sábado, 29 de junho de 2013

Ally Carter - Only the Good spy young 4#

Only the Good Spy Young  Gallagher Girls 4
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 Ally Carter 
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SÉRIE GALLAGHER GIRLS – LIVRO 4
ONLY THE GOOD SPY YOUNG
por Ally Carter
SINOPSE
Quando Cammie Morgan entrou na Academia Gallagher, ela sabia que estava se preparando para a vida perigosa de uma espiã. O que ela não sabia era que o perigo sério e real começaria ao mesmo tempo em que seu 3° ano. Mas isso foi exatamente o que aconteceu dois meses atrás, quando ela enfrentou uma antiga organização terrorista com o propósito de sequestrá-la.
Agora o perigo a segue por toda parte, e mesmo Cammie, A Camaleoa, não pode se esconder. Quando um terrível encontro em Londres revela que um de seus aliados mais confiáveis é, na verdade, um agente duplo desonesto, Cammie não sabe mais se pode confiar em suas colegas, seus professores — ou mesmo em seu próprio coração.
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OE AOa
Ally Carter nasceu em Oklahoma, em 1974, e atualmente vive no meio-oeste americano. Ela já escreveu dois romances adultos e quatro livros da série Garotas Gallagher.
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CAPÍTULO1
―ALVOS OBTIDOS, ÀS DEZ HORAS.‖
A voz da minha melhor amiga era calma como o vento que soprava do rio Thames. Sua determinação era tão sólida quanto às paredes de pedra antiga da Torre de Londres que estava a seis metros de distância. Eu podia ver a noite ficando mais escura — as luzes ficarem mais brilhantes — e a confiança da minha melhor amiga era quase contagiosa. Quase. Mas encarando a multidão na distância, não pude evitar de pensar que não estou preparada para isso.
Quero dizer, não me entenda errado, eu estou preparada para um monte de situações assustadoras. Afinal, no último um ano e meio fui falsamente sequestrada uma vez, quase sequestrada de verdade duas vezes, alvo de um terrorista internacional e dois incrivelmente bonitos. Então, assustador? É, assustador e eu nos conhecemos há muito tempo.
Mas naquele momento Rebecca Baxter e eu estávamos em pé sobre patins em uma pista de patinação de gelo que costumava ser o fosso em volta da Torre de Londres. Nós estávamos em menor número e menor tamanho. Então alguma coisa naquele momento era... aterrorizante.
Mesmo que minha melhor amiga estivesse ao meu lado. Mesmo que minha escola nos treinara bem.
Mesmo que estudamos em uma escola para espiãs.
―Ooh, Cam. Eles estão olhando nessa direção.‖
Parte de mim esperava que Bex estivesse falando de seu pai, que estava parado próximo à bancada de concessão da pista de patinação, ou sua mãe, que estava próxima à saída da pista ao leste. Eu totalmente desejei que Bex estivesse falando dos agentes na multidão, de quem o trabalho era me proteger — como aquela mulher com uma mochila e que esteve à nossa direita a tarde toda, ou o homem que estava parado no topo da Ponte da Torre, como em rotas de transporte para meia milha em qualquer direção. Mas eu conhecia Rebecca Baxter bem o suficiente para saber que ela não estava falando dos
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espiões. Ela estava falando sobre... os garotos.
Quando Bex girou sem esforço algum e patinou para trás passando pela turma de garotos que estava parada rindo e se mostrando na borda da pista, cada um deles se virou para encará-la. Seu cachecol vermelho agitou-se com o vento enquanto ela sorriu.
―Então, qual deles você quer?‖
―Não, obrigada.‖ Dei de ombros.
Quero dizer, claro, eles pareciam legais, bonitos e completamente inofensivos, mas se tem uma coisa que Garotas Gallagher sabem, é que aparência pode totalmente enganar.
―Qual é Cam‖, Bex pretextou. ―Que tal aquele alto?‖
―Não.‖
―O baixo?‖
―Não, obrigada‖, falei balançando a cabeça.
―Aquele um com...‖ Bex não terminou. Seus olhos se arregalaram e ela encarou atrás de mim, mas minha mente voltando para uma noite fria de novembro em Washington D.C., e uma tarde quente de verão em um telhado em Boston, enquanto dois dos mais assustadores momentos da minha vida relampejaram diante dos meus olhos.
Senti meu coração começar a pulsar.
―O que é?‖ Examinei a multidão, tentando pegar um vislumbre do que Bex havia visto.
―Cam...‖ Bex começou.
Eu me virei no gelo, esperando pela mãe de Bex, pelo pai dela, por algum dos meus guardas registrarem o mesmo choque que vi nos olhos da minha melhor amiga, mas seus rostos estavam vazios.
―Bex,‖ soltei, ―o que é?‖
―Não é nada. É só... Me diga uma coisa, Cam…?‖ Seu sorriso era puro mal, e ela falou tão lentamente que eu meio que queria machucá-la. ―Apenas me diga... tem certeza que você desistiu de todos os garotos?‖
―Bex, o que você está dizendo?‖, perguntei.
Mas minha melhor amiga somente fez uma careta, ergueu sua mão até a boca, e disse:
―Oops.‖
E então Rebecca Baxter, a garota mais altamente coordenada na Academia Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais (o que, acredite, inclui umas garotas realmente coordenadas), escorregou no gelo.
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Bem, acontece que fingir cair é exatamente uma ótima maneira de fazer garotos pararem de olhar e começarem a se mover. É claro que nossa outra colega de quarto, Liz, exigiria sem dúvida mais evidências antes de citar isso como uma certeza científica, mas considerando o fato de oito garotos que estiveram olhando e sete deles correram para socorrer Bex, eu diria que nossos resultados eram bastante sólidos estaticamente.
Mas, honestamente, naquele momento estatístico era a última coisa na minha cabeça, porque flocos de neve brancos e fofos estavam caindo do céu noturno que estava entre mim e o único garoto que não se moveu, o garoto que não desmaiou, o garoto que apenas ficou de pé perto das grades com as mãos nos bolsos, me olhando, e dizendo:
―Feliz Ano Novo, Garota Gallagher.‖
Existe uma gama bem ampla de emoções que qualquer garota — muito mais uma Garota Gallagher — é obrigada a encontrar em qualquer dia — de alegria à tristeza, frustração à emoção.
Naquele ponto é bem seguro dizer que eu estava sentindo todas elas.
E eu estava tentando não mostrar nenhuma delas.
Os sete pretendentes de Bex se ajoelharam ao lado dela no gelo, enquanto meus patins me puxaram para perto do garoto que estava próximo a grade.
―Você parece estar com frio‖, de alguma maneira consegui falar.
―Eu costumava ter um casaco mais quente, mas então o dei para uma garota.‖
―Isso não foi muito inteligente.‖
―Não.‖ Ele riu e balançou a cabeça. ―Provavelmente não foi.‖
Apesar de conhecê-lo por quase um ano, havia muitas coisas que eu ainda não sabia sobre Zachary Goode. Por exemplo, como sabonete e shampoo podiam cheirar muito melhor nele do que em qualquer outra pessoa. Como para onde ele ia quando não estava aparecendo em pontos aleatórios (e frequentemente perigosos) em minha vida. E, acima de tudo, eu não sabia como, quando ele mencionou sobre o casaco, me fez pensar na parte romântica e encantadora da noite no último novembro quando ele o tinha dado para mim, e não a parte terrível, sangrenta e de terroristas internacionais tentando me sequestrar que veio logo depois.
Pelo canto do meu olho, eu podia ver os garotos que ―ajudaram‖ Bex ir até um banco não muito longe, mas Zach não parecia perceber. Ele apenas se aproximou de mim e sorriu.
―Além disso, ele fica melhor em você.‖
Há um monte de coisas que a Academia Gallagher nos ensinou a lembrar, mas
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naquele momento eu estava desejando que minha educação excepcional tivesse também me ensinado como esquecer.
Digo, era uma noite fria em uma cidade estrangeira, e um garoto incrivelmente gato estava sorrindo para mim entre o brilho suave das luzes! A última coisa que eu queria me lembrar era da última vez que vira Zach — os pneus guinchando ou os homens mascarados. Mas eu sou uma Garota Gallagher. Nós não esquecemos nada.
―Por que eu tenho a sensação de que você não está aqui de férias?‖, perguntei.
Ouvi Bex rindo. Senti a mão de Zach se aproximando da grade, mais e mais perto da minha. Por apenas um segundo, pensei que ele diria para mim — que ele estava aqui para me ver.
―Estou procurando por Joe Solomon.‖ Ele lançou um olhar pela área da torre. ―Pensei que talvez ele estivesse com você?‖
E rápido assim as batidas do meu coração tomaram um sentido completamente diferente. Claro, soava como uma questão fácil, mas nada sobre meu instrutor de Operações Secretas nunca tinha sido fácil. Nunca.
―O que está errado?‖, perguntei, minha mente cambaleando com pelo menos uma dúzia de razões para o Sr. Solomon me seguir até Londres — e nenhuma delas eram boas.
―Nada, Garota Gallagher. Provavelmente não é na…‖
―Diga-me ou eu irei gritar para o Sr. e a Sra. Baxter e você poderá descobrir como a Bex se tornou Bex.‖
―Nós devíamos nos encontrar alguns dias atrás, mas ele não apareceu.‖ Zach me encarou. ―E ele não ligou.‖
Okay, eu sei que quando a maioria dos adolescentes falam sobre alguém que não liga, eles geralmente estão reclamando. Ou choramingando. Mas Zach não é exatamente do tipo que choraminga.
Eu senti frio pela primeira vez no gelo.
―Ele não está entre os meus agentes de proteção.‖
―Sua mãe está fora procurando pelos líderes do Círculo, certo?‖ Zach perguntou. ―Ele pode estar com ela?‖
―Eu não sei‖, falei. ―Talvez, mas... Eu não sei.‖
―Ele se hospedou com os Baxters?‖
―Eu não sei.‖
―Ele…‖
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―Ninguém nunca me conta nada, se lembra?‖ Eu examinei cuidadosamente seu rosto, e apesar de tudo, não pude evitar de saborear a expressão de que finalmente havia algo que Zach não sabia. ―Estar fora do loop não é divertido, né?‖
―Rebecca!‖ A voz da mãe de Bex ecoou no ar frio.
―Você tem que ir‖, Zach disse com um aceno em direção aos Baxters.
―Se o Sr. Solomon não está ligando, então nós temos que procurar por ele. Temos que contar aos pais de Bex... temos que ligar para minha mãe para que ela possa…‖
―Não,‖ Zach soltou, então balançou sua cabeça e forçou um sorriso. ―Provavelmente é nada, Garota Gallagher. Vá lá. Se divirta‖, disse ele, como se isso fosse possível.
―Cameron‖, o pai de Bex chamou. ―Diga tchau ao jovem agora.‖
―Nós temos que contar a eles, Zach. Se o Sr. Solomon está desaparecido...‖
―Eles já sabem‖, Zach me lembrou. Sua voz suavizou. ―O que quer que esteja acontecendo, prometo a você que eles sabem bem mais do que eu sei.‖
Zach soltou da grade enquanto, atrás de nós, a voz do Sr. Baxter ficou mais alta.
―Vamos, Cammie!‖
Olhei sobre meu ombro para o pai da minha melhor amiga, sua mãe, e os guardas que tinham me cercado por semanas.
―Já vou!‖
Quando me virei de volta para a grade, Zach já tinha desaparecido.
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CAPÍTULO 2
O PAI DE BEX É UM DOS MAIORES ESPIÕES DA INGLATERRA (sem mencionar o homem que ensinou sua filha como usar uma Barbie como arma quando ela tinha sete anos), então eu não corri atrás de Zach. Não gritei. Só acompanhei Abe Baxter, patinando lentamente pelo gelo.
―A Torre de Londres é a construção real mais antiga ainda em uso hoje em dia, Cammie.‖
―Ela sabe, pai‖, disse Bex, mesmo que:
A) Eu na verdade não sabia; e,
B) Naquele ponto, eu tinha mais fatos secretos em mente.
―Sr. Baxter…‖ comecei a falar, mas o pai de Bex já estava apontando para as paredes altas de pedra da Torre e dizendo:
―A Jewel House sozinha é um alvo de classe AA…‖
―Ela sabe, pai‖, Bex disse novamente, rolando os olhos. Mas ela não parecia realmente irritada quando olhou para cima ouvindo seu pai continuar.
―Tem portões de segurança feitos de titânio reforçado e uma grade de laser de novecentos e oitenta pontos de automodificação.‖ Então ele parou. ―Desculpe, Cammie, você estava dizendo?‖
Mas algo na maneira que ele olhou para mim me fez esquecer sobre Zach, o Sr. Solomon e até o Círculo de Caven. Algo me lembrou de que pais contam piadas bobas. Pais falavam e falavam sobre fatos históricos que não realmente importavam para noventa por cento da população mundial. Pais às vezes olham para suas filhas como se elas fossem mais preciosas do que todos os diamantes na Inglaterra. Eu me lembrava disso — uma vez — alguém olhara para mim assim.
―Eu... eu só queria te agradecer de novo por me deixar passar o recesso de inverno com vocês‖, consegui murmurar.
Ele apertou meu ombro.
―Com todo prazer, Cammie.‖
E assim, eu disse a mim mesma que Zach estava certo — provavelmente era nada.
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Tudo provavelmente estava bem. Afinal, Sr. Solomon era cuidadoso. Sr. Solomon era bom.
―Ooh… corvos!‖ Sr. Baxter disse, deslizando para um banco ao meu lado. Ele apontou para um pássaro preto que estava lutando por migalhas perto da parede alta de pedra. ―Agora, há um parte interessante da história, Cammie. De acordo com a lenda, a Inglaterra cairá se os corvos algum dia deixarem a Torre de Londres.‖
Ainda assim, enquanto eu deslizava para um dos bancos e começava a afrouxar os laços dos meus patins, meus dedos não queriam cooperar. Era como se eu tivesse esquecido como respirar. Olhei para o pássaro, mas não falei nada. Era tão preto em comparação ao gelo branco.
Sr. Baxter suspirou.
―Eles cortam as asas deles para que não voem embora.‖
E então, apesar do vento gelado, senti meu rosto esquentar. Minhas mãos estavam suadas dentro de minhas luvas ao tempo que puxei o cachecol em volta do meu pescoço, de repente tonta com meus pés de meias no chão congelado, enquanto os patinadores continuavam circulando em volta.
Sr. Baxter se levantou.
―O que é, Cammie? O que há de errado?‖
Balancei minha cabeça.
―É... nada.‖
Mas algo estava vindo sobre mim — como déjà vu, só que mais forte. Havia algo naquela multidão que eu devia saber. Algo que eu deveria ver. Balancei minha cabeça, e por uma fração de segundo pensei ter visto uma mulher alta e elegante do telhado em Boston.
―Não‖, murmurei.
Olhei para a Sra. Baxter e sua colega com a mochila que tinha nos seguido o dia todo. Ambas seguravam copos de café em suas mãos direitas — o sinal que a área estava limpa, que estava tudo bem. Mas não estava tudo bem. Havia um fantasma naquela multidão — algo que eu deveria ver. Algo que eu deveria saber.
―Cammie?‖ A mão do Sr. Baxter estava em meu ombro. ―O que é?‖
―Eu não sei.‖ Balancei a cabeça. ―É só…‖
Antes que eu pudesse terminar, ouvi uma explosão estática da unidade de comunicação no ouvido do Sr. Baxter — um grito abafado distante. Através do gelo, a mulher com a mochila virou, como se estivesse procurando alguma coisa — alguém. O copo escorregou de sua mão e caiu no gelo. E naquele momento, minha mente voltou para
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a D.C., e depois mais para trás, em Boston.
Pegue ela. As palavras ecoaram em minha mente.
Me peguem.
E então as luzes desapareceram.
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CAPÍTULO 3
MESMO NA ESCURIDÃO DE BREU, EU SABIA QUE COMANDOS estavam vibrando nos ouvidos dos agentes da pista de patinação. Em um instante, Sr. Baxter me agarrou, me puxando para longe do gelo e para perto do abrigo das paredes de pedra da Torre.
O chão era duro e frio contra os meus pés, mas não houve tempo para pegar minhas botas — nenhum segundo para fazer qualquer coisa além de correr e ouvir os gritos que flutuaram pela escuridão. Eu continuei com uma mão contra a parede de pedra áspera e a outra firmemente agarrada na do Sr. Baxter, conforme nos movemos para mais fundo na multidão de turistas em pânico — nos empurrando entre o caos — até que, subitamente, a mão do Sr. Baxter sumiu da minha.
―Cammie!‖, ele gritou, e eu o procurei no escuro, mas havia muitas pessoas.
―Cammie!‖, ele chamou de novo, mas antes que eu pudesse responder um par de braços fortes agarraram minha cintura, e alguém me prendeu contra a parede de pedra. Comecei a lutar, mas o homem respondeu como se soubesse exatamente o que eu tinha sido treinado para fazer. Ele apertou meus braços para os lados tão bem que eu só tinha uma escolha: puxei minha cabeça para trás e bati nele com toda a minha força. Eu senti o golpe atingir — ouvi o homem estremecer. A outra coisa — uma voz familiar ao meu ouvido, dizendo:
―Cammie, acalme-se.‖
Por um segundo pensei estar usando unidades de comunicação — que a voz do meu professor estava voltando para mim, me dizendo como salvar minha própria vida.
E eu o ouvi sussurrar:
“Corra.”
―Eles estão vindo, não estão?‖, minha respiração saiu como uma névoa no ar frio, e ainda assim meus braços continuavam pulsando, meus pés continuaram se movendo, e meu professor manteve um aperto sólido em minha mão, me puxando contra o terreno escuro da Torre em direção a uma rua movimentada de Londres, enquanto eu dizia às palavras que temera por semanas:
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―O Círculo... estão aqui.‖
―Srta. Morgan, temos apenas um minuto até que eles nos encontrem, então você tem que me ouvir cuidadosamente‖, meu professor disse, apertando minha mão, me incitando através do fluxo de tráfego até a Ponte da Torre.
―Você está com unidades de comunicação? Você tem que contar aos Baxters que está comigo. Temos que chamar uma equipe de extração e…‖
―Cammie, ouça!‖, sua ordem pareceu ecoar no escuro, e algo nisso me fez parar bem no meio da ponte. Ele soou irritado, frenético e assustado.
Joe Solomon estava assustado.
Ele me agarrou pelos meus dois ombros.
―Cammie, nós só temos um minuto até que eles nos encontrem, e então levarão você…‖
―Não!‖, gritei.
―Ouça! Qualquer dia desses eles vão levá-la de volta para a escola, e quando chegar lá, você tem que…‖
―Olá, Joe.‖
Quando o pai de Bex apareceu na margem escura do rio, sua voz era uniforme e calma, mas ele usava a mesma expressão que Bex usava quando estava focada, irritada e quando não havia força alguma na terra que poderia pará-la.
E ainda assim o Sr. Solomon não se virou para olhar para ele. Ele ainda agarrava meus ombros como se nenhuma missão em toda minha vida tivesse sido mais importante quanto a que ele estava prestes a me dar.
―Cammie, me escute!‖
―Qual é, Joe,‖ Sr. Baxter chamou do outro lado da ponte, curvando-se para frente como um homem se preparando para uma luta. ―Vire-se. Deixe a garota ir.‖
Balancei minha cabeça. Nada fazia sentido naquele momento — não o que o Sr. Solomon estava dizendo ou a maneira que o Sr. Baxter olhava para nós. Nenhum deles parecia saber que estavam ambos do mesmo lado — do meu lado.
―Está tudo bem, Sr. Baxter‖, falei, me virando para o pai de Bex, pensando que talvez ele não tivesse reconhecido meu professor. ―Esse é o Sr. Solomon. Joe Solomon. Ele é…‖
―Eu sei quem ele é, Cammie.‖ O pai de Bex se aproximou. ―E ele virá comigo agora — voar para Langley e endireitar essa bagunça.‖
―Cammie!‖ Sr. Solomon me chacoalhou levemente. ―Não dê ouvidos a ele, ouça a mim!‖
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Mas o pai de Bex continuou falando.
―Joe, você tem que soltá-la.‖
A mãe de Bex deu um passo fora das sombras atrás de seu marido.
―Cammie, querida, quero que você ande até mim agora.‖
A ponte estava fria e áspera contra meus pés, mas não me movi. Examinei as margens do rio cobertas de sombra, procurando por Bex, precisando que ela me ajudasse a explicar aos seus pais que estavam cometendo um erro terrível. Mas tudo que vi foram guardas e operários que estavam formando fileiras a nossa volta, e naquele momento percebi que ninguém estava procurando na multidão. Nenhum estava procurando pelo Círculo. Em vez disso, as pessoas que tinham jurado me proteger estavam encarando como se a ponte fosse o lugar mais perigoso no mundo que eu pudesse estar.
Quando o operário da torre de observação apareceu no lado oposto do fim da ponte, eu sabia que estávamos cercados.
―Cammie, agora!‖ a Sra. Baxter ordenou, mas eu fiquei congelada no mesmo lugar.
―O pai dela era meu melhor amigo!‖, meu professor gritou, as palavras ecoando do rio para a noite.
O pai de Bex assentiu e se aproximou.
―Eu sei.‖
―Isso é loucura, Abe.‖ Sr. Solomon chacoalhou a cabeça.
―Com certeza é‖, Sr. Baxter disse calmamente. ―Mas protocolos existem por uma razão, Joe. Nós sabemos…‖
―Nós sabemos como isso acaba!‖ Meu professor gritou.
―Não dessa vez‖, Sr. Baxter disse. ―Não necessariamente. Não se você soltar Cammie, e vir conosco.‖
―Sr. Solomon...‖ Eu não reconheci minha própria voz. Parecia distante e frágil. Eu vi o jeito que fiquei nas sombras, não lutando contra o aperto do meu professor. Fraca. Me senti fraca. E então me afastei.
―Cammie, venha aqui‖, a mãe de Bex ordenou de novo. Eu podia ver Bex atrás dela, sem se mexer. Atordoada. ―Cammie!‖ a mãe de Bex soltou, mas eu olhei para o meu professor.
―Sr. Solomon, o que está acontecendo? Por que você está aqui? Por que não se encontrou com Zach? Por que eles ficam olhando para você como... Por que eles estão falando como se você fosse o inimigo?‖
―A CIA tem algumas perguntas para ele, Cammie‖, Sra. Baxter respondeu. ―isso é
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tudo. Ele só precisa responder umas perguntas.‖
―Você vai tentar me entregar, Abe?‖ Sr. Solomon riu, então se virou para a mãe de Bex. ―Grace? Você vai me algemar na frente de Bex e Cammie?‖
Bex gritou.
―Não!‖, mas a voz de sua mãe era uniforme quando disse:
―Você sabe que temos que fazê-lo.‖
―Mãe!‖ Bex gritou.
―Rebecca, fique fora disso‖, o pai dela avisou. Então se virou para olhar para o homem que nós todos conhecíamos — o homem que apenas eu e Bex ainda confiávamos. ―Você não deveria ter vindo aqui, Joe.‖
―Eu tinha que falar com a Cammie.‖
―Cammie está segura conosco.‖ A mãe de Bex disse a ele.
Meu professor só chacoalhou a cabeça.
―Cammie não está segura em lugar algum.‖
Eu não queria chorar naquele momento, mas não podia mais fingir também. Eu não estava de férias. Eu estava me escondendo. Eu era como os corvos, prisioneira de um destino que eu não conhecia e não podia controlar. Então olhei para o adulto que eu mais conhecia — o único homem que eu verdadeiramente confiei em muito tempo.
―Sr. Solomon, por favor, o que está acontecendo?‖
E então suas mãos estavam de volta em meus ombros.
―Cammie, você tem que seguir os pombos.‖
―Eu... Eu não entendo.‖
―Prometa-me, Cammie! Não importa o que aconteça, me prometa que vai seguir os pombos.‖
Não fazia nenhum sentido — nem as palavras, nem o olhar nos olhos dele ou a maneira que os pais da minha melhor amiga pararam encarando como se o momento que eles estiveram temendo por dias estivesse finalmente aqui.
Uma sirene soou, e eu me senti subitamente instável sobre meus pés como se a terra estivesse se mexendo.
―Sr. Solomon‖, falei lentamente, calmamente, ―talvez você deva vir conosco... Nós ligaremos para minha mãe e ela explicará que você é um professor e que houve um engano e...‖
Mas então não pude terminar porque a terra estava se movendo. A sirene estava mais alta; os expectadores estavam começando a gritar das margens do rio. Em um
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relâmpago terrível, me lembrei de que a Ponte da Torre é uma ponte levadiça, e o Sr. Solomon e eu estávamos no centro dela.
A ponte deu um solavanco e Bex gritou:
―Cammie!‖, mas sua mãe a segurou. Agarrei a grade conforme a ponte se erguia e ficava íngreme, e o Sr. Solomon alcançou meus ombros, me segurando, me firmando.
―Cammie, você tem que me prometer!‖
―Okay, Sr. Solomon. É claro, eu prometo.‖
―Obrigado, Cammie.‖ Ele relaxou o aperto e abaixou a cabeça. Pela primeira vez, ele parecia respirar quando suspirou, ―Obrigado.‖
―Okay, Joe‖, Sr. Baxter se aproximou. ―Você falou com a Cammie. Conseguiu sua promessa. Agora, vamos lá. Vamos dar um jeito nisso.‖
Mas o Sr. Solomon estava se afastando, seu olhar ainda preso no meu.
―Os pombos, Cammie.‖
―Os pombos‖, falei.
E então um dos maiores espiões que já conheci correu em direção a beirada da ponte e impeliu-se no topo, voando caindo. Os pais de Bex correram atrás dele, mas eu já estava lá, encarando o rio Thames.
E Joe Solomon já tinha desaparecido.
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CAPÍTULO 4
DURANTE O RECESSO DE INVERNO, DO NOSSO SÉTIMO ANO, Bex ajudou seus pais a expor um agente duplo que trabalhava dentro do M16. No verão em que ela fez catorze anos ela jurou que desarmou uma bomba embaixo do camarote da família real nas arquibancadas em Wimbledon. Mas enquanto eu e Bex nos sentamos atrás em uma van da M16 com as palavras ―Serviço de Ajudantes na Pintura Domiciliar‖ pintadas do lado de fora, eu sabia que nenhuma Garota Gallagher já havia trazido uma história como essa das férias para casa.
Tentei recontar os fatos para mim mesma — como o primeiro agente a nos alcançar era canhoto e tinha olhos verdes, como o telefone no lado da van tinha uma troca de Surrey1.
Afinal, o Sr. Solomon tinha me treinado bem. E esse era o problema, sério.
Sr. Solomon tinha me preparado.
Sr. Solomon tinha me ensinado.
E depois o Sr. Solomon tinha me levado para uma ponte e pulado para as águas frias e escuras do rio Thames. Então me sentei quietamente com o Sr. Baxter de um lado, e a Sra. Baxter do outro, esperando que o mundo parasse de girar na direção errada.
Mas, é claro, dentre todos os talentos de Rebecca Baxter, esperar totalmente não é um deles.
―O que foi aquilo?‖ Bex exclamou assim que as portas da van bateram.
―Quieta, Rebecca‖, sua mãe ordenou.
―Porque pareceu que vocês dois acabaram de tentar prender Joe Solomon‖, disse Bex. ―Foi isso que pareceu para você, Cam?‖
―Agora não, Rebecca‖, disse o pai dela.
―Então o que foi aquilo, então?‖ Bex perguntou. ―Treinamento?‖
―Bex‖, sua mãe sibilou.
1 Surrey: condado situado ao sul da Inglaterra.
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―Teste de segurança do perímetro?‖ Bex tentou.
―Rebecca, eu vou ter que pedir para aquele agente encostar a van‖, seu pai alertou, mas Bex apenas continuou.
―Porque, me corrija se eu estiver errada, mas Joe Solomon não é um dos caras bons?‖
Eu desejei que os pais dela tivessem a cortado, censurado, dito alguma coisa — qualquer coisa — porque nada podia ter sido mais assustador do que o olhar que passou entre o Sr. e a Sra. Baxter naquele momento. Até Bex ficou quieta quando viu.
Um minuto depois senti a van desviar, diminuir a velocidade e, a nossa volta, o mundo ficou escuro. Pela luz interior da van, Bex olhou para mim.
―Túnel?‖ adivinhei.
Ela me encarou e sussurrou de volta:
―Zach?‖
Antes que eu pudesse responder, as luzes do túnel vacilaram, e nós estávamos perdidos em escuridão total conforme o motorista puxou o volante. Pneus guincharam. Agarrei-me no banco, senti o desviar dos Baxters do meu lado, e ainda assim ninguém gritava ou se preparava para um acidente conforme nós carenamos rápido — rápido demais — em direção à parede do túnel. Na escuridão, senti a mão da minha melhor amiga alcançar e agarrar a minha, e tão de repente, a parede em frente de nós se partiu e engoliu a van dos pintores inteira.
Eu me virei em meu banco, e pelas janelas traseiras empoeiradas vi a porta escondida se fechar.
―Legal‖, Bex sussurrou.
Então havia uma luz no fim do túnel (literalmente). Tudo ficou mais claro enquanto a van diminuiu e a passagem se alargou até que o espaço em que estávamos era qualquer coisa menos um túnel.
―Bem vindos a Estação Baring Cross‖, uma voz alta disse conforme as portas da van se abriram.
Instantaneamente, o braço da mãe de Bex estava em volta da minha cintura; a mão do pai dela estava agarrando a minha, e a melhor e mais brilhante parte do Serviço Secreto da Vossa Majestade estava encarando, me observando sair da van como se eu fosse a coisa mais interessante naquele espaço cavernoso.
O telhado devia estar a cinco andares. Passarelas espalhavam-se acima, e mais vans estavam a minha direita, estacionadas em ângulos estranhos. A nossa volta, pessoas
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corriam, gritando ordens. Havia escadas de aço inoxidável, tubos de subida de cromo polido e partições de vidro fosco por toda parte. Não pude evitar de pensar que fazia quase exatamente um ano que eu tinha sido escoltada para outra instalação subterrânea super legal e secreta, sob D.C. e tinha sido por causa de um garoto. (Ou... mais especificamente... um namorado). No ano anterior, eu sabia que a viagem viria. Dessa vez nada naquele dia estava na rotina. No inverno passado, minha mãe tinha me levado para aquela instalação para responder perguntas. Mas dessa vez eu fiquei ao lado dos Baxters, consumida pela coisa que eu não sabia.
―Você está bem?‖, uma mulher perguntou.
―Ele te machucou?‖, um homem com luvas cirúrgicas e um casaco branco quis saber.
―Como diabos ele chegou tão perto?‖, outro homem soltou.
―Portão do Traidor‖, uma mulher respondeu. ―Ele entrou pelo Portão do Traidor.‖
―É claro que sim‖, o homem murmurou, e eu tentei tirar as palavras da minha cabeça. Elas eram sem nexo. Sem noção. Porque ―ele‖ era o Sr. Solomon.
Ele era um dos melhores espiões que já conheci.
Ele era o melhor amigo do meu pai.
Conforme nós passamos andando por uma parede maciça de telas, imagens da cidade relampejavam tão rápido que era um milagre alguém poder ver alguma coisa.
―O satélite está levantado!‖, um jovem com um óculos de armação marrom gritou;
―Dê-me visão de cada entrada de metrô, cada cruzamento, cada aeroporto. Estamos perto, pessoas!‖, uma mulher mais velha gritou. ―Não vamos deixá-lo escapar.‖
Os olhos de Bex encontraram os meus, e eu sabia o que ela estava pensando: nosso professor não teria andado até aquela ponte se não tivesse uma maneira de sair; não teria vindo até Londres se não tivesse um jeito de sair; e quando Joe Solomon não quer ser encontrado, não há câmera, satélite ou operário na terra que possa vê-lo.
―Baxter!‖ Uma voz chamou da passarela acima de nós. ―Você tem a garota, então?‖
O pai de Bex posicionou seu braço em volta do meu ombro.
―Ela está aqui. Está bem.‖
O homem gesticulou para uma porta de metal no fim da passarela.
―Então venha por aqui‖, ele disse a mim, mas Bex se aproximou.
―Ficaremos felizes em esperar lá‖, disse ela.
O agente olhou para a Sra. Baxter, cujo rosto estava tão determinado quanto o de sua filha.
―Eu vou com ela‖, a Sra. Baxter disse. ―Cammie é nossa responsabilidade.‖
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―Então vocês deviam ter pensado antes de levá-la para patinar‖, o agente rompeu.
Eu queria dizer algo em protesto — lembrá-lo que isso não era culpa dos Baxters — o que quer que ―isso‖ fosse. Mas a mão da Sra. Baxter estava no meu ombro, gentilmente me empurrando a prosseguir, me dizendo que o caminho em que eu estava agora era um que eu tinha que andar sozinha.
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CAPÍTULO 5
PRÓS E CONTRAS DE PASSAR A NOITE
EM UM QUARTO SUPER SECRETO, DE UMA
INSTALAÇÃO SUPER SECRETA, MAS
NINGUÉM TE DIRÁ POR QUÊ.
(Uma lista por Cameron Morgan)
PRÓ: Acontece que, instalações subterrâneas do governo é um lugar excelente para se esquentar depois de patinar no gelo.
CON: O processo de esquentar não inclui amigos, família e absolutamente nenhuma resposta.
PRÓ: Às vezes é bom ter um momento sozinha para recompor-se depois de experiências bastante traumáticas (e totalmente confusas).
CON: O “momento” para de ser bom quando se arrasta por quase duas horas.
PRÓ: Três palavras — Ensaio. Extra. Crédito.
CON: Duas palavras — Nenhum. Banheiro.
PRÓ: Saber que há cinquenta operários e pelo menos duas mil câmeras entre você e as pessoas que querem te pegar.
CON: Perceber que você sabe ainda menos sobre aquelas pessoas do que você pensava que sabia. Muito menos.
● ● ●
Todo bom operário sabe que há várias razões para manter uma pessoa esperando antes de questioná-la. Às vezes você quer deixá-la nervosa; às vezes você quer deixá-la pensar; às vezes você precisa reunir os fatos; e às vezes falar com ela não é assim tão importante. Mas havia uma única razão que ocorreu a mim quando ouvi a porta se abrir e
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puxei minha cabeça e braços fora da mesa de ferro.
―Minha mãe está aqui?‖
―Não.‖
A porta bateu, e eu me virei para observar um homem que nunca vi antes andar até o outro lado do cômodo. Ele era alto, com cabelos pretos ondulados e olhos azuis escuros, e enquanto ele falou com seu sotaque britânico rico, tanto a espiã quanto a garota em mim se tornou instantaneamente ciente do fato de que eu estava babando.
―Como você está, Cammie?‖, perguntou ele, mas mal esperou para ouvir meu ―Bem.‖
―Você precisa de alguma coisa? Água? Algo para…‖
―O que aconteceu na ponte?‖
O homem riu suavemente.
―Bem, isso é o que eu estava esperando que você pudesse me contar.‖ Ele derrubou um arquivo na mesa entre nós e se moveu para a cadeira oposta a mim, mas havia algo naquele gesto — o som de sua risada — que pareceu estranho para mim. Nada parecia tão engraçado mais.
―Ele não te machucou?‖, o homem perguntou.
―Sr. Solomon é meu professor. Ele nunca me machucaria.‖
―Tem certeza que não podemos te trazer algo? Chocolate quente, talvez?‖
―Eu não quero chocolate. Quero saber por que uma equipe de seis pessoas cercou Joe Solomon. Quero saber por que um dos melhores agentes da CIA teve que tirar da proteção do MI6 para falar comigo. Quero dizer, estamos do mesmo lado, não estamos?‖
E então o sorriso do homem desapareceu — desvaneceu num instante.
―Oh, nós sabemos quem são nossos amigos.‖
―Sério? Porque parece…‖
―O que aconteceu na ponte?‖
―É o que estou perguntando a você.‖
―O que Joe Solomon disse na ponte?‖, ele rangeu os dentes conforme reformulou sua pergunta.
―Eu não sei. Tudo aconteceu tão rápido. Não entendi direito.‖
Novamente ele riu, e dessa vez murmurou:
―É claro que você não entendeu.‖
―Qual é o seu nome?‖, perguntei, mas ele não respondeu. ―Você é do MI6, certo?‖
―Impressionante‖, disse ele, mas algo em seu tom me disse que ele não estava impressionado de forma alguma.
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―Quem é você? Onde estão os Baxters?‖
Ele se moveu em seu banco e se inclinou para frente.
―Graças aos Baxters, metade de Londres viu o que aconteceu hoje, o que, no nosso negócio, é uma coisa ruim. Então os Baxters estão um pouco ocupados nesse momento.‖
Eu não sabia o que era pior, que os pais de Bex estavam com problemas por minha causa, ou que o homem à minha frente estava falando como se eu fosse uma intrusa — uma fraude. Claro, eu sou uma garota de dezesseis anos/operária em treinamento, e não me entenda mal, a parte garota de dezesseis anos vem a calhar na ocasião, mas ele estava me dando o tipo de olhar que eu esperaria de pessoas que não sabia a verdade sobre minha escola — e aquele homem à minha frente deveria saber a verdade.
Pelo menos eu pensava que ele deveria.
―Hum... só por curiosidade‖, falei, ―que nível de conhecimento você tem?‖
―Que nível de conhecimento você tem?‖
―Eu perguntei primeiro.‖
O homem riu, depois disse:
―O suficiente.‖ O que não era realmente uma resposta, mas não pensei que fosse a hora de dizê-lo.
―Por que está todo mundo procurando pelo Sr. Solomon?‖, perguntei. Quando o homem encostou-se a sua cadeira, eu me inclinei para perto e procurei seus olhos azuis. ―Houve algum tipo de engano‖, disse a ele. ―Ligue para a Academia Gallagher. Ligue para minha mãe.‖
―O que Joe Solomon disse a você na ponte?‖, o homem rompeu, mas eu mal ouvi as palavras.
―Minha mãe é Rachel Morgan, operária ID 145-23-6741. Diretora da Academia Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais. Você tem que…‖
―Eu sei quem sua mãe é‖, ele declarou calmamente. ―Agora me diga sobre Joe Solomon!‖
Eu deixei as palavras me lavarem, tentei encontrar o centro de minha raiva, antes de lentamente sussurrar:
―Os pombos. Sr. Solomon me disse para seguir os pombos.‖
Esperei que ele risse novamente, mas dessa vez ele me estudou.
―Isso significa alguma coisa para você?‖
―Não.‖
―Nenhuma aula que você teve? Um disjuntor que você usou?‖, perguntou ele, então
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balançou a cabeça frustrado. ―Um disjuntor é um intermediário que dois espiões podem usar para carregar informação entre…‖
―Eu sei o que é.‖
―E os pombos não significam nada para você?‖, perguntou ele de novo.
Fechei meus olhos, pensei de volta na sensação do vento frio em meu rosto e a pressão das mãos do Sr. Solomon em meus braços, mas eram seus olhos que eu vi mais claramente.
―Aconteceu tão rápido. Ele estava assustado. Não era ele mesmo.‖
―Há uma boa razão para isso‖, o homem disse sem um traço de emoção. ―Você não conhece Joe Solomon.‖
―Você está errado‖, falei novamente. ―Houve um erro. Sr. Solomon está na instalação da Academia Gallagher. Ele é da CIA, e veio para Londres para me proteger ou me alertar... ele só estava preocupado por causa da ameaça.‖
―Você ainda não entende, não é?‖, ele estava quase sorrindo quando fechou a pasta. ―Joe Solomon é a ameaça.‖
―Isso é ridículo‖, rebati. ―Sr. Solomon é o meu professor.‖
O homem levantou.
―Você pode parar de chamá-lo de ‗senhor‘, moça.‖ Ele andou até a porta e bateu no vidro. ―Joe Solomon nunca será seu professor novamente.‖
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CAPÍTULO 6
NAS SEIS NOITES SEGUINTES OS BAXTERS E EU DORMIMOS em cinco diferentes casas seguras.
Havia um galpão de jardineiro aparentemente abandonado em um estado na Escócia, um apartamento com uma vista do Big Ben, um chalé no País de Gales, e algo que podia ser melhor descrito como um pequeno castelo, que vinha com uma armadura e um pavão.
A cada manhã dirigiríamos. A cada segundo havia guardas.
Claro, você deve pensar que acesso total a muitas fortalezas secretas teria feito de mim e Bex o motivo de inveja de todo o corpo estudantil; mas como regra, nós Garotas Gallagher não invejamos nada que envolva guardas (quando você é a guardada) e aranhas (e as casas seguras do MI6 têm muitas aranhas.)
Na sexta noite eu acordei em uma cama estreita ao som calmo da respiração de Bex e alguém mais — uma palavra abafada: “Caven.”
Por um momento, fiquei deitada lá, depois saí do beliche de baixo.
As tábuas estavam surpreendentemente quietas abaixo dos meus pés. Estava congelando, mas não parei para vasculhar as mochilas e malas que estavam abertas, mas ordenadamente arrumadas, pronta para uma escapada rápida. Ao invés, saí para o corredor e desci em direção à escada estreita e torta que me levava do segundo andar para a pequena varanda fora da cozinha.
Empoleirado na varanda, pude ver as pernas do Sr. Baxter que se sentara à mesa da cozinha, se movendo levemente conforme falou.
―Você viu a Rachel?‖
―Sim‖, uma mulher disse em um sussurro rouco.
―Estou surpreso que tenha sido possível‖, disse o Sr. Baxter.
A mulher riu suavemente.
―Bem eu não estava no humor para ouvir que era impossível.‖
―Entendo‖, o Sr. Baxter disse.
―Grace, como ela está?‖, a mulher perguntou.
―Bem,‖ a Sra. Baxter respondeu. ―Quer que eu a chame?‖
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―Não.‖
Parei no escuro escutando, enquanto o vento soprava, o castelo gemia e a mulher disse:
―Deixe a baixinha ter seu sono.‖
Havia somente uma pessoa no mundo que me chamava de Baixinha, então eu não pensei — só fiquei de pé, pronta para descer as escadas em direção a minha tia Abby. Mas então um braço estava em volta da minha cintura, e uma mão apertou minha boca. Lancei um olhar sobre meu ombro e vi os olhos arregalados de Bex brilhando no escuro.
Ela balançou a cabeça uma vez, rapidamente. Não, ela estava me dizendo. Pense. Podemos não ter essa chance novamente.
O sorriso da minha melhor amiga era especialmente maldoso (o que, acredite, é realmente alguma coisa) quando ela sussurrou:
―Tenho uma ideia melhor.‖
Três minutos depois eu estava no último andar do castelo, olhando para uma caixa pequena de madeira e uma corda menos que resistente, ouvindo minha melhor amiga insistir.
―Você deveria fazer isso.‖
―Por que eu?‖, sussurrei, observando conforme a caixa antiga balançava no ar em um eixo escuro e vazio que desaparecia na pedra fria das paredes do castelo.
―Você é mais baixa,‖ Bex disse. (O que eu sou.) ―E eu sou mais forte‖, falou. (O que ela totalmente podia ser.) ―E eu…‖
―Tem medo de aranhas?‖, supus.
Mas Bex me ignorou.
―... ainda estou um pouco surda do incidente da granada de percussão durante a semana das provas finais.‖
Então, é, foi assim que eu acabei no elevador de cozinha. Senti-me descendo pelas paredes do castelo, mais e mais abaixo, enquanto os barulhos na cozinha ficavam mais altos e claros.
―Tem certeza que você não quer um chá?‖ O pai de Bex perguntou.
―Não, obrigada, Abe.‖ A voz da minha tia soava fraca — quase frágil. ―Eu não tenho dormido tão bem, para dizer-lhe a verdade.‖
―Nós também não‖, a mãe de Bex adicionou.
A chaleira começou a apitar. Uma cadeira bateu no chão.
―Quão perto foi realmente, Grace?‖ Tia Abby perguntou. ―Ela estava em perigo?‖
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―Cammie está em perigo constante‖, Sra. Baxter disse ao mesmo tempo em que o apito terminou.
―Você o viu, Abe?‖ Abby perguntou. Mesmo que não houvesse dúvida de quem ele era, pareceu demorar uma eternidade para o Sr. Baxter responder.
―Sim.‖
―Como ele estava?‖ Abby perguntou.
―Desesperado‖, o pai de Bex respondeu.
―Você acredita?‖, perguntou Abby.
―Essa é a forma como o Círculo trabalhou por mais de cem anos...‖ começou o Sr. Baxter.
―Mas, Abe, nós conhecíamos ele‖, Abby pressionou de novo.
Depois de outra longa pausa, o Sr. Baxter disse:
―Acredito que Joe Solomon é o tipo de homem que ninguém nunca irá conhecer verdadeiramente.‖
Três operários maduros e condecorados sentavam-se no outro lado da parede. Entre eles, provavelmente dominam uma centena de identidades em uma dúzia de países. Nomes eram apenas disfarces. Apenas lendas. Pendurada no escuro, perguntei-me se alguma coisa sobre o Joe Solomon era real. Senti como se a verdade estivesse escapando de mim, caindo, até que...
Espere, percebi tarde demais, eu estava dormindo — literalmente.
Através de uma fenda no topo do elevador, eu podia ver Bex segurando a corda desgastada, tentando fortemente me puxar de volta para cima, mas a corda escorregou de novo.
―Lá fora, os adultos continuavam conversando.‖ Ouvi a Sra. Baxter dizendo, ―Não podemos contar a Cammie até estarmos absolutamente certos...‖
―Não podemos nunca contar a Cammie‖, disse Tia Abby.
―Espere!‖, o sussurro frenético de Bex ecoou no tubo conforme o elevador se mexeu de novo.
Isso não é bom, disse a mim mesma. Isso não é...
Mas fora do tubo, a voz da Sra. Baxter era calma.
―Ela tem quase dezessete anos, Abby. E quanto mais ela souber, mais segura ela…‖
―Cammie nunca ficará segura!‖, disse Abby, e eu me lembrei de que um elevador semi-instável era o menor dos meus problemas.
―Aguente aí, Cam,‖ Bex murmurou lá de cima. ―Eu…‖
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―Nós não sabemos se Cammie faria algo estúpido‖, a Sra. Baxter continuou.
―É claro que ela faria,‖ Tia Abby riu. ―Eu faria. Confie em mim, Grace, Abe. Cammie nunca pode saber…‖
Antes que ela pudesse terminar, senti o fundo do elevador saindo debaixo de mim enquanto, três metros acima no tubo, a corda velha rompeu e eu fui arremessada em direção ao piso da cozinha.
―Mas o que…‖ o Sr. Baxter começou a gritar.
Com um suspiro, eu rolei e me encontrei encarando um par de botas de salto alto maravilhosas, pernas longas e um rosto familiar olhando para mim, dizendo:
―Ei, Baixinha.‖
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CAPÍTULO 7
―CAMMIE NUNCA PODE SABER O QUE?‖, perguntei.
Bex estava sentada ao meu lado, nós duas sentadas nas cadeiras duras e de costas eretas, olhando para os pais dela e minha tia Abby. As mãos de Bex estavam queimadas por causa da corda. Meu cotovelo estava sangrando. Porém minha única preocupação era o que tinha trazido a única irmã de minha mãe para a Inglaterra e, o mais importante... “Cammie nunca pode saber o que?”
―Está vendo?‖, disse Abby, gesticulando para nós duas. ―Isso é exatamente sobre o que eu estava falando.‖
―É verdade.‖ Sr. Baxter cruzou seus braços e olhou para nós duas. Sua voz não era nem um pouco divertida quando terminou, ―Elas são uma responsabilidade.‖
―O que a Cammie não pode saber?‖ Bex perguntou, escolhendo, suponho, deixar a coisa da responsabilidade para outro momento.
―Vá para a cama, Cammie‖, minha tia ordenou, soando exatamente como minha mãe.
―Não‖, falei, soando exatamente como minha tia.
Eu tinha certeza que estava prestes a se abrir um buraco no tempo espaço, quando Abby estourou:
―Cameron!‖
Eu já estava sobre meus pés.
―Então você sabe o que faria se fosse eu, e soubesse desse grande segredo...‖ Me inclinei contra a mesa, quase a desafiando conforme terminei, ―Agora, imagine o que você faria se houvesse algo que você não soubesse.‖
Como ameaça, essa foi uma das boas. Eu podia ver nos olhos de Abby. Após um momento, ela puxou a cadeira do outro lado da mesa e afundou nela. Tentei não notar a rigidez no movimento ou a maneira em que ela segurava um braço cuidadosamente ao seu lado. Tentei não pensar no fato de que ela tinha quase morrido.
Ela tinha quase morrido.
Ela tinha quase morrido.
―Nós pegamos um deles.‖ A voz de Abby me trouxe de volta. ―Noite de eleição… você
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estava fora, e eu estava…‖ Ela falhou.
Ela tinha quase morrido.
―Do time de extração que veio por você, nós pegamos um.‖ Minha tia gesticulou para o lugar onde tinha levado um tiro. ―Nós pegamos o que fez isso. Uma semana atrás ele decidiu começar a falar.‖
Ao meu lado, senti Bex se sacudir, sua impaciência ferver.
―O que isso tem a ver com o Sr. Solomon?‖
O pai dela alertou:
―Rebecca,‖ e Abby continuou.
―O Círculo trabalha em células — grupos pequenos e isolados. Dois operários do Círculo podiam estar sentados bem ao lado um do outro e nem saber. Então o homem em custódia tem um conhecimento de operários celulares, mas não sabe muito. Ele nem sabe por que querem você, Cammie.‖
Ela olhou diretamente para mim, e senti meu coração desmoronar.
―Ele só sabe das pessoas com quem trabalhou diretamente e...‖
Conforme minha tia parou, eu vi a Sra. Baxter tensa. O Sr. Baxter levou a mão até sua boca como se não pudesse suportar dizer as palavras em voz alta.
―E ele sabe das pessoas com quem foi recrutado‖, Abby disse lentamente. Seu olhar caiu no chão. ―Quando ele era do Blackthorn.‖
Por dias eu havia querido respostas — eu implorei e mendiguei pela verdade. Mas agora estávamos lá e eu não queria ouvi-la.
―Não. Isso é o que o MI6 pensa, por algum motivo, mas estão errados. Houve algum tipo de engano.‖ Tentei me afastar, mas Abby se inclinou para perto.
―Joe é um agente duplo, Cam. Ele foi recrutado pelo Círculo há muito tempo atrás.‖
―Como você pode dizer isso?‖ Rebati. ―Ele é seu amigo.‖
―Ele também é amigo do homem que fez isso!‖, ela gritou, apontando para seu ombro ferido. Ela parecia tão irritada e traída, e quando falou de novo sua voz era mais como um apelo. ―Temos que acreditar nisso, Cammie. Você dentre todas as pessoas precisa acreditar nisso.‖
―Mas... ele era da CIA...‖ Soava infantil, e mesmo assim eu tinha que dizer. Eu era, afinal, uma criança ainda. ―Ele era nosso professor. Ele não podia estar trabalhando para o Círculo.‖
A Sra. Baxter estava calma conforme tomou o assento próximo a Abby.
―Pensem nisso, garotas. Vocês sabem que ter operários dentro da Agência seria de
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alta prioridade para o Círculo. E um operário na Academia Gallagher — um operário com tanto acesso a Cammie...‖
―Você está errada‖, Bex disse.
―É uma prática antiga e efetiva‖, Sra. Baxter disse suavemente. ―Recrutar operários que são jovens, encorajá-los a passar suas folgas treinando com o Círculo, trabalhando com o Círculo. E então mandá-los de volta à escola.‖ Ela estava tão equilibrada — tão boa, sábia e bonita que era quase impossível duvidar dela enquanto ela olhou para nós duas e disse, ―Mas não cometam um erro, garotas. Nós sabemos o que Joe Solomon fez em suas férias de verão.‖
―E se ele mudou?‖ Bex desafiou. ―Pessoas mudam. Talvez ele não esteja trabalhando com eles mais.‖
―Eles não são Escoteiros‖, Abby respondeu. ―Não é tão fácil sair.‖
Sentamos em silêncio por um longo tempo antes de eu finalmente voltar para minha tia Abby.
―Por que você veio aqui esta noite?‖
―Eu estava preocupada com você, Baixinha. Eu estava…‖
―Onde está minha mãe?‖ Ouvi minha voz se levantar, mas não tentei contê-la.
―Ela está bem, Baixinha.‖ Abby olhou para mim. ―Ela não pode vir, então eu vim. Ela está bem.‖
―Por que ela não poderia vir?‖, proferi abruptamente. ―O que é tão importante que…‖
―Tudo certo, então.‖ Sr. Baxter levantou da mesa, sinalizando que nossa parcela de perguntas e respostas da nossa noite estava oficialmente acabada. ―É melhor vocês duas dormirem um pouco. Grande dia amanhã. Temos que levantar cedo para levar-lhes de volta para a escola.‖
Amanhã. Escola. Bex e eu nos entreolhamos. Sem palavras, nós duas ficamos de pé e nos dirigimos à porta. Roseville parecia estar a milhões de quilômetros de distância.
―Abby?‖ Bex parou e se virou na soleira da porta, esperou minha tia olhar para cima. ―Quantos anos... Quando ele se juntou ao Círculo... quantos anos ele tinha?‖
O sorriso de Abby era suave, mas triste.
Ela engoliu em seco antes de responder.
―Dezesseis.‖
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CAPÍTULO 8
COMO RETORNAR À ESCOLA
(Uma Lista Por Cameron Morgan e Rebecca Baxter)
• Lavar roupa. Isso é muito mais fácil, à propósito, quando você está na casa da sua avó e não em uma casa segura do MI6 (porque, embora este último possa ter mecanismos de defesa muito mais legais, o anterior tem uma lavanderia muito melhor).
• Fazer as malas. O que, vivendo em uma série de casas seguras, vem a calhar, porque você nunca realmente desfez as malas.
• Ajustar o despertador. Porque mesmo o relógio interno de uma Garota Gallagher tem uma tendência de vacilar quando você está lidando com grandes quantidades de estresse e cansaço do voo.
• Se vestir em camadas. Porque aviões são sempre frios. E também, é bem mais fácil mudar sua aparência e despistar alguém que te segue se você também puder perder seu suéter.
• Verificar se você tem o ensaio que escreveu para Cultura e Assimilação, os códigos que quebrou para Prática de Criptografia, e o trabalho de pesquisa que fiz para Operações Secretas.
• Tirar o trabalho de Operações Secretas da bolsa. Pisoteá-lo. Chutá-lo. Jogá-lo no lixo.
• Retirá-lo do lixo e colocá-lo na bolsa de novo. Só por precaução.
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Precisamos de três aviões, dois SUVs, e a certo ponto uma van da Wolkswagen com um cheiro bem questionável, mas seis horas depois me encontrei encarando o vidro à prova de balas e as árvores nuas e manchas de neve e gelo que cobriam a Rodovia 10, conforme a mesma cortava pela floresta como uma cobra. Depois de três semanas vivendo como uma cigana em uma terra estrangeira, me senti especialmente estranha vindo para casa.
Casa.
―No que está pensando, Cam?‖ Bex me deu uma cotovelada e sorriu.
―Ah, você sabe... o de sempre‖, falei o mais calma possível enquanto me sentava na traseira de uma limusine que era mais fora do normal possível. (Tenho certeza que costumava pertencer ao presidente.)
―Você cobriu vigilância veicular já?‖ Tia Abby perguntou.
Bex balançou a cabeça.
―Sério?‖ Sra. Baxter disse. Ela soou genuinamente surpresa. ―Pensei que você teria coberto em…‖
Ela falhou, mas eu sabia o que iria dizer: Operações Secretas. A classe do Sr. Solomon.
―Ah, bem. Suponho que não há nenhuma hora como o presente.‖ Ela cruzou as pernas. ―Me diga, Cammie. O que você vê?‖
―Dois carros à nossa frente.‖
―Carros condutores, sim.‖ Sra. Baxter assentiu aprovando, então se virou para sua filha. ―Bex?‖
―Um veículo seguindo.‖
―Certo‖, disse a Sra. Baxter. Ela continuou, citando as origens da vigilância e proteção em movimento, algo sobre os carros da Roma antiga e a morte de César, mas minha mente estava vagando. Eu estava observando a dúzia de outros carros — limusines como as nossas (porém levemente menos à prova de balas) que enchiam a estrada, esperando para carregar minhas colegas de classe de volta pelos nossos altos portões.
―Eu nunca vi a fila tão longa‖, disse Bex, e eu estivera pensando a mesma coisa. ―Os guardas devem estar de férias ainda‖, brincou ela.
Tia Abby se moveu para o banco ao meu lado, mas não disse nada. Esperei que o carro diminuísse a velocidade e esperasse sua vez na fila. Mas ao invés disso, Sra. Baxter perguntou:
―Qual é a segunda regra de contra vigilância?‖
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―Resistir a rotinas e expectativas‖, Bex e eu respondemos ao mesmo tempo em que o Sr. Baxter puxou a limusine para a pista de passagem. Senti o carro se movendo cada vez mais rápido, voando pela longa fila de carros esperando para levar minhas colegas de volta à escola.
Sra. Baxter soou igual à Bex quando disse:
―Exatamente.‖
Eu conheço a Academia Gallagher. Quero dizer, uma pessoa não estraga tantas blusas brancas quanto eu estraguei sem passar muito tempo rastejando através de linhas de esgoto imundas e passagens secretas. Então conforme nós voamos mais e mais distante dos portões, eu tive certeza que estávamos na verdade acelerando em direção... ao nada. Ou foi o que pensei até que o Sr. Baxter puxou o volante novamente e nos encontramos em um beco estreito que, eu juro, nunca havia visto antes.
A boa notícia era que o carro era à prova de balas e mísseis e tinha pneus preenchidos com borracha sólida em vez de ar normal, de modo que nunca, jamais poderia furar.
A má notícia era que eu estava começando a descobrir porque Bex era tão má motorista, porque quanto mais irregular a estrada ficava, mais o Sr. Baxter exigia de gasolina.
―Atalho‖, Tia Abby ofereceu.
―Para onde?‖ Bex e eu perguntamos.
O carro descia o caminho estreito, os pneus mergulhando dentro e fora dos buracos, e lama batiam contra a estrutura. Galhos lutavam contra os lados do carro, e eu senti como se estivéssemos sendo engolidos pela floresta, dirigindo em linha reta em direção a uma parede de pedra eletrificada e pelo menos uma dúzia das câmeras de segurança mais calibradas do mundo.
―Agora?‖ Sr. Baxter perguntou do banco da frente.
―Isso vai resolver‖, Abby disse a ele.
Sr. Baxter pressionou um botão no painel e apertou o acelerador. E pela segunda vez durante minhas férias de inverno, vi minha (relativamente pequena) vida relampejar diante de meus olhos. Agarrei as mãos da minha melhor amiga, esperando por uma colisão que nunca veio.
Acredite ou não, eu nunca realmente estive no canal de derivação da Academia Gallagher. Bem, eu não tinha estado. Até aquele momento.
Eu ainda não sabia o que era mais chocante — a impressão de o carro atingir algum
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tipo de rampa a oitenta quilômetros por hora, a sensação de voar pelo ar e sobre a cerca em uma limusine ou o súbito splash que vem quando um carro de duas toneladas mergulha de cara na água, apertando nossos cintos de segurança e nos segurando no lugar.
Senti o pesado carro naufragar. Havia água sobre o capuz e elevando-se acima das janelas, mas nenhuma gota escorreu para dentro conforme afundamos sob a superfície, na escuridão turva do lago. Peixes passavam nadando pelas janelas como se limusines caíssem do céu todos os dias — e tanto Tia Abby quanto o Sr. Baxter não pareciam estar preocupados que nosso carro à prova de balas estava afundando.
Mas espere, percebi um segundo depois. Não estávamos afundando. Bex e eu nos inclinamos para frente, observamos a maneira como os faróis da limusine cortavam pela água conforme uma hélice emergiu e começou a girar, nos empurrando pela névoa escura como um submarino.
―ALERTA: ÁREA RESTRITA. SOMENTE PESSOAL AUTORIZADO‖, uma voz estridente mecânica ordenou no estéreo, ecoando pelos alto-falantes do automóvel.
―Mãe...‖ Bex começou a dizer, mas sua mãe meramente a fez calar.
―ADQUIRINDO IMAGENS AGORA‖, a voz disse ao mesmo tempo que uma luz laranjada relampejou pelo carro como um raio. Eu pisquei, e senti como se milhares de luzes estivessem explodindo dentro dos meus olhos.
―APRESENTE RECONHECIMENTO VOCAL, POR FAVOR‖, a voz comandou, e minha tia respondeu:
―Abigail Cameron. CIA.‖
―Abraham Baxter, MI6‖, o pai de Bex disse do banco da frente. Ao meu lado, a mãe de Bex deu seu próprio nome, depois me cutucou levemente na costela.
―Hum... Cameron Ann Morgan... Garota Gallagher?‖ Eu não tinha nenhuma ideia de qual era ou devia ser meu título oficial. Alvo de terroristas internacionais? Adolescente? Espiã em treinamento? Pessoa que realmente, realmente quer saber o que está acontecendo?
Ouvi a resposta de Bex da mesma maneira que eu tinha dado, e então o movimento parou. A água caiu como se o lago estivesse emergindo do lago, mas não havia nenhuma luz solar entrando pelas janelas. Espiei pelo vidro à prova de balas e vi os faróis iluminarem uma pedra sólida. Então as portas do carro se abriram automaticamente, e Abby desceu, e nada em meus dezesseis (quase dezessete!) anos de vida, ou cinco e meio anos de treinamento, tinham me preparado completamente para o que vi.
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―Existe cavernas sob o lago?‖, chutei, mas a mãe de Bex já estava fora do carro andando em direção ao porta-malas.
Eu já tinha ouvido sobre canais subterrâneos, grutas e cavernas em toda minha vida, mas nunca soube que estava vivendo bem ao lado de uma. Encarei as estalactites e estalagmites que cobriam o topo e o chão da gruta. O chão desceu atrás de nós, em direção à água do lago, enquanto minha melhor amiga e eu estávamos em uma costa subterrânea, e lembrei que eu não sabia todos os segredos da minha escola — nem de perto.
Antes que eu percebesse, o Sr. Baxter tinha tirado nossas malas do porta-malas e a Sra. Baxter estava abraçando Bex e sussurrando em seu ouvido. Eu ainda estava na caverna, longa e escura que se estendia muito além do brilho do farol.
Dei um passo em direção à parede, e corri meus dedos pela crista da Academia Gallagher que fora esculpido na pedra.
―Adeus, querida‖, Sra. Baxter beijou minha bochecha. E depois as mãos da Tia Abby estavam em meus ombros.
―Cammie, pare por um segundo. Antes que você vá, preciso que você me prometa uma coisa.‖
―Ok.‖
―Eu preciso que você seja cuidadosa este semestre.‖ Ela não soava como ela mesma, percebi. Soava como o Sr. Solomon. ―Cam, você está me escutando?‖
―Sim... Eu sei.‖
―Não corra riscos desnecessários.‖
―Eu sei.‖
―E, Baixinha, você precisa ser… forte.‖
Comecei a dizer a ela que eu sabia, mas algo mais me ocorreu.
―Você não vem, não é?‖, perguntei.
Abby olhou de mim para os Baxter, e depois voltou para mim.
―Aqui é o mais longe que irei.‖
―Mas eu pensei que você iria... Nós não temos um professor de Operações Secretas.‖
―Claro que você vai ter.‖ Ela sorriu levemente. ―Claro que vai ter.‖
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CAPÍTULO 9
―OS ARMÁRIOS DO DR. FIBS?‖ OUVI EU MESMA MURMURAR cinco minutos depois — ainda um pouco chocada, para dizer-lhe a verdade.
Mas o que mais uma garota deveria sentir depois de andar em um elevador subaquático, passar por mais seis scans (dois de retina, três vocais e um de corpo inteiro) e depois subir quatro metros de escadas que pareciam mais antigas que toda a escola em si?
Então, é, choque provavelmente serve. Mas isso não me impediu de examinar a porta escondida pela qual acabamos de sair.
―Eu nunca soube que havia uma passagem atrás dos armários do Dr. Fibs!‖
―Essa é a razão de ainda estar funcionando.‖
Bex e eu nos viramos para ver a Professora Buckingham atrás de nós, parada na soleira da porta do cômodo escuro com os braços cruzados, parecendo a barreira mais intimidante de todas.
―Cameron, Rebecca, me acompanhem.‖
Há três coisas que são importantes saber sobre a Professora Buckingham.
1) Ela é o membro mais velho do corpo docente.
2) Ela é uma lenda absoluta no MI6; e,
3) Ela anda mais rápido do que possa ser humanamente possível com um quadril ruim. Pelo menos parecia assim conforme Bex e eu arrastávamos nossas malas pesadas escadas acima, tentando acompanhar seu passo.
―Espero que seu recesso tenha sido agradável, senhoritas.‖ Ela olhou para trás, para nós. ―Ou tão agradável quanto possa ser esperado sob tais circunstâncias.‖
―Professora!‖ Sr. Mosckowitz chamou das escadas acima de nós. ―Eu preciso…‖
―Meu escritório. Segunda prateleira‖, ela gritou de volta sem perder o passo. ―Pediram-me para transmitir três fatos muito importantes para você duas. O primeiro é lembrar-lhes de que o que aconteceu em Londres é altamente confidencial. Qualquer coisa que vocês possam ter visto...‖, ela parou e nos olhou por cima de seus óculos. ―Qualquer conversa que vocês possam ter tido não é para ser repetida a ninguém — especialmente
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suas colegas. Essas são histórias que vocês não compartilharam nos terrenos escolares.‖
Bex me deu uma olhada rápida, e eu sabia que ela tinha percebido a abertura também. Foi provavelmente por isso que a Professora Buckingham não perdeu um segundo antes de adicionar:
―A segunda coisa é que não haverá mais viagens fora dos terrenos escolares.‖ Ela virou para subir novamente. ―Extracurricular ou qualquer outra.‖
Subindo escadas acima, eu observei minha professora se virar para mim.
―Tenho certeza que perderemos algumas, Cameron. E se perdemos... bem… eu realmente espero que nos conte.‖
Antes que eu pudesse perguntar o que exatamente eles podem ter perdido, parei e estudei a parede, encarando o pedaço de moldura usando para girar e abrir uma passagem secreta para o celeiro, onde nós tínhamos Proteção & Aplicação. A entrada estava coberta agora — uma parede sólida de pedra a bloqueando para sempre.
No corredor do primeiro andar, passamos pelo lugar onde um relógio avô costumava ficar, escondendo um alçapão para o sistema de ventilação original da mansão...
Perto da biblioteca, procurei pela estante de livros que costumava girar e revelar uma escada de corda que corria do porão da mansão até o telhado...
Mas tinha desaparecido. Tudo tinha desaparecido.
A Professora Buckingham deve ter lido minha mente, porque parou no topo da grande escada e me estudou.
―Imagino, Cameron, que você achará muitas coisas diferentes.‖
Guardas armados estavam no hall de entrada abaixo de nós, digitalizando as impressões digitais de minhas colegas de classe, vasculhando suas bagagens. Os vitrais que eu tanto amava estavam cobertos com vidro à prova de balas. A mansão Gallagher tinha sofrido centenas de anos com tempestades, cupins e alunos da sétima série superzelosos, mas naquele momento eu sabia que minha escola estava ferida, e tudo que eu podia fazer era ficar ali, encarando as suas cicatrizes.
―Eles fizeram tudo isso por minha causa?‖ Eu não tinha certeza de como isso deveria me fazer sentir — lisonjeada, segura ou apenas realmente, muito culpada.
Os corredores estavam silenciosos. O Hall de História estava escuro. Abaixo de nós, a última de nossas colegas estava sendo permitida a entrar, em casa, mas nada do lugar a minha volta parecia com a casa que eu deixei.
Bem — isso é, até que eu ouvi o grito.
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● ● ●
―Vocês estão atrasadas!‖
Não havia como confundir a voz de Liz. Seu sotaque estava mais acentuado, como sempre está depois das férias. E ainda assim conforme me virei e olhei para a incrivelmente pequena loira que estava em pé na boca do Hall de História, com as mãos nos quadris, eu estava totalmente não esperando ver o que vi. Porque Elizabeth Sutton, minha supergênio e surpreendente amiga, estava com raiva.
Não o tipo de raiva como quando ela dorme demais e acorda às 6:05 da manhã para estudar em vez de às 6 em ponto — não como ela fica quando Bex a provoca sobre seu sistema patenteado de cartões de anotações codificado por cor. Nem mesmo o tipo de raiva que vem quando ela ouve que um professor não oferecerá tarefas para ganhar crédito extra.
Liz estava mais irritada do que algum dia já a vi estar, conforme olhou entre nós duas, depois jogou seus braços para cima.
―Eu estive tão preocupada!‖ Ela atirou-se em cima de nós como uma bala de trinta e oito quilos, agarrando ambas de nós, nos apertando com mais força do que eu achei que fosse humanamente possível (bem — quando Liz é a humana em questão). Eu teria me sentido meio aleijada, se Bex não estivesse totalmente esmagada também.
―Ei, Lizzie‖, Bex disse com o pouco fôlego que pode aspirar. ―Teve um bom feriado?‖
Mas duvido que Liz tenha sequer ouvido.
―Por que vocês duas não me ligaram? Por que não me mandaram um e-mail, escreveram ou...‖ Ela se afastou, então olhou de mim para Bex. ―Eu disse a mim mesma que vocês provavelmente estavam se divertindo à beça e... estavam bem. E então eu volto, vejo todas as novas medidas de seguranças e fico tão preocupada!‖
Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, estávamos de volta no abraço, e Liz estava respirando profundamente. Então, tão rápido quanto, ela se afastou novamente.
―Então o que aconteceu? Onde vocês foram? O que viram?‖
―Liz, nós…‖
―Acho que isso é confidencial.‖ Buckingham me atirou um olhar conforme falou.
―Tudo?‖ Liz perguntou.
―Tudo‖, Bex e eu respondemos.
―Patricia!‖ Sr. Smith estava subindo as escadas correndo. ―Estamos prontos para começar…‖
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―Estou indo!‖ Buckingham gritou sem nem mesmo olhar. Ela estava ocupada demais olhando para mim.
―Três coisas‖, eu disse a ela. ―Você disse que havia três coisas.‖
―Sim, Cameron, me pediram para dizer-lhe que sua mãe está temporariamente detida.‖
―Mas…‖
―Ela está bem — posso assegurar-lhe. Apenas um pequeno adiamento. Mas ela não está de volta completamente ainda.‖
―Patricia, Harvey parece pensar que só temos uma chance nisso então...‖ Nosso professor de Países do Mundo gesticulou como se tentasse dizer vamos logo. E, com isso, Professora Buckingham se moveu em direção às escadas.
―O Jantar de Boas Vindas de Volta começará em breve‖, ela nos disse. ―Vocês garotas vão em frente.‖
―Mas...‖ comecei, mas então me esqueci do que estava prestes a dizer.
Porque, no hall de entrada abaixo de nós a Madame Dabney estava ajudando uma veterana explicar aos guardas porque ela tinha um sabre do século XV em sua mochila. No fim do corredor, Dr. Fibs estava reclamando que a entrada para os laboratórios da sétima série tinham sido movidos e ele não conseguia encontrá-los. A Academia Gallagher era mais forte do que um dia já foi — tecnicamente. Fisicamente. E ainda assim, de certa forma, eu quase podia senti-la desfazendo-se a minha volta.
―E, Cameron‖, Professora Buckingham disse do topo das escadas. ―Bem vinda à sua casa.‖
Subindo as escadas para nosso quarto, tentei não contar as passagens secretas pelas quais nós devíamos ter passado (4); ou os homens do pessoal que pararam subitamente de cochichar assim que me viram (6); ou mesmo o número de portas sensíveis a impressões digitais pelas quais tínhamos que passar para chegar a nossa suíte (9).
Tentei me concentrar em quão bonito estava o cabelo de Liz (porque, diferente de mim, ela pode perfeitamente tirar um bob). Me foquei no meu corpo cansado da viagem e meu estômago que roncava (porque enquanto as casas seguras do MI6 podiam ser incrivelmente seguras, elas não vem muito bem abastecidas de comida, me deixe te dizer).
―Então eu voltei um dia antes para mostrar a fórmula do meu novo soro da verdade para o Dr. Fibs‖, disse Liz, com os olhos brilhando. ―É dez vezes mais efetivo que Sódio Pentothal... clareia seus dentes... e…‖
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―Espere‖, falei, parando na porta da suíte que compartilhávamos desde a sétima série, sabendo e sentindo que...
―Tem alguma coisa diferente‖, disse Bex, passando por mim para o quarto.
As camas estavam feitas. As cortinas estavam abertas. Tudo estava exatamente como deveria estar, exceto que… não estava. Havia pegadas no tapete limpado recentemente, um leve cheiro de café e um perfume forte.
Eu estava andando em direção ao banheiro escuro, alcançando a luz, quando Bex gritou:
―Espere!‖
Mas era tarde demais. Uma mão forte agarrou minha cintura. Vi a sombra no espelho do banheiro, aparecendo no escuro. E não hesitei: recuei e agarrei o braço que me agarrou, girando, usando o próprio momento ímpeto do atacante para arremessá-lo pela porta aberta do banheiro até o outro lado do quarto.
Ele colidiu contra uma cômoda e derrubou um abajur no chão. Então Bex estava lá, se movendo para dar um chute. O homem rapidamente evitava o pé dela.
Ele ergueu suas mãos para cima e abriu a boca para falar, mas antes que pudesse dizer uma palavra, uma mala Louis Vuitton veio voando para nosso quarto, golpeando o homem diretamente em seu rosto, e derrubando-o no chão como uma pedra.
―Ei, Macey‖, eu de alguma forma consegui murmurar através do cabelo de Bex conforme minha melhor amiga me pressionava no canto da suíte. ―Isso foi um belo…‖
―Não se mexa‖, Macey avisou. Eu não tinha certeza se ela estava falando comigo ou com o homem que deitava em seus pés com sangue vazando de seu nariz. Macey McHenry é uma das garotas mais deslumbrantes do mundo, mas a expressão em seu rosto não era bonita naquele momento. Era assustadora.
E ainda assim, o homem em seu pé não estremeceu. Não lutou. Apenas chacoalhou sua cabeça e disse:
―Agora, eu não faria isso se fosse você.‖
Segui seu olhar para o canto do quarto, onde Liz estava tentando decidir se pressionava ou não um grande botão vermelho na parede marcado como BOTÃO DE PÂNICO: PARA SER USANDO APENAS EM EMERGÊNCIAS. Eu nunca tinha o visto antes, mas eu estava bem certa de que apertá-lo traria toda a força da Academia Gallagher para nossa suíte.
―Um homem estranho está em nosso quarto, Liz. Aperte!‖ Bex ordenou (soando um pouco irritada porque não tinha sido ela quem o pressionaria com uma mala de viagem).
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―Não,‖ rompi. Olhei para o sangue e o nariz escorrendo e foquei nos olhos azuis que pela última vez vira me encarando do outro lado de uma mesa de metal fria.
―Está certo.‖ O homem quase sorriu conforme olhou para cima para nós quatro e disse: ―Eu não sou um estranho. Sou, Srta. Morgan?‖
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CAPÍTULO 10
ENTÃO, OK, TECNICAMENTE EU O TINHA VISTO UMA VEZ ANTES, mas ele ainda era um desconhecido total. Afinal, ele não tinha me dado seu nome em Londres — nem posição social, nem número de série. Eu sabia que ele tinha permissão suficiente para estar em uma instalação super secreta do MI6 e uma escola igualmente super secreta. Mas se eu não conhecia Joe Solomon, então não conhecia nenhum outro homem.
Infelizmente, saber de alguma coisa e convencer Liz de alguma coisa são duas coisas diferentes.
―Mas por que ele está fazendo a verificação de segurança do nosso quarto?‖, ela pretextou depois de colocarmos nossos uniformes e encararmos o andar de baixo. ―Ele é do pessoal da segurança?‖
―Eu não tenho certeza, Liz‖, admiti. ―Ele é só um agente que conheci em Londres.‖
Liz estava praticamente correndo para manter o ritmo ao meu lado, com a mão no corrimão.
―Então ele estava na sua segurança pessoal?‖
Olhei para Bex e dei de ombros.
―Não exatamente.‖
―Você o conheceu?‖ Liz perguntou virando-se para Bex.
―Não‖, Bex disse verdadeiramente. ―Eu não o conheci.‖
―Você a deixou sozinha?‖
Eu tinha quase esquecido que Macey estava ali, para dizer a verdade. Ela estava tão quieta, andando à nossa frente, mas agora estava parada na base da escada, olhando para cima para Bex.
―Pensei que tínhamos concordado em...‖ Macey começou, então parou subitamente.
―Concordado em o que?‖, perguntei, mas não recebi nada. ―O que?‖ perguntei novamente. ―Vocês se reuniram antes do recesso e concordaram em nunca me deixar ir a algum lugar sozinha? Ou foi mais como um acordo para monitorar meu humor e comportamento para que pudessem alertar a alguém caso eu estivesse prestes a explodir e fazer alguma coisa estúpida?‖
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Minhas três melhores amigas no mundo se entreolharam como se tivessem esquecido como falar Inglês. Finalmente, Bex disse:
―Ambos.‖
As grandes portas duplas do Grande Salão estavam abertas. Senti cheiro de pão fresco e ouvi as vozes de uma centena de garotas conversando, rindo. Eu estava em casa. Depois de semanas correndo e me escondendo, eu estava finalmente em casa; mas olhando para minhas colegas, me lembrei de que ser uma Garota Gallagher não é coisa de uma construção. É questão de irmandade.
Percebi que nunca realmente tinha partido.
―Ela não me deixou, Macey‖, falei. ―Eles me arrastaram para um interrogatório um dia, e aquele cara foi quem o fez.‖ Dei um passo em direção ao Grande Salão, com um último sorriso de volta para minhas amigas. ―Ela não me deixou.‖
Quatro coisas vieram à minha mente enquanto peguei meu lugar de costume na mesa do terceiro ano.
1) Estar na corrida em um país estrangeiro é suficiente para fazer uma garota seriamente sentir a falta da comida do nosso chef.
2) As janelas do Grande Salão haviam sido aprimoradas para uma substância que podia provavelmente sobreviver a um impacto direto de um míssel.
3) O saquinhos de adoçante em nossas mesas agora trazia as palavras “O conteúdo desse pacote foi certificado como livre de psicoativos.”
Mas foi a quarta coisa que eu não estivera esperando: silêncio. Assim que me sentei, parecia como se a mesa inteira — o salão inteiro — parara de falar.
Somente Bex parecia ser imune ao silêncio enquanto jogou uma perna sobre o banco e tomou o lugar ao lado de Macey.
―Todo mundo teve um bom feriado?‖ Ela alcançou a jarra de água no centro da mesa e encheu seu copo. E o silêncio ainda se arrastava.
―Eu disse‖, Bex repetiu lentamente, ―todo mundo teve um bom feriado?‖
―Sim.‖
―Claro.‖
―Uhum‖, todas se apressaram a dizer, mas os olhos de minhas colegas... seus olhos ainda estavam em mim: Cameron Ann Morgan, não mais Camaleoa.
E então, tão rápido quanto, seus olhares passaram para Tina Walters.
―Então, hum... Cammie‖, Tina começou, ―como foi seu recesso?‖
―Nosso feriado foi adorável, Tina‖, Bex respondeu por mim. ―Obrigada por perguntar.‖
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Sua coluna estava perfeitamente ereta conforme ela respondeu. Ela gentilmente chacoalhou um guardanapo e deitou-o em seu colo. Madame Dabney teria ficado orgulhosa, mas é claro que Madame Dabney não estava ali — nenhum de nossos professores estava — então talvez tenha sido por isso que Tina se sentiu segura em pôr seus cotovelos sobre a mesa e se inclinar mais perto.
―Mas eles... você sabe... os pegaram?‖, perguntou ela, talvez porque fosse a filha de um espião e uma colunista de fofoca, e não iria descansar até que ouvisse a história completa. Ou talvez ela estivesse somente esperando por uma história diferente da que devia ser óbvia para cada garota no (recentemente reforçado) Grande Salão.
―Não, Tina‖, falei cuidadosamente, ―eles não os pegaram. Não ainda.‖
―Mas eles tem um monte de vantagens, não tem?‖ Eva Alvarez perguntou.
―É claro que eles têm.‖ O olhar de Bex encontrou o meu, as palavras não ditas cursando entre nós: E o nome dele é Joseph Solomon.
―É, aposto que sua mãe e o Sr. Solomon irão encontrar algo a qualquer hora‖, Anna Fetterman disse, e eu lancei um olhar pelo Grande Salão, processando, pensando, percebendo que ninguém tinha ouvido nenhum boato. Nem uma única das minhas colegas tinha ouvido seus pais e mães cochichando sobre operários e agentes desonestos no meio da noite.
―É‖, Anna disse novamente. ―O Sr. Solomon vai pegá-los.‖
Ela assentiu sorrindo e soava tão segura.
Assenti, sorrindo, e tive vontade de chorar.
Para elas, o Sr. Solomon não era um garoto de dezesseis anos que tinha se juntado ao Círculo. Ele ainda era o homem que tinham entrado pelas portas duplas no fundo daquele mesmo salão um ano e meio atrás.
Me virei e olhei para as portas, quase pulei quando elas se abriram — como se eu quisesse que aquilo acontecesse, viajando de volta no tempo. Eu meio que esperava ver Joe Solomon entre a longa fila de professores fazendo a sua entrada formal no corredor central. Senti o salão a minha volta mudar conforme, uma a uma, minhas colegas contaram as cabeças, examinaram a fila e perceberam que alguém estava faltando.
Eu estava encarando a mesa, incapaz de olhar, quando Tina perguntou:
―Ei, onde está a Diretora Morgan?‖
Buckingham tinha dito que ela não estava de volta ainda. Que ela estava detida... atrasada. E atrasada significava chegar tarde. Atrasada significava ―de volta em um flash.‖
Buckingham não tinha dito que ela tinha ido embora.
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―Ela tem que estar aqui‖, falei sem graça, certa de que Tina tinha sentido a falta dela. ―Minha mãe tem que estar de volta a esta hora‖, eu disse, apesar do fato de que a Professora Buckingham estava se movendo até o lugar da minha mãe atrás do pódio na frente do salão.
Eu estava de pé, desesperada por uma visão melhor, quando Buckingham perguntou:
―Mulheres da Academia, quem vem aqui?‖ e cada garota no salão se levantou também.
O salão ecoou.
―Somos irmãs de Gillian.‖
―Por que vieram?‖
―Para aprender suas habilidades. Honrar sua espada. E manter seus segredos‖, minhas colegas repetiram, mas eu não disse as palavras. Estava ocupada demais encarando a Professora Buckingham, que se colocava de pé orgulhosamente atrás da crista da Academia Gallagher como se ali fosse seu lugar — seu trabalho.
―Bem vindas de volta, senhoritas. Eu tenho alguns anúncios‖, disse ela com a mesma emoção de quando estava no Hall de História e me falara que minha mãe havia sido detida.
―A Diretora Morgan não pôde estar conosco esta noite, então ficou a meu encargo informá-las que Joe Solomon não estará lecionando suas aulas de Operações Secretas neste semestre.‖
Ela disse somente assim — sem desculpas, sem explicações — conforme uma arfada percorreu o cômodo.
―Felizmente, a Academia Gallagher tem uma longa lista de ex-alunos e amigos dos quais possa escolher seu corpo docente. Por isso, estou satisfeita em dar as boas vindas a um operário que tem se destacado em vários continentes, trabalhando em umas das circunstâncias mais desafiadoras que se pode experimentar nos serviços clandestinos.‖
Eu sabia o que ela iria dizer, é claro. Uma parte de mim sabia disso assim que senti a mão em meu braço e ouvi a voz — bem antes de Liz fazer suas perguntas. Quando me virei, vi aqueles olhos azuis olhando de volta para mim. Ouvi a Professora Buckingham dizer:
―Por favor, se juntem a mim, dando as boas vindas ao Agente Edward Townsend.‖
Observando o homem de Londres fazer seu caminho pelo corredor central, uma centena de pensamentos percorreram pela minha cabeça: Quem é esse cara, realmente? O que ele quer conosco? Pode uma mala realmente fazer todo aquele estrago? Mas Liz foi
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a única que perguntou o que minhas colegas e eu estávamos pensando.
―Nós não gostamos dele, gostamos?‖
―Não‖, Bex respondeu por mim conforme nosso novo professor de Operações Secretas fazia seu caminho até a frente do salão; ―Eu não acho que gostamos.‖
Ele olhou diretamente para mim enquanto passou, mas não piscou — nem sorriu. (É claro, tecnicamente, ele provavelmente apenas não queria dar as costas para Macey.)
―Isso provavelmente é uma coisa boa, Cam.‖ Eu podia sentir Liz me olhando. ―O único motivo para sua mãe e o Sr. Solomon perderem o começo das aulas é se realmente estiverem perto de encontrar algo grande. Eles irão encontrar e voltarão.‖
―Aposto que o Sr. Solomon está bem perto de pegar o Círculo.‖ Ela olhou para mim. ―Certo?‖
Eu sei que isso vai soar loucura, mas quando você é uma espiã, sua vida não é definida pelas mentiras que você conta, mas pelas verdades. Uma mentira não mudaria nada. Me sentei ali, estarrecida, sabendo que a verdade... a verdade podia me libertar.
E foi assim que encontrei a força para sussurrar:
―Sr. Solomon é o Círculo.‖
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CAPÍTULO 11
EM NOSSO QUARTO, UMA HORA DEPOIS, BEX ERA QUEM CONTAVA a história. Sobre a Torre, o Círculo e o olhar exasperado nos olhos de nosso professor quando tremia na ponte. Soava como outras dúzias de histórias malucas que ela trazia depois do recesso, mas essa, eu sabia, era verdade.
―Ele tinha dezesseis anos?‖ Observei Liz ligar aquele número com alguma fórmula em sua mente, depois balançar a cabeça como se não computasse. ―Não, ele não pode ter sido mau. Quero dizer, ele não pode ser. Ele é... Digo, ele era…‖
―Da nossa idade‖, Macey terminou por ela.
Um dos pontos negativos em frequentar uma escola onde te ensinam que você é capaz de qualquer coisa, é que você eventualmente começa a acreditar nisso. Mas nenhuma de nós jamais pensou sermos capazes disso.
―Como alguém da nossa idade acaba trabalhando para o Círculo?‖ Macey perguntou incrédula.
―Blackthorn‖, falei simplesmente. ―O Círculo recruta no Blackthorn.‖
―Cammie, não‖, Liz começou, já sabendo onde meus pensamentos foram. ―Zach não pode ser...‖
―Mas ele poderia ser. Esses são os fatos: Sabemos que Zach estava em Londres. E em Washington. E em Boston. Zach sabia que o Círculo me queria antes de sequer sabermos que o Círculo existia.‖ Olhei para minhas mãos. ―E sabemos que o Zach sempre foi próximo ao Sr. Solomon. Eles dois sempre sabiam demais.‖
―Cam, não‖, Macey pediu. ―Pare. Mesmo que o Sr. Solomon seja um agente duplo ou qualquer coisa, isso não significa que o Zach é também.‖
―A mãe de Bex disse que ter alguém na Academia Gallagher — ter alguém perto de mim — seria de alta prioridade.‖ Eu ri tristemente. ―E Zach estava bem próximo.‖
―Cam, isso não significa nada.‖ Liz se apressou em minha direção. ―Talvez o Sr. Solomon costumava trabalhar para o Círculo, mas agora…‖
―Ele seja o mocinho?‖, supus.
―É‖, Liz disse.
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―Caras bonzinhos não pulam em rios no meio do inverno para fugir de outros caras bons‖, respondi. ―Além disso, eu não acho que o Círculo ofereça aposentadoria antecipada.‖
―Ok, então Joe Solomon é um traidor…‖ Macey falou tão simplesmente como se dissesse então Joe Solomon fica bonito em gola olímpica. ―Você realmente acha que ele seria estúpido, também?‖, ela se aproximou. ―Pense nisso, Cammie. Por que o Sr. Solomon estava lá?‖
―Ele disse que eu tinha que seguir os pombos.‖
―Seguir o que?‖ Liz perguntou.
―Ele estava falando besteira, ok?‖ Respirei fundo. ―Em um segundo ele estava me falando para correr, e depois... você sabe.‖
―Então você está dizendo que um dos melhores operários secretos da CIA — sem mencionar um dos mais homens procurados do mundo — entrou numa área de segurança pessoal do MI6 somente para te falar para seguir os pombos?‖ Macey não tentou esconder sua descrença.
―É‖, falei. ―Ele disse que tinha que me ver antes que eu voltasse para a escola. E disse que quando eu voltasse para a escola eu tinha que seguir os pombos.‖
―Me diga uma coisa, Cam.‖ Macey posicionou seu braço em volta de seu ombro. Parecia muito mais alta do que eu naquele momento. ―Você acredita que o Sr. Solomon está trabalhando para o Círculo?‖
―Abby e Baxter dizem que ele está.‖
―O que você acha?‖ Macey perguntou.
―É verdade‖, Bex respondeu por mim, se inclinando contra a parede com os braços cruzados. ―Minha mãe e meu pai me levam para missões desde antes que eu pudesse andar. Eles nunca mentiram para mim antes. Não começariam mentindo para mim sobre isso.‖ Ela se virou e olhou diretamente para mim. ―Abby nunca mentiria sobre isso para você.‖
Às vezes eu odeio quando minhas amigas estão certas. Infelizmente, isso acontece muito.
―Mas, Bex, seus pais não estavam na noite da eleição‖, Macey se opôs. ―Abby estava lá, mas estava meio morta. Cam, você estava drogada e praticamente inconsciente, então também não se lembra — mas eu sim.‖ Ela estremeceu um pouco.
―Eu me lembro de tudo. Todos estavam preocupados naquela noite, mas o Sr. Solomon estava aterrorizado. Ele estava tão preocupado com você quanto sua mãe.‖
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―O Sr. Solomon tem trabalhado para o Círculo desde que tinha dezesseis anos! Ele é bem bom em falsificar coisas‖, Bex desafiou.
Macey balançou a cabeça.
―Ele não estava fingindo.‖
―Não tem como você saber disso‖, Bex falou.
Macey riu suavemente.
―Eu conheço amor falso quando o vejo.‖
Eu não sabia o que dizer, então me afundei no chão e descansei meus braços em meus joelhos, subitamente cansada demais para o primeiro dia de aula.
Do outro lado do quarto, Liz sentava perfeitamente imóvel em sua cama, pesando opções, esperando pelo voto de desempate. Quando falou, sua voz era baixa.
―Cam, onde está sua mãe?‖
―Buckingham disse que ela está temporariamente detida. O que quer que isso signifique.‖ Soltei um suspiro. ―Ela nem apareceu na Inglaterra depois... de tudo.‖
―Eu queria que ela estivesse aqui‖, Bex admitiu. ―Tem alguma coisa que não estão nos contando.‖
Eu imaginei Zach, seu hálito confundindo-se no ar quando disse: Eles sabem mais do que sabemos. Mas minha mãe tinha desaparecido. Os Baxters e Abby estavam a milhares de quilômetros de distância. Naquela manhã Bex e eu tínhamos ido embora da Inglaterra — da nossa última chance de respostas — exceto que...
Sorri.
―Cam‖, Liz disse brandamente, ―O que é?‖
―Townsend.‖
―O que?‖ falou Liz. ―Você acha que ele será um bom professor?‖
Balancei minha cabeça negativamente.
―Você o acha gato?‖ Macey perguntou.
Eu ri.
―Então por que está sorrindo?‖ A voz de Liz ergueu-se, mas eu somente olhei para ela — pensei sobre a pasta em uma mesa de metal e os olhos que pareciam ter visto tudo.
―Eu acho que ele sabe algumas coisas.‖
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CAPÍTULO 12
RELATÓRIO DE OPERAÇÕES SECRETAS
Quando as Operárias Morgan, McHenry, Baxter e Sutton (futuramente referidas como As Operárias) retornaram para a Academia Gallagher para o semestre de inverno de seu terceiro ano, elas enfrentaram uma mãe/diretora ausente, um ex-professor fugitivo e um alto e sombrio novo membro do corpo docente que, presumivelmente, sabia mais do que dizia.
As Operárias resolveram fazê-lo dizer.
● ● ●
O primeiro dia do semestre começou como semestres frequentemente começam.
O Sr. Smith deu um teste surpresa realmente bom sobre os regimes políticos mais instáveis do mundo e as cinco principais maneiras de enfraquecê-los. No meio da manhã a Madame Dabney estava posicionando cartões que indicavam lugares e nos instruindo a preparar um mapa de assentos para um jantar do estado,que incluísse dois embaixadores, cinco senadores e três agentes desonestos que possam estar vendendo tecnologia nuclear para o maior lance.
Mas saindo da sala de chá da Madame Dabney naquela segunda-feira de manhã, não pude evitar me lembrar que nada seria ―típico‖ de novo.
―É isso. É oficial!‖ Tina Walters sussurrou para mim. ―Joe Solomon está disfarçado.‖
Disparei um olhar aflito para Bex, mas Tina continuou vagarosamente, saboreando cada palavra.
―De acordo com minhas fontes, ele não foi atribuído para nenhuma agência cooperativa. Não está listado na lista em ação. E ele não é exatamente do tipo oficial de
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operários secretos, então onde quer que esteja... nosso professor está muito, muito disfarçado.‖
A classe inteira do terceiro ano e eu reconhecemos o olhar que estava se espalhando pelo corredor estreito. Se for possível, Joe Solomon tinha acabado de ficar mais legal. E mais gato.
―Aposto que ele e sua mãe estão em alguma missão super secreta e perigosa, Cam‖, Courtney Bauer supôs conforme saímos para o corredor principal no segundo andar.
―É‖, a voz de Anna Fetterman tinha tomado uma qualidade sonhadora. ―Aposto que sua mãe e o Sr. Solomon vão encontrá-los. Aposto que...‖
Anna continuou, mas eu me desliguei, meramente registrando os sons da minha escola — as portas batendo e as garotas correndo. Olhei para o centro do hall de entrada lá embaixo, onde meia dúzia de professores estava junto de uma forma que nunca vi antes.
―Cam?‖ Anna perguntou. ―Você está bem?‖
Um por um os professores no hall de entrada começaram a se separar e descer os corredores ou subir as escadas.
―Cam?‖ Anna perguntou, sua voz mais alta.
―Desculpe, Anna‖, murmurei. ―Eu... tenho que ir.‖
A professora Buckingham já estava no topo da grande escada, andando em direção ao Hall de História, quando eu gritei:
―Professora? Professora Buckingham!‖
―Sim, Cameron?‖ Ela não vociferou as palavras, mas elas soavam cansadas. Ela parecia exausta conforme parou ao lado da espada que pertencera a Ioseph Cavan. ―Tem alguma coisa na qual posso ajudá-la?‖
Eu queria saber por que a porta da minha mãe estava fechada para todos, até mesmo eu. Queria perguntar como tudo aquilo podia ser verdade sobre o Sr. Solomon — como podia ser verdade em todos os sentidos. Mas havia apenas uma coisa que eu sabia que podia perguntar.
―É inverno‖, falei.
―É?‖ A Professora Buckingham lançou um olhar para a janela riscada com a chuva congelante.
―Digo, é o semestre de inverno. Você disse no último outono que poderia me ensinar sobre o Círculo de Cavan no inverno. E... estamos no inverno.‖
A nossa volta, garotas enchiam as salas de aula, correndo para frente das portas
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para P&A. Os corredores estavam quietos. A escola estava de volta à ativa — a vida estava de volta ao normal. Mas atrás de Patricia Buckingham, a porta do escritório da minha mãe continuava fechada.
―O programa de estudos do terceiro ano é bem desafiador, Cameron, querida‖, disse ela.
―Eu sei, é por isso que eu…‖
―Você precisa se focar e aprender o máximo que puder.‖
―Eu sei, mas o Círculo é…‖
―Cameron, as lições dessa escola são essenciais para combater os males do mundo — não importa qual mal seja. Você tem que aprender essas lições‖, ela estalou, e eu sabia que não era um conselho; era uma ordem. E ela estava certa. Minhas aulas não eram menos importantes agora. Nem de longe.
―E mesmo que esse não fosse o caso, temo que há uma série de... questões urgentes que exigem a minha atenção no momento.‖
E então me ocorreu: pela primeira vez que podia me lembrar, o membro mais idoso de nosso corpo docente parecia... Velho.
Suas mãos estavam secas. Seus olhos ofegantes. E eu podia jurar que ouvi a voz dela rachar quando disse:
―Agora, se não estou enganada, você está prestes a se atrasar para Operações Secretas. Não quer deixar nosso novo professor esperando.‖
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CAPÍTULO 13
CORRENDO PELOS CORREDORES EM DIREÇÃO AO SUBNÍVEL DOIS, eu tentei me apoiar no que tinha que fazer.
1. Descobrir o que (se existir algo) que o Agente Townsend sabe sobre minha mãe, Sr. Solomon e o Círculo de Cavan.
2. Discernir se o agente Townsend tende a dar exames práticos ou teóricos, e a melhor maneira de ir bem em cada um. (Porque ser alvo de uma organização internacional terrorista não é desculpa para deixar seu GPA cair).
Quando eu alcancei o pequeno corredor sob a grande escada e o enorme espelho que deveria deslizar de lado e me mostrar o caminho para as salas de aula de Operações Secretas, pressionei minha mão contra o mesmo e esperei pelos olhos da pintura atrás de mim soltarem um flash verde. Mas o vidro sob minha palma permaneceu imóvel e nada aconteceu.
Era a primeira aula com o Agente Townsend e eu já estava atrasada. Eu na verdade até bati no espelho como se fosse haver alguém atrás do mesmo, esperando para me deixar entrar.
Ainda nada.
Estava me virando, começando a ir pelos outros elevadores, quando vi: um pequeno pedaço de papel escrito ordenadamente e colado na parede.
ATENÇÃO ESTUDANTES:
ATÉ UM NOVO AVISO, OS SUBNÍVEIS
ESTARÃO FECHADOS. TODAS AS AULAS
DE OPERAÇÕES SECRETAS SERÃO
DADAS NA SALA 132.
Eu não sabia o que estava acontecendo. Tudo o que sabia com certeza era que estava atrasada, então apenas virei meu calcanhar e corri pelo corredor vazio, passando
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pela biblioteca — todo o caminho para a sala de aula tinha sido nada mais que um grande armário de armazenamento do último semestre. Eu quase passei correndo pela sala, mas no último segundo agarrei a moldura da porta e parei.
―Oh, aí está você.‖
Ok, eu não sei quanto às escolas normais, mas vamos apenas dizer que na melhor escola de espiãs do mundo, atraso não é exatamente comum. E quando acontece, é quase sempre acompanhado de perguntas como “Houve alguma explosão no laboratório de química?” ou “Você teve outra concussão?” E quase nunca acompanhado de “Oh, aí está você.”
Mas aquelas eram as palavras que o Agente Townsend escolhera e para alguém que me questionara em uma instalação super secreta, horas após o homem mais procurado do mundo me tentar pseudo sequestrar, ele certamente não parecia preocupado com onde eu estivera.
―Desculpe-me, eu…‖
―Apenas... sente-se‖, disse ele quase nem olhando em nossa direção.
Eu peguei a mesa ao lado de Bex e sem olhar para o relógio, eu sabia que estava três minutos e meio atrasada. Três minutos e meio nos quais minhas colegas tinham se sentado em silêncio esperando. E enquanto eu me juntei a elas, percebi que nosso professor não estava esperando por mim.
Quatro minutos.
Cinco minutos.
Dez minutos, esperamos.
Ele queria ver se estávamos memorizando a página da frente do papel que segurava; ele avaliava quão paradas podíamos ficar, quão silenciosas podíamos sentar. Grandes operários são naturalmente pacientes, pensei. Ele queria ver se podíamos esperar.
Pouco sabia ele, porque Tina Walters não espera por ninguém. (Ou, bem, espera, mas evidentemente ela ultrapassa a linha depois de dez minutos)
―Sr. Townsend?‖
Nosso professor não olhou, não disse uma mísera palavra.
―Senhor‖, Tina continuou, ―tem algo que podemos fazer para ajudá-lo a começar sua aula?‖ Ela soava muito como a Madame Dabney, mas o Sr. Townsend não estava impressionado.
―Não‖, ele disse terminantemente, depois ergueu seu jornal mais alto, jogou seus pés na mesa e se inclinou para trás em sua cadeira. ―Quem pode me contar sobre Joe
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Solomon?‖
Soava como um teste surpresa. Parecia ser um teste surpresa. Mas não pude evitar a sensação de que toda a classe do terceiro ano tinha acabado de ser pega e transportada através do Atlântico — sentadas dentro da Estação Baring Cross.
Townsend moveu o papel de lado por uma fração de segundo e apontou para Tina Walters, quem estava prestes a puxar seu braço fora do lugar de tanto erguer a mão descontroladamente.
―Você‖, disse ele.
―Agente Joseph Solomon. Operário da CIA. Membro do corpo docente a Academia Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais…‖
―Eu sei de tudo isso‖, nosso novo professor interrompeu. ―Próxima.‖
―Ele disse que depois do recesso nós provavelmente começaríamos técnicas de escrita secreta‖, Anna contou a ele. ―E se isso corresse bem, prometeu que podíamos…‖
―Entediante‖, Townsend contradisse.
Eu podia sentir minhas colegas observando atentamente, se sentando mais reto — literalmente erguendo-se ao desafio. Mas eu sabia que isso não era um teste — era um interrogatório. Nós não éramos estudantes naquele momento; éramos testemunhas que haviam estado trancadas em uma sala com um agente duplo todos os dias por um ano e meio.
―Onde ele foi?‖ Agente Townsend lentamente virou a página de seu jornal. ―Como ele preencheu seus dias? O que ele queria... aqui?‖
―Ele é um professor‖, Eva Alvarez disse. ―Ele queria ensinar.‖
O Agente Townsend riu, rápida e suavemente, mas não havia nenhuma alegria em sua voz quando disse:
―Tenho certeza que sim.‖
―Desculpe, senhor?‖ Anna falou. ―Eu não entendo.‖
―Tenho certeza que não‖, murmurou.
As operárias foram capazes de assegurar que, o que quer que tenha trazido o Agente Townsend à Academia Gallagher, NÃO ERA a paixão por ensinar.
Então os pés dele saíram da mesa, o papel se abaixou e eu tive uma boa vista de seu nariz inchado (nota para si: até mesmo bagagem suave pode ser uma excelente arma).
―Onde ele passa seu tempo?‖
―Bem, normalmente o víamos no Subnível Dois‖, Tina admitiu e o olhar estranho
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cruzou o rosto do Agente Townsend.
―Em mais nenhum lugar?‖
―Todos os lugares‖, Anna respondeu.
Ocorreu-me que essa teria sido uma boa lição — testar nossas memórias, nossos poderes de observação. Mas o Agente Townsend não sabia disso. O Agente Townsend não se importava.
―Conhecidos associados?‖, perguntou ele, depois balançou a cabeça como se por um segundo tivesse esquecido que nos achava idiotas. ―Quero dizer, quem eram os amigos dele? Ele tinha algum aliado? Alguém especialmente próximo?‖
―Às vezes ele deixava o Sr. Mosckowitz ir conosco em nossas missões‖, Anna disse.
―Ele costumava trabalhar no celeiro de P&A com o Sr. Smith‖, Kim Lee adicionou.
―Eu acho que ele podia ser bem próximo à Diretora Morgan‖, Tina riu, mas então deu uma olhada para mim e parou.
―É verdade?‖ Townsend cruzou os braços e olhou para mim. ―E quanto a você, Srta. Morgan? O que você sabe sobre Joseph Solomon?‖
Chuva congelada atingia as janelas. Eu tremi, me lembrando do vento frio, do olhar do Sr. Solomon na ponte e do fato que eu acreditara nele. Por um ano e meio, eu acreditara em tudo.
As Operárias odiavam Joe Solomon.
―Senhor‖, ouvi a voz de Bex. ―O Sr. Solomon costumava dizer que a melhor arma de um operário é sua memória e…‖
O Agente Townsend finalmente parou de me encarar.
―Você é a Baxter.‖
―Sim, senhor‖, Bex sorriu.
―Eu conheço o trabalho de seus pais‖, disse ele.
Bex sorriu novamente.
―Obrigada, senhor.‖
―Não foi um elogio.‖
As Operárias sentiam saudades de Joe Solomon.
Townsend andou em volta de sua mesa, e se ajustou na cadeira.
―Eu sei sobre a Academia Gallagher e suas garotas durante a maior parte da minha carreira.‖ Ele nos nivelou com um olhar. ―E esse também não foi um elogio.‖
Eu percebi algo sobre seu sotaque naquele momento. Repeti suas palavras em minha cabeça, enquanto, do lado de fora, caía mais granizos e a sala ficava mais gelada.
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Eu sabia que a classe inteira estava começando a sentir o frio.
―Tudo bem, se isso é tudo que vocês estão dispostas a trazer hoje…‖
―Quanto tempo você esteve em Moçambique?‖
Townsend raramente se surpreendia, eu podia dizer, mas mesmo assim minha pergunta o parou.
―Como?‖, disse ele.
―Seu Suaíli2 nesta manhã no café foi bem distinto.‖ Ele me olhou como se quisesse protestar, mas não dei-lhe a chance. ―Você é canhoto, mas os calos em sua palma diz que provavelmente atira com a mão direita.‖ Pensei em como ele se moveu quando puxou seu pé da mesa. ―Você favorece o joelho esquerdo. Aposto que o machucou… o que? Seis meses atrás. Seu sotaque é de meia classe, mas frequentou uma boa escola, não é? Um lugar como esse, suponho.‖
―Belo truque, Srta. Morgan.‖
―Não é um truque.‖ Chacoalhei a cabeça. ―É o exame final do último outono. O Sr. Solomon…‖
―Joe Solomon foi embora‖, ele rompeu. ―Eu deixei bem claro isso em Londres, ou você se esqueceu?‖
Eu não tinha esquecido de nada daquele dia — nem a cor da camiseta de Townsend, nem a frieza da mesa de metal dura.
―Por que não estamos tendo essa aula no Subnível Dois?‖, perguntei e observei seus olhos mudarem. ―Você não obteve permissão?‖
―Oh, eu te asseguro, Srta. Morgan, que verei nessa escola tudo que eu precisar ver.‖ Ele acenou em direção à porta. ―Agora vão. Considerem-se dispensadas.‖
2 É uma das línguas oficiais do Quénia, da Tanzânia e de Uganda, embora os seus falantes nativos, os povos suaílis, sejam originários apenas das regiões costeiras do Oceano Índico.
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CAPÍTULO 14
Durante o curso da semana seguinte, As Operárias puderam determinar o seguinte:
• A palavra “pombo” aparecia em nove dos autos, histórias de lendas ou planos de aulas de Joe Solomon,
• Havia aproximadamente 4.902 estradas, travessas, rios e etc chamados Pombo nos Estados Unidos — nenhum deles era em Roseville, Virginia.
• Uma pesquisa extremamente minuciosa nos servidores da Academia Gallagher revelou um banco de dados chamado de "Arquivos Pombos Super Secretos do Sr. Solomon", tanto quanto as operárias queriam encontrar um.
• No que diz respeito mistérios, “os pombos” não tinham nada a ver com o Agente Townsend.
● ● ●
―Isso é inútil‖, Liz exclamou, sua voz ecoando no telhado alto e arqueado do celeiro de P&A.
―Não, não é‖, disse Bex, agarrando o arco & flecha da mão dela. (Oh sim, eu disse arco & flecha) ―Todas as Garotas Gallagher têm que ser peritas em duas armas, e estou te dizendo que arco & flecha é…‖
―Isso não‖, falou Liz, apanhando a arma de volta e dando uma boa chacoalhada (a este ponto Macey e eu caímos no chão e assumimos o controle). ―Operação Townsend‖, sussurrou ela.
Lá fora, um cobertor de neve fresca caía na esteira abaixo de nós. Um grupo de alunas da sétima série estava enfrentando a parede de escalada, enquanto o celeiro todo ecoava com as batidas e gritos das meninas que haviam sido trancadas por tempo demais.
―O homem é um fantasma, gente‖, disse Liz, sua voz baixa. ―Quero dizer, seriamente fantasmagórico. Ele frequentou um colégio interno caro na Inglaterra com bolsa de
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estudos…‖
―Boa ligação naquilo, a propósito‖, Bex me falou, mas Liz não parou.
―Depois se juntou ao MI6 assim que saiu do colégio. Tenho certeza que ficou um tempo na Europa ocidental, porque realizou aquela grande operação policial na Romênia há dez anos atrás.‖
―Aquela com morcegos?‖ Bex perguntou com os olhos arregalados.
―Sim‖, disse Liz, com os olhos mais arregalados. ―E estou certa que era ele quem derrubou aquele grupo de generais do KGB‘s que contrabandeavam mísseis antigos Soviéticos usando um circo viajante como disfarce.‖
―Operação Tenda de Circo?‖ Bex exclamou.
―Uhum‖, falou Liz. ―Mas então… depois disso… é como se ele tivesse desaparecido. Digo... nada.‖
―O que significa alguma coisa‖, falei, e Liz assentiu lentamente.
―Algo grande.‖
―Bex, o que nossa vigilância nos diz?‖, perguntei, me virando para a garota ao meu lado.
―Ele nunca toma a mesma rota duas vezes; mal come, mal dorme e confia em absolutamente ninguém.‖
―Ele está tramando alguma coisa‖, eu disse, ―esse cara não faz nada acidentalmente, então se está aqui, é por alguma coisa grande e não tem nada a ver com lecionar.‖
―Liz‖, disse Macey, com pânico em sua voz. ―Liz, você vai querer segurar aquele…‖
―Desculpe!‖ Liz gritou para as garotas na parede de pedra, que agora tinham que circular uma flecha.
―Ei, Morgan!‖
Virei-me e vi Erin Dillard andando em direção ao celeiro, como se membros do quarto ano normalmente viessem conversar com as do terceiro, o que, me deixe te dizer, não acontece.
―Precisamos conversar.‖
―Oi, Erin‖, falei. ―Você teve um bom inverno…‖
―Onde está sua mãe?‖ Assim que Erin falou, eu sabia que essa não era uma conversa. Era uma missão.
―Não tenho certeza.‖
―Você sabe como deixar uma mensagem para ela?‖, perguntou Erin. ―Uma carta secreta? Cutout? Qualquer coisa?‖
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―O que foi?‖, perguntei.
―O que você acha? Townsend. Eu sou do terceiro ano, Morgan‖, disse Erin dando uma olhada cautelosa pelo celeiro. ―Me ofereceram um lugar no Programa de Treinamento de Disfarce da Inter-agência da CIA/MI6.‖
―Isso é incrível‖, disse Bex, mas Erin meramente deu de ombros.
―Obrigada. Eu recebi a carta durante o recesso. Eu tenho que apresentar um relatório de trabalho em Junho e você sabe qual é nosso dever de casa de Operações Secretas neste fim de semana?‖
Nós todas balançamos a cabeça.
―Nós não recebemos nenhum.‖
―Não!‖ Liz exclamou.
Erin assentiu.
―Daqui alguns meses eu irei estar disfarçada em algum lugar e é assim que eu deveria me preparar?‖
Ela estava certa, é claro. A aula do Sr. Townsend não era só uma perda de tempo. Era perigosa.
Erin balançou a cabeça, depois se virou para encarar fora da janela e juntas observamos nosso novo professor andar pelos terrenos e desaparecer sem deixar um traço na neve que caía.
―O que ele realmente está fazendo aqui?‖
Erin era uma ótima aluna. E se tornará uma espiã incrível. Enquanto ela se virou e saiu, seu sussurro pareceu ecoar, se postando em nós quatro.
Nossa missão era clara.
―Ele será um alvo difícil‖, disse Bex.
―Eu sei.‖
―Estamos falando de difícil como esse cara faz o Sr. Smith parecer como uma doce striper.‖
Assenti.
―É, está certo.‖
―Então a questão é‖, Bex falou lentamente, ―quão longe vocês estão dispostas a ir?‖
Olhei para minhas três melhores amigas no mundo.
―Qual é à distância?‖
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CAPÍTULO 15
RELATÓRIO DE OPERAÇÕES SECRETAS
As Operárias Morgan, Baxter, Sutton e McHenry começaram uma operação de procura perigosa a informações sobre um alvo altamente hostil. E professor.
As Operárias puderam determinar o seguinte:
• O Agente Townsend sempre acorda às oito horas e nunca vai para a cama depois das duas.
• O Alvo corre cinco quilômetros todo dia e foi visto fazendo 500 agachamentos e levantamento em uma fila (o que, de acordo com a Operária Baxter, não é nem de longe tão impressionante quanto parece).
• O Alvo evita rigorosamente açúcar e cafeína (o que, de acordo com a Operária Morgan, é tão louco quanto parece).
• Apesar das duas semanas no corpo docente da Academia Gallagher, O Alvo não adquiriu nenhum amigo.
● ● ●
Eu tive muitas refeições memoráveis em cinco anos e meio na Academia Gallagher, mas aquela foi uma das poucas vezes que eu realmente não comi nada.
―Ele não virá‖, disse Liz, seu olhar colado nas grandes portas duplas no fundo do salão.
Bex, Macey e eu permanecemos quietas, olhando em volta no Grande Salão, duas delas pegando comida enquanto nós revezávamos a vez de encarar as portas.
Liz era a única voz em que pensávamos.
―E se ele não vier?‖
―Ei, Macey, pode me passar aquela…‖
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―Não!‖, nós quatro gritamos em uníssono. Macey agarrou a banana da mão de Courtney Bauer, o que pode ter parecido um pouco estranho. Mas na Academia Gallagher, ―estranho‖ é uma coisa completamente relativa.
―Desculpe, Courtney‖, falei, tentando explicar. ―É só que temos esse experimento que faremos mais tarde com...‖
Mas então não pude terminar, porque o Agente Townsend estava de pé na entrada do Grande Salão, tomando um gole de uma garrafa de água. Seu cabelo escuro encaracolado estava molhado de suor. Em sua roupa de corrida preta, ele parecia como se tivesse acabado de voltar de invadir uma embaixada, saltar de paraquedas atrás das linhas inimigas, um encontro com um informante particularmente sombrio no beco mais escuro da cidade mais perigosa do mundo. Por mais que eu quisesse odiar o Agente Townsend, havia uma coisa que não ousaria esquecer: ele provavelmente era um espião muito bom.
Olhei para minhas colegas, sabendo que na próxima hora, de alguma forma, de alguma maneira, nós quatros tínhamos que ser melhores.
―Quem tem vista?‖, sussurrei conforme senti o homem passar atrás de mim.
―Ele está indo para o bufê‖, disse Bex, mas a menos que você pudesse ouvi-la, você podia jurar que ela falava sobre o tempo.
―O que ele está fazendo?‖, perguntou Liz. (Seu rosto e voz, lamento dizer, eram significantemente menos discretos.)
―Maçã‖, disse Macey. Seus olhos azuis pareciam especialmente grandes e brilhantes conforme olhava para mim e sussurrava novamente, ―Maçã.‖
Demorou dois segundos para Liz pegar a seringa de sua bolsa. As mãos dela estavam tremendo quando puxei a maçã da minha bandeja e segurei-a sob a mesa.
―Você percebe que isso é provavelmente ilegal, certo?‖, perguntei, mas Liz olhou para mim e sorriu como se eu fosse a garota mais ingênua do mundo.
―Não pode ser ilegal, Cam. É uma investigação.‖
Então era isso. O destino de nosso professor, minha segurança e a nota de Liz, todos articulados no que estávamos prestes a fazer.
―Você está indo muito bem, Lizzie‖, Bex disse, mas a mão de Liz ainda tremia.
―Liz...‖ Macey começou.
―Pronto!‖, disse Liz, e no segundo seguinte a maçã passou debaixo da mesa da mão de Liz para a mão de Bex.
Em um lampejo, Bex estava em pé andando em direção à porta enquanto Townsend fazia o mesmo. Três segundos depois minha melhor amiga estava trombando com ele. A
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maçã que ele carregava escorreu de sua mão e caiu bem na palma aberta de Bex.
―Olhe por onde anda, Baxter‖, disse ele conforme ela lhe entregou uma maçã de volta. Mas havia um brilho nos olhos de Bex quando ela virou as costas para nós, puxou outra maçã de suas costas e deu uma grande mordida.
Eu me sentei ali me perguntando o que Vovó Morgan diria se soubesse o que estávamos fazendo — sem dúvida algo sobre o fruto proibido. As Operárias envolveram-se em uma vigilância rotativa básica de quatro pessoas, localizando O Alvo pela Mansão Gallagher.
Teria sido bom ter unidades de comunicação. Cada operário no mundo pode te dizer as extremas desvantagens de seguir alguém que sabe da sua aparência. E para ser perfeitamente honesta, é sempre mais fácil quando suas co-agentes são todas bem treinadas e agentes de campo confiantes e não... bem... Liz.
―Ops, querida‖, Liz sussurrou quando tropeçou um degrau na grande escada de pedra que conduzia a velha capela.
Eu podia ouvir os passos de Townsend no corredor acima de mim. Depois de quarenta e cinco minutos seguindo-o pela biblioteca e observando por uma janela enquanto Bex rastejava pelo chão — sem mencionar um momento bem assustador envolvendo Liz, uma armadura e o gato preto da Professora Buckingham — minhas colegas e eu paramos nos degraus, ouvindo conforme Townsend andava mais rápido, mas em direção ao que e a quem, eu não sabia até que o ouvi falar:
―Mosckowitx, uma palavra.‖
―Ah, olá Agente Townsend! Saindo para uma caminhada, eu vejo. Eu tentei correr por um tempo. Foi muito bom... apto para mim.‖
O que foi uma espécie de eufemismo, se você perguntar a qualquer uma das meninas que se lembram do semestre que tivemos aulas de criptografia no chão porque o Sr. Mosckowitz tinha torcido os dois tornozelos ao cair em uma vala.
Observei Bex relaxar à frente, depois sinalizar para nós três a seguir escadas acima. Agachada no chão, eu podia ver duas sombras — a do Agente Townsend mais longa e enxuta do que a do Sr. M — conforme elas se estendiam pelo chão.
―Olhe aqui, Mosckowitz‖, Townsend disse. Eu não ouvi um passo, mas vi a sombra se mover. ―Me disseram que você era o homem dos códigos.‖
―Eu... Eu sou‖, Sr. Mosckowitz disse, mas soava como se não acreditasse muito.
―Eu estava sob a impressão de que você fosse o melhor.‖
―Eu sou... muito bom‖, disse o Sr. Mosckowitz, o que era talvez o eufemismo do
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século.
―Então por que você não resolveu essa bagunça com os subníveis? Eles são usados para as aulas de Operações Secretas, não são?‖ Townsend falou.
―Bem, sim...‖
―E eu sou o instrutor de Operações Secretas, não sou?‖
―Alguém precisa instruir ele‖, Bex murmurou, mas minhas melhores amigas não se moveram. Nós todas permanecemos quietas, encarando as duas sombras no chão.
―Bem, veja, é... complicado‖, disse o Sr. Mosckowitz.
―Descomplique‖, falou Townsend.
―Cada geração acrescenta um novo nível de defesas e enquanto as novas são... Bem, elas são boas, as velhas são...‖
―O que?‖ Townsend rompeu.
―Velhas‖, Sr. Mosckowitz disse simplesmente. ―Dr. Fibs e eu andamos trabalhando em uma teoria sobre como alguns dos mecanismos antigos possam funcionar, mas para dizer-lhe a verdade, a maioria deles não foi feita para ser substituídos. Se forem ativados algum dia, devem...‖ Ele fez um gesto com as mãos. ―Ka Boom.‖
Townsend deu uma risada demorada.
―E você e Buckingham não estariam arrastando esse processo, estariam?‖
―Nós poderíamos substituir os protocolos de segurança mais recentes e você poderia ir lá hoje à noite, mas...‖
―O que?‖
―Alguns dos artefatos mais secretos do mundo podem ser destruídos, e...‖
―O que?‖
―Você provavelmente morreria.‖ A sombra do Sr. Mosckowitz se moveu pelo chão, se afastando.
E então a sombra mais comprida jogou alguma coisa para o alto. Eu vi algo caindo, girando. A mão que estendeu a mão para pegá-lo se moveu tão rápido como a luz.
―Eu quero acessar aqueles subníveis, Mosckowitz.‖ Ouviu-se um barulho estranho quando Townsend deu uma mordida. ―Faça acontecer. Faça acontecer logo.‖
―Liz!‖ Bex sibilou vinte minutos depois. ―Quanto você pôs na maçã?‖
Liz deu de ombros e pareceu levemente culpada. E levemente perversa. Era uma combinação maligna terrível.
―Eu não tinha certeza se ele a comeria inteira, e se ele desse somente uma mordida, não poderia ser suficiente para…‖
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―Liz‖, sussurrei, precisando que ela chegasse ao ponto.
―Cinco vezes mais do que o recomendado!‖, ela estourou.
No final do corredor ouvi uma colisão. Nossas quatro cabeças espiaram do canto a tempo de ver o Agente Townsend tropeçar nos cacos de um vaso quebrado.
Olhamos para Liz, que falou baixo:
―Talvez seis.‖
Quando viramos de volta para o corredor, Townsend estava de pé a nove metros de distância, nos encarando. Eu tinha certeza que tínhamos sido pegas. Mas então o Agente Townsend parou e deu um aceno descuidado.
―Eu vou para o meu quarto!‖, ele gritou, então se virou e caiu sobre as almofadas de um dos meus favoritos assentos na janela. Ele tentou puxar as cortinas de veludo vermelho a sua volta como um cobertor.
―O que você está fazendo no meu quarto?‖, ele soltou quando apareci ao seu lado. E então ele pareceu perceber que seu ―quarto‖ estava maior. ―Esse é o meu quarto?‖
Balancei minha cabeça.
―Não.‖
―Ah.‖ Seus olhos azuis tinham aquecido de alguma maneira, como se algo na maçã tenha feito todas as suas defesas descongelarem.
―Devíamos perguntar a ele alguma coisa para... você sabe... testar?‖ Macey perguntou.
Quando minhas colegas de quarto olharam para mim, percebi que não tínhamos treinamento de interrogatório ainda. Nem mesmo o Sr. Solomon tinha nos ensinado como fazer isso.
Felizmente, como na maioria das coisas secretas, Bex era natural.
―Realmente existe um monstro no Lago Ness?‖, perguntou ela.
Townsend deu de ombros.
―É claro que há. O treinamento de guerra química deu errado nos anos trinta. Tiveram que colocar a coisa em algum lugar.‖
―As joias da coroa realmente foram roubadas e substituídas com falsas em 1962?‖
Ele sorriu.
―Só os rubis.‖
―Onde está o Sr. Solomon?‖
―Isso, eu não sei.‖ Ele ergueu as sobrancelhas. ―Ainda.‖
―Por que a CIA e o MI6 estão atrás do Sr. Solomon?‖
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―Ah, você sabe disso, Srta. Morgan.‖ Apesar da fala arrastada, as palavras foram o suficiente para fazer meu coração disparar. ―Qualquer pessoa que tenha sido parte do Círculo desde os dezesseis anos é alguém com quem gostaríamos de ter uma conversa.‖
―Por que você veio aqui?‖ Bex perguntou.
―Para rastrear uma raposa, você começa em sua caverna.‖
―O que você sabe sobre a minha mãe?‖
Townsend virou sua cabeça em direção a janela. Sua respiração embaçou o vidro. Eu estava começando a pensar que ele não ouvira, até que sussurrou:
―Eles não irão machucá-la.‖
E com essas palavras, um medo que eu nunca tinha conhecido encheu meu peito.
―Alguém está com a minha mãe?‖ Eu agarrei a camisa dele e o puxei mais próximo, forçando-o a olhar para mim. ―Quem?‖ O sacudi. ―Quem está com ela?‖
Seu sorriso era estranhamente vago.
―Nós.‖
Minhas mãos ficaram rígidas, formando punhos em torno de seu colarinho.
―Nós? Quem é ‗nós‘? Onde está minha mãe?‖,gritei, mas Townsend estava flutuando. Seus olhos rodopiavam. Ele encarou o vidro ondulado como se nunca tivesse visto uma janela antes.
―É bonito aqui‖, disse ele, então fechou os olhos e dormiu.
Soltei meu aperto, o observei deitar contra as almofadas. Ele parecia tão tranquilo como um bebê.
E então Liz deu um tapa nele. Sim, um tapa de verdade.
Ele acordou num pulo, seus olhos limpos por um breve segundo.
―Não!‖ Liz gritou, batendo nele novamente. ―Você está errado!‖, ela rompeu.
―Liz...‖ Bex tentou a segurar, mas Liz atacou novamente.
―Você está errado!‖, ela gritou. ―A Sra. Morgan vai voltar, nós vamos limpar o nome do Sr. Solomon e então esta escola terá um professor de verdade novamente.‖
―Oh, agora disso eu duvido.‖ Havia algo do homem de Londres voltando em sua voz. Ele sorriu. ―Eu não acho que Rachel Morgan vai gostar de trabalhar ao lado do homem que matou seu marido.‖
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CAPÍTULO 16
ESTAVA QUENTE DEMAIS DENTRO DA MANSÃO.
Lembro-me de passar por lareiras e janelas embaçadas — me empurrando nos corredores como se nunca fosse respirar ar puro novamente. Fogo. Parecia que o mundo estava em chamas.
―Cammie!‖ Bex gritou atrás de mim, mas não parei até que estivesse do outro lado do hall de entrada empurrando contra as portas pesadas.
Eu não tinha um casaco. O céu acima de mim estava denso, escuro e cinzento conforme cruzei o campo que se estendia desde a mansão até a floresta.
―Cammie,‖ Bex gritou novamente.
Atrás dela, vi Liz e Macey se aproximando, correndo.
―Cam, você está bem?‖ Liz gritou e eu rodopiei.
―Não!‖ Eu não sabia por que estava gritando. Só sabia que a palavra estivera presa dentro de mim, fervendo. ―Não! Eu não estou bem.‖
Minhas colegas de quarto pararam, congeladas. Pareciam com medo de chegar perto demais.
―Nós não sabemos o que ele quer dizer com aquilo‖, Liz me falou. ―Não sabemos onde ele obteve as informações ou se são confiáveis. Não sabemos o que aquilo significou.‖
―Não.‖ Balancei minha cabeça. ―É isso mesmo. Não sabemos nada. Eu conheço bombas, antídotos e sei como dizer parakeet em Português, mas não sei onde meu pai está enterrado.‖
Os olhos de Liz estavam vermelhos quando encararam os meus.
―Cammie, está tudo bem. Tudo vai ficar bem.‖
―O Sr. Solomon matou meu pai. Sr. Solomon...‖
Enquanto eu falhei, Bex deu um passo mais perto. Ela tentou me alcançar, mas me afastei.
―Eles me querem... viva.‖ Lágrimas quentes arderam em meus olhos. Minha garganta
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queimava. ―Eles precisam de mim viva!‖ Gritei, incapaz de parar as palavras. ―Como eu deveria estar? O que eu devo sentir?‖
―Nós sabemos como você se sente, Cam,‖ Macey disse.
―Vocês não…‖
―Cammie!‖ Eu nunca esquecerei o tom na voz de Macey naquele momento.
―Cam‖, ela disse lentamente, se movendo em minha direção. ―Eu sei como é a sensação de ser observada a cada segundo do dia. Sei como é poder confiar em menos e menos pessoas, até que você sente como se estivesse completamente sozinha no mundo. Eu sei que você pensa que as únicas coisas que restaram em sua vida são coisas ruins. Sei o que você está sentindo, Cam.‖ Suas mãos estavam em meus ombros. Seus olhos azuis encaravam os meus. ―Eu sei.‖
Por quarto meses eu vivi com o conhecimento de que o Círculo de Cavan estava atrás de mim, pensando que ninguém poderia imaginar como era isso. Como se não importa onde você estivesse ou com quem estivesse nunca está segura. Mas eu estava errada... havia alguém. E ela estava em pé bem à minha frente.
―Ele não vai me dizer onde minha mãe está,‖ falei suavemente. ―O Agente Townsend sabe… ele sabe! E não irá…‖
―Nós a encontraremos, Cam,‖ Bex disse, se aproximando. ―Nós vamos.‖
―Sim,‖ falou Liz, se juntando a nós.
―Nós rastrearemos sua mãe — a perseguiremos até o fim da terra se for necessário — e então perguntaremos a ela…‖
O ar parecia mais quente com minhas amigas em volta de mim. Senti meu coração começar a diminuir a velocidade conforme ouvi uma voz atrás de mim dizer:
―Me perguntar o que?‖
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CAPÍTULO 17
ELA ESTAVA ALI. MINHA MÃE ESTAVA ALI. PARECIA TÃO ESTRANHO vê-la — ouvir sua voz, observar a maneira como ela andou conosco pelas portas da frente e subindo as grandes escadas — como se nada tivesse acontecido desde me colocar dentro de uma limusine com os Baxters em dezembro e acenar um adeus.
―Mãe, eu…‖
―É bom ver você, filha.‖ Ela pôs um braço ao redor de mim e me segurou firmemente enquanto chegamos ao Hall de História. ―Você e Bex tiveram um bom recesso?‖
Ela não tinha ligado na manhã de Natal. Não tinha ido à Londres depois do que aconteceu na ponte. Ela tinha estado ausente de nossa escola por quase um mês, mas ainda assim enquanto eu a observava destrancar seu escritório, havia somente uma pergunta que eu queria que fosse respondida.
―É verdade?‖
Os Baxters, Tia Abby e até o Agente Townsend me disseram os fatos, mas somente minha mãe podia me fazer acreditar neles.
―O Sr. Solomon é realmente parte do Círculo?‖
Ouvi conversas vindas dos corredores, porém minhas colegas pareciam estar a milhões de quilômetros de distância enquanto minha mãe entrou em seu escritório escuro e suavemente sussurrou:
―Sim.‖
Ela encarou sua mesa. Dentro de seu escritório, me senti corajosa o suficiente para perguntar:
―Ele matou meu pai?‖
―O Círculo tem um longo historio de recrutar agentes muito jovens, Cammie. Quando o Sr. Solomon se juntou a eles, ele teria…‖
―Ele matou meu pai?‖
―Cammie, querida...‖
Meus lábios começaram a tremer. A pressão que eu estivera sentindo por meses
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cresceu, não pude evitar. O mundo estava embaçado, minhas bochechas estavam molhadas e não importa o quanto eu tentasse, era como se eu tivesse esquecido de como respirar.
―Eu sinto muito, Cammie. Sinto tanto…‖
―Onde você esteve?‖ Podia ouvir minha voz rachar. ―Eu precisei de você.‖
―Cam‖, minha mãe disse suavemente. ―Eu sabia que você estava segura, querida. Os Baxters são boas pessoas — grandes operários—‖
―Eles não são minha família. Eu precisava de você!‖
―Querida, acredite em mim, eu queria ir até você, mas não foi possível.‖
Eu queria acreditar nela, mas o Agente Townsend era como um fantasma, sussurrando em meu ouvido. Eles não irão machucá-la.
―Por que você não foi a Londres, mãe?‖
―Já te falei, Cammie. Eu estava detida.‖
Era a mesma frase que tanto Townsend quanto a Professora Buckingham usaram, mas conforme eu olhei para minha mãe, eu sabia que ela não tinha perdido o voo, sido pega em uma reunião, perdido seu passaporte. Eles queriam dizer detida como em algemas, em cabanas e instalações da CIA.
―Detida como? Detida aonde? Langley?‖ Assisti a luz mudar os olhos de minha mãe e soube que eu estava certa.
―Quando um operário é acusado de ser um agente duplo, é um procedimento operativo padrão que qualquer pessoa associada a ele seja interrogada. É o protocolo, filha. Não é nada.‖
―E quanto aos outros professores? Professora Buckingham? Sr. Smith? Por que eles não…‖
―Eles foram interrogados, Cam. Todos foram.‖
―Então por que você se atrasou? Por que você foi a única que só voltou agora a escola?‖
―Eu conheço o Sr. Solomon há mais tempo.‖ Ela respirou fundo. ―Sou quem o contratou e o trouxe aqui, então naturalmente...‖ Ela falhou. Não olhou para mim por um longo tempo. ―Mas estou de volta agora.‖
Acariciou meu cabelo.
―Você está segura.‖ Ela me puxou para ela, respirou profundamente. ―Você está segura.‖
Há coisas que passam sem serem ditas entre pessoas sob a superfície por décadas,
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vidas. Eu me perguntava às vezes se espiões têm essas coisas ou menos. Mais, eu acho. Há simplesmente muitas coisas que até mesmo as pessoas mais corajosas do mundo não são corajosas o suficiente para dizer em voz alta.
―O Sr. Solomon foi até mim‖, sussurrei.
Minha mãe deu um passo para trás.
―Eu sei.‖
―Ele disse que eles estavam errados. Disse que não tinha feito aquilo — que estavam atrás do homem errado. Eu...‖ Eu pensei na tristeza nele quando me abraçou. ―Eu acreditei nele.‖
―Joe Solomon é um operário incrível, querida.‖
―Então…‖
―Operários incríveis contam as melhores mentiras.‖ Ela afundou no sofá de couro, parecendo fraca demais para ficar de pé. ―Ele nunca irá voltar, Cammie.‖
Nos anos após a morte do meu pai, eu vira minha mãe chorar uma, talvez duas vezes. E nunca quando ela sabia que eu podia vê-la. Mas naquele momento, lágrimas rolaram de seus olhos e eu não sabia se ela falava do Sr. Solomon ou do meu pai quando murmurou:
―Ele nunca irá voltar.‖
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CAPÍTULO 18
GAROTAS GALLAGHER NÃO MATAM AULAS. NÃO NOS AUSENTAMOS e nunca houve um dia que o quarto ano combinou uma falta coletiva. Nunca. Mas andando pelos corredores na manhã seguinte, eu queria fazer uma exceção. Eu queria correr — me esconder como nunca me escondi antes. Voltar para a cama e dormir um milhão de anos.
Acontece que, eu não era a única.
―Bom dia, Srta. Morgan.‖
Eu ouvi o assoalho ranger atrás de mim. Reconheci a voz grogue. Mas o rosto que vi quando me virei não era bem o que eu estava esperando.
Claro, o cabelo do Agente Townsend úmido como se acabasse de sair do banho e suas roupas estavam frescas e bem passadas, mas seus olhos estavam vermelhos e inchados. Quando ele passou por mim e caminhou até sua mesa na frente da sala, levou-se delicadamente, como um homem que queria muito o mundo parasse de girar. (Seus dentes, por outro lado, não pareciam muito mais brancos).
Nota para si: nunca se voluntariar para ajudar Elizabeth Sutton a testar um de seus experimentos.
As luzes estavam desligadas na sala de aula de Operações Secretas, mas quando Tina Walters parou na porta e alcançou o interruptor, nosso professor resmungou:
―Deixe-as desligadas.‖
Conforme fizemos nosso caminho até nossas cadeiras, Townsend apertou seus olhos como se nossos passos fossem tiros no escuro.
―Eu não me importo o que vocês farão na próxima hora‖, disse ele suavemente, indo para a cadeira atrás de sua mesa. ―Não me importo como farão. Desde que seja... silenciosamente.‖
As pessoas têm manhãs ruins na Academia Gallagher o tempo todo — garotas bocejando por terem passado a noite acordadas, corpos doloridos lutando para subir as escadas depois de uma semana particularmente dura em P&A. A primeira vez que encontrei o Agente Townsend, eu queria que ele se sentisse tão mal quanto eu me sentia; e naquela manhã, eu acho que ele se sentia.
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Especialmente quando as luzes subitamente acenderam-se e eu ouvi minha mãe dizer:
―Bem, olá.‖
O vi piscar e pular — o observei se virar para receber a mulher à porta, mas não sei se surpresa seria a melhor palavra para descrever.
―Bem vindo a Academia Gallagher, Agente Townsend. Estamos contentes em tê-lo aqui.‖
Nota para si: Rachel Morgan é uma mentirosa incrível.
―Eu queria dizer olá no café da manhã, mas...‖ Ela estudou sua expressão fatigada. ―Posso ver que talvez você precise dormir.‖
Townsend lentamente virou seu olhar para mim.
―Deve ter sido algo que comi.‖
―Sinto muito ouvir isso, nosso chef geralmente só recebe elogios.‖
Minha mãe passeou na frente da sala. Mantinha seus braços cruzados, encarando fora da janela, antes de lentamente se virar para o resto da classe.
―Olá, garotas.‖
Houve uma onda de olás e bem vinda de volta, mas a maior parte foi espera silenciosa.
―Devo dizer, quando os administradores Gallagher me disseram que a CIA e o MI6 o recomendaram para a posição, fiquei surpresa. Espero que o ritmo de nossa pequena escola não seja muito lento para você.‖
―Não,‖ disse ele, afundando no canto de sua mesa. ―Se Joe Solomon pôde fazê-lo...‖
Senti um relampejo de raiva ao som do nome, mas se minha mãe sentiu o mesmo, não demonstrou.
―E o que está achando das coisas?‖, perguntou ela. ―Há alguma coisa de que precisa?‖
―Você quer dizer, além de acesso aos subníveis?‖
Minha mãe assentiu.
―Sim. A Professora Buckingham me informou das novas preocupações em relação a segurança quanto a eles. Estamos trabalhando nisso.‖
―Entendo‖, disse o Agente Townsend, mas soou como se dissesse ironicamente É, claro.
Então uma espécie de choque pareceu cruzar a expressão de minha mãe.
―Ah, me desculpe, Agente Townsend. Por favor, continue. Não vou interromper sua
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aula.‖
Ela pegou um lugar vazio na fileira da frente no canto direito da sala e foi a vez do Agente Townsend parecer surpreso.
―Desculpe, Sra. Morgan. Você vai... ficar?‖
―Sim‖, disse minha mãe.
―Bem, se eu soubesse, teria aproveitado para preparar algo especial para a ocasião.‖
Minha mãe sorriu.
―Ah, qualquer coisa que você tenha previsto para hoje vai ser bom, tenho certeza. Eu só gostaria de aparecer de vez em quando para ouvir seus ensinamentos. Por favor, não me deixe pará-lo.‖
Ouvi Bex abafar uma risadinha. Tina Walters cortou seus olhos em mim.
―Excelente‖, Townsend falou com um sorriso. ―Você chegou a tempo para começar nossos estudos sobre o Círculo de Cavan.‖
Lá fora, o céu era de um azul limpo e vivo, mas senti como se uma tempestade estivesse adentrando nossa sala de aula. Havia uma estática no senhor tão forte, que não ousei tocar em nada — com medo de sentir uma faísca.
Ele se virou para olhar para minha mãe.
―Se estiver tudo bem com você, Sra. Morgan.‖
―Isso é algo que seria normalmente coberto pela Professora Buckingham no quarto ano de História da Espionagem, mas dada as circunstâncias, acho que podemos abrir uma exceção.‖
Esperei que ela olhasse para mim — sorrisse — alguma coisa, qualquer coisa, além de se virar para toda a classe e dizer:
―Vejam, garotas, o Agente Townsend é uma lenda nos serviços clandestinos. Não posso pensar em ninguém mais qualificado para essa aula em particular.‖
―Nem mesmo Joe Solomon?‖
Duvido que qualquer uma de minhas colegas viram a malicia nos olhos de Townsend.
Não acho que ouviram o perigo na voz da minha mãe quando disse:
―Não. Nem mesmo ele.‖
E com isso, Townsend se virou para nós, soava quase como um verdadeiro professor quando falou:
―A coisa mais importante que qualquer uma de vocês devem saber sobre o Círculo de Cavan que é uma organização composta quase inteiramente por espiões de outras organizações — estou falando de agentes duplos. Operários desonestos. Eles têm agentes
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— traidores — em cada nível de cada serviço de segurança no mundo. Podem estar em qualquer lugar...‖ Ele se moveu em volta de sua mesa. ―Até mesmo aqui.‖
Assisti nos olhos de minhas colegas de classe o Círculo de Cavan se tornar mais do que somente uma lenda sobre Gilly, um baile, um traidor e uma espada.
―É claro, eles operam tão profundamente que em alguns dos serviços clandestinos pensa-se que o Círculo nada mais é do que uma história de fantasmas — uma lenda elaborada. Mas nos últimos cem anos sozinhos, eles estiveram por trás de cinco assassinatos — pelo menos os que sabemos — e foram fortes instigantes de três guerras. Eles venderam as identidades de dúzias de operários disfarçados da CIA e do MI6 para governos hostis e já chegaram mais perto de matar um presidente dos Estados Unidos do que qualquer um fora do Serviço Secreto poderá saber algum dia.‖
Ele cruzou seus braços e nos encarou.
―Então não se enganem, eles são, de fato, muito reais.‖
Nós sentamos lá por quinze minutos, ouvindo-o citar fatos como se o Círculo fosse somente outro grupo ou movimento — como se não fosse pessoal.
―O que eles querem?‖, me ouvi perguntando.
―Dinheiro. Poder. Controle de…‖
―Comigo?‖, interrompi. ―O que eles querem comigo?‖
Esperei que ele olhasse para minha mãe ou evitasse as perguntas, mas ao invés disso, se posicionou no canto da sua mesa.
―Isso não sabemos. Ainda.‖ Ele parou. ―Gostaria de adicionar algo, Rachel?‖
Pensei que ela diria a ele que era suficiente, que a aula já tinha terminado. Mas em vez disso minha mãe cruzou suas longas pernas e colocou seus cotovelos em sua mesa.
―Talvez você pudesse falar um pouco sobre a história deles.‖
Ele assentiu.
―Ioseph Cavan era irlandês de nascença e a sabedoria convencional sustenta que seus seguidores se retiraram para sua casa ancestral após Gillian Gallagher alegadamente o matar.‖
―Alegadamente?‖, disse Bex.
Townsend a ignorou.
―Mas agora o Círculo tem fortalezas em todos os cantos do mundo. É importante compreender que, diferentemente da maioria dos grupos baseados em política e religião, o Círculo de Cavan não tem nenhuma causa — nenhuma chamada ou finalidade além do lucro e do poder. Eles são grandes o suficiente para serem perigosos e pequenos o
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suficiente para escapar através de brechas. Eles são móveis, cuidadosos e muito bem formados. E a coisa mais assustadora é — na maior parte — nós somos quem os treinaram.‖
―O que isso significa?‖ Tina perguntou.
―Significa que eu não estava mentindo quando disse que eles são quase sempre agentes duplos‖, rompeu ele. ―E o Círculo se sobressaem isolando e recrutando agentes que são jovens, vulneráveis, ou ambos.‖
―Mas como você sabe?‖, perguntou Tina.
Um sorriso astuto caiu sobre seu rosto quando ele se levantou e estudou todas nós de uma vez.
―Porque eu sou o homem que os localiza.‖
Se nós não o odiássemos o suficiente, poderíamos ter gostado dele naquele breve momento. Mas nós o odiávamos. Então não gostamos.
―Não se enganem, garotas, o Círculo é perigoso agora não pelo que são, mas por quem são. E onde estão. E podem ser qualquer pessoa. Eles podem estar‖ — ele se virou para olhar para minha mãe — ―em qualquer lugar.‖
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CAPÍTULO 19
 Número de horas que vaguei pela mansão, indo a lugar algum: 6
 Número de passagens secretas pelas quais procurei na esperança de ir para algum lugar: 27
 Número de passagens secretas que encontrei que realmente ainda funcionavam: 1 (Mas só ia para a cozinha.)
 Número de biscoitos que eu roubei enquanto estava na cozinha: 1 (Ah, ok, 3 — mas eram biscoitos realmente muito pequenos).
 Número de vezes que quis chorar: 9
 Número de vezes que mudei de ideia: 9
● ● ●
E então eu somente continuei andando — pela biblioteca com suas filas de livros e a lareira apagada, passei pelo elevador que não mais me levava ao Subnível Dois. Os corredores estavam quietos e escuros, como se a mansão em si estivesse dormindo — descansando para um novo dia. E então eu parei no Hall de História e encarei a espada de Cavan, percebendo que pela primeira vez desde novembro, eu estava realmente sozinha.
Bem... quase.
―Olá, Srta. Morgan.‖ Uma voz profunda cortou pelo escuro atrás de mim.
Claro, era duas da madrugada em um dia da semana, mas de alguma forma não fiquei surpresa quando me virei e vi o Sr. Smith. Bem... na verdade... o fato de ele estar andando por aí de chinelos e com uma daquelas camisolas antiquadas me surpreendeu; mas o fato de ele estar acordado não.
―Eu...‖ comecei. De alguma maneira, mesmo que eu tecnicamente não estivesse fazendo nada errado, senti como se tivesse sido pega. ―Não estava conseguindo dormir.‖
―Está tudo bem, Srta. Morgan.‖ Ele se aproximou para ficar ao meu lado no brilho quente do estojo de vidro da espada. Luzes de proteção agitavam-se no cômodo como ondas.
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Olhei para meu professor. Talvez fosse a hora, ou o fato de que um de nós estava usando um vestido (e não era eu), mas me atrevi a perguntar:
―Então, qual é a sua desculpa?‖
―Um operário experiente sempre deve checar seu perímetro em horas inesperadas e de maneiras inesperadas.‖ Dei uma olhada na camisola do Sr. Smith. Se inesperado fosse o que era preciso para estar seguro, então o Sr. Smith viveria para sempre. ―Lembre-se bem disso, Cammie.‖
―Sim, senhor‖, encarei a espada. ―Obrigada. É na verdade muito bom…‖
Mas então eu parei. Não ousei dizer o que estava pensando.
―Tudo bem.‖ Havia uma piscada sábia no olho do Sr. Smith. ―Você pode dizer.‖
Olhei para o chão.
―É muito bom receber um conselho de verdade de operações secretas. Senti falta disso.‖
―O Sr. Townsend é um bom operário, Cammie.‖
―Sim, é claro, não tive intenção de sugerir que…‖
―Ambicioso. Soberbo. Calculante... mas talvez ele não seja natural na sala de aula?‖
―Não‖, concordei. ―Ele nunca será tão bom quanto...‖, mas parei rapidamente, subitamente incapaz de dizer o nome em voz alta.
―Não, ele não é com o que está acostumada‖, Sr. Smith concordou.
―Eu acreditei nele.‖ Eu não sabia da onde as palavras vieram, mas ali, na luz daquela espada, eu simplesmente tive que libertá-las. ―Joe Solomon é um mentiroso. E um traidor. E eu acreditei nele. Mesmo depois de Londres… Ele falava loucuras e mesmo assim eu…‖
―Ele era louco, Cammie? Realmente era?‖
Olhei para o espião mais cuidadoso que já conheci — encarei o quinto rosto que já o vi usar e tentei focar nos olhos que não tinham mudado desde o meu primeiro dia da sétima série.
―Joe Solomon é muitas coisas, Cammie. Mas louco? Louco é a única coisa que eu acho que nunca acreditarei.‖
O Sr. Smith deu um passo em direção a Grande Escada, a bainha de sua camisola balançando conforme ele se movia.
―Tente dormir um pouco, Cammie. E boa noite.‖
Andando de volta para o andar de cima naquela noite, pensei nas palavras do Sr. Smith, na maneira como o Sr. Solomon tinha agarrado minha mão na Torre de Londres e me puxado pelo escuro. Enquanto comecei a subir a velha escada espiral que levava aos
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quartos das alunas do terceiro ano, um ar frio aterrissou em meus braços e eu olhei através do vidro ondulado. Lembrou-me do vento frio em Londres, das ondas agitadas do Thames.
Lembrei-me de quão perdido o Sr. Solomon parecia quando me abraçou na ponte — quão estranho aquele gesto tinha parecido.
Para onde homens como Joe Solomon iam quando caíam? Perguntei a mim mesma. Me perguntei se haveria alguma ajuda para ele, esperando na praia.
Subi outro degrau, mas conforme me movi escadas acima, algo lá fora chamou minha atenção. Algo me fez parar e encarar o campo.
As luzes das janelas da mansão cortavam a escuridão, pavimentando o céu escuro e nublado. E foi quando eu os vi — os pássaros que voavam para o ar aberto e então voltavam, estendendo suas asas.
Por um momento, fiquei imóvel, ouvindo o vento uivando, o arrulho fraco dos pássaros e as palavras do meu professor que estiveram repetindo de novo e de novo em minha mente por semanas.
―Siga os pombos.‖
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CAPÍTULO 20
―ESTÁ LÁ!‖ MINHA VOZ ESTAVA RACHANDO E AS PALAVRAS VIERAM em arfadas curtas como se eu estivesse fora de forma. Fora do tempo. ―Sr. Smith estava certo. Ele não é louco!‖
Ouvi os passos das minhas colegas de quarto nas escadas trás de mim, enquanto Bex perguntava:
―Cam, sobre o que você está falando?‖
―Os pombos!‖
Estou certa que devo ter parecido uma pessoa insana. E tecnicamente, eu tinha sido acertada na cabeça muitas vezes, então minhas amigas tinham uma boa razão para se entreolharem como se todo aquele trauma cerebral fossem me pegar, eventualmente.
―Cam‖, disse Liz suavemente, seus olhos ainda inchados de sono. ―Onde estamos indo?‖
Algo estava vivo em mim naquele momento. Talvez medo. Talvez pavor. Mas principalmente, eu pensava ser esperança enquanto subi as escadas, cada vez mais alto. Quando chegamos ao destino, senti o ar frio que atravessava as frestas na pedra e, naquele segundo, meu coração parou. Fiquei em pé, congelada pelo frio da pedra debaixo dos meus dedos das mãos e com uma esperança que não ousei ignorar, conforme delineei a escultura áspera do pássaro voando e empurrei.
As cinco pedras maiores recuaram, revelando um pequeno compartimento e uma alavanca empoeirada.
―Cammie!‖ Liz exclamou. ―Não. Você não deve deixar a mansão! O que está fazendo?‖
Mas ela estava atrasada, porque a porta já estava se abrindo, uma onda de vento gelado soprava contra meu rosto e em meus pés descalços, mas não senti frio.
Somente me virei para olhar para minhas melhores amigas, que estavam de pé na luz da soleira da porta, e falei:
―Estou seguindo os pombos.‖
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Nós já tínhamos estado aqui antes, é claro. Apenas há alguns meses atrás nos sentamos nos caixotes empoeirados derrubados, que eram as últimas relíquias do programa secreto de criação de pombos-correios da Academia Gallagher.
Nós tínhamos sentado ali por horas, olhando para as luzes de Roseville, falando sobre as pessoas que estavam atrás de Macey. Atrás de mim. Mas agora, o espaço parecia totalmente diferente.
―O que...‖ Liz começou, olhando em volta. ―O que é tudo isso?‖
Quadros de giz forravam a parede interior da muralha, longe das janelas sem vidros que mostravam os terrenos. As caixas estavam empilhadas ordenadamente para um lado. Uma cadeira solitária estava no centro do piso, em frente ao quadro-negro, como se alguém tivesse passado horas naquele lugar, tentando resolver uma equação impossível.
―Isso deve ser o que o Sr. Solomon queria que a gente encontrasse.‖
Dei um passo mais perto do quadro-negro que tinha as palavras do Sr. Solomon rabiscadas em cada centímetro.
―Ele arriscou tudo — só para me dizer para encontrar isso‖, falei.
―Cammie...‖ Bex começou. ―Você sabe tão bem quanto eu que ele estava falando loucuras. Ele não era Joe Solomon.‖
―Mas nós estamos aqui‖, rebati. ―Não é loucura se estamos aqui.‖
―O que diz aqui?‖ A voz de Liz era suave, seus olhos focados quando deu um passo lentamente para mais perto do quadro. E eu sabia que ela não falava conosco; seu cérebro estava perdido no código, tentando ver além da bagunça.
―O que é, Liz?‖ Macey perguntou.
Liz balançou a cabeça.
―Eu... eu não sei. Nunca vi algo parecido com isso.‖
―É loucura, isso que é.‖ Bex bateu seu punho contra o quadro.
―Pense nisso, Bex. Pense. Ele é um dos homens mais procurados do planeta e eu sou uma das garotas mais bem guardada. Por que ir até mim em Londres? Se ele está trabalhando com o Círculo, por que se arriscar?‖
―Eu não sei, Cam. Por que ele matou seu pai? Por que entrou para o Círculo em primeiro lugar? Talvez ele rompeu ou quebrou ou...‖ Pensei que ela pudesse chorar. ―Talvez isso é o que ele é agora.‖
―Ele era louco durante a semana das provas finais? Ele era louco em Washington D.C.?‖ Senti as palavras do Sr. Solomon caírem sobre mim. ―Se ele não é louco, Bex, então ele foi até Londres por uma razão.‖ Joguei meus braços e me aproximei dos
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quadros. ―Ele foi até Londres por isso.‖
Nós quatro estávamos paradas no exato mesmo lugar que Joe Solomon havia estado, encarando as palavras, número e diagramas que ele havia escrito. Havia respostas aqui. Pistas. Ele arriscou sua liberdade — sua vida — para me trazer a esse terraço. Eu tinha seguido os pombos e naquela noite, estava sem um casaco no frio congelante, tentando decifrar o que ele tinha a dizer.
Atrás de mim, um pombo grasnou. O som era estranho e alto conforme eu pisquei no escuro em direção à saliência. Ele grasnou novamente.
―Pássaros estúpidos‖, disse Liz, atirando suas mãos em direção ao pombo solitário que se sentava na beira da grade.
A maioria das pessoas não sabe que qualquer coisa pode ser um recorte3, um intermediário, uma mensagem para espiões. Essa parte da mansão existia porque pombos uma vez foram os melhores. Eles nunca falavam quando eram interrogados; nem mesmo os melhores satélites espiões no mundo podiam localizá-los.
―Vá embora‖, Liz disse. ―Dê…‖
―Espera‖, falei, alcançando as mãos da minha melhor amiga, encarando o pequeno pássaro que se sentava estoicamente, esperando no escuro.
―Cam.‖ A voz de Bex foi suave. ―Cam, o que é?‖
Me inclinei em direção ao pássaro e alcancei o pequeno pedaço de papel que estava preso delicadamente em volta de sua perna.
Se estiver lendo isso, você encontrou. E se encontrou, você sabe. Tenho que te ver. Encontre-me no lugar onde fizemos os passes de escova. Me mande de volta na hora.
Por favor, venha.
E por favor, tenha cuidado.
As palavras foram cuidadosamente escritas. Não havia assinatura — nenhum nome de nenhum tipo. E mesmo sabendo que seria imprudente eu enviar, imprudente ler — total e completamente tolice sequer pensar em fazer como ele disse — a verdade da coisa é que a vida de um espião não é questão de aproveitar oportunidades. Trata-se de aproveitar oportunidades que valem a pena o risco.
3 cutout - mecanismo usado por espiões para passar informações, onde não se sabe a origem nem o destino da informação
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CAPÍTULO 21
―E QUANTO AOS VELHOS POÇOS DE VENTILAÇÃO NO PORÃO?‖ Bex perguntou conforme nos sentamos ao lado da lareira na biblioteca mais tarde naquela noite.
Balancei minha cabeça.
―Coberto com dez centímetros de concreto fresco.‖
―A lareira de mentira no segundo andar?‖ Tentou Macey.
―Talvez.‖ Considerei os cadeados e barras que haviam sido acrescentados sobre ela durante o recesso de inverno. ―Supondo que pudéssemos conseguir um maçarico. Alguma de vocês tem um maçarico?‖
Liz animou-se como se estivesse prestes a dizer que sim, que tinha um maçarico atrás de seu armário.
―Estou até com medo de saber‖, falei, levantando minha mão para impedi-la.
―Cara, eles realmente querem nos manter aqui dentro, não é?‖ Macey disse.
―Não.‖ Bex chacoalhou a cabeça e me encarou. ―Eles querem manter o Círculo do lado de fora.‖ Ela esperou um segundo, como se a verdade da questão fosse cair sobre nós. ―Isso é perigoso. Muito perigoso.‖
―Estou com Bex‖, falou Macey. ―Ele está te pedindo que corra um risco muito grande, Cam.‖
Elas estavam certas, mas tudo que eu podia pensar era a maneira como ele tinha ficado cara a cara com pessoas que estavam vasculhando o mundo para encontrá-lo.
―Talvez seja minha vez.‖
―Ok. Está bem. Vamos dizer que não é verdade‖, Bex ofereceu. ―Vamos supor que o Sr. Solomon seja inocente, erroneamente acusado e não tenha matado...‖ Ela desviou o olhar, mas depois voltou. ―Vamos supor que ele seja o homem que conhecemos. O Sr. Solomon que conhecíamos nos diria para sair de fininho da Academia Gallagher, ir para a cidade e nos encontrar em um fugitivo conhecido? O Sr. Solomon diria a você para agir estupidamente?‖
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A resposta era óbvia. Foi provavelmente por isso que nenhuma de nós a disse.
―Por que nós não vamos?‖, disse Liz, apontando para si mesma, Bex e Macey. ―O vemos. Pegamos a mensagem. Trazemos de volta.‖
―Não posso explicar, gente‖, falei, balançando minha cabeça. ―Eu só sei que tenho que ir.‖
―Isso não significa que você tem que ser estúpida!‖ Bex atirou de volta e percebi que ela estava sendo prudente. Bex tinha se tornado a voz da razão.
―Você não viu, Cammie‖, ela continuou. ―Não teve que observá-los, drogá-la e arrastá-la como uma boneca. Você estava lá, Cam, mas não teve que assistir sua amiga quase ir embora para sempre. Você não sabe qual é a sensação disso.‖
―É‖, Macey disse suavemente. ―Ela sabe.‖
Olhei para as garotas em quem eu confiaria minha vida. Então pensei sobre meu pai e no homem em que ele provavelmente tinha confiado à vida dele.
―Eu tenho que ir‖, falei. ―É minha missão.‖
―É nossa missão‖, Bex contradisse.
―O que estamos dizendo?‖ Liz exclamou. ―Cam, nós não temos que sair de fininho. Não temos nem que ir sozinhas. Aposto que sua mãe…‖
―Não‖, eu disse, a cortando. ―Se ela for pega ajudando Joe Solomon… Não. Estamos por nossa conta.‖
―Eu sei, Cam‖, Bex disse, me parando. ―Eu sei. Mas se fizermos isso com nosso reforço…‖
―E se eles estiverem errados, Bex?‖. pretextei. ―E se essa for nossa única chance que teremos de descobrir o que aconteceu com meu pai? E se enquanto todo mundo o está perseguindo, ninguém está tentando impedir o Círculo? E se ele não fez tudo isso?‖
A voz de Bex era monótona, calma e forte quando olhou para mim.
―E se ele fez?‖
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CAPÍTULO 22
RELATÓRIO DE OPERAÇÕES SECRETAS
As Operárias utilizaram um cenário básico do cavalo de Tróia. Se, em vez de um cavalo, você substitui por uma Minivan Dodge 1987.
● ● ●
Bem, acontece que quando uma das organizações terroristas mais perigosas e secretas do mundo está atrás de uma de suas alunas, as escolas se preocupam menos em manter as pessoas dentro, do que se preocupam em mantê-las fora.
Ou pelo menos foi o que Bex, Macey e eu dissemos a nós mesmas conforme rastejamos sob uma lona, uma manta e cerca de dez milhões de cadernos de física e deitamos o mais silenciosamente possível na parte de trás da van de Liz.
―Para onde está indo essa noite?‖, o guarda no portão da frente perguntou.
Podia imaginá-lo inclinando-se contra a janela do motorista, mastigando seu chiclete.
Tive que segurar minha respiração enquanto esperava pela voz suave e sulista que respondeu:
―Apenas verificar a estrada, Walter.‖
―Como ela está agora, Lizzie?‖, o guarda perguntou. Na luz que entrava por entre as traças da manta, eu via que Bex segurava a respiração também.
―Quase quatrocentos quilômetros por litro‖, Liz rompeu. ―Quero dizer, trezentos e noventa e cinco, para ser mais específica — o que eu posso ser. Específica, quero dizer. Você me conhece, Walter. Sou uma pessoa muito orientada a detalhes. Só estou saindo para uma dirigida por aí. Não estou escondendo nada!‖ Os olhos de Bex se arregalaram.
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PRÓS E CONTRAS
DE SAIR ESCONDIDO DA ESCOLA
(Uma lista feita pelas Operárias Morgan, McHenry e Baxter)
PRÓ: Como operárias em um cavalo de Tróia, a parte traseira de uma minivan não é nem de longe tão ruim quanto parece ser.
CON: Rebecca Baxter, apesar de suas várias qualidades, é secretamente uma descuidada.
PRÓ: Não há nada como uma operação secreta completamente não supervisionada e possivelmente ilegal, para tirar a mente de uma garota de uma organização terrorista, que está atrás dela — sem mencionar o dever de casa de Cultura & Assimilação.
CON: A garota realmente deveria estar fazendo seu dever de casa de Cultura & Assimilação.
PRÓ: Quando você não teve nenhuma lição de Operações Secretas em meses, você pegará cada oportunidade de experiência que puder.
CON: Quando você não teve nenhuma lição de Operações Secretas em meses, você não pode evitar de se sentir realmente, muito enferrujada.
● ● ●
Eu conhecia as ruas de Roseville. Andei por elas com minhas colegas de classe. Andei de mãos dadas com meu primeiro (e tecnicamente único) namorado. Eu as vi cheias de fãs de futebol e espectadores do desfile, com senhoras vendendo bolos e doces para auxiliar a igreja e crianças por aí, para uma matinê de Sábado.
É tão Americana quanto uma cidade pode possivelmente ser, com seu gazebo branco, letreiro do cinema e praça da cidade, mas parecia diferente enquanto eu estava na torre do sino da biblioteca, olhando para baixo para a praça. Não havia nada ali a não ser eu e o céu — sem paredes, sem guardas — e ainda assim eu me sentia encalhada. Como os corvos, eu sabia que não podia voar e ir embora.
―Você tem um bom disfarce aqui‖, Bex me disse.
Eu podia ouvir Macey através das unidades de comunicação em minha orelha, dizendo o que eu já sabia:
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―A praça está limpa.‖
Podia ver Liz na van, circulando o quarteirão.
―Liz está te rastreando na van‖, Bex falou. ―Temos tomadas reservas fora da cidade caso a van se comprometa.‖
Bex continuava falando, mas tudo que eu conseguia pensar era como o ar estava mais frio. As estrelas pareciam mais brilhantes. A brisa mais suave soprava contra minhas bochechas. Era como se todos os meus sentidos estivessem atenuados e eu não podia evitar pensar que a maioria das pessoas se sentia assim às vezes — quando estão sozinhas ou no escuro. Quando ouvem um barulho no armário ou um ranger no piso, elas sentem. Não é questão de estar assustada — é questão de estar viva. Os nervos trabalhavam mais, carregando mensagens ao cérebro, se preparando para a luta ou para o voo e, naquela noite, vamos apenas dizer que meus nervos tinham tido seu trabalho cortado.
―Cam?‖ Bex perguntou como se eu não tivesse a ouvido. Mas ela estava errada. Naquela noite eu ouvia, via e sentia o cheiro de tudo. ―Eu entrarei em posição. Você está satisfeita com essa posição?‖
Examinei a praça e assenti.
―Sim.‖
―Você está segura aqui.‖ Ela tocou meu braço quase como se tentasse pegar meu cheiro, como se logo pudesse estar me procurando pelo mundo.
E então eu a assisti ir.
Parada na torre sozinha, lembrei a mim mesma todas as coisas no mundo que eu sabia que era absolutamente verdade: Rebecca Baxter era a melhor espiã na Academia Gallagher e a última pessoa que mentiria sobre minha segurança. Eu tinha rastreadores GPS em meu relógio, meus sapatos, meu prendedor de cabelo e em meu estômago (graças ao novo modelo comestível que Liz estivera testando).
Minhas colegas e eu carregávamos botões de emergência que podiam reunir um exército num piscar de olhos. Podiam me rastrear em qualquer parte do mundo (e Liz firmemente acredita, na lua também).
Mas ainda assim não consegui me livrar da sensação de que a praça parecia menor de onde eu estava, ou talvez o mundo parecesse maior.
Segurava um par de binóculos em meus olhos e examinei as ruas, dizendo a mim mesma que estava tão segura quanto podia estar. Eu estava preparada. Podia lidar com qualquer coisa. Pronta para tudo…
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Exceto para a vista de uma figura alta com ombros largos, aparecendo do nada na beirada do gazebo e dizendo:
―Olá, Garota Gallagher.‖
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CAPÍTULO 23
PERSPECTIVA É UMA COISA PODEROSA. SÉRIO. EU ALTAMENTE recomendo. Há coisas que você simplesmente não consegue ver até que dê um bom passo para trás e observe bem, bem de perto.
Quero dizer, se estivesse na praça e não na torre do sino, eu poderia ouvir a garota dizer, ―Bem, olá para você‖, mas eu poderia ter perdido a forma como o garoto tropeçou para trás quando ela se virou. Eu não teria notado a forma como seus ombros caíram e sua cabeça abaixou-se na forma de alguém que não tinha encontrado o que estava procurando.
Eu podia não ter nunca percebido que Zach estava desapontado em encontrar outra garota no gazebo.
―Macey?‖ Zach perguntou como se não pudesse acreditar em seus olhos, o que era talvez a coisa mais lisonjeira que já ouvi.
Porque ninguém nunca me confundiu com Macey McHenry. Nunca. Mas estava escuro e mesmo sem o acesso ao maior closet do mundo de engano e disfarce, Macey ainda era a filha de uma herdeira de cosméticos. E com uma peruca e o casaco velho de Zach, ela se tornou uma boa isca, ou pelo menos boa o suficiente.
―Onde está Cammie?‖ Zack perguntou.
―Você parece desapontado em me ver, Zach‖, Macey brincou. ―Não gostou do meu casaco?‖
―Onde ela está?‖, exigiu Zach.
―Na escola‖, Macey mentiu sem hesitar. ―Assistindo uma transmissão ao vivo. Está segura.‖ Ela inclinou-se para perto, encarando-o.
―Os jammers na escola não permitiriam isso, Macey. Agora, onde ela está?‖ Ele se virou. ―Eu sei que está aqui em algum lugar‖, disse ele, examinando as ruelas e construções que circulavam a praça.
―Ela está segura onde está, Zach.‖ Bex saiu do recanto da parede escura ao lado do cinema e se moveu para o lado dele. ―E manteremos dessa forma.‖
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―Preciso falar com ela‖, ele falou a elas.
―Então fale‖, Macey disse. ―Estamos com unidades de comunicação. Ela pode ouvir.‖
―Preciso vê-la.‖
―Eu estou descendo‖, rompi, desesperada para sair detrás das linhas secundárias, mas a mão de Bex estava em seu ouvido.
Ela gritava comigo.
―Você fique onde está!‖
Mas eu já tinha partido.
―Ela tem sorte de ter vocês‖, Zach disse depois de um longo tempo. ―Ela precisa de vocês.‖
―O que está fazendo aqui, Zach?‖ Macey perguntou, mas Zach apenas chacoalhou a cabeça. Olhou para o chão.
―É complicado.‖
―Então descomplique.‖ Mesmo quando eu disse as palavras, eu sabia que podia me arrepender delas. ―E logo‖. Talvez Zach fosse uma isca e eu estava entrando em uma armadilha. Talvez Bex pouparia o Círculo do problema e me mataria naquela hora, mas não consegui ficar longe.
―Você está com ele‖, falei.
―Tecnicamente, ele está escondido por aí no mundo neste momento‖, Zach tentou brincar, mas eu apenas o ignorei.
―Liz e Macey disseram-me que só porque você estuda no Blackthorne não significa que...‖ Minha voz falhou. ―Mas você realmente está com ele.‖
―Garota Gallagher, me escute.‖
―Então... o que aconteceu, Zach? O Círculo recrutou você também?‖
Ele me olhou por um longo tempo antes de abaixar sua cabeça e sussurrar:
―Não exatamente.‖
Na beira da praça, um poste tremeluziu. Sombras estenderam-se pela grama por uma fração de segundo e eu vacilei, me lembrando da última vez que estive sozinha com Zach e as luzes se apagaram. Me lembrei do som de um disparo e da visão de minha tia caindo na rua escura, enquanto um dos agentes do Círculo se postava entre mim e a liberdade. Mas ao invés de atirar, ele tinha olhado para Zach e dito:
―Você?‖
―O que está fazendo aqui, Zach?‖, perguntei, minha garganta subitamente seca demais.
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―Ele me pediu que lhe entregasse uma mensagem.‖
―Então me envia uma mensagem! O que é tão importante que tive que arriscar a segurança das minhas amigas para escapar da escola e vir para cá?‖, exigi. ―Hein. O que é tão…‖
―Eu tinha que te ver.‖ Ele fechou o espaço entre nós. Suas mãos eram quentes por estarem em seus bolsos conforme se fecharam em volta de meus dedos. ―Eu tinha que saber que você estava bem. Tinha que te ver, te tocar e... saber.‖
Ele afastou meu cabelo do meu rosto, seus dedos contra minha pele.
―Em Londres...‖ Ele falhou. ―Depois de Washington…‖
―Estou bem‖, falei, me afastando. ―Ressonâncias magnéticas e raios X me mostraram que tudo está normal. Nenhum dano permanente.‖
A maioria das pessoas acredita em mim quando minto. Aprendi como dizer as palavras certas. Tenho o tipo de rosto confiante. Mas o garoto à minha frente era um operário treinado, então Zach sabia melhor. E, além disso, Zach me conhecia.
―Mesmo?‖ Ele tocou meu rosto novamente. ―Porque eu não…‖
Eu conhecia Zachary Goode. O toquei, falei com ele e senti seus lábios nos meus, mas não o conhecia — não realmente. Eu podia sentir o relógio tiquetaqueando e sabia que a garota que eu venho sendo durante o ano estava oficialmente fora do tempo.
―Estou bem, Zach‖, falei, me afastando novamente. ―Mas eu tenho que ir. Só temos meia hora antes de eles sentirem nossa falta.‖
Ele apontou para a escuridão.
―Quem mais está por aqui?‖
―Os de costume‖, eu disse, não querendo ainda dar muita informação.
―Sua mãe?‖, perguntou ele, mas eu não precisei dizer nada — ele leu a resposta em meus olhos. ―Bom‖, disse Zach. ―Ele não quer que ela se arrisque.‖
―Por que ele se importa? Se ele se importasse com ela, então...‖, estremeci.
―Então lhe contaram?‖, perguntou ele dando um passo longe.
―Sim. Eles me contaram que ele é parte do Círculo e que... Meu pai está morto por causa dele.‖ Meu coração estava disparado dentro de meu peito. Minha garganta queimava. ―É essa a parte onde você nega?‖
―Não.‖ Zach chacoalhou a cabeça. ―Essa é a parte onde eu lhe peço um favor.‖
―Você é bem ousado‖, Bex disse, movendo-se para perto, mas o olhar de Zach nunca deixou o meu.
―Há um livro, Garota Gallagher‖, disse ele, então engoliu. ―Pode ser a única coisa que
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o Círculo quer mais do que querem você.‖
―Que tipo de livro?‖, perguntei.
―Um diário. Joe — Sr. Solomon — precisa que você o leia.‖
―Por que?‖
―Explica tudo, Garota Gallagher. E, além disso, se ele não conseguir sair dessa... Ele precisa que você o leia.‖
―Onde está?‖ Bex perguntou.
―Vocês não vão gostar. É arriscado e…‖
―Onde está?‖ Bex, Macey e eu exigimos em uníssono.
―Subnível Dois.‖
―Os Subs?‖ Bex balançou a cabeça. ―Não. Não podemos. Estão fechados. Fora dos limites.‖
―Ah e fora dos limites já impediu vocês de fazer algo antes?‖ Zach perguntou a ela. ―Olha, eles não estão tecnicamente fechados — só estão manipulados para explodir se alguém chegar perto‖, disse ele como se encontrássemos explosivos altamente perigosos todos os dias. E... bem... nós meio que encontramos sim.
―Como você sabe sobre os subs?‖
―Porque uma semana antes de te ver em Londres, Joe ouviu que a CIA tinha uma fonte que começara a falar. Ele tinha que sair da rede e manter-se fora — rápido. Viriam atrás dele, Garota Gallagher e ele não podia arriscar ser pego lá embaixo, então...‖
Zach respirou fundo e soltou seu sorriso malicioso.
―Eu sei sobre os subs porque foi Joe Solomon quem os manipulou.‖
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CAPÍTULO 24
JOE SOLOMON NÃO FEZ UMA ARMADILHA NA ACADEMIA GALLAGHER para Jovens Mulheres Excepcionais para explodir, implodir ou enchê-la de água do lago.
Não me entenda mal, todas essas coisas podiam totalmente acontecer! Mas não importa o que você possa ter ouvido, o Sr. Solomon não pôs esses protocolos no lugar — os administradores da Academia Gallagher o fizeram, há muito, muito tempo atrás. Antes de eu nascer. Antes de a minha mãe nascer. Afinal, quando você tem todos aqueles segredos em um lugar, é importante protegê-los. E se as medidas de proteção falharem, é importante destruí-las.
Então eu realmente desejo que as pessoas entendem bem isso: o Sr. Solomon não construiu os gatilhos que podem destruir os subs!
Ele é só, quem os ativou.
Ou pelo menos foi o que Zach nos disse.
E isso... É, esse é o problema.
―O que foi?‖ Liz perguntou, apesar do fato de que, na frente das alas, o Dr. Fibs e Madame Dabney estavam no meio de uma aula em dupla falando sobre técnicas de escrita secretas (e por que uma Garota Gallagher realmente devia aprender como fazer sua própria tinta invisível e fazer caligrafia).
―São os sensores nos eixos dos elevadores?‖, ela sugeriu.
Balancei minha cabeça.
―O atraso de dois segundos antes dos protocolos de anti-invasão ativar-se e seremos... esmagadas?‖
―Minha nossa!‖ Dr. Fibs gritou. Olhei para cima para ver que ele derrubara acidentalmente sua última mistura invisível sobre Madame Dabney e que sua blusa estava ficando mais e mais invisível em segundos.
―Eu sei o que você está pensando, Cam‖, Liz continuou. ―Estivemos procurando por um caminho para... você sabe onde... por semanas e não estamos nem perto. Mas isso não é verdade!‖
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Na frente da sala, Madame Dabney (quem, a propósito, usava sutiãs mais sensuais do que qualquer um imaginaria) começou a enxugar em frente da sua blusa com uma toalha de mesa antiquada e o Dr. Fibs alcançou um isqueiro.
―Agora, lembrem-se garotas, a tinta se torna visível novamente quando exposta ao calor!‖ o Dr. Fibs gritou enquanto acendeu o isqueiro e a toalha de mesa pegou fogo nas mãos da Madame Dabney.
―Temos uma estratégia de entrada, uma de saída e... temos um monte de estratégias!‖ Liz disse, seus olhos arregalados e naquele momento eu sabia que uma parte de Liz não se importava com que Zach e o Sr. Solomon tenha nos pedido para fazer algo que ninguém fizera em cento e cinquenta anos. Para Liz, era apenas um quebra-cabeça, um teste. E Liz é muito, muito boa em testes.
―É, Cam‖, disse ela novamente assim que a fumaça clareou (literalmente), reuníamos nossas coisas e deixávamos a classe. ―Vamos descobrir.‖
―Descobrir o que?‖ Bex perguntou, chegando perto de nós.
―Nada‖, sussurrei.
―Resposta errada‖, Bex falou, aproximando-se, sua voz quase inaudível entre a cascata de garotas que enchiam os corredores. ―Agora, o que foi?‖
―Zach‖, Macey chutou com um dar de ombros. Ela me olhou. ―Tem que ser o Zach, certo?‖
―Então a próxima geração de câmeras dos subníveis com intervalo de 360 graus e sensores de calor não estão te incomodando?‖ Liz perguntou. Não pude dizer se ela estava zoando comigo ou não.
―Tem alguma coisa que ele não está nos contando‖, sussurrei.
―Como o que?‖ Bex perguntou, interessada novamente.
Como o que há de tão importante nesse diário? Como porque o homem em Washington não atirou nele e me sequestrou quando teve chance? Pelo menos um milhão de questões enchia minha mente, mas os corredores estavam abarrotados e havia somente uma coisa que ousei dizer.
―Tem... alguma coisa.‖
―Ele é um garoto, Cam.‖ Macey passou por mim e conduziu-nos corredor abaixo. ―E um espião. Ele é um garoto espião. Sempre haverá uma coisa que ele não está dizendo.‖
―Ele lutou conosco — em Washington‖, disse Liz. Não havia dúvida em sua voz. ―Eu sei que você não pode ver, Cam. Sei que te drogaram, bateram sua cabeça e tudo. Mas ele e o Sr. Solomon lutaram conosco‖, Liz disse uma última vez e então correu em direção
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a sala de aula do Sr. Mosckowitz.
Me virei para Macey.
―Então ele é misterioso‖, disse ela com um dar de ombros. ―Mistério é sexy.‖ E então foi à vez dela de virar e correr para as portas da frente, a caminho de sua aula de P&A.
Quando me virei para Bex, queria que ela dissesse que tudo ficaria bem — que não havia nada que nós quatro não pudéssemos fazer e era só questão de tempo até que achássemos um caminho para o Subnível Dois, limpássemos o nome do Sr. Solomon e impedíssemos o aquecimento global (não necessariamente nessa ordem).
Olhei para ela. Esperei.
―Não podemos confiar nele.‖ Ela passou por mim, andando calmamente para a Sala 132. ―Não podemos confiar em ninguém.‖
Eu queria que ela estivesse errada (mas não estava). Pensei que pudesse pensar em uma maneira de provar que ele era uma exceção (mas eu não podia). Queria que ela parasse de me olhar como uma espiã e começasse a falar comigo como uma garota, mas Garotas Gallagher só são excepcionais por serem ambas — o tempo todo. Eu queria entrar na sala de Operações Secretas, fingir ler qualquer livro entediante que Townsend nos daria, e rever cada conversa que Zach e eu tivemos. Mas antes que eu pudesse dar um passo, o Agente Townsend apareceu na soleira da porta da sala, com um casaco em suas mãos, dizendo:
―Terceiro ano, venham comigo.‖
Eu sei que devíamos estar no negócio de estar preparadas para qualquer coisa — de nunca, nunca se surpreender — mas deixe-me te dizer, a maioria das pessoas que conheço ainda me assustam pra caramba em uma base regular. (Como, por exemplo, a vez em que o Sr. Mosckowitz e Liz foram juntos escalar e nenhum deles morreu.) Mas em cinco anos e meio na melhor escola do mundo para espiãs, muito poucas coisas me surpreenderam mais do que andar com o resto da classe do terceiro ano, seguindo o Agente Townsend pelos corredores.
Ele era o tipo de homem que sempre se movia com propósito, nunca perdia um passo, mas naquele dia ele andava ainda mais rápido. Parecia mais alto. E ainda que estivéssemos dentro da mansão Gallagher, algo me dizia que o Agente Townsend estava finalmente de volta ao terreno familiar.
―Hum... senhor...‖ Tina Walters disse, se empurrando entre a multidão, tentando chegar mais perto possível do homem na frente do bando. ―Estamos indo de volta ao Subnível Dois?‖, perguntou ela, mas Townsend agiu como se não tivesse ouvido palavra
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alguma.
―O trabalho primário de qualquer agente de campo é qual?‖, perguntou ele de um jeito que o fez soar quase como um professor de verdade. Quase.
―Recrutar, correr, manter os ativos de inteligência‖, Mack Morrison disse, citando a página doze da velha cópia da terceira edição de Entendendo Espionagem: Um Guia de Operações Secretas para Iniciantes, do qual nós revezamos várias vezes para ler sob cobertores na sétima série.
Agente Townsend olhou para ela. Pensei por uma fração de segundo que ele poderia mesmo sorrir, mas ao invés, disse:
―Errado.‖
Senti como se a classe inteira tivesse tropeçado. Townsend, por outro lado, continuou andando.
―O trabalho primário de um agente de campo é usar pessoas — estranhos, tipicamente. Às vezes amigos. Secretárias, vizinhos, namoradas, namorados, zeladores e senhoras velhas atravessando a rua. Usamos todos eles.‖
Ele parou no centro do hall de entrada e virou-se para nos encarar, enquanto, atrás dele, as portas principais abriram-se. Uma van estava sobre a pista. Fiquei tentada a fechar meus olhos e fingir que realmente tínhamos uma lição de Operações Secretas, que tínhamos um professor de Operações Secretas de verdade novamente.
Mas então Townsend disse:
―Mas, é claro, se isso é muito baixo para uma Garota Gallagher...‖
―Não, senhor!‖ Tina cantou.
Ele deu um passo de lado e gesticulou em direção às portas abertas.
―Nesse caso, depois das damas.‖
―Suponho que ache que isso é opcional, Srta. Morgan?‖ Agente Townsend me encarava na porta aberta.
―É claro que quero ir, mas há certos protocolos de segurança‖ — desviei meu olhar, de alguma forma incapaz de encará-lo quando admiti, ―A Professora Buckingham me disse que não estou autorizada a deixar o terreno escolar.‖
―E eu suponho que você pense que me esqueci desse fato?‖
―Não, senhor.‖
―Então você pensa que sou idiota.‖
―Não, senhor, eu…‖
―Não se preocupe, Srta. Morgan, eu sei que você é especial. E por causa de você e
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sua mãe, eu gastei um bom tempo e energia fazendo arranjos especiais‖, ele disse com um sorriso condescendente. ―Mas se você quiser ficar na mansão...‖
Não esperei que ele terminasse. Eu já estava fora da porta.
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CAPÍTULO 25
ESPIÕES PRECISAM DE OPERAÇÕES SECRETAS. SEI QUE PARECE loucura, mas é verdade. Porque por mais que nossos cérebros sejam... você sabe... do tamanho normal, todo operário secreto sabe que uma mente é totalmente grande o suficiente para se perder dentro da mesma — enlouquecer, se for deixada com muito tempo e muito espaço, para deixar seus ouvidos correrem livres.
Então, sim, espiões precisam de operações secretas. E quando me sentei ao lado de Bex na van da Academia Gallagher que nos carregava pelos portões altos de ferro que ficavam entre mim e o mundo lá fora, eu tive que perguntar:
―Você ouviu isso?‖
―O que?‖, perguntou ela. ―Uma pequena voz dizendo que seria melhor você ficar bem onde estava?‖
―Não‖, sorri. ―Liberdade.‖
Ela me olhou como se eu pudesse estar mais louca do que normalmente, mas não me importei.
Eu estava andando de van! (E em um banco de verdade dessa vez, o que, me deixe te dizer, você não sente falta até não ter.)
Eu estava fora da escola!
Eu estava indo em uma missão!
Eu estava indo para...
Então olhei para fora da janela e percebi que não fazia ideia de onde estávamos indo.
E isso só deixava melhor.
Por duas horas nós andamos em silêncio; o único som era o zumbido da van e os roncos ocasionais (sim, roncos de verdade) enquanto Townsend caía no banco da frente, dormindo. Conforme a estrada estendia-se diante de nós e a viagem ficava mais e mais longa, tenho certeza que eu não era a única Garota Gallagher naquela van a sentir-se extremamente consciente de três fatos importantes:
1) Estávamos perdendo o almoço.
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2) É meio difícil parecer uma super agente durona e hábil quando seu estômago está roncando; e,
3) Não tínhamos uma lição de Operações Secretas em meses.
Estiquei meus braços à minha frente e pensei ter ouvido um rangido. Ferrugem nem tinha começado a cobri-lo.
E então a van fez uma curva fechada à direita e Townsend despertou num pulo.
―Bom‖, disse ele, sem olhar para fora da janela. ―Estamos aqui.‖
Caso eu não tenha mencionado antes, eu estudo em um internato. Com portões. E muros. Saias xadrez e professores severos. Então como minhas colegas e eu estávamos acostumadas a passar todo nosso tempo em um lugar excitante, semi-perigoso e cheio de comida deliciosa, não pude me lembrar de um único momento em que estive num lugar como esse.
―Ah meu Deus‖, Tina Walters disse, resumindo a reação de provavelmente cada garota na van naquele momento em particular. ―Isso é...‖
Mas antes que ela terminasse, o Agente Townsend abriu as portas e as palavras de Tina se perderam no ruído ensurdecedor de uma montanha russa correndo por seus trilhos e as pessoas gritando no alto de seus pulmões, conforme o carrinho mergulhava rapidamente e depois subia novamente. De alguma forma, sentada na traseira da van, eu meio que sabia exatamente como elas se sentiam.
―Certo‖, disse nosso professor dez minutos depois, como se quisesse acabar com isso logo e voltar a dormir, ―todas têm um alvo. Todas têm um objetivo. Todas têm uma hora.‖
Enquanto ele falava, seu olhar varria a entrada do parque de diversões, como se nenhum lugar repleto com aquela quantia de turistas e calorias vazias pudesse diverti-lo.
―Há pessoas decentes no mundo, imagino. Mas o mundo está cheio de pessoas decentes com informações úteis e para elas devemos mentir — roubar. Se alguém tem um problema com isso... bem, se vocês têm um problema com isso, estão bem aconselhadas a escolher outra profissão.‖
Ele estava certo, é claro. Não há maneira melhor de apontar isso. Nos aproximamos de secretárias para instalarmos dispositivos nos escritórios dos chefes. Ficamos amigos de viúvas para realizarmos vigilância nos quintais de seus vizinhos. Estamos no ramo da inteligência humana e a maioria das pessoas com as quais precisamos fazer nossos trabalhos acontece de estar no lugar errado e na hora errada. Então contamos mentiras, escolhemos bolsos e, acima de tudo, as usamos.
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―Você‖, Agente Townsend disse, apontando para Mack. ―Tem um homem de quarenta anos atrás de você com um boné de beisebol.‖
―Sim, senhor‖, falou Mack, mas não se virou para olhar na direção do homem.
―Você o vê?‖, perguntou o Agente Townsend, frustrado.
―Sim, senhor. Boné azul, camisa polo verde, mochila azul marinho.‖
Mack apontou para o reflexo do homem que estava na janela atrás da cabeça de nosso professor. Ele olhou para trás para olhar e, por uma fração de segundo — nada mais — pensei que ele podia ter se impressionado. Talvez.
―Ok‖, Agente Townsend disse lentamente, ―Aquele homem acabou de colocar um pedaço de papel no bolso externo de sua mochila. Não me importo como você fará, mas vai ter que descobrir o que está escrito naquele pedaço de papel.‖
Mack não precisou ouvir duas vezes, virou-se e entrou na multidão, enquanto eu me virei para estudar o homem que ela seguia.
―Uau, ele realmente se mistura‖, admiti. ―Eu nunca teria imaginado que ele é da CIA.‖
―Ele não é,‖ Townsend disse simplesmente, ainda examinando as pessoas que enchiam o parque. ―Ali, Srta. Walters‖, falou, apontando para uma senhora idosa andando em uma cadeira de rodas elétrica.
―Ela é de Langley?‖ Tina perguntou.
―Eu não faço ideia de onde ela seja.‖ Nosso professor deu de ombros. ―O que eu sei é que ela acabou de pôr o cartão de crédito na bolsa e é seu trabalho me dar o número dele.‖
―Mas não é uma operária...‖ Tina hesitou. ―Ela não sabe que é uma missão... Se eu for pega...‖
Townsend deu um passo em direção a ela.
―Então não seja pega.‖
Ainda era um jogo, eu sabia, mas pela primeira vez na história de nossa educação excepcional, os jogadores do outro lado não sabiam que estávamos jogando. Uma por uma, nossas colegas de classe receberam suas missões até que Bex e eu ficamos sozinhas com nosso professor.
―Baxter‖, Agente Townsend disse, se virando para Bex, ―você acha que pode descobrir quais são os números de série da nota de cinco dólares que o homem trabalhando no Tilt-A-Whirl acabou de pôr no cofre?‖
O olhar dela dizia que sim, achava que podia descobrir, mas ainda assim ela não se virou. Ela esperou que o olhar do nosso professor pousasse em mim.
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―E eu suponho que isso nos deixa com Cammie Morgan.‖ Ele lentamente examinou a multidão. ―Acho que talvez acharemos algo especialmente para você.‖
Eu não sabia o que dizer, então permaneci quieta, esperando.
―Ali.‖ Ele apontou em direção a um homem vestindo um macacão oficial do parque temático. ―Há chaves no cinto dele — me traga a impressão de pelo menos três delas.‖
Ele sorriu como se sentisse tão esperto. Eu dei de ombros como se aquilo fosse tão fácil. Então, com minha melhor amiga ao meu lado, me virei e comecei pela multidão.
Por mais que me doa admitir, para sua primeira lição, o Agente Townsend tinha nos trazido para um dos lugares mais desafiadores que um espião podia estar. Afinal, o Sr. Solomon tinha passado o último ano e meio nos treinando para ver tudo, ouvir tudo e perceber tudo. E conforme eu andava pelo parque, era quase coisa demais para meus sentidos absorverem.
―Ahh!‖ Exclamei, esticando meu pescoço conforme passamos por uma barraca vendendo algum tipo de fritura em um palito. ―Eu quero um daqueles!‖
―Não temos dinheiro, Cam.‖
―Ahh, eu quero ir naquele brinquedo!‖
―Só temos uma hora.‖
―Eu quero…‖
―Eu quero que você leve isso a sério, ok?‖ Bex disse, rodopiando para mim.
―Você soa como minha mãe‖, falei.
Ela praticamente brilhou.
―Obrigada.‖
―Bex...‖ falei lentamente. ―Estou bem.‖
―Você diz isso…‖
―Bex.‖ A interrompi e parei no centro na avenida principal que serpenteava todo o parque. ―Você não devia estar seguindo aquele cara?‖, apontei para o atendente empurrando um carrinho cheio de cofres na direção oposta.
―Estou bem onde estou‖, disse ela.
―Bex...‖
―Cammie...‖
―Aponte os vigilantes‖, disse a ela.
―O que?‖
Lembrei-me da maneira como os pais dela nos guiaram por Londres — o jogo que não jogamos em semanas.
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―Aponte os vigilantes.‖
―Homem vendendo balões próximo aos carrinhos de bate-bate‖, disse ela, sem piscar.
―A mulher com o algodão doce‖, adicionei, apontando para apenas uma dos guardas que me cercavam a cada vez.
Era a vez dela, mas não pude me livrar da sensação que o jogo tinha acabado. Tínhamos parado de marcar pontos em uma ponte sobre o rio Thames.
―Pela minha conta, há treze operários me seguindo no momento. E esses são somente os que vi. Há câmeras a cada cem metros e se não estou enganada, um helicóptero Blackhawk acabou de passar voando.‖
―Dois helicópteros‖, Bex corrigiu. ―Em círculos.‖
―Viu? Estou bem‖, falei e pela primeira vez em muito tempo era de verdade. Realmente. Era como se os muros de minha escola tivessem sido pegados e transportados para cá. Aqui era como a minha escola, mas com algodão doce. Não me admira que eu tenha segurado um sorriso quando disse, ―Você acha que minha mãe deixaria Townsend me trazer se aqui não fosse o exemplo de segurança de diversão familiar?‖ Bex abriu sua boca para falar, mas não lhe dei a chance.
―Vá,‖ falei.
Por um momento ela apenas ficou ali, observando. Esperando. Então minha melhor amiga virou-se sem mais nenhuma palavra.
Pelos próximos vinte minutos andei sozinha no parque lotado — passei filas de pessoas esperando para andar na roda gigante e comprar algodão doce, passei pela multidão que se reuniu a volta de Eva Alvarez enquanto ela atirou em noventa e sete patinhos mecânicos em uma fila. Montanhas russas rugiam sobre nossas cabeças com suas massas gritantes e trilhos guinchando. Rodas giravam, fontes chapinhavam e o cheiro de pessoas, comida corriqueira e calor soprava à minha volta até que me perguntei se podia me sentir doente, overdose de liberdade.
Então quando o homem com a prancheta saiu à rua principal, não me importei.
Por mais que uma garota no uniforme de uma escola particular pudesse provavelmente destacar-se em um espaço público e lotado, eu ainda era a Camaleoa. E eu segui no mesmo ritmo fácil e confortável distância que tinha sido produzida em meu DNA (um fato que Liz tinha tentando uma vez verificar no laboratório, o que nos levou a regra ―sem mais amostras de sangue neste semestre‖ no segundo ano).
Quando eu quis parar para ver os malabaristas, eu parei. Quando quis fazer careta para mim mesma no espelho do circo, eu fiz. Quando quis experimentar uma coisa
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chamada hambúrguer de waffle, eu me amaldiçoei por não manter uma nota de vinte dólares para uma situação de emergência na meia, como o avô Morgan sempre me ensinou, e apenas continuei andando. O homem de macacão permaneceu uma figura constante no canto do meu olho.
Eu provavelmente deveria assinalar que em todo esse tempo, o homem nunca se virou. Em nenhum momento ele olhou para trás. Eu estava começando a pensar que esta era a missão de operações secretas mais fácil de todos os tempos, até que ele escorregou por um pequeno portão no muro que corria atrás do carrossel, mas não hesitei. Não esperei. Eu só fiz o que eu nasci para fazer: eu o segui, sabendo que todos os guardas estiveram me seguindo seriam rápidos para fazer o mesmo.
Estava mais quieto ali, atrás das barricadas. Um lago artificial grande esticava-se ao meu lado. Os cheiros de cães de milho e pipoca perdiam-se sob o cheiro de óleo e graxa. As luzes brilhantes e rodas rodopiantes do parque se foram, substituídas por um labirinto de árvores colocadas cuidadosa e perfeitamente projetadas em andaimes que se estendiam para o céu, bloqueando o sol.
Pensei em todas as coisas que eu poderia dizer se alguém me visse: eu estava lá para encontrar meu namorado. Minhas colegas tinham me enviado em um desafio. Eu tinha visto um animal de rua vir por esse caminho e ele parecia estar ferido.
Então eu esperei com medo enquanto o homem parou e abriu a porta de uma construção que estava muito escondida no meio do parque. Esperei dez segundos, depois segui, rezando para que as dobradiças da porta não rangessem conforme a puxei lentamente e entrei.
Decorações de Natal forravam uma parede e luzes e bandeiras de Quatro de Julho cobria a outra. Estavam quebradas, carrinhos de bate-bate desbotados e uma estátua de um palhaço. Era como um cemitério — onde a diversão veio para morrer.
E esse era o pensamento que enchia minha mente enquanto eu deslizei pelo corredor central — imergindo nas vistas, nos cheiros e sons que preenchiam o ar em volta de mim. Cada fibra do meu treinamento e meu intestino doíam em conjunto para me dizer que o trabalhador tinha desaparecido — se perdido, fora de vista.
Mas então ouvi o barulho fraco de sapatos pesados no concreto e sabia que eu estava qualquer coisa, menos sozinha.
―Você realmente não devia estar aqui.‖
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CAPÍTULO 26
A PRIMEIRA VEZ QUE QUALQUER UMA DE NÓS VIRA JOE SOLOMON, pensamos que ele era um operário altamente treinado, um veterano experiente em Operações Secretas e... bem... muito gato.
Mas um ano e meio depois eu mal reconhecia meu professor no homem que estava atrás de mim. Seu rosto estava estranho e pálido. Seu cabelo mais longo e suas roupas sujas, mas percebi que eram seus olhos que mais tinham mudado enquanto o observei dar um passo em minha direção e exigir:
―Cammie, você tem que vir comigo. Tem que vir comigo agora!‖
Quando ele tentou me alcançar, me afastei. Eu não sabia se o abraçava ou batia nele (uma sensação que frequentemente associo aos Garotos Blackthorne, para dizer a verdade), então somente balancei minha cabeça.
―Não.‖
―Cammie, se eu ouvi que você iria estar aqui, então eles sabem que você está aqui. Tenho que te tirar daqui. Agora!‖
―É verdade, não é?‖
―O Círculo poderá estar aqui a qualquer minuto.‖
―Você é o Círculo!‖
Joe Solomon tinha muito mais prática mentindo do que eu havia detectado nele, mas consegui ver a verdade em seus olhos.
―É verdade, não é?‖, perguntei, mesmo que, lá no fundo, eu sabia que não era realmente uma pergunta. Eu sabia.
―Sinto muito, Cammie.‖
Ele correu a mão por seu cabelo.
―Cammie, eu sinto…‖
―Não,‖ falei entorpecida. Senti-me recuar, minha mão esquerda traçava o muro de alvenaria da construção. Examinei o lugar, procurando por um pedaço de um cano de uma ferramenta — uma arma de qualquer espécie.
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―Cammie, me escute. Eu te explicarei tudo, mas se minhas fontes estiverem certas, você não está segura aqui. Tem que vir comigo.‖
―Eu não vou para lugar algum contigo!‖
Eu não estava pensando nos guardas, quem, momentos atrás, eu tive certeza que estavam me observando a cada momento. Não apertei o botão de pânico que usava em volta de meu pulso como um relógio ou pedi ajuda através das minhas unidades de comunicação. Eu não estava pensando quando levei minha mão até um lado do rosto dele — com força. Foi somente um tapa — nada especial. Dificilmente algo que ensinariam em P&A. Mas ainda assim senti vontade de fazer de novo. E de novo.
―Eu não vou para lugar algum contigo!‖, falei, batendo nele novamente.
―Não vou. Não vou. Eu…‖, parei e o encarei. ―Como você pôde?‖
―Eu era jovem, Cammie.‖
―Você tinha minha idade! E cresceu e…‖ Eu não queria chorar, então gritei. ―Você o matou!‖
Esperei que ele revidasse, me jogasse no chão onde estava. Ele era maior, mais forte e mais experiente, mas raiva tem sua força própria. O observei tropeçar para trás como se soubesse disso — como se eu o assustasse.
―Ele está morto por sua causa!‖, gritei, dando um passo para frente, mas o Sr. Solomon não se mexeu para bloquear o golpe.
Em vez disso, ele se inclinou contra a parede, seus olhos mais profundos, escuros e tristes do que qualquer coisa que eu tenha visto. O melhor amigo do meu pai me encarou e com a voz rachando sussurrou:
―Eu sei.‖
O que aconteceu depois foi uma cena que eu repeti em minha mente mil vezes. E provavelmente vou repetir mais mil vezes. Tudo que sei com certeza é que em um segundo, um homem que eu tinha reverenciado, confiado, amado e odiado (nessa ordem) estava na minha frente, desintegrando-se.
E no momento seguinte, o tempo pareceu congelar quando a porta se abriu e uma longa sombra cortou pelo piso de concreto, e eu ouvi uma mulher dizer:
―Ele disse que encontraríamos você aqui.‖
Me lembro de tudo em minha viagem para Boston no verão passado — a vista dos balcões, os sons da multidão e acima de tudo, a maneira como uma mulher mascarada e dois homens andaram em minha direção entre as sombras giratórias das hélices de um helicóptero.
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―Não‖, eu disse, como se essa simples palavra pudesse impedir de tudo acontecer novamente.
A mulher parecia tão calma enquanto parava na soleira da porta aberta, como se nada pudesse dar errado dessa vez. Como se estivesse acabado. Alcancei meu relógio, apertei o botão de novo e de novo, não desafiando calcular as chances de combater o Círculo pela terceira vez — sem vontade de desperdiçar mais um segundo.
―Não!‖, gritei. Não importava que ela era mais velha, mais alta e provavelmente bem mais experiente — eu investi na direção dela, sabendo que minha única esperança estava do outro lado da porta aberta.
Mas então parei, porque a mulher não estava mais sozinha. Agente Townsend estava ali. Agente Townsend estava olhando para Joe Solomon e eu como se o Natal tivesse chegado mais cedo.
―Você estava certo‖, a mulher disse ao Agente Townsend com um sorriso. ―Isso foi quase fácil demais.‖
Olhei da mulher que eu podia jurar que estivera em Boston para meu novo professor. Não fazia sentido, mas sentido era a última coisa no mundo que eu podia me preocupar, porque Joe Solomon estava levando parte de mim, voando pela porta aberta. Em um movimento fluido, derrubou Townsend e a mulher no chão. Corri para fora e vi os três rolando uma colina, lutando entre a terra e as plantas daninhas. A poeira rodopiava em torno de mim, e lá, eu percebi que não tinha ideia de em quem confiar. Tudo o que eu realmente sabia ao certo é que às vezes um operário só tem um segundo — nada mais.
E eu já tinha começado a correr.
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CAPÍTULO 27
ERA UMA ARMADILHA. ERA UMA ARMADILHA. ERA UMA ARMADILHA.
As palavras ecoavam em minha mente, mantendo o ritmo com meus pés conforme atingiam o chão.
―Bex!‖, eu gritei enquanto corria entre as árvores altas que cresciam em volta da montanha russa.
Bem acima de mim, pessoas voavam pelo céu, mas bem abaixo, havia nenhum sinal em minhas unidades de comunicação e o chão áspero que nenhum turista devia ver. Eu bati contra holofotes e cabos enquanto disparei para o topo de uma colina, nem uma vez me permitindo pensar no Sr. Solomon, na mulher ou no Agente Townsend. Somente continuei correndo — em direção ao lago, em direção a cerca, procurando ajuda.
Era uma armadilha.
No topo da coluna eu podia ouvir os sons do parque flutuando do outro lado do lago. Tudo que eu tinha que fazer era continuar correndo, lutando, mas então eu os vi — os agentes que tinham estado no meio do povo o dia todo — observando cada movimento meu. Eles vinham descendo entre as árvores — emergindo detrás delas e dos pilares maciços da montanha russa, passando correndo por mim.
Por mim?
Nenhuma alma tentou me confortar. E naquele momento, eu sabia que eles não eram protetores. Eram caçadores. E eu? Eu era a isca.
Era uma armadilha.
Ouvi passos atrás de mim, fortes e rápidos.
―Zach‖, chamei o garoto que corria em minha direção.
―Onde ele está?‖ Zach gritou, sem fôlego. Eu corri para frente e o agarrei. ―Me deixei ir, Garota Gallagher. Eu tenho que…‖
―Você quer que eles levem você também?‖ Gritei, chacoalhando-o. Quando ele parou de lutar, o segurei mais forte. ―Eles estão com ele, Zach.‖ Ouvi as palavras de minha mãe voltarem para mim. ―Ele se foi.‖
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Sr. Solomon estava caído no chão na clareira abaixo, ensanguentado e amarrado, enquanto agentes ainda surgiam de todas as direções. Me lembro de como, uma vez em um helicóptero a caminho de Ohio, o Sr. Solomon nos disse que muitas vezes a coisa mais difícil que um agente poderia fazer é nada. Estando lá naquele dia, eu sabia que era verdade — que Joe Solomon estava sempre certo.
―Estúpido!‖ Zach gritou. Bateu a mão forte contra o tronco de uma árvore. Ele virou para mim. ―O que aconteceu?‖
―Exercício de Operações Secretas. Segui um homem aqui. E então o Sr. Solomon estava lá, falando sobre o Círculo, dizendo que eu estava em perigo. E depois tinha uma mulher. Pensei que era a mulher de Boston.‖
―Não era ela, Cammie.‖
―Eu sei disso agora.‖
Ele agarrou meus ombros. Eu podia ver um tipo de medo posto em seus olhos quando sussurrou:
―De jeito nenhum que Joe Solomon estaria com ela.‖
A montanha russa rugiu sobre nossas cabeças e eu senti o chão vibrar debaixo dos meus pés.
―Por que ele viria aqui?‖, perguntei. ―Era uma armadilha. Joe Solomon caiu em uma armadilha.‖ Acredite ou não, de todas as coisas que eu vira e ouvira em Londres, essa foi a que mais me surpreendeu.
―Você.‖ Zach soou quase surpreso por eu não saber. ―Se ele pensou que você fosse estar aqui — virtualmente desprotegida... Não há lugar algum que ele não iria para te salvar.‖
―Por que ele faria isso?‖, rompi, tentando me afastar, mas ele me segurou mais forte. ―Isso não faz nenhum…‖
―Está no jornal, Cammie.‖ O olhar de Zach demorou nos meus. ―Está por todos os jornais.‖
―Cammie!‖, alguém disse.
―Acho que a vi!‖, outra pessoa gritou.
Eu podia ouvir as vozes de minhas colegas em meus ouvidos. Eu sabia que elas tinham cruzado a cerca e estavam se aproximando, mas o olhar de Zach nunca deixou o meu.
―Olhe para mim.‖ As mãos de Zach pareciam uma viseira. ―Leia o jornal, Garota Gallagher. Leia todos eles.‖
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E então ele me puxou mais perto, me apertou tão forte que mal pude respirar. Pressionou seus lábios firmemente contra minha testa por uma fração de segundo — nada mais — e quando ele finalmente me soltou e desapareceu entre as árvores, eu pensei que eu iria cair.
―Ah meu Deus, Cam, você está bem?‖ Eva Alvarez gritava. ―Você está…‖
Ouvi Eva parar, sem fôlego. Observei ela parar subitamente e se virar para encarar com o resto de minhas colegas de classe a cena que estava atrás de mim. Os agentes. O caos. O sangue. E a maneira como nosso ex-professor deitava de bruços no meio de tudo isso, com as mãos amarradas, pernas algemadas. Inconsciente.
―Aquele é o Sr. Solomon?‖ Anna perguntou.
―Sim.‖ A voz de Bex estava baixa.
―O que...‖ Tina começou. ―O que é isso?‖
―Foi uma armadilha.‖
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CAPÍTULO 28
VOCÊ PODE PENSAR QUE SERIA IMPOSSÍVEL UMA VAN CHEIA de garotas adolescentes estar completamente silenciosa durante uma viagem de duas horas, mas naquela noite eu não ouvi uma única voz. Uma chuva suave caía e somente o chapinhar do para-brisas — o som de água salpicando contra os vidros do carro — podia quebrar o silêncio sufocante do passeio de volta a escola.
Reconheci o som. Ouvi uma vez em nossa casa em Arlington quando os vizinhos trouxeram caçarolas e condolências. Eu o senti na fazenda quando parentes que eu mal conhecia se espalharam pela varanda dos meus avós, as quatro paredes da casa finas demais para nos aguentar e as notícias de que meu pai nunca voltaria para casa. A classe do terceiro ano de Operações Secretas estava de luto e, uma por uma, todas as garotas na van perceberam o que sabíamos há semanas — o Sr. Solomon não tinha partido para uma missão. Sr. Solomon tinha partido de uma forma totalmente diferente.
Quando entramos pelos portões naquela noite, parecia como se cada luz na mansão estivesse acesa. Eu podia imaginar as garotas lá dentro, rindo e descendo as escadas para jantar, falando sobre trabalhos e provas. Mas quando pulamos da van e observamos o Agente Townsend passar pelas portas da frente, todas permanecemos perfeitamente imóveis, uma chuva pesada e a memória do que vimos sobre nós. Ninguém queria carregar tudo para dentro.
―Eu nunca saberia‖, Anna Fetterman disse. ―Eu nunca teria imaginado. Estou cometendo um erro, não estou?‖ Ela olhou diretamente para mim como se eu devesse saber. ―Eu não devia estar no curso de Operações Secretas. Não devia... Eu nunca saberia.‖
―Ninguém sabia.‖ Eva Alvarez posicionou um braço em volta dos ombros de Anna. ―Ninguém sabia o que ele era.‖
―É.‖
Ninguém me ouviu sussurrar, mas estava tudo bem. Afinal, ninguém mais tinha parado no cemitério do parque de diversões e ouvido-o dizer que o Círculo estava vindo.
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Ninguém tinha sentido suas mãos quentes na ponte. Eu podia ter sido a única Garota Gallagher no mundo naquele momento que sabia que o Sr. Solomon não estava no pretérito.
Então andei em direção as portas e entrei, certa de uma coisa: Joe Solomon estava bem vivo.
Bem, na verdade, tecnicamente, eu tentei entrar.
Garotas enchiam a entrada e cobriam as escadas, e usei de toda força que pude reunir para sair da chuva e entrar na multidão que encarava enquanto minha mãe e o Agente Townsend paravam no meio do hall de entrada.
―O que está…‖
―Shhh‖, uma aluna do quarto ano sibilou, interrompendo a frase de Tina.
―De nada, a propósito‖, Townsend disse, virando em direção as escadas, mas minha mãe o bloqueou, parecendo qualquer coisa menos agradecida.
―Você não tinha direito algum de tirar minha filha da minha escola…‖
―Sua escola?‖
Ele devia ter medo. A última vez que minha mãe carregava um olhar desse tinha sido em Washington, D.C. enquanto sua irmã sangrava.
Ele devia estar aterrorizado.
―Minha filha não é um peão para ser usada em um capricho!‖
―Olhe, Rachel, não pense nela como um peão. É mais como... como vocês Americanos dizem... nós balançamos uma maçã em frente de Joe Solomon e…‖
―O termo é cenoura‖, minha mãe corrigiu. ―E não se aplica a garotas adolescentes.‖
Havia um brilho de sabedoria nos olhos de Townsend quando ele sorriu.
―Oh, é mesmo? Talvez você use maçãs para algo mais?‖
Algumas pessoas pensam que a chave para a força é saber como acertar. Mas não é isso. Enquanto eu espiava por entre a multidão minha mãe e o homem que tinha me levado para fora da segurança da mansão, eu sabia que a verdadeira força não está em acertar, quando o que você mais quer fazer é matar.
Townsend deve ter sentido isso também, porque algo mudou nele naquele momento.
―Nós tínhamos trinta agentes no interior do parque e outros sessenta na área do perímetro. Tínhamos olhos nela o tempo todo. Sabíamos que Solomon se mostraria e assim que o fizesse, nossos agentes estavam nele. Ela estava bem.‖
Ele se inclinou perto de minha mãe, sem piscar, sem provocar, nem mesmo zombar. Ele riu, mas não como se fosse engraçado. Era uma risada próxima a descrença.
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―Sra. Morgan, nós o pegamos!‖
―Se você pôr uma estudante em perigo novamente…‖
―Oh, eu pensei que vocês Garotas Gallagher fossem imunes ao perigo.‖
Apesar das centenas de garotas que enchiam o hall de entrada, ninguém se moveu, engasgou ou tentou defender a nossa honra. Ficamos em silêncio, aguardando a nossa diretora dizer:
―Oh, nós estamos bastante acostumadas a sermos subestimadas, Agente Townsend. Na verdade, nós agradecemos.‖
Aquela conversa provavelmente violava cada código de espiões, de professores e diretores conhecidos pelo homem, mas não importava. Eles não podiam ver a centena de garotas que observavam. Apesar de seu treinamento, eles não ouviram o jeito como seguramos nossa respiração coletivamente. Essa briga era como a maré: vem há um bom tempo e não há maneira de segurá-la.
―Joe Solomon concordou em aceitar esse trabalho somente quando soube que estaria ensinando sua filha, não está certo?‖
Minha mãe segurou suas mãos a frente.
―Eu já respondi essa pergunta detalhadamente para pessoas que têm bem mais autoridade que você.‖
―E você não achou estranho? Um homem como Joe Solomon vir aqui?‖ Ele riu novamente.
―Mas é claro que o Círculo sempre gostou de recrutar agentes jovens. Como é que eles dizem, quanto mais verde o fruto, mais fácil se transforma?‖
―Sim‖, minha mãe admitiu.
―Ele estava aqui há um ano e meio?‖ Townsend perguntou, mas a voz de minha mãe era calma, como se ele perguntasse sobre o clima.
―Ele estava.‖
―Isso é bastante tempo — o suficiente para recrutar alguém que ele precisasse. Mudou alguém?‖
―Como já informei aos seus superiores, Agente Townsend, se o Círculo tem algum aliado aqui, é melhor eles rezarem para que você o encontre antes de mim.‖
O Agente Townsend era um homem grande, para operações secretas. Ele era pelo menos quinze centímetros mais alto e trinta quilos mais pesado que minha mãe (e isso sem contar o ego dele), e ainda assim não havia dúvida em minha mente de que ele sabia que ela estava exatamente certa.
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Ele a observou se virar lentamente e começar a subir as escadas. Ela tinha quase desaparecido quando ele gritou:
―Joe Solomon não irá machucar sua filha, Sra. Morgan. Você não tem que se preocupar com ele machucando mais ninguém, nunca mais.‖
Percebi naquele momento que ele acreditava nisso — realmente acreditava — e por um segundo eu quis acreditar nele. Ele era um bom espião, afinal. Um operário experiente. Um professor. E parada ali, cercada pela minha irmandade, eu posso ter convencido a mim mesma que era verdade — que eu estava segura.
Mas então minha mãe parou e se virou.
―Desculpe, Agente Townsend, mas Joe Solomon é a última preocupação de Cammie.‖
● ● ●
Nosso chef estava fazendo minha sopa favorita para o jantar, mas minhas colegas de quarto e eu não corremos para o grande salão. Permanecemos silenciosamente lado a lado enquanto o resto da escola lentamente se moveu para os corredores e escadas acima, carregadas por uma onda de fofoca, medo e descrença.
―Subnível Dois.‖ Não sussurrei. Eu sabia que era bobeira agora, mas naquele momento, eu, Cammie, a Camaleoa, não tinha força para se esconder. ―Vamos encontrar um jeito de ir até o Subnível Dois.‖
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CAPÍTULO 29
COMO NÃO INVADIR O SUBNÍVEL DOIS
(Uma lista por Cameron Morgan, com a ajuda de Macey McHenry)
• Cavando: Porque uma pessoa teria que cavar... muito. E além disso, a equipe de manutenção totalmente perceberia quaisquer buracos gigantes que aparecessem no meio do campo de lacrosse. (E isso também pode arruinar suas unhas.)
• Qualquer coisa envolvendo um poço de elevador: Claro, toda Garota Gallagher ganhou sua própria barra de ferro no primeiro dia da oitava série, mas não é tão simples como abrir as portas com um pé-de-cabra e descer até os subníveis. (Aliás, com nossa experiência, as portas da Academia Gallagher não são exatamente espionáveis.)
• Bajulação: Porque bajular pode fazer o bajulado suspeitar dos planos e objetivos do bajulador — sem mencionar que mesmo os membros mais musculosos da equipe de segurança provavelmente têm medo de nos levar aos subníveis e acabar sendo... você sabe... mortos.
• Teletransporte: Claro, Liz disse que é uma teoria de trabalho excelente, mas ela não tem um protótipo ainda, e sem um protótipo é um assunto pouco discutível.
• Aquela coisa que os pais de Bex fizeram em Dubai com nitrogênio líquido, um simulador de terremotos e um avião investigador: porque não temos um avião investigador.
● ● ●
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Só nos levou três semanas.
Eu sei que parece muito tempo — e é. Mas também, não é. Por que... bem... nos serviços clandestinos, nada nunca acontece rápido (exceto quando acontece). Nada nunca, nunca é fácil (exceto quando é). E, principalmente, nada nunca acontece perfeitamente de acordo com o plano (exceto nos filmes).
É um trabalho sujo que é quase universalmente lento,repetitivo,mundano, rabugento, chato e apenas entediante em geral (com exceção para as partes quando as pessoas podem morrer).
Nós podíamos tê-lo feito mais cedo e ainda assim não seria cedo o suficiente. Podíamos ter planejado por anos e ainda não teríamos nos sentido prontas. Então, é. Levou três semanas. Para Liz, quebrar o código. Para Macey e Bex reunir os equipamentos. Para eu planejar uma maneira de entrar.
À uma da manhã na noite em questão, estávamos fazendo nosso caminho descendo o corredor do terceiro andar tão rápido e silenciosamente quanto pudemos, sem tornar óbvio que tentávamos agir rápida e silenciosamente.
As Operárias compreenderam inteiramente que o primeiro passo em Operações de Negação e Fraude é a negação. E é bem mais fácil negar estar envolvida em alguma operação secreta e corrupta se você está vestindo pijamas.
―Ainda tem uma coisa que eu não entendo‖, Liz sussurrou. ―Se o Sr. Solomon está tão desesperado para ter esse livro ou qualquer coisa que esteja dentro do Subnível Dois, então porque ele tornou impossível o acesso ao Subnível Dois?‖
―Porque ele queria tornar impossível para a pessoa errada acessá-lo‖, falei espiando na esquina da parede, onde, na mesma hora, o Agente Townsend descia as escadas.
Me joguei contra a parede, esquecendo que não tínhamos quebrado nenhuma regra até o momento e haviam pelo menos uma dúzia de motivos válidos para estarmos ali. Mas eu sou uma camaleoa. Vou querer ser invisível e tornar justificável qualquer dia.
Seus passos ecoaram como trovões no corredor vazio.
Eu não queria que ele ouvisse quando sussurrei:
―Está na hora.‖
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À 01:35 da madrugada, As Operárias prosseguiram para a porta sob as Grandes Escadas, mas elas não pararam no espelho que escondia o elevador para os subníveis.
À 01:36, o estômago da Operária Morgan começou a roncar e toda a equipe notou a importância de não pular refeições antes de operações secretas incrivelmente importantes!
Bex nos guiou para o pequeno closet na base das escadas e puxou uma mochila abastecida com cintos de utilidades, cabos e uma invenção muito útil que Macey fizera em sua introdução na aula de Acessórios (a qual nunca é o que as estudantes pensam que será). E enquanto estávamos paradas ali fora, percebi que estava mais quente. A primavera estava chegando, mas eu mal tinha notado.
―Olhe.‖ Parei e olhei para minhas três melhores amigas no mundo. ―Só temos apenas três minutos até que os guardas patrulhem este setor e eu totalmente entendo se não quiserem ir. Eu não sei se isso irá funcionar, e mesmo que funcione, não sabemos exatamente o que iremos encontrar lá embaixo.‖
Pelo olhar no rosto de Bex, eu sabia que de forma alguma ela iria ficar de fora de qualquer coisa secreta. E perigosa. E totalmente cinza no espectro preto-e-branco do certo e do errado.
Ainda assim, eu tinha que continuar.
―Se algo acontecer a alguma de vocês...‖ comecei, mas então não pude terminar.
―Então e se tiver um computador lá embaixo que precisa ser invadido em sessenta segundos, você irá fazer isso?‖ Liz perguntou, amarrando um cinto sob seus pijamas.
―E você realmente acha que eu vou perder isso?‖ Bex puxou seu cinto do topo da pilha.
Todas olhamos para Macey.
―Vocês precisam de mim‖, ela disse alcançando por seu cinto como uma rainha pegando seu cetro.
Conforme me inclinei para baixo e desativei os dispositivos de segurança na pequena grade, senti Bex me observando sobre meus ombros.
―Eu sempre pensei que os elevadores para o Subnível Dois nos colocasse em algum lugar por aqui.‖ Ela apontou para a direção oposta. Sorri para ela. ―Mas nós não iremos pelo elevador, iremos?‖
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Precisamente à 01:47, As Operárias testaram sua teoria de que os espelhos nos novos pós compactos dos Cosméticos McHenry seriam do tamanho apropriado para deslizar e desviar os lasers que cobriam a entrada de todos os pontos de ventilação.
(AS OPERÁRIAS ESTAVAM CORRETAS)
Precisamente às 02:07, As Operárias testaram o novo Localizador de Sinal Eletromagnético (Nome Oficial e Patente pendentes) que a Operária Sutton desenvolveu para a ocasião.
(OBTIVERAM SUCESSO)
Precisamente às 02h08min, a Operária Baxter fez uma reza. E pulou.
O poço de ventilação era pequeno. Loucamente pequeno. Pequeno do tipo: estou muito feliz por ter pulado o jantar, afinal. Não havia nenhuma maneira de um homem adulto caber ali. Era uma entrada apropriada somente para uma garota.
Uma Garota Gallagher, pensei enquanto descia pelo cabo como se fosse um poste de bombeiro, o grampo em minha mão ficando quente, queimando em minhas luvas conforme eu me aproximava das profundezas da terra.
Eu sabia que Bex estava abaixo de mim, mas não conseguia enxergar nada. Macey e Liz estavam acima de mim e eu esperava que tivesse sido por isso que não consegui ver nem mesmo uma leve sugestão da luz acima conforme me atirei pelo que parecia ser o menor vulcão do mundo.
Mais e mais fundo eu fui. Mais e mais rápido caí. Senti o ar correndo por mim, meu cabelo soprado longe de meu rosto, o cabo queimando em minhas mãos até que...
―Cuidado!‖ Bex gritou, enquanto de repente eu me libertei do eixo.
Meus braços caíram como se pudessem saltar do lugar quando eu apertei a braçadeira e fiz uma parada quase instantânea. Eu estava pendurada no cabo, olhando
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para o espaço cavernoso do Subnível Dois.
―Não acredito que funcionou‖, admiti, sem fôlego.
―Cam!‖ Bex berrou, me parando antes que eu pudesse me soltar do cabo. ―Não. Mexa. Um. Músculo. Sequer.‖
Estávamos suspensas a dez metros de altura sobre o chão de pedra de um lugar que, apesar de um semestre estudando no Subnível Dois, eu nunca tinha visto antes. Os subníveis eram o labirinto vasto e sinuoso de salas de aula e escritórios, bibliotecas e depósitos de alguns dos segredos mais confidenciais do mundo. E naquele momento, Bex e eu estávamos olhando para o brilho turvo de luzes de segurança em um quarto massivo cheio de centenas de prateleiras e gabinetes, um sistema complexo de fios e explosivos...
E o sistema de grade de lasers mais complexo que já vi.
―Então‖, Bex disse, sorrindo para mim através do brilho pulsante dos projetores de emergência, ―quer dar uma volta?‖
Um momento depois, as vibrações no cabo ficaram mais fortes e eu olhei para cima a tempo de ver Liz descendo em minha direção no ar, parando logo em cima de mim.
Macey estava logo atrás e sem fôlego quando perguntou:
―O que é tudo isso?‖
Bex e eu olhamos para baixo para as filas de informações super secretas e para os explosivos de alta qualidade que corriam ao longo do cômodo, nenhuma de nós capaz de esconder o temor em nossas vozes.
―É um saco de queimar‖, dissemos em uníssono.
―O que é isso?‖ Macey perguntou.
―É onde guardam coisas que não podem cair nas mãos erradas. Nunca. Coisas que estão programadas para explodir caso... caso o pior aconteça.‖
O que era verdade. Mas assustador. Porque naquele momento, tecnicamente, o pior que podia acontecer era nós.
Bex foi a primeira a cair no chão, ágil como um gato, pousar entre os raios vermelhos, depois lançar-se e pular pelo ar, navegando até o pequeno painel de um lado do cômodo. Se não tivesse sido tão assustador, teria sido bonito. Como ballet. Mas com uma taxa de acidentes bem superior.
―Agora, Liz‖, ela gritou, Liz pegou o arco e mirou na parede de quinze centímetros acima da cabeça de Bex.
―Hum... Liz...‖ Macey começou.
―Desculpe‖, Liz disse e ergueu sua mira mais uns trinta centímetros.
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Eu não acho que nenhuma de nós pode respirar enquanto a flecha voou pelo ar, um pequeno cabo seguindo atrás dela, depois aterrissou perfeitamente acima do painel na parede.
―Ótimo‖, falei. ―Agora, exatamente como praticamos — peguem o grampo extra em seu cabo e coloquem no cabo de Bex. É. Assim mesmo. Vocês estão fazendo…‖
―Ops, querida!‖
E foi quando Elizabeth Sutton, supergênio, esqueceu que sua mochila estava aberta e deixou seu livro de Criptografia Avançada cair no coração do campo de lasers abaixo.
―Liz!‖ gritei, mas era tarde demais. Luzes começaram a pulsar. Abaixo de nós, os lasers começaram a se mexer, linhas vermelhas serpenteando pelo chão e eu percebi nossa única opção.
―O que fazemos agora?‖ Macey berrou.
―Corremos!‖
Enquanto caímos no chão, eu não conseguia ouvir meus próprios pensamentos — muito menos os passos das garotas que corriam atrás de mim. Luzes vermelhas giravam. Sirenes gritavam. Era como se o Subnível Dois estivesse pegando fogo conforme Liz carregava seu laptop para onde Bex esperava próximo ao centro eletrônico que controlava as defesas modernas do Subnível Dois.
Mas moderno... é, moderno era o último de nossos problemas.
Na outra extremidade do quarto, havia uma janela enorme de vidro ondulado. Por um segundo eu estava lá, querendo saber por que alguém iria instalar uma janela em um quarto subterrâneo. Teria sido muito mais estranho e muito menos assustador se o espaço atrás do vidro não estivesse rapidamente se enchendo de água.
―Então isso está vindo...‖ Macey começou.
―Do lago.‖
―Então se não pararmos isso...‖, ela começou novamente.
―Nos afogamos‖, falei, mas Macey já tinha desaparecido — correndo pelo quarto.
―O que fazemos?‖, gritou. Ela estava procurando pelas paredes, empurrando pedras — freneticamente procurando uma maneira de fazer a água parar de subir. ―Onde está o interruptor? Pensei que o Sr. Solomon tivesse dito ao Zach que havia uma maneira de desligá-lo.‖
Enquanto a água subia, o vidro parecia brilhar. A luz parecia diferente quanto mais alto a água ia, e não pude evitar, lembrei-me da primeira lição que Joe Solomon me dera: perceba as coisas.
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―Eu já vi isso antes‖, falei, ainda encarando as imagens familiares no vidro — formas e linhas coloridas brilhantemente. ―Macey, você já viu isso antes?‖
―Desculpe, Cam‖, disse ela, ainda procurando. ―Estou meio ocupada aqui.‖
―É como as do andar de cima. Sabe, as grandes? Exceto que… são diferentes. É quase como…‖ Falhei. Minha voz rachou. E eu sabia exatamente o que tínhamos que fazer. ―Não é uma janela — é um quebra-cabeça!‖
O vidro estava frio ao toque quando o alcancei. O dispositivo tinha pelo menos cem anos de idade, e quando empurrei uma seção azul escura do vidro, a princípio não se moveu, e pensei que estivesse errada. Mas empurrei mais forte e... movimento. A janela era como um caleidoscópio, uma massa de vidro giratória e com engrenagens escondidas conforme eu empurrei a seção azul suavemente para o centro.
―Macey, me ajude‖, falei, e juntas fomos ao trabalho, nossos olhos e mãos febrilmente voando pelas milhares de seções da janela tão rápido e habilmente quanto podíamos, tentando reproduzir a janela do andar de cima que eu nunca notara até que Joe Solomon viera para nossa escola.
A nossa volta, porém, as sirenes continuavam berrando. As luzes piscando. E, pior de tudo, a água continuava subindo.
―Lizzie?‖ ouvi Bex gritar atrás de mim.
―Quase...‖ disse Liz, seus dedos correndo pelas teclas do laptop. ―Quase... Consegui!‖
Instantaneamente, as sirenes se calaram. As luzes pararam de piscar. Pelo canto do meu olho, vi Liz e Bex baterem as mãos, mas a água ainda subia.
Pensei no que o Sr. Mosckowitz dissera ao Agente Townsend naquela noite nos corredores sombrios — e eu sabia que as Garotas Gallagher originais eram as mais sábias de várias formas.
―Consegui!‖ Macey gritou, puxando o último pedaço no lugar, mas nada aconteceu.
Pareceu ter passado uma eternidade até que uma voz mecânica soou no espaço.
―IDENTIFIQUE-SE. IDENTIFIQUE-SE. IDENTIFIQUE-SE. QUEM VEM AQUI?‖, perguntou.
E então um instinto deve ter tomado controle de nós, porque nós quatro gritamos as primeiras palavras que vieram a nossa mente.
―Somos as irmãs de Gillian!‖
Segurei a respiração e fiz uma reza até que a água começou a baixar e a voz mecânica disse:
―BEM VINDAS AO LAR.‖
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CAPÍTULO 30
HÁ COISAS QUE PESSOAS COMO TOWNSEND NUNCA ENTENDERIAM sobre a Academia Gallagher. Nunca. Veja, não é sobre uma Garota Gallagher — é sobre ser uma das Garotas Gallagher.
Plural. Todas nós. Sem Bex, eu teria desencadeado os sensores. Sem Macey, eu nunca teria resolvido o quebra-cabeça a tempo. E sem Liz... bem, Liz tem papéis múltiplos nessa missão em particular.
―Quão alto é isso?‖, ela disse conforme andava ao meu lado.
―Não tão alto‖, falei novamente, olhando para as estantes altas que forravam as paredes do Subnível Dois.
Não estava onde armazenávamos os produtos químicos. Enquanto eu olhava ao redor as longas filas de prateleiras altas, não havia única arma à vista. Mas as informações contidas neste quarto eram voláteis o suficiente para fazer a minha escola desabar, potente o suficiente para envenenar todos os membros da nossa irmandade. E eu sabia que não nos atreveríamos a ficar muito tempo — que vivemos nossas vidas em uma base de necessidade de conhecimento por uma razão.
Infelizmente, eu era a única que me sentia dessa forma.
―Ahh! Legal!‖, ouvi Macey gritar de uma estante distante, apesar de o fato de que, lá em cima, metade da equipe de segurança da Academia Gallagher estava agora em estado de alerta, se perguntando o que diabos tinha acabado de acontecer no Subnível Dois.
―Ei, Cam‖, Bex chamou, ―você sabia que Amelia Earhart passou os últimos 20 anos de sua vida secreta em Istambul?‖
Meio segundo depois, Macey veio correndo ao redor do final de um corredor, com um arquivo em suas mãos.
―Rápido, garotas, eu tenho fotos da Professora Buckingham... Na Segunda Guerra Mundial... Em um maiô!‖
Bex correu para olhar as imagens, mas meu olhar estava trancado em Liz enquanto eu corria um cabo através do cinto de utilidades que pairava em torno de sua cintura fina.
―Liz, isso é bobagem. Eu vou fazer isso‖, disse a ela.
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―Mas Cammie, Zach disse que está bem no meio da prateleira mais alta. Vai ser muito difícil conseguir colocar alguém exatamente no lugar certo e eu sou a mais leve‖, ela falou, citando o único cientificamente verificável — e, portanto, relevante — pedaço de informação que nós tínhamos.
―Você não tem que provar nada, Lizzie. Eu posso…‖
―Eles precisam de você, Cammie‖, disse ela, sua voz mais baixa que um sussurro. ―E se o lado deles precisa de você viva... nosso lado precisa de você viva.‖
Ela olhou para cima para as altas prateleiras e respirou fundo, como se para espantar todos os pensamentos e focar em um único fato:
―Eu sou a mais leve.‖
―Bex, estamos prontas‖, eu gritei.
Um segundo depois ela apareceu com o arco de Liz em suas mãos. Parecia totalmente sem esforço quando ela mirou o teto a quinze metros de altura. Eu ouvi um cabo girar, observei a bobina em meus pés desaparecer lentamente até que ouvi o barulho metálico de titânio que faz quando atinge a pedra sólida.
―Pronto?‖, perguntei a Liz, que assentiu.
―Você pode fazer isso‖, silenciosamente sussurrei enquanto Bex agarrava a outra extremidade do cabo e puxava.
No momento seguinte, Liz estava flutuando graciosamente (ou tão graciosa como Liz faz qualquer coisa) sobre as prateleiras que marcavam: CUIDADO, ALTA TENSÃO. Eu fiquei segurando a minha respiração enquanto assistia. Talvez por isso eu tenha sido a única que ouviu um som vibrante, tão distante que no começo pensei que era o rodopio da minha própria mente.
Mas o ouvi novamente.
―Vocês ouviram isso?‖, perguntei, tensa.
Bex estava tentando manobrar Liz em posição e Liz estava olhando para a placa de alta tensão, como se sua vida dependesse disso, o que... bem... provavelmente dependia.
―Você ouviu isso?‖, perguntei a Macey.
―Estamos a quatrocentos e cinquenta metros abaixo da terra‖, disse com um encolher de ombros.
Ela tinha razão, claro. Eu estava provavelmente mais segura aqui do que poderia estar em qualquer lugar do mundo, mas havia algo estranho no silêncio que nos cercava. Eu fiquei por um longo tempo, ouvindo o som da batida do meu coração — um ritmo que não tinha abrandado em meses até...
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―Aí‖, falei novamente, e dessa vez Macey parou também.
―Talvez seja uma caldeira ou algo assim?‖, ela perguntou conforme o som ficava mais alto.
Segurei meu fôlego.
―Isso não é unidade de aquecimento.‖
―Mais quanto tempo, Liz?‖ Bex perguntou.
―Estou quase lá!‖, ela gritou, chegando até onde conseguia ir, mas ainda assim o livro ficava fora de alcance.
―Liz‖, eu disse novamente. O barulho foi crescendo e vinha com mais regularidade. ―Liz, quanto tempo levaria para você trazer a grade de laser de volta?‖
―Dois minutos.‖ Disse ela.
Mas nas profundezas do espaço, o ruído rosnou novamente. Olhei para Bex e Macey.
―Nós não temos dois minutos.‖
Naquele momento, havia um monte de medos que vinham à minha mente: E se houvesse algumas medidas de segurança reservas que não tínhamos neutralizado e estávamos prestes a ser asfixiadas, esmagadas, afogadas, eletrocutadas, imobilizadas ou presas?
E se o Círculo tinha me seguido até as profundezas da nossa escola e, sabendo que eu estava trancada longe da minha mãe e de nossos guardas, tinham encontrado uma forma de entrar?
E se fosse minha mãe e fôssemos apanhadas... presas?
Mas apesar dos meus medos loucos, houve uma coisa que eu sabia com certeza: alguém mais estava tentando entrar no Subnível Dois.
―Você consegue fazer isso, Lizzie‖, Bex gritou. ―Apenas... apresse-se. E talvez mova-se um pouco para…‖
Bex puxou a corda para a direita, mas ou ela subestimara sua própria força ou superestimou o peso de Liz, porque a próxima coisa que vi foi um borrão louro passar pelas prateleiras e parar para pairar em um lugar na seção dedicado a Crise de Mísseis Cubanos.
O zumbido mecânico tinha ficado mais alto e agora podíamos dizer que estava vindo de algum lugar a nossa frente.
―Isso não é...‖ Macey começou.
―Os elevadores?‖ Bex adivinhou.
―Eu acho‖, falei. ―Vocês acham que é…‖
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―Townsend‖, todas dissemos em uníssono.
―Mas como ele está planejando se virar com as medidas de segurança daqui de baixo?‖ Macey perguntou.
Dei de ombros.
―Ou ele sabe que já nos livramos delas...‖
―Ou ele não se importa‖, Bex falou me encarando e eu não podia dizer pelo olhar dela se alguma de nós sabia o que era mais assustador.
Uma pequena pilha de poeira tinha começado a aparecer no chão e percebi o pequeno buraco que estava aparecendo na parede de pedra. O Agente Townsend estava perfurando seu caminho do elevador para o Subnível Dois.
Falei sobre o som da broca e o pânico do meu coração batendo.
―Temos que ir!‖
As Operárias perceberam que estavam prestes a ter um encontro bem hostil com um professor/possível agente inimigo muito zangado, então utilizaram um número altamente recomendado de táticas secretas.
1. A Operária McHenry disse: “Você já está pronta? Você já está pronta? Você já está pronta?”, em sucessão rápida antes que a Operária Sutton estivesse, de fato, pronta.
2. A Operária Morgan empurrou uma estante na frente da parede por onde o operário inimigo tentava entrar, formando um bloqueio temporário.
3. A Operária Baxter teve a oportunidade de dizer algumas palavras sobre a nova escolha da Academia Gallagher do instrutor de Operações Secretas.
―Consegui!‖ Liz disse e no segundo seguinte estava navegando através do ar, caindo.
Macey e eu pegamos, e a guiamos para o chão, mas mal tivemos um segundo para soltar dela — nenhum momento para recuperar qualquer um dos nossos equipamentos — antes de Bex agarrar meu braço e sussurrar:
―Corra!‖
E então estávamos fora, nos esquivando entre as estantes o mais rápido que
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pudemos.
Olhando para trás, eu podia ver o facho de uma lanterna reluzindo sobre as estantes no final da sala enorme. Estávamos bem longe do alcance da luz, mas estávamos qualquer coisa menos seguras.
O cabo ainda estava pendurado no poço de ventilação a nossa frente. Eu assisti Macey agarrá-lo, encaixar em um dos grampos que nos trouxe para baixo e mudar o dispositivo em sentido contrário. Uma fração de segundos depois, ela foi subindo pelo ar, em direção ao céu da noite e da liberdade.
Mas no Subnível Dois havia sons de passos atrás de nós, aproximando-se.
Ele nunca esteve aqui antes, falei a mim mesma conforme ouvi o homem fazer seu caminho lentamente entre o labirinto de estantes.
Bex estava na base do cabo, prendendo Liz às pressas no instrumento, enquanto eu fiquei congelada, olhando o jogo da lanterna entre as estantes. Era estranho e bonito ao mesmo tempo. Itens secretos de cem anos de idade estavam dentro daquele espaço enorme — impressos e planos, segredos tão explosivos que os melhores espiões do mundo estavam dispostos a arriscar tudo para se certificar de que esses itens nunca vissem a luz do dia.
Mas naquele momento, havia apenas um artefato secreto que importava para mim. Era a minha vez, então eu peguei o cabo e me senti subir mais e mais rápido em direção ao ar fresco da noite.
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CAPÍTULO 31
ERA UM CÉU QUASE SEM ESTRELAS. NUVENS ESCURAS PENDIAM sobre nossas cabeças, bloqueando a lua. Mas depois da escuridão do pequeno buraco, eu tive que piscar. Era como encarar o sol.
―E logo quando pensamos que não teríamos nenhum exercício de treinamento de Operações Secretas neste semestre‖, falei para Bex ao mesmo tempo em que ela me puxava pelos braços para fora do buraco; mas minhas colegas de quarto não estavam sorrindo.
―O que?‖, perguntei. Minhas amigas só me olharam. ―O que?‖, perguntei novamente; mas nunca pude ouvir a resposta, porque no momento seguinte o ar a nossa volta afogou-se com luzes. Sirenes soavam, perfurando o ar, gritando que algo estava terrivelmente errado.
As portas da frente da mansão estavam somente a noventa metros de distância, mas eu sabia que era nossa melhor chance de segurança. Bex e Liz já estavam correndo. Macey e eu nos apressamos para alcançá-las. Guardas corriam da mansão principal até as cercas, checando a área, mal capazes de conter os cães latindo, no fim das longas coleiras.
Holofotes brilhavam pelo céu. De uma certa distância, poderia parecer uma festa. As pessoas de Roseville provavelmente tinham uma dúzia de teorias malucas sobre o que estaria acontecendo em nossa escola naquele momento, mas nenhuma delas, eu sabia, poderia remotamente assimilar a verdade.
No instante em que minhas colegas de quarto e eu empurramos ofegantes as portas da frente, ouvi a Professora Buckingham chamar meu nome do topo da escada.
―Cameron Morgan! Alguém viu Cameron…‖
―Lá está ela!‖, uma aluna da oitava série gritou, e no segundo seguinte, eu estava presa em uma colisão de corpos. O Sr. Smith chegou até mim primeiro. Um homem do departamento de segurança me agarrou do outro lado.
―O que está acontecendo?‖, perguntei, olhando para o Sr. Smith.
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―Violação da segurança‖, ele disse simplesmente ao mesmo tempo em que eu era arrastada (ou praticamente carregada) escadas acima.
As garotas gritavam nos corredores. Estavam de pijama e pés descalços. E armas. Ah sim, elas trouxeram um monte de armas.
―É o Círculo?‖, uma aluna da sétima série gritou com a voz embargada. ―Eles estão aqui?‖
Mas os seguranças me mantiveram presa em um círculo apertado. Eu mal podia distinguir um único rosto até que Tina Walters apareceu.
―Cammie, você está bem?‖
―Eu estou bem!‖, gritei, tentando me soltar dos guardas.
E então os alarmes pararam.
―Você nos deu um baita susto esta noite, mocinha‖, Townsend me recebeu no corredor. Minhas amigas estavam na beirada da escada, olhando para mim. Seus cabelos estavam embaraçados e cheios de teias de aranha. Seus rostos estavam sujos (o que significava que provavelmente o meu estava também). ―Exatamente onde vocês estiveram esta noite, garotas?‖
―Passagem secreta‖, falei. ―Acabei de encontrar. É incrível, mas...‖ dei uma olhada para Macey, que tinha uma enorme marca preta em sua bochecha. ―Suja.‖
―Você‖, Townsend disse, apontando para Liz. ―O que você tem nessa mochila?‖
Ok, então parecia mesmo um pouco estranho. Afinal, uma centena de garotas enchia os corredores e escadas naquela noite. Estavam com máscaras nos rostos e retentores, mas Liz era a única que carregava uma mochila, e Townsend não seria o espião que todas pensavam que ele era se não tivesse se perguntado o que tinha dentro daquela mochila.
―Bem?‖, perguntou ele de novo, aproximando-se.
―Dever de casa!‖ Liz rompeu. ―Livros.‖
―Você pode não saber disto, Agente Townsend‖, Dr. Fibs disse, ―mas a Srta. Sutton aqui é uma das mais dedicadas…‖
―Abra-a‖, Townsend exigiu. Ele agarrou a mochila e virou de cabeça para baixo. Segurei minha respiração e assisti enquanto dois cadernos, um pacote de chicletes e quatorze lápis de cores espalharem-se pelo chão.
Tenho certeza que eu deveria ter suspirado de alívio, mas em vez disso senti pânico. Terror. Arriscamos nossas vidas para pegar aquele diário, e não estava em parte alguma. Desaparecido.
―Onde está o...‖, me encontrei dizendo em voz alta, mas Macey me deu um leve
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aceno. O diário estava escondido, me dizia. O diário estava seguro.
―Cammie!‖
Eu conhecia essa voz.
―Mãe‖, falei, tentando ver através da multidão.
―Está tudo bem, garotas‖, minha mãe — nossa diretora — nos disse. ―O departamento de segurança assegurou que a área não foi violada. Não há ninguém dentro da mansão ou nos terrenos que não deveria estar aqui, voltem para a cama, todos.‖ Quando ela olhou para mim, não havia dúvida de que era uma ordem. ―Vão direto para a cama.‖
É, caso você esteja se perguntando, nós totalmente não fizemos isso.
É claro, nós fomos para nossa suíte. Sim, apagamos as luzes. Mas dez segundos depois nós quatro nos reunimos no banheiro, encarando o livro que parecia especialmente escuro nas mãos pálidas de Liz. Quando ela me entregou, um pequeno pedaço de papel escorregou dele, flutuou e aterrissou no chão.
Querida Cammie,
Se está lendo isso, eu já devo ter ido embora. Eu sei que provavelmente devia me desculpar por manter esse diário escondido de você por tanto tempo, mas não vou porque não me arrependo. Em minha opinião profissional, você não estava pronta. E em minha opinião pessoal, eu esperava que nunca fosse estar.
Eu cometi erros, Cammie — muitos para citar aqui. Mas o maior deles, ainda carrego comigo. O pior deles, passei uma vida toda tentando consertar.
Eu realmente tentei consertar, Cammie, realmente tentei, mas se está lendo isso, eu devo não ter tentado o suficiente.
Sempre arrependido,
Joseph Solomon
O livro fino pareceu mais pesado naquele momento, mais precioso do que todas as primeiras edições postas na biblioteca da Academia Gallagher juntas. A capa era delicada e seca. As páginas sujas devido a idade. Eu quase estava com medo de abri-lo. Mas sem
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necessidade de dizer, não ler o diário não era exatamente uma opção viável naquele ponto.
Respirei fundo e virei para a primeira página, lendo o cabeçário — RELATÓRIO DE OPERAÇÕES SECRETAS — mas, além disso, não consegui ler mais nenhuma palavra.
―É codificado‖, Bex chiou frustrada. ―Arriscamos nossos pescoços e não vamos poder nem ler. Me deixe te dizer, estou meio tentada a invadir a prisão da CIA só para tirar Joe Solomon de lá e quebrá-lo no meio.‖
Mas na palavra codificada, Liz tinha arrebatado o diário de minhas mãos e o segurava em direção à luz.
―São os pombos!‖, ela gritou, e eu me preocupei de que Tina, Eva, Courtney e o resto da turma do terceiro ano pudessem entrar em nossa suíte com arcos e flechas e chapinhas.
―É isso‖, Liz falou, golpeando seu dedo na página. ―Veja, olhe para isso. É quase como hieróglifos de certa forma. Quase como um…‖
―Idioma‖, Macey disse.
Os olhos de Liz brilharam no cômodo escuro.
―É, exatamente isso.‖
―E você não quebra idiomas — não realmente‖, Bex disse. ―Você aprende-os.‖
―Ou as traduz‖, Macey falou.
―Exatamente. O Sr. Solomon não deixou um monte de rabiscos malucos em um quadro...‖ Liz começou.
―Ele deixou uma chave.‖ Macey esticou o braço para pegar o livro. Ela correu seu dedo sobre a página. ―Isso é a letra do Sr. Solomon?‖
―Não‖, me encontrei sussurrando. ―É a do meu pai.‖
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CAPÍTULO 32
RELATÓRIO DE OPERAÇÕES SECRETAS
(Traduzido pelas Operárias Morgan e Sutton)
DIA 1
Os pesadelos de Joe estão de volta.
Ele diz que não é nada, mas posso ouvi-lo gritando corredor abaixo — algo sobre o Blackthorne e a cidade do Vaticano. Na noite passada corri até seu quarto e o encontrei alcançando, meio adormecido, uma faca.
Ele disse que havia uma operação indo mal lá. O único problema é, de acordo com Langley, o Agente Joseph Solomon nunca esteve em Roma.
DIA 26
Eu queria que alguém me dissesse que está tudo bem em espionar meu melhor amigo. Mantenho esse diário codificado. Ouço as ligações dele. Esta noite o segui até uma missão em Georgetown.
Eu queria que alguém me dissesse que estou louco. Seria muito melhor do que estar certo, porque tudo que consigo pensar é no passaporte que encontrei na caixa de depósito de segurança dele (é, eu também mexi na caixa de depósito de segurança dele).
Três anos atrás ele foi a Roma com um passaporte não emitido pela CIA — na mesma hora em que alguém tentou matar o Papa.
Com uma faca.
Eu realmente espero que esteja ficando louco.
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DIA 92
Acho que sei o que Jose era. O que ele é?
Mas... não. Não pode ser verdade.
Eu não quero que seja verdade.
DIA 96
Algumas pessoas dizem que o Círculo não existe — que não há nenhuma associação antiga de espiões e assassinos por aí manipulando a ordem do mundo, mas acontece que eles são de verdade.
Acontece que meu colega de quarto é um.
Acontece que uma pessoa é.
DIA 100
Joe disse-me a verdade ontem à noite. Joe me disse tudo.
Vamos detê-los. Pode ser que seja a última coisa que faremos, mas vamos fazer.
● ● ●
Eu não ousei demorar nessas palavras — pensar no que elas queriam dizer.
―Quantos anos tinham eles quando escreveram isso?‖ Bex perguntou.
Olhei para a data no canto da página e fiz a conta em minha cabeça.
―Trinta e três‖, falei e depois refiz a conta, porque não parecia certo que meu pai tinha começado a perseguir o Círculo de Cavan antes mesmo de namorar minha mãe — que essa missão era oficialmente mais velha do que eu era.
―Vire‖, Liz disse, não tentando esconder sua impaciência em ser forçada a ler a um ritmo sem ser da velocidade da luz, mas essas eram as últimas coisas que eu poderia ouvir de meu pai. Eu queria fazer cada segundo valer a pena.
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DIA 219
Depois de nove meses de burocracia e protocolos, os Operários Morgan e Solomon concluíram que a organização criminal conhecida como o Círculo de Cavan tinha muitos agentes duplos dentro das organizações oficiais de inteligência para serem neutralizados por canais oficiais.
É uma coisa boa os Operários Morgan e Solomon são muito bons em ser não oficiais.
DIA 290
Depois de duas semanas em Roma, Os Operários confirmaram que a base de operações do Círculo aqui foi fechada ou realocada desde que o Operário Solomon fora enviado para o Vaticano.
Também descobriram que uma pessoa realmente enjoa de massa. Eventualmente.
DIA 407
Hoje, os oficiais húngaros identificaram o corpo do homem encontrado em um rio em Budapeste como sendo o homem que pensava em ceder informações aos Operários sobre os agentes do Círculo no leste europeu.
Eles o mataram.
Ele havia sido o melhor avanço que tivemos em um ano, e eles o mataram.
O ar a nossa volta estava mais quente; era quase primavera e ainda assim sentimos arrepios nos braços. Ainda assim parecia que o verão estava longe.
DIA 506
O Vice-Diretor alertou os Operários novamente sobre combater o Círculo sozinhos, mas o Operário Solomon insistiu que o Círculo tem recrutado há muito tempo e muito bem para ser efetivamente atingido por uma operação em larga escala.
O Círculo tinha espiões. Literalmente. O Círculo tem espiões por toda a parte.
Os Operários devem agir sozinhos.
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● ● ●
Quanto mais eu lia, mais rápido virava as páginas até que, finalmente, cheguei à última, desesperada para ler primeiro as últimas páginas — como se, talvez, dessa vez pudesse ter um final diferente.
DIA 5.860
Os Operários descobriram que seu aliado em Atenas havia tido uma brecha. O Operário Solomon tinha começado as preparações para viajar para a Grécia, mas o Vice-Diretor da CIA suspeitou que Os Operários ainda estavam tentando combater o Círculo por conta própria, então deu ao Operário Solomon um trabalho de escritório. O Operário Morgan iria ao invés dele.
● ● ●
Meu pai tinha trinta e nove anos quando escreveu isso e o livro estava quase no final — a história, de várias formas, estava quase no final. Então segurei minha respiração, virei a página e vi que a letra havia mudado. Os rabiscos preguiçosos de meu pai haviam sumido — substituídos por uma caligrafia precisa que eu vira rabiscada pelos quadros-negros do subnível no último um ano e meio.
DIA 5.869
Recebemos informações hoje de que o Operário Morgan não apareceu no encontro. Seguiremos protocolos de segurança até que o Operário Morgan apareça.
DIA 5.878
O Operário Solomon foi até a casa segura do Operário Morgan em Atenas, mas aparentemente ele não chegou até aqui. Começaremos o rastreamento imediatamente.
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DIA 5.892
A CIA foi contatada. As forças da Agência estão agora envolvidas na procura do Operário Morgan.
DIA 5.900
Três semanas de buscas e nada do alvo.
Ele desapareceu.
Ele simplesmente desapareceu.
Alguém tem que contar à Rachel.
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CAPÍTULO 33
COISAS QUE NUNCA, NUNCA MAIS SERIAM AS MESMAS
(Uma lista por Cameron Morgan)
• As calças de pijamas de Macey: porque manchas de grama e sujeira de poços de elevadores nunca saem.
• A reputação do Agente Townsend: porque se espalhassem por aí que nós quatro conseguimos fazer o que ele tentara fazer durante meses, tenho certeza que tirariam dele o seu status de agente dois zeros (Se Tina sequer estivesse certa que ele a tinha).
• Liz: porque o Código do Pombo tinha aberto para ela todo um novo mundo de criptografia (e ela já era obcecada até demais com o antigo).
• Bex: porque os pais dela estavam certos.
• Bex: porque os pais dela estavam errados.
• Eu: porque sim.
● ● ●
Na noite seguinte, eu andei em direção ao escritório de minha mãe carregando o diário de meu pai e o segredo de meu professor. Eu não fazia ideia de qual era mais pesado.
―Não era Sódio pentotal, era?‖
Virei ao som do Agente Townsend em pé no Corredor de História, me encarando entre o brilho protetor da espada de Gilly — digo, da espada de Cavan.
―Na maçã?‖, ele explicou.
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―Eu não sei do que você está…‖ tentei passar por ele em direção ao escritório da minha mãe, mas sua mão estava em meu braço. Sua respiração era quente em minha orelha.
―Você pode tentar mentir para mim, mas não recomendo.‖
O diário do meu pai estava em minha mochila e parecia como um talismã, me dando força.
―Tire sua mão de mim.‖ Townsend me olhou, mas não se moveu, e eu tentei me libertar. ―Professores não podem tratar estudantes com grosseria ou fazer acusações loucas. Os administradores nunca…‖
―Ah, mas os administradores tinham empregado um agente duplo famoso por quase dois anos. Eles estão bem ansiosos para ajudar.‖
―Eu ainda sou uma aluna nessa escola e…‖
―Não, não, Srta. Morgan. Ou você é uma operária treinada de quem eu devo desconfiar e respeitar ou você é uma garota de dezesseis anos…‖
―Acabei de fazer dezessete‖, o corrigi.
―…quem eu devo lecionar. Não pode ser os dois.‖ Ele soltou meu braço e deu um passo para trás. ―Eu pensei que o seu precioso Sr. Solomon teria te ensinado isso.‖
―Ele não é o meu Sr. Solomon…‖
―Claro que é. Não foi por causa dele que você e suas amiguinhas tentaram invadir meus registros? Inspecionar meu escritório? Colocar alguma mistura desagradável dentro da maçã de um professor inocente?‖
Eu não disse nada.
―Muito bom; não negue. Negar o inegável apenas te faz parecer tola tanto quanto mentirosa. Nessa profissão, você pode ser um — às vezes o outro. Mas nunca ambos.‖
Ele se moveu pelo Corredor de História, fitando nossas possessões mais valiosas como se estivesse em uma feira de quinquilharias.
Não me olhou quando perguntou:
―Você acreditou nele, não acreditou? Pensou que ele era um homem bom? Bem, esse foi o seu engano. Ninguém — e eu realmente quero dizer ninguém — nesse ramo de trabalho é verdadeiramente bom. Se fôssemos, estaríamos fazendo algo bem diferente disto.‖
Ele não sabia do que estava falando. Ele não sabia... nada. Comecei em direção ao escritório de minha mãe, precisando dela mais do que nunca, desesperada para vê-la — provar que não éramos tolas.
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―Ela não está aí‖, ele gritou do corredor vazio. Senti meu sangue esfriar.
―Onde ela está?‖
Ele sorriu levemente.
―O que você fez com ela?‖
―Eu?‖, ele deu uma risada. Sim, risada de verdade. ―Permita-me esclarecer algo para você, Srta. Morgan.‖ Aproximou-se. ―Eu não sou um membro do Círculo. Nunca nem vi o Blackthorne. Claro, provavelmente topamos com alguns deles — não podemos controlar isso.‖ Ele balançou a cabeça. ―Mas nunca fiz parte daquilo.‖
―Parte do que?‖
―Eu sou o homem bom.‖
Eu permaneci em silêncio, o observando ir embora até que...
―Você está errado!‖, gritei, as palavras ecoaram pelo corredor vazio. ―Você está errado sobre tudo!‖
O Agente Townsend parou e se virou lentamente.
―Nove horas atrás, um time de transporte da CIA foi emboscado fora de Langley. Três guardas foram mortos e Joe Solomon foi levado.‖ Ele me encarou pelo corredor. ―Seu homem inocente está de volta ao Círculo novamente, Srta. Morgan. Eles o têm. Ele está livre.‖
Naquela noite eu tive um sonho estranho. Estava parada no topo da Grande Escada em um vestido longo e bonito. Ouvi os sons das danças de Virginia vindo em minha direção, e abaixo de mim, pessoas enchiam o hall de entrada. Porém a coisa mais estranha de tudo era que meu pai estava no final das escadas, esperando.
Desci e peguei seu braço, e juntos fizemos nosso caminho entre a multidão do Grande Salão.
Havia danças e bebidas. Era uma festa, mas pelo clima no salão notava-se que não havia motivo algum para se celebrar.
E então subitamente um homem apareceu, segurando uma espada.
Eu sabia que tinha de impedi-lo — fazê-lo parar — mas o homem se movia mais rápido em direção onde eu estava. Seus olhos se aproximavam de mim no salão escuro e eu encarei um rosto que eu conhecia.
Um rosto que eu beijara.
―Não.‖ Eu podia ter dito a palavra, mas uma mão estava sobre minha boca. Braços fortes estavam me segurando enquanto eu chutava a coberta enrolada em torno de minhas pernas.
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Então ouvi uma voz profunda sussurrar meu nome.
―Cammie, acorde.‖
―Não‖, murmurei, ainda lutando e meio adormecida.
―Está tudo bem, Garota Gallagher. Está tudo bem. Acorde.‖
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CAPÍTULO 34
HÁ MUITAS FORMAS DE UMA GAROTA ADOLESCENTE RESPEITOSA (sem mencionar sana) pudesse reagir à aparição súbita de um garoto adolescente em seu quarto no meio da noite.
Bater.
Entrar em pânico.
Congelar.
Mas eu não fiz nenhuma delas. Não naquele momento, porque eu estava deitada enrolada nos lençóis e nos braços de Zach. Lágrimas desciam por meu rosto enquanto eu pensava no meu pai, Sr. Solomon e Gilly — por uma fração de segundo eu sabia como era ser a Gilly.
―Está tudo bem, Garota Gallagher.‖ Ele alisou meu cabelo. ―Foi somente um…‖
―O que você está fazendo aqui?‖, eu cochichei.
A meio metro de distância, Liz estremeceu e rolou na cama. No canto, Bex estava começando a roncar. Macey repousava perfeitamente imóvel de barriga para cima, com seu cabelo escuro arrumado no travesseiro como a Bela Adormecida. Eu indiquei com a minha cabeça na direção delas.
―Diga-me por que eu não deveria acordá-las?‖, sussurrei. ―Diga-me por que não deveria apertar isto?‖ Apontei para o botão de emergência na parede.
Ele sorriu.
―Onde estaria à diversão nisto?‖
―Zach‖, eu sibilei e deixei minha mão perto do botão.
―Ok‖, disse ele, alcançando para pegar gentilmente logo aquela mão. ―Estou aqui porque nós precisamos dar uma caminhada.‖
Quando estávamos no segundo ano, Zach frequentou minha escola durante um semestre. Compartilhamos os corredores como colegas de classe. Como iguais.
Mas enquanto andávamos até o salão de chá vazio da Madame Dabney, o olhar brincalhão que ele tinha em seus olhos naquele semestre tinha desaparecido
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completamente. Não tenho certeza de que tipo de olhar eu tinha em meus olhos, porque eu totalmente evitara meu próprio reflexo nos espelhos. (Agora não era hora de se preocupar com marcas do travesseiro no rosto e cabelo bagunçado após levantar.) Ao invés disso, eu o estudei.
―Eu quero saber, como você chegou até aqui?‖, perguntei.
Balançou a cabeça.
―Eu só quebrei algumas leis.‖ Ele segurou seus dedos a meio centímetro de distância um do outro. ―Pequeninas.‖
Os lustres escuros pendiam do teto ornamentado. Nossos pés eram silenciosos contra o assoalho polido. Quase um ano atrás estávamos nesse mesmo lugar enquanto Madame Dabney nos mandou dançar, mas Zach não me segurou dessa vez. Eu não tinha vontade alguma de balançar.
―O Círculo realmente está com ele?‖, perguntei.
―Sim.‖ A voz de Zach estava ríspida enquanto ele correu a mão pelo cabelo e caiu em uma das poltronas da Madame Dabney. Ele parecia inteiramente fora de lugar.
―Por que? Quero dizer, se ele não está trabalhando com eles…‖
―Eles não estão exatamente fazendo um favor ao Joe.Uma prisãozinha aconchegante da CIA provavelmente parece ótima para ele a este ponto.‖
Andei até as altas janelas e encarei lá fora. O reflexo de Zach me olhava atrás de mim na janela escura. De alguma forma era mais fácil não encará-lo.
―As pessoas não deixam o Círculo com facilidade, Garota Gallagher.‖
―Eu sei.‖
―Qualquer um que saiba como ou onde eles trabalham — qualquer um que saiba qualquer coisa...‖ Enquanto ele parou, havia algo novo em sua voz. Zach soava cansado de um jeito como se não soubesse o que fazer com a hora.
―Eu sei.‖
―Eles estão amarrando as pontas soltas.‖
Tentei focar meus olhos na floresta lá fora, na maneira como o sol estava começando a colorir o céu.
―É isso que eu sou?‖
Zach ficou de pé e moveu-se até o meu lado na janela. Lágrimas encheram meus olhos e tentei manter meu olhar em qualquer lugar menos nele.
―Garota Gallagher‖, ele disse suavemente, alcançando o braço até mim. ―Eu não sei. Mas prometo que descobriremos.‖
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Um sentimento percorreu em mim quando pensei no ano passado: Zach em um trem correndo pelo campo da Pensilvânia; Zach deitado sob as arquibancadas em Ohio. E finalmente, Zach agarrando minha mão, me guiando para longe de uma van em uma rua escura em Washington, D.C. Zach entre mim e a arma do agressor, o agressor olhando para o garoto ao meu lado e dizendo:
―Você?‖
―Você devia estar morto, Zach.‖
Olhei para baixo e observei como minha sombra esticava-se pelo chão entre nós.
―Naquela noite — em Washington — ele tinha a arma apontada. Eu deveria ter sido levada e você devia estar morto.‖
―Garota Gallagher...‖
―Por que ele não atirou em você?‖
―Tudo naquela noite aconteceu tão rápido, Garota Gallagher.‖
―Meu nome é Cammie!‖ Eu não pensei em todas as pessoas que eu possa ter acordado com isso, todos os alarmes que possa ter disparado. Apenas soltei, ―Como você sabia sobre Boston? Por que você está trabalhando com o Sr. Solomon agora? Você é meu amigo ou meu inimigo, Zach? Ou, espere, me deixe adivinhar, você não pode me contar.‖
―Eu não sei por que eles querem você. E quanto ao resto... é melhor que você não saiba.‖
A base de restrição de conhecimento é uma coisa real. Existe por razões reais. Mas isso não significa que tenho que gostar disso — e, vindo de Zach, soava muito diferente de quando vinha de minha mãe.
―Por que você pode saber?‖
―Qual é o problema, Garota Gallagher? Ciúmes?‖
―É‖, gritei, por mais que tenha certeza que ele estava brincando. ―Estou.‖
―Cammie…‖
―O tempo acabou, Zach‖, falei. ―Diga-me o que sabe ou…‖
―Ou o que?‖ Ele me alcançou. ―Você não irá me machucar.‖
―Eu não vou‖, falei, então arrisquei um olhar em direção a porta onde estavam as três Garotas Gallagher mais zangadas que já vi. ―Mas elas podem.‖
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CAPÍTULO 35
PRÓS E CONTRAS
DE TER GAROTOS REALMENTE BONITOS
ENTRANDO ESCONDIDO EM SUA ESCOLA PARA TE VER
CON: É um pouco arrepiante.
PRÓ: Quando alguém mais entra, você tem muito mais sono do que quando tem que sair.
CON: Visitas improvisadas de garotos aumentam significantemente a chance de eles te verem com seu pijama mais feio.
PRÓ: Quase todo mundo fica bem à luz do luar.
CON: Cinco horas de sono bem profundo é quase garantido que faça muito dano ao seu cabelo.
PRÓ: Acordar no meio da noite significa... bem... acordar.
CON: Eventualmente, quer você goste ou não, suas colegas de quarto descobrirão.
● ● ●
―Olá, Zachary‖, Macey disse, dando passos largos para dentro. ―Você parece bem.‖
―Ei, Macey‖, Zach virou-se para a mais baixa e mais loura de nós e tirou um chapéu imaginário. ―Liz.‖ E então finalmente, olhou para Bex. ―Rebecca.‖
Se o uso do nome inteiro de Bex foi com a intenção de deixá-la zangada, já era tarde demais. Ela estava à beira da porta, inclinada contra o beiral com os braços cruzados. Alguém que não a conhecesse poderia pensar que ela ainda estava cansada, mas eu sabia a verdade. Ela estava guardando a saída.
―Estávamos falando sobre o Sr. Solomon‖, falei.
Macey ergueu as sobrancelhas.
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―Ah, é isso que vocês estavam fazendo?‖
Bex manteve seus olhos em Zach.
―O que você ouviu?‖, perguntou ela.
Zach balançou a cabeça.
―Não muito mais que vocês. O Círculo o tirou de lá. A CIA está dizendo que é porque ele é do Círculo, mas na verdade…‖
―É porque ele está contra o Círculo‖, Bex finalizou.
Zach assentiu.
―Em quase duzentos anos ninguém chegou mais próximo de derrubar o Círculo como o Sr. Solomon.‖ Zach virou seus olhos para mim. ―E seu pai.‖ Ele esperou, como se eu fosse explodir em lágrimas ou algo assim, mas não o fiz. ―O Círculo precisa saber o que Joe sabe, e o que ele disse aos outros.‖
―Como eu?‖ supus.
Zach assentiu lentamente.
―Estou disposto a apostar que eles terão um monte de perguntas sobre você.‖
―Bom‖, Bex falou. ―Isso significa que eles manterão ele vivo.‖
Virei-me para a janela, permaneci encarando lá fora o terreno escuro. Eles precisam dele vivo.
―Vamos pegá-lo de volta. Temos que pegá-lo de volta.‖ Senti minhas colegas de quarto olhando para mim como se eu fosse louca, mas me virei para Zach. ―Para onde eles o levariam?‖
―Eu não sei.‖
―Não minta para mim, Zach. Não me diga que não sabe das coisas, porque você sabe. Agora, onde eles o levariam?‖
―Eu não sei! Você acha que eu estaria aqui se eu soubesse?‖
Eu já vira Zach sob várias luzes, mas na bruma da manhã, eu o via como ele realmente era: um garoto assustado e órfão que não tinha lugar algum para correr.
―E quanto ao homem que a CIA tem em custódia — aquele que atirou em Abby?‖ Macey perguntou. ―Ele deve saber.‖
Mas Bex balançou a cabeça.
―Ele está comprometido. De forma alguma o Círculo usaria algo que ele soubesse.‖
―Então é só... isso?‖ Liz perguntou.
Eu podia ver pesando nela. Não havia nenhum banco de dados para arrombar, nenhum satélite para invadir. Pensei no Sr. Solomon e sua insistência de que tecnologia é
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um suporte, que um verdadeiro espião deve sempre saber se virar sem ela.
―O Sr. Solomon saberia‖, admiti suavemente. ―Queria que pudéssemos perguntar a ele.‖
O salão estava quieto na luz cinzenta da manhã. A escola ainda dormia. Ninguém estava correndo pelos terrenos. Estávamos sozinhas quando Zach sussurrou:
―Talvez nós podemos.‖
―Como assim? Tem um segundo diário?‖ Bex perguntou dez minutos depois. Ela olhava para Zach e ele parecia assustado.
―O diário que o Sr. Solomon escondia no Subnível Dois era do seu pai, Cammie. Se algo acontecesse algum dia... ele deveria ir até você. Era do seu pai, então agora é seu. Mas Joe mantinha um diário também. Desde quando ele estava no Círculo — desde quando estava no Blackthorne.‖
Zach estava próximo às janelas, piscando contra o sol que ascendia lentamente.
―Ninguém nunca soube mais sobre o Círculo do que Joe. Ele começou a escrever tudo assim que o recrutaram. E quando ele percebeu o que eles eram, continuou escrevendo porque... bem... ele sabia que algo assim iria acontecer eventualmente. Ele disse que se eu precisasse algum dia, eu deveria pegar.‖
―Pegar aonde?‖ Macey perguntou.
Zach olhou para nós quatro por um longo tempo antes de respirar fundo.
―Blackthorne.‖
Eu sei que soava loucura. Sei que você não irá acreditar em mim. Mas naquela fração de segundo eu imaginei todo cenário que pude — calculei todas as chances. Era uma decisão esperta que me fez dizer:
―Vamos ir pegá-lo — agora. Antes que todos acordem. Vamos…‖
―Nós?‖ Bex me cortou. ―Você acha que deveríamos... o que? Pular na van de Liz, dirigir a noite toda, parar em uma instalação super secreta e, ah sim, te tirar do lugar mais seguro no planeta?‖
―Pense nisso, Cam‖, Liz disse. ―Não temos que ir a lugar algum. Tudo que temos que fazer é dizer a sua mãe, ela ligará para a CIA e…‖
―Minha mãe não está aqui, se lembram? E vocês leram os relatórios do meu pai — vocês sabem que o Círculo tem pessoas em cada nível da CIA. O Sr. Solomon sabia que não podia confiar em ninguém com isso e nós também não.‖
Bex balançou a cabeça.
―Não. É muito arriscado.‖
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―Não é tão arriscado. Nós dirigimos, pegamos o diário e vemos se nele tem alguma pista de onde o Sr. Solomon possa estar. Não é como se fôssemos rompê-lo com nossos…‖
―O que?‖ Bex e eu soltamos ao mesmo tempo, virando para encarar Zach, que nos dava um olhar estranho.
―Nada.‖ Ele cruzou os braços e deu de ombros. ―Eu só estava me perguntando quando vocês duas trocaram de corpos e tal.‖
Era verdade. Bex não deveria ser a cautelosa, cuidadosa. Porém, muitas coisas mudaram desde aquela ponte.
―Eu tenho que fazer isso por ele, Bex, eu tenho que fazer algo.‖
O sol estava levantando-se sobre Roseville. Eu nunca tinha o visto daquela janela, mas estava especialmente bonito nos raios matinais que refletiam nos cristais da Madame Dabney. Naquele momento e naquele lugar, quase tudo parecia estar ao nosso alcance.
E talvez fosse por isso que Bex sorriu.
―Bem, eu sempre quis visitar o Blackthorne.‖
Olhei para Liz.
―Acabei de aprimorar a van para incorporar tecnologia solar. Ela realmente precisa de um teste na estrada para importância estatística, sabe.‖
―Nós versus Blackthorne?‖ Macey disse com um sorriso. ―É, estou super dentro.‖
Eu não sei como explicar, mas naquele momento, as coisas pareciam ir bem.
Nossa missão era clara.
Nós poderíamos ir até Blackthorne.
Poderíamos pegar o diário.
Depois poderíamos encontrar uma maneira de trazer Joe Solomon para casa.
Sim, naquele momento, tudo estava bem. Mas, é claro, aquele momento não podia durar.
Eu me lembro do som da porta quando se abriu e do olhar surpreso e chocado que cruzou os rostos de minhas colegas de quarto, quando nos viramos para ver a silhueta escura e magra que estava na soleira da porta e disse:
―Então, quando partimos?‖
Minha mãe deu dois passos a frente, depois se virou para encarar Zach.
―Eu não te disse para ficar no meu escritório?‖
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CAPÍTULO 36
COISAS QUE REALMENTE
ME SURPREENDERAM NAQUELA
VIAGEM EM PARTICULAR:
1. Que ela aconteceu. Mesmo.
2. Que aconteceu com um garoto.
3. Que de todas as pessoas na van, Bex foi a que mais dirigiu.
4. Que depois de um dia inteiro com nada mais para petiscar, uma pessoa pode realmente enjoar de M&M’s de Amendoim.
5. Que mesmo enquanto dormia em uma van, o cabelo de Macey McHenry nunca ficava bagunçado.
6. Que ninguém mencionara o nome do Sr. Solomon, nem mesmo uma única vez.
7. Que ninguém falou sobre onde estávamos indo.
8. Que quatro Garotas Gallagher estavam matando aula e perdendo um dia todo (mesmo com a permissão de nossa diretora).
9. Que, se você dirigir a noite toda e só parar para coisas essenciais, o Instituto Blackthorne para Garotos está apenas a dez horas de distância da Academia Gallagher. De alguma forma ele sempre pareceu mais distante.
● ● ●
―Você ainda está zangada comigo?‖ Zach sussurrou enquanto cruzávamos a Pensilvânia.
A perna dele estava pressionada contra a minha, mas eu não pensei em como isso
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me fazia sentir, porque minha mãe (que é uma espiã) estava bem no banco da frente, e minhas colegas de quarto (que eram futuras espiãs) nos cercavam na van.
E, além disso, não é preciso muito treinamento para saber que pressionamento de pernas pode seriamente distrair uma garota de pequenas coisas.
Coisas como tentar não morrer. Então não falei nenhuma palavra.
―Ahh,‖ Zach murmurou. ―O tratamento do silêncio.‖
―Não estou falando com você, Zach‖, sussurrei, virando para ele, ―porque eu sei que não irá me dizer alguma coisa de qualquer forma. Devo fazer mais perguntas que você se recusa a responder?‖
Enquanto eu me virava e encarava a frente novamente, observava as linhas amarelas na estrada voando por nós, eu esperei por mais desculpas. Mais mentiras. Mas em vez disso, Zach apenas se inclinou para o outro lado e cochichou para Liz:
―Ela fica bonita quando está quieta.‖
Eu não proferi uma única palavra.
Não quando ele comeu o último dos M&M‘s.
Não quando ele pôs sua cabeça no ombro e tentou tirar um cochilo.
Não quando ele e Liz fizeram uma briga de dedos (apesar do fato de eu estar sentada entre os dois), disputando a melhor parte do estado da Pensilvânia.
Não quando Liz e Macey finalmente caíram no sono, ele se inclinou para perto de mim e sussurrou:
―Tem certeza que quer fazer isso, Garota Gallagher?‖
Não. Nem mesmo naquele momento. Eu não tinha nada a dizer.
Ao anoitecer, o silêncio foi quebrado quando ouvi minha mãe dizer:
―Encoste ali.‖
Bex entrou em um estacionamento de um velho posto de gasolina ao lado de uma rodovia de duas pistas estreitas. Capim crescia entre as bombas abandonadas. Máquinas enferrujadas sustentavam as logomarcas antigas da Coca Cola e da Pepsi.
Nós nos sentimos completamente sozinhos, mas em uma fração de segundo, tudo mudou.
Um carro escuro se aproximou,vindo do sul, viajando muito rápido. Pneus guincharam conforme ele deslizou lateralmente pelo cascalho, parando a noventa centímetros do para-choque da van de Liz.
―Mãe!‖
Eu gritei, me levantando rapidamente, com o sangue pulsando em meus ouvidos.
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Mas antes que eu pudesse processar a pior hipótese que estava tocando em minha mente, minha melhor amiga levantou-se também e gritou:
―Mãe?‖ um segundo depois, Bex estava abrindo a porta da van e correndo até sua mãe, que estava saindo do outro carro.
―Olá, querida‖, a Sra. Baxter disse, jogando os braços em volta de sua filha. Mas eu notei que seu olhar nunca deixava o de minha mãe.
―Alguma coisa, Grace?‖, minha mãe perguntou, saindo da van.
A mãe de Bex sacudiu a cabeça.
―Nada. Você está limpa.‖
Naquele momento, um caminhão branco apareceu na estrada deserta, desta vez vindo do Norte. Parou no posto abandonado e de alguma forma eu não estava nem um pouco surpresa em ver o pai de Bex atrás do volante.
Ele pulou do caminhão.
―Tudo claro do meu lado, Rachel. Você está livre.‖
―Obrigada, Abe.‖
Ela parecia aliviada, e para dizer a verdade, eu não gostei disso. Porque, para se sentir alívio, deve ter havido medo. E o medo... bem... Eu não quero pensar sobre isso.
Liz me cutucou.
―Estes são os pais da Bex!‖
Olhei para minha mãe, que deu de ombros.
―Vocês não esperavam que eu não fosse recrutar um reforço adulto, não é?‖
Macey estava do meu outro lado e exclamou:
―Vamos em uma missão com os pais de Bex!‖, como se perguntasse se estava ou não pronta para o poder dos Baxters.
Mas minha mãe estava sacudindo a cabeça.
―Na verdade, garotas, em missões não sancionadas, são melhores em minimizar a exposição de agentes oficiais.‖
É uma regra tão antiga quanto à espionagem em si: não faça você mesmo algo que possa conseguir alguém que faça para você. Há um milhão de razões inofensivas para um bando de Garotas Gallagher arrombarem o Blackthorne (piadas, desafios, brincadeiras, etc). Para um bando de adultos invadirem, nem tanto.
Bex sabia de tudo isso – eu sei que ela sabia – mas ainda assim ela olhava de minha mãe para a dela e de volta para minha mãe.
―Então porque vocês estão...‖, ela começou, então parou.
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―Eles não estão aqui para nos ajudar.‖ Minha voz era lisa contra o vento. ―Estão aqui para me guardar.‖
Um olhar passou pelos rostos de minhas colegas de quarto como se tempo algum tivesse passado desde novembro – como se ainda estivéssemos em uma rua escura em Washington.
―Você está com o diário?‖ Grace perguntou.
―Não.‖ Minha mãe balançou a cabeça, depois apontou para minhas colegas e eu. ―Elas me venceram nisso.‖
E foi quando as coisas ficaram realmente estranhas.
Quero dizer, minha mãe tinha invadido o Subnível Dois!
Minha mãe tinha ido atrás do diário do meu pai.
Minha mãe era a pessoa que estava logo atrás de nós, rastejando pela escuridão nas profundezas da nossa escola, o que significava, eu acho, que o agente Townsend não tinha estado lá.
Eu ainda estava chacoalhando minha cabeça, tentando pensar nisso – em tudo – quando outro carro apareceu na rodovia e Macey gritou:
―Abby?‖
Quase soou como uma pergunta e com um olhar para minha tia eu vi por que. Seu cabelo brilhante havia perdido o brilho. E quando ela andava em nossa direção, a vivacidade que eu viera a conhecer em seu passo havia desaparecido.
―Ei, baixinha‖, disse ela, mas soou forçado. ―Matando aula, pelo que eu vejo.‖
Dei de ombros.
―Talvez esse seja um exercício em campo de Operações Secretas?‖
Ela ergueu uma sobrancelha.
―Eu conheço o Agente Townsend, Cams.‖
―Ah‖, Bex disse.
―E por isso eu sou mais do que a favor de fazer parte dessa pequena lição extracurricular.‖ Ela olhou para sua irmã. ―Bem... é uma das razões.‖
Minha mãe se virou para o Sr. Baxter.
―O que nossos amigos na Sexta estão dizendo, Abe?‖
―Mesma história, sotaque diferente. Ninguém tem pista alguma de onde o levaram. Ninguém parece se importar.‖
―Eu me importo.‖
Zach estava do lado da estrada empoeirada, com as mãos nos bolsos. Quando a Sra.
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Baxter o viu, ela sorriu um pouco demais.
―Olá, Zachary‖, disse ela. ―É um prazer conhecê-lo. Rachel nos contou... É um prazer conhecê-lo.‖
Zach murmurou alguma coisa que soou como ―Digo o mesmo.‖ (Acho que o Blackthorne não tem uma Madame Dabney.)
E então o momento para amabilidades deve ter se encerrado porque a Sra. Baxter se virou para minha mãe.
―Pronta?‖
Pareceu uma pergunta perfeita para o momento. Afinal, eu estava me preparando para invadir o Blackthorne. Eu estava fora da mansão. Estava me preparando para ir a uma missão.
Uma missão de verdade.
Com Zach.
E minha mãe.
Palavras não podiam descrever meu nervosismo. Ou a estranheza.
Ocorreu a mim que eu devia ter tomado notas, saboreando cada momento. Mas não havia tempo.
A Sra. Baxter se dirigiu até o caminhão, subindo ao lado de seu marido enquanto jogava para minha mãe as chaves para o sedan com janelas escuras. Abby já estava entrando no SUV enquanto Liz e Macey foram até a van, mas minha mãe acenou para elas.
―Ela fica aqui‖, disse ela com uma sacudida de cabeça. ―Não podemos correr o risco de alguém segui-la de volta até a escola.‖
Quando minha mãe se virou para mim e perguntou, ―Você está com tudo?‖, ela soava como se estivesse me deixando na escola ou na casa de uma amiga. Ela soava quase como uma mãe normal.
Quando eu disse, ―Sim, estamos prontas,‖ quase soei como uma garota normal.
Mas enquanto observei meus guarda-costas seguirem para a estrada para acompanhar o perímetro da escola, normal pareceu completamente superestimado.
Um momento depois, minha mãe nos deixou em uma nuvem de poeira no meio do nada, ao lado de um posto de gasolina que não tinha nenhuma gasolina, com uma van que não podíamos dirigir e um garoto que é um dos melhores espiões no mundo em quem hesitamos em confiar.
―E o que devemos fazer agora?‖ Macey perguntou.
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Zach sorriu.
―Andamos.‖
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CAPÍTULO 37
O FATO DE OPERAÇÕES SECRETAS DE QUE VOCÊ PASSARÁ MUITO tempo com pessoas em quem você não confia é pouco conhecido. Eles podem ser traidores e mentirosos. Podemos chamá-los de ativos ou informantes. Mas, naqueles dias, eu o chamava de Zach.
 As Operárias fizeram contato com um ativo que tinha conhecimento de primeira mão do Instituto Blackthorne para Garotos.
 O Ativo também estava a par dos planos particulares de Joe Solomon, dos segredos do Círculo e tinha um cheiro de sabonete mais incrível do mundo.
 As Operárias, portanto, tentaram não confiar (ou cheirar) o Ativo.
● ● ●
Caminhando pelo lote do posto de gasolina, eu podia sentir a escuridão caindo. O ar estava úmido e calmo. Eu podia ouvir Liz tropeçando atrás de mim e sabia, sem mesmo olhar, que Bex estava cobrindo atrás. Mantive meus olhos treinados na nuca de Zach enquanto entramos mais no bosque e mais perto do Blackthorne.
Vinte minutos depois, encontrei-me perguntando:
―Quanto tempo para chegarmos à escola?‖
―Não muito‖, Zach disse, sem perder um passo.
―Quantos guardas estarão patrulhando em nosso ponto de entrada?‖
Ele deu de ombros.
―Não sei.‖
―Qual é o intervalo do alcance da câmera de segurança?‖
―Difícil dizer.‖
Alcancei seu braço no escuro.
―O que você sabe, Zach?‖
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―Você está na minha própria casa agora, Garota Gallagher.‖ Sua respiração era quente contra minha pele. ―Você tem algum problema com isso?‖
―Gente...‖ Ouvi a voz tímida de Liz atrás de mim.
―Talvez eu tenha‖, rebati de volta para Zach.
―Cam‖, Bex falou, sua voz imitando a preocupação de Liz, mas eu mal ouvi.
―Talvez eu…‖ comecei novamente, mas antes que pudesse dizer mais alguma palavra, Bex agarrou meu braço.
―Cam, escute!‖
A floresta estava escura e imóvel. Só uma sugestão fraca do brilho das estrelas e da lua se via na densa cobertura de árvores.
Senti alguém me cutucar e me virei para olhar para Bex, que ergueu um dedo, como se dissesse, ouça atentamente. E então eu ouvi: um ronco distante, baixo e constante, entre as árvores.
Zach começou a andar e nós quatro o seguimos, até que as folhas sobre nossas cabeças desapareceram e estávamos sob o céu aberto. Logo estávamos olhando a encosta de um enorme penhasco, ouvindo um barulho ensurdecedor.
―O que é isso?‖ Macey gritou espiando na borda do penhasco.
Zach nem mesmo olhou para o rio que assolava sob nós, cortando o deserto sessenta metros abaixo.
―É a nossa carona.‖
● ● ●
Qualquer um que já tenha dirigido pela Academia Gallagher pode vê-la em pé com segurança por trás de seus muros altos e cercas de pedra. Com um olhar sobre as montanhas que se erguiam acima de nós e o rio rugindo abaixo, percebi que o Instituto Blackthorne tinha seu próprio tipo de muros. No momento que descemos de rapel o penhasco, convencemos Liz a entrar em um frágil barco de borracha preta e começamos o caminho, percebi que a Academia Gallagher pode ter a melhor segurança que o dinheiro pode comprar, mas o que o Blackthorne tinha era impagável. (Nota para si: se você de alguma maneira conseguir um verdadeiro professor de Operações Secretas antes do final do semestre, esta operação deve ser valer crédito extra.)
―Você tem certeza que não há outro caminho?‖ Liz perguntou. Seus olhos estavam fechados e ela segurava seu segundo laptop favorito, envolvido por uma caixa de ferramentas, como se sua vida dependesse dele.
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Zach riu.
―Há apenas outros caminhos que pessoas sãs usariam.‖
As ondas vinham mais rápidas. Meus dedos congelavam em volta do meu remo e quando passamos por uma onda pesada, Liz teria voado se Bex e eu não estivéssemos ali para segurá-la.
―O que há de errado em ser são?‖ Macey gritou enquanto batia os dentes sobre o rugido da água.
Zach sorriu e berrou:
―Insano significa menos câmeras!‖
Não pensei que fosse possível, mas no segundo seguinte eu podia jurar que a água começou a correr mais rápido. O rugido se tornou mais alto. Pela luz da luz, eu podia ver a água que se estendia a nossa frente e de repente... nada. Era como se o rio tivesse secado.
―Zach...‖ Não tentei esconder o pânico em minha voz. ―Zach, por que o rio desapareceu?‖, perguntei, já temendo a resposta. ―Zach!‖
E com isso, o chão, a água, tudo caiu debaixo de nós e caímos por uma cachoeira. Era como uma montanha russa – só que mais rápido. E mais molhado. E bem menos confortável enquanto tombamos no céu da noite, esperando pela pancada na água.
COMO INVADIR O BLACKTHORNE
(Uma lista pelas Operárias Morgan, Baxter, Sutton e McHenry)
1° PASSO: Torne-se levemente maluca.
2° PASSO: Tão maluca que você realmente se voluntaria para descer uma cachoeira de quinze metros.
3° PASSO: Engula um monte de água gelada do rio.
4° PASSO: Tussa e vomite.
5° PASSO: Repita o 4° passo até que pareça que talvez seus pulmões não estejam mais dentro do seu corpo.
6° PASSO: Lembre-se de que um garoto muito bonito está ao seu lado, então tente tossir da maneira mais atraente possível.
7° PASSO: Seja grata por ainda estar viva.
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O primeiro pensamento que veio a minha mente depois da queda, dos agitos, da tosse e da natação, foi ―está todo mundo bem‖ e foi quando eu estava deitada de barriga para cima no banco rochoso do rio. Havia um campo aberto a minha frente, enquanto atrás de nós, penhascos íngremes cresciam até o céu e o rio ainda rugia ensurdecedor em nossos ouvidos.
―Sem muros?‖, perguntei.
Zach me estudou.
―Não é necessário.‖ Ele apontou para o rio e os penhascos. ―Além disso, esse não é um lugar que as pessoas estão ansiosas para visitar‖, disse. Comecei a falar, mas ele me cortou. ―Você vai ver.‖
O Vovô Morgan sempre diz que para conhecer um pedaço de grama, você tem que ver o chão onde ele cresceu. Talvez era por isso que me lembro de cada detalhe naquela noite, cada centímetro do chão por onde passamos, enquanto seguíamos Zach para o lugar onde ele foi feito, observando ambos com meus próprios olhos.
Na luz da luz, eu podia ver claramente um rifle de longa distância a vinte e sete metros.
―Aquilo é...‖
―É,‖ Zach falou, como se não quisesse ouvir o resto da pergunta.
―Quão longe estão os alvos?‖ Bex perguntou.
Zach virou-se para nós e sussurrou:
―Longe.‖
Passamos por uma enorme vala que havia sido cavada no chão. Cordas pesadas penduradas nos galhos mais altos das árvores altas. E, além disso, havia caminhos enlameados e montanhas rochosas. Eu sabia que, apesar da maravilha natural disso, nada sobre Blackthorne era bonito; sabia que mesmo na luz do sol, algo sobre aquele lugar seria sempre um pouco escuro.
Finalmente, chegamos até uma cerca que tinha, pelo menos, quinze metros de altura. A luz da lua iluminava os fios de arame farpado que circulou no topo.
―Sutil‖, Bex disse, olhando para a cerca.
―Esse é o perímetro da base central‖, falou Zach. ―Tanto quanto o público em geral sabe, o Blackthorne acaba aqui. Siga a cerca e a cento e oitenta metros abaixo você vai encontrar um ponto de acesso a dados que toda a segurança eletrônica atravessa.‖ Ele olhou para Liz. ―Você sabe que tem a fazer?‖
Liz sorriu.
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―Sim.‖
―Está disposta a isso? Porque você só terá sessenta segundos para invadir ou não conseguiremos entrar. Ou voltar.‖
Liz pareceu insultada.
―Eu sei.‖
―Ela dá conta‖, Macey disse a ele.
Zach respirou fundo.
―É. Eu sei. Só... parece diferente do lado de cá, sabe?‖
Não pela primeira vez, eu me perguntei que se Zach tivesse saído do Blackthorne, onde estaria morando e como estava sobrevivendo, mas essa não parecia a hora de fazer perguntas. Ele provavelmente não teria respondido, de qualquer forma.
―Segurança entre aqui e ali?‖ Bex perguntou.
―Caminhe suavemente e ficará bem.‖
Ainda assim, minhas três melhores amigas no mundo pareceram preocupadas.
―Bex e Liz podem lidar com o perímetro‖, Macey disse, virando-se para mim. ―Talvez eu devesse ir com você.‖
―Quanto mais pessoas forem, mais chances de sermos vistos‖, contrapus.
―É‖, disse Zach. ―É exatamente por isso que você deve ficar aqui.‖
―Você mesmo disse que não sabe exatamente o que tem lá dentro, Zach. Ir sem reforço seria tolice.‖
―Então me deixe ser tolo.‖
―Não.‖
―Por quê?‖
―Porque eu tenho que fazer alguma coisa, ok? Não posso me sentar e... ser paciente... Eu tenho que fazer alguma coisa.‖
Ninguém disse nada por um momento. Todos nós estávamos muito molhados, muito doloridos e chegamos longe demais para voltar.
Então Macey encarou diretamente os olhos de Zach.
―Estamos deixando ela com você‖, Macey alertou.
―Eu ficarei bem, Macey‖, falei, mas foi como se ela não tivesse ouvido uma sequer palavra.
―Estamos deixando ela com você‖, disse novamente. ―E se você nos fizer nos arrepender disso...‖
―Não farei‖, Zach disse e por alguma razão acreditei nele.
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A Operária foi conduzida por uma série de portões, portas e valas bem barrentas. A Operária, entretanto, não se queixou por arruinar seu jeans favorito.
(Mesmo que ela realmente, realmente quisesse reclamar.)
Do outro lado da cerca de arame, acho que pensei que o mundo iria mudar. E mudou. Só não da forma como eu estava esperando.
Eu havia visto a Academia Gallagher nas noites mais frias e nos dias mais quentes. Rastejei pelas mais profundas passagens secretas e olhei pelas janelas mais altas. Eu havia andado pela neve espessa e chuva pesada.
Eu sei como é uma escola de espiões!
Ou, pelo menos, eu pensei que soubesse. Até agora.
Zach e eu deitamos de bruços no topo de uma cordilheira baixa, olhando para o Instituto Blackthorne para Garotos através do brilho de um farol que varria o terreno vindo da torre mais alta da escola. A maioria dos edifícios era baixa e quadrados com coberturas metálicas, grades pesadas em todas as janelas.
Apesar da hora, um grupo de vinte garotos estava correndo pelo campo aberto, que ficava entre a colina coberta de árvores e os prédios grandes quadrados. Eles usavam macacões amarelos e corriam em perfeita harmonia, marchando, com seu cantar aos gritos ecoando pelo vale no escuro.
―Exercícios noturnos‖, Zach sussurrou, mas exercícios para quê, não ousei perguntar.
Um par de faróis apareceu no portão, brilhando passando pela estação de guarda e para a pista de cascalho.
―Mãe‖, sussurrei.
―Bem na hora‖, Zach disse.
Quando minha mãe começou a dirigir em direção ao edifício principal, eu levantei meus binóculos e cuidadosamente estudei a placa que pendia no portão que se abria.
INSTITUTO BLACKTHORNE PARA GAROTOS, INSTALAÇÃO PARTICULAR DE DETENÇÃO.
PERIGO. NÃO ULTRAPASSE ESSE PONTO.
O ano passado inundou novamente minha mente em pedaços – as camas arrumadas
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perfeitamente nos quartos temporários dos meninos temporária na Ala Leste; a forma como os garotos se contorciam como se nunca tivessem usado um paletó ou gravata em suas vidas; e acima de tudo, o olhar nos olhos de Zach quando me alertara que eu gostaria da vida na escola dele – não gostaria mesmo.
―Vocês têm o seu disfarce, Garota Gallagher‖, Zach disse silenciosamente. ―Nós temos o nosso.‖
AO OBTER ACESSO AO
INSTITUTO BLACKTHORNE PARA GAROTOS,
AS OPERÁRIAS FORAM CAPAZES DE DETERMINAR O SEGUINTE:
• O firewall do Instituto Blackthorne, de acordo com a Operária Sutton, era bom. Mas não bom o suficiente.
• Como parte de seu disfarce, os residentes do Instituto Blackthorne eram forçados a usar macacões de uma tonalidade de amarelo que, de acordo com a Operária McHenry, não fica bem em NINGUÉM.
• Os guardas no Instituto Blackthorne utilizam uma forma muito agressiva de patrulhar o perímetro que seria muito efetiva, exceto quando um intruso conhece o Método Bazinsky (o que a Operária Baxter conhecia).
Zach estava certo, é claro. Sua escola não era como a minha. O Blackthorne tentava parecer como um lugar para bandidos e a Academia Gallagher parecia ser um palácio para princesas. Minha escola era a 800 metros da Rodovia 10. A escola de Zach estava escondida entre montanhas, blindada do mundo.
Eles tinham arames farpados e nós tínhamos paredes de pedra.
A escola deles parecia um presidiário feito para manter as pessoas dentro e minha escola parecia ser uma mansão feita para manter as pessoas fora.
Mas enquanto me deitei com Zach no escuro no topo daquela cordilheira, eu o ouvi respirar. Seu braço estava contra o meu e temi que eu pudesse suar ou ficar nervosa, que ele pudesse sentir que meu sangue pulsava rápido demais por meu corpo e adivinhar os
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pensamentos que corriam por mim – todas as coisas que eu não confiava nele para ver ou saber.
Tentei me afastar, mas ele pôs suas mãos em meus ombros e me segurou ali. Eu sabia que o Instituto Blackthorne estava um pouco além daquela cordilheira e seus guardas, professores e pequenos Joe-Solomons-em-treinamento também, mas ainda assim senti como se Zach e eu fossemos as únicas pessoas no planeta enquanto ele pressionava seu corpo contra o meu.
Suas mãos se moveram para acariciar meu rosto, e nos traços tênues de luz, vi seus olhos, talvez mais claramente do que já vi.
Zach me via.
Zach me conhecia.
Eu era qualquer coisa menos invisível naquele momento, deitados nas sombras e com seu rosto a centímetro do meu.
―Fique aqui‖, ele murmurou. ―Por favor, Garota Gallagher, apenas fique aqui.‖
Queria me afastar, lembrá-lo que eu era uma garota grande já, uma operária altamente treinada, uma espiã – que eu fora treinada para essa missão minha vida inteira e não iria ser deixada de lado. Mas naquele pequeno espaço com Zach pressionado apertadamente contra mim, apenas um pensamento veio à minha cabeça. Eu o beijei – mais demorada e profundamente do que já beijei antes. A escola não estava nos observando dessa vez.
Não havia brincadeira em seu tom. Éramos apenas duas pessoas se beijando como se fosse a primeira vez, como se pudesse ser a última.
E então eu me afastei.
―Então‖, perguntei, como se fosse beijada dessa forma o tempo todo (o que, acredite, não sou). ―Onde é que você está me levando dessa vez?‖
―Os túmulos.‖
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CAPÍTULO 38
NOS VINTE MINUTOS SEGUINTES, EU DEVO TER QUEBRADO uma dúzia de regras de operações secretas.
Afinal, eu não sabia onde estávamos indo. Não fazia ideia do que iríamos encontrar quando chegássemos lá. Não havia planejado estratégias de entrada e de saída alternativas ou estratégias de evitar que meu rabo-de-cavalo ficasse batendo em meu rosto. Tudo que eu sabia com certeza era que a mão de Zach estava agarrada na minha (apesar de uma pesquisa dizer que uma pessoa é muito mais furtiva quando não está segurando nada), e a voz de Bex era a única coisa familiar que eu ouvir.
―Camaleoa, o que ele disse mesmo?‖, ela perguntou pelas unidades de comunicação em meu ouvido, enquanto Zach e eu cobríamos o terreno aberto além da cordilheira rapidamente. ―Porque estamos procurando no banco de dados por ‗túmulos‘, mas…‖
―Não está no banco de dados‖, Zach cortou.
―É algum tipo de cemitério? Não encontramos uma entrada no…‖
―Não há nenhuma entrada registrada.‖
―Ou referências para ela em parte alguma‖, Bex terminou.
Zach olhou para mim.
―Não é o tipo de lugar que é referenciado.‖
―Câmeras passando em três, dois, chão!‖ Liz comandou de seu posto de observação e Zach e eu caímos no chão feito pedras.
―Rolem‖, Liz disse e eu me impulsionei para descer uma ladeira íngreme em uma vala enlameada. Ouvi vozes vindo de cima de nós, passos conforme os Garotos Blackthorne passaram correndo em perfeito uníssono, enquanto Zach e eu continuamos nos rastejando pela lama.
―Espere, não é um túmulo de verdade, é?‖ Macey perguntou.
Parecia uma ótima pergunta, mas Zach estava silencioso, ainda rastejando para longe dos prédios e dos guardas e em direção a montanha que formava o plano de fundo da escola.
―O que são os túmulos, Zach?‖, perguntei novamente quando alcançamos a base da
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primeira colina, saímos da lama e fomos até ás árvores.
O chão estava áspero e íngreme. Andamos por uma trilha coberta de ervas daninhas e arbustos – como se a selva estivesse tentando recuperá-la.
―Gente, vocês estão livres agora‖, Liz disse a três quilômetros de distância, mas eu já havia previsto isso.
Os garotos marchando haviam desaparecido. Nenhuma câmera podia nos alcançar entre a densa cobertura de árvores.
Apenas um único raio de luar cortava os galhos. Lembro-me disso agora – como eu podia ver tão claramente as características do rosto de Zach, o olhar em seus olhos quando ele começou a pôr de lado as pedras cobertas de musgo que se estavam ao lado da montanha íngreme.
―O que você está procurando?‖
―Deve haver uma entrada aqui em algum lugar.‖ Ele chutou as folhas mortas caídas que cobriam o chão da floresta. ―Vai estar escondida — feita para se misturar. Mas deve haver um interruptor, ou talvez...‖
―Uma alavanca?‖, perguntei, dando três passos até uma árvore que cresceu a partir da montanha íngreme em um ângulo diferente de qualquer uma das outras. Alcancei o único galho em toda a floresta que não possuía nenhuma folha nova. ―Você quer dizer como esse?‖
―Cavernas?‖ Ouvi minha própria voz ecoar, embora a palavra tivesse sido meramente mais alta que um sussurro. ―Os túmulos são cavernas?‖
―Pise com cuidado‖, foi a resposta de Zach.
Eu ainda podia ouvir minhas colegas de quarto tagarelando em meu ouvido, mas o som dissolvido aprofundou-se estático a cada passo atrás da porta oculta.
As paredes de pedra em torno de nós estavam pertos e úmidas, iluminadas por lâmpadas turvas que pendiam em intervalos regulares. Eu tinha a sensação de que nós não estávamos indo no subsolo. Era mais como se estivéssemos indo direto através das montanhas que eram a primeira, e talvez a melhor, defesa do Instituto Blackthorne.
―Os indígenas nativo-americanos usavam esta área para enterrar seus mortos, em cavernas como essa‖, Zach ofereceu do nada. ―É por isso que eles chamam de túmulos. O exército usava toda esta área para testes de armas e treinamentos na Segunda Guerra Mundial. Após a guerra, eles encontraram outro uso.‖
Era estranho ouvir Zach dizer qualquer coisa sobre seu passado. Queria perguntar mais, porém fiquei em silêncio, relembrando nos verões na fazenda, como os bebês
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animais rastejavam às vezes, curiosos, tímidos e inseguros sobre em quem confiar. Eu sabia que se me movesse muito rápido poderia assustá-lo, então esperei.
―Não, não...‖ Ele olhou para mim. ―Nós não o usamos mais.‖
―Até onde ele vai?‖, perguntei, hipnotizada.
―Longe.‖
―Quantos galhos e ramificações existem?‖
―Muitos.‖
―Você vai me dizer por que estava tão desesperado para me manter longe daqui?‖, perguntei.
Ele parou de repente, e eu trombei em seu peito. Era quase tão rígido quanto às paredes de pedra que nos rodeavam.
―Você vai ver por si mesma logo.‖
Caminhamos pelo que pareceram horas, desativando armadilhas e evitando as câmeras de vigilância.
―Talvez devêssemos nos dividir‖, sugeri.
―Você fica comigo‖, disse Zach, como se isso não estivesse realmente em debate.
A passagem era mais alta do que as da Academia Gallagher. As paredes de concreto pareciam mais modernas. Era um túnel de última geração, com certeza, mas não era novo ou agradável. Nada sobre ele era qualquer coisa além de funcional, e o cheiro úmido e as teias de aranhas grossas me disseram que realmente não tinha funcionado em muito tempo.
―Cuidado com onde pisa‖, Zach avisou quando chegamos a uma parte inclinada do túnel onde a água congelava em piscinas fundas e negras.
―Oh, aposto que você diz isso para todas as garotas que traz aqui embaixo.‖
Zach parou. Quando virou-se, nem mesmo parecia com o garoto que eu conhecia.
―Ninguém vem aqui embaixo.‖
Um metro e meio a frente, a passagem de pedra alargou-se. O teto ficou mais alto. Eu podia ouvir o gotejar constante da água que escoava através das rachaduras na pedra acima de nós e caía em poças no chão de concreto. Mas não havia contornos suaves lá, nem luzes brilhantes. Conforme entrava, percebi que temos nossa parte câmaras secretas subterrâneas na Academia Gallagher, mas nunca havia visto um lugar como este.
Correntes pendiam do teto alto ao longo de uma parede. Uma coleção de bonecos com o peito pintado com imperfeitos círculos vermelhos alinhava a outra parede. Mesas em aço inox de pé no meio da sala, enquanto bandejas cobertas de teia de aranha com
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seringas e alicates esperavam, como se alguém pudesse entrar ali a qualquer momento, varrer a poeira e continuar com algum experimento terrível.
―Nós não o usamos mais‖, Zach disse com sua voz suave, apesar do fato de que não havia uma alma que pudesse nos ouvir. Vergonha ecoava em suas palavras enquanto ele olhava para o chão de concreto úmido. ―Nós realmente não o usamos mais.‖
Uma meia dúzia de outras passagens abriam para esta sala, mas ainda assim eu senti como se a montanha estivesse me pressionando e como se não houvesse saída.
―Zach...‖ Minha voz ficou presa na garganta. ―O que é este lugar?‖
―Você realmente não sabe que tipo de escola é essa, sabe?‖
―É uma escola de espiões‖, soltei, com o sangue pulsando em minhas veias.
Ele chacoalhou a cabeça lentamente. Mesmo na luz turva pude ver seus olhos arregalarem.
―Não espiões. Nem sempre.‖
―Então o que?‖
―Qual é, Garota Gallagher – uma escola no meio do nada, para garotos problemáticos com nenhum outro lugar para onde ir? Você sabe o que é esse lugar.‖
Olhei para a sala a nossa volta, pensei nos campos de tiro e nos meninos marchando, nas horas em que minhas colegas de quarto e eu tínhamos passado na primavera passada buscando alguma pista sobre Blackthorne e nada encontramos além de segredos e mentiras.
―Não‖, falei. ―O Sr. Solomon frequentou aqui. Ele…‖
―Estava começando a mudar as coisas‖, Zach terminou. Deu um passo mais próximo. ―Você sabe o que somos, Garota Gallagher.‖
―Não.‖ Chacoalhei minha cabeça. ―Vocês não podem ser...‖
Havia muitos termos para o que Zach tentava dizer. Matadores. Artistas de trabalho molhado. Mas tudo que pude fazer foi olhar para o garoto que estava ao meu lado – o garoto que eu mal conhecia – e sussurrar:
―Assassinos.‖
―Eu disse-lhe que esse lugar foi feito para preparar para guerra – Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria e todas as guerras que podiam ter acontecido, porém não aconteceram. Ou não ainda.‖ Ele me encarou, quase suplicando quando murmurou, ―Nós não o usamos mais.‖
―É por isso que eles não confiam em você? Os Baxters... Tia Abby…‖
―São pessoas espertas com bons instintos.‖ Ele desviou o olhar, depois voltou.
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―Mas isso não faz sentido, Zach. Você não construiu esse lugar. O que podia ter possivelmente feito que seja tão terrível?‖
―Não!‖ Parada ali, dezenas de metros dentro da montanha, não havia maneira alguma de saber quão longe o grito pode ter ecoado pelo labirinto de pedra.
―Sério. Você pode me contar.‖
―Não. Eu realmente não posso.‖
Ao deixar de lado o objetivo original do Instituto Blackthorne para Garotos, a Operária pensou que pudesse compreender mais facilmente o Ativo.
(Mas acontece que garotos que são possíveis futuros assassinos/espiões são os garotos mais confusos de todos.)
Demoramos mais uma hora para alcançarmos. Duas vezes encontramos túneis bloqueados por desmoronamentos, uma centena de tonelada de pedra em nosso caminho. Certa vez, Zach admitiu que estávamos no caminho errado, e tivemos que recuar uns noventa metros. Passamos por mais três salas parecidas com a primeira que vimos – por uma dúzia de portas trancadas e aberturas de concreto tão escuras que não pude ver nada.
―Eu nunca estive tão abaixo assim‖, admitiu ele. De alguma forma, eu sabia exatamente como ele se sentia.
―Sem querer soar ingrata ou algo assim, mas você sabe onde estamos indo?‖
Ele sorriu pelo que pareceu a primeira vez em horas.
―Não exatamente.‖ Pegou minha mão, inclinou-se passar sob um arco baixo. ―Joe me disse onde deixou, só no caso de... no caso disso.‖
―E onde é?‖ perguntei, mas Zach parou.
Ele apontou.
―Ali.‖
A sala era grande – com dois andares e com pelo menos uma meia dúzia de túneis em espiral. De alguma maneira, apenas parada ali, eu sabia que finalmente havíamos alcançado o centro da montanha.
Conforme eu e Zach pisamos em um pequeno patamar de metal no segundo andar,
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olhei para a sala abaixo de nós. Era bruta e básica. Escadas de metal corriam para o andar inferior. Prateleiras e armários cobriam as paredes. E em cada centímetro da superfície havia caixas, arquivos e relíquias do passado.
―É...‖ Zach começou lentamente. ―É meio que a versão do Blackthorne do Subnível Dois.‖
Segui-o escada abaixo, observei-o ir até o lado mais distante da sala e agachar-se ao lado de uma estante enferrujada. Segurei minha respiração quando ele estendeu a mão e então puxou um caderno de espiral embrulhado em plástico.
―É isso?‖, perguntei. Parecia tão simples – como um milhão de outros cadernos carregado por outro milhão de estudantes.
Finalmente, eu verdadeiramente entendi o fato que sabia a meses: Joe Solomon havia sido um adolescente de dezesseis anos. Zach colocou o diário em seu cinto, sob o seu casaco e em seguida pegou minha mão. Sem dizer nada, subimos as escadas de metal e começamos a voltar para baixo do túnel por onde tínhamos chegado.
Parecia tão fácil. A nossa missão estava terminada. Nós tínhamos ganhado.
Mas isso foi quando ouvimos as vozes.
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CAPÍTULO 39
MEU PRIMEIRO PENSAMENTO FOI QUE A EQUIPE DE SEGURANÇA da Blackthorne tinha nos encontrado - que tínhamos perdido um sensor de movimento ou tropeçado em um alarme silencioso - e eu começava a preparar as minhas desculpas... Zach era meu namorado. Eu estava lá em um desafio. Quebrar o código da Blackthorne seria o melhor projeto de crédito suplementar!
Mas, então, Zach e eu deixamos cair a nossos estômagos (naquele sentido de adrenalina) e nos arrastamos de volta ao lugar que dava para o espaço de armazenamento maciço abaixo, e...
E eu vi a mulher no telhado.
Não havia dúvida sobre ela neste momento, porque lá, nos túmulos, tudo era mais alto, mais nítido, meus sentidos estavam mais vivos do que eles nunca haviam sido antes, enquanto eu me deito olhando para a mulher que tinha me encontrado em um telhado, em Boston. E ela não estava sozinha.
As mãos do Sr. Solomon estavam presas. Um de seus olhos estava machucado e tão inchado que estava completamente fechado, e enquanto ele mancava, vi um enorme corte na perna. Cinco homens montavam guarda ao redor dele.
"Tudo bem", disse a mulher, virando-se para o Sr. Solomon. "Agora, onde está?"
"O quê?"
A mulher golpeou seu rosto tão forte que o sangue do Sr. Solomon espirrou no quarto.
"Eu só vou perguntar mais uma vez." A mulher aproximou-se. Na sala de pedra, seu sussurro parecia ecoar. "Onde está o diário de bordo que pertencia a Matthew Morgan?"
O diário do meu pai. Eles estavam procurando para o jornal do meu pai.
Mas o diário de papai não estava aqui, e o Sr. Solomon sabia – o Sr. Solomon sabia tudo sobre este lugar e ainda assim ele trouxe para as profundezas da montanha.
A versão de subnível dois para Blackthorne.
Ao meu lado, eu podia sentir a tensão nos braços de Zach. Eu podia sentir as
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engrenagens trabalhando em sua mente como se nós dois fizéssemos a mesma pergunta: O que Joe Solomon iria fazer?
"Não", Zach disse ofegante. Eu segui seu olhar.
Cabos revestidos no teto e paredes, desaparecendo por trás das prateleiras e armários, ligando tudo numa caixa chamada AVISO: EXPLOSIVOS, e eu não pude deixar de pensar, assim como subnível Dois...
Eu não sabia quem era Joe Solomon - depois de tudo que eu aprendi sobre ele, eu me perguntava se eu realmente saberia. Mas eu sabia que ele nunca estaria disposto a ceder ao Círculo de novo. Eu sabia que ele trocaria sua vida para trazer o fim ao Círculo.
Olhei para os explosivos que enchiam a sala – os detonadores estavam dentro - e sabia que o Sr. Solomon não tinha vindo aqui para salvar a sua vida, mas para acabar com ela, e esperava, tomar muitos deles junto.
Zach começou a se movimentar, mas eu o agarrei.
"Pense, Zach." Segurei-o lá. "Nós só temos uma chance."
Eu vi como a fúria desapareceu no medo, e Zach olhou nos meus olhos.
"Cammie, você tem que ter isso." Ele pressionou o notebook coberto de plástico nas mãos. "Você tem que correr."
"Não. Eu tenho que ajudá-lo."
Ele apertou minhas mãos apertadas.
"Você tem que viver. Agora vá e não olhe para trás para qualquer coisa."
"Mas Zach…"
"Eles não vão me machucar."
Eu queria perguntar o porquê, mas eu sabia que ele não diria. Eu queria perguntar como, mas sabia que não importava. Apesar da minha formação e bom senso, eu queria discutir, mas eu sabia que estávamos sem tempo. Porque:
a) Há muito pouca utilidade em discutir com um espião que tem constituído a sua mente; e,
b) Três homens armados estavam bloqueando o túnel atrás de nós, e não havia absolutamente nenhuma maneira de sair.
Quando a mulher nos viu, ela riu. Foi um assombro, ecoando o som lá no meio da montanha.
"Encontrei-os em uma varredura‖, disse o guarda, me arrastando para as escadas abaixo.
Eu tentei puxar o braço livre, mas o homem estava me segurando com muita força. A
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mulher se aproximou, me olhando. Avaliando. Eu me sentia suja, como jamais senti em minha vida.
"Oh, isso é uma surpresa." Ela sorriu para o professor. "Joe, você é um menino inteligente, por que você não me disse que estava me trazendo um presente?"
Olhei para o Sr. Solomon - tentei dizer que estava arrependida. Que eu tivesse seguido os pombos, mas eu falhei. Eu esperava ver a decepção nos olhos do meu professor, mas o que eu vi foi de raiva.
"Eles vão ou eu não te dou nada!‖
"Agora, por que eu faria isso?", perguntou a mulher. "Quebrar essa tocante reunião?"
Ela estendeu a mão, e eu pensei por um segundo que ela estava indo para acariciar meus cabelos, mas na última hora ela mudou, alcançando a bochecha de Zach, e disse:
"Olá, querido. Você não vai apresentar a sua namoradinha para sua mãe?"
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CAPÍTULO 40
A MENTE É UMA COISA PODEROSA. EU HAVIA FEITO UMA PESQUISA. Eu já vi isso em ação. Toda a minha vida tinham me ensinado os fatos simples, e ainda, neste momento, havia uma coisa que minha mente não podia começar a compreender: a mulher do telhado em Boston era a mãe de Zach.
Eu queria ficar doente.
"Ela é sua mãe", eu disse claramente. Não era uma pergunta – era algo como uma conferencia de dados, e de alguma forma Zach foi lentamente fazendo sentido.
Ele chegou para mim.
"Garota Gallagher…"
"Não me toque." Eu me afastei, mas não antes que seus dedos roçassem pela minha pele, antes que eu sentisse uma faísca, e jurei que seria a última coisa que sentiria por ele.
Na minha orelha, a unidade comum ficou em silêncio. Nós procuramos por tanto tempo, indo longe demais, e agora havia verdadeiramente uma montanha muito grande entre eu e qualquer tipo de ajuda.
"É muito bom finalmente lhe conhecer, Cammie. Eu já ouvi muito sobre você." Quando a mãe de Zach falou, ela parecia serena. "Eu espero que você não esteja com medo. Tenho certeza de Joe aqui confirmará de bom grado que nós não queremos matar você."
Meu coração estava disparado, e ainda, de alguma forma, eu sabia que era verdade - que realmente não queriam me machucar. O que significava que eles queriam algo muito, muito pior.
"Cammie, eu…" Mais uma vez, Zach chegou. Novamente, eu me afastei.
"Oh, querido, eu posso ver porque você gosta dela." A mãe riu. "Mas agora, todos espalhados e procurando o diário de Morgan." Ela olhou o filho dela e a mim. "E procure alguém neles dois."
Um guarda ainda estava me segurando. Outro homem estava se aproximando. Através da luz da lâmpada fraca que pairava no meio do teto alto, eu vi Zach se focar em algo, e eu pensei em todas as vezes que ele olhou para mim antes - em um elevador em
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DC, na praça da cidade em Roseville, e em um compartimento pequeno em um trem de carga durante a noite.
Mas, enquanto o guarda chegava a mim, e um rosto inteiramente novo estava olhando para mim, sussurrando:
"Agora!"
Pense em tudo ou aja agora, existem algumas vantagens na luta contra dois atacantes, em vez de um. Era muito mais fácil jogar meu peso de volta contra o homem que me segurou e chutar o guarda que estava caminhando para a frente com as mãos estendidas.
Do canto dos meus olhos, eu vi que Zach estava girando, chutando um dos armários antigos na direção de sua mãe. Ele se chocou contra ela, derrubando-a ao chão, caindo em volta dela, enquanto o guarda-costas empurrou-me para o lado como se eu fosse nada, e correu para ajudar sua chefe.
"O que você está fazendo?", gritou a mulher. "Pegue-a!"
Eu ouvi as palavras. Senti minha visão embaçar com raiva. E no segundo seguinte, uma dúzia de coisas pareciam acontecer ao mesmo tempo.
Sr. Solomon avançou em direção a um dos homens perto da entrada de um outro túnel. Meu professor jogou as mãos atadas sobre a cabeça do homem e estrangulou-o, enquanto eu corria com todas as minhas forças em sua direção.
Alguém se moveu para bloquear o meu caminho, mas eu pulei para a estante, usei o meu impulso para virar no ar e apanhar o queixo do homem com o pé, antes de cair suavemente no chão. Mas alguém apareceu no canto do meu olho, e mudei de lugar o suficiente para evitar que a mãe de Zach acertasse um chute na minha orelha.
Eu pisei para trás enquanto ela me circulava. Eu estava presa. Acima de nós, a lâmpada solitária balançava, lançando uma sombra que se movia sobre tudo o que ela não estava focando enquanto a mulher que estava assombrando meus sonhos há meses se aproximou de mim e sorriu.
"Você é muito mais bonita de perto, você sabe."
Eu evitei outro de seus golpes, e quando eu continuei a luta, eu aterrei um soco rápido em seu rim e outro em seu rosto.
"Ah, sim", ela disse, enxugando o sangue que escorria de que do lado da boca. "Eu posso certamente ver o recurso."
Do outro lado da sala, Zach tinha tomado uma espada antiga da parede e estava lutando contra dois homens ao mesmo tempo. A lâmina de aço fez um som agudo no
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espaço oco e o choque rítmico das lâminas foi quase suave - como uma batida. Um pulso.
"Você sabe, Cammie, eu desejo que você e eu possamos ser amigas. Temos muito em comum."
"Sim, eu..." Mas então eu não poderia terminar, porque eu percebi que as espadas já não eram conflitantes. Virei-me para ver que os dois homens estavam lutando contra Zach, estava agora no chão, sangrando, esforçando-se para ficar de pé, enquanto Zach correu para o Sr. Solomon, que estava lutando do outro lado da sala.
Zach estava tão focado no Sr. Solomon, tão ansioso para vir em auxílio do nosso professor, que ele não viu quando um dos homens no terreno sacou uma arma e mirou as costas de Zach.
"Não!", alguém gritou, e só quando o homem parou que eu percebi que não tinha sido eu. Havia apenas uma pessoa na caverna com o poder de salvar Zach - uma pessoa com o poder de parar os dominós de cair, e ela era a pessoa que se afastou de mim e avançou para seu filho.
Eu assisti a mãe de Zach bater no atirador - ouviu o barulho de armas pelo chão. Mesmo sem me virar, eu sabia que não havia ninguém atrás de mim, então - que não havia absolutamente nada entre mim e um dos túneis que espiralava do piso principal. E ainda eu não podia me mover.
Tudo parecia congelar em um segundo, quando Zach pegou a arma e gritou:
"Agora! Corra!"
Mas eu não podia deixá-lo, não podia correr, não podia fazer nada além de gritar "Não!", quando Zach mirou a caixa de metal marcada ATENÇÃO: EXPLOSIVOS, e sussurrou as palavras: "Adeus."
O tiro ecoou nos túneis. Chovendo faíscas, iluminando a caverna como o quatro de julho. Luzes vermelhas chiaram por mim, enquanto meus braços começaram a bater ao meu lado, a fricção do jornal contra a minhas costas. E mesmo quando o primeiro impacto da explosão ecoou através dos túneis, eu consegui ficar à sua frente, um pé na frente do outro, da névoa sinistra e esfumaçada.
Eu continuei correndo.
Eu não olhei para trás.
Nada de bom aconteceria se eu assistisse os fantasmas de Blackthorne queimando.
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CAPÍTULO 41
FOGO.
Eu tentei esquecer o fogo, mas os túneis estreitos pareciam um forno. A água que invadia através das paredes transformou-se em vapor. Eu não deixo de pensar nos trechos que Zach e eu tínhamos visto,e as chances de que este túnel desconhecido fosse um beco sem saída também. Eu apenas continuei correndo até a fumaça tornar-se mais fraca e o ar ser mais fresco.
"Espalhem-se!" O apelo ecoou na escuridão. "Encontrem-na!"
Na minha orelha, a unidade comunicação estava começando a estalar e zumbir, e eu falei para dentro da estática:
"Estou nos túmulos. Estou correndo... eu não sei." Mas eu sabia. Sr. Salomon estava morto, mas sua voz ainda estava viva em minha mente. ―Sul. Eu estou correndo para o sul. O Círculo está atrás de mim.‖
Ouvi a voz de minha mãe gritando ordens, mas não para mim. Corri mais rápido. Em direção à luz. Em direção ao bosque. Para o ar fresco e liberdade e apoio. Isso seria em breve. Tudo o que eu tinha que fazer era continuar a correr.
O som do rio estava mais alto. Eu podia ouvir as quedas e respirar o ar úmido e fresco.
"Estou quase limpa‖, eu gritei para a minha unidade de comunicação."Estou quase…"
Mas depois virei à esquina, derrapei até parar, e percebi que não estava perto das quedas - eu estava atrás delas.
O túnel terminou em um penhasco rochoso. Jorrando, água caindo era a única coisa permanente entre mim e o céu.
"Eu estou atrás da cachoeira", gritei. "Eu estou…"
"Presa?"
A mulher não parecia com Zach - não, não realmente. Sem a máscara, que ela usara em Boston, eu podia ver que o cabelo dela era um vermelho escuro e sua pele era pálida como a mais requintada porcelana de Madame Dabney's. Seus olhos, no entanto. Ela tinha
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os mesmos olhos escuros como seu filho. Quando ela olhou para mim, eu não conseguia afastar o sentimento de que eu nunca iria ver os seus novamente.
"Acabou", eu disse a ela. "Eu estou usando uma unidade de comunicação, todo mundo sabe…"
"Não importa o que o seu detalhe de proteção sabe, Cammie querida. É tarde demais. Ninguém pode ajudá-la."
Eu ouvi mais sons vindos de trás dela.As pessoas estavam chegando. Suas pessoas.
"Vocês não podem nos derrotar", disse eu. "Mate-me, toma-me, não importa. A Academia Gallagher fará apenas mais meninas como eu.Se uma vive, todos nós vivemos."
"Claro que eles irão." Ela sorriu. "Eles me fizeram."
Eu não disse nada - eu juro que eu realmente não disse - mas o olhar em meu rosto deve ter emitido uma declaração, porque no momento seguinte, a mulher estava rindo um riso terrível, riso sem alegria.
"Oh, não, Zach nunca mencionou que sua mãe era uma garota Gallagher?‖ Ela levantou uma sobrancelha, então encolheu os ombros. "Eu suponho que não."
"Não." Eu balancei minha cabeça. "Não. As garotas Gallagher são…"
"Nós somos o que queremos ser, Cammie". Ela se aproximou. Eu me encolhi com a palavra ‗nós‘. "Tudo o que queremos ser."
Eu pensei no que Abby e Baxters tinham dito aquela noite no castelo - que o círculo tinha um talento especial para recrutar agentes muito jovens... que Joe Solomon tinha amadurecido, e visto a luz, e passou a vida tentando corrigir seus erros. Mas a maioria das pessoas - eu olhei para a mãe do Zach, nas profundezas escuras de seus olhos - nunca mais deixarão os túmulos.
"Então, está vendo? Nós somos irmãs, Cammie. Você realmente não precisa ter medo. O que nós precisamos vive dentro de você." Ela bateu em sua têmpora. "Nós apenas queremos emprestado."
Sr. Salomon estava morto.
Zach estava morto.
"Eu não vou com você", eu disse, chegando mais perto da ponta, lembrando sua promessa e o fato que tinha me assombrado por meses: Eles me queriam viva.
"Vamos, Cammie, afaste-se desse penhasco asqueroso. Não seja tola."
"Eu não sou tola", eu disse, com a maior certeza que já tive em minha vida. O som da água era ensurdecedor. A parte de trás da minha camisa estava molhada com o borrifo. Eu
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queria limpar a água dos meus olhos, mas eu precisava das minhas mãos na minha frente. Eu precisava estar pronta.
"Você não quer fazer isso, Cammie. Nós realmente não vamos te machucar."
"Eu sei", eu disse, e eu sabia. Mais ou menos.
"Nós queremos apenas te levar a algum lugar – fazer algumas perguntas a você sobre algumas questões. Ajudar você... se lembrar... algumas coisas.‖
"Tenho certeza que você quer", eu me movi, e as pedras aos meus pés desmoronaram.
Sr. Salomon estava morto.
Zach estava morto.
Seu próprio filho estava morto, e ela ainda estava me perseguindo e qualquer segredo que eu carrego.
Eu tinha estudado Proteção e Execução durante cinco anos e meio, mas até aquele momento eu nunca tinha pensado seriamente qual seria a sensação de matar alguém - até então eu nunca quis.
"O quê?", ela perguntou. "O que você está pensando?"
"Eu estou tentando decidir se devo ou não matá-la."
Ela riu.
"Você não pode me matar."
Mas eu podia. Naquele momento eu estava tão cheia de medo e raiva e dor que eu poderia ter feito isso. Facilmente.
Ela riu mais forte e andou devagar para mais perto, como se aquela parede de água e ar fossem o pior destino possível.
E então a mãe de Zach inclinou-se para perto, como se confiante, e disse:
"Se você me matar, então, quem vai levá-la ao seu pai?"
Ela pulou em mim, mas eu era a única que não tinha mais nada a perder.
E antes que suas palavras encontrarem um lugar na minha mente - antes de os Agentes do Círculo, que estavam correndo túnel abaixo pudesse chegar até nós - eu pensei sobre os corvos, e eu estendi minhas asas para voar.
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CAPÍTULO 42
O SALTO NÃO ME MATOU, CASO VOCÊ AINDA NÃO SABE.
Lembro-me de romper pelas quedas d‘água.
Lembro-me do ar fresco e do vento frio e pensando que eu poderia voar.
E depois houve o impacto e as correntes geladas que caíram repetidas vezes sobre mim como a um cobertor em que eu estava presa dentro, enquanto eu lutava para me libertar.
E então não havia nada. Sem cobertores. Sem fogo. Sem calor e frio.
E pela primeira vez em meses eu dormi e não sonhei.
"Cammie!"
Eu ouvi o meu nome ecoar pela noite, cavalgando pelo vento. Meu corpo doía. Minhas roupas se agarraram a mim, pesadas e molhadas. Eu podia ouvir o rio e os gritos e outra coisa, uma voz dentro de mim me dizendo que não estava segura. O Círculo ainda estava lá fora.
Eu tinha que me mover. Eu tinha que me esconder. Eu pensei na última coisa que Zach me pediu: eu tinha que continuar correndo e eu não poderia nunca, nunca olhar para trás.
Nem quando eu ouvi o helicóptero.
Nem quando eu vi os refletores varrendo pelo chão aberto ao longo do rio e depois me queimando, me segurando firme no seu clarão.
Nem quando eu ouvi o grito de voz profunda:
"Eu a vejo! Ela está aqui!"
Nem quando braços fortes me envolveram, e alguém disse:
"Fique quieta."
Nem mesmo quando o helicóptero preto aterrissou no chão na minha frente e minha mãe voou de sua porta aberta.
Eu tinha que continuar correndo, mesmo assim, mas meus pés já não encontravam o solo. Eu tentei lutar, mas os braços que me seguravam eram muito fortes.
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"Rachel", Agente Townsend disse, ainda me segurando.
"Cammie,querida,pare de lutar", minha mãe disse quando meu professor me carregou debaixo do rodopiar das hélices.
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CAPÍTULO 43
ERA BARULHENTO NO INTERIOR DO HELICÓPTERO. EU TENTEI me mover, mas todo o lado direito do meu corpo estava em chamas.
Fogo.
"Sr. Solomon", eu comecei, mas as palavras foram estranguladas em uma tosse, como se meus pulmões tivesse trazido a explosão com eles.
"Zach..."
"Querida, seu ombro está deslocado. Haverá uma grande dor quando o choque passar.‖
Que choque? Eu queria dizer, mas ao invés disso agarrei a mão da minha mãe…
"Pai", eu sussurrei. "Ela ia me levar para o papai."
"Ela está tendo alucinações, Rachel." O agente Townsend estava falando acima de mim. Ele e minha mãe estavam falando de mim.
"Ele está vivo!" Eu me virei na vertical e uma dor como eu nunca tive disparou por mim. "Eles estão mortos", eu murmurei, mas tudo estava rodando, desvanecendo na escuridão.
● ● ●
Ao ser admitida na enfermaria da Academia Gallagher, a operária Morgan foi cutucada, picada, drogada, examinada, radiografada e enfaixada.
Ela não foi, no entanto, questionada, interrogada, informada, ou disseram que droga estava acontecendo.
"Mãe?" Minha voz era tão áspera, eu mal a reconheci como a minha. "A minha mãe está aqui?"
"Não." Alguém atrás de mim falou. Ouvi a porta fechar, observei o agente Townsend caminhar para o pé da minha cama de metal. "Ela não está."
"Eu quero falar com minha mãe."
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"Ela não pode estar aqui no momento, Srta. Morgan. Temo que você terá que começar por mim."
"Eu posso esperar."
Ele sorriu.
"Mas eu não posso. Veja, eu tenho um avião para pegar."
Ok, então talvez tenham sido as drogas que tinham me dado, mas aquilo quase soou como uma boa notícia.
Eu tentei ficar na posição vertical, mas meu corpo não queria obedecer. Meu ombro doía, e em meu lado direito tinha um contínuo, enorme hematoma.
"Nada está quebrado" disse ele, como se fosse um milagre, e eu acho que realmente era. "Mas você vai ficar dolorida por um tempo. A queda deslocou seu ombro e você inalou muita fumaça, mas você vai ficar bem, mocinha."
Ele se sentou na cadeira de metal no pé da minha cama.
"Agora, me diga o que aconteceu nos túmulos."
Contei-lhe tudo - eu realmente fiz. Desde, descobrir a verdade sobre Blackthorne até ao avistar o Círculo arrastando o Sr. Solomon de volta ao lugar que, de certa forma, tinha começado tudo isso.
Eu disse a ele com detalhes e em ordem.
Joe Solomon teria ficado extremamente orgulhoso.
Enquanto eu falava, o agente Townsend ouvia, mas ele não tomou uma única nota - ele não disse uma única palavra.
"E então eu saltei", disse a ele finalmente. Olhei para meu corpo machucado. "Eu acho que... eu acho que você sabe o resto."
Ele balançou a cabeça lentamente.
"Sim. Eu acho que posso até mesmo saber um pouco mais do que você." Ele colocou os seus cotovelos sobre os joelhos e se inclinou para mais perto.
"Eles puxaram três corpos dos destroços até agora, e eles ainda estão escavando. Suas colegas de quarto estão completamente ilesas. Embora, provavelmente, mais do que um pouco iradas por que elas estarem sendo impedidas de ver você", ele acrescentou, como se o drama das garotas adolescentes tivesse seriamente começando a pesar sobre ele.
Então ele se inclinou mais perto, sua voz baixa à medida que acrescentou:
"E outra coisa."
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Ele caminhou até a porta e voltou com uma cadeira de rodas. Um minuto depois agente Townsend estava me empurrando para uma sala escura que era maior do que a minha. Máquinas bipando. Enfermeiros e médicos se moviam com passos silenciosos. E no centro de tudo isso, um homem deitado sobre uma cama, quebrado e queimado, um olho inchado completamente fechado.
"Um jovem o trouxe aqui, tarde da noite passada. Ele não tem nenhuma identificação. Nenhum nome." Conforme Townsend empurrou-me para mais perto, senti-me parar de respirar. O homem na cama estava enfaixado da cabeça aos pés, e ainda quando a cadeira parou, eu vi um rosto que eu tinha visto pela primeira vez na parte de trás do Corredor Principal um ano e meio antes.
"Por isso, talvez nós apenas vamos chamá-lo... Sr. S."
Eu queria tomar a sua mão, mas eu não queria tocá-lo e correr o risco de descobrir que era um sonho.
"Agora, se você vai me der licença, Srta Morgan", disse Townsend. "Tenho receio que eu realmente precise ir embora. MI6 tem um monte de perguntas, como você pode imaginar, e eu…"
"Mas…"
"Meu trabalho aqui foi encontrar Joe Solomon, mocinha." Ele me olhou por um longo tempo. "E Joe Solomon está morto. As testemunhas o viram morrer em uma explosão na noite passada." Lágrimas avolumaram-se em meus olhos, mas não tentei impedi-lo. Eu não disse obrigado ou me desculpe ou quaisquer dúzias de outras coisas que o agente Townsend, provavelmente, não tinha vontade de ouvir.
Em vez disso, eu o assisti olhar para o homem na cama - o homem que chegou mais perto de destruir o Círculo do que ninguém vivo. Eu o vi acenar para o Sr. Solomon e o ouvi sussurrar:
"Não há necessidade de alguém mais persegui-lo."
Townsend estava meio caminho para a porta quando ele parou.
"Ah, sim", disse ele, virando. "Você estava segurando isto ontem à noite." Ele puxou o pequeno caderno espiral do bolso e me entregou. Eu quase não o reconheci sem o seu invólucro de plástico. "Interessante escolha de livros que você tem, Srta. Morgan." Ele se virou lentamente ao redor. "Muito interessante, de fato."
"Há quanto tempo você vem perseguindo o Círculo, agente Townsend?" Eu de repente o chamei, fazendo-o parar na porta.
"Há muito tempo", disse ele.
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"Você acha que meu pai está com eles? Você acha que ele está vivo?"
Sua voz era estável quando ele disse:
"Não."
Então ele se virou e foi embora.
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CAPÍTULO 44
"EI, FILHA", DISSE A SILHUETA DA MINHA MÃE, ATRÁS DE MIM. Mas em vez de virar, eu fiquei sentada, olhando para o Sr. Solomon, perguntando-me, não pela primeira vez, se eu estava olhando para um fantasma.
"Ele... Será que ele vai passar por isso?" Eu perguntei.
"É muito cedo para dizer, querida", Mamãe admitiu. Ela se aproximou. "Como você está?"
Mas eu não respondi. Em vez disso, me virei e perguntei:
"Onde está Zach? Foi ele quem trouxe de volta o Sr. Solomon, não foi? Não é ele? Ele está aqui? Ele está…"
"Ele está bem, querida. Um pouco queimado. Um pouco machucado. Mas ele vai ficar bem. E sim, ele está aqui." Ela se aproximou lentamente. "Na verdade, eu estive ao telefone com os membros do conselho diretor por toda a manhã, obtendo sua permissão para ele terminar o semestre conosco." Ela respirou fundo. "Não há nenhum lugar seguro para ele ir."
Enquanto ela falava, suas mãos foram quase involuntariamente para o Sr. Solomon - endireitando seu cobertor, alisando suas ataduras - e eu sabia que, ao contrário de mim, ela não conseguia parar de tocá-lo. Ela o curaria com suas mãos, se pudesse.
"Papai está vivo."
E só assim, minha mãe retirou a mão.
"Ele está vivo, mãe", eu disse, amaldiçoando a cadeira de rodas, precisando olhar no rosto da minha mãe e encarar o mundo de frente e não como uma inválida, como uma criança. "Ele está vivo. Ela... a mãe de Zach disse que sim."
Mamãe caiu de joelhos e olhou nos meus olhos.
"Ouça-me, Cammie. Ouça. Eles vão dizer qualquer coisa - eles farão qualquer coisa para conseguir o que querem, e o que eles querem agora é você."
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"Por quê?" Eu perguntei, a pergunta queimando dentro de mim. "Eles vieram para Blackthorne porque o Sr. Solomon disse-lhes que o diário do papai estava lá. Eles iriam a qualquer lugar para encontrar-me. O que eles querem?"
Mamãe alisou meu cabelo.
"Nós não sabemos, filha. Eu acho que seu pai, provavelmente, chegou perto de alguma coisa. Eu acho que é por isso que eles o mataram."
"Ela disse que ele está vivo!"
"Não se deixe enganar, Cammie!", minha mãe desabou, então baixou a voz a um sussurro. "Não se permita ter... esperança."
Eu sei muito bem o quão perigosa pode ser a esperança, como ela cresce e às vezes morre, levando seu hospedeiro com ela. É mais poderosa do que qualquer coisa que Dr. Fibs mantém em seus laboratórios, mais preciosa que todos os segredos do Subnível Dois.
"Talvez ela não estivesse mentindo", disse eu. "Certo? Diga-me que ela poderia não estar mentindo."
"Nós não sabemos." Ela disse que cada palavra devagar, com cuidado, como se fossem tanto para ela quanto para mim. "Mas eu passei anos procurando seu pai e eu acho que - em minha opinião profissional - ele provavelmente não está... vivo."
Operários que mentem sempre se tornam os piores espiões, sua inteligência é reduzida, suas missões são abandonadas. Sempre há alguma verdade no meio das sobras. Operações Secretas chamam isso de comida de galinha. Mas naquela sala, naquele dia, minha mãe chamou isso simplesmente de esperança.
Conforme minha mãe empurrou minha cadeira de rodas até a porta, entreguei-lhe o velho caderno espiral.
"O senhor Solomon queria que o Zach tivesse isso. Você pode ver se consegue entregar a ele?"
"Dê a ele você mesma, filha. Ele está esperando lá fora."
Seu rosto ainda estava coberto de fuligem e cinzas. Suas roupas foram queimadas. Havia ataduras em seu braço direito, e ainda tudo sobre Zach era perfeito. Ele saiu, apesar de tudo ileso. Vivo.
Minha mãe me empurrou em direção a ele, mas ele não pegou minha mão. Nós não nos beijamos ou nos abraçamos. O fogo de alguma forma ainda estava entre nós, e nenhum de nós se moveu na direção do outro, com medo de que poderíamos ser queimados.
"Aqui. Você deve ficar com isso." Eu lhe entreguei o diário. "Quando ele acordar..."
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Ele estendeu a mão para o diário. Seus dedos tocaram os meus. Havia um milhão de coisas para dizer, ou talvez mais, mas a sensação de sua pele era suficiente naquele breve momento. Nós estamos quentes. Nós ainda estamos vivos.
"Cam!" As vozes de minhas companheiras ecoaram pelo corredor abaixo, seguido pelo som dos passos apressados contra o piso de madeira.
"Cammie, estávamos tão preocupadas!" Liz chorou. Bex e Macey jogaram seus braços em volta de mim com uma força um pouco mais do que se deve usar em alguém que tem uma contusão de corpo inteiro e um ombro deslocado.
"Eu estou bem, garotas", eu confessei. "Eu estou bem. Zach e eu estamos…"
Mas depois eu parei. Eu virei para olhar para trás e vi nada, além de um corredor vazio.
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CAPÍTULO 45
PRÓS E CONTRAS DAS ÚLTIMAS POUCAS
SEMANAS DO NOSSO ANO JUNIOR
PRÓ: A mãe da Bex se ofereceu para tirar uma licença temporária do MI6 para ensinar CoveOps o resto do semestre.
CON: O Sr. Solomon ainda estava em coma.
PRÓ: Resulta que, quando uma Garota Gallagher fica gravemente ferida por uma ex (e mal) Garota Gallagher, outras Garotas Gallagher do mundo inteiro enviam incríveis presentes - como chocolate. Da Suíça.
CON: Suas companheiras de quarto começam com a nova: “Cammie não vai a lugar algum sem duas de nós", significa que os chocolates não duram muito tempo. Em tudo.
PRÓ: Estar em P&E “Prática de cuidado” registra dar a um monte de garotas tempo para trabalharem suas habilidades na balestra.
CON: A prática de balestra, quase sempre inclui Liz (que só arranhou melhor que Madame Dabney uma vez, não importa o que você pode ter ouvido).
PRÓ: Um rapaz incrivelmente inteligente, extremamente quente, e incrivelmente misterioso veio para a Academia Gallagher.
CON: Nenhum de nós poderia nos deixar esquecer o porquê.
● ● ●
―Que tal Lisboa?‖ Bex perguntou no dia em que deixei a enfermaria. O sol estava brilhando, e ela espichou-se para fora em um cobertor à beira do lago, fechou os olhos, em
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seguida, virou na vertical novamente. ―Oooh... Genebra! Minha mãe adora Genebra, Cam. Aposto que podemos conseguir que meus pais…"
"Genebra para o quê?" Eu perguntei, tentando sentar ao lado dela. Meu orgulho doeu tanto quanto o meu corpo quando Macey segurou meu braço bom e me ajudou a descer até o chão.
"Para passar este verão, boba", disse Liz.
Verão… Olhei inexpressivamente para o lago. Eu tinha esquecido completamente do verão.
"Eu vou para o rancho no verão", eu disse, como se elas não soubessem disso.
"Bem, veja, Cam, ouvi minha mãe conversando com sua mãe sobre isso, e…"
"É muito perigoso", eu terminei por ela.
Estava ensolarado ali no lago, e ainda uma sombra pareceu cair na face das minhas melhores amigas.
"Mamãe e papai vão ajudar", Bex deixou escapar. "Assim como na folga do Inverno. E sua mãe também. E... isso vai ser divertido."
"Eu não sei... parece..." Arriscado. Perigoso. Mortal. "Eu não quero que você desista de sua folga por mim."
"Você está brincando?" Macey perguntou. "Vai ser ótimo. Ei, que tal a casa de esqui de meus pais na Áustria? O lugar é uma fortaleza". Macey cruzou suas longas pernas.
"Obrigada, Macey, mas…"
"Não. É sério. É uma verdadeira fortaleza atual. Nos Alpes. De jeito nenhum o Círculo encontraria você lá."
Elas pareciam tão confiantes - tão certas. Foi o dia mais bonito que tivemos em semanas, e praticamente escola inteira estava do lado de fora, remando para o outro lado do lago, correndo pela floresta, ou, como nós, deitados em cobertores, estudando no sol. O ar fresco encheu meus pulmões, e eu pude quase esquecer a fumaça e os túmulos. Quase.
"Oooh", Bex disse. "Ele apareceu." Enquanto ela apontou do outro lado do terreno, ela fez parecer como se a presença de Zach na escola fosse menos um estudante visitante e mais um fantasma. Ao vê-lo andar pela floresta, longe do alcance da voz das garotas que passavam, eu podia facilmente ver por que. Suas mãos estavam nos bolsos. Sua cabeça baixa. Ele parecia mais pálido de alguma forma.
"Então...", eu comecei devagar, "como ele está?"
Macey deu de ombros.
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"Nós não sabemos. Nós dificilmente o vemos."
Bex olhou para mim.
"Como ele deveria estar?"
Mas eu só olhava ao longe, pensando em todas as coisas que eu não sabia.
● ● ●
No domingo da semana das provas finais, eu acordei cedo e me arrastei para fora do apartamento, deixando minhas companheiras de quarto de dormir enquanto eu fechava a porta suavemente.
Os corredores estavam vazios. Um orvalho forte estava sobre a grama, e enquanto o sol saía, ele lançava uma espécie de arco-íris sobre o solo. O mundo era lindo e quieto e parecia completamente em paz enquanto eu subia as escadas para a enfermaria e empurrava a porta do Joe Solomon, abrindo-a.
As máquinas ainda bipavam e faziam barulhos, mas havia menos ataduras. As contusões pareceram ter desaparecido. As flores frescas estavam colocadas em um vaso sobre a mesa, mas a maior mudança foi o fato de que, desta vez, minha mãe estava sentada na cadeira ao lado de sua cama. Sua cabeça repousava sobre o travesseiro. Seus dedos estavam atados com os dele enquanto ambas dormiam - ambas esperando pelo meu professor para voltar para casa.
Parecia que eu estava espionando minha mãe (e não no sentido legal da palavra), então eu estava aliviada de volta, em direção à porta, tentando deslizar silenciosamente para o corredor, quando eu me choquei em algo alto, largo e forte.
"Oops!"
"Desculpa", Zach deixou escapar. Ele agarrou meus ombros suavemente, como se para me manter em pé. Nós não nos falamos – não nos tocamos – em semanas. De pé ali, me senti como se estivéssemos ainda nos túmulos, as paredes se fechando em torno de nós.
"Eu não te vi... Desculpa", eu deixei escapar com medo, em seguida, me virei e fugi.
● ● ●
Zach me encontrou com os pombos.
Alguém deve ter apagado as placas, porque o código Sr. Solomon tinha ido e eu estava sozinha, olhando para a paisagem, olhando pelo campo.
 Ally Carter 
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Eu não me virei quando o ouvi. Eu apenas disse:
"Ele deveria estar acordado agora, ele não deveria? Ele nunca vai acordar."
"Claro que ele vai."
"Isso nunca vai acabar."
"Claro que vai."
"Isso é…"
"Cammie, me escute. Não fale – escute", havia medo de seus olhos. "Isto não vai parar por conta própria. Não vai para longe. Nós não podemos ficar aqui – não podemos nos esconder para sempre."
"Ela é sua mãe?" Eu fiz a pergunta que estava queimando dentro de mim por semanas.
"Sinto muito, Cam. Eu…"
"Você poderia ter me avisado."
"Não." Ele sacudiu a cabeça. "Eu não poderia. Eu não poderia perder a única pessoa que não a via quando olhava para mim. Eu não podia perder isso."
"Meu pai está vivo, Zach?"
"Eu não sei."
"Ela disse que ele está."
Zach me estudou.
"Ela mente."
"Nós deveríamos estar mortos", disse após o que parecia ser uma eternidade.
"Eu sei."
Ele ficou ao meu lado, a centímetros de distância. E ainda assim, não nos tocamos. Uma carga correu entre nós como um fio, uma faísca. Já tínhamos visto a nossa quota de fogo.
"O Sr. Solomon não está acordando", eu disse.
"Nós não sabemos isso."
"Por que todos se machucam, menos eu?"
"E eu", ele disse. Ele tentou rir, mas vacilou.
"Eu não posso ir para Nebraska neste verão. Não é seguro para a vovó e o vovô estarem perto de mim." Passei a mão contra a pedra fria da borda. Ela deslizou perigosamente perto dele, e eu sussurrei, "Eu não estou segura."
"Aonde você vai?" Ele facilitou concluir.
"Eu não sei."
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"O que você vai fazer?"
Eu balancei a cabeça, descobri que estava tão perto dele que eu desejei ficar ali, mas não ousei.
"Eu não sei."
E então seus braços me envolveram. Quando ele me beijou estava mais faminto de alguma forma, como se este momento fosse tudo o que tínhamos, e tínhamos de provarmos, tomarmos, saboreamos, e não desperdiçar uma única gota.
"Fuja comigo." A respiração do Zach era pesada e quente contra meu rosto. Eu não ouvi as palavras, eu só sabia que o beijo era real - o beijo era seguro.
Eu o beijei novamente.
"Garota Gallagher", disse ele, me puxando para trás, segurando meu rosto com ambas as mãos, "nós podemos ir. Nós podemos fugir. Nós podemos viver por nossa conta e ficar assim até que seja seguro. Para todos.‖ Seus olhos estavam a centímetros dos meus enquanto ele sussurrou, "Nós podemos manter um ao outro seguro.‖
"O que você está dizendo, Zach?" Tentei afastá-lo.
"Nós somos as duas únicas pessoas no mundo que o Círculo vai pensar duas vezes antes de matar."
"Isso não é engraçado."
"Eu não estou rindo." Ele me segurou mais perto. "Você está certa. - ninguém está seguro conosco ao redor. Ouça-me, Cammie, nós poderíamos fazer isso. Nós temos treinado nossa vida inteira para fazer isso."
"Eu não posso." Sacudi o pensamento antes de poder lançar raízes em algum lugar dentro de mim. "Não. Não. A minha mãe…"
"Entenderia", Zach estalou. "Eu estou surpreso que ela não teve a mesma ideia." As mãos dele encontraram as minhas novamente. "Se ninguém souber onde estamos, então ninguém pode nos encontrar."
Taticamente falando, Zach estava certo. E ainda assim eu não conseguia parar de olhar para ele como se ele fosse louco quando disse:
"Nós. Podemos. Fazer. Isso."
Senti suas mãos e sabia que elas estavam ainda quentes, o sangue ainda estava fluindo através dele, ele ainda estava respirando - que ambos estávamos.
Devíamos ter sido mortos.
Lembra o que eu disse sobre o salto? Sobre mentiras? Se Zach estava falado loucuras, teria que ter um desconto fácil, ele deveria se virar e ir embora.
 Ally Carter 
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Mas a verdade... a verdade - mesmo quando se trata de grãos minúsculos - não é tão fácil descartar, por isso fiquei com ele, fitando para fora, para a luz da manhã, tentando decidir quais peças eu deveria tentar transportar.
"Eu não posso partir com você, Zach." Beijei-o levemente.
Ele puxou-me delicadamente em direção a ele, me segurou perto e disse:
"Eu sei".
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CAPÍTULO 46
É SEMANA DE PROVAS FINAIS AGORA, ENQUANTO ESCREVO ISSO. Justo nesta manhã Bex está me olhando por cima da mesa, no Grande Salão, conforme eu rabisco estas últimas palavras.
"O que você está fazendo?", ela perguntou.
"O relatório de CoveOps", respondi, e isso foi tudo que eu tinha a dizer. Minhas amigas sabem o que é fazer esses relatórios por esses dias. Elas viram o poder das palavras que meu pai e o Sr. Solomon escreveram, antes mesmo de nós nascermos. Nenhuma de nós economizará escrever em nossa papelada, nunca mais.
Quando saímos do Grande Salão, Bex e Macey se encaminharam para a porta da frente para a P&E. Liz foi para a laboratórios fazer uma última experiência antes do semestre terminar.
"Espere", eu as chamei, e as três pararam e olharam para mim.
Meus hematomas estão quase sarados. Meu ombro está bem. Fisicamente, eu sou o meu antigo eu, mas quando minhas amigas se viraram para olhar para mim, todas elas sorriram para mim, à medida que as interrompi.
"Eu amo vocês garotas, vocês sabem, não é?"
Elas se olharam como se, talvez, tivesse batido minha cabeça um pouco mais forte do que pensavam.
"Cam..." Liz começou a vir na minha direção, mas eu acenei para ela.
"Quero dizer, todas estarão ausente da escola, e não importa o que acontecer neste verão eu tenho que dizer isso... eu amo vocês. É apenas algo que eu tinha que dizer."
Bem, era desnecessário dizer isso, já que foi seguido por um monte de abraços. E algumas chorando. E uma considerável quantidade de "Eu-Também-Te-Amo-Demais." Mas, por fim, elas tinham que me deixar. Eventualmente, todo mundo deixou.
Eu estava sozinha quando eu me virei e comecei a subir as escadas para o Hall da História. A cada passo, eu vi o último semestre em flashes - Sr. Baxter olhando para mim através da luz tênue na Torre de Londres, segurando minha mão, o Sr. Solomon, puxando-
 Ally Carter 
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me para a ponte fria; Zach segurando meus ombros e me dizendo para fugir dos túmulos. Com toda lembrança, eu escutei uma palavra, repetidas vezes, como uma música.
Corra.
Corra.
Corra.
Corra. É o que as pessoas me disseram para fazer o ano todo, e agora eu acho que é hora de realmente ouvir.
Isso não é algo que eu tenha decidido rápido, acredite em mim, eu estive pensando sobre o que eu tenho que fazer por semanas. Eu pesei todas as opções, os ângulos, os riscos. Há uma chance de que isso não vá funcionar, é claro, mas a única pessoa que pode machucar sou eu, e é por isso que deve ser feito.
Zach estava certo.
Eles não vão me machucar. São as pessoas ao meu redor que estão machucando. Eu não vou arrastar esse perigo para Nebraska, não importa quantos guardas podem ir junto. Eu não posso ficar aqui. Este lugar que eu amo começou a me fazer sentir como uma prisão - como uma torre. Além disso, eu sou uma Garota Gallagher: eu não poderia ser um corvo se eu tentasse.
Zach estava certo.
Às vezes, tudo que um operatório pode fazer é correr e não olhar para trás. Às vezes, quando você é um camaleão, tudo que você pode fazer é esconder. E é isso que vou fazer. A partir de agora.
Eu vou deixar este relatório no Hall de História, em cima do encaixe com a espada de Gilly, alguém vai encontrá-lo lá, eventualmente, no lugar onde tudo isso começou.
Por favor, não procure por mim. Por favor, não se preocupe. E, acima de tudo, por favor, não pense nisso como se estivesse fugindo, mas como correndo em direção a respostas. Em direção a respostas. Em direção a Esperança. Em direção para onde quer que eu tenha que ir para terminar a missão do meu pai e acabar com essa coisa, de uma vez por todas.
Zach estava certo.
Um ano atrás, ele me disse que alguém sabe o que aconteceu com meu pai. Alguém sabe por que o círculo está me perseguindo.
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E agora... também... vou sair de fininho dessa mansão por minha conta mais uma vez. Agora eu vou sair daqui e passar este verão tentando encontrá-los.
Eu voltarei. E quando eu o fizer, prometo que terei as respostas.
Fim
 Ally Carter 
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