazer muito mais do que beijar.
Lena ainda não estava pronta para engatar um novo relacionamento, estava muito ocupada reconstruindo sua carreira e readquirindo o respeito de sua família. Mas
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
19
certamente não havia razão alguma para não se divertir com alguém que queria exatamente a mesma coisa e nada mais.
Ela sentiu que ele a observava. Era aquele olhar irresistivelmente sensual, hipnotizante. Ele não era o homem perfeito para tirá-la daquela abstinência? Sem complicações, sem confusão, poderia ser simples assim. Lena ardia com aqueles pensamentos, seu corpo precisava desvendar o dele. Mas tudo aquilo era apenas uma fantasia. Não tinha esperança de que se tornasse realidade.
— Seth, vou ficar preso aqui por alguns minutos ainda — disse Dion. — Lena levará você até os escritórios e você pode falar com ela. Vá pelo caminho onde a vista é mais interessante, Lena. Ele não conhece essa parte do estádio.
Lena mordeu levemente a parte de dentro de seu lábio. Talvez Seth tivesse dito alguma coisa. Mas essa não seria a primeira vez que iria mostrar o estádio aos convidados de Dion. Fazia parte de seu trabalho; não era um pedido fora do comum.
— Claro — respondeu educadamente, esforçando-se ao máximo para não corar. Ela se afastou dele e observou o time posar para a foto da ducha coletiva. — Agora falta pouco, garotos.
— E melhor você deixar os refrescos preparados — gritou um deles.
— Apenas isotônicos. — Lena deu um sorriso de desculpas. — Eles já estão na geladeira. Ordens médicas. — Virou-se em direção à porta e, protegida pelos gritos de protesto dos jogadores, olhou para ele. — Senhor Walker?
Ele a seguiu e falou em um tom de voz baixo o bastante para que ninguém o escutasse:
— Ah, por favor, chame-me de Seth.
Apenas escutá-lo falando provocou-lhe um calor que começou na pele e foi parar nos ossos. Seu coração disparou e batia a um ritmo anos-luz à frente de seu corpo, que caminhava em direção ao corredor. Aquele corredor.
Lena começou a dar passos rápidos, lutando para manter a compostura enquanto olhava para o chão de concreto. Ah, ela precisava se conter porque tudo aquilo era tão embaraçoso... Será que havia voltado no tempo e se tornado novamente uma adolescente vivendo suas primeiras experiências sexuais?
— Como pode ver, acabamos de passar pela área dos jogadores. — Ela começara o tour pelo estádio com o fim de manter-se segura. Podia explicar tudo de maneira automática... E falar sem parar até chegar a seu escritório. — Agora estamos indo em direção à área de entretenimento da empresa. Os camarotes acompanham toda a extensão da arquibancada.
Aos poucos, entrou no clima, explicando a ele detalhes do estádio, a história da construção, os nomes de cada setor da arquibancada. Mas estava tão nervosa que as palavras pareciam atropelar umas às outras. Continuou a visita falando de histórias dos jogadores. Depois foi a vez das estatísticas. Lena fazia qualquer coisa para não ter de parar de falar até chegar ao setor executivo.
Tinha uma percepção cada vez maior da altura dele e do jeito suave com que caminhava ao seu lado, como se fosse uma pantera. Ele também a observava em cada detalhe, sem prestar nenhuma atenção nas informações que lhe dava sobre os
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
20
bastidores do estádio e os jogadores. A pele de Lena formigava e sua tensão a fazia tremer.
— Lena, não estou interessado nessas estatísticas — interrompeu ele com arrogante indiferença quando chegaram ao último andar e o escritório dela finalmente estava a passos de distância.
Ela parou no meio de seu discurso sobre o controle do peso dos jogadores. Lentamente, tentando manter a calma e o controle, olhou diretamente para ele.
— O que você quer saber, então?
— As suas estatísticas. Nos mínimos detalhes.
Ele aproveitou que ela estava em estado de choque e aproximou-se um pouco mais.
— Eu não estou interessado em homens — disse ele maliciosamente. — Mas você claramente está, então que tal memorizar os meus detalhes também? Meu nome é Seth. Vendo prédios. Tenho 1,89m de altura, sou de Sagitário, solteiro e não tenho nenhuma doença grave. — Ele fez uma pausa, e seus olhos brilhavam com nunca. — Encantado.
Lena suava. Ela, que já havia sido atacada por todos aqueles garotos lá embaixo e nunca sequer piscara agora se derretia. Dessa vez era diferente. Dessa vez era... Ele, que tomava toda a sua visão.
— Não vai me falar de você? — Impiedoso, ele esperava por sua resposta sem dar-lhe chance alguma de escapar.
Mas Lena não conseguia dizer nada, apesar de realmente querer falar. Sem fôlego, havia perdido aquela habilidade de dar respostas rápidas que havia utilizado no corredor.
— Deixe-me ajudá-la — ofereceu ele com uma solicitude bastante calculada. — Você é Lena. E magra, atlética, estilosa. Solteira. — Seth deteve-se, esperando que ela negasse a última afirmação. Como não o fez, continuou com a apresentação: — Sexy. Espontânea. — Ele pausou de novo, medindo suas palavras. — Uma feiticeira sensual.
Bem, aquilo era um pouco demais.
— Mas você também é suave, muito delicada, muito bem-sucedida.
Ele se aproximou.
— Você também é estimulante, atrevida, sarcástica. O que mais? Uma desmiolada que estava fazendo o impossível para conter sua excitação.
— Um pouco atordoada. — Irremediavelmente honesta.
— Eu também — murmurou ele suavemente. — Mas também acho que nós dois estamos empolgados.
Agora era impossível não sorrir.
— Você não acha que está indo depressa demais?
— Depressa demais? — Ele levantou a voz e as sobrancelhas. — Linda, comigo é assim. Acho que você sabe o que eu preferiria estar fazendo neste exato momento. E acho que você também iria querer. Estou apenas tentando pular as preliminares o mais rápido possível.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
21
Lena não sentia um ardor apenas no rosto, na barriga e no peito, mas nas pontas dos dedos, nos joelhos, nos dedões do pé... Seu corpo todo estava ruborizado. Aquele homem era abusado, e o que era pior: estava trazendo à tona sensações até então profundamente escondidas dentro dela.
— Você me deve uma jaqueta. — Ele a olhou ainda mais intensamente, sabia que já a tinha em suas mãos.
Os hormônios de Lena trabalhavam a todo vapor e sua língua estava completamente frouxa. Seu autocontrole começava a falhar.
— E você me deve um pedido de desculpas.
— Por beijá-la? — Seth ergueu o queixo, desafiador. — Nunca vou pedir desculpas por isso.
Ela ardia por dentro, mas felizmente sua boca continuava trabalhando.
— Não, pelas insinuações desaforadas que fez antes disso.
—Ah, por isso — disse ele insolentemente. — Claro, desculpe-me. — Lena analisou seus safados e brilhantes olhos azuis e seu sorriso de lobo, de quem não se arrependia nem um pouco do que havia feito. Ele era tão cheio de si, tão confiante, tão sexy. A determinação emanava dele e espalhava uma onda selvagem de loucura que pulsava por seu corpo, conduzindo-a para tão longe que era impossível pensar.
— Não, assim não valeu — disse atrevidamente a ele, ousando ir um pouco mais além. — Você pode se desculpar direito em um jantar.
Seth ficou paralisado enquanto repetia as palavras dela em sua cabeça. Tinha mesmo dito o que acabara de ouvir?
— Em um jantar?
— Eu prefiro uma comidinha caseira.
Apertando os dentes, ele tentava impedir que seu queixo caísse. Todas as suas células desejavam aquela mulher: a "inalcançável" havia acabado de ordenar que ele a levasse para jantar. Em sua casa.
Por um momento, ela também parecia não acreditar no que dissera, mas piscou e então encarou Seth com uma expressão desafiadora em seus belos olhos verdes. Suas sobrancelhas ergueram-se: era como se ela pedisse para algo nele, também se levantar.
Ah, sim, a temperatura dele estava realmente subindo. Ele lutava para seu cérebro aniquilado voltar a operar. Demorou ao menos três intermináveis segundos até que conseguisse elaborar uma frase que prestasse.
— Que horas você sai daqui?
As bochechas de Lena ficaram ainda mais rosadas.
— Você pode me pegar no Portão 4 às 18h.
— Portão Quatro... — repetiu ele, fora do ar. Em seguida, voltou a si: do estádio, claro. — Tudo bem. — Ele estava tão perto dela naquele momento que quase podiam se tocar. Sem conseguir evitar, deu uma bela olhada pelo corpo dela mais uma vez. As curvas por baixo do elegante vestido acenaram para ele, e suas mãos mal podiam esperar para abrir aqueles botões. Antes que pudesse fechar a mão, Seth percebeu
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
22
que os dedos de Lena tremiam levemente. Quando olhou de volta para o rosto dela, viu como seus olhos estavam arregalados.
Aquilo não era medo. Ele sempre via medo em seus oponentes. Mas em Lena via o calor aumentando, fazendo com que as verdes íris de seus olhos escurecessem. Um prazer primitivo transbordava de seu corpo, enquanto uma corrente de força se espalhava por ele. Esqueceu o que o trouxera ali. Já não se lembrava dos garotos e do desastre que havia arruinado os planos deles para a semana seguinte. Só se preocupava em acertar os detalhes daquele encontro.
— Algum outro pedido... Você é vegetariana ou algo assim? — perguntou. Agora podia sentir como ela estremecia, apesar de não tentar afastar-se. Ele gostou daquilo.
Mesmo ofegante Lena ergueu o queixo.
— Gosto de tudo... — murmurou ela, respirando fundo. — Bem fresquinho.
Uma onda de tensão tomou conta de Seth, tão intensa que ele era incapaz de fazer qualquer coisa. Até mesmo engolir em seco era difícil.
Aquela mulher queria tudo fresco.
Ele a olhou fixamente. Não havia uma mancha sequer em sua pele macia, algo bem raro naquele país tão quente. Aquilo o fez pensar em suculentos morangos com creme e queria experimentar cada centímetro do que ela podia lhe oferecer. Queria que ela lhe oferecesse absolutamente tudo.
Os ágeis olhos verdes de Lena lançaram-se sobre Seth. Estavam sérios, sugestivos, convidativos. Ela havia tomado à dianteira. Quando começara aquela conversa fiada e ininterrupta sobre o time, sem olhá-lo nos olhos, ele havia pensado que teria de se esforçar para conquistá-la, e tinha inclusive iniciado o ataque. Mas de repente ela virou o jogo e fez seu coração disparar. A conquista sempre era uma parte divertida da história, mas ele estava feliz por pulá-la daquela vez. Ela havia escolhido a hora e o local, e ele estaria lá.
Seth sustentou o olhar por um longo tempo, testando-a. Aquele momento se estendeu até que Lena engoliu em seco. Meio segundo depois, ela não aguentou e desviou o olhar. E, não estava tão cheia de si como queria aparentar. E, levando em conta seus tremores e aquilo que os garotos haviam dito sobre ela sempre dizer "não", sabia que aquele não era seu modus operandi, o que deixava tudo ainda mais intrigante. Ainda assim, fosse qual fosse o motivo, ela claramente queria ficar no comando daquele jogo. E Seth a deixaria pensar assim... Mas só por enquanto.
Uma ansiedade brotou em meio ao silêncio dos dois. Ele observou como o peito dela inflava rapidamente, a pulsação estava acelerada na base do pescoço, as bochechas ficavam cada vez mais rosadas. Quase conseguia desvendar seu segredo; os desejos mais ardentes estavam pairando no ar. Ele também estava perto de jogá-la naquela mesa e terminar ali mesmo o que haviam começado do lado de fora daquele maldito vestiário.
— E melhor você ir para o escritório de Dion. — Com a voz rouca, ela desviou a cabeça da frente dele. — Ele deve estar se perguntando onde você foi parar.
A grande ironia de tudo era que Seth havia ido até lá exatamente para vê-la. Esperava poder convencê-la a lutar por seus meninos. Mas ele não iria arruinar a
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
23
perspectiva de uma noite incrível falando de negócios naquela hora. Era impossível se preocupar muito com aquilo naquele instante, o que estava errado, já que tanta gente estava contando com ele. Mas a tentação que estava em sua frente era irresistível. Resolveu reverter à ordem de seus planos: Lena primeiro, depois o projeto.
Seth deu um passo para trás para deixar que ela desse as ordens. Lembrou a si mesmo de que era preciso respirar e que muito em breve a tocaria de novo.
— Às 18h — confirmou ele, antes que qualquer hesitação feminina viesse à tona e Lena tentasse cancelar tudo. Podia ver que ela vacilava, sem conseguir olhar para ele. Devia estar tremendo, seu corpo lutando para conter as conflituosas sensações. Desejo versus incerteza. Mas ele não a deixaria voltar atrás. Era tarde demais, a reação química havia começado e a explosão era inevitável.
Havia acabado de dar alguns passos para fora da sala de Lena quando ouviu. A risada. Uma desafinada, nervosa, mas maliciosa risada. O desejo de tragar aquela mistura intoxicante quase tomou conta de Seth. Fora ela que o havia conduzido a Lena naquele corredor, e ecoava em seu ouvido desde então. Cerrou os punhos, lutando contra o impulso de voltar e jogá-la no chão mesmo. Mas estava muito perto de sentir aquela risada embaixo de seu corpo antes do cair da noite.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
24
CAPÍTULO TRÊS
Lena cambaleou em volta de sua mesa e sentou-se na cadeira. Queria se esconder, rir, chorar. Tudo de uma vez. Havia mesmo feito aquilo? Havia mesmo chegado descaradamente em Seth Walker, insistindo que ele a levasse para jantar? E em casa! Ela deu uma risada ainda mais impotente. Depois, começou a entrar em pânico. Olhou para o relógio. Era pouco mais de 17h, o que significava que tinha menos de uma hora antes de... De quê exatamente?
Ficou paralisada pelos dez minutos seguintes, esforçando-se para acreditar que tinha realmente manifestado seu desejo de forma tão abrupta. Como podia ter sentido um desejo tão intenso como aquele? Em seguida ouviu-os, vozes masculinas que iam de uma conversa pausada para uma risada. Lena congelou e, por perigosos vinte segundos, seu coração parou de bater.
Eles não foram vê-la. Nem ao menos olharam quando passaram pela frente da porta de sua sala. Ouviu Dion se despedindo, ouviu os barulhos de passos se afastarem. Então ele havia ido embora, o homem para o qual tinha acabado de se oferecer de bandeja... Será que voltaria mesmo?
O tempo demorava a passar, torturando-a. Sua vergonha potencializava-se. Por que aquele homem que podia ter qualquer mulher no mundo iria querer justamente ela? Coisas assim não aconteciam com Lena. Os garotos do rúgbi apenas a convidavam para sair porque ela era famosa por recusar, não porque realmente a quisessem. Devia ter calculado as proporções de tudo o que estava acontecendo. Seth era um conquistador. Lena, apesar de não ser inocente em vários aspectos, não tinha experiência alguma em relações que envolviam uma noite e nada mais.
Ai, meu Deus. Era melhor rir de tudo, não? Provavelmente ele não iria aparecer mesmo. Apertou a mão para checar se os tremores que sentia por dentro eram perceptíveis por fora. Eram. Enquanto os segundos passavam, ia percebendo que não poderia fazer aquilo. Devia estar em outro planeta quando pensou que conseguiria. Tudo bem que um dia houvesse sido classificada como a ordinária que tentara destruir um casamento, mas estava longe de ser uma mulher fatal. Nunca tinha feito aquilo. Nunca tinha pensado em sexo ardente, suado, extremamente selvagem. Bem, quase nunca.
Seu coração trovejava, dividindo seu corpo em dois desejos contraditórios. Metade queria correr rápido para um lugar seguro e bem distante. A outra metade não podia esquecer aquele beijo tão fogoso e queria mais, mais e mais.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
25
Talvez o que ela dissera a ele mais cedo não fosse tão absurdo. Talvez, pelo fato de estar sempre rodeada de homens quase nus, seu termostato sexual tivesse de alguma forma sido ligado em um nível intenso. Talvez não fosse Seth quem a deixara pegando fogo daquele jeito, mas a situação. Tinha de ser isso.
Por outro lado, já havia estado cercada por todos aqueles meninos do rúgbi seminus muitas vezes, mas nunca havia tido aquele tipo de reação com nenhum deles. De alguma forma, Seth Walker havia cruzado suas rigorosamente estabelecidas barreiras, despertando-lhe a libido. E eles haviam ido tão longe que Lena não sabia mais como voltar. Tamborilava os dedos na mesa organizada enquanto o relógio fazia seu tic-tac ininterrupto. Ela teria telefonado para cancelar o encontro, mas não tinha seu número.
Ah, ela não ficaria esperando para receber um bolo ou testemunhar um final desagradável para o que poderia ter sido um simples flerte para ele e um furacão para ela. Pegou a bolsa uns bons dez minutos antes da hora que havia marcado com ele e saiu pelo corredor vazio, quase em disparada.
— Lena.
Sua pele ficou tão quente que parecia ter sido colocada em óleo fervente. Lena virou-se devagar e viu Seth encostado na porta da sala de Dion.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou ela, ofegando como uma garotinha.
Ele deu um sorriso largo.
— Esperando você?
— Eu disse "Portão Quatro". — O coração de Lena parecia dar rajadas de metralhadora. Seu corpo começou a reagir instantaneamente: a proximidade dele a fazia arder tão depressa que se sentia formigando por completo.
— Ah, é mesmo — disse ele pausadamente. — Esqueci.
Ela não acreditou naquilo. Ele era esperto demais para esquecer uma coisa como aquela.
— Portão Quatro... — Seth olhou para as paredes e para as placas que estavam tão bem dispostas por ali. — É só seguir por aquele corredor, não é?
Lena não respondeu afirmativamente porque, se estivesse indo para o Portão Quatro, teria de ter virado à esquerda cinco passos antes.
— Que bom que a gente se encontrou aqui, não é mesmo? Caso contrário, você teria esperado uma eternidade no Portão Quatro e pensado que eu tinha lhe dado um bolo. Mas eu nunca faço isso. — Ele falava com uma voz macia, mas Lena sentia uma leve provocação nas entrelinhas. Seth sabia que ela iria acabar pensando em desistir e que quem levaria um bolo seria ele.
Ela apenas olhou-o sem conseguir dizer nenhuma palavra, já que estava fazendo estragos em seu sistema nervoso mais uma vez. Assim como havia acontecido no exato segundo em que o vira pela primeira vez, nervos, hormônios e vontades começavam a gritar dentro dela.
— Podemos ir? — Ele apontou com a cabeça em direção às escadas.
A boca de Lena parecia grudada, não conseguia pronunciar o "me desculpe, mas não, obrigada" que queria. Enquanto isso, ele já havia pegado em seu cotovelo e a
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
26
conduzia em direção à escada. O calor aumentava cada vez mais. Era incrível como apenas o som da voz dele e um leve aperto haviam lhe provocado uma ansiedade tão vertiginosa.
Ela estava perdendo totalmente o controle. Aquilo não podia dar certo. Nunca havia tido uma conversa tão sugestiva em toda a sua vida. Em seu último relacionamento, fora seu "ex" quem havia tomado a iniciativa, e só no final ela agira de uma maneira mais desesperada. Agora tinha ido muito além do que podia acreditar, com alguém que era muito mais experiente do que ela. Seth Walker provavelmente estava acostumado a ter cm sua cama mulheres que transavam de cinco jeitos diferentes enquanto estavam agarradas a um lustre. Lena nunca tinha sido melhor do que a média em nada, nem mesmo em sexo. Seu melhor plano de ação era uma rápida retirada antes que fizesse papel de idiota.
— Sinto muito pela jaqueta — murmurou, quando chegaram ao térreo.
— Sente nada. — Ele riu. — Mas tudo bem, não era minha favorita. Ela o acompanhou pelo estacionamento. Ainda não sabia como escapar daquela situação e, além disso, Seth caminhava com tanta determinação que era mais fácil segui-lo do que tentar fugir. Ele estava usando óculos de sol, o que a impedia de analisar sua expressão. Lena também queria colocar seus óculos, mas estava segurando a bolsa com tanta força que não conseguia relaxar os dedos o suficiente para pegá-los.
— Este é o meu. — Ele parou ao lado de carro preto bonito e brilhante. Seu design era a cara do dono: não se tratava daqueles chamativos modelos esportivos rebaixados com uma imensa aparelhagem de som, os preferidos dos jogadores de rúgbi, mas era lustroso, sólido, oferecendo conforto absoluto. — Pronta? — perguntou Seth.
— Na verdade, não. — Tentou sorrir de volta, mas sua boca estava travada. — Aquilo foi uma... Nós não temos que jantar juntos.
— Eu não sei o que me aconteceu — murmurou ela. — Eu estava apenas... Apenas...
— Provocando?
Sim, era isso mesmo. A questão era que, depois de tê-lo provocado, não acreditava que podia lidar com as consequências.
— Sendo idiota — corrigiu ela, preferindo olhar para o carro a olhar para ele. — Olha, vou pegar o ônibus. Desculpe-me por tê-lo feito voltar aqui.
— Você não vai pegar ônibus nenhum. — Seth deu um sorriso bastante amigável, sem a malícia de antes. Mas Lena não acreditava nele, não conseguia ver seus olhos. — Deixe-me pelo menos levá-la em casa.
Hum. Respirou fundo. Ele havia jogado a toalha tão rápido... Talvez tivesse entendido tudo errado. O interesse dele não era tão grande assim. Ela tentou esconder seu desapontamento repentino.
— Não precisa. Vou pegar o ônibus.
— Já estou aqui mesmo. E vou voltar para o centro... — Ele ainda parecia compreensivo, mas não aparentava se importar muito com o desfecho do impasse. — E besteira desperdiçar gasolina.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
27
Enquanto ela pensava, Seth apertou um botão e destravou o carro. Não devia ter recusado. Agora pareceria ainda mais idiota e grossa do que já fora com ele. Não queria fazer um papel ainda mais patético do que já fizera.
— Tudo bem, mas sinto muito mesmo por tê-lo feito perder tempo.
Lamentava ainda mais por não ter a coragem que havia tido uma hora antes. Escorregou para dentro do carro e sentiu o couro do banco praticamente abraçá-la. Ele saiu do estacionamento rapidamente, e o motor era quase inaudível de tão suave.
— Fiquei chateado — disse. — Eu estava ansioso para cozinhar algo bem fresco para você.
Apesar de o ar-condicionado estar ligado em um nível moderado, a temperatura de Lena disparou. Já na barriga, sentia um forte frio. Mas ele havia falado aquilo tão tranquilamente que não havia nenhuma insinuação implícita, certo?
— Você me pegou em um mau momento, quando eu estava... Ou melhor, não estava pensando direito.
— Agora fiquei mais chateado ainda. — Ele curvou os lábios. — Pensei que finalmente tinha encontrado uma mulher que conseguiria me acompanhar. Eu estava empolgado com isso.
Uma mulher que conseguiria acompanhá-lo? Bem, a insinuação era explicita e imagens intensas encheram sua cabeça, com cenas de prazer extremo e exaustão mútua.
— Acho que devemos esquecer o que aconteceu hoje à tarde — murmurou ela.
— Você não acha isso. — Seth riu abruptamente. — E nem eu conseguiria. De qualquer forma, eu lhe devo um pedido de desculpas de verdade e você me deve um pela jaqueta.
Ele precisava mesmo rir? Aquilo era tão sedutor.
— Você pode me mandar à conta e não precisa se desculpar sua suposição não foi tão absurda assim. Também não foi surpreendente, considerando o que a cena deve ter parecido para você.
O sorriso dele ficou ainda mais largo, mas aquilo não estava certo, afinal ela não estava brincando, estava tentando preparar uma retirada digna.
— Peço desculpas de qualquer jeito — disse ele. — E, com relação à conta, preferiria seu tempo ao seu dinheiro.
Aquela fora uma boa resposta. O modo como ele virara a cabeça dera um ar de intimidade a ela. Seus hormônios, todos já agitados pôr culpa dele, agora estavam a mil, fazendo com que as costas de Lena ficassem maleáveis como um brinquedo de mo-delar feito sob medida para Seth. Ela respirou fundo e disse a si mesma para se acalmar. Era loucura absorver todas as palavras e olhares dele com tamanha intensidade.
Ele dirigia com confiança, deslizando pela mais estreita das faixas a uma velocidade extrema, perguntando às vezes pelas direções da casa dela. Lena as explicava o melhor que podia, levando em conta que seus pensamentos rodopiavam e suas intenções oscilavam.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
28
— Há quanto tempo você trabalha no estádio? — perguntou Seth. Papo leve, graças a Deus.
— Quase um ano e meio.
— E você não se importa em ser a única mulher em meio a toda aquela testosterona?
— Há outras mulheres trabalhando lá. Em eventos, como recepcionistas...
— Mas não com você.
— Não. — Ela reconhecia que, no começo, havia gostado disso. Tinha aprendido que mulheres julgam mais do que homens, e que a aprovação delas era mais difícil de conseguir e mais fácil de perder. Além disso, era cautelosa em fazer amigos. Ficava longe do clube das namoradas e esposas e ainda mais distante do das amantes. Mas agora estava mais feliz do que nunca e adoraria conhecer outras garotas para poder sair com elas. O problema era que estava tão cheia de trabalho que não tinha muito tempo livre.
— Então os garotos não a importunam? — indagou ele, com um tom claramente provocativo. — Imagino que às vezes eles sejam bastante exigentes.
— Você está falando da história do óleo de bebê? — Lena deu uma risadinha. — Não ligo para eles, são apenas bobos. Meu irmão era da seleção de basquete, meu pai era auxiliar técnico. — Ela balançou a cabeça. — Sempre estive cercada por um monte de esportistas competitivos, sei como lidar com atletas e com idiotas.
— Pois é você com certeza deixou sua marca em alguns deles hoje. — Ele riu também. — E seu irmão, ainda joga?
— Ele está nos Estados Unidos agora, com uma bolsa integral em uma dessas universidades da Ivy League.
— Interessante.
— Sim, ele é incrível. — Seu irmão mais novo não era apenas um campeão nos esportes, mas também um gênio acadêmico. No entanto, nem mesmo ele não podia competir com sua megatalentosa irmã. Lena amava os dois, e tinha orgulho de ambos. E queria que eles tivessem só um pouquinho de orgulho dela. Estava trabalhando para isso. — Minha casa é na próxima à esquerda.
Seth dobrou em sua rua e ela tomou coragem para iniciar a despedida que vinha praticando mentalmente.
— Obrigada por...
— Sabe, eu estava torcendo para que você mudasse de ideia — interrompeu ele. Tirando os óculos, curvou-se para poder encará-la. Sabia exatamente o que estava fazendo. Qualquer pessoa que olhasse para aqueles olhos azuis ficaria hipnotizada, respondendo "com certeza" para tudo.
— Convide-me para entrar — disse bruscamente. — Eu cozinho. Não vai demorar nem uma hora e sua dívida estará paga. — Aquele acordo tão simples foi proposto com uma expressão maliciosa.
Lena não respondeu. Naquele momento, era impossível.
— Também está uma noite agradável demais para jantar sozinho. — Ele não tinha vergonha alguma de fazer uso daquele sorriso irresistível.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
29
Seth Walker era um vencedor e ela sabia por quê. Também sabia que, se o deixasse entrar naquele momento, havia uma grande chance de só ir embora na manhã seguinte. Ele também sabia disso. Aquela era a hora da decisão.
Ele esperou, fazendo-a refém de seu olhar. Lena não conseguia desviar-se daqueles olhos. Entre eles, pairava entendimento, consciência, honestidade. Sem os óculos de sol, ela viu desejo nele. Seus hormônios exultaram, e aquela sensata decisão de desistir tomada vinte minutos antes acabou frita no calor que aumentava dentro dela. Aquela podia ser sua primeira vez, mas isso não parecia mais uma ideia ruim.
Uma confiança louca veio à tona, profundamente atada à imprudência. Naquele instante, Lena faria qualquer coisa que quisesse. E era ele o que queria. Ela seria a raposa da qual um dia havia sido chamada. Só por uma noite. Tirou o cinto de segurança.
— Tudo bem, você pode fazer o jantar. Mas eu ajudo. — Lena desviou-se do olhar vitorioso de Seth e desceu do carro para abrir a porta de seu apartamento. Estava no meio de sua sala quando ouviu a porta da frente bater.
Ela parou o ardor aumentando dentro de seu corpo. Sua pulsação foi ficando cada vez mais forte, e o tesão despertado naquela tarde também. O sangue corria depressa e o desejo se concentrava sem dar sossego. Lena virou-se e olhou para ele. Sim, aquele não era um desejo que preencheria uma necessidade afetiva: um conquistador famoso não era o cara certo para isso. Mas tinha certeza de que ele poderia satisfazer a lacuna física que de repente lhe parecia tão evidente. Aquele era o homem mais impressionante que já havia encontrado em toda a sua vida e, considerando o local onde trabalhava, aquilo era forte o bastante. Parecia que havia sido golpeada com uma injeção de adrenalina. Ou melhor, de luxúria.
— Lugar bacana. — Sem muito cuidado, ele despejou suas chaves sobre uma mesa próxima à porta.
— Você parece surpreso. — Ela o acompanhava enquanto ele girava lentamente, observando os detalhes da sala. A possibilidade de comê-lo com os olhos era tentadora demais. Apenas olhá-lo deixou-a ainda mais atordoada. Um homem alto vestindo calça social e camisa de algodão, como uma coisa tão simples podia ser tão sexy?
Anseios eróticos clamavam para que agisse. Em parte, porque ela não acreditava que aquilo iria mesmo acontecer. Era como se estivesse sendo levada a acelerar o processo por medo de que ele mudasse de ideia, como se tudo fosse uma brincadeira ou algo assim. Mas não podia ir para a cama com ele apenas dois segundos após ter entrado em sua casa. Ela enrijeceu os músculos da pélvis para controlar o fervor que sentia o que só piorou seu estado.
Aquilo era absurdo. E, francamente, sensacional.
— Você não divide com ninguém?
— No momento, não — respondeu ela com dificuldade. Estivera pensando em arranjar alguém para dividir e, assim, expandir sua miseravelmente limitada vida social, mas não havia tido tempo para divulgar a vaga ainda.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
30
— E bastante confortável. — Seth ateve-se ao seu grande sofá. Ficava de frente para uma enorme TV. Além disso, Lena possuía um sofisticado sistema de som para o canal de esportes via satélite.
Assustada com as sensações que estava tendo, ela esforçava-se para continuar a conversa.
— Você não esperava por isso?
— Por alguma razão, achava que você teria um toque mais minimalista.
Lena riu. Aquela não era uma sala fria, sem bagunça. Em quase todos os cantos havia algum lugar para se espreguiçar. O imenso sofá e a espaçosa poltrona eram cobertos com tecidos macios e inúmeras almofadas, além de terem algumas mantas de algodão de prontidão. A questão era que queria que seu apartamento oferecesse conforto, não que fosse repleto de troféus de seus irmãos e de fotos dos sucessos de outras pessoas. A casa na qual havia crescido era cheia de lembranças das glórias da família, mas nenhuma delas era sua. Um ambiente no qual sucessos e realizações eram o que mais importava. Mas ali não havia gráficos, programas de treinamento, nem guias de estudo colados nas paredes. Era o santuário de Lena.
— Eu só queria um lugar para poder relaxar, sabe? — tentou brincar, mas sua voz soou grave demais.
Ele a encarou com seus brilhantes olhos azuis.
— Se eu cair neste sofá, não vou mais me levantar.
— Então, sem sofá por enquanto. — Ela passou a língua pelos quentes e rijos lábios. — Estou com fome.
— Isso é bom — disse Seth suavemente. — Porque tenho muito a oferecer.
Uau. O duplo sentido era apavorante. E irresistível.
— Mas infelizmente não fiz as compras. — Ele encolheu os ombros desculpando-se. — Não comprei nada fresco.
— Você ficou o tempo todo esperando no estádio? — Lena só compreendeu tudo naquele momento. Era Dion quem ela escutara ir embora.
Seth parecia levemente divertido com aquilo.
— Bem, eu não queria que você mudasse de ideia e desaparecesse do meu caminho.
Lena sentiu o agora familiar calor em suas bochechas. Então ele sabia que ela iria tentar fugir. Virou-se para a cozinha.
— Acho que não devo ter nada na despensa.
— Por que não me deixa ver com meus próprios olhos? — Seth roçou-lhe a pele ao passar desnecessariamente perto a caminho da cozinha. Seu leve toque deixou em chamas a pequena parte do corpo na qual encostara. Será que ainda conversavam usando frases de duplo sentido?
Sorrindo para sua vontade insana e para seus ainda mais insanos pensamentos, Lena contou até três antes de segui-lo. Apoiou-se em um dos assentos ao lado da bancada e tentou não encará-lo.
Certamente ele havia percebido que não tinha muita coisa na geladeira, pois agora franzia as sobrancelhas em frente ao pequeno freezer. Obviamente não era fã das
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
31
comidas prontas com as quais ela normalmente sobrevivia. Lena mordeu levemente seu lábio inferior, detendo-se do impulso de justificar sua trágica existência, mas frequentemente trabalhava até tarde e chegava cansada em... Sim, era muito melhor algo fresco.
— Você gosta de pizza? — Ele bateu a porta do freezer e girou até ficar de frente para ela. — Conheço um lugar ótimo que entrega em casa.
— Aqueles seus mundialmente famosos pedaços de borracha? — Ela sabia que se tratava da rede de pizzarias que Seth havia lançado e depois vendido em sua adolescência, um negócio no qual lucrara seu primeiro milhão.
— Também tem pães doces. — Ele riu baixinho. — Você já experimentou?
Lena balançou a cabeça.
— Não gosto de fast food, nem de coisas para viagem. O sorriso de Seth alargou-se ainda mais.
— Não foi bem isso o que eu quis dizer. — Ele continuava com aquele maldito duplo sentido. — Isso significa que vamos ter mais ou menos meia hora para esperar a comida — ressaltou ele com um tom animado. — O que você acha que devemos fazer?
Os dois olharam-se intensamente. O tempo prolongou-se... Uma hora ou mais se passou até que ela pudesse responder:
— Tomar alguma coisa — murmurou Lena finalmente. — Conversar.
Eles precisavam conversar. Nem que fosse por apenas dez minutos. Aquilo significaria que teriam conversado por cerca de 15 minutos antes de se arremessarem na cama juntos.
— Então... — Ela lutava para dar início a uma conversa. — Você nem é italiano e vendia pizza para todo mundo.
— Pizza é uma coisa universal. — Com um sorriso satisfeito, ele abriu a geladeira novamente e pegou uma garrafa de vinho do fundo. — Eu queria ver se podia usar um produto já estabelecido para competir com as grandes empresas de um jeito novo.
— Mas depois você vendeu seu negócio para elas. — Lena colocou duas taças na bancada que os separava.
Ele riu enquanto servia o vinho, aparentemente apreciando o modo como ela desafiava sua credibilidade empresarial.
— Eu provei que era possível e depois estava pronto para seguir cm frente.
— Ah, entendi. — Ela pegou sua taça e, por diversão, o alfinetou um pouco mais. — Na verdade, você não conduziu a rede a certo nível de sucesso para poder vendê-la, ganhar dinheiro e obter garantias até sua falência, não é mesmo?
Seu olhar tornou-se um punhal afiado.
— Não. Se ela quebrar, será porque os novos gestores foram incompetentes.
Lena deu um sorriso perverso.
— Então não é que você esteja iludindo ninguém, certo? Fazendo algo parecer incrível quando, na verdade, há pouca coisa ali. Nada que tenha durabilidade.
— Bem, as camisetas estão caminhando. Com relação às pizzas, eles substituíram os conceitos de marketing pelos seus próprios. Os preços dos prédios estão aumentando... Qual o motivo de toda essa dúvida?
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
32
— O fato de você estar sempre seguindo em frente — disse Lena com simplicidade. Aquele homem nunca ficava preso a nada por mais do que alguns poucos anos, normalmente até menos, e era por isso que o jogo do mercado imobiliário combinava com ele: "adquira, melhore, venda." — Não será porque você, na verdade, não acredita nos seus produtos?
— Não, é porque eu fico entediado com facilidade. — Seus olhos cintilaram com a perversa insinuação que fazia. — Uma vez que algo está andando bem, perco o interesse. Eu gosto do desafio de fazer tudo dar certo. E gosto de manter minha independência. Ela apertou sua taça com mais força.
— Então você não se interessa pelo desafio de continuar crescendo ou de desenvolver em profundidade nenhum de seus projetos?
— Não. — Seus olhos cintilavam ainda mais. — Esse não é exatamente o meu perfil.
Essas eram as entrelinhas. Ele adorava o desafio inicial, mas não gostava de ver as coisas se desenvolverem para algo maior. Será que era exatamente isso o que acontecia em suas relações com mulheres? Bem, não tinha problema. Ela já sabia que, naquele momento, só podia ser daquele jeito mesmo...
Lena não queria um relacionamento. Estava indo bem: amava seu trabalho, sua liberdade longe da sombra da família. Não queria cometer um deslize e novamente ceder espaço à carência. Tinha medo de, se deixar alguém ficar em sua vida por muito tempo, perder a independência e a confiança que lutara tanto para conquistar. Mas uma noite não seria tempo demais.
Ela percebeu que ele a estava observando com aquele olhar intenso mais uma vez.
— Fale-me de você. — Seus olhos agora eram labaredas. — Que tal irmos para aquele sofá matador e você me contar mais sobre como lida com aqueles astros do rúgbi?
Lena guiou o caminho até a sala.
— Não tenho muito a dizer. Apenas administro as relações públicas.
— Isso mais assessora do time, camareira e funcionária modelo do estádio.
— Você me pegou em um bom dia. — Desdenhou da afirmação de Seth com um sorriso. — A maioria do tempo faço o usual trabalho de correr atrás de pessoas e de papelada. — Ela parou para colocar sua taça na mesinha em frente ao sofá e voltou-se.
Seth estava bem atrás dela. Com o movimento mais rápido que já vira, livrou-se de sua taça colocando-a na mesinha e venceu a curta distância que os separava, ficando tão perto que a respiração dos dois podia até se misturar. Ela engoliu em seco.
— Talvez essa não seja uma boa ideia.
— Não, essa é uma ideia fantástica — garantiu ele.
Ela umedeceu os lábios. Mas isso não os esfriou; nada podia impedir que a tentação fervilhasse. Aquilo era puramente sexual. Ruidosamente provocativo. Se Lena não tivesse um orgasmo logo, ficaria louca. E já estava no meio do caminho. Quem não sabia que a ninfomania era como o vírus da gripe, que poderia pegar uma pessoa em questão de minutos? Bem, Lena sabia, porque a única coisa em que conseguia pensar
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
33
era em sexo... Ele, ela e o tesão. Toques, peles, línguas e outras partes do corpo fundidas, estimuladas e satisfeitas.
— Só por esta noite — ela deixou escapar.
Precisava ter o controle. Não deixaria que ele fizesse o que quisesse. Seria o que ela quisesse... A boa e velha diversão com um expert. Lena queria a fantasia. Vinha sendo tão boa moça por tanto tempo! Apenas algumas horas para ela mesma não iriam machucar, não é mesmo? Não com um senhor "Solteiro". Um senhor "Conquistador". Um senhor "Perfeito-por-Uma-Noite".
Seth estava com aquele sorriso irresistível no rosto e ela estava tão atordoada que não se mexeu quando ele levantou uma das mãos e passou o dedo indicador por seu maxilar, depois pela boca. Ele acompanhava tudo com os olhos, intensamente compenetrados e promissores.
— Como você quiser.
Seu charme sutil reforçava em Lena a impressão de que aquilo podia ser leve e tranquilo. Seu toque suave tornava impossível que continuasse negando a si própria o incrível prazer de ir além.
Ela encontrou seu olhar ardente e bem-humorado e finalmente deixou que toda a diversão começasse.
— Então tudo bem.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
34
CAPÍTULO QUATRO
Ela não sabia que seu sangue podia ficar a um passo de cozinhar.
— É algo mais, não é? — murmurou Seth, balançando a cabeça levemente. — A química.
Lena manteve-se com as pernas travadas para permanecer em posição vertical. Aquilo era mais do que desejo, era necessidade... A várias camadas de profundidade. Deixou para trás a dor que trazia em seu coração. Aquilo era satisfação física.
— Você é linda — disse ele baixinho, tocando-lhe os lábios novamente.
Ela copiou sua ação, passando o dedo indicador sobre sua boca.
— Sem galanteios. — Não era necessário. Podia ficar daquele jeito. Ela não queria frases mentirosas.
Os olhos de Seth semicerraram-se, mas seu sorriso ficou mais largo.
— Não é um galanteio. E verdade absoluta. Eu desejei você no mesmo segundo que a vi rindo naquele corredor.
O prazer deslizava pelo corpo dela. Tudo bem iria aceitar só aquele. Era um dos bons. Observou-o aproximar-se. Aquele não seria um beijo impulsivo, inesperado. Desta vez seria premeditado e previsível, mas subitamente seus nervos acabaram com o tesão. Em questão de um segundo, voltou a acreditar que não conseguiria fazer aquilo. Engoliu em seco, sua cabeça repleta de pensamentos, dúvidas e confusão. Não seria loucura? Poderia ser fácil como parecia?
— Lena? — Seth congelou quando percebeu sua tensão. Em seguida ela viu algo que parecia horror em seu rosto. — Você já fez isso antes, não é?
Sexo? Sim. Tão rápido? Não. Ela assentiu ligeiramente com a cabeça.
— Sim, mas devo ter me esquecido como se faz — sussurrou, e agora corava apenas de vergonha.
Seth respirou fundo algumas vezes e seu sorriso parecia triste.
— A gente não precisa ir direto ao ponto se você não quiser. Podemos apenas brincar por enquanto. Se você pedir, eu paro.
Lena não queria que ele parasse, mas gostou bastante de sua atitude de cavalheiro.
— Não, quero... Divertir-me — suspirou ela, tentando ser direta, mas optando por um eufemismo no final. — Fiquei atiçada desde quando demos o primeiro beijo e estou tão perto, mas tão longe. Mas eu quero. Quero muito, muito mesmo.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
35
A respiração dele então ficou mais forte. Ela sentiu-o soltar o ar em uma risada quente que se espalhava por sua testa.
— Isso não é problema — murmurou Seth, seus lábios deslizando sobre a pele de Lena. — O que você quer que eu faça?
— Tudo — respondeu ela, tragando sua masculinidade, cansada de reprimir seu desejo feminino. Desde o momento em que abrira os olhos naquela tarde e o vira fitando-a, não queria outra coisa além de sentir o corpo dele sobre o seu.
Ele lançou um olhar sobre seu corpo, e ela viu a expressão dele se transformar, indo de ardentemente excitado para predador. Aquele era o olhar do qual precisava... Queria que os instintos primitivos não pudessem esconder-se sob um charme suave. Queria o animal que vivia em Seth, porque ele havia despertado completamente o animal nela. E, se tudo aquilo era animalesco, não podia haver pensamentos. Sua respiração foi ficando mais intensa. Seu sangue esquentava.
Ele sorriu lentamente. Curvou a cabeça e tocou os lábios de Lena com os seus. Por um segundo ou dois, manteve tudo leve e gentil, depois pareceu ceder aos anseios e apertou-a com ardor. A tentação dominava-o tão fortemente, do mesmo jeito que fazia com ela. Ainda bem.
Seth envolveu os braços em volta de Lena, puxando-a para bem perto e controlando as partes de seu corpo que lhe tocavam. Ela deixou que ele a pegasse porque os locais onde lhe segurava eram exatamente aqueles nos quais queria que ele a tocasse, e também queria sentir sua força. Agarrou-o enquanto se derretia incapaz de acreditar no calor que sentia. Beijou-o também, como havia feito no corredor. Estava quente e faminta, oferecendo muito mais do que sua boca. Uma onda de deleite propagou-se rapidamente e Lena mal podia esperar para chegar ao fim... Para ter tudo o que ele podia lhe dar naquele instante. Mas aquilo não podia acontecer em apenas cinco segundos e, se ele continuasse beijando-a daquele jeito, seria o que fatalmente ocorreria. Ela se libertou e deu um passo para trás.
Ele parecia aflito.
— Você já está dizendo aquela palavra?
—Não, não — arfou ela. — Estou apenas... Respirando. — Lena queria tudo rápido e devagar. Satisfação total. Queria comer o bolo inteiro sozinha. Ela o encarou, mal acreditando em como ele era tão gostoso e só seu por aquela noite. — Não quero chegar lá tão rápido.
— Tão rápido? Normalmente isso é uma coisa com a qual o homem tem que se preocupar. — Seth riu baixinho e pegou na mão dela. — Eu achava que você queria prazer...
— Eu quero... Mas... — Ah, aquilo era tão irresistível.
Rindo, ele a puxou de volta para seus braços, mas desta vez a embalou, mais do que controlado. Ela podia sentir as vibrações de seu corpo.
— Vou lhe dizer uma coisa... — A frase ficou à deriva e ela sentiu que ele ria novamente, sussurrando em seu ouvido. — Dou meia hora até eu estar abaixo da linha da sua cintura.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
36
Ela o empurrou, colocando as palmas das mãos em seu peito e afastando-se para poder olhá-lo nos olhos. Meia hora? Não, não, não.
— Ah, agora tem que ser em meia hora — zombou Seth. — Você precisava ver a sua cara.
— Como assim, meia hora? — Instintivamente ela abriu ainda mais os dedos, desfrutando a sensação de sentir os estrondos do coração dele contra a palma de sua mão. — O que você vai fazer? Acertar o cronômetro ou algo assim? Você acha que isso tudo é uma questão de seguir o manual?
— E para nos acalmar... — disse ele enquanto se aproximava novamente, respirando perto de sua pele — Apenas o suficiente para deixá-la louca.
— Eu já estou. — Tremores de excitação espalharam-se por sua espinha. Ela deliciava-se com o humor dele... Mas meia hora pareciam infinitos 29 minutos.
Ele ergueu a cabeça dela e olhou-a nos olhos com uma expressão indecente.
— Isso vai ser do jeito que você quer, não é? Mas, se você quer se divertir, tem que se colocar em minhas mãos.
As mãos dele eram boas. Elas foram descendo, acariciando as costas de Lena, arrancando-lhe arrepios e eletrificando sua pele. Dedos habilidosos afagaram-lhe ao redor da cintura, deslizaram para cima até chegarem suavemente aos seios e roçarem seus mamilos.
Ela quase gozou naquele exato instante; seus nervos estavam tão tensos que teve de comprimir fortemente os músculos para tentar controlar o desejo que se intensificava.
— Oh — gemeu ela. Quem estava mesmo no controle? O que isso importava? — Sabe, vai ser bom se for rápido — suspirou Lena.
Não sei no que estava pensando. — Colocou as mãos em volta do rosto dele e riu com uma expressão que beirava ao desespero. — Esqueça tudo o que eu disse e vamos continuar.
Ela chocava-se contra ele, incapaz de impedir que o tesão a conduzisse. Não havia nada, nada, além de fogo entre eles.
— Nunca. — O olhar de predador ficou ainda mais intenso, expressando puro prazer masculino. — Meia hora, Lena. Vamos ver se você consegue aguentar.
O sorriso que viu pouco antes de ser beijada indicava que estava em maus lençóis. Menos de trinta segundos depois, já não estava aguentando. As mãos de Seth acariciavam e provocavam... Primeiro eram leves, depois firmes. Ele a beijava com doçura, depois com desespero. A cada segundo ele a apertava com mais força, as mãos faziam cócegas em sua nuca, acompanhavam sua espinha dorsal, escorregavam em volta da cintura e subiam até a curva dos seios. Selvagem, ela atirava-se contra ele, louca para sentir seu toque... Principalmente dentro de seu corpo. Será que já havia passado meia hora? Aquilo parecia uma eternidade.
Com seus olhos atônitos, Lena viu que os de Seth estavam aguçadamente compenetrados, ardentes e determinados. Os dedos dele moviam-se rapidamente, desabotoando os primeiros botões de seu vestido e afastando o macio tecido para o lado. Ele a fez curvar as costas, segurando-lhe com apenas um braço enquanto beijava
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
37
seu corpo, queimando-lhe a pele. Ela o agarrou pela cintura, mal conseguindo manter-se de pé.
As mãos dele vagaram por dentro do vestido aberto e pegaram em cheio nos seios dela. Ele a beijou no pescoço, na clavícula, e foi descendo, avançando lentamente por suas curvas. Ela sentiu sua língua passar através da renda do sutiã, sentia a fome e o calor de sua boca molhada. Seth fechou os olhos enquanto sussurrava o prazer que estava tendo e disse a ela o que queria fazer em mais ou menos vinte minutos. Ele a excitava do mesmo jeito que ela o fazia. A respiração de Lena foi ficando mais profunda; sua pele formigava. De repente seus mamilos estavam tão sensíveis que qualquer toque da língua dele causava ondas ritmadas e provocantes em seu ventre. Seus músculos profundos e secretos iam enrijecendo-se, dilatando-se, e ardiam. Cravou os dedos na camisa dele quando suas sensações se intensificaram. Seu corpo todo contraía com o toque suave e impiedoso dele.
— Oh, não. — Ela estava tão tensa que não conseguia nem gritar. O som de sua voz saiu como um chiado.
— Deixe tudo acontecer — murmurou ele, segurando-a com facilidade quando a força dela falhou no momento de êxtase.
Ela nunca tivera um orgasmo daquele jeito, tão fácil, tão doce e selvagem. Lena ofegava, tentando rapidamente recuperar algum tipo de controle, mas logo percebeu que aquele golpe de prazer era apenas o começo. Agora seu corpo estava furioso por mais. Estava desesperada para ficar nua. Desesperada para ser possuída. Apertou sua pélvis com força contra a dele, querendo forçá-lo a finalizar tudo aquilo ali mesmo.
Ela estava sedenta por tê-lo, por tocá-lo. Seus olhos abriram-se subitamente. Claro! Agora não havia nada que a impedisse de tocá-lo. Uma força a invadiu novamente e seu tesão voltou a fervilhar. Lena esticou as mãos sobre os braços dele, depois as desceu até sua cintura, escorregando por dentro da camisa para sentir as formas de seu corpo. Ele tinha uma definição de arregalar os olhos.
— O que você está fazendo? — murmurou ele.
Sorriu lentamente, aproveitando a onda de poder que a tomava enquanto notava o fervor em sua expressão.
— Só em meia hora você vai estar abaixo da linha da minha cintura. Eu posso ter acesso a qualquer área quando quiser. — Lena estava muito feliz em provocá-lo, já que isso era exatamente o que ele estava fazendo.
Ela ria baixinho enquanto prosseguia suas mãos aproximando-se do alvo. Ele devia estar gostando de senti-la em volta de sua zona de perigo, mas Lena estava indo direto ao ponto e desabotoava-lhe as calças. Seth não a interrompeu, mas seus olhos derretidos ficaram em chamas. Ela mergulhou em suas negras e imensas pupilas, observando sua imagem refletida nelas... E o seu desejo também. Empurrou-o, colocando seu peso sobre ele novamente.
— Qual o problema? — perguntou suavemente. — Você não tem certeza se aguenta?
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
38
Levantou a camisa dele, fazendo-o erguer os braços, e a retirou, hipnotizada por cada milímetro de pele que ia sendo revelada. Ela sentia-se livre, e não pensava em nada além daquele corpo na sua frente.
— Gostou? — Ele parecia entorpecido.
— Sim, eu lhe disse isso antes — respondeu. — Não são apenas os homens que gostam de olhar. — Ela passou a ponta dos dedos por seus ombros suavemente, sentindo um levíssimo tremor sob seu toque. — Você tem um corpo incrível.
E ele realmente tinha. Estava extraordinariamente em forma: havia claramente trabalhado para isso. Seus músculos eram ainda mais definidos do que os dos meninos do rúgbi, o que significava que tinha de passar várias horas na academia.
— Você tem exatamente o que eu desejo. — O corpo dele era tudo o que queria. Olhando-o intensamente nos olhos, foi deslizando a mão para baixo, até o território de perigo total. Engoliu em seco. — Talvez até mais do que eu desejo.
Os músculos de Seth enrijeceram: ela também podia senti-lo prender a respiração.
— Você pode preferir ser cuidadosa — sussurrou ele.
Ela lançou-lhe um olhar tímido por baixo dos cílios, enquanto sua mão o acariciava... De um jeito nada tímido. Por dentro, ria embriagada.
— Você disse "meia hora".
Seth deu uma risada maliciosa, apesar de estar rangendo os dentes. Mal conseguia falar.
— Pois é aí você vai ficar em apuros. Lena inclinou-se para frente.
— Ah, agora eu sei disso. — Esfregou a boca aberta pelo cangote em chamas.
Ele apertou-lhe os ombros com tanta força que a obrigou a olhar de voltar para ele. Assim que ela o fez, ele a invadiu. A língua mergulhou em sua boca de um jeito que não deixava dúvidas do que aquela parte magnífica do corpo dele faria quando o cronômetro marcasse os minutos esperados. Abraçou-o excitada, saudando aquele ataque desajeitado. Ela não podia esperar. Suas mãos escorregavam em um vaivém sobre seu tronco fervente, pausando para puxar as calças e a cueca do quadril dele para poder sentir suas nádegas rígidas. Lena gemeu, apertando o corpo de Seth contra o seu.
Deixou de lado sua inibição, suas dúvidas, seus pensamentos ou qualquer cuidado do mundo e apenas sentiu. Tinha um prazer imenso em tocá-lo e em sentir seu toque. Sentia-se absolutamente livre de complicações emocionais, de expectativas... Não havia nada disso ali.
— Ding, ding, ding. — Ele se moveu depressa, roubando para si a iniciativa e lhe arrancado disparos no coração. Antes que pudesse respirar, ela já estava no chão, embaixo dele. Seth estava de joelhos, com as mãos em volta dela, os olhos em seus olhos e o sorriso mais imoral que ela já vira no rosto. Levantou uma das mãos e brincou com a bainha do vestido dela. — O tempo acabou.
Ela apertou seus joelhos com força: lutava para não escancarar suas pernas. Mas ele sabia, por sua expressão de desejo, que o mercúrio já havia disparado. E parecia que gostava de um jogo tanto quanto ela.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
39
— Você acha mesmo que consegue resistir? — perguntou ele dissimuladamente.
— Não. — Ela abriu as pernas. Estava tudo muito bom para perder mais tempo esperando.
— Você é minha e faço o que quiser com você. — Ele riu baixinho, satisfeito, e abriu o resto dos botões com dedos provocativos, galanteadores.
— Não — rebateu ela em um tom grave, contorcendo-se com os carinhos suaves que ia recebendo. — Você é meu e eu faço o que quiser com você.
Seth inclinou a cabeça.
— É a mesma coisa. — Ele abriu-lhe o vestido, curvou-se e a beijou, as mãos trabalhando primeiro para tirar-lhe o sutiã e depois tateando pela coxa até a calcinha. Em um ritmo devagar até demais, ele a arrancou.
Observava a expressão dela enquanto a despia. Os olhos de Lena estavam luminosos: um verde cristalino brilhava em um anel finíssimo ao redor da enorme pupila negra. Seus lábios estavam vermelhos como cerejas, mas aquilo não era batom; era desejo. O tesão a sacudia, sinalizando a urgência que sentia em tê-lo. Ela queria arrebatá-lo. A ereção dele ficou ainda mais intensa. Não imaginava que um dia encontraria uma mulher tão faminta. Profundamente, lindamente faminta por prazer. Prazer proporcionado por ele.
Os olhos fixos dela devoravam seu corpo. Com as mãos em afagos, apoiou-se nos cotovelos e lambeu-lhe o mamilo, sua língua o chicoteando com mais força do que ele esperava. A reação de seu sangue também o surpreendeu. Ele ardia, sem saber se conseguiria aguentar a pressão de tudo aquilo, o momento mais quente de sua vida. Empurrou-a de volta e a fez gemer quando passou a língua de sua narina até seus seios. Sim, era sua vez de saborear.
Seth estava acostumado com mulheres que tentavam impressioná-lo. Sabia que isso estava relacionado principalmente a sua conta bancária, mas elas esforçavam-se para apresentar sua melhor performance. E ele gostava mesmo disso. Mas a mulher que se contorcia abaixo dele agora não estava de jeito algum tentando impressioná-lo. Ela estava quase fora de controle de tanto prazer, seus olhos cegos de tesão.
— Lena — murmurou, lambendo-lhe os seios lentamente em um ritmo envolvente, girando em volta de cada bico enrijecido. Gostava de saber que era ele quem a excitava daquele jeito, com tanta intensidade.
— Huum. — Ela estava inebriada em sensações, incrivelmente quente e suscetível. Seu quadril levantou-se, dando rodopios. Aquilo não era mais um convite; era uma exigência. E ele não tinha forças para recusar aquela ordem. Não podia recusar aquilo a si próprio. A ânsia por saboreá-la, por satisfazê-la, o dominou completamente. Sim, era êxtase o que ela queria... E era isso o que ele queria também, certo? Nada podia dar mais prazer a ele naquele segundo.
Ele sorriu com malícia e beijou seu busto. O tesão espalhava-se cada vez mais intensamente pelo corpo dela enquanto ele se aproximava de sua parte mais sensível. Seth agradeceu aos céus que o desejo dela havia vencido suas defesas e Lena entregara-se à eletricidade que existia entre eles.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
40
Seu olhar ficou mais intenso quando a abriu e saboreou-a, primeiro suavemente e depois profundamente. As coxas dela tremiam, seus dedos contraíam-se, seus gritos iam ficando mais roucos. Sim, ele queria aquilo e muito mais. Ele a apertou com força. Sua reação desinibida era impressionante e o fez querer levá-la à loucura. Ele a lambeu profundamente, provocantemente, intensamente... Faria qualquer coisa para fazê-la ter convulsões de prazer inúmeras vezes seguidas.
Quando Seth finalmente levantou-se e ficou de quatro, os olhos dela estavam fechados, mas tinha aquele sorriso no rosto. Ele a esperou com ansiedade. Viu seus ombros erguerem-se um pouquinho, e foi então que ela veio. A risada. Baixinha e ofegante, mas poderosa o suficiente para deixá-lo louco.
— Você é incrível — disse ele, passando a mão sobre sua coxa com um desejo incontrolável de possuí-la. Ele queria desvendá-la ainda mais. Lena era um enigma imprevisível. E queria descobri-la, queria saber por que tinha tanto desejo, por que havia hesitado, por que tinha feito tudo àquilo com ele e nada com os outros. Por que era famosa por dizer "não", quando nitidamente adorava dizer "sim".
Mas, antes de tudo, queria terminar o que havia começado.
Lena retorceu-se, mal podendo esperar para que ele finalmente colocasse aquele pedaço perfeito de masculinidade exatamente no local onde ela estava úmida e cheia de tesão. Tivera seu orgasmo, na verdade mais de um, mas aparentemente eles não haviam sido suficientes. O desejo que sentia dentro de si só poderia ser satisfeito quando o serviço estivesse completo. E ela queria vê-lo chegar ao ápice.
Ela segurou-lhe o rosto com as palmas das mãos, puxou-o para baixo e o beijou. Seu corpo balançava sob o dele, implorando para que se divertissem juntos. Ficou ainda mais excitada. De repente estava novamente com um desejo selvagem e agarrou-lhe as rijas nádegas, puxando-as contra si, esfregando a cabeça de seu órgão entre suas pernas e erguendo seu quadril.
— Camisinha! — Lena gritou sua exigência antes que perdesse a cabeça completamente.
Ofegando, ele ficou rapidamente de joelhos, e os dedos buscavam nervosos em meio às roupas o bolso e a carteira. Agiu depressa para colocar a proteção.
Impacientemente, ela admirava o jogo de músculos que ele fazia sob a pele lustrosa enquanto se mexia, absorvendo sua respiração apressada e a energia reprimida em suas ações. Ela estava agitada. Não podia mais esperar. Ele a fitou rapidamente, e seus olhos estavam negros, ferozes, mais potentes do que qualquer droga. Arqueou o corpo com agilidade, cobrindo-a. Paralisada por seu olhar compenetrado, acalmou-se naquele momento mágico, antes de tudo mudasse. O rosto de Seth ficou em chamas quando começou a se mover. Prazer, puro e profundo prazer.
Lena arfava, respirando fundo enquanto desfrutava da incrível sensação de tê-lo dentro de si. Balançou a cabeça, tendo arrepios de dentro para fora e convulsões de excitamento. Com a visão turva, viu quando a mão dele cerrou-se ao lado dela. Os nós dos dedos estavam brancos pela força com que ele apertava o punho. Olhou para seu rosto e viu agonia, a dolorosa determinação de manter o controle. Um deleite puro e poderoso borbulhava por dentro dele, e era liberado em uma risada ofegante. Sua
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
41
tensão se dissipou e ele riu para ela. Lena mordeu o lábio enquanto a intensidade aumentava dentro dela, até ficar fora de controle e excitante. Ela abaixou as pálpebras... Apenas o bastante para uma pausa em toda a sua atração. Ele era maravilhoso, estava tão concentrado nela e a fazia sentir-se tão bem que isso quase a fez chorar.
— Não pare. — Os dedos de Seth passavam suavemente por seu pescoço. — Gosto de ouvi-la rindo.
Ah, como era gentil. Ele retomou os movimentos e o segundo de desejo sentimental de Lena readquiriu sua forma puramente carnal. Ela sorriu, mas sua risada não chegou a ter som, porque assim que começou ele mergulhou para beijá-la, tragando-lhe a alegria.
Aquele beijo triplicou seu prazer, e desta vez seus olhos ficaram mesmo cheios d'água quando uma sensação intensa de felicidade a inundou. Ela fechou os olhos, mas entregou-se ainda mais profundamente para ele, convidando-o a compartilhar com ela um prazer que nunca compartilhara com ninguém. Aquilo era puramente físico, sim, mas era pura liberdade também.
Seth envolveu os braços ao redor dela, suas mãos puxavam-na firmemente contra ele até estarem presos em um abraço aconchegante, pele com pele, grudados um no outro dos lábios aos pés. Ela o agarrou, seus braços estavam cruzados com firmeza em volta dos ombros dele enquanto ele a penetrava vigorosamente. Mas ela também o segurava, com carinho e bem de perto. Sentia mais carinho por ele e dele do que jamais havia imaginado que sentiria em um breve encontro como aquele. Apesar do tesão intenso, da instintiva atração que os trouxera até ali tão rapidamente e com tanta ferocidade, ele era gentil. E tão bom.
Enquanto ele a invadia, observando-a, checando se estava mesmo tendo o prazer que procurara, seus sentimentos ficavam cada vez mais intensos: Lena ia suavizando-se, acolhendo, doando-se. Uma parte secreta dela ia libertando-se, e como resposta ele ia puxando-a cada vez mais para si, cada vez mais profundo, cada vez mais forte. Sua resistência a dominava. As mãos dela escorregaram sobre seus músculos, tateando-lhe as costas suadas enquanto ele ajustava a posição, potencializando o prazer da fricção entre eles e rebolando divertidamente.
Ah, a provocação. A incrivelmente imoral provocação. Ela provocou-o de volta, evocando seus instintos femininos. Tentava um movimento, um ritmo, um beijo, qualquer coisa para abalar seu controle sobre aquela relação. E funcionou: ela o ouviu ofegar, sentiu seu estremecimento e viu seus músculos enrijecerem-se novamente... Observou sua determinação.
Lena sorriu. Deu uma risada. Seth rosnou. E juntos chegaram ao ápice. A mente ficou vazia; palavras não significavam nada quando o toque falava por elas. Aquele momento se prolongava e no mundo existiam apenas os dois. Ela podia ter suspirado talvez gritado, não sabia. Não se importava. Tudo o que importava era a sensação de que caía cada vez mais rápido, até sua consciência ser enterrada e sobrar apenas emoção... Felicidade, satisfação e êxtase ardente e ofuscante.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
42
CAPÍTULO CINCO
O sol da manhã perfurou as pálpebras de Lena, exigindo que as abrissem. Mas qualquer movimento era impossível. Cada um de seus músculos doía. Especialmente o coração. Pois é, agora era hora de voltar para a realidade. As dúvidas que haviam silenciado tão facilmente na noite anterior agora gritavam. E o lado meigo dela já estava sussurrando, desejando... Ele havia sido incrível, muito divertido, ardente e carinhoso.
Ela franziu as sobrancelhas, recusando-se a ser fraca. Tinha o controle em suas mãos e havia sido apenas uma noite. Não podia deixar-se levar pela ideia de que gostava dele só porque havia sido bom com ela na cama. Nem tampouco imaginar que aquilo poderia virar algo mais. E, para estar certa disso, sabia que não poderia haver mais nenhuma interação entre eles.
As dores em sua barriga ficaram mais fortes quando tentou se mexer para ver como o corpo reagia. Respirou fundo, sabendo que muito em breve teria um grande esforço pela frente. Apesar de ter sido a noite mais extraordinária de sua vida, sabia que não iria se repetir. Ele era maravilhoso e generoso. Também era um conquistador muito bem-sucedido e rico, ou seja, definitivamente não era alguém com quem deveria sair por muito tempo. Dinamite não durava muito. Fazia boom e depois estava tudo acabado.
— Você ri até quando está dormindo, sabia disso?
Seus músculos ignoraram os pensamentos rigorosos e aqueceram-se com a frase sussurrada e bem-humorada dele.
— É mesmo? — Ela franziu a testa, tentando evitar se derreter. — Devo ter tido um sonho bom.
— Foi isso o que imaginei.
Apenas um sonho: aquilo tinha de ser tratado com a mesma leveza e doçura. Uma bolha que flutua em uma brisa suave, do lado de fora da janela, longe do alcance. Ela não queria estourá-la, por isso deveria tratá-la com cuidado... Mas também com firmeza.
Lena girou para ficar de frente para ele. Os nós do seu estômago moveram-se para cima, causando dores em seu peito. Resistir já seria muito difícil, mas agora ela podia ver a expressão sonolenta e atrevida em seus olhos. Com os pontinhos da barba começando a aparecer e o cabelo desarrumado por mãos ardentes, Seth era a síntese de um amante irresistível. Ela obrigou-se a se sentar.
— Preciso me arrumar.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
43
— E cedo. — Profundas e desafinadas pelo sono, suas palavras fizeram com que os ossos de Lena tremessem.
Ela endureceu os músculos e escorregou para fora da cama, cobrindo-se rapidamente com o robe, apesar da momentânea rigidez que o movimento lhe causara.
— Tenho muita coisa para fazer. E uma época atribulada para o time agora. Não existe essa coisa de "fora de temporada".
Ele rolou na cama, apoiou a cabeça nas mãos e conseguiu parecer ainda mais a imagem perfeita do cafajeste da manhã seguinte.
— Então não poderemos ficar preguiçosos na cama e imagino que você também não queira tomar um café ou outra coisa comigo antes do trabalho?
— Essa é uma ótima ideia — disse decidida, desviando-se dele para manter-se na linha. — Mas não dá, desculpe-me.
— Não dá hoje ou nunca mais?
Ela congelou; estava caminhando em direção à porta. Ele não era mole mesmo, não? Respirou fundo e virou-se para encará-lo.
— Nunca mais. Desculpe-me.
Seth continuava apoiando-se nas mãos como uma gloriosa escultura de bronze.
— Então é assim? Você está me dando um fora? Vai me desprezar? Ela franziu o nariz.
— Não estou desprezando você.
— Não? — falou ele pausadamente. — Você está arrependida? Lena piscou e então deu um sorriso forçado, fingindo ter confiança tanto em sua decisão quanto na capacidade de reafirmá-la.
— Oh, não, não me arrependo nem um pouco do que aconteceu. Foi maravilhoso. Mas...
— Mas foi só por uma noite.
— Isso foi o que nós combinamos — lembrou ela cuidadosamente.
— E, mesmo tendo sido incrível, você quer continuar com essa ideia?
Ela fez uma pausa, tentando esperar passar a onda de prazer que a invadiu quando escutou que ele também achara tudo incrível.
— Isso mesmo.
— Alguma razão em especial?
Será que ele estava chateado? Não era esse seu usual jeito de ver as coisas... Pegar, mas não se apegar?
— Seth. — Ela voltou para a cama e sentou-se ao lado dele, cometendo o erro de olhá-lo nos olhos semicerrados. — A noite passada foi como devorar uma sobremesa incrivelmente saborosa. Tudo é muito gostoso e irresistível, mas, se você comer demais... Não vai fazer bem. Entendeu?
Ele olhou-a silenciosamente, depois se sentou rapidamente. O lençol escorregou até abaixo de seu quadril. Lena gritou mentalmente consigo mesma, proibindo-se de olhar para baixo, mas sua visão periférica festejou mesmo assim e ela já começava a esquentar.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
44
Ele deu um sorriso largo e passou a mão por sua nuca para puxá-la para mais perto. Ela não resistiu. Esse era sem dúvida o beijo de despedida. E como ele sabia fazer aquilo! Seus lábios acariciaram os dela, sua língua provocava-a com a promessa daquela doce e carnal sedução novamente. Ela aproximou-se e beijou-o com mais vontade, sentia deliciosos arrepios na espinha com o roçar de sua barba. Desejo, tesão e calor surgiram mais uma vez. Escorregou as mãos por ombros e braços, experimentando sua pele quente e a firmeza de seus músculos por baixo dela. Sua determinação perdeu força, quase se dissolvendo complemente entre chamas.
Ele recuou, e o deleite brilhava em seus olhos e no sorriso.
— Como muito disso pode não ser bom para você?
Ela manteve o olhar fixo, regulando sua respiração e tentando retomar a calma em seu corpo extenuado.
— Há algumas coisas — disse cautelosamente — que é melhor simplesmente deixar para trás. Entendeu? — Esta era definitivamente uma coisa que era melhor deixar para trás, por várias razões. Tinha de ficar como uma fantasia. Uma fantasia realizada.
O sorriso e os olhos dele ficaram mais largos enquanto estudava sua expressão silenciosamente. Ela endureceu diante do exame minucioso: estava disposta a não demonstrar fraqueza. Mas ele estava determinado a vencer suas fraquezas: já havia tentado aquilo antes.
Lena não moveu um músculo enquanto ele afagava seu rosto com as costas dos dedos.
— Você é muito forte — murmurou ele. — O que a fez assim? Nada muito interessante. — Ela levantou-se e saiu andando, tentando ignorar as memórias que rasgavam as feridas de seu coração e a devastavam com uma culpa escaldante, ácida. As lembranças também aniquilaram a tentação de sucumbir a ele mais uma vez. — Mas, quando decido uma coisa, está decidido.
— Sei — disse ele, deitando novamente a cabeça no travesseiro e dando uma sonora risada. — Já vi que você está com aquela cara que faz quando está jogando.
Ela saiu do quarto antes que a máscara caísse e revelasse seus verdadeiros sentimentos. Aquele desejo idiota de ter algo mais... Algo mais era uma coisa que nunca teria de um homem como ele. Não iria perder seu tempo e energia emocional envolvendo-se ainda mais com alguém que nunca poderia oferecer o que ela lealmente queria. Já havia feito aquilo uma vez: arruinara espetacularmente sua própria vida e machucara muitas outras pessoas.
Então por que embarcaria em uma furada se tinha plena consciência das consequências? Não havia nada errado com "curtir o momento", mas como o "momento" havia passado, não havia mais nada para acontecer.
Ele apareceu; estava vestido, mas desajeitado. Parecia exatamente com a noite selvagem que haviam tido e estava tão bonito que ela sentiu uma fraqueza nos joelhos. E, havia outro problema: tipos como Seth pertenciam a um nível acima do seu. Não queria ficar esperando aparecer uma mulher melhor do que ela que a jogasse para escanteio.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
45
— Você quer comer alguma coisa antes de ir? — Lena usou a bancada da cozinha e a garrafa térmica com café quente como escudos para manter uma distância segura. Queria evitar ir em direção a ele.
Aquele sorriso malicioso apareceu levemente em seus lábios.
— Não, estou vendo que está com pressa. Vou deixá-la tranquila.
Ela concordou com a cabeça, aliviada porque agora ele facilitava as coisas. Claro, Seth era um expert em tudo o que estava relacionado com mulheres, e o fato de que ela estava pondo um ponto final naquela história não o afetava tanto assim. Aquele era mais um sinal de que estava fazendo a coisa certa.
— Obrigada pelo jantar e... Por tudo — encerrou ela. Era tão estúpida; queria esconder-se atrás de uma pedra.
— O prazer foi meu. Tive uma noite incrível — disse ele com tranquilidade.
Lena sentiu a ironia no ar. Ficou corada, o que era ridículo considerando tudo o que eles haviam feito. Ele parecia tão alegre. Agora a luz do sol estava atravessando a janela da cozinha, provocando uma claridade que fazia seus olhos arderem.
— Você não vai dizer...
— Fica entre nós — interrompeu ele cuidadosamente. — Nós dois sabemos disso.
— Ótimo — disse ela, com a voz muito mais estridente do que lhe pareceu. — Bem, obrigada de novo.
Em um lampejo, viu sua expressão parecer ainda mais satisfeita e ele deu as costas. E assim foi. Ele já havia passado da porta antes que ela pudesse chegar para acenar, educada como uma boa anfitriã deve ser. Estava congelada atrás da bancada, com a garrafa térmica na mão e o olhar fixo no espaço que ele havia deixado para trás.
Seth saiu da casa de Lena, entrou em seu carro e foi embora. Longe do alcance dos ouvidos dela, seu sorriso deu lugar a uma gargalhada que vinha segurando pelos últimos dez minutos. Ou ela não estava acostumada aos casos de uma noite só ou possuía um jeito polido demais de dar foras. Havia ficado confusa e depois absolutamente fria, estragando a tentativa de dispensá-lo de um modo descontraído e sofisticado. Mas o fato de que queria que ele fosse embora era interessante, e acreditava que ela havia sido sincera quando disse que não o queria mais. Mas queria... Sentira isso quando a beijara. Ela havia correspondido tão maravilhosamente, da mesma forma que havia feito durante toda a noite. Não estava exagerando quando disse que queria divertir-se, mas também não tinha sido egoísta. Deliciara-se tanto o tocando quanto recebendo seus carinhos. Mas agora o momento hedonista havia passado e ela era novamente a mulher que dizia "não".
Normalmente, depois de uma noite ou duas de diversão, Seth estava pronto para partir para outra, mas ele e ela definitivamente não estavam satisfeitos ainda. A última noite havia sido apenas uma preliminar e ainda haveria dez rounds nesse ringue. No mínimo.
Seu celular vibrou e ele olhou para a tela. Uma gota de culpa escorreu feito veneno sobre sua pele quando viu de quem era a mensagem. Ele devia encontrar Andrew naquela tarde e havia prometido que acharia uma solução. Respirou fundo, dizendo a si mesmo que seu momento de busca egoísta por prazer não atrapalharia as
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
46
possibilidades do projeto na semana seguinte. Lena concordaria... Para dizer a verdade, Seth poderia usar aquele encontro ao seu favor, não é mesmo? E, é claro, também poderia pagar outro clube para ceder espaço ao projeto. Se precisasse, faria isso; não iria deixar Andrew e os meninos na mão. Mas ele queria estar com os Knights na semana seguinte, queria poder passar o máximo de tempo possível no estádio. Porque queria que Lena Kelly tivesse de dizer "sim". De novo. E de novo.
Entrou em seu apartamento e foi direto para o chuveiro. Precisava se refrescar e então ir à luta. Sob um jato vaporoso de água, considerou suas opções, formulando uma estratégia para resolver de uma vez só todos os seus problemas: realizar uma atividade inspiradora para os meninos e ter Lena na cama com ele mais uma vez o mais rápido possível.
Ela podia ter tirado o controle de suas mãos antes, mas agora valia tudo.
Pela primeira vez Lena chegava atrasada ao trabalho, e por apenas cinco minutos, mas, levando em conta que geralmente já estava a postos no mínimo uma hora antes de seu horário, aquilo era significativo. Naquela manhã, havia ficado tanto tempo debaixo do chuveiro que acabara não só com os dedos do pé e das mãos enrugados, mas o rosto também. Ou talvez aquela cara amarrada fosse reflexo de seu mau humor extremo: estava com raiva de si mesma.
Ela não devia ter feito aquilo. Não se arrependia de ter dormido com ele, mas da melancólica manhã seguinte. Queria ter tomado café da manhã com ele, queria ter tomado banho com ele, queria ter divertido-se mais com ele. Queria que ele quisesse mais dela. Desejava ser outra pessoa. Sim, o que mais desejava mesmo vinha de si própria. Mas, apesar de tentar, algumas coisas não iriam mudar, então não adiantava querer. Começou a esvaziar sua caixa de entrada, determinada a finalizar todo trabalho que tivesse e assim sentir que havia concluído alguma coisa e que estava com o controle sobre sua manhã... E sobre si mesma. Mas precisava de muito esforço para concentrar seus pensamentos nas tarefas e lutou ferozmente para manter o foco. Para ajudar, colocou música, deixando-se levar pelo ritmo das batidas. A canção que tocava repetitivamente tornou-se um guia para o funcionamento de seu cérebro.
Finalmente entrou no ritmo, seus dedos teclavam rapidamente e sua cabeça mexia no compasso da música. Com a mente em paz, tinha o cérebro compenetrado em responder cada um dos e-mails. Fez uma pausa, os dedos sobre o teclado enquanto escolhia as palavras do texto que escrevia, e desviou os olhos da tela.
Ela estremeceu perplexa com a figura alta que estava na porta de sua sala. Seu coração disparou e tentava esconder a respiração ofegante, o que a deixou ainda mais sem ar.
— O que você está fazendo aqui?
Lena não tinha a mínima ideia de há quanto tempo ele estava ali. Ela nem imaginava por que estava lá. Mas todo o seu corpo reagia, seus nervos entorpecidos gritavam novamente: um instante infernal de surpresa, vergonha e aquele desejo incontrolável.
— Seguindo você. — O sorriso dele estava tranquilo demais.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
47
O coração de Lena galopava como cavalos selvagens presos que haviam acabado de achar um buraco na cerca. Será que ele estava ali para chamá-la para sair? Estava tão surpresa, comovida e excitada.
— Eu... Eu pensei que tínhamos combinado...
— Não se preocupe, estava brincando — interrompeu ele, andando em direção à sua mesa e sentando-se em frente a ela de um jeito bem relaxado. — Houve um mal-entendido ontem. Não vim aqui para ver Dion, vim para ver você.
— Eu? — Uma desconfiança aguda espremeu seu peito. — Por quê?
— Nós provavelmente deveríamos ter discutido isso antes, mas eu... Distraí-me.
O que eles deveriam ter discutido? Ela engoliu em seco, de repente ficando nervosa. Recusou-se a pensar em como ele havia se distraído. Também não queria pensar em como ele ficava estonteante naquele terno feito sob medida. Em como seu cabelo levemente úmido estava bagunçado, dando uma pista daquele seu jeito descontraído e safado que ela já conhecia por baixo da superfície. Recusou-se a pensar em como queria tocá-lo. E naquele exato instante.
Ele encostou-se à cadeira e baixou os olhos para a mesa escrupulosamente organizada.
— Estou envolvido com uma organização que ajuda jovens em situação de risco. São principalmente meninos que tiveram alguns problemas com a Justiça, que têm um alto grau de evasão escolar. Esses garotos precisam de orientação e inspiração para seguir o caminho correto.
O sangue de Lena esfriou enquanto seu coração ia ficando cada vez menor. Ela esperou, sabendo que ele estava prestes a pedir-lhe alguma coisa que não era pessoal. Aquele homem tinha um plano. O tempo todo tudo aquilo era um plano.
Ele levantou os cílios e seus olhos azuis eram frios, sua voz era calculada. Visivelmente não estava tendo problema algum para encará-la, um pequeno detalhe que a feriu ainda mais.
— Algumas vezes, durante o ano, nós oferecemos um curso — disse ele. — Um curso de aconselhamento.
— O que isso tem a ver comigo... Com o estádio? — corrigiu-se rapidamente. Mas já sabia aonde tudo aquilo iria acabar e estava lutando contra aquela sensação que a massacrava.
— Queremos realizar a programação aqui, para que os meninos treinem ao lado do time por uma semana. Queremos deixá-los observar e entender o que é disciplina, determinação, dedicação e trabalho duro. Temos workshops obrigatórios em cada curso, mas precisamos de autorização para usar os recursos daqui. E precisamos de aprovação para que nossos meninos venham aos treinamentos todos os dias e tenham a chance de fazer perguntas e conversar com o time. Os jogadores são uma fonte de inspiração para os garotos. Esses jovens precisam observar como trabalham duro, todos os dias e, claro, precisam ver as recompensas que um esforço extremo pode proporcionar.
Ela entendeu a proposta imediatamente e sabia que os Silver Knights eram um bom exemplo. Eles já haviam feito aquele tipo de coisa antes. A diretoria estimulava
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
48
os próprios jogadores a continuarem estudando para que pudessem ter algo a que se dedicar quando encerrassem suas carreiras profissionais ou, no pior dos casos, caso machucassem-se gravemente e tivessem de parar de jogar. Tentavam ajudá-los a ter vidas regradas, orientando-os a escapar das armadilhas da tentação que a fama e a glória traziam.
Os garotos do rúgbi eram determinados e trabalhavam duro, o suficiente para fazer sonhos virarem realidade. Alguns deles haviam tido infâncias sofridas. Então, sim, a maioria deles inspirava muita gente. Claro que alguns aprontavam em seu tempo livre, mas cada um deles era extremamente focado quando era necessário: a bola em campo vinha antes de tudo. O pedido de Seth fazia sentido total e não era nada de extraordinário.
Mas Lena estava lutando contra uma profunda decepção e uma raiva borbulhante. Ele devia ter lhe falado sobre isso no dia anterior. Mas preferira brincar com ela. Havia deixado que fizesse papel de idiota.
— Tenho uma apresentação. — Puxou um PT drive do bolso e colocou-o sobre a mesa dela. — Alguns slides e imagens das últimas edições. Explica tudo direitinho e só demora alguns minutos para assistir.
Ela o ignorou.
— Quando será o curso?
— Semana que vem.
Seu queixo caiu. Estava impressionada com sua desorganização.
— Deixou tudo para a última hora, não é?
Ele inclinou a cabeça e olhou diretamente para ela.
— Estava marcado para o local que costumamos usar, mas não está mais disponível. Pegou fogo na sala de treinamento durante o fim de semana. Acho que estou dependendo de sua compaixão.
Compaixão? Seth Walker nunca precisava da compaixão de ninguém, pelo contrário: eram os outros que deviam pedir isso a ele.
— Não posso ser influenciada por nenhuma... — deteve-se ela, procurando por um termo mais apropriado — conexão pessoal que tenhamos tido.
— Mas é claro. — Ele estava sendo bastante delicado. — Eu sei que você não negaria essa oportunidade aos meninos por conta de algum embaraço entre nós. De qualquer forma, não há nenhum embaraço, não é?
Agora era a vez de Lena desviar os olhos para observar a mesa, pois não sabia como responder aquela pergunta. Não existia nenhum embaraço, mas sentia-se terrivelmente desapontada pelo fato de que ele não havia vindo vê-la por causa dela.
Claro que não havia. E por que ela se importaria se o havia dispensado? Mas importava-se sim, e muito. Queria que seu corpo entendesse tão bem quanto ele o que ela havia lhe dito.
— E uma boa oportunidade de marketing para o time, uma chance de ser visto retribuindo algo para a comunidade, certo? — disse ele.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
49
— Nós temos várias oportunidades como essa — respondeu ela secamente. — O time já passa horas envolvido com projetos comunitários e de caridade. Talvez seja você quem esteja procurando uma boa oportunidade de marketing...
— Não estou em nenhuma das fotos, nem o logotipo da minha empresa. — Deu um sorriso largo. — Eu prefiro manter-me fora do radar da mídia. Na verdade, meu envolvimento com o projeto tem como condição o meu não envolvimento com a parte publicitária.
Lena engoliu em seco; sabia que estava sendo colocada contra a parede.
— Falei com Dion e, apesar de ele gostar da ideia de nos ver no estádio, você é a pessoa que pode nos dar acesso ao time. — O olhar atento de Seth era como uma lança a lhe atravessar. Parecia que tomava todo o seu espaço visual.
— Não sou eu — negou ela. — Tudo o que posso fazer é apresentar seu pedido à diretoria e passar a resposta a você.
Seth encostou-se novamente na cadeira e era como se ele fosse uma pantera, e ela, a infeliz criatura que estava prestes a ser devorada.
— Mas Dion disse que você era o canal. Falou que, se você ficasse do nosso lado, o pedido praticamente estaria aceito. — Se ficasse do "nosso" lado? Ele era a única pessoa presente, então a questão era se ela ficaria do "seu" lado. Então era por isso que ele havia aceitado o convite dela na última noite tão prontamente? Será que havia se esforçado para amansá-la e assim obter uma resposta positiva? Ah, agora se sentia humilhada. Uma raiva fervia dentro dela.
— Não é assim — disse ela, vestindo novamente a armadura de gelo que vinha cultivando nos últimos 18 meses. — Não posso garantir nada. Você precisa esperar até que eu analise seu pedido e fale com meus superiores. — Lena levantou-se, encerrando a conversa para poder recompor-se em privacidade.
— Claro. — Ele seguiu seu exemplo e levantou-se da cadeira.
A etiqueta determinava que ela o acompanhasse até a porta. Ela já havia falhado nisso naquela manhã. Agora estava determinada a ser exclusivamente profissional: o orgulho exigia assim. Mas foi em silêncio sepulcral que caminhou até a saída de sua sala.
— Não precisa me acompanhar até o elevador. Sei que você está muito ocupada. — Seth sorriu de um jeito íntimo demais.
Ela ergueu o queixo.
Não tem problema. O sorriso ficou ainda mais intenso, como se ele não acreditasse nela.
— Lena... — deteve-se ao chegar à porta — só para você saber: eu não me prostituo. — Ele chegou mais perto e sussurrou: — Nem mesmo por uma boa causa.
Ela ficou imóvel. O que aconteceu entre nós na noite passada não tem nada a ver com isso. — Agora ele fazia o grand finale.
— O que aconteceu na noite passada está acabado — disse ela com firmeza.
— Você acha? — Ele baixou os olhos. Lena podia sentir aquele olhar tocar-lhe a pele como se fosse uma carícia dos dedos. — A quem você está tentando convencer? A mim ou a você mesma?
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
50
Ah, como era arrogante. Tinha vontade de sobrepor-se a ele de alguma forma.
— Porque, não sei se você já percebeu — continuou suavemente, mas pode me chamar para jantar de novo quando quiser.
Chamá-lo para jantar? Um calor subiu-lhe pelas bochechas com a crueldade daquele comentário. E também pela veracidade: ela havia mesmo convidado-o para jantar, e ele havia lambido cada centímetro de seu corpo, por dentro e por fora. Da mesma forma, ela havia sugado-lhe o prazer por todos os poros. Sua pele queimava, não apenas de raiva, mas de atração, ainda aquela atração insana por toda a masculinidade daquele homem. Ele divertia-se. Mais uma vez, o riso efervescia no fundo dos olhos dele, convidando-a a rir também. Mas ela não conseguia. Não podia se mexer, falar, pensar...
Demorou algum tempo para que seu cérebro catatônico percebesse que estava ofegante. Saiu rápido dali e marchou de volta para sua mesa, engolindo às pressas o súbito impulso de... Fazer algo com suas úmidas e trêmulas mãos.
— Vou ver e falo com você.
— Aqui está meu cartão. — Permanecendo onde estava ele estendeu a mão, obrigando-a a retornar para pegá-lo. — Esqueci-me de lhe dar meus contatos pela manhã.
O corpo de Lena já conhecia todos os contatos dele. Ainda podia sentir seu peso, ver a marca de sua sunga, os anéis dos pelos de seu peito... E tudo aquilo a conduzira para baixo, rumo a sua fantástica masculinidade. Ela certamente já tinha tido os contatos dos quais precisava.
Pegou o cartão pela ponta e rapidamente voltou à mesa, evitando qualquer proximidade.
— Eu entro em contato — disse bruscamente.
Ele assentiu com a cabeça, despreocupadamente, e deu um sorriso radiante.
— Muito obrigada por seu tempo, Lena.
Ela deu-lhe as costas e apertou os dentes para segurar um gemido de pura frustração. Mas não podia dizer "não" ao seu pedido, e ele sabia disso. O time tentava aceitar a maioria das solicitações de atividades que recebia principalmente se houvesse jovens ou crianças envolvidos. Teria de analisar sua proposta da mesma for-ma como faria com qualquer outra, porque, se por acaso a noite que passaram juntos viesse a público, uma negativa seria muito esquisita. Para falar a verdade, as duas opções pareciam esquisitas.
Maldito Seth, como podia tê-la colocado naquela situação?
Devia ter sido honesto com ela em primeiro lugar. Rangeu os dentes com mais força. Os homens nunca eram honestos... Não até terem o que queriam. Jogou o pen drive sobre a mesa e sentou-se para escrever os e-mails necessários. Sim, iria recomendar aquilo para a diretoria, mas apenas porque não havia razão nenhuma para fazer diferente e porque Dion já tinha dado permissão para eles irem ao estádio. Aquele era o período fora da temporada, os meninos só iriam jogar alguns amistosos nas próximas duas semanas e não havia nenhuma tática secreta que precisasse ser mantida em sigilo.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
51
Mas, apesar de estar dizendo "sim", iria evitar ao máximo ir ao campo na semana seguinte. Iria dedicar-se aos arquivos ou algo assim, desta forma não precisaria vê-lo. Engoliu sua decepção e balançou seu orgulho. Não tinha a menor intenção de um dia ter que lidar diretamente com ele outra vez.
CAPÍTULO SEIS
Na manhã seguinte, Lena checou seus e-mails. Estava tudo certo. Recebera mensagens de confirmação de Andrew, o coordenador do projeto. Mas não chegara nada de Seth. Claro que não: ele já havia tido o que queria. Fazendo uma careta, pegou a caixa de presentes dos patrocinadores que havia chegado para o sempre mimado time. Ela os deixaria em seus armários. Os meninos já deviam estar no campo; o treino começara há dez minutos.
— Estou entrando! — gritou para certificar-se, mas o vestiário estava silencioso e vazio. Começou a descarregar a caixa, rindo baixinho quando viu que os dois astros mais bonitos do time haviam recebido pacotes de brindes especialmente embrulhados.
Ouviu passos atrás de si e virou-se, esperando que fosse algum dos garotos. Era mesmo um homem. Ela olhou para o seu peito nu, instantaneamente reconhecendo e reagindo aos pelos negros e aos seus músculos definidos. Mas não havia sido óleo de bebê o que fizera aquele peito brilhar da última vez que o tinha visto: havia sido o calor e a saliva de sua própria boca.
Ela precisou de toda a sua força de vontade para não lamber os lábios naquele momento, e de vários segundos para conseguir mover seus olhos para cima. O silêncio disse tudo.
— O que você está fazendo aqui? — finalmente perguntou, tentando não demonstrar o excitamento que fluía por seu corpo, mas ele devia estar ouvindo seu coração martelando contra a caixa torácica.
— O que parece? — Seus olhos dançavam e demorou uma eternidade para vestir a camiseta. — Estou fazendo um treinamento com o time. Preciso saber o que devo preparar para os meninos para a semana que vem.
— O quê? — Horrorizada, lançou-lhe um olhar penetrante. — Essa não é uma boa ideia.
— Por que não?
— Por que... — Fez uma pausa. Porque provavelmente seria massacrado... Mas como diria aquilo a ele sem parecer preocupada?
— Você pode pagar por dentes novos? — alfinetou.
— Então você acha que não consigo? — Um raio de bom humor brilhou em seu rosto. Ela sabia que estava gostando de sua preocupação exagerada.
— Você não é um jogador profissional de rúgbi. Esses caras são demônios. — Ah, ela estava sendo patética.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
52
— Então, Lena — ele colocou a mão no peito —, você se preocupa com o que acontece comigo?
— Não gostaria de ver ninguém paralítico — corrigiu ela abruptamente.
— Sua preocupação com meu bem-estar é muito comovente, mas não tenho a intenção de ser pulverizado.
Naquele campo ele não teria escolha. Os Knights eram o melhor time do país. Máquinas de guerra sem piedade alguma. De ninguém.
Sem perceber, ela o seguiu até o lado de fora do vestiário, continuou pelo túnel, e foi parar no campo.
— Por que você está fazendo isso?
— Bem, há algumas razões. Eu realmente preciso me preparar para meus garotos. — Ele parou no final do túnel e virou-se para ela.
— Mas eu também tenho que gastar energia. Foi mais do que uma pequena frustração. Banhos gelados não são suficientes.
Suas palavras queimaram as bochechas de Lena. Ela apertou os dentes, tentando ignorar as chamas que a consumiam por dentro também. Será que ele havia adivinhado que ela vinha tomando três banhos gelados por dia?
— Além disso — prosseguiu ele tranquilamente —, eu sempre quis jogar nesse campo.
— Essa é alguma fantasia da sua infância? — O que acontecia com esses homens?
— Por que não? — Seu sorriso era irritantemente irresistível. — Nunca joguei rúgbi quando era garoto. Como eu trabalhava, não pude treinar na escola. Então aqui estou eu, satisfazendo aquela ambição da juventude.
— Então o seu nada louvável desejo de ganhar montanhas de dinheiro começou ainda quando era criança?
Sua resposta sarcástica matou o sorriso nos olhos dele, deixando-os mais frios do que jamais havia visto.
— Como a maioria das pessoas, eu gosto de comer. E, para poder fazer isso com uma frequência normal, tinha que trabalhar.
Lena engoliu em seco, perdida em suas palavras e momentaneamente arrependida.
— Nem todo mundo teve aquela infância perfeita, com aulas de tênis e piano e biscoitos feitos em casa para a hora do recreio — despejou ele, pisando na grama.
— Seth... — Lena chamou-o. Agora estava brava também. Ele estava tão errado quanto ela.
Ele voltou-se e encarou-a. Desafiava-a com os olhos flamejantes.
— Tem uma coisa, Lena. Você não me conhece muito bem. E certamente não sabe o quão determinado eu posso ser.
Seth levantou o queixo e correu para juntar-se ao time no aquecimento. Com a boca aberta, Lena observava-o. Determinado? Será que ele queria dizer o que ela estava pensando? Ele virou a cabeça em sua direção, lançando-lhe outro olhar.
Ah, sim, era aquilo mesmo o que queria dizer... Aquele olhar desafiador era de desejo sufocado. Estupidamente, tudo em que podia pensar naquele momento era se ele teria um protetor de boca. Sem poder resistir, foi atraída para a grade na qual
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
53
Dion apoiava-se enquanto se espreguiçava e tagarelava pelo celular. Não queria assistir à carnificina, mas seu corpo não escutava seu cérebro. Quando se tratava de Seth, seu corpo recusava-se a ouvir a razão.
—Ei! — Alguns dos garotos sorriram e cumprimentaram Seth. Outros estremeceram e afastaram-se dele, como se estivessem apreensivos.
— Não pegue pesado com a gente, irmão. Nós não queremos ver nenhum dos seus golpes fatais aqui. — Seth apenas riu. Lena franziu a testa. Do que será que eles estavam falando?
Os exercícios iniciais eram fáceis: correr, fazer alguns momentos com a bola, nada daquelas sangrentas placagens para começar, mas isso seria uma questão de tempo. Ela observava-o: short preto, camiseta cinza. Magro, malhado, forte. Saboreável. Mas não como um jogador profissional de rúgbi.
Agarrou-se à grade com força, tentando esmagar a corrente de adrenalina que a dominava e vencer o medo que sentia.
— Você não gostaria de estar lá também? — perguntou a Dion quando ele colocou o celular no bolso. Se era hora de massacrar os iniciantes, ele não deveria ficar ensanguentado também?
— Eu não! Só disputaria com Seth um jogo que não envolvesse contato, como xadrez ou algo assim. Mesmo assim, ele me massacraria.
Sério? Se não estivesse tão ansiosa, rolaria os olhos. Mas eles estavam colados ao físico de Seth. Ele era rápido e estava aguentando firme, mas poderia perdê-lo no meio daquele monte de brutamontes.
— Gabe está aí? — perguntou ela ofegante. Sentiria-se melhor se soubesse que o médico do time estava a postos.
Dion riu.
— Seth não vai precisar dele, se é isso o que você está pensando. Acho que os garotos estão com mais medo dele do que o contrário.
Surpreendentemente, aquele comentário bizarro parecia fazer sentido. Os jogadores lançavam-lhe olhares de cautela, mas isso provavelmente era porque temiam machucá-lo. Mas também não parecia que aquilo iria acontecer. Como um homem que construía e depois vendia edifícios podia ter músculos tão afiados? Como podiam ser mais definidos do que os da maioria dos garotos? Como ele não estava sem ar depois de todo o esforço que havia feito? Alguns dos jogadores pareciam já ter chegado ao limite cardiológico, mas Seth continuava sorrindo. Aquele aquecimento também parecia estar funcionando muito bem para Lena, porque tudo em que conseguia pensar era no corpo dele depositando toda aquela potência sobre o seu.
— Por que teriam medo dele? — perguntou, ela própria arfando.
— Porque tem um gancho de esquerda matador. Nos tempos dele, nocauteou mais adversários do que ninguém em sua categoria.
Nocauteou?
— Você quer dizer que ele é um boxeador?
— Isso mesmo — Dion respondeu como se estivesse surpreso por ela não saber daquilo. — Ele foi campeão nacional no campeonato amador.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
54
Como assim? Seth não era um boxeador. Onde estavam suas cicatrizes? E por que seu nariz não era amassado depois de levar tantos socos? Seu rosto era perfeito demais. Ela ficou olhando-o fixamente enquanto processava aquela informação. Boxe? Aquilo era ainda mais violento do que rúgbi.
Então ele realmente era um lutador? Não era à toa que tinha aquele corpo tão definido. Na verdade, ela odiava aquele esporte: odiava a violência. Mas agora sentia um líquido quente ferver só de imaginá-lo compenetrado em algo eminentemente masculino: aquela determinação bruta de canalizar sua indomável agressividade. Sentiu arrepios pelo corpo. O objetivo não era machucar fisicamente outra pessoa e afirmar um domínio primitivo e bárbaro sobre ela?
Ainda assim, quando Seth a dominara, quando usara seu corpo para torturá-la, havia sido com ternura. Desejo feroz, sim, mas também ternura infinita.
A dicotomia a intrigava e inflamava. Havia mais complexidade naquele homem do que tinha percebido, e estava muito curiosa. Por que ele começara a lutar boxe? Por que estava trabalhando com esses jovens em situação de risco? Ele não havia exagerado quando disse que não estava interessado em se promover. Havia acessado seu site no dia anterior e não achara nada sobre sua vida pessoal lá. Já os primeiros resultados em um site de busca mostraram fotos suas com lindas mulheres, o que a deixou tão irritada que fechou a página rapidamente.
Ela deixou as perguntas de lado mais uma vez. Afinal de contas, a curiosidade já matara um gato. Virou-se e foi em direção a seu escritório para buscar refúgio. Enquanto organizava seus papéis, contou os segundos até calcular que era seguro voltar ao vestiário e terminar o trabalho que havia abandonado. Os meninos já deviam ter terminado o treino e ido embora: tinham sessões com o nutricionista às quintas-feiras.
— Estou entrando! — gritou despreocupada, sua voz ecoando na sala vazia.
— Estava torcendo para vê-la de novo. — Ele apareceu inesperadamente.
Certo, então a sala não estava totalmente vazia. E ele estava do mesmo jeito, quente e suado, seu corpo parecendo ainda mais poderoso.
— Corri em volta do campo algumas vezes mais após o treino — respondeu ele à pergunta que ela havia feito mentalmente. — Ainda estou precisando descarregar as energias, não sei o que fazer com elas.
Lena encarou-o, apenas por um segundo. Mas aquele segundo metamorfoseou-se em um momento infinito porque a expressão de seus olhos deixou-a extasiada. Aquele olhar intenso fez com que sentisse que não havia nada nem ninguém no mundo além dela. Tentou libertar-se daqueles olhos, mas era impossível. Atração física lembrou a si mesma, aquilo era apenas atração física. Um mix hormonal mais forte do que o normal... Ou melhor, avassalador. Mas aquilo não significava nada. Não podia significar.
A camiseta dele estava colada ao corpo largo, sua pele brilhava, o peito parecia estar mais ofegante do que o habitual. Seth fervilhava. Lena estava morrendo de vontade. Mas tinha de acabar com ela.
— Você precisa de uma ducha — disse rudemente. Também precisava demais um banho.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
55
Tudo em que ele conseguia pensar era em arrastá-la para debaixo do chuveiro. E, o grande motivo que o havia atraído ao estádio para exercitar-se naquela manhã era vê-la de novo, não jogar rúgbi. Não gostava muito de esportes coletivos. Preferia o "um contra um". Assim como estavam naquele momento. Havia passado horas imaginando o que ela estaria vestindo quando a encontrasse, e estava tão linda como em suas fantasias. Tinha visto os milhões de vestidos em seu armário quando ela o abrira na manhã anterior. Adorava o jeito como eles realçavam suas formas, adorava a ideia de levantar sua saia e ter o acesso livre. Hoje ela vestia um verde-esmeralda. Ele ficaria ainda melhor molhado.
Propositalmente, Seth aproximou-se, seu desejo aumentando enquanto ela permanecia imóvel. Ele esperava que ficasse corada ou algo assim, qualquer coisa que mostrasse que estava em seus pensamentos. Esperava que fossem tão lascivos quanto os seus. Mas Lena estava branca feito papel e fantasias voltavam à sua cabeça no pior momento possível.
— Tem certeza de que quer mesmo deixar tudo como uma noite e nada mais? — A pergunta escapara de sua boca... Aquele não era o jeito frio com o qual planejara agir.
As sobrancelhas dela ergueram-se.
— Uma noite era tudo o que eu precisava. — Nunca.
— E quanto ao que eu precisava?
— Ah, Seth — respondeu ela lentamente. — Você tem um zilhão de outras opções para satisfazer suas necessidades. — Verdade, mas aquela não era a questão.
— Talvez eu não queira outras opções. Eu quero que você satisfaça minhas necessidades. — Ele franziu a testa, subitamente tocado por um pensamento ruim. — Você tem outras opções?
— Não — respondeu instantaneamente. — Mas talvez eu não tenha o mesmo nível de necessidade do que você.
Ele riu alto antes de pensar melhor naquela afirmação. — Nós dois sabemos que suas necessidades são bem maiores do que as minhas.
O queixo dela foi ficando mais definido, empinando-se.
— Você ficou com a impressão errada.
— Acho que não.
Lena podia estar rangendo os dentes, enquanto ele poderia até ficar paralisado com o vapor gélido que saía dos olhos dela, mas agora já se comprometera. Observou como ela mordia o lábio com força.
— Relaxe, Lena. — Pegou-lhe a mão e acariciou seus frios nós dos dedos.
— Ficar tensa não combina com você. — Ele sabia o que estava fazendo.
— Não estou tensa.
A pulsação dela atirou-se em direção às pontas dos dedos de Seth, rápida e furiosa. Era desejo... Era o não querer desejar. Ele também não queria querê-la, mas não estava tão na defensiva assim. Lena sabia que, se deixassem levar, aquela barreira desapareceria. Isso sempre acontecia.
Ele olhou para baixo e viu que ela cruzara um dos pés em volta da outra perna, de um jeito que fazia com que parecesse um bizarro flamingo. Estava totalmente travada,
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
56
com os dedos dos pés tensionados nas pontas das sandálias. Aquele era um bom sinal, certo? Significava que estava segurando alguma coisa. Satisfeito, ele deu um sorrisinho malicioso, fazendo-a soltar o pulso de suas mãos.
— Sabe, achava que você era alguém altamente inteligente, mas o mais idiota dos jogadores de rúgbi entendeu mais rápido do que você. Eu disse "não".
Eu sou altamente inteligente — respondeu ele pacientemente. Posso ver exatamente o que você está tentando fazer.
— Ah, é? O quê?
— Está jogando comigo, fazendo-me correr atrás de você. Acha que eu quero que você corra atrás de mim? — murmurou ela. — Sua arrogância não tem tamanho.
— Pode ser, mas eu estou certo. Mulheres gostam de manipular. Vocês jogam duro quando na verdade também querem, como se fosse errado querer muito uma coisa e como se lutar contra tornasse o desejo mais aceitável. — Ele aproximou-se; precisava ficar perto dela. — Mas aqui está uma mulher que é sincera sobre querer, e que deseja tanto quanto eu desejo. Seja honesta comigo de novo, Lena.
— Você está errado — rebateu ela com firmeza, os olhos lançando lascas de gelo e parecendo decididos. — Nem todas as mulheres gostam desse tipo de jogo. Eu não faço isso. Estava falando sério.
— Mas uma imensa parte de você não quer isso. — O dedo do pé curvado estava entregando-a. Ao menos era o que ele esperava.
— Você acha? — Lena olhou fixamente para Seth, o gelo dissolvendo-se em raiva. — Por acaso você é um daqueles brutamontes que não sabe aceitar um "não" como resposta?
— Você pode tentar me insultar, mas não vai conseguir. — Ele deu um sorriso largo. — Não vai conseguir me manipular para que fique bravo e vá embora. — Seth havia literalmente lutado para aprender a controlar suas emoções: agora era necessário muito esforço para deixá-lo nervoso. E ele estava à milhas de distância de ficar nervoso naquele momento. Estava era alegre. Lena abaixou os olhos e ele esperava ansioso por seu próximo passo.
— Para você é tudo um jogo, não é? — Lena deu-lhe uma rápida olhadela.
Seth sorriu porque sabia que não conseguira resistir àquele pequeno olhar. E, sim, ela o tinha em suas mãos, mas ele conseguiria tê-la também. Iria provocá-la até o fim.
— Não acho que você possa negar isso, Lena. Você estava tão fogosa naquele dia que explodiu no primeiro toque. Há quanto tempo estava deixando esse calor subir dentro de você? — Moveu a cabeça. Chegava ainda mais perto, tentava deliberadamente seduzi-la, e aquilo estava funcionando. — Na verdade, não acho que seja minha culpa. Trabalhar em meio a toda essa testosterona a deixa excitada e depois de um tempo sua válvula de segurança explode. Melhor explodir com alguém como eu do que com um desses meninos, certo? Você não gostaria de fazer besteira em seu local de trabalho, não é?
Ela ficou pálida. O radar de Seth havia acertado o alvo. Aquilo era interessante... Era por isso que ela mantinha tanta distância do time? Será que já havia tido um
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
57
conturbado romance no trabalho? A curiosidade dele estava ficando furiosa. É aquela era a questão.
Não se tratava apenas de levá-la para cama outra vez; queria saber tudo sobre ela. Acima que tudo, queria saber o que mais a faria rir.
Lena respirou fundo e obrigou suas lembranças a voltarem ao passado. Seth achava que tinha tesão por ter os garotos por perto? Ele era louco. Os meninos podiam ser lindos, mas não eram capazes de deixá-la acesa. Só ele. Alguma coisa nele havia despertado algo dentro dela, uma coisa que temia não estar apenas na pele. Mas ela estava feliz por deixá-lo acreditar naquilo. A malícia que apenas Seth conseguia lhe provocar veio à tona e ela inclinou-se para frente, imprudentemente.
— E uma coisa de uma vez por ano — sussurrou. — Você consegue segurar por tanto tempo assim?
— Uma vez por ano? — Ele riu a aparência de predador voltando a dominá-lo. — Duvido que acredite que vai demorar tudo isso desta vez. Você ainda está como uma bomba atômica.
Lena afastou-se, tentando retomar o controle da conversa.
— Você está delirando.
— Não. — Ele balançou a cabeça lentamente. Levantou as pálpebras e o azul-celeste de seus olhos brilhou para ela, pensativamente. — Na verdade, estou honrado.
— O quê? — Agora ele a havia perdido completamente.
— Um acontecimento anual, no máximo — disse ele, extremamente sério. — Visto que você estava com medo de ter se esquecido de como se faz, me sinto honrado por ter sido escolhido naquela noite. E, como foi uma experiência tão rara para você, vou tomar isso como um verdadeiro privilégio. E um elogio.
Ela rangeu os dentes.
— E naquele dia você estava achando que eu estava aqui me divertindo com o time inteiro.
Ele concordou com a cabeça.
— Incrível como a primeira impressão pode ser errada, não é? Moveu-se de lado em direção a ela, com um sorriso desaforado. Qual foi sua primeira impressão sobre mim?
— Que você era um idiota arrogante.
— Está vendo? — Seth deu um sorriso radiante. — Estava tão enganada.
Lena encarou-o por um segundo e depois não conseguiu evitar, riu. Sua risada ia ficando cada vez mais intensa à medida que a tensão diminuía. Sentiu-se bem.
— Você está... Está...
— Estou pronto para você — gracejou. — Venha, vamos sair daqui.
Ela balançava a cabeça, mas não conseguia tirar o sorriso do rosto.
—Você é incorrigível, insolente, impossível. Por favor, desista.
— Ela estava mesmo falando sério.
— Não acredito que você está me pedindo isso. — Seth interrompeu o tom de brincadeira e aproximou-se ainda mais dela.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
58
A pele de Lena vibrava, ameaçando explodir em arrepios. Ah, ele era irresistível. A tentação abalava todas as suas estruturas.
— Sim — sussurrou ele, chegando ainda mais perto e prendendo-a com o olhar.
Será que ele dizia "sim" pelos dois?
Ela engoliu em seco, mas não podia evitar ser sincera.
— Tudo bem, não posso negar que me sinto atraída por você. Mas é mais sensato parar por aqui. — Estava bastante determinada que aquela era a melhor coisa que poderia fazer naquele momento.
— Como isso pode ser mais sensato? Você sabe que vai ser bom.
— Já lhe falei. — Seu peito doía, enquanto sua barriga queimava.
— Uma coisa boa em excesso faz mal.
— Então não vamos fazer muito. — Ele ergueu os ombros. — Só um pouquinho mais.
Aquilo não iria funcionar. Ela se entregaria rapidamente, profundamente, inutilmente. Não precisaria de nada para se apaixonar completamente por Seth.
— Olha para mim — disse ele suavemente, mas com um tom de voz que fez seus nervos gritarem. — Só por um instante.
Seth precisava mesmo olhá-la nos olhos para tentar desvendar o que estava pensando. Mas, quando o fez, continuava sem a menor ideia.
— Não quero ter um caso com você — disse Lena gentilmente. Ele fez uma pausa; sabia que devia ser honesto com ela.
— Lena, sou totalmente contra o casamento. Os olhos dela faiscaram.
— Eu também não estou pensando em me casar.
— Certo, mas deixe-me explicar por quê.
— Você vai me contar suas desilusões amorosas para ver se me conquista? Apelar para o meu lado emocional feminino? Amansar-me para eu dizer "sim?”.
O cinismo repentino de Lena o silenciou por um segundo: alguém já devia ter apelado para as desilusões amorosas com ela alguma vez no passado.
— Não, só quero que você entenda de onde eu venho. — O que ele queria mesmo era saber da história dela. Achava que, se contasse a sua, ela contaria a dela. Normalmente aquela estratégia funcionava. Quando entendesse a razão de sua relutância, ele a ganharia. Afinal de contas, despreocupação não era sinônimo de indiferença. Ele apenas queria uma diversão gostosa, leve e indecente entre os dois. E, apesar de tentar parecer desinteressada, ela prestava bastante atenção.
Seth resolveu ir direto ao ponto.
— Veja, meus pais divorciaram-se de um jeito bem complicado. Fiquei traumatizado.
— Muito conveniente ter uma razão emocional para não se comprometer — disse Lena com sarcasmo. Ele reagiu com uma risada que mais parecia um grunhido. Ela não sabia nem metade da história. Aquele divórcio havia demorado demais para concre-tizar-se... Meses de mágoas e traições. Meses em que sua mãe insistira para fazer tudo dar certo. Meses em que tentara ser o filho perfeito.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
59
— Pelo menos fui poupado de uma terrível batalha por minha guarda — disse secamente. Sim, houvera uma ausência total de batalha por sua guarda. Aquele pai, que um dia ele fora estúpido o suficiente para idolatrar, foi embora sem olhar para trás. Estava muito ocupado com sua nova família para preocupar-se. Sua mãe ficara devastada e Seth não conseguira ajudá-la. Aquilo piorara tudo. Toda aquela turbulência horrível combinada com a transferência adolescente fez com que a raiva ameaçasse destruir sua vida. O controle só viera com o isolamento, depois que literal-mente lutara para consegui-lo. E havia aprendido o que precisava para vencer: apenas de si próprio, livre.
Seth respirou fundo para poder manter o tom irreverente e acelerar o fim daquela conversa.
— Mas claro que também tenho uma "ex" problemática.
— Obvio que você tem uma "ex" problemática. Conte-me — pediu ela, doce como mel. Não havia como amolecê-la.
— Primeiro ano de faculdade. Medicina. Arrumei a namorada que todos os caras queriam. Ela era sensacional.
Ela semicerrou os olhos, o que o fez imaginar que o verde deles brilhava de ciúmes.
— Mas aí eu comecei o negócio das pizzas. Eu havia criado camisetas para entregadores vestirem que acabaram ficando tão populares quanto às pizzas. Sabia que estava tendo uma chance em alguma coisa, e larguei a faculdade para batalhar por isso em tempo integral. De acordo com ela, eu seria um perdedor como o meu pai, que acidentalmente era mesmo um perdedor. — Por um segundo, seu ânimo parecia estar obscuro.
— E a atitude dela apenas motivou-o ainda mais? Ele esboçou um sorriso.
— Claro.
Ela achara graça em sua decisão, depois adotara um ar de desprezo. Não havia tentado entendê-lo, nem tampouco acreditara nele. Não, Seth aprendeu rapidamente que essa confiança vinha de você mesmo, assim como o sucesso e a felicidade. Depender dos outros não o leva a lugar nenhum, bastava ver seu exemplo número um, sua mãe. Ela havia acreditado que, tendo um marido e filhos, seria feliz. Mas seu marido a deixara e só restou o filho. Ele não era suficiente. Não podia fazer o bastan-te. Ele também não havia sido suficiente para sua namorada, não depois de ter perdido o status de primeiro aluno da turma de Medicina.
— Com certeza ela arrependeu-se da decisão. — Lena piscava; continuava com uma expressão de sarcasmo. E, não estava levando suas confidências muito a sério. Mas todo aquilo fora realmente ruim para ele, e estupidamente ainda o afetava... Bem, um pouco.
— Ela começou a sair com meu pior inimigo da Medicina. Até eu abandonar a faculdade, ele e eu vivíamos competindo pelas melhores notas. Ele ganhou tanto o primeiro lugar quanto a namorada. Mas, quando o casamento ficou balançado, ela veio me procurar.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
60
Na ocasião, Seth já era multimilionário e tinha mais status e sucesso do que qualquer médico. Era apenas isso o que a atraíra.
— Vocês tiveram um caso? — Lena agora olhava para o chão. Seth ficara bravo com o convite. Sua "ex" não tinha problema algum com infidelidade, mas ele tinha.
— Não, e até quando ela divorciou-se continuei dizendo "não". Não cometo os mesmos erros. — Sabia o que ela queria: o dinheiro e o status, não ele.
— E desde então você vem dando foras, certo?
Ele havia terminado cada um de seus casos... Exceto aquele com Lena Kelly.
— É por isso que você está aqui agora? — perguntou ela rispidamente. — Porque eu disse "não"?
— Não. — Ele devia ter previsto que ela iria chegar àquela conclusão. — Estou aqui porque sou sincero o suficiente para admitir que quero ficar com você de novo.
— E apenas sexo.
— Não é apenas sexo, é um sexo fantástico. — Ele tinha uma impressão, que começava a intensificar-se, de que não era só aquilo. O desejo de estar perto, de conhecê-la, era mais do que sexual. Estudou-lhe o rosto sem expressão. — Será que minha desilusão amorosa conquistou sua simpatia?
—Tudo isso aconteceu, digamos, há uma década ou mais, e você ainda não superou? Ai. Ele riu baixinho.
— Você sabe como é o primeiro tombo é o que mais machuca. Além disso, ninguém nunca se livrava dos dramas paternos. Ele podia ter conseguido esquecer seu pai, mas a mãe ainda o deixava deprimido. Não conseguia ajudá-la do jeito que queria.
Lena tentava atenuar o efeito que o desabafo havia causado nela. Aquela não era exatamente uma desilusão amorosa, certo? Milhões de pessoas tinham traumas familiares e amorosos. Com ela não era diferente.
— Você quer mesmo minha simpatia?
— Neste momento, eu quero qualquer coisa que eu puder ter. Você vai tentar salvar meu coração ferido?
— Tenho consciência das minhas limitações o suficiente para saber que isso não é possível — respondeu ela com uma profunda sinceridade. — Além do mais, não estou convencida de que você realmente tem um coração. Acho que o que você tem é uma ne-cessidade gigantesca de ganhar. Você não gosta da ideia de eu terminar antes de você.
— Bem, você tem que concordar que fez isso antes da hora. — Ele deu um sorriso malicioso. — Por que fez isso? O que a tornou uma menina assustada?
— Não estou assustada. Estou sendo sensata.
— Sensatez não combina com você. — Ele baixou a voz. — Sua beleza resplandece quando você ri e quando está despreocupada.
— Esses galanteios não vão funcionar. — Na verdade, já haviam funcionado e agora ela tentava desesperadamente não dar importância para as atordoantes informações que havia acabado de receber, mas na verdade analisava cada uma das palavras que havia pronunciado. Então seus pais haviam se separado e ele havia tido uma ex-namorada bruxa. Realmente, abandonar a faculdade de Medicina para fazer
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
61
pizza e imprimir camisetas com slogans expressivos parecia mesmo um caminho incomum, um caminho que apenas Seth poderia fazer dar certo.
Ela não devia ter ficado sabendo de mais nada sobre ele. Não devia ter de ficar ainda mais curiosa. Ele tinha de ter saído de sua vida no dia anterior, e para sempre. Mas agora ela estava muito mais do que intrigada. Quanto mais sabia, mais queria. Aquela deliciosa sensação de derretimento a imobilizou. Ele observava-a, sorrindo, e ela sabia que ele sabia.
— Você não quer mais me beijar mesmo? — Ele estava tão perto que sua pele formigava e fervia ao mesmo tempo. — Você não quer que eu deslize minha mão assim? — E foi até sua cintura, puxando-a para mais perto.
Lena fincou os dedos dos pés nas sandálias, tentando segurar-se ao último resquício de sanidade que havia sobrado. E foi aí que, felizmente, lembrou-se.
— Você tem que se afastar — sussurrou nervosa. — Tem uma câmera aqui.
Seth congelou, depois passou os olhos pelo teto e pelas paredes.
— No vestiário?
— A câmera que transmite aos telespectadores o que acontece aqui na hora do intervalo. Os garotos sabem onde fica por isso não trocam de roupa em frente a ela. Mas agora nós estamos no meio da tela.
Seth a encontrou estava na parede ao lado deles.
— Está filmando? — Ele estava horrorizado pelo fato de haver uma câmera ali.
— Prefiro não arriscar saber. — Lena distanciava-se cada vez mais.
— Você não gosta de arriscar mesmo, não é? — gritou Seth enquanto ela fugia apressadamente. Com os punhos fechados, pensou em socar a parede, mas era de concreto e ele não era tão idiota assim. Maldita câmera.
Privacidade era uma coisa importante para ele. Mas romper as barreiras de Lena era mais importante. Ele havia exposto detalhes de sua vida que raramente contava, esperando que ela pudesse confidenciar algo em troca. Mas, não. Lena Kelly não era como as outras mulheres. Ela estava dizendo "não", mas ainda o queria. Aquilo nunca lhe acontecera antes. E o que ele menos queria era ficar aficionado por ela, exatamente como estava agora.
Ficou imaginando que besteira ela havia feito. Devia ser uma das grandes. Ele conhecia aquela expressão de dor e havia visto as sombras do passado em seus olhos algumas vezes. Normalmente evitava mulheres feridas: tinham necessidades emotivas vampirescas e ele não queria conviver com angústia nem drama. Não possuía recursos para isso dentro dele. Não para qualquer uma.
Era melhor pegar leve e deixar as carentes de lado. Mas ele queria Lena. Queria aquela faísca que havia enxergado em seus lindos olhos. Queria aquela risada em seus braços de novo. Tinha de haver um jeito de tornar impossível para ela dizer "não" por muito tempo, mas, fora desfilar seminu como um gigolô, ele não sabia como iria conseguir isso.
Seria mais fácil simplesmente arrumar outra mulher, mas tinha a sensação de que nenhuma outra seria remotamente interessante depois de ter conhecido Lena. Depois de tê-la em seus braços de todos os jeitos, e mais uma vez. Ele estava em suas mãos e
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
62
ela só o desprezava. Lena estava mostrando-se melhor do que ele nisso, apesar de estar longe de ser uma conquistadora.
Ofegante, abriu a ducha na temperatura mais gelada e rangeu os dentes. Seus músculos contraíram-se, ávidos por liberar a energia reprimida, como se às duas horas de treinamento não houvessem acontecido. Já vestido, mas não menos frustrado, arrastou-se pelas escadas até o escritório de Dion, que ao vê-lo recebeu-lhe com uma expressão mais do que divertida no rosto.
— Ela massacrou você — disse Dion. Seth encolheu os ombros.
— Não leve isso para o lado pessoal — acalmou-lhe o amigo, parecendo ainda mais perverso. — Aconteceu o mesmo com todos nós.
— Você a convidou para sair? — Aquilo realmente não tinha colaborado para melhorar seu humor.
Dion apenas deu um sorriso largo e girou a cadeira para olhar para fora da janela.
— Você é o chefe dela. — Uma irritação pareceu contaminar sua fala arrastada.
— Tecnicamente, não — refletiu Dion. — Estou aqui como cortesia do conselho. Ela é funcionária da diretoria do time.
— Dion. — Seth olhou-o furioso. — Isso não melhora as coisas.
— Não fique nervoso. — Dion levantou as mãos como se estivesse rendendo-se e riu, girando mais uma vez para encarar Seth.
— Não a convidei, está bem? Não faço assédio sexual nem abuso dc meu poder.
— Mas mesmo assim obrigou aquelas garotas da torcida a vestirem roupas minúsculas — murmurou Seth, que ainda não estava preparado para rir.
— Mas os jogadores estão de todos os jeitos, menos nus no calendário. — Dion balançou a cabeça. — Lena é toda sua, mas, se ela não o quiser, não o quererá mesmo. Eu nunca a vi mudar de ideia. Você terá de lidar com o fracasso uma vez na vida.
Seth não sabia o significado daquela palavra. E não tinha intenção alguma de descobri-lo agora.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
63
CAPÍTULO SETE
Até o meio da manhã de segunda-feira, Lena conseguiu evitá-los. Haviam chegado, ela ouvira suas vozes. Se quisesse, poderia vê-los no campo dos janelões do corredor. Mas manteve-se ocupada atrás de uma montanha de papel. Na verdade, estava forçando-se a permanecer lá, mas a segunda metade da manhã passava em um ritmo lento demais. Finalmente, no entanto, sua curiosidade aguda não podia mais ser ignorada. Foi até os vestiários, mas não entrou; preferiu ir pelo túnel até o campo.
Os Knights estavam utilizando metade do espaço, e faziam seus exercícios de rotina. Na outra metade havia um rapaz bastante alto e desengonçado, um grupo distinto de adolescentes e um homem ultradefinido vestindo uma camiseta e um short familiares. Seth estava coordenando o jogo e fazia-os suar. Mas, como Lena pôde ver em menos de seis segundos, também estava fazendo-os rir.
Ela não conseguiu evitar permanecer ali para observar a interação entre ele e os meninos. O garoto alto deveria ser o auxiliar, pois era quem os encorajava e dava gritos de apoio, enquanto Seth fazia os garotos ralarem. Depois de ter lido a programação completa do curso, ela sabia que não se trataria apenas de se divertir no campo. Haveria workshops de todos os tipos de temas, de drogas e álcool a controle da raiva, e até leitura e escrita básicas.
Lena encostou-se à grade; não conseguia parar de seguir aquele jogador com os olhos. Mesmo a mais de 15 metros de distância, sentiu quando a atenção dele voltou-se para ela. A temperatura de seu corpo ferveu e seus hormônios pareciam frenéticos. Seu coração batia mais rápido do que o dos meninos e ela não podia culpar os exercícios por isso. Em seguida, os dois grupos juntaram-se e dividiram-se em duas equipes para disputar um pequeno jogo. Adolescentes e profissionais. Mas Lena observava aquele que se recusava a pertencer a qualquer uma das categorias. Ela virou-se: ficaria presa o dia inteiro ali sem fazer nada se não forçasse seus pés a mexerem-se. Não era bom ficar ali de lado babando, afinal não era uma Maria-chuteira, certo?
Dez minutos depois, estava no vestiário distribuindo a última caixa de brindes quando ouviu o grito. Correu de volta ao túnel, quase trombando com um jogador novato que corria na direção oposta. Rapidamente, lançou um olhar por todo o campo. Mas não era Seth nem nenhum de seus meninos que estava no chão. Os Knights
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
64
estavam reunidos em um círculo irregular, enquanto um deles estava esparramado no chão. Seth estava na ponta do grupo. Passos mais rápidos que o acelerado coração de Lena trouxeram Gabe. Ele movia-se depressa pela grama aparada e tinha o kit de primeiros socorros na mão, enquanto o jogador que o havia chamado corria a seu lado:
Mas aquele jogador não era o novato que Lena vira no corredor. De repente, lembrou-se do rosto pálido do garoto quando passara por ele. Adivinha quem havia estado no topo da placagem que resultara naquela lesão? Alívio. Estava tão agradecida por nenhum dos meninos de Seth estar envolvido naquilo. Mas aí se lembrou da história recente do novato que estivera metido em uma situação semelhante. Rapidamente voltou ao túnel e vinte segundos depois o encontrou, com os punhos cerrados, encostado na parede de fora do vestiário. Ele não disse nada quando Lena aproximou-se, não a olhou nem se moveu. Ela tocou-lhe o ombro levemente.
— Não tive a intenção... — Por trás da expressão furiosa, ela viu como estava arrasado.
— Claro que não teve. — Ela estava torcendo para que algum dos rapazes aparecesse o mais depressa possível. Aquele menino havia estado em um jogo no qual outro jovem destaque do time havia acabado com ossos quebrados e sonhos desfeitos, e não sabia se estava dizendo a coisa certa.
— Você sabe que eles querem jogadores apaixonados — arriscou mesmo assim. Eles querem garotos que entreguem tudo de si. O risco vem com isso. Acidentes acontecem.
— Não quero acabar com a carreira de mais uma pessoa.
— Você não vai acabar. — Isso era o que ela esperava. — Você é um grande jogador. Eles acreditam em você. Seus colegas de equipe acreditam em você. — Ansiosa, olhou para o rosto do garoto esperando poder tranquilizá-lo. — Eu acredito em você. E o seu papel é voltar lá. Eles precisam da sua força.
— Lena tem razão, irmão — o auxiliar técnico falou atrás dela. — Ele está bem. Um pouco grogue, mas nada que não possa ser resolvido. Aquele foi um jogo limpo.
Ainda bem que eles haviam finalmente aparecido, o auxiliar técnico e Ty. Ela ergueu as sobrancelhas para o capitão do time, que piscou de volta. Deu um suspiro de alívio.
— Fale com o técnico e volte para lá — disse ela ao novato enquanto se afastava. — Treine bem.
— Obrigado, Lena — gritou o garoto enquanto ela caminhava de volta ao campo. Mas seus níveis de adrenalina não conseguiram diminuir: Seth estava no final do túnel.
— Você sabe mesmo a história de cada um deles, não é? — disse ele baixinho.
Então ele escutara tudo.
— Claro — respondeu automaticamente, tentando manter os olhos nos jogadores que retomavam o treino, bem longe de Seth. Ele estava ainda mais deliciosamente másculo com aquele brilho de quem acabara de descobrir algo nos olhos. — Isso é bom para as visitas monitoradas. As pessoas gostam de saber de fatos e conhecer personagens.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
65
— Com certeza — murmurou Seth. — Mas ele está bem? Porque o outro garoto está.
Ela encarou-o, incapaz de resistir ao tom de preocupação em sua voz. Um grande erro. Após um milésimo de tempo dividindo o mesmo ar que ele, era novamente aquela mulher com um desejo selvagem de uma semana antes. Não podia acreditar naquilo. Será que apenas o sexo era capaz de causar toda aquela tensão? Afinal, não diziam que doce demais enjoa? Não era justo que estivesse mais louca para se lambuzar do que nunca.
— Acho que sim. — Lena forçou uma resposta, mas estava mergulhada naqueles olhos azuis e suas palavras saíam como balbuceios. — Ele tem uma potência enorme, mas ainda está aprendendo a lidar com ela. Vai ser um ótimo jogador. Seus meninos estão bem?
— Um pouco chateados.
— Não deve ser tão difícil para eles ver alguém ferido.
Lena assustou-se com aquela voz desconhecida. Só então percebeu que aquele rapaz alto e desengonçado estava ao seu lado. Estivera tão ocupada olhando fixamente para Seth que nem o notara.
— Lena, esse é Andrew, o coordenador do projeto — Seth o apresentou com um sorriso comprometedor.
Envergonhada, ela apertou-lhe a mão.
— Ouvi você falando com ele — disse Andrew. — Seria ótimo se pudesse falar com nossos meninos também.
— Andrew é sempre bastante direto, não ligue. — Seth riu. — Ele não tem vergonha alguma de pedir o que quer.
Lena conhecia uma pessoa bem mais sem-vergonha e lançou um olhar que dizia isso a ela. Andrew parecia não ter entendido aquela insinuação e continuou entusiasmado com seu pedido.
— Seria ótimo mostrar a eles o ponto de vista das relações públicas: o que você espera do time, como controla o comportamento dos jogadores...
— O comportamento de alguns jogadores é impossível controlar — disse Lena, lançando mais um olhar acusador para Seth antes de dar um sorriso doce para Andrew. — Mas, se você acha que seria interessante, claro que posso falar com eles.
Logo em seguida, ela recuou para seu território alguns andares acima, determinada a não olhar pela janela nas próximas quatro horas. Queria poder acabar com o desejo de ficar admirando aquele homem maravilhoso o dia inteiro. Queria nunca ter concordado com sua presença no estádio. Mas depois, quando o sol preparava-se para começar a se pôr, ela ouviu a música.
Ah, não. Levantou-se depressa da mesa e, com passos largos, foi em direção ao corredor, chegando depois às portas que levavam à arquibancada superior. O barulho de seus saltos ecoava enquanto se dirigia à beira da grade, de onde tinha uma visão fantástica do campo. Olhou fixamente para baixo e repetiu a si própria que não estava com ciúmes.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
66
Mas havia não apenas uma, nem duas, nem ao menos três. Havia cinco delas em volta dele. Vestiam microssaias, tinham a perna levantada até as axilas e o cabelo até suas finas cinturas.
Assim como o Contez Stadium era a casa dos Silver Knights, era também das Silver Blades, as dançarinas que entretinham o público antes dos jogos e durante o intervalo. E Lena havia se esquecido completamente de que faziam seus ensaios em campo às segundas-feiras.
Conhecia algumas delas. A maioria era estudante. E eram lindas. Todas eram maravilhosas, magras, sexies. Também eram incrivelmente flexíveis. Esforçava-se para não se importar com o fato de que aquele bando de garotas agora estava compenetrado em cada palavra de Seth, rodeado por elas. Tentou com toda a força resistir a observá-los. Não estava interessada no que ele havia feito com alguma ou, quem sabe, com as cinco meninas. Quem era ela para julgar? Afinal de contas, também havia se jogado nos braços dele. Todas as mulheres deveriam ter direito a viver o que ela vivera uma semana antes.
Agora, sentia-se mal.
Ele olhou para cima e viu-a na arquibancada, dando-lhe um enorme sorriso e uma piscada abusada. Lena congelou, querendo desaparecer dali, mas seria óbvio demais. Foi então que, após trocar mais algumas palavras com um sorriso safado no rosto, Seth separou-se daquele grupo de beldades. Lena continuou paralisada, observando-o cruzar a grama e subir os degraus sem esforço até pular sobre a grade na qual ela se apoiava como se fosse uma escultura de gelo.
— Vejo que você encontrou um jeito de satisfazer suas necessidades. — Ela não conseguiu resistir à ironia.
Ele manteve a expressão suave.
— Bem, eu amo mesmo as mulheres que não tentam esconder o que querem.
Apesar da bela resposta, Lena continuou o duelo.
— Na verdade, nem todas as mulheres precisam de um homem. — Ela queria trucidá-lo.
— Não? Você anda com aquelas bolinhas vaginais e tem orgasmos a cada segundo?
O queixo dela caiu. Fechou a boca rapidamente depois que os olhos dele reluziram, desafiadores.
Os meninos haviam ido embora e ele voltava a ser atrevido como fora quando se conheceram. As imagens enchiam sua mente, as sensações enchiam seu corpo, não adiantava ficar gélida novamente.
— Você não precisa delas — provocou Seth, insistindo no ataque de sedução. — Você sabe que eu faço um trabalho melhor.
— Seu... — Ela engoliu em seco.
— Seus olhos entregam tudo — zombou Seth gentilmente. —Você não conseguiu tirá-los de cima de mim.
— Estou impressionada como você conseguiu perceber alguma coisa em volta daquelas microssaias — disse ela mansamente.
Estava com tanta raiva que não percebia o que estava revelando.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
67
— Você está morrendo de ciúmes e nem consegue esconder.
— Pode dormir com quem quiser, não é problema meu. Eu não me importo mesmo. — Lena olhou fixamente para a grama para não olhar em seus olhos.
— Você está queixando-se demais. — Ele balançou a cabeça. — Coitadas dessas jovens dançarinas. Elas não são o tipo que leva um cara para casa e transa com ele depois de dez minutos de conversa.
A cabeça dela tremia enquanto lhe lançava um olhar furioso, fazendo com que a frieza a dominasse outra vez.
— Como assim, não são esse tipo? Você está falando de mulheres fáceis?
Ele riu, mas o azul de seus olhos intensificou-se.
— Nós dois sabemos que você é tudo, menos fácil.
— Exatamente. — Ela preparou as palavras, queria provocá-lo. — Sou difícil demais para você.
— Eu realmente acho que você tem razão. — Ele deu um sorriso. — Você me encara de frente.
Ele havia quebrado todas as regras sociais: chegava cada vez mais perto, rápido demais, até ficar a apenas um milímetro dela.
— Eu adoro o jeito como você não recua.
Bem, aquilo era porque ela havia travado os joelhos para acabar com a sensação de que suas coxas eram duas geleias, o que a impedia de dar um passo sequer.
— Você não acha que é muito rude invadir meu espaço?
— Se você estivesse desconfortável, moveria-se.
— E pularia a grade com esses sapatos? — perguntou ela com sarcasmo.
O sorriso de Seth ficou ainda mais largo. A grade estava a quase um metro de distância e Lena certamente poderia sair dali se quisesse. Ele inclinou-se e sussurrou em seu ouvido:
— A questão é que você gosta de mim perto assim.
E gostava. Ela também gostava do jeito como o short ficava apertado em suas coxas. Queria apertá-lo daquele jeito. Inacreditável, estava com inveja de um pedaço de pano. Como era idiota. Tudo o que ele precisava fazer era olhar para ela e suas estúpidas pernas ficavam loucas para escancararem-se. Mas ainda mais estúpida era ela, que estava radiante pelo fato de que ele não havia desistido. Pelo fato de que era ela quem ele perseguia não as bailarinas elásticas que naquele momento dançavam na grama. Sim, aquela era sua fraqueza: queria ser a número um. Ela afastou-se com rapidez e sentou-se antes que caísse em cima dele.
— Nós não estamos fazendo isso. — Ela obrigou-se a dizer aquilo. Esforçava-se para acreditar. Olhou de volta para as dançarinas, que ensaiavam seus passos e truques.
Seth sentou-se ao lado dela e colocou o braço em volta de seu ombro. Seus dedos acariciavam-lhe a pele nua com a intimidade de um amante. Lena lutava contra a vontade de deitar a cabeça naquele convidativo e largo peitoral.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
68
— Talvez, se nos conhecêssemos um pouco melhor, descobriríamos todas essas coisas que não gostamos um no outro e nosso tesão iria acabar aos poucos — disse ele com a fala arrastada.
— Você já me contou todas as suas angústias — respondeu ela, mantendo-se focada nas garotas na grama. E aquilo não funcionara. A probabilidade de seu tesão por ele acabar era tão remota quanto os Silver Knights terminarem no final da classificação daquela temporada. Para ele, no entanto, aquilo era totalmente provável. Homens não gostavam de destruidoras de lares, mesmo aqueles que gostavam de mulheres rápidas e soltas. E, na verdade, os homens só queriam as mulheres rápidas para excitações passageiras. Ela franziu a testa. O que eles tinham de fazer era levar a conversa para bem longe da vida pessoal. Precisava falar com ele do mesmo jeito educado com que falava com os outros garotos. Não era necessário haver aquela corrente oculta de tensões, de sugestões, em todas as discussões que travavam. Podia normalizar a interação que mantinham e assim neutralizar o clima entre eles. Certo?
— Você não gosta delas, não é? As dançarinas. — Seth invadiu os pensamentos de Lena com um tom provocativo. — Por quê? Você não gosta que outras mulheres desviem a atenção de você? Você quer ser a única mulher bonita do pedaço?
Qualquer ideia de tornar-se educada com ele foi para o espaço com aquela pergunta. Ele estava tão enganado!
— Não é por isso que você gosta de trabalhar aqui? — Seth pressionava-a ainda mais. — Por que não divide seu apartamento com nenhuma amiga?
— Talvez sejam elas que não gostem de mim. — Lena virou a cabeça, tentando esconder o quanto as palavras dele a haviam afetado.
O sorriso de Seth ficou ainda mais perverso.
— Por que não gostariam de você? Você é daquelas mulheres que só gostam de andar com homens?
Ela balançou a cabeça negativamente, mas sabia que aquilo tinha um pouco de verdade. As amigas que tinha em sua cidade haviam lhe virado as costas e desde então não havia se esforçado para arranjar novas companhias femininas. Todo o empenho que tinha fora utilizado em seu trabalho. Apenas recentemente havia pensado que precisava sair mais. Ironicamente, era justamente às dançarinas que imaginara recorrer.
— Mas você gosta de ficar perto desses meninos. — Ele a inspecionava. — Gosta de estar rodeada de gente bem-sucedida. Ganhadores. Uma garota que orbita em volta de sucesso.
— Para arrumar um homem rico? — A amargura a dominou e Lena zombou dele. — Você não podia estar mais enganado.
— Será?
— Sim. — Ela virou-se para Seth, estava irritada o bastante para esclarecer-lhe algumas coisas. — Eu estive rodeada de sucesso a minha vida inteira, Seth. De pessoas imensamente bem-sucedidas. Muito mais bem-sucedidas do que qualquer jogadorzinho. Você não sabe de nada. Nasci depois da minha superinteligente irmã e antes do meu superinteligente irmão. Aqui estou eu, senhorita "Mediana", no meio de dois gênios dos
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
69
esportes e da academia. Então a última coisa que eu quero é ser ainda mais ofuscada. — Ela virou-se novamente. — Sabia que a única coisa que fiz e que impressionou meus pais foi conhecer Cliff Richard? Sério. Não foi nada que conquistei sozinha. Meus irmãos são incríveis: ela é uma acadêmica, ele está fazendo PhD em Engenharia dois anos antes do previsto enquanto ainda joga basquete semiprofissional. Eles já nasce-ram assim, usando frases complexas o tempo todo, ganhando todos os prêmios que lhes aparecem pela frente. Nunca ganhei um prêmio, Seth, nem mesmo de participação. E eu só tenho a atenção dos meus pais por causa das pessoas que conheci aqui. Não por nada que eu tenha realmente feito.
Mesmo a besteira que havia feito em sua vida aqueles meses todos atrás não tinha sido suficiente para ganhar a atenção deles. Ao menos não inicialmente. O peso de sua desaprovação e decepção não fora expresso até que a preocupação com a opinião dos outros sobre a família viera à tona. Como aquilo os afetara! Não era de se espantar que ela tivesse procurado e encontrado a única coisa que eles nunca lhe deram a sensação de ser valorizada, especial, querida, apoiada — no lugar mais errado de todos. Mas Lena recusava-se a usar sua excêntrica família como desculpa: ela era responsável por seus próprios erros e havia aprendido com eles.
Eles deviam estar impressionados com o que você faz aqui — disse ele, pensativo. — Você tem um ótimo emprego e faz tudo brilhantemente.
Ela queria muito acreditar que seus pais iriam pensar o mesmo algum dia. Ainda havia uma parte dela que queria a aprovação deles. Não sabia se isso fazia dela uma imbecil ou não.
— Tudo o que eu faço é oferecer suporte para outras pessoas. Pessoas muito mais bem-sucedidas do que eu. — Basicamente, um resumo de sua vida. — Vivi por tanto tempo nos bastidores que me tornei ótima nisso.
— Mas você gosta disso.
Ela fez uma pausa, precisava ser sincera com ele.
— Sim, gosto. Como trabalho, é fantástico. Mas não queria que minha família me enxergasse assim também.
— Muitas pessoas não conseguiriam fazer o que você faz — disse ele. — Não poderiam lidar com todos esses egos e inseguranças tão bem. Não poderiam aguentar esses bastidores.
— Se isso é um talento, não tem nada de glamoroso. — Pelo contrário, era completamente subvalorizado.
— Não se subestime. É difícil conquistar coisas grandiosas sozinho — ressaltou Seth. — A maioria das pessoas precisa de uma equipe de apoio.
Aquilo a fez parar para pensar.
— Você precisou? — Ele havia conquistado muito mais coisas do que a maioria das pessoas. Foi então que ela se lembrou. — Ah, não, sua namorada lhe deu um fora.
Ele confirmou com um pequeno sorriso.
— E sua mãe? — A risada dele tornou-se triste.
— Não importa quantos milhões eu ganhe, acho que ela nunca vai me perdoar completamente por ter abandonado a faculdade de Medicina.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
70
— E seu pai?
— Ele não se importava nem um pouco. — Seu sorriso desapareceu completamente. — Talvez fosse bom ter o tipo de apoio que você dá para esses jogadores.
Lena tentou ignorar a doce sensação que irradiava de seu peito para todos os seus membros porque achava que ele nunca havia precisado de nada de ninguém.
— Talvez a falta de apoio seja exatamente o que o fez ter o tamanho do sucesso que tem.
Lena percebeu que Seth estava ofegante, mas ele respondeu com tranquilidade.
— Quem sabe?
— E por isso que você quer ajudar esses meninos? — perguntou ela. — Quer dar a eles o apoio que nunca teve?
Seth refletiu antes de responder.
— Apoio não, mas as habilidades para que eles possam ter controle sobre seu próprio destino. Para que entrem em uma luta que realmente valha a pena. Alguns desses meninos tiveram esse problema de um jeito bem pior do que o meu. Mas o esporte me deu disciplina, autoconfiança e força. É normal ficar bravo, mas não é bom deixar essa raiva acabar com sua vida. Isso funciona com muitos meninos prestes a perder o controle.
Será que ele havia quase perdido o controle?
— Mas por que você escolheu boxe? Seth riu.
— Você não gosta? Não me diga que é violento demais para você, a princesa das relações públicas do rúgbi. — Ele chacoalhava os ombros. — Eu sabia que iríamos encontrar alguma coisa que a desagradaria se conversássemos o bastante.
— Tenho certeza de que consigo pensar em outros motivos para não gostar de você também — disse ela secamente. — Pensei que você fosse muito ocupado para conseguir praticar esportes.
— Eu era. Mas você pode bater em saco de pancadas a qualquer hora do dia, e depois encontrei um senhor em uma academia de boxe que me treinava em uns horários malucos.
— Por que ele aceitou isso?
— Porque eu estava furioso e ele sabia que aquilo iria me ajudar a prosperar. Ele estava certo.
— Por que você estava furioso?
— Por que uma pessoa fica furiosa? — rebateu ele enigmaticamente, aproximando-se. Os dois estavam sentados na arquibancada do maior estádio do país, mas a situação era insuportavelmente íntima. — Mas e você... O que tem que uma pessoa pode não gostar?
Havia apenas uma resposta para aquela pergunta.
— Eu quero demais.
— Você se acha gananciosa? — Seth elevou o tom de voz. — Nunca.
— Eu sou. — Emocionalmente, não poderia ser mais gananciosa. Queria toda a atenção que não tivera.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
71
— Se você fosse gananciosa, estaríamos fazendo sexo neste segundo — murmurou ele. — Em vez disso, você está mantendo distância apesar de saber que nós dois ainda queremos. Por que, então? — Ele atingira a alma dela com toda aquela intensidade. — Você tem um "ex" problemático em seu passado também?
Lena piscou. Ali estava sua chance de repeli-lo. Isso seria tão fácil, já que ela não tinha um "ex" problemático; ela era a "ex" problemática.
Tive um caso com um homem casado. Eu era a outra. Tentei destruir uma família feliz.
Suas desculpas, as outras peças do quebra-cabeça, gritaram para ser ouvidas, mas ela as bloqueara. Era uma história de burrice absoluta. Havia sido a segunda da lista. Ela sempre fora a segunda da lista. Ou coisa pior.
E suas próprias ações não haviam simplesmente provado que era isso mesmo o que tinha de ser? Ela não era esperta. Não era um sucesso à altura de seus irmãos. Não merecia a mesma quantidade de atenção. Nunca tivera aqueles momentos de triunfo, e os jantares comemorativos nunca haviam sido em sua homenagem.
A história daquele relacionamento traumático iria fazer com que Seth corresse para bem longe dela. Faria com que o calor de seu olhar desse lugar à desaprovação, porque ainda persistia no mundo a ideia de "dois pesos e duas medidas". Talvez ela devesse apenas ter outro rápido momento de diversão com ele. Talvez só fosse boa para isso. Mas a revolta contra aquele estereótipo ardia dentro dela. Por que não podia ter uma maldita diversão e ser feliz para sempre depois? Queria aquilo tudo. Mas o homem que viveria aquilo com ela não poderia ser o solteiro convicto Seth.
— Você não vai me contar, não é? — Finalmente ele quebrava o silêncio.
Ela não queria contar. Não ali, não sentada sob um sol de final de verão e um céu tão azul quanto os intensos olhos dele. Aquele era outro momento de fantasia e ela não queria quebrar o encanto. Apesar de saber que deveria pôr um fim na atração que sentiam, não conseguia fazê-lo.
— Eu era muito jovem e ingênua. Vamos deixar isso para lá. As mãos dele seguraram o queixo de Lena.
— Vou apenas deixar essa conversa para outra hora.
Aquele pequeno contato a derreteu e fez com que se aproximasse. Incrivelmente ciente do corpo de Seth, ela quase podia sentir o sangue dele pulsando contra o seu. Deu um longo suspiro, tentando apagar o incêndio dentro de si, mas só conseguiu ficar ainda mais quente. Como se pudesse ouvir seus pensamentos, seus desejos mais secretos, o olhar dele desviou-se dos olhos dela e foi até a boca.
Lena colocou a palma da mão sobre o peito dele. O prazer atravessava-a pelo mais suave dos toques. Seu calor e a força de sua vitalidade eram viciantes. O cheiro do crepúsculo do verão intoxicava-a.
Ele era irresistível. Lena aproximou-se. Ergueu o queixo. Pressionou seus lábios entreabertos contra os dele, dando-lhe leves lambidas.
Ela fizera aquilo. Ela queria aquilo. E como ela queria.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
72
Seth reagiu instantaneamente, mas não do jeito que ela queria. Levantou a cabeça, desviando-se, e no segundo seguinte levantou-se e foi até a grade. Bem longe do seu alcance.
— Você está me punindo por ter dito "não" antes? — perguntou ela, confusa, depois ferida, depois irritada.
— Não, estou mostrando que posso me conter.
— Eu não lhe pedi para fazer isso.
— Talvez seja para mim mesmo. Talvez eu não goste do jeito como tudo parece fora de controle. — O coração de Lena disparou. — Isso é uma coisa que a incomoda também, não? — disse ele suavemente, olhando para ela por sobre os ombros. — O fato de que é muito intenso.
Ela já lhe pertencia naquele momento. Se ao menos ele soubesse! Mas Seth estava longe demais para perceber que ela tremia dos pés à cabeça. E, se percebeu, não demonstrou nada.
— Vou lhe dar uma última chance para você ter certeza de que quer isso — disse ele. — Porque, quando acabarmos na cama novamente, vai ser por um bom tempo. Você precisa estar preparada.
— Não. — Lena balançou a cabeça. — Não quero assim.
— Você vai querer.
— Eu lhe disse que não quero ter um caso. — Ela queria acabar com aquilo. Queria esquecer toda aquela atração selvagem e achar alguém normal. Alguém que se preocuparia com ela, apenas ela, do jeito que tanto sonhava. Não aquele extremamente bem-sucedido e maravilhoso homem que podia ter qualquer mulher que quisesse. Milhões delas.
Ele ergueu o queixo, mantendo-se firme.
— Nós podemos ter mais uma noite, mas só isso. — Era tudo o que daria a ele. Outra noite para ver o que acontecia.
— Não é o bastante.
O coração de Lena galopava.
— Não vou mudar de ideia.
Seth subiu os degraus em direção à saída mais próxima e ela não teve certeza de que o que disse em seguida era para que alguém escutasse.
— Você já mudou.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
73
CAPÍTULO OITO
Ele estava certo, era claro. Lena estava na pequena sala de conferências, ridiculamente desconfortável em frente aos adolescentes. A tensão penetrava em todos os seus nervos e o clima quente e úmido demais para aquela época do ano a desconcentrava. Tentava não olhar para o homem encostado contra a parede do fundo. Pensamentos sobre ele haviam feito com que passasse a noite em claro. E, nos poucos minutos que conseguira dormir um pouco, ele havia assombrado seus sonhos. E como a havia assombrado.
Assim que terminou, voou para o andar de cima e colocou uma música, golpeando o teclado para esvaziar sua caixa de entrada. Mesmo assim, ouviu as vozes animadas dos meninos que agora estavam no campo. Foi então que tanto a música tocando quanto o barulho dos garotos foram sufocados por um som familiar.
Lena correu para os janelões do corredor. Era granizo. No final do verão. Pedras de gelo do tamanho de bolinhas de gude afundavam-se no chão. Christchurch era famosa por passar pelas quatro estações em um só dia, mas isso já era ridículo.
Os meninos e Andrew estavam correndo para fora do campo. Mas Seth, não. Ele andava atrás deles, parecendo não se importar com a força da tempestade repentina, e sua camiseta ficou ensopada em um segundo. Pregada no corpo. Não protegeu o rosto da ferocidade do granizo; em vez disso, como se tivesse um sexto sentido, olhou para cima, procurando.
Lena sabia que ele a havia visto na janela porque, de repente, deteve-se. Apesar da distância, era como se ele pudesse ver sua alma. E ela estava queimando por ele. Colocou as duas mãos no vidro como se assim pudesse esfriar-se. Mas havia apenas uma coisa que poderia apagar suas chamas.
Seth correu pelas escadas e corredores do estádio. Sabia que poderia tê-la convencido na noite anterior, mas queria rendição absoluta. Agora tinha certeza de que havia conseguido, mas estranhamente a vitória iminente não o deixara satisfeito. Estava hesitante. Lena abrira-se um pouco para ele, mas não muito. Isso o deixara ainda mais curioso. Queria saber tudo. E sua cabeça estava tão confusa que ele não conseguia encontrá-la naquele maldito labirinto.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
74
Finalmente chegou lá. Ela mantinha-se na mesma posição que ele a vira do campo. Uma figura fina na janela com um vestido azul-marinho e o cabelo lustroso. Imóvel, observava fixamente o clima maluco. Não conseguira ouvir os passos de Seth por causa do barulho das pedras de gelo. Ele caminhou até suas costas e parou a centímetros de distância, sem querer molhar seu lindo figurino. Mas esticou os braços e colocou suas mãos sobre as dela, apertando-as cada vez mais forte contra o vidro.
Ela não se mexeu; já estava tão tensa que seus músculos não podiam contrair-se mais. Ela o havia sentido.
Onde estão os meninos? — Apesar de o granizo martelar sobre o teto de alumínio, ele podia ouvir seu sussurro.
— Estão com Andrew. Indo assistir a um DVD.
— Você não deveria estar com eles?
— Vou em um minuto. — Ele precisou de metade desse minuto para recuperar o fôlego.
Seu peito arfava como se tivesse trabalhado por horas. Mas não tinha: eles mal haviam começado. E era exatamente a mesma coisa que pensava sobre Lena.
— A tempestade está forte lá fora — murmurou ela.
— Aqui dentro está ainda mais forte. — Lena estremeceu, sentindo uma sensação que a deixou arrepiada da cabeça aos pés. Ele percebeu que ela lutava contra o que estava sentindo, a tensão travava seu corpo. Seth não conseguiu se segurar e beijou-a entre o ombro e o pescoço.
— Aqui, não. — Seu sussurro era um apelo. Era a revelação de um tormento.
Ele sentiu outro espasmo das mãos dela embaixo das suas e percebeu que a resistência que emanava de Lena não era contra ele, mas contra ela própria. Ela estava contendo-se.
Seth respirou fundo para amenizar a reação furiosa de seu corpo. Queria que, naquele instante, pudesse segurá-la e então levar a mão por baixo de seu vestido, penetrando em seu calor o mais profundamente e rapidamente possível. Mas, por mais que quisesse muito, ele não iria pegá-la para uma rapidinha de dois segundos em um armário de produtos de limpeza. Não ali, não naquele momento. Os dois tinham trabalho a fazer. Os dois precisavam se concentrar. E ele estava certo do que dissera. Queria mais do que uma noite. Queria mais do que as travessuras que haviam aprontado naquele dia.
Ele queria tempo. Mas não era a hora.
— Jante comigo — disse ele, ainda sem conseguir soltá-la. Dessa vez, a agitação que Lena sentia dentro de si era de divertimento.
— E assim que você chama aquilo, um jantar?
Ele a ouvira falar com os jogadores, com os meninos. Observara enquanto fazia as coisas do estádio inúmeras vezes. Havia discutido com ela, havia feito um sexo maravilhoso com ela. E sua beleza, sua sabedoria, seu entusiasmo e profissionalismo o haviam impressionado. Mas era a risada que o derrubava. Sempre.
Mas ele realmente queria comer naquela noite, conversar. Os poucos momentos de flerte que haviam tido até então não tinham sido suficientes.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
75
— Vou esperá-la depois do trabalho. — Ele obrigou-se a desgrudar as mãos de cima das dela e afastou-se. Ainda sentia uma dor abaixo da costela, mas não parou para analisar o por que. Tudo o que importava era vê-la e conseguir alguma coisa a mais.
Lena inclinou a cabeça, apoiando a testa no vidro, mas aquilo não baixou sua febre. Ela virou-se, pressionando a espinha contra a janela. Ele já estava no final do corredor, partindo com determinação e poupando-a da falta gravíssima que era fazer sexo no local de trabalho. Mas, caso tivesse ficado um minuto a mais, ela imploraria para que ele o fizesse. Não podia mais resistir.
Seth esperava por ela do lado de fora de seu escritório no final do expediente. Os dois caminharam até o carro e ele dirigiu até o centro.
— Estou morrendo de fome — disse ele, estacionando em um local que parecia pequeno demais para seu carro.
— Vamos mesmo jantar fora? — Lena soltou a respiração do pulmão cheio. Esperou pelo barulho da lataria do carro sendo amassada, mas o homem parecia saber exatamente até onde podia ir.
— O que você acha que eu quis dizer com "jante comigo"? — Seus olhos brilhavam enquanto esperava por ela na calçada. E então caminharam juntos.
— Bem, seus antecedentes falam por você. Ele apenas riu.
— Você gosta de japonês? — Abriu a porta com um floreio.
— Claro. — Ela respirou fundo enquanto entrava no requintado ambiente. Nunca havia estado ali antes, mas já ouvira falar do lugar. Não era apenas um restaurante, mas uma Meca da gastronomia para aqueles que tinham gordas carteiras. Até mesmo o menor dos sushis tinha a fama de custar caríssimo.
A mesa já estava reservada, ficava no fundo do salão e tinha a melhor vista da janela, além de ser a que oferecia maior intimidade. O modo como ele planejara tudo era lindo, mas ela não estava tirando conclusões daquilo. Seth bebia vinho e jantava nos lugares mais bonitos da cidade. Era mesmo esperado que fossem a um restaurante exclusivo como aquele. Ele não estava fazendo nada especial para ela. Mas, ainda assim, Lena iria gostar daquilo.
Apesar da evidente falta de preços no cardápio, Seth não hesitou em pedir o que pareceu ser um milhão de pratos. Eles chegaram, um atrás do outro, e Lena tinha de admitir que agora entendia por que aquele local era famoso.
— Está tudo fresco como você gosta? — brincou ele, enquanto ela empanturrava-se.
— Tão fresco que parece que eles ainda estão nadando. — Ela riu, pegando outra divina peça de sashimi. Encostou-se à cadeira para saborear tanto a comida quanto a companhia. — Como está indo tudo com os meninos? — perguntou. — Você acha que está ajudando?
Ela o ouvia enquanto contava os altos e baixos daquela semana. Perguntou sobre as outras edições do curso. Aparentemente, ele ainda mantinha contato com muitos dos "graduados". Havia empregado alguns deles. Outros tinham até mesmo entrado na
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
76
universidade. E ela suspeitava de que estivesse pagando tudo, mas ele não admitira isso.
Tanto a comida quanto os minutos desapareciam enquanto eles falavam. A conversa corria leve, as risadas eram suaves e frequentes. Uma parte dela sentia-se mais relaxada do que nunca com ele. Outra parte estava ficando cada vez mais espremida pela tensão. Sua insistência era implacável, a pressão aumentava, tornando-se cada vez mais estridente até que de repente era tudo o que conseguia ouvir. Ela olhou para ele, calando-se quando reconheceu a mesma tensão refletida em seus olhos. Era o apetite que precisava ser saciado naquele instante.
— Você está pronta? — Ele quebrou o gelo com uma de suas perguntas repletas de significados.
—Sim.
Quando estavam indo em direção à saída, uma voz delicada e deliciosa o chamou.
— Seth!
Outra cliente foi até onde ela e Seth haviam parado, perto da porta.
— Oi, Rachel — cumprimentou ele com um largo sorriso, um braço em volta da cintura e um beijo na bochecha. Lena sorriu em meio às apresentações, escutando enquanto eles conversavam brevemente sobre pessoas e lugares que ela não conhecia. Tentou não encarar a mulher, mas o fez mesmo assim. Os pensamentos a desorientavam e atormentavam. Seth estava sorrindo e conversando com ela do mesmo jeito que fizera com as dançarinas na noite anterior, todo suave e charmoso. Mas Rachel o observava atentamente, era mais familiar com ele, como se houvesse recebido outras intimidades. Era uma daquelas mulheres esbeltas que vestiam roupas caras e esbanjavam classe. Não era apenas bonita, mas elegante também. Refinada.
Lena sabia que era apenas uma questão de tempo. Sabia o que esperar. Seth não ficava com mulher alguma por muito tempo e era melhor que estivesse preparada... Assim não se machucaria certo? Respirou fundo para aliviar os nós que lhe apertavam o estômago. Outra tensão entrelaçava-se àquela que já a consumia. Mas ela não havia planejado ficar com ele sob suas próprias condições? Talvez devesse determiná-las melhor. Se estava com um conquistador sofisticado, precisava ser sofisticada também.
Sorriu enquanto Seth se despedia da bela Rachel, sorriu enquanto a loira insistia para que ele lhe telefonasse algum dia, e manteve aquele sofisticado sorriso enquanto mordia a parte interna de seu lábio, recusando-se a mencionar aquela mulher quando ficaram a sós.
Eles não discutiram nada enquanto Seth dirigia até o apartamento dela. Também não disseram nada enquanto ele a acompanhava já fora do carro, suas mãos apertando firmemente as de Lena. Foi apenas quando a porta foi fechada e trancada atrás deles que o silêncio foi quebrado.
Era Seth. Ele pegou no rosto dela com as duas mãos, puxando-o ao encontro do seu.
— Lena.
Ele a beijou com o tipo de intensidade que a dominava. Era tão bom. Seu toque fazia-a sentir-se tão deliciosamente bem. De repente já estavam no quarto, de
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
77
repente já estavam nus, de repente ela sentia mais do que esperava: não era apenas tesão. E aquilo não podia ser bom.
Ela fechou os olhos, aquela outra tensão ficando cada vez mais aguda. As oscilantes emoções a deixavam vulnerável e sua retaguarda recomendava-lhe atenção. Ela podia ter cedido à sua insistência persistente, mas estava determinada a conduzir o caminho que estavam tomando. Ela seria sofisticada, ela decidiria como seria aquele jogo.
— É apenas sexo — disse com firmeza. — Nada mais. Nem mesmo um caso ou qualquer coisa do tipo, tudo bem? Estamos apenas satisfazendo nossas necessidades. São só algumas noites.
Ela podia sentir seu sorriso enquanto ele beijava seu ombro.
— Você ainda está tentando impor limites?
— Você também não quer nada a mais. E isso não é... — ela hesitou por um segundo e depois falou depressa: — exclusivo.
Ele ficou paralisado.
— O que você acabou de dizer?
— Você ouviu.
Seth não se moveu e ela engoliu em seco, tentando umedecer sua garganta seca antes de repetir o que havia dito.
— Não é exclusivo.
Ele olhou para cima, e seus olhos ardiam furiosos. Moveu-se rapidamente, montando em cima dela e colocando as mãos em cada um dos lados de sua cabeça.
— Você é um homem muito atraente e prefiro que ninguém minta para mim. — Ela defendeu sua posição com pressa. Subitamente ficara enfurecida porque sabia que aquilo seria inevitável. Havia visto como aquela mulher olhara para ele. Seth era uma tentação para qualquer uma. — Não tenho nenhuma pretensão com você.
— Não, você tem que entender uma coisa — disse ele, aproximando-se dela e claramente aproveitando-se de seu tamanho para mostrar seu domínio. — Também não quero que ninguém minta para mim. Posso não oferecer compromisso, mas sou totalmente exclusivo. Sem mentiras, sem traições. Ninguém mais até que tudo isso tenha acabado.
Lena engoliu em seco, de repente sentindo todos os tipos de emoções fervilharem dentro de si.
— Não acredito que você pense tão pouco de mim. Acha que eu faria isso? — Ele deu uma batida no colchão, fazendo-a balançar. — O que é pior é você pensar tão pouco de si mesma, porque, pelo visto, se sujeitaria a isso.
Ela estava tão pálida que ficou tonta.
— Você me beijou quando nem me conhecia e nós fizemos sexo depois de menos de dez minutos de conversa.
— E nós dois sabemos que isso não é uma coisa que você costuma fazer, então por que não pode ser uma coisa que eu também não faça com frequência?
Ela encarou-o, esperando furiosamente que respondesse aquela pergunta sozinho.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
78
— Tudo bem, talvez eu não tenha sido tão santo quanto você nos últimos meses — murmurou ele. — Mas eu quero você e mais ninguém e eu nos respeito o bastante para manter as coisas assim até que esses sentimentos mudem. Não vou mentir para você e com certeza espero o mesmo de você. Nenhuma outra mulher, nenhum outro homem. Combinado?
— Combinado — rebateu ela.
Seth estava duro como uma pedra, dominado por um desejo primitivo de conquistá-la completamente. Quando ela quisesse aquilo, quando implorasse por aquilo, seria só para ele que o faria. Nunca para outro homem. Ele odiava imaginá-la nos braços de outro. Nunca havia sentido essa possessividade de forma tão intensa. Droga, ele queria saber o que diabos estava se passando na cabeça dela.
Ele projetou-se para frente, jogando o peso de seu corpo sobre o dela para impedi-la de escapar. Pegou seus pulsos e levou-os para acima da cabeça, deixando seus seios empinados, e assim Lena estava em suas mãos. Ele examinou suas suntuosas e vulneráveis curvas e ficou alguns segundos pensando em como a faria pagar.
Sentiu que o corpo dela agitava-se. O tesão aumentava para igualar-se ao dele. Ela abriu as pernas e passou uma delas em volta do quadril dele, prendendo-o do mesmo jeito que ele fazia.
Ai, sim, enquanto ele a prendia com as mãos e o peso, ela o prendia com suas pernas... E depois com seu sexo. Ela arqueou rapidamente o corpo, apertando-lhe firme com as pernas, envolvendo-o completamente e firmemente. Em seguida começou a roçar-se nele, provocando-o furiosamente para que ele lhe desse o prazer que queria. Sedenta, hedonística, devassa.
Sua provocação esperava por uma resposta, e Seth adorou aquilo.
O tom mudou depois que sensações deliciosas neutralizaram a raiva e potencializaram aquela vontade sublime. Ele disse a ela exatamente o que queria que ronronou como resposta o que queria, e como queria, naquele instante. As palavras deles foram ditas às pressas de modo tão explícito quanto seus corpos estavam. Quentes, brutos, sinceros.
Os pedidos de Lena o guiaram para que penetrasse profunda e ferozmente em sua teia. Rápido, aflito, belo. Até que finamente Seth a fez gritar enquanto selvagemente despejava toda sua força dentro ela, aquela mulher que era tão fogosa, orgulhosa e divertida quanto ele.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
79
CAPÍTULO NOVE
Quando Lena acordou, depois que se lembrou de todas as coisas que haviam dito e feito durante a noite, por um momento não podia suportar a ideia de virar-se e encarar Seth. Sob a insistência pervertida dele, havia expressado cada um de seus mais secretos desejos. Desejos que nunca havia ousado manifestar nem para si mesma. Ele tinha saciado suas necessidades, tornando a realidade muito melhor do que a fantasia. E agora? Agora havia ainda mais fantasias.
Porém ela era mais madura, mais sábia e mais forte do que a garota inocente que havia sido um ano e meio antes. Sabia que sexo não se igualava a amor. E que transar não fazia uma pessoa apaixonar-se por você. Não era assim que funcionava. Seth era um amante extremamente generoso e aventureiro, mas a determinação de realizar cada um de seus desejos sensuais não significava nada mais do que isso. E, apesar de sua proposta de não serem exclusivos ter sido um erro, ele ainda era sofisticado. Não era o tipo de homem que a pediria em casamento. Ela precisava acostumar-se com aquilo. Precisava proteger seu coração. Mas, ah... Não podia mais recusar aquele caso.
Nos dias seguintes, Seth evitou-a o máximo que pôde no estádio. Mas, no instante em que Andrew colocava os meninos na van e levava-os de volta para suas casas, ele já estava em seu carro, aguardando impacientemente para que ela chegasse. Levou-a para jantar: trocaram histórias, piadas, e ele tentou ultrapassar as barreiras que sabia que ainda existiam.
Ele podia estar de volta à cama de Lena, mas aquilo não era suficiente. Uma fome inquietante persistia. Resolveu que o melhor jeito de lidar com aquilo era ficar com ela o fim de semana inteiro: era o melhor jeito de conhecê-la melhor, de livrar-se daquele desejo que ainda lhe moía os ossos a cada breve pensamento. Então, na sexta-feira, ele a levou para seu apartamento, aquele grande espaço que gostava de manter só seu. Mas, daquela vez, era necessário.
Retirou a pilha de cartas inúteis que havia recebido pela fenda da porta e que estava bloqueando o acesso às escadas que conduziam ao seu loft. Nos últimos dias, havia apenas passado por ali rapidamente para pegar roupas limpas e depois correr para o estádio, seguindo para a casa dela a cada noite. Mas trazê-la para lá fazia com
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
80
que se sentisse com o controle da situação, já que sabia que não poderia colocá-lo para fora de seu próprio apartamento.
— Você assina o jornal? — Ela riu, observando-o carregar as pesadas edições antigas e as propagandas para cima. — Você não lê as notícias na internet?
— Não dá para fazer as palavras cruzadas pela internet — respondeu ele, fingindo estar horrorizado. — Não é a mesma coisa. — O tom rouco da risada dela ficou ainda mais forte.
Estupidamente feliz, ele chegou ao andar de cima e jogou a pilha de papéis na lixeira ao lado de sua escrivaninha. Não teria tempo para sequer chegar perto das palavras cruzadas nas horas seguintes.
— Espere, tem uma carta aí no meio. — Ela passou por ele e foi até a lixeira, pegando o envelope.
Seth franziu a testa. A maioria de suas correspondências chegava por e-mail e as demais iam para seu endereço comercial. Olhou para o que estava escrito. Droga. Pegou a carta das mãos dela, tentando parecer natural. Aquela não era a primeira, mas ele estava esperando que a mulher tivesse entendido a mensagem. Ele não havia aberto nenhuma de suas cartas anteriores e não iria fazer diferente com aquela.
Lena estivera observando-o. Ele percebeu que havia ficado quieto por muito tempo.
— Recebo muitas cartas de pedintes — disfarçou, jogando o envelope de volta no lixo. E aquilo era exatamente o que estava acontecendo. A esposa de seu pai estava lhe pedindo dinheiro. Viu o olhar de Lena demorar-se sobre a carta e chutou a lixeira para mais fundo embaixo da escrivaninha.
— Bem. — Ele virou as costas para o passado para poder aproveitar aquele muito mais agradável momento. — Quer ver meu quarto?
O sorriso dela tornou-se malicioso.
— Como assim, você não tem colegas de apartamento para me apresentar?
Claro que não tinha. Olhando para ele, Lena riu. Ela sabia muito bem daquilo.
Seth pegou-a em seus braços e foi em direção ao seu quarto. Planejava mantê-la ao seu lado até que ficasse cansado. Será que demoraria muito? Ele sempre enjoava quando passava muito tempo com a mesma garota. E bem rápido também. Mas, apesar de tê-la visto todos os dias e noites durante toda aquela semana, ele estava bem longe de enjoar.
Colocou-a no chão, observando-a virar o rosto para ele, com a cabeça levantada e os olhos brilhantes. Definitivamente não estava enjoado; estava novamente enfeitiçado.
— Deite-se. — Ela manteve uma expressão de orgulho, parecendo que avaliava tanto a cama quanto ele.
Ele lançou um olhar avisando-a de que tudo o que fizesse seria sua decisão, e não uma ordem dela. Mas agora entendia que ela possuía uma necessidade real de sentir que estava com o controle de tudo. Apenas esperava que confiaria nele o suficiente para explicar por quê. Aí ele admitiria que não achava que o controle estivesse mais
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
81
com qualquer um dos dois. Mas Lena já tinha uma camisinha nas mãos, então achou que aquela conversa poderia esperar alguns minutos.
Deixou que ela montasse lentamente sobre seu corpo, acariciando-lhe as costas e observando-a arquear-se para encontrar seu toque. Ele adorava o modo como ela sentia um prazer lascivo. Não tinha medo algum do tesão que sentiam. Ela murmurou seu nome inúmeras vezes, com um ritmo crescente. Ele pegou em seus seios e desceu as mãos por sua fina cintura. Parecia que morria por dentro enquanto ela movia-se e rebolava. Ah, como sabia espremê-lo, atiçá-lo. Não conseguia pensar, não conseguia resistir à força que o tomava, apertando-lhe os quadris para que fosse mais rápido, com mais intensidade.
— Oh. — Ela seguiu sua orientação, mas foi mais rápido e mais intensamente do que ele poderia sonhar. — Seth! — Realmente precisava calá-la, porque, cada vez que ouvia sua voz rouca, era empurrado outro metro para mais perto de seu limite. Rapidamente já estava submerso em um calor, em chamas molhadas de êxtase. Demorou uma eternidade até que percebesse que aquele longo gemido de deleite era seu. Quando voltou a si, percebeu que ela tremia. Puxou-a para perto e agradeceu-lhe baixinho por ter gozado um segundo depois dele. Porém, naquele exato segundo, estivera longe demais para saber disso e não queria perder a chance de vê-la e senti-la daquele jeito.
Por isso, subiu sobre ela e abriu-lhe as pernas, lambendo-a para que as sensações dentro de seu corpo não cessassem. Pegou em seus seios mais uma vez, manuseando seus mamilos enrijecidos enquanto tragava sua quente e molhada doçura. Ele a acariciava com os lábios e a língua, mas não se saciava. Não queria parar nunca, e essa ânsia a colocava à sua mercê.
Ela retorcia-se, gritava seu nome, e estremeceu quando se entregou. Seus ombros levantaram-se e suas mãos arranharam o ar quando ele a fez mais uma vez ir ao delírio. Ele adorava sua habilidade de ir de um orgasmo a outro. Adorava ver o quão longe podia ir com ela. Mas ainda não conseguia chegar tão perto quanto queria.
Na manhã seguinte, Lena saiu da cama e foi procurar comida. Encontrou um pão de forma e colocou algumas fatias na torradeira. Seth apareceu e pegou uma delas de seu prato, pondo outras para tostar. Mastigando, ela andou em volta da cozinha americana até a sala. Gostara do apartamento. Ficava localizado no antigo setor industrial do subúrbio da cidade, onde um grande número de bares e lojas descoladas haviam sido abertos depois do terremoto, luzes de Natal haviam sido distribuídas pe-las estreitas ruas que um dia haviam sido entradas dos fundos de grandes e sujos depósitos, e instalações artísticas cobriam espaços que estavam sendo reconstruídos. Ela sabia que ele havia sido responsável por grande parte da revitalização. Sua casa era muito moderna, grande e dispersa. Além de um sofá, uma grande mesa e algumas cadeiras, não havia mais nenhum móvel. E, apesar de ter os equipamentos obrigatórios dos meninos, aparelho de som, computador e videogame, havia um eletrônico visivelmente faltando.
— Não tem televisão? — perguntou, enquanto ele ajustava a cafeteira.
— Não preciso, nunca assisto.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
82
— E quanto aos esportes? — Ela sabia que ele era apaixonado por esportes.
— Prefiro praticá-los a assistir a eles. — Ele piscou. —Ah, fala sério, e quanto aos jogos importantes?
— Há sempre um pub ou a casa de um amigo. — Ele encolheu os ombros.
De alguma forma, ela duvidava de que ele frequentasse qualquer um daqueles lugares. Observando a mesa, era óbvio que ele passava muitas horas trabalhando ali: as paredes eram cobertas de planejamentos, com notas escritas com garranchos masculinos espalhadas por elas. No final da sala havia um saco de pancadas pendurado e luvas jogadas no chão. Desviou-se deles. Em um ponto da parede havia uma coleção de livros amontoada no chão: claramente os sisudos e grossos volumes haviam sido empilhados antes de desmoronarem. As únicas coisas presas nas paredes eram os planejamentos de construções pregados perto da mesa do computador. Não havia pistas de seu passado, mas talvez a ausência de fotos e itens pessoais fosse a maior pista de todas.
— Onde sua mãe mora? — Ela não resistiu à pergunta enquanto ele servia o espesso e negro café.
— Na ensolarada Nelson.
— Foi lá que você cresceu?
Ele balançou a cabeça negativamente.
— Ela mudou-se para lá alguns anos atrás.
— Ela trabalha?
Seth deu um grande gole no café, que deveria estar pelando.
— Sim. — Ele respirou fundo. — Não consigo impedi-la.
— O que ela faz?
— É faxineira — respondeu ele, tentando cuidadosamente parecer neutro.
Lena não disse nada e em menos de três segundos ele estava respondendo sua pergunta não feita.
— Odeio isso — falou bruscamente, em voz baixa e bruta. — Paguei a hipoteca dela, mas minha mãe recusa-se a aceitar mais dinheiro meu, e faxina é o que fez a vida toda. Papai a deixou sem nada e, mesmo antes de partir, ele não fazia nada. Ela sempre teve que ter um milhão de empregos, e, assim que fiquei grande o bastante, também comecei a trabalhar para ajudá-la. Mas agora ela insiste em trabalhar mesmo não precisando.
— Talvez ela goste de ser independente — disse Lena, sentindo uma franca admiração por aquela mulher. Não havia dúvida de quem Seth havia puxado seu espírito lutador. — Nem todo mundo iria de fato gostar de uma vida com nada para fazer além de comprar e sair para almoçar.
Ele parecia não acreditar naquilo.
— Você acha?
— Acho, sim — disse Lena, realmente acreditando no que dizia. — Acordar para trabalhar lhe dá um tipo de dignidade. Um motivo. Você não conseguiria viver uma vida só de lazer, conseguiria?
Ele negou com a cabeça.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
83
— Então, por que acha que ela conseguiria?
— Porque ela já trabalhou demais — rebateu ele grosseiramente. — Se ela quer manter-se ocupada, poderia fazer trabalho voluntário ou algo assim. Não precisa ficar esfregando-se no chão. — Suas mãos levantaram-se em um gesto de frustração. — Nunca fui capaz de...
Ela observou-o virar-se repentinamente.
— De quê?
— De dar a ela o que precisa.
Lena estava comovida. E perturbada. Então essa era sua responsabilidade? Entre pais e filhos havia expectativas, ela sabia muito bem disso. Também havia obrigações, e de ambos os lados, mas talvez elas fossem maiores entre um filho único e uma mãe sozinha. Sentiu a frustração dentro dele, e como isso o machucava. Cruzou os braços por sua cintura, dando-lhe um abraço por trás que demonstrava companheirismo, não excitação carnal.
— Talvez ela não queira ser um peso para você. Ela teve um divórcio infeliz, não teve? Talvez precise sentir que consegue se virar sozinha agora. — Lena identificava-se bastante com aquela história. — Ela é sua mãe, Seth. E não há nada que você goste mais do que sua independência.
Ele voltou-se vagarosamente, levantando os braços para corresponder ao abraço, e ela sentiu seu relutante sorriso.
— Eu só quero que ela seja feliz.
— Você acha que ela não é? — indagou ela gentilmente.
— Não, ela sempre diz que está bem.
— Então talvez você devesse relaxar e deixá-la fazer o que precisa fazer. — Lena aconchegou-se em seu apertado abraço. — Ela tem personalidade própria, Seth. Assim como você. E ninguém pode responsabilizar-se totalmente pela felicidade de outra pessoa. E um equilíbrio, entendeu? Trabalho de equipe.
Ela percebeu que ele suspirava e balançava a cabeça.
— Lena em versão meiga, apoiadora. Não é de se espantar que todos aqueles garotos queiram que você passe óleo em seus peitorais.
Ela revirou os olhos, recusando-se a levar aquela brincadeira mais a sério do que ele intencionara.
Os dois acomodaram-se no sofá com o café, as torradas e o ipad dele. Leram as notícias e checaram seus perfis nas redes sociais. Ela teria o dia e a noite inteiros para conversar com ele sobre o time ou outro esporte, música, edifícios, construção, comida, causos de viagens, além de rir das histórias dos astros comportando-se mal. Não havia culpa nem pressão. E, apesar de saber que iria arrepender-se daquilo, mergulhou na alegre imprudência.
Vestiu uma das camisetas de Seth. Ele não se importava. Provavelmente deveria tê-la alertado de que estava sequestrando-a pelo fim de semana inteiro, assim ela poderia ter levado algumas roupas. Ainda assim, não ter suas próprias coisas ali tinha seu lado bom.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
84
Ele flagrou-a olhando feio para o saco de pancadas pendurado em um gancho no canto da sala.
— Você realmente odeia boxe? — Riu enquanto a observava franzir o nariz.
— Gosto mais da maioria dos esportes do que muitas pessoas. Mas boxe é um pouco demais para mim. Não é exatamente um esporte, é?
— Hum. — Ele caminhou até onde estavam suas luvas e pegou-as. — Você nunca ficou tão brava que teve vontade de bater cm alguma coisa?
Ela franziu as sobrancelhas.
— Não entendo como boxe pode contribuir com questões relacionadas à rebeldia. Isso não é ensinar crianças com problemas a como machucar outras pessoas?
— Não — disse ele pacientemente. — O boxe ensina a ter disciplina, autocontrole e promove a autoconfiança.
— Assim como a ioga.
Ele passou a palma da mão sobre o saco de pancadas e suspirou.
— Certo, é também uma forma fantástica de liberação física e mental. O combate um contra um é o maior dos desafios individuais. Não há companheiro de time para lhe dar apoio, nem ninguém para culpar se você falhar. É apenas você contra seu oponente. Então é preciso aprender a ter autoconfiança, autodisciplina e acreditar em si mesmo. — Ele estendeu as luvas para ela. — Eu a desafio. Você pode descobrir que gosta disso.
— Eu duvido.
— Bata no saco, só uma vez.
Lena fez uma careta, mas vestiu as luvas. Elas eram muito grandes, mas isso não importava. Concentrou-se no alvo, mas seu soco absolutamente patético não balançou o saco um milímetro sequer.
Ela deu uma risadinha.
— Não, isso não funciona comigo.
Ele ficou atrás dela e mostrou-lhe o modo como deveria mexer o braço.
— Mire, visualize e acerte.
Deu um passo para trás e observou a segunda tentativa: ainda pior.
— Tudo bem. — Ele mudara sua tática. — Vire-se e tente me acertar.
Lena virou-se, mas não fez o que pedira.
— Nunca, nem em um milhão de anos.
— Acerte, tenho certeza de que já recebi coisa pior. Os olhos verdes dela arregalaram-se.
— Não vou machucá-lo.
— Não mesmo — disse ele com a fala arrastada. — Não vou deixar que você faça isso.
Ela endireitou sua postura, animando-se.
— Você não vai me deixar?
Ah, ele estava conseguindo provocá-la. Ótimo.
— Tente acertar minhas mãos. — Seth balançava as palmas das mãos em frente a ela.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
85
Seus olhos intensos ficaram semicerrados
— Um contra um, está vendo? — provocou ele. — Apenas você e seu adversário.
Ela o golpeou. Mas não acertou claro, porque ele era rápido. Essa era uma de suas qualidades.
— Isso é o melhor que pode fazer? — alfinetou ele.
— Ah, não comece com essa besteira de me dar corda para que eu me empolgue.
— Por que não? — brincou ele. — Isso já funcionou antes. Ela estava às vezes rindo e às vezes séria. Ele também.
— Vamos. — Seth aproximou-se. — Venha e me acerte.
Lena deu mais alguns socos e ele deixou que batesse em seu peito uma vez.
Aquilo a deixou com cara de brava.
— Não me trate como café com leite.
— Tudo bem, mas tente com mais empenho, então.
Ela começou a atacá-lo com rapidez, desferindo-lhe uma série de socos frenéticos. Estava melhorando. Ofegante, suas bochechas ficaram coradas, e tentava acertar-lhe um bom golpe. Como havia pedido, ele não estava mais facilitando para ela. Mas elogiou quando lhe deu um soco certeiro, orientando-a a como melhorar. Seus pequenos punhos batiam ruidosamente nas palmas das mãos dele, sem machucá-las, mas proporcionando-lhe um bom exercício. Ele sabia daquilo. A presunção o fez ficar devagar por um segundo, assim como o fato de que o modelito camiseta e calcinha estava deixando-o excitado. E, naquele exato momento, a bela mulher o chutou.
—Ai. — Ele protestou enquanto esfregava a canela. — O que diabos foi isso? Chutar é contra as regras.
— Há regras no boxe? — Ela deu uma risada alta e aguda, fazendo uma dancinha em volta dele e uma alegre imitação de Rocky esmurrando o ar. — Eu pensei que valia tudo. E você sabe que eu fiz você baixar a guarda.
— Boxe é muito mais do que apenas ganhar, sabia? — Ele arrancou as luvas das mãos dela e puxou-a para perto.
— Besteira — contradisse ela rapidamente. — Tudo o que todo mundo quer é ganhar.
A tarde passou rápido demais. Eles almoçaram preguiçosamente em um café que havia na mesma rua, passearam por uma galeria e retornaram ao apartamento para um "cochilo". Lena quase dormiu por um segundo, pensando até quase sonhar na briguinha que haviam tido. Ele estava certo, ela gostara mais daquilo do que pensou que pudesse. Principalmente pelo fato de que achava que agora o entendia melhor: sua determinada autoconfiança havia sido adquirida na sua turbulenta adolescência. A escolha de um esporte competitivo e individual no lugar de um em equipe mostrava sua necessidade de ser seu próprio chefe. Exatamente como os negócios que agora mantinha. Ele era determinadamente independente. Colocava toda a responsabilidade em seus ombros. Ele contra o mundo, ele sozinho. Não havia nenhum sócio nos negócios, nenhuma parceira na vida. Aquilo fez o coração de Lena ficar apertado.
No começo da noite, estavam fazendo um lanche na cozinha. Ela vestia outra de suas camisetas e pensava se deveria ser sensata e ir para casa.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
86
— Eu sei por que você não para de olhar para o relógio — disse ele repentinamente. — O jogo de hoje à noite. Os Rnights vão jogar em Wellington e você quer assistir.
Na realidade, ela havia se esquecido completamente do jogo.
— Tudo bem — respondeu ela. — Eu sei que eles vão ganhar.
— Vamos. — Ele levantou-se. — Conheço um ótimo lugar onde podemos assistir ao jogo com estilo.
— Sério? — Bem, se ele estava com vontade de fazer aquilo, ela definitivamente também estava. Apesar de fazer parte de seu trabalho estar interessada, ela realmente amava aquele esporte. Achava que sua paixão por rúgbi era o principal motivo de ter conseguido aquele emprego. — Mas não posso ir assim. — Ela apontou para seu look camiseta masculina mais calcinha. — Vou colocar meu vestido de volta.
— Não, na verdade essa camiseta vai ser perfeita. Vou arrumar uma calça jeans para você.
Ela olhou-o fixamente. Nunca caberia em uma calça dele, e nunca iria vesti-la em público. Impressionada, observou enquanto ele se dava ao trabalho de fazer um furo extra em um de seus cintos com um prego e um martelo para que pudesse usar e, assim, segurar a calça que havia jogado em cima dela. Combinando tudo com seus mules de saltinho, ficava um verdadeiro horror.
— Não posso sair assim
— Claro que pode você vai caber certinho nela.
Ela analisou-o, em dúvida. Vestia uma roupa bastante informal também, mas qualquer coisa que usasse naquele momento pareceria incrível.
— Venha. — Ele riu. — Vai começar em dez minutos e você não vai querer perder as análises antes do jogo, vai?
Os dois caminharam em direção à parte mais perigosa da região, em vez de irem à área chique onde os restaurantes ficavam. Sim, ele a levava para uma rua coberta de pichações e repleta de cercas destruídas.
—Você traz todas as suas garotas aqui? — Ela olhou para o mal-iluminado bar e para a coleção de veículos de uma gangue de motoqueiros alinhados em frente a ele.
— Esse lugar ainda não foi designado como um ponto descolado da cidade, mas é uma questão de tempo — zombou ele, antes de lançar um olhar atento para ela. — Não se preocupe você está segura comigo.
Ela não estava com medo; divertia-se. Brincou de socar o ar.
— Não preciso que você me proteja, sei dar meus próprios golpes.
— Uau, você é uma verdadeira rainha do caratê. — Daquela vez, ele não segurou a porta para ela, nem esperou que fosse à frente, mas preparou-se e entrou primeiro como se fosse um musculoso segurança checando o terreno para uma estrela disfarçada que havia fugido para passar uma noite perigosa no lado errado da cidade.
— O que é tão engraçado? — perguntou ele ao flagrar seu largo sorriso.
Ela balançou a cabeça; não iria revelar seus pensamentos ridículos.
O lugar estava bem longe de ser glamoroso, mas pregado na parede estava o maior telão que já havia visto. Na parede oposta, havia outro.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
87
— Oh. — Ela acenou com a cabeça. — Um tesouro escondido.
— Mas não pense que eles têm champanhe. — Ele deu uma piscada.
Não mesmo. O foco ali era cerveja, destilados e esportes.
— Ficaria satisfeita com um shandy — disse ela, referindo-se a uma mistura de cerveja com limonada.
— E é o fim da minha credibilidade. — Ele a mantinha perto dele, de mãos dadas, enquanto fazia o pedido.
Os dois levaram suas bebidas para uma mesa alta perto do fundo do bar. Os bancos eram de madeira, mas ela preferia mesmo algo duro e limpo para sentar do que macio e pegajoso de cerveja derramada. O bar estava enchendo e o jogo começaria em cinco minutos.
Lena deu um gole e abriu um dos pacotes de amendoim que ele havia comprado. Seus olhos estavam colados no telão e ela ouvia os comentaristas avaliarem a escalação de cada time.
Seth viu-se a observando da mesma forma que assistia ao que estava acontecendo na tela. Aquilo era hilário. Ele logo percebeu que poderia dizer como os Knights estavam jogando apenas pelo tamanho de seus olhos. Ela os apertava ou arregalava de acordo com o desempenho do time. Sua comemoração quando eles marcavam era fantástica, e o sorriso que lhe dava quando isso acontecia era sublime. Também havia seus comentários durante o jogo. Eles começaram com apenas movimentos dos lábios, como se estivesse proferindo algum feitiço com seu sussurro. Mas, quando o jogo foi ficando mais disputado, o volume foi aumentando.
— Ah, o que você está fazendo? — gritava ela com uma expressão de desaprovação cada vez mais intensa. — Entra lá. Pega a bola!
Ele ficou imaginando se Lena esperava que os jogadores seguissem suas orientações. Deu um grande gole em sua garrafa para esconder seu sorriso.
— Ah, não. — Ela quase caiu do banco. — Ruck!
Seth deu um gole em sua cerveja e engasgou. Tossindo alto, bateu a garrafa na mesa.
Ela olhou para ele, esperando que se recuperasse.
— Você pensou que eu havia dito outra coisa, não pensou? — disse ela meticulosamente. — Você acha que uso esse tipo de palavreado?
Ele continuou encarando-a, mal conseguindo segurar o riso.
— Bem, na verdade eu me lembro de ouvi-la me pedir para "ruck" você uma noite dessas... Ou talvez eu tenha escutado errado e você tenha dito outra coisa. — Perversamente divertido, ele observou-a enquanto ficava corada. — Mas não foi o que você disse que achei tão engraçado agora.
— Não? — Ela ainda podia soar fria como gelo, mas suas bochechas estavam cor de cereja.
— Lena — disse ele lentamente e de um jeito totalmente condescendente, como se ela fosse uma criança com quem é preciso talar extremamente devagar para que entenda. — Eu sei que a tela é grande, mas ainda é uma televisão. Eles não podem ouvi-la.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
88
Ela pegou o pacote de amendoins e começou a atirá-los em Seth, rindo quando ele começou a tentar pegá-los no ar com a boca. Após dez segundos, jogou o pacote na mesa, fingindo estar irritada por ele realmente ter conseguido pegar um.
— Você simplesmente não consegue lidar com o fato de que eu sei mais sobre esse jogo do que você. — Lena agora desdenhava dele.
— Você sabe mais sobre isso do que a maioria das pessoas. Ele reconheceu aquilo. E estava divertindo-se absurdamente com seus comentários. Mas, conforme havia notado os outros homens sentados próximos a eles também estavam.
— Eu trabalho para um clube de rúgbi, então acho que devo saber — disse ela, orgulhosa de si mesma.
— Imagine você na lateral do campo quando tiver filhos — brincou ele. — Pobres coitados, você vai ficar gritando para eles o que devem fazer.
— Não vou ser daquelas mães que ficam pressionando os filhos.
— Isso é o que diz agora.
— Não, sério, não vou ser — disse ela, com mais veemência do que quando estava gritando com os jogadores na tela. — Eles poderão fazer o quiserem ser o que quiserem. Não vão precisar ter níveis de ouro olímpico. Eles poderão apenas viver, e vou amá-los por isso.
Seth ficou quieto por um momento e em seguida olhou para ela, observando sua boca firme enquanto engolia aquela explosão de emoções.
— Foi tão ruim assim o que eu disse? — perguntou ele, indo direto ao ponto.
Lena lançou-lhe um olhar de lado perfurante.
— Você é um vencedor, Seth. Você não sabe como são as coisas para nós, mortais.
— Não?
— Não. — Balançou a cabeça com um pequeno sorriso ferido. — Você nem imagina.
Ele tentou dar-lhe um sorriso. Mas Lena não sorriu de volta. Em vez disso, inclinou-se para frente, com a expressão intensa.
— Você devia ver as celebrações. Meus pais realmente sabem como organizar uma festa para esses momentos de triunfo. Mas era preciso ser um vencedor. Meus irmãos pegaram todos os genes de vencedores. Eu fiquei com os recessivos do fracasso. Imagino que alguém tinha que ficar com eles. — Ela arriscou um pequeno sorriso. — Mas não tinha como diminuir o ritmo para a atleta menos hábil. Os padrões eram sempre altos e eu nunca me aproximei deles. — Lena balançou a cabeça. — Meus pais eram advogados. Eram um tipo de tubarões de empresas. Conheceram-se na uni-versidade: os dois representavam o time de tênis. Eles dois eram vencedores e esperavam que nós também fôssemos. A casa nunca ficava tão feliz como quando o sucesso estava à mesa. Vencedores têm festas, têm prestígio. E eles trabalhavam para isso, realmente trabalhavam. Mas eu trabalhei também. Tentei. Mas tentar não era o suficiente. Você não podia apenas dar o melhor de si. Você tinha que ser o melhor. — Ela fez uma pausa. Seth a viu engolir em seco e respirar profundamente.
— Amo meus irmãos e tenho orgulho deles, mas eu os invejo também. Como eu poderia um dia competir com eles? Não podia. Sabia que não era intencional, mas fui colocada para escanteio. E por isso que sou boa nos bastidores agora: isso se tornou
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
89
meu nicho. Mas nossa vida era sempre tão ocupada, em todas as férias tínhamos que estar em algum encontro nacional de esportes, desafio de matemática ou algo do tipo. Eles queriam conversar sobre estratégia e treinamento durante o jantar. Tanto tempo foi gasto com eles. Todo o tempo.
— O que você fazia enquanto seus pais focavam-se neles?
— Quando não era necessário dar suporte, assistia aos jogos de rúgbi. — Ela riu, mas aquela era uma risada triste. — Eu gostava daquilo. E você sabe que nesse país sempre tem um jogo acontecendo.
— Lena — ele tentou tranquilizá-la —, nem todo mundo pode ganhar sempre.
—Ah, eles podem. Agora mesmo. — Ela acenou para a tela, onde os Knights haviam acabado de fazer pontos. — E, assim como há algumas pessoas que sempre ganham, há outras que nunca o fazem.
— E errado ficar fixado nisso. Há coisas mais importantes na vida.
— Sim, há. E eu observo a pressão que eles fazem neles mesmos e acho isso tudo muito louco. Mas é assim que minha família funciona. E o modo como devemos encontrar a felicidade. Eu queria ser bem-sucedida sob os parâmetros deles.
— Você nunca se rebelou? Nunca foi até as últimas consequências para tentar chamar atenção de outro jeito? — Ele havia feito exatamente aquilo logo depois do divórcio. Até que percebera que a única pessoa que estava machucando era ele próprio.
Lena ficou quieta por um momento.
— Eu meti os pés pelas mãos uma vez — disse ela baixinho. — Errei feio. Olhando para trás, acho que tinha a ver com a questão da atenção. No final, tive que contar a eles porque precisava deles. Eu sabia que tinha feito uma besteira. Todo mundo sabia que eu tinha feito uma besteira. E eu precisava dos meus pais para... Apoiarem-me. — Ela empalideceu.
Seth foi cuidadoso o bastante para não perguntar o que ela havia feito, apesar de estar morrendo de curiosidade. Estava finalmente vendo como ela via aquilo tudo. E claramente não era uma coisa boa.
— Como eles reagiram?
— A primeira pergunta que me fizeram era se alguém mais sabia — sussurrou ela. — Eles estavam mais preocupados com o que os outros iriam pensar e como iriam julgar. Como se aquilo fosse acabar com o prestígio deles. A primeira preocupação não era em saber se eu estava bem. Não era nem em gritar comigo por eu ter sido tão idiota. Eu preferiria que eles tivessem feito isso. Teria significado mais.
— Mas você estava bem? — O coração dele batia acelerado enquanto ele imaginava o que ela havia feito. Era mais provável que fossem problemas com a Justiça, como beber no volante, mexer com drogas ou algo assim. Ah, como ele queria saber. Mas segurou-se: precisava ser paciente e esperar que ela contasse.
— Sim. — Ela assentiu com a cabeça. — Fui embora da cidade. Comecei tudo de novo.
Silêncio. Seth esperou, mas a cada segundo que passava tinha mais certeza de que ela não iria contar mais nada a ele. Respirou fundo para deixar seu desapontamento de lado. Em seguida, esboçou um pequeno sorriso descontraído.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
90
— Bem, de qualquer forma, o que eles pensam não importa muito, certo?
Os olhos dela alargaram-se e ele viu o quanto sua tristeza era profunda.
— Eles são meus pais.
E, ela não levara aquilo na brincadeira.
— Qual criança não quer agradar seus pais? — perguntou ela perplexa. — No fundo, você não quer que eles o amem e aprovem suas ações? — Encarou-o por um momento. Depois deu um suspiro. — Na verdade, você nunca deve ter duvidado disso. Você conseguiu tanta coisa que seus pais não podem ser nada além de muito orgulhosos do filho que têm.
Ela estava enganada. E, subitamente, Seth também não estava mais vendo as coisas pelo lado mais leve. Seu sucesso não havia sido suficiente para seu pai. Desde pequeno, havia recebido comentários sobre suas habilidades escolares e atléticas. Mas e daí? Seu pai não tinha desistido de partir. Sua mãe tinha sido infeliz mesmo assim. Ambos quiseram outros — ou mais — filhos. Ele não havia sido suficiente para nenhum de seus pais. Sua experiência era a antítese da de Lena. Ele havia sido um vencedor. Mas, mesmo assim, havia falhado na questão da atenção. Na habilidade de agradar ou de fazer feliz.
— Não devia importar tanto — disse ele com firmeza. — Você deveria estar feliz com suas escolhas e seu trabalho. Se a sua família não consegue enxergar tudo o que você tem para oferecer, se eles não conseguem celebrar sua coragem, quem perde são eles.
Ele achava que ela deveria esquecê-los. Era melhor não se importar tanto com aquilo. Melhor ficar sozinha. Aquilo havia funcionado com ele.
— Eu sei que você tem razão. E eu estou tentando. Tenho um emprego que está à minha altura e que eu amo. Talvez um dia eles apreciem o sucesso que tenho nele. Ou talvez não. Apesar de estar fazendo o que gosto, sempre há aquela pequena parte que espera isso deles. Aprovação, atenção, qualquer coisa.
Seth acomodava-se com desconforto em seu banco.
— Se um dia eu tiver filhos, nunca vou permitir que duvidem que eu acredito neles ou no meu amor por eles — disse ela. — Não importa o quão brilhantes ou atléticos eles possam ser ou deixar de ser.
Ele apenas concordou com a cabeça. Lena sentia exatamente aquilo, que era menos amada por seus pais porque era menos bem-sucedida do que seus irmãos. E ele podia entender o por que. Seth não tinha irmãos — bem, nenhum que contasse —, mas devia ser horrível viver na sombra do sucesso deles. Devia ter sido horrível sentir-se sozinha dentro de uma família. Ele observou-a levantar o copo e dar um longo gole, como um homem daria, em sua bebida já aguada. Sentia muito por ter trazido tudo aquilo à tona. Não queria tê-la deprimido; na verdade, havia proposto que saíssem para fazê-la rir mais.
Seth olhou para o telão e viu uma incrível jogada chegar ao fim.
— Ei, aquele seu novato acabou de impedir que outro cara conseguisse um ensaio.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
91
Ela olhou a tempo do replay. Seu sorriso materializou-se instantaneamente. Era enorme e caloroso. Aquilo o fez sorrir também. Ficou aliviado e observou-a enquanto assistia aos Knights darem uma surra em seus adversários.
Nunca tinha imaginado trazer uma mulher àquela espelunca antes da meia-noite. Mas, sentado no fundo daquele velho bar mal frequentado, com ela vestida com suas calças e sua camiseta, bebendo cerveja e gritando instruções para jogadores que não podiam ouvi-la, era para ele uma estranha e maravilhosa alegria.
Na segunda-feira à noite, Lena terminou o trabalho cedo. Além dos treinamentos de costume, não havia nada no estádio até o fim da semana. Ela correu para casa e tomou um banho, e sua empolgação fervilhava: ainda estava nas nuvens com o fim de semana mais divertido de sua vida. Ele dissera que iria para sua casa assim que acabasse de trabalhar. Vestiu-se, arrumou o cabelo; mal podia esperar para vê-lo. Mas teve de esperar. E esperar, esperar...
Olhou para seu celular, começou a aguardar as desculpas. Mas elas não chegaram. Seu telefone continuou mudo e seu sangue, congelado. Então era chegada a hora: havia começado a quebra de combinações e promessas.
Passaram-se quase três horas até que finalmente ela conseguisse readquirir algum tipo de disposição. O que estava fazendo? Não ia ficar ali plantada aguardando-o. Já não tinha desperdiçado horas suficientes de sua vida esperando por um homem que acabava nunca fazendo o que prometia? Um homem que havia se aproveitado de sua total disponibilidade?
Exatamente como Seth estava começando a fazer naquele momento.
Aquele era um lembrete perfeito do que estavam realmente fazendo: nada mais do que sexo. A doce sensação de que a relação estava aprofundando-se durante o fim de semana fora apenas fachada. Havia pensado que estava começando a entender seu estilo de vida solitário. Mas, não: na realidade, era apenas outro homem que nunca queria perder sua liberdade.
Uma noite longe dele era exatamente do que precisava para reerguer suas defesas. E, se conseguisse sobreviver uma noite sem ele, poderia sobreviver a duas, depois três, quatro. Ela ainda estava com o controle sobre aquilo... Certo? Seu instável coração.
Mas precisaria de alguma distração que pudesse ajudá-la. Uma diversão noturna poderia ser a resposta. Já estava toda vestida, então por que desperdiçar a produção? Ignorou o fato de que nunca mais havia saído e que não tinha ninguém com quem sair. Nem sabia aonde ir. Mas já havia chegado ao portão quando ele estacionou o carro. Desligou o motor e inclinou-se para abrir a porta do passageiro. Um lindo buquê de flores apoiado no banco deixou-a ainda mais furiosa. Seus favores e seu perdão não podiam ser comprados: ela não era mais tão ingênua assim.
— Desculpe-me, eu...
— Tudo bem — mentiu ela. Um silêncio rápido e cortante os envolveu.
— Você comeu? — perguntou ele.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
92
— Claro. Você achava que eu iria esperar? Eu não sabia a que horas você chegaria e não gosto de ficar à toa com fome. — Ah, sim, ela estava contente por deixá-lo ciente daquilo.
Ele respirou fundo.
— Lena...
— Não posso parar, estou saindo.
— Mas hoje é segunda-feira.
— Segunda—feira é a nova sexta você não sabia? E estou de folga amanhã, mais um motivo para ir me divertir.
— Certo — respondeu ele com menos calma. — Você quer que eu vá com você?
— Não. — Ela precisava retomar sua vida e tirá-lo dela. Vê-lo todas as noites não iria dar certo. Seria engolida, colocada em segundo plano, como se fosse à banda de abertura. E ser a banda de abertura nunca era bom: o público nunca estava interessado, mal prestava atenção e conversava durante toda a apresentação.
O problema era que dar suporte era o que melhor sabia fazer. Era expert em organizar turnês e eventos para estrelas de verdade.
Em arrumar tudo o que quisessem, quando quisessem. Mas não iria fazer aquilo com seu homem. Nem mesmo com o caso de uma noite só. Ela queria ser a atração principal em seu próprio romance. Não ser tomada como algo já ganho, como a pessoa que providencia as bebidas. Seth olhava-a firmemente.
— Você está brava comigo.
Lena não respondeu por que sua sensação dominante naquele momento era de ter sido ferida, e aquilo era patético.
— Não leio mentes, Lena — disse ele. — Você falou que não faz joguinhos, então seja franca comigo. O que fiz de errado?
Ela curvou-se para olhar diretamente para ele através da janela do carro.
— Não me traga flores para obter perdão. E, se você for se atrasar ou não for aparecer, avise-me.
— Desculpe-me se cheguei mais tarde do que você esperava — disse ele. — Tive uma reunião que não terminava nunca e precisei resolver algumas coisas por causa dela. Também tinha uma tonelada de compromissos acumulados depois de minha ausência do escritório na semana passada.
Lena notou a rispidez em seu tom de voz e sentiu-se amargamente vitoriosa por deixá-lo de mau humor também.
— Não adianta muito eu lhe dizer a verdade se você escolher não acreditar em mim — disse ele, ainda mais áspero.
— Você poderia ter enviado uma mensagem.
— Poderia, se eu não estivesse em um lugar sem sinal. — Eles estavam na segunda maior cidade da Nova Zelândia. Não havia lugares sem sinal naquela cidade.
Os olhos de Seth semicerraram-se.
— Você ainda não acredita em mim? Você é quase tão desconfiada quanto eu... Por quê? — Ele inclinou-se para ver o rosto de Lena. — Alguém por acaso já machucou você?
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
93
Ela ergueu-se, desviando o olhar.
— Eu me machuquei sozinha.
Ele esperou que ela falasse mais. Mas não falou. Finalmente, murmurou.
— Posso lhe dar uma carona para esse lugar em que você está indo?
— Não, obrigada.
— Tudo bem. — Ele não discutiu com ela. — Então vejo você depois.
Lena saiu andando, com a cabeça erguida, recusando-se a olhar para ele enquanto ia embora. Mas ela era tão patética que ficou escutando o motor do carro por um bom tempo depois de sua partida.
Não foi a nenhum bar, boate, nem mesmo ao cinema. Preferiu ir ao supermercado 24 horas e comprar um romance policial extremamente repugnante. Precisava ter certeza de que veria o vilão vencer.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
94
CAPÍTULO DEZ
Seth ficou perambulando por seu apartamento. Estava bravo porque estava cansado e estressado, mas não conseguia dormir. Então ele chegara atrasado... Mas podia ter sido pior. E havia sido horrível de sua parte comprar flores para ela? Ah, ele não precisava de drama. Que bom que precisasse viajar assim que acordasse no dia seguinte. Um pouco de espaço seria ótimo. Ele estava vendo-a demais também, não é? Já estava cansando-se, certo? Droga estava nada.
Ele caminhou ao lado das janelas, observado a cidade silenciosa. Segunda-feira... Não era exatamente uma noite para grandes algazarras. Aonde será que teria ido? Com quem teria se encontrado? Ele não achava que tinha tantos amigos assim. E isso era estranho, porque Lena era daquelas pessoas que jogavam em equipe, e ele nunca havia conhecido nenhum de seus amigos. Ela florescia naquele ambiente de grupo do estádio. Então, por que não dividia seu apartamento com ninguém? Por que passava sua vida toda trabalhando? Por que estava tão determinada a ficar solteira? Ele queria saber quem a havia ferido. E como. E por que se recusava a contar tudo àquilo para ele.
Seu humor ficou ainda pior. Que droga, estava louco para vê-la. Ele estava conhecendo-a melhor, e, quanto mais a conhecia, mas a queria. Honestamente, não queria viajar no dia seguinte. Havia evitado Auckland por um bom tempo, concentran-do-se, por outro lado, em construir seu portfólio em Christchurch e Wellington. Mas essa era uma oportunidade boa demais para recusar e ele era um homem, não um menino fracote. Mas, ainda assim, queria que Lena estivesse ali para distraí-lo... As memórias estavam demorando-se em sua mente, alimentando seu descontentamento. Como era idiota por permitir que coisas que haviam acontecido há tanto tempo continuassem perturbando-o daquela maneira.
Deu outra volta por seu apartamento. Grande, vazio e chato. Queria que ela estivesse ali no sofá rindo de alguma coisa boba, assim como havia feito na noite anterior. Queria poder levá-la na viagem do dia seguinte e que depois fossem para outro lugar, longe de qualquer pressão.
Droga. Mas aquela não era uma má ideia.
Alguém bateu na porta de Lena quando ainda era horrivelmente cedo. Ela abriu-a e seu sensível coração bombeou vibrações de felicidade por todo o corpo, afastando a rabugice da noite anterior.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
95
— Vem comigo hoje? — disse ele imediatamente, vestindo um terno sensacional e com um sorriso irresistível no rosto.
Lena franziu o nariz e tentou resistir mais uma vez.
— Eu estava planejando fazer compras. — Ela não sabia para quê.
— Você pode fazer isso a qualquer hora. Venha dar uma volta. Eu quero passar o dia com você. Por favor.
Ele a pegara daquele jeito: atingira seu ponto fraco. Ela queria ser desejada. Queria que ele quisesse ficar com ela da mesma forma que o queria.
— Tudo bem. — Tão fácil, mas ela não se importava. Havia sentido sua falta. — Preciso de dez minutos.
— Claro. — Ele observou seu cabelo bagunçado. — Isso foi de ontem à noite?
Ela assentiu com a cabeça. Havia lido o romance policial de ponta a ponta; não desligara a luz até depois das 4h.
Seth dirigia. Ela não prestava muita atenção no caminho, estava feliz demais por estar em sua companhia. Mas sua curiosidade foi despertada quando ele estacionou em uma das entradas laterais do aeroporto.
— Onde nós estamos indo?
— Este será o nosso passeio — Ele apontou enquanto parava o carro em um estacionamento particular.
Lena olhou para a máquina brilhante que aguardava na pista.
— Você não acha que eu vou entrar naquilo, acha?
— Por que não entraria? — perguntou ele. — Você tem medo de avião?
— Você não sabia que são sempre aqueles ricos idiotas que acreditam que são capazes de qualquer coisa que se matam em aviões privados? — Ela não planejava tornar-se uma daquelas estatísticas. — Ando tranquilamente em aviões comerciais, mas não entro nesses caixões voadores.
Ele andou em direção ao avião, sem preocupar-se em esconder seu divertimento.
— Lena, isso é um jatinho. Ele não voa tão baixo como aqueles teco-tecos que batem nas montanhas.
—Aviões grandes também batem em montanhas. E muitos maiores. Você pilota isso?
— Você não confia em mim?
— Claro que não — disse ela, nervosa. — Você é um vendedor glorificado. Não vou subir ali com um piloto amador que tem mais autoconfiança do que juízo.
— Então você está dizendo "não"? Você se acha tão boa nisso — zombou Seth.
Lena encarou-o, mas ele deu um sorriso largo — estava calmo e à vontade —, enquanto ela ia ficando mais quente e gelada ao mesmo tempo. Por mais tentada que estivesse não iria entrar naquele avião com ele no comando. Porém, com um pouco de atraso, ouviu os passos. Estava deslumbrada demais pelos lindos olhos dele para até mesmo piscar.
— Este é Mike — Seth colocou a mão na cintura dela e puxou-a para frente.
Por baixo do vestido, sua pele fervilhou. E pensara que uma noite longe dele faria com que seu vício fosse curado. Sua vontade parecia estar ainda mais forte.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
96
— Olá. — O costume ajudou-a a sorrir e a estender a mão para o homem que estivera vagando pelo hangar.
— Mike é um piloto profissional — enfatizou Seth. — E ele vai nos levar hoje.
— Oh. — Surpresa, Lena olhou com firmeza para Mike. — Sério? Mike sorriu.
— Estou fazendo as últimas checagens — disse ele para Seth. — Podemos decolar em cinco minutos?
— Está ótimo. — Seth assentiu com a cabeça. — Você quer tomar alguma coisa antes de partirmos? — Virou-se para Lena. — Há alguns bares aqui no hangar.
— Não, obrigada — murmurou ela, observando as lindas e bem desenhadas linhas da aeronave com um pouquinho mais de entusiasmo. — Estou bem. — O olhar de Lena focou-se no aparentemente tranquilo piloto, que escrevia alguma coisa em uma prancheta.
— Algo errado? — Seth perguntou-lhe baixinho, sussurrando em seu ouvido.
— Ele não está de uniforme. — Lena conseguiu bloquear seus arrepios. Todos os pilotos usavam uniformes, não usavam?
Seth riu. Os dedos dos pés de Lena curvaram-se dentro dos sapatos: aquele som sempre a balançava.
— Não obrigo meus funcionários a vestirem uniformes — disse ele quando finalmente parou de gargalhar. — Ninguém está mais na escola.
— Ele é seu piloto particular. — A ficha agora caía.
— Sim, ele pilota meu avião particular.
— Se você está tentando me impressionar, isso não vai funcionar — blefou Lena. — Lembre-se de que vivo cercada de atletas absurdamente ricos.
— Eu sei. — Ele encolheu os ombros, mas seus olhos brilhavam. E ela também sabia que nenhum daqueles absurdamente ricos atletas era abastado o suficiente para ter o kit completo de avião, hangar e piloto em suas despesas.
— Para onde estamos indo então?
— Auckland.
— Seth... — virou-se ela, incrédula — há zilhões de voos comerciais para Auckland todos os dias. Você não pode se rebaixar e sentar em um avião com pessoas comuns? E quanto às emissões de carbono?
— É que foi tudo de última hora. Todos os voos estavam lotados. Ele foi educado o bastante para parecer um pouco envergonhado. Mas Lena não acreditara que os voos estivessem lotados.
— Eu emprego pessoas, sabe — disse ele. — Mike poderia estar desempregado se não fosse por mim.
— Você não precisa justificar isso para mim, mas para você mesmo.
— Eu tenho um sono tranquilo. — Ele então sorriu maliciosamente.
Lena deu um passinho para frente e ficou nas pontas dos pés para encará-lo de frente.
— Jura?
— Tudo bem, confesso que na noite passada dormi mal.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
97
Será que era porque havia sentido sua falta? Apenas esse pensamento fez seu coração disparar.
— Não estou muito animado com a reunião de hoje. — Os olhos de Seth tinham uma expressão descontraída.
— Ah, então é por isso que você ficou rolando na cama? — Ela não tinha uma desculpa como aquela.
O jatinho era pequeno, mas luxuoso. Havia apenas quatro assentos na parte de trás: dois de cada lado, um de frente para o outro, com uma pequena mesa entre eles.
— Normalmente eu consigo trabalhar bastante enquanto estou no ar. — Mas Seth guardou a maleta que devia conter seu laptop. E, depois da decolagem, levantou-se e foi espremer-se ao lado dela. Levando em conta a largura dos assentos, aquele não era um problema.
— E o seu trabalho?
— Preciso mais disso.
Lena sentia-se como se estivesse voando pelos céus enquanto ele a beijava. Uma doçura a invadia, suavizando as últimas feridas que restavam da noite anterior. Só então ele suspirou e retornou ao seu lugar em frente a ela.
— Tenho que me concentrar.
— É uma reunião importante?
— Sim. — Ele suspirou enquanto respondia, já estava distraído checando seu palmtop. — E estou bastante por fora.
Quando pousaram, sua concentração ficou ainda mais intensa. Passou toda a corrida de táxi pelo centro da cidade fixado em seu celular.
— Eu preciso ir direto para a reunião — disse ele assim que estacionaram em frente a um hotel. — Deve durar uma hora e pouco. Mas você quer fazer compras, certo? Então me encontre aqui e sairemos para almoçar, tudo bem?
— Tudo bem — supôs ela. Não sabia por que aquilo a incomodava. Afinal de contas, ele estava ali para trabalhar, mas por que já a dispensava?
Quando retornou, encontrou-o esperando por ela no hall do hotel com vários outros homens. Ele fez breves apresentações, mas era óbvio que estavam ali para almoçar também.
— Eu posso encontrá-lo depois... — disse ela para facilitar as coisas, apesar de estar desapontada por dentro. Mas Seth balançou a cabeça negativamente.
— Não, fique e almoce conosco.
Ela colocou seu sorriso profissional no rosto e conversou com todos durante a refeição. Sabia como interagir com executivos como aqueles. Era parte de seu trabalho. E, claro, no minuto em que ficaram sabendo qual era seu emprego, foi a hora do show: nada deixava empresários de sucesso mais animados do que histórias de bastidores do rúgbi.
Após uma boa meia hora de anedotas bem-humoradas, o assunto voltou aos negócios. Lena escutava enquanto Seth discutia sua proposta para o edifício que queriam comprar. Ela imaginava que fosse apenas uma reiteração de seus planos, mas notou como os convenceu com facilidade. Com seu charme, seu entusiasmo contagiante
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
98
e a autoconfiança fascinante, conquistava qualquer um. As pessoas não conseguiam evitar concordar com ele. Mas não tinha certeza se isso era uma coisa totalmente saudável.
Ele desapareceu por outra meia hora depois do almoço e Lena foi conduzida a uma suíte no último andar. Inexplicavelmente, seu coração ficou apertado quando entrou no quarto opulento com uma cama desnecessariamente grande.
Quero passar o dia com você.
Aquele doce convite ecoava em sua mente, zombando dela. Não, ele não queria. Queria apenas que ela fosse junto para que estivesse lá quando sobrassem cinco minutos de folga para gastar.
Aquilo a atingiu em seu ponto mais vulnerável. Lembrava-lhe de quando seu "ex" a levara para passar um fim de semana fora. Assim que chegaram, ficara sabendo que ele tinha uma conferência para ir. Apenas muito tempo depois descobrira que o encontro era a desculpa que usava para sua esposa. E que a única razão pela qual estava tão interessado em passar "um tempo sozinho" com ela era porque não queria que as outras pessoas a vissem com ele. Ela havia sido tão ingênua que pensara que ele estava sendo gentil por pedir tantas refeições incríveis no quarto. Por reservar massagens privativas e tratamentos de beleza para as manhãs em que estava ocupado. Na verdade, estava apenas mantendo sua presença discreta.
Naquele dia, assim como na viagem com o "ex", ela estava ali apenas como um pedaço de carne. Seth não a queria com ele para outra coisa além de diversão, certo? Não havia contado qualquer coisa sobre seu trabalho; ela sabia apenas de breves detalhes que outros homens haviam lhe revelado no almoço. Ele não perguntara sua opinião para nada. Por acaso achava que podia deixá-la satisfeita com pequenos e ocasionais momentos de atenção sexual?
Ela virava as páginas de uma revista em cima da mesa sem prestar atenção. Alta costura e guias de "como fazer" que não a acalmavam nem ofereciam nenhuma perspectiva. Não podia mais viver aquela história despreocupadamente. Ela queria algo mais. Mas não era e nunca iria ser algo mais.
Seth entrou no quarto com passos largos, tirando a gravata e colocando-a no bolso.
— Desculpe-me se o almoço foi entediante.
Aquilo não iria ajudar a melhorar seu humor. Será que ele pensava que estava entediada porque era uma gostosinha tola que não entendia o significado da palavra aquisição!
Apesar da irritação, Lena não conseguia tirar os olhos de cima dele: quando Seth despia-se, ela sempre prestava atenção. Mas, para sua surpresa, o restante de suas roupas continuou no corpo e ele permaneceu perto da porta que havia deixado aberta.
— Venha, vamos sair daqui — disse ele. — Preciso muito de ar fresco.
Então ele não queria ficar ali com aquela cama gigantesca?
Ela precisou apertar o passo para conseguir acompanhá-lo enquanto cruzava o hall do hotel e saía direto para dentro de um táxi que os esperava.
— Onde estamos indo? — perguntou ela após recuperar o fôlego.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
99
— Para um lugar mais divertido.
Diretamente de volta para o aeroporto? Mas dessa vez não era para o jatinho que ele a levava, mas para um helicóptero.
— Não se preocupe. — Ele passou um musculoso braço em volta de sua cintura e a guiou a bordo. — Juro que é um piloto profissional que vai estar no comando.
— Aonde nós vamos? — perguntou ela, enquanto as pás da hélice começavam a girar.
— A praia.
Era um voo de apenas 25 minutos para um paraíso isolado na costa norte de Auckland. Apenas dois minutos depois, estavam descalços, molhando-se na beira do mar.
— Obrigado por vir comigo hoje. Desculpe-me por ter sido tão chato até agora. — Ele deu um sorriso de lamento. — Eu não queria vir. Pensei que poderia me livrar da viagem com algumas ligações de Christchurch. Mas fui pressionado na noite passada, e foi por isso que cheguei atrasado à sua casa. Quando você disse que estava de folga hoje, pensei que podia trazê-la comigo. Não aguentava mais esperar para que a reunião acabasse. — Seth levantou a mão de Lena e beijou-a.
— Então você faria isso de novo? — Ela observou seu rosto, não podia controlar sua insegurança. Será que ele queria apenas um brinquedo para a hora do intervalo?
— Tem uma parte em mim que sempre quer fazer isso. — Os lábios de Seth abriram-se em uma gargalhada. — Mas eu queria trazê-la a esta praia. E devo confessar que no meio da madrugada tive essa ideia de que você poderia deixar o ambiente mais leve no almoço. E foi o que fez. Não acredito que decorou todos os nomes deles após uma rápida apresentação e depois os entreteve completamente daquele jeito. Não consigo nem dizer o quanto gostei daquilo.
As palavras dele desataram os nós que estavam formando-se em sua cabeça. Como havia pensado por sequer um segundo que Seth tinha alguma coisa em comum com o imbecil do seu "ex"? Ele nunca havia tentado escondê-la, pelo contrário: carregara-a para todos os lugares e até apresentou-a aos parceiros de negócios. Agora parecia até que estava orgulhoso dela. Lena chacoalhou-se mentalmente. Achava que havia domesticado suas inseguranças, mas às vezes elas vinham à tona quando menos esperava e gritavam tão alto que não conseguia nem enxergar as coisas direito.
Mas Lena sabia por que as dúvidas haviam surgido naquele dia e por que a tinham deixado tão irritada na noite anterior. Estava apaixonando-se cada vez mais por Seth e isso a assustava. Aquela relação não estava mais tão descompromissada como pensou que seria. Mas talvez, apenas talvez, tudo acabaria bem.
Uma semente de esperança havia acabado de brotar. Ele não a havia trazido para uma mera aventura naquele dia; ele queria sua companhia.
Porém, junto com o rompante de felicidade que aquela percepção lhe trazia, veio uma preocupação também.
— Por que você estava tão aflito com essa reunião? — Ela nunca teria zombado dele por estar ansioso, mas ainda assim ele estava claramente relutante e não conseguia entender por quê. — Todos eles estavam comendo em suas mãos.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
100
Ele riu e apertou a mão dela levemente.
— Eles só queriam ficar do meu lado para que eu investisse em outros negócios que eles mantêm.
— Não, eles estavam realmente impressionados com suas ideias. Não era apenas seu dinheiro.
Seth encarou-a, e um pequeno sorriso surgiu-lhe nos lábios antes que ele beijasse a mão dela mais uma vez.
— Fico feliz por você achar isso.
— Então, qual era o problema então? — Claramente alguma coisa naquela viagem o havia deixado perturbado.
— Não era a reunião. — Seth olhou para o horizonte vazio. — Era o lugar. Eu cresci em Auckland.
— Sério? — Lena tinha certeza de que ele era de Christchurch; parecia tão ligado à cidade.
— Sim, e eu sei que isso é patético, mas não gosto de voltar aqui. São muitas lembranças infelizes. Eu evitei esta cidade por anos. Evitei meu pai.
— Mas pensei que ele estava...
— Morto, sim. Um ano atrás. Complicações de uma gripe.
— Sinto muito.
Seth mal encolheu os ombros. Era mais do que óbvio que eles não eram próximos. Aquilo potencializou a simpatia de Lena. Ele havia perdido a chance de consertar seja lá o que tivesse acontecido para causar aquela amargura que havia entre eles.
— Ele era um imbecil.
Ela recuou. Aquela descrição e a aparente indiferença com a qual havia dito aquilo revelavam muito mais do que um discurso de cinco minutos. A mágoa que sentia dentro dele ainda pulsava. Lena sabia que, não importava quantos anos se passassem, algumas coisas continuavam a machucar. Mesmo quando você pensa que tem uma carcaça impenetrável cobrindo uma ferida antiga, às vezes uma pequena coisa pode surgir e fazê-la arder mais uma vez.
— Ele foi embora quando eu tinha 14 anos — disse ele baixinho. — E, antes que o fizesse, vivemos um período muito duro. — Apesar de parecer não se importar e de quase rir, isso não diminuiu o mal-estar que Lena notou nele.
— O que aconteceu?
Sua tentativa de sorrir falhara.
— Outra mulher.
— Ele tinha um caso? — A temperatura do corpo de Lena despencou.
— Com uma mulher manipuladora que parecia ter a minha idade. Ela engravidou.
— Ela teve o bebê? — Lena esticou os dedos para que ele soltasse sua mão. Não queria que visse como ficara suada.
— Foi assim que o obrigou a voltar para ela. Ele falara para mamãe que tinha terminado tudo e que iria ficar com ela. Pensava que tudo ia ficar bem, que eles iriam superar aquilo. Ele estava melhor, mais envolvido, trabalhando. Mas, seis meses depois,
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
101
ele nos disse que sua amante estava grávida e que estava indo embora para sempre. Foi um choque maior do que quando admitiu que estava tendo um caso.
— Ah, Seth. — O coração de Lena estava apertado.
— Ela estava grávida de três meses. Meu pai a havia visto de novo e tinham ido para cama só uma vez. Aquilo foi um erro, porque ela havia ficado arrasada com o fim. E, naquele momento, estava vulnerável demais para conseguir viver sozinha. — Seth balançou a cabeça com um ar irônico. — Ela faria o que fosse preciso para prendê—lo ao lado dela.
— Você acha que ela engravidou de propósito? — As palavras dele iam arrancando a pele de Lena, deixando seus nervos e seu coração expostos demais.
Em um só dia, ela havia ido de um humor venenoso no quarto do hotel até o paraíso com os pés descalços ao lado dele. Agora estava mergulhando em um horror corrosivo. Aquilo era pior do que seu pior pesadelo.
— Claro que sim. Foi o que matou minha mãe. Ela queria mais filhos, mas, não sei por qual razão, não aconteceu. Eu era o único.
— Então ela teve o bebê.
— Um menino. Eles se casaram. E meu imprestável e charmoso pai finalmente teve seu número completo. Eles moravam em Auckland. Mudaram-se para a casa que um dia havia sido minha e de minha mãe também. Ele nos deixou sem nada. Envenenou a maldita cidade inteira.
Lena estava cada vez mais devastada.
— Quantos anos tem seu meio-irmão?
— Não sei ao certo, deve estar no começo da adolescência. Ela podia dizer por seus olhos que ele sabia exatamente quantos anos o garoto tinha, apenas não queria pensar naquilo.
— Você já o encontrou? — Lena continuou pressionando-o, seus próprios demônios gritando dentro dela.
— Eu tive que visitá-los algumas vezes quando era adolescente, até que eu me recusei a ir. Eu o vi no velório. Nós não conversamos.
— Você não tem vontade de conhecê-lo?
— Por que teria?
— Porque ele é seu meio-irmão.
— Não é. — Seth encolheu os ombros. — Não temos nenhuma conexão de verdade. E, mais do que tudo, não quero nada com Rebecca Walker.
Rebecca Walker. O nome de alguma forma tornou-a real... E Lena sentia muito.
— Era dela aquela carta então — disse ela, subitamente estabelecendo as relações. — Naquele dia. Achei estranho você jogá-la fora porque o remetente tinha o mesmo sobrenome que você. R. Walker.
— Ela só tem o mesmo sobrenome do que eu porque se casou com meu pai.
— Por que ela escreveria para você? — Os nervos de Lena iam ficando cada vez mais e mais tensos.
— Dinheiro — resmungou ele.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
102
Lena observou que ele fechava suas barreiras: seu rosto estava sem expressão e seu olhar fixava-se na praia ensolarada.
— Mas, na verdade, você não sabe, porque nunca abriu aquela carta.
— Por que eu abriria?
— Não está nem um pouco curioso?
— Não. — Pela resposta inflexível, ela sabia que não adiantaria dizer a ele que deveria estar. Ele estava paralisado demais para querer saber. Mas e se alguma coisa estivesse errada? Era óbvio que aquela mulher não se daria ao trabalho de escrever para um enteado distante sem uma boa razão. Sua indiferença implacável era como um golpe de um gélido punhal de medo dentro dela. Lena entendia sua raiva, entendia como devia ter se machucado, mas esperava que ele conseguisse entender que podia haver outro lado para aquela história tão antiga.
— Sabe, nem sempre é a mulher que começa um caso — disse ela nervosamente. — Às vezes, o homem casado instiga isso.
— Você está defendendo ela? — Os olhos dele arregalaram-se.
— Eu apenas acho que há só um culpado nessa história. — Ela enfiou os dedos dos pés na areia, tentando esconder seu desconforto. — Às vezes, uma mulher pode ser seduzida. Seu pai mentiu uma vez, Seth. Talvez ele tenha continuado a mentir depois. Talvez ele nunca tenha parado de vê-la.
— Mas foi ela que engravidou para ele sentir que não podia abandoná-la.
— Normalmente são necessárias duas pessoas para uma gravidez. — Lena desejava que a água que molhava seus pés pudesse levar embora suas feridas abertas. Mas elas apenas continuavam a arder.
— Seus pais ainda têm um casamento feliz, certo? — perguntou ele secamente. — Essa não é uma coisa que você possa realmente comentar, a menos que tenha vivido algo assim.
Mas Lena havia vivido algo assim. Sabia tudo sobre relações extraconjugais. Sobre gangorras de emoções e falsas promessas. Sobre mentiras, ilusões. E sobre desespero.
A revelação sobre os pais de Seth destruiu sua fantasia colorida de que aquilo podia tornar-se algo mais do que um caso para os dois. Agora ela sabia que ele nunca seria capaz de entender. Havia escutado o desprezo com o qual tinha se referido à outra mulher de seu pai. Não havia meio-termo para ele.
Lena havia cometido erros enormes e vinha se esforçando muito para seguir em frente e não repeti-los. Não queria ser novamente aquela garota imatura, desesperada por atenção e vulnerável que havia feito uma besteira sem tamanho. E estava conseguindo.
Mas não acreditava que Seth entenderia o que tinha ocorrido em seu passado. Seu romance com um homem casado estava mais relacionado ao fato de que necessitava ser desejada do que a um amor verdadeiro por ele. Fora a atenção: pela primeira vez sentira que alguém a achava especial, em vez de continuar a acreditar que havia algo de errado com ela.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
103
Com Seth era tudo diferente. Seus sentimentos iam ficando cada vez mais profundos. Tinha um incrível desejo de ficar perto de sua risada, de sua alegria, dele inteiro. E aquele desejo estava aumentando: queria ser parte de sua vida e compartilhar tudo com ele. Não queria abrir mão daquela história.
Mas logo teria de desistir. Não conseguiria esconder seu passado para sempre e sabia que, no mesmo segundo em que ele descobrisse tudo estaria acabado.
CAPÍTULO ONZE
No fim da semana, depois de outras reuniões fora da cidade, Seth disse a Mike que queria voar de volta para Christchurch naquela noite. Ele sabia que deveria dormir em Wellington: tinha mais compromissos agendados para o dia seguinte. Mas agora, e de última hora, ele não estava com vontade. Retornaria na próxima manhã. E, em seguida, estaria de volta a Christchurch novamente pela tarde a tempo de assistir ao jogo. Não se importava com as emissões de carbono; ele plantaria árvores em algum lugar.
Não havia passado uma noite sequer fora da cidade em vários dias. E tinha apenas uma razão morena de olhos verdes para isso. Uma noite viajando poderia ter sido bom poderia ter sido sensato, poderia até mesmo ter sido um teste. Mas ele havia falhado totalmente nisso. Porque não queria outra coisa a não ser estar com ela o mais rápido possível. Ele nem copilotava mais, como costumava fazer às vezes. Em vez disso, sentava-se na cabine e ficava observando o espaço. Tentando entender o que diabos pensava que estava fazendo.
Ele sabia o que Lena queria: um homem que estivesse cem por cento ao lado dela. Um homem que lhe desse a atenção que nunca tivera de seus pais. Havia visto o perfil da mãe dela no site de relacionamentos no fim de semana, quando estavam navegando no computador juntos. Não era exagero. Em todas as suas fotos estavam os irmãos e suas conquistas, e havia apenas uma foto de Lena... Com Cliff Richard. Ela havia tentado rir daquilo, mas Seth observara seu rosto naquele milésimo de segundo no qual percebeu que não havia nenhuma outra imagem sua naquele álbum on-line. Lena ficara machucada. E depois se resignara, como se não pudesse esperar outra coisa além daquilo. Foi então que havia tentado rir. Mas ele não achara graça alguma.
Linda por dentro e por fora, ela não devia ser deixada na sombra. Assim como a maioria das flores, precisava de sol para florescer. Aquela menina carinhosa tinha dado à família muito mais do que recebera. Merecia mais deles. E também merecia mais do que o pouco que ele podia lhe dar.
Ela precisava de atenção absoluta, segurança extrema. E, apesar de nunca ter dito isso e ter até mesmo negado, ele sabia que aquilo um dia iria finalmente acabar significando casamento.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
104
Seth sentia o peito apertar. Ele nunca poderia oferecer isso a ela. Sabia como tudo era uma farsa. Como prendia as pessoas para que ficassem por mais tempo do que deveriam. Como acabava produzindo filhos apenas para piorar tudo.
Ele não iria se casar nunca, nem ter filhos. Por conta de seus ideais de vida opostos, sabia que não deveria estar com ela naquele momento. Deveria afastar-se para que ficasse livre para encontrar o homem que daria tudo de bom para ela. Lena jogava em equipe e gostava de dar suporte aos outros, mas precisava de alguém para apoiá-la em suas necessidades também. Enquanto isso, ele gostava de viver sozinho e nunca precisar contar com ninguém. Nunca ter de sentir o peso de ser responsável por satisfazer alguém sentimentalmente: sabia que não seria capaz de carregar essa carga. Droga, ele não conseguia nem fazê-la falar do homem que a havia machucado. Aquilo não deveria incomodá-lo, mas incomodava. Não podia terminar sem antes saber de tudo. E o que era mais estúpido ainda: seu enorme apartamento parecia vazio demais agora; preferia os cômodos magnificamente decorados de Lena. Então, quando aterrissou, bem depois da meia-noite, engatinhou silenciosamente até a cama dela.
— Seth? — Ela estava toda encolhida como uma gatinha, mas ele não caiu na besteira de acreditar que não oferecia perigo. Lena era mais uma leoa adormecida do que uma gatinha.
— Shhhh! E tarde. — Ele beijou-lhe os lábios, um beijo doce e puro. Beijou também sua bochecha, a sobrancelha. A ternura espalhava-se sobre ele, abrandando-lhe as chamas do desejo.
Ela murmurou alguma coisa, mas ele não entendeu o que dissera. Sabia que estava feliz, viu seu sorriso suave, ouviu a risada sonolenta. Aquilo o tocara. Puxou as costas dela contra seu corpo, dando-lhe um beijinho na ponta da orelha e outro no canto da boca. Lena agitou-se novamente, murmurando mais uma vez e depois relaxando, seu corpo quente pregado contra o dele.
Por um longo tempo, Seth continuou acordado. Sentia a maciez do corpo dela bem perto, ouvia sua respiração suave. O sussurro rouco de Lena ecoou em sua cabeça, enviando vitalidade — e também horror — pulsante à sua alma. Será que havia mesmo acabado de murmurar aquelas três pequenas palavras?
Eleja as havia escutado antes, ditas por outras mulheres quando estavam bem acordadas. Não havia acreditado nelas. Na verdade, o que queriam era seu sucesso e status, não realmente ele. Mas Lena não queria aproveitar-se de seu sucesso. Ela estava buscando seu próprio significado para essa palavra. Não era como as outras. Lena não era como nenhuma mulher que já havia encontrado. E ele também se sentia como se fosse outra pessoa.
Agora, Seth desejava ter ficado longe dela.
Lena acordou, impressionada por encontrá-lo profundamente adormecido em sua cama. Ele não devia estar ali. Deveria estar em Wellington. Mas obviamente havia preferido voltar para casa... Para ela. Ficou em silêncio, admirando sua expressão lindamente relaxada. Ele era tão bonito. Foi então que lembrou que havia sentido seu peso na cama no meio da noite, que havia se virado para lhe dar um abraço e sentira seu calor. Estava tão contente que dissera... Ah, não.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
105
Ela saiu da cama com cuidado para não acordá-lo. Tomou um banho enquanto apertava os olhos com força para evitar as lágrimas. Uma coisa era admitir sua fraqueza para si mesma, outra coisa era admitir para ele. Porque ela também se lembrava de sua resposta à declaração: um silêncio sepulcral.
As horas que tinha antes de ir para o trabalho passavam. Ela vestiu-se, tomou café da manhã e ele continuava dormindo. Em silêncio, elaborou um plano. Iria fingir que nunca dissera aquilo. Inventaria que estava dormindo. E que aquele pesadelo não tinha passado de um sonho.
— Por você ainda está na cama? Não tem negócios para fazer ou algo assim? — Colocou as mãos nos pés de Seth e sacudiu-os.
— Em Wellington?
Nenhuma reação.
Abriu as cortinas e chacoalhou diversas vezes seu corpo inerte. Finalmente ele deu um gemido.
— Demorei horas para conseguir dormir. — Com os olhos vermelhos, Seth esfregou a mão no rosto. — Lena... — Ele calou-se.
— Hum? — Ela pegou a bolsa e olhou de relance para seu reflexo no espelho, precisando de um instante até que pudesse encará-lo.
— O quê?
Sem resposta. Ela virou-se para ele. Por um segundo, seus olhos encontraram-se, mas depois Seth desviou o rosto. Sentando-se, ele cobriu o corpo com o lençol. Nunca havia feito aquilo.
— Tenho que ir — disse ela, desajeitada e morrendo por dentro. Ele não conseguia olhar em sua direção. E também não respondeu.
— Você precisa se levantar. — Lena correu para a porta. — Já estou atrasada.
Seth afundou-se novamente na cama e ficou olhando para o teto; ainda ouvia aquele sussurro rouco. Talvez tivesse sido um sonho. Ele estava muito cansado. Na verdade, ainda estava cansado. E totalmente de mau humor. E bem agora ela havia fugido o mais rápido que pudera. Não sabia se aquilo significava que lembrava ou não. Nos dois casos, ela estava escondendo-se dele, e não gostava daquilo. Puxou o lençol sobre o rosto c fechou os olhos, tentando tirar mais um cochilo. Mas seu corpo inteiro estava dolorido. Talvez estivesse pegando uma gripe.
Ele devia ter ficado fora na última noite. Como não havia feito aquilo, deveria ficar longe naquela noite. Precisava de um pouco de espaço para pensar com clareza, mas não tinha como deixar de ir ao jogo dos Knights. Precisava estar presente por causa dos meninos. Aquela era a grande recompensa por terem comparecido ao treinamento e à escola naquela semana.
Seth deitou-se, sentindo o cheiro doce de Lena, e finalmente entendeu qual era o problema. O que ele realmente queria o motivo por estar tão chateado, tão desapontado, era porque queria que ela tivesse acordado e dito aquilo de novo, queria que tivesse certeza do que dissera.
Nunca havia desejado aquilo de ninguém, nunca havia desejado querer aquilo. Mas aquela vontade havia entrado sorrateiramente dentro dele. Assim como ela havia
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
106
feito. Seu coração acelerava-se de pânico e frustração, porque agora teria de aguentar um dia e uma noite inteiros fazendo o social. Tomou banho, vestiu-se e retornou ao aeroporto. Não enviou mensagem, nem ligou para Lena. Precisava vê-la ao vivo. Só depois que todas as obrigações do dia terminassem, ele a pegaria sozinha e bem de perto e, cauteloso como agora estava, veria o que aconteceria.
Lena não prestara atenção ao jogo. Os Knights haviam ganhado claro, mas aquilo era inevitável. Seth estava no camarote VIP com os meninos. Mesmo os mais complicados deles estavam fascinados. Andrew e Dion estavam por ali também. Os garotos recebiam tratamento preferencial: jantar antes do jogo, sobremesa no intervalo em uma área privativa, mais a chance de se misturar aos Knights após a partida. Observando-os a distância, ela conversava com outros convidados e percebia a grande besteira que havia feito. Mais uma vez, apaixonara-se por alguém que não queria o mesmo que ela. E, desta vez, estava amando de verdade.
Mas ele não sentia a mesma coisa. Sua sonolenta declaração havia estragado tudo. Ele nem sequer cruzava olhares com ela do outro lado do salão. Havia tentado sorrir para Seth quando percebeu que olhava em sua direção. Mas ele a ignorara, desviando o olhar o mais rápido possível e virando de costas em seguida.
Lena sabia que ele era um homem melhor do que seu "ex". Seth não mentia, não traía. Tinha seu próprio código. Mas também tinha seus problemas. Machucava-a ver como ele era tão legal com aqueles meninos enquanto era indiferente ao seu próprio sangue, ao seu meio-irmão. Ele não conseguia perdoar. E Lena sabia exatamente como terminar tudo com ele. Havia prometido a si mesma desde o início que seria ela quem colocaria um ponto final naquela história. Tinha de fazer isso já. Ele nunca iria mudar por sua causa.
Os Knights haviam acabado de chegar do vestiário. Com roupas elegantes, estavam ocupados nas conversas obrigatórias com os patrocinadores e convidados antes de ir para as boates para comemorar do jeito que realmente gostavam. Um grupo deles estava dando atenção especial a Andrew e os meninos. Lena não suportava mais observá-los. Suas tarefas da noite estavam quase terminadas e precisava pegar um pouco de ar. Escapou do salão e foi respirar o vento refrescante do lado de fora. Além das pessoas que estavam nos camarotes envidraçados, o estádio estava vazio. O público havia ido embora, o pessoal da limpeza já havia recolhido os copos de plástico e as embalagens de alimentos deixados sobre as arquibancadas. Desceu alguns degraus e encostou-se à grade, consolando a si mesma.
— Lena?
Ele a havia seguido.
— Se o seu meio-irmão estivesse em apuros como aqueles meninos lá em cima, você o ajudaria? — perguntou ela, indo direto ao assunto.
A noite de fim de verão estava clara o bastante para que visse como Seth imediatamente franzira as sobrancelhas enquanto se apoiava à grade.
— Por que você acha que ele estaria com problemas?
— E se for por isso que ela está escrevendo para você? Ele riu com aspereza.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
107
— Lena, acredite em mim, provavelmente é dinheiro. É incrível, as pessoas só saem da toca e alegam algum tipo de parentesco quando sabem que você é rico.
— Bem, e daí se for isso? E se eles estiverem penando como você e sua mãe penaram? Você gostaria que ele passasse pelas mesmas dificuldades que você passou?
Sua expressão tornou-se violenta.
— Ele nunca vai passar pelo que passei.
— Seth. — O coração de Lena implorava para que fosse mais compreensivo. — Ele perdeu o pai.
— Eu perdi o meu também — disse ele friamente. — Há muito tempo.
— Com quase a mesma idade que ele — concordou Lena. — E se ele estiver precisando de um homem decente em sua vida para ajudá-lo? Ou você quer que ele tenha que lutar para superar tudo também?
Abruptamente, Seth endireitou-se.
— Lena, não adianta. Você nunca vai entender...
— Não, você é que não vai — interrompeu ela secamente. — Você nunca vai entender.
— Entender o quê?
Lena acertou um soco em Seth da forma que uma vez ele lhe pedira para fazer. Mas palavras podiam machucar muito mais do que punhos.
— Como eu acabei tendo um caso com um homem casado. Como fui amante dele por quase um ano. Como eu tentei destruir um casamento.
Ele encarou-a, e seus olhos estavam arregalados.
— O quê? — Parecia que Seth havia engasgado.
— Isso mesmo que você ouviu. Eu fui à outra que interferiu em um casamento, Seth. Tentei separá-los. Fiz tudo o que estava ao meu alcance.
Ela havia sido tão pateticamente carente. Abrira mão de muitas coisas esperando que ele lhe desse tudo o que prometera. Mas perdeu ainda mais quando tudo desabou. Os amigos aos quais virara as costas para estar disponível para ele também a abandonaram. Seus pais ficaram estarrecidos. A única coisa que conseguira fazer havia sido fugir da cidade e começar tudo de novo.
Prometera a si mesma que nunca mais cometeria aquele tipo de erro de novo. Mas ali estava entregando-se novamente para um homem que não queria nada sério com ela. Permitindo-se ser usada porque seu maldito coração parecia se achar melhor do que era. Mas dessa vez era muito pior. Dessa vez, ela estava realmente apaixonada. E não estava preocupada se havia sido escolhida para coadjuvante, ou se pela primeira vez tinha sido escolhida para o papel principal. Aquela havia sido sua preocupação de antes: ser a mulher vencedora. E não fora.
Lena estava com os olhos bem abertos, não tinha mais aquela fantasia inocente. Não havia outra mulher ali. Havia apenas ela, mas mesmo assim não iria ganhar. O prazer que tinha em ficar com Seth era profundo e real. Ela conhecia seus defeitos. Sabia que ele era arrogante e orgulhoso, mas também que era rancoroso. Amava-o mesmo assim. Porém, precisava acabar com tudo aquilo porque ele não a amava. E isso não iria mudar.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
108
— Eles eram casados e eu era a outra — disse ela friamente. — Sou a ordinária sedutora, Seth. Sou aquele tipo de mulher que você odeia.
Ele estava paralisado. Algo forte brilhou em seus olhos, cortando o coração de Lena em pedacinhos. Subitamente, ela não conseguiu resistir a tentar explicar tudo, não para desculpar-se, mas para que ele entendesse.
— Eu sei exatamente como aconteceu e ele não foi nenhum santo que se viu obrigado a fazer qualquer coisa — disse ela apressadamente. — Ele me perseguia. No começo, corria muito atrás de mim. Dizia que estava separado. E eu não ia tocar nele até que dissesse que o divórcio estava saindo. Ele até me mostrou uma carta do advogado. Era falsa. Ele insistia, insistia, e eu estava estupidamente envaidecida. Quando conseguiu o que queria, começou a ficar frio, mas eu não enxergava aquilo. Estava seduzida pela atenção. Eu queria mais. Acreditei que ele me amava. Acreditei em suas promessas. — Ela havia sido uma idiota carente e ingênua, mas nunca seria aquela menina de novo. — Não vou mais ser usada daquele jeito. E é exatamente o que está acontecendo aqui. Não posso mais continuar vendo-o se você não pode me dar o que quero.
— Eu não estou traindo você, Lena. — Os nós dos dedos de Seth estavam brancos sobre a grade, a apenas meio metro de distância dos punhos pálidos dela.
— Não com outra mulher. Mas esse seu discurso de "meus pais não deram certo, então nunca vou cometer o erro de me casar" é uma desculpa conveniente para não se comprometer. Assim você vive seus casos com regras que são aceitáveis para você. Assim você não precisa admitir que o que quer de mim é apenas sexo.
— Nós nunca fizemos promessas. Você queria uma série de encontros de uma noite só.
— É verdade e eu estava errada. Um dia você vai encontrar uma mulher que tem tudo o que procura e vai oferecer a ela tudo o que disse que nunca ofereceria. Mas essa mulher não sou eu. Nunca serei eu.
Lena fez uma pausa para recuperar o fôlego, mas também porque tinha uma esperançazinha idiota de que ele a interrompesse e gritasse que estava enganada e que ela era aquela mulher.
Mas é claro que ele não fez isso. Apenas permaneceu pálido, ofegante e com maxilar travado.
— Você criou aquela desculpa para mulheres como eu porque sabe que nós não temos seja lá o que for que mantém seu interesse por muito tempo. — Lena jogou a cabeça para trás, reunindo as últimas forças, revoltada. — Recuso-me a ser tão carente de novo. Eu mereço mais do que isso.
— Mas foi você quem estipulou que essa relação ia ser puramente física primeiro.
— Porque eu queria você — gritou ela. — Mas estupidamente eu queria mais. Achava que conseguiria controlar tudo, mas não posso e você nunca vai poder me dar isso.
Era melhor ficar sozinha do que esperar ser descartada e dar seu coração sem receber o dele em troca.
— Admita Seth, você não quer nada sério comigo.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
109
Ele não negou aquilo. Apenas olhou fixamente para ela, parecendo fora de si. Aquilo a deixou ainda mais zangada. Ela queria que Seth admitisse. Queria que ele terminasse tudo tão decididamente como sabia que poderia fazer. Em vez disso, ela estava tendo de forçar a situação, para que o último resquício da atração fosse exterminado.
— Você sabe que nunca poderia confiar em mim. — Ela estava interpretando, fingindo ser aquela ladra de homens da qual um dia havia sido rotulada. — Você sempre iria desconfiar. Eu fiz isso uma vez: dormi conscientemente com um cara que pertencia à outra mulher. Um homem casado. Enganei todo mundo, e muito bem.
Mais do que ninguém, havia enganado a si mesma. — Tentei deliberadamente tirá-lo da esposa. Como você pôde acreditar que eu seria fiel? Quem garante que já não o traí? Ele empalidecera. Ótimo. — Você odeia infidelidade. Pois agora está olhando para a rainha da infidelidade. Alguém tão virtuoso como você tem mesmo que me odiar. Afinal de contas, é sempre a ordinária que deve ser culpada. Ela agora o odiava pelo pesado julgamento que seu silêncio absoluto representava.
— Mas, sabe Seth? Você também não é tão perfeito assim. — Lena despejava-lhe o veneno que havia dentro de si. — Também existem coisas não tão louváveis em você. Você dormiu comigo naquela primeira noite sabendo que aquilo tornaria as coisas embaraçosas para mim quando tivesse que pedir aquele pequeno favor no dia seguinte. Mas você queria a sua diversão e a teve, pouco se importou com a insignificante questão da ética ou em jogar limpo. Você leva as coisas até as últimas consequências e gaba-se de sua independência quando, na verdade, está apenas mascarando seu egoísmo e sua inabilidade de se importar. Você é tão fechado, tão rancoroso que nem consegue se dar ao trabalho de descobrir se alguém que é sangue do seu sangue está bem. Isso é o que está errado. E eu não tenho mais nada com você. — Ela parou de falar e encarou-o; havia desabafado toda a sua fúria.
Seth continuava imóvel como uma pedra. Parecia não ter sentimentos, nem se importar com nada daquilo. Foi então que lágrimas cegaram-na. Desesperada para escondê-las, Lena virou-se e subiu correndo as escadas, como se houvesse um monstro atrás dela.
— Com licença. — Esbarrou em alguns jogadores de rúgbi que estavam na porta e entrou no meio da multidão que estava na saída do corredor do outro lado.
Ela havia feito aquilo. Terminara tudo entre eles. E, para isso, apenas a verdade havia sido suficiente.
Um caleidoscópio de imagens girava na cabeça de Seth. Emoções confusas rebelavam-se dentro de seu corpo. Ele olhava fixamente para as escadas do estádio. Transtornado, pensava em como ela havia feito para subir de três em três degraus até chegar de volta à área VIP. Estava chocado demais e demorava a processar o pesadelo dos últimos quatro minutos. De todas as coisas que havia pensado que pudessem ocorrer naquela noite, com certeza aquela não era uma delas. Respirava fundo, tentando fazer com que o oxigênio penetrasse em seus pulmões e assim limpasse a neblina sufocante que havia dentro de si. Mas não adiantava. Tudo o que tinha eram perguntas e mais perguntas e uma dor infernal apertando-lhe o peito. Ela o havia
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
110
atingido quando menos esperava, e onde nunca imaginara também. Havia despejado uma massa disforme do passado e do presente em cima dele. Rejeitara-o. Para completar, fugira em seguida. Gritou palavrões quando a raiva subiu-lhe à cabeça, uma raiva ardente, cegante e ácida. Como diabos poderia reagir se ela não lhe dera um segundo sequer para pensar, quanto mais responder? Ele podia ser egoísta, mas ela era a maior covarde que já conhecera.
Passou-se apenas um minuto até que Seth fosse atrás de Lena. Mas, na sala lotada, instantaneamente sentiu o vazio.
Ela já havia ido embora.
CAPÍTULO DOZE
Se era apenas sexo, viver sem ele seria fácil. Lena havia vivido meses sem sexo. E, se sexo era tudo o que ela queria, poderia arranjá-lo em outro lugar. Poderia dizer "sim" a um novato e passar uma noite com um belo e definido corpo.
Mas era muito mais do que sexo. Sentada no sofá de sua casa, Lena encolheu-se e chorou. Chorou porque sentia a falta dele. Chorou porque o que tinha para oferecer a ele não era suficiente. Chorou porque ele não possuía a humanidade que precisava que tivesse. Seth não parecia ter a mesma necessidade que todo mundo tinha: a de fazer parte de um time. De querer apoio, companheirismo e compreensão.
A noite arrastava-se. Ela não conseguia dormir por conta do fio de esperança que tinha de que ele a chamaria, que de viria atrás dela.
Ele não veio.
Afundou-se no trabalho, implorando tarefas extras para Dion. Por três dias, ela praticamente morou no estádio. Bloqueara o número de Seth em seu celular e marcara seu endereço de e-mail como spam, por isso não tinha a menor ideia se ele a havia procurado. Mas tinha certeza de que não a procuraria agora. Devia odiá-la. Lena nunca falava sobre ele com Dion, que também nunca comentava nada sobre Seth. Ela iria esquecê-lo, era apenas uma questão de tempo.
Na quarta-feira pela manhã, Lena saiu do túnel e caminhava para entregar um pacote ao técnico. Os garotos já estavam treinando no campo. O controle rígido sobre seus pensamentos por um momento falhou: notou que não havia nenhum amador a mais por ali naquele dia. Nenhum homem incrível rindo ao lado de um grupo de meninos com sua camiseta cinza. As lembranças giravam em sua mente em uma onda tão intensa que ela precisou fechar os olhos para resistir. Foi por isso que não viu a corda que estava estendida em seu caminho. Mas o concreto no qual caiu ela sentiu perfeitamente.
Em seguida piscou e viu uma miscelânea de rostos girando acima de sua cabeça. Fechou rapidamente os olhos mais uma vez, apertando-os com força porque ainda sentia-se tonta.
— Lena? Lena? Lena! — Um dos jogadores parecia estar em dúvida se era mesmo ela.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
111
— Chamem Gabe. — A orientação era de outro deles, talvez Ty.
— Estou bem — disse ela com firmeza, mantendo os olhos fechados.
— Não está. Não se mexa.
Mas Lena não tinha a intenção de se mexer. Seria ótimo se pudesse sair de fininho e se esconder, mas isso era totalmente impossível.
— É só sua cabeça que dói?
Na verdade, a única coisa que doía era seu coração. O resto estava entorpecido.
— Não sei.
— Você sente isso? — Mãos impessoais apertaram seus tornozelos, subiram para os joelhos e depois passaram aos braços.
Ela assentiu com a cabeça levemente antes de estremecer quando uma dor subitamente martelou em sua têmpora.
— Subindo.
Alguém a pegou no colo e segurou-a bem perto do peito. Mas não era o homem certo.
— Estou tão envergonhada. — Nunca caíra dos saltos antes. Agora tinha dado aos garotos um motivo real para perturbá-la por conta deles.
— Esqueça isso.
Era Gabe quem a carregava. Se tivesse uma queda por homens instáveis e de olhos negros, teria facilmente se apaixonado pelo doutor Gabe meses atrás, assim como havia acontecido com tantas dançarinas, mas preferia o tipo divertido de olhos azuis. Ele colocou-a em um banco do vestiário e a fez segurar um pano pressionando a cabeça. Quando o levantou por um momento, ficou enjoada ao ver que já estava cheio de sangue. Ty e Jimmy estavam a postos em frente a ela enquanto Gabe procurava algo em sua maleta.
— Você precisa de ajuda para alguma coisa, Lena? — perguntou Jimmy. — Quer que a gente derrube alguém em uma placagem pesada ou algo assim?
Ela olhou para eles; havia sido pega de surpresa entre a estupefação de saber que eles haviam notado seu coração partido e a gratidão por sua preocupação.
— Oh, garotos — murmurou ela. — Posso me cuidar sozinha.
— Não gostamos de vê-la ferida. E, bem... — Ty apontou para sua própria cabeça — não só aqui.
— Isso é muito legal da parte de vocês, mas... — Lena interrompeu-se subitamente quando lágrimas ácidas furaram-lhe os olhos. — Ah, droga, isso é muito legal da parte de vocês.
— Você é nossa irmãzinha mandona, sabia?
Ela assentiu com a cabeça e estremeceu instantaneamente.
— E vocês são todos irmãos pentelhos.
— Ele é um idiota.
Sim, eles sabiam. Claro que todos haviam visto o que estava acontecendo nas últimas semanas. Era o mesmo que não estava acontecendo mais naquele momento.
— Será que podemos simplesmente esquecer isso e agir normalmente?
— Claro. — Ty balançou a cabeça afirmativamente.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
112
— Vocês precisam focar-se no jogo. E eu tenho coisas a fazer. Vamos fazer isso, certo? — Mas eles haviam lhe proporcionado um pequeno conforto ao coração. Eles se importavam. Admiravam-na. E aquilo era o alívio do qual ela realmente precisava naquele momento.
Tinha mesmo um excelente emprego. Era valorizada. Iria reerguer-se, sacudir a poeira e superar tudo aquilo. Trabalharia com mais empenho ainda. Apesar da angústia que sentia, Lena sabia que iria fazer a coisa certa. Estava mais forte, mas sábia, era mais capaz. E talvez um dia ela pudesse encontrar alguém que a admirasse, que soubesse de seus defeitos e a amasse mesmo assim. Mas esse dia ainda estava muito distante.
A porta do vestiário abriu-se bruscamente com uma pancada.
— Onde está...?
Lena tinha o olhar fixo e apertava o pano ensanguentado contra a cabeça quando Seth interrompeu o que falava e foi a passos largos até o banco onde ela estava sentada. Sua presença fez com que seu coração fosse jogado novamente contra rochas, nas quais gaivotas esperavam-no para bicá-lo sem piedade.
— Seth estava comigo quando os garotos foram atrás de Gabe. — Dion apareceu na porta.
Com Dion. Ele não estava ali para vê-la. A última chama de esperança que lhe restava era apagada naquele momento.
— Estou bem. — Lena forçou um sorriso falso. — Estou bem. — Será que eles podiam ir embora agora? Principalmente ele.
Mas apenas Ty e Jimmy retiraram-se, lançando olhares incandescentes para Seth antes de levarem Dion com eles. E Lena estava absolutamente ciente de que ele estava ocupado demais a observando para vê-los.
— Esse machucado está bem feio. Ela vai precisar de pontos? — Seth girou o corpo e olhou para Gabe, que agora vestia luvas e estava armado com um assustador instrumento que mais parecia um grampeador pneumático. — Precisa mesmo disso?
Lena viu que os olhos de Gabe acenderam-se diante da dúvida no tom de Seth.
— Entre tornozelos torcidos e tendões rompidos, vejo uma necessidade de pontos, sim — disse o médico friamente.
— Mas é o rosto dela.
Gabe permaneceu impassível.
— Já fiz muitos cortes faciais e não restaram cicatrizes em nenhum de meus pacientes. Isso iria arruinar o calendário anual. — Ele ajoelhou-se em frente a Lena. — Então não haverá nenhuma cicatriz em você também, querida. Pelo menos nenhuma feita por mim.
O silêncio que restou após essa frase era tão pontiagudo que poderia ter ferido alguém.
Gabe trabalhava cuidadosamente, quieto. Lena estava imóvel como um cadáver. Seth permanecia ao seu lado e não tirava os olhos de cima dela, que não se permitia dar atenção a isso. Ele estava ali para ver Dion. Não ela.
Finalmente Gabe levantou-se e tirou as luvas.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
113
— Aí está, fique atenta a qualquer dor de cabeça porque pode ter havido uma concussão. Então é melhor você não ficar sozinha esta noite.
Ela realmente preferia que ele não tivesse dito aquilo na frente de Seth. Ajeitou a saia e forçou suas pernas a manterem-se firmes enquanto se levantava. Não queria precisar da ajuda de ninguém.
Gabe pegou sua maleta e saiu do vestiário. Lena respirou fundo algumas vezes para garantir que poderia ir embora sem cair de joelhos novamente. Seth continuou parado, observando-a... Estava perto demais. Ela precisava quebrar aquele silêncio assustador de alguma forma.
— Você teve uma reunião com Dion?
— Você está trabalhando muito? — A pergunta dele fora feita ao mesmo tempo em que a de Lena.
Ela esperou um segundo e então respondeu.
— Muito. — Endireitou os ombros e deu passos firmes até a porta. — Está tudo bem.
— Ótimo — disse ele, movendo-se rapidamente e repentinamente olhando para todos os lugares, menos para ela. — Acho que a vejo depois...
Eram apenas palavras educadas de despedida que ele nem mesmo terminara de falar. Não haveria nenhuma oferta de ficar de olho nela por conta da eventual concussão.
Não. Não havia nada por trás daquele momento de preocupação inicial. Nenhum significado implícito. Lutando para impedir que as lágrimas rolassem, Lena andou cuidadosamente até seu escritório. Fechou a porta e agradeceu pelas toneladas de trabalho que estavam acumuladas em cima de sua mesa, nas quais poderia enterrar-se dos pés à cabeça.
Seth saiu de lá a passos largos. Ou melhor, correndo. Tinha um gosto amargo na boca. Estava muito perto de literalmente colocar suas tripas para fora. Não era a cabeça ensanguentada dela que havia achado horrível, mas sua dura carcaça... Sua expressão de indiferença.
Odiava aquilo. Queria poder odiá-la. Tentara por vários dias tirá-la de sua cabeça. Havia saído da cidade e trabalhado, trabalhado, trabalhado. Mas não adiantara. Assim que aterrissara em Christchurch, fora direto ao estádio e subira as escadas a tempo de ouvir os jogadores chamarem Gabe. Por conta de Lena. Ele então correra para aquele vestiário e seu coração parou e ao mesmo tempo disparou quando a viu.
Queria desesperadamente falar com ela, mas um olhar indicara a ele que naquele momento seria impossível. Era terrivelmente óbvio que não o queria ali. Não precisava dele. Tão fria. Aquilo lhe machucara mais do que qualquer outra coisa poderia ou havia feito. Ela terminara tudo e estava bem assim. Como poderia ser a mesma mulher que tinha sussurrado que o amava tão docemente naquela madrugada? Ou será que sussurrava isso para todos os que acabavam em sua cama?
Não. Ele não podia acreditar naquilo. Mas também não tinha conseguido acreditar na confissão que fizera do caso amoroso. A dor crescia em seu peito, pois ela nunca
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
114
teria dito aquilo se não fosse verdade. Então agora ele queria apagar toda àquela maldita história. Não queria se importar. Mas não conseguia evitar.
Estava quase em seu carro quando viu Ty, o capitão, andando em sua direção.
— Lena está bem? — Ty perguntou rapidamente.
— Sim. — Seth olhou de relance para cima. O outro jogador do vestiário observava tudo de perto; estava claramente na retaguarda. — Ela parece estar bem.
— Você acha? — Ty perguntou ameaçador.
Mas era assim, Seth tinha mesmo vontade de brigar. Ele era todo punhos e sangue.
— Você está fazendo o papel de irmão mais velho?
— O que o faz pensar que o que sinto por Lena é fraternal? — Ty encarou-o de volta. — Ela também me deu o fora, mas eu a queria mais do que a maioria. E ela merece alguém que possa lhe dar o que precisa.
— Você acha que sabe do que ela precisa? — Seth estava odiando aquilo.
— Talvez eu saiba melhor do que você.
Ele não se deu ao trabalho de responder. Apenas entrou em seu carro, bateu a porta e ligou o motor, querendo ser mais rápido do que o som e desaparecer dali. Não conseguia suportar a ideia daquela linda mulher rindo das piadas sem graça dos garotos do mesmo jeito que ria das suas. Não conseguia suportar a imagem dela aconchegada no sofá com ele, comentando como havia sido seu dia.
Mas ela havia rejeitado Ty. Havia rejeitado todos aqueles garotos. Diante de todas aquelas ofertas, Lena não havia aceitado nenhuma. Mas tinha dito "sim" para Seth.
Por quê?
Depois de cinco minutos em seu apartamento, ele estava sem camisa e descontava toda a sua raiva batendo sem luvas no saco de pancadas. Tentava aliviar toda a dor que sentia. Pela primeira vez em três dias, escutou os argumentos que pairavam sem cessar sobre sua cabeça.
Ele havia odiado seu pai, mas sua maior fúria era contra a amante dele. Por isso odiava o fato de que Lena também havia sido a outra. Odiava o fato de ter mentido e traído. Mas ele não conseguia odiá-la.
Por acaso ele não sabia o que era ser rejeitado? Não sabia como esse sentimento era horrível, para dizer o mínimo? Sua mãe nunca lhe dissera nada diretamente, mas naquela maldita noite, na qual o casamento de seus pais acabara ele escutou-a no telefone com uma amiga. Ela berrava, devastada porque a amante de seu marido estava grávida. Queria mais filhos. Seth não lhe era suficiente. E não era suficiente para salvar seu casamento. Foi assim que aprendera que não tinha o que era necessário para fazer outra pessoa feliz. Nada do que fizera parecia ter sido suficiente. E ele havia decidido que, se era para continuar vivendo naquele mundo, tinha que viver sozinho. Nunca dependeria de ninguém para ser feliz.
Bateu com mais força, pois constatou que aquela velha regra de sua vida havia sido abalada nas últimas semanas.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
115
Lena havia cometido erros, mas Seth conseguia entender seus motivos. O abandono do pai deixara-lhe sedento por sucesso, mas a negligência com que Lena havia sido criada, além da constante comparação negativa com seus irmãos, fez com que se tornasse uma pessoa sedenta por aprovação, por amor. Tinha um desejo corrosivo de ser querida. E, sim, Seth entendia a necessidade que possuía de aprovação e suporte paternos. Ela estava certa. No coração de cada criança, sempre haveria aquele desejo. Até mesmo no de crianças crescidas. Ele mesmo, em um pedacinho de seu coração, não havia desejado aquilo? Havia desejado aquilo de seu pai, mas agora era tarde demais. E ele também não queria que sua mãe aceitasse o que lhe oferecia, mesmo que fosse uma porcaria de um dinheiro que o fizesse sentir útil de alguma forma? O mesmo acontecia com sua suposta independência emocional.
Então ele não poderia julgá-la, poderia? Tinha tantos defeitos quanto ela. Lena estava certa, ele era egoísta. Queria divertir-se de seu próprio jeito. Mas também estava errada. O fato de não querer comprometer-se não era inteiramente uma desculpa conveniente. Na verdade, era medo. Será que, se perdesse todo o seu dinheiro, seu status e até mesmo sua maldita forma física, alguma mulher continuaria interessada nele? Duvidava disso. Seu próprio pai não havia ficado interessado mesmo quando seu sucesso estava florescendo.
Era por isso que protegia seu coração mantendo relações informais e sendo sempre o primeiro a terminar tudo. Agora percebia que Lena havia tentado fazer o mesmo. Tinha tentado proteger-se dele. Era por isso que havia dito "não" depois da primeira noite que passaram juntos. Ela era mais consciente emocionalmente do que ele e havia temido estar caminhando para um problema caso continuasse a se envolver demais. Aquela busca por autoproteção era o motivo para ter sugerido uma relação "não exclusiva". Era fruto de sua insegurança. Ela realmente acreditava que o que tinha não era suficiente para ele.
Mas, e agora? Aonde diabos poderiam ir dali? Ele continuou dando socos; tinha os punhos feridos, depois esfolados, depois quase dormentes. Estava confuso a respeito do passado dela. Mas, no final, tudo no que podia pensar era que as pessoas cometem erros. E ele queria saber como ela havia acabado cometendo os seus. Precisava tentar entender. Ela precisava ajudá-lo a fazer aquilo. Porque, não importava o quão imperfeita e volúvel tivesse sido um dia, ele a amava. E queria ficar com ela. Queria convencê-la de que poderia amá-la do jeito que queria ser amada. Queria ser suficiente para ela.
Mas, levando em conta como Lena era insegura, Seth sabia que precisava de mais do que palavras. Precisava de uma prova incontestável. Então, por causa dela, e só por ela, ele iria reconsiderar a questão do casamento. Se o que ela queria era uma cerimônia pública e um pedaço de papel, ele lhe daria aquilo. Poderia fazer uma verdadeira declaração em público... Um estrondoso pedido de casamento. Sua alma nua no estádio cheio de pessoas.
Aquilo seria grande. E público. E convincente.
Será que ela seria capaz de dizer "não" naquela arena mesmo que quisesse? Na verdade, conhecendo Lena, provavelmente seria. Mas não queria fazer aquilo com ela,
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
116
não queria fazê-la sentir-se pressionada por uma plateia a dar uma resposta específica. Queria que estivesse completamente livre para tomar a decisão que seu coração escolhesse.
Mas, antes que pudesse ir atrás dela, precisava dar um jeito em seu passado. Apesar de não querer, ele precisava livrá-la daquele peso... E livrar a si próprio também.
Seth parou de bater. Sim, aquela era a grande questão. O garoto que seu pai havia escolhido para ficar com ele. Jason. Seth tinha ciúmes mortais dele. Havia o encontrado algumas vezes, quando sua mãe o obrigara a visitar o pai em uma tentativa de preservar a relação dos dois. Mas seu pai tinha aquele filho novo, o bebê que gritava e que havia se tornado um menininho fofo. Era o orgulho dele.
No entanto, isso não era culpa de Jason. Seth podia ser muitas coisas, mas não era um monstro. Não queria que o menino sofresse mais do que qualquer outro menino. E não queria que Jason se sentisse tão sozinho como se sentia agora. Ele caminhou depressa até a mesa e remexeu por debaixo dela em busca da lixeira que continuava transbordando de papéis desde a semana anterior. Ele a havia chutado para tão fundo que se esquecera dela e não a esvaziara. A carta estava em cima de toda a papelada.
Leu-a as pressas. Então estava mesmo errado, e ela acertara. De novo. Não era um pedido de dinheiro, mas um pedido para que entrasse em contato com seu irmão. Rebecca sabia que Seth nunca iria querer ter de lidar com ela, mas estava desesperada por causa de Jason. Ele vinha encontrando dificuldades desde a morte do pai. Seth deu um longo suspiro, tentando aliviar a sensação de sufocamento que sentia no peito. Ele não tinha mais nenhum irmão. Nenhuma experiência em lidar com eles. Por isso, não sabia realmente como Lena conseguia conviver com a questão da competitividade, mas sabia que ela amava seus irmãos e os apoiava. E havia mais coisas que precisava aprender com ela.
Pela primeira vez em sua vida, queria uma parceira. Não apenas uma pessoa que lhe desse suporte, mas que lutasse ao seu lado. Desejava ansiosamente ter sua força, sua lealdade e sua risada ao seu lado. E também o seu amor.
Mas no amor não há garantias. Então ele iria precisar ser homem e encarar o desafio mais difícil de sua vida.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
117
CAPÍTULO TREZE
Os analgésicos que Gabe dera a Lena não estavam funcionando. Seu corpo inteiro parecia pesado e dolorido e, por toda a hora seguinte, ela ficou simplesmente sentada em sua cadeira, completamente inútil.
— Quero que você vá para casa. Já chamei um carro.
Lena movia-se aos solavancos, sua cabeça martelava e nem havia percebido que Dion estava parado em frente à porta de seu escritório. Não tinha a menor ideia de há quanto tempo ele já estava ali de pé. Mas não tentou argumentar, pela primeira vez reconhecendo suas próprias limitações. Era melhor ir embora naquele instante do que ter um colapso no meio do trabalho.
— Obrigada.
Quando finalmente conseguiu reunir todas as suas forças e descer as escadas, o carro já estava na entrada do estádio. Era preto e enorme. Seu coração estremeceu... Não poderia entrar naquele automóvel. Mas, quando a porta do motorista abriu, era Mike, o piloto, quem estava lá. Não havia mais ninguém dentro do carro.
— O que você está fazendo aqui? — Estava muito fraca para dar-lhe um sorriso educado.
— Não se preocupe Lena — disse ele, tranquilo. — Só vou levá-la para casa.
Ela hesitou, mas sabia que estava esgotada demais para discutir. Então simplesmente entrou no carro. Seu coração batia dolorosamente. Esperava que Seth não estivesse lá, realmente estava sem forças para encará-lo. Na verdade, nunca as teria. Seus olhos encheram-se de lágrimas e ela piscou com força para manter seus sentimentos enterrados.
Mas de fato ele estava lá, encostado na parede ao lado da porta da frente de seu apartamento, escondido do sol escaldante do meio-dia. Enquanto caminhava até lá, ouviu Mike dar partida no carro e ir embora.
— Você sabe que precisamos conversar — disse Seth enquanto ela aproximava-se.
Mas Lena não abriu a porta, não podia suportar vê-lo dentro de sua casa novamente. Preferiu sentar-se nos degraus de cimento que conduziam à entrada. Em seguida, ele sentou-se ao seu lado.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
118
Ela mantinha sua cabeça curvada, mas viu as costas das mãos dele quando apoiou os braços nas coxas. A pele sobre os nós dos dedos estava inchada e arroxeada, e aquilo partiu seu coração.
— Lena, eu preciso que você me fale sobre o que aconteceu. Quero tentar entender.
A dor ficou mais forte em sua cabeça enquanto ela balançava-a cuidadosamente.
— Conte-me como foi — disse ele suavemente, insistentemente. — Eu quero saber.
— Por quê? — De que adiantaria revisitar seus antigos erros? Aquilo dificilmente iria redimi-la. Por que ele não podia simplesmente partir e deixá-la lidar com tudo sozinha?
— Você acredita em amor à primeira vista? — perguntou ele. Ela olhava fixamente para o chão, mas tudo ficara embaçado.
Agora não só sentia a dor martelando-lhe a cabeça, como a ouvia também.
— Você acredita?
— Eu não costumava acreditar nem no amor.
A cabeça lhe doía. O coração lhe doía. Tudo lhe doía.
— Está ocorrendo um rearranjo em mim.
Ela não respondeu à frase dita lentamente. Não podia, não ousaria ter esperanças. Era mais fácil pensar em seu doloroso passado do que no possível futuro naquele momento.
O nome dele era Cam — disse ela, com a voz raspando-lhe a garganta. — Ele era meu chefe.
Tudo o que dissera naquela noite era verdade, mas tinha algumas coisas que não havia contado. Agora suas palavras caíam como pedras, quebrando o silêncio e todas as possibilidades que pairavam sobre elas. Lena abaixou a cabeça. Não queria ver o rosto dele.
— Tenho tanta vergonha de ter feito aquilo com outra mulher. — A rispidez desaparecera de sua voz e agora ela sussurrava. — Eu fui tão ingênua.
Ela desejara muito ser amada. E esse desejo a havia cegado para a realidade da situação. Apenas daquela vez queria ser realmente estimada, queria sentir-se especial. Nunca havia sido especial antes. Nunca havia brilhado em nada. E ele a fez sentir-se assim.
— Ele foi atrás de mim com tanto empenho — disse ela tristemente. — Era mais velho, tinha um cargo acima do meu e me senti lisonjeada. Ele me encheu de presentes. Dava-me tudo o que mandava o figurino para se conquistar uma mulher: flores, chocolates, até mesmo jóias. E atenção. Eu não resisti. Eu chegava ao trabalho e já havia um e-mail me esperando. No instante em que eu me sentava, o telefone tocava e era ele do outro lado da linha, apenas para dizer "oi". Ele aparecia no setor do escritório onde eu trabalhava a qualquer oportunidade. Eu era tão deslumbrada, jovem, burra. E tão sozinha.
E estava tão acostumada a ser a segunda da lista. Não foi preciso quase nada para fazê-la cair em seus braços. Ele nem era tão atraente, mas a desejava como
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
119
ninguém jamais a havia desejado. Ia atrás dela como ninguém jamais havia ido. Dava-lhe muita atenção.
— Eu não sabia que ele ainda estava com ela, não quando tudo começou. Ele me disse que estava separado e que havia entrado com o pedido de divórcio. — Mas sua ignorância era indesculpável. Devia ter descoberto antes. Devia ter percebido que ele não havia deixado à mulher como havia afirmado. Não devia nunca ter acreditado em uma só palavra dele.
"Eu queria tanto acreditar que ele gostava mesmo de mim que não acreditei quando fiquei sabendo a verdade. E, quando finalmente eu me deparei com ela, já não me importava mais com o que era certo ou errado. Ele me prometeu que a deixaria. E eu queria mantê-lo ao meu lado. — No fim de tudo, Lena deixou a cidade. Estava dilacerada, humilhada e horrorizada. — Nunca quis ser a outra. Eu queria ser a única."
— Ele seduziu você. — Seth finalmente falava.
— Eu não dificultei muito as coisas para ele. — A culpa não era inteiramente dela, mas também não deixava de chamar a si sua parcela de responsabilidade. — E também não desisti quando deveria. — Lena mordeu o lábio. — Eu queria que ele a deixasse para ficar comigo. Eu queria que ele escolhesse a mim no lugar dela. Queria ser a primeira. Então eu tentei separá-los. Fiz tudo o que podia para que ele me amasse. Deixei-o fazer tudo o que quisesse com a esperança de que ele me amaria por isso. E foram meses assim. — Os olhos dela se encheram d'água. — Eu era tão pateticamente carente.
— Querer ser amada não é ser carente.
— E errado querer acabar com um casamento.
— Era isso mesmo o que você queria? — perguntou ele abruptamente. — Era realmente ele que você queria? Ou só queria ganhar?
Era isso mesmo. Ela nunca havia ganhado droga nenhuma em sua vida. Havia sido superada na inteligência e nos esportes pelos irmãos. Nunca havia feito o que era necessário para ganhar a atenção de seus pais. Havia sempre ficado nos bastidores...
— Eu queria ganhar — disse ela furiosamente. — Eu queria ganhar ao menos uma vez. — As lágrimas caíram em seu rosto. — Fui uma ordinária.
— Não — rebateu ele gentilmente. — Você era nova e estava machucada, ninguém gosta de sentir-se rejeitado.
Lena não podia acreditar que Seth estivesse sendo tão compreensivo assim. Ele não estava nem um pouco bravo, não estava culpando-a, apenas escutava. Parecia entender o por que. Ela olhava fixamente para o vazio, tentando conter as emoções que explodiam dentro de si. A esperança.
— Como tudo acabou?
Ela estremeceu e enxugou o rosto.
— A esposa dele ficou grávida — sussurrou. — Eu era tão ingênua que havia acreditado quando ele disse que não estava dormindo com ela. Foi então que finalmente percebi que ele nunca a deixaria como prometera. Ele estava mentindo para mim o tempo todo. Não queria nada além de sexo à disposição. E eu deixei-me ser usada. Realmente implorei por aquilo. Eu sei que errei. Queria tanto ser amada, mas em
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
120
vez disso perdi tudo: meus amigos, meu emprego, minha dignidade. — Lena balançou a cabeça. Fora assim que ela finalmente havia resolvido reagir. — Mudei-me de cidade, trabalhei duro. Consegui esse emprego e trabalhei ainda mais duro, mantendo-me longe dos homens. Meu foco era reerguer-me. Crescer. Estava esperando pelo homem certo, e por isso estava resistindo. Mas aí você apareceu.
— Não posso ser o homem certo? Ela fechou os olhos.
— Você mesmo disse que não era de casamento, que era da tentação. Você foi o cara para o qual olhei uma vez e então simplesmente precisava ter em meus braços. O único cara com o qual me senti assim. A atração bateu em mim como nunca antes. Achei que poderia me livrar dela... Que era só por uma noite. Mas você não deixou ser assim. E eu não queria negar aquilo a mim mesma também. Não conseguia. Mas então eu comecei a querer muito mais e sabia que você nunca quereria.
— E por que não?
Porque ela não era a incrível mulher que conseguiria quebrar sua política de isolamento afetivo.
— Tudo o que fazemos é sexo selvagem — disse ela tristemente. — E aí? Essa chama vai se apagar um dia. Você vai ficar entediado, nós vamos deixar de transar três vezes por noite para transar três vezes por semana e logo em seguida você vai perceber que não vê mais nada de interessante em mim. No final, você irá embora e encontrará outra pessoa que realmente lhe dará algo a mais. Não posso ficar sentada esperando isso acontecer.
Ele estava muito quieto. Lena olhou-o de relance e então virou o rosto. Estava impressionada por ver que, apesar de Seth estar pálido, seus olhos tinham um azul absolutamente intenso. Por que estava parecendo tão bravo agora se não havia ficado assim antes?
— Uma vez você me perguntou qual era o motivo da minha raiva. — Ele mal mexia a boca enquanto falava; estava bastante contido. Contido demais. — Para mim, a causa é sempre a mesma. Dor. Uma dor que não quero sentir, então fico bravo para encobri-la. Nesse momento, estou sentindo-me mais bravo do que nunca estive. — Ele levantou-se com dificuldade. Deu um rodopio e ficou como uma torre acima dela, e seu tom de voz elevou-se. — Como diabos você pode dizer que é só sexo? — Seus punhos feridos cerraram-se. — Nós não rimos juntos? Não conversamos? Não discutimos sobre as estúpidas decisões dos juízes? Não fazemos um milhão de coisas juntos que são simples e que nos satisfazem e que não são apenas sexuais? Não ouse negar que temos tudo isso e muito mais.
— Claro que temos... — Lena ficou sem ar. Droga, ele sabia que tinha tudo, que queria tudo dele.
Ele parou. De repente caiu de joelhos em frente a ela.
— E tão difícil acreditar que eu me apaixonei por você? — Olhou para o rosto de Lena, e sua raiva havia desparecido subitamente. — Você precisa confiar um pouco em si mesma. E em mim.
Ela não conseguia acreditar que ele estivesse falando a verdade.
— Como você pode perdoar meu passado?
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
121
Seth fez uma pausa e olhou para baixo, admirando as costas de suas mãos.
— Para ser sincero, não acho que preciso perdoá-la. Acho que você precisa perdoar a si mesma.
A temperatura de Lena subiu e ela perdeu o fôlego.
— Você não está abrindo-se para mim porque acha que não é boa o bastante? Que não merece isso? Claro que merece. Você é incrível... É engraçada, apaixonada, inteligente, forte e linda. Por que diabos eu não iria querer ficar com você?
— Seth. — Ela conteve os soluços e a vontade de atirar-se nos braços dele.
— Você queria ser colocada em primeiro plano, e, agora que isso aconteceu, não quer acreditar?
— É que isso nunca aconteceu antes — Lena zombou levemente da situação.
— Era apenas uma questão de tempo até que acontecesse. Você nem percebe, mas isso está nítido na sua frente. Metade daquele time de rúgbi a colocaria em primeiro plano se você desse uma chance. Mas fico contente que não tenha dado. Fico contente que seja eu quem está lutando pelo seu coração.
— Você não precisa lutar — admitiu ela, indefesa. — Eu lhe disse que foi apenas um olhar. Um único olhar de relance.
— Então por que você não acredita que tenha sido o mesmo para mim?
Ela ainda não conseguia mover-se.
— Você vai conseguir confiar em mim? — murmurou ela, sabendo que aquele sentimento frágil nunca poderia florescer sem confiança.
— Sim.
— Por quê?
— Porque você é uma pessoa inteligente e aprendeu sua lição. Você escolheu não ficar em uma posição na qual acreditou que iria se machucar de novo. Decidiu terminar comigo porque pensou que seu coração estava em perigo. E você não estava mentindo. Não havia ninguém além de nós dois. Você é uma mulher diferente da garota que era naquela época. É resistente e forte, determinada a fazer coisa certa. Eu a vi com aqueles garotos. Sei o quanto é profissional com eles. Sei que nunca sonharia em ameaçar perder seu emprego por nenhum deles. Mas e comigo? Você se arriscou muito por minha causa desde o início. Você foi corajosa comigo naquele dia. Seja corajosa agora!
Um mar de esperança e amor inundou-a. Ela havia confessado sua maior vergonha, contara detalhes que nunca dissera a ninguém, e isso não o repelira. Seth oferecera-lhe compreensão, não recriminações. Acreditava nela, acreditava que havia crescido e aprendido coisas desde então. Aquilo significava tudo.
Ele pegou em suas bochechas molhadas de lágrimas, segurando-as para que não desviasse o olhar de seu rosto sincero.
— Eu não acredito em amor à primeira vista, Lena — disse ele firmemente. — Tesão? Com certeza. Mas eu não conheci aquela garota direito com apenas um olhar. Agora eu conheço. Eu sei que ela é muito mais do que um corpo bonito, olhos cintilantes e uma risada rouca. Ela é calorosa, complicada e humana. Ela cometeu
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
122
erros, mas não tem medo de admiti-los. Ela me faz rir, me faz estremecer, me faz querer coisas que eu nunca imaginei que um dia iria querer. Eu amo tudo nela. Em você.
— Mas você ficou bravo comigo naquela noite. — Ela expressou sua última e persistente dúvida. — E ficou longe de mim. Três dias, Seth. — Os piores três dias de sua vida. — E hoje você estava tão frio... Você não conseguia falar comigo.
— Naquela noite, você despejou toda aquela história em mim e fugiu. Você nem me deu a chance de tentar entender. Aquilo doeu mais do que as suas palavras. E, como eu disse antes, quando estou ferido, fico bravo. Estava muito bravo para chegar perto de você antes de hoje. Escondi-me em Wellington. Fui direto do aeroporto para o estádio. Mas você não poderia ter deixado mais claro o quanto não me queria por lá. Estava tão machucada quanto eu.
— Ah, Seth. — Com as mãos trêmulas, ela apertou-lhe os pulsos. — Diga-me que isso é real, por favor.
Ele inclinou-se e beijou-a carinhosamente.
— Parece real?
— Eu não tenho certeza. Beijou-a novamente.
— E agora?
Ela não conseguia responder.
— Estou achando que você vai precisar de muitos mais desses para se convencer. — Ele sorriu. Aquele mesmo sorriso incrível, intenso e determinado.
Lena também sorriu: certeza, alívio e amor emanavam de um para o outro. O beijo desta vez não era suave. Era apaixonado e perfeito. Fazia tanto tempo que ela não o apertava. E nunca o havia apertado daquele jeito: tão livremente, deixando todos os sentimentos por ele fluírem através de seus dedos. Aquilo era sublime. Não era apenas o ardor do desejo que sentiam um pelo outro, mas também o esplendor do amor incondicional e duradouro. Ela largou-o; estava louca para dizer-lhe aquilo.
— Eu o amo.
Ele passou a mão sobre os cabelos dela, tinha o olhar firme e verdadeiro e sorria com ternura.
— Você já me disse isso antes.
Lena assentiu com a cabeça lentamente.
— Eu sei. Mas agora estou bem acordada.
— Eu também. Esperei muito para ouvi-la falando isso de novo. Para me dizer que isso era verdade mesmo.
— E verdade. — Ela colocou os braços em volta do pescoço dele e foi tomada por um desejo desesperado. Mas era um desespero mútuo, delicioso.
Não demorou muito até que Seth a pegasse em seus braços para levá-la até a porta. Menos ainda para que abrisse o apartamento dela, retirasse-lhe o vestido e desabotoasse sua calça.
Mas foi necessário que fizesse tudo o que fez para que ela acreditasse no tamanho do amor que sentia. Em como era verdadeiro. Lena sentiu tudo aquilo: os toques quentes das mãos trêmulas dele, os sussurros ferventes de sua voz rouca, o desejo intenso de seu enorme corpo.
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
123
Nesse outro mundo, pela primeira vez, ela sentia-se querida, bonita, adorada... Por dentro e por fora. Ela curvou o corpo, e sua boca estava colada à dele, dando e recebendo tudo: prazer extremo e amor puro. Ela amava-o de volta, amava-o com cada célula de seu corpo, com a luz de sua alma. Aquele homem charmoso, lindo e forte a havia compreendido e aceitado. Ele a havia completado.
Ele rolou na cama, colocando-a sobre si para que seu peito lhe servisse de almofada.
— Naquele dia no estádio, eu olhei para você e...
— Quis transar comigo. — Ela não pôde resistir à brincadeira, estava ainda mais feliz porque agora tinha certeza do amor dele.
— Bem, sim, mas havia outra coisa que eu também queria muito.
— O quê?
— Você estava rindo. Estava encostada naquela parede e dava uma risada tão forte, tão rouca, feminina e linda. E meu coração...
— Ele pressionou o punho cerrado contra o peito. — Venho tentando fazer você rir daquele jeito desde então. Não esconda seu bom humor, Lena, seja travessa comigo. Seja ácida, engraçada. Quando você ri, tudo muda para mim, e para melhor. Eu quero esse calor.
— Ele roçou seus lábios nos dela. — Isso é o que você é para mim. Calor, leveza e amor.
Como ela poderia não chorar depois daquilo?
Seth embalou-a, tocando gentilmente no curativo em sua testa.
— Essa foi à primeira vez na minha vida que me arrependi de não ter terminado a faculdade de Medicina. Eu queria ter cuidado do seu machucado. Não queria que ficasse uma marca no seu lindo rosto. Queria tanto cuidar de você. E você nem sequer falou comigo.
— Eu estava assustada. E triste.
— Eu também estou assustado, Lena. Você estava certa sobre muitas coisas. Sobre eu ser egoísta. Sobre meu meio-irmão.
Lena ergueu a cabeça para poder olhar em seus olhos melancólicos, para ficar mais perto e poder escutar suas palavras quase inaudíveis.
— Eu li a carta. Ele está péssimo.
— Você vai procurá-lo?
— Vou, em nome do bem que isso pode fazer. — Ele balançou levemente a cabeça.
Ela pegou no rosto dele, sentindo seu maxilar bem definido e o calor de sua pele áspera.
— Vai fazer um bem enorme. Seth deu um sorriso torto.
— Preciso do seu apoio, Lena. Apesar de nunca ter falhado na minha vida profissional, meus relacionamentos sempre foram um fracasso total. Cada um deles. Não posso suportar fazê-la infeliz como mamãe e papai fizeram um ao outro.
— Isso só iria acontecer se você me deixasse.
— Bem, isso não vai acontecer nunca. — Ele ajustou-se na cama para ficar com seus olhos na mesma altura dos dela. — Você precisa de certeza e segurança, Lena. E
Modern Sexy 62 – Garotas Boas Não Têm Vez – Natalie Anderson
124
eu também. Preciso muito disso. Eu acredito em você e acredito em nós dois. Apesar de nunca ter acreditado que relacionamentos duradouros pudessem dar certo, no meu coração tenho certeza de que vai dar certo com você. Eu quero que você se case comigo.
A cabeça dela começou a tremer antes que ele terminasse aquela frase.
— Você nunca quis se casar...
Você estava certa nisso também. Eu precisava encontrar a única mulher que iria tirar essas ideias idiotas da minha cabeça. É você, Lena. E você. Não quero mais ficar sozinho. Quero ficar com você. — Ele apertou a boca contra o pescoço dela. — E você sabe que não vai sair desta cama até aceitar se casar comigo.
Ela olhou fixamente para a expressão intensa e determinada dos olhos azuis de Seth e sentiu o tesão começar a manifestar-se mais uma vez. Ele viu aquilo e sorriu. Ela também.
— Vai ser um bom desafio — murmurou Seth.
— Ah, vai. — A risada de Lena saiu rouca e finalmente livre. Porque ela acabava de aceitar tudo. — Sim, sim, sim!

Nenhum comentário:

Postar um comentário